Os Solos Não Saturados: Aspectos Teóricos, Experimentais e Aplicados Fernando Antônio Medeiros Marinho Texto apresentado à Escola Politécnica Universidade de São Paulo para Concurso de Livre-Docência especialidade "Geomecânica" Departamento de Engenharia Estruturas e Fundações Fevereiro de 2005 da o na do de “Nam qui putat esse turpe non reddere non vult esse cui reddat.” (Seneca) Quem julga vergonhoso retribuir desejaria que não houvesse pessoa a quem fosse agradecido. Agradecimentos Este trabalho é certamente um trabalho de várias pessoas. Embora ele espelhe um trabalho relativamente recente ele é fruto de detalhes advindos de muitos colaboradores aos quais agradeço e os tenho na minha mente e no coração. Eu agradeço a todos aqueles que no momento em que: lerem, manusearem ou mesmo ouvirem falar deste trabalho, possam dizer: “eu tomei parte disto”. Agradeço a toda minha família e em particular aos meus pais. Agradeço as minhas filhas Juliana e Lívia, por serem fontes de minha inspiração de vida. 1 PREFÁCIO 11 1. 12 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 2. 2.1. 2.2. 3. INTRODUÇÃO O MUNDO QUE NOS CERCA O CLIMA OS SOLOS A VIDA A ÁGUA NOS MATERIAIS POROSOS PRESSÃO NA ÁGUA DOS SOLOS QUANTIDADE DE ÁGUA NOS SOLOS A TERMODINÂMICA DOS SOLOS NÃO SATURADOS 13 14 18 19 21 21 22 24 3.1. PRESSÃO ATMOSFÉRICA 3.2. A UMIDADE RELATIVA DO AR 3.2.1. “Um higrômetro singular” 3.2.2. Psicrômetros 3.2.2.1. O psicrômetro caseiro 3.2.2.2. O psicrômetro industrializado 3.3. A UMIDADE RELATIVA E A SUCÇÃO 24 25 27 28 28 28 29 4. 31 A MEDIÇÃO DA SUCÇÃO E O TEOR DE UMIDADE EM SOLOS 4.1. MÉTODOS DE MEDIÇÃO E CONTROLE DA SUCÇÃO 4.1.1. Tensiômetros 4.1.2. Papel filtro 4.1.3. Placa de sução 4.1.4. Placa de pressão 4.2. MEDIDOR DE TEOR DE UMIDADE (TDR) 4.2.1.1. Princípio de funcionamento 4.2.1.2. Unidade de leitura do TDR 4.2.2. Calibração 4.2.2.1. Efeito do comprimento da haste 4.2.2.2. Efeito da penetração da haste 4.2.2.3. Efeito do contato das hastes com o solo 4.2.2.4. Efeito das condições no entorno das hastes 31 32 36 39 41 43 43 46 47 53 54 56 61 5. 63 A CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA 5.1. O SIGNIFICADO DOS FENÔMENOS ENVOLVIDOS 5.2. MODELOS MATEMÁTICOS PARA A CURVA DE RETENÇÃO. 5.2.1. Modelo de previsão da curva de retenção em materiais plásticos. 5.2.1.1. Solos considerados na criação do modelo 5.2.1.2. Obtenção da curva de retenção com o modelo 5.2.1.3. Aplicando o método a dados da literatura 63 66 66 67 70 71 2 5.3. COMPORTAMENTO DE RETENÇÃO DE ÁGUA EM MATERIAIS POROSOS 5.3.1. Materiais não plásticos 5.3.2. Materiais plásticos 5.3.3. Solos residuais 5.4. CARACTERÍSTICAS DE MATERIAIS POROSOS ARTIFICIAIS 6. 6.1. 6.2. 6.3. 7. O ESTADO DE TENSÃO EM SOLOS NÃO SATURADOS TENSÃO EFETIVA A EFETIVIDADE DA SUCÇÃO VARIÁVEIS DE ESTADO DE TENSÃO EM SOLOS NÃO SATURADOS A RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO EM SOLOS NÃO SATURADOS 73 73 77 87 96 102 102 104 108 110 7.1. TEORIA DA RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO EM SOLOS NÃO SATURADOS 7.2. RESISTÊNCIA NÃO CONFINADA DE SOLOS NÃO SATURADOS 7.2.1. Solos utilizados no estudo 7.2.1.1. Características físicas 7.2.1.2. Preparação das amostras 7.2.2. Medição de sucção 7.2.3. Ensaio de compressão não confinada 7.3. ENSAIOS TRIAXIAIS COM MEDIÇÃO DIRETA DE SUCÇÃO 111 113 114 114 114 115 116 120 8. O FLUXO EM MEIOS NÃO SATURADOS 128 8.1. FLUXO DE ÁGUA 8.1.1. Lei de fluxo 8.1.2. Função de permeabilidade 8.1.3. Determinação da função de permeabilidade 8.1.4. O método de evaporação de Wind 8.1.5. Procedimento de cálculo proposto por Wind 8.1.6. Resultados obtidos 8.2. FLUXO DE AR 8.2.1. Caracterização do solo 8.2.2. Curvas de retenção 8.2.3. Permeabilidade à água – solo saturado 8.2.4. Permeabilidade ao ar – solo não saturado 8.2.5. Modelo de Brooks & Corey 8.2.6. Aplicação da função de permeabilidade à água 8.2.7. Aplicação da função de permeabilidade ao ar 128 128 130 131 132 133 135 138 139 140 141 141 142 144 145 9. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS DA MECÂNICA DOS SOLOS NÃO SATURADOS 147 9.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA 9.2. TALUDES 9.2.1. O talude estudado 9.2.2. Instrumentação utilizada 9.2.3. Resultados obtidos 9.3. MINERAÇÃO 9.3.1. Objetivos e ações dos estudos 147 152 152 156 157 162 163 3 9.3.2. Caracterização do problema 9.3.3. Características dos minérios 9.3.4. Caracterização física do problema 9.3.5. Análise numérica 9.4. BARREIRAS EVAPOTRANSPIRATIVAS 9.4.1. Conceitos básicos 9.4.2. Objetivo dos estudos 9.4.3. Monitoramento 9.4.4. Ensaios de colunas com camadas mistas 9.4.5. Andamento dos estudos e perspectivas 163 165 165 170 173 174 178 179 179 181 10. 184 10.1. 10.2. 10.3. 10.4. 10.5. 10.6. 11. CONCLUSÕES MEDIÇÃO DE TEOR DE UMIDADE E SUCÇÃO A CURVA DE RETENÇÃO RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO FLUXO DE ÁGUA FLUXO DE AR APLICAÇÕES REFERÊNCIAS 184 185 185 186 186 187 188 4 Índice de Figuras Figura 1.1 - Variação da temperatura em diversos ambientes.__________________ 16 Figura 1. 2 - Variação da temperatura no interior do solo em comparação com a temperatura externa, para vários dias. ____________________________________ 17 Figura 1.3 - Acompanhamento da variação de temperatura em um dia. __________ 17 Figura 1.4 - Processo de intemperismo nas rochas e formação dos solos. _________ 19 Figura 1.5 – Integração de projetos com contribuição geotécnica para a vida (Projetos da CODEVASF).______________________________________________________ 20 Figura 2.1 - Perfil de pressão em solos saturados. ___________________________ 21 Figura 3.1 – Conceitos utilizados na medição de pressão (van Wylen et al, 1994). __ 24 Figura 3.2 – Conceitos de pressão relativa e absoluta (Marinho 1997). __________ 25 Figura 3.3 - Psicrômetro “caseiro”. ______________________________________ 28 Figura 3.4 - Relação entre RH e a sucção __________________________________ 30 Figura 4.1 – Variação da sução em resposta à elevação da pressão confinante.(Marinho et al., 2002)_________________________________________ 35 Figura 4.2 – Ensaios de resistência não confinada com medição de sucção. _______ 36 Figura 4.3 – Curvas de calibração do papel filtro ___________________________ 38 Figura 4.4 – Sistema de aplicação de sucção na placa de sucção. _______________ 40 Figura 4.5 – Representação da translação de eixos em termos de pressão. ________ 41 Figura 4.6 – Esquema do sistema da placa de pressão da EPUSP. ______________ 42 Figura 4.7 – Efeito da mudança de meio na onda eletromagnética. ______________ 44 Figure 4.8 – Dados experimentais da relação entre Ka e θ para quatro solos.______ 44 Figura 4.9 – Forma da onda quando a haste está inserida em um solo. ___________ 45 Figura 4.10 – Componentes do sistema TDR. _______________________________ 46 Figura 4.11 – Seqüência usada na calibração do TDR. _______________________ 48 Figura 4.12 – Dados da calibração do TDR para diversas densidades. ___________ 49 Figura 4.13 – Curva de calibração do TDR ________________________________ 50 Figura 4.14 – Relação teórica entre a densidade seca e o teor de umidade com a delimitação da região de calibração.______________________________________ 50 Figura 4.15 – Comparação entre a calibração do solo residual e dados de um solo laterítico. ___________________________________________________________ 51 Figura 4.16 – Comparação entre diversas equações de ajuste e a obtida no presente trabalho. ____________________________________________________________ 52 Figura 4.17 – Material para verificação do efeito do comprimento da haste _______ 53 Figura 4.18 – Efeito do comprimento de haste na obtenção da constante dielétrica (solo residual) ____________________________________________________________ 54 Figura 4.19 – Procedimento para avaliação do efeito do comprimento de inserção da haste do TDR. ________________________________________________________ 55 Figura 4.20 – Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para a haste de 20cm, com dois teores de umidade (efeito do comprimento da haste inserido no solo). 56 Figura 4.21 – Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para as hastes de 20cm e 14cm. (Efeito do contato e da inserção). _____________________________ 57 Figura 4.22 - Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para duas condições de compactação (efeito da inserção e do contato). ___________________________ 58 Figura 4.23 - Variação de Ka com o número de reinserções da haste no solo.______ 58 Figura 4.24 – Detalhes das “falhas” no contato da haste com o solo (ρd = 1.44g/cm3 θ = 37%)._____________________________________________________________ 59 Figura 4.25 – Detalhes das “falhas” no contato da haste com o solo (ρd = 1.40g/cm3 θ = 35%)._____________________________________________________________ 60 5 Figura 4.26 - Detalhes da haste escavada (ρd = 1.6g/cm3 θ =39%). _____________ 60 Figura 4.27 – Variação de Ka em função da distância da haste a outro meio. ______ 61 Figura 5.1 – Perfis de pressão e de umidade em uma coluna de solo. ____________ 64 Figura 5.2 - Forma geral da curva de retenção de acordo com a distribuição de poros (Marinho, 2005). _____________________________________________________ 65 Figura 5.3 – Carta de plasticidade com os solos analisados. ___________________ 68 Figura 5.4 – Relação entre a capacidade de sucção (C) e o limite de liquidez. _____ 69 Figura 5.5 –Teor de umidade normalizado com a capacidade de sucção em função da sucção. _____________________________________________________________ 70 Figura 5.6 – Gráfico para determinação dos parâmetros do modelo. ____________ 71 Figura 5.7 – Resultado da aplicação do modelo a dados da literatura. ___________ 72 Figura 5.8 – Curva de retenção da areia de São Vicente. ______________________ 73 Figura 5.9 – Curva granulométrica da areia de São Vicente. ___________________ 74 Figura 5.10 – Curva de retenção de alguns minérios de ferro. __________________ 75 Figura 5.11 – Curvas granulométricas de três minérios de ferro. _______________ 75 Figura 5.12 – Curvas de retenção de três areias industriais. ___________________ 76 Figura 5.13 – Curva granulométrica das areias AN1500U, AN1000GO e AN0306G. 77 Figura 5.14 – Curvas granulométricas de alguns solos. _______________________ 78 Figura 5.15 – Curvas granulométricas de argilas de Londres. __________________ 79 Figura 5.16 – Argila de barragem de Carsington dinamicamente compactada _____ 80 Figura 5.17 – Argila de Londres durante secagem e umidecimento. _____________ 81 Figura 5.18 – Aspecto esquemático das duas amostras de argila do Janga ensaiadas. 81 Figura 5.19 – Argila do Janga estaticamente compactada com duas estruturas. ____ 82 Figura 5.20 – Argila de Londres indeformada 1 e 1.45m.______________________ 83 Figura 5.21 - Argila de Londres indeformada 2 e 2.45m. ______________________ 84 Figura 5.22 - Argila de Londres indeformada 3 e 3.45m. ______________________ 85 Figura 5.23 – Argila de Queensborough indeformada ________________________ 86 Figura 5.24 – Argila de Boom estaticamente compactada _____________________ 87 Figura 5.25 – Curva granulométrica do solo residual de gnaisse________________ 88 Figura 5.26 – Resultados de ensaios de secagem para diversas energias de compactação (Marinho & Stuermer, 2000). ________________________________ 89 Figura 5.27 – Relação entre o grau de saturação e a sucção para amostras moldadas com diferentes teores de umidade. ________________________________________ 90 Figura 5.28 – Efeito do confinamento na curva de retenção (solo residual) _______ 92 5.29 – Variação dos ponto de entrada de ar (AE e GAE) em função da tensão confinante. __________________________________________________________ 92 Figura 5.30 – Curvas de retenção do solo residual indeformado de várias profundidades. _______________________________________________________ 93 Figura 5.31 – Análise porosimétrica baseada na curva de retenção (a) curvas de retenção (b) distribuição de poros (c) relação teórica entre raio do poro e sucção (d) valores de α, AE e GAE para as diversas amostras. __________________________ 94 Figura 5.32 - Curvas de retenção de misturas de argila de Londres com areia. ____ 96 Figura 5.33 – Variação da capacidade de sucção (C) com o limite de liquidez. ____ 97 Figura 5.34 – Curvas de retenção para uma mistura de caulim e areia (Dados de Oliveira 2002). _______________________________________________________ 98 Figura 5.35 – Resultados obtidos com uma mistura de caulim com areia (a) curva de retenção e ajustes (b) distribuição de poros. (dados de Oliveira 2002). ___________ 99 Figura 5.36 – Aplicação do modelo de Brooks e Corey à mistura caulim e areia. (dados de Oliveira 2002).____________________________________________________ 100 6 Figura 5.37 – Análise comparativa entre o método de porosimetria de mercúrio e o método utilizando a curva de retenção de água. ____________________________ 101 Figura 6.1 – Influência da tensão externa e da sucção nas forças interpartículas (modificado de Wheller & Karube, 1995). _________________________________ 103 Figura 6.2 – Associação entre a distribuição granulométrica e a capacidade de retenção de água. ____________________________________________________ 104 Figura 6.3 – Associação entre os limites físicos e o comportamento do solo no estado não saturado. _______________________________________________________ 105 Figura 6.4 - Relação entre a contração volumétrica, a pressão efetiva mecanicamente aplicada, a sucção e o potencial gravitacional (modificado de Blight, 1965). _____ 106 Figura 6.5 – Relação entre a resistência não drenada e a resistência confinada para um caulim e argila de Londres (Modificado de Bishop et al, 1975).________________ 107 Figura 6.6 – Efeito da sucção no módulo cisalhante GUBE (Marinho et al., 1995). _ 108 Figura 7.1 – Diagrama esquemático de ensaios em solo saturado e não saturado baseado em ensaios apresentados por Bishop & Blight (1963). ________________ 112 Figure 7.2 – (a) Características de compactação dos diversos solos para o ensaio (b) característica dos corpos de prova do solo residual após compactação e na condição de ensaio._____________________________________________________________ 115 Figura 7.3 – Relação entre os valores de teor de umidade e sucção dos corpos de prova antes do ensaio (Oliveira, 2004). ________________________________________ 116 Figura 7.4 – Relação entre Su and sucção. ________________________________ 117 Figura 7.5 – Relação entre Su e (w-wopt)/Ip. mostrando a sucção inicial. _________ 117 Figura 7.6 – Relação entre Su e (w-wopt)/Ip. incluindo todos os dados disponíveis.__ 118 Figure 7.7 – Resistência não drenada normalizada versus (w-wopt)/Ip.___________ 119 Figura 7.8 - Relação entre Su e o índice de vazios inicial para uma dada sucção (válido para o teor de umidade ótimo). _________________________________________ 119 Figura 7.9 – Variação da sucção medida com o tensiômetro em função do tempo obtida de um ensaio triaxial CW não saturado. (Oliveira, 2004) _____________________ 121 Figura 7.10 – Resultados dos ensaios triaxiais não saturados obtidos dos corpos de prova moldados na umidade ótima e ensaiados com confinamento de 300 kPa (Oliveira, 2004). _____________________________________________________________ 122 Figura 7.11 – Representação esquemática das etapas seguidas pelos corpos de prova nos ensaios triaxiais não saturados (CW) (modificado de Oliveira, 2004). _______ 123 Figura 7.12 – Trajetória de tensão (a) visão tridimensional (b) rebatimento no plano. __________________________________________________________________ 123 Figura 7.13 – Trajetórias de sucção rebatidas, obtidas em corpos de prova moldados na umidade ótima (ponto O). ___________________________________________ 124 Figura 7.14 – Projeções dos pontos de ruptura para as diversas pressões confinantes e nas três condições de moldagem. ________________________________________ 125 Figura 7.15– Valores das sucções após confinamento e na ruptura obtidos dos ensaios triaxiais CW não saturados realizados em corpos de prova moldados na umidade ótima (Oliveira, 2004). _____________________________________________________ 126 Figura 7.16– Envoltórias rebatidas para os corpos de prova moldados na umidade ótima, ramo seco e ramo úmido. ________________________________________ 127 Figura 7.17– Representação da superfície de ruptura correspondente às condições de moldagem na umidade ótima.___________________________________________ 127 Figura 8.1 – Esquema dos diversos componentes do método de Wind.___________ 133 Figura 8.2 – Fluxograma do procedimento de cálculo da função de permeabilidade utilizando o processo iterativo proposto por Guimarães(2004). ________________ 135 7 Figura 8.3 – Comparação entre as curvas de retenção obtidas através das duas metodologias utilizadas (AR-100) _______________________________________ 136 Figura 8.4 – Resultados experimentais e curva do modelo de van Genutchen (1980) para a areia (AR-100) ________________________________________________ 137 Figura 8.5 - Curva granulométrica do solo. _______________________________ 139 Figura 8.6 – Curvas de compactação das séries de amostras. _________________ 140 Figura 8.7 – (a) Curva de retenção (b) Estado volumétrico inicial dos corpos de prova. __________________________________________________________________ 141 Figura 8.8 – (a) Curva de compactação das séries de amostras (A,B e C) (b) Permeabilidades experimentais do solo à água e ao ar em função dos teores de umidades iniciais dos corpos de prova ensaiados. __________________________ 142 Figura 8.9 – (a) Relação entre o grau de saturação efetivo e a sucção matricial (b) Aplicação do modelo de Brooks e Corey.__________________________________ 143 Figura 8.10 – Funções de permeabilidades não saturadas e as permeabilidades experimentais à água do solo saturado ___________________________________ 144 Figura 8.11 – Permeabilidade experimental do solo ao ar versus sucção inicial estimada e grau de saturação inicial, mostrando o resultado da previsão através do modelo de Brooks e Corey._____________________________________________ 146 Figura 9.1 – Posicionamento dos tensiômetros em planta. ____________________ 153 Figura 9.2 – Posicionamento dos tensiômetros na seção do talude. _____________ 153 Figura 9.3 – Resultados do monitoramento dos tensiômetros instalados e do nível d´água local (Vieira, 1999). ____________________________________________ 158 Figura 9.4 – Perfis de sucção em determinados dias. ________________________ 159 Figura 9.5 – Perfis horizontais de sucção _________________________________ 160 Figura 9.6 – Perfis de sucção inferidos dos resultados obtidos com o monitoramento. __________________________________________________________________ 161 Figura 9.7 – Navios partindo do porto de Bann na Irlanda do Norte. ___________ 162 Figura 9.8 – Conceito de eqüilíbrio na coluna _____________________________ 166 Figura 9.9 – Caracterização física do problema (a) minério com teor de umidade e início do processo de drenagem (b) água acumulada na base e fim da drenagem. _ 166 Figura 9.10 – Perfis de sucção durante o processso de drenagem.______________ 167 Figura 9.12 – Coluna de PVC usada nos ensaios de simulação.________________ 168 Figura 9.13 – Dados experimentais da curva de retenção de um minério de ferro e curvas do modelo de van Genutchen._____________________________________ 170 Figura 9.14 – Dados experimentais da coluna e resultado da análise numérica mostrando a variação do teor de umidade com a profundidade.________________ 171 Figura 9.15 - Resultado da análise numérica mostrando a variação da sucção com a profundidade. _______________________________________________________ 172 Figura 9.16 - Sistema de barreira capilar com duas camadas (modificado de Lu & Likos, 2004) ________________________________________________________ 176 Figura 9.17 – Equilíbrio hidrostático da água capilar na interface entre o solo fino e o solo grosso. (modificado de Lu & Likos, 2004). ____________________________ 176 Figura 9.18 – Detalhes da coluna 1______________________________________ 179 Figura 9.19 – Perfis de solo das barreiras capilares executadas._______________ 180 Figura 9.20 –Distribuição de instrumentos nas colunas de solo ensaiadas. _______ 181 Figura 9.21 – Medidas de teor de umidade volumétrico e sucção no processo de infiltração e evaporação da coluna 1. ____________________________________ 182 Figura 9.22 – Curvas de retenção e função de permeabilidade dos materiais da coluna 1. _________________________________________________________________ 183 8 Índice de Tabelas Tabela 4.1 – Marcos dos trabalhos sobre medição de sucção. __________________ 32 Tabela 4.2 – Características do papel filtro Whatman 42. _____________________ 37 Tabela 4.3 – Valores de Ka em areia para diversas situações com a pedra porosa do tensiômetro próxima a haste (20cm). ______________________________________ 62 Tabela 5.1 – Solos analisados para o modelo _______________________________ 67 Tabela 5.2 – Dados da literatura e parâmetros do modelo. ____________________ 71 Tabela 5.3 - Características das amostras__________________________________ 94 Tabela 7.1 – Características dos solos usados nos ensaios de compressão não confinada. __________________________________________________________ 114 Tabela 8.1 - Métodos para determinação da função de permeabilidade (Guimarães, 2004). _____________________________________________________________ 131 Tabela 8.2 - Caracterização do solo. _____________________________________ 139 Tabela 8.3 - Identificação das amostras. __________________________________ 140 Tabela 9.1- Propriedades físicas do solo estudado.__________________________ 154 Tabela 9.2- Limites máximos adotados para cada tensiômetro. ________________ 157 Tabela 9.3 – Características de compactação das colunas de solo. _____________ 180 9 Índice de Fotos Foto 4.1 – Tensiômetro de alta capacidade (TAC) da EPUSP. __________________ 34 Foto 4.2 – Placa de sucção. Sistema para aplicação de desnível relativo a 0 e 30kPa e Sistema para aplicação de desnível entre 0 e 5kPa. __________________________ 40 Foto 4.3. – Placas de pressão desenvolvidas no LMS _________________________ 42 Foto 5.1 – Imagens de microscopia eletrônica obtidas de corpos de prova moldados na curva de compactação. _________________________________________________ 91 Foto 9.1 – Vista do talude estudado______________________________________ 155 Foto 9.2 – Execução do poço de monitoramento ____________________________ 155 Foto 9.3 – Retirada de bloco indeformado. ________________________________ 155 Foto 9.4 – Retirada de amostra e colocação do papel filtro para medição de sucção.156 Foto 9.5 – Armazenamento do minério em Carajás. _________________________ 163 Foto 9.6– Água drenando da pilha de minério estocada no campo. _____________ 164 Foto 9.7 - Carregamento do minério nos vagões. ___________________________ 164 Foto 9.8 – Acúmulo de água dentro do porão do navio_______________________ 165 Foto 9.9 – Primeiro segmento da coluna com o minério. _____________________ 168 Foto 9.10 – Colocação do minério nos demais segmentos da coluna. ___________ 169 Foto 9.11 – Coluna montada com 3 m de altura.____________________________ 169 Foto 9.12 – Coluna e instrumentação instalada na coluna. ___________________ 181 10 Prefácio O presente trabalho é fruto dos meus estudos com solos não saturados, ou mais genericamente com materiais porosos no estado não saturado. Os objetivos deste trabalho são dois: apresentar a minha visão de como a mecânica dos solos deve ser abordada em complementação aos estudos convencionais da mecânica dos solos saturados, e apresentar diversos estudos baseados nos resultados de ensaios em material não saturado que são frutos das minhas pesquisas realizadas até o momento e também advêm de resultados da literatura reinterpretados. Em alguns pontos deste trabalho vai-se encontrar a apresentação de conceitos elementares, mas que são propositalmente “reapresentados” com o objetivo de guiar o leitor pelo caminho que considero mais adequado. O trabalho foi feito dentro do grupo de pesquisa em solos não saturados da EPUSP, o qual coordeno, e teve uma forte contribuição dos meus orientados, de iniciação científica, mestrado e doutorado, aos quais sou grato. 11 1. Introdução A agricultura é provavelmente a ciência que mais estudou o solo como elemento retentor de água. Hoje a ciência do solo ampliou seus horizontes e já não se restringe a aspectos relacionados unicamente com a agronomia. Conforme salientado por van Genuchten (1994) a ciência do solo (ou física do solo) tem contribuído para a solução de problemas relacionados com aspectos ambientais. É da ciência do solo que a mecânica dos solos não saturados se desenvolveu e nela se baseiam grande parte dos seus conceitos mais fundamentais. O termo solo não saturado que hoje é utilizado no português técnico, era até pouco tempo denominado solo parcialmente saturado. O termo solo parcialmente saturado vem do uso inglês do termo (partially saturated soils). Também do inglês temos a expressão “unsaturated soil”, que em português ganhou duas versões: solo insaturado e solo não saturado. Sendo esta última expressão a mais utilizada atualmente. A importância da mecânica dos solos não saturados reside não somente no fato de termos a grande maioria dos solos no estado não saturado, mas é também devida à necessidade de se compreender fenômenos que eram até pouco tempo desconsiderados nos projetos e nas análises de engenharia. Tais fenômenos tratam em sua grande maioria de aspectos ambientais, onde o meio ambiente é um elemento fundamental no comportamento do solo. Terzaghi (1923) foi provavelmente o primeiro a apresentar alguma conceituação da mecânica dos solos dentro de uma linguagem de engenharia. A mecânica dos solos não saturados pode ser dividida em seis tópicos nos quais grupos de pesquisa de todo o mundo enveredam. São eles: • • • • • • Conceitos básicos. Conceitos de comportamento mecânico e hidráulico. Medição de sucção. Aspectos experimentais. Modelos e análise numérica Aplicações práticas Nestes tópicos os aspectos experimentais são sem dúvida aqueles que regem a boa interpretação do comportamento dos materiais porosos não saturados. A compreensão dos conceitos básicos exige um bom conhecimento dos procedimentos para a obtenção dos parâmetros envolvidos com a teoria é este enfoque que pretende-se apresentar neste trabalho. 12 Os estudos que envolvem o desenvolvimento de modelos têm avançado significativamente, no entanto carecem de parâmetros adequadamente determinados e de comprovação com casos práticos. As análises numéricas são hoje uma ferramenta importante em todos os campos da engenharia. Nestes casos também os aspectos relativos à determinação de parâmetros e definição de condições de contorno, encontram dificuldades ainda maiores na mecânica ou hidráulica dos solos não saturados. Ainda com relação à determinação de parâmetros, os solos não saturados exigem, em geral, ensaios mais dispendiosos em termos de tempo e mais sofisticados em termos de equipamentos do que os ensaios para solos saturados. Os ensaios de resistência, de permeabilidade e de consolidação não têm sido facilmente assimilados pela prática da engenharia. Muitos grupos de pesquisa têm empreendido esforços para que métodos empíricos e semi-empíricos se desenvolvam. Muitos destes métodos possuem fundamentação teórica e podem ser utilizados sem traumas por aqueles mais puristas. Grande parte destes procedimentos semi-empíricos faz uso da característica de retenção de líquidos do material poroso. Esta característica de retenção de água do material é refletida na denominada curva de retenção ou curva característica do material. É por meio da curva de retenção que pretende-se explicar diversos fenômenos envolvidos com a mecânica dos solos não saturados. Como a capacidade de reter água em um material poroso é função não somente das características do próprio material, mas também depende de fatores climáticos e de outras características ambientais serão apresentados alguns conceitos importantes para compreensão do significado de retenção de líquido e sua relação com o meio. Como a mecânica dos solos não saturados ou a geotecnia dos solos não saturados tem cada dia mais interagido com diversas outras ciências, este texto pretende apresentar, além dos aspectos eminentemente geotécnicos, alguns aspectos interdisciplinares, que além de serem fundamentais para a compreensão dos diversos problemas nos deleita e instrui. 1.1. O mundo que nos cerca Somos afetados por inúmeros fenômenos da natureza e desde os primórdios da civilização tentamos controlá-los ou, ao menos, conviver com eles. Se ao mesmo tempo estes fenômenos podem nos causar danos, eles são vitais em outras circunstâncias. Dentre os fenômenos 13 com os quais mais nos relacionamos aqueles associados ao clima são os que mais necessitamos. (Demillo, 1998). Em muitos casos, não todos, é o clima que dita sobre a vida ou a morte dos seres vivos. O homem tem avançado pouco no sentido de controlar o clima. O homem quer controlar o clima. É o desejo deste controle que nos leva a estudar como conviver com climas adversos à determinadas situações. O meio ambiente é hoje uma das maiores preocupações da humanidade. Desta forma sempre que se necessita uma intervenção no que é “natural”, deve-se levar em conta as suas conseqüências. Esta preocupação com o meio ambiente é uma constante na geotecnia, pois o elemento principal de atuação é o solo. Sendo parte integrande da natureza o seu uso deve ser cuidadoso. Os solos e sua interação com o clima é o principal aspecto que condiciona a boa aplicação da mecânica dos solos não saturados. 1.2. O clima A humanidade sempre teve com o clima uma forte relação de dependência. Os modernos procedimentos para se avaliar as condições metereológicas, na verdade substituem os procedimentos rudimentares que de uma maneira ou de outra sempre se utilizou. Demillo (1998) faz referência a forma como os marinheiros se programam antes de suas viagens, ajustando os procedimentos para às previsões, e dos índios americanos que observando as árvores e a vida selvagem ajustavam sua rotina levando em conta as condições metereológicas. “O clima é indiscutivelmente a força individual mais poderosa na face da terra.” Para se ter uma noção de como o clima pode afetar obras civis e como estas obras podem levar em consideração o clima, é necessário se conhecer um pouco sobre o clima e a nossa atmosfera. Ainda baseado no trabalho de Demillo (1998), podemos fazer as considerações que se seguem. Na posição que nos encontramos na superfície do planeta terra quase não percebemos que o ar acima de nós possui um peso. Ao nível do mar, a coluna de moléculas que se estende por cerca de 400km, provoca uma pressão de 101.3kPa. Esta pressão é usada como unidade de medida, sendo adequandamente chamada de 1 atmosfera. Como curiosidade podemos lembrar que o equivalente em mercúrio nos daria uma coluna de apenas 77cm, ou o equivalente em água a uma coluna de 10m de altura. 14 É por meio do transporte vertical de água, através da evaporação e ascensão que as nuvens se formam. A umidade que fica retida no solo, ou está presente nos lagos, mares e oceanos sobe, formando as nuvens. Os padrões de vento locais movem a água para outra localidade onde ocorre a precipitação. São três os princípios que regem a formação das nuvens: Convecção: Tendo-se uma fonte de água, que pode ser o solo úmido, aquecido pelo sol, acontece a evaporação. A superfície aquecida faz aumentar a temperatura do ar que sobe levando o vapor de água. A quantidade de vapor de água que o ar pode conter depende da temperatura. Quanto maior a temperatura, maior a capacidade de reter água1. Ascensão orográfica: Neste caso o vapor de água sobe pelo impulso de subida associado a uma condição geográfica favorável. O vento impulsiona o ar úmido que ao encontrar uma montanha sobe, seguindo a topografia (e.g. A serra do mar). Ascensão dinâmica: A subida do ar se deve ao encontro de uma massa de ar frio. A maior densidade do ar frio levanta a massa quente, indo até o ponto de condensação. Não é só no planeta Terra que pode-se encontrar água. Porém, é na Terra que temos a água em todos os seus estados: sólido, líquido e gasoso. É interessante observar que a faixa de temperatura dos estados da água é muito estreita, e a quantidade de posições possíveis para a órbita de qualquer planeta que possibilite sua existência é muito pequena. É a grande quantidade de água do nosso planeta que tem profunda influência sobre o nosso clima. A movimentação de água por meio da formação de nuvens não é a única forma pela qual o sistema aqüoso afeta o clima. A energia acumulada nos oceanos se distribui por todo o planeta. Uma das maneiras desta energia se manifestar é pela presença de calor. O estudo da natureza do calor e de sua conversão em outras formas de energia chama-se termodinâmica. Os solos e as rochas armazenam muito pouca energia térmica. A energia transferida nos solos e rochas se dá basicamente por condução. Para ilustrar a condução térmica nos solos apresentam-se nas Figuras 1.1, 1.2 e 1.3 algumas medidas de temperatura feitas em solo residual de gnaisse. As medições foram feitas com um sensor do tipo PT100. Os dados foram obtidos no campo experimental de geotecnia da EPUSP, dentro de um projeto de pesquisa iniciado em 1996 e financiado pela FAPESP. 1 A 0oC a máxima quantidade de vapor de água é de 3.8g/kg, já a 20oC é de 14.7g/kg. 15 Na Figura 1.1 temos a oscilação da temperatura nos seguintes pontos: dentro do container que guardava o sistema de aquisição de dados, na superfície do solo, dentro de um poço (1.5m de diâmetro e 6m de profundidade) escavado no solo e enterrado no solo a uma profundidade de 30cm. Verifica-se a grande diferença que existe entre a temperatura fora do solo e no seu interior. 45 Container Superficie do solo Interior do poço Interior do solo Temperatura o( C) 40 35 30 25 20 15 0 24 48 72 96 120 144 168 192 Tempo (horas) Figura 1.1 - Variação da temperatura em diversos ambientes. Na Figura 1.2 apresenta-se a relação entre a temperatura no interior do solo e a temperatura na superfície, para sete dias de monitoramento. Observa-se o efeito da condução térmica no interior do solo quando a variação da temperatura na superfície do solo é alterada. Nesta Figura observam-se os diversos ciclos diários de temperatura externa e interna. 16 Temperatura no Interior do Solo (30 cm) 21.9 dia 1 dia 2 dia 3 dia 4 dia 5 dia 6 dia 7 21.8 21.7 21.6 21.5 21.4 21.3 21.2 21.1 21 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 Temperatura na Superfície do Solo Figura 1. 2 - Variação da temperatura no interior do solo em comparação com a temperatura externa, para vários dias. Temperatura no Interior do Solo (30 cm) - o C Para ilustrar com mais detalhe o processo de condução térmica durante um dia, apresenta-se na Figura 1.3 a variação da temperatura no interior do solo e na sua superfície com o horário das leituras. 21.5 19:16:19 21.45 22:16:39 17:16:05 21.4 21.35 15:45:55 04:47:25 21.3 06:17:36 21.25 23:46:50 07:17:43 14:45:48 21.2 08:15:03 09:45:13 11:15:23 21.15 21.1 10:15:17 12:15:30 21.05 21 13:45:41 15 20 25 30 35 Temperatura na Superfície do Solo - oC Figura 1.3 - Acompanhamento da variação de temperatura em um dia. Dos resultados apresentados concluímos que variações da temperatura na superfície da ordem de 17oC, induzem variações a 30cm de profundidade do solo de apenas 0.5oC. Embora a condução térmica para o interior do solo seja pequena, a sua resposta às variações externas é muito rápida. 17 Em geral a profundidade de transferência de energia para dentro do solo é de apenas um metro, independentemente da estação do ano. Este é um dos motivos pelo qual a energia térmica interna da Terra não foi significantemente reduzida ao longo de 4.5 bilhões de anos (Demillo, 1998). De todos os planetas do sistema solar apenas Vênus, Terra e Marte possuem uma atmosfera dinâmica onde ocorrem fenômenos climáticos. Na Terra o clima não é apenas fruto dos processos mecânicos da física e da química combinados, como o é nos demais planetas conhecidos. A presença de vida afeta significativamente o clima. A interação do homem com a atmosfera pode afetar o clima. Muitas obras civis são projetadas levando-se em consideração aspectos climáticos (e.g. barragens, canais). No entanto, estes aspectos climáticos são sempre levados em conta no seu aspecto hidrológico. Os aspectos geotécnicos relativos aos efeitos do clima são importantes em muitos casos e necessitam de maiores estudos. A ação antrópica é particularmente importante no balanço hídrico do solo. Com financiamento da FAPESP foi dado início ao projeto que objetiva estudar o efeito climático em camadas de cobertura. Este projeto permitirá a avaliação de vários tipos de coberturas e diferentes tipos de materiais. Este projeto pretende integrar os estudos básicos da mecânica dos solos não saturados com aplicações em diversas áreas. Sempre levando em consideração o clima. 1.3. Os solos O estudo dos solos exige que se conheça, ao menos um pouco de suas possíveis origens. A origem do solo e sua relação com a rocha que lhe originou são dados importantes para uma primeira compreensão do comportamento destes solos. A formação do solo está diretamente associada ao clima local e aos processos climáticos que se sucedem. Desta forma uma determinada rocha pode dar origem a minerais distintos, de acordo com as condições ambientais locais e da forma de transporte de suas partículas. Sabe-se que o processo de degradação das rochas pelo intemperismo, que formam os solos, são de origem físico-química. A combinação dos fatores físicos com os químicos são fundamentais para a formação dos minerais do solo. Na Figura 1.4 apresenta-se um esquema simplificado de intemperização das rochas, formando os solos. Um bom exemplo da importância do intemperismo químico é apresentado por Mitchel (1976). Comparando a composição do solo da 18 Terra com o solo lunar, Mitchel chama atenção para o fato de que na lua não existe água nem oxigênio que faz com que na lua o solo seja composto principalmente por fragmentos das rochas de origem. vento chuva gelo calor frio minerais e nutrientes óxidos de ferro e alumínio sílica intemperização mecânica intemperização química Argila Argila 3-camadas 2-camadas silte areia/quartzo Rocha mãe Rocha mãe decomposta Figura 1.4 - Processo de intemperismo nas rochas e formação dos solos. O tipo de mineral formado e a distribuição granulométrica do solo é um fator fundamental na capacidade do solo de absorver água como elemento poroso. Associado ao aspecto granulométrico e mineralógico tem-se o fator relacionado com as tensões. O índice de vazios reflete de certa forma a história de tensões do solo e este afeta sua característica de retenção de água. Assim, a origem dos solos irá contribuir para seu comportamento não só no seu estado saturado como também no seu estado não saturado. E este comportamento irá se refletir em diversos parâmetros do solo. 1.4. A vida A vida na Terra depende fundamentalmente do solo e da água. Esta dependência não é apenas relativa ao aspecto de produção de alimentos, como já o foi anteriormente. O homem vem usando o solo para desenvolver projetos que beneficiam a vida em geral. Embora este benefício, em alguns casos, seja de difícil definição ou constatação. O clima é muitas vezes um aliado dos projetos de engenharia e em outras seu inimigo. O estudo do comportamento das obras de terra em relação ao clima, vem cada vez mais sendo uma necessidade. 19 Podemos enumerar diversos empreendimentos que vêm beneficiando a vida de um grande número de pessoas. Dentre estes os que se relacionam mais diretamente com os aspectos climáticos e com os solos são os projetos de irrigação no nordeste brasileiro. Na Figura 1.5 apresenta-se uma ilustração dos efeitos de trabalhos que integram o uso do solo com o clima, por meio da geotecnia. Figura 1.5 – Integração de projetos com contribuição geotécnica para a vida (Projetos da CODEVASF). 20 2. A água nos materiais porosos 2.1. Pressão na água dos solos O conceito de pressão hidrostática em solos saturados abaixo do nível de água é bastante conhecido e de fácil percepção. Também de fácil aceitação é o fato de que a água pode ascender por capilaridade até uma determinada altura, acima do lençol freático, mantendo o solo saturado. Abaixo do nível de água a pressão é dada pela altura de água (hw) multiplicada pelo peso específico da água ( γ w ). Esta pressão é positiva. No trecho onde ocorre a ascenção capilar a pressão também é calculada da mesma forma, porém com a altura de água tomada no outro sentido. Desta forma tem-se que a pressão de água possui um valor negativo. A Figura 2.1 ilustra os conceitos apresentados anteriormente. − γwhw S = 100% - nível de água hw Solo S = 100% + γwhw Figura 2.1 - Perfil de pressão em solos saturados. A pressão de água é isotrópica e no caso dos solos saturados age em toda a superfície dos grãos. A altura que a água pode subir por capilaridade acima do nível de água depende do tipo e estado do solo. Solos com minerais mais ávidos por água e com menor índice de vazios permitirão uma maior ascenção capilar. Embora a ascenção capilar seja um fenômeno de fácil compreensão já não é tão comum se compreender a razão da água poder ascender a níveis superiores àqueles relativos a pressões negativas abaixo do zero absoluto. Marinho & Chandler (1995) e Marinho & Pinto (1997) apresentaram detalhadamente os fenômenos envolvidos com a 21 capacidade da água de resistir a tensões de tração. Este assunto será abordado também no item 4.1.1. Esta capacidade da água dos solos é importante em muitas situações de engenharia, como por exemplo: taludes, estradas e fundações. Na Figura 2.1 a representação indica que o solo está saturado, isto define a zona capilar saturada. No entanto, a água continua a subir no perfil acima do nível de saturação capilar. Nesta região a água divide os poros com o ar. Teoricamente o eqüilíbrio se dará da mesma forma e a pressão de água acima da zona saturada também é dada pela altura de água. A faixa de solo acima do lençol freático é também denominada de zona vadosa. O termo vadosa se refere à água de chuva que se infiltra no solo por gravidade no trecho não saturado (acima do N.A.). 2.2. Quantidade de água nos solos A importância da determinação da quantidade de água que o solo possui é muitas vezes desprezada. No entanto, a quantidade de água que um solo possui é de extrema importância para avaliar muitas de suas características. Também de grande importância é a capacidade do solo em reter água. Na mecânica dos solos não saturados faz-se uso de várias grandezas para expressar a quantidade de água no solo. É importante relembrar aqui algumas delas. Os índices físicos que são normalmente utilizados para caracterizar a quantidade de água em um solo não saturado são: • Teor de umidade - w Mw Ms Este é o índice mais usado na geotecnia e também o mais fácil e acurado de ser determinado. w= • S= Grau de Saturação – S Vw Vv Como o grau de saturação envolve a determinação de volume da amostra ele é um índice de difícil determinação. • θ= Teor de umidade volumétrico - θ Vw Vt 22 Onde, Vw é o volume de água; Vv é o volume de vazios; Mw é a massa de água; Ms é a massa de sólidos; Vt é o volume total; O teor de umidade volumétrico é função do volume total do solo. Dependendo do tipo de solo este volume pode não ser constante quando uma variação da quantidade de água é induzida. Para facilitar a leitura daqueles que não estão familiarizados com algumas destas definições apresenta-se a seguir algumas relações importantes. θ = nS onde, n é a porosidade do material (Vv/Vt). ρ θ = w d ρw onde, ρd e ρw é a densidade seca do solo e a densidade da água, respectivamente. Um outro conceito bastante interessante é equivalente de água, definido como: o de profundidade d w = θd t onde, dw é a profundidade equivalente da água do solo se a mesma for extraída e acumulada sobre a superfície, dt é a profundidade total do solo em questão. 23 3. A termodinâmica dos solos não saturados 3.1. Pressão atmosférica Podemos aqui destacar dois pontos importantes dentre aqueles que envolvem a pressão atmosférica: um que relaciona-se diretamente com a pressão atmosférica e um outro que diz respeito à medição de pressão (Marinho, 1997). Qualquer corpo na superfície da terra está sujeito a uma pressão devida ao peso do ar da atmosfera. Esta pressão é denominada pressão atmosférica. A equação 7 representa a pressão atmosférica (Pa) em função da altitude (h). Pa = 100.936 − 0.01097 h Ao se fazer uma medição de pressão, dependendo de como o instrumento é produzido e/ou calibrado, o valor poderá corresponder à pressão absoluta ou à relativa. A grande maioria dos sensores de pressão utilizados na mecânica dos solos, mede pressão relativa. A Figura 3.1 ilustra os conceitos de pressão relativa e absoluta. P Pabs,1 Patm pressão relativa ∆P = Pabs,1 - Patm vácuo ∆P = Patm - Pabs,2 Pabs,2 Pressão atmosférica lida com um barômetro 0 Figura 3.1 – Conceitos utilizados na medição de pressão (van Wylen et al, 1994). Na Figura 3.2, apresentam-se os estados de pressão em que a água pode se encontrar de acordo com o tipo de pressão medida (i.e.relativa ou absoluta). No trecho onde se indica “sucção”, a pressão medida é relativa. 24 Quando se está medindo sucções entre 0 e 1atm a água não se encontra sob tração, pois a pressão atmosférica está atuando. Se a pressão atmosférica do nosso planeta fosse maior que 101.3kPa (ao nível do mar), a água só entraria em estado de tração após ter ultrapassado a pressão atmosférica local. Pode-se concluir que a água entra em estado de tração com menor sucção quanto maior a altitude do local. Este aspecto é importante quando se utilizam tensiômetros para medir sucção. Pressão Pressão Relativa Pressão Absoluta Pressão Atmosférica Sucção 0 Região onde a água está sob tração Figura 3.2 – Conceitos de pressão relativa e absoluta (Marinho 1997). 3.2. A umidade relativa do ar A importância da umidade relativa do ar para o estudo dos solos não saturados está relacionada não apenas com os aspectos climáticos que contribuem para a não saturação dos materiais porosos, mas também com as técnicas de geração de sucção e calibração de vários instrumentos de medição. Como o próprio nome diz a umidade é relativa. Mas relativa a quê? Horstmeyer2, metereologista americano descreve a umidade relativa como um conceito que é mal compreendido pela maioria das pessoas. Ele sugere que ao pensarmos em umidade relativa pensemos em energia. Três conceitos são necessários para se compreender umidade relativa, quais sejam: Temperatura - que é a quantidade de energia térmica. Em um gás a temperatura é a média da energia cinética das moléculas. Momento – que é o produto da massa pela velocidade. Para se aumentar o momento deve-se assim aumentar a massa, a velocidade ou ambos. 2 http://www.shorstmeyer.com/homepage.html 25 Umidade do ar - É definido aqui como a quantidade de vapor de água no ar. No idioma inglês existe um vício de se dizer que o ar “holds” vapor de água, ou seja o ar segura ou retém o vapor de água. Na verdade o vapor de água não é retido pelo ar e sim coexiste com os demais gases que o compõe (e.g. nitrogênio, oxigênio, etc...). Os únicos fatores que determinam a quantidade de água no ar são: a disponibilidade de água e a quantidade de energia térmica para realizar o trabalho de evaporação. Uma molécula de água no estado líquido se tornará vapor se esta ganhar suficiente energia para quebrar as ligações que a mantém no estado líquido. A umidade relativa expressa quanto da energia que estava disponível foi usada para “libertar” as moléculas de água. Uma umidade relativa de 50% indica que metade da energia disponível foi utilizada para evaporar a água da fonte onde ela se encontra (e.g., solo, lago) e o restante ainda está disponível para induzir mais evaporação. Assim, a umidade relativa é relativa à quantidade de energia disponível para realizar o trabalho de evaporação. Da mesma forma como o aumento da temperatura causa um aumento de energia e mais água evapora, ao esfriar a energia é retirada do vapor de água e a água começa a condensar. Ao esfriar o vapor de água perde energia e a condensação ocorre. A temperatura que faz com que o vapor de água condense é chamada de ponto de orvalho. Pode-se definir a umidade relativa (RH) em termos de pressão de vapor, i.e.: RH = Pressão parcial de vapor (Pv ) * 100 Pressão de saturação do vapor (Pg ) Onde, Pv é a pressão parcial de vapor para aquele estado, que relacionase com o ponto de orvalho, e Pg é a pressão de vapor de saturação, que relaciona-se com a temperatura ambiente medida. Com as temperaturas ambiente e a do ponto de orvalho pode-se determinar as pressões de vapor por meio da equação abaixo para temperaturas entre 0 e 40oC. P(kPa ) = 6.11 * 10 [7.5T /( 237.7 +T ) ] 26 3.2.1. “Um higrômetro singular” Nada mas claro para descrever o efeito da umidade relativa do ar ou da falta dela do que o trecho do livro Os Sertões de Euclides da Cunha3, que transcrevo a seguir. “Não a observamos através do rigorismo de processos clássicos, mas graças a higrômetros inesperados e bizarros. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro, as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio frouxo de tiros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando a um vale único. Pequenos arbustos, icoseiros virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias de flores rutilantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina. O solo poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão, e protegido por ela - braços largamente abertos, face volvida para o céus, - um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho. A coronha da mannlicher estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrar-se, dias depois, os mortos, não fôra percebido. Não compartira, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgrube de um fôsso repugnante; e deixara-o ali há três meses - braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incutir a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme - o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria - lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparêlho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares....” 3 Os Sertões (Campanha de Canudos) por Euclides da Cunha. 25a Edição. Editora Paulo de Azevedo Ltda. 1957, página 27. 27 3.2.2. Psicrômetros 3.2.2.1. O psicrômetro caseiro O psicrômetro serve para se obter a umidade relativa do ar. A psicrometria é o nome dado ao estudo de misturas de ar e vapor de água em condições não muito distintas da atmosférica. Os psicrômetros nada mais são do que termômetros que medem temperaturas em duas condições do ambiente. O conhecido termômetro de mercúrio é o mais usado transdutor térmico. Para facilitar a compreensão do funcionamento do psicrômetro, vejamos como se pode construir um psicrômetro utilizando-se termômetros comuns. Prende-se dois termômetros em uma base que permita que o sistema, ao final seja movimentado. Em um dos termômetros envolve-se o seu bulbo com um algodão úmido. A Figura 3.3 ilustra o psicrômetro caseiro. Ao se movimentar este sistema no ar, a água do tecido irá evaporar (caso o ar não esteja saturado, i.e. RH=100%), isto faz com que a água no tecido esfrie. Assim o termômetro do bulbo úmido marcará uma temperatura mais baixa que a do bulbo seco. Cada uma destas temperaturas está associada a uma pressão de vapor, desta forma podemos obter a umidade relativa do ar conforme a equação anteriormente citada. Bulbo seco Bulbo úmido Algodão úmido Termômetros Figura 3.3 - Psicrômetro “caseiro”. 3.2.2.2. O psicrômetro industrializado O funcionamento dos psicrômetros industrializados é idêntico ao do caseiro. A única diferença está na forma de se medir a temperatura e na aquisição dos dados que pode ser automática. Existem muitas referências que detalham o funcionamento e uso dos psicrômetros, e.g. 28 Williams (1968), van der Raadt et al (1987), Woodburn et al (1993) dentre outros. Os psicrômetros podem ser utilizados para se medir sucção, já que o seu uso permite a determinação da umidade relativa. A medição da sucção com psicrômetro não é adequada para valores de sucção inferiores a 500kPa. A sua utilização no Brasil tem sido muito restrita. 3.3. A Umidade relativa e a sucção Quando um material poroso é deixado secar ao ar, a água é absorvida pelo ar e assim podemos intuir que a umidade relativa do ar tem uma relação com a sucção do material. A umidade relativa do ar governa a quantidade de água contida no ar em eqüilíbrio com o ambiente. Considere um material poroso (e.g. uma amostra de solo) dentro de um sistema. O teor de umidade do solo muda, de acordo com a umidade relativa do ar em volta dele, até atingir o eqüilíbrio. Se a umidade relativa muda um novo eqüilíbrio deve ser novamente atingido com a consequente alteração do teor de umidade do solo. Quanto maior for a umidade relativa do ar maior será a quantidade de água no solo e vice-versa. O tempo de eqüilíbrio depende da espessura e também da estrutura do material poroso. Quando um sistema com água pura, com uma superfície plana, e ar é considerado, as moléculas de água estão constantemente deixando e retornando para a superfície da água. Quando o número de moléculas de água que retorna para a superfície da água é igual ao número de moléculas liberadas para o ar tem-se a condição de eqüilíbrio. Nestas condições a umidade relativa de eqüilíbrio (RHE) é alcançada. Para melhor compreender o significado da relação entre a umidade relativa e a sucção é necessário utilizar o conceito de energia livre de Gibbs. A energia livre pode ser escrita da seguinte forma: _ R T pB ∆f = ln M pA Onde: _ M é a massa molecular do vapor de água. (18.011kg/mol) e R é a constante universal dos gases (8.31432 J/(mol K)). Em termos de sucção a expressão é: 29 _ p RT sucção = ln B ν LM pA Onde: ν L é o volume específico da água (i.e. 1 ρw ) and ρ w é a densidade da água (998kg/m3 a 20oC). A equação anterior representa a sucção total em termos de pressão de vapor acima de uma superfície livre (plana) de água pura (i.e. água sem P sais ou impurezas). A relação B é chamada de umidade relativa (RH). PA o Para uma temperatura de 20 C a sucção vale: sucção = −135055 ln( RH ) (em kPa) A energia livre da água do solo é a sucção total. Esta pode ser determinada medindo-se a umidade relativa em volta da massa de solo ou utilizando-se uma mebrana semi-permeável. A Figura 3.4 ilustra a relação existente entre a umidade relativa e a sucção para três temperaturas. Como a umidade relativa do ar se relaciona com a sucção, ao medir a umidade relativa pode-se obter a sucção se o material do qual se quer obter a sucção e o ambiente onde o mesmo se encontra estiverem em equilíbrio. Umidade relativa 1 T = 30o C T = 10o C 0.99 T = 20o C 0.98 0.97 0.96 10 100 1000 Sucção Equivalente (kPa) Figura 3.4 - Relação entre RH e a sucção A relação entre a umidade relativa do ar e a sucção possibilita a utilização de diversas técnicas para se determinar a sucção em materiais porosos. No entanto, como será visto no item 4.1.2, para valores abaixo de 500kPa o uso da umidade relativa como parâmetro para se avaliar a sucção não se mostra muito eficiente. 30 4. A medição da sucção e o teor de umidade em solos 4.1. Métodos de medição e controle da sucção Sucção pode ser descrita como a energia com que um elemento poroso absorve água quando está livre para se mover. Esta avidez por água é função basicamente da mineralogia, densidade e umidade do solo. A sucção é normalmente expressa como pressão e portanto as unidades mais utilizada são kPa, atm e bar. Utiliza-se também carga de pressão para representar o estado de pressão da água. As tensões que controlam o comportamento dos solos não saturados, e em algumas situações também as dos solos saturados, são fortemente influenciadas pela pressão negativa na água intersticial. Esta pressão, não necessariamente de tração, é dada pela diferença entre a pressão atmosférica (ou pressão no ar) e a pressão na água, denominada de sucção matricial. A sucção em solos é composta de duas partes, a sucção matricial e a sucção osmótica. A sucção em solos tem sido objeto de estudos desde o século XIX. Os primeiros estudos foram aplicados à agricultura. Uma análise detalhada destes primeiros trabalhos permite uma melhor compreensão dos métodos de medição de sucção. Estes métodos utilizam ferramentas básicas, nas quais o conceito físico/químico é facilmente compreendido. Livingston em 1906, apresentou um estudo sobre medições de sucção no deserto objetivando estudar as plantas daquela região. Livingston utilizou tubos capilares com uma membrana semi-permeável, preenchidos com soluções de diferentes concentrações. Desta forma, foi capaz de verificar se o solo absorvia ou perdia água por osmose. Em outras palavras, Livingston foi capaz de avaliar a sucção que se encontrava naquele solo. Shull (1916) desenvolveu um método para determinação indireta da sucção utilizando sementes de plantas que funcionavam como elemento de absorção. Este método foi posteriormente aprimorado por Gardner (1937). Outros autores contribuíram para os estudos da determinação da sucção em solos (e.g. Livingston & Koketsu, 1920; Hansen, 1926 etc.). Os estudos envolvendo os aspectos teóricos da termodinâmica que se relacionam com a interpretação e compreensão da sucção em solos, foram feitos por Edlefsen & Anderson (1943). Na mecânica dos solos Terzaghi (1925) foi o primeiro a referir-se à capacidade dos solos argilosos de sustentarem elevada sucção. Em ordem cronológica os trabalhos que servem de marcos de avanço no conhecimento dos aspectos que envolvem sucção são os apresentados na Tabela 1. Nos trabalhos referidos na Tabela 1 podem ser encontrados praticamente todos os conceitos dos instrumentos hoje utilizados para 31 medição de sucção. De 1958 até o início dos anos 90, não se observou nenhum avanço significativo nos instrumentos utilizados para medição de sucção. Autor Livingston (1906) Livingston (1908) Shull (1916) Terzaghi (1925) Hansen (1926) Hill (1930) Schofield (1935) Gardner (1937) Shaw & Baver (1939) Edlefsen & Anderson (1943) Hilf (1956) Monteith & Owen (1958) Ridley & Burland (1993) Título do Artigo "The relation of desert plants to soil moisture and to evaporation." “A method for controlling plant moisture” – invenção do tensiômetro "Measurement of the surface forces in soils." "Principles of soil mechanics: I - Phenomena of cohesion of clay." "The water-retaining power of the soil." "A thermo-electric method of measuring the vapour pressure of an aqueous solution." "The pF of the water in soil." "A method of measuring the capillary tension of soil moisture over a wide moisture range." "An electrothermal method for following moisture changes of the soil in situ." "Thermodynamics of soil moisture." "An investigation of pore-water pressure in compacted cohesive soils." "A thermocouple method for measuring relative humidity in the range 96100%." “A new instrument for measuring soil moisture suction.” Tabela 4.1 – Marcos dos trabalhos sobre medição de sucção. 4.1.1. Tensiômetros A história do desenvolvimento do tensiômetro sugere que a sua invenção, se deu por volta do princípio do século XX. Esta invenção é atribuída ou de alguma forma está relacionada com as contribuições dos seguintes pesquisadores: Willard Gardner, Lorenzo A. Richards, Burton E. Livingston e Pierre LaComte du Nouy. De acordo com Or (2001), Livingston foi o primeiro a utilizar o tensiômetro para medir e controlar a sucção matricial em solos. Os tensiômetros interagem com o solo por meio de uma pedra porosa que “interliga” a água do solo com a água do tensiômetro. A sucção é obtida medindo-se a pressão da água do tensiômetro, que por estar em eqüilíbrio com a água do solo tem a mesma pressão. Um dos aspectos mais importantes do tensiômetro é a sua capacidade de registrar leituras automaticamente. Isto pode ser feito quando um sensor de pressão elétrico é conectado ao mesmo. Dentre os instrumentos que são utilizados para medir sucção o tensiômetro é aparentemente o mais simples do ponto de vista dos conceitos que o envolvem. Entretanto, uma análise mais cuidadosa indica que existe uma profunda conceituação teórica por trás do funcionamento deste instrumento. Sendo esta conceituação mais fortemente relacionada com as suas limitações. 32 A maior limitação do tensiômetro está relacionada à máxima sucção possível de ser medida, devida ao fenômeno usualmente descrito como cavitação. Os tensiômetros, em geral, medem sucções até aproximadamente 90kPa. Marinho (1994) e Marinho & Chandler (1993) mostraram os princípios teóricos que fundamentam os aspectos relacionados com a “cavitação” em tensiômetros. Cavitação é um tema fascinante e nada melhor que a descrição feita por Yount (1988) para demonstrar a fascinação com que o pesquisador se defronta quando estuda este fenômeno. “amusement, beauty, mystery and surprise….In spite of the great effort and great progress that has been made in recent years, these basic elements have not changed. There are still mysteries to be solved, and no doubt there are still many surprises just over horizon. Above all, there is beauty and delight awaiting those who venture forth.” A razão de todo este mistério e beleza reside no fato de que a água pode ser submetida a um grande estado de tração sem que as suas moléculas se rompam. Desta forma a “cavitação” observada em tensiômetros não é de forma alguma responsabilidade da água. A incapacidade de se medir sucções acima de 90kPa é devida a expansão de microbolhas de ar dentro do sistema. Este fenômeno é denominado de cavitação. Por muito tempo a limitação dos tensiômetros vem sendo um fato incontestável, contudo em 1993 Ridley & Burland apresentaram um tensiômetro capaz de medir sucções da ordem de 1MPa. Embora as técnicas necessárias para permitir a medição de pressão abaixo do zero absoluto fossem conhecidas (e.g. Meyer, 1911, Chapman et al., 1975 e Ohde et al., 1991, além de outros), na geotecnia estes estudos eram pouco conhecidos. A técnica necessária para evitar a cavitação em tensiômetros envolve os seguintes passos, segundo Marinho & Chandler (1994): • • • • O uso de água deaerada é importante para evitar a saturação da água por ar (ferver a água é um método apropriado, no entanto o contato da água com o ar pode em minutos saturar a água com ar). A água e todas as superfícies dentro do sistema de medição devem ser extremamente puras e limpas (e.g. Henderson and Speedy 1980). As superfícies em contato com a água do sistema devem ser as mais polidas possíveis para evitar ou reduzir o número e tamanho das microcavidades. Quanto menor a área superfícial, mais fácil será evitar a cavitação. O sistema deve ser submetido a vácuo para que seja removida a 33 • • maior quantidade de ar possível aprisionado nas microcavidades. Dificilmente todo o ar será removido por este processo (e.g. Jones et al. 1981). O sistema deve ser submetido a um processo de ciclos de pressão, indo de zero (ou negativa) até uma pressão positiva da ordem de 3MPa. Este processo pode ajudar na dissolução ou liberação do ar presentes nas cavidades.(e.g. Chapman et al. 1975; Richards and Trevena 1976). A pré-pressurização do sistema com alta pressão é necessária para dissolver ou estabilizar o ar presente (e.g. Harvey et al. 1944). Em 1997, com auxílio FAPESP foi desenvolvido no LMS um tensiômetro de alta capacidade (TAC) que vem sendo utilizado em diversas pesquisas pelo grupo de mecânica dos solos não saturados da EPUSP (Marinho & Pinto, 1997). Na Foto 4.1 é apresentado o tensiômetro de alta capacidade do LMS. Tensiômetro de alta capacidade TAC Transdutor de pressão do TAC sem a pedra porosa Foto 4.1 – Tensiômetro de alta capacidade (TAC) da EPUSP. O uso do TAC tem permitido uma série de estudos e dentre eles destacam-se a dissertação de Kuwagima (2000) e a tese de doutorado de Oliveira (2004). Marinho (2000) apresentou uma discussão sobre o uso de tensiômetros e mostrou o efeito do contato no tempo de resposta. Estudos mais detalhados sobre o contato do TAC com o solo foram feitos por Oliveira (2004). Marinho et al (2002) e Marinho et al. (2003) apresentaram resultados de medição de sucção em solo residual compactado. Estes trabalhos foram baseados na dissertação de Kuwagima (2000), e em resultados obtidos 34 no Laboratório de Mecânica dos Solos (LMS) posteriormente, além de resultados obtidos com o mesmo solo por Fulton (2001) na Univesidade de Cambridge. O estudo apresentou uma comparação entre o método de Hilf para estimativa da geração de poro pressão em função da tensão total aplicada (situação de elevação de aterros compactados) e medições diretas de sucção em amostras compactadas. O resultado indicou que solos residuais podem ter sucções significativas mesmo com elevados valores de tensão total aplicada. Isto sugere que os parâmetros de poro pressão ao final da construção de aterros compactados podem ser menores dos que os adotados usualmente. A Figura 4.1 ilustra a resposta das amostras compactadas em termos de sucção e pressão confinante aplicada. Pressão na água do solo (kPa) 600 500 SD-4 descarregamento 400 300 SD-4 carregamento 200 SD-7 descarregamento 100 0 -100 -200 SD-7 carregamento -300 -400 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Pressão confinante (kPa) Figura 4.1 – Variação da sução em resposta à elevação da pressão confinante.(Marinho et al., 2002) O TAC vem também sendo utilizado para medir a sucção durante ensaios de resistência ao cisalhamento. A Figura 4.2 ilustra o comportamento do solo residual do campo experimental do LMS na EPUSP, em termos de tensão cisalhante versus deformação e sucção versus deformação. 35 250 Umidade Ótima Tensão Axial (kPa) (a) 200 150 100 50 CSO13 CSO14 Sucção (kPa) 0 150 CSO15 CSO16 CSO17 CSO18 (b) 100 50 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Deformação (%) Figura 4.2 – Ensaios de resistência não confinada com medição de sucção. O uso do TAC em ensaios de resistência tem apresentado significativa contribuição às análises do comportamento mecânicos dos solos não saturados (Oliveira e Marinho, 2002, 2003) O tensiômetro construído no LMS utiliza um transdutor de pressão que permite a aplicação de até 4MPa de pressão para se obter a saturação do sistema. Este aspecto do transdutor o torna pouco preciso para níveis baixos de pressão. Com o objetivo de desenvolver um tensiômetro com características que permitam uma melhor resolução para o instrumento, o laboratório de mecânica dos solos da USP e a PUC do Rio de Janeiro estão trabalhando dentro do projeto PRONEX do CNPq. 4.1.2. Papel filtro A técnica do papel filtro é certamente a mais simples de todas as técnicas para se medir sucção. A sua simplicidade muitas vezes leva o usuário a utilizá-la de forma descuidada. Isto tem induzido a erros e criado certas dúvidas sobre o método. Um descrição detalhada do método pode ser encontrada em Marinho (1994) onde são abordados os seguintes aspectos: Tempo de equilíbrio, interação entre o solo e o papel e calibração do papel filtro. 36 Quando um solo é colocado em contato com um material poroso que possua capacidade de absorver água, a mesma irá passar do solo para o material poroso até que o eqüilíbrio seja alcançado. Tendo-se a relação entre sucção e umidade do material poroso (calibração), a sucção do solo pode ser obtida referindo-se à curva de calibração. O estado de eqüilíbrio fornece a mesma sucção no solo e no material poroso, porém com umidades diferentes. O tempo de eqüilíbrio é um fator de extrema importância para obtenção da sucção correta. Sempre deve ser utilizado papel filtro "quantitativo". Os mais usados são Whatman Nº 42 ou Schleicher & Schuell Nº 589. O papel filtro deve ser usado diretamente da caixa (i.e. no estado seco ao ar) (e.g. Fawcett and Collis-George, 1967; McQueen and Miller, 1968; Chandler and Gutierrez, 1986). A norma americana ASTM-D5298-92 sugere que o papel filtro seja seco em estufa por no mínimo 16 horas antes do uso. Este procedimento pode afetar as características de absorção do papel resultando na alteração da curva de calibração. As características do papel Whatman Nº 42 fornecidas pelo fabricante são as que constam da Tabela 4.2. Retenção Fluxo de ar de (s/100ml/in2) partículas 2.5 107 Ash 0.007 Espessura Massa típica base (g/m2) (µm) 200 Resistência Úmida Seca 100 .7 25 Tabela 4.2 – Características do papel filtro Whatman 42. Para o papel filtro Whatman Nº 42 a umidade inicial no estado seco ao ar é aproximadamente 6%, isto permite medições de sucção de zero até 29MPa. Esta é a máxima sucção que o solo pode ter para que o papel filtro absorva água do solo. O papel filtro também pode ser utilizado inicialmente saturado, porém uma calibração específica é necessária. Kuwagima (2000), utilizou a técnica do papel filtro juntamente com o TAC e observou uma discrepância entre os valores obtidos com o papel filtro e com o tensiômetro. Posteriormente, Oliveira (2004) observou que uma das razões para as diferenças encontradas eram devidas a diferenças na curva de calibração associadas com o lote do papel utilizado. Uma cuidadosa calibração foi feita, utilizando-se papel de diversos lotes. Oliveira (2004) concluiu que é importante obter uma curva de calibração para cada lote ou ao menos verificar a validade da calibração em alguns pontos da curva. Existem vários métodos para se gerar sucção com o propósito de calibração (e.g. Chandler et al, 1992). O procedimento de calibração consiste em permitir que o papel filtro atinja o estado de eqüilíbrio com uma sucção conhecida. Depois que o eqüilíbrio é alcançado o papel filtro é pesado e seco em estufa (duas horas de secagem a 105oC é normalmente suficiente). A umidade é obtida e relacionada com a sucção gerada. A escolha do método para geração da sucção depende do nível de sucção desejado. 37 Um dos aspectos mais importantes para a obtenção de uma adequada medição de sucção é garantir que o papel filtro, após o equilíbrio, seja removido do ambiente de eqüilíbrio sem perda significativa de umidade. A perda de umidade é da ordem de 1.5% por minuto para uma umidade de aproximadamente 35%. Esta perda depende da umidade do papel. Para baixas umidades (altas sucções) a evaporação é menor. Quando retirado da estufa o papel absorve água do ar e portanto deve ser rapidamente colocado em um recipiente selado. Alguns autores sugerem que se faça a correção da evaporação e absorção de água pelo papel durante o ensaio (e.g. Ferreira, 1995 e Villar, 2002). Segundo Oliveira (2002), tal correção só pode ser considerada se a curva de calibração também levar em conta os mesmos fenômenos. Desta forma, não se recomenda a correção da evaporação nem da absorção sem uma cuidadosa análise das diferenças entre a forma como foi obtida a curva de calibração e os procedimentos usados na aplicação da técnica do papel filtro. A Figura 4.3 ilustra as curvas de calibração obtidas para o papel filtro Whatman No 42 encontradas na literatura (i.e. Chandler et al. 1992) e os dados de calibração obtidos por Oliveira (2004), mostrando a diferenças entre lotes do papel filtro Whatman No 42. 100000 Whatman 42 Lot 920071 Lot 46307 Lot A577070 Lot B939551 Chandler et al (1992) Lot 920071 Sucção (kPa) 10000 1000 100 10 1 0 20 40 60 80 100 120 Toer de Umidade do Papel Filtro (%) Figura 4.3 – Curvas de calibração do papel filtro 38 Comparando-se as curva de calibração apresentadas por Chandler et al. (1992) não coincidem com os resultados obtidos por Oliveira e Marinho (2002) para o trecho onde a sucção é superior a aproximadamente 100kPa. Além do aspecto relativo à calibração encontram-se na literatura questionamentos sobre o contato entre o papel filtro e a água do solo. Estudos sobre este tema foram feitos por Al-Khafaf & Hanks (1974). Recentemente Gomes (2002), em seu trabalho de iniciação científica, investigou o efeito do contato na medição de sucção. Do seu trabalho pode-se concluir que: • A redução do contato entre o papel e o solo não afeta a medição da sucção matricial. • A medida que a sucção aumenta o significado da sucção matricial deixa de ser o mesmo, tendo-se uma mistura de sucção matricial e total. • A partir de um certo valor de sucção mede-se a sucção total, mesmo que o papel filtro esteja em contato direto com o solo. 4.1.3. Placa de sução A placa de sucção tem seu uso mais adequado quando se deseja impor sucções até aproximadamente 80kPa. O sistema da placa de sucção é ilustrado na Figura 4.4. Quando uma diferença entre o reservatório e a pedra porosa é imposta, tem-se uma pressão relativa na pedra abaixo da pressão atmosférica. Esta diferença de altura (hm) é a carga de pressão imposta. Ao multiplicar esta carga pelo peso específico da água tem-se a sucção induzida na pedra porosa e em conseqüência no solo. O valor máximo possível de ser aplicado é limitado à ocorrência de cavitação no sistema, que em geral é de 80kPa. Na prática, a limitação fica por conta das condições de laboratório que nem sempre permitem a aplicação de diferenças de altura superiores a 4m. 39 ua = pressão atmosférica ua sucção = hmγ w hm placa porosa 1bar Figura 4.4 – Sistema de aplicação de sucção na placa de sucção. O sistema utilizado no LMS para impor as diferenças de nível foi desenvolvido durante o trabalho do aluno de mestrado Jeferson Oliveira, que ainda está em andamento. Foto 4.2 ilustra o sistema de aplicação de sucção desenvolvido no LMS. Na Foto 4.2 também é apresentado o sistema para imposição de pequenos desníveis. Sistema de aplicação de desnível (sucção) de 0 a 30kPa Sistema de aplicação de ajuste fino de desnível para variações de sucção de 0 a 5kPa Foto 4.2 – Placa de sucção. Sistema para aplicação de desnível relativo a 0 e 30kPa e Sistema para aplicação de desnível entre 0 e 5kPa. 40 A placa de sucção é o sistema mais adequado quando se deseja definir a entrada de ar em materiais com uma distribuição de poros bastante uniforme ou com um valor de sucção de entrada de ar baixo. 4.1.4. Placa de pressão A placa de pressão faz uso da técnica da translação de eixos. Esta técnica objetiva evitar que ocorra o fenômeno da cavitação no sistema. A cavitação geralmente ocorre quando a pressão na água chega próxima ao zero absoluto. Em termos de sucção a cavitação tende a ocorrer em níveis de sucção próximos a 80kPa. A translação de eixo impõe um aumento na pressão do ar que causa uma translação da pressão de referência. Esta técnica foi desenvolvida por Hilf em 1956. A Figura 4.5 ilustra o processo de translação de eixos mostrando a pressão atmosférica referencial e a pressão de ar dentro do sistema da placa de pressão. A translação induz um distanciamento relativo da pressão medida em relação ao zero absoluto. O procedimento é equivalente a uma mudança de planeta, onde a pressão atmosférica local seria maior, e a água se manteria com pressão acima do zero absoluto local. Pressão Absoluta Pressão Pressão Relativa Pressão de ar no sistema Sucção Translação Pressão Atmosférica 0 Figura 4.5 – Representação da translação de eixos em termos de pressão. A técnica da translação de eixos pode ser aplicada em vários tipos de equipamentos utilizados na geotecnia tais como: edômetro, triaxial, cisalhamento direto ou apenas num sistema que objetive determinar a curva de retenção. 41 No LMS foi desenvolvido um equipamento para a aplicação da técnica da translação de eixo com o objetivo de determinar a curva de retenção de água. Na Figura 4.6 é apresentado o sistema utilizado no LMS, onde se detalha as diversas partes que o compõem. Salienta-se que a sucção aplicada é a diferença entre a pressão do ar e da água (ua – uw). No caso do sistema ilustrado na Figura 4.6, a pressão na água é a atmosférica. No entanto, a técnica permite que um outro valor de pressão na água seja aplicado. Pressão de Ar (ua) Bureta Amostra Pressão na água igual a atmosférica (uw) Pedra Porosa Figura 4.6 – Esquema do sistema da placa de pressão da EPUSP. Na Foto 4.3 apresenta-se a placa de pressão desenvolvida no LMS. Foto 4.3. – Placas de pressão desenvolvidas no LMS 42 4.2. Medidor de teor de umidade (TDR) O teor de umidade em solos é um dos parâmetros mais importantes. A determinação do teor de umidade gravimétrico é rápida e acurada. Porém, o teor de umidade gravimétrico não pode ser obtido automaticamente durante os fenômenos hidráulicos ou mecânicos aos quais os solos são submetidos. Desta forma, determina-se o teor de umidade volumétrico (ver item 2.2). A determinação do teor de umidade volumétrico pode ser feita por diversos métodos (e.g. Klute, 1986). Neste trabalho apresenta-se detalhadamente os aspectos do uso do medidor de teor umidade volumétrico TDR. 4.2.1.1. Princípio de funcionamento TDR é a sigla de “time domain reflectometry” que em português pode ser traduzido como reflectometria no domínio do tempo ou ainda reflectômetro no domínio do tempo. O TDR é uma técnica eletromagnética que vem sendo utilizada desde os anos 30 para determinar a localização de falhas em cabos. Em 1980 Topp et al. apresentaram o TDR como ferramenta para a determinação do teor de umidade volumétrico de solos. A técnica do TDR consiste em medir o tempo que um pulso eletromagnético leva para caminhar por uma guia de onda (composta de hastes) de comprimento conhecido. O tempo relaciona-se com a constante dielétrica do meio onde as hastes estão inseridas de modo que se pode determinar a constante dielétrica do material usando-se a seguinte expressão: v= c Ka Onde c é a velocidade da luz no vácuo. Ou, ct Ka = 2L 2 Onde L é o comprimento da haste. A constante dielétrica é também conhecida como permissividade relativa. A medição da constante dielétrica do solo envolve uma mistura de sólidos, água e ar. Os grãos dos solos em geral possuem constante dielétrica que varia de 4 a 8. O ar possui uma constante dielétrica que vale 1 e a água, por ser bi-polar, possui uma constante dielétrica 43 elevada de aproximadamente 80. Desta forma a propagação da radiação eletromagnética no solo depende da combinação dos componentes (i.e. mineral, água e ar). Quanto maior o teor de umidade do solo, maior será a constante dielétrica do mesmo e menor será a velocidade de propagação da radiação eletromagnética nele. Quando a onda eletromagnética entra no solo tanto o seu comprimento de onda quanto sua velocidade fica reduzida de K a . A Figura 4.7 ilustra este efeito. Ka Solo Figura 4.7 – Efeito da mudança de meio na onda eletromagnética. Topp et al. (1980) apresentaram uma relação entre o teor de umidade volumétrico de vários solos e a constante dielétrica. Esta relação nada mais é do que uma calibração do TDR para se obter o valor do teor de umidade volumétrico medindo-se a constante dielétrica do meio. A calibração apresentada por Topp et al. (1980) é amplamente utilizada e em geral aceita como válida para a maioria dos solos. A Figura 4.8 apresenta os dados usados por Topp et al. (1980) para a obtenção da equação de calibração. A equação usada por Topp et al (1980) para uma sonda de duas hastes é: θ = −5.3 *10 −2 + 2.92 *10 −2 K a − 5.5 *10 −4 K a 2 + 4.3 *10 −6 K a 3 . Figure 4.8 – Dados experimentais da relação entre Ka e θ para quatro solos. 44 Topp et al. (1980) mencionam que uma variação de 2 na constante dielétrica está dentro do limite de erro experimental para o TDR. A forma da onda obtida na análise do TDR permite definir o tempo que a onda leva para caminhar pela haste que está inserida no solo e portanto sujeita à influência do solo e em conseqüência do teor de umidade. A Figura 4.9 ilustra a forma de onda obtida quando a haste está inserida em um solo. Figura 4.9 – Forma da onda quando a haste está inserida em um solo. A resposta depende de alguns fatores que devem ser considerados, quais sejam: • número de hastes, • comprimento das hastes, • espaçamento das hastes, • comprimento do cabo, • distância da haste para outros meios, • distância da ponta para outro meio, • espessura das hastes. A grande disparidade existente entre os valores da constante dielétrica da água e dos minerais e do ar sugere que a constante dielétrica seja insensível à composição do solo, no entanto tem-se observado variações na calibração de acordo com a natureza e o estado do solo. A calibração que define a relação entre a constante dielétrica e o teor de umidade volumétrico é influenciada pela densidade e tipo de solo. Esta influência foi observada no solo residual de gnaisse, sendo objeto de extenso estudo apresentado nos itens seguintes. 45 4.2.1.2. Unidade de leitura do TDR O TDR utilizado neste trabalho é composto dos seguintes componentes: • • • hastes sensoras (Figura 4.10a), unidade computadorizada de leitura (emissor de onda) (Figura 4.10b), multiplexador que permite o monitoramento de várias hastes (Figura 4.10c). A unidade de leitura permite tanto a leitura de uma única haste como possibilita a adaptação de um multiplexador que gerencia o uso de diversas hastes na mesma unidade de leitura A unidade de leitura gera o pulso eletromagnético que “caminha” pelas hastes e no solo que as circunda. A unidade de leitura registra o tempo (t) que o pulso leva para “caminhar” pela haste. Como a distância é conhecida (duas vezes o comprimento da haste), determina-se a velocidade (v) e a constante dielétrica (Ka) do solo. Este cálculo é feito automaticamente pelo software que controla o sistema usando as seguintes expressões: 2L v= t e ct Ka = 2L 2 Fazendo-se uso da calibração converte-se a constante dielétrica em teor de umidade volumétrico. (a) (b) (c) Figura 4.10 – Componentes do sistema TDR. 46 4.2.2. Calibração A curva de calibração para o TDR, usada para determinação do teor de umidade volumétrico é normalmente assumida como sendo única. Usualmente se utiliza a curva determinada por Topp et al. (1980). No entanto, para se avaliar a validade desta equação para solos residuais, foram feitas diversas calibrações levando-se em consideração, a densidade do material e a forma de inserção da haste. Outros testes foram feitos conforme descrito a seguir para garantir uma acurada determinação do teor de umidade volumétrico. Os dados foram obtidos pelo aluno de doutorado Aderson Vieira. Na Figura 4.11, estão apresentadas algumas fotos que ilustram a seqüência dos procedimentos utilizados na calibração. A seqüência de calibração foi a seguinte: • • • • • • • Preparação do solo com um teor de umidade gravimétrico calculado para fornecer o teor de umidade volumétrico desejado. Colocação da primeira camada de solo no molde de PVC (Figura 4.11a). Compactação estática do solo até metade da altura do molde, utilizando uma sapata para um nivelamento inicial (Figura 4.11b) e posterior compactação estática utilizando-se uma sapata maior. Inserção da haste nos furos previamente feitos no molde (Figura 4.11d). Nesta fase a haste repousa sobre a superfície compactada e escarificada. (Figura 4.11e). Na Figura 4.11f tem-se a sapata de maior secção sendo utilizada. Na Figura 4.11g e h tem-se a situação final da compactação já com a haste inserida. Um detalhe da vedação da haste após a compactação é mostrado na Figura 4.11i. Esta calibração foi feita para uma haste com 14cm de comprimento e espessura de 3mm. As hastes são usadas em estudos com colunas de solo. A haste original possuía um comprimento de 20cm. Foi necessário cortar a haste para 14cm tendo em vista que o tubo utilizado na coluna não permitia o uso da haste com 20cm. Não seria viável o uso de um tubo de 20cm tendo em vista a significante elevação do volume de solo utilizado e o aumento do peso de cada coluna. Estudos mais aprofundados sobre o efeito da redução do comprimento da haste serão apresentados no item seguinte. 47 (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) Figura 4.11 – Seqüência usada na calibração do TDR. Na Figura 4.12, são apresentados os resultados dos valores da constante dielétrica obtidos em cada ponto da calibração, indicando o valor da densidade seca de cada um dos pontos. Os pontos foram obtidos variando-se o teor de umidade volumétrico para valores específicos de densidade seca. As densidades secas variaram de aproximadamente 1.1g/cm3 até 1.61g/cm3. Observou-se a tendência de se obter valores de Ka mais elevados para densidades maiores. Nos pontos obtidos para teores de umidade próximos à saturação os valores da constante dielétrica não apresentaram resultados consistentes com os observados para teores de umidade menores. Isto é decorrente da dificuldade na compactação que não garantiu uma amostra homogênea. A formação de grumos induz a presença de ar próximo à haste. Este aspecto será analisado no item 4.2.2.3. Na Figura 4.12, estão indicadas três curvas relativas a três valores de densidade. Estas curvas foram obtidas ajustando-se os valores de teor de umidade e Ka às diversas densidades. A equação a seguir representa o valor da constante dielétrica em função da densidade e teor de umidade. Esta equação é válida no intervalo entre 0 e 40% de teor de umidade volumétrico e para valores de densidade entre 1.21g/cm3 e 1.81g/cm3. Ka = 1 1 − 0.7 ρ d + 0.133 ρ d θ 2 * (1.09 − 0.03 ρ d ) 48 Como o valor obtido com o TDR é a constante dielétrica (Ka) a equação anterior é mais adequadamente expressa da seguinte forma: θ= [ ( log K a 1 − 0.7 ρ d + 0.133 ρ d 2 log(1.09 − 0.03 ρ d ) )] 25 1.57 1.59 1.41 Constante dielétrica, Ka 20 1.53 1.66 Densidade seca (g/cm3) 1.66 1.39 1.45 1.65 15 1.22 1.17 1.4 1.22 1.61 1.4 1.67 10 1.47 1.21 1.4 1.11 1.12 1.22 1.4 1.16 0.95 1.23 1.33 1.6 5 1.67 1.7 1.68 1.4 1.43 1.11 1.11 1.11 1.2 0 0 5 10 15 20 25 30 Teor de umidade volumétrico (%) 35 40 45 Figura 4.12 – Dados da calibração do TDR para diversas densidades. Na Figura 4.13 é mostrada a curva de calibração sugerida por Topp et al (1980), juntamente com os dados obtidos no estudo feito com o solo residual. Observa-se que os resultados obtidos no presente estudo divergem da calibração sugerida por Topp et al . (1980). São dois os motivos para esta divergência. Em primeiro lugar a forma como a haste é inserida afeta os valores de Ka obtidos (ver item 4.2.2.3). Em segundo lugar o tipo de solo induz uma mudança na curva provavelmente devido às características físico-químicas dos minerais predominantes no solo. 49 25 Densid. 1.1 g/cm3 Densid. 1.2 g/cm3 Densid. 1.3 g/cm3 Densid. 1.4 g/cm3 Densid. 1.5 g/cm3 Densid. 1.6 g/cm3 Densid. 1.7 g/cm3 Topp et al (1980) - eq.7 Constante dielétrica, Ka 20 15 Densidade seca (g/cm3) 10 1.6 5 1.4 1.2 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Teor de umidade volumétrico (%) Figura 4.13 – Curva de calibração do TDR A Figura 4.14 ilustra a relação teórica entre o teor de umidade volumétrico e a densidade seca para diversos valores de grau de saturação. A linha sólida delimita a região onde a curva de calibração é válida. 80% 70% 30 % 90 S= 20 60% 10 50% 0 40% 30% 1.10 S= S= 1.20 S= 1.30 S= 1.40 0% 10 S= 1.50 S= ρ d (g/cm3) S= 1.60 40 50 θ (%) Figura 4.14 – Relação teórica entre a densidade seca e o teor de umidade com a delimitação da região de calibração. Dirksen e Dasberg (1993) constataram que para um solo denominado por eles de ferrasolo, a calibração obtida por Topp et al (1980) não se adequava bem. Este fato foi relacionado com a presença de gipsita no 50 solo. Souza et al (2001) apresentam resultados de uma calibração feita em laboratório com um solo compactado, descrito por eles como um latosolo vermelho escuro com 56% de argila. No estudo eles observam que existe uma significativa influência da mineralogia do solo na constante dielétrica do solo. Na Figura 4.15, são apresentados os dados obtidos por Souza et al. (2001) juntamente com as curvas obtidas no presente estudo (para três densidades secas) e aquela determinada por Topp et al. (1980). Os dados de Souza et al. (2001) estão divididos em duas partes. Uma obtida por eles no laboratório e outra obtida com medições feitas em campo. Nesta última, os autores parecem ter estimado a densidade do material para a obtenção do teor de umidade volumétrico. Desta forma foi feita uma avaliação para verificar qual seria a sensibilidade de uma eventual variação do valor de θ. O valor da densidade seca utilizado por Souza et al (2001) foi de 1.24g/cm3. Este valor foi alterado para 1.34g/cm3, e é apresentado na Figura 4.15. Observa-se que os dados de campo passam a se ajustar melhor à curva de Topp et al (1980). Este exercício serve para verificar a importância da determinação adequada do teor de umidade volumétrico na calibração. 30 Souza et al. (2001) - dados de campo Souza et al. (2001) - dados de laboratório 1.2 1.4 1.6 Souza et al. (2001) - Modificado Topp et al (1980) - eq.7 Constante dielétrica, Ka 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 Teor de umidade vol. (%) 35 40 45 Figura 4.15 – Comparação entre a calibração do solo residual e dados de um solo laterítico. Levando em consideração as diferenças obtidas entre a curva de calibração feita com o solo residual e a equação de Topp et al. (1980), fez-se uma avaliação, apresentada na Figura 4.16, comparando os resultados obtidos por outros pesquisadores (Roth et al., 1990; e Skierucha e Malicki, 2002). Roth et al. (1990) apresentam uma 51 avaliação da determinação da constante dielétrica com base no “modelo dielétrico de misturas”. Este modelo relaciona a constante dielétrica da mistura com as constantes dos diversos componentes da mesma. No caso de solos seriam os minerais, a água e o ar. Todas as análises foram feitas com base nos volumes dos diversos componentes. A equação apresentada por Roth et al. (1990) tem a seguinte forma: 1 α α α K a = θK água + (1 − n ) * K sólidos + (n − θ ) * K ar α onde, Kágua é a constante dielétrica da água (adotado 80.36) Ksólidos é a constante dielétrica dos sólidos do solo (adotado 3.9) Kar é a constante dielétrica do ar (adotado 1) n é a porosidade do solo α depende do arranjo dos minerais no solo (estrutura) e também funciona como parâmetro empírico que englobaria a presença de uma quarta fase (i.e. a água adsorvida. e.g. Dobson et al, 1985). No caso foi adotado α = 0.5. A equação sugerida por Skierucha e Malicki (2002) tem base semiempírica e tem a seguinte forma: K a = ((0.573 + 0.582 ρ d ) + (7.755 + 0.792 ρ d )θ )2 30 Constante dielétrica, Ka Topp et al. (1980) dens. 1.4 g/cm3 Roth et al (1990) - 1.4 g/cm3 Skierucha e Malicki 2002 - 1.4g/cm3 20 10 0 0 10 20 30 40 Teor de umidade volumétrico (%) Figura 4.16 – Comparação entre diversas equações de ajuste e a obtida no presente trabalho. 52 4.2.2.1. Efeito do comprimento da haste Embora nas colunas o comprimento da haste a ser usado seja de 14cm, nos tanques poder-se-ia utilizar uma haste maior. Para verificar o efeito do comprimento da haste, foi feito um breve estudo para avaliar a existência de uma variação na calibração TDR nestas condições. Na Figura 4.17, são apresentadas as hastes e o tubo de calibração. (a) (b) Figura 4.17 – Material para verificação do efeito do comprimento da haste Para este estudo optou-se por compactar o solo com um peso específico seco de 14kN/m3. Na Figura 4.18, estão apresentados os resultados da curva de calibração utilizando-se a haste 20 cm (H20) e a de 14 cm (H14). Observa-se que os valores obtidos foram praticamente os mesmos para as duas hastes, não havendo, para as condições utilizadas, diferenças significativas. 53 Constante dielétrica aparente, Ka 30 Topp et al. (1980) H14 H20 dens. 1.4g/cm3 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Teor de umidade volumétrico (%) Figura 4.18 – Efeito do comprimento de haste na obtenção da constante dielétrica (solo residual) 4.2.2.2. Efeito da penetração da haste Tendo em vista que a haste não seria completamente inserida no solo, fez-se a calibração levando-se em conta este aspecto. Para ter uma melhor avaliação do efeito da inserção da haste foi realizado um estudo controlando-se o comprimento de inserção. A haste foi retirada partindo-se da situação de máxima penetração para o tubo. Este procedimento induz um efeito de contato que será analisado no item 4.2.2.3. Na Figura 4.19 é apresentada uma seqüência de fotos onde se observa o procedimento de compactação (Figura 4.19a e 4.19b) e fotos tiradas com diversos comprimentos de inserção da haste (Figuras 4.19c, 4.19d, 4.19e e 4.19f). 54 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 4.19 – Procedimento para avaliação do efeito do comprimento de inserção da haste do TDR. Foram feitos ensaios com dois valores de teor de umidade volumétrico (aproximadamente 15% e 36%) e para valores de densidade seca que variaram de 1.38 a 1.45g/cm3. Na Figura 4.20 estão apresentados os resultados obtidos. Como se pode observar na Figura 4.19 a haste foi introduzida pela parte externa do tubo, porém um dos pontos, aquele com comprimento de haste para fora do solo igual a zero (Figura 4.19c), foi compactado totalmente inserido no solo. Os resultado mostram que existe uma consistente redução da constante dielétrica medida com a retirada da haste. Para valores de teor de umidade baixos este efeito é menor. A redução é devida a maior quantidade de ar em contato com a haste. Isto aumenta a velocidade de propagação da onda na haste e com isto diminui a constante dielétrica medida. 55 16 Constante dielétrica, K a Haste de 20cm θ = 36% ρ = 1.45g/cm 3 14 12 10 8 6 4 θ = 15% ρ = 1.39g/cm 3 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Comprimento de haste para fora do solo (mm) 100 Figura 4.20 – Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para a haste de 20cm, com dois teores de umidade (efeito do comprimento da haste inserido no solo). 4.2.2.3. Efeito do contato das hastes com o solo Na Figura 4.21, estão apresentados os resultados mostrados na Figura 4.18 acrescidos de outros dados obtidos com a inserção da haste de 14cm após a total retirada da haste de 20cm. Neste caso o efeito do contato, mencionado anteriormente, é majorado. Na Figura 4.21, podese observar dois pontos relativos a “re-compactação” (o solo foi estaticamente pressionado) do solo com a haste inserida. Estes dois pontos foram obtidos com o objetivo de reduzir o efeito do contato e mostram que o valor de Ka retorna ao valor “original” quando é feita uma “re-compactação”. Observa-se na Figura 4.21 que o efeito do contato é menor para teores de umidade menores e que tanto no caso de teores de umidade mais altos como o mais baixos o efeito do contato é o mesmo (as curvas se mostraram paralelas para um mesmo teor de umidade). 56 Constante dielétrica aparente 16 Haste de 14cm - recom pactada θ = 36% ρ = 1.45g/cm3 14 12 10 Haste de 14cm recom pactada θ = 15% ρ = 1.39g/cm3 8 Efeito de contato Haste de 14cm θ = 36% ρ = 1.45g/cm3 Haste de 20cm θ = 36% ρ = 1.45g/cm3 6 Efeito de contato 4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Comprimento de haste para fora do solo (mm) 100 Figura 4.21 – Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para as hastes de 20cm e 14cm. (Efeito do contato e da inserção). Com o objetivo de melhor caracterizar o efeito do contato foram utilizados dois procedimentos de compactação: um que levou a um solo mais homogêneo (denominado “bem compactado” e outro que levou a um solo heterogêneo, denominado “mal compactado”). Nestes casos o estudo foi feito tanto com a haste de 20cm como com a de 14cm. Três dos quatro testes mostram um forte paralelismo entre as variações de Ka e o comprimento inserido no solo. Apenas a haste de 14cm, inserida no solo “mal compactado” mostrou um comportamento diferente. Isto se deve, possivelmente, ao efeito do contato pouco controlado (Figura 4.22). 57 Constante dielétrica aparente, Ka 20 Haste de 20cm "bem com pactado" θ = 36% ρ = 1.38g/cm3 18 16 Haste de 14cm − re-inserida "bem com pactado" θ = 36% ρ = 1.38g/cm3 14 12 10 Haste de 14cm re-inserida "m al com pactado" θ = 36% ρ = 1.45g/cm3 8 6 4 0 Efeito de contato devido compactação Haste de 20cm "m al com pactado" θ = 36% ρ = 1.45g/cm3 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Comprimento de haste para fora do solo (mm) 100 Figura 4.22 - Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para duas condições de compactação (efeito da inserção e do contato). Ainda para verificar o efeito do contato quando de uma possível reinserção da haste, plotou-se na Figura 4.23 a variação de Ka com o número de inserções para a haste de 20cm. Verifica-se que existe uma pequena redução do valor de Ka com a primeira re-inserção, mas aparentemente este valor tende a se estabilizar. A redução é mais acentuada quanto maior o teor de umidade volumétrico. 20.0 18.0 16.0 Ka 14.0 12.0 WG20 Wvol=14.91 % dens.=1,39 g/cm3 WG20 Wvol=35,78 % dens.=1,45 g/cm3 WG20 Wvol=35,89 % dens.=1,38 g/cm3 10.0 8.0 6.0 4.0 0 1 2 Número de reinserções da haste Figura 4.23 - Variação de Ka com o número de reinserções da haste no solo. Nas Figuras 4.24, 4.25 e 4.26 apresentam-se ilustrações das diversas situações de contato da haste após o solo ser removido. A Figura 4.24 58 ilustra a situação da compactação que induziu uma não homogeneidade no solo. O teor de umidade volumétrico médio e a densidade média da amostra foram de 37% e 1.44g/cm3 , respectivamente. Pode-se observar que a haste ficou envolvida por vazios maiores. Isto gera uma condução diferente da onda eletromagnética que afeta o valor de Ka. Figura 4.24 – Detalhes das “falhas” no contato da haste com o solo (ρd = 1.44g/cm3 θ = 37%). Na Figura 4.25, tem-se uma amostra onde observam-se falhas na continuidade do contato da haste com a massa de solo. Neste caso a densidade seca e o teor de umidade foram de 1.4g/cm3 e 35%, respectivamente. Neste caso específico a haste foi compactada integralmente dentro do solo, ou seja, o conector ficou inserido no solo. 59 (a) (b) (c) (d) Figura 4.25 – Detalhes das “falhas” no contato da haste com o solo (ρd = 1.40g/cm3 θ = 35%). A amostra apresentada na Figura 4.26 possui uma densidade seca de 1.6g/cm3 e um teor de umidade de 39%. Com uma densidade maior o contato ficou visualmente melhor. Figura 4.26 - Detalhes da haste escavada (ρd = 1.6g/cm3 θ =39%). O efeito do contato não pode ser controlado de forma absoluta, mas tem que se ter conhecimento do seu efeito para o solo em questão. 60 4.2.2.4. Efeito das condições no entorno das hastes O uso das hastes do TDR em regiões próximas a outros meios que não o solo pode gerar efeitos indesejados nas medições do Ka. No caso específico do presente estudo há dois aspectos importantes a serem analisados: um refere-se à proximidade da parede do tubo de PVC das colunas e outro à proximidade do tensiômetro usado para medição da sucção no mesmo nível da haste. Para avaliar o efeito de materiais próximos à haste, foram feitos testes em água. Utilizou-se um balde onde variou-se a distância do final da haste para o fundo do balde. Na Figura 4.27, são apresentados os resultados obtidos para os valores de Ka em função da distância do final da haste (inserida verticalmente no balde) para o fundo do balde. Podese observar que o contorno afeta o valor de Ka em função da distância da haste para o entorno. O resultado sugere que a haste deva ficar a uma distância de no mínimo 7mm. 86.0 85.0 Ka 84.0 83.0 82.0 81.0 80.0 Água (te m p. 18,8 oC) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Distância para base do recipiente (mm) Figura 4.27 – Variação de Ka em função da distância da haste a outro meio. Além dos ensaios com a guia imersa em recipiente com água, realizaram-se ensaios com o objetivo de verificar se existia interferência na obtenção de Ka no caso da presença da pedra porosa do tensiômetro instalada próxima às hastes. Para a execução desses ensaios, utilizaram-se hastes com comprimento de 20 cm. As medidas foram feitas em areia seca (Areia IPT#50) com o objetivo de majorar os eventuais problemas. Os valores de Ka foram obtidos em 3 situações distintas: uma sem a presença da pedra porosa e outra com a pedra porosa posicionada a uma distância de 1cm da haste (conforme figura apresentada na Tabela 4.3); e uma terceira situação com a pedra em contato com a haste (ver figura na tabela 4.3). 61 A pedra porosa utilizada foi a pedra do mini-tensiômetro, com formato cilíndrico e ponta arredondada de 2,9 cm de comprimento e 0.65 cm de espessura. Colocou-se a areia seca em recipiente plástico de diâmetro de 24 cm e altura de 25.5 cm e inseriu-se a guia completamente no solo na vertical. A primeira leitura de Ka foi feita sem a presença da pedra. A pedra foi instalada nos testes seguintes de forma a ficarem nas posições indicadas na Tabela 4. Os valores da constante dielétrica obtidos estão apresentados na Tabela 4. Verifica-se na Tabela que os valores de Ka obtidos, em todas as situações, foram iguais. Assim, não foram constatadas interferências devidas à presença da pedra porosa inserida no solo ou encostada na haste do TDR. Os resultados indicam que a proximidade da pedra porosa e a quantidade de água nela contida não influenciam na leitura de Ka com o uso do TDR. Portanto a instalação do TDR em conjunto com os tensiômetros pode ser feita sem problemas. Situação da pedra Ilustração Ka sem pedra porosa 2,7 com pedra porosa 2,7 com pedra porosa 2,7 Tabela 4.3 – Valores de Ka em areia para diversas situações com a pedra porosa do tensiômetro próxima a haste (20cm). 62 5. A curva de retenção de água A relação entre a quantidade de água presente no material e a sucção é fundamental para a caracterização hidráulica dos materiais porosos. Este aspecto sempre foi considerado nos estudos realizados pela ciência do solo e com aplicações na agronomia. Por sua vez, o comportamento de retenção de água fornecido pela curva de retenção é fundamental para a compreensão dos fenômenos relacionados com o fluxo, a resistência e a compressibilidade dos solos não saturados na engenharia geotécnica. A determinação da curva de retenção tem sido tema chave dos estudos realizados pelo grupo de pesquisa em solos não satudados da EPUSP. A curva de retenção de água pode ser denominada de várias formas, o termo mais utilizado é provavelmente curva característica da relação solo/água, ou simplesmente curva característica. Neste contexto muitas críticas podem ser feitas, pois a curva em questão não é uma característica do solo ou do material poroso, mas depende de fatores como: história de tensões e trajetória de umidificação. Neste trabalho o termo utilizado será curva de retenção de água ou simplesmente curva de retenção. Esta curva relaciona a sucção com a quantidade de água do solo. A quantidade de água pode ser definida utilizando-se o teor de umidade gravimétrico, o teor de umidade volumétrico ou o grau de saturação. A retenção de água por materiais porosos depende da mineralogia, da estrutura e do índice de vazios. A curva de retenção também é afetada pela trajetória de umedecimento. Esta trajetória gera o fenômeno da histerese na curva de retenção. A histerese é um fenômeno que envolve fenômenos de superfície e está associado com a forma de absorção ou perda de água. Os estudos feitos para se obter a curva de retenção na trajetória de secagem e umedecimento têm tido grande sucesso. Duas técnicas foram desenvolvidas: uma que usa vapor de água e outra que asperge água na amostra. 5.1. O significado dos fenômenos envolvidos Ao tomar como referência o nível freático verifica-se que existe uma relação entre a pressão na água do solo e a quantidade de água retida no solo naquela posição. Esta relação é ilustrada na Figura 5.1. Pode-se verificar na Figura 5.1 que embora a pressão na água seja sempre conhecida, a quantidade de água para cada nível irá depender do tipo de solo. 63 (solo 2) (solo 3) h (solo 1) m.c.a θ (%) Figura 5.1 – Perfis de pressão e de umidade em uma coluna de solo. O uso de colunas de solo para avaliar as características de retenção de água do solo no LMS teve início com Stuermer (1998). A partir deste trabalho houve um significativo desenvolvimento da técnica de montagem, desmontagem e análise dos resultados. Em trabalho desenvolvido para a Companhia Vale do Rio Doce em cooperação com a empresa Geoconsultoria foram desenvolvidos estudos com o uso de colunas que serão descritos no item 9.3. A forma da curva de retenção depende da distribuição de poros e da compressibilidade do solo em relação à sucção. Estas duas características do material poroso são afetadas pelo teor de umidade inicial, pela estrutura do material, mineralogia, e como mencionado anteriormente pela história de tensões (e.g. Lapierre et al, 1990; Vanapalli et al, 1999; Simms and Yanful, 2000). A maioria das curvas de retenção possuem a forma de um S. Esta forma é uma resposta à distribuição de poros do material. Materiais porosos rígidos, com distribuição uniforme de poros possuem uma curva de retenção similar à curva (a) indicada na Figura 5.2. A perda total de água com o aumento da sucção além do ponto de dessaturação (ou ponto de entrada de ar) não acontece. Mesmo em materiais porosos com uma distribuição uniforme de poros uma certa quantidade de água permanece presente no material devido a fenômenos de superfície. Desta forma, uma melhor representação da forma da curva de retenção de um material com um único tamanho de poro deve ser aquela indicada pela curva (b) na Figura 5.2. Depois da entrada de ar uma certa quantidade de água permanece no material e uma energia maior é necessária para removê-la. A curva (c) da Figura 5.2 representa um material com dois tamanhos de poros. Cada um dos tamanhos está associado a um valor de sucção por meio do modelo 64 capilar. Um material com um grande número de tamanho de poros deve apresentar uma redução mais gradual do teor de umidade com o aumento da sucção. A curva (d) representa este material. Aplicando o modelo capilar pode-se inferir os tamanhos de poro equivalente para o material (i.e. 0.0146mm a 0.0000146mm) (Marinho, 2000). Teor de Umidade (%) 40 30 20 (d) (c) 10 (b) (a) 0 1 10 100 1000 Sucção (kPa) 10000 100000 Figura 5.2 - Forma geral da curva de retenção de acordo com a distribuição de poros (Marinho, 2005). Um solo argiloso tem, em geral, uma distribuição não uniforme de grãos. A distribuição de poros também é não uniforme para estes solos (e.g. Delage and Lefebvre, 1983). Desta forma, o aspecto linear da curva de retenção (plotada em gráfico mono-log), que é normalmente obtido para argilas pode ser justificado. Solos finos com limite de liquidez acima de 25%, em geral apresentam características de contração quando submetidos à secagem. O fenômeno de contração devido ao aumento de sucção tem um importante papel na forma da curva de retenção. O esvaziamento de um poro devido à dessaturação é seguida de uma redução do tamanho do mesmo poro. Isto mantém os vazios preenchidos com água e faz com que o valor de sucção correspondente à entrada de ar seja aumentado. Argilas pré-adensadas têm tamanhos de poros relativamente pequenos e portanto, a sucção de entrada de ar é muito elevada. A forma da curva de retenção para este tipo de material é relativamente horizontal. Durante o processo de determinação da curva de retenção a partir de uma sucção baixa até valores elevados, normalmente vários métodos são utilizados (e.g McQueen and Miller, 1974; Blight and Roussev, 65 1995; Barbour, 1998). Isto deve-se ao fato que nem todos os métodos de geração ou medição de sucção podem cobrir toda a faixa de sucção. É importante destacar que tanto a sucção matricial como a total podem ser medidas. Dependendo do método utilizado a sucção matricial ou total é obtida. Quando uma combinação de métodos é usada sem se atentar para o tipo de sucção que está sendo medida, a forma da curva de retenção pode ser afetada. Em particular, se o valor da sucção osmótica é significante. Até sucções da ordem de 30kPa a placa de sucção é um método conveniente e apropriado. Para sucções entre 30kPa e 1500kPa a placa de pressão (técnica da translação de eixos) ou o métodos do papel filtro podem ser utilizados. 5.2. Modelos matemáticos para a curva de retenção. Os modelos matemáticos para ajuste dos dados experimentais foram concebidos com o objetivo de obter, por meio da curva de retenção, a função de permeabilidade. Ou seja, a relação que existe entre a permeabilidade e a sucção. Os modelos mais conhecidos são: Brooks & Corey (1964); van Genutchen (1980) e Fredlund & Xing (1994). Estes modelos de ajuste não serão aqui detalhados, pois são bastante citados e descritos na literatura. Uma exceção será feita ao modelo de Brooks & Corey que é apresentado no item 8.2.5, onde o mesmo é utilizado em uma aplicação para fluxo de ar. Os estudos de Marinho e colaboradores têm enfocado os métodos de Brooks e Corey e van Genutchen. Isto se deve à maior simplicidade dos métodos citados, que têm se mostrado bastante eficientes quando aplicados à problemas de fluxo. Devemos separar os modelos de ajuste dos de obtenção da curva de retenção. Os modelos para a obtenção da curva de retenção não são numerosos. Os que consideram a história de tensões menos ainda. 5.2.1. Modelo de previsão da curva de retenção em materiais plásticos. Marinho (2005) apresenta um método para a obtenção da curva de retenção de materiais argilosos. O método faz uso do limite de liquidez e de correlações empíricas obtidas por meio do tratamento de dados da literatura e do banco de dados do grupo de solos não saturados da EPUSP. O modelo considera o efeito da história de tensões no solo. A seguir é descrito o modelo bem como são feitas aplicações do mesmo. 66 5.2.1.1. Solos considerados na criação do modelo Foram analisados 18 solos para o desenvolvimento do modelo. As características destes solos, bem como as fontes de referência estão apresentadas na Tabela 5.1. Solo 1 Argila de Londres LL (%) 78 PL (%) 26 PI (%) 52 2 Argila siltosa 41.5 20.5 21 3 4 5 Argila vermelha do Kênia Argila de Londres Solo de Taplow Terrace 95 70 36 35 24 19 60 46 17 6 7 8 Caulinita Argila amarela Solo residual 61 40 48 30 20 29 31 20 19 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Solo residual de gnaisse (1.6 m) Solo residual de gnaisse (3.0 m) Solo residual de gnaisse (4.4 m) Solo residual de gnaisse (6.0 m) Argila de Londres 90% Argila de Londres/ 10% Areia 70% Argila de Londres / 30% Areia 50% Argila de Londres / 50% Areia 30% Argila de Londres / 70% Areia Solo de Carsington 50 50 53 51 77 69 54 40 24 63 31 34 33 39 29 24 19 17 18 31 19 16 20 12 48 45 35 23 6 32 Reference Croney and Coleman (1954) Croney and Coleman (1954) Coleman et al.(1964) Marinho (1994) Dumbleton and West (1968) Biarez et al. (1987) Fleureau et al.(1990) Marinho and Stuermer (1998) Vieira (1999) Vieira (1999) Vieira (1999) Vieira (1999) Marinho (1994) Marinho (1994) Marinho (1994) Marinho (1994) Marinho (1994) Marinho (1994) Tabela 5.1 – Solos analisados para o modelo Na Figura 5.3 é apresentada a carta de plasticidade com as informações dos solos analisados. Pode-se observar que a maioria dos solos localizase acima da linha A. Apenas os solos residuais (8, 9, 10, 11 and 12) estão posicionados abaixo da linha A. 67 Índice de Plasticidade (%) 80 70 3 60 1 50 40 15 30 16 20 5 10 0 4 13 70 80 14 7 17 0 10 20 30 40 2 89 18 HA N I L A 6 11 10 12 50 60 90 100 Limite de Liquidez (%) Figura 5.3 – Carta de plasticidade com os solos analisados. Fazendo uso da capacidade de sucção Marinho & Chandler (1993b) analisaram o comportamento de um solo compactado. A capacidade de sucção (C) é definida para sucções entre 100 e 1000kPa da seguinte forma: C= ∆w ∆ log(sucção) Marinho (2005) apresenta uma série de dados obtidos de curva de retenção com os solos descritos na Tabela 5.1 e demonstra que existe uma relação entre a capacidade de sucção e o tipo de solo. Esta relação sofre a influência do tipo de compactação e da história de tensões do solo. Embora o modelo não leve em conta o solo no seu estado de ruptura também foi observado que a relação entre a sucção e o teor de umidade na ruptura segue o mesmo comportamento observado para outras condições. Esta condição de teor de umidade na ruptura pode ser associada com o estado crítico (e.g. Croney & Coleman, 1954; Brady, 1988). A Figura 5.4 apresenta a relação entre a capacidade de sucção e o limite de liqüidez obtida de ensaios com amostras em quatro condições diferentes, quais sejam: moldadas a partir de uma lama, dinamicamente compactada, estaticamente compactada e solos préadensados. Além dos dados obtidos com os solos apresentados na 68 Tabela 5.1 foram incluídas informações sobre a capacidade de sucção de onde não foi possível obter a curva de retenção, mas a capacidade de sucção pôde ser obtida (e.g. Ho et al., 1992; Blight, 1961; Mathyas, 1963; Holmes, 1955; Jucá, 1990; Ridley, 1995; Cepeda-Diaz, 1987; Clarke and Neves Jr., 1996; Olson and Langfelder, 1965). Capacidade de Sucção, C (%) 25 Lam a Dinam icam ente Com pactado Estaticam ente com pactado Argila rija (pré adensada) 20 15 10 5 0 25 35 45 55 65 75 85 Limite de Liquidez (%) Figura 5.4 – Relação entre a capacidade de sucção (C) e o limite de liquidez. Com base nos dados observou-se que a normalização com a capacidade de sucção (C), não é universal. A capacidade de sucção não representa o comportamento geral do solo. Algumas discrepâncias foram observadas. Isto pode ser visto na Figura 5.5, onde o teor de umidade normalizado é apresentado em função da sucção. Uma observação importante, relacionada com as informações apresentadas na Figura 5.5, é o fato dos dados se posicionarem em linhas paralelas. Este comportamento é usado para, indiretamente, estimar a curva de retenção para solos plásticos. Para isto é necessário utilizar um par de valores sucção/teor de umidade, o limite de liquidez, e fazer uso da relação empírica entre o limite de liquidez e a capacidade de sucção mostrada na Figura 5.4. 69 14 12 Argila Rija (3) Estaticamente compactado (13) Lama (10) Compactação dinâmica (17) Continuamente perturbado (6) w/C 10 8 O número entre parantesis é a quantidade de curvas de retenção 6 4 2 0 -02 10 10 -01 10 00 10 01 10 02 10 03 10 04 10 05 10 06 Sucção (kPa) Figura 5.5 –Teor de umidade normalizado com a capacidade de sucção em função da sucção. 5.2.1.2. Obtenção da curva de retenção com o modelo A seguir são descritos os passos a serem seguidos para a obtenção da curva de retenção de solos com limite de liquidez superior a 25%. Os limites de Atterberg devem ser determinados de forma a constatar que o solo posiciona-se acima da linha A na carta de plasticidade. Utilizando o limite de liquidez e observando o estado do solo, a capacidade de sucção pode ser inferida utilizando-se a Figura 5.4 Deve-se determinar pelo menos um valor de teor de umidade (wi) e sucção (sucçãoi). Isto pode ser feito utilizando-se a técnica do papel filtro, que requer 7 dias para se obter o resultado, ou pode-se utilizar o tensiômetro de alta capacidade que fornece o resultado da sucção em minutos (e.g. Marinho and Pinto, 1997). Com o teor de umidade (wi) da amostra, utiliza-se a Figura 5.6 para estimar a linha que se relaciona com a capacidade de sucção C obtida anteriormente. Utilizando o ponto de interseção como referência, uma linha horizontal deve ser traçada. Em seguida uma linha vertical é traçada no valor da sucção medida (sucçãoi) que é associada com o teor de umidade (wi). A interseção entre as linhas vertical e horizontal é o ponto que relaciona o teor de umidade normalizado (w/C) e a sucção. Para converter esta relação na curva de retenção, utiliza-se o valor de C obtido. 70 w (%) 4% 10 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 C = 9 C 8 = 6% C =8 7 % C= 10% 12% C= C= w/C 6 14% 5 4 3 2 1 0 00 10 10 01 10 02 10 03 10 04 Sucção (kPa) Figura 5.6 – Gráfico para determinação dos parâmetros do modelo. 5.2.1.3. Aplicando o método a dados da literatura Três exemplos de uso do método são apresentados por Marinho (2005) e serão reproduzidos aqui, utilizando dados de Bao and Ng (2000), Ridley (1995) and Vaunat and Romero (2000). Os dados obtidos das referências foram os limites de liquidez, um par de valores de sucção e teor de umidade, conforme mostrado na Tabela 5.2. Na Tabela 5.2 também são apresentados os parâmetros obtidos pelo método. Tipo de amostra Referência Bao and wl (%) Sucção (kPa) C (%) w/C 63.5 Teor de umidade (%) 28 100 5 5.9 Compactada 64 30 570 12 2.5 and Compactada 56 22 450 5 4.5 Ng Indeformada (2000) Ridley (1995) Vaunat Romero (2000) alta densidade Tabela 5.2 – Dados da literatura e parâmetros do modelo. 71 A seguir é apresentado um guia para o uso do método baseado nos dados de Bao and Ng, 2000: • • • • • • • • O limite de liquidez do solo é 63.5% e o limite de plasticidade é 27.3% (Ng, 2001). O solo está acima da linha A na carta de plasticidade. Tendo em vista que o solo é expansivo e indeformado, foi assumido que o mesmo é pré-adensado. Na Figura 5.4 obtém-se que a capacidade de sucção C é 5%. Os valores do teor de umidade e sucção foram obtidos diretamente da referência como mostrado na Tabela 5.2 Entrando com o valor do teor de umidade na Figura 5.6, o intercepto com a linha pontilhada que corresponde ao valor de C obtido é determinado. O intercepto corresponde a um teor de umidade normalizado (w/C) de 5.9. Utilizando o valor da sucção da Tabela 5.2, a linha que define a relação entre o teor de umidade normalizado e a sucção é obtida. Assumindo-se que C = 5%, o valor do teor de umidade pode ser obtido para os pontos desejados. Tendo em vista que este é um procedimento gráfico, a relação linear pode não ser acuradamente obtida. Na Figura 5.7 tem-se os dados experimentais de Bao e Ng (2000), Ridley (1995) e Vaunat and Romero (2000), e a linha que representa os resultados obtidos com o método. Os resultados obtidos para os solos apresentados por Bao e Ng (2000) e Ridley (1995) foram bons. A curva de retenção obtida com os dados de Vaunat e Romero (2000) também se mostrou razoável. No entanto uma pequena discrepância foi observada. Esta diferença pode estar associada com a interpretação da história de tensões da amostra. Teor de umidade gravimétrico (%) 40 Bao & Ng (2000) Modelo Ridley (1995) Modelo Vaunat & Romero (2000) Modelo 35 30 25 20 15 100 1000 Sucção (kPa) Figura 5.7 – Resultado da aplicação do modelo a dados da literatura. 72 5.3. Comportamento de retenção de água em materiais porosos Da mesma forma que a distribuição granulométrica indica o grau de uniformidade dos grãos do material, a curva de retenção mostra o grau de uniformidade dos poros do material. A associação da curva granulométrica com o índice de vazios (efeito da história de tensão) e a estrutura pode gerar uma significante variação na distribuição de poros. Desta forma, os materiais podem apresentar uma grande variabilidade na forma da curva de retenção. A seguir são apresentadas algumas curvas de retenção de diversos materiais onde serão feitos comentários sobre suas características. Em alguns casos são também apresentadas as curvas granulométricas pois, como mencionado, existe uma forte ligação entre a curva de retenção e a curva granulométrica, principalmente de materiais granulares como as areias. 5.3.1. Materiais não plásticos Observa-se na Figura 5.8 a curva de retenção de uma areia da praia de São Vicente (SP), representada pelo grau de saturação e sucção. Observa-se na curva de retenção da areia de São Vicente que a mesma possui uma perda acentuada de água com um pequeno acréscimo de sucção para valores acima de 4kPa. Isto deve-se ao fato da distribuição de poros desta areia ser muito uniforme. 100 Areia SV 90 80 70 S (%) 60 50 40 30 20 10 0 1 10 100 Figura 5.8 – Curva de retenção da areia de São Vicente. Na Figura 5.9 temos a curva granulométrica da areia de São Vicente, que indica que esta areia possui uma distribuição granulométrica bastante uniforme. Distribuição esta que leva a uma uniformidade no 73 tamanho dos poros da amostra, conforme pode-se observar na curva de retenção apresentada na Figura 5.8. #200 100 #100 #50#40#30 #16 #10 #4 90 Porcentagem Passada 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0.001 argil a 0.01 0.1 1 Diâmetro dos Grãos (mm) sil te are ia fi na arei a mé di a a. grossa 10 100 pedre gulh o Figura 5.9 – Curva granulométrica da areia de São Vicente. Observa-se que a entrada de ar da areia de São Vicente ocorre para um valor de sucção da ordem de 4kPa. Isto indica que o maior poro desta areia tem diâmetro da ordem de 0.04mm. Verifica-se na Figura 5.9 que os diâmetros dos grãos do material estão entre 0.3mm e 0.07mm. Na Figura 5.10 tem-se as curvas de retenção de três minérios de ferro, representadas pelo teor de umidade volumétrico e sucção. 74 60 FRD PFCJ PFM Teor de Umidade Volumétrico (%) 50 40 30 20 10 0 0.1 1 10 100 1000 Sucção (kPa) Figura 5.10 – Curva de retenção de alguns minérios de ferro. Os valores de entrada de ar dos materiais apresentados na Figura 5.10 são: 1kPa para o FRD, 8kPa para o PFCJ e 6kPa para o PRM. Observase na Figura 5.11 que os minérios com maior entrada de ar são aqueles com menores tamanhos de grãos. #200 100 #100 #50#40 #30 #16 #10 #4 90 Porcentagem Passada 80 70 60 50 FRD PFCJ PFM 40 30 20 10 0 0.001 argila 0.01 silte 0.1 1 10 Diâmetro dos Grãos (mm) areia fina areia média a. grossa 100 pedregulho Figura 5.11 – Curvas granulométricas de três minérios de ferro. 75 Na Figura 5.12 são apresentados os resultados de ensaios de curva de retenção feitos em três areias industrializadas. Os resultados são apresentados em termos de teor de umidade volumétrico (θ), grau de saturação (S) e teor de umidade gravimétrico (w). Observa-se que apenas a areia AN1000GO difere um pouco das demais, apresentando uma ligeira redução na entrada de ar. 40 θ (%) 30 20 S (%) 10 0 0.01 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0.01 25 0.1 1 10 100 0.1 1 10 100 1 10 100 w (%) 20 15 10 5 0 0.01 AN1500U AN1000GO AN0306G 0.1 Figura 5.12 – Curvas de retenção de três areias industriais. 76 Analisando-se as curvas granulométricas apresentadas na Figura 5.13 verifica-se que a curva da areia AN1000GO sugere a presença de um material ligeiramente mais grosso. Este aspecto pode estar associado à variação de entrada de ar observada. #200 100 #50#40 #30 #16 #10 #4 AN1500U AN1000GO AN0306G 90 80 Porcentagem Passada #100 70 60 50 40 30 20 10 0 0.001 argila 0.01 0.1 1 10 Diâmetro dos Grãos (mm) silte areia fina areia média a. grossa 100 pedregulho Figura 5.13 – Curva granulométrica das areias AN1500U, AN1000GO e AN0306G. Tendo em vista as observações feitas com relação à associação entre a curva de retenção e a curva granulométrica conclui-se que os modelos existentes para se obter a curva de retenção por meio da curva granulométrica podem ser eficientes em materiais granulares. De fato, o uso do modelo proposto por Prevedello & Loyola (2002) tem apresentado bons resultados quando aplicados a materiais que não contraem. 5.3.2. Materiais plásticos As curvas de retenção de materiais argilosos apresentam aspectos de comportamento equivalentes àqueles observados em ensaios em solos argilosos saturados. A plasticidade destes solos e a história de tensão modificam as suas características de retenção (e.g. Marinho 2005). Da mesma forma, como no caso das areias, a curva granulométrica pode ser uma ferramenta de caracterização do comportamento do solo 77 em termos de retenção de água. No entanto, a presença de minerais argilosos induz no solo um comportamento de variação de volume com a redução do teor de umidade que dificulta o uso da curva granulométrica para fins de previsão da curva de retenção. Nas Figuras 5.14 e 5.15 são apresentadas as curvas granulométricas de alguns materiais argilosos. Na Figura 5.14 os materiais são de diferentes localidades: a argila de Boom é da Bélgica, as argilas de Queensborough e Carsigton são da Inglaterra e a argila do Janga é de Olinda (PE). Na Figura 5.15 tem-se três curvas da argila de Londres onde a LC-500 é a mesma argila porém tendo sido submetida, após destorroamento a uma temperatura de 500oC. 100 90 Argila de Queenborough Percentagem que passa 80 70 60 Argila do Janga Argila de Boom 50 Argila de Carsington 40 30 20 10 0 0.0001 0.001 ARGILA 0.01 Tamanho da particulas (mm) Fina Media SILTE Grossa 0.1 Fina 1 Grossa Media AREIA Figura 5.14 – Curvas granulométricas de alguns solos. 78 100 90 Percentagem que passa 80 70 LC - 105 60 Argila de Londres (Chattenden) 50 40 LC - 500 30 20 10 0 0.0001 0.001 Argila 0.01 Tamanho das Partículas (mm) Fina Media SILTE Grossa 0.1 Fina 1 Grossa Media AREIA Figura 5.15 – Curvas granulométricas de argilas de Londres. Na Figura 5.16 são apresentadas as relações de retenção de água da argila de Carsigton. São apresentados resultados da secagem de uma amostra dinamicamente compactada e pontos relativos a outras amostras na condição inicial logo após a compactação. Observa-se a diferença na condição de retenção das diversas amostras. 79 e 1.1 1.1 0.9 0.9 0.7 0.7 0.5 0.5 S (%) (a) (c) 0.3 100 0.3 100 80 80 60 60 40 40 20 0 20 (b) 0 10 20 30 0 40 40 Water Content (%) 30 w (%) Argila de Carsington secando Condição inicial após compactação (d) 20 10 (e) 0 01 10 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.16 – Argila de barragem de Carsington dinamicamente compactada Na Figura 5.17 são apresentados resultados de ensaios de secagem e umedecimento para a argila de Londres compactada estaticamente. Observam-se as variações nos resultados obtidos em função do teor de umidade de compactação. Na relação entre o teor de umidade gravimétrico e a sucção as diferenças são menos perceptíveis. Observase ainda, na Figura 5.17e, que existe uma histerese devida ao processo de umedecimento do material. Por se tratar de uma argila com elevado potencial de expansão, o processo de umedecimento utilizado foi o de vapor. Este procedimento foi desenvolvido por Marinho (1994) e utizado com sucesso por Silva (2002) e Kormann (2003) em solos potencialmente expansivos. 80 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 100 (a) 80 80 60 60 40 40 20 0 0 10 20 30 40 50 Teor de Umidade (%) Argila de Londres LCST1 - secando LCST1 (umedecendo) LCST2 - secando LCST2 (umedecendo) LCST4 - secando (c) 20 (b) LCST4 (umedecendo) LCST5 - secando LCST5 (umedecendo) LCST8 - secando LCST8 (umedecendo) 0 Teor de Umidade (%) Índice de Vazios S (%) 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 100 (d) 50 Secando 40 30 20 10 0 01 10 Umedecendo utilizando vapor (e) 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.17 – Argila de Londres durante secagem e umidecimento. Na Figura 5.18 são apresentadas as representações esquemáticas do aspecto de três amostras da argila do Janga (PE) com as quais foram obtidas as respectivas curvas de retenção. O material foi deliberadamente preparado para obter diferentes macro-estruturas mantendo o mesmo índice de vazios. As amostras 1 e 2 apresentam baixo valor de grau de saturação, pois possuem macro-poros de grande tamanho. A amostra 3 foi preparada de forma a se obter uma estrutura semelhante a dos “grumos” das amostras 1 e 2. Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Figura 5.18 – Aspecto esquemático das duas amostras de argila do Janga ensaiadas. 81 Observa-se na Figura 5.19 que em termos de índice de vazios e sucção as amostras 1 e 2 comportam-se de forma distinta da amostra 3, porém com a mesma taxa de variação de índice de vazios. O mesmo não ocorre com relação ao grau de saturação. Na relação com o teor de umidade gravimétrico não foi possível se verificar as distintas macro-estruturas das amostras. 1.3 1.1 1.1 0.9 0.9 0.7 0.7 e 1.3 0.5 0.5 (a) S (%) 0.3 100 80 80 60 60 40 40 20 0 20 (b) 0 10 20 30 40 0 50 (d) 50 w (%) 40 w (%) Argila do Janga Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 (c) 0.3 100 30 20 10 0 01 10 (e) 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.19 – Argila do Janga estaticamente compactada com duas estruturas. Nas Figuras 5.20, 5.21 e 5.22 são apresentados resultados com amostras indeformadas da argila de Londres obtidas de três profundidades. Para a profundidade de 1 a 1.45m são apresentados alguns pontos de umedecimento. Observa-se que as amostras apresentam um elevado grau de saturação no início do ensaio. Verificase que a entrada generalizada de ar (GAE) das amostras foi superior a 8MPa para as amostras de 1 e 2m de profundidade. No caso da amostra de 3m a GAE foi da ordem de 4MPa. Os resultados sugerem (ver Figura 5.20e) que a variação do teor de umidade com a sucção, ou seja a capacidade de sucção (C), apresenta dois valores distintos em cada profundidade. No primeiro trecho, que vai de aproximadamente 100kPa a 1000kPa este valor é da ordem de 8%, e no trecho que vai de 1MPa a 10MPa o valor de C varia de 13% a 22.5%. 82 e Este comportamento é um reflexo do grau de pré-adensamento do material. 1.1 1.1 0.9 0.9 0.7 0.7 0.5 0.5 S (%) (a) (c) 0.3 100 0.3 100 80 80 60 60 40 40 20 0 20 (b) 0 10 20 30 0 40 40 w (%) 30 w (%) Profundidade 1-1.45m D-51a1 (secando) D-51a1 (umidecendo) D-52a1 (secando) D-52a1 (umidecendo) (d) 20 C=13% C=8.2% 10 (e) 0 01 10 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.20 – Argila de Londres indeformada 1 e 1.45m. 83 e 1.1 1.1 0.9 0.9 0.7 0.7 0.5 0.5 S (%) (a) (c) 0.3 100 0.3 100 80 80 60 60 40 40 20 0 20 (b) 0 10 20 30 0 40 40 w (%) 30 w (%) Argila de Londres - Profundidade 2-2.45m D-51b1 D-52b1 (d) 20 C=22.5% C=8% 10 (e) 0 01 10 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.21 - Argila de Londres indeformada 2 e 2.45m. 84 e 1.1 1.1 0.9 0.9 0.7 0.7 0.5 0.5 S (%) (a) (c) 0.3 100 0.3 100 80 80 60 60 40 40 20 0 20 (b) 0 10 20 30 0 40 40 w (%) 30 w (%) Argila de Londres - Profundidade 3-3.45m D-51c1 D-52.c1 (d) 20 C=18.5% C=8.5% 10 (e) 0 01 10 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.22 - Argila de Londres indeformada 3 e 3.45m. 85 S (%) e Na Figura 5.23 são apresentados os resultados do ensaio de secagem com medição de sucção para a argila de Queensborough. Observa-se que é um material bastante compressível e que o processo de dessaturação generalizada exige a geração de um valor de sucção superior a 1MPa. O material permanece com um grau de saturação superior a 80% mesmo para sucções superiores a 5MPa. 1.9 1.7 1.5 1.3 1.1 0.9 0.7 0.5 0.3 100 1.9 1.7 1.5 1.3 1.1 0.9 0.7 0.5 0.3 100 (a) 80 80 60 60 40 40 20 0 (c) 20 (b) 0 10 20 30 40 50 60 0 70 Indeformada Argila de Queensborough w (%) w (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 00 10 (d) (e) 10 01 10 02 10 03 10 04 Sucção (kPa) Figura 5.23 – Argila de Queensborough indeformada 86 e Na Figura 5.24 são apresentados os resultados de dois ensaios com a argila de Boom. Esta argila vem sendo estudada na Europa para ser utilizada como material de proteção de depósitos de rejeitos radioativos. 1.1 1.1 0.9 0.9 0.7 0.7 0.5 0.5 0.3 100 S (%) (c) (a) 0.3 100 80 80 60 60 40 40 20 0 20 (b) 0 10 20 30 0 40 40 w (%) 30 w (%) Estaticamente Compactada Argila de Boom 1 Argila de Boom 2 (d) 20 10 0 01 10 (e) 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.24 – Argila de Boom estaticamente compactada 5.3.3. Solos residuais Os solos residuais, tanto no seu estado natural como no estado compactado vem sendo estudados sob o ponto de vista da mecânica dos solos não saturados por diversos autores (e.g. Fonseca et al ,1994; Abramento e Pinto, 1993; Kratz de Oliveira et al., 2001; Leong & Rahardjo, 2002; Kakehi, et al., 2004; Beneveli e de Campos, 2004 entre outros). A sua principal distinção em relação aos demais materiais anteriormente apresentados é a sua heterogeneidade. Com relação à plasticidade observada em ensaios convencionais os solos residuais também apresentam distinções de comportamento que dificultam o uso dos limites físicos para inferir comportamentos típicos. O grupo de solos não saturados da EPUSP tem investigado o comportamento do solo residual de gnaisse da região do campus da 87 USP (SP) (e.g. Kuwagima, 2000, Stuermer, 1998, Vieira, 1999 e Oliveira, 2004). Neste item são apresentados alguns aspectos relativos ao comportamento de retenção de água do solo residual de gnaisse do campus da USP. Na Figura 5.25 são apresentadas curvas granulométricas do perfil de solo residual de gnaisse estudado. Observa-se que apenas o solo da camada mais superfícial apresenta uma diferença de comportamento, indicando um maior teor de argila. Pode-se observar que o teor de argila é menor para a profundidade maior. 100 90 Profundidade 1.6m 3.0m 4.4m 6.0m Percentagem que passa 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0.001 0.01 0.1 1 10 Tamanho dos grãos (mm) argila silte are ia fina are ia mé dia a. grossa Figura 5.25 – Curva granulométrica do solo residual de gnaisse Na Figura 5.26 tem-se uma compilação das relações de retenção de água de diversas amostras obtidas com três diferentes energias de compactação. As energias utilizadas foram a do Proctor normal (SP), a do Proctor modificado (MP) e uma energia menor que a do Proctor normal (ME). Pode-se observar que até a entrada generalizada de ar (GAE), quanto maior a energia de compactação maior é o grau de saturação para uma mesma sucção. Após o GAE as curvas se tornam praticamente únicas, independentemente da energia de compactação. Isto é possivelmente devido ao fato de que os microporos possuem a mesma característica independentemente da energia utilizada. Maiores 88 e detalhes sobre o comportamento deste solos podem ser obtidos em Marinho & Stuermer, 2000). 1.2 1.1 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 (a) (c) S (%) 80 60 40 20 0 (b) 0 5 10 15 20 25 30 SP MP NE w (%) w (%) 35 30 25 20 15 10 5 0 (d) (e) 10 100 1000 10000 100000 sucção (kPa) Figura 5.26 – Resultados de ensaios de secagem para diversas energias de compactação (Marinho & Stuermer, 2000). Oliveira & Marinho (2004) apresentam alguns aspectos sobre a curva de retenção do solo residual de gnaisse em estudo. Na Figura 5.27 estão apresentados dados obtidos por Oliveira (2004) onde se tem a relação entre o grau de saturação e a sucção para três amostras moldadas com diferentes teores de umidades (ramo seco, no teor de umidade ótimo e ramo úmido), utilizando a mesma forma de compactação, de forma a atingir as densidades da curva do Proctor normal. A medição da sucção foi feita utilizando-se três métodos, conforme as faixas apresentadas na Figura 5.27. Observa-se que apenas a amostra compactada no ramo seco apresentou uma curva significativamente diferente. Este comportamento reflete a distribuição de poros do material. 89 100 90 80 70 S (%) 60 Placa de sucção 50 Placa de pressão Papel filtro 40 30 Compactação Estática CRO1 - Umid. Ótima CRS1 - Ramo Seco CRU1 - Ramo Úmido 20 10 0 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 5.27 – Relação entre o grau de saturação e a sucção para amostras moldadas com diferentes teores de umidade. Na Foto 5.1 estão apresentadas as imagens de microscopia eletrônica de varredura feitas com os corpos de prova ao final dos ensaios. Verifica-se claramente que a estrutura do material compactado no ramo seco apresenta poros de maior dimensão. Isto justifica a diferença observada no início da curva de retenção apresentada na Figura 5.27. 90 Ramo Úmido Ótima Ramo Seco Foto 5.1 – Imagens de microscopia eletrônica obtidas de corpos de prova moldados na curva de compactação. Oliveira (2004) realizou uma série de ensaios com o solo residual do campo experimental da USP, no estado compactado, onde um dos objetivos foi avaliar o efeito da pressão confinante na curva de retenção. O procedimento utilizado por Oliveira (2004) foi baseado no trabalho realizado por Vanapalli (1994) e está descrito em Oliveira e Marinho (2004). Na Figura 5.28 são apresentados os resultados dos ensaios em termos de grau de saturação normalizado com relação ao grau de saturação inicial, em função da sucção. Observa-se que existe uma tendência da curva se deslocar para a direita (aumentando o valor da sucção de entrada de ar) com o aumento do confinamento. 91 1 S/Si (%) 0.8 0.6 0.4 Compactação Estática CRO1 - Conf. 0 kPa CRO2 -Conf. 100 kPa CRO3 - Conf. 200 kPa CRO4 - Conf. 300 kPa 0.2 1 10 100 1000 10000 Sucção (kPa) Figura 5.28 – Efeito do confinamento na curva de retenção (solo residual) Entrada de ar (AE) ou Entrada Generalizada de Ar (GAE) - (kPa) Na Figura 5.29 os valores da entrada de ar e da entrada generalizada de ar (GAE) são apresentados em função da pressão confinante aplicada. São também apresentados dados da literatura com o objetivo de se comparar o comportamento com outros solos. Ainda na Figura 5.29 são apresentados os valores de entrada de ar (AE) do solo residual. 450 400 350 Vanapalli (1994) - Ramo Seco Vanapalli (1994) - Umidade Ótima Vanapalli (1994) - Ramo Úmido Rassam e Willians (1999) Rassam e Willians (1999) Charles e Pang (2000) Solo Residual (ótima) - AE Solo Residual (ótima) - GAE 300 250 200 150 100 50 0 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 Tensão Confinante (kPa) 5.29 – Variação dos ponto de entrada de ar (AE e GAE) em função da tensão confinante. 92 Usualmente na literatura não se observa qualquer distinção explícita às diferenças entre a entrada de ar (dessaturação) e a entrada generalizada de ar. Observa-se que o solo residual apresenta um maior valor de entrada generalizada de ar (GAE), porém a tendência de aumento desta pressão com o confinamento é semelhante ao dos demais solos, também apresentados na Figura 5.29. O valor da entrada generalizada de ar do solo residual apresentou-se bem acima dos valores de entrada de ar (AE). Dependendo do tipo de solo o ponto de modificação das características mecânicas é o GAE ou AE. Na Figura 5.30 tem-se os dados de ensaios obtidos com o solo residual do campus da USP no estado indeformado. A Tabela 5.3 indica as características das amostras. De cada profundidade três amostras foram ensaiadas. As amostras foram coletadas de um poço e escolhidas de forma a representar diferentes materiais na mesma profundidade. Escolheu-se amostras que possuíam características visuais distintas de modo a possibilitar uma avaliação da variabilidade do material numa mesma profundidade. 55 Corpo de Prova P1AS P2BS P3BS P2A P3A 50 45 40 P1B P2B P3B P1C P2C P1D P2D P3D P2CS θ (%) 35 30 25 20 15 10 5 0 00 10 10 01 10 02 10 03 10 04 10 05 sucção (kPa) Figura 5.30 – Curvas de retenção do solo residual indeformado de várias profundidades. Observa-se na Figura 5.30 que as amostras obtidas a 1.6m apresentaram uma maior homogeneidade nos resultados das curvas de retenção. As demais indicaram uma faixa de variação para o trecho de sucção entre 10kPa a aproximadamente 5MPa. 93 Prof.(m) código 1,6 A 3,0 B 4,4 C 6,0 D wl IP 50,3 49,6 50,4 49,4 49,6 49,6 50,8 52,0 56,6 55,4 51,7 47,0 22,6 15,6 18,4 16,9 16,2 12,5 15,8 17,7 29,4 16,0 9,4 12,5 G µm %<2µ 27,0 30,0 29,0 12,0 13,5 14,5 13,5 9,0 8,0 8,5 14,0 14,0 2,7 2,5 2,7 2,7 2,8 2,6 2,8 2,7 2,7 2,7 2,8 2,7 Tabela 5.3 - Características das amostras 1 P3A P3A (F&X) P2B P2B (F&X) P1C P1C (F&X) P1D P1D (F&X) 0.8 0.6 0.4 0.2 0 (a) 10 3000 100 f (sucção) 10000 100000 Solo Residual - Am ostra/Prof. P3A / 1.6m P2B / 3.0m P1C / 4.4m P1D / 6.0m (b) 0.004 0.003 0.002 0.001 Sucção (kPa) 0 -02 10 100000 10000 1000 100 10 1 0.1 0.01 (d) 2500 Sucção (kPa) 0.006 0.005 1000 Sucção (kPa) Teor de umidade volumétrico normalizado Com o objetivo de avaliar a distribuição de poros nas diversas profundidades, aplicou-se o modelo de Fredlund & Xing (1994) aos dados experimentais. Em seguida determinou-se a distribuição de poros conforme sugerido por Stoicescu et al. (1996). Na Figura 5.31a estão apresentados os dados experimentais e o ajuste com o modelo de Fredlund & Xing (1994). Na Figura 5.31b tem-se a distribuição de poros para cada profundidade obtida com base na curva ajustada. 10 -03 10 -04 10 -05 10 -06 alfa AE GAE 2000 1500 1000 500 Raio (mm) (c) 0 P3A P2B P1C P1D Figura 5.31 – Análise porosimétrica baseada na curva de retenção (a) curvas de retenção (b) distribuição de poros (c) relação teórica entre raio do poro e sucção (d) valores de α, AE e GAE para as diversas amostras. 94 Na Figura 5.31c é apresentada a relação teórica entre a sucção e o raio do poro equivalente. Analisando-se os resultado observa-se que as amostras abaixo de 2m apresentam poros maiores que as amostras superiores. Isto indica o grau de decomposição do perfil do solo residual. Com base nas curvas de retenção apresentadas na Figura 5.31a três parâmetros relacionados à dessaturação do solo podem ser obtidos, quais sejam: o parâmetro alfa de ajuste do modelo de Fredlund & Xing, o valor da sucção de entrada de ar (ponto onde o solo de fato dessatura), e a entrada generalizada de ar (GAE). Na Figura 5.31d estão apresentadas as variações destes parâmetros em função das amostras ensaiadas. Verifica-se que de uma maneira geral existe uma tendência de redução de todos os três parâmetros com o aumento da profundidade. Isto é um reflexo do grau de alteração das amostras, indicando poros menores nas camadas superficiais. 95 5.4. Características de materiais porosos artificiais O percentual de material inerte adicionado a uma argila reduz sua plasticidade modificando o seu comportamento. A relação entre a plasticidade de uma argila e o seu comportamento foi observada por Skempton (1970). Skempton apresentou dados que comprovam que a relação entre o índice de vazios e o log da tensão efetiva média (p´) in situ é essencialmente linear para qualquer argila sedimentar e que existe uma clara definição entre argilas de diversas plasticidades quando observa-se a relação índice de vazios versus log p´. No caso do solo submetido à sucção esta relação se mantém até próximo do ponto de entrada generalizada de ar (GAE), conforme mostrado por Marinho e Chandler (1993). Na Figura 5.32 são apresentados resultados de curvas de retenção obtidas com materiais preparados em laboratório de forma a se obter uma ampla faixa de plasticidade. 40 100/0 90/10 70/30 50/50 30/70 Carsington Teor de Umidade (%) 100/0 90/10 30 70/30 Carsington 50/50 20 30/70 10 0 50 100 1000 10000 Sucção (kPa) Figura 5.32 - Curvas de retenção de misturas de argila de Londres com areia. A capacidade de sucção (C) dos materiais varia em função do limite de liquidez (e.g. Marinho & Chandler, 1993). Na Figura 5.33 é apresentada a relação entre C e o limite de liquidez dos diversos materiais cujas curvas de retenção estão apresentadas na Figura 5.32. Observa-se que para o tipo de amostra ensaiada (dinamicamente compactada) verificase uma boa correlação. 96 14 100/0 13 12 90/10 C (%) 11 10 70/30 9 Carsington 8 50/50 7 6 5 30/70 20 30 40 50 60 70 80 90 Limite de Liquidez (%) Figura 5.33 – Variação da capacidade de sucção (C) com o limite de liquidez. O uso do conceito que relaciona a capacidade de sucção com o limite de liquidez é utilizado no desenvolvimento de um modelo de previsão da curva de retenção para solos plásticos. Este modelo é apresentado no item 5.2.1. Com o objetivo de investigar a distribuição de poros em solos e materiais porosos, Oliveira (2002) preparou uma série de amostras com diversas misturas de modo a induzir uma variação, tanto no limite de liquidez como na granulometria, e em conseqüência na distribuição de poros. Na Figura 5.34 são apresentados resultados da curva de retenção, em termos de teor de umidade gravimétrico do material preparado com 30% de areia fina em relação a caulim puro. Ainda na Figura 5.34 observa-se a curva de retenção obtida utilizando-se três métodos, quais sejam: placa de sucção, placa de pressão e papel filtro. Observa-se a boa continuidade dos dados entre os diversos métodos. Salienta-se, no entanto, que pode existir uma pequena descontinuidade entre os dados obtidos com a placa de pressão e o papel filtro. Esta descontinuidade é fruto da associação entre o contato do papel com a água do solo e o tempo de equilíbrio. Desta forma a medição com o papel filtro pode estar indicando uma sucção que é uma combinação entre sucção matricial e total. 97 25 W (%) 20 15 30-% Caulim - 30K01 placa de sucção placa de pressão papel filtro 10 5 0 00 01 02 03 04 05 10 10 10 10 10 10 Sucção Matricial (kPa) Figura 5.34 – Curvas de retenção para uma mistura de caulim e areia (Dados de Oliveira 2002). Na Figura 5.35a tem-se a curva de retenção em termos de teor de umidade volumétrico, com os respectivos parâmetros de ajuste feitos com o modelo de Fredlund & Xing (1994). Como pode-se observar foram necessários três ajustes para cobrir toda a curva. Na Figura 5.35b é apresentada a análise relativa à distribuição de poros. Nesta análise são apresentadas as freqüências das distribuições de poros que nada mais é do que a derivada da função de ajuste determinada com os pontos experimentais. Observa-se que no primeiro trecho (sucções mais baixas) existe uma predominância de poros com raio equivalente a 0.0207mm (20.786µm). Neste trecho a perda de água é de aproximadamente 14%. No último trecho, a predominância é de poros com raio de 0.000047mm (0.047µm) e a perda de água neste trecho é de aproximadamente 18%. O trecho intermediário é o que apresenta menor perda de água (2%). Isto significa que o volume de poros com raio de 0.97µm é pequeno em relação aos demais. 98 40 30 θ w (%) (a) a=145kPa m=0,02 n=4,9 a=145kPa m=0,02 n=4,9 20 10 0 00 10 a=5700kPa m=0,05 n=30 10 01 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Freqüência de Distribuição de Poros 0.025 r = 20,786 µ m (b) 0.02 0.015 0.01 r = 0,047 µ m r = 0,970 µ m 0.005 0 00 10 10 01 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.35 – Resultados obtidos com uma mistura de caulim com areia (a) curva de retenção e ajustes (b) distribuição de poros. (dados de Oliveira 2002). Utilizando-se o modelo de Brooks & Corey (1966) foram obtidos os índices de distribuição de poros (λ) ao longo da curva apresentada na Figura 5.35a. Na Figura 5.36 estão apresentados os resultados das análises em termos de teor de saturação efetivo e sucção. Verifica-se que quanto maior o valor de λ, mais uniforme é a distribuição de poros do material no trecho considerado. Comparando-se as análises feitas na Figura 5.35 com a da Figura 5.36 observa-se a boa concordância dos resultados. 99 (ua-uw)b=9,338kPa r = 15,581 µ m (ua-uw)b=157,14kPa r = 0,926 µ m (ua-uw)b=4414,43kPa r = 0,033µ µm Se 1 0.1 λ =1,81 λ =3,27 λ =2,71 0.01 00 10 10 01 10 02 10 03 10 04 10 05 Sucção (kPa) Figura 5.36 – Aplicação do modelo de Brooks e Corey à mistura caulim e areia. (dados de Oliveira 2002). Estas análises foram feitas com base em curvas de retenção que são obtidas de forma simples e direta. Em geral a distribuição de poros de um material poroso é obtida utilizando-se a técnica da porosimetria de mercúrio. Esta técnica utiliza um equipamento caro e sofisticado. Para compararmos os resultados obtidos com as duas técnicas foram feitas análises no mesmo material utilizando-se o porosímetro. A porosimetria por intrusão de mercúrio baseia-se na hipótese de que os poros do material estudado são cilíndricos e os tamanhos equivalentes dos poros são obtido pela expressão: 2γ (cosθ ) P onde r é o raio do poro, γ é a tensão superficial do mercúrio, θ é o ângulo entre o mercúrio e o material e P é a pressão necessária para forçar o mercúrio para dentro dos poros. r=− Ao compararmos o procedimento de obtenção da distribuição de poros usando a curva de retenção de água com a técnica de intrusão de mercúrio pode-se verificar que no segundo caso a água é substituída pelo mercúrio embora as características do mercúrio sejam totalmente distintas. No caso da curva de retenção de água o material inicia o processo saturado por água e seca à medida que a sucção aumenta. No caso da porosimetria por intrusão de mercúrio o solo tem que iniciar o processo completamente seco e o mercúrio “expulsa” o ar fazendo o papel que era do próprio ar no caso da curva de retenção. 100 Na Figura 5.37a são apresentadas duas curvas de retenção obtidas pelo método de extração de água e por intrusão de mercúrio. Observa-se que embora exista uma boa semelhança na forma, as curvas apresentam-se defasadas. A curva obtida com a técnica que usa o mercúrio posicionase mais à direita. Grau de Saturação (%) Analisando-se a distribuição de poros obtidos em cada caso (Figura 5.37b) verifica-se que os dois métodos distinguem bem as predominâncias de poros existentes. No entanto, a curva obtida por intrusão de mercúrio apresenta poros menores. Isto é justificado pelo fato de que a amostra usada na porosimetria por intrusão de mercúrio foi seca em estufa antes de ser submetida ao ensaio (a secagem é uma exigência da técnica). Isto induz a uma redução no tamanho dos poros sem, no entanto, alterar significativamente a forma da distribuição de poros. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 (a) 30K01 Porosim etria de Mercúrio Curva de retenção convencional 1 10 100 1000 10000 100000 0.025 (b) Frequência 0.02 0.015 0.01 0.005 0 1 10 100 1000 10000 100000 Pressão (kPa) Figura 5.37 – Análise comparativa entre o método de porosimetria de mercúrio e o método utilizando a curva de retenção de água. 101 6. O estado de tensão em solos não saturados 6.1. Tensão efetiva Dentre as diversas formulações para expressar a tensão efetiva em solos não saturados a apresentada por Bishop em sua palestra de 1955, e publicada em 1959, é a melhor delas e é representada pela seguinte expressão: σ ´ = σ − u a + χ (u a − u w ) onde: σ ´ é a tensão efetiva σ é a tensão total u w é a pressão na água u a é a pressão no ar χ é um parâmetro que depende do grau de saturação (S). O próprio Bishop observou que a relação entre χ e S não era única e que dependia fortemente do tipo de solo, do seu estado e de sua trajetória de tensões. No entanto, o principal problema na aplicação da tensão efetiva em solos não saturados reside no fato de que a expressão da tensão efetiva não representa adequadamente nem o colapso nem a expansão de solos submetidos à absorção de água. Gens (1995) explica que a causa básica da equação acima não funcionar reside no fato de que as forças intergranulares que surgem por aplicação de tensão ou por sucção possuem efeitos diferentes sobre a deformação da estrutura do solo. Jennings & Burland (1962) já afirmavam que tão logo o ar entra nos poros a pressão da água passa a não agir em toda a secção transversal e o princípio proposto por Terzaghi não pode ser usado. Esta afirmação justifica a equação proposta por Bishop (1959) além de diversas outras que tentam levar em conta a natureza bifásica do líquido em solos não saturados. Wheeler & Karube (1995) apresentam os diferentes modos de ação da sucção e da tensão externa. A Figura 6.1 apresenta a idealização de um solo não saturado representado por duas partículas esféricas. Neste exemplo a pressão de ar é a atmosférica e a pressão na água do menisco no contato entre as partículas é negativa. Uma tensão externa (σ) aplicada no contorno de um elemento de solo contendo diversas partículas irá produzir, nos contatos das partículas, tanto tensão normal quanto tangencial, mesmo que o estado de tensão externo seja isotrópico. Portanto, se a tensão externa é suficientemente aumentada, a força tangencial nos contatos poderá causar deslizamentos entre partículas e deformação plástica. Por outro lado, o efeito da sucção 102 (capilar) produz apenas um aumento da tensão normal nos contatos. Conclui-se assim que o aumento da sucção irá produzir apenas um aumento da força normal nos contatos, reduzindo a tendência de deslizamento entre partículas. Desta forma o aumento da sucção é equivalente ao acréscimo da tensão efetiva no caso do solo saturado, já que isto causa um aumento nas forças normais interpartículas. Por outro lado, é como uma redução da tensão efetiva já que reduz a tendência de deslizamento entre partículas (Wheeler & Karube,1995). N σ Νψ Tσ ua = 0 uw < 0 N σ - componente intergranular normal devido à tensão externa Τψ - componente intergranular tangencial devido à tensão externa Νψ - componente intergranular normal devido à sucção Figura 6.1 – Influência da tensão externa e da sucção nas forças interpartículas (modificado de Wheller & Karube, 1995). Como justificado anteriormente não se pode utilizar o princípio das tensões efetivas de forma explícita nas análises de solos não saturados, em particular em problemas de variação de volume. Bishop & Blight (1963) questionam fortemente os argumentos de Jennings & Burland (1962) e reafirmam a validade do princípio das tensões efetivas, considerando possível a obtenção de parâmetros adequados para o seu uso. Como se verá no Capítulo 7 quando se trata de resistência ao cisalhamento estes parâmetros são de fato possíveis de serem obtidos. 103 6.2. A efetividade da sucção Quando são realizados ensaios para a caracterização dos solos os ensaios principais são: granulometria e limites de consistência. Tanto um como o outro podem ter uma interpretação que inclui conceitos da mecânica dos solos não saturados. Ao observarmos uma curva granulométrica imaginamos de imediato o tamanho e a distribuição dos grãos e com isto poderíamos inferir o tamanho e a distribuição dos poros que aquele solo poderia ter em determinadas condições. Esta análise da curva granulométrica nos permite, com um pouco de experiência, visualizar a curva de retenção. Fredlund et al. (1997) e Fredlund, et al. (2002) apresentam um método para obter a curva de retenção a partir da curva granulométrica. Modelo semelhante também é apresentado por Prevedelo & Loyola (2002). Na Figura 6.2 é apresentada a associação entre a curva granulométrica e a curva de retenção ilustrando ainda como a água fica retida nos poros. Dependendo do tipo de solo pode-se obter curvas de retenção diferentes em função da densidade e da estrutura. O arranjo das partículas possibilita assim a formação de uma “estrutura” de poros que terá características específicas de retenção de água. Como visto anteriormente o grau de saturação possui uma relação direta com a efetividade da sucção em transmitir esforços aos grãos. #200 1 00 #100 #50#40#30 #16 #10 #4 Índice de vazios Estrutura 90 Porcentagem Passada 80 S 70 Distribuição de poros Curva de retenção de água 60 50 40 Ψ1 30 20 10 Log Ψ m 0 0 .0 01 argil a 0.01 0.1 1 10 Diâmetro dos Grãos (mm) s ilte areia fi na areia média a. g ross a 1 00 pedregulho Figura 6.2 – Associação entre a distribuição granulométrica e a capacidade de retenção de água. 104 Nos ensaios de limites de consistência podemos observar que no limite de liqüidez o solo encontra-se saturado e com uma sucção igual a zero. Já no limite de plasticidade o valor da sucção pode ser considerável e está bem próximo do valor obtido quando se compacta o material no teor de umidade ótimo utilizando-se a energia do Proctor normal. Ao analisarmos o processo de contração de um solo plástico observa-se que existem duas fases distintas (e.g. Haines, 1923), quais sejam: • • Contração normal – que ocorre enquanto o solo permanece saturado Contração residual – que ocorre após a dessaturação do solo Na Figura 6.3 é apresentada esquematicamente a curva de contração de dois solos, um plástico (linha pontilhada) e outro não plástico (linhas tracejadas). O solo plástico inicia o processo de contração a partir da umidade equivalente ao limite de liquidez e o não plástico com um valor com o qual o solo esteja saturado. Ψ2 Ψ1 Ψ0 O efeito de Ψ é diferente da pressão isotrópica mecânica O efeito de Ψ é igual ao da pressão isotrópica mecânica Solo não plástico C e Ψ1 D 10 S< S= 100 % e S = 10 0% Sucção 0% ∆esat Ψ2 Ψ1 ∆esat A ∆ensat Solo plástico B Teor de umidade wc wp wl Pressão isotrópica mecânica wl e= wG S wp wc e = wG Figura 6.3 – Associação entre os limites físicos e o comportamento do solo no estado não saturado. Ainda na Figura 6.3 é ilustrado o processo de adensamento nas amostras com condições iniciais iguais às do ensaio de contração. O processo de contração leva o solo de uma sucção igual a zero (Ψo) até um valor Ψ1 que representa a máxima sucção que este solo pode suportar sem dessaturar. Observando-se na Figura 6.3 a relação entre o índice de vazios e a pressão isotrópica da amostra verificamos que a 105 redução de indice de vazios até o ponto A, atinge um valor de pressão isotrópica que é igual a sucção Ψ1, obtida no processo de contração por aumento de sucção. A partir deste ponto A, a pressão isotrópica poderá ser aumentada e a redução do índice de vazios manterá o mesmo gradiente. No caso do processo de contração a redução do índice de vazios após a dessaturação da amostra (Ψ > Ψ1) será cada vez menor (contração residual). Isto indica a incapacidade da sucção em reduzir o volume do solo com o mesmo gradiente de pressão. A efetividade da sucção em reduzir o volume do solo não plástico é praticamente nula, enquanto uma pressão isotrópica mecânica induz alguma redução do índice de vazios. É interessante observar que o teor de umidade da amostra quando submetida à contração ou ao adensamento isotrópico, pode atingir valores iguais aos dos limites de consistência, mas com comportamento bastante distinto. Na Figura 6.3 pode-se observar de forma esquemática as diferenças em termos de índice de vazios que o solo pode chegar estando com o mesmo teor de umidade. Blight (1965) mostrou que o efeito de se aplicar uma compressão mecânica em um solo era equivalente a impor uma sucção enquanto o solo permanecia saturado. Na Figura 6.4 são apresentados os resultados obtidos por Blight (1965). Observa-se a total concordância do efeito das diversas pressões aplicadas indicando que enquanto o solo permanece saturado a sucção tem o mesmo efeito que a tensão efetiva. Sucção (kPa) Contração Volumétrica (%) 0 5 0 100 200 300 400 500 600 700 Pressão mecânica Sucção Potencial gravitacional 10 15 20 Figura 6.4 - Relação entre a contração volumétrica, a pressão efetiva mecanicamente aplicada, a sucção e o potencial gravitacional (modificado de Blight, 1965). Bishop et al. (1975) demonstraram, para dois solos plásticos (caulim e argila de Londres), que a efetividade da sucção varia em função das características do solo. Na Figura 6.5 são apresentadas as envoltórias 106 Resistência Não Drenada (MPa) de resistência dos dois solos obtidas em ensaios confinados e não confinados. Nos dois tipos de ensaios as amostras foram confinadas e adensadas sob diversas pressões. Alguns corpos de prova foram ensaiados com a tensão confinante de adensamento e outros foram ensaiados após o alívio (não drenado) das tensões confinantes de adensamento. O alívio não drenado de tensões isotrópicas mantém a tensão efetiva se as características porosimétricas do solo permitirem a manutenção do valor da sucção que será correspondente à média das tensões existentes no campo (tensão octaédrica). Observa-se que no caso da argila de Londres a pressão a partir da qual observa-se uma diminuição da resistência é de 20MPa, enquanto que para o caulim este valor é de aproximadamente 1.8MPa. A capacidade do solo de manter a tensão efetiva após o alívio é menor para o caulim, sugerindo que este possui poros de maior tamanho. 20 (a) Ensaios confinados – Argila de Londres Ensaios não confinados - Argila de Londres 15 10 5 0 0 10 20 30 40 50 60 70 Resistência Não Drenada (MPa) Pressão de adensamento (MPa) 2.0 (b) Ensaios confinados - Caulim Ensaios não confinados - Caulim 1.5 1.0 0.5 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Pressão de Adensamento (MPa) Figura 6.5 – Relação entre a resistência não drenada e a resistência confinada para um caulim e argila de Londres (Modificado de Bishop et al, 1975). 107 Utilizando “bender elements” Marinho et al. (1995) observaram que o módulo cisalhante também é influenciado pela sucção do solo e que a efetividade da sucção em aumentar o módulo é reduzida a partir de um determinado valor de sucção. Na Figura 6.6 podem-se observar as curvas de contração de 4 amostras de argila de Londres compactadas e uma amostra indeformada, juntamente com os valores correspondentes de sucção e módulo cisalhante (GUBE). Os resultados sugerem também que o processo de dessaturação inibe o efeito da sucção em induzir o aumento do módulo cisalhante. 1.3 1.3 (a) 1.2 Índice de vazios 1.1 1 1 0.9 0.9 S = 100% 0.8 0.8 0.7 0.7 0.6 0.6 0.5 0.5 0.4 0.4 0.3 0 (b) 1.2 W otm. 1.1 10 20 30 40 0.3 50 10 Teor de umidade (%) GUBE (kPa) Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Indeformado 10 10 10 10 100 1000 10000 100000 06 05 04 (c) 03 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 6.6 – Efeito da sucção no módulo cisalhante GUBE (Marinho et al., 1995). 6.3. Variáveis de estado de tensão em solos não saturados As variáveis de estado de tensão são usualmente descritas como tensões que podem ser medidas. Partindo-se desta definição pode-se concluir que a tensão efetiva definida por Bishop não pode ser considerada uma variável de estado de tensão, pois não se pode medir o seu valor diretamente. As variáveis de estado de tensão são: tensão total (σ), a poro pressão da água (uw) e a poro pressão do ar (ua). Conforme descrito por Fredlund (1997), no caso de solos saturados o estado de tensões é definido pelas variáveis de tensão efetiva que é representado por, 108 (σ x − u w ) τ yx τ zx σ = τ xy τ zy (σ y − u w ) τ xz (σ z − u w ) τ yz [ ] ´ onde: σx, σy, e σz são as tensões totais nas direções x, y e z, respectivamente uw é a poro pressão na água. De acordo com Fredlund & Morgenstern (1977) o estado de tensões em solos não saturados pode ser definido por dois conjuntos de variáveis independente de tensões. Existem três conjuntos possíveis de variáveis de estado de tensão. Dentre eles somente dois são independentes. A seguir são apresentados os tensores associados aos três conjuntos de variáveis independentes de estado de tensões. (σ x − u a ) τ yx τ zx τ zy (σ y − u a ) τ xy τ xz (σ z − u a ) τ yz (σ x − u w ) τ yx τ zx τ zy (σ y − u w ) τ xy τ xz τ yz (σ z − u w ) 0 0 (u a − u w ) 0 (u a − u w ) 0 0 0 (u a − u w ) Pode-se observar que quando a sucção desaparece (ua – uw = 0) os três tensores se reduzem para aquele que representa a tensão efetiva. Lu e Likos (2004) são menos rigorosos e aceitam a inclusão de χ (que é um parâmetro do solo) no tensor de sucção. 109 7. A resistência ao cisalhamento em solos não saturados A resistência ao cisalhamento de materiais já foi percebida e tratada pelos egípcios para a construção das pirâmides entre outras obras. O primeiro estudo quantitativo que se tem notícias sobre resistência, e mais especificamente sobre atrito, foi o de Leonardo da Vinci. Em seguida, dois séculos mais tarde, outros estudiosos estiveram envolvidos com estudos sobre o atrito. São eles: Amontons, Euler e Coulomb. Por volta de 1773 Coulomb estabeleceu o seu critério de ruptura válido para materiais granulares onde a resistência variava linearmente com a tensão normal. Em torno de 1900 Mohr generalizou o critério de Coulomb estabelecendo o que é conhecido hoje como critério de ruptura de MohrCoulomb. O critério de Mohr-Coulomb estabelece que a resistência é função da tensão normal, mas não assume esta variação como sendo linear. Terzaghi (1925) identificou o importante papel que a água do solo excercia sobre a resistência e mostrou que o critério de Mohr-Coulomb continuava válido desde que da tensão aplicada fosse subtraída a pressão da água contida nos poros do solo. Isto definiu o que conhecemos como princípio das tensões efetivas. Os questionamentos sobre a validade do princípio da tensões efetivas para os solos não saturados tiveram início com o trabalho de Jennings e Burland (1962) onde os autores concluem que não existe uma única relação entre índice de vazios e tensão efetiva para a maioria dos solos não saturados abaixo de um determinado grau de saturação. Jennings e Burland sugerem que quando se utilizar a equação definida por Bishop use-se a denominação tensão intergranular ao invés de tensão efetiva. Salienta-se no entanto que todo o trabalho de Jennings e Burland (1962) trata apenas de variação de volume e não de resistência ao cisalhamento. Bishop & Blight (1963) em uma clara resposta ao artigo de Jennings e Burland (1962) conclui que o princípio das tensões efetivas é válido para solos não saturados, desde que se leve em conta a trajetória de dois componentes de tensão, quais sejam: (σ - ua) e (ua – uw). Para a situação de variação de volume Bishop e Blight impõem uma forte restrição ao uso do princípio das tensões efetivas devido à dependência com a trajetória de tensões. Eles concluem ainda que a relação entre a resistência e a tensão efetiva parece ser muito pouco sensível à trajetória de tensões. A resistência ao cisalhamento dos solos não saturados brasileiros, no estado natural ou compactado, vem sendo estudada por diversos pesquisadores. O cabedal de conhecimento da geotecnia nacional sobre os solos compactados é inestimável. O sucesso das diversas obras realizadas com base nestes conhecimentos tem o reconhecimento nacional e internacional. Os estudos levados a cabo mais recentemente possuem uma sistemática de ensaio e interpretação que diferem das realizadas no Brasil antes do final da década 110 de 80. Estudos com solos brasileiros levando em conta a abordagem e os conceitos da mecânica dos solos não saturados podem ser encontrados na literatura (e.g. Abramento, M. 1988; Fonseca et al., 1994; Röhm e Vilar, 1994; Teixeira e Vilar, 1997 entre outros). Este capítulo irá abordar aspectos específicos da resistência ao cisalhamento de solos não saturados. Inicialmente se farão algumas considerações relativas à teoria sobre a resistência em solos não saturados e em seguida serão abordados dois estudos conduzidos pelo grupo de solos não saturados da EPUSP. 7.1. Teoria da resistência ao cisalhamento em solos não saturados A envoltória de resistência de solos saturados é usualmente representada por uma reta e tem a seguinte forma: τ = c ´ + σ ´tgφ ´ Nesta expressão c´ representa a coesão e φ´ o ângulo de atrito interno efetivo do material. No caso dos solos não saturados o princípio das tensões efetivas não é válido de maneira generalizada e desta forma não poderíamos aplicá-lo. Bishop & Blight (1963), no entanto, fazem uma análise do comportamento do solo em termos de resistência onde eles apresentam dois enfoques de análise para o problema. Embora sempre tendo em mente a validade do princípio das tensões efetivas, Bishop e Blight descrevem o comportamento de uma argila saturada e não saturada. Na Figura 7.1 é apresentado um diagrama, representando o comportamento do material em termos de σ1 −σ 3 σ1 + σ 3 , − u a e u − u w , onde apenas os pontos correspondentes à 2 2 ruptura são apresentados (A, B, C). O ponto A representa um ensaio não confinado num corpo de prova compactado ( (σ 3 − u a ) = 0 ), e B e C são resultados de ensaios em corpos de prova com o mesmo teor de umidade, mas com tensão confinante maior (ensaios CW). Os pontos A’ B’ e C’ representam os resultados de ensaios em corpos de prova após a saturação e σ +σ3 − u a , onde ua tende a uw ao longo do eixo sob o mesmo valor de 1 2 correspondente. 111 σ1 −σ 3 (a) 2 Saturado A’ O B’ C’ A B C ua − u w Não Saturado (w = 11.6%) A1 B1 σ1 + σ 3 2 − ua C C1 σ1 − σ 3 m = χ sen φ ´ C’ 2 B B’ (b) A A’ Tan -1 m A1 ua − uw Figura 7.1 – Diagrama esquemático de ensaios em solo saturado e não saturado baseado em ensaios apresentados por Bishop & Blight (1963). Considerando que os mesmos parâmetros de resistência em termos de tensão efetiva aplicam-se a todas as séries de ensaios, a inclinação m (Figura 6.7b) de AA’, BB’, CC’..etc. é uma medida de χ, já que: m = χ sen φ ' Verifica-se assim, que Bishop & Blight (1963) já haviam apresentado uma abordagem que é equivalente àquela que leva ao parâmetro conhecido hoje como φb. Os autores concluíram que o uso da equação de tensão efetiva possui muito menos dificuldades na sua aplicação em termos de resistência ao cisalhamentodo que em termos de variação volumétrica. Visto que a resistência é primeiramente controlada por forças intergranulares no momento da ruptura. A trajetória de tensões é muito mais importante para variações de volume do que para resistência. O presente capítulo abordará dois aspectos da resistência ao cisalhamento dos solos não saturados. Um relacionado a ensaios de compressão simples onde são obtidas correlações com o índice de liquidez e a sucção. Estes estudos tiveram início com (Silva, 2001). Uma primeira interpretação destes resultados foi apresentada por Marinho e Silva (2001) e é aqui ampliada com base nos resultados obtidos por Oliveira (2004). 112 A segunda abordagem inclui o uso do tensiômetro de alta capacidade (TAC) em ensaios triaxiais com o objetivo de definir a superfície de cisalhamento de um solo residual compactado (Oliveira, 2004). Os ensaios realizados permitiram a determinação dos parâmetros de resistência do solo no estado não saturado para níveis de sucção adequados ao uso aplicado. Os estudos aqui apresentados pretendem demonstrar que tanto a simplicidade como a sofisticação objetiva podem fornecer informações que contribuem para o entendimento do comportamento dos solos não saturados. 7.2. Resistência não confinada de solos não saturados A relação entre a resistência não drenada (Su) e o índice de liquidez para solos remoldados apresenta uma correlação consistente. Para um índice de liquidez igual a um, que representa o solo no limite de liquidez, a resistência do solo é aproximadamente 2kPa. Para um índice de liquidez igual a zero, ou seja, no limite de plasticidade, a resistência não drenada é aproximadamente 200kPa. Para solos compactados esta relação parece também se comportar da mesma forma, porém com resistências no limite de plasticidade variando de aproximadamente 150kPa a 250kPa, de acordo com dados da literatura (e.g. Dumbleton & West, 1970; Lerouiel et al., 1992). Para solos compactados o estado de tensão antes da ruptura e na ruptura é afetado pela sucção da amostra. A maioria dos solos compactados possuem uma sucção no teor de umidade ótimo entre 50kPa e 300kPa (e.g. Lacerda & Marinho, 1998). Apresentam-se aqui resultados de ensaios de compressão não confinada realizados em cinco solos do estado de São Paulo e ainda ensaios com caulim puro. Parte deste trabalho foi publicado em Marinho e Silva (2001), porém aqui foi feita uma ampliação das análises incluíndo mais dados experimentais. O objetivo do estudo foi definir a relação entre a sucção do solo compactado e a resistência não confinada destes solos, comparando os resultados com dados da literatura. Este estudo contribui para estabelecer a influência da sucção na resistência não drenada do solo no estado não saturado. Os ensaios foram realizados em amostras compactadas com diferentes valores de teor de umidade. As sucções foram obtidas com a técnica do papel filtro antes da realização de cada ensaio e em alguns casos com o TAC. Os resultados mostram que a resistência não drenada é função de (wwopt)/Ip, e sugere que a sucção obtida após a compactação tem um importante papel na característica de resistência do solo, assim como o índice de vazios inicial. 113 7.2.1. Solos utilizados no estudo 7.2.1.1. Características físicas Foram ensaiados seis solos dentre os quais o solo do campo experimental da EPUSP que também é objeto de outros estudos neste trabalho. Os solos foram escolhidos de forma a cobrir uma ampla faixa de tipos de solos. Como conseqüência uma variedade de pesos específicos secos foram obtidos quando o solo foi compactado usando a energia do Proctor normal. A Tabela 4 apresenta as características dos solos. Embora os resultados obtidos com o solo residual de micaxisto não possa ser relacionado com (w - wopt)/Ip, a relação entre Su e a sucção é apresentada. Denominação dos solos wL (%) Argila arenosa [AA] 34 Solo residual de gnaisse 38 [RG] Argila arenosa clara [AAC] 29 Argila arenosa escura 31 [AAE] Solo residual de micaxisto[RM] Caulim[K] 64 wP (%) 19 29 Ip G γdmax % < 2µm wot. 3 (%) (kN/m ) (%) 15 18.2 2.70 36 13.0 9 15.0 2.74 43 25.0 17 21 12 10 18.6 16.9 - NP - 38 26 12.45 2.68 2.69 23 37 12.9 17.7 0 2.65 58 37.0 Tabela 7.1 – Características dos solos usados nos ensaios de compressão não confinada. 7.2.1.2. Preparação das amostras Na primeira série de ensaios (Marinho & Silva, 2001) foram ensaiados 22 corpos de prova. Os corpos de prova foram compactados dinamicamente utilizando-se a energia do Proctor normal. O solo foi compactado diretamente no molde do Proctor. As características de peso específico seco e teor de umidade nos quais os corpos de prova foram ensaiados estão na Figura 7.2a. Nesta Figura pode-se também observar o valor da sucção após a compactação do ensaio. A segunda série foi feita apenas com solo residual de gnaisse. Os corpos de prova foram compactados em três condições iniciais de moldagem, quais sejam: no teor de umidade ótimo, abaixo da ótima e acima da ótima. Na Figura 7.2b estão indicados os estados iniciais e as condições de ensaio destes corpos de prova. Cada corpo de prova foi submetido a secagem ou umedecimento para atingir a condição desejada para o ensaio. 114 20 Argila arenosa Residual de gnaisse Argila arenosa clara Argila arenosa escura Residual de m icaxisto Caulim Pontos ótim os 19 39 18 144 γ d (kN/m 3) 17 13 41 16 222 16 88 199 15 14 24 236 49 173 37 40 S = 100% 98 123 13 81 149 Sucção (kPa) 12 43 182 497 11 10 (a) 250 S = 50% 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Teor de Umidade de Compactação (%) γ d (kN/m 3) 17 Condição de compactação 16 SR-O SR-O - ensaio SR-S SR-S - ensaio SR-U SR-U - ensaio S = 50% 15 14 S = 100% Condição de ensaio 13 5 10 15 (b) 20 25 30 35 40 45 50 Teor de Umidade de Compactação (%) Figure 7.2 – (a) Características de compactação dos diversos solos para o ensaio (b) característica dos corpos de prova do solo residual após compactação e na condição de ensaio. 7.2.2. Medição de sucção Para os corpos de prova da primeira série utilizou-se a técnica do papel filtro para a obtenção da sucção. As medições com o papel filtro foram feitas com o papel em contato direto com o solo e portanto objetivando medir sucção matricial. As medições seguiram as especificações contidas em Marinho (1994). As sucções das amostras ensaiadas na segunda série, e portanto apenas do solo residual de gnaisse, estão apresentadas na Figura 7.3. Nesta Figura observam-se dois valores de sucção, um medido com o papel filtro e outro obtido com o tensiômetro de alta capacidade (TAC) (símbolos vermelhos). 115 35 SR-O - ensaio SR-S - ensaio SR-U - ensaio 30 w (%) 25 20 medições com o TAC 15 10 5 0 1 10 100 1000 10000 100000 sucção de ensaio (kPa) Figura 7.3 – Relação entre os valores de teor de umidade e sucção dos corpos de prova antes do ensaio (Oliveira, 2004). 7.2.3. Ensaio de compressão não confinada Na primeira série de ensaios os corpos utilizados foram obtidos diretamente do molde de compactação (Proctor) e ensaiados logo após a medição da sucção com o papel filtro, ou seja 7 dias após a compactação. Maiores detalhes podem ser obtidos em Marinho e Silva (2001). Os corpos de prova da segunda série foram moldados estaticamente e tinham diâmetro de 35mm. Na Figura 7.4 são apresentadas as relações entre a resistência não drenada (Su) com a sucção e grau de saturação das amostras antes da ruptura. Observa-se a tendência de crescimento de Su com a sucção e destacam-se as diferenças observadas entre os corpos de prova do solo residual compactado com diferentes teores de umidade. O solo compactado no ramo seco apresentou menor resistência tendendo a se igualar com os valores obtidos para as amostras compactadas no ramo úmido quando a sucção foi maior que 200kPa. 116 Argila arenosa Residual de gnaisse Argila arenosa clara Argila arenosa escura Residual de m icaxisto Caulim SR-O SR-S SR-U 250 Su (kPa) 200 199 150 222 100 88 40 41 144 50 49 0 0 100 200 300 400 500 0 20 40 Sucção (kPa) Figura 7.4 – Relação entre Su and sucção. 236 182 60 149 98 81 39 13 16 43 80 100 S (%) Na Figura 7.5 são apresentados os resultados relacionando Su com a relação (w - wopt)/Ip. Também são plotados outros dados obtidos na literatura. Os dados de Dumbleton and West (1970) referem-se a uma montmorilonita (wl = 143%, Ip = 91% e %<2µm = 78%) e uma caulinita (wl = 82%, Ip = 39% e %<2µm = 96%). Os resultados de Peters and Leavell (1988) são de uma argila siltosa de Vicksburg (wl = 34%, Ip = 13% e %<2µm = 20%). Os dados de Leroueil et al (1992) aparecem como uma relação obtida pelos próprios autores. A relação sugerida foi obtida com base em dados da literatura além de resultados próprios. Os solos analisados por Leroueil et al (1992) possuem as seguintes características limite de liquidez e plasticidade variando entre 81% e 26 e de 47% a 11%, respectivamente. Na Figura 7.5 também estão apresentados os resultados dos corpos de prova moldados no teor de umidade ótimo (SR-O). Somente os resultados obtidos com os corpos de prova moldados no teor de umidade ótimo foram plotados. 306 505 505 180 299 180 600.4 199 492 222 100 Su (kN/m2) 426.8 182 236 293 400 144 135 189 137 189 149 137 180 98 116.8 156.9 124.681 88 300 39 41 126.3 135 135 131 54.9 13 43 10 -0.4 40 16 38.723.3 22.4 Argila arenosa Residual de gnaisse Argila arenosa clara Argila arenosa escura Leroueil et al (1992) Dubleston & West (1970) - m ontm orilonita Dubleston & West (1970) - caolinita Caulim Peters & Leavell (1998) SR-O -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 (w-wot.)/Ip Figura 7.5 – Relação entre Su e (w-wopt)/Ip. mostrando a sucção inicial. 117 Exceto os resultados de Peters and Leavell (1988), que fez uso de pressão confinante, existe uma relação consistente entre os diversos resultados apresentados. Os mesmos resultados estão apresentados na Figura 7.5 com uma escala diferente de forma a cobrir os dados com os corpos de prova mais secos. Su (kN/m2) 100 Argila arenosa Residual de gnaisse Argila arenosa clara Argila arenosa escura Leroueil et al (1992) Dubleston & West (1970) - m ontm orilonita Dubleston & West (1970) - caolinita Caulim Peters & Leavell (1998) SR-O 10 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 (w-wot.)/Ip Figura 7.6 – Relação entre Su e (w-wopt)/Ip. incluindo todos os dados disponíveis. Pode-se observar que no teor de umidade ótimo o valor da resistência não drenada é aproximadamente 100kPa. Contudo, conforme apresentado na Figura 7.4 observa-se uma influência da sucção na resistência não drenada. Numa tentativa de investigar a influência da sucção Marinho e Silva (2001) normalisaram a resistência não drenada com a sucção e índice de vazios. Na Figura 7.7 estão apresentados os resultados de Su normalizado versus (w wopt)/ Ip. Para a maioria dos solos compactados no teor de umidade ótimo do Proctor normal a sucção varia entre 50kPa and 300kPa. Na Figura 7.7 são apresentados ajustes aos dados analisados, juntamente com os dados experimentais. A análise dos resultados permite concluir que: • Para todos os dados analisados, no teor de umidade ótimo a relação (Su/sucção)*e vale aproximadamente 0.9. • Quando apenas os dados do solo residual são usados a relação (Su/sucção)*e vale aproximadamente 0.62. Salienta-se que as sucções obtidas por Peters and Leavell (1988) são sucções totais. A sucção matricial poderá ser menor que o valor obtido. 118 Marinho & Silva (2001) Marinho & Silva (2001) Peters & Leavell (1988) SR-O solo residual todos os dados 2.2 2 (Su/sucçaõ)*e 1.8 RG AA AAC RG 1.6 1.4 C C Abaixo da ótima AAE RG 1.2 1 C C RG RG AAE 0.6 RG RG RG RG Acima da ótima AA RG RG AAC 0.2 0 -0.4 RG AAE 0.8 0.4 AA AAC RG RG -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 (w-wopt.)/Ip Figure 7.7 – Resistência não drenada normalizada versus (w-wopt)/Ip. Considerando os valores obtidos para a relação (Su/sucção)*e no teor de umidade ótimo, são apresentadas na Figura 7.8 a relação entre a resistência não drenada e o índice de vazios para sucções variando entre 50kPa e 150kPa. Os pontos para o solo residual que se posicionam acima do valor de Su=200kPa foram ensaiados com sucção variando de 700kPa a 12000kPa. 300 1583 6268 963 10644 1855 12021 3312 8775 761 743 250 sucção medida com papel filtro 200 Su (kPa) SR-O Todos os dados Solo residual 600 Sucção 150kPa 150 427 400 300 100 117 157 125 126 23 50 55 39 100kPa 22 50kPa 0 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 Índice de Vazios Figura 7.8 - Relação entre Su e o índice de vazios inicial para uma dada sucção (válido para o teor de umidade ótimo). 119 Os valores de sucção utilizados para a obtenção dos resultados apresentados nas Figuras 7.7 e 7.8 foram obtidos com o papel filtro. 7.3. Ensaios triaxiais com medição direta de sucção Ensaios triaxiais em solos não saturados usam em geral a técnica da translação de eixos para controlar ou medir a sucção nas amostras. Este procedimento força a pressão da água dos poros do solo a ficar sempre com valores positivos (acima da pressão atmosférica). Além deste aspecto o tempo de equilíbrio para se iniciar o ensaio é geralmente grande. Salienta-se, no entanto, que o tempo de ensaio pode ser minimizado quando o eqüilíbrio inicial dos corpos de prova é feito antecipadamente. Com o desenvolvimento do tensiômetro de alta capacidade (TAC) os ensaios de resistência passaram a poder ser feitos medindo-se a sucção, mesmo quando o seu valor fosse superior a 100kPa. Na literatura encontram-se poucos resultados onde se utilizam o TAC em ensaios de resistência (e.g. Ridley, 1995; Colmenares e Ridley, 2002 e Cunninghan et al., 2003). De todas estas publicações apenas a de Cunninghan et al.(2003) apresenta ensaios com confinamento. Ensaios com medição de sucção durante ensaios de resistência não confinada em solo residual foram apresentados por Oliveira e Marinho (2002). Oliveira (2004) apresenta resultados de ensaios triaxiais com medição direta de sucção sob diferentes condições de moldagem e confinamento. Neste item serão apresentados os resultados obtidos por Oliveira (2004) com uma análise geral sobre estes resultados. O uso do tensiômetro de alta capacidade além de possibilitar a medição da sucção durante o ensaio triaxial, permite o monitoramento da sucção durante as diversas etapas do ensaio. Ou seja, medição da sucção inicial e o seu monitoramento durante a colocação da membrana, colocação do cabeçote, etc.. Na Figura 7.9 é apresentada a medição de sucção durante as diversas etapas de um ensaio. O primeiro trecho dos resultados (até aproximadamente 20min.) mostra a medição da sucção inicial da amostra que foi de aproximadamente 200kPa. Em seguida observa-se uma forte oscilação dos valores de sucção. Esta variação é fruto dos procedimentos de colocação da membrana, pedra porosa e cabeçote. Após estes procedimentos a sucção retornou para o seu valor inicial. Com a sucção no seu nível de equilíbrio é aplicada a tensão confinante, que é representada pela linha pontilhada na Figura 7.9. Observa-se a redução instantânea da sucção com a aplicação da pressão confinante. Verifica-se que a redução foi menor que 100kPa o que indica que o solo se encontrava acima da pressão de entrada de ar. Observase ainda que há uma redução da sucção e posterior elevação após a aplicação da pressão confinante. É provável que este efeito seja fruto da 120 pasta de solo usada para garantir o contato entre a água do solo e a água do TAC. Esta pasta é feita do mesmo material ensaiado e com um teor de umidade próximo do limite de liquidez. Após a aplicação da pressão confinante espera-se um tempo para que o sistema volte ao equilíbrio de sucção. Na Figura 7.9 é mostrada a variação da sucção com o carregamento imposto ao corpo de prova. Estão indicadas as massas colocadas sobre o corpo de prova e a conseqüente resposta do tensiômetro até a ruptura. 250 Sucção do tensiômetro (kPa) Medida da sucção inicial Início do ensaio com a aplicação da tensão confinante 200 Ramo Úmido (Conf. 100 kPa) Ajuste do pistão no topo do corpo de prova 8 kg 150 100 10 kg 10 kg 8 kg 6 kg 4 kg Montagem do ensaio Tensão confinante Ruptura 50 CDU8 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 Tempo (min.) Figura 7.9 – Variação da sucção medida com o tensiômetro em função do tempo obtida de um ensaio triaxial CW não saturado. (Oliveira, 2004) Na Figura 7.10 são apresentados os resultados de uma série de ensaios triaxiais realizados com pressão confinante de 300kPa. As amostras foram inicialmente compactadas no teor de umidade ótimo. Cada amostra foi colocada com diferentes valores de sucção, tanto por umedecimento como por secagem. Os seis corpos de prova apresentaram sucções iniciais, após o confinamento que variaram de 10 a 250kPa. Nestes ensaios observou-se uma redução da sucção na ruptura. 121 Tensão desviadora (kPa) 1000 (a) 800 600 400 Umidade Ótima Confinamento de 300 kPa 200 0 350 (b) Sucção (kPa) 300 CDO6 CDO9 CDO12 250 CDO15 CDO20 CDO21 200 150 100 50 0 -50 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Deformação axial (%) Figura 7.10 – Resultados dos ensaios triaxiais não saturados obtidos dos corpos de prova moldados na umidade ótima e ensaiados com confinamento de 300 kPa (Oliveira, 2004). Os ensaios cujos resultados são apresentados na Figura 7.10 seguiram a trajetória ilustrada na Figura 7.11, até o ponto C. O ponto A na Figura representa a situação inicial do corpo de prova logo após sua compactação. No exemplo da Figura 7.11 é induzido um aumento da sucção atingindo o ponto B, que representa o estado de tensão antes da aplicação da pressão confinante. Com a aplicação do confinamento ocorre uma redução no valor da sucção, representado pelo ponto C. Durante o cisalhamento a amostra segue a trajetória CD, que neste caso indica um aumento da sucção na ruptura e no caso dos resultados experimentais da Figura 7.10 indica uma redução da sucção. Nos resultados apresentados na Figura 7.10 o teor de umidade é mantido constante (ensaio CW). 122 t = (σ1−σ3)/2 A - Condições iniciais de moldagem AB – Preparação por secagem BC – Estágio de confinamento CD – Trajetória de tensão até a ruptura Trajetória de tensão Sucção D B A 1 C 2 4 3 σ3 s = (σ1+σ3)/2 Figura 7.11 – Representação esquemática das etapas seguidas pelos corpos de prova nos ensaios triaxiais não saturados (CW) (modificado de Oliveira, 2004). As envoltórias dos ensaios em termos de t versus sucção, para um mesmo valor de s, não podem ser plotadas sem que antes se faça um rebatimento dos valores para o plano (t x s) desejado. Na Figura 7.12a são apresentados quatro resultados de ensaios de compressão não confinada, representados pelos respectivos círculos de Mohr na ruptura e dois ensaios com confinamento. A linha que liga os pontos de ruptura dos três ensaios realizados com sucção (A, B e C) está no plano definido pelo quadriculado na Figura 7.12a. Para se obter os valores da superfície de ruptura, para os ensaios sem confinamento (i.e. s = 0), temos que rebater os valores no plano desejado. Na Figura 7.12b é feita uma representação esquemática deste rebatimento. Os pontos A´, B´ e C´ representam os valores no plano t versus sucção para s=0.. C t (a) B A s β t = (σ1−σ3)/2 β C β (b) C’ Β’ Α’ Β A P(A) P(B) Envoltória de ruptura P(C) s = (σ1+σ3)/2 Figura 7.12 – Trajetória de tensão (a) visão tridimensional (b) rebatimento no plano. 123 Na Figura 7.13 são apresentadas as trajetórias de sucção durante os ensaios CW. Pode-se observar que as trajetórias de sucção tendem a ser mais curvas para valores baixos de sucção e menor confinamento. Para maiores valores de sucção e pressão confinantes as trajetórias se mostraram significativamente lineares. 500 Umidade Ótima Conf. 0 kPa Conf. 50 kPa Conf. 100 kPa Conf. 200 kPa Conf. 300 kPa (σ1−σ3)/2 (kPa) 400 300 200 100 0 0 100 200 300 400 500 Sucção do Tensiômetro (kPa) Figura 7.13 – Trajetórias de sucção rebatidas, obtidas em corpos de prova moldados na umidade ótima (ponto O). Na Figura 7.14 estão apresentados os dados experimentais equivalentes ao intercepto no plano t versus sucção, é apresentada ainda a envoltória obtida com amostras na condição saturada. Observa-se que a envoltória segue exatamente o comportamento dos ensaios não confinados até um valor próximo de 80kPa. A partir deste valor verifica-se que o solo apresenta um comportamento típico de um material com sucção superior ao valor de entrada de ar. Com base nestes dados pode-se dizer que para o solo residual estudado o valor de entrada de ar (ponto de início da dessaturação) é o ponto que define a mudança de comportamento do material. 124 t - intercepto (kPa) t - intercepto (kPa) t - intercepto (kPa) Conf. 0 kPa Conf. 50 kPa Conf. 100 kPa Conf. 200 kPa Conf. 300 kPa 200 150 100 50 Ramo Seco 0 0 100 200 300 400 500 Conf. 0 kPa Conf. 50 kPa Conf. 100 kPa Conf. 200 kPa Conf. 300 kPa 200 150 100 50 0 Envoltória do solo saturado 0 100 200 300 Umidade Ótima 400 500 Conf. 0 kPa Conf. 50 kPa Conf. 100 kPa Conf. 200 kPa Conf. 300 kPa 200 150 100 50 Ramo Úmido 0 0 100 200 300 400 500 Sucção do Tensiômetro (kPa) Figura 7.14 – Projeções dos pontos de ruptura para as diversas pressões confinantes e nas três condições de moldagem. Na Figura 7.15 estão representados os valores de sucção e teor de umidade para as diversas tensões confinantes, na condição inicial e na ruptura. Verifica-se que o teor de umidade ótimo corresponde ao ponto onde o comportamento da sucção muda. Ou seja, para valores de teor de umidade inferior ao ótimo (aproximadamente 25%) a sucção na ruptura tende a ser maior que o valor inicial. Para a condição não confinada e para as tensões confinantes de 50kPa e 100kPa a sucção correspondente ao ponto de mudança vale aproximadamente 70kPa. Para a tensão confinante de 300kPa não observou-se aumento de sucção na ruptura. Esta informação tem um importante reflexo nas análises de estabilidade de taludes. 125 30 Conf. 0 kPa - Carreg. Control. Suc. Inicial Suc.Ruptura 28 Conf. 50 kPa - Carreg. Control. Suc. Inicial Suc.Ruptura w(%) 26 Corpos de prova umedecidos ou secados 24 Corpos de prova umedecidos ou secados 22 20 18 30 Conf. 100 kPa - Carreg. Control. Suc. Inicial Suc.Ruptura 28 Conf. 300 kPa - Carreg. Control. Suc. Inicial Suc.Ruptura w(%) 26 Corpos de prova umedecidos ou secados Corpos de prova umedecidos ou secados 24 22 20 18 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 Sucção do tensiômetro (kPa) Sucção do tensiômetro (kPa) Figura 7.15– Valores das sucções após confinamento e na ruptura obtidos dos ensaios triaxiais CW não saturados realizados em corpos de prova moldados na umidade ótima (Oliveira, 2004). Os estudos realizados por Oliveira (2004) incluíram análise do comportamento do solo residual nas condições abaixo do teor de umidade ótimo e acima deste. Na Figura 7.16 são apresentadas as envoltórias rebatidas para s = 0 e os diversos estados de compactação inicial (i.e. ótima, seco e úmida). Observa-se que apenas a envoltória do solo compactado no ramo seco difere significativamente dos resultados obtidos para os pontos correspondentes ao teor de umidade ótimo e úmido. Na Figura 7.16 os dados experimentais foram ajustados em dois trechos. Um trecho linear até o início da entrada de ar do solo e outro trecho não linear. Maiores detalhes sobre estes ajustes podem ser obtidos em Oliveira (2004). 126 100 Não Confinado ótima seco úmido t (kPa) 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Sucção (kPa) Figura 7.16– Envoltórias rebatidas para os corpos de prova moldados na umidade ótima, ramo seco e ramo úmido. Para se poder ter uma idéia da superfície de ruptura é apresentado na Figura 7.17 a representação tridimensional dos resultados obtidos para as amostras moldadas no teor de umidade ótimo. 250 250 Umidade Ótima 200 200 150 150 (σ1-σ3)/2 (kPa) 100 100 (σ1-σ3)/2 (kPa) 50 50 0 0 250 250 200 200 150 150 (σ1+σ3)/2 (kPa) 100 100 Sucção (kPa) 50 50 0 0 Figura 7.17– Representação da superfície de ruptura correspondente às condições de moldagem na umidade ótima. Os resultados apresentados demonstram que o desenvolvimento do tensiômetro de alta capacidade e o seu uso em ensaios triaxiais e de compressão simples, é uma promissora ferramenta para a obtenção rápida dos parâmetros de resistência dos solos. 127 8. O fluxo em meios não saturados 8.1. Fluxo de água O conhecimento do coeficiente de permeabilidade de um meio poroso é de fundamental importância para a análise de problemas geotécnicos, que envolvem o transporte de fluidos através dos vazios deste meio. No caso de meios porosos não saturados, o coeficiente de permeabilidade varia com a quantidade de água presente nos seus vazios, ou seja, com o seu grau de saturação (S). A relação entre o coeficiente de permeabilidade e o grau de saturação é chamado de função de permeabilidade. Os estudos sobre fluxo em meio não saturado desenvolvidos pelo grupo de solos não saturados da EPUSP foram iniciados com um trabalho realizado por Marzullo (1997). Este foi o trabalho de estágio supervisionado da aluna de graduação Patricia Marzullo que desenvolveu um sistema de fluxo horizontal que se baseava no método do perfil instantâneo (e.g. Benson e Gribb, 1997). Em seguida os estudos realizados por Stuermer (1998) deram início ao uso de colunas para avaliar o fluxo em meios não saturados que contribuiram para o desenvolvimento de um procedimento de análise de fluxo combinando estudos experimentais com análise numérica que foi levado adiante por Abrão (2005). Neste capítulo será dada ênfase aos estudos realizados para a determinação em laboratório da função de permeabilidade usando um equipamento desenvolvido no laboratório de mecânica dos solos da EPUSP por Guimarães (2004). 8.1.1. Lei de fluxo A equação da continuidade descreve o fluxo em meios saturados e não saturados e possui a seguinte forma geral: ∂v y ∂v z ∂θ ∂v = − x + + ∂t ∂ x ∂ y ∂ z Salienta-se que, mesmo no caso de meios não saturados, o termo da direita pode ser nulo, quando da ocorrência de um fluxo em regime permanente. No caso dos solos saturados onde não existe variação de teor de umidade com o tempo a equação da continuidade torna-se: ∂v x ∂v y ∂v z ∂x + ∂y + ∂z = 0 Em todos os caso o fluxo de água em meios porosos é, normalmente, descrito pela lei de Darcy: v = −k ⋅ i onde i é o gradiente hidráulico e k é o coeficiente de permeabilidade do solo. Darcy desenvolveu a sua lei quando estudava filtros para a água do sistema de abastecimento da cidade de Dijon, na França em 1856 A forma como a lei de Darcy é usualmente apresentada (equação anterior) não descreve de maneira adequada o fluxo em um meio não saturado. Isto se deve ao fato de que o coeficiente de permeabilidade decresce com a redução do grau de saturação. Assumindo-se que k é uma função da sucção, do teor de umidade volumétrica ou grau de saturação, estendeu-se a lei de Darcy. Assim, considerando que a equação geral de fluxos tem por hipótese a validade da lei de Darcy, estendida a meios não saturados, a equação de Darcy pode ser escrita da seguinte forma v = −k (θ ) ⋅ i onde, v é a velocidade de percolação, ou seja, a vazão por área unitária, k (θ ) o coeficiente de permeabilidade em função da umidade volumétrica e i é o gradiente hidráulico. Assumindo como válida a extensão da lei de Darcy, e considerando um fluxo unidimensional em um meio homogêneo e isotrópico, na direção vertical, z, pode-se descrever o fluxo em meio não saturado por meio da seguinte equação: ∂θ ∂ ∂H = k (θ ) ∂t ∂z ∂z Esta equação é chamada de Equação de Richards (Richards, 1931), e descreve o fluxo unidimensional em um meio homogêneo não saturado. É importante relembrar, que a carga total ( H ) é composta pelas cargas altimétrica (z) e piezométrica (h). Desta forma, tem-se que: ∂ (h + z ) v = −k (θ ) ∂z ou 129 ∂h v = −k (θ ) + 1 ∂z Em termos de carga matricial ∂ψ v = k (θ ) − 1 ∂z (5.12) A equação acima é utilizada para descrever a velocidade de um fluxo unidimensional ascendente em um meio poroso não saturado, isotrópico e homogêneo. O ensaio descrito neste capítulo induz um fluxo ascendente por evaporação e os cálculos do ensaio utilizam a equação anteriormente apresentada. 8.1.2. Função de permeabilidade O coeficiente de permeabilidade (k ) de um meio poroso saturado é função da sua distribuição de poros e, conseqüentemente, do seu índice de vazios (e ) . Entretanto, em um meio poroso não saturado, o coeficiente de permeabilidade varia também em função da quantidade de água presente neste meio. O coeficiente de permeabilidade pode ser expresso como função de combinações entre o índice de vazios, grau de saturação ou teor de umidade volumétrico Esta relação é a chamada função de permeabilidade. Desta forma tem-se que: k = f (e,θ ); k = f (S, e ); k = f (S,θ ) (5.14) Uma maneira de se expressar o coeficiente de permeabilidade é utilizando o chamado coeficiente de permeabilidade relativa k r . O coeficiente de permeabilidade relativa é a relação entre o coeficiente de permeabilidade saturado e aquele correspondente a um determinado valor de grau de saturação. Assim, temos que: k = ks kr O coeficiente de permeabilidade relativo, kr, pode ser expresso tanto em função da carga matricial, como do teor de umidade volumétrica. Uma vez que existe uma relação entre o teor de umidade e a sucção dada pela curva de retenção, tem-se que: k r = f (ψ ) ou k r = f (θ ) (5.16) 130 8.1.3. Determinação da função de permeabilidade A função de permeabilidade pode ser determinada a partir de resultados de ensaios experimentais, sejam estes realizados “in situ” ou em laboratório, ou a partir de modelos matemáticos, fazendo uso das propriedades de volume/massa do solo, de sua curva de retenção e do coeficiente de permeabilidade saturada. Este último procedimento é o mais usual tendo em vista as dificuldades da obtenção experimental. Neste item é apresentado um resumo dos principais métodos de obtenção da função de permeabilidade em laboratório. Os métodos diretos para a medição da condutividade hidráulica não saturada são classificados quanto ao tipo de fluxo em: Métodos de Regime Permanente e Métodos de Regime Transiente. A Tabela 8.1 apresenta alguns métodos encontrados na literatura para obtenção da função de permeabilidade, descrevendo que tipo de medição é realizada durante o ensaio e o regime de fluxo. Metodologia Regime de Fluxo Método Teor de Umidade Sucção Tradicional Mede-se Mede-se Permanente Centrífuga Mede-se Estima-se Permanente Absorção Mede-se Estima-se Transiente Sorção Mede-se Estima-se Transiente Vazão em Passos Múltiplos Mede-se/ estima-se Mede-se/ estima-se Transiente Vazão de Passo único Mede-se/ estima-se Mede-se/ estima-se Transiente Vazão constante Mede-se/ estima-se Mede-se/ estima-se Permanente Perfil instantâneo Mede-se/ estima-se Mede-se/ estima-se Transiente Evaporação Mede-se/ estima-se Mede-se/ estima-se Transiente Tabela 8.1 - Métodos para determinação da função de permeabilidade (Guimarães, 2004). 131 Nestes métodos é necessária a medição do teor de umidade ou da sucção. Em alguns deles medem-se as duas grandezas. Caso seja medido um dos dois parâmetros, o outro deve ser inferido através de uma curva de retenção obtida independentemente. Caso os dois sejam medidos, não existe a necessidade de se obter antecipadamente a curva de retenção, e a função de permeabilidade pode ser estimada diretamente dos parâmetros obtidos. 8.1.4. O método de evaporação de Wind O fluxo de água numa amostra pode ser induzido por adição ou remoção de água. Nos dois casos, instrumentando-se a amostra, ou seja, medindo-se a sucção e/ou o teor de umidade, perfis de umidade e sucção são obtidos. Estes perfis podem ser diretamente utilizados no cálculo da função de permeabilidade. O método aqui descrito foi objeto da dissertação de mestrado de Guimarães (2004). Com o objetivo de evitar a medição do teor de umidade e da obtenção independente da curva de retenção Wind (1969) desenvolveu o seu método. O método evita a determinação antecipada da curva de retenção e necessita apenas da medição da sucção. O método de Wind propõe que as medições de teor de umidade sejam substituídas pela medição da perda de água total da amostra. Isto é feito utilizando-se uma balança, que registra a perda de massa total da amostra em intervalos de tempo pré-definidos. A simplicidade do método está na forma como são induzidos os diversos perfis de sucção e de teor de umidade na amostra. A técnica é utilizada para se remover a água do solo por meio da evaporação da água da amostra. Wind (1969) executou seu ensaio em um cilindro de aço, com 40cm de altura e com a área da seção transversal de 80cm2. No cilindro, foram inseridos lateralmente, através de furos nas paredes, sensores de medição de pressão (medição indireta usando condutividade elétrica) em oito profundidades. Após o preenchimento e a instalação desse sistema, o cilindro é posto na água para a saturação do solo. Quando o peso total do cilindro e os sensores de sucção entram em equilíbrio, o sistema é colocado em um ambiente seco e permite-se a evaporação pelo topo da amostra. A velocidade de evaporação é regida, tanto pelas condições do ambiente (umidade relativa do ar, vento, etc.), como pela capacidade do solo de conduzir água para a superfície Conforme observado por Guimarães (2004), Wind considera como a grande vantagem do seu método a simplicidade do ponto de vista de instrumentação requerida. No entanto, esta não é necessariamente uma vantagem no método. Para se obter bons resultados é necessário não só 132 a utilização de instrumentos precisos e acurados, mas também rigorosamente posicionados ao longo da amostra. Este aspecto do método é descrito em Guimarães e Marinho (2005). A grande vantagem do método é o seu conceito de indução de fluxo e consequente geração de perfis de sucção. Esta simplicidade associada a monitoração contínua do ensaio permite que os dados sejam trabalhados e avaliados de maneira mais clara e adequada. Na Figura 8.1 estão apresentados os componentes do sistema usados no método de Wind. Pode-se observar a colocação dos tensiômetros em volta do cilindro onde fica o solo. Este cilindro é colocado sobre uma balança que monitora a perda de água por evaporação. Solo Pedra porosa do tensiômetro Balança Transdutores dos tensiômetros Figura 8.1 – Esquema dos diversos componentes do método de Wind. 8.1.5. Procedimento de cálculo proposto por Wind A descrição do procedimento aqui apresentada foi obtida de Guimarães (2004). A partir dos dados de sucção e massa coletados durante o ensaio, Wind (1969) propõe um procedimento iterativo para a estimativa da curva de retenção. Este procedimento consiste em ajustar uma curva de retenção, de modo que as variações dos teores de umidade, correspondentes às variações dos valores de carga matricial medidos, estejam de acordo com a variação de peso total registrado pela balança. No procedimento proposto por Guimarães (2004), os perfis de sucção obtidos nos ensaios são, inicialmente ajustados através de equações lineares ou exponenciais, de maneira a minimizar os erros observados nas leituras dos tensiômetros. 133 O fluxograma da Figura 8.2 ilustra o procedimento iterativo usado. A partir dos valores de sucção determinados com o ajuste dos perfis de sucção (1), os teores de umidades (2) correspondentes são estimados com base na curva adotada para o início do procedimento iterativo. A partir destes valores, calcula-se o teor de umidade médio da amostra (3) neste tempo. O teor de umidade médio estimado é, então, comparado com o teor de umidade total da amostra (4), calculado a partir da perda de massa registrada pela balança. Verifica-se, então, se há uma boa correlação entre os teores de umidade comparados (5). Caso a média dos teores de umidade estimados não corresponda ao teor de umidade total da amostra medido, novos teores de umidade são estimados multiplicando-se cada teor de umidade estimado pela razão entre o teor de umidade total e a média dos teores de umidade estimados (6). Plotam-se os novos pares de dados obtidos, e ajusta-se uma nova curva de retenção (7). Repete-se, então, o procedimento a partir do passo (2) até que ocorra uma convergência satisfatória. Obtida a curva final de retenção do material (8), traçam-se os perfis de umidade finais (9) com base nos valores de sucção matricial calculados a partir do ajuste realizado para os perfis de sucção com a profundidade. Com os perfis de umidade, a vazão por unidade de área é conhecida a qualquer momento e a qualquer profundidade da amostra. Esta vazão deve corresponder à perda de umidade do solo abaixo do ponto em estudo e o gradiente de pressão, ou seja, a tangente da inclinação do perfil de sucção no ponto em estudo. Enquanto Wind (1969) discretiza os perfis de umidade, Tamari et al. (1993) propõe a descrição dos perfis de umidade através de uma função polinomial, extrapolando os valores da base e do topo. Para a determinação da função de permeabilidade, considerou-se a amostra dividida em sete segmentos de 1cm onde os valores de variação de volume de água de cada compartimento são conhecidos através dos teores de umidade estimados a partir da curva de retenção encontrada. 134 h (z,t) Cargas ajustadas (1) θ (z,t) Teores de umidade estimados para as profundidades de medição de sucção (2) Nova estimativa da curva de retenção usando a função polinomial proposta por van Genutchen (7) θm (z,t) Teor de umidade Médio (3) Procedimento iterativo Comparação entre os Teores de umidade Médio e total (3) Sim Boa correlação ? (5) Estimativa final da curva de retenção (8) Utilização do algorítmo de Gauss-Marquardt (6) Não Estimativa final dos perfis de umidade (8) Cálculo da função de permeabilidade (10) Figura 8.2 – Fluxograma do procedimento de cálculo da função de permeabilidade utilizando o processo iterativo proposto por Guimarães(2004). Quando a curva de retenção final é estimada (8), traçam-se os perfis de umidade finais (9) com base nos valores de sucção medidos. Com os perfis de umidade, a velocidade de fluxo é conhecida a qualquer momento e a qualquer profundidade da amostra. Esta velocidade deve corresponder à perda de umidade do solo e ao gradiente de carga. 8.1.6. Resultados obtidos Para se observar a eficiência do método de Wind na determinação da curva de retenção são apresentados na Figura 8.3 os dados experimentais obtidos da forma convencional (placa de sucção e placa de pressão) e a curva obtida para uma areia ensaiada. 135 Teor de Umidade Volumétrico (%) 50 AR-100 - dados e xpe rime ntais Ajuste Van Ge nuchte n (1980) Ajuste - mé todo de Wind (1969) 40 30 20 10 0 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) Figura 8.3 – Comparação entre as curvas de retenção obtidas através das duas metodologias utilizadas (AR-100) Observa-se uma boa concordância entre as curvas obtidas pelos dois procedimentos. Isto indica que o método de Wind pode ser uma boa alternativa para a determinação da curva de retenção. Os resultados da função de permeabilidade em termos de sucção estão apresentados na Figura 8.4, juntamente com a função de permeabilidade estimada com a aplicação do modelo de van Genuchten (1980), utilizando os parâmetros de ajuste da curva de retenção. Para o caso da areia os resultados se mostraram satisfatórios quando comparados com o modelo de van Genutchen. Outros resultados obtidos por Guimarães (2004) usando solo residual mostraram que solos que sofrem contração durante o processo de aumento de sucção não são adequados para o método de Wind na forma como ele foi aplicado. 136 100000 10000 1000 100 10 1 0,1 0,01 0,001 0,0001 0,1 1 10 Sucção (kPa) 100 1000 Figura 8.4 – Resultados experimentais e curva do modelo de van Genutchen (1980) para a areia (AR-100) 137 8.2. Fluxo de ar Estudos sobre a característica de fluxo de ar em um solo utilizado como camada de cobertura de um aterro de resíduos sólidos foram realizados por Andrade (2001). A pesquisa enfocou tanto aspectos experimentais como teóricos relativos aos modelos de estimativa da função de permeabilidade ao ar. Os dados e análises aqui apresentados são frutos do trabalho apresentado por Marinho et al. (2001). Uma importante contribuição a este tema foi apresentada por Maciel (2003). A permeabilidade de um solo compactado, utilizado na camada de cobertura final de um aterro de resíduos sólidos, é de extrema importância na redução do fluxo de água dentro do aterro e do fluxo de gás para a atmosfera. A determinação dos parâmetros relativos ao fluxo de água e gás é importante no que diz respeito à adequação dos projetos de sistemas de coberturas. Além deste aspecto o fluxo de gases em meios porosos vem sendo cada vez mais investigado em diversas aplicações. Alguns exemplos são: métodos de descontaminação de solos, estudos sobre vazamentos de tubulação de gás e liberação de gás em aterros de resíduos sólidos urbanos. O fluxo de um fluido (líquido ou gasoso) pode variar de forma e também de características de acordo com peculiaridades físicas e químicas do meio ( e.g. Tindal e Kunkel, 1999). Nos estudos realizados apenas o aspecto físico foi considerado. Deste modo qualquer propriedade de fluxo de um fluido em um meio poroso é afetada pelos seguintes fatores: porosidade do meio, tamanho dos poros maiores, distribuição do tamanho dos poros e grau de saturação (ou sucção). O efeito do grau de saturação na permeabilidade à água ou ao ar é provavelmente o aspecto mais difícil de ser analisado. O objetivo geral do estudo realizado por Andrade (2001) foi obter as propriedades de fluxo de um solo utilizado como camada de cobertura em um aterro de resíduos sólidos urbanos Municipal, conhecido como aterro da Muribeca, localizado na região metropolitana do Recife-PE no Município de Jaboatão dos Guararapes. Como objetivos específicos deste estudo se tem: obter dados geotécnicos adicionais para o solo da região e inferir o uso do modelo empírico de Brooks & Corey na determinação da função de permeabilidade do solo ao ar. A curva de retenção foi obtida através da técnica do papel filtro em amostras compactadas usando a energia do Proctor Normal. Foi experimentalmente determinada a permeabilidade do solo no estado saturado e a permeabilidade ao ar do solo em diferentes graus de saturação iniciais. 138 8.2.1. Caracterização do solo A Tabela 8.2 apresenta os resultados dos limites de Atterberg para o solo ensaiado, como também a densidade dos grãos e percentagem de grãos menores do que 2µm. A distribuição granulométrica do solo é apresentada na Figura 8.5. LL (%) 52 IP (%) 17 δ 2,67 %<2µm 28 Tabela 8.2 - Caracterização do solo. #200 100 #100 #50#40#30 #16 #10 #4 90 Porcentagem Passada 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0.001 argila 0.01 0.1 1 10 Diâmetro dos Grãos (mm) silte are ia fina are ia mé dia a. grossa 100 pe dre gulho Figura 8.5 - Curva granulométrica do solo. Três séries de amostras foram preparadas para serem usadas em três diferentes tipos de ensaios, quais sejam: curva de retenção, permeabilidade à água e permeabilidade ao ar. Cada série de amostras foi identificada de acordo com o ensaio a ser realizado. A Tabela 8.3 apresenta a simbologia adotada para as amostras utilizadas de acordo com os ensaios realizados. 139 Lote da amostra Corpos de prova A CP1,CP2,CP3,CP4,CP5 B CP1’, CP2’,CP3’,CP4’,CP5’ C CP1”,CP2”,CP3”,CP4”,CP5” Ensaio Curva de retenção Permeabilidade à água Permeabilidade ao ar Tabela 8.3 - Identificação das amostras. 3) Peso Específico Seco (kN/m A curva de compactação do solo e os estados iniciais das amostras estão apresentados na Figura 8.6, onde também são identificados os corpos de prova ensaiados correspondentes a cada série. Os corpos de prova foram compactados usando a energia do Proctor Normal. Como pode-se observar na Figura 8.6, os corpos de prova correspondentes às séries B e C apresentaram uma curva de compactação deslocada para à esquerda em relação à curva de compactação da série A, cujo teor de umidade ótimo foi de 21%. Isto não foi intencional. 17 S = 100% S = 90% 16 lote A lote B lote C S2 15 S3 S1 14 13 S4 10 15 20 25 S5 30 35 Teor de Umidade (%) Figura 8.6 – Curvas de compactação das séries de amostras. 8.2.2. Curvas de retenção As curvas de retenção foram obtidas por secagem dos diversos corpos de prova. A sucção foi medida usando a técnica do papel filtro. O papel filtro foi colocado em contato direto com o corpo de prova, usando-se um tempo de equilíbrio de 7 dias. A Figura 8.7a mostra a relação entre o teor de umidade volumétrico e a sucção matricial para os corpos de prova do lote A de amostras. Na Figura 8.7b, apresentam-se as condições iniciais em termos de teor de umidade volumétrico e índice de vazios. 140 Teor de Umidade Volumétrico (%) 35 S = 100% 30 25 20 15 CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 10 5 0 1 10 (b) (a) 100 1000 10000 0.6 Sucção (kPa) 0.7 0.8 0.9 1 Índice de Vazios Figura 8.7 – (a) Curva de retenção (b) Estado volumétrico inicial dos corpos de prova. 8.2.3. Permeabilidade à água – solo saturado Os ensaios de permeabilidade com os corpos de prova saturados foram realizados utilizando-se os corpos de prova do lote B. A Figura 8.8a apresenta as condições iniciais dos corpos de prova ensaiados. Os ensaios foram executados usando um equipamento de membrana flexível. A Figura 8.8b apresenta as permeabilidades saturadas (Kw) dos cinco corpos de prova ensaiados. Foi observada uma redução na permeabilidade saturada com o aumento do teor de umidade de compactação. 8.2.4. Permeabilidade ao ar – solo não saturado A permeabilidade do solo ao ar (Ka) foi obtida a partir de ensaio com fluxo de ar, utilizando o mesmo equipamento de membrana flexível, porém com uma adaptação para o fluxo de ar conforme Maciel e Jucá (2000). O estudo detalhado de fluxo em gás através de um meio poroso pode ser encontrado em Ignatius (1999). Na Figura 8.8a são apresentadas as características dos corpos de prova nas condições iniciais, antes dos ensaios. Cada ensaio foi realizado com os corpos de prova após a compactação. A Figura 8.8b apresenta os resultados das permeabilidades do solo ao ar, mostrando um rápido decréscimo na permeabilidade ao ar com o aumento do teor de umidade inicial dos corpos de prova. Teores de umidade maiores que o 141 equivalente a entrada de ar, induzem uma forte redução no fluxo de ar, pois o grau de saturação neste ponto é bastante elevado. Peso Esp. Seco (kN/m3) 17 (a) S = 90% 16 15.5 Kw Ka S2 15 S3 14.5 S1 14 S4 S5 13.5 13 10 Kw and Ka (m/s) S = 100% 16.5 10 10 10 10 10 10 10 15 20 25 30 35 -03 -04 S1" S2" S3" (b) -05 S4" -06 S1' -07 S5" S2' S3' -08 S4' S5' Kw Ka -09 10 15 20 25 30 35 Teor de Umidade de Compactação (%) Figura 8.8 – (a) Curva de compactação das séries de amostras (A,B e C) (b) Permeabilidades experimentais do solo à água e ao ar em função dos teores de umidades iniciais dos corpos de prova ensaiados. 8.2.5. Modelo de Brooks & Corey O modelo de Brooks & Corey (1964) foi utilizado com o objetivo de verificar sua validade com relação aos dados experimentais obtidos para a permeabilidade ao ar. Também utilizou-se o modelo para prever a função de permeabilidade à água. O modelo de Brooks e Corey (1964) necessita de três parâmetros do solo: o ponto de entrada de ar do solo ( u a - u w ) b , o grau de saturação residual (Sr) e o índice de distribuição de tamanho dos poros do solo (λ). O Sr obtido empiricamente, é definido como o grau de saturação no qual 142 um aumento na sucção matricial não provoca mudança significante no grau de saturação. Os outros dois parâmetros podem ser visualizados, se a condição de saturação for expressa em termos de grau de saturação efetivo ( S e ), que é definido como: S − Sr Se = 1 − Sr O modelo de Brooks e Corey representando a relação entre o grau de saturação efetivo e a sucção matricial, pode ser expresso por: λ (ua − uw)b Se = para (ua − uw) > (ua − uw)b ( u a − u w ) O valor de ( u a - u w ) b é a sucção correspondente ao ponto de entrada de ar. Esta expressão é válida para ( u a - u w )>( u a - u w ) b e S < Sr. A Figura 8.9a apresenta os dados obtidos com corpos de prova do lote A de amostras, plotados em termos de grau de saturação efetivo versus sucção matricial. O valor da sucção correspondente à entrada de ar foi tomado igual a 600 kPa (ver Figura 8.7). Apenas os pontos acima de 600kPa foram considerados na aplicação do método. O valor de ( u a u w ) b foi de 978kPa. A Figura 9b apresenta os pontos usados para obtenção dos parâmetros do modelo. O valor de λ (índice de distribuição de tamanho dos poros do solo) encontrado foi de 0.76 978kPa 1 λ = 0 .7 6 Se r2 = 0.93 0.1 S1 S2 S3 S4 S5 Modelo de Brooks & Corey 0.01 100 1000 10000 Sucção (kPa) Dados Usados Modelo de Brooks & Corey (a) 100 1000 10000 (b) 100000 Sucção (kPa) Figura 8.9 – (a) Relação entre o grau de saturação efetivo e a sucção matricial (b) Aplicação do modelo de Brooks e Corey. Desta forma tem-se que a representação da curva de retenção pelo método de Brooks & Corey (1964) é expressa da seguinte forma: 143 978 S e = (u a − u w ) 0.76 8.2.6. Aplicação da função de permeabilidade à água A relação semi-empírica para a função de permeabilidade à água, K(w), foi apresentada por Brooks e Corey (1964), da seguinte forma: η (u a − u w ) b K ( sucção ) = K S para (ua − uw) > (ua − uw) b (u a − u w ) → η = 2 + 3λ Onde, K(sucção) é a permeabilidade à água em função da sucção e Ks é a permeabilidade experimental à água para um grau de saturação de 100%. O valor de λ é o obtido através da aplicação do modelo à curva de retenção, no caso igual a 0.76. θ ) (m/s) K(θ Na Figura 8.10 apresentam-se os resultados da aplicação de dois modelos, o modelo de Brooks e Corey e o modelo de van Genutchen. Os valores das permeabilidades obtidas com o solo saturado são também mostrados na Figura 8.10 e estão representados para uma sucção de 10 kPa tendo em vista a escala logarítmica. O valor médio da permeabilidade foi usado nos modelos. A equação de van Genutchen é apresentada para fins de comparação No momento não há dados experimentais da função de permeabilidade à água para se comparar com os previstos através dos modelos. 10 -06 10 -07 10 -08 10 -09 10 -10 10 -11 10 -12 10 Modelo de Brooks & Corey Kw - Sat Modelo de van Genuchten 100 1000 10000 Figura 8.10 – Funções de permeabilidades não saturadas e as permeabilidades experimentais à água do solo saturado 144 Pode-se observar que o modelo de Brooks e Corey apresenta valores de permeabilidade maiores do que os fornecidos pelo modelo de van Genutchen. Porém, a ordem de grandeza pode não ser significativa tendo em vista as dificuldades e imprecisões da obtenção experimental da função de permeabilidade da água. 8.2.7. Aplicação da função de permeabilidade ao ar Brooks e Corey (1964) também propõe uma relação semi-empírica para a função de permeabilidade ao ar. A equação em termos de sucção é: (u − u ) λ w b K a ( sucção) = K d 1 − a u a − u w 2 (u − u ) 2+ λ a w b 1 − u a − u w para _(ua − uw ) > (ua − uw )b . Os valores de λ e ( u a - u w ) b são os mesmos determinados anteriormente. O Kd é o valor da permeabilidade experimental ao ar obtido com o solo seco. A Figura 8.11 apresenta dados experimentais obtidos para a permeabilidade ao ar, determinados através dos corpos de prova correspondentes ao lote C de amostras. Pode-se observar que há um rápido aumento na permeabilidade ao ar com o aumento da sucção inicial ou decréscimo do grau de saturação. O ponto de inflexão está associado ao valor de sucção correspondente à entrada de ar no solo. O valor da sucção de entrada de ar obtido através do modelo de Brooks e Corey foi de 978 kPa. A curva mostrada na Figura 8.11 é a aplicação do modelo de Brooks e Corey com os dados mostrados na Figura 8.9b. Os resultados obtidos com a aplicação do modelo de Brooks & Corey diretamente da curva de retenção foram satisfatórios, porém superestimam os valores de ka. Ajustando-se os parâmetros foi obtido um melhor resultado, no entanto considera-se que a aplicação direta do modelo é satisfatória. Alterando o valor da entrada de ar, de 978 kPa para 1100 kPa e mantendo λ = 0,76, se obtém um melhor resultado. O ajuste é mostrado na Figura 8.11a. 145 10 Ka (m/s) 10 10 -03 10 -04 CP3" -05 CP1" CP1" CP2" 10 Dados experimental BROOKS & COREY B & C - Ajustado 10 CP4" 10 -06 10 -07 1000 -04 5000 9000 CP2" CP3" -05 CP4" -06 (b) (a) CP5" 10 -03 10 CP5" -07 0 20 40 60 80 100 S (%) Figura 8.11 – Permeabilidade experimental do solo ao ar versus sucção inicial estimada e grau de saturação inicial, mostrando o resultado da previsão através do modelo de Brooks e Corey. 146 9. Aplicações dos conceitos da mecânica dos solos não saturados 9.1. Considerações sobre a teoria e a prática Ao ser questionado sobre a razão da falta de aplicação prática para as teorias da mecânica dos solos não saturados me deparei com um enorme problema que é justificar a falta de exemplos práticos da aplicação da mecância dos solos não saturados. Desta forma, apresento a seguir considerações que devem nos levar a seguinte conclusão, que antecipo: Não se aplica aquilo que não se conhece. Estas considerações foram apresentadas por ocasião do 5o Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados em 2004. Peck (1969) na sua Rankine Lecture reconhece a dificuldade que tiveram ele e Terzaghi para escrever sobre a prática da mecânica dos solos no conhecido livro “Soil mechanics in engineering practice.” Embora, no livro poucos aspectos relativos à mecânica dos solos não saturados tenham sido abordados, Terzaghi e Peck (1967) apresentaram considerações importantes sobre o comportamento dos solos não saturados. Em muitos aspectos a questão geral sobre o uso da teoria na prática foi abordada por diversos pensadores. Saliento que no rol de pensadores incluo todos que possuem bom senso. No entanto, esta inclusão exige uma observação feita por Descartes, no seu “Discurso sobre o método”. “Bom senso é o que existe de melhor dividido no mundo...” (Descartes , 1637). Embora muitos não se achem com habilidade no futebol, música ou outra coisa qualquer, ninguém acha que não tem bom senso. Com a ressalva que vou utilizar o bom senso, que me foi dado como parte do todo que existia a ser distribuído, vou me atrever a discorrer sobre quais os caminhos a serem seguidos para ajudar a “empurrar” a teoria para a prática na mecânica dos solos não saturados (MSÑS). A teoria nada mais é do que uma ferramenta para se avaliar o comportamento no futuro (previsão do comportamento), e a prática é aquilo que irá testar as teorias conhecidas e definir quais delas irão ser comprovadas ou abolidas. Obviamente que existirão aquelas que poderão ser modificadas e novamente testadas. Veremos que não podemos separar, de forma tão absoluta, a teoria da prática. Serafim (2001) chama atenção para a falácia da dicotomia teoriaprática. Embora o seu artigo trate da questão sob ótica social (que também deve estar presente na análise de engenharia) podemos extrair pensamentos úteis ao nosso desejo de “empurrar” a teoria da mecânica dos solos não saturados para a prática. 147 O que vem a ser usar uma teoria na prática? Esta é uma questão difícil de ser respondida e julgo ser útil uma análise, ainda que teórica, das ligações da prática com a teoria e a necessidade desta ponte. Quando ministramos aulas usamos muito de nossas convicções e experiências para ilustrar o que queremos ensinar. Este aspecto também existe no engenheiro que pauta sua atividade na aplicação, ou seja na prática da engenharia. A prática neste caso pode ser subdividida em: projetos, obras e consultorias. Quando estamos diante de um problema de engenharia a abordagem teórica geralmente nos leva a uma análise das diferentes partes que compõem o problema em questão. Capra (1982) sugere que não se é ecologicamente correto quando se trata dos problemas de forma a separá-los do todo. Na geotecnia temos, na maioria das vezes, que tratar do problema como um todo e não separando-o em pequenos problemas. No caso da MSÑS isto fica mais evidente pois a interação com o meio ambiente envolve muitas vezes outras áreas do conhecimento. A dificuldade em equacionar os problemas na geotecnia nos leva muitas vezes a caminhos tortuosos, separando a teoria da prática. É possivelmente daí que vem o procedimento do engenheiro considerado “prático” que age no sentido de resolver baseado na sua experiência profissional, sem equacionar adequadamente o problema antes de definir a solução. O que deixa claro a existência de uma tendência harmonizante entre a teoria e a prática é que nem sempre o mesmo lado vence e assim um se apóia no outro. Ou seja, é uma questão de “Traduzir uma parte na outra parte...” (do poema de Ferreira Gullar). Esta é uma questão importante e difícil. É preciso traduzir falhas (rupturas) em conhecimentos. É preciso traduzir conhecimento consolidado (de todos os tipos) em solução de problemas. A mecânica dos solos não saturados tem sido apresentada de duas formas distintas. Uma sugere uma nova conceituação e assim cria uma barreira natural à difusão do conhecimento. A outra forma, ao contrário, tenta demonstrar que a estrutura da MSÑS é a mesma e que integra à esta estrutura existente aspectos novos e, principalmente, parâmetros e variáveis novas. A interação com o meio ambiente é o aspecto mais importante para se entender as diferenças existentes entre a abordagem tradicional e a da MSÑS. O solo funciona como um elemento vivo que reage às condições climáticas e do meio ambiente em que está inserido. Por envolver o clima e por muitas vezes exigir a compreensão de fatores ambientais que estão ligados a outras áreas do conhecimento, deve-se ter em mente que a MSÑS possui uma elevada multi-disciplinaridade. Dentre as várias ciências que interagem com a MSÑS, estão: 148 · · · · · · · A A A A A A A termodinâmica climatologia agronomia química biologia engenharia de saneamento hidrologia Os projetos que envolvem solos dependem fundamentalmente de aspectos ambientais naturais e antrópicos, independentemente do solo ser saturado. É por isto que a geotecnia é inevitavelmente ambiental. Quando se trata de solos não saturados as causas de problemas e mesmo as soluções, são muitas vezes difíceis de serem compreendidas sob a ótica usual. Os ensaios, as análises numéricas, instrumentações e ensaios de campo são as ferramentas que nos fornecem as informações que devemos obter para melhor embasar nossa solução. Obviamente que nem todas as ferramentas podem ser obtidas em todos os casos. Muitas vezes a obediência a um dos objetivos da engenharia (e.g. custos, tempo, etc..) força a retirada de algumas destas ferramentas de análise do problema. Deve-se ter em mente que esta redução na obtenção das ferramentas de análise vem sendo levada a extremos perigosos Existem várias formas de se enfocar um problema e dentre elas destacam-se a maneira indutiva, a por analogia e a dedutiva. Não nos cabe aqui defender uma ou outra forma de argumento, mas é interessante termos em mente as distinções entre estes raciocínios. Muitas vezes aplicamos um ou outros destes argumentos sem mesmo nos darmos conta disto. A melhor forma de apresentarmos estas definições é por meio de exemplos, então vejamos: • Argumento indutivo – As areias são permeáveis à água, as argilas são permeáveis à água, as areias argilosas são permeáveis à água, logo todo material poroso é permeável à água. Partimos do particular para o geral. • Argumento analógico – Se duas areias possuem curvas granulométricas semelhantes e só se conhece a curva de retenção de uma delas, pode-se dizer que a curva de retenção da segunda será semelhante a da primeira. Através dele não se chega a uma conclusão geral e sim específica. • Argumento dedutivo – Se é uma verdade que os humanos são falíveis e Terzaghi era um ser humano, temos que aceitar que 149 Terzaghi era falível. Parte-se de verdades gerais para afirmar algo particular. Na geotecnia certamente temos de fazer uso de uma combinação destes argumentos. Ao se falar em MSÑS é comum ouvirmos a palavra sucção. A sucção é sempre associada, corretamente a MSÑS. No entanto, deve-se ter em mente que é a água e sua distribuição que “cria” características distintas nos solos e materiais porosos em geral. Muitas vezes não precisamos da sucção para resolver problemas ou mesmo analisá-los. Em alguns casos não se pode medir a sucção. Esta introdução à definição dos problemas é necessária para desmistificar o uso da sucção como elemento indispensável da MSÑS. Pode-se imaginar que as dificuldades de uma maior aplicação dos conceitos da MSÑS estejam relacionadas com os seguintes aspectos: • • • • ·A visão do problema é sempre baseada na mecânica dos solos clássica (embora seja necessário o conhecimento!) ·Imagina-se sempre que seja necessário medir o estado de tensões (A determinação da sucção pode ser uma tarefa difícil e desnecessária) ·Imagina-se que os parâmetros são difíceis de serem obtidos e a análise é complexa (Será que escolhemos os ensaios corretos para a solução dos problemas?) ·É necessário se ter uma “educação” para o problema. Temos de ser “ensinados” sobre os conceitos da MSÑS. Albert Einstein fez uma observação que é ao mesmo tempo confortante e desanimadora. Ele disse: “A formulação de um problema é freqüentemente mais fundamental do que a sua solução”. E ele ainda acrescentou: “levantar novas questões, novas possibilidades para problemas antigos, mas sob uma nova ótica requer uma imaginação criativa e marca o avanço real da ciência.” Como podemos concluir, não é nada fácil definir adequadamente um problema. No entanto, alguns elementos facilitadores podem ser levantados, quais sejam: • • ·Com os aspectos relativos aos fenômenos da mecânica dos solos não saturados em mente, pode-se facilitar a elaboração do cenário que define o problema a ser analisado ·Existem muitas técnica que permitem medir ou inferir a sucção. O uso da curva de retenção de água é um grande facilitador. Cada vez mais os ensaio estão sendo simplificados e o uso da curva de retenção tem colaborado para uma avaliação rápida de diversos aspectos do comportamento dos solos não saturados. A análise 150 numérica tem sido uma maneira rápida de se avaliar os problemas com o enfoque: “o que acontece se?” Não podemos deixar de destacar que o método observacional proposto por Peck (1969) é plenamente aplicável à MSÑS, e podemos salientar os seguintes aspectos: • • • • ·Investigação (segundo Peck há necessidade de ser detalhada, mas dependendo do tipo de obra esta investigação deve ser extremamente bem feita e detalhada. Deve-se levar em conta que na MSÑS a caracterização do solo exige alguns parâmetros diferentes do convencional). ·Estabelecer as condições mais prováveis e mais desfavoráveis (a condição mais desfavorável é o que tem levado a análise sob a ótica dos solos saturados. O clima tem papel fundamental neste aspecto). ·Escolha dos parâmetros que devem ser monitorados durante a construção e vida útil da obra (tanto pode-se monitorar a sucção como, em alguns casos o teor de umidade) ·Ter em mente sempre uma alternativa que responda às observações feitas por meio da monitoração da obra (compreender os mecanismos associados aos solos não saturados é fundamental neste aspecto). Desta forma podemos afirmar que a mecânica dos solos não saturados é e será aplicada na prática na medida em que pudermos ter uma massa de profissionais com capacitação suficiente para equacionar os problemas de forma a podermos visualizar o que não sabemos. Nos itens subseqüentes são apresentados estudos onde o enfoque foi aplicado a determinados caso práticos. 151 9.2. Taludes Os fatores climáticos associados com a ação do homem vêm sendo responsáveis por instabilizações de taludes tanto em áreas urbanas como em regiões pouco habitadas. Tanto em um caso como no outro um aspecto importante para o mecanismo de instabilização é a variação da sucção do solo (e.g. Brand, 1981; Sweeney & Robertson, 1982; Wolle & Hachich, 1989; Lim et al, 1996; Gerscovich et al, 1997). A sucção é diretamente influenciada pelas variações ambientais e mais fortemente relacionada com as variações climáticas. O clima afeta diretamente o balanço de água no solo. O sistema atmosfera/solo é controlado por uma interface que pertence ao perfil de solo e que regula a troca de água no sistema. A quantidade de água que entra ou sai do sistema induz variações no perfil de sucção. Obviamente que existe a condição em que a variação da sucção é acarretada por fluxo de água advindo de regiões distantes do local em questão. A variação do perfil de sucção associada às características de retenção de água do solo faz variar a resistência ao cisalhamento do mesmo. Neste item é apresentado um estudo (Marinho & Vieira, 2001) onde o objetivo foi observar e analisar as variações sazonais de sucção em um talude na cidade de São Paulo, por meio de monitoração da sucção em campo. Na literatura poucos dados de monitoração de sucção com a profundidade e tempo têm sido apresentados. Os dados aqui mostrados contribuem para a compreensão dos fenômenos envolvidos com o fluxo entre o solo e a atmosfera. 9.2.1. O talude estudado O talude estudado localiza-se no campo experimental do Laboratório de Mecânica dos Solos da EPUSP em São Paulo. A elevação do local é de aproximadamente 780m acima do nível do mar. Um arranjo esquemático do local é apresentado na Figura 9.1. O talude é formado por um solo residual de gnaisse. Dois horizontes são claramente definidos, o solo residual maduro (ou colúvio) com aproximadamente 2 metros de espessura e o solo saprolítico que vai além de 25m de profundidade. 152 Rua Container T 6 T1 T3 Poço T5 T2 T7 T8 T4 Vista da foto 9.1 Figura 9.1 – Posicionamento dos tensiômetros em planta. Na Figura 9.2, apresenta-se uma seção transversal do talude com a locação do poço e dos tensiômetros. T1, T6 5.5m T8 T7 Poço Vista da foto 9.1 T2 T4 T5 T3 Figura 9.2 – Posicionamento dos tensiômetros na seção do talude. 153 As amostras para caracterização e para a determinação das curvas de retenção foram obtidas no poço executado. O poço possui aproximadamente 6 metros de profundidade e 1,5m de diâmetro. As paredes do mesmo foram revestidas com cimento para reduzir a troca de umidade com o ar no interior do poço. O poço foi protegido na sua entrada para evitar o acesso de água de chuva. Foram retiradas 12 amostras indeformadas para determinação das curvas de retenção e também 4 blocos indeformados. As amostras foram retiradas nas profundidades de 1,6m, 3,0m, 4,4m e 6,0m. Em cada nível as amostras extraídas foram escolhidas de modo a se obter corpos de prova com características visuais diferentes. O objetivo foi avaliar o grau de heterogeneidade refletido nas curvas de retenção. Na Tabela 9.1, são apresentados os resultados dos ensaios de caracterização do perfil. Verifica-se que o trecho superficial apresenta um maior teor de finos o que reflete-se num aumento da plasticidade do material. Prof.(m) 1,6 3,0 4,4 6,0 LL 50,3 49,6 50,4 49,4 49,6 49,6 50,8 52,0 56,6 55,4 51,7 47,0 IP %<2µm 22,6 27,0 15,6 30,0 18,4 29,0 16,9 12,0 16,2 13,5 12,5 14,5 15,8 13,5 17,7 9,0 29,4 8,0 16,0 8,5 9,4 14,0 12,5 14,0 G 2,7 2,5 2,7 2,7 2,8 2,6 2,8 2,7 2,7 2,7 2,8 2,7 Tabela 9.1- Propriedades físicas do solo estudado. Na Foto 9.1 apresenta-se uma vista do talude monitorado onde se observam as características visuais do perfil de solo local. 154 Foto 9.1 – Vista do talude estudado Na Foto 9.2 é apresentada uma vista geral da entrada do poço durante a sua execução. Foto 9.2 – Execução do poço de monitoramento Na Foto 9.3 tem-se a imagem de um bloco indeformado tirado no interior do poço. Foto 9.3 – Retirada de bloco indeformado. 155 Na Foto 9.4 tem-se a retirada de uma amostra para determinação da curva de retenção, onde é colocado o papel filtro ainda no poço. Foto 9.4 – Retirada de amostra e colocação do papel filtro para medição de sucção. 9.2.2. Instrumentação utilizada A instrumentação constou de 8 tensiômetros. Cada tensiômetro foi cuidadosamente preparado em laboratório de forma a se obter uma saturação que possibilitasse a medição de sucção sem o surgimento imediato de ar no sistema. Isto foi feito por meio de aplicação de vácuo associado ao uso de um surfactante (Marinho,2000). Os tensiômetros foram instalados por meio de um pré-furo. Antes da instalação do tensiômetro uma pasta de solo foi preparada e colocada no furo. Essa pasta constituía-se do solo retirado do local passado na peneira no 40 e com teor de umidade um pouco acima do limite de liquidez. Isto permitiu um melhor contato entre a pedra porosa e o solo. A resposta dos tensiômetros foi sempre imediata. Tensiômetros convencionais possuem uma limitação de medição de sucção que impede que sucções acima de 1 atm sejam medidas. Este valor é reduzido em função da altitude do local onde se vai realizar a medida, das características do tensiômetro e também, do comprimento desses. Na Tabela 9.2, são apresentados os valores dos limites dos tensiômetros instalados: os valores teóricos e aqueles que foram adotados como valores confiáveis com base em observações no campo. Sucções superiores ao valor adotado não foram consideradas e os tensiômetros foram submetidos à manutenção. Maiores detalhes podem ser obtidos em Vieira (1999). 156 Tensiômetros T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 Limite Adotado (kPa) Limite Teórico (kPa) 80 65 65 65 80 80 50 50 89.5 77.5 77.5 79.5 90.0 89.5 58.5 62 Tabela 9.2- Limites máximos adotados para cada tensiômetro. O monitoramento da sucção foi feito no período de abril de 1998 a janeiro de 1999. Este monitoramento foi interrompido por um incêndio na vegetação do local, que destruiu a maioria dos tensiômetros instalados. Dados sobre a precipitação no mesmo período também foram obtidos. A estação meteorológica localizava-se a aproximadamente 1km do local estudado. O nível de água do lençol freático no local do estudo foi verificado por meio de um poço de monitoração. Este poço foi gentilmente executado pela Engesolos. O nível de água apresentou-se a uma profundidade média de 17m em relação ao nível da entrada do poço. A oscilação do N.A. no período estudado foi de aproximadamente 1m. 9.2.3. Resultados obtidos A Figura 9.3 resume as medições de sucção feitas com os diversos tensiômetros instalados. Nesta figura é também apresentada a pluviometria do período estudado, bem como a profundidade do nível de água no local. A chuva acumulada no período estudado foi de aproximadamente 1600mm. As chuvas distribuíram-se de janeiro a maio de 1998 (acumulada de aproximadamente 22mm) e de setembro de 1998 a janeiro de 1999 (acumulada de aproximadamente 1578mm). Observa-se na Figura 9.3 que os tensiômetros superficiais (T1, T5 e T6) respondem bem ao período chuvoso e úmido. Mesmo o tensiômetro T2, posicionado a 1.5m de profundidade detectou de forma clara as oscilações sazonais do clima. Os tensiômetros T7 e T8 (instalados a 3m de profundidade) foram instalados no meio do período seco, mas podese observar que houve decteção das alterações exteriores. 157 Sucção (kPa) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sucção (kPa) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sucção (kPa) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sucção (kPa) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sucção (kPa) Tensiômetros T1- 0,25 m (face horizontal) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 70 T5 - 0,10m (da face vertical) T6- 0,25 m (face horizontal) limite máx. T1, T5, T6 Tensiômetros T2 - 1,15 m (face horizontal) limite máx. T2 Tensiômetros T8- 3,00 m (face horizontal) T7- 3,15 m (face horizontal) limite máx. T7, T8 Tensiômetros T3- 6,80 m (face horizontal) limite máx. T3 Tensiômetros T5 - 0,10m (da face vertical) T4-0,49 m (da face vertical) T3- 5,00 m (da face vertical) limite máx. T5 T4 1600 68.5 Acumulada (mm) 1400 1200 51.9 50 40 37.9 31 30 24.2 20 16.6 8.7 0 16 17 18 19 26.1 3.1 17.1 16.6 9.6 7.8 1.8 600 22.5 14.9 5.2 800 30 24.4 22.4 20.3 1000 42.9 36.3 34.5 10 15.8 8.3 4.3 4.1 1.2 400 200 0 25-01-99 26-12-98 26-11-98 27-10-98 27-09-98 28-08-98 29-07-98 29-06-98 30-05-98 30-04-98 31-03-98 N. A. (m) 1-03-98 Profundidade (m) 48.4 47.6 44 Chuva acumulada (mm) Altura de chuva (mm) 60 Pe ríodo Figura 9.3 – Resultados do monitoramento dos tensiômetros instalados e do nível d´água local (Vieira, 1999). 158 Ao se analisar os perfis de sucção (Figura 9.4) observa-se que houve uma variação do perfil até a máxima profundidade monitorada. O que indica que a zona ativa atinge profundidades significativas. A resposta do perfil às variações climáticas é fruto não somente do solo, mas também da geometria como se verá a seguir. Observa-se na Figura 9.4 que abaixo dos dois metros de profundidade a sucção se manteve acima de 10kPa, excetuando-se algumas observações em janeiro onde mediu-se sucções da ordem de 3kPa a três metros de profundidade. 0 1 Profundidade (m) 2 3 Data 13/4/98 15/5/98 15/6/98 18/6/98 '10/7/98 16/7/98 23/7/98 14/8/98 23/11/98 '08/12/98 27/1/99 4 5 6 7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Sucção (kPa) Figura 9.4 – Perfis de sucção em determinados dias. O fato do talude ser praticamente vertical reduz significativamente a entrada de água através de sua face. Nesta face passa a se ter praticamente só evaporação. As medições demonstraram que havia um perfil de sucção horizontal, ou seja a sucção varia em direção ao talude. Valores maiores foram sistematicamente observados próximos a face vertical do talude conforme os dados apresentados na Figura 9.5 159 80 Data Sucção (kPa) 70 60 50 40 Talude 30 14/07/98 16/07/98 17/07/98 17/07/98 18/07/98 20/07/98 20/07/98 23/07/98 23/07/98 29/07/98 07/08/98 10/08/98 11/08/98 13/08/98 14/08/98 26/08/98 20 10 0 4 2 0 Afastamento em relação à superfície vertical do talude (m) 80 Data Sucção (kPa) 70 60 50 40 Talude 30 14/07/98 16/07/98 17/07/98 17/07/98 18/07/98 20/07/98 20/07/98 23/07/98 23/07/98 29/07/98 07/08/98 10/08/98 11/08/98 13/08/98 14/08/98 26/08/98 20 10 0 4 2 0 Afastamento em relação à superfície vertical do talude (m) Figura 9.5 – Perfis horizontais de sucção No período seco os tensiômetros da superfície não são capazes de medir sucções. Isto foi observado com clareza nos meses de julho e agosto. Observou-se, no entanto, que a profundidade em que isto ocorreu foi pequena e da ordem de 1m. Observou-se ainda que o nível de sucção no talude ficou, na maioria das vezes, abaixo de 80kPa. Observa-se nos resultados que mesmo dentro de um determinado mês existe uma significante oscilação da sucção no trecho superior do perfil (aproximadamente 1.5m). O mês que apresentou menor oscilação foi maio, onde, na parte superior do perfil a sucção variou entre zero e 15kPa. Esta variação deve ser fruto de variações da umidade relativa do ar associada com o vento. Como resultado final dos estudos no talude fez-se uma interpretação dos perfis associando-os aos períodos do ano conforme mostra a Figura 9.6. Observa-se na Figura 9.6 que no período mais seco (maio, junho e julho) houve uma tendência de aumento de sucção na superfície. A partir de agosto (início do período chuvoso) verificou-se uma redução na sucção na superfície. Esta redução se propaga em profundidade nos meses seguintes (outubro a abril). 160 Este monitoramento, embora por tempo limitado, permitiu concluir que o talude manteve-se com um perfil de sucção durante todo o ano, e que o nível máximo de sucção abaixo de 1m foi sempre inferior a 70kPa. O talude não pôde ser monitorado em anos subseqüentes devido a um incêndio ocorrido na área que danificou todos os tensiômetros instalados na superfície. 0 o unh j a o mai ju lh o 1 3 il abr ago sto a a bro sete mb ro outu Profundidade (m) 2 4 5 6 7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Figura 9.6 – Perfis de sucção inferidos dos resultados obtidos com o monitoramento. 161 9.3. Mineração Os minérios em geral são materiais granulares que apresentam um comportamento mecânico e hidráulico semelhante aos dos solos. A mecânica dos solos não saturados têm um grande papel na análise de vários aspectos da extração, armazenamento e transporte de minérios. Este estudo é um bom exemplo de como a mecânica dos solos não saturados pode atuar em áreas que usualmente não se relacionam com a geotecnia diretamente. Dentre as várias possíveis aplicações na área de mineração será apresentado um caso onde os conceitos de capacidade de retenção de água por minério de ferro foi estudado. Este estudo envolveu o grupo de mecânica dos solos não saturados da EPUSP, com a fundamental colaboração do Prof. Carlos de Sousa Pinto. O trabalho contou ainda com a colaboração da Geoconsultoria e da Vale do Rio Doce. O transporte de minérios em navios exige alguns cuidados não somente com relação a sua estabilidade mecânica no interior dos porões, mas também com relação à presença de água entre os grãos. Estes problemas não são recentes e a força do mar é um elemento importante em muitos casos. A ilustração da Figura 9.7 caracteriza bem a força do mar e a fragilidade das embarcações, que mesmo nos dias de hoje estão sujeitas às fortes ações do mar. Figura 9.7 – Navios partindo do porto de Bann na Irlanda do Norte. A razão de se investigar as características de retenção de água em minérios de ferro estão, neste caso, relacionadas com problemas surgidos no descarregamento do minério em portos nacionais e internacionais. Este não é um problema exclusivamente dos minérios brasileiros. Em geral todos os minérios que são explorados por via úmida podem sofrer este tipo de problema. A retirada do minério dos porões dos navios se torna uma tarefa difícil em função do acúmulo de água na base da carga de minério. Esta dificuldade de remoção está relacionada com a presença de água livre no minério. 162 9.3.1. Objetivos e ações dos estudos A seguir são apresentados os objetivos do estudo: •Identificar a fonte de acumulação de água no interior do porão dos navios. •Definir o teor de umidade adequado para o embarque. •Estabelecer um procedimento para uma avaliação rápida do teor de umidade adequado para embarque baseado na curva de retenção. As ações realizadas no sentido de atingir os objetivos foram: •Analisar a rota de transporte, da mina até o navio •Analisar a quantidade de água envolvida •Determinar as curvas de retenção de água dos minérios. •Realizar análises numéricas. •Realizar ensaios em colunas de materiais •Usar os ensaios de coluna para calibrar os parâmetros 9.3.2. Caracterização do problema O minério de ferro de Carajás é obtido por via úmida e armazenado em pilhas após o primeiro beneficiamento, conforme ilustra a Foto 9.5. O minério fica nestes pátios, recebe água de chuva e a drenagem das pilhas é livre conforme pode-se observa na Foto 9.5 e no detalhe da Foto 9.6. Foto 9.5 – Armazenamento do minério em Carajás. 163 Foto 9.6– Água drenando da pilha de minério estocada no campo. Em seguida o minério é colocado em vagões (Foto 9.7) que o leva ao porto para posterior embarque. Durante o transporte ferroviário o material continua sujeito às ações climáticas e a drenagem é livre. O minério antes de ser embarcado é novamente disposto em pilhas ao ar livre sujeitas à infiltração de chuva, evaporação e drenagem. Foto 9.7 - Carregamento do minério nos vagões. Com se pode observar não é fácil se estabelecer um controle da quantidade de água na massa de minério em nenhuma das etapas do transporte até o navio. 164 Ao ser embarcado o minério possui um teor de umidade que é em geral superior àquele que representa o teor de umidade de equilíbrio. Salienta-se que o teor de umidade de equilíbrio depende da posição na pilha de minério. A água em excesso drena para a base do porão do navio, cuja altura de minério é em torno de 20m. A Foto 9.8 ilustra a formação da água livre observada durante a remoção do minério no porto de destino. Esta água acumulada pode ser bombeada durante o transporte e lançada ao mar. Este procedimento reduz os inconvenientes do desembarque. Em geral, o volume a ser bombeado ou o volume que foi bombeado não são conhecidos. No sentido de amenizar o problema o estudo realizado contribui não só para a compreensão do fenômeno, mas também para uma quantificação do volume de água envolvido e no estabelecimento de limites de teores de umidades de embarque. Foto 9.8 – Acúmulo de água dentro do porão do navio 9.3.3. Características dos minérios Os materiais estudados foram caracterizados do ponto de vista geotécnico com os seguintes ensaios: granulometria, densidade relativa dos grãos, permeabilidade saturada e curva de retenção de água 9.3.4. Caracterização física do problema A representação física do problema foi feita utilizando-se colunas de solo. Este método foi utilizado por Stuermer (1998) para caracterizar a curva de retenção de solo residual compactado, e vem sendo utilizado com sucesso em diversas aplicações. 165 A Figura 9.8 apresenta a representação de uma coluna onde o primeiro gráfico à direita ilustra um perfil de pressão de água em equilíbrio. Observa-se que na base da coluna da Figura 9.8 tem-se água livre, o que força a pressão a ser zero neste ponto e ser negativa acima deste nível. O teor de umidade em cada ponto da coluna varia em função da posição em relação ao nível de água. Na Figura 9.8 é representada a variação do teor de umidade volumétrico em função da altura para três materiais diferentes. Dependendo do material tem-se diferentes valores de teor de umidade sempre para um mesmo perfil de sucção (em equilíbrio). (2) h (3) (1) m.c.a θ (%) Figura 9.8 – Conceito de eqüilíbrio na coluna A curva que relaciona a posição na coluna com o teor de umidade é a curva de retenção do material. Na Figura 9.9a é apresentada uma representação de um material lançado com um teor de umidade superior ao do equilíbrio. Neste caso a água inicia o processo de drenagem levando ao acúmulo de água na base como ilustra a Figura 9.9b. Minério com teor de umidade superior ao do equilíbrio Início do processo de drenagem Acumulação de água (b) (a) Figura 9.9 – Caracterização física do problema (a) minério com teor de umidade e início do processo de drenagem (b) água acumulada na base e fim da drenagem. 166 Este processo de drenagem pode ser representado em forma de perfis de sucção e de teor de umidade conforme ilustrado na Figura 9.10. A linha vertical pontilhada representa a condição inicial de lançamento indicando um valor constante de teor de umidade volumétrico e de sucção (este par de valores corresponde a um ponto da curva de retenção). A partir deste momento o teor de umidade no topo se reduz, devido à drenagem, e a sucção aumenta. Este processo leva a diversos perfis de sucção e de teor de umidade até que o perfil de equilíbrio seja atingido. Todos os pontos do perfil de equilíbrio são pontos da curva de retenção. Sucção 0 0 Teor de Umidade Figura 9.10 – Perfis de sucção durante o processso de drenagem. Para realizar o estudo em colunas de minério, foi desenvolvido um sistema (Marinho & Pinto, 2002) que é apresentado na Figura 9.12. A coluna consiste de segmentos de tubo de PVC com flanges que podem ser conectadas de forma estanque por meio de anéis de borracha (“orings”). Esta segmentação facilita a moldagem do material facilitando também sua remoção. Observa-se que o sistema não requer qualquer tipo de instrumentação. 167 Porca borboleta Segmento de PVC O-ring Parafuso Sem drenagem Figura 9.12 – Coluna de PVC usada nos ensaios de simulação. Na Foto 9.9 é apresentado o primeiro segmento de uma coluna em processo de montagem. Foto 9.9 – Primeiro segmento da coluna com o minério. Na Foto 9.10 observa-se a colocação do minério em um dos segmentos de uma coluna em processo de montagem. É feito um controle rigoroso do teor de umidade e densidade. Um estudo sobre a influência da altura de lançamento do minério na densidade seca e na curva de retenção foi apresentado por Kurusu (2003). 168 Foto 9.10 – Colocação do minério nos demais segmentos da coluna. A Foto 9.11 apresenta a coluna de minério montada. Neste caso não foi permitida drenagem pela base e não houve possibilidade de evaporação pelo topo. Estas condições de contorno garantem um acúmulo de água na base sem geração de sucção por evaporação no topo. As colunas, em geral são feitas no mínimo em pares e desmontadas em tempos distintos, obtendo-se assim o perfil de teor de umidade a cada tempo. Foto 9.11 – Coluna montada com 3 m de altura. 169 9.3.5. Análise numérica Os primeiros estudos numéricos do grupo de solos não saturados da EPUSP para este tipo de problema foram feitos por Silva e Marinho (2001). Silva (2000) desenvolveu uma interface gráfica para o programa de fluxo em meios não saturados Hydrus 1D (Vogel et al. 1996) que facilitou o uso do programa. Teor de Umidade Volumétrico Para os estudos do comportamento do minério as análises exigiram o uso da curva de retenção e a aplicação do modelo de van Genutchen (1980) para a obtenção da função de permeabilidade. Na Figura 9.13 são apresentados os resultados experimentais da determinação da curva de retenção juntamente com o ajuste feito pelo modelo e a função de permeabilidade obtida. Sem Drenagem na Base 0.5 0.4 Hydrus FRD 0.3 0.2 0.1 1.00x10 0 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000100000 Sucção (kPa) -01 Permeabilidade (cm/s) -02 1.00x10 -03 1.00x10 1.00x10 1.00x10 -04 -05 -06 1.00x10 -07 1.00x10 -08 1.00x10 -09 1.00x10 1.00x10 1.00x10 -10 -11 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000100000 Sucção (kPa) Figura 9.13 – Dados experimentais da curva de retenção de um minério de ferro e curvas do modelo de van Genutchen. 170 Com o objetivo de avaliar o comportamento da água na coluna foram analisadas situações semelhantes às que foram executadas na coluna propriamente dita. Os resultados foram comparados com os dados experimentais obtidos. Observa-se na Figura 9.14 os resultados das análises numéricas juntamente com os dados experimentais de duas colunas. Verifica-se que o modelo numérico conseguiu refletir bem o comportamento da água na coluna de minério, sendo capaz de prever o perfil de teor de umidade para os diversos tempos estipulados. Na Figura 9.15 os resultados numéricos são apresentados em termos de sucção. Teor de umidade inicial 0 Tempo (dias) 0 1 2 5 10 15 30 2 dias 10 dias Profundidade (cm) 50 Pontos experimentais 100 150 FRD Sem Drenagem na Base 200 ksat = 3 * 10 -3 cm/s 250 300 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 Teor de Umidade Volumétrico Figura 9.14 – Dados experimentais da coluna e resultado da análise numérica mostrando a variação do teor de umidade com a profundidade. 171 Sucção inicial 0 Tempo (dias) 0 1 2 5 10 15 30 Profundidade (cm) 50 100 150 FRD Sem Drenagem na Base 200 250 300 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Sucção (kPa) Figura 9.15 - Resultado da análise numérica mostrando a variação da sucção com a profundidade. Abrão (2005) apresenta um estudo detalhado sobre o uso da ferramenta numérica para analisar o comportamento de minérios em navios e em pilhas de estocagem. No trabalho de Abrão (2005) é detalhado o procedimento de calibração dos parâmetros usados nas análises numéricas. 172 9.4. Barreiras evapotranspirativas As condições climáticas são cada vez mais estudadas como elemento de interferência em projetos de engenharia. Normalmente os projetos que envolvem a engenharia agronômica são citados como exemplo. No entanto, existem cada vez mais projetos relacionados com a engenharia geotécnica que são afetados por aspectos climáticos, ou podem ser projetados levando-se em conta tais efeitos. Como exemplo podemos citar taludes e camadas de proteção de resíduos. Tanto num caso como no outro é o fluxo de água que rege boa parte do comportamento destas obras. As condições atmosféricas de uma determinada região e suas características geotécnicas influem na quantidade de água que infiltrase no solo. O solo participa ativamente da regulação do fluxo de água que vem da atmosfera e também do que é liberado para ela. Na agronomia, a quantidade de água disponível para irrigação e a quantidade de água necessária para as plantas deve ser controlada para se ter um resultado que seja adequado do ponto de vista técnico e econômico. Na engenharia geotécnica, a amenização de problemas relacionados com estabilidade de taludes em solos não saturados, fundações em solos expansivos e colapsíveis e o controle da lixiviação de aterros de resíduos estão, também, fortemente ligados ao controle do balanço de água do solo. Um dos meios empregados para se ter um certo controle das interações do solo com a atmosfera é o uso de barreiras capilares. As barreiras capilares são coberturas superficiais que podem ser utilizadas para proteger da infiltração ou perda de água, taludes, aterros ou qualquer outro depósito granular. Normalmente estas barreiras são constituídas de um material de cobertura mais fino sobreposto a uma camada mais granular. Esses sistemas controlam o fluxo de água na superfícies de contorno, limitando a infiltração. Como complemento ao uso tradicional da barreira capilar pode-se incluir o efeito da evaporação de água pela interface solo/atmosfera. Desta forma, o nível de evaporação de água do solo pode ser controlado. As barreiras capilares servem, assim, para amenizar a variabilidade das interações solo-atmosfera. Isso possibilita um melhor controle do meio, resultando em maior segurança e economia nos projetos. Atualmente, a barreira capilar é bastante utilizada como cobertura de aterro de resíduos, funcionando como elemento de barreira à entrada de oxigênio em camadas mais profundas. No entanto, o conceito das barreiras capilares pode ser aplicado a outros tipos de obra. Segundo Bagchi (1989) o uso de solo em aterro de resíduos é uma prática bastante antiga. No passado, acreditava-se que a lixiviação dos 173 resíduos era completamente atenuada ou até mesmo purificada pelo solo e pelo lençol de água, e assim, a contaminação do aqüífero não era considerada um problema. Entretanto, com o aumento da preocupação com o meio ambiente na década de 50, os aterros começaram a ser detalhadamente estudados. Em pouco tempo, descobriu-se que os aterros de resíduos poderiam contaminar o lençol freático por lixiviação dos contaminantes [e.g. Califórnia Water Pollution Control Board (1954, 1961) apud Bagchi (1989)]. Há algumas décadas atrás, em vista dessa preocupação ambiental e pelos perigos causados pela crescente produção de resíduos dos grandes centros industriais, surgiu a necessidade de desenvolvimento de técnicas de projeto mais apuradas e economicamente viáveis para o controle da lixiviação dos contaminantes. Atualmente, esse controle parcial é desempenhado pelas coberturas que muitas vezes são barreiras capilares. As barreiras capilares, no caso de aterros, devem, portanto, ser projetadas de maneira a assegurar um certo controle do fluxo de água e/ou oxigênio para dentro do aterro. Outro importante exemplo da utilidade das barreiras capilares é o controle do balanço de água do solo em taludes, cuja estabilidade dependa da sucção. Nesse caso, a barreira funciona como meio de minoração das variações do perfil de sucção do solo, mantendo um perfil de sucção mínimo necessário à estabilidade do talude. As barreiras capilares, no caso de aterros de resíduos, possuem duas funções básicas: uma é limitar a água que atinge as camadas de resíduos reduzindo a lixiviação de material; a outra função é reduzir a entrada de oxigênio que pode reagir quando em contato com alguns resíduos, aumentado a produção de contaminates [e.g. Blight, 1997; Kämpf & Von Der Hude, 1995; Nicholson et al., 1989; Cabral et al., 1999]. No caso de taludes, as barreiras capilares têm como função geral impedir o fluxo de água, mantendo com isso um perfil de sucção mínimo. Em geral, as características das barreiras capilares projetadas para aterros de resíduos podem ser adequadas para a proteção dos taludes de solos. A barreira capilar é uma barreira de cobertura. As barreiras de cobertura podem utilizar camadas únicas ou múltiplas. As barreiras de monocamadas são as que têm apenas uma camada de controle do fluxo de água. Nas barreiras de multicamadas, mais de uma camada ajuda no controle do fluxo. 9.4.1. Conceitos básicos Usualmente as coberturas de aterros de resíduos são construídas com uma camada para vegetação de aproximadamente 15cm, sobrejacente a uma camada de solo compactado com espessura em torno de 50cm. A camada de solo compactado deve ter uma permeabilidade à água em 174 torno de 10-7m/s. Como alternativa a este sistema, tem-se as barreiras capilares que não necessitam de solo compactado de baixa permeabilidade para o seu funcionamento. As vantagens da barreira capilar estão relacionadas com o uso de processos naturais, associados ao ciclo hidrológico local. Em climas com elevada precipitação a eficiência da barreira capilar é reduzida em relação ao uso da barreira convencional. Quando se trata de climas áridos e semi-áridos a eficiência das barreiras capilares já tem sido comprovada (e.g. Nyhan et al.,1990, Ward & Gee, 1997 e Khire et al., 1999). As barreiras capilares podem ser tanto naturais como projetadas. Estas barreiras são formadas na interseção de dois materiais distintos do ponto de vista de fluxo de água, onde o material mais grosso está subjacente a um material mais fino. O uso de barreiras projetadas tem crescido significativamente nos últimos anos. Estas têm sido concebidas com o objetivo de proteger resíduos da infiltração de água ou da entrada de oxigênio. No caso de regiões semi-áridas, as barreiras capilares têm sido uma ótima alternativa para recobrimento de aterros de resíduos sólidos urbanos. O principal conceito que rege o comportamento das barreiras é a diferença de permeabilidade entre materiais. A Figura 9.16, apresentada por Lu & Likus, 2004, ilustra um sistema que faz uso do conceito descrito. Na Figura 9.16 tem-se um sistema que funciona de maneira bidimensional. Os estudos realizados até o momento pelo grupo de pesquisa em solos não saturados da EPUSP está limitado a camadas horizontais. Observa-se no esquema mostrado na Figura 9.16 que a água pode ser tanto desviada pela interface entre os dois materiais como pode ficar suspensa na parte horizontal da barreira. A água suspensa fica sujeita a evaporação que também faz parte dos aspectos conceituais destas barreiras. Quando se leva em conta a evaporação da região onde se instala a barreira pode-se denominá-la de barreira evaporativa ou evapo-transpirativa (quando se inclui vegetação). 175 Infiltração Camada de solo fino Água suspensa Escoamento ao longo da interface Camada de solo grosso Figura 9.16 - Sistema de barreira capilar com duas camadas (modificado de Lu & Likos, 2004) Para apreciar o fenômeno envolvido com a retenção da água no trecho horizontal, apresenta-se na Figura 9.17 o conceito da criação da barreira que retém a água. A transição entre um solo e outro pode ser representada por uma forma cônica onde o diâmetro corresponde à média dos diâmetros dos poros de cada solo. uwt = − uwt = − 2T u wt = − r fino 2T r fino 2T r fino rfino hc Z = Zo rfino u wb = u wt rtrans uwb = − uw (a) rgrosso 2T rtrans uw (b) u wb = − 2T rgrosso uw (c) Figura 9.17 – Equilíbrio hidrostático da água capilar na interface entre o solo fino e o solo grosso. (modificado de Lu & Likos, 2004). Assume-se que não existe fluxo, ou seja a situação é de equilíbrio. Esta hipótese leva à carga constante na direção vertical onde a água é contínua. Outras hipóteses necessárias à análise são: o ângulo de contato sólido-líquido nos dois solos é zero; a pressão (relativa) de ar é zero. 176 Na situação representada pela Figura 9.17a tem-se uma lente de água extremamente fina suspensa . A pressão na água em um ponto superior da interface no solo fino vale: 2T rfino u wt = − A pressão da água na parte inferior da interface possui o mesmo valor, ou seja: uwt = uwb. Se a lente de água aumenta, como mostrado na Figura 9.17b, a carga total criada pela gravidade força a água do poro a mover-se para a região correspondente ao solo mais grosso. A pressão da água próxima a base da lente de água é maior que a do topo. A diferença é proporcional a espessura da lente de água e a ρwg. Existindo um equilíbrio mecânico a pressão próxima à base da lente de água vale: 2T rtrans onde, rtrans é o raio de equilíbrio na zona de transição (ver Figura 9.17). u wb = − Um aspecto interessante desta análise é o fato de que rtrans é menor que o raio representativo do material grosso (rgrosso), mas é maior que o raio do material fino (rfino), assim sendo, a sucção descrita pela equação acima é maior que a sucção de entrada de ar do material grosso. A pressão de entrada de ar do material grosso vale: uw = − 2T rgrosso A medida que a lente de água aumenta devido à infiltração, a pressão na base aumenta e a frente de umedecimento avança para um novo equilíbrio. Quando a pressão atinge o valor de entrada de ar do material mais grosso, a frente de umedecimento alcança a posição apresentada na Figura 9.17c. Ou seja, é uma situação limite da condição de equilíbrio. O valor da altura limite (hc) é dado por: hc ρ w g = u wb − u wt = 2T 2T − r fino rgrosso Ao ser atingido este valor a barreira capilar deixará de existir se mais água for adicionada ao sistema. Assim a água irá fluir para o material mais grosso. Pode-se concluir da equação acima que quanto maior a diferença entre os dois termos, mais efetiva é a barreira capilar. Em outras palavras, quanto maior a diferença entre os tamanhos de poros, mais eficiente será a barreira. Salienta-se, no entanto, que cada 177 material deve ter uma distribuição relativamente uniforme de partículas de forma a minimizar a sobreposição de tamanhos de poros. Lu & Likos (2004) apresentam uma interessante correlação entre o critério de dimensionamento de barreiras capilares e a curva de retenção. Tendo em vista que o valor de entrada de ar dos materiais envolvidos é o principal parâmetro a ser considerado os autores sugerem uma associação do raio do poro predominante com o valor do parâmetro α utilizado em muitos modelos de ajuste de curva de retenção (e.g. van Genuchten,1980), desta forma o raio do poro do material fino deve ser associado a sua entrada de ar e assim tem-se que: r fino = − 2T = 2Tα fino ub De forma equivalente, porém utilizando o conceito de entrada de água pode-se obter a expressão para o tamanho do raio do poro do material grosso. Segundo Bouwer (1966) a pressão de entrada de água é metade da pressão de entrada de ar, assim temos que: rgrosso = 2T = Tα grosso uw Desta forma a altura crítica pode ser obtida pela expressão: hc ≥ 1 2 − ρ w gα fino ρ w gα grosso Alguns cálculos simples nos levarão a concluir que a altura no material grosso é desprezível, isto nos permite desprezar o segundo termo da expressão acima. Os aspectos anteriormente expostos nos permitem ter uma avaliação do comportamento teórico esperado para uma barreira capilar horizontal. 9.4.2. Objetivo dos estudos • • • • Determinação das condições de contorno ambientais que afetam o projeto de barreiras capilares. Verificação do desempenho de camadas de cobertura na retenção de água de acordo com os aspectos climáticos envolvidos. Verificação, em laboratório, do comportamento de barreiras de uma única camada e com várias camadas. Determinação de critérios de projeto de camadas de retenção de água, utilizando solo e/ou material de resíduo da indústria de papel. 178 • • • Desenvolver um sistema de acompanhamento da eficiência das barreira capilares. Avaliar o uso da modelagem numérica para previsão do comportamento das barreiras capilares. Definir critérios de utilização de materiais porosos em barreiras capilares. 9.4.3. Monitoramento A Figura 9.18 ilustra as características de uma das colunas ensaiadas. Observa-se que foram confeccionados três tamanhos de segmentos de tubo. Estes segmentos serviram para adequar o comprimento desejado de cada material, evitando que um determinado segmento tivesse dois tipos de materiais. 175cm Solo Residual TDR 10cm TDR 35cm TDR 65cm TDR 95cm TDR 115cm TDR 125cm TDR TDR 163.5cm Areia #100 Areia #16 Pedrisco 172.5cm 30cm 15cm 10.5cm Figura 9.18 – Detalhes da coluna 1 9.4.4. Ensaios de colunas com camadas mistas Executaram-se ensaios com 3 colunas de solo para verificação do comportamento de barreiras capilares em condições distintas de compactação e diferentes espessuras de camadas. As colunas ensaiadas foram executadas com uma areia média (areia IPT#16), uma areia fina 179 (a) 115.00 cm 15.0 c m 40.0 c m 60.0 c m Areia Areia IPT# 16 IPT# 100 Solo Residual S= c onst. S= const. de Gnaisse S= c onst. 175.0 cm 120.0 cm 40.0 cm 15.0 cm Areia Areia IPT# 16 IPT# 100 S= const. S= const. Solo Residual de Gnaisse S= const. (areia IPT#100) e o solo residual de gnaisse. Na Figura 9.19, estão apresentados os perfis de solo para duas das colunas simuladas. As areias foram compactadas por vibração e o gnaisse com o soquete utilizado no ensaio de Proctor normal (2,5 kg, altura de queda de 30.5 cm) para coluna 1 e um soquete fabricado no laboratório (368,5 g, altura de queda de 20 cm). A diferença na execução da coluna 1 e coluna 3 deveu-se a energia de compactação. A primeira foi compactada com energia equivalente ao ensaio de Proctor normal (59,48 kN/m3), enquanto que a segunda a energia de compactação menor (7,13x10-2 kN/m3). As camadas de areia foram compactadas nos seus respectivos índices de vazios mínimos. As principais características de compactação das camadas de gnaisse das colunas estão apresentadas na Tabela 9.3. (b) Figura 9.19 – Perfis de solo das barreiras capilares executadas. Coluna γd (kN/m3) 1 2 3 15.9 16.0 12.1 w médio (%) 23.40 23.48 23.57 Energia de compactação (kN/m3) 59.48 59.48 7.13x10-2 Tabela 9.3 – Características de compactação das colunas de solo. Na Figura 9.20, estão apresentadas as distribuições dos segmentos de tubos nas 3 colunas e suas respectivas instrumentações. 180 Tipos de sensores Pontos Coluna. Coluna 1 2 Coluna 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Figura 9.20 –Distribuição de instrumentos nas colunas de solo ensaiadas. 9.4.5. Andamento dos estudos e perspectivas Na Foto 9.12 são apresentadas as colunas já montadas e a instrumentação usada (TDR, tensiômetros e medidores de temperatura). Das colunas montadas e ensaiadas tem-se o comportamento devido à infiltração e evaporação que permitiu avaliar a eficiência do sistema como barreira capilar. Temperatura TDR Tensiômetro Foto 9.12 – Coluna e instrumentação instalada na coluna. 181 O estudo com barreiras capilares ainda está em andamento. Apenas para ilustrar o tipo de informação e a eficiência do sistema de aquisição de dados é apresentado na Figura 9.21 o processo de infiltração e evaporação em uma das colunas estudadas. São apresentados os dados de medição de teor de umidade volumétrica no solo residual e na areia, bem como as medições de sucção. Figura 9.21 – Medidas de teor de umidade volumétrico e sucção no processo de infiltração e evaporação da coluna 1. 182 Com o objetivo de mostrar como a camada de areia dificulta a passagem da água é apresentado na Figura 9.22 a curva de retenção juntamente com a função de permeabilidae dos materiais envolvidos. Observa-se que para sucções no solo residual superiores a 20kPa a permeabilidade na areia 100 é várias ordens de grandeza menor. Este comportamento torna a areia uma barreira a água até o limite teórico descrito no ítem 9.4.1. Teor de umidade volumétrico (%) Gnaisse Gnaisse (Oliveira, 2004) IPT#100 IPT#16 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0.1 1 10 -02 K (m/s) VG-Gnaisse (inicial) VG-Gnaisse (retro-análise) VG-IPT#100 VG-IPT#16 10 -03 10 -04 10 -05 10 -06 10 -07 10 -08 10 -09 10 -10 10 -11 10 -12 10 -13 10 -14 10 -15 10 0.01 100 1000 Sucção (kPa) 10000 100000 Gnaisse (retro-análise) Gnaisse (ajuste inicial) IPT#100-VG IPT#16-VG 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) 1000 10000 100000 Figura 9.22 – Curvas de retenção e função de permeabilidade dos materiais da coluna 1. Estão em andamento estudos que utilizam a cintilografia de emissão gama para a avaliação da capacidade de materiais de funcionarem como barreira capilar. Este estudo tem como objetivo a seleção qualitativa de materiais. 183 10. Conclusões O estudo da mecânica dos solos não saturados mostra-se com um forte aspecto multidisciplinar que exige dos geotécnicos a flexibilidade de assimilar conceitos de outras áreas, sem no entanto se tornar um especialista na área de apoio. Em muitos casos é a geotecnia que deve dar apoio a outras ciências. A aplicação da mecânica dos solos não saturados está diretamente associada à difusão do conhecimento e este papel cabe a nós professores. As conclusões apresentadas neste capítulo procuram enfatizar as contribuições originais advindas das diversas pesquisas e estudos realizados. 10.1. Medição de teor de umidade e sucção Os estudos com sensores para a obtenção do teor de umidade volumétrico, TDR, possibilitaram um melhor conhecimento de uma técnica já muito usada na agronomia. As necessidades da engenharia exigiram estudos que atestassem a aplicabilidade e limitações do método a problemas geotécnicos. Os estudos com o TDR possibilitaram se obter as seguintes conclusões: • O TDR exige uma calibração que depende do tipo do solo e em alguns casos do estado do solo. • O contato das hastes do TDR com o solo afeta a resposta do equipamento e isto exige um cuidado especial no seu uso. • Os resultados obtidos com o TDR demonstraram que o TDR possui uma acurácia de +/- 2% de teor de umidade volumétrico. • O tempo de resposta do TDR está de acordo com as necessidades dos problemas geotécnicos. Dos estudos com tensiômetros pôde-se concluir que: • • • Os tensiômetros convencionais podem ter o seu funcionamento significativamente melhorado se cuidados adequados para a saturação dos mesmos forem tomados. O uso do tensiômetro convencional para o monitoramento de movimentação de água em solos não saturados, mostrou-se eficiente. A técnica de instalação dos tensiômetros mostrou-se um elemento fundamental no seu adequado funcionamento. 184 • • • O desenvolvimento do tensiômetro de alta capacidade e a técnica de saturação associada a ele mostrou-se eficaz e de fácil implementação. O uso do tensiômetro de alta capacidade em ensaios de avaliação do desenvolvimento da sucção com a pressão confinante mostrouse uma excelente ferramenta para estudos sobre o desenvolvimento de pressão da água nos solos. O uso do tensiômetro de alta capacidade em ensaios de resistência demonstrou que o equipamento pode facilmente substituir, em alguns casos, a técnica da translação de eixos. 10.2. A curva de retenção Foram desenvolvidos equipamentos para a obtenção da curva de retenção de materiais porosos. A placa de sucção mostrou-se elemento fundamental para a definição do ponto de entrada de ar de vários solos. O sistema de ajuste fino da sucção apresentou-se com grande versatilidade e eficiência. A placa de pressão além da definir a curva de retenção para sucções entre 20kPa e 500kPa, permitiu o seu uso para equilibrio de corpos de prova para ensaios triaxais. Embora esta não seja uma técnica nova o sistema desenvolvido mostrou-se eficiente. O desenvolvimento do equipamento para a determinação da função de permeabilidade pelo método de Wind, mostrou-se muito eficiente na obtenção da curva de retenção para solos que não contraem quando perdem água. A determinação da distribuição de poros utilizando-se a curva de retenção apresentou excelentes resultados quando comparados com a técnica da porosimetria por intrusão de mercúrio. A curva de retenção demonstrou ser um elemento fundamental para a compreensão do comportamento do solo no seu estado não saturado, permitindo ainda se inferir aspectos do seu comportamento no estado saturado. 10.3. Resistência ao cisalhamento As técnicas de ensaio utilizadas pelo grupo de pesquisa em solos não saturados se mostraram bastante promissoras. Os resultados obtidos para ensaios em solo residual compactado indicam que o uso do tensiômetro de alta capacidade é uma importante ferramenta para a indução do maior uso dos ensaios na condição não saturada. Os ensaios realizados com o solo residual mostram que a estrutura do material quando compactado no ramo seco se diferencia 185 significativamente do material compactado em outra condição de moldagem. Os estudos com os resultados de ensaios de compressão simples permitiram definir a variação da resistência não confinada com a sucção. Para o solo residual compactado no teor de umidade ótimo definiu-se uma relação entre a resistência não drenada, a sucção e o índice de vazios que é dada pela expressão: Su * e = 0.62 sucção 10.4. Fluxo de água A movimentação da água em meio não saturado foi estudada não somente em solos, mas também em minérios. O uso de colunas para o estudo de movimentação de água em meios porosos mostrou-se uma técnica eficaz e promissora. Os resultados obtidos com a associação entre os modelos físicos de laboratório e estudos numéricos mostraramse bastante satisfatórios o que permite concluir que com a adequada determinação de parâmetros é possível prever o comportamento de drenagem da água no solo. Os estudos envolveram não somente drenagem de água, mas também infiltração e evaporação. Estes estudo, feitos também em colunas, foram monitorados com TDR, tensiômetros e medidores de temperatura e permitiram concluir que os estudos em andamento para avaliar a eficiência de sistemas de barreira capilares foram bem projetados e irão contribuir para o avanço dos estudos nesta área. A aplicação do método de Wind demonstrou que o seu uso se restringe a materiais que não contraem. Os dados experimentais com areias sugeriram que o modelo de van Genuchten (1980) é adequado para a obtenção da função de permeabilidade a partir da curva de retenção. 10.5. Fluxo de ar Resultados experimentais obtidos com solo compactado demonstraram que: • Para o trecho de sucção estudado o aumento significativo da permeabilidade ar está associado ao ponto de entrada generalizada de ar (GAE) e não à entrada de ar (AE). 186 • A aplicação do modelo de Brooks & Corey (1964) mostrou-se bastante satisfatória para a obtenção da função de permeabilidade ao ar a partir da curva de retenção. 10.6. Aplicações O enfoque dos estudos com solos não saturados exige em muitos casos pesquisas básicas, mas que são facilmente justificadas e assimiladas nas aplicações. Dos estudos realizados e apresentados aqui pode-se concluir com relação à aplicabilidade dos mesmos à pratica da engenharia o seguinte: • O desenvolvimento de pressão positiva na água pela aplicação de carga foi estudado e demonstrou tanto o potencial de uso da técnica aplicada como no caso particular do solo residual de gnaisse mostrou que o solo mantém um valor de sucção até valores de carga equivalente a no mínimo 15m dependendo do estado inicial de compactação. • O monitoramento de um talude de solo residual mostrou que o solo mantém um perfil de sucção durante toda a variação climática ao longo do ano. A inclinação do talude parece ter um papel importante na manutenção do perfil, reduzindo infiltrações e permitindo evaporação. • O uso de tensiômetros convencionais mostrou-se eficiente, demonstrando que os valores de sucção, em profundidade, só ultrapassam 100kPa na parte superficial e por pouco tempo. • Os estudos sobre o transporte de minérios demonstrou que: o Os conceitos da mecânica dos solos não saturados devem estar incorporados à visão do engenheiro geotécnico, para que se possa definir com precisão o problema e buscar assim a solução. o A curva de retenção mostrou-se elemento fundamental para a análise dos diversos problemas. o O uso de ferramentas numéricas são eficientes desde que os parâmetros sejam adequadamente obtidos e as condições de contorno perfeitamente definidas. • A geotecnia aplicada a problemas de cobertura de aterros de resíduos é um campo vasto para o uso dos conceitos da mecânica dos solos não saturados. Com base nos estudos já realizados com barreira capilares, verifica-se que o desenvolvimento de conhecimento relacionando os aspectos climáticos locais com o comportamento do solo, é fundamental para a ampliação da área de atuação do engenheiro geotécnico. 187 11. Referências Abramento, M. 1988. Resistência ao cisalhamento de solos não saturados: Considerações teóricas e estudo experimental sobre solo coluvionar das encostas da serra do Mar. Dissertação de mestrado – EPUSP. Abramento, M., Pinto, C. S. (1993). Resistência ao Cisalhamento de Solo Coluvionar Não Saturado das Encostas da Serra do Mar. Solos e Rochas. Vol. 16, no 3, pp. 145-158. Abrão G. S(2005). Retenção de água em minérios de ferro. Dissertação de mestrado a ser defendida. EPUSP. Al-Khafaf & Hanks (1974). (1974) - "Evaluation of the filter paper method for estimating soil water potential" - Soil Science, vol.117, n.4 - pp.194-199. Andrade, M. C. J. (2001). 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