Título: Hidrologia Agrícola Editores: Shakib Shahidian Rita Cabral Guimarães Carlos Miranda Rodrigues Primeira Edição ISBN: 978-989-97060-4-0 Depósito Legal: 353505/13 Uma edição conjunta: Escola de Ciência e Tecnologia da Universidade de Évora e ICAAM - Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM) Escola de Ciência e Tecnologia da Universidade de Évora Universidade de Évora Núcleo da Mitra Apartado 94 7002-774 Évora © 2012 Os autores Edição electrónica: Ana Martelo Impresso pela Publidisa Novembro 2012 Hidrologia Agrícola Shakib Shahidian Rita Cabral Guimarães Carlos Miranda Rodrigues António Chambel Carlos A. Alexandre Francisco L. Santos Gottlieb Basch José A. Andrade Renato Coelho PREFÁCIO Uma disciplina de Hidrologia é naturalmente tão fundamental como a água, que é o seu objeto de estudo e conhecimento. Impunha-se, no curso de Agronomia, o estudo profundo, tanto quanto possível, desta ciência, naturalmente na medida em que o agrónomo precisa de conhecer e perceber o ciclo hidrológico, pois nele tem de intervir a cada passo da sua atividade, na mesma medida de essencialidade em que as plantas usam a água e são elas próprias parte do mesmo ciclo. Chamou-se a esta unidade curricular Hidrologia Agrícola, para a situar no plano da formação agronómica indispensável. De facto, é indispensável a qualquer agrónomo perceber bem o papel da água nas funções fisiológicas das plantas, percebendo o papel das plantas no ciclo hidrológico. Só percebendo, com profundidade científica, os fenómenos e o seu enquadramento natural, as suas causas e os seus efeitos, será o técnico capaz de fazer as escolhas fundamentais, de decidir as opções convenientes de gestão dos recursos e fatores de produção, das atividades a desenvolver e das oportunidades para as promover, contribuindo assim para a sustentabilidade – ambiental e económica - da atividade agrícola. Em boa hora, pois, foi esta disciplina inserida no novo curso de Agronomia da Universidade de Évora, na reformulação curricular decorrente da implementação do processo de Bolonha. Terão pois os responsáveis pela referida reformulação curricular entendido bem – pelo menos no caso da presente disciplina – a necessidade de o conhecimento tecnológico ser cientificamente fundamentado, não se promovendo a aplicação empírica de soluções tabeladas ou padronizadas para os problemas agronómicos. De facto, tendo o processo de Bolonha reduzido a 3 anos o ciclo inicial de formação superior, em quase todos os domínios da formação, tecnológica ou não, é grande a tentação de considerar, para essa formação mais curta, os mesmos objetivos curriculares das antigas formações longas, de cinco ou seis anos. É um erro grosseiro, que a Universidade não pode cometer. Por outro lado, não competem à Universidade, em cursos de 1º ciclo, formações aplicativas de natureza politécnica, em que os temas e os problemas são conhecidos de forma essencialmente parcial e as soluções que se lhes apontam, de caráter aplicativo imediato, se fundamentarão mais num conhecimento empírico que num enquadramento científico. Por mais aliciante e útil que seja (como se reconhece que é) esta formação politécnica, ela é da responsabilidade do ensino politécnico. À Universidade cabe um papel e uma responsabilidade substancialmente diferentes: proporcionar aos seus alunos as competências para, compreendendo os problemas no seu enquadramento global, fundamentando-os cientificamente, lhes procurar soluções otimizadas e inovadoras, num processo que engloba não só o projeto dos sistemas de produção, mas também a promoção de decisões e soluções de desenvolvimento. Para cumprir este seu papel essencial, a Universidade deve proporcionar aos seus alunos, desde o 1º ciclo, hábitos de rigor conceptual e percetivo, de pensamento cientificamente estruturado e informado, que conferem a competência para o desenvolvimento de soluções sustentáveis para os problemas tecnológicos. É neste caminho que a disciplina de Hidrologia Agrícola se estruturou. O presente texto, em 9 capítulos elaborados pelos professores que os têm lecionado, é uma concretização evidente dos objetivos definidos para esta unidade curricular. Ele facilitará ao estudante a aquisição de conhecimentos e competências que são bases para a gestão da água na Agricultura, facilitando também a ligação a outras disciplinas, em especial a de Recursos Hídricos e Regadio, que é sequente no plano de estudos do curso, mas também às optativas Sistemas e Equipamentos de Rega e Drenagem e Conservação do Solo e da Água - que de alguma forma continuam, aplicam e complementam a Hidrologia Agrícola. Deve no entanto sublinhar-se aqui que o interesse desta unidade curricular transcende a formação imediata de 1ºciclo, em que se insere, para conferir conhecimentos científicos e competências para a atividade agronómica mais vasta. Este programa abrange o conhecimento geral do ciclo da água, incluindo o balanço hídrico do solo, e a caraterização da bacia hidrográfica, unidade geomorfológica da gestão dos recursos hídricos. Por se tratar de um programa da Hidrologia Agrícola, dá-se grande relevo a aspetos do clima, aos fatores da sua formação e à sua classificação, salientando-se a dependência que a agricultura tem em relação ao clima e, no sentido contrário, os impactos que as atividades humanas, nomeadamente as agrícolas, têm sobre o clima. Estudam-se depois, individualmente, os componentes hidrológicos fundamentais – a precipitação, o escoamento superficial e subterrâneo, a evaporação e a evapotranspiração – elementos para a quantificação numérica dos recursos hídricos e a avaliação da sua disponibilidade, nomeadamente para a Agricultura. Complementarmente, estudam-se ainda dois componentes hidroagrícolas extremamente relevantes, por se tratar de uma disciplina do curso de Agronomia: são as relações solo – água – planta e a gestão da água no regadio. Trata-se de um excelente programa, bem adequado à natureza do tema e ao objetivo agronómico do seu estudo. O presente livro, com o desenvolvimento que dá ao programa, constituirá por certo uma ferramenta preciosa no apoio ao trabalho dos estudantes. Deve contudo notar-se que o tratamento dado ao tema da Hidrologia Agrícola ao longo dos diferentes capítulos, equilibrando sabiamente o aprofundamento científico de cada um dos temas específicos com a apresentação sóbria e a exposição clara e com a orientação para a compreensão efetiva dos problemas hidroagrícolas e agronómicos, confere a este livro interesse muito grande para estudantes de outras disciplinas afins ao estudo dos recursos hídricos e para técnicos e profissionais interessados na vastíssima problemática da Hidrologia e dos Recursos Hídricos. Universidade de Évora, Novembro de 2012. Ricardo Paulo Serralheiro Professor Catedrático Índice Capítulo 1 Ciclo Hidrológico 1. Conceitos gerais 2. Equação clássica da hidrologia 3. Distribuição da água na Terra 4. Referências Bibliográficas 1 2 3 4 Capítulo 2 Bacia hidrográfica 1. Conceitos gerais 2. Delimitação de uma bacia hidrográfica 3. Caracterização fisiográfica da bacia hidrográfica 3.1 Características geométricas 3.1.1. Área de drenagem 3.1.2. Forma da bacia Coeficiente de compacidade Fator de forma 3.2 Características do sistema de drenagem 3.2.1. Constância do escoamento 3.2.2. Classificação dos cursos de água Classificação decimal Classificação Horton-Strahler 3.2.3. Densidade de drenagem 3.3 Características do relevo 3.3.1. Altitude média 3.3.2. Altura média 5 7 7 8 8 8 9 9 10 10 11 11 12 13 13 14 14 3.3.3. Curva hipsométrica 3.3.4. Retângulo equivalente 3.3.5. Índice de declive da bacia 3.3.6. Perfil longitudinal do curso de água 3.3.7. Declive médio do curso de água 3.4. Tempo de concentração 3.5. Geologia, solos e coberto vegetal 4. Exemplo de aplicação 5. Referências Bibliográficas 14 16 17 18 18 18 19 20 21 Capítulo 3 Clima e estado do tempo. Fatores e elementos do clima. Classificação do clima 1. Sistema climático, clima e estado do tempo 2. Cartas Sinópticas e normais Climatológicas 3. Variabilidade do tempo e do clima 4. Fatores do clima 4.1. Fatores externos ao sistema climático 4.1.1. Variação orbital da Terra 4.1.2. Atividade solar 4.1.3. Impacto de meteoritos 4.1.4. Deriva dos continentes e a tectónica de placas 4.1.5. Atividade vulcânica 4.2. Fatores internos ao sistema climático 4.2.1. Albedo 4.2.2. Composição atmosférica e variação da concentração dos seus componentes 4.2.3. Intercâmbio de energia entre massas de água e atmosfera 4.2.4 Circulação da atmosfera/massas de ar 4.2.5 Correntes marítimas 4.2.6 Continentalidade / Maritimidade 4.2.7 Fisiografia 4.2.8 Vegetação 4.2.9 Impactes antropogénicos 5. Elementos Climáticos 5.1. Generalidades 5.2. Radiação solar global e radiação líquida 23 24 25 27 28 28 30 31 31 32 32 33 34 36 37 39 40 41 41 42 46 46 46 5.3. Insolação e Nebulosidade 5.4. Temperatura do ar 5.5. Precipitação 5.6. Humidade do Ar 5.7. Evaporação e evapotranspiração 5.8. Pressão atmosférica 5.9. Vento 6. Classificações climáticas 6.1. Tipos de Classificações 6.2. Classificação Climática de Köppen 6.3. Classificação Racional dos Climas de Thornthwaite 7. Exercícios 8. Referências Bibliográficas ANEXOS LISTA DE SIMBOLOS 48 49 50 51 54 55 57 58 58 60 66 69 71 74 78 Capítulo 4 Precipitação 1. Generalidades 2. Classificação das precipitações 2.1 Precipitações convectivas 2.2 Precipitação orográficas 2.3 Precipitações ciclónicas ou frontais 3. Medição da precipitação 3.1 Aparelhos de medição da precipitação 3.2 Rede udométrica 3.3 Precipitação em área 4. Distribuição espaço-temporal da precipitação 4.1 Estruturas espaço-temporais da precipitação 4.2 Tendência da variação espacial 4.3 Postos udométricos virtuais. 5. Preenchimento de falhas nos registos 5.1 Média aritmética 5.2 Rácio médio (U.S. Weather Bureau) 5.3 Inverso da distância 5.4 Correlação 81 83 83 83 84 85 86 89 91 93 94 95 97 98 99 99 99 99 6. Análise da qualidade dos dados 6.1 Verificação da consistência 6.2 Verificação da homogeneidade 7. Distribuição temporal da precipitação 7.1 Análise de séries de precipitação anual 7.2 Análise das séries de precipitação mensal 8. Precipitações intensas 8.1 Introdução 8.2 Curvas de possibilidade udométrica 8.3 Relação entre a precipitação, duração e a área 8.4 Hietograma de projeto 9. Referências Bibliográficas 100 100 103 105 105 106 108 108 110 111 112 118 Capítulo 5 Escoamento Superficial 1. Conceitos gerais 2. Processo de escoamento 3. Componentes do escoamento 4. Fatores do escoamento 4. 1. Fatores climáticos Fatores relativos à precipitação Fatores condicionantes da evapotranspiração 4. 2. Fatores fisiográficos 5. Medição do escoamento de superfície 5.1. Método da secção - velocidade 5.2. Método estrutural 6. Curva de Vazão 7. Registo dos níveis hidrométricos 7.1. Estabelecimento de uma rede hidrométrica 7.2. Estimação do escoamento na ausência de medições hidrométricas 8. Exemplos de aplicação 9. Referências Bibliográficas 119 120 122 123 123 123 123 124 124 125 128 128 130 130 131 132 132 Capítulo 6 Águas Subterrâneas e Agricultura 1. Introdução 2. Caraterização dos aquíferos 3. Caraterísticas hidráulicas dos recursos hídricos subterrâneos 4. Uso da água subterrânea na agricultura 5. Qualidade da água subterrânea para rega 6. Contaminação de águas subterrâneas por atividades agrícolas 6.1 Comportamento hidroquímico do azoto (N) 7. Conclusões 8. Exercícios 9. Referências Bibliográficas 133 136 138 141 144 146 147 150 151 151 Capítulo 7 Relações Solo-Água-Planta 1. Introdução 2. Água, solo e planta 2.1 Molécula e propriedades da água 2.2 Arquitetura do solo 2.2.1 Textura 2.2.2 Estrutura 2.2.3 Massa volúmica real, aparente e porosidade do solo 2.3 Arquitetura da planta 3. Indicadores de teor de água 3.1 Teor de água no solo 3.1.1 Humidade gravimétrica 3.1.2 Humidade volumétrica 3.1.3 Grau de saturação 3.1.4 Perfil hídrico e volume de água armazenado no perfil do solo 3.2 Teor de água na planta 3.2.1 Percentagem de água 3.2.2 Conteúdo hídrico relativo 4. Indicadores do estado energético da água 153 153 154 155 158 161 163 167 171 172 173 174 174 175 176 177 177 177 4.1 Potencial energético da água no solo 4.1.1 Potencial e carga hidráulica 4.1.2. Potencial e carga hidráulica em meio poroso saturado 4.1.3 Potencial e carga hidráulica em meio poroso não saturado 4.1.3.1 Relações entre teores de humidade e potencial de água no solo 4.1.3.2 Valores especiais de humidade e de potencial 4.2 Potencial energético da água na planta 4.2.1 Potencial Osmótico 4.2.2 Potencial de Pressão 4.2.3 O Potencial Hídrico 5. Fluxos e transporte de água 5.1 Conceitos 5.2 Fluxos por difusão – Processos de absorção e transpiração 5.3 Fluxos de massa 5.3.1 Movimento de água em solo saturado 5.3.2 Movimento de água em solo não saturado 5.3.3 Movimento de água no xilema e no floema 6. Referências Bibliográficas 178 178 180 180 181 183 183 185 186 186 190 190 191 196 196 197 199 203 Capítulo 8 Evaporação e evapotranspiração 1. Definições 2. Fatores intervenientes 2.1 Fatores climáticos 2.2 Fatores físicos 2.3 Fatores da vegetação 2.4 Fatores do solo 3. Medição da evaporação e da evapotranspiração 3.1 Evaporímetros de tina ou de tanque 3.2 Atmómetros 4. Cálculo da evaporação por meio de balanço hidrológico 5. Medição da evapotranspiração 6. Fórmulas empíricas para determinação da evapotranspiração 6.1 Fórmula de Thornthwaite 6.2 Fórmula de Turc 6.3 Método de Penman Modificado 205 207 207 208 208 209 209 209 211 213 213 214 214 216 217 6.4 Método de Penman-Monteith 7. Evapotranspiração cultural 8. Evapotranspiração real 9. Referências Bibliográficas 220 222 222 223 Capítulo 9 Gestão da água no Regadio 1. Introdução 2. Gestão com base na evapotranspiração 2.1. Recolha de informação para gestão com base na evapotranspiração 2.2. Cálculo do Kc com base em índices de vegetação 3. Gestão com base no teor de água no solo 3.1. Gestão baseada no balanço hídrico do solo 3.2. Gestão baseada na medição direta de água no solo 3.3. Gestão baseada na medição indireta de água no solo Bolbo de porcelana e tensiómetros Condutividade elétrica: Watermark Sondas TDR e Capacitivas 4. Gestão com base no estado hídrico da planta 225 226 228 229 230 230 234 234 235 236 236 237 Tensão da água na planta, \w Temperatura folhar 5. Exercícios 6. Referências Bibliográficas ANEXOS 237 238 241 243 243