A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO
NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
The performance of work and organizational Psychologist in the northern Rio
Grande do Sul
PINHEIRO, L. R. S.
MARIO, C.
GIACOMINI, M.
Recebimento: 13/11/2011 - Aceite: 14/12/2012
RESUMO: O presente estudo tem como objetivo caracterizar o perfil do
psicólogo organizacional e do trabalho quanto à sua formação e atuação na
região do norte do Rio Grande do Sul, identificando as dificuldades destes
profissionais e descrevendo o modelo de atuação na qual as suas práticas são
pautadas. Para consolidar esta pesquisa, utilizou-se como coleta de dados um
questionário, baseado no método quantitativo descritivo. Participaram desta
pesquisa 22 psicólogos que atuam na área da Psicologia Organizacional e do
Trabalho, contratados de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho.
Como resultado, percebeu-se que os profissionais consideram a sua formação
suficiente para a sua prática, descrevem sua prática como estratégica, porém
constata-se que a rotina diária contempla atividades que se referem ao modelo
operacional, como por exemplo, recrutamento e seleção. O pouco contato
com as questões decisórias foi sentido como uma das maiores dificuldades
desse profissional, o que corrobora com limitação de uma prática operacional.
Palavras-chave: Psicologia Organizacional e do Trabalho. Perfil do psicólogo.
Norte do RS.
ABSTRACT: The present study aims to characterize the profile of the organizational and work psychologist as for their training and performance in
the northern region of Rio Grande do Sul, identifying and describing the professional model of performance in which their practices are based. To consolidate this research, a questionnaire, based on descriptive quantitative
method,was sused as for data collection. 22 psychologists working in the
area of ​​Work and Organizational Psychology, selected in accordance with
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the Consolidation of Labor Laws took part in the research. As a result, it was
found that professionals consider their education suitable for their practice, describing their practice as strategic, however, it was noticed that the daily
routine includes activities that relate to the operational model, such as recruitment and selection. The little contact with decision-making issues was felt to
be a major difficulty of this professional, which confirms a limited operational
practice.
Keywords: Work and Organizational Psychology. Profile of the psychologist.
Northern RS.
Os desafios da Psicologia na
Organização
No contexto atual, o mercado segue a lógica capitalista na qual o trabalho está pautado
nos princípios de produtividade, eficiência e
competitividade. É neste cenário que a psicologia se torna presente nas organizações,
tendo em vista que o principal diferencial das
organizações são as pessoas.
Apesar das inúmeras mudanças ocorridas nos últimos séculos no que refere aos
vários contextos desde o econômico, o
social, o cultural e o tecnológico, pelo que
passou a psicologia organizacional, a área
ainda está voltada para métodos tradicionais
como recrutamento, seleção e treinamento
(PEREIRA; GOMES, 2009). Ainda é bastante conhecida por intervir no momento da
aparição dos sintomas, como em casos de
queda de produtividade, crescentes índices de
absenteísmo e rotatividade, desencadeamento
de doenças, desmotivação, insatisfação, etc.
(AZEVEDO; CRUZ, 2006).
Alguns autores (PEREIRA; GOMES,
2009; ZANELLI 2002) citam o insuficiente
conhecimento da área da Psicologia Organizacional e do trabalho (POT) nos cursos de
formação, fazendo com que os profissionais
que atuam nessa área sejam despreparados
para o mercado, seguindo um perfil de atuação que não se pauta nas reais necessidades
das empresas. Neste sentido, a presente pes124
quisa teve como objetivo caracterizar o perfil
do psicólogo organizacional e do trabalho
quanto à sua formação e atuação na região
do norte do Rio Grande do Sul. O estudo objetivou, ainda, identificar as dificuldades dos
profissionais da área e descrever o modelo
de atuação dos psicólogos organizacionais e
do trabalho. Sendo assim, justifica-se a importância da presente pesquisa para avaliar
essa práxis, sugerindo estratégias a partir dos
resultados e, além disso, contribuindo para a
evolução científica da área da POT.
A evolução da Psicologia
Organizacional e do Trabalho POT
A POT é uma área da psicologia na
qual o foco é o estudo do comportamento
humano nas relações de trabalho. Desde o
seu nascimento, por volta do século XX, a
área foi distinguida em três fases na qual
as práticas e os interesses da psicologia nas
organizações tiveram modificações, sempre
acompanhando o desenvolvimento industrial e econômico da sua época (ZANELLI,
2002). A primeira fase surge no período que
o taylorismo está em alta com seu modelo
rígido de padronização do trabalho, visando
a uma maior produtividade. A psicologia
surge, nesse momento, atrelada aos interesses
das indústrias, instrumentalizando alguns
pressupostos do taylorismo (GOULART
et. al 1998). Os psicólogos, nesse período,
PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
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focam o indivíduo com o intuito de colocar
as pessoas adequadas nos serviços adequados
respectivamente, tendo uma ênfase especial
nesse período para a criação e uso de testes
psicométricos (SILVA; MERLO, 2007).
Na segunda fase, os psicólogos deixaram
de estudar apenas os postos de trabalho e
começaram a contribuir nas discussões e
estruturas da organização. Segundo Iema
(1999, p.40) “o psicólogo organizacional
extrapolou o nível de análise do indivíduo
como um ser isolado e passou a enxergar a
organização como uma fonte de variáveis que
deveriam ser consideradas no ajustamento do
homem ao trabalho”. Percebe-se que o foco
de atuação é expandido, mas a produtividade
ainda é o objetivo maior.
A terceira fase focaliza, como ponto central de estudo, a compreensão do trabalho
humano em todos os seus significados e
manifestações, deixando de lado a obsessão
pela produtividade, que as duas fases anteriores apresentavam, e preocupando-se com
uma compreensão do homem que trabalha
(GOULART; SAMPAIO, 1998). A POT auxilia a mostrar que o sucesso da organização
depende enormemente de sua capacidade
humana. A partir daí, fazer com que o trabalhador tenha uma vida saudável, equilibrada
e com bem-estar, tornou-se essencial. Assim,
criaram-se novas formas de gerir pessoas e a
psicologia amplia os seus objetivos no campo organizacional e do trabalho (BORGES;
OLIVEIRA; MORAIS, 2005).
Destarte, essas fases não são delimitadas
corretamente no tempo já que o surgimento
de uma não significa o fim de outra, mas sim
uma ampliação ou exclusão de práticas na
área da POT. A mudança no âmbito de atuação da psicologia acompanhou a mudança
das organizações, que necessitaram alterar
a visão não só da produtividade, mas, também, de seus recursos humanos (BASTOS;
GALVÃO-MARTINS, 1990).
PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
No Brasil a POT tem suas origens por
volta da década de vinte na prática de seleção
e orientação de pessoas para trabalho em
ferrovias (BASTOS; GALVÃO-MARTINS,
1990), crescendo de forma significativa na
década de trinta, juntamente com os postos
de trabalho que aumentaram nesse período.
Cabe ressaltar que, a regulamentação da
psicologia como profissão ocorre no período
em que o parque industrial brasileiro tem um
enorme avanço, o que denotou a necessidade
de profissionais capacitados para trabalhar
com os recursos humanos que surgiam desse
avanço industrial (SILVA; MERLO, 2007).
O cenário atual exige da POT uma visão
pluralista, compreensão multidisciplinar dos
eventos da empresa, capacidade de análise
e negociação entre os desejos da empresa
e de seus colaboradores, visão do conjunto
da organização, capacidade de trabalho em
equipe, além de conhecimento em mais de
uma área (IEMA, 1999). O termo POT é
utilizado, atualmente, para abranger as diversas atividades do psicólogo que atua nas
organizações, desde as mais operacionais/
tradicionais como o recrutamento e seleção,
até as mais estratégicas como as tomadas de
decisões e intervenções na dinâmica da organização. De acordo com Zanelli (2002, p. 25),
a atuação deste profissional “traz a ideia tanto
dos fatores contextuais imediatos do trabalho
quanto às características organizacionais que
exercem influência sobre o comportamento
do trabalhador.”
Sendo assim, há uma gama de atividades,
que podem receber a contribuição do psicólogo, tais como Recrutamento e Seleção de
Pessoal, Aplicação de Testes Psicológicos,
Treinamento e Desenvolvimento, Avaliação
de Desempenho/ Potencial/ Perfomance,
Coaching, Atendimento aos colaboradores,
Diagnóstico Organizacional, Programas de
Qualidade, Análise de cargos e salários,
Entrevista de Desligamento, Pesquisa de
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Clima, Programa de Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT), Trabalhos de saúde mental
do trabalhador, Prevenção em acidentes de
trabalho, entre outros.
Bastos e Galvão-Martins (1990) mencionam que, além do crescimento da atuação do
psicólogo dentro das organizações ser um
processo lento, configura-se alvo constante
de críticas, em sua maioria voltadas para o
papel, tido como intermediário, das relações
sociais de exploração e discriminação. Contudo, observa-se hoje, uma década depois,
que o papel do psicólogo organizacional foi
muito ampliado e reconhecido.
Apesar da POT ser o terceiro maior campo
de atuação dos psicólogos, sendo ocupado por cerca de um quarto dos psicólogos
(BASTOS; GONDIM, 2010), ficando atrás
apenas da área clínica e da psicologia da
saúde (MERLO; SILVA, 2007) que são áreas
muito destacadas nos cursos de graduação e
que acabam por ser a representação da psicologia, é possível observar que, apesar do
crescimento que teve nos últimos anos, ainda
há certa escassez de estudos na área da POT,
em especial em relação ao perfil dos psicólogos organizacionais, formas de atuação e
dificuldades encontradas por esses profissionais. Portanto, a realização desta pesquisa
torna-se válida por avaliar as práticas destes
profissionais, procurando delinear um perfil
de atuação dos psicólogos dentro desta área.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo quantitativo descritivo, tendo como participantes 22 psicólogos
que atuam na área da POT na região Norte
do Rio Grande do Sul, contratados de acordo
com a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). Os dados foram coletados através
de um questionário estruturado enviado via
correio eletrônico a todas as empresas da
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Região Norte do Rio Grande do Sul, que
possuem psicólogos, somando um total de
23 profissionais. Destes, 22 responderam
o questionário. Os participantes receberam
orientações de que o questionário seria
impresso sem as informações do e-mail do
participante da pesquisa para garantir o seu
anonimato.
O questionário envolveu questões referentes aos dados pessoais como sexo, idade
e tempo de formação, se o profissional possui
algum tipo de especialização na área de trabalho ou noutras. Foi investigada, também,
a percepção dos participantes quanto à formação acadêmica, em relação à área da POT,
bem como a área que mais lhe interessava
no período de sua formação. Averiguou-se
porque o profissional trabalha na área da
POT, há quanto tempo e se, além desta, atua
em outra área da psicologia. Alguns dados
sobre a empresa também foram questionados, como o número de funcionários, qual o
cargo que o profissional da psicologia ocupa
na empresa, sua carga horária de trabalho e
quantos profissionais da psicologia trabalham
na instituição. A partir disso, o questionário
buscou conhecer como os profissionais
sentem-se na realização de sua função, quais
as atividades que realizam em escala de frequência, quais os testes que utilizam, de que
maneira entendem o seu fazer na empresa
(se segue mais o modelo operacional ou
estratégico), os fatores que contribuem para
o estilo de atuação, como avaliam a abertura
dos gestores em relação à atuação do profissional psicólogo, quais são as principais
dificuldades encontradas na sua atuação e
como esse profissional age para manter-se
atualizado na área da POT.
O período de coleta de dados foi de julho
a setembro de 2010 e a análise dos dados
foi feita através da estatística descritiva, que
permite conhecer as características de distribuição de dados, no período de setembro a
dezembro de 2010.
PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
O profissional da POT no norte
do Rio Grande do Sul
O presente estudo abrangeu todas as empresas que possuem psicólogos contratados
na região delimitada, que conta com 33 municípios. Dessas empresas, 91,67% responderam o questionário. A partir desse levantamento foi possível observar que 100% dos
profissionais são do sexo feminino, fato que
se justifica pelo grande número de psicólogas
no mercado do trabalho. Segundo Rosemberg
(1984) é reflexo da dicotomização do trabalho
quanto aos papéis sexuais, sendo a psicologia
vista como profissão feminina, pois à mulher
é dado um papel mais expressivo (característica da psicologia) enquanto ao homem um
papel mais instrumental. Um estudo mais
recente do Conselho Federal de Psicologia
(2003, apud SILVA E MERLO, 2007) mostra
que a psicologia é uma profissão exercida em
sua maioria por mulheres que correspondem
a 92,2% dos profissionais da área.
Quanto à faixa etária, 40,91% dos profissionais pesquisados tem até 25 anos e fazem
parte da chamada geração Y que compreende
as pessoas que nasceram a partir de 1978
(VELOSO et al., 2008) e que se caracteriza
pelo contato com a tecnologia, estando sempre em ação e realizando múltiplas atividades,
perfil esse que é procurado pelas organizações, visto que são considerados profissionais
polivalentes (VASCONCELOS, et al., 2010).
Quanto ao tempo de formação, 45,45% dos
psicólogos tem entre um e cinco anos de conclusão do curso de psicologia e apenas uma
profissional (4,55%) tem mais de 10 anos de
formação. Quando questionadas sobre a qualidade da formação na graduação na área da
POT, 77,27% classificam como boa; apenas
uma profissional afirma que a formação na
área foi regular. Esse dado é muito relevante,
pois diversos autores observaram o contráPERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
rio em seus estudos e pesquisas, apontando
para a formação do psicólogo como uma das
maiores dificuldades encontradas na atuação.
Pereira e Gomes (2009) colocam a formação
como insuficiente, fazendo com que os formandos não estejam preparados, de maneira
satisfatória, para o mercado de trabalho. Os
cursos de psicologia, de acordo com Zanelli
(1994 apud IEMA, 1999) preparam insatisfatoriamente os seus alunos e os influenciam
negativamente quanto à área organizacional,
enfatizando apenas a área clínica. Porém, a
formação em POT dos profissionais pesquisados não foi elencada como insuficiente,
fornecendo assim uma base para a atuação,
dado esse que se diferencia da maioria dos
estudos (IEMA, 1999; PEREIRA; GOMES,
2009). Pode-se pensar que a característica
dos cursos de graduação dos profissionais da
região esteja preparando-os para outras áreas
e não apenas com o enfoque clínico.
Mesmo considerando a formação boa,
é possível observar que a maioria dos profissionais pesquisados (77,27%) possui
especialização na área da POT, sendo que
desses, 35,29 % possuem mais de uma especialização, havendo uma maior concentração
na área da Gestão de Pessoas. Pereira (2009)
destaca que, ao entrar nas organizações, o
psicólogo não consegue desempenhar todas
as suas atribuições, porque a formação acadêmica foi carente de um aprofundamento
em determinados conteúdos; com isso, o
profissional sente-se inseguro na sua atuação,
e há a necessidade de buscar maior especialização após a conclusão do curso. Pode-se
pensar que a continuidade nos estudos, dos
participantes da pesquisa, após a graduação,
seja um dos fatores que influencia a visão da
formação acadêmica como suficiente, já que
a maior parte iniciou a especialização logo
após a conclusão da graduação.
A maioria das profissionais relata que
sempre tiveram interesse em seguir a área
da POT, sendo que, 86,36% tinham interesse
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por esse contexto desde a sua formação e
dessas 73,68% pretendiam seguir unicamente
a POT. Apenas 13,64% dos profissionais
referem que não tinham interesse na área,
sendo a clínica o contexto de interesse no
período de formação. Entre as profissionais
que gostariam de seguir outra área além da
organizacional e do trabalho no período de
formação (22,73%), o contexto clínico foi
o de maior interesse com 80% dessas participantes interessadas, fato que nos leva a
pensar o quanto a psicologia tem na clínica
a sua representação de profissão. Atualmente,
68,18% das psicólogas atuam exclusivamente na área da psicologia organizacional
e do trabalho; dentre as que atuam em mais
de uma área (31,82%), a clínica é a mais
praticada. Frente a isso pode-se perceber
que a área organizacional já não é mais a
preterida: o fato de 73% dos participantes
desejarem, desde a faculdade, ser o foco de
atuação profissional, demonstra que a área
vem crescendo e ganhando prestígio dentro
da própria psicologia.
Quanto ao tempo de experiência na área,
percebe-se que a maioria atua entre 1 a 3
anos (31,82%) e cinco a dez anos (31,82%),
sendo que 27,27% das profissionais atuam a
menos de um ano na área. Quando questionadas sobre o motivo que as leva trabalhar na
área, 50% das participantes destaca o desejo
interno como fator impulsionador, 22,73%
coloca o desejo interno e a oferta de mercado
de trabalho como motivo para trabalhar na
área e, 13,64% das pesquisadas, destacam a
oferta de mercado como o único motivo para
trabalhar na POT. A remuneração é lembrada,
exclusivamente, por 4,55% das participantes.
Borges-Andrade (1990) observou, em seu
estudo, que a remuneração na área da POT é
mais adequada que nos demais contextos, o
que motiva muitos profissionais a se manter
na área. Contudo, o presente estudo demonstra que para esses profissionais o salário não
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é a principal fonte de motivação, sendo o
desejo interno o maior impulsionador a seguir
a carreira.
A maioria das profissionais (40,91%) atua
em empresas com mais de 500 e menos de
1000 funcionários; as empresas são do ramo
metalúrgico, alimentício, têxtil, entre outros,
sendo que 68,18% das empresas possuem serviço de estágio de POT. A maioria das pesquisadas ocupa o cargo de psicóloga (27,27%)
e analista de Recursos Humanos (27,27%) e
apenas 13,64% ocupam o cargo de consultora
interna e 13,64% de gerentes de RH. Apesar
disso, a maioria, 85%, considera a atuação da
psicologia na empresa estratégica, por mais
que assuma um cargo operacional. Porém,
ao fazer a relação das atividades mais praticadas, observamos que há uma contradição,
pois como mostra a figura 1, as atividades
mais realizadas pelas profissionais são o
recrutamento e seleção, a aplicação de testes
psicológicos e o treinamento, atividades estas
ligadas ao tripé operacional. As entrevistas
de desligamento também fazem parte das
atividades mais frequentes das pesquisadas.
Nessa perspectiva algumas pesquisas corroboram com o resultado, apontando a atuação do psicólogo como pouco diversificada,
tendo ainda no recrutamento e seleção a sua
principal atividade. Na pesquisa de Pereira
(2009), 100% dos psicólogos entrevistados
em seu estudo, realizam atividades de seleção e recrutamento e 87% aplicam testes
e realizam treinamentos, práticas ligadas à
primeira fase da psicologia. Dessa forma
Zanelli (2002) afirma que o psicólogo, nas
organizações, está estritamente ligado a um
fazer operacional e técnico.
As atividades menos realizadas são coaching, prevenção de acidentes, trabalho com
a saúde mental do trabalhador e análise de
cargos e salários. A atividade que raramente
é realizada é a atuação multidisciplinar na
prevenção de acidentes de trabalho, e eventualmente aparece avaliação de desempenho,
PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
pesquisa de clima, programa de Qualidade
de Vida no Trabalho (Programa de QVT) e
atendimento aos colaboradores.
utilizados pelos profissionais para o processo
de seleção.
Figura 2 - Testes Psicológicos utilizados pelos profissionais
Figura 1 - Freqüência das atividades realizadas.
Apesar das atividades ligadas ao tripé
operacional brotarem com mais frequência,
é possível observar que há a presença de
atividades estratégicas na atuação desses
psicólogos na empresa, ainda que com menor
frequência, o que mostra que a psicologia
tem procurado abrir espaços para a sua
atuação. Pereira e Gomes (2009) destacam
que a atuação do Psicólogo Organizacional
só se expande quando, através do esforço
pessoal, este procura a profissionalização,
caso contrário sua atividade fica restrita a
recrutamento e seleção. Um estudo realizado
por Borges, Oliveira e Morais (2005) ratifica
que a grande maioria dos psicólogos ainda se
pauta nas práticas operacionais. Além disso,
concluem que as características do local
influenciam para inovações no trabalho do
psicólogo, levando em consideração o estilo
gerencial e as demandas da organização.
Portanto, o desafio encontra-se em os psicólogos ampliarem o seu fazer nas empresas,
trabalhando a cultura organizacional.
Os testes psicológicos são instrumentos
bastante utilizados para a seleção de pessoal.
A figura 2 mostra quais os testes são mais
PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
Quanto à carga horária, 45,45% das profissionais têm carga horária de 40 horas semanais e apenas uma psicóloga faz 20 horas
semanais. Em estudo realizado por Silva e
Merlo (2007) destaca-se que os profissionais
da área da POT são os que têm maior carga
horária de trabalho, o que é elencado pelos
profissionais como fonte de sofrimento;
esses profissionais tem jornadas integrais o
que dificulta na realização de outras atividades, e os profissionais que possuem menor
carga horária na empresa possuem outras
tarefas atuando como consultores ou na área
clínica, fato este corroborado pela presente
pesquisa, onde os profissionais que atuam em
outra área além da POT têm, em sua grande
maioria (57,14%), a clínica como mais uma
fonte de renda.
Todas as profissionais relatam gostar do
trabalho que realizam, sendo que 85,71%
sentem-se reconhecidas no trabalho, 80,95%
reconhecem a abertura dos gestores para a
atuação da psicologia como boa e 19,05%
elencam essa abertura como regular. Quando
questionadas sobre as principais dificuldades
encontradas na atuação, a mais lembrada diz
respeito à falta de vivência administrativa
do psicólogo, seguido da resistência à mudança, da falta de infra-estrutura e do baixo
salário, como é possível observar na figura 3.
Borges-Andrade (1990) encontrou aspectos
semelhantes na qual a falta de vivência administrativa também foi elencada como a maior
dificuldade e o motivo de descontentamento
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Leticia Ribeiro Souto Pinheiro - Chaiana Luciana Mario - Marta Giacomini
na área da POT, bem como a resistência a
mudança. Porém, na pesquisa desse autor, a
infra-estrutura e a remuneração não aparecem
como aspectos negativos ou como dificuldades de atuação na área, mas ao contrário é
citada como aspecto positivo.
Figura 3 - Dificuldades encontradas na atuação do psicólogo Organizacional e do Trabalho
Novamente podemos observar que a
formação acadêmica não é sentida como
dificuldade na atuação, bem como a abertura dos gestores e o reconhecimento das
intervenções da psicologia, o que nos leva a
pensar que a psicologia vem abrindo campo
de atuação dentro das empresas, sendo assim
reconhecida no trabalho que realiza quanto
à sua eficácia e importância.
Considerações finais
A partir do estudo é, possível observar que
os profissionais que atuam na POT na Região
Norte do Rio Grande do Sul, têm, em sua
maioria, interesse por essa área de atuação
desde a sua formação, entrando no mercado
de trabalho logo após a formação e investindo em especializações. Esses profissionais
consideram a sua formação como suficiente
para a atuação na área, fato que se distingue
de outros estudos (IEMA, 1999 e PEREIRA
130
e GOMES, 2009). Diante disso, pode-se
pensar que a POT vem sendo reconhecida
e a relevância do seu conhecimento sendo
ampliada nos cursos de graduação. Outro
fator que pode interferir no reconhecimento
da graduação como suficiente se refere ao
aprofundamento nos estudos dos participantes por meio de especializações.
A partir das práticas elencadas por esses
profissionais, pode-se perceber que a POT
carrega consigo muito do seu passado, onde
surgiu com o intuito de colocar a pessoa adequada no local adequado, através de testagens
e treinamentos. É por esse contexto histórico
que ainda hoje as tarefas praticadas com
maior frequência pelos profissionais estão
ligadas ao tripé operacional (recrutamento,
seleção, treinamento), cabendo aos outros
membros do RH as tarefas mais administrativas. Desta maneira, observou-se, no estudo,
que embora os profissionais considerem a
sua prática estratégica, as atividades ligadas
ao fazer operacional mostram-se como mais
presentes na prática desses profissionais e a
maior dificuldade encontrada por eles é a vivência administrativa. Como ressalta Zanelli
(2002), existe uma gama de atividades, que
podem receber a contribuição do psicólogo,
contudo, a maioria dos próprios psicólogos e
também as empresas estão presos às práticas
operacionais e técnicas.
As atividades exercidas com menor
freqüência, estão ligadas à terceira fase da
POT, voltadas para a saúde do trabalhador
e a compreensão do colaborador como um
ser integrado. Desta forma, percebe-se que a
POT ainda está no caminho do crescimento,
assimilando os novos modelos e necessidades do mercado de trabalho, já que o capital
humano é uma das maiores riquezas na
atualidade.
No momento, os profissionais elencam o
desejo interno como impulsionador a seguir
a profissão, sentindo-se reconhecidos no seu
trabalho, percebendo abertura dos gestores
PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
para a atuação profissional e conseguindo
trabalhar de maneira multidisciplinar. Esse
fato demonstra que as empresas reconhecem
a importância e relevância do conhecimento
psicológico no âmbito das organizações.
Diante dos resultados obtidos, é possível
observar que a POT vem buscando abrir espaços para a sua atuação dentro das empresas.
Embora as atividades ligadas ao fazer opera-
cional sejam as mais praticadas pelas profissionais, pode-se observar que há a presença
de atividades mais estratégicas e também
um incômodo gerado pela falta de vivência
administrativa do psicólogo na empresa, o
que demonstra interesse e busca desses profissionais para uma maior integração do seu
fazer com a expansão da sua atividade para
além do recrutamento e seleção.
AUTORES
Leticia Ribeiro Souto Pinheiro - Psicóloga, Mestre em Psicologia pela Unisinos, Professora
do Curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões.
E-mail: [email protected]
Chaiana Luciana Mario - Psicóloga pela Universidade Regional Integrada do Alto Urugruai
e das Missões. E-mail [email protected]
Marta Giacomini - Psicóloga pela Universidade Regional Integrada do Alto Urugruai e das
Missões. E-mail: [email protected]
REFERÊNCIAS
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BASTOS, A; GONDIM, S. O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2010.
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PERSPECTIVA, Erechim. v.36, n.136, p.123-132, dezembro/2012
131
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A atuação do psicólogo organizacional e do trabalho no Norte