Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003 (1045-1054) ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA: A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA COM PROFESSORES Marilurdes ZANINI (Universidade Estadual de Maringá) ABSTRACT: This study presents a practical activity of linguistic analysis of the news from journal. A group of teachers of Língua Portuguesa gave their contribution. The results obtained show the doubts teachers have when facing a textual approach of the grammar teaching. KEYWORDS: teaching-learning; gramma;, teacher; mother tongue. 0. Introdução No ensino-aprendizagem de língua materna, espera-se que, além de ampliar “o domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita” (Brasil,1998:32), o aluno use “os conhecimentos adquiridos por meio da prática de análise lingüística para expandir sua capacidade de monitoração das possibilidades de uso da linguagem, ampliando a capacidade de análise crítica” (Brasil, 1998:33). Por sua vez, a prática de análise lingüística tem sido causa de turbulências metodológicas, uma vez que prevê um ensino que percorre o caminho do uso para a reflexão e desta para o uso. Para tanto, o professor se coloca como o mediador desse ensino, pois é ele o responsável pela criação de situações concretas de comunicação. Aí concentram-se as incertezas dos docentes, porque, parece, não terem, ainda, a convicção de que, ao trabalharem atividades que envolvam as questões de reflexão sobre o uso da língua, estejam abordando-as tradicional ou textualmente. Assim, esta comunicação, oriunda de um projeto de pesquisa aplicada, sobre o ensino da gramática numa perspectiva textual, objetiva apresentar uma atividade de prática de análise lingüística, partindo da notícia jornalística, realizada com professores do ensino fundamental e médio, interessados em discutir a questão e interagir com os colegas, a fim de melhorar a sua prática em sala de aula. Os resultados dos encontros realizados têm sido altamente proveitosos, pois têm surgido por meio de situações reais de interação das quais participam aqueles que são os responsáveis pela criação dessas situações – os professores. 1. O ensino-aprendizagem de Língua Materna Ao professor e à escola, conseqüentemente, cabe compreender que papel tem o ensinoaprendizagem de Língua Materna, em sala de aula. É nas aulas de Língua Materna que os alunos têm, ou pelo menos deveriam ter, a possibilidade de entrarem em contato com “os diferentes modos de ver o mundo, presentes nos discursos das diferentes pessoas que integram a comunidade escolar, sobretudo, no grupo mais específico da sala de aula” ((id., p. 37). Para que isso se concretize, nessas aulas, o professor deve “organizar situações nas quais cada aluno possa explicitar, tanto suas formas próprias de compreender os problemas que enfrenta, como as maneiras que tem considerado adequadas para resolvêlos e por quê” (id. ibid.). Tais situações devem proporcionar-lhes a possibilidade de perceberem “a necessidade de ouvir, de fato, o que o outro tem a dizer e, além de ouvir, ouvir criticamente, buscando valores implicitamente veiculados, posicionando-se diante deles” (id. ibid.). Entretanto, a criação dessas situações não podem perder de vista o aluno – suas características próprias; a especificidade do espaço escolar; a natureza e peculiaridade da linguagem e de suas realizações. Isso permite ao professor entender que “a linguagem é uma atividade humana, é um processo de interlocução no qual as pessoas se constituem e através do qual sentimentos, opiniões, valores e preconceitos são veiculados. Em cada discurso produzido, modos específicos de conceitualização, compreensão e avaliação do mundo se colocam, não sendo os mesmos em cada um dos grupos sociais existentes. A atividade discursiva, por sua vez, realiza-se em diversas instâncias, das quais participam pessoas oriundas de diferentes grupos sociais”. (id., p. 37) Visto dessa forma, o ensino-aprendizagem de Língua Materna prevê que todas as atividades devem favorecer um contato num “contexto de busca de sentidos e valores implícitos e de compreensão das conseqüências da adoção de um ou outro ponto de vista na análise e investigação do assunto tematizado” (id. ibid.). O professor, nesse processo de interação em sala de aula, assume o papel de mediador. A ele cabe, assim, nas situações criadas e oportunizadas aos alunos, dentre outras 1046 ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA: A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA COM PROFESSORES responsabilidades, “considerar os possíveis conhecimentos partilhados e não compartilhados pelos interlocutores e as necessidades reais do grupo” (id. ibid.). Isso, como não poderia deixar de ser, traz implicações à sua postura diante da abordagem dos conhecimentos lingüísticos, já que lhe possibilita abordá-los de forma diferenciada. Nessa forma diferenciada de abordagem dos conteúdos, “os aspectos do conhecimento receberão um tratamento que será tanto mais metalingüístico quanto maior o nível de aprofundamento que exigir e as características específicas da situação permitirem” (id. p. 43). Mesmo porque “o tratamento metalingüístico, ainda que possa provocar um distanciamento entre o conceito e as práticas de linguagem, contribui para a constituição da proficiência lingüística do aluno. O que se pretende é que a organização e registro do conhecimento produzido no processo de reflexão sobre a linguagem sirva para que o aluno produza e interprete discursos orais e escritos com uma qualidade crescente” (id. ibid.). Nessa linha, entendemos que, conforme o que se preconiza nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (p. 45-46), essa função mediadora do professor favorecerá, sobremaneira, que se atinjam os objetivos específicos do ensino-aprendizagem de textos escritos, foco de interesse deste trabalho. Dentre esses objetivos, destacamos aqueles que colocam em evidência a situação que recortamos aqui como sugestão – uma atividade de prática de análise lingüística, partindo da notícia jornalística, realizada com professores do ensino fundamental e médio, ou seja, que dê condições ao aluno de: 1saber respeitar convenções da modalidade escrita, quando for o caso; 2analisar e revisar o próprio texto em função dos objetivos estabelecidos, da intenção comunicativa e do leitor a que se destina, redigindo tantas quantas forem as versões necessárias para considerar o texto produzido bem escrito. Para que se atinjam tais objetivos, outros devem ser perseguidos e conquistados – os que permitem ao aluno analisar e refletir sobre a própria linguagem. Neles, envolvem-se formas de trabalho que devem permitir que o aluno: 1aproprie-se de um conjunto de instrumentos que permita a realização da reflexão e análise lingüística; 2constitua um corpo de conhecimentos relevantes sobre o funcionamento da linguagem e o sistema da língua; 3reconheça, a partir da percepção da variação lingüística, os valores sociais nela implicados e, conseqüentemente, o preconceito contra as formas populares em oposição às formas dos grupos socialmente favorecidos; 4amplie o repertório lexical e produza construções sintáticas mais complexas. (id. ibid.). Sob essa ótica, o ensino-aprendizagem de língua materna não pode ser dissociado do texto. Assim sendo, o ensino-aprendizagem de “gramática” só pode ser entendido como o ensino-aprendizagem de “gramática” do texto. É justamente para esse ponto que voltamos a nossa atenção a partir de agora: o ensino-aprendizagem de “gramática”, que, de acordo com o que discorremos até aqui, é abordado numa perspectiva textual. 2. A gramática do texto Partindo do princípio de que as manifestações lingüisticas produzidas pelos falantes de uma língua ocorrem em situações concretas de uso, circundadas pelas condições de produção, tal como orientam Vilela e Koch (2001), torna-se necessário, no processo de descrição da interação humana por meio da linguagem verbal, "ultrapassar o nível da descrição frasal, para tomar como objeto de estudo combinações de frases, seqüências textuais e textos inteiros” (p.412). Associa-se a esse princípio o fato de que o leitor do texto, “a partir dos elementos que o texto contém, estabelece relações com aquilo que o texto implicita, preenchendo as lacunas que este apresenta (id. p.423). Para isso, Vilela e Koch dizem que o leitor recorre: “a) ao seu conhecimento de mundo (conhecimento “enciclopédico”), armazenado na memória sob a forma de frames ou scripts; b) aos conhecimentos comuns (“compartilhados”) entre ele e seu interlocutor (quanto maior o conhecimento partilhado, menor a necessidade de verbalização” (id. p. 424). Isso significa que “a produção de inferências desempenha um papel particularmente relevante”(id. p. 423), na leitura de um texto; o que, conseqüentemente, não pode ser desprezado na momento da descrição dos elementos constitutivos do texto. Desta forma, não se poderia descartar a necessidade de ultrapassar os limites da frase, se o que se objetivava eram a descrição e explicitação das manifestações lingüísticas produzidas pelos falantes de uma determinada língua. Marilurdes ZANINI 1047 “Abandona-se, pois, o método ascendente – da frase para o texto. É a partir da unidade mais altamente hierarquizada – o texto – que se pretende chegar, por meio da segmentação, às unidades menores, para, então, classificá-las. Contudo, tem-se claro que a segmentação e a classificação só poderão ser realizadas, desde que não se perca a função textual dos elementos individuais, tendo em vista que o texto não pode ser definido simplesmente como uma seqüência de cadeias significativas” (Vilela e Koch, 2001:445). É na perspectiva de Vilela e Koch (2001) que encaminhamos este trabalho, visto que temos o texto como “uma entidade do sistema lingüístico, cujas estruturas possíveis em cada língua devem ser determinadas pelas regras de uma gramática textual” (id. p. 445). Uma gramática textual “em que a base textual consta de uma representação semântica indeterminada com respeito às manifestações lineares das seqüências textuais, sendo estas manifestações lineares determinadas pelo componente transformacional do modelo” (id. ibid.). Mesmo concordando com os autores que ponderam sobre “a inviabilidade de se elaborarem ‘gramáticas’ do texto, no estilo das gramáticas da frase” (id. p. 446), o que propomos como “gramática textual” é um estudo, a partir de seu contexto pragmático, tendo em vista “a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos” (id. ibid.). A postura, ora assumida, ancora-se, pois, nos pressupostos da Lingüística Textual, já que volta o seu olhar para o texto, o seu contexto – situacional, sócio-cognitivo e cultural – “e interferência deste na constituição, no funcionamento e, de modo especial, no processamento estratégico-interacional dos textos, vistos como forma básica de interação através da linguagem” (id. p. 452). Acrescentamos, por conseguinte, o conceito de texto que ilumina este trabalho: “manifestação verbal constituída de elementos lingüísticos intencionalmente selecionados e ordenados em seqüência, durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais” (id. p.454). 3. O ensino-aprendizagem de “gramática”, numa perspectiva textual Ao colocar o texto como cerne do ensino-aprendizagem de Língua Materna, os responsáveis pelos pressupostos marcados nos PCNs convalidam-no como o foco de reflexões, quer quando produzidos, quer quando lidos. Para Benites e Pazini (1996:3), “a ausência de reflexão sobre as estruturas que organizam os textos produzidos ou lidos pelos alunos dificulta o progresso no domínio da língua e o trabalho com textos cada vez mais complexos”. Essa postura das autoras vem corroborar aquilo que temos a intenção de defender nesta pesquisa: a oferta de situações que permitam aos alunos entenderem que, mesmo não sendo objetivo precípuo e único do ensino-aprendizagem de Língua Materna, “saber gramática (...) é uma habilidade necessária para um bom desempenho lingüístico” (id. ibid.), principalmente em textos escritos. Esse é o norte do que desejamos aqui apresentar, ou seja, “ensinar gramática é ensinar a ler, analisar as formas da língua na configuração do sentido do texto, e ensinar a falar e escrever, escolhendo formas adequadas a uma situação discursiva” (id. ibid.). Assim sendo, podemos entender que a prática de análise lingüística deva oferecer condições ao aluno, dentre outros de objetivos de igual importância, aquele que lhe oportunize obter: 1. “domínio de operações sintáticas que permitam o estabelecimento variado de relações entre forma e sentido, e de suas implicações discursivas, de modo a ampliar os recursos expressivos (...): expansão dos sintagmas para expressar sinteticamente elementos dispersos no texto que predicam de um mesmo núcleo ou o modificam; integração à sentença mediante nominalizações da expressão de eventos, resultados de eventos, qualificações e relações; reordenação dos constituintes da sentença e do texto para expressar diferentes pontos de vista discursivos, como a topicalidade, a informação nova, a ênfase; expansão mediante coordenação e subordinação de relações entre sentenças em parataxe (simplesmente colocadas lado a lado na seqüência discursiva); utilização de recursos sintáticos e morfológicos que permitam alterar a estrutura da sentença para expressar diferentes pontos de vista discursivos como, por exemplo, uma diferente topicalidade ou ocultamento do agente (construções passivas), a indeterminação do sujeito (utilização do clítico “se” ou da terceira pessoa do plural); 1048 ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA: A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA COM PROFESSORES redução do texto (omissões, apagamentos, elipses), seja como marca de estilo, seja para diminuir redundâncias ou para evitar recorrências que não tenham um caráter funcional ou não produzam desejados efeitos de sentido; 2. capacidade de observar a língua em uso de maneira a se dar conta da variação intrínseca ao processo lingüístico, no que diz respeito: aos fatores geográficos (variedades regionais, urbanas e rurais), históricos (linguagem do passado e do presente), sociológicos (gênero, gerações, classe social), técnicos (diferentes domínios da ciência e da tecnologia); às diferenças entre os padrões da linguagem oral e os padrões da linguagem escrita; à seleção de registros em função da situação interlocutiva (formal, informal); aos diferentes componentes do sistema lingüístico em que a variação se manifesta: na fonética (diferentes pronúncias), no léxico (diferentes empregos de palavras), na morfologia (variantes e reduções no sistema flexional e derivacional), na sintaxe (problemas como os de estruturação das sentenças ou de concordância); Para atingir tais objetivos, acreditamos que as atividades devam ser organizadas de modo a permitir que o aluno tenha contato com textos de circulação e, uma vez, selecionados, passem a desenvolvê-las da seguinte maneira: 1) Leitura silenciosa 2) Interação: exploração do vocabulário (buscar o sentido no texto: o que diz para cada um). Reportar-se ao dicionário, que apresenta sentido genérico 3) Interação: leitura expressiva; Destaque de expressões que chamam a atenção; Discussão e questionamentos; Destaque dos núcleos iniciais; Destaque dos determinantes; Discussão da sua validade ou não; Observar e discutir o seu emprego: determinante + nome + verbo + constituintes Que tipo de frase organizam? Declaram? Exclamam? Interrogam? Que sinal de pontuação apresentam? 4) Reflexão = usos: coloquial oralidade prestígio 5) Reflexão sobre a força comunicativa do texto: • Quem se comunica no texto? • Quem é o autor do texto? • O que é comunicado? • Onde foi comunicado? • Por que foi comunicado? • Quando foi comunicado? • O registro lingüístico está adequado? • cotejo com outros textos (propagandas, embalagens, panfletos, literários). 6) Exercícios (destacar frases do texto para as transformações) 7) Geração das regras (com os alunos) 8) Produção escrita: elaboração de comando pertinente ao que e como foi o trabalho de análise. Assim entendido, o ensino gramatical normativo envolve: a) atividades lingüísticas – observação aos usos da língua no contexto social; b) atividades epilingüísticas – reflexão sobre os fatos textuais e lingüísticos; c) atividades metalingüísticas – sistematização e descrição da gramática da língua. Porém, parece-nos que, embora os professores tenham consciência dessas orientações, não têm na mesma proporção convicção da metodologia que adotam na abordagem do ensino-aprendizagem de “gramática”, já que, muitas vezes, equivocadamente, têm apresentado “uma tendência em substituir a metalinguagem gramatical por uma outra que trabalha com noções como coerência e coesão como pretexto para ensinar gramática” (Benites e Pazini, id. p. 3). Tal postura coloca o professor numa posição antagônica em que, mesmo diante da necessidade explícita de fazê-lo, evita “temerosamente o emprego Marilurdes ZANINI 1049 de qualquer terminologia” (id. ibid.), e isso acaba por privar o “aluno de uma segura sistematização dos fatos lingüísticos que lhe permitirá melhorar o seu desempenho” (id. ibid.). 4. Como ensinar gramática, numa perspectiva textual Parece-nos que o problema que circunda o ensino-aprendizagem de gramática, nos ensinos fundamental e médio, centre-se mais precisamente no “como fazer”. Por isso, a nossa preocupação neste trabalho é apresentar uma experiência real e sem pretensões de sofisticações que a coloquem num “pedestal teórico”, sem quaisquer vínculos com a realidade. Considerando o ponto de partida – textos de circulação, ao acesso do cidadão – , partimos do pressuposto de que podemos oferecer ao aluno o contato com textos jornalísticos, textos literários, charges, tiras, receitas culinárias, bulas, textos informativos, textos científicos, poemas musicados e outros. Os textos de circulação colocam o aluno diante da língua em uso. Daí, mediante as atividades previstas na seção anterior, seguimos para a reflexão sobre a estrutura do texto selecionado para o trabalho, as particularidades das ocorrências, as transformações das suas frases, a exploração dos seus recursos gramaticais. Dessas atividades, incorporam este trabalho aquelas que dizem respeito às particularidades das ocorrências, com vistas à estratégias de progressão textual. Uma vez realizadas as atividades que permitam a reflexão, outras serão criadas, a fim de permitir ao aluno o uso, agora na sua produção. Nessas atividades, estão envolvidas aquelas que prevêem o ensino-aprendizagem, também, da gramática normativa, toda vez que se fizer necessário para explicar o fato analisado ou para responder a questionamentos – implícitos nos textos dos alunos ou em perguntas que eles fizerem. 5. A teoria na prática Amparados no pressuposto de que para ensinar é preciso saber fazer, assim como no princípio de que toda atividade de análise lingüística requer pré-requisito, o que implica dizer que as teorias não estão descartadas, por parte do aluno e, conseqüente e primeiramente, por parte do professor, a atividade que ora propomos apresenta o processo de ensino-aprendizagem de “gramática” desenvolvido com um grupo de professores do ensino fundamental e médio, em encontros de estudos promovidos pelo colégio em que atuam. Com isso, acreditamos que o professor, inserido em atividades lingüísticas, epilingüísticas e metalingüísticas, esteja vivenciando atividades que lhe permitam motivar-se e instrumentalizar-se para realizar um trabalho que vai muito além de um ensino gramatical de caráter meramente normativo, mas, sim, com uma abordagem que prevê uma metodologia que parte do USO da língua para a REFLEXÃO sobre a língua e desta para um USO renovado, já que melhorado. Para isso, não poderíamos esquivar-nos de uma prática dissociada daquela que se espera do professor em sala de aula, nos níveis de ensino aqui enfatizados. Por isso, num primeiro momento, organizamos as discussões, partindo da apresentação dos objetivos do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental, em relação ao que se espera do aluno: a) ampliação do “domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania.” (PCNs, 1998:32); b) uso dos “conhecimentos adquiridos por meio da prática de análise lingüística para expandir sua capacidade de monitoração das possibilidades de uso da linguagem, ampliando a capacidade de análise crítica”(id. p.33). A discussão teve início, a partir da apresentação desses objetivos, os quais garantem ao aluno o direito de apropriar-se “de um conjunto de instrumentos que permita a realização da reflexão e análise lingüística” (id. ibid.).Assim sendo, ao professor cabe a tarefa de colocar à sua disposição esse “conjunto de instrumentos”, a fim de “constitua um corpo de conhecimentos relevantes sobre o funcionamento da linguagem e o sistema da língua” (id. ibid.). Isso com a finalidade de que os seus textos sejam redigidos a partir de estruturas que lhes assegurem “coerência e coesão”(idem) e tudo o que esses aspectos textuais abarcam. Após essa contextualização e as discussões que dela se originaram, passamos a refletir sobre a criação das situações de concretização de uso da língua escrita, em sala de aula, e sobre o como motivar o aluno a refletir sobre o uso e, conseqüentemente, reelaborar o seu texto para torná-lo mais bem escrito. Com essa postura, cremos que organizamos uma discussão, que, uma vez desencadeada, garantiu “o direito de manifestação” (id. ibid.) de todos os participantes, de modo a não desqualificar as “posições implícitas” (id. ibid.). A mediação efetivou-se, mesmo porque nós – coordenador e participantes – soubemos encontrar o valor da fala de cada um, respeitando-a e avaliando-a em prol de um só objetivo: trocar experiências 1050 ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA: A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA COM PROFESSORES sobre as razões e possíveis soluções para as deficiências encontradas em textos escritos, produzidos pelos alunos. A atividade aqui recortada compreende uma das etapas de um total de oito que correspondem aos encontros, realizados mensalmente. 5.1 A atividade de análise lingüística O texto – uma notícia jornalística veiculada num jornal de circulação regional, selecionada pelos próprios professores participantes do curso, num encontro anterior àquele em que foi enfocado. Como mediadores do processo, analisamos o texto e preparamos as etapas, sem perder de vista a abordagem que assumimos e em que acreditamos: a gramática numa perspectiva textual. O texto Uso da calçada será debatido na Câmara hoje Câmara debate lei A Câmara de Maringá debate hoje a lei de uso das calçadas pelos comerciantes. No início do ano passado, atendendo apelo da comunidade, a vereadora Edith Dias de Carvalho conseguiu aprovar projeto impedindo as lojas de utilizar o espaço do passeio público para expor mercadorias ou vender produtos. Até então era permitido o uso de 17% da calçada. A intenção da lei, segundo a vereadora, era disciplinar o uso do espaço público no centro da cidade. “Muitas pessoas reclamam do excesso de mercadorias, placas e mesas de bares nas calçadas”, lembra. O problema, lembra Edith, é que com a lei sancionada, a fiscalização passou a agir com rigor contra todos os comerciantes, inclusive nos bairros. “Foi uma chiadeira danada, tiraram até os vendedores de churrasquinho”. Diante da pressão dos comerciantes, Câmara e prefeitura voltaram atrás e liberaram os 17% anterior até se discutir o assunto com a comunidade. “Nossa proposta é ouvir a comunidade, contra e a favor do uso das calçadas”, afirma Edith. Ela acha que ouvindo a comunidade, será possível chegar a um acordo. A reunião começa às 19 horas na Câmara e será aberta a todos os interessados. Marcos Zanatta Após a leitura silenciosa e discussão sobre as possíveis dificuldades que os alunos poderiam apresentar face ao vocabulário, passamos às etapas: I. Situação da produção do texto (interação/contextualização). Nesta etapa, como naquelas que seguem, procuramos interagir com os participantes, a partir de alguns questionamentos, tais como: Esta é uma notícia de jornal a) Onde foi veiculada a notícia? b) Qual a abrangência de circulação desse jornal? c) Qual a freqüência de circulação e o preço por exemplar? d) De quantos cadernos se compõe o jornal? e) O Diário do Norte do Paraná apresenta editorial? f) A que tipo de notícia o jornal dedica maior espaço? g) As respostas dadas às questões anteriores permitem inferir o perfil do leitor desse jornal? II. a) Conteúdo da notícia Qual a informação transmitida pela notícia em destaque? III. Estrutura da notícia • Título: Câmara debate lei • Lead: Uso da calçada será debatido na Câmara hoje • Introdução: expansão do lead e retomada do contexto em que foi aprovada a lei de uso das calçadas de Maringá. • Desenvolvimento: expansão do conteúdo e objetivo da lei, bem como da polêmica que a sanção da lei causou, apresentada pelo jornalista, através da fala da vereadora Edith Dias de Carvalho • Conclusão: a solução para o impasse é a reunião da Câmara (de vereadores), para rediscutir a lei, ouvindo a comunidade. Marilurdes ZANINI 1051 A estrutura dessa notícia foge à estrutura convencional, uma vez que o lead, de acordo com a apresentação no jornal onde foi veiculada, aparece antes do título, inserido na foto, porém abaixo do assunto “calçadas”. IV– Marcas lingüísticas • Textuais: • Coesão textual 1º § A Câmara de Maringá debate hoje a lei de uso das calçadas pelos comerciantes. No início do ano passado, atendendo apelo da comunidade, a vereadora Edith Dias de Carvalho conseguiu aprovar projeto impedindo as lojas de utilizar o espaço do passeio público para expor mercadorias ou vender produtos. Até então era permitido o uso de 17% da calçada. 2º § A intenção da lei, segundo a vereadora, era disciplinar o uso do espaço público no centro da cidade. “Muitas pessoas reclamam do excesso de mercadorias, placas e mesas de bares nas calçadas”, lembra. O problema, lembra Edith, é que com a lei sancionada, a fiscalização passou a agir com rigor contra todos os comerciantes, inclusive nos bairros. “Foi uma chiadeira danada, tiraram até os vendedores de churrasquinho”. 3º § Diante da pressão dos comerciantes, Câmara e prefeitura voltaram atrás e liberaram os 17% anterior até se discutir o assunto com a comunidade. “Nossa proposta é ouvir a comunidade, contra e a favor do uso das calçadas”, afirma Edith. Ela acha que ouvindo a comunidade, será possível chegar a um acordo. A reunião começa às 19 horas na Câmara e será aberta a todos os interessados. Marcando as pistas que “amarram” o texto, passamos a discutir sobre os mecanismos mais utilizados pelo autor da notícia, como observamos nos destaques feitos no texto. Em seguida, prosseguimos, centrando a reflexão na organização das frases. Para isso, valemo-nos de uma tabela (Araújo, 2000), objetivando tornar mais concreta a organização linear do texto, com vistas à progressão textual, que, conforme Koch (2002:85), “se dá com base no já dito, no que será dito e no que é sugerido, que se co-determinam progressivamente”: Câmara debate lei Núcleo inicial Câmara Debate A Câmara de debate Maringá A vereadora Edith Dias de Carvalho (No início do ano passado,) (hoje) Relações estabelecidas com o núcleo inicial Lei A lei de uso das calçadas pelos comerciantes A vereadora Edith conseguiu Dias de Carvalho aprovar projeto (Até então) o uso de 17% da calçada. era permitido A intenção da lei, era (segundo a disciplinar vereadora), “Muitas pessoas reclamam atendendo apelo da comunidade impedindo as lojas de Para expor o mercadorias utilizar espaço do ou vender produtos. passeio público o uso do espaço público no centro da cidade. do excesso de mercadorias, lembra. placas e mesas de bares nas calçadas”, 1052 ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA: A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA COM PROFESSORES Núcleo inicial O problema, (lembra Edith,) é “Foi (uma chiadeira danada), (Diante da pressão dos comerciantes), Câmara e prefeitura “Nossa proposta voltaram atrás acha A reunião começa que, com a lei sancionada, a . fiscalização passou a agir com os rigor contra todos comerciantes inclusive nos bairros uma chiadeira danada, tiraram até os vendedores de churrasquinho”. a e liberaram os até se discutir 17% anterior o assunto com a comunidade. a comunidade, contra e a afirma Edith. favor do uso das calçadas”, que ouvindo a comunidade, será possível é ouvir Ela Relações estabelecidas com o núcleo inicial À às 19 horas na Câmara chegar a um acordo e será aberta a todos os interessados. Sob a ótica de Araújo (2000), as três primeiras colunas da tabela (entre as quais se deslocam as circunstâncias temporais, marcando uma quarta coluna) representam o núcleo inicial, ou o ponto de partida das frases constituintes do texto. As demais colunas marcam as seqüências e as relações que estabelecem com o núcleo inicial. A tabela permite observar a dificuldade ou não do autor em expandir o seu texto, principalmente, a ocorrência de redundância por falta de habilidade no emprego de mecanismos coesivos. Com isso, o professor pode mediar a reflexão sobre as palavras que resgatam ou remetem a outras que favorecem a inserção de novos pontos de vista ou de dados informativos, caracterizando a expansão textual. Tal atividade permite ainda visualizar as possibilidades e a adequação das relações estabelecidas, que não ocupam destaque neste momento. A nossa atenção se volta, conforme propusemos na introdução deste trabalho, para as “relações de sentido existentes no interior do texto e que o definem como texto” (Vilela e Koch, 2001:464), ou seja, os mecanismos de coesão textual. Para Vilela e Koch (2001:465), apoiando-se em Halliday & Hasan (1976:4), “a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser efetivamente decodificado a não ser por recurso ao outro” (op. cit., 465). Sendo, pois, a coesão os fatores, de acordo com Marcuschi (1983), citado por Vilela e Koch (2001:465), que “dão conta da estruturação da seqüência superficial do texto”, ou seja, os “mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos lingüísticos do texto, relações de sentido”(id. p. 465), temos na notícia em análise, dentre outros analisados posteriormente, os mecanismos de coesão, apontados por Halliday & Hasan, confirmados por Vilela e Koch (2001) e por Koch (2002), de acordo com discussão estabelecida com o grupo de participantes, assim sistematizados: a) Encapsulamento ou sumarização – “nominalizações que, ao encapsularem as informaçõessuporte contidas em segmentos precedentes do texto, sintetizam-nas sob a forma de um substantivopredicativo, atribuindo-lhes o estatuto de objetos-de-discurso” (Koch, 2002:93-94): a vereadora Edith Dias de Carvalho = Edith; calçadas = espaço do passeio público, espaço público; comunidade = muitas pessoas, interessados. b) Rotulação – forma nominal referencial marcada por escolha lexical: o assunto = lei de uso das calçadas pelos comerciantes; o problema = com a lei sancionada, a fiscalização passou a agir com rigor contra todos os comerciantes, inclusive nos bairros; uma chiadeira danada; tiraram até os vendedores de churrasquinho. Marilurdes ZANINI 1053 c) Reiteração – retomada feita pela repetição da seqüência textual: comerciantes/comerciantes a comunidade/a comunidade /a comunidade d) Reiteração parcial – retomada feita pela repetição parcial da seqüência textual: a Câmara de Maringá = Câmara; a vereadora Edith Dias de Carvalho = a vereadora a lei de uso das calçadas pelos comerciantes = a lei. e) Pronominalização – marcada pelo “processo de recuperação do conjunto construído (...) num contexto específico proposto implicitamente pela co-textualidade” ( Koch. 2002:86: A vereadora Edith Dias de Carvalho = Ela; f) Conjunção (ou conexão) – responsável pelo estabelecimento de “relações significativas específicas entre elementos ou orações do texto” (Vilela e Koch, 2001:469). Destacamos aqui as relações entre as orações do texto: Para expor mercadorias ou vender produtos = continuativa – final; e liberaram os 17% anterior = aditiva até se discutir o assunto com a comunidade = continuativa - temporal e será aberta a todos os interessados = aditiva g) Descrição definida – “características ou traços do referente que o locutor procura ressaltar ou enfatizar” (id. p. 87): comerciantes = os vendedores de churrasquinho; A Câmara de Maringá debate hoje... = a reunião. Na notícia enfocada, percebemos que o autor se vale de mecanismos coesivos, entretanto, recorrendo mais à repetição de nomes (Edith, Edith, comerciantes, comerciantes, calçadas, calçadas). Embora possa parecer um texto “pobre”, por envolver poucos recursos na sua constituição, a notícia analisada apresenta-se como um “hipertexto” (id. p. 63), já que “na construção do sentido, há um constante movimento em variadas direções, bem como o recurso ininterrupto a diversas fontes de informação, textuais e extratextuais” (id. ibid.), constituindo-se no ato global que o seu autor (Marcos Zanatta) pretende realizar: destaca o ato principal – a reunião da Câmara Municipal para discutir a lei de uso das calçadas pelos comerciantes – e outros complementares – discussão sobre a aprovação da lei (resgate do fato), horário e local da reunião dos vereadores, convite aos interessados. Esses complementos, que, nesta notícia, apresentam-se incisivos, sem muitas explicações, mesmo assim, revelam-se atos preparatórios. Mesmo porque “No caso da notícia jornalística, mormente em se tratando de fato de grande relevância nacional ou internacional, o noticiário propriamente dito é complementado por editoriais, matérias opinativas e outras (...). Novamente, o leitor que quiser ter uma visão completa do que realmente está acontecendo terá de incorporar num só modelo de situação todas essas informações, opiniões e atitudes, para, então, construir a sua interpretação do fato” (id. p.62). 5.2 Geração da regra Diante da análise da notícia selecionada, é possível entender que: a) ao substituir elementos do texto por outros equivalentes, podemos perceber instruções de conexão (nível sintático), marcadas por nomes que “encapsulam” informações contidas em seqüências expandidas; b) ao referir-se a nomes ou seqüências textuais, podemos fazê-lo por meio de rótulos, marcados por escolha lexical; c) para expandir o texto, podemos retomar nomes por meio da sua repetição, o que caracteriza a reiteração, que pode ser total ou parcial; 1054 ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA: A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA COM PROFESSORES d) podemos recuperar um termo ou uma seqüência por meio da pronominalização, desde que haja um contexto específico proposto implicitamente pela co-textualidade. e) ao estabelecer as relações seqüenciais (nível pragmático), evidenciam-se instruções de conseqüência, indicadas pela expansão das frases, por meio de outras conectadas pelas conjunções. f) outra estratégia de progressão textual é a descrição definida, marcada pela ênfase que o autor deseja dar a certos traços ou características do referente. Uma vez observadas as particularidades das ocorrências, e geradas normas que orientam a progressão textual, as atividades a serem propostas prevêem aquelas que visem às transformações das frases da notícia em foco, de modo a permitir ao aluno novas formas de apresentação do mesmo conteúdo, para depois propor-se a exploração dos seus recursos gramaticais. 6. Conclusão Da discussão apresentada, não se perdeu de vista uma importante questão: em sala de aula, os professores, que atuam nos ensinos fundamental e médio, hão de adequar a terminologia ao nível do aluno. Entretanto, pressupomos que eles saibam orientar-se pela teoria pertinente. Sem pretender que o encaminhamento aqui proposto para o ensino de gramática seja único e soberano, deixamos registrado uma criação de situação em que se permita um ensino-aprendizagem centrado no uso da língua que – isto sim – incite discussões sobre o tema. Para finalizar, retomamos a premissa de que ao professor não falta competência em relação ao domínio de conteúdos específicos. Falta-lhe a convicção de que para ensinar é preciso fazer, saber por que o faz e como o faz. Isso se comprova, quando, nas atividades realizadas, mostram as incertezas que tem na abordagem textual do ensino da gramática. A partir do momento em que se conscientizar e assumir a condição de usuário da língua e, como tal, faz uso dela, refletindo e usando-a de forma melhorada, ele produzirá e propiciará ao seu aluno a produção de um texto que seja realmente “um evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais” (Beaugrande, in Vilela e Koch, 2001:560). RESUMO: Objetiva-se apresentar uma atividade de prática de análise lingüística da notícia jornalística, realizada com um grupo de professores de Língua Portuguesa. Os resultados obtidos mostram as incertezas que os professores têm na abordagem textual do ensino da gramática. PALAVRAS-CHAVE: ensino-aprendizagem – gramática – professores – língua materna. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENITES, S.A.L. & PAZINI, M.C.B. Para que ensinar gramática. Proleitura, Assis/SP, 1996. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: 3º e 4º ciclos – Ensino Fundamental de Língua Portuguesa. Brasília, 1998. BRITO, E.V. et alii. PCNs de Língua Portuguesa: a prática em sala de aula. São Paulo: Arte & Ciência, 2001. CONDEMARÍN, M. e CHADWICK, M. Oficina de escrita. Tradução: Jonas Pereira dos Santos. Campinas-SP: Editorial PsyII, 1994. KOCH, I. V. G. – Desvendando os segredos do texto. SP: Cortez Editora, 2002. ROJO, R. (org.). A prática de linguagem em sala de aula – praticando os PCNs. São Paulo: Mercado de Letras/Educ/Compla, 2000. SERAFINI, M.T. Como escrever textos (Come si fa un tema in classe). Tradução: Maria Augusta Bastos de Mattos; adaptação: Ana Lúcia Marcondes Garcia. SP: Globo, 1985, 5ª edição. SIGNORINI, I. e CAVALCANTI, M. (orgs.). Lingüística Aplicada e transdisciplinaridade. São Paulo: Mercado de Letras, 1998. VILELA, M. e KOCH, I.V. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001.