UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE ARTES VISUAIS – LICENCIATURA
JEANE PEREIRA MELO
A CONSTRUÇÃO DO OLHAR: REFLEXÕES SOBRE O
PATRIMÔNIO ARTÍSTICO-CULTURAL DE JAGUARUNA (SC) E O
ENSINO DE ARTE
CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009.
JEANE PEREIRA MELO
A CONSTRUÇÃO DO OLHAR: REFLEXÕES SOBRE O PATRIMÔNIO
ARTÍSTICO-CULTURAL DE JAGUARUNA (SC) E O ENSINO DE
ARTE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
para obtenção do grau de licenciada no curso
de Artes Visuais da Universidade do Extremo
Sul Catarinense, UNESC.
Orientador (a): Prof. Esp. Marcelo Feldhaus
CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009.
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JEANE PEREIRA MELO
A CONSTRUÇÃO DO OLHAR: REFLEXÕES SOBRE O
PATRIMÔNIO ARTÍSTICO-CULTURAL DE JAGUARUNA (SC) E O
ENSINO DE ARTE
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela
Banca Examinadora para obtenção do Grau de
licenciada no Curso de Artes Visuais, da
Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, com Linha de Pesquisa em Educação
e Arte.
Criciúma, 10 de dezembro de 2009.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
Prof. Marcelo Feldhaus - Especialista - (UNESC) – Orientador
_____________________________________________________________
Prof.ª Édina Regina Baumer - Mestre - (UNESC)
____________________________________________________________
Prof.ª Cristina Felipe Ramos de Souza - Especialista - (UDESC)
3
Dedico esta produção ao meu marido,
Cristiano Melo, por ter me ajudado muito
durante
todo
o
período
de
faculdade,
ficando com nossos filhos todas às noites e
perdoando-me nas horas de estresse. Se
não fosse a sua ajuda e compreensão eu
não teria conseguido.
Aos meus dois filhos: Vinicius e Vanessa
que são a razão do meu viver.
4
AGRADECIMENTOS
Deixo meu agradecimento a todos que colaboraram na produção de meu
trabalho e em especial a meus dois grandes amigos Carla e Maykell, no qual
formamos um trio durante estes quatro anos, com a mensagem a seguir:
BRINDE
A todas as vozes que desaprenderam preces, ou mesmo que jamais
aprenderam;
A todas as solidões individuais ou partilhadas, gritadas, colhidas ou
caladas, nos corações e nas almas. A todas as buscas que levaram a encontros,
perdas ou abandonos. A todos os silêncios de gestos e palavras que encobriram
impossibilidade, refúgios, medos ou ausências;
E, principalmente, aqueles que disseram mais do que palavras.
A todos os braços e abraços que acolheram, aqueceram e ampararam,
nos momentos em que a perda já parecia certa e o abandono das forças de luta era
aparentemente a única possibilidade de resposta.
Aos sorrisos esboçados ou assumidos que coloriram os rostos e
enfeitaram o mundo. A todas as crianças crescidas e pequenas que viveram
momentos de descoberta e não morreram para aprendê-lo.
A todo o Amor que nasceu e morreu, mas que teve seu espaço de cor,
força e brilho nas faces, corações e corpos.
A todas as músicas e versos que os artistas, ou não, exprimiram com suas
emoções e nos ajudaram a compreender e comunicar melhor as nossas.
A toda voz ou carícia que não se negou, que ouviu o apelo e respondeu
com sua existência, sua expressão, sua proximidade.
A todas as orações desesperadas, suplicantes ou agradecidas.
A todos os "becos sem saídas" que deram em novos caminhos e em
outras possibilidades.
A todos os desesperos que tiveram a grandeza de pedir ajuda e dar a
enorme descoberta de serem conhecidos na partilha e no calor de um olhar, talvez
perplexo, mas acolhedor.
5
A toda a vida que se omitiu ou ousou, que se transformou ou paralisou no
tempo do medo. A todo o medo que a coragem permitiu viver, e que a força não
deixou que imobilizasse o gesto, e levou aos passos mais adiante e aos caminhos
mais além de antes do ontem.
A todos aqueles que disponíveis para o novo, o evasivo, o ensaio,
percorreram com seus olhos linhas como estas, somando as nossas, as suas
vivências, indagações e descobertas e fazendo com isto que amontoados de
palavras se vestissem de significados.
Dedico esta mensagem como uma liberdade de aproximação e um
enorme desejo de que a busca de cada um não cesse nunca, seja ela qual for, por
mais que mudem as respostas ou que por vezes, nos desanime a ausência delas.
Um brinde aos encontros, que neste espaço de vida, puderam acontecer.
Autor Desconhecido
6
“Ao
sujeito,
circulam
em
em
suas
variados
interações
espaços
diversas,
culturais
e
experienciam, também, diferentes formas de
produção cultural. É no diálogo com o outro e
com a cultura que cada um é constituído,
desconstruído, reconstruído, cotidianamente. O
acesso aos bens culturais é um meio de
sensibilização pessoal que possibilita, ao sujeito,
apropriar-se de múltiplas linguagens, tornando-o
mais aberto para a relação com o outro,
favorecendo a percepção de identidade e de
alteridade”. (LEITE; OSTETTO, 2005 p.23).
7
RESUMO
A presente pesquisa expõe e apresenta as obras de arte e os equipamentos
culturais da cidade de Jaguaruna (SC), bem como a formação do olhar dos
professores de arte que circula nesses locais cotidianamente, muitas vezes sem se
dar conta de apreciar, contemplar e valorizar os espaços destinados à arte e a
cultura na cidade. Olhar de modo diferente, ver de fato aquilo que geralmente nos
passa despercebido, contemplar plenamente a beleza que está a nossa volta, à
natureza, às coisas, à arte, às pessoas. O trabalho é de natureza qualitativa, uma
vez que não pretende medir e comprovar fatos, é descritiva, pressupondo uma
pesquisa de campo por meio de questionário com perguntas semiestruturadas
aplicado com um grupo de professores de Arte do referido município. Com o intuito
de perceber como é o olhar dos professores de perente a arte e seus equipamentos
culturais.O mesmo investiga e ressalta a necessidade de preservar e divulgar os
equipamentos culturais e obras de Arte da cidade, uma vez que, boa parte dos
entrevistados desconhecia as opções de Arte e Cultura que existem na cidade de
Jaguaruna (SC). A pesquisa segue na perspectiva de que a construção, ampliação e
qualificação do nosso olhar, só se dará com a constante visitação em mostras,
peças teatrais, musicais, espetáculos de dança, cinema, compreendendo a cidade
como espaço de cultura com amplas possibilidades para o desenvolvimento da
educação estética e ampliação do repertório artístico-cultural no processo de ensino
aprendizagem em arte.
Palavras-chave: Cidade. Equipamentos culturais. Construção do olhar.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Sambaqui Figueirinha I
Figura 2 – Museu Cidade de Jaguaruna
Figura 3 – Museu cidade de Jaguaruna
Figura 4 – Museu cidade de Jaguaruna
Figura 5 – Chuveirão na década de 1950
Figura 6 – Chuveirão na contemporaneidade
Figura 7 – Visitação de banhistas no Chuveirão
Figura 8 – Sede Social da Banda
Figura 9 – Esculturas
Figura 10 – Formação de 1950
Figura 11 – Formação Atual
Figura 12 – Espaço Cultural Cru
Figura 13 – Logomarca do Grupo
Figura 14 – CTG Estância do Retiro – Vista parcial
Figura 15 – Vista Frontal da Carioca
Figura 16 – Monumento à Bíblia
Figura 17 – Igreja Matriz – Nossa Senhora das Dores
Figura 18 – Estação Ferroviária
Figura 19 – Observatório das Baleias
Figura 20 – Monumento a Luiz Francisco Pereira
Figura 21 – Busto de José Mauricio dos Santos
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
CTG – Centro de Tradições Gaúchas.
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PMC – Prefeitura Municipal de Jaguaruna
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
2 A ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES - RECORTES REFLEXIVOS........................13
2.1 PENSANDO OS EQUIPAMENTOS ARTÍSTICOS CULTURAIS........................14
2.2 ARTE, CIDADE E FORMAÇÃO CULTURAL ....................................................16
2.3 ALGUNS PENSAMENTOS ACERCA DA CONCEITUAÇÃO SOBRE ARTE E
CULTURA................................................................................................................ 17
2.4 CIDADES E EQUIPAMENTOS CULTURAIS.....................................................20
2.4.1 Histórico do município de Jaguaruna/SC....................................................20
2.4.2 Os equipamentos artístico-culturais de Jaguaruna e a formação do olhar
................................................................................................................................. 22
2.4.3 Chuveirão ...................................................................................................... 26
2.4.4 Associação Musical Amor A Pátria..............................................................28
2.4.5 Espaço Cultural Crú de Teatro e Boi de Mamão.........................................29
2.4.6 CTG Estância do Retiro................................................................................. 30
2.4.7 Bica da Carioca.............................................................................................. 31
2.4.8 Monumento a Bíblia......................................................................................34
2.4.9 Igreja Matriz Nossa Senhora Das Dores......................................................35
2.4.10 Estação Ferroviária.....................................................................................36
2.4.11 Observatório das Baleias............................................................................ 37
2.4.12 Monumento a Luiz Francisco Pereira........................................................37
2.4.13 Busto de José Mauricio de Souza..............................................................38
3 A CONSTRUÇÃO DO OLHAR E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE
ARTE....................................................................................................................... 40
3.1 A Construção do Olhar Sensível.....................................................................40
3.2 A FORMAÇÃO DO OLHAR DO PROFESSOR DE ARTE.................................44
4 METODOLOGIA................................................................................................... 46
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS......................................................48
6 CONCLUSÃO....................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 56
APÊNDICE............................................................................................................... 58
11
1 INTRODUÇÃO
Toda cidade é como um grande espaço de educação, com personalidade
própria e integrada ao seu estado, região, país. Um espaço que mesmo
com suas fronteiras é permeável as relações com o entorno. Neste projeto é
entendida como um local que possibilita expressões diversas fruto de uma
política que prioriza investimentos culturais, uma vez que reconhece,
exercita e desenvolve a promoção, formação e desenvolvimento de seus
habitantes, em especial, crianças e jovens. (LEITE , 2006, p. 02).
Nasci e sempre morei em Jaguaruna (SC), na qual vivencio o dia-a-dia da
cidade. Como conterrânea dou muito valor à cultura existente na cidade, participo e
sempre aprecio os espaços culturais existentes no município da melhor forma
possível, valorizando-os e preservando-os.
Nossa cidade possui uma diversidade cultural muito acentuada, por isso
meu interesse em investigar como as pessoas percebem e identificam esses
espaços.
Desta forma, escolhi fazer meu trabalho de conclusão de curso que se
caracteriza como pesquisa científica, com os professores de artes, da rede estadual
e municipal de Jaguaruna (SC), referindo-se aos espaços culturais da cidade como o
intuito de perceber e analisar como é o olhar dos professores perante os
equipamentos culturais da cidade, estabelecendo conexões com o processo de
formação estética ampliada para o ensino de arte viabilizado pelos docentes
entrevistados.
De acordo com Soares (1970, p. 13) “o cidadão, porém é mais do que
habitante é aquele que está interessado no que acontece em sua comunidade”.
Sendo assim, para entendermos como é o olhar da população
jaguarunense quanto aos equipamentos culturais e a arte, precisamos compreender
como se dá a construção do olhar, bem como sua qualificação, perpassando por
reflexões sobre a formação das cidades, a criação e a manutenção de seus espaços
culturais.
Em caráter de organização, minha produção será desenvolvida em cinco
capítulos. Inicio propondo a apresentação das ideias. No segundo capítulo falo sobre
a organização das cidades, destacando os olhares dos moradores e em especial
dos professores de arte, tanto sobre a cidade quanto os seus equipamentos
culturais. E pensando nela como formadora, educadora, evidencio a necessidade de
12
olhar para a cidade em que vivemos. Ela educa? Forma? Como é nossa cidade?
Como estão distribuídos e otimizados os bens culturais que possuímos? São
visitados? Utilizados? Continuando na mesma linha de raciocínio, proponho também
um conceito sobre arte e cultura, já que para falar de cidade e formação cultural é
necessário estabelecer algumas reflexões sobre Arte e Cultura.
Neste capitulo trago reflexões sobre os equipamentos culturais da cidade
de Jaguaruna, seus registros, sua história e desenvolvimento com o passar dos
anos, acompanhado de reflexões sobre sua visitação, divulgação e conservação.
No quarto capítulo apresento a metodologia que tem como objetivo
primordial analisar de que maneira os professores poderão trabalhar os
equipamentos culturais do município com os alunos da rede pública municipal e
estadual de ensino. A metodologia é seguida pela transcrição e análise dos dados
que se centram em seis professores de arte, tendo como foco perceber como está o
seu olhar em relação aos equipamentos de arte disponíveis na cidade.
Sendo assim, concluo estabelecendo e refletindo sobre as considerações
levantadas
a
partir
da
aplicação
da
pesquisa,
evidenciando
os
pontos
diagnosticados com a análise da pesquisa.
Meu trabalho não pretende, de maneira nenhuma, esgotar este tema, mas
servir como subsídio para a ampliação da discussão sobre Arte e Espaços Culturais
da cidade. Ao optar por discuti-lo, estou deixando de lado um imenso universo de
possibilidades que temos fora da cidade ou mesmo no país.
13
2 A ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES - RECORTES REFLEXIVOS
A eterna novidade do mundo
O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda...
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto.
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
(Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa, 1914).
A cidade se confunde um pouco com sociedade, uma vez que uma é o
reflexo da outra. É na cidade onde tudo acontece de maneira mais intensa, corrida e
até frenética. A cada ano percebe-se a evolução e a ampliação do percentual de
pessoas que vivem nas cidades. Como nos diz Júlio Moreno (2002, p. 11):
Mais de 3 bilhões de pessoas – ou seja metade da humanidade – já vivem
em centros urbanos. Daqui a trinta anos, esse número poderá ser de dois
terços da população mundial, segundo projeções da ONU. A cada dia, 160
mil pessoas são acrescidas à população das cidades do mundo, entre
nascimentos e migrações. Em 1950, Nova York era a única metrópole com
mais de 10 milhões de habitantes. E apenas 30% da população brasileira
vivia em cidades; atualmente esse percentual é de mais de 80%.
Nas cidades estamos colhendo frutos bons e ruins, decorrente das rápidas
transformações que aconteceram nas últimas décadas.
A história das cidades do mundo em geral é longa, sendo que as primeiras
teriam surgido entre quinze a cinco mil anos atrás, dependendo das diversas
definições existentes, conforme apontam algumas leituras e reflexões nesse sentido.
De acordo com algumas pesquisas, as primeiras organizações de cidade
foram surgindo dos Zigurates, quer dizer templos que apareceram nas planícies da
Mesopotâmia, por volta do terceiro milênio antes da era cristã. Ao redor desses
templos foram surgindo casas e formando um amontoado de casas, no qual se
sentiu a necessidade de reorganizá-la, partindo daí o primeiro conceito sobre
formação de cidade.
14
E foi a partir do crescimento das primeiras cidades que cada vez mais
outras foram surgindo, e com esse crescimento também surgiram os confortos das
casas e edifícios, as facilidades do comércio e do lazer, as ofertas de educação e
cultura, os espaços que percorre o automóvel e as opções em Arte e Cultura dentre
outros. Para Júlio Moreno (2002, p. 57):
O planejamento urbano praticado entre os anos de 1950 e 1970, época em
que proliferaram os planos diretores, as leis de zoneamento e os códigos de
obras no mundo todo, inclusive nas grandes cidades brasileiras. No final
dos anos de 1970, contudo começou a esboçar-se um novo conceito, o
chamado planejamento estratégico urbano. Nessa nova ótica, passa-se a
encorajar o crescimento urbano, pois as cidades são consideradas
“máquinas de produzir riquezas’’, e o principal objetivo do planejador deve
ser azeitar a máquina.
Assim, como em tudo existe a parte boa e a ruim, isso não foi diferente
com a formação das cidades. O crescimento também trouxe ilusão às pessoas, que
as fazem de suas cidades ou comunidades para irem morar em grandes metrópoles,
atrás de um sonho, almejando uma vida melhor, no qual muitas vezes acabam por
morar em péssimas condições de habitação, com precariedade dos serviços de
saúde e dos transportes, poluição do ar, desumanização e violência.
Balthazar (2001, p. 6), em sua dissertação, traz uma ideia sobre cidade:
A cidade é um espaço, a qual a sociedade que o usa e o habita, e que nele vive, muda­o e transforma­o constantemente. Estas ações (de mutação) advindas da sociedade fazem com que o espaço cresça e se modifique de uma forma genérica em diversos campos, seja no social e cultural, assim como no político ideológico, entre outros. A sociedade tornou­se a principal responsável pelas modificações que acontecem no espaço, apresentando uma relação de interferência na sua estrutura, na sua cultura e na sua história. Isto acontece na maioria das vezes, de uma forma inconsciente, pois a sociedade age e atua gradualmente no seu dia­a­dia, metaforseando o espaço e dominando­o, uma vez que é a sociedade que domina os elementos principais que constituem o espaço. 2.1 PENSANDO OS EQUIPAMENTOS ARTÍSTICOS CULTURAIS.
Os equipamentos culturais de uma cidade servem para cultivar a
identidade de seu povo. A memória coletiva se forma no seio da sociedade que a
alimenta geração após geração, formando a identidade cultural da cada cidade.
15
Os homens têm a necessidade de se identificar com os grupos a que
pertencem e a se diferenciar dos outros. Portanto, cada cidade tem seus
equipamentos culturais diferenciados conforme sua cultura.
Conhecer a política cultural de uma cidade é essencial para que se possa
desenvolver uma análise e reflexão dos seus equipamentos. (NUSSBAUMER,
2005).
Contudo, cabe ressaltar que “políticas culturais não são somente um
conjunto de valores, princípios, instrumentos e atitudes que guiam a ação do
governo na condução das ações culturais” (REIS apud NUSSBAUMER, 2005, p. 3).
Desta forma, comungo com Nussbaumer (2005, p. 2) quanto fala que “um
conjunto de valores, princípios, instrumentos e atitudes que guiam as ações de todos
aqueles que atuam, de alguma forma, na condução de ações no campo da cultura,
no mercado da cultura”. (NUSSBAUMER, 2005, p. 2).
Neste sentido, todos os equipamentos culturais de uma cidade fazem
parte de um “universo global por onde circulam, são produzidas e consumidas as
obras de cultura e arte”. (COELHO apud NUSSBAUMER, 2005, p. 2).
Ao realizar minha pesquisa percebo que algumas questões parecem
obscuras quando se tratam dos equipamentos culturais da cidade de Jaguaruna
(SC), uma vez que as pessoas não se apropriam de forma constante dos espaços
que a cidade oferece e que são necessários na própria estruturação e
caracterização da mesma.
Quando inicio meus estudos sobre a estruturação dos equipamentos nas
cidades percebo e concordo com Isaura Botelho (apud NUSSBAUMER, 2003, p. 2),
quando em um estudo sobre a cidade de São Paulo, mostrou que existe “um
desequilíbrio e uma baixa correspondência entre o crescimento urbano e a
distribuição dos equipamentos públicos e privados de cultura”. Conforme a autora:
São as áreas centrais e mais bem servidas em matéria de transporte
público que concentram a maioria dos equipamentos que se explica,
sobretudo, pelo papel da população que habita essas regiões – aquelas
parcelas da população que apresentam os índices mais altos de
escolaridade e de renda familiar [...] Pode-se dizer que a mobilidade
territorial e o uso de equipamentos culturais se convertem, cada vez mais,
em direito e privilégio das classes com maior poder aquisitivo. (BOTELHO
apud NUSSBAUMER, 2005, p. 3).
16
2.2 ARTE, CIDADE E FORMAÇÃO CULTURAL
A Arte está presente na vida do homem desde o início da humanidade.
Conforme registros, o homem pré-histórico ao desenhar códigos e
símbolos nas paredes das cavernas elaborava e precisava aprender a
construir um conhecimento em virtude de difundir esta prática através das
impressões deixadas no tempo. (PCN, 1997, p. 85).
Com a nova organização humana e urbana, as cidades começam a
abrigar as produções artísticas produzidas pelo homem. Essas produções são
evidenciadas ou pelo menos deveriam ser em espaços públicos como museus,
galerias, praças, teatros, palácios.
De acordo com Romão, em seus estudos sobre Cidade Educadora, vemos
“que a cidade sempre exerceu uma espécie de fascinação sobre os seres humanos,
ainda que a trajetória civilizacional tenha se iniciado no campo”. E ainda, que “as
grandes transformações humanas e coletivas só foram possíveis quando as pessoas
concentraram-se nos mesmos espaços desencadeando a troca de sentimentos e
serviços”. (ROMÃO apud BECKER, 2005, p. 21).
Ainda sobre o Projeto Cidade Educadora abraçado também pela UNESCO
desde 1970 que se debruça na “perspectiva de educação dos e nos espaços
públicos” e que trata da questão “da diversidade versus singularidade”.
Pensando a cidade como formadora, educadora, vamos olhar para a
cidade em que vivemos. Ela educa? Forma? Como é nossa cidade? Como estão
distribuídos e otimizados os bens culturais que possuímos? São visitados?
Utilizados? Ainda com o pensamento de cidade educadora trago também a fala de
Lynch (1997, p. 1):
Olhar para as cidades pode ser um prazer especial, por mais comum que
possa parecer o panorama. Como obra arquitetônica, a cidade é uma
construção no espaço, mas uma construção em grande escala; uma coisa
só percebida no decorrer de longos períodos de tempo.
Ao analisarmos a cidade atual, em qual momento podemos afirmar que
ela é uma cidade educadora? Considerando os investimentos realizados aos bens
culturais, será que a cidade de Jaguaruna está possibilitando o acesso a Arte e a
Cultura? Os bens culturais da cidade estão bem distribuídos e divulgados nos meios
de comunicação?
Estes e tantos outros questionamentos estão inclusos nas políticas
públicas sobre os equipamentos culturais das cidades e devem servir de reflexões
17
para pesquisas e aperfeiçoamento. A cidade pode e deve ser vista e analisada
segundo diferentes dimensões que se interpretam. A dimensão cultural é uma delas
e, por seu intermédio, amplia-se a compreensão da sociedade e suas relações
sociais, econômicas e políticas.
2.3 ALGUNS PENSAMENTOS ACERCA DA CONCEITUAÇÃO SOBRE ARTE E
CULTURA
Para falar de cidade e formação cultural é necessário estabelecer algumas
reflexões sobre Arte e Cultura.
Estou concluindo minha graduação em Artes Visuais e muitas são as
inquietações sobre as definições sobre Arte e Cultura. Sabe-se que a arte é uma
manifestação presente desde o início da humanidade, ainda nas cavernas como
forma de expressar e registrar as conquistas e o cotidiano dos povos. Como o
passar dos anos, muitos são os autores que se desafiaram e trouxeram importantes
contribuições para esse vasto campo do conhecimento sensível.
Neste caminho trago Coli (2004, p. 7) que cita: “Dizer o que seja a arte é
coisa difícil já que tantas e tão diferentes são as concepções sobre arte”.
Concordo com Coli, pois penso também que definir arte é tarefa difícil,
visto que são muitos os pensamentos e estudos que nos fazem refletir sobre arte a
ponto de nos deixar um pouco confuso.
O conceito de arte a meu ver não pode ser engessado a definições
explicitas, visto que está presente em tudo que vivenciamos, na nossa comida, na
roupa que usamos, na música que escutamos, na nossa cultura, enfim seria
impossível viver sem arte.
Segundo Coli (2004, p. 10):
Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui instrumentos
específicos. Um deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao
qual reconhecemos competência e autoridade. Esse discurso é o que
proferem o crítico, o historiador da arte, o perito, o conservador de museu.
São eles que proferem o estatuto de arte a um objeto. Nossa cultura
também prevê locais específicos onde a arte pode manifestar-se, quer
dizer, locais que também dão estatuto de arte a um objeto.
18
A arte nos é apresentada sob várias formas, como: a plástica, a música, a
escultura, o cinema, o teatro, a dança, a arquitetura.
Como já destaquei anteriormente, as primeiras manifestações artísticas
foram registradas a milhares de anos. Desde a pré-história o ser humano já deixava
suas marcas nas pedras e cavernas, fazendo assim o registro da história do mundo.
Com o passar do tempo à arte foi evoluindo e ocupando espaço na
sociedade. Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 61) afirmam que:
A verdade é que a arte não envelhece porque o ser humano que a
contempla é sempre novo, ou terá um olhar outro e estará realizando uma
infinidade de leituras porque infinita é a capacidade do homem de
perceber, sentir, pensar, imaginar, emocionar-se e construir significações
diante das formas artísticas. Nesse sentido, a obra de arte, mesmo tendo
data e procedência, transcende o tempo e transpõe fronteiras, por isso é
patrimônio cultural da humanidade.
Às vezes nos perguntamos por que até hoje estudamos sobre artistas
famosos de séculos passados, sendo que temos uma quantidade enorme de novos
artistas que estão ainda no anonimato. Assim como deixamos muitas vezes de
valorizar os espaços artísticos culturais que temos em nossas cidades para valorizar
os de outras cidades, e posso tomar como exemplo a cidade onde moro que conta
com equipamentos culturais, ainda que em pequenas dimensões, mas que são
pouco percebidos no dia-a-dia dos sujeitos.
Concordo com Zumblick quando:
Preservar o patrimônio artístico e histórico de um povo não é só abrir seção
do governo, todos devem participar. A nós, os artistas compete darmos o
exemplo. A nossa manifestação se faz necessária para tanto. É uma
obrigação valiosa. (ZUMBLICK, 1998, p.102).
A arte pode ser definida como uma criação do homem com valores
estéticos que fazem com que o ser humano demonstre suas emoções, sua história,
seus sentimentos e sua cultura. Para se comunicar o homem precisa da arte e da
técnica através do que vemos, sentimos e do que ouvimos. Hoje, com o passar do
tempo e com as evoluções da humanidade, a arte também caminha para essas
transformações, um bom exemplo disso é a arte contemporânea tão frequente em
nosso meio.
Buoro, em seu livro “O Olhar em Construção”, traz a seguinte reflexão:
19
Essas mudanças que a arte sofre são produtos das transformações que se
processam na realidade social, e se refletem nos meios da produção
artística. A arte evidencia sempre o momento histórico do homem. Cada
época, com suas características, contando o seu momento de vida, faz um
percurso próprio da representação, como questão de sobrevivência.
(BUORO, 2003, p. 25).
Concordo com Buoro, uma vez que estamos em constante transformação
e na arte não pode ser diferente, temos que traze-lá para nossa realidade até porque
vivenciamos hoje um mundo com tecnologias, o que nos permite outros espaços
para arte.
Desde os primórdios de nossa existência como espécie, vimos
aprendendo, por experiência, que o contato com a arte e seus conteúdos
proporciona aos nossos olhos novos modos de ver e compreender a
realidade, modos esses capazes de desvendar não apenas aquilo que
somos, mas também muito da matéria de que a própria realidade se
constitui. (BUORO, 2003, p. 56).
É neste sentido que me remeto a cultura, ou seja, as manifestações da
cultura de um povo sejam através de suas lendas, da sua alimentação, do seu
artesanato, das suas vestimentas e de muitos de seus hábitos originais que fazem
parte da tradição e que foram conservadas através de muito tempo, passando de pai
para filho, geração após geração.
Em resumo, tudo que é produzido pelo ser humano é cultura. Sem dúvida
se pensássemos o mínimo que fosse, a respeito de como e porque nos
comunicamos com sotaque, ou sem ele, se é que exista tal condição, como nos
movimentamos, o que comemos e por que gostamos desse ou daquele sabor, por
que calça, chapéu de palha, boné, óculos de sol, tênis vermelho ou por que sandália
de couro?
Segundo, Martins, Picosque e Guerra (1998, p.14):
É preciso haver cuidado com a alfabetização nas linguagens da arte. É por
meio delas que poderemos compreender o mundo das culturas e o nosso
eu particular. Assim, mais fronteiras poderão ser ultrapassadas pela
compreensão e interpretação das formas sensíveis e subjetivas que
compõem a humanidade e sua multiculturalidade, ou seja, o modo de
interação entre grupos étnicos e, em sentido amplo, entre culturas.
20
As manifestações culturais e as tradições religiosas são de grande
significação, representadas num conjunto de expressões que refletem os valores de
um povo vivenciado ao longo das gerações.
Jaguaruna é um município ainda pequeno, mas possui uma grande e
vasta tradição. O povo tem características simples, é humano, com vigor e cultiva
tradições.
Os hábitos culturais são expressões da forma de pensar e agir da
população, mantendo como linha básica o que se resulta das experiências
acumuladas. Desta forma, os jaguarunenses de hoje resultam de um conjunto
diversificado de origens culturais.
2.4 CIDADES E EQUIPAMENTOS CULTURAIS
2.4.1 Histórico do município de Jaguaruna/SC
Jaguaruna, cidade adornada.
Entre as várzeas e o mar a sorrir
És o signo dos bravos de outrora
És o sonho de um grande porvir!
Essas dunas que brancas enfeitam
Lindas orlas do Atlântico Sul
São as rendas que ventos afagam,
São as fímbrias do teu céu azul.
Sentinela altaneira dos mares,
Jaguaruna é um vigia de pé,
E teu povo é um carisma de crença
Guardião da verdade e da fé.
Do Jaguar as rotundas pegadas
E as ruínas do lar da nação
Sambaquis e o lendário Camacho
São milênios de histórias em teu chão!
Teu folclore de cantos e preces
São duendes de graça sem par
Nas bandeiras do Espírito Santo
Céu e terra se fazem altar.
Sentinela altaneira dos mares,
Jaguaruna é um vigia de pé,
E teu povo é um carisma de crença
Guardião da verdade e da fé.
LETRA: Monsenhor Agenor Neves Marques
MÚSICA: Capitão Osnildo Dolvan
21
Jaguaruna é uma cidade do sul do Brasil que reforça as características do
seu estado, Santa Catarina. O início do povoamento é de origem europeia, é mais
antigo do que até o presente se deu conhecimento.
Localizada a 157 km ao sul da capital do estado, Florianópolis, a cidade
possui aproximadamente 21.000 habitantes, em uma área de 328 km², a uma
altitude de 12m em relação ao nível do mar. Delimita o município ao norte por
Tubarão e Laguna, ao sul por Içara, ao leste oceano Atlântico e ao oeste por Treze
de Maio e Sangão.
Sua fundação não tem uma data exata. A bandeira de Jaguaruna ostenta
em seu brasão os números 20-12-1930, representando a data da instalação do
município, contradizendo o Decreto nº 38 de 6 de janeiro de 1891, que criou o
município de Jaguaruna.
O território geográfico do município antes da chegada dos imigrantes
europeus era ocupado por índios sambaquieiros, carijós bugres ou botocudos:
xokleng e guaranis que foram desaparecendo misteriosamente nos primeiros anos,
fugindo dos colonizadores e se embrenhando nas matas. Por volta do século XIX
chegaram outros povos vindos de Açores, Portugal.1
Esses imigrantes, a exemplo do que acontecia no restante do país,
desbravaram a região, passando por dificuldades advindas de fenômenos naturais e
dos conflitos com os habitantes nativos da região; estabeleceram moradia,
construíram estradas e escolas e tinha a agricultura como principal atividade
econômica. A exuberância das terras fez com que os moradores a denominassem
de Campo Bom.
“Os documentos básicos para o enigma da origem da colonização nas
zonas de sesmarização”.2
Essas cartas davam aos sesmeiros o domínio e posse das terras com
cláusulas de direitos e deveres. Baseados nesses e em outros documentos oficiais,
conseguiu-se concluir que o povoamento efetivo do município de Jaguaruna iniciouse em torno de 1800.
Os principais colonizadores foram os açorianos descendentes de Portugal,
que chegaram a partir de 1870.
1
Maiores informações podem ser obtidas no site oficial da Prefeitura da cidade. Fonte:
www.jaguaruna.com
2
Segundo BOAVENTURA (2001, p. 8), o termo acima refere-se as cartas das sesmarias que
funcionavam como as escrituras da época.
22
A história do nome Jaguaruna é lendária, conta-se que os índios que aqui
viveram encontraram nas redondezas do município um jaguar preto que em TupiGuarani é falado yaguar una (onça preta). Esse acontecimento acabou dando
origem ao nome da cidade
Jaguaruna é um município de pequeno porte e povo acolhedor. Conhecida
como a cidade das praias, possui belos balneários com águas límpidas e cristalinas.
Dez lagoas de importantes recursos hídricos para o abastecimento e lazer,
principalmente a lagoa do Arroio Corrente que abastece o município.
Na economia destaca-se o comércio de pequeno a médio porte, a
agricultura e a pecuária, sendo o maior produtor de arroz e de mandioca e o quarto
maior rebanho de bovinos, com grande destaque na avicultura e suinocultura da
Amurel (Associação dos Municípios da Região de Laguna). Além da expressão no
cultivo de melancia e produção pecuária.
Salienta-se também na área da pesca, a abertura dos molhes da barra do
Camacho,
proporcionando
sustento
para
aproximadamente
3.000
famílias
pescadoras.
Com toda essa bagagem em sua história os povos que aqui habitaram
trouxeram consigo vários aspectos, econômicos e culturais e isso pode ser
observado nos equipamentos culturais distribuídos pela cidade.
Com vistas a identificar as muitas possibilidades de que a cultura possa
ser vivenciada pelos jaguarunenses a seguir serão descritos os principais
equipamentos culturais da cidade.
2.4.2 Os equipamentos artístico-culturais de Jaguaruna e a formação do olhar
23
Figura
01
-
Sambaqui Figueirinha
Fonte: Disponível em: <www.jaguaruna.com>
A imagem acima mostra o Sambaqui da Figueirinha, considerado um dos
maiores do mundo, localizado na cidade de Jaguaruna. Este sambaqui é muito
visitado por turistas e arqueólogos do mundo inteiro, sendo considerado um atrativo
cultural e turístico da cidade. É visitado constantemente por professores e alunos do
município e cidades vizinhas para pesquisas de estudos.
Os grandes amontoados de conchas são encontrados na costa marítima
de Jaguaruna, cogitado como um conglomerado natural de moluscos que na
verdade foram formadas pelos sambaquieiros, tribos indígenas que habitaram a
região entre cinco mil e mil anos atrás.
Existem estudos contraditórios em relação aos sambaquis, pois segundo
os pesquisadores os mesmos eram locais de habitação das tribos existentes na
costa marítima, já os arqueólogos que por aqui passaram estudando por completo
um dos 31 sambaquis da região concluíram que o analisado, conhecido como
Jabuticabeira II, serviu apenas como cemitério e não como ponto de habitação,
conforme estudos anteriores.
Há indícios de que os outros sítios da região tiveram a mesma função.
Segundo os arqueólogos, os indígenas sabiam que as conchas neutralizavam a
24
acidez do solo. Por esse motivo aproveitava os pequenos concheiros naturais como
base para fazer o funeral de seus antepassados.
Pesquisas ainda comprovaram que a quantidade de alimentos coletados e
retirados da pesca era suficiente para fixá-los no local e torná-los sedentários. A
prova disto foi à constatação de que nos rituais fúnebres eles colocavam junto ao
corpo, alimentos, peixes e estacas para demarcar o lugar. Foi através desses
vestígios que os especialistas dataram as diferentes camadas encontradas, ou seja,
com o passar do tempo os indígenas cobriam os corpos, deixando pronto o local
para um novo sepultamento.
Há hipóteses de que, além da escassez de alimentos, a civilização Tupi tribo indígena com hábitos canibais - que chegou à região por volta de 2000 anos
atrás tenha contribuído para o desaparecimento das tribos dos sambaquis.
Figura 02 - MUSEU CIDADE DE JAGUARUNA
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
25
Figura 03 - MUSEU CIDADE DE JAGUARUNA
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
26
Figura 04 - MUSEU CIDADE DE JAGUARUNA
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
As figuras acima demonstram alguns ângulos do Museu da Cidade de
Jaguaruna. A construção reúne objetos artísticos e históricos traduzindo um rico
acervo de imagens, documentos e objetos que simbolizam a cultura da região.
A residência que abriga o museu foi construída no ano de 1930, para
servir de moradia aos trabalhadores da ferrovia Tereza Cristina. Com a privatização
da estrada de ferro a prefeitura adquiriu o casarão, em 1996.
Com apoio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, juntamente com artistas
plásticos e moradores da região reuniram-se e catalogaram-se peças para a criação
do espaço que foi inaugurado em sete de setembro do mesmo ano.
Na entrada principal estão algumas imagens de 1900 a 1980 que ilustram
o cotidiano, festas folclóricas, religiosas e os naufrágios de navios na costa
jaguarunense.
O conceito contemporâneo de museu é uma instituição permanente, sem
fins lucrativos, aberta ao público, que adquire conserva pesquisa e expõe
objetos de caráter cultural e científico, para fins de estudo e
entretenimento. (ICOM apud ROSA, SCALÉA, 2006, p. 55).
Ao lado encontram-se quadros de Zumblick, artista tubaronense, que
valoriza principalmente a cultura açoriana e que estão expostos aos visitantes.
Na seção “homem do sambaqui” objetos líticos e peças catalogadas pelo
Museu Nacional pertencentes aos povos sambaquieiros habitantes da região há sete
mil anos e fotos dos principais sítios arqueológicos compõem o espaço mais
regionalizado do museu.
O museu da cidade de Jaguaruna está aberto para visitação de segunda à
sexta, das 8h às 12h e das 13h30 às 17 horas.
2.4.3 Chuveirão
27
O Chuveirão é outro atrativo turístico e cultural que está localizado no
balneário e que muito ajudou a popularizar o lugar. Foi construído na década de
1950 com o objetivo de fornecer energia elétrica para a comunidade.
Em 1987, foi adquirido pela associação de moradores que redimensionou
seus objetivos e hoje é um dos atrativos e equipamentos culturais da cidade. Em
1996, foi completamente reformado pela prefeitura que concluiu o atual projeto.
O chuveirão é abastecido com as águas do arroio, um desaguadouro
natural que desce da lagoa em direção ao mar com uma vazão de 2000 litros de
água por segundo, proporcionando uma deliciosa hidromassagem aos banhistas.
O local fica aberto à visitação sem nenhum atendente para contar sua
historia ou criação, o visitante que passa por ali não fica sabendo de toda sua
trajetória servindo apenas de atração turística.
Figura 05 – Chuveirão na década de 1950.
Fonte:Disponível em: www.jaguaruna.com
Figura 06 – Chuveirão na contemporaneidade
Fonte:Disponível em: www.jaguaruna.com
Figura 07 – Visitação de banhistas no Chuveirão
Fonte: Disponível em www.jaguaruna.com
28
2.4.4 Associação Musical Amor A Pátria
Desde quando fundada, há quase noventa anos, a banda Amor a Pátria
abrilhanta os eventos religiosos e cívicos do município.
A primeira formação surgiu em 1918. O conjunto era formado pelos filhos
de Martinho de Souza Ávila, Manoel Leandro Porto, Tiburcio Porfírio de Souza e de
Maria Marcolina, famílias tradicionais de Jaguaruna. O maestro era Sebastião de
Almeida e o presidente Bernardo Schimtz.
A sociedade não possui fins lucrativos e promove a educação musical
gratuita de jovens. Já formou músicos que hoje atuam profissionalmente pelo Brasil.
Atualmente o conjunto, que possui 30 membros de várias idades, é comandado pelo
maestro Marcos Estevão da Silva Pinto e participa constantemente de festivais de
banda pelo estado.
Para manter um repertório eclético os ensaios e reuniões são realizados
semanalmente na sede da banda que fica fechada durante o dia, abrindo apenas à
noite para o horário de ensaios ou por agendamento. Durante o ensaio é permitido
que visitem o local. No pátio há esculturas feitas pelo artista Gilson, representando
alguns dos músicos que passaram pela banda.
Figura 08 – Sede Social daFigura
Banda09 – Esculturas
Fonte: Disponível em: <www.jaguaruna.com>
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
29
Figura 10 – Formação de 1950
2.4.5 Espaço
Cultural Crú de Teatro
Fonte: Disponível
em <www.jaguaruna.com>
Figura 12 – Espaço Cultural Crú
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
Figura 11 – Formação Atual
e Boi
de Mamão
Fonte:
Disponível em: <www.jaguaruna.com>
Figura 13– Logomarca do Grupo
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
O Grupo Cultural CRÚ de Teatro e Boi de Mamão não possui sede
própria, portanto a Prefeitura Municipal de Jaguaruna juntamente com a Secretaria
de Educação e Cultura do município alugam uma sala para o funcionamento da
sede.
Local que serve para guardar os instrumentos e vestes do grupo, além de
ser ponto de visitação e pesquisa de estudos para os alunos da cidade. Nesse local
encontram-se também maquetes, miniaturas, cartazes... Feitos por alunos e doados
para sede.Embora o espaço seja muito pequeno e de difícil comodidade, os
integrantes do grupo se empenham para a conservação e preservação do mesmo.
Sempre lutando por melhoria para o grupo, os componentes conseguiram
a recentemente a aprovação de um projeto para a construção de uma sede própria
que irá facilitar o acesso e a preservação da cultura local.
O folclore é do tamanho do infinito. Um universo formado por festas,
danças, rezas, simpatias, mitos, histórias, brincadeiras, comidas, costumes
30
inventados pelo povo. Nesse universo se misturam a poesia, o encanto, à
malícia e a sabedoria da cultura popular que, contada de boca em boca, vai
se perpetuando e se transformando através dos tempos. (AZEVEDO, 2002,
p. 36).
O Boi de Mamão é uma tradição muito antiga do nosso município, tradição
esta que desapareceu por alguns anos devido ao falecimento e envelhecimento de
alguns membros.
O Grupo de Jovens da paróquia, preocupados com o desaparecimento,
esquecimento desta cultura, resolveram resgatar e manter a tradição cultural de
nosso município e região, tendo como ponto de partida a valorização da expressão
folclórica açoriana, despertando o interesse das comunidades por outras
modalidades folclóricas.
Desde 1991, o Grupo CRÚ de Teatro e Boi de Mamão apresentam em
festas o legado de tal cultura. O conjunto é formado por moradores do município que
representam em bonecos à narrativa. O objetivo é a manutenção da tradição
açoriana na região.
2.4.6 CTG Estância do Retiro
31
Figura 14 – CTG Estância do Retiro – Vista parcial
Fonte: Disponível em <www.jaguaruna.com>
O CTG Estância do Retiro foi fundado em 6 de Janeiro de 1984, na
localidade de Retiro – Jaguaruna (SC).
Recebeu este nome por localizar-se no Bairro Retiro onde permaneceu até
o ano de 1994. Sendo transferido para o bairro Riachinho em terras doadas pelo Sr.
Osvaldo Dário de Souza, originando a nova sede do Centro de Tradições Gaúchas e
o Parque de Rodeios Dário Carlos de Souza, nome dado em homenagem ao pai de
Osvaldo.
Atualmente o CTG Estância do Retiro conta com infraestrutura para
receber um público superior a 40.000 pessoas e seus rodeios são realizados sempre
no mês de abril, ocorrendo paralelo ao evento as Feiras da Indústria e Comércio e a
Feira Agropecuária. Entidade sem fins lucrativos, seus sócios estão empenhados em
promover e preservar as tradições, por meio da música, danças, lidas de campo e
gastronomia, resgatando a cultura do nosso povo, um povo que deve ser
reconhecido pela sua capacidade empreendedora e que tem favorecido para o
desenvolvimento superior a outras regiões do país.
2.4.7 Bica da Carioca
32
Figura 15 – vista frontal da Bica da Carioca
Fonte: disponível em <www.radarsul.com.br>
33
Local muito apreciado pelos moradores da cidade e pelos visitantes, A
Bica da Carioca está localizada no centro da cidade. Não existe, ao menos nos
locais onde pesquisei, nenhum registro referente à mesma.
Segundo os moradores mais antigos da cidade esse era o único local
onde antigamente existia água potável. Os moradores andavam quilômetros para
levar água para suas casas. As pessoas as quais procurei para obter informações
me contaram alguns acontecimentos corriqueiros que aconteciam na época. Contase que o local servia também para ponto de encontro entre casais, pois eram
combinados os horários para ir pegar água e aproveitavam o momento para
namorar.
Comentaram também que no local existia uma espécie de planta que
servia de copo para beber água. Outra curiosidade apontada foi a de que as
pessoas que vinham de longe para a missa ou passeio pela cidade
traziam
calçados e lavavam os pés na bica e depois colocavam os limpos e escondiam os
que estavam empoeirados no mato que ficava por volta da carioca para a troca no
final do passeio. Com essas informações pude perceber que a Bica da Carioca
existe a mais de cem anos embora não exista registro.
Existe um ditado popular na cidade referente à Bica da Carioca que diz o
seguinte: “Quem bebeu água da carioca e foi morar em outra cidade sempre volta
para sua origem.”
Hoje, o local serve somente como equipamento cultural. Com o passar
dos anos foram construídas casas muito próximas ao local, tornando a água
imprópria para consumo. Após alguns anos sem ter a devida atenção e por ser uma
praça antiga da cidade, por iniciativa do Lyons Clube de Jaguaruna, no ano de 2007,
o local foi transformado em mais um atrativo turístico da cidade, causando um pouco
de transtorno aos nativos que não aceitavam que mexessem na estrutura.
A antiga bica tem confeccionado em seu solo um painel de vidro, onde se
visualiza correr a água que sai da bica e uma amostra de conchas de calcários
representando os sambaquís da nossa região e com imagens culturais produzidas
pelo artista jaguarunense Gilson Luiz Paes, que através de sua arte mostra na
parede central da praça uma pomba branca representando o Divino Espírito Santo e
nas paredes laterais, integrantes do conjunto de terno de reis Grupo Sabiá e
também com personagens do Grupo Cultural Crú de Teatro e Boi de Mamão,
esculpidas em cimento. Essas obras representam à cultura do município de
34
Jaguaruna. No mesmo local foi feita uma praça arborizada com bancos,
humanizando o espaço que tem horário de visitação liberado.
2.4.8 Monumento a Bíblia
Figura 16 – Monumento a Bíblia
Fonte: Disponível em <www.radarsul.com.br>
O Monumento à Bíblia construído pela Prefeitura Municipal de Jaguaruna
através da lei municipal nº 1.026 teve sua inauguração no ano de 2003. Foi
construído a partir de uma indicação do vereador da época, Alicio Bitencourt, e de
pedido da igreja Evangélica Assembleia de Deus já que tal vereador faz parte da
referida igreja. Na época de sua construção a assembleia ficava localizada bem
próxima a obra. Por se tratar de um monumento que dialoga com as crenças de
cada sujeito todas as pessoas da cidade respeitam e idolatram o monumento.
Localizado próximo ao campo de futebol, sendo um atrativo turístico, principalmente
para os religiosos.
35
2.4.9 Igreja Matriz Nossa Senhora Das Dores
Figura 17 – Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores
Fonte: disponível em <www.radarsul.com.br>
A Igreja Matriz está localizada no centro da cidade atraindo muitos turistas
para visitação e apreciação. Chama atenção por seu formato revestido em mosaico
no azulejo e por seus vitrais nas janelas.
As primeiras datas católicas (festas) conhecidas aconteceram no ano de
1872. Contam os historiadores que a igreja possuía um belo altar colonial que fazia
sobressair à imagem barroca de Nossa Senhora das Dores. Segundo minhas
pesquisas algumas das janelas que possuem vitrais foram doadas por moradores da
cidade e nelas é registrado o nome dos mesmos. A maioria é da religião católica. Na
igreja são comemoradas duas grandes festas por ano: festa da padroeira
comemorada em setembro e a grandiosa festa do Divino Espírito Santo, festa
centenária já na cidade, estas movimentam a cidade. Na igreja existem também
imagens de santos, a principal, Nossa Senhora das Dores, uma belíssima imagem
barroca esculpida em madeira, não temos dados de quem foi o escultor e nem a
data, pois segundo o pároco atual, Padre Eleomar Paes, a um certo tempo atrás foi
36
queimado o livro tombo da paróquia, perdendo todos os dados concretos que se
tinha em relação à mesma.
2.4.10 Estação Ferroviária
Figura 18 – Estação Ferroviária
Fonte: disponível em <www.radarsul.com.br>
Inaugurada em 1919, a Estação Ferroviária de Jaguaruna mantém sua
estrutura bem conservada, porém está desativada. São realizados passeios
turísticos ferroviários anualmente. O local foi construído por uma empresa inglesa,
que desejava ligar os municípios de Tubarão e Criciúma, e atualmente abriga a
Secretaria de Esporte e Turismo do município, na qual tem horário de atendimento
de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h. O local também serve para
agendar os passeios de trem. Hoje não encontramos mais nenhum documento ou
objeto que represente a história da ferrovia.
37
2.4.11 Observatório das Baleias
Figura 19 – Observatório das Baleias
Fonte: disponível em <www.radarsul.com.br>
Localizado no Balneário Arroio Corrente (praia do município) está o
Observatório das Baleias. Com 9,5 m de altura por 4 m de diâmetro, o Observatório
de Baleias é usado por salva-vidas, como posto na temporada de verão, e por
turistas que o frequentam para admirarem a beleza das baleias francas. No inverno
os animais sobem do mar antártico para procriar e amamentar seus filhotes nas
águas quentes do litoral catarinense. Turistas e estudiosos visitam o local durante a
temporada de inverno.
2.4.12 Monumento a Luiz Francisco Pereira
38
Figura 20 – Monumento a Luiz Francisco Pereira
Fonte: disponível em www.radarsul.com.br
A referente obra está situada na Praça da Igreja Matriz de Jaguaruna.
Considerado o primeiro morador de Jaguaruna, Luiz Francisco Pereira
(1867-1967) recebeu do povo jaguaruense um monumento em homenagem a ele. O
fundador da cidade chegou à região em 1867 com outros migrantes, oriundos de
Palhoça, depois de receber terras da sesmaria de Jaguaruna.
2.4.13 Busto de José Mauricio de Souza
Figura 21 – Busto de José Mauricio dos Santos
Fonte: disponível em <www.radarsul.com.br>
O povo de Jaguaruna, para homenagear o coronel José Maurício dos
Santos, primeiro prefeito do município (1891-1895) construiu em 2008 um busto
39
dedicado a ele. Uma iniciativa do Rotary Clube da cidade de Jaguaruna. Situado
próximo à estação ferroviária em praça pública com visitação gratuita.
40
3 A CONSTRUÇÃO DO OLHAR E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
DE
ARTE
Ao sujeito, em suas interações diversas, circulam em variados espaços
culturais e experienciam, também, diferentes formas de produção cultural.
É no diálogo com o outro e com a cultura que cada um é constituído,
desconstruído, reconstruído, cotidianamente. O acesso aos bens culturais
é meio de sensibilização pessoal que possibilita, ao sujeito, apropriar-se de
múltiplas linguagens, tornando-o mais aberto para a relação com o outro,
favorecendo a percepção de identidade e de alteridade. (LEITE;
OSTETTO, 2005 p. 23).
Quando falamos em olhar, falamos nas diversas maneiras que cada
sujeito possui em perceber, analisar e fruir arte. As investigações deste trabalho
norteiam sobre os equipamentos culturais de Jaguaruna enquanto possibilidade de
experiência estética e construção do conhecimento sensível, tomando como ponto
de partida os professores de arte da rede municipal e estadual refletindo diretamente
na construção do olhar dos alunos atendidos por estes professores. Sendo assim,
faz-se necessário refletir sobre como ocorre à construção do olhar em suas diversas
esferas.
3.1 A Construção do Olhar Sensível
“Aprenda a olhar em silêncio
Se você não quiser que o barulho
Espante, diante de seus olhos,
A beleza das coisas frágeis”.
François Place
Na arte temos muitas formas de manifestar nosso olhar, uma vez que, são
várias as linguagens artísticas (cinema, teatro, dança, música, pintura, fotografia,
literatura e outras) que permeiam nossa sensibilidade, emoções e fantasia.
Precisamos ficar atentos às pequenas coisas que nos cercam, na tentativa de formar
um olhar mais reflexivo, ampliando nossos horizontes para um olhar qualificado e
atento as transformações artístico-culturais.
Contemplar com mais atenção às coisas que estão ao nosso meio, ir
além. Essa é uma possibilidade de formar um olhar mais sensível para arte e para
as mais diversas manifestações artístico-culturais.
41
Ser mais sensível no olhar nos faz ser também mais reflexivos e
perceptivos naquilo que estamos vendo, aprofundando, descobrindo o belo sem nos
preocuparmos com o bonito e sim com o significado de tudo o que fitamos desde nossos objetos do cotidiano, nas ruas, na urbanização da cidade, nas praças, na fisionomia das pessoas, no cinema, nos teatros, nas galerias e museus, nas obras públicas, nas manifestações de artistas reconhecidos e desconhecidos. Pensando
por este viés cito Araújo (2007, p. 21):
Quantas vezes não deixamos passar despercebidas coisas, pessoas e
situações? Quantas vezes apenas passamos nossos olhos pelas coisas do
mundo sem que a olhemos com atenção e intenção? Tudo está para ser
olhado não importa o modo como olhemos e nem com o que: olhos
orgânicos, olhos da alma, olhos do corpo, olhos tecnológicos.
Conforme a autora acima, penso que deixamos despercebidas coisas,
pessoas que passam sem que nossos olhos notem. Às vezes ou na maioria das
vezes miramos somente ao que queremos ver, seja por nosso interesse pessoal ou
emocional.
Sendo assim só olhamos e não interpretamos. A arte coloca-nos à frente
dessa percepção, se pretendemos entender melhor o que estamos vendo temos que
nos aprofundar e estabelecer um diálogo com mais criticidade.
Concordo com Ostrower (1990, p.09), quando fala:
Um ato tão corriqueiro como atravessar a rua – é impregando de formas.
Observar as pessoas e as coisas, notar a claridade do dia, o calor, reflexos
cores, sons, cheiros e lembrar-se de que se tencionava fazer, de
compromissos a cumprir, gostando ou detestando o preciso instante e ainda
associando – o a outros – tudo isto são formas em que as coisas se configuram
para nós. De inúmeros estímulos que recebemos a cada instante, relacionamos
alguns e os percebemos em relacionamentos que se tornam ordenações,
“composições”.
Compartilhar e trocar ideias sobre esse olhar com pessoas que
convivemos, pode nos fazer refletir e enxergarmos de outra maneira. Cito como
exemplo os livros, que quanto mais lermos e comentarmos, mais entenderemos sua
história e as mensagens que o autor está nos transmitindo.
De acordo com Leite e Ostetto (2005 p. 85):
A educação do olhar é um exercício, uma construção na qual a percepção
e a sensibilidade estão imbricadas na produção do conhecimento. Tornar
42
visível o que se olha é uma concepção do sensível. Pensar a educação do
olhar é posicionar-se e questionar-se diante do processo de aprendizagem,
para despertar o caráter sensitivo, afetivo e sensorial, como uma viagem ao
mundo da imaginação e das informações adquiridas.
A partir das reflexões tecidas pelas autoras citadas, inquieta-me pensar no
que se refere: Será que precisamos visitar museus ou grandes galerias para
melhorarmos nosso olhar? Como podemos olhar as cidades e os espaços que nos
rodeiam? Como percebemos os monumentos e espaços artísticos que permeiam
nosso cotidiano? E ainda, será que aproveitamos o que nossa cidade nos oferece ou
apenas valorizamos o que as cidades vizinhas têm a nos oferecer, deixando para
traz o que temos ao nosso alcance?
Neste sentido, trago o pensamento de Leite e Ostetto (2005, p. 114):
Aprendi com os olhares dos outros a descobrir novos modos de ver obras que considerava já vistas. A cada cidade novos conhecimentos e questionamentos. Cada cidade revelou­me novos olhares sobre imagem de obras pretensamente vistas. Sem duvida sou a maior beneficiaria por ter tido a oportunidade ímpar de “impregnar­me” e transformar­me com os olhares de diversas pessoas, das mais diferentes origens, idades e formações estéticas.
Como já havia colocado precisamos trocar essas experiências de olhares,
podendo assim mudar o nosso ou refletirmos sobre a construção do outro, inclusive
dos próprios alunos que dialogam com a cultura e são produzidos por ela. Desta
forma, teremos um processo de aprendizagem do olhar mais potencializado e
sistematizado com experiências estéticas, sensíveis e críticas.
Existem distinções claras entre “ver” e “olhar” para compreender o mundo
externo: “Ver, verbo passivo, provoca um prazer ou uma dor de caráter sensual.
Olhar, verbo ativo e supõe um ato deliberado, além do simples ato físico, envolvendo
capacidades de percepções sensíveis e cognitivas”. (POCHET apud CAMPOS,
2002, p. 109).
Temos que parar mais para olhar e olhar com profundidade, definindo com
clareza, tornando-o cada vez mais sensível, descobrindo que nossos olhos
enxergam coisas que muitas vezes não percebemos ou então não paramos para
apreciar.
De acordo com Campos (2002, p. 109): “O exercício do olhar para o
contexto pode levar o apreciador a compreender cada fenômeno como parte de um
43
padrão de referência maior, compreensão que o leva a estabelecer relações,
aprendendo as inter-relações do todo e das partes”.
Ao buscarmos apreciar, contemplar, olhar essas obras de diferentes
formas iremos ampliar o nosso olhar sensível, o olhar que consegue estar livre de
esteriótipos, que se abre ao novo, ao diferente e aos pequenos detalhes.
Concordo com Aranha e Martins (1993, p. 348):
Quanto mais ampla for essa convivência com os tipos de arte, os estilos, as
épocas e os artistas, melhor. É só através desse contato aberto e eclético
que podemos afinar a nossa sensibilidade para as nuances sutilezas de
cada obra, sem querer impor-lhe o nosso gosto e os nossos padrões
subjetivos, que são marcados historicamente pela época e pelo lugar em
que vivemos, bem como pela classe social a que pertencemos.
Lembraremos, ainda, que é na frequentação da obra que a
intersubjetividade pode se dar. É através dela que podemos encontrar com
o autor, sua época e também com nossos semelhantes [...] precisamos
aprender a sentir. E na nossa sociedade, dada a importância atribuída à
racionalidade e à palavra, não é raro tentarmos, sempre, enquadrar a arte
dentro desse tipo de perspectiva. Assumimos, então, tal distância da obra
que não é possível recebê-la através do sentimento [...] chorar ao assistir a
um drama ou a ouvir uma música não é sinal de que estejamos acolhendo
obra através do sentimento.
Sendo assim devemos respeitar cada tipo de arte que nos é apresentada,
pois cada qual vem nos trazer um pouco da nossa realidade atual seja em forma de
teatro, de dança, de musica, de pintura. A arte nos proporciona esta manifestação
artística e cultural de nossas raízes sem nos impor aos nossos gostos e a nossos
padrões sociais.
É nesse sentido que me questiono: É possível construir o olhar? Esse
olhar pode ser qualificado, aprimorado? Como olhamos uma produção artística?
Como percebemos uma exposição, uma peça de teatro, um concerto musical, um
monumento em espaço público? Estas são algumas perguntas que me inquietam e
motivam-me a buscar respostas.
Quando penso a formação do olhar relacionado com os equipamentos
culturais das cidades falo de experiências visuais infinitas e táteis. Então pergunto: o
que vemos em Jaguaruna? O que Jaguaruna oferece para formação cultural de seus
moradores? Nosso olhar se constitui à medida que vemos coisas diferentes.
As imagens demandam nossa atenção diferenciada. Na pressa que
caracteriza a contemporaneidade, na qual tudo é descartável e fugidio,
cotidianamente olhamos sem ver e vemos sem olhar.
44
Concordo com Leite (2004) quando diz que: Ampliar o repertório das
crianças é vislumbrar uma sociedade mais respeitosa com as diferenças,
favorecendo para uma geração autônoma, crítica, autoral e participativa. Para isso,
diz ela, é necessária a formação também de nossos professores e, sobretudo que o
instiguemos a ver, ouvir e movimentar-se na cidade, a partir dos convites que esta
lhes faz.
3.2 A FORMAÇÃO DO OLHAR DO PROFESSOR DE ARTE
Quando nós, professores de arte, refletimos sobre Arte pensamos em algo
que na verdade não conseguimos definir bem, temos indicações imprecisas,
exemplos duvidosos e um gostar pessoal, uma espécie de identificação que
influencia nossos conceitos e os juízos de valor que expressamos acerca das
“coisas artísticas” e do repertório cultural construído pelo homem desde os
primórdios de sua existência.
Frequentemente os professores deparam-se com alunos e alunas que
afirmam não gostar de desenhar e consideram-se incapazes de criar seus próprios
trabalhos. Mudar este quadro não é tão difícil quanto possa parecer. Philippe
Perrenoud (2000, p. 69) ressalta que: ‘‘É preciso suscitar o desejo de aprender,
explicitar a relação com o saber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na
criança a capacidade de auto-avaliação.”
O professor precisa em sua formação encontrar meios para trabalhar de
forma contextualizada, diferenciada, aproveitando ao máximo as oportunidades de
aprendizagem que estejam mais próximas dos alunos. Não se trata de algo fácil,
muito menos acabado: é uma caminhada.
O educador deve ter a sensibilidade e conhecimentos suficientes para
valorizar as manifestações culturais dos jovens,para refletir e repensar sua prática.
Ao mesmo tempo, divulgadores e padronizadores dos comportamentos e atitudes
estéticas e éticas, como a televisão, letras de música e as próprias bandas, festas,
reuniões de jovens, nem sempre tem contribuído de maneira positiva para a
construção dos novos paradigmas contemporâneos.
45
Fayga Ostrower (1990) diz que:
O sujeito criador é, em geral, inteligente, consciente do meio que o cerca,
sabendo ver e sentir as coisas que o rodeia, é fluente (tem sempre várias
idéias), é flexível, original, cético, persistente, bem-humorado e
inconformado com o pré-estabelecido e é autoconfiante.
Não se pode negar o consumo cultural que hoje, ao alcance de todos,
ocupa um papel de grande importância no contexto cultural moderno. Por estarem
manifestando as mudanças da sociedade através de atitudes conjuntas é necessário
problematizá-las, pois somente assim estaremos contribuindo para o crescimento
dos discentes. O aluno, ao aguçar sua sensibilidade para explorar e elucidar os
mundos do ver, do conhecer e do sentir desenvolve-se pessoalmente, contribuindo
de forma criadora para se situar nas relações culturais, sociais, cotidianas. Segundo
Ana Mae Barbosa (1991, p. 56): “O ensino da arte no Brasil só agora, e muito
lentamente, se vem libertando do acirrado preconceito com o qual a cultura brasileira
o cercou durante quase 150 anos que sucederam à sua implantação.”
Essa educação supõe conhecimento e criatividade. A última só é possível
com liberdade, com conflito entre o novo e o já existente, entre o sedimentado e o
possível vir a ser. Não se faz arte sem criatividade. Não se sociabiliza com arte sem
que seja conhecedor das manifestações cotidianas e culturais.
Quando se é criança, jovem ou educador em Arte é preciso mergulhar,
navegar, viajar. Para educar, socializar é preciso viver e assim amar, conquistar,
criar e libertar. A vida cotidiana não suporta regras duras é preciso problematizar,
inventar com arte!
Isto transportado para o cotidiano escolar é acreditar que ainda é possível
educar por inteiro. Em concordância com Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 129):
O educador, podemos pensar, é aquele que prepara uma refeição, que
propõe a vida em grupo, que compartilha o alimento, que celebra o saber.
É do entusiasmo do educador que nasce o brilho dos olhos dos aprendizes.
Brilho que reflete também o olhar do mestre.
Desta forma, percebo o papel do professor como formador de olhares
sensíveis à arte. Para isso, é necessário que o mesmo esteja em contato com os
bens culturais, frequente ações de arte e cultura, dialogando com uma proposta
curricular que contemple os conceitos essenciais para a disciplina de artes.
46
4 METODOLOGIA
Nasci e sempre morei em Jaguaruna, na qual vivencio o dia-a-dia da
cidade. Sendo assim escolhi fazer meu trabalho de conclusão de curso que será em
forma de pesquisa com professores de artes, da rede estadual e municipal do
município referente aos equipamentos culturais da cidade. Esta pesquisa será
desenvolvida dentro da forma qualitativa para melhor análise do problema.
A expressão “pesquisa qualitativa” assume diferentes significados no campo
das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas que
visam a descrever e a codificar os componentes de um sistema complexo
de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos
fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e
indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação. (MAANEN, 1979, p.
520).
Dentro das linhas estabelecidas para o curso de Artes Visuais –
Licenciatura, o projeto se insere na linha de pesquisa Educação e Arte.
Para analisar de que maneira os professores poderão trabalhar os
equipamentos culturais do município de Jaguaruna com os alunos da rede pública
municipal e estadual, faz-se necessário uma pesquisa de campo, exploratóriodescritiva. Esta pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com a
situação problema, explorar, interrogar, para coletar informações e descrever
características da população ou fenômeno, visando torná-lo explicito. Conforme.
(LEITE; OSTETTO, 2005, p. 51).
Buscar ir além à apreciação, buscar uma experiência estética significativa,
relacionar aquilo que vê com o que já conhece, com seu cotidiano.
Freqüentar exposições amplia o repertório imagético – sonoro, visual,
corporal – de todos. Independente de gênero, etnia, credo classe social ou
idade, é parte de sua formação, sendo assim, antes de tudo, um direito. A
criança, assim como seus pais, colegas ou educadores faz parte da história
da humanidade e, como tal, também escreve e se inscreve na história
coletiva. Ela vive a realidade, transforma-a e é por ela transformada. Para
tal, é necessário que possa trocar dialogar, questionar aquilo que vê.
Leite (2006, p. 2) nos aponta:
47
Toda cidade é como um grande espaço de educação, com personalidade
própria e integrada ao seu estado, região, país. Um espaço que mesmo
com suas fronteiras é permeável as relações com o entorno. Neste projeto é
entendida como um local que possibilita expressões diversas fruto de uma
política que prioriza investimentos culturais, uma vez que reconhece,
exercita e desenvolve a promoção, formação e desenvolvimento de seus
habitantes, em especial, crianças e jovens.
O questionário a ser utilizado está disponível no anexo e apresenta todas
as perguntas formuladas para a coleta de dados referente à pesquisa, tendo como
propósito reunir informações que contemplam vários aspectos ligados a cultura da
cidade de Jaguaruna, sobre a arte e os equipamentos culturais da cidade; como
contribuintes neste trabalho os professores de artes do referido município. A partir
das respostas obtidas existe a possibilidade de verificar em um sentido bem mais
profundo os conceitos, as dúvidas e as opiniões perante a realidade atual,
enriquecendo o trabalho com trocas de ideias sobre o assunto em questão.
48
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
O presente trabalho tem a intenção de trazer maior conhecimento sobre
arte, espaços culturais e construção do olhar, possibilitando um olhar mais
particularizado para a cidade de Jaguaruna, passando por seu histórico singular,
seus aspectos político-administrativos e, especificamente, sobre os equipamentos
culturais e as possibilidades de arte e cultura oferecidas pela cidade para serem
trabalhadas nas aulas de Arte.
Olhar e redescobrir a cidade em que vivemos com “um olhar viajante e
investigativo” (LEITE, 2006, p. 3), permite reflexões e nos torna cidadãos mais
críticos, pensantes, que participam do dia-a-dia da cidade. Associar as concepções
de cidadania com a percepção dos elementos que constituem a cidade faz parte da
educação como um todo. Desta forma, para investigar e aprofundar essas
informações foi realizada a pesquisa de campo exploratório-descritiva em forma de
questionário com oito professores de artes da rede municipal e estadual do
município, sendo que apenas seis deles me devolveram.
Durante a pesquisa pude perceber um pouco melhor como as pessoas
costumam olhar a cidade. Como a correria do cotidiano nos faz passar despercebida
por coisas e pessoas sem nos darmos conta. Percebi também que grande culpa
dessa falta de valorização se dá por falta de incentivo de políticas publicas, não só
em esfera municipal, mas também em âmbito nacional.
Ao buscar dados, pesquisas, publicações, sites que falassem dos
equipamentos culturais e de arte da cidade de Jaguaruna percebi que há uma
dificuldade de localizá-los e quando as encontrei eram restritas e muitas vezes
desatualizadas.
Não pretendo esgotar a dimensão deste problema com apenas esta
pesquisa, porém muitos fatores se levantam com aplicação da mesma.
Primeiramente, precisamos rediscutir como ocorre a construção do olhar dos
sujeitos? O que olhamos? Como olhamos? É possível construir um olhar diante da
perspectiva da formação estética? A partir destes questionamentos penso que
descobrir como os professores de arte percebem os equipamentos culturais de
nossa cidade é o caminho inicial para uma ressignificação do olhar estético. Nesta
perspectiva, concordo com Pillar (2001, p. 134) quando nos fala que:
49
Para olhar o mundo com reciprocidade, no entanto, é preciso imaginar que
ele também nós olha, e que tem uma alma, que através de imagem
podemos relacionar-nos afetivamente, constituir parcerias, interações
intensas com ele.
A partir dessa provocação com os professores compreendo que
estaremos contribuindo com a preservação, visitação e revitalização dos
equipamentos culturais como indispensáveis no processo de formação cultural em
espaços formais e não-formais.
Iniciei meu questionário perguntando se as professoras moravam na
cidade e há quanto tempo, Com as respostas obtidas a partir dessa pergunta ficou
fácil para entender o restante, já que com as respostas consegui descobrir idade e o
tempo que moram em Jaguaruna. A idade varia entre 20 a 45 anos, sendo que todas
são naturais de Jaguaruna e continuam morando na cidade e uma delas morou na
Itália por quinze anos e faz dois que retornou ao município.
A pergunta seguinte foi: para que nível de ensino elas lecionavam? Todas
responderam que lecionavam para o ensino fundamental e apenas duas delas para
o ensino médio, e nenhuma para a educação infantil já que não poderia ser
diferente, pois em Jaguaruna não existe a disciplina Arte na educação infantil.
Quando perguntado há quanto tempo são formadas e em que disciplina,
as respostas obtidas foram bem diferentes uma das outras já que as entrevistadas
são de vários níveis de formação. É importante destacar aqui que três das seis
professoras pesquisadas ainda não são formadas. Neste aspecto verifico que a
professora 1 tem vinte e um anos de formação em Educação Artística, a professora
2, 3, e 6 estão respectivamente na segunda, quinta e oitava fase do curso de Artes
Visuais na UNESC. As professoras 4 e 5 tem habilitação em Artes Cênicas,
correspondendo a nove anos de formação acadêmica.
Outro ponto analisado foi em relação à espécie de vínculo profissional, ou
seja, busco saber se o professor é efetivo ou admitido em caráter temporário (ACT),
com o intuito de compreender se há fatores que influenciam em suas práticas
pedagógicas relacionadas à formação do olhar, partindo do pressuposto do
professor propositor, que visita espaços, experimenta, produz, pesquisa.
Neste aspecto, surpreendo-me com as respostas, pois das seis
professoras apenas duas são efetivadas e as demais admitidas em caráter
temporário, sendo que na cidade existem vagas de artes e falta de professores na
50
área, muitas vezes sendo preenchidas por professores ainda sem habilitação.
Outro aspecto questionado foi em relação às turmas em que lecionam e o
tempo em que atuam nas mesmas. Nesse momento quatro delas responderam que
lecionam para o ensino fundamental nas séries iniciais (1º ao 5º ano) e nas séries
finais (6º ao 9º ano), e apenas duas delas responderam que lecionam com ensino
fundamental e médio. Destaco aqui que essas duas são as professoras
concursadas, lecionando em turmas de 1º ao 9º ano ensino fundamental e 1º ano do
ensino médio já que só temos artes no 1º ano do ensino médio aqui na cidade, fato
constatado durante a realização de estágio curricular obrigatório. Percebo que a
maior parte das professoras pesquisadas trabalha com um número expressivo de
turmas, o que indica um contato bastante extenso desses professores com os
alunos o que aumenta a responsabilidade de propor um ensino de arte que garanta
o acesso às múltiplas vertentes da arte, incluindo claro a cultura e a arte local
partindo do pressuposto dos equipamentos e bens culturais.
Em relação ao tempo em que lecionam as respostas foram bem
surpreendentes. Todas as entrevistadas começaram a dar aula antes de se formar.
A professora 2 que está na segunda fase já da aula a oito meses, já a professora 1
que é formada a vinte anos leciona somente a cinco anos. A professora 3 está na
quinta fase da faculdade e leciona a um ano e meio. As professoras 4 e 5 que são
formadas a nove anos lecionam a dez. Já a professora 6, acadêmica da oitava fase
leciona a cinco anos e oito meses, sendo que antes de começar a faculdade já
lecionava, tendo apenas o ensino médio. Isto demonstra uma fragilidade quanto à
construção de propostas que se consolidem em um currículo que tenha como base
professores formados. Neste momento é importante pontuar a necessidade de
professores habilitados, ressaltando que ainda vivemos em um momento de espaço
e construção de uma identidade mais consolidada no ensino de Arte do município.
Penso também que os professores ainda não habilitados têm construído um trabalho
bastante significativo, não estou aqui para achar e apontar culpados, porém de
acordo com os documentos que regem a educação básica em nosso país.
Aprofundando-me um pouco mais, entro na questão sobre a importância
da Arte no currículo escolar. Neste aspecto, muitas respostas se aproximaram.
Cinco entrevistadas apontam que a disciplina de arte é importante para que o
educando compreenda os seus modos de pensar e agir. Além disso, desenvolve
habilidades como: percepção, imaginação e sensibilidade, tanto ao realizar formas
51
artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas artísticas produzidas por
ele e pelos colegas. Destaco a fala da professora 1 que dialoga sobre a
desvalorização da disciplina. “Acredito ser fundamental, apesar de não ser muito
valorizada. A arte além de servir de suporte para o desenvolvimento de outras áreas
de ensino possibilita o aluno a criar, abstrair, interagir e se expressar o que é
importante para qualquer ser em desenvolvimento”. Percebo com isso que há um
comprometimento com o espaço da arte dentro do currículo, defendendo a disciplina
como construtora de conhecimento e indispensável para a formação da cada sujeito
envolvido no processo.
Diante dos equipamentos culturais existentes na cidade e com o intuito de
perceber se as professoras entrevistadas, representando a população de Jaguaruna
já que todos moram na cidade, frequentam e visitam os mesmos perguntei: Onde
você costuma ir quando não está trabalhando?
Com as respostas relatadas percebi que poucas professoras incluem em
seus passeios e ocupações em momentos de lazer os equipamentos e ações
culturais do município. Das seis entrevistadas as respostas foram unânimes, as
professoras apontam que quando não estavam trabalhando, procuram ficar com a
família ou passear nas cidades vizinhas, em bares, lanchonetes, cinemas, pizzarias
e ir a festas. Desta forma, percebo que os bens culturais da cidade são pouco
visitados e explorados em momentos de lazer, isso me faz refletir sobre a
funcionalidade e a otimização desses espaços, tornando-se convidativos ao olhar,
atraindo e provocando a visitação e apreciação.
Buscando compreender o que os professores de arte observam quando
andam pelas ruas da cidade, estabeleci a seguinte pergunta: O que você costuma
olhar quando passeia pelas ruas da cidade? As respostas novamente se aproximam,
porém a fala da professora 1, após quinze anos de moradia no exterior, aponta:
As novas construções, as cores que se destacam hoje.[...] morar muito
tempo em uma cidade grande onde se presencia a agitação e o caos todos
os dias e depois de retornar a morar em uma cidade como Jaguaruna,
passa a se dar valor a simplicidade da cidade e o comportamento das
pessoas que nela vivem.
Já as demais professoras responderam que costumam olhar as vitrines
das lojas, casas e alguns monumentos da cidade, além das placas, das pessoas,
dos prédios, a da própria natureza. Desta forma, como essa pesquisa visa perceber
52
o olhar dos professores de Jaguaruna em relação aos equipamentos culturais como
possibilidade de formação culturais indispensáveis na composição de um currículo
que privilegia o cotidiano e a cultura local, percebo que a um consenso entre as
possibilidades que despertam o olhar da maioria das professoras entrevistadas.
Neste aspecto, questiono-me: será que os equipamentos culturais estão convidando
ao olhar? Qual a sua disposição dentro da cidade? Isso contribui na formação do
olhar? Estas e outras questões são focos de discussão para pesquisas futuras.
Focando minha pesquisa nas questões que dialogam com o ensino de
Arte e a prática docente propus o seguinte questionamento: Você costuma trabalhar
os aspectos culturais da cidade de Jaguaruna nas aulas de Arte? De que forma? As
professoras 1 e 3 responderam que trabalham por meio da divulgação de
informações e debates. Visitam museus, os sambaquis, a estação ferroviária, etc...
Fazem também trabalhos artísticos usando como tema os aspectos culturais da
cidade. A professora 2 responde que também trabalha, porém “com uma
contextualização após as produções artísticas de acordo com o nível da turma na
qual estou trabalhando”.
As professoras 4, 5 e 6 tem relatos semelhantes quando apontam que em
suas aulas resgatam histórias do povo local. Visitam pontos estratégicos. E
pesquisam a cultura local. Completam que levam todos esses dados para a prática
através de cartazes, pinturas, teatro, música, fotografias e outros. Neste aspecto,
observo que através da análise das respostas das professoras percebe-se que as
questões ligadas à cultura local são privilegiadas em propostas de ensino e
aprendizagem em Arte.
Com o objetivo de investigar o olhar dos professores entrevistados sobre
os equipamentos culturais da cidade, questionei: Você conhece os equipamentos
culturais da cidade? Quais? Neste ponto da pesquisa percebo algumas contradições
quanto ao processo de compreensão sobre a conceituação, identificação e
apropriação sobre equipamentos culturais de nossa cidade. Das seis entrevistadas
todas destacam a presença do Museu Cidade de Jaguaruna. Três professoras
destacam a presença da sede cultural do Grupo CRÚ Teatro e Boi de Mamão e a
Banda Amor a Pátria como equipamentos integrantes da cidade. Quatro professoras
destacam a Estação Ferroviária. Duas apontam os Sambaquis.
53
Todas responderam conhecer o museu da Cidade de Jaguaruna. Apenas
três apontam o Grupo Cultural CRÚ de Teatro e Boi de Mamão e a Sede da Banda
Amor a Pátria, e quatro trazem a presença da Estação Ferroviária. Duas
entrevistadas relatam à presença de praças enquanto equipamentos e, outra cita a
presença do Monumento a Bíblia.
Em síntese esses são os equipamentos apontados nas respostas dos
questionários. Ressalto que apenas a professora 6 percebe e relata um número
mais significativo de equipamentos. A média de equipamentos apontados permeia
em dois ou três equipamentos por professora entrevistada. Esses dados
demonstram uma contradição com a resposta que se referia sobre os professores
trabalharem os aspectos culturais da cidade, uma vez que a resposta obtida naquela
questão trazia um aprofundamento conceitual o que não complementa nessa
questão, ao qual analiso, visto que a variedade e apropriação dos equipamentos
estão em número bastante reduzido, comparado com o acervo disponível na cidade.
Também notei por meio da pesquisa que todos os equipamentos culturais
de Jaguaruna estão localizados bem no centro da cidade, onde ficam as escolas
maiores e de fácil acesso, já os alunos e em geral toda a população do interior da
cidade, que na maioria das vezes, são a parte mais carente por morarem mais longe
tem esse acesso mais restrito.
Estes foram os dados obtidos com a junção das respostas de todos as
professoras entrevistadas. Procuro dar ênfase na transcrição dos três últimos
questionamentos descritos no final do texto que apresentam a visão das
entrevistadas, sobre os aspectos que interferem diretamente na investigação de meu
problema tratado durante esta pesquisa. Estas perguntas recebem uma análise mais
densa que vem ao encontro das discussões sobre a construção do olhar, a formação
estética e o olhar sensível do professor.
6 CONCLUSÃO
54
Concluo esta pesquisa onde falo sobre a cultura do município de
Jaguaruna e em especial sobre os equipamentos culturais como possibilidade de
apropriação e discussão estética dentro dos espaços que trabalham o Ensino de
Arte em nossa cidade, partindo da concepção de que se trata de um assunto
importante e pouco explorado pelos professores do município onde moro.
Com o questionário respondido pelas professoras de Jaguaruna percebi
de certa forma um “abandono”, já que quando questionadas sobre o que faziam
quando não estavam trabalhando, nenhuma delas destacam a visitação e fruição
dos espaços destinados à arte e a cultura da cidade.
A cidade de Jaguaruna, de acordo com os dados colhidos na pesquisa de campo e na análise dos arquivos históricos da cidade possui vários espaços que contam a história e mostram o trabalho dos artistas. O que quase não existe é a apropriação destes espaços, bem como a vivência dos mesmos.
Não podemos culpar a população de não vivenciar os espaços artísticos da cidade, uma vez que a cidade não incentiva e convida a esse olhar, outro ponto que se destaca na pesquisa e aponto como novas possibilidades para investigação futura em outras pesquisas. Outro aspecto relevante é a correria do dia­a­dia e a comodidade do mundo moderno que muitas vezes nos torna pouco sensíveis às questões ligadas à ampliação do olhar estético, já que os atrativos e a comodidade que nossos lares nos oferecem passam a ser mais interessante do que a própria ida ao cinema, ao museu, ao teatro. Para cada época, os hábitos culturais são expressões da forma de pensar
e agir da população, mantendo como linha básica o que se resulta das experiências
acumuladas. Os jaguarunenses de hoje, provem de um conjunto diversificado de
origens culturais. Viabilizar o acesso aos bens culturais e aprimorar os
equipamentos já existentes é fundamental para o desenvolvimento artístico-cultural
da cidade.
Precisamos cada vez mais estar em contato com a arte para termos essa
visão mais aguçada e para isso nada melhor do que começar desde cedo, ainda na
infância, já que a criança bem preparada torna-se um adulto bem informado. Desta
forma, a apropriação cultural dos professores de Arte pode e deve contribuir de
55
maneira muito significativa na transformação do olhar de muitas pessoas, visto que a
educação em arte possibilita a formação estética.
Sendo assim, acredito na perspectiva de que ao frequentamos ambientes
que possibilitem experiências estéticas, mais nos aprofundamos na compreensão
estética e no desenvolvimento do conhecimento sensível.
Percebi em minha pesquisa que precisamos nos apropriar mais dos bens
culturais que temos em nossa cidade, aproveitando nossas aulas de Arte para
investigar, divulgar e valorizar um pouco de nossa história cultural e artística.
Contudo, deixo como proposição e possível caminho para contribuir com a
formação cultural e a construção do olhar dos professores de arte em relação aos
equipamentos culturais da cidade, uma proposta de formação continuada na
perspectiva de possibilitar diálogos, compreensões e novas significações em relação
a Arte e a Cultura local tendo como caminho novas proposições no currículo de arte
do município.
56
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57
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ZUMBLICK, Willy Alfredo. Penas e Pincéis, Tubarão: Universitária da UNISUL,
1998.
58
APÊNDICE
59
APENDICE A – Questionário Aplicado aos professores de arte da rede
municipal e estadual de Jaguaruna (SC).
Questionário
Este questionário tem por objetivo reunir informações para uma pesquisa de
campo, que contemplará vários aspectos ligados ao olhar dos professores
da rede estadual de ensino de Jaguaruna (SC), sobre da arte e suas relações
com os Espaços Culturais da cidade e é parte do meu trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) de licenciatura em Artes Visuais, pela Universidade do
Extremo Sul Catarinense – UNESC.
Pesquisadora: Jeane Pereira Melo
Você mora na cidade há quanto tempo?
.......................................................................................................................................
......................................................................................................................................
Para que nível de ensino você leciona?
.......................................................................................................................................
Você é licenciado? Há quanto tempo e em que curso superior?
.......................................................................................................................................
Mora na cidade? Quanto tempo?
.......................................................................................................................................
Você é professor concursado ou admitido em caráter temporário (ACT)?
.......................................................................................................................................
Você leciona para que turmas? Há quanto tempo?
.......................................................................................................................................
Para você, qual a importância da disciplina de arte no currículo escolar?
.......................................................................................................................................
60
Onde você costuma ir quando não está trabalhando?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
O que você costuma olhar quando passeia pelas ruas da cidade?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
Você conhece os Espaços Culturais da cidade? Quais?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
61
APENDICE B – Proposição de Curso de Formação para Professores de
Arte.
TITULO: A construção do olhar: diálogos estéticos com os equipamentos culturais
de Jaguaruna/SC
INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA:
Envolver os professores de arte da rede municipal e estadual do município,
para que os mesmos possam ter material atualizado para trabalharem em suas
aulas é o foco deste curso. Segundo: (PCN, 1997, p. 61).
O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da visualidade em
quantidades inigualáveis na história, criando um universo de exposição
múltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma
educação para saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, idéias,
e qualidades.
Desta forma desenvolveremos um trabalho de mapeamento, registro e
divulgação da cultura local tendo como mídia comunicativa a criação de um site com
atualizações constantes vinculadas a Secretaria Municipal de Educação e Cultura.
A partir de encontros e trocas com os professores de arte do município
coletaremos informações para a ampliação do olhar de toda a comunidade regional
em torno das questões culturais do município, tendo como ponto de partida os
equipamentos culturais.
Conforme nos aponta PILLAR (2001, p.132):
A consciência política de que precisamos integrar arte, educação e cultura,
nos faz perceber que também é preciso criar uma proposta que priorize as
necessidades de nosso povo, que atenda, primeiramente, as classes
populares que são a maioria do contingente que freqüenta nossas escolas.
A educação do olhar torna-se então um imperativo, uma forma de
humanização e de cultivo, o que representa um dispositivo para a cidadania.
OBJETIVO GERAL:
Preservar, atualizar, ampliar e divulgar a documentação e os acervos que
constituem o patrimônio artístico e cultural do município.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
62
•
Conservar e ampliar as redes de equipamentos culturais da cidade;
•
Ocupar os espaços públicos com atividades culturais, integrando as
diferentes culturas, hábitos e tradições;
•
Fomentar os acervos do arquivo da cidade;
•
Estimular a visitação nos espaços culturais da cidade;
•
Criar site com informações atualizadas sobre os equipamentos culturais da
cidade.
•
Ressignificar o olhar para as questões culturais da cidade.
•
Refletir sobre a necessidade de conservar e ampliar os equipamentos
culturais bem como ocupar os espaços já existentes.
Carga Horária:
Teóricas: 10h
Práticas: 20h
Total: 30h
Público alvo:
Professores de arte da rede municipal e estadual do município de Jaguaruna.
EMENTA:
A importância da cultura local, e o valor dos equipamentos culturais utilizados como
instrumentos para aprimoramento, ampliação estética e construção do conhecimento
sensível em arte partindo do pressuposto de preservação e apropriação da cultura e
da arte local.
METODOLOGIA:
Pretende-se desenvolver neste curso um conjunto de reflexões na qual se
relacionem teoria e prática durante a realização dos estudos.
Inicialmente é necessário estudos de apropriação teórica referente a
conceitos de Arte, Cultura e Equipamentos Culturais na formação das cidades.
Em seguida a visitação e reconhecimento destes espaços como possibilidade
de
ampliação
de
repertório
desenvolvimento desta proposta.
e
vivências
estéticas
são
primordiais
para
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Dando seqüência ao curso é necessário a formação de grupos para que cada
um escolha um equipamento a ser pesquisado. Sendo responsabilidade do grupo
reunir informações teóricas a partir de fontes publicadas, depoimentos, imagens
fixas e móveis. Produzir imagens fotográficas em diferentes ângulos para
diagramação e visualização do site. Informações técnicas, administrativas e
funcionais de cada equipamento.
Depois de todo este material coletado, fotografado faremos em parceria com
a Secretaria de Educação e Cultura em apoio com o setor de comunicação e
marketing a produção e veiculação destas informações em um site oficial, linkado ao
site oficial da prefeitura da cidade.
Assim os professores terão material atualizado para trabalhar e explorar com
os alunos dentro de propostas no ensino da arte.
Com o auxilio da rádio comunitária que a cidade possui faremos a divulgação
deste site enquanto mecanismo de desenvolvimento cultural tendo os professores
como co-autores do processo.
Material divulgativo, com a elaboração de folders, panfletos, banners, com as
informações colhidas pelos pesquisadores cursistas também é meta futura para este
curso que tem como principal objetivo dar visibilidade aos equipamentos de arte e
cultura da cidade estendendo-se ao ensino de arte.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Brasília: MEC;SEF, 1997.
PILLAR, Analice Dutra. A Educação do Olhar. Porto Alegra: Mediação, 2001.
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