18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia
NOTAS SOBRE O TERRITÓRIO HÍBRIDO DA ARTE NO
CONTEMPORÂNEO
Valzeli Sampaio (FAV-UFPA)
Adriele Silva(PIBIC-CNPq)
Amanda Oliveira (PIBIC-CNPq)
RESUMO: As práticas artísticas contemporâneas vêm rompendo as fronteiras
históricas de movimentos e da compreensão da história da arte como uma linha
evolutiva. O ambiente atual revela a simultaneidade de tempos-espaços, no qual as
imagens tecnológicas instituem uma nova revolução, altera a imagem da história da
arte. O que dizer quando as práticas artísticas passam a incorporar a rotina, o
cotidiano, a vida como arte?O que ocorre com a noção de identidade quando estamos
imersos nesses processos incessantes e variados de hibridação? Quais as relações
de sentido que se reconstroem na mistura? O que é arte neste contexto? Quais as
transformações do que é a arte na intersecção do que fazem os artistas, os críticos, os
curadores, os professores, os historiadores, os museógrafos, os jornalistas?
PALAVRAS-CHAVE: arte contemporânea, arte independente, arte dependente,
critica, curadoria;
ABSCTRACT: Contemporary artistic practices are breaking the boundaries of historical
movements and about understanding of art history as an evolutionary line. The actual
environment is the simultaneity of times-space, in which the technological images up a
new revolution, change the image of art history. What to say when the artistic practices
now incorporate the routine, daily life, life as art? What happens to the notion of identity
when we are immersed in such incessant and varied processes of hybridization? What
are the relations of meaning that is rebuilding in the mix? What is art in this context?
What are the transformations about of what is art in the intersection of what the artists
makes, critics, the curators, teachers, the historians, the museums, the journalists?
KEY-WORDS: contemporary art, independent art, art dependent, critical, curator;
O século XX foi cenário de transmutações paradigmáticas em várias
áreas de conhecimento, na arte ocorreram deslocamentos conceituais desde o
seu início. No começo deste século a evolução aparentemente regular e
tranqüila no terreno das artes mostrou-se subitamente rompida. Isso refletia,
sem dúvida, uma alteração análoga na visão que o homem tinha do mundo em
sua integridade. Transformações sociais, políticas e econômicas ocorriam
paralelamente ao desenvolvimento filosófico e científico.
Nas artes, a tradição do passado era contestada de todos os lados.
Aquilo que se chamou genericamente de arte moderna, refletiu outras posturas
idênticas na sociedade, tornou-se uma ação libertadora explosiva no início do
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século. Na pintura essa tendência desencadeou-se com os impressionistas,
mas já por volta de 1910 adquirira tamanho furor que até mesmo os
impressionistas se viram em posição de retaguarda, não mais de vanguarda. A
relevância atribuída à noção de vanguarda era tão agigantado que à primeira
vista, esse parecia ser o único padrão de avaliação para a arte.
A experimentação passou a ser um método de trabalho. As artes, até
então, entendidas habitualmente em termos de amplas categorias de
classificações a posteriori, ou o que os historiadores da arte chamam de
“estilos”, agora se manifestavam em função de “movimentos” que pareciam
suceder-se uns aos outros com precipitação sempre crescente, até alcançarem
o ponto em que se tornavam tão fugazes, tão efêmeros, que ficavam
praticamente imperceptíveis.
Os conceitos e a apreensão de teorias e idéias que, com assiduidade,
precediam, condicionavam e predefiniam a natureza do objeto de arte
principiaram a emergir gradualmente como os principais elementos da
atividade artística. Quem examinar com atenção a arte dos dias atuais será
defrontado com uma desnorteadora abundância de estilos, formas, práticas e
programas. Parece que quanto mais olhamos, menos certeza se pode ter do
quanto àquilo que, afinal, permite que as obras sejam qualificadas como “arte”,
pelo menos de um ponto de vista tradicional.
A arte contemporânea, põe em cheque as delimitações sociais e
artísticas do modernismo, abrindo-se a experiências culturais totalmente
diversas. Nesse contexto, instalações, happenings e performances são
largamente realizados, apontando para outras orientações da arte, ou seja, as
tentativas de orientar a criação artística às coisas do mundo, à natureza e à
realidade. Cada vez mais as obras proferem diferentes modalidades de arte,
desafiando as nomenclaturas habituais e colocando em questão a própria
definição de arte.
As relações entre arte e vida cotidiana, assim como a rotura das
barreiras entre arte e não-arte constituem preocupações centrais para a
performance, e para grande manifestações da arte contemporâneas, por
exemplo arte ambiente, arte pública, arte processual, arte conceitual, land art,
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etc. Estas evidências nos permite flagrar a filiação às experiências realizadas
pelos surrealistas e sobretudo pelos dadaístas.
As práticas artísticas contemporâneas vêm rompendo as fronteiras
históricas de movimentos e da compreensão da história da arte como uma
linha evolutiva. O ambiente atual revela a simultaneidade de tempos-espaços,
no qual as imagens tecnológicas instituem uma nova confusão, altera a
imagem da história da arte.
“O fim da história da arte não significa que a arte e a ciência da arte tenham
alcançado o seu fim, mas registra o fato de que na arte, assim como no
pensamento da história da arte, delineia-se o fim de uma tradição que desde
a modernidade se tornava o cânone na forma que nos foi confiada. A tese
afirmava que o modelo de uma história da arte com lógica interna,que
descrevia a partir do estilo da época e de suas transformações, não funciona
mais: quanto mais se desintegrava a unidade interna de uma história da arte
autonomamente compreendida, tanto mais ela se dissolvia em todo campo da
cultura e da sociedade em que pudesse ser incluída.” (BELTING, 2006)
A complexidade destas práticas no contexto contemporâneo justifica e
exige a aproximação, num primeiro momento no sentido de levantamento e
mapeamento dessas práticas contemporâneas, para num segundo momento,
por intermédio desse material, aprofundar análise crítica sobre as questões que
envolvem as práticas artísticas no contemporâneo. Nos termos de Canclini,
“como saber quando uma disciplina ou um campo de conhecimento mudam? Uma
forma de responder é: quando alguns conceitos irrompem com força, deslocam outros
ou exigem reformulá-los.” (CANCLINI, 2006).
A arte transita hoje em “Territórios Híbridos”i termo que busca refletir o
que Canclini definiu: “entendo por hibridação processos socioculturais nos quais
estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para
gerar novas estruturas, objetos e práticas”. (CANCLINI, 2006) Para o autor a
hibridação surge da criatividade individual e coletiva, e não só nas artes, mas
também na vida cotidiana e no desenvolvimento tecnológico. O que dizer
quando as práticas artísticas passam incorporar a rotina, o cotidiano, a vida
como arte? O que ocorre com a noção de identidade quando estamos imersos
nesses processos incessantes e variados de hibridação? Quais as relações de
sentido que se reconstroem na mistura? O que é arte neste contexto? Quais as
transformações do que é a arte na intersecção do que fazem os artistas, os
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críticos, os curadores, os professores, os historiadores, os museógrafos, os
jornalistas ?
Relações de Independência na Produção Contemporânea de Arte
A postura política na Arte é algo comumente observado na produção
artística de diversas épocas da história. Estas as quais me refiro – a arte e a
política - não se limitam no conceito marxista de ‘sintomas de uma infraestrutura econômica básica’, mas encontram-se em uma estrutura sóciocultural bem mais complexa. Postura política aqui pode ser compreendida
como postura social, e esta é bem expressada através do ato artístico. Os
motivos patrióticos e a dura forma heróica do neoclassicismo de David, por
exemplo, foram tanto causa quanto efeito da Revolução Francesa, da qual ele
próprio foi um dos líderes decisivos. Vale a pena notar que o poderoso impacto
das idéias – inclusive das obras de arte - sobre a condição político-econômica
de um estado foram bem utilizados como forma de dominação principalmente
pelos líderes dos Estados Totalitários.
A produção artística é uma postura política. Mesmo artistas que se
abstêm de expressar qualquer postura crítica em suas obras nos apresenta
uma postura política; a da ignorância. Ignorância no sentido de conhecer os
problemas sociais, compreender o poder político da arte e mesmo assim
limitar-se a já exaurida expressão sensível.
A obra de arte é um discurso direto entre o artista e o fruidor. Neste
discurso, o artista defende sua verdade de forma convincente para torná-la
mais abrangente, embora o mercado tenha distorcido esta característica da
arte para torná-la uma mera mercadoria. Sobre isso, encontramos comumente
artistas que, aceitando a nova condição de mercadoria da arte como verdade,
começaram a produzir trabalhos de cunho estéticos com o único fim de gerar
renda. Estes produzem dinheiro. Poderíamos entrar em uma discussão agora
sobre se o ato de criar dinheiro intencionalmente pelo mercado de arte já
poderia ser compreendido como um jogo artístico, mas esta questão nos
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oferece terreno para uma nova pesquisa, portanto voltaremos ao assunto
discutido.
“Em sua opinião, que é um artista? Um imbecil que tem apenas os olhos
quando é pintor, ou ouvidos quando é músico, ou uma lira em todos os níveis
de seu coração se é poeta (...) ? Pelo contrário, ele é ao mesmo tempo um
ser político, constantemente vivo para os acontecimentos comoventes,
violentos ou felizes, aos quais reage de todas as formas. (...) Não, a pintura
não é para decorar apartamento. É um instrumento de guerra para ataque e
defesa contra o inimigo.” (PICASSO, 1945) (apud, CHIPP, 1988)
Diante diversas situações exploratórias da produção artística – o
mercado, a utilização política etc. – alimentou-se um furor de revolta nos
artistas contemporâneos: como reviver os valores fundamentais artísticos
diante tanta distorção do conceito Arte?
Tais questões surgem na verdade com os modernistas e seus
manifestos sobre uma tentativa de libertação da arte. Dadaístas, surrealistas,
cubistas etc. nos introduziram tais idéias, mas agora, nos parece mais evidente
– ou necessária - esta nova forma de produção.
Um conceito para esta forma de liberdade é criado através da área
musical da arte, onde os músicos, até então escravos dos empresários e
produtores, encontraram uma nova maneira de produzir seus trabalhos; o selo
independente. Este formato de produção que independe do sistema tradicional
da música inspirou nossos produtores a denominar suas produções paralelas
ao sistema de arte da mesma forma.
Mas falar de independência na produção artística absoluta é algo
utópico, pois, compreendendo que, para a produção artística existir é
necessário uma problemática de estopim para que o produto seja pensado e
elaborado. A própria produção artística que age independente do sistema de
arte só existe porque existe o sistema de arte, criando assim uma condição
para sua existência e tornando-a assim, por certo aspecto, dependente.
A fim de estudar e caracterizar esta forma de produção e atuação
artística contemporânea utilizaremos a denominação Independência, mas o
conceito levantado aqui sobre independência é válido apenas quando se toma
uma referência. O conceito só é compreendido a partir de seu ponto de
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referência. Portanto chamaremos de relações de independência as
características aqui estudadas para não cairmos em contradição.
Pensando nesta maleabilidade do conceito de produção artística
Independente - e compreendendo sua denominação como uma forma de
conceituação levando em conta os parágrafos anteriores - devemos ter em
mente que esta só existe enquanto conceito e que desta forma, podemos
compreender diversas outras relações de independência em produções
artísticas. Embora estas sejam sempre referendadas por determinados
aspectos, nunca, portanto, sendo independentes absolutas.
O conceito de Arte Independente surge no meio artístico como uma
forma de contestar os velhos circuitos artísticos “viciados” por lobbies políticos,
coleguismo, e até mesmo questões de gosto. Diversos produtores e gestores
do universo artístico optaram por esta forma de atuação visando livre
expressão, funcionamento de suas produções e até mesmo a divulgação
destas.
Por ser considerado um formato novo (apesar de ser velho conhecido
das artes como, por exemplo, a exposição dos artistas impressionistasii)
(GOMBRICH, 1999) a produção teórica sobre o assunto ainda é escassa,
sendo encontrados escritos normalmente por manifestos ou escritos de
artistas, ensaios de teóricos e blogs de produtores desta área.
Compreendendo esta escassez como uma ausência de conclusões
concretas sobre o assunto, apresentamos esta pesquisa que visa não apenas
exemplificar este formato de produção como também compreendê-lo,
caracterizá-lo e divulgá-lo sob nossas conclusões de pesquisa.
“Penso que chegou o tempo da ação política para os artistas e creio
que a ação deve se expandir em liberdade por toda a arte mundial e
pelo mundo inteiro. A ação política não precisa inibir a criação artística;
as duas atividades são dessemelhantes, mas não incompatíveis.”
(SMITHSON, 2002) (apud BATTCOCK, 2002).
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A Crítica, a Curadoria e o Novo
No Brasil os caminhos entre a crítica de arte e a curadoria se cruzam
no momento em que a própria curadoria surge. Porém, antes desse
cruzamento a configuração da crítica de arte brasileira é feita para então
criarmos o entendimento do que aconteça nesse espaço/tempo atual.
Consideremos então que o nascimento da arte contemporânea
brasileira tenha se dado na ruptura que o movimento neoconcretista, na
década de 70, provocou com a arte moderna. A partir disso podemos perceber
que o pensamento e capacidade de julgar dos artistas, do público e dos críticos
começam a serem reconstituídos. Glória Ferreira ilustra bem esse momento
colocando que “(...) resultando da crise do projeto construtivo, o neoconcretismo, em
sua condição de ponto de ruptura da arte moderna no Brasil, abre um novo ciclo, com
uma ação residual decisiva para a produção contemporânea.” (FERREIRA, 2006)
Nesse contexto quem é o novo artista? Quem é o novo público? Quem é o
novo crítico? O novo artista questiona o suporte, insere o tempo como uma nova
dimensão, dá à superfície um tratamento descontínuo, desloca o observador de uma
posição passiva, entende “A arte como jogo, como símbolo e como festa” (GADAMER,
1985). O novo público faz parte da obra, é integrante da relação fenomenológica
criada no espaço/tempo do museu e/ou da rua. O novo critico tem a necessidade de
conhecer o processo investigativo do artista, ele não descreve mais a obra e sua
materialidade (cor, dimensões, estabilidade, textura, etc.), ele não classifica a obra
nesse ou naquele movimento, ele dá “às explicações dos litígios entre o artista e suas
galerias, seus marchands, ou a sociedade em seu conjunto.” (CAUQUELIN, 2005)
Com isso, que sentido tem a existência de um critico se esse fazer artístico não
necessita mais de tradução porque ela (a obra de arte) agora é vivida. A crítica deixa
de existir em um sentido clássico e passa a existir na busca de uma nova significação
e configuração.
Nesse momento surge o curador em meio às experimentações críticas. O
fazer crítico se confunde ou se mistura com o fazer artístico, o que segundo Anne
Cauquelin “(...) desloca um pouco mais ainda para cima a definição da critica e do
critico; com efeito, aquele que interage, que é o co-autor, e que, portanto, está na
origem da obra, é também aquele que, interagindo, a critica. O ‘fazer crítica’ seria
então contemporâneo da obra no sentido estrito: simultâneo.” (CAUQUELIN, 2005)
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Quando falamos do artista como curador podemos identificar o artista
que cria meios no “mercado” para exibir sua própria produção como defende
Ricardo Basbaum colocando que “(...) os limites que jogam com a determinação e a
identidade do artista não mais se configuram em simples problema de cruzamento de
fronteiras (entrar e sair), mas sim enquanto delineadores de uma figura de
espacialidade que acaba conduzida a vivenciar esses atravessamentos a partir de
uma possível singularidade de inserção: escapar das determinações de um campo ou
mesmo amplificar sua atuação a partir de uma deliberada mistura de linhas de
identidade marcam também a seu modo o território do artista e suas realizações (...)”.
(BASBAUM, 2006)
Tensão entre Arte e Vida
A produção artística contemporânea agrega a tensão entre arte e vida,
com representações que focalizam as relações entre os espaços, os fluxos
existenciais, a inserção do homem, e os meios de encontro e desencontro.
Com a expansão dos mercados, o borramento das fronteiras, as novas
tecnologias, o desmantelamento de instituições do setor, a produção artística
contemporânea debate ética, sociologia, antropologia, política, uma de suas
tantas marcas.
A desmaterialização da obra, o efêmero, a arte como um processo
decorrente de uma idéia, o hibridismo, a abolição entre o público e o privado,
são outras de suas características. O corpo humano correspondente ao último
abrigo do indivíduo, também, agrega-se a questões desenvolvidas nas
produções dos artistas contemporâneo, assim como, o conceito de lugar, a
crítica às instituições e sua lógica de funcionamento excludente. A arte vem
representando o mundo fragmentado, o indivíduo dividido. Enfim, assume as
novas regras do mundo contemporâneo.
Para aqueles que não concordam com este tipo de produção, não
entendem nada ou pensam que todos enlouqueceram, ou que estamos vivendo
o “vale tudo”, o crítico de arte Fernando Cocchiarale lembra que esta é uma
questão complexa, são muitas variáveis que implicam na empatia e a
compreensão
desta
produção.
O
mundo
globalizado
encharcado
de
possibilidades de veiculação e mídias expressivas torna tudo muito mais
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emaranhado, na mesma medida a arte contemporânea, por trabalhar com
hipóteses e espaços muito próximos da rotina de todos, muito próximo da vida
humana. "Não há possibilidade de se relacionar com nada a não ser que a gente
esteja informado" (COCCIARALE, 2007), (apud,PEDROSO, 2007)
Grande parte destas produções reflete a relação entre arte e realidade.
O tema, claro, é de grande importância e merece desdobramentos críticos
urgentes. Como, por exemplo, é necessário refletir sobre o lugar da arte
contemporânea alicerçada em acessos diretos com o mundo da vida. Definir as
poéticas contemporâneas em função da superação da autonomia modernista e
da conseqüente permeabilidade com o real, se tornou um clichê, e, é uma
forma superficial de analisar esta questão tão complexa. Mas se olharmos bem
de perto, veremos que não é somente a arte que se avizinha da vida e que se
define nos ziguezagues deste abeiramento: é também a realidade que se
aproxima da arte – o que podemos identificar como uma condição
contemporânea, um ataque persistente à nossa capacidade de interpretação,
juízo e discernibilidade.
Importante ressaltar que não se acolha tais ações como se fosse a
mera adequação dos projetos de vanguarda, o que seria apreender as coisas
pela metade. Contudo, são relevantes as afinidades entre as intenções de tais
intervenções e as estratégias das vanguardas históricas das décadas de 1910
e 20 ou das neovanguardas dos anos 1960 e 70. Percebemos que existe uma
concepção de crença de que a vanguarda possui uma história que se confirma
na aproximação entre a arte e a realidade, mas num abeiramento que vai da
arte à realidade. Pois nas vanguardas, observamos, é a arte que intenciona
dilatar-se, apropriar-se da vida, do museu e dos espaços da cultura, e não o
inverso. É a arte, que se apresenta como uma idéia de intervenção sobre o
mundo – mas idéias, também é fácil perceber, que entram em crise no exato
momento em que são plenamente enunciadas.
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i
TERRITÓRIOS HÍBRIDOS, pesquisa desenvolvida e cadastrada na Pró‐Reitoria de Pesquisa (PROPESP‐UFPA), com sub‐projetos vinculados com bolsas PIBIC‐CNPq ii
“Em 1863, os pintores acadêmicos recusaram‐se a exibir as obras de Manet na exposição oficial – o Salon. Seguiu‐
se uma onda de agitação que levou as autoridades a expor todas as obras condenadas pelo júri numa mostra especial que recebeu o nome de ‘Salon dos Recusados’.” (GOMBRICH) Referências:
BASBAUM, R. (2006). O Artista como Curador. In: FERREIRA, Glória (org.) Crítica de
Arte no Brasil: Temáticas Contemporâneas. Rio de Janeiro: Funarte.
BATTCOCK, G. (2002). A Nova Arte. São Paulo: Perspectiva.
BELTING, H. (2006). O Fim Da História Da Arte. São Paulo: Cosac & Naify.
CANCLINI, N. G. (2006). Culturas Hibridas: estratégias para entrar e sair da
modernidade. são paulo: EDUSP.
CHIPP, H. (1988). Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes.
COCCIARALE, F. a. (2007). Arte contemporânea em Santa Catarina - Revendo fatos
recentes. Florianópolis: NET PROCESSO
http://www.oktiva.net/oktiva.net/1321/nota/32931.
FERREIRA, G. (2006). Introdução. In: FERREIRA, Glória (org.) Crítica de Arte no
Brasil: Temáticas Contemporâneas. Rio de Janeiro: Funarte.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte: LTC.Rio de Janeiro, 1999
PEDROSO, N. (2007). Arte contemporânea em Santa Catarina - Revendo fatos
recentes. Florianópolis: NET PROCESSO
http://www.oktiva.net/oktiva.net/1321/nota/32931. 19/01/2007.
PICASSO, P. a. (1945). Declaração sobre o artista como ser político. Apud, CHIPP, H.
(1988). Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes.
São Paulo: Martins Fontes.
SMITHSON, R. 1. (2002). Apud BATTCOCK, G. (2002). A Nova Arte. São Paulo:
Perspectiva.
Currículo Resumido:
Valzeli Sampaio: Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica. Artista,
Pesquisadora e Professora da Faculdade de Artes Visuais FAV-UFPA.
Coordena Programa de pesquisa/extensão “Territórios Híbridos”(FAV/UFPa)
Amanda Oliveira, Artista, Bolsista PIBIC/CNPq - Territórios Híbridos, subprojeto
“Estudo
e
Levantamento
da
produção
brasileira
de
projetos
independentes em arte.”. Estudante Curso de Educação Artística – Habilitação
Artes Plásticas – Faculdade de Artes Visuais - Universidade Federal do Pará
(UFPA).
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Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia
Adriele Silva. Artista, Bolsista PIBIC/CNPq - Territórios Híbridos, sub-projeto
“Estudos e levantamento da produção brasileira de Curadores e Curadores
Independentes”. Estudante Curso de Artes Visuais. Faculdade de Artes Visuais
- Universidade Federal do Pará (UFPA).
1295 
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