Impactos socioambientais e demográficos do processo de ocupação da atividade mineradora na região sudeste do Pará nos Censos Demográficos de 1970 a 2000 Vinícius Moreno de Sousa Corrêa* Prof. Dr. Roberto Luiz do Carmo ** Resumo Esse artigo tem como objetivo identificar impactos socioambientais e demográficos decorrentes do processo de ocupação da atividade mineradora na região sudeste do Pará. O recorte espacial refere-se aos municípios de Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Água Azul do Norte, Eldorado de Carajás e Canaã dos Carajás, cuja soma da população era de 428.504 habitantes, em uma área de 38.150km2 (IBGE, 2007). Devido às características específicas dessa atividade, que varia desde a exploração de garimpos em pontos específicos no espaço por curto período de tempo, até grandes investimentos de empresas multinacionais em áreas extensas e com intervenções previstas por décadas, não tem sido fácil identificar as suas implicações. Em termos metodológicos, a alternativa aplicada para compreender a relação população e ambiente nessas situações de atividade extrativista, em um contexto regional, foi uma análise via dados secundários de variáveis demográficas como razão de sexo, situação do domicílio, composição etária e saldo migratório. Essas informações foram obtidas através dos Censos Demográficos de 1970 a 2000 (IBGE) e agregadas em diferentes escalas, a fim de identificar de aspectos diferenciados em termos de impacto. Para que tais características da população representem o espaço delimitado, procura-se utilizar uma fonte ainda pouco explorada nos estudos de uso e ocupação do solo: Cadastro Mineiro (Departamento Nacional de Produção Mineral / Ministério de Minas e Energia). Introdução A região amazônica despontou no cenário nacional com vocação ao que pode ser entendido como uma nova fronteira da extração mineral. Pesquisas em todos os estados da região demonstraram uma diversidade em substâncias e potencialidade de reservas em diferentes portes. A questão mineral na Amazônia deve ser entendida como um dos agentes de ocupação e uma das últimas fronteiras para a expansão e exploração mineral do país. Destacam-se os minerais metálicos ouro, ferro, bauxita, manganês, cobre, *Mestrando em Demografia (IFCH-Unicamp) [email protected] **Departamento de Demografia (IFCH/NEPO-Unicamp) [email protected] 1 níquel, cassiterita, zinco, nióbio, cromo, titânio; além dos minerais não metálicos caulim, calcário, potássio, grafita, gipsita, rochas fosfáticas, ornamentais e dos agregados utilizados na construção civil como areia, argila, cascalho e brita (MARTIRES, 2006; 01; SANTOS, B. 2002; 128). Apesar da baixa cobertura em termos de mapeamento geológico e conhecimentos básicos ainda insuficientes, concentra-se hoje, no estado do Pará, a maior província mineral brasileira (MATHIS et al. 2009; 05). Estão protocolados nessa unidade da federação (UF) 25.377 processos de mineração ativos no DNPM1, somente Minas Gerais possui um número maior de processos cadastrados. O Pará possui uma área de 1.247.689km2, o que equivale a 14,65% do território nacional e 23,91% da Amazônia Legal. A população paraense, predominantemente urbana, foi recenseada em 7.065.573 habitantes, aproximadamente 3,84% dos brasileiros (IBGE, 2007). De acordo com SANTOS, E (1995), o cadastro nacional da população garimpeira de 1990 mostrou um número provavelmente subestimado de 419.920 trabalhadores, distribuídos principalmente no Pará (52%) e Mato Grosso (24%). Interesses e conflitos existentes na região configuraram um mosaico territorial que sobrepõe áreas requeridas para mineração às diferentes modalidades de unidades de conservação (UCs) e Terras Indígenas. Para os propósitos perseguidos nesse artigo vale destacar a FLONA de Carajás (Floresta Nacional), FES Trombetas (Floresta Estadual), PARNA Serra do Pardo (Parque Nacional), PES Serra dos Martírios/Andorinhas (Parque Estadual), ESEC Terra do Meio (Estação Ecológica), APA Tapajós (Área de Proteção Ambiental), RDS Alcobaça (Reserva de Desenvolvimento Sustentável), REBIO Tapiraré (Reserva Biológica), RESEX Riozinho do Anfrísio (Reserva Extrativista). “Dos 40.144 processos existentes na Amazônia Legal, 5.283 incidem em UCs federais e 880 em UCs estaduais” (RICARDO & ROLLA, 2006). “Hoje, mais de cinco mil títulos e requerimentos de mineração incidem sobre as Terras Indígenas da Amazônia Brasileira” (RICARDO & ROLLA, 2005). Os impactos ambientais decorrentes do processo de beneficiamento do minério de ferro ao longo da Estrada de Ferro Carajás (EFC) estão relacionados à queima do carvão vegetal, principal insumo na produção do Ferro Gusa. O resultado de tal beneficiamento é utilizado como matéria-prima na fabricação do aço. A supressão da 1 Consulta realizada em abril de 2010. Departamento Nacional de Produção Mineral (Ministério de Minas e Energia). http://www.dnpm.gov.br 2 floresta para queima do carvão é realizada em fornos rudimentares e de baixa eficiência - regionalmente conhecidos como “rabo quente”. Desmatamento, trabalho escravo e conflitos territoriais são alguns dos problemas associados às carvoarias. O presente artigo tem como objetivo identificar e compreender os impactos socioambientais e demográficos decorrentes do processo de ocupação da atividade mineradora. Como caso específico de estudo, a análise pretende adotar uma perspectiva regional do Sudeste do Pará, aos municípios de Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Água Azul do Norte, Eldorado de Carajás e Canaã dos Carajás, cuja história é marcada pelo contexto da mineração. Vestígios desse processo específico de uso e ocupação do solo serão investigados nos Censos Demográficos de 1970 a 2000 (IBGE). Acredita-se que embora os efeitos agudos dessa atividade sejam cíclicos, existem impactos que permanecem ao longo do tempo. A descoberta de uma jazida mineral, por exemplo, seria capaz de impactar certas variáveis demográficas que permanecem presentes mesmo após o esgotamento do recurso. Apreender fenômenos históricos intercensitários é um desafio à Demografia, que motivou alternativas metodológicas diante períodos decenais sem informação da população. Se as informações censitárias dizem respeito aos migrantes sobreviventes de um processo de ocupação, parece não ser possível mensurar com exatidão certos fluxos de migração em massa como, por exemplo, os garimpeiros que se aventuraram rumo à Serra Pelada no início da década de 1980. Pretende-se através da mineração analisar um tipo específico da relação entre mobilidade populacional, meio ambiente e uso da terra. O garimpo além de tecnologia primitiva, utiliza mão de obra extensiva e, em geral, despreparada. A mineração empresarial de uso intensivo de capital e tecnologia difere-se, também, pela baixa utilização de mão de obra, normalmente especializada. Ambas as experiências podem não ser suficientes para apoiar um projeto de desenvolvimento tal qual esperados pelos agentes políticos, deixando conseqüências demográficas, sociais, ambientais e econômicas à região. Os sentidos de “fronteira” e o avanço da extração mineral brasileira O processo de interiorização e expansão da fronteira foi debatido por diversos pesquisadores. Entre eles, MARTINE (1987) classifica três grandes momentos no Brasil: 3 “O primeiro ocorreu a partir de meados da década de 30 até meados da década de 60, na região norte e noroeste do Paraná e suas adjacências. O segundo se deu na faixa central do país, que cobre desde o Mato Grosso do Sul até o Maranhão, passando por Goiás; essa expansão da fronteira marcou início na década de 40 e terminou na de 60. E finalmente, o terceiro movimento foi aquele que o governo precipitou em direção à Amazônia, a partir de 1970” (MARTINE, 1987). Entretanto, parece não ser possível pensar o papel da atividade mineradora nesse cenário de expansão de fronteira. Não existiria, de acordo com o autor, nenhuma região de fronteira ativa. Se por um lado, sinais de esgotamento da estrutura produtiva resultaram na urbanização como parte da estratégia de ocupação da Amazônia (CUNHA, 2002; HOGAN et al., 2007); por outro lado, a região se mostra atraente a certos empreendimentos (produção de grãos ao mercado mundial e criação de gado, por exemplo) expulsando pequenos proprietários rurais que ali chegaram a processos anteriores de ocupação. O avanço da fronteira mineral não é linear, pois leva em consideração a disponibilidade do minério e volume de investimentos em pesquisas e prospecção. A urbanização da Amazônia envolve posições controversas. Foi vista tanto como sinal de fracasso da ocupação na fronteira agrícola, quanto como sucesso de uma política de ocupação e desenvolvimento que contava com aglomerados urbanos para articular o desenvolvimento regional. Através de redes de integração (comunicação, transporte, mercados) previa-se a formação de núcleos populacionais em áreas de colonização. Muitas das áreas urbanas existentes definiram-se a partir de agrovilas planejadas e de outros agrupamentos humanos espontâneos surgidos em lotes rurais (HOGAN, 2007). Os diferentes sentidos sobre “fronteira” ainda carecem reflexões teóricas. A mineração, por exemplo, caracteriza um modo peculiar de ocupação? Alguns autores sugerem uma relação complementar entre o garimpo e a castanha. A descoberta de diamantes teria atraído à atenção de migrantes que se dedicavam à atividade sazonal da castanha no período da seca. Tal complementaridade favoreceu sua fixação, ao invés de competir pela mão de obra (COSTA & MENDES et al. 1979). As dificuldades relacionadas à fixação da população foram atribuídas ao desconhecimento do ecossistema e falta de assistência aos habitantes e posseiros da região (MARTINE, 1992; SAWYER, 1983). Ainda que demandassem trabalhadores em suas fases iniciais, os grandes projetos agropecuários tornavam freqüente o abandono ou a venda da terra (MARTINE, 1992). 4 A migração, portanto, pode ser pensada enquanto um fator que aumenta a vulnerabilidade da população. Isso tendo em vista que falta ao migrante conhecimento sobre os diferentes tipos de solo e clima, o que intensifica a degradação do ambiente local. A incidência de malária em áreas recentemente abertas expõe esses migrantes a riscos intensificados pelo desconhecimento de simples medidas de proteção (SAWYER Apud HOGAN, 2005) 2. Diagnósticos das condições de saúde da população garimpeira apontam para uma alteração no padrão de morbidade na Amazônia com o crescimento da produção brasileira do ouro. Entre os principais fatores de risco, a exposição ao mercúrio utilizado na concentração do ouro através da amalgação, ou mesmo através do consumo de peixes procedentes de bacias contaminadas. Entre os dados de morbidade encontram-se uma variedade de parasitoses intestinais, anemia, além da alta prevalência de Hepatite B (SANTOS, E. 1995; 220). A partir da década de 1950, o parque industrial brasileiro foi ampliado e diversificado, com o crescimento de indústrias pesadas e elevação das exportações dos minérios de ferro e manganês. Época de significativas alterações regionais na produção mineral, que até então se via limitada e dispersa. O Brasil atravessava um período de redemocratização com o fim da ditadura de Getúlio Vargas. Em substituição à Carta de 1937, a Constituição Nacional de 1946 estipulava que a exploração dos recursos minerais poderia ser conferida exclusivamente a brasileiros ou a sociedades organizadas no país. De acordo com MONTEIRO (2005), não foram estabelecidas restrições ou normas para atuação de tais sociedades mineradoras. Ao contrário, o documento que havia implantado o Estado Novo deixava explícito que os bens minerais eram de propriedade da União. A influencia de princípios do liberalismo econômico removeu os aparelhos de controle do Estado para permitir o fluxo de investimentos estrangeiros ao país (IANI, 1971 Apud BRITO, 1995). Nesse contexto, foi possível uma associação entre a Indústria e Comércio de Minério S/A (ICOMI) com a empresa internacional Bethlehem Steel Co, sob alegação de aporte técnico, acesso à tecnologia e capital de investimentos necessários na exploração do manganês na Serra do Navio, Amapá. Com o golpe militar de 1964, orientou-se uma doutrina de segurança nacional, já que na visão dos principais segmentos dos governos militares era preciso “ocupar” a 2 O autor sugere o entendimento de RISCO em termos probabilísticos, PERIGO como o fato físico/concreto e VULNERABILIDADE ao incorporar condições sociais e econômicas que predispões à suscetibilidade ao perigo. 5 Amazônia. As empresas mínero-metalúrgicas foram atraídas por políticas de desenvolvimento que articulavam interesses privados e políticas de incentivos fiscais e creditícios. O Governo assumiu através de recursos estatais obras de infra-estruturas, tais como usinas hidroelétricas, linhas de transmissão, acessos viários e terminais portuários para exportação. Dessa forma, a partir da segunda metade da década de 1960, duas empresas norte americanas iniciam os programas de prospecção mineral em Carajás. A Union Caribe localizou jazidas de manganês nos depósitos do Sereno, em Marabá; e a United States Steel Corporation descobriu os depósitos de Buritirama e as jazidas de ferro de Carajás (SANTOS, B 2002). Ainda assim, relatos sobre a descoberta dessa província mineral atribuem o incidente ao acaso, após um pouso de emergência sobre uma clareira da serra. Entre os personagens principais, Breno Augusto dos Santos, geólogo da Companhia Meridional de Mineração (CMM). A desconfiança para essa versão dos fatos sustenta-se diante o tamanho de investimentos em sobrevôos, levantamentos e evidências geológicas. Certamente, indícios eram conhecidos tendo uma percepção ambiental da região. “Seus topos achatados, de altitudes variando entre 700 e 800m [Serra dos Carajás], chamavam a atenção dos geólogos pela cobertura da canga laterítica, que impedia o desenvolvimento de uma vegetação densa. Neste solo endurecido, a vegetação, constituídas de savanas e de pequenos bosques, era escassa, contrastando com a floresta exuberante das escarpas circundantes” (TEIXEIRA & BEISIEGEL, 2006). A tradicional liderança de Minas Gerais havia sido ameaçada desde início da década de 1970, com a incorporação de novas fronteiras minerais ao Norte, CentroOeste e Nordeste do país. A descentralização dos investimentos em mineração reforça a tendência de desconcentração econômica regional. Segundo DINIZ (1995), o Pará absorveu 50% dos investimentos no setor mineral na década de 1980, graças às reservas na região de Carajás e demais regiões do estado. O estado de Goiás também se destacou em função das reservas de amianto, estanho, fosfato e nióbio, seguido pelo estado da Bahia, com pauta mineral diversificada. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) tornou-se sócia majoritária no Programa Grande Carajás (PGC), com seus 18 bilhões de toneladas de minério de ferro de alto teor de concentração, dedicado principalmente ao mercado externo (Japão, Itália e outros). O programa envolveu o complexo: mina, ferrovia e terminal portuário; além de fornecer a energia necessária com a hidroelétrica de Tucuruí. 6 Entretanto, nem todo o processo de ocupação ocorreu no nível institucional. O PGC transformou a paisagem econômica e social atraindo, como um imã, imensos contingentes populacionais. Operários de construção civil em busca de emprego, garimpeiros à cata de riqueza, pequenos agricultores a procura de terra e outros indivíduos querendo ocupação (HALL, 1989). “Com o fenômeno de Serra Pelada, todo planejamento foi atropelado pela avalanche humana que se abateu sobre a região – o contingente previsto de 5 mil pessoas transformou-se em 50 mil, originando a ocupação desordenada associada ao grande número de garimpos que proliferaram por toda área” (TEIXEIRA & BEISIEGEL, 2006). A seqüência de fotos da Figura 01 procura ilustrar o impacto que exerceu o garimpo em Serra Pelada. À esquerda, o início da atividade garimpeira em maio de 1980. Ao centro, a retomada do garimpo após as obras de terraplanagem. Em 1982, o antigo morro já virou depressão. À direita, o garimpo paralisado com a cava principal transformada em um lago em abril de 1984. Figura 01. Serra Pelada. Morro da Babilônia. Fonte: Arquivo DOCEGEO Apud TEIXEIRA & BEISIEL (2006) Metodologia Ao olhar para características demográficas da população e possíveis impactos ao ambiente natural, deve-se pensar nos processos históricos que configuram a esfera de um ambiente humano construído (infraestrutura, instituições, políticas, informações e tecnologias). A utilização do framework 3 de LUTZ (2002; 04) fornece clara compreensão desse processo histórico de ocupação da fronteira mineral. A representação gráfica a partir de círculos concêntricos possibilita uma análise através de “fatias” para cada objeto de estudo, envolvendo as três esferas mencionadas. 3 Dentro do campo de estudo População e Ambiente (P&A), Wolfgang Lutz faz uma crítica aos modelos conceituais caracterizados pelo próprio autor como “boxes connected by arrows” (LUTZ et al. 2002). Em especial, refere-se às equações lineares de Paul Ehrilch, John Holdren e Barry Commoner, onde o estresse ambiental seria resultado do produto da população, afluência e tecnologia (I=PAT). 7 Figura 02. Modelo conceitual de análise em P&A. Fonte: LUTZ et al. (2002; 04) Busca-se uma forma representativa de sobrepor os dados sociodemográficos às regiões mineradoras, identificando em diferentes escalas, características resultantes de um processo específico de ocupação. Para tanto, o recorte espacial desse estudo de caso foi restringida aos municípios de Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Água Azul do Norte, Eldorado de Carajás e Canaã dos Carajás, cuja história é marcada pelo contexto da mineração. A alternativa aplicada para compreender a relação P&A nesse contexto regional, foi uma análise de variáveis demográficas como razão de sexo, situação do domicílio, composição etária e saldo migratório. Essas informações foram obtidas através dos Censos Demográficos de 1970 a 2000 (IBGE) e agregadas em diferentes escalas, a fim de identificar de aspectos diferenciados em termos de impacto. A busca por vestígios desse processo de ocupação, via dados secundários, encontra limitações relacionadas à qualidade do registro: (a) Subregistro e irregularidades inesperadas nas informações de nascimentos e óbitos; (b) baixa cobertura e subenumeração da população; (c) má declaração da idade, preferência por dígitos e irregularidades inesperadas na estrutura etária da população. Para que tais características da população representem o espaço delimitado, procura-se utilizar uma fonte ainda pouco explorada nos estudos de uso e ocupação do solo: Cadastro Mineiro4 (DNPM / Ministério de Minas e Energia). Ainda não foi 4 Campos de informação possíveis: Número do processo, data do protocolo, município aonde se localiza, nome do titular (requerente), substâncias minerais requeridas, fase em que se encontra o processo na tramitação do DNPM, área em hectares solicitada, número de vértice da poligonal, coordenadas latitude/longitude do ponto de amarração da poligonal, histórico de eventos do processo, diploma legal concedido. 8 possível esgotar a potencialidade dessa fonte, embora seja possível um mapeamento das áreas requeridas para mineração, com base nas coordenadas geográficas dos processos protocolados. A sobreposição desse mapeamento com a malha dos setores censitários do IBGE parece ser a alternativa metodológica mais adequada para espacializar a população através de dados secundários. Resultados Os aspectos históricos da região revelam um desenvolvimento atrelado a ações governamentais, que resultou na formação de grandes propriedades rurais dedicadas ao extrativismo, pecuária e a lavoura monocultora. A cronologia a seguir resgata os principais eventos históricos da região. (1) Levantamento geológico “Projeto Araguaia” (1950); (2) Rodovias: a. Belém-Brasília BR-010 (1960); b. Rodovia Transamazônica BR-230 (1970); c. Asfaltamento da Rodovia Moju-Redenção, PA-150 (1970); (3) Guerrilha do Araguaia (1972); (4) Descoberta do garimpo de Serra Pelada (1980); (5) PGC (1980): a. Depósito do minério de ferro (Serra dos Carajás); b. Duas fábricas de alumínio: Barcarena (PA) e São Luís (MA); c. Hidroelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins (1984); d. 890 km de EFC - São Luís (fevereiro de 1985); e. Porto de “Ponta Madeira”, em São Luís-MA (março de 1986); (6) Inauguração da Ferrovia Norte-Sul da CVRD (1989); A história de Marabá parece colocar a natureza a serviço da atividade econômica. Elevada à categoria de município em 1913, seus limites territoriais de hoje são bastante diferentes daqueles do século XX. A extração do látex de caucho e a castanha-do-pará constituem as primeiras atividades econômicas incentivadas pelo governo, dada à boa aceitação da borracha no mercado externo. Sua importância seria abalada com a queda dos preços no mercado internacional, em função da Primeira Guerra Mundial. Em 1920, a coleta da castanha já ultrapassaria a produção de caucho. Os castanhais, extremamente valorizados, deixam de ser públicos e passam a ser apropriados privadamente, dando início ao processo de concentração fundiária. A dinâmica populacional variava 9 conforme os ciclos de coleta, aumentando em volume nos períodos de safra e época de chuva. Somente a partir de 1935, com o advento da mineração, os trabalhadores começaram a permanecer na região em períodos de seca. A decadência dos castanhais ocorreu somente na década de 1970, com a demanda por terra para áreas de pastagem e indústrias de madeiras. O reconhecimento da existência de recursos minerais culminou na iniciativa do Estado, através do PGC, para construção de grandes obras de infraestrutura. Recentemente, a instalação de siderúrgicas produtoras de ferro-gusa expandiu a atividade mineradora da cidade. O município de Parauapebas surgiu em decorrência do crescimento populacional de uma área reservada à moradia dos trabalhadores contratados pela CVRD na construção da EFC e Tucuruí. A vila se tornou um núcleo urbano “inchado” com os migrantes atraídos pelo Eldorado dos Carajás. O comércio, portanto, atenderia a demanda dos primeiros bairros da cidade. Com exceção da Cidade Nova, restrita aos funcionários da empresa CVRD, nenhum outro bairro foi planejado, surgindo de ocupações irregulares. Tal desordem na ocupação urbana refletiu problemas sociais de diversas ordens: violência, saúde, educação, saneamento, iluminação e comunicação. O processo de emancipação de Parauapebas foi fruto de luta e reivindicações de seus moradores. A prefeitura de Marabá deveria por lei investir 10% da arrecadação de Carajás em forma de obras, benefícios e pagamentos pessoais em Parauapebas. Sem o repasse do recurso, a movimentação pela emancipação conquistou em 01/01/1989 a instalação do município. A cidade de Curionópolis recebe esse nome em homenagem ao “Major Curió”, responsável direto pela Lei Curió, que permitiu a existência legal do garimpo em Serra Pelada. À frente dos garimpeiros, o major liderou diversas revoltas visando promover uma comoção popular capaz de chamar a atenção do governo para região. A CVRD possuía a concessão de lavra e pesquisa e pretendia retomar o controle da mineração, com o argumento de que aquelas condições de garimpo faziam necessárias máquinas para manter a extração. A mobilização dos trabalhadores resultou na aprovação da lei que permitiu a extração direta dentro de um regime de assistência, fiscalização e compra do metal extraído. O município se emancipou de Marabá no mesmo processo que Parauapebas. Atualmente, o garimpo do ouro dá lugar a produção de gado bovino, entretanto, algumas mazelas sociais e condições de vida precárias permanecem em decorrência da violência de Serra Pelada. 10 A Tabela 01 exemplifica a consulta aos campos município, fase de concessão e substâncias do sistema “Cadastro Mineiro” (DNPM / Ministério de Minas e Energia). Procurou-se diferenciar os processos que obtiveram a concessão de lavra (diploma), daqueles que ainda se encontram em fase inicial de prospecção mineral. É possível observar que a CVRD ainda mantém grande influencia política sobre a região. Tal influência, em ocasiões anteriores, havia sido confundida pela população como a própria agência do Estado, a quem se responsabilizava e cobrava necessidades. Tabela 01. Processos minerais ativos em fase atual de concessão de lavra na região sudeste do Pará segundo nome titular, município e substância requerida. Processo Nome do titular Municípios Substâncias 850.650/2006 Mineração Onça Puma Ltda. PARAUAPEBAS NÍQUEL OURO 851.355/1991 Vale S A CANAÃ DOS CARAJÁS COBRE 851.431/1982 Vale S A PARAUAPEBAS/ OURO 850.918/1982 Vale S A MARABÁ/PA COBRE ÁGUA AZUL DO NORTE CURIONÓPOLIS/ PARAUAPEBAS 852.145/1976 Vale S A CANAÃ DOS CARAJÁS FERRO 807.426/1974 Salobo Metais Sa. MARABÁ COBRE 815.959/1973 Mineração Buritirama S.A. MARABÁ PARAUAPEBAS MANGANÊS ÁGUA AZUL DO NORTE TUCUMÃ 811.016/1973 Mineração Onça Puma Ltda. SÃO FÉLIX DO XINGU NÍQUEL 813.687/1969 Vale S A CURIONÓPOLIS FERRO ÁGUA AZUL DO NORTE CANAÃ DOS CARAJÁS CURIONÓPOLIS 813.684/1969 Vale S A PARAUAPEBAS FERRO 813.682/1969 Vale S A PARAUAPEBA FERRO BRASIL Ministério de Minas e Energia. DNPM - Cadastro Mineiro. A Tabela 2 apresenta os dados censitários de 1970 a 2000 agregados unicamente por municípios. A dinâmica de fragmentação territorial requer uma reconstituição histórica dos habitantes dos municípios desmembrados em relação ao município de origem. A falta de observação a esse reflexo da política regional pode induzir análises equivocadas, quando observadas de modo isolado. Acredita-se que essa dinâmica esteja 11 intimamente relacionada à mineração, dada a competição entre municípios pela atração de pessoas e atividades que os viabilizem (capazes de gerar empregos e ampliar receitas locais). “[Marabá] que tinha perdido o minério de Carajás para Parauapebas e o ouro de Serra Pelada para Curionópolis, disputa com o primeiro [Parauapebas] a localização da indústria beneficiadora de cobre ligada ao Projeto Salobo da CVRD” (COELHO & COTA, 1997). Curionópolis, por exemplo, apresenta no período de 1991-2000 taxa de crescimento geométrico negativa de -7,33% a.a. Entretanto, teve parte do seu território desmembrado para criação de Eldorado dos Carajás. Da mesma forma, Parauapebas se considerada isoladamente apresenta taxa de crescimento da ordem de 3,32% a.a., porém, se analisada em conjunto – população reconstituída de Água Azul do Norte e Canaã dos Carajás – apresenta taxa de crescimento médio anual de 7,77% para o período de 1991-2000. Na ausência de qualquer fragmentação territorial, ou seja, mantendo o município de origem, Marabá, sem divisões administrativas, observa-se uma significativa queda na taxa de crescimento entre 1991-2000 (4,08% a.a.), em relação à década anterior (13,67% a.a.). Tabela 02. População total por município desmembrado e taxa de crescimento médio anual (1970-2000). Município População 1970 1980 1991 População Reconstituída 2000 1970 1980 Marabá 24.474 59.881 123.668 168.020 Parauapebas 53.335 71.568 Água Azul do Norte 22.084 24.474 59.881 Canaã dos Carajás 10.922 Curionópolis 38.672 19.486 Eldorado dos Carajás 29.608 TOTAL (sem divisão) 24.474 59.881 1991 2000 123.668 168.020 Taxa de Crescimento 70/80 80/91 91/00 9,36 7,52 3,11 53.335 104.574 7,77 38.672 2,69 49.094 215.675 321.688 9,36 13,67 Fonte: IBGE – Censo Demográfico 1970, 1980, 1991 e 2000 (tabulações do autor). A Figura 03 apresenta a razão de sexo segundo grupos qüinqüenais de idade ao nos Censos Demográficos 1970 a 2000. Os dados remetem à UF do Pará, pois os registros agregados por município apresentam irregularidades inesperadas na estrutura etária, em virtude de uma má declaração da idade. A atividade minerária é predominantemente masculina e intensificada nas idades economicamente ativas. Após as décadas 1970/80, a tendência ao maior equilíbrio entre homens e mulheres nessa faixa etária pode ser entendida como uma estratégia familiar da migração (SINGER, 1973), ou mesmo, pela diminuição dos fluxos migratórios nessa idade. 12 4,08 Figura 03. Razão de sexo* segundo grupos etários. UF: Pará 1970 a 2000. 1,40 1970 1980 1991 2000 1,20 1,00 0,80 0,60 0a 4 5a 9 4 9 4 9 4 9 4 9 4 9 4 9 4 9 a1 5a1 0a2 5a2 0a3 5a3 0a4 5a4 0a5 5a5 0a6 5a6 0a7 5a7 10 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 + 80 Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000. * Razão de sexo: divisão entre o total de homens e o total de mulheres (multiplicado por 100). A Tabela 03 demonstra o predomínio masculino na área rural dos municípios da região sudeste do Pará. Em todos os município e datas censitárias a razão de sexo na área rural apresenta valor superior à área urbana, o que sugere uma correlação positiva entre razão de sexo e grau de urbanização (ou seja, entre a divisão da população masculina pela população feminina e o percentual da população urbana em relação à população total do município). Tabela 03. Razão de sexo* segundo situação do domicílio: Região Sudeste do Pará, 1970 a 2000. 1970 1980 1991 2000 Município Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Marabá 95 175 101 116 099 114 098 119 Parauapebas 104 118 101 113 Curionópolis 100 130 100 138 Água Azul do Norte 105 125 Eldorado dos Carajás 103 121 Canaã dos Carajás 100 127 Total (sem divisão) 95 175 101 116 100 122 099 122 Fonte: IBGE - Censo Demográfico. Dados da Amostra (tabulações do autor). *Razão de sexo: divisão entre o total de homens e o total de mulheres multiplicado por 100. A análise da população segundo situação do domicílio (Tabela 04) sugere um baixo grau de urbanização na região, com exceção dos municípios de Marabá, cuja população urbana foi superior à população rural em todo período, e Parauapebas, com mais de 80% da população urbana em 2000. Dados isolados induzem a um intenso processo de urbanização, porém, tal fato relaciona-se aos desmembramentos de Água 13 Azul do Norte e Canaã dos Carajás, municípios predominantemente rurais. O caso de Curionópolis merece destaque pela completa reversão da situação de domicílio: Se menos de 40% da população encontrava-se área urbana em 1991, quase 70% de seus habitantes foram recenseados na área urbana em 2000. Tabela 04 População absoluta segundo situação do domicílio: Região Sudeste do Pará, 1970 a 2000. 1970 1980 1991 2000 Município Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Marabá 14.569 9.905 41.752 18.129 102.435 21.233 134.373 33.647 Parauapebas 27.443 25.892 59.260 12.308 Curionópolis 15.074 23.598 13.250 6.236 Água Azul do Norte 2.811 19.273 Eldorado dos Carajás 14.112 15.496 Canaã dos Carajás 3.924 6.998 Total (sem divisão) 14.569 9.905 41.752 18.129 144.952 70.723 227.730 93.958 Fonte: IBGE - Censo Demográfico. Dados da Amostra (tabulações do autor). A composição etária da região (Figura 04) permite dizer o sudeste do Pará, em seu conjunto, possui uma população relativamente jovem. Até 1991 mais do que 40% da população concentrava-se no grupo 0 a 14 anos de idade, um indicativo de taxas de fecundidade elevadas. De fato, em 2000, a taxa de fecundidade total (número médio de filhos por mulher) do Estado do Pará era de 3,16 (se comparada à média brasileira de 2,36, pode ser considerada elevada). Todavia, o visível aumento percentual do grupo 15 a 39 anos sugere uma redução da fecundidade e conseqüente envelhecimento da população no fim do período. Figura 04. População reconstituída: Região sudeste do Pará segundo grandes grupos etários. IBGE - Censos Demográfico 1970, 1980, 1991 e 2000. 100% 90% 80% 70% 65+ 60% 40-64 50% 15-39 40% 0-14 30% 20% 10% 0% 1970 1980 1991 2000 Dados da Amostra. 1970 e 1980 - Município de Marabá. 1991 - Municípios de Marabá, Parauapebas e Curionópolis. 2000 - Municípios de Marabá, Parauapebas, Curionópolis, Água Azul do Norte, Eldorado de Carajás, Canaã dos Carajás. 14 TOBIAS (2002) avaliou a dinâmica migratória paraense no período 1981-1991 através do método indireto Relações Intercensitárias de Sobrevivência (RIS). O autor atribui o arrefecimento das migrações em direção à Amazônia ao suposto fracasso dos programas específicos de colonização. O intenso movimento migratório interestadual durante a década de 1970 – destaque aos estados nordestinos Maranhão, Ceará e Bahia, principais fornecedores de migrantes – perde importância na segunda metade da década de 1980, momento em que os movimentos migratórios intra-estaduais tendem a ser mais relevantes (TOBIAS, 2002). A Tabela 05 permite notar que os principais fluxos mostram-se menos significativos na década mais recente, com destaque ao saldo migratório para as Regiões Sudeste e Centro-Oeste. O índice de Eficácia Migratória (IEM) permite avaliar em que medida a unidade da federação pode ser caracterizado como área de atração, expulsão ou circulação de migrantes. Entre os dois períodos analisados, observa-se uma redução no saldo migratório em quase todas as regiões, com exceção do nordeste, configurando um processo de maior circulação da população, haja vista que os valores do IEM aproximam-se a zero. Tabela 05. Volume, Saldo Migratório* e IEM** definido por pessoas não naturais da UF, com menos de 10 anos interruptos de residência na UF. Norte Imigração Emigração 1970-1980 Saldo migratório IEM 16.534 45.744 -29.210 -0,47 Nordeste Sudeste 189.141 19.727 169.414 0,81 48.657 32.901 15.756 0,19 Sul Centro Oeste Total 20.648 2.691 17.957 0,77 72.332 16.058 56.274 0,64 347.312 117.121 230.191 0,50 Imigração 72.068 235.070 41.926 14.185 36.888 400.137 Emigração 100.449 62.792 39.737 6.549 34.361 243.888 1981-1991 Saldo migratório -28.381 172.278 2.189 7.636 2.527 156.249 IEM -0,16 0,58 0,03 0,37 0,04 0,24 Fonte: TOBIAS (2002). Modificações do autor. *Saldo migratório: Diferença entre o volume total de imigrantes e os imigrantes. **IEM: Relação entre o saldo migratório e migração bruta (imigrantes + emigrantes). O indicador varia de -1 a +1. Quanto mais próximo de -1 tende-se a uma área de expulsão, quanto mais próximo de -1 tende-se a uma área capaz de absorver os migrantes. Se migrações intraestaduais tendem a ser mais relevantes quando os dados são agregados pela unidade da federação, ao olhar somente para região sudeste, percebe-se que os movimentos interestaduais ainda são predominantes (TOBIAS, 2002). Para uma análise dos fluxos migratórios recentes CUNHA (2006), comparou dados do Censo Demográfico 1991 com a PNAD 2004. O autor apresenta uma completa reversão do saldo migratório no Estado do Pará: de um saldo negativo de 52 15 mil para saldo positivo de 52 mil migrantes (CUNHA, 2006; 394). O primeiro momento foi interpretado como esgotamento da fronteira antiga e saída de migrantes em busca de outras áreas de fronteira fora do estado. No momento mais recente, ter-se-ia a retomada das atividades econômicas relacionadas à produção mineral, servindo como atrativos a novos fluxos migratórios direcionados ao sudeste do Pará. O IBGE permite algumas formas de identificar um migrante: (1) local de nascimento; (2) local de residência por “data fixa” de cinco anos antes do levantamento censitário; (3) tempo de residência até 10 anos. Optou-se pelo migrante de “data fixa” de cinco anos antes aos Censos Demográficos 1991 e 2000 dos municípios Marabá, Parauapebas e Curionópolis. Os demais municípios foram excluídos por não oferecerem potenciais comparativos entre datas censitárias. Os resultados apresentados na Tabela 06 não mostram diferenças relevantes em Marabá. Entretanto, Parauapebas apresenta uma discreta redução do saldo migratório no período recente, enquanto que Curionópolis apresenta uma inversão no saldo migratório, em decorrência de uma queda significativa da imigração. Tabela 06. Volume, Saldo Migratório e IEM** definido por "data fixa" de residência de cinco anos anteriores ao Censo Demográfico Marabá Parauapebas Curionópolis Imigração 22.855 19.320 11.266 Emigração 24.780 6.040 6.724 1986-1991 Saldo migratório -1.925 13.280 4.542 IEM -0,04 0,52 0,25 Imigração 24.350 16.200 1.743 Emigração 25.938 7.936 6.402 1995-2000 Saldo migratório -1.588 8.264 -4.659 IEM -0,03 0,34 -0,57 Fonte: IBGE - Censo Demográfico 1991 e 2000 (tabulações do autor). *Saldo migratório: Diferença entre o volume total de imigrantes e os emigrantes. **IEM: Relação entre o saldo migratório e migração bruta (imigrantes + emigrantes). O indicador varia de -1 a +1. Quanto mais próximo de -1 tende-se a uma área de expulsão, quanto mais próximo de 1 tende-se a uma área capaz de absorver os migrantes. Conclusão É difícil precisar o número de garimpeiros ou trabalhadores envolvidos com a atividade mineradora do Brasil. A ausência de dados oficiais ou mesmo a qualidade do registro sobre determinadas populações existentes na Amazônia, dificultam os propósitos perseguidos nesse artigo. O DNPM se apresenta como uma fonte ainda pouco explorada nos estudos de uso e ocupação do solo. Ainda permanece o desafio de encontrar uma forma representativa entre o registro da população e espaço em que se 16 situa a questão ambiental. A representatividade entre população e espaço estaria garantida com a sobreposição da malha dos setores censitários do IBGE ao mapa das áreas requeridas para mineração com base nas coordenadas geográficas dos processos protocolados no DNPM? O presente trabalho procurou ilustrar impactos possíveis em determinadas variáveis demográficas decorrentes da atividade mineradora: razão de sexo, situação do domicílio, composição etária e saldo migratório. Nesse caso, o processo histórico de ocupação do estudo de caso garante a representatividade dos dados, uma vez que os municípios selecionados estão totalmente inseridos pelo contexto da mineração. Entretanto, características sobre as condições de vida dessa população devem ser investigadas (educação, saúde, moradia, saneamento etc.) em busca das implicações em termos de impactos socioambientais e demográficos de um processo específico de ocupação e uso do solo: A mineração. Bibliografia AXINN, W G; PEARCE, L D. Mixed method data collection strategies. Cambridge University Press. 2007. BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Cadastro Mineiro. http://www.dnpm.gov.br/. BRITO, D C. 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