FORUM DE ENERGIA E AMBIENTE Desastres Naturais: entendimento e ação Lucí Hidalgo Nunes UNICAMP /IG /Departamento de Geografia - LECLIG UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - 02 de maio de 2006 - Monte Serrat, Santos - 10/03/1928 http://www.novomilenio.inf.br/santos/fotos016.ht – Problemas ambientais deflagrados por condicionantes climáticos parte da dinâmica natural do planeta. Como as pessoas vivem cada vez mais em áreas de risco proporção crescente da população mundial: vulnerável a esses eventos – Século XXI paradoxo entre: – o progresso tecnológico e o aumento de estudos voltados à compreensão do funcionamento dinâmico dos processos físicos X – insegurança face aos DNs: aumento da população maior exposição de pessoas e bens – DNs: padrões sócio-espaciais de seus registros – algumas áreas e alguns grupos sociais são mais recorrentemente afetados – mobilidade das pessoas no espaço altera os padrões de risco e dificulta o reconhecimento dos processos físicos que desencadeiam os problemas ambientais DNs: ameaça ao desenvolvimento real (processo econômico, político e social de crescimento cumulativo que se refletiria em proporções crescentes em todos os grupos sociais), pois as perdas infligidas por eles poderiam comprometer esforços de décadas (Ex: furacão Mitch,1998, em Honduras e Nicarágua). Esse quadro é ainda mais dramático se antes mesmo da recuperação ocorrer nova catástrofe. Medidas a serem tomadas: dependem da compreensão que se tem do problema, que historicamente apresentou mudanças de perspectiva: – Nos primórdios da civilização os DNs eram encarados como manifestações da ira divina (punição por condutas morais) e não como conseqüência das alterações humanas no ambiente nada a fazer – aos poucos: reconhecimento do papel dos condicionantes físicos na deflagração dos DNs medidas de caráter estrutural para o controle dos deflagradores dos desastres – primeiros controles: contra inundação (primeiras represas surgiram há mais de 4000 anos) – – até há poucas décadas: perspectiva de que as catástrofes seriam basicamente de natureza física, cujos controles se dariam a partir de medidas estruturais (obras de engenharia / previsão meteorológica...) mais recentemente: reconhecimento de que os DNs refletem complexas relações entre os componentes físicos e sociais necessidade de medidas não estruturais: – planejamento na ocupação do espaço territorial – estudo das formas de organização do grupo social antes,durante e após os DNs e como é a percepção de risco das populações – efeitos no meio físico e na organização social... – reconhecimento do papel de forçantes de natureza global - entre elas as mudanças climáticas - como condicionantes para o aumento da suscetibilidade dos lugares e vulnerabilidade dos grupos humanos – aquecimento global atmosfera mais instável maior freqüência e magnitude de episódios de tempestades severas processos de movimento de massa, inundações, ciclones tropicais e extra tropicais... – mudança de escala, com os problemas encarados além do local e as medidas, além do imediato Problema ambiental (“hazard”): termo genérico que se traduz em desestruturações no território (espaço socialmente construído) a partir de um distúrbio (por ex., de natureza atmosférica). Parâmetros físicos que os caracterizam: magnitude, freqüência, duração, extensão da área afetada, velocidade de avanço, padrão de dispersão, período de recorrência, eventuais ocorrências associadas (epidemias), ... Risco: probabilidade de registro do problema ambiental. Desastre Natural: engloba componentes físicos (deflagradores) e sociais; reflete o balanço entre as forças do sistema natural, contrárias às do sistema social. Suscetibilidade: reflete a fragilidade de um sistema natural; inversamente proporcional ao limiar de estabilidade de um local. Vulnerabilidade: (in)capacidade de um dado grupo social enfrentar os efeitos adversos dos problemas ambientais relacionado à exclusão social e processos políticos, econômicos e culturais. Sensitividade: habilidade dos indivíduos ou grupos sociais em enfrentar(em), recuperar(em) ou adaptar(em)-se a um estresse externo. Resiliência: nível de mudança que um sistema pode suportar sem alterar seu estado. – ¾ de todos os desastres naturais são deflagrados por condicionantes atmosféricos (OMM), e esse número poderá aumentar em uma atmosfera mais instável, a partir do aquecimento global – Brasil: 96% (Defesa Civil Nacional) MunichRe 2005 Natural Disaster Review DNs no mundo registrados pelo EM-DAT (1900-2005) Hidrometeorológicos Geológicos Biológicos DNs ao menos 10 vítimas fatais (Em-Dat ISDR - International Strategy for Disaster Reduction (UN), dados do Em-Dat (http://www.em-dat.net) Distribuição dos DNs por tipo e por origem (1991-2005) ISDR - International Strategy for Disaster Reduction (United Nations) Distribuição de DNs por tipo e país nas Américas (1975-2001) http://www.em-dat.net/, elaborado por Lucí H. Nunes (LECLIG/IG/UNICAMP) Desastres Naturais - Brasil (1948 - 2007) 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1991 1989 1987 1985 1983 1981 1979 1977 1974 1971 1969 1967 1965 1959 1956 1948 10 8 6 4 2 0 Desastres Naturais - Brasil (1948-2007) Queimadas 3 Infestação 1 Epidemia Terremoto 10 1 Seca 15 Vento 15 22 Escorregamento Inundação Temperatura 90 7 http://www.em-dat.net/, elaborado por Ricardo Araki (LECLIG/IG/UNICAMP) Vítimas fatais por DNs - Brasil (1948 a 2007) – Total: 7804 900 7000 6000 5000 Vítimas 800 700 4000 3000 2000 1000 600 0 Inudação Escorregamento Ventos Fortes 500 400 300 200 100 Inudação (Total 5826) Escorregamentos (Total 1640) Ventos Fortes (Total 338) http://www.em-dat.net/, elaborado por Ricardo Araki (LECLIG/IG/UNICAMP) 2007 2005 2003 2001 1999 1996 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1975 1973 1970 1967 1965 1959 1956 1948 0 – Custos mundiais dos DN crescentes – financeiros: – 1950-59: US$38 bilhões – 1990-99: US$652 bilhões (aumento de mais de 15 vezes!) – outros custos: difíceis de avaliar – perda da biodiversidade: US$1654trilhões – 1984-2003: mais de 4,1 bilhões de pessoas afetadas por DN Cifras e previsões de gastos globais (US$) devido aos DNs Ano Gastos (US$) 2002 55 bilhões 2003 60 bilhões 2004 75 bilhões 2005 (*)159 bilhões 2050 200 trilhões 2065 Furacão Katrina (EUA, 2005) Furacão Catarina (Brasil, 2004) 100% do PIB mundial (!?) 125 bilhões 1 bilhão Prejuízos estimados devido aos DNs (1900-2005) (EM-DAT) http://www.emdat.net/ Custos globais de eventos extremos MunichRe, 2004 Perdas econômicas por inundações catastróficas nas últimas 4 décadas http://www.grida.no/climate/vital/26.htm – aumento dos DNs devido às mudanças ambientais globais (com destaque para o aquecimento) surgimento /recrudescimento de aspectos de difícil convívio /solução: – categoria dos refugiados ambientais - população que não pode mais viver em seus lugares de origem (secas, degradação das terras, erosão, desertificação, desmatamento, alteração no padrão das precipitações e outros problemas ambientais associados à pressão populacional e estado agudo de pobreza) exacerbar xenofobia, alterar padrões de endemias ... – número atual estimado: 25 milhões de pessoas – projeção das Nações Unidas para a próxima década: mais de 50 milhões; em 2050: 150 milhões Referências bibliográficas ALBALA-BERTRAND, J.M. 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