VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 SIMULAÇÃO DE DOIS RESERVATÓRIOS INCLUINDO DILUIÇÃO DE POLUENTES NA BACIA DO RIO PARAÍBA Marcos de Brito Campos Junior1; Mosefran Barbosa Macedo Firmino1 e Márcia Maria Rios Ribeiro2 Resumo - Este artigo tem como objetivo investigar o comportamento de dois reservatórios integrados, considerando a inclusão da vazão de diluição de efluentes ao sistema. O estudo foi aplicado na região do Médio e Baixo Curso do Rio Paraíba, no Estado da Paraíba. Utilizando critérios de prioridades, é simulado o comportamento do sistema, para 25 anos de dados mensais, com a inclusão da vazão de diluição de efluentes. Os resultados mostram que há mudança nos índices de avaliação do sistema com a introdução da demanda de vazão de diluição. Abstract - This paper deals with the behavior of two interconnected reservoirs considering the inclusion of the dilution of effluents into the system. The study was applied in the medium and low region of the Paraíba River, Paraíba State, Brazil. Making use of priorities criteria, the behaviour of the system is simulated for a 25 years monthly data with the inclusion of effluents dilution. The results show that there is change in the system’s indices evaluation with the introduction of the demand of dilution. Palavras-Chave: Vazão de diluição, Reservatórios, Indicadores de desempenho. Aluno de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Campina Grande, Caixa Postal 505, 58.100-970 Campina Grande-PB. Fone: (83) 3310-1157;E-mails: [email protected], [email protected] 2 Professora, Curso de Pós - Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Paraíba, Brasil, E-mail: [email protected] 1 VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 INTRODUÇÃO A poluição dos corpos hídricos brasileiros passou a ser destacada como um dos grandes desafios da gestão quali-quantitativa de recursos hídricos no país. Desta forma, o Projeto de Lei (PL) Nº 1616 que se encontra em tramitação no Congresso Nacional desde 1999 vem a complementar à Lei Nº 9.433/97. Uma das inovações deste PL é especificar a outorga para a vazão de diluição de resíduos em corpos hídricos. Esta outorga é entendida como uma outorga da vazão necessária para diluir os respectivos efluentes gerados pelas atividades poluidoras e tem sido chamada de “vazão de diluição”. A literatura sobre o tema de vazão de diluição no Brasil é escassa. KELMAN (1997) apresentou o conceito de apropriação de uma parcela da vazão de um corpo d’água, quando um usuário efetua um lançamento, para que esse lançamento seja diluído ou assimilado; RODRIGUES (2000) desenvolveu um trabalho combinando o modelo de qualidade de água QUAL2E e o cálculo da vazão de diluição, explicitando a relação entre os aspectos de quantidade e qualidade da água a serem considerados no exame dos pedidos de outorga; RIBEIRO E LANNA (2003), apresentaram uma metodologia para integrar a outorga de vazão de captação e de diluição e MACHADO et al. (2003) apresentaram uma metodologia de alocação de vazões de diluição de poluentes que está sendo testada no Estado do Paraná. Este artigo objetiva simular a operação de dois reservatórios localizados na Bacia do Rio Paraíba (PB), considerando a diluição de efluentes como uma das demandas. Complementarmente, o estudo analisa os indicadores referentes à Confiabilidade, Resiliência e Vulnerabilidade de cada um dos reservatórios simulados METODOLOGIA Simulação integrada de um sistema de reservatórios Neste trabalho utiliza-se o Acquanet, desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas de Suporte à Decisão - LabSid/USP para simular o sistema constituído por dois reservatórios. Ele é um modelo integrado que utiliza um algoritmo de rede de fluxo que combina simulação e otimização na análise de complexo sistema de recursos hídricos. Permite a análise dos resultados nos formatos individual e global, possibilita também comparar conjuntamente os resultados de até seis projetos previamente calculados. O modelo permite ao usuário colocar quantos nós de demanda forem necessários, seja ela consuntiva ou não. Estas demandas serão atendidas, no caso de escassez de recursos hídricos, de acordo com um valor de prioridade atribuída pelo usuário, que pode variar 1 a 99, sendo 1 a maior prioridade. Tem-se que a otimização é executada para cada intervalo de tempo mensal, de forma seqüencial, assim não garante o ótimo global para um período de tempo à frente (PORTO et al., 2005). Vazão de diluição A outorga para o lançamento de efluentes prevista na Lei Nº 9.433/97 (seção III) é um instrumento que contribui para a gestão da qualidade da água nos corpos Hídricos brasileiros. Uma nova abordagem surgiu em 1999 com o Projeto de Lei Federal Nº 1616 que continua em tramitação no Congresso Nacional. Neste projeto, a outorga de lançamento de efluentes é compreendida como uma outorga da vazão que será necessária para a diluição dos respectivos efluentes gerados pelas atividades poluidoras. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 Esta vazão de diluição deve ser compatível com a carga poluente e pode variar ao longo do tempo e das condições dos efluentes. Assim, a outorga de direito de uso para lançamento de efluentes será dada em quantidade de água necessária para a diluição daquele poluente, com base nos padrões de qualidade da água correspondente à classe de enquadramento do respectivo corpo receptor. Segundo VON SPERLING (1996), a água é considerada depurada quando as suas características não são mais conflitantes com a utilização prevista em cada trecho do curso d’água, desta forma se torna necessário conhecer a capacidade autodepurativa do corpo receptor em um determinado trecho. Na ausência de metodologias específicas sobre a capacidade depurativa dos corpos d’água, algumas hipóteses podem ser assumidas: i) há autodepuração do efluente no próprio ponto de lançamento ou no entorno do mesmo, ii) não há autodepuração do efluente no ponto de lançamento, mas há nas seções a jusante e, finalmente, iii) não há autodepuração do efluente ao longo do curso d´água. A vazão de diluição pode ser determinada em m3/s para um mês de 30 dias sendo calculada através da Equação 1 (RIBEIRO e LANNA, 2003): Qdiluii , j ,k = (1 / 2,5992) * (Cg i , j ,k / Conk , j ) (1) Onde, Qdiluii , j ,k - é a vazão de diluição em m3/s do usuário i, na seção j do rio, para o parâmetro K; Cg i , j ,k - é a carga lançada pelo usuário i, na seção j, para o parâmetro k, em ton/mês; Conk , j - é a concentração máxima ou mínima do parâmetro k exigida na seção j em mg/l. A vazão de diluição está estritamente ligada ao processo de enquadramento determinado pela legislação ambiental, no caso, pela Resolução CONAMA Nº357/05 que define a concentração média de cada parâmetro para determinada classe. Indicadores de sustentabilidade Segundo LABADIE (2004), as funções objetivo usadas nos modelos de otimização de sistemas de reservatórios deveriam incorporar medidas de desempenho tais como eficiência (maximizar o bemestar atual e futuro), sobrevivência (assegurando que o bem-estar futuro excederá os níveis de subsistência mínimos) e sustentabilidade. Esta última medida pode ser considerada igual a uma soma ponderada da confiabilidade, resiliência e vulnerabilidade dos vários critérios que contribuam ao bem- estar do homem (econômico, ambiental ou ecológico). Nesta pesquisa, o desempenho do sistema é avaliado em duas simulações (com ou sem diluição de poluentes na bacia) por indicadores que medem o grau de atendimento aos objetivos: confiabilidade, resiliência e vulnerabilidade. Tais índices foram propostos por HASHIMOTO et al. (1982) e fornecem meios de avaliar os efeitos das várias regras de operação, além de auxiliar na avaliação de futuros projetos a serem implantados. Sendo assim, o desempenho do sistema ao longo do tempo, na seção j, determinado pela série temporal Xt,j, t = 1,… , NT, e que um valor limite X0,j seja especificado, separando os valores satisfatórios S dos insatisfatórios I, de modo que uma falha ocorra quando Xt,j < X0,j. Seja NF o número total de intervalos de tempo no qual Xt,j < X0,j e sejam dj,l e sj,l, respectivamente, a duração e o desvio relativo do volume déficit ao volume demandado na j-ézima seção do l-ésimo evento de falhas, l = 1,..., M, onde M é o número de eventos insatisfatórios. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 A confiabilidade (Confj) da seção j mede a probabilidade da série temporal permanecer em estado satisfatório S durante o horizonte de operação, ou seja, a percentagem do tempo em que o sistema funciona sem falhas: Confj = Prob{Xt,j ∈ S} = Prob{Xt,j ≥ X0} = 1 − NF NT (2) A resiliência (Resj) da seção j mede a forma como o sistema recupera-se de uma falha F, uma vez que esta tenha ocorrido. Resiliência também é definida como o inverso do valor esperado do tempo em que o sistema permanece em estado insatisfatório. 1 ⎤ ⎡1 M = ⎢ ∑ d j ,l ⎥ Re sj = E{d } ⎣ M l =1 ⎦ −1 (3) A vulnerabilidade mede a magnitude da falha na j-ésima seção e foi definida de duas maneiras: a) valor máximo de sj,l durante o evento Vul_maxj = 1 M M ∑ max[s j=1 j, l ]; (4) b) valor médio da vulnerabilidade durante o evento Vul_medj = 1 M M ∑ média[s j=1 j, l ] (5) DESCRIÇÃO DO SISTEMA E DOS DADOS DE ENTRADA O caso em estudo é compreendido pela região do Médio e Baixo Curso do Rio Paraíba que fazem parte da Bacia do Rio Paraíba no Estado da Paraíba, drenando uma área de 7.686,06 Km2. É um dos sistemas hidrográficos mais importantes do semi-árido nordestino. Entre os municípios inseridos nessas regiões encontram-se Campina Grande e João Pessoa, as cidades mais importantes economicamente para o Estado (Figura 1). Foram utilizados dados mensais de vazão afluente (período de 1974 a 1998) do reservatório Epitácio Pessoa de acordo com o Documento de Sustentabilidade Hídrica do Açude Epitácio Pessoa (AAGISA, 2004). No caso do reservatório de Acauã utilizou-se uma serie sintética presente no (PDRH-PB, 2001) de igual período. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 João Pessoa Campina Grande João Pessoa Campina Grande Figura 1. Área de estudo: Região do Médio e Baixo Curso do Rio Paraíba (PB). Sistema de reservatórios O sistema estudado engloba os reservatórios Epitácio Pessoa (Boqueirão de Cabaceiras) e Argemiro de Figueiredo (Acauã). O primeiro foi construído entre 1951 a 1956, é o principal açude da bacia e tem o maior volume de acumulação (411.680.000 m3). Ele abastece a cidade de Campina Grande (aproximadamente 360.000 habitantes), sendo também utilizado como alternativa de abastecimento de outros municípios (PERH, 2006). O segundo (Acauã), finalizado em 22 de março de 2002, com um volume de acumulação (253.000.000 m3), foi construído no intuito de evitar um eventual colapso no abastecimento das cidades supridas pelo Epitácio Pessoa. A Figura 2, a seguir, representa o sistema estudado, compreendendo os dois reservatórios e suas demandas: abastecimento humano (Cidades 1 e Cidade 2), irrigação (Irrig1 e Irrig2), indústrias (Ind_Médio e Ind_Baixo), diluição dos efluentes (Dil_Médio e Dil_Baixo). Figura 2. Layout do Sistema Estudado. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 Os dados básicos de entrada dos reservatórios no Acquanet são resumidos na Tabela 1. Tabela 1. Dados dos reservatórios para entrada no Acquanet. Reservatório Volume (Mm³) Finalidade* Máximo Mínimo Inicial Atual Neste Estudo Epitácio 411,68 28,24 205,84 1; 2; 3 1; 2 Pessoa 253,14 2,034 127,000 1; 2 1; 2 Acauã * 1 - Abastecimento, 2 - Irrigação, 3 - Piscicultura. Demanda para abastecimento humano De acordo com a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba - CAGEPA, em 2003 o açude Epitácio Pessoa atendia 21 cidades, totalizando uma demanda de aproximadamente 1 m3/s (Cidades 1). O açude Acauã, no momento, atende apenas a cidade de Gado Bravo com uma demanda de apenas 0,002 m3/s (Cidade 2), ver Tabela 2. Tabela 2. Demandas de abastecimento humano (CAGEPA 2003). Demanda abastecimento humano m3/mês l/s m3/s 2.454.191, 946,83 0,95 Cidades 1 88 3.888 1,50 0,0015 Cidade 2 As cidades abastecidas pelo reservatório Epitácio Pessoa passaram por crises de abastecimento entres os anos de 1997 e 1999, devido ao período de estiagem que atingiu a região. A situação mais crítica ocorreu no ano de 1999, quando o açude possuía apenas 15% de sua capacidade máxima. Segundo GALVÃO et al. (2001), as principais causas da crise foram a ausência de gestão da oferta e da demanda de água, incluindo a irrigação descontrolada na bacia, altos níveis de perdas de água no processo de distribuição e construção descontrolada de outros reservatórios a montante do açude. Em função da crise no sistema de abastecimento de água da cidade de Campina Grande, foi suspensa a regularização a partir do reservatório Epitácio Pessoa. Neste trabalho, entretanto, considerou-se que o referido reservatório regulariza vazões para jusante já que objetiva-se, nesta pesquisa, analisar a demanda por diluição de efluentes nas Regiões do Médio e do Baixo Curso do Rio Paraíba. Demanda para irrigação De acordo com o PERH-PB (2006), as áreas irrigadas e suas demandas para cada região são mostradas na Tabela 3 abaixo: Tabela 3. Áreas irrigadas e demandas para cada região em estudo (PERH-PB, 2006). Sub-Bacias/ Regiões Áreas (km2) Demanda (m3/ano) Demanda (m³/s) Médio Curso do Rio 33,47 52.606.783 1,66 Paraíba 123,80 86.736.294 2,74 Baixo Curso do Rio Paraíba 157,27 139.343.077 4,40 Total Nas margens do açude Epitácio Pessoa desenvolvem-se atividades agrícolas irrigadas bastante acentuadas. Na maioria das vezes são praticadas de forma irracional, podendo-se encontrar VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 plantações de tomate, feijão, hortaliça e etc. Salienta-se que esta irrigação, por ordem judicial, encontra-se proibida. Na falta de estudos mais aprofundados relativo à irrigação na região como um todo, e não apenas nas margens dos açudes, foram utilizados os valores de demanda do PERH (2006) para todo o trecho da bacia como mostrado na Figura 2 (Irrig1 e Irrig2). Demanda industrial As indústrias presentes na região são as de produtos alimentícios, vestuário, serviços de reparação, manutenção e instalação, metalúrgica, construção civil, couros, peles e assemelhados, editorial e gráfica. Em 2000, as regiões do Médio e Baixo Curso do Rio Paraíba participaram com 63,08% do número total de indústrias existentes no Estado. Deste total, a grande maioria se encontra nas cidades de Campina Grande e João Pessoa. Neste trabalho foram consideradas apenas as demandas das indústrias que possuem outorga cadastrada na Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba - AESA. Foram consideradas as simulações realizadas por CAMPOS JR. et al. (2006) utilizando o Sistema de Apoio à Decisão para o Controle Integrado da Poluição - SAD-CIP (WORLD BANK, 1998) nos setores de atividades presentes nas Regiões do Médio e Baixo Curso do Rio Paraíba, obtendo-se a carga total lançada. Com posse das cargas geradas encontrou-se a vazão de diluição necessária para cada setor pela Equação (1) (Tabela 5). Na Figura 2 encontra-se representada a demanda do setor industrial para as duas regiões em estudo, na região do Médio Curso do Rio Paraíba (Ind_Médio) a demanda foi de aproximadamente de 0,014 m3/s, já para a região do Baixo Curso do Rio Paraíba (Ind_Baixo), na qual participa com maior número de indústrias, a demanda foi de 0,632 m3/s (Tabela 4). Tabela 4. Demanda Industrial. Demanda Indústria (m³/mês) (m³/s) 35.393,00 0,014 Médio Paraíba 0,632 Baixo Paraíba 1.637.158,17 No caso da vazão de diluição para os poluentes encontrados na Bacia, representado na Figura 2 como (Dil_Médio e Dil_Baixo), a demanda será a máxima vazão de diluição das atividades apresentadas em cada Região (abastecimento, irrigação e indústria) sendo o setor industrial o gerador da maior poluição. Desta forma a vazão de diluição do Médio e do Baixo é de 1,66 m3/s e 23,30 m3/s respectivamente, seguindo a hipótese de que há autodepuração do efluente no próprio ponto de lançamento ou no entorno do mesmo. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 Baixo Paraíba Tabela 5. Carga Poluidora gerada de DBO das Indústrias outorgadas para cada região (CAMPOS JR. et al., 2006). Carga gerada Carga gerada Qdilui (ton/ano) (ton/mês) Indústria Região DBO DBO (m3/s) Frutas e legumes 5,08 0,42 0,03 Processos de peixe 268,80 22,40 1,72 Indústria Alimentícia 691,20 57,60 4,43 Indústria de refrigerantes 237,94 19,82 1,53 Indústria têxtil 10,36 0,86 0,07 Indústria calçados 2880,00 240,00 18,47 Indústria de papel 2,09 0,17 0,01 Indústria química 3633,96 302,83 23,30 Total lançado para o 7729,43 644,11 49,56 parâmetro DBO(ton/ano) Destilação de álcool 23,76 1,98 0,15 Cimento 56,58 4,71 0,36 Lã 259,05 21,58 1,66 Fabricação de papel 0,29 0,02 0,00 Conservas (frutas e legumes) 0,12 0,01 0,00 Refrigerantes 11,81 0,98 0,08 Calçados/Sapatos 70 5,83 0,45 Indústria de vinho 19,08 1,59 0,12 Laticínio 219,87 18,32 1,41 Doces 1,62 0,13 0,01 Sabão 1,11 0,09 0,01 Total lançado para o 663,31 55,27 4,25 parâmetro DBO(ton/ano) Médio Paraíba ANÁLISE DOS RESULTADOS Foram simuladas duas situações: Simulação 1, não considera a vazão de diluição de poluentes; Simulação 2, considera a vazão de diluição de poluentes. A Tabela 6 mostra os valores de confiabilidade, resiliência, vulnerabilidade e os números de eventos insatisfatórios das demandas consideradas no sistema para as duas simulações realizadas. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 Tabela 6. Desempenho do sistema (confiabilidade, resiliência, vulnerabilidade e o número de eventos insatisfatórios) para as duas simulações. SIMULAÇÃO 1 SIMULAÇÃO 2 (Sem vazão de diluição) (Com vazão de diluição) Demanda Conf Res Vul_med Vul_max Conf Vul_med Vul_max M Res (%) M (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) 100 0 89,67 9,68 96,06 83,16 31 Cidades1 100,0 100 0 0 Cidade2 0 100 0 89,67 9,68 100,00 100,00 31 Irrig1 100,0 100 0 0 Irrig2 0 0 89,67 9,68 100,00 100,00 31 Ind_Médio 100 100,0 100 0 0 Ind_Baixo 0 - 89,67 9,68 100,00 100,00 31 Dil_Médio 100,0 0 Dil_Baixo 0 0 100 100 100 300 0,00 100,00 100,00 100,00 300 Dreno Onde: Conf: confiabilidade; Res: resiliência; Vul_med: vulnerabilidade media do sistema; Vul_max: vulnerabilidade máxima média do sistema; M é o número de evento insatisfatório; Dreno: vazão do final do rio. Considerando os resultados da Simulação 1 (sem demanda para diluição de poluentes), tem-se que o sistema apresenta uma confiabilidade de 100% para atendimento das demandas analisadas, com exceção do dreno. Na Simulação 2 (com demanda para diluição de poluentes), o índice de confiabilidade decresceu para as demandas de Cidades 1 (89,67%), Irrig1 (89,67%), Ind_Médio (89,67%) e Dil_Médio (89,67%). No caso da demanda de Dil_Baixo o sistema não falhou, mesmo possuindo uma demanda 14 vezes maior do que a demanda de diluição no Médio Curso do Rio Paraíba (Dil_Médio), que obteve uma confiabilidade de 89,67%. Nesta Simulação 2, o índice de resiliência para as demandas de Cidades1, Irrig1, Ind_Médio e Dil_Médio se mantiveram abaixo de 10%, isto indica que ao acontecer uma falha, esta irá trazer déficits enormes e com uma probabilidade de recuperação menor que 10%. A Tabela 7 apresenta os valores de confiabilidade, resiliência, vulnerabilidade e números de eventos insatisfatórios dos reservatórios analisados, não considerando a vazão de diluição (Simulação 1) e considerando-a (Simulação 2). Observa-se que o incremento da vazão de diluição dos efluentes industriais ao sistema alterou os indicadores de sustentabilidade para o reservatório Epitácio Pessoa. No caso de alterações nos níveis de demandas (como o aumento da área agrícola considerada, aumento da população e inclusão de outras indústrias), não será possível o atendimento de demandas menos nobres, no caso, diluição de efluentes. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 Tabela 7. Resultado de confiabilidade, resiliência, vulnerabilidade e o número de eventos insatisfatórios para os reservatórios nas duas simulações. SIMULAÇÃO 1 SIMULAÇÃO 2 (Sem vazão de diluição) (Com vazão de diluição) ReservaVul_me Vul_ma tório Conf Res Conf Res Vul_me Vul_max d x M M (%) (%) (%) (%) d (%) (%) (%) (%) 0 89,67 9,68 99,13 89,67 31 Epit.Pessoa 100,00 100,00 0 100% 0 Acauã Onde: Conf: confiabilidade; Res: resiliência; Vul_med: vulnerabilidade media do sistema; Vul_max: vulnerabilidade máxima média do sistema; M é o número de evento insatisfatório; Dreno: vazão do final do rio. CONCLUSÃO Com base na metodologia, níveis de demandas analisados e resultados apresentados conclui-se que: a) O reservatório de Acauã pode absorver a demanda de diluição de poluentes com excelente garantia. b) O incremento da vazão de diluição de efluentes alterou o desempenho do sistema. c) O reservatório Epitácio Pessoa possui um decréscimo na sua confiabilidade no caso da Simulação 2 (com demanda de vazão de diluição), prejudicando os usos mais nobres como o abastecimento humano. d) O baixo valor de resiliência demonstra que o reservatório Epitácio Pessoa possui baixa capacidade de recuperação quando o mesmo se encontra em estado insatisfatório, uma vez que ele necessita, em média, de 10 meses para se recuperar. A vulnerabilidade é bastante alta, o que mostra que as falhas são bastante severas. Na situação de impossibilidade de atendimento à vazão de diluição, como verificado a jusante do reservatório Epitácio Pessoa, há necessidade de serem definidas estratégias para uma gestão qualitativa da água, entre tais alternativas podem ser citados: o racionamento de lançamentos (i modificando o processo produtivo, a fim de serem gerados menos poluentes, ii - tratamento adequado dos efluentes e iii - eficiência na utilizaçãos da água) e flexibilidade no enquadramento por período pré-determinado, para evolução gradual da qualidade da água. O estudo demonstra a necessidade de se considerar e, portanto, não ignorar a demanda por diluição de efluentes nas simulações da operação de sistemas de reservatórios. AGRADECIMENTOS Os autores M. B. Campos Junior e M. B. M. Firmino são mestrandos da UFCG - Universidade Federal de Campina Grande e agradecem ao CT-HIDRO/CNPq o apoio financeiro durante a realização deste trabalho. Este trabalho se insere no âmbito do projeto de pesquisa “Simulação para aplicação da cobrança em escala real” financiado pelo MCT/FINEP/CT-HIDRO. VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água João Pessoa (Brasil), 5 a 7 de junho de 2006 REFERÊNCIAS AAGISA. Agência de Águas, Irrigação e Saneamento do Estado da Paraíba. Sustentabilidade Hídrica do Açude Epitácio Pessoa. Vazão Regularizável x Evolução de Demandas. João Pessoa Fevereiro de 2004 CAGEPA. Companhia de Água e Esgotos da Paraíba. Infraestrutura Hídrica do Estado da Paraíba - abastecimento de água (urbano). Novembro/2003. CAMPOS JR, M. de B; SILVA, S. B. da; FIRMINO, M. B. M.; RIBEIRO, M. M. R.; Estimativa de Cargas Poluentes e Custos de Medida de Redução no Baixo Curso do Rio Paraíba - Pb. In Anais: - V Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, Porto Alegre/RS, 2006. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Nº 357 - 17 de março de 2005. GALVÃO, C. O.; RÊGO, J. 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