A HABITAÇÃO VERNACULAR NO SÉC. XVIII RESIDÊNCIAS MINEIRAS NO CICLO DO OURO E DIAMANTES Régis Eduardo Martins Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Ouro Preto. Rua Pandiá Calógeras, 898, Morro do Cruzeiro – CEP: 35400-000, Ouro Preto – MG. [email protected] INTRODUÇÃO A opção pelo tema surgiu da escassez de um conhecimento abrangente sobre a arquitetura civil produzida no período colonial brasileiro. As manifestações monumentais na arquitetura, no Brasil e em outras partes do mundo, são objetos de estudo de vários autores, permitindo o acesso a um longo acervo de publicações sobre estas. Porém, ao longo do tempo, muito pouco se pesquisou sobre as edificações que formam os conjuntos históricos, sendo que boa parte é atribuída à atitude isolada de alguns pesquisadores nos primórdios da criação do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Provocado por esse “desinteresse”, não há um registro amplo sobre o processo de produção e as influências construtivas trazidas pelo colonizador português às terras brasileiras. Nessa linha, também se destaca a importância do desenvolvimento de pesquisas sobre a produção arquitetônica do passado, a tecnologia empregada e as influências sobre o processo construtivo. Para que um bom projeto de restauração seja produzido, uma das principais exigências é o conhecimento amplo sobre o bem a ser preservado. Quaisquer projetos na área da conservação e restauro necessitam adotar uma metodologia que vise a garantir a transmissão do bem às gerações futuras, conduzidos na posse de um arcabouço teórico condizente, no diagnóstico preciso e na intervenção adequada. As propostas produzidas pelo profissional devem ser baseadas nos principais conceitos da teoria da restauração: a preservação, o conhecimento do objeto, a mínima interferência, a manutenção da autenticidade e a conservação dos materiais existentes. OBJETIVOS Analisar, através de um estudo sistematizado, a habitação vernacular produzida em Minas Gerais durante o séc. XVIII, de forma a relacionar as principais variáveis culturais e tecnológicas existentes no ambiente do colonizador. METODOLOGIA Essa pesquisa realizou-se a partir de uma revisão bibliográfica sobre o tema em questão. Buscouse relacionar as variantes encontradas, no intuito de produzir-se um encadeamento dos fatos levantados e, através deles, reproduzir um estudo organizado sobre a habitação vernacular produzida no séc. XVIII. Para tanto foram estudados, como referência, diversos autores que tratam diretamente do assunto (Sylvio de Vasconcellos, Günter Weimer, Ivo Porto de Menezes, Luis Saia, Nestor Goulart, Lúcio Costa e Salomão de Vasconcelos), além de outros que indiretamente possam contribuir como bibliografia de consulta (L. L. Vauthier, José Wasth Rodrigues, Robert Smith, Hans Broos e Nelson Omegna). A explanação do assunto, apoiada na obra desses autores, objetiva intercalar a abordagem de cada um deles e, dessa forma, traçar um panorama geral, na intenção de contextualizá-lo com o ambiente existente na época delimitada no estudo. Para a realização da pesquisa seguiu-se a seguinte metodologia: Dividiu-se o estudo em três partes fundamentais – contextualização, análise da tipologia arquitetônica e descrição tecnológica dos sistemas construtivos. RESULTADOS A investigação acerca da constituição da habitação vernacular, em Minas Gerais, no séc. XVIII, conduziu a pesquisa a alguns pontos cruciais. Em três linhas principais concatenou-se o estudo, fundamentado no tripé: cultura do período, arquitetura tradicional e tecnologia construtiva. Primeiramente, analisou-se a influência cultural do colonizador, relacionando-a com as consequências sobre a edificação – a herança da cultura mourisca em Portugal, a dependência do escravo para o funcionamento da casa, 8 o confinamento da família, as peculiaridades da sociedade patriarcal e a relação do homem da época com o Regime Absolutista e a Igreja. Também, abordaram-se as condições balizadoras para a produção espacial da edificação – a implantação no lote urbano, a organização da planta pautada na funcionalidade dos cômodos, a consolidação dos núcleos humanos e as consequências sobre a arquitetura do local, as instruções gerais para a construção civil existente na época e as condições do sítio natural. Outros fatores determinantes referem-se à disponibilidade dos materiais de construção em cada local e o emprego da tecnologia conhecida. DISCUSSÃO A constituição da arquitetura, de um modo geral, em Minas Gerais apresenta particularidades específicas da colonização local durante a exploração aurífera. Entretanto, os modelos arquitetônicos difundidos entre a população são provindos de uma experiência secular desenvolvida em Portugal. Desse modo, a difusão de um modelo no lugar de outro conhecido deriva de condicionantes locais, como a disponibilidade de material, as condições físicas do sítio e das influências culturais predominantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUNTER, Weimer. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 333p. REIS FILHO, Nestor G. Quadro da arquitetura no Brasil. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. 211p. RODRIGUES, José W. Documentário arquitetônico relativo à antiga construção civil no Brasil. 5. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1990. 331p. OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. 2. ed. Brasília: EBRASA, 1971. 334p. VASCONCELLOS, Sylvio de. Vila Rica: formação e desenvolvimento – residências. São Paulo: Perspectiva S.A., 1977. 214p. (Coleção Debates: Arquitetura). ______. Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos. Belo Horizonte: Escola de Arquitetura da UFMG, 1979. 192p. RODRIGUES, José W.; VAUTIER, Louis. L.; SAIA, Luis.; BARRETO, Paulo T.; SMITH, Robert C. Arquitetura civil I: textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1981. 330p. TELLES, Augusto C. S.; PINTO, Estevão.; CARDOSO, Joaquim.; COSTA, Lúcio.; VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura civil II: textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 260p. LAMENGO, Alberto.; REIS, Artur C. F.; FILHO, Godofredo.; DIAS, Hélcia.; MENEZES, Ivo P.; LEÃO, Joaquim S.; RODRIGUES, José W.; LACOMBE, Lourenço L.; COSTA, Lúcio.; BARRETO, Paulo T.; VASCONCELOS, Salomão de. Arquitetura civil III: textos escolhidos da Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 208p. BROOS, Hans. Construções antigas em Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 2002. 204p. ZANINI, Walter (Org.). História geral da arte no Brasil. Instituto Walther Moreira Salles. São Paulo, 1983. 490 p. SAIA, Luis. Morada paulista. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1978. 311p. LEMOS, Carlos A. C. Arquitetura brasileira. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979. 158p. SANTOS, Paulo F. Subsídios para o estudo da arquitetura religiosa em Ouro Preto. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos, 1951. 174p. REIS, P. Pereira dos. O colonialismo português e a Conjuração Mineira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964. 140p. PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1953. 390p. (Coleção “Grandes Estudos Brasilienses”). 9