IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL TÍTULO DO TRABALHO NÍVEIS DE VIRTUALIZAÇÃO DE SITES DE GOVERNOS MUNICIPAIS TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 13 Instrumentos de democratização na gestão territorial – experiências atuais AUTOR PRINCIPAL Luis Roque Klering (Professor-Doutor) CO-AUTORES 1 Christine da Silva Schröeder (Mestre) INSTITUIÇÃO PPGA/EA/UFRGS INSTITUIÇÃO PPGA/EA/UFRGS RESUMO DO TRABALHO De forma semelhante à de Nolan (1973a;1973b;1979) e Huff, Munro e Martin (1988) em suas respectivas épocas, atualmente convém definir um novo modelo de avaliação e classificação da capacidade de governo eletrônico de administrações municipais, tendo em vista os estágios de virtualização dos seus sites na rede global. A partir dos modelos de classificação de organizações em estágios de informatização, da taxonomia apresentada por Bittencourt Filho (2003) para sites governamentais, das características de adoção de websites por Ferreira, Oliveira e Feix (2004), da classificação de níveis de governos eletrônicos de Ferrer e Santos (2004), bem como da análise de inúmeros sites de municípios do Brasil e de outros países do Mercosul, esta pesquisa propõe um modelo de classificação de sites municipais em 6 (seis) níveis ou estágios de virtualização, através dos quais os municípios evoluem providenciando uma adequada definição da estrutura de dados, de relacionamentos e de serviços, contemplando aspectos de conteúdo, design, interação e transação. PALAVRAS-CHAVE virtualização, estágios, tecnologia, municípios, desenvolvimento ABSTRACT In the similar way of Nolan (1973a;1973b;1979) and Huff, Munro and Martin (1988) in his respective times, at present it is suitable to define a new model of evaluation and classification of the capacity of electronic government in local administrations, considering the stages of virtualization of his websites. From the models of classification of organizations in informatization stages, of the taxonomy presented by Bittencourt Filho (2003) for government sites, of the characteristics of adoption of websites by Ferreira, Oliveira and Feix (2004), of the classification of levels of e-government by Ferrer e Santos (2004), as well as of the analysis of sites of local authorities in Brazil and some in other countries of the Mercosul, this study proposes a model of classification of local government sites in 6 (six) levels or stages of virtualization, through which the local authorities evolve providing an appropriate definition of the structure of data, of relationships and services, using aspects of content, design, interaction and transaction. KEYWORDS virtualization, stages, technology, local authorities, development NÍVEIS DE VIRTUALIZAÇÃO DE SITES DE GOVERNOS MUNICIPAIS 1 INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta, com algumas atualizações, alguns resultados de importante pesquisa realizada para o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) no período de 2001 a 2003. O estudo analisou iniciativas relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias de informação, comunicação e interação, principalmente de sites e portais que os municípios disponibilizam na rede global – internet, oferecendo, assim, diferentes serviços aos cidadãos. Tais esforços geram desafios e potencialidades aos governos municipais, sendo capazes de acarretar impactos também sobre seus respectivos níveis de desenvolvimento sócio-econômico. Como governo eletrônico, um município pode colocar em prática conceitos de “governo virtual”, gerando soluções baseadas na virtualidade, capazes de superar barreiras de tempo e espaço, e oferecendo produtos e serviços mais rápidos, de melhor qualidade, mais baratos, menos poluentes, mais acessíveis e flexíveis, dentre outros atributos. De forma crescente, o desenvolvimento de territórios (tais como as cidades) dependerá do uso criativo e intensivo de tecnologias digitais, principalmente da internet, e de suas derivações. Consiste esta, portanto, em uma preocupação atualmente relevante, com vistas à ampliação do campo de ação e da efetividade dos governos. Neste contexto, a pesquisa realizada para o CNPq teve por objetivo principal avaliar o impacto de projetos e empreendimentos públicos inovadores, baseados na tecnologia da internet, no desenvolvimento de municípios e regiões do Mercosul. Os objetivos específicos da pesquisa realizada foram os seguintes: · identificar os tipos de recursos utilizados em websites; · identificar os tipos de estratégias visadas, por municípios e regiões, com a utilização da internet; · identificar impactos causados no desenvolvimento de municípios e regiões, com a utilização da internet, principalmente em termos de aumento da qualidade de vida, de melhoria da qualidade da gestão pública, de maior integração das empresas com a vida das cidades, e de geração de uma participação mais ativa dos cidadãos; e · gerar um modelo de classificação do nível de evolução de websites municipais e regionais. Este artigo focaliza essencialmente este último objetivo específico. 1 Objetivando uma melhor compreensão deste estudo e de seus resultados, o artigo que se apresenta é assim estruturado: no capítulo 2, aborda-se a questão da importância e da atualidade da virtualização dos governos, bem como a evolução da economia digital e a própria revolução nas comunicações, como fator que faz emergir e intensificar tal virtualização; no 3, é abordada especificamente a evolução das estruturas de e-gov (e-government, ou simplesmente governo eletrônico) no Brasil; no 4, são apresentadas características fundamentais de sites de governo eletrônico; no 5, são abordados aspectos teóricos inerentes a estágios de informatização em organizações, e que contribuem para embasar a análise dos sites governamentais; no 6, são trazidas algumas abordagens de níveis e critérios de virtualização de sites de governos; no 7, é explicitada a metodologia adotada pela pesquisa, situando mais pontualmente a análise realizada; no 8, é apresentado um modelo (ou tipologia) composto de níveis de virtualização de sites municipais e respectivos exemplos de sites referenciais, bem como se faz uma breve análise dos sites municipais no contexto do Brasil; no 9, são apontadas algumas sugestões estratégicas para o desenvolvimento de sites governamentais, identificadas a partir da pesquisa realizada; e, por fim, no capítulo 10, são apresentadas as considerações finais. 2 A VIRTUALIZAÇÃO DOS GOVERNOS, SUA RELEVÂNCIA E ATUALIDADE 2.1 A evolução da Economia Digital, e a revolução nas comunicações Da mesma forma como as ferrovias e as rodovias revolucionaram a vida de regiões e nações no passado, acredita-se que a nova tecnologia de informação, comunicação e interação causará profundas mudanças no padrão de vida das sociedades. Na obra O fim das distâncias, Cairncross (2000) refere que a revolução nas comunicações transformará nossas vidas. Dentre as revoluções, aponta: a) renascimento das cidades, porque as pessoas passarão menos tempo nos escritórios e mais tempo trabalhando em casa ou viajando; em virtude disso, as cidades passarão da atual função de concentradoras de empregos para o papel de centros de entretenimento e cultura; b) reequilíbrio do poder político, visto que as pessoas transmitirão seus pontos de vista sobre o governo mais diretamente; governantes e deputados ficarão mais sensíveis e compreensíveis aos lobbies e às pesquisas de opinião pública, especialmente em regimes democráticos; c) novos destinos das localizações; as empresas instalarão suas atividades em tela de computador em qualquer lugar da terra, onde puderem encontrar o melhor negócio e condições em termos de habilidades e produtividade; 2 d) irrelevância do tamanho; empresas pequenas oferecerão serviços que no passado somente gigantes podiam prover; e e) aparecimento de empresas flexíveis, conectadas por redes de cultura e comunicações, e não por estruturas rígidas; mais empregados trabalharão em redes especializadas independentes. Diante deste quadro, é fato que o mundo está passando por uma transformação profunda nesse início de milênio, em função do impacto das novas tecnologias de comunicação, interação e informação (BITTENCOURT FILHO, 2003). Com a chamada economia digital ou economia da informação, novos serviços passam a ser disponibilizados pelos governos aos cidadãos, gerando mudanças, transformações e melhorias no nível de desenvolvimento de sociedades. Essa revolução nas comunicações, indubitavelmente, viu-se potencializada com o surgimento da internet, que passou a ser disponibilizada para fins comerciais em 1987. Todavia, seu uso somente explodiu em 1991, com o surgimento da www, ou web (World Wide Web), permitindo a combinação de palavras, sons e imagens (multimídia) e a concatenação de informações via hipertexto, reunindo diferentes estruturas de softwares, hardwares e bancos de dados num ambiente computacional único (BITTENCOURT FILHO, 2003). No Brasil, as primeiras conexões com a internet foram feitas em 1988, através da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica, do Rio de Janeiro). Em 1992, foi estabelecida a RNP, Rede Nacional de Pesquisas, conectando Universidades e Centros de Pesquisa em todo país. Em agosto de 1995, foi iniciado o uso comercial da rede, através de acessos dedicados, por provedores. Desde então, a internet alcançou expansão espantosa, tendendo a duplicar o fluxo de dados a cada 100 dias. Inicialmente, a internet não era vista como sendo útil para a administração pública. Uma percepção diferente começou a ocorrer a partir do Governo Clinton, dos Estados Unidos, em 1993, com um programa de uso da tecnologia da informação para reinventar o governo, tendo como foco a organização da administração. Com esse programa, o governo norte-americano começou a colocar em prática o conceito de “governo virtual”, buscando criar organizações que melhorassem o processamento de informações e a distribuição dos conhecimentos necessários à prestação de serviços públicos de qualidade, a partir de um único ponto de acesso. Já, no Brasil, pesquisas apontam que, atualmente, existem cerca de 17% dos domicílios e 92% das empresas com acesso à internet (CETIC.BR, 2007). As mesmas pesquisas indicam, ainda, que 25% da população brasileira com mais de 16 anos de idade 3 usou a internet para interagir com órgãos públicos em 2007, o que pode ser considerado um número bastante expressivo, podendo-se interpretar que os acessos partiram não apenas dos domicílios, mas de quaisquer outros lugares. Essa interpretação, por sua vez, convida a uma reflexão acerca da importância e da usabilidade dos portais de governo, especialmente os municipais, que são o foco do estudo retratado neste artigo. Neste mesmo contexto, constatou-se que, das prefeituras brasileiras (IBGE, 2006), dos 5.564 municípios, 48,1% têm site oficial na web, e, das 51,9% restantes (que não possuem), 27% já estão com a página em elaboração e 73% ainda não empreenderam nenhum esforço neste sentido. Daí, portanto, a relevância da análise da necessidade de se manter tais páginas e, sobretudo, dos níveis de virtualização em que essas páginas vêm e virão a ser desenvolvidas – e é sob esta ótica que a pesquisa proposta por este artigo foi desenvolvida, objetivando a concepção de um modelo (ou tipologia) de classificação de sites governamentais municipais. Todavia, a virtualização dos governos, mormente no contexto brasileiro, e em especial dos governos municipais, foco desta pesquisa, precisa enfrentar certos desafios, ao mesmo tempo em que apresenta várias potencialidades. 2.2 Desafios e potencialidades para a virtualização dos governos Para a ampliação e popularização das tecnologias de comunicação, informação e interação, diversos desafios precisam ser superados pelos governos dos diferentes níveis, sendo relacionados, principalmente (BITTENCOURT FILHO, 2003; DAWES et al, 1999): a) à geração de um novo arcabouço ou estrutura administrativa, com novos métodos e práticas de gestão, refletindo o novo modus operandi da administração pública virtualizada, sob uma perspectiva mais sistêmica e integrada; b) à manutenção de recursos e ao desenvolvimento de tecnologia e infra-estrutura física para suporte da rede, prevendo troncos, ramais e conexões para a ligação de organizações (públicas e privadas) em redes; c) à criação de ferramentas de comunicação e interação mais amigáveis, e desenvolvimento de linguagens e códigos culturais próprios, mais adequados ao mundo cibernético (digital); d) à integração de diferentes e variados sistemas de informação, confiáveis, flexíveis, seguros e de baixo custo, permitindo gerenciar eletronicamente os documentos, sem perder a segurança, com a garantia de acesso aos e de preservação dos registros públicos; 4 e) ao desenvolvimento de novos métodos de participação de cidadãos no processo democrático, com a disponibilização de tecnologias e padrões facilitadores de buscas, seleções, análises e compartilhamento de informações; f) à disponibilização de novos serviços integrados, auto-atendimento em novos locais e horários, novos métodos de verificação da identidade, segurança de sistemas e auditoria, bem como novos métodos de mensuração de custos e benefícios; g) ao uso e desenvolvimento de novas soluções baseadas na internet, como pregões eletrônicos, disponibilização de bibliotecas de dados, de produtos e serviços na área fiscal, cultural, social, esportiva, habitacional, empresarial e outras; h) ao uso e desenvolvimento de ferramentas intuitivas de suporte à decisão para os dirigentes públicos, incluindo tecnologias e padrões que permitam a busca, seleção, análise e compartilhamento de informações, que podem influenciar fortemente na efetividade da tomada de decisões; i) ao desenvolvimento de novas parcerias com o setor privado e outras formas de organizações em rede, inclusive o terceiro setor; e j) à superação de obstáculos de integração entre órgãos de pesquisa e os governos digitais. Essa imensa e complexa teia da internet pode trazer, também, importantes potencialidades, como a ligação das organizações de forma instantânea e simultânea, com comunicações muito mais intensas e eficazes, criação coletiva de conhecimentos (via trocas de informações e experiências), estabelecimento de fluxos livres e rápidos, e vários outras possibilidades conexas. Ou seja, mais do que meramente adquirir máquinas, ligar pontos de internet e adquirir infra-estrutura tecnológica física, o principal desafio é criar comunicação que envolva, comprometa, gere estímulos, viabilize construções de conhecimentos e significados próprios e comuns, e que leve a um nível de desenvolvimento pessoal, grupal, organizacional e territorial mais elevado. Nesse contexto, cidadãos (e organizações) têm grandes oportunidades para buscarem desenvolvimentos mais efetivos. Os governos, por sua vez, principalmente os municipais, podem mover importantes esforços para superar entraves e desafios, e conquistar novas e diferentes potencialidades, com opções e soluções inovadoras. No entanto, a informatização e a virtualização de uma organização (ou instituição) não constituem um evento pontual, mas são resultados de um processo de amadurecimento, desde uma fase inicial até outra final, de excelência, constituindo, 5 também, um processo sistêmico, em que várias alterações precisam ser desencadeadas e desenvolvidas, com coerência e consistência, interna e externamente, até se chegar a este ponto dito excelente. Apresentada esta fundamentação, cabe, agora, analisar brevemente a evolução do e-gov no Brasil. 3 A EVOLUÇÃO DO GOVERNO ELETRÔNICO (E-GOV) NO BRASIL No Brasil, o governo federal lançou as bases para o desenvolvimento de uma sociedade digital ao criar um Grupo de Trabalho Interministerial com a finalidade de examinar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas às novas formas eletrônicas de interação, através do Decreto Presidencial de 03 de abril de 2000. O grupo de trabalho criado com base nesse decreto direcionou os esforços para as seguintes linhas de ação: universalização de serviços, governo ao alcance de todos e infra-estrutura avançada. Logo em seguida, por Decreto de 18 de outubro de 2000, foi criado o Comitê Executivo de Governo Eletrônico (CEGE), tendo por objetivo formular políticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular ações de implantação do governo eletrônico. Em 29 de novembro de 2003, foi publicado outro Decreto, criando oito Comitês Técnicos de Governo Eletrônico. Os serviços do governo eletrônico brasileiro estão concentrados no portal Rede Governo (http://www.redegoverno.gov.br), em que é oferecida a possibilidade de realização de pesquisas sobre situação fiscal, emitir pedidos de passaporte, solicitar certidões negativas de dívidas, obter informações sobre concursos públicos, tempo para aposentadoria, condição das estradas do país, bolsas culturais, consultas processuais, diários oficiais, projetos de leis, dentre outros serviços. Dentre os sites de serviços disponibilizados pelo governo, podem ser destacados três, principalmente: o da Receita Federal, o do Instituto Nacional de Seguridade Social e o do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Por exemplo, pelo site da Receita Federal (http://www.receita.fazenda.gov.br), em 2004, foram entregues quase todas as Declarações de Imposto de Renda; o site também abrange uma variedade de outros serviços, que facilitam a vida dos cidadãos e das empresas em geral. Via site do Instituto Nacional de Seguridade Social (http://www.inss.gov.br), são realizados eletronicamente importantes serviços, principalmente de prestação de informações aos segurados, como calendário de pagamentos, tramitação de processos e situação do recolhimento ao INSS por parte dos empregadores. Via site do CNPq (http://www.cnpq.br), são gerenciados virtualmente milhares de processos relacionados a projetos e formas de 6 apoio à pesquisa, assim como um impressionante cadastro de quase 600 mil currículos de pesquisadores e estudantes na base Lattes. Uma outra importante decisão foi tomada pelo governo via Medida Provisória 2.026/2000, instituindo os pregões públicos federais na internet, via utilização do sistema Compras.net (http://www.comprasnet.gov.br). Com a medida, os fornecedores podem fazer suas inscrições, consultar as licitações em andamento, fazer ofertas de preços on-line, disputando, a partir de qualquer ponto do País, vendas para o governo federal. Sob a mesma ótica em que operam estes sites, algumas outras tendências envolvendo portais do setor público – com destaque, também, para os governos municipais – podem ser referidas: a) os bancos brasileiros, em suas agências – inclusive os bancos públicos –, tendem a ficar cada vez mais vazios, porque se relacionam cada vez mais com os clientes via auto-atendimento e, inclusive, internet; b) órgãos do governo, como Receita Federal, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, o próprio CNPq e o INSS já realizam importantes interações com os usuários, que impactam fortemente sobre a forma tradicional de realizar serviços e tarefas, com maior eficiência e agilidade, menor custo, e maior qualidade, envolvendo cidadãos de todas as classes sociais e faixas etárias; c) os contatos por e-mails já superam largamente outras formas de comunicação, como fax e correspondências tradicionais; d) várias prefeituras do Brasil estão criando espaços para os munícipes usarem a internet, via telecentros ou centros digitais, viabilizando acessos ao mundo digital pela população em geral, inclusive a mais humilde; e) estão ocorrendo importantes reformulações estruturais nas organizações públicas, derivadas das novas alternativas de ação e do impacto da tecnologia da internet; f) é possível notar um esforço por uma crescente transparência do funcionamento das instituições públicas, via transferência de informações e serviços para ambientes e meios digitais, como a publicação de balanços e licitações (pregões eletrônicos) na internet, discussões on-line, realização de serviços, e mesmo uso de novas tecnologias de apoio à educação e capacitação; g) governos municipais passam a usar a internet para melhorarem a comunicação com seu público (cidadãos/munícipes), disponibilizando espaços de notícias, informações diversas, assim como espaços virtuais para reclamações e sugestões (ouvidorias); 7 h) governos municipais visualizam a internet como importante espaço público para promoverem suas empresas locais, apresentando seus recursos e suas potencialidades; i) governos municipais, escolas, empresas e profissionais estão passando a usar de forma ainda tímida, mas crescente, recursos (ou tecnologias) multimidiáticas de interação como vídeos, vídeos compostos, videochats, chats, fóruns, rádios e TVs na web, visando darem mais vida às suas comunicações e diálogos com o público, interno e externo; j) importantes acervos virtuais estão sendo constituídos, facilitando e enriquecendo sobremaneira as disponibilizações de informações na internet; podem, dentre estes, ser destacados os serviços de virtualização de livros, edição de vídeos de acesso mundial, desenvolvimento de blogs e newsletters, bem como outras formas de disponibilização do conhecimento e de informações; k) estão sendo criados laboratórios de iniciação e treinamento de jovens, visando a incluir digitalmente novos cidadãos ao espaço cibernético, como o Laboratório de Estudos Cognitivos (LEC) do Instituto de Psicologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), assim como os Telecentros de Porto Alegre, de São Paulo e de outros municípios do Brasil; l) novas tecnologias de comunicação e informação além das já mencionadas vêm sendo constantemente criadas e difundidas, dentre as quais podem ser destacadas as videoconferências e “reuniões on-line”, permitindo assim que trocas de comunicações e informações ao vivo e à distância sejam realizadas, entre núcleos e profissionais de redes acadêmicas, profissionais liberais, redes sociais e de outras outros enfoques, em que novas plataformas de ensino presencial e a distância, como, por exemplo, o Teleduc (da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas – SP – http:// www.teleduc.org.br) e o NAVi (da UFRGS – http://navi.ea.ufrgs.br), podem contribuir sobremaneira para a facilitação e melhoria do ensino presencial e a distância; e m) ainda, com isto, existe uma enorme demanda para a formação de professores e capacitação de profissionais em geral, nos três níveis de governo, em que o ensino na modalidade a distância poderá cumprir papel importantíssimo. Diante destas tendências, cabe que o desenvolvimento de sites de governo eletrônico observe alguns requisitos, ou características, a serem explicitadas a seguir. 4 CARACTERÍSTICAS DE SITES DE GOVERNO ELETRÔNICO 8 Em seu estudo de sites governamentais (de países, inclusive o Brasil; e de Estados e municípios brasileiros), Bittencourt Filho (2003) identificou existirem as seguintes características principais: a) organização das informações – a internet traz novos conceitos de organização, apresentação e entrega de informações governamentais para uso público. Há necessidade de organizar as informações de uma forma simples e coerente para o público leigo, o que muitas vezes contraria a cultura predominante nos órgãos públicos; mais que uma questão de automatizar, sistematizar implica em estruturar corretamente as entidades de dados e seus relacionamentos (KLERING, 1990); também é necessário visualizar-se o nível mais amplo do sistema, e não simplesmente suas partes e interfaces mais básicas; para exemplificar, Bittencourt Filho (2003) cita o caso da organização dos “eventos da vida” dos governos de Victória e Singapura, em que os serviços para os cidadãos são apresentados de forma simples e engenhosa, relacionando os serviços mais importantes da vida e das famílias, com momentos, tais como tornando-se adulto, começando um negócio, comprando um imóvel, casando, tornando-se pai ou mãe, comprando um veículo, mudando-se, pagando taxas e impostos, aposentando-se; b) atratividade – os sites precisam ser atraentes, para despertarem a atenção dos cidadãos e se firmarem como um lugar interessante de obtenção de informações, mais diretamente relacionadas às necessidades, como também indiretamente; esta personalização das páginas requer o trabalho de profissionais de comunicação e design, assim como de psicólogos, sociólogos, profissionais de artes e outros, capazes de apresentarem na página “algo” além da simples apresentação de dados, que desperte interesse, curiosidade, imaginação e mesmo satisfação a demandas de informações técnicas; c) interatividade – um site deve proporcionar formas e ferramentas de interação com os usuários, seja interação usuário-sistema, seja interação entre usuários; d) rentabilidade – os sites devem primar pela auto-sustentabilidade da prestação de serviços digitais; e) racionalidade – a estrutura dos sites deve “forçar” os governos a eliminarem redundâncias de informações e duplicações de esforços; f) estratégia de governo – a prestação de serviços digitais na internet muda o fluxo das informações, e por decorrência os relacionamentos e poderes nos órgãos públicos; desta forma, o desenvolvimento de bons sites governamentais acarreta impactos políticos e técnicos; ao mudarem as estruturas físicas de 9 governos, os sites interferem fortemente nos status quo vigentes; mexendo na burocracia, possibilitando que as estruturas se tornem mais abertas, transparentes, ágeis, eficientes e eficazes; e promovendo mais justiça, igualdade e inclusão digital. Com o advento dos microcomputadores, os dados passaram a ser organizados em bancos relacionais, e não hierárquicos. Mais recentemente, com o surgimento da internet, os dados fluem por hipermeios, o que permite buscas sistemáticas e intuitivas, sem caminhos prévios definidos, abrindo-se as portas para a acidentalidade das descobertas e da inovação. Passa-se a ter um estado de maior liberdade intelectual e formas de disponibilização das informações em estruturas profundamente “anti-burocráticas”. As novas estruturas virtuais tendem a derrubar os pequenos e rígidos monopólios de informações, que o excesso de especialização criou nas burocracias. Como conseqüência, tende a ocorrer um doloroso deslocamento de poder para longe dos guardiões do conhecimento. Ainda, as redes de comunicação não-hierárquicas, que cruzam as organizações por diferentes fluxos e caminhos, violam os limites rígidos dos departamentos e das seções, interligando usuários de diferentes níveis das estruturas organizacionais. Daí, tende a surgir um elo importante, das relações entre o conhecimento e o poder numa sociedade ou organização: a forma de organizar seus conceitos impacta fortemente na maneira mesmo de organizar fisicamente uma instituição ou organização. 5 ESTÁGIOS DE INFORMATIZAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES Em 1973, Richard L. Nolan publicou um trabalho de grande impacto na área da administração de sistemas, com o título Managing the computer resource: a stage hypothesis (NOLAN, 1973b). Vários trabalhos complementares se seguiram a esse primeiro, baseados em sua experiência de pesquisa empírica e consultorias (NOLAN, 1973a; 1973 b; 1979). No primeiro artigo, Nolan apresenta uma hipótese de estágios de informatização de organizações, assentados no volume de recursos expendidos pelo setor, sugerindo que as formas de planejamento, organização e controle das atividades associadas à administração de computadores mudam de caráter no decurso do tempo e se manifestam na forma de padrões fortemente relacionados a quatro estágios, a saber: (1) aquisição de computadores; (2) intenso desenvolvimento de sistemas; (3) proliferação de controles; e (4) orientação para o usuário. O autor refere, ainda, que teorias de estágios têm provado ser particularmente úteis na expansão do conhecimento de várias áreas, durante seus períodos de formação. Dentre elas, destaca as aplicadas aos campos da biologia, astrologia e economia, que utilizam 10 esse conceito, fundamentado na premissa de que os elementos de sistemas movem-se através de padrões que são diferentes nos sucessivos estágios de desenvolvimento. Como exemplos de elementos, podem-se citar os padrões de comportamento da evolução do homem; no decorrer dos estágios, podem expandir ou contrair seus atributos em número e natureza. Num outro artigo, Nolan (1973a) traz uma importante contribuição a respeito dos estágios de desenvolvimento da informática nas organizações. Nesse trabalho, Nolan reafirmou a existência de quatro estágios, que refletiam as mudanças na curva de custos, com a denominação de: inicialização, expansão, formalização e maturidade. Mais tarde, em 1979, seu trabalho foi complementado, sendo que os quatro estágios descritos no primeiro estudo foram acrescidos de dois, pelo desmembramento do último em outros três. A seqüência completa ficou assim constituída: inicialização, expansão, controle, integração, administração de dados e maturidade, e é descrita a seguir. 5.1 Estágio 1 – Inicialização Este primeiro estágio apresenta como características: · descoberta da informática pela organização; · instalação do processamento de dados com mero intuito de redução dos custos; · subordinação da informática a um setor usuário; · aparecimento de medo e resistências no usuário, em função das mudanças impostas na maneira de realizar o trabalho; e · fase de aprendizado básico da tecnologia; usuários são superficialmente envolvidos. 5.2 Estágio 2 – Expansão Este segundo estágio tem como características: · descobrimento da tecnologia por parte do usuário, que passa a ter grande entusiasmo com seu uso; · proliferação de aplicativos sem a existência dos devidos controles e métodos; não-integração das aplicações, em função de focos localizados de resistência; · desenvolvimento de aplicativos operacionais (não estratégicos), que frustram os gerentes e diretores; · utilização da tecnologia como status; · criação e expansão de sistemas operacionais por programadores inexperientes; esses sistemas são pobremente projetados e não suportam implementações posteriores; e · aumento expressivo dos custos envolvidos em processamento de dados. 11 5.3 Estágio 3 – Controle O terceiro estágio caracteriza-se por: · aquisição de identidade própria por parte da área de processamento de dados, com a criação de um departamento específico, para atender a organização; · maior especialização dos profissionais da área, com a provocação de divisão de trabalho (operação, programação, análise de sistemas etc.). · implementação da documentação e reestruturação das aplicações, em decorrência da explosão de custos no estágio anterior; · participação esporádica dos usuários no uso dos recursos de informática; inexistência de critérios para o uso da tecnologia; · formalização do relacionamento entre analistas de sistemas e usuários; · surgimento de uma média gerência, com a função de estruturar planos, definir orçamentos, identificar prioridades e estabelecer controles; · centralização da operação e do controle; · avaliação da relação custo/benefício das aplicações, para redistribuição dos recursos; e · centralização ou descentralização da função análise de sistemas, em função das necessidades. No decorrer desse terceiro estágio de informatização de uma organização, ocorre uma mudança de orientação, que passa da administração de computadores para a administração de recursos, em decorrência de insatisfações dos usuários, do surgimento de novas tecnologias e da necessidade de afrouxamento dos controles. As diferenças básicas entre as duas orientações são apresentadas no quadro que segue. Administração de Computadores Administração de Recursos Controle de padrões de documentação e Administração do ciclo de vida das programação aplicações Faturamento por serviços de computação Faturamento por serviços (projetos) de dados Plano tático com enfoque para tecnologias Plano estratégico com enfoque para dados Administração da operação dos recursos de Administração do nível dos serviços informática oferecidos 12 Prioridades definidas pelos programadores/analistas de sistemas Prioridades definidas pelo comitê de informática, com enfoque de toda empresa Administração da segurança dos computadores Auditoria dos serviços oferecidos pelo departamento de informática Quadro 1 – Administração de computadores e administração de recursos Fonte: Adaptado de NOLAN, 1973a; 1973 b; 1979. 5.4 Estágio 4 - Integração O quarto estágio caracteriza-se por: · surgimento de um Comitê Executivo de Informática, com a função de: definir objetivos, formular estratégias e planos de ação para a área de informática, de forma a interligar e apoiar os interesses gerais da organização; conciliar o uso dos recursos da informática com os diversos interesses da empresa; organizar o uso da tecnologia, escolher e montar o staff da área; aconselhar e auditar as atividades de processamento de dados; · reestruturação das aplicações, com a utilização da tecnologia de bancos de dados; · formação de uma estrutura altamente funcional, com a criação de grupos de trabalho voltados a usuários específicos; · adequação dos métodos de administração e controle implantados no estágio anterior; · maior envolvimento do usuário no desenvolvimento e utilização dos aplicativos; · reconhecimento dos dados como recursos corporativos vitais, que devam ser organizados e administrados para maximizar seu valor; · introdução de políticas de administração de dados para aumentar a eficácia do processo decisório e a produtividade na utilização das informações; · organização de dicionários de dados; · aumento da vida útil de sistemas; e · aumento da eficácia dos centros de informações. 5.5 Estágio 5 - Administração de Dados O quinto estágio apresenta: · integração das aplicações; · estruturação da organização ao redor de dicionários de dados; · compartilhamento das informações pelas várias aplicações; e 13 · participação efetiva dos usuários no desenvolvimento e utilização das aplicações. 5.6 Estágio 6 – Maturidade Finalmente, no sexto estágio ocorre: · integração total das aplicações, espelhando o fluxo de informações da organização; · gerenciamento dos recursos de informações; · planejamento estratégico dos recursos de informações; e · integração definitiva dos usuários com o processamento de dados. O modelo de seis estágios de Nolan é provavelmente o mais conhecido na área de administração de sistemas de informação. Por isso mesmo, oportunizou o surgimento de vários artigos, que analisaram sua validade e plausibilidade. Diversos outros autores concluíram que o modelo apresenta uma série de deficiências, mas mesmo assim tem um grande valor como tentativa empírica para estruturar o conhecimento da área. Com o surgimento da microinformática no final dos anos 80, a abordagem tornou-se incompleta e com isso Huff, Munro e Martin (1988) propuseram um novo modelo, baseado no usuário final de sistemas (End User Computing/EUC). Conforme os autores, o modelo provê um novo foco conceitual, centrado na análise do desenvolvimento da informática de organizações através da maturidade das aplicações dos seus usuários finais. Para os autores, um conjunto de padrões recorrentes desenvolve-se de modo análogo ao de outra experiência de aprendizado. Um usuário final adquire algumas características ou atributos básicos, aplica-os a novos problemas e, dessa forma, desenvolve competência e confiança para adquirir habilidades úteis à solução de problemas mais complexos. À medida que o tempo passa, tanto os usuários quanto seus sistemas tornam-se mais sofisticados e maduros. Dessa forma, a maturidade das aplicações desenvolvidas pelos usuários é adotada como principal indicador do estágio de avanço da informática numa organização. Conceitualmente, maturidade de aplicações refere-se à extensão do desenvolvimento de características (ou atributos/capacidades) efetivamente aplicadas, ao invés de simplesmente compreendidas. Em termos operacionais, é medida em termos da interconectividade das mesmas com outros componentes do ambiente computacional. O estágio de maturidade da organização é equivalente ao do departamento onde há mais recursos de informática a serviço da sua razão de ser. Os mesmos autores também confirmam que seria muito simplista caracterizar o desenvolvimento da informática como sendo resultado de somente um ou outro fator. Com efeito, o estágio de maturidade das 14 aplicações afeta o ambiente de uma organização e é por ele afetado, numa espécie de jogo de ação-reação inerente a toda mudança operacional. Com base na estrutura conceitual exposta, os autores propõem um modelo de desenvolvimento da informática em organizações composto de 5 (cinco) estágios. O quadro que segue sintetiza, de forma adaptada, a formulação original: Estágio Extensão da interconectividade 1) Isolamento Pouca ou nenhuma troca de dados entre as aplicações; inexistência de suporte formal; as aplicações são de pouca relevância. 2) Chaveamento As aplicações operam de forma independente; os dados são alimentados manualmente. 3) Integração manual Os dados são transferidos entre as aplicações de maneira manual, via disquetes ou arquivos, controlados individualmente. 4) Integração automatizada As aplicações se conectam a um ou mais bancos de dados corporativos e trocam dados entre si e com os "mainframes", de forma corriqueira. 5) Integração distribuída As aplicações fazem parte de uma rede que acessa bancos de dados em qualquer área organizacional. A idéia de localização fixa dos dados desaparece. Quadro 2 – Estágios do desenvolvimento da informática em organizações Fonte: Adaptado de Huff, Munro e Martin (1988). 6 ABORDAGENS DE NÍVEIS E CRITÉRIOS DE VIRTUALIZAÇÃO DE SITES DE GOVERNOS No início do novo milênio, observam-se importantes transformações na forma como governos disponibilizam e prestam serviços públicos aos seus cidadãos, através do recurso da internet. Decorrem daí duas perguntas-chave: como os governos estão aproveitando a rede da internet para prestar serviços públicos de melhor qualidade? Que mudanças evolutivas podem ser observadas nos sites governamentais, visando a prestação de serviços públicos de qualidade? 15 De forma semelhante como fizeram Nolan e Huff, Munro e Martin em suas respectivas épocas, nesta nova era da internet convém definir um novo modelo de classificação de governos, tendo em vista os estágios de virtualização dos seus sites na rede global. Em sua pesquisa, Bittencourt Filho (2003) apresenta a seguinte taxonomia de sites governamentais: a) nível 1 – sites de baixa atratividade e interatividade, apresentando basicamente informações institucionais e de divulgação dos respectivos governos, num nível inicial de presença na internet; b) nível 2 – sites de baixa atratividade e interatividade, apresentando um pequeno número de serviços on-line; c) nível 3 – sites de média atratividade e interatividade, apresentando um número significativo de serviços on-line; d) nível 4 – sites de alta atratividade e interatividade, apresentando informações de grande interesse público, constantemente atualizadas, e muitos serviços on-line. Numa pesquisa sobre a adoção de websites por vinícolas gaúchas, Ferreira, Oliveira e Feix (2004) referem que, a partir de classificações de diferentes autores, os estágios de adoção de websites são compostos basicamente por: a) um estágio inicial, onde o objetivo é fornecer informação sobre a empresa e seus produtos; b) um estágio intermediário, onde o foco é a interação, incluindo a possibilidade de efetuar a transação; e c) um estágio avançado, onde a preocupação está centrada na integração da organização interna e externamente. O estágio de adoção do website por uma organização reflete na sua capacidade de atrair e manter usuários. Dentre as diferentes características de um website, os mesmos autores referem serem importantes os seguintes atributos principais: a) conteúdo, em termos de relevância e atualização; b) design, que facilita a navegação, torne a página interessante do ponto de vista visual, e tenha ferramenta de busca, mapa do website, inexistência de barra de rolagem, botão home, imagens bonitas; c) capacidade de interação, permitindo que o usuário participe ativamente do processo de comunicação, e contemplando aspectos como tradução para outros idiomas, links e diferentes formas de contato; d) capacidade de realização de transação, com segurança e privacidade. 16 Já, de acordo com Ferrer e Santos (2004), existem cinco níveis de classificação de governo eletrônico, a saber: a) nível 1 – institucional – em que um site de governo provê informações ou serviços, tentando aproximar o governo dos cidadãos. Ocorre uma disseminação ou acesso seletivo a informações, como notícias, publicações, download de documentos, etc.; b) nível 2 – transacional – quando um site permite a realização de uma transação financeira ou um processo transacional, como a declaração do Imposto de Renda e seu pagamento eletrônico, assim como os pregões eletrônicos, pelos quais um governo pode realizar compras de materiais e serviços; c) nível 3 – colaborativo – quando um site oferece diferentes serviços integrados, permitindo que um cidadão navegue por diferentes espaços virtuais, que compartilham (integram serviços); assim, oferece serviços de procura respondendo a “eventos vitais”, a diferentes mecanismos de busca, por diferentes sistemas integrados, inclusive sistemas de diferentes organizações; d) nível 4 – integração entre todos os níveis – quando os dados necessários para uma transação ou o andamento de um processo administrativo sejam provenientes de todas as bases de dados de um governo e sistemas estruturadores sejam compartilhados; e) nível 5 – personalização total – quando um site permite a um cidadão interagir de forma customizada e personalizada, em que cada um tem um endereço eletrônico autenticado e domicílio oficial eletrônico. Estas abordagens apresentadas são relevantes para a pesquisa realizada, cuja metodologia é melhor apresentada a seguir. 7 METODOLOGIA DE PESQUISA Com vistas ao atingimento dos objetivos propostos para a pesquisa, o primeiro passo na identificação de inovações foi verificar o que realmente está sendo feito de forma distintiva na apresentação de sites de municípios do Brasil. Foi então realizado um rastreamento em dezenas de sites, buscando identificar os mais evoluídos e com recursos tecnologicamente distintivos. O acesso aos sites foi realizado a partir do cadastro de endereços disponível no site do NUTEP (http://nutep.ea.ufrgs.br) – onde estão indicados mais de 1 mil links para páginas de municípios brasileiros – bem como a partir de algumas indicações de casos específicos apontadas pelo Programa de Gestão Pública e Cidadania, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (http://inovando.fgvsp.br). 17 Teve-se por objetivo gerar um modelo de classificação da virtualização de sites, tendo por referência, especialmente, os modelos de Nolan (para contextos de computadores de grande porte) e de Huff, Munro e Martin (para contextos de utilização de microcomputadores, inclusive em rede), dentre as demais contribuições apresentadas no item 6. Ao mesmo tempo, foi empreendido expressivo esforço para desenvolver em laboratório contextos de utilização de tecnologias inovadoras, principalmente com o desenvolvimento de experiências de transmissão a distância (por internet), de videoconferências com chats, e de ensino a distância. As experiências em laboratório geraram produtos de valor, direta e indiretamente relacionados aos objetivos de pesquisa, tais como: a) geração da tecnologia de transmissões por videochats para diferentes grupos de pesquisa, a partir de um único servidor, disponível no site http://navi.ea.ufrgs.br; b) criação do serviço de TV na Web, disponível em http://www.ea.ufrgs.br/eatw); c) desenvolvimento de uma plataforma de ensino a distância para o curso AMERF (Administração Municipal Eficaz com Responsabilidade Fiscal), que constituiu o “embrião” da plataforma genérica NAVi (Núcleo de Aprendizagem Virtual); d) desenvolvimento da Plataforma de ensino NAVi (http://navi.ea.ufrgs.br), inicialmente para a EA/UFRGS, e, posteriormente, para toda a UFRGS e instituições de ensino em geral; o principal diferencial competitivo desta Plataforma (bem como das versões subseqüentes a esta) é o seu enfoque sistêmico, aplicável não apenas ao contexto do ensino, mas a organizações de diferentes portes e setores, inclusive instituições públicas; e) desenvolvimento do modelo de virtualização dos sites de municípios, conforme apresentado em item posterior; f) enquadramento de sites de municípios de forma referencial, no modelo de virtualização dos sites de municípios; g) identificação de estratégias de atuação de municípios do Brasil, com a utilização de sites; h) sugestões de estratégias possíveis de desenvolver, com a utilização de recursos tecnológicos baseados na internet de forma avançada; e i) identificação de implicações do estudo. Entretanto, diante dos objetivos deste artigo, mantém-se o foco do estudo no que tange ao aprimoramento das possibilidades de virtualização de sites municipais, bem como do incremento dos níveis de tal virtualização. 18 Com este propósito, a seguir, é sugerido um modelo (ou tipologia) de níveis de virtualização de sites municipais, com base nos referenciais adotados pela pesquisa, bem como de indícios dos principais resultados de laboratório. 8 UM MODELO DE NÍVEIS DE VIRTUALIZAÇÃO DE SITES MUNICIPAIS E RESPECTIVOS EXEMPLOS DE SITES REFERENCIAIS A partir dos modelos de classificação de organizações em estágios de informatização, bem como da taxonomia apresentada por Bittencourt Filho (2003) para sites governamentais; das características de adoção de websites por Ferreira, Oliveira e Feix (2004); da classificação de níveis de governos eletrônicos de Ferrer e Santos (2004), bem como da análise de inúmeros sites de municípios do Brasil, construiu-se um modelo (ou tipologia) níveis de virtualização de sites municipais, e foram apresentados exemplos de sites para cada nível, com classificação já atualizada para a publicação deste artigo. 8.1 Primeiro nível de virtualização Num primeiro nível de virtualização, pode ser classificada a grande maioria dos sites de municípios e órgãos públicos, uma vez que estes sites encontram-se limitados a apresentar dados institucionais e de governo básicos, fazendo um marketing bastante singelo de aspectos valorizados nos municípios, e valendo-se de uma comunicação apenas “de mão única”, ou seja, apenas de recepção por parte do usuário (ou cidadão); esses sites podem ser, então, classificados como institucionais estáticos. São exemplos referenciais de sites de primeiro nível de virtualização: · Prefeitura Municipal de Mariana Pimentel (RS) – http://www.marianapimentel.rs.gov.br · Prefeitura Municipal de São Vendelino (RS) – http://www.saovendelino.rs.gov.br 8.2 Segundo nível de virtualização Num segundo nível de virtualização, figuram os sites preocupados em fornecer alguns serviços on-line aos usuários, como, por exemplo, dados gerais de um município em foco, opções e facilidades de investimentos, eventos em andamento ou programados, acessos, cronogramas e horários de funcionamento de serviços públicos, licitações em andamento, links para outros sites úteis, informações sobre o orçamento, licitações, concursos públicos e legislação municipal (inclusive a lei orgânica do município) e outros 19 dados; a comunicação já é mais completa, mas ainda permanece unidirecional, do município para o usuário; estes sites podem ser, assim, classificados como institucionais dinâmicos. Uma variante desse tipo de site é largamente usada em municípios da Argentina, que apresentam a cidade de forma mais global, sem uma separação tão drástica entre a gestão pública e privada; com esta perspectiva, os sites apresentam dados públicos e privados (das empresas) de forma bastante mesclada, sem uma separação nítida. São exemplos referenciais de sites de segundo nível de virtualização: · Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa (RS) – http://www.carlosbarbosa.rs.gov.br · 3 Prefeitura Municipal de Passo Fundo (RS) – http://www.passofundo.rs.gov.br Terceiro nível de virtualização Num terceiro nível, estão sites que apresentam informações sobre atos em andamento; informam leis aprovadas, prestam contas de atos e julgamentos feitos, apresentam as conexões ou links da rede de seções do site ou sites do município, permitem receber críticas, sugestões e apreciações, dando retorno (informando resultados) de enquetes realizadas, de encaminhamentos feitos, inclusive com relação a consultas de débitos, como IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano); nesse nível, a comunicação do gestor com os usuários (cidadãos) já é feita “em mão-dupla”, ou seja, na forma de “ida e volta”, havendo um retorno, ou feedback; esses sites podem ser classificados, efetivamente, como interativos ou consultivos. São exemplos referenciais de sites de terceiro nível de virtualização: · Prefeitura Municipal de Curitiba (PR) – http://www.curitiba.pr.gov.br · Prefeitura Municipal de Ipatinga (MG) – http://www.ipatinga.mg.gov.br 8.4 Quarto nível de virtualização Num quarto nível, estão sites que utilizam tecnologias que requerem maiores capacidades técnicas para realizar de forma mais completa e autômata (programada) a interação com os usuários, enfrentando assim alguns riscos decorrentes da automação de processos; que permitem, por exemplo, a obtenção de comprovantes eletrônicos de quitação de débitos; que o usuário pague on-line impostos municipais; que possibilitem que o usuário participe de votação sobre assunto de interesse comum, sem precisar estar 20 presente fisicamente; e que oferecem serviços de estatísticas (sobretudo na forma de mapas); que tentam simplificar e orientar a procura de informações, via recursos inteligentes de navegação; indo assim além do que oferecem usualmente os sites do terceiro nível, interativos; estes sites são considerados como transacionais. São exemplos referenciais de sites de quarto nível de virtualização: · Prefeitura Municipal de Porto Alegre – http://www.portoalegre.rs.gov.br · Prefeitura Municipal de São Paulo – http://www.prefeitura.sp.gov.br 8.5 Quinto nível de virtualização Num quinto nível, estão sites que utilizam tecnologias para intensificar a interação com os usuários no que concerne à participação ativa dos mesmos na vida da cidade, tornando-os assim cidadãos mais ativos; para tanto, utilizam o recurso de vídeos produzidos e de imagens de webcams para exibir e promover discussões acerca de realizações da Prefeitura; disponibilizam serviços virtuais de auto-atendimento; dão “voz ativa”, bem como poder de voto a cidadãos, em decisões importantes sobre a cidade; prestam serviços de orientação aos cidadãos, na forma de “monitoria ativa”; oferecem recursos de decisões-navegações interativas (na forma de um autômato, com quase nível de inteligência artificial); promovem teleconferências, e reuniões on-line, chats, videochats e outras formas de interação envolvendo mídias; assim, estes sites, efetivamente, podem ser considerados como sendo participativos. No momento, não foi encontrado algum site de município brasileiro neste nível. O site da prefeitura de Ipatinga já possuía atributos desse tipo há alguns atrás. 8.6 Sexto nível de virtualização Num sexto nível, estão sites que valorizam a identidade (ou personalidade) específica de cada cidadão; atribuem-lhe capacidade ativa de relacionamentos; de busca de informações numa rede de bancos de dados interligados; que informam ao mesmo a ocorrência de eventos, como de multas, vencimento de carteiras, da agenda de compromissos; permitem conversar on-line segundo diferentes formações de turmas (ou comunidades), monitorar acontecimentos por diferentes planos ou arquiteturas de navegação (ou sistema com diferentes níveis de abordagem), obter estatísticas, realizar filtros, atribuir e customizar diferentes papéis e comportamentos, agir como ator ou agente em comunidades de convivência. Enfim, constituem ambientes de navegação excelente, 21 madura e sistêmica, em que predomina a capacidade de agência, identificação e realização de cidadãos. Sites com tais qualidades são intitulados de “personalizados”. Nenhum site de município brasileiro se aproxima deste nível. Todavia, poderiam ser construídos tendo por referências estruturas virtuais como as que ocorrem em ambientes de aprendizagem, como da Plataforma Navi (http://navi.ea.ufrgs.br). Concluindo, verificou-se, durante a pesquisa, que poucos municípios possuem sites ou mesmo portais mais evoluídos; a grande maioria dos municípios ainda nem mesmo tem algum site mais definido e permanente, atualizado de forma sistemática e rápida, e permanece dependendo da disponibilização de informações gerais por outras instituições, geralmente Universidades, Associações de Municípios, ou mesmo do voluntariado. Outrossim, além de apresentarem níveis de virtualização geralmente bastante baixos com poucas exceções, os tempos de acesso aos sites também são inadequados aos propósitos dos sites, ou seja, tanto há sites que são acessados com maior dificuldade, quanto há sites que não são muito acessados por não gerarem o devido interesse no usuário. Para evoluírem e se adequarem aos novos tempos de globalização, expressivos esforços precisam ser direcionados nesta direção, principalmente para alcançarem características de sites mais evoluídos, nos níveis de 2 a 5, eventualmente 6. Quanto mais evoluído for o site, maior o esforço de integração da prefeitura com os cidadãos e a sociedade, na prestação de serviços de forma mais eficaz, completa e de “auto-atendimento”; na organização da administração de uma forma mais clara, objetiva, transparente e sistêmica; na busca de meios mais significativos para a integração dos cidadãos; e na formação de uma cultura mais participativa e aberta, e na busca de promoção do desenvolvimento pessoal (dos cidadãos), organizacional (das empresas e instituições) e social (da sociedade). 9 SUGESTÕES ESTRATÉGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE SITES MUNICIPAIS Expressivos benefícios podem ser colhidos com a implantação de diferentes tipos de prestação de serviços por sites, com uma relação bastante positiva em termos de custo-benefício. As providências básicas devem iniciar com a definição de um provedor de internet adequado, que possa garantir um padrão de serviço de atendimento mínimo; assim como a ocupação de um endereço virtual padrão adequado. Um município deverá definir como evoluir na escala de níveis de virtualização, providenciando adequada definição da estrutura de dados, relacionamentos e serviços a 22 serem oferecidos, de forma que as melhorias possam ser implementadas de forma progressiva e integrada, sempre contemplando aspectos de conteúdo, design, interação e transação. Os atributos de sites mais simples, nos níveis 1 e 2, são geralmente simples de implementar. Os atributos dos níveis 3, 4 e 5, e eventualmente 6, requerem esforços e capacidades maiores. Mesmo nos níveis 1 e 2 já é possível obter-se rápidos retornos financeiros com os investimentos, principalmente com a implementação e organização de serviços relacionados ao gerenciamento de tributos, como a divulgação de informações sobre licitações e pregões eletrônicos. Outrossim, os cidadãos e os municípios podem obter expressivas melhorias com a publicação de informações de interesse público, assim como pela disponibilização e prestação de serviços públicos, em várias áreas de ação. Em suma, para um município capacitar-se a desenvolver sites mais robustos e desenvolvidos, uma seqüência de providências deverá ser tomada (BITTENCOURT FILHO, 2003; KLERING, 1990): a) redesenhar os processos internos, objetivando o fluxo de informações sob o enfoque do cidadão (prevendo entidades, relacionamentos e processos, sempre sob o enfoque sistêmico); b) selecionar e capacitar servidores que sejam especialistas no projeto, desenvolvimento e manutenção de sistemas de informação e websites do município; c) prover infra-estrutura avançada em termos de telecomunicações, computação e acesso à internet, para todos os órgãos da estrutura municipal; d) treinar e capacitar servidores municipais para o uso das tecnologias de informação, bem como para atualizar e usar adequadamente os dados e as informações geradas; e) atualizar a legislação do setor público para a utilização de documentos eletrônicos, assinaturas digitais, compras e pagamentos eletrônicos; f) organizar da forma mais adequada possível o fornecimento de informações pela internet, visando a tornar os cidadãos efetivos usuários dos serviços digitais; g) disponibilizar os serviços digitais no maior número possível de locais, inclusive na forma de telecentros, principalmente onde haja concentração de pessoas, assim como em bibliotecas, escolas e outros locais públicos; e h) valer-se das tecnologias digitais para aumentar o nível de escolarização e de alfabetização e de inclusão digital da população, recorrendo principalmente a recursos como de ensino a distância. 23 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o avanço do processo de globalização e regionalização de regiões, e o impacto causado por tecnologias emergentes, como da internet, cresce a preocupação e responsabilidade dos governos na promoção de um desenvolvimento sócio-econômico de municípios e regiões, que acompanhe o novo ritmo imposto pela nova economia. Mais e mais responsabilidades são delegadas aos governos locais, que com poucos recursos devem atender todo tipo de demandas, de forma cada vez mais ágil, a custos menores e resultados melhores. Para tanto, novas possibilidades e recursos estão sendo disponibilizados, principalmente novos recursos e soluções baseadas na tecnologia da internet. Utilizações adequadas da tecnologia podem economizar recursos, implementar serviços públicos de forma mais rápida e efetiva, obter maior visibilidade dos respectivos municípios, maior transparência e responsabilidade dos gestores e maior envolvimento com a comunidade, bem como promover de fato níveis de qualidade de vida maior para os cidadãos, desenvolvendo políticas voltadas à ampliação das capacitações (SEN, 2000; PORSSE, 2006), para a realização autônoma de funcionamentos (aquilo que os cidadãos gostariam de fazer e ter na vida), além de vários outros efeitos e benefícios. Desta forma, de forma mais abrangente, os sites dos governos municipais devem preocupar-se de forma crescente na promoção de funcionamentos sociais, visando a melhorar o nível de qualidade de vida dos cidadãos e da sociedade, especialmente em termos de: a) melhoria da renda, educação, saúde, saneamento, qualidade da água e do ambiente em geral (com níveis de poluição menores); e b) aumentar as opções de cultura, esportes e lazer; de convivência, de transportes (de ir e vir), de segurança, de acesso a notícias e informações, políticas, de associação, de crença, de profissão, de expressão e de vida em geral. Observando-se a lista, verifica-se existir nos municípios em geral preocupação em atender parte dos itens elencados, mas expressiva outra parte destes itens está “esquecida” nos sites municipais, principalmente aqueles elementos com enfoques mais sociais e culturais; por exemplo, são raros os registros de preocupações em oferecer melhores opções (ou liberdades) políticas, de associação, de crença, de profissão e expressão. Um quadro desenvolvido por Nussbaum (2000) tenta objetivar a lista de capacidades ou capacitações que devem ser promovidas, visando a melhorar a qualidade de vida de uma população. Sua lista contempla os seguintes itens: · capacidade para viver uma vida longa e tranqüila; · capacidade de saúde física: estar bem nutrido, ter abrigo, ter filhos; 24 · capacidade de integridade física, podendo ir e vir com confiança e livremente, estando livre da violência sexual, da violência doméstica e do abuso infantil; ter oportunidade de satisfação sexual; · capacidade de pensar, imaginar, sentir e emocionar; · capacidade de afiliação, de reunir-se em grupos, formais ou informais; de viver em sociedade; · capacidade de auto-respeito e não humilhação; · capacidade de viver com animais, plantas e meio-ambiente; · capacidade de rir e de divertir-se; · capacidade de participar ativamente de escolhas políticas; e · capacidade de ter direitos de propriedade. Para alcançar tais capacitações, uma série nova e mais ampla de funcionamentos deverão ser crescentemente focados pelas administrações municipais, a serem também refletidas na estrutura dos seus sites. De fato, as preocupações presentes nos sites relacionam-se de forma geral a questões mais objetivas, simples e concretas. À medida que um governo evolui e amadurece do ponto de vista administrativo, o foco transfere-se crescentemente de dentro para fora, de uma administração autoritário-coercitiva (e centralizadora), para uma administração que passa ser mais benevolente, depois consultiva, e por fim participativa, em suas diversas dimensões ou áreas de atuação (LIKERT, 1979). Os sites refletem esse desenvolvimento sistêmico próprio das administrações municipais. Já existem em desenvolvimento no Brasil e em outros países do mundo diversas iniciativas pioneiras, utilizando o recurso da internet. Essas iniciativas inovam em vários aspectos, de tal modo que os próprios governos, com base ou enfoque mais eletrônico, podem ser reinventados em muitas das suas ações. Mais do que progresso econômico, as comunidades, como os municípios, anseiam obter melhor qualidade de vida. Muitos projetos têm a capacidade de melhorarem de forma significativa o nível de vida de populações. O estudo realizado enfatiza a importância e conveniência da implantação de novos modelos de administração pública municipal, baseados na tecnologia da internet, ou seja, como governos eletrônicos podem constituir alavancas importantes para gerar maior desenvolvimento nos municípios, tornando as administrações mais ágeis, eficientes, eficazes e efetivas, em prol dos seus cidadãos (tornando-os mais incluídos, participantes e ativos), das suas empresas, das suas instituições, das comunidades e da sociedade em geral. A utilização das tecnologias de informação e comunicação vem se mostrando importante não somente para melhorar a eficiência da administração pública, mas possui um grande potencial para promover de fato uma cidadania mais ativa, ao reforçar as 25 relações entre governos e cidadãos (OCDE, 2001). O e-gov pode cumprir assim um papel que ultrapassa os níveis de virtualização mais simples, da mera disponibilização de informações, de dentro para fora. Para melhorar a relação e interação dos governos municipais com os seus cidadãos e a sociedade em geral, precisam ser regulamentados novos dispositivos legais, que forcem tal nova orientação. E deve ser promovido o desenvolvimento de uma nova cultura administrativa em geral, nos municípios do país, que tenha um enfoque mais sistêmico e participativo. De fato, a internet constitui atualmente um promissor e importante instrumento, sem igual, para efetivar a democracia e cidadania ativa, a partir do encontro das populações em praças urbanas virtuais, de onde cada um poderá acompanhar, participar e interagir de forma efetiva, no estabelecimento das diretrizes e ações de desenvolvimento de uma vida com muito mais qualidade. BIBLIOGRAFIA ARGYRIS, C. Personalidade e organização: o conflito entre o sistema e o indivíduo. 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