Mesma química une os seres vivos - 1/11 MESMA QUÍMICA UNE OS SERES VIVOS Cada criatura possui uma lista de instruções expressa em linguagem basicamente similar São mistérios que atormentam o espírito, principalmente depois que a humanidade tomou consciência de sua insignificância diante da amplitude do cosmos. Essa amplitude foi vislumbrada por Copérnico, que sacudiu as estruturas da Igreja, negando que a Terra fosse o centro do Universo. Mais tarde, Charles Darwin demonstrou que o fenômeno da vida também está sujeito às leis mundanas da seleção natural e das mutações. São questões tão estereotipadas quanto irrespondíveis. Quem somos? De onde viemos? Qual o nosso destino? Em resumo, o que é vida e o que significa viver? Não se pode ter a pretensão de respondê-las. Na falta de melhor definição, somos o resultado de uma associação de células que executam cópias de si próprias. De tanto vasculhar os segredos da vida escondidos dentro da célula, os biólogos descobriram que homens, moscas, bactérias - todos os habitantes do planeta - possuem a mesma química orgânica, o mesmo patrimônio herdado da sua evolução. Cada criatura possui a sua lista de instruções e, embora estas listas sejam diferentes umas das outras, são formuladas numa linguagem basicamente similar. De onde viemos? Tudo o que vive no nosso planeta é formado de moléculas orgânicas, construções microscópicas em que o átomo de carbono desempenha um papel primordial. Astrônomos imaginativos, como o inglês Fred Hoyle, sustentam que a vida fecundou a Terra a partir de cometas e que as nuvens de gases e matérias interestelares contém criaturas como as bactérias com capacidade para recompor suas estruturas genéticas afetadas pela radiação das estrelas. SUBSTÂNCIA DA VIDA - Esteja ou não correto, os radiotelescópios mostraram que nessas nuvens existem dezenas de tipos de moléculas orgânicas uma abundância que leva muito astrônomo a acreditar que a substância da vida se encontra em toda a parte do Universo. Diz o americano Carl Sagan que, se tiver o tempo necessário, o Cosmo estará inevitavelmente devotado à vida e à sua evolução. Mas que entre os bilhões de planetas da Via Láctea, alguns nunca conhecerão essa substância da vida. Outros simplesmente a verão surgir e desaparecer, ou ainda, a se limitar a suas formas mais simples, sem nunca evoluir. Num pequeno número deles, enfim, poderão se desenvolver outras formas de inteligência e civilizações mais adiantadas do que a nossa. Talvez essas formas de vida diferentes, em comunicação com a Terra, nos ajudem a responder a questão sobre nosso destino final. Mesma química une os seres vivos - 2/11 organizam. A organização de cada ser vivo é determinada por “instruções” escritas em código, nos genes recebidos dos pais. De acordo com essas instruções, presentes nas moléculas de DNA que formam os cromossomos, um ser vivo transforma matéria e energia do mundo não-vivo em componentes do seu corpo, crescendo e se reproduzindo. A reprodução biológica não é apenas a produção de cópias idênticas aos pais; os descendentes podem apresentar características novas, que surgem como resultado ou de modificações nas instruções genéticas mutações - ou de misturas das instruções recebidas dos pais. SELEÇÃO - A cada geração surgem indivíduos ligeiramente diferentes uns dos outros e a natureza seleciona aqueles que melhor se adaptam às condições ambientais; esses serão os pais da geração seguinte. É assim que a vida evolui. Todo ser vivo representa, portanto, a execução de um projeto genético, construído nos últimos 3,5 bilhões de anos pela seleção natural. O objetivo de tal projeto parece não ser outro senão a sua própria perpetuação. A ESSÊNCIA DO HOMEM É COMO A DAS MOSCAS BACTÉRIAS CONTAM A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO O que é vida? Essa questão tem fascinado filósofos, teólogos e cientistas desde a Antiguidade, mas foi somente após o grande desenvolvimento da biologia, ocorrido nas últimas décadas, que se conseguiu compreender melhor o que é vida. A ciência está indo muito longe para refazer os caminhos da evolução. Bactérias de dois centésimos de milímetro de diâmetro, cujas idades são calculadas em 3,3 a 3,5 bilhões de anos, preservadas em formações rochosas do oeste da Austrália, são as mais antigas formas de vida identificadas. A estrutura das suas células primitivas será mostrada detalhadamente pelo paleontólogo americano William Schopf, diretor do Centro para o Estudo da Evolução e Origem da Vida, da Universidade da Califórnia, em um estudo que enviou à revista Science. Tudo indica que são bactérias capazes de fotossíntese e logo, produtoras de oxigênio. “Isso significa que numa época tão distante já existiam seres vivos”, admira-se o professor Thomas Fairchild, da Universidade de São Paulo e colaborador de Schpf. “Esses primeiros microrganismos deram A grande lição da ciência moderna é que a vida é uma só, não importa o tipo de organismo, se homem, árvore ou micróbio, a vida sempre usa os mesmos tipos de moléculas, as mesmas reações químicas e as mesmas estruturas fundamentais. Na essência, um homem não difere da mosca ou do cogumelo. CÓDIGO GENÉTICO - A enorme diversidade de seres vivos que habita o planeta é resultado da maneira como os componentes fundamentais se origem aos sistemas bioquímicos e à atmosfera rica em oxigênio de que a vida moderna depende”. Microfósseis de Apex Chert, Austrália, formados em associação com fluídos quentes próximos a uma estrutura vulcânica e que se assemelham as atuais cianobactérias (UCLA).1 Na sua sala no primeiro andar do Instituto de Geociências, na Cidade Universitária, Fairchild, que também é americano, acumula pedras com vestígios de um passado igualmente difícil de conceber. Ele acredita ter encontrado indícios da existência de organismos vivos com 2,5 bilhões de anos onde hoje é a Serra dos Carajás, no Pará. São as formas mais antigas garimpadas na América do Sul. Outros microfósseis, melhor documentados, foram encontrados em rochas de Minas e Goiás e datam de 1,6 bilhões de anos. COMPANHIA - Foi durante o longo período précambriano, por volta da quatro bilhões de anos atrás, que a vida começou devagarinho a conquistar a Terra. As solitárias descobertas de Schopf e os poucos testemunhos levantados por 1 Fonte: http:// www.astronomy.org.nz/aas/MonthlyMeetings/ MeetingAug2003 Review.asp Mesma química une os seres vivos - 3/11 Fairchild no Brasil e por outros cientistas na África do Sul e Groenlândia, não significam que as bactérias de então tivessem pouca companhia. Calcula-se que uma única célula, no curso de um dia, podia formar uma família de 4,5 bilhões de indivíduos, quase como o total da população humana. Depois de algum tempo, não admira que elas ocupassem todos os nichos disponíveis no planeta, nas rochas, na água ou no ar, aprendendo todos os truques químicos necessários à sobrevivência. “aperfeiçoadas” que necessitavam de oxigênio para viver e eram providas de núcleos com continham DNA com instruções genéticas para seus descendentes. É desse tipo de células que somos feitos. E foram elas que deram origem à explosão de formas de vida verificada por volta d 570 milhões de anos atrás. SINAIS SÃO RAROS E INDIRETOS Os antigos microrganismos eram vida “mole” que só deixaram restos imperceptíveis, diz o professor Fairchild. Uma maneira indireta de estudar a sua existência é buscar estromatólitos curiosas estruturas em forma de cúpula, construídas de grãos de areia e pedras, acumulados no que se acredita serem os revestimentos viscosos de grandes colônias de bactérias e cianobactérias. Ainda hoje se encontram estromatólitos vivos na costa ocidental da Austrália e na Antártida. Atualmente eles são raros, exceto em certos locais especiais, hostis a outras formas de vida. EFEITO - A presença desses descendentes virtualmente inalterados de formas de vida do pré-cambriano vem reforçar uma vez mais que a evolução não é um processo de uma espécie substituindo outra. Ao longo do tempo, aquelas bactérias simples exerceram um efeito devastador sobre a Terra, transformando a atmosfera de uma mistura de produtos de emissões vulcânicas, inclusive grande quantidade de dióxido de carbono, na mistura rica em oxigênio que hoje existe - que, de quebra, veio formar o escudo protetor de ozônio de fundamental importância para que a vida pudesse expandir-se à terra firme (e que hoje está ameaçada pelos CFCs - clorofluorcarbonos - feitos pelo homem). vez Mas essas bactérias não desapareceram. Em disso, surgiram em cena células Mesma química une os seres vivos - 4/11 camada mais externa, onde o número ideal seria oito, faz com que ele receba e forneça elétrons numa ligação com outros átomos para completar a camada externa. Um átomo de carbono pode ligar-se a outro, formando estruturas complexas, que lembram jogos de armar capazes de criar as mais variadas formas. Outros átomos não demonstram a mesma habilidade de formar estruturas químicas complexas e estáveis como o carbono. O silício demonstra certa aptidão para este comportamento, a ponto de autores imaginarem alienígenas como “estruturas de silício”. Mas a performance não se iguala à do carbono. Eles propuseram que os gases que compunham a atmosfera primitiva (a composição variava nos dois casos), sob a ação de descarga dos raios ou radiação ultravioleta solar, produziram os constituintes básicos da vida como os aminoácidos que teriam interagido nos oceanos para produzir a primeira forma de vida. A experiência de Stanley Miller, em 1953, sob a orientação do Prêmio Nobel Harold Urey, reproduziu estas condições em laboratório e, ao obter a síntese de aminoácidos, deu consistência à teoria de Oparin-Haldane. Estromatólitos atuais – estruturas em camadas produzidos pela precipitação de carbonato de cálcio sobre filamentos de cianobactérias2. CARBONO INICIA JOGO DE ARMAR Nos filmes de ficção científica é frequente que seres humanos sejam interpelados por outras inteligências como “estruturas de carbono”. Por que isso acontece? O pressuposto é que estas criaturas tenham estrutura mais sofisticada do que a do carbono, embora o exame da tabela dos elementos químicos não indique que isso seja possível. A química orgânica associada à vida (embora matéria orgânica não signifique necessariamente matéria viva), é a química do carbono. Tudo começa com a forma de um átomo de carbono, simples como o do hidrogênio, formado por um núcleo, composto por um nêutron e um próton, envolvido por um elétron. O elemento seguinte, o hélio, tem dois prótons no núcleo orbitado por dois elétrons. Os químicos mostram que os átomos se ligam entre si formando moléculas, com tendência a atingir certa estabilidade. A configuração do carbono, com 4 elétrons na 2 Fonte: http://www.kalipedia.com/ciencias-vida/tema/ estromalitos.html?x1=20070417klpcnavid_46.Kes começavam a se formar. Mas dois bilhões de anos depois, o planeta já era rico em organismos unicelulares de razoável complexidade. Como ocorreu a mudança? Excluída a Teoria da Panspermia de Svante Arrhenius, de que a vida é um fenômeno comum no Universo e teria apenas lançado raízes na Terra, como uma semente transportada pelo vento, é preciso admitir que ela surgiu mesmo aqui. Esse foi o trabalho do russo Ivanovich Oparin (1894-1980) e do inglês John Burdon Sanderson Haldane (1892-1964). Oparin expôs suas idéias num encontro da Sociedade Botânica Russa, em 1922, e, posteriormente, as publicou em “A origem da Vida”, mas o trabalho só foi traduzido para o inglês em 1937, quase junto com as idéias de Haldane. Ingredientes do experimento de Miller: Algumas moléculas complexas obtidas por Miller4: Estromatólito fóssil de 500 milhões de anos em Saratoga Springs, New York.3 PLANETA DÁ CONDIÇÕES PARA MUDANÇA Há uns 4,5 bilhões de anos, logo após sua formação, não havia vida sobre a Terra, na sua atmosfera primitiva ou nos oceanos que apenas 4 3 Fonte: http://www.petrifiedseagardens.org/main.htm Fonte: http://www.emc.maricopa.edu/faculty/farabee/ BIOBK/ BioBookCELL1.html Mesma química une os seres vivos - 5/11 A atmosfera primitiva era fortemente redutora (pobre em oxigênio) e as formas de vida só posteriormente teriam se adaptado a esse gás e feito dele um elemento vital. Os constituintes básicos da vida teriam sido levados aos mares especialmente pelas águas das chuvas e, se eles não se formam ainda hoje, uma das razões presumidas deve-se ao fato de a atmosfera atual ser oxidante (rica em oxigênio). Nas águas oceânicas, os constituintes da vida teriam se agrupado no que Oparin chamou de coacervados, em cujo interior teria nascido a primeira célula. Oparin descreve o processo da seguinte forma: “As gotinhas de coacervados que se formaram nas águas se encontravam mergulhadas em uma solução que continha várias matérias orgânicas e sais inorgânicos. Estas substâncias foram absorvidas pela gotinha e partilharam com ela nas interações químicas, ou seja, produzindo a síntese orgânica”. deixou muitos exemplares de fora. Os cientistas imaginam que 99% das formas de vida que passaram pela Terra depois da explosão cambriana - ocorrida a cerca de 600 milhões de anos - hoje estão extintas. No Pantanal Matogrossense, por exemplo, onde atualmente jacarés e tuiuiús lutam pela sobrevivência, já viveram bizarras criaturas de alguns centímetros de comprimento. Há 570 milhões de anos, ali existia um mar de águas rasas, onde as Cloudina lucianoi, com uma carapaça de carbonato de potássio, refestelavam-se após uma dieta de algas marinhas. Esquerda: tubos calcários secretados pelos primeiros animais capazes de produzir algum tipo de carapaça mineralizada (Cloudina lucianoi), de aproximadamente 545 milhões de anos de idade (limite Proterozoico / Fanerozoico), Mato Grosso do Sul. Foto: T. R. Fairchild.6 Direita: representação tridimensional de como deveria ser a carapaça do grupo Cloudina sp.7 Coacervado – estruturas globulares formadas naturalmente, via associação de peptídeos, lipídeos etc e que pode um dia ter abrigado as primeiras formas de vida.5 UMA HISTÓRIA DE 600 MILHÕES DE ANOS Pelas informações bíblicas, Deus ordenou a Noé que construísse uma arca onde embarcaria sete casais de cada animal puro, salvando-os do afogamento do dilúvio universal. O trabalho do velho patriarca não deve ter sido brincadeira. Pelos cálculos disponíveis hoje existe 41 mil espécies de vertebrados. De qualquer forma, Noé 5 Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_BxZx1HAOxVs/ SVJFvNIZ9HI/ AAAAAAAACHU/2TD2RNECZUs/s320/ proteinoides.jpg A identidade desses seres, cujos primos também habitavam outros cantos da Terra, foi resgatada recentemente. Mais ou menos na mesma época, na velha China, onde os biólogos lutam para salvar o urso panda, existiam vermes, organismos parecidos com medusas e águasvivas, grandes esponjas e outros invertebrados que também viviam no fundo do mar. A descoberta recente deste zoológico fóssil mostra que a evolução dos ancestrais dos animais modernos deve ter sido um fenômeno súbito que se espalhou por toda parte. 6 7 Fonte: http:// www.igc.usp.br/geologia/de_volta_ao_passado.php. Fonte: http://www3.interscience.wiley.com:8100/legacy/college /levin/0470000201/chap_tutorial/ch07/chapter07-4.html Mesma química une os seres vivos - 6/11 Antes da explosão cambriana, parece que as espécies só se sucederam lentamente. Após a explosão cambriana, espécies maravilhosas surgiram umas após as outras, praticamente sem descontinuidade. É o que provam descobertas no Canadá, onde podem ser reconhecidos nas rochas, fósseis de 120 espécies pertencentes a 18 filos. Dez deles não são encontrados em nenhum outro lugar. Exemplares da hallucigenia, criatura que andava sobre sete pares de pernas pontudas, do anomalocaris, com o formato de uma raia, mostram que a vida então era muito variada e, a sua dizimação pode ter ocorrido por acaso. milhões de anos. Os anfíbios tinham esqueletos, o que permitiu que crescessem até demais. Algumas espécies mediam vários metros de comprimento e eram carnívoras, como indicam os restos fósseis de seus dentes aguçados e maxilares possantes. Não eram os únicos que fizeram a mudança do mar para a terra. Antes deles vieram pequenos invertebrados: aranhas, caracóis e os bem sucedidos insetos. E antes ainda, plantas simples, que estavam confinadas nos oceanos, devem ter surgido na terra (as primeiras há cerca de 400 milhões de anos). As pesquisas mostram que as interferências na loteria de cada espécie têm sido muito mais frequentes do que se pode imaginar. Sem que se saiba ao certo por quê, algumas criaturas tiveram mais sucesso e foram então “escolhidas” para entrar na arca de Noé, ao passo que outras passaram despercebidas e outras ainda desapareceram abruptamente durante as grandes extinções do passado, como aconteceu com os famosos dinossauros há 65 milhões de anos. Sabe-se que o motor da vida foi o mar, o que não é de se estranhar porque comparada com a água fresca dos oceanos, a terra seca é muito mais hostil a hóspedes recém-convidados. As camadas de água filtram as radiações prejudiciais do sol e mantém regular a temperatura que na terra varia grandemente do dia para a noite e durante as estações. Foi preciso, portanto, muito tempo e certa estabilidade antes que corais, moluscos, medusas, algas e os primeiros peixes surgidos há cerca de 500 milhões de anos cedessem a vez às primeiras formas terrestres. Quase todos os peixes modernos descendem de espécies com mandíbulas, providos de nadadeiras aerodinâmicas. Outro grande grupo desses peixes era possuidor de peças de material ósseo ligadas ao esqueleto e estendendo-se às nadadeiras que podiam ser muito úteis para rastejar na lama do fundo. Os descendentes desses animais, que também eram dotados de pulmões, rastejaram para fora da água e tentaram vida nova há cerca de 350 Fóssil (superior) e representação tridimensional (abaixo) de uma hallucigenia.8 Enquanto os insetos consolidavam sua posição na terra, os vertebrados continuavam a se diversificar e a lançar novas espécies. No processo, apareceram animais que 8 Fontes: http://www.hrw.com/science/si-science/biology /animals/burgess/phallu.html e http://www.karencarr. com/gallery_hallucigenia.html Mesma química une os seres vivos - 7/11 desenvolveram a fecundação do óvulo dentro do corpo da mãe e um ovo que só era posto depois de revestido por uma capa protetora resistente. Essas espécies passaram a levar uma vantagem enorme sobre os anfíbios. Eram os primeiros répteis que se propagaram rapidamente e substituíram os anfíbios na maior parte dos habitats, tornando-se herbívoros alguns, e, outros, predadores. Um grupo de répteis foi excepcionalmente bem sucedido, tendo resistido inclusive às drásticas transformações do ambiente, pouco mais de 200 milhões de anos atrás, que deram origem, por exemplo, às grandes cadeias de montanhas. Foram os dinossauros, que dominaram a Terra durante 160 milhões de anos. O nome inclui os Tiranossaurus rex, um enorme predador de dentes aguçados, até espécies herbívoras não maiores do que frangos. Ao lado deles, mas na sua sombra, desenvolveu-se um grupo de animais capaz de germinar o ovo fecundado dentro do corpo materno. Eram os mamíferos, que evoluíram do grupo dos terapsídeos, répteis pequenos e de hábitos predadores, encontrados mais ou menos por toda parte. Quando os dinossauros desapareceram, há 65 milhões de anos, esses animais saíram da obscuridade e ocuparam todos os ambientes terrestres. Mas os dinossauros não se foram de todo. Sobraram as aves, que descendem desses animais voadores. Não eram competidoras dos mamíferos, entre os quais já existiam os primatas, a ordem biológica que inclui o homem, que haviam surgido enquanto os dinossauros ainda dominavam a Terra. Mesma química une os seres vivos - 8/11 asteroide chocou-se com a Terra e seu impacto, entre outros efeitos, provocou a formação de uma nuvem de vapor d’água ou poeira que obscureceu a luz solar, impedindo a fotossíntese pelas plantas e matando os dinossauros de fome e frio. Esse asteroide teria caído no Golfo do México, segundo as pesquisas mais recentes. A AVENTURA DO HOMEM ESTÁ SENDO RECONSTITUÍDA13 Cerca de 35 milhões de anos atrás, numa época chamada Oligoceno, um pequeno animal se alimentava de frutos e vivia nas árvores no nordeste da África. Era o Aegyptopithecus (macaco do Egito), uma criatura de 4 quilos. Ele talvez seja o mais antigo ancestral não apenas dos homens, mas de todos os outros primatas antropoides (macacos, orangotangos, gorilas, chimpanzés). Há menos de 10 milhões de anos começou a evolução das primeiras criaturas que deram origem aos seres humanos, evolução acompanhada de um aumento espetacular do porte do cérebro. Seymouria, um anfíbio do permiano inferior (270 milhões de anos) encontrado na América do Norte com aproximadamente 60 cm de comprimento.11 Fóssil de um placodermo, um grupo de peixes que apresentavam uma carapaça óssea, datado em 330 milhões de anos.10 Fóssil (A e B) e representação esquemática (C) de um anomalocaris.9 Fonte: http://www.futura-sciences.com/comprendre/ d/imprimer.php?id=281 COMETA PODE EXPLICAR EXTINÇÃO Lystrosaurus andersoni, um terapsídeo de 230-215 milhões de anos encontrado na África do Sul.12 Os cosmólogos Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe discordam da teoria mais aceita atualmente envolvendo a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. A hipótese proposta pelo físico Luiz Alvarez diz que um A versão da dupla Hoyle-Wickramasinghe, seguindo o mesmo raciocínio que usa para explicar a origem da vida na Terra, é um pouco 10 Fonte: http://cas.bellarmine.edu/tietjen/images/ placoderm_330_mybp.jpg Mas a tarefa de recontar a história desse antepassado nos milhões de anos seguintes requer mais informações do que os paleontólogos dispõem. Imagina-se que nossos tataravôs perdidos viveram em algum lugar da África entre cinco e dez milhões de anos atrás. Eles deram origem a duas linhagens, uma de ancestrais dos macacos modernos e outra, do homem. O mais antigo membro conhecido do ramo dos hominídeos foi batizado de Australopithecus afarensis, mas é mais familiar pelo esqueleto chamado Lucy. Sua idade varia: 2,5 a 4 milhões de anos e ele já caminhava gloriosamente sobre duas pernas nas savanas africanas. EVOLUÇÃO CEGA 11 9 diferente. Eles pensam que a extinção desses grandes répteis foi produzida por um intenso bombardeio feito por cometas que dizimaram não apenas os dinossauros, mas uma ampla variedade de outras espécies, dando espaço para a dominação dos mamíferos. 12 Fonte: http://diamante.uniroma3.it/hipparcos/ seymouria.htm Fonte: http://diamante.uniroma3.it/hipparcos/ lystrosauruscranio.htm Diz o antropólogo Richard Leakey que o “processo evolutivo é cego, não envolve uma finalidade específica de desenvolvimento por parte das espécies”. Por isso, no período de 2,5 milhões a 1,5 milhão de anos se seguiram, houve pelo menos três espécies de hominídeos na África, talvez mais em outras partes do mundo. 13 Existe material mais recente sobre a evolução humana com novos detalhes e concepções sobre as diferentes espécies de hominídeos ligados, direta ou indiretamente, com a evolução do homem. Mesma química une os seres vivos - 9/11 Há vestígios da presença do Australopithecus africanus e do Australopithecus boisei, assim como o do primeiro hominídeo com um cérebro maior, o Homo habilis, capaz de fabricar objetos rudimentares a partir de lascas de pedra. Com o desaparecimento do Australopithecus, restou apenas o H. habilis, descoberto no Quênia no início dos anos 70 por Leakey. Até agora os antropólogos tinham prova da sua existência há cerca de dois milhões de anos, mas uma nova análise de antigos fósseis, realizada no ano passado, demonstrou que ele tem meio milhão de anos a mais do que se supunha. rastros da passagem de espécies intermediárias, com características de erectus e sapiens também na Europa e Oriente Médio. O Homo sapiens, em sua forma arcaica, começou a aparecer entre 400 e 300 mil anos atrás, mais ou menos na época em que cessam os registros do erectus. Ele teria originado o homem moderno que apareceu na África e depois povoou o mundo através de longos episódios de migração. Mais ou menos na mesma época, há 125 mil anos, surgiu na Europa o Neanderthal, que durante muito tempo foi considerado uma espécie intermediária. Sabe-se hoje que ele e o sapiens foram contemporâneos e podem até ter convivido no Oriente Médio. EXTINÇÕES MARCARAM A HISTÓRIA DAS ESPÉCIES Representação de um casal de A. afarensis, uma espécie de hominídeo bípede de cerca de 2,5 milhões de anos.14 MIGRAÇÕES Seja como for, há mais de um milhão de anos, grupos de Homo erectus, descendentes dos habilis, começaram a migrar da África para a Europa e Ásia. Em meados do ano passado, pesquisadores da Universidade de Berkeley anunciaram a descoberta de uma espécie intermediária entre os humanos modernos, ou Homo sapiens e o Homo erectus, o ancestral imediato dos humanos, na China. Registros fósseis mostram que populações de erectus existiam nessa região há 300 mil anos. Foram encontrados 14 Fonte: http://brattahlid.tripod.com/Image130.jpg O grande vilão da atualidade chama-se homem, acusado de promover a extinção de 1,2 milhão de espécies nos próximos 25 anos. Mas boa parte das criaturas que passaram pela Terra sumiu sem deixar vestígios devido a grandes episódios de mortalidade que ocorreram muito antes que os nossos antepassados existissem. É provável que o impacto de um asteroide tenha causado a morte dos dinossauros - a extinção mais falada, ocorrida no fim do Cretáceo. Mas as outras extinções parecem estar ligadas a processo geológicos e climáticos, que demonstram como a vida é vulnerável e ao mesmo tempo teimosa em nosso planeta. O primeiro caso ocorreu durante o Ordoviciano, há cerca de 450 milhões de anos, quando foram quase eliminados os trilobites, invertebrados que pareciam insetos e que hoje não existem mais. No Devoniano, há 395 milhões de anos, desapareceram peixes, corais e outros animais marinhos. Mas nada foi mais catastrófico na história da Terra quanto à grande extinção, cem milhões de anos depois, quando nove de cada 10 espécies sumiram sem rastros. Não se sabe o que aconteceu naquela época. Sabe-se no entanto, que as extinções continuaram. No Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos, morreram 75% das espécies de Mesma química une os seres vivos - 10/11 moluscos. E no final do Cretáceo foi a vez dos dinossauros que deram lugar aos mamíferos bichos então insignificantes que se espalharam pela Terra e originaram o vilão Homo sapiens. Essa sucessão de catástrofes dá idéia de mecanismos auto-reguladores em ação na Terra. Para simbolizá-los, o cientista inglês James Lovelock propôs chamar esse gigantesco organismo planetário de Gaia. E lembrou que é o destino de Gaia que hoje em dia é ameaçado pelos homens. VIDA NA TERRA VEIO DO ESPAÇO, DIZ ASTRÔNOMO demonstrar que a vida não se originou na Terra, mas no espaço, e que a própria evolução está ligada a um certo ecossistema cósmico. Os primeiros indícios Hoyle julga terem sido encontrados no meteorito Orgueil, que caiu em 1864 na França. Recolhido ainda quente devido ao atrito com a atmosfera, o meteorito foi examinado por mineralogistas franceses que encontraram nele matéria orgânica. Análises posteriores identificaram a presença de aminoácidos com características distintas em comparação com os existentes na Terra, eliminando assim a possibilidade de ter ocorrido contaminação após a queda do corpo celeste. Para explicar a origem da vida, o químico e Prêmio Nobel sueco Svante Arrhenius (18591927) desenvolveu a idéia da panspermia. Para Arrhenius, a vida é um fenômeno que se manifesta em todo o Universo e não uma exclusividade da Terra. O cientista propôs que a vida chegou à Terra a partir de meteoritos que bombardeiam o planeta e outros astros praticamente desde a criação do sistema solar, há uns cinco bilhões de anos. A prova mais recente da teoria da panspermia foi defendida pelo cosmólogo inglês Fred Hoyle na Reunião Anual da União Astronômica Internacional. No mesmo encontro o astrofísico indiano Gurcharam Kalra apresentou suas pesquisas em radioastronomia envolvendo certas nebulosas, aglomerados de gases e poeira interestelares como a formação do Saco de Carvão, vista sob a forma de uma mancha escura ao lado do Cruzeiro do Sul. De acordo com Kalra, estas nebulosas apresentam uma emissão semelhante à exibida em laboratórios por microrganismos como a bactéria Escherichia coli ou como algas marinhas diatomáceas. A interpretação do radioastrônomo é de que essas regiões aquecidas no meio interestelar possam funcionar como campos de cultura para formas elementares de vida adaptadas às condições do espaço. Fred Hoyle e seus colaboradores vêm reunindo pistas há quase duas décadas para Uma imagem ampliada do cruzeiro do sul e da nebulosa Saco de Carvão.15 Além de Orgueil, os meteoritos de Murray que caiu em 1950 nos EUA e de Murchison que atingiu a Austrália em 1969, mostraram aminoácidos que o químico Cyril Ponnamperuma identificou como de origem extraterrestre. ESPAÇO PODE CONTER VIDA INTELIGENTE Desde 12 de outubro a NASA vem fazendo uma minuciosa escuta dos sinais que chegam das estrelas, procurando um eventual padrão inteligente, capaz de traduzir uma fórmula matemática como o Teorema de Pitágoras ou descrever a estrutura de um átomo de hidrogênio, o elemento mais simples e abundante 15 Fonte: http://canopus.physik.uni-potsdam.de/~axm/photo.cgi? Image=images/1998-01_06 Mesma química une os seres vivos - 11/11 Suplemento Ciência – em 14/03/93. Embora antigo, ele ainda apresenta informações relevantes e uma linguagem adequada. Infelizmente, não tenho o nome de seu autor. do Universo. • As imagens não estavam presentes no artigo original. Entretanto, elas foram adicionadas com fins didáticos. Prof. Rogério F. de Souza Um grande condrito carbonáceo que se desintegrou e se fragmentou próximo à cidade de Orgueil – França, em 1864. Cerca de 20 peças, totalizando cerca de 12 kg foram subsequentemente recuperados de uma área de vários quilômetros quadrados.16 Até o início deste século, a comunicação com eventuais inteligências fora da Terra era vista com certa ingenuidade. Em 1900, por exemplo, foi estabelecido em Paris um prêmio de cem mil francos para quem conseguisse o primeiro contato com um alienígena. O concurso tinha uma restrição: marcianos não valiam. O contato era considerado “fácil demais”. Na época estavam em voga teorias do astrônomo norte-americano Percival Lowell sobre a existência de “canais” construídos pelos marcianos para irrigação agrícola. Contrastando com o otimismo do início do século, o engenheiro e inventor croata Nikola Tesla defendia que as ondas de rádio eram a única forma de se estabelecer um possível contato entre eventuais raças inteligentes. OBSERVAÇÕES • 16 Este texto foi modificado de um artigo publicado no jornal Estado de São Paulo - Fonte: http://www.daviddarling.info/encyclopedia/O/ Orgueil.html