Mesma química une os seres vivos - 1/11
MESMA QUÍMICA UNE OS
SERES VIVOS
Cada criatura possui
uma lista de instruções
expressa em linguagem
basicamente similar
São mistérios que atormentam o espírito,
principalmente depois que a humanidade tomou
consciência de sua insignificância diante da
amplitude do cosmos. Essa amplitude foi
vislumbrada por Copérnico, que sacudiu as
estruturas da Igreja, negando que a Terra fosse o
centro do Universo. Mais tarde, Charles Darwin
demonstrou que o fenômeno da vida também
está sujeito às leis mundanas da seleção natural e
das mutações. São questões tão estereotipadas
quanto irrespondíveis. Quem somos? De onde
viemos? Qual o nosso destino? Em resumo, o que
é vida e o que significa viver? Não se pode ter a
pretensão de respondê-las.
Na falta de melhor definição, somos o
resultado de uma associação de células que
executam cópias de si próprias. De tanto
vasculhar os segredos da vida escondidos dentro
da célula, os biólogos descobriram que homens,
moscas, bactérias - todos os habitantes do
planeta - possuem a mesma química orgânica, o
mesmo patrimônio herdado da sua evolução.
Cada criatura possui a sua lista de instruções e,
embora estas listas sejam diferentes umas das
outras, são formuladas numa linguagem
basicamente similar.
De onde viemos? Tudo o que vive no nosso
planeta é formado de moléculas orgânicas,
construções microscópicas em que o átomo de
carbono desempenha um papel primordial.
Astrônomos imaginativos, como o inglês Fred
Hoyle, sustentam que a vida fecundou a Terra a
partir de cometas e que as nuvens de gases e
matérias interestelares contém criaturas como as
bactérias com capacidade para recompor suas
estruturas genéticas afetadas pela radiação das
estrelas.
SUBSTÂNCIA DA VIDA - Esteja ou não correto, os
radiotelescópios mostraram que nessas nuvens
existem dezenas de tipos de moléculas orgânicas uma abundância que leva muito astrônomo a
acreditar que a substância da vida se encontra em
toda a parte do Universo. Diz o americano Carl
Sagan que, se tiver o tempo necessário, o Cosmo
estará inevitavelmente devotado à vida e à sua
evolução. Mas que entre os bilhões de planetas
da Via Láctea, alguns nunca conhecerão essa
substância da vida. Outros simplesmente a verão
surgir e desaparecer, ou ainda, a se limitar a suas
formas mais simples, sem nunca evoluir. Num
pequeno número deles, enfim, poderão se
desenvolver outras formas de inteligência e
civilizações mais adiantadas do que a nossa.
Talvez essas formas de vida diferentes, em
comunicação com a Terra, nos ajudem a
responder a questão sobre nosso destino final.
Mesma química une os seres vivos - 2/11
organizam. A organização de cada ser vivo é
determinada por “instruções” escritas em código,
nos genes recebidos dos pais. De acordo com
essas instruções, presentes nas moléculas de DNA
que formam os cromossomos, um ser vivo
transforma matéria e energia do mundo não-vivo
em componentes do seu corpo, crescendo e se
reproduzindo. A reprodução biológica não é
apenas a produção de cópias idênticas aos pais;
os
descendentes
podem
apresentar
características novas, que surgem como resultado
ou de modificações nas instruções genéticas mutações - ou de misturas das instruções
recebidas dos pais.
SELEÇÃO - A cada geração surgem indivíduos
ligeiramente diferentes uns dos outros e a
natureza seleciona aqueles que melhor se
adaptam às condições ambientais; esses serão os
pais da geração seguinte. É assim que a vida
evolui. Todo ser vivo representa, portanto, a
execução de um projeto genético, construído nos
últimos 3,5 bilhões de anos pela seleção natural.
O objetivo de tal projeto parece não ser outro
senão a sua própria perpetuação.
A ESSÊNCIA DO HOMEM É COMO A DAS MOSCAS
BACTÉRIAS CONTAM A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO
O que é vida? Essa questão tem fascinado
filósofos, teólogos e cientistas desde a
Antiguidade, mas foi somente após o grande
desenvolvimento da biologia, ocorrido nas últimas
décadas, que se conseguiu compreender melhor o
que é vida.
A ciência está indo muito longe para refazer
os caminhos da evolução. Bactérias de dois
centésimos de milímetro de diâmetro, cujas
idades são calculadas em 3,3 a 3,5 bilhões de
anos, preservadas em formações rochosas do
oeste da Austrália, são as mais antigas formas de
vida identificadas. A estrutura das suas células
primitivas será mostrada detalhadamente pelo
paleontólogo americano William Schopf, diretor
do Centro para o Estudo da Evolução e Origem da
Vida, da Universidade da Califórnia, em um
estudo que enviou à revista Science. Tudo indica
que são bactérias capazes de fotossíntese e logo,
produtoras de oxigênio. “Isso significa que numa
época tão distante já existiam seres vivos”,
admira-se o professor Thomas Fairchild, da
Universidade de São Paulo e colaborador de
Schpf. “Esses primeiros microrganismos deram
A grande lição da ciência moderna é que a
vida é uma só, não importa o tipo de organismo,
se homem, árvore ou micróbio, a vida sempre usa
os mesmos tipos de moléculas, as mesmas
reações químicas e as mesmas estruturas
fundamentais. Na essência, um homem não difere
da mosca ou do cogumelo.
CÓDIGO GENÉTICO - A enorme diversidade de
seres vivos que habita o planeta é resultado da
maneira como os componentes fundamentais se
origem aos sistemas bioquímicos e à atmosfera
rica em oxigênio de que a vida moderna
depende”.
Microfósseis de Apex Chert, Austrália, formados
em associação com fluídos quentes próximos a
uma estrutura vulcânica e que se assemelham as
atuais cianobactérias (UCLA).1
Na sua sala no primeiro andar do Instituto
de Geociências, na Cidade Universitária, Fairchild,
que também é americano, acumula pedras com
vestígios de um passado igualmente difícil de
conceber. Ele acredita ter encontrado indícios da
existência de organismos vivos com 2,5 bilhões de
anos onde hoje é a Serra dos Carajás, no Pará. São
as formas mais antigas garimpadas na América do
Sul. Outros microfósseis, melhor documentados,
foram encontrados em rochas de Minas e Goiás e
datam de 1,6 bilhões de anos.
COMPANHIA - Foi durante o longo período précambriano, por volta da quatro bilhões de anos
atrás, que a vida começou devagarinho a
conquistar a Terra. As solitárias descobertas de
Schopf e os poucos testemunhos levantados por
1
Fonte: http:// www.astronomy.org.nz/aas/MonthlyMeetings/
MeetingAug2003 Review.asp
Mesma química une os seres vivos - 3/11
Fairchild no Brasil e por outros cientistas na África
do Sul e Groenlândia, não significam que as
bactérias de então tivessem pouca companhia.
Calcula-se que uma única célula, no curso de um
dia, podia formar uma família de 4,5 bilhões de
indivíduos, quase como o total da população
humana. Depois de algum tempo, não admira que
elas ocupassem todos os nichos disponíveis no
planeta, nas rochas, na água ou no ar,
aprendendo todos os truques químicos
necessários à sobrevivência.
“aperfeiçoadas” que necessitavam de oxigênio
para viver e eram providas de núcleos com
continham DNA com instruções genéticas para
seus descendentes. É desse tipo de células que
somos feitos. E foram elas que deram origem à
explosão de formas de vida verificada por volta d
570 milhões de anos atrás.
SINAIS SÃO RAROS E INDIRETOS
Os antigos microrganismos eram vida
“mole” que só deixaram restos imperceptíveis, diz
o professor Fairchild. Uma maneira indireta de
estudar a sua existência é buscar estromatólitos curiosas estruturas em forma de cúpula,
construídas de grãos de areia e pedras,
acumulados no que se acredita serem os
revestimentos viscosos de grandes colônias de
bactérias e cianobactérias. Ainda hoje se
encontram estromatólitos vivos na costa
ocidental da Austrália e na Antártida. Atualmente
eles são raros, exceto em certos locais especiais,
hostis a outras formas de vida.
EFEITO - A presença desses descendentes
virtualmente inalterados de formas de vida do
pré-cambriano vem reforçar uma vez mais que a
evolução não é um processo de uma espécie
substituindo outra. Ao longo do tempo, aquelas
bactérias simples exerceram um efeito
devastador sobre a Terra, transformando a
atmosfera de uma mistura de produtos de
emissões vulcânicas, inclusive grande quantidade
de dióxido de carbono, na mistura rica em
oxigênio que hoje existe - que, de quebra, veio
formar o escudo protetor de ozônio de
fundamental importância para que a vida pudesse
expandir-se à terra firme (e que hoje está
ameaçada pelos CFCs - clorofluorcarbonos - feitos
pelo homem).
vez
Mas essas bactérias não desapareceram. Em
disso, surgiram em cena células
Mesma química une os seres vivos - 4/11
camada mais externa, onde o número ideal seria
oito, faz com que ele receba e forneça elétrons
numa ligação com outros átomos para completar
a camada externa. Um átomo de carbono pode
ligar-se a outro, formando estruturas complexas,
que lembram jogos de armar capazes de criar as
mais variadas formas. Outros átomos não
demonstram a mesma habilidade de formar
estruturas químicas complexas e estáveis como o
carbono. O silício demonstra certa aptidão para
este comportamento, a ponto de autores
imaginarem alienígenas como “estruturas de
silício”. Mas a performance não se iguala à do
carbono.
Eles propuseram que os gases que
compunham a atmosfera primitiva (a composição
variava nos dois casos), sob a ação de descarga
dos raios ou radiação ultravioleta solar,
produziram os constituintes básicos da vida como
os aminoácidos que teriam interagido nos
oceanos para produzir a primeira forma de vida. A
experiência de Stanley Miller, em 1953, sob a
orientação do Prêmio Nobel Harold Urey,
reproduziu estas condições em laboratório e, ao
obter a síntese de aminoácidos, deu consistência
à teoria de Oparin-Haldane.
Estromatólitos atuais – estruturas em camadas
produzidos pela precipitação de carbonato de
cálcio sobre filamentos de cianobactérias2.
CARBONO INICIA JOGO DE ARMAR
Nos filmes de ficção científica é frequente
que seres humanos sejam interpelados por outras
inteligências como “estruturas de carbono”. Por
que isso acontece? O pressuposto é que estas
criaturas tenham estrutura mais sofisticada do
que a do carbono, embora o exame da tabela dos
elementos químicos não indique que isso seja
possível. A química orgânica associada à vida
(embora matéria orgânica não signifique
necessariamente matéria viva), é a química do
carbono. Tudo começa com a forma de um átomo
de carbono, simples como o do hidrogênio,
formado por um núcleo, composto por um
nêutron e um próton, envolvido por um elétron.
O elemento seguinte, o hélio, tem dois prótons no
núcleo orbitado por dois elétrons.
Os químicos mostram que os átomos se
ligam entre si formando moléculas, com
tendência a atingir certa estabilidade. A
configuração do carbono, com 4 elétrons na
2
Fonte: http://www.kalipedia.com/ciencias-vida/tema/
estromalitos.html?x1=20070417klpcnavid_46.Kes
começavam a se formar. Mas dois bilhões de anos
depois, o planeta já era rico em organismos
unicelulares de razoável complexidade. Como
ocorreu a mudança? Excluída a Teoria da
Panspermia de Svante Arrhenius, de que a vida é
um fenômeno comum no Universo e teria apenas
lançado raízes na Terra, como uma semente
transportada pelo vento, é preciso admitir que ela
surgiu mesmo aqui. Esse foi o trabalho do russo
Ivanovich Oparin (1894-1980) e do inglês John
Burdon Sanderson Haldane (1892-1964). Oparin
expôs suas idéias num encontro da Sociedade
Botânica Russa, em 1922, e, posteriormente, as
publicou em “A origem da Vida”, mas o trabalho
só foi traduzido para o inglês em 1937, quase
junto com as idéias de Haldane.
Ingredientes do experimento de Miller:
Algumas moléculas complexas obtidas por
Miller4:
Estromatólito fóssil de 500 milhões de anos em
Saratoga Springs, New York.3
PLANETA DÁ CONDIÇÕES PARA MUDANÇA
Há uns 4,5 bilhões de anos, logo após sua
formação, não havia vida sobre a Terra, na sua
atmosfera primitiva ou nos oceanos que apenas
4
3
Fonte: http://www.petrifiedseagardens.org/main.htm
Fonte: http://www.emc.maricopa.edu/faculty/farabee/ BIOBK/
BioBookCELL1.html
Mesma química une os seres vivos - 5/11
A atmosfera primitiva era fortemente
redutora (pobre em oxigênio) e as formas de vida
só posteriormente teriam se adaptado a esse gás
e feito dele um elemento vital. Os constituintes
básicos da vida teriam sido levados aos mares
especialmente pelas águas das chuvas e, se eles
não se formam ainda hoje, uma das razões
presumidas deve-se ao fato de a atmosfera atual
ser oxidante (rica em oxigênio). Nas águas
oceânicas, os constituintes da vida teriam se
agrupado no que Oparin chamou de coacervados,
em cujo interior teria nascido a primeira célula.
Oparin descreve o processo da seguinte forma:
“As gotinhas de coacervados que se formaram
nas águas se encontravam mergulhadas em uma
solução que continha várias matérias orgânicas e
sais inorgânicos. Estas substâncias foram
absorvidas pela gotinha e partilharam com ela nas
interações químicas, ou seja, produzindo a síntese
orgânica”.
deixou muitos exemplares de fora. Os cientistas
imaginam que 99% das formas de vida que
passaram pela Terra depois da explosão
cambriana - ocorrida a cerca de 600 milhões de
anos - hoje estão extintas. No Pantanal Matogrossense, por exemplo, onde atualmente jacarés
e tuiuiús lutam pela sobrevivência, já viveram
bizarras criaturas de alguns centímetros de
comprimento. Há 570 milhões de anos, ali existia
um mar de águas rasas, onde as Cloudina lucianoi,
com uma carapaça de carbonato de potássio,
refestelavam-se após uma dieta de algas
marinhas.
Esquerda: tubos calcários secretados pelos
primeiros animais capazes de produzir algum tipo
de carapaça mineralizada (Cloudina lucianoi), de
aproximadamente 545 milhões de anos de idade
(limite Proterozoico / Fanerozoico), Mato Grosso
do Sul. Foto: T. R. Fairchild.6 Direita:
representação tridimensional de como deveria ser
a carapaça do grupo Cloudina sp.7
Coacervado – estruturas globulares formadas
naturalmente, via associação de peptídeos,
lipídeos etc e que pode um dia ter abrigado as
primeiras formas de vida.5
UMA HISTÓRIA DE 600 MILHÕES DE ANOS
Pelas informações bíblicas, Deus ordenou a
Noé que construísse uma arca onde embarcaria
sete casais de cada animal puro, salvando-os do
afogamento do dilúvio universal. O trabalho do
velho patriarca não deve ter sido brincadeira.
Pelos cálculos disponíveis hoje existe 41 mil
espécies de vertebrados. De qualquer forma, Noé
5
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_BxZx1HAOxVs/
SVJFvNIZ9HI/ AAAAAAAACHU/2TD2RNECZUs/s320/
proteinoides.jpg
A identidade desses seres, cujos primos
também habitavam outros cantos da Terra, foi
resgatada recentemente. Mais ou menos na
mesma época, na velha China, onde os biólogos
lutam para salvar o urso panda, existiam vermes,
organismos parecidos com medusas e águasvivas, grandes esponjas e outros invertebrados
que também viviam no fundo do mar. A
descoberta recente deste zoológico fóssil mostra
que a evolução dos ancestrais dos animais
modernos deve ter sido um fenômeno súbito que
se espalhou por toda parte.
6
7
Fonte: http:// www.igc.usp.br/geologia/de_volta_ao_passado.php.
Fonte: http://www3.interscience.wiley.com:8100/legacy/college
/levin/0470000201/chap_tutorial/ch07/chapter07-4.html
Mesma química une os seres vivos - 6/11
Antes da explosão cambriana, parece que as
espécies só se sucederam lentamente. Após a
explosão cambriana, espécies maravilhosas
surgiram umas após as outras, praticamente sem
descontinuidade. É o que provam descobertas no
Canadá, onde podem ser reconhecidos nas
rochas, fósseis de 120 espécies pertencentes a 18
filos. Dez deles não são encontrados em nenhum
outro lugar. Exemplares da hallucigenia, criatura
que andava sobre sete pares de pernas pontudas,
do anomalocaris, com o formato de uma raia,
mostram que a vida então era muito variada e, a
sua dizimação pode ter ocorrido por acaso.
milhões de anos. Os anfíbios tinham esqueletos, o
que permitiu que crescessem até demais.
Algumas espécies mediam vários metros de
comprimento e eram carnívoras, como indicam os
restos fósseis de seus dentes aguçados e
maxilares possantes. Não eram os únicos que
fizeram a mudança do mar para a terra. Antes
deles vieram pequenos invertebrados: aranhas,
caracóis e os bem sucedidos insetos. E antes
ainda, plantas simples, que estavam confinadas
nos oceanos, devem ter surgido na terra (as
primeiras há cerca de 400 milhões de anos).
As pesquisas mostram que as interferências
na loteria de cada espécie têm sido muito mais
frequentes do que se pode imaginar. Sem que se
saiba ao certo por quê, algumas criaturas tiveram
mais sucesso e foram então “escolhidas” para
entrar na arca de Noé, ao passo que outras
passaram despercebidas e outras ainda
desapareceram abruptamente durante as grandes
extinções do passado, como aconteceu com os
famosos dinossauros há 65 milhões de anos.
Sabe-se que o motor da vida foi o mar, o
que não é de se estranhar porque comparada
com a água fresca dos oceanos, a terra seca é
muito mais hostil a hóspedes recém-convidados.
As camadas de água filtram as radiações
prejudiciais do sol e mantém regular a
temperatura que na terra varia grandemente do
dia para a noite e durante as estações. Foi
preciso, portanto, muito tempo e certa
estabilidade antes que corais, moluscos, medusas,
algas e os primeiros peixes surgidos há cerca de
500 milhões de anos cedessem a vez às primeiras
formas terrestres.
Quase todos os peixes modernos
descendem de espécies com mandíbulas,
providos de nadadeiras aerodinâmicas. Outro
grande grupo desses peixes era possuidor de
peças de material ósseo ligadas ao esqueleto e
estendendo-se às nadadeiras que podiam ser
muito úteis para rastejar na lama do fundo. Os
descendentes desses animais, que também eram
dotados de pulmões, rastejaram para fora da
água e tentaram vida nova há cerca de 350
Fóssil (superior) e representação tridimensional
(abaixo) de uma hallucigenia.8
Enquanto os insetos consolidavam sua
posição na terra, os vertebrados continuavam a
se diversificar e a lançar novas espécies. No
processo,
apareceram
animais
que
8
Fontes: http://www.hrw.com/science/si-science/biology
/animals/burgess/phallu.html e http://www.karencarr.
com/gallery_hallucigenia.html
Mesma química une os seres vivos - 7/11
desenvolveram a fecundação do óvulo dentro do
corpo da mãe e um ovo que só era posto depois
de revestido por uma capa protetora resistente.
Essas espécies passaram a levar uma vantagem
enorme sobre os anfíbios. Eram os primeiros
répteis que se propagaram rapidamente e
substituíram os anfíbios na maior parte dos
habitats, tornando-se herbívoros alguns, e,
outros, predadores. Um grupo de répteis foi
excepcionalmente bem sucedido, tendo resistido
inclusive às drásticas transformações do
ambiente, pouco mais de 200 milhões de anos
atrás, que deram origem, por exemplo, às grandes
cadeias de montanhas. Foram os dinossauros, que
dominaram a Terra durante 160 milhões de anos.
O nome inclui os Tiranossaurus rex, um enorme
predador de dentes aguçados, até espécies
herbívoras não maiores do que frangos.
Ao lado deles, mas na sua sombra,
desenvolveu-se um grupo de animais capaz de
germinar o ovo fecundado dentro do corpo
materno. Eram os mamíferos, que evoluíram do
grupo dos terapsídeos, répteis pequenos e de
hábitos predadores, encontrados mais ou menos
por toda parte. Quando os dinossauros
desapareceram, há 65 milhões de anos, esses
animais saíram da obscuridade e ocuparam todos
os ambientes terrestres. Mas os dinossauros não
se foram de todo. Sobraram as aves, que
descendem desses animais voadores. Não eram
competidoras dos mamíferos, entre os quais já
existiam os primatas, a ordem biológica que inclui
o homem, que haviam surgido enquanto os
dinossauros ainda dominavam a Terra.
Mesma química une os seres vivos - 8/11
asteroide chocou-se com a Terra e seu impacto,
entre outros efeitos, provocou a formação de
uma nuvem de vapor d’água ou poeira que
obscureceu a luz solar, impedindo a fotossíntese
pelas plantas e matando os dinossauros de fome
e frio. Esse asteroide teria caído no Golfo do
México, segundo as pesquisas mais recentes.
A AVENTURA DO HOMEM ESTÁ SENDO
RECONSTITUÍDA13
Cerca de 35 milhões de anos atrás, numa
época chamada Oligoceno, um pequeno animal se
alimentava de frutos e vivia nas árvores no
nordeste da África. Era o Aegyptopithecus
(macaco do Egito), uma criatura de 4 quilos. Ele
talvez seja o mais antigo ancestral não apenas dos
homens, mas de todos os outros primatas
antropoides (macacos, orangotangos, gorilas,
chimpanzés).
Há menos de 10 milhões de anos começou a
evolução das primeiras criaturas que deram
origem
aos
seres
humanos,
evolução
acompanhada de um aumento espetacular do
porte do cérebro.
Seymouria, um anfíbio do permiano inferior (270
milhões de anos) encontrado na América do Norte
com aproximadamente 60 cm de comprimento.11
Fóssil de um placodermo, um grupo de peixes que
apresentavam uma carapaça óssea, datado em
330 milhões de anos.10
Fóssil (A e B) e representação esquemática (C) de
um anomalocaris.9
Fonte: http://www.futura-sciences.com/comprendre/
d/imprimer.php?id=281
COMETA PODE EXPLICAR EXTINÇÃO
Lystrosaurus andersoni, um terapsídeo de 230-215
milhões de anos encontrado na África do Sul.12
Os cosmólogos Fred Hoyle e Chandra
Wickramasinghe discordam da teoria mais aceita
atualmente envolvendo a extinção dos
dinossauros, há 65 milhões de anos. A hipótese
proposta pelo físico Luiz Alvarez diz que um
A versão da dupla Hoyle-Wickramasinghe,
seguindo o mesmo raciocínio que usa para
explicar a origem da vida na Terra, é um pouco
10
Fonte: http://cas.bellarmine.edu/tietjen/images/
placoderm_330_mybp.jpg
Mas a tarefa de recontar a história desse
antepassado nos milhões de anos seguintes
requer mais informações do que os paleontólogos
dispõem. Imagina-se que nossos tataravôs
perdidos viveram em algum lugar da África entre
cinco e dez milhões de anos atrás. Eles deram
origem a duas linhagens, uma de ancestrais dos
macacos modernos e outra, do homem. O mais
antigo membro conhecido do ramo dos
hominídeos foi batizado de Australopithecus
afarensis, mas é mais familiar pelo esqueleto
chamado Lucy. Sua idade varia: 2,5 a 4 milhões de
anos e ele já caminhava gloriosamente sobre duas
pernas nas savanas africanas.
EVOLUÇÃO CEGA
11
9
diferente. Eles pensam que a extinção desses
grandes répteis foi produzida por um intenso
bombardeio feito por cometas que dizimaram
não apenas os dinossauros, mas uma ampla
variedade de outras espécies, dando espaço para
a dominação dos mamíferos.
12
Fonte: http://diamante.uniroma3.it/hipparcos/ seymouria.htm
Fonte: http://diamante.uniroma3.it/hipparcos/
lystrosauruscranio.htm
Diz o antropólogo Richard Leakey que o
“processo evolutivo é cego, não envolve uma
finalidade específica de desenvolvimento por
parte das espécies”. Por isso, no período de 2,5
milhões a 1,5 milhão de anos se seguiram, houve
pelo menos três espécies de hominídeos na
África, talvez mais em outras partes do mundo.
13
Existe material mais recente sobre a evolução
humana com novos detalhes e concepções sobre as
diferentes espécies de hominídeos ligados, direta ou
indiretamente, com a evolução do homem.
Mesma química une os seres vivos - 9/11
Há vestígios da presença do Australopithecus
africanus e do Australopithecus boisei, assim
como o do primeiro hominídeo com um cérebro
maior, o Homo habilis, capaz de fabricar objetos
rudimentares a partir de lascas de pedra. Com o
desaparecimento do Australopithecus, restou
apenas o H. habilis, descoberto no Quênia no
início dos anos 70 por Leakey. Até agora os
antropólogos tinham prova da sua existência há
cerca de dois milhões de anos, mas uma nova
análise de antigos fósseis, realizada no ano
passado, demonstrou que ele tem meio milhão de
anos a mais do que se supunha.
rastros da passagem de espécies intermediárias,
com características de erectus e sapiens também
na Europa e Oriente Médio.
O Homo sapiens, em sua forma arcaica,
começou a aparecer entre 400 e 300 mil anos
atrás, mais ou menos na época em que cessam os
registros do erectus. Ele teria originado o homem
moderno que apareceu na África e depois povoou
o mundo através de longos episódios de
migração. Mais ou menos na mesma época, há
125 mil anos, surgiu na Europa o Neanderthal,
que durante muito tempo foi considerado uma
espécie intermediária. Sabe-se hoje que ele e o
sapiens foram contemporâneos e podem até ter
convivido no Oriente Médio.
EXTINÇÕES MARCARAM A HISTÓRIA DAS
ESPÉCIES
Representação de um casal de A. afarensis, uma
espécie de hominídeo bípede de cerca de 2,5
milhões de anos.14
MIGRAÇÕES
Seja como for, há mais de um milhão de
anos, grupos de Homo erectus, descendentes dos
habilis, começaram a migrar da África para a
Europa e Ásia. Em meados do ano passado,
pesquisadores da Universidade de Berkeley
anunciaram a descoberta de uma espécie
intermediária entre os humanos modernos, ou
Homo sapiens e o Homo erectus, o ancestral
imediato dos humanos, na China. Registros fósseis
mostram que populações de erectus existiam
nessa região há 300 mil anos. Foram encontrados
14
Fonte: http://brattahlid.tripod.com/Image130.jpg
O grande vilão da atualidade chama-se
homem, acusado de promover a extinção de 1,2
milhão de espécies nos próximos 25 anos. Mas
boa parte das criaturas que passaram pela Terra
sumiu sem deixar vestígios devido a grandes
episódios de mortalidade que ocorreram muito
antes que os nossos antepassados existissem. É
provável que o impacto de um asteroide tenha
causado a morte dos dinossauros - a extinção
mais falada, ocorrida no fim do Cretáceo. Mas as
outras extinções parecem estar ligadas a processo
geológicos e climáticos, que demonstram como a
vida é vulnerável e ao mesmo tempo teimosa em
nosso planeta. O primeiro caso ocorreu durante o
Ordoviciano, há cerca de 450 milhões de anos,
quando foram quase eliminados os trilobites,
invertebrados que pareciam insetos e que hoje
não existem mais. No Devoniano, há 395 milhões
de anos, desapareceram peixes, corais e outros
animais marinhos. Mas nada foi mais catastrófico
na história da Terra quanto à grande extinção,
cem milhões de anos depois, quando nove de
cada 10 espécies sumiram sem rastros.
Não se sabe o que aconteceu naquela
época. Sabe-se no entanto, que as extinções
continuaram. No Jurássico, há cerca de 200
milhões de anos, morreram 75% das espécies de
Mesma química une os seres vivos - 10/11
moluscos. E no final do Cretáceo foi a vez dos
dinossauros que deram lugar aos mamíferos bichos então insignificantes que se espalharam
pela Terra e originaram o vilão Homo sapiens.
Essa sucessão de catástrofes dá idéia de
mecanismos auto-reguladores em ação na Terra.
Para simbolizá-los, o cientista inglês James
Lovelock propôs chamar esse gigantesco
organismo planetário de Gaia. E lembrou que é o
destino de Gaia que hoje em dia é ameaçado
pelos homens.
VIDA NA TERRA VEIO DO ESPAÇO, DIZ
ASTRÔNOMO
demonstrar que a vida não se originou na Terra,
mas no espaço, e que a própria evolução está
ligada a um certo ecossistema cósmico. Os
primeiros indícios Hoyle julga terem sido
encontrados no meteorito Orgueil, que caiu em
1864 na França. Recolhido ainda quente devido
ao atrito com a atmosfera, o meteorito foi
examinado por mineralogistas franceses que
encontraram nele matéria orgânica. Análises
posteriores identificaram a presença de
aminoácidos com características distintas em
comparação com os existentes na Terra,
eliminando assim a possibilidade de ter ocorrido
contaminação após a queda do corpo celeste.
Para explicar a origem da vida, o químico e
Prêmio Nobel sueco Svante Arrhenius (18591927) desenvolveu a idéia da panspermia. Para
Arrhenius, a vida é um fenômeno que se
manifesta em todo o Universo e não uma
exclusividade da Terra. O cientista propôs que a
vida chegou à Terra a partir de meteoritos que
bombardeiam o planeta e outros astros
praticamente desde a criação do sistema solar, há
uns cinco bilhões de anos.
A prova mais recente da teoria da
panspermia foi defendida pelo cosmólogo inglês
Fred Hoyle na Reunião Anual da União
Astronômica Internacional. No mesmo encontro o
astrofísico indiano Gurcharam Kalra apresentou
suas pesquisas em radioastronomia envolvendo
certas nebulosas, aglomerados de gases e poeira
interestelares como a formação do Saco de
Carvão, vista sob a forma de uma mancha escura
ao lado do Cruzeiro do Sul. De acordo com Kalra,
estas nebulosas apresentam uma emissão
semelhante à exibida em laboratórios por
microrganismos como a bactéria Escherichia coli
ou como algas marinhas diatomáceas. A
interpretação do radioastrônomo é de que essas
regiões aquecidas no meio interestelar possam
funcionar como campos de cultura para formas
elementares de vida adaptadas às condições do
espaço.
Fred Hoyle e seus colaboradores vêm
reunindo pistas há quase duas décadas para
Uma imagem ampliada do cruzeiro do sul e da
nebulosa Saco de Carvão.15
Além de Orgueil, os meteoritos de Murray
que caiu em 1950 nos EUA e de Murchison que
atingiu a Austrália em 1969, mostraram
aminoácidos que o químico Cyril Ponnamperuma
identificou como de origem extraterrestre.
ESPAÇO PODE CONTER VIDA INTELIGENTE
Desde 12 de outubro a NASA vem fazendo
uma minuciosa escuta dos sinais que chegam das
estrelas, procurando um eventual padrão
inteligente, capaz de traduzir uma fórmula
matemática como o Teorema de Pitágoras ou
descrever a estrutura de um átomo de
hidrogênio, o elemento mais simples e abundante
15
Fonte: http://canopus.physik.uni-potsdam.de/~axm/photo.cgi?
Image=images/1998-01_06
Mesma química une os seres vivos - 11/11
Suplemento Ciência – em 14/03/93.
Embora antigo, ele ainda apresenta
informações relevantes e uma linguagem
adequada. Infelizmente, não tenho o nome
de seu autor.
do Universo.
•
As imagens não estavam presentes no
artigo original. Entretanto, elas foram
adicionadas com fins didáticos.
Prof. Rogério F. de Souza
Um grande condrito carbonáceo que se
desintegrou e se fragmentou próximo à cidade de
Orgueil – França, em 1864. Cerca de 20 peças,
totalizando
cerca
de
12
kg
foram
subsequentemente recuperados de uma área de
vários quilômetros quadrados.16
Até o início deste século, a comunicação
com eventuais inteligências fora da Terra era vista
com certa ingenuidade. Em 1900, por exemplo,
foi estabelecido em Paris um prêmio de cem mil
francos para quem conseguisse o primeiro
contato com um alienígena. O concurso tinha
uma restrição: marcianos não valiam. O contato
era considerado “fácil demais”. Na época estavam
em voga teorias do astrônomo norte-americano
Percival Lowell sobre a existência de “canais”
construídos pelos marcianos para irrigação
agrícola.
Contrastando com o otimismo do início do
século, o engenheiro e inventor croata Nikola
Tesla defendia que as ondas de rádio eram a
única forma de se estabelecer um possível
contato entre eventuais raças inteligentes.
OBSERVAÇÕES
•
16
Este texto foi modificado de um artigo
publicado no jornal Estado de São Paulo -
Fonte: http://www.daviddarling.info/encyclopedia/O/
Orgueil.html
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Mesma quimica une seres vivos