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China. Relações com EUA marcam início das mudanças estruturais no sistema
internacional
Miguel Monjardino oferece uma visão optimista do futuro das negociações entre as duas potências. No entanto, o,
jogo de interesses na Asia-Pacífico é um obstáculo às fortes ambições do presidente norte-americano.
A visita do presidente chinês a Washington no próximo mês de Setembro está a ser aproveitada por analistas e
académicos para especular sobre o futuro das relações entre as duas potências. A última presença de Barack Obama
em solo chinês ocorreu em Novembro de 2014 durante uma cimeira. Os sinais de aproximação entre os países
significam que poderá haver uma mudança estrutural no sistema internacional.
Numa conferência realizada no IDL - Instituto Amaro da Costa, o professor da Universidade Católica Portuguesa
Miguel Monjardino disse que "o presidente da China está preocupado com as relações entre o seu país e
Washington". As declarações do docente português foram proferidas na apresentação do livro "Tucí- dides e a
História da Guerra do Pelopo- neso", que se realizou no dia 22 de Abril. Miguel Monjardino explicou que "ultimamente
Xi Jinping tem citado Tucídi- des", tendo acrescentado que "o mesmo acontece com académicos em todo o mundo".
No entendimento do especialista em relações internacionais, o antigo historiador grego tem sido mencionado porque
"representa alterações profundas nas relações internacionais".
O encontro que terá lugar em Setembro não serve apenas para reforçar os laços políticos, numa altura em que a
presença dos Estados Unidos na Ásia é cada vez maior, em particular na zona do Pacífico com infra-estruturas
militares. No segundo mandato, o presidente Barack Obama tem insistido com o Japão e a Coreia do Sul para
estreitar laços. Miguel Monjardino afirma que "quem mantém as linhas de comunicação marítima na região são os
Estados Unidos". As movimentações políticas e militares dos norte-americanos estão a ser seguidas com muita
atenção por todos os governos. O docente explica que "Pequim e os aliados dos Estados Unidos estão a perceber
quais são as suas pretensões, já que os países menos poderosos têm a capacidade de influenciar as ideias
previamente definidas pelos mais fortes", tendo alertado que "uma análise estratégica errada pode sair muito cara".
Neste momento, a China "é a maior consumidora de produtos agrícolas e a que detém mais dívida norte-americana".
TUCÍDIDES
Durante a sessão, o especialista recuou no tempo e recordou a guerra do Peloponeso, cujos principais protagonistas
foram as cidades de Atenas e Esparta. O conflito ocorreu no século v a.c. Miguel Monjardino entende que o que se
passou na Grécia antiga também envolveu mudanças estruturais. No entanto, considera que "a relação entre Pequim
e Washington é muito diferente daquela que foi estabelecida entre Atenas e Esparta, já que as cidades da Grécia
antiga não tinham sustentabilidade financeira". Os elogios a Tucídides foram uma constante. Em primeiro lugar é um
historiador político que merece estar no topo pela sua visão dos acontecimentos. Em segundo, estamos perante um
estratego. Por fim, trata-se de um guerreiro muito experiente mas que perdeu batalhas. Ao longo da obra, Tucídides
pergunta qual foi o regime que conseguiu manter a paz, teve a mania da grandeza e ao mesmo tempo manteve uma
política externa coerente. Miguel Monjardino considera que esta questão "deve ser apresentada à União Europeia e
aos Estados Unidos".
As comparações entre a actualidade e o passado estiveram presentes durante a apresentação no Instituto Amaro da
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Costa. O académico refere que "as lideranças políticas acreditam que Tucídides é importante do ponto de vista
intelectual, quer para o bem, quer para o mal".
A situação de conflito na Ucrânia também foi motivo para Miguel Monjardino voltar a recorrer aos ensinamentos
políticos e estratégicos contidos no livro. O especialista considera que "a Europa chama a atenção para a situação no
Leste ucraniano". Contudo, o ponto mais relevante aconteceu quando o docente disse que "nem todos os países têm
o direito de escolher a sua política externa e que a posição geográfica permite perceber a política externa dos
estados".
INFLUÊNCIA
A "História da Guerra do Peloponeso" é utilizada nas escolas de formação de militares norte-america- nos. Miguel
Monjardino confirma que o livro também tem sido referido no Japão e na China. Todos os anos saem novas
traduções de uma "dádiva que Atenas nos deixou".
2015-04-27 09:59
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