PATRÍCIA FERNANDA DA SILVA MORAES COTELO ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE COBALTO E ZINCO POR PLÂNTULAS DE Rhizophora mangle UTILIZANDO RADIOTRAÇADORES Dissertação apresentada ao curso de PósGraduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Geociências, Área de Concentração: Geoquímica Ambiental. Orientador: PROF. DR. ALFREDO VICTOR BELLIDO BERNEDO Niterói 2004 PATRÍCIA FERNANDA DA SILVA MORAES COTELO ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE COBALTO E ZINCO POR PLÂNTULAS DE Rhizophora mangle UTILIZANDO RADIOTRAÇADORES Dissertação apresentada ao curso de PósGraduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Geociências, Área de Concentração: Geoquímica Ambiental. Aprovada em agosto de 2004. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Prof. Dr. Alfredo Victor Bellido Bernedo - Orientador/UFF __________________________________________________ Dr. Luis Fernando Bellido Bernedo - IEN/CNEN ______________________________________________ Dr. Julio Cezar Suita – IEN/CNEN _____________________________________________ Prof. Dr. John Edmund Lewis Maddock – UFF __________________________________________________ Prof. Dr. Sambasiva Rao Patchineelam - UFF Niterói 2004 DEDICATÓRIA Aos meus filhos Júlia (7 anos), Luísa (5 anos) e Bruno (3 anos) Ao meu marido Nestor Aos meus pais AGRADECIMENTOS • Ao Prof. Dr. Alfredo Victor Bellido Bernedo pela orientação e interesse • • • • • demonstrado no trabalho. Ao Dr. Luis Fernando Bellido Bernedo pela orientação e colaboração constante em todas as etapas deste trabalho. Ao Prof. Dr. John Edmund Lewis Maddock e Dr. Sambasiva Rao Patchineelam pelas correções e sugestões realizadas. Ao Instituto de Engenharia Nuclear que possibilitou o cultivo das plantas em suas dependências. Ao amigo Dr. Wilson Thadeu Valle Machado pelo incentivo, sugestões, críticas, correções e sobretudo pelo apoio constante nos momentos mais difíceis. À todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho estimulando o tempo todo e não permitindo que eu desistisse: Rose, Denise, Edimar, Kátia, Fátima, Jeferson, Anderson, Mônica, Bárbara, Gisele, Abdoulay, Daniela, Eliane, toda a turma do Mestrado, Wanda, Diana, Cristina, inúmeros amigos das escolas que leciono e ... SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... ............. 10 1.1 ECOSSISTEMAS DE MANGUEZAL .............................................................. 11 1.2 ACUMULAÇÃO DE METAIS EM MANGUEZAIS ....................................... 12 1.3 A ESPÉCIE Rhizophora mangle ........................................................................ 15 1.4 ÁREA DE AMOSTRAGEM ............................................................................. 17 1.5 RADIOTRAÇADORES ..................................................................................... 18 1.6 FATOR DE TRANSFERÊNCIA ....................................................................... 20 2 OBJETIVOS ............................... ......................................................................... 21 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 22 3.1 COLETA, PLANTIO E CULTIVO DE R. mangle ............................................ 23 3.2 MEDIDAS DE CRESCIMENTO DAS PLÂNTULAS ..................................... 24 3.3 APLICAÇÃO E INCUBAÇÃO DOS RADIONUCLÍDEOS ............................ 25 3.4 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA ANÁLISE .................................... 26 3.5 DETECÇÃO E MEDIDA DA ATIVIDADE ..................................................... 27 3.6 TRATAMENTO DOS DADOS.......................................................................... 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 30 4.1 DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS.......................................................... 30 4.2 INCORPORAÇÃO DE ZN-65 E CO-58 PELAS PLÂNTULAS....................... 33 4.3 CORRELAÇÕES ENTRE A INCORPORAÇÃO DE Co-58 e Zn-65 .............. 40 4.4 CORRELAÇÕES ENTRE A INCORPORAÇÃO DE METAIS E A ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DAS PLÂNTULAS ....................... 42 5 CONCLUSÕES .................................................................................................... 44 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 46 RESUMO A contaminação do solo em decorrência das liberações de elementos químicos ao meio ambiente e sua transferência para as plantas é uma importante via para a exposição humana através da cadeia alimentar. A fim avaliar a capacidade de incorporação de zinco e cobalto pelas plantas do tipo Rhizophora mangle, encontradas em mangues, foram realizadas experimentos no laboratório usando os radiotraçadores de Zn-65 e Co-58. Tanto as plantas quanto o sedimento foram coletados no manguezal de Itacuruça, Baía de Sepetiba, RJ, Brasil. No presente trabalho apresenta-se pela primeira vez dados de fatores de transferência para os elementos estudados no sistema descrito durante um período de 1, 3 e 6 meses de incubação. Após um mês da adição dos radiotraçadores encontrou-se uma incorporação, em ambos radionuclídeos, em torno de 2%. Para um período de três meses de incorporação foi diferenciada em 6% e 3% e para seis meses de 11% e 6% para Zn-65 e Co-58 respectivamente. Comparando as atividades dos traçadores encontrados nos diversos compartimentos das plantas: raiz, caule e folha, observouse que a maior parte da atividade dos traçadores, encontrava-se nas raízes (acima de 60%). Constatou-se ainda de que apesar das atividades dos traçadores nas raízes das plantas terem dobrado entre três a seis meses, ao considerar as atividades específicas, não se observou nenhuma diferença significativa. radiotraçadores; sedimentos; manguezal; zinco; cobalto; Rhizophora mangle; Baía de Sepetiba. ABSTRACT Contamination of soil resulting from releases of chemical elements to the environment and their transfer to plants, is an important route to human exposure through the food chain. To evaluate the uptake capacity of Rhizophora mangle plants for zinc and cobalt laboratory experiments using radiotracer of Zn-65 and Co-58 were carried out. The plants and sediments samples were collected from a mangrove area located at Itacuruça, Sepetiba Bay, RJ, Brazil. In the present work data for transfer factor are reported for the first time for 1, 3 and 6 month of experiments. It was found that one month after spiking the tracers the uptake were 2% for both Co and Zn. For three month experiments the uptake by the pants were 6% for Zn-65 and 3% for Co-58 and for a six month were 11% and 6% respectively. Comparing the tracer activities for the root, stem and leaf, for both radionuclides, the root’s activities were always greater than 60% of the total activity of the plant. Although, the activity of the plant’s root for six month experiments were twice those for three months, it was found, when considering the specific activities, that there was not much significant difference between them. radiotracers; sediments; mangrove; zinc; cobalt; Rhizophora mangle; Sepetiba.Bay LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Distribuição de R. mangle no continente Americano ..............................................................................................16 Figura 2 – Exemplares da espécie Rhizophora mangle no manguezal de Itacuruçá, Baía de Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro ......................16 Figura 3 – Mapa do local da coleta dos propágulos .................................................17 Figura 4 - Etapas da pesquisa .................................................................................22 Figura 5 - Casa de vegetação onde foram cultivadas as plantas .............................23 Figura 6 - Propágulos de R. mangle uma semana após o plantio ..........................24 Figura 7 - Plântulas de R. mangle um mês e meio após o plantio ........................25 Figura 8 - Plântulas de R. mangle após a aplicação dos radioisótopos ................26 Figura 9 - Plântulas de R. mangle compartimentadas em raízes, caule e folhas ...................................................................................................27 Figura 10 - Esquema do detector de germânio hiper puro (HPGe) .........................28 Figura 11 - Exemplo de espectro de raios gama obtido para uma amostra de raiz .......................................................................................28 Figura 12 - Gráfico dos Fatores de Transferência ...................................................33 Figura 13 - Gráficos da incorporação de Zn-65 ......................................................36 Figura 14 - Gráficos da incorporação de Co-58 ......................................................38 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Peso úmido e comprimento dos propágulos utilizados no Experimento .....................................................................................30 TABELA 2 - Crescimento em altura e peso seco das plântulas e partição (percentual) do peso seco total entre folhas, caule e raízes ..............31 TABELA 3 - Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) encontradas entre os dados de estrutura dos propágulos (peso e altura) e respectivas plântulas ....................32 TABELA 4 - Fatores de transferência das atividades de Zn-65 e Co-58 aplicadas nos sedimentos .......................................................33 TABELA 5 - Dados da incorporação de Zn-65 pelas plântulas ...............................35 TABELA 6 - Dados da incorporação de Co-58 pelas plântulas ...............................37 TABELA 7- Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) entre os dados de Zn-65 e Co-58 nas folhas (ZnF e CoF), nos caules (ZnC e CoC), nas raízes (ZnR e CoR) e no total das plântulas (ZnT e CoT) ..........................41 TABELA 8- Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) entre os dados de estrutura dos propágulos e de crescimento total das plântulas e a acumulação total de Zn-65 e Co-58 (Bq) .........................................42 TABELA 9- Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) entre as massas de folhas, caules e raízes produzidas e as respectivas acumulações de Zn-65 e Co-58 ................................................................................................43 1 INTRODUÇÃO Os ecossistemas costeiros tropicais são receptores de contaminantes antropogênicos de diversas naturezas, que podem afetar processos biogeoquímicos naturais e, através da cadeia alimentar, causar danos aos organismos costeiros e às populações humanas presentes, como pode ocorrer em ambientes de manguezal (PETERS ET AL., 1997), que possuem um grande valor ecológico e econômico (ALONGI, 2002). As condições anaeróbicas mantidas pela decomposição microbiana (baseada na sulfato-redução) da matéria orgânica, associadas a altas taxas de sedimentação e retenção de partículas finas e uma intensa produtividade e acumulação de matéria orgânica, conferem uma elevada capacidade de retenção de contaminantes metálicos aos sedimentos de manguezal (LACERDA, 1994, 1998) devido à precipitação dos metais promovida pelo sulfeto liberado pela atividade bacteriana. Como conseqüência, pode haver uma redução substancial da incorporação desses metais pela vegetação de mangue (SILVA ET AL., 1990) e seu transporte para os ambientes adjacentes (LACERDA ET AL., 1988). Nas últimas décadas, um dos tipos de contaminantes que vêm sendo mais freqüentemente estudados através de levantamentos no ambiente natural e/ou em laboratório são os metais traço, que podem ter o seu comportamento no ambiente costeiro melhor entendido através da realização de experimentos utilizando radiotraçadores (SANTSCHI, 1988; HALL ET AL., 1989; CANESIN, 2000; MACHADO ET AL., 2001). Uma breve revisão da literatura sobre o uso de diversos radiotraçadores para o estudo da adsorção de íons metálicos por superfícies sólidas e no estudo da 11 distribuição de elementos traços em plantas e animais é apresentada por Nayak (2001), que demonstra a importância deste recurso para a comparação do comportamento de diferentes elementos. Silva (1988), estudou a distribuição e ciclagem interna de metais pesados em um ecossistema de manguezal dominado por Rhizophora mangle na Baía de Sepetiba e sugeriu que sejam feitos estudos utilizando radiotraçadores para melhor entender a dinâmica de acumulação de metais nos ambientes de manguezal. Entretanto, este recurso não tem sido utilizado para esclarecer a dinâmica de contaminantes metálicos em ambientes de manguezal e pode vir a ser uma importante ferramenta para se compreender, por exemplo, a transferência de metais dos sedimentos para a vegetação de manguezal, como será estudado aqui, por um experimento com a aplicação de radiotraçadores metálicos em um cultivo de plantas de manguezal (Rhizophora mangle), no qual a incorporação de zinco (Zn) e cobalto (Co) por estas plantas foi avaliada. 1.1 ECOSSISTEMAS DE MANGUEZAL O manguezal é um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e aquático, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime de marés. É constituído por espécies vegetais lenhosas típicas, adaptadas às condições específicas deste ambiente. No que diz respeito à energia e à matéria, são sistemas abertos, recebendo, em geral, um importante fluxo de água doce, sedimentos e nutrientes do ambiente terrestre e exportando matéria orgânica para o mar ou águas estuarinas (LACERDA & REZENDE∗ APUD LACERDA, 1994). Os manguezais cobrem uma área estimada em cerca de 14,2 × 106 ha em áreas costeiras tropicais e subtropicais de continentes e ilhas, sendo que aproximadamente 28,6% deste total é encontrado no continente americano (LACERDA ET AL., 1993). No Brasil, ocorrem desde o Amapá (Cabo Orange, 4°30' ∗ LACERDA, L.D.; REZENDE, C.E. Mangrove carbon export to sea: a reevaluation of a paradigma. In: Anais do II Simpósio sobre Ecossistemas da Costa Sul-Sudeste do Brazil, Acad. Ciências est. São Paulo, v.1, p.169-182. 12 N) até Santa Catarina (Laguna, 28°30' S), ocupando uma área de cerca de 1,38 × 106 ha (KJERFVE & LACERDA, 1993). O Estado do Rio de Janeiro possui 714 km de costa (aproximadamente 10% da costa brasileira) e as suas duas maiores áreas de manguezais (Baía de Guanabara e Baía de Sepetiba) encontram-se na parte sul da costa fluminense (TANIZAKIFONSECA, 1994). Os manguezais possuem importantes funções ecológicas que os tornam imprescindíveis para a região costeira tropical, como o controle de erosão costeira pelas raízes de mangue (estabilização física da linha de costa), a retenção de sedimentos terrestres, nutrientes e poluentes (o que reduz o assoreamento e a contaminação das águas costeiras), o fornecimento de abrigo (formando um berçário) para a fauna costeira (ROBERTSON & DUKE, 1987; ROBERTSON & ALONGI, 1992; VANNUCCI, 1998; LACERDA, 2002). Outra função importante é a exportação de matéria orgânica para os estuários e áreas costeiras adjacentes (TWILLEY ET AL., 1992). 1.2 ACUMULAÇÃO DE METAIS EM MANGUEZAIS Dada às condições hostis do ambiente físico sedimentar (isto é, substrato fluido, geralmente salobro até salino e anaeróbico) para a maioria das plantas, as espécies vegetais de mangue possuem adaptações estruturais e fisiológicas, tais como alta produtividade e raízes aéreas para a sustentação. Mas, estas adaptações podem influenciar a acumulação de metais pelas plantas de diferentes formas. As raízes aéreas também são responsáveis pela captação e fornecimento de oxigênio para a respiração das raízes subterrâneas (em meio anóxico), através da translocação de ar das partes por um tecido vegetal denominado aerênquima, criando-se uma rizosfera (ambiente diferenciado pela ação das raízes) mais oxidante que as áreas vizinhas sem cobertura vegetal (ANDERSEN & KRISTENSEN, 1988). Isto pode afetar largamente as condições de oxi-redução e de acidez dos sedimentos de rizosfera, alterando a forma química (especiação) e a acumulação dos metais (CLARK ET AL., 1998). 13 Para superar os problemas da salinidade as plantas de mangue desenvolveram mecanismos que impedem com que o sal entre na planta através das raízes (como as dos gênero Rhizophora) ou eliminam o sal através de glândulas localizadas nas folhas (como as do gênero Avicennia), que podem também servir para excluir e eliminar contaminantes metálicos (LACERDA, 1998; MACFARLANE & BURCHETT, 2002). Vários estudos anteriores têm analisado a acumulação de metais em sedimentos e plantas de manguezal, como foi revisado por Lacerda (1998), mostrando que existe uma grande variabilidade na transferência dos sedimentos para as plantas. Mesmo com a tendência geral de uma baixa transferência destes elementos para a vegetação (PETERS ET AL., 1997), esta transferência pode gerar uma ciclagem dos metais acumulados nos sedimentos através da vegetação (ZHENG ET AL., 1997), e alguns estudos indicam que a acumulação de metais pode causar danos às plantas (MACFARLANE, 2002). Para estudar a incorporação de metais e os efeitos negativos que ela pode ter (toxicidade) sobre as plantas de manguezal, vários trabalhos anteriores usaram experimentos controlados de cultivo de plântulas (plantas imaturas) de manguezal, adicionando metais não radioativos no substrato. As espécies geralmente utilizadas nestes experimentos foram Rhizophora mangle (MONTGOMERY & PRICE, 1979; WALSH ET AL., 1979; JAYASEKERA, 1991), Kandelia candel (CHIU & CHOU, 1991; CHIU ET AL., 1995; TAM & WONG, 1997) e Avicennia marina (MACFARLANE & BURCHETT, 1999, 2000, 2002), e eles geralmente indicam que as plantas incorporam e, em alguns casos, podem ser afetadas pelos metais (no crescimento, por exemplo), se uma exposição elevada aos contaminantes acontecer (WALSH ET AL., 1979; CHIU ET AL., 1995; MACFARLANE & BURCHETT, 2002). . Muitos estudos têm esclarecido o comportamento de metais traço (de origem natural ou por contaminação) em sedimentos de ambientes de manguezal, que mostram claramente que a distribuição e a biodisponibilidade destes metais é influenciada pelas fases minerais predominantes, como sulfetos (em locais com sedimentos redutores) e óxidos (em locais com condições oxidantes), e pela matéria orgânica (HARBISON, 1984; LACERDA ET AL., 1993; CLARK ET AL., 1998). 14 Nos sedimentos, os metais podem seguir, por exemplo, o comportamento de óxidos de Mn e Fe, apresentando acumulação ou remobilização quando estes óxidos são formados ou dissolvidos (SHAW ET AL., 1990). O mesmo pode acontecer em relação aos metais associados aos sulfetos (MORSE & LUTHER, 1999) e à matéria orgânica ( RAE & ALLEN., 1993). O Co e o Zn são elementos essenciais á vida das plantas que seguem estas tendências de comportamento geoquímico (LACERDA, 1998), mas que se estiverem disponíveis para uma incorporação elevada podem ser tóxicos para a vegetação (REID & HAYES, 2003). Na revisão da literatura sobre a concentração de metais em sedimentos e em folhas de espécies de manguezal encontramos um número muito maior de estudos envolvendo análises de Zn do que Co. Dentre os estudos mais recentes envolvendo a geoquímica do Co em ambientes de manguezal podemos citar os de Andrade & Patchineelam (2001), Soto-Jiménez & Paéz-Osuna (2001), Wasserman et al (2001) e Alongi et al (2004). Apesar dos dois metais poderem ter uma variação similar na sua acumulação em sedimentos de manguezal, como foi visto pela correlação significativa entre as concentrações destes metais mostrada por Soto-Jiménez & Paéz-Osuna (2001), estes autores também mostraram que o Co teve uma correlação significativa com a matéria orgânica e com o Mn, mas o Zn não. Wasserman et al. (2001) mostrou um alto nível de contaminação de Zn em áreas de manguezal da Baía de Sepetiba, mas não identificou o Co como contaminante, não encontrando nenhuma associação entre as distribuições dos dois elementos. Mesmo podendo haver correlação entre as concentrações de metais nos sedimentos e nas árvores de manguezal (MACFARLANE, 2002), fatores diversos podem afetar a incorporação de metais por árvores de R. mangle, como a criação de rizosferas oxidantes pelo O2 liberado pelas raízes das árvores, que podem causar a retenção dos metais nos sedimentos e na superfície das raízes (formando depósitos ricos em Fe e outros metais, chamados de placas-de-ferro) na forma de óxidos (TANIZAKI, 1994), e mecanismos de exclusão de sais pelas raízes (LACERDA, 1998). 15 Youssef & Saenger (1996) mostraram, em experimentos de cultivo, que várias espécies de manguezal, incluindo R. mangle, são capazes de oxidar as rizosferas, podendo criar um ambiente menos anaeróbico. Isto foi também indicado pelos resultados de Machado et al. (in press), que demonstraram o desenvolvimento de placas-de-ferro em raízes de plântulas de manguezal em Coroa Grande, na Baía de Sepetiba, incluindo plântulas de R. mangle. Este pode ser um importante mecanismo de exclusão de metais pelas raízes, mediando a incorporação pelas plantas. Este mecanismo é possivelmente importante para as plântulas estudadas, pois um exame visual indicou a presença de placas-de-ferro nas raízes delas, que estavam freqüentemente cobertas por minerais de coloração avermelhada, indicativos da presença de hidróxidos de Fe (MENDELSSOHN ET AL., 1995). 1.3 A ESPÉCIE Rhizophora mangle A espécie Rhizophora mangle L. pertence a família Rhizophoraceae e é conhecida pelos nomes populares de mangue vermelho, apareíba, guaparaíba, guapereiíba ou mangue verdadeiro. Ela é nativa nas costas tropical e subtropical da América, oeste da África, e algumas ilhas do Pacífico (RICKLEFS & LATHAM, 1993). A Figura 1 mostra a distribuição da R. mangle na América e a Figura 2 mostra exemplares desta espécie no manguezal de Itacuruçá (Baía de Sepetiba, Rio de Janeiro), ilustrando as raízes aéreas da planta adulta. Uma característica importante dessa espécie é o fato da semente começar a germinar ainda dentro do fruto, presa à planta mãe (viviparidade), formando um pendão, chamado propágulo. Este, ao se desprender da planta, acaba enterrando sua radícula na lama, permitindo a fixação da planta, após o seu transporte pelas águas de maré. A madeira vermelho-clara da R. mangle é usada na construção civil em vigas de pequeno porte, caibros e esteios. É ótima para obras imersas porque é quase imputrescível. É usada também para trabalhos de torno, peças de resistência, cabos de ferramenta, lenha e carvão. 16 Sua casca, com alto teor de tanino (polissacarídeo de coloração vermelha), é largamente utilizada na indústria de curtume, conferindo aos couros uma coloração amarela. A casca, é ainda usada no tratamento médico de hemorragias, inflamações, diarréias e hanseníase. As raízes são aproveitadas como um poderoso adstringente. As folhas, que também são usadas em curtume, podem ser usadas na dieta suplementar de gado e aves devido ao seu alto valor nutricional (JIMÉNEZ, 1985). Figura 1 – Distribuição de R. mangle no continente americano (Jiménez, 1985). Figura 2 – Exemplares da espécie Rhizophora mangle no manguezal de Itacuruçá, Baía de Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro. 17 1.4 ÁREA DE AMOSTRAGEM A floresta de manguezal de Itacuruçá, no norte da Baía de Sepetiba, foi escolhida como local de amostragem (Figura 3) para este trabalho por ser uma floresta dominada por R. mangle e, também, por já apresentar diversos estudos anteriores de caracterização do ambiente e da ciclagem de metais traço (por exemplo, OVALLE ET AL., 1990; CANESIN, 2000). Uma avaliação da estocagem de metais (Fe, Mn, Zn, Cr, Pb, Cu e Cd) nos sedimentos e nas plantas desta floresta de manguezal foi mostrada por Silva (1988). Este estudo mostrou que 98% de ferro, 68% de manganês , 83% de zinco, 97% de cromo, 100% de chumbo, 80% de cobre e 100% de cádmio, estão no sedimento quando comparados com o compartimento biótico (folhas, galhos, troncos, raízes aéreas e subterrâneas. Figura 3 – Mapa do local da coleta dos propágulos Silva et al. (1998) estudaram a ciclagem de Fe, Mn e Zn através da produção e decomposição e exportação da serrapilheira e concluíram que a exportação de metais através das folhas da R. mangle é muito pequena, representando apenas menos do que 0,01% do total de metal no sedimento. 18 Uma caracterização dos sedimentos do local de amostragem do trabalho aqui apresentado pode ser encontrada, por exemplo, nos estudos de Lacerda et al. (1995), Aragon & Miguens (2001) e Silva et al. (2003). Os sedimentos ocupados por R. mangle, no local de amostragem, apresentam concentrações de C de aproximadamente 3% e concentrações de N de aproximadamente 0,2%, para os 15 cm superficiais, mostrando valores constantes com a profundidade (LACERDA ET AL., 1995). O conteúdo de sedimentos finos (silte e argila) apresenta, em média, uma baixa variabilidade com a profundidade (até os 20 cm superficiais), variando de cerca de 40% a 50%, e as concentrações totais de Fe, que geralmente mostraram valores ao redor de 2%, chegaram a atingir mais de 4% nos horizontes de rizosfera da floresta, entre 10 e 20 cm de profundidade (Silva et al., 2003). Segundo a análise de Aragon & Miguens (2001), as águas intersticiais destes sedimentos podem apresentar, em média, valores de Eh de –71 e –303 mV nos 5 cm e nos 15 cm de profundidade, respectivamente. Este estudo também mostrou, em média, valores de pH de 6,4 e 6,6 nos 5 cm e nos 15 cm de profundidade, respectivamente. Estes resultados caracterizam, então, uma baixa acidez e condições bastante redutoras. O manguezal da Baía de Sepetiba, segundo Molisani et al. (2004), apresentase impactado por contaminantes metálicos oriundos da ocupação humana e atividades industriais. Nas áreas norte e noroeste da baía, os estudos apontam uma contaminação alta de Zn e Cd, além de também existir contaminação por Pb e Hg. A toxicidade de sedimentos altamente contaminados por Zn e Cd da Baía de Sepetiba para animais bentônicos foi estudada por Moraes et al. (2000) e a maioria dos trabalhos sobre a contaminação de organismos da baía tem estudado Zn e Cd (CARVALHO ET AL., 1991; AMADO FILHO ET AL., 1999; CORRÊA JÚNIOR ET AL., 2000). 1.5 RADIOTRAÇADORES Um radiotraçador é um isótopo radioativo do elemento químico e, portanto, possui as mesmas propriedades químicas do elemento estável. A única diferença é a 19 sua propriedade de emitir radiação durante seu processo de desintegração até atingir o estado fundamental (estável). A primeira experiência com traçadores radioativos foi em 1913, quando de Hevesy e Paneth determinaram a solubilidade de sais de Pb utilizando uma das ocorrências naturais de isótopos radioativos do Pb. Apesar de ter se mostrado uma técnica importante, os estudos com radiotraçadores só passaram a ser largamente utilizados após a Segunda Guerra Mundial (CHOPIN ET AL., 1995). Hoje, os radiotraçadores são amplamente utilizados em vários segmentos da ciência e tecnologia, devido à grande variedade de radioisótopos no mercado, ao desenvolvimento de técnicas para marcação dos mais variados compostos, ao aprimoramento das técnicas de detecção de radiação e as facilidades na eletrônica para aquisição e tratamento dos dados, empregando softwares específicos. A utilização de radiotraçadores é bastante interessante porque a sua quantidade empregada pode ser da ordem de 10-9-10-12 g que não altera a concentração natural do elemento estudado. As vantagens do uso da técnica de traçadores radioativos incluem: a) Sensibilidade – limites muito baixos de detecção; b) Identidade – cada radionuclídeo decai emitindo radiação característica, permitindo determinação simultânea de diferentes radionuclídeos por espectrometria gama; c) Monitoração externa – o poder de penetração da radiação gama permite métodos não-invasivos; d) Analogia química e física – o radionuclídeo é quimicamente idêntico ao isótopo estável; e) Reprodutibilidade – a rapidez nas medidas da radiação permite repetir a medida várias vezes. Muitos estudos têm avaliado a dinâmica de incorporação de metais por plantas e animais através do uso de radiotraçadores (SCHROEDER & THORHAUGH, 1980; GUIMARÃES & PENNA-FRANCA, 1985; FISHER ET AL., 1996; BIRD ET AL., 1998; WANG ET AL., 1999). Alguns estudos vêm utilizando, por exemplo, cultivos controlados de plantas terrestres com a aplicação de radiotraçadores para esclarecer a transferência de 20 metais traço dos solos para as plantas e a influência negativa dos metais no desenvolvimento das plantas (KOCZOROWSKA & SLAWINSKI, 2003). Alguns exemplos de radiotraçadores usados em experimentos para estes tipos de estudo são o Mn-54 e o Zn-65 (LIN ET AL., 1995), o Zn-67 e o Pb-207 (WATMOUGH ET AL., 1999) e o Ni-63 (DENYS ET AL., 2002). Entretanto, não se encontrou relatos na literatura sobre o uso de radiotraçadores em estudos envolvendo plantas de manguezal. 1.6 FATOR DE TRANSFERÊNCIA SOLO-PLANTA A entrada de contaminantes traço presentes em ambientes terrestres para a cadeia alimentar é controlada pela incorporação destes contaminantes pelas raízes das plantas. Para estimar a transferência de metais, de pesticidas e de radionuclídeos para a cadeia alimentar são determinados os fatores de transferência dos solos para as plantas (EHLKEN & KIRCHNER, 2002). Para o caso de radionuclídeos geralmente se assume que a concentração do nuclídeo i na planta ou parte da planta, pCi (atividade / peso seco) é diretamente proporcional a sua concentração no solo na região das raízes, sCi (atividade / peso seco), ou seja: p Ci = FTi. sCi A constante de proporcionalidade FTi é chamada dr fator de transferência solo-planta. e é determinado pela seguinte razão: FTi = atividade do radionuclídeo i por massa (peso seco) atividade do radionuclídeo i no solo Fatores de transferência (FTs) dos solos para as plantas têm sido muitas vezes usados para estimar, por exemplo, a transferência de radionuclídeos para a cadeia alimentar, mas a larga variação dos FTs reportados na literatura mostra que a concentração de um radionuclídeo no solo não é o único fator influenciando a sua incorporação pela planta (EHLKEN & KIRCHNER, 2002). 21 2 OBJETIVOS Este trabalho é parte integrante dos estudos que vem sendo desenvolvidos no Laboratório de Radioquímica e Química Nuclear da UFF em parceria com o Instituto de Engenharia Nuclear visando contribuir para o entendimento do ecossistema de manguezal através da medida de parâmetros físico-químicos em sedimentos, águas, rochas e vegetação da Baía de Sepetiba . Teve como objetivo geral a aplicação de radionuclídeos para investigar a incorporação de Zn e Co pela espécie arbórea típica de manguezal Rhizophora mangle, a partir de experimentos em laboratório com o uso simultâneo dos radiotraçadores Zn-65 e Co-58. Os objetivos específicos foram: (i) Determinar o fator de transferência sedimento-planta para Zn e Co na espécie estudada. (ii) Determinar o percentual de partição da atividade total dos radiotraçadores nas raízes, caule e folhas da espécie estudada. (iii) Comparar a dinâmica de incorporação de Zn e de Co na espécie estudada. (iv) Contribuir para a avaliação do uso da espécie Rhizophora. mangle como um bioindicador da contaminação por metais em ambientes de manguezal. 3 MATERIAIS E MÉTODOS As etapas desta pesquisa podem ser resumidas no esquema a seguir (Figura 4). Coleta e plantio dos propágulos de R. mangle Cultivo em ambiente artificial Medidas de crescimento das plântulas Aplicação e incubação dos radionuclídeos Preparação das amostras para análise Detecção e medida da atividade Tratamento dos dados Figura 4 – Etapas da pesquisa. 23 3.1 COLETA, PLANTIO E CULTIVO DE R. mangle A coleta de sedimentos e dos propágulos de R. mangle utilizados no experimento de cultivo foi feita na floresta de manguezal de Itacuruçá, na Baía de Sepetiba (Estado do Rio de Janeiro), em 1 de abril de 2003. Propágulos encontrados sobre os sedimentos, que ainda não apresentavam desenvolvimento de raízes e folhas, foram coletados manualmente e transportados num recipiente plástico contendo água da baía para evitar o ressecamento até o início do experimento. Sedimentos superficiais (0–15 cm de profundidade) foram coletados e transportados num outro recipiente plástico, sendo ambos levados para o Laboratório de Radioquímica do Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense. No laboratório, foram feitas as medidas de peso úmido e comprimento dos propágulos, entre os quais 15 foram selecionados para o experimento com os radioisótopos. Estes foram divididos aleatoriamente em 3 grupos de 5 plantas, sendo cada grupo utilizado para cultivos de diferentes tempos de duração. As amostragens destes grupos foram realizadas após 1 mês (Grupo 1), 3 meses (Grupo 2) e 6 meses (Grupo 3) da aplicação dos radioisótopos. Dois dias após a coleta, os propágulos foram levados para uma área controlada no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN), onde as plantas foram cultivadas (Figura 5). Figura 5 – Casa de vegetação onde foram cultivadas as plantas. 24 Cada propágulo foi plantado separadamente em vasos plásticos contendo sedimentos coletados no manguezal. Os vasos continham também um saco plástico revestindo o seu interior para evitar o contato dos sedimentos com as paredes e a contaminação destes recipientes pelos radioisótopos que foram posteriormente adicionados. O uso dos sacos plásticos pôde também facilitar a manipulação segura do material radioativo no final dos cultivos. Os sedimentos receberam um aporte de água doce conforme a necessidade para compensar a perda por evaporação (cerca de duas vezes por semana). A Figura 6 mostra os propágulos uma semana após o plantio. Figura 6 – Propágulos de R. mangle uma semana após o plantio. 3.2 MEDIDAS DE CRESCIMENTO DAS PLÂNTULAS O desenvolvimento das plântulas foi monitorado através do seu crescimento em altura e em produção de biomassa seca. O crescimento em altura foi obtido pelo incremento do comprimento do caule (medido até a gema apical, como mostrado na Figura 7) e o crescimento em biomassa pelo peso seco de raízes, caules e folhas, determinados após secagem das amostras em estufa, à 85 ºC por 20 h. 25 Após um mês e meio as plântulas já apresentavam em média 2 folhas e 5,3 cm de altura (Figura 7). Incremento em altura Figura 7 – Plântulas de R. mangle um mês e meio após o plantio. 3.3 APLICAÇÃO E INCUBAÇÃO DOS RADIONUCLÍDEOS As plântulas utilizadas para a incubação com material radioativo foram colocadas em bandejas plásticas individuais, protegidas por telas plásticas sobre os vasos, para recolher as folhas que caíssem e evitar o seu contato com o sedimento (Figura 8). As folhas que se destacaram das plântulas ao longo do período de incubação (retidas nas telas) foram coletadas para as análises químicas. Após seis meses de cultivo foi feita a adição dos radiotraçadores Co-58 e Zn-65 nos sedimentos, que foram fornecidos pelo IEN. Nesta ocasião as plântulas já apresentavam de 4 a 8 folhas e um crescimento médio de 22,3 cm. Foi adicionado no substrato de cada plântula 200 µL de uma solução radioativa sob forma de cloretos, contendo 56260 ± 506 Bq (1,9 x 10-11 g) de Zn-65 (meia-vida = 244,4 dias) e 18560 ± 167 Bq ( 1,6 x 10-11 g) de Co-58 (meia-vida = 70,8 dias) a 2 cm de profundidade da superfície do sedimento. 26 Figura 8 – Plântulas de R. mangle após a aplicação dos radioisótopos. 3.4 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA ANÁLISE Após 30 dias da aplicação dos radioisótopos, foram retiradas as 5 plântulas do Grupo 1 para análise. Ainda no local, as folhas foram separadas e colocadas em sacos plásticos do tipo “zip”, devidamente selados e identificados. As raízes foram lavadas com água destilada para a retirada do sedimento e, então, raízes e caules foram acondicionadas em sacos plásticos para o transporte para a UFF. No laboratório de Radioquímica, foi realizada a separação de raízes e caules com estiletes. O mesmo procedimento foi feito após 90 dias (Grupo 2) e 180 dias (Grupo 3) da aplicação dos radiotraçadores para determinar a incorporação de Zn e Co nas plântulas. A Figura 9 ilustra a separação das plântulas em raízes, caules e folhas. 27 Figura 9 – Plântulas de R. mangle compartimentadas em raízes, caule e folhas. As amostras foram secas em estufa à temperatura de 85 ºC por 20 horas, depois pesadas e calcinadas em mufla, à 450 ºC por 24 horas. Em seguida foi feita uma digestão à quente com uma mistura de ácido nítrico concentrado e peróxido de hidrogênio, segundo o método de Krisnamurty et al (1976). As amostras foram retomadas com 3 mL de ácido nítrico 0,5 mol/L e conduzidas para análise por espectroscopia gama, para a determinação da atividade dos radionuclídeos. 3.5 DETECÇÃO E MEDIDA DA ATIVIDADE Para detectar e medir a radiação gama dos radiotraçadores, foi utilizado o detector de germânio hiper puro (HPGe - ORTEC). O esquema do funcionamento deste detector pode ser visto na Figura 10. Este detector é refrigerado à temperatura do nitrogênio líquido (-196 ºC) e operado com alta tensão (1700 V). Quando o raio gama incide no cristal, ocorre a produção de um pulso da ordem de mV (sinal analógico), o qual é proporcional à energia por ele perdida ao atravessar o cristal. O sinal assim que é formado é pré-amplificado e em seguida passa para um sistema integrado composto por um amplificador e por um analisador multicanais de 4096 canais (92X Spectrum Master – ORTEC). 28 2 HPGe liq. Pré -Amp Amplificador Placa Multicanal ORTEC Spectrum Master 92X Computador Memória (Amostra) Fonte de Alta tensão Drive Figura 10 – Esquema do detector de germânio hiper puro (HPGe). O programa Maestro – ORTEC foi usado para a aquisição dos espectros. Após um período de tempo pré-estabelecido de acumulação, o espectro do raio gama é obtido. As amostras de raízes e caules foram contadas por 4000 segundos e as amostras de folhas por 60.000 segundos, a fim de obter uma boa estatística de contagem. A Figura 11 mostra o espectro de uma raiz (Co-58 em 811 keV e Zn-65 em 1115 keV). Figura 11 – Exemplo de espectro de raios gama obtido para uma amostra de raiz. 29 Os espectros foram analisados pelo programa APTEC MCA Application Multichannel Analyser versão 6.31. Este programa calcula as atividades, as incertezas associadas de cada medida e permite fazer a correção devido ao decaimento radioativo. 3.6 TRATAMENTO DOS DADOS O tratamento estatístico dos dados foi baseado em Sokal & Rohlf (1981). Para a comparação dos resultados obtidos foi realizada uma análise de variância (ANOVA). Quando esta análise apresentou resultados significativos, foi realizado um teste de Tukey HSD, para comparações múltiplas entre as médias dos diferentes grupos do experimento. Antes destes testes, foi realizado um teste de Fmax para a avaliação da homogeneidade das variâncias dos dados comparados. Quando elas não foram homogêneas (o que ocorreu somente para os dados de folhas), os resultados foram transformados em logaritmos, para a homogeneização das variâncias, antes da aplicação da ANOVA. Testes de correlação de Pearson foram usados para avaliar as relações entre as variáveis, incluindo-se o total de amostras consideradas no experimento. Os dados de folhas de uma das réplicas do Grupo 3 foram excluídos das análises de correlação dos dados de Zn-65 e Co-58, por terem sido identificados como outliers. As atividades dos dois metais nas folhas desta amostra foram uma a duas ordens de grandeza acima de todos os demais dados e o exame de box & whiskers caracterizou estes dados como outliers. A medida de dispersão utilizada foi o erro padrão (desvio padrão das médias). As análises estatísticas foram realizadas através dos programas Statistica versão 5.5 (para as comparações entre médias e correlações), SPSS versão 10.0 (para identificar os outliers por box & whiskers) e Excel (para as análises descritivas). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS Os valores médios assim como os valores mínimos e máximos de peso e comprimento dos propágulos, no início do experimento, para os diferentes tempos de cultivo estão apresentados na Tabela 1. Pode-se observar que não houve diferenças estatisticamente significativas entre as médias dos diferentes grupos. TABELA 1 – Peso úmido e comprimento dos propágulos utilizados no experimento Valores mínimos e máximos e as médias ± erros padrões dos grupos usados para os diferentes tempos de cultivo Total Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 (n = 14) (n = 5) (n = 4) (n = 5) Peso úmido (g) 19,9 – 33,0 27,7 ± 1,6 26,4 ± 2,3 27,9 ± 1,6 Comprimento (cm) 22,0 – 29,8 26,8 ± 0,8 26,2 ± 1,4 26,0 ± 1,0 Na Tabela 2 se encontram as médias da altura e peso seco das folhas, caules e raízes no final de cada período (com aproximadamente 7, 9 e 12 meses depois do plantio, que correspondem a 1, 3 e 6 meses depois da aplicação dos radioisótopos). Inclui-se nessa mesma tabela, a fim de comparação, os pesos secos expressos em pontos percentuais. Pode-se observar que houve um aumento nas médias de altura e biomassa das plântulas ao longo do tempo, mas não foram encontradas diferenças significativas entre os Grupos 1, 2 e 3 para estes parâmetros, exceto para a produção de massa foliar seca. Foi encontrada uma produção desta massa pelo Grupo 3 significativamente maior do que pelo 31 Grupo 1. Mas, de um modo geral, os resultados apresentados na Tabela 2 indicam baixa variabilidade no desenvolvimento das plantas. A partição da biomassa mostrou uma variação mais consistente entre os grupos, em relação ao percentual da massa total nas folhas e nos caules, mas não ocorreu uma variação significativa em relação à massa de raízes. TABELA 2 – Crescimento em altura e peso seco das plântulas e partição (percentual) do peso seco total entre folhas, caule e raízes (médias ± erros padrões) . Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito. Médias significativamente diferentes estão seguidas por letras diferentes. Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 (n = 5) (n = 4) (n = 5) 23,8 ± 1,5 25,4 ± 1,6 26,6 ± 1,3 Folhas 1,50 ± 0,14 a 1,86 ± 0,19 ab 2,38 ± 0,22 b Caule 8,43 ± 0,43 7,90 ± 1,56 9,22 ± 0,67 Raizes 1,42 ± 0,22 1,16 ± 0,12 2,32 ± 0,49 Total 11,3 ± 0,7 10,9 ± 1,1 13,9 ± 1,3 Folhas 13,2 ± 0,7 a 17,1 ± 0,3 b 17,2 ± 1,0 b Caule 74,5 ± 1.1 a 73,2 ± 0,7 ab 66,8 ± 1,9 b Raízes 12,3 ± 1,3 10,6 ± 0,5 16,1 ± 2,0 Incremento em Altura (cm) Peso seco (g) % do peso seco total A Tabela 3 apresenta os resultados das análises de correlação entre os parâmetros estruturais dos propágulos e das respectivas plântulas. Foi encontrada uma correlação significativa entre a maioria dos resultados, indicando a tendência esperada de que plantas com maiores propágulos (com maiores reservas nutritivas) terão um maior desenvolvimento, o que possivelmente influenciará a sua incorporação de contaminantes. 32 TABELA 3 – Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) encontradas entre os dados de estrutura dos propágulos (peso e altura) e respectivas plântulas (n = 14). Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito. Peso do Comprimento propágulo do propágulo Comprimento r = 0,860 do propágulo p < 0,001 Altura final Massa de Massa do raízes caule Massa foliar r = 0,618 r = 0,502 p = 0,018 p = 0,068 Massa de r = 0,583 r = 0,397 r = 0,374 raízes p = 0,029 p = 0,159 p = 0,187 Massa do r = 0,913 r = 0,840 r = 0,643 r = 0,736 caule p < 0,001 p < 0,001 p = 0,013 p = 0,003 r = 0,580 r = 0,443 r = 0,543 r = 0,656 r = 0,703 p = 0,030 p = 0,113 p = 0,045 p= 0,011 p = 0,005 r = 0,827 r = 0,695 r = 0,598 r = 0,883 r = 0,952 r = 0,822 p < 0,001 p = 0,006 p = 0,024 p < 0,001 p < 0,001 p < 0,001 Altura final Massa foliar Massa total Como pode ser esperado, esta tendência de maior desenvolvimento das plântulas de R. mangle com maiores propágulos já foi demonstrada anteriormente, por Lin & Sternberg (1995), indicando que isto tem importância para a habilidade das plantas se estabelecerem e desenvolverem. Entre todos os parâmetros estruturais estudados, não ocorreram correlações significativas apenas entre a altura final e a massa de raízes e entre o comprimento inicial do propágulo e altura final, massa de raízes e massa foliar. Porém, deve-se ter cuidado para considerar as correlações entre o peso úmido do propágulo e a massa do caule e a massa total das plântulas pois deve ter ocorrido uma forte contribuição do peso seco do propágulo (que não foi descontado em relação ao incremento 33 de peso do caule) sobre os resultados de peso seco do caule, que contribuiu com a maior parte do total de peso seco das plântulas. 4.2 INCORPORAÇÃO DE ZN-65 E CO-58 PELAS PLÂNTULAS Os fatores de transferência obtidos no presente trabalho estão apresentados na Tabela 4 e em gráfico na Figura 12. O fator de transferência (FT) corresponde à razão entre a atividade incorporada pelas plântulas ao longo do experimento e as atividades totais de Zn-65 e Co-58 aplicadas nos sedimentos. Um dos dados do Grupo 2 foi excluído por ter ocorrido uma perda do material durante o tratamento químico. TABELA 4 – Fatores de transferência das atividades de Zn-65 e Co-58 aplicadas nos sedimentos (médias ± erros padrões). Médias significativamente diferentes estão seguidas por letras diferentes . Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 (n = 5) (n = 4) (n = 5) Zn-65 0,023 ± 0,012 a 0,062 ± 0,018 ab 0,110 ± 0,021 b Co-58 0,020 ± 0,012 a 0,030 ± 0,008 ab 0,064 ± 0,012 b 0,14 Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) b Fator de Transferência 0,12 0,10 ab b 0,08 0,06 ab 0,04 a a 0,02 0,00 Zn-65 Co-58 Figura 12 - Gráfico dos Fatores de Transferência 34 Os resultados mostram que a incorporação de zinco é sempre maior que a de cobalto. Após 6 meses de exposição à aplicação dos radionuclídeos, uma incorporação em média pelas plantas igual a 11% do total aplicado foi encontrada para Zn-65 e 6,4% para Co-58. A incorporação de Zn pelas plantas de R. mangle, mesmo para um mês de experimento, foi de 2,3%, muito acima da encontrada para plantas de Kandelia candel (espécie de manguezal) após um cultivo por um ano, com a aplicação de uma solução simulando o aporte de esgoto, cujo fator de transferência para Zn foi de 1,2% (TAM & WONG, 1997). No caso do Co obteve-se a mesma ordem de incorporação do Zn o que mostra a viabilidade do estudo da incorporação destes elementos pelas plantas R. mangle para no mínimo de um mês de exposição. Os resultados das atividades obtidas para os compartimentos analisados estão apresentados nas Tabelas 5 e 6 e nos gráficos das Figuras 13 e 14. Obteve-se diferenças estatisticamente significativas entre os grupos estudados para os dois metais, mostrando claramente que há uma maior acumulação dos metais com o tempo da exposição. Como já indicado pelos dados da Tabela 4, as atividades totais nas plantas (Bq) foram significativamente diferenciadas entre os Grupos 1 e 3, para os dois metais. Esta tendência de maior acumulação com o tempo de exposição aos metais foi encontrada em relação às raízes e às folhas, para o Zn-65, e em relação ao caule, para o Co-58. Apesar de ter ocorrido geralmente uma variação entre os dados do percentual da atividade total nos compartimentos das plântulas (com resultados mais elevados para os dados de raízes e menos elevados para os dados de caule), não foram encontradas estatisticamente diferenças significativas entre estes dados. Isto foi também encontrado em relação aos dados de atividades específicas (Bq/g), que não apresentaram diferenças significativas. Como se pode esperar para os dados de incorporação biológica de metais traço, mesmo se estudando plantas com uma estrutura relativamente pouco variável, uma alta variabilidade foi geralmente encontrada em relação aos resultados médios das atividades dos metais em cada grupo. Sendo assim, muitas vezes ocorreram grandes diferenças entre as médias dos grupos que não foram estatisticamente diferentes (em relação aos dados de folhas, por 35 exemplo, que foram freqüentemente muito heterogêneos). Mas, mesmo assim, foi possível observar a tendência de partição dos metais entre os compartimentos das plântulas, que não seguiu a tendência de partição da biomassa observada na Tabela 2. TABELA 5 – Dados da incorporação de Zn-65 pelas plântulas (médias ± erros padrões). Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito. Médias significativamente diferentes estão seguidas por letras diferentes. Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 (n = 5) (n = 4) (n = 5) Folhas 12,7 ± 4,9 a 8,3 ± 4,7 a 106 ± 53 b Caule 371 ± 206 551 ± 238 1047 ± 118 Raízes 917 ± 519 a 2918 ± 840 ab 5060 ± 1081 b Total 1300 ± 663 a 3477 ± 996 ab 6213 ± 1177 b Folhas 2,2 ± 0,8 0,3 ± 0,1 1,7 ± 0,7 Caule 38,8 ± 13,8 22,1 ± 9,1 18,8 ± 3,0 Raízes 59,0 ± 14,5 77,6 ± 9,2 79,5 ± 3,1 Folhas 9,1 ± 3,9 4,4 ± 2,5 42,6 ± 20,3 Caule 41,3 ± 22,8 73,3 ± 31,1 113,8 ± 10,8 Raízes 870 ± 518 2528 ± 814 2587 ± 737 Atividade em Bq % da atividade total Atividade em Bq/g 36 8000 Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) Incorporação de Zn-65 (Bq) 7000 Zn-65 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 Folhas 90 Caule Raízes Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) 80 Total Zn-65 Atividade total (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 Folhas 3500 3000 Caule Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) Raízes Zn-65 Atividade em Bq/g 2500 2000 1500 1000 500 0 Folhas Caule Raízes Figura 13 – Gráficos da incorporação de Zn-65 37 TABELA 6 – Dados da incorporação de Co-58 pelas plântulas (médias ± erros padrões). Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito. Médias significativamente diferentes estão seguidas por letras diferentes. Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 (n = 5) (n = 4) (n = 5) Folhas 13,0 ± 4,2 6,2 ± 2,1 45 ± 25 Caule 135 ± 61 a 113 ± 28 a 290 ± 13 b Raizes 224 ± 159 442 ± 130 864 ± 217 Total 372 ± 216 a 561 ± 140 ab 1199 ± 218 b Folhas 6,2 ± 2,7 1,3 ± 0,3 3,7 ± 1,7 Caule 47,3 ± 13,9 31,0 ± 11,9 29,4 ± 7,4 Raízes 46,5 ± 15,8 67,7 ± 12,1 66,9 ± 7,3 Folhas 8,3 ± 2,4 3,2 ± 1,1 18,0 ± 9,4 Caule 15,2 ± 6,7 14,7 ± 3,6 32,1 ± 2,7 Raízes 209 ± 154 363 ± 100 444 ± 136 Atividade em Bq % da atividade total Atividade em Bq/g Mesmo com a biomassa de raízes formando menos que 20% da biomassa total, a atividade (Bq) acumulada nas raízes foi geralmente próxima ou até bastante superior a 50% da atividade total das plântulas, para os dois metais, mostrando a retenção deles preferencialmente nas raízes. Apesar de ter ocorrido uma relativamente alta transferência dos metais das raízes para os caules, que mostraram uma acumulação dos metais geralmente entre 20% e 50% do total nas plântulas, parece ser sempre encontrada uma baixa transferência de Zn-65 e Co-58 para as folhas. As folhas geralmente mostraram um percentual da acumulação total menor do que 7%, em relação ao Co-58, e menor do que 3%, em relação ao Zn-65. 38 1500 Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) Incorporação de Co-58 (Bq) 1200 Co-58 900 600 300 0 Folhas 80 Caule Raízes Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) 70 Total Co-58 Atividade total (%) 60 50 40 30 20 10 0 Folhas Caule Raízes 600 500 Grupo1 (1 mês) Grupo2 (3 meses) Grupo3 (6 meses) Co-58 Atividade em Bq/g 400 300 200 100 0 Folhas Caule Raízes Figura 14 – Gráficos da incorporação de Co-58 39 Os resultados mostrando que Co-58 e Zn-65 se concentram principalmente nas raízes concordam com os estudos anteriores da partição de metais-traço em plantas adultas (RAGSDALE & THORHAUGH, 1980; SILVA ET AL. 1990; CHIU & CHOU 1991; ZHENG ET AL. 1997) e plântulas (WALSH ET AL., 1979; CHIU ET AL., 1995; TAM & WONG, 1997; MACFARLANE & BURCHETT, 2000) de espécies de manguezal, que geralmente mostram pouca translocação de metais para as folhas. Esta tendência geral foi mostrada em relação ao Zn (YIM & TAM, 1999; MACFARLANE & BURCHETT, 2002) e para o Co (JAYASEKERA, 1991), em cultivos de plântulas de manguezal. Mas, isto parece que não ocorre em relação ao Mn, que pode mostrar uma grande biodisponibilidade nos sedimentos (GUEIROS ET AL., 2003) e uma grande translocação dentro da planta (JAYASEKERA, 1991; TAM & WONG 1997). Jayasekera (1991), mostrou que R. mangle, com aproximadamente um ano de cultivo, teve 57,4% do Co total incorporado nas raízes, 32,5% nos caules e 10,4% nas folhas. Estes dados foram relativamente próximos aos mostrados na Tabela 6. Mas, Jayasekera (1991) encontrou 91,5% do total de Zn nas raízes, que está acima dos resultados encontrados na Tabela 5. Após a incorporação pelas raízes, o transporte de metais-traço dentro das plantas pode resultar na prevenção da toxicidade (se for moderado), assim como na obtenção de níveis de metais necessários para os requerimentos metabólicos específicos das partes diferentes das plantas. No caso de espécies de Avicennia, as concentrações de metais traço que excedem as necessidades da plântula podem ser excretadas das folhas, junto com sais que já são normalmente excretados (JAYASEKERA, 1991; MACFARLANE & BURCHETT, 2000). Como um exemplo de um outro contaminante importante, o Pb (elemento nãoessencial) tem sido caracterizado como um metal que é geralmente retido nas raízes e pouco translocado para as folhas (WALSH ET AL., 1979; TAM & WONG, 1997; MACFARLANE & BURCHETT, 2002). Apesar de também ter uma retenção pelas raízes, o Zn (elemento essencial) apresenta geralmente uma maior translocação para as folhas do que o Pb (MACFARLANE & BURCHETT, 2002). Em plântulas de R. mangle, parece haver uma semelhança entre a acumulação de Zn e Co pelos diferentes compartimentos das plantas, de acordo com os dados encontrados neste experimento. Esta semelhança foi maior do que mostrado pelos dados de Jayasekera (1991), para a mesma espécie, que indicaram uma retenção de Zn preferencialmente nas 40 raízes (91,5% do total na plântula) relativamente maior do que a retenção de Co nas raízes (57,4% do total na plântula). 4.3 CORRELAÇÕES ENTRE A INCORPORAÇÃO DE CO-58 E ZN-65 Para avaliar a associação entre os níveis de acumulação dos metais nos compartimentos das plântulas, foram feitas análises de correlação entre as atividades (em Bq e em Bq/g) destes compartimentos e as atividades totais (Tabela 7). É importante destacar que, em relação aos dados em Bq, as atividades totais de Zn-65 e Co-58 nas plântulas foram significativamente correlacionadas, assim como as atividades de Zn-65 e Co-58 em cada compartimento. Isto também foi mostrado para a acumulação dos metais em Bq/g, exceto para as folhas. Porém, foi demonstrada uma tendência geral de similaridade entre as acumulações dos dois metais. Em relação a cada metal, todos os resultados em Bq nos compartimentos das plântulas foram significativamente correlacionados com a atividade total. Estes resultados, que incluem os dados dos três grupos, concordam com a possibilidade de que com o maior tempo de exposição aos metais nos sedimentos (Grupo 3 > Grupo 2 > Grupo 1), ocorre uma maior acumulação nas plântulas e uma maior transferência entre os compartimentos, para os dois metais. As correlações entre as atividades do mesmo elemento nos compartimentos diferentes mostraram uma maior diferença entre os metais (Tabela 7). Em relação ao Zn65, só as correlações entre os resultados de raízes e caules foram significativas. Mas, isto foi observado tanto para as atividades em Bq quanto em Bq/g. Em relação ao Co-58, foi encontrado o mesmo resultado para as correlações entre as atividades de raízes e caules. Os resultados dos demais compartimentos também mostraram correlações significativas, para atividades de Co-58 em Bq. Quando os resultados foram em Bq/g, não ocorreu correlação significativa entre as atividades de Co-58 de raízes e folhas e de caules e folhas. Estes dados sugerem um claro contraste entre a interpretação do processo de incorporação dos metais baseada na atividade absoluta (Bq) e a baseada na atividade em função da biomassa seca (Bq/g). 41 TABELA 7 – Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) entre os dados de Zn-65 e Co-58 nas folhas (ZnF e CoF), nos caules (ZnC e CoC), nas raízes (ZnR e CoR) e no total das plântulas (ZnT e CoT). Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito (n = 13 para os dados de folhas e 14 para os dados das outras variáveis). NA = não-aplicável. Atividade em Bq Atividade em Bq/g ZnT vs. CoT r = 0,927 p < 0,001 NA ZnT vs. ZnF r = 0,567 p = 0,043 NA ZnT vs. ZnC r = 0,752 p = 0,003 NA ZnT vs. ZnR r = 0,992 p < 0,001 NA CoT vs. CoF r = 0,695 p = 0,008 NA CoT vs. CoC r = 0,732 p = 0,004 NA CoT vs. CoR r = 0,982 p < 0,001 NA ZnF vs. CoF r = 0,724 p = 0,005 r = 0,549 p = 0,052 ZnC vs. CoC r = 0,854 p < 0,001 r = 0,822 p = 0,001 ZnR vs. CoR r = 0,935 p < 0,001 r = 0,868 p < 0,001 ZnR vs. ZnF r = 0,546 p = 0,054 r = 0,128 p = 0,677 ZnR vs. ZnC r = 0,660 p = 0,014 r = 0,571 p = 0,042 ZnC vs. ZnF r = 0,475 p = 0,101 r = 0,320 p = 0,287 CoR vs. CoF r = 0,629 p = 0,021 r = 0,354 p = 0,235 CoR vs. CoC r = 0,592 p = 0,033 r = 0,558 p = 0,047 CoC vs. CoF r = 0,665 p = 0,013 r = 0,501 p = 0,081 Schroeder & Thorhaugh (1980) estudaram a incorporação de vários radionuclídeos, incluindo Zn-65 e Co-60 na gramínea marinha Thalassia testudinum. Nesta planta, eles encontraram altas correlações entre as atividades de Zn-65 e Co-60 (em dpm/g de peso seco) nas raízes (r = 0,89), nos rizomas (r = 0.80) e nas folhas (r = 0,72). Isto também sugere uma similaridade na incorporação dos dois metais por T. testudinum, mas o 42 elemento com o qual o Co-60 mostrou correlações mais fortes nos rizomas (r = 0,87) e nas folhas (r = 0,80) foi o Mn-54. Este estudo apresentou também correlações entre as atividades encontradas em rizomas e folhas de T. testudinum, para o Zn-65 e o Co-60 (r = 0,53 em relação aos dois metais), mostrando a translocação dos metais entre as partes da planta de forma semelhante. 4.4 CORRELAÇÕES ENTRE A INCORPORAÇÃO DE METAIS E A ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DAS PLÂNTULAS Os resultados da análise de correlações entre dados estruturais dos propágulos e de crescimento total das respectivas plântulas com os dados da incorporação total dos metais podem ser vistos na Tabela 8. . TABELA 8 – Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) entre os dados de estrutura dos propágulos e de crescimento total das plântulas e a acumulação total de Zn-65 e Co-58 (Bq). Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito (n = 14). ZnT CoT Peso do Comprimento propágulo do propágulo r = 0,302 Altura final Massa total r = 0,186 r = 0,673 r = 0,495 p = 0,316 p = 0,542 p = 0,012 p = 0,086 r = 0,409 r = 0,265 r = 0,665 r = 0,536 p = 0,166 p = 0,381 p = 0,013 p = 0,059 São observadas correlações significativas do crescimento em altura com a atividade total dos dois metais nas plântulas. Não foi encontrada correlação significativa das atividades totais dos metais com os outros parâmetros Geralmente, também não aconteceu uma correlação significativa entre os dados de biomassa seca de cada compartimento e das atividades dos metais nestes compartimentos (Tabela 9). 43 Nenhuma das correlações foi significativa para os resultados em Bq e somente a correlação entre a massa foliar e a atividade do Co-58 nas folhas foi significativa, para aos resultados em Bq/g. TABELA 9 – Coeficientes de correlação (r) e nível de significância das correlações (p) entre as massas de folhas, caules e raízes produzidas e as respectivas acumulações de Zn-65 e Co-58. Os resultados significativos (p<0,05) estão em negrito (n = 13 para os dados de folhas e 14 para os dados das outras variáveis). Atividade em Bq Atividade em Bq/g * Massa foliar vs. ZnF r = 0,359 p = 0,228 r = 0,642 p = 0,018 Massa foliar vs. CoF r = 0,164 p = 0,592 r = 0,509 p = 0,076 Massa do caule vs. ZnC r = 0,331 p = 0,247 r = 0,142 p = 0,629 Massa do caule vs. CoC r = 0,387 p = 0,172 r = 0,190 p = 0,514 Massa de raízes vs. ZnR r = 0,367 p = 0,197 r = -0,223 p = 0,444 Massa de raízes vs. CoR r = 0,350 p = 0,221 r = -0,201 p = 0,492 44 5 CONCLUSÕES O método usado no cultivo em laboratório por 12 meses da espécie R. mangle, mostrou-se viável no estudo da incorporação de zinco e cobalto nas raízes, caule e folhas das plantas utilizando radiotraçadores. Os fatores de transferência sedimento-planta tanto para Zn quanto para Co foi de 2% do total aplicado após o primeiro mês de incubação. Isto demonstra uma rápida incorporação destes elementos, sugerindo que experimentos com amostragens em intervalos de tempo da ordem de um mês podem ser suficientes para as plantas refletirem um aporte dos metais. Após um período de três meses, a incorporação pelas plantas foi de 6% para o zinco e 3% para o cobalto. Para seis meses da aplicação dos radionuclídeos, houve uma incorporação igual a 11% e 6% do total aplicado para Zn-65 e Co-58, respectivamente. Observa-se, então, que a incorporação do Zn, para as plântulas destes grupos, é aproximadamente o dobro que a do Co. A incorporação do Zn e Co se dá preferencialmente nas raízes das plantas, seguido pelo caule e por último pelas folhas. Sendo que apesar da quantidade (atividade) de zinco incorporado ter dobrado nas plantas do Grupo 3 com relação aos do Grupo2, essas atividades em termos da atividade total permaneceram as mesmas. Estes resultados concordam com os estudos anteriores citados na literatura da partição de metais traço em plantas adultas, cuja acumulação se concentra principalmente nas raízes das espécies de manguezal e geralmente mostram pouca translocação destes para as folhas. A correlação entre as acumulações de Zn e Co pelas plantas pode indicar uma ação de mecanismos semelhantes de incorporação para estes dois metais. 45 O presente trabalho com radiotraçadores mostrou que a utilização da atividade pode ser um parâmetro mais significativo do que a atividade específica. A planta R. mangle revelou-se ser um potencial indicador biológico da contaminação ambiental por zinco e cobalto em áreas de manguezal, uma vez que a tendência de maior acumulação dos metais com o aumento do tempo de exposição proporcionou diferenças significativas para dados em Bq, mas não para a atividade específica (Bq/g). Para dar continuidade a este trabalho, sugere-se que sejam feitos estudos que comparem a incorporação de metais por plântulas com diferentes níveis de exposição á contaminação, tanto em relação á concentração dos contaminantes, quanto ao tempo de exposição. Sugere-se também, que seja feito o estudo da incorporação, translocação e liberação de diferentes metais por plântulas desta e de outras espécies de manguezal usando radiotraçadores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONGI, D.M. Present state and future of the world’s mangrove forests. Environmental Conservation, v. 29, n.3, p.331-349, 2002. AMADO FILHO, G. M.; ANDRADE, L. R.; KAREZ, C. S.; FARINA, M.; PFEIFFER, W. C. Brown algae species as biomonitors of Zn and Cd at Sepetiba Bay, Rio de Janeiro, Brazil. Marine Environmental Research, v. 48, p. 213-224, 1999. ANDERSEN, F.O.; KRISTENSEN, E. Oxygen microgradients in the rhizosphere of the mangrove Avicennia marina. Marine Ecology Progress Series, v. 44, p. 201-204, 1988. ANDRADE, R.C.B.; PATCHINEELAM, S.R. Uptake of Co, Cr, Ni and Cu by pyrite in a tropical marine environment. R. Esc. Minas, v.54, n. 4, p.299-302, 2001. ARAGON, G.T.;MIGUENS, F.C. Microscopic analys of pyrite in the sediment of two brazillian mangrove ecosystem. Geo-Marine Letters, v.21, p.157-161, 2001. APETEC MCA. Aplication Multichannel Analyser; versão 6.31 para Windows versão 3.95, Ontário, três disquetes de 1.44 Mb,1998. ARAGON, G.T.; OVALLE, A.R.C.; CARMOUZE, J.-P. Porewater dynamics and the formation of iron sulfides in a mangrove ecosystem, Sepetiba Bay, Brazil. Mangroves and Salt Marshes, v. 3, p. 85−93, 1999. BIRD ET AL. Bioaccumulation of radionuclides in fertilized Canadian Shield lake basins. The Science of the Total Environment, n.218, p.67-83, 1998. CANESIN, Fátima de Paiva. Comportamento cinético do manganês numa floresta de manguezal – Itacuruçá, RJ. 145 f. Tese (Doutorado em Geoquímica Ambiental), Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2000. CARVALHO, C.E.V.; LACERDA, L.D.; GOMES, M.P. Heavy metal contamination of the marine biota along the Rio de Janeiro Coast, SE Brazil. Water, Air, and Soil Pollution, v. 57/58, p. 645-653, 1991. 47 CHIU, C.Y.; CHOU, C.H. The distribution and influence of heavy metals in mangrove forests of the Tamshui estuary in Taiwan. Soil Science and Plant Nutrition, v. 37, p. 659669, 1991. CHIU, C.Y.; HSIU, F.S.; CHEN, S.S.; CHOU, C.H. Reduced toxicity of Zn and Cu to mangrove seedlings (Kandelia candel (L.) Druce.) in saline environments. Bot. Bull. Acad. Sin., v. 36, p. 19-24, 1995. CHOPIN, G.R.; LILJENZIN, J.; RYDBERG, J. Radiochemistry and Nuclear Chemistry. Boston: Butterworth-Heinemann, 1995, 707 p. CLARK, M.W.; MCCONCHIE, D.M.; LEWIS, D.W.; SAENGER, P. Redox stratification and heavy metal partitioning in Avicennia-dominated mangrove sediments: a geochemical model. Chemical Geology, v. 149, p. 147-171, 1998. CORRÊA JÚNIOR et al. Zinc accumulation in phosphate granules of Ucides cordatus hepatopancreas. Brazillian Journal of Medical and Biological Research, v.33, p.217221, 2000. DENYS, S. et al. Assessment of plant uptake of radioactive nickel from soils. Journal of Environmemtal Radioactivity, v.62, p.195-205, 2002. E.G.&G. ORTEC. MAESTRO para Windows versão 5.10, Tennessee, três disquetes de 1.44 Mb,1999. EHLKEN, S.; KIRCHNER, G. Environmental processes affecting plant root uptake of radioactive trace elements and variability of transfer factor data: a review. Journal of Environmemtal Radioactivity, v.58, p. 97-112, 2002. FISHER, N.S. et al. Accumulation and retention of metals in mussels from food and water: a comparison under field and laboratory conditions. Environmemtal Science & Technology, v.30, n.11, p.3232-3242, 1996. GUEIROS, B.B.; MACHADO, W.; LISBOA FILHO, S.D.; LACERDA, L.D. Manganese behavior at the sediment-water interface in a mangrove dominated area in Sepetiba Bay, SE Brazil. Journal of Coastal Research, v. 19, p. 550-559, 2003. GUIMARÃES, J.R.D.; PENNA-FRANCA, E. 137Cs, 60Co and 125I bioaccumulation by seaweeds from the Angra dos Reis power plant region. Marine Environmemtal Research, v.16, p.77-93, 1985. HALL, P.O.J. et al. Oxygen uptake kinetics in benthic boundary layer. Limnol. Oceanogr., v.34, n.4, p.734-746, 1989. HARBISON, P. Mangrove muds − a sink and source for trace metals. Marine Pollution Bulletin, v. 17, p. 273-276, 1986. JAYASEKERA, R. Chemical composition of the mangrove Rhizophora mangle L. Journal of Plant Physiology, v. 138, p. 119-121, 1991. 48 JIMÉNEZ, J.A. Silvics Manual. Institute of Tropical Forestry, issue 2, p.1-7, 1985. KJERFVE, B.; LACERDA, L.D. Manglares de Brasil. In: Lacerda, L.D. (ed.) Conservacion y aprovechamiento sostenible de bosques de manglar en las regiones America Latina y Africa, Parte I – Latin America. Okinawa: International Society for Mangrove Ecosystems, 1993, p. 231-256. KOCZOROWSKA, E.; SLAWINSKI, J. Model studies of zinc bonding with humic acid in the presence of UV-VIS-NIR radiation. Chemosphere, v.55, p.693-700, 2003. KRISNAMURTY, K.V.; SHPIRT, E.; REDDY, M.M. Trace metal estraction of soil and sediments by nitric acid-hydrogen peroxide. Atomic Absorption Newsletter, v. 15, n. 3, p. 68-71, 1976. LACERDA, L.D. Biogeochemistry of trace metals and diffuse pollution in mangrove ecosystems. Okinawa: International Society for Mangrove Ecosystems, 1998, 65 p. LACERDA, Luiz Drude de. Biogeoquímica de metais pesados em ecossistemas de manguezal. 68 f. Tese (Professor Titular) – Departamento de Geoquímica, Universidade Federal Fluminense, Niterói. 1994. LACERDA, L.D. Mangrove Ecosystems, Function and Management. Berlin: Springer Verlag, 2002, 292 p. LACERDA, L.D.; MARTINELLI, L.A.; REZENDE, C.E.; MOZETTO, A.A.; OVALLE, A.R.C.; VICTORIA, R.L.; SILVA, C.A.R.; NOGUEIRA, F.B. The fate of trace metals in suspended matter in a mangrove creek during a tidal cycle. Science of the Total Environment, v. 75, p. 169-180, 1988. LACERDA, L.D.; CARVALHO, C.E.V.; TANIZAKI, K.F.; OVALLE A.R.C.; REZENDE, C.E. The biogeochemistry and trace metals distribution of mangrove rhizospheres. Biotropica, v. 25, p. 252-257, 1993. LACERDA, L.D.; ITTEKKOT, V.; PATCHINEELAM, S.R. Biogeochemistry of mangrove soil organic matter: a comparison between Rhizophora and Avicennia soils in South-eastern Brazil. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 40, p. 713-720, 1995. LIN, Z.Q. et al. Uptake and translocation of 54Mn and 65Zn applied on foliage and bark surfaces of balsam fir [Abies balsamea (L.) Mill.] seedlings. Environmemtal and Experimental Botany, v.35, n.4, p.475-483, 2002. LIN, G.; STERNBERG, L.S.L. Varation in propagule mass and its effect on carbon assimilation and seedling growth of red mangrove ( Rhizophora mangle) in Florida, USA. Journal of Tropical Ecology, v.11, p.109-119, 1995. MACFARLANE, G.R. Leaf biochemical parameters in Avicennia marina (Forsk.) Vierh as potential biomarkers of heavy metal stress in estuarine ecosystems. Marine Pollution Bulletin, v. 44, p. 244-256, 2002. 49 MACFARLANE, G.R.; BURCHETT, M.D. Zinc distribution and excretion in the leaves of the grey mangrove, Avicennia marina. Environmental and Experimental Botany, v. 41, p. 167-175, 1999. ______. Cellular distribution of copper, lead and zinc in the grey mangrove, Avicennia marina. Aquatic Botany, v. 68, p. 45-69, 2000. ______. Toxicity, growth and accumulation relationships of copper, lead and zinc in the grey mangrove, Avicennia marina. Marine Environmental Research, v. 54, p. 65-84, 2002. MACHADO, E.C.; BELLIDO, L.F.; BELLIDO JR., A.V. Separation of iodine species by adsortion chromatography. Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry, v. 249, p. 653-656, 2001. MACHADO, W.; GUEIROS, B.B.; LISBOA-FILHO, S.D.; LACERDA, L.D. Trace metals in mangrove seedlings: role of iron plaque formation. Wetlands Ecology and management (in press). MENDELSSOHN, I.A.; KLEISS, B.A.; WAKELEY, J.S. Factors controlling the formation of oxidized root channels: a review. Wetlands, v. 15, n. 1, p. 37-46, 1995. MOLISANI, M.M.; MARINS, R.V.; MACHADO, W.; PARAQUETTI, H.M.M.; BIDONE, E.D.; LACERDA, L.D. Environmental changes in Sepetiba Bay, SE Brazil. Regional Environmental Change, v. 4, p. 17-27, 2004. MONTGOMERY, J. R., AND M. T. PRICE. Release of trace metals by sewage sludge and the subsequent uptake by members of a turtle grass mangrove ecosystem. Environ. Sci. Technol. v.13, p. 546-549, 1979. MORAES, R. B. C.; PFEIFFER, W. C.; GUIMARÃES, J. R. D.; BORGES, A. L. N. & CAMPOS, A. N. Development of toxicity test with tropical peneid shrimps. Environmental Toxicology and Chemistry, v. 19, p. 1881-1884, 2000. MORSE, J. W. & LUTHER, G. W. Chemical influences on trace metal-sulfide interactions in anoxic sediments. Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 62, p.373−3378, 1999. NAYAK, D. Multitracer techniques: applications in chemical and life sciences. Applied Radiation and isotopes, v.54, p.195-202, 2001. OVALLE, A.R.C.; REZENDE, C.E.; LACERDA, L.D. & SILVA, C.A.R. Hydrochemistry of a mangrove tidal creek in Sepetiba Bay, Rio de Janeiro, Brazil. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 31, p. 639−650, 1990. PETERS, E.C. et al. Ecotoxicology of tropical marine ecosystems. Environmental Toxicology an Chemistry, v.16, p. 12-40, 1997. 50 RAE, J.E. & ALLEN, J.R.L. The significance of organic matter degradation in the interpretation of historical pollution trends in depth profiles of estuarine sediments. Estuaries, v. 16, p. 678−682, 1993. RAGSDALE, H.L.; THORHAUG, A. Trace metal cycling in the U.S. coastal zone: Synthesis. American Journal of Botany, v. 67, p. 1102−1112, 1980. REID, R.; HAYES, J. Mechanisms and control of nutrient uptake in plants. International Review of Cytology, v. 229, p. 73-114, 2003. RICKLEFS, R.E.; LATHAM, R.E. Global patterns of diversity in mangrove floras. In: Ricklefs, R.E. & Schluter, D. (eds.) Species diversity in Ecological communities. Chicago: University of Chicago Press, 1993, p. 215-229. ROBERTSON, A.I.; DUKE, N.C. Mangroves as nursery sites: comparisons of fish and crustaceans in mangroves and other nearshore habitats in tropical Australia. Marine Biology, v. 96, p. 193-205, 1987. ROBERTSON, A.I.; ALONGI, D.M. Tropical Mangrove Ecosystems. Washington: American Geophysical Union, 1992. SANTSCHI, P. H. Factors controlling the biogeochemical cycles of trace elements in fresh and coastal marine waters as revealed by artificial radioisotopes. Limnology and Oceanography, v. 33, p. 848-866, 1988. SCHROEDER, P.B.; THORHAUGH,A. Trace metal cycling in tropical-subtropical estuaries dominated by the seagrass thalassia testudinum. American Journal of Botany, v.67, p.1075-1088,1980. SHAW, T.J.; GIESKES, J.M.; JAHNKE, R.A. Early diagenesis in differing depositional environments: the response of transition metals in pore water. Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 54, p. 1233-1246, 1990. SILVA, C.A.R. Distribuição e ciclagem interna de metais pesados em um ecossistema de manguezal dominado por Rhizophora mangle, Baía de Sepetiba, Rio de Janeiro. 70 p. Tese (Mestrado em Geoquímica Ambiental), Universidade Federal Fluminense, Niterói. 1988. SILVA, C.A.R.; LACERDA, L.D.; REZENDE, C.E. Metals reservoir in a red mangrove forest. Biotropica, v. 22, p. 339-345, 1990. SILVA, C.A.R.; LACERDA, L.D.; OVALLE, A.R.C.; REZENDE, C.E. The dynamics of heavy metals through litterfall and decomposition in a red mangrove forest. Mangroves and Salt Marshes, v. 2, p. 149-157, 1998. SILVA, L. F. F., MACHADO, W., LISBOA FILHO, S. D., LACERDA, L. D. Mercury accumulation in sediments of a mangrove ecosystem in SE Brazil. Water, Air, and Soil Pollution, v. 145, p. 67-77, 2003.. 51 SOKAL, R.R.; ROHLF, F.J. Biometry. San Francisco: W.H. Freeman & Co., 1981, 859 p. SOTO-JIMÉNEZ, M. F.; PÁEZ-OSUNA, F. Distribution and normalization of heavy metal concentrations in mangrove and lagoonal sediments from Mazatlán Harbor (SE Gulf of California). Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 53, p. 259-274, 2001. SPSS FOR WINDOWS versão 6.0, três disquetes de 1.44 Mb,1993. TAM, N.F.Y.; WONG, Y.S. Accumulation and distribution of heavy metals in a simulated mangrove system treated with sewage. Hydrobiologia, v. 352, p. 67-75, 1997. TANIZAKI-FONSECA, K. Biogeoquímica de metais pesados na rizosfera de plantas de um manguezal na Baía de Sepetiba-RJ. Tese (Mestrado em Geoquímica Ambiental), Universidade Federal Fluminense, Niterói. 1994. TWILLEY, R.R.; CHEN, R.H. & HARGIS, T. Carbon sinks in mangroves and their implication to carbon budget of tropical coastal ecosystems. Water, Air and Soil Pollution, v. 65, p. 265-288, 1992. VANUCCI, M. The mangrove ecosystem: an overview of present knowledge. Revista Brasileira de Biologia, v. 58, p. 1-15, 1998. WALSH, G.E.; AINSWORTH, K.A.; RIGBY. R. Resistence of red mangrove (Rhizophora mangle L.) seedlings to lead, cadmium and mercury. Biotropica, v. 11, n. 1, p. 22-27, 1979. WANG, W-X.; STUPAKOFF, I.; FISHER, N.S. Bioavailability of dissolved and sediment-bound metals to a marine deposit-feedling polychaete. Marine Ecology Progress Series, v. 178, p.281-293, 1999. WASSERMAN, J. C.; FIGUEIREDO, A. M. G.; PELLEGATTI, F.; SILVA-FILHO, E. V. Elemental composition of sediment cores from a mangrove environment using neutron activation analysis. Journal of Geochemical Exploration, v. 72, p. 129-146, 2001. WATMOUGH, S.A.; HUTCHINSON, T.C.; EVANS, R.D.The distribution of 67Zn and 207 Pb applied to white spruce foliage at ambient concentrations under different pH regimes. Environmemtal and Experimental Botany, v.41, p.83-92,1999. YIM,M.W.; TAM, N.F.Y. Effects of wastewater-borne heavy metals on mangrove plants and soil microbial activities. Marine Pollution Bulletin, v.39, n. 1-12, p. 179-186, 1999. YOUSSEF, T.; SAENGER, P. 1996. Anatomical adaptive strategies to flooding and rhizosphere oxidation in mangrove seedlings. Australian Journal of Botany, v. 44, p. 297-313. ZHENG, W.J.; CHEN, X.Y. & LIN, P. Accumulation and biological cycling of heavy metal elements in Rhizophora stylosa mangroves in Yingluo Bay, China. Marine Ecology Progress Series, v. 159, p. 293-301, 1997.