MAURÍCIO TADEU DOS SANTOS OROSCO O COMPOSITOR ISAIAS SAVIO E SUA OBRA PARA VIOLÃO Dissertação apresentada ao Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção de título de Mestre em Artes. Linha de Pesquisa: Forma e estrutura na música brasileira Orientadora: Prof ª. Dr ª. Flávia Camargo Toni USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ECA – ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES (Dissertação desenvolvida com bolsa de mestrado da FAPESP) São Paulo Agosto de 2001 2 MAURÍCIO TADEU DOS SANTOS OROSCO O COMPOSITOR ISAIAS SAVIO E SUA OBRA PARA VIOLÃO (Dissertação desenvolvida com bolsa de mestrado da FAPESP) 3 BANCA EXAMINADORA -----------------------------------------------------Presidente: Prof ª. Dr ª. Flávia Camargo Toni -----------------------------------------------------2.º Examinador: Prof. Dr. Mário Ficareli -----------------------------------------------------3.º Examinador: Prof. Dr. Giácomo Bartoloni 4 AOS MEUS PAIS: ANTONIO OROSCO PALMA ELISA IDA DOS SANTOS OROSCO 5 AGRADECIMENTOS Ao colecionador Ronoel Simões, pelas entrevistas e consentimento para consultas ao antigo acervo de Isaias Savio, atualmente em seus cuidados. Aos ex-alunos do compositor entrevistados, violonistas e professores Antonio Guedes, Floriano Gomes Rosalino, Henrique Pinto, José de Oliveira, Maria José Passareli, Mariana Menezes, Paulo Bellinati e Paulo Porto Alegre. Ao pessoal do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, pela hospitalidade durante as pesquisas no acervo da instituição. Ao diretor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, Júlio da Cruz Navega Neto e à bibliotecária Vera Centin Cassarello pela atenção e auxílio na procura de documentos. Ao técnico de gravação e mixagem Pedro K öhler do Lami (laboratório de acústica musical e informática) - ECA/ USP, pela paciência e conselhos durante todo o processo de gravação do CD, que complementa esta dissertação. Aos amigos violonistas Gilson Antunes, pelo material de apoio, conhecimento e participação na gravação dos duos de Savio e, Victor Castellano, pela edição final do material fonográfico. À Soroptimista Terezinha M. Calçada Bastos, pelo apoio na forma de patrocínio quando da aquisição do violão n.º 440 do luthier Sérgio Abreu, utilizado na gravação. Aos colaboradores indiretos Ademir e Angela Faccioli, Antenor de Arruda Camargo, Érica de Campos Vicentini, Edelton Gloeden, Gina Frosini, Giácomo Bartoloni, Ricardo Marui, Sérgio Abreu e Teresinha Prada. À Maria Elena dos Santos, minha tia e Adriano José dos Santos Orosco, meu irmão, pelo carinho e apoio técnico em assuntos relacionados à lida com computadores e programas. Aos professores Dr. Marco Antonio da Silva Ramos e Dr. Mário Ficarelli, pelo incentivo. À minha orientadora Dra. Flávia Camargo Toni, pelo ensinamento intenso durante todo o desenvolvimento do mestrado. À FAPESP, pela bolsa de estudo que viabilizou a concretização desse trabalho. 6 RESUMO O presente trabalho tem por foco as composições do professor e violonista uruguaio naturalizado entre nós, Isaias Savio (1900 - 1977). O estudo deste repertório abrangeu contextualização, análise, classificação, interpretação, atualização frente a alterações pós-edição encontradas e catalogação. Fez parte também do projeto de pesquisa, a gravação de um CD com peças representativas da classificação proposta com intuito de mostrar, por meio de sons, a variedade musical destas composições e reforçar nossos argumentos a favor do interesse artístico das mesmas. 7 ABSTRACT The present work has its focus on the compositions by Uruguayan teacher and guitarist Isaias Savio (1900-1977). The studie of this repertory ranges contextualization, analisis, classification, interpretation, updating towards the changes post-edition that was found and catalogue. The research includes the recording of a CD with representative pieces of this classification that shows, by sound means, the musical variety of the compositions and reinforce our arguments in favor of their artistic value. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................... p. 9 CAPÍTULO I: O VIOLÃO EM SÃO PAULO....................................... p. 11 I.1. PRECEDENTES HISTÓRICOS........................................................... p. 11 I.1.1. Pontos principais desde os primórdios da história brasileira.............. p. 11 I.1.2. O violão popular em São Paulo......................................................... p. 15 I.1.3. Os primeiros violonistas concertistas................................................. p. 19 I.2. A ESCOLA DE ISAIAS SAVIO.......................................................... p. 26 I.2.1. Constituição, princípios técnicos e adaptação à realidade brasileira . p. 26 I.2.2. Resultados .......................................................................................... p. 36 CAPÍTULO II: O COMPOSITOR ISAIAS SAVIO.............................. p. 40 II.1. APRECIAÇÃO DE BIBLIOGRAFIAS............................................... p. 40 II.2. DADOS BIOGRÁFICOS..................................................................... p. 43 II.3. PERSONALIDADE ARTÍSTICA E PROVÁVEIS INFLUÊNCIAS p. 56 II.3.1. Alguns aspectos do pensamento musical ......................................... p. 56 II.3.2. Diversidade estilística ...................................................................... p. 61 II.3.3. Influências específicas...................................................................... p. 65 CAPÍTULO III: COMPOSIÇÕES DE ISAIAS SAVIO........................ p. 71 III.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................................ p. 71 III.2. CONCEITUAÇÃO DO MATERIAL MUSICAL ............................. p. 74 III.2.1. Procedimentos gerais e conseqüente divisão das composições em grupos e subgrupos....................................................................................... p. 74 III.2.2. Análises de peças representativas dos subgrupos ........................... p. 87 III.3. CONCEITUAÇÃO DO MATERIAL VIOLONÍSTICO................... p. 94 III.4. PRELÚDIOS PITORESCOS............................................................... p. 100 CAPÍTULO IV: CATÁLOGO COMENTADO...................................... p. 106 IV.1. JUSTIFICATIVAS E CRITÉRIOS.................................................... p. 106 IV.2. ELENCO DAS PEÇAS...................................................................... P. 110 IV.3. RELAÇÃO DAS CASAS PUBLICADORAS................................... p. 253 CONCLUSÃO............................................................................................ p. 255 BIBLIOGRAFIA......................................................................................... p. 266 9 INTRODUÇÃO O objetivo desta dissertação é atrair o interesse dos violonistas para as composições de Isaias Savio. A necessidade deste trabalho partiu da constatação do descaso para com esta faceta da obra do autor estudado. A sistematização do ensino do violão no país por Isaias Savio foi, sem dúvida, sua contribuição mais marcante, pois propiciou grande divulgação do instrumento e também o surgimento de inúmeros professores e violonistas de destaque, neste caso, graças à sua intervenção direta como professor. Não obstante, Savio promoveria, paralelamente, um repertório de grande interesse musical, o que procuraremos mostrar no decorrer desta dissertação. Contextualizando o músico Isaias Savio e sua contribuição como um todo à história do violão em São Paulo e, por extensão, no Brasil, recorremos a fontes documentais diversas como bibliografias, métodos, partituras, gravações, periódicos, jornais, entrevistas com ex-alunos, arquivos particulares ou não e monografias voltadas ao instrumento. Dentre os trabalhos acadêmicos utilizados estão a dissertação de Marco Pereira sobre Villa-Lobos, a de Edelton Gloeden sobre o ressurgimento do violão no século XX, a de Giácomo Bartoloni sobre o violão na cidade de São Paulo no período 1900 - 1950 e, deste também, a tese sobre a história do violão desde seus primórdios. Para o trabalho direto com as composições, além do suporte teórico, nos submetemos à prática constante das mesmas ao violão para complementar as análises técnicas violonísticas e/ou musicais e emitir sugestões de interpretação mais acertadas. Dividimos nossa dissertação em quatro capítulos para abranger os estudos citados: O capítulo I apresenta, em partes separadas, precedentes históricos do violão no Brasil colonial, dados da prática violonística na cidade de São Paulo nos séculos XIX e XX, informações sobre os primeiros violonistas concertistas, constituição da escola violonística de Isaias Savio e os resultados deste empreendimento. No capítulo II tratamos do músico Isaias Savio, analisando escritos a seu respeito, elaborando um verbete abrangente e dedicando ao compositor uma parte com três subdivisões, onde apontamos aspectos variados de sua personalidade artística. 10 O capítulo III é dedicado às análises das composições representativas dos grupos e subgrupos, de acordo com a classificação proposta. A última parte deste capítulo trata unicamente dos Prelúdios Pitorescos, em virtude dos procedimentos composicionais exclusivos destas peças. No capítulo IV, apresentamos o catálogo comentado das composições de Isaias Savio. Neste catálogo consta, para cada peça, todas as informações de edição que levantamos, datas e dados conflitantes, bem como análise musical e violonística básica com sugestão de interpretação. Transcrevemos também nesta parte as alterações pósedição efetuadas pelo compositor em suas partituras não reeditadas. Encontramos estas alterações durante consultas ao acervo de Ronoel Simões, nos álbuns pertencentes a Isaias Savio anteriormente. Trata-se, portanto, de um trabalho amplo cujo intuito principal é a retomada de um repertório específico, que foi editado a partir de fins da década de vinte e que conta atualmente com poucas músicas em circulação. Esperamos também, com esta dissertação, contribuir com o que vem sendo feito pelo violão no meio acadêmico, colaborando para o estabelecimento de uma linha de investigação importante e necessária para a música brasileira. 11 CAPÍTULO I: O VIOLÃO EM SÃO PAULO I.1. PRECEDENTES HISTÓRICOS I.1.1. Pontos principais desde os primórdios da história brasileira Escrever uma história sobre o “violão brasileiro” é tarefa para um estudo em que o referido tema seja o principal objeto de pesquisa para que haja uma contribuição efetiva ao mesmo. Considerando o caráter somente contextualizador deste texto inicial e sua respectiva função introdutória ao nosso objeto de estudo, a obra de Isaias Savio, não faremos mais que comentar pontos importantes levantados e debatidos por alguns estudiosos, relacionados de forma direta ou indireta com a evolução do violão no país. Procuraremos, nesta parte, mostrar em linhas gerais, o possível caminho percorrido pelos instrumentos de cordas dedilhadas de um modo geral até a predominância do violão nas cidades, em meio ao processo de urbanização. Para tanto, consideraremos somente os instrumentos viola e violão, pela maior veiculação de referências nos escritos de maneira geral, representando respectivamente o ambiente rural e o urbano. Também escapa aos nossos objetivos qualquer reflexão quanto ao emprego, às vezes equivocado, dos termos guitarra e viola. Com estas condições, poderemos tratar das informações a seguir unicamente como forma de contextualizar diretamente o processo urbano e musical pelo qual passou a cidade de São Paulo, o que veremos no texto seguinte (I.1.2.). Feitas as considerações, passemos à reflexão. A popularidade da viola e do violão como instrumentos acompanhantes é certa, mas vejamos como isso se deu. Ainda em Portugal de 1500, verificamos a passagem da era medieval para o novo regime de relações de produção pré-capitalista e, ao mesmo tempo e por conseqüência disto, no âmbito das cidades, das atividades coletivas de entretenimento à canção a solo com acompanhamento do próprio intérprete à base de viola. No país colonizador, como reflexo do novo costume, veremos que a cidade de Lisboa, já nos anos de 1551 e 1552, possuía quinze ou dezesseis fabricantes de violas1. 1 TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Ed. 34, 1998. p. 28. 12 No Brasil é tida como certa a relação da viola, entre outros instrumentos, com a catequese dos primitivos habitantes. Renato Almeida se refere à viola como “o instrumento fundamental do cantador do interior e um dos mais antigos no Brasil”, afirmando em seguida que “já no tempo da catequese, os padres ensinavam o seu manejo”2. Sobre a música do período colonial brasileiro, Mário de Andrade a define como a fase Deus, ou seja, predominantemente religiosa, mas entende também que o “povo misturado [...] feito por portugueses, africanos, ameríndios, espanhóis, trazia junto com as falas, as cantigas e danças que a Colônia escutava”3. Portanto, juntamente com o cultivo maior de gêneros religiosos haveria também, por certo, gêneros populares, ao qual no entanto o autor atribui, indiretamente, ao se referir a algumas violas encontradas em inventários paulistas, um significado histórico nulo, dizendo que “função histórica, nos três primeiros séculos de colônia, só adquirem as manifestações teatrais e religiosas”4. Já o historiador José R. Tinhorão, ao considerar que “os portugueses integrados na vida colonial não deixariam de aproveitar o repertório trazido de suas regiões de origem”, o faz imaginando o começo de uma linha do cultivo do canto acompanhado, portanto, de significado histórico não tão nulo. Podemos constatar esta intenção do autor através de alguns argumentos usados para a comprovação de sua tese maior: a origem brasileira da modinha. Dentre estes argumentos destacam-se: os retirados dos “papéis resultantes das visitações do Santo Ofício da Inquisição ‘`as partes do Brasil”, onde constam informações sobre a execução das referidas cantigas a solo em uma comédia encenada por volta de 1580, cantigas estas “favorecidas pela proliferação das guitarras ou violas como instrumento acompanhante”5; e o dos escritos de Sílvio Romero, os quais, segundo Tinhorão, se lidos por Mário de Andrade, fariam o polígrafo paulistano entender que “as modinhas populares urbanas do século XVIII [...] jamais deixaram de ser cantadas no Brasil”6. Pelo exposto acima, podemos subtender nos escritos do historiador carioca uma possível linha de evolução dos gêneros populares acompanhados por instrumentos de 2 ALMEIDA, Renato. História da música brasileira. Rio de Janeiro, F. Briguiet & Comp., 1926. p. 113. ANDRADE, Mário de. Pequena história da música. 9. ed. Belo Horizonte, Itatiaia. 1987. p. 171. 4 Idem, ibidem, p. 156. 5 TINHORÃO, José Ramos. op. cit., p. 44. 6 Idem, ibidem, p. 119. 3 13 cordas dedilhadas no Brasil colonial, que resultariam bem mais tarde na modinha brasileira acompanhada pelo violão. Teria havido, em última análise, o cultivo permanente de uma música popular que, com a evolução do contexto social e urbano, assumiria características musicais e instrumentais novas. Segundo Mário de Andrade, não tivemos música popular com características brasileiras durante a Colônia, mesmo porque esta nacionalidade seria prejudicial para a subalternidade da colônia 7. Tinhorão, apesar de sua defesa pela modinha de origem brasileira, concorda, sob outra ótica, com este pensamento, ao afirmar que seria preciso um desenvolvimento social e urbano, o que só aconteceu bem mais tarde, para que houvesse condições de se criar um substrato musical brasileiro através dos gêneros urbanos à base de violas (e posteriormente do violão). De acordo com ele, este substrato deu seu “primeiro fruto” na Bahia, na segunda metade do século XVII, com a existência do poeta e tocador de viola Gregório de Matos Guerra (1633 - 1696), apontado pelo historiador, em virtude da variedade de gêneros de canto acompanhado, por ele cultivados, como alguém que “tocasse sua viola com certa desenvoltura”8. Outro personagem importante relacionado à viola e também reflexo do desenvolvimento urbano é o carioca Domingos Caldas Barbosa (1738 - 1800). Sua importância no entanto, e que o faz alvo de diversos historiadores, é por constituir a prova definitiva da origem brasileira da modinha. Para nós, a importância de Gregório de Matos e de Domingos Caldas Barbosa está em podermos estabelecer entre os dois uma relação pelo cultivo da viola e de gêneros populares, apesar da diferença de datas. Inclusive Tinhorão chega a se referir a Gregório de Matos e seus companheiros de boemia como os constituintes da “escola” deste primeiro gênero de canção popular do Brasil, cujos “tocadores de viola cantores eram tantos” que se faz supor que Domingos de Caldas Barbosa, apesar de figurar como o maior intérprete do gênero, não podia mesmo ser o único9. O que nos interessa saber é que esta “escola” colonial acabaria difundindo a viola, tornando-a “o instrumento mais popular do Brasil”, nas palavras de Renato Almeida10. Podemos ter uma noção embasada desta popularidade fazendo um apanhado 7 ANDRADE, Mário de. Evolução social da música no Brasil. In: Aspectos da música brasileira. São Paulo, Martins, 1965. p. 30-1. 8 TINHORÃO, José Ramos. op. cit., p. 59. 9 Idem, ibidem, p. 120. 10 ALMEIDA, Renato. op. cit., p. 113. 14 das citações de gêneros com viola e com violão nos escritos Renato Almeida e de Oneyda Alvarenga. Segundo Renato Almeida11, utilizam-se de viola e violão os Bailes Pastoris, a Chula, o Rancho de Rei e a dança de Dia de Reis. Fazem uso da viola os gêneros e danças: Fado, Tirana, Desafio, ABC, Décima, Cantiga de Mendigo, Festa de São Gonçalo, Baiano (baião), Cateretê ou Catira, Recortado, Cururu, Ciriri, Jacarandá, Carimbó, Fandango, Cana-verde”, Nho-Chico, Mana-Chica, Chegança de Marujo, Fandango, Marujada e Rancho Mulinha. E, pelo mesmo autor, o violão é típico da Modinha, do Choro, do Samba (também do Partido Alto) e na Festa do Divino. Segundo Oneyda Alvarenga12, acompanham-se com viola e violão: o Reisado, a Chegança, o Bumba-meu-boi e a Chula (dança). Utilizam-se da viola os gêneros e danças: Congada, Samba caboclo de São Paulo, Baiano (baião), Fandango, Cana Verde, Cateretê ou Catira, Recortado, Mana-Chica, Folia, Dança da Santa Cruz, Dança de São Gonçalo, Cururú, Canoa, Canto de Bebida, Desafio, Moda (Moda-de-viola) e Toada. Sobre os gêneros e danças somente com violão a autora enumera os seguintes: Samba Baiano, Lundú, Chula (canto), Roda de São Gonçalo (violão imitando viola), Modinha, Samba de morro, Samba de salão e Choro. A predominância em número de gêneros com viola é, por um lado, prova de sua maior popularidade num certo momento, mas a concentração destes gêneros no meio rural, por outro lado, fez da viola um instrumento à margem do desenvolvimento urbano que, com sua marcha estabelecida, propiciou a presença cada vez maior do seu correspondente urbano no cenário brasileiro, a ponto de Renato Almeida dizer já na primeira edição de sua história, em 1926, que “logo depois (da viola), há que citar o violão”13. A marcha generalizada do crescimento urbano brasileiro será a causa da procura por parte dos artistas de um público maior entre as camadas médias das cidades, iniciando a subida do violão a patamares inéditos de popularidade. Sobre este processo e suas conseqüências musicais trataremos na parte seguinte, tomando agora a cidade de São Paulo como única referência. 11 Idem. História da música brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro, F. Briguiet & Comp, 1942. (apanhado) ALVARENGA, Oneyda. Música popular brasileira. Rio de Janeiro, Globo, 1960. (apanhado) 13 ALMEIDA, Renato. op. cit., (1926), p. 113. 12 15 I.1.2. O violão popular em São Paulo A cidade de São Paulo nos apresenta uma história que a faz um exemplo de como a evolução urbana interfere no processo musical. Nos seus três primeiros séculos de existência poucas alterações ocorreram em sua estrutura até que, no século XIX, uma série de acontecimentos viriam tirá-la do ambiente colonial em que estava submersa14. José Vinci de Moraes atribui aos estudantes da Academia de Direito, fundada em São Paulo em 1828, o primeiro passo para uma mudança substancial na cidade. A grande maioria destes estudantes era composta por filhos de homens ricos do Império e por isso, conseqüentemente, o comércio local era atingido pelo dinheiro deles no período das aulas, sendo assim impulsionado15, e no que diz respeito à música, estes estudantes acabariam por contribuir grandemente também pois, naquele meio ainda acanhado e restrito culturalmente, o acadêmico de direito se desdobraria em “orador, poeta, jornalista, boêmio, literato e também músico”16. Podemos ter uma noção clara do panorama musical da cidade de São Paulo quando invadida pelos estudantes em 1828, através deste resumo feito por Carlos Penteado Rezende: “1) Existência de dois teatros, um popular e sempre em uso, outro por assim dizer aristocrático e raramente aberto. 2) Representação de peças musicadas, como óperas, com acompanhamento rudimentar. 3) Gosto das mulheres paulistas de cantar em serões e saraus e de dançar nos bailes. 4) Preferência geral pelas modinhas, ‘inteiramente ao gosto do público’. 5) Conhecimento das obras de Marcos Portugal, provando comunicação artística entre Côrte e Província. 6) Existência na Capital de pianos, harpas, órgãos e guitarras e notícia de ser a guitarra, ou violão, instrumento popular. 7) Apuro da música sacra executada nas igrejas. 8) Desempenho musical de bandas marciais. 9) Hábito das serenatas na vizinha localidade de Santo Amaro e possivelmente em São Paulo. 10) Manifestações musicais de caráter folclórico.”17 Os estudantes, ao chegarem, adotaram costumes já existentes, adaptando-os gradualmente aos seus modos de vida. A uma certa altura Rezende reforça que as 14 MORAES, José Geraldo Vinci de. As sonoridades paulistanas: final do século XIX ao início do século XX. Rio de Janeiro, Funarte. 1995. p. 36. 15 Idem, ibidem, p. 35-6. 16 REZENDE, Carlos Penteado. Notas Iniciais. In: Tradições da faculdade de direito de São Paulo. São Paulo, Saraiva, 1954. 17 Idem, ibidem, p. 25. 16 serenatas, por exemplo, não foram introduzidas na Paulicéia pelos estudantes, mas a tradição das mesmas se deve exclusivamente a eles18. Todo o livro de Rezende mostra como a Faculdade de Direito regulava indiretamente o funcionamento da cidade paulistana, tendo como enfoque o comportamento musical dos estudantes. Diversas vezes o autor cita nomes que se destacaram pela prática de algum instrumento musical, do canto ou em atividades relacionadas indiretamente à música. E curioso é observar todo este movimento musical paralelo impulsionar o comércio local no atendimento das necessidades musicais e a própria atividade de músicos profissionais que, aos poucos, foram entendendo que o caminho mais curto para o reconhecimento público seria via amizade com os moços dos cursos jurídicos. Um exemplo é o de Carlos Gomes, que escreveu e dedicou o Hino Acadêmico aos estudantes (peça posteriormente denominada de A Marselheza da Mocidade). Esta atitude do compositor campineiro gerou diversas outras semelhantes por parte de compositores como Furtado Coelho, Brasílio Itiberê da Cunha, Orestes Bimboni e Emílio Giorgetti19. Mesmo com todo o aparente progresso descrito, a cidade paulistana não demonstraria muitos sintomas de crescimento demográfico ou material e sua fisionomia urbana, em 1850, seria semelhante à dos tempos da fundação da Academia. Também da mesma forma a música permanecia em plano secundário, os professores de música eram poucos e mal habilitados, não existia ainda uma casa especializada no ramos musical nem impressão de música na cidade. O importante para nós é nos inteirarmos de que, mesmo considerando as proporções modestas do cultivo musical e sua prática amadora, seria o violão o instrumento predominante. Como vimos no resumo de Resende, mesmo antes da fixação dos estudantes na cidade já existia no meio paulistano sinais da preferência pelo instrumento, tendência aliás já constatada pelos cientistas alemães Spix e Martius ao assistirem uma representação da opereta francesa Le Déserteur em São Paulo no ano de 1818, pelo que se conclui com estas palavras: “fora do violão preferido para acompanhamento do canto, não se toca quase nenhum instrumento de música com 18 19 Idem, ibidem, p. 139. Idem, ibidem, p. 99. 17 assiduidade”20. Esta tendência explicaria também o uso do instrumento durante a primeira visita do Imperador D. Pedro II a São Paulo em 1846, conforme nos informa Giácomo Bartoloni em sua tese21. Vejamos as palavras de Resende sobre a popularidade do violão entre os estudantes juntamente com uma preciosa informação: “O instrumento preferido pelos acadêmicos prosseguia sendo o violão. Tanto que o ‘Correio Paulistano’ andou anunciando para vender em sua tipografia um ‘Método de Violão’, de Francisco Molino [sic.], que é, daquela época, a única referência didática musical que possuímos.”22 A notícia do anúncio do método de Molino é importante, pois indica que teria havido realmente um movimento violonístico mínimo que o justificasse. O autor, embora não encerrado unicamente sob o ponto de vista da prática do violão, pelo que se percebe nas diversas variantes do assunto artístico envolvendo citações de estudantes, que eram ao mesmo tempo músicos pianistas, flautistas e também escritores e poetas, elenca dez nomes que se destacaram pela prática do violão desde a fundação da academia em 1828 até o ano de 1868, sendo eles: Augusto Teixeira de Freitas (turma que se formou em 1835); João Ribeiro Mendes e José Alexandrino Dias de Moura (turma de 1844-1848); e Antônio Gonçalves Gomide e Joaquim Mendes Malheiro (turma de 1848-1852); José Vieira Couto de Magalhães (turma de 1855-1859); Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (não consta turma); João Batista Bernardino e Silva (turma de 1860-1864); Antônio Augusto dos Reis Sarapião (turmas entre 18591866); e Venâncio José Gomes da Costa Júnio (turmas entre 1862-1868)23. Quantos aos reflexos da música em sua concepção mais ampla no comércio podemos ver também sinais positivos na abertura por Jean Jacques Oswald, pai do compositor Henrique Oswald, do primeiro depósito de pianos da cidade em 1854, local onde se vendia, além de pianos, órgãos, harmônicas e partituras impressas. Há que se citar ainda a fixação em São Paulo, em 1860, de Henrique Luis Levy, pai do compositor Alexandre Levy, que neste mesmo ano abriu uma loja com o intuito inicial de vender 20 SPIX, J.B. Von & MARTIUS, C.F.P. Von. Viagem pela Capitania de S. Paulo (1817-1818). Separata do Tomo XVI da Revista do Museu Paulista, São Paulo, 1929. p. 36. 21 BARTOLONI, Giácomo. Violão: a imagem que fez escola. Tese/ UNESP. Assis, 2000. p. 64. 22 RESENDE, Carlos Penteado. op. cit., p. 83. 23 Idem, ibidem, p. 35, 50, 92, 203 e 208. 18 jóias mas que, aos poucos, passou a vender e imprimir partituras, antecipando as atividades da futura Casa Levy. A década de sessenta, paralelamente ao aumento do número de concertos com instrumentistas e cantores vindos de fora bem como à instalação aqui de vários professores de música, dentre eles os de piano Emílio do Lago e o conceituadíssimo Gabriel Giraudon, foi o período áureo da contribuição dos estudantes à música paulistana. Data do fim da década de cinqüenta as primeiras tentativas de crítica musical por alguns acadêmicos, mas é no período de 1860 a 1870 que eles passam a atuar, compondo música, anunciando-as em jornais e executando-as em teatros, escrevendo versos que eram musicados por colegas e por compositores locais, tocando nas repúblicas, em serenatas, participando de concertos e de saraus familiares, discutindo música, provocando polêmicas, formando rodas em lojas de música, brigando nos teatros pela execução do querido Hino Acadêmico e, por fim, comentando e fixando pela pena a vida artística da Paulicéia nos folhetins e notícias do ‘Correio Paulistano’ e em artigos publicados nas revistas das associações literárias24. O período 1860-1870 marca também o início da mudança de uma série de fatores que concorreram para que São Paulo se transformasse em uma das maiores metrópoles do mundo. Se foram os estudantes que iniciaram esta transformação, o principal impulso posterior ocorre quando a cidade vai se tornando o núcleo comercial da economia cafeeira25. Esta nova condição acarretará progresso vertiginoso e ao mesmo tempo desordenado. Entre os sinais do crescimento, o que nos interessa especialmente é uma das causas do aumento incessante da população: a imigração estrangeira para a substituição da força de trabalho escravo das fazendas de café 26. Do contingente total transladado, a maioria era constituída de italianos cuja relação com o violão podemos ver nestas palavras de Giácomo Bartoloni: Atraídos pelos empregos que o café proporcionava, nas lavouras e nos centros de comercialização, os imigrantes (portugueses e italianos na sua maioria) chegavam em grandes levas em busca de melhores condições de vida. Na bagagem trouxeram consigo o violão.”27 24 Idem, ibidem, p. 188 e p. 190. MORAES, José Geraldo Vinci de. op. cit., p. 36. 26 Idem, ibidem, p. 37. 25 19 José Vinci de Moraes esclarece que “embora o destino do imigrante fosse o interior da província, muitos já permaneciam na cidade [...], outros retornavam das fazendas após o final de seu contrato de trabalho, ou, então, desiludidos como os métodos de trabalhos lá empregados e em virtude das oscilações e crises na produção cafeeira”28. E uma vez na cidade, estes italianos iriam colaborar com seus costumes, festas, canções, na composição da trilha sonora paulistana, que combinaria tendências com características provenientes também de outras nacionalidades bem como da música de paulistanos, interioranos e negros libertos. Mas a principal contribuição dos italianos, do ponto de vista da história como queremos demonstrar, é a de ter proporcionado o aparecimento do violonista Américo Jacomino (Canhoto), marco de uma corrente violonística artística. Com Américo Jacomino o violão iniciará uma linha de cultivo paralela e inédita onde o instrumento passará a ocupar espaço como solista, embora permanecendo ligado ao repertório popular, que, na época, refletia o romantismo herdado dos gêneros modinheiros. Esta nova linha de cultivo e os principais nomes brasileiros e estrangeiros que a iniciaram em São Paulo serão tratados na parte seguinte. I.1.3. Os primeiros violonistas concertistas A partir deste momento estaremos tratando da linha de cultivo de um violão diferenciado, entendido como erudito, embora num primeiro momento ainda predomine para ele um repertório de fortes tendências populares. Esta linha erudita de cultivo, que começaria a se disseminar nas primeiras décadas do século, pode ser mais facilmente definida neste momento inicial pela somente condição solista que assume o instrumento nas mãos dos violonistas da cidade. O repertório demoraria um pouco mais até tornar-se uma identidade desta linha paralela de violão brasileiro que nascia, apesar da visita de virtuoses estrangeiros cujos programas revelavam frutos maduros de toda uma tradição violonística européia. 27 BARTOLONI, Giácomo. O violão na cidade de São Paulo no período de 1900 a 1950. Dissertação/ UNESP. São Paulo, 1995. p. 21. 28 MORAES, José Geraldo Vinci de. op. cit., p. 37. 20 No Brasil, em virtude da tradição do violão popular, o processo de formação de uma escola violonística seria inevitavelmente gradual, passando por um início marcadamente popular, quase que só definida pela maneira de tocar, para depois atingir, como veremos, patamares reconhecíveis nas tradições de outros países, ainda assim guardando ligação com as características musicais da tradição brasileira do instrumento. E todo este processo ocorre paralelamente ao cultivo do violão popular, que continuaria sua longa trajetória iniciada em séculos passados e que no momento analisado sob o ponto de vista erudito, primeiras décadas do século XX, forneceria grandes nomes para o violão seresteiro. Na busca de dados sobre o início do violão erudito em São Paulo veremos ainda nos escritos de Carlos P. Rezende, uma referência a um certo Sr. Lisboa, que “executando trechos da ‘Norma’ e da ‘Traviata’ conseguiu (como disse o Correio Paulistano de 11 de maio de 1864) extrair das notas do seu violão os mais harmoniosos e suaves sons, que jamais violão algum poderá imitar”29. Este senhor parece ter sido uma das primeiras referências do cultivo distinto do instrumento no meio musical paulistano da época, considerando que anos mais tarde a prática da transcrição começaria a se vulgarizar, principalmente na Espanha, como forma de compensar a falta de repertório por assim dizer “erudito” para o instrumento. Por coincidência talvez, justamente trechos da Traviata teriam sido transcritos também por essa época pelo violonista espanhol Julián Arcas (1832 - 1882), professor de Francisco Tárrega, este, figura da máxima importância para o ressurgimento do violão no século XX. Ronoel Simões (1919), colecionador de discos de violão, profundo conhecedor da história do instrumento e testemunha viva dos acontecimentos violonísticos do século XX em São Paulo, conta, através da revista Violão e Mestres30, que o violonista mais antigo que conheceu pessoalmente foi José Martins Duarte de Melo, o Melinho de Piracicaba, que em 1889 começou seus estudos pelo método de Mateo Carcassi e, em 1898, já residia na capital do Estado, realizando então seus estudos de violão com o método de Dionisio Aguado. Seu professor em São Paulo, o português Alberto Baltar foi, segundo Ronoel Simões, o primeiro professor de violão da cidade31. 29 RESENDE, Carlos Penteado. op. cit., p. 190. Revista paulistana especializada em violão, em circulação entre 1964 e 1968. 31 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., v. 2, n.º 7, 1967. p. 25-9. 30 21 O compositor cuja obra estudamos, Isaias Savio, foi consultor técnico da mesma revista e afirma no n.º 9 que o primeiro recital de importância realizado na capital paulistana foi o do violonista cubano Gil Práxedes Orozco, em 190332. Em outro trecho do artigo de Simões citado acima, o autor informa que Orozco ensinou na cidade entre 1903 e 1908. São citados também os violonistas italianos Eugene Pingitore, professor atuante na cidade entre 1912 e 1915, e Dante Rausse, aluno de Orozco, tendo este atuado nas décadas posteriores. Ainda outros nomes passaram pela cidade neste início do violão erudito, como o do espanhol Manuel Gomes em 1911 e o do português Francisco Pistoresi em 1914, mas o primeiro nome de real importância desta nova postura violonística foi o de Américo Jacomino (1887 - 1928), o Canhoto. Segundo Paulo Castanha e Gilson Antunes, apesar da existência de alguns violonistas na cidade, Canhoto teria desenvolvido a arte solística do seu instrumento “criando uma maneira própria de executar valsas, polcas, mazurcas, dobrados e outros gêneros que, naquele tempo, utilizavam o violão como mero acompanhador”33. A projeção que atingiria este violonista reafirmaria, de certa forma, as características locais resultantes ainda híbridas, populares e eruditas, deste início de movimento violonístico diferenciado em São Paulo. O aparecimento de Canhoto e especificamente um de seus recitais, o de 1916, amparado pela imprensa, foram para seus pesquisadores citados acima passos importantes na subida do violão aos palcos e, ao mesmo tempo na gradual mudança na reputação do executante deste instrumento. A vinda do paraguaio Agustin Barrios e da espanhola Josefina Robledo para recitais na cidade de São Paulo, em 1917, completariam este quadro divisor de águas, influenciando o meio de forma direta e imediata pela referência técnica que proporcionavam e também a médio e longo prazo, através da veiculação de um repertório distinto, composto por transcrições e peças escritas originalmente para o violão. Sobre a vinda destes dois violonistas estrangeiros ao país comenta o seguinte, o poeta Manuel Bandeira: 32 Idem, v. 2, n.º 9, 1968. p. 51. CASTAGNA, Paulo & ANTUNES, Gilson. 1916: O violão brasileiro já é uma arte. São Paulo, Violão home Page/ Guitar home Page – Revista Eletrônica de Violão, 1996. p. 6. (Artigo de Internet) 33 22 “Ele (o violão) foi, porém, reabilitado pela visita que recebemos de dois artistas estrangeiros, os quais vieram revelar aos nossos amadores todos os recursos dos grandes virtuoses de Espanha. Refiro-me a Agostinho Barrios [sic.] e Josefina Robledo. [...] Observando a sua maneira de tocar (de Robledo), os nossos velhos amadores entraram a corrigir e reformar os dedilhados defeituosos que empregavam, de sorte que hoje (1924) já se vai começando tocar com limpeza e estilo.”34 Nos programas de Robledo e Barrios encontravam-se normalmente peças de Aguado, Arcas, Bach, Beethoven, Chopin, Garcia Tolsa, Giuliani, Mendelssonhn, Paganini, Tárrega etc., além de composições próprias por Agustin Barros35, enquanto que nos de Canhoto veríamos dentre outras, composições suas cujos títulos (exemplo: Suplicando Amor, Magia do olhar, Sonhando36) indicariam uma linha de composição mais ao gosto dos violonistas da época. Provavelmente tenha sido esta uma das razões da explosão de popularidade de Jacomino, que atuou no momento histórico do início da música solística para violão, difundindo suas composições românticas. Paralelamente ao trabalho de Canhoto, vários outros violonistas surgem na cidade. Simões nos dá nota dos seguintes nomes já atuantes no fim da década de vinte: João Avelino de Camargo, Teotônio Corrêa, Leopoldo Silva, Isidoro Bacelar, Rogério Guimarães, Osvaldo Soares, Attílio Bernardini, Aristodemo Pistoresi, Benedito Chaves e a própria Robledo, que se instala em São Paulo para ensinar violão às moças da alta sociedade. Já é possível a esta altura das décadas de vinte e de trinta falar-se em movimento violonístico em São Paulo, ainda é claro, guardando as devidas proporções. Aos poucos o meio musical geral iria abrigar cada vez mais programações com participação do violão e, da mesma forma, tomaria impulso a disseminação do instrumento e o conseqüente desenvolvimento da didática para o aprendizado do mesmo. Comentando atuações diversas, Savio afirma em Violão e Mestres37que até a década de trinta o Brasil teria sido visitado por quatro grandes virtuoses, sendo os citados Agustin Barrios e Josefina Robledo, ainda na década de dez e, na seguinte, Juan Rodriguez (1927) e Regino Sanz de la Maza (1927). Agustin Barrios retornaria ainda à São Paulo para recitais em 1929. No transcurso da década de trinta o movimento 34 ARIEL. São Paulo, n.º 13, out. 1924. p. 464. Conforme programas musicais em VIOLÃO E MESTRES, n.º 4, 1965. p. 40-1. 36 Conforme programa musical em CASTANHA, Paulo & ANTUNES, Gilson, op. cit., p. 8-9. 37 VIOLÃO E MESTRES, n.º 4, 1965. p. 39. 35 23 continuaria em ascensão e, especificamente na cidade de São Paulo, da mesma forma que se apresentariam cada vez mais artistas nacionais como um Carlos Collet e Silva (em 1933), os palcos paulistanos veriam também aumento da participação de estrangeiros. Em 1934, o violonista uruguaio Julio Martinez Oyanguren veio a São Paulo para um concerto, que contou com positivo amparo crítico e apoio de Mário de Andrade. O polígrafo paulistano lhe dedicou elogios, deixando claro também seu entender sobre as possibilidades do instrumento quando bem manejado. As palavras de Mário integraram tanto o programa quanto a crítica posterior no jornal Diário de São Paulo38. A coroação do movimento violonístico erudito no entanto se dá quando vem a São Paulo, em 1937, o violonista espanhol Andrés Segovia. A vinda deste violonista aos palcos paulistanos demonstra claramente o já conquistado espaço do instrumento na cidade e prova, de maneira decisória, a compreensão incomparavelmente maior de seu repertório original e não mais somente de uma execução diferenciada, solista, ou mesmo composições com base em valsas, polcas, mazurkas e outros gêneros, como nos tempos de Canhoto. Toda esta trajetória do meio violonístico foi acompanhada de perto pela evolução da metodologia no ensino do instrumento. De começo, tínhamos o que Bernardini definia como escola livre39, depois, gradualmente, os princípios de Tarrega foram sendo abordados em obras as mais diversas até que instituiu-se uma verdadeira escola brasileira de violão: a de Isaias Savio, como veremos. Giácomo Bartoloni diz em sua dissertação que “até a década de quarenta aproximadamente, o violão resumia-se basicamente a uma escola com tendências populares”, afirmando logo em seguida que “conheciam-se os compositores europeus, mas não havia uma substancial difusão de seus métodos de ensino”40. De fato, com as informações que reunimos não pudemos quantificar esta difusão mas somente ter uma idéia de que os métodos de Francesco Molino, Mateo Carcassi e Dionisio Aguado foram do conhecimento pelo menos de alguns violonistas. Dos últimos nomes da lista de Ronoel Simões, que reproduzimos anteriormente, nos interessa, especialmente no sentido didático, os de Osvaldo Soares e Attílio Bernardini. 38 ANDRADE, Mário de. Martinez Oyanguren. O Diário de São Paulo. São Paulo, 29 ago. 1934. VIOLÃO E MESTRES, v. 2, n.º 8, 1967. p. 22. 40 BARTOLONI, Giácomo. op. cit., p. 48. 39 24 Osvaldo Soares (1884-1966), nascido em São Paulo, foi aluno de Josefina Robledo durante o período em que a concertista apresentou recitais em São Paulo. É dele um dos primeiros métodos para violão em edição brasileira, publicado em 1929, constando peças de Francisco Tárrega e Antônio Baltar. Soares foi também representante em São Paulo da revista carioca O Violão, primeira do gênero no país, em circulação entre 1928 e 192941. Entre os seus discípulos, os que mais se destacaram foram Darcy Villa Verde e o já citado Carlos Collet e Silva42. Attílio Bernardini (1888-1975) é apontado por vários que escreveram sobre o violão em São Paulo como o primeiro professor a idealizar um prenúncio de escola violonística brasileira. Sua produção abrange métodos com lições próprias e composições de sabor nacional. Professor a partir de 1924, seu método Ensaio de Harmonia e Violão teve, aproximadamente em 1930, uma edição “meio particular”, como definiu Ronoel Simões, do que resultou menor distribuição. Porém, o método Lições Preparatórias: A nova técnica do violão, baseada na escola de Tárrega, de 1938, publicado pela Vitale, constituiu importante referência para o aprendizado naquele tempo, oferecendo ao estudante uma exposição da Escola Moderna do violonista espanhol. Como se viu, os princípios técnicos e musicais de Tárrega estavam alicerçando a linha metodológica dos trabalhos didáticos publicados em São Paulo. Foi após a assistência a um recital de Robledo, a mesma que orientou a Soares, que se deu a descoberta da nova técnica por parte de Bernardini, depois do qual seguiu este no estudo do violão, mandando vir da Espanha e Argentina todas as composições e transcrições de Tárrega, além de fotos e biografias. Da lavra de Bernardini destacaram-se Alfredo Scupinari, Milton Nunes, Oscar Magalhães Guerra, Edgar de Mello, Ivo de Araújo, José Alves da Silva (Aymoré) e Aníbal Augusto Sardinha (Garoto)43. Com o impulso sofrido no setor pedagógico após as publicações nacionais pioneiras e com a correspondente circulação de intérpretes referenciais, o meio violonístico paulistano instauraria gradualmente um círculo vicioso, gerando e consumindo serviços e produtos. A cada pouco novos métodos eram publicados, mais pessoas procuravam aprender violão, maior quantidade do instrumento era posta no 41 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 49. Idem, n.º 4, 1965. p. 44. 43 Idem, v. 2, n.º 8, 1967. p. 21-2. 42 25 mercado pelos fabricantes e cada vez mais intenso era o trânsito de artistas pelos palcos da cidade. Prova disso é que os métodos pioneiros citados passariam por revisões e também serviriam de base para o desenvolvimento de outros. Osvaldo Soares lança em 1946 a segunda edição do seu método de 1929 e a Casa Del Vechio adota o nome fictício de Sodré para seus lançamentos dos quais o primeiro, A nova técnica do violão: baseada na escola de Tárrega, veio com a intenção de dar continuidade ao Lições Preparatórias de Bernardini, pelo que podemos ver na seguinte observação exposta no prefácio: “A Nova Técnica do Violão não é um método para principiantes, pois corresponde ao 2.º volume da ‘Nova Técnica’, de Attilio Bernardine [sic.], que é sem dúvida o melhor Método Preparatório.”44 O segundo método da Casa del Vechio, Escola do Violão45, viria oferecer ao aluno os primeiros degraus do aprendizado, numa postura já, ao que parece, de produto competitivo, contrapondo-se ao método de Bernardini. Todo o exposto até agora vem mostrar o quanto se fez em prol do violão erudito antes da chegada de Isaias Savio a São Paulo. O aumento das atividades em todos os sentidos e o reflexo nas questões mercadológicas demonstram como estava o ambiente violonístico no início da década de quarenta, contextualizando-nos para entender, a partir de então, a contribuição do professor e compositor cuja obra é nosso objeto de estudo. 44 45 SODRÉ. A nova técnica do violão; baseada na escola de Tárrega. São Paulo, Del Vecchio, s.d. Idem. Escola do violão; baseada na técnica de Tárrega. São Paulo, Del Vecchio, s.d. 26 I.2. A ESCOLA DE ISAIAS SAVIO I.2.1. Constituição, princípios técnicos e adaptação à realidade brasileira A escola violonística de Isaias Savio foi, como procuraremos demonstrar, um empreendimento completo, envolvendo os conhecidos princípios da escola moderna de Tárrega em uma elaboração e organização até então inéditas no país. Este exaustivo trabalho de Savio contou com uma boa dose de contribuição própria através dos exercícios técnicos elaborados para os métodos e de um grande repertório transcrito e revisado. Além disso, há de se considerar também neste sentido as próprias composições de Savio que, independente de possuírem um direcionamento didático intencional, complementam o quadro de opções de aplicação das técnicas estudadas e o entendimento de gêneros e linguagens. Os trabalhos de Savio como um todo o leva, de certa forma, a uma posição comparável à do violonista e compositor Francisco Tárrega, na Espanha. Conforme nos conta Edelton Gloeden em sua dissertação, este músico espanhol foi um dos principais responsáveis pelo ressurgimento do violão no século XX, complementando o repertório do instrumento com composições, transcrições e exercendo decisiva influência nos trabalhos de Llobet, Pujol e de Segovia, nomes que levariam adiante este processo de ressurgimento 46. Savio, da mesma forma, além de todo o repertório que direta ou indiretamente ajudou a promover para o violão brasileiro, formou ele mesmo diversos nomes que atuaram e atuam ainda hoje ensinando, compondo, tocando e publicando material didático ou não. Como dissemos, a escola de Isaias Savio prega o princípio da escola moderna do violão, de Francisco Tárrega, que consiste em resolver de antemão todos os entraves da mecânica do instrumento e assim evitar problemas e dificuldades futuras ao se interpretar qualquer repertório. O autor de tal pensamento não deixou contudo “nada escrito que possa descrever ou definir uma escola”47. Esta informação é confirmada por Emilio Pujol, discípulo de Tárrega: 46 GLOEDEN, Edelton. O ressurgimento do violão no século XX: Miguel Llobet, Emilio Pujol e Andrés Segovia. Dissertação/ ECA-USP. São Paulo, 1996. 47 Idem, ibidem, p. 38. 27 “Su vida intensa y laboriosa, nunca desalterada de la más férvida ansiedad de elevación, se extinguió, por desgracia, demasiado pronto. Aplazando siempre el deseo de ordenar en un Método los princípios razonados de su escuela para esa tregua de paz crepuscular que el ocaso de la vida ofrece al virtuoso, le sorprendió la muerte. Sólo algunos ejercícios y estudios quedaron esparcidos desordenadamente entre amigos y discípulos, como páginas sueltas de un libro inestimable que nadie podrá leer íntegramente.”48 Coube a Pujol a tarefa de ordenar os exercícios de seu mestre bem como de elaborar seus próprios exercícios visando a atualização dos procedimentos mecânicos frente ao repertório de seu tempo. Desta tarefa resultou o método Escuela Razonada de la guitarra, em quatro volumes, obra referencial para todos os estudantes do instrumento. Logo no primeiro volume Pujol deixa bem claro o seguinte: “En la realización de este plan, que las necesidades de la técnica actual me han obligado a ampliar, radica el verdadero sentido de la escuela de Tárrega. Los ejercicios que no sean trazados por su propia mano, estarán inspirados en sus valiosos consejos”49. É bem provável que a metodologia de Pujol, baseada na escola de Tárrega, tenha em parte inspirado Isaias Savio. Da mesma forma que Pujol, Savio desenvolveu métodos com grande quantidade de exercícios próprios para a resolução antecipada de problemas técnicos e utilizou elementos da música brasileira, como por exemplo, frases curtas, sinuosas e descendentes em alguns exercícios de seu método Escola Moderna do Violão 1.º volume50, tal qual fez Pujol em seus exercícios com a utilização de elementos musicais correspondentes da música de seus país, como é o caso da cadência melódica andaluza (“lá - sol - fá - mi”51). Outro dado comum nas obras didáticas e principalmente de concerto de Pujol e Savio, ocorrendo também em peças de Llobet, outro dos destacados discípulos de Tárrega, é a variedade estilistica. Não é nossa intenção neste momento nos aprofundarmos em questões composicionais, mas apenas constatarmos a possível procedência destas características comuns e a relação das mesmas com a escola moderna de violão. Esta variedade estilística traz à tona novamente o nome de Tárrega como 48 PUJOL, Emilio. La escuela razonada de la guitarra. Buenos Aires, Ricordi Americana, v. 1, 1934. p. 13. 49 Idem, ibidem, p. 18. 50 Ver “Exercício n.º 1” em SAVIO, Isaias. Escola moderna do violão. São Paulo, Ricordi, v. 1, 1961. p. 18. 51 Ver “Ejemplo n.º 32” e “Estudio XI” em PUJOL, Emilio. La escuela razonada de la guitarra. Buenos Aires, Ricordi Americana, v. 2, 1935. p. 53 e 130, respectivamente. 28 precursor, pois, na produção deste, predomina uma certa variedade através de obras de pequeno porte que refletem um romantismo típico de salão ou caracteres nacionais exóticos. Esta coincidência nos leva pensar que a Escola de Tárrega não era somente um princípio técnico racional, que imprimiu uma melhoria no padrão de execução na época, mas também um repertório abrangente, resultante de atividades múltiplas como pesquisa, composição e transcrição, sendo esta última talvez a mais importante naquele contexto inicial do renascimento do violão. A transcrição foi uma atividade fundamental e necessária em todos os sentidos: para conquistar o ouvinte e assim proporcionar a volta do violão aos palcos, para provar as possibilidades do instrumento e principalmente para preencher lacunas do repertório do mesmo, proveniente do abandono que sofrera no século XIX. Francisco Tárrega, Emilio Pujol e Miguel Llobet, à parte de suas outras frentes de atuação, tornaram-se mestres desta arte e isto se refletiu em Isaias Savio. Não é a toa que na produção de Tárrega contam-se setenta e oito peças originais e cento e vinte transcrições52. Na produção de Isaias Savio a proporção é ainda mais evidente: cento e quinze composições para mais de trezentas transcrições, o que nos sugere preliminarmente que a Escola de Isaias Savio é, também, além dos numerosos métodos que passaremos a elencar logo mais, toda uma produção voltada à conquista do ouvinte, sem deixar de lado, absolutamente, a tarefa de instruir o estudante em relação ao repertório erudito. E foi assim que agiu Isaias Savio ao se deparar com nosso meio musical. Da mesma forma que revisou mais de cem composições de autores barrocos, clássicos e românticos, todas integrantes dos vários métodos dedicados para cada um dos anos de estudo do curso regular do violão, curso este aliás instituído graças à sua intervenção, como veremos, Savio adaptou e arranjou músicas que poderíamos muito bem, naquele tempo, escutar em cantorias pelas esquinas da cidade, como por exemplo Saudades de Ouro Preto, de Luiz Gonzaga53. Exemplo ainda mais representativo desta conduta é a publicação em partitura da música Sarita, de Santos Rodrigues e B. Toledo54, com cifras 52 SADIE, Stanley & LATHAM, Alison. Dicionário grove de música: edição concisa. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994. p. 931. 53 GONZAGA, Luiz. “Saudades de Ouro Preto”. In: SAVIO, Isaias. Coleção de músicas populares para violão. São Paulo, Mangione, s.d. (adaptação para violão) 54 RODRIGUES, Santos & TOLEDO, B. “Sarita”. In: SAVIO, Isaias. Coleção ‘o violão em seu lar’. São Paulo, Fermata do Brasil, 1952. (adaptação para violão) 29 e letra para que o estudante pudesse cantar acompanhando-se com ritmo batido, bem ao jeito popular. Até mesmo uma tabela de acompanhamento prático, Savio chegou a publicar pela Ricordi55. Todo o repertório ao gosto da época trabalhado por Savio ainda incluiria música popular mais sofisticada, como um Carinhoso de Pixinguinha, para atender, quem sabe, o gosto dos violonistas seresteiros. No Brasil, onde tínhamos um violão popular de grande prestígio e outro de linha erudita razoavelmente divulgado, uma escola ideal seria aquela que unisse todos os embasamentos técnicos necessários a um repertório para todos os gostos. Esta empreitada encontrou em Isaias Savio um músico não só disposto ao ecletismo como também sinceramente aberto a novos gêneros musicais, como por exemplo os do folclore musical brasileiro. É importante observar que tal missão não invalidou em Savio a busca da execução violonística perfeita, o que se percebe pela publicação de muitos métodos de exercícios abstratos e também pelas idéias do compositor presentes em diversos prefácios destes e de outras publicações didáticas. E neste sentido específico da boa performance, segundo Paulo Porto Alegre, o nome referencial para o compositor era o de Miguel Llobet56. De acordo com Simões57, Savio era também muito “segoviano”, ou seja, admirador do violonista espanhol Andrés Segovia. O fato é que Savio os conheceu pessoalmente e os viu atuar ainda antes de sua vinda ao Brasil, em 1931. Na opinião do concertista Antônio Carlos Barbosa Lima, “o que Savio trouxe (ao Brasil) e aplicou num processo de constante mudança foi a experiência dele com Llobet, mais Llobet do que Tárrega”58. Vejamos em ordem cronológica quais foram as principais publicações de autoria de Isaias Savio para o estudo dirigido dos conservatórios, editadas ao longo da atuação do professor em São Paulo: 1- Para Nilo brincar: 9 canções populares infantis brasileiras. São Paulo, Ricordi, 1953. 2- Escola moderna do violão – 1.º vol. São Paulo, Ricordi, 1961. 3- Escola moderna do violão – 2.º vol. São Paulo, Ricordi, 1961. 4- Exercícios diários para velocidade. São Paulo, Ricordi, 1962. 55 SAVIO, Isaias. Tabela de acompanhamento prático para violão. São Paulo, Ricordi, 1955. Entrevista com Paulo Porto Alegre em maio de 2000. 57 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 56 30 5- Para Nilo Tocar: 9 canções populares brasileiras (fáceis). São Paulo, Ricordi, 1965. 6- Estudos para o 1.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 7- Estudos para o 2.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 8- Estudos para o 3.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 9- Estudos para o 4.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 10- Estudos para o 5.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 11- Estudos para o 6.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 12- Estudos para o 7.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 13- Coleção de peças clássicas para o 1.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 14- Coleção de peças clássicas para o 2.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 15- Coleção de peças clássicas para o 3.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 16- Coleção de peças clássicas para o 4.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 17- Coleção de peças clássicas para o 5.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 18- Coleção de peças clássicas para o 6.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 19- Coleção de peças clássicas para o 7.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 20- Vamos estudar violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 21- Técnica e exercícios para o aperfeiçoamento do violão: (exemplo - Técnica diária do violão). São Paulo, Ricordi, 1972. 22- Efeitos violonísticos e modo de execução dos ornamentos musicais. São Paulo, Ricordi, 1973. 23- Complemento da técnica violonística – 1.º caderno. São Paulo, Ricordi, 1976. 24- Complemento da técnica violonística – 2.º caderno. São Paulo, Ricordi, 1976. 25- Complemento da técnica violonística – 3.º caderno. São Paulo, Ricordi, 1976. 26- Complemento da técnica violonística – 4.º caderno. São Paulo, Ricordi, 1976. 27- Complemento da técnica violonística – 5.º caderno. São Paulo, Ricordi, 1976. Como podemos ver, as publicações didáticas de Savio constituem farto material de trabalho para todos os níveis, isso sem contar que, deixamos de incluir na relação acima, alguns métodos de outros violonistas do passado, que Savio revisou e publicou também pela Ricordi. 58 Depoimento de Antônio Carlos Barbosa Lima (1989), Fita C-310, Acervo MIS-SP. 31 Pela análise dos métodos acima podemos constatar uma iniciação toda baseada no folclore nacional. O método Vamos Estudar Violão e os álbuns de peças Para Nilo Brincar e Para Nilo Tocar trazem diversas canções folclóricas arranjadas sendo que alguns dos vinte e quatro títulos do método se repetem nos álbuns, porém em arranjos mais elaborados. Os títulos do Vamos Estudar Violão são: A barquinha, Que é da Margarida, Parabéns pra você (em dois níveis de dificuldade), Ciranda cirandinha, Partorzinho, Dorme nenê (em dois níveis), Capelinha de melão, A canoa virou, Sapo jururú, Meu limão meu limoeiro, Marcha, Princesa dona Isabel, O pobre e o rico, Mas bom dia minha senhora, Eu fui ao jardim celeste, Teresinha de Jesus, Cai cai balão, O cravo brigou com a rosa, Samba lelê, O juju, Você gosta de mim, Você diz que rola pedra, Romance de D. Jorge e Da. Juliana e Carneirinho carneirão. No álbum Para Nilo brincar, os títulos são: Ciranda cirandinha, A moda das tais anquinhas, O cravo e a rosa, Marcha, Dorme nenê, Vem cá Bitu, Pirolito que bate bate, Terezinha de Jesus e Lá na ponte da vizinhança. E no álbum Para Nilo Tocar, os títulos são: Modinha, Casinha Pequenina, Prenda Minha, Caranguejo, Modinha de Itaporanga, Tutu marambá, Nesta Rua59, Balaio e Roda de Santa Clara. Com este elenco de títulos musicais, podemos ter uma idéia do que foi a adaptação da escola de Isaias Savio às condições brasileiras, embora esta atitude nas publicações didáticas descritas acima, dirigidas ao ensino em escolas de música, não represente a real proporção do empenho do compositor neste sentido, ficando com as adaptações, arranjos e composições a parte mais expressiva desta conduta, como dissemos. Para o desenvolvimento posterior, a metodologia de Savio prevê um diversificado material técnico violonístico, compreendendo diversos métodos com exercícios próprios e álbuns com estudos e peças alheias, revisados para cada um dos sete anos do curso regular de violão. Na série Coleção de Peças Clássicas, em sete álbuns, Savio reúne setenta e duas peças e esclarece, no prefácio, a finalidade divulgadora da obra ao apresentar compositores consagrados como Napoleão Coste, Mateo Carcassi, Ferdinando Carulli e 32 também outros “pouco divulgados como Horetzky, Diabelli, Matiega, Molitor etc”. O compositor informa também que a designação “peças clássicas” do título refere-se às obras que considerou como “classicamente consagradas na literatura violonística”, não necessariamente obras do período clássico, acrescentando que a seriacão apresentada é apenas uma sugestão sem “pretensão de rigidez”, podendo o professor alterar a seqüência das peças de acordo com cada aluno.60 Na série Estudos, também em sete álbuns, Savio reúne setenta e cinco estudos de vários períodos musicais com a intenção de facilitar o trabalho do professor no ensino do violão. O autor deixa claro, através do prefácio, que o professor deve sentir-se à vontade para adotar outros estudos que creia necessário para cada aluno. Todos os estudos nesta série estão expostos sem número de opus e com numeração distinta da original. Em um dos álbuns figura um estudo de autoria de Savio, sendo este, na verdade, uma peça publicada anteriormente com o título Allegro. Há também curiosas intervenções de Isaias Savio em dois estudos de Dionisio Aguado e Napoleão Coste. Estes casos serão comentados oportunamente. O Método Escola Moderna do Violão, em dois volumes, traz um apanhado completo de exercícios para o instrumento, abordando notas repetidas, escalas, harpejos, ligados ascendentes e descendentes, além de prefácios com dados sobre a história e as características do instrumento bem como conselhos ao estudante. No primeiro volume predominam exercícios em forma de pequenas peças melódicas com caráter nacional ou não. A tonalidade mais comum neste volume inicial é a de Lá menor e a da relativa Dó maior, certamente com intenção de facilitar o trabalho do estudante ainda sem muita habilidade e, ao mesmo tempo, de manter seu interesse pelo estudo do violão. O segundo volume abrange somente exercícios abstratos de mecânica indo desde lições fáceis até as mais complexas, traduzindo-se num verdadeiro compêndio de possibilidades e combinações técnico-violonísticas. Nos Exercícios Diários de Velocidade, Savio combina, em considerável dificuldade, harpejos, ligados, ornamentos, notas repetidas articuladas, trêmolos, oitavas, acordes e terças harmônicas seqüenciadas, todos em fórmulas muito características de 59 A peça Nesta Rua conta também com um arranjo elaborado em forma de “tema com variações”, versão que consideramos como peça do repertório de composições de Isaias Savio. 60 Ver “Prefácio” em SAVIO, Isaias. Coleção de peças clássicas para o 1.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1972. 33 clichês violonísticos encontrados normalmente no repertório do século XVIII, XIX e XX do instrumento. Este método é, portanto, uma espécie de compêndio com os principais exercícios em alto nível de dificuldade, elaborados para o domínio antecipado de procedimentos técnicos comuns no repertório tradicional. Na Técnica e Exercícios para o Aperfeiçoamento do Violão, sem prefácio, mas com considerável quantidade de textos explicativos no decorrer das lições, encontramos um resumo de procedimentos técnicos como ligados simples e duplos, arrastes, aberturas de mão esquerda (dilatação), trinados, saltos, escalas, exercícios em sextas, décimas, acordes com abertura e exercício em harpejos. Este método funciona como uma tabelaresumo com exercícios diversificados, curtos e complexos, destinados ao executante profissional. Em Efeitos Violonísticos e Modo de Execução dos Ornamentos Musicais, vemos novamente uma espécie de tabela de efeitos e ornamentos musicais com intenção de informar apenas, o que se percebe pela ausência de exercícios. Os efeitos e ornamentos abordados são os seguintes: harmônico natural, harmônico artificial, pizzicato, tâmbora, tambor, portamento, campanela, rasgueo, appoggiatura longa e breve, mordente simples e duplo e, grupeto de três e quatro notas. Há neste método, uma interessante novidade: a exemplificação através da mostra de diversos pequenos trechos extraídos de obras de Juán Pargas, Tárrega, Villa-Lobos e das próprias composições de Savio. A série Complemento da Técnica Violonística é composta por cinco cadernos com propostas técnicas repetidas ou não entre os cadernos, mas sempre elaboradas de maneira distinta numa crescente complexidade. Trata-se de um resumo puramente técnico feito em cada caderno, com elementos teóricos, escalas e harpejos no primeiro caderno; acordes, arpejos, ligados mistos e escalas em duas oitavas no segundo; escalas, harpejos e ligados no terceiro; escalas de duas e três oitavas e saltos no quarto; e exercícios de terças, sextas, oitavas, harpejos, trinos e ligados no quinto. Cada caderno tem seu prefácio explicativo sendo que o número um apresenta um prefácio ao mesmo tempo específico deste caderno e geral para toda a série. Savio esclarece neste prefácio geral que a presente obra atende diversos professores que lhe pediram a publicação seqüenciada dos elementos que integram a técnica violonística. É interessante notar que boa parte dos métodos e álbuns de Isaias Savio cruzam referências entre si através dos prefácios. Por exemplo, a série Complemento da Técnica 34 Violonística recomenda, através dos prefácios dos primeiro e quinto cadernos, o método Vamos Estudar Violão para ser estudado pelo principiante, após o qual a melhor seqüência se daria pela adoção da série em questão. No prefácio da série Estudos encontramos referências à Escola Moderna do Violão 1.º e 2.º volumes, aos 25 Estudos Melódicos (composições de Savio) e também aos Estudos de Villa Lobos, dentre outras indicações, todas atribuindo justificativas para a seqüência de estudo sugerida. Importante é perceber com isso o entrelaçamento dos métodos e também destes com o repertório, sinais da metodologia detalhadamente arquitetada com seqüência entre estudos abstratos e relação destes com o repertório tradicional do instrumento. Sobre o repertório trabalhado didaticamente, ou seja, o revisado para os álbuns, se enumerarmos somente as peças revisadas para as séries destinadas ao sete anos de conservatório, Coleção de Peças Clássicas e Estudos, comentadas anteriormente, chegaremos já a um total de cento e quarenta e sete, o que representa quase a metade do volume de peças trabalhadas por Savio, fora suas composições. Este dado reflete mais uma vez a grande preocupação didática do compositor, diretamente relacionada ao ensino do violão nas escolas. Ao que tudo indica, esta preocupação didática foi a principal na vida de Isaias Savio, manifestando-se desde antes de sua fixação no Brasil. Ao chegar ao Brasil na década de trinta, Savio empreende viagens por todo o país tendo como objetivo divulgar o instrumento. No Rio de Janeiro, dedica-se ao ensino formando excelentes alunos, simultaneamente à sua atividade como intérprete em turnês. No início da década de quarenta, em São Paulo, a tendência didática cada vez maior em suas atividades como um todo, o leva a travar uma luta pela oficialização do curso de violão, culminando com a instituição da primeira cadeira de violão erudito no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em 1947, e com a oficialização definitiva do curso em 1960. Ao que parece, este longo processo de oficialização do ensino do instrumento está intimamente associado ao sucesso e à elaboração da escola de Savio, na medida em que a disseminação de cursos de violão pelo país proporcionaria a demanda de grande quantidade de material com exercícios e repertório diversificados para o trabalho a ser realizado com alunos de todas as partes. No pleiteamento da cadeira de violão junto ao Conservatório, Savio escreve um ofício onde comenta resumidamente sua formação e ocupações, apresentando a seguir um panorama histórico do violão contado a partir do ano de 1500 até aquele momento 35 em 1945. Segundo Ronoel Simões, Savio foi obrigado a levar até o Conservatório boa parte do repertório violonístico que menciona no ofício, para provar que o violão possuía sua literatura própria. Eis o documento transcrito em Violão e Mestres: “São Paulo, 7 de Junio de 1945. Sr. Dr. Carlos A. Gomes Cardim Filho Administrador del Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. De mi consideración: “El que suscribe, habiendo estudiado la guitarra con el profesor Conrado P. Koch, en Montevideo, y más tarde ejercido el profesorado en el Conservatorio Franz Liszt de esa ciudad, hasta el año 1930, actualmente Delegado del Instituto Interamericano de Musicología, corresponsal de la ‘Revista La guitarra’ de Buenos Aires con 3000 socios, Director del Departamento de Música de la Sociedade Pan Americana y Director del Departamento de Intercambios de la Sociedade Científica de São Paulo, se presenta ante V. S. y expone. Que: habiendo durante 15 años animado de norte a sur del Brasil la divulgación de la guitarra con audiciones íntimas, conciertos, enseñanzas y publicaciones, y observando que el pueblo brasileño ama la guitarra porque és íntima, comunicativa, seria y noble, y habiendo gran tendencia de personas que desean estudiarla en toda su extensión en cursos oficializados; “Considerando que la guitarra tiene su literatura propia a partir del año 1500 y que en el siglo XVII fué el instrumento por excelencia aristocrático introduciéndose en casi todas las cortes de Europa, incluso la del Rey Luiz XIV, quién fué aluno del notable compositor Robert de Visée; “Considerando que en los siglos 18 y 19 aparecen en toda Europa músicos célebres como F. Sor, Coste, Paganini, Schubert, Diabelli, Aguado y otros muchos, produciendo obras de alto valor musical y hoy poco conocidas por la falta absoluta de divulgación. Y que en esa época se han escrito para la guitarra obras en conjunto con otros instrumentos, como las sonatas de Paganini para violín y guitarra, las de Gragnani (1747) y también de otros autores para cuarteto y quinteto como el de Schubert, J. Kreutzer y otros muchos autores de la época; “Considerando que en el período romántico surgen guitarristas como Tárrega que sensibiliza la escuela moderna de la guitarra, legándonos obras de un elevado valor artítico; “Considerando que muchas obras de Bach, como la Chaconne, que en un concierto realizado en Paris por Segovia, la crítica afirma que dificilmente en otro instrumento se pueden obtener los efectos que se requieren en esa obra, como los presenta la guitarra, y teniendo en cuenta también que muchas obras de Scarlatti, Haendel, Haydn, Mozart, Beethoven y los románticos se encuentran transcriptas para el instrumento; “Considerando que en nuestros días la guitarra por sus altas cualidades, ha tomado un gran impulso haciéndose oir en los principales salones y teatros de conciertos del mundo: y que maestro notable como Manuel de Falla ha escrito 36 por intermedio de la guitarra ‘El homenage a Debussy’ y que juntamente con otros como Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, Castelnuovo-Tedesco, MorenoTorroba, Joaquin Turina, Lopez Chavarri, Grau, Roussel, Pachman, Samazeuith, Manuel Ponce un [sic.] magnífico concierto moderno para guitarra y orquesta tocado aquí en S. Paulo por el eminente Andrés Segovia, en un concierto de la Cultura Artística; “Considerando que la guitarra se ha elevado al nivel de los demás instrumentos solistas. Porque hoy posué una literatura propia, digna del mayor interés y estudio, como también una historia evolutiva juntamente con los demás instrumentos de cuerda; “Considerando finalmente el brillo que tendría la presentación de discípulos de este Conservatório en países extrangeros, transmitiendo el mensage musical de los compositores brasileros, con grandes y incomparables efectos de aproximación entre los pueblos y propaganda de los respectivos países; me presento para pedir que sea abierta una cátedra de guitarra en el Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, que V. S. dirige con tanto acierto y espíritu de renovación y progreso.”61 Com a criação do curso de violão no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, a escola violonística de Isaias Savio ganharia uma ferramenta divulgadora que auxiliaria no processo de sua própria formação, que por sua vez estimularia o aprendizado formal e por meio deste, a oficialização do curso treze anos após sua criação. Dedicaremos a parte seguinte à constatação dos principais resultados conseqüentes da atuação de Isaias Savio como didata no meio violonístico paulistano e brasileiro. I.2.2. Resultados “Grandes recitalistas começaram a surgir graças ao seu trabalho baseado no ensino racional, eficiente, que foi produzindo resultados sem alarde, sem reclamar para si o rótulo de ‘escola’, aproveitando o que se fez de melhor antes dele e acrescentando, sem economia, a sua vasta experiência pessoal no trato diário com a música e com o violão.”62 A qualidade de alguns intérpretes, resultante da intervenção direta de Isaias Savio como professor, é somente um dos aspectos importantes da contribuição didática do 61 62 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A, v. 2, n.º 7, 1967. p. 5-8. Idem, n.º 5, 1966. p. 2. 37 compositor. O empreendimento de sua escola violonística em São Paulo, cujo desenvolvimento foi gradual, como vimos na parte anterior, e que, parafraseando a citação acima, produziu resultados “sem alarde”, trouxe outras melhorias para o meio violonístico erudito. Como vimos, até a chegada de Savio, este meio violonístico paulistano já havia dado sinais claros de sua existência através da crescente atividade didática e das atuações públicas de artistas nacionais e principalmente estrageiros. No período de atuação de Savio, sua publicação didática em massa, tomando por base os vinte e sete títulos mencionados anteriormente, além de inúmeras composições e arranjos de sua autoria, atesta um cultivo substancialmente maior do violão erudito. A desproporção gigantesca entre o número de métodos normalmente publicados pelos violonistas anteriores: um, às vezes dois, e para os números de Savio, compreendidos em dezenas, com centenas de exercícios e peças reunidas, não deixa dúvida sobre a nova situação do violão erudito na sociedade brasileira. Considerando a relativa dificuldade em se publicar obras naquela época, somos levados a concluir que a razão seria não somente o bom relacionamento de Savio com as editoras, em especial a Ricordi, mas realmente a existência de um mercado que consumisse esta produção. Henrique Pinto, conceituado professor de violão e ex-aluno de Savio, confirmou em entrevista a existência desta demanda na época, salientando, inclusive, que por um certo período, a Ricordi foi praticamente sustentada por Isaias Savio 63. Outro dado importantíssimo para que possamos ter uma idéia do que foi a intensificação do movimento violonístico em São Paulo, a partir da atuação de Isaias Savio, é o aumento da produção e venda de violões pela fábrica Giannini, a qual, por ter sido fundada em 1900, reflete indiretamente toda a evolução do instrumento em São Paulo (e indiretamente no Brasil), no século XX. Vejamos estes números aproximados de produção da empresa até a década de setenta, segundo um dos dirigentes, em 1985, Antônio Salvat, em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo: “1900 a 1910: 600 violões por mês. 1911 a 1920: 800 violões por mês. 63 Entrevista com Henrique Pinto em julho de 2000. 38 1921 a 1930: 2.200 violões por mês. 1931 a 1940: 3.000 violões por mês. 1941 a 1950: 3.800 violões por mês. 1951 a 1960: 68.000 violões por mês. 1961 a 1970: 77.780 violões por mês. 1971 por diante [sic.] cento e poucos mil violões por mês.”64 (o grifo é meu) Segundo George Cohen Giannini, na mesma entrevista, o gigantesco aumento de produção e venda na década de cinqüenta está associado a vários fatores como o surgimento da Bossa Nova, da onda Country de origem americana, do acontecimento isolado que foi a exibição do filme A Noviça Rebelde, em que uma cena mostra o violão entre moças em um convento, o que significou uma explosão de vendas para o público feminino e ao nome de Isaias Savio. Sobre a participação de Savio neste processo, diz Cohen o seguinte: “A venda do instrumento vem crescendo numa constância, antes ele era muito discriminado. Em 1950, na década, esse preconceito começou a mudar com mais intensidade se bem que antes, com o trabalho feito a nível clássico pelo Isaias Savio, por exemplo, um dos precursores, o instrumento como cultura já era divulgado, já tinha acesso.”65 Prova do reconhecimento, pela Giannini, sobre a participação de Isaias Savio neste aumento de vendas antes e após a década de cinquenta foi a ótima relação do compositor com a empresa, que chegou a lhe dedicar um modelo especial de violão intitulado justamente “Isaias Savio” e a financiar a revista Violão e Mestres, na qual Savio foi o consultor técnico. Mais uma vez, esta relação não poderia ter sido como foi se não existisse um mercado consumidor fixo e em crescimento, justificando assim o apoio dado ao compositor na década seguinte à da grande explosão de vendas. No movimento violonístico erudito propriamente dito, na capital paulistana, vários foram os empreendimentos e atividades conseqüentes. O programa Solo de Violão, de Ronoel Simões, aos domingos pela Rádio Gazeta, entre 1944 e 1968 sem interrupção, valorizou muito o violão erudito nesta etapa de disseminação mais intensa. 64 65 Depoimento de Antônio Salvat (1985), Fita n.º 179.1A, Acervo MIS-SP. Depoimento de George Cohen Giannini (1985), Fita n.º 179.1A, Acervo MIS-SP. 39 A revista Violões e Mestres, em nove números, distribuídos entre 1964 e 1968, embora informalmente, constitui uma importante fonte de dados contendo informações sobre recitais, homenagens, festivais, edições de partituras, fabricação de instrumentos e cordas (em forma de propaganda pela Giannini), artigos sobre músicos atuais e do passado, notícias da criação de associações violonísticas em vários lugares, notícias do exterior, cursos, novos talentos etc., comprovando o grande número de atividades musicais relacionadas ao violão erudito. Além da gradual disseminação do cultivo do violão erudito em São Paulo e no país, outra grande contribuição a longo prazo de Isaias Savio foi aquela, fruto de sua atividade direta como professor, tanto entre as paredes do Conservatório Dramático, quanto em sua casa ou nas de alunos. De sua lavra podemos citar os nomes de Ademar Petri, Antônio Carlos Barbosa Lima, Antonio Guedes, Antônio Rebello Abreu, Gisela Nogueira, Henrique Pinto, Luís Bonfá, Manuel São Marcos, Marco Pereira, Paulo Bellinati, Paulo Porto Alegre, Tadeu do Amaral, Antônio Pecci Filho (Toquinho) e tantos outros que se destacaram no cenário violonístico nacional e estrangeiro, constituindo-se alguns professores reconhecidos, outros recitalistas eméritos e outros ainda violonistas populares de grande projeção. Com o novo status alcançado pelo violão, o próximo passo seria a entrada do instrumento na universidade, conseqüência lógica da evolução cujo caminho, a partir de então, foi trilhado por outros nomes, direta ou indiretamente ligados ao de Isaias Savio. 40 CAPÍTULO II: O COMPOSITOR ISAIAS SAVIO II.1. APRECIAÇÃO DE BIBLIOGRAFIAS Confrontando escritos de vários autores sobre Isaias Savio verificamos que, após os dados publicados em Violão e Mestres n.º 5 e 766, de 1966 e 1967, respectivamente, pouco se acrescentou à sua biografia escrita até a década de noventa quando alguns trabalhos acadêmicos trouxeram seu nome de volta com algumas contribuições. A História do Violão, de Norton Dudeque, e as Notas Ricordi somente repetem as datas mais importantes do compositor. Na Enciclopédia da Música Brasileira, primeira edição, a única informação nova é a de que o compositor se naturalizou brasileiro em 1963. Violão e Mestres n.º 5 também fala da naturalização, mas não menciona a data. A segunda edição da Enciclopédia, revisada, ampliada e atualizada traz, no entanto, o mesmo verbete sobre Isaias Savio 67. Em Gênios da Música68, a biografia apresenta duas informações novas. Segundo Carlos Iafelice, o compositor teria percorrido, a partir de 1931, quase todos os estados do Brasil, dando recitais em salões, rádios e também promovendo palestras a respeito do violão, “exclusivamente às suas expensas, sem auxílio de qualquer entidade, quer seja particular ou estatal”69. Iafelice diz também que no ano de publicação deste livro, 1974, Savio era o compositor violonista que mais vendia música no Brasil e no mundo. O verbete do Diccionario de Guitarristas70, de Domingo Prat, é uma exceção nos escritos sobre o compositor, porque, apesar de repetir algumas informações, acrescenta notas de jornais da época. Por abranger apenas 32 anos da vida de Savio, devido ao provável ano de publicação do Dicionário, 1934, Prat complementa o verbete com informações sobre recitais realizados pelo violonista em Montevidéu, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, sendo o desta última cidade o recital mais recente até 66 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A, n.º 5, 1966; Idem, v. 2, n.º 7, 1967, respectivamente. 67 DUDEQUE, Norton. História do violão. Curitiba, Editora da UFPR, 1994; NOTAS RICORDI: Informativo de Música. São Paulo, Ricordi, 1993; ENCICLOPÉDIA da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Marco Antônio Marcondes (org.), Art Ed., 1977. 2 v; Idem, 2. ed. São Paulo, Art Ed.: Publifolha, 1998, respectivamente. 68 IAFELICE, Carlos. Gênios da música. São Paulo, Livraria Trio Editora, 1974. 69 Idem, ibidem, p. 112. 41 aquele momento, o qual recebeu elogios pelas composições do intérprete e críticas pelo “sabor clássico” com que o mesmo executou peças folclóricas. O mesmo verbete traz, em compensação, duas datas equivocadas: 1902 e 1917 para o nascimento e início do estudo de Savio com Conrado Koch. Segundo Violão e Mestres n.º 5, o correto é 1900 e 1911 para estes fatos. Ainda algumas bibliografias estrangeiras das décadas de sessenta a noventa, pelo que pudemos apurar, citam o nome de Savio ou lhe dedicam pequenos verbetes. O livro de José de Azpiazu somente cita o nome do compositor. O de Emilio Pujol faz o mesmo, acrescentando que à Isaias Savio se deve “páginas bonitas”. Em Classical Guitar Companion, encontramos um pequeno verbete com três linhas de informações essenciais e em The Classical Guitar vemos um verbete maior, mas com informações conhecidas71. A revista Violão e Mestres, em última análise, é a que melhor complementa o quadro de informações sobre o compositor, mas é com trabalhos acadêmicos da década de noventa que pudemos conhecer outras informações além da confirmação de fatos importantes sobre a atuação de Savio no desenvolvimento do violão no Brasil. Em sua dissertação sobre o professor Manuel São Marcos, Rafael Roso Righini cita um concerto realizado por Savio, em 1941, na cidade de São Paulo, através do qual Manuel São Marcos o conhece e o procura para ser seu aluno e enfatiza, para o nosso interesse, o pioneirismo da escola violonística do compositor no Brasil72. A dissertação de Giácomo Bartoloni, de título O violão na cidade de São Paulo de 1900 a 1950, traz informações novas sobre recitais de Isaias Savio, sobre sua luta pela oficialização do curso de violão, seu serviço para as editoras e, principalmente, dados que confirmam a constituição por ele da primeira escola brasileira de violão. Segundo Giácomo, após a chegada de Savio “publicou-se mais músicas sem características populares, e de caráter técnico e didático, o que comprova a preocupação então consolidada de difusão de uma sistematização do ensino do violão no país”. E 70 PRAT, Domingo. Diccionario de guitarristas. Buenos Aires, Casa Romero y Fernandez, [1934]. p. 286. No último parágrafo do verbete, Prat refere-se a Isaias Savio como um exemplo a ser seguido, devido à sua contribuição como compositor e não exclusivamente como transcritor como é o caso de tantos outros. 71 AZPIAZU, Jose de. La Guitarra y los guitarristas. Buenos Aires, Ricordi Americana, 1961; PUJOL, Emilio. La Guitarra y su historia: conferencia. Buenos Aires, Casa Romero y Fernandez, s.d.; MCCREADIE, Sue. Classical guitar companion. England, Musical New Services, 1982; SUMMERFIELD, Maurice J. The Classical guitar: its evolution, players and personalites since 1800. 3. ed. EUA, Ashley Mark Publishing Company, 1992, respectivamente. 72 RIGHINI, Rafael Roso. A Escola Violonística Prof. M. São Marcos. Dissertação/ ECA-USP. São Paulo, 1991. p. 17-8. 42 Giácomo finaliza dizendo o quão grande foi a influência de Savio em várias gerações de violonistas e que “este professor é o maior responsável pela implantação do ensino sistemático do violão em São Paulo e por extensão, no Brasil”73. Apesar de um progresso palpável na abrangência dos dizeres sobre Isaias Savio, não encontramos trabalhos com investigação técnica sobre a música do compositor. As bibliografias citadas, por exemplo, quando extrapolam os limites biográficos e se aventuram no objeto musical, o fazem simplesmente através de citações e comentários, somente dizendo, por exemplo, que algumas composições de Savio foram inspiradas no folclore brasileiro ou em gêneros antigos. Em virtude do constatado, portanto, idealizamos esta dissertação de abordagem técnico-musical sobre as composições de Isaias Savio, abrangendo também reconstituição histórica para pano de fundo e melhor contextualização do objeto de estudo. Todas as informações cronológicas reunidas nesta parte juntamente com diversas outras provindas das mais variadas fontes permitiram elaborar o verbete a seguir. 73 BARTOLONI, Giácomo. op. cit., p. 177-8. 43 II.2. DADOS BIOGRÁFICOS Para a elaboração deste verbete comentado que apresentamos agora, tomamos como base o verbete de Ronoel Simões publicado em Violões e Mestres, e posteriormente, na Enciclopédia da Música Brasileira, o qual repetiu-se sem nenhuma alteração na segunda edição da mesma. A este verbete inicial acrescentamos dados diversos provindos do Dicionário de Domingo Prat, das dissertações de Rafael Righini e Giácomo Bartoloni, de partituras, gravações, programas de recital e entrevistas, bem como interpretações próprias sobre fatos e datas conflitantes. Procuramos enfocar a produção do compositor, contextualizando todas as peças que trazem a data da composição. O verbete resultante ficou assim constituído: SAVIO Isaias. Violonista, professor e compositor. (Montevidéu, Uruguai 1/10/1900 – São Paulo 12/ 01/ 1977.) Ingressou no Liceu Franz Liszt de Montevidéu, com oito anos de idade, para estudar piano com o organista Carlos Dubar e, pouco depois, iniciou-se no violão com o professor Luis Alba. Aos onze anos, passou a estudar com o violonista Conrado P. Koch74 e aos doze, abandonou o piano75. No lugar deste, prosseguiu no estudo do violão, iniciando paralelamente estudos de teoria musical com Vicente Ascone, diretor da Banda Municipal de Montevidéu76. É provavelmente desta época (1912) sua primeira composição, Caixinha de Música, que lhe teria propiciado a recomendação para estudar com Ascone77. Nossas pesquisas revelaram informações conflitantes em relação ao ano desta, talvez, primeira composição. A data mencionada, 1912, é a que se encontra na edição Ricordi e também escrita a mão pelo compositor na partitura de uma ex-aluna. Porém, de acordo com o exemplar que possuímos da editora argentina Alberto Savio, esta peça é de 1925. Segundo Simões, quando da publicação do verbete sobre o compositor na Enciclopédia da Música Brasileira, portanto nas edições de 1977 e 1998, teria sido 74 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 7-8. PRAT, Domingo. op. cit., p. 286. 76 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 7-8. 77 ENCICLOPÉDIA da música brasileira: popular, erudita e folclórica. 2. ed. São Paulo, Art Ed.: Publifolha, 1998. p. 719-20. 75 44 justamente esta composição a que propiciou a recomendação para Isaias Savio estudar com Ascone em 1912, conforme transcrevemos, mas em nossa última entrevista, em junho de 2000, Simões revelou que Savio dizia ser 1925 a data correta78. É também por essa época, aproximadamente 1912, que Savio assiste pela primeira vez, no Teatro Solis de Montevidéu, um recital do violonista Agustin Barrios, iniciando, com o artista paraguaio e sua obra, um contato que colaborará em sua formação musical.79 Em 1915, Savio fez sua primeira apresentação pública, no Instituto Verdi, tocando peças de Sor, Tárrega, Coste, Manjón e de sua própria autoria. 80 É provavelmente nesta fase inicial de estudos que Isaias Savio teria praticado violoncelo. Carlos Barbosa Lima diz, em entrevista ao MIS de São Paulo, que o compositor estudou este instrumento e que isso teria colaborado em alguns fundamentos técnico-violonísticos adotados pelo mesmo81. Simões, que desconhecia este dado até então, presume que somente na primeira fase de estudos, no Uruguai, teria sido isto possível, pois daí em diante Savio se dedicaria somente ao violão82. O verbete de Simões na Enciclopédia aponta o período de 1914 a 1916 como sendo o de composição dos 25 Estudos Melódicos83. Segundo a partitura pela Mangione, estes estudos teriam sido compostos em 1924. Em 1918, Savio conheceu o violonista Miguel Llobet, com quem manteve certo contato por ocasião das turnês deste músico espanhol pelas Américas84. Este contato, embora nunca na forma de aulas85, permitiu que Savio assimilasse conceitos técnicos que posteriormente aproveitou na elaboração de sua escola violonística brasileira86. No ano de 1921 teria ocorrido, segundo Simões, o primeiro contato entre Isaias Savio e Andrés Segovia, que fazia seu primeiro recital em Montevidéu. Sobre esta 78 Quer nos parecer que a antecipação da data da composição de Caixinha de Música foi uma estratégia possivelmente adotada para a promoção de Isaias Savio. 79 VIOLÃO E MESTRES, n.º 4, 1965. p. 36-7. 80 Idem, n.º 5, 1966. p. 7-8. 81 Depoimento de Antônio Carlos Barbosa Lima (1989), Fita C-310, Acervo MIS-SP. 82 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 83 ENCICLOPÉDIA da música brasileira, 2. ed., 1998. p. 719-20. 84 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 7-8. 85 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. Convencionou-se dizer, em função das biografias publicadas, que Savio estudou com Llobet entre 1918 e 1929. Segundo Simões o contato entre os dois resultou num bom nível de amizade mas nunca numa relação de professor e aluno. (Podemos concluir que esta associação didática foi também uma estratégia para a promoção de Isaias Savio). 86 Depoimento de Antônio Carlos Barbosa Lima (1989), Fita C-310, Acervo MIS-SP. 45 apresentação do violonista espanhol, Savio confirmaria, posteriormente, a mesma qualidade das gravações.87 Savio instalou-se na Argentina entre 1924 e 1930, período em que esteve lecionando, convivendo com violonistas e professores, realizando concertos na capital e no interior88 e, com esta atividade de performance, sendo, nas palavras de Prat, o “primeiro violonista concertista uruguaio” a empreender turnês para divulgar o “violão rioplatense”, do qual era “um dos melhores expoentes” 89. Deste período, além dos 25 Estudos Melódicos e da Caixinha de Música, caso fossem confirmados os anos de 1924 e 1925, respectivamente, dentre as datas conflitantes comentadas anteriormente, as composições são: Pensamientos (1924), Prelúdios números 1 ao 6 (1924), Páginas d’Album I e II (1925), Pequeña Romanza (1925), Allegro (1926), Murmullos (1926), Bourrée (1927), Mazurka em Dó# menor (1927), Largo e Final (Da 1.ª Fantasia), Rondó e Tema Variado e Final do álbum 3 Peças Originais (1927), Danza de los Gnomos (1928), Muñeca: Duerme...(1928), Minuetto, Mazurka, Estudo, Allegretto Moderato, Marcha Militar e Trémolo do álbum 6 Peças de Meia Dificuldade (1928) e, Palhaço, Triunfo de Arlequin e Alegria e Dor de Pierrot do álbum Suíte Descritiva (1930). Interessante é saber que, somente uma das partituras de 1927, uma das de 1928 e as de 1930 apontam a cidade de Buenos Aires como o local de composição, prevalecendo nas demais, fora alguns casos de ausência desta informação, a cidade de Montevidéu, o que indica um considerável trânsito do compositor entre a Argentina e sua terra natal. Em 1931, após uma turnê por todo o Uruguai, Savio chega ao Brasil e se dirige a Porto Alegre onde faz seu primeiro recital no país90. Contratado pela “Instrução Artística do Brasil” vai para São Paulo e realiza uma série de concertos no Teatro Municipal, posteriormente no interior do Estado e novamente na capital91. Ainda em 1931, Savio dirige-se a Belo Horizonte para ensinar violão, mas volta à São Paulo em fevereiro de 1932 para atuar, no Teatro Municipal, ao lado de Antonieta Rudge e com o Quarteto Brasil.92 87 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 7-8. 89 PRAT, Domingo. op. cit., p. 286. 90 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 7-8. 91 PRAT, Domingo. op. cit., p. 286. 92 Ibidem. 88 46 Em 1932, Savio instala-se na então capital federal, Rio de Janeiro, para atuar e lecionar. É neste ano que ocorre um fato curioso. Era intenção de Isaias Savio realizar um recital no Instituto Nacional de Música, mas a resposta que recebeu das autoridades da instituição foi a de que recitais de violão não eram permitidos ali. O Diário Fluminense, O Globo, fez no dia 6 de Junho de 1932 uma reportagem sobre o caso, publicando o que intitulou “Uma palestra com Isaias Savio”, onde o violonista fala de sua intenção em tocar no Instituto com o objetivo de “selecionar canções regionais” para seus recitais na Europa (viagem que nunca se realizou, segundo Simões), e sobre o que classificou como “desprezo oficial pelo violão”, provindo daquela instituição93. Aproveitando a reportagem, Savio segue seu discurso no qual cita inúmeros compositores que privilegiaram o violão com suas obras e diversos países onde o instrumento encontra-se bem difundido, encerrando sua palestra com o anúncio de seu concerto para a imprensa a ser realizado naquele mesmo dia, no Salão Nicolás. Segundo Domingo Prat, o recital aberto ocorreu no dia 15 do mesmo mês, no mesmo local, sendo o violonista acolhido pela crítica periodística como “um dos grandes virtuoses do violão”94. Um mês depois, no dia 23 de Julho, Savio apresentou-se em Belo Horizonte, no Teatro Municipal. Prat, que nos fornece tal informação, elogia o violonista, comentando a prodigiosa execução das composições do próprio intérprete: Suíte Descritiva e Caixinha de Música, mas apontando também o que definiu como severidade e sabor clássico um pouco descabidos, pelo que dá a entender, na execução das partituras folclóricas, o que no entanto não ofuscava, nestas, o brilho.95 O ano de 1933 marca o início dos estudos de Luís Bonfá com Isaias Savio. Esta informação em Violão e Mestres traz outra de maior importância atrelada. Segundo o artigo sobre Bonfá, os dois se conheceram “no dia em que Savio fora ouvir Pixinguinha em um recital numa casa de família, no Rio de Janeiro”96. Este dado indica, portanto, o contato de Savio com o compositor carioca e sua música. Savio permaneceu no Rio de Janeiro até 1940, “realizando recitais e apresentação de alunos”. Seus principais alunos dessa época foram: Luís Bonfá, Antônio Rebello, 93 UMA PALESTRA com Isaias Savio. O Globo. Rio de Janeiro, 6 jun. 1932. p. 1. PRAT, Domingo. op. cit., p. 286. 95 Ibidem. 96 VIOLÃO E MESTRES, v. 2, n.º 8, 1967. p. 16-7. 94 47 Deoclesio Melim e Maiza Ramalho 97. Entende-se ser este também o período em que o compositor percorre o país divulgando o violão em palestras, recitais e programas de rádio98, empreendimento realizado com seus próprios recursos financeiros99. Simões nos conta que por volta de 1935, em turnê por várias cidades do nordeste, Savio registrou em média trezentas pessoas por recital, mesmo em cidades muito pequenas. Outro dado interessante da narrativa de Simões provém da indagação que Savio fazia aos violonistas antigos das cidades que visitava, perguntando sobre atuações de outros concertistas no local. Sempre lhe respondiam para seu espanto: “o Barrios (Agustin Barrios) já tocou aqui”100. Em 1938, Savio se apresenta em duo com seu aluno Antônio Rebello Abreu na Escola Nacional de Música. Segundo suas palavras Savio acredita que esse concerto foi o “primeiro no gênero a realizar-se no Rio”101 e é provável que este duo tenha sido também o primeiro do gênero no Brasil. São desta época as composições Crepúsculo (1930 ou 1932, encontramos as duas datas em material de ex-alunos), Na Ilha Abandonada (1932), Amanhecendo (1933), Evocación del Rancho (1933), 13 Estudos Elementares (1934), Impressão de Rua (1935), Nesta Rua (tema com variações, 1935), Variaciones sobre un Tema Infantil (1935), Andante con Moto (1936), Rondó para dois violões (1936), Mazurka para dois violões (1937), Carícia (1938) e Tango Brasileiro (1939). Por estes títulos pode-se já perceber uma certa inclinação do compositor para a música brasileira. Em 1941, Savio radicou-se definitivamente em São Paulo, realizando um recital no antigo teatro Sant’Anna e fundando, nesse mesmo ano, a Associação Cultural Violonística Brasileira, que durou aproximadamente um ano e meio 102. Em 1945, Savio escreve e manda ao Conservatório Dramático e Musical de São Paulo o ofício com o qual fez o pedido de implantação da cadeira de violão, obtendo resposta afirmativa em 1947, após conseguir provar aos dirigentes da instituição que o violão possuía toda a literatura que o ofício dizia ter. Sua primeira aluna oficial foi Julieta Corrêa Antunes e o 97 Idem, n.º 5, 1966. p. 7-8. Ibidem. 99 IAFELICE, Carlos. op. cit., p. 112. 100 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. Entre os fatos pitorescos Simões conta que para chegar ao local de um dos recitais Savio teve atravessar um rio nas costas de um peão que estava lá para esse fim, ou seja, de proporcionar o transporte entre as margens. 101 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 35-8. 102 Ibidem, p. 7-8. 98 48 segundo Manuel São Marcos, que já o conhecia desde seu recital por ocasião de sua fixação em São Paulo. É de 1948 a primeira gravação doméstica de Isaias Savio em gravador a fio, segundo cópia que nos foi fornecida por Ronoel Simões. Nesta gravação Savio registrou o Prelúdio n.º 11 de Tárrega, as peças Sarabanda, Caixinha de Música, Estudo n.º 2 (dos 25 Estudos Melódicos), Serões, Escuta Coração, Sonha Iaiá, Agogô de sua autoria e suas variações sobre o tema Nesta Rua. Gravou também suas transcrições das peças Foi Boto Sinhá, Matintapereira e Cobra Grande, de Waldemar Henrique. Pela data desta primeira gravação, as composições Agogô, Escuta Coração, Serões, Sonha Iaiá e Sarabanda seriam da década de quarenta. Em nossas pesquisas encontramos os anos 1949 e 1950 anotados pelo próprio compositor em exemplares distintos da partitura Sonha Iaiá. Além disso, a própria partitura de Sarabanda traz a data de 1950. É provável que algumas das peças gravadas sejam uma primeira versão mesmo porque apresentam pequenas diferenças musicais em relação às partituras editadas, como é o caso de Escuta Coração e Agogô. Da peça Batucada, também obtivemos duas datas: 1941, segundo comentário do concertista Carlos Barbosa Lima durante um de seus recitais103, e 1950, pela anotação do compositor em exemplar de uma ex-aluna. Curiosamente, Simões nos conta que ainda no início da década de cinqüenta, talvez em 1952 pelo que se lembra, Savio lhe pediu opiniões sobre alterações em algumas peças do álbum Cenas Brasileiras104, o que reforça a possibilidade das diferentes versões. Além das peças citadas, as datas trazidas em outras partituras indicam os seguintes títulos como sendo também da década de quarenta: Marcha Fúnebre (1941), Choro n.º 2 (1943), Estudos n.º 1, 2 e 3, (série de 1945) e Hesitação (1947). Em 1950, novamente em gravação doméstica, Savio registrou, juntamente com Ronoel Simões, em dois violões, as peças Tre Giorni Son Che Nina, de Pergolesi e sua composição Andante con Moto. Neste mesmo ano, segundo Giácomo Bartoloni, Savio “foi convidado para dirigir um curso no ‘Centro Violonístico José do Patrocínio’, em Santos”105. 103 Recital de Antônio Carlos Barbosa Lima no Teatro Cultura Artística de São Paulo, em 1989. (Fita 331, Acervo MIS-SP). 104 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 105 BARTOLONI, Giácomo. op. cit., p. 60. 49 Em 1951, Savio “participou da fundação da Associação Cultural de Violão de São Paulo.”106 É de 1953 a última gravação doméstica de Isaias Savio, realizada na Rádio Tupi. Foram registrados em trio de violões (dois comuns e um terço), formado por Isaias Savio, José Lansac e Ronoel Simões, o Minueto n.º 2 WoO 10, de Beethoven, o Minueto n.º 5 opus 11 e a Allemande n.º 2 opus 36, de Fernando Sor, adaptados para a formação por Isaias Savio. Em quarteto de violões, contando com a formação anterior e o violonista Guilherme Nascimento, foi gravado o Allegro da Sonata opus 22, de Sor, adaptado para esta formação por Guido Santórsola. Ronoel Simões nos contou que Savio foi diversas vezes convidado para gravar comercialmente. O convite mais insistente teria partido de um certo Sr. Ernani, provavelmente da gravadora Colúmbia, segundo suas recordações. O colecionador nos contou também que o compositor tinha muito prestígio já nesta época, mas sua intensa atividade como professor, compreendendo aulas, revisão e transcrição de obras além da criação de métodos, o impedia de se dedicar ao instrumento de forma a obter um resultado musical que o satisfizesse, tendo em vista uma comercialização. É por essa época também, segundo o entrevistado, que Savio é convidado a lecionar na Rússia, convite que recusou, pois já estava bem instalado no Brasil.107 Na opinião de Simões, Savio “como intérprete era muito bom, tirava muito som do violão”108. Ouvindo cuidadosamente todas as gravações domésticas citadas podemos identificar em Isaias Savio um pensamento musical claro, frases expressivas e conclusões bem acabadas, embora com pequenas variações de andamento em função não somente de uma idéia musical, mas também de exigências mecânicas maiores. Em última análise, predomina grande musicalidade onde se reconhece, por vezes, traços interpretativos do violonista espanhol Andrés Segovia, como pequenas hesitações e antecipações de baixos. Data também de 1953 um recital solo de Isaias Savio no Rio de Janeiro, sendo este provavelmente o último nesta cidade, pelo que nos contou Sérgio Abreu, músico (violonista) e Luthier reconhecido, neto do ex-aluno e companheiro de duo de Isaias Savio, Antônio Rebello Abreu. O programa do recital anuncia o intérprete como 106 ENCICLOPÉDIA da música brasileira, 2. ed., 1998. p. 719-20. Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 108 Ibidem. 107 50 “violonista-compositor” e apresenta duas das três partes compostas por suas próprias composições, como podemos ver: (Capa) 51 Recital solo de Isaias Savio realizado no Rio de Janeiro em 1953. (Programa cedido por Sérgio Abreu) Giácomo Bartoloni chama-nos à atenção ao que constatou e definiu como “último grande concerto” realizado por Isaias Savio. Foi coincidentemente na cidade de Porto Alegre, em 1954, “cidade onde ocorrera seu primeiro concerto no Brasil”. Neste recital, o programa foi também quase que totalmente constituído por composições do violonista109. 109 BARTOLONI, Giácomo. op. cit., p. 62. 52 Algumas composições podem ser hipoteticamente enquadradas na década de cinqüenta, como é o caso das que apresentam datas conflitantes como a Sarabanda, por extensão a Giga, sua companheira de álbum e também as peças Sonha Iaiá e Batucada, pelas anotações do autor encontradas, como já mencionamos. Particularmente acreditamos, devido às informações sobre consultas de opinião de Isaias Savio com Ronoel Simões, que o compositor esteve voltado senão à composição, pelo menos à revisão das peças das Cenas Brasileiras 1.º e 2.º volumes, para a publicação, respectivamente, nos anos de 1955 e 1958, e possivelmente também dos 4 Prelúdios Pitorescos, para a publicação em 1956, ambas as obras apontadas por ex-alunos como as mais importantes na opinião do compositor. Em 1960, Savio obtém do governo federal o reconhecimento e aprovação para o curso de violão, instituído no Conservatório Musical e Dramático de São Paulo em 1947, tornando-o curso oficial. A partir de então, designado pelo SEMA110 (Serviço de Educação Musical e Artística do Distrito Federal) e pelo Serviço de Fiscalização Artística de São Paulo, que, segundo Simões desempenhou este papel de forma pioneira no Brasil, organiza o programa oficial de estudo de violão, emitindo, em comissão com ex-alunos seus, os professores Manuel São Marcos e Julieta Corrêa Antunes, de acordo com o documento reproduzido por Rafael Righini em sua dissertação 111, pareceres sobre o andamento desta padronização em estabelecimentos de ensino artístico. Na década de sessenta, segundo Rafael Righini, o professor Manoel São Marcos idealizou o programa “Violão e Mestres” 112, para TV, que contou com a participação de vários violonistas e professores, dentre eles, Isaias Savio. Desse programa de TV, derivou um programa em rádio e a já tão citada por nós, revista Violão e Mestres, patrocinada pela fábrica de violões Giannini, na qual Savio foi o consultor técnico. O ano de surgimento desta revista, 1964, coincide com o momento em que a Giannini começou a se preocupar seriamente com o violão erudito113. A empresa, além de patrocinar a revista, dedicou também ao compositor um modelo especial de violão intitulado “Modelo Savio”, um violão de “alta sonoridade, grande equilíbrio, brilhante 110 Idem, ibidem, p. 61. RIGHINI, Rafael Roso. A Escola Violonística Prof. M. São Marcos. Dissertação/ ECA-USP. São Paulo, 1991. p. 38. 112 Idem, ibidem, p. 37. 113 Depoimento de Alberto Amêndola Heinzl (1985), Fita n.º 179.1A, Acervo MIS-SP. 111 53 em todas as cordas”114. Estes fatos indicam o crescimento do mercado em função do violão erudito e o prestígio de Isaias Savio como professor. Savio naturalizou-se brasileiro em 1963. Neste mesmo ano, as vendas da “Ricordi Americana” alcançam onze mil, quatrocentos e cinco exemplares de transcrições e composições de Isaias Savio 115. Também neste ano, Savio vai ao Uruguai especialmente convidado para uma conferência sobre “As Origens do Violão”, na residência de Lola Gonella de Ayestarán116. O tema desta conferência foi objeto de estudo do compositor durante anos, sendo publicado ao longo dos números de Violão e Mestres. Ainda em 1963, conforme programa que nos foi enviado por Antonio Guedes, ex-aluno do compositor, Savio participa de um concerto com coro, orquestra e solistas, sob a regência de Martin Braunwieser. Trata-se de um concerto pela Sociedade Bach, de São Paulo, para a realização da Paixão Segundo São João do compositor alemão, que contou com o Conjunto Vocal e o Instrumental da Sociedade Bach, e Neide Carvalho, Maria Angela Rea, João Calil, Edgar Arantes e Alberto Medaljon nas funções de soprano, contralto, tenor, barítono e baixo, respectivamente. Savio passou por uma intervenção cirúrgica em 1964. Em razão disto foi realizado em junho deste mesmo ano, no Teatro Municipal, um recital em sua homenagem em que tomaram parte vários de seus alunos. Foi também um manifestação de regozijo pela sua recuperação. Em resposta aos violonistas de São Paulo, o compositor dá seu testemunho de vida voltada à arte violonística: “Tenho dedicado toda minha vida ao violão e à sua música. Outros em meu lugar, talvez optassem por um modo mais fácil – e financeiramente mais proveitoso – de ganhar o seu sustento. Para mim, nunca poderia haver outra maneira e nenhuma outra atividade – estou certo – me traria igual soma de satisfações, compensando largamente os inevitáveis momentos de amargura. [...] No instante em que vocês violonistas se reuniram no Teatro Municipal para homenagear este membro orgulhoso de sua família, compreendi que jamais estarei só, que nenhum violonista, neste belo país que me acolheu de braços abertos, jamais ficará sozinho!”117 114 VIOLÃO E MESTRES, n.º 1, 1964. p. 30. Ibidem, p. 34. 116 Ibidem. 117 Idem, n.º 2, 1964. p. 39. 115 54 É neste ano de 1964 que Savio inicia, juntamente com Nelson Cruz, Alberto Amêndola Heinzl, Ronoel Simões e o patrocínio da empresa Giannini, a elaboração e publicação de Violão e Mestres, que se estenderá até 1968, chegando ao número nove. Em entrevista ao MIS de São Paulo, Amêndola argumenta o fim da publicação da revista pela necessidade em torná-la eclética, para atender também a crescente popularização da Bossa-Nova118. Em fins de 1965, realizou-se no auditório Ruy Barbosa do Instituto Mackenzie, o “Festival comemorativo ao Jubileu de Ouro de Isaias Savio”, onde, na primeira parte, várias alunos interpretaram composições do homenageado.119 Foi idealizada em dezembro de 1966, a X Noite de Violão, evento promovido pela Folha de São Paulo e patrocinado pela Giannini, para a apresentação de alunos do professor Isaias Savio. Durante o recital, realizado no auditório do mesmo jornal, foi sorteado um violão Giannini entre o público presente.120 Em 1967, Savio realiza “viagem cultural” ao Uruguai. 121 No ano de 1968, Isaias Savio é indiretamente honrado pelos elogios pessoais de Andrés Segovia ao intérprete Antônio Carlos Barbosa Lima, principal discípulo do compositor, após este conquistar o terceiro prêmio no “IX Concurso Internacional de Violão”, organizado pelo Conservatório de Orense-Espanha.122 Confirmando o prestígio do compositor, o Liceu Musical Palestrina lhe dedicou, em 1969, o “1.º Festival de Violão de Porto Alegre, no qual tomaram parte mais de 100 violonistas”123. No ano seguinte, 1970, Savio foi o diretor do mesmo124. Não encontramos nas composições de Savio datas que as enquadrem na década de sessenta, no entanto, este período é fecundo em publicações de composições de caráter didático ou não, além de métodos e peças alheias revisadas, estando estas avulsas ou integradas a álbuns didáticos. Este dado nos leva a crer que neste período o compositor estaria revisando composições e, paralelamente, revisando e elaborando material didático em volume cada vez maior para atender a demanda provinda do crescimento do setor pedagógico. 118 Depoimento de Alberto Amêndola Heinzl (1985), Fita n.º 179.1A, Acervo MIS-SP. VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 4. 120 X NOITE de Violão. Folha de São Paulo. São Paulo, 7 dez. 1966. 121 VIOLÃO E MESTRES, v. 2, n.º 7, 1967. Editorial. 122 Idem, v. 2, n.º 9, 1968. p. 64. 123 Ibidem, p. 27-8. 124 ENCICLOPÉDIA da música brasileira, 2. ed., 1998. p. 719-20. 119 55 No início da década de setenta, o compositor finalizou as peças futuramente conhecidas pelos subtítulos Improvisos e Ternura, esta iniciada em 1933 no Rio de Janeiro, publicando ambas em 1971. Em 1972, Savio dirigiu o 1.º Seminário Santista de Violão, com mais de 700 seminaristas.125 Para fins de aposentadoria, Isaias Savio desliga-se do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em fevereiro de 1973 e, “na mesma data, aposentado”, é “readmitido no seu antigo cargo”.126 Savio dedicou-se principalmente ao ensino até pouco antes de seu falecimento em 12 de janeiro de 1977, publicando grande quantidade de material didático, dando aulas e promovendo recitais de alunos. De acordo com Simões, além do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e da Escola José do Patrocínio, em Santos, Savio foi supervisor e professor na Escola Paulista de Violão, fundada por Julieta Corrêa Antunes, na Academia Paulista de Música e no Conservatório Musical Meireles. 127 Foi também colaborador da revista norte-americana, Guitar Review, além da revista argentina citada pelo compositor em seu ofício de 1945: Revista La Guitarra. Vários compositores, muitos dos quais seus amigos, dedicaram-lhe obras como: Camargo Guarnieri, Eduardo Grau, Guido Santórsola, Osvaldo Lacerda, Theodoro Nogueira e, entre os violonistas: Abdon Lira, Alfredo Scupinari, Dilermando Reis, Jan Anton va Hoek (Holanda), José Oliveira Queirós, Luis Alba (Montevidéu), Manoel São Marcos e Miguel Abloniz (Itália)128, aos quais acrescentamos o nome de Francisco Mignone, não citado no texto do programa musical de que nos servimos. Segundo Simões, para nosso interesse, dentre as inúmeras amizades de Isaias Savio incluem-se aquelas com violonistas compositores de música popular como Aníbal Augusto Sardinha (Garoto), Dilermando Reis e Paulinho Nogueira129. Vários centros violonísticos foram criados em homenagem ao compositor durante sua longa atuação no Brasil, como o “Centro Violonístico Isaias Savio” de Poços 125 Ibidem. Registro de Empregado n.º 59 – Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. 127 ENCICLOPÉDIA da música brasileira, 2. ed., 1998. p. 719-20. 128 NOITE de arte Isaias Savio. Tranquillo Giannini S.A. São Paulo, 14 dez. 1965. p. 4. (Programa musical) 129 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 126 56 de Caldas, “Escola Violonística Isaias Savio”, de Santo André, “Núcleo Violonístico Isaias Savio”, em São Paulo e Centro Violonístico Isaias Savio”, de Belo Horizonte. II.3. PERSONALIDADE ARTÍSTICA E PROVÁVEIS INFLUÊNCIAS II.3.1. Alguns aspectos do pensamento musical Considerando a proporção da contribuição didática de Savio, somos levados inicialmente a imaginar suas composições como uma produção complementar, com a qual o compositor procurava somente acrescentar meios para que os estudantes do instrumento conseguissem tocar obras de compositores consagrados. No entanto, o antigo acervo de Isaias Savio com aproximadamente treze mil partituras, atualmente pertencente a Ronoel Simões, apresenta dados que confirmam o pensamento do compositor para além dos limites didáticos. Em várias consultas realizadas, pudemos verificar inúmeras pequenas alterações em partituras editadas de composições suas. Algumas destas partituras chegam a constituir novas versões. As alterações abrangem correção ou mudança na escrita musical, na digitação, na dinâmica, na fórmula de compasso, no título, bem como cortes e acréscimos de notas e até de compassos inteiros. Além do acervo de Simões, nossa principal fonte deste tipo de informação, encontramos também alterações em materiais didáticos de ex-alunos de Savio, onde se reconhece em algumas peças a caligrafia do compositor realizando as mesmas alterações e outras. Também foi possível localizar alterações em algumas peças publicadas por editoras distintas ou até mesmo por uma mesma editora em datas diferentes, bem como em composições alheias revisadas por Isaias Savio. Pois todas estas alterações nos ajudarão a entender a intenção artística de Isaias Savio em suas composições, como veremos. Das partituras com duas edições, analisaremos as alterações musicais mais importantes sem transcrevê-las porém, por ocasião da parte analítica do catálogo no capítulo IV, pois que as edições mais recentes das mesmas, já com as melhorias, além de 57 publicadas, encontram-se possivelmente ainda em circulação, e por isso, com muito maior possibilidade de acesso do que suas versões anteriores não revisadas. Das partituras consultadas no acervo de Ronoel Simões ou via material de exalunos do compositor, analisaremos as melhorias nas duas peças de maior número de alterações dentre os dezenove casos constatados. O capítulo IV trará, no item “Comentários” das análises, todas as alterações encontradas em peças não reeditadas. Comentaremos também as intervenções de Isaias Savio em composições de terceiros, quando da publicação destas. Partindo das peças com mais de uma edição, as editadas comprovadamente pela Mangione e posteriormente pela Ricordi constituem exemplos significativos. São elas: Celeste y Blanco, Serenata Campera e Variações de Gato130. Em Celeste y Blanco, as alterações principais, fora as de escrita musical, são as de digitação: atribuindo uma meia pestana na 7.ª casa ao acorde do terceiro tempo do compasso 3 e designando os dedos “1” e “3” para a execução dos mordentes dos compassos 19 e 27; de nota: atribuindo um bequadro à última nota “dó” do compasso 7; e de ritmo, transformando os dois acordes dos compassos 14 e 38 em acordes de um tempo cada e passando para semicolcheias as notas “fá” dos compassos 18 e 26, que antecedem os mordentes. Em Serenata Campera, as alterações também abrangem correções de escrita musical e de digitação, sendo de maior importância, porém, as alterações de notas e ritmos dos compassos 18, 20 ao 22, 36 (casa 1 e 2), e os acréscimos de compassos na seção “b” e na coda. Estes acréscimos fizeram a peça passar dos trinta e oito compassos na edição Mangione para os quarenta e dois compassos na edição Ricordi. Na peça Variações de Gato, a única alteração foi a supressão das notas inferiores “lá - dó# - mi” das terças melódicas paralelas do compasso 52, e igualmente a supressão das notas “fá# - ré” das terças do compasso 56. Nas três peças citadas, as alterações proporcionam maior fluência em virtude da conseqüente facilidade de execução e no caso específico de Serenata Campera, elas parecem equilibrar a forma. A seção “b” desta peça tornou-se mais extensa, com dezessete compassos, portanto mais próxima à extensão da seção “a” com seus vinte e 130 SAVIO, Isaias. 4 Peças típicas do rio do prata. São Paulo, Mangione, 1944; Idem. Coleção de peças típicas rioplatenses n.º 1. São Paulo, Ricordi, 1959, respectivamente. 58 três compassos. Também a finalização da peça com um compasso a mais na coda resultou aparentemente em um acabamento melhor. Dentre as obras que contam com mais de uma publicação, temos também o Allegro131, em duas edições, e o Estudo n.º 1 dos 25 Estudos Melódicos132, que conta não com uma segunda edição propriamente, mas com uma publicação posterior em revista especializada. A peça Allegro, publicada pela Romero y Fernandez provavelmente entre as décadas de trinta ou quarenta, foi publicada pela Ricordi na década de setenta como sendo o terceiro dos estudos constituintes do álbum Estudos para o 6.º Ano de Violão133. Esta segunda edição traz pequenas melhorias no texto musical resultando uma melhor adequação instrumental. As principais alterações são: mudança nas durações das notas da linha do baixo, na maior parte das vezes de menor para maior (exemplo: compassos 2, 4, 6 e 8) e o corte dos primeiros acordes de compassos posteriores a fragmentos escalares descendentes (exemplo: compassos 27, 31, 36 e 38). Estas duas alterações indicam, respectivamente, a intenção de proporcionar um maior “legato” de maneira geral e facilitar as mudanças de posição entre os fragmentos escalares e os acordes que seguem. O Estudo n.º 1, ao ser publicado posteriormente em Violão e Mestres n.º 9 134 , trouxe somente a supressão do ritornello ao final da peça. Esta alteração faz sentido por anular a repetição da segunda e última parte da música, pois, ao que tudo indica, este último trecho de sete compassos caracteriza a coda em virtude da cadência perfeita e dos dois últimos e únicos acordes plaquês deste estudo de harpejos. Em vista destas características, o trecho assume caráter conclusivo, em discordância com sua repetição pela edição Mangione. Passemos agora a comentar duas partituras cujas alterações não se encontram incorporadas em novas edições. De maneira geral, as alterações colhidas no acervo de Simões constituem realmente modificações musicais e, as colhidas no material dos exalunos, fora aquelas que coincidem com as do mesmo acervo, consistem somente num 131 Idem. Allegro. Buenos Aires, Romero y Fernandez, s.d. Idem. 25 Estudos melódicos. São Paulo, Mangione, 1941. 133 Idem. Estudos para o 6.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 134 VIOLÃO E MESTRES, v. 2, n.º 9, 1968. p. 21. 132 59 maior detalhamento das indicações já existentes com vistas à interpretação mais acertada. As alterações musicais realizadas por Savio nas peças não reeditadas guiam-se normalmente por um sentido melódico mais claro, em primeiro lugar, e por uma coerência interna maior do texto musical, em segundo. As peças Paisagem e Marcha Fúnebre são as mais representativas desta conduta, apresentando o maior número de alterações inclusive de título, para uma delas, a ponto de se poder considerá-las novas versões musicais. Vejamos as melhorias que a revisão de cada uma destas peças apresenta: Em Paisagem, a mudança da fórmula de compasso de 2/4 para 3/8 é pertinente com a padronização do texto musical em grupos de sextinas em semicolcheias, ficando um grupo para cada compasso. Esta alteração atende também à evolução do aspecto harmônico pelo enquadramento, na maioria das vezes, de uma única função em um único compasso. Também, em coerência interna com a mesma evolução harmônica, é a única mudança de compasso introduzida no decorrer da música, estabelecendo um compasso em 3/4 em meio aos demais em 3/8. Este compasso de medida maior atende a formação de uma dominante individual cuja sensível é alcançada cromaticamente no decorrer dos três tempos deste. Seguindo, ao que parece, um ideal de coerência, o corte da primeira metade do compasso 8, pelo compositor, impede uma aparente assimetria em virtude da repetição parcial do conteúdo do compasso anterior no trecho cortado. No lugar deste, o compositor preferiu, após a edição da peça, repetir todo o compasso 7. Outra alteração importante e que estabelece relação direta com a repetição deste compasso 7 é a repetição do compasso 12. Esta repetição, desta vez desvinculada do corte de notas, é visivelmente uma medida de compensação pela repetição anterior e, além disso, ocorre estrategicamente na mesma função harmônica. Também a repetição da primeira metade do compasso 21 na segunda metade do mesmo vem novamente reforçar a coerência interna e ajustar o sentido melódico. Na peça Marcha Fúnebre, as alterações são menos numerosas, mas também importantes. Ocorrem correções e acréscimos de notas no primeiro violão, corte de pequenos trechos melódicos do segundo violão em dobramento com o primeiro, o que 60 reforça neste a função melódica e acréscimos de acordes no segundo violão, reforçando seu papel acompanhante. No primeiro violão, a supressão de uma linha melódica secundária entre as oitavas melódicas do compasso 31 torna o manejo das mesmas mais maleável, o que favorece uma certa liberdade de pulso além de propiciar maior coerência interna com as oitavas de modo geral, predominantes em toda a peça. Ainda relevante no primeiro violão é a mudança da conclusão melódica em uma voz para conclusão em oitavas no compasso 36, em coerência com o tratamento melódico em oitavas iniciado no compasso 28; e a passagem da também conclusão em acordes plaquês para acordes harpejados no compasso 44 (casas 1 e 2), em coerência por sua vez com o tratamento do acompanhamento em harpejos, iniciado no compasso 37. No segundo violão, a supressão da melodia executada em uníssono com o primeiro nos compassos 10, 12, 14 e 36, apesar de parecer uma medida desfavorável à evidência do aspecto melódico, torna melhor o resultado musical novamente pela maior liberdade de pulso que passa a ter um único intérprete ao realizar a referida melodia, no caso, o executante do primeiro violão. Esta liberdade de pulso, na forma de rubatos, é uma das características desta peça e do romantismo que ela retrata, pelo que se conclui tratar-se de uma medida para a adequação estilística do texto musical. Em parceria com o violonista Gilson Antunes, interpretamos em recitais a peça analisada Marcha Fúnebre já com as alterações comentadas e outras de menor importância. O resultado musical, de fato, nos pareceu melhor135. Há de se considerar também, dentro desta busca por um resultado musical melhor, a interferência do compositor nas obras de outros ao revisá-las ou transcrevê-las para os métodos didáticos e outras publicações avulsas. Os Estudos N.º 1 e N.º 4 do álbum didático Estudos para o 5.º Ano de Violão136, peças respectivamente de Dionisio Aguado e Napoleon Coste, são exemplos desta crítica feita pelo compositor por nós estudado. Savio acrescentou cadências próprias ao final dos dois estudos. O professor Antonio Guedes nos disse, em entrevista, que Savio não concordava com a revisão destes estudos em métodos de outros autores e que sua intenção foi a de dar mais vida às peças137. 135 Recitais realizados em 29 e 30 de janeiro de 2000 no SESC Vila Mariana - São Paulo. SAVIO, Isaias. Estudos para o 5.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 137 Entrevista com Antonio Guedes em agosto de 2000 (via internet). 136 61 Vejamos a seguir outros dados sobre o compositor e sua obra. II.3.2. Diversidade estilística Ao tomar um contato mais profundo com as composições de Isaias Savio, vimos uma diversidade de elementos musicais digna de nos fazer indagar se todas pertencem realmente ao mesmo compositor. As análises realizadas neste repertório durante nosso trabalho revelaram características de quase todos os períodos da histórias da música, (barrocas, clássicas e românticas), bem como influências de movimentos nacionalistas, dos quais resultaram peças com características da música latino-americana e brasileira, sendo estas últimas exercitadas em gêneros eruditos, populares urbanos e folclóricos. Vimos também que Savio sofreu influências específicas de alguns compositores. E toda esta produção, caracterizada por tantas influências e marcada de fora a fora por uma característica comum: a completa funcionalidade técnico-violonística, possui uma parcela de música feita também com intenção didática, sendo numerosos os estudos e de diferentes níveis, além de peças organizadas por álbuns de acordo com a dificuldade. Apesar desta aparente diversidade no material musical: gênero, forma, harmonia, ritmo etc., há traços constantes de apelo popular perceptíveis principalmente pela abundância da forma canção (a – b – a), em combinação com melodias fáceis e harmonias predominantemente tonais, com alcance médio relativo à 3.ª lei tonal, segundo o princípio da harmonia funcional descrito por Koellreutter138. Esta característica geral popular ameniza, de certa forma, a diversidade estilística constatada. Comentando então o repertório, encontraremos, sem dificuldade, peças representativas de cada influência sofrida. A Giga, por exemplo, com a seqüenciação do motivo inicial e constantes marchas harmônicas, poderia, por pouco, ser atribuída a um compositor barroco, da mesma forma que o Rondó para dois violões – cuja harmonia é composta pelas funções de “T, S, D, Sr, (D)S, (D)Sr, (D)Sr e DD”, ou seja, funções das três primeiras leis tonais típicas do período clássico, com frases simétricas de quatro compassos, além do uso da própria forma “rondó” – poderia ser atribuído a um compositor clássico. Porém, reforçando, apesar das características constatadas como 138 KOELLREUTTER, H. J. Harmonia funcional. 2. ed. São Paulo, Ricordi, 1986. 62 sendo de outros períodos, os motivos e temas e suas respectivas elaborações nas peças citadas não apresentam, em média, a complexidade das composições genuínas daquele tempo, o que demonstra a acessibilidade do repertório. Outras peças apresentam, por exemplo, características do impressionismo francês, como acordes destituídos de relação tonal que propiciam a típica suspensão do movimento geral, mas contêm da mesma forma, em maiores ou menores proporções, melodias simples ou trechos com harmonias tonais que conduzem o texto musical. É a melodia que une, por exemplo, vários dos acordes de constituição intervalar idêntica, mas dispostos fora de um contexto tonal, em Na Ilha Abandonada. Toda esta diversidade, ainda que disfarçada pela característica comum da melodia fácil, sugere-nos uma primeira hipótese, relacionada com a intenção didática de Savio: a de que o compositor tenha adotado em sua música procedimentos do período barroco, clássico etc., ou procedimentos de uma linguagem específica como o impressionismo, para fazer uso de seu repertório como um recurso pedagógico, mostrando aos alunos, na prática, as características musicais dos mesmos. Tal hipótese não é de se descartar já que o ensino do instrumento sempre norteou a atuação de Isaias Savio, que, mesmo como didata, atuava além do âmbito de sala de aula, promovendo eventos, fazendo palestras e, a partir de um dado momento, trabalhando junto a editoras, que publicavam todo o seu material pedagógico. Também não podemos deixar de considerar a possível coincidência entre o compositor desejar escrever uma peça baseada em estilos de outras épocas sem necessariamente uma intenção didática e num segundo momento utilizar esta composição para esse fim. Isto nos faz pensar numa segunda explicação para essa variedade, também relacionada com seu trabalho didático: a de ser resultante, em parte ou totalmente, da influência exercida pelo grande e variado repertório trabalhado pelo compositor em revisões, transcrições, arranjos etc., aproximadamente três vezes maior que o de suas próprias composições. Em outras palavras, esta diversidade musical seria então um reflexo natural de seu trabalho em composições alheias. O professor Antonio Guedes, em seu parecer sobre o assunto cita o caso das peças Sarabanda e Giga, de Savio, dizendo que foram concebidas após o compositor revisar diversas Sarabandas e Gigas para o álbum que publicou com o título de Antologia Barroca139. 139 Entrevista com Antonio Guedes em agosto de 2000 (via internet). 63 Outras peças de Isaias Savio revelam procedimentos ainda mais representativos desta segunda hipótese. São as que apresentam não somente características musicais gerais, mas também idéias pré-concebidas de outros compositores, como é o caso de suas peças: Estudo N.º 1 da série 3 Estudos140 e do Prelúdio Pitoresco n.º 5, de subtítulo “Amanhecendo”141. Em seu Estudo N.º1, Savio se utiliza de um ritmo repetitivo em grupos regulares de semicolcheias, harmonia em constante mudança, cromatismo na concatenação de muitos acordes, fórmula fixa de harpejo de mão direita, quebra do procedimento técnico nos compassos 7 e 23 ao 29, com a passagem de harpejos para escalas e ritornello para cada compasso, indicado na partitura. Todos estes procedimentos estão presentes no Estudo N.º 1, de Villa Lobos, conforme podemos observar na partitura e também como constatou Marco Pereira com mais propriedade em seu trabalho Heitor Villa-Lobos: sua obra para violão142. O Prelúdio Pitoresco n.º 5, “Amanhecendo”, traz no compasso 31 a citação integral de um dos motivos melódicos da peça Matintaperera, de Waldemar Henrique. Na música do compositor paraense, este motivo norteia toda a peça, aparecendo diversas vezes sem variação, enquanto que no prelúdio de Savio aparece integralmente reproduzido no compasso citado, sendo reelaborado antes e depois. Curioso é observar que a peça Matintapereira foi antes de tudo transcrita, tocada, gravada domesticamente e publicada por Isaias Savio, servindo depois como material musical para seu prelúdio, como podemos deduzir. Por este e por outros motivos, este prelúdio e os demais que compõem a série Prelúdios Pitorescos contam com uma parte analítica exclusiva no terceiro capítulo. Outro dado que ajuda a explicar a diversidade de Isaias Savio e que pode ter ocorrido paralelamente ao que propõe as duas primeiras indagações é a vida nômade do compositor. Segundo os registros, mesmo insuficientes, Savio, de origem uruguaia, conheceu bem seu país natal em turnês, da mesma forma como conheceu a Argentina, onde viveu seis anos e o Brasil, a partir de 1931. Dado certo é a retratação destas 140 SAVIO, Isaias. 3 Estudos. São Paulo, Ricordi, 1956. Idem. Prelúdio pitoresco n.º 5: “Amanhecendo...”. São Paulo, Ricordi, 1971. 142 PEREIRA, Marco. Heitor Villa-Lobos: sua obra para violão. Brasília, Musimed, 1984. p. 32. 141 64 nacionalidades em peças como Pericon143, autêntica música uruguaia, Milonga144, gênero argentino e Choro n.º 2145, gênero brasileiro. Considerando somente o item nacionalidade na música do compositor, a produção mais significativa é a brasileira, tanto pela quantidade quanto pelo conteúdo. Savio utilizou melodias sinuosas e frases curtas, perfazendo a tendência do gênero modinha, bem como o elemento rítmico sincopado em outros gêneros urbanos que cultivou, como tango brasileiro, choro e samba. Utilizou também características musicais folclóricas como notas repetidas, frases descendentes, cadência na terça e outras, todas elencadas por Bruno Kiefer e Mário de Andrade como sendo as constâncias musicais do populário musical brasileiro. Podemos citar, como exemplo dentre as peças “urbanas”, o Tango Brasileiro146 e, dentre as “folclóricas”, a peça Sonha Iaiá147. Vale reforçar que as viagens ao interior do Brasil contribuíram para a formação do compositor. Diz Ronoel Simões a este respeito: “A finalidade principal de Savio em suas viagens era dar concertos, mas ele aproveitava para ter contato com a cultura e o folclore [...] A Sonha Iaiá, por exemplo, é uma toada baiana, e ele (Savio) esteve na Bahia.” 148 Na opinião de Simões, Savio compunha em diversos estilos o tempo todo. Não havia um estilo predominante para uma época, apenas uma tendência de acordo com o lugar onde se encontrava, ou seja, na Argentina escrevia de acordo com gêneros de lá e no Brasil passou a escrever música brasileira também. Ronoel conta que Savio já conhecia um pouco da música brasileira antes de vir para cá: “O Barrios, na Argentina, tocou música brasileira para ele, porque o Barrios tocava tudo quanto era música brasileira. Eu sei que Barrios tocou para ele (Savio) músicas do Waldemar Henrique, que depois Savio transcreveu.”149 Este dado, inclusive, reforça a possibilidade da interação entre as duas últimas hipóteses citadas para tanta variedade musical nas composições de Savio, a serviço ou não de um objetivo didático. 143 SAVIO, Isaias. Pericón. Buenos Aires, Diego Gracia y Cia., s.d. Idem. 4 Peças típicas do rio do prata. São Paulo, Mangione, 1944. 145 Idem. Choro n.º 2. São Paulo, Mangione, 1943. 146 Idem. Tango brasileiro. São Paulo, Mangione, 1943. 147 Idem. Cenas brasileiras 1.ª série. São Paulo, Ricordi, 1955. 148 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 144 65 A esta altura podemos ter já uma idéia mais clara do que constituiu o mundo de influências sofridas por Isaias Savio: um músico que viveu em três países, tocou com desenvoltura, conheceu um repertório extenso e diversificado, cuja prova é seu antigo acervo com cerca de treze mil partituras e trabalhou de diversas formas no ensino do violão, atividade a que mais se dedicou durante toda a sua vida. Além das influências comentadas até agora, Savio sofreria também influências específicas de compositores violonistas, que também significaram contato com a música pianística de compositores do passado, e do reflexo do movimento nacionalista brasileiro. Vejamos a seguir como isso possa ter ocorrido. II.3.3. Influências específicas Em sua dissertação de mestrado, Edelton Gloeden comenta a influência exercida pelo violonista, professor e compositor Francisco Tárrega sobre seus discípulos Miguel Llobet e Emilio Pujol. Em I.2.1., deste presente trabalho, comentamos a relação dos três músicos espanhóis na formação da escola violonística de Isaias Savio. Veremos que a influência exercida por Tárrega em Savio no campo da criação se assemelha a sofrida por Llobet e Pujol. Sobre Llobet, Edelton diz: “As obras anteriores apresentam um acentuado caráter salonístico porém não espanhol, influenciadas pela estética pianística das miniaturas de Chopin e Schumann, influência essa que recebeu da obra de Tárrega.”150 E sobre Pujol: “Juan Rivera, em seu livro sobre Pujol, classifica 124 obras originais entre peças de finalidade didática e de concerto com grande diversidade estilística. Nelas encontramos desde o estilo de salão tarreguiano até pequenos experimentos politonias, passando por peças de caráter hispânico de diversas regiões, uma obra essencialmente violonística construída em torno de formas de pequenas dimensões.”151 149 Ibidem. GLOEDEN, Edelton. op. cit., p. 56. 151 Idem, ibidem, p. 70. 150 66 Além da já constatada diversidade, as formas de pequenas dimensões ou miniaturas e o estilo de salão tarreguiano, coincidentemente em peças de finalidade didática e de concerto, no caso de Pujol, estão presentes na obra de Isaias Savio, como é o caso, por exemplo, da peça Hesitação152, uma valsa curta e representativa do estilo salonístico. A estética pianística das miniaturas de Chopin e Schumann apontada em Llobet, como influência provinda de Tárrega, ocorre também em algumas composições de Isaias Savio. As peças Páginas d’Album I e II 153 são bons exemplos disto pela arquitetura pequena e por um certo sentido melódico resultante do encadeamento dos acordes. Charles Rosen, em Geração Romântica, atribui a origem deste procedimento melódico a Bach, ressaltando a importância do processo para os românticos, em particular (e justamente) para Chopin e Schumann154. A notícia da presença de características destes compositores românticos em Llobet ganha maior significado ao lembrarmos do contato pessoal entre este violonista espanhol e Savio por ocasião de ambos na Argentina, pois nos permite imaginar mais um canal para a influência romântica tarreguiana em nosso compositor estudado. Como se observa, o círculo de influências retorna a Francisco Tárrega, em última análise. Relembrando o período de estudos com Isaias Savio, o concertista Paulo Porto Alegre155 afirma que Tárrega era o compositor violonista que Savio mais gostava, informação repetida pelo professor Henrique Pinto156. Na mesma entrevista, Paulo nos conta também que Savio, na medida do possível, conduzia os alunos para o estudo da obra de Tárrega, dizendo com todo orgulho que era “capaz de ensinar o verdadeiro modo de se tocá-la”. Ronoel Simões confirma esta devoção acrescentando que Savio era capaz também de reconhecer todos os erros cometidos pelos que revisavam a obra do mestre espanhol para a confecção de novos métodos157. Outra figura que provavelmente influenciou Isaias Savio foi o violonista e compositor paraguaio Agustin Barrios. A relação entre ambos é assinalada em Mangoré: 152 SAVIO, Isaias. Hesitação. São Paulo, Ricordi, 1958. Idem. Páginas d’album 1 e 2. Rio de Janeiro, Casa Arthur Napoleão, s.d. 154 ROSEN, Charles. A geração romântica. Trad. Eduardo Seincman. Ed. rev. e ampl. São Paulo, EDUSP, 2000. p. 31. 155 Entrevista com Paulo Porto Alegre em maio de 2000. 156 Entrevista com Henrique Pinto em julho de 2000. 157 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 153 67 Vida y obra de Agustin Barrios158 e confirmada pelas palavras de Simões e do próprio Savio em Violão e Mestres. Na opinião do professor Antonio Guedes, já citado ex-aluno do compositor, “Savio compunha por um ato de criação e entusiasmo sobre as formas já existentes, seguindo quase a mesma linha de composição de Barrios”159. Segundo os estudiosos de Barrios, Sila Godoy e Luis Szarán, esta “linha” de composição abrange três tendências: a de características barrocas e românticas, a de elementos musicais latino-americanos diversos e as inspiradas na música folclórica e indígena do Paraguai160. Além disso, podemos encontrar na obra deste, títulos denominativos de gêneros ou não, iguais aos de algumas peças de Savio, como Estilo, Pericón e Página de Álbum, e também, coincidindo com os violonistas espanhóis, transcrições de peças de Chopin e Schumann, como por exemplo, respectivamente, Prelúdio n.º 20 e Träumerei. Como veremos no capítulo seguinte, a obra de Savio se presta a uma divisão parecida. Um aspecto interessante é o dado comum da prática do piano pelos três compositores relacionados. Tanto Isaias Savio, como Francisco Tárrega e Agustin Barrios tiveram contato com este instrumento. Conforme vimos em II.2., Isaias Savio iniciou-se ao piano com oito anos de idade, permanecendo quatro anos no estudo do instrumento. Este contato, embora curto, pode realmente ter sido um dos incentivos iniciais para a futura variedade na música do compositor. No caso de Tárrega, este contato foi mais intenso. Segundo Edelton Gloeden, Tárrega estudou piano no Conservatório de Música y Declamación de Madrid e chegou inclusive a trabalhar como pianista, experiência que lhe teria conferido certa vantagem sobre os violonistas de sua época pela formação musical superior que o instrumento lhe proporcionava. Esta formação tornaria possível, dentre outros fatos, a boa realização de suas transcrições, com as quais ajudou a suprir a falta de obras originais para o violão em fins do século XIX e início do séclo XX161. 158 GODOY, Sila & SZARÁN, Luis. Mangoré; vida e obra de Agustin Barrios. Asunción, Editorial Don Bosco, 1994. p. 56. 159 Entrevista com Antonio Guedes em agosto de 2000 (via internet). 160 GODOY, Sila & SZARÁN, Luis. op. cit., p. 118-21. 161 GLOEDEN, Edelton. op. cit., p. 36. 68 Sobre Agustin Barrios, a transcrição da carta de um certo “Tomás R. Salomoni”, na biografia do violonista paraguaio o revela “não somente um grande músico, um artista na execução do violão, mas também um bom pianista e um intelectual e poeta inspirado, com uma admirável caligrafia”, e que por ocasião de sua estada em Berlin, todas as manhãs, descia à sala da casa em que se hospedou e executava, num grande órgão, música clássica e romântica de Chopin, Schumann e outros, para despertar o anfitrião162. Percebe-se, portanto, mais uma vez, um possível canal para a influência romântica em Isaias Savio. O que de fato podemos apontar, contudo, é o pequeno traço coincidente na formação de Savio, Tárrega e Barrios, e, em proporção um pouco maior, na música produzida por eles e também nas de Llobet e Pujol. Como dissemos, será a partir do terceiro capítulo que discutiremos com mais profundidade a música de Isaias Savio, com o que pretendemos chegar a conclusões mais acertadas. Resta-nos ainda um último aspecto a ser considerado. A relação dos reflexos do Movimento Modernista Brasileiro na música de Isaias Savio. Segundo o violonista Carlos Barbosa Lima, o compositor “tomou contato com o movimento da música brasileira e encontrou coisas fascinantes aqui, intuitivas dos violonistas, então, pouco a pouco ele começou a modificar a escola européia”163. Conforme expusemos anteriormente, as publicações que Isaias Savio dedicou ao ensino dirigido dos conservatórios, salvo os métodos de iniciação com melodias folclóricas e alguns exercícios inspirados no mesmo, no Escola Moderna do Violão, 1.º volume, não apresentam concessões de repertório, prevalecendo o erudito entendido como o produzido por compositores violonistas dos séculos passados. A maior parcela da modificação da escola européia, para fazer uso dos termos de Carlos Barbosa Lima, concentra-se nos inúmeros casos de adaptações e arranjos, como já exemplificaram os títulos de música popular que transcrevemos em I.2.1., e na composição, atividade que rendeu frutos inéditos para a música brasileira violonística e que, por isso, deve ser considerada também como inserida no processo nacionalizante como um todo. Algumas composições de Isaias Savio do início da década de trinta, por exemplo Crepúsculo e Na Ilha Abandonada, apresentam curiosamente procedimentos que lembram os da música impressonista de Debussy, coincidentemente ao que aconteceu 162 GODOY, Sila & SZARÁN, Luis. op. cit., p. 98. 69 uma década antes na produção dos compositores brasileiros de maneira geral, como recurso para escapar da órbita romântica-tonal. Aliás, José Miguel Wisnik diz ser “possível apontar influências de Debussy em Villa-Lobos já nas suas Danças indígenas (depois africanas), datadas de 1914-1916”164. Esta influência em Savio é apontada textualmente pelo próprio autor no rascunho da palavra “Impressionista” junto ao título da partitura Na Ilha Abondonada, em exemplar particular pertencente atualmente ao acervo de Ronoel Simões. Coincidência ou não, algumas características musicais impressionistas, juntamente com outras incomuns em determinadas peças de Savio, nos fazem acreditar que tenha havido por parte do compositor um impulso no sentido de uma busca de identidade própria maior, para a qual o impressionismo teria sido somente o caminho, como ocorreu com outros compositores brasileiros que atravessaram o período conturbado do movimento modernista. Esta identidade própria nas mãos de Villa-Lobos resultaria, com a interferência de Andrés Segovia, na maior contribuição do século XX ao meio violonístico erudito brasileiro, principalmente após a edição de seus 12 Estudos, em 1952 e do Concerto para Violão e Pequena Orquestra, em 1955. Nas mãos de Isaias Savio, paralelamente a todas as considerações que fizemos sobre a variedade de suas composições, esta identidade propiciaria as peças assim ditas então: “Impressionistas”, ou seja, as seis denominadas Prelúdios Pitorescos: Crepúsculo, Retrato, Paisagem, Na Ilha Abandonada, Amanhecendo, Ternura, e as mais representantivas das de características brasileiras, dez ao todo, que compõem os álbuns Cenas Brasileiras, sendo: Sonha Iaiá, Minha Noiva é Bonita, Serões, Reminiscências Portuguesas, Escuta Coração, Agogô e Batucada do primeiro volume, Impressão de Rua e Requebra Morena do segundo e, Improvisos, do terceiro. Curiosamente, todos os entrevistados ex-alunos do compositor foram unânimes em apontar estas peças como as prediletas do autor, principalmente Na Ilha Abandonada, Agogô e Batucada, esta última com gravações por diversos intérpretes nacionais e estrangeiros, como Carlos Barbosa Lima, Yone Ferreira, José de Oliveira, Maria Livia São Marcos, Kazuhito Yamashita, Narciso Yepes e Sharon Isbin. 163 Depoimento de Antônio Carlos Barbosa Lima (1989), Fita C-310, Acervo MIS-SP. WISNIK, José Miguel. O Coro dos contrários: a música em torno da semana de 22. 2. ed. São Paulo, Duas Cidades, 1977. p. 44. 164 70 Nos Prelúdios Pitorescos, é comum a ocorrência de trechos melódicos ou harmônicos provenientes de digitações pré-fixadas, ou seja, de procedimentos violonísticos, dos quais resulta um texto musical suspensivo de modo geral, cuja gramática musical quase não apresenta interação tonal entre os acordes. Nas peças de Cenas Brasileiras, estão presentes elementos puramente musicais bem típicos do folclore musical brasileiro com base tonal/modal, concordando em tudo, por sinal, com parte das diretrizes composicionais sugeridas por Mário de Andrade em seu Ensaio sobre a música brasileira165, que é praticamente um manual para os compositores preservarem as características musicais do povo na escrita erudita. A partir do próximo capítulo, adentraremos no universos das composições de Isaias Savio, dispensando atenção especial quando das análises das peças citadas de maneira geral e dedicando aos Prelúdios Pitorescos uma seção exclusiva de análise, em virtude da origem essencialmente instrumental dos elementos musicais apontados. 165 ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins, 1962. 71 CAPÍTULO III: COMPOSIÇÕES DE ISAIAS SAVIO III.1: CONSIDERAÇÕES GERAIS O estudo das composições de Isaias Savio para violão deve incluir a organização de um catálogo uma vez que há informações incorretas e dados sobrepostos, por exemplo: títulos como Berceuse, Canción de Cuna, Melodia e Sonatina, entre outros, atribuídos ao compositor e datas distintas de composição para uma mesma peça, como ocorre com a Caixinha de Música. Isaias Savio trabalhou com várias editoras ao longo do tempo: da Ricordi e Mangione consultamos material significativo; nas editoras Romero y Fernandez, Distribuidor General Alberto Savio (particular, segundo Ronoel Simôes), Diego Gracia y Cia e Casa Arthur Napoleão há indicação de títulos nas contracapas de algumas edições; e na Irmãos Vitale, também nas contracapas, predominam títulos de arranjos e transcrições. Para o estabelecimento do catálogo do compositor nota-se, de forma geral, que as editoras argentinas trazem normalmente a data da composição junto ao nome do autor, enquanto a Ricordi e a Mangione privilegiam a data de edição. Isto não significa que as edições argentinas nunca tragam a data de edição ou que as brasileiras nunca apresentem a data de composição. Relevante também é o descuido com as informações apresentadas nas contracapas das edições e vale adiantar que tal descuido pode implicar numa avaliação errada sobre o tamanho do catálogo de Isaias Savio. Há erros simples, como a publicação do nome do compositor em local equivocado, por exemplo, no álbum Para Nilo Brincar166: o nome de Savio acompanha acertadamente títulos seus, avançando, porém, sobre as obras “Divertimiento (del Opus 38)”, “Divertimiento (del Opus 62)” e Souvenir de Russie, peças estas do compositor e violonista espanhol Fernando Sor. Outro exemplo significativo é o presente na contracapa do arranjo de Savio das peças Tamba-Tajá e Foi Boto Sinha, de Waldemar Henrique167. Os títulos destas músicas estão situados logo abaixo do item “Obras de Savio”, sendo que na mesma contracapa há um espaço reservado para o item “Arranjos de Savio”. 166 SAVIO, Isaias. Para Nilo brincar; 9 Canções populares infantis brasileiras. São Paulo, Ricordi, 1977. 72 Estes erros constatados, ocasionados talvez por descuido do compositor que, como vimos, se submetia a uma rotina árdua de trabalho em várias frentes, ou por descuido dos editores, nos fazem desconfiar de outros casos. Como se verá no catálogo no capítulo IV, a análise das contracapas nos levou a apontar, além das partituras reunidas, inúmeros títulos como sendo do compositor. Para ilustrar, encontramos o título Recuerdos, publicado nas contracapas de peças pelas editoras Romero y Fernandez e Diego Gracia ao lado de composições conhecidas do autor. Quem poderá, na ausência da partitura, nos garantir que não se trata da revisão da conhecida peça em trêmulos, Recuerdos de Allambra, do compositor espanhol Francisco Tárrega? Ainda mais se considerarmos a falta de precisão ao se anotar corretamente nas contracapas mesmos os títulos certos, fato comum na época dessas edições para as editoras com as quais Savio trabalhou, pelo que pudemos constatar. Além disso, esta peça Recuerdos de Allambra conta realmente com uma revisão de Isaias Savio, publicada pela Ricordi. Outro fator que merece atenção na contagem é o agrupamento de algumas peças em diferentes álbuns, ou simplesmente a posição interna das mesmas em um mesmo álbum. A editora brasileira Mangione publicou, em 1944, o álbum 25 Estudos Melódicos. Tudo nos leva a crer que os doze primeiros estudos deste álbum são os que se dividem nos álbuns Estudios 1 y 2, Estudios 3 y 4, Estudios 5 y 6, Estudios 7 y 8, Estudios 9 y 10 e Estudios 11 y 12 de algumas editoras argentinas, tendo sido enumerados no catálogo como sendo os mesmos, portanto. Mas no caso do Prelúdio N.º 3, do álbum Prelúdios Nos. 3, 4, 5 e 6 168 , a evidência primeira do título não nos leva a imaginar um número diferente do mesmo prelúdio na organização interna do que seria o álbum original, previsto segundo as contracapas de Romero y Fernandez, Distribuidor General Alberto Savio e Diego Gracia y Cia., para doze prelúdios. Aliás, nada se sabe sobre a organização original deste álbum e o número real de prelúdios. No setor de partituras de Violão e Mestres n.º1 169 , encontramos este mesmo Prelúdio N.º 3 publicado como Prelúdio N.º 9. E para reforçar, Ronoel Simões nos relatou o seguinte sobre o assunto: 167 Idem. 2 Peças folclóricas do Amazonas: Tamba-tajá, Foi boto sinhá. São Paulo, Mangione, s.d. Idem. Prelúdios Nos. 3, 4, 5 e 6. São Paulo, Ricordi, 1970. 169 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., n.º 1, 1964. p. 18-9. 168 73 “Há muitos anos, o diretor da Ricordi, o seu Roberto na ocasião, que já faleceu, falou: Ah Simões, nós estamos querendo e procurando aqui aqueles prelúdios de Savio, que tem o número seis aqui. Cadê os outros números? Não encontramos aqui. De maneira que tinham essas confusões. Coisas que não se achavam mais.”170 Outro motivo para confusão na construção de um catálogo é o fato de o compositor rever constantemente suas peças editadas, operando, às vezes, mudanças de título. Este é o caso de sua Marcha Fúnebre171, peça que, caso merecesse uma reedição, teria sido batizada de Uma Saudade. A marcha, após a edição de Mangione, foi retrabalhada pelo compositor, como vimos em II.3.1. Este manuscrito, do acervo de Ronoel Simões, mostra que a alteração no título e na estrutura da obra teriam dado lugar, caso editada, a uma outra versão da peça. A notícia que se tem é que Uma Saudade chegou a figurar num programa de recital publicado em Violão e Mestres n.º 2172. Mas seja qual for a probabilidade da confirmação das questões relativas aos diversos títulos levantados por nossa pesquisa, o fato é que, somando-se todos os títulos oriundos na maioria de contracapas, e outros da revista Violão e Mestres, com as partituras reunidas, o número resultante de peças do catálogo é de cento e quarenta e duas, sendo que durante todo o período de pesquisa e trabalho no tema, somente pudemos reunir cento e quinze. O próprio Ronoel Simões, colecionador de discos e partituras de violão e por isso informante qualificado, afirma não conhecer e/ou não se lembrar dos vinte e sete títulos que perfazem a diferença do número de peças reunidas e do número total catalogado. O número de obras compostas por Isaias Savio não deve ser muito maior do que cento e quinze. De um lado, há que se considerar os arranjos e revisões cujos títulos são enunciados parcialmente, o que ocorreu, provavelmente, com Recuerdos de Allambra, de Francisco Tárrega. Por outro lado, as próprias obras de Savio devem ter tido seus títulos alterados, vez por outra nas edições. É este, também, provavelmente, o caso de Romanza en Lá maior, que aparece em uma contracapa ao lado de Pequeña Romanza. O exame da segunda mostra que, talvez não por coincidência, ela foi escrita na tonalidade de Lá maior. Na dúvida, elencamos os dois títulos em nosso catálogo. Outro caso parecido é a da peça Muñeca Duerme e sua relação com o título Melodía. Muñeca 170 171 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. SAVIO, Isaias. Marcha fúnebre. São Paulo, Mangione, 1941. 74 Duerme é uma de nossas partituras reunidas. Seu título encontra-se isolado na partitura, mas acompanhado do subtítulo “melodia” no catálogo incompleto de Violão e Mestres n.º 7 173, sendo esta a única relação encontrada, e o título Melodía, por sua vez, encontrase isolado nas contracapas de Romero y Fernandez, Distribuidor General Alberto Savio e Diego Gracia y Cia. É provável que estejamos tratando de uma mesma peça, mas por não termos como comprovar, pela ausência da partitura de Melodía, somos forçados pelo critério geral a incluir os dois títulos no catálogo. Todos os casos duvidosos comentados são bem representativos dos conflitos de informações entre editoras, revistas e o autor e justificam trabalhos futuros com o tema, onde se possa acrescentar ou corrigir dados baseados na presença de novas partituras, ampliando assim o número comprovado de cento e quinze composições. III.2. CONCEITUAÇÃO DO MATERIAL MUSICAL III.2.1. Procedimentos gerais e conseqüente divisão das composições em grupos e subgrupos Considerando a diversidade das composições de Isaias Savio e, na tentativa de entendê-las em toda extensão, procedemos de duas formas: na primeira, submetendo todo este repertório reunido, num total de cento e quinze peças, a uma análise musical e violonística básica, procurando associar os principais elementos musicais e técnicos do instrumento conciliando-os com o entendimento da proposta musical de cada peça e com a interpretação sugerida (este processo abrangente de análise e interpretação encontra-se no capítulo IV), e na segunda, adequando este repertório de composições em grupos e subgrupos distintos, de acordo com as características de cada peça. Esta segunda forma, justamente a que será tratada nesta parte da dissertação, utiliza conclusões provindas do procedimento de análise mencionado acima, por um lado, e, por outro, conclusões obtidas de nossa prática como intérprete deste repertório. 172 173 VIOLÃO E MESTRES, n.º 2, 1964. p. 53. Idem, v. 2, n.º 7, 1967. p. 15. 75 Este segundo procedimento geral buscou, portanto, encontrar perfis abrangentes e adequados para esta classificação, que consistiu na divisão inevitável das composições de Isaias Savio, segundo duas orientações gerais: 1. MUSICAL 2. DIDÁTICA: para os estudos e peças de álbuns com intenção didática, ainda que incluindo obras de grande interesse artístico. Vale reforçar que a prática ao violão de todo o repertório foi fundamental para a confirmação destas orientações gerais, firmando a idéia da macro divisão em dois grandes grupos, um voltado a todas as características musicais constatadas e o outro, ao objetivo didático violonístico ou musical, independente das características musicais intrínsecas. Os dois grandes grupos por sua vez se subdividiram em seis pequenos subgrupos, cada um com características bem definidas: GRUPO I – PEÇAS DE REPERTÓRIO - Subgrupo IA – Temas uruguaios e argentinos. - Subgrupo IB – Gêneros antigos. - Subgrupo IC – Temas brasileiros. - Subgrupo ID – Diversas. GRUPO II – PEÇAS DIDÁTICAS - Subgrupo IIA – Estudos. Abrangendo as peças chamadas “Estudo”, relacionadas ao desenvolvimento da técnica instrumental. - Subgrupo IIB – Miscelânea. Abrangendo todas as peças dos álbuns didáticos, cuja proposta é o exercício didático-musical. Na abordagem musical, considerou-se os títulos reveladores da intenção musical e a proposta artística no trato dos aspectos puramente musicais: gênero, forma, ritmo, melodia, harmonia etc., como os reguladores do posicionamento de cada peça nos subgrupos IA, IB, IC e ID. 76 Na abordagem didática, considerou-se os títulos de estudos ou de álbuns com evidente direcionamento didático e a proposta do exercício técnico-violonístico ou musical como os reguladores do posicionamento de cada peça nos subgrupos IIA e IIB. Neste segundo grupo, levou-se em conta, portanto, a intenção didática do aprimoramento instrumental através das obras específicas com o título de “estudos”, elencados em IIA, e em IIB, a mesma intenção didática, mas em relação à música, sem levar em conta, da mesma forma, a proposta musical em si, ou seja, considerando neste último subgrupo somente os exercícios musicais a serem realizados nas peças, como, por exemplo, o destaque correto de uma melodia. Algumas peças do primeiro grupo são híbridas, ou seja, apresentam características de mais de um grupo, mas figurarão somente no grupo com o qual mais se identificam seus elementos musicais. Da mesma forma, algumas das peças do segundo grupo apresentam características de claro engajamento nos subgrupos estilísticos do primeiro grupo. Estas, no entanto, por não terem sido consideradas quanto aos estilos, serão aludidas ao final dos vários subgrupos do primeiro grupo de acordo com as características musicais constatadas. SUBGRUPOS O elenco das cento e quinze peças nos subgrupos segue uma organização alfabética, levando em conta os títulos das peças avulsas quando existirem assim e dos álbuns, estes com as peças constituintes sem ordem interna definida, mas cujo vínculo ao respectivo álbum facilita o entendimento da intenção musical ou didática do compositor. Todos os casos relativos a datas, edições, álbuns, versões, títulos distintos etc., serão tratados detalhadamente no catálogo, no próximo capítulo. Os títulos em itálico e os subtítulos em redondo e entre parênteses tiveram a apresentação padronizada em caixa alta, sendo conservados nos títulos outros detalhes ocasionais, como aspas e reticências. A informação sobre instrumentação, “dois violões”, consta em caixa baixa e entre parênteses. Esta forma de apresentação será a mesma no catálogo. 77 Subgrupo IA – Temas uruguaios e argentinos Títulos como Milonga, Pericon e Variações de Gato alusivos a danças e subtítulos, como “Rioplatense”, indicam claramente a intenção do compositor em retratar culturas musicais uruguaias e argentinas. Como é sabido, Savio é uruguaio de nascimento, tendo-se transferido para Argentina aos vinte e quatro anos. Vimos por bem, portanto, estabelecer como primeiro subgrupo o formado pelas peças de características provenientes da música popular e folclórica do Uruguai e da Argentina. Além dos títulos, estes já reveladores das características estipuladas para o subgrupo IA, evidências como fórmulas rítmicas ternárias de algumas peças e o caráter dançante comum à maioria, reconhecível na harmonia fácil em combinação com ritmos vivos, está de acordo com as características das danças dos países aludidos e constituem, por isso, reforço no argumento para o estabelecimento do subgrupo em questão, ficando este assim constituído: COLEÇÃO DE PEÇAS TÍPICAS RIOPLATENSES N.º 1. São Paulo, Ricordi, 1959. Série abrangendo três peças: 1. CELESTE Y BLANCO (ESTILO). 2. SERENATA CAMPERA. 3. VARIAÇÕES DE GATO. 4. ESTILO. Buenos Aires, Diego Gracia y Cia. (s.d.). 5. EVOCACIÓN DEL RANCHO. São Paulo, Ricordi, 1971. 6. PERICÓN. Buenos Aires, Diego Gracia y Cia., (s.d.). 4 PEÇAS TÍPICAS DO RIO DO PRATA. São Paulo, Mangione, 1944174. 7. MILONGA. Nota: Vide também número 96. 174 Neste álbum constam ainda Celeste y Blanco, Serenata Campera e Gato, as três também presentes na série Coleção de Peças Típicas Rioplatenses N.º 1, sendo que a última destas com o nome de Variações de Gato. 78 Subgrupo IB – Gêneros antigos O segundo subgrupo organizado foi o de características típicas de períodos musicais do passado. Estas características significam, grosso modo, apenas uma tendência aos períodos barroco, clássico e romântico, abrangendo este último o impressionismo, figurando juntamente com outros elementos musicais reconhecíveis pelo traço popular, provenientes da exploração de formas pequenas, harmonias tonais em geral não muito ampliadas e principalmente da melodia fácil. As peças deste grupo são, portanto, quase sempre híbridas, apresentando características musicais de um ou mais períodos musicais do passado, com esquemas formais, harmônicos e melódicos que as tornam bem acessíveis. Para o estabelecimento deste grupo, servimo-nos também das evidências sugeridas pelos títulos e pelas análises dos aspectos musicais básicos. As características principais observadas, além do título, foram: a ocorrência de marchas harmônicas, no caso das peças “barrocas”; as cadências, como determinantes da melodia no caso das “barrocas” e “clássicas”; as frases simétricas, guardando por vezes a medida de quatro compassos e a harmonia com grande ocorrência de dominantes individuais, no caso das peças “clássicas”; a maior elaboração harmônica, o maior desprendimento melódico do acompanhamento harmônico, o estabelecimento de melodias secundárias entre as notas intermediárias de acordes concatenados e o uso de processos musicais de intenção descritiva no caso das peças “românticas”, de modo geral; e o mesmo processo descritivo e a sonoridade suspensiva, proveniente de acordes não tonais resultantes de processos puramente violoníticos nas peças “impressionistas”. Este subgrupo apresenta-se assim: 8. ALLEGRO. Montevidéu, mar. 1926. 9. ANDANTE CON MOTO (dois violões). São Paulo, Mangine, 1968. 10. BOURRÉE. Buenos Aires, out. 1927. 11. “MARCHA FÚNEBRE” (dois violões). São Paulo, Mangione, 1941. 12. MURMULLOS (PRELUDIO). Montevidéu, 1926. Distribuidor General Alberto Savio, s.d.. 79 PÁGINAS D’ALBUM 1 e 2. Rio de Janeiro, Casa Arthur Napoleão, (s.d.). Álbum contendo: 13. PÁGINAS D’ALBUM I. Montevidéu, jan. 1925. 14. PÁGINAS D’ALBUM II. Montevidéu, ago. 1925. 15. PENSAMIENTOS...”. Montevidéu, 1924. 16. PEQUEÑA ROMANZA. Montevidéu, jul. 1925. PRELUDIOS 1 Y 2. Buenos Aires, Diego Gracia, (s.d.). Álbum contendo: 17. PRELUDIO N.º 1. Montevidéu, 1924. 18. PRELUDIO N.º 2. Montevidéu, 1924. PRELÚDIOS 3, 4, 5 e 6. São Paulo, Ricordi, 1970. Álbum contendo: 19. PRELÚDIO N.º 3. 20. PRELÚDIO N.º 4. 21. PRELÚDIO N.º 5. 22. PRELÚDIO N.º 6. 23. PRELÚDIO PITORESCO N.º 5 (“AMANHECENDO...”). São Paulo, Ricordi, 1971. 24. PRELÚDIO PITORESCO N.º 6 (“TERNURA...”). São Paulo, Ricodi, 1971. 4 PRELÚDIOS PITORESCOS. São Paulo, Ricordi, 1956. Álbum contendo: 25. “CREPÚSCULO”. 26. “RETRATO”. 27. “PAISAGEM”. 28. “NA ILHA ABANDONADA”. 80 29. RONDÓ (dois violões). São Paulo, Ricordi, 1970. SARABANDA E GIGA. Álbum de edição não identificada contendo: 30. SARABANDA. São Paulo, 1950. 31. GIGA. São Paulo, 1950. SUÍTE DESCRITIVA. São Paulo, Ricordi, 1968. Álbum contendo três peças: 32. PALHAÇO. 33. TRIUNFO DE ARLEQUIN. 34. ALEGRIA E DOR DE PIERROT. 3 PEÇAS ORIGINAIS PARA VIOLÃO. São Paulo, Ricordi, 1969. Álbum contendo: 35. TEMA VARIADO E FINAL. 36. RONDÓ. 37. LARGO E FINAL (DA 1.ª FANTASIA). 38. VALS SCHERZO. São Paulo, Ricordi, 1956. Nota: Vide também números 94, 98, 99, 111, 113 e 115. Subgrupo IC – Temas brasileiros Este terceiro subgrupo abrange todas as peças que de alguma forma denunciam a intenção do uso ou a utilização de fato de elementos musicais brasileiros. Alguns títulos de peças ou de álbuns expressam diretamente a intenção em retratar o país como Palmeiras do Brasil e Cenas Brasileiras. Outros títulos e subtítulos indicam gêneros brasileiros explorados, como é o caso dos títulos Tango Brasileiro, Choro N.º 2 e do subtítulo “modinha”. As características observadas neste subgrupo foram, nos gêneros folclóricos: a harmonia pouco variada e por vezes até estática sob um pedal constante, o sentido descendente das frases, a finalização melódica em outras notas além da tônica, o 81 processo melódico de variação motívica como a indicar um improviso, notas repetidas, forma livre e o processo possivemente alusivo ao diálogo “coro e solista” de alguns gêneros nordestinos. Nos gêneros urbanos, as características observadas foram: a harmonia normalmente mais elaborada, a constituição melódica entrecortada, as frases curtas, a condução melódica dos baixos formando uma espécie de contraponto (“baixaria” dos choros) e a síncopa. Termos genéricos indicando tristeza, como “nostálgico” e “triste” são constantes neste grupo, formado pelas seguintes peças: 39. CARÍCIA. Rio de Janeiro, out. 1938. 40. CENAS BRASILEIRAS (IMPROVISOS). São Paulo, Ricordi, 1971. CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. São Paulo, Ricordi, 1955. Álbum contendo sete peças: 41. SONHA IAIÁ. 42. MINHA NOIVA É BONITA. 43. SERÕES (MODINHA). 44. REMINISCÊNCIAS PORTUGUESAS. 45. ESCUTA CORAÇÃO. 46. AGOGÔ. 47. BATUCADA. CENAS BRASILEIRAS 2.ª SÉRIE. São Paulo, Ricordi, 1958. Álbum contendo duas peças: 48. IMPRESSÃO DE RUA. 49. REQUEBRA MORENA. 50. CHORO N.º 2. São Paulo, Mangione, 1943. 51. NESTA RUA (TEMA VARIADO). São Paulo, Musicália, 1977. 52. “TANGO BRASILEIRO”. São Paulo, Mangione, 1943. 82 53. VARIACIONES SOBRE UN TEMA INFANTIL (A - RRO - RRO MI NIÑO). Rio de Janeiro, jun. 1935. Vide também números 108, 109 e 110. Subgrupo ID – Diversas Este subgrupo reúne peças pouco representativas das características observadas de maneira isolada nos subgrupos anteriores, predominando tendências diversas, danças e gêneros de salão. De maneira geral, o traço comum das peças deste subgrupo é a elaboração simples, pelo uso freqüente de contextos tonais com funções harmônicas básicas, pequenas formas e melodias fáceis. Até mesmo as peças de maior fôlego e mais elaboradas do ponto de vista violonístico, trazem consigo melodias por demais acessíveis. Este subgrupo apresenta-se da seguinte maneira: 54. DANÇA DA BONECA. São Paulo, Ricordi, 1959. 55. DANZA DE LOS GNOMOS. Montevidéu, abr. 1928. 56. HESITAÇÃO. São Paulo, Ricordi, 1958. 57. MAZURKA EM DÓ# MENOR. Montevidéu, 1927. Romero y Fernandez, (s.d.). 58. MAZURKA EM MI MENOR (dois violões). São Paulo, Ricordi, 1967. 59. MUÑECA: DUERME ... Buenos Aires, mai. 1928. 4 RECREAÇÕES. São Paulo, Musicália, 1976. Álbum contendo: 60. CAIXINHA DE MÚSICA. 61. UN CONTO CHARMANT. 62. DANÇA DOS URSOS. 63. DIVERTIMENTO. Nota: Vide também números 95, 97, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 112 e 114. 83 Subgrupo IIA – Estudos Sob este título estão reunidas todas as peças chamadas de “estudo”, compostas para o exercício específico da técnica violonística. Sendo assim, independente do grau artístico-musical de cada peça, consideramos a intenção didática do compositor para com o instrumento na instauração deste subgrupo. Da mesma forma de como procedemos para a divisão das composições de Savio em dois grandes grupos, o estabelecimento deste subgrupo de intenção didáticoviolonística deu-se não somente pela evidência do título comum a todas as peças, mas também pelo exercício das mesmas ao violão, pela necessidade de identificação da proposta violonística específica a ser exercitado em cada estudo. Procurou-se, portanto, identificar fórmulas fixas de harpejos, fórmulas variadas, mas cuja idéia é uniforme, processos técnicos de escalas, de acordes pulsados, de trêmulos, de saltos entre posições na mão esquerda etc., atribuindo a estes procedimentos a significação dentro da proposta didática em cada peça e em função da interpretação sugerida, como se verá no capítulo IV. Este subgrupo está assim definido: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. São Paulo, Ricordi, 1969175. Álbum com a seguinte peça neste subgrupo: 64. ESTUDO. 3 ESTUDOS. São Paulo , Ricordi, 1956. Álbum contendo: 65. ESTUDO N.º 1. 66. ESTUDO N.º 2. 67. ESTUDO N.º 3. 175 Neste álbum constam ainda Minuetto, Mazurka, Allegretto Moderato, Marcha Militar e Trémolo, todas elencadas em IIB. 84 13 ESTUDOS ELEMENTARES. Rio de Janeiro, Arthur Napoleão, 1960. Álbum contendo: 68. Treze pequenos estudos que consideramos uma só obra. 25 ESTUDOS MELÓDICOS. São Paulo, Mangione, 1941. Álbum contendo: 69. ESTUDO N.º 1. 70. ESTUDO N.º 2. 71. ESTUDO N.º 3. 72. ESTUDO N.º 4. 73. ESTUDO N.º 5. 74. ESTUDO N.º 6. 75. ESTUDO N.º 7. 76. ESTUDO N.º 8. 77. ESTUDO N.º 9. 78. ESTUDO N.º 10. 79. ESTUDO N.º 11. 80. ESTUDO N.º 12. 81. ESTUDO N.º 13. 82. ESTUDO N.º 14. 83. ESTUDO N.º 15. 84. ESTUDO N.º 16. 85. ESTUDO N.º 17. 86. ESTUDO N.º 18. 87. ESTUDO N.º 19. 88. ESTUDO N.º 20. 89. ESTUDO N.º 21. 90. ESTUDO N.º 22. 91. ESTUDO N.º 23. 92. ESTUDO N.º 24. 93. ESTUDO N.º 25. 85 Subgrupo IIB – Miscelânea Neste subgrupo, estão reunidas peças de títulos diversos vinculadas a álbuns com títulos que evidenciam intenção didática. A variedade dos títulos em separado das peças e a prática ao violão das mesmas revelaram um direcionamento menor da intenção do exercício violonístico em si, tornando estas peças, na maioria, próprias para iniciantes, ao mesmo tempo em que mostraram uma abrangência maior de estilos musicais, e, principalmente pelo que pudemos notar, uma tendência ao exercício musical independente da proposta musical, ou seja, através da proposição facilmente detectável do destaque da melodia, da realização autônoma do acompanhamento etc. Portanto, definido como “miscelânea”, este subgrupo abrange um número considerável de peças híbridas, possuidoras de uma intenção didático-musical principalmente, ao mesmo tempo em que apresentam características estilísticas dos subgrupos do primeiro grupo, os quais fizeram referências a estas peças do subgrupo IIB, conforme os critérios definidos anteriormente. Este subgrupo está constituído da seguinte forma: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. São Paulo, Mangione, 1968. Álbum contendo seis peças: 94. CANTO DE AMOR. 95. GAVOTTA. 96. RANCHERA. 97. DANÇA DOS ANÕES. 98. FLORES MURCHAS (VALSA). 99. ROMANCETE. COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. São Paulo, Mangione, 1943. Álbum contendo oito peças: 100. CANTO DE PRIMAVERA. 101. DANÇA. 102. MAZURKINHA. 86 103. BARCAROLA. 104. CANÇÃO DE BERÇO. 105. OS SINOS. 106. VALSA LENTA. 107. DANÇA ORIENTAL. COLEÇÃO DE PEÇAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 4. São Paulo, Mangione, 1951. Álbum contendo três peças: 108. PALMEIRAS DO BRASIL. 109. CHORO ROMÂNTICO. 110. SERTANEJA. 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. São Paulo, Ricordi, 1969176. Álbum contendo: 111. MINUETO. 112. MAZURKA. 113. ALLEGRETTO MODERATO. 114. MARCHA MILITAR. 115. TRÉMOLO. 176 Neste álbum consta ainda Estudo, peça elencada em IIA. 87 III.2.2. Análises de peças representativas dos subgrupos Subgrupo IA – Temas uruguaios e argentinos Obra: Pericón. Nesta peça temos, em primeiro lugar, a evidência do título. O gênero “pericón”, segundo Nicolas Slonimsky, é a “única forma de música que pode ser dita como sendo produto do Uruguai”177, e Gilbert Chase cita Ricardo Escuder, que chama o gênero de ‘a dança nacional do Uruguai’178. (o grifo é meu) Temos aqui o exemplo da vivacidade de um gênero de dança explorado no violão. O Pericón, de Isaias Savio, em 3/4 e em forma rondó, guardando somente o trio em 6/8 ao final, é uma obra onde todos os aspectos musicais e técnico-violonísticos propiciam e exigem uma execução vigorosa para que haja interesse musical. A harmonia, baseada na utilização de somente a primeira lei tonal, ou seja, “T, S e D”, foi compensada, de maneira geral, no desenvolvimento melódico pela alternância do motivo melódico inicial (presente nos blocos de acordes dos primeiros compassos) com as elaborações provindas do mesmo, através do uso de fórmulas rápidas de harpejos (exemplo: compassos 26 e 27), glissandos (exemplo: compassos 45 e 48) e pizzicatos (ex: compassos 50 ao 57), tudo isto em um contexto “animado”, para fazermos uso da própria expressão utilizada pelo autor. Em perfeita sintonia com a elaboração melódica está o grande jogo de inversões de acordes ao qual o compositor submeteu o tratamento violonístico. Este processo melódico-harmônico, em combinação com o ritmo vivo, propiciou exploração ágil dos acordes numa tessitura de três oitavas, dando a impressão de uma harmonia mais elaborada. Também a forma rondó, caracterizada nesta peça por dois retornos ao motivo principal, fez parte da elaboração engenhosa com que se sustentou o interesse nos cento e vinte e dois compassos da peça. São poucas as peças do autor que atingem esta medida. Na seção “b” (compassos 38 ao 72), Savio faz uso do modo menor e passa a inserir gradualmente os efeitos violonísticos dos arrastes, do “apagado”, do “junto al 177 SLONIMSKY, Nicolas. Music of Latin America. New York, Thomas Y. Crowell Company, 1945. p. 282. 88 puente”, instaurando aos poucos uma atmosfera tensa (compassos 58 ao 72), preparando assim a volta ao tema principal. Após uma breve exposição do motivo de “a’ ”, variado portanto, temos em “piu mosso” a seção “c” (compassos 89 ao 104), cujo contraste, na elaboração melódica e no pulso mais rápido, nos faz supor tratar-se de um “trio”. Segundo Arnold Schoenberg, “as formas de dança são seguidas, em sua maioria, por um trio [...] e é evidente que o trio deve se constituir como um contraste e possuir alguma conexão temática”179. De fato, o contraste ocorre e em uma das formas previstas por Schoenberg: “melódico-ágil”, de acordo, portanto, com o contexto ainda mais vivo da melodia nesta seção, mas guardando uma “conexão temática” pela harmonia em primeira lei tonal e pela estrutura rítmica, também muito parecida. A seção “a’’ ”, que se inicia no compasso 105, caracteriza um retorno ao motivo inicial, enriquecido com variações melódicas ornamentais de conseqüente exigência técnico-violonística, encerrando a peça de maneira pomposa. As múltiplas características apontadas conferem a consciente exploração por Isaias Savio do animado gênero “pericón ”, sendo esta peça, portanto, um exemplo representativo da utilização de elementos da música uruguaia. Subgrupo IB – Gêneros antigos Obra: Giga. Vejamos o que justifica a peça Giga como pertencente ao grupo de características de períodos musicais do passado, no caso, o barroco. Novamente, a primeira evidência observada foi o título. A “giga”, segundo o Dicionário Grove (edição concisa), é uma dança popular barroca, tendo surgido um pouco antes do período em questão, em dois estilos distintos: o francês, em andamento moderato ou rápido em 6/4, 3/8 ou 6/8, e o italiano, sendo este um estilo de dança mais rápida, em compasso 12/8180. 178 CHASE, Gilbert. A guide to the music of Latin America. 2. ed. Washington D.C., Ed. The Pan American Union and The Library of Congress, 1962. p. 359. 179 SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. Trad. Eduardo Seincman. 2. ed. São Paulo, EDUSP, 1993. p. 176. 180 SADIE, Stanley & LATHAM, Alison. op. cit., p. 367. 89 De acordo com esta definição, a Giga, de Savio, enquadra-se no estilo italiano. Sua escrita é em 12/8 e, além da indicação “Allegro Moderato”, temos também a informação do ex-aluno e atualmente concertista Paulo Porto Alegre que o compositor orientava sua interpretação em andamento ainda superior. A estrutura geral da peça é baseada na forma binária simples com a repetição de ambas as partes. Além deste dado comum ao gênero, podemos encontrar outros procedimentos típicos do período barroco, como a elaboração melódica a partir de um único motivo em toda a peça, as marchas harmônicas definindo, com suas cadências, a passagem por várias tonalidades (exemplo: compassos 6 ao 24), a condição melódica em função das cadências, gerando o aspecto instrumental da melodia (exemplo: compassos 3 ao 6), e o estabelecimento de uma segunda voz através de algumas notas pedais (exemplo: compasso 45). Todos os aspectos apontados acima são determinantes para o enquadramento da peça no subgrupo IB mas, ao contato mais profundo com o texto musical de Giga, veremos, sem dificuldade, a maior elaboração da melodia através das cadências que, no caso, determinam as condições melódico-harmônicas que causam a sensação de tensão e relaxamento, exatamente como previu Koellreutter, em Harmonia Funcional181, para peças do período barroco ou com características deste. Podemos notar, por exemplo, na elaboração seqüenciada do motivo principal em meio a harpejos fixos, a mudança de função harmônica obedecendo ciclos definidos de quarta. Outro recurso melódico, ainda dentro da condição apontada por Koellreutter, é o cromatismo inserido na elaboração do motivo quando este serve de ligação (exemplo: compasso 43). O título e a característica de reciprocidade entre melodia e harmonia nesta peça, à parte das outras evidências, confirmam, pelos nossos critérios para a constatação das características musicais básicas, a utilização do compositor de procedimentos musicais barrocos. Subgrupo IC – Temas brasileiros Obra: Minha Noiva é Bonita. 181 KOELLREUTTER, H. J. Harmonia funcional. 2. ed. São Paulo, Ricordi, 1986. p. 45. 90 Escolhemos como representante deste subgrupo uma peça que, embora com um título sugestivo, não apresenta necessariamente com ele uma evidência de utilização de um gênero brasileiro específico. Veremos, no entanto, que não faltarão características palpáveis para a confirmação do enquadramento da mesma no subgrupo apontado. Minha Noiva é Bonita, apesar da pequena extensão de trinta e seis compassos, apresenta várias características típicas do folclore brasileiro. São elas: notas repetidas na melodia (exemplo: compassos 1 ao 8), sentido descendente de fragmentos de frases de um modo geral (exemplo: compassos 2 ao 4 e 6 ao 8), correspondência entre modo maior e menor (compassos 24 ao 32 e 32 ao 36) e a inusitada ocorrência de uma variação do motivo principal em contexto totalmente distinto sem um acompanhamento além do próprio baixo, lembrando o procedimento do solo dos gêneros nordestinos onde há diálogo coro-solista (compassos 24 ao 28). Estas características musicais apontadas encontram-se elencadas na obra de Mário de Andrade: Ensaio sobre a música brasileira182, e na obra A Modinha e o Lundu; duas raízes da música popular brasileira183, de Bruno Kiefer, entre outras. Mário de Andrade chama a atenção para a nossa melodia que “afeiçoa as frases descendentes” e que “embora não seja possível generalizar nós temos uma tal ou qual repugnância pela fraqueza crua da tônica”184. Segundo ele, é comum a frase parar nos outros graus da tríade tonal. Na peça analisada, vemos o pico agudo do motivo melódico inicial alcançado no primeiro compasso, aguardando outros três, em mesmo padrão rítmico, para realizar a descida à nota de descanso, por sinal, a terça do acorde, não a tônica. Após a ocorrência deste motivo, inicia-se outra com o mesmo, porém variado, confirmando o procedimento descendente (compassos 5 ao 8). Na seqüência, veremos novamente uma segunda frase onde se observa o procedimento descendente e o de cadência na terça (compassos 9 ao 16). E a finalização das cadências em outras notas, além da tônica, segue em quase todas as conclusões, como se vê nos compassos 20 (na terça), 28 (na quinta) e 32 (na terça). Na definição do gênero “côco” no Dicionário Musical Brasileiro, Mário nos informa da constituição também coral no mesmo, apontando entre outras características a alternância de frases cantadas pelo “atirador do canto”, denominado “coqueiro”, com o 182 ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins, 1962. p. 44-8. KIEFER, Bruno. A Modinha e o lundu; duas raízes da música popular brasileira. Porto Alegre, Movimento, 1986. p. 24-9. 183 91 refrão, este normalmente cantado pelo coro185. Juntando esta informação com a de que Savio teria estado no Ceará para tocar, e que lá teria inclusive conhecido um “violonista muito bom”, segundo Ronoel Simões, bom de ouvido, nas palavras de Savio (como narrou Simões), atestando, portanto, o contato do compositor com a cultura local, é de se supor que o trecho situado entre os compassos 24 e 28 de Minha Noiva é Bonita, comentado anteriormente, represente o aproveitamento intencional desta idéia da melodia “solista” do gênero nordestino citado ou de semelhante. No trecho em questão, se percebe uma quebra no tratamento violonístico, passando este de “cheio”, ou seja, entre acordes, como vinha desde o início da peça, para “vazio”, somente numa corda com acompanhamento do baixo, contrapondo-se desta forma ao “coro” dos acordes. Minha Noiva é Bonita apresenta ainda outro aspecto que a situa entre as de inspiração brasileira e especificamente folclórica: a forma livre, como a indicar um improviso. As elaborações motívicas se sucedem numa variação contínua apresentando mudança no padrão rítmico (exemplo: compassos 5 ao 7), de modo (exemplo: compassos 24 ao 36), e chegando a constituir um motivo novo sem praticamente nenhum resquício do primeiro (compassos 17 ao 22). Não há reexposição. Esta característica pode também ser um reflexo, novamente consciente ou não, da forma de cantar improvisada do “cantador nordestino”. Por todas as características apontadas, Minha Noiva é Bonita se confirma no subgrupo IC e representa a utilização de elementos musicais brasileiros por Isaias Savio. Subgrupo ID – Diversas Obra: Caixinha de Música. Na Caixinha de Música temos, em ritmo de valsa, a forma canção claramente definida com a seção “a” do compasso 1 ao 16, seção “b” do 17 ao 32 e seção “a”, novamente, do compasso 33 ao 48. A melodia é uma das mais singelas do autor com valores rítmicos variáveis entre semínimas e colcheias, mas cuja integração com o 184 ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins, 1962. p. 48. Idem. Dicionário musical brasileiro. Coord. De Oneyda Alvarenga e Flávia Camargo Toni. Belo Horizonte, Itatiaia; Brasília, Ministério da Cultura; São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, EDUSP, 1989. p. 146-8. 185 92 acompanhamento determina um padrão rítmico em colcheias. Além do padrão, o canto está todo em harmônicos, o que reforça a característica “fácil” da melodia pelo convite à escuta. Para completar, a harmonia, com as funções de “T, S, D, Sr e (D)S”, é mais um indício de comedimento e adequação à proposta descompromissada de elaboração, entregando ao texto um claro direcionamento tonal. Portanto, é pela ausência de maiores vínculos com as características musicais específicas dos outros subgrupos e pela grande acessibilidade musical resultante que se instaurou o subgrupo ID, do qual a Caixinha de Música é o mais significativo exemplo. Subgrupo IIA – Estudos Estudo N.º 24: Este estudo traz a proposta do harpejo não como fórmula fixa de mão direita, mas como proposta técnica geral que norteia toda a peça. Assim, vemos já no primeiro compasso um harpejo de três notas em tercinas padronizadas realizando-se na ordem das cordas soltas: “sol - si - mi”, ou seja, utilizando as três cordas mais agudas do instrumento. Esta ordem segue igual, como uma fórmula fixa, até o compasso 3, não fosse a mudança de corda na linha do baixo no compasso 4. No compasso 5, a fórmula se inverte passando a ser “mi - si - sol”, e, no de número 6, retorna ao sentido inicial, porém, variando as cordas na linha do baixo novamente. Este princípio da inversão e do retorno ao sentido inicial do harpejo percorre toda o estudo, de modo a exigir empenho para que se consiga igual fluência e independência nos dois sentidos. São estas condições que irão permitir uma realização cujas inflexões não obedeçam à variação da dificuldade violonística, mas sim à harmonia, que é o aspecto musical mais diversificado neste estudo. Em seu trabalho sobre Villa-Lobos, Marco Pereira referiu-se à interpretação do Estudo n.º 1, do compositor carioca, dizendo em linhas gerais que, por ser este estudo constituído por uma fórmula fixa de harpejo e se desenvolver por meio de um encadeamento harmônico, é a harmonia que deve guiar a interpretação, “dando a 93 dinâmica através do encadeamento dos acordes e os momentos de repouso (e respirações), através das cadências”186. O caso do Estudo N.º 1, de Villa-Lobos, é praticamente o mesmo do Estudo N.º 24, de Isaias Savio, embora este não apresente uma fórmula totalmente fixa de harpejo, como dissemos. Mesmo não sendo intenção nas análises representativas desta parte adentrarmos no tema interpretação, o assunto vem bem a calhar, já que a proposta didática (portanto o que justifica este subgrupo) do estudo de Savio apresentado aqui é justamente a de equilibrar os harpejos nos dois sentidos para que a dificuldade, em um ou em outro sentido de execução, não interfira na interpretação. Este Estudo N.º 24 é, portanto, um exemplo da proposição de um processo puramente instrumental a ser exercitado, integrando, por isso, o subgrupo IIA, de abordagem didático-violonística. Subgrupo IIB – Miscelânea Obra: Flores Murchas. Basta uma olhada na partitura e veremos a proposta didática desta peça ao aluno pós-iniciado: o destaque da melodia. A constituição musical de Flores Murchas apresenta não só as notas melódicas dos tempos fortes sem acompanhamento dos acordes em registro intermediário, ou seja, acompanhadas somente da linha do baixo, mas também notas melódicas completamente isoladas de acompanhamento em outros tempos de vários compassos, neste caso, somente aproveitando a ressonância dos baixos. Esta constatação, somada ao registro agudo de tessitura da melodia, o que permite a digitação nas primeira ou segunda cordas do violão, confere clareza de modo geral à elaboração melódica tornando-a alvo fácil de compreensão e manipulação, ao mesmo tempo em que sugere o exercício do toque apoiado como opção para evidenciá-la ainda mais. A elaboração melódica desta peça guarda ainda outra forma de exercício, através da apresentação de uma determinada melodia logo no início da seção “b”, entre os compassos 17 e 24 e da variação desta mesma melodia entre os compassos 25 e 32. 186 PEREIRA, Marco. op. cit., p. 30. 94 Nesta variação, a melodia encontra-se um pouco distinta e em meio a um harpejo que a disfarça. É exatamente aí que se encontra o segundo exercício da mesma proposta: fazer o estudante encontrar, entender e destacar, em meio aos harpejos citados, a melodia por ele já conhecida e tocada sem nenhum tipo de ornamentação no início da seção “b”. Flores Murchas, pela evidência didática através do título do álbum ao qual pertence, Coleção de Obras Progressivas - Fascículo N.º 2, e pelos exercícios musicais a serem realizados, integra com acerto o subgrupo IIB, de abordagem didático-musical. III.3. CONCEITUAÇÃO DO MATERIAL VIOLONÍSTICO Ao contrário da diversidade musical do repertório de composições de Isaias Savio, o tratamento violonístico é quase sempre uniforme, explorando o violão com a tradicional divisão de planos entre melodia, acompanhamento e baixo, ou pelo menos, combinando processos técnicos distintos, como escalas, harpejos e acordes pulsados, de modo que resulte um sentido melódico predominante com um acompanhamento. Este tratamento uniforme na escrita técnica violonística abrange indistintamente obras de todos os subgrupos. Constituem bons exemplos disto as peças Serenata Campera, Minuetto, Tango Brasileiro, Dança dos Ursos, Estudo N.º 14 do álbum 25 Estudos Melódicos e Gavotta do álbum Coleção de Obras Progressivas - Fascículo N.º 2, respectivamente dos subgrupos IA, IB, IC, ID, IIA e IIB. Um aspecto muito importante nos trabalhos musicais de Isaias Savio é a total funcionalidade técnico-violonística de suas criações. Savio utiliza os recursos do violão com uma coerência que só mesmo quem conhece intimamente o instrumento pode conceber. Em suas composições, raramente o intérprete é forçado a algum malabarismo, e, quando isto acontece, facilmente percebemos a relação deste malabarismo técnico com a proposta musical ou com algum efeito específico. A peça Evocación del Rancho, onde o intérprete deve dilatar a mão esquerda em vários momentos para alcançar notas de determinados acordes (compassos 41, 43, 54 e 56) e a peça Hesitação, principalmente pelas mudanças rápidas de posição de mão esquerda (compassos 26, 28, 32, 34, 36 etc. ) e pelas aberturas (compassos 42, 44, 59 etc.), representam a relação entre execução trabalhosa e proposta musical geral. O 95 mesmo ocorre com o Rondó para dois violões, onde o compositor efetua pequenas quebras nas seqüências de graus conjuntos de algumas escalas em função da manutenção da simetria entre as frases, ocasionando certas surpresas aos executantes na passagem dos compassos 42 ao 43, 93 ao 94, 101 ao 102, no compasso 119 e na passagem deste ao 120. Já a peça Batucada, pelos acordes ritmados e com rasgueios (compassos 1 ao 8 e 29 ao 36) que imitam uma “batucada” e pelos baixos em semicolcheias (compassos 19, 20, 23, 24 etc.) e a peça Palhaço, pelos acordes descendentes seqüenciados “imitando uma gargalhada”187 (compassos 23 ao 28), exatamente como indica o compositor logo abaixo do respectivo trecho, representam a relação entre execução penosa e efeito musical descritivo. Os trechos mencionados acima exemplificam, portanto, pequenas exceções nos procedimentos enquadráveis dentro de uma escrita extremamente funcional para o instrumento, mas nem por isso deixam de ser realizáveis e até mesmo benéficos do ponto de vista da superação de obstáculos e, por meio desta, do progresso técnico-instrumental. Dentre todas as ocorrências freqüentes no tratamento violonístico de Isaias Savio, algumas nos chamam a atenção por revelar talvez algo da concepção musical do compositor. Trata-se ainda, não do uso das possibilidades instrumentais como ferramentas de criação musical, como ocorre, por exemplo, nos estudos de Villa-Lobos e em algumas peças específicas do próprio Isaias Savio, como veremos adiante, mas sim de uma conduta mais comum, verificável em dois procedimentos semelhantes no processo de digitação do compositor e que provavelmente têm relação com os procedimentos composicionais de algumas de suas peças. Podemos definir estes procedimentos da seguinte maneira: 1. DIGITAÇÃO MELÓDICA AVANÇADA: por onde as melodias situam-se em posições avançadas, utilizando normalmente as segunda e terceira cordas quando o uso da primeira seria o mais natural. 2. DIGITAÇÃO HARMÔNICA AVANÇADA: por onde os acordes situam-se em posições avançadas com quase sempre cordas soltas entremeadas na 187 SAVIO, Isaias. Palhaço. São Paulo, Ricordi, 1968. p. 1. 96 constituição, gerando, por isso, sonoridades inusitadas pelo cruzamento resultante das vozes. Estes dois processos de digitação foram muito difundidos entre os violonistas espanhóis, dos quais destacamos pelo interesse e relação com nosso trabalho, Andrés Segovia e Miguel Llobet, ambos muito admirados por Isaias Savio e com os quais o compositor teve contato pessoal. Em conversa informal com um ex-discípulo de Segovia, o violonista espanhol José Luis Rodrigo, este nos adiantou que o mestre Segovia possuía uma clareza tal para frasear que lhe permitia se dar ao luxo de explorar normalmente posições avançadas no violão, fazendo-o cantar mais e de maneira encorpada188. De fato, muitos são os exemplos desta conduta principalmente nas gravações de Segovia, mas, apenas para ilustrar, citamos o caso da transcrição feita por ele da peça Mallorca189, de Isaac Albéniz. A entrada da melodia, no compasso 4, ocorre na segunda corda e, em outros pequenos trechos, a digitação indica a mesma utilização de certa forma “ornamental” desta corda ou da terceira (compassos 7, 8, 9 e outros). O exemplo de Miguel Llobet é ainda mais significativo, considerando seu contato maior com Savio quando da estada de ambos na Argentina. A transcrição por Llobet da peça Torre Bermeja 190 (também de Albéniz), por exemplo, é bem representativa para entendermos os processos mencionados na digitação de Savio. Nesta partitura, vários são os momentos de melodias sendo realizadas em posições avançadas e em cordas não óbvias (compassos 1, 23, 24, 27 etc.) e muitos também são os acordes harpejados ou plaquês em posições avançadas, com cordas soltas entremeadas e com conseqüente cruzamento de vozes (compassos 66, 67, 82, 113, 114, 115, 144, 145 etc.). Veio provavelmente também de Llobet o costume de Savio assinar algumas de suas revisões de peças alheias em cujas partituras opera mudanças, como vimos em II.3.1, com seu sobrenome figurando ao lado direito do nome do compositor da peça, como por exemplo, D. Aguado-Savio e N.Coste-Savio. 188 Comentário feito em uma das aulas de violão pelo “XLI Curso Universitário Internacional de Música Espanhola”, realizado em Santiago de Compostela (Espanha), em 1998. 189 ALBENIZ, Isaac. Mallorca. Copyright 1947 by CELESTA PUBLISHING, USA. 190 Idem. Torre Bermeja. Madrid, Unión Musical Española, 1964. 97 Como já transcrevemos, o concertista e ex-aluno do Savio, Carlos Barbosa Lima, em seu parecer sobre o compositor durante entrevista ao MIS de São Paulo, confirmou a experiência com Llobet como uma das mais importantes” 191. De fato, se voltarmos nossos olhos às composições de Isaias Savio, veremos a busca de um ideal sonoro próximo ao procurado por Segovia e principalmente por Llobet em suas transcrições. A melodia folclórica Nesta Rua foi trabalhada na forma “tema com variações” por Savio, recebendo logo de início, na apresentação do tema, uma digitação repleta de lugares inesperados, mas de execução possível como normalmente ocorre. A melodia inicia a peça já na segunda corda realizando a nota “mi” na quinta posição e, após um arraste indicado pelo compositor, atinge a nota “lá” na mesma corda, na décima posição. Entre os compassos 4 e 5 ocorre novamente o mesmo princípio na digitação e o mesmo se dá novamente entre os compassos 8 e 9, após o qual se desencadeia uma sucessão de notas melódicas combinadas nas primeira, segunda e terceira cordas. Inclusive, quase no desfecho da apresentação do tema e, onde se observa esta sucessão de notas melódicas em cordas distintas, ocorre a combinação do procedimento de “digitação melódica avançada” com o procedimento de “digitação harmônica avançada”. Isso se dá precisamente no compasso 13, no acorde de função harmônica de “D” que se constitui nota a nota na nona posição, tendo como integrante, no segundo tempo, a nota “mi” da primeira corda solta, em cruzamento de vozes com as outras notas do acorde. Estes dois procedimentos na digitação, um de tendência melódica e outro de tendência harmônica, estão presentes em muitas obras do compositor de modo que não se pode tomá-los como critérios para o estabelecimento de grupos segundo a técnica instrumental, como ocorre com as características musicais, nem relacioná-los com os subgrupos, de acordo com as mesmas características musicais. Da mesma forma que Nesta Rua, podemos citar também Pensamientos, de outro subgrupo, onde ocorre exatamente o mesmo. Somente é possível notar uma tendência no uso da digitação avançada para as melodias de acompanhamento menos denso, de forma a compensar a pequena projeção sonora com um timbre mais encorpado. A busca deste ideal sonoro por parte de Isaias Savio, que denominado aqui de encorpado ou “cheio”, pode ser também herança dos tempos de estudo do violoncelo na 191 Depoimento de Antônio Carlos Barbosa Lima (1989), Fita C-310, Acervo MIS-SP. 98 vida do compositor. A prática deste instrumento pelo compositor foi suscitada por seu ex-aluno Carlos Barbosa Lima192, conforme já relatamos. Seja como for, podemos detectar nas composições de Savio algumas peças com movimentação melódica em registro grave, as quais atingem picos agudos através de posições avançadas, conservando assim a sonoridade encorpada. Isto pode significar o possível aproveitamento dos procedimentos de digitação avançada na conduta do compositor ao criar sua música, em busca de uma sonoridade específica. Como exemplo deste aproveitamento, podemos citar o Estudo N.º 3 dos 25 Estudos Melódicos e a Mazurka em Do# menor. Ambas as peças têm seus motivos melódicos elaborados a partir de uma sustentação harmônica pouco densa, ou seja, através de um acompanhamento com poucas notas nos acordes ou mesmo sem acordes, sendo então o acompanhamento somente as notas do baixo. A melodia do Estudo N.º 3 é grave no geral e apresenta alguns arrastes e ligados, enquanto que a da Mazurka é um pouco mais aguda, mas com muitos arrastes e com localização avançada na digitação, chegando a alcançar no compasso 7, o 15.º trasto na 2.ª corda e, no compasso 14, o 14.º trasto na 4.ª corda. A associação da região grave do instrumento com a melodia é o que fez Marco Pereira se referir à melodia da seção “A” do Prelúdio N.º 1 de Villa-Lobos como sendo uma melodia que “evoca a tessitura do violoncelo”193 e qualquer violonista, que teve contato com este Prelúdio N.º 1, fatalmente se lembrará dos vários arrastes e principalmente das posições acima do 12.º trasto como obstáculos que teve que vencer para executar a peça. Portanto, não é de se descartar a probabilidade da busca consciente de Isaias Savio, pelo ideal sonoro proporcionado pelo violoncelo, coincidentemente ou propositalmente em sintonia com sua concepção de digitação influenciada pelos violonistas espanhóis, citados anteriormente. Entre tantos outros procedimentos técnicos violonísticos do vocabulário básico do instrumento, todos usados abundantemente pelo compositor, existem duas variantes dignas de nota por conferirem, às peças que integram, algumas características musicais derivadas da essência do instrumento. 192 193 Ibidem. PEREIRA, Marco. op. cit., p. 65. 99 Estes procedimentos, à maneira dos de digitação comentados anteriormente, são muito semelhantes entre si e podem ser também definidos como sendo um melódico e outro harmônico, os quais denominaremos da seguinte forma: 1. PARALELISMO MELÓDICO: consiste em agregar uma segunda ou até uma terceira linha melódica à melodia principal, conservando nota a nota o intervalo inicial ou aproximado, desde que realizável por movimentação visivelmente “paralela” dos dedos da mão esquerda. 2. CLICHÊ DE MÃO ESQUERDA: consiste numa pestana ou num agrupamento qualquer dos dedos da mão esquerda que se movimentam com sua formação fixa pelo braço do violão gerando acordes sem necessária relação tonal. Vale ressaltar que estes procedimentos não são exclusivos de Isaias Savio. Marco Pereira, em sua dissertação sobre Villa-Lobos, já havia constatado processos derivados do funcionamento técnico do violão. Vejamos parte de sua conclusão sobre a obra do compositor carioca: “Os compositores que o antecederam, e mesmo seus contemporâneos, serviram-se do violão para exprimir uma linguagem musical mais geral, quer dizer, comum a outros instrumentos. Villa-Lobos foi, seguramente, o primeiro a utilizar aquilo que lhe era exclusivo, a essência do instrumento como material temático. Ele se serviu, freqüentemente, de evidências digitais para construir sua matéria musical, partindo de uma digitação prefixada para obter certos resultados sonoros.”194 O termo resultante “digitação prefixada” de Marco Pereira se traduz nos acordes fixos ou desenhos escalares também fixos, realizados em diferentes posições no braço do instrumento, gerando efeitos sonoros inusitados. A segunda parte do Estudo N.º 1 de Villa-Lobos, entre os compassos 12 e 23, mostra bem o processo de acordes fixos descendentes. Os procedimentos “paralelismo melódico” e “clichê de mão esquerda”, como definimos aqui, levando em conta a tendência melódica do primeiro e harmônica do segundo, não são tão constantes na obra de Isaias Savio como os de digitação tratados 194 Idem, ibidem, p. 109. 100 anteriormente, mas ocorrem em bom número e são responsáveis por gerar características musicais novas. O paralelismo melódico está presente em duas vozes nas peças Batucada (compassos 50, 51, 54 e 55), Estudo N.º 3, série de 1945 (compasso 60), Improvisos (compassos 24 ao 30, 49 ao 61, 88 e 91), Na Ilha Abandonada (compassos 19, 20 21, 39 ao 44, 49 ao 51 etc.), Ternura (compassos 14, 18 e 32) e Hesitação (compassos 21, 22, 42, 44 e 73 ao 75) e em três vozes, em outros momentos da mesma peça Hesitação (compassos 28, 32 e 34). O “clichê de mão esquerda” ocorre também em um número reduzido de composições, as quais, no entanto, resultaram obras totalmente distintas de todo o repertório composto antes e depois. Estas peças são os seis Prelúdios Pitorescos. Segundo o ex-aluno de Isaias Savio, Paulo Bellinati, Savio reputava estes prelúdios como suas melhores obras195. Exatamente pela considerável ocorrência de trechos derivados do processo do paralelismo melódico e principalmente do processo do clichê de mão esquerda, bem como pela presença de outros elementos musicais independentes do tratamento violonístico, consideramos necessária uma parte exclusiva para a análise destes Prelúdios Pitorescos, sendo esta a que vem logo a seguir. III.4. PRELÚDIOS PITORESCOS Os Prelúdios Pitorescos constituem obras sem parentescos na produção de Isaias Savio, no sentido de que nada mais do restante de sua obra se parece a estas seis peças elencadas sob este título geral. Estas peças possuem características únicas. A começar pelos títulos em separado, todas sugerem a caracterização de algo extramusical, indo de imagens a sentimentos. Os títulos são, na ordem: Crepúsculo, Retrato, Paisagem, Na Ilha Abandonada, Amanhecendo e Ternura. À medida em que tomamos contato com estas peças, principalmente com as quatro primeiras, vamos gradativamente nos dando conta de uma sintaxe musical distinta 195 Entrevista com Paulo Bellinati em novembro de 2000. 101 e, mesmo não submetendo-as imediatamente a uma análise, ainda assim perceberemos uma ausência de atração entre os acordes que, aliada à evidência dos títulos, fatalmente nos fará imaginar tratar-se de peças engajadas no impressionismo francês. E esta suspeita vai se confirmando conforme nos familiarizamos com as mesmas. Todas elas possuem em maior ou menor grau algum trecho do discurso musical com sonoridades suspensivas, sem aparente solução de continuidade ou, como diria José Miguel Wisnik, trechos onde a “gramática recorre ao estado de suspensão tonal do impressionismo francês”, caracterizada por uma “harmonia que foge à tonalidade pelas alterações modais, pelo caráter não-resolutivo dos acordes”196. Diríamos que a causa principal é simplesmente o caráter não-resolutivo, pois muitos dos acordes são conseqüência do “clichê de mão esquerda”. A peça Crepúsculo apresenta acordes resultantes do clichê citado nos compassos 8 e 9 e também diversos outros de intenção puramente colorística, sem relação tonal entre si. É a melodia em registro agudo até o compasso 8 e a melodia dos pizzicatos até o compasso 24, todas em anacruze, que unem os acordes situados nos tempos fortes dos compassos, acordes estes com função de descanso e resolução, apesar de serem alguns diminutos e outros resultantes da sobreposição de quartas justas. O andamento lento, a não resolução dos acordes, o pedal “mi” grave no baixo a partir do compasso 8, o efeito dos pizzicatos e as sete fermatas da peça, considerando sua extensão de apenas vinte e oito compassos, contribuem para uma atmosfera suspensiva e por que não “crepuscular”, em comum acordo com a intenção possivelmente descritiva do compositor. A peça Retrato, claramente mais tonal, com maior definição em Mi maior, apresenta acordes originados no mesmo clichê de mão esquerda. Isto ocorre nos compassos 23 ao 25 e nos compassos 35 ao 37. Soma-se a isto uma certa indefinição na seção “a” desta peça, pelo estabelecimento da região harmônica da função “S” (Lá maior) entre os compassos 6 e 13, justamente quando a tonalidade parecia confirmar a “T” em Mi maior, estabelecida no início da peça. A seção “b”, no entanto, reafirma a “T” na tonalidade inicial, fazendo de Retrato uma das peças mais estáveis do álbum. Um dado curioso é a gradual definição da tonalidade Mi maior em Crepúsculo e a continuação da mesma em Retrato, o que, juntamente com o contraste do movimento lento da primeira peça para o rápido da segunda, estabelece uma ligação entre as duas tal 196 WISNIK, José Miguel. op. cit., p. 146. 102 qual a relação de um prelúdio que antecede um movimento principal. Por esta razão, Crepúsculo e Retrato funcionam bem como peças interligadas. A peça Paisagem, em Lá maior, instaura novamente uma instabilidade através do uso de uma fórmula de harpejos em arabescos de seis notas onde, via de regra, há notas acrescentadas à harmonia. Além disso, o que pareceria motivo de estabilidade, no caso, a presença de cadências (exemplo: passagem dos compassos 6 ao 7 e 11 ao 12), é causa de certa suspensão, pois estas cadências não repousam num contexto tonal definido, antes, caminham em toda a peça num processo parecido ao das marchas harmônicas, levando o texto musical a diversas regiões tonais passageiras. Quando aparentemente se instaura a tonalidade de Ré maior através de uma cadência autêntica (passagem do compasso 23 ao 24), ocorre, após a resolução na nova “T”, no compasso 24, o retorno ao início da peça indicado na partitura, trazendo, porém, uma estranha sensação: o compasso 1, que trazia da primeira vez a certeza da tonalidade Lá maior, traz agora uma certa “surpresa” do Lá maior. Na conclusão, novamente tem-se uma impressão estranha gerada pela mesma indefinição tonal: o acorde final formado pelas notas “lá - fá# - lá - dó# - mi”, parece fundir a uma só vez as características das funções “D”e “T”, por representar a finalização na “D6 ”, da tonalidade final Ré maior e na “T6 ”, da tonalidade inicial Lá maior. Na Ilha Abandonada é talvez a peça de maior identificação com o impressionismo. Não só a quantidade de acordes provindos do clichê de mão esquerda é grande, como é intensa também a descontinuidade do texto musical resultante, somente movido na maior parte do tempo em função da elaboração melódica. Curiosamente em nossa pesquisa ao acervo de Ronoel Simões, na parte antigamente pertencente a Isaias Savio, encontramos em um exemplar de Na Ilha Abandonada uma anotação do próprio compositor, a lápis, cuja caligrafia foi identificada por Simões e onde se lê, entre parênteses, abaixo do título, a observação: “Impressionista”, como já mencionamos em II.3.3. Nesta peça, muitos acordes e partes da melodia provêm do clichê de mão esquerda. Os acordes são compostos pelas notas resultantes de meias pestanas e pestanas inteiras e a melodia é, em geral, a resultante da condição técnica possível, ou seja, é aquela que pode ser realizada, grosso modo, pelos dedos que restaram da realização das pestanas, dedos “2”, “3” e “4”. 103 O motivo melódico inicial presente nos quatro primeiros compassos, por exemplo, tem sua célula principal realizada na quinta posição juntamente com uma meia pestana. Esta célula melódica é repetida nos compassos 5 e 6 com exatamente os mesmos intervalos na 8.ª posição, apenas transferindo-se a mão esquerda com sua meia pestana de lugar. Nos compassos 10 e 11 aparece novamente a mesma célula com os mesmos intervalos e com a mesma meia pestana, porém, agora, na 9.ª posição. Este tipo de elaboração percorre toda a peça, como podemos ver também, por exemplo, nos compassos 28 ao 34 e nos compassos 52 e 53. A melodia também apresenta vínculos com o tratamento violonístico, resultando no clichê do paralelismo melódico. Isto ocorre em vários momentos, como relatado em III. 3. (compassos 19 ao 21, 39 ao 44, 46, 49 ao 51, 69 e 70). Pela falta do caráter resolutivo dos acordes resultantes do clichê de mão esquerda, o pouco movimento existente se dá em função de algumas cadências estrategicamente inseridas na finalização dos motivos melódicos suspensivos (exemplo: passagem dos compassos 8 ao 9 e 13 ao 14) e em função da realização da melodia de modo geral, que contrapõe dois motivos principais, o localizado nos compassos 1 ao 4 e o localizado nos compassos 39 e 40. É, portanto, a soma e a combinação dos diversos elementos musicais e técnicos descritos que determinam a manutenção do interesse musical de Na Ilha Abandonada, que é a peça mais extensa do álbum. Na peça Amanhecendo, a suspensão harmônica é talvez a mais evidente, elaborada juntamente com uma melodia caracterizada por intenso cromatismo (exemplo: compassos 19 ao 22). O interesse musical deste prelúdio ocorre também em função da adoção de outros experimentos musicais desvinculados dos processos violonísticos. Savio utiliza a uma só vez, sendo esta a única vez em toda a sua obra, um motivo musical próprio já trabalhado em outra composição, o procedimento da citação integral de um motivo musical alheio e um tímido ensaio de uma série dodecafônica. Tímido porque não atinge as doze notas. O motivo principal de Amanhecendo, que inicia e norteia toda a composição, é uma variação do motivo que inicia a peça Na Ilha Abandonada. Este aproveitamento de idéia torna as duas peças como que unidas. Inclusive a seqüência das mesmas e seus títulos parecem confirmar esta associação musical. 104 A citação, segundo experimento aludido, ocorre no compasso 31. Trata-se da reprodução fiel de um dos motivos da peça Matintaperera, do compositor paraense Waldemar Henrique, como dissemos em II.3.2. Este motivo é o canto do pássaro “matintapereira”, de acordo com a lenda na partitura de Waldemar Henrique. Nesta partitura, segundo José Claver Filho, ‘Matintapereira é um passarinho noctívago de espécie rara, cujo canto estridente dizem prenunciar desgraça’ 197. Nada mais adequado para uma peça com o título Amanhecendo, que apresentar uma idéia de canto de pássaro. Fica flagrante, portanto, uma intenção descritiva da partitura. O terceiro experimento mencionado ocorre nos compassos 28 ao 30. Savio escreve imediatamente antes do canto do pássaro citado, talvez até com a intenção de antever o clima de “desgraça” do dito canto, uma melodia com as notas: “mi - ré - sib fá# - sol# - lá - si - lá - fá - dó# - mib - sib - sol”. Esta melodia, no entanto, não chega a constituir uma série dodecafônica, pois, em suas treze notas, ocorre a repetição das notas “lá” e “sib”, resultando somente onze distintas. Além disso, algumas destas onze notas são antecipadas pelo acompanhamento, embora como pano de fundo, das três cordas graves soltas do instrumento nos tempos fortes. De qualquer forma, esta é a única utilização nas composições de Savio de uma seqüência de notas com parentesco dodecafônico, devendo por isso ser ressaltada. Na peça Ternura, em Mi maior, única do álbum começada na década de trinta, mas finalizada em 1970, percebemos um retorno à tonalidade e conseqüentemente à sintaxe “tensão e relaxamento” proporcionada pela seqüenciação de acordes interativos. Ainda assim, em alguns momentos, a harmonia traz a idéia do “experimento” comum às peças anteriores, como se pode ver na ocorrência de cadências em marcha harmônica, levando a tonalidade a regiões tonais passageiras (exemplo: compassos 6, 8, 11, 13, 15 e 17). Além disso, as expressões “Recitativo” e “sempre molto expressivo”, o andamento indicado como sendo o de semínima igual a sessenta e seis (somente) e as cinco fermatas ao longo dos apenas quarenta e um compassos da peça, contribuem para que, mesmo dentro de um texto musical de direcionamento harmônico mais tonal, considerando as peças anteriores do mesmo álbum, se tenha uma sensação de descontinuidade no movimento geral, reproduzindo o efeito da harmonia proveniente do clichê de mão esquerda. 197 FILHO, José Claver. Waldemar Henrique; o canto da Amazônia. Rio de Janeiro, Funarte, 1978. p. 87. 105 Também a melodia, como já relatado em III. 3., apresenta em alguns momentos a constituição a partir do procedimento do paralelismo melódico (compassos 14, 18, 32, 39 e 40) e, em outros momentos, uma constituição também semelhante (compassos 9, 21, 22, 24, 26, 30, 31, 37 e 38), praticamente uniformizando esta conduta melódica na peça. 106 CAPÍTULO IV: CATÁLOGO COMENTADO IV.1. JUSTIFICATIVAS E CRITÉRIOS A elaboração de um catálogo com as composições de Isaias Savio, constando todas as informações possíveis reunidas em pesquisas diversas, era mesmo imprescindível, caso quiséssemos conhecer de fato a dimensão aproximada deste repertório de composições bem como a veiculação das mesmas pelas diversas casas publicadoras com as quais trabalhou o compositor. E não é só isso. Um catálogo com informações também musicais, provindas dos processos de análise e interpretação das composições e da revisão posterior em parte delas pelo autor, propiciará um conhecimento melhor deste repertório, possibilitando uma execução mais acertada e atualizada. Em Violão e Mestres n.º 7 temos um ensaio de catálogo com as peças do compositor198. Ali, as obras alternam-se sem critérios padronizadores de organização. Em uma rápida consulta, podemos constatar composições elencadas juntamente com adaptações e arranjos. Além disto, veremos também agrupamentos de peças um tanto estranhos, por exemplo, constando no grupo intitulado “Músicas de Caráter Popular” as peças do álbum Prelúdios Pitorescos, cuja análise revelou, como vimos, características específicas da linguagem impressionista de Debussy além de outros procedimentos de escolas e períodos do passado. Além da disposição sem critério único das peças nos grupos, é flagrante a presença de um número menor de composições que o esperado. É de se considerar o fato deste catálogo ser de 1967, sendo esta uma justificativa para que a peça Improvisos, de 1970, não esteja entre as elencadas, mas esta mesma data do catálogo não justifica, porém, que a peça Bourrée, entre outras, não esteja catalogada, pois seu ano de composição é o de 1927. Outro dado que traz uma certa insegurança para a informação é a comunicação que a própria revista faz através do seu “Editorial”, transcrita a seguir: 198 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., v. 2, n.º 7, 1967. p. 14-20. 107 “Neste número, como Isaias Savio se encontra na sua pátria de nascimento, o Uruguai, em viagem cultural, falaremos do mestre em sua pátria de adoção, o Brasil.”199 Portanto, seja qual fosse exatamente a função de Savio como consultor técnico em Violão e Mestres, ou seja, se sua atuação consistia em corrigir dados somente, ou também escrever artigos, fazer entrevistas etc., no caso deste n.º 7 é de se supor que o compositor estivesse ausente no momento de corrigir o catálogo. Sendo assim, fez parte da proposta deste trabalho com as composições de Isaias Savio, a elaboração de um catálogo completo. Nesta elaboração, vimos a necessidade de estabelecer critérios específicos para o aproveitamento das informações de edição e musicais. Foram reunidas cento e quinze partituras e, através das pesquisas, vinte e sete títulos dos quais não pudemos assegurar a existência e a autoria de Isaias Savio. Estes títulos foram postos entre colchetes, por exemplo, [BERCEUSE]. Durante o levantamento de composições de Isaias Savio, pudemos localizar algumas obras com vários tipos de interferências posteriores as suas edições. Como vimos nas análises das mesmas em II.3.1., algumas vezes tais alterações foram incorporadas em edições posteriores, constituindo um segunda versão editada da mesma obra. Consideramos, portanto, relevante salientar tais diferenças neste catálogo. Para assinalarmos a existência destas edições revisadas, não as tratamos como números diversos, porém, com um mesmo número’, por exemplo, Celeste y Blanco, que recebeu os números 19 e 19’. No caso dos álbuns, às vezes ocorreu que apenas uma das obras foi datada. Logo adotamos para as demais peças a mesma data assinalando entre < > e informando o ocorrido no item “Nota da Pesquisa”. No caso das obras que tiveram mais de uma edição, datas assinaladas na partitura, também colocamos esta informação na “Nota da Pesquisa”. A fim de atender a ordem alfabética dos títulos das obras de Isaias Savio, foram elencados também os nomes dos álbuns, embora seus conteúdos tenham sido desmembrados para maior coerência e facilidade na consulta. 199 Ibidem, Editorial. 108 A exceção coube ao álbum 13 Estudos Elementares, por nós considerado como peça única em vista da proposta do autor e da pequena extensão de cada um deles. DADOS DE EDIÇÃO As informações concernentes à edição foram consideradas como segue: - Título: informando o título da edição que possuímos em mãos, mas transcrevendo em “Nota da Pesquisa” variantes do mesmo título presentes em contracapas, bem como títulos distintos levantados através de pesquisa no acervo de Ronoel Simões. - Data: informando, se possível, o local e a data compilada de composição ou a data atribuída via pesquisa entre os sinais < >, revelando, neste caso, a fonte, no item “Nota da Pesquisa”. - Edição: informando, se possível, a data compilada de edição ou a data atribuída via pesquisa entre os sinais < >, revelando, neste caso, a fonte, no item “Nota da Pesquisa”. - Álbum: informando o álbum ao qual pertence a peça, quando for o caso. - Dedicatória: transcrevendo integralmente a dedicatória da peça, quando for o caso. - Nota da Pesquisa: informando sobre dados gerais conseguidos via pesquisa. Este será o espaço para informações adicionais e/ou conflitantes a respeito de datas em geral, edições, versões e notícia sobre alterações musicais. - Grupo: informando, através de números, a posição da peça nos grupos e subgrupos estilísticos estabelecidos no capítulo III. - INCIPIT: trazendo, para cada peça, o início da partitura correspondente. DADOS MUSICAIS No tratamento musical deste repertório, percorreremos as cento e quinze partituras reunidas abordando-as analiticamente com o intuito de identificar as características musicais e violonísticas básicas e, relacionar estas características com a proposta musical e/ou instrumental, sugerindo interpretações. 109 Após o INCIPT, cada peça trará todas as considerações musicais relevantes através dos itens “Composição” e “Técnica” e, conforme a necessidade, também do item “Comentários”. O item “Composição” tratará dos seguintes itens internos: - Gênero: informando o gênero quando identificável e quando o próprio título não informar. - Forma: informando sempre a forma musical em redação padronizada. Este aspecto musical estará sempre presente para auxiliar o entendimento da proposta musical e a interpretação sugerida no item “Técnica”. - Ritmo: descrevendo peculiaridades rítmicas quando relevantes ao entendimento da proposta musical ou para a interpretação no item “Técnica”. - Melodia: descrevendo peculiaridades melódicas quando relevantes ao entendimento da proposta musical ou para a interpretação no item “Técnica”. - Harmonia: informando a constituição harmônica quando relevante ao entendimento da proposta musical ou para a interpretação no item “Técnica”. O item “Técnica” estará em um único tópico e privilegiará, em seu conteúdo, a descrição das propostas violonística e musical e a interação das duas na interpretação. Neste item não haverá um padrão rígido de redação e conteúdo, mas sim uma tendência a se relatar primeiro os processos técnicos violonísticos explorados, depois a se relacionar estes processos com a proposta musical, envolvendo parte ou todos os aspectos musicais descritos no item “Composição” e, por último, a se apresentar sugestões para a interpretação com ou sem alterações na digitação. O item “Comentários”, não obrigatório, virá na forma de texto e também não terá padrão definido de redação nem de conteúdo. Será uma espaço destinado a informações diversas como sobre revisões musicais realizadas pelo compositor em partituras não reeditadas, descrevendo as que proporcionam resultado musical distinto, sobre opiniões particulares ou de terceiros a respeito de determinadas peças e sobre possíveis intenções do compositor ao usar certos efeitos sonoros. 110 IV.2. ELENCO DAS PEÇAS 1. Título: AGOGÔ. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. Dedicatória: “a Mário do Patrocínio e Silva”. Notas da Pesquisa: 1. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. 2. Obra gravada domesticamente pelo compositor em 1948 com alterações musicais distintas das encontradas no acervo Simões. Grupo: IC/ n.º 46. INCIPIT: Composição - Forma: livre e em função de dois motivos contrastantes, semelhante porém à binária com repetição parcial da 2.ª seção (a – b[2x] – a’ – b’ – coda). A seção “a” corresponde ao motivo inicial em Ré menor e a “b”, ao segundo motivo na tonalidade homônima de Ré maior. Seção “a”: compassos 1 ao 39, “b”: 40 ao 66, “a’ ”: 67 ao 77, “b’ ”: 78 ao 81 e coda: 82 ao 89. - Ritmo: a seção “a” apresenta ritmos mais diferenciados para melodia, acordes e baixos, constituindo juntamente com os intervalos melódicos de quarta alusão direta ao instrumento “agogô”. Em “b” estes três elementos vêm alinhados, imitando os rasgueios da viola. - Harmonia: apresenta, de modo geral, acordes enquadráveis nas 1.ª, 3.ª e 4.ª leis tonais, com as funções de T, D, (D)Sr, ºT, ºD, +T, bem como modulações passageiras para Lá bemol e Lá maior sem preparação (através dos clichês de mão esquerda), mudança para modo maior e 7.º grau abaixado em “b”, caracterizando o mixolídio. 111 Técnica - Apresenta procedimentos técnicos distintos em função da intenção do compositor em caracterizar os sons produzidos pelos instrumentos agogô e viola. Estes procedimentos técnicos são o toque alternado entre duas notas fixas (exemplo: compassos 1 ao 4) imitando as duas campânulas do instrumento de origem africana200, idéia esta presente em quase toda a peça, e as notas repetidas e rasgueios sob harmonias estáticas com pedais fixos em modo mixolídio, comuns em muitos gêneros à base de viola. A variação da utilização do potencial sonoro do violão, em vista desta caracterização de instrumentos, é grande, indo desde uma única melodia sem acompanhamento entre os compassos 63 e 66, até acordes de seis cordas percutidas em “ff ” nos compassos 44, 47 e 78 ao 81. Entre os possíveis obstáculos mecânicos estão as pestanas mantidas por muito tempo na seção “b” e, principalmente, a elaboração do primeiro motivo na coda em notas repetidas, dispostas em grupos de quatro semicolcheias. Estes obstáculos exigem do intérprete uma atenção especial pois é o ímpeto dos ragueios e a fluência das semicolcheias que garantirão o efeito pretendido pelo compositor e a finalização em grande estilo. Comentários A alusão ao agogô em “a”, à viola em “b” e a constância das notas repetidas, a presença do modo mixolídio, os fragmentos melódicos descendentes na seção “b” e a forma livre indicam a fonte folclórica. Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: notas “fá#” nos lugares das notas “ré” (3.ª maior acima) do compasso 63; e notas “ré” nos lugares das notas “fá#” (3.ª maior abaixo) do compasso 64 . Na gravação doméstica realizada por Savio, em 1948, as alterações são outras: notas “ré” no lugar das notas “fá#” (3.ª maior abaixo) do compasso 65; notas “fá# - mi fá#” no lugar das notas “ré” (2.ª maior e 3.ª maior acima) do compasso 66; e de ritmo, com as notas “mi - do #” em colcheias sendo seguidas pela nota “lá” em semínima no compasso 16. 200 Ver verbete “Agogô” em ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro. São Paulo, EDUSP, 1989. p. 13. 112 2. Título: ALEGRIA E DOR DE PIERROT. Data: <Buenos Aires, 1930>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1968. (br. 2981). Álbum: SUÍTE DESCRITIVA. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 94. 2. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. Grupo: IB/ n.º 34. INCIPIT: Composição - Forma: apresenta duas partes. A primeira é uma forma canção com codeta (a – b – a – codeta), em que o material temático da codeta é o primeiro motivo apresentado na peça Triunfo de Arlequin. Seção “a”: compassos 1 ao 14, “b”: 15 ao 43, “a”: 44 ao 56 e codeta: 57 ao 60. A segunda parte, “Largo”, é uma seção única entre os compassos 61 e 82. Técnica - Explora a variação de sonoridade e timbre entre as partes constituintes da música. Nesta terceira e conclusiva peça do álbum Suíte Descritiva, a variedade na constituição do material temático é menor e também poucas são as alterações de caráter. O texto musical que se mantém enérgico até o compasso 56, apresentando a partir daí um visível apaziguamento pela retomada do motivo que inicia a peça Triunfo de Arlequim, reforçado pelo andamento mais lento a partir do compasso 61, bem como pelas indicações “Dor de Pierrot” e “Lánguido e triste”[sic.] para o mesmo trecho. Ocorre, portanto, uma única mudança significativa de caráter, levando a peça a concluir o álbum em uma espécie de coda sem precedentes estruturais, cuja intenção, por parte do compositor, parece ser a de sugerir tristeza. Logicamente, os processos técnico-violonísticos utilizados, no caso, acordes pulsados, harpejos, arrastes e saltos, presentes em ambas as partes, terão que estar a serviço do “Allegro Vivo”, indicado no início da peça e desta tristeza, a partir do 113 compasso 61. Recomenda-se atenção maior do intérprete nos saltos entre acordes de modo geral na primeira parte e na obtenção de uma sonoridade equilibrada e de timbre menos brilhante na segunda. Comentários Ocorre nesta peça a associação entre o descrito no prefácio e o texto musical. O palhaço Pierrot, ao retornar satisfeito ao ninho depois do dever de alegrar cumprido, encontra Colombina nos braços de Arlequim201. Há neste momento, entre os compassos 57 e 59, uma interrupção no texto fluente para a retomada do motivo que inicia a peça Triunfo de Arlequim, tal como um leitmotiv, anunciando a presença de Arlequim. Após esta retomada, segue-se a segunda parte (compasso 61 em diante), em andamento lento (semínima igual a 50) e com a indicação “Lánguido e Triste”, sugerindo, portanto, a dor de Pierrot, conforme se confirma no prefácio. No contato com exemplares desta peça nos materiais das ex-alunas de Isaias Savio, Mariana Mendes e Maria José Passareli, encontramos as seguintes alterações de próprio punho do compositor: # para a nota “fá” no lugar do mesmo acidente na nota “mi”, no segundo acorde do compasso 59; e a supressão do # da nota “fá” do compasso 69. 3. 201 Título: ALLEGRETTO MODERATO. Data: <1928>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3035). Álbum: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. Nota da Pesquisa: Data atribuída a partir de 83. Grupo: IIB/ n.º 113. INCIPIT: Ver “Prefácio” em SAVIO, Isaias. Suíte descritiva. São Paulo, Ricordi, 1968. 114 Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 23, “b”: 24 ao 44 e retorno à seção “a” indicado na partitura. - Melodia: constituída por harpejos e escalas de aspectos instrumentais, resultantes do uso de clichês violonísticos típicos do período clássico. Técnica - Explora a alternância entre acordes pulsados e fragmentos melódicos escalares, o que implica na necessidade de grande precisão técnica. Também a característica clássica presente no padrão melódico instrumental confere regularidade e exige clareza. A tonalidade não funcional do início da peça, Fá# maior, proporciona tensão à execução ao mesmo tempo em que favorece uma certa uniformização melódica pela quase ausência de cordas soltas. Esta uniformização em meio ao constante alternar de aspectos técnicos exige atenção do intérprete, da mesma forma que as trocas de posição de maneira geral, os acordes pulsados em funções tensas da seção “a” e as escalas nas correspondentes funções tensas da seção “b”, devendo estes procedimentos técnicos situados em funções harmônicas de “D” soarem com tensão uniformizada para melhor efeito de resolução nos segmentos de menor intensidade. 4. Título: ALLEGRO. Data: Montevidéu, mar. 1926. Edição: Buenos Aires, Romero y Fernandez, (s.d.). Notas da Pesquisa: 1. Encontrada no acervo Ronoel Simões. Edição identificada como sendo de Romero y Fernandez pela indicação “Imp. A. S. Arieta”. 2. Obra publicada também por Distribuidor General Alberto Savio (s.d.), Diego Gracia y Cia. (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: ALLEGRO EN RÉ MENOR. Grupo: IB/ n.º 8. INCIPIT: 115 Composição - Forma: seção única de 42 compassos com repetição. Técnica - A regularidade na alternância entre fragmentos escalares e acordes pulsados em meio a pequenos saltos conferem a esta peça uma característica de estudo de movimentação de mão esquerda, tanto que o autor a reeditou pela Ricordi entre os estudos que compõe o álbum Estudos para o 6.º ano de violão202. De modo geral é o processo técnico escalar o que oferece maior dificuldade em função de pequenos saltos na finalização dos fragmentos melódicos descendentes em semicolcheias na passagem dos compassos 24 ao 25, 26 ao 27, 30 ao 31, 32 ao 33, 35 ao 36 e 37 ao 38. Na reedição da peça, o andamento foi modificado, tendo passado de “Allegro”, sugerido pelo próprio título, para “Allegretto Moderato”. Os saltos e as durações de alguns baixos foram revistos, o que proporcionou, juntamente com a redução do andamento, um resultado final mais fluente, sem rupturas entre as trocas de processos técnicos. Ainda assim o intérprete tem que estar atento às passagens citadas, observando sempre a clareza da última semicolcheia de cada grupo descendente. Comentários Na edição da Ricordi o título mudou, embora esta mudança tenha que ser considerada em parte, pois esta peça foi apenas enumerada como o terceiro estudo dentre os que compõem o álbum mencionado anteriormente. A versão Estudo n.º 3, cujas principais alterações musicais foram citadas e comentadas em II.3.1. é a que se encontra em circulação atualmente e elencada neste catálogo como 4’. 4’. 202 Título: ESTUDO N.º 3. Data: <Montevidéu, mar. 1926>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1971. (RB 0146, álbum). Álbum: ESTUDOS PARA O 6.º ANO DE VIOLÃO. Notas da Pesquisa: 1. Data de composição atribuída a partir de 4. SAVIO, Isaias. Estudos para o 6.º ano de violão. São Paulo, Ricordi, 1971. 116 2. Trata-se de outra versão da obra com correções na escrita e alterações musicais. Integra o álbum de estudos da Ricordi como Estudo n.º 3. 3. Também em edição avulsa pela Ricordi (s.d.), (rf. 7473), com o título ALLEGRO, como em 4. INCIPIT: 5. [Título: AMALITA, MAZURCA.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Subtítulo: AMANHECENDO. Vide número 112. 6. [Título: ANDANTE.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 7. Título: ANDANTE CON MOTO (dois violões). Data: Rio de Janeiro, 1936, Op. 22. Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 360). Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1942 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Consta do álbum 48 do antigo acervo do compositor um exemplar desta peça sem data e com alterações musicais impressas, editada pela mesma casa publicadora. 3. Obra gravada domesticamente por Isaias Savio e Ronoel Simões em 1950 com algumas das alterações musicais da versão comentada em 2. É possível que a versão da gravação e a do item 2 coincidam com as edições publicadas anteriormente, conforme item 1. 117 Grupo: IB/ n.º 9. INCIPIT: Composição - Forma: binária simples com repetição integral ([a – b]2x). Seção “a”: compassos 1 ao 24, “b”: 25 ao 48 e retorno indicado na partitura. Técnica - De todas as peças para dois violões escritas pelo compositor, esta é a que oferece menos obstáculos para o entrosamento inicial de um duo, pela menor dificuldade técnico-violonística, pelos vários momentos em que os dois violões realizam ritmos iguais e pelo diálogo claro que estabelecem entre si. Os intérpretes devem procurar um sentido melódico único entre as várias idéias melódicas da partitura, realizando-as com um legato uniforme e igualando também os arrastes entre as seções. O segundo violão é o de maior dificuldade em virtude do trêmulo em notas alternadas nos compassos 9 ao 12 e dos arrastes na 5.ª corda, dos quais, os compreendidos na passagem dos compassos 34 ao 35 e 36 ao 37, podem ser facilitados se realizados com os dedos “1” e “4”, respectivamente. Os violonistas devem ficar atentos com o andamento na retomada da seção “a”. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 48 as seguintes alterações impressas: reprodução do trecho situado nos compassos 20 ao 23 do primeiro violão nos compassos 16 ao 19 do segundo; e a indicação “Fim” no compasso 24 após retorno ao início, o que torna a peça uma forma canção. 118 Na gravação doméstica realizada por Isaias Savio e Ronoel Simões, em 1950, coincide a citada reprodução dos compassos do primeiro no segundo violão. 8. Título: BARCAROLA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 103. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a’). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16 e “a’ ”: 17 ao 24. - Melodia: apresenta o contraste da elaboração por blocos de acordes em ritmo de “barcarola” na seção “a” e na reexposição, com semínima – colcheia – semínima – colcheia, em 6/8, e por fragmentos escalares em colcheias na seção “b”. Técnica - Apresenta melodia resultante do pulsar de acordes nas seções “a” e “a’ ” e do processo escalar na seção “b”. A principal proposta desta peça é, pois, o exercício destes dois processos técnicos distintos, mas igualmente constituidores do aspecto melódico. A primeira seção e seu retorno variado propõem trocas de acordes plaquês nas mesmas posições e entre posições diferentes, sendo que algumas destas trocas podem ocorrer por meio de eixos como os estabelecidos via dedo “1” (passagem do compasso 6 ao 7 e compasso 7) e via dedo “4” (passagem dos compassos 2 ao 3, 8 ao 9, 18 ao 19, 22 ao 23 e compassos 3 e 19). O violonista deve ter em mente alcançar um bom legato nas ligações entre estes acordes da seção “a”, correspondente ao que se consegue mais facilmente no processo escalar da seção “b”. 119 9. [Título: BERCEUSE.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Distribuidor General Alberto Savio (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 10. Título: BATUCADA. Data: <São Paulo,1941> ou <1950>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. Dedicatória: inicialmente “a Ieda Olivé” e, posteriormente, “a Gabriel Pereira”. Notas da Pesquisa: 1. Encontradas duas datas de composição: 1941, a partir da entrevista de um concertista, ex-aluno de Savio e 1950, anotada pelo compositor em exemplar do material de ex-aluna. 2. A dedicatária Ieda Olivé consta da edição de 1955 e o dedicatário Gabriel Pereira, de edição posterior (s.d.). Grupo: IC/ n.º 47. INCIPIT: Composição - Forma: semelhante à canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a’) e citação de “a” em “b”. Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 59 e “a’ ”: 60 ao 77. - Harmonia: abrange a 1.ª lei tonal com as funções de T, S e D e também a 5.ª lei com as modulações passageiras para Dó maior, nos compassos 45 a 48 e para Lá maior, nos compassos 49 e 50. As modulações ocorrem em campos tonais próximos (ºSr e S da tonalidade), e mesmo os paralelismos melódicos conseqüentes do clichê de mão esquerda nos compassos 50, 51, 54 e 55 não chegam a desestruturar a tonalidade. A presença do modo mixolídio, caracterizado pela 7.ª abaixada (no caso a nota “ré”) disfarçada entre cordas soltas, constitui, juntamente com os rasgueios, um momento de claro apelo folclórico e também efeito percurssivo entre os compassos 29 e 39, idéia aliás presente em toda a peça, mas principalmente neste trecho citado, na introdução e na conclusão. 120 Técnica - Apresenta diversos processos técnicos como rasgueios, notas repetidas, melodias ritmicamente elaboradas com acompanhamento também diversificado, aberturas e acordes e trechos melódicos resultantes de clichês de mão esquerda. De modo geral toda esta diversidade está a serviço do efeito percussivo do gênero. É evidente a procura do efeito de uma batucada principalmente na seção “a”. Os compassos 19, 20, 23, 24, 27 e 28 constituem obstáculos técnicos pela difícil manutenção do pulso. A alternativa para um maior desempenho é usar o dedo indicador na quarta semicolcheia de cada um dos três grupos de semicolcheias destes compassos. Mesmo os harpejos dos compassos 40, 52 e 56 necessitam de um ímpeto enérgico de execução para a manutenção do efeito pretendido. Os rápidos deslocamentos de acordes em meia pestana, nos compassos 50, 51, 54 e 55, exigem também atenção especial pela complexidade. Todas estas questões, diretamente relacionadas ao resultado musical final podem ser satisfatoriamente tratadas em um estudo lento, atitude que contribuirá também para o ganho de um condicionamento físico necessário para as alternâncias bruscas entre os distintos processos técnicos. Comentários A Batucada é uma das peças mais representativas de Isaias Savio, tendo sido gravado por muitos violonistas nacionais e estrangeiros. O violonista Carlos Barbosa Lima em seu concerto no Teatro Cultura Artística em São Paulo, em 1989, disse que a Batucada é possivelmente a primeira peça do gênero batucada escrita originalmente para violão e que seu ano de composição é o de 1941. No entanto, esta data citada pelo violonista não concorda com a anotação do compositor no exemplar da ex-aluna Mariana Mendes, onde aparece o ano de 1950. É possível que a Batucada tenha sido iniciada em 1941, passando posteriormente por várias revisões. 11. Título: BOURRÉE. Data: Buenos Aires, out. 1927. Edição: Buenos Aires, Distribuidor General Alberto Savio, (s.d.). Notas da Pesquisa: 121 1. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: BOURRÉE EN MI MENOR. 2. Obra publicada ainda por Ricordi (s.d.), (br. 7449), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: IB/ n.º 10. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição das seções (a[2x] – b[2x] – a’). Seção “a”: compassos 1 ao 12, “b”: 13 ao 32 e “a’ ”: 33 ao 42. Técnica - Apresenta trechos da melodia realizados em uma só corda sem acompanhamento ou acompanhados somente pelo baixo (exemplo: trechos dos compassos 5, 7, 10, 11, 24 a 30), o que exige uma sonoridade robusta para compensar. Também as trocas de posição devem ser muito precisas e “a tempo”, tornando difícil a execução principalmente em compassos onde a distância a ser percorrida pela mão esquerda nos saltos é grande (compassos 24, 25 e 28 a 30). As aberturas do compasso 9 resultam também em obstáculos para a fluência. Uma alternativa para este caso é a de se tomar a liberdade de se realizar a linha do baixo do compasso 8 (2.º tempo) ao 10 (1.º tempo), ou seja, notas “lá - sol - fá - mi”, uma oitava acima, na 4.ª corda, o que acarretará em perda por uma lado, pela quebra de seqüência da linha, mas em ganho por outro, pela possibilidade de sua realização sem atrasos. Comentários Parece haver nesta peça uma alusão à Fuga n.º 2 em Dó Menor do 1.º Volume do Cravo Bem Temperado, de J. S. Bach, BWV n.º 847. A semelhança ocorre entre parte do motivo inicial da peça de Isaias Savio (compassos 1 a 3) e o início do sujeito da fuga, ambos os casos apresentando repetidamente, na melodia, duas colcheias e uma semínima seguidas por dois acordes em semínimas. 122 12. Título: CAIXINHA DE MÚSICA203. Data: <Montevidéu>, 1912 ou <1925>. Edição: São Paulo, Musicália, 1976. (MCM - 0184, álbum). Álbum: 4 RECREAÇÕES. Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada por Distribuidor General Alberto Savio, 1.ª edição (s.d.). Informações que constam da partitura: Título: CAJITA DE MÚSICA; Data: Montevidéu, dez. 1925 e Dedicatória: “A la Señorita Amalita Olave, con el mayor cariño y admiración.”. 2. Obra publicada também por Ricordi Brasileira, 1955 (br. 1816, RB 0496 e ba. 11505), com RB 0496 indicando o ano de 1912 como a data de composição e por Ricordi Americana (ba. 11505). 3. Obra publicada ainda por Romero y Fernandez (s.d.), Diego Gracia y Cia. (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 4. Sobre a data de composição desta peça, segundo Ronoel Simões, Savio dizia que a correta é mesmo a de 1925, portanto a publicada pela Distribuidor General Alberto Savio (ver item 1.), mas o próprio Savio anotou em um exemplar de uma ex-aluna o ano de 1912, confirmando o publicado por Musicália (MCM - 0184) e Ricordi (RB 0496). Grupo: ID/ n.º 59. INCIPIT: Composição - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 32 e “a”: 33 ao 48. - Melodia: toda em harmônicos oitavados. Técnica - Explora melodia em harmônicos em meio a um acompanhamento em colcheias. O contexto musical desta peça exige uma execução precisa e ao mesmo tempo 203 Por ter sido publicada separadamente antes das outras peças do álbum 4 Recreações e também, com muita probabilidade, composta antes das mesmas, as possíveis datas da composição de Caixinha de Música (ver item 4 de “Notas da Pesquisa”) não foram repetidas nestas outras peças, como seria o caso de acordo com nossos critérios para este catálogo. 123 delicada nas trocas de posição e principalmente na obtenção dos harmônicos para não poluir a frágil textura da peça com chiados de corda ou ruídos de unha. O intérprete deve estar atento também ao que é melodia e ao que é acompanhamento, procurando realizar somente o canto em harmônicos como indica a partitura. Comentários Na gravação doméstica desta peça realizada por Isaias Savio em 1948, a última nota da peça, “mi” do compasso 48, que é acompanhamento, foi realizada em harmônico, resultando uma finalização mais delicada e musicalmente mais adequada. 13. Título: CANÇÃO DE BERÇO. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 104. INCIPIT: Composição - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 10, “b”: 11 ao 18 e “a”: 19 ao 28. Técnica - Explora melodia, acompanhamento e baixo de modo que o texto musical resulte constituído por um ritmo padrão de seis colcheias por compasso em 6/8. Desta figuração, fora os baixos sempre em tempo forte e por isso claramente definidos, a melodia e o harpejo acompanhante alternam-se e complementam-se de modo a exigir atenção do executante no destaque correto da melodia. Apesar da facilidade em se detectar o aspecto melódico, sua execução diferenciada requer muito cuidado quando da execução das segundas notas melódicas (terceira do compasso) em meio 124 a harpejos com notas acompanhantes em cordas soltas imediatamente vizinhas (exemplo: compassos 5 ao 8), pois a tendência é executá-las com a mesma intensidade. As passagens dos compassos 5 ao 6, 11 ao 12, 15 ao 16 e 23 ao 24 necessitam também de atenção no deslocamento do dedo “3” da nota melódica “ré” para o baixo “dó”. No compasso 12 o uso do dedo “3” para o baixo “dó” é o mais correto, de acordo com o contexto. 14. [Título: CANCIÓN DE CUNA.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 15. [Título: CANCIÓN TRISTE.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 16. Título: CANTO DE AMOR. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 417). Álbum: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1944 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Álbum publicado também com o título COLEÇÃO DE PEÇAS DE PEQUENA DIFICULDADE/ Fasc. II – 6 peças, conforme as contracapas de outras peças pela mesma editora. Grupo: IIB/ n.º 94. INCIPIT: Composição - Forma: binária simples com repetição da 1.ª seção (a[2x] – b). Seção “a”: compassos 1 ao 13 e “b”: 14 ao 26. 125 - Melodia: imprevisível em alguns momentos e com quebras na seqüência natural dos graus conjuntos causando certa surpresa. Técnica - É explorada em função da melodia principalmente. A proposta desta peça parece ser a de fazer o intérprete se exercitar na melodia de direcionamento não tão óbvio, apesar do ritmo e do contexto harmônico padrões, fazendo-a soar totalmente coerente. É imprescindível que o violonista leve em conta todas as indicações de alteração de andamento, no total doze, para os apenas vinte e seis compassos da peça, atendendo assim a indicação “Com Expressão” da partitura e com isso alcançando o efeito romântico do sugestivo título Canto de Amor. Em última análise, trata-se de exercitar as diversas hesitações subentendidas para em primeiro lugar dar maior sentido musical às frases aparentemente irregulares e, em segundo, criar uma expectativa em torno da imprevisibilidade, fazendo o texto musical como que compor-se a cada célula ou motivo, tal qual um improviso. É necessário haver cautela entre algumas passagens como as dos compassos 3 ao 4 e 6 ao 7 em virtude de mudanças de posição. 17. Título: CANTO DE PRIMAVERA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 100. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 16 compassos com repetição. - Melodia: apresenta-se em colcheias regulares em quatro frases claramente definidas. 126 Técnica - Explora execução expressiva da melodia de ritmo e segmentação regulares. A indicação “Andante Expressivo”, ao início da partitura, confere certa liberdade à interpretação, permitindo rubatos na execução das quatro frases que compõem a peça e também respirações entre as mesmas, nos compassos 5, 9 e 13. Deve prevalecer também um legato geral neste texto musical e, para isso, recomenda-se um alteração de digitação na primeira frase, onde a realização de uma pestana inteira logo na nota “dó” do último tempo do compasso 3 poderá unir melhor a melodia, acolhendo também as notas imediatamente seguintes, exatamente as que finalizam esta primeira frase no compasso 4. 18. Título: CARÍCIA (VALSA). Data: Rio de Janeiro, out. 1938. Edição: São Paulo, Irmão Vitale - Casa Del Vecchio, (s.d.). (2475). Nota da Pesquisa: Obra editada também por Ricordi (s.d.), (br. 1479), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: IC/ n.º 39. INCIPIT: Composição - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 32, “b”: 33 ao 64 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora contraditoriamente muitas aberturas e pestanas na elaboração da singela melodia da peça, apesar da confortável tonalidade de Mi maior. Em função disso, a ação da mão esquerda torna-se inevitavelmente tensa, sendo este o principal entrave técnico. Os momentos complexos localizam-se nos compassos 15 ao 30, 33 ao 43, 49, 51, 52, 55, 57, 59 e 60. O intérprete deve, portanto, tomar esta peça como um 127 desafio de “leveza”, estudando-a lentamente e evitando qualquer esforço que perturbe a clareza e a delicadeza da melodia. Comentários Curiosamente esta peça lembra, pelas notas iniciais da melodia, bem como por certa liberdade de pulso e ritmo anacrúzico, o Noturno N.º 9 opus 2, de Frederic Chopin, transcrita para violão por Francisco Tárrega. 19. Título: CELESTE Y BLANCO (ESTILO). Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1944. (10. 538). Álbum: 4 PEÇAS TÍPICAS DO RIO DA PRATA. Dedicatória: “Al Dr. Joaquim A. M. Sales”. Nota da Pesquisa: Obra publicada com o título ESTILO na capa do mesmo álbum. Grupo: IA/ n.º 1. INCIPIT: 19’. Título: CELESTE Y BLANCO (ESTILO). Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1959. (br. 2301). Álbum (série): COLEÇÃO DE PEÇAS TÍPICAS RIOPLATENSES N.º 1. Nota da Pesquisa: Trata-se de uma outra versão da obra com correções na escrita e alterações musicais. INCIPIT: 128 Composição - Forma: espelhada, semelhante à canção com repetição da 1.ª seção (a[2x] – b – c – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16, “c”: 17 ao 32, “b”: 33 ao 40 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora vários processos técnicos em função da elaboração diversificada da melodia e do caráter de cada trecho. Estes processos abrangem escalas, arrastes, ligados e mordentes, ocorrendo com variedade rítmica e tessitura grande em momentos distintos. Cada seção apresenta um caráter diferenciado e a caracterização correta dos mesmos é determinante para o realce do contraste entre as partes. Na seção “a” ocorrem anacruzes em fusas na forma de harpejos ou fragmentos escalares com ligados, mas que devem soar uniformizados entre si, resultando no mesmo efeito. Na seção “b” predomina melodia condutora em meio a arrastes e, na seção “c”, melodia mais movida e em registro agudo (alcançando o 15.º trasto), exigindo maior empenho do intérprete. Comentários Esta versão Ricordi, cujas principais correções e alterações musicais em relação à edição anterior (ver 19) foram comentadas em II.3.3., é a que se encontra provavelmente ainda em circulação. 20. Título: CENAS BRASILEIRAS (IMPROVISOS). Data: set. 1970. Edição: São Paulo, Ricordi, 1971. (br. 2513). Dedicatória: “a Antonio Carlos Barbosa Lima”. Nota da Pesquisa: Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 219 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: IC/ n.º 40. INCIPIT: 129 Composição - Forma: livre, semelhante à binária com introdução e coda (introdução – a – b[2x] – coda). Introdução: compassos 1 ao 23, seção “a”: 24 ao 44, “b”: 45 ao 83 e coda: 84 ao 98. - Melodia: em alguns momentos (compassos 24 ao 26, 29 e 30, 49 ao 61 e 88 ao 91), ocorrem os mesmos intervalos entre as notas constituintes de melodias paralelas, resultando no que convencionamos chamar de paralelismo melódico. - Harmonia: na introdução, compassos 1ao 23, os acordes e escalas não possuem um direcionamento harmônico definido – com exceção dos compassos 6 e 7 onde se verifica um “D” seguida de uma “T” –, estando dispostos quase que livremente, sendo unificados somente pela melodia, que, num primeiro momento, polariza sobre a nota “lá”. Na segunda parte, nos compassos 24 ao 30, 49 ao 61 e 88 ao 91, a harmonia segue de maneira “não tonal”, predominantemente resultante de acordes do clichê de mão esquerda. Nos poucos momentos em que se estabelece uma relação funcional (exemplo: entre os compassos 62 e 80) encontramos funções como as de T, S, D, Tr, Sr, DD e ºS, enquadráveis, portanto, nas quatro primeiras leis tonais. Técnica - Apresenta grande número de procedimentos técnicos distintos em função de duas intenções musicais também distintas, sendo a primeira a verificável na introdução lenta e triste, e a segunda no despertar do movimento rápido, o qual lembra uma cantiga de roda. Em virtude da harmonia indefinida e conseqüentemente da falta de atração tonal, a introdução apresenta-se como que compondo-se a cada nota, à maneira mesmo de um improviso. Esta intenção prossegue nas seções “a” e “b” embora com um direcionamento mais claro dado pela melodia e pelo andamento rápido. De maneira geral, constituem-se procedimentos técnicos e, ao mesmo tempo, obstáculos, as aberturas de mão esquerda na introdução (compassos 1, 3, 5 e 8), os acordes repetidos na seção “a” (compassos 24 ao 34), os saltos entre acordes de mesma apresentação de mão esquerda (compassos 49 ao 60), bem como as notas repetidas na melodia da seção “b” (compassos 65 ao 83), sendo estas últimas as responsáveis pelo encerramento desta seção e também as que oferecem maior 130 dificuldade de execução. Uma opção eficiente de estudo para esta peça é dividi-la em cinco partes: dos compassos 1 ao 23, 24 ao 44, 45 ao 65, 65 ao 83 e 84 ao 99, buscando uniformidade sonora na introdução e de andamento no movimento rápido. Comentários Composta em 1970, Improvisos é uma peça da maturidade de Savio. Sua forma livre reflete a maneira de cantar e de improvisar do cantador nordestino, sendo também uma evidência, juntamente com a constância das notas repetidas e a tendência descendente da melodia, da influência do populário musical brasileiro na obra do compositor. Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 219 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: # para a nota “sol” do compasso 7; e # para a nota “ré” do compasso 17. CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE (álbum). Vide números 1, 10, 31, 82, 117, 126 e 129. CENAS BRASILEIRAS 2.ª SÉRIE (álbum). Vide números 70 e 118. 21. Título: CHORO N.º 2. Data: São Paulo, nov. 1943. Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10.408). Grupo: IC/ n.º 50. INCIPIT: 131 Composição - Forma: canção com repetição das 1.ª e 2.ª seções (a[2x] – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16 e “b”: 17 ao 32. - Harmonia: abrange as 5 leis tonais com as funções de T, S, D, Sr, Dr, (D)S, DD, (D)Sr, ºD e modulação passageira para Ré maior entre os compassos 29 e 32. Técnica - Apresenta melodia ritmicamente elaborada. Dentre inconvenientes na execução há algumas inevitáveis mudanças bruscas de posição na seção “a”, entre os compassos 3 e 4, 6 e 7, 7 e 8, e 11 e 12, pela dificuldade na realização dos trechos imediatamente anteriores aos saltos. A digitação do compositor pode ser facilitada em alguns pontos da partitura como no compasso 12, com o baixo “sol” do segundo tempo sendo realizado em corda solta e as notas melódicas seguintes “mi - ré - dó# - ré - lá - fá - ré” com os dedos “4 - 2 - 1 - 3 - 2 - 1 - 1”, respectivamente, sendo o último dedo repetido por meio de um arraste na mesma 3.ª corda. 22. Título: CHORO ROMÂNTICO. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1951. (10.777). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 4. Grupo: IIB/ n.º 109. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição das 1.ª e 2.ª seções (a[2x] – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 32 e retorno à seção “a” indicado na partitura. - Melodia: constituída praticamente pela seqüenciação de um motivo que une todo o texto musical sem quase interrupções. 132 - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, Dr, (D)S, DD, (D)Sr, (D)Dr e ºT. Técnica - Apresenta melodia praticamente ininterrupta em meio a um acompanhamento em semicolcheias. Estas características tornam necessária a adoção de uma digitação que propicie um legato equivalente, fazendo da melodia um aspecto musical uniforme e condutor da interpretação juntamente com a harmonia rebuscada da peça. Na seção “a” compasso 12 há o que parece ser um erro de digitação, sendo o correto o dedo “2” para o baixo “dó bequadro”. Na finalização da mesma seção, compassos 16 casa “1”, a execução será mais óbvia se forem utilizados os dedos “2 - 3 - 4” para as notas do acorde “ré - fá# - ré” (baixo), respectivamente. A seção “b”, embora com a digitação impecável do compositor, é de realização mais complexa em função de algumas mudanças bruscas de posição na passagem dos compassos 17 ao 18, 25 ao 26, 28 ao 29, no compasso 29 e na passagem do 29 ao 30, necessitando, por isso, maior cuidado. Comentários Nesta peça o lirismo melódico parece realmente predominar, pelo que se pode constatar pela constituição uniforme do texto musical e pela necessidade de articulação ligada do canto, como mencionamos. Tinhorão define a transformação do choro instrumental em canção como conseqüência da “maneira lânguida que os músicos chorões imprimiam à execução, mesmo das peças mais alegres”204. É possível que Savio tenha idealizado esta peça com a intenção de propor o exercício melódico do chorocanção. COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2 (álbum). Vide números 16, 26, 65, 67, 115 e 120. 204 TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular. Petrópolis, Vozes, 1974. p. 110. 133 COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1 (álbum). Vide números 8, 13, 17, 24, 29, 79, 90 e 137. COLEÇÃO DE PEÇAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 4 (álbum). Vide números 22, 95 e 127. COLEÇÃO DE PEÇAS TÍPICAS RIOPLATENSES N.º 1 (série). Vide números 19’, 66’ e 125’. 23. Título: “CREPÚSCULO”. Data: <1930> ou <1932>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1808). Álbum: 4 PRELÚDIOS PITORESCOS. Dedicatória: “Ao Dr. Juan Padrón G.”. Notas da Pesquisa: 1. Encontradas duas datas de composição anotadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. 2. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor nos exemplares descritos em 1. Grupo: IB/ n.º 25. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 28 compassos. - Harmonia: composta por acordes alterados sem interação tonal e por acordes resultantes do processo técnico que convencionamos chamar de clichê de mão esquerda, apenas tendendo a definir a tonalidade a partir do compasso 8 em função do pedal “mi” grave e, principalmente a partir do compasso 19, pelas cadências plagais. 134 Técnica - Apresenta aberturas, pizzicatos, ligados e arrastes em combinação com um ritmo variado e com muitas indicações de aumento e diminuição no andamento, o que torna complexa a execução pela diversidade a ser administrada, apesar dos apenas vinte e oitos compassos da peça. Os elementos citados deverão estar em função da indicação “Andante. Calmo e Molto Expressivo”, que reforça na peça um caráter introdutor típico de início de álbum, estando em sintonia com o clima crepuscular sugerido pelo título. Esta condição facilita a interpretação pela liberdade de pulso permitida. As indicações de tempo ao longo da partitura orientam esta liberdade propiciando maior intenção de resolução aos vários fragmentos escalares em pizzicato e às seqüências de acordes não tonais, devendo, portanto, serem obedecidas. Comentários No contato com um exemplar desta peça do material do ex-aluno de Isaias Savio, Paulo Porto Alegre, encontramos o seguinte acréscimo: “rit.” no segundo tempo do compasso 26. Nos materiais das ex-alunas Mariana Mendes e Maria José Passareli encontramos: supressão da articulação “Pizz.” para as duas últimas notas dos compassos 10, 12, 14, 18 e 23. 24. Título: DANÇA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 101. INCIPIT: 135 Composição - Gênero: gavota. - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 18, “b”: 19 ao 34 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Apresenta melodia em colcheias e semínimas com acompanhamento de acordes em tempos fracos em vários momentos. A combinação do tipo de acompanhamento citado com a fórmula de compasso 2/4 e o andamento “Allegro” sugere o gênero gavota a esta peça de título Dança. A proposta didático-musical aqui é, portanto, o da execução fluente e destacada da melodia, dosando, porém, sua intensidade nos momentos em que integra os acordes acompanhantes dos segundos tempos. Como opção de digitação, pode-se adotar o dedo “3” para a nota “sol” do compasso 6, o dedo “4” para a nota “ré” do compasso 25 e os dedos “3 - 1 - 4” para as notas “dó fá - ré#” respectivamente, do compasso 27. 25. Título: DANÇA DA BONECA. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1959. (br. 2337 e RB 0522). Álbum: 2 PEÇAS. Nota da Pesquisa: A outra peça deste álbum é apenas uma harmonização. Grupo: ID/ n.º 53. INCIPIT: Composição - Gênero: valsa. - Forma: seção única de 32 compassos com repetição e subdivisão interna que a faz semelhante à binária (a – b), sendo “a”: compasso 1 ao 16 e “b”: 17 ao 25. - Melodia: toda em harmônicos oitavados. 136 Técnica - Combina escalas e harpejos em ritmo padronizado. O toque preciso para a obtenção dos harmônicos e a manutenção do andamento “Allegro” indicado na partitura, tornando clara a idéia de dança, são as principais condições para a boa realização desta peça. A única dificuldade é justamente conciliar o andamento indicado com o toque dos harmônicos. O processo de estudo deve ser, portanto, lento e concentrado na movimentação de ambas as mãos, visando coerência musical e limpeza de som. 26. Título: DANÇA DOS ANÕES. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 417). Álbum: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1944 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Álbum publicado também com o título COLEÇÃO DE PEÇAS DE PEQUENA DIFICULDADE/ Fasc. II – 6 peças, conforme as contracapas de outras peças pela mesma editora. Grupo: IIB/ n.º 97. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 32 compassos. Técnica - Explora independência na execução simultânea da linha contínua do baixo e da melodia. As duas linhas apresentam praticamente a mesma divisão rítmica em colcheias sendo que o baixo realiza um movimento quase ininterrupto, predominantemente em grupos de três notas em intervalos de 3.ª maior ou menor. Os grupos seguem padrões repetitivos utilizando quase sempre alternâncias obrigatórias realizadas nas quatro cordas mais graves do instrumento nas seguintes 137 ordens: 6.ª, 5.ª e 4.ª cordas ou 5.ª, 4.ª e 3.ª cordas, percutidas sempre pelo polegar, conforme indica o compositor na partitura. A proposta desta peça é justamente dar a cada linha suas inflexões próprias, ou seja, interpretando separadamente o movimento contínuo dos baixos e o segmentado em sentenças na melodia sem perder de vista o aspecto dançante intencional do compositor. Comentários Devido à regularidade harmônica na alternância das funções “T” e “D” no motivo principal, seguida sempre da alternância das funções correspondentes “Tr” e “(D)Tr” na variação do mesmo motivo, fato que se repete cinco vezes em toda a peça, é bem provável que a última nota “sol” do compasso 15 esteja errada. O correto seria a nota “lá” (2.ª maior acima) no lugar, já que esta faz parte da linha do baixo no momento em que a função harmônica é a “Tr”. 27. Título: DANÇA DOS URSOS. Data: ? Edição: São Paulo, Musicália, 1976. (MCM - 0184). Nota pesquisa: Obra publicada também por Ricordi, 1955. (br. 1816 e RB 0496). Álbum: 4 RECREAÇÕES. Grupo: ID/ n.º 61. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 18, “b”: 19 ao 26 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora ligados ascendentes e descendentes em combinação com acordes harpejados. Na seção “a”, a alternância entre os toques referentes aos ligados e os harpejos nos acordes em colcheias com pestana força a mão direita a inevitáveis 138 deslocamentos e a mão esquerda a uma tensão difícil de administrar. Com a realização de um sutil stacatto após cada harpejo ganha-se tempo para se reposicionar a mão direita para os ligados seguintes, amenizando também o trabalho da esquerda. A seção “b” é menos marcada pela alternância dos procedimentos citados e também facilitada pelo contexto “Molto Expressivo” indicado pelo compositor, mas ainda assim exige boa dose de estudo para a realização simultânea da linha melódica e dos baixos em pizzicato. 28. Título: DANZA DE LOS GNOMOS. Data: Montevidéu, abr. 1928. Edição: Rio de Janeiro, Casa Arthur Napoleão, (s.d.). Dedicatória: “al Ingeniero Dr. Homero Alvarez”. Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: ID/ n.º 54. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição de parte da 1.ª seção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 23, seção “b”: 24 ao 40 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Combina harpejos, ligados ascendentes, ligados descendentes e acordes pulsados em meio a saltos. A tessitura aguda na melodia registrada em vários momentos (compassos 2, 3, 4, 10 [casa 1 e 2] e compassos 15, 16, 31, 32 e 40), em contexto de semicolcheia, torna difícil a manutenção do andamento “Allegretto” indicado, obrigando o violonista ao estudo dos trechos citados em separado. Alterações na digitação onde prevaleçam posições primárias podem facilitar a movimentação de esquerda. No compasso 14, por exemplo, o acorde de função harmônica de “D” do 139 último meio tempo pode ser realizado com meia pestana na 4.ª posição, resolvendose na “T” do compasso seguinte com um simples arrastar de pestana. Medidas assim colaborarão no efeito da peça, tornando-a fluente como uma dança. 29. Título: DANÇA ORIENTAL. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 107. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 24 compassos com subdivisão interna em 5 sentenças e coda, todas com 4 compassos. Técnica - Sistematiza o exercício do polegar em um ostinato composto por grupos normais de colcheias na linha dos baixos. A proposta desta peça consiste em manter independentes as linhas do baixo e da melodia, equilibrando a intensidade e andamento do ostinato e dando as corretas inflexões ao canto, pelo qual se evidenciará a estrutura em sentenças de quatro compassos cada. O “dim.” dos últimos três compassos da coda merece atenção especial para que possa ser feito gradualmente. Comentários Uma das características desta peça é o uso da escala cigana. As notas “si”, “lá#”, “sol” e “mi” dos compassos 3 e 4 e também dos compassos 19 e 20 constituem fragmentos da escala cigana “mi - fá# - sol - lá# - si - dó - ré - mi”, assim chamada por 140 sua utilização em boa parte da música húngara, sendo chamada também de modo húngaro ou escala húngara205. 30. Título: DIVERTIMENTO. Data: ? Edição: São Paulo, Musicália, 1976. (MCM - 0184). Nota pesquisa: Obra publicada também por Ricordi, 1955. (br. 1816 e RB 0496). Álbum: 4 RECREAÇÕES. Grupo: ID/ n.º 62. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 48 compassos com repetição. - Melodia: com trechos em harmônicos e em pizzicatos. Técnica - Explora, na melodia, sons harmônicos (compassos 1 ao 12), ligados de somente “mão esquerda” como indica o compositor (compassos 17 ao 23 e 46 a 47), e pizzicatos em diferentes posições para se obter o timbre “natural” (compassos 25 ao 32 e 41 ao 46) e o “estridente” (compassos 33 ao 40), indicados também na partitura. Portanto esta partitura resulta um pouco complexa devido à ação diversificada de mão direita na realização dos pizzicatos e no apagamento dos baixos (às vezes simultâneo) e à ação da esquerda nos ligados em semicolcheias. O contraste tímbrico é o principal aspecto musical a ser evidenciado, proporcionando maior interesse musical à partitura. Para a manutenção do pulso nas semicolcheias ligadas dos compassos 17 ao 21 recomenda-se o uso do dedo “2” na nota “si”. Isto implicará em pequena abertura em relação ao dedo “1” da nota “lá”, compensando, 205 SADIE, Stanley & LATHAM, Alison. op. cit., p. 302. 141 porém, na movimentação fluente entre as notas “si” e “dó” dos dedos “2” e “4”, cuja articulação é mais lenta por natureza. 31. Título: ESCUTA CORAÇÃO. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1ª SÉRIE. Dedicatória: “a José Lansac”. Grupo: IC/ n.º 45. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 35 e coda: 36 ao 45. - Melodia: forma contraponto com a melodia secundária que se instaura na linha do baixo em alguns momentos. Técnica - É caracterizada pela polifonia típica do violão seresteiro (exemplo: compassos 1 ao 6 e 24 ao 30), em que a melodia principal é acompanhada de outra que se instaura na linha do baixo (baixaria do gênero choro). Em toda a peça e, principalmente, nos momentos contrapontísticos, se faz necessário um controle sutil de intensidade e timbre para o correto delineamento das frases. A condição contrapontística determina, de maneira geral, movimentos tensos na mão esquerda ao se buscar legatos independentes dos fragmentos melódicos simultâneos em meio às trocas de posição. O estudo desta peça deve conciliar, portanto, o tratamento do aspecto melódico em função das inflexões harmônicas com o menor esforço possível. 142 Comentários A melodia acompanhante do baixo e por vezes de alguma voz intermediária nesta peça atestam o uso de procedimentos da música popular urbana brasileira para violão por Isaias Savio. 32. Título: ESTILO. Data: ? Edição: Buenos Aires, Diego Gracia y Cia., (s.d.). Dedicatória: “a Damian Martin” . Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: IA/ n.º 4. INCIPIT: Composição - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 14, seção “b”: 15 ao 30 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - O aspecto dançante do gênero estilo determina vivacidade na interpretação do texto musical e consequentemente a manutenção do ímpeto da melodia mesmo nos momentos de aberturas de mão esquerda (compassos 2, 5, 7 e 11) ou de saltos sem preparação na seção “a” (entre os compassos 6 e 7, e 10 e 11). Na seção “b”, o uso freqüente de arrastes tanto entre notas melódicas de registro agudo (compassos 15, 15 para 16, 19, 23 e 27) como entre as de registro grave (compasso 24), merece maior atenção. O intérprete deve, portanto, evidenciar e uniformizar o aspecto melódico com limpeza de som em toda a peça, procurando proporcionar melhores ligações entre frases e motivos, apesar das diferenças de registro e de contexto técnico. 143 ESTUDO N.º 3 (Álbum: ESTUDOS PARA O 6.º ANO DE VIOLÃO). Vide números 4 e 4’. 33. Título: ESTUDO. Data: <1928>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3035). Álbum: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. Nota da Pesquisa: Data atribuída a partir de 83. Grupo: IIA/ n.º 64. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 26 compassos. Técnica - A elaboração melódica contínua deste estudo, em forma de escalas, gera um pulsar quase sistemático de indicador e médio ou polegar. A proposta técnica aqui, embora em contexto de pouca dificuldade, é a da melodia instrumental quase ininterrupta, o que faz desta peça um degrau técnico e musical para a execução de obras maiores de semelhante proposta. Portanto a atitude do intérprete deve ser a da busca de uma interpretação enérgica, num só fôlego. 34. Título: ESTUDO N.º 1. Data: 1945. Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1836). Álbum: 3 ESTUDOS. Dedicatória: “A minha aluna JULIETTA CORRÊA ANTUNES”. Grupo: IIA/ n.º 65. INCIPIT: 144 Composição - Forma: seção única com coda. Seção: compassos 1 ao 22 e coda: 23 ao 29. - Harmonia: abrange até a 5.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, SS, DD, (D)SS, +S, ºD, e modulação passageira para Fá menor entre os compassos 11 e 14. Técnica - É explorado em dois processos técnicos: harpejo em fórmula fixa até o compasso 22 e escala dos compassos 23 ao 27 com finalização em acordes. Para a mão direita o trabalho é constante, em função da fórmula fixa de harpejo em alta velocidade em toda a peça e da única escala do estudo na coda. Na mão esquerda, a tensão em função das pestanas sucessivas dos compassos 3 ao 5 e 11 ao 20 é o único entrave, porém, não chega a constituir grande obstáculo. O trabalho técnico desta peça se assemelha ao do Estudo n º 1 de Villa-Lobos e, assim como este, necessita estudo diário para que as dificuldades na execução do harpejo não interfiram na interpretação. Como constatou Marco Pereira a respeito do citado estudo do compositor carioca, a interpretação deve ser guiada pela harmonia206, exatamente como deve ocorrer neste estudo de Savio. Comentários A semelhança entre a proposta musical e técnico-violonística deste estudo com a do Estudo n.º 1 de Heitor Villa-Lobos, verificável na fórmula fixa de harpejo, na repetição da fórmula em cada acorde e na evolução harmônica com alguns encadeamentos por condução cromática, atesta a influência da música para violão do compositor carioca sobre Isaias Savio. 206 PEREIRA, Marco. op. cit., p. 30. 145 35. Título: ESTUDO N.º 2. Data: 1945. Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1836). Álbum: 3 ESTUDOS. Dedicatória: “A minha aluna JULIETTA CORRÊA ANTUNES”. Grupo: IIA/ n.º 66. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 34 e coda: 35 ao 41. Técnica - Propõe o estudo de harpejos de extensão. A digitação do compositor neste estudo proporciona um grande número de saltos de mão esquerda de forma a parecer intencional este exercício de movimentação. Para exemplificar, o conteúdo do 2.º compasso poderia ser realizado já na oitava posição, evitando assim uma mudança a mais para a quinta posição, pois o 3.º compasso obrigatoriamente deve ser realizado na oitava posição. Este princípio de digitação, provavelmente pensado em função da uniformização sonora através da passagem gradual das cordas graves às agudas nos harpejos ascendentes e das cordas agudas às graves nos harpejos descendentes, está presente em todo o estudo. Portanto o que se observa é a possibilidade da execução didática, obedecendo a digitação do autor e a da execução musical onde, de maneira geral, restringiriam-se os movimentos somente aos saltos via cordas soltas entre as primeiras posições, das partidas e chegadas do harpejo de extensão e as posições avançadas, do registro médio-agudo do harpejo. A grande diferença nesta interpretação em função da proposta musical é a maior fluência e naturalidade da execução. 146 Comentários Este estudo apresenta uma proposta semelhante à do Estudo n.º 2 de Villa-Lobos, denunciado mais uma vez a influência deste compositor sobre Isaias Savio. A característica em comum é o harpejo de extensão com a diferença de haver no estudo do compositor carioca uma sucessão natural das notas dos harpejos, enquanto que no Estudo n.º 2 de Savio as notas vêm alternadas. 36. Título: ESTUDO N.º 3. Data: 1945. Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1836). Álbum: 3 ESTUDOS. Dedicatória: “A minha aluna JULIETTA CORRÊA ANTUNES”. Grupo: IIA/ n.º 67. INCIPIT: Composição - Forma: semelhante à canção com repetição de parte da 1.ª seção e coda (a – a’ – b – a’’ – coda). Seção “a”: compassos 1 ao 35, “a’ ”: 1 ao 28 seguindo em “b”: 36 ao 60, “a’’ ”: 61 ao 67 e coda: 68 ao 74. - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Tr, DD, (D)S, (D)Tr, (D)Sa, +T e ºD, das quais muitos dos acordes resultantes apresentam notas acrescentadas ou alteradas. Técnica - O processo técnico principal a ser exercitado neste estudo é o do harpejo fixo, que embora não constitua uma seqüência totalmente padronizada de dedos, empresta ao texto musical uma uniformidade rítmica que faz da harmonia rebuscada a condutora da interpretação. O intérprete deve uniformizar a sonoridade dos harpejos, que se apresentam muitas vezes entremeados com cordas soltas e arrastes em momentos distintos e evidenciar a melodia quando esta aparece. Para esta uniformização 147 aconselhamos alterações de dedilhado como, por exemplo, a que se pode fazer no compasso 45, em que o ligado “ré - fá# ” passaria a ser realizado com o dedo “2” e o arraste “si - ré” pelo dedo “1”, estabelecendo este uma meia pestana ao chegar na 7.ª posição. O compasso 30 traz prováveis erros de digitação, sendo o correto a realização do “ré#” pelo dedo “4” e das demais notas do harpejo pelo dedo “1”, que realiza a pestana. Em resumo, este estudo une a proposta violonística do harpejo a ser uniformizado em todo a peça com a proposta musical decorrente deste mesmo harpejo que, embora sem dedilhado padronizado, determina através do padrão rítmico a interpretação em função do direcionamento melódico e principalmente harmônico. Comentários Este Estudo n.º 3 é, ao que parece, de inspiração própria, ou seja, desvinculado da influência direta dos estudos de Villa-Lobos, como ocorre nos dois estudos anteriores do mesmo álbum. 37. 207 Título: ESTUDO N.º 1. Data: Montevidéu, 1924. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a Damian Martin (Buenos Aires)”. Notas da Pesquisa: 1. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira207. 2. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 3. Obra publicada na seção “Partitura” de Violão e Mestres n.º 9 208 com alteração musical conforme consta da partitura. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 1 y 2. Grupo: IIA/ n.º 69. INCIPIT: ENCICLOPÉDIA da música brasileira: popular, erudita e folclórica. 2. ed. São Paulo, Art Ed.: Publifolha, 1998. p. 719-20. 208 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., v. 2, n.º 9, 1968. p. 21. 148 Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 14 e coda: 15 ao 21. (ver “Comentários”) Técnica - Apresenta melodia pouco variada em meio a um acompanhamento uniforme em grupos normais de colcheias. A proposta deste estudo consiste em conciliar a articulação “Molto Legatissimo”, sugerida pelo autor no início da partitura, com a tonalidade de Dó menor, normalmente não muito cômoda para o violão e que no caso desta peça propicia saltos e várias aberturas. Cabe ao intérprete fazer cantar a melodia ao mesmo tempo em que ganha tempo para as mudanças de posição e dedilhados de maneira geral. É necessário cautela na última colcheia de cada compasso, procurando realizá-las sem afobação. Comentários A publicação deste estudo em Violão e Mestres n.º 9, em 1968, traz uma única alteração em relação a esta edição: a supressão do ritornelo do final da partitura. A nosso ver, esta alteração torna mais coerente a organização formal da peça, fazendo-a encerrar após a primeira ocorrência dos únicos acordes plaquês da partitura, no último compasso da coda. 38. Título: ESTUDO N.º 2. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a Julio Martinez Oyanguren”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 149 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 1 y 2. Grupo: IIA/ n.º 70. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 38 compassos. - Melodia: predominantemente na linha dos baixos, com acompanhamento regular de acordes em colcheias. Técnica - Explora a alternância entre registro grave e agudo na melodia em meio ao acompanhamento uniforme em colcheias. A proposta violonística neste estudo consiste em estabelecer dois planos independentes de execução, um para a melodia e outro para o acompanhamento, buscando a evidência do primeiro e a igualdade na realização do segundo. O exercício da melodia em registro grave nesta peça exige cuidado, pois o dedo polegar, em função de seu peso maior, pode alterar a intensidade dos acordes acompanhantes que ocorrem junto às colcheias pontuadas da melodia. Para melhor movimentação a nota melódica “fá” do compasso 22 pode antecipar a digitação do compasso seguinte sendo pressionada com o dedo “4”. Alterações como esta contribuirão para um legato maior. 39. Título: ESTUDO N.º 3. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). 150 Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a mi hermano ALBERTO”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 3 y 4. Grupo: IIA/ n.º 71. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 26 compassos. Técnica - Explora controle sutil de sonoridade, timbre e articulação, em função da melodia relativamente grave e em contexto pouco denso de acompanhamento na difícil tonalidade de Dó# menor. A indicação de andamento “Molto Lento” e as várias indicações de alteração sendo cinco “rit.”, quatro “a tempo”, dois “poco más” e duas fermatas, conferem a este estudo de apenas vinte e seis compassos grande liberdade de pulso e uma característica quase improvisatória, que devem refletir-se na interpretação. O violonista deve também estar atento à subdivisão interna do texto musical em frases de 7, 8, 2, 4 e 5 compassos, evidenciando as respirações entre elas. 40. Título: ESTUDO N.º 4. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a Emilio Pujol (Paris)”. 151 Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 3 y 4. Grupo: IIA/ n.º 72. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com clara subdivisão interna e coda. (a – a’ – coda), sendo “a”: compassos 1 ao 28, “a’ ”: 29 ao 56 e coda: 57 ao 66. Técnica - Apresenta uma fórmula de harpejo ritmicamente padronizada. Este estudo está constituído por duas partes iguais rítmica e harmonicamente, apresentando maior densidade na elaboração do harpejo na segunda através da adição de baixos e acordes à fórmula proposta. As principais dificuldades neste estudo consistem em realizar um “crescendo” gradual em toda a peça e manter o andamento em “a’ ” e na coda, principalmente a partir do compasso 46, onde o polegar passa a executar também as semicolcheias juntamente com os dedos indicador e médio. A melodia deve ter sua execução uniformizada com evidência em todo o estudo e “intenção” de duração de semínima pontuada nos momentos em que é cortada pelas notas do acompanhamento na mesma corda (exemplo: compassos 1, 5, 29, 30, 33 e 34), o que se consegue mantendo-a o máximo possível. O violonista deve estar atento ainda a algumas mudanças bruscas de posição como as que se encontram na passagem dos compassos 7 ao 8 e 35 ao 36. 152 41. Título: ESTUDO N.º 5. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a FRANCISCO O. BRENHA RIBEIRO (São Paulo)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 5 y 6. Grupo: IIA/ n.º 73. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 36 compassos com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 31 e coda: 32 ao 37. Técnica - Apresenta proposta de realização independente do acompanhamento formado por acordes repetitivos e da melodia em registro grave realizada com o polegar, semelhante a do Estudo n.º 2 deste álbum. Portanto o primeiro ponto a ser observado é a realização destes dois planos com as devidas inflexões harmônicas, ressaltando por exemplo, no acompanhamento, as funções mais tensas e no caso da melodia, a sensível na passagem dos compassos 15 ao 16 e 17 ao 18. O segundo ponto provém do contexto ágil e alegre deste estudo em função da tonalidade maior e do andamento “Presto” indicado, o que exige do intérprete maior dedicação para reproduzir o efeito sugerido pela partitura. O violonista deve estar atento ainda a alguns movimentos bruscos na realização da melodia como o do compasso 7 e 153 também a mudanças de posição sem preparação como a que ocorre na passagem do compasso 10 ao 11. 42. Título: ESTUDO N.º 6. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a ALBERTO LAMEIRA PONTES (Maranhão)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 5 y 6. Grupo: IIA/ n.º 74. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 41 compassos. Técnica - Apresenta melodia contínua em ampla tessitura. Do texto musical ininterrupto e também transparente, em virtude do acompanhamento discreto do baixo, resulta a necessidade de uma sonoridade encorpada de maneira geral e também uniformizada, aproximando o timbre das notas melódicas situadas nas extremidades de acordes (exemplo: compassos 9, 10 e 11) e das obtidas via ligados (exemplo: compassos 6, 7, 15, 18, 22 e 23), ao timbre das notas obtidas via toque normal. O violonista deve também estar atento às mudanças de posição na passagem dos 154 compassos 5 ao 6 e 6 ao 7, bem como nos compassos 16 e 26 e não deixar de apagar os baixos dos compassos 1 ao 3, 17, 18, 30 ao 33 e 38 ao 41 que ocorrem em cordas soltas sucessivas. 43. Título: ESTUDO N.º 7. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a DOMINGO PRAT (Buenos Aires)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 7 y 8. Grupo: IIA/ n.º 75. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 40 compassos. Técnica - Explora a realização de ornamentos diversos escritos e indicados, resultando disto o sentido melódico da peça. A característica principal da constituição deste estudo é a relação do baixo com o tempo forte e a de acordes, trinados e grupetos com o tempo fraco. Recomenda-se que os trinados sejam uniformizados com 5 notas começando pela principal, para que se consiga uniformidade com os grupetos, também de 5 notas. Somente os trinados da linha do baixo dos compassos 18 ao 20 155 devem ter 6 notas, iniciando pela principal e terminando com a superior, por ser a nota de resolução no compasso seguinte exatamente a mesma que no anterior é ornamentada. Com os ornamentos uniformizados, a relação métrica e a complementação entre o sentido melódico dos ornamentos e a condução harmônica do baixo será clara, beneficiando o resultado musical. 44. Título: ESTUDO N.º 8. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “A ABDON LYRA (Rio de Janeiro)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 7 y 8. Grupo: IIA/ n.º 76. INCIPIT: Composição - Forma: rondó com repetição das seções (a – b[2x] – a – c[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 32, “a”: retorno indicado na partitura, “c”: 33 ao 48 e retorno à seção “a” indicado novamente na partitura. Técnica - Explora o posicionamento avançado e a combinação de ligados com notas repetidas na melodia. Na seção “a” a melodia alcança a nota “lá” do 17.º trasto. A seção “b” 156 apresenta ligados descendentes em mesma corda nos compassos 17 ao 19 e 21 ao 23 e a seção “c”, ligados em cordas distintas nos compassos 34 ao 36 e 42 ao 44. Nos compassos 9 e 10 a opção mais fluente de digitação talvez seja a de se realizar a melodia na 1.ª corda, respeitando a digitação somente dos 2.º tempos dos compassos 10 e 11. O compasso 16 apresenta uma ligadura de valor impossível de se realizar pela troca obrigatória de posições. No compasso 19 o autor indica o dedo “4” para as três notas “lá” do segundo tempo, sendo o melhor, talvez, para a unidade do compasso manter o dedo “1”. Também no compasso 38 o dedo “4” para a nota “fá” e no 39 o dedo “2” para a nota “lá” podem ser substituídos com vantagem pelos dedos “3” e “1”, respectivamente. 45. Título: ESTUDO N.º 9. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “A LÁZARO ROLDÃO (S. Paulo)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 9 y 10. Grupo: IIA/ n.º 77. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 24 e coda: compassos 25 ao 29. 157 Técnica - Explora o aspecto escalar. A proposta técnica deste estudo consiste sobretudo no alcance de fluência entre indicador e médio na execução da linha melódica, constituída por harpejos e principalmente escalas em semicolcheias. O violonista deve estar atento também aos acordes dos primeiros tempos dos compassos 1, 2, 5, 6 e 7, por estarem em contexto de semicolcheia e, por isso, tenderem a atrasar a execução. O primeiro tempo do compasso 14 apresenta um grupo de quatro semicolcheias em três cordas distintas na linha do baixo, para o qual se recomenda atenção especial. Uma solução para este trecho é a introdução de um ligado entre as notas “lá” (5.ª corda) e “dó#” (6.ª corda) e entre as notas “ré” (4.ª corda) e “ré# (5.ª corda). Para maior coerência na digitação do compasso 21, recomenda-se a mesma digitação indicada pelo compositor para o idêntico compasso 13. 46. Título: ESTUDO N.º 10. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a GUIDO MORETTI (S. Paulo)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 9 y 10. Grupo: IIA/ n.º 78. INCIPIT: 158 Composição - Forma: seção única de 32 compassos com repetição. Técnica - Apresenta situações técnicas distintas em função da elaboração da melodia. A proposta deste estudo é ao mesmo tempo técnica e musical, por exigir do intérprete atenção aguçada para separar harpejo de função acompanhante de harpejo de sentido melódico e desempenho na realização destes e das escalas com e sem arrastes e ligados. Os compassos 1 ao 6, 8 e 10, por exemplo, apresentam harpejos de papel acompanhante enquanto os compassos 7, 9 e 14, harpejos com um certo sentido melódico. Já os compassos 15 ao 23 apresentam claramente um direcionamento melódico em função das escalas com ligados descendentes. O intérprete deve, portanto, atentar a todas estas distintas elaborações melódicas procurando destacá-las igualmente. 47. Título: ESTUDO N.º 11. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a MIGUEL LLOBET ”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 11 y 12. Grupo: IIA/ n.º 79. INCIPIT: 159 Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 33, “b”: 34 ao 49 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora o aspecto técnico escalar principalmente, em meio a harpejos e ligados. A melodia neste estudo é quase ininterrupta, com poucas pausas, como as que ocorrem nos compassos 16 ao 20 em que as segundas e terceiras notas assumem papel acompanhante. Mesmo assim a interpretação aqui deve ser aquela característica de um só fôlego na seção “a” e somente um pouco mais maleável na seção “b”, de acordo com as indicações da partitura e com a mudança do modo para menor. Para maior fluência pode-se optar, por exemplo, pela realização em corda solta das notas “si” do 2.º tempo do compasso 8, desfazendo assim a pestana indicada pelo autor, “mi” do 1.º tempo do compasso 9 e “mi” do compasso 20, desfazendo novamente, neste caso, a pestana indicada. 48. Título: ESTUDO N.º 12. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a ROMUALDO DE PAULA (Montevidéu)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. 4. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: ESTUDIOS N.º 11 y 12. Grupo: IIA/ n.º 80. INCIPIT: 160 Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção e coda (a – b[2x] – a – coda). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 30, retorno à seção “a” indicado na partitura e coda: 31 ao 34. Técnica - Explora principalmente ligados ascendentes e descendentes em meio a harpejos e escalas na constituição da melodia. São mais de sessenta ligados que, num contexto melódico em semicolcheias regulares, exigem do intérprete muita dedicação para a fusão adequada com as escalas, harpejos e arrastes, de modo a resultar um sentido melódico fluente, ininterrupto e com timbre uniformizado. Para maior fluência pode-se adotar, por exemplo, o dedo “4” (ao invés do “3”) para a última nota “si” do compasso 9 e o dedo “1” no arraste do “mi#” ao “fá#” do compasso 13, para que se possa chegar com o dedo “4” na nota “ré” (3.ª do compasso) e realizar assim o restante do fragmento escalar sem mudança de posição. Medidas assim serão úteis para um resultado musical mais dinâmico. 49. Título: ESTUDO N.º 13. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a FRANCISCO DEL VECCHIO (S. Paulo)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 81. INCIPIT: 161 Composição - Forma: seção única de 46 compassos. - Melodia: quase ininterrupta, elaborada em colcheias e sem auxílio de ligados. Técnica - Explora o aspecto técnico escalar. O texto fluente em colcheias, em andamento vivo (Alegretto) e em combinação com a formulação do motivo melódico sem auxílio de ligados, faz deste estudo um ótimo exercício de articulação para a mão direita. Também as mudanças de posição constituem obstáculos, podendo ser amenizadas de modo geral com pequenas (quase imperceptíveis) respirações após a ocorrência dos acordes resolutivos em tempos fortes, como os dos compassos 7, 11 e 18. O compasso 19, cuja partitura indica o dedo “4” para as notas seguidas “si - lá” na 4.ª corda e com pestana fixa na 4.ª posição – o que sem dúvida atende à exigência timbrística do compositor – pode ser facilitado com a realização da nota “si” na 3.ª corda, esta já pressionada pela pestana. Pode-se facilitar a digitação também no compasso 44 com o uso de uma meia pestana nas notas seguidas “mi - lá” e com o uso do dedo “2” na última nota “dó#”, para que este dedo se desloque na mesma 2.ª corda em direção à nota “lá” e assim conclua sem quebra alguma de fluência o harpejo de extensão que finaliza a peça. 50. Título: ESTUDO N.º 14. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a ALUIZIO SANTOS (Pará)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 162 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 82. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 30 compassos. - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, (D)S, SS, DD, (D)Tr, (D)Sr, +T e +Tr. A tonalidade torna-se indefinida a partir do compasso 16, cedendo lugar a uma busca por novos eixos tonais através de cadências sucessivas. O retorno à tonalidade inicial ocorre somente no compasso 25, através do acorde de “S”. Técnica - Apresenta harpejo e melodia uniformes. O padrão estabelecido na melodia e no acompanhamento em quase toda a peça, salvo nos compassos 8 e 28 ao 30, em função das escalas e acordes, obriga o violonista a uma interpretação cuja regularidade na execução da quase fórmula de mão direita corresponda a elaboração harmônica diversificada do estudo, sem interferências ocasionadas pelas trocas bruscas de posição (exemplo: passagem dos compassos 3 ao 4, 9 ao 10 e 11 ao 12) ou pela realização ou manutenção de pestanas (compassos 16 ao 18, 21 etc.). Esta harmonia, caracterizada por um trecho inicial claramente tonal (compassos 1 ao 15) e outro indefinido, obscuro (compassos 16 ao 24), exige do intérprete algum tipo de contraste que a valorize. Recomenda-se ressaltar o trecho tonal com maior brilho e o trecho obscuro com menor intensidade e maior número de respirações. Em última análise é a harmonia que ditará a execução deste texto musical em harpejos padronizados. 163 51. Título: ESTUDO N.º 15. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “à mi MADRE”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 83. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 59 compassos. Técnica - Explora fórmula de harpejo com pouca variação em sua estrutura o que permite considerá-lo como fórmula fixa. As pequenas variações ocorrem por conta da melodia que, embora diluída em meio ao harpejo e por isso somente reconhecível como um sentido melódico geral, apresenta-se, na linha dos baixos, ora em uma semínima no compasso, ora em duas, alterando a fórmula neste caso. A interpretação deste estudo deve primar pela fluência na execução da fórmula “p- i m - i - a - i - m - i”, evidenciando o aspecto melódico quando de sua ocorrência em registro grave (exemplo: compassos 15 ao 25), em registro agudo (exemplo: compassos 26 ao 50) e nos dois casos simultaneamente (exemplo: compassos 51 ao 56). As semicolcheias melódicas da linha dos baixos (compassos 16, 22, 52, 54 e 56) devem ser realizadas sem afobação, podendo o violonista, inclusive, manter a fórmula de harpejos, executando a nota em semicolcheia com o indicador e a semínima seguinte em tempo forte com o polegar e, assim, concordando com a acentuação natural do compasso e possibilitando maior regularidade no harpejo. 164 52. Título: ESTUDO N.º 16. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a GREGÓRIO RODRIGUEZ (Montevidéu)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 84. INCIPIT: Composição - Forma: semelhante à canção com coda (a – b – a – coda). Seção “a”: compassos 1 ao 18, “b”: 19 ao 46, retorno à seção “a” indicado na partitura e coda: 47 ao 52. Técnica - Explora fórmulas variadas de harpejo. A proposta deste estudo é a de se buscar fluência e sonoridade uniformes na realização das pequenas variações do harpejo proposto no início da peça, evidenciando os diálogos que ocorrem entre as notas localizadas nas extremidades da tessitura (exemplo: compassos 1 ao 3, 5 ao 7 e 9 ao 18). Neste diálogo aconselha-se a acentuação do baixo e a resposta à maneira de um “eco” na melodia, iniciada sempre nos segundos tempos. Para maior fluência recomenda-se um arraste com o dedo “3” da nota “sol” (baixo) do compasso 11 para a nota “sol#” do compasso 12, deixando o dedo “4” para as notas “fá#”. Recomenda-se também a manutenção do dedo “3” na nota “mi” durante os compassos 25 e 26, de modo que o dedo “2” se desloque da nota “dó” da 3.ª corda do compasso 25 para a nota “sol#” da 1.ª corda do compasso 26 e neste mesmo 165 compasso retorne à última nota “dó”, enquanto o dedo “4” realiza as notas “lá” dos compassos 25 e 26 e a primeira nota “dó” do compasso 26. 53. Título: ESTUDO N.º 17. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a AMARO WANDERLEY (Recife)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 85. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 30 compassos. Técnica - Explora fórmula quase fixa de harpejo com algumas passagens em ligados e em escalas. A principal proposta técnica deste estudo consiste em realizar os harpejos sem quebras, deslizando o polegar da 6.ª para a 4.ª corda e tocando com os dedos indicador, médio e anular as 3.ª, 2.ª e 1.ª cordas respectivamente, de modo que o resultado final seja um deslizar uniforme nas seis cordas, da sexta para a primeira. Esta regularidade faz da harmonia o aspecto musical condutor da interpretação e obriga o intérprete a buscar fluência também nas trocas de posição com pestanas, colaborando para uma execução coerente com a indicação “Molto Legato” da partitura. 166 54. Título: ESTUDO N.º 18. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “Al escribano JUAN LUIS VIDAL (Montevidéu)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 86. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção e coda (a – b[2x] – a – coda). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16, retorno à seção “a” indicado na partitura e coda: 17 ao 23. Técnica - Explora o pulsar constante de acordes repetidos, do qual resulta o efeito melódico da peça. Este pulsar sistemático é a principal proposta técnica deste estudo e é de difícil execução devido ao andamento “Alegretto” indicado pelo compositor e à mudança de modo para menor na seção “b”, onde é necessário maior destreza para que se consiga a dinâmica “p” no mesmo andamento. Há nesta partitura seguramente dois erros de escrita. O primeiro está na impossível ligadura de valor entre os baixos “lá” em diferentes cordas no compasso 4. Uma alternativa para se manter a idéia de duração no caso citado é realizar o baixo “lá” do 1.º tempo em corda solta e golpear delicadamente o baixo “lá” do 2.º tempo na 6.ª sexta corda com o dedo “4”, ao mesmo tempo em que o dedo “3” pressiona a nota “dó#”. O segundo equívoco está na última colcheia do compasso 14, onde a partitura indica 167 simultaneamente as notas “ré” e “fá” na mesma 4.ª corda. Neste caso recomenda-se suprimir o “fá”, pois o “ré” é mais importante para a continuidade da idéia rítmica e conclusiva do trecho, constituída por semínima seguida de colcheia na linha do baixo. 55. Título: ESTUDO N.º 19. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a WALTER SILVA (Maranhão)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 87. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 20 e coda: 21 ao 23. Técnica - Explora ligados e mordentes na constituição da melodia. A proposta técnica deste estudo consiste na realização fluente e uniformizada dos ornamentos tanto em contexto fácil de execução quanto da ocorrência dos mesmos em cordas alternadas (compassos 15 ao 18) ou entre saltos (exemplo: compassos 2, 4 e 7). O violonista deve estar atento para não interromper abruptamente as notas que antecedem os saltos. Para maior uniformidade recomenda-se que se padronize a digitação, utilizando o dedo “3” na nota “ré” da parte fraca do 1.º tempo do compasso 6 tal 168 como ocorre no compasso 13 e o dedo “2” na nota “ré” da parte fraca do 1.º tempo dos compassos 9, 16 e 18. Comentários No contato com um exemplar desta peça do material da ex-aluna de Isaias Savio, Maria José Passareli, encontramos anotações de próprio punho do compositor indicando a realização dos mordentes em tempo forte. Este modo de interpretação concorda com o descrito por Joaquín Zamacois para a música antiga209. 56. Título: ESTUDO N.º 20. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “al Dr. ANTONIO NARVAJA CESAR (Buenos-Aires)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 88. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 50 compassos. Técnica - Explora harpejos ascendentes e descendentes combinados ou não com ligados na constituição da melodia. A tarefa do violonista é uniformizar a execução dos harpejos e ligados buscando maior clareza e legato possíveis. A digitação do 209 ZAMACOIS, Joaquín. Teoría de la música: libro 2. 13. ed. Barcelona, Labor, 1992. p. 23. 169 compositor favorece uma sonoridade encorpada, pelo que se conclui tratar-se de uma medida para compensar a pouca densidade da melodia, por vezes isolada ou somente apoiada pelos baixos em muitos momentos. O intérprete pode colaborar também neste, sentido procurando uma sonoridade mais aveludada. Há provavelmente um erro de digitação. Trata-se do dedo “2” indicado para a nota “dó” do compasso 15, quando o mais coerente seria o uso do dedo “1” para a mesma nota. 57. Título: ESTUDO N.º 21. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “al Dr. ANTONIO REZENDE (Minas Gerais)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 89. INCIPIT: Composição - Gênero: valsa. - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 17, “b”: 18 ao 33 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora ligados descendentes em meio a harpejos, escalas e saltos bruscos ou não, em fórmula rítmica padronizada. O exercício técnico deste estudo envolve a realização satisfatória de cada ligado descendente e também das notas obtidas via 170 este processo pois todas ocorrem em contexto de semicolcheia e muitas antecedem saltos sem intermediação de corda solta (exemplo: passagem dos compassos 1 ao 2, 2 ao 3, 4 ao 5 e 6 ao 7). O violonista deve, então, estar atento ao bom acabamento dos ligados e dos compassos que antecedem saltos, saindo sem afobação das últimas notas. Para uma maior coerência timbrística recomenda-se a realização do compasso 27 na 2.ª posição, o que tornará possível a resolução da sensível do baixo do compasso anterior, na mesma 5.ª corda. Esta resolução em mesma corda será coerente com a resolução seguinte do baixo, nos compassos 28 e 29, na 6.ª corda. 58. Título: ESTUDO N.º 22. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a MANUEL SÃO MARCOS (São Paulo)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 90. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 37 e coda: 38 ao 52. Técnica - Explora o pulsar contínuo de notas duplas em colcheias e em intervalos harmônicos distintos nos quais predomina o de terça maior, resultando o uso de cordas vizinhas. Vários são os saltos resultantes da movimentação da mão esquerda e boa parte 171 ocorre por intermédio de glissandos (exemplo: compassos 1 ao 3 e 6 ao 8), o que facilita as trocas de posição. A proposta técnica deste estudo é a de se alcançar fluência e sonoridade equilibrada no andamento proposto pelo compositor, “Allegro Molto”, sem deixar que os saltos de mão esquerda prejudiquem a melodia resultante. O violonista deve alcançar um controle técnico que permita realizar as variações de intensidade e andamento por ocasião dos inícios e términos das frases e obter um legato satisfatório na melodia. Para uma maior fluência geral, recomenda-se os dedos “1” e “2” para as notas “fá#” e “ré” do compasso 36 e dedo “3” para as quatro notas “ré” na 5 ª corda do compasso 44, enquanto as notas “mi mi# - fá# - sol#” são pressionadas pelos dedos “1 - 1 - (por arraste) - 3 - 4”. Com estas mudanças de digitação no compasso 44, o de número 45 poderá iniciar-se já na 5.ª posição, eliminando assim um salto difícil. A digitação para o compasso 49 está provavelmente equivocada. A correção adequada parece ser a substituição do dedo “4” designado para as notas “mi” pelo dedo “1”, como ocorre no exatamente igual compasso 50. 59. Título: ESTUDO N.º 23. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a ANTONIO REBELLO (Rio de Janeiro)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 91. INCIPIT: 172 Composição - Forma: seção única de 96 compassos. Técnica - Apresenta o processo repetitivo de harpejo como proposta técnica geral. Trata-se de um estudo do tipo ostinato, em que a seqüenciação de harpejos em semicolcheias e em andamento rápido exige uma interpretação ininterrupta. Em estudos deste tipo a manutenção do andamento é a condição principal para se obter o efeito musical desejado. O violonista deve ter como objetivo a melhor combinação possível entre andamento, sonoridade e articulação, procurando não tencionar a mão esquerda nas pestanas mantidas por muito tempo (exemplo: compassos 6 ao 10 e 41 ao 51), na movimentação em meio a aberturas (exemplo: compassos 13, 21), amenizando o chiado resultante da movimentação sobre os bordões (exemplo: compassos 51 ao 58). A principal proposta técnica deste estudo é, no entanto, a prática do harpejo contínuo, cujo exercício engloba mecânica propriamente dita, pela repetição a que tem que se submeter o violonista e musical, pela variação timbrística a ser pesquisada e aplicada no decorrer da peça, em função da harmonia. Um exemplo de mudança na digitação que pode a uma só vez unir melhor as notas, facilitar a troca de posição e diminuir o chiado é a que pode ser feita no compasso 53, mantendo-se o dedo “3” no baixo “sol#” e deslocando-se os dedos “1” e “2” para as notas “ré#” e “si#”, respectivamente. 60. Título: ESTUDO N.º 24. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a LUIS ALBA (Montevidéu)”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 92. INCIPIT: 173 Composição - Forma: seção única de 41 compassos, mas com aparente divisão interna pela retomada do harpejo inicial no compasso 18. - Harmonia: abrange até 5.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, Sa, DD, (D)+S, (D)+Sr, (D)ºD,+S, +Sr, ºD, modulação passageira para Mi menor, no compasso 18, e definitiva para Si menor, no compasso 22. Técnica - Apresenta o processo repetitivo de harpejo como proposta técnica geral. Trata-se de um estudo sem tema aparente onde o direcionamento melódico é dado pela seqüenciação de harpejos em tercinas. Neste harpejo sem fórmula fixa, só se respira após resoluções harmônicas de maneira geral e antes da retomada do harpejo inicial no compasso 18. A proposta violonística deste estudo é justamente a de uniformizar os harpejos para que soem com a mesma fluência nos dois sentidos de execução, ou seja, “p-i-m” e “p-m-i”. Com esta uniformização, a execução estará totalmente susceptível à condução pela harmonia elaborada da peça. 61. Título: ESTUDO N.º 25. Data: <Montevidéu, 1924>. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 334). Álbum: 25 ESTUDOS MELÓDICOS. Dedicatória: “a mi querida esposa Youki”. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 37. 2. Data de composição distinta, situada entre 1914 e 1916, a partir do verbete “SAVIO Isaías” da Enciclopédia da Música Brasileira. (ver nota de rodapé em 37) 3. Álbum publicado também com o título 25 ESTUDIOS SELECTOS Op. 2, conforme as contracapas de outras peças pela mesma casa publicadora. Grupo: IIA/ n.º 93. INCIPIT: 174 Composição - Forma: seção única de 133 compassos com recapitulação do motivo inicial variado no compasso 109, o que confere ao estudo uma estrutura semelhante à da forma canção. Técnica - Explora o processo técnico do trêmulo. Dentre todas as composições de Isaias Savio esta é a única de fôlego com a técnica violonística citada. Seus 133 compassos, no entanto, em virtude da regularidade na escrita violonística, não proporcionam maiores obstáculos que a própria fluência na realização do trêmulo, necessária para a obtenção do efeito melódico. Esta fluência deve permitir ao violonista realçar a mudança de modo a partir do compasso 29 com maiores variações de intensidade e respirações mais incisivas. De maneira geral o violonista deve estar atento às mudanças de posição, procurando usar de eixo de movimentação as notas em trêmulo pressionadas pelo dedo 4 (exemplo: compassos 1 ao 12), erguendo os demais dedos. Esta medida evitará chiados e proporcionará um legato mais eficiente. Outro ponto a ser observado é a grande ocorrência de appoggiaturas harmônicas realizadas com o trêmulo (exemplo: compassos 4, 8, 12, 14 e 16), o que envolve também considerável controle de execução pela necessária variação uniforme de dinâmica. A digitação original merece alguns reparos. O compasso 45 pode ser realizado tal como o compositor recomendou no exatamente igual compasso 29, ou seja, com o dedo “4” para a nota “fá”. A digitação do compasso 55, que nos parece incorreta, pode ser solucionada com a manutenção do dedo 4 na nota “mi” até a resolução desta na nota “fá” do compasso 56. No compasso 113 a digitação, também incorreta, pode ser corrigida com a substituição do dedo “3” pelo dedo “2” na nota “fá”. 175 62. [Título: ESTUDO BRILHANTE.] Data: ? Nota da Pesquisa: A notícia deste título encontra-se em Violão e Mestres n.º 4 210. 63. Título: EVOCACIÓN DEL RANCHO (RIOPLATENSE). Data: São Paulo, abr. 1933. Edição: São Paulo, Ricordi, 1971. (br. 2514). Dedicatória: “a José Lopes e Silva”. Grupo: IA/ n.º 5. INCIPIT: Composição - Forma: canção com introdução e coda (introdução – a – b – a’ – coda). Introdução: compassos 1 ao 15, seção “a”: 16 ao 27, “b”: 28 ao 67, seção “a’ ”: 68 ao 75 e coda: 76 ao 81. Técnica - Explora diferentes densidades sonoras no processo de melodia acompanhada, sendo esta pouco densa na introdução e na seção “a” e com maior ocorrência de acordes cheios e baixos repetitivos, na seção “b”. Uma das características técnicas desta peça é a considerável quantidade de aberturas. Na seção “a” este processo ocorre no compasso 17 e na seção “b”, nos compassos 36, 41, 43, 54 e 56. O violonista deve estar atento também aos acordes consecutivos de cinco ou seis notas da seção “b”, tentando conciliar intensidade necessária para atingir o “con brio”, indicado no compasso 40, com pressão ideal nas pestanas, para não gerar ruído de corda pela falta ou tensão na mão esquerda pelo excesso. 210 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., n.º 4, 1965. p. 10. 176 64. [Título: FANTASIA SOBRE UN TEMA EN DÓ MENOR.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 65. Título: FLORES MURCHAS (VALSA). Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 417). Álbum: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1944 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Álbum publicado também com o título COLEÇÃO DE PEÇAS DE PEQUENA DIFICULDADE/ Fasc. II – 6 peças, conforme as contracapas de outras peças pela mesma editora. Grupo: IIB/ n.º 98. INCIPIT: Composição - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 32 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Apresenta as notas da melodia tocadas isoladamente ou com as notas do baixo em tempos fortes ou fracos. Os acordes e harpejos acompanhantes coincidem somente com as ressonâncias das notas melódicas. Este fato indica para esta peça a proposta do exercício do reconhecimento e destaque da melodia ao estudante iniciante. O trecho situado nos compassos 25 ao 32 propõe a identificação da variação melódica do trecho dos compassos 17 ao 24 e seu destaque em meio aos harpejos. Pode-se imaginar ainda a possibilidade da aplicação fácil do toque apoiado para a melodia, como exercício técnico em si e também musical. 177 66. Título: GATO. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1944. (10. 538). Álbum: 4 PEÇAS TÍPICAS DO RIO DA PRATA. Dedicatória: “Al Dr. José Ribeiro de Barros”. Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Diego Gracia y Cia. (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: IA/ n.º 3. INCIPIT: 66’. Título: VARIAÇÕES DE GATO. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1959. (br. 2302). Álbum (série): COLEÇÃO DE PEÇAS TÍPICAS RIOPLATENSES N.º 1. Notas da Pesquisa: 1. Trata-se de uma outra versão da obra com correções na escrita e alterações musicais. 2. Título que consta das contracapas: o exposto acima e VARIAÇÕES DE GATTO. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 56 e coda: 57 ao 66. 178 Técnica - Explora escalas e harpejos em função da melodia contínua e predominantemente em colcheias. A combinação do andamento vivo indicado, “Allegro”, com valores rítmicos repetitivos e sem pausas, explorados nas escalas e harpejos, proporciona nesta peça uma execução ininterrupta em concordância com o agitado gênero gato. Paralelamente a isso, o violonista deve diferenciar inícios e conclusões de frases, dosando a energia para que possa proporcionar crescendos e fechamentos convincentes quando das conclusões em registro agudo principalmente. O intérprete deve também salientar o diálogo que ocorre entre melodia e baixo nos compassos 25 ao 33. Para maior fluência no compasso 22, recomenda-se a adoção do dedo “1” para as notas “lá” dos 1.º e 2.º tempos, do dedo “3” para a nota “si” e do dedo “4” para a nota “sol” na 2.ª corda. A continuação lógica no compasso 23 é com o dedo “3” para a nota “fá#” do 1.º tempo e corda solta para a nota “mi”, seguindo a partir daí a digitação original. Comentários Esta versão Ricordi, cujas principais correções e alterações musicais em relação à edição anterior (ver 66) foram comentadas em II.3.3., é a que se encontra provavelmente ainda em circulação. 67. Título: GAVOTTA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 417). Álbum: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1944 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Álbum publicado também com o título COLEÇÃO DE PEÇAS DE PEQUENA DIFICULDADE/ Fasc. II – 6 peças, conforme as contracapas de outras peças pela mesma editora. Grupo: IIB/ n.º 95. INCIPIT: 179 Composição - Forma: semelhante à canção com repetição das seções e trio (a[2x] – b[2x] – trio – a[2x] – b[2x] ). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16, “trio”: 17 ao 32 e retorno às seções “a” e “b” indicado na partitura. Técnica - Explora combinação entre melodia e acompanhamento. Percebe-se esta conciliação nas resoluções de funções harmônicas tensas (exemplo: passagem dos compassos 3 ao 4, 7 ao 8 e compasso 18) ou na realização de ritardos harmônicos (exemplo: compassos 2, 6, 13 e 14), em que após as resoluções em tempo forte seguem-se quase sempre as conclusões dos motivos melódicos em tempo fraco, integrando na maioria das vezes os acordes acompanhantes no 2.º tempo, característicos do gênero gavota. A proposta desta peça é, aproveitando a facilidade deste texto musical em Dó maior, fazer o intérprete realizar a melodia e o acompanhamento igualmente “com graça”, como indica a partitura, sem relegar tão a segundo plano os acordes típicos do gênero em questão. Para maior fluência recomenda-se o uso de meias pestanas no compasso 7, realizando somente a última nota “si” em corda solta. Recomenda-se também cautela na passagem dos compassos 21 ao 22 e 29 ao 30. Uma alternativa neste caso é a de se deslizar o dedo “2” do baixo “mi” dos compassos 21 e 29 à nota “fá” dos compassos 22 e 30, passando o baixo “ré” a ser pressionado com o dedo “4” e a primeira nota “sib” com o dedo “1”, seguindo a partir daí a digitação original. 68. Título: GIGA.. Data: <1950>. Notas da Pesquisa: 1. Data atribuída a partir de 124. 2. Obra encontrada no acervo Ronoel Simões. Edição não identificada. Publicação em álbum procedendo a peça Sarabanda (124). 3. Obra publicada por Ricordi (s.d.), (br. 2170, álbum), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum: GIGA - SARABANDA. 4. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: IB/ n.º 31. 180 INCIPIT: Composição - Forma: binária simples com repetição das seções (a[2x] – b[2x]). Seção “a”: compassos 1 ao 25 e “b”: 26 ao 50. - Harmonia: abrange até a 3.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Tr, Sr, Dr e (D)Tr. Estas funções são conseqüências das marchas harmônicas em constante caminhar por diversos eixos tonais. Técnica - Explora virtuosisticamente o processo técnico escalar em função da melodia. A combinação de grupos repetitivos de colcheias na melodia com o andamento indicado, “Alegro Moderato”, resultou, no caso desta peça, numa espécie de moto perpétuo, exigindo uma execução enérgica que só descansa nas cadências finais em cada parte. O suceder de cadências no decorrer do texto musical favorece esta continuidade, gerando em parte a melodia e também uma harmonia de constante busca de um eixo tonal definido. Cabe ao violonista, ao elaborar sua digitação, aproveitar as cordas soltas para manter os baixos que são pressionados (exemplo: compasso 5), soando o tempo indicado na partitura e promover uma troca eficiente entre posições de mão esquerda, principalmente na seção “b”. É preciso estar atento aos vários comportamentos que assume a melodia, procurando adequá-la à função harmônica nos harpejos, tirando-lhe intensidade e uniformizando-a (exemplo: compassos 3 a 5); evidenciá-la quando predomina isoladamente (exemplo: compassos 1, 2, 14, 15 e 26) e equilibrá-la quando dialoga com a linha do baixo (exemplo: compassos 18, 19 e 20). Este controle de nuances bem como a destreza para uma execução ao mesmo tempo contínua e enérgica somente são possíveis, normalmente, através de um condicionamento técnico alcançado em estudos lentos. Recomenda-se a utilização de metrônomo no trabalho com esta peça. 181 Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: # para a primeira nota “mi” do compasso 9; # para as notas “fá” do compasso 13 e 18; bequadro para a última nota “sol” do compasso 29; # para a primeira nota “fá” do compasso 40 e bequadro para a nota “si” do terceiro tempo do compasso 43. 69. Título: HESITAÇÃO. Data: 1947. Edição: São Paulo, Ricordi, 1958. (br. 2253 e RB 0339). Grupo: ID/ n.º 55. INCIPIT: Composição - Gênero: valsa. - Forma: binária simples com repetição da 1.ª seção, introdução e coda (introdução – a[2x] – b – coda). Introdução: compassos 1 ao 9, seção “a”: 10 ao 45, “b”: 46 ao 68 e coda: 69 ao 80. - Melodia: constituída em diversos momentos por duas ou três vozes paralelas em intervalos harmônicos semelhantes, resultando no que convencionamos chamar de paralelismo melódico. - Harmonia: abrange até 5.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, (D)D, ºT e ºS, com marchas harmônicas, com modulações passageiras para Sol maior (compassos 10 ao 17), para Mi maior (compassos 20 ao 22, 55 e 56) e modulação diatônica para Ré maior na coda. Técnica - Explora movimentação intensa de mão esquerda e pulsar sistemático de direita em função das melodias paralelas. A linha melódica dupla nos compassos 21, 22, 42, 182 44, 54, 73, 74 e 75 e tripla, nos compassos 26, 28, 32, 34 e 56, dificultam a execução pelo saltitar dos acordes em colcheias resultantes deste paralelismos. Os compassos 21, 42 e 43 acrescentam aberturas que comprometem ainda mais os movimentos. Por tudo isso esta peça é de difícil execução, pois a melodia e o conseqüente caminhar fluente das marchas harmônicas dependem da eficiência das trocas de posição e do pulsar contínuo de direita. O intérprete deve buscar uma interpretação leve, combinando toques brandos com respirações, pequenas variações de andamento em função dos inícios e términos de motivos e digitações que aproveitem cordas soltas. Neste sentido, recomendamos a realização dos dois acordes do compasso 20 na mesma posição, somente substituindo, na digitação, a nota “si” pela nota “mi” (5.ª justa abaixo) na mesma corda. Medidas como estas serão úteis para se alcançar a leveza sugerida. 70. Título: IMPRESSÃO DE RUA. Data: <Rio de Janeiro, 1935>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1958. (br. 2168). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 2.ª SÉRIE. Dedicatória: “Ao Dr. Antonio de Gouvêa Giudice”. Notas da Pesquisa: 1. Local e data da composição anotados pelo compositor em exemplar do material de ex-aluna. 2. Obra com alteração musical realizada pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: IC/ n.º 48. INCIPIT: Composição - Forma: semelhante à canção pela retomada da 1.ª seção ao final (a[2x] – b – c[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 17 ao 33, “c”: 34 ao 48 e retorno à seção “a” indicado na partitura. 183 - Harmonia: abrange as 5 leis tonais com as funções de T, S, D, Tr, Sr, (D)S, DD, (D)Tr, (D)Sr, ºD, modulação passageira para Si menor entre os compassos 21 e 26, e para Ré maior entre os compassos 28 e 48. Técnica - Apresenta melodia em meio a mudanças bruscas de posição de modo geral e a valoriza como condutora e unificadora de tendências a gêneros distintos. Os pontos a serem considerados na interpretação são, portanto, a necessidade de uma articulação legato em função da condução melódica de maneira geral, visando atenuar saltos sem intermediação de cordas soltas como os que ocorrem entre os compassos 3 e 4, 5 e 6 e 13 ao 14 e o destaque da melodia, cujo papel na condução do texto musical é também o de fundir as características dos gêneros samba-canção, valsa e choro, sutilmente presentes na peça. Em outras palavras, trata-se de cuidar para que a melodia una as tendências musicais e os contextos técnicos em que está inserida. Para a articulação sugerida recomenda-se o uso do dedo “1” para a última nota “fä#” do compasso 27, o dedo “4” para a última nota “sol” (melodia) do compasso 28 com o arraste do mesmo até a nota “mi” do compasso seguinte e o dedo “1” para a nota “lá” (acompanhamento) do compasso 30, para que o dedo “2” esteja livre para a melodia que segue no mesmo compasso. Comentários O professor Antonio Guedes comenta o seguinte a respeito desta peça: “Lembro muito bem quando ele fez a peça Impressão de Rua, eu perguntei como a compôs, ele me disse que quando andava pela Av. São João sempre ouvia pessoas cantarolarem baixinho um sambinha, outros assobiarem um chorinho, outros batucando na caixa de fósforos, outros cantando uma valsinha etc., então ele resolveu compor uma peça que tivesse de tudo um pouco.”211 De fato é difícil apontar um gênero definido para esta peça, que apresenta trechos característicos de samba ou chorinho em compasso 2/4 e valsa em 3/4. No entanto, o andamento de semínima igual a 50 e a sugestão “Tempo de samba lento” indicado na 211 Entrevista com Antonio Guedes em agosto de 2000 (via internet). 184 partitura nos sugere a predominância do samba-canção, gênero que surgiu, segundo Tinhorão, como adaptação do samba de carnaval ao período do “meio do ano”, através da diminuição do andamento212. Por sugestão do ex-aluno de Savio, Floriano Rosalino, e, posteriormente por análise própria, constatamos também, nesta peça, a presença de um procedimento melódico possivelmente alusivo ao ‘Blue nota’, ou seja, “abemolamento microtonal” do terceiro grau da escala do Blues, “música popular negra-americana do séc. XX213. Isto ocorre na seção “c”, na melodia “lá - si - lá - dó - lá - dó#” dos compassos 34 ao 36 e no trecho melódico correspondente “mi - fá# - mi - sol - mi - sol#”, dos compassos 42 ao 44. Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 a seguinte alteração de próprio punho do compositor: # para a nota “dó” do compasso 29. Subtítulo: IMPROVISOS. Vide número 20. 71. 212 213 Título: LARGO E FINAL (DA 1.ª FANTASIA). Data: 1927. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3076). Álbum: 3 PEÇAS ORIGINAIS PARA VIOLÃO. Dedicatória: “a meu querido discípulo prof. Antonio Manzione”. Nota da Pesquisa: Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 198 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: IB/ n.º 37. INCIPIT: TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular. Petrópolis, Vozes, 1974. p. 130. SADIE, Stanley & LATHAM, Alison. op. cit., p. 115. 185 Composição - Forma: seção única em “Largo” e binária simples com repetição da 1.ª seção (a[2x] – b) em “Final”. Largo: compassos 1 ao 27 e Final: seção “a”: compassos 28 ao 62 e “b”: 63 ao 99. Técnica - Apresenta na primeira parte uma combinação de melodia e cadências com o pulsar de acordes repetidos. A distinção clara entre melodia e acompanhamento e o padrão rítmico deste exigem uma interpretação autônoma para ambas as linhas, ou seja, com a melodia sendo interpretada com suas inflexões próprias, sem interferir na realização uniforme do acompanhamento. Na segunda parte encontramos os mesmos procedimentos anteriores somados a uma maior elaboração melódica e em andamento “Allegro con Brio”, da qual resultam desenhos escalares maiores e em alta velocidade, exigindo maior dedicação do violonista principalmente para a realização das quintinas, sextinas e dos grupos irregulares de sete semicolcheias. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 198 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: bequadro no lugar do # para as notas “lá” do compasso 50 e bequadro para as notas “si” dos compassos 53, 55, 57, 70, 80 e 82. O contexto melódico e a digitação do compasso 6 fazem da nota “sol#” do mesmo um equívoco. Provavelmente a nota correta é o “sol” natural, um semitom abaixo. 72. Título: “MARCHA FÚNEBRE” (dois violões). Data: Rio de Janeiro, jan. 1941. Edição: São Paulo, Mangione, 1941. (10. 335). Dedicatória: “A mi inolvidable maestro Conrado P. Koch”. Notas da Pesquisa: 1. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 48 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. 186 2. Título que consta do álbum n.º 48 citado em 1: UMA SAUDADE, chegando a figurar desta forma em programa de recital como atesta Violão e Mestres n.º 2 214. Grupo: IB/ n.º 11. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 20 , “b”: 21 ao 45 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Esta é a única composição de Isaias Savio em que o trêmulo em acordes é explorado. Este procedimento técnico, predominante no segundo violão, produz um efeito inusitado pela projeção sonora contínua que proporciona, tal como nos instrumentos de arco, mas sua realização requer um grande controle para um resultado totalmente equilibrado, sem o que o efeito não se concretiza. Ao primeiro violão caberá a execução da maior parte da melodia da peca, em oitavas ou não, onde, além da variação de dinâmica, deverá existir uma intenção clara na segmentação das frases de modo geral e, acima de tudo, uma sonoridade nítida para reforçar o pulso nos momentos de trêmulo do segundo violão, cujo pulso é mais difícil de medir (compassos 7 ao 9 e 31 ao 35). As oitavas dos compassos 35 e 36 do primeiro violão ficam mais precisas se realizadas nas primeiras posições, aproveitando cordas soltas. 214 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., n.º 2, 1964. p. 53. 187 Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 48 as seguintes alterações de próprio punho do compositor no primeiro violão: bequadro para a nota “si” do último tempo do compasso 3; supressão das notas “mi - fá - sol” da linha melódica secundária entre as três últimas oitavas melódicas do compasso 31; bequadro para a nota “lá” do 1.º tempo e bemol para as notas “lá” do 2.º tempo do compasso 34; acréscimo da semicolcheia “dó” da 1.ª linha suplementar inferior na parte fraca do 2.º tempo do compasso 36, uniformizando assim a conclusão em oitavas; nota “sol” no lugar da nota “lá” (2.ª menor abaixo) na parte fraca do 1.º tempo do compasso 38; harpejos em colcheias com as notas “dó - mib - sol - mib - dó” partindo da 1.ª linha suplementar inferior em movimento ascendente até o “sol” e descendente retornando ao mesmo dó de partida, no lugar dos três acordes em semínimas do compasso 44 (casas 1 e 2). No segundo violão as alterações são: acréscimo da nota “ré” do 1.º espaço suplementar inferior no último acorde do compasso 6; acréscimo de acordes exatamente iguais aos do 2.º tempo no 1.º dos compassos 10 e 12; supressão das notas melódicas “fá - fá - fá” dos 2.º e 3.º tempos e acréscimo do acorde exatamente igual ao do 2.º tempo no 1.º do compasso 14; bequadro para o baixo “mi” (deduzível) do compasso 25; bequadro para o baixo “lá” do 1.º tempo e bemol para o baixo “lá” do 2.º tempo do acorde em trêmulo do compasso 34; supressão das notas melódicas “dó - dó - dó” dos 2.º e 3.º tempos dos compassos 10, 12 e 36; acréscimo do baixo “dó” da 1.ª linha suplementar inferior no último acorde do compasso 36; substituição da terminação original pela conclusão melódica em semínimas “ré - dó”, respectivamente da 4.ª linha e do 3.º espaço no compasso 44 (casas 1 e 2). 73. Título: MARCHA MILITAR. Data: <1928>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3035). Álbum: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. Nota da Pesquisa: Data atribuída a partir de 83. Grupo: IIB/ n.º 114. INCIPIT: 188 Composição - Forma: canção com repetição da 1.ª seção (a[2x] – b – a’). Seção “a”: compassos 1 ao 24, “b”: 25 ao 56 e “a’ ”: 57 ao 66. Técnica - Explora a melodia em função de efeitos descritivos, caracterizadores de uma banda marcial. Nos primeiros compassos da seção “a” e de “a’ ”, as oitavas paralelas lembram o trumpete. No transcurso na seção “a” os acordes das partes fracas dos tempos (exemplo: compassos 9 ao 14) sugerem o acompanhamento típico de uma banda e as semicolcheias (compassos 15, 17, 22 e 23) trazem novamente o trumpete. Na seção “b”, a melodia grave formando uma segunda voz evoca a tuba. Caberá, pois, ao intérprete, a caracterização dos elementos instrumentais e musicais de uma banda marcial, para o qual recomenda-se primeiramente ouvir outras marchas com esta instrumentação típica. Em termos gerais, nesta peça, uma imitação mais acertada dos instrumentos citados exigirá na seção “a” uma maior projeção dos acordes das partes fracas dos tempos e destaque das figuras em semicolcheias e, na seção “b”, uma menor projeção dos acordes acompanhantes e realização cautelosa do baixo para que este não interfira na independência da melodia. Os oito compassos iniciais e a repetição dos mesmos ao final devem ser mais estridentes e fortes para a caracterização do trumpete e conseqüente realização da abertura e conclusão em grande estilo. 74. Título: MAZURKA. Data: Montevidéu, ago. 1927. Edição: Buenos Aires, Romero y Fernandez, (s.d.). Notas da Pesquisa: 1. Título que consta da contracapa por Romero y Fernandez: MAZURKA EN DO SOSTENIDO MENOR. 2. Obra publicada também por Distribuidor General Alberto Savio (s.d.), Diego Gracia y Cia. (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas 189 de outras peças. Títulos que constam das contracapas respectivamente: MAZURKA EN DÓ SOST. MENOR, MAZURKA EN DÓ# MENOR e MAZURKA EM DO SUSTENIDO MENOR. 3. Obra publicada ainda por Ricordi (s.d.), (rf. 7472), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: ID/ n.º 56. INCIPIT: Composição - Forma: canção (a – b – a). Seção “a”: compassos 1 ao 30, “b”: 31 ao 46 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora ornamentos em grande quantidade. Os arrastes, glissandos, appoggiaturas, mordentes e ligados conferem diversidade musical ao tratamento melódico e, conseqüentemente, movimentos complexos. A digitação do compositor, recorrendo a posições avançadas, contribui para um timbre específico aproximado do timbre do violoncelo em alguns momentos, herança talvez do período do estudo deste instrumento pelo autor, e proporciona no aspecto técnico-violonístico mais um agravante para a execução da melodia devido a maior dificuldade em se obter clareza. Para uma execução menos penosa, recomendamos corda solta para o baixo “lá” do compasso 4, dedos “2” e “4” no mordente do compasso 5, dedo “2” na nota “lá” (4.ª corda) do compasso 13 e dedo “2” na nota “ré#” do compasso 37. Tais medidas facilitarão o trabalho da mão esquerda, contribuindo para um melhor resultado musical. 75. Título: MAZURKA. Data: <1928>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3035). Álbum: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. Nota da Pesquisa: Data atribuída a partir de 83. 190 Grupo: IIB/ n.º 112. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição das seções (a[2x] – b[2x] – a[2x]). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Apresenta melodia com movimentos rápidos provindos da realização das semicolcheias e dos ornamentos dos compassos 2, 4 e 8 e acordes acentuados no terceiro tempo, em concordância com o gênero mazurca. Esta peça propõe, portanto, o exercício do gênero em questão aproveitando os poucos entraves técnicos citados. O violonista deve observar a acentuação indicada pelo compositor nos terceiros tempos, buscando uma fluência típica de dança. 76. [Título: MAZURKA OP. 24 N.º 1.] Data: ? Nota da Pesquisa: A notícia deste título encontra-se em Violão e Mestres n.º 2 215. 77. Título: MAZURKA EM MI MENOR (dois violões). Data: Rio de Janeiro, out. 1937. Edição: São Paulo, Ricordi, 1967. (br. 3191). Grupo: ID/ n.º 57. INCIPIT: 191 Composição - Forma: rondó (a – b – a – c – a) Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 24, “a”: 25 ao 32, “c”: 33 ao 48 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Esta peça foi pensada de maneira a permitir exploração de uma grande gama de dinâmica, indo do “F” nos dois violões simultaneamente, em acordes de seis notas, ao “P” com a indicação “Dolce”, em melodias discretamente acompanhadas. Colabora no efeito também contrastes de timbre, como se observa com a indicação “junto ao cavalete”, o tratamento da melodia, ora dobrada em oitava no mesmo violão ou em terças nos dois e contrastes de articulação através dos pizzicatos. Toda esta diversidade permite uma interpretação cheia de surpresas, tornando necessária a atenção ao papel de cada violão a todo momento. Logo no compasso 2, por exemplo, o segundo violão, acompanhante, tende a cobrir o primeiro e no compasso 17, o primeiro violão, no papel de acompanhante, tende a cobrir o segundo. A digitação pode ser facilitada em alguns pontos. No primeiro violão, no compasso 3, pode-se optar por uma pestana na 7.ª posição a partir da nota “si” da melodia e tocar o “mi#” com o dedo “4” na 3.ª corda. O compasso 41 pode ser facilitado com os dedos “3” e “4” do “ré” e “si” sendo seguidos por uma meia pestana no “dó” e “lá” e os dedos “3” e “2” do “si” e “sol”, por outra meia pestana no “lá” e “fa#”. O segundo violão é menos problemático, ficando satisfatoriamente resolvido com a adoção do dedo “1” na última nota “lá” do compasso 47 e do dedo “4” na nota “sol” (4.ª corda) do compasso 48, evitando assim qualquer atraso nesta passagem. 78. 215 [Título: MAZURCA EN LA MENOR.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. VIOLÃO E MESTRES, n.º 2, 1964. p. 40. 192 79. Título: MAZURKINHA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 102. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição das 1.ª e 2.ª seções (a[2x] – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Apresenta elaboração diferenciada da melodia entre as seções. Na seção “a” predominam semínimas com colcheias e na “b”, colcheias pontuadas seguidas de semicolcheias, o que significa uma dificuldade bem maior, considerando o direcionamento de todas as peças deste álbum aos violonistas iniciantes. O estudante deve ter em mente o caráter dançante do gênero, buscando interpretação fluente e no andamento indicado, “Allegro”, e dispensando maior energia na realização dos compassos 9, 11, 13 e 15, em função das semicolcheias citadas. O segundo passo é apagar corretamente os baixos em cordas soltas da seção “b” para que estes não ultrapassem o tempo de cada função harmônica e assim correspondam à duração correta dos baixos pressionados da seção “a”. 80. [Título: MELODÍA.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 193 81. Título: MILONGA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1944. (10. 538). Álbum: 4 PEÇAS TÍPICAS DO RIO DA PRATA. Dedicatória: “Al Mayor Dario Saráchaga Claramunt”. Grupo: IA/ n.º 7. INCIPIT: Composição - Forma: estrófica, sem no entanto caracterizar o rondó. Apresenta um motivo que atua como estribilho, que aparece no início da peça, no meio, com alterações (entre as seções “a” e “b”) e novamente no fim, sem as alterações. A forma resultante é a seguinte: (motivo inicial [2x] – a[2x] – motivo inicial variado – b[2x] – motivo inicial [2x] ). Motivo inicial: compassos 1 ao 4, seção “a”: 5 ao 12, motivo variado: 13 ao 20, seção “b”: 21 ao 28 e motivo inicial: 29 ao 33. Técnica - Apresenta melodia combinada com ligados, arrastes e, em alguns momentos, com uma linha melódica secundária em intervalo harmônico de terça maior ou menor (exemplo: compassos 15, 16, 19 e 20). Sendo a milonga um gênero fluente de música e dança, deve ser conduzida sem quebras de andamento e, no caso desta peça, com considerável variação de dinâmica em virtude do grande número de repetições. Os obstáculos técnicos são principalmente os ligados dos compassos 13 ao 20 e as várias mudanças de posição presentes nos compassos 6, 7, 16, 20 e na passagem do 26 para o 27 e deste para o 28. Os obstáculos apontados, embora pequenos, são muitos em função da pequena extensão da peça e podem prejudicar o resultado final, se não forem adequadamente solucionados através de um estudo lento e/ou separado. 194 82. Título: MINHA NOIVA É BONITA. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. Dedicatória: “a Antenor Garcia Rocha”. Grupo: IC/ n.º 42. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 36 compassos. Técnica - Apresenta um desenvolvimento melódico com variedade rítmica e de caráter, em meio a notas repetidas e saltos. De uma maneira geral, as trocas de posição, combinadas com os acordes plaquês das partes fortes dos tempos nos compassos com tercinas (exemplo: compassos 5 ao 7, 13 ao 15, 29 ao 31 e 33 ao 35) e as notas repetidas nos mesmos compassos, resultam difíceis. O texto musical apresenta um andamento vivo até o compasso 24 e, a partir daí, um contrastante “Languido” e, mais adiante, “Triste”, como indica a partitura, para o momento de aparente alusão ao “solo” dos diálogos entre coro e solista de gêneros nordestinos (compassos 24 ao 28), seguido da resposta do “coro” de acordes. O executante deve, em primeiro lugar, exercitar separadamente o trecho inicial a fim de obter fluência nas tercinas e clareza na distinção destas em relação aos grupos normais de colcheias dos outros compassos. Em segundo, deve trabalhar o contraste entre a execução dinâmica da parte inicial e a moderada da segunda, procurando destacar nesta o contraste interno “solo-coro” do diálogo. Comentários Esta peça possui elementos da música popular folclórica como organização formal livre, baseada na variação e improvisação, frases descendentes, notas repetidas, 195 cadências em outras notas além da tônica e processo semelhante ao diálogo entre coro e solista de gêneros populares nordestinos216. 83. Título: MINUETTO. Data: 1928. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3035). Álbum: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. Grupo: IIB/ n.º 111. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição das seções e trio (a[2x] – b[2x] – trio[2x] – a[2x] – b[2x]). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 16, trio: 17 ao 24 e retorno às seções “a” e “b” indicado na partitura. Técnica - Explora combinação de acordes repetitivos e escalas de modo a formar um só sentido melódico em organização métrica regular. A proposta didática nesta peça é, portanto, musical, pelo exercício do minueto clássico de constituição melódica e harmônica regulares e ao mesmo tempo técnica, pela necessária unificação da melodia que é resultante do pulsar de acordes repetitivos, de fragmentos melódicos destituídos de acompanhamento e das notas agudas dos harpejos. O intérprete deve buscar esta unidade melódica e também realizar as inflexões harmônicas, cuidando especialmente das finalizações típicas em appoggiaturas, acentuando discretamente a dissonância em tempo forte e amenizando a resolução no tempo seguinte. 84. 216 [Título: MIS ALEGRÍAS.] Data: ? É o caso do gênero “côco” comentado em III.2.2., Subgrupo IC. 196 Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 85. [Título: MODINHA.] Data: ? Nota da Pesquisa: A notícia deste título encontra-se em Violão e Mestres n.º 5 217. 86. Título: MUÑECA: DUERME ... Data: Buenos Aires, mai. 1928. Edição: Buenos Aires, Diego Gracia y Cia. (s.d.). Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada também por Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 2. Obra publicada no catálogo incompleto de Violão e Mestres n.º 7 218 juntamente com o subtítulo “melodía”. Grupo: ID/ n.º 58. INCIPIT: Composição - Gênero: valsa. - Forma: seção única com divisão interna (a – b – a – b – b’), sendo “a”: compassos 1 ao 9, “b”: 9 ao 24, “a”: 25 ao 32, “b”: 33 ao 48 e “b’ ”: 49 ao 59. - Melodia: em harmônicos oitavados em “b” e “b’ ”. Técnica - Explora a alternância entre sonoridade natural e em harmônicos oitavados. Desta alternância resulta o interesse musical e, ao mesmo tempo, a proposta violonística da peça, pela destreza necessária para se igualar o andamento entre os procedimentos técnicos em questão. O intérprete deve estar atento também aos 217 218 VIOLÃO E MESTRES, n.º 5, 1966. p. 15. Idem, v. 2, n.º 7, 1967. p. 15. 197 “rit.” nos compassos 7, 19, 24, 31 e 43 ao 53, os quais, além de contribuir para o aumento da expressividade, permitirão uma execução melhor. É imprescindível a observância do “rit” do compasso 43 e principalmente do “rit. molto” do compasso 51, para que seja possível realizar a melodia em semicolcheias e ao mesmo tempo em harmônicos dos compassos 49 e 51. 87. Título: MURMULLOS (PRELUDIO). Data: Montevidéu, mai. 1926. Edição: Buenos Aires, Distribuidor General Alberto Savio (s.d.). Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Diego Gracia y Cia. (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Títulos que constam das contracapas por Diego Gracia e Arthur Napoleão: o exposto acima e MURMULLO. 2. Obra publicada ainda por Ricordi (s.d.), (br. 7447). Título que consta da contracapa: MURMÚRIOS – PRELÚDIO. Grupo: IB/ n.º 12. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 28 e coda: 29 ao 33. Técnica - Explora harpejos em sextinas repetitivas. Esta regularidade no entanto não ocorre na constituição técnica do harpejo que apresenta-se vez por outra sem ornamentos (exemplo: compassos 4, 7, 8, 9, 10 e 18), com ornamentos e ligados em tempos fortes ou fracos (exemplo: compassos 1, 2, 13, 14, 15 e 17) e em partes fracas dos tempos (exemplo: compassos 5, 6, 11 e 12). Ocorre também inversão de acentuação pela retomada do motivo inicial variado no 2.º tempo do compasso 20. Esta defasagem vai até o compasso 27, momento em que se retoma a acentuação normal 198 para o retorno ao início da peça ou avanço rumo à coda na segunda vez. De maneira geral é necessário atenção na uniformização interna de cada grupo de sextina para que a execução resulte fluente e melhor à serviço da interpretação sugerida nas indicações ao longo da peça. O trecho de acentuação invertida parece indicar obscuridade e tensão, principalmente pelo reforço inicial que proporcionam as notas pedais relativas à função harmônica de “D” (compassos 20 a 24), resultando um caráter de transitoriedade. É imprescindível que o intérprete observe o “rallentando poco a poco” no final deste trecho, dosando intensidades e timbres para o retorno a tempo e brilhante. Na segunda vez, tal obscuridade deve se manter na coda e na finalização da peça, o que se verifica pelo andamento mais lento, “Andante” e pelo acorde final suspensivo, de função harmônica de “D”. Ao que parece, a primeira nota “sol” no compasso 25 está indicada em corda errada, sendo o correto a 4.ª corda em função das outras notas da mesma sextina que denunciam a 3.ª posição. 88. Título: “NA ILHA ABANDONADA”. Data: <1932>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1808). Álbum: 4 PRELÚDIOS PITORESCOS. Dedicatória: “ao Dr. Engenheiro Rudolf Walker”. Notas da Pesquisa: 1. Data de composição anotada pelo compositor em exemplar do material de exaluna. 2. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. 3. Obra com outras alterações musicais realizadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. Grupo: IB/ n.º 28. INCIPIT: 199 Composição - Forma: livre, porém semelhante à canção com trio (a – b – trio – b’ – a’ ). É baseada nas elaborações do motivo inicial e do motivo do compasso 19. Seção “a”: compassos 1 ao 40, “b”: 41 ao 56, trio: 57 ao 68, “b’ ”: 69 ao 72 e “a’ ”: 73 ao 77. - Melodia: constituída em diversos momentos por duas vozes em intervalos harmônicos semelhantes, resultando no que convencionamos chamar de paralelismo melódico. - Harmonia: abrange as 1.ª, 3.ª e 4.ª leis tonais com as funções de T, D, +T, acordes derivados de clichês de mão esquerda e funções de “D” em cadências sem relação com uma tonalidade definida. Técnica - Apresenta uma combinação elaborada de diversos procedimentos técnicos, sendo o de escala o mais desenvolvido em meio a ligados e saltos entre acordes. Este aspecto virtuosístico resultante é, no entanto, amenizado pelo texto musical imprevisível e descontínuo, constituído por muitos acordes sem interação tonal provindos de clichês de mão esquerda. O violonista deve buscar uma interpretação que concilie esta harmonia não resolutiva e de conseqüente maleabilidade rítmica com os impulsos virtuosísticos da peça, realizando vários rubatos, respirações e frases nitidamente segmentadas e bem acabadas, valorizando as combinações técnicas de escalas e ligados, como as que ocorrem nas ornamentações do motivo inicial nos compassos 29, 31, 34, 52 e 53. Comentários A estrutura formal de Na Ilha Abandonada, ora baseada no desenvolvimento do motivo inicial ou na retomada do segundo, juntamente com uma harmonia resultante mais de clichês violonísticos do que de uma lógica tonal, gera um efeito de suspensão de movimento pois torna imprevisível quase qualquer segmento da peça. Este efeito suspensivo, aliado a uma exploração rica do instrumento nas várias elaborações do primeiro motivo principalmente, faz desta peça uma das mais interessantes do autor. Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 os seguintes acréscimos de próprio punho do compositor: bequadro para a última nota “sol” 200 do compasso 34; # para a nota “dó” do compasso 59 e a anotação “Impressionista” logo abaixo do título . No contato com exemplares desta peça no material do ex-aluno de Isaias Savio, Paulo Porto Alegre, encontramos: anotação “ten.” para as notas “sol#”, “dó#” e “si” dos compassos 41, 57 e 60, respectivamente. No material da ex-aluna Maria José Passareli encontramos: # para as notas “fá” dos compassos 19, 39 e 51(deduzíveis em função das pestanas na 2.ª posição). No material da ex-aluna Mariana Mendes encontramos: bequadro para a última nota “sol” do compasso 34 e símbolo “tratina” para as mesmas notas indicadas com “ten.” no exemplar de Paulo Porto Alegre. 89. Título: NESTA RUA (TEMA VARIADO). Data: Rio de Janeiro, dez. 1935. Edição: São Paulo, Musicália, 1977. (MCM - 0287). Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada também por Ricordi, 1958 (br. 2252). 2. Obra publicada ainda por Irmãos Vitale - Casa Del Vecchio (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Grupo: IC/ n.º 51. INCIPIT: Composição - Forma: tema e variações com retorno ao tema (a[tema] – a1 – a2 – a3 – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “a1”: 17 ao 32, “a2”: 33 ao 48, “a3”: 49 ao 64 e retorno à seção “a” indicado na partitura. - Melodia: ornamentada diferentemente em cada variação, proporcionando contrastes e interesse musical. 201 Técnica - Apresenta diferentes processos técnicos em função das ornamentações do tema em cada variação. Estas ornamentações são puramente melódicas, não havendo nem mesmo mudança de modo. É imprescindível, portanto, a boa realização mecânica dos processos técnicos nas variações e o respeito aos andamentos distintos para que haja um eficiente contraste entre as partes. - O tema é a própria canção anônima Nesta Rua, com digitações em posições avançadas, acarretando dificuldades no compasso 13 e na passagem deste para o seguinte. O melhor seria, neste caso, realizar o “mi” do 1.º tempo em corda solta, o “sol#” na 4.ª corda, o “si” e o “mi” do 2.º tempo nas 1.ª e 2.ª cordas, respectivamente, o “sol” na 1.ª corda com o dedo “1” e a passagem ao compasso 14 através do “mi” da 1.ª corda. - A primeira variação adota o procedimento técnico de escala, ornamentando a melodia com passagens cromáticas ou não e proporcionando com isso um colorido que a faz contrastar com o tema. A fluência, mais necessária nesta variação, será maior no compasso 26 com as notas “lá - sol# - lá - sib - lá - sol - fá - mi” sendo realizadas com a digitação: “2 - 1 - 1 - 2 - 1” na corda “mi”, “4 - 2” na corda “si” e 1.ª corda solta, respectivamente. - A segunda variação combina ligados, grupetos e arrastes em andamento lento, o que garante uma execução tranqüila e o contraste com a variação anterior. As primeiras três fusas do compasso 33 podem ser realizadas na 1.ª corda para evitar esbarros e o “sol” melódico, do compasso 43, antecipado pela finalização da quintina do compasso anterior com o dedo “4”, o que permitirá sua sustentação até a nota “fá”. - A terceira e última variação, embora com parte da melodia nos baixos, assemelhase ao tema, servindo por isso como uma preparação para a recapitulação do mesmo. Para uma melhor ligação melódica, o “mi” do compasso 54 (5.ª corda) pode ser alcançado por um arraste descendente, partindo da nota “fá” anterior com o dedo “4”, após o qual segue-se a nota “ré” com o dedo “2” e com uma pestana na 1.ª posição as notas “dó” e “si” com os dedos “4” e “3”, respectivamente. Também para um resultado melódico melhor no compasso 62 e em sua anacruze, notas “lá - 202 dó - si - lá - so# ” na 4.ª corda, pode-se adotar os dedos “1 - 4 - 3 - 3 - 2”, respectivamente. 90. Título: OS SINOS. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 105. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 12 compassos. Técnica - Explora a alternância entre sonoridade natural e em harmônicos oitavados, resultando o exercício da obtenção de harmônicos tanto seqüenciados como dispostos alternadamente entre acordes. O efeito desta peça depende da boa realização dos mesmos pela evidente proposta descritiva de imitação de sinos, como indica o título. Há pelo menos duas opções de execução do trecho em que acordes e harmônicos se alternam, nos compassos 7 ao 9. Na primeira, a mão esquerda vai de encontro com cada harmônico na altura dos trastes correspondentes, do que resultam harmônicos mais projetados e, portanto, equilibrados em relação aos dos compassos iniciais e finais. Na segunda, a própria mão direita os realiza, deixando os acordes soarem um pouco mais que o indicado. Esta medida torna os harmônicos menos intensos, mas em compensação propicia legato maior. 91. Título: PÁGINAS D’ALBUM I. Data: Montevidéu, jan. 1925. 203 Edição: Rio de Janeiro, Casa Arthur Napoleão, (s.d.). (9265, partitura e 018, contracapa). Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Álbum: PÁGINAS D’ALBUM 1 e 2. Grupo: IB/ n.º 13. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 16 compassos com repetição. Técnica - Explora execução equilibrada de blocos de acordes combinados com pequenos fragmentos melódicos de ligação. Desta constituição basicamente coral da peça resultam relações melódicas sutis entre notas internas dos acordes encadeados, e, conseqüentemente, necessidade de uma sonoridade limpa e equilibrada para que se ouça este acontecimento horizontal. Também as trocas de posição de maneira geral exigem cautela para não prejudicar o delicado texto musical. O intérprete deve, portanto, realizar um estudo voltado à escuta, procurando levantar a mão esquerda ao invés de arrastá-la entre os acordes. A digitação do compositor propõe uma sonoridade inusitada o que se percebe pela predominância da 2.ª corda na voz aguda do acorde, por vezes simultaneamente ao uso da 1.ª corda solta. Este ideal sonoro acarreta mudanças bruscas de posição, mas é imprescindível para o aspecto coral da peça, devendo a digitação ser obedecida. Comentários O sentido melódico interno decorrente do encadeamento harmônico, embora não muito evidente, constitui procedimento semelhante ao dos compositores românticos, em especial Schumann e Chopin, cuja presença na música de Savio se deve em parte, 204 provavelmente, à influência proporcionada pela música do violonista espanhol Francisco Tárrega. 92. Título: PÁGINAS D’ALBUM II. Data: Montevidéu, ago. 1925. Edição: Rio de Janeiro, Casa Arthur Napoleão, (s.d.). (9265, partitura e 018, contracapa). Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Álbum: PÁGINAS D’ALBUM 1 e 2. Grupo: IB/ n.º 14. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 12 e “b”: 13 ao 22 e retorno à seção “a” indicado na partitura. - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, DD, (D)Tr, (D)Sr e ºTr. Técnica - Explora execução equilibrada de blocos de acordes combinados com pequenos fragmentos melódicos de ligação. Também nesta peça é fundamental uma sonoridade limpa e equilibrada dada a constituição coral do texto musical, mas a maior diversidade harmônica, melódica e estrutural em relação à Página d’Álbum I exige também maior gama de variação de dinâmica e timbre para um contraste eficiente entre as seções. A seção “a”, de melodia e harmonia menos elaboradas, requer uma execução mais plana. A seção “b” representa o contraste em função da harmonia mais complexa, das indicações de dinâmica, da variação de andamento, do modo menor adotado e do início em registro bem mais agudo e com dinâmica “f”, apontando a necessidade de uma execução mais tensa para todo o trecho. A 205 digitação do compositor privilegia posições avançadas, valorizando na melodia o uso da 2.º corda mesmo em acordes com a 1.ª corda solta entre as notas constituintes. Novamente a intenção do compositor na digitação é provavelmente a de caracterizar melhor o aspecto coral da partitura, devendo, portanto, ser respeitada. Comentários O sentido melódico interno decorrente do encadeamento harmônico, mais evidente nesta peça que em sua companheira de álbum, Página d’Álbum I, constitui procedimento semelhante ao dos compositores românticos, em especial Schumann e Chopin, cuja presença na música de Savio se deve em parte, provavelmente, à influência proporcionada pela música do violonista espanhol Francisco Tárrega. 93. Título: “PAISAGEM”. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1808). Álbum: 4 PRELÚDIOS PITORESCOS. Notas da Pesquisa: 1. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta dos álbuns n.º 130 e n.º 219 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. 2. Obra com alterações musicais diversas das constatadas em 1, realizadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. Grupo: IB/ n.º 27. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 25 compassos com repetição. - Harmonia: abrange até a 5.ª lei tonal com as funções de T, D, Tr, Sr, SS, (D)Sr, (D)Tr, (D)SS, ºT e modulações passageiras, cujos acordes resultantes apresentam quase sempre notas acrescentadas. 206 Técnica - Explora harpejos com ou sem ligados em sextinas repetitivas e harmonia ampliada. Esta harmonia, caracterizada por acordes com notas acrescentadas, notas pedais e modulações passageiras, confere maior liberdade de interpretação à peça, permitindo rubatos sutis. Em vista disso o violonista deve valorizar as várias cadências como as dos compassos 6 e 7, 9 e 10, 11 e 12 e, 13 e 14 para garantir certa uniformidade do movimento interno. A principal dificuldade técnica, no entanto, é padronizar sonoramente os harpejos, que não obedecem uma seqüência fixa de dedilhado e que apresentam-se, tanto em contexto técnico cômodo quanto tenso, sustentados em pestanas seguidas. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos nos álbuns n.º 130 e 219 os seguintes acréscimos de próprio punho do compositor: mudança da fórmula de compasso de 2/4 para 3/8; ritornelo para o compasso 7, segundo a contagem de compassos da versão editada e, considerando a mesma contagem: corte da 1.ª metade do compasso 8 e junção da 2.ª metade com o compasso seguinte num compasso 3/4, único com esta fórmula na peça; ritornelo para o compasso 12 e repetição da 1.ª metade na 2.ª do compasso 21. No contato com exemplares desta peça nos materiais dos ex-alunos de Isaias Savio, Paulo Porto Alegre e Mariana Mendes, encontramos as mesmas alterações acima e também as seguintes: supressão do termo “Molto” da indicação inicial de andamento, restando somente o termo “Moderado” e o acréscimo da indicação exata de tempo, sendo semínima igual a 132. 94. Título: PALHAÇO. Data: Buenos Aires, 1930. Edição: São Paulo, Ricordi, 1968. (br. 2981). Álbum: SUÍTE DESCRITIVA. Nota da Pesquisa: Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. Grupo: IB/ n.º 32. INCIPIT: 207 Composição - Forma: semelhante à canção (a – b – a’). A seção “b” é composta por trechos musicais distintos justapostos entre si. Seção “a”: compassos 1 ao 22, “b”: 23 ao 60 e “a’ ”: 61 ao 82. - Harmonia: embora apresente algumas funções das 1.ª e 3.ª leis tonais como T, S, D e (D)Tr, acordes, tonalidades e modos não integram uma lógica tonal, estando em função do efeito descritivo da peça. Técnica - Explora distintos processos técnicos numa grande variação de potencial sonoro em função das mudanças de caráter. Em alguns momentos predomina a configuração básica mais comum, ou seja, melodia acompanhada por acordes plaquês e baixos (exemplo: compassos 11 ao 13), em outros, há acordes harpejados e baixos (exemplo: compassos 47 ao 50 e 53 ao 56), em outros momentos somente acordes (exemplo: compassos 14 e 15) e em outros ainda, segmentos escalares cromáticos ou não (exemplo: compassos 2 ao 5, 30, 31, 51 e 52). Esta grande variedade de processos técnicos em contexto virtuosístico exige do executante destreza para a mudança de um para outro e de pronto a constituição do caráter nos respectivos segmentos, o que tornará unido este texto musical desconexo e fará resultar o efeito da descrição de um palhaço com sua gesticulação rápida e repleta de surpresas. Comentários A constituição desta peça com mudanças musicais repentinas busca descrever o palhaço que com suas “cabriolas e esgares” faz rir a platéia 219. Ao texto musical, todo entrecortado e justaposto, não faltou nem sequer, no trecho dos acordes provenientes do 219 Ver “Prefácio” em SAVIO, Isaias. Suíte descritiva. São Paulo, Ricordi, 1968. 208 clichê de mão esquerda postos descendentemente (compassos 23 ao 28), a indicação “imitando uma gargalhada”, o que reforça a intenção descritiva da partitura. No contato com exemplares desta peça nos materiais das ex-alunas de Isaias Savio, Mariana Mendes e Maria José Passareli, encontramos as seguintes alterações de próprio punho do compositor: nota “fá” no lugar da última nota “mi” (2.ª menor acima) do compasso 5; nota “lá” no lugar da nota “sol” (2.ª maior acima) do compasso 43 e nota “fá” no lugar da nota “mi” (2.ª menor acima) do compasso 64. 95. Título: PALMEIRAS DO BRASIL (VALSA LENTA). Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1951. (10.777). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 4. Dedicatória: “Homenagem ao bom amigo Leonardo Mesquita, Presidente do Centro Violonístico ‘Isaias Savio’ de Poços de Caldas”. Grupo: IIB/ n.º 108. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 32 e “b”: 33 ao 56 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Apresenta melodia acompanhada em diferentes contextos de andamento e caráter. Esta variação se dá em função da mudança de modo para menor na seção “b” e simultaneamente a adoção de um andamento mais rápido, exigindo uma maior desenvoltura na realização dos fragmentos melódicos escalares. Na seção “a”, a clareza e o andamento baixo tornam nuas as emendas entres fragmentos melódicos como, por exemplo, os que se encontram no compasso 5 e entre os compassos 8 e 9. Na seção “b”, o obstáculo é a própria manutenção do andamento na realização incômoda dos acordes dos terceiros tempos dos compassos 33, 35, 41 e 43 pela 209 repetição quase inevitável do dedo anular ou de outros ao realizar estes acordes e as notas melódicas imediatamente anteriores. Para melhor ligação melódica na seção “a”, recomenda-se o uso do dedo “2” para a nota melódica “fá# ” dos compassos 5 e 21, enquanto se mantém os dedos “1” e “3” nas notas do acompanhamento “lá” e “ré”, respectivamente, e o uso dos dedos “2” e “4” para as notas melódicas “lá” e “fá# ” do 3.º tempo dos compassos 6 e 22. 96. Título: PENSAMIENTOS... Data: Montevidéu, 1924. Op. 3. Dedicatória: “A querido amigo Dr. Bento de Souza.” [sic.]. Notas da Pesquisa: 1. Encontrada no acervo Ronoel Simões. Edição não identificada. 2. Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: 8 PENSAMIENTOS... 3. Obra publicada também por Ricordi (s.d.), (rf. 7711). Título que consta das contracapas: PENSAMENTOS. Grupo: IB/ n.º 15. INCIPIT: Composição Forma de cada fragmento: - I : sentença. Antecedente: compassos 1 ao 8 e conseqüente: 9 ao 16. - II : período. Antecedente: compassos 1 ao 7 e conseqüente: 8 ao 14. - III : (a – b – a’), sendo “a”: compassos 1 e 2, “b”: 3 ao 8 e “a’ ”: 9 e 10. - IV : sentença. Antecedente: compassos 1 ao 8 e conseqüente: 9 ao 16. - V : (a – b – a), sendo “a”: compassos 1 ao 3, “b”: 4 ao 7 e “a’ ”: 8 ao 10. - VI : sentença. Antecedente: compassos 1 ao 7 e conseqüente: 8 ao 14. - VII : (a – b), sendo “a”: compassos 1 ao 4 e “b”: 5 ao 10. - VIII : (a – b), sendo “a”: compassos 1 ao 8 e “b”: 9 ao 16. 210 Técnica - Explora grande variedade de processos técnicos nos oito fragmentos, como harpejos, escalas, ligados, acordes e arrastes em ampla tessitura ou não. Contudo estes fragmentos são de execução cômoda devido suas pequenas dimensões e andamentos lentos. O contexto musical desta obra como um todo parece ser de intenção divagativa para o qual é necessário uma execução leve, em concordância com o que sugere o título. Esta proposta descritiva engloba também diferenciação do caráter de cada trecho e conseqüente estabelecimento de contrastes entre as partes. De maneira geral, as digitações recomendadas pelo autor visam sonoridades aveludadas, pela realização de acordes em posições avançadas e muitas vezes com cordas soltas entremeadas. Os compassos 4, 9, 10 e 12 de I; 6 e 7 de II e 10 de IV são exemplos disto. O compasso 10 de II indica um digitação atípica para o harpejo em Lá menor tão conhecido dos violonistas da mesma forma que os compassos 12 e 13 de VIII, cujo baixo “si” na 6.ª corda obriga a realização desconfortável da melodia na 2.ª corda. A troca destas digitações por outras mais convencionais podem por um lado facilitar a execução, mas por outro, no caso específico das posições avançadas, podem comprometer o ideal sonoro do compositor, provavelmente associado à descrição do pensar. 97. Título: PEQUEÑA ROMANZA. Data: Montevidéu, jul. 1925. Edição: Buenos Aires, Distribuidor General Alberto Savio, 1.ª edição, (s.d.). Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Diego Gracia y Cia (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 2. Obra publicada ainda pela Ricordi (s.d.), (br. 7448), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PEQUENA ROMANZA. Grupo: IB/ n.º 16. INCIPIT: 211 Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 16 e coda: 17 ao 20. - Harmonia: abrange até a 5.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Tr, Sr, Dr, (D)S, DD, (D)Tr, (D)Sr, (D)Dr, ºS e modulação diatônica para Mi maior iniciada no compasso 14 e confirmada na coda após a repetição da seção. Técnica - Apresenta melodia acompanhada por harpejos em meio a muitas pestanas. A regularidade das colcheias no acompanhamento e das mínimas tanto na melodia como nos baixos, ambas em tempos fortes, determinam um padrão musical repetitivo e uma interpretação em função da harmonia. De maneira geral a grande quantidade de pestanas constitui um entrave para a execução. O intérprete deve, portanto, tentar amenizar os movimentos realizando as pestanas e trocas de posição com a menor tensão possível para não prejudicar o delicado texto musical. Deve também atentar ao acompanhamento, deixando-o em segundo plano e uniforme especialmente nos compassos 15 e 17 onde há notas a serem realizadas seguidamente na mesma corda. 98. Título: PERICÓN. Data: ? Edição: Buenos Aires, Diego Gracia y Cia., (s.d.). Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada também por Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 2. Títulos que constam das contracapas por Arthur Napoleão: o exposto acima e o mesmo acompanhado de subtítulo: PERICON (DANZA RIOPLATENSE). 3. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 1 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Dedicatória: “a Damian Martin”. Grupo: IA/ n.º 6. INCIPIT: 212 Composição - Forma: rondó com trio (a – b – a’ – c [trio] – a’’). Seção “a”: compassos 1 ao 37, “b”: 38 ao 72, “a’ ”: 73 ao 88, “c”: 89 ao 104 e “a’’ ”: 106 ao 122. - Melodia: de muita vivacidade, em grande tessitura e integrada ou independente do acompanhamento. Técnica - A característica principal nesta peça é o aspecto dançante do gênero pericón que, juntamente com um andamento vivo em compasso ternário e uma harmonia em praticamente três acordes, resulta numa elaboração melódica virtuosística, com os acordes em grande jogo de inversões em posições variadas. Este processo ocorre em meio a trocas rápidas, com ou sem intermediação de harpejos, escalas ou cordas soltas, ocasionando muitos saltos bruscos. Os pontos mais complexos se localizam nos compassos 17 ao 19, 48, 49, 58 ao 72 e 110 ao 122. No compasso 17 pode-se optar pelo arraste do dedo 4 da nota “mi” para a nota “ré” da melodia, dando-se seqüência com o dedo “3” na nota “dó#” e deixando-se de fazer a pestana indicada na partitura. Aos outros trechos apontados resta somente uma advertência ao estudo lento a ser realizado. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 1 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: nota “ré” no lugar da nota “dó#” (2.ª menor acima) da parte fraca do 1.º tempo do compasso 14; # para a colcheia “sol” do 3.º tempo do compasso 37; notas “ré - si - ré” do último tempo do compasso 60 sendo conservadas por ligadura de valor até o 1.º tempo do compasso 61; notas “dó - mi - lá dó” nas cordas “ré - sol - si - mi” (8.ª posição) no lugar das originais da edição no compasso 61; nota “lá” no lugar da nota “mi” (4.ª justa acima) do 1.º tempo do compasso 65 e # para as duas semicolcheias simultâneas “lá” e “dó”, do 2.º tempo do compasso 67. 213 99. [Título: POLONESA EN LA MENOR.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 100. Título: PRELUDIO N.º 1. Data: Montevidéu, 1924. Edição: Buenos Aires, Diego Gracia y Cia. (s.d.). Álbum: PRELUDIOS N.º 1 y 2. Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 1 y 2. Grupo: IB/ n.º 17. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 40 compassos. - Harmonia: abrange as 5 leis tonais com as funções de T, S, D, Tr, Sr, (D)Tr, (D)Sr, DD, (D)Dr, ºTr, ºD e modulação diatônica para Lá menor iniciada no compasso 36 e confirmada na cadência final da peça. Técnica - Explora fórmula fixa de harpejo em colcheias, do que resulta uma execução uniformizada, mas que deve enfatizar a harmonia cujo processo é semelhante ao de marcha harmônica. As notas da melodia, sempre na linha do baixo, situam-se no início e fim de cada compasso, devendo por isso serem ressaltadas não só em virtude da condição melódica que possuem, mas também pela ligação que proporcionam. Justamente por isso o violonista deve estar atento às notas melódicas em semínimas e principalmente em colcheias, cuidando para que estas não se interrompam abruptamente quando antecederem mudanças de posição. O respeito 214 às indicações de andamento da partitura é fundamental para se alcançar o sentido musical da peça de um modo geral e o da modulação no compasso 36 especificamente. Comentários Coincidentemente o padrão rítmico deste Prelúdio n.º 1, semínima pontuada e colcheia na voz inferior, entremeadas por duas semicolcheias na superior, é o mesmo de alguns trechos do Prelúdio n.º 6 do violonista espanhol Francisco Tárrega. 101. Título: PRELUDIO N.º 2. Data: Montevidéu, 1924. Edição: Buenos Aires, Diego Gracia y Cia. (s.d.). Álbum: PRELUDIOS N.º 1 y 2. Nota da Pesquisa: Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 1 y 2. Grupo: IB/ n.º 18. INCIPIT: Composição - Forma: seção única estruturada como sentença. Antecedente: compassos 1 ao 8 e conseqüente: 9 ao 16. Técnica - Explora execução equilibrada de blocos de acordes combinados com pequenos fragmentos melódicos de ligação. A constituição coral desta peça com valores rítmicos onde predominam mínimas em contexto “religioso”, como indica a partitura, propõe uma execução atenta aos detalhes de toque, limpeza e equilíbrio entre as notas dos acordes para que se faça ouvir o processo melódico decorrente do 215 encadeamento harmônico. O bom acabamento na interpretação é o que tornará clara a evolução harmônica e o papel sutil desta no movimento e na dinâmica da peça. 102. Título: PRELÚDIO N.º 3. Data: 1924. Edição: São Paulo, Ricordi, 1970. (br. 3193). Álbum: PRELÚDIOS N.os. 3, 4, 5 e 6. Notas da Pesquisa: 1. Obra publicada na seção “Partitura” de Violão e Mestres n.º 1 220 com o título PRELUDIO N.º 9 e com a dedicatória: “à Helga Christiane Richter”. 2. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 3 y 4. Grupo: IB/ n.º 19. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 31 compassos com repetição. Técnica - Apresenta melodia contínua em padrão rítmico de colcheias. O intérprete deve estar atento à movimentação de esquerda em virtude das aberturas e pequenos saltos decorrentes do texto musical ininterrupto e de variação constante em grande tessitura. Com os entraves técnicos superados, a melodia será automaticamente uniformizada em um legato contínuo, unindo as marchas harmônicas que ocorrem em alguns momentos da peça. Uma opção distinta para a digitação do compasso 2, visando melhor ligação com o anterior é o uso do dedo “3” na nota “mi” do 1.º tempo, o que implica, porém, na supressão do arraste até a nota “sol”. Da mesma forma, no compasso 3, pode-se optar pelo dedo “2” na nota “dó” e pela realização 220 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., n.º 1, 1964. p. 18-9. 216 de uma pestana na 7.ª casa no 2.º tempo do mesmo, cujas notas “sol”, melodia e baixo, seriam pressionadas pelos dedos “2” e “4”, respectivamente. 103. Título: PRELÚDIO N.º 4. Data: <1924>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1970. (br. 3193). Álbum: PRELÚDIOS N.os. 3, 4, 5 e 6. Notas da Pesquisa: 1. Data atribuída a partir de 102. 2. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 3 y 4. Grupo: IB/ n.º 20. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição, introdução e coda. Introdução: compassos 1 ao 3 e coda: 25 ao 28. Técnica - Explora condução melódica em meio a saltos entre posições distantes. A digitação proposta de parte da melodia na 2.ª corda (exemplo: compassos 5 e 11 ao 15) dificulta ainda mais os movimentos, mas os sete arrastes indicados na partitura, em compensação, amenizam determinadas mudanças de posição além de contribuir na uniformização da melodia. O intérprete deve estar atento à articulação, procurando finalizar bem as notas ou acordes que antecedam saltos. Para maior naturalidade nos movimentos pode-se adotar digitações que privilegiem as primeiras posições ou as cordas soltas como, por exemplo, a que é possível no compasso 12, com as notas “mi” e “sol” do 2.º tempo nas 1.ª e 3.ª cordas, respectivamente. Este princípio na 217 digitação acarreta um timbre distinto do previsto pelo compositor para a melodia, mas proporciona maior fluência. 104. Título: PRELÚDIO N.º 5. Data: <1924>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1970. (br. 3193). Álbum: PRELÚDIOS N.os. 3, 4, 5 e 6. Notas da Pesquisa: 1. Data atribuída a partir de 102. 2. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 3 y 4. Grupo: IB/ n.º 21. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 16 compassos. - Harmonia: abrange as 1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª leis tonais com as funções de T, D, Sr, (D)Tr, (D)Sr e modulação diatônica para Fá# maior no compasso 4. Técnica - Explora a melodia em função da combinação entre harmonia e ritmo, pouco mais diversificados. Sem maiores obstáculos técnicos a única exigência é a atenção maior ao cumprimento do aspecto rítmico. A resolução das funções harmônicas de “D” sobre as de “T” entre os compassos 3 e 4, 6 e 7, e 7 e 8, tende a ocorrer com atraso em virtude da mudança de posição existente entre a última colcheia da “D” e a primeira semínima da resolução. Portanto, o violonista deve realizá-las com cuidado, sem atropelamento, conferindo assim maior graciosidade à peça. 218 105. Título: PRELÚDIO N.º 6. Data: <1924>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1970. (br. 3193). Álbum: PRELÚDIOS N.os. 3, 4, 5 e 6. Notas da Pesquisa: 1. Data atribuída a partir de 102. 2. Obra publicada também por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 5 y 6. Grupo: IB/ n.º 22. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 30 compassos. - Harmonia: abrange as 1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª leis tonais com as funções de T, S, D, Sr, (D)S, DD, (D)Tr e modulação diatônica para Si menor no compasso 19. Técnica - Apresenta melodia acompanhada por acordes cujas notas resultantes do encadeamento assumem sentido melódico secundário em alguns momentos. Em relação ao aspecto mecânico do instrumento ocorrem trocas bruscas de posição nas cordas mais graves com ou sem intermediação de notas em cordas soltas, ocasionando chiado (exemplo: compassos 19 ao 30). Embora a indicação de andamento “Lentamente” atenue, de maneira geral, a brutalidade dos movimentos, o intérprete deve procurar sempre erguer a mão esquerda e não arrastá-la, garantindo assim uma sonoridade mais limpa e, conseqüentemente, tornando audível a relação melódica entre algumas notas dos acordes acompanhantes. 106. [Título: PRELUDIO N.º 7.] Data: ? 219 Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 7 y 8. 107. [Título: PRELUDIO N.º 8.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 7 y 8. 108. [Título: PRELUDIO N.º 9.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 9 y 10. 109. [Título: PRELUDIO N.º 10.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 9 y 10. 110. [Título: PRELUDIO N.º 11.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 11 y 12. 111. [Título: PRELUDIO N.º 12.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), 220 conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: PRELUDIOS N.º 11 y 12. 112. Título: PRELÚDIO PITORESCO N.º 5 (“AMANHECENDO...”). Data: Belo Horizonte, mar. 1933. Edição: São Paulo, Ricordi, 1971. (br. 2518). Dedicatória: “A Antonio Carlos Barbosa Lima” . Grupo: IIB/ n.º 23. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com coda. Seção: compassos 1 ao 53 e coda: 54 ao 61. O material temático da coda vem do motivo situado entre os compassos 7 e 10, o que torna a estrutura da peça semelhante à forma canção. - Harmonia: não tonal, sendo quase sempre conseqüente da movimentação de pestanas inteiras à maneira de capotasto, processo incluso no procedimento que definimos como clichê de mão esquerda. Há no entanto os momentos tonais dos compassos 7 ao 10 e da coda, com as funções de T, S, D, Tr e Sr, portanto, relativas às 1.ª e 2.ª leis tonais. Técnica - Explora alternância e combinação entre pestanas inteiras fixas e fragmentos escalares melódicos. Tanto a harmonia não tonal, resultante de clichês violonísticos, quanto a melodia com seus fragmentos quase sempre sem direcionamento tonal, incluindo momentos cromáticos e até um série de onze notas sem repetição, estão provavelmente relacionadas com o efeito descritivo do amanhecer, sugerido pelo título. Todas estas características concorrem para uma considerável liberdade rítmica na interpretação e o andamento “Andante Tranquillo” da partitura reforça a necessidade da execução leve, própria para a caracterização do efeito pretendido. O violonista deve estar atento, portanto, a esta 221 característica geral de liberdade, valorizando as frases musicais com variações contínuas de dinâmica, respirações e pequenos rubatos. Comentários Esta peça mostra um pouco da influência de Waldemar Henrique sobre Isaias Savio. No compasso 31 ocorre a citação do canto do pássaro da canção Matintaperera do compositor paraense. Curiosamente, o motivo musical, que inicia e no qual se baseia este prelúdio, é uma variação do motivo inicial de Na Ilha Abandonada, exatamente o Prelúdio Pitoresco anterior, de número 4. 113. Título: PRELÚDIO PITORESCO N.º 6 (“TERNURA ...”). Data: São Paulo, set. 1970. Edição: São Paulo, Ricordi, 1971. (br. 2516). Dedicatória: “A mi queridíssimo discípulo Antonio Carlos Barbosa Lima” . Nota da Pesquisa: Peça iniciada no Rio de Janeiro em 1933 e concluída em São Paulo em setembro de 1970, pelo que consta do manuscrito de um ex-aluno do compositor. Grupo: IB/ n.º 24. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 41 compassos com repetição. Há porém, na estrutura desta peça, uma aparente divisão interna sugerida pela mudança de modo e harmonia mais elaborada a partir do compasso 20, o que a faz semelhante à forma binária simples. - Melodia: constituída em diversos momentos por duas vozes paralelas em intervalos harmônicos semelhantes, paralelismo melódico. procedimento que convencionamos chamar de 222 Técnica - Apresenta melodia em frases curtas de maneira geral, em cordas duplas ou não. O andamento baixo e a indicação “Recitativo” empregada pelo autor concordam com este texto musical de título sugestivo e todo entrecortado por respirações e fermatas. No entanto a movimentação inevitavelmente tensa da mão esquerda em virtude das várias pestanas ao longo da peça contraria a delicadeza dos contornos melódicos, exigindo força para sua realização. O violonista deve, portanto, tentar conciliar estes conflitos, buscando ao mesmo tempo a menor tensão possível e um grande legato para a melodia tanto nos dedilhados simples como nos mais complexos. 114. [Título: PRELUDIO ROMÁNTICO.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Casa Arthur Napoleão (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 4 PEÇAS TÍPICAS DO RIO DA PRATA (álbum). Vide números 19, 66, 81 e 125. 4 PRELÚDIOS PITORESCOS (álbum). Vide números 23, 88, 93 e 119. 4 RECREAÇÕES (álbum). Vide números 12, 27, 30 e 136. 115. Título: RANCHERA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 417). Álbum: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. 223 Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1944 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Álbum publicado também com o título COLEÇÃO DE PEÇAS DE PEQUENA DIFICULDADE/ Fasc. II – 6 peças, conforme as contracapas de outras peças pela mesma editora. Grupo: IIB/ n.º 96. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 8, “b”: 9 ao 24 e “a”: 25 ao 32. Técnica - Explora a melodia em função do processo escalar. A constituição repetitiva da melodia aliada ao andamento “Allegro” indicado e à harmonia de somente três funções perfazem algumas características do gênero ranchera e impõem a necessidade de uma interpretação viva. A proposta didática desta peça abrange o exercício do gênero em questão e, através do mesmo, o da manutenção do pulso principalmente na seção “b”, em virtude das colcheias pontuadas seguidas de semicolcheias. Há também o contraste de timbre a ser realizado na repetição de frase entre os compassos 9 e 16. 116. [Título: RECUERDOS.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 117. Título: REMINISCÊNCIAS PORTUGUESAS. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. 224 Dedicatória: “a José Carlos (Junior)”. Grupo: IC/ n.º 44. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 36 compassos com variação ornamental e modal do motivo. Técnica - Apresenta melodia com variedade rítmica e notas repetidas. A mudança de caráter associada à oscilação de andamento e à melodia aparentemente improvisada, com segmentos pouco previsíveis são fatores determinantes na interpretação desta peça. A indicação “Andantino” posta ao início vale para os compassos 1 ao 8, o “Lento” acrescido de “Dolce” para os de número 9 ao 12, o “I Tempo” do 13 ao 16, o “Lento” juntamente de “Nostálgico” do 17 ao 20, o “I tempo” com a indicação “Saudoso” do 21 ao 32 e o último, “Lento”, novamente com “Dolce”, do 33 ao 36. Portanto, o violonista deverá estar atento a todos estas oscilações, dosando brilho, andamento, intensidade e timbre para assim contrastar as partes internas e garantir o interesse musical. Comentários A forma livre baseada na variação e improvisação do motivo, a tendência ao sentido descendente e o uso de notas repetidas na melodia enquadram esta peça entre as de inspiração folclórica. 118. Título: REQUEBRA MORENA. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1958. (br. 2168). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 2.ª SÉRIE. Dedicatória: “A Ronoel Simões”. 225 Grupo: IC/ n.º 49. INCIPIT: Composição - Gênero: samba. - Forma: seção única com coda, semelhante, porém, ao rondó em função da organização dos motivos ([a – b]2x – a – [c]2x – a – coda), sendo “a”: compassos 1 ao 4, “b”: 5 ao 16, “a”: 17 ao 20, “c”: 21 ao 28, “a”: 29 ao 32 e coda: 33 ao 38. Técnica - Apresenta melodia com variedade rítmica e rasgueios. As notas repetidas da melodia, os acordes no contratempo em “a” e os rasgueios em “c” e na coda constituem processos técnico-violonísticos totalmente distintos e podem, por isso, comprometer a interpretação pela dificuldade conseqüente da alternância entre os mesmos. O título desta peça reforça a intenção do autor para com a fluência e o gingado do samba e constitui uma dica de interpretação para o violonista. Cabe ao intérprete, portanto, buscar o domínio técnico necessário não só para a realização dos trechos distintos, mas para a passagem de um ao outro, cuidando para que o resultado musical final se identifique com o gênero em questão. Comentários Esta peça possui elementos da música popular folclórica e urbana brasileira. Do folclore podemos reconhecer a constância das notas repetidas, a tendência descendente da melodia e a forma aparentemente livre; e da música urbana fica evidente o ritmo sincopado e o balanço do gênero samba. 226 119. Título: “RETRATO”. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1808). Álbum: 4 PRELÚDIOS PITORESCOS. Dedicatória: “a Hans Wurmbauer”. Notas da Pesquisa: 1. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. 2. Obra com alterações musicais diversas das constatadas em 1, realizadas pelo compositor em exemplar do material de ex-aluna. Grupo: IB/ n.º 26. INCIPIT: Composição - Forma: binária com introdução, repetição das seções e coda (introdução – a[2x] – b[2x] – coda). Introdução: compassos 1 ao 5, seção “a”: 6 ao 26, “b”: 27 ao 42 e coda: 43 ao 46. - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr, (D)Tr, ºT e ºS com acordes alterados ou não e também resultantes do processo violonístico que convencionamos chamar de clichê de mão esquerda. Técnica - Explora a combinação dos processos técnicos de harpejo e escala em meio a ligados e também a várias mudanças de posição. O andamento “Allegro Assai”, indicado na partitura, torna o exercício desta peça um estudo de saltos praticamente. Apesar das indicações musicais colhidas em nossa pesquisa e que atenuam a severidade do pulso (ver comentários), o sentido melódico resultante somente se tornará uniforme com as trocas eficientes dos acordes e realização fluente dos ligados e harpejos. Paralelamente, o intérprete deve buscar também uma pequena liberdade de pulso e uma quase mudança de caráter entre os compassos 27 e 35, quando ao texto musical até então enérgico e decidido sobrevem um momento calmo, constituído a partir da variação do motivo principal. 227 Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 os seguintes acréscimos de próprio punho do compositor: indicação “meno” no compasso 27; e a indicação “a tempo” para o compasso 35. No contato com um exemplar desta peça do material da ex-aluna de Isaias Savio, Mariana Mendes, encontramos os seguintes acréscimos: indicação “Rubato” ao lado da indicação de andamento “Allegro Assai” logo no início da partitura; indicação “poco accel.” no compasso 23; indicação “meno” no compasso 27 e uma barra dupla no compasso 42 antes do segundo baixo “mi”, indicando a repetição da seção “b”. 120. Título: ROMANCETE. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1968. (10. 417). Álbum: COLEÇÃO DE OBRAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 2. Notas da Pesquisa: 1. Obra editada também em 1944 e 1952 pela mesma casa publicadora. 2. Álbum publicado também com o título COLEÇÃO DE PEÇAS DE PEQUENA DIFICULDADE/ Fasc. II – 6 peças, conforme as contracapas de outras peças pela mesma editora. Grupo: IIB/ n.º 99. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 32 compassos. Técnica - Apresenta uma constituição onde se alternam uma a uma as notas da melodia e do acompanhamento. O padrão que se observa no acompanhamento em diversos momentos (compassos 1 ao 8, 13 ao 16 e 21 ao 23), pelo uso da 3.ª corda solta alivia o trabalho da mão esquerda e permite maior independência na realização da 228 melodia. Isto favorece a fluência da música de maneira geral, mas exige cuidado para um desempenho equivalente nos demais momentos em que a mão esquerda participa pressionando as notas dos acordes. A proposta desta peça consiste, portanto, no destaque equilibrado da melodia de maneira a resultar um texto musical integralmente “bem cantado” e “sempre ligado”, como indica o compositor na partitura. A digitação no compasso 5 está provavelmente equivocada sendo o correto o uso do dedo 3 no baixo “dó”. Para um maior legato nos compassos 14 e 15 recomenda-se os dedos “4, 2, 2, 3, 2 e 1” para as seis notas da melodia. 121. [Título: ROMANZA EN LA MAYOR.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 122. Título: RONDÓ. Data: 1927. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3076). Álbum: 3 PEÇAS ORIGINAIS PARA VIOLÃO. Dedicatória: “a Nelson Cruz”. Nota da Pesquisa: Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 198 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: IB/ n.º 36. INCIPIT: Composição - Forma: rondó, como informa o título, mas com pouco rigor estrutural (ver “Comentários”). Técnica - Apresenta melodia contínua em meio a grande quantidade de pestanas nos acordes correspondentes à função harmônica de “D”, devido à tonalidade de Si menor. Este 229 é o único inconveniente no estabelecimento de um legato eficiente, condição importante no caso desta melodia cem por cento presente. É necessário, portanto, buscar-se alternativas de digitação que facilitem a execução e melhorem o resultado musical como a realização da nota “si” da melodia dos compassos 2, 13, 25, 26, 56 e 62 na 2.ª corda solta. Recomenda-se também rubatos principalmente antes das retomadas do motivo principal, tornando a peça mais interessante. Comentários Apesar do título não encontramos nesta peça grande rigor estrutural a ponto de defini-la como um rondó. Verificamos sim algumas retomadas do motivo inicial ao invés da repetição de toda uma seção, o que caracteriza neste Rondó uma organização interna cíclica do motivo em seção única. Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 198 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: bequadro para as notas “dó” dos compassos 18 ao 20, 35 e para a última nota “dó” do compasso 33; nota “si” no lugar da nota “lá” (2.ª maior acima) no primeiro acorde do compasso 36 e notas “si - dó# - ré mi” em semicolcheias nos segundos tempos dos compassos 53 e 65. O contexto harmônico no compasso 21 faz da nota “sol” um equívoco. A digitação proposta pelo autor para a mesma confirma o erro e indica a nota “ mi” como sendo a correta. 123. Título: RONDÓ (dois violões). Data: Rio de Janeiro, 1936. Edição: São Paulo, Ricordi, 1970. (br. 3192). Dedicatória: “Para o amigo E. Roberto Cruz”. Grupo: IB/ n.º 29. INCIPIT: 230 Composição - Forma: rondó com repetição de partes internas das seções e trio ao final (A – B[b2x – b’2x] – A – C[c – c’2x] – A’ – trio). Seção “A”: compassos 1 ao 16, “B”: 17 ao 32, “A”: 33 ao 48, “C”: 49 ao 88, “A’ ”: 89 ao 104 e trio: 105 ao 132. Técnica - Explora sobretudo escalas em contexto de semicolcheia. Este processo técnico, aliado à grande extensão da partitura e ao andamento “Alegro” indicado, conferem complexidade à execução da peça, somente amenizada em função da divisão do trabalho entre os dois violões. Cabe a cada violonista o destaque de fragmentos melódicos e o abrandamento de harpejos secundários. Apesar de predominar momentos temáticos no primeiro violão, os dois participam intensamente do discurso realizando inúmeros diálogos como podemos ver claramente na seção “c”. Portanto, além do exercício técnico em si, de mesma importância é a observação do papel de cada violão em cada momento, para que se possa respeitar a condição solista de um e de outro. Apenas poucos pontos da digitação comprometem a fluência geral. No primeiro violão a nota “si” do 2.º tempo do compasso 19 pode ser realizado na 2.ª corda e sua resolução, nota “dó”, na 3.ª corda com o dedo “3”. Entre as notas “sol” e “mi” do 1.º tempo do compasso 23 pode-se inserir um ligado. No segundo violão os compassos 27 e 31 se resolvem também com a inserção de ligados. Somente o salto entre a 5.ª e a 1.ª posição na passagem do compasso 117 ao 118 não tem solução pois não se dá por corda solta, devendo ser praticado separadamente. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 219 a seguinte alteração de próprio punho do compositor no primeiro violão: nota “fá” no lugar da nota “ré” (3.ª menor acima) no 1.º tempo do compasso 30. 124. Título: SARABANDA.. Data: 1950. Dedicatória: “A meu bom amigo e aluno Prof. Antonio Rebello.”. 231 Notas da Pesquisa: 1. Obra encontrada no acervo Ronoel Simões. Edição não identificada. Publicação em álbum antecedendo a peça Giga (68). 2. Obra publicada por Ricordi (s.d.), (br. 2170, álbum), conforme as contracapas de outras peças. Título do álbum: GIGA - SARABANDA. Grupo: IB/ n.º 30. INCIPIT: Composição - Forma: binária simples com repetição das seções (a[2x] – b[2x]). Seção “a”: compassos 1 ao 8 e “b”: 9 ao 16. Técnica - Apresenta melodia lenta em meio a blocos de acordes e melodias secundárias na linha do baixo, o que exige clareza e equilíbrio de sonoridade entre as vozes para tornar claro o papel das cadências como material estrutural em toda a peça e evidenciar a relação de complementaridade na seção “b”. O papel da harmonia é, portanto, imprescindível para o aspecto melódico, gerando a necessidade das intensidades maiores nas funções tensas e menores nas demais. A digitação proposta na melodia dos compassos 1, 4, 6, 9, 12 e 14 privilegia a 2.ª corda em momentos não óbvios, proporcionando uma sonoridade mais encorpada, mas, em compensação, gerando saltos que podem comprometer a unidade melódica da peça se não forem realizados com cuidado. Comentários Em gravação informal do autor interpretando esta peça percebemos várias antecipações de baixos, costume provavelmente herdado de Andrés Segovia, e também a realização dos trinados partindo da nota inferior, interpretação moderna de tal ornamento. 232 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE (álbum). Vide números 3, 33, 73, 75, 83 e 133. 125. Título: SERENATA CAMPERA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1944. (10. 538). Álbum: 4 PEÇAS TÍPICAS DO RIO DA PRATA. Dedicatória: “Al Dr. Manoel F. Costa Aguiar”. Grupo: IA/ n.º 2. INCIPIT: 125’. Título: SERENATA CAMPERA. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1959. (br. 2300 e RB 0340). Álbum (série): COLEÇÃO DE PEÇAS TÍPICAS RIOPLATENSES N.º 1. Nota da Pesquisa: Trata-se de uma outra versão da obra com correções na escrita e alterações musicais. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição da 2.ª seção e coda (a – b[2x] – a – coda). Seção “a”: compassos 1 ao 18, “b”: 23 ao 39, retorno à seção “a” indicado na partitura e coda: 40 ao 42. - Melodia: sinuosa e com grande ocorrência de saltos principalmente na seção “a”. 233 Técnica - Apresenta melodia combinada com appoggiaturas, arrastes e ligados em meio a saltos. O andamento lento indicado na partitura contribui para fundir estes processos técnicos num grande legato embora se perceba exigências específicas em cada parte. A seção “a” apresenta arrastes e saltos conseqüentes de uma maior exploração de tessitura e na seção “b” vemos pizzicatos e appoggiaturas. O intérprete deve tentar realizar com a mesma desenvoltura todos os fragmentos melódicos independente do contexto técnico-violonístico de cada, ligando-os da melhor maneira e adotando pequenos rubatos com o intuito de atender melhor a expressão “Cantando” empregada pelo compositor. Comentários Esta versão Ricordi, cujas principais correções e alterações musicais em relação à edição anterior (ver 125) foram comentadas em II.3.3., é a que se encontra provavelmente ainda em circulação. 126. Título: SERÕES (MODINHA). Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. Dedicatória: “a Oscar Bezerra da Rocha” . Grupo: IC/ n.º 43. INCIPIT: Composição - Forma: seção única com repetição e coda. Seção: compassos 1 ao 16 e coda: 17 ao 19. - Melodia: sinuosa e em fragmentos curtos. - Harmonia: abrange as 1.ª e 4.ª leis tonais com notas acrescentadas aos acordes. 234 Técnica - Apresenta melodia com arrastes, ligados, saltos e contrastes de tessitura. Esta diversidade técnica e o contexto musical da peça propõem a busca de uma sonoridade nítida e articulação legato para a uniformização da melodia. A digitação do compositor é a mais óbvia possível, no entanto é necessário empenho para se conseguir tornar a execução dos fragmentos melódicos que se encontram nos baixos entre os compassos 9 e 16 tão natural quanto a do início da peça em registro agudo. A dificuldade relativa do trecho citado provém das mudanças de posição em função da melodia que ocorre nas 4.ª, 5.ª e 6.ª cordas do instrumento. O intérprete pode realizar um estudo separado deste trecho, procurando fazer arrastes com mais naturalidade e menos ruidosos. Comentários Muitas são as características que confirmam nesta peça o gênero modinha. Das elencadas por Bruno Kiefer e Mário de Andrade em A Modinha e o Lundu e Ensaio sobre a música brasileira, respectivamente, coincidem os fragmentos melódicos curtos no geral, o início destes fragmentos em harpejos ascendentes, o compasso quaternário e a tendência descendente da melodia nos compassos 9 ao 16. A finalização desta peça de tonalidade menor em acorde maior está de acordo com a tendência do compositor em reproduzir a chamada “Terça da Picardia”, procedimento que confere “caráter mais decisivo” às finalizações 221. 127. 221 Título: SERTANEJA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1951. (10.777). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS PROGRESSIVAS - FASCÍCULO N.º 4. Grupo: IIB/ n.º 110. INCIPIT: SADIE, Stanley & LATHAM, Alison. op. cit., p. 941. Savio se utilizou deste recursos várias vezes, tanto em suas composições como em peças alheias que revisou e alterou, como é o caso do estudo em Mi menor de Dionisio Aguado citado em II.3.1. que, ao ser incluído no álbum didático Estudos para o 5.º ano de violão, idealizado e publicado pelo autor, passou a contar com uma coda de autoria deste cuja cadência final apresenta as funções harmônicas “T, D e +T” em tonalidade menor. 235 Composição - Forma: seção única de 48 compassos com subdivisão interna entre o motivo principal e suas variações, o que a torna semelhante à forma canção com codeta (a – b – codeta – a), sendo “a”: compassos 1 ao 9, “b”: 10 ao 42, codeta: 43 ao 48 e retorno ao “a” indicado na partitura. Técnica - Explora a melodia em função das variações do motivo inicial. O título desta peça e principalmente a seqüenciação do motivo e suas variações em torno de uma harmonia também repetitiva parecem indicar a intenção do compositor em fazer o violão imitar seu correspondente do campo, ou seja, a viola. Para a concretização deste efeito, o primeiro aspecto a ser observado na interpretação deve ser a constância, pela manutenção do andamento nas retomadas dos motivos variados, fazendo com que as diferentes combinações de harpejos e escalas rumo às funções harmônicas de “D” ou “T” soem uniformizadas. Também de papel relevante são as pequenas alterações em si que ocorrem no desenho dos fragmentos de escalas e harpejos de modo geral, na harmonia dos compassos 19, 20, 31, 38 e sobretudo na na codeta, esta com elementos musicais novos servindo como ligação entre a última variação e o motivo principal no início da peça. 128. [Título: SONATINA. (ALLEGRETTO, MINUET Y RONDÓ).] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 129. Título: SONHA IAIÁ. Data: <1949> ou <1950>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1955. (br. 1593 e RB - 0158). 236 Álbum: CENAS BRASILEIRAS 1.ª SÉRIE. Dedicatória: “a Ronoel Simões”. Nota da Pesquisa: Encontradas duas datas de composição anotadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. Grupo: IC/ n.º 41. INCIPIT: Composição - Gênero: toada baiana, segundo o dedicatário Ronoel Simões, reproduzindo as palavras do compositor222. - Forma: canção com repetição da 2.ª seção (a – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “b”: 18 ao 32 e retorno à seção “a” indicado na partitura. Técnica - Explora a melodia com considerável variedade rítmica em meio a arrastes e mudanças bruscas de posição. Esta peça abriga a contradição do gênero melancólico, dolente e arrastado, que é o da toada223, concordando com as indicações “Calmo e Lento” da partitura, com mudanças bruscas de posição e outros movimentos desconfortáveis em vários compassos e na passagem entre eles (exemplo: compassos 1 ao 2, 2 ao 3, no próprio compasso 2 etc.). Estes movimentos ocorrem em função do pouco uso de cordas soltas apesar da tonalidade violonística, Mi maior. Caberá então ao intérprete o estudo desta peça com atenção voltada especialmente à articulação, procurando um máximo de legato com um mínimo de tensão para que o resultado musical final reproduza as características do gênero em questão. 222 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. Ver verbete “Toada” em ANDRADE Mário de. Dicionário musical brasileiro. São Paulo, EDUSP, 1989. p. 518. 223 237 Comentários Ronoel Simões afirma que Savio viajava pelo Brasil com o intuito somente de se apresentar, mas normalmente tomava contato com a cultura dos locais visitados. Este foi o caso da viagem do compositor à Bahia, lugar em que pôde apreender o gênero em questão224. 130. [Título: SOUVENIR.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Distribuidor General Alberto Savio (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. SUÍTE DESCRITIVA (álbum). Vide números 2, 94 e 135. 131. Título: “TANGO BRASILEIRO”. Data: Rio de Janeiro, mar. 1939. Edição: São Paulo, Mangione, mai. 1943. (10.407). Dedicatória: “A meu caro amigo FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES”. Grupo: IC/ n.º 52. INCIPIT: Composição - Forma: semelhante ao rondó com coda, baseada na reexposição do motivo inicial como estribilho (a – b – a’ – c – a’ – coda). Seção “a”: compassos 1 ao 21, “b”: 22 ao 28, “a’ ”: 29 ao 32, “c”: 33 ao 48, “a’ ”: 49 e 50 e coda: 51 ao 60. Técnica - Explora a melodia virtuosisticamente, aproveitando as facilidades instrumentais propiciadas pela tonalidade de Lá menor. O virtuosismo em si é uma característica 224 Entrevista com Ronoel Simões em junho de 2000. 238 comum tanto no próprio gênero tango brasileiro como nos choros para violão de modo geral, presentes nestes em tonalidades onde há, normalmente, grande aproveitamento de cordas soltas nas elaborações dos harpejos de extensão em funções harmônicas como “T” ou “D”. Nesta peça estes momentos localizam-se, por exemplo, nos compassos 9, 12, 17, 18 e 57. Também é possível detectar conduções de baixos típicas dos choros (baixaria), como mostram os compassos 33 ao 48. Cabe ao intérprete, portanto, valorizar o aspecto técnico, realizando escalas e harpejos com desenvoltura e o musical, fazendo uso de rubatos em fragmentos melódicos mais elaborados ritmicamente e evidenciando a condução dos baixos no trecho citado e nas várias aparições do motivo principal, realizando nestes o característico acento na penúltima nota. 132. Título: TEMA VARIADO E FINAL. Data: 1927. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3076). Álbum: 3 PEÇAS ORIGINAIS PARA VIOLÃO. Dedicatória: “a Hans Wurmbauer”. Grupo: IB/ n.º 35. INCIPIT: Composição - Forma: tema e variações com seção distinta ao final (a[tema] – a1 – a2 – a3 – a4 – seção final). Seção “a”: compassos 1 ao 14, “a1”: 15 ao 28, “a2”: 29 ao 42, “a3”: 43 ao 54, “a4”: 55 ao 69 e seção final: 70 ao 94. - Melodia: ornamentada diferentemente em cada variação, proporcionando contrastes e interesse musical. - Harmonia: no tema e nas variações abrange as 1.ª e 3.ª leis tonais com as funções de T, S, D e (D)S. No movimento “Final” a elaboração harmônica vai até a 4.ª lei com as funções de T, S, D, Tr, (D)S, (D)Tr, (DD)Tr, (D)+S e +S. 239 Técnica - Apresenta processos técnicos distintos de acordo cada variação. Em “a1” vemos uma combinação de harpejos e escalas, “a2” exercita mudanças rápidas de posição em virtude das vozes paralelas em velocidade, “a3” propõe a realização de grupetos e ligados, “a4” apresenta ligados e glissandos, e o movimento conclusivo explora harpejos e escalas com ligados. De maneira geral deve-se buscar uma identificação entre o tema e as variações, salientando a origem comum através das inflexões geradas pela mesma harmonia ao mesmo tempo em que se ressalta contrastes técnico-violonísticos e musicais de andamento e caráter. A seqüência das variações sugere também a busca de um crescendo constante até a chegada do derradeiro movimento “Final”. Uma boa opção de estudo é tratar cada variação como peça autônoma, entregando todas a um trabalho lento e cauteloso para adequar as mãos aos diferentes processos técnicos que resultam tão próximos devido à pequena extensão das mesmas. Em “Final” a execução deve primar por fluência e dinâmicas mais intensas para um encerramento em grande estilo. Neste sentido poderão ser úteis outras opções de digitação como a adoção do dedo “3” para a nota “dó” do 2.º tempo do compasso 71 e para as notas “sol” dos compassos 78, 86 e 88 e cordas soltas para as notas correspondentes nos compassos 70, 72, 77, 79 e 83. Subtítulo: TERNURA. Vide número 113. 133. Título: TRÉMOLO. Data: <1928>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1969. (br. 3035). Álbum: 6 PEÇAS DE MEIA DIFICULDADE. Nota da Pesquisa: Data atribuída a partir de 83. Grupo: IIB/ n.º 115. INCIPIT: 240 Composição - Forma: seção única de 45 compassos. Técnica - Explora o processo técnico do trêmulo. Nesta fórmula de execução é necessário fluência, equilíbrio e independência para obtenção do efeito melódico e sua manutenção e manipulação no decorrer do texto musical. No caso desta peça as appoggiaturas harmônicas e as cadências de modo geral, principalmente as localizadas nos compassos 23 ao 30 e 32 ao 45 exigem grande destreza para o controle de intensidade e timbre, com os quais o intérprete irá dosar notas ou funções harmônicas tensas e suas resoluções. Há alguns deslocamentos incômodos e inevitáveis (exemplo: compassos 34 e 35) que devem ser praticados separadamente. É recomendável que a digitação proposta pelo autor para o último tempo do compasso 7 seja alterada, passando os dedos “4” e “1” a pressionarem as notas “sol# ” e “si# ” respectivamente, sendo esta última realizada na 2.ª corda. 3 ESTUDOS (álbum). Vide números 34, 35 e 36. 3 PEÇAS ORIGINAIS PARA VIOLÃO (álbum). Vide números 71, 122 e 132. 134. Título: 13 ESTUDOS ELEMENTARES. Data: Rio de Janeiro, fev. 1934. Op. 4. Edição: Rio de Janeiro, Arthur Napoleão, 1960. (AN - 672). Álbum: 13 ESTUDOS ELEMENTARES. Dedicatória: “A minha aluna JULIETTA CORRÊA ANTUNES”. Nota da Pesquisa: Obra publicada também com o número de opus “14”, conforme as contracapas de outras peças. Grupo: IIA/ n.º 68. INCIPIT: 241 Composição - Característica: obra constituída por treze pequenos estudos de nível técnicoviolonístico elementar cuja proposta do autor parece ser a formulação de uma tabela-resumo de clichês violonísticos e musicais ao mesmo tempo fáceis, distintos e comuns no repertório do instrumento. Pela pequena extensão destes estudos e por esta aparente finalidade de compêndio didático para o aluno iniciante os elencamos como uma obra só, analisando suas particularidades separadamente. 242 Forma de cada estudo: - N.º 1: frase de 8 compassos com repetição. - N.º 2: sentença com repetição. Antecedente: compassos 1 ao 8 e conseqüente: 9 ao 16. - N.º 3: sentença com repetição. Antecedente: compassos 1 ao 8 e conseqüente: 9 ao 16. - N.º 4: sentença com repetição. Antecedente: compassos 1 ao 8 e conseqüente: 9 ao 16. - N.º 5: frase de 12 compassos. - N.º 6: binária simples com repetição da 1.ª seção e posterior repetição integral (a[2x] – b). Seção “a”: compassos 1 ao 10 e “b”: 11 ao 20. - N.º 7: binária simples com repetição das seções (a[2x] – b[2x]). Seção “a”: compassos 1 ao 8 e “b”: 9 ao 16. - N.º 8: seção única de 16 compassos com repetição. - N.º 9: binária simples com repetição integral ([a – b]2x). Seção “a”: compassos 1 ao 8 e “b”: 9 ao 16. - N.º 10: binária simples com repetição da 2.ª seção (a – b[2x]). Seção “a”: compassos 1 ao 16 e “b”: 17 ao 24. - N.º 11: frase de 8 compassos com repetição. - N.º 12: seção única de 22 compassos com repetição. - N.º 13: binária simples com repetição integral ([a – b]2x). Seção “a”: compassos 1 ao 10 e “b”: 11 ao 20. Técnica - N.º 1: combina fragmentos escalares de três notas em semínimas com baixos em semibreves nos tempos fortes. A proposta didática aqui é o exercício básico de leitura e execução, considerando o violonista iniciante. - N.º 2: alterna fragmentos de harpejos e escalas em semínimas com baixos em mínimas pontuadas nos tempos fortes. A proposta deste estudo é a execução como aprendizado para o iniciante e também a caracterização da tonalidade relativa menor a partir do compasso 9. 243 - N.º 3: inverte a idéia musical dos dois estudos anteriores. Nos tempos fortes ocorre sempre o ataque isolado da nota melódica em registro agudo. Esta melodia é constituída quase que somente por mínimas pontuadas que se ligam do começo ao fim da peça, exigindo respeito absoluto às durações e permitindo a prática do toque apoiado. - N.º 4: combina escalas com harpejos em semínimas com baixos predominantemente em semibreves nos tempos fortes. Percebe-se neste estudo um sentido musical mais claro pela subdivisão interna em 4 motivos de 4 compassos cada. Para maior fluência recomenda-se uma pestana no compasso 10 e que as notas “lá - sol - lá” do mesmo sejam pressionadas pelos dedos “2 - 1 - 2”, respectivamente. A nota “dó#” do compasso seguinte, neste caso, passaria a ser alcançada pelo dedo “3”. - N.º 5: apresenta fórmula fixa de harpejo. Este estudo possui já um objetivo técnicoviolonístico claro, que é o de se conseguir fluência na execução do harpejo em semicolcheias de modo que as dificuldades neste não interfiram na interpretação. - N.º 6: explora o efeito do ritardo harmônico na melodia. A principal dificuldade técnica deste estudo consiste em manter a duração das notas melódicas dos contratempos e dos acordes dos tempos fortes em virtude dos deslocamentos desconfortáveis e aberturas resultantes. Algumas alterações na digitação podem ajudar, como por exemplo, dedos “4 - 3” para as notas “dó# - sol”, respectivamente, do compasso 4, dedos “4 - 2 - 3” para as notas “dó# - sib sol” do compasso 15, e dedos “4 - 2 - 3” para as notas “sol# - fá - ré” do compasso 18. - N.º 7: é constituído por harpejos em colcheias e fragmentos escalares com ligados ao final. Além de destacar a melodia, o intérprete deve buscar um contraste na sonoridade para diferenciar a seção “a”, em modo maior, da seção “b”, em menor. - N.º 8: composto sobretudo por terças e quartas melódicas paralelas em colcheias o que gera um pulsar repetitivo de mão direita, típico dos estudos de acordes. A proposta deste estudo é o exercício da sincronia de movimentos entre as 244 mãos de maneira geral e, principalmente, o da escuta e execução equilibrada das notas paralelas. - N.º 9: apresenta melodia acompanhada por harpejos irregulares, mas que devem soar uniformes, como pano de fundo. A mudança de modo para menor a partir do compasso 9, ao contrário, deve ser sutilmente evidenciada por uma execução mais leve, contribuindo para um contraste no caráter. Trata-se, portanto, de se destacar a melodia, padronizar o harpejo e diferenciar as seções, realizando a segunda com menor brilho e intensidade. - N.º 10: apresenta na seção “a” um harpejo para a mão direita que é quase uma fórmula fixa e na seção “b” uma idéia de contraponto entre baixo e melodia. A repetição do polegar é, no entanto, um processo violonístico comum nas duas seções, uniforme na primeira, ocorrendo de dois em dois toques e variado na segunda, com um, dois ou três toques. O violonista deve estar atento a esta proposta de exercício sem se descuidar do equilíbrio no diálogo que se estabelece entre a linha melódica resultante do baixo e a do registro agudo. - N.º 11: apresenta fragmentos escalares simultâneos e em movimento contrário na melodia e no baixo, em contexto rítmico de colcheia. A resultante ação conjunta de polegar com indicador e médio nos compassos 1, 3, 5, 6 e 7 é o obstáculo e ao mesmo tempo o exercício a ser praticado neste pequeno estudo. - N.º 12: estabelece diálogos entre melodia e baixo em contexto técnico de ligados. A meta neste estudo deve ser a realização uniformizada dos fragmentos melódicos tanto graves como agudos e dos ligados descendentes para reforçar a nitidez na comunicação entre as linhas melódicas resultantes. - N.º 13: a seção “a” separa em vozes bem definidas a melodia, em semibreves, do acompanhamento escalar em colcheias da linha do baixo, e a seção “b” retoma o processo de ação simultânea de polegar com indicador e médio do Estudo N.º 11 deste álbum. Este estudo traz, portanto, o exercício do polegar em toda a peça, do destaque e ligação das notas melódicas agudas nos compassos 1 ao 10, da simultaneidade no toque a partir do compasso 11 e alguns movimentos complexos nos compassos 16 ao 19, diversidade 245 que exige prática separada dos trechos citados para o completo domínio de cada e para a passagem de um ao outro. 135. Título: TRIUNFO DE ARLEQUIN. Data: <Buenos Aires, 1930>. Edição: São Paulo, Ricordi, 1968. (br. 2981). Álbum: SUÍTE DESCRITIVA.. Notas da Pesquisa: 1. Data e local de composição atribuídos a partir de 94. 2. Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor em exemplares do material de ex-alunos. Grupo: IB/ n.º 33. INCIPIT: Composição - Forma: livre, baseada na justaposição de trechos musicais desconexos. No entanto é possível notar a divisão da estrutura em duas partes. A primeira, compassos 1 ao 81, apresenta maior alternância de caráter, suspensão de movimento devido às muitas fermatas, tonalidade flutuante em torno do eixo Lá maior/menor e trechos harmônicos sem relação tonal. Na segunda parte, compassos 82 ao 158, vemos um texto musical pouco variado e ao mesmo tempo mais fluente e rápido, o que propicia um caráter mais conclusivo. - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Tr, Sr, SS, DD, (D)Tr, (D)Sr, (D)SS, ºT e ºS nos momentos de tonalidade definida (exemplo: compassos 1 ao 10, 36 ao 50 e 61 ao 158) e o processo violonístico que convencionamos chamar de clichê de mão esquerda, do qual resultam acordes elaborados e concatenados sem lógica tonal, somente em função do efeito descritivo da peça (exemplo: compassos 11 ao 35 e 51 ao 60). 246 Técnica - Explora distintos processos técnicos em concordância com a variação de caráter. Na primeira parte prevalecem acordes pulsados, ornamentos e escalas ascendentes e descendentes em trechos distintos justapostos, delimitados entre os compassos 1 e 8, 9 e 20, 21 e 35, 36 e 50, 51 e 60, 61 e 67, 68 e 73, 74 e 81. As várias indicações da partitura como “Andante” (com “Arlequim Misterioso”), “Allegretto”, “Allegro Vivo”, “Lento e Amoroso” etc., dão dicas do caráter de cada trecho, reforçando a distinção entre eles e a necessidade de uma interpretação diferenciada. O intérprete deve evidenciar também o contraste estrutural e musical entre as duas grandes partes, colocando maior energia na segunda, que se inicia no compasso 82. Nesta, praticamente não há variação de caráter e os procedimentos técnicos são menos variados também, limitando-se a notas e acordes pulsados com ligados ou não. O principal obstáculo passa a ser o andamento de semínima igual a 184, justamente uma das características que determinam o contraste com a parte anterior. Em virtude da extensão desta peça pode ser vantajoso ao violonista o estudo das partes em separado, buscando na primeira o caráter correto de cada trecho e na segunda a realização mecânica eficiente no andamento rápido indicado. Comentários Triunfo de Arlequin é uma peça de grande efeito em virtude de sua engenhosa arquitetura formal que propicia um aumento de tensão da primeira para a segunda parte. Ao que parece esta tensão crescente traduz as insinuações de Arlequim sobre Colombina e a posterior vitória do “amor clandestino”225. No contato com exemplares desta peça nos materiais das ex-alunas de Isaias Savio, Mariana Mendes e Maria José Passareli, encontramos as seguintes alterações de próprio punho do compositor: acréscimo de um compasso com o baixo “mi” (6.ª corda solta) em semínima e com o restante do compasso em pausa entre os compassos 57 e 58; acréscimo da indicação “poco rit.” no compasso 88 e acréscimo da dinâmica “f” nos compassos 89 e 124. 225 Ver “Prefácio” em SAVIO, Isaias. Suíte descritiva. São Paulo, Ricordi, 1968. 247 136. Título: UN CONTO CHARMANT. Data: ? Edição: São Paulo, Musicália, 1976. (MCM - 0184). Nota pesquisa: Obra publicada também por Ricordi, 1955. (br. 1816 e RB 0496). Álbum: 4 RECREAÇÕES. Nota da Pesquisa: Obra com alterações musicais realizadas pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: ID/ n.º 60. INCIPIT: Composição - Forma: seção única de 18 compassos com repetição. Técnica - Apresenta a contradição da melodia elaborada em contexto “Lento - Cantabile” de acordo com a indicação da partitura, mas com incômodas trocas de posição que podem comprometer esta suavidade sugerida. A meta deve ser, portanto, a boa realização dos saltos e trocas de posição como, por exemplo, a existente no compasso 5, ou então a adoção de outras opções de digitação para que se consiga maior unidade melódica. No caso do compasso citado, a alternativa pode ser a realização da nota “sol” da melodia na 1.ª corda com o dedo “1”, enquanto as outras notas do acompanhamento, “sol - mi - dó”, são pressionadas respectivamente com os dedos “2 - 4 - 3” nas mesmas cordas indicadas na partitura. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 as seguintes alterações de próprio punho do compositor: bequadro para a última nota “fá” do compasso 3 e bequadro para a última nota “mi” do compasso 10. 248 137. Título: VALSA LENTA. Data: ? Edição: São Paulo, Mangione, 1943. (10. 384). Álbum: COLEÇÃO DE PEÇAS FÁCEIS - FASCÍCULO N.º 1. Grupo: IIB/ n.º 106. INCIPIT: Composição - Forma: binária simples com repetição ([a – b]2x). Seção “a”: compassos 1 ao 16 e “b”: 17 ao 32. Técnica - Apresenta melodia transparente com acompanhamento discreto de acordes. Esta melodia, com somente a linha dos baixos acompanhando e/ou por vezes alguns acordes nos 2.º e 3.º tempos, exige, sobretudo, sonoridade limpa e encorpada para compensar a pouca densidade do texto musical. A proposta aqui é, portanto, a do destaque da melodia. A facilidade de se inserir o toque apoiado nesta peça é um indicativo da possível intenção do compositor do exercício proposital do mesmo. Seja qual for a opção para a evidência da melodia, se via apoio ou não, o intérprete deve estar atento às terminações de um modo geral, procurando deixar claras as cadências e conclusões nas duas seções. No compasso 25 a nota “ré” está erroneamente indicada para ser pressionada pelo dedo “2”. Neste caso o dedo “4” é o mais correto. 138. [Título: VALS.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 249 139. [Título: VALS ESTUDIOS.] Data: ? Nota da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 140. Título: VALS SCHERZO. Data: ? Edição: São Paulo, Ricordi, 1956. (br. 1809). Dedicatória: “ao Dr. José M. Moreno”. Nota da Pesquisa: Obra com alteração musical realizada pelo compositor como consta do álbum n.º 130 de seu antigo acervo, atualmente pertencente a Ronoel Simões. Grupo: IB/ n.º 38. INCIPIT: Composição - Forma: canção com repetição das 1.ª e 2.ª seções (a[2x] – b[2x] – a). Seção “a”: compassos 1 ao 28, “b”: 29 ao 64 e retorno à seção “a” indicado na partitura. - Harmonia: abrange até a 4.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Tr, (D)S, (D)Tr, (D)Sr, (D)Dr, ºD e ºTr. De maneira geral os encadeamentos nesta peça causam certa surpresa como é o caso da resolução direta da “ºTr” na “T” entre os compassos 12 e 13. Também importantes são os pedais harmônicos do baixo e as notas estranhas acrescentadas aos acordes. Técnica - Explora virtuosisticamente escalas e harpejos em função da melodia. Apesar de muitos saltos entre posições distintas, a combinação técnica citada resulta de fácil execução, pois vários ligados auxiliam o trabalho violonístico, combinando resoluções ou passagens em cordas soltas de maneira geral e principalmente nas 5.ª e 6.ª cordas afinadas em “sol” e “ré” respectivamente, permitindo grande agilidade. É justamente nesta facilidade na realização das escalas e harpejos que reside o perigo 250 da irregularidade na execução, pelos excessos que podem ser cometidos. Tanto a seção “a” quanto a “b” finalizam-se em escalas descendentes com ligados em meio a cordas soltas. Trechos como os compreendidos entre os compassos 5 e 7, 16 e 18 e 32 a 34 são convites a uma disparada. Evidentemente o contexto musical deste scherzo permite liberdade de pulso na interpretação, mas, antes de qualquer atitude neste sentido, é recomendável o exercício da peça em pulso regular a fim de se alcançar um controle por igual das passagens fáceis ou difíceis. O violonista deve levar em conta também o contraste a ser realizado entre as duas seções, executando a primeira com vigor de andamento e brilho e a segunda com maior uso de rubatos e respirações, além de uma sonoridade que traduza o “Dolce” indicado na partitura. Comentários Em consulta ao antigo acervo de Isaias Savio, encontramos no álbum n.º 130 a seguinte alteração de próprio punho do compositor: nota “lá” no lugar da nota “dó” (3.ª menor abaixo), no 2.º tempo do compasso 46. 141. [Título: VARIACIONES SOBRE UN MISMO TEMA.] Data: ? Notas da Pesquisa: Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. 142. Título: VARIACIONES SOBRE UN TEMA INFANTIL (A - RRO - RRO MI NIÑO). Data: Rio de Janeiro, jun. 1935, Op. 20. Dedicatória: “A mi Madre”. Notas da Pesquisa: 1. Obra encontrada no acervo Ronoel Simões. Edição não identificada. 2. Obra publicada por Romero y Fernandez (s.d.), Distribuidor General Alberto Savio (s.d.) e Diego Gracia y Cia. (s.d.), conforme as contracapas de outras peças. Título que consta das contracapas: VARIACIONES SOBRE UN MISMO TEMA. 3. Obra publicada ainda por Ricordi (s.d.), (rf. 7709). Títulos que constam das contracapas: VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA INFANTIL e VARIAÇÕES INFANTIS. Grupo: ID/ n.º 63. INCIPIT: 251 Composição - Forma: tema e variações (a[tema] – a1 – a2 – a3 – a4 – a5). Seção “a”: compassos 1 ao 16, “a1”: 17 ao 32, “a2: 33 ao 48, “a3”: 49 ao 64, “a4”: 65 ao 80 e “a5”: 81 ao 96. - Melodia: variada com simples ornamentações e/ou estruturas distintas, concentrando o contraste entre tema e variações e entre variações e proporcionando o interesse musical. - Harmonia: é o aspecto unificador da peça. Abrange até a 3.ª lei tonal com as funções de T, S, D, Sr e (D)Sr em “a”, “a1”, “a2” e “a5”, até a 4.ª lei com o acréscimo das funções de (D)Tr e ºS em “a3” e somente a 1.ª lei com as funções de T, S e D em “a4”, esta em modo menor. Técnica - Apresenta processos técnicos distintos de acordo com cada variação. Na apresentação do tema, a digitação da melodia na 2.ª corda em vários momentos proporciona uma execução truncada em benefício de uma sonoridade mais encorpada. As variações “a1” e “a2” com suas combinações de escalas, harpejos e ligados constituem uma primeira etapa nesta peça, pela crescente exigência técnica dentro de contextos melódicos e harmônicos ainda muito semelhantes aos do tema inicial. A variação “a3”, embora no mesmo esquema harmônico, representa o primeiro contraste pela exploração de acordes e harmônicos em andamento lento e pela indicação “Siempre con Ternura” para o trecho. As variações “a4”e “a5” retomam combinações técnicas e o andamento. Em “a4” predominam as escalas e harpejos no contrastante modo menor e em “a5”, novamente em modo maior, a novidade é o pizzicato, que resulta de difícil execução nos momentos em que os intervalos harmônicos entre a melodia principal e a paralela tornam necessário o uso das 1.ª e 3.ª cordas, impedindo o toque isolado do polegar. O uso do indicador 252 na voz aguda do pizzicato pode comprometer a uniformidade do timbre na variação se não for feito com cuidado. De maneira geral, o violonista deve valorizar o aspecto melódico em toda a peça, reproduzindo as inflexões harmônicas e fraseológicas do tema e assim reforçando a relação entre as partes. VARIAÇÕES DE GATO. Vide números 66 e 66’. 25 ESTUDOS MELÓDICOS (álbum). Vide números 37 ao 61. 253 IV.3. RELAÇÃO DAS CASAS PUBLICADORAS Esta terceira parte visa complementar o catálogo com a enumeração das composições segundo cada casa publicadora. Considerou-se somente as partituras reunidas atribuindo-lhes os mesmos números designados na primeira parte. 1. CASA ARTHUR NAPOLEÃO - SAMPAIO ARAÚJO & CIA. 28, 91 e 92. 2. CASA ROMERO Y FERNANDEZ 4 e 74. 3. DIEGO GRACIA Y CIA. 32, 86, 98, 100 e 101. 4. DISTRIBUIDOR GENERAL ALBERTO SAVIO 11, 12, 87 e 97. 5. IRMÃOS VITALE - CASA DEL VECCHIO 18. 6. MANGIONE & FILHOS 7, 8, 13, 16, 17, 19, 21, 22, 24, 26, 29, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 65, 66, 67, 72, 79, 81, 90, 95, 115, 120, 125, 127, 131 e 137. 7. MUSICÁLIA 12, 27, 30, 89 e 136. 254 8. REVISTA VIOLÃO E MESTRES 37 e 102. 9. RICORDI AMERICANA 12. 10. RICORDI BRASILEIRA 1, 2, 3, 4’, 10, 12, 19’, 20, 23, 25, 27, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 63, 66’, 69, 70, 71, 73, 75, 77, 82, 83, 88, 93, 94, 96, 102, 103, 104, 105, 112, 113, 117, 118, 119, 122, 123, 125’, 126, 129, 132, 133, 135, 136 e 140. 255 CONCLUSÃO Os dados que relacionamos na parte introdutória deste trabalho mostraram que se considera como certo, entre os historiadores, a presença de instrumentos de cordas dedilhadas desde os primórdios da história brasileira na catequese do índio, e, para nosso maior interesse, no acompanhamento de gêneros musicais populares cultivados pelos colonizadores. Vimos também que é dada como certa a grande disseminação destes instrumentos, e, da mesma forma, a predominância da viola no campo, inicialmente, e do violão na cidade, posteriormente, quando do acirramento do processo de urbanização. Tivemos o cuidado de, em meio a opiniões às vezes conflitantes entre os autores de cujas obras nos servimos, mostrar a possibilidade do cultivo contínuo da viola em gêneros populares no período colonial e depois do violão como acompanhante de modinhas para contextualizar o meio violonístico popular paulistano e assim dissertar sobre a evolução de uma linha paralela erudita do instrumento, fortemente ligada em seu início a essa tradição popular. Sobre São Paulo, vimos descrita a evolução da cidade de ares coloniais à metrópole, do já enraizado costume do cultivo da viola e do violão em serenatas à instituição gradual de uma ambiente musical mais sólido. A mudança foi devida, primeiro, à interferência, embora amadora, dos estudantes da Academia de Direito, fundada na cidade em 1828, e depois ao desenvolvimento conseqüente da cidade a partir da segunda metade do século e principalmente com o surto de imigração em função da atividade cafeeira. Na São Paulo de fins de século XIX, um centro já estabelecido e com um considerável movimento musical: casas de comércio no ramo, professores habilitados, associações, concertos etc., a imigração italiana proporcionaria o surgimento do violonista Américo Jacomino (Canhoto), que se tornaria muito divulgado por seu modo de tocar gêneros e músicas conhecidas e por suas composições ao gosto romântico da época . Este início do cultivo erudito do violão se caracterizaria principalmente pela forma solística de se tocar gêneros em voga ou composições inspiradas nos mesmos. 256 Muito gradualmente, com outros nomes em atividade no meio paulistano, esta prática passaria a englobar também um repertório transcrito e escrito originalmente para o instrumento, principalmente por violonistas compositores europeus. Com a visita dos virtuoses estrangeiros Rosefina Robledo e Agustin Barrios, tanto o repertório de compositores europeus quanto a técnica na execução do mesmo proporcionam referências novas aos violonistas locais. Paralelamente também toma impulso o ensino do violão erudito. Aos métodos de violonistas estrangeiros como Francesco Molino, Mateo Carcassi e Dionisio Aguado somam-se os elaborados por Attílio Bernardini e Osvaldo Soares, indicando a existência de um meio violonístico mínimo que os justificasse. Temos, a partir de então, um cenário propício à vinda de outros virtuoses como Juan Rodriguez (1927), Regino Sanz de la Maza (1927), Agustin Barrios novamente (1929), e, mais tarde, o principal violonista da época, Andrés Segovia (1937), atestando novamente o movimento violonístico em crescimento. É neste contexto que surge Isaias Savio. Este movimento violonístico erudito em andamento, envolvendo já questões mercadológicas através de pequenos círculos de produção e consumo de instrumentos, métodos e partituras, bem como através das atividades didáticas levadas a frente por alguns professores isolados, passaria a contar com um sistematizador do ensino, incentivador, músico eclético e idealista. Possuindo sólida formação musical, Isaias Savio foi promovendo uma escola violonística à medida em que tomava contato com o país. Como vimos na parte dedicada à sua metodologia, Savio soube entender as necessidades do nascente violão erudito de raízes populares, promovendo uma avalanche de material didático ao lado de publicações de cunho popular, dosando assim o gosto dos violonistas e despertando o interesse nos demais. Por esta inteligente conciliação, cuja estratégia consistiu na gradual adaptação da escola européia à realidade brasileira, fundindo princípios técnicos da escola de violão de Francisco Tárrega com um repertório de características nacionais em transcrições, composições e, em menor proporção, nos métodos, ao mesmo tempo em que publicava nestes peças de autores eruditos conhecidos e desconhecidos, visando divulgar o repertório formal e valorizar a alta performance violonística, somos levados à conclusão de que Isaiás Savio foi o maior sistematizador do ensino de violão no país. 257 O momento da chegada de Isaias Savio a São Paulo foi propício à empreitada a que se sujeitou. Embora não fosse um artista do rádio, ainda que tivesse contato através de programas no mesmo, Savio conseguiu chamar a atenção por suas qualidades de intérprete e, logo mais, como professor, estreitando seus laços junto a instituições de ensino, editoras e fábricas de violão. O círculo de produção e consumo de bens e serviços proveniente do movimento violonístico erudito paulistano passou então a transitar em torno do nome de Isaias Savio, idealizador e professor do então primeiro curso oficial de violão do país, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, e a desenvolver-se com mais intensidade, como prova o bom relacionamento do compositor para com a fábrica de violões Del Vecchio e com as editoras de modo geral, e, em especial, com a fábrica de violões Giannini e com a Editora Ricordi. A Giannini reconheceu a relação direta de Savio no aumento de produção da empresa, que registrou a média por mês de três mil e oitocentos violões, na década de quarenta, e, sessenta e oito mil, na década de cinqüenta, dedicando-lhe, como vimos, um modelo de violão com seu nome e uma revista especializada, que alcançou nove números. A Ricordi concentrou, a partir de um determinado momento, as publicações didáticas do compositor e também muitas transcrições e composições. Portanto, a estratégia metodológica do compositor adotada desde o momento propício de sua chegada e, por conseqüência disto, o grande aumento de produção e vendas de intrumentos e partituras, sugerem que Isaias Savio tenha se tornado a figura principal do violão erudito no Brasil, em torno do qual giravam as questões econômicas relativas à produção do instrumento e à produção e impressão de música voltada ao respectivo movimento violonístico. A segunda parte da dissertação é aquela em que passamos a tratar do compositor Isaias Savio e de suas composições. Não foi nosso objetivo em nenhum momento julgar o compositor e sim apontar possíveis influências em sua formação, comentar suas possíveis intenções e, principalmente, mostrar nosso ponto de vista quanto à classificação, análise e interpretação de suas composições. Refazendo os principais pontos de nossa reflexão a respeito do compositor e da obra, comecemos por dizer que identificamos em suas músicas características musicais originárias de uma suposta prática do piano e do violoncelo pelo compositor no início de 258 seus estudos musicais, o que contribuiria, respectivamente, com o despertar do seu gosto eclético e com um ideal sonoro encorpado e aveludado, características futuramente incorporadas em seus processos de digitação e de composição. Apontamos a questão da fixação de Savio em três países: Uruguai, sua terra natal, Argentina e por último, Brasil, e a retratação da cultura destes países em suas composições. Apontamos também o contato direto com importantes violonistas compositores como Agustin Barrios e Miguel Llobet, e também a predileção pela obra de Francisco Tárrega. De Llobet e Tárrega aludimos o aproveitamento, em estilo de salão, da estética pianística de miniaturas de Schumann e Chopin, procedimento também presente em Savio. Chamamos a atenção também à referência que constituíram Miguel Llobet e Andrés Segovia pelas digitações em posições normalmente avançadas, que empregavam em suas transcrições, resultando uma sonoridade encorpada e aveludada. Esta conduta teria sido adotada por Savio ou reforçado seus processos de digitação e composição de busca já semelhante, devido à referência que teria proporcionado o estudo do violoncelo. A relação que estabelecemos entre Isaias Savio e Agustin Barrios, na época amigos, ocorreu em função da variedade estilística parecida entre suas composições. Como vimos, Barrios fez uso de processos musicais barrocos, românticos e nacionalistas paraguaios, além de, coincidentemente, transcrever músicas dos compositores românticos Schumann e Chopin e adotar títulos denominativos de gêneros ou não, posteriormente utilizados por Savio. Na opinião do professor Antonio Guedes, além do mesmo parecer sobre as semelhanças estilísticas entre as obras de Barrios e Savio, neste, o processo de criação refletia também uma atitude de auto afirmação, segundo suas próprias palavras: “de que sabia compor em qualquer estilo”226. Ao nosso entender, isto explicaria a variedade das composições por força de um desafio tomado no ato de compor, no entanto, sem necessariamente estabelecer ligações com a formação e principalmente com a personalidade artística intrínseca do compositor. Porém, entendemos também que esta 226 Entrevista com Antonio Guedes em agosto de 2000 (via internet). 259 atitude asseguraria em Isaias Savio uma postura positiva diante da composição, revelando sua intenção em ser um compositor eficiente. As alterações pós-edição de Isaias Savio em várias peças confirmam a intenção do compositor também para com a atualização destas em relação à evolução de seu pensamento musical, e, indiretamente, para com a eficiência do produto final. Como já analisamos, estas alterações acarretam melhorias técnico-violonísticas e musicais, resultando composições mais bem resolvidas. Todas as considerações acima e também o fato do compositor tocar obras próprias em recitais de grande responsabilidade reforçam sua intenção artística ao compor, independente de quais elementos musicais se utilizava. Não poderíamos deixar de avaliar também a óbvia relação entre o monumental trabalho didático de Savio e suas composições. Como dissemos ao tratar deste assunto, Savio estava sempre em contato com obras dos mais variados compositores, fazendo arranjos, transcrevendo, ou simplesmente revisando, atividade da qual resultou um número de publicações três vezes maior que o de suas composições. Entendemos que esta relação entre didática e composição possa ter acontecido de duas formas: considerando a decisão do compositor em utilizar-se de linguagens e gêneros diversos como um recurso didático, ensinando-os na prática em suas próprias obras; e/ou considerando a possibilidade do compositor identificar-se com determinados elementos e processos musicais e depois querer reproduzi-los independente de um objetivo didático, ou seja, refletindo, via processo natural de influência, as características musicais com as quais convivia diariamente. Nada impediria também que o compositor, por gosto, optasse por usar procedimentos musicais de épocas e lugares variados em algumas peças e depois fizesse uso didático das mesmas, ou então que ele conciliasse propositadamente o gosto por este tipo de composição e o uso didático intencional. De qualquer forma é oportuno lembrar que uma intenção didática não invalida uma proposta musical em absoluto, como provam os estudos de Chopin e os do próprio Villa-Lobos para violão. E com respeito a isto é oportuno recordar também que a relação entre didática e composição em Isaias Savio tem um significado especificamente técnico-instrumental no segundo grupo de peças, denominado justamente “Peças Didáticas”. Nestas peças, cujo diferencial para a instituição do grupo foi a proposta 260 didática de exercícios violonísticos e/ou técnico-musicais, considerando nestes os exercícios de separação de planos sonoros, evidência da melodia etc., encontramos exemplos de grande interesse musical. Com base nas considerações acima e nas análises de vários casos que comprovam a relação entre didática e composição em Isaias Savio de forma a caracterizar uma influência natural, como por exemplo o da peça Matintapereira, de Waldemar Henrique, que foi transcrita, tocada, gravada domesticamente por Savio e depois aproveitada na composição de seu Prelúdio Pitoresco “Amanhecendo”, concluímos que Savio certamente se influenciou com o repertório variado com que trabalhou, reproduzindo certas características deste em suas composições com intenção primeiramente musical, podendo utilizá-las posteriormente para fins também didáticos. A influência provinda dos violonistas compositores Agustin Barrios, Miguel Llobet e Francisco Tárrega e, através destes, dos românticos Schumann e Chopin, está implícita neste trabalho de Savio com o repertório diversificado que revisou e transcreveu, salvo outras influências que supostamente possam ter ocorrido em seu contato direto com Llobet e Barrios. Talvez estas outras influências tenham significado um impulso inicial ou um reforço à tendência depois consolidada na obra do compositor. De pleno acordo com a terceira conclusão e com o constatado em análises está o grupo denominado “Peças Didáticas”, que, apresentando igualmente em algumas peças características musicais provindas do trabalho de Savio com composições alheias, possui também exemplos de grande interesse musical como dissemos, inclusive correspondente ou até mesmo superior ao de algumas obras do grupo “Peças de Repertório”, embora percebamos também, no subgrupo “Miscelânea”, uma exploração menor dos elementos musicais “harmonia” e “forma”, em função do público alvo iniciante deste. Mesmo assim, as despretensiosas peças deste subgrupo mantêm um considerável interesse musical, tal como ocorre muitas vezes no repertório dos maiores compositores em que a pequena peça faz a síntese musical da grande obra. Como mencionamos no corpo da dissertação, além das características variadas apontadas via análises, que nos fizeram discorrer sobre as influências sofridas pelo compositor e propor a organização e classificação de suas composições em dois grupos e seis subgrupos, encontramos algumas comuns a um grande número das peças. 261 Em relação aos aspectos da técnica instrumental, a característica predominante é a funcionalidade violonística das composições, resultante do uso adequado que o compositor faz tanto dos processos técnicos comuns no repertório do instrumento, como o da divisão de planos entre melodia, acompanhamento e baixo, como de seus processos específicos ao digitar e compor, neste caso resultando aspectos musicais derivados da essência do instrumento. Esta funcionalidade se traduz numa naturalidade de execução que é própria da escrita violonística de quem conhece todos os segredos técnicos do instrumento. Como vimos no corpo da dissertação, os casos de entraves técnicos ocorrem normalmente em virtude de propostas musicais ou efeitos muito específicos e são perfeitamente executáveis considerando em média pequenos planejamentos de estudos mecânicos. Com relação aos aspectos musicais, o processo mais comum é o que definimos como “melodia fácil”, entendendo: contornos melódicos descomplicados, de clara direcionalidade tonal e fácil memorização, servindo quase sempre como referência básica para a condução da interpretação, ou então como importante elemento de ligação quando em papel secundário ou de constituição incerta, resultante da combinação instrumental de escalas, harpejos e acordes. Vimos, por exemplo, que nos Prelúdios Pitorescos, a melodia desempenha um importante papel para a manutenção do movimento interno e do interesse musical das peças, realizando não só seu papel melódico de condução, mas também ligações entre acordes sem interação tonal em diversos momentos. Podemos apontar também, embora ocorrendo numa freqüência um pouco menor, a harmonia de alcance relativo à 3.ª lei tonal (segundo a teoria da harmonia funcional), e a forma canção (a – b – a), ambas reveladoras de uma certa simplicidade em boa parte das peças do compositor. Vejamos este quadro comparativo da ocorrência deste dois aspectos musicais, considerando a divisão das cento e quinze composições nos dois grandes grupos: 262 Grupo Harmonia até 3.ª lei tonal Forma canção (a – b – a) 38 peças 20 peças 37 peças 22 peças I – Peças de Repertório (63 peças) II – Peças Didáticas (52 peças) Embora possamos notar uma proporção maior dos elementos musicais simples no grupo de peças didáticas, fato cuja razão já atribuímos ao subgrupo “Miscelânea”, é visível a considerável ocorrência dos mesmos nas peças de repertório. Tanto o procedimento melódico comentado anteriormente quanto os procedimentos harmônico e formal postos em tabela são muito comuns também na música popular brasileira de modo geral, embora no caso da “harmonia”, gêneros como o “choro” e a “bossa-nova” excedam muitas vezes o alcance harmônico relativo à 3.ª lei tonal, o que aliás ocorre em várias outras peças de Isaias Savio. Portanto, adotando estes três aspectos musicais como parâmetros, podemos embasar melhor ao que chamamos, no corpo da dissertação, traço popular na obra do compositor, cuja principal conseqüência é atenuar sutilmente a comentada diversidade estilística por conferir uma certa homogeneidade ao acabamento das peças. Estas características em Savio podem ter relação com o próprio hibridismo em que vivia o compositor, exercitando ao mesmo tempo gêneros eruditos e populares em arranjos e composições. Suas peças Choro n.º 2 e Tango Brasileiro são bons exemplos disto pela apropriação de gêneros instrumentais urbanos brasileiros. Outro dado importante é o que nos fornece o professor Antonio Guedes. Segundo este ex-aluno Savio “era muito bom em acompanhar (canções) de ouvido”227, o que representa outro aspecto do envolvimento do compositor com a prática popular, desta vez pelo processo intuitivo do acompanhamento do canto ao violão. Partindo das análises que comprovaram nas composições de Isaias Savio uma ocorrência significativa de procedimentos musicais coincidentes com os da música popular brasileira; considerando todos os contatos do compositor com o repertório popular não somente violonístico de sua época, através de seu trabalho com arranjos e 263 transcrições; e considerando também seu contato direto com diversos nomes da música popular, ligados ou não ao violão, como Pixinguinha, Dilermando Reis, Aníbal Augusto Sardinha (Garoto) e Paulinho Nogueira, somos levados à conclusão de que Isaias Savio exercitou o repertório popular profissionalmente como didata e informalmente como acompanhador, tomando gosto pelo processo intuitivo do violão de tradição popular e deixando-se influenciar em suas composições, quer de forma indireta, permitindo traços populares, quer de forma direta, fazendo uso de gêneros urbanos. Resta-nos ainda avaliar as possíveis marcas do movimento nacionalista brasileiro em Isaias Savio. As análises apontam as características musicais nacionais como as mais claramente presentes nas composições de Savio, embora num grupo não muito grande de peças. Vale lembrar que, independente do movimento, o violão erudito, no Brasil, guardaria sempre ligações com estes elementos musicais nacionais em virtude de sua origem primeira, e da mesma forma, Savio, em suas viagens pelo país, teria tido contato direto com diversas manifestações folclóricas. Partindo destas ressalvas e voltando às evidências constatadas em análise, veremos que, ainda assim, o movimento modernista teria de alguma forma propiciado inicialmente em Isaias Savio a influência do Impressionimo de Debussy, linguagem a que recorreu também o compositor Villa-lobos, como vimos, na década anterior à da Semana de Arte Moderna, como forma de romper com o romantismo reinante na escrita erudita. Posteriormente, na música do violonista, esta influência significaria o reforço para a presença de inúmeros procedimentos folclóricos brasileiros. Mais do que as influências diretamente musicais que significaram o movimento, já que, como vimos, existiriam outros meios de apreensão das características musicais nacionais pelo compositor, parece ter sido a marca pessoal a grande conquista. Através dos reflexos do movimento, Isaias Savio teria encontrado sua personalidade própria, cuja produção conseqüente, acreditamos que, não por coincidência, seria justamente a mais gravada por diversos violonistas e também a que conservaria o resquício da memória de seu nome como compositor. Percebemos este comportamento distinto do compositor não só nas peças “nacionalistas”, mas também, ou talvez, principalmente, “impressionistas”, como se estas pertencessem a outro compositor. 227 Entrevista com Antonio Guedes em agosto de 2000 (via internet). nas anteriores 264 Na parte dedicada exclusivamente às peças “impressionistas”, ou seja, aos seis Prelúdios Pitorescos, vimos detalhadamente o processo composicional distinto de Savio baseado na movimentação de digitações fixas para a melodia e para a harmonia, pelo que o dividimos e definimos como “Paralelismo Melódico” e “Clichê de Mão Esquerda”. Estes processos, nas mãos do compositor, propiciaram, juntamente com outros elementos musicais também incomuns no repertório, como cromatismos e até uma quase série dodecafônica, textos musicais suspensivos, sem pólos atrativos, onde os acordes provenientes dos processos específicos do compositor e mesmo os de processos tonais resultam sem interação tonal, ficando soltos cada um à espera dos seguimentos melódicos, que os ligarão a outros acordes ou combinações técnicas. E mesmo quando estabelecem-se cadências, estas, muitas vezes, caminham sem direção por diversos eixos tonais em supostas modulações passageiras. Nas peças “nacionalistas”, sendo nove nos álbuns Cenas Brasileiras 1.º e 2.º volumes e uma isolada de título Cenas Brasileiras, mas conhecida pelo subtítulo “Improvisos”, encontramos, como já mencionamos e verificamos em análises, outra arquitetura composicional, agora baseada em princípios musicais coincidentes com vários dos transcritos no Ensaio sobre a música brasileira, de Mário de Andrade. Estes princípios musicais são: notas repetitivas, frases descendentes, curtas, sinuosas; finalização melódica em outras notas além da tônica; processos que lembram diálogos entre coro e solista de gêneros musicais nordestinos; modo mixolídio; e forma livre, baseada em variação e improvisação. Por todas as evidências musicais constatadas nas análises das peças assim ditas “impressionistas” e “nacionalistas”, cujo teor revela relações com os elementos musicais próprios da tomada de uma nova diretriz pela música brasileira e considerando o relativo sucesso destas respectivas composições pelas inúmeras gravações que tiveram e que as tornaram referências mais conhecidas das composições de Savio, podemos dizer que o compositor acompanhou o momento musical do seu tempo, reproduzindo em sua música caracteres tanto provenientes de sua convivência em São Paulo, com o repertório de outros países executados na cidade, quanto resultantes das tendências locais eruditas e populares. Até meados do século XX, muitos professores estrangeiros se radicaram em São Paulo e foram responsáveis por escolas de seus respectivos instrumentos, fato que não 265 foi por nós aludido, mas de fácil constatação empírica. Logo, Isaias Savio também mereceria espaço maior nos estudos musicais brasileiros pelo fato de, como tantos outros, ter contribuído para a formação de uma escola de violão. No entanto, a participação do violonista uruguaio, que se radicou entre nós, foi além, pois deixou marcas profundas no repertório, bem como na divulgação do instrumento. O compositor de Caixinha de Música legou-nos uma obra extensa e variada, digna de integrar qualquer programa de recital. Com o intuito de reforçar o interesse que apontamos para o repertório analisado, idealizamos a gravação de um CD não comercial como parte do projeto de pesquisa. Este CD contém vinte e quatro peças representando os grupos e seus subgrupos, de acordo com a classificação por nós realizada. Esperamos, com este CD, que nosso trabalho, em última análise de natureza sonora, possa estimular o estudo das composições estudadas e a continuação da pesquisa em torno do mesmo tema. Vários são os aspectos a serem desenvolvidos em trabalhos futuros. Na reconstituição histórica, a partir de outros dados a serem procurados nos arquivos do Conservatório Dramático e Musical e no Museu da Imagem e do Som, de São Paulo; e em relação ao aspecto eminentemente musical, através de consultas aos arquivos das editoras com as quais trabalhou o compositor e no quase inesgotável arquivo particular de Ronoel Simões. Neste sentido, novas dissertações ou teses complementariam a compreensão e o catálogo da obra de Isaias Savio com partituras desconhecidas do autor. Também na questão musical, considerando uma abordagem mais ampla do violão brasileiro muito se poderá fazer para o melhor entendimento do aspecto híbrido popularerudito do instrumento, adotando semelhante abordagem analítica do objeto musical ao invés de simples considerações textuais a respeito de gêneros, estilos e linguagens. Se nossa dissertação contribui em vários aspectos, ao mesmo tempo não encerra assunto algum. Com respeito ao nosso tema específico de pesquisa temos toda a convicção de que há muito o que se estudar na obra como um todo do professor, violonista e compositor, Isaias Savio. 266 BIBLIOGRAFIA 1. Livros ALMEIDA, Renato. História da música brasileira. Rio de Janeiro, F. Briguiet & Comp., 1926. 238 p. IDEM. História da música brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro, F. Briguiet & Comp., 1942. 520p. ALVARENGA, Oneyda. Música popular brasileira. Rio de Janeiro, Globo, 1960. 330 p. ANDRADE, Mário de. Aspectos da música brasileira. São Paulo, Martins, 1965. 246 p. IDEM. Dicionário musical brasileiro. Coord. De Oneyda Alvarenga e Flávia Camargo Toni. Belo Horizonte, Itatiaia; Brasília, Ministério da Cultura; São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, EDUSP, 1989. 701 p. IDEM. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins, 1962. 188 p. IDEM. Pequena história da música. 9. ed. Belo Horizonte, Itatiaia, 1987. 230 p. AZPIAZU, Jose de. La guitarra y los guitarristas. 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