GT 06: INDICADORES DE DESIGUALDADE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO ESTUDO COMPARATIVO SOBRE DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADES SOCIOECONÔMICAS NAS CINCO MACROREGIÕES BRASILEIRAS MARTINS, André Filipe Lopes1 E-mail: [email protected] SANTOS, Gilmar Ribeiro dos2 Email: [email protected] RESUMO As desigualdades regionais acompanham o Brasil desde sua formação, porém, somente em meados do século XX esta questão passou a ser tratada como um problema de fato. Nesse momento Celso Furtado deu visibilidade à dimensão crónica das desigualdades regionais e à colocou na agenda política nacional. No entanto, as desigualdades socioeconômicas regionais se acentuaram na segunda metade do século passado e sofreram uma tímida redução na última década. As desigualdades regionais são um impecílho para a consolidação de uma sociedade democrática. Reduzir as desigualdades regionais é um desafio primordial da sociedade brasileira se a mesma pretende sair da incômoda posição de um dos países mais desiguais do planeta. Neste artigo procura-se apresentar e analisar dados quantitativos elucidadores das condições socio-econômicas das cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Sudeste. Sul e Centro-Oeste. Uma análise comparativa dos dados de instituições oficiais brasileiras estratificados por região ilustram e direcionam esta reflexão sobre desigualdades e desenvolvimento regional no Brasil. As unidades de análise são as cinco macrorregiões ao passo que os elementos comparativos versão sobre as condições objetivas: rendimento, na forma PIB, escolaridade, na forma de taxa de analfabetismo, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), dentre outras. As fontes dos dados são o Censo demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Atlas de Desenvolvimento Humano, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O trabalho está organizado com uma introdução à problemática das desigualdades regionais no Brasil, seguida por uma discussão de dois conceitos chave no nosso artigo: desenvolvimento e desigualdades. Em seguida consta uma contextualização histórica do problema. Por fim são apresentados e analisados os dados quantitativos seguidos de algumas considerações finais. Palavras-chave: Método comparativo; desigualdades regionais; desenvolvimento; indicadores socieconômicos 1 Licenciado em Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade Técnica de Lisboa e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES. Email: [email protected]. 2 Doutor em Educação pela PUC São Paulo. Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social / PPGDS e do Departamento de Política e Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Email: [email protected] 1 . ABSTRACT Regional inequalities follow Brazil since their formation, but only in the middle of twenty century, this question has being treated as a problem. At that moment Celso Furtado gave visibility to the chronic dimension of regional inequalities and placed that question on the national political agenda. However, the regional socioeconomic inequalities become more intense in the second half of the last century and suffered a shy reduction in the last decade. Regional inequalities are one impediment to consolidate a democratic society. Reduce regional inequalities is a key challenge of Brazilian society if it intends to leave the uncomfortable position of one of the most unequal countries in the world. This paper aims at presenting and analyzing quantitative data information that could elucidate about the socioeconomic conditions of Brazil's five regions: Norte, Nordeste, Sudoeste, Sul and Centro-Oeste. A comparative analysis of data from Brazilian official institutions stratified by region will illustrate and guide this reflection about inequalities and regional development in Brazil. The units of analysis are the five macro-regions while comparative data represent the objective conditions: income as GDP, schooling, as illiteracy rate, HDI (Human Development Index), among others. The data sources are the population census of 2010 from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the Atlas of Human Development, from the United Nations Program for Development (PNUD). The paper is organized with an introduction to the problem of regional inequalities in Brazil, followed by a discussion of two key concepts in our article: development and inequality. After given a historical context of the problem, finally are presented and analyzed the quantitative data followed by some concluding remarks. Keywords: Comparative method; regional inequalities; development; socioeconomic indexes. INTRODUÇÃO O foco central do presente artigo incide sobre um exercício comparativo, usando para tal o respetivo método, sendo assim a apresentação do problema começará a ser feita com recurso a respostas às três questões formuladas por Sartori (1994) acerca do uso do método comparativo: o que comparar, como comparar e porquê comparar? Procura-se neste artigo fazer uma exposição e consequente análise comparativa, de dados de natureza quantitativa. Dados estes, que nos elucidem tanto em relação à realidade social quanto econômica, e nos ilustrem e encaminhem param uma reflexão sobre desigualdades e desenvolvimento regional no Brasil. As unidades de análise são as cinco macrorregiões: Norte, Nordeste, Sudeste. Sul e Centro – Oeste. Relativamente aos dados das regiões que nos propomos a comparar estes tratam de condições objetivas: rendimento, na forma PIB e escolaridade, na forma de taxa de analfabetismo, e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Os dados são do Censo demográfico de 2010 e encontram-se disponíveis no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e no 2 Atlas de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNAD). A utilização sobretudo de dados de renda, tem algumas limitações em relação à explicação do universo a que nos remete, uma vez que estes dados são por vezes opacos no que se refere a deixarem transparecer informação sobre questões como acesso universal a direitos e politicas sociais de qualidade. Um dos cuidados imprescindíveis neste tipo de análise, é o de salvaguardar a devida distância entre os números representados sob forma de índices ou indicadores e os respetivos contextos que separam as realidades a comparar. “ Uma das derivas da comparação consiste no alinhamento de “indicadores sociais” estáticos, apresentados desprovidos de qualquer dos sentidos em relação aos seus contextos de referência.” (BALSA, 2006) Apesar da possível cristalização e opacidade subjacente a este tipo de indicadores, neste enquadramento, o método comparativo torna-se essencial para captação da realidade nos diferentes contextos regionais. Para Sartori (1991) apud Ragin (1987) o conhecimento derivado da comparação fornece a chave para perceber, explicar e interpretar um determinado fenómeno. Para Schneider e Schmitt (1998) o método comparativo é aplicável tanto em sociedades distantes no tempo e no espaço como em sociedades vizinhas com pontos de origem comuns; é nesta segunda possibilidade que se enquadra a presente análise. O interesse pela “questão regional” brasileira surge já no século XX, após o país deixar a sua histórica condição de exportador-primário para passar a ter uma base industrial relevante. Segundo Bacelar, (2000) o Brasil caracterizou-se nos quatro séculos anteriores como sendo um arquipélago de várias regiões com as suas respetivas economias, em que a articulação das mesmas era voltada para o mercado exterior, sendo a demanda externa a condicionar e definir a dinâmica econômica das regiões. Em 1959, os relatórios elaborados pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) demonstraram que “ a disparidade de níveis de renda existente entre o Nordeste e o Centro-Sul constitui sem larga dúvida, o mais grave problema a enfrentar na etapa presente do desenvolvimento econômico nacional.” (VERSIANI; BARROS, 1978). Passado cerca de meio século o problema persiste. Em 2010 os dez estados com as menores rendas per capita do Brasil, situavam-se na região Norte e Nordeste, com rendas médias inferiores a R$ 600,00, bem abaixo da média nacional, de R$ 830,35, embora todos eles tenham tido uma taxa de crescimento significativamente superior à média nacional entre 3 2000-10. (PALES e SANTOS, 2012)3.Sendo um dos princípios básicos de uma sociedade democrática e de uma união nacional buscar reduzir as desigualdades sociais e econômicas no seu território, entendemos ser fundamental não perder de vista o problema regional do Brasil. Este trabalho será organizado com a presente introdução, seguida por uma segunda parte de discussão de dois conceitos chave da nossa proposta: desenvolvimento e desigualdades. Numa terceira parte constará uma contextualização histórica do nosso problema; numa quarta parte serão apresentados os dados de natureza quantitativa relativos à taxa de analfabetismo e PIB das macrorregiões e uma análise, quanto à localização dos estados com o IDH mais baixo e mais elevado, e na qual serão discutidos esses dados. Por último serão apresentadas as considerações finais. 2- DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADES A referência ao conceito de desenvolvimento, está no nosso caso atrelado à ideia de desenvolvimento social. Falamos em ideia, e não em conceito, pois não existe uma unanimidade entre os sociólogos quanto à definição de desenvolvimento social, sendo portanto muito vago em termos conceituais definirmos o termo desenvolvimento social. Este torna-se muito difícil de definir uma vez que a ideia de desenvolvimento social é aplicada aos mais diversos contextos e experiências, torna-se por vezes ambígua e contraditória, sendo a aplicação deste, feita com base em “valores culturais e não em critérios científicos.” (BLUMER, 1966) De forma a lhe dar bases e consistência, pretendemos aqui atrela-la ao conceito de desenvolvimento econômico, pois este aparenta sustentar uma consistência e concordância entre os economistas quanto ao seu valor conceitual, o qual se baseia em “atributos como aumento de produtividade, acumulação de capital ou acréscimo na renda real” (BLUMER,1966). Consideramos que, por exemplo o aumento de produtividade ou o acréscimo da renda real, são sem dúvida atributos que, uma vez minimizados ou ausentes, dão forma a parte do problema que nos propomos aqui a tratar. Com esta associação não pretendemos de forma alguma abreviar a noção de desenvolvimento social para desenvolvimento econômico. Consideramos que para uma experiencia de desenvolvimento social se concretizar este precisa de estar não só atrelado a políticas econômicas, mas também políticas sociais, que sejam universalmente integradoras 3 Dados do IBGE, Censo 2000 e Sinopse dos Resultados do Censo 2010. 4 com principal foco na saúde e educação. Kerstenetsky (2006) defende esta hipótese quando diz que os Estados de Bem-Estar Social modernos mais bem-sucedidos na redução das desigualdades foram aqueles que melhor combinaram as políticas socias com as políticas econômicas. Pretendemos agora perceber como está colocado o debate sociológico sobre o problema das desigualdades; qual a sua origem, e se dada a sua prevalência na maioria das sociedades históricas, a desigualdade deve ser encarada como um fenómeno natural, ou será suscetível de enfrentamento. O incrustamento da desigualdade é vista por Dubet (2006) como o fator de ruptura social, desencadeador de luta e violência. Uma das perguntas desde sempre presente no tratamento desta problemática da desigualdade foi a da sua origem. A discussão sobre a origem das desigualdades centrou-se historicamente em duas posições: a origem em fatores naturais e em fatores sociais. Rousseau (1985) no “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens4” afirmava que os homens nascem livres e iguais, e que a desigualdade era criada pelas instituições sociais. Naquela obra, o autor justificava que quando o homem percebeu que era mais favorável acumular provisões para o futuro, a igualdade desapareceu e nasceu a propriedade privada, substituindo-se assim as florestas por campos de cultivo, “que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais, em breve, se viram germinar escravidão e a miséria, a crescer com as colheitas.” (ROUSSEAU, 1985 p.93). O autor, no entanto, não nega a existência de diferenças naturais entre os homens: “Concebo na espécie humana duas espécies de desigualdade: uma, que chamo de natural ou física, porque é estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito, ou da alma” (ROUSSEAU 1985 p. 48). Solera (2005), sugere que para Rousseau, este tipo de desigualdades naturais não contavam, pois a desigualdade que pode ser nociva é a de origem social, uma vez que essa é autorizada mediante o consenso dos homens, já a natural, é estabelecida pela natureza. Marx, socorre-se da divisão de classes para explicar o fenômeno da desigualdade, sustentando que à medida que aumenta a acumulação de capital, aumentam também as desigualdades entre classes. “Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que 4 “Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes” (1754) 5 determina a consciência” (Marx, 2007, p.20), ou seja, as circunstâncias sociais e materiais com as quais nascemos vão condicionar em larga medida a nossa forma de nos situarmos no futuro. Solera, em jeito de síntese do debate esclarece que: (…) parte da desigualdade é “justa”, porque expressa apenas as diferenças naturais inevitáveis, e que parte da desigualdade é “injusta”, já que provocada por fatores artificiais, criados pelos humanos e que, portanto, podem ser modificados à vontade (SOLERA, 2005, p. 213). É segundo esta visão que define a desigualdade como uma injustiça consentida pelo homem, que faz sentido analisar o fenômeno na perspetiva deste poder ser combatido, desconstruído e remediado. No que se refere ao caso do Brasil, para Diniz (2013), o passado histórico, a geografia e as formas de ocupação territorial criaram um deficiente ordenamento que é constatável a partir da distribuição de elementos por região como por exemplo: área territorial, população, atividade econômica e desigualdades sociais. 3 – RAIZES DAS DESIGUALDADES REGIONAIS Como foi inicialmente introduzido, as raízes históricas da desigualdade regional no Brasil, confundem-se com o seu passado colonial, no qual funcionava não como uma unidade econômica, mas como um território com varias plataformas regionais com dinâmicas econômicas próprias, orientadas para a exportação de produtos primários, o que dificultava a criação de um mercado interno e adiava a industrialização (FURTADO, 2005). Salientamos aqui que o subdesenvolvimento tem sido fundamental enquanto plataforma de crescimento e manutenção do sistema capitalista, e que por sua vez as relações assimétricas entre subsistemas econômicos e formas de exploração social decorrentes do capitalismo estão na base do subdesenvolvimento (FURTADO, 1981).Segundo Barbosa (2012) apud Wallerstein (1979) “a economia-mundo capitalista seria capaz de destruir formas de organização social nos diversos pontos do planeta. Desenvolvimento, pobreza e desigualdade poderiam interagir de forma distinta nos vários territórios da economia mundo capitalista.” 6 No âmbito mundial, o desenvolvimento do capitalismo através da divisão internacional do trabalho, fez nascer centros desenvolvidos e uma periferia subdesenvolvida ao seu redor, a economia interna (pela divisão inter-regional do trabalho) vem crescendo promovendo regiões prósperas e regiões que ficam à margem do desenvolvimento (RODRIGUES, 2000). Podemos então falar de regiões excluídas no processo de desenvolvimento. Furtado (2005) indica que entre os anos 1880 e 1930 acontece a implantação da indústria, essencialmente de bens de consumo leves produzidos de forma mecanizada. Este período de rápido crescimento da economia cafeeira no sul, criou enormes disparidades regionais ao nível da renda per capita, começando ai a existir uma forte concentração de riqueza, em relação às demais regiões do país. Só a partir da década de 1930 a economia brasileira conheceu uma vigorosa transformação na industrialização e urbanização. Segundo Uderman (2008) apud Baer (1966) havia uma tendência natural à concentração da atividade econômica ao redor da região polarizada, estimulada por políticas de incentivo à industrialização, que significava um deslocamento da riqueza das regiões menos desenvolvidas para o dinâmico e centrípeto Centro-Sul. Começam aqui a emergir novas disparidades ancoradas aos novos fluxos de capital que se aproveitavam das diferenças regionais para prosperar. É nesta fase ainda que começa o fluxo de migrações, principalmente da região nordestina em direção ao dinâmico Sul. Para Oliveira (1972) estas migrações não só empobreciam as regiões das quais os migrantes provinham, uma vez que eram na sua maioria população jovem e ativa, mas alimentavam também o crescente exército de “reserva industrial” que favorecia as condições para o capital se reproduzir e aumentar. As condições de concorrência eram desvantajosas para os trabalhadores, dada a sua desqualificação e número crescente de mão-de-obra disponível que estes representavam. Estas condições contribuíram muito para a crescente precarização dos trabalhadores e o aumento da desigualdade mesmo dentro nas regiões mais dinâmicas. O primeiro esforço sério de contrariar e combater a desigualdade regional veio pela mão de Celso Furtado, membro do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) que em 1958 elaborou um relatório no qual eram expostos os problemas da região nordestina, severamente castigada pela seca e pela parca industrialização. Para Ribeiro (1995) 7 as áreas nordestinas eram “criatórios de gente, dos quais saem os contingentes de mão‐de‐obra requeridos pelas demais regiões do país” (p. 346). O relatório elaborado GTDN traça então diretrizes e um plano de “resgate” para a região Nordeste. O esforço do GTDN desembocou assim na criação da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) que tinha por objetivo encontrar meios para combater e diminuir as desigualdades que se verificavam entre as regiões do Brasil, porém o foco eram as regiões que se encontravam no polígono das secas, uma vez que estas estariam sujeitas a secas prolongadas, as quais tinham um impacto e custos sociais elevadíssimos. Este primeiro esforço que se traduzia na construção de um plano de políticas de fomento ao desenvolvimento acabou sendo posto de lado em 1964 com a tomada do poder por parte dos militares. Com a estabilização macroeconómica levada a cabo desde os anos 90, foram lançadas as fundações para afirmação do Brasil como uma das grandes economias emergentes, estatuto cimentado com a inclusão, em 2001, no acrónimo BRIC5, que se refere às 4 grandes economias emergentes cujo crescimento assinalava o início do declínio relativo das economias desenvolvidas. O sucesso das políticas sociais do governo federal entre 2003 e 2010 - que retirou milhões de brasileiros da pobreza reduzindo as desigualdades regionais e intrarregionais, dinamizando o mercado interno permitiu ao Brasil passar quase incólume à grande recessão mundial de 2008. Sendo que as condições da economia Brasileira melhoraram substancialmente nos últimos anos, pretendemos então fazer uma análise comparativa entre as regiões de forma a perceber se a riqueza e o desenvolvimento se distribuem de forma equilibrada pelas cinco macrorregiões. 4 – DESIGUALDADES REGIONAIS- ANALISE COMPARADA De forma a melhor entender as desigualdades entre as cinco regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, parte-se agora para uma exposição da realidade socioeconômica através da comparação de indicadores das referidas regiões de forma a destrinchar a amplitude do nosso problema. 5 É uma sigla que se refere a Brasil, Rússia, Índia, China 8 Na tentativa de perceber se a acima referida crescente riqueza se encontra equitativamente distribuída pelas regiões, partimos para a análise do PIB (Produto Interno Bruto), que agrega a soma de todos os bens e serviços finais produzido em uma determinada região. A tabela 1 mostra a percentagem de área territorial, PIB e de população referente às cinco macrorregiões no ano de 2010, bem como a taxa de analfabetismo6 que cada uma delas apresenta. TABELA 1 Área geográfica, PIB, População e taxa de analfabetismo, por Região Regiões Área PIB População Taxa de analfabetismo7 Norte 45,3 % 5,3 % 8,3 % 10,6 % Nordeste 18,3 % 13,5 % 27,8% 17,6 % Sudeste 10,9 % 55,4 % 42,1% 5,1 % Sul 6,8 % 16,5 % 14,4% 4,7 % Centro-Oeste 18,9 % 9,3 % 7,4% 6,6 % Brasil 100 % 100 % 100% 8,9 % Fonte: Diniz (2012) apud IBGE, Censo demográfico 2010 A nível regional, podemos dizer com base nos dados apresentados que se verificam enormes discrepâncias, tanto econômicas quanto sociais. Segundo o censo de 2010, o PIB do Nordeste é apenas 13,5% no universo nacional, embora a região detenha 27,8% da população do país, e 18,3% da área territorial, enquanto que, a região Sudeste participa com 55,4 % do PIB nacional abrangendo 55,4% da população, numa área que representa apenas 10,9% do território brasileiro. Estes números demostram a enorme concentração de riqueza nas zonas Sul, Sudeste e Centro-Oeste em função da percentagem de população se comparadas com as regiões Norte e Nordeste uma vez que a percentagem de PIB que acumulam no universo nacional é bem superior à percentagem de população que habita a região. 6 7 População com idade superior a 10 anos População com idade superior a 10 anos 9 Analisando a taxa de analfabetismo nas regiões Sul e Nordeste, também é observável o contraste entre ambas. Se no Sul “apenas” 4,7% e no Sudeste 5,1% da população é analfabeta, no Nordeste estes número mais que triplicam, sendo a taxa de 17,6%, ficando também aqui evidente a enorme diferença nos níveis de educação entre as regiões historicamente mais beneficiadas em relação as mais negligenciadas. Fica patente nesta breve análise comparativa a abismal diferença que existe ente estados do Norte e do Nordeste em relação aos demais tanto em relação a indicadores econômicos (PIB) quanto a indicadores sociais (Taxa de analfabetismo). Em relação ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que serve para comparar graus de desenvolvimento e qualidade de vida da população com base em aspetos tanto sociais quanto econômicos, este é medido numa escala que vai de 0 a 1 na qual 0 representa nenhum desenvolvimento humano e 1 indica pleno desenvolvimento humano. Este agrega indicadores renda, saúde (expectativa de vida da população) e educação (média de anos de estudos). Através da análise do IDH pretendemos aferir, para além do nível de desenvolvimento humano em determinados estados, se os contrastes verificados entre as regiões feita acima através da comparação do PIB e da taxa de analfabetismo se confirmam. Os dados de IDH que nos propomos a analisar são disponibilizados pelo Programa das Nações Unidas (PNUD) no Altas de Desenvolvimento Humano. A tabela 2 encontra-se dividida em 2 partes, na primeira os dez estados do Brasil em que se observou no ano de 2010 o IDH mais baixo e na segunda os dez com o IDH mais elevado, semelhante divisão foi feita de forma a permitir uma fácil observação em relação a onde se encontram as zonas mais e menos desenvolvidas do território brasileiro. TABELA 2 Estados do Brasil com os IDH mais elevado e IDH mais baixo no ano de 2010 Dez Estados com IDH 2010 IDHM mais baixo Dez Estados com IDH 2010 IDHM mais elevado Alagoas Maranhão Pará Piauí 0.631 0.639 0.646 0.646 Distrito Federal São Paulo Santa Catarina Rio de Janeiro 0.824 0.783 0.774 0.761 10 Paraíba Bahia Acre Sergipe Pernambuco Amazonas 0.658 0.660 0.663 0.665 0.673 0.674 Paraná Rio Grande do Sul Espirito Santo Goiás Minas Gerais Mato Grosso do Sul 0.749 0.746 0.740 0.735 0.731 0.729 Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano 2013 Após a exposição dos dados apercebemo-nos que os dez estados com IDH mais baixo se encontram ou no Norte ou no Nordeste, enquanto que os dez com o IDH mais elevado se encontram dispersos pelas outras regiões, em nenhum dos casos existe uma exceção a assinalar, evidenciando mais uma vez a assimetria que existe entre as várias regiões com uma tendência evidente para as regiões Sul, Sudeste e Centro – Oeste se encontrarem em uma posição privilegiada de desenvolvimento em relação ao Norte e Nordeste. Vale ressaltar ainda que sendo o IDH médio do Brasil de 0,727 o qual nos permite verificar que entre os vinte e sete Estados Brasil, os dez com o IDH mais baixo se concentram abaixo da média do país e estão no Norte e Nordeste, quando por sua vez os dez com o IDH mais elevado se encontram acima desta média e espalhados pelas outras três regiões. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ficou por demais evidente, após a utilização do método comparativo, as desigualdades regionais e o seu presente grau de desenvolvimento bastante diferenciado. As macrorregiões Sul, Sudeste e também Centro-Oeste (embora menos) estão numa posição privilegiada em relação ao Norte e Nordeste. Existem problemas estruturais os quais requerem o forcing do poder público para os reverter, como é o caso da acentuada taxa de analfabetismo do Norte e Nordeste que inviabiliza uma série de acessos a direitos e oportunidades. Estas conclusões demonstram que apesar da crescente importância conquistada pela questão regional na agenda política, esta ainda é um grave problema a minar a unidade Federal, e a não corresponder de forma equitativa à coletividade nacional. Podemos inferir também que não houve uma correlação entre crescimento econômico e desenvolvimento regional, é fundamental o presente crescimento se metamorfosear em desenvolvimento, e o modelo “social-desenvolvimentista” que se tem seguido nos últimos 11 anos assegure o desenvolvimento das regiões mais sensíveis, e historicamente desgastadas pela orientação do investimento para a zona Sul do país e pela constante imigração. REFERÊNCIAS BACELAR, Tânia. A “questão regional” e a “questão nordestina”. In: TAVARES, Maria da Conceição (Org.) Celso Furtado e o Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2000, p.71-92 BALSA, Casimiro. Uma abordagem transnacional. In: BALSA, Casimiro, MESSLER, Lindomar e SOULET, Marc-Henrry (Org.). 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