CORRUPÇÃO POLICIAL Autores: Marcelo Cataldo, Marco Antonio Veneziani, e Nathalie Teyssonneyre. Orientadores: Prof. Dr. Antônio Carlos Machado Guimarães, Prof. Msc. Luiz Carlos Andrade de Aquino, Prof. Dr. Maurício Martins Alves Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Direito, Praça Cândido Dias Castejón 116 – Centro, São José dos Campos/SP [email protected], [email protected], [email protected] [email protected], [email protected], [email protected]. Palavras-chave: corrupção policial, violência. Área do Conhecimento: Direito Resumo- Este trabalho tem como objeto de estudo a corrupção policial no Brasil, mais especificamente no estado de São Paulo, e sua contribuição para o aumento da violência. Serão apresentados dados da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo que mostram a evolução de denúncias realizadas contra policiais Civis e Militares. Defende-se neste trabalho que a corrupção policial é um dos fatores que contribuem para o aumento da violência e da criminalidade, é preciso limpar a polícia e, para isso, não bastam apenas atitudes repressoras da corrupção. São necessários programas de remuneração e treinamento adequados, além de prover armamento compatível. Além disso, com as corporações trabalhando de forma comprometida, é preciso rever a estratégia de segurança pública. Introdução Os noticiários, tanto escritos quanto televisivos, mostram uma política de segurança falida, na qual aqueles que, ao invés de manter a ordem, contribuem para a proliferação da desordem. A mola mestra da corrupção policial se chama “impunidade”. Caso as denúncias fossem realmente apuradas, com isonomia e imparcialidade, não teríamos um órgão como a Polícia, tão importante para a sociedade, desacreditado. Essa forma de corrupção (a policial) demanda dúvida, a própria idéia do que é certo e o que é errado. Agride o trabalhador, a pessoa honesta, a pessoa humilde, diversas classes sociais, pois, ao se corromper, um pedaço da sociedade se desintegra. Tais atos obscuros fortalecem os crimes organizados, mostram a dificuldade de agir da justiça perante os atos controversos daqueles que detém o poder. Metodologia responsável por receber e investigar as denúncias realizadas contra policiais (Civis e Militares). É importante ressaltar que a Ouvidoria é dirigida por uma pessoa da sociedade civil e não tem qualquer relação com as corporações policias, sendo assim independente. Serão utilizados dados referentes ao período de 2004 a 2008, retirados do site da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo (www.ouvidoria-policia.sp.gov.br), e também, dados referentes aos anos de 2001 e 2002, de um relatório feito pela Ouvidoria da Polícia, mas retirados de uma reportagem publicada no Site Folha Online, pela repórter Keila Ribeiro. (www.nevusp.org). Além disso foram consultados artigos de profissionais relacionados ao tema, como a reportagem publicada pelo Sr. Máximo Ferndandes Filho, Assessor de Segurança da Liderança do PT, no site da Assembléia Permanente do PT (www.ptalesp.org.br) e comentários do Sr. Luís Antonio Francisco Souza, sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos Violência da USP, no site do Núcleo de Estudos (www.nevusp.org). Para a realização desse artigo foram pesquisados dados da Ouvidora da Polícia do Desenvolvimento Estado de São Paulo, que é o órgão XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Dados atualizados retirados do site da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo mostram a evolução das denúncias no período de 2004 a 2008. Sendo possível ter uma visão geral de denúncias realizadas por Deinter no período de 2004 a 2008. Para melhor entendimento da tabela e do gráfico é importante que se diga que, a Ouvidoria da Polícia divide o estado em áreas chamadas Deinter. Serão estudadas, nesse trabalho, oito regiões, sendo elas: Deinter 1 (região de São José dos Campos), Deinter 2 (região de Campinas), Deinter 3 (região de Ribeirão Preto), Deinter 4 (região de Bauru), Deinter 5 (região de São José do Rio Preto), Deinter 6 (região de Santos), Deinter 7 (região de Sorocaba) e Deinter 8 (região de Presidente Prudente). Com isso, temos: os números de denúncias em cada Deinter, realizadas por ano, no período de 2004 a 2008. O Gráfico demonstra que em relação ao Estado, a região do Deinter 1 manteve uma certa regularidade em número de denúncias. As denúncias realizadas contra os policiais e o abuso cometido por estes só vêm a comprovar a ineficiência dos órgãos que deveriam garantir a segurança da população, segundo o sociólogo Luís Antonio Francisco Souza, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP). 2004 2005 2006 2007 2008 Total Deinter 1 210 222 198 199 227 1056 Deinter 2 299 360 200 221 294 1374 Deinter 987 3 170 179 179 230 229 Deinter 524 4 90 94 94 100 146 Deinter 550 5 77 96 105 107 165 Deinter 6 174 270 274 260 237 1215 Deinter 7 836 166 184 149 154 183 Deinter 287 8 52 70 45 51 69 Total 1238 1475 1244 1322 1550 Tabela 1 – Denúncias realizadas por Deinter, por ano. Ao se corromper, o policial interfere no curso da vida. Ao invés de reprimir ele se omite, ao invés de prender ele solta, ao invés de fiscalizar ele se associa, fazendo com que elementos nocivos à sociedade permaneçam aumentando seus tentáculos sobre as instituições que já são deficientes e falidas, denegrindo a imagem daqueles que realmente honram a moral e a integridade. Com os mesmos dados também é possível realizar um comparativo entre as denúncias realizadas na Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte (Deinter 1) e as realizadas nas demais regiões do Estado de São Paulo. Denúncias realizadas por ano 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 2004 2005 Deinter 1 2006 2007 Demais Deinter SP Gráfico 1 – Denúncias realizadas por ano. 2008 Quando se fala em corrupção policial, isso inclui aquela corrupção que a sociedade não vê com repulsa, aquela em que o condutor do veículo dirige sob o efeito do álcool, e, para não ter sua carteira de habilitação ou seu veículo apreendido ou ser preso por dirigir alcoolizado, se submete a pagar uma “propina” para que seja liberado; ou daquele comerciante que transporta seus produtos sem nota fiscal, para sonegar impostos, paga um “cafezinho” para que não seja vistoriado. De acordo com Máximo Fernandes Filho, da Assessoria de Segurança da Liderança do PT, em desacordo com a função mister que lhe é conferida, o policial corrupto passa a se preocupar com o quanto pode ganhar, de que maneira pode locupletar seus rendimentos, sem se preocupar com as conseqüências. A corrupção pode chegar aos mais altos níveis de participação, gerando entre seus integrantes uma permissividade, um tipo de aceitação velada sobre a conduta de seus “parceiros”. Como se pode ver, através destes “pequenos” atos de corrupção, a sociedade os vê como um ato tolerável, mas se virmos mais à frente, o motorista alcoolizado pode vir a tirar uma vida e aquele comerciante que trafega sem nota fiscal, pode estar carregando produto roubado, retirado através da força, quiçá com a morte de alguém. Nessa engrenagem de corrupção e corruptor o que sempre veremos é que existem pessoas as margens da lei, sejam de pequeno ou grande porte, que vão desde pequenas XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 infrações, a crimes hediondos, bárbaros. Pessoas que se beneficiam da corrupção para auferirem vantagem e lucro. Atualmente o órgão responsável por averiguar as denúncias referentes à corrupção da Polícia Civil e Militar, no estado de São Paulo, é a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, que apesar de realizar as investigações não possui dados estritamente confiáveis, uma vez que somente uma pequena parte da população tem coragem ou interesse em denunciar esses policias. FERNANDES FILHO, Máximo. “Corrupção e violência na polícia, até quando vamos suportar?”, publicado em 12 de junho de 2008. Disponível em: http://www.ptalesp.org.br/em_discussao_ver.ph p?idTexto=334. Acesso em 13 abr. 2009. SOUZA, Luís Antonio Francisco. “Cresce denuncia contra policiais no Vale do Paraíba e no litoral”. In: Folha Online. São Paulo, 10 mar. 2003. Disponível em: www.nevusp.org/portugues/index.php?option=c om_content&task=view&id=543&Itemid=29. Acesso em 13 abr. 2009. Considerações Finais Dentre as forças que, atualmente, são vistas como principais responsáveis pela corrupção, infelizmente duas se encontram ligadas a Segurança Pública, são elas as Polícias Civis e Militares. A corrupção policial aparece como fator determinante do aumento da violência por dois principais motivos. Primeiro, como dito anteriormente, devido à uma certa permissividade com que é vista entre a corporação, algo corriqueiro, sem valor ético ou moral. O segundo ponto diz respeito à impunidade, uma vez que as apurações dos delitos muitas vezes não são conclusivas. O trabalho realizado pela Ouvidoria da Polícia tem se mostrado eficaz, porém ainda está longe de ser considerado capaz de mostrar a realidade, uma vez que a população, por diferentes motivos (como medo) simplesmente não realizam denúncias. Sendo assim, os números apresentados podem ser considerados como uma amostra da realidade, mas longe de representar sua totalidade. Antes de mais nada, é preciso limpar a polícia e, para isso, não bastam apenas atitudes repressoras da corrupção. São necessários programas de remuneração e treinamento adequados, além de prover armamento compatível. Além disso, com as corporações trabalhando de forma comprometida, é preciso rever a estratégia de Segurança Pública. Com esses pontos resolvidos, com certeza teríamos índices de reclamações contra abuso de poder ou violência policial diminuídos drasticamente. Referências OUVIDORIA da Polícia do Estado de São Paulo. Disponível em: www.ouvidoriapolicia.sp.gov.br. Acesso em 13 abr. 2009. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3