O QUADRILÁTERO FERRÍFERO E O NORTE DE MINAS GERAIS:
ANÁLISE DA HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
MAGNO ALEX DE JESUS NUNES
GRADUANDO EM GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSUNIMONTES
[email protected]
SILVIANE GASPARINO COSTA
GRADUANDA EM GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSUNIMONTES
BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO PIBIC/FAPEMIG-UNIMONTES
[email protected]
ROSIANE GOMES DA SILVA
GRADUANDA EM GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSUNIMONTES
[email protected]
Resumo
O Quadrilátero Ferrífero (QF) é a maior província de minério do Brasil. Localizado na
área central do estado de Minas Gerais, desencadeia intensos fluxos de trocas
comerciais de seus minérios, tanto dentro, quanto fora do país, além de gerar subsídios
para a modernização do sistema de transportes e infraestrutura logística, visando o
escoamento de sua produção. O Norte de Minas Gerais é considerado a nova província,
pois encontra-se em fase de implantação projetos de exploração de minérios. Os estudos
feitos indicam que o teor dos minérios encontrados será de grande importância
econômica para a região e também para o estado. Sabendo disto, o presente trabalho
expõe a história da descoberta de minérios na área central QF e no Norte do estado, a
relevância do sistema de transportes para a viabilização de escoamento e os impactos
causados ao meio ambiente. A metodologia utilizada para a realização do trabalho se
baseia na coleta de dados secundários, com pesquisas bibliográficas para o
embasamento teórico frente a diversos autores e instituições.
Palavras-chave: Quadrilátero Ferrífero; Norte de Minas; infraestrutura logística;
commodities.
Introdução
A descoberta de minérios na região central do estado de Minas Gerais impulsionou um
intenso deslocamento de grande contingente populacional. O povoamento do país que
antes era restrito ao litoral, tendo como principal atividade produtiva a monocultura da
cana de açúcar direcionada à exportação e o trabalho compulsivo praticado pelos
escravos e indígenas, passa a partir de então a ser substituída gradualmente pela
atividade mineraria.
A mineração, diferentemente das outras atividades praticadas à época, não necessitava
de capital inicial, sendo praticada por toda sorte de pessoas que se aventuravam à
- Artigo desenvolvido durante a disciplina: Geografia do Comércio e Circulação, – 1º/2012.
procura do enriquecimento precoce. Porém, por conta das características intrínsecas a
esta atividade e visto que o pessoal encarregado da extração não possuía tempo
suficiente para dividir sua atenção entre o garimpo e o cultivo de alimentos, além dos
problemas advindos de questões físicas na área do Quadrilátero Ferrífero (o solo pouco
fértil e o relevo com grandes desníveis), resultando um grande contingente de fome.
Houve então, a necessidade de se estabelecer o intercâmbio com as outras regiões do
país, as quais passariam a fornecer produtos dos mais variados, desde alimentos até
roupas. Assim, se estabeleceram as trocas comerciais, com intensos intercâmbios
internos além dos fluxos migratórios que povoaram áreas de grandes extensões
territoriais desabitadas do país. O Quadrilátero Ferrífero possui até os dias atuais,
grande importância econômica e cultural para o Brasil e para o estado de Minas Gerais.
Sabendo da importância assumida pela mineração no Brasil, faz-se a caracterização do
Q.F. e o diagnóstico da fase de implantação da exploração mineral no Norte de Minas
Gerais.
Neste contexto, este artigo expõe a história da descoberta de minérios na área central
QF e no Norte do estado, a relevância do sistema de transportes para a viabilização de
escoamento e os impactos causados ao meio ambiente. O caminho metodológico
utilizado consistiu em coleta de dados secundários, com pesquisas bibliográficas para o
embasamento teórico frente a diversos autores e instituições.
Quadrilátero Ferrífero-MG
O Centro-Sul de Minas Gerais após os anos de 1950 passa a ser chamado de
Quadrilátero Ferrífero. Este fato se deu fundamentalmente por conta das grandes
descobertas de minérios metálicos e pedras preciosas descobertas nos fins do século
XVII. O Quadrilátero Ferrífero (Mapa 1) abrange uma área de aproximadamente 7.000
Km², inserida em uma região de terras altas no centro de Minas Gerais, ocupando um
conjunto de serras dispostas quase ortogonalmente, possui altitudes médias que giram
em torno de 1.000 metros, sendo que as quotas mais elevadas são superiores a 2.000
metros (Serra do Caraça, a leste) e as mais baixas alcançam 600 metros (noroeste de
Ouro Preto, arredores do distrito de Amarantina e município de Sabará).
2
Sua rede hidrográfica é representada por duas importantes bacias, denominadas Bacia
do Rio São Francisco e Bacia do Rio Doce. “A primeira representada pelas bacias do
Rio das Velhas e do Rio Paraopeba e, a segunda, pela bacia do Rio Piracicaba, que
aparece na porção leste” (SILVA, 2007, p.52). Abriga temperatura média anual de 20°
C, predominando o clima do tipo CWA, de acordo com classificação de Koppen,
caracterizado como temperado-quente, com estações bem definidas (verão chuvoso e
inverso seco). A precipitação média varia entre 1.300 mm a leste e 2.000 mm a sul
(HERZ, 1978, apud SILVA, 2007).
Sua vegetação possui características variadas com a Floresta Estacional Semidecidual,
área de transição de Floresta para o Cerrado, e, por causa de sua geologia e de suas
altitudes, encontram-se paisagens do tipo Campos Cerrados e Campos Rupestres, todos
estes tipos vegetais influenciados pelo uso e ocupação do solo (atividades minerárias,
grande densidade populacional) na área.
Mapa1– Localização da área do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais – Brasil com os principais
municípios inseridos na área.
Autor: FERREIRA, M. F. F., 2012.
De acordo com Scliar (1992, p.36) apud Silva (2007, p. 42), o Quadrilátero Ferrífero foi
assim denominado por Gonzaga de Campos, devido à sua configuração que abriga os
maiores depósitos de minério de ferro que delimitam a região, formando uma área
3
geométrica “planimétrica quadrangular”. As rochas expostas na região possuem idades
Arqueanas e Paleoproterozóicas, compreendidas nos intervalos de 3,2 a 2,6 GA e 2,6 a
2,0 GA, respectivamente (QFE-2050, 2009).
Sua geologia heterogênea fornece uma série de minerais, destacando-se entre eles,
principalmente, o minério de ferro, manganês, ouro, estealito, topázio imperial,
esmeraldas entre outros. Integra, totalmente, ou parcialmente um total de 35 municípios,
com uma população estimada em 4.135.951 pessoas (IBGE, 2010), sendo estes: Barão
de Cocais, Belo Horizonte, Belo Vale, Betim, Brumadinho, Caeté, Catas Altas,
Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ibirité, Igarapé, Itabira, Itabirito, Itatiaiaçu, Itaúna,
Jeceaba, João Monlevade, Mariana, Mário Campos, Mateus Leme, Moeda, Nova Lima,
Ouro Branco, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima, Rio Manso, Rio Piracicaba, Sabará,
Santa Bárbara, Santa Luzia, São Gonçalo do Rio Abaixo, São Joaquim de Bicas e
Sarzedo (SILVA, 2007).
Os minérios do Quadrilátero Ferrífero
Após as séries de descobertas minérios, ocorridas nesta região, o Brasil que antes era
ocupado quase que exclusivamente pelo litoral, passa a sofrer um intenso deslocamento
de pessoas para as áreas das minas, provocando a interiorização do país. Por conta deste
fato, o total da área que abrange o QF, abriga a maior concentração urbana de Minas
Gerais, com 22% do total da população do estado (QFE-2050, 2009).
Analisando a economia do estado de Minas Gerais, esta tem na mineração uma de suas
principais atividades industriais, sendo o Quadrilátero Ferrífero a região do estado que
mais se destaca em função de suas ricas jazidas de minérios de ferro. Assim, QFE-2050
(2009), destaca que,
Estimativas do início do século XXI apontam que mais de 55 milhões de
toneladas de minério de ferro eram anualmente exploradas na região. Em
2007, a produção brasileira de ferro alcançou 354, 67 milhões de toneladas e
a participação do Quadrilátero Ferrífero atingiu 72% desse total (DNPM,
2009, Apud QFE-2050, 2009). Além disso, os municípios localizados no QF
são responsáveis por 26,8% do PIB de Minas Gerais (QFE-2050, 2009).
Além da mineração, as atividades que sustentam a região são: turismo, siderurgia e
metalurgia. A agricultura existe, mas, em pequena escala, não é bem desenvolvida
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devido à topografia e o solo, os quais desfavorecem esta atividade produtiva. Porém, um
fato marcante é a ocorrência da concentração de extensas áreas em poder de grandes
mineradoras – concentração fundiária, fato este que também impede o desenvolvimento
da agricultura.
Analisando mais profundamente o setor de atividade de extração de minérios, visto que
este foi um dos motivos que impulsionou a interiorização do país na época colonial,
verifica-se que após o nascimento desta atividade, houve o desenvolvimento de
profundas e sensíveis transformações no país: um polo econômico cresceu no Sudeste,
relações comerciais inter-regionais se desenvolveram, criando um mercado interno e
fazendo surgir uma vida social essencialmente urbana. As minas propiciaram uma
diversificação relativa dos serviços e ofícios, pois o pessoal encarregado de extrair os
minérios dedicava-se exclusivamente a esta atividade, tendo que serem abastecidos de
alimentos e vestimentas de outras áreas que não as situadas nas minas, provocando o
intercâmbio entre as regiões brasileiras.
Atualmente, a mineração constitui um importante setor econômico, visto que a
proliferação e o desenvolvimento do setor industrial, tanto dentro, quanto fora do país,
pedem cada vez mais matérias-primas para o seu funcionamento. Assim, no mercado
externo o commodities de minérios, por serem produtos de base e não possuírem
nenhuma ou apresentarem nível mínimo de industrialização são negociáveis em nível
global, sendo suscetíveis a oscilações nas cotações de mercado, em virtude de perdas e
ganhos nos fluxos financeiros. Também não possuem valor agregado, pois não
apresentam referência ou serviço que as diferencie, desta feita, o produto resultante da
transformação dos minerais responde pela percentagem maior de seu valor.
Dos minérios extraídos da região do Quadrilátero Ferrífero, pode-se destacar o minério
de ferro e o manganês para descrever os produtos resultantes de sua transformação e
agregação de valor (QUADRO 1).
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TRANSFORMAÇÕES MINERAIS
Ferro
Manganês
Uso comercial
Uso doméstico
Uso comercial
Uso doméstico
Trens de carga
Grampos
Aço inoxidável
Tinta para construção civil
Prateleiras de loja de varejo Zíperes
Fertilizantes
Carros
Robótica industrial
Réguas
Pilhas/baterias
Equipamento siderúrgico
Telefones celulares
Vergalhões de construção
Tubulações esgoto
Pias de cozinha
Hidrantes
Palha de aço
Redes de telecomunicações Armações de óculos
Escavadeiras
Máquinas de lavar
Arranha-céus
Automóveis
Rede elétrica
Geladeiras
Tubulações de resfriamento Torneiras
Equipamento rural
Máquinas de costura
Estádios esportivos
Canetas estereográficas
Pontes
Talheres
Trilhos
Pregos e parafusos
Aviões
Liquidificador
Quadro 1: Transformação de minerais em produtos de uso comercial e doméstico.
Fonte: VALE, 2010. Organização: COSTA, S.G., 2012.
Pode-se depreender através da observação do Quadro 1 que a utilização de matérias
primas está presente nos mais diferentes níveis do consumo humano, tornando-se assim,
indispensáveis à fase atual do capitalismo de mercado. Assim, visto a importância
destas matérias primas (tidas como estratégicas) para a indústria de transformação,
observa-se cada vez mais o constante acirramento das disputas pela posse destes bens
naturais. Assim, em Minas Gerais, estado com geologia rica em minérios de alto valor
econômico, há um histórico de especulação por parte de empresas com interesse na
exploração de suas jazidas minerais.
Durante o governo Nilo Peçanha, foi revelada a existência de jazidas de minério de
ferro na região de Itabira-MG pelo recém criado, na época (1908), Serviço Geológico e
Mineralógico Brasileiro, este fato levou a grande interesse de exploração por parte de
grupos estrangeiros, a CVRD (1990) descreve,
Tal fato levaria grandes grupos estrangeiros a adquirirem todas as jazidas
identificadas na região do Quadrilátero Ferrífero, aproveitando-se das
brechas existentes na Constituição brasileira. No ano seguinte, um desses
grupos, o Brazilian Hematite Syndicate, formado por banqueiros e industriais
ingleses e objetivando a exportação do minério de ferro de suas jazidas,
adquiriu o controle acionário da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Em
seguida, obteve autorização do governo para alteração da Estrada de Ferro na
direção da cidade de Itabira (CVRD, 1990, p. 47).
O fato citado acima evidência que o controle de exploração das minas não era
suficientemente agradável aos grupos de empresas estrangeiras, também, era necessário
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o controle de estradas e meios de transporte que ficariam encarregados de transportar o
minério extraído e direcioná-lo a terminais encarregados do seu beneficiamento. Este
fato decorre fundamentalmente, porque o transporte é vital para escoar os produtos de
qualquer tipo e no caso da mineração que necessita deslocar imensos volumes de
matérias-primas a importância se faz crescente. Dessa forma, o transporte visto como
solução implica em alguns casos em problema, quando da falta ou precariedade do
mesmo. BDMG, (2002) fata que,
[...] as principais barreiras à entrada na mineração de ferro não são
tecnológicos, mas, de duas naturezas: a) de caráter institucional (direitos de
lavras); b) relativas ao volume de capital, face ao montante necessário para a
implementação das minas e, principalmente, da infraestrutura de escoamento
da produção. (BDMG, 2002, p. 66).
O mesmo também diz que os investimentos intensivos em capital caracterizam-se em
três atividades – mina e usina de beneficiamento, transporte (ferrovia ou mineroduto) e
instalações portuárias. A “Vale” (nome assumido pela Companhia Vale do Rio Doce –
CVRD) uma das empresas atuantes no Brasil no ramo de exploração mineral relata
também, que investe uma soma expressiva de capital na infraestrutura de logística para
assegurar o escoamento da produção “nosso diferencial é ter um sistema integrado, a
chamada cadeia integrada, que liga minas a ferrovias, ferrovias a portos e portos a
navegação” (VALE, 2012).
Lamoso (2011, p.359), relata que a “Vale” possui uma centralização de capital sob seu
comando, e tem adquirido a concorrência e dominado a circulação de mercadorias em
sua área de atuação. Sua participação na extração de ferro na região do QF representou
em 2007, 37% (LAMOSO, 2011, p.359). Também inclui que, a Estrada de Ferro Vitória
Minas desde a época que começou a ser utilizada para embarque de minério pela
Companhia inglesa “Itabira Iron Company” no início do século XX, persistiu ao
contrário de outras ferrovias instaladas em outros lugares.
Além da (EFVM), outra via de escoamento da produção mineral no Quadrilátero
Ferrífero é o Mineroduto, de propriedade da empresa “Samarco Mineração”. O mesmo
possui 396 quilômetros de extensão, ligando a mina de Germano-MG ao “Porto de
Ubu” no Espírito Santo (são 66 horas, a uma velocidade aproximada de 6km/h). É o
maior mineroduto para transporte de minério de ferro do mundo, sua carga é
transportada em uma popa pela adição de água e bombeada até o litoral, e é
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economicamente mais rentável do que o transporte ferroviário (LAMOSO, 2011,
p.365).
Norte de Minas Gerais
A Mesorregião do Norte de Minas Gerais é uma das doze mesorregiões em que se
subdivide o estado. Esta mesorregião também está divida em sete microrregiões, a
saber: Bocaiúva, Grão-Mogol, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas. Os
municípios componentes da mesorregião totalizam 89, ocupando uma área territorial de
128.602 km².
A vegetação da região apresenta transição entre os biomas do cerrado e da caatinga,
localizada numa área de terrenos antigos, já bastante desgastados por processos
erosivos. As bacias hidrográficas que drenam a região são a do São Francisco e a do
Jequitinhonha, além da bacia do Rio Pardo. Muitos dos afluentes destas bacias possuem
regime anual intermitente, caracterizando grande seca na maior parte do ano. Conforme
Pereira (2007), o clima predominante de acordo com a “classificação de Koppen,
corresponde aos tipos AW (tropical úmido de savanas com invernos secos) e BSW
(quente, seco, com chuvas de verão)”, (PEREIRA, 2007, p.100).
O povoamento da região ocorreu por volta do século XVII e se caracterizou
principalmente pelo processo de interiorização do país, neste caso em específico pela
criação de gado de corte para abastecer a zona açucareira, conforme Pereira (2007),
O processo histórico de ocupação do Norte de Minas iniciou-se no século
XVII, a partir do movimento de expansão da pecuária, ao longo do São
Francisco, sendo que a parte ocidental pertencia a Pernambuco e a parte
Oriental, à Bahia. Entre os séculos XVII e XVIII, a região foi sendo ocupada
por vaqueiros, originários da Bahia e de Pernambuco, que subiam o São
Francisco e, por bandeirantes paulistas. A diversidade de grupos indígenas
que aí habitavam foi dizimada, restando hoje descendentes dos Xacriabás, no
município de Itacarambi.Para muitos memorialistas e historiadores, o sertão
não se prestava ao cultivo da cana e estava distante do litoral, por isso não
despertou o interesse da coroa portuguesa. Sua organização sócio espacial
plasmou-se pelo fornecimento de gado e derivados de pecuária, primeiro para
a região canavieira e, depois, para a área da mineração. (PEREIRA, p. 2007,
p.101-102).
De acordo com o processo de ocupação do Norte de Minas esta região não foi vista
como potencial econômico, sendo considerada apenas como um território fornecedor de
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mercadorias (alimentos, em sua grande maioria), para outras áreas do país. Por causa de
suas características geográficas, sociais e econômicas semelhantes às verificadas no
nordeste, esta região foi incluída na área de atuação da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE em 1963, pelo 2º Plano Diretor.
O plano propunha investir em infraestrutura econômica, direcionando os recursos para
construção e a pavimentação de estradas, para a ampliação e melhoramento do sistema
de energia e de comunicações, distribuição de água e nos serviços de esgoto. Também,
por possuir um regime pluviométrico bastante irregular durante a maior parte do ano e o
clima semiárido na maioria dos municípios que a compõem, a região norte de minas foi
incluída juntamente com os estados do nordeste, no Polígono das Secas. De acordo com
a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba - Codevasf
(2012),
O Polígono das Secas compreende uma divisão regional efetuada em termos
político-administrativos dentro da zona semiárida, apresentando diferentes
zonas geográficas com distintos índices de aridez, indo desde áreas com
características estritamente de seca, com paisagem típica de semideserto a
áreas com balanço hídrico positivo, como a região de Gilbués, no Piauí.
Esta mesma estatal ficou encarregada de desenvolver e executar projetos de irrigação
para as áreas semiáridas banhadas pelos rios São Francisco e Parnaíba, com o intuito de
gerar meios de sobrevivência para a população destas áreas deprimidas. Pereira
(2011,p.8) apud (Geipot, 2001; Rodrigues, 2000) fala que,
Na região Norte-mineira, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco e Parnaíba – CODEVASF, incentivou também os investimentos
em infraestrutura econômica e o aproveitamento econômico do Vale do São
Francisco, originando os projetos de agricultura irrigada regionais, como os
Projetos Jaíba, Gorutuba, Lagoa Grande, Pirapora, entre outros.
Estes projetos de irrigação foram fundamentais para que muitas famílias de agricultores
se fixassem no campo, promovendo, a través das condições favoráveis de produção,
bem estar para estes trabalhadores rurais e também para a população que se beneficia
dos alimentos produzidos por estes.
A economia do Norte de Minas e a mineração
As atividades econômicas mais desenvolvidas na região Norte de Minas são
principalmente as voltadas ao setor primário, como a agricultura de subsistência, a
silvicultura, a pecuária de corte e a fruticultura irrigada, praticada por agricultores e seus
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familiares em sua grande maioria localizados nos projetos de irrigação como o do Jaíba,
Gorutuba e Pirapora. Também, observa-se a produção têxtil, a de biotecnologia e
biodiesel na região. No setor terciário, a cidade polo que apresenta maior dinamicidade
é a de Montes Claros, por absorver grande parte da população do norte do estado, pelo
comércio e serviços que oferece (hospitalares, estudantis, transportes e de negócios).
Atualmente, o norte de minas vem sofrendo grande especulação de sua geologia, visto
que foram descobertos minerais de expressivo valor econômico em seu solo. É o que
nos diz a SEDE – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (junho de
2011):
Fronteira Mineral – Uma nova era de desenvolvimento se delineia para a
região Norte de Minas, com a expectativa da chamada nova fronteira mineral
com a viabilização da produção de minério de ferro de baixo teor. A reserva
estimada é de 20 bilhões de toneladas de minério abrangendo 20 municípios,
entre eles, Salinas, Rio Pardo de Minas, Grão Mogol e Porteirinha. Para
alavancar a exploração mineral nesta nova fronteira, o Governo de Minas vai
apoiar projetos de infraestrutura e de planejamento logístico.
Esta nova fronteira mineral à qual descreve o Governo do Estado, compreende vinte
municípios da região Norte, entre eles estão Rio Pardo de Minas, Grão Mogol,
Porteirinha, Salinas e Riacho dos Machados (MAPA 2).
Mapa 2 – Localização do Norte de Minas com municípios propensos à extração mineral.
Autor: FERREIRA, M. F. F., 2012.
Estes municípios possuem em sua grande maioria, na sua história de ocupação aspectos
relacionados à descoberta de minerais, IBGE (2010):
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Rio Pardo de Minas - A povoação teve sua origem na mineração de ouro e
diamantes praticada por Portugueses, nas serras do atual distrito de Serra
Nova. O comércio era estabelecido diretamente com a capital da Bahia e com
as cidades de Condeúba, Jacaraci, Caculé e Feira de Santana. Sabe-se que a
primeira expedição que pisou as terras do atual município foi denominada
Espinosa Navarro, procedente de Caravelas, que percorreu todo o vale do Rio
Pardo até entrar no município de Espinosa... Porteirinha - como a maioria
das povoações da região, originou-se a partir de uma pousada de viajantes à
margem de um rio. O local onde se originou a povoação era apenas um
movimentado ponto de pousada para os viajantes os quais demandavam o sul
do estado e do País, vindos do estado da Bahia e de vasta região do nordeste
brasileiro e os que faziam o percurso de volta... Salinas - O desbravamento
da região de Salinas foi feito pelos bandeirantes oriundos da Bahia, que, sob
o comando de Antônio Luís dos Passos, bateram aquelas terras na cata de
riquezas. A gleba mineira, generosa como sempre, ofereceu ao desbravador,
abundantes jazidas de sal, produto, então escasso e, por isso mesmo, de
elevado preço. Tal descoberta contribuiu, sobremaneira, para o povoamento
daquela região, onde hoje se ergue a cidade de Salinas... Riacho dos
Machados - a família Machado, que havia se instalado num lugar chamado
Tapera, passou a explorar as redondezas, vinda a conhecer a capelinha de
Santo Antônio do Riacho, erguida pelos tropeiros como ponto de orações e
referência... Decidiram, então, fixar residência nas imediações da capela.
Paulatinamente, a família Machado passou a assumir a liderança local e em
torno dela se agruparam viajantes vindos do nordeste e tropeiros que se
mudaram para o local... Grão Mogol - O povoado Serra de Santo Antônio do
Itacambiraçu, atual Grão Mogol, teve sua origem relacionada à descoberta de
diamantes no final do século XVIII. No ano de 1839, o lugarejo era chamado
de Arraial da Serra de Grão Mogol e logo passou a atrair pessoas do país e
estrangeiros (portugueses, franceses, alemães, entrelém de outros europeus),
que, provavelmente, atuavam na exploração de diamantes. (IBGE CIDADES, 2010).
O Produto Interno Bruto (Tabela 1) abaixo, juntamente com a descrição do contexto
histórico de um lugar que foi feito acima são importantes para saber em que se assenta a
economia de determinado lugar, afim, de suscitar uma análise mais consistente.
MUNICÍPIO
AGROPECUÁRIA INDÚSTRIA
19.286
136.502
Grão Mogol
22.253
4.092
Riacho dos Machados
47.875
12.202
Rio Pardo de Minas
19.571
17.704
Porteirinha
19.456
31.355
Salinas
Tabela 1 – Dados do PIB municipal.
Fonte: IBGE, 2010. Organização: COSTA, 2012.
SERVIÇOS
47.101
26.179
87.760
109.532
168.986
PIB Total
202.889
52.524
147.837
146.807
219.797
Como pode ser visto na tabela acima, o maior PIB apresentado é o de Salinas, que
possui a sua economia voltada para o setor de serviços, em segundo lugar temos Grão
Mogol, que diferente de Salinas, possui a maior parte de seu PIB voltado para a
Indústria. Porteirinha também possui um setor de serviços fortalecido, as outras cidades
(Riacho dos Machados e Rio Pardo de Minas) se assentam no setor de serviços, porém,
com valores menos discrepantes.
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De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas
Gerais, o PIB destes municípios aumentará significativamente, decorrente da exploração
mineral que irá ocorrer nesta região. O protocolo de intenção foi assinado com a
empresa Vale S. A., que já atua com a exploração mineral do Q.F. Será feito um
investimento de R$ 560 milhões, para implantação de uma mina de ferro nos
municípios de Serranópolis de Minas, Riacho dos Machados, Grão Mogol e Rio Pardo
de Minas. O projeto também foi assinado pelo então presidente do INDI (Instituto de
Desenvolvimento Integrado). Conforme consta no site da SEDE, o empreendimento
deverá ser concluído até 2014, gerando 500 empregos diretos e indiretos na fase de
implantação e 250 diretos e indiretos na fase de operação, SEDE (2011) descreve,
O novo empreendimento da Vale irá produzir e comercializar minério tipo
fino comum, granulado e pellet feed. Em janeiro deste ano foi iniciado o
processo de licenciamento ambiental, enquanto a pesquisa geológica
adicional deverá ser iniciada em agosto de 2011. A partir de 2014, a
capacidade inicial de produção deverá ser de 200 mil toneladas de minério
tipo granulado, enquanto deverão ser produzidas 400 mil toneladas de
minério fino comum, utilizando beneficiamento a seco. As pesquisas em
andamento para levantamento das reservas apontam um potencial de
produção da ordem de 600 mil toneladas de minério de ferro por ano.
Outros investimentos previamente acordados pelo estado de Minas ocorrerão por meio
de parcerias de empresas nacionais e internacionais, conforme (TABELA 2).
EMPRESAS:
VALORES DOS INVESTIMENTOS:
3,6 bilhões
Mineração Minas Bahia (MIBA)
Sul Americana Metais (SAM) do grupo
3,2 bilhões
Votorantim em parceria com a chinesa
Honbridge Holgins Limited
250 milhões
Mineração Riacho dos Machados
Tabela 2 – Empresas que investirão na extração de minerais no Norte de Minas.
Fonte: SEDE-Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, 2011. Organização:
COSTA, 2012.
Para alavancar a exploração mineral nesta região será preciso infraestrutura e
planejamento logístico, com a criação de rodovias e demais modais de escoamento da
produção. Também “será preciso desenvolver a produção de energias renováveis como
a eólica e fotovoltaica, além de construir novas barragens as quais também servirão para
irrigação” (RIBEIRO, 2011)*. O gás natural encontrado na bacia do São Francisco
poderá ser utilizado para a siderurgia, além de outras atividades.
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A empresa Vale assinou um protocolo de intenção para investimento em três
empreendimentos no Estado: a Mina Apolo e as usinas Conceição-Itabiritos e Vargem
Grande-Itabiritos. Fenelon** (2011) informou que,
[...] o material será escoado por rodovia até o pátio de embarque da Ferrovia
Centro-Atlântica (FCA), controlada pela Vale, localizado no município de
Porteirinha. De lá, seguirá por ferrovia até o Porto de Aratu, em Salvador
(BA). Este projeto é a porta de entrada para uma nova fronteira de mineração,
afirmou o executivo.
Meio Ambiente
A atividade minerária é sem dúvida uma das atividades que mais impactos causa ao
meio ambiente, pois consiste fundamentalmente na extração de substâncias minerais do
subsolo. É a principal responsável pelo lançamento de cargas poluidoras, vindo logo em
seguida à poluição causada pela agricultura e a indústria. Na região do Quadrilátero
Ferrífero por apresentar o maior contingente populacional do estado de Minas Gerais, os
danos causados ao meio ambiente são ainda mais intensos, quando a mineração está
poluindo córregos e rios, desfigurando a paisagem e abrindo buracos. Já no Norte do
estado, a mineração irá causar o aprofundamento das condições físico-geográficas
desfavoráveis, podendo impactar fortemente a população que vive na área através da
poluição dos recursos naturais (hídricos) utilizados para a irrigação.
Há uma série de fatores próprios da atividade mineira que influenciam no nível do
impacto causado ao meio ambiente, entre eles temos: localização da jazida, tipo de lavra
e o tipo de minério. BDMG (1989), fala que os minérios metálicos geralmente, para
obtenção do concentrado, mais de 90% do material retirado da mina é liberado como
rejeito sob a forma de uma lama fina. Fato semelhante ocorre com os minerais ferrosos,
que na sua fase de beneficiamento para obtenção de minério de ferro, após as várias
etapas que este é submetido, se gera um rejeito fino que é lançado na fase líquida em
barragens de decantação de rejeito para que a água possa ser liberada em condições
adequadas (BDMG, 1989, p. 77). Citaremos a seguir os impactos que a atividade
mineral causa ao ambiente de acordo com (BDMG, 1989, p. 78):
• Impactos visuais e paisagísticos são causados por escavações e deposição
do estéril e rejeitos, aberturas de estradas de acesso e alterações do relevo
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original, com eliminação de picos ou serras que resultam em grandes
cavidades de onde se extrai o minério;
• Impactos pela poluição das águas que são causados pelos efeitos que a
atividade minerária de poeira por detonação das rochas, movimento de
caminhões e máquinas, ação dos ventos nas frentes de lavras, britagem e
moagem, e por poluentes gasosos, como o CO, HC, provenientes da
combustão de óleos;
• Impactos pela poluição sonora advindos dos ruídos das detonações na fase
de desmonte do minério. O decapeamento das jazidas, os bota-foras
provocam também a degradação dos solos, por vezes, férteis (BDMG, 1989,
p. 78).
Como se pode notar através dos impactos citados acima, provenientes da mineração, a
busca de matérias primas para transformação, com vistas a manter o conforto de uma
sociedade cada vez mais exigente, em termos de consumo, são inúmeros e cada vez
mais graves, porém, as empresas, o poder público e os cidadãos, devem procurar a
melhor maneira de exploração e os equipamentos mais indicados tecnologicamente para
se diminuir os impactos causados ao meio ambiente.
Considerações finais
O Quadrilátero Ferrífero destaca-se no estado de Minas Gerais, uma das regiões do país
de maior produtividade de minérios de ferro, desenvolvendo profundamente o setor
econômico e as relações comerciais inter-regionais do estado; o Norte de Minas é
descrito atualmente como a nova fronteira mineral de Minas Gerais, porém, se encontra
apenas na sua fase de implementação.
Estudiosos dizem que num futuro próximo, o minério de ferro vai levar para o Norte de
Minas o mesmo desenvolvimento que levou à área central do estado, hoje conhecida
como Quadrilátero Ferrífero. Porém, para que a proposta se torne realidade, serão
necessários investimentos em infraestrutura logística, através de diferentes modais, a
criação ou consolidação de energias renováveis como a produção de biodiesel, a energia
eólica além do aproveitamento das potencialidades locais.
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*RIBEIRO, P. S. M. – subsecretário de desenvolvimento minério-metalúrgico e política
energética do estado de Minas Gerais.
** FENELON, M. G. – diretor da Vale.
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