ISSN 0102-3209 Educação Brasileira Revista do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras [email protected] Volume 29 Números 58 e 59 Janeiro/Dezembro 2007 Índices: Sumários Correntes (IBICT) Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras - CRUB SEPN Quadra 516, Conjunto D 70770-524 - Brasília - DF - Brasil Telefone: (0**61) 3349-9010 Fax: (0**61) 3274-4621 E-mail: [email protected] Home-page: http://www.crub.org.br Educ. bras. Brasília v. 29 nº s . 58 e 59 jan./dez. 2007 156 p. EDUCAÇÃO BRASILEIRA, v. 1-, n. 1-, 1978, Brasília, CRUB. Semestral 1. Educação Superior - Periódicos. I. Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. CDU 37(05) CDD 370.5 Nota: Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. DIAGRAMAÇÃO Wagner Freitas Souza CAPA Edson Fogaça DISTRIBUIÇÃO E DIVULGAÇÃO Maria Franklin de Andrade Tiragem média: 1.000 exemplares Sumário Editorial ............................................................................ 7-9 TEMA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: NOVOS OLHARES MEMORIAL O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas Suely Vilela ........................................................................................... 15-28 ARTIGOS INOVAÇÃO / RENOVAÇÃO Conhecimento, inovação e o novo papel das universidades Jorge Luís Nicolas Audy ..................................................................... 31-34 GESTÃO ESCOLAR Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes ............................................................................. 37-48 5 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar Cátia Deniana Firmino Perfeito ........................................................ 49-61 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Educação a distância: um modelo acadêmico Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino .................................................................................. 65-83 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da Ibero-América Alina Corrêa ......................................................................................... 85-99 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas Tania Scuro Mendes ......................................................................... 101-121 PRÊMIO Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero .................................................... 125-156 6 EDITORIAL A revista Educação Brasileira não tem poupado esforços para trazer nas suas publicações abordagens de temas polêmicos que se identifiquem com a Universidade. Os textos desta edição assinalam enormes desafios, mas também apontam soluções, e a Academia, ciente da sua missão institucional, está preparada para dar as respostas que a sociedade espera e merece. A primeira leitura desta revista versa sobre O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas, artigo assinado por Suely Vilela. A autora elenca os inúmeros problemas que assolam o ensino superior paulista e sugere dinâmicas para solucioná-los. Quadros, tabelas e gráficos trazem informações que, desde já, permitem a antevisão de um futuro mais próspero para as instituições universitárias do Estado de São Paulo, notadamente para as três universidades públicas: USP, Unesp e Unicamp. A segunda leitura é o artigo de Jorge Luís Nicolas Audy sobre Conhecimento, inovação e o novo papel das universidades. O autor aborda a questão de uma nova conduta para as universidades brasileiras, diante de um cenário em que ciência e tecnologia são temas centrais de debates éticos e políticos, cabendo à Universidade revestirse de uma visão empreendedora, para inovar e desenvolver o seu plano de gestão focado nas demandas da sociedade do conhecimento. Dando continuidade, Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes são responsáveis por esta pesquisa referente à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) – Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica. Preocupadas em promover a permanência dos estudantes nessa instituição de ensino, durante a graduação, as autoras formulam questionamentos e assinalam alguns aspectos preponderantes que vêm ao encontro dessa demanda. 7 Na seqüência, Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar, artigo elaborado por Cátia Deniana Firmino Perfeito, traz ao campo do debate acadêmico a gestão escolar à luz do planejamento estratégico. A autora justifica essa modalidade de administração como ferramenta indispensável para tornar a instituição universitária dinâmica e competitiva. Aponta ainda a origem e a evolução do conceito de Planejamento, chegando ao Planejamento Estratégico, os desafios que se apresentam ao gestor escolar e, por fim, mostra como a Academia incorporou metodicamente esse instrumento de gestão. Educação a distância: um modelo acadêmico – escrito por Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino. Tema muito em voga, tendo como foco a Universidade Mackenzie. Os autores desenvolvem ações que contribuem para o fortalecimento de projetos dessa universidade, caso do eMack, do Mack Virtual, que dispõem de um espaço interativo on-line para atender às demandas de estudantes que vêem na Educação a Distância uma alternativa de se qualificarem para o mercado de trabalho. Fazendo uma interface com o tema anterior – educação a distância –, Tania Scuro Mendes, em dupla participação na presente edição da revista Educação Brasileira, traz à tona o seu artigo Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas. É um trabalho que envolve catorze docentes que atuam em disciplinas de graduação, mediante EaD virtual, e treze instituições de ensino superior da Grande Porto Alegre. Como último tema, o artigo de Alina Corrêa – OpenCourseWare (OCW) Universia: oportunidade para docentes da Ibero-América – elucida como se dá a socialização do conhecimento do OCW e o impacto da internet no ensino superior. A autora lista alternativas que alteraram profundamente as formas de produção, de apuração, de geração e distribuição da informação no ambiente universitário. Encerrando a edição desta revista, e dando continuidade a publicações de temas emblemáticos, o Conselho de Reitores abre espaço para a divulgação da 3ª edição do prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, uma iniciativa da Secretaria Especial de Políticas para as 8 Mulheres (SPM), em parceria com o MCT, CNPq, MEC e Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). Com este número, o Conselho de Reitores atualiza a publicação da revista Educação Brasileira, nas edições impressa e eletrônica. Nival Nunes de Almeida Presidente Manassés Claudino Fonteles Editor 9 TEMA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: NOVOS OLHARES MEMORIAL O ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE SÃO PAULO: CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS PAULISTAS Suely Vilela1 Resumo / Abstract O artigo apresenta alguns indicadores do Ensino Superior do Estado de São Paulo, comparativamente àqueles observados para o Brasil, mostrando a robustez do sistema e os desafios a serem enfrentados. Neste cenário, contextualiza-se a contribuição fundamental das três universidades públicas paulistas – USP, Unesp e Unicamp –, principais responsáveis pela pujança do Ensino Superior no Estado. A importância da autonomia universitária na evolução dos indicadores das três instituições é também ressaltada. Questões que merecem iniciativas por parte dessas universidades são brevemente discutidas. The paper shows some indeces about the Higher Education in São Paulo State, presenting the strength of the system compared with those found in Brazil, and also the challenges to be faced. The fundamental contribution of the public state universities – USP, Unesp and Unicamp —, the main responsible for the powerful strength of the Higher Education System in Sao Paulo State, is contextualized in the scenario. The importance of the university autonomy concerning the indeces evolution of those three institutions is also presented. Questions that deserve initiatives from those universities have been briefly discussed. 1 Professora Titular do Departamento de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), e Reitora da USP . Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 15 O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas Palavras-chave / Key words Indicadores do ensino superior, sistema paulista de educação superior, autonomia universitária, USP, Unesp,Unicamp. Higher education system indeces, higher education in São Paulo State, university autonomy,USP, Unesp, Unicamp. ENSINO SUPERIOR – DESAFIOS E SOLUÇÕES PARA O BRASIL Vivemos em uma sociedade em transformação, em que o conhecimento e, portanto, a educação desempenham papel fundamental na vida dos cidadãos e na sobrevivência e no desenvolvimento das nações. O paradigma da educação para o novo milênio deve se basear em quatro pilares [1]: aprender a conhecer, aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a ser, que interagem e são interdependentes. Essas ações, praticadas ao longo dos tempos, não raro, de forma isolada, integram-se hoje para atender às novas necessidades do estar no mundo. Na verdade, o ser humano deverá se dispor a realizar tarefa das mais complexas, ante as transformações hoje sentidas, despojado do pensamento construído num passado, não tão longínquo, em que as bases eram muito diversas. O ensino superior, como formador de competências, que transforma decisivamente os rumos de um país, deve estar em sintonia com as mudanças sofridas pela sociedade globalizada. É preciso refletir sobre a sua missão e também sobre suas funções [2]. Para a consecução desse objetivo, é fundamental que se estabeleçam boas relações com dois atores – Estado e sociedade – fortalecidas pela autonomia institucional e pela liberdade acadêmica. Sem prescindir dos valores acadêmicos tradicionais, um dos desafios do ensino superior é conviver com o moderno, que integra o avanço da tecnologia à educação e o tem como pressuposto, sem prescindir da qualidade exigida pela competitividade em nosso mundo globalizado [3]. 16 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 Suely Vilela No Brasil, os principais desafios do Ensino Superior, na atualidade, são o aumento do acesso aos jovens estudantes e a inclusão dos mais desprovidos dos pontos de vista socioeconômico e étnico. Afinal, segundo dados de 2005, existiam apenas 4,5 milhões de estudantes nas Instituições de Ensino Superior (IES), o que, à época, correspondia a 2,4% da população [4]. A maior parte deles era formada por estudantes brancos, originários de famílias com maior poder aquisitivo. Esse número representava 11% dos jovens de 18 a 24 anos, e a meta é aumentar esse contingente para 30% até 2011. Vencer esses desafios vem sendo também a plataforma de ideais e metas da Unesco [2], que prega a democratização do conhecimento e de seu uso ético. As formas encontradas para vencer esses desafios dependerão das peculiaridades de cada país. Ações são dirigidas pelo Sistema Educacional Brasileiro com o intuito de solucionar tais impasses. A expansão de vagas envolve o aumento do número de IES, de cursos presenciais noturnos e de cursos a distância. Nesse particular, é importante, todavia, ter cautela, considerando-se o número de vagas ociosas. Segundo o censo de 2005 [5], das 2.429.737 vagas oferecidas em todo o País, apenas 57% foram ocupadas. A política de aumento de vagas deve necessariamente levar em conta esse cenário. Também não se pode perder de vista – e isso é prioritário – a qualidade dos recursos humanos formados. A Índia e a China têm aumentado de forma expressiva o número de IES, e, por conseguinte, o número de vagas, na expectativa de alcançar celeremente o desenvolvimento sem formar, contudo, indivíduos qualificados a exercer as respectivas profissões [6]. Já para a resolução do problema de acesso a grupos pouco favorecidos do ponto de vista socioeconômico e a inclusão por etnia, programas de cotas do governo federal, ainda que cercados de polêmica, vêm sendo implementados em muitas regiões. Além dessas ações, buscamse políticas para a permanência de estudantes nas IES, a fim de minimizar taxas de evasão, não raro altas, que se observam em muitas regiões do País. Somam-se a essas algumas iniciativas próprias de alguns Estados da Federação. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 17 O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas É preciso mencionar também que, paralelamente a medidas que visam ao aprimoramento interno dos sistemas, a internacionalização do Ensino Superior é meta que mobiliza, na atualidade, os dirigentes das Instituições, sobretudo das públicas. Vivemos em um mundo globalizado e altamente competitivo, que exige o aprimoramento da formação do professor, do aluno e da pesquisa de alto nível, atributos que a internacionalização permite obter. O ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE SÃO PAULO Estado que representa a pujança econômica do Brasil, São Paulo corresponde a 33,4% do PIB nacional e concentra 22% da população economicamente ativa do País [7]. Segundo o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) de 2006, para o biênio 2002-2004, esse Estado ocupava, em 2003, o 51º lugar no ranking mundial do PIB per capita, quando analisado separadamente, aproximando-se de países como Grécia, Finlândia e África do Sul. Nesse mesmo ano, o Brasil se encontrava na 70ª posição no ranking. Com tal participação expressiva no PIB brasileiro, é de se esperar que índices sociais importantes, relativos às condições de vida dos habitantes, tais como aqueles ligados à Educação, acompanhem o status de maior economia brasileira registrada para o Estado de São Paulo [7]. Realmente, observa-se que tais índices se mostram relativamente superiores, dos pontos de vista qualitativos e quantitativos, aos outros Estados da Federação. No âmbito do Ensino Superior, o peso de São Paulo é inconteste. Das 2.398 Instituições do setor no Brasil, segundo dados de 2007 [5] do Mec/INEP, aproximadamente 24% encontram-se nesse Estado. Em 2005, o corpo discente das Instituições em São Paulo correspondia a 27% dos estudantes matriculados no País. Analogamente ao que ocorre em nível nacional, a maioria das Instituições de Ensino Superior (IES) de São Paulo é de natureza privada, correspondendo ao setor público em torno de apenas 11% do total. 18 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 Suely Vilela Predominam, no tocante à categoria acadêmica, Faculdades (84%) em relação às Universidades (7%) e Centros Universitários (8%) [5]. O setor público em São Paulo, compreendido por 52 IES, apresenta número praticamente igual de IES estaduais (23) e municipais (24), com parcela reduzida de Federais (5) [5]. Nesse particular, o cenário difere daquele que se observa no plano nacional, em que o número de IES federais suplanta o das demais categorias administrativas. Considerando-se os docentes, independentemente da categoria da IES, em 2005 registravam-se em São Paulo aproximadamente 25% dos docentes do País. Dos 71.957 professores das instituições paulistas, 29% eram doutores, 35% mestres e 23% possuíam especialização, além dos 13% com graduação, apenas. A situação no País segue esse mesmo perfil com relação à qualificação docente. No entanto, as IES paulistas envolvem 7% a mais de doutores do que o total nacional [5]. Esse quadro é esperado, considerando-se o contingente superior de doutores formados em São Paulo, em relação ao total do País [7]. Em 2004, eles representavam 43 doutores por 100.000 habitantes, próximo do dobro da média brasileira. A pesquisa científica é, em geral, desenvolvida e liderada por pesquisadores-doutores, titulados por IES, notadamente de caráter público. Em face da significativa contribuição de São Paulo na formação desses recursos humanos, explica-se sua participação decisiva nos rumos da pesquisa científica da Região Sudeste e, por extensão, do País. O gráfico 1 mostra o perfil do Estado de São Paulo no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq no Brasil [8]. Observam-se porcentagens acima dos 50% de participação do Estado nos quesitos considerados, comparativamente à Região Sudeste. Em relação ao Brasil, o Estado responde por 28% dos grupos de pesquisa, 29% dos pesquisadores, 35% dos pesquisadores-doutores e 28% das linhas de pesquisa contidas nos diretórios do CNPq [8]. Indicadores da produção científica expressa em artigos internacionais indexados mostravam, segundo censo de 2004 do CNPq [6], que 64% do que se produziu à época na Região Sudeste e 46% em relação ao Brasil correspondiam a São Paulo. Tais dados reiteram a Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 19 O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas importância do Estado à Ciência desenvolvida na região e no País, que experimentou crescimento considerável. 4 5. 0 00 4 0. 0 00 3 5. 0 00 3 0. 0 00 55 % 2 5. 0 00 5 6% 5 3% 2 0. 0 00 1 5. 0 00 5 4% 1 0. 0 00 5. 0 00 0 S ã o P a ul o G rup os P e squ i sa d or e s S u de ste P e sq ui sa d o re s D o utor e s Li n ha s d e p e sq ui sa Gráfico 1 – Participação, em porcentagem, de São Paulo nos grupos, recursos humanos e linhas de pesquisa do Sudeste, censo 2004. Fonte: [8] A evolução da produção científica brasileira observada em 2006, comparativamente a 2005, é mostrada na tabela 1. Nesse particular, o Brasil ocupava a 17ª posição em 2005 e, em 2006, passou ao 15º lugar, traduzindo o crescimento de quase 7% no período. O cenário resumidamente apresentado mostra um Estado com um sólido Ensino Superior. Contudo é importante ressaltar que os indicadores favoráveis se referem, sobretudo, ao setor público. O segmento privado, que representa a maioria no Estado, como provam os números apresentados [5], deveria investir no aprimoramento do ensino, a fim de formar profissionais de qualidade que contribuam, de forma efetiva, para o desenvolvimento da Nação. Há instituições privadas com muitos méritos; todavia, docentes em tempo integral, com carreira es- 20 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 Suely Vilela pecífica, sistemas de pós-graduação organizados, além de infra-estrutura para a pesquisa são características mais correntemente encontradas no setor público da educação superior [9]. Tabela 1 – Produção científica mundial em 2006 POSIÇÃO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 PAÍS Estados Unidos Alemanha Japão China Inglaterra França Canadá Itália Espanha Austrália Índia Coréia do Sul Holanda Rússia Brasil Suíça Taiwan Suécia Turquia Polônia Bélgica Israel Escócia Dinamarca Áustria No. ARTIGOS 283.935 71.174 71.033 69.423 63.906 50.520 42.841 39.162 30.338 26.963 25.610 23.300 23.041 20.005 16.872 16.781 16.545 16.428 13.693 13.002 12.470 10.241 9.798 8.770 8.240 % DO MUNDO 32,30 8,10 8,08 7,90 7,27 5,75 4,87 4,46 3,45 3,07 2,91 2,64 2,62 2,28 1,92 1,91 1,88 1,87 1,56 1,48 1,42 1,17 1,11 0,99 0,92 2006/2005 (%) -1,71 -3,54 -5,75 16,80 -1,69 -3,34 2,09 0,00 4,28 2,99 6,94 0,88 1,69 -16,89 6,81 0,46 5,58 -3,59 -1,28 -0,51 -2,53 -1,23 -4,01 -2,62 -4,72 Fonte: O Estado de São Paulo, 10/7/07. AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS ESTADUAIS PAULISTAS As três universidades públicas do Estado de São Paulo – USP, Unesp e Unicamp – desempenham papel de grande relevância no contexto da educação superior do Estado de São Paulo e do País. Criadas no século passado – USP, em 1934; Unicamp, em 1966; e Unesp, em 1976 –, são ainda muito jovens, se as compararmos às prestigiosas instituições estrangeiras, como a Universidade de Bologna, fundada há 918 anos. Apesar da juventude, estas instituições conquistaram gradativamente a maturidade, que hoje lhes permite figurar nos rankings das melhores universidades do mundo. A USP é a 128ª coloEduc. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 21 O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas cada na relação da Universidade de Shanghai de 2007 [10] e a primeira brasileira classificada, seguida da Unicamp (304ª posição) e da Unesp (449ª posição), esta última na quarta colocação entre as nacionais classificadas nesse ranking. A autonomia universitária, resultante da Constituição Estadual, abrangeu, a partir de 1989, as três instituições e foi certamente o catalisador do desenvolvimento que estas experimentaram ao longo da década de 1990, atingindo índices expressivos no início do século XXI. É preciso ressaltar que a autonomia institucional, que garante a liberdade na tomada de decisões de cunho político, além da financeira e administrativa, e a liberdade acadêmica constituem fatores fundamentais para que uma IES cultive e desenvolva a criatividade, a reflexão e o espírito crítico [2]. USP, Unicamp e Unesp respondem juntas por 8% dos alunos de graduação e 78% dos estudantes de pós-graduação do Estado de São Paulo, segundo dados de 2006 [11]. O gráfico 2 mostra o número de alunos de ambos os níveis, correspondentes a cada uma das universidades [7]. 9 7 . 23 0 1 00 . 00 0 90 . 00 0 80 . 00 0 70 . 00 0 60 . 00 0 50 . 00 0 40 . 00 0 4 7. 9 07 5 0. 8 42 17 . 2 75 3 2. 0 48 27 . 86 4 1 0 .0 9 7 30 . 00 0 1 2 . 88 1 20 . 00 0 10 . 00 0 0 G RA DU A Ç Ã O U SP U N IC A M P P Ó S -G R A D U A Ç Ã O UN E S P TO TA L Gráfico 2 – Distribuição de alunos de graduação e de pós-graduação nas universidades estaduais paulistas, em 2006. Dados da Unesp, 2005. Fontes: [12-14] 22 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 Suely Vilela A evolução da formação de mestres e doutores a partir da autonomia universitária é apresentada no gráfico 3. Aumento expressivo na titulação de mestres e doutores é observada no período de 1989 a 2006, nas três universidades. O avanço significativo do sistema de pós-graduação – as três instituições respondem hoje por 74% dos programas do Estado de São Paulo e 21% do Brasil [11] – resultou na consolidação da formação de competências, especialmente de doutores, para o desenvolvimento científico e a qualificação docente das IES de todo o País. Assim é que as três universidades paulistas encontram-se entre as principais instituições norte-americanas formadoras de recursos humanos nesse nível (quadro 1), segundo dados de 2005 [15]. A USP titulou naquele ano 2.266 doutores, seguida da Unicamp, que formou 873 doutores, e da Unesp, responsável por 605 doutores no período. Gráfico 3 – Evolução na titulação de mestres e doutores no período de UNESP USP UNICAMP 1989 a 2006. Fontes: [12-14] Tal fato repercute também na qualificação dos docentes das universidades públicas paulistas. É importante ressaltar que de 90% a 96% dos docentes possuem, no mínimo, título de doutor e, a maioria, em torno de 80%, se dedica a essas instituições em tempo integral. Esses Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 23 O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas são atributos determinantes da qualidade dos profissionais formados e da geração do conhecimento, que pode levar ao avanço tecnológico. Conforme dito, a autonomia financeira, além da acadêmica, permitiu às IES estaduais estabelecer as políticas de gestão e realizar planejamentos de longo prazo [9], para a aplicação adequada da dotação orçamentária – em 2007, em torno de R$ 2,4 bilhões à USP, cerca de R$ 1 bilhão à Unicamp e em torno de R$ 1,1 bilhão à Unesp – tendo como norte a excelência acadêmica. No entanto, aos recursos do erário, nem sempre suficientes, devem-se acrescentar outros oriundos especialmente da captação de recursos de agências de fomento por parte dos docentes. É expressivo o valor captado pelas IES paulistas. A USP, por exemplo, em 2006, recebeu US$ 503.961.432,78 de verba extra-orçamentária, proveniente de agências de fomento e convênios diversos. A produção científica decorrente do sólido sistema de pós-graduação e da pesquisa, em geral de qualidade, garantiu às três universidades paulistas posições de destaque entre as IES brasileiras mais bem colocadas nesse quesito, como mostra a tabela 2. Aumentos substantivos no período de 1996 a 2006 renderam o primeiro, segundo e quarto lugares nessa classificação, respectivamente, à USP, Unicamp e Unesp. Juntas, elas representavam 46% da produção científica brasileira, em 2006. 24 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 Suely Vilela Quadro 1 – Principais universidades formadoras de doutores Survey of Earned Doctorates, 2004 Número de Doutores, 2004 2005 Brasil EUA Doutores 2.266 USP Unicamp 873 664 U. CA, Los Angeles U. CA Berkeley 802 U. TX - Austin U. MI 716 U. WI -Madison 664 U. CA Los Angeles 651 U. MN Stanford U. 644 642 U.IL Urbana Champaign 637 PA State U., The 606 711 Unesp 605 OH State U., The 591 MIT U. FL 574 Harvard U. 510 581 Fonte: NSF/NIH/USED/NEH/USDA/NASA, 2005 Survey of Earned Doctorates Fonte: [15] Tabela 2 – Universidades brasileiras e a produção científica no Brasil INSTITUIÇÃO 1º. USP 2º UNICAMP 3º UFRJ 4º UNESP 5º UFRGS 6º UFMG 7º UNIFESP 8º FIOCRUZ 9º UFSC 10º UFSCAR 11º UFPR 12º UFPE 13º UFV 14º UNB 15º UFC ARTIGOS PUBLICADOS 2006 4.669 1.842 1.537 1.286 1.069 1.019 685 584 525 511 475 440 437 424 373 2001 2.812 1.219 1.163 1.061 635 605 347 342 292 400 261 294 140 247 170 1996 1.554 678 634 396 315 284 143 235 165 181 121 139 59 123 73 AUMENTO(%) 1996-2006 200 171 142 224 239 258 379 148 218 182 292 216 640 244 410 Fonte: O Estado de São Paulo, 1°/08/07 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 25 O ensino superior no Estado de São Paulo: contribuição das universidades públicas paulistas Há, no entanto, que se investir mais na inovação. Nesse ponto, corroborando o descompasso observado no País, não há correspondência entre a produção científica e o avanço tecnológico. A despeito desse panorama, a contribuição das três instituições é significativa. Deve-se salientar que a produção científica indexada é passo importante rumo à internacionalização, objetivo das três universidades, que têm privilegiado as mobilidades discente e docente e o desenvolvimento de pesquisas conjuntas. O resultado de ações nessa direção é a visibilidade mundial que conquistaram, haja vista a classificação dessas instituições nos principais rankings das melhores universidades do mundo [10]. A importância dessas Universidades remete-lhes constantemente à responsabilidade de comandar ações para enfrentar os principais desafios da educação. Assim sendo, em resposta à política de expansão de vagas dirigida pelo Governo Estadual, no período de 2001 a 2006, USP, Unesp e Unicamp encetaram esforços visando a iniciativas que levassem à consecução desse objetivo. Cursos novos, além de cursos noturnos já existentes, foram criados nas três universidades, em atendimento à necessidade de oferecimento de novas vagas. Novos campi também resultaram dessa política de expansão. A racionalidade na criação foi a tônica dessas iniciativas, tendo em vista novos projetos pedagógicos e o atendimento a novas tendências da sociedade moderna, sem descuidar da qualidade que se quer imprimir aos recursos humanos formados. Criaram-se 2.787 vagas na USP, o que representa acréscimo de 39%, correspondente ao adicional de 13.395 novos alunos beneficiados. A Unicamp criou 900 vagas, o correspondente ao acréscimo de 38%, representando adicional de 4.500 novos alunos beneficiados. Na Unesp criaram-se 1.825 vagas, 36% de acréscimo, refletindo adicional de 9.125 novos alunos beneficiados. A inclusão socioeconômica e étnica encontrou nas instituições públicas paulistas soluções mais criativas, como alternativas às cotas, ainda de aplicação controvertida. Visando prioritariamente ao mérito, criaram-se o Programa de Inclusão Social (INCLUSP), na USP [16], o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) da Unicamp 26 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 Suely Vilela [17] e iniciativas para a inclusão social na Unesp [18], com abrangência que ultrapassa o acesso à universidade. Tais programas, dedicados a estudantes do ensino médio da rede pública, além de aumentarem o acesso dos estudantes, procuram envolver ações que visam ao aprimoramento do sistema, aumentando as oportunidades a esses estudantes de ingressar em universidades de qualidade. Os fatos e números brevemente apresentados neste artigo dão a dimensão da importância da USP, Unesp e Unicamp e do papel que representam no contexto da Educação Superior do Estado de São Paulo e do País. Há ainda muitos desafios a serem enfrentados por essas instituições. Um deles diz respeito ao aperfeiçoamento da gestão universitária, em que se possa distinguir claramente a administração da burocracia que a engessa [19]. Os meios que elas dispõem para enfrentá-los, consideradas as suas características, as principais aqui ressaltadas, permitem que se lhes anteveja um futuro ainda melhor. Dessa forma, poderão contribuir, mais ainda, para a formação de cidadãos, conscientes de seu papel no desenvolvimento da Nação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] DELOURS, J. Os quatro pilares da educação. In: UNESCO; MEC. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez Editora, 1999. Cap. 4, p. 89102. [2] WERTHEIN, J.; CUNHA, C. Fundamentos da nova educação. Cadernos Unesco, Série Educação, v. 5, 2005, p. 29-40. [3] MALNIC, G.; STEINER, J. E. (Orgs.). Ensino superior: conceito e dinâmica. São Paulo: Edusp, 2006. [4] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.317p. 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São Paulo: Futura, 1998. p. 151-174. 28 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 15-28, jan./dez. 2007 ARTIGOS INOVAÇÃO / RENOVAÇÃO CONHECIMENTO, INOVAÇÃO E O NOVO PAPEL DAS UNIVERSIDADES Jorge Luís Nicolas Audy1 Resumo A Sociedade do Conhecimento apresenta novas demandas para as Universidades, apontando para um novo papel das instituições, atuando como protagonistas do processo de desenvolvimento econômico, social e cultural. Novos conceitos surgem neste ambiente, tais como criatividade, inovação, novas abordagens pedagógicas, empreendedorismo. Incorporar estes novos conceitos, buscando uma renovação necessária, mas sem perder sua tradição e integridade, é o grande desafio que se apresenta. Este artigo busca identificar alguns aspectos críticos deste processo de mudança e apontar algumas oportunidades e desafios presentes neste ambiente. Palavras-chave / Key words Inovação, universidade empreendedora, sociedade do conhecimento, interação universidade-empresa-governo. Innovation, entrepreneurial university, knowledge society, university-entrerprise-govermment interaction. As noções de sociedade da informação e do conhecimento demandam um conceito revisado de Universidade. Enquanto a noção de sociedade da informação está baseada nos avanços tecnológicos, o conceito de sociedade do conhecimento compreende dimensões sociais, éticas e políticas mais abrangentes (Unesco, 2005). 1 Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 31-34, jan./dez. 2007 31 Conhecimento, inovação e o novo papel das universidades A ciência e a tecnologia são temas centrais de debates éticos e políticos no cenário do desenvolvimento da sociedade. Nesse contexto, a inovação surge como resposta das instituições universitárias em um contexto cada vez mais complexo, dinâmico e competitivo. O conhecimento, por sua vez, é a base de um processo de inovação e tem como insumo fundamental a informação. O processo de inovação e transferência de conhecimento é dinâmico, complexo e interativo, pois as informações devem fluir entre agentes do conhecimento e sociedade. Dessa forma, a construção do conhecimento, caracterizada pela constante transformação de conhecimento tácito em explícito, e viceversa, beneficia-se da cooperação entre partícipes de uma rede de conhecimento. Esta rede pode ser representada, na sociedade atual, pelas universidades, sociedade civil (incluindo empresas) e governo. As relações entre estes atores são cada vez mais importantes na construção do conhecimento. Neste cenário, a Universidade não deve ser lugar apenas de erudição, mas de esforço interdisciplinar de resolução de problemas. A compreensão deste ambiente em transformação é importante para a definição de políticas de pesquisa, de educação e de inovação. A sociedade do conhecimento envolve uma reorganização da própria sociedade e das suas instituições e gera mudanças nos processos econômicos, sociais e políticos, tendo por base o acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Nesta nova sociedade, a capacidade de aprender é o grande diferencial competitivo das organizações e das pessoas, demandando novas formas de aprender. A realidade existente mostra que a aquisição do conhecimento não está confinada no espaço (nas instituições de ensino tradicionais) e nem no tempo (em um período único). Desta constatação surge a noção de educação continuada, ao longo de toda a vida. Neste ambiente de constantes mudanças são questionados antigos modelos de aprendizagem, e emergem novas abordagens, baseadas no aprender fazendo (learning by doing), na criatividade e na capacidade de inovar e de aprender a aprender. 32 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 31-34, jan./dez. 2007 Jorge Luís Nicolas Audy A sociedade centrada na inovação espera das Universidades abordagens pedagógicas que façam frente às atuais demandas, que busquem desenvolver novas competências e conceitos de tempo e espaço no processo de aprendizagem. Nesse sentido, aprender a aprender significa aprender a refletir, levantar dúvidas, adaptar-se com rapidez e questionar continuamente o ambiente cultural envolvido. Dessa forma, a Universidade poderá colaborar na elaboração de um projeto global de desenvolvimento humano durável, compondo um processo de educação que leve em conta as dimensões física, afetiva, cognitiva, comunitária, ético-valorativa e transcendental. A posição central da criatividade e da inovação na sociedade do conhecimento gera um desafio que deve ser enfrentado neste início de século: como harmonizar uma cultura de inovação com uma visão de longo prazo sustentável, em que se faz necessário manter a qualidade e a tradição? Assim emerge um novo papel para a Universidade, expandindo seu foco tradicional na formação e capacitação (ensino e pesquisa), agregando à sua missão a atuação direta no processo de desenvolvimento econômico, cultural e social. E, ao mesmo tempo, representa desafios na direção de gerar as condições para a análise crítica deste processo de criação de valor e suas conseqüências, tanto internas na própria Universidade, como externas, considerando suas conseqüências nos planos social, econômico e cultural. A Universidade, neste cenário, deve ser empreendedora, desenvolvendo mecanismos que incorporem estas características da sociedade do conhecimento e da aprendizagem ao seu Plano Pedagógico Institucional e ao seu modelo de gestão. Ao fazer isso, estará sendo inovadora no seu contexto de atuação e estará respondendo às demandas que a sociedade apresenta para esta Instituição. Na PUCRS, o que estamos tentando fazer é exatamente expandir o impacto positivo na sociedade para além da formação e capacitação de nossos alunos, com mais de 120 mil egressos nos seus 58 anos de existência como Universidade. Mais recentemente, a PUCRS tem atuado como um parceiro ativo dos governos e da sociedade, seja por meio do estímulo a Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 31-34, jan./dez. 2007 33 Conhecimento, inovação e o novo papel das universidades uma cultura empreendedora, na geração de novas empresas de base tecnológica, na atração de investimentos de grandes empresas nacionais e internacionais em áreas de alta tecnologia e na criação de ambientes de inovação e pesquisa de classe mundial (como o TECNOPUC – Parque Científico e Tecnológico da PUCRS), seja pela ampliação e qualificação do Hospital São Lucas (maior Hospital Universitário privado do país), seja pela constante atualização do Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS (principal Museu Interativo da América Latina). Enfim, a Universidade deve colocar sua tradição e qualidade a serviço da renovação necessária para atender ao cumprimento de sua missão. Isto deve ser feito de forma coerente com seus princípios e valores, o que significa não perder de vista sua finalidade primária de formar cidadãos, atendendo à demanda social existente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLARK, B. Sustaining change in universities: continuities in case studies and concepts. Tertiary Education and Management, n. 9, 2003. CORDEIRO, A.; PAIVA, Jr. F. Empreendedorismo e o espírito empreendedor: uma evolução nos estudos da produção acadêmica brasileira. ENANPAD 2003. Anais..., Atibaia, 2003. DOSI, G. Technological paradigms and technological trajectories: a suggested interpretation of the determinants and directions of technological change. Research Policy, n. 11, 1982. ETZKOWITZ, H. The norms of entrepreneurial science: cognitive effects of the new university-industry linkages. Research Policy, n. 27, 1998. _______ Research groups as “quasi-firms”: the invention of the entrepreneurial university. Research Policy, n. 32, 2003. ETZKOWITZ, H., LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: from National Systems and “Mode 2” to a Triple Helix of university-industrygovernment relations. Research Policy, n. 29, 2000. HAMEL, G. Bringing Silicon Valley inside. Harvard Business Review, n. 5, Sep./Oct., 1999. UNESCO. Hacia las sociedades del conocimiento. Ediciones Unesco, 2005. 34 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 31-34, jan./dez. 2007 GESTÃO ESCOLAR GESTÃO ACOLHEDORA: ESTABELECENDO VÍNCULOS COM A COMUNIDADE ACADÊMICA Dorilda Grolli1 Lauraci Dondé da Silva2 Tamara Polenz3 Tania Scuro Mendes4 Resumo / Abstract Encaminha-se esta pesquisa com vistas à construção de um projeto educativo, objetivando a Gestão Acolhedora. Este trabalho será desenvolvido em parceria com os setores diretamente envolvidos com a educação, a formação e o atendimento aos alunos na Instituição, significando uma ação interdisciplinar. O objetivo da pesquisa é desenvolver um Programa de Gestão Acolhedora com os diversos segmentos da Universidade, a partir dos dados analisados e categorizados na pesquisa realizada em 2007. O caminho investigativo a ser percorrido nesta pesquisa, a exemplo dos trilhados nas investigações desenvolvidas anteriormente, é de caráter qualitativo, segundo Bogdan (2000), sendo os dados examinados à luz da análise de conteúdo, conforme Orlandi (1993) e Bardin (1979), tendo em vista a construção e a conceituação de categorias para a elaboração de ações conjuntas envolvendo pesquisa-ação, consoante Demo (1994) e Brandão (2003). A perspectiva teórica é voltada para ações pedagógicas, nos espaços educativos, envolvendo atitudes voltadas ao esforço em 1 Docente e Pesquisadora da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Doutora em Filosofia. [email protected] 2 Docente, Pesquisadora e Diretora da Doep/Ulbra; Doutora em Educação. [email protected] 3 Docente e Pesquisadora da Ulbra, Mestre em Educação. [email protected] 4 Docente e Pesquisadora da Ulbra, Doutora em Educação. [email protected] Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 37 Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica estabelecer vínculos significativos com os sujeitos nas relações que aí se impõem. Nesse sentido, representa a inclusão das diferenças numa conjuntura multicultural e o aproveitamento dos conhecimentos prévios, para um trabalho intercultural e intersubjetivo de construção do conhecimento. No tocante ao processo de ensino e aprendizagem, a pesquisa, a partir dos indicadores para a construção dos significados sobre gestão acolhedora e permanência, constitui programa que promove a formação continuada de professores e funcionários, sendo preponderante o desenvolvimento de competências educadoras. The present research is based upon the necessity of developing an educational project facing the issue of the Welcoming Management. This project is built in collaboration with the departments directly involved with the education, graduation and the answering of the needs of the students in that institution, which means an interdisciplinary action. The objective here is to develop a Welcoming Management Program with all segments of the University, starting from data analyzed and categorized in the research done in 2007. The investigative path for this research, as of those developed before, has a qualitative aspect to it, according to Bogdan (2000), with all information analyzed through content analysis, according to Orlandi (1993) and Bardin (1979), with eyes on the construction and definition of categories, for the elaboration of joint actions involving action-research as shown in Demo (1994) and Brandão (2003). The theoretical perspective implies a pedagogical action in the educational spaces, in an effort to establish meaningful connections with the individuals in all of the presented relationships. In this case, it represents the inclusion of the differences in a multicultural group and the use of previous knowledge for an intercultural and intersubject work of knowledge construction. For the teaching and learning process, the research, with information from indicators for the construction of the meanings about welcoming management and permanence, constitutes a program that promotes continuous education of professors and employees, where the main objective is the development of educational competencies. 38 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes Palavras-chave / Key words Gestão acolhedora, interdisciplinaridade, formação continuada. Welcoming management, interdisciplinary, continuous education. APRESENTANDO O PERCURSO DA INVESTIGAÇÃO O Programa de Gestão Acolhedora, iniciado nos anos de 2006/ 2007, implica uma pesquisa institucional, vindo ao encontro da preocupação e do desejo da Instituição em promover a permanência do aluno na universidade. Percebe-se a necessidade de ações educadoras que tenham por finalidade a formação e a qualificação do sujeito reflexivo, perceptivo, autônomo e construtor da própria realidade. A reflexão que se faz a partir desta constatação inicial detém-se em três instâncias, quais sejam: os significados dos campos do conhecimento, numa análise histórica, epistemológica e sociocultural; uma nova visão de cultura que se dá na interculturalidade e na intersubjetividade, o que requer a ruptura da fragmentação curricular legada pela modernidade; a concepção construtora e cooperadora do conhecimento que busca o desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de fazer a leitura da realidade social, contribuindo para a transformação desta realidade. Que ações, voltadas à gestão acolhedora, a universidade pode desenvolver para articular tais instâncias e qualificar as relações entre seus diversos segmentos? Visando a encontrar respostas possíveis a esta interrogação, temse, como horizonte, a finalidade de desenvolver um Programa de Gestão Acolhedora com os diversos segmentos da Universidade Luterana do Brasil, a partir dos dados analisados e categorizados na pesquisa realizada em 2007, cujos resultados podem proporcionar maior compreensão sobre componentes da identidade do aluno, traduzidos em sua cultura, sua linguagem e seus determinantes histórico-sociais. O caminho investigativo a ser percorrido nesta pesquisa, a exemplo dos trilhados nas investigações desenvolvidas anteriormente, é de cará- Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 39 Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica ter qualitativo, segundo Bogdan (2000), sendo os dados examinados à luz da análise de conteúdo, conforme Bardin (1979) e Orlandi (1993), tendo em vista a construção e a conceituação de categorias, para a elaboração de ações conjuntas envolvendo pesquisa-ação, consoante Demo (1994) e Brandão (2003). Como decorrência desse processo, encaminha-se um trabalho de caráter interdisciplinar que compreenderá a articulação de ações com setores envolvidos no contexto educativo desta Instituição e que impliquem, como eixo articulador, a conceituação-foco desta pesquisa como gestão acolhedora. Esta pesquisa será trabalhada, portanto, mediante a construção de um programa de ações conjuntas, reportando-se à concepção cooperativa da educação. GESTÃO ACOLHEDORA EM REALIDADES MULTICULTURAIS As novas demandas socioculturais, especialmente com a assimilação das tecnologias digitais, têm engendrado uma ecologia cognitiva que altera e amplia as necessidades de inserção social. O papel da Universidade, nessa perspectiva, é o de dar vez e voz aos sujeitos sociais e, para isso, essa Instituição precisa romper com paradigmas condicionantes e construir novas formas de fazer educação que visem à formação integral em processos humanizadores sustentados pela ética e pela visão de imprevisibilidade. Essa abertura à sociedade e ao outro, que deve ser finalidade da educação desenvolvida na Universidade, é respaldada por Prigogine (1996), que enfatiza que a ciência não se limita mais a situações simplificadas e idealizadas, mas, ao contrário, põe-nos diante da perplexidade de um mundo complexo e constantemente mutável. Isso remete à idéia, comentada em nosso artigo relativo à formação de professores, da capacidade do homem de retomar-se e, ao mesmo tempo, projetar-se para o futuro. Desta reflexão explicita-se a intenção de a universidade conhecer a identidade do aluno em suas múl- 40 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes tiplas características para pensar os espaços em que estas identidades possam se desenvolver no universo acadêmico. Diante desse cenário educacional, questiona-se: como a Universidade, composta por diferentes segmentos, pode desencadear ações conjuntas que dêem conta das demandas às quais os alunos ingressantes no ensino superior estão sujeitos? A temática abordada nesta pesquisa traduz preocupação por parte de todos os segmentos que compõem as gestões administrativas e pedagógicas da Universidade. Esse é o indicador preponderante para a relevância que se dá a este estudo, constituindo o desafio que desencadeia o seu desenvolvimento. As conclusões a que se chega a cada etapa deste processo de investigação atingem a comunidade acadêmica, envolvendo a todos no que diz respeito aos entendimentos que são proporcionados pela análise evolutiva que se realiza e que sinaliza as ações desencadeadas a partir desta análise. Nesse contexto, a questão da “permanência na Universidade” envolve e impulsiona a todos que fazem parte do espaço acadêmico. Decorre disso a necessidade de se definir o entendimento de permanência que está expresso na realidade em que se realiza a pesquisa. Este conceito volta-se ao investimento na formação da inteireza do sujeito que deve ocorrer por toda sua existência e equivale à continuidade nos processos educativos. Permanência abrange o aprimoramento de conhecimentos que leva ao desenvolvimento do sujeito enquanto pessoa, com caráter social e profissional. Os seus significados conduzem, desse modo, a uma compreensão sobre a incompletude humana. Assim, entende-se permanência na sua relação com os indicadores educacionais assumidos por esta coletividade. O investimento nessas premissas é compromisso fundamental da Universidade e, por isso, constitui uma das prioridades desta, desencadeando investigação institucional. Resultados de pesquisas anteriores reportam a algumas respostas sobre a questão: por que o aluno permanece nesta Instituição? Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 41 Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica Do estudo realizado, conclui-se que os conceitos identidade, desenvolvimento, e qualificação constituem os aspectos preponderantes para o processo de permanência na Instituição. Depreende-se, a partir disso, a necessidade de construir significados sobre esses conceitos, percebendo, com maior clareza, a forma como se manifestam na realidade, além de fundamentá-los para solidificar e ampliar as ações que os promovem. Estes entendimentos devem ser descritos, considerando, primeiramente, cada uma das três categorias mencionadas, na sua caracterização particularizada, para, depois, percebê-las na relação, na forma como se manifestam no cotidiano da Universidade. A compreensão do conceito identidade remete a uma construção permanente na interatividade multicultural. De caráter social, define-se na individualidade do sujeito, compondo sua inteireza como única, indivisível e intransferível. Essa interpretação conduz à dimensão em que o aluno se reconhece no contexto acadêmico, percebendo-se como sujeito com potencialidades e interesses. Ao mesmo tempo, o ambiente da Universidade lhe favorece a construção evolutiva de sua própria identidade. A partir disso, pode-se dizer que o espaço acadêmico precisa ser cada vez mais multicultural, de forma que possibilite a inserção de todos. Dessa forma, pressupõe um olhar que contemple a diversidade. Pela reflexão teórica, de acordo com Morin (1995, p. 113), entende-se, por sua vez, desenvolvimento como processo que conduz à “... finalidade... de viver verdadeiramente. Viver melhor”. Trata-se, portanto, de desenvolvimento humano e, neste sentido, implica uma concepção histórica e multidimensional, uma vez que constitui uma busca que envolve todas as dimensões de existência humana. Outro significado relevante para esta categoria é buscado em Piaget (1973), para quem desenvolvimento decorre de processos construídos interativamente e se dá na relação com os outros e com o meio, constituindo um princípio ativo. Sua finalidade está na aquisição da autonomia. Decorre, ainda, de processos de participação e de construção de aprendizagem continuada. 42 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes A categoria desenvolvimento, emergente da análise sobre as respostas obtidas pelo instrumento de investigação, é tomada como caminho pelo qual pode-se ter acesso a novos espaços de trabalho e cultura. Também promove permanência no mercado de trabalho. Abrange, por conseguinte, conhecimento pessoal e profissional. Prosseguindo a análise, quanto à qualificação, conforme Soares (2002, p. 41), “na base da expressão, potencial humano, sempre esteve o poder se qualificar, se requalificar e descobrir novos campos de atuação como realização de si”. O autor diz ainda que a função qualificadora da educação “tem como base o caráter incompleto do ser humano” que utiliza o seu “potencial de desenvolvimento” para significar a perspectiva permanente e continuada que ela embasa. Assim, a terceira categoria diz respeito às motivações do aluno, envolvendo a universidade como um todo, o seu curso e a si própria, numa relação significativa. A qualificação surge, pois, como interpretação às manifestações sobre a conceituação, a estrutura, a organização e a seriedade que envolve o espaço educativo, a diversidade e a amplitude curriculares, a competência dos professores e os relacionamentos que possibilitam dentro e fora da sala de aula. Além disso, refere-se ao desenvolvimento pessoal, claramente constatado por meio do aprimoramento de conhecimentos, implicando apropriação de competências e habilidades. Portanto, podemos concluir que os significados inferidos da análise de dados pesquisados, assim como da literatura, estão em concordância e se complementam em estreita relação, manifestando-se na concretude do cotidiano da vida acadêmica, na dinâmica dos processos e relacionamentos desencadeadores da formação dos sujeitos nela inseridos. A partir dessas questões tem-se que essa realidade, desejável e propícia ao desenvolvimento, precisa ser intensificada e ampliada de forma a atingir todos os setores e instâncias do ambiente acadêmico, devendo ser encaminhada como aprendizagem e qualificação do universo de sujeitos nela envolvidos. Isto pode se dar de forma sistemática e estruturada, com base no conhecimento construído por meio desta pesquisa. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 43 Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica As relações teórico-práticas até então engendradas permitem vislumbrar que o sentido primordial que se atribui a uma ação voltada para a permanência do estudante na Universidade, mediada pela construção de sua identidade, desenvolvimento e qualificação implica interações sociais nela entremeadas, o que, por sua vez, pode convergir à noção de acolhimento. Conceitua-se acolhimento como uma ação pedagógica, nos espaços educativos formais e informais, que envolve atitudes de estabelecer vínculos significativos com o sujeito nas relações que aí se impõem. Nesse sentido, representa a inclusão das diferenças, numa perspectiva multicultural de conhecimentos prévios, para um trabalho intercultural e intersubjetivo de construção participativa do conhecimento, voltando-se para a formação de sujeitos reflexivos, participantes, autônomos e transformadores da sociedade. Esta proposta solicita concepções de construção do conhecimento e da inserção social do sujeito, o que inclui a percepção da realidade, a formação da consciência, a atitude participativa e o desenvolvimento da autonomia. Segundo Piaget (1991, p. 105), “os conhecimentos nunca derivam exclusivamente da sensação ou da percepção, mas também de esquemas de ações. (...) a própria percepção não consiste numa simples leitura dos dados sensoriais, mas comporta uma organização ativa”. O papel da universidade frente à formação do sujeito social, além de profissional, implica necessariamente essa perspectiva construtora e cooperadora do conhecimento. É nesse contexto que se pode dizer que a formação acadêmica está intimamente ligada à dialética do saber, por intermédio da qual se configura “um caminho que parte de uma visão abstrata de um objeto de estudo até sua assimilação na concretude” (Kosik, 1998, p. 11). O caminho a que o autor acima citado se refere indica construção para a atitude de reflexividade, de percepção e de apropriação da realidade, que possibilita a ruptura dos estereótipos e das conclusões prontas, favorecendo a criação de novas ações e relações no mundo concreto. O conceito de acolhimento está estreitamente vinculado a essa concepção de educação, numa atitude de dialogicidade e de 44 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes disponibilização; de aceitação do outro sem pré-julgamentos ou preconceitos; de entendimento sobre as subjetividades, conforme estas diferenças se apresentam; de negociação e de encaminhamentos que podem oferecer alternativas ou redirecionamento das questões, problemas, dúvidas e /ou conflitos. O desenvolvimento da competência dialógica faz-se preponderante para criação de gestão acolhedora, considerando-se todas as instâncias em que ocorrem as relações na Universidade. Para tanto, propõe-se a construção de um programa de ações que se vincule à conceituação decorrente da compreensão da realidade, conforme análise das respostas obtidas dos alunos de graduação em 2005 (na pesquisa “Evasão x Permanência: ressignificando a vida acadêmica”). A concretização de um trabalho desse caráter envolve toda a comunidade acadêmica, momento em que é preciso construir parcerias com setores que abrangem a universidade nas diversas gestões que a representam. Propõe-se, para isso, a construção de um programa de gestão com ações que possam ser desenvolvidas em parcerias numa perspectiva interdisciplinar. As expectativas em relação a essa finalidade centram-se na mobilização da comunidade educativa para empreender a compreensão das variáveis que interferem na permanência dos estudantes na instituição e na construção e desenvolvimento do referido programa, integrando-se em ações conjuntas que promovam mudanças no contexto acadêmico, o que implica o desenvolvimento de “Gestão Acolhedora”. Para a continuidade e aprofundamento das proposições referidas, quer-se, num primeiro momento, buscar aproximações com a identidade do aluno da Ulbra. Isso significa saber sobre a cultura, a linguagem e o contexto sociohistórico que são constitutivos desta identidade, que se revela multicultural. Tal conhecimento pode proporcionar ao processo de “Gestão Acolhedora” elementos para a sua intensificação e aprimoramento. O programa “Gestão Acolhedora” envolve, no prisma sintético, ação construtora do conhecimento que se vincula a uma concepção de Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 45 Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica processo e de participação. Esta concepção educativa trata da questão da interdisciplinaridade, cujo conceito é desenvolvido a seguir. Na ótica deste estudo, entende-se interdisciplinaridade como uma ação que se processa pelo diálogo entre as diferentes áreas do saber, a partir do reconhecimento das suas diferenças. Essa ação tem na vivência e na compreensão da realidade o seu campo de investigação numa dinâmica de relação entre teoria e prática. Conforme Polenz (2000, p. 35-42), o conceito de interdisciplinaridade implica diferentes dimensões, iniciando pelo desvelamento da realidade numa perspectiva dialógica entre as diferentes áreas de conhecimento, constituindo processo de crescimento pessoal e grupal, o que ocorre na relação entre teoria e prática, com vistas à transformação. Dessa forma, entende-se que a atitude do sujeito frente ao objeto no processo de conhecimento é a busca pelo significado desse objeto em sua vida real. O significado tem que ser buscado na realidade concreta. Pela reflexão, pode ser problematizado, permitindo a sua apropriação e transformação. Em uma ação pedagógica interdisciplinar, esse processo é desencadeado em uma situação de diálogo e na relação com os outros. Essa concepção de trabalho pedagógico implica necessariamente uma atitude ativa do sujeito que o está conhecendo. Questionar, problematizar, indagar são instrumentos importantes nesta construção. Existe um movimento em que os diferentes aspectos da realidade se articulam e interferem uns nos outros. A reflexão crítica busca perceber as contradições, estabelecer relações entre o que está claro e o que está obscuro, entre o que foi dito e o que foi calado, entre o que é anunciado e o que é feito. É neste contexto que se pode dizer que a interdisciplinaridade está intimamente ligada ao método dialético do saber. A tarefa de aprender trata de descobrir as relações que determinam a forma como os fatos se manifestam. A ênfase é dada ao processo de busca do conhecimento. A interdisciplinaridade pode constituir uma metodologia na qual se criam espaços para encontros sistemáticos e continuados em que se possa estudar, discutir e trocar idéias sobre suas percepções e convic- 46 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 Dorilda Grolli, Lauraci Dondé da Silva, Tamara Polenz e Tania Scuro Mendes ções, problematizando a realidade para construir, assim, um fazer-pensar pedagógico integrado e significado pelos sujeitos aprendentes. Ao refletir a prática cotidiana, o grupo de interação insere-se no contexto dessa realidade e analisa, por meio de um diálogo intercultural, as diferentes relações que a permeiam, percebendo, com maior clareza, as contradições a ela inerentes e que bloqueiam as interações pedagógicas voltadas para o crescimento e para a transformação. Assim, o processo implícito na ação interdisciplinar torna-se construção, tanto do conhecimento quanto do sujeito. SÍNTESE DAS CONSIDERAÇÕES TECIDAS O estudo descrito neste artigo trata da construção continuada de ações conjuntas envoltas em um trabalho que está em desenvolvimento na realidade da Universidade Luterana do Brasil, constituindo um “Programa de Gestão Acolhedora”. Busca-se apoio na análise da perspectiva histórica e socioeducacional, numa abordagem intercultural e intersubjetiva, que desvendam as categorias: identidade, qualificação e desenvolvimento, para a compreensão do contexto educativo. O estudo tem por finalidade conhecer a identidade do aluno em suas múltiplas características, para pensar coletivamente os espaços em que estas identidades possam se desenvolver no universo acadêmico, visando à formação do sujeito social, além do profissional. O conceito de acolhimento traduzse como ação pedagógica nos espaços educativos envolvendo atitudes desencadeadas por esforços em estabelecer vínculos significativos com o sujeito nas relações que ali se estabelecem. Representa a inclusão das diferenças numa perspectiva multicultural de conhecimentos prévios, voltando-se à construção participativa do conhecimento que implica relações interdisciplinares. Transitando nas tramas dessas relações teóricas, as práticas mobilizam novas direções, e o caminho investigativo prossegue. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 37-48, jan./dez. 2007 47 Gestão acolhedora: estabelecendo vínculos com a comunidade acadêmica REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. BOGDAN, R. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Ed. Porto, 2000. BRANDÃO, C. R. A pergunta a várias mãos: a experiência da partilha através da pesquisa na educação. São Paulo: Cortez, 2003. DEMO, P. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994. GROLLI, D; SILVA. L. D.; POLENZ, T. A formação do professor. 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The present article aims at to detach the importance of the elaboration and the implementation of the strategic planning, as instrument of school administration, capable to guide the manager in the accomplishment of a systemize work, directing the institution to accomplish its objectives. It detaches, briefly, the relevance of the planning for management, presents the origin and the evolution of the planning concept, displays definitions and clarifies concerning the basic aspects of the strategic planning. Palavras-chave / Key words Planejamento, gestão escolar, planejamento estratégico. Planning, school administration, strategic planning. 1 Aluna especial do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília, Professora do Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. [email protected] Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 49 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar I INTRODUÇÃO Uma das principais características da sociedade do final do século passado e início deste século é a intensidade das mudanças e das transformações. A globalização da economia, os avanços da tecnologia e das comunicações têm promovido grandes mudanças na sociedade e no mundo dos negócios. Tais fenômenos influenciaram tanto o mercado mundial quanto a demanda por força de trabalho, respaldados pelos ditames do capital. As instituições de ensino, a exemplo de outras organizações sociais, estão inseridas neste contexto de mudanças, muitas delas inesperadas ou imprevisíveis, desafiando seus administradores. Para enfrentar os problemas advindos desse contexto dinâmico e competitivo, os gestores estão usando de forma crescente o planejamento estratégico. O planejamento constitui uma função gerencial relevante em que a instituição projeta-se para o futuro, delineando uma programação na qual os objetivos são definidos, estratégias são estabelecidas e recursos são alocados visando à sua implementação. Na prática, este processo se reveste de grande complexidade, ocorrendo uma distância entre o processo de elaboração e sua implementação nas instituições. O objetivo deste artigo é examinar a importância da elaboração e da implementação do planejamento estratégico como ferramenta gerencial, para que as instituições de ensino destaquem-se no ambiente dinâmico e competitivo em que atuam. II GESTÃO ESCOLAR E PLANEJAMENTO Diante do cenário de mudanças e incertezas, os estudiosos e teóricos vêm recolocando a dinâmica do funcionamento da escola no centro de suas preocupações. Isto porque se reconhece que a educação, numa sociedade globalizada e numa economia centrada no conhecimento, constitui valor estratégico para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Assiste-se, desta maneira, a um esforço coletivo de compreender a relação escola-sociedade e entender como decisões inter- 50 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 Cátia Deniana Firmino Perfeito nas à instituição escolar podem capacitar melhor os que atuarão na realidade social. Nesta perspectiva, a qualidade de ensino apresenta-se com a mesma importância da democratização das oportunidades de acesso à escola. Ao mesmo tempo, a gestão das escolas e dos sistemas de ensino é considerada fundamental para superar os obstáculos políticos e técnicos, com objetivo de melhorar a qualidade educativa. Segundo Nóbrega (2005, p. 32), as estratégias que visam à melhoria da qualidade educativa são resultado do processo de reforma do Estado, apresentando configurações que dizem respeito à organização dos sistemas de ensino. Tais reformas ocorrem sob a influência do neoliberalismo com a sua proposta de um Estado enxuto, que minimiza as políticas públicas. Dessa forma, nos anos 90, o foco da política educacional engloba tanto o acesso quanto a qualidade da permanência do aluno, considerando que os recursos financeiros investidos na educação eram suficientes, todavia inadequadamente empregados. Sob esta ótica, as políticas de gestão da educação foram sendo estruturadas buscando garantir a otimização dos recursos e uma racionalização das ações administrativas. Nesse contexto, a gestão é colocada como ponto central no processo de mudança dos sistemas educacionais. Todavia a centralidade dada à gestão não se refere apenas às esferas organizadoras do sistema educacional, mas também ao interior de cada unidade de ensino em que são elaboradas propostas em prol da autonomia e da descentralização. Constata-se, então, que o termo gestão alcança um lugar de destaque no meio acadêmico, nos movimentos sociais, no interior das escolas e no discurso governamental. Esse processo também foi resultado do movimento dos educadores que solicitavam maior poder de decisão, melhores salários, capacitação, melhores condições de trabalho, salários dignos e, sobretudo, uma escola democrática e de qualidade. Para Lück (2000a, p. 7), a gestão escolar constitui um caráter de atuação que objetiva promover a organização, a coordenação, a mobilização e a articulação de todas as condições humanas e materiais Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 51 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar na escola, com o intuito de garantir o avanço dos processos socioeducacionais da instituição de ensino, orientadas para o desenvolvimento de cidadãos capazes de enfrentar adequadamente a sociedade globalizada. Entende-se, dessa forma, que o objetivo final da gestão escolar é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos. Ao se discutir a gestão numa perspectiva escolar, imediatamente pensa-se no responsável por conduzir os processos administrativos e pedagógicos da instituição de ensino: o diretor. A ele cabe articular a diversidade para dar-lhe unidade e consistência na construção do ambiente educacional e promover a formação dos alunos. O maior desafio no que se refere à gestão escolar diz respeito à qualificação do gestor. De acordo com Pazeto (2000, p. 163), o modelo e o processo de qualificação dos atuais gestores estão baseados em parâmetros tradicionais de administração, com predomínio das leis e do comando a partir de decisões centralizadas na instância superior. Tal parâmetro não comporta as novas demandas institucionais e sociais, segundo as quais a gestão da educação assume um papel de desenvolvimento institucional, social e humano. A sociedade atual requer um diretor que não seja meramente um tutelado dos órgãos centrais, mas uma pessoa dinâmica, capaz de gerir eficazmente a instituição. E uma gestão eficaz está alicerçada nos pilares da autonomia2, da liderança do diretor, da participação da comunidade e da existência de recursos sob controle local. Diante das atuais demandas, exige-se uma profunda revisão da formação dos gestores educacionais. Segundo Pazeto (2000, p. 165), recomenda-se uma formação básica sólida em educação, com domínio das ciências que lhe dão fundamentação, conhecimento científico e técnico em gestão de instituições e formação continuada, visando à associ- 2 Cf. Lück, Heloisa. A aplicação do planejamento estratégico na escola. Gestão em Rede, Brasília, n. 19 , p. 8-13, abr. 2000. “Autonomia, no contexto da educação, consiste na ampliação do espaço de decisão, voltada para o fortalecimento da escola como organização social comprometida com a sociedade, tendo como objetivo a melhoria da qualidade do ensino” (p. 21). 52 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 Cátia Deniana Firmino Perfeito ação entre conhecimentos e experiências. O conhecimento científico e técnico em gestão envolve a capacidade de colocar em prática princípios básicos de administração: planejar, coordenar, dirigir, controlar e avaliar. Um dos princípios básicos da administração que vem merecendo maior atenção das instituições de ensino é o planejamento. Planejar implica um comprometimento com a ação. O planejamento só tem significância quando é implementado e avaliado de acordo com a consecução de seus objetivos; caso contrário, resumir-se-á a uma coletânea de intencionalidades que não trazem benefícios reais à organização. Um dos grandes desafios da gestão das instituições de ensino é desenvolver uma maior capacidade de resposta às demandas externas. Para isso, é necessário que seus gestores sejam capazes de utilizar diferentes abordagens de planejamento, a fim de que as instituições possam atingir seus objetivos e cumprir sua missão. III ORIGEM E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PLANEJAMENTO O planejamento sempre foi um instrumento importante para o ser humano, em qualquer setor da vida em sociedade: na empresa, em casa, no governo e também na escola. Planejar torna possível estabelecer o que queremos a curto, médio e longo prazos; antecipar situações; organizar as atividades; estabelecer prioridades; avaliar. Entretanto, no setor empresarial, o movimento de planejar as ações para se chegar aos fins da instituição decorreu de mudanças ambientais, num lento processo. De acordo com Tavares (2000, p. 21), as primeiras contribuições para a construção da teoria sobre planejamento surgiram em 1904, por meio da primeira consultora de empresas norte-americana Mary Parker Follet. Mas foi com Taylor e Fayol, ao estudarem o fenômeno organizacional, que surgiu na literatura a noção de planejamento. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 53 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar A revolução industrial deu origem ao estudo sistemático do trabalho e dos princípios da organização e do planejamento. Taylor, pai da administração científica, dedicou-se ao estudo do fenômeno da produtividade da organização, concluindo pela distinção entre as funções de direção das funções de execução. Foi ele quem substituiu o planejamento empírico pelo planejamento que interviesse como função de direção e como instrumento de organização e padronização do trabalho, sendo uma função que caberia aos diretores. Taylor foi o precursor da análise interna como elemento do processo de planejamento estratégico. Fayol, por sua vez, estudou o fenômeno da produtividade, partindo das diversas funções estruturais. Segundo Arguin (1988, p. 17), a função de planejamento foi chamada por Fayol de previsão, aparecendo no primeiro plano do processo administrativo: prever, organizar, comandar e controlar. Prever significa sondar o futuro e supõe a determinação do fim e dos meios para alcançá-lo. A previsão de Fayol prefigura os elementos de planejamento estratégico que se encontram na literatura contemporânea. O processo administrativo de Fayol foi retomado por diversos autores, tornando-se um quadro de referência para explicar a função administrativa no interior da organização. Cabe destacar que o planejamento aparece como elemento principal do processo, definindo-se em termos de fins e meios para atingir os objetivos da organização. Arguin (1988) apresenta o modelo administrativo para definir a tarefa do presidente dos Estados Unidos, que se refere às seguintes atividades: PLANNING: fazer o plano das coisas a executar e propor os métodos para atingir os fins da organização. ORGANIZING: estabelecer as estruturas formais da autoridade, com seus diferentes níveis. STAFFING: recrutar o pessoal e criar condições favoráveis de trabalho. DIRECTING: dirigir a empresa pelo processo contínuo de tomada de decisão. COORDINATING: relacionar em um todo harmônico as diversas atividades do plano de ação. 54 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 Cátia Deniana Firmino Perfeito REPORTING: informar aos intermediários por meio de relatórios. BUDGETING: realizar as diversas atividades: o planejamento financeiro, a contabilidade e a verificação (p. 18). Este modelo, que à primeira vista parece simplista, tornou-se referência para diversos autores. Todavia ele foi criticado por apresentar um caráter estático, uma vez que analisava as condições para assegurar a eficiência de uma organização, abandonando o aspecto dinâmico e criativo que envolve o processo de planejamento. Nos últimos anos da década de 1960, autores como H. Igor Ansoff (1965) se interessaram pelo aspecto dinâmico e estratégico da organização, analisando o ambiente externo como um elemento que influenciava o alcance dos objetivos traçados. Esse enfoque foi continuado nos anos 1970 e 1980 por autores como Vancil e Lorange (1975), Hofer e Schendel (1978). De acordo com Tavares (2000, p. 22), estudiosos como Gluck, Kaufman e Walleck (1981) analisaram o processo de planejamento e constataram elementos comuns que permitiram traçar a seguinte evolução do processo: planejamento financeiro, planejamento a longo prazo, planejamento estratégico e gestão estratégica. Cada etapa categorizada engloba elementos às contribuições da anterior num movimento de eliminação das distorções. Nas décadas de 1950 e 1960 predominou o chamado planejamento financeiro, que tinha no orçamento o principal instrumento de controle e operacionalização da gestão. Na década de 1970 vigorou o planejamento a longo prazo que priorizou os objetivos a serem alcançados em prazos longos, entretanto não previa mudanças. Na década de 1980, privilegiou-se o planejamento estratégico que definia estratégias que se desenvolveriam num período de tempo variável, considerando a análise dos ambientes externo e interno. O principal problema desse tipo de planejamento foi a dissociação entre o planejamento e sua implementação. Finalmente, na década de 1990 surgiu a gestão estratégica, diferenciando-se pela abordagem equilibrada de todos os recursos da organização para consecução de seus fins. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 55 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar Gradualmente, as universidades passaram a se preocupar com o planejamento de suas ações. Inicialmente, o planejamento caracterizava-se por ser de longo prazo, de 5 a 10 anos. Posteriormente, o movimento de planejamento estratégico atinge as universidades, tendo como principais pesquisadores e defensores Robert Cope (1978) e Robert Shirley (1979). O planejamento estratégico, segundo Arguin (2000, p. 20), supõe que o sistema universitário é um sistema aberto e dinâmico, sensível ao ambiente externo. Diante disso, o planejamento se torna um processo continuado, centrado na qualidade das intervenções, a partir da análise de dados quantitativos e qualitativos do ambiente interno e externo. Diferentemente, a abordagem do planejamento convencional estabelece que a instituição superior de ensino é um sistema fechado que permite a elaboração de um planejamento definitivo, de acordo com dados quantitativos do ambiente interno. IV PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Como foi mencionado, o meio universitário incorporou, aos poucos, o conceito de planejamento estratégico como importante instrumento da gestão. Tornou-se um elemento que orienta os gestores a pensarem nos aspectos essenciais e a concentrarem esforços nos assuntos de relevância, para que a instituição possa enfrentar as ameaças e aproveitar positivamente as oportunidades de seu ambiente. Do grego stratégos, que significa “general”, e tem, portanto, conotação militar, o planejamento estratégico é assim definido por Arguin (2000): (...) é um processo de gestão que apresenta, de maneira integrada, o aspecto futuro das decisões institucionais, a partir da formulação da filosofia da instituição, sua missão, sua orientação, seus objetivos, suas metas, seus programas e as estratégias a serem utilizadas para assegurar sua implantação (p. 23). 56 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 Cátia Deniana Firmino Perfeito Esse processo é expresso de acordo com a estrutura da organização, com sua cultura, com a tecnologia disponível e, como acima citado, tendo em conta o ambiente a partir de uma reflexão sistemática sobre a instituição que gerará dados quantitativos e qualitativos capazes de orientar as decisões. Dessa forma, o planejamento estratégico é um processo que parte da realidade complexa e dinâmica da organização, envolvendo a tomada de decisão nas diversas etapas que o compõem. Segundo Lück (2000b, p. 12), as etapas de elaboração do planejamento podem ser assim descritas: análise do ambiente interno e externo; diagnóstico; definição da missão, da visão de futuro e valores; objetivos estratégicos; plano operacional; questões estratégicas; metas; plano de ação e controle. 1 Análise do ambiente interno e externo A partir do momento em que se decide por utilizar o planejamento estratégico como ferramenta de gestão, deve-se sensibilizar a equipe que participará do processo de elaboração e de implementação. O comprometimento dos envolvidos é fundamental para que o planejamento não se torne algo meramente burocrático. A sensibilização envolve mostrar à equipe a necessidade de tal planejamento, suas vantagens e o papel de cada um na sua elaboração e implementação. Após esse momento, inicia-se o processo de análise do ambiente interno e externo. A análise é feita de maneira interativa, identificando suas possibilidades e cenários, por meio de bases conceituais que apresentem um referencial para compreensão da realidade, utilizando, para isso, a coleta de dados quantitativa e qualitativa. A análise do ambiente externo envolve o processo de identificação de oportunidades, ameaças, forças e fraquezas que afetam a organização no cumprimento de sua missão. E, do interno, objetiva evidenciar as deficiências (pontos fracos) e as qualidades (pontos fortes), com o intuito de estabelecer quais são os aspectos que tornam a instituição única no mercado. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 57 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar 2 Diagnóstico É a avaliação real da posição da instituição. Nesta etapa são considerados os aspectos internos e externos a partir dos dados consistentes levantados durante a análise do ambiente interno e externo. 3 Definição da missão, visão de futuro e valores A missão de uma empresa refere-se às suas finalidades históricas, jurídicas e sociais. É uma declaração sobre sua razão de ser, estabelecendo seu propósito e seu horizonte de atuação. Serve de critério geral para orientar a tomada de decisões, para definir objetivos e auxiliar na escolha das decisões estratégicas. A visão de futuro representa um estado futuro desejável da organização, indicando como esta pretende ser reconhecida. É uma projeção das oportunidades futuras da organização e uma concentração de esforços na sua busca. Os valores são idéias fundamentais em torno das quais a organização foi construída. Representam as convicções dominantes e as crenças. São elementos motivadores que direcionam as ações das pessoas da organização, contribuindo para a unidade e coerência do trabalho. 4 Objetivos estratégicos São os resultados quantitativo ou qualitativo que a organização precisa alcançar em um prazo determinado, no contexto de seu ambiente, para concretizar sua visão de futuro e sua missão. 5 Plano operacional O plano operacional define detalhes da operação do negócio, tais como: o número de pessoas, a sua capacitação técnica, as tarefas a executar, os procedimentos e tudo que possa ser planejado para garantir a qualidade dos processos. 58 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 Cátia Deniana Firmino Perfeito 6 Questões estratégicas As questões estratégicas permitem conduzir a instituição da posição que ocupa para outra que corresponda aos objetivos desejados. Definir estratégias significa traçar caminhos necessários para o alcance das metas. 7 Metas São quantificadores dos objetivos e permitem melhor alocação de recursos, na medida em que se constituem um padrão de referência para o planejamento. 8 Plano de ação Implementa as estratégias por meio de instruções claras, estabelecendo-se o quê, como, quem será o responsável, quanto custará e o cronograma a ser seguido. 9 Controle/avaliação Deverá ser freqüente para conferir se as ações estão sendo executadas. Esta é a fase em que são medidos os desempenhos, checados os orçamentos, obtidas e analisadas as informações de cada responsável, apresentadas medidas para correção de rumo, caso seja necessário. Na empresa privada, o planejamento estratégico está voltado para as mudanças nas atitudes e atividades empresariais que dizem respeito à conquista de maior competitividade e melhor desempenho. Procurase assegurar o aumento da posição da organização no mercado, melhoria dos níveis de satisfação dos clientes e maior rentabilidade. Numa universidade pública, o planejamento estratégico não está voltado à busca do produtivismo. Espera-se que a instituição passe por mudanças que atendam aos seus objetivos de expansão, sua liderança acadêmico-científica na região, no país ou no mundo; isto é, busca-se o aumento da eficiência social e melhoria do desempenho da universidade. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 59 Planejamento estratégico como instrumento de gestão escolar V CONCLUSÃO Neste artigo, procurou-se destacar a importância do planejamento, evidenciando-o como uma ferramenta útil à gestão das instituições. Foi apresentado o conceito de planejamento estratégico e foram descritas etapas relevantes para elaborá-lo. Historicamente, o planejamento tem sido elaborado numa perspectiva burocrática, envolvendo o preenchimento de formulários, as reproduções de anos anteriores e o atendimento às orientações de instâncias superiores do sistema de ensino de forma acrítica. O planejamento encarado como uma obrigação burocrática em nada contribui para que a instituição escolar atinja um grau de excelência. Ele deve ser encarado como um instrumento fundamental e dinâmico da gestão, capaz de orientar as ações rumo ao alcance dos objetivos delineados. Nesse sentido, a gestão também deve assumir uma função de destaque no interior das instituições. Segundo Pazeto (2000, p.166), a gestão das instituições de ensino é uma atividade que desafia seus gestores, uma vez que a cultura da organização apresenta ritmos próprios, os quais exigem do administrador uma fundamentação teórica consistente, associada à flexibilidade e atenção à realidade. Deve-se considerar, ainda, a capacidade de liderar e coordenar o processo de alinhamento da missão, das políticas da instituição e dos diferentes tipos de planejamento. A gestão centrada na competência técnica e teórica do gestor constitui fator determinante para que a instituição escolar possa oferecer uma educação de qualidade, comprometida com a formação de homens e mulheres competentes, capazes de intervir positivamente na sociedade na qual estão inseridos. 60 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 Cátia Deniana Firmino Perfeito REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARGUIN, G. O planejamento estratégico no meio universitário. Tradução de Valdemar Cadó. Brasília: Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, 1988. LÜCK, H. Gestão escolar e formação de gestores. Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 72, p. 7-10, fev./jun. 2000. Disponível em: <http:// www.publicacões.inep.gov.br/arquivos/{7F F1DC84-64A4-42B8-B810F68CD7193}_em aberto_72.pdf>. 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TAVARES, M. C. Gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2000. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 49-61, jan./dez. 2007 61 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UM MODELO ACADÊMICO1 Pedro Ronzelli Júnior2 José Augusto Pereira Brito3 Solange Giardino4 Resumo / Abstract O objetivo do trabalho é apresentar o processo estratégico e metodológico da implantação do ensino a distância (EaD) para a Universidade Presbiteriana Mackenzie, de acordo com as exigências do Ministério da Educação, incluindo a análise estratégica do mercado e da infra-estrutura disponível na Instituição. O plano elaborado inclui o ambiente virtual de ensino-aprendizagem, as plataformas, a formação de professores, a montagem dos pólos, o modelo dos cursos, a sistemática de participação e a descrição dos integrantes da equipe. The objective is to present the strategic and methodological process of the e-Learning implantation at Universidade Presbiteriana Mackenzie, according to the Brazilian Education Ministry exigencies, including marketing and infra-structure strategies analyses available 1 2 3 4 Parte da monografia dos autores apresentada no Curso de Estratégia e Gestão de EaD da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, SP, 2007. Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Fitotecnia, Especialista em Gestão e Liderança Universitárias, Especialista em Estratégia e Gestão de EaD, Vice-Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. [email protected] Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia e Doutor em Ciências da Comunicação, Especialista em Engenharia de Computação e em Estratégia e Gestão de EaD, Gerente de Tecnologia da Informação do Instituto Presbiteriano Mackenzie. [email protected] Psicóloga; Mestranda em Educação, Arte e História da Cultura; Especialista em Estratégia e Gestão de EaD; Coordenadora de EaD do Instituto Presbiteriano Mackenzie. [email protected] Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 65 Educação a distância: um modelo acadêmico at the Institution. The plan elaborated includes the virtual environment for learning management systems, platforms, professors training, poles set up, courses framework, participation model, and team description. Palavras-chave / Key words Educação a distância (EaD), formação de professores, ambiente virtual de aprendizagem. E-learning, teachers formation, learning management system. 1 INTRODUÇÃO A educação a distância (EaD) é uma modalidade educacional prevista no art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei nº 9.394/1996. Caracteriza-se como a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica, nos processos de ensino e aprendizagem, ocorre com a utilização de meios e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), em que os estudantes e professores desenvolvem atividades educativas em lugares e/ou tempos diversos (art. 1º do Decreto nº 5.622/2005). O aluno terá contato com tutores virtuais e realizará parte das atividades previstas nas disciplinas por meio das TICs. 2 A INSTITUIÇÃO A semente foi a escola fundada em 1870 pelo casal de missionários americanos Reverendo George Witherhil Chamberlain e Sra. Mary Annesley Chamberlain, na casa deles, acomodando três alunos, sendo professora a própria Sra. Chamberlain. A pequena escola cresceu e, em 1896, nasceu o Curso Superior de Engenharia, vinculado à Universidade do Estado de Nova York [State University of New York (SUNY) – www.suny.edu]. Surgia o Mackenzie College, denominação utilizada até a obtenção da autonomia acadêmica, em 1927. Em 1952 foi instalada a Universidade Mackenzie, integrada pela Escola de Engenharia; Faculdade de Arquitetura; Faculdade de Filoso66 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino fia, Ciências e Letras e Faculdade de Economia. Em 1997 foi explicitada a identidade confessional, passando a ser denominada Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Com 137 anos de tradição, pioneirismo e alto padrão de ensino, completados em outubro de 2007, a Instituição Mackenzie continua na busca incessante de seus desígnios educacionais, aprimorando os cursos existentes e oferecendo novas opções de acordo com a exigente demanda do mercado de trabalho globalizado. 3 EXPERIÊNCIAS EM EDUCAÇÃO VIRTUAL Desde 2003 os recursos virtuais das novas TICs passaram a ser utilizados em larga escala nos Colégios Presbiterianos Mackenzie. Assim, surgiu no Mackenzie o portal eMack (www.emack.com.br), um canal permanente de informação, comunicação e serviços educacionais digitais para a integralidade de alunos, pais e professores, além de ser aberto para outros membros da comunidade. Esta metodologia de ambiente e serviços virtualizados já está bem consolidada, sendo o Projeto eMack o vencedor do Prêmio eLearning Brasil 2006, na Categoria Educacional Gold. O eMack complementa a sala de aula, possibilitando o acesso a serviços como, por exemplo: boletim e acompanhamento escolar diário; agenda de tarefas e eventos; pergunte ao professor; conteúdo segmentado por série e canal de comunicação por intermédio de ambiente de aprendizagem colaborativa, na qual são disponibilizados textos complementares, listas de exercícios, biblioteca digital, bases de dados digitais, avaliações, conteúdo de simulados e websites comentados. O sucesso do Projeto eMack contribuiu para que a Instituição continuasse a fazer os investimentos sistemáticos em educação virtual, considerando o Planejamento Estratégico e suas diretrizes, que são atualizados a cada dois anos. Dessa forma foram iniciadas as ações na Universidade, dando vida ao Mackenzie Virtual (MackVirtual), que acolhe tanto a Educação Distribuída (ações virtuais complementares às Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 67 Educação a distância: um modelo acadêmico presenciais) quanto a EaD, ambas de significativa importância para os projetos de ensino: presencial e/ou virtual. O Projeto MackVirtual foi iniciado, ainda sem esse nome, no ano de 2000, contando com ações pontuais em algumas áreas da UPM. Em 2005, a reitoria assumiu o processo de implantação. Nesse momento, o projeto foi revisto, em ação conjunta com a Divisão de Tecnologia da Informação (DTI) da Entidade Mantenedora da UPM, para efetiva utilização nas mais variadas dimensões. O MackVirtual compreende um espaço interativo on-line, disponível para apoio aos cursos regulares da Instituição, e ainda comporta as novas demandas para educação virtual do modelo EaD. Destacamse, entre outras, as seguintes funcionalidades: • Gestão de disciplinas com, pelo menos, programa, professores, objetivos, metodologia, critérios de avaliação e bibliografia; • Disponibilização de conteúdos didáticos, como apresentações, textos complementares, notas de aula, artigos, casos, exercícios, trabalhos, tutoriais, vídeos e simulações; • Controle de postagem de arquivos, tanto de entrega parcial ou final de trabalhos quanto de compartilhamento para ações em grupo; • Comunicação eletrônica assíncrona e síncrona, como páginas de avisos, listas de e-mail, fóruns de discussão, chats, salas de aulas virtuais, diálogos, wikis, blogs e glossários; • Avaliação on-line contemplando, entre outros, questões com feedback automático, autocorreção e publicação individualizada de notas. 68 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino 4 PÚBLICO-ALVO A estratégia de enfoque para a oferta dos cursos na modalidade EaD, nos quais há predominância de ações virtuais, difere da educação preferencialmente presencial, em face do perfil do alunado. O aluno dos cursos de EaD, em geral, é mais velho e mais comprometido com a atividade fim, o que representa uma das razões essenciais para o sucesso desse modelo. A Instituição busca a qualidade no ensino-aprendizagem, padrão associado à sua “Tradição e Pioneirismo na Educação”; assim, prepara-se para atender à demanda do mercado emergente. Nessa busca, outras variáveis deverão ser levadas em consideração, tais como tipo, duração e custo dos cursos, pólos regionais e outras. 5 ANÁLISE ESTRATÉGICA A análise estratégica, ou análise de Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats (SWOT), que corresponde aos Pontos Fortes, Pontos Fracos, Oportunidades e Ameaças, foi essencial para a definição do curso inicial e de outros procedimentos que levaram à decisão por utilizar a modalidade de EaD na UPM. É importante voltar a destacar que o Planejamento Estratégico da Instituição contempla as ações direcionadas para EaD, definindo claras diretrizes para a consecução dos objetivos propostos. A tradição centenária do Mackenzie é o seu principal Ponto Forte. As ações educacionais têm sido pioneiras e inovadoras. Além disso, a Instituição tem sede com localização privilegiada, no centro da cidade de São Paulo; é Instituição comunitária e filantrópica, sem fins lucrativos; oferece bolsas de estudo parciais ou totais para alunos avaliados como carentes; preocupa-se com a formação “para a vida”, ou seja, o aluno não é considerado como um mero “cliente”. O Mackenzie mantém vínculo com o antigo aluno e sua família, por meio do projeto “Prá Sempre Mackenzista” (www.mackenzista.com.br). Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 69 Educação a distância: um modelo acadêmico Ainda como Pontos Fortes da UPM, há que se destacar a Biblioteca Virtual, em franco crescimento, que disponibiliza, via internet, as principais bases de dados nacionais e internacionais; o corpo docente bem preparado, tanto do ponto de vista da formação acadêmica quanto de treinamento para a EaD, com base na moderna infra-estrutura tecnológica, com recursos especializados e atualizados de hardware e software, ou seja, ambiente de Learning Management System (LMS) bem consolidado; Sistema de Gestão Acadêmica próprio, facilmente adaptável pela equipe interna da DTI para as novas demandas de ensino on-line e EAD; a participação na Associação Nacional de Escolas Presbiterianas (Anep), uma rede de mais de duzentas escolas, em todo o território nacional, que são pólos potenciais para as ações de EaD da UPM. A oferta de cursos essencialmente presenciais, até o momento, é, sem dúvida, o principal Ponto Fraco. A este se associam como Pontos Fracos a baixa cultura dos docentes para as ações na modalidade de EaD, o que tem exigido forte investimento da Entidade Mantenedora em atualização pedagógica, mediada pelas novas TICs, e a necessidade de capacitar a secretaria acadêmica para a gestão de cursos de EaD. São identificados como Oportunidades: o aproveitamento estratégico da utilização das novas TICs, permitindo novo alcance geográfico no País, e fora dele (anywhere, anytime), em qualquer lugar, a qualquer tempo, extrapolando as restrições típicas dos campi para ampliar a oferta de novos cursos e/ou novas vagas, uma vez que não precisa de expansão física proporcional àquela da modalidade essencialmente presencial; a demanda latente de alunos para cursos de lato sensu, permitindo, inclusive, a expansão da captação de alunos de quaisquer regiões do Brasil; o atendimento à demanda por cursos de treinamento corporativo, lato sensu e extensão, associados a empresas e universidades corporativas: resposta rápida às mudanças crescentes na metodologia de ensino-aprendizagem presencial em oferta, melhorando e enriquecendo as práticas pedagógicas atuais, aproveitando para gerar novos conhecimentos e a utilização da “Marca Mackenzie” como garantia de qualidade e credibilidade dos cursos ofertados em EaD, uma 70 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino vez que a UPM poderá ocupar seu espaço (market share) na oferta de cursos em EaD no mercado brasileiro. A velocidade de mudanças das tecnologias evidencia um cenário com variáveis de características imprevisíveis e inevitáveis, presentes em todo o contexto da educação, permeada por novas tecnologias, o que ocorre também no ensino tradicional, apresentando-se como a mais forte das Ameaças ou Fatores de Risco. Dependendo de como o assunto for tratado institucionalmente, isso pode causar instabilidade e perda de competitividade na oferta de cursos. A este cenário estão associados custeios e investimentos crescentes em infra-estrutura, equipamentos, sistemas, suporte técnico, entre outros, bem como custos de contínua capacitação de todos os atores organizacionais envolvidos, quais sejam, pessoal administrativo e corpo docente. Do mesmo modo, modificações na legislação por parte de governos local, estadual e federal, ou de seus órgãos certificadores e reguladores, podem trazer instabilidade representando Ameaças ou Fatores de Risco. 6 PORTFÓLIO DE CURSOS Os cursos de graduação passarão por reestruturação gradual para utilizar o que dispõe a Portaria do MEC nº 4.059, mais especificamente o texto do § 2º ora transcrito: “Poderão ser ofertadas as disciplinas referidas no caput, integral ou parcialmente, desde que esta oferta não ultrapasse 20% da carga horária total do curso”. Da mesma forma, gradualmente, as ações parciais de e-Learning serão potencializadas nos programas de pós-graduação e nos cursos de extensão. Destaca-se que no nível de pós-graduação lato sensu está o ambiente que se considera apropriado para aplicação das novas técnicas, uma vez que o público que procura esses cursos já é mais maduro e esclarecido para aproveitar adequadamente cursos em que a maioria das ações do aluno ocorre fora da sala de aula. Isso é totalmente diverso de tudo que se utilizou até o presente. Sem dúvida, essa constatação pode ser aplicada para os cursos de extensão e cursos para áreas corporativas e/ou administrativas das organizações. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 71 Educação a distância: um modelo acadêmico Além de aproveitar a área acadêmica, a Instituição poderá tirar vantagem das ações de EaD para oferta de cursos nas áreas corporativas, tanto para os programas de novos colaboradores quanto para cursos regulares de atualização. 7 TECNOLOGIAS NA INSTITUIÇÃO 7.1 Divisão de tecnologia da informação O Mackenzie dispõe de infra-estrutura bem consolidada para uso na oferta de cursos em EaD ou e-Learning e para apoio aos cursos presenciais. A Divisão de Tecnologia da Informação tem, desde 1998, um Provedor Internet no Data Center Mackenzie, adequado para atender às principais necessidades dos cursos de EaD, destacando-se que, desde 2001, foram instalados os links de alta velocidade, em diversas redes acadêmicas (Comep, Tidia e Internet 2). Todos os Laboratórios de Informática têm tecnologia baseada nas plataformas PC e Apple e conectividade internet. No campo do ensino-aprendizagem virtual estão disponíveis as plataformas Moodle, Teleduc e ClubForYou. Além disso, a WebCT foi utilizada de 1999 até 2005, quando foi desativada. A plataforma Moodle (www.moodle.org) desde 2005 está sendo utilizada como o ambiente padrão da UPM. Mais de 1.300 disciplinas, cerca de 400 dos 1.500 professores e perto de 20 mil dos quase 40 mil alunos já estão totalmente familiarizados com as novas técnicas. Como meta de urgência pretende-se atingir a integralidade de disciplinas, professores e alunos até o final do ano de 2008. O desafio é grande; porém, os resultados obtidos até o presente dão credibilidade às metas propostas. A Plataforma Sloodle Mackenzie é outra novidade. É o ambiente Moodle associado ao Second Life, uma inovação que vem sendo testada para ser utilizada também no contexto do ensino-aprendizagem a distância com interface gráfica tridimensional nos endereços virtuais do Mackenzie no Second Life (www.sloodle.org). 72 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino 7.2 Centro de rádio e televisão A UPM dispõe de um Centro de Rádio e Televisão (CRT), como suporte essencial para concretizar as etapas de modificações previstas pelas técnicas de e-Learning, que atende alunos, professores e funcionários. A equipe do CRT presta serviços de apoio educacional, fornecendo equipamentos audiovisuais e toda infra-estrutura necessária à produção de vídeos científicos, didáticos, de treinamentos e institucionais, bem como os programas da TV Mackenzie, incluindo: a) suporte a gravações dentro e fora de estúdios; b) desenvolvimento e implantação de projetos técnicos de áudio e vídeo e c) viabilização de transmissões ao vivo, via satélite, internet e videoconferência. Os principais recursos tecnológicos disponíveis por intermédio do CRT são descritos a seguir: • Sistema de transmissão via satélite com uplink na unidadesede, em São Paulo, SP, com cobertura de downlink em todo o território nacional, desde 1998. Há alguns anos, o Mackenzie já montou infra-estruturas de downlink satelital em centenas de localidades em todo o Brasil, disponibilizando, inclusive, os equipamentos das pontas, tais como antenas receptoras, decodificadores e aparelhos de TV. • Estúdios de gravação de TV, áudio e vídeo, em ambientes com tecnologias totalmente digitais. • Laboratórios especializados em novas tecnologias de TV Digital, Satélite, Internet e Novas Mídias de Comunicação. • Auditórios com infra-estrutura disponível para transmissões via teleconferência por ISDN ou IP. • Sistema de captura, armazenamento e distribuição de vídeos digitais integrado à rede intranet e à rede internet da Instituição. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 73 Educação a distância: um modelo acadêmico 8 MODELO DE NEGÓCIO E DE OPERAÇÃO Visa a atender a demanda interna dos planos educacionais dentro da visão e missão da Entidade Mantenedora, para cursos lato sensu e de extensão, incluindo suas grandes áreas na modalidade a distância. O Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), também vinculado à Entidade Mantenedora, desde 1999 pratica ações de EaD voltadas para cursos de extensão. Nesse contexto, a Instituição, atendendo ao Planejamento Estratégico de EaD, tem fomentado e incentivado o desenvolvimento científico por meio das novas TICs, destacando-se que eventos educacionais virtuais, de caráter nacional e/ou internacional, têm ocorrido constantemente, tais como cursos, simpósios e workshops, com a utilização das novas TICs, baseadas em internet e satélite, entre os quais: • Primeiro MoodleMoot Brasil 2007, congresso que promove o encontro dos usuários, futuros usuários, administradores e desenvolvedores do ambiente Moodle no Brasil, uma realização da UPM associada à Fundação Bradesco; • XVIII edição do Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE 2007), em realização da UPM, associada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. 9 METODOLOGIAS DE ENSINO E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM 9.1 Alunos Os cursos em EaD permitem maior flexibilidade na participação do aluno e requerem que ele gerencie melhor seu tempo, realizando as tarefas nos momentos mais adequados à sua agenda. Os encontros presenciais nos Pólos (item 9.3) são agendados previamente. Ali a freqüência do aluno é regida pela natureza das disciplinas. Algumas disciplinas podem requerer maior freqüência, em função da necessidade de tarefas nos laboratórios. 74 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino Parte essencial do processo de aprendizagem é o desenvolvimento da metodologia de participação do aluno que requer a disposição pessoal para ler, escrever, comunicar pensamentos e idéias, apresentar dúvidas e dificuldades aos tutores, colegas e professores. O aluno precisa se interessar em aprender as novas TICs para utilizá-las como instrumentos de acesso aos conteúdos ministrados. É necessário que desenvolva competências, habilidades, atitudes e hábitos relativos ao estudo e à realização de tarefas. 9.2 Utilização do ambiente virtual e dos espaços de aprendizagem O ambiente virtual de aprendizagem Moodle é utilizado como plataforma padrão de ensino-aprendizagem do Mackenzie Virtual e tem sido amplamente difundido junto ao corpo docente, por meio de cursos introdutórios, mostrando as possibilidades de comunicação e interação de que dispõem. Com vistas a estabelecer a cultura de utilização, têm sido também imprescindíveis ações junto aos estudantes. Estas iniciativas aproveitam o interesse natural dos jovens estudantes pelas TICs e permitem utilizá-las para transformar a sala de aula em espaço de aprendizagem ativa e de reflexão coletiva. 9.3 Pólos O pólo é o local físico-geográfico para acesso presencial dos alunos. Deve estar localizado em região que permita menor e mais fácil deslocamento do estudante, a partir de sua residência ou local de trabalho. Deve ser estruturado de modo a atender adequadamente os alunos na modalidade de EaD. Nos Pólos encontram-se, entre outros, biblioteca, sala de estudos, laboratórios de informática com acesso à internet banda larga e equipamento de downlink para receber sinais de satélite, local para o atendimento por tutores presenciais e salas de aulas por meio de sistemas de videoconferência. Nestes locais são realizadas as “aulas Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 75 Educação a distância: um modelo acadêmico presenciais”, as práticas de laboratório, as avaliações e outras atividades que exigem supervisão presencial. As salas são especialmente equipadas para aulas e palestras, com transmissão em tempo real e com interatividade, com a possibilidade também de emitir sinais da mesma programação para locais nas instalações das próprias empresas, no caso de cursos in company. Além do ambiente virtual de aprendizagem (Moodle), o aluno tem acesso a materiais impressos, mídias digitais (CDs e/ou DVDs) e bases de dados de publicações digitais que o apoiarão no estudo dos conteúdos. Em tudo o aluno é auxiliado por equipe de trabalho local que inclui, além das ações acadêmicas, serviço de secretaria e de tesouraria. 9.4 Cursos Os cursos são projetados para um modelo de gestão acadêmica apropriado para o EaD. De qualquer modo, devem estar integrados nos mesmos moldes dos denominados cursos presenciais. Apenas com essa sistemática de gestão será possível oferecer aos alunos, independente da origem, as mesmas condições e suporte. Assim, a preocupação com os serviços a serem oferecidos nos pólos é prioritária. Um curso na modalidade EaD é composto em parte por informações e conhecimentos construídos a distância e outra parte realizada presencialmente nos Pólos. Os cursos são constituídos de tópicos, que devem conter título do assunto, imagens, bibliografia, indicações de leitura e de websites, textos complementares, exercícios de fixação (como questionário ou enquete), sala de bate-papo para os estudantes discutirem livremente o assunto após a leitura dos textos e fórum de discussão. Este é o modelo básico. Em cada disciplina, de acordo com as características da área de conhecimento, são utilizadas uma ou mais ferramentas de interação, com a publicação compartilhada de glossário ou a construção de um wiki. 76 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino 9.5 Conteúdos Os professores especialistas são os responsáveis pelos conteúdos. São orientados sobre a melhor forma de disponibilizá-los. A construção de Objetos de Aprendizagem (Learning Objects – LO) mais elaborados, com animação e interatividade, é normalmente realizada por uma empresa especializada, garantindo a qualidade técnica e de design, além da manutenção da identidade visual nas diversas disciplinas do curso. Utiliza-se, de modo geral, um padrão de modelagem para a criação das disciplinas que inclui o logotipo da Instituição, nome da disciplina, semestre, nome do professor e ementa, calendário do curso e um fórum de notícias para que o professor possa enviar avisos. 9.6 Sistemática de participação Os cursos, atendendo aos critérios do MEC para EaD, têm momentos presenciais. A freqüência é determinada pela natureza da área do curso oferecido. O encontro presencial no início do processo é importante para que os alunos se conheçam entre si, conheçam os professores e demais componentes da equipe, além dos servidores locais. Quanto maior o envolvimento e a participação do aluno, maior é o aproveitamento, o que contribui para a redução na taxa de evasão. O portal da UPM disponibiliza diversos tutoriais on-line e/ou para impressão sobre os principais serviços disponíveis no ambiente de EAD. Existe a preocupação institucional de orientar o estudante desde como efetuar seu login, passando por recuperação de senha, abertura de novas disciplinas, até como utilizar os recursos mais avançados de comunicação interativa. 9.7 Avaliação no pólo Os cursos são avaliados de forma presencial, nos pólos, sob a responsabilidade de professor ou tutor, além de avaliações contínuas a Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 77 Educação a distância: um modelo acadêmico distância, auto-avaliações, trabalhos em grupo, relatórios, exercícios e tarefas. 9.8 Capacitação Cursos de capacitação para os professores de toda a UPM estão sendo realizados desde o primeiro semestre de 2007. A ênfase especial está centrada no ensino-aprendizagem virtual baseado na plataforma Moodle e em diversos outros recursos pedagógicos e tecnológicos, incluindo o uso do segmento de satélite mantido pela Instituição. Foi criado um laboratório com infra-estrutura especial para a capacitação dos professores, dispondo dos recursos necessários para as diferentes etapas da nova vista do ensino-aprendizagem. Os cursos têm como base as novas TICs e os ambientes de eLearning. Foram organizados seguindo os tópicos: Fundamentos pedagógicos e tecnológicos • A influência das TICs na sociedade e na educação. • Organização e construção da ação educativa em ambientes virtuais. • Sistemas e operações lógicas de busca de informação na Web. • Uso de bancos de dados digitais e bibliotecas on-line. Conhecimento e manuseio da Plataforma Moodle • A plataforma de gerenciamento de aprendizagem Moodle. • Interagindo, como aluno, no espaço virtual. • Oficina I – Explorando o Moodle. • Oficina II – Construindo um curso. 78 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino O docente, o discente e as ferramentas interativas no e-learning • A importância da interação no ambiente virtual de aprendizagem – os papéis de professor e aluno. • Ferramentas de comunicação interativas presentes no Moodle, incluindo as potencialidades pedagógicas de fórum, wiki, chat, portfólio e blogs. • Fundamentos do trabalho docente (professor/tutor) em ambientes virtuais. Um centro de apoio ao professor é mantido com profissionais e infra-estrutura tecnológica, para que os professores possam aprender e se desenvolver, continuamente, na utilização das potencialidades das tecnologias disponíveis na Instituição. 9.9 Equipes A equipe responsável pela elaboração e acompanhamento pedagógico das atividades é composta por professores especialistas/ conteudistas, design instrucional, tutores a distância, tutores ou facilitadores locais e equipe de suporte. Os professores são estimulados a participar dos cursos de capacitação nas TICs para vivenciar a aplicação das principais ferramentas, de modo a sensibilizá-los e criar uma cultura de utilização desses recursos digitais, para que as estratégias de ensino-aprendizagem sejam instigantes e motivadoras. A equipe técnico-administrativa do pólo faz a manutenção das instalações em sua estrutura física, a coordenação das atividades do pólo e a tutoria presencial. Também é responsável pela montagem da grade de horários das disciplinas, de tal modo que permita aos alunos organizarem suas agendas para execução das atividades presenciais, em diferentes dias e diferentes períodos. Em seguida é apresentado um descritivo sumário dos principais membros das equipes. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 79 Educação a distância: um modelo acadêmico 9.9.1 Coordenador de curso É o professor responsável por gestão e qualidade do curso. Necessariamente é um especialista em estratégia de gestão. Acompanha e orienta todos os diferentes profissionais envolvidos. 9.9.2 Professor autor/especialista É o professor especialista na temática da disciplina, sendo de reconhecido prestígio. É responsável pela produção do conteúdo específico e quem prepara o material didático original da disciplina. Em geral não ministra as aulas. 9.9.3 Professor tutor/apresentador É o professor especialista na temática da disciplina, sendo de reconhecido prestígio. É quem ministra as aulas por videoconferência de um studio. 9.9.4 Designer instrucional É o profissional com largo conhecimento de pedagogia e de tecnologias interativas, responsável por transformar e adequar o conteúdo disponibilizado pelo professor autor/especialista para a plataforma virtual de aprendizagem (Moodle), por meio da criação do story board do curso e desenvolvimento do lay out para posterior formatação do material didático a ser entregue ao aluno, entre outros, tutoriais, bibliotecas virtuais, textos, animações, fotos, digitalização e criação de imagens, captura e edição de áudio e vídeo. 9.9.5 Web designer É o profissional da área de design e comunicação visual que, sob a orientação do designer instrucional, é o responsável técnico pelo desenvolvimento do material didático. 80 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino 9.9.6 Professor-tutor a distância É o orientador acadêmico responsável por atendimento e acompanhamento virtuais dos alunos. Deve ter formação superior compatível com o conhecimento específico da disciplina. Deve também ter amplo domínio das plataformas utilizadas, para garantir a resolução de problemas no uso do ferramental. Estimular, motivar e contribuir para o desenvolvimento da capacidade de organização e de realização das atividades acadêmicas e de auto-aprendizagem dos alunos são tarefas inerentes às suas funções. 9.9.7 Facilitador É o orientador acadêmico com formação superior adequada para atender aos estudantes em suas dificuldades operacionais durante o desenvolvimento das atividades nos pólos presenciais. Deve orientar os alunos para o ensino-aprendizagem a distância, buscando evidenciar a necessidade da autonomia de aprendizagem. Orienta os alunos, individualmente ou em grupos, para construção de uma metodologia própria de estudo. 9.9.8 Equipe de apoio na sede É composta por profissionais que atendem às áreas de studios e de suporte tecnológico e outros: manutenção do ambiente virtual de aprendizagem, manutenção da conectividade por web e satélites e de captação, armazenamento e transmissão de áudio e vídeo. 9.9.9 Equipe de apoio no pólo É composta por profissionais que atendem às áreas técnico-acadêmicas, além de oferecer biblioteca, secretaria, tesouraria, laboratórios e infra-estrutura. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 81 Educação a distância: um modelo acadêmico 9.10 Titulação do curso de EaD O estudante, depois de concluído o curso, será titulado de acordo com as especificidades deste, na modalidade de EaD da UPM, recebendo o certificado ou diploma que couber, de acordo com a legislação do MEC. 10 ESTRATÉGIAS DE MARKETING NA OFERTA DE CURSOS Para a oferta de cursos serão usados os canais oficiais da Instituição para campanhas de comunicação e marketing, quais sejam: Portal Mackenzie; Portal Mackenzista (antigos alunos); Revista Mackenzie; jornais e revistas regionais; TV Mackenzie; Editora Mackenzie; Campanhas de e-mail marketing e outros veículos e mídias internos e externos, próprios e/ou de parceiros. 11 RESULTADOS O crescimento da UPM em número de cursos e de alunos será acelerado com a modalidade de EaD extra-campus, tanto na forma semipresencial (20% facultado pelo MEC) quanto no modelo a distância. Isso atende ao Planejamento Estratégico Institucional em vigência, concorrendo para geração de dividendos educacionais positivos e necessários tanto para a área acadêmica quanto para a sua área corporativa e dos públicos que com elas interagem. 12 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Entidade Mantenedora, nas pessoas do Diretor Presidente, Dr. Marcos José de Almeida Lins, e do Diretor Administrativo-Financeiro, Dr. Gilson Alberto Novaes, e à Universidade Presbiteriana Mackenzie, na pessoa de seu Magnífico Reitor, Dr. Manassés Claudino Fonteles, pelo desprendimento em criar as fa- 82 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 Pedro Ronzelli Júnior, José Augusto Pereira Brito e Solange Giardino cilidades para a participação no Curso Estratégia e Gestão de EaD, realizado na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, SP. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. E. B. Informática e educação: diretrizes para uma formação reflexiva de professores. São Paulo, 1996. 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Trata da oferta de disciplinas que, em seu todo ou em parte, utilizem método nãopresencial na organização pedagógica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos. Brasília. D.O.U., 19 out. 2001, seção 1, p. 18. NUNES, I. B. Noções de educação à distância. In: Educação à distância. Brasília, Ined/UNB-CAD, 1991. PORTER M. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. TORI, R. A distância que aproxima. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. Disponível em: <http://www.abed.org.br/publique/cgi/ cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=608&sid= 69&UserActiveTemplate=1por>. Acesso em: 15 jul. 2007. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 65-83, jan./dez. 2007 83 OPENCOURSEWARE UNIVERSIA: OPORTUNIDADE PARA DOCENTES DA IBEROAMÉRICA Alina Corrêa¹ Resumo / Abstract O presente artigo pretende trazer à discussão iniciativas de colaboração em massa na Internet. Para tanto, apresentará o projeto OpenCourseWare como exemplo que surge, em 2001, para promover a socialização do conhecimento. The present article intends to discuss the mass collaboration on the World Wide Web and presents the OpenCourseWare Project as an example that emerged in 2001 to promote the knowledge socialization. Palavras-chave / Key words OpenCourseWare, internet, colaboração, ensino, educação. OpenCourseWare, Internet, collaboration, teaching, education. 1 Diretora-Geral do Univesia Brasil. Formada em Filosofia e Arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP); Mestre em Administração Mercadológica pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp); Moot corp pela Universidade do Texas, Austin; MBA em International Business pela Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas (Esade), Barcelona, Espanha. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 85 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica INTRODUÇÃO AO OPENCOURSEWARE A possibilidade de interação e compartilhamento trazida pela Internet revolucionou as formas de se obter e distribuir informações e conceitos. Participar ativamente desses espaços é dever das instituições de ensino superior, como disseminadoras de conhecimento de alta qualidade. O OpenCourseWare (OCW) é um exemplo de iniciativa que, nos últimos tempos, surgiu para promover a socialização do conhecimento. Em abril de 2001 o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) lançou a iniciativa OCW-MIT, com o objetivo de oferecer o material didático que seus docentes utilizam para o ensino. Esta ação teve um grande impacto e impulsionou a adesão de outras Universidades de prestígio internacional, gerando projetos próprios de coordenação com o OCW-MIT. O Universia, presente atualmente em onze países, se comprometeu desde o início com esse projeto e, recentemente, estabeleceu um acordo de colaboração com a Universidade Politécnica de Madrid, para estimular o desenvolvimento do projeto OCW Universia na Ibero-América. O IMPACTO DA INTERNET NO ENSINO SUPERIOR A Internet é cada vez menos um espaço dirigido pelas empresas e instituições para se tornar cada vez mais um lugar social, dominado por pessoas anônimas. Um lugar em que a qualidade e o rigor da informação não dependem apenas de quem a edita, mas também da capacidade de cada indivíduo de averiguar ou discernir onde está aquilo de que necessita. Esta nova forma de comunicação pode converter-se exclusivamente em um espaço para o lazer e com conteúdos pouco rigorosos. Ou pode também encaminhar-se para o enriquecimento da difusão e da participação global do conhecimento. 86 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa A universidade trabalha para o futuro, tendo por base o conhecimento. E tem conseguido manter o ritmo que marcava o mercado digital dentro da organização: • E-learning • Campus virtuais para professores e alunos • Digitalização de documentos • Publicação das classificações na Internet • Matrícula on-line • Canais de TV e rádio. Agora, tem um novo desafio: • Expor-se ao exterior na nova Internet • Partilhar o conhecimento • Utilizar novas ferramentas de comunicação para a formação • Estar presente nos novos ambientes virtuais (comunidades, blogs, multimídia). E procurar compreender os jovens, para poder entender a linguagem deles e continuar a liderar o Ensino Superior neste novo contexto. A PALAVRA-CHAVE: COLABORAÇÃO A produção colaborativa é a nova marca da Internet atualmente. O surgimento da Wikipedia, o sucesso do Youtube, a explosão dos blogs e os espaços criados nos grandes portais para que o usuário não só comente e debata a reportagem divulgada como também envie sua própria notícia são exemplos dessa nova onda. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 87 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica Este movimento veio alterar de forma profunda as tradicionais formas de produção, apuração, geração e distribuição da informação. E essa mudança se espalha em todos os ambientes. Até mesmo na indústria – em que o valor do “segredo industrial” sempre foi inquestionável – é possível observar uma grande mudança de paradigma. Um novo neologismo começa a ser ouvido nos corredores do mundo dos negócios: wikinomics, que pode ser traduzido como uma ação coletiva que ocorre quando um grande número de pessoas trabalha independentemente para um mesmo objetivo. É o que acontece com o Linux, um dos grandes sucessos no uso de colaboração em massa. E não poderia ser diferente no mundo acadêmico. Há muito se discute a transformação do professor de “sábio” para “guia”. Colossi, Consentino e Queiroz (2001) defendem que “o professor transformase em condutor, em bandeirante ou desbravador de conhecimentos”. Associado a esse novo papel, exige-se a configuração de novas tendências ou correntes pedagógicas, que efetivamente representem transformações similares, não só nos alunos (ou aprendizes, como se quer hoje), mas também na qualificação dos professores. Desejam-se professores e alunos que interajam nesse ambiente colaborativo como verdadeiros construtores de disciplinas, num processo evolutivo que transforma a disciplina, adequando-a às necessidades do ambiente. Os professores, atuando como verdadeiros tutores dos alunos, e os alunos, transformando-se de simples receptores passivos do conhecimento em solucionadores de problemas, construirão um todo agindo diretamente na construção da disciplina e no perfil profissional dos alunos. A Internet aparece, então, como uma importante ferramenta para auxiliar nessa interação, trazendo acesso a conteúdos que o aluno pode levar à sala de aula. E desta reunião de materiais colhidos em diversas fontes e levados à discussão no ambiente acadêmico é que sairá a capacidade de análise e interpretação, e a ampliação, de maneira significativa, das perspectivas de abordagem de cada tema. Mas nem tudo estará resolvido. O grande dilema da colaboração em massa ainda é a qualidade e confiabilidade das informações despejadas em volume exponencial e sem qualquer tipo de crivo. Apesar da 88 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa criação de mecanismos que pretendem regular a intervenção dos usuários, como sistemas nos quais a própria comunidade de leitores atribuiu uma nota para cada participação, ou “denuncia” o mau uso por parte de um integrante, a realidade é que isso não é suficiente. A tendência, então, é a do surgimento de espaços de colaboração com chancelas de qualidade, em que a assinatura de quem organiza a coleta das informações garante a confiabilidade no material acessado. Esses espaços tornam-se os locais ideais de presença dos conteúdos gerados nas instituições de ensino superior. OS CONCEITOS OPENCOURSEWARE E O SITE OCW Neste contexto de colaboração de alta qualidade aparece o OpenCourseWare como uma ferramenta de capacitação e democratização em escala global. O OCW é uma iniciativa editorial eletrônica em grande escala que reúne materiais utilizados por professores de graduação e pós-graduação no processo de ensino e aprendizagem. É um conjunto de documentos oferecidos gratuitamente pela Internet, sem restrição de propriedade intelectual. Atualmente, participam desta inovação mais de 100 instituições de educação superior e organizações associadas de todo o mundo, com o objetivo de proporcionar o livre acesso aos materiais didáticos para educadores, estudantes e autodidatas do mundo inteiro. Hoje, o OpenCourseWare MIT, fundador do projeto em abril de 2001, em colaboração com a Fundação William and Flora Hewlett e a Fundação Andrew W. Meellon, conta com 8,5 milhões de acessos e já foi visitado por usuários de 202 países e cidades-estados do mundo todo. Utilizando a página de feedback do MIT OCW, os usuários enviaram mais de 4.100 mensagens de e-mail, reconhecendo a liderança do MIT no sentido de fornecer informações gratuitas e acessíveis pela Web. O êxito alcançado pelo projeto possibilitou a criação de um modelo eficiente em que outras universidades adaptam e publicam seus próprios materiais pedagógicos gerando sinergias, espaços e colabora- Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 89 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica ção. Para essas Universidades, a permanência no OpenCourse aporta diversos benefícios, tais como: • Impulsiona o desenvolvimento de conhecimento ao liberar recursos didáticos; • Estimula a inovação e o aperfeiçoamento dos recursos de aprendizagem docentes utilizados pelos professores; • Favorece a aproximação dos professores com as TICs; • Projeta nacional e internacionalmente a missão da instituição. O OCW não é uma plataforma de cursos a distância. O OpenCourseWare limita-se a oferecer acesso livre e gratuito a um conjunto de materiais educativos. Não prevê qualquer processo de matrícula e nenhum pagamento pela prestação do serviço. É preciso lembrar que o ensino a distância pressupõe um sistema de estudo visando à certificação, enquanto o OCW é apenas um sistema de consulta a conteúdos pedagógicos. Exemplos de recursos que podem ser publicados na plataforma: • Planejamento de cursos: programa, temários, objetivos pedagógicos, calendários, etc.; • Conteúdos: bibliografia, documentos, material audiovisual, material auxiliar, etc.; • Atividades pedagógicas: exercícios, testes, avaliações, projetos, práticas de laboratório, etc. Os conteúdos disponibilizados no OCW são de acesso irrestrito. Assim, qualquer pessoa pode utilizar os materiais em seu formato original ou modificá-los para ajustá-los às suas necessidades. No entanto existem alguns requisitos para o uso do conteúdo disponibilizado: 90 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa • Não pode ter fins comerciais; • Deve incluir uma referência à instituição que o publica originalmente e, caso seja procedente, o nome do autor do material; • O material resultante do uso do OCW deve ser livre para utilização por terceiros e ficará sujeito a estes mesmos requisitos. O OCW E O UNIVERSIA O Universia, como rede integradora do meio acadêmico, foi convidado a participar do projeto. Por meio de seu portal global www.universia.net e de portais regionais em cada país onde atua, o Universia atende aos diversos públicos do Ensino Superior, oferecendo conteúdos e serviços para pré-universitários, universitários, pós-universitários, gestores e docentes, tendo como principais linhas estratégicas: • Emprego e Desenvolvimento Profissional; • Formação; • Observatório; • Redes Sociais. Sua participação no OCW visa a divulgar e estimular as universidades parceiras a ingressarem no projeto OpenCourseWare, para contribuir com a disseminação do conhecimento e enriquecer a plataforma com os materiais de aula das 1.056 instituições de ensino superior nos onze países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Costa Rica, Espanha, México, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela) que formam a Rede Universia. O OCW Universia é formado por um conjunto de universidades espanholas, portuguesas e latino-americanas que optaram por aderir ao OCW devido à afinidade cultural e geográfica do espaço ibero-americano. Atualmente, as universidades que integram o OCW Universia são: Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 91 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica • Universidade Federal de Santa Catarina • Universidade Estadual de Campinas • Universidade Federal de Alagoas • Universidade Federal do Piauí • Universidade Federal Rural de Pernambuco • Universidade de Sorocaba • Universidade de Taubaté • Universidade Politécnica de Madri • Universidade Carlos III de Madri • Universidade de Sevilha • Universidade de Santiago de Compostela • Universidade de Cantabria • Universidade de Barcelona FUNCIONAMENTO DA PLATAFORMA A plataforma colaborativa é acessada pelo link: http:// ocw.universia.net/. Somente instituições conveniadas ao projeto podem incluir materiais, referências ou objetos de aprendizagem utilizados por seus docentes em suas aulas. Isso garante a qualidade e confiabilidade de tudo o que é publicado pelo OCW. No momento da publicação é possível escolher uma área temática já listada ou facilmente criar uma nova, que represente melhor o teor do material a ser disponibilizado. A forma de estruturação dos conteúdos é bastante flexível e respeita o caráter individual de cada objeto a ser distribuído. O ambiente é amigável e de fácil entendimento, tanto para quem publica quanto para quem acessa essas informações. O endereço traz 92 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa detalhes de toda a sistemática e regras de uso do sistema, explicitando seus conceitos, as razões para incorporar-se ao projeto, aspectos jurídicos e demais informações. Além disso, apresenta áreas de notícias de interesse, artigos e respostas a perguntas freqüentes. É possível localizar materiais em mais de sessenta áreas temáticas diferentes, número que se amplia conforme novos temas são publicados. A busca é simples e o resultado lista diretamente todo conteúdo disponível classificado de acordo com a área escolhida. INDICADORES DE IMPACTO E EVOLUÇÃO DOS PROJETOS OPENCOURSEWARE NO MUNDO Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 93 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica OpenCourseWare-MIT: • 8,5 milhões de acessos ao OpenCourseWare-MIT, média de 423.000 acessos/mês. Incremento de 56% em um ano. • 83% dos estudantes do MIT consideram que o OpenCourseWare-MIT reforça a imagem da instituição. • 74% dos professores do MIT já publicam seus cursos. • O perfil das pessoas que acessam está distribuído em 16% de professores, 32% de estudantes, 47% de autodidatas e 5% outros. OpenCourseWare no mundo: • A Espanha é o terceiro país europeu em acessos, depois da França e Alemanha, e o 17º no mundo. • Foram traduzidos 250 cursos para outros idiomas, dos quais 90 para o espanhol. • Existem mais de 80 OpenCourseWare sites em distintos países do mundo. 94 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa O MOVIMENTO OPENCOURSEWARE NO MUNDO Harvard Law School França Telecom Paris Berkm an Center Ecole Johns Hopkins School of Polytechnique Public Health Techniques Tufts University Avance´es University of Michigan Ponts et School of Information Chausse´es University of Notre Dame Ecole des Mines Utah State University de Paris Reino Unido The Open University Canadá Capilano College Vietnã FETP OpenCourseW are Chimie Paris Physique-Chim ie Índia Agronomie Rai University Statistiques et Som aiya Vidyavihar Econom ie Eaux et Forets Arts et Me´tiers China Japão Áustria Peking University Keio University Tsinghua University Kyoto University Beijing Jiaotong Osaka University University Tokyo Institute of University of the Dalian Univ. of Technology W estern Cape Technology Universitat Klagenfurt África do Sul Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 University of Central South University Tokyo Xi'an Jiaotong University W aseda Brasil Universidade Federal 95 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica OS ASPECTOS JURÍDICOS: A LICENÇA CREATIVE COMMONS Os materiais que uma Instituição disponibiliza e publica constituindo um site OpenCourseWare estão subordinados à licença Creative Commons. Os materiais sob a licença Creative Commons são cedidos aos usuários para o uso, reutilização, tradução e adaptação a outros contextos. Nesse caso, os usuários se comprometem a utilizar os documentos sem qualquer fim comercial e a reconhecer a instituição e o autor que publica originalmente o material. Pela licença Creative Commons, o autor cede os direitos de uso do conteúdo disponibilizado e o site OCW de sua universidade assume sua utilização de acordo com os princípios de respeito ao autor e à sua obra. A GESTÃO DE CONTEÚDOS OCW – UNIVERSIA O projeto OCW Universia oferece às instituições integrantes orientação para o desenvolvimento da plataforma de gestão e publicação dos conteúdos que constituem o site OCW de cada universidade. O material disponibilizado no espaço mantido pela instituição será compartilhado com outras universidades e usuários por meio da plataforma OCW Universia. Essa assistência consiste fundamentalmente na disposição de um sistema gestor de conteúdos baseado no eduCommons, um projeto Open Source desenvolvido pelo Center for Open and Sustainable Learning da Utah State University, especificamente desenhado para a criação de projetos OCW. As principais características do sistema gestor de conteúdos são: • Processo claro e simples para a criação de categorias e cursos e para o incremento de materiais. • Incorporação de meta-dados no processo de catalogação e nos formatos de armazenamento e de publicação. 96 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa • Possibilidade de estruturação flexível de conteúdos. • Completo suporte de edição em HTML. • Possibilidades de incorporação de conteúdos por meio da importação de um arquivo comprimido “zip”. • Completa gestão de meta-dados e de exportação e importação por meio de formatos padronizados. • Especificação baseada nos padrões IEEE 1484.12.1-2002 Learning Object Metadata Standard (IEEE LOM) e ISSO 15836 Dublin Core Metadata (Dublin Core). • Importação / exportação de cursos e materiais em pacotes IMS. • Possibilidade de acesso a conteúdos por meio de fontes RSS. • Gestão completa de fluxo de trabalho. • Incorporação de mecanismos de gestão de propriedade intelectual e de licenças de utilização. • Facilidade de implementação e de personalização com a imagem institucional de cada Universidade. Além disso, são oferecidos um conjunto de manuais de uso e de administração, um pacote padrão para a importação da planilha da matéria e um suporte técnico on-line. AS OFICINAS OCW NOS OCW SITES A experiência mostra que as Oficinas OCW são um suporte necessário para as instituições interessadas em promover um OCW site. Os serviços que a Oficina oferece são de vários tipos: docentes, técnicos, biblioteca e jurídicos. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 97 OpenCourseWare Universia: oportunidade para docentes da IberoAmérica Funções associadas à Oficina OCW: • Impulsionar a participação dos professores e proporcionarlhes a informação, formação e assessoramento necessários. • Adaptar o modelo OCW às características da Universidade e à concepção do projeto OCW-Universia. • Assessorar juridicamente a Universidade e os professores e estabelecer um protocolo jurídico de participação que ofereça garantias a todas as partes. • Colaborar na limpeza da propriedade intelectual dos conteúdos, e, no caso, procurar ou gerar recursos alternativos. • Vigiar a qualidade dos conteúdos e impulsionar sua melhora constante. • Proporcionar meios técnicos para adaptar os conteúdos a sua difusão por Internet: uso do gestor de conteúdos, elaboração do material multimídia, gravação de vídeos. • Procurar soluções eficientes que simplifiquem a incorporação de conteúdos educativos na rede em diferentes cenários e com diferentes objetivos. • Manter o OCW site da Universidade. • Coordenar-se com outros OCW sites nacionais e estrangeiros. • Elaborar reportes e propor melhorias aos órgãos de direção da Universidade. PROCEDIMENTOS PARA ADESÃO AO PROJETO A adesão ao Consórcio OCW Universia é possível por meio da assinatura de um Acordo de Cooperação no qual a instituição de ensino superior se compromete a: 98 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 Alina Corrêa • Desenvolver um site OCW da universidade no qual estejam publicadas no mínimo dez matérias sobre os princípios do Consórcio. • Colaborar e promover um espaço comum entre todos os membros do Consórcio. Para aderir ao projeto OCW Universia basta solicitar a participação da universidade à equipe de Relacionamento com Universidades pelo email: [email protected] ou telefone (11) 3179-0770. Uma vez assinado e recebido o acordo, será enviada ao responsável pelo OCW na instituição uma senha de acesso à área restrita em que se encontrarão toda informação e auxílio necessários para que o projeto OCW seja desenvolvido. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COLOSSI, Nelson; CONSENTINO, Aldo; QUEIROZ, Etty. Mudanças no contexto do ensino superior no Brasil: uma tendência ao ensino colaborativo. Revista da FAE, v. 4, n. 1, jan./abr. 2001. Curitiba-PR: UniFAE. WEBGRAFIA http://www.ocwconsortium.org/ http://ocw.universia.net/ Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 85-99, jan./dez. 2007 99 INTERVENÇÕES EDUCATIVAS EM AMBIENTES VIRTUAIS: INVESTIGANDO POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Tania Scuro Mendes1 Resumo / Abstract O estudo objetivou investigar concepções de aprendizagem de professores que atuam em ambientes virtuais, analisando possíveis relações entre suas orientações epistemológicas e suas intervenções metodológicas; analisar processos metodológicos desenvolvidos em ambientes virtuais, discriminando suas características e possibilidades de interações; investigar as abordagens de professores em relação a possibilidades metodológicas advindas de processos educativos on-line; subsidiar professores que atuam em disciplinas de Educação a Distância (EaD) virtual no trato de questões metodológicas. Os sujeitos da pesquisa submetidos à análise qualitativa foram constituídos por quatorze professores atuantes em disciplinas de graduação, oferecidas mediante EaD virtual, e três instituições de ensino superior da grande Porto Alegre (RS) que apontaram, entre outros aspectos, a necessidade de implementação do caráter interativo das ferramentas desses ambientes para que permitam ampliar possibilidades metodológicas voltadas à sociocognição implicada em trabalhos cooperativos. The objective of this study is to investigate conceptions of apprenticement for professors working in virtual environments, analyzing possible relations between epistemological orientations and methodological interventions; to analyze methodological processes developed 1 Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Professora na graduação e pós-graduação da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Canoas, RS. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 101 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas in virtual environments, determining its characteristics and possibilities of interaction; to investigate the different approaches of professors on methodological possibilities from online educational processes; to assist professors working in disciplines of virtual EaD that consist of methodological issues. The subjects of this research, analyzed through a qualitative approach, that are fourteen professors working in disciplines offered through virtual EaD by three educational institutions from the greater area of Porto Alegre-RS, pointed out, among other issues, the necessity of implementation of the interactive aspects of these environments tools, in an effort to extend the methodological possibilities facing social-cognition implied in cooperative works. Palavras-chave / Key words EaD virtual, aprendizagem, ferramentas, professores, alunos. Virtual EaD, learning, tools, teachers, students. A utilização de recursos telemáticos digitais na educação tem acirrado a necessidade de reflexão e revisão de práticas educativas nos âmbitos não-presencial e, por extensão (devido à demanda de concorrência), presencial. Tal situação pode engendrar a quebra do paradigma empirista que prestigia as funções informativa e instrucionista do que até então comumente evidenciamos em processos educativos oferecidos de modo on-line. Na vertente da busca de clareza de aspectos, especialmente epistemológicos, implicados na concepção e utilização de ambientes e ferramentas informacionais, cresce a quantidade de pesquisas e estudos que evidenciam o embate por condições que imprimam às ações educativas características metodológicas que viabilizem uma nova visão de aprendizagem no processo de construção compartilhada de conhecimento desenvolvido em comunidades cooperativas e solidárias que habitam ambientes virtuais, de modo a se enfatizar a função construtiva, reflexiva e criativa que tais ferramentas possibilitam. Nesta direção argumentativa, compete-nos avançar para estu102 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes dos que abordem diferentes metodologias que atinjam os perfis sociais, cognitivos e motivacionais dos estudantes nas suas interações com a EaD on-line. Daí a necessidade de verificarmos, em pesquisa empírica, como se dão as articulações entre diferentes metodologias e suas possibilidades de enriquecimento nos processos educativos mediados por ambientes virtuais que utilizam tecnologias de comunicação digitais. Confrontando-nos com as possibilidades desafiadoras advindas das tecnologias telemáticas nos processos educativos, importa indagarmos: Que intervenções educativas podem dar conta da complexidade interativa em processos de educação on-line, constituindo-se como possibilidades metodológicas abertas nos ambientes virtuais de ensino-aprendizagem? Para buscarmos possíveis respostas ao problema proposto, traçamos os seguintes objetivos: • Investigar as concepções de aprendizagem de professores que atuam em ambientes virtuais, analisando possíveis relações entre suas orientações epistemológicas e suas intervenções metodológicas; • Analisar processos metodológicos desenvolvidos em ambientes virtuais, discriminando suas características e possibilidades de interações; • Investigar as abordagens de professores atuantes em ambientes virtuais em relação a possibilidades metodológicas advindas de processos educativos on-line; • Subsidiar os professores que atuam em disciplinas de EaD no trato de questões metodológicas, tendo em vista o processo ensino-aprendizagem em ambientes virtuais. A REDE TEÓRICA O ciberespaço está abrindo possibilidades e configurações bem distintas das desenvolvidas na tradição escolar para as pessoas aprenEduc. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 103 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas derem. As interações na teia telemática propiciadas pela internet abrem fronteiras de salas de aula convencionais e consolidam comunidades virtuais que desencadeiam processos de aprendizagem diferenciados dos até então instituídos ao longo da história. Novos espaços e tempos educativos têm sido constituídos na era da internet, onde e quando atuamos interligados em rede ciberespacial. Estamos inseridos nessas relações, diante de uma nova cultura de transformação ecológica. O advento da cibernética e a relação entre sujeito epistêmico e máquina, denominada por Lévy (1994) como ecologia cognitiva, por implicar o estudo das dimensões técnicas e coletivas da cognição, situam, em uma mesma paisagem, homens, natureza e máquina. Face a esse cenário educacional, precisamos discriminar como se ensina e como se aprende nas relações virtuais. Para tanto, é indispensável inquirir, primeiramente, o que é aprender e ensinar nesse novo contexto educativo. Importa, assim, trazer a contribuição de Hogetop e Tijiboy (2005) que sintetizam: As diferentes compreensões do que é ensinar e aprender têm se modificado, acompanhando as novas descobertas e percepções das biociências, neurociências, ciências cognitivas, tecnologias e demais evoluções do pensamento. Tais avanços mostram que a vida é aprender; que há uma trama unindo processos vitais e cognitivos. Assim sendo, aprender implica estar constantemente interagindo, constituindo uma interlocução entre saberes pessoais com saberes socais, trocando certezas por incertezas e estas, por sua vez, por certezas relativas (p. 276). Se o conceito de aprendizagem tem se transformado, especialmente com as contribuições de Piaget no século passado, mais ainda vem exigindo novos olhares em relação às possibilidades da EaD virtual. A aprendizagem em rede traz consigo diferentes sujeitos, com especificidades próprias de interesses, de estilos, e participar desse processo de construção significa compreender essa dinâmica diferenciada. Todos têm um objetivo comum, um lugar de convergência aonde chegar, mas os caminhos traçados são 104 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes próprios, únicos. E é nesse caminho que surgem e emergem os diferentes olhares, das diferentes opções que enriquecem o caminho próprio e o do outro, ao serem desafiados a trocar e compartilhar suas experiências e reflexões, articulando conceitos e práticas administrativas e pedagógicas da gestão e da integração das tecnologias com vistas a propiciar uma escola pública de qualidade e condizente com o paradigma da sociedade atual (Rubin et al., 2005, p. 5). Palloff e Pratt (2002) explicam que a aprendizagem em ambientes virtuais ocorre a partir de um processo que se estrutura sobre três pilares, sendo eles concernentes a: o que oferecer, como oferecer e de que forma será feita a mediação pedagógica, o que permite desenhar a aplicabilidade e as possibilidades de sucesso ou de fracasso desses ambientes. A primeira etapa, segundo as autoras, é a mais importante, pois implica a opção por uma matriz epistemológica educacional. Se a definição da concepção de educação a ser oferecida for sociointeracionista, a escolha das ferramentas de interação multidirecionais será prioridade. A segunda etapa é construída a partir da escolha da tecnologia adequada à realidade dos sujeitos envolvidos no processo. Cada grupo pertencente à rede, interagindo em dada realidade, vai demandar um tipo de aparato tecnológico adequado às necessidades do curso que garanta o acesso de todos. A terceira etapa é engendrada pelo trabalho de diálogo, discussão e definição da arquitetura do ambiente por equipe multidisciplinar de tecnólogos e educadores que precisam compartilhar conhecimentos pedagógicos e tecnológicos. Nesse sentido, (...) o que define a mudança de aprendizagem com o uso do computador não é o uso, por si mesmo, da máquina, mas a arquitetura pedagógica projetada com determinada intenção e disponibilidade ao meio disponibilizado. Encontra-se subsumido no nosso entendimento que o uso massivo de computadores na educação pode vir a ser uma forma a mais de dominação e que pode não significar a grande revolução do processo educacional a menos que assumamos essas noções híbridas em suas intensidades e multiplicidades. Assumamos um conceito de aprendizagem como criação, como abertura, o movimento de Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 105 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas desterritorialização, de acolhida do estrangeiro-em-nós, tomando-se a si mesmo como objeto de invenção, para fazer desse processo muito mais de invenção do que de solução de problemas. Tem-se, então, que o cenário de aprendizagem é o espaço por meio do qual se estabelece a conexão entre o conhecido e o desconhecido, e esse espaço é o caos. É desse lugar que falamos de ambientes de aprendizagem como espaços transdisciplinares baseados numa realidade multidimensional, estruturada em múltiplos níveis, em lugar da realidade unidimensional do pensamento clássico (Franciosi e Medeiros, 2005, p. 70 e 71). Com essa orientação analítica, em situação de EaD virtual, o aluno não deve ser visto como objeto, mas sim como sujeito, o que demanda a criação de situações de ensino-aprendizagem através das quais possa, como destaca Peters (2001), organizar seus estudos mediante interações com diferentes objetos de conhecimento. Cabe-nos salientar que isso não significa respaldar concepções racionalistas que situam apenas os interesses e iniciativas dos alunos como preponderantes. Essa proposição guincha a pergunta: o que seria ensinar em ambientes virtuais? Seria criar condições interventivas para que processos de aprendizagem se desenvolvam, dando lugar a metodologias interativas que desencadeiem práticas educativas que atendam às necessidades dos alunos e desafiem-nos a formular construções de concepções sociocognitivas? Mas, especificamente, que metodologias seriam essas, considerando o contexto de Educação a Distância virtual? Uma resposta a essa questão pode ser construída, mais uma vez, a partir das colocações de Palloff e Pratt (2004) que nos alertam, antes de tudo, sobre quem são os sujeitos inter-relacinados nas metodologias. Nesse prisma, temos o aluno que quer, entre outros aspectos, interatividade, comunicação, direção adequada, sentido de comunidade, capacidade para executar tarefas exeqüíveis, feedback. Presente na mesma interação, está o professor que, também sendo aprendiz, aprende a lidar com situações inesperadas, complexas e inovadoras que lhe exigem trabalhos de reconectividade para se tornar, conforme sublinha 106 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes Lévy, apud Kenski (2001), o ponto de referência na orientação de seus alunos no processo individualizado de apropriação do conhecimento que se dá na construção coletiva mediada por aprendizagens cooperativas em ambientes digitais de aprendizagem. Prossegue a autora, citando Lévy, ao se referir ao professor atuante em ambientes virtuais: Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. O professor torna-se o animador da inteligência coletiva dos grupos que estão a seu encargo. Sua atividade será centrada no acompanhamento e na gestão das aprendizagens; no incitamento da troca de saberes, na mediação relacional e simbólica, na pilotagem personalizada por percursos de aprendizagem, etc. (Lévy, apud Kenski, 2001, p. 79) As redes solidárias entrelaçadas por relações alunos-professores – que constituem uma sociedade da aprendizagem – são geralmente consolidadas pela implementação de cursos em plataforma virtual para EaD na internet. Os recursos mediatizados em plataformas virtuais, como destaca Guir, apud Alava (2002, p. 63), embora constituam lugares de recontextualização e de ação que levam os professores a redefinir seus papéis e sua competência, por si sós, não alavancam inovações didáticas. Por conseguinte, tais recursos exigem a utilização de metodologias interativas que possibilitem a formação de relações dialógicas que consolidem compartilhamento de aprendizagens em rede. Desse modo, o ambiente virtual de aprendizagem precisa compatibilizar ferramentas e metodologias que atendam a princípios interacionistas. Tal relação traz como tônica, na visão de Pretto (2000), valores como trabalho coletivo, solidariedade e ética para esse novo pensar e viver, aspectos esses que precisam ser agregados aos processos metodológicos propostos mediante ferramentas da EaD virtual. Adentrando nessa perspectiva, é necessário, consoante Almeida (2003), criar uma rede de interdependência em contínuo estado de provisoriedade, constituindo uma unidade dinâmica que se desenvolve de forma relacional e pluralista (p. 201), por meio da qual são Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 107 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas desencadeados processos colaborativos no contexto em que a interação e a coletividade, como explica Cerqueira (2005), sobrepõem-se à individualidade e à competição. Para tanto, como sublinha Sciotti (2004), é indispensável a criação de espaços de aceitação e convivência em patamares de equilibração entre o possível e o desejável, mediante ações da comunidade de aprendizagem em ambientes virtuais. A estrutura aberta em rede virtual de aprendizagem, que implica as ferramentas e as interações metodológicas estabelecidas através delas, permitem, na ótica de Lévy (1999, p.126), que (...) a cultura das redes, ou cibercultura, [que] se dá exatamente na articulação entre os princípios de interconexão das comunidades virtuais e da inteligência coletiva. Os interesses comuns dessas pessoas, desterritorializadas, mas permanentemente conectadas, criam novas formas de comunicação permanente e universal e transformam todo o espaço virtual em um infinito canal interativo de múltiplas aprendizagens. Esse contexto de redefinição de processos educacionais subsidiados por tecnologias digitais está provocando, ainda que muitos professores e instituições insistam em não se abrirem a essa necessidade, transformações radicais do modo como se ensina e como se aprende e, com isso, de como os sujeitos operam transformações em suas competências. Mais do que ampliar metodologias, urge que construamos alternativas para darmos conta dessa nova realidade, pois, na verdade, não tem sentido o homem querer desviar-se das máquinas, já que, afinal de contas, elas não são nada mais do que formas hiperdesenvolvidas e hiperconcentradas de certos aspectos de sua própria subjetividade (Guattari, 1996, p. 177). 2 Justificamos a amostra, constituída por quatorze sujeitos, apenas, devido a pesquisa requerer uma análise pormenorizada das falas e das posturas educativas dos participantes. 108 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes ENTRELAÇANDO A REDE TEÓRICA COM OS DADOS EMPÍRICOS Constituíram sujeitos dessa investigação quatorze professores que atuam ou atuaram em disciplinas de cursos de graduação oferecidos na modalidade de EaD virtual e três instituições de ensino superior da grande Porto Alegre – RS2. Tais sujeitos foram intencionalmente escolhidos, mediante convites de participação à pesquisa. Na primeira etapa investigativa foram desenvolvidas entrevistas semi-estruturadas que foram gravadas e protocoladas através de transcrições das falas registradas. Na segunda, foram coletados dados referentes ao desenvolvimento de ações metodológicas propostas pelos professores, sendo esses relacionados com suas falas. Os dados coletados através das entrevistas e das proposições metodológicas desenvolvidas pelos professores foram analisados qualitativamente, mediante estudo que privilegia elementos da metodologia qualitativa de pesquisa apoiada em Cook e Reichard (1986), Coehn e Manion (1989) e Bardin (1977) que explicitam o processo de Análise de Conteúdo. Com os dados submetidos à lente analítica, constatamos inicialmente que há divergências quanto à visão de similaridade ou diferenciação de processos educativos desenvolvidos em ambientes virtuais e os desenvolvidos de modos não-virtuais por parte dos sujeitos da pesquisa. Metade dos professores entrevistados argumentaram sobre as diferenças entre essas instâncias de aprendizagem, especialmente em relação às formas de interação. Convém sublinhar que essas interações, como destacam Lévy et al. (1999), não se restringem à conexão física (condição não suficiente para participar dos novos processos de inteligência coletiva), mas ao tipo de relacionamento interpessoal adotado, o qual pode ser passivo e unidirecional ou, então, dialógico e interativo. Para Almeida (2001), o sujeito, ao atuar nesse meio digital, vai constituindo uma rede de interações composta por nós e ligações entre Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 109 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas idéias, teorias, conceitos e crenças. Assim, na rede, todos os participantes são potencialmente ativos emissores, receptores e produtores de informações; co-criadores de uma densa trama de inter-relações entre pessoas, práticas, valores, hábitos, crenças e tecnologias em um contexto caracterizado pela diversidade, evolução e interdependência entre todos os seus componentes. A rede constitui um espaço de mútua influência, intervenção e sonhos, onde a alteração em um elemento implica em mudança em todos os demais (Almeida, 2005, p. 2). Devido à flexibilidade nas ações interlocutoras em espaços e tempos que extrapolam o aqui e agora, os processos educativos on-line ganham, na visão dos entrevistados, novas abordagens. Depurando as falas sintetizadas nas nomenclaturas das categorias, a seguir salientadas, podemos inferir que, apesar dessa diferenciação entre as concepções de processos educativos em ambientes virtuais e não virtuais, todos os entrevistados expressaram que, em ambas as situações, a ênfase da aprendizagem está na construção cognitiva que, numa dinâmica progressista, implica um processo interativo onde e quando o sujeito precisa da mediação dos outros para desenvolver aprendizagens que, embora individuais, acontecem no coletivo. Desse modo, o sujeito reflete sobre conteúdos, elabora conceitos e os transpõe para a vida prática, possibilitando que a aprendizagem constitua-se na transformação por argumentações mais consistentes. Tais argumentações são elaboradas e socializadas através de registro escrito, já que uma das principais características do ambiente virtual, como sublinham Rubin et al. (2005), são os registros das interações entre os participantes que ocorrem nos espaços de comunicação mediante fórum, chat, e-mail, etc, com atividades realizadas individualmente, ou em grupos, utilizando-se, por exemplo, portfólios. O registro possibilita, na concepção de Prado (2003, p. 3), a revisitação de trajetórias próprias e de outros, compartilhadas no ambiente virtual. Isto significa que cada participante pode 110 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes ser leitor de si mesmo e do outro, além de escritor ora individual, ora em grupo e/ou coletivo no âmbito da turma. Este movimento individual e coletivo de pensamento e explicitação sobre a ação, reflexo e articulações entre diferentes vivências e teorias constitui uma nova forma de aprender. Essas novas formas de aprendizagem estão correlacionadas aos novos modos de construção sociocognitivos engendrados na comunicação em rede, em que a passividade do receptor, como explica Demoly (2005), é objetivamente abalada, em virtude da necessidade concreta de produções textuais. A participação em redes de conversações é capaz de operar o deslocamento da posição de autoria e, por extensão, das relações de poder. Maraschin (2005, p. 142) explicita: (...) as redes de conversação acopladas às tecnologias da informação e da comunicação podem operar voltadas a um exercício capaz de promover o enriquecimento da experiência, pela possibilidade de escuta, expressão e ação. Essas análises tomam como observáveis da rede de conversações, tanto a produção escrita – síncrona ou assíncrona – desses coletivos quanto suas intervenções orais – videoconferências. De um modo recorrente, (...) a participação de redes telemáticas de conversação convoca a constituição recursiva de um plano de tensão entre diferentes modos de expressão, ação, significação. A necessidade de se autonarrar para dar-se a conhecer em um coletivo pode promover efeitos de inclusão e de autoria. Prosseguindo a análise para a busca da fundamentação epistemológica das intervenções educativas dos docentes nas mediações on-line, de modo a darem conta das proposições elucidadas, encontramos, nas respostas dos entrevistados, que 100% alegam desenvolver abordagens interacionistas, enveredando pelas perspectivas: construtivista de Piaget (50%); sociointeracionista de Vygotsky (30%) e progressista de Paulo Freire (20%). Esses fundamentos teóricos abraçados remetem-nos ao desenvolvimento de aprendizagens autônomas. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 111 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas As aprendizagens em meios digitais oportunizam, segundo Peters (2003), o autoplanejamento e a auto-organização, que são precondições inusitadamente favoráveis para este tipo especial de aprendizagem. Entre os exemplos citados pelo autor estão o hipertexto e a hipermídia, através dos quais o sujeito seleciona os caminhos de aprendizagem baseando-se em seus próprios interesses e associações, tendo em vista seu estilo cognitivo. E continua: a falta de limites, a incerteza, a inconcebilidade e a vacuidade do espaço por trás da tela do monitor mudam totalmente a situação (p. 269). As aprendizagens auto-reguladas pelos alunos solicitam outro perfil de professor, pois, conforme adverte Peters (2001a), há o perigo de que formas antigas de aprendizagem sejam reproduzidas na mídia eletrônica. Dessa maneira, o aluno dependente tornar-se-ia ainda mais dependente. Eis por que novos métodos para novas mídias devem ser desenvolvidos e implementados. Dentro de pouco tempo, veremos que essas novas mídias oferecem oportunidades para o autodidata (...) Compreenderemos que essas novas mídias não são destinadas à apresentação de conhecimento, mas antes para a construção de estruturas pessoais de conhecimento, uma tarefa a ser realizada pelo aluno, individualmente (p. 124). Na ótica de Terçariol et al. (2005), da qual compartilhamos, os professores responsáveis pela disciplina desempenham papel fundamental no processo de aprendizagem, uma vez que funcionam como consultores, articuladores, orientadores e problematizadores no processo de desenvolvimento do aluno. No entanto, resgatando as palavras de Teixeira (2004), a maior dificuldade é que cada professor deve debruçar-se sobre o estado de autonomia intelectual do aluno para poder ajudá-lo a partir do estágio em que ele se encontra. Uma das possibilidades para se alcançar essa perspectiva é a postura pesquisadora do educador, aliando a criticidade à criatividade, para investigar condições de intervenções educativas que visem à construção da autonomia intelectual do educando. 112 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes Mas como conceber a pesquisa no processo educativo? Para entrarmos nessa questão, enveredemos pelas condutas metodológicas, verificando como os entrevistados localizam-se em relação aos procedimentos de suas ações educativas. Questionados em relação a que metodologias que propõem dariam conta da orientação epistemológica explicitada, 15% dos sujeitos da pesquisa as concebem centradas nas ferramentas do ambiente virtual de aprendizagem. Alguns exemplos pertinentes a essa categoria são discriminados por eles: diálogos via correio eletrônico e chats; discussão em videoconferências; interação com a midioteca (biblioteca virtual). Assim, o ambiente informatizado de aprendizagem disponibilizado deve, na visão desses sujeitos, comportar condições físicas e de navegabilidade que, por si sós, alimentariam o processo metodológico. De outro modo, a expressiva maioria dos professores (75%) estabelece a relação entre as ferramentas do ambiente virtual e as suas proposições metodológicas, abrindo possibilidades de intervenções que podem ir além da estrutura do ambiente, pois implicariam relações contextuais estabelecidas em processos colaborativos de aprendizagem. Nessa vertente, são apontadas estratégias tais como: fóruns com resolução de problemas e discussão dos retornos e provocações para aguçar a capacidade de questionamento do aluno; cases com situações práticas reais e cotidianas; pesquisas bibliográficas de levantamento de dados relacionadas a projetos de pesquisa com saídas de campo, para que o aluno identifique e selecione as fontes de informações que possam desenvolver o processo de investigação; visitas e análises de conteúdos de sites, desencadeando simulações envolvendo relação teoria-prática (especialmente na formação em serviço); trabalhos em grupos virtuais, visando ao alcance coletivo de metas como análises cooperativas; produções coletivas de memorial reflexivo que, consoante Rubin et al. (2005), apontem conhecimentos prévios, dificuldades, formas de superação, avanços e pontos marcantes sobre as experiências no curso, bem como diversidades e diferenças nas trajetórias sociais. Todas essas proposições aparecem motivadas pela democratização nas participações e flexibilidade nas comunicações que possibilitam a autoridade compartilhada. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 113 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas As sugestões elencadas situam-se na vertente epistemológica interacionista que fundamenta uma pedagogia relacional, segundo a qual o professor ou tutor não são o centro do processo ditando o percurso a ser trilhado. Desse modo, os membros da comunidade on-line passam, como destaca Fichmann (2005), a se enxergar dentro do contexto das atividades que executam, criando a possibilidade de intervir em seu próprio funcionamento e participar da manutenção de sua identidade. Paloff e Pratt (2004), apud Araújo (2005), enfatizam que o instrutor ou tutor devem evitar o comportamento de palestrante e a exposição a longos textos orais ou escritos, mediante apresentações eletrônicas (Power Point e slides). Segundo elas, a estratégia mais eficaz é (exemplificando) propor um parágrafo de conteúdo e fazer algumas perguntas para que os próprios aprendizes iniciem o processo e explorem as idéias. Além disso, subsidiando-nos nas explicações de Araújo (2005), o papel do tutor on-line é fornecer grande quantidade de feedback, em um tom amigável e pessoal, para a contribuição dos aprendizes. Cabe sublinhar também que entre as funções do tutor está a de indicar os serviços que levam o aprendiz a ser mais autônomo, uma vez que, amparados em Pratt e Paloff, (2004), não podemos pensar que todos os alunos têm a capacidade de agirem independentemente. Encaminhando a análise para outras possibilidades metodológicas, que podem ser implementadas na EaD virtual, as respostas podem ser agrupadas em três categorias: a primeira, sobre a qual recai a ênfase, é concernente a possibilidades vinculadas à melhoria no caráter interativo das ferramentas (53,8% da incidência de proposições). São citadas nessa classe novas ferramentas para bate-papo; messager para identificar as pessoas que conhece e aceitar ou não o convite para conversar; link para notícias (eventos, reclamações, comemorações); qualificação de fóruns mediante maior interação e caráter socioafetivo; sites com espaço para apresentação de Power Point como mapas conceituais; gravação com interação mais direta; espaços compartilhados de convivência, como Fórum Cafezinho não síncrono, para conversas informais de apresentação. 114 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes Todos esses aspectos que dizem respeito à melhoria do caráter interativo das ferramentas do ambiente virtual de aprendizagem permitem situações comunicativas. Contudo importa a ressalva de Pretto (2000): o uso dessas tecnologias será um fracasso, se insistirmos na sua introdução como ferramentas, apenas como meros auxiliares do processo educacional, de um processo caduco, que continua sendo imposto no cotidiano das pessoas que vivem outro momento histórico. Em todas essas situações, a distinção entre a educação presencial ou a distância faz pouco sentido, pois estando essas tecnologias presentes, mudam a dimensão espaço-tempo e, com isso, essa distinção presencial-a distância esvazia-se de sentido (p. 1). Uma segunda categoria refere-se à melhoria do processo metodológico, o que convergiu para uma porcentagem de 38,4 % dos itens elencados pelos entrevistados. Foram por eles apresentadas as seguintes proposições: corrigir as rotas de relações com os alunos (a impessoalidade colabora com o desrespeito); tratamento lúdico dos conteúdos mediante, por exemplo, jogos educacionais; proposição de dossiê eletrônico de tarefas com a elaboração de portfólios; construção de textos coletivos com as falas de todos os alunos. Atendendo aos princípios advindos de uma postura epistemológica interacionista, essas metodologias acabam customizando o ambiente virtual de suporte ao curso, conferindo ao tutor funções que tendem a se transformar cada vez mais. Perrenoud (2000) já alertava que na educação do futuro haverá uma nova organização do trabalho docente e que a educação será mais personalizada, apresentando novas ferramentas, mais precisas, de avaliação formativa e de regulamentação; que nenhuma tecnologia poderá fazer efeito sem mediação pedagógica. Por isso, o autor vê como con3 Araújo (2005) adverte que o instrutor deve limitar sua participação para, aproximadamente, um quarto ou até metade do material on-line, provendo contexto para discussão e dando ganchos para comentários, bem como ser rápido em responder aos alunos, quer por mensagem pessoal, quer frente ao grupo. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 115 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas dições do professor do futuro uma qualificação maior, ampla cultura na área das ciências humanas, forte orientação para as práticas reflexivas e capacidade de inovação. Todavia alerta que o futuro não vai resolver por si os problemas da educação, tendo em vista que a escola do futuro pode ser ainda menos igualitária e eficaz que hoje. Os entrevistados destacaram ainda, em porcentagem menor (7,6%), aspectos que foram agrupados na terceira categoria, relativa à melhoria no âmbito administrativo-pedagógico: intensificar os atendimentos; monitoria para explicações administrativas e técnicas nas redes digitais; necessidade de o instrutor evitar participar demais das discussões3. Das análises e discussões dos dados levantados na pesquisa empírica, articulados na sua trama teórica, podemos cerzir algumas considerações que seguem... TECENDO CONSIDERAÇÕES NÃO CONCLUSIVAS FRENTE AOS DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA EAD VIRTUAL Embora as proposições metodológicas orientadas geralmente pela epistemologia interacionista privilegiem a construção cognitiva, elas apresentam íntima relação com as possibilidades das ferramentas que integram os ambientes virtuais de aprendizagem. A maioria dos docentes entrevistados aponta a necessidade de melhoria no caráter interativo das ferramentas para que permitam qualificar os processos educativos e para que ampliem possibilidades de sociocognição. Mesmo reconhecendo que o processo de aprendizagem se desenvolve no âmbito individual, e de modo autônomo, as possibilidades metodológicas vislumbradas por esses professores enfatizam trabalhos cooperativos – atendendo à perspectiva piagetiana de que a autonomia é construída na cooperação –, condição que precisa ser contemplada pelas ferramentas do ambiente virtual de ensino-aprendizagem, de maneira a possibilitarem trabalhos docentes mais interativos. Diante das necessidades elucidadas, dois desafios impõem-se na 116 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 Tania Scuro Mendes construção de ambientes virtuais de ensino-aprendizagem: Como abrir esse ambiente, que tem uma estrutura sistêmica, mesmo apresentando hipertextos e diferentes tipos de links, para processos de criação pelos alunos, que podem ir além do estabelecido nos limites da plataforma virtual do curso? Como extrapolar, nesse sistema virtual aberto, a disciplinaridade e, envolvendo a relação ensino-aprendizagem-pesquisa, constituir sínteses criativas metadisciplinares? Dos vários impactos, de naturezas pedagógica, social, econômica, que são deflagrados através dos dados submetidos à análise mediante a pesquisa desenvolvida, o que mais instiga a mudança de atitude em relação à EaD virtual é o que diz respeito a que as plataformas virtuais dos cursos oferecidos precisam criar, através de suas ferramentas, possibilidades para ações metodológicas que suplantem as formas convencionais de ensino-aprendizagem, superando as perspectivas instrucional, técnica e funcionalista e, como extensão da utilização de recursos digitais, ampliem as condições interativas nas estruturas abertas em redes que hospedam sociedades de aprendizagem. Como explicita Ramal (2000), nosso pensamento acostumado a se organizar em imagens e linearidade passa, com tais ambientes virtuais, a trabalhar com links – nós e redes –, o que distende as capacidades intelectuais do homem4. Isso requer, segundo a autora, que a formação de professores tenha mais ênfase em psicologia e ecologia cognitiva. Nós não teremos limites para o nosso desenvolvimento humano se fizermos da técnica um instrumento de apropriação de nós mesmos e de nossa cultura (Pellanda, 2005, p. 67). Porém, como alerta Alves (2003), a vida não pode ser trocada pelo fascínio dos meios 4 Segundo Schaff (1992), assistimos a duas grandes revoluções da interação humana com a tecnologia. A primeira pode ser situada entre o final do século XVIII e início do século XIX, quando se substituiu a força física do homem pela energia das máquinas. Hoje, temos a segunda revolução, caracterizada pela ampliação das capacidades intelectuais através da tecnologia. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 117 Intervenções educativas em ambientes virtuais: investigando possibilidades metodológicas tecnológicos, pois, no interior de uma sociedade desigual, infelizmente, todos esses avanços tecnológicos continuarão privilegiando uma parte da população (...). A maior parte das escolas [e, ousamos dizer, de cursos de EaD virtual] continuarão com fórmulas pedagógicas ultrapassadas, tendo acesso a poucos recursos tecnológicos, [com] resultados comprometedores para o futuro profissional desses alunos (Moran, 2004, p. 7), tendo em conta a inviabilidade de ações metodológicas que propiciem o desenvolvimento de competências (hoje mais do que nunca) fundamentais para a inserção cidadã. Se a inovação tecnológica da EaD virtual trazia a esperança de uma inovação pedagógica, especialmente porque aquela nasceu colaborativa, hoje a perplexidade convida-nos a refletir. No afã de oferta de cursos online, e com novas demandas da economia do conhecimento, temos assistido à tecnologia da EaD virtual abrigando (ou seria suportando, no sentido de desagrado?) práticas pedagógicas inadequadas à atualidade e que, mesmo não combinando com a inovação engendrada pelas comunidades virtuais de aprendizagem, insistem no álibi da democratização do ensino. No entanto quantidade nem sempre á qualidade! Por isso, resta darmos mais atenção às intervenções educativas em ambientes virtuais, investigando possibilidades metodológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALAVA, S. (Colab.) Ciberespaço e formações abertas: rumo a novas práticas educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2002. ALMEIDA, F. J. Educação a distância: formação de professores em ambientes virtuais e colaborativos de aprendizagem. São Paulo: Projeto Nave, 2001. ALMEIDA, Maria Elisabeth B. Educação, ambientes virtuais e interatividade. In: SILVA, Marco. 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Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 101-121, jan./dez. 2007 121 PRÊMIO Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero TERCEIRA EDIÇÃO DO PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO Nilcéia Freire Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Resumo / Abstract O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero – concurso de redações e artigos científicos na área das relações de gênero, mulheres e feminismos – é uma iniciativa da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres/Presidência da República, do Ministério da Ciência e Tecnologia, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do Ministério da Educação e do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, e tem como objetivos estimular e fortalecer a pesquisa no campo dos estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos, buscando contemplar a intersecção com as seguintes abordagens: classe social, geração, raça, etnia e sexualidade; e sensibilizar a sociedade para tais questões. The Prize “Building Equality of Gender” – a competition of scientific essays and articles about the issues of gender relations, women and feminisms – is an initiative of the Brazilian Government’s Special Secretariat of Policies for Women, the Ministry of Science and Technology, the National Council for Scientific and Technological Development, the Ministry of Education, and the United Nations’ Development Fund for Women. It aims to stimulate and to strengthen research on gender relations, women and feminisms, with the intent to contemplate the intersection among the following approaches: social and generational inequalities, race, ethnic groups and sexuality, as well as to sensitize society to such issues. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 125 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Palavras-chave / Key words Relações de gênero, mulheres, feminismos. Gender relations, women, feminisms. APRESENTAÇÃO A terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é uma iniciativa da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) que legitima os estudos de gênero no universo acadêmico e mobiliza estudantes e professores do ensino médio a refletirem sobre questões da maior urgência no ambiente escolar do país. O prêmio se reveste da maior importância, já que se trata da concretização de prioridades reafirmadas no II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) e da consolidação de ações conjuntas entre o CNPq, MCT, MEC e Unifem, que vêm sendo desenvolvidas desde 2005, através do Programa Mulher e Ciência. O II PNPM reafirma os princípios de contribuição com a educação pública na construção social de valores que garantam a inclusão das questões de gênero, raça e etnia nos currículos; que reconheçam e busquem formas de romper com as práticas educativas, a produção de conhecimentos, a educação formal, a cultura e a comunicação discriminatórias. No contexto das ações do Programa Mulher e Ciência, o Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero se insere também no conjunto de esforços que a SPM vem fazendo no sentido de aprofundar as recomendações referentes à educação recebidas pelo governo brasileiro do Comitê da Organização das Nações Unidas, que zela pela implementação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), quando da apresentação do VI Relatório Brasileiro em julho de 2007. Entre essas recomendações está a intensificação dos esforços para acelerar e aprofundar as mudanças culturais. Reconhecendo os esforços empreendidos pelo setor educacional brasileiro para transfor- 126 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero mação das relações de gênero, o comitê aponta, entre os campos que merecem prioridade, a atenção à tendência de direcionamento de homens e mulheres a carreiras específicas e o problema da reafirmação de estereótipos de gênero associados às áreas de atuação profissional. No enfrentamento dessas questões, o Programa Mulher e Ciência tem ampliado o alcance de suas iniciativas para o apoio a projetos e pesquisas através de parcerias com a Capes e o Inep, sendo estas voltadas para os programas de pós-graduação e para a análise dos indicadores de gênero sobre a participação das mulheres nas carreiras acadêmicas. Os espaços abertos nas instituições de ensino e pesquisa em todos os níveis dos sistemas de educação, ciência, tecnologia e inovação do país são fundamentais para a construção de ambientes propiciadores de novas culturas que incluam as reflexões sobre as relações de gênero. Em seu terceiro ano de existência, o Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero já atingiu um total de 4.489 participantes, dos quais 29% do sexo masculino e 71% do sexo feminino. Dos participantes 40% são da Região Sudeste, 25% do Nordeste do país, 19% do Sul, 12% do Centro-Oeste e 4% da Região Norte. Entre os temas abordados estão: o enfrentamento à violência de gênero, ao racismo, à homofobia; a crítica aos estereótipos de gênero tão recorrentemente presentes na mídia; a Lei Maria da Penha; a participação política das mulheres; retomadas de histórias de feminismos; a fome zero; sexualidade; homens feministas; mulheres nas ciências. Tais “temas que não ganham concursos” nos dão a certeza de que estamos no caminho certo. Esperamos que a leitura dessas redações e artigos – ora expressão de duras realidades, ora de perspectivas de mudanças – seja inspiradora para novas ousadias e que possam ser um material provocador de novas leituras por se tratar de textos transformadores de mentalidades e práticas. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 127 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero RESUMOS DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS PREMIADOS 1 CATEGORIA GRADUADO A dimensão do enfoque de gênero no Programa Bolsa Família: ranços e avanços na promoção do empoderamento das mulheres nos municípios baianos Autora: Bárbara Maria Santos Caldeira2 Universidade de Burgos, Espanha Universidade Católica do Salvador – UCSal Orientadora: Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti Resumo As políticas de ações afirmativas direcionadas às mulheres integram hoje o quadro de metas e problemas a serem superados pelos planejamentos de políticas públicas com recorte social no cenário brasileiro. O Programa Bolsa Família, que tem como objetivo combater a pobreza e reduzir a fome das famílias inseridas no contexto de vulnerabilidade social, traz através de suas diretrizes e normativas ações complementares de apoio ao programa e às gestões municipais. A dimensão do empoderamento feminino surge nesse quadro como ele- 1 Os artigos científicos e as redações encontram-se disponíveis no endereço: http://www.cnpq.br/premios/2007/construindo_igualdade/index.htm 2 Licenciada em História pelas Faculdades Jorge Amado; Doutoranda em História pela Universidade de Burgos; Coordenadora de Apoio a Projetos, Programas e Conselhos da Secretaria Municipal de Assistência Social de Alagoinhas, BA; Assessora de Projetos Sociais da ONG Centro de Formação Talita; integrante do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre Juventude, Identidade, Cidadania e Cultura (NPEJI), alocado ao Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea da UCSal. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 129 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero mento de fundamental importância para avaliação acerca da eficiência e eficácia relacionadas aos instrumentos de acompanhamento das condicionalidades e da oferta dos serviços sociais básicos de saúde, educação e assistência social como promotores da inclusão social. O objetivo desse artigo é apresentar algumas considerações acerca das perspectivas defendidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) que afirmam o crescimento de elementos que justifiquem o aumento do empoderamento feminino das beneficiárias do Programa Bolsa-Família, através da transferência direta da renda e pelo índice ocupacional na gestão do programa pelas mulheres. A metodologia de pesquisa é enveredada pelo levantamento quantitativo, com amostragem de 96 municípios baianos, sobre os instrumentos de acompanhamento e avaliação pelas gestões locais, ademais da contribuição dos grupos focais com representantes governamentais, sociedade civil e mulheres beneficiárias do programa. Palavras-chave Programa Bolsa Família, gênero, empoderamento, políticas sociais. 130 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Economia feminista: uma proposta epistemológica em defesa do pluralismo Autora: Brena Paula Magno Fernandez1 Orientador: Marcos Barbosa de Oliveira 2 Universidade de São Paulo – USP Resumo A Economia Feminista é um dos mais recentes programas de pesquisa em ciência econômica. Desde a publicação de Beyond economic man, organizado por Ferber e Nelson (1993), ele vem se desenvolvendo com crescente força, sobretudo nos Estados Unidos. Entretanto a pesquisa feminista, em geral, e a economia feminista, em particular, são freqüentemente consideradas como menos objetivas do que as pesquisas tradicionais, e isto porque estas últimas seriam livres de valores, enquanto que as primeiras não. Na primeira parte do trabalho, traçamos algumas definições centrais da Economia Feminista. A partir daí propomos, tomando por base o modelo crítico do filósofo da ciência Hugh Lacey (1998, 1999), que todo conhecimento científico é produzido mediante a subordinação a alguma estratégia de pesquisa, que carrega consigo a marca dos valores sociais mais prementes e que impõe limites à parcela da realidade que pode ser acessada pela investigação. Segundo essa abordagem, há (e deve haver) uma interação profunda entre ciência e valores, que é essencial para a metodologia científica. Sendo assim, três principais teses são defendidas: (i) almejar a objetividade não significa defender uma metodologia isenta de influências valorativas, (ii) a neutralidade é (e deve ser) defensável para o conjunto da prática científica e, finalmente, (iii) a defesa da pluralidade de abordagens científicas é o meio através do qual a neutralidade da ciência como uma prática social pode 1 2 Pesquisadora de Pós-Doutorado da USP, Bolsista do CNPq. Professor do Departamento de Filosofia da Educação e Ciência da Educação da USP. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 131 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero ser salvaguardada. Nosso intuito será explicitar que as características dominantes herdadas da ciência moderna positivista – racionalidade, objetividade, abstração, análise quantitativa e neutralidade axiológica – têm sido culturalmente associadas ao rigor e à masculinidade, ou seja, que essas categorias supõem valores sexistas androcêntricos. Enquanto isso, outras formas ou abordagens do conhecimento, que têm sido sistematicamente alijadas da instância oficialmente considerada como ‘científica’, carregam um viés para a cooperação, as análises qualitativas e verbais, a concretude e o comprometimento explícito com valores. Estas propostas têm sido associadas à vagueza, à imprecisão teórica e à feminilidade. Estas metáforas são assimétricas, na medida em que o dualismo masculino/feminino é hierárquico: atividades, valores e métodos associados ao gênero masculino seriam ‘objetivos’ e, conseqüentemente, universalizáveis, ao passo que seus correlatos vinculados ao gênero feminino seriam ‘subjetivos’ e, portanto, deveriam restringir-se ao âmbito do particular e do específico. Assim, triunfa o rigor (hardness) da ciência masculina sobre a imprecisão e a vagueza (softness) das abordagens, métodos e valores alternativos – ‘femininos’. No âmbito socioeconômico, é justamente a essa tarefa que se propõe a Economia Feminista: revelar esses efeitos perversos e essas relações desiguais de poder. Ou seja, a crítica feminista à Economia que discutiremos nesse trabalho pretende reconceitualizar aquelas categorias nada neutras com as quais se define, se mede e se estuda o fenômeno econômico na teoria neoclássica, colocando em questão a suposta objetividade que o modelo tradicional reclama possuir. Além disso, ela também se propõe a desenvolver novas perspectivas e novas formas de ver o mundo social e econômico que permitam tornar visível o que tradicionalmente a disciplina mantém como oculto. Palavras-chave Economia feminista, epistemologia feminista, Hugh Lacey, neutralidade de valores, objetividade, pluralismo. 132 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero O jovem macho e a jovem difícil: sexualidade, subjetividade e governo no discurso curricular Shirlei Rezende Sales do Espírito Santo1 Marlucy Alves Paraíso2 Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Resumo Este artigo trata de fragmentos dos discursos do currículo escolar e do currículo do Orkut. O trabalho argumentativo é desenvolvido com base nos dados do currículo de uma escola pública de ensino médio, bem como dos fóruns, tópicos e scraps postados nas comunidades e nos perfis das/os alunas/os dessa escola no Orkut. O Orkut é um site de relacionamentos que se autodefine como: “uma comunidade on-line criada para tornar a sua vida social e a de seus amigos mais ativa e estimulante”. O objetivo é analisar o processo de produção de subjetividades juvenis no discurso do currículo escolar e do currículo do Orkut. Orkut é compreendido como possuindo um currículo cultural, o qual é definido como parte de uma “pedagogia cultural” que, “de maneira mais ampla, nos ensina comportamentos, procedimentos, hábitos valores, e atitudes, considerados adequados e desejáveis, através de diferentes artefatos, como o cinema, a televisão, as revistas, a literatura, a moda, a publicidade, a música, etc.” (Paraíso, 2001, p. 144). A metodologia utilizada para a coleta de dados foi a observação participante, com o uso de algumas técnicas etnográficas, como o registro em diário de campo e entrevistas semi-estruturadas. 1 Doutoranda em Educação pela UFMG e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículos e Culturas (GECC) da Faculdade de Educação da UFMG. 2 Professora da Faculdade de Educação da UFMG, Coordenadora do GECC e Orientadora da pesquisa que subsidia este trabalho. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 133 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero O argumento desenvolvido é de que a sexualidade é um dispositivo acionado no discurso do currículo escolar e do currículo do Orkut, para o governo da juventude. Nesses discursos é possível perceber uma intensa regulação da sexualidade juvenil pautada na heteronormatividade. A regulação se dá por meio da tecnologia da “zuação”, a qual é composta por várias técnicas como o sarcasmo, a ironia, o deboche, o repúdio, a interdição, etc. No caso dos garotos, há nos discursos uma declarada homofobia, demandando o Jovem MACHO. Quanto às garotas, a regulação incide sobre a quantidade de parceiros nas práticas de “ficar” ou “pegar”, demandando a Jovem DIFÍCIL. É possível perceber nos discursos analisados uma espécie de guia cotidiano para que as/os jovens possam conduzir a própria existência. Essa condução se dá de maneira dispersa e heterogênea. As mais variadas condutas juvenis são alvo de toda uma tecnologia de poder que governa a juventude, ao mesmo tempo em que lhe imprime técnicas de autogoverno. A sexualidade é o dispositivo acionado nesse processo. Ela é interrogada, questionada, avaliada, por meio da tecnologia da zuação, não apenas como um modo de relação entre dois parceiros, mas como formas que o jovem e a jovem devem regular sua conduta, a partir de um lugar relacional, no cotidiano de seus comportamentos mais corriqueiros, tanto no currículo escolar quanto no Orkut. Nesses discursos, são demandadas a subjetividade do jovem macho e da jovem difícil, as quais entram em confronto com outras subjetividades lá produzidas e em outros discursos. É preciso ressaltar, no entanto, que nenhuma classificação – entre o que é risível, engraçado, aceitável ou não – está estabelecida com exatidão, em uma espécie de linha divisória clara e definitiva. No contexto atual, em que tanto a cibercultura como a educação são divulgadas como importantes instrumentos para o desenvolvimento e o progresso nacional, o discurso do currículo escolar e do Orkut assumem uma posição estratégica. A produção do jovem macho e da jovem difícil pode contribuir para o acirramento das desigualdades sexuais e de gênero. Essas subjetividades, no entanto, vão disputar com outras disponibilizadas em outros discursos, especialmente dos movimentos 134 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero feministas e GLBTTT (gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, transgêneros e travestis). Nesses é possível encontrar formas de valorizar as subjetividades marginalizadas e repudiadas no currículo escolar e no Orkut. A tecnologia da zuação e todo aparato de técnicas acionadas produzem não apenas aquilo que é considerado anormal e patológico, como também visam a demarcar as fronteiras dos comportamentos considerados normais. Discutir tão intensamente a sexualidade no currículo escolar e no Orkut, com base em uma moral patriarcal, heteronormativa e homofóbica, intensifica o poder de governo e autogoverno da juventude e pode ajudar a reforçar determinados tipos de relações sociais, em que as diferenças são vividas em termos de desigualdade e injustiça. Palavras-chave Gênero, sexualidade, subjetividade, governo, discurso curricular. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 135 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero CATEGORIA ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO Participação política e as relações de gênero: o caso do Orçamento Participativo de Belo Horizonte Autora: Uriella Coelho Ribeiro Orientadora: Dra. Marlise Miriam Matos Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Resumo Este trabalho pretende ser um instrumento de discussão sobre a participação política das mulheres no âmbito da democracia brasileira. Buscamos compreender os condicionantes da participação política feminina, na tentativa de elucidar elementos constitutivos dessa participação, especificamente no Orçamento Participativo de Belo Horizonte (OP-BH). Desde a década de 1970, num movimento crescente e consistente de pressão social rumo ao processo de redemocratização brasileira, observamos uma retomada na importância da construção de uma sociedade civil e autônoma. Este movimento abriu espaço, inclusive institucional, para a emergência daquilo que os estudos da participação em Ciência Política vêm designando por “instituições híbridas”, como é o caso dos Orçamentos Participativos, que parecem caminhar em direção à consolidação de uma combinação fértil e promissora entre representação e participação popular. A partir de então, o que se tem constatado no Brasil é a discussão, proposição, implantação e implementação de diversos arranjos e mecanismos de participação popular. Este crescimento da participação é sustentado pela aposta na sua potencialidade inclusiva e, portanto, no seu impulso à consolidação democrática no Brasil. Porém estes arranjos tendem a reproduzir desigualdades mais amplas presentes na estrutura social, porque, segundo Avritzer (s/d), o “associativismo se organiza obedecendo a padrões de desigualdade”. Partindo desta assertiva, cabe a este trabalho investigar 136 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero como que, e se, as desigualdades de gênero presentes na estrutura social brasileira estão sendo reproduzidas nessas esferas políticas brasileiras a partir da experiência do OP de Belo Horizonte. Nossa discussão parte da constatação de que existe uma presença predominantemente feminina nas primeiras plenárias e uma ocupação majoritariamente masculina das posições de liderança na Comforça (comissão fiscalizadora) do OP-BH, o mesmo se observando nos COPs (conselhos fiscalizadores) de outros OPs, como por exemplo nos de Porto Alegre, Recife e Suzano-SP. A nossa proposta é guiada pelo princípio da paridade na participação (Fraser, 2001), o qual requer arranjos sociais e institucionais que permitam uma interação mais simétrica entre membros enquanto pares. O objetivo é demonstrar que para existir uma paridade efetiva na participação de homens e mulheres na esfera política, tomando-se aqui como patamar desta participação o OP-BH, torna-se necessária a consumação de precondições materiais e simbólicas. Tratamos como exemplo de precondição material, uma eqüitativa distribuição de recursos financeiros e de tempo que permita a entrada de pessoas nessa esfera e que também garanta o direito a “voz” independente a todos os participantes. As precondições simbólicas pressupõem, por sua vez, que padrões de valoração cultural promovam igualdade e respeito entre todos os membros participantes. Valores que deveriam garantir maiores oportunidades na participação, abolindo da esfera política idéias que, de alguma forma, depreciem qualquer grupo de pessoas ou suas características peculiares. Nosso trabalho propõe pôr em xeque padrões institucionalizados – sejam materiais, sejam simbólicos – que excluam grupos considerados diferentes, ao negar-lhes a condição de pares na interação. Para atingir o objetivo proposto, analisamos documentos e informações em material de divulgação da Prefeitura de Belo Horizonte e em seu próprio sítio, buscando compreender o projeto político que estrutura o OP-BH, suas prioridades e prerrogativas. Além disso, acompanhamos o processo do OP-BH 2007/2008 desde o seu início (8/5/ 2006) até seu encerramento (15/12/2005). Os resultados do trabalho também levam em conta as análises das entrevistas realizadas com mulheres delegadas e membros da Comforça do OP-BH. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 137 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Palavras-chave Orçamento participativo, paridade participativa, relações de gênero. 138 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Penetras no “Clube do Bolinha”: a carreira política das mulheres na Câmara dos Deputados Autora: Fernanda Nunes Feitosa Barros Orientador: Luis Felipe Miguel Universidade de Brasília – UnB Resumo Dados de uma ampla amostra, de quase 12 mil discursos pronunciados nas duas últimas legislaturas, revelam que as parlamentares do sexo feminino falam sobre temáticas diferentes das dos homens – elas se pronunciam mais sobre família, infância ou educação, e menos quando o assunto é, por exemplo, política econômica. Trata-se de uma “perspectiva feminina” diferenciada que se incorpora ao parlamento, como querem alguns, ou o insulamento das deputadas nestas questões representa o reforço de um estereótipo que veda o acesso delas às posições centrais do campo político? Neste último caso, a diferença de ênfase na ação política das mulheres se deve não a uma “sensibilidade” diferente, mas às oportunidades abertas a elas no campo político. Ao mesmo tempo em que são mais permeáveis à presença das mulheres, tais temas estão associados a posições menos prestigiadas. Estabelece-se, assim, uma “divisão sexual do trabalho político”, em que correspondem às mulheres as posições menos propícias à acumulação de capital político. Palavras-chave Política, mulheres, cotas, representação, igualdade. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 139 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Relações de gênero e rock’n’roll: um estudo sobre bandas femininas de Florianópolis Autor: Rodrigo Cantos Savelli Gomes Orientadora: Maria Ignez Cruz Mello Universidade do Estado de Santa Catarina – Udesc Resumo Esta investigação tem como objetivo refletir sobre como as relações de gênero, instituídas de poder, prestígio, hierarquia e discriminações afetam, modelam e estruturam o discurso e a performance musical das integrantes das bandas femininas da região da Grande Florianópolis, Santa Catarina. Sendo a música uma das manifestações culturais mais próximas do cotidiano das pessoas, esta pesquisa parte do princípio que a mesma pode estar diretamente afetada por essas determinações (Brett e Wood, 2002), seja reproduzindo, afirmando, seja contestando modelos e costumes vigentes. Num primeiro momento, este trabalho consistiu em uma sondagem sobre quais são os grupos femininos, quem e quantas são as integrantes, onde moram, onde e para que tipo de público se apresentam, que instrumentos e estilos de música tocam ou cantam. Indiscutivelmente, um dado que veio à tona logo nas primeiras buscas é que a quantidade de grupos formados exclusivamente por homens supera exorbitantemente o número de grupos musicais femininos. Em Florianópolis, foram encontrados cinco grupos musicais formados apenas por mulheres. Entre Elas – conjunto de pagode que vem se destacando há cerca de um ano na região; Declínio do Sistema – conjunto de hip-hop que explora em suas letras questões relacionadas à temática feminina, preconceito sexual e racial; Dorotéia vai à Praia – grupo que se tornou nos últimos anos um dos principais representantes na cidade no gênero rock’n’roll; Cabeça de Alface – formado em 2003 por três garotas – desenvolve um trabalho de composições próprias, no 140 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero estilo rock alternativo; Carpe Diem Septem – banda de rock constituída recentemente por cinco adolescentes que vem, aos poucos, realizando apresentações musicais nos bares e eventos da cidade. Durante a pesquisa foi possível perceber que, no rock, a presença de mulheres é muito mais significativa que em outros gêneros musicais. A evidência surgiu ao perceber que, das 23 bandas levantadas durante a investigação (tanto nacional quanto regionalmente), dezenove se enquadram neste gênero. A mesma constatação se deu em Florianópolis, onde das cinco bandas femininas três são adeptas do rock’n’roll. Neste processo, percebemos que a preferência das mulheres pelo rock promoveu o surgimento de uma nova categoria ou subgênero, conhecido como “rock com vocal feminino”, e a promoção de encontros e festivais específicos para elas, como por exemplo o Festival de Rock Feminino de Rio Claro (SP); Felina, Festival de Rock Feminino de São Paulo (SP); Festival Nacional de Punk Feminino de Goiânia (GO); Festival de Música Mulheres no Volante de Juiz de Fora (MG); Festival Kaoscinha de Joinville (SC); a criação da Rádio Feminina de Goiânia (GO), especializada no gênero rock’n’roll, bem como a criação do programa Mundo Rock de Calcinha filiado à rádio Mundo Rock de São Paulo (SP). Apesar da ampla atuação das mulheres neste gênero musical, o rock ainda é entendido como um universo masculino, conforme vários autores puderam constatar (Walser, 1993; Chaves, 2006; Media, 2006; Sartori, 2006; Jacques, 2007). Contudo percebemos ao longo do trabalho que a participação feminina no rock abriu espaço para o surgimento de uma nova categoria – rock com vocal feminino –, bem como a promoção de eventos musicais específicos para elas, o que tem demonstrado que sua participação ao longo dos anos não as coloca como meras coadjuvantes, mas sim como condutoras de transformações significativas para este universo musical. A crescente participação das mulheres no meio musical – seja como produtoras, seja como consumidoras – faz transparecer a necessidade de novos estudos e reflexões sobre o tema pela musicologia Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 141 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero contemporânea, ainda pouco pesquisado, apesar da conquista de novos espaços e da crescente visibilidade de grupos femininos. Palavras-chave Relações de gênero e música, bandas femininas, etnomusicologia. 142 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero MENÇÃO HONROSA Categoria Graduado: Dijaci David de Oliveira, da Universidade de Brasília (UnB), tendo como orientadora a Profª Lourdes Maria Bandeira, com o trabalho “Desaparecidos civis: um problema de gênero e geracional”; Elizabeth da Penha Cardoso, da Universidade de São Paulo – USP, tendo como orientador o Prof. Bernardo Kucinski, com o trabalho “Presença da imprensa feminista no Brasil”. Categoria Estudante de Graduação: Lucas Coradini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tendo como orientadora a Profª Anita Brumer, com o trabalho “Autonomia e projetos profissionais das jovens na agricultura familiar do Rio Grande do Sul”; Daphne Oliveira Soares, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo como orientadora a Profª Ilka Bichara, com o trabalho “Um estudo exploratório sobre o turismo sexual na cidade de Salvador, através da visão dos facilitadores dessa prática”. Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 143 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero REDAÇÕES PREMIADAS – ETAPA NACIONAL CATEGORIA ESTUDANTE DO ENSINO MÉDIO Tema: Marias de Nascimento Isabella Luchi Coutinho CEFET – Vitória – ES “Acordei assustada, olhei o calendário e fiquei surpresa. Já havia passado 6 meses que estava aqui. É muita hipocrisia de minha parte dizer que meus dias têm sido bons. O quê? Acha que eu estou exagerando? Espero que não. Tudo bem... desculpe-me. Você não tem culpa de eu ter sido idiota. Ah, você nem pensa! Nunca achei que fosse discutir com um diário. Se é que posso chamar essa droga de papel higiênico de diário! Uma hora o Ailton vai descobrir e... Todos os dias ele vem com aquela conversa: Que droga, Maria! Onde é que você tá enfiando essa merda desse papel que acaba toda hora? Se ele descobre, eu apanho de novo. Droga! Ouvi o barulho do carro. Vou parar por aqui, ele está chegando. Ai, meu Deus! Ouço risadas... Acho que ele trouxe mais meninas. Coitadas! Elas não sabem. Não sabem como é viver aqui. Acham que é uma Agência de Modelos... Vão parar de rir daqui a pouco”. “Mas, que droga! Isso é insuportável! Não posso agüentar. Lembra-se das meninas de ontem? Pois é... já pararam de rir. Ele é imundo! Todos eles são! Que droga de bordel nojento! Ailton nojento! Você e essa sua barriga saliente, sua cara de vagabundo! Ser imundo! Ainda me lembro daquele dia. Não posso esquecer, nunca conseguirei. Ele rasgou minha roupa e começou a beijar meu corpo. Eu me 144 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero debati, chorei, gritei, rezei... E ele continuou. Arrastou aquela barba nojenta pelo meu pescoço, seios, umbigo... Argh, aquela barba nojenta! Então, tirou as calças e... Um grito de dor saiu dos meus lábios. Era um ódio profundo. Ódio de todos, dele, do mundo! E o sangue começou a descer pelas minhas pernas... e as lágrimas pelo rosto.” “Aqui é Maria do Nascimento, 17 anos. Por favor, se alguém encontrar esse bilhete, informe aos meus pais que eu... Diga a eles que os amo. É... diga isso. Eu não queria ter fugido de casa, sabe? Eu, eu só queria ser empresária, dona da minha própria grife, ser modelo! Ah, droga! DROGA! Ele tá vindo... Não deixe, Mãe! Por favor?! Não deixe ele me pegar...” “Eu consegui! Eu fugi! Mas não vou durar muito, ele tá bravo comigo. É porque eu ajudei as meninas a fugirem ontem. Eu ia com elas, mas elas ligaram a caminhonete e aceleraram. Eu não consegui correr o suficiente... Daí, vi Ailton correndo com o cinto na mão e tentei fugir. Achei uma cabaninha e aqui estou. Mas ele vai me achar, sei que vai.” “Por que dói tanto, mãe? Por quê? Por que fui tão idiota? Por que você não me avisou que ia ser assim...?” “Na semana passada eu senti muito enjôo e vomitei bastante. Achei que estava grávida. Só não sabia de quem... Afinal, ninguém aqui se preocupa com isso. No desespero fui falar com Ailton. Mas que burra eu sou! Tão ingênua... Pensei que ele fosse se sensibilizar. Afinal de contas, tratava-se de uma criança, de uma vida. Eu falei... ele me ouviu e refletiu alguns segundos. Logo após, deu uma gargalhada e começou a socar a minha barriga. Ele me bateu tanto, tanto... Comecei a cuspir sangue. Parecia que quanto mais sangue ele via, mais me espancava. Mas isso não foi nada. Pior foi ele ter me jogado no chão e, como naqueles filmes de luta livre, atirou-se contra mim. Eu gritei. Pude ouvir, também, o grito daquela criança dentro de mim. Imediatamente comecei a sangrar – dessa vez não era pela boca. Senti um líquido quente descer e quando percebi, Ailton havia saído, deixando-me sem forças para levantar.” Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 145 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero “De quem é a culpa, mãe? Minha? Sua? De quem? Sei que não sou a primeira, e muito menos a última a passar por isso. Sei que, como eu, existem muitas Marias do Nascimento por aí! De quem é a culpa? Desse bando de políticos que desviam verba do país? Desse bando de ‘patricinhas e mauricinhos’ que não sabem nem fritar um ovo, torram o dinheiro dos pais e ainda por cima reclamam por só terem ido aos 39 dos 40 Micaretas do ano? Será que os culpados são os machistas nojentos que batem em suas mulheres? Ou será que a culpa é dos pais que largam os filhos ao ‘Deus dará’ para encher a cara de cachaça? Que dão um pacotinho de baseado, crack e maconha pro filho ir fazer uma entrega na boca de fumo ali do lado? DE QUEM É A CULPA, MÃE? Eu só queria ter meu próprio negócio. Minha grife de moda... Por que aquela indústria me recusou, mãe? Por quê? Eu era muito mais inteligente e prestativa que aquele retardado do Jorge que foi contratado! Por que não eu? Por que eu sou MULHER? Por que eu sou NEGRA? Foi por isso? Esse emprego era a minha única oportunidade de aprender como se gerencia uma grande empresa, e ainda juntar um bom dinheiro... Seria perfeito! Será que se, hoje, eu fugisse e tentasse mais uma vez eles me dariam uma chance? Quer saber? Se não me aceitaram enquanto jovem e bonita, com certeza não vão me aceitar maltrapilha, marcada e estuprada. Mãe, diga para mim: qual é o sentido da vida? Diga-me, pois já esqueci. E pensar que nesse exato momento existem pessoas rindo, dançando, sonhando com um futuro brilhante... Ele me achou. Ouço seus passos. Vai me matar, eu sei. Mas isso não importa mais. Agora estou calma. Já estou morta. Quer dizer, eu não morri para o mundo; o mundo é que morreu para mim.” *** “Querido diário, hoje saí cedo de casa para ir à praia com minhas amigas. Chegando lá, notei que um homem bonito e bem vestido me olhava. Passados alguns minutos, ele se aproximou e me entregou um 146 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero cartão. Olhei para ele, sorri e agradeci. Quando ele se afastou, amassei o cartão e o joguei no lixo. Se tivesse sido ontem, talvez até aceitasse. Mas, hoje, não aceitaria tal convite de modo algum! Não depois do sonho que tive”. Já sei! Está se perguntando o que estava escrito no cartão, não é?! Pois bem, vou te contar. Nele, lia-se: “Agência de Modelos, venha realizar seu sonho e se tornar uma mulher poderosa!” Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 147 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Tema: O Encontro – da diversão à reflexão Fernanda Resende Serradourada Colégio Olimpo – Goiânia – GO Assustadas com a recente morte de Rapunzel, cujo cabelo ficara preso na roda de um carro, quebrando o seu pescoço, e com a Bela Adormecida que, traumatizada com um desquite litigioso, está internada numa clínica fazendo sonoterapia, as quatro amigas mal conseguem tomar seu chá. Estes seus encontros semanais, outrora tão cheios de alegria, confidências e reminiscências, estão se tornando aborrecidos. Cinderela suspira: — Os tempos mudaram, nós estamos ficando velhas... Chapeuzinho Vermelho ajeita distraidamente o seu chapeuzinho laranja ocre. Era mais uma vítima da mídia que, mesmo gostando tanto do vermelho, adotara o laranja porque era a última moda parisiense. Ela havia se envolvido, recentemente, num processo de agressão com o Lobo Mau (que, aliás, já estava envolvido em um processo de desapropriação com os três porquinhos). — Não pode se queixar da vida, Cin, observa Branca de Neve, cuja palidez havia cedido lugar a um bronzeamento artificial. Você se casou com um príncipe, sua sapataria vai bem... — Pois eu largaria tudo isso. Lembram-se daquele príncipe lindo, gentil e romântico com o seu cavalo branco, o sonho de toda mulher? Pois é, menina, acabou se transformando num barrigudo que só sabe assistir futebol e beber cerveja enquanto eu cozinho, lavo e PASSO! E pensar que um dia eu fui chamada de Pantera Borralheira. Velhos tempos... — Não acredito! — Que canalha! 148 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero — E eu, gorda desse jeito e ainda chamada de Mariazinha... quem fala é a irmã de Joãozinho, protagonista de um famoso caso de desencaminhamento de menores na floresta. Ela come compulsivamente. Seu analista já lhe explicou que ela come para se autopunir de um sentimento incestuoso por Joãozinho, que também é enorme de gordo. — Você também sente falta dos velhos tempos, Branca? Diz Mariazinha. — Deus me livre! Vocês não sabem o que era cuidar da casa para sete anões. Todos os dias fazer as sete caminhas, lavar sete cuequinhas... Uma vez um deles se embriagou e invadiu o meu quarto, mas com a ajuda da bruxa eu o atirei pela janela. — Com a ajuda da bruxa? Mas vocês não eram inimigas? — Que nada! As bruxas eram mulheres bonitas, inteligentes, insubmissas... Já viu onde vai dar, né? Com mulheres assim os homens ficaram com tanto medo que as chamaram de bruxas, e elas acabaram sendo queimadas na fogueira durante a Idade Média. Foi o pior massacre da literatura infantil... — Coitadas... — Bom, já que começamos com as revelações, vou contar do meu caso com o cocheiro. O príncipe, afinal, só queria saber de futebol e cerveja, quando muito ele queria acariciar o meu pé, diz Cinderela. — O tal que era um rato e virava cocheiro com o toque de varinha mágica? — É esse mesmo! — E o seu príncipe encantado, Branca? O que acordou você com um beijo depois da morte, depois que você mordeu a maçã envenenada. Você também se arrependeu? — Só posso dizer que, comparando os dois, gostei mais da maçã. — Vocês é que são felizes, diz Cinderela, apontando para Chapeuzinho e Mariazinha, que está com a boca cheia de biscoito. Não Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 149 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero tiveram “príncipes encantados” em suas vidas. Vejam a Bela Adormecida, esta pelo menos teve a coragem de pedir desquite. Nós não podemos. O tal “e viveram felizes para sempre” é um compromisso moral. Parece que não temos saída. Quer dizer, ninguém pode nos culpar por termos amantes. Eu não posso ver um rato sem pensar num cocheiro e usar a minha varinha mágica. E a Branca aqui pega qualquer um também. — Não sendo anão... — Nós fomos bobas, isso sim, continua Cinderela. A Rapunzel continuou com suas tranças porque seu príncipe encantado a proibiu de cortar os cabelos, e olhem o que aconteceu. Se no nosso tempo já existisse feminismo, Lei Maria da Penha... Nossas histórias seriam outras! — Certo! Eu botava os anões a trabalhar para mim. E não seria comprometida com o príncipe só porque o beijo me ressuscitou. Ele não me compraria por tão pouco! Diz Branca de Neve. — E eu, em vez de ficar em casa sendo subordinada ao príncipe, ia sair, arranjar um emprego, estudar Comunicação, sei lá... Diz Cinderela. — Meu analista disse que a culpa do meu trauma de infância foi minha dependência excessiva do Joãozinho, diz Mariazinha. — E eu me deixei enganar inocentemente por um lobo! Exclama Chapeuzinho. Se já existisse a Lei Maria da Penha, eu ganharia o processo de agressão com o Lobo Mau, e a Rapunzel não estaria morta! — Poderíamos fazer algumas passeatas, queimar alguns sutiãs, idolatrar Simone Beauvoir... — É isso aí! Mostraríamos quem é o verdadeiro sexo frágil e não seríamos discriminadas apenas por não termos uma genitália masculina entre as pernas! — E nós não seríamos mais vítimas da mídia, nem de modas e tratamentos sádicos, teríamos mais amor próprio! 150 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero — Sim! Acabaríamos com aquelas piadinhas preconceituosas e idiotas, não é mesmo Cin? Mas Cinderela não estava ouvindo. Seu olhar fixo num canto da sala e um sorriso malicioso. Lentamente, sem desviar o olhar, ela procura na bolsa pela sua varinha mágica. — O que é, Cin? — Sssshh. Acho que vi um rato. E dos grandes! Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 151 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Tema: Uma certa Maria Leonardo Francisco de Azevedo Colégio Tiradentes – Lavras – MG Sou uma simples Maria, uma Maria como tantas outras, casada, 40 anos, cinco filhos lindos e um marido. Moro no subúrbio de uma grande cidade, e meu trabalho consiste em tentar pôr em ordem minha casa e fazer com que meus filhos freqüentem a escola, apesar das dificuldades de comprar caderno e lápis para eles. Meu marido trabalha na construção civil, metade do seu salário vai para o boteco da esquina. Ou seja, tenho que me virar nesse mundão de Deus com o pouco de dinheiro que me resta. Tempos atrás, meus filhos já tinham ido para a escola, eu coloquei a roupa suja na bacia e estava indo para a “biquinha” ali embaixo, quando comecei a ficar meio tonta. As pessoas, as crianças, as casas, os postes, tudo começou a girar. Depois disso, comecei a cair e, a partir daí, parece que pousei em outro lugar, numa outra época, em outro país. Ao passar por onde estava comecei a lembrar de tudo que eu já tinha lido no livro de História do meu filho mais velho (meu sonho era ser professora de História). Parecia que estava numa cidade medieval, numa época de guerra. Eu via homens saindo para a luta, e suas mulheres sendo deixadas em casa com cintos de castidade, e eles levando as chaves dos cadeados. As mulheres ficavam ali, sem ação, esquecidas com aquele metal desconfortável no meio de suas pernas. Continuando minha caminhada, fui transportada para uma praça. Vi uma mulher pregada num toco bem no centro e com um monte de madeira em sua volta. Fiquei aterrorizada com aquilo, e havia um homem dizendo que tal mulher era uma bruxa que estava elaborando em seu esconderijo planos terríveis contra a amada Igreja deles. Simplesmente colocaram fogo em sua volta – ela ficou ali no meio esperando para se tornar carvão –, enquanto as pessoas batiam palmas e gritavam. 152 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero Saí desesperada dali e tropecei no pé de um indivíduo, caí bem no meio de uma rua de Londres, onde estava acontecendo uma passeata de mulheres. Pelo que pude ouvir de um grupo de homens e mulheres conservadores na beira da rua, eram umas tais sufragistas que queriam também votar, o que era exclusivo para homens. Fiquei encantada com a coragem e ousadia daquelas mulheres, que levantaram a cauda de seus vestidos e iam se arrastando e gritando por aquelas ruas. Fiquei ali olhando aquilo quando pisquei os olhos e me vi numa rua de São Paulo, no meio de um comício em que uma tal candidata à deputada estadual, Patrícia Galvão, que as pessoas chamavam de PAGU, fazia um discurso emocionado sobre o papel das mulheres na política e na sociedade. Fiquei impressionada com a indignação daquela mulher em cima daquele palanque, desafiando os poderosos de seu tempo. Achei muito interessante aquilo tudo, mas resolvi continuar a caminhada. Entrei num beco ali perto e saí numa rua dos Estados Unidos, em que mulheres gritavam e queimavam sutiãs, no meio da rua. Fiquei apavorada com aquilo. Eu, com pouquíssimos sutiãs na minha gaveta, e elas ali queimando os seus. Só depois que li as faixas e ouvi o comentário dos que estavam observando o movimento que fui entender que aquilo fazia parte de uma manifestação de umas tais feministas que reivindicavam seus direitos. Novamente presenciei a força das mulheres. Fiquei meio perdida no meio daquela confusão e, sem querer, entrei num mercado ali perto e caí numa rua de Paris, em que Simone de Beauvoir fazia parte de uma manifestação do Mouvement de Libération des Femmes, MLF, a favor do direito ao aborto e à prevenção da gravidez. Fiquei impressionada com a coragem daquela mulher, que já não era mais tão jovem, mas que lutava com gana e garra por aquilo em que acreditava. Tudo começou a girar, caí no meio de um show da Rita Lee, ouvi uma música que me contagiou por inteira e me fez lembrar daquilo que eu tinha acabado de vivenciar: Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 153 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero “Mexo e remexo na inquisição Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão [...] Minha força não é bruta Não sou freira, nem sou puta Porque nem toda feiticeira é corcunda Nem toda brasileira é bunda Meu peito não é de silicone Sou mais macho que muito homem Sou rainha do meu tanque Sou Pagu indignada no palanque Fama de porra louca... tudo bem Minha mãe é Maria ninguém [...]” Depois, num susto total, acordo em cima da minha cama, com todas as minhas vizinhas em volta, falando alto, colocando compressa na minha testa, tirando minhas sandálias. Comecei a observar aquelas mulheres, todas no mesmo ofício que o meu, ralando na mão de marido e se multiplicando para dar conta das vontades dele, das necessidades dos filhos e da ordem da casa e, além disso, agüentando a humilhação das pessoas na rua, que nos chamam de folgada, à toa, sem trabalho. Hoje, penso em tudo que vi e vivi naquela experiência louca e decido que não continuarei nessa minha posição. Deixei de lado meus estudos, minhas vontades, meus sonhos para agradar o meu marido, esperando que ele me desse um futuro bom e promissor, mas ganhei em troca essa mísera casa no subúrbio, estando vulnerável a todo e qualquer tipo de violência. Basta! Foram muitas as mulheres que já ralaram e lutaram nessa vida contra essa nossa posição imposta. Está na hora de sair dessa minha inércia e tornar a atriz principal da minha vida. E vou começar agora... 154 Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero RELAÇÃO DAS(OS) PREMIADAS(OS) POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO Unidade da Federação Candidatos (as) Jones Pedro Gomes Escola Estadual Dr. Antônio Gomes de Barros – Novo Lino – AL Raul Holanda Oliveira Magalhães EEFM Deputado Joaquim de Figueiredo Correia – Iracema – CE ALAGOAS CEARÁ DISTRITO FEDERAL ESPÍRITO SANTO GOIÁS MARANHÃO João Paulo Sousa Maciel CEM 01 de São Sebastião – DF Isabella Luchi Coutinho CEFET Fernanda Resende Serradourada Danilo Almeida Silva Colégio Olimpo Maiara Larissa Daronco MATO GROSSO MINAS GERAIS PARÁ PERNAMBUCO RIO DE JANEIRO RIO GRANDE DO NORTE Leonardo Francisco de Azevedo Zilmara Zamyla da Silva Almeida Adélia Andrade de Araújo Pedro Eduardo Ferreira Mikael Nilton de Araújo RIO GRANDE DO Melissa Vanzella SUL Bruna Angélica Borges RONDÔNIA Filipe de Freitas Serafim SÃO PAULO Escola Centro de Ensino Inácio Passarinho – Caxias – MA Colégio Mãe da Divina Providência – Primavera do Leste – MT Colégio Tiradentes Colégio Pitágoras de Carajás – Parauapebas – PA Escola de Aplicação Prof. Chaves – Aliança – PE CES – Petrópolis – RJ Escola Estadual Vicente de Fontes – João da Penha – RN Instituto Rio Branco – São Leopoldo – RS Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Carlos Gomes – Cocoal – RO Escola Municipal de Ensino Médio Vereador Antonio Sampaio – São Paulo – SP Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007 155 Terceira edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero MENÇÕES HONROSAS CONCEDIDAS Unidade da Federação SÃO PAULO SÃO PAULO 156 Candidatos (as) Escola Valdemar Alves Ferreira Escola Estadual Prudente de Moraes – São Paulo – SP Eraldo Souza dos santos CEFET – São Paulo – SP Educ. bras., Brasília, v. 29, nos. 58 e 59, p. 125-156, jan./dez. 2007