Finanças comportamentais e a sua racionalidade Em sua grande maioria, as teorias econômicas tradicionais estão calcadas na racionalidade dos agentes de mercado, pela qual estes são capazes de avaliar e apreçar de forma coerente todas as informações disponíveis. Esta abordagem permeia o conceito de que os mercados são eficientes e, portanto, comportam a correta avaliação de seus ativos. No entanto, diversos estudos vêm comprovando por meio de experimentos que os respectivos participantes estão passíveis de condutas irracionais e emotivas, contrastando diretamente com a proposta de eficiência dos mercados globais. Baseada nesta premissa, surge então o conceito de Finanças Comportamentais. Esta nova direção acadêmica vem buscando explicações para uma série de fenômenos comumente observados e contrários aos dogmas dos modelos tradicionais. Meu objetivo neste artigo é, de forma simples e direta, provê-los de questões cuja essência nasce na própria psicologia. Sendo assim, explorarei apenas dois dentre muitos pilares que sustentam a teoria das Finanças Comportamentais. São eles: excesso de confiança/otimismo e aversão à perda. Você sabia que 82% das pessoas nos Estados Unidos acreditam estar no grupo dos 30% melhores motoristas do país? Ou ainda, que 19% da população americana se inclui na lista de 1% mais rica? De forma análoga, este comportamento é um misto de otimismo e excesso de confiança que aflige investidores em geral. São pessoas que muitas vezes se consideram bem acima da média e acreditam ser capazes de prever e avaliar corretamente os eventos futuros. Mas, na vida real, a grande maioria não pode, estatisticamente, estar situada acima da média. Pesquisa realizada por Shiller (2000) nos dias subseqüentes à queda da Bolsa de Nova York em outubro de 1987 revela que 48% dos entrevistados sabiam identificar com precisão o nível mais baixo dos ativos negociados naqueles dias. Perguntados como chegaram àquela conclusão, 88% justificaram como sendo uma “intuição de mercado”. Estudos comprovam surpreendentemente que o nível de confiança de investidores aumenta de acordo com o incremento no grau de complexidade da decisão a ser tomada. E, para confortá-los, está intrínseca na natureza humana a busca contínua por evidências que corroborem com suas crenças em vez da procura por provas que venham contrariá-las. Poucas pessoas tentam descobrir que estão erradas com seus próprios esforços de pesquisa, principalmente se estiverem largamente comprometidas com os resultados das companhias pertencentes ao seu portfólio de ações. Uma característica interessante nestes casos é o investidor conferir pesos excessivos às informações positivas recentemente divulgadas, superavaliando significativamente o impacto no fluxo de caixa das empresas das quais é acionista e subavaliando os riscos inerentes àquele ativo. Leia-se efeito propriedade! Por muitas vezes, esta postura é suficiente para comprometer suas avaliações e possivelmente refletirá na rentabilidade de sua carteira. Não menos importante e talvez mais difundido, o conceito de aversão à perda é outro pilar que sustenta a Teoria das Finanças Comportamentais. Você já manteve uma posição perdedora na expectativa que a ação retornasse ao patamar de compra? Quantas vezes você realizou um investimento com prejuízo e relatou aos amigos? De modo geral, o ser humano evita anunciar perdas independente de sua magnitude e extensão, pois tende a sofrer mais com o prejuízo do que obter prazer com um ganho equivalente. Mas, caso o anúncio seja iminente, investidores recaem sobre a máxima de que investir em ações é sempre uma estratégia de longo prazo. Afinal de contas, assumir uma perda é assumir um erro. Investidores assumem posições compradas ou vendidas não porque eles simplesmente “sabem” qual será a direção do mercado, mas porque suas análises apontam para alguma destas opções. Logo, eles “desejam” que algum desses eventos aconteça. A diferença entre “desejar” e “saber” é umas das prerrogativas das Finanças Comportamentais. Essa indissociabilidade entre emoções e investimentos caracteriza o dinheiro não só como um forte propulsor de interesses econômico-financeiros, mas também pessoais, sociais e políticos. São motivações que constantemente levam as pessoas a cometerem sucessivos erros e causam impactos negativos nas respectivas carteiras de ações. Portanto, independente do perfil do investidor, cabe a ele adicionar aos seus critérios decisórios todas as ferramentas disponíveis ao conhecimento. E, neste caso, o conceito comportamental assume papel preponderante. Fonte: Valor Econômico