Publicação Trimestral da Sociedade
Brasileira de Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista
Ano XI – Número 3
Julho a Setembro de 2008
PEC-SBHCI:
a excelência
da Educação
Continuada
Fausto Feres, Protásio Lemos da Luz, Luiz Alberto Mattos, Marcelo Queiroga,
Gilson Feitosa, Amanda Sousa, José A. Marin-Neto e Marcelo Freitas, durante
o PEC-SBHCI no 63º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Curitiba, Paraná
4Direto de Brasília: os avanços
e as dificuldades
do SAMU, na visão
do coordenador
Cloer Vescia Alves
ISSN 0104-1843
4Responsabilidade: SBHCI
REVISTA BRASILEIRA DE
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista • ANO 16 - Nº 2 - SUPLEMENTO 3 - JUL/AGO/SET 2008
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia
sobre Qualidade Profissional e Institucional,
Centro de Treinamento e Certificação Profissional
em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
(II Edição – 2008)
Órgão Oficial da Sociedade
Brasileira de Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista
www.rbci.org.br
apresenta suas
Diretrizes
sobre Qualidade
Profissional e
Institucional
4Perspectiva: a Residência Médica
analisada pelo novo secretário da
Comissão Nacional, José Carlos Lima
4Inscrições abertas: curso
SBHCI prepara candidatos
ao título de especialista
4Exclusivo:
Amanda Sousa
entrevista o
maestro Isaac
Karabtchevsky
URGENTE
4SBC expressa no CFM apoio a pleito da SBHCI sobre procedimentos vasculares
opinião
ÍNDI C E
OPINIÃO....................................................2
Calendário cientÍfico.............................2
PALAVRA DO PRESIDENTE............................3
CURSO ANUAL DE REVISÃO..........................4
PEC-SBHCI 2008.........................................6
ENTREVISTA EDUARDO KRIEGER...................8
AVANÇOS E OBSTÁCULOS DO SAMU............11
SAÚDE DE SALVADOR TEM NOVO TITULAR....15
O VIGOR DA CI DE SANTA CATARINA............16
HOMENAGEM...........................................20
COM A PALAVRA A CNRM..........................22
NOVAS DIRETRIZES SBHCI.........................24
MUDA A DIRETORIA DA REGIONAL RJ.........26
SBC APÓIA SBHCI NO CFM........................27
A TRAJETÓRIA DE LUIS MARIA YORDI.........28
ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL SBC...............30
ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL SBHCI.............31
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM..............32
FORMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO.....................33
MÉDICOS QUE TAMBÉM ADVOGAM.............34
MAESTRO ISAAC KARABTCHEVSKY............36
PROVA ANUAL..........................................39
TÉCNICA TRANSRADIAL.............................40
Projeto científico.................................42
Novos sócios.........................................42
NOVIDADES DO PORTAL.............................43
RBCI.......................................................44
opinião
Homenagem ao maestro da
Cardiologia Intervencionista
Marcelo Cantarelli *
H
á 50 anos nascia o movimento musical
que colocaria de vez a música brasileira
no cenário internacional: a Bossa Nova.
De diferente, essa nova bossa trazia para
a estrutura da música brasileira as harmonias mais elaboradas, as tétrades, as variações de campos harmônicos responsáveis
pela sonoridade que a diferia da música
popular da época. Essa beleza harmônica
encontrou seu berço nos standards de jazz
americanos das décadas de 30 e 40. A genialidade de nossos músicos foi integrar a
bela harmonia do jazz à clave latina, fazendo
nascer um ritmo naturalmente brasileiro.
Vários nomes se destacaram, como
João Gilberto e João Donato, baianos
dotados de rara sensibilidade e precisão
musical, Vinícius de Morais, Carlos Lyra,
Marcos Valle, Nara Leão, Roberto Menescal, entre muitos não menos importantes. O maestro maior, porém, foi Antônio
Carlos Jobim, que, como ninguém, entre
tons maiores e menores, construiu harmonicamente grandes obras.
Suas músicas estão eternizadas em partituras e livros utilizados para o aprendizado musical nas mais importantes escolas de música
do mundo, como Berkeley College of Music.
“Garota de Ipanema”, construída, como o
próprio maestro admitiu, sobre uma base harmônica de “Take the ‘A’ Train” (famoso standard de Duke Ellington), foi uma das músicas
mais gravadas e interpretadas no mundo.
Paralelamente, há exatos 50 anos, na Uni-
versidade Federal de Pernambuco, formavase médico aquele que nesses anos de exercício profissional se tornou o grande maestro
da Cardiologia Intervencionista brasileira.
Como Jobim, soube como poucos, sobre a base recebida em sua formação cardiológica, desenvolver harmoniosamente
vários elementos que colocaram a Cardiologia Intervencionista brasileira definitivamente no cenário internacional.
O implante do primeiro stent coronário,
do primeiro stent farmacológico, o desenvolvimento de um dos maiores institutos de
Cardiologia e centro formador de cardiologistas intervencionistas do País foram apenas algumas de suas realizações. Como um
grande maestro, regeu como poucos, como
música e letra, a assistência e a ciência.
Ao professor José Eduardo M. R. Sousa,
nossa homenagem e nossos parabéns pelos 50 anos de exercício da Medicina.
* Editor do Jornal da SBHCI
CALENDÁRIO CIENTÍFICO
Outubro
“Cardiopatia Isquêmica –
Estado da Arte” e
“Atualização em Terapia Celular”
8 de outubro de 2008
Serviço de Cardiologia do Hospital
Centenário – CENTENCARD –
Av. Oitavo BC, 11 – São Leopoldo, RS
Informações: (51) 3037-2233 / 3566-3000
Transcatheter Cardiovascular
Therapeutics
12 a 17 de outubro de 2008
Washington Convention Center –
Washington, DC – Estados Unidos
Informações: www.tctconference.com
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
Grupo de Intervencionistas
do Estado de São Paulo –
Encontros Mensais 2008
21 de outubro de 2008
Hotel Paulista Plaza – Alameda Santos, 85
– Jardins – São Paulo, SP
Informações: (11) 3849-5034
Grupo de Intervencionistas
do Estado de São Paulo –
Encontros Mensais 2008
18 de novembro de 2008
Hotel Paulista Plaza – Alameda Santos, 85
– Jardins – São Paulo, SP
Informações: (11) 3849-5034
Novembro
American Heart
Association Scientific
Sessions 2008 (AHA)
8 a 12 de novembro de 2008
Ernest N. Morial Convention Center –
New Orleans, Estados Unidos
Informações: www.americanheart.org
Congresso da Sociedade
Brasileira de Radiologia
Intervencionista e
Cirurgia Endovascular
19 a 22 de novembro de 2008
Costa do Sauípe Conventions – Rodovia
BA-099, Km 74 – Salvador, BA
Informações: (11) 2117-7100 / 2117-7102
De Centros de Treinamento
às Carótidas da SBHCI
Prezados Colegas,
Chegamos à nona edição do
Jornal da SBHCI, desde junho de 2006, sob a gestão da
atual Diretoria da Sociedade
Brasileira de Hemodinâmica e
Cardiologia
Intervencionista
(SBHCI). Por vezes reflito se
estas palavras, caracteres societários, tão solitários na sua
criação, não são maçantes ou
repetitivas. Procuro sempre focar o temário nos objetivos e
desafios mais prementes, valorizando o grupo todo, e não o singular, e focando naquele
momento temporal em que escrevo. Por isso
mesmo, sempre é a última matéria a ser incluída na publicação, para que seja possível transmitir o maior nível de atualização possível.
Dos objetivos maiores deste período de dois
anos agora completos, foram atingidos todos
aqueles para os quais nos preparamos, e que
dependiam exclusivamente de nossas forças,
credos e determinação, desde a ampla reforma
administrativa, estatutária, de formação e qualidade profissional até científica. O processo de certificação está revigorado, reforçado e consistente;
as duas diretrizes que propusemos, já publicadas;
o relacionamento com a Sociedade Brasileira
de Cardiologia (SBC), estreitado e admirado; e
os eventos científicos, valorizados. Sem contar a
rede de comunicação com os sócios, em muito
ampliada, com este periódico hoje com mais de
40 páginas, a Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI) atualizada e encaminhada
para indexação superior, apresentada, sempre,
com 12 artigos originais, e um portal, renovado
novamente este mês, que tem batido sucessivos
recordes de audiência, atingindo, no último “Repórter SBHCI no ESC 2008”, 1.620 acessos diferentes em um só dia. Além disso, os serviços da
intranet encontram-se em pleno funcionamento,
com a adição de mais um acesso eletrônico a um
novo periódico, o Circulation Intervention.
Algumas metas não dependem somente do
trabalho árduo dos “G8”. Encontramos caminhos bloqueados de diálogo e interface com o
governo federal e a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), e tivemos que “abrir uma
picada”, como se diz, e ir pavimentando, pouco a pouco, esses canais, perdidos, fechados
ou desconhecidos, uma tarefa
sempre morosa, como são os
trâmites nesses territórios. Mas
felizmente, com o amparo de
assessoria muito experiente e
qualificada, chegamos a Brasília
e entregamos ao Departamento de Atenção Especializada da
Secretaria de Atenção à Saúde
do Ministério da Saúde (DAE/
SAS/MS) a renovação completa da tabela de procedimentos
reembolsados pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) dedicados à Cardiologia
Intervencionista (abril de 2008) e pleiteamos, na
“Classificação Brasileira de Ocupação”, a qualificação de “cardiologista intervencionista”, até
hoje não contemplada. Até final de setembro,
estaremos submetendo novamente, mas com
novas propostas e evidências, a solicitação de
reembolso pelo SUS dos stents farmacológicos
à Comissão para Incorporação de Tecnologias
do Ministério da Saúde (CITEC). Em relação à
ANS, entregamos, pessoalmente, em reunião
formal efetivada no Rio de Janeiro, nossas novas
Diretrizes Clínicas, para que sejam o balizador
para autorização dos dispositivos percutâneos.
E finalizando as ações governamentais, obtivemos uma ação inédita: o fomento e a liberação
de importante verba de pesquisa, por meio do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para guiar um projeto de “Construção e Implementação de Sistema para a Integração e Gestão de Dados da
Intervenção Coronária Percutânea no Brasil” a
ser gerenciado pela SBHCI, com participação de
até dez hospitais brasileiros.
Qual seria, então, o próximo foco de esforços? A normatização dos Centros de Treinamento em Cardiologia Intervencionista.Amparados pela Associação Médica Brasileira (AMB),
que nos delega e exige a vigilância desses centros, iniciamos amplo processo de reformulação, seja de reconhecimento dos centros já em
atuação como de inspeção de novos pedidos
de credenciamento. Três visitações foram efetivadas recentemente, em Brasília, Goiânia e
Passo Fundo, todas com ampla transparência
e demonstrando a reconhecida capacitação
desses novos centros, assim como foram reduzidos em 30% os centros já cadastrados, que
não mais realizam treinamento. A SBHCI deve
amparar e orientar todo o processo de treinamento de nossa área de atuação, sendo eficaz
na redução eventual de excesso no ingresso
de jovens intervencionistas, como no cuidado
com seu treinamento, evitando que a prova
teórica para obtenção do título seja a única
e última barreira. O processo de treinamento
deve ser vislumbrado e gerenciado como um
todo, desde o ingresso até o egresso, evitando
que somente a prova teórico-prática se torne a última cancela. Um médico, após quatro
anos de residência, boa ou ruim, não desistirá
da profissão apenas por não ter sido aprovado,
transformando-se em alvo fácil de manobras
predatórias e que aviltam a profissão. A aderência dos sócios titulares e pertencentes a
esses locais dedicados ao treinamento de jovens profissionais é fundamental para valorizar
a qualidade de atendimento fornecida a nossos
pacientes e, com isso, distinguindo ainda mais
a Cardiologia Intervencionista brasileira. Confiram a matéria nesta edição.
Por fim, o presidente também sofre acidentes
e, por ironia do destino, justamente no território
que mais promoveu desgaste nesta administração, “as artérias carótidas”. Felizmente, a previdência e o zelo de minha esposa fizeram obter
o diagnóstico com a devida antecedência, talvez
salvadora, e nenhuma cicatriz se efetivou. Após
sete dias alterando minha hemostasia, retornei
com a energia renovada, ainda em maior intensidade, a tempo de comparecer ao PEC-GO.
Desejo, nestas breves linhas, que serão pequenas
em extensão mas intensas e muito sinceras em
gratidão, transmitir, em meu nome e de minha
família, esposa e filhas, nosso mais sincero agradecimento às manifestações de carinho, atenção
e dedicação, imensuráveis, recebidas de todo o
Brasil e do exterior também, o que me acarinhou
muito, evidenciando que, acima destes cargos,
transitórios, seguimos compartilhando com os
colegas os valores nobres que aprecio, a amizade,
a sinceridade, o comprometimento e a cumplicidade, desnudo da vaidade que ronda aqueles
mais afoitos ou imaturos. Os valores de uma vida
simples e amorosa seguem soberanos.
Vamos em frente!
palavra do presidente
Diagnóstico e prognóstico
Luiz Alberto Mattos
Presidente da SBHCI
Jornal da SBHCI
CIENTÍFICO
PROGRAMAÇÃO DO CURSO ANUAL
DE REVISÃO EM HEMODINÂMICA E
CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA 2008
26 de novembro de 2008 – das 8h15 às 19h
Samuel Silva da Silva (PR)
Coordenador - Comissão
Permanente de Certificação
8h15 – Abertura
Objetivos da Programação Científica
Luiz Alberto Mattos (SP)
Presidente da SBHCI
Curso de re
prepara can
Título de Esp
João Fernando Ferreira (SP)
Coordenador da CJTEC –
Sociedade Brasileira de Cardiologia
8h30 – 10h30 – Módulo I
Fundamentos do Exame Diagnóstico e Intervencionista
Coordenadores:
José Antonio Marin-Neto (SP) e
Luiz Antonio Gubolino (SP)
8h30 – 8h45
Radiação Ionizante: Princípios, Proteção e Recomendações
Renato Dimenstein (SP)
8h45 – 9h
Meios de Contraste: Como Escolher, Implicações Clínicas e Nefroproteção
Otavio Berwanger (SP)
9h – 9h15
Doenças Adquiridas Cardiovasculares: Vias de Acesso para Exames Diagnósticos e
Intervencionistas, Hemostasia e Complicações
Luiz Antonio Gubolino (SP)
9h15 – 9h40
Interpretação Hemodinâmica, Cálculos da Área Valvar, Shunts e Débito Cardíaco:
Aplicação Prática nos Exames Diagnósticos
Edson Bregagnollo (SP)
9h40 – 10h
Cinecoronariografia: Utilização Ótima do Método Ouro para o Diagnóstico da
Doença Arterial Coronária – da Normalidade, as Projeções Adequadas até a
Identificação das Anomalias Anatômicas
José Antonio Marin-Neto (SP)
10h – 10h15
Angiotomografia Coronária: Princípios, Indicações, Preparo do Paciente e
Especificidade Comparativa com a Cinecoronariografia
Ibraim M.F. Pinto (SP)
10h15 – 10h30
Perguntas e Respostas
10h30 – 11h
Coffee Break
11h – 12h30 – Módulo II
Métodos Adjuntos de Imagem
Coordenadores: Ibraim M. F. Pinto
(SP) e Marcelo Queiroga Lopes (PB)
11h – 11h15
Ultra-som Intracoronário: Príncipios, Indicações na Avaliação das Estenoses Coronárias
Moderadas, Duvidosas e Monitoração do Implante de Stents Coronários
Andréa Souza Abizaid (SP)
11h15 – 11h30
Novos Métodos de Imagem Adjuntos Dedicados à Intervenção Coronária Percutânea
José Ribamar da C. Júnior (SP)
11h30 – 11h45
Medida de Pressão Intracoronária e Reserva Fracionada de Fluxo do Miocárdio:
Aplicações na Cardiologia Intervencionista
Fernando Mendes Santana (SP)
11h45 – 12h
Avaliação do Resultado Tardio após a Intervenção Coronária Percutânea:Análise Crítica
dos Diversos Métodos de Imagem e Indicadores de Reestenose Coronária
Paola Smanio (SP)
12h – 12h30
Perguntas e Respostas
12h30 – 13h20
Conferências de Almoço (com lunch box)
Coordenadores: Luiz Alberto Mattos
(SP) e Luiz Antonio Gubolino (SP)
12h30 – 12h45
Considerações e Recomendações Éticas na Prática da Cardiologia Intervencionista:
Uma Necessidade, Uma Obrigação
Marcelo Queiroga Lopes (PB)
12h45 – 13h
Princípios da Terapia Celular: Atualização dos Ensaios Clínicos e Recomendações
na Angina Crônica e no Infarto do Miocárdio
Luis Henrique Gowdak (SP)
13h – 13h20
Intervenção Percutânea e a Prática Clínica Cardiológica: Qual o seu Impacto no
Tratamento da Doença Arterial Coronária?
Otávio Rizzi Coelho (SP)
13h20 – 14h
Intervalo para Descanso
14h – 16h30 – Módulo III
Intervenção Percutânea Valvar e nas Cardiopatias Congênitas
Coordenadores: Valmir Fernandes
Fontes (SP) e José Luiz
Balthazar Jacob (SP)
14h – 14h15
Valvoplastia Mitral: Técnicas, Resultados Imediatos e Tardios
José Armando Mangione (SP)
14h15 – 14h30
Valvoplastia e Troca Valvar Aórtica Percutânea: Análise Crítica e Estado Atual das
Indicações
Marco Antonio Perin (SP)
14h30 – 14h45
Cardiopatias Congênitas: Fundamentos, Projeções e Recomendações do Exame
Diagnóstico
José Luiz Balthazar Jacob (SP)
14h45 – 15h05
Tratamento da Estenose e da Insuficiência Pulmonar
Valmir Fernandes Fontes (SP)
15h05 – 15h25
Fechamento Percutâneo do Forâmen Oval e da Comunicação Interatrial:
Resultados Imediatos e Análise Comparativa dos Diversos Dispositivos
Valmir Fernandes Fontes (SP)
15h25 – 15h45
Tratamento Percutâneo da Coarctação da Aorta e Fechamento do Canal Arterial
José Luiz Balthazar Jacob (SP)
15h45 – 16h
Oclusão Percutânea da Comunicação Interventricular
Valmir Fernandes Fontes (SP)
16h – 16h30
Perguntas e Respostas
16h30 – 17h
Coffee Break
17h – 19h – Módulo IV
Intervenções Não-Coronárias
Coordenadores: Cláudia Rodrigues
Alves (SP) e Marcos A. Marino (MG)
17h – 17h15
Diagnóstico e Estratégias Intervencionistas para a Oclusão de Fístulas Coronárias
Antonio Carlos Kambara (SP)
17h15 – 17h30
Ablação Septal na Cardiomiopatia Hipertrófica Obstrutiva: Um Procedimento
Controverso ou Consagrado?
José Mariani Júnior (SP)
17h30 – 17h45
Intervenção Percutânea na Doença Carotídea: Indicações, Técnicas, Resultados
Imediatos e Tardios
Marcos A. Marino (MG)
17h45 – 18h
Intervenção Percutânea no Tratamento da Estenose Renal: Indicações, Técnicas,
Resultados Imediatos e Tardios
José Marconi A. Sousa (SP)
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
Hotel Sofitel, São Paulo, Rua Sena Madureira, 1355
A
SBHCI promoverá, em 26 e 27
de novembro, o Curso Anual de
Revisão em Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista. O objetivo principal desse curso é a preparação dos candidatos para o concurso
anual para obtenção do Certificado de
Área de Atuação em Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista.
A versão 2008 do Curso Anual de
Revisão da SBHCI está totalmente reformulada e ampliada, com carga horária de 40 horas/aula. Serão expostos
desde os princípios dos exames diagnósticos até os avanços mais recentes
relacionados à Cardiologia Intervencionista. A entidade espera que esse
novo modelo, ministrado de maneira
objetiva e esclarecedora, proporcione
maior rendimento e promova a renovação do conhecimento científico,
com base em evidências robustas.
Deve-se ressaltar que esse encontro
científico também estará aberto a todos os médicos interessados em renovar seus conhecimentos ou em obter
mais informações acerca da Cardiologia Intervencionista. O curso será realizado no Hotel Sofitel, em São Paulo,
ndidatos AO
pecialista
situado à Rua Sena Madureira, 1.355,
no Ibirapuera, zona sul da capital.
Registrado na Comissão Nacional
de Acreditação da Associação Médica
Brasileira/Conselho Federal de Medicina, o Curso Anual de Revisão vale
pontos para a revalidação do Título
de Especialista. Todos os participantes
com um mínimo de 75% de freqüência
receberão certificados a partir das 16
horas do dia 27 de novembro.
Programação
Os temas da programação são, em
sua totalidade, de extrema relevância
para a formação e a atualização do
cardiologista intervencionista. Entre
diversas questões relevantes, serão
abordadas cardiopatias congênitas,
procedimentos extracardíacos, gestão hospitalar e ética médica, além de
terapia celular intervencionista.
Inscrições
As inscrições, que podem ser feitas no
website (www.sbhci.org.br), dão direito
a material do evento, que inclui um CD
com as aulas, coffee breaks, refeições e
jantar de confraternização.
CIENTÍFICO
evisão
18h – 18h20
Tratamento Intervencionista dos Aneurismas de Aorta:
uma Compilação do Estado da Arte
Cláudia Rodrigues Alves (SP)
18h20 – 18h40
Abordagem Percutânea das Estenoses de Subclávia, Femoral, Ilíaca e Poplítea:
Recomendações para o Cardiologista Intervencionista
Antonio Carlos Kambara (SP)
18h40 – 19h
Perguntas e Respostas
19h
Encerramento
27 de novembro de 2008 – das 8h30 às 19h
8h30 – 10h30 – Módulo V
Intervenção Coronária Percutânea – Indicações Clínicas
Coordenadores: Antonio Carlos
Carvalho (SP) e Luiz
Alberto Mattos (SP)
8h30 – 8h45
Revascularização Percutânea na Angina Estável e na Isquemia Miocárdica Silenciosa
Eulógio Martinez Filho (SP)
8h45 – 9h
Estratificação de Risco e Abordagem Invasiva na Síndrome
Coronária Aguda Sem Supradesnível do Segmento ST
Fausto Feres (SP)
9h – 9h15
Intervenção Coronária Percutânea Primária no Infarto Agudo do Miocárdio
Luiz Alberto Mattos (SP)
9h15 – 9h30
Infarto Agudo do Miocárdio: da Intervenção de Resgate à Eletiva após a Fibrinólise
José Carlos Nicolau (SP)
9h30 – 9h45
Abordagem Intervencionista do Infarto Agudo do Miocárdio com
Apresentação Superior a 12 horas: Critérios e Recomendações Atuais
Antonio Carlos Carvalho (SP)
9h45 – 10h
Infarto Agudo do Miocárdio e a Estratégia Fármaco-Invasiva:
Ainda um Mito ou Já É uma Realidade?
Leopoldo Soares Piegas (SP)
10h – 10h30
Perguntas e Respostas
10h30 – 11h
Coffee Break
11h – 13h – Módulo VI
Intervenção Coronária Percutânea – Subgrupos Especiais
Coordenadores: Amanda Sousa (SP)
e Fernando S. Devito (SP)
11h – 11h15
Diabete Melito: Considerações Clínicas, Indicações da
Revascularização Percutânea e Escolha de Dispositivos
Áurea J. Chaves (SP)
11h15 – 11h30
Doença Coronária Multiarterial e Intervenção Coronária Percutânea:
as Recomendações da II Diretriz SBC & SBHCI Ainda Estão Válidas?
Amanda Sousa (SP)
11h30 – 11h45
Estenose Coronária em Bifurcações e no Tronco da Coronária Esquerda: Seleção da
Melhor Estratégia, Resultados Tardios e Recomendações Baseadas em Evidências
Marco Antonio Perin (SP)
11h45 – 12h
Oclusão Coronária Crônica: Indicações Clínicas, Seleção de Materiais e Resultados
com os Diversos Dispositivos
George C. Meirelles (SP)
12h – 12h15
Enxertos de Veia Safena: da Melhor Técnica aos Dispositivos de Proteção Distal até
o Implante de Stents Coronários
Wilson A. Pimentel Filho (SP)
12h15 – 12h30
Diâmetro e Extensão das Estenoses Coronárias e sua Influência na Intervenção
Coronária Percutânea
Fernando S. Devito (SP)
12h30 – 12h45
Reestenose Intra-Stent: Diagnóstico, Estratificação de Risco e Escolha da
Modalidade Terapêutica Adequada
Fábio Sandoli de Brito Júnior (SP)
12h45 – 13h
Perguntas e Respostas
13h – 13h30
Conferência de Almoço (com lunch box)
Coordenador: Luiz Alberto Mattos (SP)
13h – 13h30
Estado da Arte da Cardiologia Intervencionista: dos Balões aos Stents Farmacológicos
José Eduardo Sousa (SP)
13h30 – 14h
Intervalo para Descanso
14h – 16h30 – Módulo VII
Dispositivos Adjuntos e Stents Coronários
Coordenadores: Pedro A. Lemos
Neto (SP) e Marcelo Cantarelli (SP)
14h – 14h15
Dispositivos de Ateroablação: Quando e Como Utilizar
Salvador André Bavaresco (SP)
14h15 – 14h30
Suporte do Balão Intra-aórtico e Abordagem do Choque Cardiogênico
Marcelo Cantarelli (SP)
14h30 – 14h45
Escolha de um Stent Não-Farmacológico: São Todos Iguais?
Rodolfo Staico (SP)
14h45 – 15h
Stents Farmacológicos com Eluição de Sirolimus:
Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados
Expedito E. Ribeiro (SP)
15h00 – 15h15
Stents Farmacológicos com Eluição de Paclitaxel:
Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados
Valter Correa Lima (SP)
15h15 – 15h30
Stents Farmacológicos com Eluição de Zotarolimus:
Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados
José Armando Mangione (SP)
15h30 – 15h45
Stents Farmacológicos com Eluição de Everolimus:
Eficácia e Segurança Tardia dos Registros e Ensaios Controlados
Pedro A. Lemos Neto (SP)
15h45 – 16h
Existe Efeito de Classe para os Stents Farmacológicos? Do Presente ao Futuro
Alexandre A. Abizaid (SP)
16h – 16h30
Perguntas e Respostas
16h30 – 17h
Coffee Break
17h – 19h – Módulo VIII
Gestão, Cardiologia Clínica e a Prática da Cardiologia Intervencionista
Coordenadores: Marcelo
Queiroga Lopes (PB) e
Pedro A. Lemos Neto (SP)
17h – 17h15
Gerenciamento de um Serviço de Cardiologia Invasiva:
a Integração da Enfermagem com o Médico
Simone S. Fantin (RS)
17h15 – 17h30
Recomendações Atuais para o Gerenciamento de um Serviço de Cardiologia
Intervencionista
Hélio José Castelo Jr (SP)
17h30 – 17h45
Complicações Imediatas na Intervenção Coronária Percutânea:
Identificação e Tomada de Decisão Terapêutica
Francisco de Paula Stella (SP)
17h45 – 18h
Prescrição Dedicada à Intervenção Coronária Percutânea:
dos Antiplaquetários aos Hipolipemiantes
Luiz Fernando Tanajura (SP)
18h – 18h15
Heparinas e Inibidores do Complexo IIb/IIIa:
Recomendações Baseadas nas Diretrizes Brasileiras
Luciano Baracioli (SP)
18h15 – 18h30
Manejo Clínico dos Pacientes Submetidos a Revascularização Coronária
Percutânea: do Preparo à Evolução a Longo Prazo
Marinella Centemero (SP)
18h30 – 19h
Perguntas e Respostas
19h
Encerramento
Jornal da SBHCI
Programa de Educação Continuada
PEC-SBHCI 2008 chega ao
Luiz Alberto Mattos*
O
Programa de Educação Continuada da SBHCI (PEC-SBHCI)
chegou ao fim da etapa 2008,
seu primeiro ano de existência. Às edições inicialmente planejadas
mais duas foram adicionadas, na Região
Centro-Oeste, completando assim oito
rodadas e atingindo os objetivos federativos que todos os sócios desejavam.
Um sucesso.
Debate palpitante
PEC-Goiás (XVI Congresso
Goiano de Cardiologia) –
Goiânia, 22 de agosto de 2008
Na vigência do XVI Congresso Goiano de Cardiologia, a SBHCI foi convidada por um de seus sócios, Maurício
Prudente, para inserir mais uma edição
do PEC. Em 22 de agosto, 135 pessoas
reunidas no Centro de Convenções de
Goiânia assistiram às apresentações de
José Antonio Marin-Neto, Hélio Roque
Figueira e Amanda G. M. R. Sousa.
O caso clínico foi apresentado por
Luiz Alberto Mattos, e gerou intensa
discussão, com análise crítica de alta
qualificação entre a platéia e os debatedores, Anis Rassi Júnior e Paulo César
Veiga Jardim. Um sucesso, discussão trepidante, polar e controversa. Certamente gerou diversas reflexões e sedimen-
Da esquerda para a direita, Maurício Prudente,
Luiz Alberto Mattos, Amanda Sousa e Flávio Passos
tou conceitos pertinentes com a platéia,
relacionados às diversas interpretações
do estudo clínico COURAGE.
Finalização em
palco de gala
PEC-Paraná (630 Congresso
Brasileiro de Cardiologia) –
Curitiba, 7 de setembro de 2008
A SBHCI finalizou o PEC-SBHCI 2008
justamente no maior fórum científico nacional da Cardiologia, na vigência do 63o
Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado na manhã fria de 7 de setembro, em
Curitiba, Paraná. No Dia da Independência,
Da esquerda para a direita, Luiz Alberto Mattos, Paulo César Veiga Jardim,
Hernando Nazzeta, Flávio Passos Barbosa, Nelson Morais e Anis Rassi Junior
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
escalou alguns de seus mais prestigiados
e reconhecidos pesquisadores, ladeados
por dois debatedores dotados de elevada proficiência e experiência cardiológica,
acadêmica e assistencial, dois verdadeiros
“professores”. Mais de 290 congressistas
lotaram a sala nas palestras de Expedito
Ribeiro, Costantino Costantini e Amanda Sousa. Eles explanaram aos colegas
cardiologistas e profissionais da área da
Saúde as três aulas pivôs do programa
do PEC-SBHCI, levadas de norte a sul do
Brasil. O conteúdo contemplou desde a
análise crítica da cinecoronariografia até
as indicações mais atuais da intervenção
coronária percutânea nas síndromes co-
As palestras do PEC-Goiás tiveram casa cheia:
135 especialistas acompanharam as discussões científicas
Programa de Educação Continuada
fim: missão cumprida!
Audiência foi espetacular no PEC-Paraná,
realizado no Congresso da SBC
Gilson Feitosa e Protásio Lemos da Luz
ronárias agudas. Também tratou da abordagem crítica das principais controvérsias
contemporâneas, quais sejam as indicações clínicas da angioplastia coronária em
pacientes portadores de isquemia miocárdica silenciosa e angina estável, e os mais
recentes resultados acerca da utilização
dos stents farmacológicos.
O caso clínico foi demonstrado por
um dos mais experientes coordenadores de sessões em congressos cardiológicos, Fausto Feres. Ele suscitou intensa
e acalorada discussão com os dois debatedores, Gilson Soares Feitosa e Protásio Lemos da Luz, em torno dos resultados do ensaio clínico OAT. Um show de
elegância e conhecimento.
PEC-SBHCI: reflexões
e perspectivas
Após oito edições, consideramos que o
projeto iniciado em 2008 foi muito bemsucedido. O propósito de inserir a SBHCI
em todos os principais eventos cardiológicos brasileiros foi obtido com robustez
e assiduidade. Em todos os eventos, à exceção do realizado na Região Norte-Nordeste, observamos salas repletas (lotadas
ou com ocupação de mais de 70% dos assentos disponíveis) e audiência composta
essencialmente de clínicos e cardiologistas, justamente nosso “público-ouro”. O
resgate de uma interface intensa e transparente com os cardiologistas, a nossa origem, de todos os sócios SBHCI, foi fundamental. Em um momento em que obser-
Paulo Rossi, Costantino Costantini, Amanda Sousa e Expedito Ribeiro
vamos uma pletora de eventos científicos
e a competição de múltiplos interesses
das diversas áreas de atuação que compõem a Cardiologia, a presença marcante
da SBHCI em todos os eventos regionais
foi uma mudança de paradigma. Nós, cardiologistas intervencionistas, vínhamos,
pouco a pouco, nos afastando do público
mais interessado e ávido por obtenção
de novos conhecimentos colocados em
fóruns que possibilitassem discussões imparciais, qualificadas e isentas de conflitos
de interesses. Agora voltamos ao rumo e
os objetivos foram cumpridos.
Os resultados que todos esperam
ocorrerão a médio prazo, e a consolidação do projeto 2008 será efetivada em
2009, modificando a programação, com
renovação do temário e dos participantes, capturando, de forma rápida, os desejos e as aspirações do grande público
cardiologista, assim como enfrentando
as controvérsias científicas que se sucedem, de tempos em tempos.
Para 2009, pretendemos reprisar quase todos os eventos realizados em 2008,
alguns mediante inserção contratada e
outros com convites espontâneos que
somente nos honram em demasia.
A SBHCI busca com determinação o
exercício diário federativo, do singular
ao plural, do lema desta administração:
a ética com a mais elevada competência.
Vamos em frente!
* Presidente da SBHCI
Jornal da SBHCI
Ciência
O mundo das pesquisas na
visão de Eduardo Krieger
“Estamos em um momento muito favorável,
especialmente porque a história da
pesquisa no Brasil ainda é muito recente”
U
m dos maiores pesquisadores do
País, o professor Eduardo Moacyr
Krieger conta, em entrevista exclusiva ao Jornal da SBHCI, como é o
universo das pesquisas no Brasil, quais os
requisitos básicos para atuar nessa área e já
adianta: “É necessário haver vocação, precisa
ter aptidão, curiosidade e prazer”. Confira!
O senhor já se aposentara quando
aceitou o desafio do InCor. Por que
o recomeço?
Eu me aposentei moço, em Ribeirão Preto,
tinha 56 anos. A motivação veio da atração
pela linha de pesquisa da hipertensão. Fazia
a área experimental, mas vivia muito a problemática da hipertensão no humano. Estava
bem motivado, pois toda minha pesquisa
sempre era básica, mas visando a uma entidade clínica. Assim, quando Fúlvio Pileggi me
chamou para o InCor, aceitei rapidamente.
Por favor, fale um pouco de sua formação.
Formei-me em Medicina no Rio Grande do
Sul, em 1953. Pretendia seguir carreira universitária, trabalhando na faculdade e na área
clínica. À época, meu professor, o cardiologista Rubens Maciel, estava na Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e organizou um programa para
treinamento de fisiologistas em Porto Alegre.
Tinha o apoio da Escola Argentina, representada pelo prof. Bernardo Alberto Houssay,
Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de
1947, que se dispôs a ir a Porto Alegre para
orientar a formação de novos fisiologistas.
Rubens Maciel me convenceu a acompanhar
a programação, porque entre renomados especialistas argentinos estava o prof. Eduardo
Braun-Menendez, um dos pesquisadores de
maior importância no campo da hipertensão
experimental, que descobriu a angiotensina.
Fui então estagiar na Fisiologia, depois me
transferi para Buenos Aires, na Argentina,
onde trabalhei com o prof. Braun-Menendez
no instituto do prof. Houssay. Mais tarde fui
estudar nos Estados Unidos e ao retornar
recebi convite do grupo do prof. Houssay,
entre os quais estava o prof. Miguel Covian,
neurofisiologista destacado, para dirigir o
Departamento de Fisiologia de Ribeirão
Preto, para desenvolver a Fisiologia Cardiovascular em Ribeirão Preto. Começou, assim,
em Ribeirão Preto, na Faculdade de Medicina,
minha carreira, em 1957, justamente quando
estava se formando a primeira turma.
na: doutor, docente, professor de disciplina,
professor associado, professor titular, chefe
de departamento. Fiz tudo e me aposentei
em 1985. No mesmo ano, já aposentado,
aceitei um convite do prof. Fúlvio Pileggi,
então diretor do Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/
HC-FMUSP), para dirigir um programa de
hipertensão nessa instituição, integrando
pesquisa básica e clínica. Em Ribeirão Preto,
no Departamento de Fisiologia, fazia a hipertensão experimental, freqüentava os congressos internacionais, fui um dos primeiros
presidentes da Sociedade Interamericana de
Hipertensão, fazia parte da Diretoria da Sociedade Internacional de Hipertensão, tendo, assim, enorme contato com a área clínica
tanto brasileira como internacional. Então
estava motivado a aceitar o desafio de atuar
no InCor e fazer pesquisa básica associada à
pesquisa clínica em hipertensão. Começou
aí outra etapa de minha carreira.
E qual foi o caminho de Ribeirão
Preto ao InCor?
Desenvolvi toda minha carreira no Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medici-
Em qual momento surgiu o carinho
especial à pesquisa básica?
Fiquei em Ribeirão muitos anos no Departamento de Fisiologia, fazendo só a parte
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
experimental. Foi no InCor que consegui
recuperar a integração com a área clínica. É
interessante isso, porque comecei com a decisão de fazer clínica, passei quase trinta anos
na pesquisa apenas experimental e, agora, nos
últimos vinte anos, estou novamente fazendo
a parte integrada, a humana e a experimental.
Qual o momento mais marcante de
sua carreira?
Não sei se o mais marcante, mas o que
me deu mais reconhecimento internacional, gerando quase 600 citações do trabalho, foi quando descrevi uma metodologia
para produzir a hipertensão neurogênica
no rato. Fiz a denervação dos barorreceptores, trabalho que publiquei em 1964
no Circulation Research. O rato passa a ter
uma desregulação do sistema de controle
da pressão arterial, tornando-se um modelo espetacular para você estudar vários
aspectos de interesse clínico, como, por
exemplo, a deficiência do sistema de controle da pressão e o aumento da labilidade
da pressão sobre a lesão de órgão-alvo.
Esse foi o trabalho de maior repercussão?
Esse teve excelente repercussão. Posso citar
outro, no qual colaborei com o farmacologista Sérgio Ferreira, em Ribeirão Preto. Ele
descobriu os inibidores da enzima conversora, um dos feitos mais notáveis da Medicina brasileira. A descoberta não é minha, é
do Sergio Ferreira, à época meu colega de
farmacologia. Colaborei na última fase para
demonstrar que os peptídeos isolados do
veneno da jararaca e já sintetizados faziam a
pressão do rato hipertenso cair. Foi a primeira demonstração in vivo de que os inibidores
das enzimas conversoras realmente eram
Ciência
anti-hipertensivos. Esse é um dos trabalhos
de que mais gosto. Publicamos no Lancet, em
1971, em colaboração com Sergio Ferreira,
demonstrando que esses peptídeos, que
chamamos de inibidores da enzima conversora, eram eficazes na hipertensão.
O que mais o satisfaz no universo das
pesquisas: a idéia ou o resultado?
O que mais alegra o pesquisador é exatamente viver o ambiente de pesquisa. Ele tem a
idéia, vai ao laboratório, põe em teste... Se vê
que não funciona, faz outra aproximação. É o
prazer de realizar, não é o resultado, o resultado é conseqüência. Evidentemente não vou
trabalhar em algo que não dê resultado, mas
é preciso ter prazer. O resultado negativo
muitas vezes é útil por mostrar que o pensamento original estava errado e o animal está
certo. Então reformula-se a pergunta, porque
quem sabe lá há uma variável importante não
contemplada no raciocínio inicial. Enfim, vale
o prazer da pesquisa, é você ter perguntas,
colocar essas perguntas em um esquema experimental, corrigir o esquema experimental,
obter o resultado. Quer dizer, tudo isso dá
prazer, é a vivência da pesquisa.
Como uma idéia se transforma em
projeto, e como um projeto se transforma em publicação?
Na Medicina, as idéias sempre surgem
a partir de uma linha de pesquisa que já
existe. Dificilmente aparece uma idéia totalmente original com métodos integralmente novos. Outro ponto importante é
que não adianta você ter uma boa pergunta
se não tem os meios de verificar aquilo, de
medir. Fazemos ciência medindo, então tenho de elaborar uma pergunta capaz de ser
mensurada, caso contrário não rende pesquisa. Enfim, é preciso ter boas idéias, mas
também é preciso conhecer a metodologia
que se pode usar para respondê-la. É assim que a ciência avança, o original é muito raro. Claro que quando ocorre é muito
bom, mas de maneira geral o progresso da
ciência se faz pedaço a pedaço, passo a passo, por aproximações sucessivas. São pedrinhas colocadas para erguer um edifício.
A pesquisa no Brasil está em um nível bom?
Está em um momento muito favorável. A
pesquisa no Brasil começou recentemente. Somos um país jovem nesse particular e
as nossas universidades não têm 100 anos.
A Universidade de São Paulo, por exemplo,
foi criada em 1934; o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1950; a CAPES, em 1951; o
Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985.
Então, todo o nosso sistema de ciência e
tecnologia é bem novo. Praticamente começamos a fazer ciência no Brasil só recentemente. Para dar uma idéia, nos idos de 1980
publicávamos 0,4% da ciência internacional, e
hoje chegamos a 2%. Houve um progresso
fantástico nos últimos trinta anos na ciência
brasileira, primeiro pelo amadurecimento do
sistema universitário. Um ponto importante
foi a criação da pós-graduação stricto sensu
em 1970, que passou a formar doutores para
o Brasil. Assim, na década de 80, formávamos
500 doutores por ano; na década de 90, 1.500
doutores anualmente; e terminamos 2000
com 4.500 doutores por ano. Triplicamos o
número de doutores a cada dez anos. Agora
já estamos formando 10 mil doutores, e provavelmente terminaremos a década com 15
mil ou 16 mil doutores por ano. É um crescimento fantástico, uma média de 14% ao ano.
Isso tudo se refletiu na produção científica
e na ciência brasileira, que hoje ocupa o 15o
lugar da ciência internacional.
Ciência e Tecnologia, o CNPq e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Hoje quase
todos os Estados têm uma fundação de amparo à pesquisa. Em São Paulo, a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) funciona desde 1960, e muito bem.
Tem 1% do orçamento do Estado e 20% de
tudo o que gasta por ano vai para o setor
da Saúde. Na área federal, além do CNPq há
também uma grande soma de auxílio para
a área médica. Temos o Ministério da Saúde
que também investe, e que no ano passado,
aliás, investiu quase R$ 160 milhões. Importante ainda na área federal são os fundos
setoriais criados para incentivar e desenvolver setores por meio da pesquisa. Existem
vários fundos setoriais para energia, água e
minerais, e existe um para a Saúde, com cerca de R$ 80 milhões por ano. O sistema se
organizou, é um sistema constituído, estável,
que está recebendo verbas igualmente estáveis, que dependem menos das oscilações
orçamentárias anuais do governo.
Mas ainda deixamos a dever aos países desenvolvidos?
Temos hoje a qualidade da nossa ciência,
avaliada pelo impacto dos trabalhos, igual
à média internacional. Varia um pouco de
um ramo da ciência para outro, Física,
Química, Medicina. Mas, em média, nosso
impacto é igual à média internacional. Uma
boa média, mas pode melhorar.
Qual o perfil ideal do pesquisador da
área básica?
Primeiro é necessário haver vocação, precisa
haver aptidão, curiosidade e ter prazer de
fazer pesquisa. É o ingrediente inicial. Daí a
importância de os estudantes de Medicina
terem oportunidade da iniciação científica.
Expostos a um ambiente de pesquisa, verão
se gostam, se é uma coisa que dá prazer.
Despertado esse interesse, o treinamento
atualmente está muito facilitado, pois temos
pós-graduação, bolsas, enfim, boas oportunidades em todas as áreas, particularmente
na Cardiologia. Precisamos acabar com o
mito de que o pesquisador é um ser diferente, que já nasce diferenciado. Relevante é
despertar a vocação, como qualquer outra
profissão. Aliás, precisamos de um número
enorme de pesquisadores e não podemos
esperar que sejam todos absolutamente excepcionais. Eles podem ser bem treinados.
Como se treina um bom especialista, treinase também para fazer pesquisa em Cardiologia. Pesquisa se aprende mexendo, fazendo,
é o chamado treinamento em serviço.
Como anda o financiamento às pesquisas básicas?
A pesquisa básica é financiada pelo poder
público no Brasil, o mesmo que em qualquer
país do mundo, principalmente nos fortemente industrializados. A relação das empresas com a pesquisa visa mais à aplicação,
à inovação. Quem tem a responsabilidade de
manter a pesquisa básica é o setor público.
Aqui temos, na área federal, o Ministério da
É necessário
“haver
vocação,
precisa ter aptidão,
curiosidade e
prazer de fazer
a pesquisa
”
Jornal da SBHCI
Ciência
Qual é a fronteira entre a pesquisa
de bancada e a clínica?
Nenhuma no que se refere à qualidade. As
duas exigem a mesma abordagem metodológica, o mesmo rigor. Na bancada experimental, com bioquímica, biologia molecular,
fisiologia integrada em animais de experimentação, você faz as perguntas e usa métodos científicos da área. Para a investigação
clínica, você utiliza o mesmo rigor científico,
só que com instrumentos próprios para o
ser humano. Alguém bem treinado para pesquisa pode tanto fazer a de bancada como a
clínica. Aliás, hoje o ideal são indivíduos que
façam as duas coisas com a visão integrada.
Qual o charme da pesquisa na área
cardiovascular?
Hoje a mortalidade por doenças cardiovasculares é de cerca de 30%, com enorme custo socioeconômico. Então tudo que se empreende em pesquisa cardiovascular é importante para a humanidade. É fundamental
conhecer mais sobre a regulação da pressão
arterial, a aterosclerose, o infarto do miocárdio, e as degenerações vasculares.A pesquisa
cardiovascular na área básica tem essa dinâmica de beneficiar uma parcela relevante da
população. Aliás, isso dá um charme especial
à pesquisa na área cardiovascular.
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
“
Precisa ficar
claro se o
pesquisador tem
ou não conflito
de interesses
”
Qual o momento de o experimento
sair do laboratório e ser testado?
Eu, por exemplo, fiz muitas coisas estritamente no animal de experimentação.
Desenvolvi esse modelo da denervação
sinoaórtica, que produz a alteração do
controle da pressão arterial, e estudamos muito as alterações no animal de
experimentação, inclusive as alterações
da pressão durante o sono com o sistema desregulado. Agora estamos aplicando
esse conhecimento na investigação clínica. Há muitas perguntas sobre o sono do
homem que procuramos responder. Hoje
temos a oportunidade de medir a atividade simpática no homem, podemos registrar a pressão arterial de forma contínua
e correlacioná-la com a atividade neurovegetativa de forma fácil, sem grandes
problemas. Então aquilo que muitas vezes
é descoberto no animal de experimentação necessita ser revalidado no homem.
Existem conflitos de interesses na
pesquisa?
Esse é um problema que a classe médica
sempre enfrenta. Precisa ficar claro se o
pesquisador tem ou não conflito de interesses, se está trabalhando para determinado laboratório, etc. O problema de conflito de interesses existe e a classe médica
tem de enfrentar. As entidades de classe
devem permanecer vigilantes na ética para
que não ocorram desvios.
Se pudesse voltar ao passado, repetiria tudo outra vez em termos profissionais?
É uma pergunta para a qual já saio com a
resposta comprometida. Só conheço a minha carreira, não tive experiência com qualquer outra profissão. Hoje estou contente,
muito contente com a minha profissão.
Não tenho a mínima dúvida de que a escolheria de novo. Mas, lembro, grande parte
do que sou dependeu dos motivos que tive
e das circunstâncias favoráveis que encontrei, conforme dizia o filósofo: “O homem
vale pelo que é e pelas circunstâncias”.
O coordenadorgeral de Urgência
e Emergência do
Ministério da Saúde,
Cloer Vescia Alves,
faz uma avaliação
do Sistema de
Atendimento Médico
de Urgência
templando 100 milhões de habitantes.
Quais sãos os números atuais?
A estrutura atual do SAMU conta com
144 serviços implantados, que abrangem
1.166 municípios, correspondendo a mais
de 101 milhões de pessoas com acesso
gratuito ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, pelo número 192.
F
ormado pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG
– Rio Grande, RS), em 1987, com
atuação nas áreas de Clínica Médica
e Medicina Aeroespacial, Cloer Vescia Alves foi médico da Aeronáutica com experiência de vôo em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) aérea, busca e salvamento durante onze anos. Em sua trajetória
profissional, também adquiriu qualificação em direção e gestão hospitalar, trabalhando como diretor técnico-médico
da UNIAIR-Transporte Aeromédico
Unimed/RS (1997-2004), como chefe
médico da MedSUL Táxi Aéreo (20012004), e como coordenador médico do
Sistema de Atendimento Médico de Urgência (SAMU METROPOLITANO RS
– 2005-2007) e do Programa SALVAR
da Secretaria Estadual da Saúde/RS
(2004-2007), entre outros. Atualmente é
coordenador-geral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde. É sobre
sua experiência de hoje, no SAMU, que
Cloer Vescia Alves fala com exclusividade
ao Jornal da SBHCI.
O SAMU foi reformulado por completo nas duas gestões da atual Presidência da República e do Ministério da Saúde. O que mudou?
Dois dos pilares da nova fase no atendimento médico de urgência no País são a
Portaria 1.963/03, que instituiu a Política
Nacional de Atenção às Urgências, e a
Portaria 1.854/03, que instituiu o SAMU
192. A prioridade foi dada à implantação
Saúde pública
OS AVANÇOS E AS
DIFICULDADES DO SAMU
“
Apresentamos
propostas na prevenção
aos agravos à saúde
da criança e do
adolescente, a
partir de ações do
Programa SAMUCA
”
e ao desenvolvimento do Sistema, que se
iniciou em 2004, absorvendo serviços de
Atendimento Pré-Hospitalar (APH) públicos preexistentes, unificando-os na Rede
SAMU 192, em um programa tripartite,
ou seja, com a participação do governo
federal (50%), dos Estados (25%) e dos
municípios (25%). Assim, rapidamente o
País recebeu investimentos de monta na
área de urgência, que permitiram o crescimento do componente pré-hospitalar
móvel da política nacional, o SAMU.
Até o fim de 2007, mencionava-se que
mais de 100 serviços de atendimento
móvel já se encontravam ativos em
quase 800 municípios brasileiros, con-
Há quanto tempo assumiu a coordenação geral do SAMU e quais os
desafios enfrentados?
Assumi a gestão da Coordenação-Geral
de Urgência e Emergência (CGUE) no segundo semestre de 2007. Os desafios são
gigantescos, pois, como médico atuante na
área de urgência, tanto em unidades móveis
como em unidades fixas, bem como em
transporte aeromédico, pude estabelecer
uma proposta para a nova gestão, a partir
de experiência fundamental no atendimento pré-hospitalar, tendo atuado, também, na
gestão hospitalar. A primeira iniciativa foi
a de priorizar a integração entre a Rede
SAMU 192 e o Programa de Qualificação da Atenção Hospitalar de Urgência, o
QualiSUS, a fim de permitir o avanço do
componente hospitalar como referência ao atendimento prestado pelo SAMU
192. Também foi proposta ao ministro da
Saúde a implantação do componente préhospitalar fixo, representado pela unidade
não-hospitalar de atenção às urgências, comumente denominada UPA (Unidade de
Pronto Atendimento e Apoio Diagnóstico),
como forma de preencher vazios assistenciais entre o atendimento prestado pelas
unidades móveis e a retaguarda hospitalar.
O que destacaria como pioneiro
em sua gestão?
De forma pioneira, apresentamos proposta
para inserção da Rede SAMU 192 na prevenção aos agravos à saúde da criança e do
adolescente, a partir de ações do Programa
SAMUCA, que está sendo criado para esse
fim. As atividades desse programa incluirão
profissionais do SAMU 192, que multiplicarão informações sobre o APH, principalmente no que diz respeito à prevenção aos
Jornal da SBHCI
11
Saúde pública
agravos.As situações serão contextualizadas
e contarão com personagens infantis como
protagonistas de histórias em quadrinhos,
jogos infantis e atividades lúdicas, entre diversas outras abordagens.
Quais as regras gerenciais econômicas do sistema SAMU com os
gestores municipais e estaduais?
Como o programa conta com investimento de 100% do governo federal, os Estados
e os municípios proponentes necessitam
apresentar projeto de acordo com as portarias que regulamentam as diversas áreas
do SAMU 192: central de regulação, sede do
SAMU, bases operacionais descentralizadas
e contratação de pessoal, entre outros passos necessários à habilitação de um serviço.
A etapa de custeio conta com a participação das esferas federal, estadual e municipal,
cobrindo, respectivamente, 50%, 25% e 25%
da manutenção do serviço.A CGUE adotou
um programa mínimo, além de um passo-apasso,para orientar os gestores interessados
em disponibilizar o atendimento 192 em sua
região/município. A Portaria 1.864 estabelece incentivos financeiros para a construção
da área física. Da mesma forma, há recurso
previsto para aquisição de materiais e equipamentos das centrais de regulação médica.
A mesma legislação prevê, ainda, o repasse
mensal de 50% do custeio para as unidades
de suporte básico e de suporte avançado.
Atualmente, a CGUE trabalha na proposta
de elevação dos valores repassados às centrais de regulação, valores esses que passarão a ser compatíveis com o porte de cada
central e não mais de forma linear, o que
representava uma distorção.
A interface com os demais sistemas públicos de Saúde promove
sinergismo positivo ou é entrave ao
crescimento do SAMU?
Certamente, quanto mais descentralizada
a ação mais difíceis se tornam a avaliação
e o controle. Além de haver mais suscetibilidade a interferências na gestão, a partir
do momento em que envolvem diversas
esferas públicas, que, muitas vezes, vivem
momentos diferentes em termos de encaminhamento político-administrativo. O que
se observa no SAMU, felizmente, é um sinergismo em torno da observância do que
está proposto nas portarias, e os profissionais que se envolvem com o SAMU, por
sua vez, terminam por estabelecer compromissos com os gestores. Já o perfil de
quem trabalha no APH se alinha como um
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
comportamento aguerrido. Obviamente,
podem haver distorções, o que enseja auditorias e avaliações técnicas sistemáticas
por parte da Coordenação-Geral.
Qual a verba anual destinada ao
SAMU? Ela foi mantida, reduzida
ou ampliada para 2009?
O orçamento anual do SAMU 192 para
custeio conta com cerca de R$ 300 milhões, e o montante para investimento gira
em torno de R$ 250 milhões. Obviamente, há momentos em que o investimento
pode se elevar em função de aquisições de
grande vulto, como ambulâncias para renovação da frota e implantação de novas
unidades, a exemplo dos helicópteros.
Os profissionais médicos, de enfermagem, técnicos e outros são contratados em que proporção, e sob
qual regime contratual?
A Portaria 1.864 preconiza o concurso público, que é a modalidade do Serviço Público,
sendo responsabilidade dos gestores estaduais ou municipais executar a contratação
e fazer a gestão de pessoal. A precariedade
de vínculo não é aceita pelo Ministério da
Saúde, o que motiva avaliação e controle
“
A força de
trabalho da Rede
SAMU conta com
cerca de 25 mil
profissionais
”
nas unidades, bem como auditorias.Algumas
situações transitórias também são permitidas, à luz de que não há vínculo precário, a
exemplo de contratação pela Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT) a partir de consórcios intermunicipais para viabilização
de SAMU regional/estadual. Em situações
específicas, ocorrem, também, contratações emergenciais, até que o concurso
público seja instituído. A força de trabalho da Rede SAMU conta com cerca de
25 mil profissionais, sendo aproximadamente 7 mil técnicos de enfermagem,
7 mil condutores, 4 mil médicos, 3 mil
enfermeiros, 2.500 radioperadores, além
de pessoal administrativo e de apoio, que
representam cerca de 1.500 pessoas.
Sabemos da amplitude das emergências médicas e da ênfase ao
atendimento ao trauma. Persiste
sendo a prioridade principal?
Não. O trauma se trata, sem dúvida, de
uma causa importante em relação à amplitude das urgências. A partir desta gestão
da CGUE, passamos a utilizar a análise de
cenário como fator de planejamento para
as ações na área de urgência e emergência.
A avaliação geral do cenário de morbidade
e mortalidade no País nos aponta a primeira
causa como sendo eventos cardiovasculares
(aqui incluídos os de origem tanto cardíaca
como cerebral), a segunda como sendo as
neoplasias e a terceira, o trauma. Quando
avaliamos por gênero, percebemos que
nos homens a primeira causa permanece
sendo eventos cardiovasculares, seguidos
pelo trauma, como segunda causa. Já na
população feminina se mantêm os eventos
cardiovasculares como primeira causa, mas
aparecem como segunda causa as neoplasias; o trauma, no gênero feminino, ocupa a
sexta causa. Dessa forma, o atendimento do
SAMU 192 necessita de capacitação para intervir em função do que mais prevalece, ou
seja, a intercorrência clínica. De maneira geral no País, as emergências clínicas se fazem
presentes em cerca de 60% a 70% de toda
a demanda da Rede 192; as causas externas,
aí incluído o trauma, respondem por cerca
de 30% a 40%. As variações são bastante
significativas em função de cada região do
País e seus respectivos indicadores, como
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
e renda per capita, entre outros.
Cite algumas das prioridades nessa área.
Temos como meta desta gestão a estrutu-
Como o SAMU se prepara para
esse desafio e otimização dos resultados do atendimento aos infartados no Brasil?
Como etapa preliminar, trabalhamos, ainda, para aprimorar a intervenção primária.
A Rede SAMU 192 está sendo preparada para tal cenário, pois já iniciamos a
implantação de motocicletas, conduzidas
por socorristas com formação em técnico de enfermagem e suporte básico de
vida, tendo à disposição todo o material
necessário, além de oxigênio e desfibrilador externo automático (DEA). Essa iniciativa objetiva reduzir o tempo-resposta
justamente nas intercorrências tempodependentes (IAM e AVC). Sabidamente, a
intervenção com ambulância depende das
condições de tráfego e de acesso, entre
outros aspectos. A motocicleta permite
redução significativa do tempo-resposta no APH e garante à vítima o essencial
para manutenção da vida e interrupção da
lesão, minimizando o dano ao miocárdio
ou ao encéfalo. Também investimos em
sistemas de rastreamento de chamadas
que contenham palavras-chave (designativos ou indicativos de sinais ou sintomas
que possam estar associados a eventos de
IAM ou AVC). A capacitação das equipes
para reconhecimento precocemente de
sinais e sintomas também é fundamental.
Além disso, o fluxo de encaminhamento
desses pacientes tem que estar previsto
“
Em cinco anos de
trabalho já foi possível
garantir cobertura
a uma população de
mais de 101 milhões
de pessoas
Saúde pública
ração de redes de atenção aos eventos cardiovasculares, priorizando o infarto agudo
do miocárdio (IAM) e o acidente vascular
cerebral (AVC). Trata-se de um trabalho
pioneiro no Ministério da Saúde e que já
está em fase adiantada, pois temos projetos
piloto sendo desenvolvidos em diversos Estados. Nesse contexto, aliamos tecnologia
(telemedicina) a acolhimento, classificação
de risco e novos procedimentos (trombólise) com o atendimento prestado pela Rede
SAMU 192. Certamente, os protocolos são
fundamentais para a padronização de condutas e procedimentos, já que são desenvolvidos com a participação de profissionais
do SAMU e de instituições, hospitais de
referência. Também estamos acolhendo as
sugestões, observações e contribuições técnicas das sociedades científicas relacionadas
até então – Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN) –, bem como das respectivas
regionais nos Estados em que há projetos
piloto em andamento.
”
na rotina dos médicos reguladores das
centrais do SAMU, com auxílio, em tempo
real, de centrais de segunda opinião.
Como é o atendimento nas regiões
distantes?
A fim de alcançar essas regiões e promover adequado transporte para centros de
referência terciários, considerando a distribuição destes por critérios demográficos,
o Ministério da Saúde, a partir de proposta
da CGUE, iniciou a implantação do sistema de transporte aeromédico do SAMU
192. Tal serviço atenderá não somente
os casos de transferência inter-hospitalar
como também fará a intervenção primária
ou secundária no APH, quando necessário,
como fator de redução do tempo-resposta.
O sistema contará com helicópteros e aviões, interligados e apoiados no solo pelas
unidades móveis de suporte avançado. Já
estão em funcionamento quatro helicópteros conveniados com a Polícia Rodoviária Federal nos Estados de Santa Catarina,
Paraná, Pernambuco e Paraíba. Uma quinta unidade entrará em operação nas próximas semanas, no Distrito Federal (DF),
a partir de um convênio com o Corpo de
Bombeiros do DF. O acesso por via fluvial
e lacustre também tem sido ampliado,
com a implantação de “ambulanchas”, e
o orçamento de 2008 prevê a aquisição
de mais 20 unidades, em complementação às sete unidades que já operam nos
rios da Região Norte (AM, PA, RO e AP)
e na Baía de Guanabara (RJ).
As sociedades de especialidade,
como a de Cardiologia (SBC) e a de
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), podem auxiliar na elaboração de protocolos de
atendimento e transferência?
Como já referido, a SBC e a SBN estão contribuindo até então; a SBHCI, certamente, a
partir desta oportunidade, se assim o desejar, também será acolhida no grupo.
Uma normatização para o atendimento aos infartados, quando possível e de acordo com as recomendações de diretrizes, prescrevendo a
angioplastia coronária de emergência para esses pacientes, é viável?
Estamos estudando o assunto e avançando com diversas iniciativas para o enfrentamento desse contexto. Certamente, os
resultados virão conforme as redes forem
estruturadas, pois o êxito depende do conjunto das ações. Num país do tamanho do
Brasil, certamente, se leva mais tempo para
o alcance de metas que seriam facilmente
atingidas, por exemplo, em território europeu. Mesmo assim, os avanços da Rede
SAMU 192 são inequívocos e em apenas
cinco anos de trabalho já foi possível garantir cobertura a uma população de mais
de 101 milhões de pessoas, que podem
acessar o Sistema 192. As emergências
hospitalares, no entanto, necessitam de
investimentos urgentes e estamos trabalhando para isso, principalmente por meio
das ações do Programa QualiSUS.Também
estamos iniciando a implantação do programa das UPAs, a partir do mapeamento
dos vazios assistenciais e da identificação
de diversos indicadores (IDH e renda per
capita, entre outros) como fatores de priorização dos projetos.
Como o SAMU enfrenta a escassez
de vagas de terapia intensiva no sistema hospitalar brasileiro?
O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Regulação, Avaliação e
Controle, busca difundir e estruturar os
Jornal da SBHCI
13
Saúde pública
complexos reguladores nos Estados, distribuídos pelas macrorregiões da Saúde.
Paralelamente, a Assistência Hospitalar e
a Média e Alta Complexidade, ambas coordenações co-irmãs da CGUE, também
desenvolvem ações no sentido de diminuir
a carência de leitos. O SAMU, por sua vez,
por meio da central de regulação médica,
articula-se com as demais centrais dos
complexos reguladores, a fim de compatibilizar e orientar a demanda para onde há
oferta, o que não é uma tarefa fácil, pois
raramente falamos em oferta com vagas.
O conjunto de ações, num determinado
prazo, poderá em muito contribuir para o
equacionamento dessa demanda no Sistema Único de Saúde (SUS).
Existe algum protocolo futuro para
aplicação de fibrinolíticos no sistema de transporte emergencial rodoviário atendido pelo SAMU?
Como já referido, estamos em desenvolvimento de projetos piloto em diversas
regiões, contemplando, inclusive, o uso de
trombolíticos. Certamente, antes da inclusão desse tipo de intervenção no atendimento prestado pelo SAMU/SUS, há que
“
O Brasil completou
vinte anos do SUS, e
já é o maior serviço
de atendimento
pré-hospitalar
público do mundo
”
se estabelecer o conceito de rede de atenção integral aos eventos dessa natureza,
como, por exemplo, IAM e AVC, pois mais
importante que a adoção de medicação
trombolítica é o treinamento para reconhecimento precoce e intervenção imediata do SAMU. O subseqüente fluxo de
regulação e encaminhamento do paciente
também é fundamental para obtenção de
resultado positivo, em que entram o acolhimento e a classificação de risco como
ferramentas nas emergências hospitalares.
Estamos empenhados em mapear o País e
georreferenciar as diversas unidades terciárias, para cruzar as informações com a
capacidade instalada do SAMU 192, o que
permitirá, em breve, estabelecer com propriedade os tempos-resposta nas diferentes regiões e situações. Em alguns locais, há
tempo para deslocamento e intervenção
com angioplastia primária; em outros, somente haverá chance de reperfusão para
o paciente se o SAMU dispuser de agentes
fibrinolíticos nas unidades móveis. Ressalto que, antes da implantação desse tipo de
atendimento, se faz necessário avançar na
capacitação, pois pior que não dispor do
fibrinolítico certamente seria a iatrogenia.
Relatos demonstram disparidade
na criação e no desenvolvimento
de protocolos dedicados ao atendimento aos infartados nos diversos
municípios brasileiros, principalmente capitais e centros urbanos.
Como exemplo, Recife e São Paulo.
Essa evidência existe ou não?
Certamente, há disparidade entre diversos protocolos existentes, o que é compreensível, ante à inexistência de um padrão de referência proposto. O que estamos propondo, a partir desta gestão, é
reunir o maior número de informações a
respeito do tema, e os diversos projetos
piloto já nos apresentam tendências que
estão sendo estudadas, para que possamos oferecer ao País a oportunidade de
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
unificação das iniciativas, minimizando as
disparidades. Temos inúmeras fontes de
referência, tanto nacionais como internacionais, para IAM e AVC, por exemplo. Desejamos encontrar um caminho
que aponte para a unificação das idéias,
a partir de uma diretriz, que deverá ser
apresentada pelo Ministério da Saúde
com o auxílio dos diversos segmentos,
especialmente das sociedades.
Considera viável, logística e economicamente, o atendimento federativo de emergências por meio do
SAMU com as disparidades atuais
no atendimento médico brasileiro
e extensão continental?
Sim. Não poderemos jamais aceitar como
fatalidade a inexistência de um atendimento adequado, considerando-se, obviamente, o maior número possível de indicadores que possam orientar os investimentos
em prol da Política Nacional de Atenção
às Urgências, uma vez que os recursos são
finitos, em qualquer parte do mundo. No
entanto, o Brasil tem razões para comemorar, sim, pois completou vinte anos do
SUS, de 1988 a 2008, e em apenas cinco
anos avançou rapidamente na consolidação do que já é o maior serviço de atendimento pré-hospitalar público do mundo,
sob a mesma bandeira, o SAMU.
Cite o maior desafio da atual coordenação nacional do SAMU.
Certamente, é implantar um modelo de
gestão no APH, de forma a permitir que
a CGUE possa acompanhar a mudança
dos cenários na Saúde Pública brasileira.
A meta é oferecer soluções adequadas,
a partir da ampliação de suas ações, passando a integrar o APH Móvel, o SAMU
192, o APH Fixo, as UPAs e o QualiSUS.
Quais os rumos futuros e as prioridades a serem seguidas no SAMU?
De maneira geral, continuar avançando
na consolidação da Política Nacional de
Atenção às Urgências, sob as mais diversas formas e com utilização de criatividade para enfrentamento das diversidades e
peculiaridades que cercam nossos Estados
e municípios. Assim, estamos priorizando
na CGUE o processo de regionalização
dos diversos programas que dão sustentação aos componentes da atenção
às urgências, com base nos princípios da
universalidade, da eqüidade e da integralidade que norteiam o SUS.
SERVIÇO PÚBLICO
José Carlos Brito assume
Secretaria Municipal
de Saúde de Salvador
Cardiologista
intervencionista fala
de suas metas e da
relação de sua pasta
com a especialidade
C
ardiologista intervencionista dos
hospitais Santa Izabel, Português e
da Bahia, primeiro vice-presidente
da Associação Médica Brasileira (AMB)
e presidente da Associação Baiana de
Medicina, José Carlos Raimundo Brito
assumiu, em 14 de abril, a Secretaria Municipal da Saúde de Salvador. Formado
em Medicina em 1976, o ex-presidente
da Sociedade Brasileira de Cardiologia
– Seção Bahia (SBC/BA) comprometeuse, em sua posse, a se manter distante
de debates políticos, para priorizar a
qualificação da assistência pública.
Hoje os principais problemas na Saúde de Salvador são as falhas no Programa de Atenção Básica, a inserção de
apenas 18% da população no Programa
de Saúde da Família e o péssimo estado
de conservação dos postos de saúde.
Segundo José Carlos Brito, o município arrecada aproximadamente R$ 110
milhões, dos quais R$ 15 milhões são
direcionados para sua pasta – um orçamento pequeno demais. Assim, para superar tais desafios, resta “trabalhar com
pouco, atender muito, e muito bem”.
As principais metas da Secretaria no
momento são informatizar o sistema
público, disponibilizando uma assistência
melhor à população, além de oferecer
condições adequadas à boa atuação de
médicos e demais profissionais da Saúde.
“Já começamos a informatizar alguns
postos com situação financeira menos
apertada. No entanto, a situação de
parte dos postos é caótica, infelizmente. Teremos de trabalhar muito para alterar o quadro atual.”
Cardiologia
Intervencionista
Parceiro importante da atual Diretoria
da SBHCI na luta pelo reconhecimento
da área como especialidade médica, José
Carlos Brito vê na Cardiologia Intervencionista da Bahia motivo de satisfação:
“Posso dizer que o nível é muito bom e os
serviços são, em sua maioria, bem estruturados e com resultados consistentes”.
Contudo, considera ainda precária a
interface entre a Secretaria da Saúde e
a especialidade: “Para começar, a habilitação da gestão plena do Sistema Único de
Saúde (SUS) pelo município é recente, datando de março de 2006. Aliás, Salvador
foi a penúltima das capitais brasileiras a
ser habilitada. O resultado é que somente a atenção básica, aí incluído o Progra-
ma de Saúde da Família e nove Unidades
de Pronto Atendimento 24 horas, estão
sob gestão municipal. Outro complicador
é que todos os hospitais públicos e a regulação de leitos ainda estão sob gestão
do Estado, inclusive os dois hospitais que
possuem laboratório de Hemodinâmica.
Por fim, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é municipal, mas
a regulação dos leitos também está nas
mãos do Estado”.
Diante desse quadro, José Carlos
Brito argumenta que será necessária
a efetiva participação do município
no encaminhamento de tais atividades, para uma interação mais concreta
com a especialidade. Mas acredita que
a Cardiologia Intervencionista terá um
saldo positivo em futuro próximo.
Jornal da SBHCI
15
Retrato
O vigor da Cardiologia
Intervencionista
em Santa Catarina
Luiz Carlos Giuliano, Luiz Eduardo São Thiago, Marcos Flávio
Moellmann Ribeiro e o pioneiro Luiz Carlos São Thiago
N
os últimos vinte anos, a Cardiologia Intervencionista de Santa
Catarina evoluiu muito. A despeito de ter dado os primeiros
passos importantes recentemente, na
década de 80, hoje já conta com vinte
serviços e profissionais capacitados na
prática e cientificamente.
“Os pacientes não necessitam sair
de nosso Estado para encontrar atendimento médico especializado e de
qualidade, notadamente na Cardiologia Intervencionista”, afirma Adrian
Kormann, cardiologista intervencionista de Blumenau, membro titular da
SBHCI. “Isso é um retrato do desenvolvimento de nossa área.”
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
A partir de 2000, a Cardiologia Intervencionista alcançou grande expansão, tendo sido abertos doze Serviços.
Com isso, ao menos teoricamente,
contempla-se o atendimento de praticamente toda a população de Santa
Catarina. No entanto, em decorrência
de dificuldades relacionadas a verbas e
tetos financeiros, ainda existe fila de espera considerável para a realização de
exames e procedimentos terapêuticos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Para o futuro, espero que mais cidades de Santa Catarina desenvolvam serviços em Cardiologia Intervencionista”,
comenta Marcos Flávio Moellmann Ribeiro, especialista de Florianópolis.
estrutura
O intervalo entre o diagnóstico e o
tratamento, seja ele clínico, intervencionista ou cirúrgico, para muitos casos de
pacientes com síndrome coronária aguda ainda é muito grande. O desafio está
na criação de uma estrutura integrada
com unidades de atendimento médico
mais distantes, outras intermediárias e
serviços terciários. Assim, seria possível
reduzir o tempo entre as etapas, alcançando maior resolutividade. Para tanto,
são necessários ainda investimentos em
estrutura das unidades primárias, considerando aqui profissionais, medicamentos, equipamentos, mais verbas e um sistema eficiente e ágil de transporte dos
Retrato
pacientes aos hospitais com serviços de
Cardiologia Intervencionista.
Raio X
Hoje, as regiões de Santa Catarina
que contam com serviços de Cardiologia Intervencionista são Florianópolis,
Blumenau, Balneário Camboriú, Joinville, Chapecó, Criciúma, Itajaí, Lages, Rio
do Sul, Tubarão e Xanxerê. Confira um
pouco da história dos principais serviços do Estado.
Florianópolis
Entre 1963 e 1967, Luiz Carlos São
Thiago e Celso Moreira, do Hospital
Nereu Ramos da Secretaria de Estado
da Saúde de Santa Catarina, utilizavam
um aparelho de radioscopia sem intensificador de imagens para realizar tanto
medidas das pressões venosa e arterial
como aortogramas por via femoral.
Poucos exames eram realizados por dificuldades técnicas diversas. Nessa época, também foram realizadas algumas
ventriculografias por punção transapical.
É notório, em Santa Catarina, o pioneirismo desses cardiologistas.
Celso Moreira logo abandonou a prática invasiva. Em 1967, Luiz Carlos São
Thiago decidiu aprender novas técnicas
de Hemodinâmica, Angiografia e Coronariografia com Siguemituzo Arie, em
São Paulo. Quando voltou a Florianópolis, em 1968, atuou no Hospital Celso
Ramos da Secretaria de Estado da Saúde
de Santa Catarina (SES/SC), onde iniciou
Francisco Heinzen
Adrian Kormann
a nova era da Hemodinâmica em um
aparelho de 16 mm. Até 1977, trabalhou sozinho em Santa Catarina na área
da Cardiologia Invasiva. Até hoje Luiz
Carlos São Thiago lembra as inúmeras
dificuldades enfrentadas na elaboração
dos exames. Uma delas refere-se ao fato
de que, naquela época, tanto o aparelho
como a mesa de exames eram fixos; assim, quem virava de um lado para o outro para aquisição de imagens oblíquas e
craniais era o paciente.
Em 1977, chegou a Florianópolis Marcos Flávio Moellmann Ribeiro, com formação em São Paulo, na equipe de Arie.
Ele foi pioneiro nos estudos hemodinâmicos de cardiopatias congênitas, para
os quais até 1983 era utilizado o aparelho de 16 mm, tendo sido realizados
cerca de mil exames.
De 1967 a 1980, vale frisar, todos os
exames eram feitos pela técnica de Sones. Em 1980, desembarcou em Florianópolis Artur Barreto, com formação em
Radiologia Intervencionista nos Estados
Unidos. Nessa época, começou a ser utilizada a técnica de punção femoral. Em
1983, o então governador do Estado de
Santa Catarina, Jorge Konder Bornhausen, adquire para o Hospital Celso Ramos um aparelho com arco em C.
Em 1987, o Instituto de Cardiologia do
Estado de Santa Catarina mudou-se para
o Hospital Regional de São José e recebeu
em sua equipe Francisco Heinzen, com
formação no Rio de Janeiro. Nesse ano foi
realizada a primeira angioplastia coronariana por Marcos Flávio Moellmann Ribeiro. Em 1994, integrou-se ao serviço Luiz
Carlos Giuliano. Em 1995 chegou Luiz
Eduardo São Thiago, com formação em
São Paulo, no Instituto Dante Pazzanese
de Cardiologia, e em 2001 foi a vez de Tamuz Fattah, também oriundo do Instituto
Dante Pazzanese de Cardiologia.
Hoje, Florianópolis conta com cinco
serviços de Cardiologia Invasiva: Instituto
de Cardiologia da Secretaria de Estado
da Saúde de Santa Catarina, onde também são realizados os procedimentos de
cardiopatia congênita por Giuliano e Luiz
Eduardo São Thiago, cuja equipe é composta por Heinzen, Barreto e Fattah; Serviço Cineangio, dentro do Hospital de
Caridade, no qual atuam Barreto, Ribeiro
e Heinzen; Serviço do S.O.S. Cardio Serviços Hospitalares, cuja equipe é integrada por Giuliano, Luiz Eduardo São Thiago e Ribeiro; Serviço Coris, no qual atua
Fattah; e Hospital Universitário, onde
trabalha Heinzen.
Blumenau
A Cardiologia Intervencionista da região
de Blumenau teve seu início em 1994, no
Hospital Santa Catarina, com Charles Vieira, que realizou os primeiros cateterismos
cardíacos e angioplastias coronárias. Em
1996, foi aberto o Serviço de Cardiologia
Rafael Maestri
Jornal da SBHCI
17
Retrato
Rogério Tadeu Tumelero e Norberto Toazza Duda
Edilson Roma, Alberto Cury e Bruno C. Migueletto
Intervencionista do Hospital Santa Isabel
(HSI) de Blumenau e em 2003, o do Hospital do Coração (HCOR), no Balneário
Camboriú. Ambos são coordenados por
Adrian Kormann, que conta em sua equipe com Rafael Maestri, também membro
titular da SBHCI. Em 2000, foi realizado o
primeiro procedimento de ultra-som intracoronário e em 2001, o primeiro implante de stent farmacológico em Santa
Catarina, ambos pela equipe de Kormann.
Também são realizados, nesses serviços,
procedimentos diagnósticos e terapêuticos em algumas cardiopatias congênitas. Em junho de 2001, o crescimento da
Cardiologia possibilitou a realização do
primeiro transplante cardíaco em Santa
Catarina, no HSI, pela equipe do cirurgião
Frederico Di Giovanni.
Kormann e Maestri têm foco também
na área de pesquisa, pois participam de al-
guns trials importantes, como os estudos
ASSENT 4 PCI e CURRENT OASIS 7,
este último ainda em andamento.
Joinville
Atualmente existem três médicos
hemodinamicistas atuando em Joinville:
Alberto Cury, médico responsável e coordenador da equipe, Bruno C. Migueletto e Edilson Roma. Todos fizeram especialização no Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Universidade de São Paulo (InCor/HC-FMUSP) e são membros
titulares da SBHCI. A equipe trabalha no
Hospital Regional Hans Dieter Schmidt,
no Complexo Hospitalar Unimed e no
Hospital Dona Helena, os únicos com
Cardiologia Intervencionista na cidade.
A Cardiologia Intervencionista iniciou-se em 1993 em Joinville, no Hospi-
Danilo Peressoni Castro, ao centro, e equipe: Gisele de Souza,
Rafael Santos da Silva, Angela da Rosa e Maria Angela de Sá
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
tal Dona Helena, sendo Cury o médico
que inaugurou o Serviço e iniciou as atividades à época. Em 1996, começaram
a ser implantados os primeiros stents,
e em 1998 foi inaugurado o Serviço de
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, período coincidente com a
chegada de Edilson Roma a Joinville. Em
outubro de 2004, foi inaugurado o Serviço de Hemodinâmica do Complexo
Hospitalar Unimed, época em que Bruno C. Migueletto se fixou na cidade.
Criciúma
O Serviço de Hemodinâmica do Hospital São José de Criciúma iniciou suas
atividades em 2002. Desde então a população da região sul do Estado tem
tido acesso aos mais variados procedimentos diagnósticos/terapêuticos em
Cardiologia Intervencionista. A equipe é
coordenada por Danilo Peressoni Castro, tendo sido realizados até o momento mais de 6.500 procedimentos diagnósticos e intervencionistas na área de
coronárias e periféricos.
Chapecó
Foi inaugurado em 19 de maio deste
ano o Laboratório de Hemodinâmica e
Intervenção Cardiovascular da Unimed
Chapecó. Sob a coordenação de Norberto
Toazza Duda, a equipe conta com Rogério
Tadeu Tumelero e Mateus Rossato.Trata-se
de um grande avanço para a região oeste
de Santa Catarina, pois já se tornou uma
referência para diagnósticos e intervenções
coronárias e extracardíacas.
Retrato
Serviços de Santa Catarina
Florianópolis
Cineangio
Marcos Flávio Moellmann Ribeiro
Chapecó
Unimed Chapecó
Norberto Toazza Duda
Hospital Regional São José
Luiz Eduardo São Thiago
Criciúma
Hospital São José
Danilo Peressoni Castro
S.O.S Cardio
Luiz Eduardo São Thiago
Hospital São João Batista
Eduardo Caruso Farias
Coris Tamuz Fattah
Itajaí
Serviço de Cardiologia
Intervencionista
do Hospital Universitário
Francisco Heinzen
Hospital Marieta
Marcos Juliano
Lages
Hospital Nossa
Senhora dos Prazeres
Cláudio Antônio Ramos de Moraes
Blumenau
Hospital Santa Isabel
Adrian Paulo Morales Kormann
Hospital Santa Catarina
Charles Vieira
Rio do Sul
Hospital Regional
Marcos Franchetti
Joinville
Hospital Dona Helena
Alberto Cury
Tubarão
Complexo Hospitalar Unimed
Alberto Cury
Hospital Nossa
Senhora da Conceição
Eduardo Caruso Farias
Socimed
Silvia Machado Abreu
Hospital Regional
Hans Dieter Schmidt
Alberto Cury
Xanxerê
Balneário Camboriú
Hospital do Coração – Digicardio
Adrian Paulo Morales Kormann
0800 701 7789
Centro Avançado
em Cardiologia
Luiz Fernando Morrone
www.medical.philips.com/br
Jornal da SBHCI
19
HISTÓRIA
Entrevista com Paulo Sérgio de Oliveira
“O exercício da
Medicina me dá uma
sensação muito boa”
N
ascido em São Paulo, no município de Presidente Venceslau,
em 13 de março de 1946, Paulo
Sérgio de Oliveira desde jovem
acalentava o sonho de ser médico. Com
esse objetivo, trocou a tranqüilidade de
sua terra natal pela efervescente Cidade Maravilhosa, nos idos de 1960. Foi
estudar na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), onde se formou em 1970.
Era uma época de muita agitação política. Vivíamos em plena ditadura militar. Esse clima refletiu-se, inclusive, no
processo de formação do jovem Paulo
Sérgio de Oliveira: “Meu percurso universitário foi um pouco conturbado. A
Praia Vermelha, onde estudei, era um
dos focos de movimentos estudantis,
mas, felizmente, isso não atrapalhou
meu aprendizado”.
Antes mesmo de concluir a graduação, vale frisar, Paulo Sérgio de Oliveira
pegou gosto pela Hemodinâmica. No
terceiro ano da faculdade, já fazia cateterismo. Essa paixão, aliás, surgiu a partir do contato com Eugênio do Carmo
Filho, um amigo de turma, filho do diretor do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC), Eugênio do Carmo. “Foi então que passei
a freqüentar o hospital e me encantei
pela Cardiologia, principalmente pela
Hemodinâmica. Nunca mais pensei em
fazer outra coisa”, ressalta ele.
No IECAC, graças à prática diária, no
dia-a-dia do atendimento aos pacientes,
adquiriu experiência e conhecimento na
área. Assim, nem precisou cursar a resiano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
Hemodinâmica no Rio de Janeiro. Dentro do Pró-Cardíaco, em 1986, ele e quatro sócios, Pierre Labrunie, Mario Salles
Neto, Edison Sandoval Peixoto e Ronaldo Amorim Vilela, fundaram o Cinecor,
primeiro serviço privado na área no Rio.
E destaca que seu desenvolvimento profissional muito se deve às orientações
do prof. Stans Murad, capixaba, filho de
libaneses, livre-docente em Cardiologia pela UFRJ, com quem compartilhou
treze anos de exercício profissional no
IECAC e na Beneficência. De fato, tratase de um mestre que muito contribuiu
para o avanço da Hemodinâmica, seja no
emprego inédito da cineangiocoronariografia no Brasil seja ao descrever pela
primeira vez o espasmo coronariano, só
para citar algumas de suas proezas.
dência, pois, quando se formou, já tinha
mais de três anos de exercício na Hemodinâmica. Continuou no Instituto por
mais alguns anos, integrando a Equipe de
Hemodinâmica, e nessa mesma época
começou também a atender na Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro.
Em 1982, encarou novo desafio, começando a trabalhar no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, também no Rio de Janeiro, onde
trabalha até hoje, há onze anos respondendo pela chefia de Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista.Atualmente também atua nos hospitais Evangélico, Pasteur, Samaritano, Pró-Cardíaco e
Silvestre e na Casa de Saúde São José,
todos no Rio de Janeiro.
Paulo Sérgio de Oliveira se considera
um pioneiro nos serviços privados de
Vida associativa
Paulo Sérgio de Oliveira presidiu a
SBHCI de 1988 a 1990. Em sua gestão,
ordenou a classificação dos membros
da Sociedade, pois, até então, não havia
uma relação que os dividisse. Classificou
como membros titulares apenas os hemodinamicistas atuantes, sendo os demais classificados como membros colaboradores. Ainda como presidente dessa
entidade iniciou uma cruzada para disseminar a angioplastia em todo o Brasil.
À época essa especialidade se restringia
aos grandes centros e foi uma luta muito
grande para conseguir com que todo o
País tivesse acesso ao método.
A SBHCI de hoje merece elogios de
Paulo Sérgio de Oliveira. Ele a considera
ativa, muito participante, mas destaca que
HISTÓRIA
alguns obstáculos precisam ser rapidamente superados. “Temos uma Sociedade poderosa, mas ainda não somos uma
especialidade médica. Penso que um desafio relevante hoje é mudar esse status
de área de atuação para especialidade.”
Família
A Hemodinâmica também é parte integrante de seu universo familiar. É casado há 16 anos com Marta Labrunie,
cardiologista intervencionista e membro da SBHCI, que, aliás, é filha de Pierre
Labrunie, médico intervencionista pioneiro na área.
“Eu e Labrunie somos sócios, trabalhamos juntos há muito tempo, com
certeza há uma boa troca de experiências, além de ser uma pessoa por quem
tenho uma admiração muito grande.
Ele faz parte da turma mais antiga da
especialidade e continua atuando com
ânimo e competência”.
Rafael Lauria de Oliveira, um dos seus
seis filhos, também é hemodinamicista. Os
outros, Mariana Lauria de Oliveira, Gabrie-
Pensamentos
“Com o aparecimento dos stents farmacológicos, nossa realidade mudou muito.
Hoje os resultados, as técnicas todas avançaram e conseguimos resultados que não
tínhamos, por exemplo, há 20 anos. Isso
sem dúvida foi um avanço enorme.”
Paulo Sérgio de Oliveira, durante
procedimento ao lado do filho,
Rafael Lauria de Oliveira
la Lauria de Oliveira, Paula Lorena Brandão
Aguiar de Oliveira, Luiza Labrunie Calmon
Soares e Teresa Labrunie Calmon Soares,
seguiram caminhos diversos. “Quando o
Rafael escolheu essa área fiquei com medo
de ele não gostar, mas hoje vejo que gosta
tanto quanto eu.Trabalhar com ele e minha
esposa é um prazer muito grande.”
• O Menor Perfil
• A Menor Estrutura Metálica
• Excelente Força Radial
• Excelente Navegabilidade
“Atingimos um ponto de desenvolvimento
fantástico e hoje resolvemos as demandas
da maioria dos pacientes com doença coronária por meio da utilização dos stents. Não
cansamos de aprimorar esses instrumentos
todos, os stents estão cada vez melhores.
Foi rápida a transformação, então no futuro
certamente teremos coisas melhores, mais
eficientes que as de hoje. Sem dúvida, a Cardiologia Intervencionista só tende a crescer.”
“Tenho orgulho de ter participado desse
avanço da Cardiologia Intervencionista. Formamos diversos residentes em nossos Serviços,
que hoje estão atuando, trabalhando mais intensamente. Gosto muito dessa especialidade,
gosto muito de operar. O exercício da Medicina me dá uma sensação muito boa.”
A certeza de obter excelentes
resultados em suas mãos.
MATSURI
Mace - Diabéticos - 12,4%
Mace - Pequenos Vasos - 9%
(6 meses Follow-up)
Total Mace - 12,6%
(18+/-5 meses Follow-up)
O Melhor Resultado!
Jornal da SBHCI
21
Brasília urgente
O que pensa José Carlos Lima,
da Comissão Nacional de Re
Há quatro meses
no cargo, ele fala
de seus objetivos,
dos problemas
da formação e da
especialização
Como se estrutura a Comissão
Nacional de Residência Médica?
A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) é um órgão colegiado, que
tem em sua composição os Ministérios da
Educação, da Saúde e da Previdência, além
de entidades médicas nacionais: Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho
Federal de Medicina (CFM), Federação
Nacional dos Médicos (FENAM), Associação Nacional dos Médicos Residentes
(ANMR) e Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). As decisões, portanto, são tomadas por esse colegiado.
Desde que a residência foi regulamentada
no Brasil, há praticamente trinta anos, esse
caráter colegiado é respeitado. Essa característica se tornou uma marca na Saúde.A
estruturação da CNRM foi seguida pelo
Conselho Nacional de Saúde (CNS) e
pelo Conselho Nacional de Secretários
de Saúde (CONASS), entre tantas outras
instituições e nos vários níveis federativos.
Enfim, à época, foi uma composição pioneira, abrindo espaço para a representação das entidades médicas nacionais lado
a lado com órgãos do governo.
Qual o resultado prático dessa estruturação?
Com certeza uma visão mais plural e
abrangente. Podemos dizer que as políticas da Residência Médica sempre conjugaram as políticas de governo para a Saúde e
a Educação com as demandas trazidas pelas especialidades, pelas entidades de classe e pela própria ANMR. A transparência
é marca da Comissão e dá a ela grande
força. Penso que nenhuma outra modalidade de pós-graduação tem uma articulaano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
ção dessa magnitude. Daí vem a força da
residência e sua importância no sistema
de ensino e no sistema de Saúde.
Quais são as prioridades da Comissão hoje?
As prioridades da CNRM devem ser guiadas por uma idéia central: a qualificação do
profissional para uma prática de alto nível
ético, técnico e humano. Todas as propostas devem ter essa inspiração. A CNRM é
o fórum ideal de discussão e articulação
do conjunto de interesses colocados pela
sociedade, pelos órgãos de classe e pelos
próprios estudantes. Certamente pode ter
papel cada vez mais relevante nas políticas
públicas de Saúde da União, dos Estados e
dos municípios. Para isso, deve estar atenta às reais necessidades de saúde da população brasileira. Em especial, deve estar
atenta às necessidades do Sistema Único
de Saúde (SUS), projeto ainda inacabado,
mas que se trata de conquista extraordinária, consagrada na letra constitucional. O
mote “Saúde – direito de todos e dever do
Estado” foi incorporado pela Constituição
de 1988 aos direitos de cidadania.Temos a
responsabilidade de dar conseqüência prática a esse preceito. Um profissional bem
formado, qualificado, constitui requisito indispensável para atingir esse objetivo.
Então a Residência Médica deve
ter consonância com as necessidades sociais em Saúde?
Essa é uma pergunta que chama outra: Estamos formando para quê? Uma das metas
da Comissão é articular o aparelho formador aos anseios profissionais, às tecnologias, às necessidades do Sistema de Saúde.
A preocupação permanente da graduação
e até da pós-graduação deve ser formar
para atender às demandas do Sistema de
Saúde de forma adequada e qualificada.
Há falta de vagas para Residência
Médica no Brasil. Esse problema tende a se agravar com a abertura indiscriminada de escolas de Medicina?
Há vagas para mais de 70% dos formandos. No entanto, com a abertura em ritmo acelerado de escolas de Medicina, o
quadro provavelmente piorará.Temos 200
anos de ensino médico no Brasil, e só nos
últimos dez anos, ou seja, de 1998 para cá,
entrou em funcionamento o mesmo número de escolas que nos 190 anos anteriores. Uma demanda reprimida foi atendida, mas, por outro lado, ultrapassou-se em
muito as possibilidades de controle e de
verificação da qualidade desses cursos. É
preocupante esse ritmo, é uma velocidade
impossível de acompanhar. Os resultados
esidência Médica
recém-divulgados do Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes (ENADE)
retratam com números essa preocupação. Naturalmente, isso não se refere
apenas aos cursos de Medicina, mas ao
conjunto do ensino superior.
O que fazer para enfrentar o problema?
Seria importante discutir a exigência de que
as escolas se responsabilizassem de fato
pelo seu egresso: pela educação pós-graduada, pela educação continuada, etc. Criaria
um vínculo de responsabilidade dessa forma. Você se recicla, faz sua educação continuada na mesma faculdade. Infelizmente
nossa realidade é extremamente comercial.
A comercialização da educação atingiu níveis preocupantes e absurdos. Precisamos
também de sistema de avaliação permanente do ensino. Hoje é meritório o esforço do Ministério da Educação de avançar
no desenvolvimento de critérios de avaliação em todos os níveis. Recentemente
houve a divulgação do resultado do ENADE, uma demonstração de transparência.
Temos de aprimorar esses instrumentos e
realmente fiscalizar, além de ter a coragem
de fechar os cursos que reiteradamente
não formam de modo adequado.
Como garantir um bom especialista se a graduação é cada vez pior?
Trata-se de questão extremamente complexa. Eu inverteria o raciocínio. Aqueles
que fazem residência, que serão cardiologistas, oncologistas, pediatras, enfim,
especialistas diversos, passam, vamos colocar assim, por um controle de qualidade
que é o exame para Residência Médica.
A Residência é um ensino em serviço: o
supervisor e os chefes acompanham os
residentes, seguem o treinamento. A própria CNRM, assim como as comissões
estaduais, fiscalizam esse processo. Daí a
importância de fortalecimento das comissões estaduais, outra de nossas prioridades. Não é possível em um país como o
Brasil ter um sistema centralizado, como
se de Brasília desse para controlar tudo. É
fundamental prestigiar as estruturas regionais para que cumpram com eficiência o
papel de acompanhamento, orientação e
avaliação dos programas, entre outros. De
certa maneira quem ingressa no programa
de Residência Médica passa por concurso
e necessita ser aprovado. A disputa é ferrenha. São candidatos do Brasil todo disputando uma vaga na Universidade de São
Paulo, por exemplo, e na Federal do Rio
de Janeiro, para citar outro. São aprovados
os que têm melhor formação. E aqueles
que não conseguem ingressar num programa de Residência Médica?
O que diz da proposta do governo
de definir o mínimo de vagas para
Residência Médica de acordo com
as necessidades do SUS?
Acho correta a preocupação em formar
profissionais de acordo com as necessidades do Sistema de Saúde. Grande parte
das vagas de Residência está no setor público: Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde, Secretarias municipais e
estaduais, etc. Trata-se, portanto, de verba
pública. Cabe, pois, ao Estado definir suas
prioridades em função de políticas públicas. Para isso são fundamentais estruturas
como o CNS, o CONASS e o Conselho
Nacional dos Secretários Municipais de
Saúde (CONASSEMS). Só muito recentemente é que passamos a contar com estudos para aferir as necessidades de profissionais, distribuição, etc. Os resultados
preliminares já permitem identificar, além
da má distribuição com concentração nas
regiões Sul e Sudeste e nos grandes centros urbanos, a falta de especialistas em
oncologia, neonatologia, psiquiatria, hematologia, medicina de família e comunidade,
medicina intensiva e geriatria. Confirmados esses resultados preliminares, o desafio será elaborar políticas públicas apropriadas de fomento nessas áreas.
Brasília urgente
o novo secretário-executivo
tão específicas da Medicina, como
a Cardiologia Intervencionista?
Realmente as chamadas áreas de atuação
são importante desdobramento da própria
especialidade.Acho fundamental porque, da
mesma forma que o País necessita de médicos cirurgiões gerais, pediatras, de família,
também necessitamos de superespecialistas, especialmente em setores de ponta
como a Cardiologia Intervencionista.
O CFM estabelece para essa especialização treinamento de dois
anos, mas de acordo com a Comissão Nacional de Residência Médica
um ano é considerado suficiente
para o treinamento. Como resolver essa divergência?
De fato há uma divergência em relação a esse ponto, provavelmente fruto
de algum mal-entendido. A CNRM não
deliberou sobre o aumento de um para
dois anos de treinamento. Esse assunto
entrará na pauta em breve.
Qual é sua opinião sobre o treinamento de especialização em áreas
Jornal da SBHCI
23
Consenso
Diretrizes da SBHCI sobre
Qualidade Profissional
e Institucional
Novembro de 2007: reunião, em São Paulo, com parte dos
cardiologistas intervencionistas envolvidos na produção das Diretrizes
Luiz Antonio Gubolino*
A
edição das Diretrizes sobre Qualidade Profissional e Institucional
da SBHCI é fruto do trabalho de
vários intervencionistas de nossa
Sociedade, a partir de reuniões realizadas
no Guarujá, em outubro de 2007, e em
São Paulo, em novembro de 2007, e da
troca de inúmeros e-mails. Com empenho
ímpar de todos os colaboradores, essas
Diretrizes foram elaboradas, revisadas e
finalizadas, visando a oferecer aos associados da SBHCI um referencial para a prática profissional, para o desenvolvimento
institucional e para a atualização dos processos de treinamento e certificação.
O formato das Diretrizes acompanhou a divisão dos grupos de trabalho.
Assim, a primeira parte contemplou as
Recomendações de Qualidade Profissional e Institucional em Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista. Nesse tópiano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
co houve a preocupação de trazer dados
e informações importantes para nortear a
prática do profissional em Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista, além do
incremento de considerações referentes
a procedimentos intervencionistas nãocardíacos. Com relação às orientações do
desenvolvimento institucional, procurou-se
concentrar dados que possam ser úteis à
estruturação e à operacionalidade do Serviço no tocante à qualidade assistencial.
Já a segunda e a terceira partes abarcaram as Normas para Constituição de Centro de Treinamento em Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista e o Processo
de Certificação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, respectivamente.
Nessas duas partes estão presentes todas
as informações para adequação dos Centros de Treinamento e atualização do processo de certificação dos futuros cardiologistas intervencionistas. Aqui se concentra
um dos pontos de extrema relevância para
o processo de amadurecimento de nossa
Sociedade, pois as normas elaboradas visam a adequar todo o processo de formação e aceitação da qualificação dos novos
profissionais, conforme prerrogativa do
Conselho Federal de Medicina e da Comissão Nacional de Residência Médica, o que
impreterivelmente estará primando ainda
mais pela proficiência dos futuros intervencionistas a partir de sua formação técnica,
culminando como um processo de avaliação e certificação sério e responsável.
E finaliza com um apêndice, até então
inédito dentro de uma diretriz, que busca
oferecer Princípios para o Gerenciamento de Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Esse é um documento complementar, que traz algumas
informações para que o profissional possa
despertar o olhar para o lado gerencial de
seu Serviço, já que o controle de custos,
o controle financeiro, a prospecção de
mercado e o gerenciamento dos recursos
Consenso
Editores
• Luiz Antonio Gubolino
• José Armando Mangione
• Samuel Silva da Silva
Editores Associados
• José Antonio Marin-Neto
• Marcelo Antônio Cartaxo
Queiroga Lopes
• Samuel Silva da Silva
• Décio Salvadori Junior
• Ari Mandil
• Carlos Augusto Pedra
• Maria do Rosário de Britto Leite
• José Maria Pereira Gomes
• Anis Rassi Jr.
• Hélio José Castello Junior
• Marcelo Cantarelli
• Luiz Alberto Mattos
Conselho Nacional
de Diretrizes
• Jadelson Pinheiro Andrade
(coordenador)
• Anis Rassi Jr.
• Antonio Carlos de
Camargo Carvalho
• Carisi Anne Polanczyk
• José Antonio Marin-Neto
• Júlio César Vieira Braga
• Mário Sérgio Coutinho
• Max Grinberg
• Renato Abdala Karam Kalil
• Roberto Bassan
humanos, entre outros, são cada vez mais
importantes para o sucesso institucional.
Acreditamos que essas Diretrizes serão
um divisor de águas para a qualidade do
exercício profissional, pois contemplam
informações importantes que envolvem
desde o profissional na sua formação dentro do Centro de Treinamento e sua avaliação para obtenção da certificação até a
manutenção da proficiência tanto individual como institucional enquanto atuante
em seus Serviços. Além do mais, servirão
como documento de referência institucional para processos de certificação e de
Grupos de Trabalho
Grupo 1
Recomendações para
Qualidade Profissional
e Institucional
• Luiz Antonio Gubolino (coordenador)
• Ari Mandil
• Carlos Augusto Pedra
• Hélio José Castello Junior
• José Carlos Raimundo Brito
• José Maria Pereira Gomes
• Luiz Antonio Ferreira Carvalho
• Maria do Rosário de Britto Leite
• Marcelo J. C. Cantarelli
• Enfermeira Márcia Tosi
Grupo 2
Normas para Centro
de Treinamento
• José Armando Mangione (coordenador)
• Alcides José Zago
• Fausto Feres
• Jamil Abdalla Saad
• Marco Antonio Perin
• Miguel Antonio Neves Rati
• Wilson Albino Pimentel
Grupo 3
Processo de Certificação
Profissional
• Samuel Silva da Silva (coordenador)
• Décio Salvadori Junior,
em nome dos membros da
Comissão Permanente de
Certificação (CPC) da SBHCI
avaliação para credenciamento na Saúde
Pública e na Saúde Complementar, pois
foram elaboradas a partir da sociedade médica específica da área de atuação,
mediante consenso de seus profissionais
mais experientes e reconhecidos.
Certamente, trata-se de mais uma
contribuição societária, que visa a consolidar o posicionamento desta Sociedade perante o associado e deste perante
a comunidade médica e não-médica em
todas as suas vertentes assistenciais.
* Diretor de Qualidade Profissional da SBHCI
Saldo é
extremamente
positivo
José Armando Mangione*
C
hegou ao final
mais um trabalho de grande
importância elaborado por colegas intervencionistas, que
reflete não somente
o grau atual de extrema competência
profissional de nossa
Sociedade mas também o desenvolvimento atingido pela nossa área de
atuação e sua importância dentro da
Cardiologia nacional.
Essas novas diretrizes, importantes
para atingir o nível de excelência que
todos nós almejamos para a Cardiologia Intervencionista, necessitaram
da profunda dedicação dos colegas
envolvidos em sua execução, que em
reuniões presenciais e em inúmeros
contatos eletrônicos trocaram idéias
e debateram pontos de conflito. Isso
até atingir um consenso que, seguramente, nos fornecerá importantes informações para a formação profissional e a execução de nosso trabalho.
Tive a satisfação de coordenar o módulo de qualificação dos Centros de Treinamento, que contou com a participação
de experientes intervencionistas de diferentes Serviços, possibilitando a criação
de diretrizes abrangentes e justas. Estas
visaram, fundamentalmente, a proporcionar a melhor formação profissional possível a todos aqueles que optaram pela
nossa área de atuação. Gostaria de deixar meu sincero agradecimento a todos
os participantes por mais essa demonstração de amizade e competência.
Finalizando, parabenizo a Diretoria da
SBHCI por mais essa excelente iniciativa,
que ajudará a nos posicionar de forma
clara e estruturada perante a comunidade médica e a sociedade brasileira.
* Editor das Diretrizes sobre Qualidade
Profissional e Institucional da SBHCI
Jornal da SBHCI
25
ASSOCIATIVISMO
presidente da Regional
Rio de Janeiro da SBHCI fala de
sua plataforma de trabalho
D
já está trabalhando no sentido de manter e
estimular todos os projetos de Educação
Continuada de nossa gestão.
esde junho último, a Sociedade
de Hemodinâmica e Cardiologia
Intervencionista do Estado de
Rio de Janeiro (SOHCIERJ), Regional
da SBHCI, tem novo presidente. Tratase de Esmeralci Ferreira, cardiologista
intervencionista da Clínica Status Cor
e dos hospitais Mario Lioni, ProntoCor
e CardioBarra. Nesta entrevista, ele fala
um pouco da situação da entidade e dos
planos para a gestão recém-iniciada.
Como funciona a Sociedade de
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Rio de Janeiro
atualmente?
A Regional está muito bem estruturada,
graças à boa união de todos os intervencionistas do Rio e ao excelente trabalho
de seus ex-presidentes e respectivas Diretorias.A Diretoria realiza reuniões mensais e a cada bimestre há encontros científicos e confraternização entre os sócios.
Quais os planos da nova Diretoria
para a Regional?
A primeira meta é aumentar a participação dos intervencionistas mais jovens. A
atual Diretoria já é composta de maioria
jovem. Queremos maior presença desses
colegas nas atividades científicas bimestrais,
além de estimular suas atividades acadêmicas. A despeito de nossa SOHCIERJ ser
bastante presente, os novos precisam ter
sempre mais oportunidades e chances de
se tornar participativos. Acredito que uma
Sociedade se fortalece quando se renovam
os formadores de opinião. Outros desafios
importantes são a busca de maior integração científica dos Serviços, estimulando as
boas práticas clínicas, e o crescimento do
número de registros na Central Nacional
de Intervenções Cardiovasculares (Registro CENIC). Vamos estimular os jovens,
mas também queremos manter a tradição
dos que edificaram a Regional, escrevendo
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
nossa história. Por exemplo: o primeiro
Congresso de Intervenção para o Clínico
foi realizado de forma pioneira em 1995, no
Hotel Glória. Esses fatos mostram uma entidade atuante e integrada aos colegas e aumenta a responsabilidade desta Diretoria
Quais os principais desafios a enfrentar?
Os desafios são muitos, assim como as responsabilidades.A começar pela manutenção
do elevado nível de nosso evento regional
de maior destaque, o Simpósio de Intervenção para Cardiologistas Clínicos, que é realizado em meio ao Congresso da Sociedade
de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro
(SOCERJ). Já em sua décima edição, essa
iniciativa, de notável repercussão no Rio,
permite grande intercâmbio de idéias entre intervencionistas, clínicos e cirurgiões.
Outro desafio é a estruturação de nosso
website (www.sohcierj.org.br), que, apesar
de recém-inaugurado, precisa ser colocado
em pleno funcionamento. Os itens mencionados fazem parte de um desafio maior, ou
seja, a aproximação associativa com o cardiologista clínico, que tem, a cada edição dos
congressos e das reuniões, maior participação e responsabilidade nas discussões. José
Ary Boechat, diretor científico da Regional,
O que a Diretoria reserva para as
áreas de Defesa Profissional e de
Educação Continuada?
São áreas de grande importância para as
Sociedades. A Defesa Profissional é um
relevante mecanismo de união e fortalecimento da especialidade, e o Programa
de Educação Continuada (PEC) acrescenta às regionais o respaldo técnico e
científico da SBHCI. No Rio de Janeiro,
a participação da SBHCI no Congresso
Regional foi vista com grande impacto
positivo. É uma alegria mútua.
Qual a situação atual da Cardiologia Intervencionista no Rio?
Graças à união com os cardiologistas clínicos, a situação é muito boa. A credibilidade do intervencionista foi mantida, pois as
condutas, na maioria dos Serviços, sempre
são analisadas de forma multidisciplinar, o
que ajuda muito na interface do intervencionista com os convênios. O número de
procedimentos de intervenção não sofreu
queda significativa. No Sistema Único de
Saúde (SUS), a despeito das dificuldades
inerentes do próprio sistema, observamos
que a intervenção já é uma grande opção
em relação à revascularização cirúrgica.
O bom resultado, hospitalar e tardio, que
o cardiologista clínico tem obtido com a
intervenção corrobora a indicação em um
número cada vez maior de pacientes.
Quais as perspectivas para os especialistas do Estado do Rio de Janeiro?
As perspectivas são as melhores, e a principal é que nossa cidade já se prepara
para recebê-los, em junho de 2009, para o
XXXI Congresso da SBHCI e o XV Congresso da Sociedade Latino-Americana de
Cardiologia Intervencionista (SOLACI).
Mundo médico
SBC expressa no CFM apoio
a pleito da SBHCI sobre
procedimentos vasculares
Em carta enviada ao Conselho Federal de Medicina, no fim de agosto,
a Sociedade Brasileira de Cardiologia registra sustentação irrestrita
às reivindicações de nossa área de atuação. Veja o teor do documento.
1.785/2006, em que vários especialistas
compartilham esses procedimentos.
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2008.
Dessa forma, ratificamos integralmente
a posição da SBHCI no que tange à legitimidade de atuação dos cardiologistas intervencionistas nos procedimentos de diagnóstico (angiografias) e tratamento (angioplastias) no leito vascular extracardíaco.
Conselho Federal de Medicina
Comissão Mista de Especialidades
Dr. Roberto Luiz D’Ávila
Vice-Presidente
Coordenador de Comissões e Câmaras Técnicas
Prezado dr. Roberto D’Ávila,
Por fim, compartilhamos o anseio esposado pela SBHCI, quando conclama
o digníssimo presidente do CFM, Edson
de Oliveira Andrade, a mediar o entendimento entre os especialistas envolvidos nesta altercação no
sentido de uma solução definitiva, que contemple as aspirações das várias partes arroladas.
Antonio Carlos P. Chagas,
presidente da SBC
Reportamo-nos a V.S. em atenção à solicitação
feita pela insigne Comissão Mista de Especialidades (CME) a esta Sociedade acerca da legitimidade de atuação dos cardiologistas intervencionistas em procedimentos
diagnósticos (angiografias) e terapêuticos (angioplastias) no
leito vascular não-coronariano ou extracardíaco, particularmente nos territórios carotídeo, renal e aortoilíaco.
Entendemos que tal solicitação visa a subsidiar consulta
que tramita, desde novembro de 2007, nesse egrégio Conselho
Federal de Medicina (CFM), feita pela Sociedade Brasileira
de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI),
departamento oficial da Sociedade Brasileira de Cardiologia
(SBC), que representa a área de atuação em deslinde. Assim,
temos a fazer as seguintes considerações:
Aproveitamos o ensejo para reiterar nossos sentimentos de
elevada consideração e estima.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Antonio Carlos P. Chagas
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia
1. Os procedimentos em epígrafe são regularmente executados por cardiologistas intervencionistas há vários anos, no Brasil, bem como em diversos outros países. Em âmbito nacional,
tal fato encontra-se respaldado na Portaria SAS no 210 de 15
de junho de 2004, do Ministério da Saúde, que trata do tema, e,
ainda, encontra previsão na Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM);
2. Esses procedimentos são também executados por médicos que integram as áreas de atuação Radiologia Intervencionista e Angiorradiologia, Angiorradiologia e Cirurgia
Endovascular, e Neurorradiologia;
3. Acrescentamos que a atuação do cardiologista no
diagnóstico vascular extracardíaco já é reconhecida
por essa douta CME, no que concerne à área de atuação Ecografia e Doppler Vascular, Resolução CFM no
Jornal da SBHCI
27
PIONEIRISMO
Da Radiologia à Cardiolo
trajetória de realiz
foram Nilo Medeiros, professor cardiologista de Porto Alegre, e Siguemituzo Arie,
do Instituto do Coração (InCor) de São
Paulo. Como hemodinamicista, não posso deixar de destacar que fui treinado
pelo professor Melvin Judkins, nos Estados Unidos, um dos criadores da técnica
de diagnóstico de doenças coronárias”.
Luis Maria Yordi
conta como a vida
o guiou em direção
à Cardiologia
Intervencionista
N
ascido em Rivera, no Uruguai, Luis
Maria Yordi chegou ainda criança
ao Brasil, fixando-se em Porto
Alegre, no Rio Grande do Sul. Não sabe
por que decidiu ser médico. Assim foi.
Formou-se em 1966 pela Faculdade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do
Sul, e concluiu residência em Radiologia
na Santa Casa de Porto Alegre.
Naquela época, no início da década
de 70, estava sendo fundado o Instituto
de Cardiologia de Porto Alegre, para o
qual foi convidado, pelo professor Rubem Rodrigues, a ser o responsável pelo
setor de Radiologia. Começava aí sua
aproximação com a nova especialidade.
“Foi a partir de então que me aproximei da Cardiologia e acabei obtendo
formação nessa área. Depois disso, fui
para os Estados Unidos para um treinamento em intervenções (Cardiografia). Também freqüentei um serviço em
Oslo, na Noruega. Na volta, passei a me
dedicar exclusivamente ao diagnóstico
invasivo das doenças cardiovasculares.
Desde essa época, sempre trabalhei junto com cardiologistas altamente qualificados, o que, certamente, foi fundamental para meu progresso nessa área.”
A mudança aconteceu de maneira
natural, por meio dos procedimentos
cardiológicos que Luis Maria Yordi realizava constantemente. Nessa transição,
bem como em toda sua trajetória, não
faltaram grandes mestres para se espelhar: “O primeiro foi um cardiologista de
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
Luis Maria Yordi
Santa Maria, Eduardo Rolim, que foi meu
professor. Outros dois radiologistas que
me influenciaram, ambos com grande experiência em Radiologia do coração em
Porto Alegre, foram os professores Ney
Ferreira e Natan Roitman. Já na Cardiologia, duas pessoas muito importantes
Procedimentos
extracardíacos
Com os avanços da Medicina e o surgimento de especializações cada vez
mais específicas, diversos procedimentos e subespecialidades acabam separados por uma tênue linha, muitas vezes
difícil de visualizar. É o caso dos procedimentos extracardíacos, realizados com
propriedade e afinco tanto por cardiologistas como por radiologistas e, mais
recentemente, cirurgiões vasculares.
Para um médico que carrega em seu
currículo ambas as especialidades, como
é o caso de Luis Maria Yordi, o assunto
Equipe de Cardiologia Intervencionista do Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, 1996. Da esquerda
para a direita, Carlos Roberto Cardoso, Clacir Staudt, Vasco Müller, Luis Maria Yordi e Aldo Duarte
PIONEIRISMO
ogia, uma
zações
não é tão delicado quanto parece.
“A meu ver, em breve assistiremos ao
surgimento de uma nova especialidade.
Em um futuro próximo, certamente se
definirá uma nova área de intervenções
endovasculares em todo o corpo humano. No momento, realiza o procedimento quem estiver habilitado.”
Luis Maria Yordi explica que a iminência de uma nova especialidade está relacionada ao nível de preparo e dedicação
que tais procedimentos exigem. Segundo
ele, da mesma maneira que para o radiologista é difícil estar completamente apto
para intervir em coronárias, para o cardiologista é complicado, por exemplo, a
intervenção na área da Neurologia.
“Os cardiologistas estão realmente
se preparando cada vez mais para as intervenções não-cardíacas.Veja o caso da
endoprótese de carótida, que foi desenvolvida em um centro de Hemodinâmica.
Já os radiologistas se envolvem cada vez
mais com novos métodos diagnósticos
não-invasivos, como tomografia multislice, PET Scan ou ultra-sonografia. Conseqüentemente, perdem o interesse por
essa área, que requer muita dedicação e
atenção aos pacientes.”
Para os estudantes com inclinação para
seguir o mesmo caminho, fica o conselho
de quem o conhece bem: “Ainda faltam
no Brasil centros para treinamento em
procedimentos não-cardíacos. Assim, para receber um bom treinamento nessa
área, é necessário escolher com muito
cuidado onde fazer a formação.”
SBHCI e a especialidade
Independentemente de algumas dificuldades, o cardiologista vê a especialidade
com otimismo. “A Cardiologia Intervencionista tem um futuro promissor. Hoje,
por exemplo, estamos incorporando a
Da esquerda para a direita, Carlos Roberto Cardoso, Luis Maria Yordi, professor Melvin Judkins
e esposa, e professor Figueiredo Pinto, em 1984 (Loma Linda University, Califórnia, Estados Unidos)
troca de válvulas cardíacas. Seguramente, a
terapia gênica e as células-tronco também
estarão nas mãos dos intervencionistas.”
Especificamente sobre a SBHCI, Luis
Maria Yordi é só elogios: “Nossa Sociedade sempre foi muito bem gerenciada.
Desde o início, quando éramos ainda um
grupo pequeno, até os dias de hoje, um
grupo maior embora não excessivamente
grande, todos se conhecem e praticamente não existem áreas de atrito entre nós”.
Sobre o futuro, apóia os caminhos escolhidos pela atual Diretoria. “O associado vem sendo priorizado tanto pelo desenvolvimento de programas científicos
como no acesso a revistas e a facilidades
contidas no portal da entidade. É uma
direção bastante aberta, acessível, como
sempre tem sido. Sugiro à atual direção
que se crie um sistema de qualificação dos
Serviços de Hemodinâmica.Também seria
interessante disponibilizar uma assessoria
aos associados na compra de material e
equipamentos, bem como pressionar as
firmas fornecedoras para que proporcionem melhor assistência técnica.”
Ele se despede, deixando aos leitores
uma sugestão: “Dentro da literatura da
língua portuguesa moderna, sugeriria que
dessem uma olhada nas obras de um autor
chamado Mia Couto, médico e biólogo de
Moçambique. Moderno, escreve de maneira muito bonita e aborda, muitas vezes, temas correlatos ao exercício da Medicina”.
Vale conferir.
Um pouco de
descontração
Pai de duas filhas, que atualmente residem nos Estados Unidos, Luis Maria
Yordi despende suas poucas horas livres
em seu principal hobby, a leitura. “Não
tenho pretensão de ser escritor, mas
sou um obstinado leitor. Tenho fixação
em coletar livros, sejam eles de história
da Medicina ou de literatura geral.”
Jornal da SBHCI
29
Tendências
Desafios da Qualidade e Assistência P
Emílio César Zilli*
O
mundo assiste, a cada dia, à queda
dos velhos paradigmas! A dinâmica
global impõe a todo momento novas questões, novas querências e novos
valores. A Medicina é chamada cada vez
mais a assumir um papel que só existia
em nossas fantasias. A ciência que minorava a dor, que aplacava as doenças e
que, às vezes, curava começa a exercer
a tarefa de não mais somente evitar a
morte, mas de prolongar a vida e, o mais
importante, de prolongar e melhorar a
qualidade de nossa existência.
Se faz claro que tal tarefa não pode
ser levada a contento situada dentro dos
antigos padrões tradicionais e acadêmicos de uma Medicina apenas curativa. A
evolução prevencionista carrega em si
mesma uma multivariedade disciplinar
que jamais sonharíamos há poucos anos.
A expansão do conhecimento médico se
faz em proporção geométrica e a cada
três anos duplica o conteúdo de informações. Técnicas universalmente aclamadas
como revolucionárias nascem e se obsoletam no período de uma década.
Qualidade. Esta é a palavra do momento:
Qualidade de vida! Qualidade de ensino!
Qualidade de aprendizado! Qualidade profissional! Qualidade assistencial!
Cada um de nós, seres humanos, inquilinos deste vasto condomínio que chamamos Terra, tem a esperança de uma
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
vida saudável, da felicidade plena, da paz
interior. Vivemos a busca de um mundo
mais justo e melhor, livre da dor física e
espiritual. Mas com o naufrágio da maioria das expectativas seculares, a Medicina
se transforma na grande esperança. O
problema é que, para ser exercida em sua
plenitude, não pode dispensar os médicos,
seres humanos tecnicamente qualificados, mas também personagens de todos
os parágrafos anteriores. E esses profissionais precisam ser qualificados, treinados, amparados com o melhor potencial
acadêmico, tecnológico e assistencial de
forma tal que estejam aptos ao exercício
profissional e suas expectativas.
Exemplo de tudo isso ocorre com a
Cardiologia. Talvez, entre tantas formas
do praticar médico, seja essa atividade
uma das que mais e maiores paradigmas
modificaram nas últimas décadas. Quem
não se recorda, e não faz muito tempo,
do “arsenal terapêutico” que existia para
tratar hipertensão arterial, por exemplo?
Diuréticos, cloridrato de papaverina, reserpina e a promissora alfa-metildopa. E o
tratamento do infarto agudo do miocárdio? Vasodilatadores (poucos), dipiridamol,
tranqüilizantes e repouso, muito repouso,
quase duas semanas (ou três) de “repouso
total no leito”. Muito pouco se imaginava
ainda sobre betabloqueadores, antiagregantes, inibidores da enzima de conversão,
cirurgia de revascularização miocárdica
ou angioplastias. Stents? O que será isso?
E pensar que isso tudo aconteceu ainda
durante o viver de apenas uma geração de
jovens (na época) médicos como eu.
Nas duas últimas décadas, vimos avançar
de forma avassaladora as novas técnicas
diagnósticas e terapêuticas. De um cardiologista não mais se admite que não esteja
em total sintonia com os mais recentes
avanços de ressonância nuclear magnética
(RNM) cardiovascular, das maravilhas dos
cateteres ultra-sônicos, da tecnologia das
células-tronco ou do mais novo dispositivo
para tratamento endovascular coronariano.
E é o correto, afinal, é sobre esse profissional que convergem todas as nossas esperanças de melhor qualidade de vida.
Mas não é fácil. Integrar todas as variáveis de conhecimento, treinamento, aptidão
e exercício profissional tem se tornado o
grande desafio de cada jovem que se habilita nessa prática. E principalmente das sociedades de especialidades. Estas merecem
um capítulo à parte, quando se escreve sobre a moderna Medicina. Antes, suas finalidades cotejavam o campo científico e seus
desdobramentos acadêmicos. Hoje, mais
do que nunca, novas tarefas vão se agregando a suas atividades.A permanente atualização profissional, a revalidação do título
de especialidade, a valorização profissional,
a intermediação com os convênios e até a
normatização das áreas de atuação interespecialidades se fazem necessárias.
Realmente é um enorme desafio! Recentemente, dados divulgados por parlamentares integrantes da Frente Parlamentar de
Saúde nos informavam que os médicos
estão cada vez mais se filiando a suas sociedades de especialidades em detrimento
a seus sindicatos e/ou associações de classe. Esse dado, ainda recente para uma análise definitiva, já mostra pelo menos uma
tendência. Os médicos estão confiando e
apostando cada vez mais em um novo corporativismo: o técnico-profissional. Pode
parecer que esses dois substantivos sejam
sinônimos, mas, nos tempos modernos, na
Medicina moderna, na Cardiologia atual
são complementares.
O profissional contemporâneo reconhece que sua permanência em um mercado altamente exigente e competitivo
necessita de uma atividade embasada em
ciência, desenvolvida em educação permanente e amparada em sua prática. As sociedades de especialidades, por sua vez, se
tornam gradual e paulatinamente o porto
seguro para suas angústias e solicitações.
Neste momento, a Sociedade Brasileira
de Cardiologia (SBC) atua cada vez mais
em campos como defesa profissional, políticas públicas de saúde cardiovascular, discussão de diretrizes com seguradoras e
cooperativas, certificação e revalidação de
título de especialista e em diversas outras
atividades, interagindo com a Associação
Médica Brasileira (AMB). Outro campo de
atuações envolve a Sociedade Brasileira
de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), por meio de seus
departamentos científico, de qualidade
Tendências
Profissional da SBC e da sbhci
profissional e de títulos de especialista. Sociedade esta, aliás, que, em minha opinião,
vem desenvolvendo de maneira exemplar,
por intermédio de seu presidente e de
seus diretores, tais atividades.
Estaremos prontos para o tamanho dessas questões? Só o tempo responderá! Mas
de uma coisa estou certo. Parodiando uma
frase que vem sendo cada vez mais ouvida
por aqui: “Nunca, jamais, em tempo algum
as sociedades tiveram que trabalhar tanto
e tão arduamente na defesa da qualidade
do atendimento profissional em nosso
País”. E isso em nome de nossos médicos e
de nossos pacientes e da melhor qualidade
da saúde cardiovascular no Brasil.
Tenho a certeza de que são novos tempos. A certeza de grandes desafios. Mas
tenho também a certeza de que procuraremos todos, médicos e sociedades, estar
à altura da busca pela melhor qualidade de
vida cardiovascular do povo brasileiro!
* Diretor de Qualidade Profissional da SBC
Luiz Antonio Gubolino*
A
Hemodinâmica,inicialmente,era uma
área da Cardiologia estritamente de
caráter diagnóstico invasivo. Atualmente, além dos procedimentos diagnósticos, a terapêutica invasiva das afecções
cardiovasculares tornou-se a essência das
atividades dessa área de atuação.
A SBHCI, em seus mais de 30 anos de
existência, tem passado por um crescimento societário de destaque, hoje atingindo
quase mil associados. Acompanhando essa
evolução societária, somada à ampliação
dos procedimentos em seu campo de atuação, os desafios assistenciais e profissionais tornaram-se inevitáveis e freqüentes.
A gestão atual tem dado atenção especial à questão da Qualidade Profissional,
tentando identificar os principais pontos
em desalinho que possam comprometer o
bom desempenho assistencial e profissional dos associados. A leitura momentânea
visualiza os mesmos desafios relacionados
ao exercício da profissão médica como um
todo, já evidenciados pelas demais especialidades e áreas de atuação médica.
Questões como remuneração do trabalho médico, restrições à prática livre da Medicina, homologação do Ato Médico, financiamento da Saúde pública e da Assistência Suplementar de Saúde, banalização da
profissão sem o referencial de Qualidade
Profissional reconhecido e valorizado e, especificamente em nossa área de atuação, o
compartilhamento de procedimentos afins
a outras especialidades são integrantes de
um arsenal de desafios que têm promovido a inquietude de toda a classe médica,
principalmente de nossos associados.
Como exemplo explícito e evidente,
diariamente acompanhamos o problema
da política de Saúde Pública, que prega a
assistência integral e plena à população,
conflitando com a argumentação governamental da limitação de recursos para o
financiamento da assistência à Saúde nos
moldes de nossa Carta Magna. Nesse
fogo cruzado estão os nossos procedimentos, classificados como de Alta Complexidade e Alto Custo, que passam a ser
alvo direto da contenção de gastos, que
resulta na limitação do atendimento e na
restrição do incremento de novas tecnologias em benefício do paciente.
Secundário ao congestionamento e à
lentidão da assistência médica pública, surgiu a Assistência Suplementar à Saúde, que
congrega um contingente de quase 50 milhões de usuários. Atualmente regido por
normatização criada e monitorada pela
Agência Nacional de Saúde (ANS), esse sistema inclui cooperativas médicas, sistemas
de auto-gestão em Saúde, seguradoras de
Saúde, Medicina de grupos, etc. Com política de contenção de custos semelhante à
estatal, conseqüente ao encarecimento da
assistência à saúde e à limitação do repasse
dos reajustes financeiros aos beneficiários,
as empresas de Saúde Suplementar rapidamente têm intensificado seus controles
nos gastos com procedimentos de Alto
Custo, e, mais uma vez, os procedimentos
intervencionistas cardiovasculares são alvo
de privações, muitas vezes interferindo diretamente na qualidade assistencial.
Além das interferências no exercício
profissional qualitativo, a valorização do
reembolso do trabalho médico mostra-se
um grande desafio. Reconhecidamente defasadas, as tabelas que contemplam os valores dos honorários médicos estão desatualizadas e as mais recentes (Classificação
Brasileira Hierárquica de Procedimentos
Médicos – CBHPM) nem sempre são reconhecidas pelas fontes pagadoras. Essa luta
pela readequação, pelo reconhecimento e
pela valorização do trabalho médico tem
sido intensa e quase insana por todos os
segmentos da classe médica, e não menos
pela SBHCI, porém a perseverança deve
ser ação primordial dessas entidades e de
cada um dos seus associados.
A qualidade assistencial e do profissional
deve ser foco constante nas políticas societárias, assim como a elaboração de referências de condutas médicas, profissionais e
institucionais também deve fazer parte das
gestões societárias, para que, por meio da
formatação e de atualizações de diretrizes
clínicas e de conduta profissional, os associados possam manter a coerência e a homogeneidade de sua prática médica diária.
Os desafios assistenciais são enormes, o que implica o esforço de várias
camadas da comunidade cardiológica, em
que o compartilhamento do trabalho é
inevitável e a integração e o apoio de
nossa matriarca, a Sociedade Brasileira
de Cardiologia (SBC), é imprescindível.
Felizmente, essa união societária é, agora,
ainda mais forte e notavelmente nossos
caminhos têm trilhado num sentido comum e sabiamente promissor.
* Diretor de Qualidade Profissional da SBHCI
Jornal da SBHCI
31
balanço
AS conquistas E as perspectivas DO
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
de especialista, os profissionais de enfermagem poderão se associar mediante cadastro
e pagamento de anuidade, a qual servirá para
manutenção da nova entidade associativa.
Além dos eventos científicos, outros resultados poderão advir desse fomento, como
subsídios para a prova de títulos, manutenção do website, treinamentos e consultoria
na área. Cursos de atualização e extensão,
bem como publicação de literatura específica da área, estão sendo planejados.
Simone de Souza Fantin*
e Claudia Burigo Zanuzzi**
O
Departamento de Enfermagem da
Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
(DESBHCI) foi criado em 1996, liderado
por um grupo de enfermeiras com os
mesmos objetivos: congregar os profissionais da área, discutir temas de interesse em
comum, como a prática social, essencial na
assistência e na organização, além do funcionamento dos serviços de saúde. Desde sua fundação, esse departamento deu
grandes passos no que diz respeito a seu
engrandecimento associativo e a seu progresso científico e profissional.
Vinculado à SBHCI, é uma entidade sem
fins lucrativos, de caráter científico-cultural, cujo principal objetivo é a promoção de
eventos científicos, incentivando o desenvolvimento profissional de seus associados.
Muitos foram os eventos realizados juntamente com a Sociedade e a cada ano cresce
o número de enfermeiros atuantes na área
de Hemodinâmica, todos interessados em
contribuir e engrandecer a profissão.
No entanto, apesar dos avanços científicos e técnicos conquistados até aqui, muito ainda resta a ser feito. Numa sociedade
do conhecimento, em que as exigências de
educação são cada vez maiores, um indicador importante é o reconhecimento da
especialização de nossa atividade.
Pautado em princípios éticos e em conformidade com suas competências, a Diretoria do DESBHCI tem como principal objetivo, nesta gestão, o registro do estatuto
da Sociedade Brasileira de Enfermagem em
Hemodinâmica (SBEH), aprovado na Assembléia Geral Ordinária do Departamento de Enfermagem durante a XI Jornada
Brasileira de Enfermagem em Hemodinâmica, realizada em 2006, em Porto Alegre,
e o estatuto revisado e aprovado no ano
seguinte, em Brasília. Tais decisões atendem às exigências necessárias para tornar
possível a emissão do Título de Enfermeiro
Especialista em Hemodinâmica, visando à
incorporação desses profissionais e valoriano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
Simone de Souza Fantin
Claudia Burigo Zanuzzi
zando ainda mais a profissão e os serviços
de Hemodinâmica do País.
Outros objetivos são focados de modo a
estimular e valorizar a produção científica dos
enfermeiros, permitindo o planejamento de
ações a cada encontro científico e delegando
novas tarefas aos membros da Diretoria.
JURÍDICO
Em fase mais recente, a Assessoria Jurídica da SBHCI tem orientado a estruturação
e os aspectos legítimos para a conquista da
personalidade jurídica da Sociedade de Enfermagem, além de fortalecer nosso vínculo legal.Atualmente estamos ligados à SBHCI por
meio de seu estatuto, e, apesar da constituição
da SBEH, seguiremos como Departamento
de Enfermagem vinculado à Sociedade.
ANUIDADE
Com a Sociedade de Enfermagem legalmente vigente, além da implantação da prova
WEBSITE
Hoje, o Departamento de Enfermagem
tem toda sua divulgação disponível por
meio do website da SBHCI. Com link próprio, o profissional de enfermagem pode se
manter informado sobre as decisões das
reuniões de Diretoria, associar-se, acessar
eventos de enfermagem em todo o Brasil,
e ter acesso a outros links de interesse,
como legislação, protocolos e diretrizes
aprovadas relacionadas à Hemodinâmica.
CONSOLIDAÇÃO
Muitas são as oportunidades que os
membros do Departamento de Enfermagem têm experimentado no convívio e
referencial da SBHCI. Sempre contando
com o apoio da Diretoria da Sociedade,
no reconhecimento, incentivo e arrimo a
nossas atividades, temos solidificado nosso progresso, traduzido pela determinação
em ampliar o número de sócios, no anseio
de atualização, de crescente conhecimento científico e de qualidade assistencial,
que, aliás, têm sido constantes. Com base
na experiência e credibilidade dos profissionais da atual Diretoria do DESBHCI/
SBEH, garantimos que os ideais à promoção científica e à qualidade assistencial
continuarão sendo nossa preocupação e
motivo de empenho.
* Presidente do Departamento de Enfermagem
da SBHCI, enfermeira da Hemodinâmica
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, RS
** Vice-presidente do Departamento de
Enfermagem da SBHCI, enfermeira da
Hemodinâmica da Santa Casa de Curitiba, PR
Marcelo Queiroga*
A
Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), departamento oficial
de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista da Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SBC), tem, dentre outras
atribuições, a importante incumbência
de certificar os novos médicos interessados em ingressar em nossa área de
atuação. Essa prerrogativa, delegada pelas
entidades médicas maiores que regulam
a Medicina no Brasil, nos confere grande
responsabilidade, pois em última análise
somos os condutores do processo de
avaliação dos profissionais que assistem
à sociedade na especialidade.
Nesse contexto, igualmente, se insere a
necessidade de divulgação em área pública, disponível à sociedade em geral, para
livre acesso em nosso portal na internet,
do rol dos médicos que possuem o Certificado de Área de Atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.
Esse documento é fundamental para a
divulgação da habilitação e proficiência
nesse ramo da Medicina, sendo, assim,
um indicador objetivo para aferição por
parte de operadoras de planos de Saúde
e pacientes da qualificação mínima requerida ao cardiologista para o exercício
adequado de nossa especialidade.
Tal medida visa, sobretudo, a assegurar
aos que buscam uma formação comprometida, que, em nossa área, tem duração
mínima de seis anos, o direito de ter seu
nome inserido entre os que estão, realmente, aptos ao exercício da Cardiologia
Intervencionista, com o objetivo de precatar os interesses difusos e coletivos da
sociedade civil organizada.
Essa ação integra um conjunto de iniciativas engendradas pela atual Diretoria
da SBHCI na consecução de uma política
de valorização e qualificação da formação dos especialistas em Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista, hoje área
de atuação reconhecida pelo Conselho
Federal de Medicina e pela Associação
Médica Brasileira (CFM/AMB). Dentre
as várias ações merece realce especial a
reunião de um grupo composto por colegas de grande relevância societária para,
em conjunto com a SBC, elaborarem as
diretrizes para habilitação dos Centros
de Treinamento em Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista.
Esse documento representa um grande avanço nas ações de educação continuada de nossa Sociedade, uma vez
que junge todo o aparelho formador a
regras claras, que permitirão dotar os
atuais Centros de Treinamento credenciados, e os que, porventura, desejem
se credenciar, de um perfil educacional
adequado, ajustado às necessidades de
formação de especialistas aceitos pelas
mais prestigiadas sociedades internacionais de Cardiologia.
Em face da elaboração das diretrizes,
o Conselho Deliberativo, em março
do corrente, as definiu, a partir de então, como referência para a Sociedade,
através da Resolução SBHCI no 1/2008,
e, doravante, disciplinarão a política de
credenciamento dos Centros de Treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia
Intervencionista (CTHCI). Essa norma
estabelece, entre outras disciplinas, o
recadastramento dos atuais Centros de
Treinamento, com o escopo de adequálos às regras vigentes.
No desiderato acima, hoje dispomos
de uma angiografia perfeita do status
quo da formação em Cardiologia Intervencionista no Brasil. Dessa forma, será
possível a adequação de rumos em busca
da melhor maneira de formar os futuros
cardiologistas intervencionistas.
Certificado de Área de Atuação
Política da SBHCI para Formação,
Certificação e Divulgação à
Sociedade dos Cardiologistas
Intervencionistas
Atualmente, dispomos de 45 Centros
de Treinamento credenciados, onde 84
estagiários, sendo 46 no primeiro ano e
38 no segundo, realizam sua formação.
Esses colegas, acrescidos dos que, lamentavelmente, ainda não lograram êxito ao
se submeter ao processo de avaliação
para obtenção do Certificado de Área
de Atuação, compõem o contingente de
possíveis especialistas que serão disponibilizados à sociedade.
A Diretoria, o Conselho Deliberativo
e a Comissão Permanente de Certificação estão vigilantes no aperfeiçoamento do processo de formação e certificação dos novos especialistas, constituindo-se em uma das missões pétreas
societárias, prioridade inarredável da
atual administração.
As Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Qualidade
Profissional e Institucional, Centro de
Treinamento e Certificação Profissional
em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista representarão o corolário
dessas ações e, seguramente, serão de
grande importância para o conjunto da
Cardiologia Intervencionista brasileira.
* Diretor Administrativo da SBHCI
Jornal da SBHCI
33
DUPLO OFÍCIO
Medicina & Direito
Os cardiologistas
intervencionistas que também
atuam no mundo das leis
M
aria do Rosário de Britto Leite é cardiologista intervencionista, graduada
em Medicina no Recife, há 25 anos,
pela Universidade Federal de Pernambuco.
É sócia titular da SBHCI, compondo a Diretoria de Qualidade Profissional na gestão
2006/2009. Recentemente, foi graduada bacharela em Direito pela Universidade Maurício de Nassau, no Recife, Pernambuco.
La Hore Rodrigues é cardiologista intervencionista, formado em Medicina pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas
de Porto Alegre, em 1969. É membro titular
da SBHCI e já fez parte do Conselho Deliberativo de nossa Sociedade. Nos idos dos
anos 80, ingressou na Faculdade de Direito da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde se formou. Há duas
décadas conhece os benefícios do conhecimento jurídico em sua vida profissional.
O Jornal da SBHCI entrevista Maria do
Rosário de Britto Leite e La Hore Rodrigues
para conhecer suas experiências e aptidões
nessas fascinantes profissões liberais.
Maria do Rosário
de Britto Leite
Existe um ramo específico de Direito Médico?
O Direito Médico ainda não está firmado
como ramo autônomo do Direito, como
ocorre, por exemplo, com o Direito do Consumidor e o Direito Ambiental. O termo Direito Médico, inicialmente, nos leva a pensar
na regulação das condutas do profissional de
Medicina, uma vez que o Direito é um normatizador das relações humanas. Contudo,
o Direito Médico, que, diga-se de passagem,
vem se firmando como Direito Autônomo,
tem objeto próprio, “o homem como ser
humano e com direito a uma vida saudável”.
Nesse sentido, pode ser compreendido não
como um direito privado, de responsabilidade
civil do médico simplesmente, mas também
como direito público, constitucional, que prevê como responsabilidade do Estado prover
condições de bem-estar e saúde à população.
Pelo exposto, podemos entender que a saúde
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
Maria do Rosário de Britto Leite
não é uma questão de exclusiva responsabilidade médica, mas de toda a sociedade, que
deve ficar atenta para exigir mais e melhores
condições de atenção a tal bem da vida.
Por que o Direito Médico é, com freqüência, comentado e motivo de diversos fóruns?
O Direito Médico surge como conseqüência
de demandas e ações judiciais que questionam o exercício profissional do médico. Por
essa razão, o exercício da Medicina tem sido
associado a crescente angústia e momentos
de tensão. Como profissão, a Medicina talvez
sofra cobranças sociais de forma especial,
pois a atividade diz respeito à promoção de
saúde, um bem individual, mas também de
interesse coletivo. Quanto às regras de Direito, podemos dizer que a atividade médica
é contemplada e protegida pelo ordenamento jurídico brasileiro, este também aplicado
a todos os cidadãos e a qualquer profissional liberal. O que não pode ser esquecido
é que o serviço médico prestado constitui
atividade com a obrigação de realizar todos os meios para melhorar e alcançar a
saúde, mas não há como garantir os resultados. Há, sim, a obrigação, por parte do
profissional médico, de agir com cuidado,
de adquirir formação para o que se propõe
fazer e de não extrapolar nas atitudes sem
fundamentação. Somente se for comprovado que não agiu da maneira correta, e se
por essa razão ocorrer dano
ao paciente, o médico será
responsabilizado.
Esse ramo do Direito já
é uma disciplina para os
alunos de graduação?
Até o momento, a disciplina
não existe de forma específica, sendo, em parte, colocada na disciplina de Responsabilidade Civil. O Direito Médico tem sido tratado em cursos como uma
disciplina de pós-graduação
stricto sensu e lato sensu.
Recentemente, fui convidada a ministrar
a disciplina sobre aposentadoria para médicos em um curso de pós-graduação, na
especialidade de Direito Médico. É digno
de nota que esse emergente ramo do Direito passa a ser abordado preocupandose inclusive com o próprio médico como
detentor de direitos, como qualquer cidadão. Outro aspecto interessante é que os
cursos de pós-graduação são destinados
tanto a juristas como a médicos.
Como explicar a afinidade por profissões tão distintas, de áreas diferentes até no vestibular?
É possível que, por diferentes razões, se ingresse no curso de Direito. Uma das razões,
e considero uma das minhas, é procurar essa
formação como meio para alcançar a justiça. No que pode parecer tão distinto, digo
que encontrei muitas afinidades, quais sejam:
no Direito falamos de sistema, conjunto do
qual fazem parte órgãos que se inter-relacionam, e na Medicina o objetivo é cuidar
do ser humano, que compõe um sistema
cujos órgãos também se inter-relacionam; o
juiz precisa decidir prolatando sentenças, o
que é uma prescrição, e cuja desobediência
repercute em sanção, e o médico, por meio
da prescrição, procura resolver problemas e
a não atenção à prescrição gera a sanção na
própria saúde; o juiz, ainda que não esteja
convicto, é obrigado a prolatar sentenças,
de os colegas terem advogados há tempos
e me procurarem para pedir auxílio sobre a
causa em que estão envolvidos. Tenho conseguido tornar a linguagem jurídica acessível
para o médico, afinal é algo que não faz parte
do dia-a-dia do profissional de Medicina.
Com a visão desses dois mundos,
qual seu conselho, como jurista, para
os colegas médicos?
Nem sempre é possível se graduar nas duas
profissões, também nem sempre é possível
cumprir a exigência que nos é imposta, de
conhecer a lei, na verdade a imensidão do
conjunto de normas que nos regulamenta.
Recomendo pensar e agir como muitas vezes orientamos nossos pacientes:
• Faça avaliação de saúde. A prevenção é
fundamental, pois nem sempre será possível curar a doença estabelecida; quanto
mais cedo for detectado o problema, provavelmente mais fácil será a solução.
• Faça prevenção de seus atos médicos.
A orientação de um jurista pode prevenir
um problema, ajudar a saná-lo se detectado no início, e ajudar a proteger também a
saúde do profissional médico.
Acredita que os médicos têm pouca
preocupação com questões legais?
Quem deve defender o profissional
de Medicina: ele próprio ou a instituição a que está vinculado?
O médico tem uma característica milenar:
preocupa-se somente em atender bem o
paciente. Ele se entrega a isso e pouco observa seu cenário de atuação. Existem dispositivos, recomendações e resoluções dos
conselhos de Medicina e das próprias sociedades de especialidades que servem como
material de orientação. Assim, os médicos
devem, sem dúvida, reservar um tempo para
observar mais as questões legais, até mesmo
para que possam ter uma Medicina dentro
dos padrões administrativos, econômicos e
legais estabelecidos. Sobre a questão da defesa em eventuais ações, a melhor recomendação é ter um bom advogado. Aliás, muitas
sociedades de especialidades têm sua consultoria jurídica, com advogados acostumados a lidar com assuntos da Medicina.
La Hore Rodrigues
Após anos de atividade assistencial e
associativa na área médica, o que o
motivou a cursar Direito?
Eu me formei em Direito em 1988, na metade da minha vida profissional na Medicina. A necessidade de uma formação mais
abrangente como médico e a busca de
conhecimento jurídico, pois à época fazia
parte do Conselho Regional de Medicina
do Rio Grande do Sul, foram os motivos
que me fizeram ingressar na Faculdade de
Direito. Sentia necessidade de agrupar o
embasamento e de sistematizar o conhecimento do mundo das leis, juntamente
com uma visão mais abrangente do ser
humano, que é físico e jurídico.
Essa formação diferenciada mudou
algo em sua vida?
Foi interessante. Com relação à sociedade
médica e a meus colegas, essa formação tornou-se um diferencial. Isso me permitiu certas
observações, passei a desempenhar algumas
atividades relacionadas apenas ao universo
jurídico. Além disso, me proporcionou uma
interface, uma grande facilidade para conversar com juízes e advogados e até mesmo
para entender melhor nossos códigos, não só
o Código de Ética Médica como também os
estatutos societários. Acontece muitas vezes
Em um país com inúmeras carências, como o Brasil, qual a receita
para exercer uma Medicina sem se
expor às fragilidades do sistema?
Os médicos devem ter o conhecimento das
ordens administrativas e legais, precisam conhecer bem os limites para não infringir as
La Hore Rodrigues
regras jurídicas. Também não podem deixar
que essas questões afetem sua prática. É um
caminho de duas vias e precisa haver muito
cuidado, porque, às vezes, uma situação administrativa pode criar problemas graves.
DUPLO OFÍCIO
sob pena do perecimento do Direito, e o
médico, muitas vezes, é obrigado a prescrever, ainda que o diagnóstico não seja completamente possível, sob pena de perecer a
saúde. Ambos, o Direito e a Medicina, visam
ao bem-estar do ser humano.
Já enfrentou algum problema complicado nessa área?
Se já passei por alguma situação desagradável? Já, sim. Acho que todo médico está
sujeito a isso. A minha providência foi buscar a orientação de um advogado. Meus
conhecimentos jurídicos facilitaram o diálogo com esse profissional, para discutir e
esclarecer pontos de vista.
O senhor tem reconhecida participação na vida associativa no Departamento de Hemodinâmica do Rio
Grande do Sul. No que a condição
de bacharel em Direito o auxilia e/
ou o prejudica?
Fui o médico fundador e idealizador do Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (DHCI) da Sociedade
de Cardiologia do Rio Grande do Sul (SBCRS). O conhecimento jurídico, como disse
anteriormente, me auxiliou muito porque,
quando tive a idéia de criar esse Departamento, pude montar toda a estrutura, tanto administrativa como jurídica. Já existiam
outros Departamentos da Sociedade de
Cardiologia, mas não havia regulamentação
jurídica em nenhum. Fui o responsável pela
elaboração do nosso estatuto e encaminhei,
de maneira muito ordenada, para o setor
jurídico da SBC-RS. Depois, apresentei esse
Departamento na reunião do Conselho Deliberativo da SBHCI e na ocasião abriu-se a
oportunidade de os outros Estados serem
representados no Conselho Deliberativo
por intermédio de instâncias semelhantes.
Assim, nosso Departamento abriu essa
possibilidade para todo o Brasil, ou seja, a
iniciativa do Rio Grande do Sul foi de suma
importância para o conhecimento e a orientação dos médicos de outras regiões.
Qual conselho dá aos jovens médicos?
Recomendo que tenham, primeiramente,
uma boa formação, porque é isso que o
preservará de qualquer demanda jurídica por imperícia. Eles devem observar as
normas do bom exercício profissional, pois
assim impedirão qualquer ação por imprudência. Enfim, sejam bastante caprichosos e
zelosos com seus pacientes, porque sendo
dessa maneira impedirão qualquer demanda por negligência.Terão um bom exercício
e adquirirão bom conceito profissional.
Jornal da SBHCI
35
Exclusivo
A cultura do Brasil
sob a regência do Maestro
Isaac Karabtchevsky
Em entrevista exclusiva para Amanda Sousa,
da Comissão Científica da SBHCI, o mestre
da arte erudita fala de música e de sua obra
N
ascido no Brasil, em 1934, o
maestro Isaac Karabtchevsky
é descendente de família russa.
Desde 2003, é diretor artístico
da Orquestra Nacional do Vale do Loire, na França. Por sua dedicação, transformou-a na orquestra francesa com o
maior número de assinantes atualmente
(11 mil), e recebeu, das mãos do ministro da Cultura francês, a medalha de Cavaleiro das Artes e das Letras.
É também diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) e
da Orquestra Petrobras Sinfônica, no
Rio de Janeiro, e, na Itália, é consultor
do Musica Riva Festival.
O maestro Karabtchevsky iniciou
a carreira como regente do Madrigal Renascentista, de Belo Horizonte,
sendo posteriormente diretor musical
da Orquestra Sinfônica Brasileira, por
26 anos, e do Teatro Municipal de São
Paulo. Sua carreira, então, já gozava de
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
unânime reconhecimento pelas marcantes atuações no Brasil, nos Estados
Unidos e na Europa.
Entre 1988 e 1994, foi regente titular
da Tonkünstlerorchester, de Viena, Áustria, com a qual fez várias turnês internacionais. Por sua atividade naquele país, foi
homenageado com a comenda Grande
Mérito à Cultura do governo austríaco,
sendo o primeiro brasileiro a recebê-la.
De 1995 a 2002, foi diretor musical do
Teatro La Fenice, de Veneza, Itália. Teve
suas principais interpretações naquela
casa editadas em CD (Mundo Música
– Munique, Alemanha), recebendo excelentes críticas da imprensa especializada.
Dirigiu diversas orquestras em importantes salas de concerto, entre as quais:
Concertgebouw (Amsterdã, Holanda),
Royal Festival Hall (Londres, Inglaterra),
Salle Pleyel (Paris, França), Carnegie Hall
(Nova York, Estados Unidos), Kennedy
Center (Washington, Estados Unidos),
Staatsoper (Viena, Áustria), Teatro Real
(Madri, Espanha) e Teatro Colón (Buenos Aires, Argentina).
O Jornal da SBHCI teve a honra de
ser distinguido com uma entrevista exclusiva dessa figura de escol da música
erudita do Brasil. Confira a seguir.
É correto pensar que a beleza musical
e os valores artísticos estão em direta
proporção ao aumento do número de
instrumentos em uma orquestra?
Absolutamente não. Cada obra terá
ou não valor pelo que ela é, e não pelo
fato de ter uma orquestra composta
por um número maior ou menor de
instrumentistas. Se esse fosse o critério, uma composição de Bach seria
uma obra menor?
Sem os intérpretes, a criação musical
permanece muda. Obviamente isso coloca um pesado ônus sobre os executantes. Em sua visão, o que diferencia o
perfeccionismo técnico da maestria de
execução artística?
A técnica foi sempre pensada como
um veículo a transportar um músico a
dimensões maiores. Nem sempre ela é
prioritária. Veja, por exemplo, a gravação
dos prelúdios de Chopin nas mãos por
vezes titubeantes do genial pianista Alfred Cortot. O ouvinte atento reconhece erros técnicos, mas que emoção!
O que o senhor busca, especificamente,
nos músicos das orquestras que dirige?
No comando de uma orquestra, com
elementos tão díspares, impõe-se a
Crê que o intérprete deve se tornar parceiro do compositor no ato de criação
ou recriação de uma obra, oferecendo
ao ouvinte interpretações diversas e,
ainda assim, válidas?
Depende do compositor e da obra
executada. Cada maestro pode interpretar uma obra de forma diferente e
todas podem ser válidas.
É de opinião que a interpretação deva
ser a mais próxima possível dos desejos
e idéias do compositor?
O problema é que algumas vezes se
torna difícil, pela ausência de informações contidas nas partituras, determinar exatamente os pensamentos de
alguns compositores. Essa ausência de
informação, intrínseca aos compositores do barroco e às indicações metronômicas de Beethoven, poderá levar o
intérprete a alguns exageros.
Acredita que alguma obra já atingiu sua
interpretação definitiva ou esse conceito é mítico?
Não existe interpretação definitiva, mas
acredito que um Furtwaengler, um Karajan e um Toscanini chegaram a interpretações próximas à perfeição.
processo de execução da obra musical.
Como surgiu essa figura central de direção interpretativa?
O advento da era industrial afetou a
fisionomia material e espiritual de metade do mundo. A produção gerada
pelas fábricas e grandes empreendimentos no âmbito mundial repercutiu
imediatamente no aumento das salas
de concertos e em suas respectivas
dimensões. A grande orquestra nasce,
portanto, dessa postura, e o que era
antes um pequeno conjunto dirigido
pelo spalla tem de recorrer à figura
de um organizador e disciplinador da
massa sonora, o tradicional maestro.
Acredita-se que os dias do regente tirânico e das batutas voadoras tenham
terminado. Como “ganhar” os músicos
de uma orquestra, trazendo-os ao campo de suas idéias, a seu modo de ver
a organização musical? Basta a força de
uma personalidade persuasiva?
Um bom maestro, além do óbvio talento, precisa ter carisma e liderança, e,
principalmente, estar sempre aberto ao
diálogo. Sem tais qualidades será quase
impossível comandar uma orquestra.
Como se tem buscado e reposto novos
talentos (compositores, músicos, maestros) para desenvolver a música erudita
num país como o nosso, em que há pouca
integração da música clássica ao cotidia-
no? As vocações acabarão por depender
somente das famílias ditas “musicais”?
Algumas famílias têm realmente uma natural predisposição para a música, como
outras têm para a medicina, para a engenharia, etc. Veja, por exemplo, os Menezes:
o pai era músico, o Antonio é nosso maior
violoncelo, e na Orquestra Petrobras Sinfônica, a OPES, temos o Gustavo, o Ricardo,
o Eduardo e o João, todos talentosíssimos.
Na família Prazeres, tivemos meu grande
amigo, o maestro Armando Prazeres, fundador da Orquestra Pró Música, que depois
transformamos na Orquestra Petrobras
Sinfônica; seu filho Carlos, que tornei meu
maestro assistente, além de ser também
excelente oboísta; e Felipe, grande violinista e nosso spalla. Na minha família, minha mãe foi cantora da Ópera de Kiev e
em nossa casa todos tocavam um instrumento. O Brasil é um país extremamente
musical e descobrimos talentos em todas
as camadas da população. Não acho que
os talentos provenham de uma elite.
Exclusivo
unidade de pensamento, aquela que
começa nas intenções do compositor,
passa pelo regente e pela orquestra e
é transmitida com absoluta convicção
para o público. Talvez seja esse o desafio maior, o de fazer com que todos
pensem e toquem juntos.
Qual seu conselho para a formação de
platéias ou para a conquista de um público de apreciadores da boa música,
tendo sido eliminada, há mais de três
décadas, a exposição regular dos jovens
à música (canto orfeônico, canto coral)
nos currículos escolares?
Temos lutado para que seja outra vez
implementado o estudo de música nas
escolas. Acreditamos que esse fato
Quais as funções reservadas ao spalla
(primeiro violino) da orquestra?
O spalla, como o nome diz, é o ombro
do maestro. É o que comanda a afinação da orquestra. Um bom spalla tem
uma função importantíssima, deve ser
sempre um líder.
Os solistas diminuíram sua variedade
estilística nos dias atuais?
Não creio, a variedade estilística continua existindo.
O maestro tem um papel central, de
grande importância e vitalidade, no
Jornal da SBHCI
37
Exclusivo
“
No comando de uma orquestra, com elementos
tão díspares, impõe-se a unidade de pensamento,
aquela que começa nas intenções do compositor,
passa pelo regente e pela orquestra e é transmitida
com absoluta convicção para o público
acontecerá muito em breve. Enquanto
isso, as orquestras sinfônicas espalhadas pelo País deveriam ter a função de
ir ao encontro do povo, como fizemos
por décadas com o Projeto Aquarius, do
jornal “O Globo”, agora também patrocinado pela Petrobras.
O uso terapêutico da música clássica foi atestado empiricamente. Já
se atribuiu às gravações de Mozart
o poder de estimular a inteligência
em fetos e de aliviar a dor do parto. Outras aplicações terapêuticas
foram sugeridas nas áreas de psiquiatria e geriatria. Isso é real ou
faz parte da propaganda?
Pesquisas mais aprofundadas devem ser
feitas. Em relação à psiquiatria e à geriatria, a lógica nos leva a acreditar na
potencialidade da música.
Os líderes de vendagem, de todos os tempos, foram os Beatles,
cujas vendas pela EMI são estimadas entre 1 e 1,3 bilhão de discos
– exatamente o mesmo que o to-
”
tal da música clássica. Os Beatles
parecem ter influenciado, nos
tempos modernos, mais que qualquer político, cientista, escritor
ou diretor de cinema. A gravação
da música clássica, como produto
cultural, teve impacto similar ao
longo do século?
Os Beatles foram e serão sempre um
fenômeno único, porque aliaram a um
fantástico desenvolvimento da melodia
o poderoso conteúdo de seus textos.
Eles não se restringiram a uma só geração e se perpetuaram como símbolos permanentes da comunicação por
meio dos sentimentos.
Considera válido revisitar a música
clássica, dando-lhe uma roupagem
popular?
Acho completamente desnecessário revisitar ou dar nova forma à música clássica. Uma obra de arte não se muda. Já
imaginou tornar as obras dos grandes
pintores e escultores do Renascimento
mais condizentes com o padrão estético das mulheres do século XX? Pense
no “Nascimento de Vênus” ou em “A
Primavera”, de Botticelli, na “Mona Lisa”,
de Leonardo da Vinci, ou mesmo nos
nus da Capela Sistina, de Michelangelo.
Quem ousaria cometer o sacrilégio de
modificá-los? O mesmo se dá em relação a Beethoven, Wagner, Bach, etc.
Há os que advogam, como Norman
Lebrecht, apresentador da Rádio
BBC 3, de Londres, Inglaterra, a
idéia de que a produção de discos
de música clássica sofre de doença
“
terminal, por não ser mais um negócio robusto e lucrativo. Compartilha dessa visão?
Se fôssemos por esse caminho, não teríamos mais orquestras sinfônicas, já que são
por natureza organismos deficitários.
Se fosse adquirir cinco obras musicais para ofertar a seu melhor
amigo e levá-lo instantaneamente
ao paraíso, quais escolheria? E se
quisesse punir o pior inimigo da
humanidade, com quais obras praticaria o ato justiceiro?
Para o meu amigo, certamente a Sinfonia no 40, de Mozart, a 5a e a 9a sinfonias
de Beethoven, e a 2a e a 9a sinfonias de
Mahler. A algum eventual inimigo, eu não
mandaria obras musicais.
Para finalizar, maestro, creio que
uma vida tão realizada e criativa
como a sua é acompanhada por
uma trilha musical. Na sua rotina,
qual é a música que não lhe “sai
dos ouvidos”, ou seja, qual é a trilha musical da sua vida?
Impossível responder, já que ocuparia todo o espaço da edição do seu jornal...
O Brasil é um país extremamente
musical e descobrimos talentos em
todas as camadas da população
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
”
Especialidade
Obtenção do Certificado de Área
A PROVA TEÓRICA 2008 DA SBHCI
Samuel Silva da Silva*
máximo para a realização da Prova Prática,
determinada pela AMB, deve ser salientada: todo candidato aprovado na primeira
fase deverá obrigatoriamente obter sua
aprovação na Prova Prática no prazo de
seis meses. Essa é uma recente norma
universal a ser obedecida nas concessões
de qualquer título de especialista ou certificado de área de atuação por todas as
sociedades médicas científicas brasileiras.
A CPC almeja que a Prova Teórica 2008
da SBHCI tenha êxito, que represente
um avanço concreto na metodologia de
avaliação, e que esses aprimoramentos se
traduzam em benefícios aos candidatos
que buscam essa certificação.
A
Prova Teórica para obtenção do
Certificado de Área de Atuação
em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista será realizada dia 28 de novembro de 2008, no
Hotel Sofitel, em São Paulo, SP. Tanto a
Prova Teórica como o Curso de Atualização foram desvinculados do congresso científico da SBHCI, e essa decisão,
que objetiva fortalecer esses eventos,
foi acompanhada de algumas modificações estruturais.
O Curso de Atualização foi reestruturado em oito módulos, que serão
desenvolvidos nos dias 26 e 27 de novembro no mesmo local, e precedendo
a realização, da Prova Teórica. Mais importante que o aumento quantitativo
da carga horária foi a reformulação dos
conteúdos temáticos e a incorporação
de novos temas ao Curso, com a finalidade de adequá-lo, ainda mais, ao estado
de arte de nossa área de atuação.
A Prova Teórica incorporará uma significativa mudança, validada previamente
em ensaio piloto realizado em 2007, e que
constará da formulação de questões baseadas na interpretação de casos editados.
Esses casos constituirão uma nova modalidade de avaliação de natureza teóricoprática e sobre os quais serão realizadas
perguntas, no formato de teste de múltipla
escolha, com cinco alternativas possíveis de
resposta, sendo apenas uma correta.
Como o restante da avaliação é
constituído por questões com a mesma formatação, haverá um único gabarito de respostas, permitindo a leitura
óptica e a pontuação eletrônica, já incorporadas como padrão de qualidade
às Provas Teóricas da SBHCI.
As questões elaboradas no modelo tradicional serão mantidas, mas seu número
será reduzido para 50. Essa redução foi decidida pela Comissão Permanente de Cer-
tificação (CPC), sob orientação pedagógica
da Officium Consultoria, com os seguintes
objetivos: garantir um tempo médio mínimo para responder cada questão (igual ao
das provas dos dois últimos anos); possibilitar a interpretação dos casos editados
e responder às questões a eles referentes
em tempo adequado; e limitar a realização
da prova em quatro horas.
A CPC deliberou que as 50 questões
teóricas terão o mesmo valor de pontuação. Alguns aspectos técnicos referentes às questões de casos editados, que
aguardam a liberação do Edital dessa
prova pela Associação Médica Brasileira
(AMB), foram definidos na última reunião ordinária da CPC, realizada durante o 63o Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O programa
para a Prova Teórica 2008 manteve-se
inalterado em relação à Prova Teórica
2007, embora a bibliografia recomendada tenha sido revisada.
O Edital do Concurso para Obtenção
do Certificado de Área de Atuação em
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista de 2008 e todas as informações
pertinentes estarão disponibilizados eletronicamente no website da SBHCI. Uma
importante alteração referente ao prazo
* Coordenador da Comissão Permanente
de Certificação da SBHCI e cardiologista
intervencionista – Londrina, PR
Todas as imagens são ilustrações artísticas.
Fotos e especificações representam o desenho atual (2007).
As informações aqui contidas destinam-se à distribuição fora
dos EUA e Japão apenas.
© 2008 Abbott Laboratories. LA-3011C-07 04/2008
www.xiencev.com
ABBOTT CENTER - Central de Relacionamento com o Cliente
0800 7031050
e-mail: [email protected]
www.abbottbrasil.com.br
Jornal da SBHCI
ANU 1520.indd 1
39
7/5/2008 13:00:58
Prática médica
ESPECIALISTAS CONTAM POR QUE PREFEREM
NA CINECORONARIOGRAFIA E NA C
Roberto Botelho
Roberto Botelho
Instituto do Coração do Triângulo
Mineiro – Uberlândia, MG
N
o quesito segurança, há menos complicações de acesso, principalmente
as hemorrágicas, que são preditoras independentes de mortalidade. Em síndromes
agudas, a antiagregação e a anticoagulação
são progressivamente mais agressivas.
Nos estudos ISAR (REACT, SWEET,
SMART-2 e REACT-2) (Ndrepepa G, et
al. J Am Coll Cardiol. 2008;51:690-7),
avaliando 5.384 pacientes, o sangramento periprocedimento foi mais forte preditor de mortalidade em um ano
que a ocorrência de infarto periprocedimento. Nesse estudo, qualquer sangramento (maior ou menor) aumentou
a mortalidade em três vezes.
O estudo MORTAL (Chase AJ, et al.
Heart. 2008;94:1019-25), avaliando registro de 32.822 pacientes, demonstrou
que em 20% deles foi utilizada a via radial.
Essa escolha, quando comparada à via femoral, reduziu pela metade a necessidade
de transfusões (2,8% vs. 1,4%; p < 0,001).
Houve redução da mortalidade em um
mês de 36% e em um ano, de 17%.
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
O estudo SYNERGY (Cantor WJ, et al.
Catheter Cardiovasc Interv. 2007;69:7383), avaliando 9.404 pacientes, demonstrou que o sangramento periprocedimento foi de 4,8% no acesso femoral e
de 0,9% no acesso radial.
Quando consideramos a questão
conforto, 75% dos pacientes preferem
a via radial, comparativamente à via femoral. É provável que essa proporção
seja maior, se avaliada após a era dos introdutores hidrofílicos. Quando avaliamos a questão da logística, ressalto que
a dinâmica do Serviço é implementada.
Economizam-se vinte minutos do trabalho de enfermagem pela compressão femoral por paciente. Em serviço
com 10 pacientes/dia, são mais de três
horas de um funcionário. Destaco ainda outros pontos, como as limitações
da via femoral: obesidade mórbida,
aneurisma de aorta abdominal, anticoagulação sistêmica, etc; e a economia,
principalmente em síndromes agudas.
Pelo exposto, a redução de complicações impacta em custos diretamente; e
em versatilidade, pois os novos materiais reduziram a curva de aprendizado
e permitiram que se abordassem casos
complexos como bifurcações, tronco da
coronária esquerda, infarto agudo, etc.
Gilberto Lahorgue Nunes
Hospital São Francisco da
Santa Casa de Porto Alegre
– Porto Alegre, RS
I
niciamos nossa experiência com a
técnica transradial em abril de 2000.
Desde então, a artéria radial tem sido
a via de acesso preferencial em nosso Serviço, para a realização de procedimentos tanto diagnósticos como
terapêuticos. Nossa experiência total
supera os 10 mil casos, e, atualmente,
cerca de 80% dos casos são realizados
Gilberto Lahorgue Nunes
por essa via de acesso.
As razões pela nossa preferência por
esse acesso são várias. Primeiramente,
ela permite a deambulação imediata
após o procedimento, não havendo necessidade de repouso prolongado no
leito. Isso aumenta de maneira considerável o conforto proporcionado aos
pacientes. Em segundo lugar, o emprego
dessa técnica reduz de maneira significativa a ocorrência de complicações hemorrágicas associadas ao local da punção, mesmo na vigência de anticoagulação plena e com o uso concomitante
dos inibidores da glicoproteína IIb/IIIa.
Além disso, nos procedimentos ambulatoriais é possível liberar o paciente após
três horas de observação contra as seis
horas de repouso normalmente necessárias quando é realizada punção femoral. Além disso, a menor ocorrência de
sangramentos e a retirada imediata da
bainha arterial permitem que os pacientes submetidos a intervenção coronária
percutânea sejam encaminhados diretamente para o quarto e possam receber
alta no dia seguinte ao procedimento,
reduzindo tanto o tempo de internação
como os custos hospitalares totais.
Prática médica
REFEREM A TÉCNICA TRANSRADIAL
CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
hemorrágicas observada.
Mais recentemente, temos conseguido ampliar os procedimentos realizados pelo braço, quando passamos
a utilizar veias superficiais da região
cubital para realização de cateterismo direito e a artéria ulnar como
alternativa à radial.
Raimundo Costa Furtado
Centro de Cardiologia do Hospital
São Domingos – São Luís, MA
André Labrunie
André Labrunie
Hospital do Coração
– Londrina, PR
U
tilizamos o acesso radial há cerca
de dez anos. Quanto à aprendizagem, que temos compartilhado com
vários colegas, não mais observamos a
dificuldade histórica relatada anteriormente, provavelmente pela adequação
e pelo aperfeiçoamento do material. O
que mais nos atrai nessa via de acesso
é a segurança, pela minimização significativa das complicações vasculares e
A
tualmente, com a utilização da técnica transradial, ficou mais simples
de se realizar angiografia e intervenção coronária. Complicações como
hemorragia grave, infecção e fístula
arteriovenosa são muito raras. É uma
técnica muito confortável tanto para
o médico como para o paciente. Os
procedimentos realizados por essa
técnica são rápidos e seguros, a despeito do aparecimento de espasmo
arterial, que pode ocorrer em uma incidência pequena e que diminui ainda
mais com a experiência do operador.
Podemos utilizar cateteres de até 8F,
em alguns casos, por essa via de acesso, permitindo, assim, a utilização de
todas as técnicas para o tratamento
Raimundo Costa Furtado
de lesões coronárias complexas. O
paciente pode deambular imediatamente após o procedimento, ficando
a seguir sentado confortavelmente
em uma poltrona enquanto aguarda o
curativo final. Do ponto de vista psicológico, a aceitação dessa técnica é
muito maior quando comparada a outras técnicas utilizadas. Por essas razões, para diagnóstico e intervenção
coronária prefiro a técnica transradial, que tem sido utilizada em quase
100% dos procedimentos coronários
realizados em nosso Serviço.
Jornal da SBHCI
41
Projeto científico
SBHCI COORDENA PROJETO PILOTO INÉDITO
DE BASE DE DADOS SOBRE A INTERVENÇÃO
CORONÁRIA PERCUTÂNEA NO BRASIL
Pedro A. Lemos Neto*
S
istemas de coleta de dados constituem
a base para a compreensão da prática
da intervenção coronária, sendo ativos
em diversos países. Possibilitam monitorar
o status da Cardiologia Intervencionista e
disponibilizar informações para gestores,
médicos, fornecedores e pacientes. Também, a obtenção de dados em um nível
populacional se faz fonte preciosa de saber
científico, notadamente quanto ao estudo
da evolução clínica tardia e de eventos adversos de baixa incidência, além da análise
de subgrupos de menor freqüência.
É com orgulho que a SBHCI anuncia o
início das atividades do projeto “Construção e Implementação de Sistema para a
Integração e Gestão de Dados da Intervenção Coronária Percutânea no Brasil”, que
conta hoje com a participação de cinco instituições de ensino e pesquisa do País: Instituto do Coração – InCor/HC-FMUSP (SP),
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
(SP), Hospital das Clínicas de Ribeirão
Preto (SP), Universidade Federal de Minas Gerais (MG) e Universidade Federal
do Rio Grande do Sul-HCPA (RS). A esses
centros iniciais deverão ser adicionadas
outras instituições reconhecidas na prática da pesquisa clínica brasileira.
Os objetivos primários durante o seguimento serão definidos com a determinação
dos seguintes eventos, pelo período mínimo
de um ano após o procedimento: óbito, por
qualquer causa, discriminado de acordo com
informações clínicas; ocorrência de infarto
do miocárdio; e necessidade de novo procedimento de revascularização, especificando
se do mesmo vaso ou cirurgia de revascularização do miocárdio. O planejamento inicial prevê que a coleta de dados se
inicie no começo do último trimestre de
2008 e que sua conclusão e eventual extensão aconteça até o final de 2010.
O Projeto Construção ICP objetiva não
só implementar ferramentas de coleta de
dados em si, mas também testar o sistema
de monitoria in loco da qualidade dos dados
e adjudicação de eventos adversos.
Esse empreendimento, financiado pelos
Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, por meio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), conta com recursos iniciais de
aproximadamente R$ 280.000,00. A obtenção dessa verba de fomento à pesquisa é uma ação até então inédita na SBHCI,
tendo sido vencedor nosso projeto entre
tantos outros apresentados.
* Diretor Científico da SBHCI
CONFIRA OS NOVOS SÓCIOS DA SBHCI
Sócios homologados em Curitiba no 630 Congresso Brasileiro de Cardiologia
ASPIRANTES
Alaor Mendes da Cunha Jr.
Alexandre Venturelli da Silva
André Farinelli Lima Brito
Daniel Silva Chamié de Queiroz
Francisco Carleial Feijó de Sá
Raphael Lanza e Passos
Ricardo Peressoni Faraco
AD XPRO 122x58mm
Silmara
Cristina APROVADO.pdf
Friolani
C
M
Y
CM
MY
CY
TITULARES
Aston Marques da Silva Junior
Gederson Rossato
João Guilherme Alves Loures
Marcio Lautert Balbinot
Rodolfo de Franco Cardoso
Ronei Rodrigo Rorato
19.04.08
19:52:26
COLABORADOR
João Anísio Ferreira
EXCEPTIONAL IMAGE QUALITY
SPEED, RESPONSE & FLEXIBILITY
INTERVENTIONAL FUNCTIONALITY
ERGONOMIC EFFICIENCY
DOSE REDUCTION TECHNOLOGIES
SEAMLESS WORKFLOW
CMY
K
TOSHIBA MEDICAL DO BRASIL LTDA.
Av. Ceci, 328, Tamboré 1 - Barueri - SP
CEP: 06460 -120 - Tel.: (11) 4134.0000
www.toshibamedical.com.br
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
EXPEDIENTE
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA
INTERVENCIONISTA — GESTÃO 2006-2009
Luiz Alberto Mattos
Presidente
Alexandre Quadros*
Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes
Diretor Administrativo
R
ecentemente, aumentamos de forma significativa o conteúdo
científico de nosso website
(www.sbhci.org), com o
retorno da TV SBHCI e
com maior número de artigos comentados e de casos
clínicos. Os drs. Henrique
Gomes (Porto Alegre), Carlos Augusto H. M. Campos (São Paulo) e
Guilherme Ferragut Attizzani (São Paulo)
passaram a integrar o grupo de co-editores do Portal, juntando-se aos drs. Klauber
Roger (Sobral) e Pedro Beraldo (Marília).
Esperamos, com essas intervenções, melhorar o conteúdo do website e proporcionar atualização continuada ao nosso
associado e aos usuários do Portal.
A TV SBHCI irá reproduzir os casos
realizados durante o XXX Congresso da
SBHCI, no Recife, e já está no ar há quase
um mês. Após algumas dificuldades técnicas na conversão dos vídeos e no formato
de reprodução, acreditamos ter atingido
um nível satisfatório de qualidade e de resolução, permitindo que os casos veiculem
adequadamente sua mensagem científica.
A revisão de artigos cientificamente relevantes publicados nos principais periódicos internacionais, na área da Cardiologia
Intervencionista, tem sido realizada desde a
reformatação do website introduzida pela
atual gestão. Vinham sendo revisados dois
artigos por quinzena, e pretendemos, agora,
fazer a revisão de dez artigos por quinzena.
Acreditamos estar, assim, acompanhando
mais de perto as constantes mudanças no
cenário científico internacional.
Finalmente, comunicamos que nestes
dois anos à frente do website observamos aumento muito significativo em sua
audiência. Em setembro de 2006 foram
registradas 4.268 visitas, número que aumentou para 25.164 em junho de 2008.
Acreditamos que isso reflita os esforços
que têm sido feitos no sentido de proporcionar serviços úteis a nossos associados através do Portal, já que também
internet
Novidades do
portal SBHCI
Hélio Roque Figueira
Diretor Financeiro
Pedro Alves Lemos Neto
Diretor Científico
Rogério Sarmento-Leite
Diretor de Comunicação
Luiz Antonio Gubolino
Diretor de Qualidade Profissional
José Antonio Marin-Neto
Diretor de Educação Médica Continuada
temos observado a ótima receptividade
dessas inovações pelos nossos colegas.
Foram inúmeras as novidades introduzidas nesse período e que resultaram
no aumento da audiência, como intranet,
acesso aos periódicos internacionais, cobertura científica dos principais congressos internacionais e melhora da qualidade
da Revista Brasileira de Cardiologia
Invasiva (RBCI), entre outras. Alguns
picos de audiência também estiveram associados a ações institucionais relevantes,
como a liberação da Diretriz e da lista de
médicos registrados na Associação Médica Brasileira (AMB).
É importante ressaltar que esses resultados só foram possíveis com a colaboração de
todo o grupo de co-editores, já citados, sob
a liderança qualificada e incansável de Luiz Alberto Mattos e Rogério Sarmento-Leite, presidente e diretor de Comunicação da SBHCI,
respectivamente. No entanto, mesmo satisfeitos com o que já foi atingido, continuamos
trabalhando no sentido de aprimorar cada
vez mais o conteúdo e o layout do Portal, estando sempre abertos a sugestões e críticas
dos colegas, que podem ser enviadas para o
e-mail [email protected].
A próxima conquista será a reformulação do layout e a valorização do website
da RBCI, publicação que tem sido muito
bem conduzida por sua editora, Áurea
Chaves, e demais colegas.
Finalizando, convidamos todos a
acompanhar a cobertura do TCT 2008,
de 12 a 16 de outubro.
* Editor do Portal da SBHCI
Marcos Antônio Marino
Diretor de Intervenções Extracardíacas
César A. Esteves
Diretor de Intervenções em Cardiopatias Congênitas
César Rocha Medeiros
Luciana Constant Daher
Marcelo de Freitas Santos
Marcelo José Cantarelli
Editores
Acontece Comunicação e Notícias
Projeto Jornalístico
Norma Cabral da Silva
Gerência Administrativa
Débora Valejo
Natália Mariotto
Secretaria de Comunicação
Giselle de Aguiar Pires
Edição de Arte
Tiragem: 11.000 exemplares
www.sbhci.org.br
Rua Beira Rio, 45 - cjs. 71 e 74
Vila Olímpia ­- CEP 04548-050
São Paulo, SP - Fone: (11) 3849-5034
Espaço do leitor
A Sociedade Brasileira de Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista ficará muito
satisfeita em tê-lo como colaborador do
Jornal da SBHCI. Ajudar a enriquecer
nossa publicação é importante e simples.
Basta enviar suas impressões e/ou
sugestões para o e-mail
[email protected] ou, por carta,
para a Rua Beira Rio, 45 – cjs. 71 e 74 –
Vila Olímpia – São Paulo, SP –
CEP 04548-050, aos cuidados da
Diretoria de Comunicação.
Desde já agradecemos seu apoio.
Jornal da SBHCI
43
publicações
Processo de Amadurecimento
da Revista Brasileira
de Cardiologia Invasiva
Rogério Sarmento-Leite*
e Áurea Chaves**
H
á menos de dois anos a Revista
Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI) vem passando por um
período de inovação e crescimento, que
redundou em aceitação crescente dos novos fascículos, tanto entre os cardiologistas intervencionistas como entre cardiologistas de outras subespecialidades, internistas e profissionais de áreas correlatas.
Essa popularização é refletida no aumento
de mais de 3.000% nos acessos ao portal
eletrônico da RBCI,constatado em nossa
última avaliação de junho de 2008.
Nesse período, foram implementadas inúmeras medidas gerenciais, “invisíveis” para o
público em geral, mas fundamentais para o
bom funcionamento da Revista e garantia
de qualidade do que é publicado: o Conselho de Revisores teve o número de seus
componentes expandido em mais de 50%; o
Sistema Gerenciador de Publicações (SGP)
passou a operar integralmente e hoje controla todo o processo de submissão, revisão
e aceitação/recusa dos artigos; o processo
editorial foi agilizado, com a entrega das revisões dos artigos submetidos em período
médio de duas semanas; a revisão do português de todos os artigos publicados passou a ser feita por serviço contratado; os
fascículos passaram a ser distribuídos pelos
Correios, na tentativa de minorar as irregularidades da entrega domiciliar aos mais
de 10 mil sócios da Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SBC); e a criação do website da
Revista bilíngüe português/inglês, a partir de
junho de 2007.Tudo isso foi somado à impecável revisão bibliográfica dos artigos e aos
serviços gráficos excepcionais contratados
no período editorial que precedeu o atual.
A meta principal desta administração para
a RBCI, no entanto, tem sido o crescimento
científico, fundamental para a internacionalização da Revista e a indexação na base de
dados Medline e ISI Thomson. A meta do
crescimento científico é conseqüência natural da fase de amadurecimento que a RBCI
ano XI - No 3 - Julho a Setembro - 2008
se encontra. Uma medida inovadora e eficaz
foi a instituição de prêmios para os trabalhos apresentados nos congressos anuais da
SBHCI que alcançassem as maiores pontuações nas revisões pelos pares. Essa medida
tem sido a maior responsável pela captação
de artigos de grande interesse científico,
antes submetidos a outros conhecidos periódicos da especialidade, nacionais e internacionais. O aporte de maior número de
artigos originais é requisito básico para conseguirmos a próxima indexação da RBCI
no SciELO, que será solicitada em setembro.
Esperamos alcançar essa meta, já que temos
cumprido todas as exigências requeridas.
Conseguida essa indexação, a RBCI passa a
ser classificada pela Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) como “Qualis A Nacional” e, por
conseqüência, torna-se mais atrativa para
captar artigos resultantes de dissertações de
mestrado e teses de doutorado das pós-graduações nacionais, aumentando ainda mais a
qualidade de seu conteúdo científico.
A estratégia de internacionalização da
RBCI, por outro lado, tem sido apoiada
na divulgação de newsletters mensais, hoje
distribuídas não só para todos os sócios da
SBC como também da Sociedade LatinoAmericana de Cardiologia Intervencionista
(SOLACI). As newsletters em espanhol, endereçadas à América Latina, começam a dar
frutos e já trouxeram artigos da Colômbia
e do Uruguai, aprovados para publicação. A
lista de endereços eletrônicos desse serviço foi ampliada no último mês, e incluiu
cardiologistas intervencionistas de Portugal, hoje responsáveis por 5% da audiência
do website da RBCI. Tem ajudado nessa
divulgação internacional a participação
de editorialistas como Martin Leon, Louis
Caplan, Emerson Perin, Eberhard Grube e
James Ferguson, freqüentadores assíduos
das páginas dos principais periódicos científicos internacionais e que contribuíram
recentemente com a RBCI.
Seguimos incansáveis como agentes atuantes e testemunhas privilegiadas desse
processo difícil, mas formidável, de construção e agora de amadurecimento da RBCI,
rumo à maturidade, com a sonhada indexação no Medline e ISI Thomson.
A estrada é longa, mas seguimos a passos
firmes rumo a nossos objetivos, respaldados
por uma bela e aguerrida equipe, que trabalha unida e coesa para tornar realidade nossos anseios. Nesse sentido, contamos com o
apoio e o incentivo de todos os sócios e parceiros da SBHCI. Nosso muito obrigado a todos os que já colaboraram e desejamos que o
continuem fazendo e um forte apelo àqueles
que potencialmente podem contribuir com
envio de material original que o façam.
* Diretor de Comunicação da SBHCI
** Editora da RBCI
Download

3 - SBHCI