O potencial de negócios em língua portuguesa Palestra de Jorge Silva Carvalho na Investe Nordeste 2014 “O potencial de negócios em língua portuguesa” Data: 25 de novembro de 2014 Partner, co-fundador e Senior Advisor da XKI – Security Management Consulting. A XKI é um projeto empresarial inovador e especializado nas áreas da Consultoria, Assessoria e Auditoria de Segurança, com especial enfoque na prevenção, no conhecimento e inteligência, na análise do risco não financeiro, bem como numa visão estratégica e integrada da Segurança. A XKI defende o princípio de que a integração precoce das preocupações com os aspetos da segurança empresarial em qualquer plano de negócios permitirá uma elevada redução de custos e um considerável aumento de eficácia da resposta protetiva confirmando que a segurança empresarial não é um custo mas um investimento. Esse investimento em segurança impacta diretamente, de forma positiva, nos resultados e é também uma vantagem competitiva para as empresas porque é a melhor forma de garantir a proteção das pessoas e dos bens, tangíveis e intangíveis, em particular o seu capital intelectual. Managing Partner e Senior Advisor da Silva Carvalho & Associados – Strategic Management Consulting. A SC&A-SMC é uma empresa que se posiciona no mercado com uma oferta multidisciplinar no espectro dos sistemas e ferramentas de inteligência competitiva, económica e de gestão do conhecimento, do apoio especializado à liderança (leadership), ao planeamento estratégico empresarial, bem como da gestão de stakeholders. A atividade da SC&A-SMC centra-se na exploração alargada do processo de produção de inteligência – através da pesquisa, processamento e análise de informação, interna e externa à empresa – relativamente aos Mercados, Negócios e Stakeholders, individuais e coletivos. Essas competências são exercidas preferencialmente em três setores estratégicos em que a SC&A-SMC se especializou e onde o seu apoio é particularmente necessário: Processos de Internacionalização; Mercados Internacionais deficientemente, aparentemente ou não regulados; Mercado da Língua portuguesa. A missão da SC&A é criar conhecimento, para agir assumindo como princípio orientador que a gestão do conhecimento e da inteligência constitui uma vantagem competitiva para as empresas. 1 O potencial de negócios em língua portuguesa NOTA CURRICULAR Nascido em Lourenço Marques, Moçambique, a 28 de Maio de 1966, casado e pai de três filhos. Licenciado em Direito, menção de Ciências Jurídico-Económicas, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1985/90), pós-graduado em Estudos Europeus (1993/94) pelo Instituto Europeu da Faculdade de Direito, Auditor de Defesa Nacional diplomado pelo Instituto da Defesa Nacional de Portugal (2002/2003) e Mestre em Gestão de Empresas, pela Business School do Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE (2012/2014). Atualmente é Partner, co-fundador e Senior Advisor da XKI – Security Management Consulting e Managing Partner e Senior Advisor da Silva Carvalho & Associados – Strategic Management Consulting. É Professor e Diretor científico dos MBA Executivos em Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva e em Gestão de Segurança Empresarial na Coimbra Business School (ISCAC). É Advogado com inscrição na Ordem dos Advogados desde 09.02.1993, com a cédula 10350L, suspensa nesse mesmo ano. Ingressou no Serviço de Informações de Segurança – Ministério da Administração Interna (Serviço de Inteligência Interna de Portugal), em Abril de 1991. Foi colocado na Direção de Serviços de Operações e Pesquisa (DSOP), tendo inicialmente (1991/1992), desempenhado funções como assessor para o planeamento operacional do Diretor da DSOP e, posteriormente, chefiado a unidade de vigilância e investigação (1992/1995) dessa direção. De 1995 a 1997, foi colocado no Departamento de Contraespionagem onde exerceu funções como analista responsável pelo sector Europa e Países da CEI. Foi nomeado Diretor de Área de Pesquisa no Departamento Operacional de Contraespionagem, em 1997. Em 1999 foi nomeado Diretor de Serviços do Departamento Operacional de Relações Externas. Entre 04 de Maio de 2005 e 31 de Março de 2008 foi nomeado Chefe do Gabinete do Secretário-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), na Presidência do Conselho de Ministros. Em 01 de Abril de 2008 foi nomeado, por despacho do Primeiro-Ministro de Portugal, DiretorGeral do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa - SIED (Serviço de Inteligência Externa de Portugal), tendo sido exonerado, a seu pedido, em 30 de Novembro de 2010. Em 01 de Dezembro de 2010 foi colocado, por despacho conjunto do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças, na categoria de Assessor Principal na Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros (PCM), encontrando-se, desde essa data, em licença sem vencimento de longa duração. 2 O potencial de negócios em língua portuguesa Entre 02 de Janeiro de 2011 e 31 de Janeiro de 2012, exerceu funções de Administrador no Grupo Ongoing Strategy Investments, com a responsabilidade do Centro Corporativo, bem como de Administrador e CEO de diversas empresas do Grupo Ongoing. Como docente universitário, foi Professor convidado no Programa Especializado em Direção e Gestão de Segurança do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (2006). De 2006 a 2011, foi professor convidado no Curso de Pós-Graduação e Mestrado em Estudos Avançados em Direito e Segurança da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (Cursos I ao X), bem como, desde 2007, professor convidado no Curso de Pós-Graduação e Mestrado do Curso de promoção a Oficial Superior da Guarda Nacional Republicana, do Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM) e da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. 3 O potencial de negócios em língua portuguesa “O potencial de negócios em língua portuguesa” “O idioma traz consigo um estilo próprio de compreender e de interagir com o mundo”1. Analisando a importância dos diferentes idiomas na conjuntura internacional, verifica-se um aumento da importância estratégica da língua portuguesa, derivada de diversos fatores, como o seu peso económico, expressividade demográfica, relevância política e ao seu recurso no âmbito das novas tecnologias. Em termos económicos, a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) tem-se revestido de um peso crescente, quer por englobar uma das maiores economias do mundo em termos de PIB (Brasil) e algumas das economias com maiores taxas de crescimento (Moçambique, Angola e Timor Leste), quer pelas riquezas em recursos naturais existentes nalguns destes países, quer ainda pela pertença, dos seus Estados-membros, a algumas das principais organizações económicas regionais do mundo (como a União Europeia e o Mercosul). Em termos demográficos, o peso da língua portuguesa deriva, em grande parte, do facto do Brasil ser o 5º país mais populoso do mundo, mas também da existência de grandes comunidades de emigrantes lusófonos espalhados pelo mundo. A presença de personalidades lusófonas em cargos de relevo em organismos internacionais, presentemente ou no passado recente, é também expressiva: Jorge Sampaio (Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações), António Guterres (Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados), Roberto Carvalho de Azevêdo (Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio, OMC), José Graziano da Silva (Diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO), Durão Barroso (Presidente da Comissão Europeia), apenas citando alguns. O uso do português na internet, na literatura traduzida, no ambiente de negócios, em setores de tecnologias de ponta, está também a conhecer um crescimento exponencial. Por todos estes fatores, afigura-se pertinente avaliar as potencialidades económicas da língua portuguesa no mundo. 1 Discurso do Presidente da República Federativa do Brasil, Fernando Henrique Cardoso na abertura da IV Conferência de Chefes de Estado da CPLP, em 31 de julho de 2002. 4 O potencial de negócios em língua portuguesa 1. Enquadramento Ao analisar a atualidade, marcada por temas como os do Estado islâmico, do surto de ébola, da crise na Ucrânia, da questão ambiental, da crise financeira e económica mundial, entre muitos outros, constata-se que se trata de questões que envolvem atores distintos, com implicações de dimensão diversa, alguns ao nível global, que não têm solução à escala do Estado-Nação. A isto acresce a evolução da definição de fronteiras: recordando Haushofer, a fronteira não deve ser vista como um elemento estático, definido em tratados ou por imposições naturais, mas tendo em consideração a penetração cultural noutros espaços. Atualmente vive-se num mundo onde os países estão de “portas abertas”, inseridos em espaços de livre circulação de pessoas, de bens e de serviços e com tratados de livre comércio generalizados. Neste contexto de mundo globalizado e aberto, o Estado, que sempre esteve presente no sistema de relações internacionais, encontra-se numa posição de enfraquecimento progressivo, paralelo à proliferação de centros de decisão de ordem política, económica e militar. Os Estados deixaram de ser os detentores da exclusividade das relações internacionais e passaram a ser obrigados a harmonizar-se com outros atores. A própria segurança, progresso e bem-estar das suas populações estão dependentes da pertença a organizações regionais ou internacionais sem que, naturalmente, deixe de ser privilegiada a defesa dos fatores de coesão e identidade nacional. Neste enquadramento, Portugal, devido às suas características geográficas, históricas e culturais, é simultaneamente um país europeu, atlântico e mediterrânico. A sua localização acentua a vocação para ocupar uma posição de charneira entre a América (Norte e Sul), a Europa e África, servindo de plataforma de articulação entre as duas margens do Atlântico e, simultaneamente, de ligação entre o Hemisfério Norte e o Sul. A sua afirmação internacional terá de passar indubitavelmente pela difusão e consolidação da língua portuguesa e pela sua afirmação como uma das mais faladas no mundo, entre outras opções de atuação estratégica, conjugadas com a sua inserção em três grandes espaços internacionais: União Europeia (UE), CPLP e Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). 2. O potencial da CPLP2 Se se considerar que países com uma língua comum têm maior facilidade em fazer negócios e que a língua e cultura são fatores de aproximação, apercebe-se 2 Apesar de ser um membro de pleno direito desde o corrente ano, neste documento não se aborda a Guiné Equatorial por não ter a mesma afinidade linguística que os restantes membros. 5 O potencial de negócios em língua portuguesa o potencial da CPLP, bem como dos países onde residem os cerca de 2,3 milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. Posição mundial da língua portuguesa3: O português é a 6ª língua do mundo mais utilizada nos negócios4 e num estudo elaborado pelo British Council5, foi considerado um dos 10 idiomas estrangeiros mais importantes nos próximos 20 anos, no Reino Unido. Já em 2011 o Diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura brasileiro, Marcelo Dantas, defendia o “interesse estratégico”, para o Brasil, do fortalecimento internacional da língua portuguesa, alertando para o risco de ampliação da influência dos países anglófonos e francófonos – e a esta se junta a influência chinesa especialmente junto às nações africanas de expressão portuguesa. Principalmente em tempo de crise mundial, afigura-se crucial privilegiar a relação com países com os quais, ao longo dos séculos, se construíram afinidades, afetos e uma língua comum, ainda mais considerando a crescente expressividade da CPLP em termos populacionais e económicos. 3. Principais indicadores Para se percecionar o real peso da CPLP a nível mundial, é necessário analisar alguns dos principais indicadores desta comunidade. 3 Fonte: Observatório Calvet Segundo o ranking da Bloomberg incluído num estudo intitulado "Línguas Estrangeiras Mais Usadas em Negócios". 5 “Languages for the Future”. 4 6 O potencial de negócios em língua portuguesa Número de habitantes PIB nominal, PIB per capita e Nível do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países da CPLP (2010)6 PIB nominal PIB per capita Contribuição (milhões USD) (USD) para PIB CPLP 20.820.525 114.197 5.485 4,4% Baixo Brasil 198.656.019 2.252.664 11.340 86,7% Elevado Cabo Verde 494.401 1.897 3.838 0,56% Médio Guiné-Bissau 1.663.558 897 539 0,01% Baixo Moçambique 25.203.395 14.588 579 0,03% Baixo Portugal 10.487.289 212.454 20.182 8,18% 188.098 263 1.402 0,07% Baixo Timor Leste 1.210.233 1.292 1.068 0,05% Baixo Total 258.723.518 2 598.252 10.043 País Habitantes Angola São Tomé e Príncipe Nível IDH Muito Elevado Analisando estes dados, é percetível que o Brasil desempenha um papel determinante nesta comunidade, podendo ser considerado o grande dinamizador da projeção do português, quer devido ao seu peso demográfico (é o 5º país mais populoso do mundo), quer em termos de PIB nominal (é considerado a 7ª economia mundial, segundo o Banco Mundial). Quando comparada com a realidade à escala mundial, o peso global da CPLP é o seguinte7: CPLP % População 2012, % da população mundial 3,68% PIB 2012, % do PIB mundial 3,67% Comércio total, % total do comércio mundial 3,9% Exportações totais, % das exportações mundiais 2,1% Importações totais, % das importações mundiais 1,8% Se se analisarem as perspetivas de crescimento do PIB para 2014 entre os países lusófonos, segundo dados do FMI, destaca-se de imediato Moçambique (8,1%), Timor-Leste (6,5%), Angola (5,4%), com taxas de crescimento bastante expressivas, em contraposição com a relativa estagnação da taxa de crescimento do PIB no Brasil (0,3%) e Portugal (0,9%). 6 Fonte: “Portugal: mercados económicos regionais e o relacionamento entre os países da CPLP”, Associação Industrial Portuguesa. 7 Fonte: Banco Mundial, FAO e UNCTADstat 7 O potencial de negócios em língua portuguesa Estimativas de crescimento do PIB em 20148 4. Integração económica Da análise da dinâmica das relações económicas entre os Estados-membros da CPLP, e comparando com a situação de algumas das organizações económicas regionais das quais estes países fazem parte, é percetível que no seio da comunidade lusófona ainda há um longo caminho a percorrer em termos de integração económica, decorrendo daí um considerável potencial de expansão da interação entre as economias que a compõem9: Exportações intrarregião SADC UE CPLP CEEAC Mercosul CEDEAO ASEAN 27.153 3.630.191 16.283 1.111 67.343 11.667 324.184 4,09% 21,90% 0,62% 0,47% 2,10% 2,86% 13,90% 0,15% 19,87% 0,09% 0,01% 0,37% 0,06% 1,77% 6,66% -2,17% 8,12% 3,43% 4,50% 4,27% 6,65% (milhões USD, 2012) Exportações intrarregião (% no PIB da região, 2012) Exportações intrarregião (% exportações mundiais, 2012) Crescimento anual médio das exportações intrarregião (2008-12) O potencial de crescimento das relações económicas entre os países lusófonos é tão maior quanto maior for a complementaridade industrial das suas economias e os níveis de especialização diferenciada. E este nível de complementaridade 8 Fonte: “Portugal: mercados económicos regionais e o relacionamento entre os países da CPLP”, elaborado pela Associação Industrial Portuguesa. 9 Fonte: UNCTAD, UNCTADstat. 8 O potencial de negócios em língua portuguesa comercial dos países lusófonos ainda é baixo, excetuando-se os casos de Portugal10 e Angola. No caso de Portugal, uma considerável percentagem da economia portuguesa interage com a dos países lusófonos, como o comprovam os fluxos de IDE e as trocas comerciais. No caso do IDE, por exemplo, os montantes em causa nos investimentos de Portugal no Brasil e em Angola assumem maior peso quando comparados com os de outros países com PIB idêntico. Em termos de trocas comerciais, estima-se que cerca de 36% das importações da CPLP se destinam a Portugal. Quanto às exportações portuguesas para o espaço desta comunidade, estas representam 51%, com destaque para as destinadas a Angola (apenas Cabo Verde, Brasil e Moçambique assumem também valor estatístico relevante). A nível de importações, considera-se a existência de potencial de crescimento com todos os restantes países da comunidade, sendo que apenas Angola, Brasil e Moçambique apresentam valores estatisticamente relevantes. O Brasil assume um peso relevante nas exportações intra-CPLP (mais de 25%), mas, no que concerne às importações, o seu contributo é pouco expressivo (9%), fruto da sua economia relativamente fechada. Ainda assim, um estudo da Apex (Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos) de 2009 mostrou que os negócios realizados em língua portuguesa cresceram 534% nos cinco anos anteriores. O fluxo de comércio entre o Brasil e os restantes países lusófonos passou de USD 1 bilhão em 1996 para USD 6,5 bilhões em 2008. Angola apresenta, em termos globais, uma balança comercial positiva, devido às exportações de petróleo. Em termos de comércio externo no seio da CPLP, Angola absorve cerca de 46% das importações deste grupo, maioritariamente oriundas de Portugal11, sendo responsável por 21% das exportações totais desta comunidade. Em termos de IDE, a atração deste país deve-se essencialmente ao petróleo e outros recursos naturais, destacando-se também Portugal como principal país de origem dos investimentos. Em sentido inverso, o investimento de Angola em Portugal também tem vindo a aumentar nos últimos anos. Timor Leste, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Moçambique têm um peso pouco expressivo nas trocas comerciais intra-CPLP, derivada, em grande parte, da pequena dimensão das suas economias. 10 Apesar de Portugal apenas deter pouco mais de 4% da população da CPLP e ocupar cerca de 0,86% do território total, é o país mais integrado, com o maior volume de trocas comerciais intracomunitárias. A balança comercial portuguesa com os restantes sete países da CPLP é sempre favorável, tendo variado entre USD 2.452 bilhões em 2008 e USD 1.777 bilhões em 2012. 11 Angola é o maior destino das exportações portuguesas fora da Europa, bem como o principal país de origem das importações portuguesas fora da Europa 9 O potencial de negócios em língua portuguesa Assim, quando se compara com outras organizações, a CPLP encontra-se muito abaixo do seu potencial de intercâmbio económico, apesar de que nos últimos anos se começou a verificar um aumento da expressividade deste intercâmbio. Esta evolução prende-se essencialmente com o facto de a CPLP ser uma organização recente em termos de dimensão e de poder económico: há pouco mais de uma década, o Brasil era um país altamente endividado e com um grave problema inflacionário; Angola estava em plena guerra civil, com um grau de destruição considerável; Moçambique era um dos países mais pobres do mundo. Isto significa que a comunidade de países lusófonos passou por uma grande evolução nos últimos anos e será esse caráter recente do peso demográfico e económico de alguns dos seus membros que está na origem do atraso na integração. 5. Potencialidades de crescimento As grandes assimetrias da CPLP representam também a existência de uma considerável margem de progresso, nomeadamente entre os países de menor expressão económica. Por exemplo, em 2012 São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Cabo Verde e Guiné-Bissau, representavam apenas 1,37% da população da comunidade e 0,17% do seu PIB. Também em 2012, Moçambique, responsável por apenas 0,56% do PIB da comunidade, detinha quase 10% da sua população. As perspetivas de crescimento destes países facilitarão o acesso a novos consumidores e aos seus mercados, de elevados potenciais de desenvolvimento e com grande necessidade de investimento. Adicionalmente, devido ao reduzido desenvolvimento e interação económica, estes países apresentam menores níveis de concorrência, o que poderá trazer vantagens competitivas aos investidores que primeiro acederem a estes mercados. Pela proximidade geográfica, considerem-se as economias dos PALOP. Ao analisar os mercados destes países, verifica-se que as possibilidades de investimento são diversas. Sintetizando: No caso de Angola, a economia encontra-se numa fase de transição no seu processo de desenvolvimento: de uma situação de dependência das exportações petrolíferas (factor-driven), para uma situação de crescimento e diversificação dos setores de produção nacional (efficiency-driven), não ligados à atividade petrolífera, apesar de que, a médio prazo, esta economia continuará a depender da exploração dos recursos naturais (sobretudo do petróleo, gás natural e demais reservas minerais), até porque ainda existem muitas deficiências por corrigir ao nível das infraestruturas físicas (designadamente portos e aeroportos, recursos humanos, telecomunicações e redes de eletricidade, água e saneamento). Os 10 O potencial de negócios em língua portuguesa setores que se espera que venham a contribuir mais ativamente para a diversificação da economia angolana são a agricultura e agroindústria, pecuária e pesca, bebidas, indústria ligeira associada à construção e à indústria petrolífera, turismo12. Para Cabo Verde, e considerando a tendência de crescimento económico por que tem passado, os eixos fundamentais de desenvolvimento são as infraestruturas, nomeadamente de transporte, de recursos hídricos, fornecimento de energia, habitação e fornecimento de água e saneamento, turismo, indústria, tecnologias de informação e comunicação e também ao nível do setor aeroportuário. No caso de Moçambique, os principais setores recetores de IDE têm sido os das indústrias extrativas (carvão, petróleo, gás e minerais) mas nos últimos anos têm ganho alguma relevância a indústria transformadora (alimentar, bebidas, tabaco e têxteis), os transportes e comunicações, agricultura, pesca, comércio, banca, construção, hotelaria e turismo. A existência de recursos naturais não explorados, como o carvão e o gás natural, a necessidade de construção de infraestruturas, abastecimento elétrico, agricultura e turismo encontram-se entre as áreas de principal potencial em termos de investimento estrangeiro. Apesar de a Guiné-Bissau se encontrar numa fase de estabilização política, militar, económica e social, e necessitando de melhorar a sua imagem internacional, ela apresenta algumas oportunidades de investimento, nomeadamente nas áreas das obras públicas e infraestruturas, energia, distribuição de combustíveis, agricultura, pesca, turismo e indústria. O financiamento dos investimentos em alguns destes setores conta com o apoio de organismos internacionais como é o caso, por exemplo, do Banco Mundial e da União Europeia nos casos da água e energia. O potencial de crescimento deste país apoia-se grandemente na redução do seu nível de endividamento. Já a economia de São Tomé e Príncipe apresenta deficiências estruturais na sua base produtiva, nomeadamente em termos de segurança alimentar e de cobertura das importações. Trata-se de um país pobre em que a atividade económica tem por base a agricultura, a pesca, o turismo e a perspetiva de extração de petróleo. As oportunidades de investimento neste país estão maioritariamente associadas 12 Os setores da economia angolana que, em 2013, receberam maior investimento das empresas portuguesas foram as atividades financeiras e de seguros, o comércio por grosso e a retalho, a reparação de veículos automóveis e motociclos, a construção, educação, TI, logística alimentar e farmacêutica. No sentido inverso, empresas angolanas têm investimento na economia portuguesa, nomeadamente nos setores da banca, telecomunicações, energia e petróleos, construção civil, engenharia e arquitetura, media, saúde, ambiente, agroindústria e turismo. 11 O potencial de negócios em língua portuguesa ao abastecimento de água potável e saneamento básico, abastecimento elétrico, agricultura, pescas, turismo, construção civil e serviços. Um aspeto a considerar na avaliação das possibilidades de investimento por parte de qualquer potencial investidor é a análise da situação se segurança dos países de destino desse investimento, e no caso dos PALOP, considerando a sua inserção num continente historicamente marcado por longas guerras civis, elevadas taxas de criminalidade, golpes de Estado, etc., afigura-se ainda mais pertinente efetuar esta análise. Efetivamente o continente africano encontra-se entre as regiões do mundo com maiores índices de criminalidade (apenas atrás da América) – não considerando as mortes derivadas de conflitos armados. Adicionalmente, e considerando a avaliação efetuada pela ONG Transparência Internacional, é também neste continente que se encontram alguns dos regimes mais corruptos do mundo. A estes fatores de instabilidade acresce o crescente consumo de droga: tradicionalmente, o continente africano era uma plataforma no tráfico da droga provinda da América do Sul destinada à Europa e América do Norte, porém, com o crescimento das economias africanas e o aumento do poder de compra das suas populações, é crescente a produção e consumo de droga neste continente. Há também a considerar a questão do tráfico de armas neste continente, associado aos longos períodos de guerra civis que marcaram a sua história, entre outros fatores que afetam a segurança em África. Após uma breve análise de todos estes problemas securitários concluiu-se que os mesmos não têm afetado as relações económicas com os PALOP. A realidade securitária tem-se mantido relativamente estanque nas fronteiras nacionais (com exceção do tráfico de droga, que ocorre praticamente à escala mundial) e a integração lusófona não tem sido potenciadora do aumento da criminalidade, nem tem sido prejudicada por esta. 6. Cooperação Portugal-Brasil Se se considerar a perspetiva estratégica de capitalização da língua portuguesa numa ótica de cooperação entre empresas portuguesas e brasileiras, são vários os setores que podem ser ponderados, se se conjugarem as necessidades de investimento dos PALOP supra mencionadas com os setores onde aquelas duas economias têm experiência e capacidade de internacionalização suficientes. Esta cooperação em setores estratégicos, cuja exclusividade da gestão nacional (soberania) deixou de ser o fator mais preponderante, já ocorre nalguns setores, como: 12 O potencial de negócios em língua portuguesa Setor energético: as características do setor energético potenciam o aprofundamento das interdependências entre países, empresas e blocos económicos, na medida em que os recursos energéticos fósseis têm uma distribuição geográfica desigual, sendo eles recursos de importância primordial no sistema energético. Por outro lado, a sua exploração e desenvolvimento exige conhecimentos tecnológicos consideráveis, bem como investimentos avultados. Exploração petrolífera: a cooperação entre a Galp e a Petrobras já remonta a 1999, ano da entrada da Galp no negócio de Exploração & Produção no Brasil. Este país, sendo um dos mercados estratégicos da Galp (juntamente com Angola e Moçambique), é o de maiores expetativas de crescimento no curto prazo13. A Galp pode ser referenciada como exemplo de uma empresa que soube aproveitar as sinergias criadas pelas afinidades linguísticas com os países africanos de expressão portuguesa, alastrando a sua atividade para alguns países contíguos destes. No caso de Angola, por exemplo, a parceria remonta a 1982, e nalguns blocos existe exploração conjunta entre a Galp e a Petrobras, entre outras. Mapa das atividades da Galp nos PALOP e países contíguos14 13 As recentes denúncias de corrupção no seio da Petrobras (Operação Lava Jato) comprovam a necessidade de acompanhamento permanente dos parceiros de forma a não pôr em causa a sobrevivência das empresas, os seus planos de investimentos, alianças, estratégias. 14 Fonte: “A economia das línguas portuguesa e espanhola”, Galp energia, 2011. 13 O potencial de negócios em língua portuguesa Energia elétrica: neste domínio em que as necessidades dos países africanos de expressão portuguesa são prementes, a experiência de cooperação entre Portugal e o Brasil é relevante, nomeadamente devido à presença da EDP naquele país, com parcerias estabelecidas com diversas empresas do setor elétrico brasileiro. Ademais, a EDP tem anunciado os seus planos de concretização de investimentos no setor da geração em Angola e Moçambique (em parceria com a China Three Gorges). Telecomunicações: sobejamente mediatizada a cooperação entre Portugal e Brasil neste setor, desde a entrada da Portugal Telecom neste país, a triangulação com Angola entra agora numa fase decisiva, com a OPA feita pela empresária Isabel dos Santos à PT, depois de a Oi ter vendido a Africatel, a “holding” que agrupava os ativos da PT em África e onde está incluída a posição de 25% na operadora angolana Unitel. Setor financeiro: trata-se de um setor no qual o Brasil apresenta vantagens competitivas, na medida em que detém um dos mais modernos e avançados sistemas bancários do mundo. Sendo este um setor altamente propício à participação de capital estrangeiro, associado ao seu potencial de crescimento nos PALOP, afigura-se pertinente, pela banca portuguesa e brasileira, a análise conjunta das oportunidades que se apresentam nestes países. Refira-se, a título de exemplo das interligações potenciadas por este setor, a participação da Geocapital (sociedade de investimento luso-chinesa) no setor bancário de Portugal, Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Moçambique (onde se prepara para reentrar), Timor Leste e Angola (em parceria com a Sonangol), tendo o objetivo de entrar também no mercado brasileiro15, inserido numa estratégia de criação de uma plataforma bancária comum, sediada em Macau, espalhada por todos os países de língua portuguesa. Outro exemplo de triangulação é a entrada do banco angolano BIC no Brasil, através da aquisição do BPN Brasil, depois de ter adquirido o BPN Portugal e BPN Cabo Verde. 7. Inserção regional Considerando que o espaço da CPLP, devido à sua grande dispersão geográfica, se encontra representado em 4 continentes, a sua relevância geoestratégica é acrescida, para além de que o aumento da importância do hemisfério sul no cenário mundial também faz aumentar o seu valor geopolítico16. 15 País onde já opera desde a aquisição da VARILOG, em associação com a TAP, e da VEM. A África subsariana é encarada como a nova fronteira para os investidores globais, apesar dos riscos políticos e económicos, segundo um relatório do Banco Nacional do Qatar. Entre os seis países mais 16 14 O potencial de negócios em língua portuguesa Se se considerarem as organizações regionais de que os Estados-membros da CPLP fazem parte, esta relevância aumenta exponencialmente17. Portugal insere-se num dos espaços políticos e económicos de maior peso a nível mundial, a União Europeia; o Brasil insere-se no Mercosul, um bloco que é uma potência mundial em termos de produção de energia e de alimentos, fazendo igualmente parte dos BRICS, mecanismo formado pelas principais economias emergentes do mundo; os países africanos de expressão portuguesa (Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique) pertencem a uma das maiores uniões políticas, a União Africana, que engloba em si as maiores riquezas naturais do mundo; adicionalmente, cada um destes países ainda pertence a organizações económicas da sub-região a que pertencem: Cabo Verde e GuinéBissau à CEDEAO, São Tomé e Príncipe e Angola à CEEAC, Angola e Moçambique à SADC; Timor-Leste é membro observador da ASEAN (já solicitou a sua integração como membro de pleno direito), organização com considerável potencial de crescimento económico. Para se compreender o potencial destas triangulações, considerando apenas o crescimento do PIB previsto para estas regiões e a manutenção das atuais quotas das exportações portuguesas para estes mercados, estas poderão aumentar em cerca de US$ 2,8 mil milhões em 201718. promissores da região, em 2015, encontram-se Moçambique (país com o maior crescimento económico) e Angola. 17 Mapa adaptado de Wikipedia. 18 Segundo o estudo “Portugal: mercados económicos regionais e o relacionamento entre os países da CPLP”, elaborado pela Associação Industrial Portuguesa, com dados UNCTADSTAT e FMI, calculados pela PwC. 15 O potencial de negócios em língua portuguesa 8. Breve caraterização da CPLP Integrada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a CPLP foi estabelecida em julho de 1996, na I Conferência de Chefes de Estado e de Governo dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa. Após a independência de Timor-Leste em 2002, este tornou-se o oitavo Estado Membro da Comunidade. A Guiné Equatorial tornou-se membro em 2014. Senegal, Ilhas Maurício, Namíbia, Turquia, Geórgia e Japão são membros associados. Visando o aprofundamento das relações entre os seus membros, considerando a herança histórica e cultural comum, os seus objetivos gerais são: concertação político-diplomática (coordenação de posições a nível interno e externo); cooperação (aos mais diversos níveis como técnico, formação profissional, segurança alimentar, agricultura, saúde, fortalecimento institucional), vertente que assume um significado especial para os PALOP e para Timor Leste, devido às suas prementes necessidades internas; promoção e difusão da língua portuguesa. Entre os principais sucessos da CPLP destaca-se que da concertação políticodiplomática alcançada resultou em reconhecimento internacional (a CPLP assumiu o estatuto de observador da Assembleia Geral da ONU), a coordenação das atividades das instituições públicas e entidades privadas permitiu o incremento da cooperação entre os Estados-Membros e a promoção e defesa da língua portuguesa levou a que o português já fosse reconhecido como língua de trabalho em diversos organismos internacionais. A estimativa de circulação de pessoas entre os membros da CPLP, em 2010, foi de quase um milhão de pessoas, segundo dados do Banco Mundial, o que também é um indicador de sucesso, bem como as taxas de emigração dos nacionais dos países africanos, nomeadamente para Portugal. Porém, ao nível da cooperação empresarial e da realização de negócios no espaço da CPLP, ainda existe uma considerável margem de progresso. 9. Conclusões Quando comparada com outras organizações de identidade linguística, a CPLP apresenta uma particularidade que reside no facto de não ser dada relevância ao papel da antiga potência colonizadora, sendo que o seu crescimento e afirmação dependem, outrossim, do somatório das peculiaridades de cada um dos Estados-Membros. Naturalmente que devido à estabilidade política e económica e ao desenvolvimento das estruturas sociais, alguns países – neste caso, Portugal e Brasil – assumem obrigações estratégicas diferenciadas e acrescidas. Apesar do fator linguístico ser o elemento identificador da CPLP, na medida em que esteve na sua génese, e das indubitáveis sinergias criadas em seu torno, a 16 O potencial de negócios em língua portuguesa evolução esperada pelos seus Estados-Membros, máxime na esfera económica, a vantagem competitiva poderá residir no aproveitamento das semelhanças culturais e comportamentais, até porque, no mundo empresarial mundial, o domínio é, de facto, da língua inglesa. A CPLP é uma comunidade ainda em construção mas cuja relevância geoestratégica não é despicienda, sendo esta, em última análise, o seu grande objetivo: partindo de elementos comuns (língua, cultura e história) atingir um nível de pertinência geoestratégica mundial, a nível político, económico e cultural. Mas para que tal ocorra, será necessária uma maior integração, a qual depende da vontade política dos governantes. Para este aprofundamento da integração económica contribui igualmente, para além da vontade política, a atividade empresarial, sendo necessário, para o aumento dos fluxos de investimentos e trocas comerciais, um conhecimento aprofundado dos mercados lusófonos. O desígnio de expansão para novos mercados pode ser fatídico para as empresas que não estejam cientes dos constrangimentos regulatórios, das práticas de concorrência praticadas, do ambiente securitário, para além do ambiente micro e macroeconómico do espaço para onde se pretendem expandir. É este o trabalho prévio imprescindível para qualquer iniciativa de internacionalização – através do recurso a métodos de inteligência competitiva e de segurança empresarial, fundamentais para a criação de valor nas empresas – na medida em que permite uma correta análise do risco não financeiro dos investimentos, a deteção de ameaças competitivas, a caraterização das vulnerabilidades dos projetos, a implementação precoce ou preventiva de políticas de segurança para proteger o capital das empresas (humano, material ou intelectual), a perceção da lógica dos stakeholders, o acréscimo de vantagens competitivas e a descoberta de novas oportunidades. Esta são também as áreas de especialidade da XKI – Security Management Consulting e da SC&A – Strategic Management Consulting e a sua oferta de valor. Considera-se que o sucesso dos negócios em língua portuguesa poderá passar pelo incentivo à criação de parcerias entre as empresas dos diferentes países, aproveitando as sinergias que advêm do conhecimento de cada um dos mercados. Considerando que o espaço da CPLP é composto por países, economias e culturas conhecidas, apesar de bastante distintas, existe uma vantagem competitiva para esta atuação concertada. Naturalmente que esta familiaridade não significa que a realidade está dominada e que o sucesso é garantido, mas seguramente permitirá reduzir o risco não financeiro deste tipo de investimentos. 17