O QUADRILÁTERO FERRÍFERO E O NORTE DE MINAS GERAIS: ANÁLISE DA HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA MAGNO ALEX DE JESUS NUNES GRADUANDO EM GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSUNIMONTES [email protected] SILVIANE GASPARINO COSTA GRADUANDA EM GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSUNIMONTES BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO PIBIC/FAPEMIG-UNIMONTES [email protected] ROSIANE GOMES DA SILVA GRADUANDA EM GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSUNIMONTES [email protected] Resumo O Quadrilátero Ferrífero (QF) é a maior província de minério do Brasil. Localizado na área central do estado de Minas Gerais, desencadeia intensos fluxos de trocas comerciais de seus minérios, tanto dentro, quanto fora do país, além de gerar subsídios para a modernização do sistema de transportes e infraestrutura logística, visando o escoamento de sua produção. O Norte de Minas Gerais é considerado a nova província, pois encontra-se em fase de implantação projetos de exploração de minérios. Os estudos feitos indicam que o teor dos minérios encontrados será de grande importância econômica para a região e também para o estado. Sabendo disto, o presente trabalho expõe a história da descoberta de minérios na área central QF e no Norte do estado, a relevância do sistema de transportes para a viabilização de escoamento e os impactos causados ao meio ambiente. A metodologia utilizada para a realização do trabalho se baseia na coleta de dados secundários, com pesquisas bibliográficas para o embasamento teórico frente a diversos autores e instituições. Palavras-chave: Quadrilátero Ferrífero; Norte de Minas; infraestrutura logística; commodities. Introdução A descoberta de minérios na região central do estado de Minas Gerais impulsionou um intenso deslocamento de grande contingente populacional. O povoamento do país que antes era restrito ao litoral, tendo como principal atividade produtiva a monocultura da cana de açúcar direcionada à exportação e o trabalho compulsivo praticado pelos escravos e indígenas, passa a partir de então a ser substituída gradualmente pela atividade mineraria. A mineração, diferentemente das outras atividades praticadas à época, não necessitava de capital inicial, sendo praticada por toda sorte de pessoas que se aventuravam à - Artigo desenvolvido durante a disciplina: Geografia do Comércio e Circulação, – 1º/2012. procura do enriquecimento precoce. Porém, por conta das características intrínsecas a esta atividade e visto que o pessoal encarregado da extração não possuía tempo suficiente para dividir sua atenção entre o garimpo e o cultivo de alimentos, além dos problemas advindos de questões físicas na área do Quadrilátero Ferrífero (o solo pouco fértil e o relevo com grandes desníveis), resultando um grande contingente de fome. Houve então, a necessidade de se estabelecer o intercâmbio com as outras regiões do país, as quais passariam a fornecer produtos dos mais variados, desde alimentos até roupas. Assim, se estabeleceram as trocas comerciais, com intensos intercâmbios internos além dos fluxos migratórios que povoaram áreas de grandes extensões territoriais desabitadas do país. O Quadrilátero Ferrífero possui até os dias atuais, grande importância econômica e cultural para o Brasil e para o estado de Minas Gerais. Sabendo da importância assumida pela mineração no Brasil, faz-se a caracterização do Q.F. e o diagnóstico da fase de implantação da exploração mineral no Norte de Minas Gerais. Neste contexto, este artigo expõe a história da descoberta de minérios na área central QF e no Norte do estado, a relevância do sistema de transportes para a viabilização de escoamento e os impactos causados ao meio ambiente. O caminho metodológico utilizado consistiu em coleta de dados secundários, com pesquisas bibliográficas para o embasamento teórico frente a diversos autores e instituições. Quadrilátero Ferrífero-MG O Centro-Sul de Minas Gerais após os anos de 1950 passa a ser chamado de Quadrilátero Ferrífero. Este fato se deu fundamentalmente por conta das grandes descobertas de minérios metálicos e pedras preciosas descobertas nos fins do século XVII. O Quadrilátero Ferrífero (Mapa 1) abrange uma área de aproximadamente 7.000 Km², inserida em uma região de terras altas no centro de Minas Gerais, ocupando um conjunto de serras dispostas quase ortogonalmente, possui altitudes médias que giram em torno de 1.000 metros, sendo que as quotas mais elevadas são superiores a 2.000 metros (Serra do Caraça, a leste) e as mais baixas alcançam 600 metros (noroeste de Ouro Preto, arredores do distrito de Amarantina e município de Sabará). 2 Sua rede hidrográfica é representada por duas importantes bacias, denominadas Bacia do Rio São Francisco e Bacia do Rio Doce. “A primeira representada pelas bacias do Rio das Velhas e do Rio Paraopeba e, a segunda, pela bacia do Rio Piracicaba, que aparece na porção leste” (SILVA, 2007, p.52). Abriga temperatura média anual de 20° C, predominando o clima do tipo CWA, de acordo com classificação de Koppen, caracterizado como temperado-quente, com estações bem definidas (verão chuvoso e inverso seco). A precipitação média varia entre 1.300 mm a leste e 2.000 mm a sul (HERZ, 1978, apud SILVA, 2007). Sua vegetação possui características variadas com a Floresta Estacional Semidecidual, área de transição de Floresta para o Cerrado, e, por causa de sua geologia e de suas altitudes, encontram-se paisagens do tipo Campos Cerrados e Campos Rupestres, todos estes tipos vegetais influenciados pelo uso e ocupação do solo (atividades minerárias, grande densidade populacional) na área. Mapa1– Localização da área do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais – Brasil com os principais municípios inseridos na área. Autor: FERREIRA, M. F. F., 2012. De acordo com Scliar (1992, p.36) apud Silva (2007, p. 42), o Quadrilátero Ferrífero foi assim denominado por Gonzaga de Campos, devido à sua configuração que abriga os maiores depósitos de minério de ferro que delimitam a região, formando uma área 3 geométrica “planimétrica quadrangular”. As rochas expostas na região possuem idades Arqueanas e Paleoproterozóicas, compreendidas nos intervalos de 3,2 a 2,6 GA e 2,6 a 2,0 GA, respectivamente (QFE-2050, 2009). Sua geologia heterogênea fornece uma série de minerais, destacando-se entre eles, principalmente, o minério de ferro, manganês, ouro, estealito, topázio imperial, esmeraldas entre outros. Integra, totalmente, ou parcialmente um total de 35 municípios, com uma população estimada em 4.135.951 pessoas (IBGE, 2010), sendo estes: Barão de Cocais, Belo Horizonte, Belo Vale, Betim, Brumadinho, Caeté, Catas Altas, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ibirité, Igarapé, Itabira, Itabirito, Itatiaiaçu, Itaúna, Jeceaba, João Monlevade, Mariana, Mário Campos, Mateus Leme, Moeda, Nova Lima, Ouro Branco, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima, Rio Manso, Rio Piracicaba, Sabará, Santa Bárbara, Santa Luzia, São Gonçalo do Rio Abaixo, São Joaquim de Bicas e Sarzedo (SILVA, 2007). Os minérios do Quadrilátero Ferrífero Após as séries de descobertas minérios, ocorridas nesta região, o Brasil que antes era ocupado quase que exclusivamente pelo litoral, passa a sofrer um intenso deslocamento de pessoas para as áreas das minas, provocando a interiorização do país. Por conta deste fato, o total da área que abrange o QF, abriga a maior concentração urbana de Minas Gerais, com 22% do total da população do estado (QFE-2050, 2009). Analisando a economia do estado de Minas Gerais, esta tem na mineração uma de suas principais atividades industriais, sendo o Quadrilátero Ferrífero a região do estado que mais se destaca em função de suas ricas jazidas de minérios de ferro. Assim, QFE-2050 (2009), destaca que, Estimativas do início do século XXI apontam que mais de 55 milhões de toneladas de minério de ferro eram anualmente exploradas na região. Em 2007, a produção brasileira de ferro alcançou 354, 67 milhões de toneladas e a participação do Quadrilátero Ferrífero atingiu 72% desse total (DNPM, 2009, Apud QFE-2050, 2009). Além disso, os municípios localizados no QF são responsáveis por 26,8% do PIB de Minas Gerais (QFE-2050, 2009). Além da mineração, as atividades que sustentam a região são: turismo, siderurgia e metalurgia. A agricultura existe, mas, em pequena escala, não é bem desenvolvida 4 devido à topografia e o solo, os quais desfavorecem esta atividade produtiva. Porém, um fato marcante é a ocorrência da concentração de extensas áreas em poder de grandes mineradoras – concentração fundiária, fato este que também impede o desenvolvimento da agricultura. Analisando mais profundamente o setor de atividade de extração de minérios, visto que este foi um dos motivos que impulsionou a interiorização do país na época colonial, verifica-se que após o nascimento desta atividade, houve o desenvolvimento de profundas e sensíveis transformações no país: um polo econômico cresceu no Sudeste, relações comerciais inter-regionais se desenvolveram, criando um mercado interno e fazendo surgir uma vida social essencialmente urbana. As minas propiciaram uma diversificação relativa dos serviços e ofícios, pois o pessoal encarregado de extrair os minérios dedicava-se exclusivamente a esta atividade, tendo que serem abastecidos de alimentos e vestimentas de outras áreas que não as situadas nas minas, provocando o intercâmbio entre as regiões brasileiras. Atualmente, a mineração constitui um importante setor econômico, visto que a proliferação e o desenvolvimento do setor industrial, tanto dentro, quanto fora do país, pedem cada vez mais matérias-primas para o seu funcionamento. Assim, no mercado externo o commodities de minérios, por serem produtos de base e não possuírem nenhuma ou apresentarem nível mínimo de industrialização são negociáveis em nível global, sendo suscetíveis a oscilações nas cotações de mercado, em virtude de perdas e ganhos nos fluxos financeiros. Também não possuem valor agregado, pois não apresentam referência ou serviço que as diferencie, desta feita, o produto resultante da transformação dos minerais responde pela percentagem maior de seu valor. Dos minérios extraídos da região do Quadrilátero Ferrífero, pode-se destacar o minério de ferro e o manganês para descrever os produtos resultantes de sua transformação e agregação de valor (QUADRO 1). 5 TRANSFORMAÇÕES MINERAIS Ferro Manganês Uso comercial Uso doméstico Uso comercial Uso doméstico Trens de carga Grampos Aço inoxidável Tinta para construção civil Prateleiras de loja de varejo Zíperes Fertilizantes Carros Robótica industrial Réguas Pilhas/baterias Equipamento siderúrgico Telefones celulares Vergalhões de construção Tubulações esgoto Pias de cozinha Hidrantes Palha de aço Redes de telecomunicações Armações de óculos Escavadeiras Máquinas de lavar Arranha-céus Automóveis Rede elétrica Geladeiras Tubulações de resfriamento Torneiras Equipamento rural Máquinas de costura Estádios esportivos Canetas estereográficas Pontes Talheres Trilhos Pregos e parafusos Aviões Liquidificador Quadro 1: Transformação de minerais em produtos de uso comercial e doméstico. Fonte: VALE, 2010. Organização: COSTA, S.G., 2012. Pode-se depreender através da observação do Quadro 1 que a utilização de matérias primas está presente nos mais diferentes níveis do consumo humano, tornando-se assim, indispensáveis à fase atual do capitalismo de mercado. Assim, visto a importância destas matérias primas (tidas como estratégicas) para a indústria de transformação, observa-se cada vez mais o constante acirramento das disputas pela posse destes bens naturais. Assim, em Minas Gerais, estado com geologia rica em minérios de alto valor econômico, há um histórico de especulação por parte de empresas com interesse na exploração de suas jazidas minerais. Durante o governo Nilo Peçanha, foi revelada a existência de jazidas de minério de ferro na região de Itabira-MG pelo recém criado, na época (1908), Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro, este fato levou a grande interesse de exploração por parte de grupos estrangeiros, a CVRD (1990) descreve, Tal fato levaria grandes grupos estrangeiros a adquirirem todas as jazidas identificadas na região do Quadrilátero Ferrífero, aproveitando-se das brechas existentes na Constituição brasileira. No ano seguinte, um desses grupos, o Brazilian Hematite Syndicate, formado por banqueiros e industriais ingleses e objetivando a exportação do minério de ferro de suas jazidas, adquiriu o controle acionário da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Em seguida, obteve autorização do governo para alteração da Estrada de Ferro na direção da cidade de Itabira (CVRD, 1990, p. 47). O fato citado acima evidência que o controle de exploração das minas não era suficientemente agradável aos grupos de empresas estrangeiras, também, era necessário 6 o controle de estradas e meios de transporte que ficariam encarregados de transportar o minério extraído e direcioná-lo a terminais encarregados do seu beneficiamento. Este fato decorre fundamentalmente, porque o transporte é vital para escoar os produtos de qualquer tipo e no caso da mineração que necessita deslocar imensos volumes de matérias-primas a importância se faz crescente. Dessa forma, o transporte visto como solução implica em alguns casos em problema, quando da falta ou precariedade do mesmo. BDMG, (2002) fata que, [...] as principais barreiras à entrada na mineração de ferro não são tecnológicos, mas, de duas naturezas: a) de caráter institucional (direitos de lavras); b) relativas ao volume de capital, face ao montante necessário para a implementação das minas e, principalmente, da infraestrutura de escoamento da produção. (BDMG, 2002, p. 66). O mesmo também diz que os investimentos intensivos em capital caracterizam-se em três atividades – mina e usina de beneficiamento, transporte (ferrovia ou mineroduto) e instalações portuárias. A “Vale” (nome assumido pela Companhia Vale do Rio Doce – CVRD) uma das empresas atuantes no Brasil no ramo de exploração mineral relata também, que investe uma soma expressiva de capital na infraestrutura de logística para assegurar o escoamento da produção “nosso diferencial é ter um sistema integrado, a chamada cadeia integrada, que liga minas a ferrovias, ferrovias a portos e portos a navegação” (VALE, 2012). Lamoso (2011, p.359), relata que a “Vale” possui uma centralização de capital sob seu comando, e tem adquirido a concorrência e dominado a circulação de mercadorias em sua área de atuação. Sua participação na extração de ferro na região do QF representou em 2007, 37% (LAMOSO, 2011, p.359). Também inclui que, a Estrada de Ferro Vitória Minas desde a época que começou a ser utilizada para embarque de minério pela Companhia inglesa “Itabira Iron Company” no início do século XX, persistiu ao contrário de outras ferrovias instaladas em outros lugares. Além da (EFVM), outra via de escoamento da produção mineral no Quadrilátero Ferrífero é o Mineroduto, de propriedade da empresa “Samarco Mineração”. O mesmo possui 396 quilômetros de extensão, ligando a mina de Germano-MG ao “Porto de Ubu” no Espírito Santo (são 66 horas, a uma velocidade aproximada de 6km/h). É o maior mineroduto para transporte de minério de ferro do mundo, sua carga é transportada em uma popa pela adição de água e bombeada até o litoral, e é 7 economicamente mais rentável do que o transporte ferroviário (LAMOSO, 2011, p.365). Norte de Minas Gerais A Mesorregião do Norte de Minas Gerais é uma das doze mesorregiões em que se subdivide o estado. Esta mesorregião também está divida em sete microrregiões, a saber: Bocaiúva, Grão-Mogol, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas. Os municípios componentes da mesorregião totalizam 89, ocupando uma área territorial de 128.602 km². A vegetação da região apresenta transição entre os biomas do cerrado e da caatinga, localizada numa área de terrenos antigos, já bastante desgastados por processos erosivos. As bacias hidrográficas que drenam a região são a do São Francisco e a do Jequitinhonha, além da bacia do Rio Pardo. Muitos dos afluentes destas bacias possuem regime anual intermitente, caracterizando grande seca na maior parte do ano. Conforme Pereira (2007), o clima predominante de acordo com a “classificação de Koppen, corresponde aos tipos AW (tropical úmido de savanas com invernos secos) e BSW (quente, seco, com chuvas de verão)”, (PEREIRA, 2007, p.100). O povoamento da região ocorreu por volta do século XVII e se caracterizou principalmente pelo processo de interiorização do país, neste caso em específico pela criação de gado de corte para abastecer a zona açucareira, conforme Pereira (2007), O processo histórico de ocupação do Norte de Minas iniciou-se no século XVII, a partir do movimento de expansão da pecuária, ao longo do São Francisco, sendo que a parte ocidental pertencia a Pernambuco e a parte Oriental, à Bahia. Entre os séculos XVII e XVIII, a região foi sendo ocupada por vaqueiros, originários da Bahia e de Pernambuco, que subiam o São Francisco e, por bandeirantes paulistas. A diversidade de grupos indígenas que aí habitavam foi dizimada, restando hoje descendentes dos Xacriabás, no município de Itacarambi.Para muitos memorialistas e historiadores, o sertão não se prestava ao cultivo da cana e estava distante do litoral, por isso não despertou o interesse da coroa portuguesa. Sua organização sócio espacial plasmou-se pelo fornecimento de gado e derivados de pecuária, primeiro para a região canavieira e, depois, para a área da mineração. (PEREIRA, p. 2007, p.101-102). De acordo com o processo de ocupação do Norte de Minas esta região não foi vista como potencial econômico, sendo considerada apenas como um território fornecedor de 8 mercadorias (alimentos, em sua grande maioria), para outras áreas do país. Por causa de suas características geográficas, sociais e econômicas semelhantes às verificadas no nordeste, esta região foi incluída na área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE em 1963, pelo 2º Plano Diretor. O plano propunha investir em infraestrutura econômica, direcionando os recursos para construção e a pavimentação de estradas, para a ampliação e melhoramento do sistema de energia e de comunicações, distribuição de água e nos serviços de esgoto. Também, por possuir um regime pluviométrico bastante irregular durante a maior parte do ano e o clima semiárido na maioria dos municípios que a compõem, a região norte de minas foi incluída juntamente com os estados do nordeste, no Polígono das Secas. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba - Codevasf (2012), O Polígono das Secas compreende uma divisão regional efetuada em termos político-administrativos dentro da zona semiárida, apresentando diferentes zonas geográficas com distintos índices de aridez, indo desde áreas com características estritamente de seca, com paisagem típica de semideserto a áreas com balanço hídrico positivo, como a região de Gilbués, no Piauí. Esta mesma estatal ficou encarregada de desenvolver e executar projetos de irrigação para as áreas semiáridas banhadas pelos rios São Francisco e Parnaíba, com o intuito de gerar meios de sobrevivência para a população destas áreas deprimidas. Pereira (2011,p.8) apud (Geipot, 2001; Rodrigues, 2000) fala que, Na região Norte-mineira, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF, incentivou também os investimentos em infraestrutura econômica e o aproveitamento econômico do Vale do São Francisco, originando os projetos de agricultura irrigada regionais, como os Projetos Jaíba, Gorutuba, Lagoa Grande, Pirapora, entre outros. Estes projetos de irrigação foram fundamentais para que muitas famílias de agricultores se fixassem no campo, promovendo, a través das condições favoráveis de produção, bem estar para estes trabalhadores rurais e também para a população que se beneficia dos alimentos produzidos por estes. A economia do Norte de Minas e a mineração As atividades econômicas mais desenvolvidas na região Norte de Minas são principalmente as voltadas ao setor primário, como a agricultura de subsistência, a silvicultura, a pecuária de corte e a fruticultura irrigada, praticada por agricultores e seus 9 familiares em sua grande maioria localizados nos projetos de irrigação como o do Jaíba, Gorutuba e Pirapora. Também, observa-se a produção têxtil, a de biotecnologia e biodiesel na região. No setor terciário, a cidade polo que apresenta maior dinamicidade é a de Montes Claros, por absorver grande parte da população do norte do estado, pelo comércio e serviços que oferece (hospitalares, estudantis, transportes e de negócios). Atualmente, o norte de minas vem sofrendo grande especulação de sua geologia, visto que foram descobertos minerais de expressivo valor econômico em seu solo. É o que nos diz a SEDE – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (junho de 2011): Fronteira Mineral – Uma nova era de desenvolvimento se delineia para a região Norte de Minas, com a expectativa da chamada nova fronteira mineral com a viabilização da produção de minério de ferro de baixo teor. A reserva estimada é de 20 bilhões de toneladas de minério abrangendo 20 municípios, entre eles, Salinas, Rio Pardo de Minas, Grão Mogol e Porteirinha. Para alavancar a exploração mineral nesta nova fronteira, o Governo de Minas vai apoiar projetos de infraestrutura e de planejamento logístico. Esta nova fronteira mineral à qual descreve o Governo do Estado, compreende vinte municípios da região Norte, entre eles estão Rio Pardo de Minas, Grão Mogol, Porteirinha, Salinas e Riacho dos Machados (MAPA 2). Mapa 2 – Localização do Norte de Minas com municípios propensos à extração mineral. Autor: FERREIRA, M. F. F., 2012. Estes municípios possuem em sua grande maioria, na sua história de ocupação aspectos relacionados à descoberta de minerais, IBGE (2010): 10 Rio Pardo de Minas - A povoação teve sua origem na mineração de ouro e diamantes praticada por Portugueses, nas serras do atual distrito de Serra Nova. O comércio era estabelecido diretamente com a capital da Bahia e com as cidades de Condeúba, Jacaraci, Caculé e Feira de Santana. Sabe-se que a primeira expedição que pisou as terras do atual município foi denominada Espinosa Navarro, procedente de Caravelas, que percorreu todo o vale do Rio Pardo até entrar no município de Espinosa... Porteirinha - como a maioria das povoações da região, originou-se a partir de uma pousada de viajantes à margem de um rio. O local onde se originou a povoação era apenas um movimentado ponto de pousada para os viajantes os quais demandavam o sul do estado e do País, vindos do estado da Bahia e de vasta região do nordeste brasileiro e os que faziam o percurso de volta... Salinas - O desbravamento da região de Salinas foi feito pelos bandeirantes oriundos da Bahia, que, sob o comando de Antônio Luís dos Passos, bateram aquelas terras na cata de riquezas. A gleba mineira, generosa como sempre, ofereceu ao desbravador, abundantes jazidas de sal, produto, então escasso e, por isso mesmo, de elevado preço. Tal descoberta contribuiu, sobremaneira, para o povoamento daquela região, onde hoje se ergue a cidade de Salinas... Riacho dos Machados - a família Machado, que havia se instalado num lugar chamado Tapera, passou a explorar as redondezas, vinda a conhecer a capelinha de Santo Antônio do Riacho, erguida pelos tropeiros como ponto de orações e referência... Decidiram, então, fixar residência nas imediações da capela. Paulatinamente, a família Machado passou a assumir a liderança local e em torno dela se agruparam viajantes vindos do nordeste e tropeiros que se mudaram para o local... Grão Mogol - O povoado Serra de Santo Antônio do Itacambiraçu, atual Grão Mogol, teve sua origem relacionada à descoberta de diamantes no final do século XVIII. No ano de 1839, o lugarejo era chamado de Arraial da Serra de Grão Mogol e logo passou a atrair pessoas do país e estrangeiros (portugueses, franceses, alemães, entrelém de outros europeus), que, provavelmente, atuavam na exploração de diamantes. (IBGE CIDADES, 2010). O Produto Interno Bruto (Tabela 1) abaixo, juntamente com a descrição do contexto histórico de um lugar que foi feito acima são importantes para saber em que se assenta a economia de determinado lugar, afim, de suscitar uma análise mais consistente. MUNICÍPIO AGROPECUÁRIA INDÚSTRIA 19.286 136.502 Grão Mogol 22.253 4.092 Riacho dos Machados 47.875 12.202 Rio Pardo de Minas 19.571 17.704 Porteirinha 19.456 31.355 Salinas Tabela 1 – Dados do PIB municipal. Fonte: IBGE, 2010. Organização: COSTA, 2012. SERVIÇOS 47.101 26.179 87.760 109.532 168.986 PIB Total 202.889 52.524 147.837 146.807 219.797 Como pode ser visto na tabela acima, o maior PIB apresentado é o de Salinas, que possui a sua economia voltada para o setor de serviços, em segundo lugar temos Grão Mogol, que diferente de Salinas, possui a maior parte de seu PIB voltado para a Indústria. Porteirinha também possui um setor de serviços fortalecido, as outras cidades (Riacho dos Machados e Rio Pardo de Minas) se assentam no setor de serviços, porém, com valores menos discrepantes. 11 De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, o PIB destes municípios aumentará significativamente, decorrente da exploração mineral que irá ocorrer nesta região. O protocolo de intenção foi assinado com a empresa Vale S. A., que já atua com a exploração mineral do Q.F. Será feito um investimento de R$ 560 milhões, para implantação de uma mina de ferro nos municípios de Serranópolis de Minas, Riacho dos Machados, Grão Mogol e Rio Pardo de Minas. O projeto também foi assinado pelo então presidente do INDI (Instituto de Desenvolvimento Integrado). Conforme consta no site da SEDE, o empreendimento deverá ser concluído até 2014, gerando 500 empregos diretos e indiretos na fase de implantação e 250 diretos e indiretos na fase de operação, SEDE (2011) descreve, O novo empreendimento da Vale irá produzir e comercializar minério tipo fino comum, granulado e pellet feed. Em janeiro deste ano foi iniciado o processo de licenciamento ambiental, enquanto a pesquisa geológica adicional deverá ser iniciada em agosto de 2011. A partir de 2014, a capacidade inicial de produção deverá ser de 200 mil toneladas de minério tipo granulado, enquanto deverão ser produzidas 400 mil toneladas de minério fino comum, utilizando beneficiamento a seco. As pesquisas em andamento para levantamento das reservas apontam um potencial de produção da ordem de 600 mil toneladas de minério de ferro por ano. Outros investimentos previamente acordados pelo estado de Minas ocorrerão por meio de parcerias de empresas nacionais e internacionais, conforme (TABELA 2). EMPRESAS: VALORES DOS INVESTIMENTOS: 3,6 bilhões Mineração Minas Bahia (MIBA) Sul Americana Metais (SAM) do grupo 3,2 bilhões Votorantim em parceria com a chinesa Honbridge Holgins Limited 250 milhões Mineração Riacho dos Machados Tabela 2 – Empresas que investirão na extração de minerais no Norte de Minas. Fonte: SEDE-Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, 2011. Organização: COSTA, 2012. Para alavancar a exploração mineral nesta região será preciso infraestrutura e planejamento logístico, com a criação de rodovias e demais modais de escoamento da produção. Também “será preciso desenvolver a produção de energias renováveis como a eólica e fotovoltaica, além de construir novas barragens as quais também servirão para irrigação” (RIBEIRO, 2011)*. O gás natural encontrado na bacia do São Francisco poderá ser utilizado para a siderurgia, além de outras atividades. 12 A empresa Vale assinou um protocolo de intenção para investimento em três empreendimentos no Estado: a Mina Apolo e as usinas Conceição-Itabiritos e Vargem Grande-Itabiritos. Fenelon** (2011) informou que, [...] o material será escoado por rodovia até o pátio de embarque da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), controlada pela Vale, localizado no município de Porteirinha. De lá, seguirá por ferrovia até o Porto de Aratu, em Salvador (BA). Este projeto é a porta de entrada para uma nova fronteira de mineração, afirmou o executivo. Meio Ambiente A atividade minerária é sem dúvida uma das atividades que mais impactos causa ao meio ambiente, pois consiste fundamentalmente na extração de substâncias minerais do subsolo. É a principal responsável pelo lançamento de cargas poluidoras, vindo logo em seguida à poluição causada pela agricultura e a indústria. Na região do Quadrilátero Ferrífero por apresentar o maior contingente populacional do estado de Minas Gerais, os danos causados ao meio ambiente são ainda mais intensos, quando a mineração está poluindo córregos e rios, desfigurando a paisagem e abrindo buracos. Já no Norte do estado, a mineração irá causar o aprofundamento das condições físico-geográficas desfavoráveis, podendo impactar fortemente a população que vive na área através da poluição dos recursos naturais (hídricos) utilizados para a irrigação. Há uma série de fatores próprios da atividade mineira que influenciam no nível do impacto causado ao meio ambiente, entre eles temos: localização da jazida, tipo de lavra e o tipo de minério. BDMG (1989), fala que os minérios metálicos geralmente, para obtenção do concentrado, mais de 90% do material retirado da mina é liberado como rejeito sob a forma de uma lama fina. Fato semelhante ocorre com os minerais ferrosos, que na sua fase de beneficiamento para obtenção de minério de ferro, após as várias etapas que este é submetido, se gera um rejeito fino que é lançado na fase líquida em barragens de decantação de rejeito para que a água possa ser liberada em condições adequadas (BDMG, 1989, p. 77). Citaremos a seguir os impactos que a atividade mineral causa ao ambiente de acordo com (BDMG, 1989, p. 78): • Impactos visuais e paisagísticos são causados por escavações e deposição do estéril e rejeitos, aberturas de estradas de acesso e alterações do relevo 13 original, com eliminação de picos ou serras que resultam em grandes cavidades de onde se extrai o minério; • Impactos pela poluição das águas que são causados pelos efeitos que a atividade minerária de poeira por detonação das rochas, movimento de caminhões e máquinas, ação dos ventos nas frentes de lavras, britagem e moagem, e por poluentes gasosos, como o CO, HC, provenientes da combustão de óleos; • Impactos pela poluição sonora advindos dos ruídos das detonações na fase de desmonte do minério. O decapeamento das jazidas, os bota-foras provocam também a degradação dos solos, por vezes, férteis (BDMG, 1989, p. 78). Como se pode notar através dos impactos citados acima, provenientes da mineração, a busca de matérias primas para transformação, com vistas a manter o conforto de uma sociedade cada vez mais exigente, em termos de consumo, são inúmeros e cada vez mais graves, porém, as empresas, o poder público e os cidadãos, devem procurar a melhor maneira de exploração e os equipamentos mais indicados tecnologicamente para se diminuir os impactos causados ao meio ambiente. Considerações finais O Quadrilátero Ferrífero destaca-se no estado de Minas Gerais, uma das regiões do país de maior produtividade de minérios de ferro, desenvolvendo profundamente o setor econômico e as relações comerciais inter-regionais do estado; o Norte de Minas é descrito atualmente como a nova fronteira mineral de Minas Gerais, porém, se encontra apenas na sua fase de implementação. Estudiosos dizem que num futuro próximo, o minério de ferro vai levar para o Norte de Minas o mesmo desenvolvimento que levou à área central do estado, hoje conhecida como Quadrilátero Ferrífero. Porém, para que a proposta se torne realidade, serão necessários investimentos em infraestrutura logística, através de diferentes modais, a criação ou consolidação de energias renováveis como a produção de biodiesel, a energia eólica além do aproveitamento das potencialidades locais. Referências ASMINAS GERAIS. O Quadrilátero Ferrífero. <http://www.asminasgerais.com.br/> acesso em: 07/05/2012. Disponível em: 14 BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Economia mineira: 1989 – Diagnóstico e Perspectiva. 4° V. – Mineração. Belo Horizonte: BDMG, 1989. BECKER, B. K. Brasil: uma nova potência regional na economia – mundo. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 89-122. CBMM – Companhia Brasileira de Metarlugia e Mineração: Inovar, Respeitar, Competir. 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