ERIK COSTA TEDESCO
ESTUDO DAS DIATOMÁCEAS DA ZONA DE ARREBENTAÇÃO DA PRAIA DO
CURURUPE, ILHÉUS – BA.
ILHÉUS – BAHIA
2006
ERIK COSTA TEDESCO
ESTUDO DAS DIATOMÁCEAS DA ZONA DE ARREBENTAÇÃO DA PRAIA DO
CURURUPE, ILHÉUS – BA.
Dissertação
apresentada
ao
Curso
de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz
como parte integrante dos requisitos para a
obtenção do Grau de Mestre.
Área de Concentração: Meio Ambiente
Orientador:
a
a
Prof . Dr . Sylvia Maria Moreira Susini Ribeiro
IILHÉUS – BAHIA
2006
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Profa. Dra. Sylvia Maria Moreira Susini Ribeiro pela paciência,
confiança e dedicação, incondicionais ao longo desses anos de estudo e trabalho.
Ao Professor Dr. Salvador Airton Gaeta (IOUSP), a Luciana Frazão e a amiga Mayza
Pompeu pelas análises de nutrientes realizadas no Instituto Oceanográfico – USP.
Aos professores Marcelo Friederichs Landim de Souza, Alexandre Schiavetti, Lucio
Figueiredo de Rezende e Ana Claudia da Silva Andrade pelo auxílio científico e
sugestões ao longo desse trabalho.
Ao Prof. Dr. Paulo César Oliveira Verge de Abreu (FURG) pelo apoio e sugestões no
desenvolvimento desse trabalho
Ao Prof. Dr. Leonardo Rörig (UNIVALI) pelo material bibliográfico disponibilizado e
ajuda fornecida, que contribuíram bastante para a realização do presente trabalho.
Ao grande amigo Max de Menezes, incentivador científico incondicional e um dos
principais responsáveis pela realização desse trabalho.
A família Nüscheler, em especial a Marc e Trix, pelo apoio, compreensão, paciência
e incentivo ao longo de todos esses anos. Meus grandes motivadores e
responsáveis pela minha permanência na vida acadêmica.
Ao colega e amigo Antônio Fábio Figueiredo pela ajuda constante.
A minha família e todos os amigos.
A CAPES pela concessão da Bolsa.
A INFRAERO pelo fornecimento dos dados meteorológicos.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................VI
LISTA DE TABELAS..................................................................................................VII
LISTA DE APÊNDICES...............................................................................................X
RESUMO....................................................................................................................XI
ABSTRACT................................................................................................................XII
1.
INTRODUÇÃO...................................................................................................1
1.1.
2.
3.
4.
Objetivos......................................................................................................5
ÁREA DE ESTUDO...........................................................................................6
2.1.
Localização..................................................................................................6
2.2.
Aspectos Fisiográficos.................................................................................7
2.3.
Climatologia..................................................................................................8
2.4.
Hidrografia....................................................................................................9
2.5.
Condições Oceanográficas........................................................................12
METODOLOGIA..............................................................................................14
3.1.
Dados Meteorológicos...............................................................................14
3.2.
Amostragem Temporal...............................................................................14
3.2.1.
Temperatura e Salinidade.....................................................................15
3.2.2.
Nutrientes Inorgânicos Dissolvidos.......................................................15
3.2.3.
Biomassa Clorofiliana............................................................................16
3.2.4.
Análise Quantitativa do Fitoplâncton.....................................................16
3.2.5.
Análise Qualitativa do Microplâncton....................................................17
3.3.
Amostragem nas Manchas.........................................................................18
3.4.
Tratamento dos Dados...............................................................................18
RESULTADOS.................................................................................................20
4.1.
Dados Meteorológicos................................................................................20
4.2.
Amostragem Temporal...............................................................................21
4.2.1. Monitoramento Quinzenal.........................................................................21
4.2.2. Amostragem Extra.....................................................................................30
4.3.
Amostragem nas Manchas.........................................................................38
4.4.
Tratamento dos Dados...............................................................................40
4.4.1. Monitoramento Quinzenal.........................................................................40
4.4.2. Amostragem Extra.....................................................................................43
5.
DISCUSSÃO....................................................................................................52
6.
CONCLUSÕES................................................................................................58
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................70
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa da área de estudo com os pontos de coleta......................................6
Figura 2. Médias mensais de temperatura do ar (ºC) e precipitação acumulada
mensal (mm) ao longo do período de estudo.............................................................20
Figura 3. Temperatura do ar (ºC)*, temperatura da água (ºC), precipitação
pluviométrica (mm)* e salinidade durante as coletas diárias ao longo de uma
semana.
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta..............................................................22
Figura 4. Concentração de clorofila-a e número de células de Anaulus australis e
Asterionellopsis glacialis na zona de arrebentação da praia do Cururupe, durante as
amostragens quinzenais.............................................................................................23
Figura 5. Concentração de feopigmentos na zona de arrebentação da praia do
Cururupe, durante as amostragens quinzenais..........................................................24
Figura 6: Concentração de clorofila-a e variação do número de organismos
fitoplanctônicos durante as amostragens quinzenais.................................................25
Figura 7. Contribuição dos organismos do microplâncton para o total do fitoplâncton
durante as amostragens quinzenais...........................................................................26
Figura 8. Contribuição dos organismos do nanoplâncton para o total do fitoplâncton
durante as amostragens quinzenais...........................................................................27
Figura 9. Variação do número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis
glacialis durante as amostragens quinzenais.............................................................28
Figura 10. Número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis
durante as amostragens quinzenais. Os traços abaixo da indicação das datas (eixo
X) identificam amostras coletadas na presença de manchas visíveis, enquanto que
os asteriscos (*) indicam as amostras nas quais não foi possível identificar
visualmente as manchas, porém apresentaram altas densidades de células de A.
glacialis e/ou A. australis, durante as contagens.......................................................29
Figura 11. Temperatura do ar (ºC)*, temperatura da água (ºC), precipitação
pluviométrica (mm)* e salinidade durante as coletas diárias ao longo de uma
semana.
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta..............................................................31
Figura 12. Concentração de clorofila-a na zona de arrebentação da praia do
Cururupe, durante as coletas diárias ao longo de uma semana................................33
VI
Figura 13. Concentração de feopigmentos na zona de arrebentação da praia do
Cururupe, durante as coletas diárias ao longo de uma semana................................34
Figura 14. Contribuição dos organismos do fitoplâncton durante as coletas diárias ao
longo de uma semana................................................................................................34
Figura 15. Contribuição dos organismos do microplâncton para o total do fitoplâncton
durante as coletas diárias ao longo de uma semana.................................................35
Figura 16. Contribuição dos organismos do nanoplâncton para o total do fitoplâncton
durante as coletas diárias ao longo de uma semana.................................................36
Figura 17. Variação do número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis
glacialis durante as coletas diárias ao longo de uma semana...................................37
Figura 18. Variação do número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis
glacialis nas manchas (verdetes) durante os anos de 2003 e 2005..........................39
Figura 19: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das variáveis ambientais. Os pontos em destaque
representam as estações com ocorrência de manchas.............................................41
Figura 20: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das espécies. Os pontos em destaque representam as
estações com ocorrência de manchas.......................................................................43
Figura 21: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das variáveis ambientais. O ponto em destaque
representa a estação com ocorrência de mancha.....................................................45
Figura 22: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das variáveis ambientais. O ponto em destaque
representa a estação com ocorrência de mancha.....................................................46
Figura 23: Amplitude (erro padrão) e média do número total de células do
fitoplâncton na zona de arrebentação da Praia do Cururupe....................................47
Figura 24: Amplitude (erro padrão) e média do número de células do
microfitoplâncton na zona de arrebentação da Praia do Cururupe............................48
Figura 25: Amplitude (erro padrão) e média do número de células do nanoplâncton
na zona de arrebentação da Praia do Cururupe........................................................49
Figura 26: Amplitude (erro padrão) e média do número de células de Anaulus
australis na zona de arrebentação da Praia do Cururupe..........................................50
Figura 27: Amplitude (erro padrão) e média do número de células de Asterionellopsis
glacialis na zona de arrebentação da Praia do Cururupe..........................................51
VII
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Valores numéricos de predominância e velocidade (m/s) dos ventos,
temperatura média do ar (ºC) e pluviosidade acumulada em Ilhéus, durante os
meses de estudo........................................................................................................21
Tabela 2. Variação temporal da concentração de nutrientes inorgânicos dissolvidos,
ao longo da amostragem quinzenal (APÊNDICE 1)...................................................22
Tabela 3. Lista dos organismos microplanctônicos identificados durante o período de
estudo (APÊNDICE 2)................................................................................................76
Tabela 4. Valores numéricos de predominância e velocidade (m/s) dos ventos,
temperatura média do ar (ºC) e precipitação (mm), durante as amostragens
diárias.........................................................................................................................31
Tabela 5. Variação temporal da concentração de nutrientes inorgânicos dissolvidos
durante as coletas diárias ao longo de uma semana ( M)........................................32
Tabela 6. Lista do microplâncton encontrado na Praia do Cururupe durante as
coletas diárias ao longo de uma semana (28 de setembro a 03 de outubro de 2005)
acompanhando a entrada de uma frente fria.............................................................38
Tabela 7: Porcentagem de Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis nas
manchas coletadas ao longo do litoral de Ilhéus........................................................39
Tabela 8. Coeficiente de correlação linear das variáveis ambientais com os quatro
primeiros eixos (>0,05)...............................................................................................40
Tabela 9 Coeficiente de correlação linear das espécies com os quatro primeiros
eixos (>0,05)...............................................................................................................42
Tabela 10. Coeficiente de correlação linear das variáveis ambientais com os quatro
primeiros eixos (>0,05)...............................................................................................44
Tabela 11. Coeficiente de correlação linear das espécies com os quatro primeiros
eixos (>0,05)...............................................................................................................45
Tabela 12. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número total de células do
fitoplâncton na Praia do Cururupe, entre épocas do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata..................................47
Tabela 13. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células do
microfitoplâncton na Praia do Cururupe, entre épocas do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata..................................48
VIII
Tabela 14. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células do
nanoplâncton na Praia do Cururupe, entre épocas do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata...................................49
Tabela 15. Teste Tukey HSD para a variável nanoplâncton entre épocas do ano e
pontos de coleta.........................................................................................................49
Tabela 16. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células de Anaulus
australis na Praia do Cururupe, entre épocas do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata...................................50
Tabela 17. Teste Tukey HSD para a variável Anaulus australis entre épocas do ano
e pontos de coleta......................................................................................................50
Tabela 18. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células de
Asterionellopsis glacialis na Praia do Cururupe, entre épocas do ano e pontos de
coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata...................................51
Tabela 19. Teste Tukey HSD para a variável Asterionellopsis glacialis entre épocas
do ano e pontos de coleta..........................................................................................51
IX
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE 1 (Tabela 2): Variação temporal da concentração de nutrientes
inorgânicos dissolvidos, ao longo da amostragem quinzenal....................................76
APÊNDICE 2. (Tabela 3): Lista dos organismos microplanctônicos identificados
durante o período de estudo......................................................................................77
APÊNDICE 3: Perfis de variação do número de células dos organismos com
freqüência superior a 15%..........................................................................................79
APÊNDICE 4 - Dados brutos de temperatura média do ar (°C)*, temperatura da água
(°C), salinidade e precipitação média (mm)*, obtidos durante as amostragens
quinzenais (03/12/2004 a 18/08/2005), na Praia do Cururupe.
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta..............................................................81
X
ESTUDO DAS DIATOMÁCEAS DA ZONA DE ARREBENTAÇÃO DA PRAIA DO
CURURUPE, ILHÉUS – BA.
ERIK COSTA TEDESCO
Orientador: Profa. Dra. SYLVIA MARIA MOREIRA SUSINI RIBEIRO
RESUMO
As manchas causadas pelo acúmulo de diatomáceas na zona de
arrebentação e os possíveis fatores que condicionam o seu aparecimento foram
estudados no município de Ilhéus - BA, ao longo do ano de 2005. A direção e
intensidade dos ventos associados à passagem de frentes frias parecem ser os
principais responsáveis pelas oscilações nas variáveis físicas e químicas da zona de
arrebentação, determinando a modificação da comunidade fitoplanctônica. O total de
organismos fitoplanctônicos na zona de arrebentação da praia do Cururupe variou
de 2,1 x 105 a 9,54 x 107 org/L. O estudo qualitativo do microplâncton relevou 154
taxa, sendo 109 pertencentes ao grupo das diatomáceas, 23 tintinídeos, 20
dinoflagelados e 2 cianobactérias. A assembléia microfitoplanctônica foi composta
em sua maioria por espécies bentônicas nos períodos de ventos fortes e
principalmente por espécies planctônicas, nos períodos de ventos moderados a
fracos. Durante os períodos de vento forte foram encontrados os maiores valores de
biomassa (106,5 mg de clorofila-a.L-1) associados às manchas. As espécies
Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis estiveram presentes em todas as
manchas analisadas, com dominâncias esporádicas de uma sobre a outra. As duas
espécies atingiram elevadas densidades celulares nas manchas: A. australis (1,81 x
106 a 7,78 x 108 org/L) e A. glacialis (4,72 x 105 a 1,81 x 109 org/L), sugerindo uma
forte contribuição das manchas aos diversos níveis tróficos do ambiente de praia.
Palavras-chave: Fitoplâncton, clorofila-a, zona de arrebentação, praias arenosas.
XI
STUDY OF SURF-ZONE DIATOMS IN THE CURURUPE BEACH, ILHÉUS – BA.
ERIK COSTA TEDESCO
Adviser: Profa. Dra. SYLVIA MARIA MOREIRA SUSINI RIBEIRO
ABSTRACT
Patches formed by surf diatoms accumulation in the sur-zone and their forcing
factors had been studied in Ilhéus - BA, throughout the year of 2005. The direction
and intensity of the winds associated to cold fronts seem to be the main feature
responsible for the changes in the physical and chemical variables, determining the
phytoplanktonic community. The total of organisms in the sur-zone of Cururupe
beach varied from 2,1 x 105 to 9,54 x 107 org/L. The qualitative study of
microplankton identified 154 taxa, being 109 diatoms, 23 tintinnids, 20 dinoflagellates
and 2 cyanobacteria. The microphytoplanktonic assembly was composed, in its
majority, by benthic species in strong wind periods and mainly by planktonic species,
in moderate or weak wind ones. During strong wind events, the biggest biomass
values were found (106,5
g Chl-a L-1) associated to the patches. The species
Asterionellopsis glacialis and Anaulus australis were present in all patches analyzed,
which occasionally were dominated by the former or the latter species. These two
species reached high cellular densities in the patches, A. australis (1.81 x 106 to 7,78
x 108 org/L) and A. glacialis (4,72 x 105 to 1.81 x 109 org/L), suggesting a strong
contribution of the patches to the higher trophic levels in the beach environment.
Keywords: Phytoplankton, chlorophyll-a, surf-zone, sand beaches.
XII
1. INTRODUÇÃO
As praias de areia ao longo das costas litorâneas dos continentes mundiais
eram consideradas, até pouco tempo atrás, como ambientes dominados por
consumidores e tido como relativamente pobres em vida (BROWN, 1964;
MCLACHLAN, 1980).
Estudos recentes, realizados em numerosas praias de areia expostas, de
média e alta energia, em latitudes temperadas e quente-temperadas, têm
demonstrado a presença de elevada concentração de células fitoplanctônicas,
(elevada produção primária) contrariando a idéia freqüentemente aceita de que estas
regiões são dominadas por populações de organismos heterotróficos.
As diatomáceas estão entre os organismos fotossintéticos mais abundantes
nas águas marinhas, e um dos habitats nos quais elas ocorrem são as zonas de
arrebentação das praias ou zonas de surfe (“surf-zone”). Algumas zonas de
arrebentação de praias arenosas do mundo apresentam manchas, persistentes e
visíveis, de coloração marrom escura, causada pelo acúmulo localizado de células
de diatomáceas, geralmente de uma ou duas espécies (TALBOT et al., 1990;
CAMPBELL, 1996). Existem poucas trocas ou perdas destas diatomáceas da região
da zona de arrebentação para as regiões adjacentes, e estas espécies apresentam
adaptações para permanecerem dentro da zona de arrebentação (TALBOT e BATE,
1987). Segundo McLachlan (1980) e Lewin e Schaefer (1983) a zona de
arrebentação pode ser considerada como um ecossistema semifechado.
Revisões sobre este assunto (LEWIN e SCHAEFER, 1983; TALBOT et al.,
1990) têm demonstrado tratar-se de um fenômeno natural e não floração causada
1
por poluição da água ou qualquer outra causa antropogênica (BATE e
MACLACHLAN, 1987). Estas manchas marrons se assemelham à manchas de óleo
devido à elevada viscosidade e à coloração quase negra, e têm sido erroneamente
consideradas como decorrentes de poluição por óleo (BATE et al., 1990).
Sabe-se atualmente que elas são formadas pelo acúmulo de células na
espuma superficial, resultante da habilidade destas diatomáceas em ascender à
superfície, presas às bolhas de ar que se formam durante a arrebentação das ondas
(LEWIN e SCHAEFER, 1983).
Talbot e Bate (1988a) propuseram o seguinte modelo para a formação e o
subseqüente desaparecimento das manchas, baseado em numerosas observações.
No início da manhã, as células começam a se dividir. No momento da divisão elas se
desprendem da camada mucosa. A perda do muco, por processo ainda
desconhecido, faz com que as células sejam liberadas do sedimento pela ação das
ondas. Estas entram na coluna de água, tornando-se planctônicas, e se prendem a
bolhas de ar geradas pelas ondas. As células se concentram na interface água-ar,
onde completam seu processo de divisão. No final da tarde, as células recentemente
divididas, novamente desenvolvem uma camada de muco, que lhes confere uma
superfície ativa, permitindo substituir as bolhas de ar por grãos de areia. Desta
maneira, a população se torna episâmica à noite, até que as divisões se iniciem com
o amanhecer. As questões relativas, de como o muco é formado e removido das
células, são ainda desconhecidas (TALBOT et al., 1990).
Estas manchas de diatomáceas ocorrem na zona de arrebentação de praias
extensas e rasas, de regiões quentes a temperadas, com areia fina, e durante
períodos em que os ventos sopram em direção à costa (ODEBRECHT et al., 1995;
CAMPBELL, 1996).
2
Numerosos fatores ambientais têm sido considerados importantes para
tornar uma praia particular, um ambiente propício para acumulação destas
diatomáceas. Lewin e Schaefer (1983) e Talbot et al. (1990) citam a topografia da
praia, um comprimento mínimo de praia, hidrologia, direção e velocidade do vento,
suprimento de nutrientes e chuvas, como determinantes importantes.
Talbot et al. (1990) propuseram um modelo de requerimentos para as “áreas
ativas”, ou seja, áreas prováveis de se observar este fenômeno, e relataram que no
hemisfério sul elas estariam restritas às latitudes de 29º S a 34º S. Segundo estes
autores, os requerimentos meteorológicos necessários para a acumulação das
diatomáceas na zona de arrebentação seriam: as ondas periódicas de elevada
energia que acompanham as passagens dos distúrbios atmosféricos (frentes), ou os
sistemas ciclônicos de baixa pressão gerados a oeste na região circumpolar, ao
longo do oceano Antártico, e que se movem para leste. Entretanto, o próprio autor
ressalta que a costa leste da América do Sul ainda não estudada, parece ser uma
das áreas mais interessantes para este tipo de estudo.
Somente seis espécies em todo o mundo têm sido relacionadas a este tipo
de fenômeno: Anaulus australis Drebes e Schulz, Asterionella socialis Lewin e Noris,
Asterionellopsis glacialis (Castracane) Round, Attheya armatus (West) Crawford,
Aulacodiscus kittonii Arnott e Aulacodiscus africanus Cottam.
MacLachlan e Bate (1984) concluem que os ecossistemas das zonas de
arrebentação são baseados principalmente na cadeia macroscópica: fitoplâncton –
zooplâncton - peixes, embora a alça microbiana na coluna de água seja também
importante. A fauna macrobêntica e a fauna intersticial, embora ricas, são de menor
importância no fluxo de energia. Campbell e Bate (1988) estimaram que a espécie
Anaulus australis produzisse cerca de 120 kg C m-1 ano-1, na zona de arrebentação
3
da praia adjacente à desembocadura do rio Sundays, na Baía de Algoa, na África do
Sul. Na praia do Cassino, no sul do Brasil, Gianuca (1983, 1985) relata que as
manchas formadas por Asterionellopsis glacialis são a maior fonte de alimentos para
os principais organismos bentônicos filtradores tais como Mesodesma mactroides,
Donax hanleyanus e Emerita brasiliensis.
A única referência a este fenômeno na costa nordeste é o trabalho de
Franco (1998), em Sergipe, entre as latitudes 10 e 11º S, entretanto por ter sido
publicado
em
português,
em
periódico
nacional
de
pequena
penetração
internacional, não tem sido considerado nas grandes revisões sobre o assunto.
“Verdete” é o nome vulgar utilizado pelos pescadores na costa nordeste do
Brasil para denominar este fenômeno, freqüente nas praias do sul da Bahia, e
caracterizado pela formação de manchas de coloração marrom escura, ou quase
preta, na zona de arrebentação das praias. Devido à coloração bastante escura e à
elevada viscosidade da água nestas manchas, são erroneamente confundidas com
manchas causadas por poluição de óleo. Estas manchas são observadas por
pescadores à muitos anos na costa leste da Bahia. Apesar do aspecto estranho, os
pescadores sabem que determinadas espécies de peixes são atraídas para estas
manchas, principalmente a tainha (Mugil sp), e costumam jogar tarrafas para pescar
sobre elas.
A falta de estudos na costa leste e nordeste do Brasil têm conduzido a
teorias errôneas sobre a distribuição deste fenômeno em termos globais. A
importância do desenvolvimento de estudos sobre as diatomáceas da zona de
arrebentação em nossa costa tem sido reconhecida internacionalmente, como uma
das áreas mais interessantes para este tipo de estudo, devido a sua localização e
morfologia.
4
1.1. Objetivos
Este trabalho visa estudar o aparecimento das manchas causadas pelo
acúmulo de diatomáceas na zona de arrebentação, no município de Ilhéus, no litoral
sul da Bahia, ao longo do ano, e os possíveis fatores que condicionam seu
aparecimento.
Procurando confirmar e quantificar a importância destas acumulações, este
trabalho tem os seguintes objetivos específicos:
•
Determinar a composição, a densidade numérica e a biomassa em termos de
clorofila-a da população fitoplanctônica da zona de arrebentação da praia do
Cururupe, ao longo do ano;
•
Verificar a presença ou ausência das espécies Asterionellopsis glacialis e
Anaulus australis na zona de arrebentação da praia do Cururupe ao longo do
ano;
•
Correlacionar a comunidade fitoplanctônica observada na zona de arrebentação
da praia do Cururupe com os parâmetros ambientais, ao longo do ano;
•
Determinar a composição das espécies presentes no maior número possível de
manchas observadas ao longo do litoral do município de Ilhéus;
5
2. ÁREA DE ESTUDO
2.1. Localização
A área de estudo é o litoral do município de Ilhéus, que tem seu limite norte
na praia do Sargi (39º 02’ 28’’ W e 14º 30’ 06’’ S) e seu limite ao sul na barra do Rio
Acuípe (38º 59’ 57’’ W e 15º 05’ 29’’ S), compreendendo uma faixa litorânea de
aproximadamente 67 km de extensão, formada por praias arenosas expostas (Figura
1). A barra do Rio Almada e a embocadura do estuário do Rio Cachoeira são as
interrupções mais significativas presentes neste trecho.
Brasil
39º30’
39º00’
N
W
#
Ilhéus
Bahia
#
#
Sargi
E
S
Tulha
Marciano
#
#
#
Cururupe
14º30’
Oceano Atlântico
#
#
15º00’
#
10
0
10 km
Acuípe
Fonte: Figueiredo, A. F. 2006
Figura 1: Mapa da área de estudo com os pontos de coleta.
6
A faixa litorânea compreendida a norte da barra do Rio Sargi até a praia de
Pé de Serra Grande (39º02’01’’ W e 14º28’53’’ S - extensão), município de Uruçuca,
foi inserida no presente trabalho por se tratar de faixa contínua (2,5 km) de praia
com características morfodinâmicas semelhantes às áreas da porção norte do litoral
de Ilhéus, onde é freqüente a ocorrência do fenômeno.
2.2. Aspectos Fisiográficos
O comportamento morfodinâmico das praias tem sido foco de vários
trabalhos descritivos desde a década de 60. Um dos trabalhos mais utilizados e
aceitos para a classificação das praias é o modelo evolutivo de estágios
morfodinâmicos, proposto por Wright e Short (1984), a partir de longas séries
temporais de praias australianas. Foram reconhecidos três estados ou estágios
morfodinâmicos distintos, associados a diferentes regimes de ondas e marés,
caracterizados por dois extremos (estado dissipativo e estado refletivo) e quatro
estados intermediários.
No estado dissipativo, observa-se uma ampla zona de surfe, declividade
suave, areia fina e incidência de ondas de energia moderada. Os estados
intermediários são caracterizados por uma progressiva redução da largura da calha
longitudinal, em decorrência da migração do banco submarino da zona de
arrebentação em direção à praia. Inclui praias com ondas de energia moderada,
sedimento com areia média a grossa e praias mais instáveis e mais complexas. No
outro extremo, estão as praias de estado refletivo, caracterizadas por uma zona de
surfe estreita, declive acentuado, sedimento com areia média a grossa, com ondas
do tipo mergulhante ou ascendentes, apresentando berma de praia elevada
(WRIGHT e SHORT,1984).
7
Apoluceno
(1998)
desenvolveu
a
caracterização
dos
estágios
morfodinâmicos das praias do litoral de Ilhéus, considerando a classificação de
Wright e Short (1984). As praias a partir do extremo norte até um limite de cerca de 7
km a norte da desembocadura do Rio Almada foram classificadas como praias em
estágio morfodinâmico dissipativo. A partir desse trecho, até a desembocadura do
Rio Almada, persiste o estágio morfodinâmico intermediário, com presença de
correntes de retorno abundantes e barras. Esta distribuição observada no local é
resultado da presença do porto, que estendeu a região de sombra (região de baixa
energia) de S e SSE, que anteriormente limitava-se ao setor da Enseada do
Malhado, impedindo o desenvolvimento de praias dissipativas no trecho costeiro
adjacente ao promontório. Para a maior parte das praias ao sul do Morro de
Pernambuco, inferiu-se um estágio dissipativo, à exceção do trecho de Olivença,
marcado pela presença de promontórios rochosos, onde foram encontradas praias
em estágio morfodinâmico intermediário.
Segundo Bittencourt et al. (2000), no estado da Bahia, a plataforma
continental pode ser subdividida em dois trechos bem definidos. O primeiro trecho,
localizado ao sul de Ilhéus, apresenta um baixo gradiente batimétrico e isóbatas com
contornos bastante irregulares, alcançando a plataforma continental, expressiva
largura em frente aos municípios de Belmonte e Caravelas. O segundo trecho, ao
norte de Ilhéus, apresenta uma plataforma continental bastante estreita, com um
forte gradiente batimétrico e isóbatas paralelas à linha de costa.
2.3. Climatologia
Sob o ponto de vista climático, a região de Ilhéus se enquadra em uma área
intertropical úmida. Sua temperatura média anual na zona litorânea é de 23ºC, e a
8
média do mês mais “frio” 21,7ºC. Os totais pluviométricos anuais são sempre
superiores a 1.900mm, com uma média anual de 2.000mm, sendo setembro e
outubro os meses mais secos, e março e abril os mais chuvosos, caracterizando
clima úmido (SRH, 2004).
De acordo com Bittencourt et al. (2000), a região estudada está situada
dentro da Zona de Divergência da Célula Anticiclônica Semi-Estacionária do
Atlântico Sul. Sazonalmente essa célula tende a se expandir e contrair. Durante o
inverno, a zona de alta pressão cobre uma vasta área do país, enquanto durante o
verão ela retorna para o oceano. Na zona costeira, esse movimento sazonal da zona
de alta pressão controla a posição da Zona de Divergência (ZD). Durante o inverno,
a ZD localiza-se a aproximadamente 20°S, enquanto que no verão ela migra em
direção ao equador (13°S). Este padrão de circulação permite que, na costa do
estado da Bahia, predominem ventos de NE durante o verão e o inverno, devido à
migração da célula em direção sul e ao avanço de frentes frias, os ventos
predominantes sejam de SE, gerando um padrão de ondas nesse sentido, além dos
ventos de E que sopram durante o ano inteiro. Este padrão geral de circulação
atmosférica é suscetível a distúrbios, particularmente quando da atuação de
fenômenos atmosféricos como El Niño, que pode vir a interromper a ação dos ventos
de SSE nessa região.
2.4. Hidrografia
O município de Ilhéus está inserido em duas importantes bacias
hidrográficas: a do Rio Almada e a do Rio Cachoeira, sendo a última, a principal da
região.
9
A Bacia do Rio Almada encontra-se entre as coordenadas 14°26’ - 14°50’ S
e 39°03’ - 39°44’ W, tendo como seu limite sul a Bacia Hidrográfica do Rio
Cachoeira. Ocupa uma área de aproximadamente 1.910 km2 e é composta pelo rio
Almada, tendo como principais tributários o Rio do Braço, Ribeirão do Boqueirão e
Riacho Sete Voltas à margem direita, e o Rio São José e os ribeirões de Jussara e
Braço Norte à margem esquerda. O Rio Almada, principal formador da Bacia, de
regime perene, tem origem na Serra Pereira, no município de Almadina e percorre
135 km banhando as cidades de Almadina, Coaraci, Itajuípe e Ilhéus. Faz parte
dessa bacia a Lagoa do Itaípe (Lagoa Encantada), com uma de 7 km2 de espelho
d’água, localizada no município de Ilhéus (BAHIA, 2001a).
A Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira (BHRC), maior das bacias da região
leste da Bahia, encontra-se situada entre as coordenadas 14º 42' - 15º 20' S e 30º
01' - 40º 09' W. A sua área de drenagem é de 4.600 km2, abrangendo doze
municípios: Firmino Alves, Floresta Azul, Jussari, Itaju do Colônia, Ibicaraí, Itapé,
Itabuna, Ilhéus, Lomanto Júnior, Santa Cruz da Vitória (microrregião Ilhéus-Itabuna),
Itororó e Itapetinga (microrregião Itapetinga). A população total da BHRC é de cerca
de 600.000 habitantes (BAHIA, 2001a). Os rios Salgado e Colônia são os mais
importantes afluentes da bacia do Rio Cachoeira.
A sub-bacia do Rio Salgado possui uma área de drenagem de
aproximadamente 1.020m2 e perímetro de 178 km. O Rio Salgado nasce na Serra
do Salgado, aproximadamente a 4 km do povoado de Ipiranga, no município de
Firmino Alves e passa a percorrer outros quatro municípios, Santa Cruz da Vitória,
Floresta Azul, Ibicaraí e Itapé. Em toda a sua extensão de 88 km tem como
principais afluentes, à margem esquerda, os Ribeirões Água Vermelha, do Luxo e
10
Salomé, Córrego Grande e Ribeirão Grande; à margem direita, os Ribeirões do
Limoeiro, dos Barbados, do Batista e Rio de Dentro (BAHIA, 2001b).
A sub-bacia do Rio Colônia apresenta uma área de drenagem de
aproximadamente 2.339 km2 e perímetro de 323 km. Com uma extensão do seu
curso de água principal de 137 km, abrange os municípios de Itororó, Itapetinga,
Itaju do Colônia e Jussari, tendo sua confluência com o Rio Salgado no município de
Itapé, passando a receber o nome de Rio Cachoeira. Após percorrer 50 km nos
municípios de Itapé, Itabuna e Ilhéus, tem sua foz no local conhecido como Coroa
Grande (município de Ilhéus), onde mistura suas águas com as dos rios Santana e
Almada (FIGUEIREDO, 2005).
Na porção sul do município de Ilhéus, localizam-se ainda os rios Cururupe e
Acuípe, que compreendem duas pequenas bacias de drenagem costeira.
O Rio Acuípe está situado no limite sul do município de Ilhéus e suas águas
são utilizadas como nível de base natural, assumindo-se um baixo grau de
perturbação ambiental, apesar de ser utilizado para recreação (ALVES, 2003).
O Rio Cururupe está sujeito a uma pequena exploração turística, com a
presença de cabanas e hotéis na região de sua desembocadura. Até o ano de 2003,
funcionava em suas margens, a cerca de 1 km a montante de sua desembocadura,
o depósito de resíduos sólidos (lixão) do município de Ilhéus, sugerindo um
determinado grau de perturbação ambiental. No entanto, segundo Alves (2003),
esse rio atende as exigências da resolução nº 257/2005 do CONAMA, não chegando
a ser problemática a sua utilização para recreação de contato primário (classe 7,
para águas salobras).
11
2.5. Condições Oceanográficas
As características hidrográficas têm implicações diretas sobre a comunidade
fitoplanctônica, antes de serem refletidas nos elos superiores da cadeia alimentar.
De forma geral a circulação oceanográfica na plataforma brasileira se dá através das
Correntes de Contorno Oeste. Na Região Central (entre Baía de Todos os Santos e
o Cabo de São Tomé) a Água Tropical, com salinidade mais elevada e pobre em
nutrientes, é transportada na direção sul ao largo da quebra da plataforma
continental, através da Corrente do Brasil (BRANDINI et al., 1997).
Segundo Ekau e Knoppers (1999), a Corrente Sul-Equatorial (CSE) atinge a
costa nordeste brasileira entre 11 e15º S. Após se bifurcar, uma porção se dirige
para noroeste, como Corrente da Costa Norte do Brasil e outra porção menor flui
para o sul, formando a Corrente do Brasil (CB) que percorre a costa leste e sudeste
brasileira. Tanto a Corrente do Brasil como a Corrente da Costa Norte do Brasil
apresentam características típicas de águas oligotróficas, com baixas concentrações
de nutrientes e elevados valores de temperatura e salinidade. No entanto, sobre a
plataforma continental há o predomínio da massa de Água Costeira (AC), de origem
continental caracterizada por apresentar temperatura superior à 22ºC e salinidade
inferior a 35, com concentrações de nutrientes extremamente variáveis em função
das taxas de drenagem e da geomorfologia local.
Considerações descritivas sobre a circulação marinha da costa de Ilhéus,
foram realizadas por Resende (2001) em abril de 2000. O trabalho foi baseado na
observação do comportamento de corpos de deriva (garrafas), na dispersão de
poluentes, em informações hidrográficas históricas e no saber empírico das
populações locais de pescadores. Um total de 500 garrafas, marcadas com quatro
cores distintas, foi lançado em uma radial defronte ao município de Ilhéus. Quatro
12
diferentes proximidades da costa foram utilizadas para o lançamento das garrafas.
As garrafas apresentaram um transporte resultante prioritariamente para o norte,
exceto para as garrafas lançadas na porção interna da plataforma continental
(isóbata de 15m), as quais derivaram para o sul. O transporte de poluentes
derramados em acidentes ocorridos entre janeiro e março de 2001, nesse trecho da
costa baiana, indica uma deriva preponderantemente no sentido sul. Os resultados
obtidos apontam a existência de uma complexa circulação de plataforma,
aparentemente independente do padrão de circulação oceânica, em larga escala.
Segundo Apoluceno (1998), na região de Ilhéus, há o predomínio de ondas
decorrentes da ação de ventos de quadrante Leste (E) durante quase todo o ano, à
exceção do período de transição primavera / verão. Durante o período de primavera
e verão, as ondas oriundas de ventos Norte (N) e Nordeste (NE) são mais
freqüentes em relação àquelas de quadrante SE.
13
3. METODOLOGIA
3.1. Dados Meteorológicos
Os dados meteorológicos foram fornecidos pela estação meteorológica do
Aeroporto de Ilhéus (INFRAERO). Para inferências sobre a variabilidade dos dados
biológicos foram considerados os parâmetros meteorológicos de temperatura do ar
(ºC), precipitação pluviométrica (mm), direção (°) e intensidade (m/s) dos ventos,
referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim como
aqueles referentes aos dias de coleta. Foram consideradas também as médias
mensais da temperatura do ar e precipitação pluviométrica durante o período
estudado, visando perceber a existência de períodos com maiores ou menores
pluviosidade (épocas seca e chuvosa) ao longo do ano.
3.2. Amostragem Temporal
As amostragens foram realizadas em três pontos 1, 2 e 3 selecionados, na
zona de arrebentação da praia do Cururupe (praia alvo), Ilhéus – BA (03 de dezembro
de 2004 a 18 de agosto de 2005), visando determinar se há diferença na composição
da comunidade microplanctônica. Foram estabelecidos um ponto na desembocadura
do Rio Cururupe e dois outros localizados a norte e ao sul longe da influência de água
doce.
Esta estratégia amostral teve como objetivo monitorar a ocorrência das
manchas de Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis, visando verificar a
existência de sazonalidade destas espécies e os fatores que provocam a formação
das manchas, ao longo do ano.
14
Foi realizada ainda uma amostragem extra na zona de arrebentação da
praia do Cururupe, com coletas diárias ao longo de uma semana (28 de setembro a
03 de outubro de 2005) visando acompanhar a formação de manchas, durante a
passagem de uma frente fria ou de aumento do “swell” causados por ventos do
quadrante sul.
Os seguintes parâmetros físicos, químicos e biológicos foram considerados:
3.2.1. Temperatura e Salinidade
As amostras de água foram coletadas na zona de arrebentação, com o
auxílio de balde plástico. Os dados de temperatura foram obtidos através de um
termômetro de mercúrio padrão, no momento da coleta, e a salinidade medida in
situ, utilizando-se um refratômetro (ATAGO S/Mill-e 0-100%).
3.2.2. Nutrientes Inorgânicos Dissolvidos
As amostras de água para determinação das concentrações de nutrientes
inorgânicos dissolvidos (amônia, nitrato, nitrito, fosfato e silicato) foram filtradas em
laboratório, imediatamente após a coleta, em filtros de fibra de vidro WHATMAN
GF/F (47 mm de diâmetro) e congeladas em frascos de Nalgene, até o momento
das análises. As metodologias utilizadas para a análise dos nutrientes dissolvidos
foram as técnicas descritas por: Strickland e Parsons (1972) para nitrato; Grasshoff
(1983) para nitrito; Solorzano (1969) para amônia e Koroleff (1983 a e b) para
silicato e fosfato, respectivamente.
15
3.2.3. Biomassa Clorofiliana
A análise de clorofila-a foi obtida através do método fluorimétrico com
correção para feopigmentos de acordo com Lorenzen (1967). As amostras de água
para análise da clorofila foram coletadas com balde, em sub-superfície,
acondicionadas em frascos plásticos e mantidas no gelo até o momento da filtração.
As amostras foram filtradas em filtros de fibra de vidro WHATMAN GF/F (47 mm de
diâmetro), a uma pressão negativa inferior a 20 cm de mercúrio, mantidos secos e
congelados, até o momento da extração. O volume filtrado variou de acordo com a
turbidez da água. Os filtros foram acondicionados em envelopes de papel alumínio
dentro de um frasco com sílica gel e estocados em congelador. Para a extração dos
pigmentos, cada filtro foi colocado em um tubo de ensaio contendo 10 mL de
acetona a 90% e mantidos no escuro por 24h no congelador. A fluorescência das
amostras foi lida em um espectrofotômetro Lambda EZ 201, antes e após
acidificação com duas gotas de HCl 10%. A calibração foi feita com água destilada.
Os valores finais foram expressos em µg.L-1.
3.2.4. Análise Quantitativa do Fitoplâncton
As amostras destinadas à análise quantitativa do fitoplâncton foram
coletadas com auxílio de balde plástico, em sub-superfície, acondicionadas em
frascos
de
125
mL
e
fixadas
com
solução
de
formol
neutralizada
(hexametilenotetramina), a uma concentração final de 0,4%. As contagens e
identificações foram realizadas em um microscópio invertido ZEISS, modelo Axiovert
40 CFL, segundo a metodologia descrita por Utermöhl (1958). Cada amostra foi
corada com solução de Rosa de Bengala e deixada em repouso em cubetas de
sedimentação de 2 ou 10 mL de volume, variando de acordo com a quantidade de
16
detrito presente na amostra, e contada após 24 horas de sedimentação. Utilizou-se
uma câmara úmida para abrigar as amostras durante o período de sedimentação,
para evitar a evaporação e conseqüente formação de bolhas, o que poderia dificultar
a análise microscópica. O aumento de 200x foi usado para contar células maiores
que 20 µm ou cadeias, em transectos, meia cubeta ou em toda área da cubeta de
sedimentação, variando de acordo com a concentração de células. As células
menores que 20 µm foram contadas com aumento de 400x, em transectos, também
variando de acordo com a concentração de células. Foram contados entre 74 a
9.845 organismos o que corresponde a um erro mínimo estimado de cerca de 10%
(LUND et al., 1958).
3.2.5. Análise Qualitativa do Microplâncton
Volumes variáveis de água do mar sub-superficial (40 a 160L - dependendo
da quantidade de material em suspensão) foram filtrados em redes de 20 µm de
malhagem, com auxílio de baldes. As amostras foram acondicionadas em frascos de
250 ml e fixadas com formol neutralizado a 4% de concentração final. Estas
amostras foram observadas e identificadas em um microscópio, com contraste de
fase, da marca Zeiss, modelo Axiostar Plus. A identificação dos organismos baseouse em bibliografia especializada (KOFOID e CAMPBELL, 1929; CUPP, 1943;
SOURNIA, 1986; RICARD, 1987; BALECH, 1988; CHRÈTIENE-DINET, 1990;
TOMAS, 1996; POMPEU, 1998; TENENBAUM et al., 2004; TENENBAUM, 2006,
dentre outras). Devido a grande quantidade de sedimento encontrado nas amostras,
algumas células não puderam ser identificadas ao nível de espécie.
17
3.3. Amostragem nas Manchas
As amostragens nas manchas foram realizadas pela comunidade envolvida
(pescadores, pessoas que possuem bares em frente à orla, que observam
diariamente o mar) quando visualizadas (verdetes). Foram distribuídos “kits” simples,
contendo frascos de 125 mL, com formol neutralizado a 4% de concentração final e
um copo plástico para coleta da água superficial na mancha. As pessoas envolvidas
foram instruídas sobre o procedimento da coleta e periodicamente visitadas para o
recolhimento do material e posterior análise no laboratório. Nestas coletas, somente o
fitoplâncton foi analisado. Esta estratégia teve como objetivo verificar a abrangência
do fenômeno ao longo do litoral entre Pé de Serra Grande – Acuípe, e quais espécies
as compunham.
3.4. Tratamento dos Dados
Visando revelar tendências e evidenciar possíveis relações entre variáveis
ambientais, bióticas e abióticas foram executadas Análises de Componentes
Principais (ACP).
Foram analisadas as matrizes de dados ambientais (variáveis bióticas e
abióticas) e de espécies observadas, referentes a cada uma das amostragens
(quinzenal e diária). As variáveis abióticas consideradas na matriz de dados
ambientais foram: temperatura da água (TAG), salinidade (SAL), precipitação
pluviométrica (PRE), nitrito (NIT), nitrato (NAT), amônio (AMO), silicato (SIL), fosfato
(FOS), intensidade do vento (INT) e temperatura do ar (TAR). As variáveis bióticas
foram: clorofila-a (CLO) e feopigmentos (FEO).
18
Para a matriz de espécies observadas em cada uma das amostragens,
foram considerados somente os taxa com freqüência superior a 15% no total das
amostras. Os totais dos organismos foram transformados em Log (x+1).
Após observar os resultados da ACP das variáveis abióticas optou-se pela
utilização dos padrões de ventos dominantes para a separação de duas épocas no
ano, uma vez que essa variável parece ter um papel importante no processo de
formação das manchas. Ficou estabelecido como sendo o período de setembro a
março, referente ao “verão” e o período de abril a agosto, referente ao “inverno”.
Com o objetivo de verificar a existência de diferenças nos valores de
clorofila-a, feopigmentos, total do fitoplâncton, do microfitoplâncton, do nanoplâncton,
de Anaulus australis e de Asterionellopsis glacialis, entre os períodos de coleta
(“verão” e “inverno”) e os diferentes pontos, foram realizadas Análises de Variância
(ANOVA).
19
4. RESULTADOS
4.1. Dados Meteorológicos
A precipitação total, durante o período amostral de dezembro de 2004 a
outubro de 2005, foi de 2.091 mm. Os meses de abril (327 mm), maio (352,5 mm) e
junho de 2005 (258,3 mm) foram os mais chuvosos totalizando 937,8 mm, enquanto
que os meses menos chuvosos foram: dezembro de 2004 (52,6 mm) e outubro de
2005 (66,9 mm) (Figura. 2).
400
30
25
300
20
250
200
15
150
10
Temperatura do Ar (ºC)
Pluviosidade Acumulada (mm)
350
100
5
50
0
0
dez/04
jan/05
fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05
Precipitação Acumulada
jul/05
ago/05 set/05
out/05
Temperatura do Ar
Figura 2. Médias mensais de temperatura do ar (ºC) e precipitação acumulada
mensal (mm) ao longo do período de estudo.
A Tabela 1 apresenta os dados de vento para o período de estudo, com uma
predominância dos ventos de quadrante NE e E, durante os meses de setembro a
fevereiro e ventos de quadrante SW e W nos meses de março a julho. Nos meses de
20
maio a agosto, observa-se uma tendência maior ao predomínio de ventos de
quadrante sul.
Tabela 1. Valores numéricos de predominância e velocidade (m/s) dos ventos,
temperatura média do ar (ºC) e pluviosidade acumulada em Ilhéus, durante os
meses de estudo.
Ventos
Data
Dez/04
Jan/05
Fev/05
Mar/05
Abr/05
Mai/05
Jun/05
Jul/05
Ago/05
Set/05
Out/05
a
1 Predominância
(º)
a
2 Predominância
(º)
Velocidade
Média
(m/s)
40 (NE)
60 (NE)
40 (NE)
30 (NE)
250 (SW)
270 (W)
220 (SW)
250 (SW)
270 (W)
40 (NE)
40 (NE)
3,4
3,2
3,5
3,0
3,1
3,5
3,5
3,9
3,7
3,9
3,8
30 (NE)
40 (NE)
30 (NE)
270 (W)
270 (W)
220 (SW)
240 (SW)
240 (SW)
140 (SE)
90 (E)
90 (E)
Temperatura
do ar (ºC)
26,3
26,6
26,6
26,8
25,6
24,8
23,6
22,3
23,0
24,3
25,4
Pluviosidade
Acumulada
(mm)
52,6
223,3
222,0
200,5
327,0
352,5
258,3
129,0
160,2
98,7
66,9
4.2. Amostragem Temporal
4.2.1. Monitoramento Quinzenal
Os valores de temperatura da água na praia do Cururupe variaram de 24ºC,
em julho de 2005, a 30ºC, em fevereiro, abril e maio de 2005, com uma média de
27°C para o período de dezembro de 2004 a 18 de agosto de 2005. A média dos
valores de salinidade obtidos para o mesmo período foi de 34, com valor mínimo de
24 e máximo de 37 (Figura 3).
21
Figura 3. Temperatura do ar (ºC)*, temperatura da água (ºC), precipitação
pluviométrica (mm)* e salinidade durante o período de estudo.
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta.
A Tabela 2 (Apêndice 1) mostra a variação temporal da concentração dos
nutrientes inorgânicos dissolvidos (nitrito, nitrato, silicato, fosfato e amônia) ao longo
do monitoramento quinzenal. As concentrações de nitrito e nitrato variaram desde
valores abaixo do limite de detecção até máximos de 0,26 e 1,13 µM, com médias
de 0,05 e 0,20 µM, respectivamente. A concentração de silicato variou entre o
mínimo de 0,21 µM e o máximo de 45,38 µM, sendo o valor médio 7,33 µM. Os
valores de fosfato variaram de concentrações abaixo do limite de detecção até um
máximo de 0,38 µM, com uma média de 0,18 µM. Amônio variou entre um valor
mínimo de 0,18 µM, até um máximo de 4,56 µM, apresentando uma média de 1,47
µM.
22
A estimativa da biomassa fitoplanctônica através da análise de clorofila-a
apresentou valores extremos de 1,54 µg.L-1 no ponto 2 (06 de janeiro de 2005) e
106,5 µg.L-1 no ponto 1 (17 de junho de 2005), com uma média de 16,25 µg.L-1 para
todo o período de estudo. Os maiores valores de clorofila-a foram registrados no
período de abril a agosto (Figura 4), correspondendo aos picos de ocorrência dos
organismos do microfitoplâncton.
Figura 4. Concentração de clorofila-a e número de células de Anaulus australis e
Asterionellopsis glacialis na zona de arrebentação da praia do Cururupe, durante as
amostragens quinzenais.
As amostras de clorofila-a e feopigmentos referentes ao dia 05 de maio de
2005 foram perdidas devido ao descongelamento provocado por uma queda de
energia ocorrida no laboratório de Oceanografia Biológica da UESC, onde as
mesmas encontravam-se armazenadas. Os valores de feopigmentos variaram desde
concentrações abaixo do limite de detecção (03 de dezembro de 2004 - ponto 2) até
23
88,78 µg.L-1 (17 de junho de 2005 - ponto 1), com uma média de 11,12 µg.L-1 (Figura
5).
Figura 5. Concentração de feopigmentos na zona de arrebentação da praia do
Cururupe, durante as amostragens quinzenais.
O total de organismos do fitoplâncton encontrado durante o monitoramento
quinzenal variou de 2,1 x 105 (17 de dezembro de 2004 - ponto 1) a 9,54 x 107 org./L (18
de agosto de 2005 - ponto 1), na praia do Cururupe (Figura 6). O microfitoplâncton
(organismos maiores que 20 µm) apresentou grande variação nos períodos
estudados, tendo sido mais abundante nos períodos de 04 de março, 19 de abril, 19
de maio, 03 e 17 de junho e 18 de agosto de 2005, com médias de 8,74 x 106, 1,60 x
108, 2,12 x 108, 1,18 x 108, 7,41 x 107 e 3,17 x 108 org./L, respectivamente, formando
as manchas de Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis. Nos outros períodos
coletados o fitoplâncton foi numericamente dominado pelo nanoplâncton (organismos
24
menores que 20 µm), variando de 7,41 x 105 org./L (03 de dezembro de 2004) a 3,39 x 107
org./L (05 de maio de 2005).
Figura 6: Concentração de clorofila-a e variação do número de organismos
fitoplanctônicos durante as amostragens quinzenais.
O grupo das diatomáceas foi responsável pela quase totalidade do
microfitoplâncton, perfazendo a totalidade dos organismos em 82% das coletas. Nos
demais 18% das amostras, as diatomáceas variaram de 84 a 99% dos organismos
contados; seguidas pelos dinoflagelados (1 a 16%) e pelas euglenofíceas (1%)
(Figura 7).
25
Figura 7. Contribuição dos organismos do microplâncton para o total do fitoplâncton
durante as amostragens quinzenais.
26
Figura 8. Contribuição dos organismos do nanoplâncton para o total do fitoplâncton
durante as amostragens quinzenais.
O nanoplâncton foi dominado pelos cocolitoforídeos (43%), seguidos pelos
flagelados (33%), diatomáceas (24%) e dinoflagelados (1%). Os grupos das
crisofíceas e das cianobactérias, tiveram ocorrências eventuais e de pouca
expressividade, não chegando a totalizar 1% dos organismos contados (Figura 8).
No ponto 1, durante as coletas de 18 de agosto de 2005 foram verificadas as
mais elevadas concentrações das espécies Asterionellopsis glacialis (6,72 x 107
org/L) e Anaulus australis (2,2 x 107 org/L) (Figura 9).
27
Figura 9. Variação do número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis
glacialis durante as amostragens quinzenais.
Foram coletadas manchas (verdetes) na zona de arrebentação em cinco
ocasiões, correspondendo a 28% das amostragens. Vale salientar que, em outras
oito ocasiões (44% das amostragens), apesar das manchas não terem sido
visualmente perceptíveis, foram constatadas altas densidades de células (104 a 106
org/L) de Asterionellopsis glacialis e/ou Anaulus australis, durante as contagens
(Figura 10). Em três dessas ocasiões (18 de fevereiro, 4 e 21 de março de 2005) foi
observada a presença de manchas, no entanto não sendo possível a coleta uma vez
que as mesmas localizavam-se na faixa mais externa da zona de arrebentação.
28
Figura 10. Número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis
durante as amostragens quinzenais. Os traços abaixo da indicação das datas (eixo
X) identificam amostras coletadas na presença de manchas visíveis, enquanto que
os asteriscos (*) indicam as amostras nas quais não foi possível identificar
visualmente as manchas, porém apresentaram altas densidades de células de A.
glacialis e/ou A. australis, durante as contagens.
Na análise qualitativa do microplâncton foi considerado também o grupo dos
tintinídeos, devido a sua elevada representatividade, superando os grupos dos
dinoflagelados e das cianobactérias, ficando atrás somente do grupo das
diatomáceas. A Tabela 3 (Apêndice 2) apresenta a lista dos organismos
microplanctônicos identificados durante todo o período de estudo.
Um total de 154 taxa foram identificados nas amostras quinzenais
destinadas ao estudo qualitativo do microplâncton, sendo 109 pertencentes ao grupo
das diatomáceas, 23 tintinídeos, 20 dinoflagelados e 2 cianobactérias. No que se
refere às diatomáceas, os gêneros Chaetoceros com 14 espécies (C. atlanticus, C.
coarctatus, C. compressus, C. concavicornis, C. convolutus, C. curvisetus, C.
danicus, C.decipiens, C. diversus, C. eibenii, C. laciniosus, C. laevis, C. peruvianus e
29
C. tetrastichon), Rhizosolenia com 9 espécies (R. acuminata, R. hebetata, R.
imbricata, R. pungens, R. robusta, R. setigera, R. simplex, R. striata e R. styliformis)
e Odontella com 8 espécies (O. alternans, O. aurita, O. longicruris, O. mobiliensis, O.
pulchella, O. pulcra, O. sinensis e Odontella sp) foram os mais representados.
Dentre os dinoflagelados, o gênero Ceratium foi o mais representado, com 11
espécies identificadas (C. contortum, C. contrarium, C. extensum, C. furca, C. fusus,
C. karsteni, C. macroceros, C. massiliense, C. trichoceros, C. tripos e C. vultur) e
entre os tintinídeos o gênero Eutintinnus com 8 espécies (E. apertus, E. colligatus, E.
lusus-undae, Eutintinnus sp1, Eutintinnus sp2, Eutintinnus sp3, Eutintinnus spl e E.
tenue).
As
cianobactérias
foram
representadas
pelos
gêneros
Anabaena
e
Trichodesmium.
Somente 18 espécies apresentaram freqüência maior que 30% ao longo das
50 amostras coletadas para a análise qualitativa do microplâncton. Sendo 13
diatomáceas (Asterionellopsis glacialis, Anaulus australis, Chaetoceros curvisetus,
C. decipiens, Delphineis sp1, Guinardia striata, Helicotheca tamesis, Odontella
mobiliensis, Proboscia alata, Rhizosolenia pungens, R. robusta, R. styliformis,
Thalassionema nitzschioides), 3 tintinídeos (Favella ehrenbergii, Tintinnopsis
nordqvisti, Tintinnopsis sp1), 1 dinoflagelado (Ceratium trichoceros) e uma
cianobactéria (Trichodesmium sp).
4.2.2. Amostragem Extra (entrada de frente fria)
Os resultados referentes às amostragens diárias ao longo de uma semana
visando entender o processo de formação das manchas das variáveis físicas,
químicas e biológicas serão apresentados a seguir.
Os dados meteorológicos podem ser visualizados na Figura 11.
30
25
35
20
30
15
25
10
20
5
15
0
Salinidade
40
Temperatura da água (ºC)
Temperatura do ar (ºC) Precipitação (mm)
30
10
1
2
3
28.09.05
Temp ar (3 dias)
1
2
29.09.05
3
1
2
3
1
30.09.05
2
3
01.10.05
Precip(3 dias)
1
2
3
02.10.05
Salinidade
1
2
3
03.10.05
Temp da água(ºC)
Figura 11. Temperatura do ar (ºC)*, temperatura da água (ºC), precipitação
pluviométrica (mm)* e salinidade durante as coletas diárias ao longo de uma
semana.
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta.
A Tabela 4 apresenta os dados de vento, referentes à amostragem diária
realizada ao longo de uma semana, na tentativa de acompanhar a formação de
manchas durante a passagem de uma frente fria.
Tabela 4. Valores numéricos de predominância e velocidade (m/s) dos ventos,
temperatura média do ar (ºC) e precipitação (mm), durante as amostragens diárias.
Data
28/Setembro
29/Setembro
30/Setembro
01/Outubro
02/Outubro
03/Outubro
Ventos
Direção (º)
Velocidade
média (m/s)
90 (E)
5,1
210 (SW)
5,1
50 (NE)
5,1
130 (SE)
6,2
130 (SE)
6,2
130 (SE)
7,2
31
Temperatura
do ar (ºC)
25
23
23
24
24
24
Precipitação
(mm)
7,6
7,9
26,8
0,3
0
0
A média dos valores obtidos para a temperatura da água foi 27ºC, onde o
valor mínimo foi 26ºC durante os dias 28 e 30 de setembro e o máximo alcançado no
dia 02 de outubro (29ºC). A salinidade média foi de 35, com valor um máximo de 37
(29 de setembro) e mínimo de 34 (02 de outubro).
As concentrações dos nutrientes inorgânicos dissolvidos podem ser
visualizadas na Tabela 5. A concentração de silicato variou de 0,095 µM a 0,857 µM,
com uma média de 0,434 µM. Amônio apresentou valores extremos de 1,044 µM e
4,240 µM, com média de 1,886. µM. A concentração de nitrato variou entre o mínimo
de 0,016 µM e o máximo de 0,078 µM, sendo o valor médio 0,044 µM. Nitrito e
fosfato apresentaram valores que variaram desde concentrações abaixo do limite
detectável até máximos de 0,012 µM e 1,138 µM, respectivamente.
Tabela 5. Variação temporal da concentração de nutrientes inorgânicos dissolvidos
durante as coletas diárias ao longo de uma semana (µM).
Data
28/9/2005
28/9/2005
28/9/2005
29/9/2005
29/9/2005
29/9/2005
30/9/2005
30/9/2005
30/9/2005
1/10/2005
1/10/2005
1/10/2005
2/10/2005
2/10/2005
2/10/2005
3/10/2005
3/10/2005
3/10/2005
Média
Mínimo
Máximo
CV
Ponto
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
Nitrito
0,012
0,012
0,004
0,004
0,004
0,000
0,004
0,000
0,000
0,000
0,000
0,008
0,000
0,000
0,008
0,012
0,000
0,004
0,004
0,000
0,012
0,005
Nitrato
0,062
0,070
0,053
0,053
0,033
0,016
0,029
0,021
0,021
0,078
0,045
0,049
0,053
0,053
0,041
0,066
0,029
0,016
0,044
0,016
0,078
0,019
Amônio
1,875
2,386
2,067
1,939
1,811
1,172
4,240
2,450
1,875
2,386
1,619
1,747
1,747
1,492
1,428
1,492
1,044
1,172
1,886
1,044
4,240
0,718
Silicato.
0,666
0,286
0,857
0,286
0,476
0,286
0,095
0,476
0,571
0,286
0,476
0,476
0,476
0,476
0,190
0,381
0,476
0,571
0,434
0,095
0,857
0,179
Fosfato.
0,046
0,138
0,092
0,000
0,000
0,000
0,000
0,046
0,046
0,138
0,046
0,046
0,092
0,046
0,138
0,138
0,092
0,138
0,069
0,000
0,138
0,053
A estimativa da biomassa fitoplanctônica através da análise de clorofila-a,
apresentou baixa variação com valores próximos a média (3,1 µg.L-1), com exceção
32
do ponto 3 (28 de setembro), onde a presença de uma mancha elevou bastante a
concentração de clorofila-a, alcançando um máximo de 15,6 µg.L-1. O valor mínimo
de 1,2 µg.L-1 foi obtido durante o dia 30 de setembro, no ponto 1 (Figura 12).
0,10
16
0,09
14
0,08
10
0,06
0,05
8
0,04
6
Clorofila-a (µ g/L)
Nº de Organismos/L x10
7
12
0,07
0,03
4
0,02
2
0,01
0,00
0
1
2
28.09.05
3
1
2
29.09.05
Anaulus australis
3
1
2
3
30.09.05
1
2
3
01.10.05
Asterionellopsis glacialis
1
2
02.10.05
3
1
2
3
03.10.05
Clorofila-a
Figura 12. Concentração de clorofila-a na zona de arrebentação da praia do
Cururupe, durante as coletas diárias ao longo de uma semana.
Os valores de feopigmentos apresentaram uma média de 0,9 µg.L-1 e
variaram de concentrações abaixo do limite de detecção até um máximo de 6,4 µg.L1
no ponto 3 (28 de setembro) (Figura 13).
33
7
6
Feopigmentos (µ g/L)
5
4
3
2
1
0
1
2
3
28.09.05
1
2
3
29.09.05
1
2
3
30.09.05
1
2
3
01.10.05
1
2
3
02.10.05
1
2
3
03.10.05
Figura 13. Concentração de feopigmentos na zona de arrebentação da praia do
Cururupe, durante as coletas diárias ao longo de uma semana.
Nº de Organismos / L x 10 6
1,5
1,0
0,5
0,0
28.09.05
29.09.05
30.09.05
Microplâncton
01.10.05
02.10.05
03.10.05
Nanoplâncton
Figura 14. Contribuição dos organismos do fitoplâncton durante as coletas diárias ao
longo de uma semana (média dos três pontos).
34
O estudo quantitativo do fitoplâncton durante a amostragem diária ao longo de
uma semana revelou um mínimo de 3,3 x 105 org/L e máximo de 2,6 x 106 org/L, com
média de 1,1 x 106 org/L nesta amostragem (Figura 14).
O microfitoplâncton apresentou um mínimo de 2 x104 org/L (30 de setembro ponto 1) e um valor máximo de 1,3 x 106 org/L (28 de setembro - ponto 3) e média
de 2,5 x 105 org/L. Durante esta semana, o nanoplâncton dominou o total de
organismos do fitoplâncton, variando de 2,7 x 105 org/L (30 de setembro - ponto 3) a
1,4 x 106 org/L (28 de setembro - ponto 3), com uma média de 8,7 x 105 org/L. O
microplâncton foi representado exclusivamente por diatomáceas (Figura 15),
enquanto o nanoplâncton foi composto por flagelados (51%) e cocolitoforídeos
(49%) (Figura 16).
14
Nº de Organismos / L x 10
5
12
10
8
6
4
2
0
1
2
28.09.05
3
1
2
29.09.05
3
1
2
3
1
30.09.05
2
01.10.05
3
1
2
02.10.05
3
1
2
3
03.10.05
Diatomáceas
Figura 15. Contribuição dos organismos do microplâncton para o total do fitoplâncton
durante as coletas diárias ao longo de uma semana.
35
12
Nº de Organismos / L x 10
5
10
8
6
4
2
0
1
2
3
28.09.05
1
2
29.09.05
3
1
2
3
30.09.05
1
2
3
1
01.10.05
Cocolitoforídeos
2
3
02.10.05
1
2
3
03.10.05
Flagelados
Figura 16. Contribuição dos organismos do nanoplâncton para o total do fitoplâncton
durante as coletas diárias ao longo de uma semana.
As espécies Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis estiveram presentes em
todos os seis dias da amostragem. A espécie A. australis foi encontrada em todas as
dezoito amostras ao longo dos seis dias de coleta, apresentando uma variação de 3 x 103
org/L (02 de outubro - ponto 1) a 6,82 x 105 org/L (01 de outubro, ponto 2), com uma
média de 1 x 105 org/L (Figura 17). A. glacialis esteve ausente nos dias 30 de setembro
(ponto 1) e 02 de outubro (ponto 3), alcançando um máximo de 9,97 x 105 org/L (28 de
setembro - ponto 3) e apresentando média de 1,1 x 105 org/L.
36
Na análise qualitativa do microplâncton foram identificados 51 taxa, sendo 33
pertencentes ao grupo das diatomáceas, 9 tintinídeos, 7 dinoflagelados e 2
cianobactérias. Dentre as diatomáceas, o gênero Odontella foi o mais abundante,
(O. longicruris, O. mobiliensis, O. pulchella e O. sinensis), no que se refere aos
dinoflagelados, o gênero Ceratium (C. fusus, C. tenue, C. trichoceros, C. tripos e C.
vultur) apresentou maior diversidade e entre os tintinídeos os gêneros Eutintinnus (E.
apertus, E. lusus-undae, Eutintinnus sp1 e Eutintinnus spl) e Tintinnopsis (T.
campanula, T. nordqvisti, T. tocantinensis e Tintinnopsis sp1) com 4 espécies cada,
foram os mais representados. Assim como na amostragem quinzenal, as
cianobactérias foram representadas pelos gêneros Anabaena e Trichodesmium
(Tabela 6).
Nº de Organismos / L x 10
4
40
68,2
99,7
30
20
10
0
1
2
3
28.09.05
1
2
29.09.05
3
1
2
3
30.09.05
Anaulus australis
1
2
3
01.10.05
1
2
3
1
02.10.05
2
3
03.10.05
Asterionellopsis glacialis
Figura 17. Variação do número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis
glacialis durante as coletas diárias ao longo de uma semana.
37
Tabela 6. Lista do microplâncton encontrado na Praia do Cururupe durante as
coletas diárias ao longo de uma semana (28 de setembro a 03 de outubro de 2005)
acompanhando a entrada de uma frente fria.
Anaulus australis
Asterionellopsis glacialis
Bacillaria paxillifera
Bellerochea malleus
Campylosira cymbeliformis
Cerataulina pelagica
Cerataulus turgidus
Chaetoceros coarctatus
Chaetoceros curvisetus
Chaetoceros decipiens
Delphineis sp1
Ethmodiscus gazellae
Florella portocensis
Guinardia striata
Gyrosigma sp1
Haslea sp1
Helicotheca tamesis
Eutintinnus apertus
Eutintinnus lusus-undae
Eutintinnus sp1
Eutintinnus spl
Favella ehrenbergii
Ceratium fusus
Ceratium tenue
Ceratium trichoceros
Ceratium tripos
Anabaena sp
DIATOMÁCEAS
Hemiaulus membranaceus
Hemidiscus cuneiformis
Licmophora abbreviata
Meuniera membranacea
Odontella longicruris
Odontella mobiliensis
Odontella pulchella
Odontella sinensis
Paralia sulcata
Planktoniella muriformis
Pleurosigma sp
Rhizosolenia acuminata
Rhizosolenia pungens
Rhizosolenia robusta
Thalassionema nitzschioides
Triceratium favus
TINTINÍDEOS
Tintinnopsis campanula
Tintinnopsis nordqvisti
Tintinnopsis tocantinensis
Tintinnopsis sp1
DINOFLAGELADOS
Ceratium vultur
Dynophysis tripos
Pyrocystis robusta
CIANOBACTÉRIAS
Trichodesmium sp
4.3. Amostragem nas Manchas
Foram consideradas 10 amostras coletadas em manchas nas praias de
Ilhéus, 6 durante o período de abril a outubro de 2005, e 4 coletadas em 2003,
durante o programa piloto do projeto. Em todas as manchas coletadas no presente
estudo, Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis estiveram presentes se
alternando quanto à dominância. Em determinadas ocasiões o domínio numérico de
uma espécie sobre a outra alcançou 99%. Do total de manchas coletadas, sete
foram dominadas por A. glacialis e somente três por A. australis (Tabela 7).
38
Tabela 7: Porcentagem de Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis nas manchas
coletadas ao longo do litoral de Ilhéus.
Local
Data
Anaulus australis (%)
Asterionellopsis glacialis (%)
Areia Branca
24.04.03
66
34
Pérola do Mar
24.04.03
30
70
Pérola do Mar
18.05.03
12
88
Milionários
26.06.03
1
99
Cururupe
19.04.05
2
98
Cururupe
19.05.05
31
69
Cururupe
03.06.05
11
89
Cururupe
17.06.05
58
42
Cururupe
18.08.05
21
79
Ponta da Tulha
12.10.05
99
1
O número de células destas duas espécies nas manchas variou entre 3,2 x
107 org/L em 18 de maio e 2,6 x 109 org/L em 24 de abril, ambas coletadas na Praia
dos Milionários (Cabana Pérola do Mar) durante o ano de 2003, sendo as máximas
concentrações de células de A. glacialis (1,8 x 109 org/L) e A. australis (7,8 x 108
org/L) também observadas na mancha do dia 24 de abril de 2003 – Pérola do Mar
(Figura 18).
Figura 18. Variação do número de células de Anaulus australis e Asterionellopsis
glacialis nas manchas (verdetes) durante os anos de 2003 e 2005.
39
4.4. Tratamento dos Dados
4.4.1. Monitoramento Quinzenal
A análise de componentes principais das variáveis abióticas e bióticas foi
efetuada com a finalidade de revelar as principais tendências da variabilidade dos
dados obtidos e expressar a complexidade das relações existentes entre as
espécies e os parâmetros ambientais no ecossistema de zona de arrebentação da
Praia do Cururupe.
O resultado da ACP das variáveis abióticas das amostragens quinzenais
pode ser observado na Figura 19. O plano fatorial separou quatro componentes
principais, contribuindo para 74,83% da explicação da variância dos dados, sendo
31,73% referente ao eixo um e 19,00% relativa ao eixo dois (Tabela 8).
Tabela 8. Coeficiente de correlação linear das variáveis ambientais com os quatro
primeiros eixos (>0,05).
Eixos fatoriais
Variância explicada (%)
Temperatura da água
Salinidade
Precipitação pluviométrica
Clorofila-a
Feopigmentos
Nitrito
Nitrato
Amônio
Silicato
Fosfato
Intensidade do vento
Temperatura do ar
I
31,73
II
19,00
III
14,65
IV
9,45
0,438
-0,28
0,316
-0,075
-0,054
-0,390
-0,243
-0,054
0,189
-0,211
-0,358
0,445
0,18
-0,114
0,214
0,557
0,582
-0,043
0,154
0,197
-0,191
0,327
-0,206
-0,096
-0,203
-0,508
-0,087
0,063
0,024
-0,068
0,333
0,381
0,617
-0,142
0,128
-0,104
0,091
0,266
-0,39
-0,241
-0,141
-0,296
0,306
0,54
-0,186
0,106
-0,409
0,071
A distribuição das estações sobre o plano fatorial I-II, mostra que o lado
positivo do eixo um é formado principalmente pela temperatura do ar, da água,
precipitação e silicato e no lado oposto pelo nitrito, intensidade do vento e nitrato.
Esta distribuição indica que o primeiro eixo está associado ao regime de ventos e
chuva da região. De um modo geral, no lado negativo deste eixo observam-se as
40
estações de maior hidrodinâmica decorrente da incidência dos ventos de quadrante
S e SE com elevada intensidade e no lado oposto aquelas relacionadas ao período
mais calmo, no qual a influência da pluma de água doce proveniente do rio Cururupe
é mais notada.
II (19,00%)
FEO 0.9
CLO
Ventos Fortes
(S e SE)
0.7
FOS
0.5
0.3
PRE
AMO
NAT
TAG
0.2
-0.9
-0.7
NIT
-0.5
-0.3
SAL
-0.2
0.2
0.3
“Runoff”
-0.2
0.5
0.7
TAR
0.9
I (31,73%)
SIL
INT
-0.3
Ventos Fracos
-0.5
-0.7
-0.9
Figura 19: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das variáveis ambientais. TAG = temperatura da água,
SAL = salinidade, PRE = precipitação pluviométrica, NIT = nitrito, NAT = nitrato,
AMO = amônio, SIL = silicato, FOS = fosfato, INT = intensidade do vento, TAR =
temperatura do ar, CLO = clorofila-a, e FEO = feopigmentos. Os pontos em destaque
representam as estações com ocorrência de manchas.
O segundo eixo está mais correlacionado com o feopigmento, clorofila-a e
fosfato no lado positivo e no lado negativo, com a intensidade do vento, silicato e
salinidade. Este eixo parece estar associado a variação da biomassa clorofiliana, o
que pode ser visto através da separação das estações onde foram observadas
manchas de Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis, em relação às demais.
O resultado da ACP das espécies pode ser observado na Figura 20. O plano
fatorial l-ll foi responsável por somente 36,38% da variância, sendo 18,27% relativa
41
ao eixo um e 18,11% relativa ao segundo eixo. O percentual acumulado só
ultrapassou 50% no quarto eixo (Tabela 9).
Tabela 9. Coeficiente de correlação linear das espécies com os quatro primeiros
eixos (>0,05).
Eixos fatoriais
I
II
III
IV
Variância explicada (%)
18,27
18,11
10,70
9,52
0,004
0,220
0,198
-0,232
-0,140
0,010
-0,017
0,449
-0,002
-0,231
0,091
0,242
-0,220
0,473
0,494
0,518
0,475
0,129
0,153
0,351
-0,113
-0,093
-0,108
-0,282
-0,254
-0,204
0,204
0,256
0,054
-0,119
0,028
0,070
0,193
0,200
0,156
0,349
0,581
-0,095
0,467
0,033
0,234
0,154
0,331
0,107
0,071
-0,186
-0,253
0,340
0,514
0,097
-0,452
-0,006
0,149
-0,189
0,198
0,190
0,390
-0,009
-0,116
0,094
Anaulus australis
Asterionellopsis glacialis
Bellerochea malleus
Campylosira cymbelliformis
Cerataulus turgidus
Delphineis sp
Helicotheca tamesis
Nitzschia longissima
Paralia sulcata
Pleurosigma sp
Scripssiella sp
SP1
Thalassionema nitzschioides
Thalassiosira sp1
Thalassiosira sp2
No
primeiro
eixo
destacaram-se
principalmente
Thalassiosira
sp2,
Thalassiosira sp1 e Nitzschia longissima, no lado positivo e Campylosira
cymbeliformis, Pleurosigma sp e Thalassionema nitzschioides, no lado negativo do
eixo (Figura 20).
O segundo eixo apresentou elevada correlação positiva com Anaulus
australis, Asterionellopsis glacialis e Cerataulus turgidus e correlação negativa com
Paralia sulcata e Scripsiella sp.
A linha pontilhada na Figura 20 mostra uma nítida separação das espécies
predominantes no período de maior turbulência (parte superior) daquelas mais
abundantes no período de calmaria (inferior).
42
II (18,11%)
0.7
Ventos Fortes
(Ressuspensão)
ANA
AST
0.6
CER
0.4
TNI
SP1
0.3
CAM
BEL
0.1
-0.6
-0.4
-0.3
THA1
-0.1
0.1
HEL
-0.1
0.3
0.4
0.6
0.7
NIT
DEL
I (18,27%)
THA2
SCR
-0.3
PLE
PAR
-0.4
Ventos Fracos
(Calmaria)
-0.6
Figura 20: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das espécies. AST = Asterionellopsis glacialis, ANA =
Anaulus australis, CAM = Campylosira cymbeliformis, CER = Cerataulus turgidus,
BEL = Bellerochea malleus, SP1 = diatomácea cêntrica não identificada, TNI =
Thalassionema nitzschioides, THA1 = Thalassiosira sp1, THA2 = Thalassiosira sp2,
NIT = Nitzschia longíssima, SCR = Scripssiella sp, DEL = Delphineis sp, HEL =
Helicotheca tamesis, PLE = Pleurosigma sp e PAR = Paralia sulcata. Os pontos em
destaque representam as estações com ocorrência de manchas.
4.4.2. Amostragem Extra (entrada de frente fria)
Os resultados obtidos para o período de entrada de uma frente fria, na
tentativa de verificar os possíveis fatores responsáveis pela formação das manchas,
serão apresentados a seguir.
A ACP das variáveis abióticas e bióticas separou quatro eixos responsáveis
por 81,82% da variância dos dados (Tabela 10). O primeiro eixo contou com um
percentual de explicação de 33,40% e o segundo com 23,36%, totalizando 56,76%
da explicação da variância.
43
Tabela 10. Coeficiente de correlação linear das variáveis ambientais com os quatro
primeiros eixos (>0,05).
Eixos fatoriais
Variância explicada (%)
Temperatura da água
Salinidade
Precipitação pluviométrica
Clorofila-a
Feopigmentos
Nitrito
Nitrato
Amônio
Silicato
Fosfato
Intensidade do vento
Temperatura do ar
I
33,40
II
23,36
III
14,42
IV
10,64
-0,388
0,428
-0,010
0,243
0,292
0,041
-0,074
0,211
0,138
-0,261
-0,412
0,462
0,014
0,097
0,455
-0,379
-0,397
-0,224
-0,219
0,281
-0,381
-0,340
-0,208
-0,025
-0,124
0,037
-0,105
-0,228
-0,107
0,589
0,494
0,324
-0,368
0,244
-0,061
0,118
0,046
-0,329
0,464
0,342
0,314
-0,211
0,333
0,464
0,060
0,119
-0,130
-0,231
A Figura 21 mostra uma nítida oposição entre a temperatura do ar e
salinidade (lado positivo) e a temperatura da água e intensidade dos ventos (lado
negativo) do eixo um. O eixo dois apresenta forte correlação com a precipitação
pluviométrica (lado positivo) e as concentrações de feopigmentos, clorofila-a, silicato
e fosfato (lado negativo). A distribuição das amostras sobre o plano fatorial I-II,
sugere que o eixo representa diferentes condições climáticas de ventos fortes e
ventos amenos, e o eixo dois, a pluviosidade.
44
II (23,36%)
1.04
PRE
0.83
AMO
0.63
0.42
Ventos Fortes
SAL
0.21
Ventos Fracos
TAG
-1.04
-0.83
-0.63
-0.42
-0.21
0.21
0.42
0.63
0.83
I (33,40%)
-0.21
INT
NAT
TAR1.04
-0.42
NIT
-0.63
FOS
SIL
-0.83
CLO
FEO
-1.04
Figura 21: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das variáveis ambientais. TAG = temperatura da água,
SAL = salinidade, PRE = precipitação pluviométrica, NIT = nitrito, NAT = nitrato,
AMO = amônio, SIL = silicato, FOS = fosfato, INT = intensidade do vento, TAR =
temperatura do ar, CLO = clorofila-a, e FEO = feopigmentos. O ponto em destaque
representa a estação com ocorrência de mancha.
O resultado da ACP da matriz de espécies separou três fatores responsáveis
por 78,03% da explicação dos dados (Tabela 11).
Tabela 11. Coeficiente de correlação linear das espécies com os quatro primeiros
eixos (>0,05).
Eixos fatoriais
Variância explicada (%)
Anaulus australis
Asterionellopsis glacialis
Bellerochea malleus
Campylosira cymbeliformes
Cerataulus turgidus
Thalassionema nitzschioides
I
31,15
II
28,58
III
18,30
0,042
0,367
0,572
0,130
0,457
0,557
-0,696
-0,445
0,203
-0,361
-0,154
0,349
-0,156
-0,519
-0,217
0,672
0,453
0,049
O primeiro fator explica 31,15% da variância dos dados e é formado
principalmente pelas variáveis Thalassionema nitzschioides, Bellerochea malleus e
45
Cerataulus turgidus, no lado positivo. O segundo fator que corresponde a 28,58% de
explicação é formado pelas variáveis Anaulus australis, Asterionellopsis glacialis e
Campylosira cymbeliformis e parece estar refletindo o número de células
fitoplanctônicas, com as estações com valores mais altos apresentando-se no lado
negativo e o oposto sendo encontrado no lado positivo (Figura 22).
II (28,58%)
1.5
1.2
0.9
TNI
0.6
BEL
0.3
-1.5
-1.2
-0.9
-0.6
-0.3
0.3
0.6
0.9
1.2
1.5
I (31,15%)
CER
-0.3
-0.6
CAM
-0.9
AST
-1.2
ANA
-1.5
Figura 22: Análise em componentes principais: posicionamento das estações no
plano fatorial I-II em função das espécies. AST = Asterionellopsis glacialis, ANA =
Anaulus australis, CAM = Campylosira cymbeliformis, CER = Cerataulus turgidus,
BEL = Bellerochea malleus e TNI = Thalassionema nitzschioides, O ponto em
destaque representa a estação com ocorrência de mancha.
Os resultados das análises fatoriais executadas para o total de células do
fitoplâncton, do microplâncton, do nanoplâncton, de Anaulus australis e de
Asterionellopsis glacialis são apresentados nas Tabelas 12-19. Foram observadas
diferenças entre os períodos de “verão” e “inverno” (vento forte e fraco), com os
valores mais elevados encontrados no período de inverno, para todos os grupos
considerados (Figuras 23-27).
46
Com relação aos pontos amostrados, o fitoplâncton e o microplâncton não
apresentaram diferenças, em nenhum dos períodos. Considerando o nanoplâncton,
o ponto 2 no verão diferiu do 3 no verão e dos demais pontos no inverno. Além
disso, os pontos 1 e 3 no inverno diferiram entre si. Para o total de Anaulus australis
e de Asterionellopsis glacialis houve diferença entre o ponto 2 no verão e os demais
pontos de inverno, com valores sempre mais baixos no ponto 2. Foram testadas
ainda as variáveis clorofila-a e feopigmentos, porém não foram encontradas
diferenças. Todas as análises utilizaram um nível de significância α= 0,05.
Tabela 12. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número total de células do
fitoplâncton na Praia do Cururupe, entre períodos do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata.
FV
SQ
GL
QM
F
P
Períodos
73,11
1
73,11
26,03
0,000*
Pontos
14,72
2
7,36
2,62
0,084
2,18
0,125
Período x Pontos
12,26
2
6,13
Erro
123,56
44
2,81
24,0
Número total de células do fitoplâncton
23,5
23,0
22,5
22,0
21,5
21,0
20,5
20,0
19,5
19,0
Verão
Inverno
Figura 23: Amplitude (erro padrão) e média do número total de células do
fitoplâncton na zona de arrebentação da Praia do Cururupe.
47
Tabela 13. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células do
microfitoplâncton na Praia do Cururupe, entre períodos do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata.
SQ
GL
QM
F
P
Períodos
117,73
1
117,73
14,61
0,000*
Pontos
30,02
2
15,01
1,86
0,167
1,29
0,284
FV
Período x Pontos
20,82
2
10,41
Erro
354,49
44
8,06
24
Número de células do microfitoplâncton
23
22
21
20
19
18
17
16
Verão
Inverno
Figura 24: Amplitude (erro padrão) e média do número de células do
microfitoplâncton na zona de arrebentação da Praia do Cururupe.
48
Tabela 14. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células do
nanoplâncton na Praia do Cururupe, entre períodos do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata.
SQ
GL
QM
Períodos
16,71
1
16,71
15,05
0,000*
Pontos
11,73
2
5,87
5,28
0,009*
Período x Pontos
6,12
2
3,06
2,76
0,074
Erro
48,85
44
1,11
FV
F
P
22,0
Número de células do nanoplâncton
21,5
21,0
20,5
20,0
19,5
19,0
Verão
Inverno
Figura 25: Amplitude (erro padrão) e média do número de células do nanoplâncton
na zona de arrebentação da Praia do Cururupe.
Tabela 15. Teste Tukey HSD para a variável nanoplâncton entre períodos do ano e
pontos de coleta.
Períodos
Verão
Verão
Verão
Inverno
Inverno
Inverno
Pontos
1
2
3
1
2
3
1
0
Verão
2
0,810300
0
3
0,228981
0,022968
0
49
1
0,010743
0,000318
0,995360
0
Inverno
2
0,243556
0,011370
0,993326
0,715903
0
3
0,035165
0,000929
0,999988
0,996802
0,933227
0
Tabela 16. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células de Anaulus
australis na Praia do Cururupe, entre períodos do ano e pontos de coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata.
SQ
GL
QM
F
P
Períodos
317,25
1
317,25
16,01
0,000*
Pontos
155,52
2
77,76
3,92
0,027*
Período x Pontos
79,68
2
39,84
2,01
0,146
Erro
871,83
44
19,81
FV
22
Número de células Anaulus australis
21
20
19
18
17
16
15
14
13
12
11
10
Verão
Inverno
Figura 26: Amplitude (erro padrão) e média do número de células de Anaulus
australis na zona de arrebentação da Praia do Cururupe.
Tabela 17. Teste Tukey HSD para a variável Anaulus australis entre períodos do
ano e pontos de coleta.
Períodos
Verão
Verão
Verão
Inverno
Inverno
Inverno
Pontos
1
2
3
1
2
3
1
0
Verão
2
0,160827
0
3
0,994778
0,137165
0
50
1
0,124623
0,000211
0,653893
0
Inverno
2
0,670611
0,002545
0,986425
0,857276
0
3
0,621314
0,002025
0,979470
0,891599
0,999999
0
Tabela 18. Análise de Variância fatorial (ANOVA) do número de células de
Asterionellopsis glacialis na Praia do Cururupe, entre períodos do ano e pontos de
coleta.
FV: fatores de variação, SQ: soma dos quadrados, GL: graus de liberdade, QM:
quadrado médio, F: valor do teste F e P: probabilidade exata.
SQ
GL
QM
F
P
Períodos
256,97
1
256,97
11,14
0,002*
Pontos
168,21
2
84,11
3,65
0,034*
Período x Pontos
114,59
2
57,29
2,48
0,095
Erro
1015,08
44
23,07
FV
Número de células de Asterionellopsis glacialis
24
23
22
21
20
19
18
17
16
15
14
13
12
Verão
Inverno
Figura 27: Amplitude (erro padrão) e média do número de células de Asterionellopsis
glacialis na zona de arrebentação da Praia do Cururupe.
Tabela 19. Teste Tukey HSD para a variável Asterionellopsis glacialis entre períodos
do ano e pontos de coleta.
Períodos
Verão
Verão
Verão
Inverno
Inverno
Inverno
Pontos
1
2
3
1
2
3
1
0
Verão
2
0,195840
0
3
0,942804
0,071765
0
51
1
0,331813
0,000729
0,980379
0
Inverno
2
0,726660
0,004490
0,999971
0,982276
0,000000
3
0,645046
0,003068
0,999722
0,993806
0,999992
0,000000
5. DISCUSSÃO
As zonas de arrebentação formam um sistema único, com propriedades
ecológicas características, podendo ser consideradas como um ecossistema
semifechado. Esse ambiente é formado pela faixa da praia compreendida entre a
porção externa das células de circulação (zona de arrebentação externa) e o limite
superior da zona de varrido das ondas (MCLACHLAN, 1980; LEWIN e SCHAEFER,
1983).
A região estudada é definida como zona intertropical úmida, apresentando
altas temperaturas e elevadas taxas de precipitação pluviométrica. No presente
estudo, a temperatura média do ar foi dois graus (°C) mais elevada que os valores
propostos por SRH (2004) para a porção litorânea do município de Ilhéus.
Entretanto,
a
precipitação
pluviométrica
acumulada
não
diferiu
do
valor
freqüentemente citado para essa faixa do litoral, sendo o mês de maio o que
apresentou a maior taxa pluviométrica. É importante ressaltar que no estado da
Bahia a estação chuvosa é relativamente bem distribuída ao longo de todo o ano,
muitas vezes não sendo encontrada uma estação propriamente seca (COELHO e
SANTOS, 1995).
Diversas forçantes físicas como ação dos ventos e aporte de águas
continentais, bem como a interação com o oceano profundo, ditam a dinâmica da
circulação sobre a região de plataforma continental. Na plataforma continental de
Ilhéus há o predomínio da Água Costeira (AC) de origem continental, com
concentrações de nutrientes extremamente variáveis em função da precipitação
pluviométrica e das características geomorfológicas locais. Por outro lado, devido à
52
pequena extensão da plataforma continental neste trecho, pode haver uma ação
determinante da circulação oceânica de larga escala levando a uma maior influência
da Água Tropical (AT) sobre a dinâmica das correntes na plataforma (RESENDE,
2001).
No presente estudo os valores de temperatura da água e salinidade
apresentaram consideráveis oscilações inter-quinzenais. A temperatura da água
variou de até 6ºC durante o período de estudo. A entrada de frentes frias com ventos
de quadrante sul pode contribuir para as menores temperaturas encontradas durante
esses eventos. Paralelamente, o volume relativamente pequeno de água na zona de
arrebentação, torna esse ambiente mais suscetível a variações na temperatura.
Foram observadas oscilações consideráveis na salinidade, relacionadas à
influência da pluma estuarina do Rio Cururupe durante algumas amostragens, uma
vez que as coletas foram realizadas sempre entre o início e o final da manhã,
independentemente do estágio da maré (enchente ou vazante). Os valores de
salinidade mais baixos encontrados no ponto 2, estão associados a essa
interferência, uma vez que esse ponto está localizado na desembocadura do Rio
Cururupe e devido a isso, sofre influência direta do aporte de água doce proveniente
da descarga desse rio. Durante o período de verão, onde se observou uma baixa
hidrodinâmica e maior influência da pluma estuarina na zona de arrebentação, o
ponto dois apresentou diferença para número de células do nanoplâncton e número
de células de Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis, com relação a todos os
pontos do período de inverno (Tabelas 15, 17 e 19).
O regime pluviométrico da região litorânea do município de Ilhéus é
influenciado por fatores ambientais (relevo e influência marítima) que contribuem
para uma precipitação média anual mais elevada nesse setor (2.000mm). A distância
53
entre a estação meteorológica e o local de coleta deve ser levado em consideração.
Chuvas fortes na região de drenagem do Rio Cururupe podem não ser detectadas
pelo pluviômetro localizado na estação meteorológica do Aeroporto de Ilhéus. No
entanto, sua influência será refletida, por exemplo, na salinidade da zona de
arrebentação da praia adjacente. A utilização de uma única estação meteorológica
exige uma maior cautela para analisar a influência dos dados de chuva nas variáveis
físico-químicas das águas da praia do Cururupe, uma vez que esses dados
fornecem somente informações sobre pluviosidade local.
A circulação atmosférica normal, na qual predominam ventos oriundos de
NE é perturbada pela entrada de frentes frias que fazem com que os ventos
predominantes sejam de SE, gerando um padrão de ondas nesse sentido, além dos
ventos de E, que sopram durante todo o ano (BITTENCOURT et al., 2000). Outro
aspecto importante relacionado ao vento é o seu efeito no fluxo de água entre os
estuários e a área costeira adjacente. No inverno ocorrem principalmente ventos de
quadrante sul, que contribuem para o aumento da dinâmica da zona de
arrebentação. Esses ventos provavelmente deslocam grandes quantidades de
sedimento em direção à costa e podem promover o deslocamento de águas
superficiais em direção ao estuário. Um melhor conhecimento dos processos de
circulação nas praias de Ilhéus contribuiria para a elucidação dessas questões.
Por outro lado, ventos de NE predominantes durante o verão podem causar
renovação de água na zona de arrebentação. A baixa hidrodinâmica neste período
pode estar contribuindo para uma maior influência das águas estuarinas observada
neste trabalho. No entanto são raros os dados sobre circulação costeira para a
região, o que não permite uma discussão mais aprofundada sobre os processos
costeiros que ocorrem na região de Ilhéus. Foi observado um predomínio dos ventos
54
de NE com aumento da importância de ventos de quadrante sul nos meses de
inverno, devido a maior intensidade e freqüência de entrada de frentes frias.
Ondas, marés e correntes são os principais agentes físicos oceanográficos
que regem a hidrodinâmica marinha, responsáveis pelo transporte e deposição de
sedimentos ao longo das zonas costeiras. A incidência oblíqua de ondas na linha de
costa é responsável pela formação de correntes litorâneas, através das quais as
massas de água se deslocam paralelamente à linha de praia (SILVA, 1998).
Processos de deriva semelhantes a este, poderiam explicar a ocorrência de
manchas encontradas ao longo das praias de Olivença, as quais segundo
Apoluceno (1998) apresentam estágios morfodinâmicos intermediários.
Outro aspecto importante é a presença ao longo da costa de Ilhéus, de
pequenos cursos de água conhecidos na região sul do país como sangradouros.
Estes cursos de água também influenciam no escoamento das águas continentais
para o oceano, uma vez que fazem parte da drenagem da zona costeira, escoando
as águas de origem pluvial coletadas na planície costeira.
Pouco se conhece sobre o padrão de drenagem, o comportamento
morfodinâmico, a distribuição espacial e a influência no balanço sedimentar dos
sangradouros no ambiente costeiro. Apesar disso, sua importância tem sido
reconhecida como agente erosivo, transportador e deposicional do sistema costeiro
(SILVA, 1998). As taxas de precipitação pluviométrica podem representar um fator
de extrema importância sobre aporte de nutrientes proveniente dos “sangradouros”.
A ACP das variáveis abióticas mostra de forma simplificada as relações
entre as variáveis ambientais discutidas até aqui, bem como suas relações com a
biomassa clorofiliana. O principal fator ambiental responsável pela distribuição da
biomassa fitoplanctônica foi a intensidade do vento. Esta forçante provocou a
55
ressuspensão do fundo promovendo o aumento na concentração dos nutrientes
(nitrito, nitrato e fosfato) e de células do sedimento (observar os pontos acima da
linha pontilhada na Figura 19. Nos períodos de vento fraco, a baixa hidrodinâmica
costeira permitiu uma maior influência da pluma estuarina na região da zona de
arrebentação. Além disso, as elevadas temperaturas observadas neste período
parecem associadas aos picos de elevada pluviosidade. A maior influência da pluma
estuarina e das chuvas explicariam as maiores concentrações de silicato observadas
no período de vento fraco (pontos abaixo da linha pontilhada na mesma figura).
As regiões de zona de arrebentação de praias arenosas são tidas como
ambientes com elevada concentração de nutrientes, o que faz com que organismos
com tamanho celular mais elevado (nano e microplâncton) sejam favorecidos na
competição com as porções menores (picoplâncton). As diatomáceas de zona de
arrebentação apresentam comportamento e adaptações fisiológicas que lhes
conferem vantagens sobre as demais.
O domínio das diatomáceas é esperado para o ambiente de zona de
arrebentação, onde condições de elevada instabilidade ambiental proporcionam
vantagens na competição com os demais grupos de organismos. A turbulência na
coluna de água parece constituir um dos principais fatores determinantes do sucesso
das diatomáceas nesse ambiente.
Os diferentes componentes (nano e microplâncton) respondem de forma
distinta às alterações ambientais. Características como tamanho, motilidade e
relação superfície/volume são os principais mediadores destas respostas. As
pequenas dimensões e as altas taxas de reprodução das células nanoplanctônicas
(menores que 20 µm), favorecem a manutenção de um elevado número de
organismos mesmo em condições de oligotrofia (RIBEIRO, 1996). Uma forte
56
evidência disso foi encontrada no presente estudo, onde de maneira geral o
fitoplâncton foi numericamente dominado pelos organismos deste grupo. No entanto,
sob condições de elevada hidrodinâmica na zona de arrebentação em decorrência
da passagem de frentes frias, foram observados elevados picos episódicos do
microplâncton, causados principalmente pelo aumento nas concentrações celulares
das diatomáceas Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis.
A ACP dos principais taxa do microfitoplâncton apresentou baixa
porcentagem de explicação. De acordo com Margalef e Gonzalez-Bernáldez (1969)
uma baixa explicação da variância pode ser esperada pela complexa interrelação
entre o número de células das espécies fitoplanctônicas. No entanto, ainda que se
tenha uma explicação relativamente baixa, a projeção das variáveis no espaço
determinado
pelos
componentes
correspondente
é
valida
(LEGENDRE
e
LEGENDRE, 1984).
A ACP dos principais taxa do microfitoplâncton sugeriu a separação de dois
agrupamentos, o primeiro associado a condições de elevada turbulência da coluna
de água e o segundo associado a temperaturas mais elevadas e condições de baixa
turbulência (Figura 20).
As espécies Asterionellopsis glacialis, Anaulus australis, Bellerochea
malleus, Campylosira cymbeliformis, Cerataulus turgidus, diatomácea cêntrica não
identificada (sp1) e Thalassionema nitzschioides formaram o primeiro grupo. Este
grupo, formado em sua maioria por espécies bentônicas, esteve associado ao
período de ventos de elevada intensidade predominantemente do quadrante sul
(“inverno”) e a salinidades mais elevadas. Durante este período foram encontrados
os maiores valores de biomassa relacionados a ressuspensão das células
fitoplanctônicas e às manchas formadas por Asterionellopsis glacialis e Anaulus
57
australis, devido a maior turbulência na coluna de água (Figura 20). A ocorrência da
diatomácea Campylosira cymbeliformes, espécie bentônica de hábito episâmico,
associada às elevadas densidades de Anaulus australis e Asterionellopsis glacialis
nas manchas pode também ser visualizada na (Apêndice 3).
O segundo grupo foi composto pelos taxa Thalassiosira sp1, Thalassiosira
sp2, Nitzschia longíssima, Scripsiella sp, Delphineis sp, Helicotheca tamesis,
Pleurosigma sp e Paralia sulcata. Esse grupo formado principalmente por espécies
planctônicas, parece estar relacionado à condição de ventos fracos (“verão”), com
maior pluviosidade e maior influência da pluma de água doce.
O efeito do distúrbio ambiental conduz a maior ou menor organização da
comunidade, dependendo da sua intensidade e/ou freqüência. Para fitoplâncton
distúrbios
ambientais
moderados
possibilitam
a
coexistência
de
espécies
características de etapas mais iniciais de desenvolvimento do sistema com as das
etapas mais maduras, contribuindo para uma elevada diversidade (RIBEIRO, 1996).
Deste modo, distúrbios em maior intensidade tendem a diminuir a riqueza de
espécies, caracterizada pelo predomínio de poucas espécies. Essa situação ocorre
durante a formação das manchas, onde as espécies Asterionellopsis glacialis e
Anaulus australis são as principais responsáveis pelos picos de clorofila-a,
evidenciando uma expressiva contribuição dessas espécies para a biomassa
fitoplanctônica da zona de arrebentação das praias de Ilhéus durante as
acumulações.
A relação entre concentração de clorofila-a e valores de número de
organismos encontrados no presente trabalho, muitas vezes, não apresenta
correlação direta. De forma geral, os dois parâmetros apresentaram aumentos
simultâneos, entretanto foram observadas situações nas quais, apesar de elevadas
58
densidades celulares, os valores de clorofila-a foram relativamente baixos. Este fato
pode estar relacionado ao estado fisiológico das células, que influi na concentração
de clorofila por célula; baixa concentração pode indicar uma fase de senescência
celular.
Os elevados valores de feopigmentos acompanhando os picos de clorofila-a
nas manchas sugerem um forte forrageio (“grazing”) do zooplâncton, uma vez que
as amostras não foram pré-filtradas, visando eliminar a influência dos organismos do
zooplâncton nas leituras.
O acompanhamento diário visando estudar a formação das manchas ao
longo da entrada de uma frente fria, não foi bem sucedido. Na semana anterior à
coleta o vento rondou de sul (S) forte à nordeste (NE) moderado. No início da série
de coletas, o vento passou de leste (E) a sudoeste (SW), e depois a nordeste (NE)
moderado e, no final, a sudeste (SE) forte. No entanto, a frente se dissipou para o
oceano, interferindo no hidrodinamismo da zona de arrebentação, tornando as
condições não propícias à formação de manchas.
A temperatura da água e a salinidade apresentaram variações relativamente
pequenas, com tendência ao aquecimento da água da zona de arrebentação ao
longo dos cinco primeiros dias e com baixos valores de salinidade, explicados pela
pelas fortes chuvas caídas nos três primeiros dias de coleta.
A ACP das variáveis abióticas sugere que o eixo um representa a influência
do vento, visualizado através do agrupamento das estações dos três primeiros dias
de coleta, associadas aos ventos moderados, onde a salinidade da água era mais
elevada (lado positivo); as estações dos três últimos dias, agrupadas no lado oposto,
apresentavam uma massa de água mais quente e salinidade mais baixa, associada
presença de fortes ventos de sudeste e temperaturas do ar mais baixas (Figura 21).
59
A salinidade mais baixa observada nos três últimos dias é, provavelmente,
conseqüência da forte precipitação ocorrida nos dias anteriores. Por outro lado, a
temperatura da água ainda elevada neste período é devido ao seu elevado calor
específico, que necessita de um tempo maior para responder as variações de
temperatura.
O eixo dois está associado à precipitação pluviométrica no lado positivo e à
biomassa no lado negativo. As estações localizadas próximo à extremidade positiva
deste eixo correspondem aos dias de maior pluviosidade; em oposição, as estações
localizadas na extremidade negativa, apresentam biomassa clorofiliana mais
elevada. Provavelmente a elevada biomassa observada no ponto 3 do primeiro dia
de coleta (ponto em destaque na Figura 20), com formação de mancha, foi
decorrente dos eventos dos dias anteriores, não amostrados.
Em relação à análise quantitativa, o fitoplâncton foi sempre dominado pelos
organismos do nanoplâncton, e os valores mais elevados tanto do nanoplâncton
quanto do microfitoplâncton foram observados no primeiro dia de coleta (Figura 14).
Mostrando uma correlação clara entre concentração de clorofila-a (ponto em
destaque na Figura 20) e o número total de organismos encontrados (Figura 14).
Apesar de não ter sido possível acompanhar a formação de manchas, um indicativo
da importância das forçantes físicas nesse processo pode ser observado na
comunidade fitoplanctônica, composta principalmente pelo grupo das diatomáceas
bentônicas, indicando um aumento na hidrodinâmica da zona de arrebentação como
efeito da aproximação da frente fria (Figura. 22).
Diferentes teorias tentam explicar o mecanismo de formação das manchas
na zona de arrebentação das praias arenosas ao longo do mundo. Inicialmente esse
fenômeno foi definido como uma “floração”. No entanto, florações são eventos
60
provocados por elevadas taxas de divisão celular relacionadas as condições
ambientais favoráveis (luz, temperatura e nutrientes) ou até mesmo à poluição. Essa
idéia foi refutada, uma vez que as manchas são formadas através do acúmulo de
células devido a sua habilidade de ascender até a camada mais superficial da
coluna de água, aderidas as bolhas de ar geradas pela ação das ondas (LEWIN e
SCHAEFER, 1983). Esse deslocamento vertical, juntamente com as condições
hidrodinâmicas, resulta nas elevadas concentrações de células encontradas nas
manchas. A utilização dos termos “mancha” ou “acumulação” é mais indicada para
se referir ao fenômeno, uma vez que os termos “bloom” ou “floração” correspondem
a eventos de explosão populacional decorrentes de elevada taxa de reprodução.
Os nutrientes parecem estar indiretamente envolvidos nesse processo,
contribuindo para a manutenção das altas densidades de células durante os
eventos. Rörig (1997) não encontrou relação entre clorofila-a e nutrientes em seu
trabalho na Praia do Cassino – RS, onde os valores de nutrientes sempre foram
altos e não-limitantes. Por outro lado, Resende (1995) associou acumulações mistas
de Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis a nutrientes disponibilizados por
ressuspensão de sedimentos durante a passagem de frentes na Praia de Pontal do
Sul, PR. No presente trabalho, aumento de nutrientes (principalmente nitrato, nitrito e
fosfato) na zona de arrebentação está mais correlacionado à ressuspensão dos
sedimentos de fundo do que ao aporte continental, exceto o silicato.
Outros mecanismos envolvidos na formação das manchas são os ciclos de
advecção e/ou migração de células, descritos para as diatomáceas Anaulus australis
(TALBOT et al., 1990) em praias da África do Sul e Attheya armatus (LEWIN et al.,
1975, na costa dos Estados Unidos. Correntes de retorno transportam as células
para áreas além da zona de arrebentação onde as condições de calmaria levam a
61
uma sedimentação mais rápida. São então formados estoques de células na
superfície do substrato ou até mesmo nas camadas mais superficiais do sedimento.
Condições de elevada dinâmica levam a um aumento da largura da zona de
arrebentação
provocando
a
ressuspensão
desses
estoques.
As
células
ressuspendidas, juntamente com as células já presentes na coluna de água são
transportadas para a zona de arrebentação. Segundo Rörig (1997), na Praia do
Cassino a formação das manchas pode ser justificada pelo somatório do efeito de
ressuspensão dos estoques do sedimento (células atrás da zona de arrebentação),
e as células já em suspensão, aliada a advecção em direção à costa promovida pela
alta energia de ondas. Assim, as células podem ter diferentes destinos como: formar
manchas (uma ou mais), permanecer na coluna de água sem acumular em
superfície, ser transportadas para áreas laterais ou, até mesmo, para mar aberto.
Tais fatores tornam complexa a quantificação segura do fluxo de células entre os
diferentes setores.
Em coletas realizadas no estuário do Rio Cachoeira em setembro de 2000 e
agosto de 2001, a espécie Asterionellopsis glacialis alcançou valores elevados,
superiores a 1,0 x 105 org/L em algumas estações. Estas células foram
freqüentemente observadas envoltas por muco e aderidas a detritos inorgânicos
(grãos de areia), devido à elevada hidrodinâmica local provocada pelos fortes ventos
do quadrante sul, durante a passagem de frentes frias (TEDESCO e RIBEIRO,
2002). Talvez a ocorrência de células de A. glacialis no interior do estuário do Rio
Cachoeira possa também ser justificada por um efeito promontório provocado pela
presença do molhe do porto de Ilhéus, que juntamente com a ação dos ventos de
quadrante sul direcionariam as células da zona de arrebentação das praias para a
região da pluma do rio, ou até mesmo, para o interior do estuário.
62
Importantes
processos
fisiológicos
estão
associados
ao
ciclo
de
ressuspensão/sedimentação das diatomáceas de zona de arrebentação. Condições
de elevada energia e luminosidade no ambiente podem favorecer altas taxas de
produção de carbono orgânico dissolvido (COD) por essas diatomáceas (ABREU et
al., 2003). Células cobertas por muco com diferentes características adesivas
permitem a essas diatomáceas mudarem entre o habitat epibêntico e a coluna de
água. Durante a manhã as diatomáceas se aderem a bolhas de ar, acumulando-se
na zona de arrebentação. Por outro lado, o muco mais viscoso produzido durante o
período da tarde facilita a aderência das células às partículas de areia em
suspensão na coluna de água, aumentando a densidade e realçando assim a taxa
de sedimentação durante esse período do dia. Parte da nova biomassa produzida
pelas diatomáceas durante a presença das manchas, pode ser transferida para o
sedimento depositado além da zona de arrebentação, através das correntes de
retorno. O aumento da energia das ondas na zona de arrebentação poder dar início
a um novo ciclo de sedimentação e ressuspensão (TALBOT e BATE, 1988 a e b;
ODEBRECHT et al., 1995; RORIG e GARCIA, 2003).
De acordo com Talbot e Bate (1988) a produção de muco por diatomáceas
de zona de arrebentação, é uma característica comum entre este grupo de
organismos, no entanto Rörig (1997) sugere que a adesão de Asterionellopsis
glacialis a bolhas de ar e sedimento ocorre de forma simultânea. Sob condições de
elevada turbulência há um maior fornecimento de bolhas de ar para serem aderidas
as células envoltas pelo muco. Com a diminuição da turbulência, a instabilidade das
bolhas de ar faz com que o peso dos sedimentos, também aderidos nas massas de
células com muco, favoreça o afundamento das mesmas. Assumindo que as
bactérias são as principais consumidoras de carbono orgânico dissolvido (COD) em
63
diversos ecossistemas aquáticos e considerando que grande parte da produção
primária de diatomáceas de zona de arrebentação se dá na forma dissolvida, era
esperado um aumento significativo na biomassa de bactérias nas primeiras horas ou
dias, após os picos de biomassa das diatomáceas. Entretanto, isso não foi
observado por Abreu et al. (2003) na Praia do Cassino – RS, onde o crescimento
bacteriano não se mostrou estimulado pelo aumento no COD produzido nas
acumulações de Asterionellopsis glacialis. Após o aparecimento das manchas o
número de bactérias chegava a quase zero. Os autores sugerem uma forte
defasagem (“decoupling”) entre atividade de bactérias heterotróficas e produção de
diatomáceas no ambiente de zona de arrebentação da Praia do Cassino. As cinco
principais razões apontadas pelos autores são: infecção viral (lise celular); forrageio
(predação); qualidade do COD (peso molecular); competição por nutrientes
(principalmente N e P) e produção de antibiótico.
Outro importante processo fisiológico diz respeito à adaptação às condições
de baixa luminosidade. Segundo Du Preez e Bate (1992), Anaulus australis é capaz
de ativar o mecanismo fotossintético após ter sido mantida por dois meses sob
condições de escuridão. Assim células provenientes dos estoques do substrato
estariam aptas a retomar a atividade fotossintética normal, mesmo tendo
permanecido sob condições de baixa luminosidade durante um determinado tempo.
Sugere-se comportamento similar para Asterionellopsis glacialis, uma vez que esta é
encontrada formando manchas juntamente com A. australis (Talbot et al., 1990;
Resende, 1995).
Odebrecht et al. (1995), em trabalho realizado na Praia do Cassino (RS),
constataram variações significativas no número de células de Asterionellopsis
glacialis entre amostras diurnas e noturnas, com menores valores nas amostras
64
coletadas no turno da noite. No presente estudo, apesar de não terem sido
coletadas amostras no período noturno, foram observadas manchas na zona de
arrebentação à noite. Fato semelhante também foi registrado por Rörig (1997).
De maneira geral, nas manchas registradas no presente trabalho as duas
espécies estavam presentes. Entretanto, na maior parte das vezes, Asterionellopsis
glacialis foi numericamente dominante, e em alguns eventos Anaulus australis
alcançou densidades celulares mais elevadas.
Resende (1995) também registrou a co-ocorrência e a dominância entre
Asterionellopsis glacialis e Anaulus sp na zona de arrebentação da Praia do Pontal
do Sul (PR), durante o verão de 1993. Neste período as células de Anaulus foram
presentes na maior parte das amostras de inverno, variando entre 2,0 x 103 e 5,1 x
105 org/L, associadas com ventos de quadrante sul. Entretanto, sob fortes ventos de
quadrante sul, associados à entrada de uma frente fria, as duas espécies
alcançaram altas concentrações nos dias 18 e 19 de janeiro: Anaulus sp (6,1 - 9,5 x
106 org/L) e A. glacialis (3,0 - 5,2 x 106 org/L), acompanhados por elevados valores
de clorofila-a.
No presente trabalho, as duas espécies também atingiram elevadas
densidades celulares nas manchas: Anaulus australis (1,81 x 106 org/L a 7,78 x 108
org/L) e Asterionellopsis glacialis (4,72 x 105 org/L a 1,81 x 109 org/L). Os máximos
registrados para as duas espécies ocorreram em uma mancha mista, no dia 24 de
abril de 2003, coletada na Praia dos Milionários.
O valor máximo encontrado para Asterionellopsis glacialis (1,8 x 109 org/L)
no litoral de Ilhéus assemelha-se aos máximos encontrados na Praia do Cassino
(7,09 x 108 org/L – ODEBRECHT et al., 1995; 1,30 x 108 org/L – ABREU et al., 2003;
4,40 x 108 org/L – RORIG e GARCIA, 2003). Entretanto, a média de células de A.
65
glacialis nas manchas observadas na região de Ilhéus (7,23 x 106 org/L) foi um
pouco mais baixa que os valores encontrados por Rorig e Garcia (2003) para a Praia
do Cassino (RS) (2,53 x 107 org/L).
Rorig et al. (1997) registraram acumulações similares promovidas por
Anaulus sp na zona de arrebentação da Praia dos Navegantes (SC). Em outubro de
1995, estes autores encontraram 4,4 x 1010 org/L desta espécie nas manchas. Este
valor, supera o encontrado no presente estudo durante o evento de maior densidade
celular de Anaulus (7,78 x 108 org/L). No entanto, deve-se levar em consideração o
fato de se tratar de uma mancha mista, onde também foi observada uma elevada
concentração de Asterionellopsis glacialis (1,81 x 109 org/L).
Apesar das manchas causarem um aspecto estranho à água do mar,
pescadores artesanais costumam jogar tarrafas e redes nestas manchas em busca
das espécies de peixes associados a este fenômeno. Com base nas observações
realizadas, peixes como a tainha (Mugil spp) e o robalo (Centropomus spp) são
freqüentemente encontrados nas manchas, onde se beneficiam direta ou
indiretamente do rápido incremento da biomassa fitoplanctônica.
Diversos estudos sugerem uma forte contribuição das manchas aos diversos
níveis tróficos do ambiente de praia (GIANUCA, 1983; 1985; McLACHLAN e BATE,
1984; BROWN e McLACHLAN, 1990; RORIG et al., 1997, RORIG, 1997; ABREU et
al., 2003). O fitoplâncton contribui para as cadeias tróficas pelágicas e bentônicas da
zona de arrebentação (zooplâncton > invertebrados > bentônicos > peixes
residentes). Essa biomassa produzida pode ser exportada (peixes visitante, aves ou
advecção) para o mar e para o continente. Por outro lado, a matéria orgânica
dissolvida sustentará a alça microbiana onde será convertida em material
particulado, tornando-se novamente disponível às cadeias tróficas pelágicas e
66
bentônicas. Outra porção poderá formar depósitos na praia, onde servirá de alimento
para a fauna detritívora ou se tornará fonte de nutrientes para a vegetação do
supralitoral. O excedente de matéria orgânica particulada e dissolvida não
consumido pelas bactérias é canalizado para o fundo, gerando uma elevada
produção secundária bentônica.
67
6. CONCLUSÕES
•
Acumulações de Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis são freqüentes na
zona de arrebentação das praias arenosas do litoral de Ilhéus (14° 30” S),
contrariando a idéia previamente aceita que no hemisfério sul elas estariam restritas
às latitudes de 29º S a 34º S.
•
A direção e intensidade dos ventos associados à passagem de frentes frias
parecem ser os principais responsáveis pelas oscilações nas variáveis físicas e
químicas da zona de arrebentação (ressuspensão de nutrientes de fundo),
determinando o aparecimento das manchas de Asterionellopsis glacialis e Anaulus
australis.
•
A ocorrência das manchas se dá ao longo de todo o ano, uma vez que a sua
principal forçante (vento forte do quadrante sul) pode ocorrer em qualquer época do
ano, no entanto, há uma maior freqüência de passagem de frentes frias no período
de “inverno”.
•
O total de organismos do fitoplâncton encontrado na Praia do Cururupe variou de
2,1 x 105 a 9,54 x 107 org./L, sendo numericamente dominado pelo nanoplâncton, com
picos episódicos de dominância do microfitoplâncton (manchas) no período de fortes
ventos de quadrante sul.
•
O total de 154 taxa identificados foi dominado pelos grupos das diatomáceas
(109 spp), Tintinídeos (23 spp), dinoflagelados (20 spp) e cianobactérias (2 spp). A
assembléia microfitoplanctônica da zona de arrebentação da Praia do Cururupe foi
composta em sua maioria por espécies bentônicas nos períodos de ventos fortes e
principalmente por espécies planctônicas nos períodos de ventos moderados a
fracos.
•
As espécies Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis estiveram presentes na
zona de arrebentação da Praia do Cururupe durante todo o período de estudo.
68
•
Asterionellopsis glacialis e Anaulus australis estiveram presentes em todas as
manchas coletadas, com dominâncias esporádicas de uma sobre a outra.
69
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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75
APÊNDICES
APÊNDICE 1 (Tabela 2): Variação temporal da concentração de nutrientes
inorgânicos dissolvidos (µM), ao longo da amostragem quinzenal.
Data
3/12/2004
3/12/2004
17/12/2004
17/12/2004
6/1/2005
6/1/2005
20/1/2005
20/1/2005
3/2/2005
3/2/2005
3/2/2005
18/2/2005
18/2/2005
18/2/2005
4/3/2005
4/3/2005
4/3/2005
21/3/2005
21/3/2005
21/3/2005
4/4/2005
4/4/2005
4/4/2005
19/4/2005
19/4/2005
19/4/2005
5/5/2005
5/5/2005
5/5/2005
19/5/2005
19/5/2005
19/5/2005
3/6/2005
3/6/2005
3/6/2005
17/6/2005
17/6/2005
17/6/2005
7/7/2005
7/7/2005
7/7/2005
15/7/2005
15/7/2005
15/7/2005
1/8/2005
1/8/2005
1/8/2005
18/8/2005
18/8/2005
18/8/2005
Média
Mínimo
Máximo
CV
Estação
1
2
1
2
1
2
1
2
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
1
2
3
Nitrito
0,016
0,003
0,000
0,013
0,006
0,003
0,006
0,010
0,013
0,010
0,006
0,006
0,022
0,006
0,000
0,000
0,000
0,000
0,087
0,043
0,043
0,021
0,065
0,065
0,000
0,021
0,087
0,153
0,131
0,043
0,065
0,054
0,000
0,087
0,065
0,109
0,065
0,153
0,021
0,131
0,087
0,264
0,264
0,176
0,021
0,043
0,242
0,176
0,043
0,000
0,059
0,000
0,264
0,071
Nitrato
0,027
0,040
0,027
0,035
0,009
0,013
0,021
0,016
0,015
0,036
0,030
0,026
0,114
0,033
0,087
0,332
0,125
0,628
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,268
0,913
0,202
0,393
0,000
0,000
0,142
0,000
0,071
0,327
0,344
0,170
0,260
0,219
0,033
1,135
0,238
0,185
0,560
0,407
0,537
0,656
0,580
0,000
0,000
0,434
0,272
0,199
0,000
1,135
0,257
76
Amônio
1,984
1,353
1,488
0,496
1,939
2,390
3,157
1,579
0,947
0,406
0,541
0,271
3,788
0,180
2,661
0,722
0,631
1,082
0,992
0,677
0,586
0,226
0,316
1,218
1,173
0,992
0,677
1,894
0,767
1,849
2,886
3,112
0,812
0,947
1,804
3,608
1,714
1,533
4,555
1,263
1,849
1,353
0,812
1,443
2,345
1,624
1,173
1,398
1,353
1,173
1,475
0,180
4,555
0,973
Silicato.
6,988
10,052
7,467
18,572
6,701
9,860
11,679
8,424
6,893
10,913
7,180
10,626
45,376
17,710
3,299
2,845
2,789
3,355
2,619
3,072
4,545
3,922
5,678
6,585
15,989
6,641
8,907
4,998
4,205
0,523
0,919
0,976
7,491
9,814
5,735
0,636
9,984
6,811
8,228
5,905
6,528
4,262
4,602
5,055
7,264
9,927
4,658
0,409
8,681
0,210
7,330
0,210
45,376
6,847
Fosfato.
0,146
0,098
0,098
0,049
0,049
0,049
0,049
0,000
0,049
0,000
0,000
0,000
0,049
0,234
0,234
0,382
0,320
0,319
0,319
0,319
0,221
0,185
0,185
0,172
0,234
0,221
0,19
0,19
0,123
0,221
0,221
0,234
0,234
0,221
0,368
0,185
0,172
0,185
0,185
0,234
0,283
0,234
0,270
0,234
0,234
0,185
0,136
0,234
0,185
0,182
0,000
0,382
0,098
APÊNDICE 2. (Tabela 3): Lista dos organismos microplanctônicos
identificados durante o período de estudo. * TENENBAUM et al. 2004
Actinocyclus crassus Van Heurck
DIATOMÁCEAS
Amphiprora alata (Ehrenberg) Kütz
Anaulus australis Drebes and Schulz
Asterionellopsis glacialis (Castracane) Round
Auricula complexa (Gregory) Cleve
Bacillaria paxillifera (Müller) Hendey
Bacteriastrum delicatulum Cleve
Bellerochea horologicales Von Stosch
Bellerochea malleus (Brightwell) Van Heurck
Bleakeleya notata (Grunow) Round
Campylosira cymbeliformis
Cerataulina pelagica (Cleve) Hendey
Cerataulus sp1
Chaetoceros atlanticus Cleve
Chaetoceros coarctatus Lauder
Chaetoceros compressus Lauder
Chaetoceros concavicornis Mangin
Chaetoceros convolutus Castracane
Chaetoceros curvisetus Cleve
Chaetoceros danicus Cleve
Chaetoceros decipiens Cleve
Chaetoceros diversus Cleve
Chaetoceros eibenii (Grunow) Van Heurck
Chaetoceros laciniosus Schütt
Chaetoceros laevis Cupp
Chaetoceros peruvianus Brightwell
Chaetoceros tetrastichon Cleve
Corethron criophilum Castracane
Coscinodiscus asteromphalus Ehrenberg
Coscinodiscus gigas Ehrenberg
Coscinodiscus sp1
Coscinodiscus sp2
Cyclophora tenuis Castracane
Cylindrotheca closterium (Ehrenberg) Reimann e Lewin
Dactyliosolen phuketensis (Sundström) Hasle
Delphineis sp1
Ethmodiscus gazellae (Janish e Grunow) Hustedt
Florella portocensis
Fragilariopsis doliolus (Wallich) Medlin e Sims
Guinardia flaccida (Castracane) Peragallo
Guinardia striata (Stolterfoth) Hasle
Gyrosigma balticum (Ehrenberg) Rabenhorst
Gyrosigma sp1
Haslea gigantea (Hustedt) Simonsen
Haslea sp1
Haslea wawrikae (Husted) Simonsen
Helicotheca tamesis (Shrubsole) Ricard
Hemiaulus membranaceus Cleve
Hemiaulus sinensis Greville
Hemidiscus cuneiformis Wallich
Isthmia enervis Ehrenberg
Isthmia minima Harvey e Bailey
Isthmia nervosa Kützing
Lampriscus orbiculatum
Leptocylindrus danicus Cleve
Leptocylindrus minimus Gran
Licmophora abbreviata
Lioloma pacificum (Cupp) Hasle
Lithodesmium undulatum Ehrenberg
Meuniera membranacea (Cleve) Silva
Navicula transitans var derasa (Grunow) Cleve
Nitzschia bilobata Smith
Nitzschia longissima (Brébisson) Ralfs
Nitzschia sigma (Kützing) Smith
Nitzschia sp1
Nitzschiella sp
Nitzschiella sp2
Odontella alternans
Odontella aurita (Lyngbye) Agardh
Odontella longicruris (Greville) Hoban
Odontella mobiliensis (JW Bailey) Grunow
Odontella pulchella
Odontella pulcra
Odontella sinensis (Greville) Grunow
Odontella sp
Paralia sulcata (Ehrenberg) Cleve
Plagiogrammopsis vanheurkii Grunow) Hasle
Planktoniella muriformis (Loeblich, Wight e Darley) Round
Pleurosigma angulatum (Quekett) W. Smith
Pleurosigma sp1
Pleurosigma sp2
Pleurosigma sp3
Pleurosigma sp4
Pleurosigma sp5
Proboscia alata (Brightwell) Sundström
Pseudonitzschia complexo delicatissima
Pseudonitzschia complexo seriata 3
Pseudosolenia calcar-avis (Schultze) Sundström
Rhabdonema adriaticum Kützing
Rhizosolenia acuminata (H. Peragallo) H. Peragallo
Rhizosolenia hebetata Bailey
Rhizosolenia imbricata Brightwell
Rhizosolenia pungens Cleve-Euler
Rhizosolenia robusta Norman
77
APÊNDICE 2. (Tabela 3): Lista dos organismos microplanctônicos identificados
durante o período de estudo (Continuação). * TENENBAUM et al. 2004
DIATOMÁCEAS
Rhizosolenia simplex
Rhizosolenia setigera Brightwell
Rhizosolenia striata
Rhizosolenia styliformis Brightwell
Skeletonema costatum (Greville) Cleve
Striatella unipunctata (Lyngbye) Agardh
Surirella fastuosa Ehrenberg
Synedra undulata (JW Bailey) W. Smith
Thalassionema nitzschioides (Grunow) Mereschkowsky
Thalassionemataceae*
Thalassiosira sp1
Thalassiosira sp2
Toxarium undulatum Bailey
Triceratium favus Ehrenberg
Triceratium formosum Brightwell f. quinquelobatum (Greville)
Hustedt
TINTINÍDEOS
Climacocylis scalaria Brandt
Amphorellopsis acuta (Schmidt) Kofoid e Campbell
Codonellopsis morchella (Cleve) Jörgensen
Codonellopsis ostenfeldi (Schmidt) Kofoid e Campbell
Eutintinnus apertus (Kofoid e Campbell) Kofoid e Campbell
Eutintinnus colligatus (Kofoid e Campbell) Kofoid e Campbell
Eutintinnus lusus-undae (Entz. Sr.) Kofoid e Campbell
Eutintinnus sp1
Eutintinnus sp2
Eutintinnus sp3
Eutintinnus spl
Eutintinnus tenue
Favella ehrenbergii Claparède et Lachmann
Favella ehrenbergii forma coxliella
Favella sp1
Leprotintinnus simplex Schmidt
Rhabdonellopsis apophysata (Cleve) Kofoid e Campbell
Tintinnidium incertum
Tintinnopsis baltica Brandt
Tintinnopsis campanula (Ehrenberg) Daday
Tintinnopsis nordqvisti Brandt
Tintinnopsis sp1
Xystonellopsis dicymatica (Brandt) Kofoid e Campbell
Ceratium contortum (Gourret) Cleve
DINOFLAGELADOS
Ceratium contrarium (Gourret) Pavillard
Ceratium extensum (Gourret) Cleve
Ceratium furca (Ehrenberg) Claparède et Lachmann
Ceratium fusus (Ehrenberg) Dujardin
Ceratium karsteni Pavillard
Ceratium macroceros (Ehrenberg) Vanhöffen
Ceratium massiliense (Gourret) Jorgensen
Ceratium trichoceros (Ehrenberg) Kofoid
Ceratium tripos (Müller) Nitzsch
Ceratium vultur Cleve
Dynophysis tripos Gourret
Ornithocercus thumi (Schmidt) Kofoid e Skogsberg
Protoperidinium grande (Kofoid) Balech
Protoperidinium sp
Pyrocystis fusiformis (Wyville-Thompson) Murray
Pyrocystis hamulus semicircularis Cleve
Pyrocystis noctiluca Murray ex Haeckel
Pyrocystis robusta Kofoid
Pyrophacus sp
Anabaena sp
CIANOBACTÉRIAS
Trichodesmium sp
78
APÊNDICE 3: Perfis de variação do número de células dos organismos com
freqüência superior a 15%.
79
APÊNDICE 3: Perfis de variação do número de células dos organismos com
freqüência superior a 15% (continuação).
80
APÊNDICE 4. Dados brutos de temperatura média do ar (°C)*, temperatura da água
(°C), salinidade e precipitação média (mm)*, obtidos durante as amostragens
quinzenais (03/12/2004 a 18/08/2005), na Praia do Cururupe.
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta.
Data
Estação
03/12/2004
03/12/2004
17/12/2004
17/12/2004
06/01/2005
06/01/2005
20/01/2005
20/01/2005
03/02/2005
03/02/2005
03/02/2005
18/02/2005
18/02/2005
18/02/2005
04/03/2005
04/03/2005
04/03/2005
21/03/2005
21/03/2005
21/03/2005
04/04/2005
04/04/2005
04/04/2005
19/04/2005
19/04/2005
19/04/2005
05/05/2005
05/05/2005
05/05/2005
19/05/2005
19/05/2005
19/05/2005
03/06/2005
03/06/2005
03/06/2005
17/06/2005
17/06/2005
17/06/2005
07/07/2005
07/07/2005
07/07/2005
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
Temperatura
do ar (°C)
26,1
26,1
25,5
25,5
26
26
27
27
27
27
27
26
26
26
27
27
27
27
27
27
26
26
26
25
25
25
24
24
24
25
25
25
25
25
25
23
23
23
23
23
23
Temperatura
da água (°C)
28
28
28
26
28
29
28
27
28
28
29
29
28
30
29
29
29
28
29
29
28
28
28
30
29
29
26
27
26
30
30
30
26
27
26
27
27
27
26
26
26
81
Salinidade
32
30
32
30
35
34
35
35
36
34
34
35
24
32
35
33
35
35
33
34
34
35
34
33
27
33
35
36
36
34
34
35
33
31
35
33
34
34
35
36
36
Precipitação
Média (mm)
9,5
9,5
2,4
2,4
1,1
1,1
2,4
2,4
4,6
4,6
4,6
8,1
8,1
8,1
3,4
3,4
3,4
3,5
3,5
3,5
11,6
11,6
11,6
9,6
9,6
9,6
0,5
0,5
0,5
9,6
9,6
9,6
5,1
5,1
5,1
2,5
2,5
2,5
0,2
0,2
0,2
APÊNDICE 4. Dados brutos de temperatura média do ar (°C)*, temperatura da água
(°C), salinidade e precipitação média (mm)*, obtidos durante as amostragens
quinzenais (03/12/2004 a 18/08/2005), na Praia do Cururupe (Continuação).
* = médias referentes aos dois dias que precederam cada uma das coletas, assim
como aqueles referentes aos dias de coleta.
Data
Estação
15/07/2005
15/07/2005
15/07/2005
01/08/2005
01/08/2005
01/08/2005
18/08/2005
18/08/2005
18/08/2005
Média
Mínimo
Máximo
CV
42
43
44
45
46
47
48
49
50
Temperatura
do ar (°C)
22
22
22
22
22
22
24
24
24
25
22
27
1,68
Temperatura
da água (°C)
24
24
24
25
25
26
26
27
27
27
24
30
1,63
82
Salinidade
36
37
37
35
35
35
36
32
35
34
24
37
2,36
Precipitação
média (mm)
0,8
0,8
0,8
2,5
2,5
2,5
4,2
4,2
4,2
4,6
0,2
11,6
3,54
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ERIK COSTA TEDESCO ESTUDO DAS DIATOMÁCEAS DA