IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de junho de 2008 Brasília - DF – Brasil _______________________________________________________ Recursos Naturais de Conflito: O Caso da “Madeira de Conflito” na República da Libéria Catarina Faria Alves Silveira Bióloga, Mestre em Ciência Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência AmbientalPROCAM/USP Esse artigo investiga ações da comunidade internacional sobre o comércio de “madeira em conflito” na República da Libéria e o que pode ser feito para melhorar as medidas de prevenção estrutural nesse caso específico. Recursos naturais desempenham papel principal no financiamento de conflitos. Tais conflitos giram em torno de acesso, distribuição e direitos sobre os recursos naturais. Quando recursos naturais são usados na cadeia de conflito eles são definidos como “recursos de conflito”. Lucros provindos da venda dos recursos alimentam conflitos e podem ser motivo para a sua continuidade. Países onde conflitos violentos acontecem, cidadãos que enfrentam deslocamento interno e desemprego, tendem a unir-se a facções. Assim a chamada armadilha de conflito é criada. Para quebrar essa “armadilha de conflito” os países precisam fortalecer suas instituições governamentais. Desenvolver mecanismos para tentar resolver a impunidade poderia ir além da imposição de sanções. Sanções têm uma escala de efetividade limitada e antes de serem levantadas, as leis nacionais assim como os acordos internacionais precisam ser fortalecidos. É necessário capacitar os países, em conflito e em situação de pós-conflito, para reunir informação que poderia subsidiar as decisões dos fazedores de políticas públicas. Conseqüentemente, analisar o que pode ser feito em abordagem sistêmica inclui analisar possibilidades de implementação de medidas tais como o Processo Kimberley, sistema de rastreamento para comércio de madeira, manejo sustentável em pequenas comunidades e outros. A “construção de paz” deve unir prevenção de conflito, direitos humanos, economia, desenvolvimento e governança. Recursos Naturais de Conflito: O Caso da “Madeira de Conflito” na República da Libéria Introdução A ligação entre recursos naturais e conflitos violentos já foi há muito tempo aceita e reconhecida pela comunidade internacional. Recursos naturais têm um papel central em alimentar e sustentar conflitos e um país que já esteve em situação de conflito interno está mais propenso a novos. Conflitos por recursos naturais podem ser originados por ganância ou ressentimento e, em alguns casos, por uma combinação de ambos. Esses podem incluir diferenças religiosas, políticas ou étnicas, junto com a disputa por acesso, direito e distribuição de recursos naturais. Além do mais, os impactos de uma guerra civil não permanecem confinados no país de origem do conflito, pois podem transpor fronteiras regionais. Lucros provindos da venda de recursos naturais são geralmente redirecionados para a compra de armas e para reforçar as milícias, militares ou paramilitares. Em países onde conflitos violentos acontecem, os cidadãos que enfrentam deslocamento interno e desemprego tendem a unir-se a facções. Pobreza, insegurança e conflitos violentos reforçam uns aos outros. Assim a chamada armadilha de conflito é criada. Para quebrar essa armadilha os países precisão fortalecer suas instituições governamentais e suas leis ambientais. A comunidade internacional tem papel na chamada “prevenção operacional”, que acontece quando há uma crise imediata, e na “prevenção estrutural” para garantir que uma crise não chegue a acontecer. Existe a necessidade de reforçar a prevenção estrutural e mudar de uma cultura de reação para uma de prevenção de conflitos. A exploração madeireira na República da Libéria sustentou forças militares do governo e milícias durante 14 anos de guerra civil. Perda ambiental, total perda de infra-estrutura e de confiança social e um ambiente frágil de pós-conflito são algumas das conseqüências que o país enfrenta atualmente. O que a comunidade internacional pode fazer para melhorar as medidas de prevenção estrutural no caso do comércio de “madeira de conflito” na República da Libéria? O envolvimento da comunidade internacional incluiu a intervenção militar da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, ou ECOWAS em inglês, e das missões de paz da Organização das Nações Unidas – ONU. Apesar das sanções sobre produtos madeireiros terem sido impostas em 2003, o levantamento das sanções em 2006 aconteceu apesar do fato dos requerimentos não terem sido cumpridos. Pouca informação foi disponibilizada para o público geral sobre as negociações, e as opiniões sobre o assunto divergem. Estes são exemplos de reações da comunidade internacional quando do evento de um conflito. Houve avanços na comunidade internacional no que refere a medidas operacionais aplicadas ao comércio de madeira da Libéria. Esse artigo analisa ações alternativas como a adoção do Processo Kimberley como um modelo para o comércio de madeira, que se mostrou parcialmente aplicável. Além disso, investiga relatórios de organizações internacionais e ONG’s que salientam a importância de um consenso na definição de “madeira de conflito”. Concordamos que uma definição precisa e clara fortaleceria possíveis medidas internacionais. Porém, a adoção de uma definição em si, não é suficiente. Falta de informação direta dos países é outra questão que precisa ser tratada. A comunidade internacional poderia focar na capacitação nos países em situação de conflito para que esses possam aprimorar seus sistemas de monitoramento e coleta de informação sobre o comércio de madeira. Desse modo, as decisões dos agentes que fazem as políticas públicas poderiam ser mais bem embasadas. Recursos Naturais e Conflitos Violentos Desde o fim da Guerra Fria, recursos naturais desempenharam um papel principal no financiamento de conflitos que eram anteriormente subsidiados pelos blocos das superpotências. Hoje é aceito que recursos naturais podem tanto iniciar como manter um conflito violento. Tais conflitos se desenvolvem em torno de acesso, distribuição e direitos de posse sobre recursos naturais e os lucros podem tornar-se um motivo de sustentação desses conflitos. Conseqüentemente, uma vez que a fonte é retirada, o sustento do conflito torna-se difícil (COLLIER & HOEFFLER, 1998; BANNON & COLLIER, 2003; GLOBAL WITNESS, 2006). Guerra civil geralmente acontece como resultado de uma rebelião e é definida como um conflito suficiente, contra forças governamentais, para gerar pelo menos 1000 mortes em combate (COLLIER & HOEFFER, 2001). Quando recursos naturais são usados na cadeia de conflito, eles são definidos como “recursos de conflito”. Todavia, o termo “recursos de conflito” precisa ser definido com cuidado. Isso porque apenas a definição “recursos que financiam guerras” pode levar–nos a ignorar o fato de que alguns desses conflitos são legítimos. Como, por exemplo, casos onde rebeliões acontecem contra governos que cometiam atos genocidas (GLOBAL WITNESS, 2004, 2006; BANNON & COLLIER, 2003). Mais comumente aceita e usada é a definição proposta pelo ONG Global Witness1 (BILLON, 2001; COLLIER, 2001; UNEP 2004) que os descreve como: ‘recursos naturais os quais a exploração sistemática e comércio em um contexto de conflito contribuem para, se beneficiam de, ou resultam 1 Global Witness é uma ONG que trabalha desde 1993 com estudos sobre desenvolvimento sobre as ligações entre conflito, recursos natural e corrupção e trabalhos sobre as ligações entre recursos naturais e conflitos http://www.globalwitness.org. em sérias violações de direitos humanos, violações de lei humanitária internacional e violações criminosas dentro da lei internacional’2 (GLOBAL WITNESS, 2006b). O termo “madeira de conflito” é novo e foi cunhado pelo Painel de Experts sobre a Libéria, organizado pela ONU em 2001. O Painel se referia à exploração de produtos madeireiros na Libéria que, juntamente com o dinheiro advindo da venda de outros recursos naturais, havia sustentado o regime do Khmer Vermelho, no Cambodia, durante os anos 1980-1990. E ao suporte da Libéria às facções em Serra Leoa, que ajudou a manter a guerra civil na República Democrática do Congo. A República da Libéria contou com uma, razoavelmente extensa, renda financeira provinda de recursos naturais como: minério de ferro, borracha, madeira, diamantes, ouro e estanho. Dos recursos naturais explorados, a madeira foi quase que exclusivamente controlada por facções de alto escalão, em parceria com empresas estrangeiras registradas no país. “Madeira de conflito” não é necessariamente madeira ilegal. Na Libéria, a exploração de “madeira de conflito” acontecia em acordo com as leis nacionais dentro de áreas válidas de concessão de floresta. No entanto, a comunidade internacional deveria agir em um esforço conjunto para chegar a um consenso e definir o termo “madeira de conflito”. Poderiam seguir o exemplo dado pelos produtores de diamante e seus comerciantes que chegaram a um consenso sobre “diamante de conflito”. A definição foi posteriormente adotada pelo Conselho de Segurança da ONU e o mesmo poderia ocorrer com a definição para a madeira. Isso reforçaria o trabalho da comunidade internacional, permitindo que a mesma se posicionasse quando o comércio de “madeira de conflito” acontecesse (SALO, 2003; UNDP, 2005; GLOBAL WITNESS, 2006a,b). Recursos naturais podem levar a conflitos armados por duas vias, primeiro o conflito pode começar pelo controle sobre os recursos e maneiras de acessá-los, ou a madeira pode ser vendida ao mercado e o lucro usado para financiar os conflitos armados. Quando recursos estão espalhados pelo país e são de difícil acesso, o conflito pode ser focado no nível do Estado, para ganhar controle sobre o mesmo. Se localizado em uma região específica, pode levar a um movimento seccionista, uma vez que o dinheiro da venda desses recursos poderia financiar um Estado recém formado. Existem diversos exemplos pela história de países em desenvolvimento, ricos em recursos naturais, que enfrentaram guerra civil (COLLIER, 2000; COLLIER & HOEFFLER, 1998, 2002). O que significa que um dos fatores ligados à condução de um país ao conflito é a presença de recursos naturais em abundância. 2 ‘Natural resources whose systematic exploitation and trade in a context of conflict contribute to, benefit from, or result in the commission of serious violations of human rights, violations of international humanitarian law or violations amounting to crimes under international law’ Na tabela abaixo se pode observar a lista de países onde recursos naturais conduziram a conflitos internos. Na verdade, sete das 18 recentes guerras civis estão relacionadas à exploração de madeira, equivalentes a cerca de 28%. País Afeganistão Angola Birmânia Duração 1978-2001 1975-2002 1949- Cambodia 1978-1997 Colômbia 1984Congo, República 1996-1997, 1998Democrática do Congo, República do Costa do Marfim Indonésia – Aceh Indonésia – West Papua Libéria Nepal Papua Nova Guiné Bougainville Peru Senegal – Casamance Serra Leoa Somália Sudão 19972002197519691989-2003 1996– 1989-1998 1980-1995 19821991-2000 19911983- Recursos Gemas, ópio Petróleo, diamantes Madeira, estanho, gemas, ópio Madeira, gemas Petróleo, ouro, coca Cobre, columbita-tantalita, diamante, ouro, cobalto, madeira, estanho Petróleo Diamantes, cacau, algodão Madeira, gás natural Cobre, ouro, madeira Madeira, diamante, ferro, óleo de palmeira, cacau, café, borracha, ouro Fungo raro Cobre, ouro Coca Madeira, castanha Diamantes Peixe, carvão Petróleo Tabela 01. Guerras civis recentes (1990-2005) exacerbadas por recursos naturais. Fonte: disponível para download : http://www.globalpolicy.org/security/natres/generaldebate/2006/sinews.pdf. Modificada pela autora. 2007. No entanto, a malfadada “maldição do recurso” não é um destino inevitável. (BILLON, 2001; COLLIER, 2003; ROSS, 2003). Se tal o fosse verdade, a América Latina seria um dos locais no mundo com as mais altas taxas de conflito violento e instabilidade (UNEP, 2005). Outros fatores que podem conduzir um país ao conflito são: governos fracos e irresponsáveis, e corrupção. Tais aspectos que precisam ser tratados dentro do país através de reforço de políticas públicas e transparência. Além do mais, desenvolver e fortalecer instituições governamentais deveria ser uma prioridade nacional. Apesar de boa governança e forte colisão comunitária não necessariamente prevenirem conflitos violentos, essas características não são normalmente encontradas em países onde a disputa por recursos naturais culmina em conflitos armados. Por outro lado, a comunidade internacional tem um papel em ajudar esses países a diversificar-se economicamente. Maior variedade na exportação conduz a Estados mais protegidos das flutuações do mercado, tornando-os menos propensos a “maldição do recurso”. Diplomacia preventiva também tem sua função, juntamente com outras medidas tais como “early warning assessments”, sanções e indulções (CARNEGIE COMISSION, 1999). Nesses dois últimos casos, informação precisa vinda diretamente dos países em questão facilitaria e melhor embasaria a tomada de decisão dos que trabalham com políticas públicas. O fato de que existe um crescente interesse mundial nos estudos da ligação entre segurança e meio ambiente (UNEP, 2004) não diminui a importância de se mudar de uma cultura de reação para uma de prevenção, tendo a ONU tem papel central como foi afirmado por Kofi Annan em seu relatório “Prevention of Armed Conflicts” (SG, 2002). O relatório foca principalmente nos elementos de prevenção estrutural como definidas pela Comissão Carnegie. O fato de que conflitos armados são um processo, ao invés de um evento, deveria ser considerado no trabalho para prevenção de conflito. Apesar de diversas ONGs e programas da ONU e agências internacionais terem trabalhos dedicados à prevenção de conflito, deveria ser incluso não apenas o contexto histórico e especificidades de uma dada região, mas analisar temas transversais e tendências. Portanto, construção da paz deveria unir prevenção de conflito, direitos humanos, economia do desenvolvimento, governança e democratização. Trabalhos na prevenção de conflito têm sido feitos pela comunidade internacional. No entanto, se olharmos para trabalho com o foco em prevenção, medidas mais efetivas devem ser tomadas. O relatório do Secretário-Geral da ONU (2002) destaca o papel fundamental que o desenvolvimento igualitário e sustentável têm em prevenir conflitos armados. Assim, um acordo internacional sobre comércio de madeira deveria abordar esse assunto e incluir uma aproximação sistemática à prevenção de conflito (DREES, 2005). Outra questão que envolve a comunidade internacional é quando um conflito interno violento chega a circunstâncias de atrocidades em massa ou genocídio. Infelizmente, a Libéria é um desses casos. Charles Taylor, ex-presidente do país, está atualmente preso em Haia, na Holanda, esperando por julgamento por 13 crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Ele foi mandado para Haia após a comunidade internacional pressionar o governo Nigeriano. Em 2007, ele boicotou os procedimentos não comparecendo a sessão de julgamento. Afirmou não estar seguro de que receberia um julgamento imparcial e justo. Mais tarde, no mesmo ano, ele obteve um adiamento do julgamento.. A República da Libéria tem um conflito complexo e é um exemplo de como a relação da comunidade internacional em assuntos que dizem respeito a recursos naturais e conflitos é intricada. Os 14 anos de Guerra Civil na Libéria (1986-1989 e 1999-2003) resultaram em atrocidades em massa e sérias violações de direitos humanos, colapso total da infra-estrutura do país, 200.000 mil mortos e outros 200.000 mil cidadãos deslocados internamente e externamente. Quando o governo nacional transitório da Libéria foi estabelecido em Agosto de 2003, recebeu de herança uma economia devastada. Como acima citado, um conflito pode ser agravado pela presença de tensões religiosas ou étnicas. No caso da Libéria, o conflito estava à espera para acontecer desde sua fundação (ATKINSON, 1997). A palavra Libéria significa liberdade ou “terra dos livres”, referindo-se aos libertos escravos afro-americanos que, em 1822, colonizaram a região. Fundada em 1842, com o apoio do governo dos EUA, criando um “novo grupo étnico” denominado libero-americanos, que intensificou as tensões étnicas com os outros 16 grupos que já habitavam a área. Os novos colonizadores tinham a África como a terra prometida, mas não se integraram à sociedade africana. Os libero-americanos tinham suas raízes religiosas, sociais e de práticas culturas na região sul norte-americana do período préguerra civil americana. Desconfiança mútua entre os novos colonizadores e os “nativos” foi recorrente na história do país. Em 1980, por um golpe militar com sucesso, Samuel K. Doe tomou o poder. Em 1985, nas primeiras eleições pós-golpe, Samuel Doe foi eleito. Quatro anos depois, em 1989 uma guerra civil aconteceu devido à atmosfera ditatorial imposta por Doe que ficou conhecida posteriormente como Primeira Guerra Civil da Libéria (1989- 1996) seguida pela Segunda Guerra (1999-2003). Charles Taylor, apoiado por Burkina Faso e Costa do Marfim, invadiu a Libéria e suas tropas ganharam o apoio da população. Um novo fato emerge quando um ex-aliado de Taylor, Prince Johnson forma um exército com o apoio dos grupos étnicos Grio e Mano. Em 1990, a missão da ECOWAS – ECOMOG - conseguiu “enganar” Doe que foi então entregue para as tropas de Johnson e posteriormente assassinado. Depois de Amos Sawyer deixar o poder em 1994, Charles Taylor foi eleito presidente da Libéria. Durante seu governo, Taylor atacou seus principais oponentes e ativistas políticos. Em 1999, uma nova rebelião aconteceu contra o regime de Taylor. Em 2003, com a intensificação do conflito quando os confrontos encaminharam-se em direção de Monrovia, culminaram em Taylor pedindo asilo a Nigéria. Depois do acordo compreensivo de paz, um governo transitório foi estabelecido e seguido de eleições em 2005. Nessas, Sra. Ellen JohnsonSirleaf foi eleita, tornando-se a primeira mulher africana a ser eleita chefe de Estado. Atualmente a Libéria enfrenta tribulações devido ao desemprego e programas para ex-combatentes, mas a maioria das crianças-soldado está de volta à escola. Falta de alternativa econômica é um dos fatores que pode levar a jovens civis a entrarem em tropas de milícia, novamente reforçando a possibilidade de recorrência de conflito. A ONU e parceiros na Libéria apelaram por uma ajuda de 64 milhões de dólares americanos para ajuda humanitária. Doadores já proveram o país com 47 milhões para o plano de ação humanitário, que foi lançado em fevereiro de 2007 3. O que parece apontar que o governo e parceiros estão trabalhando para reconstruir a Libéria e retirar o país da frágil condição de pós-conflito. Em um relatório do trabalho a Missão das Nações Unidas à Libéria – UNMIL - de 2007, Alan Doss o representante especial do Secretário Geral para o país disse que não existiam problemas de segurança ao longo das fronteiras e tensões dentro do país são baseadas em rumores infundados. Lamentavelmente, em 20 de novembro de 2007, a UNMIL mandou segurança extra para uma plantação de borracha perto de Buchanan, capital do condado de Grand Bass depois de um levante violento que levou a morte do gerente da plantação, Bruno Michiels, um cidadão belga. Mesmo limitadas deflagrações de conflitos violentos podem criar uma espiral de eventos: insegurança, perda de infra-estrutura física, redução da atividade econômica, custos militares, perda de bens e vulnerabilidades relacionadas, que são uma combinação problemática para o desenvolvimento (HEWITT, 2007). As plantações de borracha haviam sido apontadas como um dos tipos de áreas de floresta produtivas que não haviam ainda sido completamente controladas pelo governo, ou seja, ainda encontravam-se nas mãos de milícias (GLOBAL WITNESS, 2006). Esse foi um dos principais argumentos que a Global Witness junto com ONGs locais para afirmar que as sanções impostas ao país deveriam ser mantidas. Adicionalmente, afirmaram que NPFL estaria utilizando “madeira de conflito” para financiar a reorganização do grupo (GLOBAL WITNESS, 2004, 2005, 2006a,b). A ONU é freqüentemente percebida como um ator mais neutro que organizações regionais apesar de que as regionais têm certas vantagens adquiridas, pois são geralmente países vizinhos que sofrem impactos diretos dos conflitos, tais como fluxos de refugiados e atividades entre fronteiras. O fato de que a intervenção da ECOWAS na Libéria começou, enquanto a maior parte da comunidade internacional focava atenção na crise Iraque-Kuwait confirma o argumento (BOULDEN, 2003). A intervenção da ECOWAS iniciou-se em Maio de 1990 até 1997 quando as eleições foram conduzidas. Em novembro de 1990, um acordo de cessar fogo assinado por todos as partes envolvidas, que somavam três na época não acabou com o conflito que depois escalou quando o Fronte Patriótico Nacional da Libéria (National Patriotic Front of Liberia)- NPFL milícia da Charles Taylor - lançou um ataque no grupo da ECOWAS, o ECOMOG. 3 Noticias disponíveis em : http://www.un.org/News/briefings/docs/2007/070907_Doss.doc.htm , http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=24547&Cr=liberia&Cr1e http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=24727&Cr=Liberia&Cr1. O envolvimento da ONU começou em 1992, após o ataque do NPFL a ECOMOG quando o conselho de segurança da ONU adotou a resolução , chamando os partidos do conflito para um cessar fogo e endossou o embargo sobre transferência de armas à Libéria. Após mandar um time técnico para avaliar a situação em agosto o UNSC, criou a UNOMIL estabelecida pelo CS através da resolução 866 em 1993. Foi a primeira missão de manutenção da paz tomada pela ONU em cooperação com outra missão feita por outra organização, a previamente mencionada, ECOWAS. Em 1995, na ocasião de aumento de combates, incluindo ataque a observadores militares da ONU, o Conselho de Segurança da ONU diminuiu o tamanho da missão que permaneceu menor até as eleições em julho 1997. Grande parte dos funcionários da ONU foi retirado em abril de 1996. A ECOWAS, ao contrário, continuou seu papel e fortaleceu sua presença no país. O relacionamento entre a UNOMIL e a ECOMOG no país não foi tão serena. O acordo determinava que a UNMIL teria total liberdade de movimentação no país, o que não aconteceu. A ECOMOG estava praticamente com o controle da segurança na Libéria e um dos relatórios do SG confirmou que houve casos onde funcionários militares e civis da UNOMIL receberam tratamento inapropriado em postos de checagem do ECOMOG. A ONU entrando na Libéria muito depois da ECOMOG pode ter causado ressentimentos nos soldados da ECOMOG. Passando a impressão de que a ONU estaria entrando para dividir com eles a glória por vir nesse início de um período relativamente estável em comparação aos anos anteriores, de missão de manutenção da paz. De acordo com Boulden, autor de “Dealing with conflict in Africa” (2003), apesar dessa tentativa UNECOWAS não ter sido totalmente bem sucedida, lições foram aprendidas. Por exemplo, de que o envolvimento da ONU nos esforços para resolver um conflito nos estágios iniciais poderia trazer melhores resultados relacionados à confiança no trabalho. Assegurar autoridade política da ONU fazse necessário no caso de tentativas ou missões conjuntas de resolução de conflitos. Ceder controle para órgãos regionais para o gerenciamento geral de conflitos regionais pode ameaçar a legitimidade da ONU como um corpo universal autorizado para manter a paz e segurança internacional. Apesar da Libéria ter sido um caso onde a madeira foi usada para alimentar um conflito longo e destruidor, a resposta internacional veio um pouco tarde. Outra resposta da comunidade internacional para as crises na Libéria foi a imposição de sanções. O CS da ONU impôs sanções em produtos madeireiros em 2003. Em 2006, apesar de nem todos os requerimentos terem sido completados, as sanções foram levantadas. Pouca informação foi disponibilizada para o público geral sobre as negociações e opiniões no assunto são divergentes. Relatórios diretos da Libéria indicam que paises continuaram a comprar madeira mesmo após o imposição das sanções. Greenpeace investigou, durante 2001 a 2002, e revelou envolvimento de larga escala de importadores europeus em atividade lucrativa com madeira de guerra da Libéria. Membros do alto escalão da ATIBT importaram toras de madeira das mesmas companhias acusadas pelos experts do Conselho de Segurança da ONU de envolvimento no trafico de armas (VERBELEN, 2002). Companhias francesas e consumidores franceses tiveram papel central no consumo de madeira de conflito da Libéria (ATKINSON, 1997). Há evidência de que houve violações nas sanções e o relatório sugere que corte com serras elétricas aconteceu no condado de Lofa (GLOBAL WITNESS, 2004). A comunidade internacional não tem outro poder legislativo a não ser por vias das sanções da ONU para banir a madeira de conflito. Infelizmente, as sanções infligidas ao comércio de madeira da Libéria foram de encontro com uma pesada resistência política dos principais países importadores, China e França. (VERBELEN, 2002). Comumente, atores que participam no comércio negam seu papel e responsabilidade como sendo parte da cadeia que financia conflitos violentos. Sobre os recursos naturais sendo vendidos no mercado internacional, uma das possibilidades de cessar a comercialização é através da imposição de sanções. A imposição não é suficiente, é também necessário assegurar que estas sejam respeitadas. Um relatório conduzido pelo Instituto de Pesquisa Paz Internacional de Stockholm concluiu que existe um poder simbólico no embargo e que alguns paises são sensíveis a esse. Infelizmente a maior parte dos embargos demonstra ter pouca eficiência depois que os peacekeepers deixam o país. Houve um aumento no número de sanções focadas nos recursos naturais feitas pelo CS mas com sucesso limitado Sobre o levantamento de sanções e restabelecimento da indústria madeireira em um país pósconflito pode se argumentar que poderia levar a reconstrução de sua economia assim como aumentar empregos disponíveis. Sobre o Produto Interno Bruto – PIB - números apontam que o crescimento de 5% em 1980 para um de 20% em 1990. Nesse período, diamantes já haviam sido sancionados e a exploração de madeira considerada insustentável. Por isso, usar tais números como justificativa para a reestruturação de uma nova indústria madeireira seria enganoso. O relatório desenvolvido pela Coordenação de Questões Humanitárias – OCHA - em 2001, que apontou que a indústria de madeira prove aproximadamente 10.000 postos de trabalho está agora desacreditado uma vez que assumiram ter usado números fornecidos pelo governo de Taylor e pela indústria madeireira local (GLOBAL WITNESS, 2006a). Um dos indicadores que as sanções podem ter sido levantadas prematuramente foi um estudo feito pela Universidade de Maryland. Sua publicação bienal : “Peace and Conflict 2008” (sem tradução para o português) demonstrou que apesar de Libéria não ter aparecido na lista de país com mais risco de instabilidade, e assim propensa a conflito, em 2003, apareceu em quinto lugar na previsão de 2007 com uma taxa de risco de 21.1. Isso deveria ser uma questão preocupante para seu governo e para a comunidade internacional, uma vez que as conseqüências de um novo conflito poderiam transbordar para países vizinhos. Em verdade, na Serra Leoa a taxa de risco cresceu de 16.4, em 2003, para 20.9 em 2007 (HEWITT, 2007). De acordo com o relatório “Peace and Conflict 2008” mostra na seguinte tabela a lista de países mais propensos a conflitos violentos: 2003 Forecast Rank Country 2007 Forecast Country Risk Ratio 1 Ethiopia 26.6 2 Niger 23.0 3 Tanzania 18.8 4 Central African Rep. 17.6 5 Sierra Leone 16.4 6 Iran* 16.3 7 Djibouti 15.8 8 Mozambique* 15.3 9 Peru* 14.9 10 Guinea-Bissau* 14.8 * Falls out of top 10 in 2007, ** New to top 10 in 2007 Risk Ratio Afghanistan** Iraq** Niger Ethiopia Liberia** Sierra Leone Mali** Tanzania Central African Rep. Djibouti 39.3 29.9 29.7 25.7 21.1 20.9 20.7 18.9 18.4 17.1 Tabela 2.0: Top 10 países e taxa de instabilidade/risco em 2003 e 2007. Fonte: Universidade de Maryland, 2007. Todos os fatos acima mencionados são exemplos de como um país em situação de pós-conflito é frágil. No entanto, temos pouca informação vindo diretamente do país disponível sobre as negociações para o levantamento das sanções é possível notar que esse pode ter sido prematuro ou pelo menos deveria contar com mais informação para ser feito. Seguindo sua eleição como presidente, Sra. Ellen Johnson-Sirleaf, cancelou todas as concessões florestais previas. O governo estabeleceu a iniciativa de transparência nas indústrias extrativas (EITI - Extractive Industries Transparency Initiative) em 7 de maio de 2007. O EITI é uma iniciativa voluntária global para promover a transparência 4 demonstrando como o governo da Libéria está compromissado em reconstruir suas instituições. Durante um discurso o vice-presidente da Libéria durante o 62º debate geral da ONU de 2007 agradeceu a comunidade internacional e a decisão de estender o mandato da missão UNMIL. O mandato foi estendido ate Setembro de 2008, pela resolução do CS da ONU 1777 (S/RES/1777). 4 Para aprofundar nas informações acessar : http://eitiliberia.org/ Alternativa que poderia ser adicionada à estrutura de ação seria o estabelecimento de um mecanismo para parar a comercialização de “recursos de conflito”. No caso de madeira de conflito, analisamos o Processo Kimberley e sua aplicabilidade para um processo similar relacionado à madeira. Em maio de 2004, Estados produtores de diamantes do sul africano encontram-se em Kimberley, África do Sul. Governos, ONG e Estados produtores de diamantes uniram forças para organizar um approach coletivo para parar o comércio de “diamante de conflito”. “diamantes de conflito”, ou diamantes de sangue como são chamados pela mídia, teve sua definição adotada pela Assembléia Geral da ONU em dezembro de 2000. A resolução apoiou a criação de um sistema de certificação internacional para diamantes brutos. A seguinte definição foi adotada pelo Conselho de Segurança: “DIAMANTES DE CONFLITO significa diamantes brutos usados por movimentos de rebeldes ou seus aliados para financiar conflito que vise enfraquecer um governo legitimo (…)” (BANNON & COLLIER, 2003)5. Em novembro de 2002, após dois anos de negociação, os esforços culminaram na criação do Sistema de Certificação do Processo de Kimberley -SCPK. O SCPK delineia normas sobre as quais a comercialização de diamantes brutos deve ser regulada no nível dos países, organizações regionais com integração econômica e entidades de comércio de diamantes brutos. Cada participante deve implementar o processo em seu país. A Libéria foi incluída em Março de 2007, em uma lista que conta com outros 47 países. A secção III do documento 6 discute o comércio internacional e recomenda que cada embarcação deve estar acompanhada de um certificado validado. O certificado deve conter o título: certificado do Processo de Kimberley (KP) e incluir que os diamantes brutos do carregamento foram manuseados em acordo com o processo. Outras informações a serem incluídas: países de origem do carregamento, com parcelas não mistas (de mesma origem), certificado pode ser feito em qualquer língua contanto que uma tradução para o inglês seja inclusa, resistência à falsificação e adulteração, data de envio, data de expiração, autoridade que autorizou, identificação do importador/exportador, peso e massa do karat, valor em US$, número de parcelas no carregamento, sistema de códigos, validação do certificado pela autoridade exportação. Requerimentos similares poderiam ser usados para um certificado de comércio de madeira. Sobre o carregamento, o KP afirma que nenhum carregamento de diamantes brutos deve ser importado para ou de um país não participante do KP. Novamente, um requerimento similar deveria ser considerado para o caso da madeira. Quando carregamentos passam por territórios não participantes devem deixar o território como entraram e contêiner inviolável deve ser usado. Um 5 6 Tradução livre da autora (Bannon & Collier, 2003). Documento disponível para download em: http://www.kimberleyprocess.com/documents/index_en.html requerimento similar para madeira deve levar em consideração que esses contêineres provavelmente não sejam a solução apropriada para produtos madeireiros. No entanto, sistemas de rastreamento existem e podem ser considerados como uma alternativa possível para marcar a madeira sendo comercializada. Secção IV do KP cobre o controle interno para os países participantes e requer que cada um estabeleça um sistema para eliminar o recurso em conflito, uma autoridade importadora e exportadora que iria assegurar que os produtos sejam enviados em conteineres invioláveis, para desenvolver leis ou regulamentações apropriadas para implementar e reforce o esquema de Certificação, manter penalidades proporcionais para os transgressores e formar e manter produção oficial de dados de importação e exportação. Uma possível pena no caso madeireiro poderia ser a confisco do equipamento que assim pararia o progresso de exploração de recursos pelas companhias que não estivessem fiéis aos requerimentos designados. Questões sobre cooperação e transparência estão na seção V do documento KP, participantes devem: prever os demais com suas leis, regras, regulamentações, procedimentos e práticas relevantes, atualizar as informações conforme necessário, trocar experiência e melhores práticas para dada circunstências, considerar os pedidos de outros participantes de assistência em seus esquemas de certificação. Novamente a questão de transparência e responsabilidade precisa acontecer para que tal processo torne-se realidade. Um arquivo de compartilhamento de informações iria beneficiar paises que estão alcançando os pré-requisito e poderia funcionar como uma revisão. Como países se beneficiam financeiramente do mercado de troca seria provável que mantivessem seus registros abertos e claros um processo similar para a “madeira de conflito”. Secção VI lida com questões administrativas. Participantes devem encontrar-se anualmente, decisões devem ser alcançadas por meio de consenso e o esquema de certificação deve ser sujeito a revisões periódicas. Uma condição similar para o caso da madeira poderia ser feita uma vez que países podem apenas beneficiar-se com discussões intergovernamentais. Transferência tecnológica deveria também acontecer para permitir paises em desenvolvimento que não têm os meios necessários para implementar sistemas de rastreamento, desenvolver base de dados e esquemas de monitoramento de áreas florestais produtivas. Uma das recomendações do esquema KP é que países que participam do processo deveriam manter em modo standard um relatório trimestral sobre suas exportações de diamantes brutos, importações e exportações. Um press release publicado em novembro de 2007, assinado por 13 ONGs ao redor do mundo incluído a Green Advocates, da Libéria, e a conhecida Global Witness relacionado ao progresso relacionado à implementação do PK. Sobre o assunto, o KP foi tomado como um modelo para terminar com o comércio de recursos de conflito. Conclusões e Recomendações Recursos naturais geram conflitos violentos que geram mais conflitos por acesso, distribuição e direitos. Uma vez iniciado um conflito este está propenso a durar sete anos e um país que já sofreu um conflito interno está propenso a novos conflitos. Buscam-se melhorar a aproximação da comunidade internacional no caso específico de comércio de “madeira de conflito” na Libéria, então nós devemos olhar para além de apenas intervenções militares, missões de manutenção de paz e sanções. Estes têm papel para desempenhar e não devem ser excluídos da estrutura de ação internacional, mas como o relatório de SG afirmou existe necessidade de reforçar nossas ações de prevenção estrutural que incluem medidas a serem tomadas antes da explosão de um conflito, tornando-os assim mais previsíveis e até mesmo cessando sua recorrência. Conseqüentemente, analisar o que pode ser feito em uma aproximação sistêmica inclui olhar para direitos humanos, desenvolvimentos e governança, onde podemos incluir medidas tais como o Processo de Kimberley, sistemas de rastreamento para comércio de madeira, manejo sustentável em pequenas comunidades e outros. Como o relatório coloca, causas estruturais de conflito devem ser analisadas e respostas apropriadas não apenas para parar conflito mas para promover a paz devem ser desenvolvidas. Prevenção estrutural é essencial especialmente no âmbito nacional no que se refere à infra-estrutura de um país, desenvolvimento institucional, rule of law, monitoramento de direitos humanos e execução de lei (DRESS,2005;SG 2002). Não existe uma arquitetura para um planejamento de paz de longo prazo porque a comunidade internacional coletivamente ainda não o conceitualizou. Desmistificar a prevenção estrutural poderia ajudar Estados a compreenderem que prevenção de conflitos não deveria ser desenvolvida apenas por ser uma obrigação, um dever a ser cumprido ou tomado como questão de soberania. Pode ser visto também, como uma maneira de fortalecer a soberania de Estado pois o desenvolvimento da capacidade interna pode evitar ou prevenir a interferência ou “resgate” da parte da comunidade internacional (DRESS, 2005). Como resultado, tem-se um Estado fortalecido. Isso pode ser uma aproximação persuasiva e um argumento a ser usado pois advoga por medidas de prevenção de conflito. A motivação para a pesquisa nesse artigo era a de avaliar as respostas da comunidade internacional no que se refere ao comércio de “madeira de conflito” na República da Libéria e apontar alternativas ou melhorias sobre a questão. Sobre o levantamento das sanções pensamos que existe necessidade de aprofundar as investigações sobre a situação das áreas produtoras de madeira, a situação das milícias como a NPFL, e das taxas atuais de exportação assim como dos paises importadores. É necessário capacitar os países, em conflito e em situação de pós-conflito, para reunir informação que poderia subsidiar as decisões dos que fazem as políticas públicas. Quanto à adoção de uma definição de recursos de conflito: uma definição não é em si uma solução completa, mas pode ser vista com fundação para novas ações. Previamente a adoção pelo Conselho de Segurança de uma definição de diamante de conflito, governos, companhias e ONGs uniram forças para desenvolver uma iniciativa para tratar do comércio de diamante de conflito. Definição similar à adotada para “diamante de conflito” poderia ser desenvolvida para parar a troca de outros recursos naturais de conflitos tais como petróleo, cobre e outras gemas preciosas. Enquanto não há um consenso sobre madeira de conflito ou uma convenção de comércio de madeira uma das recomendações seria que o mercado internacional deveria apenas adquirir madeira certificada independentemente como legal e sustentável. Outra medida que poderia ser tomada para melhorar e financiar os já existentes sistemas de rastreamento que podem ser utilizados para rastrear produtos madeireiros na cadeia custódia. Sobre o Processo de Kimberley, os consumidores também têm um papel em fortalecer o processo, pedindo por certificações e apenas comprando produtos comprovadamente de fontes certificadas. Assim, desenvolver e estabelecer educação para o consumidor deveria ser uma das prioridades de agencias e órgãos preocupados com a comercialização de madeira, usando uma aproximação sistêmica. Reforçar programas que já acontecem como o FLEG implementado na Libéria e a Publish what you pay campaign. Reforçar a rule of law deveria contar com a comunidade internacional para ajudar a responsabilizar os Estados. Quanto às medidas de prevenção de conflito, junto à necessidade de melhoria nos sistemas de monitoramento do país existe a necessidade de ação baseada no monitoramento. Educação para a população dos países consumidores levaria a construção de um melhor entendimento das ligações entre a exploração de “madeira de conflito” e conflitos. Através de educação seria possível construir empatia e gerar conscientização de como ações de consumidores refletem nas regiões em conflito. Desenvolver mecanismos para tentar resolver a questão da impunidade poderia ir além da imposição de sanções. Sanções têm uma escala de efetividade limitada e antes de serem levantadas, as leis nacionais assim como os acordos internacionais precisam ser fortalecidos. Existe necessidade de coordenação entre as agências e organizações internacionais. Uma aproximação sistêmica para a prevenção de conflito é extremamente extensa e complexa para ser desenvolvida em um estudo isolado. Conflitos violentos são um processo ao invés de um evento. A estrutura de ação para a prevenção de conflitos precisa levar isso em consideração. É crucial que a comunidade internacional continue unindo esforços para organizar uma sistemática que envolva: direitos humanos, questões do meio ambiente, desenvolvimento, economia, governança e democratização. Referências Bibliográficas ATKINSON, P. The war economy in Liberia: a political analysis. London: Overseas Development Institute, 1997. BANNON, I. and Collier, P. (editors). Natural resources and violent conflicts: options and actions. Washington, D.C: The World Bank, 2003. BAKER at al. Conflict Timber: Dimensions of the Problem in Asia and Africa. Volume III African Cases. SAID: s.n., s.d. BILLON, L P. 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