O Sistema de Inovação Brasileiro após 1990 Autoria: Mônica Esteves Rodrigues, José Geraldo Pereira Barbosa, Cesar Gonçalves Neto Resumo: A proposta desta pesquisa foi verificar os esforços do Brasil, a partir de 1990, para a construção de um verdadeiro e eficiente Sistema Nacional de Inovação. As ações desenvolvidas e os resultados obtidos foram, sempre que possível, levantados e avaliados a partir daqueles provenientes de pesquisa realizada com a mesma finalidade por Dahlman e Frischtak (1993) em período anterior a 1990. Utilizando como base a visão do processo de inovação como um fenômeno complexo e sistêmico, organizamos a análise da situação brasileira em dois grandes eixos: (I) a estrutura básica necessária à viabilização do processo de inovação tecnológica, caracterizada pelas infraestruturas e serviços de apoio e incentivo à inovação; e (II) o nível de produção científica e tecnológica de empresas e centros de desenvolvimento de ciência, tecnologia e ensino, representado pelos indicadores dos sistemas industrial e de educação disponíveis. Ao final, constatou-se que, apesar dos principais problemas detectados na pesquisa inicial ainda continuarem presentes uma década depois, em maior ou menor intensidade, é inegável que progredimos significativamente em cada um dos itens analisados. 1.Introdução No novo contexto econômico mundial, um grupo cada vez mais maior de países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, passou a colocar a produção de conhecimento e a inovação tecnológica no centro de sua política para o desenvolvimento. Fazem isto movidos pelo reconhecimento de que o conhecimento é o elemento central da nova estrutura econômica e de que a inovação é o principal veículo da transformação de conhecimento em valor para as sociedades. Esta onda mundial atualmente verificada combina a já forte crença de que as capacidades tecnológicas das empresas de uma nação são o recurso-chave de sua força competitiva com a crença de que a construção destas capacidades só é possível através de uma atuação orquestrada a nível nacional, formando o que vem sendo chamado de “tecnonacionalismo”. De acordo com Nelson (1993), este fenômeno é o principal responsável pelo grande interesse atual no conhecimento dos vários sistemas de inovação nacionais. Através da análise de suas similaridades e diferenças, busca-se compreender de que forma e em que extensão estas diferenças explicam as variações de desempenho das economias dos países. Partindo deste contexto, a proposta deste breve estudo foi exatamente o de verificar os esforços do Brasil nas últimas décadas para a construção de um verdadeiro e eficiente sistema de Ciência, Tecnologia & Inovação (C,T&I), que permita o seu ingresso na chamada sociedade do conhecimento e se reflita em benefícios reais para toda a população brasileira. Tomando como base o trabalho coordenado por Nelson (1993), que apresenta uma análise comparativa dos Sistemas de Inovação de 15 países1, nossa intenção básica foi desenvolver uma atualização do capítulo referente à experiência brasileira. Isto porque, por ter sido publicado em 1993, o trabalho em questão apresenta um panorama dos diversos países até 1990, originando a curiosidade de um estudo da situação brasileira após esta data. 2. Abordagem Teórica O conceito de Sistema Nacional de C,T&I utilizado como base para a análise deste estudo tem origem nos trabalhos de Lundvall (1992) e do próprio Nelson (1993). Partindo da visão do processo de inovação como um fenômeno complexo e sistêmico, os autores o definem como o conjunto de instituições e organizações responsáveis pela criação e adoção de inovações em um determinado país. 2 Nesta abordagem, o ambiente propício para a ocorrência do processo de inovação tecnológica é definido pela existência de empresas com potencial para desenvolver produtos inovadores de base tecnológica, pela existência de centros de desenvolvimento de ciência, tecnologia e ensino, pela organização do sistema financeiro local, pelo conjunto de leis de Ciência e Tecnologia (C&T) e pela infra-estrutura disponível. Com relação à política nacional de C&T, a abordagem enfatiza sua importância como elemento influenciador do nível de interação entre as instituições que participam do amplo processo de criação do conhecimento, assim como de sua difusão e aplicação. Este modelo teórico desenvolvido pelos autores deu origem à metodologia idealizada pela OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) para dimensionar o Sistema de C,T&I dos diversos países, com o objetivo de permitir comparações internacionais. A referida metodologia define diversos critérios quantitativos de mensuração, baseados em um conjunto de estatísticas e indicadores referentes aos principais insumos empregados em Ciência e Tecnologia, consubstanciados em normas recomendadas pelo Manual Frascati da OECD2 e pelo Manual Estatístico da Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization)3, e também utilizados em nosso estudo quando disponíveis. Assim, tendo em vista o conceito adotado, optamos por estruturar a análise do atual Sistema de Inovação brasileiro em dois grandes eixos. O primeiro eixo, destinado à análise da estrutura básica necessária à viabilização do processo de inovação tecnológica, caracteriza as infraestruturas e serviços de apoio e incentivo à inovação. Já o segundo eixo pretende analisar o nível de produção científica e tecnológica de empresas e centros de desenvolvimento de ciência, tecnologia e ensino, utilizando para tanto os indicadores disponíveis relacionados aos sistemas industrial e de educação. Como o primeiro eixo engloba os diversos contextos – produtivo, tecnológico, científico, financeiro, logístico e legal –, analisamos o processo de gestão de C&T existente no Brasil a partir dos anos 90, os recursos humanos e tecnológicos disponíveis no país, os dispêndios em C&T, seu processo educacional e a infra-estrutura destinada ao apoio logístico ao Sistema Brasileiro de Inovação. 3. Síntese do Sistema Brasileiro de Inovação antes de 1990 No capítulo brasileiro do trabalho coordenado por Nelson (1993), Dahlman e Frischtak verificaram que o Brasil, até 1990, já havia construído um sistema nacional de C,T&I até sofisticado, se comparado a outros países da América Latina, porém incompleto. Um robusto sistema universitário e de pós-graduação e um conjunto respeitável de instituições de pesquisa, algumas de prestígio internacional, constituíam os elos fortes deste sistema. Graças aos investimentos sistemáticos na pós-graduação e na pesquisa, a produção científica brasileira havia ampliado significativamente sua presença no cenário internacional e a acumulação de conhecimentos em algumas áreas – como a agropecuária, a saúde e a exploração de petróleo – já apresentava expressivo retorno social e econômico. Entre seus principais problemas, podemos destacar: a pequena participação das instituições privadas, em especial das empresas (apenas 350 em 1990, com cerca de 1.200 pesquisadores), no investimento realizado nesta área, da qual resultava a inexpressiva posição brasileira na atividade de patenteamento; a fragmentação e a pouca coordenação das atividades relacionadas a C,T&I, dispersas em diferentes setores; restrições regulatórias e políticas para a importação de tecnologias estrangeiras; e a ainda excessiva centralização das ações governamentais na esfera federal. Além disto, o fraco suporte institucional do governo às empresas e um sistema educacional ineficiente, particularmente nos níveis básico e técnico, acabaram por comprometer o desenvolvimento e a aquisição de habilidades tecnológicas da força de 3 trabalho nacional e mantinham as nossas indústrias muito distantes dos níveis internacionais em termos de desempenho e de qualidade e preço dos produtos. Estes problemas detectados apontavam claramente, na opinião de Dahlman e Frischtak (1993), para a necessidade da transição de um sistema concentrado nas ações do Governo Federal e de alguns estados e em suas instituições de ensino e pesquisa, para um sistema nacional de C,T&I integrado e ao mesmo tempo descentralizado, com ampla participação de agentes públicos e privados de todos os setores da sociedade atuantes no Brasil. A principal fonte destes problemas estava localizada, de acordo com os autores, no modelo de substituição de importações adotado pelo país como base para o seu processo de industrialização. Esta afirmação é corroborada por Coelho (2000) e também por Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), no Livro Verde, onde estes últimos destacam que os dois grandes ciclos de crescimento presenciados pelo país – um nos anos cinqüenta e outro nos setenta – entremearam períodos de crescimento rápido com momentos de estagnação e crise, em geral decorrentes da debilidade da inserção internacional que é uma das principais características do modelo de substituição de importações escolhido pelo Governo, ao lado de uma inflação estruturalmente alta. Por outro lado, este mesmo modelo, na visão destes autores, teria contribuído para a transformação do Brasil em uma das principais economias do mundo e mudado a face da nossa sociedade. Dahlman e Frischtak (1993) também chamavam a atenção para algumas vantagens que as políticas tecnológicas decorrentes deste modelo trouxeram para o país, entre elas: aumentaram o poder de barganha das organizações locais nas negociações de transferência de tecnologia; promoveram a entrada de empresas nacionais em áreas que normalmente seriam protegidas por patentes ou pelo poder de mercado das empresas estrangeiras; estimularam a criação de um setor de bens de capital relativamente sofisticado; direcionaram as empresas multinacionais, tradicionalmente orientadas apenas para o mercado local, também para a exportação, forçando-as assim à atualização tecnológica de suas operações domésticas; e criaram pela primeira vez mecanismos de financiamento para as necessidades tecnológicas das indústrias brasileiras. A principal conclusão dos autores é que a motivação do governo brasileiro subjacente à adoção deste modelo como base para o seu processo de industrialização não foi o crescimento da base tecnológica do país, mas sim uma consideração de mais curto prazo – o saldo positivo da balança comercial, através da maior entrada e da menor saída possíveis da moeda estrangeira do país, que pudesse gerar o capital necessário para o financiamento das grandes obras de infraestrutura que caracterizaram em especial o período do chamado “Milagre Brasileiro”. Independentemente dos pontos positivos e negativos deste modelo específico (a análise de outros modelos adotados pelos diversos países também indica pontos positivos e negativos em cada um deles), a crítica final feita pelos autores era de que as políticas adotadas pelo governo brasileiro haviam sido levadas longe demais e por um período de tempo excessivo, tornando-se ultrapassadas. Em 1990, aproximadamente duas décadas depois de adotadas e implementadas (décadas de 70 e 80), suas bases eram muito menos justificáveis. Como exemplo, citam as barreiras comerciais impostas, as restrições regulatórias e as políticas para a importação de tecnologias estrangeiras que, se inicialmente serviram como incentivo para o desenvolvimento da indústria nacional, ao final deste longo período protegido da concorrência internacional acabaram por gerar empresas locais pouco sofisticadas tecnologicamente, além de uma excessiva diversificação da indústria – responsável pela fragmentação dos esforços de investimentos, tanto por parte das empresas quanto do próprio sistema de apoio tecnológico do governo a estas empresas. Conforme salientado também por Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), a partir da década de 80 e em parte como decorrência das mudanças da economia global, esgota-se o 4 modelo de substituição de importações, deixando o país em dificuldades para se situar neste novo contexto e exigindo um novo conjunto de reformas visando uma maior inserção internacional – entre elas, a redefinição do papel do Estado, a criação de novos mecanismos de regulação dos mercados e um novo regime fiscal. Coelho (2000) ainda complementa esta visão de Dahlman e Frischtak (1993) afirmando que, na década de 80, o sistema brasileiro de C&T passou a enfrentar grande instabilidade associada não apenas à recessão econômica e à incerteza quanto às dotações orçamentárias, mas também ao acirramento da competição por recursos públicos e ao crescente clientelismo político. 4. Análise da Evolução do Sistema Brasileiro de Inovação após 1990 Na visão de Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), as dificuldades experimentadas pelo Brasil a partir da década de 80, associadas a uma enorme diminuição dos investimentos públicos no país, comprometeram muitas das conquistas alcançadas na área de C&T na década anterior. Entretanto, apesar das dificuldades vivenciadas, os autores destacam que a democratização do país também teve impactos positivos no setor de C&T: explicitou a demanda; valorizou o papel da comunidade acadêmica no processo de construção da sociedade; e, no contexto das reformas institucionais, incentivou a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 1985, como clara expressão da importância política que o país começava a dar a este segmento. De acordo com Oliveira (2002), a construção do atual Sistema Brasileiro de Inovação é decorrente basicamente da ocorrência de três eventos. O primeiro seria a promulgação da Constituição Federal de 1988, na qual foram asseguradas inúmeras reivindicações dos pesquisadores ao longo da história da C&T no Brasil, com a ampliação dos mecanismos de participação popular. A concepção de Ciência na nova Constituição Federal pautou-se na concepção de universidade para pesquisa, alicerçada no tripé ensino, pesquisa e extensão. E ainda, convergindo com os ideais de construção de um Estado forte, a nova Constituição colocou o incentivo para o desenvolvimento científico e tecnológico como parte integrante das responsabilidades do Estado pelas políticas sociais. O segundo evento seria, já a partir de 1990, com o governo do Presidente Fernando Collor, a política de abertura econômica e de maior inserção do país no mercado internacional que modificou substancialmente as condições de funcionamento da economia brasileira. Segundo Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), a nova estratégia adotada propunha a inserção competitiva da economia brasileira no mercado internacional e visava diminuir a presença do Estado na economia, dando início ao amplo processo de privatização das empresas públicas que presenciamos nos últimos anos. Um terceiro evento foi a contratação pelo MCT, em 1991, de um primeiro estudo abrangente sobre a política de Ciência e Tecnologia existente no Brasil naquele momento. Assim, entre os anos de 1992 e 1993, foi realizado um grande estudo encomendado à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. De forma bastante resumida, o estudo teve como tese principal a idéia de que havia desde então uma clara necessidade de se sair do modelo anterior de desenvolvimento científico e tecnológico e partir para um equacionamento inteiramente novo e adequado às realidades presentes e futuras, dando sustentação à política adotada pelo Presidente Collor e corroborando as conclusões do trabalho desenvolvido por Dahlman e Frischtak (1993). Verifica-se, portanto, que somente a partir da década de 90, quando o país iniciou efetivamente seu processo de modernização e abertura comercial para o mundo, é que o tema Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) começou a ser vislumbrado como estratégico pelo Governo brasileiro. 5 Esta abertura significou o ingresso do Brasil na economia globalizada e possibilitou que o atual fenômeno mundial chamado “tecnonacionalismo” – que combina a forte crença de que as capacidades tecnológicas das empresas de uma nação são o recurso-chave de sua força competitiva, com a crença de que a construção destas capacidades só é possível através de uma atuação orquestrada a nível nacional – atingisse também o nosso país. Como já destacado anteriormente, Nelson (1993) afirma que este fenômeno tem sido o principal responsável pelo grande interesse das nações em geral no conhecimento dos denominados “Sistemas de Inovação Nacionais”, tanto os próprios quanto os de outros países, visando a compreensão das variações de desempenho das economias dos países. 4.1. Infraestrutura de C&T Gestão de C&T Alguns objetivos principais podem ser alcançados pela gestão de C&T, tais como: a escolha de linhas de pesquisa prioritárias quanto à relevância para o desenvolvimento sócioeconômico e cultural; a execução mais eficiente das pesquisas; e a conversão mais rápida de resultados obtidos em contribuições concretas para a sociedade. Tais objetivos devem ser considerados em três níveis de gestão: o das políticas públicas, o institucional (Universidades, Institutos de Pesquisa, Empresas, etc) e o de programas e projetos específicos de pesquisa. Segundo Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), um dos maiores desafios para a incorporação de C,T&I à agenda da sociedade brasileira é exatamente de ordem institucional. Isto porque, segundo eles, a inércia é uma característica básica das instituições e, como conseqüência, os anseios de mudança da sociedade só poderão se realizar se forem engendradas transformações institucionais. No que concerne ao arranjo institucional em nível nacional, observa-se que os problemas e desafios para sua melhor formatação já estão sendo enfrentados pelo país. Isto vem ocorrendo desde a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 1985, como o órgão do Governo Federal responsável pela formulação e implementação da política nacional do setor de C&T, e que representou o primeiro passo em direção a uma orientação unificada dos órgãos financiadores da pesquisa científica no país visando à execução de uma ação política firme e consistente no setor; e intensificou-se mais recentemente com a reativação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), em 1996. Entretanto, sabemos que a tarefa designada ao MCT de orquestrar e administrar as inter-relações entre todos os atores que participam do Sistema de C&T brasileiro, de forma a possibilitar que as mesmas passem a operar como partes de um sistema global, é extremamente difícil e complexa por envolver centenas de instituições com as mais diversas atribuições, missões e necessidades e, por certo, ainda demandará muito esforço e determinação por parte do poder público nos próximos anos. Com relação às políticas públicas brasileiras nesta área, o que se percebe é que as mesmas não são totalmente explícitas por serem desenvolvidas de forma ainda muito centralizada pelo governo federal, com pouca participação dos outros atores envolvidos e da comunidade científica. Dividem-se em dois campos: normativo, configurado na legislação; e operacional, baseado no papel dos órgãos financiadores da pesquisa científica no país. Neste ponto, Oliveira (2002) afirma que podemos acompanhar o desenvolvimento da política científica brasileira principalmente a partir das Universidades Públicas, pois é neste espaço que ainda se realiza a maior parte da produção científica e tecnológica do país e é também aonde professores/pesquisadores vem estruturando suas pesquisas e conquistando reconhecimento nacional e internacional. Além disto, a autora observa que, na falta de uma política de C&T explícita, os órgãos de fomento à pesquisa também são reveladores daquilo que ela identifica como tendências das atuais políticas de C&T. Isto porque, por seu caráter operacional, acabam por indicar tendências a partir das diretrizes encaminhadas às 6 Universidades (áreas prioritárias para financiamento), que acabam por criar e moldar as linhas de pesquisa. Assim, verificamos que as políticas públicas deste segundo campo refletem as tendências e as prioridades estabelecidas pelo Estado, mas não são determinantes para o encaminhamento das políticas científicas nem para as ações concretas desenvolvidas na área. Por outro lado, a partir da constatação de que, para garantir a coerência com a importância política que vem sendo dedicada à C&T dos anos 90 em diante, é imprescindível o desenvolvimento de mecanismos adequados de financiamento destas ações e de políticas de acesso a tais mecanismos, o Estado vem desenvolvendo diversos esforços neste sentido, entre os quais se destacam os Fundos Setoriais e a Lei da Inovação. Já em relação ao último nível de gestão de C&T, o dos Programas e Projetos de Pesquisa, verifica-se que, diante das limitações financeiras e das dificuldades políticas determinadas pela fragilidade e pouca autonomia do Estado brasileiro, os Grupos de Pesquisa formados por professores/pesquisadores têm sido os grandes responsáveis pelo que se fez e faz com a pesquisa no país. Entretanto, o CCT que é responsável pelas recomendações e identificações de projetos prioritários, tende a concentrar o financiamento naqueles com maior probabilidade de retorno sócio-econômico, seguindo a forte influência da lógica de mercado. Por isto, Oliveira (2002) conclui que as atuais políticas de financiamento têm priorizado interesses econômicos imediatistas e podem, na verdade, estar contribuindo para acirrar as desigualdades entre as universidades situadas em distintos pontos geográficos e econômicos, aumentando cada vez mais a desigualdade de desenvolvimento entre as áreas. Educação Na análise do processo educacional brasileiro, verificamos que as políticas públicas voltadas para a educação na última década tiveram um saldo extremamente positivo para o país devido, principalmente, ao nível de articulação entre as três instâncias do poder público: federal, estadual e municipal. Além disto, constata-se que o desenvolvimento destas políticas teve como ponto de partida o reconhecimento da importância da educação como instrumento primordial para a formação do capital social/humano qualificado necessário a que as empresas e o país alcancem uma vantagem competitiva sustentável em nível internacional, podendo assim contribuir mais efetivamente para a promoção da melhoria da distribuição de renda e para a conseqüente diminuição do grau de desigualdade social – que é um dos principais entraves para o crescimento econômico sustentável do Brasil (Guimarães de Castro, 1999). Tabela 1. População Economicamente Ativa e População Ocupada por Nível de Instrução – Brasil, 1993/2001 1993 1995 1997 1998 1999 2001 72.271.295 75.594.529 76.903.428 78.614.608 81.101.618 84.725.701 PEA Sem Instrução 7.031.865 6.793.641 6.526.421 5.999.041 5.945.684 5.244.888 Até 1° grau completo 47.210.816 48.731.735 47.340.659 47.509.440 48.241.903 47.609.391 Até superior incompleto 14.094.709 15.676.392 18.216.342 20.091.645 21.732.154 26.070.215 Superior completo 3.786.155 4.238.411 4.620.574 4.784.830 4.957.765 5.516.927 Mestrado ou Doutorado 147.751 154.350 199.433 229.652 224.113 284.281 completo 67.793.940 70.991.409 70.889.481 71.536.325 73.290.504 76.801.992 Ocupada Sem Instrução 6.853.508 6.590.837 6.278.415 5.753.099 5.695.046 5.008.747 Até 1° grau completo 44.212.953 45.696.949 43.602.989 43.290.099 43.843.873 43.337.205 Até superior incompleto 12.894.716 14.413.375 16.340.112 17.653.344 18.777.248 22.861.581 Superior completo 3.685.587 4.137.924 4.473.651 4.615.462 4.752.954 5.316.155 Mestrado ou Doutorado 147.176 152.323 194.315 224.321 221.383 278.305 completo Fonte: MCT (2004) – Indicadores de Ciência e Tecnologia, Brasil: População Economicamente Ativa (PEA) e população ocupada por nível de instrução, 1992-2001. Disponível em: http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/portugues/3_Recursos_Humanos/tabelas/tab3_2_1.htm (12/04/04). 7 A partir da tabela 1, podemos constatar que os esforços conjuntos do governo federal com as instâncias estaduais e municipais possibilitaram uma enorme expansão do sistema educacional como um todo, especialmente no ensino fundamental, o que criou espaço para o surgimento de novas preocupações centrais no debate das políticas educacionais brasileiras: a melhoria da qualidade e a busca da eqüidade. Verificamos ainda que o Brasil já se encontra no caminho trilhado por países como a Coréia, que viabilizou um rápido aumento da escolaridade média da sua população e, com isto, alcançou maior êxito econômico e diminuições nos índices de pobreza e desigualdade. Entretanto, se comparados os níveis de escolaridade dos dois países, o da Coréia do Sul é mais de duas vezes superior ao do Brasil (5,75 anos em 1999; e 6,06 anos em 20014), ainda demonstrando o nosso despreparo para enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento. Infraestrutura Interna de Suporte Para os propósitos deste trabalho, consideramos a Infra-estrutura Interna de Apoio a C&T como constituída pelos recursos humanos e tecnológicos (transferência de tecnologia, aquisição de bens de capital, importação de produtos de alta tecnologia, etc.) que influenciam de forma preponderante a execução de atividades de C&T nas organizações. Neste sentido, verificamos que entre os anos de 1986 e 2000 houve um substancial aumento da quantidade de pesquisadores nos setores público e privado, porém observamos uma diminuição do número de pesquisadores nas instituições especializadas em C&T e nas agências governamentais (tabela 2). Tabela 2. Distribuição de pesquisadores de acordo com o local de exercício da atividade Total pesquisadores Com doutorado Instituição 1986 2000 1986 2000 Universidades 36.112 42.705 11.392 27.662 Instituições especializadas em C&T e Agências governamentais 14.059 5.924 Instituições privadas 727 107 60 --Empresas (privadas e estatais) 2.106 29.086 53 337* Outras 111 ------Total 52.863 77.822 11.492 --* Referente a 1999. Fontes: Dahlman e Frischtak (1993, p.426) para 1996; e Adaptado de MCT (2004) para 2000 – Indicadores de Ciência e Tecnologia, Recursos Humanos: Indicadores sobre Pesquisadores, Disponível em: http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/portugues/ menu3page.htm (12/04/04). Em relação aos recursos tecnológicos, verificamos uma diminuição na quantidade de aprovações de acordos de transferência de tecnologia (tabela 3), que parece decorrente da menor preferência das empresas por este tipo de estratégia de aquisição de tecnologia se comparada a outras como: desenvolvimento interno e parceria com terceiros. A relação importação de bens de capital/investimento nacional bruto é muito baixa no Brasil (0,259 em 1987; e 0,291 em 2002), se comparadas aos EUA (0,591 em 1987) e aos países asiáticos (Coréia do Sul – 1,066 em 1987; Malásia – 1,636 em 1987)5, o que tem implicações importantes na taxa de inovação do país já que o setor de bens de capital é o que incorpora os maiores avanços em tecnologia. Tabela 3. Aprovações de Acordos de Transferência de Tecnologia – Brasil Ano 81 82 83 84 85 86 87 96 97 98 Acordos Aprovados 1178 1135 969 786 769 885 1213 241 210 269 99 00 01 02 223 214 269 200 Fonte: Fornecimento de Tecnologia (FT) – INPI (2004), Número de Certificados de Averbação por Categoria Contratual, Disponível em: http://www.inpi.gov.br (12/04/04). Já a importância atribuída pelas empresas à aquisição de máquinas e equipamentos atualizados aponta para a importância de iniciativas governamentais voltadas para a redução 8 do custo de aquisição destes bens. O substancial aumento, na década de 90, das relações importação/produção em setores industriais de alta intensidade tecnológica (tabela 4) revela o abandono da política de substituição de importações. O acentuado crescimento das importações de manufaturados demonstra também a falta de competitividade de alguns setores industriais protegidos nas décadas anteriores por esta mesma política de substituição de importações. E finalmente a baixa relação importação/PIB, comparada a outros países, demonstra a ainda pequena abertura do comércio brasileiro ao exterior (tabela 5). Tabela 4. Relação importação/produção em setores industriais selecionados (%) – Brasil Setor industrial 1967 1973 1980 2000 Equipamentos mecânicos 45,6 38,0 18,5 42,0 Equipamentos elétricos e de telecomunicação 13,2 22,5 15,2 58,6 Papel e produtos derivados 7,5 17,4 10,6 6,4 Produtos químicos 15,3 17,4 10,6 22,7 2001 57,7 50,0 4,5 18,6 Fontes: Dahlman e Frischtak (1993, p.425) para os anos de 1967, 1973 e 1980; FUNCEX (2004) para importação brasileira nos anos de 2000 e 2001 – Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior: Bases de Dados Funcex: Importação – Séries em Valor FOB, Setores, Disponível em: http://www.funcex.com.br/ (12/04/04); e IBGE (2004) para produção industrial brasileira nos anos de 2000 e 2001 (convertida de reais para dólares PPC paridade de poder de compra correntes: taxa PPC - 2000 = 0,880894427 e 2001 = 0,933908533) – Pesquisa Industrial Anual – Empresa; Brasil, Disponível em: http://www.ibge.gov.br (12/04/04). Tabela 5. Relação Importação/PIB e Importações de Manufaturados/Produção de Manufaturados (%) – Brasil Indicador Ano Indonésia Japão Coréia Sul México Turquia Brasil Importação de mercadorias/PIB 86 17,8 6,5 32,2 9,4 21,0 5,8 99 16,8 7,2 29,5 30,8 21,5 7,12 Importação de manufaturados/ 86 102,4 31,0 74,0 32,3 51,4 10,8 produção nacional de manufaturados 99 69,0 20,2 78,4 158,2 104,3 26,2 Importação de manufaturados/total 90 77,0 44,0 63,0 75,0 n.d. 56,0 de importação 99 69,0 58,0 64,0 86,0 n.d. 76,0 Fontes: Dahlman e Frischtak (1993, p.425) para o ano de 86; e World Bank Group (2001) para os anos de 90 e 99 – World Development Indicators 2001, Disponível em: http://www.worldbank.org./data/onlinedatabases/onlinedatabases.html (Disponível para compra, com acesso restrito, 12/04/04). Infraestrutura Externa de Suporte A Infraestrutura Externa é composta por um conjunto de serviços que dão a necessária coesão às ações de inovação. De acordo com Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), entre estes serviços destacam-se a informação para CT&I e a capacitação no uso de propriedade intelectual, ambos dependentes da existência de infraestrutura de comunicação e de clara política de acesso à mesma. No primeiro caso, verificamos que o Brasil já possui inúmeras instituições – como: MCT; INEP/MEC; INPI; CAPES; CNPq; IBICT (Instituto Brasileiro de Informação Científica e Tecnológica); ANPEI (Assoc. Nac. de Pesquisas e Desenvolvimento das Empresas Industriais); SEBRAE (Serviço Bras. de Apoio às Micro e Pequenas Empresas); CNI (Confederação Nac. das Indústrias) e muitas outras – gerando e coletando informações, mas ainda de forma não coordenada e também pouco difundida/acessível aos seus possíveis usuários. Em relação ao segundo caso, a capacitação no uso da propriedade intelectual, constatamos, com base em Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), que houve crescimento e diversificação da legislação brasileira nos últimos anos. O país passou também a adotar as Classificações Internacionais relacionadas a Marcas, Patentes e Propriedade Industrial, em decorrência da sua participação mais ativa em acordos e tratados internacionais. Entretanto, apesar dos avanços neste tema, ainda há vários aspectos a serem aprimorados visando maior agilidade e adequação à nossa atual realidade, entre eles: o uso de instrumentos de propriedade industrial por parte de universidades e organizações públicas de pesquisa – muito pouco difundido no Brasil; e a averbação dos contratos de transferência de tecnologia – que, por disposições legais, ainda precisam ser aprovados e registrados pelo INPI e podem assim estar discriminando empresas brasileiras em relação às subsidiárias de empresas 9 multinacionais. Isto porque tais averbações envolvem burocracia em excesso e fazem com que as empresas nacionais tenham acesso apenas às tecnologias já obsoletas em seus países de origem. Dispêndios em C&T Por último, neste item de Infraestrutura de Apoio a C&T temos ainda os Dispêndios em C&T, que já se misturam com o nosso segundo eixo de análise. Uma das limitações do sistema de C&T brasileiro sempre foi a baixa contribuição do setor privado para o esforço de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no país, conseqüência do modelo de desenvolvimento industrial adotado no passado e da reduzida cultura empreendedora que caracteriza nossa economia. Da tabela 6 a seguir, constata-se claramente a evolução da participação do setor privado e verifica-se que o percentual das despesas brasileiras com P&D em relação ao PIB vem apresentando uma tendência de crescimento nas últimas décadas, mas ainda insuficiente, seja do ponto de vista das necessidades do País ou do peso e relevância do setor privado na economia brasileira. Tabela 6. Despesas com P&D – Brasil Ano PIB Despesa pública 1981 U$ 254 bi U$ 966 mi 1985 U$ 282 bi U$ 1.242 mi 1988 U$ 323 bi U$ 1.468 mi 1999 R$ 966 bi R$ 5,2 bi 2000 R$ 1.101,2 bi* R$ 6,41 bi DP/PIB (%) 0,38 0,44 0,46 0,55 0,58 Despesa empresarial U$ 254 mi U$ 339 mi U$ 383 mi R$ 3,2 bi R$ 4,56 bi DE/PIB (%) 0,10 0,12 0,12 0,33 0,42 Despesa total DT/PIB (%) U$ 1.220 mi 0,48 U$ 1.581 mi 0,56 U$ 1.851 mi 0,58 R$ 8,4 bi 0,87 R$ 10,97 bi 1,00 *Preços correntes. Fontes: Dahlman e Frischtak (1993, p.438) para PIB, Despesa pública e DP/PIB nos anos de 1981, 1985 e 1988; Adaptação do Livro Verde, cap. 1 (Gonçalves da Silva & Pinto de Melo, 2001) para 1999; e MCT (2004) para 2000 – Indicadores de Ciência e Tecnologia Recursos Aplicados em C&T, Disponível em:http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/portugues/2_Recursos_Aplicados/ tabelas/tab2_5_2.htm/ Indicadores Gerais: PIB, Disponível em: http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/portugues/2_Recursos_Aplicados/ tabelas/tab_0novos.htm (12/04/04). Esta tendência se acentua a partir dos anos 90 e, conforme destacam Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), já em 1999 colocava o Brasil em um patamar (0,87%) próximo de países como Espanha (0,90%, em 1999), Portugal (0,73%, em 1998) e Hungria (0,68%, em 1998); mas ainda distante de outros como Japão (3,1%, em 1998), Finlândia (2,9%, em 1998), Estados Unidos (2,7%, em 1998) e Coréia do Sul (2,5%, em 1998). Ainda de acordo com os autores, esta relação torna-se ainda maior (1,35% do PIB) se considerado o montante total de recursos correspondente aos esforços nacionais de C&T, e não apenas os direcionados a P&D. Apesar da tendência de crescimento global da década de 90 em relação às anteriores, Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001) destacam que a trajetória dos gastos públicos com C&T no Brasil ainda tem sido marcada por forte instabilidade. Isto se deveria ao fato de que os gastos com C&T não ficaram imunes às dificuldades financeiras e fiscais enfrentadas pelo Estado. Entretanto, as previsões apontam para uma recuperação a partir de 2001 que seria decorrente da entrada em vigor dos Fundos Setoriais. Esta nova fonte de recursos (tabela 7) permite projetar uma trajetória ascendente para os próximos anos, a partir da qual espera-se que os gastos públicos federais em C&T atinjam um novo patamar e deixem de apresentar a instabilidade que os caracterizou no passado. Tabela 7. Fundos Setoriais: Valores Orçamentários – 2001, 2002 e 2003 (em R$ 1,00) Fundo Lei Orçamentária 2001 Lei Orçamentária 2002* Lei Orçamentária 2003* Energia Elétrica 80.000.000 71.406.835 186.728.800 Espacial 5.400.000 5.400.000 0 Informática 44.000.000 39.960.000 39.120.000 Infra-estrutura 138.591.686 159.725.441 300.695.929 Mineral 2.685.537 3.220.800 5.537.600 Petróleo 151.120.500 193.866.201 179.850.413 10 Recursos Hídricos Transportes Verde e Amarelo Agronegócio Biotecnologia Aeronáutico Saúde Telecomunicações** Total 26.855.366 8.000.000 192.000.000 ----------648.653.089 28.325.232 7.922.694 191.999.640 50.540.000 21.660.000 21.660.000 50.540.000 n.d. 846.226.843 34.816.000 2.370.248 261.950.400 85.137.600 36.487.200 36.487.200 85.137.600 n.d. 1.254.318.990 * + Crédito. ** Sob responsabilidade do Min. das Comunicações. Fonte: MCT (2004) – Fontes de Financiamento, Recursos Financeiros dos Fundos Setoriais. Disponível em: http://www.mct.gov.br/Fontes/Fundos/Recursos/Orcamento/Orcamento_2003.htm (12/04/04). Um outro aspecto destacado por Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001) é que, além do MCT, vários outros órgãos governamentais desenvolvem atividades de C&T, com destaque para os Ministérios da Educação e da Agricultura (sobretudo por meio da Embrapa). A longa lista das instituições e ações vinculadas a outros Ministérios reflete a horizontalidade das atividades de C&T ainda existente na administração pública brasileira e ressalta a complexidade da coordenação das ações do sistema. 4.2. Indicadores de C&T Sistema Industrial Em termos de parcerias em C&T, verifica-se ainda um grande distanciamento entre as empresas e as universidades e centros de pesquisa, especialmente as de pequeno porte. Estas empresas preferem eleger como parceiros importantes para seu desenvolvimento tecnológico as instituições e os serviços de apoio à indústria tais como SENAI, Federação de Indústrias, SEBRAE, etc. (tabela 8). Isso aponta para a importância do papel dessas instituições nas estratégias de desenvolvimento tecnológico do setor industrial. Esse ponto, portanto, deve ser devidamente considerado no desenho das novas políticas públicas, juntamente com a necessidade de criação de mecanismos para aproximar as universidades e institutos de pesquisa das pequenas empresas. Tabela 8. Instituições Importantes para o Desenvolvimento Tecnológico – Brasil Categoria % Categoria Outros 1,7 Revistas Conselhos Profissionais 0,4 Cooperativas Empresas 1,0 Consultorias Fundações de Amparo à Pesquisa 1,2 Escolas Técnicas Bancos/Instituições financiamento 3,0 Governo Centros tecnológicos 16,2 Universidades CNI/SENAI/IEL/Federações e Associações de Classe/SESC/SENAC/SEBRAE/Sindicatos patronais/Instituições prestadoras de serviços industriais TOTAL % 0,3 0,9 1,2 2,1 3,8 20,1 48,1 100,0 Fonte: Pesquisa CNI/FINEP (2002) – Confederação Nacional da Indústria. Pesquisa A Indústria e a Questão Tecnológica. Brasília: 2002, CNI/FINEP, 79 p. Disponível em: http://www.cni.org.br/f-ps.htm (12/04/04). No que concerne à produção tecnológica, apesar da baixa taxa de crescimento da produção nacional de manufaturados nos anos 80 (2,2) e 90 (2,1), resta o consolo de que entre estas duas décadas, foram registrados, via de regra, decréscimos substanciais desta taxa de crescimento em países desenvolvidos e em desenvolvimento (tabela 9). Com relação à prática de P&D no ambiente empresarial, dados do IBGE (2004) referentes a Pesquisa Industrial sobre Inovação Tecnológica indicam que 31,5% (22.698) das empresas industriais extrativas e de transformação com 10 ou mais pessoas ocupadas (72.005) implementaram inovações durante o período de 1998 a 2000, assim decompostas: 6,3% implementaram somente inovações de produto, 13,9% inovações de processo e 11,3% de 11 produto e processo. As taxas de inovação são ainda diferenciadas entre as diversas atividades representadas pela pesquisa, sendo que as mais elevadas são verificadas em atividades caracterizadas pelo rápido avanço nos conhecimentos técnico-científicos incorporados (tabela 10). Por outro lado, se comparadas com as taxas de inovação apresentadas pelas indústrias em 1988 (Dahlman e Frischtak, 1993)6, constata-se um aumento expressivo na média total das indústrias (31,5 em 2000; e 9,5 em 1988) e em todas as atividades verificadas – Extração de Aço e outros metais: 4,6; Produtos químicos, petroquímicos, fertilizantes, farmacêuticos e química fina: 16,6; Papel/celulose – 6,9; Extração de Minerais não-metálicos – 5,2; Veículos – 24,3; Autopeças – 8,6; Bens de capital, Metalurgia – 13,8; Têxteis, roupas, sapatos, couro, produtos de madeira – 1,6; Equipamentos eletrônicos – 34,9; e Alimentos e Bebidas – 3,4. Tabela 9. Indicadores Econômicos Selecionados PIB per capita Crescimento (PPP) anual do PIB US$ milhões PIB PPP 65/ 80/ 90/ (99)* (99)* 88 99PPP 80 88 99 Brasil 730 1.148 2.241 6.840 8,8 2,9 3,0 Indonésia 125 550 476 2.640 8,0 5,1 4,7 Coréia do 398 728 4.079 15.529 9,6 9,9 5,7 Sul México 429 780 2.111 8.072 6.5 0,5 2,7 Japão 4.054 3.186 23.195 25.172 6,5 3,9 1,3 Crescimento anual da produção de manufaturados 65/ 80/ 90/ 80 88 99 9,8 2,2 2,1 12,0 13,1 7,6 18,7 13,5 7,1 7,4 8,2 0,2 6,7 Crescimento Export.de anual das export. manuf./ de manufaturados PIB (%) 65/ 80/ 96/ 80 88 01 87 99 22,1 6,2 4,4 11,8 3,6 13,3 35,4 n.d. 44,8 20,7 31,2 14,7 n.d. 103, 33,2 1 4,0 9,4 21,1 n.d. 27,1 8,1 1,2 11,9 5,3 n.d. 32,4 7,2 * US$ bilhões. Fontes: Adaptado de Dahlman e Frischtak (1993, p.415) para os anos de 65 a 88; SECEX (2004) para crescimento anual das exportações de manufaturados no período 96 a 01 – Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Com. Exterior, Balança Comercial Brasileira por Unidades da Federação, Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/ depPlaDesComExterior/indEstatisticas/balCom_uniFederacao.php (12/04/04); e World Bank Group (2001) para demais números e anos – World Development Indicators 2001, Disponível em: http://www.worldbank.org./data/onlinedatabases/onlinedatabases.html (Disponível para compra, com acesso restrito, 12/04/04). Tabela 10. Taxa de inovação (T.I.), segundo atividades das indústrias extrativas e de transformação -1998/2000 Atividades T.I. Atividades T.I. 19,7 17,2 Produtos siderúrgicos Indústrias extrativas 36,2 31,9 Metalurgia de não-ferrosos e fundição Indústrias de transformação 29,5 Produtos de metal Produtos alimentícios e bebidas 32,8 34,8 Máquinas a equipamentos Produtos do fumo 44,4 31,9 Máq. p/ escritório e equip. de informática Produtos têxteis 68,5 26,2 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos Artigos do vestuário e acessórios 48,2 33,6 Material Artefatos de couro e calçados Eletrônico e aparelhos/ 14,3 equipamentos de comunicações Produtos de madeira 62,5 24,8 Material eletrônico básico Papel/celulose e produtos de papel 62,9 51,8 Aparelhos e equipamentos de comunicação Celulose e outras pastas 62,1 24,4 Equip. médico-hospitalares, instr. de Papel, embalagens e artefatos de papel 33,1 precisão/ópticos, equip. p/ automação Edição, impressão e reprodução de gravações 31,9 industrial, cronômetros e relógios Coque, álcool e combustíveis nucleares 59,1 39,4 Veículos automotores, reboques/ carrocerias Refino de petróleo 36,4 46,1 Peças e acessórios para veículos Produtos químicos 46,2 46,8 Outros equipamentos de transporte Produtos farmacêuticos 43,7 39,7 Móveis p/ industrias diversas Artigos de borracha e plástico 34,4 21,0 Artigos do mobiliário Produtos minerais não-metálicos 36,2 31,4 Reciclagem Metalúrgica básica 13,1 TOTAL (média das indústrias) 31,5 Fonte: Adaptado de IBGE (2004) – Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica 2000, Disponível em: http://www.ibge.gov.br (12/04/04). Em relação à produção científica, enigmática é a aversão brasileira às atividades de patenteamento, seja na sua dimensão de proteção à propriedade intelectual ou na utilização de patentes como fonte de informação em P&D (tabela 11). Fatores culturais podem estar intervindo no fenômeno que parece manter uma certa relação com o alto grau de pirataria que 12 permeia nosso ambiente comercial. Resta a esperança de que os esforços crescentes em P&D por parte das empresas, bem como a assinatura recente pelo governo brasileiro de tratados internacionais de proteção à propriedade intelectual, sejam traduzidos em um maior número de registros de patentes ainda na 1a década do século XXI. Tabela 11. Concessões de Patentes e de Desenho Industrial pelo INPI – 1995-2002 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Privilégio de Invenção 2.658 1.487 1.615 2.800 3.185 6.017 Modelo de Utilidade 512 207 232 397 324 426 Certificado de Adição ----------1 Desenho Industrial 899 906 1.309 2.728 4.676 2.815 TOTAL 4.069 2.600 3.156 5.925 8.185 9.259 2001 3.265 325 3 3.983 7.576 2002 4.378 358 3 4.125 8.864 Fonte: INPI (2004) – Estatísticas de Patentes: Concessões de Patentes e de Desenho Industrial, Disponível em: http://www.inpi.gov.br (12/04/04). No que toca às exportações de manufaturados, similarmente ao que ocorreu na maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a sua participação no PIB decresceu de forma acentuada no Brasil entre 1987 e 1999 (vide tabela 9). Estes números ruins colocam em questão a afirmativa de que o processo de globalização da economia mundial estaria aumentando os fluxos de comércio entre as nações, de uma forma geral. Sistema Educacional para C&T Na análise do sistema de educação para C&T, buscamos avaliar a capacitação brasileira voltada especificamente para as atividades de pesquisa e desenvolvimento científicos e, por isto, nos concentramos nos níveis superiores de ensino. A partir dos dados levantados, pudemos verificar que o crescimento do ensino superior brasileiro na década de 90 foi inegável e concentrou-se nas instituições privadas devido à política governamental de não criar novas instituições públicas (tabela 12). Tabela 12. Indicadores gerais de evolução do ensino superior – Brasil, 1980-1999 População de 15 a 24 anos (%) % Pop. N° de % Ocupação 15/24 anos/ Inscritos no Grau de inscritos das vagas Grau de Grau de Ano pop. total oferecidas vestibular Acesso Cobertura Conclusão p/ vagas 1980 21,1 7,2 1,4 5,5 0,9 4,5 88,1 1991 19,5 6,9 1,5 5,5 0,8 3,8 82,6 1996 20,0 8,5 1,6 5,7 0,8 4,4 83,6 1998 19,5 9,3 2,1 6,9 1,0 3,9 82,1 1999 19,6 10,7 2,4 7,6 --3,7 83,9 % Concluintes/ Ingressantes 63,3 55,3 49,8 47,7 --- Fonte: UNB (2004) – Universidade de Brasília – Relatório Parcial de Gestão – 1997-2000, Panorama do Ensino Superior Brasileiro, Disponível em: http://www.spl.unb.br/spl/gestao/parcial_1997_2000/cap_02.pdf (12/04/04). Outro ponto importante identificado foi a necessidade de se eliminar a hierarquia entre as ciências, decorrente do paradigma mecanicista predominante nas culturas ocidentais desde o séc. XVIII (Krieger e Galembeck, 1994). Isto porque a interface e o impacto mútuo entre as diversas ciências têm aumentado muito nas últimas décadas, levando-nos à conclusão de que é inútil concentrar a educação em especialidades. A educação para C&T deve privilegiar as habilidades mais genéricas e de multiuso, sejam elas manuais ou intelectuais. Assim, a transformação das atuais estruturas curriculares dos cursos de graduação (formação de pessoal visando à reprodução/utilização do conhecimento, e não à participação no seu processo de criação) é uma das ações urgentes para o aprimoramento do ensino, adequando-o às novas realidades e necessidades decorrentes das transformações em curso na C&T. Com relação ao sistema brasileiro de pós-graduação, verificamos que o quadro nos anos 90 foi de expansão, sob todos os aspectos: número de cursos, alunos, bolsas e produção científica (tabelas 13, 14 e 15). 13 Tabela 13. Alunos Matriculados em Cursos de Pós-Graduação – Brasil, 1987-1999 Estudantes 1987 1990 1993 1996 Estudantes de Mestrado 30.337 36.502 38.265 44.925 Bolsas (CNPq + Capes) 12.241 17.592 20.484 20.898 % de Estudantes com Bolsa 40 48 53 46 Estudantes de Doutorado 8.309 10.923 15.569 22.004 Bolsas (CNPq + Capes) 3.076 5.076 8.575 11.618 % de Estudantes com Bolsa 47 46 55 51 1999 57.031 17.621 31 29.985 12.881 43 Fonte: Livro Verde, cap. 2 (Gonçalves da Silva & Pinto de Melo, 2001). Tabela 14. N° de Instituições, Cursos, Grupos de Pesquisa, Pesquisadores e Doutores – Brasil, 1993-2002 1993 1995 1997 2000 2002 Instituições 99 158 181 224 268 Cursos Mestrado 1.039 1.159 1.249 1.490 1.683 Cursos Doutorado 524 616 658 821 917 Grupos de Pesquisa 4.404 7.271 8.632 11.760 15.158 Pesquisadores (P) 21.541 26.799 34.040 48.781 58.891 Doutores (D) 10.994 14.308 18.724 27.662 34.349 (D)/(P) em % 51,04 53,39 55,01 56,71 60,38 Fonte: MCT (2004) – Indicadores de Ciência e Tecnologia, Recursos Humanos: Indicadores sobre Pesquisadores, Disponível em: http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/portugues/3_Recursos_Humanos/tabelas/tab3_5_1.htm; e Indicadores de Ciência e Tecnologia, Recursos Humanos: Indicadores sobre o Ensino de Pós-Graduação, Disponível em: http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/ portugues/3_Recursos_Humanos/tabelas/tab3_4_2.htm (12/04/04). Tabela 15. Número de artigos publicados em periódicos científicos internacionais indexados – 1981/2002 Ano Brasil América Mundo % Brasil em % Brasil em Latina (A.L.) relação à A.L. relação ao Mundo 1981 1.889 5.672 429.463 33,30 0,44 1985 2.313 6.915 480.973 33,45 0,48 1990 3.555 9.622 554.229 36,95 0,64 1995 5.508 14.499 665.590 37,99 0,83 2000 9.511 22.589 714.171 42,10 1,33 2001 10.557 24.516 734.751 43,06 1,44 2002 11.285 25.743 730.229 43,84 1,55 Fonte: Adaptado de MCT (2004) – Indicadores de Ciência e Tecnologia, Produção http://www.mct.gov.br/estat/ascavpp/portugues/6_Producao_Cientifica/tabelas/tab6_1_1.htm (12/04/04). Científica. Disponível em: Por outro lado, segundo Gonçalves da Silva & Pinto de Melo (2001), o número de pesquisadores ainda é baixíssimo, apenas cerca de três milhões de brasileiros, ou seja, menos de 2% da população total do país – 169.369.5577. Ainda de acordo com os autores, a participação de cientistas e engenheiros no total da população ocupada é ainda mais limitada – se incluídos os profissionais de informática, representavam apenas 0,7% dos empregos formais, ao passo que nos países mais industrializados da OECD esta participação variava, em 1998, entre 5% e 12% do emprego total. A explicação para esta distância estaria principalmente no fato de que, no Brasil, o número de empregos destes profissionais em empresas é muito menor demonstrando a reduzida atividade de P&D e de engenharia realizada no setor privado. Assim, percebe-se que a participação destes profissionais é mínima e precisa, portanto, elevar-se significativamente nos próximos anos para que o país possa acompanhar os acelerados avanços do conhecimento científico no cenário mundial. 5. Considerações Finais Ao final de nossa análise, foi possível constatar que os principais problemas detectados por Dahlman e Frischtak (1993) em seu estudo sobre o Sistema de Inovação Brasileiro até o início da década de 90 – entre os quais se destacavam: a pequena participação das instituições privadas, em especial das empresas, no investimento realizado em C,T&I; a fragmentação e a pouca coordenação das atividades relacionadas a esta área; as restrições 14 regulatórias e políticas para a importação de tecnologias estrangeiras; a excessiva centralização das ações governamentais na esfera federal; o fraco suporte institucional do governo às empresas; e ainda um sistema educacional ineficiente – ainda continuam presentes, em maior ou menor intensidade, uma década depois. Apesar de o país passar a valorizar e se preocupar cada vez mais com os temas Ciência, Tecnologia e Inovação, especialmente a partir do início dos anos 90, ainda não se consegue tratar tais temas como aspectos fundamentais das estratégias de desenvolvimento adotadas a nível nacional. E, como o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT, 2002) admite, as conseqüências negativas desta postura já podem ser sentidas no presente e, muito provavelmente, serão sentidas de forma ainda mais profunda no futuro caso não sejam adotadas novas medidas efetivas nesta primeira década do século XXI. Por outro lado, é inegável que progredimos significativamente em cada um dos itens analisados. Além disto, o MCT (2002) ressalta que vivemos um momento favorável no Brasil para avançar na área de C&T porque o país reúne atualmente condições básicas excepcionais, alcançadas ao longo das últimas décadas. A principal delas seria que o Governo demonstra vontade política crescente neste sentido e a sociedade, por meio de suas instituições diversas, tem respondido favoravelmente às ações iniciadas especialmente nesta última década. Por último, o Governo vem claramente buscando tornar o debate em C,T&I mais democrático, dirigindo-se e solicitando a participação direta não apenas da comunidade acadêmica e do setor produtivo, mas de toda a sociedade. Isto porque as diretrizes e sugestões que vem sendo debatidas nos últimos anos certamente terão, em seu conjunto, vastas repercussões na vida de cada cidadão brasileiro. Entre as amplas consultas e conseqüentes debates realizados recentemente, podemos destacar o Livro Verde – que se transformou ao final no Livro Branco – e as propostas dos Fundos Setoriais e da Lei da Inovação, todas resultantes de propostas surgidas durante os diversos Simpósios da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em setembro de 2001. Os seis Simpósios temáticos – Avanço do Conhecimento, Qualidade de Vida, Desenvolvimento Econômico, Desafios Institucionais, Desafios Estratégicos e Tópicos Especiais – reuniram mais de 120 expositores, em 30 mesas redondas que, segundo o Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE, 2002), não apenas retomaram e debateram criticamente o Livro Verde, mas trouxeram novas perspectivas e ampliaram os temas em discussão. Os debates envolveram personalidades dos meios acadêmico e empresarial, administradores públicos, parlamentares, jornalistas e representantes do Terceiro Setor. As propostas contaram também com participação da população em geral, que pôde expressar suas opiniões e sugestões através de seus representantes políticos eleitos para o Congresso Nacional, e também diretamente através das consultas públicas inseridas no site do MCT e dos veículos de comunicação de massa. Além disto, outras formas de dar voz à opinião pública têm sido possibilitadas, favorecendo o exercício da cidadania através de programas como o governo eletrônico, a Sociedade da Informação, a votação eletrônica e as declarações de imposto de renda via Internet. Segundo o MCT (2002), todas estas são condições indispensáveis ao êxito das propostas lançadas no Livro Branco, cuja publicação, em junho de 2002, teria representado o resultado do esforço que tem sido feito pelo país na busca pela convergência entre o Estado e a sociedade, visando imprimir um caráter mais estratégico e democrático à política nacional de C&T. Para o Ministério, ele seria o ponto culminante de uma trajetória de reforma do Sistema Nacional de C&T que ainda não teria se completado, mas que teria finalmente um rumo traçado nas linhas gerais de uma política de longo prazo – próximos dez anos (20022012). Sua proposta era servir como um instrumento de apoio à formulação de políticas do Governo Federal e como um guia de ações para as diversas instituições que compõem o nosso Sistema Nacional de C&T. 15 Assim, verificamos que a atual Política Nacional de C,T&I está alicerçada em seis objetivos maiores, a serem alcançados até 2012, que são: 1) Criar um ambiente favorável à inovação no País; 2) Ampliar a capacidade de inovação e expandir a base científica e tecnológica nacional; 3) Consolidar, aperfeiçoar e modernizar o aparato institucional de C,T&I; 4) Integrar todas as regiões ao esforço nacional de capacitação para C,T&I; 5) Desenvolver uma base ampla de apoio e envolvimento da sociedade na Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; e 6) Transformar CT&I em elemento estratégico da política de desenvolvimento nacional. Conforme o MCT (2002) destaca, por todas estas ações, em matéria de Ciência e Tecnologia, o Brasil já é internacionalmente considerado país proficiente. Estudo recente do Banco Mundial posiciona o Brasil junto a países como China e Índia, em um nível intermediário entre as nações avançadas e os demais países em desenvolvimento – grupo integrado por cerca de 140 países, dos quais 120 são literalmente tecno-excluídos, enquanto que os demais 20 países, entre os quais se encontra o Brasil, já estão a caminho da almejada proficiência científica. Para o Ministério, a proficiência brasileira no campo científico seria fruto dos permanentes esforços da sociedade na formação de pessoal qualificado – em que se destaca um amplo e bem qualificado sistema de pós-graduação – e na constituição de importante infra-estrutura científica, tecnológica e educacional. Seria, portanto, legítimo o propósito que orienta o governo brasileiro de alcançar em prazo razoável a categoria dos países avançados. Entretanto, embora sejam inquestionáveis os resultados dos esforços brasileiros, há ainda muito a avançar, sobretudo para melhor aparelhar toda a infra-estrutura (interna e externa) disponível, expandi-la e melhor utilizá-la em benefício de toda a população. A dimensão do desafio lançado para o futuro foi ilustrada de maneira emblemática no Livro Branco, onde é destacado de forma clara que a ampliação e consolidação, em bases sustentadas, de um aparato institucional de C,T&I exige inicialmente que o País atinja patamares de investimentos em P&D mais próximos aos praticados pelos países desenvolvidos – cerca de 2%do PIB, como França, Holanda e Bélgica. Para que este patamar seja alcançado nos próximos dez anos, considerando-se um horizonte de crescimento médio do PIB da ordem de 4% ao ano, assim como a ampliação da participação das empresas para o menor patamar hoje vigente nos países desenvolvidos, os investimentos em P&D devem crescer à taxa média anual de quase 12%. Isto significa que, de um lado, o setor público – federal e estadual – necessitará elevar os investimentos à taxa média anual de cerca de 7%; e de outro lado, será necessário ao setor privado incrementar seus investimentos na ordem de 15%, aproximando-se do padrão dos países da OECD. Assim, verificamos que se trata de um esforço de considerável magnitude para ambos os setores, só compatível com uma política ativa de apoio às atividades de pesquisa e de forte estímulo ao setor privado. Porém, na opinião do MCT (2002), tal esforço é totalmente factível, tendo em vista não apenas o crescimento dos investimentos alcançado nos últimos três anos, mas também o salto inicial que será possível já em 2003 em função da nova Lei de Diretrizes Orçamentárias, que passa a proteger a função de C&T de qualquer possível contingenciamento. 6. Referências Bibliográficas CGEE (2002). Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Revista Parcerias Estratégicas. Edição Especial, Vol.2 – Simpósios, Junho 2002. Disponível em: http://www.cgee.org.br/parcerias/p14.htm (Acesso em 12/04/04). COELHO, Maria Inês.M. (2000). Rede de Trabalho Cooperativo. Seminário Virtual: Gestão de C&T. Política de Ciência e Tecnologia no Brasil. Disponível em: http://netpage.em.com.br/mines/artigos.htm. (Acesso em: 12/04/04). 16 DAHLMAN, Carl J. & FRISCHTAK, Cláudio R. National Systems Supporting Technical Advance in Industry: The Brazilian Experience. Cap. 13 In: National Innovation Systems: A Comparative Analysis. NELSON, R.R.. Coordination. Oxford University Press; New York, Oxford; 1993. FORPESQ. Fórum Nacional das Fundações, Fundos e Entidades de Amparo à Pesquisa. Plano Nacional de Fortalecimento das FAP’s. Dezembro, 1999. Disponível em: http://www.facepe.pe.gov.br/forpesq/PNFAP.doc (Acesso em: 12/04/04). GONÇALVES DA SILVA, Cylon & PINTO DE MELO, Lúcia Carvalho (Coordenação). Ciência, Tecnologia e Inovação: Desafio para a Sociedade Brasileira – Livro Verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia/Academia Brasileira de Ciências. 2001. GUIMARÃES DE CASTRO, M.H. (1999). Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Educação para o Século XXI: O Desafio da Qualidade e da Eqüidade. Disponível em: htttp://www.inep.gov.br/download/cibec/1999/titulos_avulsos/ miolo_S%E9culo_XXI.pdf (Acesso em 12/04/04). IBGE (2004). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica 2000, Disponível em: http://www.ibge.gov.br (12/04/04). KRIEGER, Eduardo M. e GALEMBECK, Fernando. C&T no Brasil: Uma nova Política para um Mundo Global – Capacitação para as Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, 1994. LUNDVALL, B.A. National Systems of Innovation – Toward a Theory of Innovation and Interactive Learning. A. Cassel Imprint; London, England; 1992. MCT (2002). Min. da Ciência e Tecnologia. 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Disponível em: http://www1.oecd.org/publications/e-book/ 9202081E.PDF (12/04/04). 3 Recommendation concerning the international standardization of statistics on science and technology. Paris: 20, 1978. Disponível em: http://portal.unesco.org/en/ev.php @URL_ID=13135&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html (12/04/04). 4 Fonte: MCT – Min. da Ciência e Tecnologia. Indicadores de Ciência e Tecnologia, Recursos Humanos: Indicadores Gerais de Escolaridade. Disponível em: http://www.mct.gov.br/estat/ ascavpp/portugues/3_Recursos_Humanos/tabelas/tab3_1_1.htm (12/04/04). 5 Fontes: Adaptado de Dahlman e Frischtak (1993, p.432) para os dados de 1987; e IBGE (2004) para importação de bens de capital e formação bruta de capital fixo (máquinas e equipamentos) no Brasil em 2002 – Contas Nacionais/Sistema de Contas Nacionais/20002002: Sinóticas.zip – Tabela 10, Disponível em: http://www2.ibge.gov.br/ pub/Contas_Nacionais/Sistema_de_Contas_Nacionais/2000_2002/ (12/04/04). 6 Fonte: Adaptado de Dahlman e Frischtak (1993, p.427). 7 Fonte: IBGE (2001). População Residente: Brasil – PNAD/2001. 1