Os Sem-abrigo Natália Silva 20071209 Coimbra 2010 Ficha Técnica Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica. ¾ Título: Sem Abrigo ¾ Realizado por: Natália Silva ¾ Nº de Estudante: 20071209 ¾ Curso: Sociologia ¾ Imagem da capa retirada de: http://masapunk.org/wp- content/uploads/2007/09/pobreza.jpg ¾ Página consultada em: Maio de 2010 ¾ Data: Coimbra, Maio de 2010 ¾ Logótipo Feuc (Faculdade de Economia Universidade de Coimbra): http://www.ces.uc.pt/images/ “A dormeço ao relento Na agonia, à fome e ao frio Adormeço no chão da calçada Com a roupa gasta e rasgada Tal como um sem abrigo… Adormeço com os olhos cansados De mais uma luta inconstante De mais um dia passado Sem ninguém do meu lado semelhante Adormeço na solidão e neste silêncio que me consome por inteiro Com feridas nós pés Com as unhas partidas Os dedos sujos E crostas nítidas aos olhos dos outros em sangue vivo A minha dor está espelhada no meu rosto Nos meus olhos que são esta noite mais vazios Na minha boca rebentada pelo cieiro que insiste em atacar os mais pobres Nas minhas palavras que já não se libertam, pois escondem-se no coração, ou a alma já se esqueceu como as falar a este mundo que não nos dá ouvidos. As pessoas que nos ignoram passam na rua e já não olham, Quando o fazem, ignoram, como a mais uma pedra da calçada Quando param, a pena é um reflexo no seu olhar, e esquecendo que um dia fui como eles, em que num dia tudo tinha, e na madrugada seguinte tudo desaba e nada é nosso. Adormeço ao relento Enrolada numa manta velha que alguém com pena deixou nesta noite gelada na calçada Adormeço com o estômago vazio, tão vazio e tão cheio de nada que o eco acorda os seres rastejantes que me acompanham e me fazem companhia Adormeço com a sede de um mundo melhor Adormeço com os bolsos vazios e o coração aquecido de recordações que ficaram até aquela noite em que eu era como tu, como os outros… Adormeci serenamente na esperança de amanhã a madrugada ser a mesma que outrora foi, uma madrugada como todas as outras, mas que ainda o sonho idealizado era real, em que eu era aquela que deixava um cobertor na calçada, uma fatia de pão e me sentava ao lado dos sem abrigo a ouvir as histórias, que eu mesmo hoje tenho a contar” Autora Joana (2005) Índice 1. Introdução ............................................................................................ 1 2. Estado das Artes 2.1. Os sem abrigo ............................................................................... 2 2.2. O perfil dos sem abrigo ................................................................ 4 2.3 O que leva os indivíduos à situação de sem abrigo ................... 5 3. Desigualdades de Género no âmbito dos Sem-abrigo .................... 6 4. Rupturas sociais, profissionais e familiares .................................... 7 5. Compreensão da problemática e das trajectórias de vida dos semabrigo ....................................................................................................... 8 6. Percursos e apoios institucionais ..................................................... 9 7. Respostas sociais e serviços para esta população ....................... 10 8. Equipas e metodologias de trabalho prosseguidas pelas respostas sociais .................................................................................................... 11 9. Ficha de Leitura ................................................................................. 12 10. Avaliação da página da internet ..................................................... 15 11. Descrição detalhada da pesquisa .................................................. 17 12. Conclusão ........................................................................................ 19 13. Referências Bibliográficas ............................................................. 21 Anexos I. Página da internet avaliada II. Texto de suporte à ficha de leitura 1 1. Introdução A abordagem do fenómeno dos sem-abrigo é complexa, dada a diversidade de perspectivas de análise que têm sido desenvolvidas. Diversidade, que acaba por se repercutir em entraves à consensualização de um conceito operacionalizável. A pobreza e a precariedade de emprego são presença quase constante nas trajectórias de vida destes indivíduos, implícita ou explicitamente referidas pelos mesmos, não apenas como condição pessoal, mas também como legado familiar. O abandono precoce da escola, o inicio muito cedo no trabalho, acidentes de trabalho, problemas de saúde levam ao despoletar de um conjunto de acontecimentos que levam à pobreza e à exclusão social. Entre estar sem-abrigo e ser sem-abrigo reside todo um percurso marcado por experiência e ausências, rupturas e fragilidades, perdas progressivas onde o tempo tem um forte papel no seu agravamento. Assim, e no âmbito da unidade curricular de Fontes De Informação Sociológica, seguir-se-á uma abordagem pormenorizada acerca dos aspectos fundamentais que compõem esta temática. 2 2. Estado das Artes 2.1.Os sem-abrigo A definição mais usual dos sem-abrigo na conceptualização das situações é assentada a partir da situação habitacional ou do tipo de local onde passam a noite. Trata-se de uma definição que inclui todos aqueles que, por falta de meios ou qualquer outro motivo, não têm acesso ao mercado de habitação. Parte-se do pressuposto que ser sem-abrigo abrange um conjunto de situações que vão desde aqueles que não têm casa, até aqueles que têm alojamento inadequado ou inseguro. A intervenção só é possível se for sustentada pelo conhecimento sobre aqueles que são afectados por esta problemática ou se encontram em risco de perderem o abrigo que possuem. Muitas vezes os sem-abrigo podem ser caracterizados em termos de causas que os levaram à situação de exclusão. Essas podem ser causas acidentais, económicas ou estruturais. Também podem ser caracterizados consoante o tempo de duração que se encontram na rua e o seu grau de vulnerabilidade. Há quatro formas de situações de sem-abrigo: • Crónico: associado ao alcoolismo e à toxicodependência; • Temporário: surge de uma situação inesperada, como um desemprego súbito ou uma mudança de comunidade; • Periódico: possuem casa, mas evitam-na devido a pressões como por exemplo em casos de violência doméstica; • Total: não tem casa nem relações com a sociedade. A FEANTSA (Federação Europeia de Serviços para Pessoas Sem Abrigo), propõe ainda que sem-abrigo é aquela pessoa incapaz de aceder e manter um alojamento pessoal adequado pelos seus próprios meios, ou incapaz de 3 manter alojamento com a ajuda dos serviços sociais. (Santa Casa da Misericórdia do Porto, 2009). O termo sem-abrigo reúne assim várias situações: • Aqueles que vivem na rua; • Aqueles que ocupam, legal ou ilegalmente, casas abandonadas, barracas, etc. • Aqueles que se encontram alojados em refúgios ou centros de acolhimento para sem-abrigo, quer do sector público quer do privado; • Aqueles que vivem em pensões, camaratas ou outros refúgios privados; • Aqueles que vivem com amigos e familiares, com os quais podem verse forçados a coabitar; • Aqueles que residem em instituições, estabelecimentos de cuidados infantis, hospitais, prisões e hospitais psiquiátricos, e que não têm domicílio ao sair destas instituições; • Aqueles que possuem uma casa que não se pode considerar adequada ou socialmente aceitável, convertendo-se por isso em pessoas ou famílias mal alojadas; • A definição de sem-abrigo abrange uma série de situações que têm em comum a falta de meios, (pobreza) e dos laços comunitários, (exclusão social) para ter acesso a um alojamento pessoal adequado. • Em termos jurídicos, sem-abrigo é a pessoa que não possui o direito legal a uma casa. 4 2.2. Perfis dos sem-abrigo O tempo de permanência é certamente um período em que se vão acumulando “handicaps”, multiplicando os processos de estigmatização, de exclusão e gerando fragilidades. O tempo de permanência em estado de sem-abrigo é fundamental na reinserção dos indivíduos, já que as vivências estigmatizantes de que são alvo, e a consequente exteriorização da auto-estima podem constituir barreiras intransponíveis à inversão da situação. À medida que o tempo vai passando o indivíduo vai criando uma nova identidade, a partir da experiência de rua e vai recriando estratégias de sobrevivência num meio agreste e adverso à mudança. “Ser sem-abrigo implica mais do que um modo de viver, é um modo de sobreviver” (Barreto e Bento, cit in Instituto da Segurança Social, 2005). Tendo em conta a heterogeneidade das situações sociais, as necessidades podem ser semelhantes mas, ao mesmo tempo, distintas, pois compararmos um indivíduo na rua há vários anos e uma pessoa na rua há um ano, veremos que são casos muito diferentes, pois as suas vivências são também diferentes. 5 2.3. O que leva os indivíduos à situação de sem-abrigo? São quatro os principais motivos que conduzem os indivíduos à situação de sem-abrigo. Estes são as rupturas familiares e conjugais, os problemas de saúde, o desemprego e a falta de alojamento: • Nos problemas familiares destacam-se os conflitos familiares, o divórcio, o falecimento de familiares entre outros. • Os problemas de emprego dizem respeito fundamentalmente, ao despedimento e à ausência de trabalho, enquanto que os problemas de legalidade prendem-se directamente com a falta de trabalho impossibilitada pela falta de documentos, pela situação de ilegalidade em que se encontram no país, por acidentes de trabalho ou ainda pelas dificuldades linguísticas, problemáticas típicas entre os imigrantes de leste (problema da emigração). • Os problemas de saúde são maioritariamente a toxicodependência, o alcoolismo, a doença física, e por último, a doença mental. • Os problemas de alojamento consistem na falta de alojamento para ajudar os indivíduos em risco ou na falta de condições de higiene e segurança dos abrigos. 6 3. Desigualdades de Género no âmbito dos Sem-abrigo A proporção desigual do género relativamente aos sem-abrigo dificulta a medição do número de mulheres sem-abrigo. As mulheres têm maior capacidade para recorrer a redes de apoio social e familiar, face aos problemas como os do alojamento. Paralelamente a estas maiores competências interpessoais, comparativamente aos homens, interliga-se uma maior facilidade de adaptação e aceitação de trabalhos desqualificantes como os trabalhos domésticos, o recurso à prostituição como modo de sobrevivência económica. Estas estratégias e recursos para lutar contra as dificuldades económicas, constituem-se como um factor de protecção para a situação de sem-abrigo. “Muitas mulheres sem-abrigo encontram-se na prostituição, uma situação para vencer a miséria. Contudo, tem havido uma evolução da população Sem-Abrigo do sexo feminino, sendo que no espaço de 7 anos, passou de 13% para 31%”. (AMI, 2010) Essas diferenças entre homens e mulheres, no que se refere às problemáticas emergentes condutoras da situação de sem-abrigo, devem-se também ao facto dos homens se prenderem ao papel social, papel este que apenas é obtido através do trabalho, uma vez que, o homem é visto como quem sustenta a família precisando assim de um trabalho para sobrevivência económica. Quando o homem se encontra desempregado este é visto socialmente como inútil. Ao desemprego sucedem-se frequentemente problemas de natureza familiar constituindo: desemprego, problemas de saúde, problemas familiares, entre outros. Este encadeamento de factores pode levar os homens à situação de sem-abrigo. 7 4. Rupturas sociais, profissionais e familiares O desemprego, a perda de alojamento e a impossibilidade de obter um tecto, por falta de rendimentos, adiam progressivamente a procura de um novo trabalho. A precariedade do emprego e a falta de alojamento, associado à idade, dificulta o regresso ao mercado e o retomar de um novo emprego, pois a maioria dos indivíduos possui uma escolaridade básica e exerceu no passado profissões ligadas à indústria, ou aos serviços e demonstrou ter um vínculo laboral precário. A ideia de que não se procurar trabalho por não se possuir condições nem físicas, nem mentais para a obtenção e manutenção de um emprego, é uma realidade que muitos sem-abrigo se confrontam no dia-a-dia, aliado à não resolução dos empregos de saúde, falta de apoio institucional, a inacessibilidade aos centros de emprego e a ausência de motivação. Para além disso, a não satisfação das necessidades mais básicas não permite aos indivíduos a procura de emprego. Soma-se a este facto, a inexistência de mecanismos de protecção social eficazes para apoiar estas situações. A entrada no mundo da miséria vai empurrando os indivíduos para um “beco sem saída” na medida em que os vai degradando física e psicologicamente, de tal forma que o estigma da marginalização fica estampado no rosto e na aparência física; além disso, o próprio facto de estarem desprovidos de recursos materiais inviabiliza a sua tentativa de reintegração no mundo do trabalho. A fragilidade dos laços familiares é tida como factor explicativo dos sem-abrigo e a quebra de laços sociais conduz a processos de isolamento social passando os indivíduos a “contar apenas com outros indivíduos em situações semelhantes, com quem estabelecem, frequentemente relações meramente funcionais, longe de se poderem constituir enquanto elementos de efectivo suporte” (Batista, cit in Instituto da Segurança Social, 2005). 8 5. Compreensão da problemática e das trajectórias de vida dos sem-abrigo O ser sem-abrigo não é uma característica atribuível a uma pessoa, mas um processo complexo que encadeia uma série de factores. Numa abordagem mais pormenorizada, denota-se a centralidade na natureza dos problemas que afectam os sem-abrigo, apontando, três tipos de explicações: • Ser-se sem-abrigo como opção de vida; • Ser sem-abrigo pró problemas patológicos; • Ser sem-abrigo como consequência de acontecimentos negativos. Numa abordagem mais alargada, tem-se em conta a inadequação de determinadas estruturas sociais para explicar a natureza da exclusão: • Mercado de habitação incapaz de responder de forma satisfatória a todas as situações; • Mercado de trabalho caracterizado por altos níveis de desemprego e baixos salários; • Serviços sociais incapazes de fornecer suportes apropriados no tempo e no espaço. 9 6. Percursos e apoios institucionais A passagem pelas estruturas de saúde, prisões, centros de acolhimento retrata as trajectórias de vida de muitos sem-abrigo. Em termos de apoios institucionais, são as IPSS’S/ONG’S e a Segurança Social que prestam maiores apoios. Os sem-abrigo recorrem a estas ajudas através das equipas de rua, profissionais e por intermédio de pessoas na mesma situação de precariedade, mas existe ainda uma percentagem de pessoas a viverem na rua sem qualquer tipo de apoio. A satisfação das necessidades básicas como alimentação e higiene são asseguradas pelas IPSS’S/ONG’S. A fragilidade dos apoios institucionais traduz-se também nas percepções que os indivíduos possuem sob a eficácia desta mesma intervenção, denotando-se uma perspectiva bastante negativa face à mesma. Também é de salientar o apoio prestado por algumas instituições como: a Cáritas Diocesana, a Cruz Vermelha Portuguesa, a AMI, a Santa Casa da Misericórdia. 10 7. Respostas sociais e serviços para esta população O tipo de intervenção desenvolvida junto desta população, parece traduzir uma abordagem marcadamente assistencialista, incluindo a distribuição de alimentos, vestuário e acesso a serviços de lavandaria, higiene, etc. É possível enumerar outro tipo de apoios mais especializados, que têm vindo a diversificar-se em consequência da estruturação de novas intervenções por parte da sociedade civil, tais como, a formação e a inserção profissional, programas ocupacionais, apoio médico, programas de habitação assistida. Contudo, verifica-se uma menor abrangência de respostas sociais que prestam a este tipo de intervenção. Atendendo a que os apoios existentes se desenvolvem numa linha de acção social com vista à satisfação de necessidades básicas, há que fazer face à lógica de cliente que tantas vezes sobressai na relação com esta população e que restringe o papel do sem-abrigo ao de mero utente, em lugar de participante activo em todo o processo. O recurso ao RSI, como medida para abranger as situações de maior precariedade social e económica, não se constitui como o recurso adequado aos sem-abrigo, pelas condicionantes expressas na própria legislação como a inscrição no centro de emprego da área de residência. No entanto, o programa de inserção aliado à prestação pecuniária seria fundamental para a inserção desta população. Verifica-se, no entanto, na prática, que para os que recebem o RSI, este se resume a uma prestação pecuniária, ainda que importante. Como se concluiu, a maioria nunca recebeu e os que recebem actualmente, constituem uma minoria, por vezes abrangendo situações anómalas como toxicodependentes ou alcoólicos, que continuam a gastar o único rendimento que obtêm em drogas ou álcool. 11 8. Equipas e metodologias de trabalho prosseguidas pelas respostas sociais No que respeita à composição de equipas técnicas afectas às respostas sociais e serviços, constata-se a presença maioritária de técnicos de serviço social. Promover a inserção profissional destas pessoas implica naturalmente a consideração quer dos elementos da natureza pessoal, quer de natureza estrutural que potenciam ou dificultam essa reinserção, devendo ser inevitavelmente contextualizados pela consideração da pessoa como um todo, nomeadamente ao nível das suas capacidades e competências, não só profissionais, mas sobretudo pessoais e sociais. Torna-se necessário repensar novas políticas sociais, assentes em modelos de intervenção social, que não tenham somente um carácter curativo, com vista a reduzir a pobreza e a exclusão, mas sobretudo preventivo, no sentido de fazer face a um fenómeno social com contornos cada vez heterogéneos e complexos. A multidimensionalidade deste fenómeno da exclusão social implica politicas sociais inclusivas que actuem nas dimensões estruturais reprodutoras dos principais problemas, que assolam o quotidiano dos semabrigo: a falta de alojamento, o desemprego e a marginalização social. 12 9. Ficha de Leitura Título da publicação: a habitação e a reintegração social em Portugal Autor: Carlos Pestana e J.C. Gomes Santos Local onde se encontra: Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade De Coimbra Cota: 332 HAB Data da publicação: 1997 Edição: primeira Local de edição: Lisboa Editora: Vulgata Título do capítulo: Situações de pobreza em Habitat Urbano degradado Número de páginas: 231-272 Palavras-chave: pobreza, habitat urbano degradado, realojamento, caracterização sócio económica, condições de habitabilidade e relações de vizinhança. Notas sobre os autores: Flávio Paiva foi o autor do capítulo que achei oportuno analisar, com o título de “Situações de pobreza em Habitat Urbano degradado”, inserido na obra “A habitação e a reinserção social em Portugal”. Resumo: Segundo o sociólogo Flávio Paiva, neste presente artigo, pretende-se demonstrar a ligação entre o habitat urbano degradado e a pobreza, tendo como instrumento de observação um inquérito por questionário, realizado a três bairros de realojamento da câmara municipal de Lisboa. 13 Estrutura: Em torno do conceito de pobreza urbana A professora Manuela Silva (pág: 231), define pobreza como um fenómeno complexo, uniforme e heterogéneo bastante complicado de definir, tipificar bem como de medir. Da apropriação do espaço urbano degradado Juntamente, com as condições de habitabilidade precárias, há ainda nos bairros sociais degradados outras situações vulneráveis à pobreza, que embora não sejam tão visíveis, não deixam de ser factores de empobrecimento e exclusão social, como por exemplo, a dificuldade destes residentes em se incluir no mercado de trabalho, os seus baixos rendimentos familiares, o seu baixo nível de instrução bem como das fracas ópticas de mobilidade social e residencial. Memória urbanística dos bairros Quinta Das Laranjeiras, Quinta Do Ourives e Dois De Maio. O observatório da habitação no concelho de Lisboa, ligado ao centro de estudos territoriais do ISCTE, apresentou à Câmara Municipal de Lisboa, em Abril de 1992, um estudo acerca da caracterização sócio-urbanística dos bairros sociais, baseando-se num inquérito a três bairros de realojamento, sendo eles: Quinta das Laranjeiras, Quinta do Ourives e Dois De Maio. Deste modo, a participação neste projecto teve como objectivo fornecer dados à Câmara, de modo a contribuir para a recuperação dos bairros. De forma a reduzir custos a nível financeiro, foram aproveitados os dados que tinham já sido recolhidos pela equipa de inquiridores e enquadrá-los na problemática. Este habitat urbano gera de certa forma, mecanismos económicos, sociais e psicológicos de produção de desigualdades e de pobreza que os moradores não podem derrotar sem a ajuda do Estado ou da Câmara. 14 Assim, este é um trabalho que se encontra dividido em duas partes: em primeiro lugar, foi fundamental descrever os dois conceitos principais inseridos neste estudo; o conceito de pobreza urbana e o do uso e apropriação do espaço; e numa segunda parte, foram apresentados resultados do inquérito dos três bairros. O ambiente urbano analisado, é um habitat degradado, onde residem famílias provenientes das barracas onde foram realojados para estes três bairros. Como foi possível apurar, nem sempre a condição de pobreza é assumida pelos moradores, uma vez que, em muitos casos há famílias com rendimentos elevados que se afastam da média do nível de rendimentos declarados em cada um dos três bairros estudados. Resultados do inquérito Após uma análise das respostas aos inquéritos, verificou-se que existe nos bairros sociais estudados uma certa “pobreza envergonhada”, pois uma grande parte dos moradores nota que a imagem que é transmitida acerca dos bairros é uma imagem negativa, e segundo eles não corresponde à realidade. Os maiores problemas que foram detectados nesta investigação foram de facto: a falta de segurança, o tráfico e consumo de droga e as relações de vizinhança com as famílias ciganas, sobretudo na Quinta das Laranjeiras e Dois De Maio. De um modo geral, pode-se concluir que o modelo de realojamento que tem sido utilizado pelos promotores públicos provoca uma degradação física e social dos bairros, em que a sua restituição exige investimentos insuportáveis. Contudo, para além, de uma recuperação dos espaços residenciais é necessário impingir o trabalho comunitário com as populações essencialmente com os jovens. Neste sentido, a obra de reabilitação urbana e de intervenção social que sucedeu no bairro da Quinta Das Laranjeiras, é de facto uma interessante experiência. 15 10. Avaliação da página da internet: A página de internet que escolhi para realizar uma avaliação foi: http://www.ami.org.pt/default.asp?id=p1p5p21p404&l=1. Optei pela escolha desta página, uma vez que o autor é uma instituição pública (AMI) muito importante que fornece informação imprescindível mostrando juntamente as suas competências nas matérias que aborda, em específico, relativamente a este tema. Esta é uma entidade não governamental, que mantém o conceito mais abrangente de sem-abrigo elegido pela FEANTSA (Federação Europeia das Associações Nacionais que Trabalham com os Sem Abrigo), que se baseia na divisão da população em quatro grupos que se enquadram nas situações de: sem-tecto, sem casa, habitação precária e habitação inadequada. Neste sentido, o texto aqui encontrado foi-me útil na medida em que encontrei pontos relevantes que me permitiram uma boa compreensão acerca desta temática. É ainda de realçar o facto de este ser um site bastante intuitivo, contém instrumentos de pesquisa e de navegação muito eficazes, não envolvendo nenhum tipo de publicidade que prejudique a leitura da informação. Toda a informação que está disponibilizada corresponde ao meu nível de estudos e possui todo um texto escrito de forma clara e objectiva, cujas referências que surgem ao longo deste, estão devidamente citadas. Para além disso, disponibiliza, um motor de pesquisa interno. É uma página que apresenta várias hiperligações acerca das diversas secções da AMI, sendo assim uma página rica em informação. Como tal, penso que esta é uma página cujo conteúdo reúne todos os requisitos necessários para ter uma classificação bastante positiva. 16 Em suma, é um site de fácil consulta, útil e repleto de informação pertinente para a realização deste trabalho contendo todos os requisitos necessários que tornam válida e fiável toda a informação disponibilizada. 17 11. Descrição detalhada da pesquisa Sem abrigo é de facto um tema que me despertou bastante interesse para realizar o trabalho no âmbito da unidade curricular de Fontes de Informação Sociológica. É um problema com o qual infelizmente nos deparamos no nosso diaa-dia, e que se encontra relacionada com a pobreza urbana em Portugal, sendo este um dos tópicos que se encontrava disponível para efectuar a escolha do tema para a realização da tarefa. Posto isto, o próximo passo foi então seguir com a pesquisa bibliográfica do mesmo. Assim, procurei integrar os diferentes tipos de pesquisa, tais como: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Biblioteca da Faculdade de Economia Da Universidade de Coimbra, Biblioteca da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e Internet. Aqui, focalizei-me no motor de busca Google, iniciando a minha pesquisa com as palavras-chave “AMI”, uma vez que esta é uma entidade que possui um conceito abrangente acerca desta temática, e a palavra “semabrigo” onde desde logo surgiram cerca de 17.700 resultados. Depois de verificar o conteúdo de alguns dos resultados que me pareceram mais importantes, o primeiro resultado foi o que me chamou à atenção, sendo também o de maior relevância, pois, para mim era o mais rico em informação, bastante diversificada, o que me facilitou, desta forma a elaboração do conteúdo deste trabalho. Após isso, dei continuidade à minha pesquisa, mas pelos catálogos da Biblioteca da Faculdade de Economia e Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e na Biblioteca da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Deste modo, executei uma pesquisa simples, no campo “assunto” com a palavra-chave “ sem-abrigo”, aparecendo desde logo alguns livros que me despertaram interesse. 18 Porém, e apesar de aparecerem diferentes livros, após a consulta que efectuei apercebi-me que havia alguma repetição da informação, fazendo com que me limitasse apenas a alguns, que mencionarei posteriormente nas referências bibliográficas. 19 12. Conclusão Como foi possível constatar, de facto, a problemática dos sem-abrigo tem sido alvo de um quase total “esquecimento”, salvo quando existem referências à mesma enquanto um problema urbano que é necessário enfrentar. No entanto, ao oposto do que se pensa, “grande parte dos sem‐abrigo não são ex doentes mentais, nem alcoólicos ou consumidores regulares de drogas ilegais. São pessoas que acabaram por se encontrar nas ruas devido a problemas pessoais, muitas vezes mais do que um em simultâneo.” (Giddens, 2004). Neste contexto, assiste-se nos últimos anos a um esforço no sentido de aumentar aos programas de habitação social e de “erradicação de barracas” que, sendo aplicáveis à população em geral, são também importantes enquanto políticas no combate ao fenómeno dos sem-abrigo. As chamadas novas gerações de políticas sociais implementadas em Portugal, depois de 1996, trouxeram um novo conceito de acção social tendo por base, a promoção e a atenção aos meios para gerar e apoiar o desenvolvimento individual de cada cidadão, tornando-os independentes. Estas medidas de contratualização só beneficiam os sem-abrigo, mas não existe nenhuma explicação oficial para esta sub-representação. Todavia, requerer o RSI implica um conjunto de trâmites burocráticos que só por si marginalizam uma série de pessoas que não tenham possibilidade de recorrer à ajuda de terceiros para formalizar os seus pedidos. Actualmente assiste-se à mudança de nível das respostas institucionais para a população sem-abrigo que denotam uma evolução no sentido de melhor enfrentar a complexidade de um fenómeno multifacetado e matizado. Esta constatação advém, nomeadamente, da diversidade de respostas disponíveis, sendo porém de realçar um enfoque muito particular na prestação de serviços, que poderíamos referir como de emergência mas é ao nível do trabalho de reinserção e de prevenção que importa apostar de forma 20 decisiva, reverter processos de marginalização e de exclusão que fazem conduzir a situações extremas de sem-abrigo, na concepção mais restrita do conceito. O conceito de exclusão social surge assim como alternativa contra o impasse metodológico e conceptual na medição da pobreza (Paugman, 2003, pp: 25) Segundo este autor, as desigualdades económicas já não são suficientes para explicar os fenómenos de ruptura e de crise identitária que caracteriza o processo de exclusão social. A ruptura identitária vai ao encontro do que o autor Castel (Paugman apud Castel, 2003: 17) designou por desfiliação e Paugman (2003: 17) por desqualificação social, ou seja, a ruptura dos laços sociais que ligam os indivíduos à sociedade, ao construir o último patamar da integração social e na qual os sem-abrigo são categorizados. De facto ao longo da elaboração deste trabalho académico senti alguma dificuldade, uma vez embora haja diversos autores interessados no tema em análise as suas perspectivas acabam por coligir numa mesma direcção, o que me limitou a escolha dos livros para a realização deste trabalho. No entanto, a realização deste foi bastante proveitoso para mim, pois tive a oportunidade de verificar a dimensão e o impacto desta temática na sociedade. 21 22 13. Referências Bibliográficas: Na Biblioteca • Giddens, Anthony (2004), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. • Gil, Ana (2005), Estudos dos Sem-abrigo/Instituto da Segurança Social. Lisboa: Instituto da Segurança Social. • Paugman, Serge (2003), A desqualificação social: ensaio sobre a nova pobreza. Porto: Porto Editora. • Pestana Barros, Carlos e Gomes Santos, J. C (1997), “Situações de pobreza em Habitat Urbano degradado”, in Flávio Paiva (org.), A Habitação e a Reinserção Social em Portugal. Lisboa: Editora Vulgata, 231-272. Na Internet • AMI (2010), “Por uma acção humanitária global”. Página consultada em 3 de Maio de 2010, <http://www.ami.org.pt/default.asp?id=p1p5p21p404&l=1> • Companhia da poesia (2005), “Revolta: Sem abrigo”. Página consultada em 6 de Maio de 2010, <http://www.companhiadapoesia.com/modules/news/article.php?storyid= 202> • Infonature (s.d), “sem abrigo”. Página consultada em 3 de Maio de 2010, <http://masapunk.org/wpcontent/uploads/2007/09/pobreza.jpg> • Misericórdia do Porto (2009), “Acção Social casa de rua”. Página consultada em 3 de Maio de 2010, <http://www.scmp.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=1581> 23 • Anexos Anexo I- Página da Internet avaliada 24 Anexo II - Texto de suporte à ficha de leitura Situação de pobreza em Habitat Urbano degradado Flávio Paiva (Sociólogo) Resumo Segundo o sociólogo Flávio Paiva, neste presente artigo, pretende-se demonstrar a ligação entre o habitat urbano degradado e a pobreza, tendo como instrumento de observação um inquérito por questionário, realizado a três bairros de realojamento da câmara municipal de Lisboa. Palavras-chave: pobreza, habitat urbano degradado, realojamento, caracterização sócio económica, condições de habitabilidade e relações de vizinhança. 25 26