UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO TEORIA E PRÁTICA DE TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE EDIFÍCIOS DO SÉCULO XVIII: estudos sobre uma capela setecentista de Samodães (Lamego) Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil – Conservação e Restauro de Edifícios Históricos – Paulo Alexandre Morais Pires Orientador: Professora Doutora Arquitecta Maria Eunice da Costa Salavessa Co-Orientador: Professor Doutor Engenheiro Alfredo da Silva Ribeiro UTAD Vila Real, 2009 Orientador: Professora Doutora Arquitecta Maria Eunice da Costa Salavessa UTAD - Vila Real Co-Orientador: Professor Doutor Engenheiro Alfredo da Silva Ribeiro UTAD - Vila Real Tese apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para efeito de obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil (Especialização em Conservação, Reabilitação e Restauro de Edifícios) SIMBOLOGIA Simbologia Simbologia Grandeza m metro mm milímetro cm centímetro m2 metros quadrados m3 metros cúbicos T toneladas KPa Kilo Pascal MPa Mega Pascal GPa Giga Pascal Índice Geral ÍNDICE Índice Geral………………………………………………………………..ii Índice de Figuras…………………………………………………………. v Índice de Fotos……………………………………………………………..x Resumo …………………………………………………………………..xii Abstract…………………………………………………………………..xiii Agradecimentos…………………………………………………………..xvi 1.INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 1.1.Objectivos .............................................................................................................. 4 1.2. Metodologia .......................................................................................................... 5 2.DESENVOLVIMENTO DO TEMA.......................................................................... 7 2.1. Enquadramento Legal das Intervenções Sobre o Património Cultural ............. 8 2.1.1. Princípios e Critérios de Conservação, Reabilitação e Restauro de Edifícios Históricos .................................................................................................................. 8 2.1.2. Cartas e Legislação de Salvaguarda do Património Arquitectónico ............. 10 2.1.3. Carta ICOMOS, Recomendações para a Análise, Conservação e Restauro Estrutural do Património Arquitectónico ................................................................ 12 2.2. Regulamentação da construção no século XVIII ................................................ 14 2.2.1. Arcos ............................................................................................................. 14 2.2.2. Fundações ...................................................................................................... 18 2.2.3. Paredes .......................................................................................................... 23 2.2.4. Argamassas.................................................................................................... 25 2.2.5. Pavimentos .................................................................................................... 28 2.2.6. Tectos ............................................................................................................ 30 ii Índice Geral 2.2.7. Coberturas ..................................................................................................... 32 2.3. Enquadramento Físico e Humano ....................................................................... 35 2.3.1. Situação Geográfica ...................................................................................... 35 2.3.2. Evolução Histórica ........................................................................................ 37 2.3.2.1. O Concelho de Lamego .............................................................................. 37 2.3.2.2.- A Freguesia de Samodães ......................................................................... 37 2.3.2.3.- A Capela objecto de estudo ...................................................................... 38 2.3.3.- Geologia ....................................................................................................... 38 2.3.4.- Relevo .......................................................................................................... 40 2.3.5.- Clima ............................................................................................................ 41 2.3.6.- Coberto Vegetal ........................................................................................... 45 2.3.7.- Demografia .................................................................................................. 46 2.3.8.- Recursos sócio-económicos ......................................................................... 46 2.3.9.- Vias de Acesso ............................................................................................. 48 2.4. Caracterização Arquitectónica e Construtiva do Edifício ................................. 49 2.4.1. Arco do Passadiço ............................................................................................. 49 2.4.2. Fundações ......................................................................................................... 50 2.4.3. Paredes .............................................................................................................. 51 2.4.4. Argamassas ....................................................................................................... 55 2.4.5. Pavimentos ........................................................................................................ 55 2.4.6. Tectos ................................................................................................................ 57 2.4.7. Cobertura .......................................................................................................... 59 2.4.8. Vãos .................................................................................................................. 61 2.4.9. Campanário ....................................................................................................... 63 2.4.10. Vista Geral do Futuro Complexo .................................................................... 66 2.5. Referências Bibliográficas do Capitulo 2 ............................................................ 67 3.DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS..................................... 71 3.1. Relatório do estado de conservação da Capela ................................................... 71 iii Índice Geral 3.2. Fichas de Diagnóstico das Anomalias Construtivas ........................................... 73 3.2.1. Assentamento diferencial de Fundações............................................................... 73 3.2.2. Fissuração e alteração da geometria do arco ........................................................ 80 3.2.3. Humidade de Precipitação em Paredes ................................................................. 84 3.2.4. Humidade do Terreno em Paredes do Andar Térreo ............................................ 89 3.2.5. Humidade em Pavimentos e Tectos ..................................................................... 92 3.2.6. Destacamento de Reboco Tradicional .................................................................. 97 3.2.7. Manchas de Sujidade .......................................................................................... 102 3.2.8. Crescimento de Vegetação Parasitária ............................................................... 106 3.2.9. Alteração da Pedra .............................................................................................. 110 3.2.10. Apodrecimento e Infestação de Madeiramentos .............................................. 114 4.FUNDAÇÕES .......................................................................................................... 119 4.1. Causas dos Assentamentos em Fundações(22) .................................................... 120 4.1.1. Causas dos Assentamentos no Edifício Caso de Estudo ............................. 132 4.2. Tratamento de Anomalias nas Fundações ..................................................... 134 4.2.1. Melhoramento do Solo de Fundação ........................................................... 136 4.2.2. Reforço das Fundações................................................................................ 141 4.3. Referências Bibliográficas do Capitulo 4....................................................... 159 5. CONCLUSÃO......................................................................................................... 161 5.1 Recomendações Para Trabalhos Futuros ........................................................... 163 6. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 164 7. ANEXOS ................................................................................................................. 167 iv Índice de Figuras Índice de Figuras Figura 1– Arco abatido ................................................................................................... 15 Figura 2– Arco de volta perfeita ..................................................................................... 15 Figura 3- Arco elevado ................................................................................................... 15 Figura 4– Arco de ferradura ou ultrapassado ................................................................. 15 Figura 5– Sistema de travamento com reforço em aço. ................................................. 17 Figura 6– Cimbre para construção de arco. .................................................................... 18 Figura 7– a) Fundação directa sem sobrelargura b) Fundação directa com sobrelargura. ........................................................................................................................................ 19 Figura 8– Planta de fundação contínua em “caixa”. ....................................................... 19 Figura 9– Fundação sobre poço de alvenaria; a) com paredes em pedra talhada; a1) cheio com enrocamento; b) com utilização de arcos invertidos. .................................... 20 Figura 10–1ª fase – retirada das camadas superficiais do solo; 2ª fase – colocação das estacas de madeira; 3ª fase – colocação de travessas de madeira longitudinalmente; 4ª fase – colocação de travessas de madeira transversalmente sobre as anteriormente colocadas; 5ª fase – arranque dos poços de fundação; a) Corte longitudinal; b) Corte transversal. ...................................................................................................................... 22 Figura 11– Estudo sobre as proporções ideais segundo Rondelet. ................................. 24 Figura 12–; Ancoragem das vigas de madeira na parede de alvenaria. .......................... 29 Figura 13– Viga de madeira com reforço de madeira. ................................................... 29 Figura 14– Viga de madeira com reforço em aço. ......................................................... 30 Figura 15– Forro de esteira simples. .............................................................................. 31 Figura 16– Forro de esteira sobreposto “saia e camisa”. ............................................... 31 Figura 17– Tecto com madeiramento á vista. ............................................................... 32 Figura 18– Exemplo de uma Sanca. ............................................................................... 32 Figura 19– Exemplo de cobertura com recurso a arcos e abóbadas. .............................. 33 Figura 20– Exemplo de cobertura com recurso a arcos e abóbadas. .............................. 34 Figura 21– Asna de cobertura. ........................................................................................ 35 Figura 22– Localização do concelho. ............................................................................. 35 Figura 23– Freguesias do concelho de Lamego. ........................................................... 36 Figura 24– Carta geológica da região de Mesão Frio – (Instituto Geológico Mineiro, Folha 10-C escala 1/50000 reduzida). ............................................................................ 39 Figura 25– CARTA MILITAR DE PORTUGAL – Instituto Geográfico do Exército Folha 126 (Peso da Régua) -escala 1/25000, Ed. 1998. ................................................. 40 Figura 26– Evolução da população residente no concelho de Lamego entre 1860 e 2001; Adaptado de Carta Educativa Lamego. .......................................................................... 46 Figura 27– Níveis de Actividade no concelho de Lamego. ............................................ 47 Figura 28– Vias de acesso do concelho de Lamego. ...................................................... 49 Figura 29– Alçado Norte ................................................................................................ 52 Figura 30– Alçado Sul .................................................................................................... 52 v Índice de Figuras Figura 31– Alçado Este .................................................................................................. 53 Figura 32– Alçado Oeste ................................................................................................ 53 Figura 33– Corte Norte-Sul, com pavimento do rés-do-chão em terra batida e pavimento do primeiro piso assente sobre uma estrutura de madeira de castanho com tabuado de castanho pregado. ........................................................................................................... 56 Figura 34– Corte Norte-Sul, com pormenorização da estrutura de sustentação do tecto em “masseira” e do forro no sistema “saia e camisa”. ................................................ 58 Figura 35– Planta de cobertura com indicação dos sentidos de escoamento das águas. 60 Figura 36– Corte Este-Oeste. Pormenorização da estrutura de sustentação e impermeabilização da cobertura. .................................................................................... 60 Figura 37– Alçado Oeste. Ilustração de vão do rés-do-chão em alvenaria de xisto pouco trabalhada e vãos do primeiro piso em alvenaria de granito bem aparelhada e com a envolvente pintada a cor amarela. .................................................................................. 63 Figura 38– Alçado Este. Ilustração do campanário. ....................................................... 65 Figura 39– Vista geral do complexo Este....................................................................... 66 Figura 40– Vista geral do complexo Oeste. ................................................................... 66 Figura 41– Localização da patologia, na planta do andar superior. ............................... 75 Figura 42– Localização da Patologia, na planta do andar superior com identificação destas nas respectivas fachadas exteriores...................................................................... 76 Figura 43– Localização da Patologia, na planta do andar superior com identificação destas nas respectivas fachadas interiores. ..................................................................... 77 Figura 44 – Localização da patologia na planta do andar superior. ............................... 82 Figura 45– Localização da patologia na planta do andar superior. ................................ 86 Figura 46– Localização da patologia na planta do andar térreo. .................................... 91 Figura 47– Localização da patologia na planta do piso superior. .................................. 94 Figura 48– Localização da patologia, andar superior. .................................................... 99 Figura 49– Localização da patologia, andar superior. .................................................. 103 Figura 50– Localização da patologia, andar superior. ................................................. 107 Figura 51– Localização da patologia, andar superior. .................................................. 111 Figura 52– Localização da patologia, andar superior. .................................................. 115 Figura 53– Implantação de edifícios sobre falsos firmes com assentamentos globais. a) Fundações sem assentamentos; b) Fundações com assentamentos globais. ................ 121 Figura 54– a) Edificação implantada sobre estrato de grande resistência homogéneo (situação ideal de calculo); b) Edificação implantada sobre estrato de grande resistência descontínuo com bolsa de argila orgânica (situação real). ........................................... 121 Figura 55– Deformação induzida á estrutura devido aos assentamentos diferenciais. a) Fundações sem assentamentos; b) Fundações com assentamentos diferenciais. ......... 124 Figura 56– Esforços actuantes. a) Estrutura de edifício com fundações sem assentamentos; b) Estrutura de edifício com fundações com assentamentos diferenciais. ...................................................................................................................................... 124 Figura 57– Efeitos de assentamento de uma sapata interior......................................... 125 Figura 58– Efeitos de assentamento de duas sapatas interiores. .................................. 125 vi Índice de Figuras Figura 59– Efeitos de assentamento de uma sapata de canto. ...................................... 126 Figura 60– Efeitos de implantação de edifício em parte em zona de aterro subconsolidado e uma outra parte sobre zona de escavação. ....................................... 126 Figura 61– Efeitos de assentamentos nos extremos de uma edificação. ..................... 126 Figura 62– Efeitos assentamentos em zona central de uma edificação. ...................... 127 Figura 63– Exemplo de rotação da estrutura devido a saturação de parte do solo argiloso e consequente perda de capacidade de sustentação. ....................................... 127 Figura 64– Pavilhão industrial sem caleiras de recolha das águas pluviais com saturação do solo junto às fundações directas e consequente perda de capacidade de sustentação. ...................................................................................................................................... 128 Figura 65– Descompressão do solo devido a escavação junto ao edifício provocando assentamentos diferenciais neste. ................................................................................. 128 Figura 66– Descompressão do solo devido às ancoragens de sustentação do muro de suporte, fazendo com que as fundações apresentem assentamentos diferenciais provocando anomalias estruturais no edifício. ............................................................. 129 Figura 67– Assentamento do solo compressível devido á sobrecarga por aterro. ........ 130 Figura 68– Sobreposição de pressões com rotura do solo de fundação e consequentes assentamentos. .............................................................................................................. 130 Figura 69– Fundação do edifício á superfície em estratos de má qualidade, muito instáveis e compressíveis e em zonas de maior solicitação utilização de fundações profundas, atingindo extractos sólidos com boas características mecânicas, apresentando movimentações diferentes nas duas partes do edifício. ................................................ 131 Figura 70– Fissuração da fachada Este por assentamentos de fundação no lado Norte. ...................................................................................................................................... 132 Figura 71– Fissuração da fachada Oeste devido a assentamentos de fundação no lado Norte. ............................................................................................................................ 133 Figura 72– Fissuração da fachada Norte devido a assentamentos de fundação no lado Oeste. ............................................................................................................................ 133 Figura 73– Injecção de misturas líquidas sob a base da fundação com distribuição ideal do liquido injectado. ..................................................................................................... 137 Figura 74– Injecção de misturas líquidas com barreiras de confinamento sob a base da fundação, com garantia de distribuição homogénea da mistura injectada. .................. 138 Figura 75– Fases de execução de colunas de jet-grouting. a) Introdução da vara através de rotação e jacto de agua. b) Paragem de jacto de agua vertical e inicio dos jactos de agua e ar horizontais. c) Subida a velocidade constante com rotação da vara e injecção de calda. d) Melhoramento do solo na área pretendida. ............................................... 140 Figura 76– Injecção de caldas nos elementos de fundação através de perfurações feitas nestes. ........................................................................................................................... 143 Figura 77– Injecção de caldas nos elementos de fundação através de perfurações feitas nestes, com confinamento da injecção através de estacaria. ........................................ 144 vii Índice de Figuras Figura 78– Injecção de caldas nos elementos de fundação através de perfurações feitas nestes, com confinamento da injecção através de muros de suporte, pré-fabricados ou concebidos no local. ..................................................................................................... 144 Figura 79– Ordem de execução dos trabalhos. ............................................................. 146 Figura 80– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas com ligação através de resinas e varões de aço. ............. 147 Figura 81– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas com ligação através de ancoragens de aço. .................... 147 Figura 82– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas, com recorte diagonal na fundação existente de forma a haver uma maior contribuição por parte da ampliação na degradação das cargas. ...... 148 Figura 83– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas, com recorte dentado na fundação existente de forma a haver uma melhor ligação entre ampliação e fundação existente. ............................... 148 Figura 84– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas, com recorte dentado na fundação existente e varões de ligação de forma a haver uma melhor ligação entre ampliação e fundação existente. . 149 Figura 85– Ampliação da área de transmissão de cargas através do envolvimento parcial dos elementos de fundação. .......................................................................................... 149 Figura 86– Recalçamento da fundação através da introdução de uma viga armada sob a fundação existente. ....................................................................................................... 150 Figura 87– Recalçamento da fundação através da introdução de uma viga armada sob a fundação existente, com ampliação da área de transmissão de cargas. ........................ 151 Figura 88– Recalçamento de fundação através de poços, com escavação sob a fundação existente e recalçe a partir do solo firme. ..................................................................... 152 Figura 89– Estaca de madeira preparada para cravação mecânica, com anel de encabeçamento em aço e ponteira de reforço igualmente em aço. ............................... 153 Figura 90– Recalçamento de fundações através da introdução de estacas encabeçadas por vigas de recalçamento. ........................................................................................... 154 Figura 91– Reforço de fundações com recurso a micro-estacas verticais em corte e em planta. ........................................................................................................................... 156 Figura 92– Reforço de fundações com recurso a micro-estacas verticais e diagonais em corte e em planta. .......................................................................................................... 157 Figura 93– Reforço de fundações com recurso a micro-estacas verticais com encabeçamento sob viga de recalçamento, em corte e em planta. ................................ 158 viii Índice de Fotos Índice de Fotos Foto 1 – Arco de aduelas de granito. Os pilares de apoio são em xisto e o tabuleiro do passadiço é constituído por lajes de cantaria de granito assentes numa camada de pequenas pedras de xisto. ............................................................................................... 50 Foto 2 – Paredes resistentes com os cunhais e molduras de vão com perpeanhos, padieiras e ombreiras em blocos de xisto de faces afeiçoadas no rés-do-chão e em blocos de granito aparelhado no primeiro piso; toda a restante alvenaria é constituída por pedras irregulares, médias e pequenas, de xisto, com os interstícios preenchidos por lascas e escacilhos. A argamassa de assentamento das pedras é de barro e fibras vegetais. .......................................................................................................................... 54 Foto 3 – Parede de tabique, constituída por um esqueleto de madeira de prumos e frechais de castanho, sobre o qual foram fixadas fasquias de castanho e cujos vazios foram preenchidos com adobe; o revestimento interior é constituído por uma argamassa á base de cal e areia. ....................................................................................................... 54 Foto 4 – Argamassa de assentamento e de reboco. ........................................................ 55 Foto 5 – Estrutura do pavimento do primeiro piso, constituído por vigas e vigotas onde foi fixado o tabuado, sendo todos os elementos em madeira de castanho...................... 57 Foto 6 – Estrutura do tecto em masseira e sanca. ........................................................... 59 Foto 7– 2009; Cobertura. ................................................................................................ 61 Foto 8– Alçado Oeste. Vão do rés-do-chão em pedra xistosa deficientemente trabalhada, com reboco destacado e vãos do primeiro piso em pedra de granito bem aparelhada e com pintura de cor amarela na envolvente do vão. ........................................................ 62 Foto 9– Alçado Este. Vãos de portas do primeiro piso em alvenaria de granito bem aparelhado. ...................................................................................................................... 62 Foto 10– Campanário, colocado na fachada a Este. ....................................................... 64 Foto 11– Fissura vertical na parede a Este. ................................................................... 78 Foto 12– Localização das fissuras na parede a Oeste. .................................................... 78 Foto 13– Localização das fissuras na parede a norte...................................................... 79 Foto 14– Localização da fissura e abatimento na face norte do arco. ............................ 82 Foto 15– Localização da fissura e abatimento na face sul do arco................................. 83 Foto 16– Manchas de humidade na parede exterior. ...................................................... 86 Foto 17– Manchas de humidade na parede exterior. ...................................................... 87 Foto 18– Manchas de humidade na parede exterior. ...................................................... 87 Foto 19– Manchas de humidade na parede interior. ....................................................... 88 Foto 20– Manchas de humidade na parede interior, deterioração da cobertura. ............ 88 Foto 21– Humidade nas paredes exterior e divisória interior. ........................................ 91 Foto 22– Deterioração total do forro de tecto. ............................................................... 94 Foto 23– Humidade e apodrecimento do tecto. .............................................................. 95 ix Índice de Fotos Foto 24– Humidade e apodrecimento do tecto. .............................................................. 95 Foto 25– Humidade, apodrecimento e decaimento de elementos do tecto. ................... 96 Foto 26 – Humidade e apodrecimento do pavimento devido a infiltrações directas das águas pluviais. ................................................................................................................ 96 Foto 27– Destacamento do reboco do paramento exterior. .......................................... 100 Foto 28– Destacamento do reboco do paramento exterior. .......................................... 100 Foto 29– Destacamento do reboco do paramento interior. .......................................... 101 Foto 30– Destacamento do reboco do paramento interior. .......................................... 101 Foto 31– Localização de manchas de humidade. ......................................................... 104 Foto 32– Localização de manchas de humidade. ......................................................... 104 Foto 33– Localização de manchas de humidade. ......................................................... 105 Foto 34– Localização da vegetação parasitária. .......................................................... 108 Foto 35– Localização da vegetação parasitária. ........................................................... 108 Foto 36– Localização da vegetação parasitária. ........................................................... 109 Foto 37– Degradação pedra em zona de destacamento do reboco. .............................. 112 Foto 38 – Degradação da pedra da cornija. .................................................................. 112 Foto 39– Degradação da pedra do apilarado. ............................................................... 113 Foto 40– Degradação do tecto de madeira. ................................................................. 116 Foto 41 – Degradação do tecto de madeira. ................................................................. 116 Foto 42– Degradação da estrutura da cobertura e decaimento de elementos que a constituem, tal como os elementos do forro. ................................................................ 117 Foto 43– Degradação da estrutura do pavimento, com redução da secção dos elementos de suporte; indícios de ataque xilófago. ....................................................................... 117 Foto 44– Degradação de portas de carvalho. ................................................................ 118 Foto 45– Torre de Pisa implantada em solo de fundação heterogéneo. Adaptado de www.Google.pt. ............................................................................................................ 122 Foto 46–Solo de fundação agressivo com deterioração avançada das fundações. Adaptado de www.Google.pt. ...................................................................................... 122 Foto 47– Danificação de estacas de fundação no processo de cravação. Adaptado de www.Google.pt. ............................................................................................................ 123 Foto 48– Rotação de reservatório de água devido á saturação do solo na zona inferior ao extravasor. Adaptado de www.Google.pt. ............................................................... 127 Foto 49– Trabalhos de construção do complexo hoteleiro junto da capela, os quais foram precedidos de uma escavação até ao limite do edifício caso de estudo. ............ 134 Foto 50– Exemplos de aplicação de tratamentos térmicos no solo de fundação. Adaptado de Construlink Press 2003............................................................................ 141 x RESUMO Resumo Neste trabalho é feita uma caracterização geral das construções do século XVIII, tentando dar a conhecer os processos construtivas da época, os materiais utilizados, o tipo de dimensionamento efectuado, de forma a compreender melhor o comportamento mecânico das estruturas, a origem de muitas das suas patologias e ainda como forma de facilitar a sua reparação, com a escolha adequada de técnicas e materiais. Este trabalho apresenta o tratamento de um caso de estudo concreto, sendo ele uma capela setecentista da freguesia de Samodães, no concelho de Lamego actualmente inserida num complexo hoteleiro na margem sul do Douro, sobre o qual se faz um exame pormenorizado sobre o estado de conservação do edifício, as causas que poderão estar na origem das suas patologias, e ainda as possíveis soluções de intervenção tendo em vista os critérios de autenticidade, compatibilidade e reversibilidade necessariamente presentes nas obras de conservação, manutenção, reabilitação e restauro de edifícios antigos. É finalmente apresentado um estudo pormenorizado sobre as fundações dos edifícios, descrevendo as mais vulgares causas de anomalias nestes elementos, e as técnicas tradicionais e mais inovadoras de reparação, com referência ao seu potencial, ao seu campo de aplicação, às suas vantagens e limitações, baseadas em conhecimentos teóricos e práticos. Palavras Chave: Conservação; Manutenção; Reabilitação; Restauro; Fundações. xi ABSTRACT Abstract In this work a general characterisation of the constructions of the 18th century is given, trying to make people aware of the constructive processes of the time, the materials used, the type of dimensioning executed, so as to understand better the mechanical behavior of the structures, the origin of many of their pathologies and also the way to facilitate their repair, with the right choice of techniques and materials. This work presents the treatment planning of a real case study, more specifically, an eighteenth century’s chapel belonging to the Samodães parish, in the council of Lamego, currently integrated in a group of hotels in the south shore of the Douro river. The study is about a close examination of the physical conservation of the building, the causes that may be responsible for its pathology, and also the possible solutions of intervention, respecting the criteria of authenticity, compatibility and reversibility present in works of conservation, maintenance, rehabilitation and restoration of the buildings. Finally, a close study of the foundations of the buildings is shown, describing the most common defects in these elements and the traditional and more modern techniques of repair with reference to their potential, area of application, their advantages and limitations, based on theoretic and practical knowledge. Key words: Conservation, maintenance, rehabilitation, restoration, foundations xii Aos meus pais e irmãos. _____________________________________________________________________________ xiii Á memória dos meus avós. _____________________________________________________________________________ xiv Agradecimentos A realização desta dissertação foi o culminar de vários objectivos académicos traçados, sendo apenas possível de alcançar, graças ao apoio e colaboração de diversas pessoas e entidades, a quem expresso o meu sincero agradecimento: À Professora Doutora Arquitecta Eunice Salavessa, não só pela orientação, mas também pelo empenho e profissionalismo que manifestou no decurso de todo este trabalho. Ao Professor Doutor Engenheiro Alfredo Ribeiro, por todo o apoio e disponibilidade que manifestou ao longo do trabalho. À Câmara Municipal de Lamego pela disponibilidade demonstrada para a consulta de dados. À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, através da qual foi possível tornar esta dissertação uma realidade. À Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, por toda a disponibilidade demonstrada na cedência de bibliografia necessária a este trabalho. Aos meus pais e irmãos, por todo o amor, carinho, amizade e paciência demonstrada ao longo da minha vida, bem como a educação e os valores que me transmitiram, tornando-me na pessoa que sou hoje. Aos meus tios, padrinhos e primos, por todo o apoio, amor, carinho e amizade demonstrados não só nesta fase mas durante toda a minha vida. Aos meus avós, que durante os anos de vida que com eles tive o prazer de partilhar, me tentaram transmitir os verdadeiros valores da vida. À Anita por todo o amor, carinho, amizade e paciência demonstrado durante este tempo, bem como pela sua ajuda na obtenção da bibliografia necessária. Aos meus amigos, os quais durante toda a minha vida me proporcionaram uma plataforma sólida onde eu pude crescer, e os quais me ajudaram na apreensão dos valores sociais fundamentais. _____________________________________________________________________________ xv 1. INTRODUÇÃO 1.INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________________ 1 1. INTRODUÇÃO 1.INTRODUÇÃO Em todo o mundo desenvolvido, é reconhecida a importância cultural e económica da conservação e reabilitação do património cultural edificado, pois faz parte das nossas origens e do nosso passado, contendo em si mesmo uma parte da história do homem, e o testemunho presente da nossa identidade cultural, a qual é necessário conservar e legar as gerações futuras. Para além dos previsíveis impactes económicos das políticas baseadas no património cultural enquanto recurso, importa realçar que o património histórico é um instrumento-chave na procura de um desenvolvimento sustentável. Não se trata só de proteger o que tem valor cultural mas também de reutilizar o já construído, poupando recursos e energias. Apesar do sucesso que se tem vindo a observar em determinadas intervenções, Portugal ainda não possui políticas patrimoniais inteiramente coerentes, concertadas na promoção e conservação do parque edificado. Até há bem pouco tempo, a atenção dos investigadores, arquitectos, engenheiros historiadores e arqueólogos, dirigia-se essencialmente para edifícios tidos como especiais, (palácios, igrejas, castelos, conventos) cujas intervenções são consideradas mais marcantes e mais valiosas do ponto de vista histórico-artístico. Mesmo nestes casos, os conhecimentos formados são escassos e empíricos, conhecendo-se escassos exemplos relevantes de uma abordagem científica dos problemas promovidos pelas acções de conservação, reparação, reabilitação, comportamento estrutural e construtivo desses edifícios, que em dado momento se entenda conveniente ou imprescindível implementar. Durante vários séculos, o homem construtor recorreu sistematicamente aos mesmos materiais, sendo estes utilizados numa fase primitiva de transformação e circunscritos por região, dadas as grandes dificuldades de transporte das matériasprimas a longas distâncias. No que diz respeito às técnicas construtivas, estas tinham a sua origem quase perdida no tempo, mas que foi herdada e nem sempre bem compreendida e aplicada, da exímia tradição romana de construir. Com o aparecimento do betão armado, mais propriamente do cimento Portland, as técnicas tradicionais (algumas rudimentares, outras já muito aperfeiçoadas) e empíricas não exploradas foram praticamente banidas das técnicas construtivas _____________________________________________________________________________ 2 1. INTRODUÇÃO utilizadas, dando por terminado o ciclo de criação de construções agora denominadas de antigas. O betão armado marca efectivamente um plano de rotura com o passado, a partir do momento que os engenheiros foram conhecendo melhor as capacidades deste material, o qual devido ao facto de ser moldável, permitiu realizar todas as formas por mais fantasiosas que estas sejam, abandonando-se assim as formas estruturais préestabelecidas e ultrapassando-se as limitações impostas pelas matérias pré-existentes. Desde a criação do conceito de conservação, que se tem verificado que a deficiente qualificação dos diversos agentes e decisores envolvidos nas intervenções nesta área, (dono de obra, empreiteiro, projectista, entidade fiscalizadora) se traduz, frequentemente, em prejuízo para a autenticidade do objecto da intervenção. O uso em excesso do betão armado e do aço torna frequentemente as intervenções no património demasiado intrusivas e atentatórias da originalidade das velhas construções. Para além desses aspectos muitas das vezes estas intervenções não se revelam eficazes no que diz respeito ao comportamento estrutural, daí a necessidade de uma maior formação com carácter científico de todos os intervenientes. Os edifícios do século XVIII, predominantes na Região Demarcada do Douro, constituem referências simbólicas para as suas comunidades e contribuem para enriquecer o seu património cultural e urbano. São uma parte relevante do património urbano, e a salvaguarda da imagem da cidade, vila ou aldeia histórica, passa forçosamente pela conservação das construções históricas ou tradicionais. Várias condicionantes actuam sobre estes edifícios: o clima, o material disponível na região, a configuração do edifício e a economia local. Desta forma e de acordo com os princípios de cartas internacionais do restauro e da conservação do património construído, este trabalho propõe a salvaguarda destes valores histórico-tecnológicos, utilizando prioritariamente, técnicas e materiais tradicionais, consideradas repositórias da arte de bem construir; só quando estas se revelam ineficazes, propõe-se a utilização de técnicas e materiais contemporâneos. Neste estudo reúnem-se os diferentes conhecimentos sobre: critérios gerais de análise conservação e restauro estrutural e não estrutural de construções do século XVIII, descrito em tratados de construção da época; levantamento de um edifício do século XVIII, existente na Região Demarcada do Douro, mais precisamente em Samodães, no concelho de Lamego, e que se conservou até aos nossos dias; _____________________________________________________________________________ 3 1. INTRODUÇÃO comportamento estrutural, características dos materiais e processos de degradação; diagnóstico, avaliação da segurança e acções de intervenção, no edifício em estudo. 1.1.Objectivos O estudo tem como objectivos: - Conhecer e restaurar a informação acessível relativa aos princípios técnicos da arte de construir edifícios do séc. XVIII, fazendo a interface com as técnicas construtivas actuais; - Definir instrumentos e práticas capazes de assegurar a aplicação da Conservação Sustentável, que defende a continuidade da existência das artes e ofícios da época em que os edifícios foram construídos, e da Conservação Preventiva, que defende a aplicação periódica de acções de manutenção na luta contra a degradação dos edifícios históricos ou tradicionais e no aumento da sua durabilidade; determina-se, deste modo, o contributo do estudo das técnicas tradicionais de construção de edifícios setecentistas na sua conservação; - Pesquisar técnicas e materiais contemporâneos que possibilitem intervenções pouco intrusivas, capazes de reabilitar ou restaurar construções históricas sem lhes destruir a autenticidade e o valor histórico e tecnológico. - Interpretar as causas do aparecimento de fissuras e deformações em alvenarias do “edifício-caso de estudo”, setecentista localizado no concelho de Lamego, freguesia de Samodães. Fazer a descrição e análise de todos os seus elementos estruturais e construtivos (alvenarias, estruturas de madeira, fundações, etc.), materiais e processos de construção. Pretende-se ainda que este estudo envolva um conjunto de levantamentos, análises histórica, arquitectónica, caracterização dos materiais, da tecnologia construtiva e do diagnóstico das anomalias, as quais conduzam à definição de uma estratégia de intervenção construtiva e estrutural, de prevenção contra o colapso de construções históricas. Deste modo estabelecem-se as seguintes metas: detecção de sintomas da deterioração estrutural, em particular, padrões de fissuração, através de inspecção in-situ e o estudo pormenorizado de patologias e técnicas de intervenção em fundações, históricas e actuais. _____________________________________________________________________________ 4 1. INTRODUÇÃO 1.2. Metodologia - Levantamento da bibliografia, em especial aquela que se refere a Tratados de Arquitectura e de Construção da época e contemporâneos, e ainda à História da Arquitectura e à História das Técnicas; determina-se, assim, a arte de conceber, dimensionar, preparar, combinar e montar os materiais e os princípios que regem a boa construção de edifícios; - Pesquisa de exemplos de estudos de diagnóstico; estudo de legislação internacional e nacional aplicável ao restauro e reabilitação de estruturas de interesse histórico e arquitectónico; - Estudo das alvenarias, carpintarias e fundações do séc. XVIII: levantamento geométrico e dimensionamento; glossário técnico histórico, análise comparativa das tipologias (configuração, função); elaboração de cartas temáticas (características geométricas, tipo de material e suas características, defeitos originais, anomalias); estudo da tecnologia das alvenarias, das estruturas de madeira e das fundações, análise estrutural, e princípios da mecânica estática; transporte e colocação na obra; obras em alvenaria em madeira e em fundações; - Estudo de outros elementos construtivos: campanário, cornijas e pilastras de granito, argamassas de juntas e rebocos, paredes de compartimentação, janelas, revestimentos, impermeabilização, forros, sistemas de drenagem; - Recolha de informação bibliográfica e local, estudos de natureza teórica e trabalhos de campo como levantamentos geométrico, funcional e fotográfico do edifício, envolvente e pormenores construtivos; - Análise histórica e arquitectónica do edifício; - Observação directa, levantamento fotográfico e gráfico para o registo de patologias; - Avaliação do estado de conservação; diagnóstico dos sintomas patológicos, danos, deficiências; reconhecimento da acção nociva da colonização biológica em suportes pétreos; _____________________________________________________________________________ 5 1. INTRODUÇÃO - Sugestão de medidas de melhoria do comportamento geral do edifício; reparação das fundações (estacas de madeira); reforço das ligações das estruturas de madeira às alvenarias; acções de conservação em suportes pétreos afectados pela acção nociva da colonização biológica; _____________________________________________________________________________ 6 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.DESENVOLVIMENTO DO TEMA _____________________________________________________________________________ 7 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.1. Enquadramento Legal das Intervenções Sobre o Património Cultural É um facto incontestado que, cada vez mais, os cidadãos têm consciência comunitária do valor histórico e da riqueza etnográfica do seu património colectivo, espelho e vector da sua identidade cultural, mobilizando-se com vontade e determinação na tarefa urgente e continuada da sua defesa. Portadores de uma mensagem espiritual do passado, os monumentos históricos de um povo constituem um testemunho vivo das suas tradições seculares. A Humanidade, que tem vindo progressivamente a tomar consciência da singularidade dos valores humanos, considera os monumentos como um património comum, reconhece a responsabilidade colectiva pela sua salvaguarda para as gerações futuras e aspira, simultaneamente, a transmiti-los com toda a riqueza da sua autenticidade. É pois essencial que os princípios orientadores da conservação e do restauro de monumentos sejam elaborados colectivamente e acordados a nível internacional, ficando cada nação com a responsabilidade pela aplicação destes princípios, no quadro especifico do seu contexto cultural e das suas tradições. 2.1.1. Princípios e Critérios de Conservação, Reabilitação e Restauro de Edifícios Históricos (1) Muitas das vezes os termos “conservação”, “manutenção”, “reabilitação” e “restauro”, são utilizados de uma forma aleatória, caracterizando intervenções que nem sempre lhe correspondem. Importa então distinguir tais conceitos básicos, que se revelam essenciais á boa percepção do conteúdo dos documentos consultados e também para que estes termos sejam aplicados de forma correcta no desenvolvimento do trabalho. _____________________________________________________________________________ 8 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Em intervenções sobre edifícios antigos de elevada importância cultural há que ter em conta aspectos essenciais que garantam o sucesso das mesmas, como a “autenticidade”, a “compatibilidade”, e a “reversibilidade” nas intervenções nestes realizadas. Entende-se por “conservação”, o conjunto de operações realizadas num edifício, de forma a manter a construção tal como ela é hoje, ainda que, havendo necessidade, sejam aceites pequenas intervenções com vista a melhorar o comportamento estrutural do edifício. Entende-se por “manutenção”, o conjunto de operações desenvolvidas de forma a manter ou recolocar o edifício num estado em que possa desempenhar as funções para as quais está incumbido. Entende-se por “reabilitação”, o conjunto de operações que visam adequar uma construção a um novo uso ou função, sem alterar as fracções da construção que caracterizam o edifício e as quais possuem um maior valor histórico. Entende-se por “restauro”, o conjunto de operações com vista á recuperação da forma original de uma construção o “recurso estilístico” recorre à remoção de obras adicionais e à substituição de obras de origem em falta preservando todos os elementos recuperáveis e reconstituindo a traça original do edifício. O conceito de “autenticidade”, é inseparável das operações de restauro ou reabilitação impondo regras com as quais jamais seja posta em causa a identidade e veracidade do edifício original. O conceito de “compatibilidade”, está implícito em todas as operações que são pensadas de modo a que haja harmonia entre a estrutura inicial e a intervenção feita, quer nas características mecânicas e químicas dos materiais empregues, quer do ponto de vista arquitectónico e da tecnologia utilizada. _____________________________________________________________________________ 9 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA O conceito de “reversibilidade”, integra-se em todas as operações que nos permitem recuar se uma decisão diferente for tomada sobre a traça original do edifício, sem pôr qualquer fracção ou elemento do mesmo em risco. 2.1.2. Cartas e Legislação de Salvaguarda do Património Arquitectónico (2) Com o intuito de legislar as intervenções e demonstrar a importância do património arquitectónico e cultural, surgiram ao longo dos anos vários tratados, dos quais vamos de seguida relevar os mais importantes segundo uma sequência cronológica. A Carta de Atenas Sobre o Restauro de Monumentos, de 1931, representa o primeiro documento escrito regulador da importância da preservação do património. Esta carta, impulsionou o desenvolvimento de uma vasta acção internacional neste sentido, traduzida em documentos nacionais, na actuação do ICOM (Conselho Internacional dos Museus) e da UNESCO, e na criação, por esse organismo, do Centro Internacional de Estudos para conservação e restauro de bens culturais. Com o progressivo aumento da sensibilidade e da complexidade dos problemas, nota-se uma certa insuficiência de regulamentação em determinadas matérias na Carta de Atenas, revelando-se necessário conjugar princípios e criar um documento regulador mais específico, nascendo assim a Carta de Veneza em 1964. Esta carta representa o documento mais importante do séc. XX na conservação, manutenção, reabilitação e restauro do património arquitectónico, melhorando a especificidade da carta de Atenas e impondo assim regras claras para as tarefas atrás mencionadas. Podemos destacar desta carta algumas recomendações mais importantes, sendo elas: utilizar os monumentos, respeitando-lhes o carácter; conservar os monumentos, antes de os restaurar; promover acções regulares de conservação dos monumentos; durante o restauro, respeitar a obra histórico-artística do passado, sem eliminar ou seleccionar “estilos” das diferentes épocas patentes no monumento, evitando o princípio da unidade estilística; reutilizar o monumento, com actividades funcionalmente adequadas, como garantia da sua contínua utilidade e conservação; atender à importância das envolventes; proceder a uma rigorosa análise de documentação que permita estabelecer um diagnóstico correcto das _____________________________________________________________________________ 10 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA anomalias detectadas; se necessário, utilizar técnicas modernas para garantia da estabilidade. Em 1972, em Paris, dá-se lugar á Convenção Para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural UNESCO, a qual faz referência á importância da criação de entidades especializadas na conservação do património e cooperação internacional, desenvolvendo estudos, pesquisas científicas e técnicas, de forma a capacitá-las a tomar medidas jurídicas, técnicas, científicas e financeiras adequadas á boa resolução dos problemas. Passados três anos, em Estrasburgo, nasce a Carta Europeia do Património Arquitectónico na qual se fala pela primeira vez da importância não só de preservação dos monumentos mais importantes mas também do conjunto de construções mais modestas. Já em 1994, surgiu a Carta de Villa Vigoni Sobre a Protecção dos Bens Culturais da Igreja, de importância superior no nosso trabalho, uma vez tratar-se de património equiparado. O encontro foi promovido pelo Secretariado da Conferencia Episcopal Alemã e pela comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja. Nesta Carta salienta-se a importância de colaboração entre o estado e a igreja na preservação dos bens desta, uma vez que são testemunhos vivos da identidade e tradição dos povos cristãos, fazendo parte da herança cultural da Humanidade, sendo nossa a responsabilidade de proteger, valorizar e transmitir às gerações futuras o valioso património que nos está temporariamente confinado. Para evitar os processos de profanação, secularização e dispersão do património, as igrejas devem fazer inventários e catálogos dos seus bens culturais, proporcionando assim uma base científica indispensável à protecção e valorização dos bens culturais. Qualquer alteração de uso deve ser compatível com o carácter religioso do bem cultural, sendo aconselhável este ser mantido inalterado. A manutenção deve mostrar-se contínua e bem documentada, respeitando escrupulosamente a substância cultural dos bens e o seu carácter religioso. Devem ser tomados em conta os diversos tipos de poluição existentes, bem como para sua protecção não devem ser apenas os edifícios alvos de salvaguarda, mas também todos os espaços envolventes, sendo da competência da igreja criar os serviços de protecção necessários e estando estes dotados de meios financeiros capazes. Nesse mesmo ano, o Documento de Nara, concebido no espírito da Carta de Veneza, 1964, foi formulado com o intuito de desenvolver e ampliar esse documento, _____________________________________________________________________________ 11 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA dando resposta ao alargamento dos conceitos referentes ao significado de Património Cultural e dos seus interesses no estudo contemporâneo sobre a autenticidade dos bens culturais. Em 2000 surge a Carta de Cracóvia para a Conservação e o Restauro do Património Construído, de encontro às antecessoras, vem introduzir, consciente do progresso de identidades (mais distintas e singulares), a necessidade de ampliação da pluralidade de valores fundamentais evitando conflitos de interesse. 2.1.3. Carta ICOMOS, Recomendações para a Análise, Conservação e Restauro Estrutural do Património Arquitectónico (3) A carta ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), é na actualidade o documento mais importante no que respeita á conservação e restauro estrutural do património arquitectónico. Á imagem das anteriormente analisadas, apresenta uma série de recomendações, as quais se revelam fundamentais ao bom processo de conservação e restauro do património arquitectónico. Segundo a Carta, os princípios a seguir de forma a proporcionar uma intervenção apropriada são os seguintes: • Critérios Gerais Multidisciplinaridade de abordagens; conceito de valor e autenticidade baseado nas diferentes culturas; o valor de uma construção histórica encontra-se na preservação desta como um todo; a alteração do uso deve tomar em consideração todas as exigências de conservação e segurança; o processo de conservação deve seguir quatro fases sendo elas, análise da informação histórica, identificação das causas de danos e degradações, selecção das acções de consolidação e controlo da eficácia das intervenções de forma a garantir a eficiência máxima dos meios disponíveis e impacto mínimo na autenticidade do imóvel. _____________________________________________________________________________ 12 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA • Investigação e diagnóstico Equipa multidisciplinar adaptada á escala e tipo de problema; análise de dados disponíveis e formulação de plano de actividades; conhecimento do comportamento estrutural, técnicas e materiais utilizados; determinação das causas dos danos e degradações bem como do nível de segurança da estrutura anteriormente á tomada de decisão de intervenção; realização de um relatório onde esteja reunida toda a informação relevante. • Medidas de consolidação e controlo O tratamento deve ser feito com conhecimento claro das origens do problema; manutenção adequada como limitação de intervenções; avaliação da segurança e significado histórico como base das medidas de conservação e reforço; todas as intervenções devem ter carácter indispensável e os menores danos possíveis para o valor patrimonial; a utilização de técnicas mais tradicionais ou inovadoras deve ser decidida caso a caso, com preferências para as primeiras excepto quando estas não garantam as exigências de segurança e durabilidade; em casos de dúvida dos benefícios de uma intervenção, adoptar um método observacional, partindo de um nível de intervenção mínimo para uma possível posterior adopção de medidas suplementares correctivas; as medidas adoptadas devem ter um carácter de reversibilidade; os materiais devem ser preservados optando pela sua recuperação, caso seja impossível os substitutos devem ser compatíveis com os já existentes; as qualidades únicas da construção e da sua envolvente não devem ser postas em causa; a arquitectura, a estrutura, as instalações e a funcionalidade do edifício devem ser conjugadas atribuindo a cada uma a importância devida; as imperfeições e alterações que pelo factor tempo integraram a história do imóvel, devem ser mantidas logo que não comprometam a segurança da estrutura; o desmonte e reconstrução apenas deve ser utilizado quando se constatar que qualquer outro tipo de intervenção se revela mais danosa; as intervenções dificilmente controláveis em execução não devem ser permitidas, devendo qualquer proposta de intervenção ser _____________________________________________________________________________ 13 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA acompanhada de um programa de monitorização e controlo devidamente documentada integrando parte da história da construção. 2.2. Regulamentação da construção no século XVIII Pretende-se neste subcapítulo apresentar uma breve revisão sobre os métodos construtivos do século XVIII, tomando por base uma vasta bibliografia e tratadística referente á época. 2.2.1. Arcos (4) O termo Arco, designa um elemento construtivo em curva, arredondado e no qual podem ser utilizados diversos tipos de materiais sendo o mais usual a alvenaria de pedra, ou a pedra de cantaria. Das diversas aplicações dadas a um arco, observava-se principalmente a sua utilização em vãos de portas, janelas, pontes, aquedutos, como elementos de composição tridimensional de abóbadas e em elementos de fundação. Para além da sua função prática de distribuição da carga o Arco possuía também uma forte componente decorativa permitindo uma grande variedade de formas, sendo neste sentido estético que o Arco se torna um elemento útil à identificação e classificação dos diversos movimentos artísticos na arquitectura. No que respeita á definição do perfil dos Arcos, esta dependia essencialmente de cinco factores: a função, o vão necessário vencer, o volume de alvenaria e as cargas descarregadas, o tipo de alvenaria utilizada, a mão-de-obra disponível e a dificuldade de corte dos blocos. Os Arcos eram organizados em 3 perfis mais comuns, os quais tinham as seguintes relações entre o vão e a flecha: ã - Para Arcos abatidos, 5 2; _____________________________________________________________________________ 14 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 1– Arco abatido - Para Arcos de volta perfeita, ã 2; Figura 2– Arco de volta perfeita ã - Para Arcos elevados, 2. Figura 3- Arco elevado Nos casos em que o Arco de círculo ultrapassava os 180º, este denomina-se por Arco de ferradura ou Arco ultrapassado. Figura 4– Arco de ferradura ou ultrapassado Em Portugal os Arcos mais comuns eram os Arcos elevados, também designados por pontiagudos ou de ponto, geralmente quebrados no fecho, eram _____________________________________________________________________________ 15 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA constituídos por dois arcos de círculo, os quais se intersectavam no fecho, podendo estes ainda intersectar-se num nível superior ao da imposta, formando assim os Arcos lanceolados ou em forma de lança. A espessura dos Arcos estava directamente relacionada com as cargas nestes descarregadas, o que faz com que a espessura destes diminua com a sua utilização em pisos superiores do edifício. No que respeita á atribuição do uso, verificamos que cada tipo de Arco era mais indicado para determinada tarefa/função, devido a factores de capacidade estrutural, mas também devido a restrições nas dimensões possíveis. Na generalidade, os Arcos circulares, de curva contínua e poli-cêntricos, tinham como principais funções, o suporte de paredes, pavimentos de madeira e abobadas, os Arcos planos, platibandas e os Arcos abatidos de pequena flecha eram primordialmente utilizados em janelas, portas e sempre que a altura da imposta era limitada por alguma razão. Na construção de fundações eram normalmente utilizados Arcos de ressalva, frequentemente abatidos, sendo a sua principal função a condução das cargas resultantes da construção a maciços ou sapatas de fundação, e o contraventamento das diversas sapatas de fundação, evitando assim deformações nas paredes devido a eventuais assentamentos diferenciais. Quanto mais elevado fosse o perfil do Arco, menor seria a secção necessária para um mesmo vão, assim quando tinham o seu pé-direito limitado, devido por exemplo á necessidade de executar aberturas em vãos pouco afastados, eram utilizados preferencialmente os Arcos de volta inteira ou Arcos elevados. Em zonas de uma maior largura das paredes, por exemplo em caves cujo poder de absorção dos impulsos horizontais era elevado, eram utilizados Arcos abatidos. Quando a capacidade estrutural dos Arcos não se verificava suficiente, utilizavam-se sistemas de travamento horizontal, os quais aumentavam a capacidade de resistência estrutural das construções em alvenaria, e eram aplicados por meio de tirantes metálicos. Este aumento de capacidade reflectia-se numa melhor absorção das acções horizontais, nomeadamente na ligação dos elementos estruturais verticais, (pés-direitos, paredes ou colunas) com os Arcos. Permitia uma melhoria do comportamento a vibrações e movimentos violentos e inesperados, a acções de carregamento variável, a eventuais assentamentos do terreno e a possíveis deformações após o descimbramento. _____________________________________________________________________________ 16 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Podemos ainda considerar os vigamentos de madeira dos diversos andares e da estrutura do telhado como sistema de travamento, pois á semelhança dos tirantes metálicos, estes eram igualmente ancorados nas extremidades aumentando assim a capacidade estrutural dos edifícios. Figura 5– Sistema de travamento com reforço em aço. Relativamente aos métodos de cálculo exigidos, ao contrário das paredes não destinadas a suportar arcos, abóbadas, fundações ou consolas dos edifícios, os arcos exigiam cálculos complexos para a época. Os métodos identificados na época de dimensionamento de arcos poderiam organizar-se em dois grupos resumidamente: - Regras empíricas, as quais se baseavam em proporções geométricas e através das quais se dimensionavam as diversas secções das estruturas sendo este até ao século XVII o único método, o qual foi sofrendo melhorias até ao século XIX; - Algoritmos algébricos e geométricos, baseado no cálculo estático dos mecanismos de colapso de arcos circulares, este método desenvolvido entre os finais do século XVII e o inicio do século XIX constituía um dos primeiros métodos a ter não só em conta as proporções geométricas das estruturas mas também as cargas a que estas estavam sujeitas. Para a construção ou reconstrução dos arcos, era necessário um vasto conhecimento. O processo desenrolava-se em cinco etapas: o cimbramento do vão, a colocação dos blocos e das argamassas, o carregamento dos rins, o descimbramento gradual e por fim o refechamento total das juntas. Os cimbres ou simples, eram estruturas em madeira, mais ou menos complexas dependendo dos vãos a vencer, tinham como objectivo a criação de uma estrutura _____________________________________________________________________________ 17 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA através da qual se realizava fisicamente a curvatura do arco e o suporte do mesmo durante o tempo de presa das argamassas. O tempo mínimo necessário á remoção dos cimbres era estabelecido em algumas obras, no entanto havia duas correntes distintas. A primeira defendia um tempo mínimo necessário á presa das argamassas a partir do qual se poderiam remover estas estruturas. A segunda corrente defendia a sua remoção logo após a colocação da pedra de fecho, de modo a permitir a compressão das argamassas, adaptando-se estas a um novo perfil, o qual se tornaria definitivo, no entanto este abaixamento seria gradual demorando de um a dois dias. Figura 6– Cimbre para construção de arco. 2.2.2. Fundações (5) O termo fundação, é utilizado na engenharia para designar as estruturas responsáveis pela transmissão das solicitações geradas pelas construções ao solo. Existem diversos tipos de fundações, as quais são projectadas tendo por base um princípio básico, segundo o qual a tensão instalada num determinado solo, tem que ser inferior á sua capacidade resistente, com um factor de segurança de valor superior a um. O tipo de solo é o principal factor condicionante do tipo de fundação a instalar, dependendo da sua maior ou menor capacidade resistente, teremos necessidade de uma menor ou maior área de transmissão de cargas respectivamente. As fundações podiam então classificar-se, tal como ainda hoje se faz, em dois grandes grupos consoante a sua profundidade: directas ou superficiais e indirectas ou profundas. Dentro de cada um destes grupos distinguem-se ainda soluções contínuas e descontínuas. _____________________________________________________________________________ 18 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA No caso de solos resistentes (solos rochosos com características mecânicas por vezes superiores ás da própria alvenaria), a fundação era apenas um prolongamento dos elementos estruturais verticais, (paredes mestras e pilares), mantendo a espessuras destas. Em solos cujas capacidades estruturais na zona de transição de cargas se revelavam insuficientes, os elementos estruturais eram aumentados de dimensão, aumentando a área de contacto e diminuindo assim a tensão. a) b) Figura 7– a) Fundação directa sem sobrelargura b) Fundação directa com sobrelargura. Outro tipo de fundação directa contínua, consistia na escavação parcial ou total da área de implantação da construção, com poucos metros de profundidade, de forma a criar uma “caixa” a qual era dividida através de paredes de alvenaria ou tijolo e por fim preenchidas com enrocamento de pedra ordinária. Desta forma era criada uma superfície sólida para sustentação da construção. Figura 8– Planta de fundação contínua em “caixa”. _____________________________________________________________________________ 19 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA As fundações indirectas ou profundas, eram realizadas quando nenhuma das técnicas anteriores, mais fáceis e menos dispendiosas se revelava eficiente. Uma das formas de criação de fundações profundas consistia na realização de poços, com afastamento da ordem dos três metros e com profundidades variáveis (profundidade a que se encontrava o solo firme) os quais eram preenchidos com enrocamento de pedras ordinárias podendo ainda ser misturadas com argamassas. Em alguns casos, as paredes desses poços eram construídas em pedra talhada, criando assim autênticos pilares enterrados, sobre os quais se poderiam executar arcos os quais serviriam de suporte para o arranque das paredes estruturais. De forma a minorar os riscos de assentamentos diferenciais nos diferentes poços de fundação, era usual recorrer a arcos invertidos na base dos poços, o que faria com que as cargas se degradassem de uma forma mais homogénea nos diferentes poços, criando uma estrutura de fundação contínua. a) a1) b) Figura 9– Fundação sobre poço de alvenaria; a) com paredes em pedra talhada; a1) cheio com enrocamento; b) com utilização de arcos invertidos. Outro método dentro das fundações indirectas ou profundas consistia na cravação de estacas de madeira até estas atingirem o solo firme (processo utilizado na reconstrução da baixa Pombalina após o terramoto de 1755 em Lisboa). As estacas de madeira era uma boa solução uma vez que eram facilmente obtidas em qualquer região, o seu custo era reduzido, suportavam bem a cravação e a sua duração em determinadas condições era praticamente ilimitada (em 1902 procedeu-se á reconstrução do _____________________________________________________________________________ 20 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA campanário da igreja de São Marcos em Veneza e as estacas após mil anos de serviço, encontravam-se ainda em condições capazes de o voltar a suportar). Contudo para obras de maior envergadura, torna-se complicado arranjar madeira com diâmetro e comprimento suficiente para fazer face às dimensões necessárias. A escolha e o trato da madeira tinha vários requisitos, esta deveria ser de árvores bem desempenadas (de forma a não fenderem durante a cravação), deveria ser cortada no princípio do inverno para proporcionar uma secagem mais lenta (com menor perigo de aparecimento de fendas). A verificação da qualidade da madeira era feita através do número de aneis, em Portugal a melhor madeira era a madeira de pinho com quatro a oito anéis por centímetro pois um maior ou menor espaçamento destes correspondia a uma maior ou menor resistência mecânica das estacas. A maior durabilidade destas fundações (estacas), atinge-se quando elas se encontram permanentemente submersas, nos casos em que o nível freático era variável, as estacas duravam mais em terrenos secos que húmidos e em terrenos compactos que soltos pois não ficavam tão expostas às variações de humidade. O processo de cravação de estacas terminava quando devido á densidade de estacaria, o processo de cravação se revelava difícil o que traduzia uma boa compactação dos solos. Quando os estratos de solos firmes se encontravam a grandes profundidades, poderíamos recorrer a uma solução mista, execução de poços de fundação em alvenaria de pedra, assentes sobre estacaria de madeira (baixa Pombalina, Lisboa). O processo desenrolava-se nas seguintes fases: 1ª fase 2ª fase _____________________________________________________________________________ 21 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 3ª fase 4ª fase 5ª fase a) b) Figura 10–1ª fase – retirada das camadas superficiais do solo; 2ª fase – colocação das estacas de madeira; 3ª fase – colocação de travessas de madeira longitudinalmente; 4ª fase – colocação de travessas de madeira transversalmente sobre as anteriormente colocadas; 5ª fase – arranque dos poços de fundação; a) Corte longitudinal; b) Corte transversal. Uma concepção descuidada das fundações, implicava graves problemas no futuro dos edifícios. Os assentamentos, diferenciais resultado da perda de poder de sustentação de uma fundação (torre de Pizza), era um dos mais graves problemas (grande sensibilidade das paredes de alvenaria de pedra a este tipo de movimentos) pois poderia levar ao aparecimento de fendas, desaprumo das paredes, desnivelamento dos pavimentos, distorção dos vãos e até em situações mais gravosas poderia levar ao desabamento do edifício. _____________________________________________________________________________ 22 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.2.3. Paredes (6) As paredes do século XVIII reflectem toda uma história milenar, remetendo-nos às construções Egípcias, Persas, Gregas e Romanas. Reflexo de uma constante evolução estas paredes baseadas nesses princípios sofreram sucessivas melhorias de comportamento estrutural em muito devido á experiencia empírica que iam herdando da história de bem construir. Nos métodos construtivos da época, as paredes eram pensadas de forma a cumprir determinadas exigências no que respeita á segurança estrutural dos edifícios. As paredes resistentes assumiam um papel relevante na estrutura do edifício, quer no suporte das cargas verticais (peso próprio da estrutura), como das cargas horizontais (vento e sismos). Estas apresentavam grande espessura na base, sendo esta reduzida com a proximidade ao topo do edifício. No que respeita às paredes divisórias, desempenhavam somente a função de separação de compartimentos, salvo raras excepções nas quais estas eram utilizadas como sistemas anti-sismo (gaiolas construção pombalina). As alvenarias do século XVIII podem ser analisadas separadamente em três métodos construtivos, as alvenarias em pedra talhada utilizadas em construções de maior importância, as alvenarias ordinárias as quais requeriam uma menor preparação dos materiais e ainda alvenarias mistas nas quais se utilizava pedra irregular e tijolo. No caso das alvenarias em pedra talhada, estas eram posadas a seco, isto é sem argamassas, para tal todas as faces dos blocos deveriam ter contacto perfeito com as faces dos blocos que envolviam este de modo a ter uma boa área de contacto. Para as pedras mais duras de difícil moldagem, as imperfeições nas juntas deveriam ser preenchidas por pó de pedra ou areia de modo a regularizar as faces e aumentar a área de contacto das mesmas. A ausência de argamassa era dispensada devido ao grau de perfeição dos blocos, estes permitiam uma união perfeita entre os mesmos, contudo a argamassa revela-se essencial em aquedutos e fontes devido á necessidade de estanquidade, o grande tamanho dos blocos era também um dos factores que contribuía para a garantia de estabilidade das paredes a seco. A este modelo ideal estavam associadas três regras fundamentais: _____________________________________________________________________________ 23 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA - Horizontalidade das fiadas e dos planos de assentamento; - Verticalidade entre juntas de blocos de uma mesma fiada; - Respeito pelas regras de aparelho, de modo a assegurar o comportamento monolítico das alvenarias. Relativamente às proporções ideais dos blocos, havia já alguns estudos, segundo Rondelet as proporções ideais para construção em pedra talhada eram: - Pedras de baixa densidade, b=(1,5 ou 2)*a e c=1,5*a - Pedras de densidade média, b=3*a e c=2*a - Pedras de grande densidade, b=4*a e c=2*a sendo a, b e c a espessura, comprimento e largura do bloco respectivamente. Figura 11– Estudo sobre as proporções ideais segundo Rondelet. Com o passar dos anos as dimensões dos blocos começou a diminuir aumentado a facilidade de manipulação, contudo a argamassa para este tipo de alvenaria começa a revelar-se fundamental de forma a permitir uma distribuição uniforme das cargas e para o aumento da flexibilidade da estrutura, sendo frequente o aparecimento de juntas de 1 a 1,5 cm. As boas regras de dimensionamento ditavam que as juntas de cada bloco deveriam garantir uma transmissão contínua das cargas a que estariam sujeitas e com a diminuição do tamanho dos blocos os cuidados na confecção das argamassas deveria aumentar. As construções em alvenaria de pedra talhada cedo se reservaram às construções mais importantes dada a sua complexidade e exigência. A alvenaria em pedra ordinária _____________________________________________________________________________ 24 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA nasce como uma resposta á construção rápida menos complexa, não necessitando de mão-de-obra tão especializada nem de materiais tão difíceis de trabalhar. A caracterização das alvenarias ordinárias poderia dividir-se em dois grandes grupos, sendo eles o das alvenarias de médio e grande aparelho grosseiramente trabalhadas e o das alvenarias de pequeno aparelho ou calhaus. Estes distinguiam-se consoante as dimensões da pedra, a qualidade e os instrumentos disponíveis para a trabalhar. Para as alvenarias pertencentes ao primeiro grupo, estas eram sujeitas a uma regularização prévia a qual se denominava por escacilhamento de forma a conceber blocos com arestas muito próximas da esquadria e em alguns casos dar forma plana a uma das faces. As regras de travamento enunciadas para as alvenarias em pedra talhada eram igualmente tomadas como essenciais revelando-se este processo mais complexo dada a irregularidade superior dos blocos. No caso das alvenarias em pedra de pequeno aparelho ou calhaus, o tratamento era idêntico ao anterior mas com um grau de exigência menor. As pedras passavam pelo mesmo processo de escacilhamento tentando dar uma forma de arestas mais vivas preenchendo-se ainda os espaços vazios da imperfeição na união dos blocos com pequenas lascas. As construções em alvenarias mistas são na maioria dos casos resultado da utilização conjunta de pedra irregular e tijolo. Neste tipo de construção os tijolos serviriam para melhorar os níveis de acabamentos de determinadas zonas. No caso de portas e janelas, era de todo conveniente o aumento de precisão nos acabamentos, passando dos vários centímetros da pedra irregular para poucos milímetros da construção em tijolo os quais se revelavam fundamentais ao bom revestimento dos arcos das portas e janelas facilitando assim a instalação dos caixilhos de madeira. 2.2.4. Argamassas (7) Denomina-se por argamassa (pré-latim arga + latim massa) à mistura feita com pelo menos um ligante, agregados miúdos e água. O ligante pode ser a cal, o cimento ou o gesso, o agregado pode ser a areia, o pó de pedra e as britas. _____________________________________________________________________________ 25 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA As argamassas mais comuns são constituídas por cimento, areia e água. Em alguns casos, costuma-se adicionar outro material como cal, saibro, barro e outros para a obtenção de propriedades especiais. A proporção em volume entre os componentes das argamassas (cimento, cal e areia) é designada por traço e varia de acordo com a finalidade da argamassa. A preparação das argamassas e dos betões tradicionais, é hoje alvo de normas nacionais e europeias contudo no século XVIII, a regulamentação era muito escassa a nula. Os materiais utilizados na época na concepção das argamassas eram: - Ligantes: cais e gesso; - Agregados: areia, britas e pó de pedra; - Agregados capazes de transmitir hidraulicidade: pozolanas, pó de tijolo e tass; - Água. Quanto aos ligantes cais e gessos, tinham as suas utilizações sujeitas ás condições de aplicação. As cais podiam dividir-se em dois tipos, as cais aéreas, que apenas faziam presa ao ar e as cais hidráulicas, que podiam fazer presa debaixo de água (construção de muros de cais, cisternas, fundações de pontes, etc.). O gesso tinha boas capacidades de aderência em alvenarias, em pedra e em madeira, contudo não tolerava a exposição á agua, o que condicionava a sua utilização principalmente a revestimento de paredes e tectos interiores. Recorria-se igualmente ao gesso para a construção de paredes divisórias em tabique e para a elaboração de molduras, era ainda utilizado quando se pretendia diminuir o tempo de presa das argamassas de cal, por exemplo no caso de elaboração de abóbadas finas executadas sem cimbres. Relativamente aos agregados, a areia é de longe o inerte mais utilizado na construção. Para a garantia de uma boa argamassa, é tão importante a garantia de um bom inerte como a garantia de um bom ligante. As areias eram diferenciadas pela sua semelhança a pedras conhecidas (calcário, argila, etc.), pelas dimensões dos seus grãos (separadas em saibro, areia grossa, areia corrente e areia fina), pela sua origem (mina, pedreira e rio) e ainda pela sua cor sendo esta ultima de menor importância. A escolha destes inertes era feita consoante a função da argamassa, para execução de alvenarias _____________________________________________________________________________ 26 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA irregulares era utilizada areia grossa, para alvenarias de pedra talhada e cantaria eram utilizadas areias finas. Na aplicação de rebocos e estuques, a dimensão da areia diminuía consoante se aproximavam da camada mais exterior. Na produção de britas, eram utilizadas diversas matérias-primas, variando assim com a disponibilidade de cada região. No entanto como regra geral, era dada preferência às pedras mais duras, (sílica, quartzos, basaltos, granitos) evitando as argilas mais susceptíveis às condições de gelo e degelo. Na sua preparação deveria ser tida em conta a limpeza de substâncias finas, detritos e terra. Estas eram posteriormente separadas e classificadas por dimensões de agregado em três grupos, as britas finas ou gravilha, as britas médias ou meio cascalho e as britas grossas ou cascalho. O pó de pedra, constituia o mais pequeno inerte utilizado na construção, estes eram utilizados preferencialmente na concepção de rebocos, estuques e nas últimas camadas do pavimento. O pó de mármore, era tratado em particular dada a granulometria muito fina, a qual lhe conferia uma boa capacidade de adesão á pasta de cal, formando massas muito densas, impermeáveis e resistentes. De entre os agregados capazes de transmitir hidraulicidade às misturas, as pozolanas eram as que mais se destacavam, estas podiam ter origem natural e artificial. As de origem natural, provêm da cidade de Pozzzuoli, na região de Nápoles, onde as cinzas e tufos vulcânicos, resultado de projecções vulcânicas, granulares e terrosas com granulometria que varia desde a cinza á areia grossa são abundantes. As pozolanas artificiais designavam normalmente o pó obtido por esmagamento ou apiloamento de telhas, tijolos ou outros materiais cerâmicos obtidos por cozedura de argilas, conferindo às argamassas as mesmas propriedades hidráulicas das pozolanas naturais. As pozolanas apenas faziam presa quando em contacto com a cal, com a qual reagiam quimicamente, formando compostos estáveis (silicatos e aluminatos de cálcio hidratados) os quais revelam um elevado poder aglomerante. No que se refere á água utilizada na amassadura, só a partir do século XVIII se começaram a efectuar estudos científicos sobre a influência da qualidade desta na qualidade das argamassas. A presença de sais dissolvidos (cloretos, sulfatos, chumbo, alumínio, cobre, etc.) tinham um efeito negativo na qualidade das argamassas, para tal deveriam ser controlados os resíduos secos após a ebulição da água. _____________________________________________________________________________ 27 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.2.5. Pavimentos (8) O termo pavimento (também conhecido pelo termo menos técnico e menos exacto chão) provém do latim pavimentu e designa a base horizontal de suporte de uma determinada construção (ou as diferentes bases de cada andar de um edifício). Estas camadas podem ser constituídas por um ou mais materiais, os quais se colocam sobre o terreno natural ou em suspensão, de forma a criar uma base sólida de circulação e sustentação de pessoas e mobiliário. Os pavimentos tradicionais térreos e sobre alvenaria, eram maioritariamente constituídos por argamassas. Estes pavimentos distinguiam-se tendo em conta a natureza da camada de suporte, a qualidade da última camada e a espessura de cada uma das camadas. Quanto á qualidade do meio de suporte, poderia dividir-se em duas classes principais, os formigões simples e as betonilhas simples. Os formigões simples, eram constituídos por betões assentes directamente sobre o terreno, afagados e polidos na última camada, as betonilhas simples destinavam-se a pavimentos sobre madeira ou abobadas, afagados e polidos na última camada. No que se refere á espessura das diferentes camadas, estas, á medida que se aproximavam da superfície, decresciam em granulometria e cresciam em compacidade e impermeabilidade. Em termos numéricos, registam-se variações muito consideráveis, para a camada de fundação a espessura variava de 6 a 22 cm, para o massame ou camada de forma a espessura variava entre 3 e 11 cm e a última camada variava entre 1 e 4 cm. Estas diferenças podem ser explicadas através do carisma da construção e do tipo de terreno de implantação. Relativamente á última camada, verifica-se uma distinção entre formigões ou betonilhas e os pavimentos venezianos. Os primeiros eram revestidos com placas de pedra ou ladrilhos cerâmicos, os venezianos eram constituídos com betonilhas ou formigões e revestidos com uma argamassa fina com inclusões de pedra mármore. Os pavimentos em madeira, eram utilizados maioritariamente em pisos elevados das habitações sendo constituídos por dois elementos principais, as vigas e o soalho. O vigamento era feito com recurso a vigas ou barrotes dispostos paralelamente com pequenos intervalos entre si (a lei de bem construir pombalina indicava um espaçamento entre vigas igual á espessura destas) e os quais deveriam penetrar na parede 20 a 25cm. Se a zona da construção fosse sísmica (reconstrução da baixa de Lisboa), era usual o melhoramento da ancoragem parede/pavimento através da incorporação nestes de peças _____________________________________________________________________________ 28 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA metálicas pregadas, as quais eram embebidas na alvenaria ou atravessavam esta na sua totalidade, ancorando-se nesta face criando assim um sistema estabilizador horizontal. Figura 12–; Ancoragem das vigas de madeira na parede de alvenaria. Quando o vão a vencer pelas vigas de madeira era considerável, era frequente a utilização de outras vigas, de maiores dimensões, colocadas transversalmente às primeiras criando assim outro ponto de apoio o que provoca a redução do vão. Estas vigas transversais eram normalmente apoiadas (a meio, a terços, etc.) sobre colunas de ferro fundido, prumos de madeira ou ainda sobre pilares de tijolo. Quando este apoio não era possível era necessário recorrer a vigas de secção reforçada, as quais transmitissem garantias estruturais para as cargas actuantes. As vigas armadas consistiam na adição a vigas simples de madeira, de elementos de secção variável os quais atingiam a dimensão máxima no ponto de carga máxima, sendo geralmente o centro da viga. Figura 13– Viga de madeira com reforço de madeira. _____________________________________________________________________________ 29 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 14– Viga de madeira com reforço em aço. Em construções mais nobres, onde se pretende a criação de soluções mais duradouras e resistentes, era solução a implementação de arcos e abóbadas de alvenaria, criando por um lado uma estrutura com maior poder de sustentação de cargas e ao mesmo tempo menos vulnerável á humidade e ataques de fungos. Na baixa Pombalina é muito frequente esta solução nos pavimentos do rés-do-chão e nos tectos de caves. Sobre os arcos e abobadas, colocavam-se os revestimentos dos pisos recorrendo essencialmente a duas soluções: a primeira passava pela criação de uma estrutura de madeira sobre estes arcos, criando assim uma estrutura leve mas com algumas limitações ao nível de diversidade de acabamentos e em termos estruturais, a segunda opção passava pelo enchimento dos arcos e abobadas com entulho seleccionado (areia argilosa, terra ou pedra solta), sobre o qual se colocava uma camada de argamassa e o respectivo acabamento. Esta segunda opção mais pesada (podendo o seu peso ser também um factor estabilizante dos arcos e abóbadas) cria uma solução mais adequada principalmente para acabamentos que não sejam de madeira. 2.2.6. Tectos (9) O termo tecto, provém do latim tectu, e designa a superfície interior da cobertura de uma estrutura, ou seja, a face superior (horizontal ou angular) de um determinado espaço. Relativamente aos métodos construtivos, os tectos no século XVIII eram marcados por dois processos completamente diferentes, estuque e forro em madeira. Nos tectos em estuque, começava por se pregar na parte inferior das vigas, fasquias de secção trapezoidal, assentes pela base menor e distanciadas de um _____________________________________________________________________________ 30 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA centímetro entre si formando um plano horizontal. Completada esta fase seguia-se o enchimento do tecto a pardo e de seguida colocava-se o estuque. De forma a criar uma solução mais duradoura poderia optar-se por criar uma estrutura independente para sustentação das fasquias, não absorvendo estas as vibrações do pavimento evitando assim a fissuração do estuque, contudo este método era mais dispendioso. Os tectos em madeira eram formados por tábuas aplainadas na face visível e pregadas às vigas do sobrado. A ligação entre tábuas era feita a meio-fio como no soalho á portuguesa, apresentando muitas das vezes um cordão nas juntas, constituindo assim o forro de esteira. Figura 15– Forro de esteira simples. O forro mais usual da época era no entanto o forro de esteira sobreposto ou forro de saia e camisa, este consistia na pregagem ao vigamento do sobrado de uma série de tábuas, as camisas (nas construções mais nobres as camisas apresentavam cerca de 25 cm de largura, com o passar do tempo essa dimensão foi sendo reduzida, a espessura variava entre 10 e 20 mm), devidamente espaçadas e matando-se as juntas com outra série de tábuas, as saias, geralmente com as arestas emolduradas. Figura 16– Forro de esteira sobreposto “saia e camisa”. Nos tectos anteriormente descritos, o vigamento fica sempre oculto, no entanto nos tectos de caixotões ou de artesões (tectos cuidadosamente trabalhados, símbolos de riqueza), os barrotes não só ficavam visíveis como faziam parte da ornamentação. A parte inferior destes era cuidadosamente trabalhada e emoldurada, posteriormente eram colocados chincharéis os quais dividiam o tecto em caixotões quadrados ou rectangulares, cujos fundos ostentavam florões e molduras diversas. _____________________________________________________________________________ 31 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 17– Tecto com madeiramento á vista. Em tectos mais nobres eram ainda utilizadas sancas. Em todo o contorno do tecto, eram pregados cordões emoldurados sendo apoiada uma parte nas vigas do sobrado e outra na parede. Figura 18– Exemplo de uma Sanca. 2.2.7. Coberturas (10) O termo cobertura define o elemento estrutural que isola o topo de qualquer construção e pode apresentar-se em diversas formas (telhado, lajes planas, cúpulas, etc.). A função principal da cobertura é proteger o espaço interior do edifício do ambiente exterior (neve, chuva, vento, etc.), concedendo ainda aos utilizadores privacidade e conforto (através de protecção acústica, térmica, etc). Relativamente á forma das coberturas dos edifícios do século XVIII, apresentase uma clara predominância das superfícies planas inclinadas, contudo havia alguns casos onde esta se apresentava sob a forma curva (geralmente em edifícios de carácter religioso, abóbadas e cúpulas) e ainda como superfície plana em terraços (associada a arcos e abóbadas de cobertura). _____________________________________________________________________________ 32 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA No que se refere às coberturas planas em terraço, as estruturas, baseadas em arcos e abóbadas, eram geralmente niveladas com entulho seleccionado (areia argilosa, pedra e terra solta) sobre a qual se procedia á colocação das camadas impermeabilizantes, neste caso especifico a madeira era raramente utilizada como estrutura auxiliar de nivelamento dado o grau de exposição á humidade e intolerância a tal, no entanto verificavam-se algumas coberturas inclinadas tendo por base este tipo de estrutura podendo estas ser de carácter independente (asna sobre elevadas) ou tendo por base estrutural os arcos e abóbadas (estrutura de madeira a descarregar sobre estes), normalmente este tipo de solução encontrava-se associada a edifícios religiosos. As coberturas planas, revelavam ainda algumas dificuldades em termos de impermeabilização uma vez que a água fica retida durante muito tempo na superfície destas. Figura 19– Exemplo de cobertura com recurso a arcos e abóbadas. As coberturas curvas, estão geralmente associadas a uma pequena parte do edifício, são sinónimo de riqueza e são utilizadas por norma em edifícios de carácter religioso. Neste tipo de cobertura dada a sua complexidade de execução torna-se por vezes difícil garantir a estanquidade, mesmo estas beneficiando da sua forma que faz com que a água permaneça em contacto com a superfície durante períodos de tempo reduzidos. A sua estrutura era baseada em vigas simples curvadas, as quais apoiavam num arco circular equivalente ao frechal dos telhados vulgares e convergindo para o topo. Não poderão ser ligadas mais que 4 a 8 vigotas no topo, o que cria espaçamentos _____________________________________________________________________________ 33 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA muito grandes entre vigotas nas secções inferiores, para solucionar esta questão, são colocadas vigas curvadas mais curtas as quais convergem para um anel de ligação de todas as vigotas colocado num nível inferior, podendo existir um ou vários dependendo das dimensões e necessidades da estrutura. Figura 20– Exemplo de cobertura com recurso a arcos e abóbadas. As coberturas planas inclinadas, apresentavam-se nas mais variadas formas, a inclinação era condicionada pela utilização dada ao espaço entre o tecto do último piso e a cobertura (águas-furtadas mansardas, sótãos, etc.) e pela localização do edifício (quantidade de precipitação, probabilidade de queda de neve, etc.). Nas construções de menor importância, era frequente a utilização de telhados a apenas uma água, diminuía o grau de complexidade de execução e os custos, resumindo-se a vigas simples dispostas paralelamente. No caso de se pretender o tecto horizontal, sob este conjunto de vigas eram adicionadas outras na horizontal, interligando ambas por peças de madeira auxiliares criando assim a forma mais simples de asna. Com o aumento da importância dos edifícios, as coberturas tornavam-se cada vez mais complexas, este aumento de complexidade reflectia-se no aumento dos custos e num desempenho menos eficaz destas. Os edifícios pombalinos, estão providos na sua maioria por coberturas a duas águas, por vezes de inclinação assimétrica e amansardadas, de baixa complexidade e de boa eficiência. A estrutura era constituída por asnas de baixa complexidade, as quais eram reforçadas nas ligações com tiras de aço pregadas e apoiadas sobre “berços” cuidadosamente construídos de forma a garantir o melhor desempenho desta. _____________________________________________________________________________ 34 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 21– Asna de cobertura. 2.3. Enquadramento Físico e Humano 2.3.1. Situação Geográfica (11) O concelho de Lamego localiza-se na região Norte e sub-região do Douro, pertencente ao Distrito de Viseu, com o qual só mantém relações administrativas, dado que cultural, social e economicamente, encontra-se integrado e voltado para a região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Figura 22– Localização do concelho. _____________________________________________________________________________ 35 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Relativamente ao seu distrito, o concelho de Lamego localizando-se no extremo Norte do mesmo. O concelho possui uma área geográfica de 166.7 Km2, distribuída por vinte e quatro freguesias, fazendo fronteira a Norte com o rio Douro que separa este concelho do distrito de Vila Real. Na sua envolvência imediata encontram-se os concelhos de Mesão Frio e Peso da Régua a Norte, a Leste o de Armamar, a Sueste o de Tarouca, a Sudoeste o de Castro Daire e a Oeste o concelho de Resende. O concelho de Lamego faz ainda parte da região Demarcada do Douro, recentemente classificada pela Unesco com o estatuto de património mundial, o que o compromete com outros cuidados no que respeita a preservação do património existente. Figura 23– Freguesias do concelho de Lamego. _____________________________________________________________________________ 36 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.3.2. Evolução Histórica 2.3.2.1. O Concelho de Lamego (12) A génese e história deste concelho parece estarem ligadas aos Celtas, dado que já seria uma povoação importante no século IV a. C.. Em 569, as terras foram ocupadas pelos Suevos e sabe-se que, no primeiro quartel do século XVII, o rei visigodo Sisebuto já nelas cunhava moeda. Durante quatro séculos Lamego foi sendo reconquistada, sucessivamente, pelos Cristãos e pelos Árabes. Durante a ocupação árabe foi sede de um valiato de fronteira e a 29 de Novembro de 1057 as terras foram reconquistadas definitivamente por Fernão Magno. Em 1071, com a restauração da diocese de Lamego, passam a existir alcaides, um dos quais foi Egas Moniz, que empreendeu o repovoamento do Ribadouro. Foi concedida a Lamego a carta de couto por D. Sancho I, em 1191. Até ao século XIV, reinado de D. Dinis, teve um grande desenvolvimento, contudo, depois com os nobres conheceu o declínio, reduzindo-se a uma aldeia de 1500 habitantes. Em Julho de 1555, D. Manuel concedeu foral novo a Lamego, após o qual a povoação começou, de novo, a desenvolver-se. Posteriormente, foi alvo de uma reforma liberal. 2.3.2.2.- A Freguesia de Samodães (13) Os registos acerca da historia de Samodães são escassos, contudo existem referencias a esta freguesia em documentos muito antigos. Samodães de seu nome inicial Çamudaens ou Zamudães foi resgatada aos Mouros no século XI através de D. Thedon e D. Rousendo. Foi propriedade de Mendo Viegas, o qual recebeu todos os termos pertencentes a este lugar através de D. Afonso Henriques em 1113. Em 1258, Çamudaens ou Zamudães pertencia ao padroado real, e era habitada por 25 casais, os quais pagavam ao rei, no 1º de Maio, oito “baras de vragal” e outros foros. _____________________________________________________________________________ 37 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Em 26 de Julho de 1514, o Rei D. Manuel a partir de Lisboa, concedeu foral a Samodães. Em 1757 Samodães contava com 105 fogos, os seus habitantes viviam com as vantagens trazidas pelo rio o qual proporcionava bom peixe, as encostas férteis onde produziam muitos alimentos e onde o gado pastava. 2.3.2.3.- A Capela objecto de estudo (14) Relativamente a origem da capela caso de estudo as informações são praticamente nulas. Há referencias na obra de Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno relativamente ao numero de capelas existentes na freguesia de Samodães em 1900, dado que os métodos construtivos desta a remontam para uma época anterior, uma das capelas num total de 8 referenciadas será então a capela de Santo António. Em 1900 a Quinta de Loureiro onde se encontra a capela, pertencia á família Osório, a qual não é referenciada em tal inventário, dado que uma das capelas privadas referidas não é referido o nome do proprietário, pressupõe-se que essa seja a nossa capela, pois o autor apenas se refere a ela como uma capela no meio das vinhas. A capela estava ligada á casa senhorial por uma ponte em arco. Analisando e enquadrando esse facto na época, isso serviria para os senhores donos da quinta acederem á capela sem passar pelo povo, assistindo estes às celebrações no coro, ao qual apenas eles tinham acesso. Nas últimas décadas a capela foi utilizada como casa de caseiros, justificando-se assim as divisórias por esta apresentada. Actualmente está inserida num complexo hoteleiro, tendo sido alvo de reforço estrutural com elementos de betão armado, em torno do edifício. 2.3.3.- Geologia (15) Como na maioria dos solos transmontanos, o concelho de Lamego revela uma grande variedade litológica, o que torna a sua caracterização um pouco complexa. Vamos então restringir a nossa caracterização á freguesia de Samodães, pertencente á formação da Desejosa, Câmbrico Superior, nossa área de estudo e a qual se revela importante identificar, de forma a conceber uma imagem litológica mais precisa. _____________________________________________________________________________ 38 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Na área de estudo podemos identificar da base para o topo a seguinte sucessão litologica: na base identifica-se uma espessa alternância de filitos cinzento-negros com siltitos claros, de seguida encontramos uma outra camada distinta na qual identificamos cerca de 30m de metagrés e metagrauvaques com intercalações de filitos cinzentonegros, posteriormente, estes filitos vão-se tornando mais espessos e alternam com níveis de metagrés, quartzitos imaturos e niveis calco-silicatados, no topo, há regresso às laminações finas de filitos cinzento-negros e silitos claros. As camadas de gresosos e grauvacóides com uma maior granularidade, mais resistentes à deformação, preservam ainda algumas estruturas primárias tais como figuras de carga, granoclassificação e estratificação paralela e cruzada, nas camadas com siltiticos, mais finos, apreciam-se laminações paralelas e ocasionais laminações obliquas. Para a sucessão apresentada, toma-se como mais provável ambiente de deposição o das correntes de turbidez. Quanto á idade desta formação, atendendo á situação estratigráfica em continuidade com o Ordovicio, as correlações laterais e os achados fósseis nomeadamente uma forma de Linguellela maior e restos de trilobites, pode ser aceite como Câmbrico superior. Figura 24– Carta geológica da região de Mesão Frio – (Instituto Geológico Mineiro, Folha 10-C escala 1/50000 reduzida). _____________________________________________________________________________ 39 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.3.4.- Relevo (16) O relevo do município de Lamego é acidentado, destacando-se como áreas de maior altitude as serras de São Domingos, Meijinhos, Poio, Fonte da Mesa, Meadas e Montemuro. A serra de São Domingos está orientada a Noroeste com 735 m de altura, a serra de Meijinhos encontra-se orientada a Sul e atinge uma altitude igual a 976m, a serra do Poio encontra-se voltada a Este com uma altitude de 1071 m, a serra de Fonte da Mesa encontra-se orientada igualmente a Este e atinge os 1122 m de altitude, a Norte encontramos a serra das Meadas com 1122m de altitude e por fim a serra de Montemuro que se situa a Sudeste do conclho com uma altitude de 1382m sendo esta a maior elevação do concelho de Lamego. O concelho revela zonas de declive bastante acentuado nas encostas voltadas para o rio Douro, o qual percorre o concelho pelo seu limite Norte, onde este expõe as suas zonas de menor altitude. Figura 25– CARTA MILITAR DE PORTUGAL – Instituto Geográfico do Exército Folha 126 (Peso da Régua) -escala 1/25000, Ed. 1998. _____________________________________________________________________________ 40 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.3.5.- Clima (17) O município de Lamego possui um clima marítimo de transição e/ ou de climas diferenciados, consoante a disposição topográfica e o gradiente térmico as temperaturas serão mais elevadas nas áreas de menor altitude, assim como será mais chuvoso nos lugares cujas vertentes estejam voltadas a poente. No que diz respeito a freguesia de Samodães, visto esta confinar com o Douro, podemos qualifica-la em termos climáticos com os atributos que por este são concedidos, sendo assim o Alto Douro uma região quente no meio de regiões frias. Na planáltica zona da “terra fria”, o Douro rasga um profundo sulco de leste a oeste, abrigado dos ventos, batido de sol e ainda favorecido pela forte radiação calorífica da rocha xistosa que constitui a maior parte da região, formando assim uma porção de terra transmontana envolvida por uma cintura de montanhas, a qual confere características muito próprias. Para uma caracterização mais fiável e traduzida agora por valores, recorremos a estação meteorológica do Peso da Régua (latitude 41º 10’7’’N; longitude 7º 48’13’’W). Recorremos a esta estação meteorológica pois é a estação mais próxima e a que traduziria de uma forma mais fiável o clima da freguesia onde se encontra o nosso edifício caso de estudo, tendo a localização exacta deste as seguintes coordenadas: latitude 41º 08’, longitude 7º 51’, altitude 380m. Os dados tratados referem-se a um período de tempo entre os anos de 1951 e 1980, tomado como suficiente e fiável para com as exigências do trabalho. De seguida abordaremos de uma forma mais minuciosa as variáveis temperatura, precipitação, regime termopluviométrico, humidade do ar, nebulosidade e regime dos ventos, com o intuito de conceber uma exacta pormenorização do clima da região. • Temperatura A Temperatura é um parâmetro físico (uma função de estado) descritivo de um sistema que vulgarmente se associa às noções de frio e calor, bem como às transferências de energia térmica, mas que se poderia definir, mais exactamente, sob um ponto de vista microscópico, como a medida da energia cinética associada ao movimento (vibração) aleatório das partículas que compõem um dado sistema físico. _____________________________________________________________________________ 41 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Relativamente ao nosso caso de estudo, o valor médio anual da temperatura do ar registado pela estação meteorológica do Peso da Régua, foi de 15,3ºC. O valor máximo das temperaturas médias mensais verificou-se em Julho registando-se 23,0ºC, e um mínimo de 8,1ºC assinalado em Janeiro. Relativamente à média das temperaturas máxima e mínima, os valores extremos obtidos variaram entre 31,1ºC, registados em Agosto para a temperatura máxima, e os 3,6ºC, registados em Janeiro para a temperatura mínima. A temperatura máxima absoluta foi de 42,0ºC, observada em Agosto, sendo a temperatura mínima absoluta de -6,5ºC, registada em Dezembro. O número médio de dias anuais com temperatura mínima superior a 20ºC foi de 0,5, sendo de 17,9 o número médio de dias em que registou uma temperatura mínima inferior a 0,0ºC. O número de dias com temperatura máxima superior a 25ºC foi de 125,6 dias. A amplitude entre o valor médio das temperaturas máximas do mês mais quente e o valor médio das temperaturas mínimas do mês mais frio foi de 27,5ºC. A temperatura média anual da região em estudo apresenta valores entre 8,9ºC e 21,6ºC. • Precipitação Precipitação é o parâmetro físico que descreve qualquer tipo de fenómeno relacionado com a queda de água do céu, o que inclui neve, chuva e chuva de granizo. Ela é uma parte importante do ciclo hidrológico, o grande responsável por devolução da maior parte da água doce ao planeta. O valor médio da precipitação total anual observado na estação meteorológica do Peso da Régua foi de 950,0 mm. O mês mais chuvoso foi o de Fevereiro, com 136,3 mm, sendo Julho o mês em que se registou um valor médio anual mais baixo, com 11,4 mm. A precipitação máxima diária absoluta ocorreu no mês de Setembro com um valor de 83,8 mm. Registaram-se, em média, 110,7 dias com precipitação igual ou superior a 0,1 mm, 97,6 dias com precipitação igual ou superior a 1,0 mm e 33,2 dias com precipitação igual ou superior a 10,0 mm. _____________________________________________________________________________ 42 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA • Regime Termopluviométrico O Regime termopluviometrico relaciona o valor da precipitação média mensal, em mm, com o valor de temperatura média mensal, em ºC, mediante uma relação de 2 mm de precipitação para 1ºC de temperatura, com o auxílio do climodiagrama de Walter Gaussen, também designado por Diagrama Ombrotérmico, que constitui uma das formas gráficas de representar o regime termopluviométrico de um dado local. É a partir desta intersecção gráfica, que resulta a definição da Estação Seca e da Estação Húmida. Deste modo, da análise do regime termopluviométrico registado na estação do Peso da Régua, conclui-se que os meses em que se registam temperaturas mais elevadas são os que registam menores quantidades de precipitação, sendo eles Junho, Julho, Agosto e Setembro, os quais definem a Estação Seca. Os meses chuvosos coincidem com os de menor temperatura, ocorrendo os máximos de precipitação nos meses de Janeiro, Fevereiro, Novembro e Dezembro, os quais definem a Estação Húmida. • Humidade do Ar A humidade do ar é a quantidade de vapor de água existente em suspensão na atmosfera, formando as nuvens e a precipitação. A quantidade de vapor de água presente no ar varia de um lugar para outro e até no mesmo lugar, dependendo do dia, do mês e da estação do ano. O valor médio da humidade relativa do ar varia de forma regular ao longo do ano na estação de Peso da Régua, sendo estes elevados. A humidade relativa apresentase mais elevada durante o período da manhã (9h), quando as temperaturas são mais baixas e as massas de ar apresentam uma menor capacidade higrométrica. Por outro lado, nos meses de Verão a humidade relativa apresenta valores mais baixos, o que poderá estar relacionado com a maior capacidade higrométrica das massas de ar e com uma maior dificuldade em atingir o nível de saturação. Os valores de humidade relativa referentes as leituras efectuadas no período da manha (9h), variam entre os 90% alcançados mo mês de Janeiro e os 62% obtidos em Julho. No período da tarde (18h), os valores são um pouco mais baixos, variando estes entre os 76% conseguidos no mês de Janeiro e os 54% atingidos em Julho. _____________________________________________________________________________ 43 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA • Nebulosidade A nebulosidade define-se como a quantidade de nuvens no céu, visíveis num dado local, e exprime-se em décimos de céu, variando o seu valor entre 0 (céu limpo) e 10 (céu totalmente encoberto). O valor médio anual da nebulosidade registado no período da manha (9h) é de 5 décimos atingindo o período da tarde (18h) o mesmo valor. A nebulosidade nos meses de Verão, designadamente em Julho e Agosto, é inferior aos restantes meses do ano chegando nestes a valores de 2 décimos de céu coberto (às 9h). Registou-se, em média, 123,8 dias com céu praticamente limpo, (valor de nebulosidade igual ou inferior a 2 décimos) e 138,7 dias com o céu fortemente encoberto (valor de nebulosidade igual ou superior a 8 décimos). O número de dias com o céu fortemente encoberto é maior nos meses de Inverno, atingindo-se um valor máximo de 20,9 dias em Dezembro, enquanto o número de dias com o céu praticamente limpo é mais frequente no Verão, alcançando em Julho o valor mínimo de valor igual a 2,4 dias. • Regime de Ventos O Regime de ventos define-se como o ar em movimento, resulta do deslocamento das massas de ar devido aos efeitos das diferenças de pressão atmosférica entre duas regiões distintas sendo ainda influenciado por efeitos locais como a orografia e a rugosidade do solo. Essas diferenças de pressão têm origem térmica e estão directamente relacionadas com a radiação solar e os processos de aquecimento das massas de ar, formando-se a partir de causas naturais, como a proximidade ao mar, a latitude, altitude, etc. No caso de estudo verifica-se predominância dos ventos de quadrante Sudoeste, com um frequência em 22,3% dos dias ao ano e uma velocidade média anual de 7,7km/h, o quadrante voltado a Norte é onde os ventos são menos predominantes, havendo uma frequência em 2,8% dos dias ao ano com uma velocidade média anual de 4,1km/h. _____________________________________________________________________________ 44 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA O mês mais preponderante é o mês de Julho no quadrante voltado a Sudoeste, no qual há uma frequência em 25,7% dos dias com uma velocidade media mensal de 8,6km/h. As velocidades máximas absolutas atingidas foram no mês de Julho no quadrante Oeste e Noroeste, com um valor igual a 9,1km/h. A velocidade de 36,0km/h do vento é ultrapassada 1 dia por ano enquanto a velocidade de 55,0km/h é ultrapassada em 0,4 dias por ano. 2.3.6.- Coberto Vegetal (18) A flora do concelho de Lamego é bastante rica. Nas encostas das serras, mas praticamente no fundo das serras predominam as plantações de pinheiro (Pinus pinaster), acompanhado do carvalho-roble ou carvalho-alvarinho (Quercus robur) e o castanheiro (Castanea sativa), sendo que este último nunca aparece acima dos 1.000 metros. Nas margens dos ribeiros predominam o amieiro (Alnus glutinosa), o salgueiro (Salix spp.), a borrazeira branca (Salix salvofolia), a borrazeira preta (salix atrocinerea) e o freixo (Fraxinus angustifolia). Na “Crista da Serra”, acima dos 1000 metros, encontra-se uma vegetação arbustiva, onde predominam o tojo (Ulex spp) e as urzes, como a urze vermelha (Erica australis), a urze branca (Erica arborea), a queiró (Erica umbellata), sargaço branco (Cistus psilosepalus), a giesta branca ou giestas das serras (Cytisus multiflorus), e os fetos (Asplenium spp.). A carqueja (Pterospartum tridentatum), encontra-se por todas as serras, mas sendo mais frequente nas encostas voltadas a Sul onde chega a ocupar grandes espaços. Existe uma espécie pouco vulgar nesta região, que é o piorno bravo (Echinospartum lusitanicum), é uma espécie vulnerável, encontra-se a 1317 metros de altitude, na parte sul da Serra de Montemuro, e encontra-se ainda a 1370 metros da mesma. Esta espécie floresce no início do mês de Junho. As espécies arbóreas variam consoante a formação geológica, como por exemplo, o azevinho (Ilex aquifolium), que é uma espécie rara e protegida, o amieiro e o salgueiro. _____________________________________________________________________________ 45 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.3.7.- Demografia (19) A dinâmica demográfica do Concelho de Lamego desde 1860 até 2001 revela dois comportamentos temporalmente definidos. O primeiro revela um crescimento quase constante até aos anos 50, quando se registou, a par do resto do país, o número máximo de habitantes, motivado pela ideologia política vigente na altura. Com a crescente degradação da vida social, económica e política do país, muitos milhares de habitantes foram aliciados a saírem do país, em busca de melhores condições de vida, provocando um forte decréscimo populacional. O Concelho de Lamego não foi excepção, tendo perdido cerca de 8 000 habitantes, entre 1980 e 2001. Na última década, Lamego registou um decréscimo significativo que se aproxima dos (–)7% (passa de 30 164 habitantes, em 1991, para 28 081 habitantes em 2001). Figura 26– Evolução da população residente no concelho de Lamego entre 1860 e 2001; Adaptado de Carta Educativa Lamego. 2.3.8.- Recursos sócio-económicos (20) No que respeita a Taxa de Actividade, que ilustra a proporção da população activa na população total, o Concelho de Lamego cresceu consideravelmente (de 38.6% _____________________________________________________________________________ 46 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA para 42.2%), ficando, no entanto, aquém do valor regional e nacional. Paralelamente, a taxa de desemprego diminui, ainda que ligeiramente, de 9.5% para 8.7%, ao contrário da tendência nacional e regional. Em termos económicos, a população afasta-se cada vez mais das actividades do Sector Primário e Secundário, sendo absorvida pelas actividades financeiras, imobiliárias e serviços às empresas. A crescente concorrência nos produtos destes sectores, a instabilidade a que estão sujeitos e os fracos rendimentos que disponibilizam têm levado a uma crescente terciarização da economia, que é transversal a todo o território nacional. Assim sendo, em 1991 a população activa de Concelho de Lamego trabalhava maioritariamente no sector terciário (cerca de 50% da população activa), seguindo-se o sector secundário (28% da população activa) e por último o sector primário (22% da população activa) Fazendo uma analise da evolução dos sectores economicos entre 1991 e 2001, podemos salientar a consolidação do sector terceario no que respeita a oferta de emprego no concelho, reunindo 62% da população activa do concelho. O sector que perdeu mais população activa foi o sector primário onde em relação a 1991 perdeu 10% da população reforçando a realidade do concelho pois apenas as freguesias da sede de concelho registaram uma variação positiva no que respeita a convergência de população. Figura 27– Níveis de Actividade no concelho de Lamego. _____________________________________________________________________________ 47 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Ao analisar os sectores de actividade económica nas freguesias do Concelho de Lamego, verificamos que a população activa está distribuída pelos três sectores de actividade. Nas freguesias urbanas, como é o caso de Lamego (Almacave e Sé) a população está maioritariamente empregue no sector terciário. As freguesias localizadas mais a norte do concelho têm a maior parte da população a trabalhar no sector primário, enquanto nas freguesias localizadas mais a sul a população trabalha maioritariamente no sector secundário. 2.3.9.- Vias de Acesso (21) A sua localização geográfica oferece ao concelho uma multi-modalidade de transporte apoiada nas estabilizadas infra-estruturas fluvial e ferroviária, todavia as principais vias de acesso para o município de Lamego continuam a ser as vias rodoviárias. Ao nível rodoviário, Lamego, encontra-se servida pela A24 e pelo IC26. A A24 permite ligar a cidade de Lamego, a Vila Real e Viseu, e ainda a Coimbra e à Figueira da Foz. Deste modo funciona como eixo de ligação destes aglomerados de grande importância no contexto da região Norte e Centro. O IC26 liga o IP4, da cidade de Amarante a Trancoso, passando ainda pelas cidades da Régua, Lamego, Tarouca, Moimenta da Beira e Sernancelhe. Este itinerário complementar revela-se também de elevada importância para a cidade de Lamego, pois permite a ligação rápida à cidade da Régua. Existe ainda um porto comercial situado na margem do rio Douro, localizado no concelho de Lamego. Localiza-se na continuidade da cidade da Régua e é um porto essencialmente industrial, que interrompe a envolvente agrícola que o envolve, e que se apresenta muito associado à exploração de inertes. Apresenta assim, movimento de grandes barcos de transporte, plataformas para armazenamento temporário e outras estruturas de apoio à sua principal actividade. _____________________________________________________________________________ 48 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 28– Vias de acesso do concelho de Lamego. 2.4. Caracterização Arquitectónica e Construtiva do Edifício 2.4.1. Arco do Passadiço O arco presente no edifício-caso de estudo é um arco de asa de cesta ou arco abatido, sendo a razão entre as suas dimensões (3,7 m de vão, 0,7 m de altura e 0,73 m de espessura) de 5,28, valor esse que se encontra próximo do intervalo entre 2 e 5 para o qual se dá tal classificação (subcapítulo 4.2.1). Os arcos abatidos eram normalmente utilizados em locais com pé-direito limitado uma vez que a sua geometria lhe permitia vencer vãos de dimensões consideráveis com alturas reduzidas. Uma das suas limitações passa pela capacidade estrutural reduzida, pois a sua geometria faz com que os impulsos horizontais gerados tenham um valor elevado quando comparados com arcos cuja razão entre o vão e a flecha tem valores menores. A sua aplicação neste caso é perfeitamente ajustada uma vez que as cargas actuantes sobre este são reduzidas (não existe qualquer elemento a descarregar acima _____________________________________________________________________________ 49 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA dele e as sobrecargas limitam-se á simples passagem dos utilizadores do passadiço) e o vão a vencer é pequeno. Foto 1 – Arco de aduelas de granito. Os pilares de apoio são em xisto e o tabuleiro do passadiço é constituído por lajes de cantaria de granito assentes numa camada de pequenas pedras de xisto. 2.4.2. Fundações As fundações utilizadas para estabilização do edifício-caso de estudo são fundações indirectas ou profundas com recurso a estacas de madeira (subcapítulo 4.2.2). A fraca capacidade de sustentação revelada pelo terreno obrigou á utilização deste método que quando comparado com os métodos directos é de muito maior custo e dificuldade de execução. O método de cravação de estacas de madeira, muito utilizado na reconstrução da Baixa Pombalina após o terramoto de 1755, consiste na cravação de estacas de madeira, no nosso caso madeira de pinho, até se atingir uma compactação tal do solo de sustentação que torne difícil a sua cravação. A obtenção das estacas para este tipo de obras de baixa exigência em termos de comprimentos e diâmetros necessários era fácil na região, contudo havia algumas regras as quais teriam que ser sempre garantidas: os troncos de árvore deveriam ser bem desempenados para que no processo de cravação não fendessem; o corte deveria ser feito no inicio do inverno para que a secagem se processasse lentamente e não gerasse fissuras naqueles; a qualidade da madeira deveria ser igualmente garantida, para tal _____________________________________________________________________________ 50 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA verificavam-se o número de anéis exibidos por cm, sendo as de melhores qualidades, aquelas que verificassem quatro a oito anéis. Em terrenos de teor de humidade constante, as estacas apresentavam durabilidade quase ilimitada, pelo contrário, as constantes variações reduziam o seu tempo de vida a algumas décadas. O processo de cravação era moroso, desenvolvendo-se em cinco etapas principais; 1ª fase - retirada das camadas superficiais do solo; 2ª fase – colocação das estacas de madeira; 3ª fase – colocação de travessas de madeira longitudinalmente; 4ª fase – colocação de travessas de madeira transversalmente sobre as anteriormente colocadas; 5ª fase – arranque das paredes de alvenaria. (ver figura 10) 2.4.3. Paredes As paredes que constituem o edifício-caso de estudo são distinguíveis em dois grupos, as paredes resistentes e as paredes divisórias não resistentes. As paredes resistentes (paredes exteriores e parede divisória interior do rés-do-chão) são paredes espessas de duas folhas construídas em alvenaria de pedra ordinária de pequeno aparelho ou calhaus (Foto 2) enquanto que as paredes divisórias do primeiro piso são constituídas por tabique, não tendo estas qualquer função estrutural (Foto 3). As paredes exteriores têm 0,8 m de espessura, a parede resistente divisória do rés-do-chão tem 0,6 m de espessura e as tabiques têm 0,1 m de espessura. As pedras de alvenaria foram aplicadas quase na totalidade sob a sua forma natural, sem qualquer tratamento geométrico, destacando-se apenas os perpeanhos de canto de ligação (cunhais) entre paredes perpendiculares exteriores e as pedras que emolduram os vãos de portas e janelas, as quais passaram por um processo de escacilhamento mais minucioso ainda que deficiente e limitado, sendo trabalhadas até atingirem uma forma minimamente linear. _____________________________________________________________________________ 51 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 29– Alçado Norte Figura 30– Alçado Sul _____________________________________________________________________________ 52 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 31– Alçado Este Figura 32– Alçado Oeste _____________________________________________________________________________ 53 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Foto 2 – Paredes resistentes com os cunhais e molduras de vão com perpeanhos, padieiras e ombreiras em blocos de xisto de faces afeiçoadas no rés-do-chão e em blocos de granito aparelhado no primeiro piso; toda a restante alvenaria é constituída por pedras irregulares, médias e pequenas, de xisto, com os interstícios preenchidos por lascas e escacilhos. A argamassa de assentamento das pedras é de barro e fibras vegetais. Foto 3 – Parede de tabique, constituída por um esqueleto de madeira de prumos e frechais de castanho, sobre o qual foram fixadas fasquias de castanho e cujos vazios foram preenchidos com adobe; o revestimento interior é constituído por uma argamassa á base de cal e areia. _____________________________________________________________________________ 54 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.4.4. Argamassas As argamassas utilizadas na construção do edifício em estudo são classificadas em dois tipos distintos. Uma argamassa á base de água, barro e elementos vegetais utilizada no assentamento das pedras e uma argamassa tradicional de água, areia, cal e cimento utilizada no reboco das paredes. A argamassa de barro era obtida da mistura do barro provavelmente da região com a água e elementos vegetais sendo a função deste o aumento da resistência mecânica da argamassa de barro. A argamassa de reboco era constituída pela mistura de água, areia, cal e cimento sendo a sua constituição mais rica á medida que se aproximavam da camada final. Foto 4 – Argamassa de assentamento e de reboco. 2.4.5. Pavimentos Os pavimentos do edifício-caso de estudo distinguem-se em dois tipos, o pavimento do rés-do-chão em terra batida e o pavimento do primeiro piso em madeira. _____________________________________________________________________________ 55 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Relativamente ao pavimento do rés-do-chão, este não sofreu qualquer cuidado especial, impondo á terra apenas alguma compactação. No que respeita ao pavimento do primeiro piso, a estrutura que o sustenta é toda ela em madeira de castanho tendo uma viga principal na direcção Norte-Sul, descarregando esta nas paredes exteriores e na parede divisória de pedra do rés-do-chão. Perpendicularmente a esta viga principal estão dispostas vigotas de menor dimensão afastadas de cerca de 0,40 m nas quais assenta o soalho, descarregando estas sobre as paredes Este-Oeste e sobre a viga principal. Tanto a viga principal como as vigotas são de castanho e sofreram um processo muito limitado de tratamento apresentando-se arredondadas e sem geometria linear, muito próximas do seu estado natural. O soalho é igualmente em castanho e apresenta variações na largura das tábuas entre os 12 e os 18 cm. O soalho não apresenta qualquer encaixe entre tábuas ficando estas apenas dispostas paralelamente umas às outras e pregadas nas vigotas. Figura 33– Corte Norte-Sul, com pavimento do rés-do-chão em terra batida e pavimento do primeiro piso assente sobre uma estrutura de madeira de castanho com tabuado de castanho pregado. _____________________________________________________________________________ 56 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Foto 5 – Estrutura do pavimento do primeiro piso, constituído por vigas e vigotas onde foi fixado o tabuado, sendo todos os elementos em madeira de castanho. 2.4.6. Tectos No edifício em estudo podemos observar que o tecto do rés-do-chão é constituído pela própria estrutura e tabuado do pavimento do primeiro piso, não tendo havido qualquer cuidado adicional neste aspecto. Relativamente ao tecto do primeiro piso, apresenta-se nobre com um grau de complexidade superior. O tecto das duas divisões mais pequenas na zona mais a Sul do edifício, é plano de esteira sobreposta, mais conhecido por “saia e camisa” (subcapítulo 4.2.6). A “saia” é uma tábua plana lisa sem qualquer adorno e a qual serve de base para a colocação da “camisa” e tem uma largura de 10 cm. A “camisa” é a tábua que fica mais sobressaída sendo adornada nas extremidades e tem uma largura de 15 cm. No compartimento principal do primeiro piso verificamos um tecto em “masseira”, mais levantado no centro e com esquema de forro de “saia e camisa” igual _____________________________________________________________________________ 57 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA aos dos outros compartimentos do mesmo piso. No contorno do forro, o tecto apresenta ainda sancas, muito trabalhadas e as quais conferem uma maior nobreza ao tecto. Figura 34– Corte Norte-Sul, com pormenorização da estrutura de sustentação do tecto em “masseira” e do forro no sistema “saia e camisa”. _____________________________________________________________________________ 58 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Foto 6 – Estrutura do tecto em masseira e sanca. 2.4.7. Cobertura A cobertura do edifício-caso de estudo é plana inclinada, constituída por quatro águas, de pequeno declive. Os beirados apresentam menor declive e projectam-se cerca de 0,30 m para o exterior. A estrutura que sustenta toda a cobertura é baseada em duas asnas principais (orientadas na direcção Este-Oeste) e seis meias asnas as quais completam a estrutura principal de sustentação das águas orientadas a Norte e a Sul. As meias asnas vão ligar-se ao centro da asna anterior, uma na perpendicular a esta e duas na orientação do vértice da parede. Acima desta estrutura, encontram-se as madres, as quais são colocadas perpendicularmente às asnas. Sobre as asnas são apoiadas perpendicularmente caibros com um afastamento de cerca de 0,50 m e os quais servem de apoio às ripas. Estas encontram-se afastadas cerca de 0,40 m e são colocadas _____________________________________________________________________________ 59 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA perpendicularmente aos caibros servindo de apoio às telhas tradicionais que impermeabilizam a cobertura. As duas águas mestras, a tacaniça voltada para o Douro, os rincões a cumeeira e os beirados estão cobertos com telha de canudo; a tacaniça inclinada sobre a fachada tardoz do edifício, está revestida com “telha de Marselha” correspondendo a uma intervenção posterior. Figura 35– Planta de cobertura com indicação dos sentidos de escoamento das águas. Figura 36– Corte Este-Oeste. Pormenorização da estrutura de sustentação e impermeabilização da cobertura. _____________________________________________________________________________ 60 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Foto 7– Cobertura. 2.4.8. Vãos O edifício-caso de estudo possui quatro portas para o exterior, duas no rés-dochão e duas no primeiro piso, todas elas na fachada Este do edifício e cinco janelas, quatro delas no primeiro piso. As portas têm dimensões idênticas com altura na ordem dos 2 m e larguras entre um 1 e 1,40 m. A janela do rés-do-chão tem 0,65m de largura por 0,60m e encontra-se na fachada Oeste, as janelas do primeiro piso, duas são quadradas, de dimensões aproximadas a um metro e estão nas fachadas Norte e Este. Existe uma janela redonda no alçado Sul com 0,20 m de diâmetro e outra na fachada Oeste com 0,60 m de largura e 1 m de altura. Relativamente aos materiais e aparelhamento, os vãos podem ser distinguíveis em dois tipos. Um primeiro tipo, em pedra de xisto deficientemente aparelhada, a qual passou por um curto processo de escacilhamento antes da sua incorporação no edifício e as quais totalizam os vãos do rés-do-chão. Estas pedras xistosas não têm qualquer objectivo estético pois encontravam-se rebocadas, limitando-se a cumprir a função estrutural. Os vãos do primeiro piso, apresentam-se de uma forma muito mais cuidada, em pedra de granito bem aparelhado, com elevado grau de perfeição e encontrando-se á vista. É ainda de salientar que o reboco envolvente dos vãos das janelas é pintado com _____________________________________________________________________________ 61 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA cor amarela, criando um triangulo na zona inferior destas como se pode ver nas figuras 37 e foto 8. Foto 8– Alçado Oeste. Vão do rés-do-chão em pedra xistosa deficientemente trabalhada, com reboco destacado e vãos do primeiro piso em pedra de granito bem aparelhada e com pintura de cor amarela na envolvente do vão. Foto 9– Alçado Este. Vãos de portas do primeiro piso em alvenaria de granito bem aparelhado. _____________________________________________________________________________ 62 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 37– Alçado Oeste. Ilustração de vão do rés-do-chão em alvenaria de xisto pouco trabalhada e vãos do primeiro piso em alvenaria de granito bem aparelhada e com a envolvente pintada a cor amarela. 2.4.9. Campanário O campanário presente no edifício-caso de estudo, reforça o carácter religioso, o qual caracterizou este edifício durante décadas. O campanário colocado na fachada voltada a Este, é todo ele em pedra de granito, tendo 3,6 m de altura, 1,5 m de largura e 0,83 m de espessura. As pedras que constituem o campanário têm um elevado grau de perfeição tendo vários adornos como se vê na figura 38 e foto 10. Na sua configuração é compatível a implantação de um sino, apesar de não haver nenhum incorporado no momento no campanário, há nas pedras marcas de uma possível amarração de um exemplar. A zona onde o sino pode ser implantado tem 1,15 m de altura por 0,42 m de largura. _____________________________________________________________________________ 63 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Foto 10– Campanário, colocado na fachada a Este. _____________________________________________________________________________ 64 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA Figura 38– Alçado Este. Ilustração do campanário. _____________________________________________________________________________ 65 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.4.10. Vista Geral do Futuro Complexo A capela de Samodães, irá integrar um complexo hoteleiro, ficando esta envolvida em construções de carácter moderno, as quais tiveram o cuidado de manter os elementos fundamentais, os quais caracterizam arquitectonicamente a capela. As figuras 39 e 40 ilustram o novo complexo. Figura 39– Vista geral do complexo Este. Figura 40– Vista geral do complexo Oeste. _____________________________________________________________________________ 66 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA 2.5. Referências Bibliográficas (1) - CÓIAS, V – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 29 até pp. 34. - LOPES, F. e Correia, M. – Património Arquitectónico e Arqueológico – Editora Livros Horizonte; Lisboa 2004; pp.103 até pp. 107 e pp. 247 até pp. 250. - ICOMOS. – Comité Científico Internacional para a Análise e Restauro de Estruturas do Património Arquitectónico – pp. 7 até pp. 10. (2) - LOPES, F. e Correia, M. – Património Arquitectónico e Arqueológico – Editora Livros Horizonte; Lisboa 2004; pp. 43 até pp. 47, pp.103 até pp. 107, pp. 125 até pp. 139, pp. 155 até pp. 159, pp. 245 até pp. 250, pp. 289 até pp. 295. (3) – ICOMOS. – Comité Científico Internacional para a Análise e Restauro de Estruturas do Património Arquitectónico – ; pp. 7 até pp. 10. (4) - CÓIAS, V – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 29 até pp. 34. - LOPES, F. e Correia, M. – Património Arquitectónico e Arqueológico – Editora Livros Horizonte; Lisboa 2004; pp.103 até pp. 107 e pp. 247 até pp. 250. - ICOMOS. – Comité Científico Internacional para a Análise e Restauro de Estruturas do Património Arquitectónico – pp. 7 até pp. 10. (5) - LOPES, F. e Correia, M. – Património Arquitectónico e Arqueológico – Editora Livros Horizonte; Lisboa 2004; pp. 43 até pp. 47, pp.103 até pp. 107, pp. 125 até pp. 139, pp. 155 até pp. 159, pp. 245 até pp. 250, pp. 289 até pp. 295. (6) – ICOMOS. – Comité Científico Internacional para a Análise e Restauro de Estruturas do Património Arquitectónico – ; pp. 7 até pp. 10. (7) - MATEUS, João M. – Técnicas tradicionais de construção de alvenarias – Editora, Livros Horizonte; Lisboa, 2002; pp. 80 até 90, pp. 130 até 149, pp. 235 até 242. - RONDELET, Jean Baptiste – Traité théorique et pratique de l’art de bâtir – chez l’auteur, enclos du panthéon; Paris, 1802-1817; tomo 3. - SEGURADO, João Emilio – Alvenaria e cantaria – Biblioteca de Instrução Profissional fundada por Thomaz Bordallo Pinheiro, 4ª ed., Livraria Bertrand, Lisboa, 1973-1975; pp. 143 até pp. 179. _____________________________________________________________________________ 67 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA (8) – APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 13 até 18. CÓIAS, V. – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 77. - COSTA, Fernando Vasco – Estacas para Fundações –Editora, C. A. Horácio Lane; Lisboa, 1956, pp.12 até pp. 27. - DIDEROT, Denis e D’ALEMBERT Jean Le Rind. – Encyclopédia ou Dictionnaire raisonné des Sciences des Arts et des Métiers par une Société de gens de lettres – Editora, Briasson; Paris, 1751-1765. (9) - APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 18 até 28, pp. 49 até pp. 57. - CÓIAS, João M. – Técnicas tradicionais de construção de alvenarias – Editora, Livros Horizonte; Lisboa, 2002; pp. 95 até 107, pp. 117 até 126, pp. 229 até 235. - CÓIAS, V. – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 71 até pp. 74, pp.75 até pp. 76. - MATEUS, João M. – Técnicas tradicionais de construção de alvenarias – Editora, Livros Horizonte; Lisboa, 2002; pp. 95 até 107, pp. 117 até 126, pp. 229 até 235. - RONDELET, Jean Baptiste – Traité théorique et pratique de l’art de bâtir – chez l’auteur, enclos du panthéon; Paris, 1802-1817; tomo 3. - SEGURADO, João Emilio – Alvenaria e cantaria – Biblioteca de Instrução Profissional fundada por Thomaz Bordallo Pinheiro, 4ª ed., Livraria Bertrand, Lisboa, 1973-1975; pp. 1 até pp. 100. (10) - APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 57 até 74. - MATEUS, João M. – Técnicas tradicionais de construção de alvenarias – Editora, Livros Horizonte; Lisboa, 2002; pp. 173 até 223. - SEGURADO, João Emilio – Alvenaria e cantaria – Biblioteca de Instrução Profissional fundada por Thomaz Bordallo Pinheiro, 4ª ed., Livraria Bertrand, Lisboa, 1973-1975; pp. 104 até pp. 111. (11) - Instituto Nacional de Estatística. - Câmara Municipal de Lamego. - Carta Educativa Concelho de Lamego. (12) - Câmara Municipal de Lamego. _____________________________________________________________________________ 68 2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA (13) - PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de; – Portugal Antigo e Moderno – Editora de Mota Moreira & Companhia 1ª edição, Lisboa, 1878; VIII Volume; pp.379 até pp. 380. (14) – PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de; – Portugal Antigo e Moderno – Editora de Mota Moreira & Companhia 1ª edição, Lisboa, 1878; VIII Volume; pp.379 até pp. 380. - Entrevista a antigos caseiros da quinta. (15) - Instituto Geológico e Mineiro. - Serviços Geológicos de Portugal; Notícia explicativa da folha 10-A. (16) – Câmara Municipal de Lamego. (17) - O clima de Portugal, fascículo XV, Região demarcada do Douro; Lisboa; 1965, Resumo da estação Udométrica Peso da Régua de 1951-1980. (18) – Câmara Municipal de Lamego. (19) - Instituto Nacional de Estatística. - Carta Educativa de Lamego. (20) – Instituto Nacional de Estatística. _____________________________________________________________________________ 69 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS _____________________________________________________________________________ 70 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.1. Relatório do estado de conservação da Capela No presente capítulo serão tratadas de uma forma pormenorizada, as anomalias estruturais e não estruturais evidenciadas pelo edifício caso de estudo, sendo estas apresentadas de uma forma resumida no quadro que se segue e pormenorizadamente no restante capítulo. Compartimento - C1_1 Tecto: Inexistente. Paredes: A generalidade das paredes encontra-se suja, não havendo qualquer revestimento nestas. A parede PDA3_1 e a parede PDA5_1 apresentam humidade nos paramentos. Pavimentos: Pavimento em terra batida, irregular. Revestimentos: Inexistentes. Portas e caixilhos: Estado muito avançado de degradação. Compartimento – C2_1 Tecto: Inexistente. Paredes: A generalidade das paredes encontra-se suja, não havendo qualquer revestimento nestas. A parede PDA4_1 encontra-se em ruína e a parede PDA5_1 apresentam humidade no paramento. Pavimentos: Pavimento em terra batida, irregular. Revestimentos: Inexistentes. Portas e caixilhos: Estado muito avançado de degradação. Compartimento – C1_2 Tecto: Estado de degradação avançado. Paredes: A generalidade das paredes encontra-se suja devido ao escorrimento de água, as paredes PDA1_2, PDA2_2, PDA3_2 e PDT1 apresentam fissuração. Pavimentos: Pavimento em madeira em estado de conservação razoável. Revestimentos: _____________________________________________________________________________ 71 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Destacados em vários pontos. Portas e caixilhos: Estado avançado de degradação Compartimento – C2_2 Tecto: Estado de degradação muito avançado. Paredes: A generalidade das paredes encontra-se suja devido ao escorrimento de água, as paredes PDA4_2encontra-se em ruína e as paredes PDT1 e PDT2 encontram-se degradadas. Pavimentos: Pavimento em madeira conservação deteriorado. Revestimentos: Destacados em vários pontos. Portas e caixilhos: Estado avançado de degradação Compartimento – C3_2 Tecto: Ruína. Paredes: A generalidade das paredes encontra-se suja devido ao escorrimento de água, as paredes PDA4_2encontra-se em ruína, PDA2_2 encontra-se em estado avançado de degradação e as paredes PDT1 e PDT2 encontram-se degradadas. Pavimentos: Pavimento em ruína. Revestimentos: Destacados em vários pontos. Portas e caixilhos: Estado avançado de degradação Paramentos Exteriores PEDA_N: Apresenta fissuração vertical junto á abertura da janela e na ligação com as paredes que lhe são perpendiculares. PEDA_S: Encontra-se em estado de ruína, sendo necessário refaze-la por completo. PEDA_E: Apresenta o reboco destacado em grande parte da sua superfície, com alguma fissuração vertical. PEDA_O: Apresenta o reboco destacado numa grande área, sujidade devido a escorrência da água das chuvas e fissuração vertical _____________________________________________________________________________ 72 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2. Fichas de Diagnóstico das Anomalias Construtivas 3.2.1. Assentamento diferencial de Fundações Ficha #1-1 Localização da Patologia e Sua Identificação (1) Fundações assentes sobre estacaria Assentamento diferencial de fundações Descrição da Patologia As fissuras manifestam-se em todas as paredes exteriores, com predominância das fissuras verticais. Estas revelam deficiências de estabilidade e de capacidade de sustentação destas ao nível das fundações. Causa Aparente O aparecimento destas fissuras está directamente relacionado com assentamentos diferenciais de fundação. Estes assentamentos diferenciais estão relacionados com perda de capacidade de carga das próprias estacas. Uma vez que o terreno é bastante inclinado, as estacas vão estar expostas a variações de níveis freáticos diferentes e consequentemente períodos úteis de vida distintos. Para além de todos os anos de uso e a falta de manutenção apropriada que lhe estava associada (edifício do séc. XVIII), foram recentemente realizadas obras de escavação nas imediações do edifício caso de estudo, as quais vieram agravar ou “realçar” as fissuras já existentes (agravamento dos assentamentos numa determinada área). Relativamente a estes trabalhos de escavação, foi relatado que algumas estacas de fundação (de madeira) ficaram temporariamente visíveis, dai a sua importância no agravamento da fissuração. _____________________________________________________________________________ 73 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #1-2 Exame - Sondagem do estado de conservação das estacas e terreno de fundação através da abertura de poços de prospecção. - Verificação da relação entre tipo de fundação e terreno de implantação. - Verificação da predominância de uma ou varias orientações das fissuras. - Conhecimento de acontecimentos potenciadores de degradação (escavações nas proximidades e consequente descompressão do solo, aumento das cargas actuantes no edifício, variações do nível freático). Sugestão de Reparação De forma a dotar as reparações de um carácter definitivo, devemos inicialmente proceder à eliminação das causas e não à reparação dos efeitos. Para tal podemos seguir três orientações distintas. A primeira passa pela melhoria do solo de fundação, a segunda pela melhoria das características das fundações e a terceira pela redistribuição ou minoração das cargas actuantes. Uma das soluções vulgarmente adoptada para melhoria do solo de fundação, consiste na injecção de caldas de cimento no solo, contudo esta técnica está condicionada ao tipo de terreno podendo este não garantir as condições de permeabilidade necessárias a uma intervenção com sucesso, levando esta solução um pouco além dos conhecimentos do engenheiro sendo por vezes necessário o acompanhamento por parte de um geólogo e de um especialista em geotecnia. A segunda solução baseia-se no reforço da estrutura de fundação existente. No nosso caso e tratando-se de uma fundação em estacas de madeira, sendo a degradação da cabeça da estaca uma anomalia frequente, a solução passaria pela reconstituição _____________________________________________________________________________ 74 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #1-3 desta através da injecção de caldas de resinas epoxidicas ou numa intervenção mais profunda, a substituição da cabeça das estacas. Por último podemos proceder à redistribuição das cargas de uma forma menos gravosa para a estrutura, tentando fazer uma distribuição uniforme, ou se possível minorar as cargas actuantes. Esta solução peca pelo carácter restritivo o que em muitos casos a torna impraticável. Após este processo de eliminação das causas das anomalias, podemos passar à fase de reparação dos efeitos. Para tal começamos por picar toda a zona adjacente à fissura, posteriormente podemos optar por introduzir uma malha de aço selada com parafusos metálicos na zona afectada ou introduzir grampos igualmente selados na parede, criando assim continuidade nesta e minorando os efeitos da fissura. Finalmente a área em tratamento será novamente rebocada. Figura 41– Localização da patologia, na planta do andar superior. _____________________________________________________________________________ 75 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #1-4 Figura 42– Localização da Patologia, na planta do andar superior com identificação destas nas respectivas fachadas exteriores. _____________________________________________________________________________ 76 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #1-5 Figura 43– Localização da Patologia, na planta do andar superior com identificação destas nas respectivas fachadas interiores. _____________________________________________________________________________ 77 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #1-6 Foto 11– Fissura vertical na parede a Este. Foto 12– Localização das fissuras na parede a Oeste. _____________________________________________________________________________ 78 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #1-7 Foto 13– Localização das fissuras na parede a norte. _____________________________________________________________________________ 79 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.2. Fissuração e alteração da geometria do arco Ficha #2-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Arco Fissuração e alteração da geometria do arco Descrição da Patologia Fissura com cerca de 5 mm percorrendo o arco na zona inferior central em toda a sua espessura e com ligeiro abatimento nesta zona. Causa Aparente O arco em estudo tem a configuração geométrica de um arco de “asa de cesto” ou abatido, por consequência as forças transmitidas horizontalmente são de valor muito elevado e as deslocações admissíveis á garantia da segurança estrutural apresentam valores mínimos. O facto deste se encontrar no exterior, implica a sua exposição às condições climatéricas fazendo com que a precipitação se vá infiltrando no arco sob a forma de humidade ao longo do tempo. Essa alternância constante de humedecimento e secagem das argamassas de assentamento e a sua progressiva deterioração, leva ao reajuste progressivo do posicionamento das pedras. Essas pequenas deslocações têm como consequência o abatimento do arco. Exame - Verificação da estanquidade na zona superior do arco. _____________________________________________________________________________ 80 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #2-2 - Verificação da estabilidade das colunas de suporte laterais. - Verificação da estabilidade estrutural do arco. - Inspecção visual do estado de conservação das pedras estruturais do arco. - Conhecimento de acontecimentos potenciadores de degradação (escavações nas proximidades e consequente descompressão do solo, aumento das cargas actuantes no arco). Sugestão de Reparação Para resolução da anomalia evidenciada pelo arco, deveremos começar por reparar qualquer alteração evidenciada pelas colunas de sustentação do arco, pois pequenos movimentos (verticais ou horizontais) nestas, tem efeitos muito gravosos no arco, para tal deve-se utilizar argamassas de alta resistência mecânica nas juntas das pedras das colunas, reduzindo os movimentos possíveis. Após resolvidos os problemas de ancoragem lateral e vertical do arco deve-se restabelecer a configuração inicial deste, para tal pode-se recorrer a um sistema mecânico-hidrulico, aplicado sob um cimbre com a geometria inicial do arco. Esta operação poderá ser efectuada com sucesso porque as cargas associadas ao arco são de valor reduzido, apenas suportado por este uma passagem pedonal. Após recuperação da forma inicial este deverá ser estabilizado com recurso a cunhas metálicas, aplicadas no fecho do arco pelo intradorso e grampos metálicos pelo extradorso, deverá ainda proceder-se ao enchimento e impermeabilização das juntas acima do arco, recorrendo a argamassa hidráulicas com boa resistência mecânica. _____________________________________________________________________________ 81 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #2-3 Figura 44 – Localização da patologia na planta do andar superior. Foto 14– Localização da fissura e abatimento na face norte do arco. _____________________________________________________________________________ 82 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #2-4 Foto 15– Localização da fissura e abatimento na face sul do arco. _____________________________________________________________________________ 83 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.3. Humidade de Precipitação em Paredes Ficha #3-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Paredes Humidade de precipitação em paredes Descrição da Patologia Manifestação de manchas de humidade permanente durante a época das chuvas principalmente na zona mais a Sul da capela. Causa Aparente A humidade de precipitação deve-se ao estado de conservação da cobertura, a qual permite a penetração directa da água das chuvas nas paredes, aumentando progressivamente o estado de deterioração destas. Exame As infiltrações ocorrem pelo próprio telhado. De forma a conseguir localizar e diagnosticar as anomalias eficazmente, é necessário proceder a uma inspecção na parte afectada da estrutura. _____________________________________________________________________________ 84 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #3-2 Sugestão de Reparação As infiltrações ocorrem directamente pela cobertura a qual se encontra num estado de conservação muito deficiente, apresentando telhas desprendidas, madeira da cobertura apodrecida e na zona junto ao campanário a estrutura de cobertura acabou por ruir, deixando aquela parte do edifício sem cobertura (Foto 20). Para resolver o problema das infiltrações directas será necessário proceder á reconstrução total da cobertura, uma vez que a longa exposição á agua e aos ataques parasitários, deteriorou irreversivelmente os elementos estruturais que compõem a totalidade da cobertura. A reconstrução deverá ter por base os métodos construtivos da época (séc. XVIII) referidos no subcapítulo 2.4.7. A estrutura deverá ser constituída por duas asnas em madeira reforçadas por elementos de ligação metálicos, orientadas perpendicularmente às fachadas Este e Oeste assumindo-se estes como os elementos principais da cobertura. A ligar às asnas será montado um sistema de meias-asnas de forma a criar a estrutura necessária a uma cobertura a quatro águas. Sobre estes elementos principais serão colocadas perpendicularmente as madres as quais servirão de apoio á colocação dos caibros e estes às ripas. Estando a estrutura de apoio terminada será colocada a telha antiga nacional sobre as ripas, impermeabilizando assim a cobertura. _____________________________________________________________________________ 85 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #3-3 Figura 45– Localização da patologia na planta do andar superior. Foto 16– Manchas de humidade na parede exterior. _____________________________________________________________________________ 86 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #3-4 Foto 17– Manchas de humidade na parede exterior. Foto 18– Manchas de humidade na parede exterior. _____________________________________________________________________________ 87 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #3-5 Foto 19– Manchas de humidade na parede interior. Foto 20– Manchas de humidade na parede interior, deterioração da cobertura. _____________________________________________________________________________ 88 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.4. Humidade do Terreno em Paredes do Andar Térreo Ficha #4-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Paredes exteriores e interiores Humidade do terreno em paredes de andar térreo Descrição da Patologia Manchas de humidade nas paredes exteriores a sul e oeste as quais se encontram parcialmente soterradas, e na parede interior que divide o espaço inferior. Causa Aparente Humidade infiltrada directamente do terreno para as paredes exteriores nas zonas em que estas se encontram soterradas, humidade por ascensão, e transmissão de humidade entre as paredes exteriores e a parede interior que a estas liga. Exame - Abertura de poços de prospecção junto á base das paredes para verificação do nível freático. - Verificação da altura da parede soterrada exterior comparando com a altura interior de humidade. - Verificação do tipo de construção e da existência de barreiras impermeabilizantes. _____________________________________________________________________________ 89 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #4-2 Sugestão de Reparação Em toda a extensão soterrada do muro, construir uma barreira estanque, sistema drenante/filtrante, de forma a evitar que a água entre em contacto com os elementos estruturais. A realização deste sistema drenante/filtrante tem como função a recolha da água que atinge o paramento exterior da parede, reduzindo a pressão hidrostática sobre este. A água irá ser drenada no ponto mais baixo do sistema, por meio de tubagem adequada, sendo o sistema composto por um filtro, uma camada drenante e um tubo de drenagem. O filtro (geotêxtil) terá como função reter as partículas finas, e deverá ser convenientemente dimensionado, para que o sistema drenante/filtrante seja eficaz. A colmatação do filtro e a “erosão interna” dos solos não coerentes são fenómenos que podem conduzir à redução dos caudais drenados. A drenagem será assegurada por uma camada adjacente aos sistemas de impermeabilização e pela tubagem de recolha, que deverá ser tão permeável quanto possível para permitir o escoamento de um elevado caudal e evitar o risco de colmatação. A tubagem deverá ter uma inclinação mínima (1%) de forma a limitar a sedimentação no seu interior das partículas em suspensão na água. Esta tubagem terá ainda a função de ventilação das fundações, fazendo-se esta em sentido inverso ao da drenagem da água, retirando o ar impregnado com água através da circulação contínua do ar, fazendo com que a resolução do problema seja mais eficiente. De forma a evitar a humidade por ascensão e tornar a solução anteriormente descrita mais eficaz, será necessário criar uma barreira química que impeça a subida da humidade por capilaridade. Este processo consiste na execução de uma fila de furos ao longo da base da parede, espaçados de cerca de 15 cm e a uma altura de 15 cm da soleira da parede. Nesses furos serão colocadas unidades de transfusão que lentamente irão impregnando os materiais da parede. _____________________________________________________________________________ 90 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #4-3 Figura 46– Localização da patologia na planta do andar térreo. Foto 21– Humidade nas paredes exterior e divisória interior. _____________________________________________________________________________ 91 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.5. Humidade em Pavimentos e Tectos Ficha #5-1 Localização da Patologia e Sua Identificação 1º Piso com maior evidência junto á fachada Sul Humidade em pavimentos e tectos Descrição da Patologia Manchas de humidade em toda a extensão do tecto e do pavimento, verificandose desprendimento e apodrecimento dos seus elementos com maior expressão na zona junto á fachada Sul. Causa Aparente Deficiências graves na cobertura tendo ruído uma parte significativa na zona Sul do edifício. Exame - Avaliação dos níveis de estanquicidade da cobertura verificando o estado de conservação das telhas e da estrutura de sustentação destas, a existência de desprendimentos e movimentos das telhas, a existência de vegetação que impeça a livre circulação da água e a existência de fungos na superfície da cobertura. _____________________________________________________________________________ 92 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #5-2 Sugestão de Reparação Os elementos do tecto e do pavimento apresentam estados de deterioração irreversíveis devido ao ataque continuado e directo da água da chuva e de pragas parasitárias. A solução passa pela substituição total destes elementos, recorrendo para tal a técnicas do séc. XVIII descritas nos subcapítulos 2.2.5 e 2.2.6. Apesar da substituição teremos em primeiro lugar que proceder á eliminação da fonte de degradação sendo necessário para tal reconstruir totalmente a cobertura cumprindo igualmente as técnicas da época descritas nos subcapítulos 2.2.7. A estrutura de cobertura deverá ser reconstruída tal como é indicado na ficha 3. Após eliminação da fonte (degradação avançada da cobertura) pode-se agora proceder á reconstrução dos tectos e dos pavimentos. As estruturas que servem de base a estes elementos são em madeira, podendo a estrutura de ancoragem do forro ser a mesma da cobertura. Para reconstrução do pavimento pode-se utilizar uma viga principal orientada segundo as direcções Norte Sul, a qual descarregará a meio vão sobre a parede divisória do rés-do-chão. De seguida tem que se colocar vigotas de madeira perpendicularmente a esta devendo o afastamento entre elas atingir um máximo de 0,40 m. O pavimento será então pregado na direcção perpendicular á das vigotas podendo existir ou não um sistema de encaixe entre tábuas. O tecto será uma réplica do existente, no sistema denominado de “saia e camisa”, sendo a “saia” uma tábua mais estreita sobre a qual se pregam as “camisas”, de maior dimensão e adornadas nos extremos conforme se referiu no subcapítulo 2.2. Serão introduzidas sancas em todo o contorno do tecto de configuração idêntica á observável nas figuras representadas a seguir. _____________________________________________________________________________ 93 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #5-3 Figura 47– Localização da patologia na planta do piso superior. Foto 22– Deterioração total do forro de tecto. _____________________________________________________________________________ 94 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #5-4 Foto 23– Humidade e apodrecimento do tecto. Foto 24– Humidade e apodrecimento do tecto. _____________________________________________________________________________ 95 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #5-5 Foto 25– Humidade, apodrecimento e decaimento de elementos do tecto. Foto 26 – Humidade e apodrecimento do pavimento devido a infiltrações directas das águas pluviais. _____________________________________________________________________________ 96 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.6. Destacamento de Reboco Tradicional Ficha #6-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Paramentos exteriores e interiores. Destacamento de reboco tradicional Descrição da Patologia Destacamento parcial do reboco em grandes extensões com predominância nos paramentos exteriores na zona mais próximo do solo e junto a fendas tanto no interior como no exterior. Existem ainda zonas onde este se encontra solto da parede mas devido ao seu confinamento com as zonas de reboco mais saudável este ainda se apresenta próximo á parede. Causa Aparente Presença de humidade no interior dos paramentos devido às deficiências de estanquidade da cobertura, falta de aderência da argamassa às paredes e possivelmente presença de sujidade na parede quando foi feito o reboco. Exame - Verificação de arrastamento de material da parede agarrado ao reboco. - Verificação da presença de humidade no paramento da parede. _____________________________________________________________________________ 97 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #6-2 Sugestão de Reparação A reparação implica a eliminação inicial de algumas das possíveis fontes de degradação, para tal é necessário reparar a cobertura como se indica na ficha 3 e impedir que a humidade do terreno se transmita á parede como se indica na ficha 4. De seguida e dado o estado de conservação do reboco não destacado, procede-se á remoção de todo o reboco tradicional. Concluído este processo, vamos deixar secar completamente as paredes. Após eliminação da humidade, dá-se inicio ao processo de aplicação do novo reboco tradicional. Inicialmente prepara-se a superfície de aplicação procedendo às seguintes tarefas: - Remoção dos restos de reboco por picagem. - Eliminação de irregularidades superficiais incompatíveis com a espessura de reboco. - Raspagem das juntas de assentamento entre pedras até uma profundidade de aproximadamente 1 cm. - Escovagem a seco com escova metálica para eliminação de sujidade, ou escovagem húmida com agua simples. - Alegramento das fendas com recurso a uma picareta. - Preenchimento das juntas com argamassa. - Aplicação do crespido, sendo este uma argamassa muito fluida com forte dosagem de cimento, constituindo uma camada rugosa de boa aderência para a camada seguinte com espessura a variar entre 3 e 5 mm. Deve garantir na sua aplicação boas condições limpeza e humedecimento do suporte, quantidade de água adequada, rugosidade e o tempo necessário á presa até aplicação da camada seguinte. _____________________________________________________________________________ 98 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #6-3 - Aplicação da camada de base após a camada de crespido ter iniciado a retracção de secagem (período nunca inferior a 3 dias, variável com as condições climatéricas). Em primeiro lugar deve-se humedecer o crespido, pulverizando-o com agua sem escorrimento desta. A argamassa aplicada nesta fase é uma argamassa bastarda de cimento, cal e areia, a qual deve ser lançada vigorosamente contra o suporte e posteriormente apertada á talocha não a deixando demasiado lisa e com uma espessura aproximada de 10 mm. - A camada de acabamento deverá ser aplicada após uma a duas semanas da camada de base, tendo o cuidado de humedecer o paramento antes da sua aplicação. - Por fim proceder á reconstituição das molduras dos vãos através da aplicação de pintura com cor e forma semelhantes às pré-existentes. Figura 48– Localização da patologia, andar superior. _____________________________________________________________________________ 99 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #6-4 Foto 27– Destacamento do reboco do paramento exterior. Foto 28– Destacamento do reboco do paramento exterior. _____________________________________________________________________________ 100 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #6-5 Foto 29– Destacamento do reboco do paramento interior. Foto 30– Destacamento do reboco do paramento interior. _____________________________________________________________________________ 101 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.7. Manchas de Sujidade Ficha #7-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Paramentos exteriores e interiores. Manchas de sujidade Descrição da Patologia Mancha de sujidade sobre varanda no alçado este e manchas de escorrimento em zonas interiores e exteriores. Causa Aparente A ausência dos beirados e de um eficiente sistema de recolha e drenagem das águas pluviais ocasiona o escorrimento da água das chuvas com arrastamento de poeiras que lentamente se vão depositando nas paredes. Salpicos de água com projecção de poeiras depositadas na varanda. Exame - Verificação de existência de sistemas de recolha de água (caleiras). - Verificação da estanquidade da cobertura. _____________________________________________________________________________ 102 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #7-2 Sugestão de Reparação Uma vez que o reboco será totalmente substituído, seguir processo indicado na ficha 6, devido às manchas de escorrimento em paramentos interiores e sendo proposta a substituição da cobertura seguir indicações da ficha 3 e colocar caleiras de forma a evitar as manchas por salpicos das aguas pluviais. Colocação de beirado projectando para o exterior da cornija, as águas da chuva. Figura 49– Localização da patologia, andar superior. _____________________________________________________________________________ 103 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #7-3 Foto 31– Localização de manchas de humidade. Foto 32– Localização de manchas de humidade. _____________________________________________________________________________ 104 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #7-4 Foto 33– Localização de manchas de humidade. _____________________________________________________________________________ 105 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.8. Crescimento de Vegetação Parasitária Ficha #8-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Paramentos exteriores e interiores. Crescimento de vegetação parasitária Descrição da Patologia Aparecimento de vegetação parasitária em zonas de destacamento do reboco. Causa Aparente Destacamento do reboco e escorrência e salpicos de águas pluviais. Exame - Verificação de existência de sistemas de recolha de água (caleiras). - Verificação da estanquidade da cobertura. - Verificação do estado de conservação do reboco. _____________________________________________________________________________ 106 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #8-2 Sugestão de Reparação Remoção e escovagem com escova metálica das zonas afectadas e aplicação de um produto específico biocida de largo espectro em zonas que não serão rebocadas (pedras de cornija e torre sineira). Nas restantes zonas e uma vez que o reboco será totalmente substituído, seguir processo indicado na ficha 6. De forma a evitar o escorrimento de aguas pluviais, seguir indicações da ficha 5 e colocar caleiras de forma a evitar os salpicos. Figura 50– Localização da patologia, andar superior. _____________________________________________________________________________ 107 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #8-3 Foto 34– Localização da vegetação parasitária. Foto 35– Localização da vegetação parasitária. _____________________________________________________________________________ 108 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #8-4 Foto 36– Localização da vegetação parasitária. _____________________________________________________________________________ 109 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.9. Alteração da Pedra Ficha #9-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Paramentos exteriores Alteração da pedra Descrição da Patologia Desagregação mecânica do material. Causa Aparente Exposição da pedra á acção simultânea da água e das baixas temperaturas. As sucessivas acções de molhagem dissolução e transporte de sais assim como a gelificação da pedra com aumento de volume contribuem fortemente para a degradação acelerada das características mecânicas das pedras. Exame - Verificação do tipo de exposição a que as pedras mais deterioradas estão sujeitas. - Verificação das características físicas e químicas da pedra. _____________________________________________________________________________ 110 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #9-2 Sugestão de Reparação Reformulação total do reboco como se indica na ficha 6, tendo especiais cuidados de preparação da aplicação deste nas zonas de pedra mais degradada. Na cornija e no campanário, locais de aplicação de granito á vista, procede-se inicialmente á limpeza das pedras por jacto de água. Após a sua secagem, aplica-se uma pintura com silicones em película criando desta forma uma barreira repelente da água, permitindo a sua respiração não permitindo que esta humidifique, diminuindo os efeitos da gelificação. Figura 51– Localização da patologia, andar superior. _____________________________________________________________________________ 111 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #9-3 Foto 37– Degradação pedra em zona de destacamento do reboco. Foto 38 – Degradação da pedra da cornija. _____________________________________________________________________________ 112 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #9-4 Foto 39– Degradação da pedra do apilarado. _____________________________________________________________________________ 113 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS 3.2.10. Apodrecimento e Infestação de Madeiramentos Ficha #10-1 Localização da Patologia e Sua Identificação Elementos de madeira Apodrecimento e infestação Descrição da Patologia Presença de humidade por acção directa e prolongada nos elementos de madeira causando degradação irreversível nestes. Existência de galerias na madeira e apresentação desta sob a forma de laminado. Aspecto bolorento e pulverulento do interior e da superfície da madeira. Causa Aparente Exposição directa e prolongada á agua e aos agentes parasitários, não tendo esta qualquer tipo de tratamento para tais condições. Exame - Verificação das condições de exposição á humidade. _____________________________________________________________________________ 114 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #10-2 Sugestão de Reparação Uma vez que o principal factor contribuinte para esta patologia é a presença e ataque da humidade por acção directa e prolongada, será necessária a substituição da cobertura como se indica na ficha 5. Dado o estado de degradação evidenciado pelos elementos de madeira, a sua recuperação torna-se impossível, sendo necessário proceder á sua substituição total. Para tal será necessário ter em atenção os métodos construtivos da época (subcapítulo 2.2) de forma a preservar a identidade do edifício. A madeira a aplicar deverá ter tratamento químico adequado de forma a adquirir estanquidade e resistência aos ataques parasitários. Os trabalhos consistem na substituição das portas, das janelas, dos tectos, do pavimento e da estrutura da cobertura. Figura 52– Localização da patologia, andar superior. _____________________________________________________________________________ 115 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #10-3 Foto 40– Degradação do tecto de madeira. Foto 41 – Degradação do tecto de madeira. _____________________________________________________________________________ 116 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #10-4 Foto 42– Degradação da estrutura da cobertura e decaimento de elementos que a constituem, tal como os elementos do forro. Foto 43– Degradação da estrutura do pavimento, com redução da secção dos elementos de suporte; indícios de ataque xilófago. _____________________________________________________________________________ 117 3. DIAGNOSTICO DAS ANOMALIAS CONSTRUTIVAS Ficha #10-5 Foto 44– Degradação de portas de carvalho. _____________________________________________________________________________ 118 4. FUNDAÇÕES 4.FUNDAÇÕES _____________________________________________________________________________ 119 4. FUNDAÇÕES 4.FUNDAÇÕES 4.1. Causas dos Assentamentos em Fundações(22) Num projecto de um edifício são quantificados de forma exacta todos os elementos que compõem a estrutura, garantindo a estabilidade da mesma, contudo a definição dos parâmetros a adoptar no projecto de fundações nem sempre é fácil. Esses parâmetros designados de “valores derivados” são obtidos através de ensaios de campo e/ou laboratoriais e são o maior indicador para a escolha do tipo de fundação. O solo é assim o único elemento estrutural que não é projectável, havendo necessidade de adequar o tipo de fundação a utilizar às características por este apresentadas. O desconhecimento das características reais do solo pode ser a origem de diversos problemas estruturais nas construções. De forma a garantir boas soluções de projecto deverão ser efectuados estudos geotécnicos apropriados (SPT, DPL, PLT, ensaios granulométricos e limites de Attenberg, ensaios de compressão simples, etc.) tendo não só especial atenção na realização dos ensaios mas também na interpretação dos resultados obtidos. (a) Apesar das anomalias em fundações não serem resultado de uma única causa, podemos organiza-las por grupos, havendo três causas principais, as quais são responsáveis por cerca de dois terços de todas as anomalias registadas, sendo elas: o desconhecimento das características do solo, as estruturas de fundação defeituosas e as alterações do solo após a construção.(b) Uma prospecção geotécnica deficiente pode levar-nos a implantação de construções sobre estratos resistentes no entanto estes podem ser precedidos por estratos de fraca resistência podendo levar a assentamentos globais. _________________ (a) [MARTINS; 2002] ; (b) [LOGEAIS; 2000] _____________________________________________________________________________ 120 4. FUNDAÇÕES a) b) Figura 53– Implantação de edifícios sobre falsos firmes com assentamentos globais. a) Fundações sem assentamentos; b) Fundações com assentamentos globais. Outra das causas de patologias associadas ao desconhecimento dos solos á a falta de homogeneidade deste podendo existir bolsas de extractos pouco resistentes em zonas limitadas as quais podem passar despercebidas a um levantamento geotécnico mais descuidado e provocar deficiências graves no edifício. a) b) Figura 54– a) Edificação implantada sobre estrato de grande resistência homogéneo (situação ideal de calculo); b) Edificação implantada sobre estrato de grande resistência descontínuo com bolsa de argila orgânica (situação real). _____________________________________________________________________________ 121 4. FUNDAÇÕES Foto 45– Torre de Pisa implantada em solo de fundação heterogéneo. Adaptado de www.Google.pt. Neste grupo podemos também incluir a agressividade do solo de fundação, o qual, caso não tenham sido previstos quaisquer tratamentos especiais para as fundações, aceleraram a sua deterioração enfraquecendo-as ao ponto de não suportar as cargas actuantes. Foto 46–Solo de fundação agressivo com deterioração avançada das fundações. Adaptado de www.Google.pt. _____________________________________________________________________________ 122 4. FUNDAÇÕES Na montagem de estacas profundas pré-fabricadas, devido ao desconhecimento das características dos solos, podem desenvolver-se forças devido ao atrito superiores às cargas para que estas foram dimensionadas, podendo levar á rotura destas e consequente perda de capacidade estrutural. Foto 47– Danificação de estacas de fundação no processo de cravação. Adaptado de www.Google.pt. As estruturas de fundação defeituosas são qualificadas partindo do pressuposto que existe um conhecimento profundo do solo de fundação e de que as soluções tomadas seriam as mais correctas para este caso, ficando limitada a origem das anomalias a defeitos de projecto ou de execução. Um engano pouco frequente é o subdimensionamento dos elementos de fundação devido a erros de cálculo na fase de projecto, indicando dimensões e soluções incapazes para as solicitações da estrutura. Outro defeito associado a esta família é a má qualidade dos materiais empregues, reduzindo a capacidade da estrutura e potenciando as possibilidades de ocorrência de anomalias estruturais. A presença de água aquando da betonagem dos elementos de fundação pode levar á segregação grave do betão fresco, reduzindo a sua capacidade estrutural. (c) As alterações do solo estabelecem o terceiro grupo das principais patologias construtivas em fundações de edifícios. Qualquer intervenção na envolvente de um edifício, tem com maior ou menor intensidade repercussões na sua estabilidade, podendo em alguns casos comprometer toda a estrutura. _________________ (c) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 123 4. FUNDAÇÕES A construção de edifícios sobre aterros é um dos casos que geralmente mais problemas acarreta, devido a assentamentos incompletos os quais progridem após a construção das estruturas, levando a movimentos nas estruturas por estas não suportados, conduzindo á sua rotura. a) b) Figura 55– Deformação induzida á estrutura devido aos assentamentos diferenciais. a) Fundações sem assentamentos; b) Fundações com assentamentos diferenciais. a) b) Figura 56– Esforços actuantes. a) Estrutura de edifício com fundações sem assentamentos; b) Estrutura de edifício com fundações com assentamentos diferenciais. _____________________________________________________________________________ 124 4. FUNDAÇÕES Figura 57– Efeitos de assentamento de uma sapata interior. Figura 58– Efeitos de assentamento de duas sapatas interiores. _____________________________________________________________________________ 125 4. FUNDAÇÕES Figura 59– Efeitos de assentamento de uma sapata de canto. Figura 60– Efeitos de implantação de edifício em parte em zona de aterro subconsolidado e uma outra parte sobre zona de escavação. Figura 61– Efeitos de assentamentos nos extremos de uma edificação. _____________________________________________________________________________ 126 4. FUNDAÇÕES Figura 62– Efeitos assentamentos em zona central de uma edificação. Outra das causas de anomalias em fundações é a variação do teor de humidade no solo de fundação, podendo alterar profundamente as características dos terrenos e dos aterros, principalmente os que apresentem características argilosas. Figura 63– Exemplo de rotação da estrutura devido a saturação de parte do solo argiloso e consequente perda de capacidade de sustentação. Foto 48– Rotação de reservatório de água devido á saturação do solo na zona inferior ao extravasor. Adaptado de www.Google.pt. _____________________________________________________________________________ 127 4. FUNDAÇÕES Figura 64– Pavilhão industrial sem caleiras de recolha das águas pluviais com saturação do solo junto às fundações directas e consequente perda de capacidade de sustentação. As escavações junto a um edifício para a construção de um novo, provocam em muitos casos descompressão do solo de implantação do edifício existente e consequente assentamento de fundações as quais geram anomalias estruturais graves. Figura 65– Descompressão do solo devido a escavação junto ao edifício provocando assentamentos diferenciais neste. _____________________________________________________________________________ 128 4. FUNDAÇÕES Figura 66– Descompressão do solo devido às ancoragens de sustentação do muro de suporte, fazendo com que as fundações apresentem assentamentos diferenciais provocando anomalias estruturais no edifício. Um edifício implantado em solos muito compressíveis é á partida um potencial gerador de patologias graves. A proximidade do edifício a vias com tráfego de viaturas pesadas, a criação de aterros nas proximidades ou qualquer outra acção que envolva uma sobrecarga do solo envolvente, pode conduzir ao aparecimento de anomalias. _____________________________________________________________________________ 129 4. FUNDAÇÕES Figura 67– Assentamento do solo compressível devido á sobrecarga por aterro. Em construções de grande porte próximas, pode haver sobreposição de áreas de degradação das tensões, aumentando perigosamente as tensões para valores não suportados pelo solo, levando a assentamentos que poderão ter consequências graves para a integridade estrutural do edifício. Figura 68– Sobreposição de pressões com rotura do solo de fundação e consequentes assentamentos. A utilização de fundações de diferentes tipos para partes distintas das construções, devido á existência de diferentes características do solo de fundação _____________________________________________________________________________ 130 4. FUNDAÇÕES afectado ou ainda pela implantação das fundações a diferentes níveis, atingindo diferentes extractos, pode causar anomalias graves nos edifícios devido a diferentes reacções às solicitações do edifício. Figura 69– Fundação do edifício á superfície em estratos de má qualidade, muito instáveis e compressíveis e em zonas de maior solicitação utilização de fundações profundas, atingindo extractos sólidos com boas características mecânicas, apresentando movimentações diferentes nas duas partes do edifício. Outra das origens é a profundidade reduzida de implantação das fundações o que leva a uma maior sensibilidade destas á presença de água, aos efeitos do gelo, e até a sua implantação sobre camadas de terra vegetal. A construção de edifícios sobre solo instável, antigas minas ou pedreiras não consolidadas, inclinação elevada do terreno podendo levar ao escorregamento de todo o conjunto, é outra causa de assentamentos de _____________________________________________________________________________ 131 4. FUNDAÇÕES fundações. Por fim podemos ainda referir a mudança de uso do edifício, com aumento das cargas actuantes para valores superiores aos dimensionados, provocando assentamentos ou apropria rotura dos elementos estruturais principais. (d) 4.1.1. Causas dos Assentamentos no Edifício Caso de Estudo Relativamente ao edifício caso de estudo (Capela de S. António em Lamego), podemos verificar que em fase de obra foram realizadas escavações para incorporação do complexo hoteleiro em duas frentes do edifício antigo. Estas escavações expuseram todo o sistema de fundação do edifício (estacas de madeira), descomprimindo o solo argiloso envolvente, fazendo agravar ainda mais o estado de conservação de toda a estrutura do edifício. As fissuras apresentadas demonstram a rotação para o exterior das fachadas do edifício, iniciadas devido ao constante humedecimento das paredes e agravadas pelas recentes escavações. Figura 70– Fissuração da fachada Este por assentamentos de fundação no lado Norte. _________________ (d) [LOGEAIS; 2000] _____________________________________________________________________________ 132 4. FUNDAÇÕES Figura 71– Fissuração da fachada Oeste devido a assentamentos de fundação no lado Norte. Figura 72– Fissuração da fachada Norte devido a assentamentos de fundação no lado Oeste. _____________________________________________________________________________ 133 4. FUNDAÇÕES Foto 49– Trabalhos de construção do complexo hoteleiro junto da capela, os quais foram precedidos de uma escavação até ao limite do edifício caso de estudo. 4.2. Tratamento de Anomalias nas Fundações (23) Em edifícios antigos é frequente o aparecimento de patologias com origem nas fundações, sendo necessárias intervenções com carácter corrector da transmissão de solicitações ao solo. As intervenções são consideradas como necessárias, quando se pretende alterar o uso do edifício, aumentando com esse processo as solicitações á estrutura para valores acima dos projectados, ou quando os elementos de fundação tenham limitações de carga que incapacitem a estrutura a resistir às forças actuantes, apresentando alterações na sua configuração estrutural. _____________________________________________________________________________ 134 4. FUNDAÇÕES Nos processos de reabilitação, cujos diagnósticos após reconhecimento das características do solo e das fundações permitam concluir que a origem patológica encontra-se no comportamento das fundações, devem ser avaliadas as soluções possíveis para resolução patológica. Em casos específicos poderá ser tomada como solução a redução das cargas actuantes, eliminando possíveis ampliações ao edifício original, etc. o que impediria a progressão das patologias. Este processo tem a si associadas limitações que não são toleradas em grande parte dos casos, devido á importância atribuída ao uso de determinados edifícios. Uma outra opção poderá passar pela melhoria das características do solo de fundação e por fim e como processo mais usual poderemos optar pelo reforço das fundações por recalçamento e/ou ampliação da área de transmissão de cargas. (e) As intervenções de recalçamento e ampliação da área de transmissão de cargas, são operações de reforço da capacidade estrutural, podendo estas ser divididas em dois grandes grupos, as intervenções directas e as intervenções profundas. Os reforços directos apresentam uma menor intrusividade, revelando-se na grande maioria dos casos um processo reversível. O processo de fundações indirectas, é um processo mais intrusivo e o qual exige mais tecnologia. Conhecida a vulnerabilidade dos edifícios antigos, a descompressões do solo, o reforço das fundações deverá ter condições de segurança especiais, minimizando a possibilidade de acidente. Os trabalhos deverão ser executados através da abertura de pequenos poços, intercalados por espaços não escavados como se ilustra na figura 79 O material mais apto para estas intervenções é o betão armado dada a sua facilidade de adaptação a formas irregulares bem como a sua durabilidade. De forma a evitar descompressões nas fundações durante o processo de transferência de cargas, devem ser tidas em linha de conta as opções de utilização de argamassa expansiva ou a introdução de cunhas metálicas á pressão, manualmente ou com auxilio de um sistema hidráulico. A ligação entre fundação existente e o reforço poderá ser feita através de pregagens injectadas ou em situações de maior exigência estrutural, através de elementos de pré-esforço. _ ________________ (e) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 135 4. FUNDAÇÕES 4.2.1. Melhoramento do Solo de Fundação(24) O melhoramento do solo de fundação baseia-se em técnicas geotécnicas não sobre a fundação mas sobre o solo que as suporta. Como técnicas de melhoramento de solo para situações de reparação patológica podemos indicar as injecções de caldas na sua maioria de cimento a alta pressão, debaixo dos elementos de fundação, criando desse modo um elemento estrutural com uma maior área. Outra técnica cujo principio é idêntico ao da técnica anterior, e a qual se tem vindo a desenvolver bastante nos últimos anos é o jet-grouting que consiste na injecção de caldas de cimento a pressões elevadíssimas (4 Mpa), misturando-se com o solo e as quais formam uma pasta viscosa cuja cura é relativamente lenta. O melhoramento do comportamento do solo pode ainda ser feito temporariamente através de processos térmicos, os quais consistem no congelamento artificial do terreno. (f) Em termos de processos de melhoramento dos solos nas fases que antecedem a construção e não de reparação, podemos indicar o processo de reforço do solo através de inclusão de materiais naturais (fibras naturais e sintéticas), substituição de terreno por outro volume mais adequado (substituição do terreno de implantação por outro cujas características mecânicas são melhores), compactação dinâmica (consiste na queda de uma massa de 5 a 32 toneladas de uma altura que pode variar entre os 12 e os 114m), pré-carga (criação de uma carga por aterro ou por vácuo) e vibrocompactação (introdução de um elemento vibratório no terreno). • Injecções A injecção é uma técnica de melhoria das capacidades resistentes dos terrenos, tendo por base a injecção no terreno de caldas de cimento na grande maioria dos casos. Pode ser utilizada para tratamento da deformabilidade e resistência mecânica do solo, tratando-se de um processo de consolidação bem como para tratamento da permeabilidade, através da impermeabilização do solo. ________________ (f) [ALMEIDA; 2003] _____________________________________________________________________________ 136 4. FUNDAÇÕES Os trabalhos de injecção são efectuados com o recurso a uma serie de perfurações, adequadamente dispostas, a partir das quais são injectados os líquidos mais ou menos viscosos e com pressões previamente determinadas (a pressão de injecção diminui com a proximidade á superfície), dependendo do tipo de solo e das necessidades estruturais. Posteriormente transformar-se-ão em sólido, quer seja através do simples endurecimento (caldas de cimento) quer seja através de transformações químicas (caldas á base de produtos químicos). (g) Um dos problemas na execução das injecções é a garantia da homogeneidade da mistura líquida por zona injectada. Por vezes e dada a heterogeneidade dos solos, as misturas deslocam-se para zonas de baixo importância para o comportamento mecânico da estrutura, deixando pontos vitais para o bom comportamento destas com saturações muito abaixo do desejado. De forma a limitar esse problema, podem ser realizadas barreiras limitadoras de forma a garantir a boa distribuição das misturas injectadas, contudo essa solução é pouco viável dados os custos a ela associados. (h) Em casos cujos solos tenham tendência a sofrer arrastamentos por percolação das águas subterrâneas, os objectivos passam a prender-se com a impermeabilização destes, contudo têm que ser tidos em conta diversos factores, pois a redução do nível freático pode conduzir ao reajuste das partículas do solo de forma a colmatar os espaços vazios deixados pela água conduzindo as estruturas a assentamentos diferenciais. Figura 73– Injecção de misturas líquidas sob a base da fundação com distribuição ideal do liquido injectado. ________________ (g) [APPLETON; 2003] (h) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 137 4. FUNDAÇÕES Figura 74– Injecção de misturas líquidas com barreiras de confinamento sob a base da fundação, com garantia de distribuição homogénea da mistura injectada. • Jet-Grouting O jet-grouting, surgiu na década de 70 devido á inadequação das técnicas de injecção utilizadas para tratamento de solos de fracas capacidades mecânicas e de elevada permeabilidade ou heterogeneidade. Em situações cujas tolerâncias a perturbações são mínimas e a necessidade de controlo nas operações é máxima, como é o caso das construções em zonas urbanas de elevada densidade, a injecção torna-se inadequada devido a todas as suas limitações em termos de controlo e perturbação. A técnica jet-grouting, consiste na melhoria das características dos solos de uma forma directa sem necessidade de escavações prévias. As colunas de jet-grouting a realizar podem ser de geometria plana ou cilíndrica, na geometria plana a vara faz a sua ascensão sem rotação, na geometria cilíndrica a vara sobe e ao mesmo tempo roda. _____________________________________________________________________________ 138 4. FUNDAÇÕES O processo inicia-se com a introdução da vara no terreno através de movimentos rotacionais, auxiliados por um jacto de água vertical, penetrando no terreno até se atingir a profundidade pretendida para a intervenção. Concluída a furação é obturada a água no fundo da vara através de uma válvula dando-se início ao processo de melhoramento do solo propriamente dito. No processo de injecção da calda, a vara dispara jactos horizontais de água e ar a grande velocidade (cerca de 250m/s) os quais desagregam a estrutura do terreno através da sua elevada energia cinética. A água utilizada na desagregação do terreno transporta para o exterior através da vara parte do solo desagregado sendo a restante parcela misturada com as caldas injectadas. A subida da vara é controlada, mantendo esta uma velocidade constante de forma a garantir homogeneidade na coluna. O furo é fechado com a simples injecção de calda por gravidade. A mistura resultante tal como nas injecções torna-se sólida pelo simples endurecimento no caso de caldas de cimento ou através de reacções químicas no caso de misturas químicas, criando bases com a qualidade necessária ao bom comportamento de toda a estrutura. (i) Durante o processo deve ser tida em especial atenção a perda de capacidade resistente temporária da zona alvo de intervenção, recorrendo a processos de ancoramento para garantia da estabilidade das estruturas em reparação. a) b) ________________ (i) [CARRETO; 2000] _____________________________________________________________________________ 139 4. FUNDAÇÕES c) d) Figura 75– Fases de execução de colunas de jet-grouting. a) Introdução da vara através de rotação e jacto de agua. b) Paragem de jacto de agua vertical e inicio dos jactos de agua e ar horizontais. c) Subida a velocidade constante com rotação da vara e injecção de calda. d) Melhoramento do solo na área pretendida. • Tratamentos térmicos O tratamento térmico dos solos, não poderá ser considerado como uma forma definitiva de melhorar o comportamento resistente deste. Esta técnica não é mais que um auxiliar á realização de obras mais complexas, estabilizando temporariamente o solo através da sua congelação. Esta técnica até agora não utilizada em Portugal, tem sido utilizada em países onde as temperaturas são predominantemente baixas, sendo um fiel auxílio onde outras técnicas se revelam incapazes, contudo tem a si associada tecnologia especializada de elevado custo. O processo de execução desta técnica inicia-se com a colocação das tubagens de forma a criar um circuito, através do qual irá circular um líquido (salmonela, azoto liquido, etc.) o qual dependerá da entidade construtora e dos objectivos pretendidos. A circulação do líquido pelo circuito, transmitirá frio ao solo arrefecendo-o até á sua congelação. Após congelado o solo, (processo que dependendo do tipo de solo, da técnica seja circuito aberto, fechado ou misto e do líquido levará mais ou menos tempo, sendo15 a 25 dias em situações mais correntes), a quantidade de líquido a circular no _____________________________________________________________________________ 140 4. FUNDAÇÕES circuito poderá ser reduzida, mantendo apenas o valor necessária á manutenção da parede de gelo íntegra. (j) Em termos de vantagens, esta técnica permite rapidez na execução dos trabalhos, reduzido nível de vibração e ruídos, pouco dependente das condições geológicas do terreno e ainda permite a continuação do uso das infra-estruturas existentes. As canalizações e mecanismos a esta técnica associadas poderão ser totalmente recuperados o que conduz a uma redução no elevado custo desta técnica. Foto 50– Exemplos de aplicação de tratamentos térmicos no solo de fundação. Adaptado de Construlink Press 2003. 4.2.2. Reforço das Fundações(25) O reforço das fundações, é um processo que ao contrário dos processos de melhoramento do solo, actua directamente sobre os elementos de fundação. Os processos de reforço são variados, tendo diferentes configurações, metodologias e profundidades de actuação. Desse modo, podemos dividir as técnicas de reforço em dois grandes grupos, os processos superficiais de reforço e os processos profundos de reforço. Os processos de reforço superficiais, actuam directamente nas fundações, podendo os elementos de fundação encontrar-se visíveis ou não. Intervêm nas fundações quer por aumento da área contribuinte, quer por reforço das suas capacidades resistentes ou em casos muito especiais através da substituição de todos os elementos de fundação. _______________ (j) [ALMEIDA; 2003] _____________________________________________________________________________ 141 4. FUNDAÇÕES Os processos de reforço profundos, da mesma forma que os processos superficiais, podem implicar escavação do terreno ou não, e passam pela introdução de estacas ou micro-estacas até a abertura de poços de refundação. (k) • Injecções Na reabilitação de fundações, é frequente efectuarem-se diagnósticos patológicos, os quais apontam como origem de todas as deformações, alterações graves da capacidade resistente dos maciços de fundação. Essas degradações podem ter origem quer na qualidade dos materiais empregues na construção destes elementos, nas técnicas rudimentares utilizadas, na agressividade do meio envolvente, ou ainda nas alterações no esquema de cargas. Um dos processos de reabilitação nestes casos, passa pela injecção de caldas a baixa pressão ou por gravidade, no interior dos elementos de fundação. Esta técnica, consiste na introdução das caldas através de tubos de injecção, os quais perfuram parte do elemento de fundação. A necessidade de injecção a baixa pressão ou apenas por gravidade, é devida á vulnerabilidade dos elementos de fundação. Caso não sejam efectuados estudos de permeabilidade, inicialmente é testada a introdução apenas por gravidade, caso esta solução não seja viável devido á morosidade do processo ou mesmo devido á negação na introdução, a pressão é aumentada, contudo os intervalos de progressão são reduzidos atingindo máximos de pressão de 100 a 200 KPa. As caldas utilizáveis são de grande variedade, podendo introduzir-se caldas de cimento estabilizadas com bentonite ou cal, caldas de cimentos especiais, caldas de silicatos de potássio, caldas de silicatos de sódio e caldas á base de resinas epoxídicas, contudo estas últimas são pouco utilizadas devido ao seu elevado custo. (l) Esta técnica dá como garantida a capacidade resistente por parte do solo de fundação, actuando apenas na estabilização da fundação existente, o que a torna desapropriada em intervenções com diferente princípio. Têm a si associada a vantagem de não necessitar escavações e de ser um processo rápido quando comparado com outras formas de actuação. Contudo esta técnica implica mecanismo de perfuração e injecção mais desenvolvidos, uma equipa experiente e o resultado é um pouco incerto. _______________ (k) [CÓIAS; 2007] (l) [APPLETON; 2003] _____________________________________________________________________________ 142 4. FUNDAÇÕES Essa incerteza deve-se sobretudo á liberdade de movimentos das caldas durante a injecção, espalhando-se pelos locais de menor pressão, podendo levar a uma distribuição heterogénea desta. Uma das formas de contrariar essa heterogeneidade ou essa incerteza quanto á distribuição das caldas, consiste no isolamento da área de injecção. A introdução de muros pré-fabricados ou muros concebidos no local ou mesmo através de estacas de madeira, podemos confinar a injecção á zona pretendida. O confinamento do local de injecção, implica custos elevados, pois utilizando muros de betão pré-fabricados ou feitos no local, são necessárias escavações para a sua introdução, acrescentando aos custos de todo o processo, os custos de escavação. A escavação tem ainda a si associada o risco de descompressão do solo. Na zona de retirada das terras, parte da fundação vai ficar suspensa, reduzindo temporariamente a sua capacidade de sustentação. Nestas situações toda a estrutura deverá ser ancorada, transferindo as cargas para zonas com maior resistência. No caso de isolamento da área através de estacas, o processo de cravação implica mecanismos desenvolvidos e uma equipa experiente, o que aumenta os custos, contudo põe de lado todos os riscos e custos associados á escavação. (m) Figura 76– Injecção de caldas nos elementos de fundação através de perfurações feitas nestes. _______________ (m) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 143 4. FUNDAÇÕES Figura 77– Injecção de caldas nos elementos de fundação através de perfurações feitas nestes, com confinamento da injecção através de estacaria. Figura 78– Injecção de caldas nos elementos de fundação através de perfurações feitas nestes, com confinamento da injecção através de muros de suporte, pré-fabricados ou concebidos no local. _____________________________________________________________________________ 144 4. FUNDAÇÕES • Ampliação da Área de Transmissão de Cargas A necessidade de aplicação do processo de aumento da área de transmissão, pode ter como origem dois factores. O primeiro factor é o desconhecimento das características do solo de fundação levando a erros de dimensionamento logo na fase de projecto. O segundo factor é a alteração das cargas actuantes no edifício, seja pela alteração do uso ou pela alteração da configuração edifício, aumentando os valores de carga a degradar pelos elementos de fundação para níveis por estes incomportáveis. A técnica baseia-se num principio simples, uma vez que a tensão é o quociente entre a carga e a área, aumentando a área reduzimos a tensão. O método de ampliação da área de transmissão de cargas, tem a si associada um elevado grau de complexidade e risco. O processo de construção deverá decorrer de uma forma faseada, com uma largura de intervenção admissível reduzida encontrandose esta em de cerca de 2 metros. Além de faseado, este processo deverá ser também intercalado, só actuando num dos lados após o outro estar consolidado. As zonas de intervenção, deverão ser ancoradas, de forma a reduzir as cargas transmitidas á área de trabalhos e garantindo temporariamente a estabilidade do edifício. A complexidade do processo, advêm da vulnerabilidade das zonas em intervenção e das cargas elevadas a estas associadas. (n) A ampliação da área contribuinte para degradação das cargas transmitidas pela estrutura ao solo, consiste numa das técnicas com melhores efeitos práticos. O processo de construção, inicia-se com a escavação do local a intervir. Após a escavação, a estrutura de fundação será cuidadosamente limpa de forma a garantir boa aderência do betão. Caso se verifique necessário, a fundação poderá ser superficialmente picada garantindo uma maior aderência com o betão novo. Antes da betonagem, deverá ser aplicado um produto ligante que proporcione uma aderência extra, idealizando-se perfeita entre a estrutura velha e a estrutura nova. Estes cuidados na ligação entre estruturas, têm em vista a actuação destas como um todo, garantindo uma transmissão homogénea de cargas ao solo. Deverão ser igualmente introduzidos os elementos de ancoragem entre elementos, caso sejam previstos em projecto para a situação. Após betonada, a zona só deverá ser posta em carga quando o betão ganhar a resistência máxima (28 dias). _______________ (n) [CÓIAS; 2007] _____________________________________________________________________________ 145 4. FUNDAÇÕES O processo deverá ser repetido por todos os troços previamente estabelecidos, como se indica na figura 79 até se completar toda a fundação do edifício(o) O processo de construção é mais ou menos complexo, dependendo do tipo fundação existente, da estabilidade estrutural do edifício e sobretudo da solução adoptada. Na ampliação do sistema de fundação, há diversas formas possíveis, representando-se abaixo algumas das configurações mais usuais. Figura 79– Ordem de execução dos trabalhos. _______________ (o) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 146 4. FUNDAÇÕES Figura 80– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas com ligação através de resinas e varões de aço. Figura 81– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas com ligação através de ancoragens de aço. _____________________________________________________________________________ 147 4. FUNDAÇÕES Figura 82– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas, com recorte diagonal na fundação existente de forma a haver uma maior contribuição por parte da ampliação na degradação das cargas. Figura 83– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas, com recorte dentado na fundação existente de forma a haver uma melhor ligação entre ampliação e fundação existente. _____________________________________________________________________________ 148 4. FUNDAÇÕES Figura 84– Ampliação da área de transmissão de cargas através da execução de vigas paralelas às sapatas corridas, com recorte dentado na fundação existente e varões de ligação de forma a haver uma melhor ligação entre ampliação e fundação existente. Figura 85– Ampliação da área de transmissão de cargas através do envolvimento parcial dos elementos de fundação. _____________________________________________________________________________ 149 4. FUNDAÇÕES • Recalçamentos O recalçamento é uma solução lógica quando a camada superficial do solo de fundação se revela inadequada, correspondendo praticamente a uma substituição do solo fraco por betão simples ou armado, até uma cota tal que se encontre solo com aptidão suficiente. Esta técnica pode enquadrar-se tanto nas soluções de reforço superficiais como nas soluções profundas, dependendo da profundidade a que se localiza o solo firme. A técnica de recalçamento superficial está muitas vezes associada às técnicas de ampliação da área de transmissão de cargas ao solo, podendo a figura 85 ser considerada uma técnica mista de ampliação e recalçamento. O processo de execução dos recalçamentos, é um processo complexo, obrigatoriamente faseado, seguindo a sequência apresentada na figura 79. Figura 86– Recalçamento da fundação através da introdução de uma viga armada sob a fundação existente. _____________________________________________________________________________ 150 4. FUNDAÇÕES Figura 87– Recalçamento da fundação através da introdução de uma viga armada sob a fundação existente, com ampliação da área de transmissão de cargas. Os recalçamentos profundos podem ser executados através de poços de trabalho e desta forma por um processo manual, ou através da introdução de estacas encabeçadas por maciços de betão. O recalçamentos através de poços não é valido para sapatas isolados devido ao perigo de execução a este associado. O processo de recalçamentos é feito de uma forma sequencial alternada, atingindo a profundidade necessária ao alcance dos estratos firmes. O processo inicia-se com a escavação dos poços, alcançando apenas metade da largura de fundação, e tendo um comprimento de trabalho mínimo de 1 a 2 m, os quais permitem a livre movimentação dos operários. Á medida que se vai progredindo em profundidade, a escavação é progressivamente ancorada de forma a garantir a estabilidade na zona de trabalho. O processo de escavação é dado como concluído quando este atinge solo com aptidão suficiente. De seguida dá-se inicio á construção da nova fundação, que caso haja condições de segurança suficientes á retirada das ancoragens estas deverão ser retiradas antes de se iniciar a betonagem, caso contrário poderão ser dadas como perdidas e ficam _____________________________________________________________________________ 151 4. FUNDAÇÕES embebidas no betão. O processo é repetido por troços anteriormente pensados e definidos, até se atingir toda a fundação. (p) Figura 88– Recalçamento de fundação através de poços, com escavação sob a fundação existente e recalçe a partir do solo firme. ____________ (p) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 152 4. FUNDAÇÕES Os recalçamentos profundos podem ainda ser efectuados através de estacas, podendo estas ser de madeira, metálicas ou ainda de betão armado. As estacas de betão armado, podem ser pré-fabricadas e posteriormente cravadas no solo ou então, betonadas no local após perfuração do solo. Na reabilitação, a vulnerabilidade das construções, faz com que os processos de cravação sejam de aplicação muito cuidada, pois as vibrações por estes criadas, podem por em causa a integridade das construções. A cravação de estacas é feita através da acção de um pilão, o qual bate indirectamente nas estacas. Em geral, as estacas de madeira suportam razoavelmente bem os esforços provenientes da cravação, logo que o terreno seja homogéneo e não muito rijo. Durante a cravação, as estacas de madeira são protegidas por um anel metálico, pelo qual são encabeçadas e sobre o qual se dá a acção mecânica para a cravação. A ponta das estacas, pode ainda ser reforçada se necessário por uma ponteira de aço, permitindo um melhor desempenho para a estaca no processo de cravação. Figura 89– Estaca de madeira preparada para cravação mecânica, com anel de encabeçamento em aço e ponteira de reforço igualmente em aço. As estacas de betão cravadas, devem ser encabeçadas por um capacete de metal, no interior do qual se deve colocar um “amortecedor”, geralmente de madeira de forma _____________________________________________________________________________ 153 4. FUNDAÇÕES a reduzir as vibrações transmitidas pelo processo de cravação e minorar os efeitos negativos do processo de cravação. As estacas pré-fabricadas e posteriormente cravadas, têm a vantagem de maior controlo durante o processo de fabricação, contudo podem ter problemas para garantir um bom processo de cravação, podendo estas perder as suas capacidades durante o processo. As estacas moldadas apesar de não terem tanto rigor na concepção, no entanto não são sujeitas ao processo de cravação. As estacas metálicas, têm a vantagem relativamente aos outros tipos de estacas de em praticamente todo o tipo de terreno serem de fácil cravação e apresentarem excelentes capacidades de carga. (q) Após a cravação, as estacas são encabeçadas por vigas de betão armado, as quais fazem a transmissão das cargas das fundações existentes das construções, para as estacas. (r) Figura 90– Recalçamento de fundações através da introdução de estacas encabeçadas por vigas de recalçamento. _______________ (q) [COSTA; 1956] (r) [APPLETON; 2003] _____________________________________________________________________________ 154 4. FUNDAÇÕES • Micro-Estacas Uma das tecnologias mais recentes no reforço de fundações são as microestacas. Esta técnica recente, têm tido muito boa aceitação por parte dos especialistas da reabilitação e estruturas, uma vez que apresenta bons resultados, não apresentando dificuldades especiais de execução. Ao mesmo tempo que consegue mobilizar estratos profundos do terreno, os quais deveram ter maior capacidade, esta técnica quando a injecção se dá à pressão, consolidam significativamente o solo aumentando a sua capacidade estrutural. (s) O processo consiste na introdução por perfuração de estacas com dimensões entre os 100 e os 300 mm, as quais podem ser perfuradas directamente através das fundações, fazendo desse modo a ligação necessária à transmissão das cargas. As microestacas, podem ainda ser introduzidos no terreno e encabeçadas no topo por vigas, as quais se responsabilizam pela transmissão dos esforços. Nas perfurações são injectadas caldas a pressão ou por gravidade. Quando a injecção se da à pressão, esta pode ser efectuada gradualmente por diferentes alturas de injecção, ou o processo pode ser efectuado todo com a vara de injecção colocada á profundidade máxima. A sua aplicação pode ser na vertical ou inclinada (inclinações a variar entre 5 e 15º), tendo em atenção quando a aplicação se efectua inclinada, às tensões horizontais por elas criadas, devendo ser previstas formas de eliminação destas. A sua capacidade de sustentação é muito variada, podendo ir desde as 10 até as 100 toneladas, dependendo do tipo de solo, do diâmetro das estacas e do tipo de encabeçamento. (t) _______________ (s) [APPLETON; 2003] (t) [LÓPEZ; 1998] _____________________________________________________________________________ 155 4. FUNDAÇÕES Figura 91– Reforço de fundações com recurso a micro-estacas verticais em corte e em planta. _____________________________________________________________________________ 156 4. FUNDAÇÕES Figura 92– Reforço de fundações com recurso a micro-estacas verticais e diagonais em corte e em planta. _____________________________________________________________________________ 157 4. FUNDAÇÕES Figura 93– Reforço de fundações com recurso a micro-estacas verticais com encabeçamento sob viga de recalçamento, em corte e em planta. _____________________________________________________________________________ 158 4. FUNDAÇÕES 4.3. Referências Bibliográficas (22) - APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 97 até 99. - CÓIAS, V. – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 98. - MARTINS, J. – Fundações – Editora Universidade do Minho; Braga 2002; Capitulo IV. - LOGEAIS, L. tradução de ARAÚJO, B. – Patologias das Fundações – Editora Instituto Superior Técnico; Lisboa 2000; pp. 3 até pp. 69. - LÓPEZ, M. – Tratado de Reabilitação, Volume 3, Patología y Ténicas de intervención – Editora Munilla-Lería; Madrid 1998; pp. 15 até pp. 22. - LNEC – Fundações Directas Correntes, Recomendações – Editora LNEC; Lisboa 1968; (23) - APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 162 até 175. - CÓIAS, V. – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 216 até 218. - MARTINS, J. – Fundações – Editora Universidade do Minho; Braga 2002; Capitulo V. - LÓPEZ, M. – Tratado de Reabilitação, Volume 3, Patología y Ténicas de intervención – Editora Munilla-Lería; Madrid 1998; pp. 22 até pp. 42. - CAMPANELLA, C. – Obras de Conservação e Restauro Arquitectónico – Editora Câmara Municipal de Lisboa; Lisboa 2003; pp. 91 até 95. (24) - APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 162 até 175. - ALMEIDA, N. – Técnicas de melhoramento de solos – Editora, Construlink Press; Lisboa, 2003. - CARRETO, J. – Jet-Grouting, uma técnica em desenvolvimento – Editora, Universidade Nova de Lisboa; Lisboa, 2000. - PARSONS. – Estudos de preparação dos terrenos do aeroporto – Editora, FCG; Lisboa, 2004. - CÓIAS, V. – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 216 até 218. - MARTINS, J. – Fundações – Editora Universidade do Minho; Braga 2002; Capitulo V. _____________________________________________________________________________ 159 4. FUNDAÇÕES - LÓPEZ, M. – Tratado de Reabilitação, Volume 3, Patología y Ténicas de intervención – Editora Munilla-Lería; Madrid 1998; pp. 22 até pp. 42. - CAMPANELLA, C. – Obras de Conservação e Restauro Arquitectónico – Editora Câmara Municipal de Lisboa; Lisboa 2003; pp. 91 até 95. - RODRIGUES, D. – Controlo de qualidade em terrenos de miocénico de Lisboa – Editora Universidade Nova de Lisboa; Lisboa 2009; Capítulos 1 e 2. (25) - APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003; pp. 162 até 175. - CÓIAS, V. – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007; pp. 216 até 218. - MARTINS, J. – Fundações – Editora Universidade do Minho; Braga 2002; Capitulo V. - LÓPEZ, M. – Tratado de Reabilitação, Volume 3, Patología y Ténicas de intervención – Editora Munilla-Lería; Madrid 1998; pp. 22 até pp. 42. - CAMPANELLA, C. – Obras de Conservação e Restauro Arquitectónico – Editora Câmara Municipal de Lisboa; Lisboa 2003; pp. 91 até 95. - COSTA, F. – Estacas para Fundações – Editora C.A. Horácio Lane; Lisboa 1956. - LNEC – Fundações Directas Correntes, Recomendações – Editora LNEC; Lisboa 1968; _____________________________________________________________________________ 160 5. CONCLUSÃO 5. CONCLUSÃO _____________________________________________________________________________ 161 5. CONCLUSÃO 5. CONCLUSÃO Neste trabalho fica demonstrada a importância de um conhecimento profundo da tipologia das fundações, em estruturas antigas de alvenaria, como forma de melhor compreender o seu comportamento mecânico, a origem de muitas das suas patologias e ainda como forma de potenciar o sucesso das intervenções nos edifícios, facilitando a escolha das técnicas e dos materiais empregues na sua conservação, reabilitação ou restauro, revelando-se que em Portugal os conhecimentos nestas áreas ainda se encontram subdesenvolvidas. O edifício caso de estudo, encontra-se num estado de deterioração extremamente avançado, para isso muito contribui o estado de conservação da cobertura. Esta permitia a entrada da água das chuvas, atacando directamente as madeiras e as paredes. As madeiras, devido a essa contínua exposição, encontram-se num estado irreversível de deterioração, e as paredes completamente fissuradas, chegando a orientada a Sul ao desmoronamento. As escavações devido às obras na envolvente da capela, levaram igualmente ao aceleramento das anomalias, agravando para níveis ainda mais preocupantes as já existentes. No que respeita á escolha das técnicas a utilizar, com este trabalho demonstra-se que para obter rapidez na intervenção, complexidade acessivel e grande fiabilidade, as técnicas de introdução de micro-estacas e jet-grouting, levam grandes vantagens sobre todas as outras, contudo são técnicas bastante dispendiosas. As técnicas de recalçamento também produzem resultados em termos de fiabilidade bastante bons, contudo revelamse de grande complexidade, muito demoradas e com bastantes riscos estruturais durante a intervenção. Em termos gerais, podemos dizer que a melhor forma de preservar o património arquitectónico-cultural existente, é uma aposta mais alargada na prevenção, apostando na utilização de métodos simplificados expeditos, evitando intervenções profundas as quais acarretam técnicas muito complexas, de custos extremamente elevados e as quais entram por vezes em conflito com os critérios de autenticidade, compatibilidade e reversibilidade dos edifícios. _____________________________________________________________________________ 162 5. CONCLUSÃO Pela quantidade de bibliografia disponível e pelos estudos até agora efectuados, demonstra-se que Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito às politicas de preservação, deixando muitas das vezes perder no tempo, valores a nós confiados pelos nossos antepassados e os quais tínhamos a obrigação de manter e transmitir às gerações vindouras, como prova viva da nossa cultura e das nossas origens. 5.1 Recomendações Para Trabalhos Futuros Relativamente a estudos futuros na área da conservação, manutenção reabilitação e restauro de edifícios há uma ampla área de investigação a qual deve ser explorada. No caso especifico das fundações, deveram ser feitos estudos laboratoriais os quais ajudem no conhecimento mais profundo das técnicas e dos materiais, tentando potenciar as capacidades das técnicas até agora utilizadas e desenvolvendo novos métodos os quais apresentem uma menor complexidade, menor custo, maior rendibilidade dos materiais e uma maior rapidez. Não deverão apenas ser desenvolvidos trabalhos de carácter técnico mas também trabalhos com carácter de consciencialização, os quais sensibilizem e alertem as pessoas para este tão importante tema. _____________________________________________________________________________ 163 6. BIBLIOGRAFIA 6. BIBLIOGRAFIA _____________________________________________________________________________ 164 6. BIBLIOGRAFIA 6. BIBLIOGRAFIA - ALMEIDA, N. – Técnicas de melhoramento de solos – Editora, Construlink Press; Lisboa, 2003. – APPLETON, J. – Reabilitação de edifícios antigos – Editora, Orion; Lisboa, 2003. - Câmara Municipal de Lamego. - CAMPANELLA, C. – Obras de Conservação e Restauro Arquitectónico – Editora Câmara Municipal de Lisboa; Lisboa 2003. - CARRETO, J. – Jet-Grouting, uma técnica em desenvolvimento – Editora, Universidade Nova de Lisboa; Lisboa, 2000. - Carta Educativa Concelho de Lamego. - CÓIAS, João M. – Técnicas tradicionais de construção de alvenarias – Editora, Livros Horizonte; Lisboa, 2002. - CÓIAS, V – Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Editora Argumentum; Lisboa 2007. - COSTA, Fernando Vasco – Estacas para Fundações –Editora, C. A. Horácio Lane; Lisboa, 1956. - DIDEROT, Denis e D’ALEMBERT Jean Le Rind. – Encyclopédia ou Dictionnaire raisonné des Sciences des Arts et des Métiers par une Société de gens de lettres – Editora, Briasson; Paris, 1751-1765. - ICOMOS. – Comité Científico Internacional para a Análise e Restauro de Estruturas do Património Arquitectónico. - Instituto Nacional de Estatística. - Instituto Geológico e Mineiro. - LNEC – Fundações Directas Correntes, Recomendações – Editora LNEC; Lisboa 1968. - LOGEAIS, L. tradução de ARAÚJO, B. – Patologias das Fundações – Editora Instituto Superior Técnico; Lisboa 2000. - LOPES, F. e Correia, M. – Património Arquitectónico e Arqueológico – Editora Livros Horizonte; Lisboa 2004. _____________________________________________________________________________ 165 6. BIBLIOGRAFIA - LÓPEZ, M. – Tratado de Reabilitação, Volume 3, Patología y Ténicas de intervención – Editora Munilla-Lería; Madrid 1998. - MATEUS, João M. – Técnicas tradicionais de construção de alvenarias – Editora, Livros Horizonte; Lisboa, 2002. – Mapas de Portugal; http://mapas.pai.pt. - MARTINS, J. – Fundações – Editora Universidade do Minho; Braga 2002. - O clima de Portugal, fascículo XV, Região demarcada do Douro; Lisboa; 1965, Resumo da estação Udométrica Peso da Régua de 1951-1980. - PARSONS. – Estudos de preparação dos terrenos do aeroporto – Editora, FCG; Lisboa, 2004. - PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de; – Portugal Antigo e Moderno – Editora de Mota Moreira & Companhia 1ª edição, Lisboa, 1878; VIII Volume. - RONDELET, Jean Baptiste – Traité théorique et pratique de l’art de bâtir – chez l’auteur, enclos du panthéon; Paris, 1802-1817. - RODRIGUES, D. – Controlo de qualidade em terrenos de miocénico de Lisboa – Editora Universidade Nova de Lisboa; Lisboa 2009. - SEGURADO, João Emilio – Alvenaria e cantaria – Biblioteca de Instrução Profissional fundada por Thomaz Bordallo Pinheiro, 4ª ed., Livraria Bertrand, Lisboa, 1973-1975. - SEGURADO, João Emílio – Trabalhos de Carpintaria Civil – Biblioteca de Instrução Profissional fundada por Thomaz Bordallo Pinheiro, 4ª ed., Livraria Bertrand, Lisboa, 1909. - Serviços Geológicos de Portugal; Notícia explicativa da folha 10-A. _____________________________________________________________________________ 166 Anexos 7. ANEXOS _____________________________________________________________________________ 167 Anexos 7.1. Levantamento Arquitectónico e das Anomalias _____________________________________________________________________________ 168