Introdução ao Controlo Numérico Computorizado – II Referenciais e Trajectórias João Manuel R. S. Tavares Joaquim Oliveira Fonseca Eixos de coordenadas em CN Introdução As ferramentas de uma máquina CNC podem realizar certos movimentos conforme o tipo de máquina. Num torno, estes movimentos compõem-se em movimento (paralelo à árvore) longitudinal (Z) e movimento transversal (X – raio/diâmetro). Numa fresadora, existe outro movimento adicionado a esses movimentos fundamentais, chamado movimento transversal secundário (Y). Para controlar a ferramenta de forma precisa durante estes movimentos, todos os pontos dentro da área de trabalho da máquina devem permitir uma definição clara e universalmente compreensível. Os sistemas de coordenadas usam-se com este propósito, proporcionando uma referenciação ao programador durante o desenvolvimento dos seus programas. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 2 Eixos de coordenadas em CN Introdução Mov. vertical Mov. transversal Movimento longitudinal Mov. logitudinal Movimento transversal Movimentos associados ao torneamento. 2012@JST/JOF Movimentos associados à fresagem. CFAC: Introdução ao CNC - II 3 Eixos de coordenadas em CN Sistemas de coordenadas de dois eixos Um sistema de coordenadas com dois eixos permite uma descrição/definição precisa de todos os pontos (vértices, centros de círculos, etc.) no desenho de uma peça nesse plano. Normalmente, a geometria de uma peça descreve-se de maneira precisa mediante o seu desenho e as suas dimensões. Se localizarmos a peça de forma criteriosa, num sistema de coordenadas, a forma da peça fica descrita determinando a posição dos pontos em que há alteração da trajetória. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 4 Eixos de coordenadas em CN Sistemas de coordenadas de três eixos Para ser possível representar “peças 3-D” é necessário um sistema de coordenadas com três eixos. Os eixos de coordenadas são designados pela “regra da mão direita” (referencial direto). 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 5 Eixos de coordenadas em CN Sistema de coordenadas máquina A maquinagem de uma peça mediante um programa de CN requer a aplicação de um sistema de coordenadas à máquina ferramenta. Quando se programa, deve-se assumir que a peça está estacionária e que a ferramenta se move no sistema de coordenadas. Tal possibilita que o controlo da ferramenta de trabalho seja claro e universalmente aceite, fixando as coordenadas correspondentes. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 6 Eixos de coordenadas em CN Ângulo de rotação e coordenadas polares Algumas operações de maquinagem requerem a programação de ângulos de rotação sobre um ou vários eixos coordenados. A rotação sobre os eixos de coordenadas identifica-se pelos ângulos de rotação de endereço A, B e C. A direção de rotação será negativa (-) quando a rotação é no sentido horário, observada do lado positivo do eixo que não está no plano de interpolação (ou aplicar a regra da mão direita). 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 7 Eixos de coordenadas em CN Ângulo de rotação e coordenadas polares Os ângulos de rotação podem ser utilizados, por exemplo, para programar em coordenadas polares. Os ângulos das coordenadas polares identificam-se por A, B e C; esta designação deriva da “regra da mão direita”. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 8 Eixos de coordenadas em CN Pontos significativos na programação de CN Nas máquinas-ferramenta CNC, as trajetórias estão controladas mediante sistemas de coordenadas. As posições precisas das ferramentas e das peças, dentro da máquina-ferramenta, estabelecem-se a partir dos pontos de origem (máquina/peça). Além destas origens de coordenadas, as máquinasferramenta CNC dispõem de um certo número de pontos de referência de tal forma que possibilitam o funcionamento e a programação dos movimentos entre todos eles. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 9 Eixos de coordenadas em CN Pontos significativos na programação de CN Pontos de origem: Origem da Máquina – M; Origem da peça – W. Pontos de referência: Ponto de Referência da máquina – R; Pontos de referência da ferramenta – E e N. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 10 Eixos de coordenadas em CN Origem máquina O ponto zero da máquina M está estabelecido pelo fabricante da mesma. É a origem do sistema de coordenadas da máquina e é o ponto de início para todos os outros sistemas de coordenadas e pontos de referência da máquina. Posição da origem máquina em tornos de CN (neste caso, o Z = 0 coincide com um ponto da bucha). 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 11 Eixos de coordenadas em CN Origem máquina origem máquina FRESADORA TORNO VERTICAL FRESADORA A posição da origem em máquinas de CN varia de fabricante para fabricante e do tipo de máquina. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 12 Eixos de coordenadas em CN Pontos de referência O ponto de referência de máquina R, serve para calibrar e para controlar o sistema de medição dos deslocamentos das mesas/carros e os cursos das ferramentas. A posição do ponto de referência R está predeterminada, com precisão, em cada um dos eixos de deslocamento. Desta forma, as coordenadas deste ponto de referência são sempre as mesmas e o seu valor numérico, relativamente ao zero máquina é, também, conhecido com precisão. Importante: Depois de inicializar o sistema de controlo é sempre necessário levar a máquina ao ponto de referência R, em todos os seus eixos, com o intuito de calibrar o sistema de medição dos deslocamentos. Se os dados de posição das mesas/carros e das ferramentas são perdidos, por exemplo, devido a uma falha elétrica, a máquina-ferramenta tem que voltar a posicionar-se neste ponto de referência para voltar a estabelecer os valores corretos da posição. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 13 Eixos de coordenadas em CN Pontos de referência (exemplos) Z Ponto de referência R Y X Ponto de referência R Ponto de referência num torno. Ponto de referência numa fresadora. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 14 Eixos de coordenadas em CN Origem peça O ponto de origem peça W, determina a posição do sistema de coordenadas da peça em relação à origem máquina. A origem de coordenadas da peça é escolhido pelo operador e introduz-se no sistema CNC na fase de preparação da máquina para o trabalho. 2012@JST/JOF origem peça origem peça Torno Torno Fresadora origem peça origem máquina Exemplo da origem peça para torno e para fresadora. CFAC: Introdução ao CNC - II 15 Eixos de coordenadas em CN Origem peça A posição do zero peça pode ser livremente escolhida pelo programador dentro do espaço de trabalho da máquina. Não obstante, é conveniente situá-lo de forma que as dimensões da peça (por exemplo, do desenho) possam ser facilmente transformadas em valores das coordenadas na máquina. Por vezes, o zero peça também é designado por ponto zero de programação. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 16 Eixos de coordenadas em CN Dimensões da ferramenta/porta-ferramenta Ao maquinar uma peça, é essencial poder controlar de forma precisa o ponto de ferramenta ou os fios de corte da mesma em relação aos contornos da peça durante as passagens da maquinagem. Árvore Dado que as ferramentas têm diferentes formas e dimensões, as dimensões precisas da ferramenta têm que ser estabelecidas antes de se realizar a maquinagem e introduzidas no sistema de controlo. Nota: Os pontos de referência das ferramentas são importantes para o seu posicionamento (coordenadas). A informação/dados da ferramenta têm que ser introduzidos na memória do controlador antes de serem operadas. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 17 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos Para as operações de maquinagem que se efetuam nas peças, as ferramentas têm que percorrer, de forma precisa, as trajetórias correspondentes a cada tipo de operação. As trajetórias possíveis da ferramenta, dependem de cada tipo de máquina e das capacidades dos sistemas de controlo. O tipo de máquina fixa os possíveis tipos deslocamentos ao longo dos eixos. O tipo de configuração do controlo, por exemplo, controla deslocamentos retos, contornos 2D, etc., determina como pode coordenar-se os deslocamentos entre os eixos. É esta “coordenação”, que permite controlar os movimentos da ferramenta pelo sistema de controlo com a ajuda de cálculos internos, conhecida por “interpolação”. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 18 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos Interpolação circular Interpolação linear Movimento a um eixo Exemplos de deslocamentos da ferramenta. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 19 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos lineares Quando a ferramenta se desloca desde um ponto inicial (atual) até um ponto objetivo ou destino dado e, este deslocamento se realiza ao longo de uma reta, tem-se uma interpolação linear. No caso de sistemas de controlo de 2 eixos, isto implica que as velocidades em cada um dos eixos, operem de forma sincronizada, para se obter uma trajetória reta da ferramenta. Ponto destino Ponto inicial 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 20 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos lineares Para sistemas de controlo de 3 eixos existem duas possibilidades diferentes: Programação de retas em um ou vários planos fixos: Neste caso, a ferramenta desloca-se numa única direção axial (normalmente eixo de rotação de corte) e nos outros dois eixos tem lugar a interpolação linear. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 21 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos lineares Programação de retas arbitrárias no “espaço”: A ferramenta pode ser deslocada ao longo de uma reta até qualquer ponto no espaço em que a interpolação linear dá-se nos três eixos em simultâneo. Em certos controladores a interpolação linear apenas é possível à velocidade de trabalho ou avanço. O movimento rápido utiliza-se apenas para alcançar posições, começando por se deslocar todos os eixos à velocidade máxima até se obter cada uma das suas coordenadas (sequencial parcial). 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 22 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos circulares Se a ferramenta se desloca de um ponto inicial até um ponto final dado, mediante uma trajetória circular, está-se perante o que se designa por interpolação circular. Os arcos de circunferência podem ser percorridos no sentido horário ou no sentido anti-horário (retrógrado ou direto). Se o sistema de controlo tem mais de 2 eixos, é necessária a definição do plano no qual se descreve o arco de circunferência: plano XY, YZ ou XZ. G18 G19 G17 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 23 Eixos de coordenadas em CN Deslocamentos circulares Uma vez elegido o plano do arco, a maquinagem pode-se realizar em várias passagens alterando a profundidade. Normalmente, não é possível a interpolação circular à velocidade rápida. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 24 Eixos de coordenadas em CN Compensação automática da ferramenta Até agora falou-se das trajetórias das ferramentas sem mencionar as dimensões das mesmas, quando estas afetam o contorno. Compensação do raio da ferramenta Para assegurar que o contorno é garantido, o centro da fresa deve-se deslocar deste, ao longo de uma “trajetória equidistante”: segue o contorno a uma distância uniforme que depende do raio da ferramenta. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 25 Eixos de coordenadas em CN Compensação da ferramenta Na maioria dos sistemas CNC modernos, a trajetória equidistante calcula-se automaticamente mediante a compensação do raio da ferramenta. Esta compensação requer a entrada no programa de CN dos seguintes dados: A dimensão do raio da fresa; De que lado (G42 - à direita ou G41 - à esquerda) do contorno final programado se situa a ferramenta. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 26 Eixos de coordenadas em CN Compensação da ferramenta G41 G42 G40 – anula correcção No torneamento, o raio da fresa é substituído pelo raio da ponta radial da pastilha da ferramenta de tornear. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 27 Eixos de coordenadas em CN Compensação da ferramenta Durante a programação do contorno do torneamento assumese que a ponta da ferramenta é um ponto agudo em contacto com a peça. Na realidade, a ponta da ferramenta está arredondada e, o controlador deve compensar o espaço entre a ponta teórica da ferramenta e o fio cortante da mesma, calculando a trajetória equidistante apropriada. Para assegurar que esta trajetória equidistante é sempre definida do lado correto do contorno é necessário introduzir no controlador o “quadrante” correto. Tal informação determina a direção pela qual a ponta da ferramenta segue o contorno. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 28 Eixos de coordenadas em CN Compensação da ferramenta Alteração da forma na inclinação Efeito da ponta redonda da ferramenta nos quadrantes de torneamento. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 29 Eixos de coordenadas em CN Coordenadas absolutas e incrementais A informação dimensional no plano da peça pode basicamente estabelecer-se no sistema de cotagem absoluto ou incremental. Os dados na cotagem absoluta fazem sempre referência a um ponto de referência fixo no plano. As cotas absolutas também são designadas por “cotas de referência” – G90. Ao usar cotas incrementais, cada medida faz referência à posição anterior; as cotas incrementais são distâncias entre pontos adjacentes. Estas distâncias convertem-se em coordenadas incrementais ao tomar as coordenadas do último ponto como a origem de coordenadas para o ponto seguinte. As cotas incrementais também se designam por “cotas relativas” ou por “cotas em cadeia/série” – G91. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 30 Eixos de coordenadas em CN Eleição da origem peça O ponto zero peça é o ponto no qual se localiza a origem de coordenadas durante a programação. Fundamentalmente, este ponto pode definir-se livremente, apesar de que, por razões práticas, deverá coincidir com o ponto de referência para as cotas absolutas ou com o ponto inicial para as cotas incrementais. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 31 Eixos de coordenadas em CN Eleição da origem peça O programador deverá considerar os planos da peça de forma que se simplifique a conversão de cotas em coordenadas. Dever-se-á prestar especial atenção ao tipo de cotagem, e à correspondente definição do zero peça, de forma a causar a mínima necessidade de cálculos. Frequentemente a conversão de cotas em coordenadas provoca erros de programação. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 32 Eixos de coordenadas em CN Definição de retas e círculos Para programar um elemento de contorno linear é suficiente estabelecer o ponto final do deslocamento (o ponto inicial é a posição da ferramenta no momento). O ponto final pode-se estabelecer em dimensões absolutas ou incrementais, e em certos controladores também mediante o estabelecimento do ângulo da reta e de uma coordenada. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II 33 Eixos de coordenadas em CN Definição de retas e círculos Existem duas possibilidades de programação de arcos de circunferência: Programação do raio: além do ponto final, esta opção apenas requer a entrada do raio. O controlador calcula o centro da circunferência de forma que o arco se situa entre os pontos inicial e final (o raio pode ser + ou - [>180º]), Programação do centro da circunferência: Além do ponto final, devem ser definidas as coordenadas do centro da circunferência. O controlador calcula o raio. 2012@JST/JOF CFAC: Introdução ao CNC - II Raio Centro 34