ESTUDO DE NASCENTES: SUBSÍDIO A POLÍTICAS DE
GESTÃO DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO
CÓRREGO CAETÉ NO SUDOESTE DO ESTADO DE
MATO GROSSO
JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA SOARES
Dissertação apresentada à Universidade do Estado
de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais
para obtenção do título de Mestre.
CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
2
JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA SOARES
ESTUDO DE NASCENTES: SUBSÍDIO A POLÍTICAS DE
GESTÃO DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
CAETÉ NO SUDOESTE DO ESTADO DE MATO GROSSO
Dissertação apresentada à Universidade do Estado
de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais
para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr(a) Célia Alves de Souza
CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
3
Soares, José Carlos de Oliveira.
Estudo de nascentes: subsídio à políticas de gestão da sub-bacia
hidrográfica do córrego Caeté no sudoeste do Estado de Mato GrossoBrasil / José Carlos de Oliveira Soares – Cáceres/MT: UNEMAT, 2009.
105 f.; il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de Mato Grosso.
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, 2009.
Orientadora: Célia Alves de Souza
1. Nascentes 2. Bacia hidrográfica 3. Recursos Hídricos 4.Córrego
Caeté / MT I. Título
CDU: 556.51 (817.2)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Regional de Cáceres
JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA SOARES
ESTUDO DE NASCENTES: SUBSÍDIO A POLÍTICAS DE
GESTÃO DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
CAETÉ NO SUDOESTE DO ESTADO DE MATO GROSSO
Essa dissertação foi julgada e aprovada como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais.
Cáceres, 04 de março de 2009.
Banca examinadora
---------------------------------------Prof. Drª Marcela Bianchessi da Cunha Santino
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
-------------------------------------------Prof. Drª Maria Aparecida Pierangeli
Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT
-----------------------------------------Prof. Drª Célia Alves de Souza
Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT
(Orientadora)
CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
4
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Faustino Soares e Ana Marcelina de
Oliveira Soares que, pela humildade, mesmo sem
entenderem quão grande significa este momento em
minha vida, sorriem felizes ao verem a minha felicidade!
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela vida e tudo que criaste para dar sentido à
ela.
Á Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT, em nome desta
Coordenação de mestrado, pela oportunidade dada, pelo incentivo ao laboroso
e gratificante ato de pesquisar;
Aos amigos e professores do mestrado pelas trocas de experiência. Em
especial à professora Drª. Maria Aparecida Pierangeli (Dedé), filhos e esposo,
pela amizade acolhedora e pelo auxílio imprescindível nesta pesquisa. Sua coorientação proporcionou a luz nos momentos em que os caminhos pareciam
perder o clareza e o rumo;
Aos professores Drs. Irineu Bianchini e Marcela Bianchessi da CunhaSantino- UFSCar, pela amizade e pelos ensinamentos no estágio de
Monitoramento Limnológico;
Aos meus familiares pelo incentivo silencioso e cheio de orgulho,
torcendo sempre por uma conquista a mais. Em especial, ao sobrinho Alex
Sander, pelas dores de cabeça que lhe dei ao querer aprender sobre fertilidade
do solo!
Aos meus amigos que dão sentido ao conceito de amizade: Eliane
Vanini, Evaldo Ferreira, Miguel Castilho, Evandro Cavalcanti e Leandro Santos;
Á um anjo que vive na Terra disfarçado de gente! Em tempo, descobri
que atende pelo nome de Leila Nalis Paiva. Com sua força e serenidade,
ajudou a suavizar as dores desta jornada! Minha amiga “Baixota” meu cérebro
e minha vã literatura não conseguem transcrever a gratidão da minha almaobrigado!
Á professora Ana Rosa Ferreira e às meninas dos projetos Nascente e
Jauru, Ione, Célia, Rosenil, Cleide Maria, Willaine e Zilda, pelo auxílio no
levantamento das espécies vegetais. Ao professor Antônio Rosestolato pela
orientação em geologia;
Ao amigo e acadêmico do curso de Geografia-UNEMAT, Anderson
Peretto. Por tudo que enfrentaste do meu lado no decorrer desta pesquisa, ela
também pertence à você!
Ao senhor Manoel, para nós desta pesquisa, “seu Manuquinha”. Mais do
que motorista, foste companheiro e incentivador!
E o que dizer da minha orientadora Drª Célia Alves de Souza? Ainda que
eu conseguisse reunir todas as líricas e os mais belos sonetos, todos os versos
em rima às melhores cantigas de amigos, ainda assim, eu nada conseguiria
dizer! O certo é que para os deuses construímos louvores e, para as pessoas,
ousamos agradecer. Assim sendo, que todos os louvores caibam neste MUITO
OBRIGADO!
6
ÍNDICE
páginas
Lista de quadros
09
Lista de tabelas
11
Lista de figuras
12
Resumo
14
Abstract
15
Introdução geral
16
Referências
18
1º ARTIGO
FATORES CONDICIONADORES DA ORIGEM DAS NASCENTES DOS
19
CÓRREGOS ZÉ CASSETE, CARNAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO CAETÉ, SUDOESTE DE MATO
GROSSO
Resumo
19
Abstract
20
1. Introdução
21
2. Material e métodos
24
3. Resultado e discussão
26
3.1 As nascentes rurais do distrito de sonho Azul
26
3.1.1 Condicionadores Climáticos
26
3.1.2 Condicionadores Geológicos
29
3.1.3 Condicionadores Geomorfológicos
36
3.2 Os condicionadores climáticos, geológicos e geomorfológicos da
37
nascente do perímetro urbano de São José dos Quatro Marcos
4. Considerações finais
40
5. Referências bibliográficas
44
7
2º ARTIGO
USO ATUAL, TOPOGRAFIA E ALGUNS ATRIBUTOS DO SOLO NO
47
ENTORNO DAS NASCENTES DOS CÓRREGOS ZÉ CASSETE,
CARNAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CAETÉ,
SUDOESTE DO ESTADO DE MATO GROSSO, BRASIL
Resumo
47
Abstract
48
1. Introdução
49
2. Material e método
52
2.1 Uso/ocupação do solo
54
2.2 Aspectos topográficos
54
2.3 Situação da cobertura vegetal
55
2.4 Aspectos pedológicos
57
3. Resultados e discussões
58
3.1 As nascentes rurais do distrito de Sonho Azul
58
3.1.1 Ocupação e uso da terra
58
3.2 A nascente urbana de São José dos Quatro Marcos
66
3.2.1 Aspectos topográficos e pedológicos
68
4. Considerações finais
73
5. Referências bibliográficas
76
8
3º ARTIGO
CONDIÇÕES HIDRODINÂMICAS E QUALIDADE DA ÁGUA NAS
80
NASCENTES DOS CÓRREGOS, ZÉ CASSETE, CANAÍBA E TERERÉ
NA
SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA
DO
CAETÉ,
SUDOESTE DO
ESTADO DE MATO GROSSO
Resumo
80
Abstract
81
1. Introdução
82
2. Material e método
84
2.1 Batimetria
85
2.2 Vazão
86
2.3 Coleta de amostras de água, caracterização geográfica do entorno e
86
calculo do IQA
3. Resultados e discussão
89
3.1 Condições hidrodinâmicas
89
3.1.1 - Nascente do córrego Zé Cassete
89
3.1.2 - Nascente do córrego Carnaíba
91
3.1.3 - A nascente do córrego Tereré
92
3.2 A qualidade da água
93
3.2.1 - Nascente do córrego Zé Cassete
93
3.2.2 - A nascente do córrego Carnaíba
96
3.2.3 - A nascente do córrego Tereré
98
4. Considerações finais
100
5. Referências bibliográficas
101
Considerações finais
103
9
LISTA DE QUADROS
2º ARTIGO
USO ATUAL, TOPOGRAFIA E ALGUNS ATRIBUTOS DO
SOLO NO ENTORNO DAS NASCENTES DOS CÓRREGOS
ZÉ CASSETE, CARNAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO CAETÉ, SUDOESTE DO ESTADO DE
MATO GROSSO, BRASIL
Quadro 1
Classes de relevo em função da declividade do terreno
55
Quadro 2
Demonstrativo da evolução do plantio da cana-de-açúcar no
município de Mirassol D’ Oeste
60
Quadro 3
Demonstrativo da dinâmica da criação de gado bovino em
Mirassol D’ Oeste
60
Quadro 4
Demonstrativo do quantitativo de vegetação por m2 e
porcentagem de vulnerabilidade da nascente decorrente da
cobertura vegetal do entorno da nascente do Zé Cassete,
município de Mirassol D’Oeste
63
Quadro 5
Demonstrativo das espécies vegetais arbóreas mais comuns no
entorno da nascente
65
Quadro 6
Demonstrativo do quantitativo de vegetação por m² e
percentagem de vulnerabilidade, decorrente da cobertura
vegetal do entorno da nascente Carnaíba, Município de
Mirassol D’ Oeste
65
Quadro 7
Demonstrativo da percentagem da declividade e gradiente de
pressão exercida sobre a nascente
69
Quadro 8
Demonstrativo dos fatores e gradiente de pressão sobre as
nascentes dos córregos Zé Cassete, Carnaíba e Tereré
70
3º ARTIGO
CONDIÇÕES HIDRODINÂMICAS E QUALIDADE DA ÁGUA
NAS NASCENTES DOS CÓRREGOS, ZÉ CASSETE,
CANAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO
CAETÉ, SUDOESTE DO ESTADO DE MATO GROSSO
10
Quadro 1
Indicativo dos pesos das variáveis analisadas no IQA
87
Quadro 2
Classificação de qualidade da água segundo CETESB
(1988)
88
Quadro 3
Demonstrativo dos índices das variáveis físico/químicas
analisadas
94
Quadro 4
Demonstrativo
analisadas
94
dos
índices
das
variáveis
biológicas
11
LISTA DE TABELAS
2º ARTIGO
USO ATUAL, TOPOGRAFIA E ALGUNS ATRIBUTOS DO
SOLO NO ENTORNO DAS NASCENTES DOS CÓRREGOS ZÉ
CASSETE, CARNAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO CAETÉ, SUDOESTE DO ESTADO DE
MATO GROSSO, BRASIL
Tabela 1
Alguns atributos químicos e físicos dos solos e declividade do 73
entorno das nascentes Zé Cassete e Carnaíba, município de
Mirassol D’Oeste-MT, e nascente Tereré, município de São
José dos Quatro Marcos-MT
12
LISTA DE FIGURAS
1º ARTIGO
Páginas
FATORES CONDICIONADORES DA ORIGEM DAS
NASCENTES
DOS
CÓRREGOS
ZÉ
CASSETE,
CARNAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA
DO CÓRREGO CAETÉ, SUDOESTE DE MATO GROSSO
Figura 1
Mapa da sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté,
sudoeste do Estado de Mato Grosso
25
Figura 2
Perfil Geológico da serra do Caeté até as zonas de
encharcamento das Nascentes Zé Cassete Carnaíba
29
Figura 3
Metarenitos levemente metamorfizados. Coordenadas
geográficas das amostras: 15° 51’ 42” de latitude S e 58º
07’ 26” longitude O
31
Figura 4
Calcarenito. Coordenadas geográficas das amostras:15°
51’ 43” de latitude S e 58º 07’ 26” longitude O
32
Figura 5
Área de encharcamento na nascente do Zé Cassete.
Coordenadas geográficas: 15º 48’ 27” de latitude S e 58º
08’ 17” de longitude O
35
Figura 6
Intercalação entre siltitos e argilitos. Coordenadas
geográficas das amostras:15° 51’ 43” de latitude S e 58º
07’ 26” longitude O
35
Figura 7
Aspectos dos vales em área de Nascente na zona rural do
distrito de Sonho Azul. Coordenadas geográficas: 15º 48’
34” de latitude S e 58º 08’ 24” de longitude O
37
Figura 8
Afloramento da nascente do tipo difusa do córrego Tereré
no perímetro urbano do município São José Quatro
Marcos. Coordenadas geográficas: 15º 48’ 04” de latitude
S e 58º 10’ 25” de longitude O
38
Figura 9
Afloramento rochoso próximo da nascente no bairro
Zeferino I, em São José dos Quatros Marcos.
Coordenadas geográficas: 15º 38’ 42” de latitude S e 58º
10’ 24” de longitude O
39
Figura 10
Vale onde encontra-se a nascente no bairro Zeferino I no
município de São José dos Quatro Marcos. Coordenadas
geográficas: 15º 38’ 46” de latitude S e 58º 10’ 21” de
longitude O
39
13
2º ARTIGO
USO ATUAL, TOPOGRAFIA E ALGUNS ATRIBUTOS DO
SOLO NO ENTORNO DAS NASCENTES DOS
CÓRREGOS ZÉ CASSETE, CARNAÍBA E TERERÉ NA
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CAETÉ, SUDOESTE
DO ESTADO DE MATO GROSSO, BRASIL
Figura 1
Área de localização da bacia hidrográfica do ribeirão Caeté
(N1 Zé Cassete; N2 Carnaiba; N3 Tereré)
53
Figura 2
Coleta de amostras de solo para determinar a textura e
atributos químicos do solo. Coordenadas geográficas: 15º
48’ 28”, lat. S e 58º 08’ 19” long. O
57
Figura 3
Croqui demonstrativo do uso da terá no entorno da
nascente do córrego do Zé Cassete, distrito de Sonho
Azul-MT
62
Figura 4
Trilhas feitas pelo pisoteio do gado e cultivo de cana-deaçúcar
63
Figura 5
Pastagem e cobertura vegetal próximo da nascente, nas
coordenadas de 15º 46’ 25” de latitude S e 58º 07’ 29” de
longitude O
64
Figura 6
Croqui demonstrativo do uso da terra no entorno da
nascente do córrego do Tereré no perímetro urbano do
município de São José dos Quatro Marcos
68
3º ARTIGO
CONDIÇÕES HIDRODINÂMICAS E QUALIDADE DA
ÁGUA NAS NASCENTES DOS CÓRREGOS, ZÉ
CASSETE, CANAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO CAETÉ, SUDOESTE DO ESTADO
DE MATO GROSSO
Figura 1
Área de localização da bacia hidrográfica do ribeirão Caeté
(N1 Zé Cassete; N2 Carnaiba; N3 Tereré)
85
Figura 2
Perfis transversais da nascente do córrego Zé Cassete nos
períodos chuvoso e de estiagem
90
Figura 3
Perfis transversais da nascente do córrego Carnaíba no
período chuvoso e de estiagem
92
14
RESUMO
SOARES, José Carlos de Oliveira. Estudo de nascentes: subsídio a
políticas de gestão da sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté no
sudoeste do Estado de Mato Grosso-Brasil. Cáceres: UNEMAT, 2009. 105
p. (Dissertação – Mestrado em Ciências Ambientais)1
A temática ambiental se faz presente e necessária nas discussões do
homem moderno e, no rol dessas discussões, estão os temas relacionados aos
recursos hídricos. O objetivo desta pesquisa foi diagnosticar os processos
ambientais correlacionados que dão origem e estabelecem as pressões e as
características atuais sobre as nascentes dos córregos Zé Cassete, Carnaíba e
Tereré, na sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté, sudoeste de Mato Grosso.
As nascentes dos córregos Zé Cassete e Carnaíba estão nas coordenadas de
(15º 48’ 29” de latitude Sul e 58º 08’ 19” de longitude Oeste) e (15º 46’ 25” de
latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste), respectivamente, e a do córrego
Tereré, na coordenada geográfica de (15º 38’ 03” de latitude sul e 58º 10’ 14”
de longitude oeste). A pesquisa fundamentou-se teórico-metodológicamente
nas orientações da teoria do geossistema, operacionalizado através do método
de interpretação da fisiologia da paisagem, que se realizou através de
atividades de campo. O resultado mostra que a intersecção entre os fatores
geológicos, geomorfológicos combinados com circunstâncias climáticas, no
nível da escala local, condicionam o aparecimento das nascentes. As
condições atuais destas variam em função dos aspectos ligados às atividades
humanas e aos elementos geo-físicos presentes no entorno de cada uma delas
e, a qualidade da água e a variação da vazão e batimétrica resultam das
condições de uso no entorno e da sazonalidade do regime de chuvas na
região.
Palavras-chave: Origem de nascentes, pressões antrópicas, qualidade da
água, diagnóstico ambiental, Córrego Caeté, Bacia do Rio Paraguai.
1
Orientadora Profª Pós-Drª Célia Alves de Souza UNEMAT
15
ABSTRACT
SOARES, José Carlos de Oliveira. Estudy of Spring: Politics for
subsidize the Management of Hydrographic Sub-Basin from Caeté Stream
in the Southwest of Mato Grosso. Cáceres: UNEMAT, 2009. 105 p.
(Dissertation- Master in Environment Science)2
The environmental thematic is present and necessary on the quarrels of
modern man and, on these quarrels roll, there are the subjects related to the
hydrics resources. The objective of this research was to diagnosis the ambient
processes correlated which give origin and establish the current pressures and
characteristics on the springs of the streams Zé Cassete, Carnaíba and Tereré,
on the hydrographic sub-basin of the Caeté stream, in the southwest of Mato
Grosso. The studied springs are located in the hydrographic sub-basin of the
Caeté stream, being of the streams Zé Cassete and Carnaíba in the
coordinates of 15º 48 ' 29” of South latitude and 58º 08 ' 19” West longitude and
15º 46 ' 25” south latitude and 58º 07 ' 29” West longitude, respectively, and the
Tereré stream, in the geographic coordinate of 15º 38 ' 03” south latitude and
58º 10 ' 14” west longitude. The theorical/methodological bedding which guided
the research is based on the direction from the geosystem theory, it has been
used through the method of landscape physiology interpretation, which has
been carried through outdoor activities. The result shows that the linking
between the geologic, geomorphoologics factors combined with climatic
circumstances, on the local scale level, provide the springs appearance. The
current conditions of these ones, vary in function of the aspects linked to the
activities human beings and to the geophysical elements which appears in each
one of them and, the quality of the water and the variation of the outflow and the
measure of the place results from the conditions of the use around and different
periods of the rain regimen on the region.
Key Words: Springs origin, human being activities pressures, water quality,
ambient diagnosis, Caeté stream.
2
Major Professor: Célia Alves de Souza, UNEMAT
16
INTRODUÇÃO GERAL
Durante a sua história no planeta, o ser humano adquiriu um grande
artefato cultural e técnico e, através deles, principalmente após o marco
histórico da industrialização, vem efetuando importantes alterações no meio
ambiente. O modelo tradicionalmente utilizado para usufruir dos recursos que a
natureza oferece vem gerando, ao longo do tempo, o esgotamento dos
recursos naturais. O manejo irracional dos solos, muitas vezes, inviabiliza a
produção e compromete o equilíbrio dos ecossistemas.
Nesse contexto, torna-se evidente a necessidade de considerar as
interações entre os setores social, econômico e ambiental, a fim de conduzir
estratégias de sustentabilidade.
Cavalcanti (1995) afirma que se a sustentabilidade em sua conceituação
original significa essencialmente a possibilidade de se obterem condições
iguais ou superior de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em
dado ecossistema, quando aliada a noção de desenvolvimento, passou a se
referir à idéia de um limite (superior) para o progresso, onde se faz necessária
a adoção de políticas e estratégias para garantir que o homem não ultrapasse
um limite, mantendo assim, o suporte da vida que o sustém.
Dessa forma, tornou-se imprescindível a necessidade de compreender o
funcionamento dos sistemas ambientais, de modo que possa ter produzido
diagnósticos capazes de orientar medidas de intervenção e planejamento
desses ambientes.
Nos diagnósticos realizados para compreender a dinâmica ambiental é
fundamental que essa investigação seja feita considerando a perspectiva dos
processos desse ambiente, procurando compreender a maneira como
funcionou no passado e de como ele poderá operar no futuro (GREGORY,
1992).
A Agência Nacional das Águas (ANA), através da Lei 9.433/97,
determina a bacia hidrográfica como unidade territorial de gestão dos recursos
hídricos. Dessa forma, esta se torna o parâmetro de jurisdição para
empreendimento de diagnósticos ambientais que possam subsidiar políticas
publicas de planejamento e gestão do ambiente.
17
No contexto da bacia estão as nascentes, cuja estabilidade garante
equilíbrio e manutenção da bacia hidrográfica, o que significa a perpetuação
dos processos hidrológicos (deflúvio, regime de vazão e qualidade da água) e
manutenção de sua capacidade natural de suporte produtivo (biogeoquímica),
além da manutenção da diversidade ecológica (vegetação ciliar, protegendo as
zonas ripárias, reservas de vegetação natural) e sua estabilidade e capacidade
de resistir a mudanças ambientais (LIMA, 1986).
No contexto do debate ambiental que visa buscar estratégias para
modelos de gestão dos recursos hídricos no prisma da sustentabilidade,
objetivou-se, nesta pesquisa, diagnosticar os processos ambientais que dão
origem e estabelecem as pressões e as características atuais das nascentes
dos córregos Zé Cassete, Carnaíba e Tereré, na sub-bacia hidrográfica do
córrego
Caeté,
no
sudoeste
de
Mato
Grosso.
O
fundamento
teórico/metodológico que norteou a pesquisa estão fundamentados nas
orientações da teoria do geossistema; que analisa os fenômenos espaciais à
partir da integração dos fenômenos da natureza com a sociedade humana.
Dessa forma, este trabalho contém três artigos que apresentam, ao
mesmo tempo, autonomia nos conteúdos abordados em cada um deles, e
relação entre si, pois demonstram seqüencialmente, os fatores de origem das
nascentes, os processos interativos homem x meio que estabelecem as
pressões sobre estas nascentes e as condições atuais percebidas através da
avaliação das suas hidrodinâmicas e da qualidade da água nas sazonalidades
da região.
18
REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para uma
sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, 1995.
GREGORY, K. J. A. Natureza da Geografia Física. 1ª edição. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1992 (Tradução Eduardo de Almeida Navarro).
LIMA, W. de P. Princípios de hidrologia vegetal para o manejo de bacias
hidrográficas. Piracicaba: ESALQ/USP, 1986.
19
FATORES CONDICIONADORES DA ORIGEM DAS NASCENTES DOS
CÓRREGOS ZÉ CASSETE, CARNAÍBA E TERERÉ NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO CAETÉ, SUDOESTE DE MATO GROSSO
[Preparado de acordo com as normas da Revista Brasileira de Geociências]
RESUMO: A temática ambiental se faz presente e necessária nas
discussões do homem moderno e, no rol dessas discussões, estão os temas
relacionados aos recursos hídricos. Este estudo objetivou identificar as
características geológicas, geomorfológicas e de clima, especialmente a
pluviosidade, do local das nascentes, relacionando essas características às
suas origem e dinâmica. As nascentes estudadas estão localizadas na subbacia hidrográfica do córrego Caeté, sendo as dos córregos Zé Cassete e
Carnaíba nas coordenadas de 15º 48’ 29” de latitude Sul e 58º 08’ 19” de
longitude Oeste e 15º 46’ 25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste,
respectivamente, e a do córrego Tereré, na coordenada geográfica de 15º 38’
03” de latitude sul e 58º 10’ 14” de longitude oeste. Na metodologia, traçou-se
um transecto à partir da unidade mais alta e expressiva do entorno até as
respectivas zonas de encharcamento ou afloramento de água. A partir desse
transecto, observado sempre das partes mais elevadas para os lugares mais
baixos, observou-se as impressões litológicas e geomorfológicas do local,
relacionando as informações de campo com as o relatório do projeto
Radambrasil. O levantamento de dados referente às questões climáticas e
índices do volume pluviométrico foram levantados em relatório de empresas
públicas e privadas localizadas próximas das nascentes estudadas. Os
resultados evidenciam que a água percolada na litologia das formações
Raizama e Araras armazena e aflora nos vales de formação Bauxi dando
origem às nascentes do distrito de Sonho Azul. Na nascente do córrego Tereré,
em Quatro Marcos, a água encontra condições de armazenamento e
afloramento em vale com estrutura de base granítica do Complexo Xingu.
Palavras-chave: Processos interativos, nascentes, geologia, geomorfologia,
clima, bacia hidrográfica.
20
CONDITIONING FACTORS OF THE SPRINGS ORIGIN FROM ZÉ CASSETTE
STREAMS, CARNAÍBA AND TERERÉ IN THE HYDROGRAPHIC SUB-BASIN
FROM THE CAETÉ STREAM, SOUTHWEST OF MATO GROSSO
ABSTRACT: The environmental thematic is present and necessary in
the debate preocupation quarrels of concerning modern man and, on these
quarrels roll, there are the subjects related to the hydrics resources. This study
was intended to identify the geologic, geomorphologics, characteristics and
climate, especially precipitacion, of the springs place, relating these
characteristics to their origin and dynamics. The studied springs are located in
the hydrographic sub-basin from the Caeté stream, being the streams Zé
Cassete and Carnaíba on the coordinates of 15º 48 ' 29” South latitude and 58º
08 ' 19” west longitude and 15º 46 ' 25” south latitude and 58º 07 ' 29” west
longitude, respectively, and the Tereré stream, in the geographic coordinate of
15º 38 ' 03” south latitude and 58º 10 ' 14” west longitude. In the methodology, it
has been traced a transect from the highest and expressive unit of the places
around until the respective zones of accumulation of water or water outcrop.
From this passage, which has been observed always from the highest parts to
the lowest places, observed the rockys and geomorphologics impressions of the
place, relating the field information to the report of the Radambrasil project. The
collected data refering to the climatic questions and indices of the rain volume
had been raised in report for located public companies and private ones located
next to the studied springs. The results had demonstrated that the infiltrated
water in the rocks of the Raizama and Araras formations, stores and arises on
the valleys of Bauxi formation giving origin to the springs from the Sonho Azul
district. In the spring of the Tereré stream, in Quatro Marcos, the water finds
conditions of storage and outcrop in valley with the structure with granite base
from Xingu Complex.
Key-Words: Interactive process, springs, geology, geomorphology, climate,
hydrographic basin
21
1. INTRODUÇÃO
A temática ambiental ganhou expressão nas discussões do homem
moderno à partir do final da década de 60 e início da década de 70 à luz de
conferências como a de Paris em 1968 e Estocolmo em 1972. Ainda que
tardia, o início dessas discussões significou a possibilidade de rever modelos,
condutas e, acima de tudo, de redirecionar a forma de intra-relações que os
seres humanos estabelecem no seu convívio social e, ainda, na sua interrelação com os elementos da natureza. No bojo destas discussões, faz-se
presente a necessidade de entender-se, de forma mais holística, a interação
que ocorre entre os elementos do meio físico da qual decorre os processos
ambientais e, sobre os quais, o homem se organiza.
A subtração dos recursos da natureza de forma irracional e
inconseqüente tem custado muito caro à sociedade e, da mesma forma, o
entendimento setorizado e fragmentado construído, à luz da ciência moderna,
em relação aos atributos ambientais e sua organização no sistema, chamado
por Gonçalves (2002), de conhecimento “atomístico/individualista”, não tem
dado conta de fornecer as respostas para diluir um sem número de problemas
de ordem ambiental que hoje ameaçam a sobrevivência das comunidades
humanas. Especialmente quando esses problemas apontam para a escassez
de elementos naturais indispensáveis à nossa sobrevivência, tais como a água.
Nesse sentido, tornou-se cada vez mais premente a necessidade de
entender como acontecem os processos ambientais que dão como resultado,
os recursos naturais de que dispomos. Isso tornaria possível a construção de
programas de gerenciamento e manejos num determinado ambiente sobre o
qual substantivam as organizações humanas.
A busca desse entendimento de inter-relações tem fundamento na teoria
do Geossistema, derivado da Teoria dos Sistemas e proposto por Sotchava
(1977). Essa proposta de análise acrescenta o elemento humano, juntamente
com os outros elementos da natureza, como agente potencial na troca de
energia dentro de um sistema e, por isso, com capacidade de alterá-lo. Nas
colocações de Mendonça (1997), trata-se de uma conceituação da epiderme
22
da Terra, onde se encontram, misturam-se e interferem a litomassa,
aeromassa, hidromassa e biomassa.
No rol desses bens ambientais, cujos processos que o materializam
precisam ser melhor compreendidos, estão as nascentes. Neste contexto,
conhecer os fundamentos que possam explicar as suas origens dentro de uma
bacia hidrográfica, significa ter em mãos um instrumento de extrema relevância
para estratégias de gestão e manejo da bacia hidrográfica.
De acordo com Calheiros (2004) entende-se por nascente o afloramento
do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo
(represa), ou curso d’água. Elas se localizam em encostas ou depressões do
terreno ou ainda no nível de base representado pelo curso d’água local e
podem ser perenes, temporárias e intermitentes.
As nascentes podem ser formadas tanto por lençóis freáticos
(depositados sobre camadas permeáveis) quanto artesianos (depositadas entre
duas camadas permeáveis) podendo surgir por contato das camadas
permeáveis com a superfície, por afloramento dos lençóis freáticos em
depressões do terreno, por falhas geológicas ou por canais cársticos
(VALENTE & GOMES, 2003).
Existem seis tipos de nascentes, que assim podem ser especificadas:
A) As nascentes de contato, como normalmente surgem no
sopé de morros, são conhecidas como nascentes de encostas.
B) As nascentes de depressões podem se manifestar em
pontos de borbulhamento bem definidos chamados olhos d’água.
C) As nascentes por pequenos vazamentos superficiais
espalhados por uma área que apresenta encharcamento (brejo) e vai
acumulando água em poças até dar início a fluxos contínuos, sendo
conhecidas como nascentes difusas.
D) As nascentes provenientes de lençóis artesianos podem ser
de contato, ocorrendo normalmente em região montanhosa e com fortes
declives entre áreas próximas, o que facilita o afloramento das camadas
responsáveis pelo confinamento dos lençóis freáticos.
23
E) As nascentes provenientes de falhas geológicas são
capazes de provocar a ligação de lençóis confinados com a superfície.
F) As nascentes formadas a partir de canais e galerias
formadas em rochas cársticas (rochas carbonatadas) e que podem ser
alimentadas pela água de chuva, através de dolinas (VALENTE & GOMES,
2003)
Entre esses fundamentos de origem das nascentes estão àqueles
relacionados ao clima, a geologia e a geomorfologia. Segundo Christofoletti
(1970), a análise de aspectos relacionados a drenagem, relevo e geologia pode
levar à elucidação e compreensão de diversas questões associadas à dinâmica
ambiental local.
Ayoade (1996) afirma que o clima constitui elemento essencial nos
processos ambientais, daí a necessidade de entendê-lo a cada vez mais na
dinâmica ambiental da qual participa. Venturi (2005) menciona que em relação
ao clima, na maioria dos estudos de caso, não há mapeamento nas mesmas
escalas que geralmente existem para a drenagem, relevo, rochas, solo,
vegetação e de outros aspectos.
No contexto dessas relações a geologia também é elemento de
inequívoca importância. A consideração e o estudo dos processos geológicos
que atuam na superfície da Terra, ou que a possam afeta-la, é uma parte
substancial e uma condição básica de sucesso do exercício de avaliar as
capacidades e os impactos das diferentes atividades exercidas em cada zona
definida de sua superfície (SIMÕES, 2008).
Segundo Moura (1984), citado por Christofoletti (1998), os estudos
geomorfológicos aplicados servem de base para a compreensão das estruturas
espaciais, não só em relação à natureza física dos fenômenos como a natureza
sócio-econômica dos mesmos. Uma das mais importantes funções da
geomorfologia aplicada é a de gerar informações relevantes para o
planejamento
territorial.
A
potencialidade
aplicativa
do
conhecimento
geomorfológico insere-se, portanto, no diagnóstico das condições ambientais,
contribuindo para orientar a alocação e o assentamento das atividades
humanas.
24
A potencialidade aplicativa do conhecimento geomorfológico insere-se,
portanto, no diagnóstico das condições ambientais, contribuindo para orientar a
alocação e o assentamento das atividades humanas.
Diante dessas assertivas, pergunta-se sobre em que condições os
elementos geológicos, geomorfológicos e climáticos relacionam-se, na escala
local, para dar origem às nascentes naquelas respectivas localidades. Parte-se,
então, da hipótese que a interação desses elementos, com a natureza que se
apresentam, nas especificidades do local são fatores determinantes para o
aparecimento desse recurso natural naquelas unidades de paisagem. Desta
forma, objetivou-se, neste trabalho, identificar as características geológicas,
geomorfológicas e de clima, especialmente a pluviosidade, do local de três
nascentes da sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté, relacionando-as e
avaliando o papel desses atributos ambientais na origem, retroalimentação e
dinâmica dessas nascentes.
2. MATERIAL E MÉTODOS
As nascentes estudadas estão localizadas na sub-bacia hidrográfica do
córrego Caeté no sudoeste de Mato Grosso. As nascentes dos córregos Zé
Cassete e Carnaíba estão localizados no Distrito de Sonho Azul, próximas à
serra do Padre Inácio. A primeira entre as coordenadas de 15º 48’ 29” de
latitude Sul e 58º 08’ 19” de longitude Oeste e a segunda entre as coordenadas
de 15º 46’ 25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste. A nascente do
córrego Tereré está localizada no perímetro urbano do município de São José
dos Quatro Marcos, na coordenada geográfica de 15º 38’ 03” de latitude sul e
58º 10’ 14” de longitude oeste (Figura 01).
25
N3
N- Nascente
Figura 01 - Mapa da sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté, sudoeste do Estado de
Mato Grosso. Adaptado de ARAÚJO (2008).
Dessa forma, com base nos fundamentos da teoria do Geosistema
descrita por Sotchava (1977) citado por Mendonça (1997), o levantamento de
dados teve por base a atividade de campo investigativa descrita por Compiane
& Carneiro (1993) como uma atividade que permite ao pesquisador resolver
determinados problemas no campo relacionados à sua curiosidade, à medida
que para essa observação elabore hipóteses a serem pesquisadas e estruture
seqüência de observação e interpretação, dividindo as estratégias para validálas, avaliando nesse sentido, a necessidade de recorrer a literatura
especializada.
Assim, para caracterizar, interpretar e avaliar os aspectos geológicos
das respectivas áreas, elaborou-se um transecto à partir da unidade de maior
26
altitude (serra) até as respectivas zonas (depressão) de encharcamento ou
afloramento de água, considerado as variações litológicas da área.
Nas nascentes dos Córregos Zé Cassete e Carnaíba, por estarem
ambas paralelas e na mesma unidade de paisagem do declive geomorfológico
da Serra do Padre Inácio, com prolongamento da serra do Caeté, considerouse o mesmo transecto para a observação.
A caracterização geomorfológica foi orientada metodologicamente pelo
tratamento da compartimentação topográfica descrito por Ab’ Saber (1969)
como
forma
de
entender
a
compartimentação
topográfica
regional,
caracterizando e descrevendo, tão exatas quanto possíveis, as formas de
relevo de cada um dos pontos estudados.
As informações obtidas em campo foram relacionadas com as
informações levantadas e demonstradas tanto nos mapas (folha SD. 21,
Cuiabá) quanto no relatório do projeto RADAMBRASIL (1982).
O levantamento de dados referente às questões climáticas e índices do
volume pluviométrico foram levantados em relatórios de empresas públicas e
privadas que possuem estações próximas das nascentes estudadas, tais como
Empaer (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural)
e Cooperb (Cooperativa Rio Branco). Os dados levantados sobre esse
elemento foram relacionados às classificações climáticas descritas por Koppen,
citado por Ayoade (1996).
3. RESULTADO E DISCUSSSÃO
3.1 Nascentes rurais do distrito de sonho Azul
3.1.1 Condicionadores Climáticos
A disponibilidade de água em uma região é resultado da interação entre
o clima e outros elementos (geologia, cobertura vegetal e tipos de solos)
ambientais. O fornecimento de água nas nascentes estudadas está relacionado
à sazonalidade do regime de chuvas na região com dois períodos distintos,
chuvoso e de estiagem, característico do Pantanal Mato-Grossense.
27
O Pantanal é uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta
e está localizado no centro da América do Sul, na bacia hidrográfica do Alto
Paraguai. Do total de 230 mil km² de toda a sua extensão no continente
americano, 138.183 km² está localizada no Centro Oeste brasileiro, dos quais,
65% no território do estado de Mato Grosso do Sul e 35% em Mato Grosso. A
planície do Pantanal Mato-grossense é levemente ondulada, pontilhada por
raras elevações isoladas, geralmente chamadas de serras e morros, e rica em
depressões rasas. Seus limites são marcados por variados sistemas de
elevações como chapadas, serras e maciços, e é cortada por grande
quantidade de rios dos mais variados portes, todos pertencentes à grande
Bacia do Rio Paraguai. Devido à baixa declividade desta planície no sentido
norte-sul e leste-oeste, a água que cai nas cabeceiras do rio Paraguai, levando
quatro meses ou mais para atravessar todo o Pantanal.
O processo de
inundação é dividido em quatro fases: enchente, cheia vazante e seca que
regulam os padrões e processos dos ecossistemas pantaneiros. Os
ecossistemas são caracterizados por cerrados e cerradões sem alagamento
periódico, campos inundáveis e ambientes aquáticos, como lagoas de água
doce ou salobra, rios, vazantes e corixos. Esse é o habitat de muitas espécies
de peixes, como o pintado, o dourado, o pacu etc, e de outros animais como os
jacarés, capivaras, ariranhas, entre outros e, também, para o homem
pantaneiro, que organiza a sua vida à partir do “rítmo das águas” que ocorre no
local (REBELLATO & CUNHA, 2005),
Estudos de Amaral Filho, (1986), citado por Souza et al (2009) apontam
que a maior parte dos solos do Pantanal é arenosa e suporta pastagens nativas
utilizadas pelos herbívoros nativos e pelo gado bovino, introduzido pelos
colonizadores da região. Uma parcela da pastagem original foi substituída por
forrageiras exóticas, como a Braquiária.
Na área de estudo, sobre a influência dos desígnios climáticos do
Pantanal, a precipitação anual situa-se na ordem de 1500 mm, na sua maioria
caracterizadas por chuvas convectivas no verão, influenciadas diretamente
pela massa equatorial continental e poucas chuvas do tipo frontais que ocorrem
no início do solstício de inverno; estas ocasionadas pela entrada de frentes
28
frias trazidas pela massa polar atlântica. Neste contexto, o regime pluviométrico
apresenta duas estações bem distintas: uma seca, que vai de maio a setembro,
portanto, entre o final do equinócio de outono até o final do solstício de inverno,
quando as chuvas reduzem sensivelmente ou são quase ausentes; e outra
chuvosa, que vai de outubro a abril, ou seja, entre os meados do equinócio de
primavera, passando pelo solstício de verão até meados do equinócio de
outono (NETO, 1997).
As nascentes são influenciadas pela distribuição da precipitação durante
o ano, uma vez que são abastecidas tanto pelo escoamento superficial quanto
pelo lençol freático que constitui as suas zona de recarga. No período de
estiagem ocorre a oscilação do lençol freático diminuindo o volume de água
que as abastece. Dessa forma, a nascente do córrego Zé Cassete possui
caráter intermitente, ficando sem vazão as poças que ali se formam no período
da estiagem.
Conforme dados apontado por Azevedo & Sverzut (2003), os meses
mais chuvosos são dezembro, janeiro e fevereiro, apresentando totais acima
de 300 mm e, os quatro meses mais secos, compreendem os meses de junho,
julho, agosto e setembro.
A temperatura média anual na região é da ordem de 28º C. No ano de
2008, conforme informações de moradores do local, a amplitude térmica
oscilou em 25º C, uma vez que registrou mínima de 15º C, no início de junho
de 2008, e máxima de 40º C, em setembro do mesmo ano. A umidade relativa,
nos meses de novembro a abril, chega a superar 80 % e, no período de seca,
oscila entre 30 e 60 %, (AZEVEDO & SVERZUT, 2003).
As altas temperaturas na região contribuem para aumentar a
evapotranspiração, que leva para atmosfera vapor d’ água do solo, dos
organismos vegetais e da própria massa hídrica local. Conseqüentemente,
parte do volume de água das nascentes se evapora no período de estiagem
dando maior clareza às nascentes intermitentes que ali existem.
29
3.1.2 Condicionadores Geológicos
A informação dos aspectos geológicos permite compreender o
funcionamento de diversos eventos de natureza físico-ambiental, pois
possibilita explicar a ocorrência ou escassez de água em uma região em
função do pacote rochoso que forma a sua base.
O perfil geológico apresentado a seguir, demonstra que o embasamento
rochoso ao longo do terreno, está caracterizado por rochas calcareníticas na
parte mais alta e por rochas argilíticas /siltosas na parte mais baixa da estrutura
topográfica; fato esse que permite que ocorra a captação de água através das
fendas e da porosidade presente nas rochas das formações Raizama e Araras.
A água captada nas rochas dessas formações rochosas são armazenadas pela
impermeabilidade das rochas argilíticas da formação Bauxi (Figura 02).
Figura 02 - Perfil Geológico da serra do Caeté até as zonas de encharcamento das
Nascentes Zé Cassete Carnaíba. Org: José Carlos de Oliveira Soares
O relatório do RADAMBRASIL (1982) afirma que a Formação Araras, de
um modo geral, é muito rica em estruturas sedimentares primárias e
30
secundárias. Entre as primárias destacam-se as estratificações, sobressaindose as laminações plano-paralelas, que são mais comuns nos litótipos da porção
inferior da unidade, notadamente nos calcários, as brechas intraformacionais,
estromatólicos e eólitos. De permeio às estruturas secundárias, aparecem os
estilólitos, geodos, drusas e nódulos de sílex. Os geodos podem formar-se em
qualquer cavidade enterrada. Estas cavidades podem ser bolhas de gás em
rochas ígneas, bolsas sob as raízes de árvores, vesículas em lava após uma
erupção vulcânica ou mesmo tocas de animais. Com o tempo, a parede
externa da cavidade endurece, e os silicatos e carbonatos dissolvidos
depositam-se na superfície interior. O fornecimento lento de constituintes
minerais pelas águas subterrâneas ou por soluções hidrotermais, permite a
formação de cristais no interior da câmara oca. O relatório do RADAMBRASIL
(1982) fornece uma peculiar interpretação para a formação dos geodos na
região estudada, atribuindo a sua formação devido a percolação de água em
nível subterrâneo do terreno que, por sua vez, provocou a dissolução de
material sedimentar provocando cavidades irregulares em partes do pacote
rochoso.
Na parte superior da Serra do Caeté, um prolongamento à oeste da
Serra do Padre Inácio a oeste, em nível de detalhe, evidencia-se indicadores
marcantes de contato entre o arenito arcósico da formação Raizama com as
rochas calcárias da formação Araras. Essa afirmativa pode ser comprovada
através da visualização de matacões de rochas calcárias e blocos areníticos
rolados do topo para a base. Assim, na parte superior da encosta, numa faixa
que transita entre os 280 e 260 metros de altitude, no sentido do topo para a
base, evidencia-se rochas de arenito maciço, com pouca estratificação e bem
preservados.
Destacam-se
nesse
conjunto,
os
metarenitos
levemente
metamorfizados (Figura 03).
Nestas serras, que constituem divisores de água entre sub-bacias na
bacia hidrográfica do rio Jauru, registrou-se a presença de rochas (arenito e
calcário) porosas e permeáveis que armazenam água subterrânea. Essa área
pode ser considerada um local de recarga das nascentes dos córregos Zé
Cassete e Carnaíba, pois as rochas areníticas e calcárias facilitam a
31
percolação da água, formando verdadeiros reservatórios naturais no subsolo
do local.
Figura 03 – Metarenitos levemente metamorfizados. Coordenadas geográficas das
amostras: 15° 51’ 42” de latitude sul e 58º 07’ 26” longitude oeste
A Formação Raizama, no interior do Grupo Alto Paraguai, tem seus
contatos inferiores concordantes e gradacionais realizados respectivamente
com os calcários da Formação Araras, muito bem observados na borda leste
da serra do Padre Inácio (RADAMBRASIL, 1982). No local, a atividade de
campo permitiu observar que à medida que se eleva na topografia, ocorre
variação granulométrica na composição rochosa, e destaca-se nos pontos de
maior altitude o domínio dos arenitos em detrimento do desaparecimento do
calcário dolomítico. Nessas áreas de contato entre as diferentes formações as
rochas estão mais intemperizadas, permitindo maior infiltração da água.
Na faixa que se situa aproximadamente entre 260 a 240 metros de
altitude na Serra do Caeté mesclam aspectos litológicos das formações
Raizama e Araras. Assim, nesta face geológica do terreno, destacam-se os
calcarenitos cujas amostras rochosas aparecem de cor roxo-esbranquiçado
(Figura 04).
32
Figura 04 – Calcarenito. Coordenadas geográficas das amostras: 15° 51’ 43” de
latitude sul e 58º 07’ 26” longitude oeste
O trecho compreendido entre 240 e 220 m de altitude, na mesma
elevação do Caeté, é caracterizado pelo domínio do calcário dolomítico, cuja
base deste conjunto rochoso marca a face superior da Formação Araras. Sobre
esse assunto, o RADAMBRASIL (1982) assegura que a Formação Araras é
constituída essencialmente por rochas carbonáticas, caracterizadas por
calcários pelíticos, calcítico e dolomitos. Dessa forma, assegura que nesse
ambiente cárstico, são encontrados os aqüíferos de condutos, gerados pela
dissolução do calcário e que formam reservatórios subterrâneos, com grande
volume de água.
A denominação Araras foi atribuída por Evans (1894) quando este
procedeu o reconhecimento geológico na porção centro-norte de Mato Grosso,
referente ao pacote de rochas calcárias que ocorrem em cadeias paralelas de
morros, entre o alto curso do rio Paraguai e o rio Cuiabá. Figueiredo et al
(1974), no mapeamento geológico sistemático do Projeto Alto Guaporé,
redefiniram e conceituaram estratigraficamente o Grupo Araras sob a
denominação de Formações Araras, englobando-a no Grupo Alto Paraguai,
devido terem observado continuidade deposicional com as Formações Puga e
33
Raizama. Na área de abrangência das rochas da Formação Araras, tanto na
região da Província Serrana como nas outras partes onde afloram, são os
dolomitos, litótipos mais abundantes e os que respondem pela mais expressiva
feições topográficas desta Formação (RADAMBRASIL, 1982).
Ressalta-se que entre o topo da serra e sua base, onde se evidencia
mais nitidamente a formação Araras, observa-se a abundância de blocos de
arenito com marca de ondas. Estes arenitos estão sendo rolados para o sopé
da serra e se fazem caracterizar por estratificações cruzadas típico dos
chamados ambientes deltaicos; tradicionais do contato entre os ambientes
marinho-raso e continental.
O termo "delta" vem da quarta letra do alfabeto grego, usado por
Heródoto (500 a.C.) para descrever a região da foz do rio Nilo. Este termo é
ainda utilizado pelos geólogos e geógrafos para denominar depósitos
sedimentares contíguos provenientes da ação de geleiras ou de um rio. Na era
paleozóica, graças às freqüentes oscilações do nível dos oceanos durante a
época pleistocênica, massas hídricas marinhas puderam atingir o interior dos
continentes, propiciando processos de sedimentação cuja estratificação
guardam as características desse processo através do carregamento e
acomodação dos materiais carregados. Quando as correntes que transportam
e depositam os sedimentos mudam de direção ou depositam sobre superfície
irregular, os estratos são cruzados, constituindo as estratificações cruzadas
(ASSINE & VESELY). No Brasil, a maior parte da transgressão marinha sobre
o continente ocorreu durante o período Devoniano e que propiciou as
formações dos deltas que hoje registram rochas com estratificações como as
percebidas na área de estudo.
Na área de depressão entre o sopé da serra até a chamada zona de
abaciamento, onde está localizada a nascente do córrego Zé Cassete,
observa-se em um morro testemunho isolado na paisagem, com predomínio de
quartzitos de clivagem ardosiana. Estes fragmentos rochosos são chamados
de “quase-ardósia” e imprimem, no terreno, expressões litológicas que são da
Formação Moenda. Os morros testemunhos são compostos por rochas
metamorfizadas. A ocorrência deste elemento na paisagem geomorfológica do
34
local caracteriza-se pelo alto grau de intemperismo. Ocorre esparsamente na
parte oeste da fralda da serra do Padre Inácio entre de Mirassol D’oeste e
Sonho Azul (Projeto RADAMBRASIL, 1982).
Em relação à ocorrência da formação moenda no local, o relatório do
projeto RADAMBRASIL (1982) salienta que essa formação caracteriza-se
litologicamente por paraconglomerados grauvaqueanos, petromíticos que
ocorre bordejando a Província Serrana, principalmente na sua porção oriental,
e no flanco oeste da serra do Padre Inácio.
As rochas que afloram neste trecho, compreendido entre a serra e as
áreas de nascentes, apresentam-se bastante metamorfizadas. Esse indicador
demonstra
que
essas
rochas
passaram
por
intenso
mecanismo
de
metamorfização durante os processos geológicos pretéritos. Dessa forma,
conclui-se que esse pacote rochoso que se encontrava na base, após intensa
pressão exercida pelos pacotes rochosos superiormente sobrepostos, em
tempos geológicos mais remotos, especialmente pacotes da Formação
Diamantino, aflorou num período geológico mais recente, evidenciando os
quartzitos.
As nascentes dos córregos Zé Cassete e Carnaíba encontram-se em
áreas de abaciamento de ocorrência da formação Moenda, em contato com a
formação Bauxi. Assim, esta formação assenta-se sobre a Formação Bauxi e
sobrepõe-se à Formação Araras, (BARROS & SIMÕE, 1980). Nesses locais,
há forte concentração de plintitos, argilitos e siltitos, ou, mais explicitamente, os
metapilitos. Estes componentes rochosos tornam a área impermeável, o que
contribui para o surgimento de nascentes. O embasamento argilo-siltoso
dificulta a percolação da água para grandes profundidades, e isso constitui
forte indicador de espaço com lençol freático próximo da superfície (Figura 05),
facilitando o surgimento das nascentes.
35
A
B
Figura 05 - Áreas de encharcamento na nascente do Zé Cassete. Coordenadas
geográficas: 15º 48’ 27” de latitude sul e 58º 08’ 17” de longitude oeste. Fonte: José
Carlos de Oliveira Soares (2008)
Em relação às características da litologia da formação Bauxi, o relatório
do projeto RADAMBRASIL (1982) cita que a rocha mostra-se intensamente
ferrificada, razão pela qual sua cor é marrom-avermelhada, mostrando-se
bastante endurecida. Intercaladas nestes arenitos são freqüentes lâminas de
siltitos e argilitos (Figura 06).
Figura 06 - Intercalação entre siltitos e argilitos. Coordenadas geográficas das
amostras:15° 51’ 43” de latitude sul e 58º 07’ 26” longitude oeste
36
Neste sentido, as nascentes afloram em um contexto transicional entre
as formações Moenda com Bauxi, onde a primeira assenta-se sobre a
segunda. Luz et al (1980) argumentam sobre o posicionamento da Formação
Bauxi sob as rochas da Formação Moenda, em contato superior concordante e
gradacional angular e erosivo e ainda por falhamentos inversos.
3.1.3 - Condicionadores Geomorfológicos
As nascentes dos Córregos do Zé Cassete e Carnaíba encontram-se
distanciadas entre si em sentido latitudinal, aproximadamente 5 kilômetros.
Estão presentes nas unidades de relevo a Província Serrana (Serra do Padre
Inácio e Serra do Caeté) e a Depressão do Rio Paraguai (Depressão do
Caeté).
Os estudos realizados por Ross (1994) contribuíram para classificar o
relevo da Província Serrana (Superfície Dissecada) como um conjunto de
anticlinais e sinclinais formando um alinhamento de serras grosseiramente
paralelas entre si, com plano de concavidade voltado para o sudoeste,
caracterizado por forte presença de dobras e secundariamente falhas, onde o
processo erosivo atuou em diferentes fases ao longo do Cenozóico, e até
mesmo no Mesozóico.
O relevo atual é resultado das fases erosivas que
atuaram na estrutura dobrada de diferentes formações litológicas. Apresentase com variadas formas, ocorrendo estrutura em anticlinais com dorsos
preservados, erodidos, vales de sinclinais preservados, sinclinais alçados,
escarpas estruturais geradas por falhas, depressões embutidas e arrasadas
por erosão.
A Depressão do Alto Paraguai corresponde a uma superfície de relevo
pouco dissecada, com pequeno caimento topográfico de nordeste para
sudoeste onde o nível altimétrico oscila entre 120 e 160 m. O relevo é
caracterizado pelo aparecimento de pequenos vales, limitados nas zonas de
interflúvio (limite dos pequenos vales), aparecendo vários trechos embaciados,
com abertura em vales que se abrem geralmente para o sentido sul (Figura
07).
37
A
B
Nascente em área de
vale
Nascente
Figura 07 - Aspectos dos vales em área de nascente na zona rural do distrito de
Sonho Azul. Coordenadas geográficas: 15º 48’ 34” de latitude sul e 58º 08’ 24” de
longitude oeste. Fonte: José Carlos de Oliveira Soares (2008)
O divisor de águas encontra-se na Serra do Padre Inácio e na Serra do
Caeté na Província Serrana prolongada em sentido leste/oeste. Registra-se ao
longo do perfil geomorfológico a presença de morros testemunhos de estrutura
rochosa antiga que foi erodida ao longo do tempo geológico. As nascentes
instalam-se na área de depressão do córrego Caeté que forma a sub-bacia
hidrográfica de mesmo nome e que, por sua vez, localiza-se na bacia
hidrográfica do rio Jauru, na macro depressão do rio Paraguai.
3.2 Condicionadores climáticos, geológicos e geomorfológicos da
nascente do perímetro urbano de São José dos Quatro Marcos
A nascente do córrego Tereré está localizada no Bairro Zeferino I, no
perímetro urbano de São José dos Quatro Marcos, entre as coordenadas de
15º 38’ 03” de latitude sul e 58º 10’ 14” de longitude oeste. As características
climáticas e geomorfológicas são parecidas com as nascentes avaliadas no
setor rural do distrito de Sonho Azul. A maior diferença desta nascente em
relação às nascentes do Zé Cassete e Carnaíba está no seu aspecto geológico
e litológico, cuja base é composta por rochas do complexo Xingu. Por estar
localizada numa área de depressão, sofre influência direta do lençol freático,
cujo período de maior recarga acontece na estação chuvosa, dessa forma,
nesse período a água flui em vários pontos e na estiagem esta torna-se
intermitente.
38
No que diz respeito ao aspecto geológico, o local encontra-se
sobreposto em complexo rochoso com alta capacidade de impermeabilização.
Sobre esse assunto, o projeto RADAMBRASIL (1982) relata que a região está
localizada no macro complexo rochoso do Xingu e têm como componentes
litológicos mais comuns a biotita/gnaisses, hornblenda/gnaisses, migmatitos,
granitos, xistos, filitos e milonitos (cataclasitos).
Quanto à profundidade do embasamento na área não existe registro,
porém, o trabalho permitiu a visualização de afloramentos de blocos de
granitos próximos à nascente. Dessa forma, pode-se sugerir que o
embasamento rochoso (impermeável) e o aspecto do relevo tenham
contribuído para instalação da nascente no fundo do vale (Figura 08).
A
B
Figura 08 – Afloramento da nascente do tipo difusa do córrego Tereré no perímetro
urbano do município São José Quatro Marcos. Coordenadas geográficas: 15º 48’ 04”
de latitude sul e 58º 10’ 25” de longitude oeste. Fonte: José Carlos de Oliveira Soares
(2008)
Almeida (1964) englobou as rochas mais antigas, que ocorrem no vale
do rio Jauru, no complexo cristalino brasileiro. Litologicamente identificou
“micaxistos, anfibolitos e granitos mais ou menos laminados”. De acordo com
Almeida (1978), o conjunto de metamórficos englobados no Complexo do
Xingu faz parte da unidade basal do Catron Amazônico. Vieira (1965) reportouse sucintamente acerca do complexo Brasileiro de idade arqueana, como
constituído por gnaisse muito feldispático e xistosos quartzo-sericita-xisto
azulado e quartzo biotita-xisto cinza escuro, litótipos esses escritos às
proximidades de Porto Esperidião, distante a cerca de 100 quilômetros a
sudoeste de São José dos Quatro Marcos (Figura 09).
39
A
B
Figura 09 – Afloramentos rochosos encaixados (A) e rolados (B) próximos da
nascente do córrego Tereré, no bairro Zeferino I, em São José dos Quatros Marcos.
Coordenadas geográficas: 15º 38’ 42” de latitude sul e 58º 10’ 24” de longitude oeste.
Fonte: José Carlos de Oliveira Soares (2008)
No que concerne aos aspectos geomorfológicos, a área da nascente
está localizada na macro-depressão do Rio Paraguai, em um vale com abertura
para o sentido oeste. Trata-se de um local cujo vale tem seus topos aplanados
no entorno. Almeida (1978) classifica a região como a unidade geomorfológica
a Planície Cristalina do Jauru (projeto RADAMBRASIL, 1982).
O interflúvio possui declives moderados que variam de 4,1 % a 6,62 %
na mensuração de Garcia & Piedade (1984), e esse fato influencia no
carregamento de água e sedimentos para a nascente (Figura 10).
A
B
Figura 10 - Vale onde encontra-se a nascente do córrego Tereré, em quintais (A) e
rua (B) no bairro Zeferino I, município de São José dos Quatro Marcos. Coordenadas
geográficas: 15º 38’ 46” de latitude sul e 58º 10’ 21” de longitude oeste. Fonte: José
Carlos de Oliveira Soares (2008)
40
O projeto RADAMBRASIL (1982) relata que a geomorfologia da região
destaca-se pelas formas tabulares, com diferentes ordens de grandeza e
aprofundamento de drenagem separado por vales de fundo plano. Em relação
aos índices de dissecação, esta área oscila em altura que varia de 750 a 1750
metros de profundidade.
No contexto do quadro climático regional, nesta nascente, a precipitação
anual é também na ordem de 1500 mm com regimes sazonais bem definidos
na distribuição do volume pluviométrico. No local, os meses mais chuvosos
são dezembro, janeiro e fevereiro, apresentando totais acima de 300 mm
mensais. Os quatro meses mais secos compreendem os meses de junho,
julho, agosto e setembro.
Do
exposto,
percebe-se
que
esta
área
possui,
em
síntese,
embasamento geológico composto por rochas graníticas que dificultam a
percolação da água para grandes profundidades do terreno. A água captada e
convergida para o local, graças ao aspecto geomorfológico que imprime a
forma em U no terreno, armazena a água próxima da superfície do vale e esta
transborda no período chuvoso, dando origem à nascente do córrego Tereré
cujo regime é intermitente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ambiente é um todo integrado, produto da intersecção de variados
atributos ambientais tais como a geologia, a geomorfologia, aspectos
climáticos, entre outros, que materializam na biosfera bens naturais
necessários à sobrevivência dos seres vivos, especialmente do ser humano.
Assim, os atributos ambientais são condições “sine qua non” para que as
populações humanas possam organizar-se em sociedade e buscar melhor
qualidade de vida.
O modelo capitalista de produção encontra-se seu sentido mais pleno na
acumulação e no lucro. Dominante e hegemônico no mundo atual,
especialmente nas sociedades ocidentais, a afirmação desse sistema de
produção se deu pela retirada cada vez mais intensa dos elementos da
41
natureza para satisfazer os anseios de conforto e bem estar do ser humano ao
longo da história. Desse modo, quanto maior a capacidade que o homem tem
para subtrair os elementos naturais para transformá-los em mercadoria, maior
também serão o número de produtos disponíveis ao ser humano para
traduzirem-se no seu conforto e bem estar. Porém, esse mesmo sistema que
requer um número cada vez mais crescente de bens naturais para serem
transformados em produtos que assegurem o bem estar do consumidor e o
lucro do capitalista, como qualquer outro modelo, não sobreviveria com o
exaurimento dos bens que a natureza ainda oferece.
No computo destas observações, percebe-se que, paradoxalmente, se
de um lado, o sistema de produção em nome do atendimento às necessidades
humanas e busca de melhor qualidade de vida “inspire” a exploração cada vez
maior dos elementos da natureza, de outro, a retroalimentação da capacidade
de continuar produzindo para atender as necessidades de consumo, depende,
necessariamente, da continuidade desses elementos para, deles então, serem
retirados a matéria e/ ou a energia de que o homem precisa.
No entrave deste paradoxo, é preciso encontrar caminhos para garantir
o uso dos recursos que a natureza nos oferece sem causar o seu extermínio.
Um caminho para essa possibilidade é que se busque cada vez mais
entendimento do funcionamento integrado dos elementos da natureza. São
diagnósticos no âmbito das bacias hidrográficas que subsidiarão as políticas de
gestão ambiental para essas áreas.
Sobre esse diagnóstico, que considerou a interação e o papel dessas
variáveis geográficas na origem das nascentes, é possível considerar, sobre as
nascentes localizadas no distrito do Sonho Azul e na cidade de São José dos
Quatro Marcos:
•
Do ponto de vista geológico, a captação da água ocorre em todo o
margeamento das serras do Padre Inácio, na sua porção leste, e no
prolongamento desta, serra do Caeté, na porção oeste. Esse processo,
é possível graças às fendas que ocorrem nas rochas areníticas e
dissecada da formação Raizama e à permeabilidade das rochas
calcárias da formação Araras que permitem o percolamento da água
42
nessa parte do terreno. Por outro lado, na estrutura do subsolo, a água
percolada e escoada em direção às depressões, local das nascentes,
encontra dificuldades de infiltração para maiores profundidades,
especialmente no embasamento argilo/siltoso da Formação Bauxi.
•
Na análise da estrutura geomorfológica verificou-se que as maiores
elevações
estão
à
montante
das
nascentes,
margeando-as
latitudinalmente e, esse fato, possibilita que a água escoe para os vales
formados ao norte destas elevações. Esse fato constitui-se muito
relevante na distribuição e acondicionamento de água nos vales
delimitados por pequenos interflúvios.
•
A partir das circunstâncias climáticas, especialmente do regime
pluviométrico, entende-se que o período de maior captação de água e,
por conseguinte, de maior acúmulo e escoamento, ocorre no verão,
entre os meses de outubro a abril, em detrimento do período de menor
recarga pluviométrica que ocorre entre os meses de abril a setembro.
Este é o ritmo do regime de chuvas no alto Pantanal Mato-grossense
capaz de produzir as fitofisionomias de inundação do local e determina o
volume de recarga de água no subsolo e o período em que o material
hídrico transborda para a superfície do solo, dando origem às nascentes,
de caráter intermitente ou permanente, assim como as nascentes que se
apresentam no local.
Dessa forma, da intersecção entre os fatores geológicos, que
condicionam a percolação e o armazenamento da água na estrutura
argilítica/siltosa, com os fatores geomorfológicos, que condicionam a captação
e convergência da água nas depressões, mais as circunstâncias climáticas,
que condicionam o volume de água que cai no terreno, aparecem as nascentes
dos Córregos Carnaíba de caráter permanente, localizada próximo a rodovia
MT 248 e Zé Cassete, de caráter intermitente, localizada próxima da estrada
vicinal do Distrito de Sonho Azul.
No que diz respeito à nascente do perímetro urbano de Quatro Marcos
esta está assentada na estrutura geológica do complexo Xingu, grupo Alto
Paraguai, estrutura esta composta por rochas graníticas que dificultam a
43
infiltração da água para grandes profundidades do subsolo. No aspecto
geomorfológico a nascente está localizada no centro de uma estrutura de
relevo organizada em forma de U, com declive mais acentuado vindo das
porções leste (montante), norte (margem direita) e sul (margem esquerda).
Essa estrutura interfere diretamente na forma de captação da água que
converge totalmente para o fundo do abaciamento em forma de vale.
Por fim, o regime de chuvas, que mostra maior concentração
pluviométrica no verão e baixo volume no inverno, determina a quantidade de
água que se convergirá para o ponto da nascente.
Assim, com base no entendimento da teoria dos sistemas que menciona
que nos ambientes há uma troca de energia entre os atributos ambientais para
dar forma ao que se apresenta na realidade, podemos afirmar que a interrelação dos atributos climáticos, geológicos e geomorfológicos com as
características que se apresentam na realidade do local, são determinantes na
origem das nascentes analisadas.
Quando consideramos que os princípios da sustentabilidade impõem ao
homem moderno, a adoção de políticas de gestão norteadas por valores éticos
e de responsabilidade com a qualidade de vida atual e também com a da
geração futura, é imperioso que se considere, de igual forma, que tais políticas
sejam norteadas por diagnósticos que, baseados nas particularidades
ambientais, possam indicar a capacidade de suporte do ambiente onde a
gestão será efetivada, por que assim não o sendo, quaisquer atitudes de
planejamento terão o sentido de caminhar por algum lugar que não se conhece
e não se sabe como proceder.
Nesta pesquisa realizada nas nascentes dos córregos Zé Cassete,
Carnaíba e Tereré na sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté, produziu-se, ao
menos em parte, esse diagnóstico que poderá orientar novos caminhos a
serem tomados pela população dessas áreas, tendo em vista as peculiaridades
dos aspectos geológicos, geomorfológicos e climáticos desses locais. Dessa
forma, o resultado deste trabalho constitui exemplo de primeira medida de
gestão possível para a sub-bacia hidrográfica estudada, por que aponta
cognição sobre os fatores de ordem natural que garantem o abastecimento
44
vigente nas nascentes e, assim, um passo importante de gestão ambiental
dentro dos preceitos da sustentabilidade está dado.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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47
USO ATUAL, TOPOGRAFIA E ALGUNS ATRIBUTOS DO SOLO NO
ENTORNO DAS NASCENTES DOS CÓRREGOS ZÉ CASSETE, CARNAÍBA
E TERERÉ NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO CAETÉ,
SUDOESTE DO ESTADO DE MATO GROSSO, BRASIL
[Preparado de acordo com as normas da Revista Brasileira de Gestão e
Desenvolvimento Regional]
RESUMO: O processo de urbanização e o modelo de práticas
agropecuárias hoje aplicadas no campo têm acelerado o ritmo de pressão que
as atividades humanas provocam nos recursos naturais. Esse modelo de uso e
manejo da terra tem reflexos no sudoeste do estado de Mato Grosso com a
degradação das bacias hidrográficas e de suas fontes de abastecimento. Com
base nesta realidade, O objetivo deste estudo foi de avaliar a pressão que as
atividades humanas decorrentes do uso da terra, combinadas com os aspectos
do meio físico/natural exercem sobre as nascentes de modo a caracterizá-las.
Esta pesquisa ocorreu em três nascentes localizadas na sub-bacia hidrográfica
do córrego Caeté, sendo as dos córregos Zé Cassete e Carnaíba nas
coordenadas de 15º 48’ 29” de latitude Sul e 58º 08’ 19” de longitude Oeste e
15º 46’ 25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste, respectivamente, e
a do córrego Tereré, na coordenada geográfica de 15º 38’ 03” de latitude sul e
58º 10’ 14” de longitude oeste. As duas primeiras nascentes mencionadas
localizam-se na zona rural do distrito de Sonho Azul em Mirassol D’ Oeste-MT
e a terceira no perímetro urbano de São José dos Quatro Marcos-MT. O
tratamento metodológico do estudo fundamentou-se no método de
interpretação da fisiologia da paisagem, que se realizou através de atividades
de campo. O resultado da pesquisa mostrou que a nascente do córrego
Carnaíba está mais preservada, em função da menor proporção das atividades
econômicas no entorno, preservando boa parte dos aspectos originais. A
nascente que se encontra mais pressionada pelas atividades econômicas
desenvolvidas nas proximidades é a nascente do córrego Zé Cassete onde o
cultivo da cana-de-açúcar tem levado à redução da fertilidade do solo do
entorno, requerendo medidas imediatas de recuperação. A nascente do
córrego Tereré já perdeu praticamente todas suas características originais em
função da urbanização, caracterizando-se, atualmente, como local de acúmulo
de dejetos domésticos, requerendo, dessa forma, intervenções imediatas de
recuperação, a serem desenvolvidas pelo poder público em parceria com a
população que vive no entorno.
Palavras-chave: Nascentes, ambiente rural, ambiente urbano, pressão
antrópica, atributos naturais, degradação.
48
CURRENT USE, TOPOGRAPHY AND SOME ATTRIBUTES OF THE GROUND
AROUND THE SPRINGS OF STREAMS ZÉ CASSETTE, CARNAÍBA AND TERERÉ
IN THE SUB- BASIN HYDROGRAPHIC FROM CAETÉ, SOUTHWEST OF MATO
GROSSO, BRAZIL
ABSTRACT: The process of urbanization and the pratic models of
farming applied nowadays on the country has sped up the pressure rhythm
which the human beings activities pressured on the natural resources. This
model of use and handling of the land has consequences in the southwest of
Mato Grosso with the degradation of the hydrographics basins and their
supplying sources. Based on this reality, the objective of this study was to
evaluate the pressure that the human beings activities decurrent of the land
using, combined with the aspects of the natural/physicist exert on the springs in
order to characterize them. This research occurred on three springs located in
the hydrographic sub-basin of the Caeté stream, being the streams; Zé Cassete
and Carnaíba on the coordinates of 15º 48 ' 29” South latitude and 58º 08 ' 19”
west longitude and 15º 46 ' 25” south latitude and 58º 07 ' 29” west longitude,
respectively, and of the Tereré stream, in the geographic coordinate of 15º 38 '
03” south latitude and 58º 10 ' 14” west longitude. The two first mentioned
springs are situated on the country zone from Sonho Azul district-MT and the
third is on the urban perimeter from São José dos Quatro Marcos - MT. The
methodological treatment of the study was based on the method of landscape
physiology interpretation which has been carried through outdoor activities. The
result of the research showed that the Carnaiba stream spring is more
preserved, because of the smaller ratio of economic activities around,
preserving great part from the original aspects. The spring which is more
pressured by the developed economic activities in the neighborhoods, is the
spring of the Zé Cassete stream, requiring recovery immediatly recovery. The
spring of the Tereré stream already lost practically all its original characteristics
because of the urbanization, characterizing itself, currently, as accumulation
place of domestic dejections, requiring, immediate interventions of recovery, to
be developed for the public power in partnership with the population who live in
there.
Key-Word: Springs, country environment, urban envirorment, human being
pressure, natural attributes, degradation.
49
1. INTRODUÇÃO
Embora em diferentes formas, escalas e magnitude, o ser humano vem,
ao longo da história, efetuando importantes alterações sobre o meio ambiente.
Esse processo intensificou especialmente depois do acontecimento da
Revolução Industrial, quando os elementos técnicos passaram a mediar cada
vez mais a relação dos homens entre si e, destes, com a natureza. Como
conseqüências desse processo agravaram-se os problemas ambientais e essa
temática tornou-se pauta de ordem no debate atual.
O uso da terra no estado de Mato Grosso voltado para o
desenvolvimento das atividades econômicas, historicamente, esteve ligado às
práticas da agropecuária desenvolvida em grandes propriedades. Nesse
aspecto, a pecuária foi durante muito tempo o principal item da produção
ocorrida no estado, manejada em grandes extensões de terra e tendo como
base o sistema extensivo, especialmente no Pantanal Mato-grossense. Porém,
nos últimos anos, com a abertura da fronteira agrícola na região amazônica, e
através dela, com a inserção de novas tecnologias de correção dos solos do
Cerrado, esse cenário ganhou forma nova com o crescimento da produção
agrícola que, por sua vez, também redimensionou as formas de uso da terra no
estado. Esse processo de rearticulação da forma de uso da terra em Mato
Grosso está fortemente ligado ao fluxo migratório que aqui ocorreu com a vinda
de pessoas de outras regiões do país.
Na porção sudoeste de Mato Grosso, nos municípios que hoje fazem
parte da microrregião do Jauru, tais como Mirassol D’ Oeste e São José dos
Quatro Marcos, os fluxos migratórios começaram a ocorrer por volta da década
de 60 e intensificaram à partir dos nos 70, graças aos programas de incentivo à
ocupação promovido pelos governos federal e estadual nas terras que até
então eram devolutas. Através da venda de terras a baixo preço, o Estado
intencionava, de fato, a inserção desta região no cenário produtivo nacional.
Nesse período, a venda de terras representava para o Estado, a saída do seu
estágio de território pouco povoado, semi-isolado, não integrado ao restante do
país. Assim, esperava-se com a venda de terras povoar os designados
“espaços-vazios” bem como absorver lucrativas somas para a economia do
50
Estado (HEINST, 2003). A forma como ocorreu a entrada desses migrantes na
região, sem nenhuma condição de infra-estrutura logística e de tecnologias,
expõem esse novo dono da terra à uma relação de enfrentamento hostil com a
natureza. Era preciso desmatar e queimar para sobreviver, garantir a
sobrevivência e as aspirações econômicas que motivaram a sua vinda, a
qualquer custo ambiental. É desse enfrentamento com a natureza, que se
modelou o início do uso da terra na sub-bacia hidrográfica do córrego Caeté.
Esse processo cristalizou, já no início da ocupação, a pressão humana sobre
as nascentes e os canais fluviais ali existentes.
Inicialmente o processo de ocupação dessa região esteve calcado nas
práticas agrícolas voltados para a agricultura familiar, mais tarde, essa prática
reorientou-se para o uso da terra nas culturas comerciais, especialmente a
monocultura da cana e criação de gado. Desconsiderando as especificidades
do lugar, migrantes incentivados pela propaganda oficial do governo
devastaram imensas áreas de vegetação nativa para introduzir culturas
comerciais, entre elas, a soja, algodão, cana-de-açúcar, gado de corte, entre
outros (FREITAS, 2005).
Paralelamente ao uso da terra para a prática agropecuária, ocorreu o
processo de urbanização e, igualmente ao que se observou no meio rural, esse
processo iniciou-se ás margens dos cursos d’ água, muito significativos para o
abastecimento da população.
Os padrões de expansão urbanas apresentam fortes
repercussões ambientais, em especial sobre os mananciais de
água, suprimindo-lhes os ecossistemas e as últimas reservas
de vegetação natural e criando situações de escassez, mesmo
em locais com grande disponibilidade natural. Seu potencial
de interferência é particularmente agudo nas grandes cidades,
onde todos os seus efeitos são multiplicados (TAGININ E
MAGALHÃES, 2001, p. 04).
Como em qualquer outra organização sistêmica, a paisagem do lugar
reflete o resultado de múltiplas forças que se convergem para dar significado
ao que se observa na paisagem atual. Corroborando com essa assertiva,
Christofoletti (1982) afirma que considerando a multiplicidade de fatores,
forças, elementos e relações que se encontram nas organizações espaciais, o
51
número de possíveis organizações que ocorrem no ambiente praticamente é
infinito, pois cada arranjo representa uma possibilidade.
Mais do que em qualquer outra unidade espacial, é no âmbito da bacia
hidrográfica que essa articulação de fatores e forças se torna mais evidente.
Desses fatores e forças participam os aspectos do relevo, da vegetação, do
solo, das diversas formas como o ser humano se organiza nos lugares, entre
outros.
Muito
se
tem
falado
da
preservação
dos
recursos
naturais,
especialmente no que tange às bacias hidrográficas. Não obstante, a pressão
exercida pelas atividades humanas sobre esses recursos é incontestável,
principalmente nos casos da manutenção da vegetação original no entorno das
nascentes e ao longo dos cursos d’ água. Segundo Lima (1989), a presença da
vegetação contribui tanto para diminuir a ocorrência do escoamento superficial,
que pode causar erosão e arraste de nutrientes e sedimentos para os cursos d'
água, quanto para desempenhar um efeito de filtragem superficial e
subsuperficial dos fluxos de água para os canais.
Outro fator não menos importante no equilíbrio de forças no contexto
da bacia hidrográfica está relacionado à declividade. A declividade do terreno é
expressa como a variação de altitude entre dois pontos do terreno, em relação
à distância que os separa. Em porcentagem, significa a relação do ângulo
formado entre a distância horizontal e vertical entre esses dois pontos numa
porção de um terreno qualquer. Essa análise é importante por que, entre outras
coisas, permite perceber a relação do relevo com a drenagem, infiltração da
água, taxa de sedimentação etc. (GARCIA & PIEDADE, 1984). No mesmo
sentido, Ray (1963) cita que cada padrão de relevo está associado a um
processo geomorfológico específico de erosão ou deposição e reflete a origem
e o caráter geral da paisagem.
Em relação aos aspectos pedológicos, é preciso ressaltar, inicialmente,
o papel que as variáveis químicas e físicas do solo desempenham no contexto
de suas caracterizações e potencial de uso em um determinado setor do
terreno. Ao lado dessas variáveis, influem no solo aspectos geográficos aqui já
mencionados, como é o caso da topografia. Para Smith & Aandahl (1957), as
52
unidades de solo não ocorrem ao acaso na paisagem, mas possuem um
padrão de distribuição relacionado à forma do terreno, ao material de origem do
solo, à influência da vegetação, ao tempo e à maneira pela qual o homem as
tem utilizado.
Diante da abordagem apresentada, questiona-se sobre os efeitos que
as
variáveis
naturais,
como
as
características
do
solo,
aspectos
geomorfológicos e fitogeográficos, em seu aspecto original e quando
descaracterizados em função do uso da terra pelo ser humano, podem exercer
sobre os recursos hídricos, em especial nas nascentes. A hipótese é os efeitos
dessas variáveis naturais e humanas sobre as nascentes são proporcionais às
condições do uso da terra, caracterizado pelo modelo de interferência nos
recursos naturais, no nível de detalhe da escala local.
Dessa forma, com base na perspectiva geo-sistêmica, descrito por
Mendonça (1997), esta pesquisa objetivou levantar o papel que as pressões
decorrentes das atividades humanas, através do uso e ocupação do solo,
combinadas com circunstâncias do meio físico/natural (pedologia, topografia e
vegetação), desempenham sobre as características atuais das nascentes dos
córregos Zé Cassete, Carnaíba e Tereré, este último em ambiente urbano.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo encontra-se três nascentes da sub-bacia hidrográfica
do córrego Caeté (Figura 01), localiza-se no sudoeste de Mato Grosso.
As duas nascentes rurais Zé Cassete e Carnaíba encontram-se no
Distrito de Sonho Azul, no município Mirassol do Oeste. A nascente Zé Cassete
localiza-se nas coordenadas de 15º 48’ 29” de latitude Sul e 58º 08’ 19” de
longitude Oeste e a nascente Carnaíba localiza-se nas coordenadas de 15º 46’
25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste. A nascente do córrego
Tereré está localizada no perímetro urbano do município de São José dos
Quatro Marcos, nas coordenadas geográficas de 15º 38’ 03” de latitude sul e
58º 10’ 14” de longitude oeste.
53
N3
N- Nascente
Figura 01 - Área de localização da bacia hidrográfica do ribeirão Caeté (N1 Zé
Cassete; N2 Carnaiba; N3 Tereré). Adaptado de ARAÚJO (2008).
O princípio metodológico teve por base a teoria do Geossistema,
proposto por Sotchava (1962) e descrito no trabalho de Mendonça (1997) que,
utilizando os princípios sistêmicos, aliada a noção de paisagem, procura
analisar integradamente o complexo-físico-geográfico, ou seja, a conexão da
natureza com a sociedade humana. Com base nesse princípio, o tratamento
metodológico fundamentou-se no método de interpretação da fisiologia da
paisagem, arguida por Ab’ Saber (1969). Esse método propicia que se estude a
dinâmica dos processos morfodinâmicos atuantes na paisagem para conhecer
a funcionalidade na sua totalidade. Através de equipamentos específicos,
obtêm-se informações sobre o comportamento dos elementos do clima, tipos
do solo, papel da cobertura vegetal, entre outros.
54
Essa proposição de Ab’ Saber (1969), com fundamento nos princípio da
análise geossistêmica, que considera o meio como produto das interações
humanas, mostra-se bastante adequada, pois permite entender o papel que os
fatores físicos-geográficos exercem sobre as nascentes e até que ponto
corroboram para definir a vulnerabilidade destas em relação à dinâmica
ambiental e, à partir destes dados, instruir a otimização do uso desses
espaços.
2.1 Uso/ocupação do solo
O estudo do uso atual foi realizado através de trabalho de campo,
descrita por Compiane & Carneiro (1993) como uma atividade que permite ao
pesquisador resolver determinados problemas relacionados à sua curiosidade,
à medida que para essa observação elabore hipóteses a serem pesquisadas e
estruture uma seqüência de observações e interpretações, decidindo as
estratégias para validá-las, avaliando nesse sentido, a necessidade de recorrer
a literatura especializada. Assim, em campo buscou-se observar o processo de
ocupação de cada área, procedendo anotações dos aspectos evidentes na
paisagem,
especialmente
àqueles
relacionados
às
atividades
sócio-
econômicas ali desenvolvidas. Para completar essas informações, buscou-se
ainda dados disponibilizados pela Secretaria de Planejamento do Estado de
Mato Grosso (SEPLAN) sobre os municípios onde a área de estudo está
localizada.
2.2 Aspectos topográficos
A declividade foi medida utilizando-se mangueira de nível, a partir das
zonas de interflúvio no terreno até o ponto de afloramento e/ ou zona de
encharcamento. Chama-se zona de interflúvio a delimitação do terreno onde se
forma os pequenos abaciamentos. As classes de declividade foram
reconhecidas através dos parâmetros apontados por Garcia & Piedade (1984),
(Quadro 01).
55
Quadro 1 – Classes de relevo em função da declividade do terreno.
Classe
Declividade (%)
Interpretação
A
<3
Fraca
B
3a6
Moderada
C
6 a 12
Moderada a forte
D
12 a 20
Forte
E
20 a 40
Muito forte
F
> 40
Extremamente forte
A declividade foi observada em intervalos de 10 metros. De posse
desses dados, utilizando-se da equação d(%) = DN/DH x 100, onde a
porcentagem do declive (d) é igual a distância do nível (DN) sobre a distância
horizontal (DH), calculou-se as declividades das zonas de abaciamentos e
mensurou-as como fatores de pressão exercidos sobre os afloramentos de
água.
2.3 Situação da cobertura vegetal
O estudo da vegetação buscou avaliar quatro aspectos:
A cobertura vegetal nativa dos pontos estudados antes da sua retirada.
Para isso, buscaram-se informações com moradores antigos na localidade e
efetuou-se levantamento através da comparação com fragmentos de
vegetação na mesma unidade de paisagem, próxima do local de estudo.
Identificação das espécies vegetais arbóreas presentes no entorno das
nascentes.
A densidade média da vegetação ainda existente no entorno da
nascente, relacionando esta informação com a legislação pertinente (Código
Florestal, Lei nº 4.771/65). Para proceder essa análise, considerou-se a
fórmula de densidade [ind./m²],
ρ=
nº ind.
área
56
Onde:
ρ= densidade média da vegetação;
nº ind = número de indivíduos;
área = área em m².
Para quantificar o número de indivíduos por área, considerou-se apenas
as unidades arbóreas lenhosas com ramificações que sobressaíssem do caule
a partir de 50 cm do nível do solo (YAMAMOTO et al, 2005).
Porcentagem de proteção e vulnerabilidade da nascente, propiciado pela
cobertura vegetal do entorno, à partir dos parâmetro do art. 2º. do Código
Florestal (Lei nº. 4.771/65). Considerando que, dado às necessidades que o
ser humano tem de intervir na natureza para subtrair seus recursos, o comando
legal mencionado é a tese conclusiva da sociedade brasileira para que se
tenha 100 % de êxito de proteção desse atributo ambiental. Neste sentido, para
chegar a essa porcentagem, adotou-se o seguinte procedimento matemático
utilizando-se a seguinte fórmula desenvolvida neste trabalho:
PRP=
ρ VR
LPI
x100
Onde:
PRP= porcentagem real de proteção
ρVR= densidade média de vegetação real do entorno
LPI= limite de densidade de vegetação ideal.
O limite de densidade média de vegetação ideal, é obtido da densidade
média de vegetação, por m², em área da mesma unidade de paisagem no
entorno que, num raio de 50 m², ainda guarda todas as características da
vegetação original, sendo esta, então, a densidade média de vegetação
necessária para guardar 100% de proteção da nascente, à partir do
componente arbóreo. A densidade média de vegetação num raio de 50 m² é
obtido pelo número de indivíduos num raio de 50 m², dividido pela respectiva
área.
57
2.4 Aspectos pedológicos
Para analisar os aspectos pedológicos do entorno dos afloramentos de
água avaliou-se alguns atributos químicos e físicos do solo de cada nascente.
A coleta teve por base um limite no raio de 50 metros. A escolha dessa
medida fundamentou–se no Código Florestal (Lei nº. 4.771/65) que determina
esse raio como área de preservação permanente, em caso de nascentes.
Considerando esse raio de coleta, as amostras foram retiradas em lados
diversos das nascentes, tendo em vista declividades e diferentes formas de
uso. Em cada área foram coletadas três amostras de solo nas profundidades
de 0 a 0,20 e 0,20 a 0,40 m para análise de parâmetros relacionados à
fertilidade e para determinação da textura e duas amostras indeformadas nas
profundidade de 0 a 0,10 e 0,10 a 0,20 cm para determinação da densidade do
solo (Figura 02).
Figura 02 – Coleta de amostras de solo para determinar a textura e atributos químicos
do solo. Coordenadas geográficas: 15º 48’ 28”, latitude sul e 58º 08’ 19” longitude
oeste. Fonte: José Carlos de Oliveira Soares (2008)
Todas as determinações relativas à fertilidade do solo foram realizadas
conforme Embrapa (1997): textura (método da pipeta); Ca2+; Mg2+ e Al3+ (KCl 1
mol L-1); acidez potencial (solução SMP); P e K+ (Mehlich 1), sendo o P
quantificado por colorimetria, após reação com molibidato de amônio; carbono
58
orgânico (CO) (oxidação via úmida com K2Cr2O7 0,4 mol L-1), sendo a MO
obtida multiplicando-se o valor do CO por 1,724. Parâmetros como capacidade
de troca de cátions total (CTC a pH 7,0) e efetiva (CTCefe), saturação por bases
(V) e saturação por alumínio (m) foram calculados para todas as amostras. No
estudo da densidade do solo, foi adotado o método do anel volumétrico
(EMBRAPA, 1997).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 As nascentes rurais do distrito de Sonho Azul
3.1.1 Ocupação e uso da terra
De acordo com Mandrile (2003), a comunidade de Sonho Azul foi
fundada por volta do ano de 1963 por iniciativa do senhor Ananias e sua
esposa, senhora Antonieta, que eram donos das terras. Juntamente com as
famílias dos senhores Antonio Francisco de Paula, Manoel Francisco de Paula
e Frederico Schuh deram início às primeiras atividades no local instalando,
assim, o povoado que hoje conta com uma população de aproximadamente
1200 habitantes.
O processo de ocupação na área de estudo iniciou com incentivos
governamentais para povoamento da região sudoeste de Mato Grosso através
de vendas de terras devolutas a preços considerados baixos para a época. No
início da ocupação as atividades agrícolas eram voltadas para a subsistência
(agricultura familiar) sendo cultivado arroz, feijão, milho, mandioca e criação de
pequenos animais como porcos e galinha (HEINST, 2003).
Na década de 80, essas pequenas propriedades onde se praticava a
agricultura de subsistência, foram perdendo espaço para a criação de gado de
corte e leiteiro. Nesse contexto, instalaram-se grandes frigoríficos e laticínios
na região, especialmente nas cidades próximas de Araputanga e São José dos
Quatro Marcos. Segundo Neuburger & Geipel (2008), esse fato aconteceu por
que os solos arenosos da região dificultavam a produção de cultivos anuais na
região, com isso, a rentabilidade da agricultura baixou e muitas famílias,
59
geralmente bastante endividadas, deixaram suas propriedades migrando para
as novas frentes pioneiras em Rondônia. Estas áreas foram ocupadas ou pelas
fazendas de gado vizinhas ou por propriedades médias de pecuária leiteira.
Nos anos 90, com o corte dos subsídios para a produção de alimentos
básicos até então oferecidos pelo governo federal, ao mesmo tempo em que
ocorreram os incentivos dados ao PROÁLCOOL, observa-se mudança no
cenário da produção agropecuária da região, especialmente em Mirassol D’
Oeste, com a entrada da cultura da cana-de-açúcar, que passa então a
coexistir com a pecuária. Nesse município, com sede localizada a cerca de 12
quilômetros do distrito de Sonho Azul, instalou-se uma usina de álcool,
denominada Cooperb, em meados da década de 90. Porém, no final dessa
mesma década as atividades dessa usina foram suspensas.
No ano de 2003, ocorreu um processo de reativação das atividades
ligadas à cultura da cana-de-açúcar; fato este corroborado pela retomada da
produção de álcool na Cooperb, em Mirassol D’ Oeste. Novamente, esse fato
redimensionou a forma de uso da terra no ambiente rural desse município,
incluindo o distrito de Sonho Azul, pois a criação de gado passou então a
coexistir com a cana-de-açúcar, tornando-se estas as principais atividades
econômicas da região.
A monocultura da cana-de-açúcar, fazendo parte do atual processo de
expansão da agricultura capitalista no campo mato-grossense, tem mostrado
forte tendência a concentração de terras, com incorporação das pequenas e
médias propriedades rurais pelo produtor mais abastado. Dados do IBGE
apontados por Moreno & Higa (2005), indicam que houve um avanço bastante
significativo da área colhida dessa cultura entre os anos de 1995 e 2003,
passando de 130.446 ha para 196.684 ha nesse período. Nesse mesmo
sentido, houve também um aumento do rebanho bovino no Estado, com efetivo
saltando de 6.545.956 em 1985 para 24.613.718 no ano de 2003. Porém, uma
parcela significativa da criação de bovino, especialmente na região do
Pantanal, ainda é predominantemente nos moldes da pecuária extensiva que,
por vez, requer maiores áreas de terra para aumentar a produção.
60
No município de Mirassol D’ Oeste o aparecimento da cultura e aumento
da produção da cana-de-açúcar, juntamente com o aumento do rebanho bovino
no modelo extensivo na primeira metade da última década, seguem a
tendência do Estado de Mato Grosso à medida que incrementa novas áreas de
terras para a demanda produtiva. De acordo com dados da Secretaria de
planejamento (Seplan-MT, 2003- 2005), no caso da cana-de-açúcar, houve
aumento significativo tanto na área plantada quanto no volume de produção
(Quadro 2).
Quadro 02 - Demonstrativo da evolução do plantio da cana-de-açúcar no município de
Mirassol D’ Oeste
Produção de Cana-de-Açúcar
2003
2004
2005
Área
Cultivada (ha)
Toneladas
Área Cultivada
(ha)
Toneladas
Área
Cultivada (ha)
Toneladas
250
16.250
550
37.400
750
60.257
Fonte: Seplan-MT, Anuário estatístico, anos (2003 a 2005)
Observa-se que o incremento da área plantada da cana-de-açúcar
cresceu na ordem de 300 % em dois anos e, é certo que, esse incremento só
faz sentido com a incorporação de áreas que antes eram ocupadas por práticas
da agricultura familiar ou pecuária, ou mesmo constituíam reservas florestais
ainda preservadas. Dessa forma, o avanço sobre novas áreas constituem
formas de pressão pelo uso da terra sobre os bens ambientais ali existentes,
neste caso, sobre as nascentes.
Em relação à criação de gado bovino, houve aumento na produção entre
os anos de 2001 a 2005, porém, esse crescimento não ultrapassa a marca de
27,70 %. Ao observar a tendência de avanço na criação de gado nesse
período, percebe-se que de 2001 e 2004 houve crescimento, ocorrendo
diminuição do rebanho em 2005 (Quadro 03).
Quadro 03 - Demonstrativo da dinâmica da criação de gado bovino em Mirassol
D’Oeste
Criação de gado
2001
111.777
2002
131.780
2003
142.329
2004
150.361
Fonte: Seplan-MT, Anuário estatístico, anos (2002 a 2005)
2005
142.745
61
Quando se compara os avanços e recuos entre a produção da cana-deaçúcar e criação de gado no município de Mirassol D’ Oeste, percebe-se que,
entre os anos de 2003 e 2005, quando é possível fazer esta comparação,
houve um incremento de apenas 416 indivíduos no plantel, o que equivale a
irrisória soma de 0,29 % no volume total do rebanho em dois anos. Esses
números são bastante contrastantes frente ao aumento de 270,8 % no volume
da produção da cana-de-açúcar em toneladas e 300 % de aumento na área
plantada.
Esses números mostram que a pecuária cede espaço para a cultura da
cana-de-açúcar e ainda reforçam a tese de que o seu avanço na região ocorre
em áreas onde a vegetação original teve que ser retirada ou em áreas
preteritamente usadas para a criação de gado, principalmente em terras de
pequenos criadores que não conseguem melhorar as técnicas de manejo por
falta de recursos. Novamente, a pressão do capital monocultor sobre as
pequenas propriedades se concretiza.
De qualquer forma, tanto a prática da pecuária, prevalente na região de
Mirassol D’ Oeste até os primeiros cinco anos desta década, quanto a cultura
da cana-de-açúcar constituem hoje fortes variáveis de pressões sobre os
recursos hídricos da região. No caso da pecuária, observa-se que os criadores
intervêm nos pontos de brotamento da água, retirando a vegetação do entorno
para a introdução da pastagem e construindo reservatórios para a
dessedentação animal. Já os plantadores de cana-de-açúcar retiram a
vegetação natural para aumentar a área de produção. Esta é a realidade que
se evidencia nas nascentes do distrito de Sonho Azul, especialmente na do
córrego Zé Cassete (Figura 03).
A Lei nº 4.771/65 (Código Florestal) define que as áreas de preservação
permanente, tais como as nascentes ou olhos d’ água, tem a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem estar dos seres humanos.
62
Figura 03 - Croqui demonstrativo do uso da terra no entorno da nascente do córrego
do Zé Cassete, distrito de Sonho Azul-MT. Org: José Carlos de Oliveira Soares
Na nascente do Zé Cassete a vegetação original foi totalmente retirada
para dar lugar ao pasto e à plantação de cana-de-açúcar. As formas de uso
estão assim distribuídas no seu entorno: na porção oeste para o cultivo de
cana de açúcar, e a leste para a criação de gado. No local, a caminhada do
gado forma trilhas em direção à nascente (Figura 4). No entorno, restam
apenas algumas espécies remanescentes bastante isolados, como lixeira
(Curatella L. americana), figueira (Ficus-sp) e cumbaru ( Diptepyn alata vogel) .
Além
desses
remanescentes
arbóreos,
surgem
gramíneas
naturais,
sazonalmente, no período da cheia.
O Código Florestal, Lei nº 4.771/65 em seu artigo 2º, considera de
preservação permanente, pelo efeito de Lei,
“as áreas situadas nas nascentes, ainda que intermitentes
e nos chamados “olhos d’ água, qualquer que seja a sua
situação topográfica, devendo ter um raio mínimo de 50
(cinqüenta) metros de largura”.
63
Figura 4 - Trilhas feitas pelo pisoteio do gado e cultivo de cana-de-açúcar. Fonte: José
Carlos de Oliveira Soares (2008)
Nesse contexto, a nascente do Zé Cassete encontra-se totalmente
vulnerável às pressões de uso do entorno, uma vez que, de todos os lados,
não foram respeitados os limites mínimos de preservação da vegetação nativa.
Nesta nascente, em raio de 50 m2, foram quantificadas apenas 10 (dez)
unidades arbóreas, remanescente da vegetação original. A partir do comando
legal mencionado, pode-se aferir o seguinte quantitativo de proteção à essa
nascente ( Quadro 04).
Quadro 4 - Demonstrativo do quantitativo de vegetação por m2 e porcentagem
de vulnerabilidade da nascente decorrente da cobertura vegetal do entorno da
nascente do Zé Cassete, município de Mirassol D’Oeste
Densidade da vegetação Limite
ideal
de Percentagem real de
no raio de 50 metros
densidade de vegetação proteção à nascente
segundo fitofisionomia
local
0,01 indivíduo por m2
0,24 indivíduos por m2
4,16 %
Considerando
o
quantitativo
de
proteção
obtido
nos
números
apresentados no Quadro 04, conclui-se que essa nascente encontra-se com
capacidade praticamente nula para garantir a função ambiental a ela atribuída,
fato este que a torna, dentro da dinâmica ambiental, extremamente vulnerável
64
em relação à sua capacidade de abastecimento da sub-bacia hidrográfica do
córrego Caeté. Esse fato, segundo os preceitos legais, desestabilizará, por
conseguinte, os atributos do meio físico e da biodiversidade ali existente.
Entre as nascentes estudadas nessa sub-bacia hidrográfica, o entorno
da nascente do Carnaíba pode ser considerado o mais conservado, pois ainda
mantém a cobertura vegetal nas laterais direita e esquerda. Porém, à montante
dessa nascente, a vegetação foi retirada e introduzida a pastagem e, por não
apresentar nenhum obstáculo de acesso, o gado adentra até a nascente para
dessedentar-se e o pisoteio tem provocado gradativamente a remobilização e
desaparecimento dos olhos d’água (Figura 05).
Figura 05 – Pastagem e cobertura vegetal próximo da nascente, nas coordenadas de
15º 46’ 25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste. Fonte: José Carlos de
Oliveira Soares (2008)
A respeito da vegetação do entorno da nascente Carnaíba reconhecese que é do tipo Floresta Estacional Semi-decidual Aluvial (Floresta Tropical
Subcaducifólia). Regionalmente, esta fitofisionomia pode ser reconhecida como
Mata ciliar ou de galeria. Esta formação vegetal caracteriza-se por uma
formação florestal que ocupa as acumulações fluviais quaternárias, daí ser
comum o seu aparecimento em áreas inundáveis como as nascentes (PCBAP,
1997). No conjunto dessa fitofisionomia, estão presentes os seguintes tipos
arbóreos, característicos da vegetação original (Quadro 05).
65
Quadro 05 - Demonstrativo das espécies vegetais arbóreas mais comuns no
entorno da nascente
Nome científico
Nome popular
Crataeva tapia L.
Combretum leprosum Mart.
Cecropia Peltata,L.
Aspidosperma olivaceum Mull. Arg.
Anadenanthera falcata Benth. Speg
Attalea phalerata, Mart. Cx. Spring.
Astronium fraxinifolium Schott
Copafeira Langsdorffii Desf.
Curatella americana L.
Bauhinia forficata Link
Isotoma Longiflora(L.) K- Presl
Vitex polygama Cham.
Bactris setosa Mart.
Albizia polycephala (Benth. ) Killinp cx
Recosd.
Psidium guajava L.
Cabaceira
Carne de vaca
Imbaúba
Peroba
Angico
Acuri
Gonçaleiro
Copaíba/Pau de óleo
Lixeira
Pata de vaca
Fura Olho
Tarumã
Tucum de espinho
Albízia
Goiaba do mato
Nas margens direita e esquerda da nascente, em raio de 50 m2, a
vegetação encontra-se em condições ideais de conservação. Dessa forma,
considerando o total de 102 unidades arbóreas contadas num raio de 50 m,
incluindo o setor de montante que não apresenta nenhuma unidade, obtém-se
o seguinte quantitativo de proteção (Quadro 06).
Quadro 06 - Demonstrativo do quantitativo de vegetação por m² e
percentagem de vulnerabilidade, decorrente da cobertura vegetal do entorno da
nascente Carnaíba, Município de Mirassol D’Oeste.
Densidade da vegetação Limite
ideal
de Percentagem real de
no raio de 50 metros
densidade de vegetação proteção à nascente
segundo
fitofisionomia
local
0,16 ind. por m²
0,24 indivíduos por m²
66,6%
Considerando os dados do Quadro 06, pode-se considerar que essa
nascente mantém-se conservada, especialmente quando comparadas às
outras nascentes analisadas, por que possui 66,6 % de sua capacidade de
proteção. Reforça essa tese o fato de que esta nascente ainda apresenta a
menor variação quanto ao recuo em relação às margens direita e esquerda,
bem como em relação ao volume de água que ocorre entre os períodos de
cheia e estiagem, conforme aponta dados demonstrado em artigo que versa
66
sobre as condições hidrodinâmicas dessas nascentes constantes do último
capítulo deste trabalho de dissertação.
A vulnerabilidade da nascente do córrego Carnaíba ocorre exatamente
na sua montante, onde a vegetação original foi totalmente retirada. Donadio et
al. (2005) observaram em seus trabalhos que, em áreas de nascente com
vegetação remanescente, a qualidade da água é superior que nas nascentes
de áreas de uso agrícola.
3.2 A nascente urbana de São José dos Quatro Marcos
Diferentemente das nascentes rurais do distrito de Sonho Azul que estão
inseridas no contexto de atividades agropecuárias, os fatores de pressão
exercidos na nascente do córrego Tereré em São José dos Quatro Marcos
decorrem do processo de urbanização.
O município de São José dos Quatro Marcos possui área de 1.275,10
km², localiza-se no sudoeste do estado de Mato Grosso e foi habitado pelos
índios boróro. O processo colonizador desta região ocorreu a partir de 1946.
Os imigrantes chegaram nessa localidade em busca de terras boas para o
plantio, onde os primeiros produtos plantados foram: café, arroz, feijão e milho.
O entorno da nascente do Córrego Terere teve sua ocupação no final
da década de 80, quando foi construído, pelo poder público, um conjunto
residencial para atender as famílias de baixa renda do município.
Faz-se importante ressaltar que, as famílias que ocuparam o local
foram famílias que não detinham condições financeiras para ocupar áreas
consideradas nobres no perímetro urbano da cidade e foram relegadas, sem
nenhuma preocupação ambiental e social, àquele local. Torres & Marques,
(2001) mencionam que a conseqüência social da fusão entre desigualdade e a
segregação é o forte efeito cumulativo dos riscos sociais e ambientais em
alguns pontos críticos da periferia.
Assim, o uso do solo no local coincide com a falta de opção dessa
população para adquirir outras áreas. Sobre esse assunto Carlos (1988, p. 44):
“assegura que o uso do solo urbano será disputado pelos
vários segmentos da sociedade de forma diferenciada,
gerando conflitos entre indivíduos e usos, esses conflitos
67
serão orientados pelo mercado, mediador fundamental
das relações que se estabelecem na sociedade
capitalista, produzindo um conjunto limitado de escolha e
condições de vida”.
É importante mencionar ainda que esse processo de urbanização no
município coincide com o esvaziamento que ocorreu no campo, decorrente do
crescimento da pecuária extensiva em detrimento do enfraquecimento do
cultivo do café na região. Corroboraram para esse fato o empobrecimento do
solo e a conseqüente falta de recursos para investimento em tecnologias de
recuperação
A questão fundamental daqueles ocupantes do entorno da nascente era
o de garantir uma faixa de terreno urbano que não estivesse ligado à
especulação imobiliária da área central da cidade e, nesse processo de
ocupação não houve nenhuma preocupação no que se refere às questões
ambientais, tais como a preservação de nascentes e/ ou da mata nativa. Por
outro lado, esta falta de preocupação também não foi observado por parte do
poder público que não traçou um projeto para a ocupação do referido local.
Dessa forma, o entorno da nascente encontra-se totalmente ocupado
por ruas e residências construídas tanto em sentido latitudinal quanto em
sentido longitudinal à zona de encharcamento (Figura 06).
Observa-se que para atender a demanda da expansão urbana, a
vegetação original foi totalmente retirada, dando lugar às residências e
algumas árvores frutíferas ali introduzidas como mangueira (Mangifera sp),
limoeiro (Citus sp), entre outros. Nessas construções não se observou o limite
mínimo exigido pela legislação para área de preservação permanente
Ao considerar a porcentagem de proteção da nascente em relação ao
parâmetro do Código Florestal, esta se apresenta totalmente desprotegida,
uma vez que na área de entorno não se observou nenhuma característica do
fragmento arbóreo original. Dessa forma, está totalmente vulnerável às
pressões de uso no entorno e descaracterizada enquanto bem ambiental. Ao
contrário, é vista pelos moradores da comunidade como local incômodo, fonte
de insetos vetores de doenças, entre outros males.
68
Figura 06 - Croqui demonstrativo do uso da terra no entorno da nascente do córrego
Tereré no perímetro urbano do município de São José dos Quatro Marcos. Org: José
Carlos de Oliveira Soares
3.2.1 Aspectos topográficos e pedológicos
Ray (1963) cita que cada padrão de relevo está associado a um
processo geomorfológico específico de erosão ou deposição e reflete a origem
e o caráter geral da paisagem. Esta afirmação ratifica o papel que a forma de
relevo
através
da
topografia
exerce
sobre
os
atributos
ambientais,
materializados na paisagem. Neste sentido, é certo o entendimento de que as
diferentes
declividades
de
um
terreno
exercem
também
influências
diferenciadas na forma da paisagem. A erosão marginal desempenha um
importante papel no controle da largura dos canais fluviais. Este tipo de erosão
contribui, significativamente, para o incremento na carga de fundo dos rios,
além de provocar destruição progressiva da área marginal e conseqüente
perda de áreas habitadas, áreas cultivadas, áreas preservadas, dentre outras
(THORNE, 1990). Assim, a declividade constitui importante fator de erosão do
solo nas áreas das nascentes.
No geral a declividade média das áreas no entorno das nascentes
mostrou-se baixa. De conformidade com os parâmetros de Garcia & Piedade
69
(1984), a percentagem média de declividade entre as nascentes situou-se de
fraca a moderada (Quadro 07).
Quadro 07 - Demonstrativo da percentagem da declividade e gradiente de
pressão exercida sobre a nascente
Nascente
Média de declividade
Nível de pressão em
em (%)
relação à erosão
Córrego Zé Cassete
4,58
Moderado
Córrego Carnaíba
2,05
Fraca
Córrego Tereré
4,96
Moderado
As classes de declividades na nascente Zé Cassete variaram de acordo
com sua posição em relação à área encharcada propriamente dita, situando-se
entre 3,17 % a 5,78 % que, na média, caracteriza o aspecto topográfico com
declividade moderada.
A análise de perfil da estrutura topográfica dessa nascente reflete
caimentos inferiores a 10 metros, conferidos da base até o limite da zona de
interflúvio. Os níveis de declives variam de um lado para outro, indo da posição
próxima de ser considerada fraca na margem direita, até a próxima de próxima
de moderada a forte à montante. Com declividade de 5,78 %, este é o setor
que demonstra maior possibilidade de pressão erosiva sobre a nascente. Essa
pressão ocorre porque o barranco que possui maior declividade torna propicia
a erosão fluvial e a declividade acentuada no entorno contribui para transportar
maior volume de sedimentos para a nascente. De acordo com Bertoni &
Lombardi Neto (1993) o volume e a velocidade da enxurrada depende
diretamente da declividade da área.
A nascente do córrego Carnaíba tem a sua montante como um
prolongamento do declive que ocorre da serra do Padre Inácio, assim, essa é a
parte que apresenta a maior porcentagem de declive. Calculou nesse setor,
declividade de 6,17 %, portanto, caimento topográfico situado na ordem de
moderada a forte (Quadro 1). No sentido leste e oeste da nascente a
declividade é praticamente nula, não exercendo nenhuma pressão sobre a
nascente no que diz respeito aos processos erosivos.
Com relação à nascente do córrego Tereré, do limite norte da zona de
interflúvio, ou seja, da margem direita para a área de encharcamento, obteve-
70
se a declividade de 6,62 %, que demonstra, portanto, pressão considerada
moderada a forte exercida pela topografia. Neste sentido, em relação ao relevo,
este é o setor mais vulnerável da nascente. Os lados da margem esquerda e
montante apresentam declive moderado de 4,16% e 4,1%, respectivamente.
Considerando os aspectos relacionados às formas de uso e aos
atributos naturais que influenciam essas nascentes é possível perceber as
seguintes diferenças e pontos comuns entre elas (Quadro 08).
Quadro 08 - Demonstrativo dos fatores e gradiente de pressão sobre as
nascentes dos córregos Zé Cassete, Carnaíba e Tereré
Nascente
Uso da terra no Vegetação- nº. de Proteção real pela
entorno
indivíduo p/m²
vegetação original
Córrego
Zé
Cassete
Córrego Carnaíba
Córrego Tereré
cana-de-açúcar e
criação de bovino
Criação de bovino
urbanização
0,01 p/m²
4,16%
0,16 p/ m²
0,00 p/m²
66,6%
0,0%
Análises de variáveis como Ph, matéria orgânica, textura e a saturação
por bases apontam as condições da fertilidade do solo nas nascentes (Tabela
01). No geral não houve diferença entre os atributos em relação à profundidade
de coleta das amostras e, por isso, só são mostrados os dados das amostras
coletadas na profundidade de 0 a 0,2 m.
O termo pH define acidez ou alcalinidade de uma solução. A escala pH
cobre uma amplitude de 0 a 14, um valor de pH a 7,0 é neutro, ou seja, as
atividades dos íons H⁺ e OH⁻ na solução são iguais. Os valores abaixo de 7,0
são ácidos (predomina o H+) e acima de 7,0 são alcalinos ou básicos
(predomina o OH- na solução do solo). O grau de acidez ou alcalinidade do
solo é influenciado pelos tipos de materiais de origem, precipitação na região,
grau de intemperismo e decomposição da matéria orgânica do solo, entre
outros fatores. Constitui um importante atributo relacionado à fertilidade dos
solos, pois a disponibilidade de nutrientes para as plantas, bem como a
presença de elementos tóxicos são influenciados pelo pH do solo. Em geral,
valores de pH entre 5,6 e 6,3 são considerados ideais para o desenvolvimento
das plantas (SOUZA & LOBATO, 2004).
71
No presente estudo, maiores valores de pH foram observados nas
nascentes Carnaíba e Quatro Marcos, as quais apresentaram valores de pH
em torno da neutralidade. Esses valores (Tabela 01), refletiram em elevada
saturação por bases, que em alguns casos podem indicar um possível
desbalanço nutricional para as plantas cultivadas e a indisponibilização dos
micronutrientes Fe, Zn, Mn e Cu (SOUZA & LOBATO, 2004). Os elevados
valores de pH observados neste estudo, nas áreas naturais, provavelmente
está relacionado à geologia regional, na qual predomina a ocorrência de rochas
calcárias, principalmente na região de Mirassol D’Oeste. Na nascente urbana, o
pH próximo à neutralidade pode ser reflexo da urbanização da cidade de São
José dos Quatro Marcos, onde não há rede de esgoto, o que pode contribuir
para a entrada de saponáceos nos corpos hídricos.
A matéria orgânica do solo (MO) desempenha importante papel nas
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Atua aumentando a
estabilidade de agregados, reciclagem de nutrientes, no tamponamento
impedindo alterações bruscas de pH, aumenta a retenção de água contribuindo
para a diminuição do escoamento superficial, minimizando a erosão. Teores
mais elevados de MO foram observados na área de mata, na nascente
Carnaíba
por
causa
da
serrapilheira
ali
existente,
os
quais
foram
significativamente mais elevados que as demais áreas. Porém, todos os locais
apresentaram baixos teores de MO, sendo os maiores valores observados nos
pontos de coleta situadas na profundidade de 0 a 0,2 m, por conta da
decomposição da MO recente.
Processos de antropização, tais como a conversão de áreas de mata em
pastagens tende a diminuir os teores de MO do solo, com eventuais prejuízos
para a ciclagem de nutrientes e porosidade do solo (DORAN et al., 2006;
MELLONI et al., 2008). Dada à superficialidade de concentração desse atributo
nas áreas do entorno das nascentes sua perda pode ocorrer com maior
facilidade em decorrência da declividade e do volume de chuva concentradas
na região durante o período de cheia. Vários fatores podem ser considerados
para explicar os baixos teores de matéria orgânica mesmo nas áreas sem
interferência antrópica, como as áreas de mata. Merece destaque, no entanto,
72
a textura do solo, a qual variou de média a arenosa em todas as áreas
amostradas, refletindo os baixos teores de argila no solo. Segundo Canellas et
al. (1999) a interação das moléculas orgânicas com a fração argila dos solos
pode proteger a MO do solo, ao mesmo tempo que proporciona maior
estabilidade dos agregados do solo.
Todas as áreas, excetuando a nascente Tereré apresentaram baixos
teores de fósforo (P), o que está condizente com dados da literatura os quais
relatam baixos teores de P na maioria dos solos do Brasil (REZENDE et al.,
1996).
Os
teores
mais
elevados
observados
na
nascente
Tereré,
provavelmente, também estão relacionados com a urbanização, pois a maioria
dos detergentes contém P em sua composição, o que pode contribuir para a
elevação ou acúmulo de seus teores no solo, principalmente nas áreas de
deposição.
Outro atributo importante a ser considerado em relação ao solo diz
respeito à sua densidade. A densidade do solo expressa a relação entre a
quantidade de massa de solo seco por unidade de volume do mesmo. Os
valores normais para solos arenosos variam de 1,2 a 1,9 g cm-3, enquanto
solos argilosos apresentam valores mais baixos, de 0,9 a 1,7 g cm-3. Valores
altos de densidade associados ao estado da compactação que oferecem
maiores riscos de restrição ao crescimento radicular situam-se em torno de
1,65 cm3 para solos arenosos e 1,45 g cm³ para solos argilosos (REINERT &
REICHERT, 2006). Assim, pode ser observado na tabela 01 que apenas a área
de mata esquerda, na nascente do Zé Cassete, apresente valor restritivo de
densidade do solo. A maioria dos valores de densidade observados no
presente estudo estão entre os valores observados por Silva et al. (2008) em
Latossolo Vermelho-Amarelo do estado de Mato Grosso cultivados sob
sistemas de plantio direto, pastagem cultivada e cerrado nativo pastejado.
De maneira geral, foi verificado que em relação aos atributos químicos
de fertilidade vários deles, principalmente, Ca2+, K+, Mg2+ estão em teores
elevados, refletindo em elevados valores da soma de bases e baixos teores de
Al3+, excetuando-se as áreas alagadas e de cultivo de cana-de-açúcar na
nascente do Zé Cassete. Como a área de cana de açúcar apresenta as
73
mesmas feições pedológicas e topográficas que o pasto leste e pasto oeste,
pode-se inferir que o cultivo da cana de açúcar está esgotando a fertilidade do
solo, haja vista que esta apresenta um valor de V = 37,6 %, inferior aos valores
observados nas áreas de pasto (V = 53 e 68 % para o pasto leste e pasto oeste
respectivamente).
(cmolc dm-3)
Tabela 1 - Alguns atributos químicos e físicos dos solos e declividade do entorno das nascentes Zé
Cassete e Carnaíba, município de Mirassol D’Oeste-MT, e nascente Tereré, município de São José
dos Quatro Marcos-MT.
Zé Cassete
Carnaíba
Atributo1
Tereré
Cana de Alagada Pasto
Pasto
Pasto
Mata
Mata
açúcar
leste
Oeste
esquerda direita
pH água
5,6 a 1
5,7 a 1
6,2 a 2
6,4 a 2
6,8 a 3
7,0 a 4
7,6 a 4
7,2 a 4
MO (gk g-1)
1,2 a 1
1,2 a 1
1,4 a 1
1,3 a 1
1,5 a 1
2,0 a 2
2,3 a 2
1,7 a 1
P (mg kg-1)
3,3 a 1
3,0 a 1
2,2 a 1
2,3 a 1
1,2 a 1
2,8 a 1
2,6 a 1
52,2 a 2
K+ (mg kg-1)
86,4 a 1 85,3 a 1 127,2 a 102,8 a 44 a 1
56,2 a 1
50,9 a 1 107,0 a2
2
2
Ca2+
1,0 a 1
0,6 a 1
1,4 a 1
2,2 a 2
6,6 a 3
8,0 a 4
9,3 a 5
5,9 a 3
2+
Mg
0,3 a 1
0,7 a 1
1,1 a 2
1,2 a 2
2,1 a 3
3,3 a 4
4,7 a 5
1,4 a 2
0,3 a 2
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
Al3+
H+Al
3,2 a 2
3,1 a 2
2,5 a 1
1,8 a 1
4,0 a 2
4,7 a 2
2,3 a 1
1,1 a 1
CTCefe
2,2 a 1
1,1 a 1
2,7 a 3
3,7 a 4
9,0 a 6
11,6 a 7
14,1 a 8 7,6 a 5
CTCpH7,0
5,2 a 1
4,6 a 1
5,2 a 1
5,5 a 1
13,0 a 3 16,1 a 4
16,2 a 4 8,6 a 2
V (%)
37,6 a 2 33 a 1
53,0 a 3 68,0 a 4 69,6 a 4 73,0 a 4
86,7 a 5 87,2 a 5
m (%)
11,2 a 2 0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
0,0 a 1
-1
Argila (g kg ) 199,4
228,8
196,2
206,2
213,5
183,50
185,7
234,0
Areia (g kg-1) 634,8
666,6
651,4
630,8
583,54
547,8
585,0
662,6
165,8
114,6
152,6
160,0
202,9
268,7
240,8
104,0
Silte (g kg-1)
Densidade 0- 1,0
1,5
1,5
1,66
1,0
1,0
1,5
0,10 m (g cm
3
)
Densidade
0,10-0,20 m (g
-3
cm )
Drenagem
1,5
-
1,5
2,0
1,39
2,0
1,33
1,5
Bem
Mal
Bem
Bem
Bem
Bem
drenada drenada drenada drenada drenada drenada
Profundo
Raso
Profundo Profundo Profundo Profundo
Bem
Mal
drenada drenada
Profundidade
Profundo Pouco
profundo
1
MO = matéria orgânica; CTCefe e CTCpH 7,0 = capacidade de troca de cátions efetiva e a pH 7,0,
respectivamente; V = saturação por bases; m = saturação por alumínio;
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo mostra que as condições atuais das nascentes variam em
função dos aspectos ligadas às atividades humanas e aos elementos geofísicos presentes no entorno de cada uma delas.
74
As nascentes localizadas no distrito de Sonho Azul, com relação às
atividades humanas, recebem influência direta das práticas agropecuárias
desenvolvidas nos seus arredores, destacando-se a criação de gado bovino e a
cultura da cana de açúcar.
A nascente localizada na cidade de São José dos Quaro Marcos recebe
a influência da urbanização, que ocorreu sem planejamento que levasse em
conta a preservação dos bens naturais ali existentes e, tampouco, a qualidade
de vida da população que para aquele local foi deslocado e vive ali na
atualidade.
No contexto rural a nascente que recebe maior pressão decorrente das
atividades econômicas desenvolvidas no entorno é a do córrego Zé Cassete,
onde a vegetação natural foi retirada quase em toda a sua totalidade,
deixando-a praticamente desprotegida dos processos erosivos que a
vegetação consegue minimizar.
A nascente do córrego Carnaíba, que por sinal é a principal fonte que
abastece a estação de tratamento de água da cidade de Mirassol D’ Oeste, é a
que se encontra mais preservada, porém, a prática da criação de gado no seu
entorno, com pastagem à montante, é o principal fator de pressão sobre ela.
No ambiente urbano, a nascente do córrego Tereré encontra se
totalmente desprotegida, se levarmos em conta o papel que a vegetação
oferece à manutenção dos cursos e afloramentos de água. Nesse local a
vegetação original foi totalmente retirada para ceder lugar a construção de ruas
e residências.
Dentre as nascentes analisadas, a que apresenta maior nível de
declividade e, conseqüentemente, mais suscetível às pressões exercidas pelo
relevo, é a nascente do córrego Tereré, na cidade de São José dos Quatro
Marcos. Nesse local, são comuns as enxurradas, agravadas no período da
cheia, sendo este motivo de transtorno tanto para a população local, quanto
para o poder público que sempre terá que dispensar recursos, para a
reorganização das ruas, danificadas nesse processo.
No que diz respeito aos atributos do solo, percebe-se que o pH mais
ácido foi encontrado no solo do córrego Zé Cassete (5,7) e os mais elevados,
75
próximos da neutralidade foi encontrado na nascente do córrego Tereré (7,2) e
Carnaíba (6,8-7,6).
O solo que apresentou a menor densidade na média foi da nascente do
córrego Carnaíba, com valores iguais a 1,3. As nascentes dos córregos Zé
Cassete e Tereré apresentaram os mesmos valores de densidade de solo
(1,5). Vale ressaltar que essas duas nascentes encontram-s em ambientes
bastantes diferentes, o que demonstra que, mesmo em ambiente rural, a
nascente do córrego Zé Cassete apresenta a mesma vulnerabilidade de
compactação e, por conseguinte, poderá sofre, na mesma medida, os efeitos
da impermeabilização do solo, do escoamento superficial, entre outros.
De modo geral, a nascente do córrego Carnaíba mostra-se mais
preservada, fato este corroborado pelas condições de uso e atributos naturais
do entorno. Por outro lado, a nascente que se encontra em maior risco é a
nascente do córrego Zé Cassete, ocasionado pelo uso do entorno deixando-a
vulnerável. Apesar da área no entorno dessa e nas demais nascentes
apresentarem, no geral, alta saturação por bases (indicativo de boa fertilidade)
observou-se que o cultivo de cana de açúcar provocou uma redução
considerável nesse atributo do solo.
A nascente do córrego Tereré já perdeu praticamente todas suas
características, no entanto, esta não pode ser ignorada enquanto bem natural
que é, até por que exerce influência direta na qualidade de vida da população
que atualmente vive no seu entorno. De modo geral, os dados da pesquisa
apontam a necessidade de intervenção nas nascentes estudadas para que
estas possam continuar abastecendo a sub-bacia hidrográfica sem prejudicar
as atividades econômicas que se desenvolvem na sua jurisdição. Estas
intervenções devem extrapolar o campo das medidas a curto prazo, com a
rearticulação da forma de manejo que se efetua no entorno das nascentes para
atingir, no longo prazo, mudanças de postura das comunidades do entorno.
Nesse contexto, a gestão ambiental deve passar, necessariamente, pela
Educação Ambiental.
76
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80
CONDIÇÕES HIDRODINÂMICAS E QUALIDADE DA ÁGUA NAS
NASCENTES DOS CÓRREGOS, ZÉ CASSETE, CANAÍBA E TERERÉ NA
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO CAETÉ, SUDOESTE DO ESTADO DE
MATO GROSSO
[Preparado de acordo com as normas da Revista Brasileira de Recursos
Hídricos]
RESUMO: Estudos das condições hidrodinâmicas de um corpo d’ água
permitem que se perceba as variações no seu volume de água e, por
conseguinte, entender a sua capacidade de abastecimento. Combinados com o
conhecimento sobre a qualidade da água, essas informações podem nortear
estratégias de manejo desse recurso. O objetivo foi verificar a dinâmica de
vazão, as características da calha (batimetria) e a qualidade da água,
relacionando essas informações as condições atuais das nascentes. As duas
primeiras nascentes estudadas, do Zé Cassete e Carnaíba, estão localizadas,
respectivamente, nas coordenadas de 15º 48’ 29” de latitude Sul e 58º 08’ 19” e
15º 46’ 25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste, no distrito de Sonho
Azul, município de Mirassol D’ Oeste-MT. A terceira localiza-se nas
coordenadas geográficas de 15º 38’ 03” de latitude sul e 58º 10’ 14” de
longitude oeste, no perímetro urbano de São José dos Quatro Marcos.. Na
metodologia, monitorou-se sazonalmente os aspectos da hidrodinâmica,
coletou amostras de água para análise em laboratório e relacionou os dados de
acordo com os parâmetros metodológicos do CETESB. Os resultados mostram
que a vazão e a batimetria variam em função das condições de uso e da
sazonalidade. Em relação à qualidade da água, a nascente do córrego
Carnaíba apresentou os melhores índices nos parâmetros do CONAMA.
Palavras-chave: Hidrodinâmica, nascente, vazão, batimetria, qualidade da água,
sub-bacia do Caeté.
81
HYDRODYNAMIC CONDITIONS AND WATER QUALITY ON THE STREAMS
SPRINGS, ZÉ CASSETTE, CANAÍBA AND TERERÉ IN SUB-BACIA
HYDROGRAPHIC FROM CAETÉ, SOUTHWEST OF MATO GROSSO
ABSTRACT: Studies of the hydrodynamic conditions of the water allow
the perception of the variations on its volume and, therefore, allow the
understanding of its supplying capacity. Combined with the knowledge of the
water quality, these information can guide strategies of handling of this
resource. The objective was to verify the dynamics of outflow, the
characteristics of the gutter (bathymetry) and the quality of the water, relating
these information to the current conditions of the springs. The two first springs
studied, the Zé Cassete and Carnaíba, are situated, respectively, on the
coordinates of 15º 48 ' 29” South latitude and 58º 08 ' 19” and 15º 46 ' 25” south
latitude and 58º 07 ' 29” west longitude, in the Sonho Azul district - MT. Third
one is situated in the geographic coordinates of 15º 38 ' 03” south latitude and
58º 10 ' 14” west longitude , in the urban perimeter from São José dos Quatro
Marcos. In the methodology, it was monitored the aspects of the
hydrodynamics, it has been collected water samples for analysis in laboratory
and related the data in accordance with the methodologicals parameters of the
CETESB. The results show that the outflow and the bathymetry vary in function
of the conditions of using and the rain period. In relation to the water quality, the
Carnaíba stream spring has presented the best indices in the parameters of the
CONAMA.
Key Word: Hydrodynamics, spring, outflow, bathymetry, water quality.
82
1. INTRODUÇÃO
O homem é o principal agente desequilibrador dos ecossistemas
naturais; é capaz de produzir enormes mudanças nos atributos físicos e
químicos do ambiente, tanto por que provoca alterações nos aspectos físicos
que garantem a estabilidade natural do sistema, quanto por que adiciona
substâncias poluentes dos mais diversos tipos nos ecossistemas. Essas
mudanças podem provocar rupturas no equilíbrio ambiental que levam muitas
vezes a prejuízos incontroláveis e irreversíveis às comunidades humanas,
(MAGALHÃES, 1982).
O atual processo produtivo tem levado o ser humano a empreender-se
cada vez mais agressivamente sobre os recursos naturais, especialmente
sobre os recursos hídricos, bem indispensável à todas as atividades biológicas
e econômicas. Tanto no meio rural quanto no ambiente urbano os efeitos dessa
pressão são refletidos na degradação de importantes reservatórios de água
como é caso dos cursos d’ água e nascentes.
Para Lisley & Franzini (1978) as nascentes podem ser divididas em dois
tipos: o primeiro quanto a sua formação, onde a descarga do aqüífero
concentra-se em uma área e tem-se a nascente ou olho d’água; e a segunda
acontece quando a superfície freática ou um aqüífero interceptar a superfície
do terreno e o escoamento for espraiado numa área, o afloramento tenderá a
ser difuso, formando varias pequenas nascentes por todo o terreno originando
as denominadas veredas ou brejos.
A geometria do canal é uma forma tridimensional (largura, profundidade
e declive) que acomoda, em um período de tempo, a condição média de
descarga sedimentar (KNIGTON, 1998). Segundo Cooke e Doornkamp (1994)
a seção transversal de um canal pode mudar muito rapidamente, tanto no
espaço quanto no tempo, tanto pelas condições naturais da hidrodinâmica
quanto pela pressão antrópica a ele imposta.
A água que escoa pela seção transversal durante uma determinada
unidade de tempo é chamada de vazão. A vazão de um curso de água varia
durante o ano, de acordo com a pluviosidade. É a pluviosidade que possibilita a
infiltração (relacionado com o tipo do solo e sua porosidade), constituindo os
83
depósitos subterrâneos e o escoamento superficial (que alimenta os rios,
carrega e fixa sedimentos etc.) (CHRISTOFOLETTI, 1981).
O termo qualidade da água descreve basicamente as características
físicas, químicas e biológicas, considerando a adequação do recurso hídrico
para um determinado fim. Considerados nobres, determinados usos exigem
rigoroso controle de qualidade das águas; além disso, padrões de qualidade
para consumo humano, indústria, irrigação, variam enormemente. Em função
de seus usos e considerando suas características, vários organismos
estabeleceram normas e padrões específicos de qualidade da água. No Brasil,
as normas de qualidade de água para consumo humano são regidas pelo
Ministério da Saúde, que as delibera para instituições competentes, por meio
da Portaria nº. 518, de 25 de março de 2004 (BRASIL, 2004).
A qualidade da água de uma nascente pode ser influenciada por
diversos fatores e, dentre eles, estão o clima, especialmente através da
precipitação, a cobertura vegetal, a topografia, material de origem (geologia),
tipos de solos, bem como as varias formas de uso e o manejo do solo do
entorno.
De acordo com Calheiros (2004), a posição de uma nascente na
propriedade pode determinar a melhor distribuição das diferentes atividades e
também da infra-estrutura do sistema produtivo. É preciso ressaltar que a área
circundante num raio de 50 metros é exclusivamente área de preservação
permanente, evitando que a nascente fique sujeita à erosão e a todo tipo de
degradação de caráter físico (sedimentação) e químico (poluição). Neste
contexto, pasto e animais devem ser afastados para evitar contaminações por
matéria orgânica e ainda o pisoteio de animais que compacta o terreno e
diminui a capacidade de infiltração da água da chuva e compromete o
abastecimento do lençol freático. Soma-se à esses prejuízos ambientais o
aumento da turbidez no corpo hídrico. Devem ser retiradas todas e quaisquer
habitações galinheiros, pocilgas, entre ouros, do entorno definido em lei,
evitando contaminações por defensivos ou por excreções, além disso, deve ser
organizado o esquema viário de modo a proteger a nascente da exposição.
84
Nesse contexto, este estudo objetivou verificar a dinâmica da vazão, as
características da calha (batimetria) e a qualidade da água das nascentes dos
córregos Zé Cassete, Carnaíba e Tereré na sub-bacia hidrográfica do córrego
Caeté, relacionando essas informações as condições atuais das nascentes.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O ribeirão Caeté, formador da sub-bacia hidrográfica do mesmo nome, é
um dos principais afluentes do rio Jauru, localizado a sudoeste do estado Mato
Grosso entre as coordenadas geográficas 58°02’05’’a 58°20’00’’ longitude
oeste e 15°35’00’’ a 15°56’00’’ latitude sul, percorrendo os municípios de
Mirassol D’Oeste, São José dos Quatro Marcos e Glória D’ Oeste. Alguns de
seus afluentes encontram-se localizados em perímetro urbano (Figura 01).
As nascentes, objetos do presente estudo estão localizadas na subbacia hidrográfica do córrego Caeté no sudoeste de Mato Grosso. Destas, as
dos córregos Zé Cassete e Carnaíba estão localizados no Distrito de Sonho
Azul, próximas da serra do Padre Inácio. A primeira nas coordenadas de 15º
48’ 29” de latitude sul e 58º 08’ 19” de longitude oeste e a segunda nas
coordenadas de 15º 46’ 25” de latitude sul e 58º 07’ 29” de longitude oeste. A
nascente do córrego Tereré está localizada no bairro Zeferino I, perímetro
urbano do município de São José dos Quatro Marcos, nas coordenadas
geográficas de 15º 38’ 03” de latitude sul e 58º 10’ 14” de longitude oeste.
85
N3
N- Nascente
Figura 01 - Área de localização da bacia hidrográfica do ribeirão Caeté (N1 Zé
Cassete; N2 Carnaiba; N3 Tereré). Adaptado de Araújo (2008)
Neste estudo, foram monitorados os aspectos da hidrodinâmica
relacionados à vazão e à batimetria, e da qualidade da água, em função da
sazonalidade existente nos locais das nascentes.
Para a medição dos parâmetros de batimetria, vazão e coleta de
amostras procederam-se das seguintes maneiras:
2.1 Batimetria
A batimetria foi verificada em época de seca e cheia nos locais de
acumulo de água nas nascentes. Mediu-se a seção transversal em intervalos
de 01 em 01 metro, à partir de estacas previamente fixadas no solo. Estas
estacas serviram para verificar a variação do volume de água em diferentes
86
períodos (estiagem e chuvoso). Nessa atividade utilizou-se, além de estacas,
trena e barbante para medir a largura do manancial (reservatório).
2.2 Vazão
A velocidade foi medida utilizando flutuadores (pequenas bolas),
cronometrando-se o tempo transcorrido em 5 metros de comprimento. Foram
realizadas três repetições para obtenção da velocidade média.
Para obter a velocidade média, utilizou-se a seguinte fórmula:
d
v=
t
Onde:
v = velocidade;
d = distância;
t = tempo
Para o cálculo da vazão foi utilizada a fórmula por Cunha (1996):
Q = va
Q = vazão;
v = velocidade das águas;
a = área
2.3 Coleta de amostras de água, caracterização geográfica do entorno e
calculo do IQA
Para esta análise procedeu-se coleta de amostras da água em duas
épocas distintas do ano: período chuvoso e de estiagem. Este critério levou
em consideração o aspecto da sazonalidade bem característico da região e
que influencia na capacidade da vazão, por conseguinte, relaciona-se
diretamente com a capacidade de depuração que a água possui e que define o
seu IQA.
87
As amostras de água foram coletadas e preservadas de acordo com as
normas da CETESB (1988) e NBR 9898/87. Em laboratório, todas as análises
foram executadas seguindo normas da ABNT e/ou AWWA/APHA (1990). Para
as análises de bactérias do grupo coliformes adotou-se o método da membrana
filtrante (AWWA, 1990). Os resultados das análises foram comparados com
limites da legislação CONAMA 357/05, Art. 15 e usados para cálculo do IQA,
seguindo as orientações da CETESB.
Na caracterização da qualidade da água, utilizam-se algumas variáveis
que representam suas características físico-químicas e biológicas, ou seja,
indicadores da qualidade da água, que representam impurezas quando
ultrapassam a certos valores estabelecidos. Estas variáveis, em outras
pesquisas também chamadas de parâmetros foram estabelecidos pela National
Sanitation Foudantion (NSF) nos Estados Unidos, através de pesquisa de
opinião junto a vários especialistas da área ambiental, para o desenvolvimento
de um índice que indicasse a qualidade da água (IQA). Com isso nove
parâmetros foram considerados mais representativos: oxigênio dissolvido,
coliformes fecais, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total,
temperatura da água, turbidez e sólidos totais. Para cada parâmetro foram
traçadas curvas médias da variação da qualidade da água em função das suas
respectivas concentrações. A cada variável foi atribuída um peso, listados de
acordo com sua importância relativa no cálculo do IQA.
Quadro 01 - Indicativo dos pesos das variáveis analisadas no IQA
Variável
Oxigênio dissolvido – OD (% OD)
Coliformes fecais (NMP/100 mL)
pH
Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO
(mg/L
Nitratos (mg/L NO 3)
Fosfatos (mg/L PO 4)
Variação na Temperatura (ºC)
Turbidez (UNT)
Resíduos totais (mg/L)
0,10
Fonte: National Sanitation Foudantion
Peso- Wi
0,17
0,15
0,12
0,10
0,10
0,10
0,10
0,10
88
Então, o IQA é calculado pelo produtório ponderado das qualidades de
águas correspondentes às variáveis conforme a fórmula (CETESB, 1988):
Onde:
IQA – índice de qualidade de água, um número de 0 a 100
qi = qualidade do parâmetro, obtido através da curva média específica de
qualidade;
wi = peso atribuído ao parâmetro, em função de sua importância na qualidade,
entre 0 e 1.
Os valores do índice que indicam a qualidade das águas variam entre 0
e 100, conforme especificado no Quadro 02.
Quadro 02 – Classificação de qualidade da água segundo CETESB (1988)
Classificação
Faixa de variação
Ótima
91< IQA ≤ 100
Boa
71 < IQA ≤ 90
Média
51 < IQA ≤ 70
Ruim
26 < IQA ≤ 50
Muito Ruim
00 < IQA ≤ 25
Como esse índice foi criado para fins de abastecimento público,
apresenta algumas restrições quando se quer avaliar o ecossistema aquático
de forma integrada, mas serve para verificar adequações a esse uso da água.
As análises foram feitas conforme métodos especificados em "Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater” (APHA, 1995).
89
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Condições Hidrodinâmicas
O monitoramento da batimetria de um curso de água permite
compreender a variação no volume de água nos reservatórios em situações de
sazonalidade, o que por sua vez, possibilita planejar adequadamente o seu
manejo.
Estudos sobre a vazão de um corpo hídrico permitem compreender a
sua capacidade de abastecimento em períodos diferentes do ano, que por sua
vez, possibilita a formulação de estratégias de manejo, de modo não afetar a
sua capacidade de suporte.
3.1.1 Nascente do córrego Zé Cassete
À montante da nascente principal na área de encharcamento, formam-se
pequenos tanques para reservatório de água. Segundo informações obtidas
junto aos moradores, essas modificações foram responsáveis para mudar o
regime da nascente que, até o ano de 2001, apresentava vazão o ano inteiro e,
portanto, constituía nascente de regime permanente.
Esta nascente possui três segmentos distintos, que surgiram em
decorrência das pressões exercidas pelas atividades humanas e às próprias
circunstâncias físicas do terreno: o primeiro à montante é caracterizado pelo
encharcamento; o segundo refere-se ao trecho modificado pela construção do
barramento e aprofundado na calha, o qual constitui o atributo de maior
impacto na nascente, pois impede que a água tenha capacidade de vazão no
período de estiagem; o terceiro trecho constitui o ponto de convergência de
toda a zona de encharcamento, formando uma pequena lagoa, marcando o
inicio do ponto de vazão e definição da calha.
Do monitoramento da batimetria no sentido transversal foi possível
comparar a variação no volume de água nos dois extremos dos períodos:
chuvoso e de seca. No período chuvoso, a nascente apresentou largura de
13,80 m e profundidade máxima de 1,40. No período estiagem a largura da
90
nascente diminuiu para 11 metros e a profundidade máxima não ultrapassou a
faixa de 99 cm (Figura 02).
Figura 02 - Perfis transversais da nascente do córrego Zé Cassete nos
períodos chuvoso e de estiagem
Os dados da batimetria demonstram variação no volume de água de
forma mais expressiva no sentido de oeste para leste. Assim, o recuo é da
ordem de dois metros à margem esquerda da nascente. Nesta margem, o
recuo é de aproximadamente 2 m, enquanto na margem direita essa oscilação
foi de 80 cm. Entre a superfície e o fundo a variação chega é 80 cm nos pontos
de maior oscilação.
A vazão nesta nascente está diretamente ligada ao tipo de uso da terra
no entorno. Na atualidade, este afloramento d’ água assumiu a condição de
nascente com vazão de regime intermitente, pois só tem fluxo organizado no
período da cheia.
A vazão foi verificada na área de maior concentração de água, onde o
leito é definido e o fluxo passa ter velocidade, marcando o inicio do ponto de
vazão no período chuvoso. A vazão obtida no período chuvoso é da ordem de
91
5,94 cm³/s. Esta vazão indica que escoa da nascente nesse período 3,56 m³/h
de água, que equivale a 3560 litros. Em um dia inteiro, a água escoada é
85.440 litros. No período de estiagem não foi possível definir a vazão, pois a
água se acumula em poças, não obtendo velocidade.
A alteração no volume de água é um processo que ocorre naturalmente
devido às condições de sazonalidade, porém, nesta nascente esse fato devese às alterações (construção de tanques e implementação de pastagem) feitas
dentro da zona de encharcamento, que sem dúvida, contribuíram para diminuir
a capacidade de abastecimento desta nascente e comprometeram a
capacidade de vazão no período de estiagem.
3.1.2 Nascente do córrego Carnaíba
A nascente do córrego Carnaíba é a principal fonte de abastecimento da
estação de tratamento da cidade de Mirassol D’ Oeste, daí a importância de
manter sempre informações acerca de sua capacidade de abastecimento e
variação no seu volume de água. Por tratar-se de nascente com regime de
vazão permanente o monitoramento ocorreu em dois períodos: chuvoso e
estiagem.
No período chuvoso a vazão é da ordem de 12.07 cm³/s, que
corresponde a 7,24 m³/h, ou 7.240 litros de água. Em um dia inteiro esse valor
é de 173.760 litros. Esse volume de água é alimentado pelo abundante volume
de chuva que ocorre na região nesse período, as quais contribuem para a
subida do lençol freático. Na estiagem a vazão é de 10,23 cm³/s que, em um
dia inteiro, corresponde a 147.120 litros escoados. Entre o período de cheia e
estiagem há uma variação na vazão dessa nascente na ordem de 1,84 cm³/s.
Isso corresponde uma diminuição na ordem de 26.640 litros de água entre um
período e outro.
Quanto à batimetria, no período máximo de reserva, esta nascente
apresentou largura de 14 metros. A profundidade media chegou à faixa de 1,70
m. No período da seca essa largura não ultrapassou a faixa de 13,20 e a
profundidade média não ultrapassou 1,55 m (Figura 03).
92
Figura 03 - Perfis transversais da nascente do córrego Carnaíba no período
chuvoso e de estiagem
O resultado da batimetria aponta que não houve grande alteração no
volume de água da nascente, especialmente àquela observada quanto ao
recuo no sentido transversal, cuja oscilação não ultrapassou a ordem de 80 cm
na margem esquerda. Em relação a oscilação entre o fundo e a superfície, a
oscilação máxima entre as duas maiores profundidades (período de cheia e de
seca), ficou em torno de 15 cm. Vale salientar que a vegetação nativa das
margens esquerda e direita se mantém conservadas, sendo estas constituídas
de árvores.
3.1.3 Nascente do córrego Tereré
Nesta nascente, ocorreu um intenso processo de modificação da zona
de encharcamento. No local, o poder público construiu um “poço” para drenar a
água em um ponto único e minimizar o alagamento dos quintais das
residências no entorno. Dessa forma, não foi possível monitorar a vazão e a
batimetria desta nascente. De qualquer forma, percebeu-se, através de
93
monitoramento no nível da água, que o volume à partir da profundidade do
poço variou de de 3,10 m da época de cheia para 2,05 m no período de seca.
Essa diferença significa o ponto de estrangulamento no período chuvoso,
momento em que ocorre a inundação dos quintais do entorno e provoca estado
de revolta nos moradores.
3.2 Qualidade da água
De acordo com Toledo & Nicolella (2002), o uso de indicadores de
qualidade de água consiste no emprego de variáveis que se correlacionam com
alterações ocorridas na sub-bacia, sejam estas de origens antrópicas ou
naturais.
As nascentes da sub-bacia do córrego Caeté estão localizadas em
ambientes que se diferenciam especialmente pela forma do uso da terra, esse
fato reflete na variação dos níveis de IQA diagnosticado na água das nascentes
dos córregos Zé Cassete, Carnaíba e Tereré nos períodos de estiagem e cheia
da região (Quadro 03 e 04).
3.2.1 Nascente do córrego Zé Cassete
No período da estiagem, a água da nascente deste córrego apresentou
pH de 6,46, que lhe confere acidez. A oxigenação mostrou o valor de 4,6 mg/L,
e o nitrato a concentração de 0,036 mg/L. Percebeu-se ainda, disponibilidade
de fósforo com o teor de 0,892 mg/L, baixa concentração de matéria orgânica
lábil 1,0 mgDBO/L, presença de partículas sólidas em 148 mg/L, incluindo as
que causam turbidez, com 58 UNT e condição sanitária satisfatória de 300
UFC.coli/100mL.
Os resultados neste período indicaram que somente os parâmetros de
oxigênio dissolvido e fósforo não atenderam aos padrões estabelecidos pelo
CONAMA 357/05 Art. 15 para corpo d’água Classe 2 (Quadro 03).
94
Quadro 03 - Demonstrativo dos índices das variáveis físico/químicas analisadas
Nascente Zé
Cassete
P.E.
P.C.
27,0
-
Resultados
Nascente
Carnaíba
P.E.
P.C.
31,0
-
Nascente
Tereré
P. E.
P.C
35,0
-
22,0
25
25,0
26
23,0
25
–
UNT
mg/L
6,46
58
4,6
6,38
59
5,2
7,79
8
8,0
6,77
43
6,2
7,08
5
6,0
6,34
158
5,4
DBO
Nitrato
mg/L
mg/L
1,0
0,036
Fósforo
total
Sólidos
totais
mg/L
0,892
mg/L
148
Variável
Unidade
Temperatura
do Ar
ºC
Temperatura
da água
pH
Turbidez
Oxigênio
dissolvido
ºC
8,0
< 1,0 < 1,0 < 1,0 < 1,0
<0,01
<
<
0,011 <0,01
0
0,010 0,010
0
<0,01 0,056
<
0,725 <0,01
0
0,010
0
176
178
184
246
290
P.E.- Período de Estiagem; P.C- Período chuvoso
No que diz respeito às vaiáveis biológicas, constata-se o seguinte
conforme o quadro 04:
Quadro 04 - Demonstrativo dos índices das variáveis biológicas analisadas
Resultados
Variável
Unidade
Nasc.
Zé
Cassete
Coliformes
UFC/100mL
totais
Escherichi
UFC/100mL
Nasc.
Nasc. Tereré
Carnaíba
P.E.
P.C.
P.E.
P.C.
P.E.
P.C.
2.020
6.020
1.560
2.880
3.120
2.780
300
880
110
210
250
310
a coli
UFC – Unidade Formadora de Colônia; P.E.- Período de Estiagem; P.C- Período
chuvoso
A presença de fósforo na água, geralmente está relacionada a rochas
fosfatadas da bacia de drenagem a que está inserida. Participa do processo de
95
aumento desse elemento, a decomposição de materiais alóctones e as formas
de uso e ocupação do solo dentro da bacia hidrográfica. No caso específico
desta nascente, a presença desse nutriente na quantidade encontrada é um
indicativo da associação das características naturais da região, que é
influenciada diretamente pelas rochas calcárias da formação Araras das serras
do Caeté e Padre Inácio, com o uso e ocupação do solo, no caso, a plantação
de cana-de-açúcar. Neste sentido, a utilização de fertilizantes pode chegar aos
corpos d’água através do escoamento superficial, geralmente intensificada no
período chuvoso, e lixiviação e percolação, que ocorrem na subsuperfície.
Neste período o IQA foi de 51,06, o que classifica esta nascente como
Média para utilização em abastecimento público. No entanto, é importante
observar que esse índice está muito próximo do índice que a colocaria na
qualidade de ruim situado entre os valores de 50 e 26, conforme estabelecido
pelo CONAMA.
No período chuvoso este manancial apresentou diminuição do valor do
pH, que caiu para 6,38, aumentando ainda mais a sua acidez. Por outro lado, a
oxigenação subiu para satisfatória 5,2 mg/L, melhorando as condições bióticas
e químicas da água. O nitrato teve seu índice reduzido para o valor < 0,010
mg/L. Nessa mesma tendência, o fósforo também caiu para < 0,010 mg/L. A
demanda bioquímica de oxigênio (DBO), subiu de 1,0 mgDBO/L para 8,0
mgDBO/L e apresentou valores acima do o limite máximo da legislação que é
5,0 mg/L, indicando aporte recente de matéria orgânica de fácil decomposição
(lábil) e que demanda oxigênio para a sua mineralização.
A presença de partículas sólidas subiu de 148 mg/L para 176 mg/L,
incluindo as que causam turbidez que subiu de 58 UNT para 59 UNT. A
condição sanitária indicada pela Escherichia coli subiu de 300 UFC.coli/100mL
para 880 UFC.coli/100mL, porém, ainda esteve dentro das condições
saatisfatórias para mananciais dessa classe.
O material sólido medido (sólidos totais) refletiu nos valores de turbidez,
que, mesmo dentro dos limites da legislação, podem ser considerados
relativamente altos para um manancial como de nascentes. Essas variáveis
são importantes indicadores de alterações no uso do solo e da mata ciliar na
96
área de drenagem, especialmente na época de chuva, quando há maior
escoamento superficial, pois a mesma funciona como um filtro, que retém e/ou
diminui o aporte de sedimento para os corpos d’água. Neste sentido, o
aumento desta variável na água, constitui um forte indicador de alteração no
ambiente.
Os coliformes totais saltaram de 2020 para 6020 UFC/mL. A expressiva
ocorrência de bactérias coliformes totais também é um indicador do aporte de
materiais da bacia de drenagem, devido ao escoamento superficial da época
chuvosa, que transporta para os córregos restos vegetais e animais com a
presença de bactérias de vida livre, ou seja, que não são de origem
exclusivamente fecal.
Na comparação entre os dois períodos analisados, apesar da elevação
de alguns índices como DBO e sólidos totais, percebe-se que o IQA subiu de
51,06 para 58,95 indicando-a como classe média para utilização em
abastecimento. Esse índice mostra que o período chuvoso melhora a qualidade
da água da nascente do Zé Cassete. Sabe-se que a água tem grande poder
depurativo, especialmente quando se encontra em estado corrente, dessa
forma, esse fato pode ser explicado pela capacidade de vazão que ocorre no
local por ocasião do período chuvoso. Essa vazão é da ordem de 3,56 m³/h.
Portanto, a vazão da água que só ocorre no período chuvoso nesta nascente,
constitui fator determinante da melhoria da qualidade da água que ali se
observou.
3.2.2 Nascente do córrego Carnaíba
No período chuvoso a água da nascente do córrego Carnaíba
apresentou pH levemente alcalino de 7,79, baixa concentração para nitrato, <
0,01 mg/L de fósforo que apresentou o valor de 0,056 mg/L. Indicou
boa
oxigenação, com valor de 8,0 mg/L e baixa quantidade de matéria orgânica
lábil estando < 1,0 mg/DBO/L. As partículas que causam turbidez indicaram 8
UNT, acompanhado pelo nível de sólidos totais de 178 mg/L. As condições
sanitária indicadas pelo nível de Escherichia coli mostrou-se satisfatória 110
UFC.coli/100mL.
97
Nesse período, o IQA desta nascente foi de 78,21 e, de acordo com o
CONAMA 357/05, artigo 15, todos os resultados atenderam os padrões
estabelecidos e o índice utilizado (IQA) classificou esse corpo d’água como de
qualidade Boa.
Esses resultados indicaram que a água dessa nascente pode ser
destinada a todos os usos previsto pelo CONAMA 357/05 para corpos d’água
Classe 2: como: i) abastecimento para consumo humano, após tratamento
convencional; ii) proteção das comunidades aquáticas; iii) recreação de contato
primário, como natação, esqui aquático e mergulho; iv) irrigação de hortaliças,
plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os
quais o público possa a vir ter contato direto; v) agricultura e atividade de
pesca.
No período chuvoso esta nascente apresentou queda no pH em relação
ao período da seca, que passou de 7,79 para 6,77. Esse fato tira o pH da
condição de alcalinidade para a situação de acidez, apesar da proximidade da
neutralidade. A oxigenação diminuiu de 8,0 mg/L para 6,2 mg/L. Esse dado
indica piora nas condições biológicas e químicas da água. A demanda
bioquímica de Oxigênio e o nitrato, mantiveram-se estáveis em relação ao
período anterior em 1,0 mg/DBO/L e < 0,010 mg/L, respectivamente.
A quantidade de fósforo caiu de 0,56 mg/L para < 0,010 mg/L e a
turbidez subiu para 43 UTN. Acompanhando a turbidez, os sólidos totais
subiram de 178 mg/L para 184 mg/L.
No que diz respeito às variáveis biológicas, os coliformes totais subiram
de 1560 UFC/100 mL para 2880 UFC/100 Ml. A E. coli elevou-se de 110
UFC/mL para 210 UFC/ml, mas manteve-se em níveis de condições
satisfatórias.
No geral, com exceção da DBO e nitrato que mantiveram-se estáveis, e
do fósforo que apresentou redução, percebe-se que houve piora em todas as
outras variáveis analisadas em relação ao período anterior. Em função disso, o
índice do IQA caiu de 78,21 para 72,14, porém, ainda manteve no nível de
qualidade boa nos parâmetros do CONAMA.
98
Ao contrário do que se observa na variação do índice do IQA que variou
para melhor na nascente do Zé Cassete no período chuvoso, nesta nascente, a
precipitação colaborou para levar ao manancial, elementos biológicos
provavelmente oriundos da área de pastagem localizada à sua montante. Esse
processo pode carrear também partículas sólidas que aumentam a turbidez da
água. Como esta nascente tem vazão permanente, a vazão da água não
constitui fator de grande relevância para influenciar na diferença da qualidade
da água entre os períodos de cheia e estiagem.
3.2.3 Nascente do córrego Tereré
Durante o regime da seca, a água da nascente localizada na área
urbana da cidade de São José dos Quatro Marcos apresentou as seguintes
características:
pH neutro (7,08),
boa oxigenação
(6,0 mg/L),
baixa
concentração para nitrato (0,011 mg/L), disponibilidade de fósforo (0,735 mg/L),
baixa quantidade de matéria orgânica de fácil decomposição (< 1,0 mgDBO/L),
presença de partículas que causam turbidez (5,0 UNT), e presença de sólidos
(246 mg/L). A condição sanitária satisfatória com 250 UFCE.coli/100mL.
Neste período, o fósforo foi o único parâmetro que não atendeu ao
padrão estabelecido pelo CONAMA 357/05 Art. 15. Esses resultados, sugerem
que a água dessa nascente está sujeita a compostos fosfatados, que podem
ser oriundos tanto de rochas calcárias mescladas à outras no Complexo Xingu,
como também de resíduos gerados nas atividades domésticas do entorno.
Porém, é importante ressaltar o papel que pode ser desempenhado pelas
rochas do local, uma vez que o aporte significativo de efluente doméstico não
foi evidenciado, pois os demais parâmetros não indicaram essa condição
através
dos
resultados
de
nitrato,
oxigênio,
DBO
e
contaminação
microbiológica (coliformes totais e Escherichia coli).
No período chuvoso, esta nascente localizada na área urbana da cidade
de São José dos Quatro Marcos apresentou queda no pH que caiu de 7,08
para 6,34, situação ainda próximo da neutralidade. Esses dados relacionam-se
com as condições de fertilidade do solo e refletem a urbanização local. O
99
oxigênio dissolvido na água caiu de 6,0 mg/L para 5,4 mg/L, demonstrando
aumento no nível de poluição de um período para o outro. Corrobora para esse
fato o carreamento de matérias provenientes dos resíduos domésticos que são
levados para a nascente por ocasião das chuvas. A demanda bioquímica de
oxigênio manteve-se estável, situando no nível < 1,0 mg/L nos dois períodos. O
nitrato apresentou ligeira queda para 0,010 mg/L. Por outro lado, a turbidez
saltou de 5,0 UTN para 158 UTN, acompanhado pelo aumento dos sólidos
totais que se elevou de 246 mg/L para 290 mg/L. Constitui fator decisivo para o
aumento no valor dessas variáveis a topografia do terreno, que apresenta
ângulos moderados de 4,96% e a estrutura argiloso avermelhado do pacote
pedológico do local. Soma-se a esse fato, a inexistência das matas ciliares no
entorno.
Com isso, infere-se que a vegetação marginal na área de drenagem
deste córrego não é mais funcional, o que refletiu em alterações da qualidade
da água relacionadas ao aporte de sedimento e entrada de luz no sistema,
condição que pode levar ao rápido assoreamento do manancial e, por
conseguinte, a impactos negativos sobre a biota aquática.
Quanto às análises microbiológicas, observou se que o fator de diluição
também contribuiu para os médios resultados de coliformes totais e E. coli,
dentro dos limites da legislação. Com isso, pode-se inferir que na época de
chuva, este córrego apresenta boa capacidade de diluição/depuração frente ao
aporte dos resíduos domésticos que recebe.
Considerando a localização urbana dessa nascente, era de se esperar
alterações significativas na qualidade da água, especialmente em relação a
concentração de nutrientes e matéria orgânica. Porém, com a ocorrência de
chuvas, o fator de diluição atuou na diminuição da concentração dessas
substâncias, cujo resultado foi menor do que 1,0 mg/L. Porém, observa-se que
houve queda bastante visível no IQA desta nascente, cujo índice caiu de 62,10
para 56,59.
100
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo indicam que a nascente do córrego Carnaíba
apresentou a melhor qualidade da água para os usos previstos em cursos d’
água considerados como Classe 2 no CONAMA e de acordo com o IQA da
CETESB. Esta nascente apresentou ainda, o menor índice de contaminação
microbiológica. Essa condição está relacionada à presença da mata ciliar
conservada que protege esse corpo d’água e que garante a manutenção da
qualidade da água, mesmo com atividades antrópicas ligadas à criação de
gado no seu setor de montante. De acordo com os resultados obtidos neste
trabalho, pode-se concluir que a forma de uso da terra no entorno das
nascentes constitui fator decisivo na hidrodinâmica e na qualidade da água nos
regimes de seca e cheia na região.
Nas nascentes rurais do distrito de Sonho Azul, atividades econômicas
ligadas à criação de gado participam decisivamente na variação da batimetria,
indicando que os setores onde há pisoteio de gado, o volume de água diminui
com maior evidência. Quanto à qualidade da água, a pesquisa mostrou que o
regime de chuva e a vazão provocada influenciam decisivamente na melhora e
queda do IQA das duas nascentes ali localizadas. Se por um lado, na nascente
do Zé Cassete a precipitação colaborou para melhorar a qualidade da água
através da depuração provocada pela vazão, na nascente do córrego Carnaíba
a chuva carregou sedimentos e microorganismo para o manancial e isso
diminuiu o seu IQA.
Na nascente do córrego Tereré, em São José dos Quatro Marcos, de
modo geral as chuvas provocaram, diminuição no IQA, porém, é preciso
ressaltar que em algumas variáveis, a vazão colaborou para apontar o poder
depurativo da água, melhorando o índice de algumas variáveis analisadas. Em
outras, como é o caso evidente da turbidez, a chuva participou decisivamente
para piorar o seu índice. Esse fato e aponta a fragilidade desta nascente em
relação a carga de sedimentos que recebe do entorno por causa da retirada da
vegetação original.
Entre todas as nascentes analisadas, as melhores condições de suporte
e da qualidade da água ocorrem na do córrego Carnaíba, demonstrando o
101
papel decisivo que a cobertura vegetal do entorno pode desempenhar na sua
manutenção e capacidade de resiliência às pressões das atividades
econômicas desenvolvidas no entorno.
A manutenção ou mesmo a restauração da capacidade de suporte de
cada nascente analisada depende de articulação de iniciativas, envolvendo a
comunidade escolar do entorno dessas nascentes, do poder público e dos
agricultores e pecuaristas diretamente envolvidos, visando articular condições
de recomposição da vegetação original e construção de dessedentadores para
animais. Essa constitui uma medida de gestão para garantir boa qualidade da
água e garantir a existência das nascentes estudadas.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Association & WPCF/Water Pollution Control Federation. 1990. Standard
Methods. Ed. APHA. Washington.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS-ABNT. 1987.
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receptores. Rio de Janeiro. Brasil, 1978.
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março de 2005-CONAMA/MMA. 23p. 2005
CALHEIROS, R. de Oliviera et al. Preservação e Recuperação das
Nascentes. Piracicaba: Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ CTRN, 2004.
CETESB. Guia técnico de coleta e preservação de amostras de água. São
Paulo, 1988.
CHRISTOFOLETTI. A. (1981) Geomorfologia fluvial. Edgard Blucher. São
Paulo, 313p.
COOKE, R. B. e DOORNKAMP, J.C. Geomorfologia in Environmental
Management, a New Introduction. Oxford: Claredon Press, 1994.
102
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Geomorfologia do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
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Perspective. New York: John Wiley e Sons, 1998.
LINSLEY, R.K., FRANZINI, J.B. Engenharia de recurso hídricos. In: Mc GrawHill do MAGALHÃES, J. P. Recursos Naturais, Meio Ambiente e sua Defesa
no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 1982.
TOLEDO, L. G.; NICOLELLA, G. Índice de Qualidade de Água em
Microbacia sob uso Agrícola e Urbano. Scientia Agricola, v.59, n.1, p.181186, 2002
VALENTE, O. F. e GOMES, M. A. As Nascentes e os Rios. REVISTA AÇÃO
AMBIENTAL. Revitalização de Rios: Área Rural. Editora da Universidade
Federal de Viçosa, 2003.
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos ambientais visam à obtenção de informações que possam
nortear o manejo dos recursos oferecidos pela natureza ao homem de acordo
com a especificidade de cada ambiente. Neste contexto, produziram-se
diagnósticos de três nascentes da sub-bacia do córrego Caeté que apontam as
seguintes conclusões na seqüência dos artigos produzidos:
•
A intersecção entre os fatores geológicos; que condicionam a
percolação e o armazenamento da água na estrutura argilítica/siltosa, com os
fatores geomorfológicos; que condicionam a captação e convergência da água
nas depressões, mais as circunstâncias climáticas, que condicionam o volume
de água que cai no terreno, dão causa ao aparecimento das nascentes dos
Córregos Carnaíba de caráter permanente, localizada próximo a rodovia MT
248 e Zé Cassete, de caráter intermitente, localizada próxima da estrada vicinal
do Distrito de Sonho Azul. A nascente do perímetro urbano de São José dos
Quatro Marcos está assentada na estrutura geológica do complexo Xingu, no
grupo Alto Paraguai. Esta estrutura é composta por rochas graníticas que
dificultam a permeabilização da água para grandes profundidades do subsolo.
Quanto ao aspecto geomorfológico a nascente está localizada no centro de
uma estrutura organizada em forma de U, com declives moderados vindos das
porções leste (montante), norte (margem direita) e sul (margem esquerda).
Essas circunstâncias do relevo são determinantes para o escoamento da água
e determinação do ponto onde esta se armazena e aflora no período chuvoso,
dando origem à nascente.
•
relacionados
Os fatores de pressão mais marcantes sobre as nascentes estão
aos
aspectos
sócio-econômicos
do
entorno;
atividades
agropecuárias nas nascentes rurais do distrito do Sonho Azul e urbanização na
nascente de São José dos Quatro Marcos. Sobre esse aspecto, as nascentes
que recebem maior pressão decorrente da antropização no entorno são as do
córrego Zé Cassete, na zona rural, e a do Tereré na área urbana, onde a
vegetação natural foi retirada praticamente em toda a sua totalidade, deixandoas desprotegidas dos processos erosivos e do recebimento de elementos de
104
natureza química e biológica que provocam as suas degradações. A nascente
do córrego Carnaíba mostra-se mais preservada, fato este corroborado pelas
condições de uso que denotam menor pressão das atividades agropecuárias,
bem como pelos atributos naturais do entorno, cuja vegetação original
encontra-se ainda bem preservada.
•
Os efeitos do uso repercutem no regime de vazão, variação no
volume e na qualidade da água. Os resultados das amostras indicam que a
nascente do córrego Carnaíba apresentou, além do menor índice de
contaminação microbiológica, a melhor qualidade da água para os usos
previstos cursos d’ água considerados da Classe 2 na Resolução CONAMA
357/05 e de acordo com o IQA. Ainda de acordo com o CONAMA 357/05, as
nascentes dos córregos Zé Cassete e Tereré apresentam qualidade da água
apenas média.
Diante destas constatações, preliminarmente, torna-se possível algumas
medidas que podem representar alternativas de uso, preservação e até mesmo
recuperação dessas nascentes, quais sejam:
•
Revegetação imediata no entorno das nascentes, no raio mínimo
de raio de 50 metros, nos moldes do que determina a legislação; no caso das
nascentes da zona rural;
•
Na nascente do córrego Zé Cassete, proceder abertura de diques
de ligação entre um tanque e outro, de modo que possa ser restabelecido o
fluxo da água no período de estiagem e possibilite o seu uso em ponto comum
acordado mais à jusante do curso d’ água;
•
Em todas as nascentes construir cercado nos pontos de
montante, a fim de evitar o pisoteio do gado e prevenir contra a compactação
do solo;
•
Criar rodada de negociação entre os proprietários rurais e poder
público do entorno das nascentes do distrito de Sonho Azul, a fim criar
estratégias de compra de equipamentos que possam bombear água para
tanques e/ou outro recipiente de armazenamento de água em locais onde o
pisoteio do gado não signifique destruição dos olhos d’ água;
105
•
Na nascente urbana de São José dos Quatro Marcos pode ser
criado um canal receptor da água trazida pela enxurrada e daquela que emerge
à superfície do terreno pela subida do nível do lençol freático no período da
cheia. Concomitante a essa medida, faz-se necessário urbanizar o local
através de arborização e plantação de gramas no entorno até o ponto onde se
define o córrego. Dessa forma, a área poderá ser vista alternativa de ponto de
recreação e não de acúmulo de lixo;
•
Identificar estas nascentes com placas informativas sobre o tipo
de nascente ali instalada, necessidade de preservação desse bem ambiental,
bem como constar outras informações que possam subsidiar estratégias da
educação escolarizada e não escolarizada;
•
Definição de estratégias pedagógicas de Educação Ambiental nas
escolas próximas das nascentes, viabilizando a participação da comunidade.
Esta estratégia começou a ser empregada na escola do Sonho Azul, onde já
existe um dialogo entre escola e membros da Cooperativa de álcool para
definirem política de revegetação em áreas degradas pela cultura da cana.
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ESTUDO DE NASCENTES: SUBSÍDIO A POLÍTICAS DE GESTÃO