mAúâ RURAL Órgão Oficial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo - Setembro de 1982 Defesa do pequeno produtor Eleições/1982 Na hora de votar pense nisso: Lavradores de Angatuba em apuros fazem passeata 1 7 Pequenos produtor estão acabando por falta de apoio em SP A frustração de duas safras seguidas de feijão deixou os pequenos produtores de Angatuba numa situação de aflição: o Banco do Brasil descumpre a circular 706 e quer forçar produtores a pagarem dividas iia marra. Os produtores então fizeram passeata em protesto e denunciaram o BB ao Banco Central, (foto maior, passeata; menor, o protesto na Praça pág 5). Do sul, um caminho: ver custo de produção Só há um caminho para nosso sindicalismo tirar o pequeno produtor da atual situação de desânimo e falta de salda: brigar pelo real preço da produção. Para isso temos de envolver um número cada vez maior de Sindicatos na tarefa de levantar os custos de produção: I) num esforço conjunto e coordenado; 2} o próprio pequeno produtor precisa dizer quanto custa sua produção. Então se anima (foto, Encontro de Pequena Produção, no Sul - Pag. 4). S. Paulo já prepara campanha. ITR castiga lavradores das montanhas de Apiai Os pequenos produtores de Apiaí, região montanhosa perto do Vale do Ribeira e fronteira ao Paraná, tiveram uma desagradável surpresa este ano: pesadas contas de Imposto Territorial Rural (ITR). Eles exploram terras de difícil aproveitamento e estão revoltados com as cobranças. No final de setembro fizeram uma reunião, com presença de aproximadamente 500 lavradores (foto) e iniciaram mobilização visando anular a cobrança. (Pág 8) JUSTIÇA ELEITORAL PARA GOVERNADOR Enquanto o Governo paulista manda ambulâncias para o Nordeste distribui medalhas, esbanja dinheiro, o pequeno produtor, desanimado, está acabando, sem qualquer apoio. Veja quem pode resolver issol PARA SENADOR OUN.» PARA PREFEITO 2 Os "bôias frias" sem qualquer solução: "Gatonas" não servem Quantos horríveis acidentes de caminhões, que transportam os "bóias-frias" como gadol A única solução do Governo é empurrar as falsas cooperativas de volantes as "gatonas". Veja quem oferece solução melhorl OUN.o NOME PARA DEPUTADO FEDERAI OUN." NOME PARA DEPUTADO ESTADUAL ttOME . OU N.o PARA VEREADOR NOME OU N.0 3 Trabalhadores rurais, sindicalistas e religiosos presos, mortos ou perseguidos Oito dirigentes sindicais rurais e 18 trabalhadores foram assassinados nos últimos dois anos em todo o Brasil em conflitos de terra. E religiosos ao nosso lado são presos, expulsos, f Descubra os políticos do nosso lado.l 4 Use bem seu voto: de que lado apitam os candidatos e o partido escolhido? Não jogue fora seu voto. Ajora voei é raptodo o mundo implora sau voto. I Nas páginas 2 e 3 temos mais informações). Tem muita gente falando de agricultura: veja se não 6 dos tubarões que eles falam... Eleições: esperança de dias melhores. ESPECIAL - ELEIÇÕES PMDB - Montoro As eleições estão sem cassados, com voto direto e cinco partidos O senador Franco Montoro é o candidato do PMDB. Pertenceu ao extinto Partido Democrata Cristão (PDC), ingressando depois de 64 no MDB. Conta com amplo grupo de assessoria que praticamente já "pensou" seu esquema de Governo. Montoro encampou nosso documento sobre a realidade do campo em São Paulo, entregue aos partidos em Agudos, dia 25 de maio. 0 PMDB tem uma característica, enquanto partido: é relativamente "ecumênico", congregando políticos de pensamentos e passados diferentes, com a maior preocupação que é derrotar o Governo nas urnas. Se eleito governador, Montoro deixará seus outros quatroanos no Senado ao seu suplente atuai, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. PT - Lula FINALMENTE I Depois de 18 anos de movimento de 64, vamos ter novamente eleições diretas para governador do Estado, com certa liberdade de escolher o candidato entre vários partidos diferentes. (Oxalá, nunca mais tenhamos um 31 de março!). A época dos governadores biônicos, dos senadores biônicos (eleitos pelo voto indireto) e das autoridades biônicas vai acabar. A época do voto indireto e das leis biônicas já começa a ir para o baú da história como péssimo período para ser lembrado. Se Deus quiser, também acabará a época dos presidentes da República biônicos. Você deve ter notado: os velhos partidos, de antes de 64, não voltaram, ainda. Os atuais partidos surgiram de forma tumultuada. Mas políticos antigos, cassados e exilados, aí estão novamente candidatos. O Governo, de seu lado, fez muitos "pacotes" de leis, manobrou à vontade, a fim de garantir a continuação dos privilégios e posições de seus políticos. No entanto, apesar de tudo, 15 de novembro está á vista. As eleições estão próximas, com muita animação no povo. Apesar da mal afamada "Lei Falcão", que proíbe debates e entrevistas de políticos no rádio e na TV, o povo conversa bastante sobre candidatos e partidos, justificando preferências, pichando este ou aquele candidato etc. São cinco partidos à disposição do eleitor: Você já escolheu seu partido e seus candidatos? TEM CERTEZA DE QUE É A MELHOR ESCOLHA? Não se esqueça: a lei anula votos a partidos diferentes. O voto só vale se os candidatos forem de um único partido. Por isso se chama "voto vinculado". PDS - Reinaldo fíeinaldo de Barros é o candidato do PDS. Deve ter-se arrependido de ser candidato: virou saco de pancadas. Além dos políticos de oposição, Reinaldo tem contra si até mesmo políticos governistas, pois, como se sabe, sua candidatura foi sustentada na convenção do PDS por aquele antipático governador falador, que só pensava em promoção pessoal, em distribuir medalhas, distribuir ambulâncias e mequetrefes para outros Estados às nossas custas. Os possíveis méritos de Reinaldo ficam obscurecidos. Não bastasse isso, o PDS é ainda o partido do Delfim, dos "pacotes", da Lei de Segurança Nacional, da concentração da terra e da renda, da dívida externa, da perseguição a religiosos e sindicalistas (ufa I). Tanto é que, segundo a imprensa, tem candidatos a prefeitos e a vereadores do PDS no interior pregando o voto "camarão". PTB-Jânio Jânio Quadros é o candidato do PTB. É por demais conhecido dos paulistas por sua rápida carreira como político, pelo seu estilo pessoal e de Governo. Pesa sempre contra ele a renúncia de 1961, que ele diz ter sido imperativo de consciência. Teve seus direitos políticos suspensos pelos militares, contra os quais, aliás, há pouco tempo soltou palavras pesadas, chamando os presidentes militares de "tiranetes". Sem Jãnlo, o PTB nada seria em São Paulo. Luis Inácio LULA da Silva, é o candidato do PT. Aqui as duas maiores novidades destas eleições: um PARTIDO DE TRABALHADORES e um DIRIGENTE SINDICAL candidato ao Governo do Estado mais desenvolvido economicamente do Brasil. Como dirigente sindical, LULA tornou-se conhecido não só em todo o Brasil mas em todo o mundo por sua atuação como líder dos metalúrgicos de São Bernardo e des greves. Preso, cassado como dirigente sindical, juntou seu grupo e montou o Partido dos Trabalhadores, velho projeto. PDT-Rogê Rogê Ferreira é o candidato do PDT (o partido de Brlzola). Foi deputado federai pelo antigo Partido Socialista Brasileiro, cassado em 1964. A Imprensa diz que a opinião pública o considerou "simpático"nos debates pela televisão. Como candidato a governador, sua candidatura foi lançada apenas em junho, enquanto que os demais concorrentes já estavam em plena campanha há tempo. É um candidato pobre, de um partido pobre (em SP). O VOTO Este é o modelo (reduzido) da cédula eleitoral para novembro. Lembre-se: 1) você só pode votar em candidatos de um único partido, senão o voto fica anulado. 2) Se o partido que você escolheu não tem candidatos a prefeito e a vereador em seu município, não tem problema: vote para os outros cargos. 3) Escolha bem o partido e capriche no voto: não se venda, nem vá na conversa de rico, da propaganda, de "amigos", nem do Governo. Valorize seu voto ! /^ JUSTIÇA ELEITORAL N^ PARA GOVERNADOR OUN,° NOME PARA SENADOR OU •4.« NOME PARA PREFEITO ou •4° NOME PARA DEPUTADO FEDERAL ou NOME «J.0 ««ADfPUTADOKTAOUAl OUN.0 NOME PARA VEREADOR NOME OUN,0 Direioria Roberto Toihio Horiguti Presidente. Franciico Benedito Rocha , Secretário Geral. Mário Vatanabe !♦ Secretário Paulo Silva 2* Secretário Emílio Bertuzzo Tesoureiro Geral Candidatos ao senado José Bento de Santi M Tesoureiro Existem nove candidatos para uma vaga ao senado por São Paulo. Pelo PDT, o ex-deputado Euzébio Rocha (autor da lei da Petrobrás). Pelo PT, Jacó Bittar (sindicalista do petróleo de Campinas). Pelo PMDB, o ex-ministro do Trabalho, Almino Afonso; o Ex-ministro da Indústria e Comércio, Severo Gomes; e o deputado federal cassado, Hélio Navarro. Pelo PTB, o ex-deputado federal, José Roberto Faria Lima. E pelo PDS, o radialista e deputado estadual Blota Júnior; o empresário do comércio, Papa Júnior, o deputado federal, Adhemar de Barros Filho. Antônio David de Souza 2* Tesoureiro Editor Responsável José Carios Salvagni (SJP 5177) VOTO CAMARÃO E PITOCO Talvez você tenha ouvido falar de voto camarão e voto pitoco (ou coisas parecidas). São apelidos. Acontece que o eleitor talvez prefira deixar em .branco algum cargo. Assim, só valem os votos para os outros cargos. Voto camarão: Foi apelidado assim, pois "corta a cabeça". É o caso do eleitor não votar nos cargos de cima (governador, senador, etc). Voto pitoco: É o caso do eleitor "cortar o rabo". Ou seja, quando deixa de votar no vereador e no prefeito. Há partidos que não têm candidatos a prefeito e vereador em todos os municípios. Mas o eleitor pode votar para os outros cargos. PÁG. 2 JJilUD;^ REALIDADE RURAL Rua Brigadeiro Tobias, IIB, 36» andar - Conj. 3.607 Cad. CEP 01832Taitiráfico: FETAESP - Telefones: 221-983? 21S-93S3-SÍO Paulo- • rc MIM isMta» ávani tfo. DtfAtm t14.P«wlB*«tl-ti SETEMBRO DE 1982 A OPINIÃO DA FETAESP Finalmente, as eleições, Felizmente, depois da Copa do Mundo, o Brasil ficou inteiramente envolvido pelo saudável clima eleitoral. A boa política encontra um tônico nas eleições livres, momento em que os partidos e os políticos apresentam um balanço de suas atividades e idéias aos cidadãos, para julgamento. eleições "revestem-se de uma importância especial, dando oportunidade à sociedade brasileira de mobilizar-se pelo retorno à democracia e buscar seu rumo ao Estado de Direito". Lembrávamos nesse documento que nos últimos 18 anos a tecnocracia substituiu o diálogo e a negociação política. Nos meios de comunicação a política passou a ocupar o primeiro plano, com muitos debates, muitas entrevistas, muita roupa suja lavada. Mesmo agora, sob o reinado da restritiva Lei Falcão, a política continua em primeiro plano. Há muito interesse dos eleitores por informações, ainda que distorcidas. No documento — que está à disposição dos partidos, dos políticos e demais interessados — denunciamos o esvaziamento rural paulista, a concentração da terra e apontamos nossas principais reivindicações, com destaque às terras devolutas do Vale do Ribeira e Pontal do Paranapanema. "No Estado mais desenvolvido da Federação (SP) - dizíamos então - o trabalhador rural não tem vez". As próximas eleições, contudo, colocam-se entre as mais importantes da história do Brasil. É um momento novo, depois de 18 anos de movimento de 64. Apesar de tudo, os eleitores finalmente podem eleger de novo tantos políticos, até aqui afastados da vida pública pelas cassações, pelo exílio, por uma espécie de "morte branca" a eles imposta. Existe também um esboço de pluripartidarismo, com cinco partidos disputando os cargos. Volta o voto direto para governador do Estado. Mas proibiram-se coligações partidárias, impondo-se o voto vinculado. Nosso sindicalismo entregou a todos os partidos, no dia 25 de maio passado (Dia do Trabalhador Rural) um documento reivindicatório, afirmando que as próximas De 1960 para cá, nossa categoria sofreu um grande esvaziamento no Estado, conforme o IBGE. Vejam bem: o número de pequenas unidades de produção, com menos de 20 hectares, era em 1940, de 129.497, caindo em 1950 para 106.069. Mas em 1960 o número de pequenas unidades subia para 199.092. A partir de 1960, começou a cair. Em 1970, esse número caia para 194.171 pequenas unidades de produção, e, em 1975, o número caia para 149.902. As informações mais recentes dão conta de que esse número tende a cair, agora de forma mais acelerada. Boa notícia: encontro nacional dos sem terra De 22 a 26 de setembro, realizou-se em Goiânia o I Encontro Nacional dos Agricultores Sem Terra, organizado pela Comissão de Pastoral da Terra (CPT), órgão da Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB). Independentemente de suas conclusões (que foram boas) o Encontro é um destaque, um marco na mobilização rural daqui por diante. Poder-se-ia dizer até que é mais uma "frente de trabalho" que se abre, ao lado das lutas hoje já articuladas pelos assalariados rurais com as convenções coletivas, pela justa remuneração do pequeno produtor, pela defesa da terra do posseiro. Agora seria a luta pela terra ao que não é posseiro. E terra não nas chamadas "regiões de fronteira agrícola", mas nos Estados onde vivemos, cujas terras estão ocupadas por enormes latifúndios. No fundo, essa possível nova "frente" encontra respaldo seja no nosso III Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, de 1979, como no documento "A Igreja e os Problemas da Terra", que estabelece uma nítida distinção entre terra de negócio e terra de trabalho. Essa nova "frente" é, seguramente, mais exigente em sacrifícios e apoio do que as outras "frentes". As razões são óbvias. Por isso mesmo é que deve ser superada a espécie de fosso existente hoje, na prática, entre o sindicalismo e a CPT. O sindicalismo tem seus vícios e são compreensíveis: para superá-los não basta trocar diretorias; é preciso gestar e disseminar formas novas de ação e nisso estamos honestamente empenhados. A CPT também é parte de uma Igreja que, no seu todo, é marcada por contradições. Com entendimento, humildade e compreensão, o esforço se tornará um só. Eleições em sindicatos Eleições realizadas durante o mês de Setembro: Dia 11 e 12 de setembro - S.T.R. de Pirajú Dia 16 - Paulo de Faria - Diretoria Eleita Presidente Antônio Munhoz, Secretario Antônio Batista Borges e Tesoureiro Sidney Pereira Camargo. Dias 11 e 12 de setembro - S.T.R. de Regente Feijó Dias 25 e 26 de setembro - S.T.R. de Pirassununga1 Tomaram Posse as Diretorias Eleitas: Dia 1 - Populina - Diretoria eleita - Pres. Antônio de Almeida; Secretário Nivaldo José dos Santos e Tesoureiro Antônio Toniciolli. Dia 7 - Itapira - Depois de sua Ia. Eleição, toma posse a Diretoria: Presidente Patrício Rocha; Secretário Joaquim Otávio Ribeiro e Tesoureiro Aurélio Antonielli. Dia 12 - Presidente Epitácio - Diretoria Eleita - Presidente Sebastião Silva de Melo; Secretário Manoel Carvalho de Mello e Tesoureiro Carmelito Gomes de Morais. Dia 19 - São José do Rio Pardo - Depois de eleição disputada entre duas chapas, foi vencedora a Chapa n» 1, com a seguinte Diretoria: Presidente Agenor Procopio Machado; Secretario Sebastião Antônio Silva e Tesoureiro Antenor Galdino da Silva. SETEMBRO DE 1982 O número de arrendatários, que chegou a 118.751, em 1960, caiu em 1975 para 60.978. E a população rural residente, que era de 3,45 milhões em 1971 caiu para 1,95 milhões, em 1980. 0 número dos trabalhadores volantes é um enigma. Mas tudo indica que esteja acima de 550 mil (com acidentes de caminhões e tudo o mais). Esses são alguns números, apenas. Mas bastam para dar uma idéia do desânimo, da falta de perspectivas da nossa categoria hoje. Esses números mostram por si mesmos o quanto precisamos de um momento novo na lavoura paulista, de um ânimo novo, reacender a esperança, multiplicando as pequenas propriedades, valorizando mais a produção e o trabalho e acabando com a especulação com a terra, com os escândalos com o crédito subsidiado, etc. Em nosso documento de maio, aos partidos, mostramos que o sindicalismo não escolheu este ou aquele partido (embora respeite a decisão dos dirigentes sindicais, enquanto cidadãos, de fazê-lo). A nossa política é mostrar a realidade que aí está, exigindo mudanças, lutando por elas. Fica aqui, contudo, um apelo e alerta ao homem do campo: o nosso voto também ajudará a definir nosso destino. Reflitamos bem sobre nosso voto. Governo desapropria fazenda em Turmalina Mais uma vitória do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais: a desapropriação de uma área de 768 hectares, nos municípios de Turmalina e Populina. A desapropriação (decreto 87.255/de 7/06), atende às reivindicações de cerca de 40 famílias, das quais 19 eram legítimos pequenos proprietários, com documentação, correta, mas apesar disso ameaçados de perder as terras que haviam comprado em razão de uma briga de cunhados. Outro decreto (87.254), de mesma data, declara "prioritária, para fins de Reforma Agrária", uma área de 1.818,63, na qual se incluim as 40 famílias. BRIGA DE CUNHADOS O que acontece é que as 19 famílias haviam adquirido as terras há uns 22 anos, de Manoel Bezerra da Silva. Na época, Manoel cedera dois alqueires a Arlindo Marques, seu cunhado, então em situação difícil. Manoel, contudo, não tinha escritura. Arlindo então achou que podia ser dono de toda a área e entrou com ação na Justiça, ficando com toda a terra (os 768 hectares), despejando Arlindo e as famílias que haviam comprado as terras, danificando as respectivas lavouras de café e benfeitorias. Manoel recorreu na Justiça, ganhou, e com ele, todas as famílias novamente retornaram às terras. Arlindo, contudo, recorreu ao Supremo Tribunal Federal e ganhou. Isso ocorreu há pouco mais de dois anos. Vencendo, a primeira preocupação foi tirar novamente Manoel da área. Depois seriam as famílias, que, apesar de terem escrituras e benfeitorias, teriam de pagar tudo de novo. O caso chegou ao Sindicato nosso em Fernandópolis. E junto com a Fetaesp, e comitiva de lavradores e representantes de Turmalina, o caso foi levado ao próprio presidente do Incra, Paulo Yokota, em São Paulo. Em Turmalina, foi feito um movimento em apoio às famílias. Agora, exatamente dois anos depois desse contato, veio a desapropriação dessa área, bem como a decretação de área maior "para fins de reforma agrária". Essa área maior faz divisa com as terras dos fazendeitros coronel João Veloso, major Emídio Nogueira, Deraldo Pereira da Costa e Osório Avelino de Castro, ao que tudo indica, beneficiando mais 20 famílias, excluindo, contudo áreas pertencentes a "empresas agrícolas". CESP enche Nova Avanhandava sem reassentar lavradores No final de setembro a CESP fechou as Brejo Alegre, vão ficar na mão com a inuncomportas da represa da hidrelétrica de dação das terras que arrendavam pela nova Nova Avanhandava, na Noroeste paulista, represa. sem que ficasse resolvido o problema das As áreas que arrendavam pertencem aos famílias de trabalhadores rurais residentes Abdalla, que, segundo o prefeito de GlicéDia 26 - Mirante do Paranapanema - Dire- nos distritos de Jurítis em Glicério, e de rio, Mauro Castilho, faz mais de 20 anos que não pagam um imposto municipal toria eleita: Presidente Donizete Almeida Brejo Alegre, em Coroados. Os nossos Sindicatos em Penápolis e sequer relativo às suas propriedades. de Lima; Secretário Valdir Ribeiro da Silva e Tesoureiro Prisco Antônio dos Santos. Araçatuba, cujas extensões de base abranA CESP se diz disposta a elaborar um gem esses dois distritos, intensificaram as de assentamento para as famílias, a Dia30- Fernandópolis - Diretoria eleita - reuniões com os trabalhadores desses dis- projeto do que fez em Presidente EpitáPresidente Mario Vatanabe; Secretário tritos, enquanto a Fetaesp manteve duran- exemplo Valdovino Stafuzza e Tesoureiro Ovídio de te o último mês vários contatos com autori- cio, mas alega dispor do principal, que é a dades do Ministério das Minas e Energia e terra. Quem pode autorizar desapropriaPaula. outras, buscando uma saída para aquelas ções é só o Ministério das Minas e Energia, que fica jogando a peteca para outros órfamílias. D.O.S. Fetaesp Conforme divulgamos na última edição gãos do Governo - que devolvem a peteca. do Realidade Rural, 98 famílias de traba- E nesse jogo de "empurra-empurra", as lhadores rurais de Juritís, e mais de 220, de águas sobem, e nenhuma solução aparece. PAG. 3 REALIDADE RURAL ■ Aqui está a saída para os pequenos produtores NACIONAL DE PEQUENOS PRODUTORES, no próximo Não é novidade que existe um profundo desânimo no campo. Muitos ano. pequenos produtores continuam saindo do campo, seja vendendo suas O PROGRAMA DOS VÁRIOS propriedades, seja por nâo conseguirem mais terras para arrendar. Mas existe uma saída: ela foi mostrada durante Encontro Centro-Sul ESTADOS de Pequenos Produtores, em São Leopoldo (RS), de 10 a 12 de setembro. (Lá denunciamos as falsas cooperativas do Governo para volantes). Ao final do Encontro, em São Está chegando a hora de nós virarmos esse jogo. Os pequenos produtores estão caminhando para o desaparecimento. Os bairros se esvaziam as fazendas crescem, as cidades também. E só tem um jeito de virarmos esse jogo: é o nosso sindicalismo iniciar um trabalho de levantamento dos custos de produção das lavouras dos pequenos produtores. Com os próprios lavradores mostrando os custos. Essa foi a orientação do III ENCONTRO CENTRO-SUL DE PEQUENOS PRODUTORES, promovido pela CONTAG e realizado de 10 a 12 de setembro, no Seminário Cristo Rei, dos Jesuítas, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Participaram do Encontro as Federações e grupos de Sindicatos do Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande so Sul. UM TRABALHO APAIXONANTE PARA TODOS Nesse estado de desânimo que está a pequena produção hoje, um trabalho de levantamento de custos de produção representa uma dose de vitamina ultra-forte. No Encontro, por exemplo, foram mostradas as várias experiências de movimentos de pequenos produtores, organizados pelo nosso sindicalismo em cima dos custos de produção (uva, fumo, leite e suínos), entusiasmando os participantes de Estados onde ainda não se fazem esses levantamentos e movimentos. O objetivo desse trabalho não é só levantar o custo de produção, mas principalmente levar os lávraaores a participar desse levantamento e com eles decidir o que fazer daí por diante. A participação começa a acontecer quando o lavrador leva para casa o formulário fornecido pelo Sindicato evai devolvê-lo no final da safra, preenchido. Nesse período vão haver reuniões de esclarecimento, contatos entre o Sindicato e o lavrador. Sem dúvidas, é um trabalho apaixonante para todos. Para o pequeno produtor, porque vai poder conversar com seus companheiros com números na mão, e debater com eles como sair do buraco. Para o dirigente sindical, o trabalho apaixona porque dá resultados, anima os associados, anima a própria comunidade que vê movimentação. E o quadro sindical também cresce. O PREÇO MÍNIMO Ê POLÍTICO: ENTENDA ISSO Em boca fechada não entra mosquito. Nem comida... PÂG. 4 O fato é que os preços mínimos são PREÇOS POLÍTICOS. Ou seja, quando o Governo fixa os preços mínimos, ele está é preocupado com a inflação, com a exportação, com o lucro de bancos e indústrias. Note bem: o preço mínimo é uma forma de "tabelamento branco". É uma forma de controlar a renda da agricultura (e assim, comodamente, controlar a inflação, sem precisar controlar muito os outros setores). Só que assim nós é que acabamos carregando o Brasil nas costas, não é mesmo ? Veja bem os últimos preços mínimos: o reajuste foi de 90 a 94%. A inflação está em torno ou acima de 100%. Será que os bancos e a indústria só ganham de 90 a 94% ao ano, como nós ? Por isso é que nós estamos diminuindo. E em razão disso tião podemos mais continuar parados. Temos que começar a levantar nós mesmos os nossos custos de produção, em conjunto e exigir a remuneração a que temos direito. Nesses levantamentos, os lavradores descobrem muitas coisas. Por exemplo o pessoal da uva, no Rio Grande do Sul, diz que os técnicos da CFP acham que sabem de tudo, mas não sabem de nada. Eles não tocam lavoura. Eles diziam que o produtor de üva só realizava 16 tarefas. Mas os lavradores mostraram que realizam na verdade 25. Hoje os técnicos da CFP concorda com 19 tarefas. Consequentemente o preço mínimo já melhorou. UM SÔ TIPO DE FEIJÃO NO SUPERMERCADO... Nós, de São Paulo, precisamos organizar um bom trabalho de levantamento de cusrtos de produção. Pelo menos para o feijão. Foi o secretário da Federação de Santa Catarina, Norberto Kortman, quem observou isso: na roça, tem quatro ou cinco tipos de feijão ,ou seja, quatro ou cinco preços. Mas no supermercado, só tem um tipo. Se para o tipo um o preço mínimo já está fora da realidade, imaginem então para o tipo 3, que é classificação para a maioria dos pequenos produtores. Aliás o companheiro Wilson Donizeti Bertolai, de Angatuba, mostrou no Encontro que a região já começou um trabalho de levantamento de custos de produção de feijão e que alguma coisa já se conseguiu. Agora, o projeto é reunir todas as três regionais daSorocabanae desenvolver um trabalho conjunto em defesa dos pequenos produtores e do produto. Esse será o nosso esforço até o IV ENCONTRO Leopoldo, as Fedefações e respectivos Sindicatos estudaram as tarefas mais convenientes para cada Estado. O Espírito Santo, por exemplo, que participou pela primeira vez, disse que vai fazer levantamentos de custos de café e banana, além de ficar de olho na Ceasa e na comercialização de hortigranjeiros. O Mato Grosso do Sul disse também pretender levantamentos, além de orientar os pequenos produtores para apolicultura e para não venderem suas propriedades. São Paulo previu trabalho de levantamento de custos de produção de algumas regiões, com acompanhamento direto da Fetaesp. E também disse que continuará combatendo o falso cooperativismo das "cooperati"*> vas de volantes", do Governo. O Paraná propõe-se a reativar suas comissões de nível municipal, regional e estadual, articulando levantamentos de custos de produção, bem como um encontro sobre cooperativismo. Santa Catarina, disse que vai dar ênfase ao cooperativismo (defendendo pequenas cooperativas ), defendendo a realização de um Encontro Regional de Cooperativismo de pequenos. Vai continuar fazendo levantamentos de custos de produção, cobrindo todos os produtos de pequenos produtores. O Rio Grande do Sul, propôsse a continuar ampliando o levantamento de custos de produção, aprimorando a atuação das Comissões a nível estadual, regional, e municipal. E além de um amplo debate sobre subsídios agrícolas o Rio Grande do Sul vai tentar montar um banco de informações sobre culturas, sobre os Sem Terra, assalariados rurais no Estado, etc. O primeiro trabalho de levanta-; mento de custos de produção no nível atual, aliás, começou nesse Estado, com o fumo, em 1977, com uma inesperada paralização na entrega do fumo pelos produtores até o fim das negociações. OS OUTROS ASSUNTOS DEBATIDOS Durante o Encontro se conversou sobre muita coisa: foi mostrando que a política agrícola do Governo não é favorável aos pequenos produtores. Mostrou-se que o credito rural serviu mais para estimular o uso de insumos e equipamentos modernos, do que para ajudar os pequenos produtores. Até mesmo a assistência técnica e extensão rural reforçaram essa falsa "modernização", ao invés de ajudar os pequenos. E, na outra ponta, comprando a nossa produção, estão grandes agroindústrias, supermercados e cooperativas mal direcionadas. Ou seja, temos que pagar preços impostos pelas indústrias Entre os pioneiros no levantamento de São faulo mostrou sua diversidade e custos, os Sindicatos da região da uva: dificuldades. Mas prometeu seguir o as conquistas Já aparecem. mesmo caminho, a começar pela Soro- cabana. O tempo foi pouco. Mas valeu. Uma reflexão de 3 dias não permitiu aprofundar análise de acertos e erros. Mas mostrou que não há outro caminho. O cooperativismo foi analisado também. Atenção sindicatos da baixa, média e alfa Soroeabana! Grupos Regionais 3f 8 e f O. Procurem com urgência contato com os vossos representantes regionais, ou com a Fetaesp. No dia 1* de outubro, na reunião em Avaré, ficou combinado que os Sindicatos dos Grupos Regionais da Baixa, Média e Alta Soroeabana iniciarão um trabalho de Levantamento de Custos de Produção dos principais produtos. Nova reunião das Três Regionais será no dia 18 de novembro, em Ourinhos. quando compramos adubos ou maquinas. E temos que aceitar os preços impostos pela agroindústria ou supermercados quando vendemos nossa produção. Os grandes produtores, ao contrário, têm mais facilidades para ter crédito, comprando mais terras. Os bancos ganham uma nota em cima do crédito rural, que é um dinheiro baratíssimo para eles. Enfim, tem muita gente vivendo nas nossas costas. Também se falou das cooperativas, dos desvios, do enriquecimento ilícito da adminsitração e da marginalização dos associados. O sindicalismo deve lutar para mudar esta situação, prepa- REALIDADE RURAL rando os associados para as assembléias, para as eleições, acompanhando o Conselho Fiscal. Também foi debatida a recente circular 706, do Banco Central, que, na verdade, estaria antecipando a diminuição do subsídio rural. E foram comentados os últimos reajustes dos preços mínimos. De São Paulo, compareceram ao Encontro: o diretor, Antônio David de Souza; Wilson Donizetti Bertolai, do STR de Angatuba; do STR de Junqueiropolis; Aparecido de Souza Dias, da Assessoria da Fetaesp, e o editor do Realidade Rural. SETEMBRO DE 19g2 30 de agosto, segunda: pequenos fazem passea ta | pe/as ruas de Angatuba No sindicato: reflexão. Era uma segunda -feira. Ao meio dia, a sede do Sindicaío de Angatuba ficou lotada de pequenos pro-i dutores. Duas horas depois, desfilaram pelas ruas da cidade, em passeata, com tratores e cartazes. Veja porque. Depois de quase duas horas de reunião, na sede do Sindicato, a partir do meio dia, cerca de 300 pequenos produtores de feijão, com familiares e cerca de 30 tratores, fizeram uma passeata pelas ruas de Angatuba, até a Praça da Matriz. Lá, na concha acústica, os trabalhadores e dirigentes sindicais explicaram ao povo da cidade porque fizeram a mobilização. A população da cidade, surpresa, postou-se nas portas e janelas, ou mesmo nas calçadas, acompanhando a passeata, procurando ler os cartazes que os lavradores carregavam onde estavam anotados os motivos da mobilização: o empobrecimento cada vez maior dos pequenos lavradores, a má política do Governo para o feijão, a necessidade de prorrogar as dividas bancárias em razão da frustração de duas «afras seguidas para muitos lavradores. (Depois da passeata e nos dias seguintes, gerentes de banco, comerciantes e populares da cidade levaram ao Sindicato sua simpatia pelo movimento). DESTRUIR O DESÂNIMO EXIGINDO DIREITOS Antes da passeata, houve uma reunião na sede do Sindicato, lotada, onde os trabalhadores debateram seus problemas e os motivos do encontro. Primeiro, abrindo a reunião, falou o presidente, Alcides Bertolai: "Nessa segunda-feira triste — disse ele era para nós estar trabalhando na roça. Em vez disso, estamos aqui na cidade, reunidos. Mas isso também é importante para o lavrador. Não adianta só trabalhar: não vão pensar que vem alguém oferecer alguma coisa para nós se nós não formos buscar. Nós não podemos nunca esmorecer. Vamos exigir nossos direitos". E acrescentou: "Se nós ficar de braços cruzados ninguém vai saber do nosso sofrimento". Depois a palavra foi aberta aos trabalhadores rurais. Falaram que o lavrador não é valorizado, que está apanhando muito e que é preciso reivindicar melhores condições de vida. Com união, os lavradores conseguirão resolver seus problemas, baixar a taxa de juros, ganhar mais, ter mais respeito. Uma lavradora desabafou: "Quanto mais lavoura o trabalhador rural faz, fica devendo para o banco. Quanto mais trabalha, mais pobre fica. Acho melhor a gente parar". Mas os trabalhadores discordaram; parar, disseram eles, era deixar os tubarões tomar conta das terras. A solução não é parar, mas exigir seguro que cubra os preços não só para o banco: "Nós sabemos perder, sabemos ficar com os prejuízos — comentaram. Mas o banco não sabe". A seguir o Secretário do Sindicato, Wilson Donizeti Bertolai, fez um relato sobre o esforço de alguns Sindicatos vizinhos para levantar o custo de produção do feijão e reivindicar melhores condições de comercialização e a garantia do preço mínimo, ao menos. Também falou da reunião que a Comissão de lavradores fez com o posto do Banco do Brasil, onde descobriram não apenas que o banco não orienta devidamente o pequeno produtor, como também que o próprio banco está desatualizado. Por isso, o Sindicato escreveu ao Banco Central e recebeu cópia da circular 706, de junho, desburocratizando o crédito. E também orientações sobre prorrogação de divida, dispensa de avalista, etc. Wilson disse também que o Sindicato descobriu que o banco faz contas erradas sobre as dívidas dos lavradores e é preciso atenção. O RECADO, NA PRAÇA DA MATRIZ Presentes à reunião estavam o presidente do nosso Sindicato em Sorocaba, Benedito Domingues de Medeiros, e o companheiro Benfica, do nosso Sindicato em Guapiara. Após a reunião, os trabalhadores e os dirigentes sindicais organizaram a manifestação: colocaram os 30 tratores em fila e, na frente, portando cartazes estavam os trabalhadores a pé, portando os cartazes. Uma bela mobilização. No trajeto, a passeata passou em frente ao posto avançado do Banco do Brasil na cidade, que, brevemente será agência. O posto só abre na parte da manhã, e, por isso estava fechado. Mas certamente o pessoal do Banco não vai Sindicato denuncia ao BC pressão do BB No final de setembro, o presi a se desfazerem de bens ou mesdente do Sindicato de Angatu- mo das propriedades - quando a ba, esteve em São Paulo, onde circular 706 estabelece claradenunciou ao Banco Central o mente facilidades para prorrodescumprimento da circular gação de dívidas em caso de 706, por parte do Banco do Bra- frustração de safras, como é o caso dos lavradores de Angatusil na região. ba. O presidente do Sindicato, Conforme o Presidente do Sindicato, a gerência do Banco que veio a São Paulo, acompado Brasil esta apertando os nhado do Tesoureiro e de um pequenos produtores para paga- lavrador, disse que o caso comerem seus débitos, levando-os até ça a ficar preto. REALIDADE RURAL querer correr o risco de outra manifestação semelhante dos trabalhadores, aí na parte da manhã, quando estiver aberto. A mobilização foi muito comentada na cidade... Na Praça da Matriz os trabalhadores dirigiram-se à concha acústica. Lá, com microfone e alto falante, explicaram à população da cidade que a mobilização era uma forma de mostrar ao povo da cidade (jue, os responsáveis pela produção de comida, os pequenos produtores, estão desesperados. "É a precisão que nos faz ficar reunido nesta segunda-feira triste", explicou o presidente do Sindicato, Alcides Bertolai. Explicou que, apesar de enfrentar intempéries de todo o tipo, pragas, o produtor não tem nunca um preço compensador: 1 Em frente ao BB. "A comida sai da roça muitobarato, mas quando chega na cidade, chega cara", disse, para mostrar que o pequeno produtor nada tem a ver com a inflação, ao contrário, é vítima dela e da política do Governo, que precisa mudar. José Geraldo de Oliveira fez questão de esclarecer que ter trator não significa nada: "Meu pai, a braço, conseguiu comprar a terra. Hoje, com trator, estamos indo para trás". Perdi duas lavouras de feijão, e na hora que mais preciso do banco ele me aperta para pagar"._E concluiu: "Vocês Já imaginou se a agência do Banco do Brasil estivesse aberta? Acontece que lá é da cidade, dê um apoio para nós posto e só abre pela manhã. Mas a cidade gostou da surpresa e foi ouvir os produque nós precisa de vocês". tores na praça. REUNIÕES NOS BAIRROS PARA NOVO ENCONTRO Essa foi a tônica da fala de todos os trabalhadores que seguiram, como Quirino Rodrigues, Antônio Nunes Benfica (de Guapiara), Benedito Domingues de Medeiros (de Sorocaba), mostrando este que o problema é sentido pelos pequenos produtores de todo o Estado. Falaram também outros trabalhadores, no mesmo nível, com bastante aplauso. Falaram jnclusive mulheres, como D. Inês, cujo marido foi vender feijão em Santos, e em plena praia deserta, apenas uma barraquinha funcionando, foi roubado. O dono da barraca ficou ileso. E a Sra. Bertolai, mãe do Secretário do Sindicato, Wilson , disse que a situação de empobrecimento deixa o lavrador aflito: "A gente fica naquele sofrimento, perde a saúde e não consegue dormir mais". A manifestação foi encerrada na sede do Sindicato, onde os trabalhadores combinaram continuar fazendo reuniões nos bairros, preparando outra grande reunião, para depois das eleições, quando inclusive se avaliará o levantamento do custo do feijão. Eles também quiseram saber porque os outros Sindicatos não fazem também levantamentos de custos de produção e mobilizações de pequenos produtores. SETEMBRO DE 1982 Cooperativismo em SC: corrupção e remédios. /. O nosso sindicalismo deve lutar para que o cooperativismo esteja mais voltado a valorização do homem do que ao engrandecimento do patrimônio das cooperativas; 2. Também deve lutar para que os dirigentes e gerentes das cooperativas passem a declarar seus bens, tanto ao assumirem a direção das cooperativas, como ao sairem, afim de evitar o enriquecimento ilícito, muito comum. 3. Deve-se lutar para que nas eleições das cooperativas não seja permitido o voto por representação e procuração, devendo cada associado exercer o seu próprio voto, afim de que o associado participe mais da cooperativa: 4. O nosso sindicalismo deve, urgentemente, realizar um estudo mais aprofundado da legislação cooperativista, junto aos associados das cooperativas (trabalhadores rurais), bem como realizar um amplo trabalho de conscientização e esclarecimento junto aos mesmos sobre o cooperativismo: 5. Para a realização das Assembléias Gerais deveriam estar presentes, em última convocação, pelo menos 10% do total de associa- dos, para evitar que as decisões sejam tomadas por um pequeno número de associados e manobrados pelo Conselho de Administração. Estas são as principais conclusões do I ENCONTRO DE COOPERATIVISMO DO MOVIMENTO SINDICAL DOS TRABALHADORES RURAIS CATARINENSES, realizado no final de maio em Florianópolis (SC), promovido pela nossa Federação naquele Estado (FETAESC). O Encontro, conforme relatório a nós encaminhado pela FETAESC, mostrou a necessidade de fazer o cooperativismo entrar novamente nos eixos, acabando com o controle feito hoje exclusivamente pela administração (presidente, contador e gerente), acabando com o enri?|uecimento abusivo ou ilícito, c azendo com que o cooperativismo seja um instrumento realmente de defesa do pequeno produtor, incentivando a industrialização pelas cooperativas dos produtos dos pequenos produtores bem como sua comercialização pelas mesmas. PAG. 5 NOTICIAS Sindicalista de Mlrasaol abandona a lavoura, revoltado com Injustiças. O tesoureiro do nosso Sindicato em Mirassol, Domingos Zaniboni, é um exemplo vivo de como sofre o pequeno lavrador no Brasil, sem qualquer segurança. Tendo saído há poucos anos de outra fazenda, com acordo, após demanda, entrou como parceiro na fazenda São Paulo, de Antônio Navarrete Barroso, cultivando em torno de 5.000 pés de café e mais uma boa parte de terra solteira, onde passou a plantar milho e outros produtos. Mas, de novo, Zaniboni arrumou sarna para se cocar. O dono da fazenda, relaxado, deixou o gado entrar na lavoura do tesoureiro do Sindicato. Na Justiça, chegaram a um acordo: o fazendeiro se comprometeu a dar uma quantidade de milho, correspondente às perdas causadas pelo gado. Na hora da colheita, no entanto, o fazendeiro quis dar banana: Zaniboni trouxe a máquina para bater o milho, mas o patrão não deixou, comprometendo-se a colher ele próprio o milho. Concluída a colheita, o sindicalista foi exigir sua parte, mas o fazendeiro não quis entregar, e só cumpriu o acordo depois que o juiz acatando ação do Sindicato, mandou oficiais de Justiça separarem o milho. Na hora de colher o café, outra dor de cabeça: Zaniboni colheu, pegou sua parte c levou para casa, tendo a medida sido feita na presença do filho do fazendeiro. Mas o fazendeiro foi à polícia e acusou Zaniboni de "apropriação indébita". O sindicalista perdeu a paciência: entrou com nova ação na Justiça e deixou a lavoura, inconformado, indo trabalhar, na cidade. Duas fazendas atrasam salários em Descalwado Aproximadamente trinta famílias de trabalhadores rurais, empregados das Fazendas Santa Maria (Porto Ferreira) e Pau D' Alho (Descalvado), estão com seus salários atrasados em três meses, conforme denúncia do presidente do nosso Sindicato em Descalvado, Benedicto Simel. Conforme Benedicto, as duas fazendas são de propriedade de um mesmo dono; os trabalhadores queixam-se de que reclamam com os administradores, mas eles não ligam. Um deles disse que iria ao Sindicato reclamar e foi advertido por um administrador. Ministério não atando podido do fiscalização no Valo do Paraíba. Os presidentes dos nossos Sindicatos em São José dos Campos e Pindamonhan^aba, (respectivamente Sebastião da Silva Maia e Jandiro José de Sene) estão denunciando a sub-delegacia do Ministério do Trabalho no Vale do Paraíba. É que os companheiros têm solicitado com freqüência a fiscalização do Ministério do Trabalho em propriedades com irregularidades comprovadas, mas o Ministério, não tem atendido, é falta de anotação em carteira, não pagamento de salário integral, nem férias. Esse será um dos temas da reunião do Grupo Regional dos Vales do Ribeira e do Paraíba, dia 11 de outubro, em São Paulo. Acidente de caminhão, acidente de TRABALHO? O deputado paranaense Carlos Scarpelim, elaborou projeto de lei determinando que os acidentes ocorridos com caminhões de volantes ou outros veículos, ou seja, os acidentes ocorridos no transporte de volantes, sejam enquadrados como acidentes de trabalho. Na justificativa, o deputaPAG. 6 do diz que o trabalhador rural é o mais sacrificado de todos os trabalhadores brasileiros. Como têm sido freqüentes os acidentes com caminhões de volantes, o deputado (PMDB) entende que as vitimas devem receber o amparo da lei. Está ai o projeto: está aberto o debate. Ex-ministro chileno crê que as grandes cidades forçarão reforma agrária A Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) proporcionou este ano três presentes preciosos aos interessados pelo problema agrário, e dos trabalhadores rurais brasileiros:!) um levantamento amplo de conflitos de terra, em todo o Brasil, reunindo dados do sindicalismo, da CPT, é da imprensa; 2) um ciclo de palestras (em agosto) com o ex-Ministro de Agricultura Chileno, agi* Jacques Chonchol, que implementou um projeto de Reforma Agrária durante o governo de Salvador Allende; 3) e um Curso de Direito Agrário, no final de setembro, (27 a lf out.), abrangente e atualizado. Infelizmente parece que o trabalho de levantamento de conflitos, que por si só justificava já a existência da ABRA, vai acabar no próximo ano. Este trabalho ajudaria a clarear e a atualizar bem o assunto "Reforma Agrária", mais do que qualquer outra argumentação. UMA GRANDE ESPERANÇA DEIXADA PELO MINISTRO CHILENO O ex-Ministro da Agricultura chileno Jacques Chonchol sofreu na carne a mesma triste sina de centenas e centenas de outros latinos americanos (inclusive brasileiros) que foram impedidos de dar a seus paísis a sua melhor contribuição intelectual, pessoal. Ele também está exilado na França onde goza de enorme prestigio. Chonchol começou seu curso falando da história da América Latina, mostrando que desde o inicio nossa economia se voltou para a exportação. Só para ela: primeiro foi a exportação de minérios. Depois foi o açúcar, a charque, o café, o algodão, com preços impostos seja por Portugal e Espanha, depois pela Inglaterra, Estados Unidos e outros países ricos. Sempre trabalhamos para eles. Em toda a América Latina as enormes fazendas foram mantidas e, em conseqüência, o mesmo problema dos trabalhado- Edgar, do Juqulá, perdeu a esposa. O presidente do nosso Sindicato em Juqulá, Edgar Alves da Costa, sofreu um duro golpe do destino, no dia 23 de agosto passado: faleceu sua esposa, D. Sônia Maria da Costa, deixando 4 filhos, o último de 2 anos e 4 meses. Ao companheiro, aqui vai a solidariedade da FETAESP e do sindicalismo, que a parada é dura. neses em toda a América res volantes, os "bóiasfrias", existe em todos os Latina emigraram para a cidade. Em 1980, populapaíses. Em conseqüência ção total da América Latidos latifúndios surgiram na era de 370 milhões de enormes cidades. Em torno habitantes. destas cidades ocorreu a Aí, está a esperança: a industrialização, que ajudou a aumentar ainda mais própria cidade, com população enorme, com índice de a população destas cidades. E a coisa se complica, a tal subemprego aumentando 115 do povo não tem trabaponto, que uma hora ou lho fixo; vai forçar o campo outra a população das cidaa mudar. O latifúndio será des vai exigir mudanças no mal visto e a indignação do campo, porque a vida se povo se voltará contra ele. tornou insustentável. Chonchol falou sobre a Vejam bem: em 1850, a área agricultavel ocupada e população total da América a que ainda não está ocupaLatina (incluindo o Méxida e deixou muitos números co), era de 30 milhões de que agora não dá para a habitantes. Houve imigra- fente publicar. Falou tomção e a introdução de mais em sobre a necessidade de escravos africanos. Em mudança na forma de pla1900, a população total nejamento governamental subia para 61 milhões. Só na América Latina. 13 cidades, na época OS FATORES QUE tinham mais de 100 mil FORÇARIAM AS habitantes, sendo a maior MUDANÇAS parte, estrangeiros. 78% da 1) a pressão demográfipopulação era rural. Em ca: daqui até o ano 2.000, 1930, a população total da mais de 200 milhões de latiAmérica Latina subiu para no-americanos precisarão 104 milhões: a população de trabalho. rural caia para 70% do 2) crise do atual modelo total. de industrialização, voltado para as classes médias e Pois bem: em 1960, a ricas; o mercado será insupopulação urbana e a rural ficiente. se equilibravam, em 50%. 3) elevada dívida externa Em 1980, 65% da populados países latino-americação total da América Latinos; muitos países gastam na é urbana. Em 1950, de 50 a 70% do que exporhaviam já 6 cidadçs com tam para pagar a divida mais de um milhão de habiexterna. tantes. Em 1980, o número 4) Os países latinodelas subia para 17. Só americanos têm importado entre 1950 a 1970, em tore dependido cada vez mais no de 40 milhões de campo- de alimentos dos países ricos. 5j a crise energética: a América Latina e o continente mais dependente'de petróleo. Todo o modelo industrial e de expansão agrícola se fez sobre o petróleo barato. A SAÍDA: O QUE DEVERIA SER FEITO Na opinião do ex-ministro chileno, algumas diretrizes de mudança seriam: 1) diminuir a dependência de alimentos e energia externa; 2) produzir visando não a exportação mas o mercado interno; o que significa mudança na distribuição de renda dos países, no modelo agrícola, etc, cobrindo as necessidades básicas da população; 3) diminuir o desequilíbrio atual entre as regiões de cada País. 4) desconcentrar a população urbana, com o'apoio a cidades pequenas e médias, interligadas ao setor rural, agroindústria, etc. 5) exercer a soberania nacional: a maior parte das decisões que se tomam na América Latina, são tomadas nos países ricos. 6) acabar com a transferência de dinheiro dos países pobres para os países ricos (por causa de exportações, pagamentos de dímidas, etc). 7) Reformar as próprias culturas: cada vez mais os latinoamericanos internacionalizaram seus valores, assimilando os valores das classes médias dos países ricos. Aí está: o Brasil está na América Latina. Tem os mesmos problemas, a mesma dívida externa, o mesmo êxodo rural, as mesmas enormes cidades. Portanto, MEIA VOLTA, VOLVER! Fazendas do grupo Votorantim abusam com assalariados rurais Absurdamente, as fazendas de produção de madeira, das indústrias Votorantim, na região de Capão Bonito, decidiram de uma hora para outra alterar as carteiras de trabalho dos empregados rurais, vinculando-os ao enquadramento sindical urbano. O Sindicato, sabendo disso, com o apoio dos trabalhadores, foi com caravana (foto) a Sorocaba, protestar na Sub-delegacia Regional do Trabalho por isso. Houve mesa redonda. Em represália, uma das fazendas, a Soe. Agric. Sta Helena mandou embora o trabalhador José plina e insubordinação", Juvêncio "por ato de indisci- dizendo ser "justa causa". O REALIDADE RURAL caso foi parar na delegacia de polícia local. SETEMBRO DE 1982 Greve exemplamos canaviais: Comissão da Contag debate na Fetaesp previdência rural de novo os pernambucanos mostram fibra e organização Olha aí; os trabalhadores rurais pernambucanos, mais uma vez, estão dando um exemplo de fibra e organização. Todos os anos, como nós,cies têm a sua campanha salarial nesta época. E toda a Campanha Salarial é feita com base na possibilidade da greve. Assim, se os usineiros não quiserem conversa, os trabalhadores rurais, fazem greve e a greve é legal. O Governo tem que respeitar, porque a greve é feita de acordo com a lei. Já em 1979 e 1980, os pernambucanos tinham sido obrigados a ir_à greve, porque os usineiros não queriam nada. Em 1980, os usineiros aprontaram violências e o próprio Governo fv ">u a barra, para resolver logo o problema. O trabalho depois era fazer os usineiros cumprir o estabelecido. Neste ano, o pessoal voltou com tudo. Gente organizada pode fazer isso. No dia 19 de setembro, os 45 sindicatos da Zona Canavieira pernambucana realizaram assembléias gerais para aprovação das reivindicações, bem como para a aprovação da greve, caso os usineiros não atendessem às reivindicações. As votações, eram na base da aclamação e do voto secreto. Como os patrões não quiseram nada com nada, no dia 25, sábado, os trabalhadores entraram em greve: vai daqui, vai dali, no domingo ocorreu o julgamento. E o resultado foi este. Salário: CrS 28.243,15 (bem acima do minimo regional). Tonelada de cana solta; CrS 471,00. Mas produtividade de 4% e extensão do salário família aos rurais. O julgamento acabou às duas da madrugada. (Com greve, a pauta do Tribunal fica elástica...). De São Paulo, foram a Pernambuco o Secretário Geral da Fetaesp, Francisco Benedito Rocha, e a advogada, Elvina P. Rodrigues RIO GRANDE DO NORTE: ESTRÉIA. O Rio Grande do Norte estréia este ano súa primeira campanha salarial, envolvendo 10 sindicatos. A coisa: por lá deverá esquentar mesmo a partir do dia 3 de outubro, quando os Sindicatos realizarão assembléias gerais repetindo o processo de Pernambuco, como os usineiros do Rio Grande do Norte também estão de corpo mole, é bem provável que a estréia dos potiguares seja na base da greve. De leve... Esses dois movimentos reivindicatórios, só podem nos alegrar e nos estimular: são belos exemplos. Chega de baixar a cabeça e aceitar qualquer salário, só porque o Brasil está com a "maldita inflação". Os trabalhadores rurais (sejam assalariados ou pequenos produtores) até agora carregaram o Brasil nas costas. Está na hora da gente tirar esse peso das costas, não é mesmo? No início de agosto reuniram-se na Fetaesp representantes das Federações dos Estados do Sul e assessoríá jurídica da CONTAG para estudar ante-projeto de Previdência para o Trabalhador Rural, buscando a extensão dos benefícios da cidade para o campo. Os representantes integram comissão específica da CONTAG, que intensificará o debate a respeito. Movimento Pro-Cut: S/ndico/isfos ditos "outenticos" estoo indo /onge demais em relação à CONTAG Quando nâo é o Governo, os grileiros, os intermediários, o poder econômico e as multinacionais, sâo os próprios lideres dos trabalhadores que complicam as coisas para os trabalhadores. Os partidos que dizem defender os trabalhadores brigam entre si, e os trabalhadores pagam o pato. Numa dessas brigas estão querendo envolver o nosso sindicalismo na história. O Presidente da nossa Confederação Nacional (CONTAG), José Francisco da Silva, por exemplo (e, por extensão, nosso sindicalismo) está sendo vitima de uma campanha de difamação organizada por sindicalistas urbanos que se dizem "autênticos". nenhum partido. Motivos tínhamos de sobra. A campanha eleitoral, por exemplo, envolveu a maioria dos dirigentes sindicais que lideram ao movimento da II CONCLAT e com isso o encontro sindical acabaria virando palco de luta partidária, bem pior do que foi a I CONCLAT (e a recente ÉNCLAT paulista foi clara amostra). Nâo seria um clima desses o mais propicio para concretizar o velho sonho dos trabalhadores brasileiros, que é a criação da sua Central Única dos Trabalhadores (CUT). O pretexto para pomo de discórdia é a II Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (II CONCLAT), prevista para agosto passado, mas que acabou adiada para agosto do próximo ano, depois que a CONTAG e as nossas Federações estaduais em todo o Brasil reuniram-se em julho em Brasília, avaliaram, e viram que não deveríamos participar da II CONCLAT se ela se realizasse neste ano (o local seria a Praia Grande). E mais: nosso sindicalismo tem pouco dinheiro. Qualquer encontro amplo custa muito sacrifício. Basta ver que o quadro de assessoria na maioria das nossas Federações é extremamente reduzido, quase nulo. Nosso III Congresso Nacional, de 1979, custou o olho da cara. Apesar disso, no entanto, compareceremos â I CONCLAT. Aliás, senhores "autênticos", devem lembrar-se certamente que a CONTAG foi a única confederação, das 9 existentes, a participar ativa e ostensivamente da I CONCLAT, garantindo inclusive a unidade indispensável para a montagem da Comissão Nacional PRÓCUT. Ao tomar a decisão, nosso sindicalismo não foi tomar bênção com E se souberem a diferença entre "conferêmeia" e "congresso". SETEMBRO DE 1982 Reunião da Comissão Nacional Pró-CUT em agosto, na Fetaesp. 0 movimento pela Central Única podaria aitar melhor: o que atrapalha é a Intolerância a intransigíncia de alguns. Construir uma Central Única, como queremos, exige diplomacia, sensatez, compreensão.0 processo é neturalmente lento. Tem gente demeis usando tesoura, apontando dilemas... lembrar-se-ão certamente de que a I CONCLAT foi conferência. Logo não se entende o porque da celeuma legalista montada em razão do adiamento da CONCLAT, questionando a decisão da Comissão Pró-CUT, questionando a própria validade do mandato doS membros da Comissão. 1. Vai ser difícil construir uma CUT a persistir a infantilidade de ver "inimigo" e "pelego" em quem ouse discordar. Com cordeirinhos o que se tem é rebanho, não organização. E muito comum no Brasil se considerar que quem nâo é a favor, é contra. Se é a favor, é bom. Se é contra, é "pelego". Pois bem: nosso sindicalismo não está atrelado nem ao PT, nem ao PC, nem ao PDS, PMDB ou qualquer outro "P". Evidentemente, muitos dirigentes sindicais nossos decidiram filiar-se aos partidos legais (assim como entre os urbanos e "autênticos"), o que é um direito deles. Mas é bem possível que se nosso sindicalismo fosse atrelado ao PT, não teríamos recebido estas criticas nem haveria tanta celeuma pelo adiamento da CONCLAT, e com o mandato dos membros da Pró-CUT, ou então teríamos, talvez, de submeter ao PT a decisão de participar ou nâo. Ditadura tem muitas caras e disfarces. REALIDADE RURAL 2. Nosso sindicalismo tem 20 anos de história legal. Não é santo, nem puro como anjo. É composto de homens, que viveram embaixo do mesmo regime político repressivo que atingiu a sociedade brasileira. Nossos dirigentes nâo puderam expandir-se plenamente embaixo desse regime de exceção, assim como tantos humildes sindicalistas da cidade. Nosso desenvolvimento foi prejudicado pelo enorme êxodo rural. Apesar.disso cresceu, está ai. E, pelos nossos programas de trabalho, fica patente um esforço honesto de mudar, de transcender as limitações. E justamente José Francisco, o agredido, tem uma belíssima folha de serviços prestados, muito digna, muito honrosa: foi ele quem impulsionou essa expansão. Por que a agressão? 3. Construir uma CUT é também um sonho nosso. Evidentemente, nem uma AFL-CIO, nem uma CUT oficialista tipo FSM ou outra qualquer ou divi sionista Como as centrais européias. Mas uma CUT assim nâo se constrói com crista alta, com agressões, com desconfiança ampla, total e irrestrita, com gestos infantis. Nem pressa. Tem gente demais sabendo usar a tesoura e pouquíssima gente sabendo costurar, unir. Uma CUT assim exige mais respeito ao pensamento e à pessoa do próxi mo. 4. Quando se quer, se faz. Quando não se quer, tudo é desculpa, tudo é pretexto, todos tornam-se Inimigos. A mesma querela boba de reforma X revolução, se reproduz na querela cúpula X base. Digam, senhores "autênticos", onde é que existe um sindicato com base organizada neste Brasil , Sindicato onde a base é que realmente manda? Digam ainda quantos Sindicatos estão mesmo participando do movimento PróCUT? Houve contato e aproximação com todos os dirigentes sindicais, sem preconceito? Fica, portanto, aqui um apelo ao bom senso, àqueles que sabem como ef fácil ocorrer que um grande projeto se torne TORRE D£ BAB£Le como maldição, venha o castigo da explosão da unidade em milhares de línguas, nações, exércitos para sustentá-las, guerras para preservá-las. etc. Quantas Torres de Babel tem mostrado a.história.A CUT terá o mesmo destino? PÁG. 7 Muita tensão na faz. Ribeirão Bonito, em Teodoro Sampaio ITR pesado alarma pequenos de Apíáí Não bastasse o grande desestlmulo que sofrem em razão da política agrícola do Governo, os pequenos proprietários de Apiaí tiveram este ano uma amarga surpresa: cobranças altíssimas do Imposto Territorial Rural (ITR). A comissão ai A região é extremamente montanhosa (foto); o aproveitamento da terra é difícil. E os produtores não sabem como se sair dessa. . ' No dia 22 de setembro, quarta-feira, a sede do Sindicato ficou lotada, em reunião que contou com a presença do presidente da Fetaesp, Roberto Toshio Horiguti, os companheiros Benedito Domingues de Medeiros, presidente do nosso Sindicato de Sorocaba; Roque Queiroz do Nascimento, Tesoureiro do nosso Sindicato de Guapiara, e Wilson Donizeti Bertolai, Secretário do nosso Sindicato de Angatuba, membros do Grupo Regional da Baixa Sorocabana. Ao final da reunião, os pequenos produtores decidiram formar uma comissão (foto), que manterá contatos com o Incra região montanhosa e com prefeituras da região e encaminharão os passos para a busca de uma saída. Sabe-se que o mesmo problema é enfrentado em outros municípios do litoral e do interior: o momepto crítico é o da declaração anual. O Presidente do nosso Sindicato em Teodoro Sampaio, José Ferreira Cruz, está apavorado com a iminência de mais violências contra parte das 200 famílias de posseiros que vivem nas terras devolutas da Fazenda Ribeirão Bonito. Nesse sentido, procurou contato com outros dirigentes sindicais, buscando apoio e solidariedade, porque lá a barra é pesada. No mesmo esquema de defesa, o posseiro José Gil da Silva, que reside na área desde 1969, esteve no final de setembro em São Paulo, onde manteve encontros com autoridades do Incra e da Secretaria da Justiça, informando-as das violências cometidas pelo pretenso fazendeiro Antônio Cândido de Paula Silva, com seus 10 jagunços, e que parece ter o privilégio de conseguir o que quer na cidade. No início de agosto, o pretenso fazendeiro obteve, estranhamente, a ordem de despejo de 13 famílias, numa sexta feira à tarde - último dia de atividades do juiz substituto da Comarca de Mirante do Paranapanema, Fernando Aparecido Spagnuolo. As famílias Crédito rural: estouram no nordeste mais dois escândalos de desvio Mais dois escândalos com crédito rural subsidiado vieram à luz no Mordes^ te, em Pernambuco, numa pequena amostra do que há muito vem ocorrendo em todo o Pais: o enriquecimento rotineiro, fácil e ilícito de muita gente grossa e de costas largas. Apenas neste ano de 1 982, primeiro foi o famoso "escândalo da mandioca", Floresta (PE), patrocinado pelo gerente do Banco do Brasil, que custou a vida ao procurador da República, Pedro Jorge de Mello e Silva, que foi investigar o caso e denunciou os corruptos (conforme divulgamos na última edição do Realidade Rural). Foi um desvio de quase dois bilhões de cruzeiros, envolvendo fazendeiros, policiais militares, políticos do PDS, etc. Se todo o dinheiro emprestado fosse aplicado na produção de mandioca. Floresta seria a capital mundial da mandioca. Contudo, lá nâo é terra de mandioca e uma raiz sequer foi plantada. (Até o vice-líder do PDS da Assembléia Legislativa de Pernambuco, Vital Cavalcanti Novais, está envolvido). Depois estourou o "escândalo do sisal", envolvendo uma cooperativa de Sergipe, mas o caso não ficou claro. O desvio seria de Cr$ 500 milhões. OS ESCÂNDALOS DO FARELO E DA CRUZETA Agora estão vindo à luz mais dois escândalos, novamente em Pernambuco. Desta vez, na cidade de Surubim, envolvendo criadores de gado, e mais uma vez, políticos do PDS: são os escân- dalos "do farelo" e, seu primo, o escândalo "da cruzeta". Conforme o jornal O Estado de SSo Paulo (dias 18 e 21/09), o "escândalo do farelo" envolve soma de golpes no total de Cr$ 300 milhões: E a mecânica do golpe, segundo o jornal, era bem simples". O farelo de algodão para o gado era financiado na épocas da seca a juros de 35% ao ano. Para se habilitar ao empréstimo, os pecuaristas tinham de apresentar, junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB), notas fiscais relativas à compra. As notas fornecidas pelos Comerciantes Dorgival Leal Filho, Gilsom Machado e Maria Auxiliadora Machado, passaram a ser adulteradas para/mais, e o dinheiro assim obtido era dividido entre os comerciantes e os pecuaristas. O dinheiro era então investido em cadernetas de poupança, compra de terras, gado e automóveis, tendo uma valorização superior ao juro anual de 35%. E vejam quem se beneficiou dessa "ação entre amigos": os deputados estaduais Adalberto Farias e Geraldo Barbosa, o candidato a deputado estadual na Paraíba, Carlos Pessoa Filho, o candidato a prefeito de Surubim, José Arruda, todos do PDS, e mais os pecuaristas Josafá e Hilton Vasconcelos, além dos comerciantes já citados. Sobre o "escândalo da cruzeta", primo do "escândalo do farelo", as informações não são ainda muito nítidas quanto ao volume de crédito ilicitamente tomado. Conforme o jornal, o "escândalo da cruzeta" não é outro senão nossa já conhecida venda de gado de menti- rinha, fictícia, entre dois ou mais pecuaristas. Como querem o dinheiro barato do crédito rural - para malandragem, o crédito é barato mesmo - os fazendeiros comjpinam "vender" lotes de gado para um para o outro: tiram assim o dinheiro e o gado permanece lá no pasto. Tranqüilo. ISSO É ROTINA E É MESMO... O próprio Jornal O Estado de SSo Paulo, em editorial, faz questão de mostrar sua indignação. Diz o Jornal: "Os três escândalos (o da mandioca, e os dois últimos) são mais que uma coincidência geográfica. Envolvem dinheiro público e põem a nú a incompetência dos bancos oficiais de fiscalizar a destinação de seus empréstimos e a incapacidade das autoridades policiais e administrativas de apurar responsabilidades e encaminhar os indiciados ao pronunciamento da Justiça". E acrescenta o jornal: "... é a tolerância do Governo que torna possíveis tais fraudes, todas elas montadas em cima de negócios especiais e de créditos subsidiados, fornecidos à larga, nunca fiscalizados, e as transgressões nunca punidas. E aqui estamos nós, os contribuintes pontuais, para financiar desde empresários ladinos até cabos eleitorais do Governo. Afinal, como disse um pecuarista de Surubim, Isso nio é escândalo. Aqui é comum. É rotina". Pois é. Se isso é comum em Surubim, imaginem no Brasil como um todo. E fica a pergunta, como naquele quadro de humor da TV: "SÓ eu? E cadê os outros?". foram enxotadas com requintes de violência, tendo suas casas queimadas. Tiveram de dormir na mata. Na segunda feira, o juiz titular, José A. Pereira da Silva, ao reassumir, cancelou o despejo, dizendo-o errôneo. Mas até hoje as famílias não puderam retornar. E as que permanecem sofrem toda a sorte de pressões. O pretenso fazendeiro iniciou há pouco nova tática de expulsão dos posseiros: com processos na base do "pinga-pinga", atingindo poucas famílias por vez. O todo-poderoso pretenso fazendeiro, segundo os posseiros, atraiu os trabalhadores rurais principalmente a partir de 1976, para derrubar 700 alqueires de mata, na base de empreita por três anos. Os trabalhadores, na verdade, serviram apenas de escudo para ele contra a Polícia Florestal, que não permitia derrubadas para plantar capim. Ao ser embargada a derrubada, certa ocasião, o fazendeiro conseguiu liberá-la alegando que as terras iriam ser utilizada» para lavoura. No entanto, apenas um ano e meio depois de ceder as matas para as famílias derrubarem, o todo-poderoso tentou tomar as terras das famílias, violando seu próprio acordo. As famílias não admitiram e dai para cá reinou o clima de violências. As famílias agora temem o próximo dia 18 de outubro; corre boato na cidade que nesse dia ele vai tentar novo despejo. A área de terras devolutas que ele ocupa é de 4.000 alqueires, aproximadamente. Itararé: fazendeiros ocupam área pública de 200 mil hectares Tem muita gente que diz que a lei é feita só para pobre. Rico está acima da lei. E isto não está longe da verdade. Ura exemplo disso é o que ocorreu e vera ocorrendo com a Fazenda Pirituba, com 200 mil hectares, entre Itapeva e Itararé, que é terra pública, terra do Estado, mas está na mão de enormes latifundiários. Em 1949, tendo constatado a presença de grandes posseiros na fazenda, grandes pecuaristas que inclusive arrendavam terra para terceiros, o Estado determinou à polícia que retirasse esse pessoal da área. Os grandes pecuaristas entraram com ação de reintegração de posse e o Estado foi obrigado a pagar indenizações. O Governo do Estado, na época, resolveu fazer um projeto de ocupação da área pára pequenos produtores. Ficou só no projeto, pois nada foi feito. Ao contrário, a Secretaria da Agricultura assumiu o controle da fazenda, mas colocou um administrador corrupto, que permitiu aos poucos que os grandes pecuaristas retornassem. As denúncias de corrupção e desvio de finalidade da fazenda chegaram ao conhecimento da Assembléia Legislativa paulista era 1976, decidindo esta instalar uma Comissão de Inquérito (CEI), que constatou as irregularidades. Logo depois, os pequenos lavradores da região foram convocados, através de um edital, a se habilitarem a um lote. Houve mais de 1.000 inscrições, mas só 10% receberam os lotes, enquanto que a maioria da área continuou entregue aos grandes grupos lá instalados pelo administrador corrupto. Recentemente, muitos destes pequenos lavradores inscritos mas não atendidos, passando dificuldades e vendo aquela pouca vergonha, reuniram-se e se apossaram de uma parte da fazenda. São aproximadamente 40 famílias. Mas para eles não houve colher de chá: Osmar Marcondes Portela, comerciante de Itararé (padeiro), casado cora uma Vicenzi (família que se diz herdeira) investiu contra os posseiros com aproximadamente 20 jagunços armados e os expulsaram da área. As famílias já tinham preparado as terras para as lavouras e tinham mais de um ano de assentamento no local, conforme conta seu advogado, Herber Silva Bispo dos Reis. No início de julho, porém, os jagunços queimaram suas casas e tomaram conta da área. No inicio de setembro, porém, as famílias propuseram ação de reintegração de posse na Comarca de Itapeva contra os Vicenzi. Conta-se, inclusive, que o cabeça dos jagunços chama-se Celsõo, conhecido em Itararé por ter jogado seu carro contra a agência do Banco do Brasil que lhe negou crédito. Informa-se na região que Osmar Marcondes Portela teria arrendado aos holandeses quase toda a área ocupada pêlos lavradores e que há grupos econômicos fortes em Itapeva também querendo as terras dos lavradores.