UMA POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL EM CONSTRUÇÃO – AGREGANDO VALORES Adriana Pereira da Cunha de Mendonça Salim1 - SEMED/UCP Grupo de Trabalho – Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Básica Agência Financiadora: não contou com financiamento. Resumo O artigo tem como objetivo apresentar o registro da construção da Política Pública de Educação em Tempo Integral em processo na rede municipal de Petrópolis. Ele retrata a realidade, pela ótica da Coordenadora de Educação Integral da Secretaria de Educação e aluna do curso de mestrado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis, baseado em pesquisa documental e bibliográfica. Nele está relatada a experiência que se constituiu a partir de uma demanda natural, fomentada pelo Plano Nacional de Educação (2014-2024) em sua meta 6 no qual o Plano Municipal de Educação (2015-2025) se parametrizou, e como o Programa Mais Educação, iniciativa do governo federal, cumpriu o papel de indutor da Educação Integral no município de Petrópolis e abriu espaço para a discussão de uma concepção a ser abraçada e implementada de forma gradativa por meio de alternativas sustentáveis de ampliação da jornada escolar com vistas a garantir uma formação aos educandos para além da simples escolaridade. Neste trabalho são apresentados os pilares sobre os quais está sendo fundamentada, filosófica e pedagogicamente, a proposta a ser implantada, no município em questão, a partir do ano de 2016. Estão aqui também, relatadas as parcerias estabelecidas, durante este caminhar, que ampliaram as possibilidades de sucesso da Política Pública a ser implementada e são apresentadas ainda, as unidades educacionais que servem de piloto para as duas vertentes em construção: Escola de Tempo Integral e Aluno em Tempo Integral. Enfatiza-se a importância formativa da cultura e a mediação na aquisição de valores e pretende-se ressaltar, a relevância da participação democrática por meio da interação do poder público e da sociedade civil. Palavras-chave: Educação Integral. Tempo Integral. Cultura. Valores. Introdução A coerência está em fazer o que se prega e acreditar no que se faz. Nesta perspectiva, pautada em valores e, sobretudo priorizando a cultura como emancipadora do ser humano, a 1 Mestranda em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis. Coordenadora de Educação Integral da Secretaria de Educação de Petrópolis/RJ. Graduada em Pedagogia e com licenciatura em Inglês pela Universidade Católica de Petrópolis. Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Estácio de Sá e em Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 21587 rede municipal de ensino de Petrópolis vem construindo sua Política Pública de Educação em Tempo Integral. Nenhum educador será capaz de mudar os rumos da Educação se dela já desacreditou. Ressaltamos aqui Freire (2014, p.15), a partir da reflexão de que “sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o embate”, pois se tomamos a causa como perdida, a luta se torna desnecessária. Neste artigo apresentamos, o registro de um movimento pela busca de uma Educação, capaz de promover a transformação de uma rede de ensino e estabelecer uma prática diferenciada, a partir do entendimento de que o processo ensino/ aprendizagem, precisa ser uma relação dialógica. Esta proposta é bem mais ampla do que uma simples transmissão de conhecimentos, consiste em uma mediação entre os saberes, os sujeitos e o contexto no qual estamos inseridos. Como afirma Freire (2011, p.24), é preciso que nós educadores nos convençamos de que ensinar não é transferir conhecimento, mas mediar sua produção ou construção. Nele gostaríamos ainda de compartilhar um processo de construção coletivo, desencadeado por educadores que não se permitem a desesperança e estão convictos de que é possível quebrar paradigmas. Assim compactuamos com Freire (2011, p.74) quando afirma que nosso “papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências”. A Educação em Tempo Integral para além do Programa mais Educação O ano de 2014 foi um divisor de águas para a Educação no município de Petrópolis. Das 113 (cento e treze) unidades escolares de ensino fundamental, 93 (noventa e três) escolas da rede passaram a oferecer ampliação da sua jornada por meio do Programa Mais Educação 2. Após um movimento assertivo junto às equipes escolares com vistas à resignificar o papel e a importância do programa federal, um novo entendimento quanto ao conceito de Educação Integral, agora dissociado de uma simples ampliação da jornada escolar intitulada Tempo Integral, trouxe à discussão a relevância de uma formação para além da escolarização regular. Segundo Lomonaco e Silva (2013), uma proposta de Educação Integral, em sua concepção ampla e efetiva, precisa articular três aspectos primordiais: (1) tempo - “... ampliação qualificada do tempo no qual o estudante estará exposto a situações intencionais de aprendizagem” (LOMONACO; SILVA, 2013, p.18); (2) espaço - reflexão acerca do 2 Programa Mais Educação, estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e a organização curricular na perspectiva da educação integral. 21588 redimensionamento dos espaços da escola e sobre a utilização de novos espaços de aprendizagem além dos muros da escola e (3) conteúdo - Reorganização do currículo de maneira que exista um “diálogo entre os conhecimentos tradicionais com a cultura, as novas tecnologias, as competências sociais e toda a diversidade de aprendizagens possíveis no mundo moderno” (LOMONACO; SILVA, 2013, p.22, grifo nosso). Em setembro de 2014, com a proposta de qualificar os sujeitos envolvidos no Programa Mais Educação, a Prefeitura de Petrópolis 3, por meio da Secretaria de Educação, promoveu o I Congresso de Educação Integral de Petrópolis. Os quatro dias do evento, nos espaços do Sesc Quitandinha, movimentaram todas as unidades escolares da rede municipal e oportunizaram a todos os atores escolares momentos de aprendizagem, compartilhamento de ideias, assim como boas práticas, e o contato com expressões artísticas e culturais. O que de início, visava apenas uma formação interna, acabou extrapolando as fronteiras municipais e recebeu profissionais da Educação da região serrana e representantes das Secretarias de Educação de cerca de 25 (vinte e cinco) municípios do Estado do Rio de Janeiro. E, com a intenção de fomentar o conhecimento científico, abriu-se espaço para a apresentação de artigos acadêmicos que versassem sobre a temática do congresso: “Educação Integral: desafios e perspectivas para a educação no século XXI”. O último trimestre de 2014, tal qual mola propulsora, trouxe a demanda de várias unidades escolares por um fazer diferente, um desejo de oferecer a partir de seu contexto escolar algo que pudesse preencher a carência de seu entorno, uma busca por oportunidades que agregassem valor às suas comunidades e promovessem a formação integral das crianças e dos jovens ali inseridos. Após a instituição de uma comissão para estudo e análise de uma proposta de Tempo Integral na perspectiva de alcançar uma Educação Integral, a Secretaria de Educação, iniciou ações estratégicas para garantir o cumprimento da meta 6 do Plano Nacional de Educação 4 2014/2024, no qual se parametriza o Plano Municipal de Educação 5 – 2015/2025. No corrente ano, objetivando uma implantação sustentável, a equipe da Gestão de Educação Integral6 e os 3 Equipe de Governo: Prefeito, Sr. Rubens Bomtempo, Secretária de Educação, Prof.ª Mônica Vieira Freitas e Subsecretária de Educação Infantil e Ensino Fundamental, Prof.ª Rosilene Ribeiro. 4 Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da educação básica. 5 Lei nº 7334, de 23 de julho de 2015 – Dispõe sobre a aprovação do Plano Municipal de Educação. 6 A equipe é composta por Adriana Pereira da Cunha de Mendonça Salim, Andréa Marinho, Denise Schmidt do Amaral e Fernando Rossi Moutinho. Sob sua responsabilidade estão todas as ações acerca de Educação Integral, a coordenação do Programa Mais Educação, a condução técnica dos Conselhos Comunitários do Programa Mais Educação, a Divisão de Programas do FNDE e mais recentemente, o Projeto Independência. 21589 membros da comissão, mantem reuniões ordinárias com vistas à construção de uma Política Pública de Tempo Integral com proposta de Educação Integral para rede municipal de Petrópolis até o final do ano de 2015. A cultura e a hierarquização de valores Refletimos agora sobre Educação Integral compactuando com Coelho (2013), que de forma objetiva a define como formação completa do ser humano, porém mantemos o foco na tríade apresentada no início deste artigo, proposta por Lomonaco e Silva (2013) e da qual fazemos agora um recorte intencional e trazemos à discussão a relação direta da cultura como parte, tanto essencial quanto primordial, desta concepção. De maneira a situar o nosso entendimento quanto ao termo cultura e com vistas a ressaltar o significado proposto neste artigo, apresentamos a definição de Werneck (2003, p.105, grifo nosso): Aceitou-se aqui, arbitrariamente, a definição de cultura que entende como a produção humana proveniente, seja do imaginário, seja do ato livre mobilizado pela sensibilidade e/ou razão, que, de algum modo, agrega valor à natureza em geral, ao outro ou ao próprio sujeito. Ficam assim excluídas da cultura as ações humanas a eles próprios nocivas e prejudiciais. (2003, p.105, grifo nosso) Faz-se oportuno neste momento, uma reflexão acerca da noção de valor, a partir do momento em que ele está inserido neste contexto e tem participação efetiva nesta construção. Consideramos está uma tarefa bastante complexa e nos reportamos novamente a Werneck (2003, p.46) que admite “como ‘valor’ aquilo que, de algum modo, vale para o homem, aquilo de que é carente, aquilo que satisfaz à sua necessidade, que preenche a sua falta.” Parece-nos menos difícil, o entendimento da noção de valor por meio da privação do mesmo. “É a experiência da falta do valor”, como propõe Werneck (2003, p.48), que leva o ser humano a sua busca de forma sistemática. Estamos aqui falando sobre sensações e percepções, estamos no campo da sensibilidade, do psíquico, da prática e não da teoria. A ideia do valor, esta sim pode ser compreendida pela razão. Mas teorizar sobre os valores não garante a aquisição dos mesmos, não possibilita o aprimoramento pessoal ou uma maior humanização. O que transforma e agrega é a busca inerente do ser humano por seu bem estar, é sua exposição a valores construtivos, é a percepção dos mesmos nas atitudes e posturas de outros. 21590 A aquisição de valores acontece na interação do homem com o meio social, é algo que se aprende. O que nos remete a Freire (1987, p.44) quando afirma que: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Isto posto, precisamos compreender que toda ação pedagógica, norteadora de uma prática, precisa ser fundamentada em valores. Não é possível dissociar educação de valor, “porque um professor não ensina aquilo que diz; o professor transmite aquilo que é” (PACHECO, 2012, p.11). Observamos assim que a Educação Integral que pretendemos ofertar em nossa rede municipal está pautada na mediação pedagógica para aquisição de valores, não apenas os decorrentes de um maior conhecimento intelectual (WERNECK, 2003), mas também e, ousamos dizer principalmente, os que promovam a transformação pessoal, a formação em sua integralidade em busca da integridade. Parcerias para a construção de uma proposta em duas vertentes Sem perder de vista a conceituação de cultura apresentada e a questão dos valores, foram elaboradas propostas diferenciadas para os Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental: Escola de Tempo Integral para os alunos dos Anos Iniciais e Aluno em Tempo Integral para os Anos Finais. Com essas duas propostas já alinhavadas, a equipe da Gestão de Educação Integral, propôs uma parceria à Fundação Itaú Social, que veio a se concretizar por meio da assessoria do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC7, ampliando as possibilidades de produção de conhecimento ao longo da construção do Plano Municipal de Educação Integral. O CENPEC vem sistematizando as reuniões da comissão, enriquecendo de saberes a produção do grupo. A concepção em construção, muito se aproxima das considerações de Cavaliere [...], nomearemos um modelo como escola de tempo integral e o outro como aluno em tempo integral. No primeiro, a ênfase estaria no fortalecimento da unidade escolar, com mudanças em seu interior pela atribuição de novas tarefas, mais equipamentos e profissionais com formação diversificada, pretendendo propiciar a alunos e professores uma vivência institucional de outra ordem. No segundo, a ênfase estaria na oferta de atividades diversificadas aos alunos no turno alternativo ao da escola, fruto da articulação com instituições multissetoriais, utilizando espaços e agentes que não os da própria escola, pretendendo propiciar experiências múltiplas e não padronizadas (2009, p.53, grifos nossos). 7 Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC - Organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, criada em 1987 - www.cenpec.org.br. 21591 A ideia de construir propostas diferenciadas para os Anos Iniciais e os Anos Finais do Ensino Fundamental, além de estar fundamentada em uma perspectiva de sustentabilidade, busca atender a cada faixa etária em suas demandas e especificidades. Desta forma é possível respeitar-se a autonomia de locomoção pelo território dos alunos dos Anos Finais, assim como seu desejo de ganhar mundo e garantir a proteção dos que ainda se encontram nos Anos Iniciais, sem que estes sejam privados das vivências além dos muros da escola, que podem ser oportunizadas e acompanhadas pela equipe de cada unidade escolar. Para além do Tempo Integral, foco da Política Pública em estudo no município de Petrópolis, a Escola de Educação Integral Padre Quinha, uma das 57 escolas municipais que atende apenas aos Anos Iniciais, funciona em Tempo Integral e desenvolve sua proposta pedagógica, desde 2011, na concepção da Educação Integral. A unidade escolar funciona em Tempo Integral, desenvolvendo sua proposta durante 8 (oito) horas diárias para 6 (seis) turmas, em um total de 156 alunos, da Educação Infantil ao 5º ano. O horário diferenciado e sua práxis inovadora, que inclui pedagogia de projetos e professor regente 40h/semana, são decorrentes de um convênio com o Instituto Superior de Educação Pró-Saber8, que junto com a equipe da escola vem construindo, de forma democrática, a proposta pedagógica que além de bons resultados acadêmicos, promove integralmente a formação dos sujeitos, contemplando as dimensões física, afetiva, cognitiva, intelectual e ética. Entendemos ainda, pedagogia de projetos como uma concepção de ensino-aprendizagem inovadora e criativa que auxilia o educando a construir sua própria identidade e seus conhecimentos. Os Projetos de Trabalho permitem um percurso flexível que pode ser readaptável e servir como fio condutor para a atuação docente em relação às crianças (LEITE FILHO, 2015). Com a intenção de compartilhar saberes, a Secretaria de Educação, por meio da equipe de Gestão de Educação Integral, desenhou em parceria com o Instituto Superior de Educação Pró-Saber e a equipe da Escola de Educação Integral Padre Quinha, um Ciclo de Formação na intenção de sensibilizar e ao mesmo tempo proporcionar formação continuada acerca de Educação Integral em Tempo Integral, para a equipe de 9 (nove) escolas da rede de Petrópolis. A ideia foi tomando consistência que se orientou a uma proposta de Curso de Extensão, com direito a Certificação, pelo Instituto Superior de Educação Pró-Saber. Quadro 1 – Ciclo de formação acerca de Educação Integral em Tempo Integral 8 Instituto Superior de Educação Pró-Saber - Instituição privada sem fins lucrativos, com sede no Rio de janeiro, credenciada pelo Ministério da Educação como educação superior em 2004, portaria nº 2.421 de 11/08/2004. 21592 Escolas inseridas no ciclo de formação Escola de Educação Integral Padre Quinha E. M. Dr. Barros Franco E. M. Joaquim Deister E. M. Oswaldo Costa Frias E. Mzda. Dr. Paulo Motta E. M. Darcy Corrêa da Veiga E. São João Batista E. M. Leonardo Boff Centro Educacional Comunidade São Jorge Fonte: Secretaria de Educação, 201410. Situação Conveniada9 Municipal Municipal Municipal Municipal Municipal Municipal Municipal Conveniada Localização Rural Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Urbana Urbana O ciclo de formação, com vistas a preparar a equipe das escolas para a implantação do Tempo Integral a partir de 2016, consiste em encontros mensais nos quais são apresentados e discutidos temas relevantes para uma prática bem sucedida de oferta de Educação Integral em Tempo Integral direcionada aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, vertente intitulada de Escola de Tempo Integral. Quadro 2 - Programa de formação – Escola de Tempo Integral Data 16/04/15 Horário 09h às 16h Tema EDUCAÇÃO INTEGRAL: conceito, objetivos e aplicações PLANEJAMENTO E REGISTRO: Planejamento – instrumento básico para a intervenção do educador posto que organiza, sistematiza e disciplina a liberdade 14/05/15 09h às 12h individual e coletiva: Registro – instrumento que permite a retomada e a revisão dos encaminhamentos e possibilita a avaliação e o planejamento para adequação de ações futuras PROJETO INTERDISCIPLINAR: princípios que regem a construção de 11/06/15 09h às 12h projetos envolvendo o educador, o educando e a comunidade PROFESSOR REGENTE: elo de integração entre as áreas do núcleo comum e 02/07/15 09h às 12h as áreas diversificadas e coordenador das atividades pedagógicas vivenciadas pelos alunos PPP: instrumento articulador e integrador dos saberes, dos tempos e dos espaços 20/08/15 09h às 12h curriculares AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO: Avaliação – instrumento de reflexão sobre o contexto da aprendizagem, sobre os obstáculos e os avanços; 10/09/15 09h às 12h Acompanhamento – Instrumento alicerçado na observação, informa o processo vivido COMUNIDADE EDUCADORA: integração da oferta de atividades culturais 22/10/15 09h às 12h locais para dinamizar a responsabilidade e o compromisso sócio – político – pedagógico norteador das ações Fonte: Secretaria de Educação, 2015.11 Paralelamente, mas mantendo-se fiel a concepção em construção, em 2014, por meio da criação do Centro de Ensino Professor Darcy Ribeiro 12, a rede municipal implantou seu 9 No município existem escolas intituladas conveniadas, cujas infraestruturas físicas, na grande maioria pertencem a instituições religiosas, mas têm como mantenedora a Prefeitura de Petrópolis, no que tange inclusive ao material humano, composto por profissionais concursados. 10 Dados organizados pela autora. 11 Dados organizados pela autora. 12 DECRETO Nº 314 de 11 de fevereiro de 2014, Petrópolis/RJ. 21593 primeiro núcleo de Educação Integral para atendimento ao Aluno em Tempo Integral. Esta medida proporcionou ao município uma alternativa de oferta de Educação Integral, sustentável e inovadora, direcionada aos alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental, em seu contra turno. Um dos desafios da comissão é promover a vinculação dos alunos matriculados no núcleo às suas unidades escolares de origem e garantir que frequentem as atividades do núcleo por no mínimo 10 horas semanais para que além de ampliarem sua jornada escolar em atividades com intencionalidade pedagógica, possam ser reconhecidos de fato como Alunos em Tempo Integral. O núcleo piloto de Educação Integral oferece aos alunos, atividades extracurriculares por meio de oficinas ministradas por professores da rede, educadores contratados, parcerias intersetoriais com o poder público, parcerias com organizações da sociedade civil e equipamentos culturais da cidade. É preservado o direito de escolha ao aluno em matricular-se nas oficinas por área de interesse. Todas as atividades do núcleo são planejadas pela equipe gestora, composta por diretora e coordenadora pedagógica, junto à comunidade escolar. Aos futuros núcleos, assim como o já implantado, será garantida identidade própria por meio de seu PPP, assim cada unidade poderá oferecer atividades diversificadas que promovam em parceria com as escolas a formação integral dos alunos, atendendo às especificidades de seu entorno. Desta forma, se legitima a preocupação em manter uma interação com as famílias e a comunidade onde estarão inseridos. O espaço do núcleo serve como referência para toda a comunidade, cabendo a ele também promover palestras formativas e receber as famílias em eventos e culminâncias de projetos desenvolvidos pelo próprio núcleo. Os núcleos terão autonomia para buscar parcerias, implantar oficinas diferenciadas e propor qualquer ação que venha a agregar novos valores à comunidade. Entendemos aqui, autonomia a partir da releitura e comentário de Pacheco a um trecho de Freire (1997) 13 que nos leva a refletir sobre este conceito no âmbito escolar, restrito ou não por meio de políticas educacionais: Art. 1º – Fica criado, na Estrutura da Rede Municipal de Ensino, o CENTRO DE ENSINO PROFESSOR DARCY RIBEIRO, o qual funcionará à Rua Machado Fagundes, 94, Cascatinha, Petrópolis/RJ. Art. 2° – O Centro de Ensino Professor Darcy Ribeiro destina-se ao atendimento de alunos matriculados na Rede Municipal de Ensino de Petrópolis nos níveis Fundamental e Médio, por meio de atividades extracurriculares que possam contribuir com o desenvolvimento de habilidades indispensáveis à sua formação integral. 21594 Foste premonitório, caro Paulo, mas crê que conheço algumas administrações e secretarias que já compreenderam ser incontornável considerar a autonomia das escolas. Essas secretarias são geridas por educadores que sabem que o ato de educar é um ato político e um ato de amor. [...] Autonomia é um ato relacional e contribuir para a autonomia do outro é um ato de amor (2014, p.99, grifo nosso). Neste momento ímpar de construção, o grupo preocupou-se em respeitar e, ao mesmo tempo, disseminar as culturas locais, promovendo as identidades e o sentimento de pertença, amenizando desigualdades e acreditando, como registrou Torres (2001, p.20), no que Freire disse inúmeras vezes sobre o quanto é preciso empenhar-se para construir um mundo que seja menos feio, menos cruel e menos desumano. Acreditamos ainda que os núcleos contribuirão para a reflexão sobre o multiculturalismo como ressalta Werneck (2007, p. 429) que “a partir de princípios filosófico-religiosos que reconhecem a igualdade dos seres humanos chega-se à exigência de respeito aos direitos individuais e de liberdade nas manifestações culturais”. Quadro 3 - Centro de Ensino Professor Darcy Ribeiro Oficinas oferecidas em 2015: Oficina de Inglês Oficina da Palavra e Mostra de filme Oficina de Violino Oficina de Futebol Oficina de Boxe Oficina de Teatro Oficina de Educação Financeira Oficina de Educação Ambiental Oficina de Tênis de Mesa Oficina de Educação Patrimonial Oficina de Dança Oficina de Informática 14 Fonte: Centro de Ensino Prof. Darcy Ribeiro, 2015 . Ao tentarmos conceituar multiculturalismo, nos aproximamos de Torres (2001, p. 196) quando o apresenta como um movimento social com “orientação filosófica, teórica e política que não se restringe à reforma escolar, e que aborda o tema das relações de raça, sexo e classe na grande sociedade”. O que nos leva a refletir sobre as diversas culturas presentes em nosso cotidiano e o quanto a aquisição de valores pode promover o respeito e o reconhecimento da diversidade cultural como direito humano 15. 14 Dados organizados pela autora. Declaração universal dos direitos humanos – Artigo XIX: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. 15 21595 Considerações Finais Subentende-se a intenção da proposta em construção, de ir além do ensino regular, sem com isso estar desconsiderando sua importância ou promovendo sua substituição. Lembramos, neste momento, que a Educação Integral não deve ser vista como uma modalidade, mas sim como uma concepção como já prevê a LDB em seu Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Parece-nos que assim, caminhando de mãos dadas, parcerias entre o poder público e a sociedade civil se estabelecem e desta forma, cada um toma para si uma parcela da responsabilidade na formação da nova geração de cidadãos petropolitanos, garantindo a eles educação de qualidade e formação integral. Desta forma é possível compactuarmos com as ideias de Coelho (2009, p.93) quando nos afirma que: Nesse sentido, é importante dizer que falar sobre educação integral, para nós, pressupõe falar, também, em tempo ampliado/integral na escola: com o tempo escolar ampliado, é possível pensar em uma educação que englobe formação e informação e que compreenda outras atividades – não somente as conhecidas como atividades escolares – para a construção da cidadania partícipe e responsável. Quando aqui se apresentam duas propostas de ampliação de jornada escolar, uma direcionada para os Anos Finais, denominada Escola de Tempo Integral e outra para os Anos Finais, intitulada Aluno em Tempo Integral, pretende-se refletir sobre a relevância de uma busca por novas verdades que respeitem as singularidades e articulem o coletivo, e que independente de sua composição, promovam a Educação Integral seja ela garantida, ou não, pelo tempo integral em um único espaço educacional REFERÊNCIAS Assembleia Geral das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Paris, 10 de dezembro de 1948. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/wpcontent/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2015. 21596 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, de 23 de dezembro de 1996. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/1996/12/23>. Acesso em: 22 set. 2015. CAVALIERE, Ana Maria. 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