V CONGRESSO DE ENSINO E PESQUISA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM MINAS GERAIS
NOTAS SOBRE O USO DE FONTES NA FORMAÇÃO
DO CAMPO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO:
O CASO DO INSTITUTO DE BIOLOGIA EM SERGIPE
Dentro da perspectiva da História Cultural, o estudo da formação do campo das
instituições de ensino remete-nos, ordinariamente, ao estudo das culturas escolares. Isso
porque se quisermos descrever melhor as relações e as formas como estas se processavam
dentro de um determinado campo, dependemos dessa integração entre as práticas escolares
e a formação do campo.
Penso que há na categoria cultura escolar um potencial analítico que
está ancorado, por um lado, na articulação dos diversos elementos
constitutivos da experiência escolar que se propõe, e, de outro, na
visibilidade que dá às práticas de divulgação, imposição e de
apropriação efetivada no interior do campo educacional em dado
momento histórico. (...) Assim, se referirmos à categoria penso que
seja mais rigoroso dizer cultura escolar (no singular) e, do ponto de
vista do objeto ou do campo de estudos, culturas escolares (no
plural) parece-me o mais adequado. (FARIA Filho, 2007, p.196197)
E neste ínterim, a maneira como serão analisadas essas práticas, ou seja, a escolha
dos procedimentos históricos para serem trabalhados junto ao objeto de investigação é
importante na obtenção dos fatores que subsidiem efetivamente coerentes análises dessas
práticas culturais, que são importantes fontes existentes, ou por vezes são únicas.
Na verdade, o adequado tratamento dispensado às fontes históricas é apenas um
dos fatores elencados como indispensáveis à obtenção de bons e de válidos estudos,
inclusive dentro do campo da História da Educação. E é sobre essa vertente de que trata o
presente artigo. Neste sentido, o estudo ora apresentado tenta desenvolver uma
possibilidade de reflexão acerca da necessidade do trabalho metodológico dispensado às
fontes, tendo como perspectiva de aplicação deste processo o estudo do campo de formação
de instituições de ensino.
Quanto à conceituação de campo, Bourdieu (1974) entende que:
O campo é um espaço estruturado de posições cujas propriedades
dependem das posições neste espaço. (...) A estrutura do campo é
um estado de relação de forças entre os agentes ou as instituições
engajadas na luta. (BOURDIEU, 1974, p.117)
Nesta mesma concepção, em estudo mais recente, Pierre Bourdieu (2004) amplia o
seu entendimento:
Todo campo, o campo científico, por exemplo, é um campo de
forças e um campo de lutas para conservar ou transformar esse
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campo de forças. (...) Cada campo é o lugar de constituição de uma
forma especifica de capital. O capital científico é uma espécie
particular de capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado
sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste no
reconhecimento ou no crédito atribuído pelo conjunto de pares
concorrentes no interior do campo científico. (BOURDIEU, 2004,
p.27)
Para melhor investigação das culturas escolares, utiliza-se aqui da chamada lógica
histórica que deve preponderar desde a seleção até o modo de trabalhar essas fontes, nos
moldes da História da Educação. Segundo Vidal & Faria Filho (2003) a operação
historiográfica é
(...) considerada como uma relação entre um lugar, percebido de
maneira abrangente como recrutamento, meio ou ofício,
procedimentos de análise e construção de um texto. (VIDAL &
FARIA Filho, 2003, p.38).
Essa operação historiográfica localiza-se na concepção a partir da qual a própria
historiografia se forma e, conseqüentemente delimita seu próprio campo. No caso em
particular, o uso das fontes na elucidação da formação do campo destinado às Ciências
Biológicas dentro do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, objeto aqui
em foco, volta-se essencialmente às relações e aos diálogos entre fontes e objeto. A fim de
chegar aos objetivos propostos, tem-se inicialmente o levantamento literário de fontes
pertinentes sobre História da Educação e sobre a História da Biologia, dentro do contexto
da História da Ciência em si. Já a trajetória do Instituto de Biologia da Universidade
Federal de Sergipe requer atenção especial ao levar em consideração os diversos registros
oficiais desta instituição de ensino superior. Entre esses vestígios, necessário se faz a
exploração das leis e dos decretos, além das mensagens e dos relatórios. Atas, fotografias,
jornais, regimento interno, boletins de alunos e livros: de ponto, de registro de diplomas, de
colação de grau, de matrículas e outros, fazem parte da gama de fontes que devem ser
levantadas, investigadas e analisadas devidamente.
Embora Nascimento (2006), em seu estudo historiográfico sobre a produção
nordestina em História da Educação, tenha identificado uma recorrência maior de fontes
oficiais nos estudos analisados, o autor não valorou estes trabalhos simplesmente pelo uso
dessas fontes oficiais. Assim apenas atribuiu a estes estudos uma aproximação em maior
ou menor grau com características marcantes vistas nos trabalhos cujas referências
principais assentam-se no uso de diferentes fontes, usadas sobretudo pelos profissionais da
Nova História. (Nascimento, 2006, p.40).
Também Thompson (1992), que relaciona os diferentes estudos de campo às
escolhas das fontes, sem deixar de lado o tratamento dado a estas, observa que:
Por certo há exceções importantes em cada um desses campos, que
demonstram serem possíveis abordagens diferentes mesmo com as
fontes de que se dispõe. E há quantidade considerável de
informação pessoal e comum inexplorada, até mesmo em registros
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oficiais – tais como documentos judiciários -, que podem ser
utilizada de novas maneiras. (THOMPSON, 1992, p.24)
Não menos importante apresentam-se os locais apropriados à busca dessa
documentação explicitada, que será pesquisada nos seguintes acervos: Arquivo Público do
Estado de Sergipe, Arquivo e Biblioteca do Instituto Tecnológico e de Pesquisa de Sergipe,
Arquivo e Biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe e Centro de Memória da Ciência e da Tecnologia em Sergipe.
Além disso, o advento da História Oral também estará presente nessa pesquisa,
com a intencionalidade de elucidar lembranças de trajetórias dos docentes e discentes na
tentativa de reconstruir as relações sociais presentes no espaço escolar; pois ainda segundo
Paul Thompson (1992),
A história oral possibilita novas versões da história ao dar voz a
múltiplos e diferentes narradores. Esse tipo de projeto propicia
sobretudo fazer da história uma atividade mais democrática, a cargo
das próprias comunidades (...). O método da história oral
possibilita o registro de reminiscências das memórias individuais;
enfim, a reinterpretação do passado(...). (THOMPSON, 1992, p.18).
Este procedimento pretende entender o cotidiano interno desta instituição de
ensino superior, para que seja possível analisar as práticas que compõem o ambiente escolar
do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Sergipe.
Sem esquecer o fato de que os autores, bem como suas fontes, são ao mesmo
tempo sujeitos e objetos na luta de representação do campo da História da Educação (Vidal
e Faria Filho, 2003), agrega-se aqui a concepção de conhecimento histórico trabalhado por
E.P. Thompson (1981), onde:
(...) é, pela sua natureza, (a) provisório e incompleto (mas não, por
isso inverídico), (b) seletivo (mas não, por isso, inverídico), (c)
limitado e definido pelas perguntas feitas à evidência (e os
conceitos que informam essas perguntas, e, portanto, só
‘verdadeiro’ dentro do campo assim definido (THOMPSON, 1981,
p.49)
Dentro dessa perspectiva é que serão levados em consideração todos os critérios
não só para a escolha, como também para o tratamento dispensado às fontes selecionadas.
Um trabalho que envolve critérios de seletividade, desde a busca até às análises dispostas
nas explicações necessárias à formação do campo identificado para o Instituto de Biologia
de Sergipe e suas possíveis contribuições para a efetivação desse campo no Estado de
Sergipe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
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_______. Os usos da ciência: por uma Sociologia clínica do campo cientifico. São
Paulo: Editora da Unesp, 2004.
FARIA Filho, Luciano Mendes de. “Escolarização e cultura escolar no Brasil: reflexões
em torno de alguns pressupostos e desafios”. In: BENCOSTTA, Marcus Levy (org.).
Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo:
Cortez, 2007, 2007.p.193-211.
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. “Sobre o campo da História da Educação no
Nordeste”. In: VASCONCELOS, José Geraldo e NASCIMENTO, Jorge Carvalho do.
História da Educação no Nordeste brasileiro. Fortaleza: Edições UFC, 2006. p.29-43.
THOMPSON, E. P.. A Miséria da Teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao
pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Jahar Editores, 1981.
THOMPSON, Paul. A voz do passado – história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
VIDAL, Diana Gonçalves e FARIA Filho, Luciano Mendes de. “História da Educação no
Brasil: a constituição histórica do campo (1880 – 1970)”. In: Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 23, nº 45. P.37-70, 2003.
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