Entrevista a Rodrigo de Souza Leão Linaldo por Linaldo Linaldo Guedes de Aquino, 35 anos. "Os zumbis também escutam blues e outros poemas" (A União/Textoarte Editora) é meu primeiro e único livro lançado até agora. Tenho dois inéditos. Um já praticamente concluído, intitulado "Intervalo Lírico", a ser publicado quando achar recursos para tal. Um segundo, ainda sem título definido, que estou trabalhando com calma para lançar daqui a dois ou três anos, caso consiga concluí-lo, e cuja temática é o sertão nordestino. Este último dentro de uma linguagem que, espero, ser o meu estilo definitivo. Comecei a escrever poesias por volta dos 15 anos, mas só vim publicar o primeiro poema, no Correio das Artes, por volta dos 22 anos. No início da década de 90, criei com um grupo de amigos (Fábio Albuquerque, Alexandre Palitot e Wilton Júnior) o POECODEBAR. Era um grupo de poesias coletivas que se apresentava em bares e circuitos alternativos daqui de João Pessoa. Chegamos a nos apresentar no Festival de Artes de São Cristovão (Sergipe) e no Congresso de Teoria e Crítica Literária de Campina Grande. Lançamos um manifesto poético, cujo teor de algumas frases causou raiva entre integrantes da Academia Paraibana de Poesia ("os guardanapos que utilizamos têm mais utilidade do que a Academia Paraibana de Poesia). Criou-se então uma polêmica na imprensa local que durou por cerca de três meses. Por razões comuns a todo grupo de poesia, o POECODEBAR acabou. Um casou, o outro foi embora, um terceiro foi pro Exército e um quarto foi surfar. Os demais não deram seguimento ao ofício poético, a exceção da minha poesia. Por essa época, já trabalhava em jornal e passei a militar fortemente no movimento cultural do estado. Em jornal, trabalhei em todos os daqui de João Pessoa: O Norte, Correio da Paraíba, O Momento e A União. Trabalhei também em emissoras de rádio e televisão. Apesar da atividade na imprensa (meu ganha pão), nunca abandonei o engajamento cultural. Organizei (juntamente com Cláudio e Yó Limeira) as coletâneas de contos e poesias lançadas por ocasião do cinquentenário do Correio das Artes (1999). Lancei a plaquete intitulada "Singular e Plural na Poesia de Augusto dos Anjos" (A União Editora), participei em exposições em outdoor promovida pela prefeitura municipal, integrei outros livros lançados aqui com textos puramente jornalísticos. Tenho meu nome incluído na última edição do Dicionário de Literatura Brasileira, organizado por Afrânio Coutinho. Fiz palestra na Academia Paraibana de Letras sobre Augusto dos Anjos. Tenho poemas incluídos no site da Blocos. E atualmente estou na edição do Correio das Artes, órgão que circula semanalmente. O lançamento de meu primeiro livro foi mais uma necessidade de me sentir, de fato, poeta. Tenho um segundo pronto, ainda rescaldo do primeiro, e um terceiro em andamento, para ser trabalhado com calma. Não sou lento em termos de produção poética, mas não tenho pressa para publicar. Não gosto de publicar por publicar. A não ser que acredite ter algo novo a dizer. Ou pelo menos diferente. (Transcrito do Balacobaco ano VI - número 70 - Rio de Janeiro, 15 de junho 2003.) 1. Como é ser o editor de “O Correio das Artes”? - Diria que é fascinante, embora nem sempre fácil. Pelo menos até agora, tenho tido total liberdade para selecionar os textos que são publicados. O que não é fácil, numa terra onde todo mundo se acha poeta e/ou escritor. Mas tenho tentado manter um equilíbrio acima de tudo jornalístico nos textos publicados, afinal, antes de qualquer coisa sou jornalista. Se não unir, mas pelo menos abrir espaço para todas as tendências da literatura contemporânea, desde as academias até os poetas marginais (no sentido de estarem à margem do mercado editorial), o que nem sempre é compreendido por algumas pessoas já com o nome consolidado. Acima de tudo, não procurar ter a verdade absoluta sobre o que deve ou não ser publicado. Mas, repito, não deixa de ser fascinante estar no papel de porta-voz da literatura paraibana. 2. Você é surrealista? O que a sua escrita tem de surrealista? - Não sou surrealista ou qualquer outro ista. Essas definições ficam para os críticos que gostam de procurar rótulos nos textos literários. No sentido literal preconizado por André Breton minha escrita talvez não tenha nada de surrealista. Mas se formos levar ao pé da letra o que Octavio Paz disse sobre o surrealismo (uma “velha dicotomia entre vida e literatura, transformando vida em poesia mediante o recurso ao sonho, ao ditado do inconsciente”) pode se achar alguns fragmentos surrealistas em alguns de meus textos poéticos, como, por exemplo, em Fantasmas (passos na mente/ registram/ mais que o relógio// invadem o subconsciente// - como o mendigo esfomeado/ na porta de uma casa pobre.”) 3. Vício é um poema concreto. Qual a importância do concretismo no Brasil? - O Concretismo teve sua importância, como acontece com todo movimento literário. Deixou belíssimos filhos, como Augusto de Campos (um de nossos maiores poetas vivo hoje). Sou contra, no entanto, os radicalismos de ambos os lados quando se trata do movimento concretista. Nada daquela coisa unilateral de ame ou deixe. Podemos amá-lo sem ser apaixonado pelas idéias concretistas. Afinal, entendo que a liberdade na poesia é fundamental para que o autor possa ter autonomia em seus textos. 4. Por que você diz que é uma xerox não autenticada de si mesmo? - Porque, de fato, parece que estamos sempre repetindo, se não aos outros, mas a nós mesmos. E uma repetição, como a própria palavra já diz, sem o mínimo de originalidade. 5. O espelho é a sua alma? - O espelho da alma, principalmente. Ele sempre nos mostra aquilo que não queremos ver. Os espelhos humanos mostram a face que estamos acostumados a respirar. Mas esse espelho da alma me angustia também. 6. Por que o título Os zumbis também escutam blues? - A sugestão foi de um amigo-poeta, o Fábio Albuquerque. Creio que casou bem com os poemas que estão no livro. O zumbi, na verdade, atravessa todo o livro, insone, buscando razões para as sem-razões da inconsciência humana. E só não entra em desespero porque é salvo pelo blues, pelo ritmo poético da arte. 7. Quem fez o projeto gráfico do livro? - Fernando Moura, um amigo jornalista, que tem uma editora aqui em João Pessoa. Sugeri a inclusão de algumas coisas, como as fotos de João Lobo abrindo cada capítulo. Mas ele teve total liberdade para criar. O resultado final, creio, ficou interessante, mas não repetiria o mesmo projeto num próximo livro. 8. No poema “PAIXÃO”, por que não bebeu o poema? - Receio de ser devorado pelo tempo existente na poesia. (rs) (Trechos transcritos do Balacobaco ano VI - número 70 - Rio de Janeiro, 15 de junho 2003, entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão)