REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 86 Artigo original A PRÁXIS PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL SQUIZATTO, E. P. S. 1 Nome Completo Ediléia Paula dos Santos Squizatto Artigo submetido em: 01/10/2013 Aceito em: 22/11/2013 Correio eletrônico: [email protected] RESUMO Este artigo tem como finalidade discutir sobre a direção do Projeto Ético – Político do Serviço Social na práxis profissional no Centro de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS) visando à compreensão das particularidades da atuação do assistente social na instituição que materializa a política pública de assistência social. Esta reflexão apresenta caráter relevante visto que o conhecimento possibilita o entendimento das expressões da questão social vivenciadas pelos sujeitos apontando subsídios para a construção de respostas profissionais sustentáveis que provoque transformações nesta realidade. Palavras-chaves: Práxis; Serviço Social; Proteção Social. ABSTRACT This article aims to discuss the direction of Ethical Project - Political Social Work in professional practice at the Center for Social Assistance Specialized Reference (CREAS) in order to understand the particularities of the role of social worker in the institution that embodies the public policy assistance social. This discussion presents relevant character since knowledge enables understanding of the expressions of social issues experienced by the subjects pointing subsidies to build sustainable professional responses that cause changes in this reality. Key-words: Praxis; Social Service; Social Protection. Graduada em Serviço Social pelas Faculdades Integradas “Antônio de Eufrásio de Toledo” de Presidente Prudente. 1 REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 87 1 INTRODUÇÃO Este artigo teve como finalidade apresentar discussão acerca da práxis do assistente social no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), serviço de materialização de proteção social, direcionada pelo Projeto Ético – Político do Serviço Social, sendo este espaço contraditório que apresenta desafios e requer um profissional com competência crítica para a construção de respostas profissionais sustentáveis. Entretanto, discorrer sobre o trabalho do Serviço Social no CREAS demanda compreensão da natureza do espaço que materializa a política de pública de assistência social, e clareza da potencialidade profissional no intuito de entender as particularidades que perpassam a atuação do assistente social neste campo sócio ocupacional. Sendo assim, para a compreensão da práxis do assistente social no CREAS, este artigo abordou, no item 2, o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), constituído pela política pública de assistência social; e no item 3, a direção do Projeto Ético – Político do Serviço Social na práxis profissional neste serviço. Esta discussão apresenta relevância visto que permite refletir acerca da práxis profissional na assistência social, discorrendo sobre as particularidades que perpassam a atuação do assistente social nas situações de riscos. Para a abordagem do tema a metodologia utilizada a pesquisa bibliográfica e eletrônica. 2 O CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO ESPAÇO DE MATERIALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA PÚBLICA O direito á assistência social é afirmado na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 203, “a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social”.A lei Orgânica da Assistência Social de 1993 institui a assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do estado, ao afirmar que Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que prove os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (LOAS, 1993). Sendo assim, a assistência social é constituída como política pública de proteção social. Para tanto, a construção da Política Nacional de Assistência Social foi publicada em REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 88 2004, posteriormente ao “[...] processo democrático e participativo de âmbito nacional, que envolveu amplo debate com representações de diversos segmentos da sociedade” (MDS). É essencial compreender que o enfrentamento ás expressões da questão social é responsabilidade do Estado visto que a política pública é direito do cidadão e dever do Estado. Neste sentido, a política de assistência social prevê a proteção social que [...] consiste na ação coletiva de proteger indivíduos contra os riscos inerentes à vida humana e/ou assistir necessidades geradas em diferentes momentos históricos e relacionadas com múltiplas situações de dependência [...] os sistemas de proteção social têm origem na necessidade imperativa de neutralizar ou reduzir o impacto de determinados riscos sobre o individuo e a sociedade (VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.17). Dessa forma, a proteção social da política de assistência social esta hierarquizada em proteção social básica e especial, sendo a última de média e alta complexidade. O Centro de Referência Especializado da Assistência Social está instituído na proteção social especial de média complexidade, apontados como os serviços que “[...] oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos” (PNAS, 2005, p.39). Assim, o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) é [...] unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência, nos territórios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos. (MDS, 2011, p.23). O CREAS tem como papel a oferta de atendimento especializado as famílias e indivíduos em condição de risco social e pessoal, “em situação de ameaça ou violação de direitos” (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais) de modo a “[...] afiançar seguranças socioassistenciais, na perspectiva da proteção social (MDS). Assim, a “[...] proteção especial de média complexidade envolve também o Centro de Referência Especializado da Assistência Social, visando a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário” (PNAS, 2005, p.39). Pautado na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009), o CREAS tem como função ofertar o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI); Serviço Especializado em Abordagem Social; Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); Serviço de Proteção Social Especial REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 89 para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. Estes serviços são ofertados no intuito de atender [...] famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (PNAS, 2004, p.39). Sendo assim, compõe o CREAS, uma equipe de coordenador, assistente social, psicólogo, advogado, profissional do nível médio ou superior, auxiliar administrativo, sendo a quantidade de profissionais definidas relativamente á capacidade de atendimento que a unidade pública possui (NOB/RH SUAS 2006). Como parte da equipe do CREAS, o assistente social tem papel essencial na propositura de ações, prática esta que será discutida no item a seguir. 3 A DIREÇÃO DO PROJETO ÉTICO – POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL NA PRÁXIS PROFISSIONAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL A atuação do Serviço Social no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) visa atender as demandas relacionadas ás situações de risco em que se encontram os sujeitos, fundamentada no Código de Ética (1993) e na Lei que Regulamenta a Profissão (Lei Federal 8.662, de 7 de julho de 1993), e direcionada pelo Projeto Ético – Político do Serviço Social. Para tanto, o assistente social precisa ter competência crítica para compreender os determinantes das violações de direitos que levam os sujeitos á situações de risco social e pessoal como também construir respostas profissionais sustentáveis no intuito de atender os sujeitos em suas necessidades sociais e gerar transformações na realidade vivenciada pelos mesmos. Neste sentido, o profissional de Serviço Social precisa realizar leitura crítica das determinações conjunturais presentes no cotidiano, compreendendo as expressões da questão social vivenciadas pelos indivíduos e famílias e suas exigências pela garantia de direitos, visto que [...] todas as situações sociais vividas pelos sujeitos que demandam a política de Assistência Social têm a mesma estrutural e histórica raiz na desigualdade de classe e suas determinações, que se expressam pela ausência e precariedade de um conjunto de direitos como emprego, saúde, educação, moradia, transporte, REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 90 distribuição de renda, entre outras formas de expressão da questão social (CFESS, 2009, p.05). Sendo assim, o profissional de Serviço Social precisa apresentar competência crítica no intuito de construir respostas para a viabilização do acesso aos direitos sociais como também o rompimento e superação das situações de violação de direitos, considerando a subjetividade dos sujeitos. Desta forma, a atuação do assistente social nas situações de riscos apresentadas pelos usuários do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) é de essencial relevância visto que este profissional possui conhecimento crítico para realizar a leitura desta realidade de forma a construir ações sistemáticas de acompanhamento ás famílias e indivíduos e promover a articulação com a rede socioassistencial e intersetorial no sentido de atender os sujeitos em sua diversidade de demandas. Entretanto, é preciso considerar que este espaço de materialização da proteção social apresente contradições entre as práticas tradicionais da assistência social e o novo modelo proposto pelo Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Também é preciso compreender que o espaço do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) também apresenta contradições como em todo campo sócio ocupacional, como aponta Guerra (2009, p.85) “para tanto, há que reconhecer, na própria gestão das políticas públicas e do cotidiano institucional, em que pesem os discursos sobre a hegemonia de um pensamento único, as expressões da contradição”. Contudo, a prática profissional deve apresentar competência para propor respostas efetivas, proporcionar visualização da capacidade profissional na defesa por seu espaço, como aponta Iamamoto (2001, p.21) As possibilidades estão dadas na realidade, mas não são automaticamente transformadas em alternativas profissionais. Cabe aos profissionais apropriarem-se dessas possibilidades e, como sujeitos, desenvolvê-las transformando-as em projetos e frentes de trabalho. Neste sentido, Guerra (2009, p.94) ainda afirma que “[...] a realidade se coloca tanto como possibilidades quanto como restrição de possibilidades”. Assim, para a construção de respostas profissionais sustentáveis, a intervenção profissional deve estar pautada no Projeto Ético – Político do Serviço Social que dá direcionamento e sentido ás ações profissionais, no sentido de promover a proteção social e a superação das situações de violação de direitos. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 91 Desta forma, o projeto profissional se materializa no próprio processo histórico, “[...] é o reconhecimento de que somos trabalhadores assalariados e que, assim sendo, a definição do sentido e direcionalidade para a ação profissional se faz em meio a uma relação complexa e contraditória, em que estão em jogo múltiplas determinações, de natureza macrossocial, que não só influenciam como, na verdade, a constituem”. (MARTINELLI, 2009, p. 149-150) Sendo assim, o assistente social na equipe do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) é de expressiva relevância visto que este profissional tem capacidade de realizar a compreensão crítica da realidade vivenciada pelos sujeitos, visto que Pela sua formação e experiência, os/as assistentes sociais têm uma função estratégica na análise crítica da realidade, no sentido de fomentar o debate sobre o reconhecimento e defesa do papel da assistência social e das políticas sociais na garantia dos direitos e melhoria das condições de vida [...] (CFESS, 2009, p. 26-27). Ainda é necessário considerar que a diversidade de demandas apresentadas pelos sujeitos exige a intervenção das diversificadas categorias profissionais no intuito de promover o enfrentamento das expressões da questão social em sua totalidade, visto que [...] o trabalho interdisciplinar em equipe deve ser orientado pela perspectiva de totalidade, com vistas a situar o indivíduo nas relações sociais que têm papel determinante nas suas condições de vida, de modo a não responsabilizá-lo pela sua condição socioeconômica. Assim, o trabalho da equipe é essencial na construção de respostas ético-política de forma a promover a proteção social dos sujeitos que tiveram seus direitos violados no intuito de propiciar a superação desta situação. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A reflexão sobre o tema apresentado leva a considerar que a atuação do assistente social no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), serviço de proteção social, é permeada de desafios no enfrentamento às expressões da questão social vivenciadas pelos sujeitos usuários do serviço. A equipe de referência do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) é de expressiva relevância visto que a disparidade de categorias profissionais acumula conhecimento e habilidades no desígnio de atender a diversidade de demandas apresentadas pelos sujeitos. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 92 Sendo assim, esta diversificação de demandas requer a articulação da rede socioassistencial e intersetorial para construção de respostas que promova a viabilização do acesso aos direitos sociais, a proteção social. A práxis profissional do assistente social requer direcionamento e sentido do Projeto Ético – Político do Serviço Social, como também a compreensão dos limites e possibilidades no espaço sócio ocupacional para construir respostas profissionais sustentáveis, considerando a subjetividade dos sujeitos, de forma a promover a superação das situações de violação de direitos e o desenvolvimento de autonomia. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 16 / ISSN 1980-5950 – SQUIZATTO, E. P. S. 2013. 93 REFERÊNCIAS BAPTISTA, M. V; BATTINI, O. A prática profissional do assistente social: teoria, ação, construção de conhecimento. São Paulo: Veras Editora, 2009. BATTINI, O. Atitude investigativa e prática profissional. In: BAPTISTA, M. V; BATTINI, O. 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