Esgotamento sanitário Qualidade da água e Controle da poluição Guia do profissional em treinamento Nível 2 Promoção Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental – ReCESA Realização Núcleo Regional Nordeste – NURENE Instituições integrantes do NURENE Universidade Federal da Bahia (líder) | Universidade Federal do Ceará | Universidade Federal da Paraíba | Universidade Federal de Pernambuco Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia I Fundação Nacional de Saúde do Ministério da Saúde I Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor de Saneamento – PMSS Comitê gestor da ReCESA Comitê consultivo da ReCESA - Ministério das Cidades; - Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC - Ministério da Ciência e Tecnologia; - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES - Ministério do Meio Ambiente; - Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH - Ministério da Educação; - Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP - Ministério da Integração Nacional; - Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE - Ministério da Saúde; - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE - Banco Nacional de Desenvolvimento - Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – CONCEFET Econômico Social (BNDES); - Caixa Econômica Federal (CAIXA). - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA - Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE - Federação Nacional dos Urbanitários – FNU - Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – FNCBHS - Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras – FORPROEX - Fórum Nacional Lixo e Cidadania – L&P - Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA - Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM - Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS - Programa Nacional de Conservação de Energia – PROCEL - Rede Brasileira de Capacitação em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil Parceiros do NURENE - ARCE – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará - Cagece – Companhia de Água e Esgoto do Ceará - Cagepa – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba - CEFET Cariri – Centro Federal de Educação Tecnológica do Cariri/CE - CENTEC Cariri – Faculdade de Tecnologia CENTEC do Cariri/CE - Cerb – Companhia de Engenharia Rural da Bahia - Compesa – Companhia Pernambucana de Saneamento - Conder – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia - EMASA – Empresa Municipal de Águas e Saneamento de Itabuna/BA - Embasa – Empresa Baiana de Águas e Saneamento - Emlur – Empresa Municipal de Limpeza Urbana de João Pessoa - Emlurb / Fortaleza – Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização de Fortaleza - Emlurb / Recife – Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife - Limpurb – Empresa de Limpeza Urbana de Salvador - SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Município de Alagoinhas/BA - SANEAR – Autarquia de Saneamento do Recife - SECTMA – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco - SEDUR – Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia - SEINF – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura de Fortaleza - SEMAM / Fortaleza – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano - SEMAM / João Pessoa – Secretaria Executiva de Meio Ambiente - SENAC / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Pernambuco - SENAI / CE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará - SENAI / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Pernambuco - SEPLAN – Secretaria de Planejamento de João Pessoa - SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba - UECE – Universidade Estadual do Ceará - UFMA – Universidade Federal do Maranhão - UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco - UPE – Universidade de Pernambuco Esgotamento sanitário Qualidade da água e Controle da poluição Guia do profissional em treinamento Nível 2 EXX Esgotamento sanitário: qualidade da água e controle da poluição: guia do profissional em treinamento: nível 2 / Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (org). – Salvador: ReCESA, 2008. 87 p. Nota: Realização do NURENE – Núcleo Regional Nordeste; coordenação de Viviana Maria Zanta, José Fernando Thomé Jucá, Heber Pimentel Gomes e Marco Aurélio Holanda de Castro. 1. Água – importância, ciclo hidrológico, ocorrência, usos e impurezas. 2. Poluição e contaminação. 3. Caracterização dos esgotos sanitários. 4. Fontes de poluição e tipos de poluentes. 5. Parâmetros de qualidade da água. 6. Autodepuração. 7. Eutrofização. 8. Legislação correlata. 9. Controle de poluição – operações, processos, graus e tecnologias. I. Brasil. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. II. Núcleo Regional Nordeste. CDD – XXX.X Catalogação da Fonte: Coordenação Geral do NURENE Profª. Drª. Viviana Maria Zanta Organização do guia Professores Gilson Barbosa Athayde Júnior André Bezerra dos Santos Créditos Carmem Lúcia Moreira Gadelha Isabelly Cícera Dias Vasconcelos Marc Arpad Boncz Paula Loureiro Paulo Salena Tatiana Silva Athayde Magda Beretta Central de Produção de Material Didático Patrícia Campos Borja | Alessandra Gomes Lopes Sampaio Silva Projeto Gráfico Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. Apresentação da ReCESA A criação do Ministério das Cidades no A ReCESA tem o propósito de reunir um Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da conjunto de instituições e entidades com Silva, em 2003, permitiu que os imensos o desafios desenvolvimento urbanos passassem a ser objetivo de coordenar de o propostas encarados como política de Estado. Nesse pedagógicas e de material didático, bem contexto, como promover ações de intercâmbio e de a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou extensão um paradigma que inscreve o saneamento consideração as peculiaridades regionais e como as política urbana e pública, com ambiental, desenvolvimento dimensão promotora e de redução das tecnológica diferentes que políticas, tecnologias visando profissionais para levem técnicas em e capacitar a operação, desigualdades sociais. Uma concepção de manutenção e gestão dos sistemas e saneamento serviços em tecnologia são prestação de que a técnica colocadas um a serviço e favor público a Para a estruturação da ReCESA foram formados Núcleos Regionais e um Comitê Gestor, em nível nacional. missão da SNSA ganhou maior relevância e efetividade com a agenda do saneamento para o quadriênio 20072010, haja vista a decisão do Governo Federal saneamento. e essencial. A de da de destinar, dos recursos reservados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), 40 bilhões de reais para investimentos em saneamento. Por fim, cabe destacar que este projeto tem sido bastante desafiador para todos nós: um grupo predominantemente formado por profissionais da área de engenharia que compreendeu a necessidade de agregar outros olhares e saberes, ainda que para isso tenha sido necessário "contornar todos os meandros do rio, antes de chegar ao seu curso Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações de capacitação instrumentos como estratégicos um para dos a modificação de paradigmas, o alcance de melhorias de desempenho e da qualidade na prestação dos serviços e a integração de políticas setoriais. O projeto de estruturação da Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental – ReCESA constitui importante iniciativa nessa direção. principal". Comitê Gestor da ReCESA NURENE Os Guias O Núcleo Regional Nordeste (NURENE) tem A por objetivo materiais didáticos de produzidos pelo NURENE é composta de 19 guias que serão utilizados nas Oficinas da de desenvolvimento de atividades de capacitação de profissionais área o coletânea quatro de Capacitação para profissionais que estados da região Nordeste do Brasil: saneamento, em atuam na área de saneamento. Quatro Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco. guias tratam de temas transversais, quatro abordam o manejo das águas O NURENE é coordenado pela pluviais, três estão relacionados aos Universidade Federal da Bahia (UFBA), sistemas de abastecimento de água, três tendo como instituições co-executoras a são sobre esgotamento sanitário e cinco Universidade Federal do Ceará (UFC), a versam sobre o manejo dos resíduos Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a sólidos e limpeza pública. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O público alvo do NURENE envolve profissionais que atuam na área dos O NURENE espera que suas atividades serviços de saneamento e que possuem possam contribuir para a alteração do um grau de escolaridade que varia do quadro semi-alfabetizado ao terceiro grau. sanitário do Nordeste e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida da população dessa Os guias representam um esforço do região marcada pela desigualdade social. NURENE no sentido de abordar as temáticas de saneamento segundo uma Coordenadores Institucionais do NURENE proposta pedagógica pautada no reconhecimento das práticas atuais e em uma reflexão crítica sobre essas ações para a produção de uma nova prática capaz de contribuir para a promoção de um saneamento de qualidade para todos. Equipe da Central de Produção de Material Didático Didático – CPMD Apresentação da área temática Esgotamento sanitário O tema esgoto foi dividido em duas grandes áreas: esgotamento sanitário e tratamento de esgotos. Na parte de esgotamento sanitário, consideraram-se os aspectos relacionados aos fundamentos de projeto, operação e manutenção das diversas partes que compõem o sistema, de forma a proporcionar à audiência uma visão macro do assunto. Na parte do tratamento de esgotos, procurou-se, além de abordar os aspectos de projeto, operação e manutenção de ETEs, atentar sobre a importância do mesmo na questão da saúde pública, além de formas de reuso de esgotos e lodo em irrigação. Finalmente, abordou-se o assunto qualidade de água e controle de poluição de uma maneira simples e objetiva, tentando assim mostrar a enorme importância do assunto aos dois públicos alvos do NURENE. Conselho Editorial de Esgotamento Sanitário SUMÁRIO Água e polu poluição oluição 09 A importância da água 09 Ciclo hidrológico 11 A água na natureza 12 Usos da água 14 Impurezas encontradas nas águas e indicadores de qualidade 15 Poluição e contaminação das águas 16 Caracterização quantitativa e qualitativa dos esgotos sanitários 17 Caracterização quantitativa dos esgotos sanitários 18 Caracterização qualitativa dos esgotos sanitários 23 Fontes de poluição poluição das águas 30 Fontes de poluição 30 Tipos de poluentes 32 Parâmetros de qualidade da água 38 Indicadores de qualidade da água 38 Índice de qualidade de água 46 Poluição e autodepuração dos corpos d´água 50 Autodepuração de corpos d´água 50 Eutrofização Legislação ambiental e padrões de lançamentos de águas residuárias 54 57 Padrões de qualidade das águas superficiais no Brasil 59 Padrão para lançamento de efluentes 61 Padrões de balneabilidade 63 Padrões microbiológicos de esgotos tratados para uso agrícola 64 Controle de poluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamento 69 Operações unitárias 69 Processos e níveis de tratamento 70 Tratamento biológico de esgotos 72 Referências 81 Seqüência de atividades da oficina 84 Água e Poluição Isabelly Cícera Dias Vasconcelos Gilson Barbosa Athayde Júnior Carmem Lúcia Moreira Gadelha André Bezerra dos Santos A importância da água A importância da água reside no fato dela ser essencial ao ser humano, ao desenvolvimento econômico e à preservação do meio ambiente. No que se refere ao ser humano, estima-se que, para atender a suas necessidades fisiológicas, uma pessoa precise de 2 a 3 litros de água por dia, embora o consumo per capita mínimo necessário para manter uma boa saúde seja da ordem de 100 l/dia. Essa quantidade de água supre, além das necessidades fisiológicas, outros usos, como higiene e preparação de alimentos. O consumo per capita de água depende muito da condição sócio-econômica da população. Quanto mais desenvolvida socialmente ela for, maior será sua busca por qualidade de vida, ou seja, de bem-estar social e isto implica necessariamente num aumento do consumo per capita de água. A saúde pública é igualmente dependente do acesso à água de boa qualidade, já que as doenças relacionadas com a água atingem no mundo mais de 1 bilhão de pessoas por ano, levando à morte, aproximadamente, 3 milhões. Esses números poderiam ser facilmente Fonte: SHIKLOMANOV, 1999. reduzidos se a população tivesse acesso a um serviço de saneamento adequado. No que se refere aos aspectos econômicos, a água serve de insumo para várias atividades, destacando-se a hidrelétrica, agricultura 20% irrigada, abastecimento público e produção industrial. No Brasil, por exemplo, a fonte hídrica é responsável por mais de 90% da geração de energia elétrica. Inúmeros 10% processos industriais / agrícolas necessitam direta ou indiretamente de água para a sua 70% realização (Tabelas 1 e 2). A Figura 1 mostra a distribuição típica de consumo de água entre as principais atividades econômicas. Devido ao crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico verificados nas últimas décadas, a água tem se tornado um recurso cada vez mais precioso, escasso e Agricultura Indústria Uso doméstico Figura 1. Usos típicos dos recursos hídricos no mundo. disputado em praticamente todo o mundo. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 9 Além disso, o meio ambiente também é extremamente dependente e vulnerável a alterações das condições hidrológicas. A água possui um papel importante na manutenção dos ecossistemas como, por exemplo, nos costeiros e nos pântanos, que são particularmente vulneráveis, pois alterações hidrológicas podem levar a catástrofes ambientais irrecuperáveis. Tabela 1. Necessidades hídricas no setor produtivo industrial. Indústria Unidade de Produção Pães e massas Tonelada Necessidade hídrica (m3/unidade a de produção) 1,1 – 4,2 Suco frutas cítricas Tonelada 2–4 Abatedouro Tonelada (animal vivo) 3–9 Carne em conserva Tonelada 10 – 20 Manteiga Tonelada 15 – 30 Sabão Tonelada 1,0 – 2,1 Beneficiamento de couro Tonelada de peles 50 – 125 Gasolina 1000 litros 7 – 10 Vidro Tonelada 68 Laminação de aço Tonelada 85 Têxtil Tonelada 1000 Papel Tonelada 250 Usina de açúcar Tonelada 75 Fonte: Adaptado de CIRRA (2004). Tabela 2. Necessidades hídricas no setor produtivo agrícola. Necessidade hídrica Cultura agrícola Unidade de produção Algodão herbáceo Tonelada Alho Tonelada 1840 – 3310 Arroz Tonelada 2000 – 3600 b (m3/unidade de produção) 2930 – 5280 Batata inglesa Tonelada 410 – 740 Feijão Tonelada 5830 – 10500 Melancia Tonelada 350 – 630 Melão Tonelada 440 – 800 Milho Tonelada 2750 – 4950 Sorgo Tonelada 2670 – 4800 Tomate Tonelada 190 - 345 Fonte: Adaptado de CIRRA (2004). a Pode variar conforme o processo produtivo. b Estimados para uma evapotranspiração média diária de 5 mm e eficiência de irrigação variando de 50 a 90%. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 10 Ciclo hidrológico A água circula continuamente na hidrosfera por meio de vários caminhos, constituindo o chamado ciclo hidrológico. A água evapora dos oceanos e da superfície terrestre, inclusive proveniente de plantas e animais, e à medida que ascende na atmosfera, resfria-se, condensase e precipita na forma de chuva, neve, granizo ou orvalho. Esse processo depende da temperatura e da umidade relativa do ar. A chuva precipitada sobre a superfície terrestre pode ter três destinos: a infiltração, a evapotranspiração e o escoamento superficial. A parcela de água infiltrada abastece os mananciais subterrâneos e pode aflorar na superfície, abastecendo os córregos, ou retornar à atmosfera através da evapotranspiração ou por meio de captação pelo homem. O escoamento superficial alimenta os córregos e rios, sendo, posteriormente, evaporado ou desaguado no mar, de onde evapora novamente para dar continuidade ao ciclo (Figura 2). Energia solar Precipitação Transpiração infiltração Evaporação Escoamento superficial Oceano Rios/Lagos Escoamento subterrâneo Figura 2. Ciclo hidrológico terrestre. Atualmente, o volume de água retirado da natureza pelo homem é da ordem de 3.500km³ por ano, constituindo quase o dobro da média de vazão de todos os cursos de água no planeta. Isso só é possível em decorrência do ciclo hidrológico, o qual renova por cerca de vinte vezes ao ano a água doce dos corpos hídricos. Em muitas regiões, o ciclo hidrológico tem sofrido grandes alterações, especialmente nas últimas décadas. Essas alterações resultam das diferentes formas de interferência humana sobre o ambiente como, por exemplo, a construção de grandes cidades, a dragagem de extensas áreas alagáveis, a devastação de florestas, a construção de grandes lagos artificiais, dentre outras. Essas interferências podem vir a alterar a disponibilidade hídrica para o ser humano tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 11 A água na natureza A água é a substância mais abundante na superfície da Terra, o componente principal de todos os seres vivos e uma grande força que constantemente molda a superfície terrestre. Evidenciada a importância da água para a vida humana, torna-se necessário verificar a sua disponibilidade e distribuição espacial. Estimar a quantidade total de água na Terra nas várias etapas do ciclo hidrológico tem sido um item de exploração científica desde a segunda metade do século XIX. Dados quantitativos são escassos, particularmente sobre os oceanos, de modo que as quantidades de água nas várias fases do ciclo hidrológico ainda não são conhecidas precisamente. A Tabela 3 lista as quantidades estimadas de água em várias formas na Terra. Conforme observado, 96,5% de toda água está nos oceanos. Do restante, 1,7% está no gelo polar, 1,7% nas águas subterrâneas e apenas 0,1% nas águas do sistema superficial e atmosférico. Apenas 0,006% da água doce está disponível em rios. A água biológica, fixada nos tecidos de plantas e animais, compreende a 0,003% de toda a água doce, equivalente à metade do volume contido nos rios. A Tabela 4 apresenta os volumes renováveis existentes em mananciais hídricos, como rios e lagos no mundo. Tabela 3. Quantidades estimadas de água na Terra. Item Oceanos Área Volume Porcentagem Porcentagem (106 km²) (km³) da água total de água fresca 361,3 1.338.000.000 96,5 Fresca 134,8 10.530.000 0,76 Salina 134,8 12.870.000 0,93 Água subterrânea 30,1 Umidade do solo 82,0 16.500 0,0012 0,05 Gelo polar 16,0 24.023.500 1,7 68,6 0,3 340.600 0,025 1,0 Doce 1,2 91.000 0,007 0,26 Salgado 0,8 85.400 0,006 Outro gelo e neve Lagos Pântanos 2,7 11.470 0,0008 0,03 Rios 148,8 2.120 0,0002 0,006 Água biológica 510,0 1.120 0,0001 0,003 Água atmosférica 510,0 12.900 0,001 0,04 Água total 510,0 1.385.984.610 100 Água fresca 148,8 35.029.210 2,5 100 Fonte: Chow; Maidment; Mays (1988). Guia do profissional em treinamento – ReCESA 12 Tabela 4. Estimativa da disponibilidade de água no mundo. Região População Oferta Oferta (mil habitantes) (km³/ano) (m³/hab.ano) África 778.485 3.996 América Central 130.710 1.057 8.084 América do Norte 304.078 5.309 17.458 América do Sul Brasil Ásia Europa Oceania Mundo 5.133 331.889 10.081 30.374 165.158 5.745 34.784 3.588.876 13.207 3.680 729.405 6.235 8.547 29.460 1.614 54.795 5.929.840 41.498 6.998 Fonte: Moreira (2001). Com base na Tabela 4, pode-se concluir que o Brasil possui, relativamente, água em abundância, o que vem a constituir uma vantagem estratégica em relação a outros países. Embora o Brasil ainda tenha uma situação privilegiada em relação à quantidade e à qualidade da água, o seu uso não vem ocorrendo de maneira adequada e responsável. Superexploração, má distribuição, poluição, desmatamento e desperdício são apenas alguns dos fatores que indicam o descaso com este precioso recurso. É importante ressaltar que a escassez de água põe em risco a vida no planeta e pode afetar diversas atividades econômicas, entre elas a geração de energia elétrica. Com relação às águas doces superficiais, o Brasil detém 13,8% do total existente no planeta. Deste percentual, 68,5% está localizada na região Norte, sendo os restantes 31,5% desigualmente distribuídos no resto do país. Esta última parcela é responsável pelo abastecimento de 92,3% da população brasileira. A Tabela 5 apresenta os dados de população, distribuição dos recursos hídricos e disponibilidade hídrica em cada região do Brasil. A Tabela 6 apresenta a população e a disponibilidade hídrica para os estados da região Nordeste, a qual é a menos privilegiada. Na Tabela 5, observa-se que as regiões Norte e Centro-Oeste detêm a maior parte dos recursos hídricos do país. Entretanto, nessas regiões encontram-se as menores parcelas da população brasileira, ao passo que as regiões Sudeste e Nordeste, onde se concentra a maior parte da população, apresentam as menores parcelas de recursos hídricos do país e disponibilidade hídrica abaixo da necessária para abastecimento, que é de 1.700m³/hab.ano (MAIA NETO, 1997). Como se pode observar na Tabela 6, os Estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe apresentam oferta hídrica abaixo da necessária. Assim, mesmo que relativamente abundante, a água tem distribuição bastante irregular tanto no planeta quando no Brasil, de modo que seu uso racional é imprescindível à preservação e conservação deste recurso natural para as gerações futuras. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 13 Tabela 5. Distribuição da população, recursos hídricos e disponibilidade hídrica no Brasil. Recursos Hídricos Disponibilidade hídrica Região População (%) Norte 12.919.949 7,6 68,5 494.445 Nordeste 47.676.381 28,1 3,3 3.853 Sudeste 72.262.411 42,6 6,0 4.545 Sul 25.071.211 14,8 6,5 14.824 Centro-Oeste 11.611.491 6,8 15,7 64.273 (%) (m³/hab.ano) Fonte: Adaptado de Maia Neto (1997). Tabela 6. Distribuição da população e disponibilidade hídrica na região Nordeste. Disponibilidade hídrica Estado Estado População Alagoas 2.816.172 1.546 Bahia 13.066.910 2.720 Ceará 7.418.476 2.058 Maranhão 5.642.960 14.794 Paraíba 3.439.344 1.320 Pernambuco 7.911.937 1.171 Piauí 2.841.202 8.604 Rio Grande do Norte 2.771.538 1.526 Sergipe 1.781.714 1.431 (m³/hab.ano) Fonte: Adaptado de Maia Neto (1997). Usos da água Os principais usos da água pelo ser humano são: irrigação, abastecimento doméstico, comercial, industrial e público, geração de energia elétrica, navegação, aqüicultura/pesca, recreação e preservação da flora e fauna. Existe ainda a prática indesejável de utilização de corpos aquáticos como receptores de esgotos não tratados, sejam eles de origem doméstica ou industrial. Alguns dos usos da água citados acima são detalhados a seguir: a) Irrigação: água utilizada na agricultura. Esse uso representa a maior parcela de água captada pelo homem. b) Abastecimento doméstico, comercial, industrial e público Abastecimento doméstico: água consumida nas habitações, compreendendo as parcelas destinadas a fins higiênicos, bebida, preparo de alimentos e lavagem em geral. O consumo de água é função de diversos fatores, a exemplo do clima, do padrão cultural, da renda, dentre outros. Abastecimento comercial ou industrial: a água de uso comercial destina-se a bares, restaurantes, hotéis, postos de gasolina, garagens, entre outros, enquanto que a água de uso industrial é utilizada como matéria-prima, para lavagem, refrigeração, Guia do profissional em treinamento – ReCESA 14 alimentação de caldeiras e processos industriais em geral. Comparada ao uso doméstico, esta classe representa um consumo significativamente mais elevado. Abastecimento público: parcela de água destinada à rega de jardins, lavagem de ruas e passeios, edifícios e sanitários de uso público, alimentação de fontes, combate a incêndio etc. c) Recreação e lazer: Trata-se de atividade que apresenta significado social e econômico cada vez maior, devido ao processo de urbanização e à incorporação de novos modos de vida. Em relação à recreação, predominam dois tipos de atividades: De contato primário: quando o homem entra em contato direto com o meio líquido, por exemplo, na natação, mergulho, esqui aquático etc.; De contato secundário: quando não há contato direto com o meio líquido, por exemplo, em esportes náuticos com o uso de barco a remo, vela ou motor, pesca esportiva etc. d) Geração de energia: o aproveitamento da energia hidráulica com conversão em energia elétrica tornou-se um dos mais intensos usos que se faz desse recurso, não só no Brasil como no mundo. Ressalta-se que alguns dos usos da água são consuntivos enquanto outros são não consuntivos. A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei Federal nº. 9.433/1997, preconiza que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas. Acontece que alguns usos são conflitantes com outros e cabe ao Poder Público a adoção de medidas para mitigação desses conflitos. Impurezas encontradas nas águas e indicadores de qualidade As águas podem ser classificadas de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, descritas a seguir (VON SPERLING, 2005): Guia do profissional em treinamento – ReCESA 15 a) Características físicas: as impurezas físicas estão associadas, em sua maior parte, aos sólidos presentes na água. Esses sólidos podem se apresentar na forma suspensa, coloidal ou dissolvida, dependendo do seu tamanho. De maneira geral, são considerados como sólidos dissolvidos aqueles com diâmetro inferior a 10-3\m, como sólidos coloidais aqueles com diâmetro entre 10-3 e 1\m, e como sólidos em suspensão aqueles com diâmetro superior a 1\m. Alguns parâmetros físicos indicadores da qualidade das águas são: cor, turbidez, sólidos, temperatura, sabor e odor. b) Características químicas: as impurezas químicas podem ser classificadas em matéria orgânica ou inorgânica. A fração orgânica, quando submetida a uma temperatura de 500 ºC, é volatilizada, permanecendo apenas a fração inorgânica ou mineral. Alguns parâmetros químicos indicadores da qualidade das águas são: pH, alcalinidade, dureza, cloretos, ferro, manganês, nitrogênio, fósforo, fluoretos, oxigênio dissolvido, matéria orgânica, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), componentes inorgânicos e orgânicos. c) Características biológicas: com relação à qualidade da água, os microrganismos (bactérias, archaea, algas, fungos, protozoários, vírus e helmintos) possuem grande relevância em determinados ambientes, devido à sua atuação nos processos de depuração dos despejos ou à sua associação com doenças ligadas à água. Alguns parâmetros biológicos indicadores da qualidade das águas são: bactérias do grupo coliforme e algas. Os parâmetros que caracterizam a qualidade das águas serão abordados com maiores detalhes no item “Parâmetros de qualidade da água”. Poluição e contaminação das águas De acordo com a etimologia da palavra, poluição significa sujeira (do latim, polluere significa sujar). No contexto atual, a palavra poluição ganhou importância devido à crise ambiental vivida pelo planeta e uma definição mais completa e aceita atualmente para poluição é “a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente e lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões estabelecidos” (BRASIL, 1981). Assim, poluição das águas pode ser definida como qualquer adição de matéria ou energia que altere as características naturais das águas de modo a limitar os usos previstos para a mesma. Faz-se ainda necessário a diferenciação entre poluição e contaminação. Quando a poluição de um determinado recurso hídrico resulta em prejuízos à saúde humana, diz-se que houve contaminação, sendo contaminação, portanto, um caso particular de poluição. Como exemplo de poluição hídrica, pode-se citar aquela decorrente do despejo de esgotos nos corpos aquáticos. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 16 Caracterização quantitativa e qualitativa de esgotos sanitários Marc Arpa Arpad pad Boncz Gilson Barbosa Athayde Júnior André Bezerra dos Santos Todas as atividades humanas geram resíduos. Entre os resíduos líquidos, têm-se os esgotos domésticos ou sanitários e os industriais. Os esgotos sanitários são de origem doméstica (residências), comercial (restaurantes, bares, lojas, hotéis etc.) ou institucional (escolas, hospitais, prisões, escritórios) e compõem-se essencialmente da água de banho, urina, fezes, restos de comida e detergentes, sendo esta composição pouco variável. Já os esgotos industriais têm composição muito diversa, dependendo principalmente do processo gerador do esgoto. Independentemente da origem, na maioria das vezes, o esgoto tem o ambiente físico-natural como destino e é preciso implementar medidas para amenizar o impacto ambiental decorrente, sendo para isso importante saber a quantidade de esgotos (caracterização quantitativa) a ser tratada e qual sua composição (caracterização qualitativa). A quantidade dos esgotos sanitários depende de alguns fatores, como a quantidade de água fornecida ou consumida pela população, a quantidade de águas de chuva que se junta ao esgoto, a quantidade de água infiltrada na rede de esgotos etc. As quantidades de água de chuva e de infiltração dependem muito da pluviometria local, do grau de impermeabilização do solo e do tipo de material da tubulação da rede de esgoto, dentre outros. No Brasil, onde existe predominantemente uma estação chuvosa e outra seca, a quantidade de água de chuva não só varia grandemente em função da época do ano como também da localização. Por outro lado, o consumo per capita de água é mais constante e previsível, ficando no Brasil em torno de 130 litros por indivíduo por dia (3,9m3 por indivíduo por mês), muito embora existam grandes diferenças entre os estados. Além disso, nem toda água consumida se transforma em esgoto, pois parte é usada, por exemplo, para irrigação de jardins, lavagem de carros e em piscinas. A quantidade de esgoto gerado a partir de 1m3 de água consumida é calculada usando o Coeficiente de Retorno. Tal coeficiente situa-se geralmente na faixa de 7080%, ou seja, para cada 1000 litros de água fornecida são lançados, aproximadamente, 700800 litros de esgoto na rede de coleta ou em outros sistemas de tratamento/disposição final. Assim, para o consumo individual de água de 3,9 m3/mês gera-se 2,7 a 3,1 m3/mês de esgoto, o que ainda pode ser subdividido em águas negras – referentes à descarga de bacia sanitária com fezes – e águas cinzas, representando o restante. Atualmente, somente cerca de 40% dos domicílios no Brasil estão conectados à rede de esgoto. No âmbito urbano, esta taxa é de cerca de 50%, sendo que somente 31% dos esgotos domésticos gerados na área urbana são tratados. Outros 21% dos domicílios têm o esgoto tratado por meio de uma fossa séptica e um sumidouro, para infiltração do esgoto estabilizado. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 17 Os 48% restantes dos esgotos não recebem tratamento. O desafio é dispor no ambiente os esgotos gerados submetidos a um tratamento adequado, de modo que os mesmos não venham a prejudicar a saúde humana e a manutenção dos ecossistemas inerentes aos locais onde sejam dispostos. Qualquer projeto para uma estação de tratamento de esgoto (ETE) deve começar com uma caracterização quantitativa e qualitativa do esgoto a ser tratado, assunto detalhado no presente item. Caracterização quantitativa dos esgotos sanitários Vazão dos esgotos A principal característica do esgoto é a sua vazão, que é definida como a quantidade de esgoto produzido ou transportado em um período de tempo específico. Assim, a vazão (geralmente denominada “Q”) é definida em unidades de volume por unidade do tempo. Na prática, Q é definida em litros (L) ou metros cúbicos (m3) para denominar o volume em segundos, minutos, horas ou dias, a depender da conveniência e precisão da medição para o tempo. A vazão dos esgotos é o principal parâmetro de dimensionamento de todas as partes componentes do sistema de esgotamento sanitário. Quando não é possível efetuar medições de vazão (por exemplo, na fase de planejamento e dimensionamento de uma rede de esgoto), faz-se necessário uma estimativa, usando, por exemplo, dados históricos do consumo da água e conhecendo as particularidades do clima e as características sócio-econômicas e culturais da população. Alguns valores são apresentados na Tabela 7. Tabela 7. Produção de esgotos por atividade e usuário. Atividade / Usuário Unidade Esgoto (L (L/d) /d) Ocupantes permanentes Residência padrão alto pessoa 160 Residência padrão média pessoa 130 Residência padrão baixo pessoa 100 Fábrica pessoa 70 Escritório pessoa 50 Escolas pessoa 50 Bares pessoa 6 Sanitários públicos bacia sanitária 480 Ocupantes temporários Fonte: ABNT (1993). A vazão de esgoto varia ao longo do dia, no decorrer da semana e do ano. Para descrever essas variações existem alguns parâmetros, cujos valores são determinados, entre outros, por: Guia do profissional em treinamento – ReCESA 18 Tipo de esgoto: no caso de esgoto sanitário, flutuações ocorrem por causa dos hábitos da população (horas de tomar banho, lavar roupas, dormir, atividades diferentes durante a semana e fim de semana). No caso de esgoto industrial, o tipo de processo (processo contínuo versus processo em batelada) e a época do ano afetam diretamente a variabilidade da vazão. Sistema de coleta: existem sistemas unitários, drenando esgoto junto às águas de chuvas, e sistemas separadores, onde a coleta de esgoto a ser tratado é feita em separado da coleta das águas de chuva. Em sistemas unitários, grandes variações de vazão podem ocorrer por causa de chuvas e secas. Com isso, o dimensionamento é sempre problemático, pois se dimensionado para acomodar a vazão máxima (dia de chuva) o sistema fica mais oneroso e superdimensionado para as épocas de seca. Se o sistema for dimensionado para a vazão média, a capacidade é muito insuficiente em dias de chuva. Outro problema decorrente de sistemas unitários é que, em dias chuvosos, a água da chuva dilui muito o esgoto, o que reduz a eficiência do processo na ETE. Por esses motivos, sistemas separadores são preferidos e adotados na maior parte das localidades brasileiras. A extensão do sistema de coleta também afeta a variação da vazão, pois um sistema maior tem mais capacidade de amortecer as variações de vazão. Condições climáticas: além da possibilidade da água de chuva entrar no sistema e afetar a vazão diretamente, condições climáticas também interferem no uso da água pela população. Por exemplo, em regiões mais quentes o uso de água para tomar banho aumenta, além de se beber mais água. Tipo e material das canalizações: canalizações impermeáveis (PVC, ferro fundido) permitem a entrada de água de infiltração por suas juntas, enquanto canalizações permeáveis (tubulação de concreto ou alvenaria, por exemplo) permitem infiltração do esgoto no solo ou infiltração da água na rede coletora, o que afeta a vazão final. Concepção e quantidade de estações elevatórias: o esgoto é transportado dentro da canalização por gravidade, o que requer certo declive das tubulações. Se a rede fica profunda demais é preciso aumentar sua cota, usando estações elevatórias. Elas tendem a usar chaves de nível para ligar e desligar uma bomba, o que causa, depois da elevatória, períodos com vazão alta e períodos sem vazão. Especialmente em áreas mais planas, onde o declive natural é insuficiente para garantir o fluxo do esgoto, a rede conta com mais elevatórias. A variação da vazão é caracterizada por três parâmetros: a variação máxima diária, a variação máxima horária e a variação mínima horária. A variação máxima diária (k1) é o resultado da divisão da vazão máxima diária registrada no período de um ano pela vazão média diária anual. Se não existem dados específicos para este valor, a Norma Brasileira NBR-9649 (ABNT, 1986) indica um valor de 1,2. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 19 Vazão m édia horária 60 vazão média horária registrada no mesmo 50 tado da divisão da vazão mínima horária pela vazão média horária registrada no mesmo dia. Se não existem dados específicos para k2 e k3 a Norma Brasileira NBR-9649 (ABNT, 1986) indica valores de 1,5 e 0,5 respectivamente. As variações de vazão podem ser mostradas num Vazão (L/s) da divisão da vazão máxima horária pela dia. A variação mínima horária (k3) é o resul- Fonte: BARACUHY, 2006. A variação máxima horária (k2) é o resultado 40 30 20 10 0 0:45 4:45 8:45 12:45 16:45 20:45 Horário Figura 3. Hidrograma afluente à ETE Mangabeira (João Pessoa). hidrograma, o qual consiste na representação gráfica da vazão durante um período específico, como exemplificado na Figura 3, na qual a variação máxima horária, por volta das 10 horas de manhã, é de (50,98/36,63) = 1,43 e a variação mínima horária, por volta das 3 horas da manhã, é de (21,35/36,63) = 0,60. A vazão geralmente é medida com uma calha Parshall, mas existem também outros tipos de equipamentos para este fim, a serem montados dentro ou fora da tubulação, os quais são mostrados a seguir. Fonte: Vertedores, 2008. Vertedor triangular triangular Um dos mais simples equipamentos para medição da vazão é o vertedor triangular (Figura 4). Nesse equipamento, a corrente de água passa por um desnível com um vértice triangular instalado, cujo ângulo central é de 90o. A vazão pode ser calculada através da formula: Q = 1,42 ⋅ h 2,5 onde Q é a vazão em m3/s e h é a carga hidráulica sobre o vertedor (distância do vértice ao nível da água em metros, medido a montante do vertedor). Figura 4. Vertedor triangular Guia do profissional em treinamento – ReCESA 20 Calha Parshall variações específicas de largura Fonte: AGETEC, 2008. A calha Parshall (Figura 5) é uma calha com e profundidade. Em função da velocidade do líquido que passa por ela, ocorrem variações no nível do mesmo. Esse nível pode ser medido com uma régua, mas também de modo automatizado. Assim como no vertedor triangular, existem dois métodos para essa medição: Medição ultrasônica: um medidor, fixado acima do liquido, emite pulsos de ultra- Figura 5. Calha Parshall som contra a superfície do líquido em escoamento e detecta o sinal rebatido. O tempo entre a emissão do pulso e o recebimento do sinal rebatido fornece o nível do líquido no canal, permitindo o cálculo da vazão. Como o sensor não está em contato com o esgoto, não é afetado por produtos químicos, graxas, sólidos em suspensão ou formação de biofilme. Medição por borbulhamento: o medidor utiliza um pequeno compressor interno para introduzir, através de um tubo flexível (borbulhador), um fluxo controlado de ar no canal de escoamento. Através da medição da pressão de ar necessária para introduzir as bolhas no fluxo, o medidor calcula o nível do líquido no canal. Esse tipo de medição é a melhor opção para medir a vazão em escoamentos afetados por vento, espuma e turbulências, situação na qual a medição do nível por ultra-som pode ser prejudicada. Um desenho esquemático para uma calha Parshall é reproduzido na Figura 6. As dimensões para calhas de diversas capacidades de vazão são reproduzidas na Tabela 8. Figura 6. Desenho esquemático de calha Parshall. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 21 Tabela 8. Dimensões padrão para calhas Parshall de diversas capacidades. W A B C D E F G N K Vazão (L (L/s) cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm Mínima 7,6 46,6 45,7 17,8 25,9 38,1 15,2 30,5 5,7 2,5 0,85 Máxima 53,8 15,2 62,3 61,0 39,4 40,3 61,0 30,5 61,0 11,4 7,6 1,42 110,4 22,9 88,1 86,4 38,1 57,5 76,2 30,5 45,7 11,4 7,6 2,55 251,9 30,5 137,1 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 3,11 455,6 45,7 144,8 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 4,25 696,2 61,0 152,3 149,3 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 11,89 936,7 91,5 167,5 164,2 122,0 157,2 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 17,26 1426,3 122,0 182,8 179,2 152,5 193,8 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 36,79 1921,5 152,5 198,0 194,1 183,0 230,3 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 45,30 2422,0 183,0 213,3 209,1 213,5 266,7 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 73,60 2929,0 213,5 228,6 224,0 244,0 303,0 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 84,95 3440,0 244,0 244,0 239,1 274,5 340,0 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 99,10 3950,0 Fonte: AZEVEDO NETTO e OUTROS (1998). Medição de vazão à base do efeito Doppler A vazão de um líquido dentro de uma tubulação fechada pode ser medida com sensores fora desta tubulação usando o efeito Doppler. Um som de alta freqüência é emitido e um microfone detecta o eco (reflexo) do mesmo. A pequena mudança da freqüência do reflexo recebido indica a velocidade de qualquer objeto dentro da tubulação, que refletiu o som. Essa velocidade deve ser igual à velocidade do líquido. Os “objetos” podem ser bem pequenos; dimensões acima de alguns micrômetros já são suficiente, o que permite esse tipo de medição de vazão em qualquer solução que contenha material suspenso ou bolhas de ar. Como o sistema só funciona se existirem objetos dentro do líquido, a vazão de água limpa não pode ser medida com esta técnica. Vazão de infiltração Dependendo da execução da tubulação da rede de esgoto, água infiltra na rede, especialmente em partes porosas da tubulação, poços de inspeção e conexões. Esta água de infiltração pode ter uma vazão significante, especialmente se a maior parte da rede de coleta for construída usando materiais permeáveis e/ou se o nível do lençol freático estiver acima da rede coletora. A vazão de infiltração geralmente varia entre 0,05 l/s e 1,0 l/s por quilômetro de rede de esgoto construída, dependendo das condições. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 22 Caracterização qualitativa dos esgotos sanitários Os esgotos sanitários contêm, aproximadamente, 99,9% de água e apenas 0,1% de componentes sólidos, os quais podem ser divididos em poluentes orgânicos, inorgânicos e microbianos. Boa parte dos poluentes orgânicos é biodegradável, o que quer dizer que microrganismos são capazes de transformá-los em componentes como CO2 e água. Assim que os poluentes são degradados pelas bactérias, oxigênio é consumido. Se um esgoto bruto é lançado num rio ou córrego, o supracitado processo ocorrerá, com a conseqüente redução da concentração de oxigênio dissolvido. Essa redução pode ser suficiente para causar a morte de peixes e, em alguns casos, quando a redução é tamanha para se estabelecerem condições anaeróbias, há a emanação de maus odores. Os poluentes inorgânicos podem causar problemas de formação de lodo e assoreamento, e também, em caso de minerais e nutrientes, como nitrato e fosfato, um crescimento excessivo de algas no corpo receptor (eutrofização). Isso pode causar grandes variações no nível de oxigênio, com a água se tornando anaeróbia durante a noite, junto a grandes variações do pH. Adicionalmente, as algas ainda podem produzir componentes tóxicos e causar aparência desagradável no corpo d’água. A poluição microbiológica pode comprometer a saúde pública, especialmente se o corpo receptor é usado para abastecimento humano, irrigação de culturas agrícolas ou para recreação. A caracterização qualitativa dos esgotos visa quantificar os diversos parâmetros associados aos poluentes presentes no esgoto, sendo discutidos nas seções a seguir os principais parâmetros físicos, químicos e biológicos de qualidade de água. Características físicas A primeira categoria a ser abordada é relativa aos parâmetros físicos, como teor de sólidos, temperatura, cor e turbidez. Tais parâmetros caracterizam o esgoto em si, enquanto os parâmetros químicos, como pH, nitrato, fosfato, DBO e DQO, e os parâmetros biológicos, como quantidade de microrganismos patogênicos, caracterizam os poluentes contidos no esgoto. Para esgotos sanitários, ao contrário do que ocorre para esgotos industriais, estes parâmetros normalmente têm valores previsíveis, dependendo do clima, costumes locais e da rede de coleta de esgoto. As mais importantes características físicas do esgoto sanitário são: Guia do profissional em treinamento – ReCESA 23 Sólidos A concentração dos sólidos é medida como massa de sólidos por unidade de volume do esgoto, sendo os valores expressos em g/L ou mg/L. As principais frações dos sólidos presentes nos esgotos são: Sólidos totais (ST): todos os materiais presentes no esgoto determinados por evaporação de uma amostra de volume conhecido a 103 °C e pesagem do resíduo. Em geral, esgoto sanitário contém entre 370mg/L (esgoto fraco) e 1150mg/L (esgoto forte) de ST. Sólidos suspensos totais (SST): todos os materiais presentes no esgoto retidos num filtro com tamanho de poro definido, após secagem do resíduo a 103°C. diferença entre ST e SST, sendo os Fonte: Adaptado de Metcalf & Eddy, 2003. Sólidos dissolvidos totais (SDT): a 24% sólidos coloidais e os componentes 41% orgânicos e inorgânicos dissolvidos. 8% Desses três parâmetros, a parte fixa 27% é o que resta após submeter a amostra a uma temperatura elevada SSV (500 °C), sendo a parte volátil a SSF SDV SDF diferença de peso da amostra antes e após a calcinação. As quantidades Figura 7. Distribuição de SSV, SSF, SDV e SDF nos sólidos relativas destes tipos de sólidos para totais de um esgoto bruto típico. esgoto sanitário são apresentadas na Figura 7. Sólidos sedimentáveis: Como mais de 30% dos poluentes está presente em forma de sólidos suspensos, a retirada destes sólidos, por meio de precipitação ou sedimentação, é um importante e eficiente passo para iniciar o tratamento dos esgotos. Um teste rápido para Fonte: LABORANA, 2008. determinação de sólidos separáveis no esgoto por sedimentação é feito com o cone “Imhoff”. No teste, um volume de esgoto é colocado num cone com graduação (Figura 8). Depois de um tempo específico de repouso (geralmente 30 minutos), a quantidade de sólidos sedimentados é determinada pela leitura do volume ocupado pelos sólidos na escala do cone. O valor dos sólidos sedimentáveis é expresso em volume de sólidos (mL) por volume de amostra (L), o qual indica a quantidade de sólidos que pode ser removida num tanque de sedimentação e é afetado, entre outros fatores, pelo tamanho médio e pela carga superficial das partículas, e pelo uso de agentes coagulantes e floculantes. Figura 8. Cone "Imhoff" Guia do profissional em treinamento – ReCESA 24 Temperatura A temperatura do esgoto, geralmente expressa em graus Celsius, depende principalmente das condições climatológicas. No Brasil, a temperatura do esgoto comumente varia entre 18°C e 25°C, dependendo da época do ano e da região, sendo essas variações muito menores que as da temperatura do ar. Para o tratamento biológico de esgotos, o ideal é que a temperatura esteja entre 25 e 35ºC, sendo que em temperaturas abaixo de 10ºC o tratamento fica comprometido. A aplicação de tratamento anaeróbio é pouco eficiente se a temperatura média for menor que 20°C. Turbidez A turbidez do esgoto é causada por sólidos suspensos – tais como partículas insolúveis do solo, matéria orgânica e organismos microscópicos – que refletem a luz incidente na solução. A turbidez pode ser quantificada com um aparelho chamado de turbidímetro, sendo expressa em Unidades Nefelométricas de Turbidez (UNT). A UNT é uma unidade relativa; a turbidez de alguma amostra é relacionada à turbidez de uma suspensão padrão: 1mg/L de SiO2 produz uma turbidez de 1 UNT. O turbidímetro é um aparelho simples, que Figura 9. Princípio de funcionamento de um possui uma fonte de iluminação e um foto- turbidímetro (nefelométrico). sensor, detectando a intensidade de luz a 90°, perpendicular à faixa de luz. A lâmpada ilumina a amostra e o detector indica a quantidade de luz refletida pelas partículas suspensas (Figura 9). Quanto mais intenso o reflexo, maior a turbidez. A turbidez não tem relação direta com a concentração de poluentes, mas pode ser indicativa da concentração dos sólidos suspensos. Assim, a turbidez é usada principalmente como parâmetro de controle, para verificar a eficiência de remoção de sólidos em suspensão na ETE. Características químicas A matéria orgânica presente no esgoto, a qual representa, aproximadamente, metade dos sólidos totais, é um dos fatores principais que determina o potencial poluidor do esgoto. A matéria orgânica é composta dos elementos carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, como proteínas, carboidratos, gorduras, óleos, uréia, surfactantes e pesticidas. Durante o transporte do esgoto através da rede, microrganismos já transformam parte da matéria orgânica em produtos degradados como amônia (NH3), ácidos graxos voláteis (AGV) e sulfeto (H2S), os quais conferem o cheiro típico de esgoto e um pH mais baixo. Posteriormente, Guia do profissional em treinamento – ReCESA 25 os microrganismos convertem a matéria orgânica biodegradável em componentes inorgânicos, tais como CO2, NO3- e água, ao mesmo tempo usando a energia liberada nestas conversões para sua manutenção e crescimento. Esse processo ocorre durante o transporte do esgoto, durante o tratamento numa ETE e também pode ocorrer no meio ambiente. Caso um esgoto seja insuficientemente tratado e lançado em um corpo hídrico, a conversão da matéria orgânica, pelos microrganismos, em substâncias mais estáveis quimicamente acontece usando o oxigênio dissolvido na água. Assim, o lançamento de esgotos com cargas elevadas de matéria orgânica é capaz de consumir o oxigênio da água, com um subseqüente dano às comunidades aquáticas existentes naquele corpo de água. Além de matéria orgânica, esgotos também contêm componentes inorgânicos, como amônia, nitrato (NO3-) e fosfato (PO43-), chamados de nutrientes, os quais representam um dos requisitos ambientais para o crescimento de microrganismos, algas e plantas. DBO Um outro parâmetro indicativo da quantidade de matéria orgânica presente no esgoto é a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). Ela mede a quantidade de oxigênio necessária para a biodegradação dos componentes orgânicos presente no esgoto. A análise de DBO é feita usando microrganismos, quer naturalmente presentes ou adicionados a uma amostra diluída de esgoto. As bactérias usam a matéria orgânica presente na amostra do esgoto como fonte de energia e a convertem em CO2, H2O, NO3- e outros resíduos inorgânicos. O teste é feito em frascos fechados, mantidos à temperatura constante de 20ºC, sem ar em cima da solução. A concentração de oxigênio dissolvido na amostra é determinada antes e depois da análise, cuja diferença é a quantidade de oxigênio usada pelas bactérias, o que permite o cálculo da DBO. Como sempre há componentes não biodegradáveis no esgoto e as bactérias não tem como usar oxigênio além daquele determinado pela estequiometria da reação, a DBO é sempre mais baixa do que a DQO da mesma amostra. Para esgoto sanitário, a razão DQO/DBO geralmente está em torno de 2. No Brasil, a DBO em esgotos varia entre 150mg/L e 600mg/L, dependendo do uso da água, sendo um valor médio de 350mg/L. Complicações com o teste de DBO são a baixa reprodutibilidade (erros de 10-15% são comuns), a longa duração (o teste mais comum, a DBO5, necessita de um período de 5 dias de incubação) e, especialmente no caso de esgotos industriais, o fato de que componentes tóxicos podem desativar as bactérias e, assim, causarem um resultado não representativo do teor de material biodegradável. DQO Um dos principais parâmetros para se caracterizar o esgoto é a chamada Demanda Química de Oxigênio (DQO). A DQO, sempre citada em miligramas de oxigênio por litro, é uma medida da quantidade de oxigênio necessário para a estabilização da matéria orgânica por via química e funciona como um indicador da “concentração” do esgoto. Considerando-se como exemplo a oxidação da uréia, constituinte da urina: Guia do profissional em treinamento – ReCESA 26 CH4N2O + 4O2 → CO2 + H2O + 2HNO3 (2.1) Para a oxidação de 60g de uréia (1 mol de CH4N2O) são usados 128g de oxigênio (4O2) , o que corresponde a um uso de (128/60) = 2,13g O2/g uréia. A DQO (teórica) de uma solução de 1,00g uréia/L então é de 2,13g/L. A DQO geralmente é determinada através da oxidação de uma amostra de volume conhecido com um oxidante químico forte, sob aquecimento, e determinação da quantidade do oxidante químico usado. O método mais popular é o que usa dicromato de potássio como oxidante, mas também existe o método que utiliza permanganato de potássio. Em ambos os casos, a quantidade do oxidante consumido é convertida em quantidade equivalente de oxigênio. Como o dicromato de potássio é um oxidante mais forte, o resultado obtido com este oxidante chega mais perto do valor teórico do que o resultado obtido usando permanganato de potássio. A DQO de um esgoto é um parâmetro bastante variável. Em lugares com escassez de água ou onde há um uso mais consciente de água, a DQO geralmente é mais alta do que em lugares onde este recurso natural é abundante. No Brasil, a DQO de esgoto geralmente se situa na faixa de 200mg/L a 1000mg/L, com valor médio de 700mg/L. A DQO do esgoto ainda pode mudar com o tempo, por causa de tendências sociais e econômicas. pH O pH é um parâmetro que indica o caráter ácido-básico de uma solução, sendo medido normalmente por meio de um eletrodo específico. Água neutra tem pH igual a 7,0, enquanto soluções mais ácidas têm pH mais baixo e soluções mais alcalinas tem pH mais alto. Para esgotos sanitários brutos, o pH é um parâmetro pouco importante, já que geralmente está na faixa de 7,4 até 6,7 (neutro), sendo que quanto mais velho o esgoto, mais baixo o pH. Por causa da capacidade tampão do esgoto, o pH do mesmo é pouco susceptível a grandes alterações. É um parâmetro importante para monitorar os processos de tratamento do esgoto. Se o esgoto afluente se torna muito ácido ou muito alcalino pode ser necessário ajustar o pH, pois a maioria dos processos de tratamento de esgoto é biológica, e especialmente processos anaeróbios e de nitrificação são pouco resistentes a condições muito ácidas ou alcalinas. Nitrogênio Os esgotos domésticos contêm nitrogênio orgânico e inorgânico, presentes em várias formas. O nitrogênio orgânico é a quantidade de nitrogênio embutido na matéria orgânica, principalmente em proteínas. O nitrogênio inorgânico é a fração restante, sendo a soma das concentrações de amônia (NH3), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). Para determinação das formas inorgânicas (amônia, nitrito e nitrato) existem análises específicas, em que normalmente se determina o nitrogênio orgânico por meio do teste do Guia do profissional em treinamento – ReCESA 27 “Nitrogênio-Kjeldahl” (NKj). Existe também a análise do “Nitrogênio-Kjeldahl Total” (NKjT), que inclui o nitrogênio orgânico e o nitrogênio amoniacal. Como o nitrito é um intermediário redutivo e rapidamente oxidado para nitrato, geralmente a sua concentração é baixa (< 1mg/L). O nitrato é formado no esgoto por ação de microrganismos e por oxidação química da amônia. Quanto mais velho um esgoto, mais alto o teor de nitrato e mais baixo o teor de nitrogênio orgânico. A razão DQO/NKjT é de aproximadamente 20, podendo variar entre 10 e 30. Fosfato Assim como o nitrato, o fosfato é um componente presente no esgoto por causa da degradação biológica de proteínas, além de estar presente na composição de muitos detergentes por se associar a metais como cálcio e magnésio, que em forma livre diminuem a formação de espuma. O fósforo, assim como o nitrogênio, é um importante nutriente dos processos aeróbios, nos quais uma relação DBO:N:P de 100:5:1 é considerada ótima. A remoção do fosfato presente no esgoto é bastante difícil com os processos de tratamento de esgotos comumente empregados. Como o fosfato é um nutriente causador de eutrofização, o seu uso na composição de detergentes já é proibido em muitos países. Características biológicas Não existe esgoto sanitário sem microrganismos. A maioria deles não traz malefícios à saúde humana, mas alguns são capazes de causar doenças – os chamados patogênicos. Incluídos nessa categoria, embora não sejam estritamente microrganismos, estão os vírus. Por questões de proteção da saúde pública, deve ser evitado o lançamento de microrganismos patogênicos com efluente tratado, especialmente em águas usadas para abastecimento humano, irrigação de culturas agrícolas ou recreação. A análise de microrganismos visa quantificar o número de patogênicos na amostra. Como existem muitos patógenos, é inviável analisar a presença de cada um. Assim, sua presença é estimada usando alguns microrganismos indicadores, como os coliformes totais e os coliformes termotolerantes, Escherichia coli, helmintos e protozoários. Cada ser humano, saudável ou doente, normalmente lança bilhões de bactérias coliformes, presentes nos intestinos, por dia no esgoto. Assim, a presença de coliformes é um parâmetro usado para identificar se uma amostra foi contaminada com fezes, associado a ter um risco elevado de conter patogênicos. A quantidade de E. coli, uma bactéria inerente ao trato intestinal do ser humano, é usada para identificar qual parte dos microrganismos encontrados pode ser de origem humana. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 28 Como o número de microrganismos pode variar muito, os testes usam princípios estatísticos para chegar ao número mais provável (NMP) de microrganismos presentes na amostra. Um esquema simples mostrando o princípio para quantificar um número mais provável de microrganismos é ilustrado 1 ml 1 ml 1 ml 1 ml 1 ml na Figura 10. Como primeira etapa, 9 ml 9 ml 9 ml 9 ml 9 ml 10 -1 10 -2 10-3 10-4 10 -5 . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . uma série de diluições é preparada. Meios de cultura que permitem o crescimento de um tipo específico de bactéria e que impedem, por causa da presença de antibióticos específicos, o crescimento de contar impossivel 200 .10-4 20 .10-5 outros grupos de bactérias, são Figura 10. Diluições para estimação do NMP depois inoculados com uma quantidade de incubação. amostra e incubados à temperatura desejada. Após certo tempo de crescimento, os microrganismos são contados ou, alternativamente, o número de unidades em que a presença do microorganismo foi detectada é contado. A contagem de microrganismos é feita principalmente no esgoto tratado, para verificar se a qualidade é adequada para o lançamento da água do corpo receptor. Se o tratamento aplicado na ETE não consegue baixar a concentração de patogênicos para níveis aceitáveis, é necessária a aplicação de uma técnica de desinfecção, como cloração, ozonização ou irradiação com luz UV. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 29 Fontes de poluição das águas Paula Loureiro Paulo Gilson Barbosa Athayde Júnior Júnior Os corpos d’água são os maiores receptores de uma extensa gama de resíduos produzidos pelo homem. Tais resíduos podem ser conduzidos diretamente pelo lançamento de esgotos domésticos ou industriais ou ainda ser carreados ao longo da superfície pelas águas de chuva. Nesse último caso, além de componentes do solo, também são levados aos corpos hídricos resíduos sólidos domésticos e industriais, agrotóxicos e pesticidas. Em algumas situações, dependendo da poluição atmosférica da região, pode ocorrer a deposição de partículas poluentes no solo e nos corpos d’água. Há que se considerar também a poluição das águas por causas naturais. A poluição das águas é um problema global que não respeita fronteiras. Nos países em desenvolvimento, resíduos humanos, de animais e resíduos tóxicos de atividades agrícolas são os maiores poluidores. Em países desenvolvidos, a principal causa da poluição são os resíduos industriais, como metais pesados e matéria orgânica. O nível da poluição das águas tende a crescer não somente com o grau de industrialização, mas também com o aumento da densidade populacional. A forma através da qual os poluentes atingem um corpo aquático pode ser pontual ou difusa. A poluição pontual ocorre quando os poluentes são lançados no corpo aquático de forma concentrada, como no caso de tubulações que despejam esgotos domésticos ou industriais. A poluição difusa ocorre quando os poluentes atingem o corpo receptor ao longo de uma certa extensão, como no caso da poluição associada à drenagem de águas pluviais e aos escoamentos provenientes de campos agrícolas. As fontes de poluição pontuais são de mais fácil controle que as difusas. Fontes de poluição As principais fontes de poluição podem ser classificadas em: fontes naturais; contribuição de áreas agrícolas; contribuição de águas servidas urbanas (incluindo esgoto doméstico e efluentes industriais); causas diversas. Essas fontes de poluição se apresentam com maior ou menor incidência de acordo com características locais, incluindo geografia, topografia, uso e ocupação do solo, cultura local, condições sócio-econômicas e recursos tecnológicos para controle da poluição. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 30 Fontes naturais de poluição As principais fontes naturais de poluição são as seguintes: Decomposição de vegetais: produtos resultantes da dissolução ou lixiviação da vegetação em contato com a água costumam exercer forte demanda de oxigênio e causar à água uma elevada intensidade de cor. Salinização: causada pela evaporação muito intensa em lagos e lagoas, em climas tropicais, áridos ou semi-áridos, tendo como consequência a concentração progressiva de sais nesses mananciais. Os processos continuados de evapotranspiração do solo ou de sedimentos aluviais em climas desérticos, ou ainda de solos irrigados em regiões semi-áridas, promovem a concentração salina desses sólidos. Minerais dissolvidos: as águas subterrâneas, ao escoarem até o ponto de afloramento ou captação, podem apresentar concentrações excessivas de minerais dissolvidos, alguns causando simplesmente dureza ou alguma toxicidade ao corpo d’água, por exemplo. Floração aquática: a floração de organismos aquáticos pode ocorrer como um fenômeno natural em lagos e rios, podendo ser acelerada após a contribuição da atividade humana. Escoamento superficial e erosão do solo: o escoamento superficial, natural, contribui como uma parcela de poluição por descarga sólida, originada pela erosão do solo. À medida que a vegetação protetora do solo é removida, torna-se maior o escoamento superficial e o arraste de areia, argila, silte e matéria sólida em suspensão. Contribuição de áreas agrícolas A poluição gerada em áreas agrícolas é proveniente de resíduos sólidos e líquidos, incluindo enxurrada carreando pesticidas e fertilizantes, partículas de solo arado, fezes e carcaças de animais, resíduos de safras e detritos diversos. Contribuição de águas servidas urbanas O processo de urbanização desordenada vem causando uma série de mudanças no meio ambiente, na qualidade de vida da população e na qualidade das águas superficiais e subterrâneas, cujos principais problemas são: contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos com disposição inadequada de efluentes urbanos sem tratamento (esgoto sanitário, por exemplo), águas pluviais contaminadas e a disposição final de resíduos sólidos de forma inadequada; inundações de áreas devidas à urbanização; erosão e sedimentação dos cursos d’água, gerando áreas degradadas; ocupação de áreas ribeirinhas, com riscos de inundações, e de grandes áreas de alta declividade sujeitas a deslizamentos durante período chuvoso. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 31 As águas servidas urbanas contribuem, principalmente, por meio dos despejos dos esgotos domésticos, industriais e águas pluviais. Os dois primeiros tipos de poluição se caracterizam como fontes pontuais, localizadas e bem identificadas, responsáveis por significativa depleção do oxigênio nos cursos d’água, além da contribuição de sólidos, organismos patogênicos e nutrientes. No caso dos esgotos industriais, ainda pode ocorrer a contribuição de metais e outros poluentes. Nas localidades que não dispõem de rede de esgotamento sanitário existe a prática do lançamento dos esgotos domésticos na rede de drenagem urbana, que contribuem de forma não pontual para a poluição dos corpos d’águas e, por constituírem uma carga adicional importante, podem representar um impacto significativo sobre o meio ambiente. Ressalta-se, também, as águas pluviais que drenam áreas carentes, onde a limpeza pública e a coleta de lixo não são regularmente praticadas. Poluição por causas diversas Outras causas de poluição podem ser destacadas, como as áreas de mineração, de influência de aterros sanitários e reservatórios de acumulação. No caso das áreas de mineração, em atividade ou não, a percolação das águas no solo contribui com carga significativa de ácidos e metais, entre outros. Já nas áreas de influência de aterros sanitários, pode ocorrer uma poluição tipicamente orgânica, no caso de resíduos domésticos, e tipicamente tóxica, no caso de resíduos industriais. Esse tipo de poluição pode comprometer os mananciais – sejam eles superficiais ou subterrâneos – por longos períodos. A construção de reservatórios para quaisquer finalidades, como geração de energia, abastecimento de água, entre outros, pode produzir uma deterioração na qualidade da água. Podem ocorrer fenômenos de floração de algas, eutrofização, acúmulo de descargas sólidas e anaerobiose da camada de fundo do reservatório. Fenômenos como esses já podem ser observados em reservatórios de usinas hidrelétricas e para abastecimento humano. Tipos de poluentes O Quadro 1 apresenta os principais tipos de poluentes que podem afetar a qualidade das águas em termos de danos à biota aquática e a seus usuários, com consequências de ordem sanitária, ambiental e econômica. As conseqüências de ordem sanitária estão associadas à disseminação de doenças relacionadas com a água. As econômicas são ligadas ao maior custo de tratamento para a água captada e maiores despesas com o tratamento de doenças. Entre as consequências ambientais, destacam-se as alterações físicas, químicas e biológicas da água, como resumido a seguir: alterações das características físicas: cor, turbidez, deposição de materiais no leito dos corpos d’água, temperatura, viscosidade, tensão superficial; Guia do profissional em treinamento – ReCESA 32 alterações das características químicas: compostos tóxicos, pesticidas, detergentes, salinização, substâncias radioativas, pH, excesso de nutrientes (eutrofização), consumo de oxigênio; alterações das características biológicas: presença de microrganismos patogênicos, vegetação, larvas de inseto. Quadro 1. Tipos de poluentes e seus principais efeitos. Poluente Maiores fontes Efeitos Sólidos em Esgoto doméstico, esgoto industrial, Problemas estéticos, aumento da turbidez, suspensão águas pluviais. deposição de lodo no fundo do corpo aquático, adsorção de poluentes, proteção de organismos patogênicos. Matéria orgânica Esgoto doméstico, escoamento Consumo do oxigênio presente na água; prejuízo da biodegradável superficial (carreando resíduos de flora e da fauna; a decomposição anaeróbia que se agricultura e pecuária), alguns efluentes inicia causa a produção de gases mal-cheirosos e de agroindústrias etc. ausência de vida aquática. Esgoto doméstico, incluindo fosfatos Florescimento de algas (eutrofização dos cursos presentes em detergentes, resíduos de d’água), alta produção e morte de vegetação, agricultura e pecuária, especialmente depleção de oxigênio, contaminação da água nitratos usados como fertilizantes. subterrânea (nitrato). Chuva ácida, águas drenadas de Acidificação das águas naturais, queda aguda das mineração. espécies, morte de peixes, aumento do nível de Nutrientes Ácidos metais tóxicos na água (ex. alumínio). Metais pesados Mineração, indústrias, emissão de Bio-aumento de metais tóxicos em cada estágio chumbo pelos escapamentos de sucessivo da cadeia alimentar, com ameaça aos veículos. consumidores, inclusive humanos; redução da capacidade de autodepuração das águas; contaminação da água subterrânea. Sólidos Esgotos industriais inorgânicos Contribuição para a salinidade da água, comprometendo alguns de seus usos. dissolvidos Óleos e matérias Extração de petróleo; vazamentos de Contaminação do ambiente aquático, aumento da flutuantes (sólidos) tanques de óleo, disposição de resíduos, turbidez, formação de escuma, morte de pássaros e esgoto doméstico e industrial, drenagem mamíferos etc. pluvial. Organoclorados Aplicação direta, resíduos de agricultura, Bio-aumento; risco para carnívoros, com efeitos na esgoto doméstico, incineração, saúde humana. disposição de resíduos em aterros. Microrganismos Esgotos domésticos, esgotos patogênicos hospitalares, águas pluviais. Sais Causa natural, efluente de Transmissão de doenças infecciosas. Alterações na tensão osmótica e na condutividade dessalinizadores, outras contribuições. elétrica, prejuízo a certos usos da água. Detergentes Esgotos domésticos e industriais. Redução na tensão superficial, sabor, formação de Radiação 80% de fontes naturais, 20% de testes de Lesão de tecidos em vários graus e risco de morte armas nucleares, radiografias médicas, dependendo da exposição. espuma e toxicidade. energia nuclear, indústrias etc. Despejos Água de resfriamento das indústrias, Redução da concentração de gases dissolvidos, aquecidos principalmente geradoras de energia. inclusive oxigênio; aumento da atividade química e biológica; migração ou morte de peixes por sufocação; interrupção no ciclo reprodutivo de peixes e outros organismos aquáticos. Fonte: Adaptado de JACKSON E JACKSON, 2001; MOTA, 1995; VON SPERLING 2005. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 33 Matéria Matéria orgânica A liberação de grandes quantidades de matéria orgânica nos cursos d’água, principalmente provenientes de esgotos domésticos, geralmente tem efeitos desastrosos na flora e fauna natural. Outras fontes de contribuição incluem as águas de escoamento superficial de áreas urbanas, agricultura, pecuária e algumas indústrias. A recente intensificação da produção de animais confinados, com um grande número deles sendo criados em uma pequena área, tem exacerbado o problema da poluição proveniente de resíduos animais. A presença de oxigênio dissolvido (OD) no corpo d’água é fundamental para a manutenção da vida aquática. De forma geral, os rios requerem, para o desenvolvimento de peixes de melhor qualidade, uma concentração mínima de 4mg/l de oxigênio dissolvido. Os rios são os principais receptores de efluentes orgânicos, embora alguns resíduos sejam lançados em lagos ou no mar, via emissários submarinos. Os processos da decomposição biológica, transformando os poluentes orgânicos em compostos mais simples, matéria estabilizada inorgânica e gases, ocorrem às custas da depleção do oxigênio dissolvido no corpo d’água, chegando eventualmente a condições de anaerobiose e perda de vida aquática. Nutrientes A produtividade da vida aquática primária é geralmente limitada pela disponibilidade de nutrientes para as plantas. Em lagos e rios, o nutriente limitante é geralmente o fósforo, enquanto em estuários é o nitrogênio. Além desses nutrientes, os organismos necessitam de outros elementos em variadas concentrações, como carbono, oxigênio, hidrogênio e enxofre. Quando pequenas concentrações de nutrientes são introduzidas em ecossistemas aquáticos, onde eles geralmente são limitados, a produção primária é estimulada. Dessa forma, problemas sérios de eutrofização podem ocorrer, devido à superprodução de algas. Um exemplo típico é o despejo de esgoto doméstico sem tratamento em lagos ou reservatórios. Neste caso, o fósforo, em abundância, vai eliminar o fator limitante, causando a eutrofização, com consequências de natureza estética e ambiental. Os esgotos domésticos e as áreas agrícolas contém altas concentrações de fósforo e nitrogênio. A maior parte do fosfato presente nos esgotos domésticos vem dos sabões em pó utilizados hoje em dia. As práticas de agricultura, como o uso de fertilizantes contendo fosfato e nitrogênio, a aplicação de esterco em áreas agriculturáveis e a criação de animais em confinamento têm resultado em um aumento significativo desses nutrientes que alcançam os cursos d’água através da drenagem de águas pluviais e erosão. Algumas indústrias também possuem efluentes com altas concentrações de fosfato, como por exemplo, a indústria têxtil. Já no caso do nitrogênio, a indústria de derivados de carnes se destaca. A correção dessas situações é realizada através de tratamento terciário do esgoto doméstico ou industrial, projetado para a remoção de nitrogênio e/ou fósforo. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 34 Metais pesados Os metais tóxicos que poluem os corpos d’água se originam de uma variedade de fontes antropogênicas, da mineração até indústrias associadas a estas. Dentre esses metais estão o mercúrio, chumbo, cádmio, zinco e o estanho. A toxicidade desses elementos metálicos depende de sua forma química (especiação), sendo que, em certos casos, os metais podem ser absorvidos diretamente da água pelos organismos aquáticos. Assim, os elementos metálicos podem se tornar progressivamente mais concentrados em cada nível sucessivo da cadeia alimentar, representando um risco à saúde humana, que está no topo dessa cadeia. Também existe o risco do consumo de água contaminada, que sempre deve ter a qualidade monitorada. Óleos e materiais sólidos flutuantes A poluição pela presença de óleo se dá principalmente da extração de petróleo, sendo o ambiente marinho o mais prejudicado pela prática de extração, além do derramamento e operação dos tanques. O petróleo bruto é uma mistura complexa de milhares de diferentes moléculas orgânicas, principalmente hidrocarbonetos. Outras fontes de poluição que contribuem com óleo são efluentes industriais, esgoto doméstico e águas de drenagem urbana. Os postos de combustíveis têm uma contribuição significativa na carga de óleo presente nas águas pluviais. A melhor maneira de eliminar o problema de poluição por óleos é através da prevenção, em que várias práticas poderiam ser melhoradas para atenuar ou mesmo eliminar os riscos de incidentes. A presença de sólidos nos corpos d’água pode causar uma série de problemas ambientais, sendo as principais fontes de contribuição os despejos de efluentes industriais, esgoto doméstico e águas de drenagem urbana. Alguns dos principais efeitos poluentes dos sólidos nos corpos d’água são: formação de escuma superficial, que impede a penetração da luz e a transferência de oxigênio, causando estética desfavorável e limitando a fotossíntese; aumento da turbidez; formação de depósitos de lodo; geração de maus odores por condições anaeróbias em depósitos de lodo e diminuição do volume útil de reservatórios, lagos e baías, entre outros. Substâncias químicas refratárias As duas categorias principais dessa classe de poluente são os pesticidas e os detergentes. As substâncias químicas refratárias, ao contrário da matéria orgânica degradável, não se decompõem através da atividade microbiológica ou apresentam uma degradabilidade bastante lenta (compostos recalcitrantes). Dessa forma, acumulam-se no meio ambiente, podendo atingir concentrações elevadas e perigosas. Os detergentes sintéticos não biodegradáveis não causam riscos imediatos à saúde, mas sim efeitos estéticos desagradáveis, ocasionando produção de espuma nos corpos d’água, dificuldades para o tratamento e, eventualmente, impactos à vida aquática. Pelo fato de os pesticidas e vários compostos tóxicos não serem biodegradáveis, apresentam graves riscos à Guia do profissional em treinamento – ReCESA 35 saúde, acumulando-se na cadeia alimentar e sendo absorvidos no organismo em concentrações muito maiores do que as de seu lançamento inicial no corpo d’água. Microrganismos patogênicos Diversas doenças infecciosas e parasitárias têm no meio ambiente uma fase do seu ciclo de transmissão, como, por exemplo, uma doença relacionada à água com transmissão feco-oral. A contaminação das águas pela presença de diversos organismos patogênicos (bactérias, protozoários, vermes e vírus) traz consequências indesejáveis, não apenas de natureza de saúde pública como tambem econômica, sendo algumas delas: maior incidência de doenças; o aumento da mortalidade infantil; a redução de produtividade; a redução da expectativa de vida; o aumento de custos hospitalares e os incômodos próprios das doenças. Qualquer um dos agentes transmissores das doenças infecciosas podem atingir o organismo humano por via oral e via cutâneo-mucosa. As doenças associadas ao uso da água podem ser classificadas em dois grandes grupos, como mostrado abaixo: Contato direto Contato indireto Água ingerida diretamente na dieta; água utilizada no asseio corporal ou que entra em contato com a pele das lavadeiras às margens dos rios, dos Água empregada na limpeza dos alimentos; água usada na rega de hortaliças ou nos criadores de marisco. banhistas, dos trabalhadores rurais etc. O Quadro 2 mostra alguns exemplos de doenças relacionadas com a água e seus efeitos no homem. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 36 Quadro 2. Exemplos de doenças relacionadas com a água contaminada. Patógeno Doença Efeitos Salmonella typhi Febre tifóide Vômito severo e diarréia; pode ser fatal se não for Shigella dysenteriae Desinteria bacilar Vibrio cholera Cólera Bactéria tratada. Diarréia aguda; pode ser fatal para crianças se não for tratada. Vômito e diarréia severa; desidratação, pode ser fatal se não for tratada. Vírus Hepatitis – tipo A Hepatite Dor de cabeça forte; febre; icterícea; inchaço do infecciosa fígado; raramente fatal. Poliomyelitis Dor de cabeça forte; febre; paralisia do corpo e Poliomelite membros; pode ser fatal. Desinteria Diarréia severa; amebiana pode ser fatal se não for tratada. Giardiase Diarréia; fadiga. Esquistossomose Doença debilitante; erupção cutânea; anemia; fadiga Protozoários parasitas parasitas Entamoeba histolytica dor abdominal; calafrios; febre; Giardia lamblia Vermes parasitas Schistosoma spp. (trematode) crônica; hemorragia; geralmente não é fatal. Teníase Anchylostoma (nematode) Infestação severa causa hemorragia interna e anemia; fatal em alguns casos. Fonte: Adaptado de JACKSON E JACKSON, 2001. O lançamento indiscriminado de esgotos domésticos no estado bruto ou sem tratamento adequado nos corpos d’água contribui para a transmissão de doenças relacionadas com a água. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, a falta de saneamento está sempre relacionada com a pobreza, sendo a população de baixa renda a mais afetada pela falta de água tratada e condições apropriadas de saneamento. A implantação de sistemas de saneamento, nesse caso, significaria inteferir no ambiente de maneira a interromper o ciclo de transmissão da doença, melhorando a qualidade de vida da população. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 37 Parâmetros de qualidade da água Gilson Barbosa Athayde Júnior Salena Tatiana Silva Athayde André Bezerra dos Santos Devido à multiplicidade de aplicações da água nas diversas atividades humanas, o conceito de qualidade da água precisa ser relativizado em função do uso a que se destina: consumo humano, irrigação, uso industrial etc. A qualidade da água pode ser expressa através de diversos parâmetros, que traduzem as suas características físicas, químicas e biológicas. Indicadores de qualidade da água Indicadores físicos Cor Em águas de abastecimento, a cor é normalmente resultado da existência, na água, de sólidos dissolvidos. As substâncias causadoras de cor de origem natural provêm da decomposição da matéria orgânica (principalmente vegetais) e da presença de ferro e manganês. Muitas águas superficiais, particularmente aquelas oriundas de áreas pantanosas, são dotadas de intensa coloração, ao ponto de não serem aceitáveis para alguns usos domésticos e industriais sem que antes seja realizado um tratamento para remoção da cor. Cores naturais existem na água primariamente como partículas coloidais carregadas negativamente. Em virtude deste fato, a remoção da cor pode ser feita pelo mecanismo de coagulação-floculação, utilizando-se um sal que contenha um íon de metal trivalente, como o alumínio ou o ferro. A cor, quando de origem natural, não representa risco direto à saúde. No entanto, a cloração da água contendo matéria orgânica responsável pela cor pode gerar produtos potencialmente cancerígenos (trihalometanos). Quando a origem é antropogênica, os sólidos dissolvidos resultam, na maioria das vezes, de despejos industriais, sendo que, em alguns casos, são provenientes de esgotos domésticos. As águas superficiais podem adquirir cor através da poluição por despejos altamente coloridos, como os encontrados em indústrias têxteis e de papel. Despejos com corantes podem conferir cores de ampla variedade, que são facilmente reconhecidas e delatoras de sua origem. A cor proveniente de fonte industrial pode ou não gerar toxicidade. Cor causada por material em suspensão é referida como sendo a cor aparente. A cor verdadeira é obtida quando esses sólidos suspensos são removidos por filtração ou centrifugação. Nas análises de água é importante se diferenciar as cores aparente e verdadeira. Esse parâmetro apresenta como unidade a UH (unidade Hazen). Guia do profissional em treinamento – ReCESA 38 Turbidez É a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar determinada quantidade de água, sendo causada por materiais sólidos em suspensão (silte, argila, rocha, algas etc.). A turbidez, quando de origem natural, não traz inconvenientes sanitários diretos, porém é esteticamente desagradável na água potável, e os sólidos em suspensão podem servir de abrigo para microrganismos patogênicos, diminuindo a eficiência da desinfecção da água. Quando de origem antropogênica, a turbidez pode estar associada a compostos tóxicos e organismos patogênicos. Em corpos aquáticos naturais, uma elevada turbidez pode reduzir a atividade fotossintética de microalgas e vegetação submersa, influenciando nas comunidades aquáticas. A turbidez é um importante parâmetro no abastecimento de água por três considerações principais: estética, filtrabilidade e desinfecção. Estética Os consumidores de água pública esperam e têm o direito de consumir água desprovida de turbidez. Os leigos sabem que o esgoto doméstico é altamente túrbido. Qualquer turbidez na água de beber é automaticamente associada à possibilidade de contaminação por esgotos e aos subseqüentes perigos à saúde. Esse medo tem uma base histórica racional devido às epidemias relacionadas com a água que em tempos passados atingiram a humanidade. Filtrabilidade A filtração de água se dá de maneira mais difícil e menos econômica para águas com elevada turbidez, na medida em que são requeridas maiores concentrações dos coagulantes utilizados nos processos de coagulação-floculação e lavagens mais freqüentes dos leitos filtrantes, o que acarreta maiores consumos de água na Estação de Tratamento de Água (ETA). A não execução da coagulação química implica na baixa eficiência dos filtros e na produção de uma água com qualidade inferior. Desinfecção A desinfecção de águas de abastecimento público é geralmente feita com cloro, ozônio ou dióxido de cloro, sendo a eficácia do método dependente do contato entre o agente desinfetante e o organismo que se deseja eliminar. Em águas túrbidas, a maioria dos organismos patogênicos é exposta à ação do desinfetante; entretanto, quando a turbidez é causada por sólidos de esgotos, muitos dos organismos patogênicos podem ficar envoltos nas partículas sólidas, protegendo-se do desinfetante. A turbidez é expressa em UT (Unidades de Turbidez). Guia do profissional em treinamento – ReCESA 39 Temperatura É a medida da intensidade de calor, podendo ter origem natural ou antropogênica. Os fenômenos naturais envolvidos com a temperatura são provenientes da transferência de calor por radiação, condução e convecção a partir da atmosfera e do solo, sendo dependentes da latitude e altitude local, da estação do ano e do período do dia. As atividades humanas também podem contribuir para modificações na temperatura de águas superficiais, como por exemplo, no lançamento de águas de torres de resfriamento e esgotos industriais. É um parâmetro importante, já que influencia em algumas propriedades da água (densidade, viscosidade, concentração de gases dissolvidos), com reflexos sobre a vida aquática. A concentração de saturação de oxigênio dissolvido, por exemplo, é inversamente proporcional à temperatura. É geralmente expressa em graus Celsius (ºC). Indicadores químicos Oxigênio dissolvido O oxigênio dissolvido na água é um parâmetro muito importante, pois a maioria dos organismos aeróbios necessita deste elemento para a respiração. Existem duas fontes de oxigênio para os corpos aquáticos: a dissolução a partir da atmosfera e a fotossíntese, realizada pelos seres clorofilados. O oxigênio é um gás tido como fracamente solúvel em água e não reage quimicamente com esta, sendo que sua solubilidade é diretamente proporcional à própria pressão parcial. A solubilidade do oxigênio também varia enormemente com a temperatura, sendo que, ao nível do mar, a concentração de saturação em água doce é de 9,2 e 7,6mg/L para as temperaturas de 20ºC e 30ºC, respectivamente. A solubilidade do oxigênio é menor em águas contendo sais do que em águas doces. Por esta razão, a solubilidade, para uma dada temperatura, decresce à medida que se passa de água doce para água estuarina e desta para águas marinas. Em águas poluídas, o valor de saturação também é mais baixo do que aquele de águas limpas. A baixa solubilidade do oxigênio é o principal fator que limita a capacidade de purificação de águas naturais, obrigando o tratamento dos despejos antes de sua descarga em corpos receptores. pH O termo pH é utilizado de forma bastante universal para se expressar a intensidade ácida ou alcalina de uma solução, representando a concentração de íons hidrogênio. A faixa de variação do pH é de 0 a 14, sendo que pH menor que 7 indica condições ácidas, pH maior que 7 indica condições básicas e quando o mesmo se iguala a 7, tem-se o pH neutro. O pH da água depende de sua origem e características naturais (dissolução de rochas, absorção de gases da Guia do profissional em treinamento – ReCESA 40 atmosfera, oxidação da matéria orgânica, fotossíntese etc.), mas pode ser alterado pela introdução de despejos domésticos ou industriais. Valores baixos de pH tornam a água corrosiva, enquanto que valores elevados de pH tendem a formar incrustações em tubulações. È ainda um importante parâmetro em diversas etapas do tratamento de água e esgoto. Valores de pH afastados da neutralidade podem afetar a vida aquática, a qual geralmente requer pH na faixa 6 – 9. Dureza Resulta da presença, principalmente, de sais alcalinos terrosos (de cálcio e magnésio) ou outros metais bivalentes em menor intensidade. A origem desses sais pode ser a dissolução de minerais contendo cálcio e magnésio (ex: rochas calcáreas), refletindo a natureza das formações geológicas com as quais a água esteve em contato, ou despejos industriais. Em geral, águas superficiais são menos duras que águas subterrâneas. A dureza é expressa em mg/L de CaCO3. Águas duras não limpam adequadamente (não fazem espuma), aumentando o consumo de sabão. Com o advento dos detergentes sintéticos, muitas das desvantagens de uma água dura para uso doméstico diminuíram, entretanto, sabão ainda é preferido para certos tipos de lavagens e para higiene pessoal. Águas duras possuem sabor desagradável, efeito laxativo, além de provocar incrustações em tubulações e caldeiras. Em termos de grau de dureza, a água pode ser classificada como: Mole: dureza inferior a 50mg/L de CaCO3 Moderada: dureza entre 50 e 150mg/L de CaCO3 Dura: dureza entre 150 e 300mg/L de CaCO3 Muito dura: dureza acima de 300mg/L de CaCO3 Alcalinidade É a quantidade de íons na água que reagirão para neutralizar os íons hidrogênio, sendo uma medida da capacidade da água de resistir à mudança de pH. Os principais constituintes da − alcalinidade são os bicarbonatos ( HCO3 ), carbonatos ( CO3 2− − ) e os hidróxidos ( OH ), sendo a distribuição entre as três partes função do pH. Os sais responsáveis pela alcalinidade podem ter origem na dissolução de rochas, reações entre o CO2 e a água ou despejos industriais. A alcalinidade da água não tem significado importante para a saúde humana, não obstante, uma água com elevada alcalinidade apresenta gosto amargo. A alcalinidade é expressa em mg/L de CaCO3. Acidez É a capacidade da água em resistir à mudança de pH causada pelas bases. A acidez de águas naturais é causada por dióxido de carbono ou por ácidos minerais fortes, sendo o primeiro o Guia do profissional em treinamento – ReCESA 41 agente efetivo em águas com pH superior a 4 e os segundos os agentes efetivos de águas com pH inferior a 4. A acidez é expressa em mg/L de CaCO3. Ferro Em quantidade adequada, é essencial ao sistema bioquímico da água, podendo, em grandes quantidades, tornar-se nocivo, conferindo sabor e cor desagradáveis e dureza à água, tornando-a inadequada ao uso doméstico e industrial. O ferro pode originar-se da dissolução de compostos do solo ou de despejos industriais. A concentração de ferro é expressa em mg/L. Cloretos − Os cloretos ( Cl ) são advindos da dissolução de alguns sais na água, podendo ter origem natural (dissolução de minerais, intrusão de águas salinas) ou antropogênica. Nas regiões costeiras, através da chamada intrusão salina, são encontradas águas com níveis elevados de cloreto. Nas águas superficiais, as descargas de esgotos sanitários são fontes importantes de cloretos. Diversos são os efluentes industriais que apresentam concentrações elevadas deste parâmetro, como os da indústria do petróleo, algumas indústrias farmacêuticas, curtumes etc. Em altas concentrações, conferem sabor salgado e propriedades laxativas à água, influindo também nos processos de corrosão em tubulações de aço e de alumínio. A concentração de cloretos é expressa em mg/L. Nitrogênio O nitrogênio pode estar presente na água sob várias formas: molecular (N2), amônia (quer na − − forma livre NH3 ou ionizada NH4+), nitrito ( NO2 ) ou nitrato ( NO3 ). É elemento indispensável ao crescimento de algas, cujo aumento excessivo é conhecido como eutrofização. O nitrato na água pode causar a metemoglobinemia e a amônia na forma livre é tóxica aos peixes e à maioria dos microrganismos aquáticos. O nitrogênio pode ter sua origem natural nas proteínas e outros compostos orgânicos ou origem antropogênica, a partir de despejos domésticos, industriais, excrementos de animais e fertilizantes. A concentração de nitrogênio é expressa em mg/L. Fósforo Encontra-se na água nas formas de ortofosfato, polifosfato e fósforo orgânico. Apesar de seu requerimento ser em menor quantidade quando comparado ao nitrogênio, é também essencial para o crescimento tanto de algas (algumas vezes é o causador da eutrofização) quanto dos microrganismos responsáveis pela estabilização da matéria orgânica. O fósforo é raramente encontrado em concentrações significativas em águas superficiais, já que é ativamente absorvido pelas plantas, podendo se encontrar em maiores concentrações em águas subterrâneas. A origem natural do fósforo vem da dissolução do solo ou da matéria orgânica, mas que pode adentrar no meio aquático através de despejos domésticos, industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes. A concentração de fósforo é expressa em mg/L. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 42 Matéria orgânica A matéria orgânica da água é necessária aos seres heterótrofos, como fonte de energia, e aos autótrofos, como fonte de sais nutrientes e gás carbônico (fonte de carbono). A matéria orgânica presente na água, além de responsável pela cor, odor, turbidez e outras características, resulta no consumo de oxigênio dissolvido no líquido, devido à sua estabilização ou decomposição biológica. A presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir uma grande diminuição da concentração de oxigênio na água, o que pode provocar o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática. A matéria orgânica pode ser de origem animal, vegetal ou proveniente de despejos domésticos e industriais. Os principais componentes orgânicos são os compostos de proteína, os carboidratos, a gordura e os óleos. Em termos práticos, para esgotos domésticos e industriais, não é possível a caracterização individual da matéria orgânica em seus componentes principais. Entretanto, pode-se utilizar de métodos indiretos para a quantificação da matéria orgânica ou do seu potencial poluidor, sendo os testes mais comuns: demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO). A DBO é a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da matéria orgânica biodegradável, por ação de bactérias aeróbias. Esta é determinada em laboratório, observando-se o oxigênio consumido em amostras do líquido, durante 5 dias, à temperatura de 20 ºC. A DQO é a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da matéria orgânica total (biodegradável e não biodegradável), através de um agente químico, normalmente o dicromato de potássio. A DQO também é determinada em laboratório, porém em prazo menor do que a DBO (2-3 horas). Para o mesmo líquido, a DQO é sempre maior que a DBO. A matéria orgânica, seja obtida pelo método da DBO ou da DQO, é expressa em mgO2/L. Parâmetros tóxicos Os parâmetros de características tóxicas envolvem metais (cádmio, bário, chumbo, cobre, cromo, níquel, mercúrio e zinco) e fenóis e em geral,sua presença na água está associada a despejos de efluentes industriais. Cádmio É um metal de elevado potencial tóxico, que se acumula em organismos aquáticos, possibilitando sua entrada na cadeia alimentar. O cádmio pode causar várias patologias no homem, incluindo disfunção renal, hipertensão, arteriosclerose, inibição no crescimento, doenças crônicas em idosos e câncer. O cádmio é um metal utilizado na indústria de aço e de plásticos, assim como na produção de equipamentos eletrônicos, lubrificantes, praguicidas, entre outros. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 43 Bário A ingestão de bário, em doses superiores às permitidas, pode provocar desde um aumento transitório da pressão sanguínea até efeitos tóxicos sobre o coração, vasos sanguíneos e nervos. Esse metal é normalmente utilizado nos processos de produção de pigmentos, fogos de artifício, vidros e praguicidas. Chumbo O chumbo é uma substância tóxica cumulativa que pode culminar em uma doença chamada saturnismo. Esse metal pode atingir também tanto o sistema nervoso central, causando tontura, irritabilidade, dor de cabeça, perda de memória entre outros, quanto o sistema nervoso periférico, cujo sintoma característico envolve a deficiência dos músculos extensores. O chumbo e seus compostos são utilizados em metalurgia, materiais de construção, plásticos e tintas. Cobre Os efeitos potenciais decorrentes da ingestão de água contendo cobre são desde desarranjos gastrintestinais até danos no fígado e rins. No entanto, a intoxicação por cobre é rara. As fontes de contaminação por cobre no ambiente incluem a corrosão de instalações hidráulicas prediais, a erosão de depósitos naturais e os preservantes de madeira. Cromo O cromo na forma trivalente é essencial ao metabolismo humano e sua carência causa doenças. Na forma hexavalente, é tóxico e cancerígeno. A contaminação da água por cromo deve-se principalmente aos efluentes de indústrias de aço e celulose, além da erosão de depósitos naturais. Níquel O níquel, em doses elevadas, pode causar dermatites e afetar nervos cardíacos e respiratórios. A queima de combustíveis fósseis contribui para o aumento da contaminação por níquel no ambiente. Os processos de mineração e fundição do metal, fusão e modelagem de ligas também se enquadram entre as fontes principais. Mercúrio A alimentação à base de peixes intoxicados por mercúrio é um dos maiores contribuintes para a carga desse metal no corpo humano, em função do efeito cumulativo no organismo. A intoxicação aguda pelo mercúrio no homem se caracteriza por náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia, danos nos ossos e morte. A intoxicação crônica afeta glândulas salivares, rins e altera funções psicológicas e psicomotoras. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 44 Zinco O zinco é um elemento essencial ao ser humano, só sendo prejudicial à saúde quando ingerido em concentrações muito altas, o que é extremamente raro. O zinco é produzido no meio ambiente por processos naturais e antropogênicos, entre os quais estão: combustão de madeira, incineração de resíduos, produção de ferro e aço e efluentes domésticos. Fenóis São compostos tóxicos aos organismos aquáticos, mesmo em concentrações bastante baixas, os quais afetam o sabor dos peixes e a aceitabilidade das águas, por conferir sabor e odor extremamente pronunciados, especialmente quando são derivados do cloro. O fenol é considerado um grande veneno para o homem, causando efeito de queimadura no local em que ele entra em contato através da ingestão. Os resultados de intoxicação são náuseas, vômitos, dores na cavidade bucal, na garganta e no estômago, entre outros. A presença dos fenóis nos corpos aquáticos se deve principalmente aos despejos de origem industrial. Microrganismos indicadores de contaminação fecal Um aspecto de grande relevância em termos da qualidade biológica da água é o relativo à possibilidade de transmissão de doenças. A determinação da potencialidade de uma água transmitir doenças pode ser efetuada de forma indireta, através dos organismos indicadores de contaminação fecal. Tais organismos, na sua grande maioria, não são patogênicos, mas oferecem uma indicação de quando uma água apresenta contaminação por fezes humanas ou de animais de sangue quente e, por conseguinte, a sua potencialidade em conter microrganismos patogênicos. Os principais indicadores de contaminação fecal são as bactérias do grupo coliforme (coliformes termotolerantes e totais) pelas seguintes razões: Os coliformes apresentam-se em grandes quantidades nas fezes humanas, com isso a probabilidade de que sejam detectados após o lançamento é superior à dos organismos patogênicos. Os coliformes apresentam-se em grande número apenas nas fezes do homem e de animais de sangue quente. Os coliformes apresentam resistência aproximadamente similar à maioria das bactérias patogênicas intestinais. As técnicas bacteriológicas para a detecção de coliformes são rápidas e econômicas. O grupo coliforme é formado por um número de bactérias que inclui os gêneros klebsiella, escherichia, serratia, erwenia e enterobactérias. Todas as bactérias coliformes são gramnegativas e estão associadas com fezes de animais e com o solo. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 45 Coliformes totais: constitui-se de um grande grupo de bactérias que têm sido isoladas de amostras de águas e solos poluídos e não poluídos, bem como fezes de seres humanos e outros animais de sangue quente. Tal grupo foi bastante usado no passado como indicador e continua a ser usado em algumas áreas, embora as dificuldades associadas com a ocorrência de bactérias não fecais seja um problema. Coliformes termotolerantes: é um grupo de bactérias indicadoras de organismos originários do trato intestinal humano e de outros animais. O teste para coliformes termotolerantes é feito a uma elevada temperatura, na qual o crescimento de bactérias de origem não fecal é possivelmente suprimido. O uso desse indicador para representar poluição sanitária mostra-se mais indicado do que o uso do coliforme total, já que as bactérias fecais são restritas ao trato intestinal de animais de sangue quente. Estreptococos fecais: incluem várias espécies ou variedades de estreptococos, tendo no intestino de seres humanos e outros animais o seu habitat usual. Índice de qualidade de água A interpretação e análise da qualidade da água através de seus parâmetros indicadores de qualidade podem ser extremamente complexas, principalmente para um leigo, pois a água pode estar poluída em termos de um parâmetro ou grupo destes e não em termos de outros parâmetros. Neste sentido, surgiram estudos que objetivaram sintetizar a qualidade da água de modo a torná-la facilmente interpretável, como o Índice de Qualidade da Água – IQA proposto por Horton, em 1965, e um outro modelo proposto pela National Sanitation Foundation dos Estados Unidos. Neste último, selecionaram-se parâmetros relevantes para avaliar a qualidade das águas e se atribuiu, para cada um deles, um peso relativo. A partir deste estudo, a CETESB adaptou e desenvolveu um modelo de IQA que incorpora nove parâmetros relevantes para a avaliação da qualidade das águas, tendo como determinante principal a utilização das mesmas para abastecimento público. A criação do IQA pela CETESB baseou-se numa pesquisa de opinião junto a especialistas em qualidade de água, que indicaram os parâmetros a serem avaliados, o peso relativo dos mesmos e a condição com que se apresentam cada parâmetro, segundo uma escala de valores. Dos 35 parâmetros indicadores de qualidade de água inicialmente propostos, somente 9 foram selecionados. Para estes, a critério de cada profissional, foram estabelecidas curvas de variação da qualidade das águas de acordo com o estado ou a condição de cada parâmetro. Estas curvas de variação, sintetizadas em um conjunto de curvas médias, bem como seu peso relativo correspondente, são apresentados na figura 11. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 46 10 0 100 90 80 q1 100 w2 = 0,12 90 W1 = 0,15 80 70 q2 70 60 q3 50 40 30 30 20 20 10 10 0 1 , E +0 1 1 , E +0 2 1 , E +0 3 1 , E +0 4 1 , E +0 5 2 Nota: se C.Ter. > 105 . q1 = 3,0 W4 = 0,10 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 6 7 10 0 90 80 70 q5 6 0 50 40 30 20 10 0 10 0 q4 4 5 90 10 0 Temperatura (afastamento da Temperatura de equilíbrio) para i = 6 10 0 70 q6 40 30 20 10 1 2 3 4 5 6 7 8 0 9 10 -5 para R eResíduo sí duo T oTotal t al pa ra i = 8i = 8 W7 = 0,08 80 80 70 70 60 60 q8 50 q9 70 40 40 30 30 30 20 20 20 10 10 10 0 0 30 40 50 60 70 80 90 10 0 0 0 100 200 Turbidez U.T. Nota: se Turbidez > 100, q7 = 5,0 W9 = 0,17 60 40 20 20 80 50 10 15 90 50 0 10 10 0 W8 = 0,08 90 5 O xigê nio D is s o lv ido pa ra i = 9 10 0 90 0 DT ºC Nota: se Dt < -5,0 q6 é indefinido se Dt > 15,0, q6 = 9,0 Nota: se PO4 – T > 10,0. q5 = 5 T urbide z pa ra i = 7 60 50 PO4 – T mg/L 10 0 W6 = 0,10 90 80 0 Nota: se N.T. > 100,0. q4 = 1,0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 DBO5 . mg/l Nota: se DBO > 30,0, q3 = 2,0 W5 = 0,10 N.T. mg/L q7 0 F o s fat o T o tal para i = 5 N itro gê nio TTotal o t a l pa ra i =i = 4 4 Nitrogênio para 90 3 0 8 9 10 11 12 pH, Unidades Nota: se pH. < 2,0, q2 = 2,0 se pH. > 12,0, q2 = 3,0 C.Ter. # / 100ml 60 50 40 20 10 0 W3 = 0,10 90 80 70 60 50 40 30 1 , E +0 0 D e m a nda B io quí m ic a de O xigê nio pa ra i = 3 pH pa ra i = 2 C o li f . T er mo t o ler ant . p ar a i = 1 300 40 0 500 R.T. mg/L Nota: se R.T. > 500,0 q8 = 32 0 40 80 12 0 16 0 200 O.D.% saturação Nota: se O.D.% saturação > 140, q9 = 47,0 Fonte: CETESB (2008). Figura 11. Curvas de qualidade das águas. O IQA é calculado pelo produtório ponderado das qualidades de água correspondentes aos parâmetros: temperatura da amostra, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total, resíduo total e turbidez. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 47 A seguinte fórmula é utilizada: onde: IQA : Índice de Qualidade das Águas, um número entre 0 e 100; qi: qualidade do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido da respectiva "curva média de variação de qualidade", em função de sua concentração ou medida; wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído em função da sua importância para a conformação global de qualidade, sendo que: em que: n: número de parâmetros que entram no cálculo do IQA. Para a variável temperatura, é levado em consideração o desvio da temperatura do corpo aquático provocado pelo despejo, ou seja, a diferença entre as temperaturas do corpo aquático a montante e a jusante do despejo, em ºC. Para a variável OD, leva-se em consideração o percentual da concentração medida em relação à concentração de saturação para a temperatura correspondente. A partir do cálculo efetuado, pode-se determinar a qualidade da água bruta que, indicada por um número entre 0 e 100, é classificada para abastecimento público de acordo com a Tabela 9. Tabela 9. Níveis de qualidade da água utilizados pela CETESB IQA Nível de qualidade da água 79 – 100 Ótima 51 – 79 Boa 36 – 51 Regular 19 – 36 Ruim 0 – 19 Péssima A título de exemplo, considere os resultados de uma análise de água mostrada na Tabela 10. De acordo com esses resultados, para o índice utilizado pela CETESB, o IQA seria de 48,7 e a qualidade da água “regular”. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 48 Tabela 10. Resultado hipotético para análise de água e cálculo de IQA. Parâmetro Coliformes termotolerantes Valor medido qi wi 500 25 0,15 0,12 (#/100mL) pH 7,3 91 DBO5 (mg/L) 8 40 0,10 Nitrogênio total (mg/L) 3 72 0,10 Fosfato total (mg/L) Desvio de temperatura (ºC) Turbidez (UT) 0,5 62 0,10 1 (26 – 25) 90 0,10 25 55 0,08 Resíduo total (mg/L) 600 32 0,08 Oxigênio dissolvido 47,6 (4,0/8,4) 35 0,17 (% concentração de saturação) Guia do profissional em treinamento – ReCESA 49 Poluição e autodepuração dos corpos d´água Salena Salena Tatiana Silva Athayde Gilson Barbosa Athayde Júnior André Bezerra dos Santos Em localidades onde os índices de coleta e tratamento de esgotos são ainda incipientes, como em boa parte das cidades brasileiras, grandes quantidades de esgotos podem atingir os corpos aquáticos receptores, originando alguns problemas decorrentes deste despejo. Essa poluição pode ser enquadrada em duas ordens: poluição orgânica e por organismos patogênicos. A primeira tem dois efeitos principais: a depleção de oxigênio dissolvido, que pode ser letal para a biota aeróbia do corpo receptor; além do posterior enriquecimento excessivo das águas com nutrientes, fenômeno conhecido como eutrofização. A segunda ordem de impactos relacionase com a proliferação de doenças infecciosas relacionadas com a água. Após receber a carga poluidora, o corpo aquático pode naturalmente se recuperar, processo este conhecido como autodepuração. A seguir, serão abordados os tópicos referentes à dinâmica de matéria orgânica e bactérias fecais em um corpo receptor (autodepuração), além da abordagem de alguns aspectos relacionados à eutrofização de corpos aquáticos. Autodepuração de corpos d´água A matéria orgânica, quando lançada em um corpo d’água, sofre processos naturais de diluição, sedimentação e estabilização bioquímica, que vão compor o fenômeno da autodepuração. O processo de autodepuração de um corpo aquático leva ao restabelecimento das condições iniciais de suas águas, pelo menos no que diz respeito à concentração de matéria orgânica, expressa em termos de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), além dos parâmetros oxigênio dissolvido (OD) e microrganismos patogênicos. No entanto, devido à formação de produtos e subprodutos resultantes da decomposição das substâncias orgânicas e inorgânicas, as características das águas são diferentes daquelas a montante do despejo, notadamente no que diz respeito à concentração de nutrientes, tais como nitrogênio e fósforo, principalmente se o lançamento for de origem doméstica. Isso contribui para a formação de um ecossistema diferenciado, resultante do aumento da concentração de algas, primeiro elo da cadeia alimentar e que provoca alterações nos elos subseqüentes. A partir de uma fonte de lançamentos de despejos em um corpo de águas limpas, pode-se subdividir o trecho a jusante em quatro zonas: zona de degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação e zona de águas limpas. Estas zonas de autodepuração são descritas, de acordo com Branco (1986), a seguir: Guia do profissional em treinamento – ReCESA 50 Zona de degradação: no ponto em que se dá o lançamento da carga orgânica, a água se torna imediatamente muito turva (de cor acinzentada), havendo formação de depósito de partículas no fundo. Nesse ponto, a decomposição ainda não tem início ou se dá em pequena escala, em que o OD normalmente está em concentração suficiente para permitir a vida de muitos seres de respiração aeróbia, que para este local afluem em busca de alimento. Subseqüentemente, aumenta-se a população de bactérias aeróbias que se alimentam da matéria orgânica, utilizando, para sua oxidação, o oxigênio dissolvido no meio, o qual começa a se reduzir. Convencionalmente, quando o oxigênio dissolvido atinge 40% de saturação termina esta zona e inicia-se a zona de decomposição ativa, descrita no próximo item. O teor de gás carbônico segue uma curva inversa a do oxigênio. Analogamente, o teor de compostos nitrogenados complexos é também elevado. Proteínas e outras formas de nitrogênio orgânico existem no ponto de lançamento, mas são logo oxidados, dando lugar ao nitrogênio amoniacal, cuja concentração cresce progressivamente. A DBO referente a este material orgânico em decomposição atinge o máximo no ponto onde se dá o lançamento, decrescendo em seguida. No lançamento de esgotos domésticos, bactérias coliformes, as quais são utilizadas como indicadores de contaminação fecal, estão presentes em altas densidades, podendo atingir uma concentração de dezenas de milhões de células em 100mL de amostra, sendo dependente da diluição do esgoto no corpo aquático. As bactérias de vida livre do esgoto, os fungos e alguns protozoários atingem números máximos nesta primeira zona. As algas são raramente detectadas devido à limitada penetração de luz, presença de substâncias tóxicas e pela falta de oxigênio durante a noite. Zona de decomposição ativa: esta zona existirá apenas no caso de fortes cargas de esgotos. Também se caracteriza por apresentar acentuada cor cinza, além de depósitos de lodo escuro no fundo, com desprendimento de gases mal cheirosos como o metano, gás sulfídrico, mercaptanas etc. Na porção mediana desta zona, o oxigênio dissolvido pode ser consumido por completo pelas bactérias e outros organismos aeróbios, instalando-se condições de anaerobiose em praticamente toda a massa d’água. Nestes pontos, desaparece a vida aeróbia, surgindo em seu lugar uma flora e fauna constituídas de organismos capazes de respiração intramolecular, o que dá origem ao desprendimento de gases mal cheirosos. O nitrogênio é encontrado em grande quantidade, ainda na forma orgânica, mas predomina a forma amoniacal, que pode iniciar a sua oxidação a nitrito. Depois de vencida a maior parte da DBO, o oxigênio dissolvido reaparece e, convencionalmente, quando atinge 40% de saturação inicia-se a zona seguinte. O número de bactérias coliformes diminui rapidamente ao longo desta zona, muitas vezes estando esta redução associada à presença de vírus bacteriófagos, mas também à existência de fatores tais como incidência solar, sedimentação de partículas que arrastam as bactérias para o fundo, floculação e adsorção, presença de oxigênio dissolvido, bem como a falta de nutrientes para bactérias de vida livre. Zona de recuperação: esta zona apresenta uma seqüência de estados inversos aos da zona de degradação, e vai até a região onde o teor inicial de oxigênio dissolvido característico das águas a montante do despejo é restabelecido. À medida que a DBO do sistema vai diminuindo, começa a haver um saldo de oxigênio dissolvido, que é constantemente introduzido no curso d’água pela atmosfera, através da superfície, ou por organismos fotossintetizantes. As águas já se apresentam muito mais claras e os depósitos que se sedimentam no fundo não desprendem mais gases mal cheirosos. Entre os compostos de nitrogênio, predominam as formas de nitrito e nitrato, mas ainda pode ser encontrada amônia. Assim como os compostos de nitrogênio, também os de fósforo, enxofre etc. são oxidados até se transformarem em substâncias estáveis como fosfatos e sulfatos. Esta é a zona de mineralização por excelência, o que condiciona uma fertilização do meio (eutrofização) e subseqüente maior desenvolvimento de organismos fotossintetizantes, que por sua vez constituem alimento para os animais microscópicos que habitam as águas. O número de bactérias é bastante reduzido, sendo esta redução acompanhada pelo aumento do número de protozoários que se alimentam das mesmas. Rotíferos e microcrustáceos têm um desenvolvimento máximo nessa zona. Zona de águas limpas: as águas atingem as concentrações normais existentes a montante do despejo, pelo menos no que diz respeito ao teor de oxigênio dissolvido, a DBO e aos indicadores bacteriológicos. Entretanto, em virtude da grande mineralização que se verifica na zona anterior, essas águas são muito mais férteis do que antes de receberem a poluição. Assim, a produção de algas é muito maior, podendo dar origem a fenômenos de floração, com todas as conseqüências que advêm da superpopulação por algas, como a supersaturação de oxigênio dissolvido. Predominam as formas completamente oxidadas e estáveis de compostos minerais como nitratos, fosfatos etc. Como há uma grande diversidade de seres, como grandes crustáceos de água doce, moluscos e vários peixes, pode-se inferir que houve o restabelecimento do ciclo biodinâmico do corpo aquático. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 51 Cinética de matéria orgânica e oxigênio dissolvido1 Após o consumo de oxigênio dissolvido do meio, seu déficit tende a ser compensado, posteriormente, devido a dois fenômenos: a reaeração, a partir do oxigênio atmosférico, e a reoxigenação, a partir da produção fotossintética dos organismos clorofilados que habitam a própria massa d’água. Uma película delgada da água, na superfície livre da mesma, mantém-se permanentemente rica em oxigênio dissolvido, mesmo submetida a altas cargas poluidoras. A difusão desse oxigênio para outras camadas depende do grau de turbulência da massa líquida. Este grau de turbulência é governado pela velocidade de escoamento da água, profundidade do corpo aquático, acidentes topográficos (corredeiras, cachoeiras etc.), ação dos ventos, movimentos de convecção etc. A reoxigenação fotossintética, por sua vez, depende da presença de seres clorofilados, da transparência das águas, da intensidade luminosa, da profundidade da água (BRANCO,1986). Por outro lado, a retirada de oxigênio dissolvido da água devida à oxidação bioquímica da matéria orgânica depende também de outros fatores, dentre os quais podem ser citados: a presença de bactérias aeróbias, temperatura, sedimentação do lodo orgânico, subprodutos da decomposição anaeróbia dos sedimentos. Streeter e Phelps (1925), baseados na hipótese de que, a qualquer instante, o déficit de saturação de oxigênio na água corresponde à resultante da soma dos efeitos da desoxigenação por decomposição anaeróbia da matéria orgânica e da oxigenação, como resultado da reaeração atmosférica, realizando-se de forma simultânea e independente uma da outra, chegaram à seguinte equação: dD = k1 L − k 2 D dt (1) A integração da Equação 1 resulta em: k1 L0 e− k1t − e− k 2t + D0 ⋅ e− k 2t k2 − k 2 ( D= ) (2) Onde: D: déficit de saturação de oxigênio dissolvido em determinado ponto; t: tempo de percurso entre dois pontos no curso d’água; k1: constante, chamada de coeficiente de desoxigenação; k2: constante, chamada de coeficiente de reaeração; L0: concentração inicial de DBO5; D0: déficit inicial de saturação de oxigênio dissolvido. O déficit máximo de oxigênio dissolvido (Dc) tem por valor: Dc = L0 e − k1tc f (3) Dc ocorre num ponto situado a jusante do lançamento, a uma distância cujo percurso corresponde ao chamado tempo crítico (tc). tc = D 1 ln f 1 − 0 ( f − 1) k1 ( f − 1) L0 (4) Onde: f = k2/k1, denominada por Fair (apud BRANCO, 1986) de coeficiente de autodepuração. Procedimentos para a obtenção das constantes k1 e k2 podem ser encontrados em Branco (1986). 1 Item adaptado de Branco (1986). Guia do profissional em treinamento – ReCESA 52 As Tabelas 11 e 12 apresentam alguns valores de k1 e k2, respectivamente, de acordo com a as características ou natureza do corpo aquático. Tabela 11. Valores típicos de k1 (base e, 20 ºC) Característica/natureza do corpo aquático k1 (dia-1) Rios com águas limpas 0,09 – 0,21 Efluente secundário 0,12 – 0,24 Efluente primário 030 – 0,40 Esgoto de baixa concentração 0,30 – 0,40 Esgoto de alta concentração 0,35 – 0,45 Fonte: VON SPERLING (2005). Tabela 12. Valores típicos de k2 (base e, 20 ºC) Característica/natureza do corpo aquático aquático Corredeiras e quedas d’água k2 (dia-1) Profundo Raso >1,15 >1,61 Rios rápidos 0,69 1,15 Grandes rios com velocidade normal 0,46 0,69 Grandes rios com velocidade baixa 0,37 0,46 Rios vagarosos e grandes lagos 0,23 0,37 Fonte: VON SPERLING (2005). Cinética de decaimento bacteriano Os coliformes e outros organismos de origem fecal encontram condições favoráveis para seu crescimento e reprodução no trato intestinal humano. Quando esses organismos entram em contato com as condições presentes nos corpos d água, tendem a decair em número. Vários fatores contribuem para este decaimento bacteriano, tais como: luz solar, temperatura da água, adsorção, floculação, sedimentação, pH, predação, competição, entre outros. O decaimento bacteriano é geralmente estimado pela lei de Chick, que considera que o decaimento bacteriano é tanto maior quanto maior for a concentração de bactérias no meio aquático (equação 5). N = N 0 e − kbt (5) Onde N: número de bactérias num dado instante t; N0: número de bactérias num instante inicial t0; kb: taxa de decaimento bacteriano; t: tempo decorrido. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 53 Existem evidências de que kb não é uma constante, mas sim decresce exponencialmente com o tempo (ATHAYDE JR. e OUTROS, 2002). Nesse caso, a equação de decaimento bacteriano pode ser reescrita na forma: N = N 0e k bo − αt − α 1−e ( ) (6) Onde N: número de bactérias num dado instante t; N0: número de bactérias num instante inicial t0; kbo: taxa de decaimento bacteriano no instante t0; α: taxa com que kb decresce; t: tempo decorrido. A equação 6 tende a fornecer valores mais precisos que a equação 5 para a estimativa do número de bactérias. No entanto, os valores usuais de kbo e α ainda não são conhecidos para a maioria das situações, diferentemente do que ocorre para os valores de kb. Eutrofização O termo eutrofização vem do grego ‘eu’, que significa bom, verdadeiro e ‘trophain’, nutrir. Assim, eutrofizar significa nutrir bem. A eutrofização é o processo que resulta do aumento de nutrientes essenciais como nitrogênio, fósforo, potássio e/ou matéria orgânica em corpos aquáticos (rios, lagos e represas). O aumento desses nutrientes ocasiona a proliferação excessiva do fitoplâncton, dando forte coloração verde à água, e de plantas aquáticas superiores que, ao entrarem em processo de decomposição, contribuem para o consumo de oxigênio dissolvido da água, podendo resultar na morte da fauna aeróbia do meio. A eutrofização pode ser natural ou ser conseqüência de atividades humanas, situação em que é denominada de eutrofização artificial, acelerada ou antrópica. Quando a origem é natural, o corpo aquático torna-se eutrófico muito lentamente e o ecossistema mantém-se em equilíbrio. Quando a eutrofização é artificial, o processo é geralmente mais rápido, os ciclos biológicos e químicos podem ser interrompidos e, muitas vezes, o sistema progride para um estado essencialmente morto. Existem duas causas principais da eutrofização artificial: uso de fertilizantes na agricultura e lançamento de esgotos in natura no meio aquático. Para tornar a agricultura mais eficiente, são adicionados ao solo fertilizantes, que são produtos com elevados teores dos nutrientes nitrogênio e fósforo. Devido ao escoamento superficial, esses nutrientes acabam atingindo um Guia do profissional em treinamento – ReCESA 54 corpo d’água, poluindo-o. Paralelamente, os esgotos, domésticos ou industriais, constituem a principal fonte de eutrofização dos corpos aquáticos, devido principalmente ao alto teor de N e P presentes nas fezes, urina, restos alimentares e detergentes. A Tabela 13 apresenta o nível trófico de represas segundo a concentração de fósforo total. Tabela 13. Nível trófico do corpo aquático segundo a concentração de fósforo total Nível trófico Concentração de fósforo total (mg/L) Ultraoligotrófico < 0,005 Oligotrófico < 0,01 – 0,02 Mesotrófico 0,01 – 0,05 Eutrófico 0,025 – 0,1 Hipereutrófico > 0,1 Fonte: von Sperling (2005). O efeito da eutrofização artificial manifesta-se com a quebra do equilíbrio ecológico, pois passa a haver mais produção de matéria orgânica do que o sistema é capaz de decompor. As principais alterações decorrentes da eutrofização dizem respeito, conforme von Sperling (2005), a: a) Problemas estéticos e recreacionais Diminuição do uso da água para recreação, balneabilidade e redução geral na atração turística devido a: freqüentes florações das águas; crescimento excessivo da vegetação; distúrbios com mosquitos e insetos; eventuais mortandades de peixes; eventuais maus odores. b) Condições anaeróbias no fundo do corpo d’água O aumento da produtividade do corpo d’água causa uma elevação da concentração de bactérias heterotróficas, que se alimentam da matéria orgânica das algas e de outros microrganismos mortos, consumindo OD do meio líquido. No fundo do corpo d’água predominam condições anaeróbias, devido à sedimentação da matéria orgânica e à reduzida penetração do oxigênio a essas profundidades, bem como à ausência de fotossíntese (ausência de luz). Com a anaerobiose, predominam condições redutoras, com Figura 10. Açude Velho em Campina Grande – PB, eutrofizado. compostos e elementos no estado reduzido. c) Eventuais condições anaeróbias no corpo d’água como um todo Dependendo do grau de crescimento bacteriano, pode ocorrer, em períodos de mistura total da massa líquida (inversão térmica) ou de ausência de fotossíntese (período noturno), mortandade de peixes e reintrodução dos compostos reduzidos em toda a massa líquida, com grande deterioração da qualidade da água. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 55 d) Eventuais mortandades de peixes Podem ocorrer em função de: anaerobiose (já comentado acima) toxicidade da amônia. Em condições de pH elevado (freqüentes durante os períodos de fotossíntese), a amônia apresenta-se em grande parte na forma livre (NH3), tóxica aos peixes, ao invés de na forma ionizada (NH4+), não tóxica. e) Maior dificuldade e elevação nos custos de tratamento da água A presença excessiva de algas afeta substancialmente o tratamento da água captada no lago ou represa, devido à necessidade de: remoção da própria alga remoção de cor remoção de sabor e odor maior consumo de produtos químicos lavagens mais freqüentes dos filtros f) Problemas com o abastecimento de água industrial Elevação dos custos de abastecimento de água industrial devido a razões similares às anteriores, e também aos depósitos de algas nas águas de resfriamento. g) Toxicidade das algas Rejeição da água para abastecimento humano e animal e morte de espécies aquáticas, em razão da presença de secreções tóxicas de certas algas, dentre as quais algumas são cancerígenas. Essas toxinas não são removidas pelo tratamento convencional da água e algumas resistem até à fervura, representando um sério problema de saúde pública. h) Modificações na qualidade e quantidade de peixes de valor comercial i) Redução na navegação e capacidade de transporte O crescimento excessivo de macrófitas enraizadas interfere na navegação, aeração e capacidade de transporte do corpo d’água. j) Desaparecimento gradual do lago como um todo Em decorrência da eutrofização e do assoreamento, aumenta a acumulação de matérias e vegetação, e o lago se torna cada vez mais raso, até vir a desaparecer. Esta tendência de desaparecimento de lagos (conversão a brejos ou a áreas pantanosas) é irreversível, porém se dá de forma extremamente lenta. Com a interferência do homem, o processo pode se acelerar abruptamente. Caso não haja um controle na fonte e/ou dragagem do material sedimentado, o corpo d’água pode desaparecer relativamente rápido (VON SPERLING, 2005, p. 154-155). Guia do profissional em treinamento – ReCESA 56 Legislação ambiental e padrões de lançamento de águas residuárias André Bezerra dos Santos Gilson Barbosa Athayde Júnior No Brasil, a legislação aplicada às questões ambientais e de saúde é bem ampla. Na Constituição Federal de 1988, o Art. 225 diz que “todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. No mesmo artigo, em seus § 1º e 3º, encontra-se, respectivamente: Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e propor o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; [...] VII. proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da Lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade; [...] As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados (BRASIL, 1988, s.p.). A Lei no. 9.605/1998 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e, em seu art. 54, trata da poluição e outros crimes ambientais, prevendo pena de reclusão de um a quatro anos e multa para aquele que “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora”. Se o crime for culposo, a pena de reclusão é de seis meses a um ano e multa. Essa lei prevê, ainda, que aquele que “causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade” poderá receber pena de reclusão de um a cinco anos e multa. A Lei no. 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que tem como órgão consultivo e deliberativo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). A finalidade do CONAMA é assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo do SISNAMA diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões Guia do profissional em treinamento – ReCESA 57 compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. A Lei Federal no. 9.433/1997, por sua vez, instituiu a política nacional de recursos hídricos. Dentre os instrumentos de gestão da política nacional de recursos hídricos, tem-se o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes. Mais recentemente, foi promulgada a Lei Federal no. 11.445/2007, que trata das diretrizes nacionais e da política nacional de saneamento básico, a qual preconiza que: os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com base nos seguintes princípios fundamentais: [...] III – abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente (BRASIL, 2007, s.p.). Dentre as Resoluções do CONAMA, destacam-se as relacionadas com qualidade da água e controle da poluição: a) Resolução CONAMA no. 357/2005, que trata, dentre outros aspectos, do enquadramento dos corpos de água e dos padrões de lançamento de efluentes, a qual veio em substituição a CONAMA no 20/1986. Os principais aspectos dessa resolução relacionados com qualidade da água e controle da poluição serão explanados nos subitens “Padrões de qualidade das águas superficiais no Brasil” e “Padrão para lançamento de efluentes”. b) Resolução CONAMA no. 274/2000, que trata dos padrões de qualidade da água para fins de balneabilidade e cujos principais diretrizes são resumidas no subitem “Padrões de balneabilidade”. Cabe ainda observância à legislação estadual e municipal, bem como a tratados internacionais ou similares, salientado-se que tais normas ou recomendações podem variar objetivando atender às peculiaridades locais. Nesse quesito, no que se refere a padrões de efluentes, destacam-se os preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e recentemente pelo Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB), ambos tratando da reutilização de esgotos tratados para fins agrícolas, assunto abordado no subitem “Padrões microbiológicos de esgotos tratados para uso agrícola”. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 58 Padrões de qualidade das águas superficiais no Brasil No Brasil, a Resolução CONAMA no. 357/2005 dividiu as águas do território nacional em águas doces (salinidade < 0,05%), salobras (salinidade entre 0,05% e 3,0%) e salinas (salinidade > 3%). Em função dos usos previstos, foram criadas 13 classes, as quais são apresentadas no Quadro 3. Quadro 3. Usos preponderantes nas classes de água doce, salina e salobra. Doces Uso Abastecimento doméstico Preservação natural do das aquáticas 1 2 Salinas 3 4 Esp. 1 2 Salobras 3 Esp. 1 2 3 equilíbrio comunidades e Esp. ambientes aquáticos Proteção das comunidades aquáticas Recreação de contato primário Irrigação Aqüicultura Pesca Recreação de contato secundário Dessedentação de animais Navegação Harmonia paisagística Fonte: BRASIL, 2005. Os padrões de qualidade das águas determinados na Resolução CONAMA no 357/2005, no seu Capítulo III, estabelecem limites para cada substância em cada classe. Os valores dos principais parâmetros de qualidade de água são mostrados na Tabela 14. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 59 Tabela 14. Padrões de lançamento no corpo receptor segundo a Resolução Conama no 357/2005. Parâmetro Doces Esp 1 2 Salinas 3 4 Esp 1 Salobras 2 3 Esp 1 2 3 Materiais flutuantes - Aus. Aus. Aus. Aus. - VA VA VA - VA VA VA Óleos e graxas - Aus. Aus. Aus. Irides. - VA VA Irides. - VA VA Irides. - Aus. Aus. Aus. - VA VA VA - VA VA VA - Aus. Aus. Aus. - - VA VA VA - VA VA VA - Aus. Aus. Aus. - - VA VA VA - VA VA VA NE - 1000 2500 4000 - 1000 2500 4000 Substâncias que comuniquem gosto ou odor Corantes provenientes de fontes antrópicas Resíduos sólidos objetáveis Escherichia coli ou coliformes termotolerantes Não objet. 1000a - 200 1000 2500b 4000c (NMP/100mL) DBO5 (mgO2/L) - <3 <5 < 10 - - - - - - - - - COT (mg/L) - - - - - - <3 <5 < 10 - <3 <5 < 10 OD (mgO2/L) - >6 >5 >4 >2 - >6 >5 >4 - >5 >4 >3 Turbidez (UNT) - 40 100 100 - - - - - - - - - Cor verdadeira (mg Pt/L) - 75 75 - - - - - - - - - pH - 6-9 6-9 6-9 6-9 - 6,5-8,5 6,5-8,5 6,5-8,5 - 6,5-8,5 6,5-8,5 5,0-9,0 Clorofila a (µg/L) - 10 30 60 - - - - - - - - - Fonte: BRASIL, 2005. Aus. = ausentes Irides. = iridescências Não objet. = não objetáveis VA = virtualmente ausentes; a: dessedentação de animais; b: recreação de contato secundário; c: demais usos. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 60 Padrão para lançamento de efluentes Segundo a Resolução CONAMA no 357/2005, em seu Capítulo IV, os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos na supracitada resolução e em outras normas aplicáveis. São condições obrigatórias para lançamento: Art. 33. Na zona de mistura de efluentes, o órgão ambiental competente poderá autorizar, levando em conta o tipo de substância, valores em desacordo com os estabelecidos para a respectiva classe de enquadramento, desde que não comprometam os usos previstos para o corpo de água. Art. 34. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água desde que obedeçam às condições e padrões previstos neste artigo, resguardadas outras exigências cabíveis: § 1º O efluente não deverá causar ou possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos organismos aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios de toxicidade estabelecidos pelo órgão ambiental competente. § 2º Os critérios de toxicidade previstos no § 1o devem se basear em resultados de ensaios ecotoxicológicos padronizados, utilizando organismos aquáticos, e realizados no efluente. § 3º Nos corpos de água em que as condições e padrões de qualidade previstos nesta Resolução não incluam restrições de toxicidade a organismos aquáticos, não se aplicam os parágrafos anteriores. § 4º Condições de lançamento de efluentes: I - pH entre 5 a 9; II - temperatura: inferior a 40ºC, sendo que a variação de temperatura do corpo receptor não deverá exceder a 3ºC na zona de mistura; III - materiais sedimentáveis: até 1mL/L em teste de 1 hora em cone Imhoff. Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente ausentes; IV - regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vezes a vazão média do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela autoridade competente; V - óleos e graxas: 1 - óleos minerais: até 20mg/L; 2- óleos vegetais e gorduras animais: até 50mg/L; e VI - ausência de materiais flutuantes. Art. 35. Sem prejuízo do disposto no inciso I, do § 1o do art. 24, desta Resolução, o órgão ambiental competente poderá, quando a vazão do corpo de água estiver abaixo da vazão de referência, estabelecer restrições e medidas adicionais, de caráter excepcional e temporário, aos lançamentos de efluentes que possam, dentre outras conseqüências: I - acarretar efeitos tóxicos agudos em organismos aquáticos ou II - inviabilizar o abastecimento das populações. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 61 Vazão de referência: vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH). Art. 36. Além dos requisitos previstos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis, os efluentes provenientes de serviços de saúde e estabelecimentos nos quais haja despejos infectados com microrganismos patogênicos, só poderão ser lançados após tratamento especial. Art. 37. Para o lançamento de efluentes tratados no leito seco de corpos de água intermitentes, o órgão ambiental competente definirá, ouvido o órgão gestor de recursos hídricos, condições especiais (BRASIL, 2005, s.p.). Os valores máximos permissíveis para lançamento em corpos aquáticos de alguns compostos químicos, segundo a resolução CONAMA no. 357/05, são mostrados na Tabela 15. Tabela 15. Valor máximo permissível de alguns compostos químicos segundo a Resolução CONAMA no. 357/05. Valor Máximo Parâmetro Valor Máximo Permissível CONAMA no Parâmetro Permissível Permissível CONAMA no 357/2005 357/2005 Amônia total (mg/L) 20,0 Arsênio total (mg/L) 0,5 Fluoreto total (mg/L) Manganês (mg/L) Bário (mg/L) 5,0 Mercúrio total (mg/L) Boro (mg/L) 5,0 Níquel total (mg/L) 2,0 Cádmio total (mg/L) 0,2 Prata total (mg/L) 0,1 0,3 Chumbo total (mg/L) 0,5 Selênio total (mg/L) Cianeto total (mg/L) 0,2 Sulfato (mg/L) Cobre total (mg/L) 1,0 Sulfeto (mg/L) Clorofórmio (mg/L) 1,0 Tetracloreto 10,0 1,0 0,01 1,0 de 1,0 carbono (mg/L) Cromo total (mg/L) 0,5 Tricloroeteno (mg/L) 1,0 Dicloroeteno (mg/L) 1,0 Zinco total (mg/L) 5,0 Estanho total (mg/L) 4,0 Materiais 1 Sedimentáveis (mL/L) Ferro total (mg/L) Fenóis (mg/L) 15,0 0,5 pH 5-9 Temperatura (ºC) < 40 Regime de lançamento qmax/qmin < 1,5 Os padrões de qualidade no corpo receptor e de lançamento de efluentes estão, de certa forma, inter-relacionados. O real objetivo de ambos é a preservação da qualidade no corpo d’água. No entanto, os padrões de lançamento existem apenas por uma questão prática, já que é difícil se manter o controle efetivo das fontes poluidoras com base apenas na qualidade do corpo receptor. O inter-relacionamento entre os dois padrões se dá no sentido de que deverá ser verificado o atendimento aos padrões de lançamento e do corpo receptor. Devem ser avaliadas as seguintes situações hipotéticas: Guia do profissional em treinamento – ReCESA 62 Caso o efluente satisfaça os padrões de lançamento, mas não satisfaça os padrões do corpo receptor, as características de lançamento deverão ser tais que, necessariamente, atendam ao padrão do corpo receptor. Em outras palavras, nestas condições, o lançamento deverá ter características mais restritivas do que as expressas pelo padrão de lançamento usual. Essa situação pode ocorrer no caso de corpos receptores com baixa capacidade de assimilação e diluição. Caso o efluente não satisfaça os padrões de lançamento, mas satisfaça os padrões do corpo receptor, o órgão ambiental poderá autorizar lançamentos com valores acima dos padrões de lançamento, desde que estudos ambientais demonstrem que as características do corpo receptor estarão dentro dos padrões para sua respectiva classe. Essa situação pode ocorrer no caso de corpos receptores com boa capacidade de assimilação e diluição. Padrões de balneabilidade Os padrões microbiológicos para corpos d’água doce são funções do uso da água e da classe em que se acha enquadrado o corpo hídrico, definidos na resolução CONAMA no. 357/2005 (BRASIL, 2005). Apesar de recente, essa resolução manteve os limites definidos na resolução CONAMA no. 274/2000 (BRASIL, 2000), que prevê limites para coliformes termotolerantes, coliformes totais, estreptococos e Escherichia coli. O Quadro 4 apresenta os padrões de balneabilidade fixados na supracitada resolução. Quadro 4. Padrões de balneabilidade definidos pela Resolução Conama no 274/2000. Balneabilidade Balneabilidade / Padrões para o corpo de água categoria Excelente Própria Muito boa Satisfatória Máximo de 250 CF/100 mL ou 200 E.coli/100mL ou 25 enterococos/100mL, em 80% ou mais das amostras das cinco semanas anteriores; Máximo de 500 CF/100 mL ou 400 E.coli/100mL ou 50 enterococos/100mL, em 80% ou mais das amostras das cinco semanas anteriores; Máximo de 1.000 CF/100 mL ou 800 E.coli/100mL ou 100 enterococos/100mL, em 80% ou mais das amostras das cinco semanas anteriores. a) não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias; b) valor obtido na última amostragem for superior a 2.500 CF (termotolerantes) ou 2.000 E.coli ou 400 enterococos por 100 mL; c) incidência elevada ou anormal, na região, de enfermidades transmissíveis por via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias; d) presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos Imprópria sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação; e) pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais; f) floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não oferecem riscos à saúde humana; g) outros fatores que contra-indiquem, temporária ou permanentemente, o exercício da recreação de contato primário. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 63 Padrões microbiológicos de esgotos tratados para uso agrícola A água para irrigação deve obedecer a determinados critérios que visam à preservação da qualidade das culturas, dos níveis de produção, do solo agrícola e à proteção da saúde do consumidor. A Organização Mundial da Saúde, em 1989, estabeleceu diretrizes para o uso de esgotos na agricultura, conforme indicado no Quadro 5 (WHO, 1989). Quadro 5. Diretrizes microbiológicas para uso de esgotos na agricultura (WHO, 1989). Nematóides Cat. Cat. A Condições do reuso Grupos de risco Coliformes intestinais 1 fecais (no. (nº./100mL) ovos/litro)2 3 ≤1 Sistema de tratamento recomendado para atingir a qualidade microbiológica Irrigação de culturas a Operários, ≤ 1.000 serem ingeridas cruas, consumidores e estabilização em campos esportivos, público série ou parques públicos4 Lagoas de tratamento equivalente B Irrigação de cereais, Operários ≤1 culturas industriais, Não Retenção em aplicável lagoas de forragens, pastos e estabilização por 8 árvores5 a 10 dias ou remoção equivalente de helmintos e coliformes fecais C Irrigação localizada de Nenhum culturas da categoria Não Não Pré-tratamento aplicável aplicável requerido pela B, se não ocorrer técnica de exposição de irrigação aplicada, trabalhadores e do mas não menos do público que tratamento primário (1)- Ascaris, Trichuris, Necator americans e Ancilostomus duodenalis; (2)- Média aritmética durante o período de irrigação; (3)Média geométrica durante o período de irrigação; (4)- Um valor diretriz mais restritivo (200 coliformes fecais por 100 mL) é apropriado para gramados públicos, tais como os de hotéis, com os quais o público tenha contato direto.; (5)- No caso de árvores frutíferas, a irrigação deve cessar duas semanas antes dos frutos serem colhidos, e frutos não devem ser colhidos do chão. Irrigação por sistemas de aspersores não deve ser utilizada. As diretrizes da Organização Mundial de Saúde foram revistas recentemente e podem ser vistas em WHO (2006). De acordo com WHO (2006), é necessário atualizar as diretrizes para levar em consideração evidências científicas sobre patógenos, produtos químicos e outros fatores, incluindo as mudanças nas características da população, as alterações nas práticas de saneamento, a existência de melhores métodos para avaliação de riscos, os problemas sociais e de equidade e as práticas sócio-culturais. Segundo a OMS, há a necessidade de proceder a uma revisão na avaliação de riscos e nos dados epidemiológicos. Essa nova visão envolve a avaliação de riscos à saúde prioritariamente à Guia do profissional em treinamento – ReCESA 64 colocação de objetivos a serem alcançados para a saúde, definindo ações básicas de controle e avaliando os impactos dessas medidas nas condições da saúde pública. Essa nova forma é flexível e permite aos países levar em consideração os riscos associados à saúde que podem resultar da exposição a microrganismos pela água de beber ou por contato com águas na recreação ou no trabalho. É importante que os riscos à saúde resultantes do uso de esgotos sanitários na agricultura sejam considerados no contexto da situação do nível geral de doenças dentro de uma dada população. A meta básica de saúde define um nível de proteção à saúde que é relevante para cada risco. Uma meta para um nível básico de saúde pode basear-se em um padrão métrico de doença, tal com o AVAI - anos de vida ajustados para a incapacidade, por exemplo, 10-6 AVAIs. Os AVAIs tentam medir o tempo perdido por causa da incapacidade ou morte resultante de uma doença, comparado com uma longa vida livre de incapacidade na ausência de doença. Os AVAIs são calculados somando os anos de vida perdidos por morte prematura aos anos vividos com alguma incapacidade. Anos de vida perdidos são calculados a partir de taxas de idade específica de mortalidade e os valores de esperança de vida de uma dada população. Anos vividos com uma incapacidade são calculados pelo número de casos multiplicado pela duração média da doença e por um fator de gravidade variando de 1 (morte) a zero (saúde perfeita) baseado na doença (ex. diarréia de veiculação hídrica tem um fator de gravidade variando de 0,09 a 0,12, dependendo da idade do grupo). Os AVAIs constituem uma ferramenta importante para comparar efeitos de doenças, porque levam em conta não somente os efeitos agudos na saúde mas também os efeitos retardados e crônicos – incluindo morbidade e mortalidade. A OMS, em suas últimas diretrizes, estabeleceu que a meta básica de saúde adotada corresponde a uma carga adicional de doenças de < 10-6 AVAI por pessoa por ano. Este valor significa que cada pessoa perderá, por ano, o equivalente a 10-6 anos de vida, ou de boa qualidade de vida, causados por incapacidade. O AVAI leva em conta a perda de anos, tanto por perda de qualidade de vida (incapacidade - perda parcial de anos), quanto por morte prematura (perda integral dos anos) causado pela doença. Por exemplo, durante 80 anos de expectativa de vida, uma pessoa perderia 80x10-6 anos devidos à perda de qualidade de vida ou à morte prematura. Observando em termos de uma população, por exemplo, para 100.000 habitantes, esta doença causaria uma perda de 100.000x10-6 = 0,1 ano em cada ano por pessoa. A Tabela 16 traz as metas para alcançar o nível básico de saúde para a agricultura. As metas para o nível básico de saúde para rotavírus baseiam-se na Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico (AQRM), indicando a redução de patógenos, em log10, requerida para alcançar 10-6 AVAI, para diferentes formas de exposição. Os riscos para transmissão de rotavírus foram sempre estimados por serem superiores aos riscos associados com infecções por Campylobacter ou Cryptosporidium. Para desenvolver metas básicas de saúde para infecções por helmintos, foi usada a evidência epidemiológica. Essa evidência demonstrou que o excesso de infecções por helmintos (para ambos, consumidores e trabalhadores) não podia ser medida quando esgotos sanitários com ≤ 1 ovo de helmintos eram usados em irrigação. O nível de proteção à saúde pode ser alcançado Guia do profissional em treinamento – ReCESA 65 pelo tratamento dos esgotos, ou por uma combinação de tratamento mais a lavagem do produto para proteger os consumidores de alimentos crus; ou pelo tratamento do esgoto e o uso de equipamentos de proteção individual (botas, luvas) para proteger os trabalhadores. Quando crianças com menos de 15 anos de idade são expostas no campo, tanto medidas adicionais de tratamento de esgotos (para alcançar uma qualidade no efluente de ≤ 0,1 ovo de helmintos por litro) como a adoção de outras medidas de proteção (ex. tratamento antihelmintos) devem ser consideradas. Tabela 16. Metas básicas de saúde para o uso de esgotos domésticos na agricultura. Meta para nível nível básico Cenário de exposição de saúde (AVAIa por Redução (Log10) de patógenos pessoa por ano) Irrigação irrestrita ≤ Número de ovos de helmintos por litro 10-6 b Alface (folha) 6 ≤ 1c,d Cebola (raiz) 7 ≤ 1c,d 3 ≤ 1c,d 4 ≤ 1c,d Culturas elevadas 2 Sem Culturas rentes ao solo 4 Irrigação restrita ≤ 10-6 b Altamente mecanizada Atividade humana intensa Irrigação localizada (gotejamento) ≤ 10-6 b recomendação ≤ 1e Fonte: WHO, 2006. a AVAI -Anos de vida ajustados para a incapacidade. Tenta medir o tempo perdido por causa da incapacidade ou morte resultante de uma doença, comparado com uma longa vida livre de incapacidade na ausência de doença. b Redução de rotavírus. O nível de saúde básica pode ser alcançado, para a irrigação irrestrita e localizada, por uma redução de 6-7 unidades log de patógenos (obtida por uma combinação de tratamento do esgoto e outras medidas de proteção à saúde); para irrigação restrita, é alcançada por uma redução de 2-3 unidades log de patógenos. c Quando crianças com menos de 15 anos são expostas, medidas adicionais de proteção à saúde devem ser adotadas (ex. tratamento para alcançar ≤ 0,1 ovo de helminto por litro no efluente, equipamentos de proteção como botas e luvas e tratamento com remédios). d Uma média aritmética deve ser determinada durante o período de irrigação. O valor de ≤ 1 ovo de helminto por litro deve ser obtido em pelo menos 90% das amostras, no sentido de permitir ocasionais amostras com valores altos (isto é, com > 10 ovos por litro). Para alguns processos de tratamento de esgotos sanitários (ex. lagoas de estabilização), o tempo de detenção hidráulica pode ser usado como um meio para assegurar conformidade com ≤ 1 ovo de helminto por litro. e Nenhuma cultura pode ser apanhada do solo. Redução de vírus, bactérias e protozoários protozoários patogênicos Para alcançar a meta básica de saúde desejada, medidas de proteção à saúde devem ser efetuadas. Geralmente, o nível básico de saúde pode ser alcançado pela combinação de medidas de proteção a serem desenvolvidas em diferentes níveis do sistema. Uma redução de patógenos de 6-7 log pode ser alcançada pela aplicação de medidas de proteção à saúde, cada qual tendo sua unidade log de redução ou faixa de redução, como mostra a Tabela 16. Uma combinação dessas medidas é usada, de tal forma que para todas as combinações a soma das reduções individuais de unidades log de cada medida de proteção da saúde adotada é igual ao total requerido de redução de 6-7 unidades log. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 66 Redução de helmintos As metas para redução microbiológica para proteção contra infecção por helmintos devem basear-se nos resultados epidemiológicos e em estudos microbiológicos. É a intensidade da infecção, muito mais que a simples infecção, que está associada à incapacidade resultante de infecções por helmintos. O valor de ≤ 1 ovo de helmintos por litro de esgoto doméstico tratado é recomendado para a irrigação irrestrita. Estudos epidemiológicos, no entanto, indicam que alcançar ≤ 1 ovo de helmintos por litro pode não ser suficiente para proteção em situações onde as condições favorecem a sobrevivência dos ovos (ex. temperatura, condições de umidade do solo), permitindo a acumulação de ovos no solo e nas culturas, especialmente onde crianças com menos de 15 anos consomem alimentos não cozidos levados do campo pelos trabalhadores. Assim, quando crianças com menos de 15 anos de idade são expostas a consumo de legumes que tenham sido irrigados com esgoto contendo ≤ 1 ovo de helmintos por litro, devem ser adotadas medidas adicionais de proteção sanitária, que podem incluir: tratamento com antihelmintos mediante campanhas massivas de uso de remédios ou campanhas de controle nas escolas; promoção da lavagem dos legumes com uma fraca solução detergente antes do uso. Alternativamente, os esgotos podem ser tratados até alcançar o nível de ≤ 0,1 ovo de helmintos por litro. O tratamento necessário para reduzir os ovos de helmintos para alcançar o nível de ≤ 1 ovo por litro depende do número de ovos no esgoto sanitário bruto. Por exemplo, se existem 103 ovos por litro no esgoto bruto, é necessária uma redução de 3 unidades log. Se existem 102, é necessária uma redução de 2 unidades log; e se há 10 ovos por litro, a redução necessária é de 1 unidade log. Se o número de ovos de helmintos no esgoto bruto é ≤ 1 por litro, então nenhuma medida adicional de proteção é requerida (esta é uma situação típica de muitos países industrializados). Para a irrigação restrita, também é recomendado o nível de ≤ 1 ovo de helmintos por litro, com as mesmas observações feitas para irrigação irrestrita, para proteção de crianças com menos de 15 anos de idade. Produtos químicos Para definir limites numéricos para concentrações máximas toleráveis de poluentes em solos irrigados com esgoto, deve-se estabelecer a ingestão humana diária aceitável (ADI – Acceptable daily intake) para um determinado poluente. Devem ser considerados os diversos caminhos seguidos pelos poluentes até alcançar o ser humano, após a aplicação de esgotos no solo. A Organização Mundial de Saúde (WHO, 2006) considera, de forma simplificada, duas rotas para os poluentes: (a) a transferência de poluentes pela cadeia alimentar via esgoto → solo → planta → ser humano; (b) ingestão dos poluentes pelo consumo de grãos, legumes, raízes, culturas tipo raízes e tubérculos, e frutas em quantidades de aproximadamente 75% dos alimentos consumidos diariamente por um adulto. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 67 As diretrizes adotadas pelo PROSAB O Programa de Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB) elaborou diretrizes para o uso de esgotos sanitários na agricultura e na piscicultura (Dos SANTOS, 2006). O Quadro 6 contém as diretrizes para o uso agrícola de esgotos sanitários. Quadro 6. Diretrizes do PROSAB para uso agrícola de esgotos sanitários. Categoria Irrigação irrestrita CTer 100 mL-1 (3) ≤ 1 x 103 Ovos de helmintos Observações L-1 (4) ≤1 ≤ 1 x 104 CTer 100 mL-1 no caso de irrigação por gotejamento de culturas que (1) se desenvolvem distantes do nível do solo ou técnicas hidropônicas em que o contato com a parte comestível da planta seja minimizado. Irrigação ≤ 1 x 104 restrita (2) ≤1 ≤ 1 x 105 CTer 100 mL-1 no caso da existência de barreiras proteção do trabalhador (5). adicionais de É facultado o uso de efluentes (primários e secundários) de técnicas de tratamento com reduzida capacidade de remoção de patógenos, desde que subsuperficial associado à irrigação (6). Fonte: Dos SANTOS, 2006. (a) Para uso agrícola do esgoto tratado não há restrição de DBO, DQO e SST, sendo as concentrações efluentes uma conseqüência das técnicas de tratamento compatíveis coma a qualidade microbiológica estipulada. Todavia, efluentes com concentrações elevadas desses parâmetros podem favorecer a formação de biofilmes e o entupimento de sistemas de irrigação; (b) O padrão de qualidade de efluentes expresso apenas em termos de coliformes termotolerantes (CTer) e ovos de helmintos aplicam-se ao emprego de sistemas de tratamento por lagoas. Nesses sistemas a remoção de cistos de protozoárias é indicada pela remoção de ovos de helmintos. No caso de filtração terciária a turbidez deve ser utilizada como parâmetro indicador da remoção de protozoários. Para a irrigação irrestrita recomenda-se um padrão de turbidez ≤ 5 uT. Além disso, em sistemas que incluam a desinfecção deve-se recorrer aos parâmetros de controle da desinfecção (residual desinfetante e tempo de contato) necessários ao alcance do padrão estipulado para coliformes termotolerantes. 1) Irrigação superficial ou por aspersão de qualquer cultura, inclusive culturas alimentícias consumidas cruas. Inclui também a hidroponia; 2) Irrigação superficial ou por aspersão de qualquer cultura não ingerida crua, inclui culturas alimentícias e não alimentícias, forrageiras, pastagens e árvores. Inclui também a hidroponia; 3) Coliformes termotolerantes (CTer); média geométrica durante o período de irrigação, alternativa e preferencialmente pode-se determinar E. coli.; 4) Nematóides intestinais humanos; média aritmética durante o período de irrigação; 5) Barreiras adicionais de proteção encontradas em agricultura de elevado nível tecnológico, incluindo o emprego de irrigação localizada e equipamentos de proteção individual. Exclui-se dessa nota a irrigação de pastagens e forrageiras destinadas à alimentação animal; 6) Neste caso não se aplicam os limites estipulados de coliformes e ovos de helmintos, sendo a qualidade do efluente conseqüência das técnicas de tratamento empregadas. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 68 Controle de poluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamento André Bezerra dos Santos Gilson Barbosa Athayde Júnior Operações unitárias Várias operações unitárias podem estar presentes nas diversas concepções de estações de tratamento de esgotos, as quais objetivam a remoção de compostos ou redução das concentrações a níveis aceitáveis. No quadro a seguir, são abordadas algumas dessas operações. Quadro 7. Principais operações unitárias do tratamento de esgotos. Operação Unitária Descrição Exemplo Gradeamento Remoção do material que fica retido nas grades. Grade de barras, peneiras etc. Sedimentação Retirada do material pela ação da força da gravidade. Retirada de areia nos desarenadores, alguns sólidos em suspensão nos decantadores primários etc. Pode ser uma etapa posterior ao processo de coagulação-floculação. Flotação Operação de retirada de contaminantes no sentido Remoção de gordura e óleo, com inverso ao da sedimentação, conseguida pela adição uso ou não de aeração; remoção de produtos químicos, seguida ou não de injeção de de partículas em suspensão pela bolhas de ar pressurizado no líquido. No final é feita ação de coagulantes seguidos de a remoção do material flotado. aeração. Coagulação Adição de agentes coagulantes no esgoto com a Adição química propriedade de atuar no material em suspensão com alumínio, baixa capacidade de sedimentação, além da matéria cloreto coloidal, de modo a se formarem flocos que podem coagulação etc. de hidróxi-cloreto sulfato férrico, de de alumínio, auxiliares de ser removidos, quer por sedimentação quer por flotação. Filtração Remoção de poluentes pela retenção dos mesmos em Filtros de areia localizados após um leito filtrante ou membranas. decantadores, membranas etc. Inativação de patógenos presentes por um agente Ozonização, desinfetante cloração etc. Oxidação Remoção de poluentes ricos em matéria orgânica, Sistemas biológicos de tratamento biológica nutrientes etc., pelos microrganismos aeróbios e como lodos ativados, lagoas de anaeróbios presentes nos esgotos. estabilização, Desinfecção ultravioleta (UV), tratamento anaeróbio etc. Troca de gás Operação de adição de gases ao esgoto. Adição de oxigênio para os processos aeróbios, cloro gasoso em alguns processos de desinfecção etc. Precipitação Reação química selecionadas e as substâncias dissolvidas presentes de precipitação entre substâncias Adição de cal a um esgoto rico em ferro, no esgoto. sedimentam. produzindo flocos que Guia do profissional em treinamento – ReCESA 69 Processos e níveis de tratamento Os processos de tratamento de esgotos podem ser classificados em físicos, químicos ou biológicos. Devido a tais processos não atuarem de forma isolada, a classificação final será função da predominância de um determinado processo unitário, como descrito abaixo: Processos físicos: remoção de substâncias fisicamente separáveis dos líquidos ou que não se encontram dissolvidas, como a remoção de sólidos grosseiros, sedimentáveis (inclusive remoção de areia) e remoção de sólidos flutuantes. São exemplos as operações de: gradeamento, mistura, floculação, sedimentação, flotação e filtração. Processos químicos: há a utilização de um produto químico, sendo estes processos raramente utilizados de forma isolada e, via de regra, selecionados quando apenas os processos físicos e biológicos não atendem aos padrões a serem alcançados com o tratamento. Pode-se mencionar as etapas de: coagulação e floculação, precipitação e oxidação química, adsorção, desinfecção e neutralização. Processos biológicos: há a participação de microrganismos, quer sejam facultativos, aeróbios ou anaeróbios, na remoção de contaminantes ricos em matéria orgânica, nutrientes, detergentes etc. Os principais processos são: remoção da matéria orgânica, nitrificação, desnitrificação, remoção de fósforo, redução de sulfato, remoção de metais pesados etc. Os processos de tratamento de esgotos podem ser classificados em função da remoção do poluente na estação de tratamento de esgotos em: Sólidos grosseiros: crivos, grades ou peneiras. Sólidos sedimentáveis: desarenadores, centrifugadores, decantadores, flotadores etc. Óleos, graxas e sólidos flutuantes: tanques de retenção de gorduras (caixa de gordura), flotadores, decantadores com removedores de escuma. Matéria orgânica: tratamento anaeróbio (tanque séptico, UASB etc.), lodos ativados (convencional, aeração prolongada, batelada seqüencial), filtros biológicos (baixa e alta taxa), disposição no solo, lagoas de estabilização etc. Microrganismos patogênicos: técnicas de desinfecção artificiais como ozônio, ultravioleta, cloração etc., ou naturais como disposição no solo e lagoas de estabilização. Nutrientes na forma de nitrogênio: remoção biológica através do processo de nitrificação/desnitrificação, ANAMOX, disposição no solo, processos físico-químicos. Nutrientes na forma de fósforo: remoção biológica ou por processos físico-químicos. Odor: Gás stripping, adsorção em carvão, biofiltros etc. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 70 Visando simplificar tal classificação, além de se tentar explicitar de forma clara o objetivo do tratamento, foi criado o conceito de nível de tratamento, que se divide em: preliminar, primário, secundário, terciário e avançado. Os dois últimos níveis de tratamento são realizados apenas em algumas ETEs do Brasil. Entretanto, com limites de descarte de esgotos cada vez mais restritivos, que forçam operadoras de saneamento e indústrias a adotarem políticas de reuso de águas, a tendência é de se ter mais estações realizando tratamento a nível terciário e avançado. O tratamento preliminar objetiva a remoção de sólidos grosseiros, areia, óleo e gordura, enquanto o tratamento primário visa à remoção de sólidos suspensos (removendo indiretamente parte da matéria orgânica). Em ambos os níveis, predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes. O tratamento secundário visa principalmente à remoção de matéria orgânica, podendo eventualmente remover nutrientes (nitrogênio e fósforo). O tratamento terciário objetiva a remoção de poluentes específicos como nutrientes, metais, compostos não-biodegradáveis etc., ou ainda a remoção complementar de poluentes não removidos nas outras unidades de tratamento. O tratamento avançado é realizado para remover material suspenso e dissolvido, remanescentes, visando à reutilização da água. Este ainda é bastante raro no Brasil, apesar de existirem algumas experiências de sucesso em indústrias têxteis, de papel etc. Existe também o pré-tratamento, que é o tratamento dado ao esgoto, em qualquer nível, para adequá-lo ao lançamento da rede de esgoto municipal ou coletiva (geralmente feito em indústrias). O Quadro 8 sumariza os níveis de tratamento e os principais poluentes removidos. Quadro 8. Níveis de tratamento e os principais poluentes removidos. Nível Remoção Preliminar Sólidos em suspensão grosseiros que ficam retidos nas grades, areia que fica retida na unidade de desarenação e, eventualmente, gordura e óleo (caixas de gordura). Primário Sólidos em suspensão. Podem ser removidos pelo uso de decantadores, flotadores e processos físico-químicos de coagulação-floculação. Primário Remoção acelerada de sólidos pela adição de químicos ou através de filtração. avançado Secundário DBO em suspensão não removida no tratamento primário ou DBO solúvel (sólidos dissolvidos) Secundário remoção com de Remoção de compostos orgânicos biodegradáveis, sólidos suspensos e nutrientes (nitrogênio, fósforo ou ambos) nutrientes Terciário Nutrientes, patogênicos, compostos não biodegradáveis, metais pesados, Avançado Remoção de material suspenso e dissolvido remanescente, visando ao reuso da sólidos inorgânicos dissolvidos, sólidos em suspensão remanescentes. água. Ex: adsorção por carvão, eletrodiálise, troca iônica, membranas etc. Nota: Pré-tratamento é diferente de Tratamento Preliminar. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 71 Para a avaliação da eficiência de uma ETE em termos de remoção de matéria orgânica, nutrientes, patógenos etc., é importante a definição da eficiência de remoção do poluente, a qual é dada pela fórmula: E= Ca − Ce x100 Ca (7) Onde: E = eficiência do sistema (%) Ca = concentração afluente do poluente (mg/L) Ce = concentração efluente do poluente (mg/L) Assim, através das análises físico-químicas e microbiológicas obtidas durante o monitoramento de ETEs no esgoto bruto e tratado, e em alguns casos em cada etapa do tratamento, pode-se estimar a eficiência unitária e global do tratamento, além de verificar se o esgoto tratado encontra-se dentro dos limites de descarte regulamentados pelo órgão ambiental. Caso a concentração esteja acima, dever-se-á investigar as causas do comportamento e propor soluções técnicas para a correção do problema. Tratamento biológico de esgotos Os processos biológicos de tratamento de esgotos são aceitos como os de menor custo quando comparados com os demais tipos de tratamento. Para esgotos sanitários eles sempre estarão presentes, motivo pelo qual serão detalhados no presente item. Devido à vasta quantidade de informação para o detalhamento dos processos biológicos existentes, serão descritos apenas aqueles mais utilizados no Brasil. Os sistemas de tratamento biológico podem ser classificados como aeróbios (presença de O2), anaeróbios (ausência de O2 e nitrato) e anóxicos (ausência de O2 e presença de nitrato). Os microrganismos podem crescer tanto em suspensão como aderidos em um meio suporte, onde o reator biológico pode ser configurado para a remoção de DBO, remoção de nutrientes, patógenos etc., ou uma combinação destes. Um resumo dos principais processos biológicos e suas finalidades é mostrado no Quadro 9. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 72 Quadro 9. Principais processos biológicos de tratamento de esgotos aeróbios, anóxicos e anaeróbios. Tipo Nome comum Uso Processos aeróbios Crescimento suspenso Crescimento aderido Híbridos (combinados) Lodos ativados Remoção DBO, nitrificação Lagoas aeradas Remoção DBO, nitrificação Digestão aeróbia Estabilização, remoção DBO Filtros biológicos Remoção DBO, nitrificação Reatores de contato (biodiscos) Remoção DBO, nitrificação Reatores com leito fixo Remoção DBO, nitrificação Filtro biológico/lodos ativados Remoção DBO, nitrificação Desnitrificação de crescimento Desnitrificação Processos anóxicos Crescimento suspenso suspenso Crescimento aderido Desnitrificação de crescimento Desnitrificação aderido Processos anaeróbios Crescimento suspenso Reatores de contato anaeróbios Remoção DBO (biodiscos) Digestão anaeróbia Estabilização, destruição de sólidos, remoção de patógenos Crescimento aderido Reatores com leito fixo e Remoção DBO, desnitrificação fluidizado Manto de lodo UASB (upflow anaerobic sludge Remoção DBO blanket) Híbrido UASB/crescimento aderido Remoção DBO Processos de Lagoas Lagoas aeróbias Lagoas aeróbias Remoção DBO Lagoas de maturação Lagoas de maturação Remoção de patógenos Lagoas facultativas Lagoas facultativas Remoção DBO Lagoas anaeróbias Lagoas anaeróbias Remoção DBO Fonte: Adaptado de Metcalf & Eddy (2003). Lodos ativados O sistema de lodos ativados é amplamente utilizado, em nível mundial, para o tratamento de águas residuárias domésticas e industriais, em situações em que uma elevada qualidade do efluente é necessária e a disponibilidade de área é limitada (elevadas vazões). No entanto, o sistema de lodos ativados inclui um índice de mecanização superior ao de outros sistemas de tratamento, implicando em operação mais sofisticada. Outras desvantagens são o consumo de energia elétrica para aeração e a maior produção de lodo. Um sistema de lodos ativados pode ser classificado de diversas formas, como: Quanto à idade do lodo (θ): convencional (valores de θ entre 4 e 10 dias) ou aeração prolongada (valores de θ entre 18 e 30 dias). Guia do profissional em treinamento – ReCESA 73 Quanto ao fluxo: contínuo (quando é função do espaço nas diversas unidades da ETE) ou intermitente (quando é função de tempos operacionais pré-estabelecidos). Quanto aos objetivos do tratamento: remoção de carbono (DBO), remoção de nutrientes e qual tipo (N, P ou ambos) ou remoção de DBO e nutrientes etc. Lodos ativados convencional (fluxo contínuo): Em uma ETE por lodos ativados, normalmente o fluxo do esgoto é como descrito a seguir. Após o tratamento preliminar, o esgoto segue para o decantador primário, que é responsável pela remoção dos sólidos sedimentáveis (SS) presentes no esgoto bruto e, em seguida, para o tanque de aeração ou de reação. Nesse tanque é onde ocorrem as reações bioquímicas de remoção da matéria orgânica (eventualmente N e P), em que os microrganismos utilizam o substrato orgânico presente para a realização de suas atividades metabólicas, produzindo CO2 e novas células (lodo biológico). Os processos metabólicos são acelerados pelo fornecimento de condições ambientais favoráveis, como: fornecimento de oxigênio, nutrientes (principalmente com esgotos industriais, onde normalmente os mesmos estão ausentes), bom grau de mistura, controle de pH, alcalinidade e temperatura, dentre outros. Após o tanque de aeração, necessita-se separar o lodo biológico formado do esgoto tratado, sendo as formas mais comuns de separação o uso de um decantador secundário, flotador e, recentemente, o uso de membranas. É interessante atentar que o decantador primário é responsável pela remoção de SS presentes no esgoto bruto, ao passo que o decantador secundário é responsável pela separação do lodo biológico. Nestas unidades de separação ocorre a remoção dos sólidos, sendo uma parte recirculada para o tanque de aeração e a outra encaminhada para o tratamento do lodo. A principal razão de recirculação do lodo é para se manter uma elevada concentração de microrganismos no tanque de aeração. Nos sistemas de lodos ativados, o tempo de detenção hidráulica (TDH) é baixo, da ordem de horas, implicando em um reduzido volume do reator. No entanto, devido à recirculação dos sólidos, estes permanecem no sistema por um tempo superior ao do líquido, da ordem de dias. O tempo de retenção celular ou idade do lodo é assim definido como o tempo de permanência dos sólidos no sistema. É esta maior permanência dos sólidos no sistema que garante a elevada eficiência dos sistemas de lodos ativados, já que a biomassa tem tempo suficiente para metabolizar praticamente toda a matéria orgânica dos esgotos. No sistema convencional, a idade do lodo é usualmente da ordem de 4 a 10 dias, relação A/M (alimento/microrganismos) na faixa de 0,25 a 0,50 kgDBO5/kgSSVTA.dia, e o TDH da ordem de 6 a 8 horas. Tratamento preliminar Decantador primário Função do espaço Tanque de aeração Decantador secundário ou flotador ou membranas, sendo recirculado parte do lodo para o tanque de aeração nas diversas unidades da ETE. Saída contínua do efluente clarificado Retirada de lodo excedente Guia do profissional em treinamento – ReCESA 74 Lodos ativados por aeração prolongada (fluxo contínuo): O principal parâmetro que diferencia um sistema de aeração prolongada do sistema convencional é o tempo de aeração, como sugere o próprio nome. Assim, a biomassa irá permanecer no sistema por um período de aeração mais longo, da ordem de 18 a 30 dias (alta idade de lodo), recebendo a mesma carga de DBO do esgoto bruto que o sistema convencional. Tanto a quantidade de biomassa (kgSSVTA) quanto o volume do reator biológico são maiores quando comparados ao sistema de lodos ativados convencional, em que o TDH fica em torno de 16 a 24 horas. Portanto, há menos matéria orgânica por unidade de volume do tanque de aeração e também por unidade de biomassa do reator. Como conseqüência desta condição de carência de alimento, baixa relação A/M, as bactérias passam a utilizar o carbono das suas próprias células para a realização de seus processos metabólicos, processo conhecido como respiração endógena. Esta matéria orgânica celular, de forma análoga à oxidação da matéria orgânica carbonácea do esgoto, é convertida em gás carbônico e água por meio da respiração celular. Com isso, a biomassa é estabilizada aerobiamente no próprio tanque de aeração. O consumo adicional de oxigênio para a estabilização de lodo (respiração endógena) é significativo e inclusive pode ser maior que o consumo para metabolizar o material orgânico do afluente (respiração exógena). Não são projetados decantadores primários em sistemas de aeração prolongada, no intuito de se evitar a geração de alguma outra forma de lodo que venha a requerer posterior estabilização, uma vez que o lodo do reator biológico já se encontra estabilizado. Além da eliminação dos decantadores primários, eliminam-se as unidades de digestão de lodo. Tratamento preliminar Tanque de aeração Decantador secundário ou flotador ou membranas, recirculado parte do lodo para o tanque de aeração sendo Função do espaço nas diversas unidades da ETE Saída contínua do efluente clarificado Retirada de lodo excedente Lodos ativados de fluxo intermitente (batelada): Os sistemas de lodos ativados descritos anteriormente são de fluxo contínuo com relação ao afluente, ou seja, o esgoto está sempre entrando e saindo do reator. Há, no entanto, uma variante com operação em fluxo intermitente, também conhecida como reatores em batelada seqüenciais. O princípio desta concepção consiste na incorporação, em um único tanque, de todas as unidades do tratamento tradicional de lodos ativados, ou seja, decantação primária, tanque de aeração e decantação secundária. Os processos e operações passam a ser simplesmente seqüências no tempo (ciclos de operação) com durações definidas, e não unidades separadas, como ocorre nos processos convencionais de fluxo contínuo. Logo, a massa biológica permanece no reator durante todos os ciclos, eliminando, dessa forma, a necessidade de decantadores primários ou secundários. O processo de lodos ativados em batelada pode ser projetado nas modalidades convencional e aeração prolongada. Nesta última, o tanque único passa a incorporar também a unidade de digestão (aeróbia) do lodo. A duração Guia do profissional em treinamento – ReCESA 75 usual de cada ciclo pode ser alterada em função das variações da carga afluente, dos objetivos operacionais do tratamento e das características do esgoto e da biomassa no sistema. Enchimento (entrada de esgoto bruto, decantado ou anaeróbio no reator) Reação (aeração e/ou mistura da massa líquida contida no reator) Sedimentação (sedimentação e separação dos sólidos em suspensão Função do tempo para as diversas operações do esgoto tratado) Descarte do efluente tratado (retirada do esgoto tratado do reator) Repouso (ajuste de ciclos e remoção do lodo excedente) Tratamento anaeróbio O tratamento anaeróbio de esgoto vem sendo utilizado há muito tempo na forma de fossas sépticas ou de lagoas de estabilização. Além disso, registra-se o emprego de digestores anaeróbios de lodo nas estações de lodos ativados. Todos os supracitados reatores, também conhecidos como sistemas de baixa taxa, eram desprovidos de mecanismo de retenção de biomassa, o que demandava grandes volumes para se obter boa eficiência. Com o passar dos anos, surgiram os primeiros processos de altas taxas, que são providos de mecanismos de retenção de biomassa, o que permite a operação com baixos TDHs e alta idade de lodo. O Quadro 10 detalha os diversos tipos de processos anaeróbios, além de apresentar as maiores aplicações do tratamento anaeróbio, tanto para esgotos de origem doméstica como de origem industrial. Quadro 10. Principais processos anaeróbios de tratamento de esgotos e principais aplicações. Sistemas de baixa taxa Digestores de lodo Tanques sépticos Lagoas anaeróbias Reatores de leito fixo Com crescimento aderido Reatores de leito rotatório Reatores de leito expandido/fluidificado Sistemas de alta Reatores de dois estágios taxa Reatores de chicanas Com crescimento disperso Reatores de manta de lodo Reatores de leito granular expandido Reatores com circulação interna Tipos de esgotos tratados por processos anaeróbios Destilaria de álcool Chorume Cervejarias Indústria farmacêutica Indústrias químicas Indústria de papel Indústrias de laticínios Frigoríficos Esgoto doméstico Bebidas Processamento de pescados e comidas marinhas Processamento de açúcar As principais vantagens e desvantagens dos sistemas anaeróbios em relação aos processos aeróbios, notadamente no que se refere à produção de gás metano e à baixíssima produção de Guia do profissional em treinamento – ReCESA 76 sólidos, são apresentadas no Quadro 11 e Figura 12. Nos sistemas aeróbios, ocorre somente cerca de 40 a 50% de degradação biológica, com a conseqüente conversão em CO2. Verifica-se uma enorme incorporação de matéria orgânica como biomassa microbiana (cerca de 50 a 60%), que vem a se constituir no lodo excedente do sistema, o qual ainda necessita de estabilização. O material orgânico não convertido em gás carbônico, ou em biomassa, deixa o reator como material não degradado (5 a 10%). Verifica-se a predominância da fase anabólica nesse processo. Nos sistemas anaeróbios, a maior parte do material orgânico biodegradável presente no despejo é convertida em biogás (cerca de 70 a 90%), que é removido da fase líquida e deixa o reator na forma gasosa. Apenas uma pequena parcela do material orgânico é convertida em biomassa microbiana (cerca de 5 a 15%), em que esse lodo já se encontra estabilizado. Além da pequena quantidade produzida, o lodo excedente apresenta-se mais concentrado e com melhores características de desidratação. O material não convertido em biogás, ou em biomassa, deixa o reator como material não degradado (10 a 30%). Verifica-se a predominância da fase catabólica nesse processo. Quadro 11. Principais vantagens e desvantagens dos sistemas anaeróbios em relação aos processos aeróbios de tratamento de esgotos. Vantagens Desvantagens Baixa produção de sólidos, cerca de 5 a 10 vezes Os microrganismos anaeróbios pelo seu baixo inferior à que ocorre nos processos aeróbios, além crescimento, são mais susceptíveis a problemas de que o lodo já se encontra estabilizado. de toxicidade. Baixo consumo de energia. Alguma forma de pós-tratamento é usualmente Baixa demanda de área. Possibilidade requerida. de geração de maus odores quando mal projetados e operados. Baixos custos de implantação, da ordem de R$ 20 Remoção de nitrogênio, fósforo e patógenos a 40 per capita. insatisfatória. Produção de metano, um gás combustível. Baixo consumo de nutrientes. Biogás (70 a 90%) Matéria Organica (100% DQO) CO2 (40 a 50%) Efluente (10 a 30%) Reator Anaeróbio Lodo (5 a 15%) Reator Aeróbio Efluente (5 a 10%) Lodo (50 a 60%) Figura 12. Balanço de massa do carbono em processos aeróbios e anaeróbios. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 77 Lagoas de estabilização Vários sistemas de lagoas de estabilização foram construídos no Brasil para o tratamento de esgoto sanitário, tendo-se observado resultados satisfatórios em termos da qualidade do efluente, sempre quando o projeto é tecnicamente adequado e existe um mínimo de operação e manutenção. Como principal desvantagem do sistema pode-se citar o requerimento de grandes áreas e um efluente que pode conter uma alta concentração de algas. Como diz o próprio nome, o objetivo principal de lagoas de estabilização é estabilizar, ou seja, transformar em produtos mineralizados o material orgânico presente na água residuária a ser tratada. De uma forma mais grosseira, as lagoas de estabilização podem ser classificadas, quanto ao suprimento de oxigênio, em convencional (O2 é fornecido pelas algas) e aeradas artificialmente (O2 é fornecido pelo uso de aeradores). Existem ainda as lagoas anaeróbias, as quais são desprovidas de O2. Os sistemas convencionais podem ser divididos em: Lagoa facultativa: nesses sistemas, a DBO solúvel é estabilizada aerobiamente por bactérias dispersas no meio líquido, ao passo que a DBO suspensa tende a sedimentar, sendo estabilizada pelos microrganismos anaeróbios do fundo da lagoa. O oxigênio requerido pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas, por meio da fotossíntese. Lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa: parte da DBO (~ 40-60%) é estabilizada na lagoa anaeróbia (primeira lagoa e mais profunda), sendo o restante da matéria orgânica removida na lagoa facultativa. Em termos de demanda de área, esta concepção ocupa uma menor área comparada ao sistema anterior, para o mesmo nível de eficiência. Entretanto, existem problemas de implantações em aglomerados urbanos pela geração de maus odores na lagoa anaeróbia. Lagoas aeróbias ou de maturação: projetadas para serem as últimas lagoas em sistemas com lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa, ou sistemas com somente lagoas facultativas. São lagoas que operam em série, com baixa profundidade para a dispersão da energia luminosa em toda a massa líquida, facilitando o processo de desinfecção. Este processo se dá por uma combinação de fatores como radiação ultravioleta, elevado pH, elevado OD, falta de nutrientes, predação, dentre outros, que diminuem as concentrações de microrganismos patogênicos para níveis aceitáveis de descarte em águas superficiais ou reuso do esgoto tratado em irrigação e piscicultura. Os sistemas não convencionais, ou por aeração artificial, podem ser divididos em: Lagoas aeradas facultativas: O mecanismo de tratamento é diferente do citado para as lagoas facultativas convencionais, sendo que o oxigênio nas lagoas não é proveniente da fotossíntese, mas da aeração mecânica fornecida por aeradores de superfície ou ar comprimido. Nesses sistemas, o nível de energia introduzido pelos aeradores é suficiente apenas para a oxigenação da massa de água, não tendo influência na manutenção dos sólidos (microrganismos e sólidos do esgoto) em suspensão, os quais tendem a sedimentar, formando uma camada de lodo que será decomposta anaerobiamente. Apenas a DBO solúvel e finamente particulada permanece na Guia do profissional em treinamento – ReCESA 78 massa líquida, vindo a sofrer decomposição aeróbia. A lagoa se comporta, portanto, como uma lagoa facultativa convencional. Lagoa aerada de mistura completa seguida de lagoa de decantação: Se, mesmo com a adoção de uma lagoa do tipo aerada facultativa, a área disponível ainda é insuficiente, pode-se recorrer ao uso de uma lagoa do tipo aerada de mistura completa. Nestas lagoas, aumenta-se ainda mais o nível de aeração, o que cria uma turbulência que garante a oxigenação da massa de água e mantém todos os sólidos em suspensão. A denominação do termo mistura completa é, portanto, advinda do alto grau de energia aplicado por unidade de volume. Entre os sólidos mantidos em suspensão e em mistura completa se incluem, além da matéria orgânica presente no esgoto bruto, os microrganismos (principalmente bactérias) responsáveis pelo tratamento biológico. Devido às condições de mistura, há um maior contato dos microrganismos com a matéria orgânica, fazendo com que a eficiência do sistema aumente bastante. No entanto, criase um novo problema que é o de separar a fração líquida da sólida. Como não há na lagoa de mistura completa um dispositivo de separação sólido-líquido, é necessária a instalação de uma de lagoa de decantação, que tem a mesma função de um decantador secundário em um sistema de lodos ativados. Outras tecnologias aplicadas Apresentam-se, a seguir, outros tipos de sistemas de tratamento de esgotos em nível secundário, também bastante utilizados no Brasil. Sistemas aeróbios com biofilmes Filtro de baixa carga: a DBO é estabilizada por bactérias aeróbias que crescem aderidas a um meio suporte (comumente pedras). O esgoto é aplicado na superfície do tanque através de distribuidores rotativos. Os vazios do material suporte permitem a circulação de ar requerido no processo. O termo baixa carga se refere a pouca disponibilidade da DBO para as bactérias, o que faz com que as mesmas sofram uma autodigestão, saindo estabilizada do sistema. Fazem parte do sistema um decantador primário, que previne a colmatação excessiva do leito filtrante, e um decantador secundário para remover as placas de bactérias que se desprendem das pedras. Filtro de alta carga: similar ao sistema de baixa carga, a exceção da carga de DBO aplicada, que é maior. As bactérias (lodo excedente) necessitam de estabilização no tratamento do lodo. Biofiltro aerado submerso: é constituído de um reator preenchido com material poroso (usualmente submerso), através do qual esgoto e ar fluem permanentemente. O fluxo de ar no biofiltro é sempre ascendente, ao passo que o fluxo do líquido pode ser ascendente ou descendente. Além de servir de meio suporte para os microrganismos, o material granular constitui-se em meio filtrante. São necessárias lavagens periódicas para a eliminação da biomassa acumulada, reduzindo as perdas de carga hidráulica através do meio. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 79 Biodisco: discos rotatórios, em baixas rotações, servem de meio suporte para a biomassa aderida, submetida às fases alternadas de parcial imersão no esgoto e parcial exposição ao ar. Disposição no solo Infiltração lenta: os esgotos são aplicados no solo, fornecendo água e nutrientes requeridos no crescimento das plantas. Parte do líquido é evaporada, parte percola no solo, e a maior parte é absorvida pelas plantas. As taxas de aplicação no terreno são bem baixas. O líquido pode ser aplicado segundo os métodos de aspersão, alagamento, e da crista e vala. Infiltração rápida: os esgotos são dispostos em bacias rasas. O líquido passa pelo fundo poroso e percola pelo solo. A perda por evaporação é menor, face às maiores taxas de aplicação. A aplicação é intermitente, proporcionando um período de descanso para o solo. Os tipos mais comuns são: percolação para a água subterrânea, recuperação por drenagem subsuperficial e recuperação por poços freáticos. Infiltração subsuperficial: o esgoto pré-decantado é aplicado abaixo do nível do solo. Os locais de infiltração são preenchidos com um meio poroso, no qual ocorre o tratamento. Os tipos mais comuns são as valas de infiltração e os sumidouros. Escoamento superficial: os esgotos são distribuídos na parte superior de terrenos com uma certa declividade, através do qual escoam, até serem coletados por valas na parte inferior. A aplicação é intermitente. Os tipos de aplicação são: aspersores de alta pressão, aspersores de baixa pressão e tubulações ou canais de distribuição com aberturas intervaladas. Terras úmidas construídas: banhados artificiais ou alagados artificiais são denominações equivalentes. Os sistemas consistem de lagoas ou canais rasos, que abrigam plantas aquáticas. O sistema pode ser de fluxo superficial (NA acima do nível do solo) ou subsuperficial (NA abaixo do nível do solo). Mecanismos biológicos, químicos e físicos no sistema raiz-solo atuam no tratamento dos esgotos. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 80 Referências AGTEC ENGENHARIA LTDA. Disponível em <http://agetec.com.br/uploads/50.04.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2008. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7229 – Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro: ABNT, 1993. 15p. ____. NBR 9649 – Projeto de redes coletoras de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1986. 7p. ATHAYDE JR, G. B.; MARA, D. D.; PEARSON, H. W.; SILVA, S. A. Faecal Coliform die-off in wastewater storage and treatment reservoirs. Water Science & Tecnology. v. 42. nº. 10-11. pp. 139-147. 2000. AZEVEDO NETO, J. M.; FERNANDEZ, M. F.; ARAÚJO, R.; ITO, A. E. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda., 1998. BARROS, R. T. V.; CHERNICHARO, C. A. 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Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº. 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº. 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília (DF): Diário Oficial da União, 1997. ____. Lei nº. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília (DF): Diário Oficial da União, 1998. ____. Lei nº. 11.445 de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico. Brasília (DF): Diário Oficial da União, 2007. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 81 ____. Resolução no. 274 de 29 de novembro de 2000. Revisa os critérios de balneabilidade em águas brasileiras. Disponível em: <http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2007. ____. 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Discutir os resultados 20 min Assistir a apresentação do instrutor. 20 min Duração parcial: 70 min. Breve exposição sobre a distribuição, circulação e disponibilidade da água no planeta, no Brasil e no Nordeste brasileiro. Orientar os participantes para a leitura dos subitens Ler os subitens “Ciclo hidrológico” e “A água na “Ciclo hidrológico” e “A água na natureza”. natureza”, reunir-se componentes e em discutir grupos sobre de a 3 ou 20 min 4 distribuição, circulação e disponibilidade da água no planeta, no Brasil e no Nordeste brasileiro. Coordenar a discussão. Responder às perguntas: existe abundância de água 10 min no planeta? E no âmbito local? Discutir resultados em plenária. Duração parcial: 50 min. Breve exposição sobre os principais usos da água. Assistir a apresentação do instrutor. 20 min Orientar os participantes para a leitura do subitem Ler o subitem “Usos da água”, reunir-se em grupos 20 min “Usos da água”. de 3 ou 4 componentes e discutir sobre qual deveria Coordenar a discussão. Discutir os resultados em plenária. 20 min Orientar os participantes a se reunir em grupos de Sob orientação do instrutor, formular, em grupos, 20 min 3 ou 4 componentes e formular conceito provisório conceito provisório de poluição. ser a prioridade para os diversos usos da água. Duração parcial: 60 min. de poluição. Orientar os participantes para a leitura dos subitens Ler os subitens “Impurezas encontradas nas águas e “Impurezas encontradas nas águas e indicadores de indicadores de qualidade” e “Poluição e contaminação qualidade” e “Poluição e contaminação das águas”. das águas”, reunir-se em grupos de 3 ou 4 20 min componentes e avaliar se o conceito inicialmente proposto será aceito ou necessita de reformulação. Coordenar a discussão. Discutir os resultados em plenária. 20 min Duração parcial: 60 min. Duração total: 4h. Caracterização quantitativa e qualitativa de esgotos sanitários Instrutor Participante Duração Breve exposição sobre esgoto sanitário e os Assistir a apresentação do instrutor. 20 min números do esgotamento sanitário no Brasil e no âmbito local. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 84 Orientar os participantes para a leitura do subitem Ler “Caracterização esgotos sanitários” e responder às perguntas: seu quantitativa dos esgotos o subitem “Caracterização quantitativa dos 20 min domicílio é atendido por rede coletora de esgoto? sanitários”. Qual o percentual de cobertura de coleta de esgotos para a turma? Orientar discussão. Discutir os resultados em plenária. 10 min Breve exposição sobre vazões de esgotos. Assistir a apresentação do instrutor. 30 min Orientar os participantes para a leitura do subitem Ler o subitem “Caracterização qualitativa dos esgotos “Caracterização qualitativa dos esgotos sanitários”. sanitários”, Duração parcial: 50 min. min. reunir-se em grupos de 3 ou 20 min 4 componentes e estimar a quantidade diária de esgoto gerada em sua residência e para a cidade como um todo. Coordenar discussão. Discutir resultados em plenária. 10 min Assistir a apresentação do instrutor. 30 min Assistir a apresentação do instrutor. 20 min Acompanhar a visita ao laboratório. 80 min Duração parcial: 60 min. Breve exposição sobre os principais parâmetros qualitativos de esgotos. Apresentar dados qualitativos característicos de esgotos. Duração parcial: 50 min. Apresentar em laboratório os principais equipamentos de análise de águas/esgotos. Duração parcial: 80 min. Duração total: 4h. Fontes de poluição das águas Instrutor Participante Duração Indagar os participantes sobre o conhecimento da Reunir-se em grupos de 3 ou 4 componentes e 30 min poluição dos recursos hídricos local e as possíveis discutir sobre a ocorrência de poluição dos recursos fontes da mesma. hídricos locais e sobre as possíveis fontes de poluição das águas existentes. Orientar os participantes para a leitura do subitem Ler o subitem “Fontes de poluição”, reunir-se em “Fontes de poluição”. grupos de 3 ou 4 componentes e rediscutir sobre as 30 min conhecidas e possíveis fontes de poluição existentes no âmbito local. Orientar os participantes para sintetizar em tópicos Sintetizar em tópicos as fontes de poluição das águas as fontes de poluição das águas conhecidas e com conhecidas e com possibilidade de ocorrência no possibilidade de ocorrência no âmbito local e âmbito local. 30 min apresentar em plenária. Coordenar a discussão. Discutir os resultados em plenária. 30 min Assistir a apresentação do instrutor. 30 min Orientar os participantes para leitura do subitem Ler o subitem “Tipos de poluentes”, reunir-se em 45 min “Tipos de poluentes”. grupos de 3 ou 4 componentes e hierarquizar os Duração parcial: 120 120 min. Breve exposição sobre os principais tipos de poluentes das águas, suas fontes e efeitos. problemas decorrentes da poluição hídrica no âmbito local. Coordenar a discussão. Discutir resultados em plenária. 45 min Duração parcial: 120 120 min. Duração total: 4h. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 85 Parâmetros de qualidade da água Instrutor Participante Duração Breve exposição sobre parâmetros indicadores da Assistir apresentação do instrutor. 40 min Orientar participantes para leitura do subitem Ler o subitem “Indicadores de qualidade da água”, 60 min “Indicadores de qualidade da água”. reunir-se em grupos de 3 ou 4 componentes e qualidade da água. responder a questão: baseando-se na determinação de alguns parâmetros de qualidade da água, é sensato afirmar de forma absoluta que uma água está poluída? Coordenar discussão. Discutir resultados em plenária. 20 min Assistir apresentação do instrutor. 40 min Orientar participantes para leitura do subitem Ler o subitem “Índice de qualidade de água”, reunir- 60 min “Índice de qualidade de água” e distribuir diferentes se em grupos de 3 ou 4 componentes e, baseando- laudos hipotéticos de análise de água. se em laudo hipotético de análise de água, calcular o Duração parcial: 120 min. Breve exposição sobre índices de qualidade da água. IQA e classificar o nível de qualidade da água segundo a tabela 9. Coordenar discussão. Discutir resultados em plenária. 20 min Duração parcial: parcial: 120 min. Duração total: 4h. Poluição e autodepuração dos corpos d´água Instrutor Participante Duração Breve exposição sobre autodepuração dos corpos Assistir apresentação do instrutor. 30 min Orientar os participantes para leitura do subitem Ler o subitem “Autodepuração de corpos d´água”, 60 min “Autodepuração de corpos d´água” e distribuir reunir-se em grupos de 3 ou 4 componentes e, para dados hipotéticos para o balanço de oxigênio e os dados hipotéticos distribuídos pelo instrutor, decaimento de coliformes termotolerantes em rio. efetuar aquáticos. o cálculo do balanço de oxigênio e decaimento de coliformes termotolerantes em rio. Orientar discussão. Discutir resultados em plenária. 30 min Assistir apresentação do instrutor. 30 min Orientar os participantes para leitura do subitem Ler o subitem “Eutrofização”, reunir-se em grupos de 60 min “Eutrofização”. 3 ou 4 componentes e responder às seguintes Duração parcial: 120 min. Breve exposição sobre eutrofização dos corpos aquáticos. questões: a) quais as principais causas da eutrofização dos corpos aquáticos? b) quais os principais efeitos da eutrofização? c) Como a eutrofização pode ser evitada? Coordenar discussão. Discutir resultados em plenária. 30 min Duração parcial: 120 min. Duração total: 4h. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 86 Legislação ambiental e padrões de lançamentos de águas residuárias Instrutor Participante Duração Breve exposição sobre as principais leis e normas Assistir a apresentação do instrutor. 90 min Orientar leitura do item “Legislação ambiental e Ler o item “Legislação ambiental e padrões de 90 min padrões de lançamentos de águas residuárias” lançamentos de águas residuárias”, reunir-se em e distribuir dados hipotéticos para enquadramento grupos de 3 ou 4 componentes e, para os dados de curso d´água, adequação de lançamento de hipotéticos efluentes, condições de balneabilidade e reuso na enquadramento agricultura. adequação de lançamento de efluente, verificar sobre poluição hídrica. distribuídos de pelo corpo instrutor, aquático, efetuar verificar condições de balneabilidade e adequação de reuso na agricultura. Coordenar discussão. Discutir resultados em plenária. 60 min Duração parcial: 240 min. Duração total: 4h. Controle de poluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamento Instrutor Participante Duração Breve exposição sobre operações, processos, graus Assistir a apresentação do instrutor. 50 min e tecnologias de tratamento. Orientar os participantes para leitura do item Ler “Controle de poluição: operações, processos, graus processos, graus e tecnologias de tratamento”, o item e tecnologias de tratamento”. reunir-se em grupos de 3 ou 4 componentes e responder a tecnologia(s) “Controle seguinte de de poluição: questão: tratamento qual de operações, (is) esgotos 50 min a(s) mais adequadas para a sua região? Coordenar discussão. Discutir resultados em plenária. 20 min Duração parcial: 180 180 min Conduzir visita a ETE. Acompanhar operações e visita à processos ETE. Procurar existentes na identificar ETE 240 min em visitação. Duração parcial: 240 min Duração total: 8h. Guia do profissional em treinamento – ReCESA 87