Central de Cases
Fundação Abrinq:
uma atuação global
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Fundação Abrinq:
uma atuação global
Preparado pelo Prof. Sydney Manzione, da ESPM-SP
Este caso foi escrito inteiramente a partir de informações cedidas pela empresa e
outras fontes mencionadas no tópico “Referências”. Não é intenção dos autores
avaliar ou julgar o movimento estratégico da empresa em questão. Este texto é
destinado exclusivamente ao estudo e à discussão acadêmica, sendo vedada a sua
utilização ou reprodução em qualquer outra forma. A violação aos direitos autorais
sujeitará o infrator às penalidades da Lei. Direitos Reservados ESPM.
Dezembro de 2010
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RESUMO
A Fundação Abrinq, após 20 anos de atuação e atendendo perto de 275 mil crianças
por ano, colocou-se uma meta de atender 1 milhão de crianças por ano. É uma meta
audaciosa, que pode necessitar mais do que simples mudanças estratégicas ou criação de projetos, uma vez que a Fundação Abrinq vem obtendo considerável eficiência
em sua captação de recursos, tendo se tornado referência quando se fala em projetos
voltados a crianças e adolescentes. Uma das formas encontradas para ampliar suas
áreas de atuação e atender o quádruplo de crianças/adolescentes por ano foi a de promover uma fusão – que seria um termo usual no segundo setor, nesse caso chamaremos de acordo de cooperação – com a Save the Children, organismo internacional que
atua na mesma área desde 1919. A cooperação foi iniciada em 2010 e, com ela, novas
oportunidades se descortinam, assim como novos (e grandes) desafios aparecem.
PALAVRAS-CHAVE
Globalização, internacionalização, marketing global, ambiente de negócios, fusão.
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SUMÁRIO
Introdução................................................................................................ 5
A Fundação Abrinq................................................................................... 5
Parceria com a Save the Children............................................................ 7
O ambiente............................................................................................. 11
Os fatos.................................................................................................. 13
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Introdução
O mundo globalizado conduz as empresas a escolhas por vezes difíceis. Há momento
em que não crescer pode significar morrer. Hoje, para muitas organizações, não globalizar pode ser morrer, ou não crescer, o que, no fundo, é a mesma coisa.
Pensando em empresas, a globalização, em que pese todas as críticas que lhe
são endereçadas, é um fator fácil de ser encarado e justificado. “Pensar globalmente e
agir localmente” passou a ser um bordão utilizado para, muitas vezes, justificar a busca
por internacionalização, por vezes, aparentemente, descabidas. Agora, buscar internacionalização para entidades do terceiro setor? Qual a lógica que sustenta ações desse
tipo? Se pensar em marketing para entidades do terceiro setor não é tarefa fácil, que
dirá do marketing global?
Uma organização que se preste a ajudar crianças e adolescentes, como é o
caso da Fundação Abrinq, ao se internacionalizar soma às suas responsabilidades a
prestação de contas internacional. Passará boa parte de seu tempo devendo justificar
suas ações para comitês internacionais. Como provar que determinado projeto tem
relevância ou não?
Quando falamos de objetivos comuns, o idioma internacional facilmente se
adapta. Quando falamos em meios de ação e obtenção de recursos, esbarramos em
diferenças culturais, em modelos mentais de decisão diferentes; resumindo, falamos
em meios diferentes de se atender necessidades por vezes iguais. Não basta a união
pela solidariedade e pelo amor. A análise de ambiente será mais necessária do que
qualquer outro momento, o marketing global será colocado em ação.
O desafio para a Fundação Abrinq está lançado. Como lançar mão do marketing global para levar a efeito suas ações locais? Será que, para a Fundação, “glocal”
será mais do que uma brincadeira semântica?
A Fundação Abrinq
No final da década de 1980, uma das formas que o Brasil era visto mundo afora era
pelos índices relativos a infância e adolescência. As violações de direitos eram enormes
e 350.000 crianças ao ano morriam antes de completar cinco anos de idade. Junte-se
a isso a falta de ensino, a pouca atenção das autoridades e o trabalho infantil, por si só
ilegal e, por vezes, escravo.
Diante desse quadro, algumas pessoas e entidades passaram a se manifestar e
a se indignar. Muitas atitudes foram tomadas e muitas propostas encaminhadas, seja de
forma oficial, via instituições de governo, ou de atuação de entidades de terceiro setor.
Foi, então, no ano de 1989, que uma atitude de grande importância foi levada
a efeito. Empresários do setor de brinquedos, próximos, portanto, à realidade infantojuvenil do País, resolveram criar, com a associação congregadora do setor, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos – Abrinq – uma diretoria específica para
monitorar, defender e buscar a defesa dos direitos infantis, a Diretoria de Defesa dos
Direitos das Crianças.
Essa diretoria se transformou no embrião daquilo que seria a Fundação Abrinq
que, em fevereiro de 1990, se transformou numa entidade independente com estatuto
próprio. A data é extremamente significativa, uma vez que 1990 é o ano de promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente – o ECA.
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Já em seu DNA ficava estampada a preocupação com a criança e com os caminhos
institucionais. Desde o início, os estatutos da Fundação Abrinq são pautados pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança (ONU, 1989), pela Constituição Federal
Brasileira (1988) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).
A Fundação Abrinq foi, dessa forma, criada como uma instituição sem fins
lucrativos, com o objetivo de mobilizar a sociedade para questões relacionadas aos
direitos da infância e da adolescência.
A partir de então, contando em seus quadros de conselheiros e colaboradores
com pessoas de destaque na sociedade brasileira, entre o meio político, empresarial e
artístico, a Fundação Abrinq passou a criar diversos programas de abrangência nacional que mobilizaram a sociedade de diversas formas. Um exemplo disso é a atuação
forte que a entidade passou a ter no combate ao trabalho infantil, criando, em 1995,
o Programa Empresa Amiga da Criança. Por meio de um selo social, o programa reconheceu as empresas que não se utilizam de mão de obra infantil e que invistam em
projetos em prol da infância e adolescência. O selo passou a ser sinônimo da busca
por uma gestão socialmente responsável, com grande visibilidade entre empresários e
consumidores.
A consolidação da instituição se fez por meio de seus estatutos e de sua posição em relação à sua atividade social. Sua exposição exigia, portanto, que se criassem
meios de fazer o reconhecimento social ser absolutamente visível. Sua declaração de
missão a atividade da entidade: “Promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania de crianças e adolescentes”. Seu foco de atuação fica nítido em sua declaração:
são as crianças e os adolescentes.
A missão da empresa, obedecendo aos princípios de planejamento e transparência, mostra para que existe a entidade. Considerando que sua atividade é parte de
um todo, seja ideológico ou não, existe uma expectativa da organização em relação à
sociedade e a parcela de contribuição que ela dá. Surge, dessa forma, sua visão, um
sonho para muitos distante, para outros impossível, mas o motor da atuação da Fundação, cuja declaração é: “Uma sociedade justa e responsável pela proteção e pelo pleno
desenvolvimento de suas crianças e adolescentes”.
Para se atingir essa visão, extemporânea como devem ser as visões, existem
os “trilhos” que norteiam o caminho, os valores que devem dar as diretrizes para o
prosseguimento das atividades. São os valores da Fundação Abrinq:
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Ética
Transparência
Solidariedade
Diversidade
Autonomia
Independência
As ações da Fundação, independentemente de seus valores, obedecem alguns pressupostos, que identificam sua posição política e social, deixando clara a sua forma de
atuação diante da sociedade. Alguns pressupostos básicos orientam os trabalhos e a
forma de trabalhar da Fundação, sempre regida pela transparência. O que a Fundação
denomina pressupostos são, na realidade, derivações operacionais de seus valores,
uma forma de deixar clara a sua posição. São pressupostos de trabalho:
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A Fundação Abrinq é uma organização dedicada à defesa dos direitos das
crianças e adolescentes, com foco na faixa etária que inicia com o recémnascido até o jovem de 18 anos;
A Fundação não realiza atendimento direto;
A Fundação não recebe recursos públicos;
As ações são realizadas em rede;
A gestão da Fundação é profissional, eficiente (avalia seus processos), eficaz (avalia seus resultados) e efetiva (avalia os impactos das ações).
A Fundação Abrinq não recebe recursos de fabricantes de armas, cigarros
e bebidas alcoólicas;
A Fundação é preocupada com a sustentabilidade, realizando, somente,
ações que já tenham recursos garantidos;
A Fundação usa a accountability como padrão, ou seja, existe, por parte
dos membros de um órgão administrativo ou representativo, a obrigação
de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados, de
forma regular. Não só números e ações são avaliados, mas há autoavaliações, mostrando o que se obteve ou não.
Para atingir seu objetivo, que no caso da Fundação até pode se confundir com sua
missão, a entidade adota algumas estratégias, de forma a atuar na sociedade de forma
efetiva e clara:
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Estímulo e pressão para implementação de ações públicas;
Fortalecimento de organizações sociais e governamentais para a prestação
de serviços ou defesa de direitos;
Estímulo à responsabilidade social diante dos direitos da criança e do adolescente;
Articulação política e social na construção e defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes;
Conhecimento da realidade brasileira quanto aos direitos da criança e do
adolescente;
Sustentabilidade.
•
•
A Fundação posiciona-se de forma incisiva com relação a alguns fatores, que apoiam
suas estratégias, definindo quase um conjunto de crenças. Com relação à educação, a
Fundação Abrinq defende a educação infantil, fundamental, do ensino médio de qualidade, defendendo, também, a educação inclusiva e a ambiental.
O sistema de Gestão Ambiental e a Lei da Aprendizagem também são focos de
defesa da Fundação. Somente dentro do campo de promoção de vidas saudáveis de
crianças e adolescentes, item, também, defendido pela organização, iremos encontrar
13 subitens, todos de importância e relevância.
A Fundação defende, ainda, a corresponsabilidade na gestão pública e a convivência familiar e comunitária e a garantia do registro civil a todas as crianças e adolescentes, sendo absolutamente contrária a exploração, maus tratos e violência, à redução
da maioridade penal e ampliação do tempo de internação.
A Fundação Abrinq repudia todas as formas de trabalho infantil, a violência
doméstica, sexual e toda forma de violência contra crianças e adolescentes.
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Em 2010 a Fundação beneficiou 275.000 crianças e adolescentes e angariou novos
parceiros, que somam em esforços e recursos. Foi, também, o ano de adesão à organização internacional Save the Children Alliance – entidade com mais de 90 anos de
atuação mundial, como membro associado no Brasil.
A seguir, apresentaremos um resumo dos programas/projetos realizados pela
Fundação Abrinq, com breve descrição do que é a atividade e seus números principais.
Programa/ projeto
Adotei um sorriso
Prêmio Criança
O que é
Números
principais
Promove a melhoria de
qualidade de vida.
Voluntários da área da
saúde são mobilizados
Identifica e reconhece
iniciativas inovadoras
voltadas à primeira
infância, realizadas por
empresas e
organizações sociais
170.000 crianças
beneficiadas; 2.877
profissionais
voluntários
355 iniciativas
inscritas, 10
finalistas (2
empresas e 8
ONGs)
Patrocinadores
master
Copagaz
Apoio cultural
HSBC
Paralamas do
Sucesso
TAM
Intercontinental
Prefeito Amigo da
Criança
Mobiliza prefeitos para 1.501 adesões
que se comprometam a
desenvolver políticas
públicas nas áreas de
saúde, educação,
assistência social e
garantam os recursos
Empresa amiga da
criança
Engaja o empresariado
na defesa dos direitos
da criança e do
adolescente,
mobilizando e
reconhecendo
empresas que realizam
ações sociais para o
público interno e
comunidade e que
promovem e divulgam
os direitos da
população
infantojuvenil brasileira
89 novas empresas
credenciadas em
2009;
880
empresas amigas
da criança; R$ 3,4
bi investidos em
programas; R$
84,3 mi destinados
pelas empresas
aos Fundos da
Criança e do
Adolescente
Contribui com a
ampliação do acesso e
melhoria da qualidade
do atendimento em
creches
3.000 crianças
beneficiadas;
270 professores
capacitados
Instituto C&A
545 crianças
beneficiadas;
20 educadores
diretamente
beneficiados
SulAmérica
Primeira infância
vem primeiro
Creche para todas
as crianças projeto
Creche e reforma – Amplia o número de
projeto
vagas e melhora a
qualidade de
atendimento da região
da Cidade Nova, no Rio
de Janeiro
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A Parceria com a Save the Children
Movidas pela situação mundial decorrente da I Grande Guerra e da Revolução Russa e
problemas causados a crianças, as irmãs Eglantyne Jebb e Dorothy Buxton fundaram
a Save the Children, em Londres, em maio de 1919. O principal objetivo das irmãs foi
criar um organismo internacional capaz de atuar nos locais mais afastados.
Demorou pouco tempo para chegarem ao que se propuseram, perenizando sua
atuação.
O trabalho de Eglantyne Jebb em pressionar os governos e a sociedade por
uma proteção internacional para as crianças foi a semente da Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada pelas Nações Unidas em 1989 e, hoje,
ratificada por quase todos os países do mundo.
Em 1990 foi instalado no Brasil o escritório da Save the Children, com programas que buscam a garantia dos direitos das crianças e adolescentes, principalmente
no que se refere aos direitos à educação, saúde e proteção, incluindo situações de
emergência por desastres naturais.
Os projetos da Save the Children no Brasil são financiados por recursos provenientes da sede em Londres que os capta com doadores privados, pessoas físicas,
outras agências de cooperação e setores públicos.
A Aliança Internacional Save the Children é o maior movimento independente,
de âmbito mundial, que trabalha para melhorar as condições de vida das crianças e
adolescentes, conseguindo melhoras imediatas e duradouras e conta com um orçamento mundial de U$ 1,2 bilhão.
A partir da promoção de uma perspectiva inovadora, denominada Enfoque de
Direitos, a Aliança Save the Children luta por um mundo que valorize, respeite e escute
todas as crianças para que elas possam crescer com esperança e oportunidades. É
composta por 27 membros e administrada por um Comitê Executivo, com sede em
Londres (Reino Unido), que apoia e coordena a atuação de todas as organizações de
Save the Children.
A Secretaria Geral da Organização, em Londres, lidera e coordena os 28 escritórios internacionais participantes da Aliança Internacional Save the Children – uma rede
global de organizações sem fins lucrativos que atua em mais de 120 países. Cada um
deles trabalha em favor das crianças do seu país, mas também em escala internacional.
Projetos da Save the Children:
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Projetos da Save the Children:
Projeto
Parceiros
Mobilização e Articulação Social pela
Educação de Qualidade
Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Rede Nacional Primeira Infância
Instituto Pró-Mundo
Semeando a Cultura dos Bons Tratos
Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social
(Cendhec); Secretaria Municipal da Educação da Cidade de
Recife
Projeto Aprender
Secretaria das Políticas Sociais da Prefeitura de Olinda
Intervenção no Orçamento Criança e
Adolescente (OCA) em Pernambuco
Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF)
Mobilização do Comitê Estadual da
Campanha Nacional pelo Direito à
Educação
Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF)
Observatório e Pesquisa
Ação Educativa
Crianças Criando Cidadania com Arte
Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA)
Rede Sou de Atitude – Advocacy em
Educação
Cipó Comunicação Interativa
Projeto Rede de Arte-Educação para
Prevenção em DST/AIDS
Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA)
Programa Serviços Amigáveis
Ecos Comunicação e Sexualidade – em parceria com
Unidades Básicas de Saúde da Brasilândia/SP, Hospital Pérola
Byington/SP, Canto Jovem – Em parceria com Unidade Básica
de Saúde de Macaxeira e Passarinho; Secretarias de Saúde
dos municípios de Natal (RN), Recife (PE) e São Paulo (SP)
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O Ambiente
As informações sobre o terceiro setor são esparsas e de difícil compilação. Diversas
fontes, muitas vezes contraditórias, nos levam a usar números, quase sempre aproximados. Além disso, muitas delas são defasadas no tempo ou não atualizadas. O que é
fato, no entanto, é que se trata de um setor em crescimento, contando, cada vez mais,
com voluntários e doações.
A americana John Hopkins University, em pesquisa recente, em 22 países, incluindo o Brasil, concluiu que o Terceiro Setor é a oitava força econômica mundial, chegando a movimentar cerca de 1 trilhão de dólares por ano, gerando aproximadamente
10,4 milhões de empregos, excluindo-se os voluntários.
Esta pesquisa levantou o perfil do Terceiro Setor no Brasil, em pessoal ocupado
por área de atuação:
Área de atuação
Número de pessoas
Educação e pesquisa
381.098
Saúde
184.040
Cultura
175.540
Assistência Social
169.663
Associações Profissionais
99.203
Religião
93.769
Defesa dos direitos
13.721
Meio Ambiente
2.499
%
34,0
16,4
15,7
15,2
8,9
8,4
1,2
0,2
Tabela 1– Pessoas
empregadas no
terceiro setor por
área de atuação
Fonte:
Hopkins, John
University, apud
http://ambientes.
ambientebrasil.
com.br/gestao/
ongs_e_oscips/
informacoes_
sobre_o_terceiro_
setor.html,
acessado em 1º
de setembro de
2010
As instituições de terceiro setor possuem diversos focos de atendimento. Hoje,
o principal são crianças e adolescentes, que centraliza cerca de 64% do número de
instituições.Ver a distribuição na tabela 2.
Público-alvo
Crianças e/ou adolescentes
Movimentos urbanos
Associações de moradores/movimentos de bairro
Mulheres
Outras ONGs
Público em geral
Sindicatos rurais
Pequenos produtores
Tabela 2 – ONGs
segundo principais
categorias de
público atingido
(Respostas
múltiplas)
% de ONGs
63,7
52,4
46,6
41,9
25,8
22,5
22,5
20,9
Fonte:
TACHIZAWA,
Takeshi.
Organizações não
governamentais e
Terceiro Setor. São
Paulo: Atlas, 2002.
p. 29
A Fundação Abrinq é uma entidade do terceiro setor e, como tal, não objetiva
lucro. Suas preocupações são divididas em dois campos: como obter recursos e onde
aplicá-los, mostrando à sociedade suas ações. O uso de ferramentas, como marketing,
pode parecer, a princípio, incompatível com uma organização desse tipo. O uso de marketing, no entanto, passa a ser altamente eficiente, se trocarmos, no conceito, termos
como lucro por eficiência e preço por elemento de troca.
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A Fundação é a maior entidade nacional voltada ao atendimento da criança e do adolescente, porém “concorre” em um mercado acirrado e pulverizado, onde existem mais
de 260.000 organizações sociais em atividade. Se forem consideradas as organizações
registradas com caráter de filantropia, esse número chega a perto de 400.000.
Algumas dessas organizações possuem forte reconhecimento nacional, como,
por exemplo, GRAAC e o Instituto Ayrton Senna, e, algumas, nem sequer são localizadas “no radar”. Pequenas entidades constituídas por pessoas físicas não possuem
registro ou existência formal. Uma senhora, por exemplo, que adotou diversas crianças
ou que cuida de uma pequena creche em sua casa, está beneficiando, à sua maneira,
inúmeras crianças, sem ser, no entanto, formalmente reconhecida. A quantidade desse
tipo de entidade não é conhecida, nem tampouco possível de ser estipulada.
Perto de 80% das organizações estão concentradas em São Paulo, mas a aplicação de seus recursos está espalhada por todo o País. Parte significativa dessas organizações, ao menos do ponto de vista de concentração de recursos, são ONGs profissionalizadas com alta capacidade de gestão, conhecimento de técnicas de fundraising.
Permitem a captação de recursos, além de contarem com profissionais ou voluntários
que as ajudam a aplicar métodos de marketing, seja para fundamentar sua capacidade
de captação, seja para escolher o foco de suas aplicações ou para seu planejamento.
Um dos grandes problemas enfrentados pela Fundação Abrinq (e por outras
instituições sérias) são as organizações que atuam sem ética, seriedade ou comprometimento. Além da atividade individual, houve toda uma propaganda negativa para o
terceiro setor, quando do escândalo da ONGs fantasmas, ou de empresas que, para
se beneficiar das vantagens fiscais, se registram como organizações do terceiro setor.
Uma das características desse setor é o fato, conforme dito, da pulverização,
que acaba por tirar a concentração de recursos. Por um lado permite que haja mais atividades em prol de um objetivo, porém impedem que projetos de maior porte possam
ser realizados. Um dos fatores que colaboram para essa pulverização é o crescente
número de empresas e, mesmo, de celebridades que criam suas próprias fundações e
institutos, muitos deles oriundos de vontade de colaborar, porém sem qualquer capacidade gerencial e de marketing.
As empresas contam com benefícios fiscais quando prestam algum tipo de aporte financeiro ao terceiro setor, seja em atividade própria, seja fazendo contribuições aos
institutos ou às fundações. A contribuição advinda de pessoas físicas, ao contrário do que
já ocorreu no passado, não permite benefícios fiscais. Descontos no imposto de renda
de pessoas físicas motivados por doações eram possíveis há alguns anos. Esse seria um
fator de incentivo para que pessoas físicas pudessem fazer suas contribuições individuais.
O benefício fiscal para empresas, por outro lado, se torna um grande fator motivacional para a doação para atividades de terceiro setor. Outros fatores impulsionam
algumas empresas a serem doadoras e patrocinadoras de atividades sociais. Ações sociais geram credibilidade para as marcas, agregando valor. Esse fator, por sua vez, já se
comoditizou, na medida em que a situação se inverte: não é quem colabora socialmente
que agrega valor à marca, mas quem não faz investimentos sociais “desagrega” valor à
marca. O vínculo com causas sociais cada vez mais está se tornando ponto de análise do
consumidor ao escolher determinada marca.
Junte-se ao fato anterior, o surgimento de uma “Era da Responsabilidade Social”,
com envolvimento maior e mais constante das pessoas, tanto físicas quanto jurídicas.
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Especificamente para o setor da Fundação Abrinq, cujo target de auxílio são
crianças e adolescentes. Sabe-se, através de um levantamento do IPEA, que os potenciais doadores de verbas para causas sociais valorizam muito a causa de crianças e
adolescentes.
Existe, hoje, um grande número de organismos e fundações internacionais com
interesse específico no Brasil. Prova disso é a própria filiação da Fundação Abrinq à
Save the Children. Esse é um fator importante, seja no aporte de verbas, seja em investimentos diretos por parte dessas instituições.
Os fatos
Os presidentes da Fundação Abrinq e da Save the Children, respectivamente Synésio
Batista da Costa e Peter Woicke, assinaram um acordo de cooperação que permite
operacionalizar ações e projetos para atender crianças e adolescentes brasileiros.
Synésio, comentando o acordo diz: “A finalidade dessa parceria é consolidar
esforços conjuntos no sentido de contribuir para a garantia e defesa dos direitos das
crianças e dos adolescentes no Brasil. São duas organizações de grande porte que se
unem para atuar de maneira decisiva, a fim de transformar a realidade de milhares de
crianças brasileiras e recuperar futuros”.
Partir das atuais 275.000 crianças atendidas por ano para, em cinco anos, chegar a 1 milhão é um dos resultados esperados do acordo firmado.
De início a Fundação Abrinq receberá uma injeção de 5 milhões de dólares, a
serem aplicados em modernização, consolidação, infraestrutura e captação de recursos sendo que, os investimentos em programas e projetos serão ampliados, dos atuais
US$ 4,5 milhões/ano, para US$ 11 milhões até 2013.
A Fundação Abrinq passa, agora, a ter mais um desafio. Sua atuação global,
visto que, através do acordo e da Save the Children é visível, sendo quase uma portavoz do setor, para o mundo. A Save the Children, por sua vez, coloca à Fundação
Abrinq o acesso a recursos internacionais.
É Synésio quem, ainda, comenta: “Esta ação de unir competências e forças
entre duas grandes corporações com o objetivo de melhorar a vida das crianças brasileiras é inédita no País e pode ser comparada às megafusões ocorridas recentemente
no Brasil e no mundo, em vários setores”.
O discurso é desafiante. Como transformá-lo em realidade é o verdadeiro desafio. Como mostrar o quadro social brasileiro para o mundo? Como gerar sinergia na
atuação das duas entidades? A Fundação deve preparar-se para uma situação cultural
e de marketing diferente da que vive hoje. Sem contar que quadruplicar a meta exige
muito mais do que só quadruplicar a captação.
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