Publicação Trimestral da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista Ano XI – Número 3 Julho a Setembro de 2008 PEC-SBHCI: a excelência da Educação Continuada Fausto Feres, Protásio Lemos da Luz, Luiz Alberto Mattos, Marcelo Queiroga, Gilson Feitosa, Amanda Sousa, José A. Marin-Neto e Marcelo Freitas, durante o PEC-SBHCI no 63º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Curitiba, Paraná 4Direto de Brasília: os avanços e as dificuldades do SAMU, na visão do coordenador Cloer Vescia Alves ISSN 0104-1843 4Responsabilidade: SBHCI REVISTA BRASILEIRA DE Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista • ANO 16 - Nº 2 - SUPLEMENTO 3 - JUL/AGO/SET 2008 Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Qualidade Profissional e Institucional, Centro de Treinamento e Certificação Profissional em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (II Edição – 2008) Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista www.rbci.org.br apresenta suas Diretrizes sobre Qualidade Profissional e Institucional 4Perspectiva: a Residência Médica analisada pelo novo secretário da Comissão Nacional, José Carlos Lima 4Inscrições abertas: curso SBHCI prepara candidatos ao título de especialista 4Exclusivo: Amanda Sousa entrevista o maestro Isaac Karabtchevsky URGENTE 4SBC expressa no CFM apoio a pleito da SBHCI sobre procedimentos vasculares opinião ÍNDI C E OPINIÃO....................................................2 Calendário cientÍfico.............................2 PALAVRA DO PRESIDENTE............................3 CURSO ANUAL DE REVISÃO..........................4 PEC-SBHCI 2008.........................................6 ENTREVISTA EDUARDO KRIEGER...................8 AVANÇOS E OBSTÁCULOS DO SAMU............11 SAÚDE DE SALVADOR TEM NOVO TITULAR....15 O VIGOR DA CI DE SANTA CATARINA............16 HOMENAGEM...........................................20 COM A PALAVRA A CNRM..........................22 NOVAS DIRETRIZES SBHCI.........................24 MUDA A DIRETORIA DA REGIONAL RJ.........26 SBC APÓIA SBHCI NO CFM........................27 A TRAJETÓRIA DE LUIS MARIA YORDI.........28 ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL SBC...............30 ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL SBHCI.............31 DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM..............32 FORMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO.....................33 MÉDICOS QUE TAMBÉM ADVOGAM.............34 MAESTRO ISAAC KARABTCHEVSKY............36 PROVA ANUAL..........................................39 TÉCNICA TRANSRADIAL.............................40 Projeto científico.................................42 Novos sócios.........................................42 NOVIDADES DO PORTAL.............................43 RBCI.......................................................44 opinião Homenagem ao maestro da Cardiologia Intervencionista Marcelo Cantarelli * H á 50 anos nascia o movimento musical que colocaria de vez a música brasileira no cenário internacional: a Bossa Nova. De diferente, essa nova bossa trazia para a estrutura da música brasileira as harmonias mais elaboradas, as tétrades, as variações de campos harmônicos responsáveis pela sonoridade que a diferia da música popular da época. Essa beleza harmônica encontrou seu berço nos standards de jazz americanos das décadas de 30 e 40. A genialidade de nossos músicos foi integrar a bela harmonia do jazz à clave latina, fazendo nascer um ritmo naturalmente brasileiro. Vários nomes se destacaram, como João Gilberto e João Donato, baianos dotados de rara sensibilidade e precisão musical, Vinícius de Morais, Carlos Lyra, Marcos Valle, Nara Leão, Roberto Menescal, entre muitos não menos importantes. O maestro maior, porém, foi Antônio Carlos Jobim, que, como ninguém, entre tons maiores e menores, construiu harmonicamente grandes obras. Suas músicas estão eternizadas em partituras e livros utilizados para o aprendizado musical nas mais importantes escolas de música do mundo, como Berkeley College of Music. “Garota de Ipanema”, construída, como o próprio maestro admitiu, sobre uma base harmônica de “Take the ‘A’ Train” (famoso standard de Duke Ellington), foi uma das músicas mais gravadas e interpretadas no mundo. Paralelamente, há exatos 50 anos, na Uni- versidade Federal de Pernambuco, formavase médico aquele que nesses anos de exercício profissional se tornou o grande maestro da Cardiologia Intervencionista brasileira. Como Jobim, soube como poucos, sobre a base recebida em sua formação cardiológica, desenvolver harmoniosamente vários elementos que colocaram a Cardiologia Intervencionista brasileira definitivamente no cenário internacional. O implante do primeiro stent coronário, do primeiro stent farmacológico, o desenvolvimento de um dos maiores institutos de Cardiologia e centro formador de cardiologistas intervencionistas do País foram apenas algumas de suas realizações. Como um grande maestro, regeu como poucos, como música e letra, a assistência e a ciência. Ao professor José Eduardo M. R. Sousa, nossa homenagem e nossos parabéns pelos 50 anos de exercício da Medicina. * Editor do Jornal da SBHCI CALENDÁRIO CIENTÍFICO Outubro “Cardiopatia Isquêmica – Estado da Arte” e “Atualização em Terapia Celular” 8 de outubro de 2008 Serviço de Cardiologia do Hospital Centenário – CENTENCARD – Av. Oitavo BC, 11 – São Leopoldo, RS Informações: (51) 3037-2233 / 3566-3000 Transcatheter Cardiovascular Therapeutics 12 a 17 de outubro de 2008 Washington Convention Center – Washington, DC – Estados Unidos Informações: www.tctconference.com ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 Grupo de Intervencionistas do Estado de São Paulo – Encontros Mensais 2008 21 de outubro de 2008 Hotel Paulista Plaza – Alameda Santos, 85 – Jardins – São Paulo, SP Informações: (11) 3849-5034 Grupo de Intervencionistas do Estado de São Paulo – Encontros Mensais 2008 18 de novembro de 2008 Hotel Paulista Plaza – Alameda Santos, 85 – Jardins – São Paulo, SP Informações: (11) 3849-5034 Novembro American Heart Association Scientific Sessions 2008 (AHA) 8 a 12 de novembro de 2008 Ernest N. Morial Convention Center – New Orleans, Estados Unidos Informações: www.americanheart.org Congresso da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular 19 a 22 de novembro de 2008 Costa do Sauípe Conventions – Rodovia BA-099, Km 74 – Salvador, BA Informações: (11) 2117-7100 / 2117-7102 De Centros de Treinamento às Carótidas da SBHCI Prezados Colegas, Chegamos à nona edição do Jornal da SBHCI, desde junho de 2006, sob a gestão da atual Diretoria da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI). Por vezes reflito se estas palavras, caracteres societários, tão solitários na sua criação, não são maçantes ou repetitivas. Procuro sempre focar o temário nos objetivos e desafios mais prementes, valorizando o grupo todo, e não o singular, e focando naquele momento temporal em que escrevo. Por isso mesmo, sempre é a última matéria a ser incluída na publicação, para que seja possível transmitir o maior nível de atualização possível. Dos objetivos maiores deste período de dois anos agora completos, foram atingidos todos aqueles para os quais nos preparamos, e que dependiam exclusivamente de nossas forças, credos e determinação, desde a ampla reforma administrativa, estatutária, de formação e qualidade profissional até científica. O processo de certificação está revigorado, reforçado e consistente; as duas diretrizes que propusemos, já publicadas; o relacionamento com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), estreitado e admirado; e os eventos científicos, valorizados. Sem contar a rede de comunicação com os sócios, em muito ampliada, com este periódico hoje com mais de 40 páginas, a Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI) atualizada e encaminhada para indexação superior, apresentada, sempre, com 12 artigos originais, e um portal, renovado novamente este mês, que tem batido sucessivos recordes de audiência, atingindo, no último “Repórter SBHCI no ESC 2008”, 1.620 acessos diferentes em um só dia. Além disso, os serviços da intranet encontram-se em pleno funcionamento, com a adição de mais um acesso eletrônico a um novo periódico, o Circulation Intervention. Algumas metas não dependem somente do trabalho árduo dos “G8”. Encontramos caminhos bloqueados de diálogo e interface com o governo federal e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e tivemos que “abrir uma picada”, como se diz, e ir pavimentando, pouco a pouco, esses canais, perdidos, fechados ou desconhecidos, uma tarefa sempre morosa, como são os trâmites nesses territórios. Mas felizmente, com o amparo de assessoria muito experiente e qualificada, chegamos a Brasília e entregamos ao Departamento de Atenção Especializada da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (DAE/ SAS/MS) a renovação completa da tabela de procedimentos reembolsados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) dedicados à Cardiologia Intervencionista (abril de 2008) e pleiteamos, na “Classificação Brasileira de Ocupação”, a qualificação de “cardiologista intervencionista”, até hoje não contemplada. Até final de setembro, estaremos submetendo novamente, mas com novas propostas e evidências, a solicitação de reembolso pelo SUS dos stents farmacológicos à Comissão para Incorporação de Tecnologias do Ministério da Saúde (CITEC). Em relação à ANS, entregamos, pessoalmente, em reunião formal efetivada no Rio de Janeiro, nossas novas Diretrizes Clínicas, para que sejam o balizador para autorização dos dispositivos percutâneos. E finalizando as ações governamentais, obtivemos uma ação inédita: o fomento e a liberação de importante verba de pesquisa, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para guiar um projeto de “Construção e Implementação de Sistema para a Integração e Gestão de Dados da Intervenção Coronária Percutânea no Brasil” a ser gerenciado pela SBHCI, com participação de até dez hospitais brasileiros. Qual seria, então, o próximo foco de esforços? A normatização dos Centros de Treinamento em Cardiologia Intervencionista.Amparados pela Associação Médica Brasileira (AMB), que nos delega e exige a vigilância desses centros, iniciamos amplo processo de reformulação, seja de reconhecimento dos centros já em atuação como de inspeção de novos pedidos de credenciamento. Três visitações foram efetivadas recentemente, em Brasília, Goiânia e Passo Fundo, todas com ampla transparência e demonstrando a reconhecida capacitação desses novos centros, assim como foram reduzidos em 30% os centros já cadastrados, que não mais realizam treinamento. A SBHCI deve amparar e orientar todo o processo de treinamento de nossa área de atuação, sendo eficaz na redução eventual de excesso no ingresso de jovens intervencionistas, como no cuidado com seu treinamento, evitando que a prova teórica para obtenção do título seja a única e última barreira. O processo de treinamento deve ser vislumbrado e gerenciado como um todo, desde o ingresso até o egresso, evitando que somente a prova teórico-prática se torne a última cancela. Um médico, após quatro anos de residência, boa ou ruim, não desistirá da profissão apenas por não ter sido aprovado, transformando-se em alvo fácil de manobras predatórias e que aviltam a profissão. A aderência dos sócios titulares e pertencentes a esses locais dedicados ao treinamento de jovens profissionais é fundamental para valorizar a qualidade de atendimento fornecida a nossos pacientes e, com isso, distinguindo ainda mais a Cardiologia Intervencionista brasileira. Confiram a matéria nesta edição. Por fim, o presidente também sofre acidentes e, por ironia do destino, justamente no território que mais promoveu desgaste nesta administração, “as artérias carótidas”. Felizmente, a previdência e o zelo de minha esposa fizeram obter o diagnóstico com a devida antecedência, talvez salvadora, e nenhuma cicatriz se efetivou. Após sete dias alterando minha hemostasia, retornei com a energia renovada, ainda em maior intensidade, a tempo de comparecer ao PEC-GO. Desejo, nestas breves linhas, que serão pequenas em extensão mas intensas e muito sinceras em gratidão, transmitir, em meu nome e de minha família, esposa e filhas, nosso mais sincero agradecimento às manifestações de carinho, atenção e dedicação, imensuráveis, recebidas de todo o Brasil e do exterior também, o que me acarinhou muito, evidenciando que, acima destes cargos, transitórios, seguimos compartilhando com os colegas os valores nobres que aprecio, a amizade, a sinceridade, o comprometimento e a cumplicidade, desnudo da vaidade que ronda aqueles mais afoitos ou imaturos. Os valores de uma vida simples e amorosa seguem soberanos. Vamos em frente! palavra do presidente Diagnóstico e prognóstico Luiz Alberto Mattos Presidente da SBHCI Jornal da SBHCI CIENTÍFICO PROGRAMAÇÃO DO CURSO ANUAL DE REVISÃO EM HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA 2008 26 de novembro de 2008 – das 8h15 às 19h Samuel Silva da Silva (PR) Coordenador - Comissão Permanente de Certificação 8h15 – Abertura Objetivos da Programação Científica Luiz Alberto Mattos (SP) Presidente da SBHCI Curso de re prepara can Título de Esp João Fernando Ferreira (SP) Coordenador da CJTEC – Sociedade Brasileira de Cardiologia 8h30 – 10h30 – Módulo I Fundamentos do Exame Diagnóstico e Intervencionista Coordenadores: José Antonio Marin-Neto (SP) e Luiz Antonio Gubolino (SP) 8h30 – 8h45 Radiação Ionizante: Princípios, Proteção e Recomendações Renato Dimenstein (SP) 8h45 – 9h Meios de Contraste: Como Escolher, Implicações Clínicas e Nefroproteção Otavio Berwanger (SP) 9h – 9h15 Doenças Adquiridas Cardiovasculares: Vias de Acesso para Exames Diagnósticos e Intervencionistas, Hemostasia e Complicações Luiz Antonio Gubolino (SP) 9h15 – 9h40 Interpretação Hemodinâmica, Cálculos da Área Valvar, Shunts e Débito Cardíaco: Aplicação Prática nos Exames Diagnósticos Edson Bregagnollo (SP) 9h40 – 10h Cinecoronariografia: Utilização Ótima do Método Ouro para o Diagnóstico da Doença Arterial Coronária – da Normalidade, as Projeções Adequadas até a Identificação das Anomalias Anatômicas José Antonio Marin-Neto (SP) 10h – 10h15 Angiotomografia Coronária: Princípios, Indicações, Preparo do Paciente e Especificidade Comparativa com a Cinecoronariografia Ibraim M.F. Pinto (SP) 10h15 – 10h30 Perguntas e Respostas 10h30 – 11h Coffee Break 11h – 12h30 – Módulo II Métodos Adjuntos de Imagem Coordenadores: Ibraim M. F. Pinto (SP) e Marcelo Queiroga Lopes (PB) 11h – 11h15 Ultra-som Intracoronário: Príncipios, Indicações na Avaliação das Estenoses Coronárias Moderadas, Duvidosas e Monitoração do Implante de Stents Coronários Andréa Souza Abizaid (SP) 11h15 – 11h30 Novos Métodos de Imagem Adjuntos Dedicados à Intervenção Coronária Percutânea José Ribamar da C. Júnior (SP) 11h30 – 11h45 Medida de Pressão Intracoronária e Reserva Fracionada de Fluxo do Miocárdio: Aplicações na Cardiologia Intervencionista Fernando Mendes Santana (SP) 11h45 – 12h Avaliação do Resultado Tardio após a Intervenção Coronária Percutânea:Análise Crítica dos Diversos Métodos de Imagem e Indicadores de Reestenose Coronária Paola Smanio (SP) 12h – 12h30 Perguntas e Respostas 12h30 – 13h20 Conferências de Almoço (com lunch box) Coordenadores: Luiz Alberto Mattos (SP) e Luiz Antonio Gubolino (SP) 12h30 – 12h45 Considerações e Recomendações Éticas na Prática da Cardiologia Intervencionista: Uma Necessidade, Uma Obrigação Marcelo Queiroga Lopes (PB) 12h45 – 13h Princípios da Terapia Celular: Atualização dos Ensaios Clínicos e Recomendações na Angina Crônica e no Infarto do Miocárdio Luis Henrique Gowdak (SP) 13h – 13h20 Intervenção Percutânea e a Prática Clínica Cardiológica: Qual o seu Impacto no Tratamento da Doença Arterial Coronária? Otávio Rizzi Coelho (SP) 13h20 – 14h Intervalo para Descanso 14h – 16h30 – Módulo III Intervenção Percutânea Valvar e nas Cardiopatias Congênitas Coordenadores: Valmir Fernandes Fontes (SP) e José Luiz Balthazar Jacob (SP) 14h – 14h15 Valvoplastia Mitral: Técnicas, Resultados Imediatos e Tardios José Armando Mangione (SP) 14h15 – 14h30 Valvoplastia e Troca Valvar Aórtica Percutânea: Análise Crítica e Estado Atual das Indicações Marco Antonio Perin (SP) 14h30 – 14h45 Cardiopatias Congênitas: Fundamentos, Projeções e Recomendações do Exame Diagnóstico José Luiz Balthazar Jacob (SP) 14h45 – 15h05 Tratamento da Estenose e da Insuficiência Pulmonar Valmir Fernandes Fontes (SP) 15h05 – 15h25 Fechamento Percutâneo do Forâmen Oval e da Comunicação Interatrial: Resultados Imediatos e Análise Comparativa dos Diversos Dispositivos Valmir Fernandes Fontes (SP) 15h25 – 15h45 Tratamento Percutâneo da Coarctação da Aorta e Fechamento do Canal Arterial José Luiz Balthazar Jacob (SP) 15h45 – 16h Oclusão Percutânea da Comunicação Interventricular Valmir Fernandes Fontes (SP) 16h – 16h30 Perguntas e Respostas 16h30 – 17h Coffee Break 17h – 19h – Módulo IV Intervenções Não-Coronárias Coordenadores: Cláudia Rodrigues Alves (SP) e Marcos A. Marino (MG) 17h – 17h15 Diagnóstico e Estratégias Intervencionistas para a Oclusão de Fístulas Coronárias Antonio Carlos Kambara (SP) 17h15 – 17h30 Ablação Septal na Cardiomiopatia Hipertrófica Obstrutiva: Um Procedimento Controverso ou Consagrado? José Mariani Júnior (SP) 17h30 – 17h45 Intervenção Percutânea na Doença Carotídea: Indicações, Técnicas, Resultados Imediatos e Tardios Marcos A. Marino (MG) 17h45 – 18h Intervenção Percutânea no Tratamento da Estenose Renal: Indicações, Técnicas, Resultados Imediatos e Tardios José Marconi A. Sousa (SP) ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 Hotel Sofitel, São Paulo, Rua Sena Madureira, 1355 A SBHCI promoverá, em 26 e 27 de novembro, o Curso Anual de Revisão em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. O objetivo principal desse curso é a preparação dos candidatos para o concurso anual para obtenção do Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. A versão 2008 do Curso Anual de Revisão da SBHCI está totalmente reformulada e ampliada, com carga horária de 40 horas/aula. Serão expostos desde os princípios dos exames diagnósticos até os avanços mais recentes relacionados à Cardiologia Intervencionista. A entidade espera que esse novo modelo, ministrado de maneira objetiva e esclarecedora, proporcione maior rendimento e promova a renovação do conhecimento científico, com base em evidências robustas. Deve-se ressaltar que esse encontro científico também estará aberto a todos os médicos interessados em renovar seus conhecimentos ou em obter mais informações acerca da Cardiologia Intervencionista. O curso será realizado no Hotel Sofitel, em São Paulo, ndidatos AO pecialista situado à Rua Sena Madureira, 1.355, no Ibirapuera, zona sul da capital. Registrado na Comissão Nacional de Acreditação da Associação Médica Brasileira/Conselho Federal de Medicina, o Curso Anual de Revisão vale pontos para a revalidação do Título de Especialista. Todos os participantes com um mínimo de 75% de freqüência receberão certificados a partir das 16 horas do dia 27 de novembro. Programação Os temas da programação são, em sua totalidade, de extrema relevância para a formação e a atualização do cardiologista intervencionista. Entre diversas questões relevantes, serão abordadas cardiopatias congênitas, procedimentos extracardíacos, gestão hospitalar e ética médica, além de terapia celular intervencionista. Inscrições As inscrições, que podem ser feitas no website (www.sbhci.org.br), dão direito a material do evento, que inclui um CD com as aulas, coffee breaks, refeições e jantar de confraternização. CIENTÍFICO evisão 18h – 18h20 Tratamento Intervencionista dos Aneurismas de Aorta: uma Compilação do Estado da Arte Cláudia Rodrigues Alves (SP) 18h20 – 18h40 Abordagem Percutânea das Estenoses de Subclávia, Femoral, Ilíaca e Poplítea: Recomendações para o Cardiologista Intervencionista Antonio Carlos Kambara (SP) 18h40 – 19h Perguntas e Respostas 19h Encerramento 27 de novembro de 2008 – das 8h30 às 19h 8h30 – 10h30 – Módulo V Intervenção Coronária Percutânea – Indicações Clínicas Coordenadores: Antonio Carlos Carvalho (SP) e Luiz Alberto Mattos (SP) 8h30 – 8h45 Revascularização Percutânea na Angina Estável e na Isquemia Miocárdica Silenciosa Eulógio Martinez Filho (SP) 8h45 – 9h Estratificação de Risco e Abordagem Invasiva na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnível do Segmento ST Fausto Feres (SP) 9h – 9h15 Intervenção Coronária Percutânea Primária no Infarto Agudo do Miocárdio Luiz Alberto Mattos (SP) 9h15 – 9h30 Infarto Agudo do Miocárdio: da Intervenção de Resgate à Eletiva após a Fibrinólise José Carlos Nicolau (SP) 9h30 – 9h45 Abordagem Intervencionista do Infarto Agudo do Miocárdio com Apresentação Superior a 12 horas: Critérios e Recomendações Atuais Antonio Carlos Carvalho (SP) 9h45 – 10h Infarto Agudo do Miocárdio e a Estratégia Fármaco-Invasiva: Ainda um Mito ou Já É uma Realidade? Leopoldo Soares Piegas (SP) 10h – 10h30 Perguntas e Respostas 10h30 – 11h Coffee Break 11h – 13h – Módulo VI Intervenção Coronária Percutânea – Subgrupos Especiais Coordenadores: Amanda Sousa (SP) e Fernando S. Devito (SP) 11h – 11h15 Diabete Melito: Considerações Clínicas, Indicações da Revascularização Percutânea e Escolha de Dispositivos Áurea J. Chaves (SP) 11h15 – 11h30 Doença Coronária Multiarterial e Intervenção Coronária Percutânea: as Recomendações da II Diretriz SBC & SBHCI Ainda Estão Válidas? Amanda Sousa (SP) 11h30 – 11h45 Estenose Coronária em Bifurcações e no Tronco da Coronária Esquerda: Seleção da Melhor Estratégia, Resultados Tardios e Recomendações Baseadas em Evidências Marco Antonio Perin (SP) 11h45 – 12h Oclusão Coronária Crônica: Indicações Clínicas, Seleção de Materiais e Resultados com os Diversos Dispositivos George C. Meirelles (SP) 12h – 12h15 Enxertos de Veia Safena: da Melhor Técnica aos Dispositivos de Proteção Distal até o Implante de Stents Coronários Wilson A. Pimentel Filho (SP) 12h15 – 12h30 Diâmetro e Extensão das Estenoses Coronárias e sua Influência na Intervenção Coronária Percutânea Fernando S. Devito (SP) 12h30 – 12h45 Reestenose Intra-Stent: Diagnóstico, Estratificação de Risco e Escolha da Modalidade Terapêutica Adequada Fábio Sandoli de Brito Júnior (SP) 12h45 – 13h Perguntas e Respostas 13h – 13h30 Conferência de Almoço (com lunch box) Coordenador: Luiz Alberto Mattos (SP) 13h – 13h30 Estado da Arte da Cardiologia Intervencionista: dos Balões aos Stents Farmacológicos José Eduardo Sousa (SP) 13h30 – 14h Intervalo para Descanso 14h – 16h30 – Módulo VII Dispositivos Adjuntos e Stents Coronários Coordenadores: Pedro A. Lemos Neto (SP) e Marcelo Cantarelli (SP) 14h – 14h15 Dispositivos de Ateroablação: Quando e Como Utilizar Salvador André Bavaresco (SP) 14h15 – 14h30 Suporte do Balão Intra-aórtico e Abordagem do Choque Cardiogênico Marcelo Cantarelli (SP) 14h30 – 14h45 Escolha de um Stent Não-Farmacológico: São Todos Iguais? Rodolfo Staico (SP) 14h45 – 15h Stents Farmacológicos com Eluição de Sirolimus: Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados Expedito E. Ribeiro (SP) 15h00 – 15h15 Stents Farmacológicos com Eluição de Paclitaxel: Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados Valter Correa Lima (SP) 15h15 – 15h30 Stents Farmacológicos com Eluição de Zotarolimus: Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados José Armando Mangione (SP) 15h30 – 15h45 Stents Farmacológicos com Eluição de Everolimus: Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados Pedro A. Lemos Neto (SP) 15h45 – 16h Existe Efeito de Classe para os Stents Farmacológicos? Do Presente ao Futuro Alexandre A. Abizaid (SP) 16h – 16h30 Perguntas e Respostas 16h30 – 17h Coffee Break 17h – 19h – Módulo VIII Gestão, Cardiologia Clínica e a Prática da Cardiologia Intervencionista Coordenadores: Marcelo Queiroga Lopes (PB) e Pedro A. Lemos Neto (SP) 17h – 17h15 Gerenciamento de um Serviço de Cardiologia Invasiva: a Integração da Enfermagem com o Médico Simone S. Fantin (RS) 17h15 – 17h30 Recomendações Atuais para o Gerenciamento de um Serviço de Cardiologia Intervencionista Hélio José Castelo Jr (SP) 17h30 – 17h45 Complicações Imediatas na Intervenção Coronária Percutânea: Identificação e Tomada de Decisão Terapêutica Francisco de Paula Stella (SP) 17h45 – 18h Prescrição Dedicada à Intervenção Coronária Percutânea: dos Antiplaquetários aos Hipolipemiantes Luiz Fernando Tanajura (SP) 18h – 18h15 Heparinas e Inibidores do Complexo IIb/IIIa: Recomendações Baseadas nas Diretrizes Brasileiras Luciano Baracioli (SP) 18h15 – 18h30 Manejo Clínico dos Pacientes Submetidos a Revascularização Coronária Percutânea: do Preparo à Evolução a Longo Prazo Marinella Centemero (SP) 18h30 – 19h Perguntas e Respostas 19h Encerramento Jornal da SBHCI Programa de Educação Continuada PEC-SBHCI 2008 chega ao Luiz Alberto Mattos* O Programa de Educação Continuada da SBHCI (PEC-SBHCI) chegou ao fim da etapa 2008, seu primeiro ano de existência. Às edições inicialmente planejadas mais duas foram adicionadas, na Região Centro-Oeste, completando assim oito rodadas e atingindo os objetivos federativos que todos os sócios desejavam. Um sucesso. Debate palpitante PEC-Goiás (XVI Congresso Goiano de Cardiologia) – Goiânia, 22 de agosto de 2008 Na vigência do XVI Congresso Goiano de Cardiologia, a SBHCI foi convidada por um de seus sócios, Maurício Prudente, para inserir mais uma edição do PEC. Em 22 de agosto, 135 pessoas reunidas no Centro de Convenções de Goiânia assistiram às apresentações de José Antonio Marin-Neto, Hélio Roque Figueira e Amanda G. M. R. Sousa. O caso clínico foi apresentado por Luiz Alberto Mattos, e gerou intensa discussão, com análise crítica de alta qualificação entre a platéia e os debatedores, Anis Rassi Júnior e Paulo César Veiga Jardim. Um sucesso, discussão trepidante, polar e controversa. Certamente gerou diversas reflexões e sedimen- Da esquerda para a direita, Maurício Prudente, Luiz Alberto Mattos, Amanda Sousa e Flávio Passos tou conceitos pertinentes com a platéia, relacionados às diversas interpretações do estudo clínico COURAGE. Finalização em palco de gala PEC-Paraná (630 Congresso Brasileiro de Cardiologia) – Curitiba, 7 de setembro de 2008 A SBHCI finalizou o PEC-SBHCI 2008 justamente no maior fórum científico nacional da Cardiologia, na vigência do 63o Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado na manhã fria de 7 de setembro, em Curitiba, Paraná. No Dia da Independência, Da esquerda para a direita, Luiz Alberto Mattos, Paulo César Veiga Jardim, Hernando Nazzeta, Flávio Passos Barbosa, Nelson Morais e Anis Rassi Junior ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 escalou alguns de seus mais prestigiados e reconhecidos pesquisadores, ladeados por dois debatedores dotados de elevada proficiência e experiência cardiológica, acadêmica e assistencial, dois verdadeiros “professores”. Mais de 290 congressistas lotaram a sala nas palestras de Expedito Ribeiro, Costantino Costantini e Amanda Sousa. Eles explanaram aos colegas cardiologistas e profissionais da área da Saúde as três aulas pivôs do programa do PEC-SBHCI, levadas de norte a sul do Brasil. O conteúdo contemplou desde a análise crítica da cinecoronariografia até as indicações mais atuais da intervenção coronária percutânea nas síndromes co- As palestras do PEC-Goiás tiveram casa cheia: 135 especialistas acompanharam as discussões científicas Programa de Educação Continuada fim: missão cumprida! Audiência foi espetacular no PEC-Paraná, realizado no Congresso da SBC Gilson Feitosa e Protásio Lemos da Luz ronárias agudas. Também tratou da abordagem crítica das principais controvérsias contemporâneas, quais sejam as indicações clínicas da angioplastia coronária em pacientes portadores de isquemia miocárdica silenciosa e angina estável, e os mais recentes resultados acerca da utilização dos stents farmacológicos. O caso clínico foi demonstrado por um dos mais experientes coordenadores de sessões em congressos cardiológicos, Fausto Feres. Ele suscitou intensa e acalorada discussão com os dois debatedores, Gilson Soares Feitosa e Protásio Lemos da Luz, em torno dos resultados do ensaio clínico OAT. Um show de elegância e conhecimento. PEC-SBHCI: reflexões e perspectivas Após oito edições, consideramos que o projeto iniciado em 2008 foi muito bemsucedido. O propósito de inserir a SBHCI em todos os principais eventos cardiológicos brasileiros foi obtido com robustez e assiduidade. Em todos os eventos, à exceção do realizado na Região Norte-Nordeste, observamos salas repletas (lotadas ou com ocupação de mais de 70% dos assentos disponíveis) e audiência composta essencialmente de clínicos e cardiologistas, justamente nosso “público-ouro”. O resgate de uma interface intensa e transparente com os cardiologistas, a nossa origem, de todos os sócios SBHCI, foi fundamental. Em um momento em que obser- Paulo Rossi, Costantino Costantini, Amanda Sousa e Expedito Ribeiro vamos uma pletora de eventos científicos e a competição de múltiplos interesses das diversas áreas de atuação que compõem a Cardiologia, a presença marcante da SBHCI em todos os eventos regionais foi uma mudança de paradigma. Nós, cardiologistas intervencionistas, vínhamos, pouco a pouco, nos afastando do público mais interessado e ávido por obtenção de novos conhecimentos colocados em fóruns que possibilitassem discussões imparciais, qualificadas e isentas de conflitos de interesses. Agora voltamos ao rumo e os objetivos foram cumpridos. Os resultados que todos esperam ocorrerão a médio prazo, e a consolidação do projeto 2008 será efetivada em 2009, modificando a programação, com renovação do temário e dos participantes, capturando, de forma rápida, os desejos e as aspirações do grande público cardiologista, assim como enfrentando as controvérsias científicas que se sucedem, de tempos em tempos. Para 2009, pretendemos reprisar quase todos os eventos realizados em 2008, alguns mediante inserção contratada e outros com convites espontâneos que somente nos honram em demasia. A SBHCI busca com determinação o exercício diário federativo, do singular ao plural, do lema desta administração: a ética com a mais elevada competência. Vamos em frente! * Presidente da SBHCI Jornal da SBHCI Ciência O mundo das pesquisas na visão de Eduardo Krieger “Estamos em um momento muito favorável, especialmente porque a história da pesquisa no Brasil ainda é muito recente” U m dos maiores pesquisadores do País, o professor Eduardo Moacyr Krieger conta, em entrevista exclusiva ao Jornal da SBHCI, como é o universo das pesquisas no Brasil, quais os requisitos básicos para atuar nessa área e já adianta: “É necessário haver vocação, precisa ter aptidão, curiosidade e prazer”. Confira! O senhor já se aposentara quando aceitou o desafio do InCor. Por que o recomeço? Eu me aposentei moço, em Ribeirão Preto, tinha 56 anos. A motivação veio da atração pela linha de pesquisa da hipertensão. Fazia a área experimental, mas vivia muito a problemática da hipertensão no humano. Estava bem motivado, pois toda minha pesquisa sempre era básica, mas visando a uma entidade clínica. Assim, quando Fúlvio Pileggi me chamou para o InCor, aceitei rapidamente. Por favor, fale um pouco de sua formação. Formei-me em Medicina no Rio Grande do Sul, em 1953. Pretendia seguir carreira universitária, trabalhando na faculdade e na área clínica. À época, meu professor, o cardiologista Rubens Maciel, estava na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e organizou um programa para treinamento de fisiologistas em Porto Alegre. Tinha o apoio da Escola Argentina, representada pelo prof. Bernardo Alberto Houssay, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1947, que se dispôs a ir a Porto Alegre para orientar a formação de novos fisiologistas. Rubens Maciel me convenceu a acompanhar a programação, porque entre renomados especialistas argentinos estava o prof. Eduardo Braun-Menendez, um dos pesquisadores de maior importância no campo da hipertensão experimental, que descobriu a angiotensina. Fui então estagiar na Fisiologia, depois me transferi para Buenos Aires, na Argentina, onde trabalhei com o prof. Braun-Menendez no instituto do prof. Houssay. Mais tarde fui estudar nos Estados Unidos e ao retornar recebi convite do grupo do prof. Houssay, entre os quais estava o prof. Miguel Covian, neurofisiologista destacado, para dirigir o Departamento de Fisiologia de Ribeirão Preto, para desenvolver a Fisiologia Cardiovascular em Ribeirão Preto. Começou, assim, em Ribeirão Preto, na Faculdade de Medicina, minha carreira, em 1957, justamente quando estava se formando a primeira turma. na: doutor, docente, professor de disciplina, professor associado, professor titular, chefe de departamento. Fiz tudo e me aposentei em 1985. No mesmo ano, já aposentado, aceitei um convite do prof. Fúlvio Pileggi, então diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/ HC-FMUSP), para dirigir um programa de hipertensão nessa instituição, integrando pesquisa básica e clínica. Em Ribeirão Preto, no Departamento de Fisiologia, fazia a hipertensão experimental, freqüentava os congressos internacionais, fui um dos primeiros presidentes da Sociedade Interamericana de Hipertensão, fazia parte da Diretoria da Sociedade Internacional de Hipertensão, tendo, assim, enorme contato com a área clínica tanto brasileira como internacional. Então estava motivado a aceitar o desafio de atuar no InCor e fazer pesquisa básica associada à pesquisa clínica em hipertensão. Começou aí outra etapa de minha carreira. E qual foi o caminho de Ribeirão Preto ao InCor? Desenvolvi toda minha carreira no Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medici- Em qual momento surgiu o carinho especial à pesquisa básica? Fiquei em Ribeirão muitos anos no Departamento de Fisiologia, fazendo só a parte ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 experimental. Foi no InCor que consegui recuperar a integração com a área clínica. É interessante isso, porque comecei com a decisão de fazer clínica, passei quase trinta anos na pesquisa apenas experimental e, agora, nos últimos vinte anos, estou novamente fazendo a parte integrada, a humana e a experimental. Qual o momento mais marcante de sua carreira? Não sei se o mais marcante, mas o que me deu mais reconhecimento internacional, gerando quase 600 citações do trabalho, foi quando descrevi uma metodologia para produzir a hipertensão neurogênica no rato. Fiz a denervação dos barorreceptores, trabalho que publiquei em 1964 no Circulation Research. O rato passa a ter uma desregulação do sistema de controle da pressão arterial, tornando-se um modelo espetacular para você estudar vários aspectos de interesse clínico, como, por exemplo, a deficiência do sistema de controle da pressão e o aumento da labilidade da pressão sobre a lesão de órgão-alvo. Esse foi o trabalho de maior repercussão? Esse teve excelente repercussão. Posso citar outro, no qual colaborei com o farmacologista Sérgio Ferreira, em Ribeirão Preto. Ele descobriu os inibidores da enzima conversora, um dos feitos mais notáveis da Medicina brasileira. A descoberta não é minha, é do Sergio Ferreira, à época meu colega de farmacologia. Colaborei na última fase para demonstrar que os peptídeos isolados do veneno da jararaca e já sintetizados faziam a pressão do rato hipertenso cair. Foi a primeira demonstração in vivo de que os inibidores das enzimas conversoras realmente eram Ciência anti-hipertensivos. Esse é um dos trabalhos de que mais gosto. Publicamos no Lancet, em 1971, em colaboração com Sergio Ferreira, demonstrando que esses peptídeos, que chamamos de inibidores da enzima conversora, eram eficazes na hipertensão. O que mais o satisfaz no universo das pesquisas: a idéia ou o resultado? O que mais alegra o pesquisador é exatamente viver o ambiente de pesquisa. Ele tem a idéia, vai ao laboratório, põe em teste... Se vê que não funciona, faz outra aproximação. É o prazer de realizar, não é o resultado, o resultado é conseqüência. Evidentemente não vou trabalhar em algo que não dê resultado, mas é preciso ter prazer. O resultado negativo muitas vezes é útil por mostrar que o pensamento original estava errado e o animal está certo. Então reformula-se a pergunta, porque quem sabe lá há uma variável importante não contemplada no raciocínio inicial. Enfim, vale o prazer da pesquisa, é você ter perguntas, colocar essas perguntas em um esquema experimental, corrigir o esquema experimental, obter o resultado. Quer dizer, tudo isso dá prazer, é a vivência da pesquisa. Como uma idéia se transforma em projeto, e como um projeto se transforma em publicação? Na Medicina, as idéias sempre surgem a partir de uma linha de pesquisa que já existe. Dificilmente aparece uma idéia totalmente original com métodos integralmente novos. Outro ponto importante é que não adianta você ter uma boa pergunta se não tem os meios de verificar aquilo, de medir. Fazemos ciência medindo, então tenho de elaborar uma pergunta capaz de ser mensurada, caso contrário não rende pesquisa. Enfim, é preciso ter boas idéias, mas também é preciso conhecer a metodologia que se pode usar para respondê-la. É assim que a ciência avança, o original é muito raro. Claro que quando ocorre é muito bom, mas de maneira geral o progresso da ciência se faz pedaço a pedaço, passo a passo, por aproximações sucessivas. São pedrinhas colocadas para erguer um edifício. A pesquisa no Brasil está em um nível bom? Está em um momento muito favorável. A pesquisa no Brasil começou recentemente. Somos um país jovem nesse particular e as nossas universidades não têm 100 anos. A Universidade de São Paulo, por exemplo, foi criada em 1934; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1950; a CAPES, em 1951; o Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985. Então, todo o nosso sistema de ciência e tecnologia é bem novo. Praticamente começamos a fazer ciência no Brasil só recentemente. Para dar uma idéia, nos idos de 1980 publicávamos 0,4% da ciência internacional, e hoje chegamos a 2%. Houve um progresso fantástico nos últimos trinta anos na ciência brasileira, primeiro pelo amadurecimento do sistema universitário. Um ponto importante foi a criação da pós-graduação stricto sensu em 1970, que passou a formar doutores para o Brasil. Assim, na década de 80, formávamos 500 doutores por ano; na década de 90, 1.500 doutores anualmente; e terminamos 2000 com 4.500 doutores por ano. Triplicamos o número de doutores a cada dez anos. Agora já estamos formando 10 mil doutores, e provavelmente terminaremos a década com 15 mil ou 16 mil doutores por ano. É um crescimento fantástico, uma média de 14% ao ano. Isso tudo se refletiu na produção científica e na ciência brasileira, que hoje ocupa o 15o lugar da ciência internacional. Ciência e Tecnologia, o CNPq e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Hoje quase todos os Estados têm uma fundação de amparo à pesquisa. Em São Paulo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) funciona desde 1960, e muito bem. Tem 1% do orçamento do Estado e 20% de tudo o que gasta por ano vai para o setor da Saúde. Na área federal, além do CNPq há também uma grande soma de auxílio para a área médica. Temos o Ministério da Saúde que também investe, e que no ano passado, aliás, investiu quase R$ 160 milhões. Importante ainda na área federal são os fundos setoriais criados para incentivar e desenvolver setores por meio da pesquisa. Existem vários fundos setoriais para energia, água e minerais, e existe um para a Saúde, com cerca de R$ 80 milhões por ano. O sistema se organizou, é um sistema constituído, estável, que está recebendo verbas igualmente estáveis, que dependem menos das oscilações orçamentárias anuais do governo. Mas ainda deixamos a dever aos países desenvolvidos? Temos hoje a qualidade da nossa ciência, avaliada pelo impacto dos trabalhos, igual à média internacional. Varia um pouco de um ramo da ciência para outro, Física, Química, Medicina. Mas, em média, nosso impacto é igual à média internacional. Uma boa média, mas pode melhorar. Qual o perfil ideal do pesquisador da área básica? Primeiro é necessário haver vocação, precisa haver aptidão, curiosidade e ter prazer de fazer pesquisa. É o ingrediente inicial. Daí a importância de os estudantes de Medicina terem oportunidade da iniciação científica. Expostos a um ambiente de pesquisa, verão se gostam, se é uma coisa que dá prazer. Despertado esse interesse, o treinamento atualmente está muito facilitado, pois temos pós-graduação, bolsas, enfim, boas oportunidades em todas as áreas, particularmente na Cardiologia. Precisamos acabar com o mito de que o pesquisador é um ser diferente, que já nasce diferenciado. Relevante é despertar a vocação, como qualquer outra profissão. Aliás, precisamos de um número enorme de pesquisadores e não podemos esperar que sejam todos absolutamente excepcionais. Eles podem ser bem treinados. Como se treina um bom especialista, treinase também para fazer pesquisa em Cardiologia. Pesquisa se aprende mexendo, fazendo, é o chamado treinamento em serviço. Como anda o financiamento às pesquisas básicas? A pesquisa básica é financiada pelo poder público no Brasil, o mesmo que em qualquer país do mundo, principalmente nos fortemente industrializados. A relação das empresas com a pesquisa visa mais à aplicação, à inovação. Quem tem a responsabilidade de manter a pesquisa básica é o setor público. Aqui temos, na área federal, o Ministério da É necessário “haver vocação, precisa ter aptidão, curiosidade e prazer de fazer a pesquisa ” Jornal da SBHCI Ciência Qual é a fronteira entre a pesquisa de bancada e a clínica? Nenhuma no que se refere à qualidade. As duas exigem a mesma abordagem metodológica, o mesmo rigor. Na bancada experimental, com bioquímica, biologia molecular, fisiologia integrada em animais de experimentação, você faz as perguntas e usa métodos científicos da área. Para a investigação clínica, você utiliza o mesmo rigor científico, só que com instrumentos próprios para o ser humano. Alguém bem treinado para pesquisa pode tanto fazer a de bancada como a clínica. Aliás, hoje o ideal são indivíduos que façam as duas coisas com a visão integrada. Qual o charme da pesquisa na área cardiovascular? Hoje a mortalidade por doenças cardiovasculares é de cerca de 30%, com enorme custo socioeconômico. Então tudo que se empreende em pesquisa cardiovascular é importante para a humanidade. É fundamental conhecer mais sobre a regulação da pressão arterial, a aterosclerose, o infarto do miocárdio, e as degenerações vasculares.A pesquisa cardiovascular na área básica tem essa dinâmica de beneficiar uma parcela relevante da população. Aliás, isso dá um charme especial à pesquisa na área cardiovascular. ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 “ Precisa ficar claro se o pesquisador tem ou não conflito de interesses ” Qual o momento de o experimento sair do laboratório e ser testado? Eu, por exemplo, fiz muitas coisas estritamente no animal de experimentação. Desenvolvi esse modelo da denervação sinoaórtica, que produz a alteração do controle da pressão arterial, e estudamos muito as alterações no animal de experimentação, inclusive as alterações da pressão durante o sono com o sistema desregulado. Agora estamos aplicando esse conhecimento na investigação clínica. Há muitas perguntas sobre o sono do homem que procuramos responder. Hoje temos a oportunidade de medir a atividade simpática no homem, podemos registrar a pressão arterial de forma contínua e correlacioná-la com a atividade neurovegetativa de forma fácil, sem grandes problemas. Então aquilo que muitas vezes é descoberto no animal de experimentação necessita ser revalidado no homem. Existem conflitos de interesses na pesquisa? Esse é um problema que a classe médica sempre enfrenta. Precisa ficar claro se o pesquisador tem ou não conflito de interesses, se está trabalhando para determinado laboratório, etc. O problema de conflito de interesses existe e a classe médica tem de enfrentar. As entidades de classe devem permanecer vigilantes na ética para que não ocorram desvios. Se pudesse voltar ao passado, repetiria tudo outra vez em termos profissionais? É uma pergunta para a qual já saio com a resposta comprometida. Só conheço a minha carreira, não tive experiência com qualquer outra profissão. Hoje estou contente, muito contente com a minha profissão. Não tenho a mínima dúvida de que a escolheria de novo. Mas, lembro, grande parte do que sou dependeu dos motivos que tive e das circunstâncias favoráveis que encontrei, conforme dizia o filósofo: “O homem vale pelo que é e pelas circunstâncias”. O coordenadorgeral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde, Cloer Vescia Alves, faz uma avaliação do Sistema de Atendimento Médico de Urgência templando 100 milhões de habitantes. Quais sãos os números atuais? A estrutura atual do SAMU conta com 144 serviços implantados, que abrangem 1.166 municípios, correspondendo a mais de 101 milhões de pessoas com acesso gratuito ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, pelo número 192. F ormado pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG – Rio Grande, RS), em 1987, com atuação nas áreas de Clínica Médica e Medicina Aeroespacial, Cloer Vescia Alves foi médico da Aeronáutica com experiência de vôo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea, busca e salvamento durante onze anos. Em sua trajetória profissional, também adquiriu qualificação em direção e gestão hospitalar, trabalhando como diretor técnico-médico da UNIAIR-Transporte Aeromédico Unimed/RS (1997-2004), como chefe médico da MedSUL Táxi Aéreo (20012004), e como coordenador médico do Sistema de Atendimento Médico de Urgência (SAMU METROPOLITANO RS – 2005-2007) e do Programa SALVAR da Secretaria Estadual da Saúde/RS (2004-2007), entre outros. Atualmente é coordenador-geral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde. É sobre sua experiência de hoje, no SAMU, que Cloer Vescia Alves fala com exclusividade ao Jornal da SBHCI. O SAMU foi reformulado por completo nas duas gestões da atual Presidência da República e do Ministério da Saúde. O que mudou? Dois dos pilares da nova fase no atendimento médico de urgência no País são a Portaria 1.963/03, que instituiu a Política Nacional de Atenção às Urgências, e a Portaria 1.854/03, que instituiu o SAMU 192. A prioridade foi dada à implantação Saúde pública OS AVANÇOS E AS DIFICULDADES DO SAMU “ Apresentamos propostas na prevenção aos agravos à saúde da criança e do adolescente, a partir de ações do Programa SAMUCA ” e ao desenvolvimento do Sistema, que se iniciou em 2004, absorvendo serviços de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) públicos preexistentes, unificando-os na Rede SAMU 192, em um programa tripartite, ou seja, com a participação do governo federal (50%), dos Estados (25%) e dos municípios (25%). Assim, rapidamente o País recebeu investimentos de monta na área de urgência, que permitiram o crescimento do componente pré-hospitalar móvel da política nacional, o SAMU. Até o fim de 2007, mencionava-se que mais de 100 serviços de atendimento móvel já se encontravam ativos em quase 800 municípios brasileiros, con- Há quanto tempo assumiu a coordenação geral do SAMU e quais os desafios enfrentados? Assumi a gestão da Coordenação-Geral de Urgência e Emergência (CGUE) no segundo semestre de 2007. Os desafios são gigantescos, pois, como médico atuante na área de urgência, tanto em unidades móveis como em unidades fixas, bem como em transporte aeromédico, pude estabelecer uma proposta para a nova gestão, a partir de experiência fundamental no atendimento pré-hospitalar, tendo atuado, também, na gestão hospitalar. A primeira iniciativa foi a de priorizar a integração entre a Rede SAMU 192 e o Programa de Qualificação da Atenção Hospitalar de Urgência, o QualiSUS, a fim de permitir o avanço do componente hospitalar como referência ao atendimento prestado pelo SAMU 192. Também foi proposta ao ministro da Saúde a implantação do componente préhospitalar fixo, representado pela unidade não-hospitalar de atenção às urgências, comumente denominada UPA (Unidade de Pronto Atendimento e Apoio Diagnóstico), como forma de preencher vazios assistenciais entre o atendimento prestado pelas unidades móveis e a retaguarda hospitalar. O que destacaria como pioneiro em sua gestão? De forma pioneira, apresentamos proposta para inserção da Rede SAMU 192 na prevenção aos agravos à saúde da criança e do adolescente, a partir de ações do Programa SAMUCA, que está sendo criado para esse fim. As atividades desse programa incluirão profissionais do SAMU 192, que multiplicarão informações sobre o APH, principalmente no que diz respeito à prevenção aos Jornal da SBHCI 11 Saúde pública agravos.As situações serão contextualizadas e contarão com personagens infantis como protagonistas de histórias em quadrinhos, jogos infantis e atividades lúdicas, entre diversas outras abordagens. Quais as regras gerenciais econômicas do sistema SAMU com os gestores municipais e estaduais? Como o programa conta com investimento de 100% do governo federal, os Estados e os municípios proponentes necessitam apresentar projeto de acordo com as portarias que regulamentam as diversas áreas do SAMU 192: central de regulação, sede do SAMU, bases operacionais descentralizadas e contratação de pessoal, entre outros passos necessários à habilitação de um serviço. A etapa de custeio conta com a participação das esferas federal, estadual e municipal, cobrindo, respectivamente, 50%, 25% e 25% da manutenção do serviço.A CGUE adotou um programa mínimo, além de um passo-apasso,para orientar os gestores interessados em disponibilizar o atendimento 192 em sua região/município. A Portaria 1.864 estabelece incentivos financeiros para a construção da área física. Da mesma forma, há recurso previsto para aquisição de materiais e equipamentos das centrais de regulação médica. A mesma legislação prevê, ainda, o repasse mensal de 50% do custeio para as unidades de suporte básico e de suporte avançado. Atualmente, a CGUE trabalha na proposta de elevação dos valores repassados às centrais de regulação, valores esses que passarão a ser compatíveis com o porte de cada central e não mais de forma linear, o que representava uma distorção. A interface com os demais sistemas públicos de Saúde promove sinergismo positivo ou é entrave ao crescimento do SAMU? Certamente, quanto mais descentralizada a ação mais difíceis se tornam a avaliação e o controle. Além de haver mais suscetibilidade a interferências na gestão, a partir do momento em que envolvem diversas esferas públicas, que, muitas vezes, vivem momentos diferentes em termos de encaminhamento político-administrativo. O que se observa no SAMU, felizmente, é um sinergismo em torno da observância do que está proposto nas portarias, e os profissionais que se envolvem com o SAMU, por sua vez, terminam por estabelecer compromissos com os gestores. Já o perfil de quem trabalha no APH se alinha como um ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 comportamento aguerrido. Obviamente, podem haver distorções, o que enseja auditorias e avaliações técnicas sistemáticas por parte da Coordenação-Geral. Qual a verba anual destinada ao SAMU? Ela foi mantida, reduzida ou ampliada para 2009? O orçamento anual do SAMU 192 para custeio conta com cerca de R$ 300 milhões, e o montante para investimento gira em torno de R$ 250 milhões. Obviamente, há momentos em que o investimento pode se elevar em função de aquisições de grande vulto, como ambulâncias para renovação da frota e implantação de novas unidades, a exemplo dos helicópteros. Os profissionais médicos, de enfermagem, técnicos e outros são contratados em que proporção, e sob qual regime contratual? A Portaria 1.864 preconiza o concurso público, que é a modalidade do Serviço Público, sendo responsabilidade dos gestores estaduais ou municipais executar a contratação e fazer a gestão de pessoal. A precariedade de vínculo não é aceita pelo Ministério da Saúde, o que motiva avaliação e controle “ A força de trabalho da Rede SAMU conta com cerca de 25 mil profissionais ” nas unidades, bem como auditorias.Algumas situações transitórias também são permitidas, à luz de que não há vínculo precário, a exemplo de contratação pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a partir de consórcios intermunicipais para viabilização de SAMU regional/estadual. Em situações específicas, ocorrem, também, contratações emergenciais, até que o concurso público seja instituído. A força de trabalho da Rede SAMU conta com cerca de 25 mil profissionais, sendo aproximadamente 7 mil técnicos de enfermagem, 7 mil condutores, 4 mil médicos, 3 mil enfermeiros, 2.500 radioperadores, além de pessoal administrativo e de apoio, que representam cerca de 1.500 pessoas. Sabemos da amplitude das emergências médicas e da ênfase ao atendimento ao trauma. Persiste sendo a prioridade principal? Não. O trauma se trata, sem dúvida, de uma causa importante em relação à amplitude das urgências. A partir desta gestão da CGUE, passamos a utilizar a análise de cenário como fator de planejamento para as ações na área de urgência e emergência. A avaliação geral do cenário de morbidade e mortalidade no País nos aponta a primeira causa como sendo eventos cardiovasculares (aqui incluídos os de origem tanto cardíaca como cerebral), a segunda como sendo as neoplasias e a terceira, o trauma. Quando avaliamos por gênero, percebemos que nos homens a primeira causa permanece sendo eventos cardiovasculares, seguidos pelo trauma, como segunda causa. Já na população feminina se mantêm os eventos cardiovasculares como primeira causa, mas aparecem como segunda causa as neoplasias; o trauma, no gênero feminino, ocupa a sexta causa. Dessa forma, o atendimento do SAMU 192 necessita de capacitação para intervir em função do que mais prevalece, ou seja, a intercorrência clínica. De maneira geral no País, as emergências clínicas se fazem presentes em cerca de 60% a 70% de toda a demanda da Rede 192; as causas externas, aí incluído o trauma, respondem por cerca de 30% a 40%. As variações são bastante significativas em função de cada região do País e seus respectivos indicadores, como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e renda per capita, entre outros. Cite algumas das prioridades nessa área. Temos como meta desta gestão a estrutu- Como o SAMU se prepara para esse desafio e otimização dos resultados do atendimento aos infartados no Brasil? Como etapa preliminar, trabalhamos, ainda, para aprimorar a intervenção primária. A Rede SAMU 192 está sendo preparada para tal cenário, pois já iniciamos a implantação de motocicletas, conduzidas por socorristas com formação em técnico de enfermagem e suporte básico de vida, tendo à disposição todo o material necessário, além de oxigênio e desfibrilador externo automático (DEA). Essa iniciativa objetiva reduzir o tempo-resposta justamente nas intercorrências tempodependentes (IAM e AVC). Sabidamente, a intervenção com ambulância depende das condições de tráfego e de acesso, entre outros aspectos. A motocicleta permite redução significativa do tempo-resposta no APH e garante à vítima o essencial para manutenção da vida e interrupção da lesão, minimizando o dano ao miocárdio ou ao encéfalo. Também investimos em sistemas de rastreamento de chamadas que contenham palavras-chave (designativos ou indicativos de sinais ou sintomas que possam estar associados a eventos de IAM ou AVC). A capacitação das equipes para reconhecimento precocemente de sinais e sintomas também é fundamental. Além disso, o fluxo de encaminhamento desses pacientes tem que estar previsto “ Em cinco anos de trabalho já foi possível garantir cobertura a uma população de mais de 101 milhões de pessoas Saúde pública ração de redes de atenção aos eventos cardiovasculares, priorizando o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC). Trata-se de um trabalho pioneiro no Ministério da Saúde e que já está em fase adiantada, pois temos projetos piloto sendo desenvolvidos em diversos Estados. Nesse contexto, aliamos tecnologia (telemedicina) a acolhimento, classificação de risco e novos procedimentos (trombólise) com o atendimento prestado pela Rede SAMU 192. Certamente, os protocolos são fundamentais para a padronização de condutas e procedimentos, já que são desenvolvidos com a participação de profissionais do SAMU e de instituições, hospitais de referência. Também estamos acolhendo as sugestões, observações e contribuições técnicas das sociedades científicas relacionadas até então – Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN) –, bem como das respectivas regionais nos Estados em que há projetos piloto em andamento. ” na rotina dos médicos reguladores das centrais do SAMU, com auxílio, em tempo real, de centrais de segunda opinião. Como é o atendimento nas regiões distantes? A fim de alcançar essas regiões e promover adequado transporte para centros de referência terciários, considerando a distribuição destes por critérios demográficos, o Ministério da Saúde, a partir de proposta da CGUE, iniciou a implantação do sistema de transporte aeromédico do SAMU 192. Tal serviço atenderá não somente os casos de transferência inter-hospitalar como também fará a intervenção primária ou secundária no APH, quando necessário, como fator de redução do tempo-resposta. O sistema contará com helicópteros e aviões, interligados e apoiados no solo pelas unidades móveis de suporte avançado. Já estão em funcionamento quatro helicópteros conveniados com a Polícia Rodoviária Federal nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e Paraíba. Uma quinta unidade entrará em operação nas próximas semanas, no Distrito Federal (DF), a partir de um convênio com o Corpo de Bombeiros do DF. O acesso por via fluvial e lacustre também tem sido ampliado, com a implantação de “ambulanchas”, e o orçamento de 2008 prevê a aquisição de mais 20 unidades, em complementação às sete unidades que já operam nos rios da Região Norte (AM, PA, RO e AP) e na Baía de Guanabara (RJ). As sociedades de especialidade, como a de Cardiologia (SBC) e a de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), podem auxiliar na elaboração de protocolos de atendimento e transferência? Como já referido, a SBC e a SBN estão contribuindo até então; a SBHCI, certamente, a partir desta oportunidade, se assim o desejar, também será acolhida no grupo. Uma normatização para o atendimento aos infartados, quando possível e de acordo com as recomendações de diretrizes, prescrevendo a angioplastia coronária de emergência para esses pacientes, é viável? Estamos estudando o assunto e avançando com diversas iniciativas para o enfrentamento desse contexto. Certamente, os resultados virão conforme as redes forem estruturadas, pois o êxito depende do conjunto das ações. Num país do tamanho do Brasil, certamente, se leva mais tempo para o alcance de metas que seriam facilmente atingidas, por exemplo, em território europeu. Mesmo assim, os avanços da Rede SAMU 192 são inequívocos e em apenas cinco anos de trabalho já foi possível garantir cobertura a uma população de mais de 101 milhões de pessoas, que podem acessar o Sistema 192. As emergências hospitalares, no entanto, necessitam de investimentos urgentes e estamos trabalhando para isso, principalmente por meio das ações do Programa QualiSUS.Também estamos iniciando a implantação do programa das UPAs, a partir do mapeamento dos vazios assistenciais e da identificação de diversos indicadores (IDH e renda per capita, entre outros) como fatores de priorização dos projetos. Como o SAMU enfrenta a escassez de vagas de terapia intensiva no sistema hospitalar brasileiro? O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Regulação, Avaliação e Controle, busca difundir e estruturar os Jornal da SBHCI 13 Saúde pública complexos reguladores nos Estados, distribuídos pelas macrorregiões da Saúde. Paralelamente, a Assistência Hospitalar e a Média e Alta Complexidade, ambas coordenações co-irmãs da CGUE, também desenvolvem ações no sentido de diminuir a carência de leitos. O SAMU, por sua vez, por meio da central de regulação médica, articula-se com as demais centrais dos complexos reguladores, a fim de compatibilizar e orientar a demanda para onde há oferta, o que não é uma tarefa fácil, pois raramente falamos em oferta com vagas. O conjunto de ações, num determinado prazo, poderá em muito contribuir para o equacionamento dessa demanda no Sistema Único de Saúde (SUS). Existe algum protocolo futuro para aplicação de fibrinolíticos no sistema de transporte emergencial rodoviário atendido pelo SAMU? Como já referido, estamos em desenvolvimento de projetos piloto em diversas regiões, contemplando, inclusive, o uso de trombolíticos. Certamente, antes da inclusão desse tipo de intervenção no atendimento prestado pelo SAMU/SUS, há que “ O Brasil completou vinte anos do SUS, e já é o maior serviço de atendimento pré-hospitalar público do mundo ” se estabelecer o conceito de rede de atenção integral aos eventos dessa natureza, como, por exemplo, IAM e AVC, pois mais importante que a adoção de medicação trombolítica é o treinamento para reconhecimento precoce e intervenção imediata do SAMU. O subseqüente fluxo de regulação e encaminhamento do paciente também é fundamental para obtenção de resultado positivo, em que entram o acolhimento e a classificação de risco como ferramentas nas emergências hospitalares. Estamos empenhados em mapear o País e georreferenciar as diversas unidades terciárias, para cruzar as informações com a capacidade instalada do SAMU 192, o que permitirá, em breve, estabelecer com propriedade os tempos-resposta nas diferentes regiões e situações. Em alguns locais, há tempo para deslocamento e intervenção com angioplastia primária; em outros, somente haverá chance de reperfusão para o paciente se o SAMU dispuser de agentes fibrinolíticos nas unidades móveis. Ressalto que, antes da implantação desse tipo de atendimento, se faz necessário avançar na capacitação, pois pior que não dispor do fibrinolítico certamente seria a iatrogenia. Relatos demonstram disparidade na criação e no desenvolvimento de protocolos dedicados ao atendimento aos infartados nos diversos municípios brasileiros, principalmente capitais e centros urbanos. Como exemplo, Recife e São Paulo. Essa evidência existe ou não? Certamente, há disparidade entre diversos protocolos existentes, o que é compreensível, ante à inexistência de um padrão de referência proposto. O que estamos propondo, a partir desta gestão, é reunir o maior número de informações a respeito do tema, e os diversos projetos piloto já nos apresentam tendências que estão sendo estudadas, para que possamos oferecer ao País a oportunidade de ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 unificação das iniciativas, minimizando as disparidades. Temos inúmeras fontes de referência, tanto nacionais como internacionais, para IAM e AVC, por exemplo. Desejamos encontrar um caminho que aponte para a unificação das idéias, a partir de uma diretriz, que deverá ser apresentada pelo Ministério da Saúde com o auxílio dos diversos segmentos, especialmente das sociedades. Considera viável, logística e economicamente, o atendimento federativo de emergências por meio do SAMU com as disparidades atuais no atendimento médico brasileiro e extensão continental? Sim. Não poderemos jamais aceitar como fatalidade a inexistência de um atendimento adequado, considerando-se, obviamente, o maior número possível de indicadores que possam orientar os investimentos em prol da Política Nacional de Atenção às Urgências, uma vez que os recursos são finitos, em qualquer parte do mundo. No entanto, o Brasil tem razões para comemorar, sim, pois completou vinte anos do SUS, de 1988 a 2008, e em apenas cinco anos avançou rapidamente na consolidação do que já é o maior serviço de atendimento pré-hospitalar público do mundo, sob a mesma bandeira, o SAMU. Cite o maior desafio da atual coordenação nacional do SAMU. Certamente, é implantar um modelo de gestão no APH, de forma a permitir que a CGUE possa acompanhar a mudança dos cenários na Saúde Pública brasileira. A meta é oferecer soluções adequadas, a partir da ampliação de suas ações, passando a integrar o APH Móvel, o SAMU 192, o APH Fixo, as UPAs e o QualiSUS. Quais os rumos futuros e as prioridades a serem seguidas no SAMU? De maneira geral, continuar avançando na consolidação da Política Nacional de Atenção às Urgências, sob as mais diversas formas e com utilização de criatividade para enfrentamento das diversidades e peculiaridades que cercam nossos Estados e municípios. Assim, estamos priorizando na CGUE o processo de regionalização dos diversos programas que dão sustentação aos componentes da atenção às urgências, com base nos princípios da universalidade, da eqüidade e da integralidade que norteiam o SUS. SERVIÇO PÚBLICO José Carlos Brito assume Secretaria Municipal de Saúde de Salvador Cardiologista intervencionista fala de suas metas e da relação de sua pasta com a especialidade C ardiologista intervencionista dos hospitais Santa Izabel, Português e da Bahia, primeiro vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB) e presidente da Associação Baiana de Medicina, José Carlos Raimundo Brito assumiu, em 14 de abril, a Secretaria Municipal da Saúde de Salvador. Formado em Medicina em 1976, o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Seção Bahia (SBC/BA) comprometeuse, em sua posse, a se manter distante de debates políticos, para priorizar a qualificação da assistência pública. Hoje os principais problemas na Saúde de Salvador são as falhas no Programa de Atenção Básica, a inserção de apenas 18% da população no Programa de Saúde da Família e o péssimo estado de conservação dos postos de saúde. Segundo José Carlos Brito, o município arrecada aproximadamente R$ 110 milhões, dos quais R$ 15 milhões são direcionados para sua pasta – um orçamento pequeno demais. Assim, para superar tais desafios, resta “trabalhar com pouco, atender muito, e muito bem”. As principais metas da Secretaria no momento são informatizar o sistema público, disponibilizando uma assistência melhor à população, além de oferecer condições adequadas à boa atuação de médicos e demais profissionais da Saúde. “Já começamos a informatizar alguns postos com situação financeira menos apertada. No entanto, a situação de parte dos postos é caótica, infelizmente. Teremos de trabalhar muito para alterar o quadro atual.” Cardiologia Intervencionista Parceiro importante da atual Diretoria da SBHCI na luta pelo reconhecimento da área como especialidade médica, José Carlos Brito vê na Cardiologia Intervencionista da Bahia motivo de satisfação: “Posso dizer que o nível é muito bom e os serviços são, em sua maioria, bem estruturados e com resultados consistentes”. Contudo, considera ainda precária a interface entre a Secretaria da Saúde e a especialidade: “Para começar, a habilitação da gestão plena do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo município é recente, datando de março de 2006. Aliás, Salvador foi a penúltima das capitais brasileiras a ser habilitada. O resultado é que somente a atenção básica, aí incluído o Progra- ma de Saúde da Família e nove Unidades de Pronto Atendimento 24 horas, estão sob gestão municipal. Outro complicador é que todos os hospitais públicos e a regulação de leitos ainda estão sob gestão do Estado, inclusive os dois hospitais que possuem laboratório de Hemodinâmica. Por fim, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é municipal, mas a regulação dos leitos também está nas mãos do Estado”. Diante desse quadro, José Carlos Brito argumenta que será necessária a efetiva participação do município no encaminhamento de tais atividades, para uma interação mais concreta com a especialidade. Mas acredita que a Cardiologia Intervencionista terá um saldo positivo em futuro próximo. Jornal da SBHCI 15 Retrato O vigor da Cardiologia Intervencionista em Santa Catarina Luiz Carlos Giuliano, Luiz Eduardo São Thiago, Marcos Flávio Moellmann Ribeiro e o pioneiro Luiz Carlos São Thiago N os últimos vinte anos, a Cardiologia Intervencionista de Santa Catarina evoluiu muito. A despeito de ter dado os primeiros passos importantes recentemente, na década de 80, hoje já conta com vinte serviços e profissionais capacitados na prática e cientificamente. “Os pacientes não necessitam sair de nosso Estado para encontrar atendimento médico especializado e de qualidade, notadamente na Cardiologia Intervencionista”, afirma Adrian Kormann, cardiologista intervencionista de Blumenau, membro titular da SBHCI. “Isso é um retrato do desenvolvimento de nossa área.” ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 A partir de 2000, a Cardiologia Intervencionista alcançou grande expansão, tendo sido abertos doze Serviços. Com isso, ao menos teoricamente, contempla-se o atendimento de praticamente toda a população de Santa Catarina. No entanto, em decorrência de dificuldades relacionadas a verbas e tetos financeiros, ainda existe fila de espera considerável para a realização de exames e procedimentos terapêuticos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Para o futuro, espero que mais cidades de Santa Catarina desenvolvam serviços em Cardiologia Intervencionista”, comenta Marcos Flávio Moellmann Ribeiro, especialista de Florianópolis. estrutura O intervalo entre o diagnóstico e o tratamento, seja ele clínico, intervencionista ou cirúrgico, para muitos casos de pacientes com síndrome coronária aguda ainda é muito grande. O desafio está na criação de uma estrutura integrada com unidades de atendimento médico mais distantes, outras intermediárias e serviços terciários. Assim, seria possível reduzir o tempo entre as etapas, alcançando maior resolutividade. Para tanto, são necessários ainda investimentos em estrutura das unidades primárias, considerando aqui profissionais, medicamentos, equipamentos, mais verbas e um sistema eficiente e ágil de transporte dos Retrato pacientes aos hospitais com serviços de Cardiologia Intervencionista. Raio X Hoje, as regiões de Santa Catarina que contam com serviços de Cardiologia Intervencionista são Florianópolis, Blumenau, Balneário Camboriú, Joinville, Chapecó, Criciúma, Itajaí, Lages, Rio do Sul, Tubarão e Xanxerê. Confira um pouco da história dos principais serviços do Estado. Florianópolis Entre 1963 e 1967, Luiz Carlos São Thiago e Celso Moreira, do Hospital Nereu Ramos da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, utilizavam um aparelho de radioscopia sem intensificador de imagens para realizar tanto medidas das pressões venosa e arterial como aortogramas por via femoral. Poucos exames eram realizados por dificuldades técnicas diversas. Nessa época, também foram realizadas algumas ventriculografias por punção transapical. É notório, em Santa Catarina, o pioneirismo desses cardiologistas. Celso Moreira logo abandonou a prática invasiva. Em 1967, Luiz Carlos São Thiago decidiu aprender novas técnicas de Hemodinâmica, Angiografia e Coronariografia com Siguemituzo Arie, em São Paulo. Quando voltou a Florianópolis, em 1968, atuou no Hospital Celso Ramos da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES/SC), onde iniciou Francisco Heinzen Adrian Kormann a nova era da Hemodinâmica em um aparelho de 16 mm. Até 1977, trabalhou sozinho em Santa Catarina na área da Cardiologia Invasiva. Até hoje Luiz Carlos São Thiago lembra as inúmeras dificuldades enfrentadas na elaboração dos exames. Uma delas refere-se ao fato de que, naquela época, tanto o aparelho como a mesa de exames eram fixos; assim, quem virava de um lado para o outro para aquisição de imagens oblíquas e craniais era o paciente. Em 1977, chegou a Florianópolis Marcos Flávio Moellmann Ribeiro, com formação em São Paulo, na equipe de Arie. Ele foi pioneiro nos estudos hemodinâmicos de cardiopatias congênitas, para os quais até 1983 era utilizado o aparelho de 16 mm, tendo sido realizados cerca de mil exames. De 1967 a 1980, vale frisar, todos os exames eram feitos pela técnica de Sones. Em 1980, desembarcou em Florianópolis Artur Barreto, com formação em Radiologia Intervencionista nos Estados Unidos. Nessa época, começou a ser utilizada a técnica de punção femoral. Em 1983, o então governador do Estado de Santa Catarina, Jorge Konder Bornhausen, adquire para o Hospital Celso Ramos um aparelho com arco em C. Em 1987, o Instituto de Cardiologia do Estado de Santa Catarina mudou-se para o Hospital Regional de São José e recebeu em sua equipe Francisco Heinzen, com formação no Rio de Janeiro. Nesse ano foi realizada a primeira angioplastia coronariana por Marcos Flávio Moellmann Ribeiro. Em 1994, integrou-se ao serviço Luiz Carlos Giuliano. Em 1995 chegou Luiz Eduardo São Thiago, com formação em São Paulo, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, e em 2001 foi a vez de Tamuz Fattah, também oriundo do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Hoje, Florianópolis conta com cinco serviços de Cardiologia Invasiva: Instituto de Cardiologia da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, onde também são realizados os procedimentos de cardiopatia congênita por Giuliano e Luiz Eduardo São Thiago, cuja equipe é composta por Heinzen, Barreto e Fattah; Serviço Cineangio, dentro do Hospital de Caridade, no qual atuam Barreto, Ribeiro e Heinzen; Serviço do S.O.S. Cardio Serviços Hospitalares, cuja equipe é integrada por Giuliano, Luiz Eduardo São Thiago e Ribeiro; Serviço Coris, no qual atua Fattah; e Hospital Universitário, onde trabalha Heinzen. Blumenau A Cardiologia Intervencionista da região de Blumenau teve seu início em 1994, no Hospital Santa Catarina, com Charles Vieira, que realizou os primeiros cateterismos cardíacos e angioplastias coronárias. Em 1996, foi aberto o Serviço de Cardiologia Rafael Maestri Jornal da SBHCI 17 Retrato Rogério Tadeu Tumelero e Norberto Toazza Duda Edilson Roma, Alberto Cury e Bruno C. Migueletto Intervencionista do Hospital Santa Isabel (HSI) de Blumenau e em 2003, o do Hospital do Coração (HCOR), no Balneário Camboriú. Ambos são coordenados por Adrian Kormann, que conta em sua equipe com Rafael Maestri, também membro titular da SBHCI. Em 2000, foi realizado o primeiro procedimento de ultra-som intracoronário e em 2001, o primeiro implante de stent farmacológico em Santa Catarina, ambos pela equipe de Kormann. Também são realizados, nesses serviços, procedimentos diagnósticos e terapêuticos em algumas cardiopatias congênitas. Em junho de 2001, o crescimento da Cardiologia possibilitou a realização do primeiro transplante cardíaco em Santa Catarina, no HSI, pela equipe do cirurgião Frederico Di Giovanni. Kormann e Maestri têm foco também na área de pesquisa, pois participam de al- guns trials importantes, como os estudos ASSENT 4 PCI e CURRENT OASIS 7, este último ainda em andamento. Joinville Atualmente existem três médicos hemodinamicistas atuando em Joinville: Alberto Cury, médico responsável e coordenador da equipe, Bruno C. Migueletto e Edilson Roma. Todos fizeram especialização no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo (InCor/HC-FMUSP) e são membros titulares da SBHCI. A equipe trabalha no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, no Complexo Hospitalar Unimed e no Hospital Dona Helena, os únicos com Cardiologia Intervencionista na cidade. A Cardiologia Intervencionista iniciou-se em 1993 em Joinville, no Hospi- Danilo Peressoni Castro, ao centro, e equipe: Gisele de Souza, Rafael Santos da Silva, Angela da Rosa e Maria Angela de Sá ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 tal Dona Helena, sendo Cury o médico que inaugurou o Serviço e iniciou as atividades à época. Em 1996, começaram a ser implantados os primeiros stents, e em 1998 foi inaugurado o Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, período coincidente com a chegada de Edilson Roma a Joinville. Em outubro de 2004, foi inaugurado o Serviço de Hemodinâmica do Complexo Hospitalar Unimed, época em que Bruno C. Migueletto se fixou na cidade. Criciúma O Serviço de Hemodinâmica do Hospital São José de Criciúma iniciou suas atividades em 2002. Desde então a população da região sul do Estado tem tido acesso aos mais variados procedimentos diagnósticos/terapêuticos em Cardiologia Intervencionista. A equipe é coordenada por Danilo Peressoni Castro, tendo sido realizados até o momento mais de 6.500 procedimentos diagnósticos e intervencionistas na área de coronárias e periféricos. Chapecó Foi inaugurado em 19 de maio deste ano o Laboratório de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular da Unimed Chapecó. Sob a coordenação de Norberto Toazza Duda, a equipe conta com Rogério Tadeu Tumelero e Mateus Rossato.Trata-se de um grande avanço para a região oeste de Santa Catarina, pois já se tornou uma referência para diagnósticos e intervenções coronárias e extracardíacas. Retrato Serviços de Santa Catarina Florianópolis Cineangio Marcos Flávio Moellmann Ribeiro Chapecó Unimed Chapecó Norberto Toazza Duda Hospital Regional São José Luiz Eduardo São Thiago Criciúma Hospital São José Danilo Peressoni Castro S.O.S Cardio Luiz Eduardo São Thiago Hospital São João Batista Eduardo Caruso Farias Coris Tamuz Fattah Itajaí Serviço de Cardiologia Intervencionista do Hospital Universitário Francisco Heinzen Hospital Marieta Marcos Juliano Lages Hospital Nossa Senhora dos Prazeres Cláudio Antônio Ramos de Moraes Blumenau Hospital Santa Isabel Adrian Paulo Morales Kormann Hospital Santa Catarina Charles Vieira Rio do Sul Hospital Regional Marcos Franchetti Joinville Hospital Dona Helena Alberto Cury Tubarão Complexo Hospitalar Unimed Alberto Cury Hospital Nossa Senhora da Conceição Eduardo Caruso Farias Socimed Silvia Machado Abreu Hospital Regional Hans Dieter Schmidt Alberto Cury Xanxerê Balneário Camboriú Hospital do Coração – Digicardio Adrian Paulo Morales Kormann 0800 701 7789 Centro Avançado em Cardiologia Luiz Fernando Morrone www.medical.philips.com/br Jornal da SBHCI 19 HISTÓRIA Entrevista com Paulo Sérgio de Oliveira “O exercício da Medicina me dá uma sensação muito boa” N ascido em São Paulo, no município de Presidente Venceslau, em 13 de março de 1946, Paulo Sérgio de Oliveira desde jovem acalentava o sonho de ser médico. Com esse objetivo, trocou a tranqüilidade de sua terra natal pela efervescente Cidade Maravilhosa, nos idos de 1960. Foi estudar na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou em 1970. Era uma época de muita agitação política. Vivíamos em plena ditadura militar. Esse clima refletiu-se, inclusive, no processo de formação do jovem Paulo Sérgio de Oliveira: “Meu percurso universitário foi um pouco conturbado. A Praia Vermelha, onde estudei, era um dos focos de movimentos estudantis, mas, felizmente, isso não atrapalhou meu aprendizado”. Antes mesmo de concluir a graduação, vale frisar, Paulo Sérgio de Oliveira pegou gosto pela Hemodinâmica. No terceiro ano da faculdade, já fazia cateterismo. Essa paixão, aliás, surgiu a partir do contato com Eugênio do Carmo Filho, um amigo de turma, filho do diretor do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC), Eugênio do Carmo. “Foi então que passei a freqüentar o hospital e me encantei pela Cardiologia, principalmente pela Hemodinâmica. Nunca mais pensei em fazer outra coisa”, ressalta ele. No IECAC, graças à prática diária, no dia-a-dia do atendimento aos pacientes, adquiriu experiência e conhecimento na área. Assim, nem precisou cursar a resiano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 Hemodinâmica no Rio de Janeiro. Dentro do Pró-Cardíaco, em 1986, ele e quatro sócios, Pierre Labrunie, Mario Salles Neto, Edison Sandoval Peixoto e Ronaldo Amorim Vilela, fundaram o Cinecor, primeiro serviço privado na área no Rio. E destaca que seu desenvolvimento profissional muito se deve às orientações do prof. Stans Murad, capixaba, filho de libaneses, livre-docente em Cardiologia pela UFRJ, com quem compartilhou treze anos de exercício profissional no IECAC e na Beneficência. De fato, tratase de um mestre que muito contribuiu para o avanço da Hemodinâmica, seja no emprego inédito da cineangiocoronariografia no Brasil seja ao descrever pela primeira vez o espasmo coronariano, só para citar algumas de suas proezas. dência, pois, quando se formou, já tinha mais de três anos de exercício na Hemodinâmica. Continuou no Instituto por mais alguns anos, integrando a Equipe de Hemodinâmica, e nessa mesma época começou também a atender na Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro. Em 1982, encarou novo desafio, começando a trabalhar no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, também no Rio de Janeiro, onde trabalha até hoje, há onze anos respondendo pela chefia de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.Atualmente também atua nos hospitais Evangélico, Pasteur, Samaritano, Pró-Cardíaco e Silvestre e na Casa de Saúde São José, todos no Rio de Janeiro. Paulo Sérgio de Oliveira se considera um pioneiro nos serviços privados de Vida associativa Paulo Sérgio de Oliveira presidiu a SBHCI de 1988 a 1990. Em sua gestão, ordenou a classificação dos membros da Sociedade, pois, até então, não havia uma relação que os dividisse. Classificou como membros titulares apenas os hemodinamicistas atuantes, sendo os demais classificados como membros colaboradores. Ainda como presidente dessa entidade iniciou uma cruzada para disseminar a angioplastia em todo o Brasil. À época essa especialidade se restringia aos grandes centros e foi uma luta muito grande para conseguir com que todo o País tivesse acesso ao método. A SBHCI de hoje merece elogios de Paulo Sérgio de Oliveira. Ele a considera ativa, muito participante, mas destaca que HISTÓRIA alguns obstáculos precisam ser rapidamente superados. “Temos uma Sociedade poderosa, mas ainda não somos uma especialidade médica. Penso que um desafio relevante hoje é mudar esse status de área de atuação para especialidade.” Família A Hemodinâmica também é parte integrante de seu universo familiar. É casado há 16 anos com Marta Labrunie, cardiologista intervencionista e membro da SBHCI, que, aliás, é filha de Pierre Labrunie, médico intervencionista pioneiro na área. “Eu e Labrunie somos sócios, trabalhamos juntos há muito tempo, com certeza há uma boa troca de experiências, além de ser uma pessoa por quem tenho uma admiração muito grande. Ele faz parte da turma mais antiga da especialidade e continua atuando com ânimo e competência”. Rafael Lauria de Oliveira, um dos seus seis filhos, também é hemodinamicista. Os outros, Mariana Lauria de Oliveira, Gabrie- Pensamentos “Com o aparecimento dos stents farmacológicos, nossa realidade mudou muito. Hoje os resultados, as técnicas todas avançaram e conseguimos resultados que não tínhamos, por exemplo, há 20 anos. Isso sem dúvida foi um avanço enorme.” Paulo Sérgio de Oliveira, durante procedimento ao lado do filho, Rafael Lauria de Oliveira la Lauria de Oliveira, Paula Lorena Brandão Aguiar de Oliveira, Luiza Labrunie Calmon Soares e Teresa Labrunie Calmon Soares, seguiram caminhos diversos. “Quando o Rafael escolheu essa área fiquei com medo de ele não gostar, mas hoje vejo que gosta tanto quanto eu.Trabalhar com ele e minha esposa é um prazer muito grande.” • O Menor Perfil • A Menor Estrutura Metálica • Excelente Força Radial • Excelente Navegabilidade “Atingimos um ponto de desenvolvimento fantástico e hoje resolvemos as demandas da maioria dos pacientes com doença coronária por meio da utilização dos stents. Não cansamos de aprimorar esses instrumentos todos, os stents estão cada vez melhores. Foi rápida a transformação, então no futuro certamente teremos coisas melhores, mais eficientes que as de hoje. Sem dúvida, a Cardiologia Intervencionista só tende a crescer.” “Tenho orgulho de ter participado desse avanço da Cardiologia Intervencionista. Formamos diversos residentes em nossos Serviços, que hoje estão atuando, trabalhando mais intensamente. Gosto muito dessa especialidade, gosto muito de operar. O exercício da Medicina me dá uma sensação muito boa.” A certeza de obter excelentes resultados em suas mãos. MATSURI Mace - Diabéticos - 12,4% Mace - Pequenos Vasos - 9% (6 meses Follow-up) Total Mace - 12,6% (18+/-5 meses Follow-up) O Melhor Resultado! Jornal da SBHCI 21 Brasília urgente O que pensa José Carlos Lima, da Comissão Nacional de Re Há quatro meses no cargo, ele fala de seus objetivos, dos problemas da formação e da especialização Como se estrutura a Comissão Nacional de Residência Médica? A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) é um órgão colegiado, que tem em sua composição os Ministérios da Educação, da Saúde e da Previdência, além de entidades médicas nacionais: Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos Médicos (FENAM), Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR) e Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). As decisões, portanto, são tomadas por esse colegiado. Desde que a residência foi regulamentada no Brasil, há praticamente trinta anos, esse caráter colegiado é respeitado. Essa característica se tornou uma marca na Saúde.A estruturação da CNRM foi seguida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), entre tantas outras instituições e nos vários níveis federativos. Enfim, à época, foi uma composição pioneira, abrindo espaço para a representação das entidades médicas nacionais lado a lado com órgãos do governo. Qual o resultado prático dessa estruturação? Com certeza uma visão mais plural e abrangente. Podemos dizer que as políticas da Residência Médica sempre conjugaram as políticas de governo para a Saúde e a Educação com as demandas trazidas pelas especialidades, pelas entidades de classe e pela própria ANMR. A transparência é marca da Comissão e dá a ela grande força. Penso que nenhuma outra modalidade de pós-graduação tem uma articulaano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 ção dessa magnitude. Daí vem a força da residência e sua importância no sistema de ensino e no sistema de Saúde. Quais são as prioridades da Comissão hoje? As prioridades da CNRM devem ser guiadas por uma idéia central: a qualificação do profissional para uma prática de alto nível ético, técnico e humano. Todas as propostas devem ter essa inspiração. A CNRM é o fórum ideal de discussão e articulação do conjunto de interesses colocados pela sociedade, pelos órgãos de classe e pelos próprios estudantes. Certamente pode ter papel cada vez mais relevante nas políticas públicas de Saúde da União, dos Estados e dos municípios. Para isso, deve estar atenta às reais necessidades de saúde da população brasileira. Em especial, deve estar atenta às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), projeto ainda inacabado, mas que se trata de conquista extraordinária, consagrada na letra constitucional. O mote “Saúde – direito de todos e dever do Estado” foi incorporado pela Constituição de 1988 aos direitos de cidadania.Temos a responsabilidade de dar conseqüência prática a esse preceito. Um profissional bem formado, qualificado, constitui requisito indispensável para atingir esse objetivo. Então a Residência Médica deve ter consonância com as necessidades sociais em Saúde? Essa é uma pergunta que chama outra: Estamos formando para quê? Uma das metas da Comissão é articular o aparelho formador aos anseios profissionais, às tecnologias, às necessidades do Sistema de Saúde. A preocupação permanente da graduação e até da pós-graduação deve ser formar para atender às demandas do Sistema de Saúde de forma adequada e qualificada. Há falta de vagas para Residência Médica no Brasil. Esse problema tende a se agravar com a abertura indiscriminada de escolas de Medicina? Há vagas para mais de 70% dos formandos. No entanto, com a abertura em ritmo acelerado de escolas de Medicina, o quadro provavelmente piorará.Temos 200 anos de ensino médico no Brasil, e só nos últimos dez anos, ou seja, de 1998 para cá, entrou em funcionamento o mesmo número de escolas que nos 190 anos anteriores. Uma demanda reprimida foi atendida, mas, por outro lado, ultrapassou-se em muito as possibilidades de controle e de verificação da qualidade desses cursos. É preocupante esse ritmo, é uma velocidade impossível de acompanhar. Os resultados esidência Médica recém-divulgados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) retratam com números essa preocupação. Naturalmente, isso não se refere apenas aos cursos de Medicina, mas ao conjunto do ensino superior. O que fazer para enfrentar o problema? Seria importante discutir a exigência de que as escolas se responsabilizassem de fato pelo seu egresso: pela educação pós-graduada, pela educação continuada, etc. Criaria um vínculo de responsabilidade dessa forma. Você se recicla, faz sua educação continuada na mesma faculdade. Infelizmente nossa realidade é extremamente comercial. A comercialização da educação atingiu níveis preocupantes e absurdos. Precisamos também de sistema de avaliação permanente do ensino. Hoje é meritório o esforço do Ministério da Educação de avançar no desenvolvimento de critérios de avaliação em todos os níveis. Recentemente houve a divulgação do resultado do ENADE, uma demonstração de transparência. Temos de aprimorar esses instrumentos e realmente fiscalizar, além de ter a coragem de fechar os cursos que reiteradamente não formam de modo adequado. Como garantir um bom especialista se a graduação é cada vez pior? Trata-se de questão extremamente complexa. Eu inverteria o raciocínio. Aqueles que fazem residência, que serão cardiologistas, oncologistas, pediatras, enfim, especialistas diversos, passam, vamos colocar assim, por um controle de qualidade que é o exame para Residência Médica. A Residência é um ensino em serviço: o supervisor e os chefes acompanham os residentes, seguem o treinamento. A própria CNRM, assim como as comissões estaduais, fiscalizam esse processo. Daí a importância de fortalecimento das comissões estaduais, outra de nossas prioridades. Não é possível em um país como o Brasil ter um sistema centralizado, como se de Brasília desse para controlar tudo. É fundamental prestigiar as estruturas regionais para que cumpram com eficiência o papel de acompanhamento, orientação e avaliação dos programas, entre outros. De certa maneira quem ingressa no programa de Residência Médica passa por concurso e necessita ser aprovado. A disputa é ferrenha. São candidatos do Brasil todo disputando uma vaga na Universidade de São Paulo, por exemplo, e na Federal do Rio de Janeiro, para citar outro. São aprovados os que têm melhor formação. E aqueles que não conseguem ingressar num programa de Residência Médica? O que diz da proposta do governo de definir o mínimo de vagas para Residência Médica de acordo com as necessidades do SUS? Acho correta a preocupação em formar profissionais de acordo com as necessidades do Sistema de Saúde. Grande parte das vagas de Residência está no setor público: Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde, Secretarias municipais e estaduais, etc. Trata-se, portanto, de verba pública. Cabe, pois, ao Estado definir suas prioridades em função de políticas públicas. Para isso são fundamentais estruturas como o CNS, o CONASS e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (CONASSEMS). Só muito recentemente é que passamos a contar com estudos para aferir as necessidades de profissionais, distribuição, etc. Os resultados preliminares já permitem identificar, além da má distribuição com concentração nas regiões Sul e Sudeste e nos grandes centros urbanos, a falta de especialistas em oncologia, neonatologia, psiquiatria, hematologia, medicina de família e comunidade, medicina intensiva e geriatria. Confirmados esses resultados preliminares, o desafio será elaborar políticas públicas apropriadas de fomento nessas áreas. Brasília urgente o novo secretário-executivo tão específicas da Medicina, como a Cardiologia Intervencionista? Realmente as chamadas áreas de atuação são importante desdobramento da própria especialidade.Acho fundamental porque, da mesma forma que o País necessita de médicos cirurgiões gerais, pediatras, de família, também necessitamos de superespecialistas, especialmente em setores de ponta como a Cardiologia Intervencionista. O CFM estabelece para essa especialização treinamento de dois anos, mas de acordo com a Comissão Nacional de Residência Médica um ano é considerado suficiente para o treinamento. Como resolver essa divergência? De fato há uma divergência em relação a esse ponto, provavelmente fruto de algum mal-entendido. A CNRM não deliberou sobre o aumento de um para dois anos de treinamento. Esse assunto entrará na pauta em breve. Qual é sua opinião sobre o treinamento de especialização em áreas Jornal da SBHCI 23 Consenso Diretrizes da SBHCI sobre Qualidade Profissional e Institucional Novembro de 2007: reunião, em São Paulo, com parte dos cardiologistas intervencionistas envolvidos na produção das Diretrizes Luiz Antonio Gubolino* A edição das Diretrizes sobre Qualidade Profissional e Institucional da SBHCI é fruto do trabalho de vários intervencionistas de nossa Sociedade, a partir de reuniões realizadas no Guarujá, em outubro de 2007, e em São Paulo, em novembro de 2007, e da troca de inúmeros e-mails. Com empenho ímpar de todos os colaboradores, essas Diretrizes foram elaboradas, revisadas e finalizadas, visando a oferecer aos associados da SBHCI um referencial para a prática profissional, para o desenvolvimento institucional e para a atualização dos processos de treinamento e certificação. O formato das Diretrizes acompanhou a divisão dos grupos de trabalho. Assim, a primeira parte contemplou as Recomendações de Qualidade Profissional e Institucional em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Nesse tópiano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 co houve a preocupação de trazer dados e informações importantes para nortear a prática do profissional em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, além do incremento de considerações referentes a procedimentos intervencionistas nãocardíacos. Com relação às orientações do desenvolvimento institucional, procurou-se concentrar dados que possam ser úteis à estruturação e à operacionalidade do Serviço no tocante à qualidade assistencial. Já a segunda e a terceira partes abarcaram as Normas para Constituição de Centro de Treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista e o Processo de Certificação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, respectivamente. Nessas duas partes estão presentes todas as informações para adequação dos Centros de Treinamento e atualização do processo de certificação dos futuros cardiologistas intervencionistas. Aqui se concentra um dos pontos de extrema relevância para o processo de amadurecimento de nossa Sociedade, pois as normas elaboradas visam a adequar todo o processo de formação e aceitação da qualificação dos novos profissionais, conforme prerrogativa do Conselho Federal de Medicina e da Comissão Nacional de Residência Médica, o que impreterivelmente estará primando ainda mais pela proficiência dos futuros intervencionistas a partir de sua formação técnica, culminando como um processo de avaliação e certificação sério e responsável. E finaliza com um apêndice, até então inédito dentro de uma diretriz, que busca oferecer Princípios para o Gerenciamento de Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Esse é um documento complementar, que traz algumas informações para que o profissional possa despertar o olhar para o lado gerencial de seu Serviço, já que o controle de custos, o controle financeiro, a prospecção de mercado e o gerenciamento dos recursos Consenso Editores • Luiz Antonio Gubolino • José Armando Mangione • Samuel Silva da Silva Editores Associados • José Antonio Marin-Neto • Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes • Samuel Silva da Silva • Décio Salvadori Junior • Ari Mandil • Carlos Augusto Pedra • Maria do Rosário de Britto Leite • José Maria Pereira Gomes • Anis Rassi Jr. • Hélio José Castello Junior • Marcelo Cantarelli • Luiz Alberto Mattos Conselho Nacional de Diretrizes • Jadelson Pinheiro Andrade (coordenador) • Anis Rassi Jr. • Antonio Carlos de Camargo Carvalho • Carisi Anne Polanczyk • José Antonio Marin-Neto • Júlio César Vieira Braga • Mário Sérgio Coutinho • Max Grinberg • Renato Abdala Karam Kalil • Roberto Bassan humanos, entre outros, são cada vez mais importantes para o sucesso institucional. Acreditamos que essas Diretrizes serão um divisor de águas para a qualidade do exercício profissional, pois contemplam informações importantes que envolvem desde o profissional na sua formação dentro do Centro de Treinamento e sua avaliação para obtenção da certificação até a manutenção da proficiência tanto individual como institucional enquanto atuante em seus Serviços. Além do mais, servirão como documento de referência institucional para processos de certificação e de Grupos de Trabalho Grupo 1 Recomendações para Qualidade Profissional e Institucional • Luiz Antonio Gubolino (coordenador) • Ari Mandil • Carlos Augusto Pedra • Hélio José Castello Junior • José Carlos Raimundo Brito • José Maria Pereira Gomes • Luiz Antonio Ferreira Carvalho • Maria do Rosário de Britto Leite • Marcelo J. C. Cantarelli • Enfermeira Márcia Tosi Grupo 2 Normas para Centro de Treinamento • José Armando Mangione (coordenador) • Alcides José Zago • Fausto Feres • Jamil Abdalla Saad • Marco Antonio Perin • Miguel Antonio Neves Rati • Wilson Albino Pimentel Grupo 3 Processo de Certificação Profissional • Samuel Silva da Silva (coordenador) • Décio Salvadori Junior, em nome dos membros da Comissão Permanente de Certificação (CPC) da SBHCI avaliação para credenciamento na Saúde Pública e na Saúde Complementar, pois foram elaboradas a partir da sociedade médica específica da área de atuação, mediante consenso de seus profissionais mais experientes e reconhecidos. Certamente, trata-se de mais uma contribuição societária, que visa a consolidar o posicionamento desta Sociedade perante o associado e deste perante a comunidade médica e não-médica em todas as suas vertentes assistenciais. * Diretor de Qualidade Profissional da SBHCI Saldo é extremamente positivo José Armando Mangione* C hegou ao final mais um trabalho de grande importância elaborado por colegas intervencionistas, que reflete não somente o grau atual de extrema competência profissional de nossa Sociedade mas também o desenvolvimento atingido pela nossa área de atuação e sua importância dentro da Cardiologia nacional. Essas novas diretrizes, importantes para atingir o nível de excelência que todos nós almejamos para a Cardiologia Intervencionista, necessitaram da profunda dedicação dos colegas envolvidos em sua execução, que em reuniões presenciais e em inúmeros contatos eletrônicos trocaram idéias e debateram pontos de conflito. Isso até atingir um consenso que, seguramente, nos fornecerá importantes informações para a formação profissional e a execução de nosso trabalho. Tive a satisfação de coordenar o módulo de qualificação dos Centros de Treinamento, que contou com a participação de experientes intervencionistas de diferentes Serviços, possibilitando a criação de diretrizes abrangentes e justas. Estas visaram, fundamentalmente, a proporcionar a melhor formação profissional possível a todos aqueles que optaram pela nossa área de atuação. Gostaria de deixar meu sincero agradecimento a todos os participantes por mais essa demonstração de amizade e competência. Finalizando, parabenizo a Diretoria da SBHCI por mais essa excelente iniciativa, que ajudará a nos posicionar de forma clara e estruturada perante a comunidade médica e a sociedade brasileira. * Editor das Diretrizes sobre Qualidade Profissional e Institucional da SBHCI Jornal da SBHCI 25 ASSOCIATIVISMO presidente da Regional Rio de Janeiro da SBHCI fala de sua plataforma de trabalho D já está trabalhando no sentido de manter e estimular todos os projetos de Educação Continuada de nossa gestão. esde junho último, a Sociedade de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Estado de Rio de Janeiro (SOHCIERJ), Regional da SBHCI, tem novo presidente. Tratase de Esmeralci Ferreira, cardiologista intervencionista da Clínica Status Cor e dos hospitais Mario Lioni, ProntoCor e CardioBarra. Nesta entrevista, ele fala um pouco da situação da entidade e dos planos para a gestão recém-iniciada. Como funciona a Sociedade de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Rio de Janeiro atualmente? A Regional está muito bem estruturada, graças à boa união de todos os intervencionistas do Rio e ao excelente trabalho de seus ex-presidentes e respectivas Diretorias.A Diretoria realiza reuniões mensais e a cada bimestre há encontros científicos e confraternização entre os sócios. Quais os planos da nova Diretoria para a Regional? A primeira meta é aumentar a participação dos intervencionistas mais jovens. A atual Diretoria já é composta de maioria jovem. Queremos maior presença desses colegas nas atividades científicas bimestrais, além de estimular suas atividades acadêmicas. A despeito de nossa SOHCIERJ ser bastante presente, os novos precisam ter sempre mais oportunidades e chances de se tornar participativos. Acredito que uma Sociedade se fortalece quando se renovam os formadores de opinião. Outros desafios importantes são a busca de maior integração científica dos Serviços, estimulando as boas práticas clínicas, e o crescimento do número de registros na Central Nacional de Intervenções Cardiovasculares (Registro CENIC). Vamos estimular os jovens, mas também queremos manter a tradição dos que edificaram a Regional, escrevendo ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 nossa história. Por exemplo: o primeiro Congresso de Intervenção para o Clínico foi realizado de forma pioneira em 1995, no Hotel Glória. Esses fatos mostram uma entidade atuante e integrada aos colegas e aumenta a responsabilidade desta Diretoria Quais os principais desafios a enfrentar? Os desafios são muitos, assim como as responsabilidades.A começar pela manutenção do elevado nível de nosso evento regional de maior destaque, o Simpósio de Intervenção para Cardiologistas Clínicos, que é realizado em meio ao Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (SOCERJ). Já em sua décima edição, essa iniciativa, de notável repercussão no Rio, permite grande intercâmbio de idéias entre intervencionistas, clínicos e cirurgiões. Outro desafio é a estruturação de nosso website (www.sohcierj.org.br), que, apesar de recém-inaugurado, precisa ser colocado em pleno funcionamento. Os itens mencionados fazem parte de um desafio maior, ou seja, a aproximação associativa com o cardiologista clínico, que tem, a cada edição dos congressos e das reuniões, maior participação e responsabilidade nas discussões. José Ary Boechat, diretor científico da Regional, O que a Diretoria reserva para as áreas de Defesa Profissional e de Educação Continuada? São áreas de grande importância para as Sociedades. A Defesa Profissional é um relevante mecanismo de união e fortalecimento da especialidade, e o Programa de Educação Continuada (PEC) acrescenta às regionais o respaldo técnico e científico da SBHCI. No Rio de Janeiro, a participação da SBHCI no Congresso Regional foi vista com grande impacto positivo. É uma alegria mútua. Qual a situação atual da Cardiologia Intervencionista no Rio? Graças à união com os cardiologistas clínicos, a situação é muito boa. A credibilidade do intervencionista foi mantida, pois as condutas, na maioria dos Serviços, sempre são analisadas de forma multidisciplinar, o que ajuda muito na interface do intervencionista com os convênios. O número de procedimentos de intervenção não sofreu queda significativa. No Sistema Único de Saúde (SUS), a despeito das dificuldades inerentes do próprio sistema, observamos que a intervenção já é uma grande opção em relação à revascularização cirúrgica. O bom resultado, hospitalar e tardio, que o cardiologista clínico tem obtido com a intervenção corrobora a indicação em um número cada vez maior de pacientes. Quais as perspectivas para os especialistas do Estado do Rio de Janeiro? As perspectivas são as melhores, e a principal é que nossa cidade já se prepara para recebê-los, em junho de 2009, para o XXXI Congresso da SBHCI e o XV Congresso da Sociedade Latino-Americana de Cardiologia Intervencionista (SOLACI). Mundo médico SBC expressa no CFM apoio a pleito da SBHCI sobre procedimentos vasculares Em carta enviada ao Conselho Federal de Medicina, no fim de agosto, a Sociedade Brasileira de Cardiologia registra sustentação irrestrita às reivindicações de nossa área de atuação. Veja o teor do documento. 1.785/2006, em que vários especialistas compartilham esses procedimentos. Sociedade Brasileira de Cardiologia Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2008. Dessa forma, ratificamos integralmente a posição da SBHCI no que tange à legitimidade de atuação dos cardiologistas intervencionistas nos procedimentos de diagnóstico (angiografias) e tratamento (angioplastias) no leito vascular extracardíaco. Conselho Federal de Medicina Comissão Mista de Especialidades Dr. Roberto Luiz D’Ávila Vice-Presidente Coordenador de Comissões e Câmaras Técnicas Prezado dr. Roberto D’Ávila, Por fim, compartilhamos o anseio esposado pela SBHCI, quando conclama o digníssimo presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, a mediar o entendimento entre os especialistas envolvidos nesta altercação no sentido de uma solução definitiva, que contemple as aspirações das várias partes arroladas. Antonio Carlos P. Chagas, presidente da SBC Reportamo-nos a V.S. em atenção à solicitação feita pela insigne Comissão Mista de Especialidades (CME) a esta Sociedade acerca da legitimidade de atuação dos cardiologistas intervencionistas em procedimentos diagnósticos (angiografias) e terapêuticos (angioplastias) no leito vascular não-coronariano ou extracardíaco, particularmente nos territórios carotídeo, renal e aortoilíaco. Entendemos que tal solicitação visa a subsidiar consulta que tramita, desde novembro de 2007, nesse egrégio Conselho Federal de Medicina (CFM), feita pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), departamento oficial da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que representa a área de atuação em deslinde. Assim, temos a fazer as seguintes considerações: Aproveitamos o ensejo para reiterar nossos sentimentos de elevada consideração e estima. Atenciosamente, Prof. Dr. Antonio Carlos P. Chagas Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia 1. Os procedimentos em epígrafe são regularmente executados por cardiologistas intervencionistas há vários anos, no Brasil, bem como em diversos outros países. Em âmbito nacional, tal fato encontra-se respaldado na Portaria SAS no 210 de 15 de junho de 2004, do Ministério da Saúde, que trata do tema, e, ainda, encontra previsão na Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM); 2. Esses procedimentos são também executados por médicos que integram as áreas de atuação Radiologia Intervencionista e Angiorradiologia, Angiorradiologia e Cirurgia Endovascular, e Neurorradiologia; 3. Acrescentamos que a atuação do cardiologista no diagnóstico vascular extracardíaco já é reconhecida por essa douta CME, no que concerne à área de atuação Ecografia e Doppler Vascular, Resolução CFM no Jornal da SBHCI 27 PIONEIRISMO Da Radiologia à Cardiolo trajetória de realiz foram Nilo Medeiros, professor cardiologista de Porto Alegre, e Siguemituzo Arie, do Instituto do Coração (InCor) de São Paulo. Como hemodinamicista, não posso deixar de destacar que fui treinado pelo professor Melvin Judkins, nos Estados Unidos, um dos criadores da técnica de diagnóstico de doenças coronárias”. Luis Maria Yordi conta como a vida o guiou em direção à Cardiologia Intervencionista N ascido em Rivera, no Uruguai, Luis Maria Yordi chegou ainda criança ao Brasil, fixando-se em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Não sabe por que decidiu ser médico. Assim foi. Formou-se em 1966 pela Faculdade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e concluiu residência em Radiologia na Santa Casa de Porto Alegre. Naquela época, no início da década de 70, estava sendo fundado o Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, para o qual foi convidado, pelo professor Rubem Rodrigues, a ser o responsável pelo setor de Radiologia. Começava aí sua aproximação com a nova especialidade. “Foi a partir de então que me aproximei da Cardiologia e acabei obtendo formação nessa área. Depois disso, fui para os Estados Unidos para um treinamento em intervenções (Cardiografia). Também freqüentei um serviço em Oslo, na Noruega. Na volta, passei a me dedicar exclusivamente ao diagnóstico invasivo das doenças cardiovasculares. Desde essa época, sempre trabalhei junto com cardiologistas altamente qualificados, o que, certamente, foi fundamental para meu progresso nessa área.” A mudança aconteceu de maneira natural, por meio dos procedimentos cardiológicos que Luis Maria Yordi realizava constantemente. Nessa transição, bem como em toda sua trajetória, não faltaram grandes mestres para se espelhar: “O primeiro foi um cardiologista de ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 Luis Maria Yordi Santa Maria, Eduardo Rolim, que foi meu professor. Outros dois radiologistas que me influenciaram, ambos com grande experiência em Radiologia do coração em Porto Alegre, foram os professores Ney Ferreira e Natan Roitman. Já na Cardiologia, duas pessoas muito importantes Procedimentos extracardíacos Com os avanços da Medicina e o surgimento de especializações cada vez mais específicas, diversos procedimentos e subespecialidades acabam separados por uma tênue linha, muitas vezes difícil de visualizar. É o caso dos procedimentos extracardíacos, realizados com propriedade e afinco tanto por cardiologistas como por radiologistas e, mais recentemente, cirurgiões vasculares. Para um médico que carrega em seu currículo ambas as especialidades, como é o caso de Luis Maria Yordi, o assunto Equipe de Cardiologia Intervencionista do Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, 1996. Da esquerda para a direita, Carlos Roberto Cardoso, Clacir Staudt, Vasco Müller, Luis Maria Yordi e Aldo Duarte PIONEIRISMO ogia, uma zações não é tão delicado quanto parece. “A meu ver, em breve assistiremos ao surgimento de uma nova especialidade. Em um futuro próximo, certamente se definirá uma nova área de intervenções endovasculares em todo o corpo humano. No momento, realiza o procedimento quem estiver habilitado.” Luis Maria Yordi explica que a iminência de uma nova especialidade está relacionada ao nível de preparo e dedicação que tais procedimentos exigem. Segundo ele, da mesma maneira que para o radiologista é difícil estar completamente apto para intervir em coronárias, para o cardiologista é complicado, por exemplo, a intervenção na área da Neurologia. “Os cardiologistas estão realmente se preparando cada vez mais para as intervenções não-cardíacas.Veja o caso da endoprótese de carótida, que foi desenvolvida em um centro de Hemodinâmica. Já os radiologistas se envolvem cada vez mais com novos métodos diagnósticos não-invasivos, como tomografia multislice, PET Scan ou ultra-sonografia. Conseqüentemente, perdem o interesse por essa área, que requer muita dedicação e atenção aos pacientes.” Para os estudantes com inclinação para seguir o mesmo caminho, fica o conselho de quem o conhece bem: “Ainda faltam no Brasil centros para treinamento em procedimentos não-cardíacos. Assim, para receber um bom treinamento nessa área, é necessário escolher com muito cuidado onde fazer a formação.” SBHCI e a especialidade Independentemente de algumas dificuldades, o cardiologista vê a especialidade com otimismo. “A Cardiologia Intervencionista tem um futuro promissor. Hoje, por exemplo, estamos incorporando a Da esquerda para a direita, Carlos Roberto Cardoso, Luis Maria Yordi, professor Melvin Judkins e esposa, e professor Figueiredo Pinto, em 1984 (Loma Linda University, Califórnia, Estados Unidos) troca de válvulas cardíacas. Seguramente, a terapia gênica e as células-tronco também estarão nas mãos dos intervencionistas.” Especificamente sobre a SBHCI, Luis Maria Yordi é só elogios: “Nossa Sociedade sempre foi muito bem gerenciada. Desde o início, quando éramos ainda um grupo pequeno, até os dias de hoje, um grupo maior embora não excessivamente grande, todos se conhecem e praticamente não existem áreas de atrito entre nós”. Sobre o futuro, apóia os caminhos escolhidos pela atual Diretoria. “O associado vem sendo priorizado tanto pelo desenvolvimento de programas científicos como no acesso a revistas e a facilidades contidas no portal da entidade. É uma direção bastante aberta, acessível, como sempre tem sido. Sugiro à atual direção que se crie um sistema de qualificação dos Serviços de Hemodinâmica.Também seria interessante disponibilizar uma assessoria aos associados na compra de material e equipamentos, bem como pressionar as firmas fornecedoras para que proporcionem melhor assistência técnica.” Ele se despede, deixando aos leitores uma sugestão: “Dentro da literatura da língua portuguesa moderna, sugeriria que dessem uma olhada nas obras de um autor chamado Mia Couto, médico e biólogo de Moçambique. Moderno, escreve de maneira muito bonita e aborda, muitas vezes, temas correlatos ao exercício da Medicina”. Vale conferir. Um pouco de descontração Pai de duas filhas, que atualmente residem nos Estados Unidos, Luis Maria Yordi despende suas poucas horas livres em seu principal hobby, a leitura. “Não tenho pretensão de ser escritor, mas sou um obstinado leitor. Tenho fixação em coletar livros, sejam eles de história da Medicina ou de literatura geral.” Jornal da SBHCI 29 Tendências Desafios da Qualidade e Assistência P Emílio César Zilli* O mundo assiste, a cada dia, à queda dos velhos paradigmas! A dinâmica global impõe a todo momento novas questões, novas querências e novos valores. A Medicina é chamada cada vez mais a assumir um papel que só existia em nossas fantasias. A ciência que minorava a dor, que aplacava as doenças e que, às vezes, curava começa a exercer a tarefa de não mais somente evitar a morte, mas de prolongar a vida e, o mais importante, de prolongar e melhorar a qualidade de nossa existência. Se faz claro que tal tarefa não pode ser levada a contento situada dentro dos antigos padrões tradicionais e acadêmicos de uma Medicina apenas curativa. A evolução prevencionista carrega em si mesma uma multivariedade disciplinar que jamais sonharíamos há poucos anos. A expansão do conhecimento médico se faz em proporção geométrica e a cada três anos duplica o conteúdo de informações. Técnicas universalmente aclamadas como revolucionárias nascem e se obsoletam no período de uma década. Qualidade. Esta é a palavra do momento: Qualidade de vida! Qualidade de ensino! Qualidade de aprendizado! Qualidade profissional! Qualidade assistencial! Cada um de nós, seres humanos, inquilinos deste vasto condomínio que chamamos Terra, tem a esperança de uma ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 vida saudável, da felicidade plena, da paz interior. Vivemos a busca de um mundo mais justo e melhor, livre da dor física e espiritual. Mas com o naufrágio da maioria das expectativas seculares, a Medicina se transforma na grande esperança. O problema é que, para ser exercida em sua plenitude, não pode dispensar os médicos, seres humanos tecnicamente qualificados, mas também personagens de todos os parágrafos anteriores. E esses profissionais precisam ser qualificados, treinados, amparados com o melhor potencial acadêmico, tecnológico e assistencial de forma tal que estejam aptos ao exercício profissional e suas expectativas. Exemplo de tudo isso ocorre com a Cardiologia. Talvez, entre tantas formas do praticar médico, seja essa atividade uma das que mais e maiores paradigmas modificaram nas últimas décadas. Quem não se recorda, e não faz muito tempo, do “arsenal terapêutico” que existia para tratar hipertensão arterial, por exemplo? Diuréticos, cloridrato de papaverina, reserpina e a promissora alfa-metildopa. E o tratamento do infarto agudo do miocárdio? Vasodilatadores (poucos), dipiridamol, tranqüilizantes e repouso, muito repouso, quase duas semanas (ou três) de “repouso total no leito”. Muito pouco se imaginava ainda sobre betabloqueadores, antiagregantes, inibidores da enzima de conversão, cirurgia de revascularização miocárdica ou angioplastias. Stents? O que será isso? E pensar que isso tudo aconteceu ainda durante o viver de apenas uma geração de jovens (na época) médicos como eu. Nas duas últimas décadas, vimos avançar de forma avassaladora as novas técnicas diagnósticas e terapêuticas. De um cardiologista não mais se admite que não esteja em total sintonia com os mais recentes avanços de ressonância nuclear magnética (RNM) cardiovascular, das maravilhas dos cateteres ultra-sônicos, da tecnologia das células-tronco ou do mais novo dispositivo para tratamento endovascular coronariano. E é o correto, afinal, é sobre esse profissional que convergem todas as nossas esperanças de melhor qualidade de vida. Mas não é fácil. Integrar todas as variáveis de conhecimento, treinamento, aptidão e exercício profissional tem se tornado o grande desafio de cada jovem que se habilita nessa prática. E principalmente das sociedades de especialidades. Estas merecem um capítulo à parte, quando se escreve sobre a moderna Medicina. Antes, suas finalidades cotejavam o campo científico e seus desdobramentos acadêmicos. Hoje, mais do que nunca, novas tarefas vão se agregando a suas atividades.A permanente atualização profissional, a revalidação do título de especialidade, a valorização profissional, a intermediação com os convênios e até a normatização das áreas de atuação interespecialidades se fazem necessárias. Realmente é um enorme desafio! Recentemente, dados divulgados por parlamentares integrantes da Frente Parlamentar de Saúde nos informavam que os médicos estão cada vez mais se filiando a suas sociedades de especialidades em detrimento a seus sindicatos e/ou associações de classe. Esse dado, ainda recente para uma análise definitiva, já mostra pelo menos uma tendência. Os médicos estão confiando e apostando cada vez mais em um novo corporativismo: o técnico-profissional. Pode parecer que esses dois substantivos sejam sinônimos, mas, nos tempos modernos, na Medicina moderna, na Cardiologia atual são complementares. O profissional contemporâneo reconhece que sua permanência em um mercado altamente exigente e competitivo necessita de uma atividade embasada em ciência, desenvolvida em educação permanente e amparada em sua prática. As sociedades de especialidades, por sua vez, se tornam gradual e paulatinamente o porto seguro para suas angústias e solicitações. Neste momento, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) atua cada vez mais em campos como defesa profissional, políticas públicas de saúde cardiovascular, discussão de diretrizes com seguradoras e cooperativas, certificação e revalidação de título de especialista e em diversas outras atividades, interagindo com a Associação Médica Brasileira (AMB). Outro campo de atuações envolve a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), por meio de seus departamentos científico, de qualidade Tendências Profissional da SBC e da sbhci profissional e de títulos de especialista. Sociedade esta, aliás, que, em minha opinião, vem desenvolvendo de maneira exemplar, por intermédio de seu presidente e de seus diretores, tais atividades. Estaremos prontos para o tamanho dessas questões? Só o tempo responderá! Mas de uma coisa estou certo. Parodiando uma frase que vem sendo cada vez mais ouvida por aqui: “Nunca, jamais, em tempo algum as sociedades tiveram que trabalhar tanto e tão arduamente na defesa da qualidade do atendimento profissional em nosso País”. E isso em nome de nossos médicos e de nossos pacientes e da melhor qualidade da saúde cardiovascular no Brasil. Tenho a certeza de que são novos tempos. A certeza de grandes desafios. Mas tenho também a certeza de que procuraremos todos, médicos e sociedades, estar à altura da busca pela melhor qualidade de vida cardiovascular do povo brasileiro! * Diretor de Qualidade Profissional da SBC Luiz Antonio Gubolino* A Hemodinâmica,inicialmente,era uma área da Cardiologia estritamente de caráter diagnóstico invasivo. Atualmente, além dos procedimentos diagnósticos, a terapêutica invasiva das afecções cardiovasculares tornou-se a essência das atividades dessa área de atuação. A SBHCI, em seus mais de 30 anos de existência, tem passado por um crescimento societário de destaque, hoje atingindo quase mil associados. Acompanhando essa evolução societária, somada à ampliação dos procedimentos em seu campo de atuação, os desafios assistenciais e profissionais tornaram-se inevitáveis e freqüentes. A gestão atual tem dado atenção especial à questão da Qualidade Profissional, tentando identificar os principais pontos em desalinho que possam comprometer o bom desempenho assistencial e profissional dos associados. A leitura momentânea visualiza os mesmos desafios relacionados ao exercício da profissão médica como um todo, já evidenciados pelas demais especialidades e áreas de atuação médica. Questões como remuneração do trabalho médico, restrições à prática livre da Medicina, homologação do Ato Médico, financiamento da Saúde pública e da Assistência Suplementar de Saúde, banalização da profissão sem o referencial de Qualidade Profissional reconhecido e valorizado e, especificamente em nossa área de atuação, o compartilhamento de procedimentos afins a outras especialidades são integrantes de um arsenal de desafios que têm promovido a inquietude de toda a classe médica, principalmente de nossos associados. Como exemplo explícito e evidente, diariamente acompanhamos o problema da política de Saúde Pública, que prega a assistência integral e plena à população, conflitando com a argumentação governamental da limitação de recursos para o financiamento da assistência à Saúde nos moldes de nossa Carta Magna. Nesse fogo cruzado estão os nossos procedimentos, classificados como de Alta Complexidade e Alto Custo, que passam a ser alvo direto da contenção de gastos, que resulta na limitação do atendimento e na restrição do incremento de novas tecnologias em benefício do paciente. Secundário ao congestionamento e à lentidão da assistência médica pública, surgiu a Assistência Suplementar à Saúde, que congrega um contingente de quase 50 milhões de usuários. Atualmente regido por normatização criada e monitorada pela Agência Nacional de Saúde (ANS), esse sistema inclui cooperativas médicas, sistemas de auto-gestão em Saúde, seguradoras de Saúde, Medicina de grupos, etc. Com política de contenção de custos semelhante à estatal, conseqüente ao encarecimento da assistência à saúde e à limitação do repasse dos reajustes financeiros aos beneficiários, as empresas de Saúde Suplementar rapidamente têm intensificado seus controles nos gastos com procedimentos de Alto Custo, e, mais uma vez, os procedimentos intervencionistas cardiovasculares são alvo de privações, muitas vezes interferindo diretamente na qualidade assistencial. Além das interferências no exercício profissional qualitativo, a valorização do reembolso do trabalho médico mostra-se um grande desafio. Reconhecidamente defasadas, as tabelas que contemplam os valores dos honorários médicos estão desatualizadas e as mais recentes (Classificação Brasileira Hierárquica de Procedimentos Médicos – CBHPM) nem sempre são reconhecidas pelas fontes pagadoras. Essa luta pela readequação, pelo reconhecimento e pela valorização do trabalho médico tem sido intensa e quase insana por todos os segmentos da classe médica, e não menos pela SBHCI, porém a perseverança deve ser ação primordial dessas entidades e de cada um dos seus associados. A qualidade assistencial e do profissional deve ser foco constante nas políticas societárias, assim como a elaboração de referências de condutas médicas, profissionais e institucionais também deve fazer parte das gestões societárias, para que, por meio da formatação e de atualizações de diretrizes clínicas e de conduta profissional, os associados possam manter a coerência e a homogeneidade de sua prática médica diária. Os desafios assistenciais são enormes, o que implica o esforço de várias camadas da comunidade cardiológica, em que o compartilhamento do trabalho é inevitável e a integração e o apoio de nossa matriarca, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), é imprescindível. Felizmente, essa união societária é, agora, ainda mais forte e notavelmente nossos caminhos têm trilhado num sentido comum e sabiamente promissor. * Diretor de Qualidade Profissional da SBHCI Jornal da SBHCI 31 balanço AS conquistas E as perspectivas DO DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM de especialista, os profissionais de enfermagem poderão se associar mediante cadastro e pagamento de anuidade, a qual servirá para manutenção da nova entidade associativa. Além dos eventos científicos, outros resultados poderão advir desse fomento, como subsídios para a prova de títulos, manutenção do website, treinamentos e consultoria na área. Cursos de atualização e extensão, bem como publicação de literatura específica da área, estão sendo planejados. Simone de Souza Fantin* e Claudia Burigo Zanuzzi** O Departamento de Enfermagem da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (DESBHCI) foi criado em 1996, liderado por um grupo de enfermeiras com os mesmos objetivos: congregar os profissionais da área, discutir temas de interesse em comum, como a prática social, essencial na assistência e na organização, além do funcionamento dos serviços de saúde. Desde sua fundação, esse departamento deu grandes passos no que diz respeito a seu engrandecimento associativo e a seu progresso científico e profissional. Vinculado à SBHCI, é uma entidade sem fins lucrativos, de caráter científico-cultural, cujo principal objetivo é a promoção de eventos científicos, incentivando o desenvolvimento profissional de seus associados. Muitos foram os eventos realizados juntamente com a Sociedade e a cada ano cresce o número de enfermeiros atuantes na área de Hemodinâmica, todos interessados em contribuir e engrandecer a profissão. No entanto, apesar dos avanços científicos e técnicos conquistados até aqui, muito ainda resta a ser feito. Numa sociedade do conhecimento, em que as exigências de educação são cada vez maiores, um indicador importante é o reconhecimento da especialização de nossa atividade. Pautado em princípios éticos e em conformidade com suas competências, a Diretoria do DESBHCI tem como principal objetivo, nesta gestão, o registro do estatuto da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Hemodinâmica (SBEH), aprovado na Assembléia Geral Ordinária do Departamento de Enfermagem durante a XI Jornada Brasileira de Enfermagem em Hemodinâmica, realizada em 2006, em Porto Alegre, e o estatuto revisado e aprovado no ano seguinte, em Brasília. Tais decisões atendem às exigências necessárias para tornar possível a emissão do Título de Enfermeiro Especialista em Hemodinâmica, visando à incorporação desses profissionais e valoriano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 Simone de Souza Fantin Claudia Burigo Zanuzzi zando ainda mais a profissão e os serviços de Hemodinâmica do País. Outros objetivos são focados de modo a estimular e valorizar a produção científica dos enfermeiros, permitindo o planejamento de ações a cada encontro científico e delegando novas tarefas aos membros da Diretoria. JURÍDICO Em fase mais recente, a Assessoria Jurídica da SBHCI tem orientado a estruturação e os aspectos legítimos para a conquista da personalidade jurídica da Sociedade de Enfermagem, além de fortalecer nosso vínculo legal.Atualmente estamos ligados à SBHCI por meio de seu estatuto, e, apesar da constituição da SBEH, seguiremos como Departamento de Enfermagem vinculado à Sociedade. ANUIDADE Com a Sociedade de Enfermagem legalmente vigente, além da implantação da prova WEBSITE Hoje, o Departamento de Enfermagem tem toda sua divulgação disponível por meio do website da SBHCI. Com link próprio, o profissional de enfermagem pode se manter informado sobre as decisões das reuniões de Diretoria, associar-se, acessar eventos de enfermagem em todo o Brasil, e ter acesso a outros links de interesse, como legislação, protocolos e diretrizes aprovadas relacionadas à Hemodinâmica. CONSOLIDAÇÃO Muitas são as oportunidades que os membros do Departamento de Enfermagem têm experimentado no convívio e referencial da SBHCI. Sempre contando com o apoio da Diretoria da Sociedade, no reconhecimento, incentivo e arrimo a nossas atividades, temos solidificado nosso progresso, traduzido pela determinação em ampliar o número de sócios, no anseio de atualização, de crescente conhecimento científico e de qualidade assistencial, que, aliás, têm sido constantes. Com base na experiência e credibilidade dos profissionais da atual Diretoria do DESBHCI/ SBEH, garantimos que os ideais à promoção científica e à qualidade assistencial continuarão sendo nossa preocupação e motivo de empenho. * Presidente do Departamento de Enfermagem da SBHCI, enfermeira da Hemodinâmica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, RS ** Vice-presidente do Departamento de Enfermagem da SBHCI, enfermeira da Hemodinâmica da Santa Casa de Curitiba, PR Marcelo Queiroga* A Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), departamento oficial de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), tem, dentre outras atribuições, a importante incumbência de certificar os novos médicos interessados em ingressar em nossa área de atuação. Essa prerrogativa, delegada pelas entidades médicas maiores que regulam a Medicina no Brasil, nos confere grande responsabilidade, pois em última análise somos os condutores do processo de avaliação dos profissionais que assistem à sociedade na especialidade. Nesse contexto, igualmente, se insere a necessidade de divulgação em área pública, disponível à sociedade em geral, para livre acesso em nosso portal na internet, do rol dos médicos que possuem o Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Esse documento é fundamental para a divulgação da habilitação e proficiência nesse ramo da Medicina, sendo, assim, um indicador objetivo para aferição por parte de operadoras de planos de Saúde e pacientes da qualificação mínima requerida ao cardiologista para o exercício adequado de nossa especialidade. Tal medida visa, sobretudo, a assegurar aos que buscam uma formação comprometida, que, em nossa área, tem duração mínima de seis anos, o direito de ter seu nome inserido entre os que estão, realmente, aptos ao exercício da Cardiologia Intervencionista, com o objetivo de precatar os interesses difusos e coletivos da sociedade civil organizada. Essa ação integra um conjunto de iniciativas engendradas pela atual Diretoria da SBHCI na consecução de uma política de valorização e qualificação da formação dos especialistas em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, hoje área de atuação reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira (CFM/AMB). Dentre as várias ações merece realce especial a reunião de um grupo composto por colegas de grande relevância societária para, em conjunto com a SBC, elaborarem as diretrizes para habilitação dos Centros de Treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Esse documento representa um grande avanço nas ações de educação continuada de nossa Sociedade, uma vez que junge todo o aparelho formador a regras claras, que permitirão dotar os atuais Centros de Treinamento credenciados, e os que, porventura, desejem se credenciar, de um perfil educacional adequado, ajustado às necessidades de formação de especialistas aceitos pelas mais prestigiadas sociedades internacionais de Cardiologia. Em face da elaboração das diretrizes, o Conselho Deliberativo, em março do corrente, as definiu, a partir de então, como referência para a Sociedade, através da Resolução SBHCI no 1/2008, e, doravante, disciplinarão a política de credenciamento dos Centros de Treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (CTHCI). Essa norma estabelece, entre outras disciplinas, o recadastramento dos atuais Centros de Treinamento, com o escopo de adequálos às regras vigentes. No desiderato acima, hoje dispomos de uma angiografia perfeita do status quo da formação em Cardiologia Intervencionista no Brasil. Dessa forma, será possível a adequação de rumos em busca da melhor maneira de formar os futuros cardiologistas intervencionistas. Certificado de Área de Atuação Política da SBHCI para Formação, Certificação e Divulgação à Sociedade dos Cardiologistas Intervencionistas Atualmente, dispomos de 45 Centros de Treinamento credenciados, onde 84 estagiários, sendo 46 no primeiro ano e 38 no segundo, realizam sua formação. Esses colegas, acrescidos dos que, lamentavelmente, ainda não lograram êxito ao se submeter ao processo de avaliação para obtenção do Certificado de Área de Atuação, compõem o contingente de possíveis especialistas que serão disponibilizados à sociedade. A Diretoria, o Conselho Deliberativo e a Comissão Permanente de Certificação estão vigilantes no aperfeiçoamento do processo de formação e certificação dos novos especialistas, constituindo-se em uma das missões pétreas societárias, prioridade inarredável da atual administração. As Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Qualidade Profissional e Institucional, Centro de Treinamento e Certificação Profissional em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista representarão o corolário dessas ações e, seguramente, serão de grande importância para o conjunto da Cardiologia Intervencionista brasileira. * Diretor Administrativo da SBHCI Jornal da SBHCI 33 DUPLO OFÍCIO Medicina & Direito Os cardiologistas intervencionistas que também atuam no mundo das leis M aria do Rosário de Britto Leite é cardiologista intervencionista, graduada em Medicina no Recife, há 25 anos, pela Universidade Federal de Pernambuco. É sócia titular da SBHCI, compondo a Diretoria de Qualidade Profissional na gestão 2006/2009. Recentemente, foi graduada bacharela em Direito pela Universidade Maurício de Nassau, no Recife, Pernambuco. La Hore Rodrigues é cardiologista intervencionista, formado em Medicina pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, em 1969. É membro titular da SBHCI e já fez parte do Conselho Deliberativo de nossa Sociedade. Nos idos dos anos 80, ingressou na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde se formou. Há duas décadas conhece os benefícios do conhecimento jurídico em sua vida profissional. O Jornal da SBHCI entrevista Maria do Rosário de Britto Leite e La Hore Rodrigues para conhecer suas experiências e aptidões nessas fascinantes profissões liberais. Maria do Rosário de Britto Leite Existe um ramo específico de Direito Médico? O Direito Médico ainda não está firmado como ramo autônomo do Direito, como ocorre, por exemplo, com o Direito do Consumidor e o Direito Ambiental. O termo Direito Médico, inicialmente, nos leva a pensar na regulação das condutas do profissional de Medicina, uma vez que o Direito é um normatizador das relações humanas. Contudo, o Direito Médico, que, diga-se de passagem, vem se firmando como Direito Autônomo, tem objeto próprio, “o homem como ser humano e com direito a uma vida saudável”. Nesse sentido, pode ser compreendido não como um direito privado, de responsabilidade civil do médico simplesmente, mas também como direito público, constitucional, que prevê como responsabilidade do Estado prover condições de bem-estar e saúde à população. Pelo exposto, podemos entender que a saúde ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 Maria do Rosário de Britto Leite não é uma questão de exclusiva responsabilidade médica, mas de toda a sociedade, que deve ficar atenta para exigir mais e melhores condições de atenção a tal bem da vida. Por que o Direito Médico é, com freqüência, comentado e motivo de diversos fóruns? O Direito Médico surge como conseqüência de demandas e ações judiciais que questionam o exercício profissional do médico. Por essa razão, o exercício da Medicina tem sido associado a crescente angústia e momentos de tensão. Como profissão, a Medicina talvez sofra cobranças sociais de forma especial, pois a atividade diz respeito à promoção de saúde, um bem individual, mas também de interesse coletivo. Quanto às regras de Direito, podemos dizer que a atividade médica é contemplada e protegida pelo ordenamento jurídico brasileiro, este também aplicado a todos os cidadãos e a qualquer profissional liberal. O que não pode ser esquecido é que o serviço médico prestado constitui atividade com a obrigação de realizar todos os meios para melhorar e alcançar a saúde, mas não há como garantir os resultados. Há, sim, a obrigação, por parte do profissional médico, de agir com cuidado, de adquirir formação para o que se propõe fazer e de não extrapolar nas atitudes sem fundamentação. Somente se for comprovado que não agiu da maneira correta, e se por essa razão ocorrer dano ao paciente, o médico será responsabilizado. Esse ramo do Direito já é uma disciplina para os alunos de graduação? Até o momento, a disciplina não existe de forma específica, sendo, em parte, colocada na disciplina de Responsabilidade Civil. O Direito Médico tem sido tratado em cursos como uma disciplina de pós-graduação stricto sensu e lato sensu. Recentemente, fui convidada a ministrar a disciplina sobre aposentadoria para médicos em um curso de pós-graduação, na especialidade de Direito Médico. É digno de nota que esse emergente ramo do Direito passa a ser abordado preocupandose inclusive com o próprio médico como detentor de direitos, como qualquer cidadão. Outro aspecto interessante é que os cursos de pós-graduação são destinados tanto a juristas como a médicos. Como explicar a afinidade por profissões tão distintas, de áreas diferentes até no vestibular? É possível que, por diferentes razões, se ingresse no curso de Direito. Uma das razões, e considero uma das minhas, é procurar essa formação como meio para alcançar a justiça. No que pode parecer tão distinto, digo que encontrei muitas afinidades, quais sejam: no Direito falamos de sistema, conjunto do qual fazem parte órgãos que se inter-relacionam, e na Medicina o objetivo é cuidar do ser humano, que compõe um sistema cujos órgãos também se inter-relacionam; o juiz precisa decidir prolatando sentenças, o que é uma prescrição, e cuja desobediência repercute em sanção, e o médico, por meio da prescrição, procura resolver problemas e a não atenção à prescrição gera a sanção na própria saúde; o juiz, ainda que não esteja convicto, é obrigado a prolatar sentenças, de os colegas terem advogados há tempos e me procurarem para pedir auxílio sobre a causa em que estão envolvidos. Tenho conseguido tornar a linguagem jurídica acessível para o médico, afinal é algo que não faz parte do dia-a-dia do profissional de Medicina. Com a visão desses dois mundos, qual seu conselho, como jurista, para os colegas médicos? Nem sempre é possível se graduar nas duas profissões, também nem sempre é possível cumprir a exigência que nos é imposta, de conhecer a lei, na verdade a imensidão do conjunto de normas que nos regulamenta. Recomendo pensar e agir como muitas vezes orientamos nossos pacientes: • Faça avaliação de saúde. A prevenção é fundamental, pois nem sempre será possível curar a doença estabelecida; quanto mais cedo for detectado o problema, provavelmente mais fácil será a solução. • Faça prevenção de seus atos médicos. A orientação de um jurista pode prevenir um problema, ajudar a saná-lo se detectado no início, e ajudar a proteger também a saúde do profissional médico. Acredita que os médicos têm pouca preocupação com questões legais? Quem deve defender o profissional de Medicina: ele próprio ou a instituição a que está vinculado? O médico tem uma característica milenar: preocupa-se somente em atender bem o paciente. Ele se entrega a isso e pouco observa seu cenário de atuação. Existem dispositivos, recomendações e resoluções dos conselhos de Medicina e das próprias sociedades de especialidades que servem como material de orientação. Assim, os médicos devem, sem dúvida, reservar um tempo para observar mais as questões legais, até mesmo para que possam ter uma Medicina dentro dos padrões administrativos, econômicos e legais estabelecidos. Sobre a questão da defesa em eventuais ações, a melhor recomendação é ter um bom advogado. Aliás, muitas sociedades de especialidades têm sua consultoria jurídica, com advogados acostumados a lidar com assuntos da Medicina. La Hore Rodrigues Após anos de atividade assistencial e associativa na área médica, o que o motivou a cursar Direito? Eu me formei em Direito em 1988, na metade da minha vida profissional na Medicina. A necessidade de uma formação mais abrangente como médico e a busca de conhecimento jurídico, pois à época fazia parte do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, foram os motivos que me fizeram ingressar na Faculdade de Direito. Sentia necessidade de agrupar o embasamento e de sistematizar o conhecimento do mundo das leis, juntamente com uma visão mais abrangente do ser humano, que é físico e jurídico. Essa formação diferenciada mudou algo em sua vida? Foi interessante. Com relação à sociedade médica e a meus colegas, essa formação tornou-se um diferencial. Isso me permitiu certas observações, passei a desempenhar algumas atividades relacionadas apenas ao universo jurídico. Além disso, me proporcionou uma interface, uma grande facilidade para conversar com juízes e advogados e até mesmo para entender melhor nossos códigos, não só o Código de Ética Médica como também os estatutos societários. Acontece muitas vezes Em um país com inúmeras carências, como o Brasil, qual a receita para exercer uma Medicina sem se expor às fragilidades do sistema? Os médicos devem ter o conhecimento das ordens administrativas e legais, precisam conhecer bem os limites para não infringir as La Hore Rodrigues regras jurídicas. Também não podem deixar que essas questões afetem sua prática. É um caminho de duas vias e precisa haver muito cuidado, porque, às vezes, uma situação administrativa pode criar problemas graves. DUPLO OFÍCIO sob pena do perecimento do Direito, e o médico, muitas vezes, é obrigado a prescrever, ainda que o diagnóstico não seja completamente possível, sob pena de perecer a saúde. Ambos, o Direito e a Medicina, visam ao bem-estar do ser humano. Já enfrentou algum problema complicado nessa área? Se já passei por alguma situação desagradável? Já, sim. Acho que todo médico está sujeito a isso. A minha providência foi buscar a orientação de um advogado. Meus conhecimentos jurídicos facilitaram o diálogo com esse profissional, para discutir e esclarecer pontos de vista. O senhor tem reconhecida participação na vida associativa no Departamento de Hemodinâmica do Rio Grande do Sul. No que a condição de bacharel em Direito o auxilia e/ ou o prejudica? Fui o médico fundador e idealizador do Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (DHCI) da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (SBCRS). O conhecimento jurídico, como disse anteriormente, me auxiliou muito porque, quando tive a idéia de criar esse Departamento, pude montar toda a estrutura, tanto administrativa como jurídica. Já existiam outros Departamentos da Sociedade de Cardiologia, mas não havia regulamentação jurídica em nenhum. Fui o responsável pela elaboração do nosso estatuto e encaminhei, de maneira muito ordenada, para o setor jurídico da SBC-RS. Depois, apresentei esse Departamento na reunião do Conselho Deliberativo da SBHCI e na ocasião abriu-se a oportunidade de os outros Estados serem representados no Conselho Deliberativo por intermédio de instâncias semelhantes. Assim, nosso Departamento abriu essa possibilidade para todo o Brasil, ou seja, a iniciativa do Rio Grande do Sul foi de suma importância para o conhecimento e a orientação dos médicos de outras regiões. Qual conselho dá aos jovens médicos? Recomendo que tenham, primeiramente, uma boa formação, porque é isso que o preservará de qualquer demanda jurídica por imperícia. Eles devem observar as normas do bom exercício profissional, pois assim impedirão qualquer ação por imprudência. Enfim, sejam bastante caprichosos e zelosos com seus pacientes, porque sendo dessa maneira impedirão qualquer demanda por negligência.Terão um bom exercício e adquirirão bom conceito profissional. Jornal da SBHCI 35 Exclusivo A cultura do Brasil sob a regência do Maestro Isaac Karabtchevsky Em entrevista exclusiva para Amanda Sousa, da Comissão Científica da SBHCI, o mestre da arte erudita fala de música e de sua obra N ascido no Brasil, em 1934, o maestro Isaac Karabtchevsky é descendente de família russa. Desde 2003, é diretor artístico da Orquestra Nacional do Vale do Loire, na França. Por sua dedicação, transformou-a na orquestra francesa com o maior número de assinantes atualmente (11 mil), e recebeu, das mãos do ministro da Cultura francês, a medalha de Cavaleiro das Artes e das Letras. É também diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) e da Orquestra Petrobras Sinfônica, no Rio de Janeiro, e, na Itália, é consultor do Musica Riva Festival. O maestro Karabtchevsky iniciou a carreira como regente do Madrigal Renascentista, de Belo Horizonte, sendo posteriormente diretor musical da Orquestra Sinfônica Brasileira, por 26 anos, e do Teatro Municipal de São Paulo. Sua carreira, então, já gozava de ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 unânime reconhecimento pelas marcantes atuações no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Entre 1988 e 1994, foi regente titular da Tonkünstlerorchester, de Viena, Áustria, com a qual fez várias turnês internacionais. Por sua atividade naquele país, foi homenageado com a comenda Grande Mérito à Cultura do governo austríaco, sendo o primeiro brasileiro a recebê-la. De 1995 a 2002, foi diretor musical do Teatro La Fenice, de Veneza, Itália. Teve suas principais interpretações naquela casa editadas em CD (Mundo Música – Munique, Alemanha), recebendo excelentes críticas da imprensa especializada. Dirigiu diversas orquestras em importantes salas de concerto, entre as quais: Concertgebouw (Amsterdã, Holanda), Royal Festival Hall (Londres, Inglaterra), Salle Pleyel (Paris, França), Carnegie Hall (Nova York, Estados Unidos), Kennedy Center (Washington, Estados Unidos), Staatsoper (Viena, Áustria), Teatro Real (Madri, Espanha) e Teatro Colón (Buenos Aires, Argentina). O Jornal da SBHCI teve a honra de ser distinguido com uma entrevista exclusiva dessa figura de escol da música erudita do Brasil. Confira a seguir. É correto pensar que a beleza musical e os valores artísticos estão em direta proporção ao aumento do número de instrumentos em uma orquestra? Absolutamente não. Cada obra terá ou não valor pelo que ela é, e não pelo fato de ter uma orquestra composta por um número maior ou menor de instrumentistas. Se esse fosse o critério, uma composição de Bach seria uma obra menor? Sem os intérpretes, a criação musical permanece muda. Obviamente isso coloca um pesado ônus sobre os executantes. Em sua visão, o que diferencia o perfeccionismo técnico da maestria de execução artística? A técnica foi sempre pensada como um veículo a transportar um músico a dimensões maiores. Nem sempre ela é prioritária. Veja, por exemplo, a gravação dos prelúdios de Chopin nas mãos por vezes titubeantes do genial pianista Alfred Cortot. O ouvinte atento reconhece erros técnicos, mas que emoção! O que o senhor busca, especificamente, nos músicos das orquestras que dirige? No comando de uma orquestra, com elementos tão díspares, impõe-se a Crê que o intérprete deve se tornar parceiro do compositor no ato de criação ou recriação de uma obra, oferecendo ao ouvinte interpretações diversas e, ainda assim, válidas? Depende do compositor e da obra executada. Cada maestro pode interpretar uma obra de forma diferente e todas podem ser válidas. É de opinião que a interpretação deva ser a mais próxima possível dos desejos e idéias do compositor? O problema é que algumas vezes se torna difícil, pela ausência de informações contidas nas partituras, determinar exatamente os pensamentos de alguns compositores. Essa ausência de informação, intrínseca aos compositores do barroco e às indicações metronômicas de Beethoven, poderá levar o intérprete a alguns exageros. Acredita que alguma obra já atingiu sua interpretação definitiva ou esse conceito é mítico? Não existe interpretação definitiva, mas acredito que um Furtwaengler, um Karajan e um Toscanini chegaram a interpretações próximas à perfeição. processo de execução da obra musical. Como surgiu essa figura central de direção interpretativa? O advento da era industrial afetou a fisionomia material e espiritual de metade do mundo. A produção gerada pelas fábricas e grandes empreendimentos no âmbito mundial repercutiu imediatamente no aumento das salas de concertos e em suas respectivas dimensões. A grande orquestra nasce, portanto, dessa postura, e o que era antes um pequeno conjunto dirigido pelo spalla tem de recorrer à figura de um organizador e disciplinador da massa sonora, o tradicional maestro. Acredita-se que os dias do regente tirânico e das batutas voadoras tenham terminado. Como “ganhar” os músicos de uma orquestra, trazendo-os ao campo de suas idéias, a seu modo de ver a organização musical? Basta a força de uma personalidade persuasiva? Um bom maestro, além do óbvio talento, precisa ter carisma e liderança, e, principalmente, estar sempre aberto ao diálogo. Sem tais qualidades será quase impossível comandar uma orquestra. Como se tem buscado e reposto novos talentos (compositores, músicos, maestros) para desenvolver a música erudita num país como o nosso, em que há pouca integração da música clássica ao cotidia- no? As vocações acabarão por depender somente das famílias ditas “musicais”? Algumas famílias têm realmente uma natural predisposição para a música, como outras têm para a medicina, para a engenharia, etc. Veja, por exemplo, os Menezes: o pai era músico, o Antonio é nosso maior violoncelo, e na Orquestra Petrobras Sinfônica, a OPES, temos o Gustavo, o Ricardo, o Eduardo e o João, todos talentosíssimos. Na família Prazeres, tivemos meu grande amigo, o maestro Armando Prazeres, fundador da Orquestra Pró Música, que depois transformamos na Orquestra Petrobras Sinfônica; seu filho Carlos, que tornei meu maestro assistente, além de ser também excelente oboísta; e Felipe, grande violinista e nosso spalla. Na minha família, minha mãe foi cantora da Ópera de Kiev e em nossa casa todos tocavam um instrumento. O Brasil é um país extremamente musical e descobrimos talentos em todas as camadas da população. Não acho que os talentos provenham de uma elite. Exclusivo unidade de pensamento, aquela que começa nas intenções do compositor, passa pelo regente e pela orquestra e é transmitida com absoluta convicção para o público. Talvez seja esse o desafio maior, o de fazer com que todos pensem e toquem juntos. Qual seu conselho para a formação de platéias ou para a conquista de um público de apreciadores da boa música, tendo sido eliminada, há mais de três décadas, a exposição regular dos jovens à música (canto orfeônico, canto coral) nos currículos escolares? Temos lutado para que seja outra vez implementado o estudo de música nas escolas. Acreditamos que esse fato Quais as funções reservadas ao spalla (primeiro violino) da orquestra? O spalla, como o nome diz, é o ombro do maestro. É o que comanda a afinação da orquestra. Um bom spalla tem uma função importantíssima, deve ser sempre um líder. Os solistas diminuíram sua variedade estilística nos dias atuais? Não creio, a variedade estilística continua existindo. O maestro tem um papel central, de grande importância e vitalidade, no Jornal da SBHCI 37 Exclusivo “ No comando de uma orquestra, com elementos tão díspares, impõe-se a unidade de pensamento, aquela que começa nas intenções do compositor, passa pelo regente e pela orquestra e é transmitida com absoluta convicção para o público acontecerá muito em breve. Enquanto isso, as orquestras sinfônicas espalhadas pelo País deveriam ter a função de ir ao encontro do povo, como fizemos por décadas com o Projeto Aquarius, do jornal “O Globo”, agora também patrocinado pela Petrobras. O uso terapêutico da música clássica foi atestado empiricamente. Já se atribuiu às gravações de Mozart o poder de estimular a inteligência em fetos e de aliviar a dor do parto. Outras aplicações terapêuticas foram sugeridas nas áreas de psiquiatria e geriatria. Isso é real ou faz parte da propaganda? Pesquisas mais aprofundadas devem ser feitas. Em relação à psiquiatria e à geriatria, a lógica nos leva a acreditar na potencialidade da música. Os líderes de vendagem, de todos os tempos, foram os Beatles, cujas vendas pela EMI são estimadas entre 1 e 1,3 bilhão de discos – exatamente o mesmo que o to- ” tal da música clássica. Os Beatles parecem ter influenciado, nos tempos modernos, mais que qualquer político, cientista, escritor ou diretor de cinema. A gravação da música clássica, como produto cultural, teve impacto similar ao longo do século? Os Beatles foram e serão sempre um fenômeno único, porque aliaram a um fantástico desenvolvimento da melodia o poderoso conteúdo de seus textos. Eles não se restringiram a uma só geração e se perpetuaram como símbolos permanentes da comunicação por meio dos sentimentos. Considera válido revisitar a música clássica, dando-lhe uma roupagem popular? Acho completamente desnecessário revisitar ou dar nova forma à música clássica. Uma obra de arte não se muda. Já imaginou tornar as obras dos grandes pintores e escultores do Renascimento mais condizentes com o padrão estético das mulheres do século XX? Pense no “Nascimento de Vênus” ou em “A Primavera”, de Botticelli, na “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, ou mesmo nos nus da Capela Sistina, de Michelangelo. Quem ousaria cometer o sacrilégio de modificá-los? O mesmo se dá em relação a Beethoven, Wagner, Bach, etc. Há os que advogam, como Norman Lebrecht, apresentador da Rádio BBC 3, de Londres, Inglaterra, a idéia de que a produção de discos de música clássica sofre de doença “ terminal, por não ser mais um negócio robusto e lucrativo. Compartilha dessa visão? Se fôssemos por esse caminho, não teríamos mais orquestras sinfônicas, já que são por natureza organismos deficitários. Se fosse adquirir cinco obras musicais para ofertar a seu melhor amigo e levá-lo instantaneamente ao paraíso, quais escolheria? E se quisesse punir o pior inimigo da humanidade, com quais obras praticaria o ato justiceiro? Para o meu amigo, certamente a Sinfonia no 40, de Mozart, a 5a e a 9a sinfonias de Beethoven, e a 2a e a 9a sinfonias de Mahler. A algum eventual inimigo, eu não mandaria obras musicais. Para finalizar, maestro, creio que uma vida tão realizada e criativa como a sua é acompanhada por uma trilha musical. Na sua rotina, qual é a música que não lhe “sai dos ouvidos”, ou seja, qual é a trilha musical da sua vida? Impossível responder, já que ocuparia todo o espaço da edição do seu jornal... O Brasil é um país extremamente musical e descobrimos talentos em todas as camadas da população ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 ” Especialidade Obtenção do Certificado de Área A PROVA TEÓRICA 2008 DA SBHCI Samuel Silva da Silva* máximo para a realização da Prova Prática, determinada pela AMB, deve ser salientada: todo candidato aprovado na primeira fase deverá obrigatoriamente obter sua aprovação na Prova Prática no prazo de seis meses. Essa é uma recente norma universal a ser obedecida nas concessões de qualquer título de especialista ou certificado de área de atuação por todas as sociedades médicas científicas brasileiras. A CPC almeja que a Prova Teórica 2008 da SBHCI tenha êxito, que represente um avanço concreto na metodologia de avaliação, e que esses aprimoramentos se traduzam em benefícios aos candidatos que buscam essa certificação. A Prova Teórica para obtenção do Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista será realizada dia 28 de novembro de 2008, no Hotel Sofitel, em São Paulo, SP. Tanto a Prova Teórica como o Curso de Atualização foram desvinculados do congresso científico da SBHCI, e essa decisão, que objetiva fortalecer esses eventos, foi acompanhada de algumas modificações estruturais. O Curso de Atualização foi reestruturado em oito módulos, que serão desenvolvidos nos dias 26 e 27 de novembro no mesmo local, e precedendo a realização, da Prova Teórica. Mais importante que o aumento quantitativo da carga horária foi a reformulação dos conteúdos temáticos e a incorporação de novos temas ao Curso, com a finalidade de adequá-lo, ainda mais, ao estado de arte de nossa área de atuação. A Prova Teórica incorporará uma significativa mudança, validada previamente em ensaio piloto realizado em 2007, e que constará da formulação de questões baseadas na interpretação de casos editados. Esses casos constituirão uma nova modalidade de avaliação de natureza teóricoprática e sobre os quais serão realizadas perguntas, no formato de teste de múltipla escolha, com cinco alternativas possíveis de resposta, sendo apenas uma correta. Como o restante da avaliação é constituído por questões com a mesma formatação, haverá um único gabarito de respostas, permitindo a leitura óptica e a pontuação eletrônica, já incorporadas como padrão de qualidade às Provas Teóricas da SBHCI. As questões elaboradas no modelo tradicional serão mantidas, mas seu número será reduzido para 50. Essa redução foi decidida pela Comissão Permanente de Cer- tificação (CPC), sob orientação pedagógica da Officium Consultoria, com os seguintes objetivos: garantir um tempo médio mínimo para responder cada questão (igual ao das provas dos dois últimos anos); possibilitar a interpretação dos casos editados e responder às questões a eles referentes em tempo adequado; e limitar a realização da prova em quatro horas. A CPC deliberou que as 50 questões teóricas terão o mesmo valor de pontuação. Alguns aspectos técnicos referentes às questões de casos editados, que aguardam a liberação do Edital dessa prova pela Associação Médica Brasileira (AMB), foram definidos na última reunião ordinária da CPC, realizada durante o 63o Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O programa para a Prova Teórica 2008 manteve-se inalterado em relação à Prova Teórica 2007, embora a bibliografia recomendada tenha sido revisada. O Edital do Concurso para Obtenção do Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista de 2008 e todas as informações pertinentes estarão disponibilizados eletronicamente no website da SBHCI. Uma importante alteração referente ao prazo * Coordenador da Comissão Permanente de Certificação da SBHCI e cardiologista intervencionista – Londrina, PR Todas as imagens são ilustrações artísticas. Fotos e especificações representam o desenho atual (2007). As informações aqui contidas destinam-se à distribuição fora dos EUA e Japão apenas. © 2008 Abbott Laboratories. LA-3011C-07 04/2008 www.xiencev.com ABBOTT CENTER - Central de Relacionamento com o Cliente 0800 7031050 e-mail: [email protected] www.abbottbrasil.com.br Jornal da SBHCI ANU 1520.indd 1 39 7/5/2008 13:00:58 Prática médica ESPECIALISTAS CONTAM POR QUE PREFEREM NA CINECORONARIOGRAFIA E NA C Roberto Botelho Roberto Botelho Instituto do Coração do Triângulo Mineiro – Uberlândia, MG N o quesito segurança, há menos complicações de acesso, principalmente as hemorrágicas, que são preditoras independentes de mortalidade. Em síndromes agudas, a antiagregação e a anticoagulação são progressivamente mais agressivas. Nos estudos ISAR (REACT, SWEET, SMART-2 e REACT-2) (Ndrepepa G, et al. J Am Coll Cardiol. 2008;51:690-7), avaliando 5.384 pacientes, o sangramento periprocedimento foi mais forte preditor de mortalidade em um ano que a ocorrência de infarto periprocedimento. Nesse estudo, qualquer sangramento (maior ou menor) aumentou a mortalidade em três vezes. O estudo MORTAL (Chase AJ, et al. Heart. 2008;94:1019-25), avaliando registro de 32.822 pacientes, demonstrou que em 20% deles foi utilizada a via radial. Essa escolha, quando comparada à via femoral, reduziu pela metade a necessidade de transfusões (2,8% vs. 1,4%; p < 0,001). Houve redução da mortalidade em um mês de 36% e em um ano, de 17%. ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 O estudo SYNERGY (Cantor WJ, et al. Catheter Cardiovasc Interv. 2007;69:7383), avaliando 9.404 pacientes, demonstrou que o sangramento periprocedimento foi de 4,8% no acesso femoral e de 0,9% no acesso radial. Quando consideramos a questão conforto, 75% dos pacientes preferem a via radial, comparativamente à via femoral. É provável que essa proporção seja maior, se avaliada após a era dos introdutores hidrofílicos. Quando avaliamos a questão da logística, ressalto que a dinâmica do Serviço é implementada. Economizam-se vinte minutos do trabalho de enfermagem pela compressão femoral por paciente. Em serviço com 10 pacientes/dia, são mais de três horas de um funcionário. Destaco ainda outros pontos, como as limitações da via femoral: obesidade mórbida, aneurisma de aorta abdominal, anticoagulação sistêmica, etc; e a economia, principalmente em síndromes agudas. Pelo exposto, a redução de complicações impacta em custos diretamente; e em versatilidade, pois os novos materiais reduziram a curva de aprendizado e permitiram que se abordassem casos complexos como bifurcações, tronco da coronária esquerda, infarto agudo, etc. Gilberto Lahorgue Nunes Hospital São Francisco da Santa Casa de Porto Alegre – Porto Alegre, RS I niciamos nossa experiência com a técnica transradial em abril de 2000. Desde então, a artéria radial tem sido a via de acesso preferencial em nosso Serviço, para a realização de procedimentos tanto diagnósticos como terapêuticos. Nossa experiência total supera os 10 mil casos, e, atualmente, cerca de 80% dos casos são realizados Gilberto Lahorgue Nunes por essa via de acesso. As razões pela nossa preferência por esse acesso são várias. Primeiramente, ela permite a deambulação imediata após o procedimento, não havendo necessidade de repouso prolongado no leito. Isso aumenta de maneira considerável o conforto proporcionado aos pacientes. Em segundo lugar, o emprego dessa técnica reduz de maneira significativa a ocorrência de complicações hemorrágicas associadas ao local da punção, mesmo na vigência de anticoagulação plena e com o uso concomitante dos inibidores da glicoproteína IIb/IIIa. Além disso, nos procedimentos ambulatoriais é possível liberar o paciente após três horas de observação contra as seis horas de repouso normalmente necessárias quando é realizada punção femoral. Além disso, a menor ocorrência de sangramentos e a retirada imediata da bainha arterial permitem que os pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea sejam encaminhados diretamente para o quarto e possam receber alta no dia seguinte ao procedimento, reduzindo tanto o tempo de internação como os custos hospitalares totais. Prática médica REFEREM A TÉCNICA TRANSRADIAL CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA hemorrágicas observada. Mais recentemente, temos conseguido ampliar os procedimentos realizados pelo braço, quando passamos a utilizar veias superficiais da região cubital para realização de cateterismo direito e a artéria ulnar como alternativa à radial. Raimundo Costa Furtado Centro de Cardiologia do Hospital São Domingos – São Luís, MA André Labrunie André Labrunie Hospital do Coração – Londrina, PR U tilizamos o acesso radial há cerca de dez anos. Quanto à aprendizagem, que temos compartilhado com vários colegas, não mais observamos a dificuldade histórica relatada anteriormente, provavelmente pela adequação e pelo aperfeiçoamento do material. O que mais nos atrai nessa via de acesso é a segurança, pela minimização significativa das complicações vasculares e A tualmente, com a utilização da técnica transradial, ficou mais simples de se realizar angiografia e intervenção coronária. Complicações como hemorragia grave, infecção e fístula arteriovenosa são muito raras. É uma técnica muito confortável tanto para o médico como para o paciente. Os procedimentos realizados por essa técnica são rápidos e seguros, a despeito do aparecimento de espasmo arterial, que pode ocorrer em uma incidência pequena e que diminui ainda mais com a experiência do operador. Podemos utilizar cateteres de até 8F, em alguns casos, por essa via de acesso, permitindo, assim, a utilização de todas as técnicas para o tratamento Raimundo Costa Furtado de lesões coronárias complexas. O paciente pode deambular imediatamente após o procedimento, ficando a seguir sentado confortavelmente em uma poltrona enquanto aguarda o curativo final. Do ponto de vista psicológico, a aceitação dessa técnica é muito maior quando comparada a outras técnicas utilizadas. Por essas razões, para diagnóstico e intervenção coronária prefiro a técnica transradial, que tem sido utilizada em quase 100% dos procedimentos coronários realizados em nosso Serviço. Jornal da SBHCI 41 Projeto científico SBHCI COORDENA PROJETO PILOTO INÉDITO DE BASE DE DADOS SOBRE A INTERVENÇÃO CORONÁRIA PERCUTÂNEA NO BRASIL Pedro A. Lemos Neto* S istemas de coleta de dados constituem a base para a compreensão da prática da intervenção coronária, sendo ativos em diversos países. Possibilitam monitorar o status da Cardiologia Intervencionista e disponibilizar informações para gestores, médicos, fornecedores e pacientes. Também, a obtenção de dados em um nível populacional se faz fonte preciosa de saber científico, notadamente quanto ao estudo da evolução clínica tardia e de eventos adversos de baixa incidência, além da análise de subgrupos de menor freqüência. É com orgulho que a SBHCI anuncia o início das atividades do projeto “Construção e Implementação de Sistema para a Integração e Gestão de Dados da Intervenção Coronária Percutânea no Brasil”, que conta hoje com a participação de cinco instituições de ensino e pesquisa do País: Instituto do Coração – InCor/HC-FMUSP (SP), Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (SP), Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), Universidade Federal de Minas Gerais (MG) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul-HCPA (RS). A esses centros iniciais deverão ser adicionadas outras instituições reconhecidas na prática da pesquisa clínica brasileira. Os objetivos primários durante o seguimento serão definidos com a determinação dos seguintes eventos, pelo período mínimo de um ano após o procedimento: óbito, por qualquer causa, discriminado de acordo com informações clínicas; ocorrência de infarto do miocárdio; e necessidade de novo procedimento de revascularização, especificando se do mesmo vaso ou cirurgia de revascularização do miocárdio. O planejamento inicial prevê que a coleta de dados se inicie no começo do último trimestre de 2008 e que sua conclusão e eventual extensão aconteça até o final de 2010. O Projeto Construção ICP objetiva não só implementar ferramentas de coleta de dados em si, mas também testar o sistema de monitoria in loco da qualidade dos dados e adjudicação de eventos adversos. Esse empreendimento, financiado pelos Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), conta com recursos iniciais de aproximadamente R$ 280.000,00. A obtenção dessa verba de fomento à pesquisa é uma ação até então inédita na SBHCI, tendo sido vencedor nosso projeto entre tantos outros apresentados. * Diretor Científico da SBHCI CONFIRA OS NOVOS SÓCIOS DA SBHCI Sócios homologados em Curitiba no 630 Congresso Brasileiro de Cardiologia ASPIRANTES Alaor Mendes da Cunha Jr. Alexandre Venturelli da Silva André Farinelli Lima Brito Daniel Silva Chamié de Queiroz Francisco Carleial Feijó de Sá Raphael Lanza e Passos Ricardo Peressoni Faraco AD XPRO 122x58mm Silmara Cristina APROVADO.pdf Friolani C M Y CM MY CY TITULARES Aston Marques da Silva Junior Gederson Rossato João Guilherme Alves Loures Marcio Lautert Balbinot Rodolfo de Franco Cardoso Ronei Rodrigo Rorato 19.04.08 19:52:26 COLABORADOR João Anísio Ferreira EXCEPTIONAL IMAGE QUALITY SPEED, RESPONSE & FLEXIBILITY INTERVENTIONAL FUNCTIONALITY ERGONOMIC EFFICIENCY DOSE REDUCTION TECHNOLOGIES SEAMLESS WORKFLOW CMY K TOSHIBA MEDICAL DO BRASIL LTDA. Av. Ceci, 328, Tamboré 1 - Barueri - SP CEP: 06460 -120 - Tel.: (11) 4134.0000 www.toshibamedical.com.br ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 EXPEDIENTE SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA — GESTÃO 2006-2009 Luiz Alberto Mattos Presidente Alexandre Quadros* Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes Diretor Administrativo R ecentemente, aumentamos de forma significativa o conteúdo científico de nosso website (www.sbhci.org), com o retorno da TV SBHCI e com maior número de artigos comentados e de casos clínicos. Os drs. Henrique Gomes (Porto Alegre), Carlos Augusto H. M. Campos (São Paulo) e Guilherme Ferragut Attizzani (São Paulo) passaram a integrar o grupo de co-editores do Portal, juntando-se aos drs. Klauber Roger (Sobral) e Pedro Beraldo (Marília). Esperamos, com essas intervenções, melhorar o conteúdo do website e proporcionar atualização continuada ao nosso associado e aos usuários do Portal. A TV SBHCI irá reproduzir os casos realizados durante o XXX Congresso da SBHCI, no Recife, e já está no ar há quase um mês. Após algumas dificuldades técnicas na conversão dos vídeos e no formato de reprodução, acreditamos ter atingido um nível satisfatório de qualidade e de resolução, permitindo que os casos veiculem adequadamente sua mensagem científica. A revisão de artigos cientificamente relevantes publicados nos principais periódicos internacionais, na área da Cardiologia Intervencionista, tem sido realizada desde a reformatação do website introduzida pela atual gestão. Vinham sendo revisados dois artigos por quinzena, e pretendemos, agora, fazer a revisão de dez artigos por quinzena. Acreditamos estar, assim, acompanhando mais de perto as constantes mudanças no cenário científico internacional. Finalmente, comunicamos que nestes dois anos à frente do website observamos aumento muito significativo em sua audiência. Em setembro de 2006 foram registradas 4.268 visitas, número que aumentou para 25.164 em junho de 2008. Acreditamos que isso reflita os esforços que têm sido feitos no sentido de proporcionar serviços úteis a nossos associados através do Portal, já que também internet Novidades do portal SBHCI Hélio Roque Figueira Diretor Financeiro Pedro Alves Lemos Neto Diretor Científico Rogério Sarmento-Leite Diretor de Comunicação Luiz Antonio Gubolino Diretor de Qualidade Profissional José Antonio Marin-Neto Diretor de Educação Médica Continuada temos observado a ótima receptividade dessas inovações pelos nossos colegas. Foram inúmeras as novidades introduzidas nesse período e que resultaram no aumento da audiência, como intranet, acesso aos periódicos internacionais, cobertura científica dos principais congressos internacionais e melhora da qualidade da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI), entre outras. Alguns picos de audiência também estiveram associados a ações institucionais relevantes, como a liberação da Diretriz e da lista de médicos registrados na Associação Médica Brasileira (AMB). É importante ressaltar que esses resultados só foram possíveis com a colaboração de todo o grupo de co-editores, já citados, sob a liderança qualificada e incansável de Luiz Alberto Mattos e Rogério Sarmento-Leite, presidente e diretor de Comunicação da SBHCI, respectivamente. No entanto, mesmo satisfeitos com o que já foi atingido, continuamos trabalhando no sentido de aprimorar cada vez mais o conteúdo e o layout do Portal, estando sempre abertos a sugestões e críticas dos colegas, que podem ser enviadas para o e-mail [email protected]. A próxima conquista será a reformulação do layout e a valorização do website da RBCI, publicação que tem sido muito bem conduzida por sua editora, Áurea Chaves, e demais colegas. Finalizando, convidamos todos a acompanhar a cobertura do TCT 2008, de 12 a 16 de outubro. * Editor do Portal da SBHCI Marcos Antônio Marino Diretor de Intervenções Extracardíacas César A. Esteves Diretor de Intervenções em Cardiopatias Congênitas César Rocha Medeiros Luciana Constant Daher Marcelo de Freitas Santos Marcelo José Cantarelli Editores Acontece Comunicação e Notícias Projeto Jornalístico Norma Cabral da Silva Gerência Administrativa Débora Valejo Natália Mariotto Secretaria de Comunicação Giselle de Aguiar Pires Edição de Arte Tiragem: 11.000 exemplares www.sbhci.org.br Rua Beira Rio, 45 - cjs. 71 e 74 Vila Olímpia - CEP 04548-050 São Paulo, SP - Fone: (11) 3849-5034 Espaço do leitor A Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista ficará muito satisfeita em tê-lo como colaborador do Jornal da SBHCI. Ajudar a enriquecer nossa publicação é importante e simples. Basta enviar suas impressões e/ou sugestões para o e-mail [email protected] ou, por carta, para a Rua Beira Rio, 45 – cjs. 71 e 74 – Vila Olímpia – São Paulo, SP – CEP 04548-050, aos cuidados da Diretoria de Comunicação. Desde já agradecemos seu apoio. Jornal da SBHCI 43 publicações Processo de Amadurecimento da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva Rogério Sarmento-Leite* e Áurea Chaves** H á menos de dois anos a Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI) vem passando por um período de inovação e crescimento, que redundou em aceitação crescente dos novos fascículos, tanto entre os cardiologistas intervencionistas como entre cardiologistas de outras subespecialidades, internistas e profissionais de áreas correlatas. Essa popularização é refletida no aumento de mais de 3.000% nos acessos ao portal eletrônico da RBCI,constatado em nossa última avaliação de junho de 2008. Nesse período, foram implementadas inúmeras medidas gerenciais, “invisíveis” para o público em geral, mas fundamentais para o bom funcionamento da Revista e garantia de qualidade do que é publicado: o Conselho de Revisores teve o número de seus componentes expandido em mais de 50%; o Sistema Gerenciador de Publicações (SGP) passou a operar integralmente e hoje controla todo o processo de submissão, revisão e aceitação/recusa dos artigos; o processo editorial foi agilizado, com a entrega das revisões dos artigos submetidos em período médio de duas semanas; a revisão do português de todos os artigos publicados passou a ser feita por serviço contratado; os fascículos passaram a ser distribuídos pelos Correios, na tentativa de minorar as irregularidades da entrega domiciliar aos mais de 10 mil sócios da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC); e a criação do website da Revista bilíngüe português/inglês, a partir de junho de 2007.Tudo isso foi somado à impecável revisão bibliográfica dos artigos e aos serviços gráficos excepcionais contratados no período editorial que precedeu o atual. A meta principal desta administração para a RBCI, no entanto, tem sido o crescimento científico, fundamental para a internacionalização da Revista e a indexação na base de dados Medline e ISI Thomson. A meta do crescimento científico é conseqüência natural da fase de amadurecimento que a RBCI ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008 se encontra. Uma medida inovadora e eficaz foi a instituição de prêmios para os trabalhos apresentados nos congressos anuais da SBHCI que alcançassem as maiores pontuações nas revisões pelos pares. Essa medida tem sido a maior responsável pela captação de artigos de grande interesse científico, antes submetidos a outros conhecidos periódicos da especialidade, nacionais e internacionais. O aporte de maior número de artigos originais é requisito básico para conseguirmos a próxima indexação da RBCI no SciELO, que será solicitada em setembro. Esperamos alcançar essa meta, já que temos cumprido todas as exigências requeridas. Conseguida essa indexação, a RBCI passa a ser classificada pela Coordenação de Aper- feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) como “Qualis A Nacional” e, por conseqüência, torna-se mais atrativa para captar artigos resultantes de dissertações de mestrado e teses de doutorado das pós-graduações nacionais, aumentando ainda mais a qualidade de seu conteúdo científico. A estratégia de internacionalização da RBCI, por outro lado, tem sido apoiada na divulgação de newsletters mensais, hoje distribuídas não só para todos os sócios da SBC como também da Sociedade LatinoAmericana de Cardiologia Intervencionista (SOLACI). As newsletters em espanhol, endereçadas à América Latina, começam a dar frutos e já trouxeram artigos da Colômbia e do Uruguai, aprovados para publicação. A lista de endereços eletrônicos desse serviço foi ampliada no último mês, e incluiu cardiologistas intervencionistas de Portugal, hoje responsáveis por 5% da audiência do website da RBCI. Tem ajudado nessa divulgação internacional a participação de editorialistas como Martin Leon, Louis Caplan, Emerson Perin, Eberhard Grube e James Ferguson, freqüentadores assíduos das páginas dos principais periódicos científicos internacionais e que contribuíram recentemente com a RBCI. Seguimos incansáveis como agentes atuantes e testemunhas privilegiadas desse processo difícil, mas formidável, de construção e agora de amadurecimento da RBCI, rumo à maturidade, com a sonhada indexação no Medline e ISI Thomson. A estrada é longa, mas seguimos a passos firmes rumo a nossos objetivos, respaldados por uma bela e aguerrida equipe, que trabalha unida e coesa para tornar realidade nossos anseios. Nesse sentido, contamos com o apoio e o incentivo de todos os sócios e parceiros da SBHCI. Nosso muito obrigado a todos os que já colaboraram e desejamos que o continuem fazendo e um forte apelo àqueles que potencialmente podem contribuir com envio de material original que o façam. * Diretor de Comunicação da SBHCI ** Editora da RBCI