CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO/TENSÕES O objetivo primário de um curso de mecânica dos materiais é o desenvolvimento das relações entre as cargas aplicadas a um corpo não-rígido e as resultantes solicitações internas e deformações provocadas no corpo. Sempre, desde o tempo de Galileo Galilei (1564-1642), os cientistas têm estudado assiduamente o problema da capacidade de carga de elementos de estruturas e de máquinas, e a análise matemática das solicitações internas e deformações produzidas por cargas aplicadas. Antes das suas investigações sobre o comportamento dos corpos sólidos sob a ação das cargas, os construtores seguiam exemplos precedentes ou regras empíricas. Galileo foi o primeiro a tentar explicar o comportamento de alguns elementos estruturais submetidos a cargas segundo uma base racional. A experiência e a observação dos cientistas e engenheiros nos últimos três séculos constituem a herança do engenheiro de hoje, provendo o conhecimento fundamental para o desenvolvimento de teorias e técnicas que permitem ao engenheiro moderno projetar, com competência e segurança, estruturas e máquinas de tamanho e complexidade sem precedentes. A resistência dos materiais ou mecânica dos materiais forma a base para a solução de três tipos gerais de problemas, como se segue: a) Dada uma certa função a executar (a transposição de um rio por meio de uma ponte, o transporte de instrumentos científicos para Marte num veículo espacial, a conversão do potencial hidráulico em energia elétrica), de que materiais deveria ser construída a máquina ou a estrutura, e quais deveriam ser as dimensões e proporções dos vários elementos ? Esta é a tarefa do projetista e, obviamente, não há solução única para qualquer problema dado. b) Dado um projeto completo, é ele adequado ? Isto é, perfaz a função economicamente e sem deformações excessivas ? verificação. 1 Este é o problema da c) Dada uma estrutura ou máquina, qual é a sua capacidade de carga ? A estrutura pode ter sido projetada para alguma finalidade distinta desta na qual será usada agora. É ela adequada para o uso proposto ? Por exemplo, um edifício pode ter sido projetado para escritórios, porém mais tarde descobre-se ser preferível seu uso como depósito. Neste caso, qual é o máximo carregamento que o piso suporta com segurança ? Este é o problema de avaliação. Como a abordagem completa destes problemas é muito extensa, restringimos ao estudo de elementos isolados e estruturas de máquinas muito simples. Para a consideração da estrutura ou máquina por inteiro, pesquisas bibliográficas proverão o conhecimento essencial para a análise completa dos três problemas descritos. Os princípios e métodos usados para encontrar o objetivo estabelecido no início deste capítulo dependem bastante, como pré-requisitos, de conhecimentos de matemática e de mecânica, suplementados ainda com conhecimentos adicionais de teoria da elasticidade e de propriedades da engenharia de materiais. As equações de equilíbrio da estática são usadas extensivamente, principalmente nos diagramas de corpo livre; nominalmente, a maioria dos corpos livres é isolada seccionando-se um elemento em vez da remoção de vínculos ou alguma outra ligação. Os esforços transmitidos pela seção cortada são solicitações internas. As intensidades destas solicitações internas (força por unidade de área) são chamadas tensões. Será freqüentemente constatado que as equações de equilíbrio (ou movimento) não são suficientes para determinar todas as solicitações ou reações desconhecidas atuando num corpo. Em tais casos é necessário considerar a geometria (variação em tamanho ou forma) do corpo após a aplicação das cargas. A deformação por unidade de comprimento em qualquer direção ou dimensão é chamada deformação linear específica. Em alguns casos, a máxima deformação permitida, e não a máxima tensão admissível, limitará o carregamento máximo que um elemento pode suportar. Algum conhecimento de física e propriedades mecânicas dos materiais é requerido com o fim de se criar um projeto, avaliar um 2 projeto dado, ou mesmo escrever a correta relação entre uma carga aplicada e a deformação resultante em um elemento carregado. 1.1) ESTRUTURAS / OBJETIVOS DA RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Estrutura é a parte resistente de uma construção. Uma estrutura se compõe de uma ou mais peças, ligadas entre si e ao meio exterior, de modo a formar um conjunto estável, isto é, um conjunto capaz de receber solicitações externas, absorvê-las internamente e transmiti-las até seus apoios, onde elas encontrarão seu sistema de forças equilibrante (Sussekind, J. Carlos). Os tipos de peças estruturais são: i) blocos (blocos de fundação, barragens, etc.) ii) placas (planas – lajes) e cascas (curvas – abóbodas) iii) barras (vigas, pilares). Neste curso, somente as barras serão analisadas. Uma barra fica caracterizada por um eixo e uma seção transversal. O eixo (reto, poligonal ou curvo) é o lugar geométrico dos baricentros das seções transversais. A seção transversal é normal ao eixo (constante ou lentamente variável). Fibra é o sólido gerado pelo deslocamento paralelo ao eixo de um elemento de área da seção transversal. Camada é qualquer conjunto de fibras. As solicitações externas (forças internas ativas, cargas externas, carregamento, cargas) são: i) peso próprio, sobrecargas, pressão do vento, empuxo da água, cargas móveis, cargas decorrentes da variação da temperatura e do movimento dos apoios, etc. ii) pré-dimensionamento e avaliação das cargas de acordo com as NB (Normas Brasileiras), organizadas pela ABNT (Assoc. Bras. Normas Técnicas), que constituem a legislação da engenharia. 3 iii) classificações das cargas: cargas fixas ou móveis, cargas permanentes ou acidentais, cargas concentradas ou distribuídas e cargas estáticas ou dinâmicas. 1.1.a) Condições de Estabilidade de uma Peça Estrutural a) Equilíbrio Estático: sistema de forças exteriores (cargas e reações) em equilíbrio, isto é, resultante e momento resultante nulos. A peça deve ter apoios (vínculos) suficientes. i) peça hipostática: apoios insuficientes (existem graus de liberdade). Equilíbrio (instável) sob certas condições (somente carga F1 , no exemplo). Não há equilíbrio para certos carregamentos (carga F2 no exemplo); ii) peça isostática: apoios estritamente necessários para impedir os graus de liberdade. Equilíbrio estável para qualquer carregamento (reações de apoio calculadas usando exclusivamente as equações de equilíbrio da Estática). 4 iii) peça hiperestática: excesso de apoios. Equilíbrio estável para qualquer carregamento. Para calcular as reações de apoio é necessário usar equações de compatibilidade de deformações, além das equações de equilíbrio da Estática. b) Resistência: capacidade de transmitir as forças internamente (molécula por molécula) dos pontos de aplicação aos apoios. Necessário analisar as forças e os esforços internos (o que é feito na Estática) e também as tensões internas (o que é feito na Resistência dos Materiais). c) Rigidez: capacidade de não deformar excessivamente, comprometeria o funcionamento ou aspecto da peça. o que Necessário avaliar as deformações (o que é feito na Resistência dos Materiais). Em resumo: Estática: cálculo das reações e esforços internos; Resistência dos Materiais: cálculo de tensões internas e deformações. 1.1.b) Cálculo de uma Estrutura (bem simplificada) Primeira fase: projeto arquitetônico, escolha do sistema estrutural, pré-dimen sionamento e avaliação das cargas. Segunda fase: cálculo das reações de apoio e dos esforços internos, pressupondo haver resistência e rigidez (Estática). Terceira fase: dimensionamento das peças para que fiquem dotadas de resis tência e rigidez (Resistência dos Materiais), com segurança e economia. 5 1.1.c) Os Problemas mais comuns da Resistência dos Materiais Conhecidas as propriedades mecânicas dos materiais, especificadas uma tensão admissível (sempre) e uma deformação admissível (eventualmente), temos: • Dimensionamento: conhecidos os esforços internos, calcular as dimensões da peça. • Avaliação: conhecidas as dimensões da peça, calcular as cargas admissíveis. • Verificação (da estabilidade): conhecidas os esforços internos e as dimensões da peça, verificar se ela é estável. 1.1.d) Outras Considerações A Resistência dos Materiais é desenvolvida a partir de análises teóricas e de resultados experimentais: • Análises teóricas do comportamento mecânico das peças em modelos idealizados que devem ter razoável correlação com a realidade. • Testes (ensaios) experimentais em laboratório que visam determinar as propriedades de resistência e rigidez dos materiais, usando corpos de prova adequados. O desenvolvimento da Resistência dos Materiais é feito a partir de postulados fundamentais seguintes: i) Continuidade física: a matéria apresenta distribuição contínua (estrutura compacta, o que permite usar os recursos do Cálculo); ii) Desagregação (equilíbrio das partes): se um corpo está em equilíbrio, também está em equilíbrio qualquer elemento seu, isolado e submetido às ligações com seus vizinhos (ver diagrama de corpo livre); iii) Estado Natural: não existem tensões internas e deformações na ausência de forças aplicadas; 6 iv) Pequenas deformações: as deformações devem ser bastante pequenas, comparadas com as dimensões da peça; v) Conservação da seção transversal: as seções transversais permanecem planas, normais ao eixo, com as formas primitivas; vi) Lei de Hooke: dentro de certos limites, as deformações são proporcionais aos esforços; vii) Princípio da superposição de efeitos: os efeitos causados por um sistema de forças internas são a soma dos efeitos produzidos por cada força, agindo independente e isoladamente das outras; RA = RA1 + RA2 RB = RB1 + RB2 HB = HB1 + HB2 viii) Princípio de Saint-Venant: Sistemas de forças equivalentes causam idênticos efeitos em pontos suficientemente afastados da região de aplicação dos mesmos; ix) Homogeneidade: o material é homogêneo, isto é, manifesta as mesmas propriedades em todos os pontos; x) Isotropia: o material é isótropo, isto é, manifesta a mesma propriedade em todas as direções. Além dos postulados fundamentais, a fim de tornar equacionáveis problemas de muitas variáveis, fazemos certas idealizações e adotamos Hipóteses Simplificadoras (HS) e Simplificações de Cálculo (SC): • Idealizações: os postulados acima, a idéia de carga concentrada, etc. 7 • HS: desprezar a ação do vento ou o peso próprio (em certos casos) ou os efeitos da variação da temperatura, etc. • SC: valores aproximados das grandezas, desprezar infinitésimos de 2ª ordem (ε + ε ≅ ε), efetuar certas equivalências de infinitésimos (tg α= sen α 2 = α (rd) para α pequeno), conservação da geometria da peça e dos pontos de aplicação das forças externas, etc. A fim de compensar erros inevitáveis ou decorrentes da adoção dos pressupostos, idealizações, HS e SC (erros estes supostos pequenos, mas não quantificados), é prevista na NB a adoção de coeficientes de segurança (n > 1). Consiste em multiplicar as cargas por n ou dividir por n os parâmetros que expressam as propriedades dos materiais. 1.2) BARICENTRO E MOMENTO DE INÉRCIA DE SUPERFÍCIES PLANAS 1.2.1) Momento Estático de uma Superfície Antes de apresentarmos o conceito de momento estático, vamos apresentar o conceito de momento de uma força em relação a um ponto. O momento de uma força em relação a um ponto é dado pelo produto vetorial de um vetor deslocamento por um vetor força: M=r ∧ F (1) Onde: r F : Vetor posição, ver figura a seguir; : Vetor força, ver figura a seguir. 8 Representação dos vetores posição e força no plano XY. A equação (1) pode ser reescrita, como o produto vetorial entre 2 vetores é igual ao produto dos seus módulos, vezes o seno do ângulo formado entre eles. M = r ∧ F = r × F × sen(α ) (2) Quando α= 90º , temos: M=rxF O momento da área em relação a um ponto ao a um eixo será: Momento de uma área em relação a um sistema de eixos. 9 Em relação ao eixo X, temos: dMX = y × dA (3) Em relação ao eixo Y, temos: dMY = x × dA (4) Os momentos estáticos da área da figura em relação aos eixos x e y, serão dados pelas integrações das expressões (3) e (4), respectivamente: MX = ∫ dMX = ∫ y.dA (5) A MY = ∫ dMY = ∫ x.dA (6) A Exemplo 1: Determinar o momento estático de um retângulo em relação aos eixos X e Y: Momento estático em relação ao eixo X: dA = b . dy h MX = ∫0 y y b dy = b ∫0 y dy = b 2 h 2 h 0 h 2 b h2 = b − 0 = 2 2 10 Analogamente, o momento estático em relação ao eixo Y será dado por: dA = h . dx b MY = ∫0 x x h dx = h∫0 x dx = h 2 b 2 b 0 b 2 h b2 = h − 0 = 2 2 1.2.2) Centro de Gravidade de uma Superfície Plana O centro de gravidade ou baricentro de uma figura plana ou uma superfície é o ponto por onde passam todas as retas, do plano da superfície, em relação às quais é nulo o momento estático. Portanto, as coordenadas do centro de gravidade ou baricentro de uma figura plana ou superfície são dadas pelas coordenadas: x= y= MY 1 = A A A MX 1 = A A A ∫ x dA (7) ∫ y dA (8) Nota: Para algumas figuras, é obvio a posição do centro de gravidade, quando a figura é simétrica, coincide com o centro geométrico ou centróide da figura. 11 Exemplo 2: Determinar o centro de gravidade do retângulo do exemplo 1. Empregando as expressões 7 e 8 acima, temos: A=b.h b 2h MY 2 =b x= = 2 A bh MX bh2 h y= = = A bh 2 1.2.3) Momento de Inércia de uma Superfície É dado pelo produto, da área do elemento, pelo quadrado da distância ao eixo considerado. Veja a figura a seguir. Sistema de eixos passando pelo centro de gravidade da figura plana ou superfície. Os momentos de inércia da área da figura plana ou superfície em relação aos eixos x e y que passam pelo seu centro de gravidade, serão dados pelas expressões (7) e (8), respectivamente: 12 JX cg = ∫ y 2dA (7) JY cg = ∫ x 2dA (8) Exemplo 3: Determinar o momento de inércia de um retângulo em relação aos eixos X e Y, que passam pelo seu centro de gravidade: Momento de inércia em relação ao eixo X: JX cg y3 = ∫ y dA = ∫−h / 2 y b dy = b ∫−h / 2 y dy = b 3 2 h/ 2 2 h/ 2 h/ 2 2 −h / 2 JX cg 3 3 b h h b h3 h3 b h3 h3 = − − = − − = + 3 2 2 3 8 8 3 8 8 JX cg b 2h3 bh3 = = 3 8 12 Momento de inércia em relação ao eixo Y: 13 JY cg x3 = ∫ x dA = ∫−h / 2 x h dx = h∫−b / 2 x dx = h 3 2 h/ 2 2 b/2 b/2 2 −b / 2 JY cg 3 3 h b b h b 3 b 3 h b 3 b 3 = − − = − − = + 3 2 2 3 8 8 3 8 8 JY cg h 2b 3 b 3h = = 3 8 12 1.2.4) Momento de Inércia em Relação a um Sistema de Eixos Qualquer Para a determinação dos momentos de inércia em relação a um sistema de eixos qualquer (veja figura a seguir), devemos usar o teorema dos eixos paralelos, também, conhecido como Teorema de Steiner: 14 Momento de Inércia em Relação a um Sistema de Eixo Qualquer. Momento de Inércia em Relação ao Eixo X: JX = ∫ (d + yI ) 2dA = ∫ [d2 + 2dyI + ( yI ) 2 ]dA JX = ∫ d2dA + ∫ 2dyIdA + ∫ ( yI ) 2 dA JX = d2 ∫ dA + 2d∫ yIdA + ∫ ( yI ) 2 dA Na expressão acima temos: • O 1º termo é igual a distância (d) entre os eixos multiplicada pela área da figura (A); • O 2º termo é igual a zero, visto que o termo na integral é igual ao momento estático da figura em relação a um eixo que passa pelo seu centro de gravidade; • O 3º termo é igual ao momento de inércia em relação a um eixo que pelo centro de gravidade da figura (JXcg). 15 Então podemos escrever a expressão para os momentos de inércia em relação ao eixo X qualquer: JX = d2 A + Jx cg Exemplo: Determinar o momento de inércia em relação aos eixos X e Y de um retângulo de dimensões 2 x 4 cm, conforme está mostrado na figura a seguir: Dimensões do retângulo: b = 2 cm ; h = 4 cm Área do retângulo: A = b x h = 2 x 4 = 8 cm2 Momento de inércia em relação Xcg: bh3 2cm × (4cm) = = = 10.667 cm 4 12 12 3 Jx cg Momento de inércia em relação Ycg: b 3h (2cm) × 4cm = = = 2.667 cm 4 12 12 3 Jy cg Momento de inércia em relação X, usando o teorema dos eixos paralelos: 16 JX = d2 A + Jx cg J X = (2cm ) × 8cm 2 + 10.667cm 4 2 J X = 42.667cm 4 Momento de inércia em relação Y, usando o teorema dos eixos paralelos: JY = d2 A + Jy cg J Y = (1cm ) × 8cm 2 + 2.667 cm 4 2 J Y = 10.667cm 4 1.2.5) Centro de Gravidade e Momento de Inércia das Principais Figuras Planas Na tabela 1 a seguir estão apresentadas as informações, centro de gravidade e momento de inércia as principais figuras planas: Figuras Posição do Centro de Gravidade XCG YCG b 2 h 2 Momentos de Inércia em Relação aos Eixos X e Y e XCG e YCG. JX/ JXCG JY/ JYCG bh3 JX = 3 JX CG = 17 bh3 12 b 3h JY = 3 JY CG = b 3h 12 b 3 JX = h 3 bh3 12 JX CG bh3 = 36 JXCG πD 4 = 64 R R ou ou D 2 D 2 R 4R 4 3π πD 4 JX = 128 4 πD 4 JX = 256 ou D 2 4 4R 3π 4R 3π JY = b 3h 12 JY CG b 3h = 36 JYCG πD4 = 64 JYCG πD4 = 128 πD 4 JY = 256 Para a determinação do Centro de Gravidade e Momento de Inércia de figuras planas quaisquer, tente, se for possível, decompô-la em figuras planas simples, tais como retângulos, triângulos, círculos etc, cujo centro de gravidade e momentos de inércia são conhecidos, devemos fazê-lo. 18 1.3) EQUILÍBRIO DE UM PONTO MATERIAL E DE UM CORPO RÍGIDO Antes de apresentarmos as condições de equilíbrio de um ponto material e de um corpo rígido, vamos recordar o conceito de força. Força é uma grandeza vetorial, conseqüentemente, possui módulo, direção e sentido. Exemplo: Como especificar ou definir uma força ( F ) Módulo : 10000 kgf Direção : Vertical Sentido : Norte ou para cima. Quando temos uma força, podemos decompô-la em um sistema cartesiano, do seguinte modo: Fx = F cos(θ θ) FY = Fsen(θ θ) Decomposição de uma Força. Quando temos mais de uma força atuando em um ponto material, dizemos que temos um sistema de força, e, neste caso, a decomposição será: Fx = F1 cos(θ) + F 2 cos(β ) FY = F1sen(θ) + F 2 sen(β) 19 Sistema de forças. Para que um ponto material esteja em equilíbrio, devemos ter a resultante ( R ) do sistema de forças igual a zero. ∑ Fx = 0 ∑ FY = 0 R=0 Exemplo: Verificar se o sistema de forças, mostrado na figura a seguir, está em equilíbrio. Sistema de forças atuante em ponto material. Direção x: F1 cos(45) − F2 cos(60) = 10606,60 cos(45) − 15000 cos(60) = 0 Direção y: 20 F1sen(45) + F2 sen(60) − F3 = 10606,60sen(45) + 15000sen(60) − 20490,38 = 0 Para que um corpo rígido esteja em equilíbrio, devemos ter a resultante ( R ) e o momento resultante do sistema de forças igual a zero. R=0 MZ = 0 ou Mo = 0 ∑ Fx = 0 (Somatório das forças na horizontal igual a zero) ∑ FY = 0 (Somatório das forças na vertical igual a zero) Momento das forças em relação ao um ponto qualquer O no plano XY deverá ser igual a zero Exemplo: Uma barra está submetida ao sistema de forças mostrado na figura a seguir. Verificar se a barra está em equilíbrio. Sistema de forças atuante em corpo rígido. As forças F1 e F2 serão decompostas nas direções x e y: F1x = F1 cos 45 = 10000 cos 45 = 7071,07 kgf F1y = F1sen45 = 10000sen45 = 7071,07 kgf F2x = F2 cos 45 = 10000 cos 45 = 7071,07 kgf F2 y = F2sen45 = 10000sen45 = 7071,07 kgf Na direção x, temos: 21 F1x − F2x = 7071,07 − 7071,07 = 0 , não haverá translação na direção x Na direção y, temos: F1y − F2y = 7071,07 − 7071,07 = 0 , não haverá translação na direção y Então, podemos afirmar que a barra está em equilíbrio? Resp.: Não, conforme já mencionado para um corpo devemos ter resultante igual a zero e momento resultante, também, igual a zero. Vamos verificar se o momento resultante é igual a zero: O momento das componentes F1x e F2x em relação ao ponto O será igual a zero, visto que as linhas de ação das componentes passam pelo ponto O. O momento das componentes F1y e F2y em relação ao ponto O, será igual a: MO = F1y x 5 + F2y x 5 = 7071,07 x 5 + 7071,07 x 5 = 70710 kgf.m, então a barra irá sofrer rotação em torno do eixo z. Conseqüentemente, podemos afirmar que a barra não está em equilíbrio. Podemos, então, afirmar que a barra necessita está apoiada no solo ou em outra estrutura para que esteja em equilíbrio. Vamos, no item a seguir conhecer os tipos de apoios. 1.4) ESTABILIDADE DE UMA ESTRUTURA Em uma estrutura estável, a cada carregamento correspondem determinadas reações de apoio (o mesmo que forças externas reativas), cujo cálculo é estudado na Estática. Uma estrutura é estável se cada uma de suas peças for estável. Portanto, a análise de uma estrutura se faz pela análise de cada peça estrutural. 22 Pórtico => carga = peso próprio + F1 + F2 , reações = RC , RD Viga AB => carga = peso próprio + F1 + F2 , reações = RA , RB Pilar CA => carga = peso próprio + RA , reação = RC Pilar DB => carga = peso próprio + RB , reação = RD 1.4.1) Tipos de Apoios A principal função de um apoio é fornecer as condições de equilíbrio de uma estrutura, através do aparecimento de forças nos apoios, denominadas de reações, que equilibram o sistema de forças atuante na estrutura. Podemos ter: • Apoio de 1º gênero ou charriot Este tipo de apoio impedirá uma translação, ou seja, haverá um a reação. Se o apoio é colocado na direção vertical haverá uma reação no apoio na vertical (RV) para equilibrar o sistema de forças atuante na estrutura , ver figura a seguir. 23 Apoio de 1º Gênero impedindo translação vertical. Se o apoio é colocado na direção horizontal haverá uma reação no apoio na horizontal (RH) para equilibrar o sistema de forças atuante na estrutura , ver figura a seguir. Apoio de 1º Gênero impedindo translação horizontal. • Apoio de 2º gênero ou rótula Este tipo de apoio impedirá duas translações, ou seja, haverá 2 reações (uma horizontal-RH e uma vertical- RV). A figura a seguir, mostra um apoio de 2º gênero. Apoio de 2º Gênero. 24 • Apoio de 3º gênero ou engaste Este tipo de apoio impedirá duas translações e uma rotação, ou seja, haverá 3 reações (sendo 2 forças, uma horizontal-RH e a outra vertical- RV, e um momento no engaste- MENG). A figura a seguir, mostra um apoio de 2º gênero. Apoio de 2º Gênero. 1.4.2) Tipos de Carregamentos Podemos ter atuando em um elemento estrutural os seguintes tipos de carregamento ou esforços: • Carga Concentrada Quando há uma força aplicada em um ponto do elemento estrutural. Ver figura a seguir. Será representada por P ou F e terá dimensão de força. Dependendo do sistema de unidades usado será expressa em: Sistema Técnico: kgf- kilograma-força ou tf- tonelada-força. Sistema Internacional: N- Newton ou kN- kilo-Newton. Sistema Inglês: lb- libra ou kips –kilo-libra 25 Carga Concentrada Atuando em uma Barra. Nota: As cargas concentradas ocorrem na prática, quando temos um elemento estrutural apoiado em outro elemento estrutural, como por exemplo o revestimento de perfuração apoiado na mesa rotativa durante a sua descida em uma plataforma de petróleo no mar. • Carga Uniformemente Distribuída Quando há uma força distribuída ao longo do comprimento de um elemento estrutural. Ver figura a seguir. Será representada por p ou q e terá dimensão de força por unidade de comprimento. Dependendo do sistema de unidades usado será expressa em: Sistema Técnico: kgf/m- kilograma-força por metro ou tf/m- tonelada-força por metro. Sistema Internacional: N/m- Newton por metro ou kN/m- kilo-Newton por metro. Sistema Inglês: lb/ft- libra por pé ou kips/ft –kilo-libra por pé Carga Uniformemente Distribuída Atuando em uma Barra. Nota: As cargas uniformemente distribuídas, também denominadas de peso unitário, em geral estão associadas ao peso próprio dos elementos estruturais. A força resultante de uma carga uniformemente distribuída será pelo produto da carga (p ou q) pelo seu comprimento ou vão. 1.5) ESFORÇOS SIMPLES 26 Com o conhecimento da função dos apoios (equilibrar o sistema de forças atuante em uma estrutura) e como determinar suas reações, definiremos o que são esforços simples ou esforços seccionais. Os esforços simples são os esforços internos que aparecem nas estruturas devido ao carregamento externo, podemos ter: 1) Esforço normal (N); 2) Esforço cortante (Q); 3) Momento fletor (M); 4) Momento torçor (T). A figura a seguir mostra os esforços simples ou esforços internos. Barra submetida a um sistema de forças e em equilíbrio. Lado esquerdo da barra • Lado direito da barra. Esforço Normal É o esforço simples paralelo ao eixo da barra. Como visto anteriormente, se o esforço normal é de tração será positivo (+) e de compressão será negativo (-). 27 • Esforço Cortante É o esforço simples perpendicular ao eixo da barra. A convenção de sinais para o esforço cortante está mostrada na figura a seguir. Convenção de Sinais para Esforço Cortante. • Momento Fletor É o momento resultante das forças de um dos lados da barra em relação a seção S. A convenção de sinais para o momento fletor está mostrada na figura a seguir. 28 (+) Tração nas fibras inferiores e compressão fibras superiores. (-) Tração nas fibras superiores e compressão fibras inferiores. Exemplo 1: Determinar os esforços simples nas seções S1 e S2 da viga a seguir: a) Cálculo das Reações nos Apoios: Usando as equações de equilíbrio, temos; ∑ Fx = 0 ∴ R H − 10000 = 0 a R H = 10000 kgf a ∑ FY = 0 ∴ R V + R V − 15000 − 15000 = 0 a b R V + R V = 30000 a (1) b Temos 1 equação com 2 incógnitas, portanto precisamos de mais 1 equação: 29 ∑ MA = 0 ∴ −6R Vb + 15000 × 2 + 15000 × 4 = 0 (Adotaremos o sentido horário como positivo). Resolvendo a equação anterior, obtemos: RVb= 15000 kgf Substituindo o valor de RVb na equação (1), obtemos RVa: RVa= 30000 – 15000= 15000 kgf b) Cálculo dos Esforços Simples na Seção S1 Como mostrado anteriormente, se cortarmos a viga na seção S1 podemos analisar os esforços na seção S1 considerando a parte da esquerda ou da direita. Portanto, devemos escolher a parte que nos dá menos trabalho, no caso devemos escolher a parte da direita e olharmos as forças que estão à esquerda. Temos: Esforço Normal: N = - 10000 kgf Esforço Cortante Q = + 15000 kgf Momento Fletor M = + 15000 x 1 = 15000 kgf.m c) Cálculo dos Esforços Simples na Seção S2 Esforço Normal: N = - 10000 kgf Esforço Cortante Q = + 15000 – 15000 = 0 Momento Fletor 30 M = + 15000 x 3 – 15000 x 1 = 45000 – 15000 = 30000 kgf.m 1.6) LINHAS DE ESTADO São gráficos, denominadas de diagramas, que representam a variação dos esforços simples ao longo do eixo da viga. Algumas regras que irão facilitar o traçados dos diagramas estão descritas a seguir. Regras básicas para o traçado de diagramas: a) Calcular as reações nos apoios das vigas; b) Marcar em escala os valores dos esforços solicitantes sempre perpendicular ao eixo da viga; c) O lado de marcação dos esforços será: • Momento fletor, será sempre desenhado do lado das fibras tracionadas. • Esforços cortantes, positivos para cima e negativos para baixo. • Esforços normais, positivos para cima e negativos para baixo. d) Em um trecho descarregado o diagrama de momentos fletores é uma linha reta, em geral inclinada ao eixo da viga e o esforço cortante é uma linha paralela ao eixo da peça. e) O diagrama dos esforços cortantes é sempre limitado por uma equação cujo grau é superior em uma unidade ao grau da linha de carga no trecho. Já o diagrama dos momentos fletores é sempre limitado por uma equação cujo grau é superior em uma unidade ao grau da equação do diagrama dos esforços cortantes. 31 f) Sob uma carga concentrada o diagrama dos momentos fletores apresenta um ponto anguloso (ponto de inflexão) e o diagrama dos esforços cortantes sofre uma descontinuidade igual à carga concentrada. Exemplo 1: Viga bi-apoiada com carga concentrada a) Cálculo das Reações nos Apoios: Usando as equações de equilíbrio, temos; ∑ Fx = 0 ∴ RH = 0 ∑ FY = 0 ∴ RV + RV − P = 0 a a b RV + RV = P a (1) b Temos 1 equação com 2 incógnitas, portanto precisamos de mais 1 equação: ∑ MA = 0 ∴ −R Vb × L + P × a = 0 (Adotaremos o sentido horário como positivo). Resolvendo a equação anterior, obtemos: R Vb = P× a L Substituindo o valor de RVb na equação (1), obtemos RVa: 32 R Va = P − P × a P × L − P × a P(L − a ) P × b = = = L L L L b) Traçado dos diagramas Esforços Simples na Seção S: Quando x < a : N=0 Q=+ Pb , forças à esquerda, o esforço cortante na seção S está para cima. L M=+ Pb • x , momento fletor na seção S está tracionando as fibras inferiores. L 33 Quando x = a : N=0 Q antes de P = + Pb , forças à esquerda, o esforço cortante na seção S está para L cima. Q depois de P = + Pb Pb − PL − P(L − b) − Pa −P = = −= , forças à esquerda, o L L L L esforço cortante na seção S está para baixo. Reparar no diagrama do esforço cortante a seguir, que há uma descontinuidade, igual a P, no ponto C. M=+ Pb • a , momento fletor na seção S está tracionando as fibras inferiores. L Quando x > a : N=0 Q= Pb Pa , forças à direita, o esforço cortante na seção S está para −P = − L L cima. M=+ Pb • x − P(x − a) , momento fletor na seção S está tracionando as fibras L inferiores. Diagramas: 34 Exemplo 2: Viga bi-apoiada com carga uniformemente distribuída a) Cálculo das Reações nos Apoios: 35 Usando as equações de equilíbrio, temos; ∑ Fx = 0 ∴ RH = 0 ∑ FY = 0 ∴ RV + RV − q×L = 0 a a b R V + R V = qL a (1) b Temos 1 equação com 2 incógnitas, portanto precisamos de mais 1 equação: ∑ MA = 0 ∴ −R Vb × L + qL × L =0 2 (Adotaremos o sentido horário como positivo). Resolvendo a equação anterior, obtemos: R Vb = qL 2 Substituindo o valor de RVb na equação (1), obtemos RVa: R Va = qL − qL qL = 2 2 b) Traçado dos diagramas Esforços Simples na Seção S: 36 Para qualquer valor de x, temos: N=0 Q= qL − qx . 2 M= qLx qx 2 − . 2 2 Quando x = 0 N=0 Q= qL 2 M=0 Quando x = L/2 N=0 Q= qL qL − =0 2 2 qL(L ) q(L ) 2 qL2 2 − 2 = M= 2 2 8 Quando x = L N=0 Q=− qL 2 M=0 Diagramas: 37 1.7) MÉTODO AS SEÇÕES/ESFORÇOS E TENSÕES INTERNAS 1.7.1) O Método das Seções v v v v Seja uma barra em equilíbrio sob a ação das forças Fi ( F1 , F2 , F3 ,... ), cargas ou reações. 38 Para determinar os esforços e tensões em uma seção S, genérica, consideramos a barra desmembrada pela seção S em duas partes, E e D, cada v uma delas em equilíbrio sob a ação das forças Fi e de uma infinidade de forças moleculares em S. 1.7.2) Esforços Internos Seja o sistema de forças moleculares em S reduzido ao baricentro da seção. 39 v Em E: resultante R e momento resultante r Em D: resultante R' e momento resultante v M r M' As direções e sentidos destes esforços são quaisquer no espaço. Analisando o equilíbrio das partes E e D conclui-se: r Sistema de forças Fi em E equivalem a r r ( R' , M ' ) equilibram r Sistema de forças Fi em D equivalem a r r (R, M ) r r r r r r R ' = - R e M ' = - M . O par de forças R ' e R e o par de r r momentos opostos M ' e M são os esforços internos em S. Um elemento de Portanto, volume da barra de seção S e comprimento elementar dx está em equilíbrio sob a ação dos esforços internos. 40 Para melhor analisar os efeitos dos esforços internos no elemento de volume, eles serão decompostos segundo os seguintes referenciais: r r para decomposição de R e M r r para decomposição de R' e M ' eixos x normal a S e eixos y e z no plano de S r r r r r r r r R = R x + R y + R z e M = M x + M y + M z as componentes são os esforços simples, que podem ser expressos por seus valores algébricos. r Rx é a soma dos valores algébricos das componentes segundo o eixo x r r r das forças Fi à direita de S ( R y e R z têm definições semelhantes). r Mx é a soma dos valores algébricos dos momentos segundo o eixo x das r r r forças Fi à direita de S ( M y e M z têm definições semelhantes). r r Adotando o referencial oposto para decomposição de R ' e M ' , os valores algébricos serão os mesmos, bastando, nas definições acima, trocar direita por esquerda. Assim, cada esforço simples fica definido por um só valor algébrico e pode ser calculado com as forças situadas à direita ou à esquerda da seção. 1.7.3) Classificação dos Esforços Simples RX = N = esforço normal (tração, se positivo e compressão, se negativo), produz o alongamento ou o encurtamento da dimensão dx do sólido elementar. 41 Ry = Qy e Rz = Qz = esforços cortantes, produzem o deslizamento de uma r r r face do sólido em relação à outra. O esforço cortante resultante será Q = Q y + Q z Mx = Mt = T = momento torçor, produz a rotação em torno do eixo x de uma face em relação à outra. My e Mz = momentos fletores, produzem a rotação em torno do eixo y ou z r r r de uma face em relação à outra. O momento fletor resultante será M = M y + M z Importante notar que os momentos fletores determinam alterações da dimensão dx do sólido elementar. Na figura abaixo, o momento fletor Mz positivo. 1.7.4) Tensões Internas 42 Sejam P um ponto genérico de S, ∆A um elemento de área em torno de P e r ∆ F a força elementar em ∆A (direção e sentido quaisquer no espaço). A tensão média em ∆A é r r ∆F tm = ∆A r r r ∆F dF = e a tensão no ponto P é t = lim ∆A→0 . A ∆A dA r r r r t = tx + ty + tz . decomposição segundo o referencial indicado vale As tensões passam a ser conhecidas pelos seus valores algébricos: tx = σx = tensão normal, sendo tração positiva e compressão negativa ty = τxy e tz = τxz = tensões tangenciais ou tensões de cisalhamento (de r corte). A resultante, no plano da seção, é r r τ = τ xy + τ xz . Observações: a) σx é a tensão normal na seção normal ao eixo x, direção do eixo x τxy é a tensão tangencial na seção normal ao eixo x, direção do eixo y τxz é a tensão tangencial na seção normal ao eixo x, direção do eixo z. Quando não houver possibilidade de confusão, os índices podem ser abandonados (σ , τ) e às vezes a tensão é expressa pelo módulo e uma indicação do sentido. b) Tensão é força por unidade de área. Seu dimensional é F.L-2. Unidades usuais: sistema técnico kgf/cm2, kgf/mm2, tf/cm2, tf/mm2; sistema internacional (SI): 1 Pa = 1 N/m2 1 kPa = 103 Pa; 1 MPa = 106 Pa; 1 GPa = 109 Pa sendo 1 kgf/cm2 = 0,0981 MPa e 1 MPa = 10,2 kgf/cm2 c) Os valores das tensões normal e tangencial em um ponto P variam com a direção da seção que passa por P, caracterizando um estado de tensões em torno do ponto P. 43 1.7.5) Relações entre Esforços e Tensões r r r Sejam os vetores unitários i , j e k segundo os eixos x, y e z. r r dF = t .dA r r r r t = σ x .i + τ xy . j + τ xz .k , e r r r r dF = (σ x .dA).i + (τ xy .dA). j + (τ xz .dA).k . algébricos, são: dFx = σ x .dA , Se então r Os componentes de dF , em valores dFy = τ xy .dA e dFz = τ xz .dA Sejam y e z as coordenadas do ponto P, no plano yGz. De acordo com os conhecimentos de Mecânica, conclui-se que: R x = N = ∫ dFx = ∫ σ x .dA A N = ∫ σ x .dA A A Qy = ∫ τ xy .dA R y = Q y = ∫ dFy = ∫ τ xy .dA A A A Rz = Qz = ∫ dFz = ∫ τ zy .dA A Qz = ∫ τ xz .dA A A M x = ∫ ( z.τ xy − y.τ xz ).dA M x = T = ∫ (dFy .z − dFz . y ) A A 44 M y = −∫ z.σ x .dA M y = ∫ ( −dFx .z ) A A M z = ∫ y.σ x .dA M y = ∫ ( dFx . y ) A A As propriedades acima permitem calcular as tensões se forem conhecidos os esforços e não houver problemas nas soluções das integrais. Por exemplo, se σx for constante em S, σx = σ (constante), então N = ∫ σ .dA = σ ∫ dA = σ . A e, A então σ = A N . A As propriedades acima deixam claro que o esforço normal e os momentos fletores produzem tensões normais, enquanto que os esforços cortantes e o momento torçor produzem tensões tangenciais. Exercício 1) Em uma seção quadrada de lado a não existem tensões tangenciais e as tensões normais variam de acordo com o diagrama espacial dado. Calcule os esforços simples na seção. AA’BB’CD é o “sólido de tensões” e A’B’CD é a “superfície de tensões”. (respostas: N = σ0.a2/2, Mz = σ0.a3/12, demais esforços nulos) 45 Equação da reta: x = Ay + B x = 0 -> y = -a/2 Então: x = σ0 -> y = a/2 e 2.B −a x = A +B =0 ∴ A = a 2 a A. + B = σ 0 ∴ 2.B . a + B = σ 0 2 a 2 e a equação é: x= σ0 a .y + ∴B = σ0 2 e A= σ0 a σ0 2 σ0 σ0 . y + .a.dy ∫ a 2 −a / 2 a/2 O esforço normal será: ∴ N = σ 0. y 2 2 a/2 −a / 2 N= a + σ 0 . .y 2 a/2 −a / 2 = σ 0 a4 + a 4 1 σ .a 2 a − a a + .a.σ 0 − . − = σ 0 . .a = 0 2 4 4 2 2 2 2 2 σ0 σ0 y . . y + .a.dy ∫ a 2 −a / 2 a/2 Mz = , com área dA = a.dy 46 a/2 Mz = ∫ −a / 2 σ0 σ 0 y3 a . y .dy + ∫ σ 0 . . y.dy = . a 2 a 3 −a / 2 a/2 2 a/2 −a / 2 a y2 + σ 0. . 2 2 a/2 −a / 2 σ 0 a3 a 3 a a 2 + a 2 σ 0 a 3 σ 0 .a 2 = 2. . = − − + σ 0 . − ∴Mz = a 24 24 4 4 4 a 24 12 Exercício2) Em uma seção retangular b x h não existem tensões tangenciais e as tensões normais variam de acordo com o sólido de tensões dado. Calcule os esforços simples na seção. (resposta: Mz = σ0.b.h2/6, demais esforços nulos) 47 Equação: x= 2.σ 0 .y h e, então 2.σ 0 2.σ 0 .b y 2 N= ∫ y.b.dy = . h h 2 −h / 2 h/2 h/2 −h / 2 2.σ 0 .b h 2 + h 2 = − = 0 h 8 8 2.σ 0 .b h / 2 2 2.σ 0 .b y 3 2.σ 0 . y M z = ∫ y. y .dy = . .b.dy = h − h∫/ 2 h 3 h −h / 2 h/2 h/2 −h / 2 2.σ 0 .b h3 − h3 = = − h 24 24 2.σ 0 .b h 3 σ 0 .b.h 2 = = h 12 6 Exercício 3) Idem ao exercício 2, para a figura abaixo. respostas: N = σ0.b.h/3, Mz = σ0.b.h2/9, demais esforços nulos 48 equação: x= σ0 4 . y + 1 3 h Obs: Adote o seguinte referencial 1.8) TENSÕES E DEFORMAÇÕES NA TRAÇÃO / COMPRESSÃO SIMPLES (barras sujeitas apenas a esforços normais) Seja uma barra prismática AB de comprimento L e área A de seção transversal (no estado neutro), sujeita à carga axial P, de tração ou compressão. 49 Seja a seção genérica S, de abscissa x (0 ≤ x ≤ L). Então N = P ou N = -P, constante de A até B. 1.8.1) Tensões Normais As treliças são elementos estruturais cujas barras estão sujeitas somente ao esforço normal constante. Admite-se, então, que uma seção esteja sob tensão normal constante: σx = σ = N/A = P/A (se compressão, - P/A). Conseqüentemente, a tensão é também constante de A até B (vide figura abaixo). Sólido de tensões, vista longitudinal e variação de A até B para a tração. i) Se o corpo está sujeito somente ao esforço normal, a tensão é constante nesta seção. Se a tensão normal não for constante na seção, então o quociente N/A representa a tensão normal média na seção. 50 ii) Se o esforço normal Nx e a área da seção transversal Ax variam com a abcissa x, então a tensão normal em cada seção é σx = Nx /Ax (constante em S, mas variável com x). iii) Uma distribuição uniforme de tensões só é possível se a linha de ação das forças aplicadas P passar pelo baricentro da seção considerada. 1.8.2) Tensões de Cisalhamento Quando as forças P são aplicadas a uma barra AB na direção perpendicular a esta, ocorre um tipo de tensão muito diferente. Se passarmos uma seção transversal pelo ponto C entre os pontos de aplicação das forças, concluímos que devem existir forças internas na seção transversal (vide figura) e que a resultante deve se igualar a P. Esta resultante, de intensidade P, chama-se força cortante na seção. Ao dividirmos a força cortante P pela área da seção transversal A, obtemos a tensão média de cisalhamento da seção. indicada pela letra τ (tau). A tensão de cisalhamento ou de corte, é Podemos escrever, então: τ = d é o diâmetro nominal do parafuso ou rebite. 51 P , A sendo A = π .d 2 4 , Este valor é a média das tensões de cisalhamento. Ao contrário das tensões normais, a distribuição das tensões de cisalhamento na seção não pode ser assumida como uniforme. A tensão de cisalhamento ocorre normalmente em parafusos, rebites e pinos que ligam diversas partes das máquinas e estruturas. Os rebites e parafusos provocam tensões de esmagamento nas barras que estão ligando, ao longo da superfície de contato. Essas tensões, também chamadas de tensões de apoio, são calculadas, tomando como referência o plano diametral dos parafusos: σa = P t.d , onde t é a espessura da chapa e d é o diâmetro nominal do parafuso ou rebite. Exercício 1) Consideremos 2 chapas A e B ligadas pelo rebite CD. Ao aplicarmos uma força de tração P, aparecerão tensões na seção do rebite correspondente ao plano EE’. Se as chapas forem de 5/8” e o conector de 7/8”, calcular a capacidade da ligação para o aço A24 e utilizando o rebite A502 tipo 1. Dados referentes ao rebite A502 tipo 1 (tabelado): • Limite admissível para tensão de corte tipo apoio: τ = 10,5 kgf/mm2; • Limite de pressão de apoio: σa = 28 kgf/mm2; • Limite de tração: σt = 14 kgf/mm2; Rebite 7/8”: d = 22,2 mm e área = π.d2/4 = 388 mm2; 52 Chapa 5/8”: t = 15,8 mm Capacidade do rebite por apoio: 15,8 mm x 22,2 mm x 28 kgf/mm2 = 9921 kgf Esforço admissível de corte: 388 mm2 x 10,5 kgf/mm2 = 4074 kgf. Então, a capacidade de corte é determinante. A capacidade admissível da ligação será 4 rebites x 4064 kgf = 16256 kgf. Exercício 2) Idem do exercício 1 para a chapa abaixo: Neste caso, o rebite está trabalhando com seção dupla e então: 1 P 2 A τ= . (corte), 1 P 2 t1 .d σ1 = . (apoio) Se t1 = 1/2" = 12,7 mm , t2 = 5/8" = 15,8 mm e e σ2 = P t 2 .d (apoio) d = 7/8” = 22,2 mm, teremos: Capacidade admissível de apoio: Chapa 1: 2. t1 .d. σ1 = 2 x 12,7 mm x 22,2 mm x 28 kgf/mm2 = 15788 kgf; 53 Chapa 2: t2 .d. σ2 = 15,8 mm x 22,2 mm x 28 kgf/mm2 = 9821,3 kgf; Sendo a área do parafuso igual a 388 mm2 , a capacidade admissível de corte é P = 2 x 388 x 10,5 kgf/mm2 = 8148 kgf; Neste exemplo, a capacidade de corte também é determinante. A capacidade de carga da ligação abaixo é 3 x 8148 kgf = 24444 kgf 1.8.3) Deformações Longitudinais (alongamento para tração e encurtamento para compressão) Seja um elemento de volume genérico de seção S e comprimento elementar dx: estado neutro barra tracionada Deformação longitudinal total da barra: ∆L = δ (dimensional: L); Deformação longitudinal do elemento de volume: du (dimensional: L); Deformação longitudinal específica (deformação por unidade de comprimen to): ε= du (adimensional); dx 54 Então: du = ε .dx e L L 0 0 ∆L = ∫ du = ∫ ε x .dx , onde εx varia com x, de um modo geral. No caso particular do item 1.3, εx = ε é constante de A até B, portanto, ∆L = ε.L e, então ε = ∆L/L. Analisamos, por enquanto, somente as deformações longitudinais. Mais tarde, analisaremos as deformações transversais. As deformações podem ser elásticas (regridem se a barra for descarregada) ou plásticas (permanentes). 1.8.4) O Teste ou ensaio de Tração O objetivo é determinar as propriedades dos materiais ou verificar a qualidade dos mesmos. Na barra tracionada do item 1.3, façamos a carga P aumentar lenta e gradualmente (carga estática). Medindo em cada instante do ensaio a carga P e a deformação total ∆L,obtém-se o diagrama P x ∆L (carga x deformação total) e, a partir deste, o diagrama σ x ε (tensão por deformação específica), onde σ = P/A e ε = ∆L/L. Os aspectos mais comuns do diagrama σ x ε são os seguintes: 55 (a) material frágil (se rompem com pequenas deformações): ε < 5 % em R (no instante da ruptura). Exemplos: concreto, vidro, ferro fundido; (b) e (c) materiais dúteis (suportam grandes deformações antes de chegar a ruptura): ε >> 5 % em R. Exemplos: aço, alumínio; (b) material dútil sem escoamento definido. Exemplo: aços especiais; (c) material dútil com patamar definido (trecho AB = patamar de escoamento, em que há aumento de deformação com a tensão aproximadamente constante). Exemplo: aço comum. A relação que envolve tensão (σ) e deformação específica (ε) é conhecida como Lei de Hooke : σ =E * ε onde : E é o Módulo de elasticidade longitudinal ou Módulo de Young, com o mesmo dimensional e mesmas unidades práticas de tensão, sendo uma constante de cada material, obtido através de ensaios, como mostrado no item a seguir. Se o esforço normal é P ou –P e a tensão normal é deformação total será ∆L = ε .L = σL E = σx =σ = P , a A PL EA 1.8.5) Detalhes do Diagrama σ x ε para o aço comum (diagrama convencional com aspecto simplificado) 56 0 – 1: fase elástica proporcional (diagrama linear), obedecendo a Lei de Hooke: σ/ε = const = tg α = E σ/ε = E, então, ε = σ/E. σ1 = limite de proporcionalidade onde as deformações são elásticas. 1 – 2: fase elástica não proporcional (reduzida). O material já não obedece à Lei de Hooke e as deformações, a partir daí, serão plásticas, ou seja, mesmo que sejam aliviadas as cargas, o material não irá retornar a sua forma inicial. (para fins práticos, consideramos 0 – 2 como fase elástica) 2 – 3: fase plástica pré-escoamento (reduzida ou inexistente); 3 – 4: patamar de escoamento (tensão de escoamento σe = σy = fy ). O material se deforma com pequenos acréscimos de tensões. 4 – 5: encruamento ou endurecimento. O ponto 5 corresponde a tensão máxima do ensaio ou limite de resistência do material (σR); (para fins práticos, consideramos 2 – 5 como fase plástica) 5 – 6: fase de ruptura ou estricção, em que a diminuição da carga P e uma diminuição mais acentuada da área A (em uma determinada seção), chamada fuso de estricção. 57 Em 5, a tensão de ruptura vale σR = fst (max). Em 6, há a ruptura definitiva. Este diagrama tensão x deformação é típico de ligas metálicas de baixa dureza, como aço com baixo teor de carbono (aço doce) e o alumínio. Material sem Patamar de Escoamento Definido: Diagrama σ x ε Assim como no diagrama anterior, este diagrama tensão x deformação é linear até o ponto B, também denominado limite de proporcionalidade, ou seja, neste trecho o material obedece a Lei de Hooke e as deformações são elásticas; Não há patamar definido, como no caso anterior, a tensão de escoamento (σy) é definida por uma reta correspondente a 2‰ paralela ao segmento linear do diagrama; Este diagrama tensão x deformação é típico de materiais com alta dureza, como aço com alto teor de carbono , ferro fundido etc. Ambos os diagramas apresentados, são chamados de convencionais, ou seja, ao longo de todo o ensaio as tensões são obtidas com a área inicial do corpo 58 de prova. Caso fossem obtidos com a área real do corpo de prova, os diagramas teriam as seguintes formas: O dado mais importante obtido da curva tensão x deformação é o módulo de elasticidade longitudinal do material (E), que é igual a inclinação da reta OB. • O diagrama convencional admite σ = P/A constante, porém o diagrama real σ’ = P/A’, em que a área é variável, diminuindo na tração, por exemplo. • Descarga e Recarga: na fase elástica, o retorno é pelo mesmo diagrama da carga. Na fase plástica, o retorno se dá por uma paralela a 0 – 1 (vide 59 figura abaixo), significando que a deformação total é parcialmente elástica e parcialmente plástica: εt = εe + εp . No início do escoamento: εe = 0,2 % aço comum (classe A) aço especial (classe B) O limite de escoamento convencional para o aço especial (tipo B) é a tensão para a qual a deformação permanente é εp = 0,2 %. 1.8.7) Outros Tipos de Diagramas para Diferentes Materiais (a) (b) (c) (a) material perfeitamente elástico (b) material perfeitamente plástico 60 (d) (c) material elástico perfeitamente plástico (d) material elástico-plástico 1.8.6) Deformação Transversal Na Figura a seguir, se tivermos σz = σy = 0 e somente σx ≠ 0, podemos imaginar que as deformações específicas εy e εz são também iguais a zero. Isto, entretanto, não ocorre. Em todos os materiais, o alongamento produzido por uma força P na direção dessa força é acompanhado por uma contração em qualquer direção transversal. Estado múltiplo de tensões. Assumimos que o material em estudo é homogêneo, isto é, consideramos que suas várias propriedades mecânicas são independentes do ponto considerado. Vamos, agora, assumir que o material é isotrópico, isto é, consideramos que suas várias propriedades independentes da direção considerada. mecânicas são também Com esta suposição adicional, a deformação específica deve ser a mesma para qualquer direção transversal: εx = εy. Este valor é chamado de deformação específica transversal. O valor absoluto da relação entre a deformação específica transversal e a deformação específica 61 longitudinal é chamado coeficiente de Poisson (ν), relacionando, então, as deformações específicas entre as direções x, y e z. O coeficiente de Poisson é definido como: ν = deformação espe. transv._ deformação específica e ε y = −νε x ε z = −νε x Nas fórmulas acima o sinal de menos, representa fisicamente o que ocorre com a deformação transversal, ou seja se há um alongamento na direção x, nas direções y e z haverá um encurtamento dos lados da seção transversal. • A deformação transversal é dada como se segue: a = dimensão transversal original; ∆a = deformação transversal total correspondente (tração: ∆a < 0 – diminui a espessura e compressão: ∆a > 0); εa= ∆a/a = deformação específica. εa é proporcional a εx, isto é, εa = - ν. εx, onde ν é o coeficiente de Poisson, dês crito anteriormente e constante para cada material. (εy = - ν. εx e εz = - ν. εx). seção transversal 62 Exemplo: Uma barra de material homogêneo e isotrópico tem 500 mm de comprimento e 16 mm de diâmetro. Sob a ação axial de 12 kN, o seu comprimento aumenta de 300 µ m e seu diâmetro se reduz de 2,4 µm. Determinar o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material. A área da seção transversal da barra é A = π.r2 = π.( 8 x 10-3 m)2 = 201 x 10-6 m2 Consideremos o eixo x coincidente com o eixo da barra para escrevermos então (vide figura): P 12 x10 3 N σx = = = 59,7 MPa A 201x10 −6 m 2 δx 300µm = 600 x10 −6 L 500mm δ − 2,4 µm εy = y = = −150 x10 −6 d 16mm εx = = Da Lei de Hooke, σx = E. εx, obtemos: E= σ x 59,7 MPa = = 99,5GPa ε x 600 x10 −6 63 ε y − 150 x10 −6 = = 0,25 e, então: ν = − εx 600 x10 −6 1.8.7) Estados Múltiplos de Carregamento Nosso estudo até agora limitou-se à análise das barras delgadas submetidas a cargas axiais, isto é, dirigidas ao longo de um eixo somente. Considerando esse eixo como o eixo x e chamando a força interna de P, calculamos as componentes da tensão, que são σx = P/A, σy = 0 e σz = 0. Passamos a considerar elementos estruturais sujeitos à ação de carregamentos que atuam nas direções dos três eixos coordenados, produzindo tensões normais σx , σy e σz , todas diferentes de zero. Temos, então, um estado múltiplo de carregamento ou um carregamento multiaxial. Devemos notar que este não é o caso geral de tensões, pois não estão incluídas as tensões de cisalhamento entre aquelas indicadas na figura acima. 64 Vamos representar um cubo elementar de um certo material, adotando para suas dimensões arestas de comprimento unitário. Sob a ação do carregamento multiaxial, o cubo elementar se deforma, tornando-se um paralelepípedo-retângulo cujos lados têm comprimentos, respectivamente 1 + εx, 1 + εy e 1 + εz. εx , εy e εz são as deformações específicas nas direções dos três eixos coordenados (vide figura). Devido às deformações que aparecem em elementos vizinhos do mesmo material, o cubo elementar pode também sofrer uma translação, que no momento não interessa considerar, uma vez que estudamos apenas a deformação do próprio elemento, e não um deslocamento qualquer que ele possa ter como corpo rígido. Queremos escrever, agora, as componentes de deformação εx, εy e εz em função das componentes de tensão σx, σy e σz . εx = σ x νσ y νσ z − − E E E εy = − νσ x σ y νσ z + − E E E εz = − νσ x νσ y σ z − + E E E As equações acima exprimem a generalização da Lei de Hooke para carregamento multiaxial. Os resultados são válidos para o caso de tensões que não excedam o limite de proporcionalidade do material e deformações pequenas. Um valor positivo de deformação específica significa expansão na direção respectiva e um valor negativo indica contração. Exemplo: A figura abaixo mostra um bloco de aço submetido à ação da pressão uniforme em todas as faces. Mediu-se a variação do comprimento AB, que foi de 24 µm. Determinar: a) a variação de comprimento das outras duas 65 arestas; b) a pressão aplicada p às faces do bloco. Adotar E = 200 Gpa e ν = 0,29. a) alteração no comprimento de outras arestas: Substituindo σx = σy = σz = -p nas equações que generalizam a Lei de Hooke, verificamos que as três componentes de deformação específica têm um valor comum εx = εy = εz = − p (1 − 2ν ) E Como εx = δx/AB = - 24 µm/80 mm = - 300 µ, vamos ter εx = εy = εz = - 300 µ, donde segue que δy = εy(BC) = (-300 µ)(40 mm) = -12 µm δz = εz(BD) = (-300 µ)(60 mm) = -18 µm b) Pressão: da equação do item (a), escrevemos: p=− E.ε x (200GPa )(. − 300µ ) = 142,9 MPa =− 1 − 2ν 1 − 0,58 1.8.8) Ensaio de Compressão 66 O corpo de prova deve ter dimensões adequadas, para se evitar a flambagem. No caso do aço, o comportamento é o mesmo do ensaio de tração, exceto a estricção. Em valor absoluto, o mesmo diagrama σ x ε e os mesmos parâmetros (E, ν, σe , σR). 1.8.9) Tensões Admissíveis ou Tensões de Projeto ( σ ou σadm) As tensões admissíveis são obtidas através da tensão de escoamento (σy) ou da tensão ruptura (σR) do material divididas por um coeficiente de segurança. Sendo este fator de segurança um número maior que 1 (um), usado para corrigir incertezas nas forças atuantes e nas resistências dos materiais. Então, σ = σy n1 para materiais dúteis e σ = σy n2 para materiais frágeis, sendo que n2 > n1 > n, sendo estes coeficientes de segurança com valores menores do que 1, onde σy é a tensão de escoamento. Também adota-se coeficiente de segurança para tensão de ruptura σ = σR n3 . Temos, então, que Coeficiente de Segurança = C.S. = __Carga de ruptura___ Carga admissível ou, se a correspondência linear for entre a carga aplicada e a tensão provocada pela carga, o coeficiente de segurança pode ser expresso por: Coeficiente de Segurança = C.S. = __Tensão de ruptura___ Tensão admissível Não sendo indicado o contrário, a tensão admissível será menor do que o limite de proporcionalidade e as deformações serão elásticas proporcionais. 67 Exemplo: A viga rígida BCD está ligada por parafusos à barra de controle em B, ao cilindro hidráulico em C e ao suporte fixo em D (veja figura abaixo). Os diâmetros dos parafusos usados são dB = dD = 8 mm, dC = 12 mm. Cada parafuso está sujeito a corte duplo, e é constituído de aço com tensão de cisalhamento última τU = 300 MPa. A barra de controle AB, com 9 mm de diâmetro, é feita de aço com tensão última de tração σU = 450 MPa. Determinar a maior força que o cilindro hidráulico pode aplicar, de baixo para cima, no ponto C, adotando para toda a estrutura o coeficiente de segurança 3,0. Solução: O coeficiente de segurança deve ser maior ou igual a 3,0 para cada um dos três parafusos, como também para a barra de controle. Vamos considerar separadamente cada um dos quatro casos. Corpo Livre: Viga BCD. Primeiramente determinamos a força em C em função da força em B e em função da força em D. 68 ΣMD = 0: -B. (350 mm ) + C.(200 mm) = 0 ∴ C = 1,75 B ΣMB = 0: D. (350 mm ) - C.(150 mm) = 0 ∴ C = 2,33 D • Barra de controle: Para o coeficiente de segurança 3,0 vamos ter σ adm = σU C.S . = 450MPa = 150MPa 3,0 A força admissível na barra de controle é B = σadm.(A) = (150 MPa).π/4.(9 mm)2 = 9,54 kN Como C = 1,75 B, então, o maior valor possível em C será C = 1,75.(9,54 kN) ∴ C = 16,70 kN • Parafuso no ponto B: τadm = τU/C.S. = (300 MPa)/3 = 100 MPa Como o parafuso está sujeito a corte duplo, a força admissível em B é B = τadm.(2A) = (100 MPa).2.π/4.(8 mm)2 = 10,05 kN Como C = 1,75 B, então C = 1,75.(10,05 kN) • Parafuso no ponto D: ∴ C = 17,59 kN Este parafuso é igual ao do ponto B e a força admissível é D = B = 10,05 kN. Como C = 2,33 D, então C = 2,33.(10,05 kN) • ∴ C = 23,4 kN Parafuso no ponto C: Novamente temos τadm = 100 Mpa e escrevemos C = τadm (2A) = (100 Mpa).2. π/4.(12 mm)2 = 22,6 kN 69 Resumo: Obtivemos separadamente para cada caso quatro valores admissíveis para a força em C. Devemos escolher o menor desses valores, de modo a satisfazer os quatro casos, ou seja, C = 16,70 kN. 1.8.10) Tensões Térmicas Um corpo submetido a uma variação de temperatura irá sofrer um alongamento, se houver um acréscimo de temperatura (∆T positivo) ou um encurtamento, se houver um decréscimo de temperatura (∆T negativo) dado pela expressão: ∆L = αL∆T Onde: ∆L : Alongamento ou encurtamento sofrido pelo corpo; α : Coeficiente de dilatação linear; L : Comprimento inicial do corpo; ∆T : Variação de temperatura, dado por TF - TI . Caso a condição de vinculação do corpo impeça a deformação devida à variação de temperatura, aparecerá tensão axial dada pela expressão: σ = Eα∆T 1.8.11) Sistema Estaticamente Indeterminado São aqueles em que o número de equações disponíveis é menor que o número de incógnitas. Para a solução de tais problemas empregaremos além das equações da estática as obtidas na teoria da Resistência dos Materiais. O exemplo a seguir irá esclarecer: 70 O elemento estrutural cilíndrico é constituído por um núcleo de alumínio com módulo de elasticidade igual a Eal e seção transversal igual a Aal, e um tubo externo de aço, com módulo de elasticidade igual a Eaço e seção transversal igual a Aaço. Este elemento estrutural suporta uma carga P de compressão, ver Figura abaixo. Quais as parcelas da carga P que serão absorvidas pelo aço e pelo alumínio, respectivamente. Elemento estrutural constituído de Aço e Alumínio. Solução: Da estática, temos : P = Paço + Pal (1) Da resistência dos materiais, temos: ∆L = ∆Laço = ∆Lal (2) De (2), temos: PaçoL PL = al E aço A aço E al A al → (1), vem: 71 Pal = Paço E al A al , substituindo em E aço A aço E aço A aço Paço = P E A + E A al al aço aço E al A al Pal = P E aço A aço + E al A al 1.8.12) Concentração de Tensões O valor das tensões nas proximidades dos pontos de aplicação de cargas concentradas é muito maior que a tensão média ao longo da peça. Quando a peça estrutural contém descontinuidades, como furos ou variação brusca da seção, podem ocorrer altos valores de tensões nesses pontos de descontinuidade. A figura acima se refere ao caso da variação brusca de seção, mostrando a distribuição de tensões na seção crítica. Trata-se de uma barra chata que consiste de duas seções transversais diferentes, com frisos efetuando a transição da forma da seção; a figura mostra a distribuição de tensões na parte mais estreita da transição, onde ocorrem as maiores tensões. Tais resultados foram obtidos experimentalmente através de método fotoelástico. O engenheiro que tiver de projetar ou estudar peças deste tipo não 72 necessitará levar a efeito uma análise fotoelástica, pois os resultados obtidos são independentes das dimensões das peças e do material usado; eles dependem unicamente das relações entre os parâmetros geométricos envolvidos, isto é, da relação r/d no caso do furo circular e das relações r/d e D/d no caso de frisos (veja figura abaixo). Além disso, interessa ao projetista o valor máximo da tensão em certa seção, sendo a distribuição real de tensões um dado de menor importância, pois o dimensionamento é conduzido buscando-se evitar que o valor máximo de tensão ultrapasse os valores admissíveis para o material. Por isso, define-se a relação K= σ máx σ méd entre a tensão máxima e a tensão média calculada na seção crítica (mais estreita) de descontinuidade. Essa relação é chamada de coeficiente de concentração de tensões para a descontinuidade em estudo. Os coeficientes de concentração de tensões podem ser determinados uma única vez, e expressos em termos de relações entre os parâmetros geométricos envolvidos. Os resultados obtidos são colocados em forma de tabelas ou gráficos como o da figura abaixo. Assim, para determinação da tensão máxima atuante nas proximidades de um ponto de descontinuidade, o projetista determina a tensão média σméd = P/A na seção crítica, e multiplica o resultado obtido pelo coeficiente de concentração de tensões K apropriado. Este procedimento é válido para valores de tensão σmáx que não ultrapassem o limite de proporcionalidade do material, pois os valores de K marcados na Figura abaixo foram obtidos adotandose uma relação linear entre as tensões e deformações específicas. 73 Coeficientes de concentração de tensões para barras chatas sob carga axial. A tensão média deve ser calculada para a seção menor: σméd = P/td, onde t é a espessura da chapa. Exemplo: Uma barra chata de aço é constituída de duas partes de 10 mm de espessura, uma com 40 mm e outra com 60 mm de largura, ligadas por uma região de transição com frisos de 8 mm de raio (r). Determinar a máxima carga axial P que pode ser suportada com segurança pela barra, sendo a tensão admissível do material que a compõe σadm = 165 MPa. Inicialmente calculamos as reações: D 60mm r 8mm = = 1,50 e = = 0,20 d 40mm d 40mm Do gráfico acima, usando a curva correspondente a D/d = 1,50, encontramos o valor do coeficiente de concentração de tensões para r/d = 0,20: Então se K= σ máx σ méd , então σ méd = σ máx 1,72 K = 1,72 , porém σmáx não pode exceder a tensão admissível σadm = 165 MPa. Adotando este valor para σmáx encontramos 74 que a tensão média na parte mais estreita (d = 40 mm) na barra não pode exceder o valor σ méd = 165MPa = 96MPa . 1,72 Lembrando que σméd=P/A, temos P = A. σméd = (40 mm).(10 mm).(96Mpa) = 38,4 kN 1.8.13) Deformações Plásticas Os resultados a que chegamos até aqui foram baseados na suposição de uma relação linear entre tensões e deformações específicas. Dizendo de outro modo, assumimos que o limite de proporcionalidade do material não foi atingido em nenhum dos casos vistos. Para os fins práticos o limite de proporcionalidade coincide com o limite de elasticidade e com a tensão de escoamento do material, de modo que também assumimos que o material se comportou como elástico, voltando à forma inicial uma vez retirado o carregamento. Se, por qualquer razão, a tensão de escoamento do material é excedida em qualquer ponto da peça em estudo, ocorrem deformações plásticas, e a maior parte dos resultados obtidos anteriormente deixam de ter validade. Se isso ocorrer, devemos levar a efeito uma análise mais minuciosa do problema, baseada em relações não lineares entre tensões e deformações. Uma análise que leve em conta as relações reais envolvendo tensões e deformações está fora do escopo deste curso, mas podemos adentrar um pouco no estudo do comportamento plástico dos materiais, considerando um material elasto-plástico ideal, para o qual o diagrama tensão-deformação consiste de dois segmentos de reta como mostra a figura abaixo. O diagrama tensão-deformação para o aço doce, na região de elasticidade e na zona plástica, é parecido com esta idealização. Enquanto a tensão σ não excede a tensão de escoamento σy, o material se comporta como elástico e obedece à Lei de Hooke, σ = E.ε. Quando σ atinge o valor de σy, o material começa a escoar, e se deforma plasticamente sob carregamento constante. 75 Se o carregamento é removido, a linha de descarregamento no diagrama é a reta CD, paralela à porção inicial AY da curva de carregamento. O segmento AD do eixo horizontal leva à deformação plástica permanente, que se obtém a partir do carregamento e descarregamento do material. Apesar de que nenhum material se comporta exatamente como mostrado na figura acima, esse diagrama tensão-deformação será útil na análise de deformações plásticas dos materiais dúcteis, como o aço doce. Exemplo 1: Uma barra de comprimento L = 500 mm e área da seção transversal A = 60 mm2 é feita de material elasto-plástico, com módulo de elasticidade E = 200 GPa na zona elástica e tensão de escoamento σy = 300 MPa. A barra está submetida à carga axial até que seu alongamento atinja o valor de 7 mm, quando o carregamento é removido. Qual é a deformação permanente resultante ? De acordo com o gráfico acima, vemos que a máxima deformação específica, representada pela abscissa do ponto C, é: εC = δC L = 7mm = 14 x10 −3 500mm 76 Por outro lado, a deformação específica no escoamento representada pela abscissa do ponto Y, é: σY 300 x10 6 Pa = = 1,5 x10 −3 εY = 9 E 200 x10 Pa A deformação específica após o descarregamento é representada pela abscissa εD do ponto D. Vemos, pelo gráfico, que εD = AD = YC = εC - εY = 14 x 10-3 – 1,5 x 10-3 = 12,5 x 10-3 A deformação permanente é δD, correspondente à deformação específica εD. Temos, então, δD = εD.L = (12,5 x 10-3).(500 mm) = 6,25 mm Exemplo 2: Uma barra circular de 800 mm de comprimento e área da seção transversal Ab = 45 mm2 é colocada dentro de um tubo de mesmo comprimento e área de seção transversal At = 60 mm2. As extremidades do tubo e da barra são presas a um apoio fixo e a uma placa rígida como mostra a seção longitudinal da figura abaixo. A barra e o tubo são de material elasto-plástico, com módulos de elasticidade Eb = 200 GPa e Et = 100 GPa, e tensões de escoamento (σb)y = 200 MPa e (σt)y = 250 MPa. Desenhar o diagrama força-deformação do conjunto barra-tubo, quando uma força P é aplicada à placa. Inicialmente determinamos o esforço interno e o alongamento da barra quando começa o escoamento: (Pb)y = (σb)y.Ar = (200 MPa)(45 mm2) = 9 kN 77 (δ b ) y = (ε b ) y .L = (σ b ) y Eb .L = 200 MPa .(800mm) = 0,8mm 200GPa Como o material é elasto-plástico, o diagrama força-deformação da barra consiste em uma reta inclinada e uma reta horizontal, como mostra a figura abaixo. Adotando a mesma seqüência para o tubo, temos: (Pt)y = (σt)y.At = (250 MPa)(60 mm2) = 15 kN (δ t ) y = (ε t ) y .L = (σ t ) y Et .L = 250 MPa .(800mm) = 2mm 100GPa O diagrama carga-deslocamento apenas do tubo é mostrado no gráfico a seguir. O carregamento e o alongamento do conjunto barra-tubo são, respectivamente, P = Pb + Pt δ = δb + δt 78 Desenhamos, então, o diagrama força-deslocamento desejado, somando as ordenadas dos diagramas obtidos para a barra e para o tubo separadamente: Os pontos Yb e Yt correspondem ao início do escoamento na barra e no tubo, respectivamente. A discussão sobre concentrações de tensões no item 1.8.12 foi conduzida assumindo-se para o material uma relação tensão-deformação linear. As distribuições de tensões mostradas na figura da página 73 bem como os coeficientes de concentração de tensões mostrados na página 75 não podem ser usados quando ocorrem deformações plásticas, isto é, quando o valor de σmáx obtido ultrapassa a tensão de escoamento σy. 1.8.14) Tensões Residuais No exemplo 1 do item anterior, consideramos uma barra que sofreu alongamento além da deformação correspondente ao início do escoamento. Ao retirarmos o carregamento, a barra não recobrou o seu comprimento inicial, permanecendo deformada permanentemente. No entanto, ao retirarmos o carregamento, todas as tensões desaparecem. Este caso não deve ser encarado como um fato geral. 79 Na verdade, quando as várias partes ligadas de uma estrutura sofrem deformações plásticas de valores diferentes, as tensões nessas partes não caem para zero quando se retira o carregamento. Algumas peças da estrutura continuarão apresentando tensões chamadas tensões residuais. O exemplo a seguir nos ajudará a compreender como aparecem as tensões residuais em uma estrutura. Exemplo: Se uma carga P aplicada ao conjunto barra-tubo do exemplo 2 do item anterior aumenta de zero até 19,5 kN e decresce novam,ente até zero, determine: a) o máximo alongamento do conjunto; b) a deformação permanente após a remoção do carregamento; c) as tensões residuais na barra e no tubo. a) alongamento máximo. Segundo o gráfico obtido naquele exemplo, observamos que a carga Pmáx = 19,5 kN corresponde a um ponto localizado no segmento YbYt do diagrama carga-deformação do conjunto. Assim, a barra atingiu a zona plástica com Pb = (Pb)y = 9 kN e (σb)y = 200 MPa, enquanto o tubo ainda está em regime elástico com Pt = P – Pb = 19,5 kN – 9 kN = 10,5 kN 80 σt = Pt 10,5kN = = 175MPa At 60mm 2 δ t = ε t .L = σt Et .L = 175MPa .(800mm) = 1,40mm 100GPa O máximo alongamento do conjunto é, então, δmáx = δt = 1,40 mm b) Deformação permanente: Fazendo agora a força P decrescer de 19,5 kN até zero, os esforços internos Pb e Pt decrescem segundo uma linha reta mostradas nas figuras abaixo, respectivamente. A força Pb decresce segundo a linha CD paralela à porção inicial da curva de carregamento, enquanto a força Pt decresce ao longo da curva de carregamento original, uma vez que o ponto de escoamento não foi atingido para o tubo. Sua soma P, então irá decrescer ao longo da linha CE, paralela à linha OUb da curva força-deformação do conjunto, mostrada abaixo. A declividade de OUb e de CE, que é m = 15/0,8 = 18,75. O segmento FE representa a deformação δ’ do conjunto durante o descarregamento, e o segmento OE representa a deformação permanente δp após a retirada da carga P. Do triângulo CEF, temos δ '= − Pmáx 19,50 =− = −1,04mm m 18,75 81 A deformação permanente é, então, δp = δmáx + δ’ = 1,40 – 1,04 = 0,36 mm c) Tensões Residuais. Observamos, agora, nos gráficos anteriores, que os esforços internos Pb e Pt não são iguais a zero depois da retirada da força P. Para determinarmos as tensões residuais correspondentes na barra e no tubo, vamos calcular as tensões inversas σ’b e σ’t provocadas pelo descarregamento, e somá-las às tensões máximas σb = 200 MPa e σt = 175 MPa encontradas no início da resolução deste problema. A deformação específica causada pelo descarregamento é a mesma na barra e no tubo. Ela vale ε '= As δ' L = − 1,04mm = −1,30 x10 −3 800mm correspondentes tensões inversas na respectivamente, σ’b = ε’.Eb = (-1,30 x 10-3).(200 GPa) = -260 MPa σ’t = ε’.Et = (-1,30 x 10-3).(100 GPa) = -130 MPa 82 barra e no tubo são, As tensões residuais se calculam por superposição das tensões causadas pela fase de descarregamento com aquelas tensões inversas do descarregamento. Temos, então, (σ’b)res = σb + σ’b = 200 MPa – 260 MPa = -60 MPa (σ’t)res = σt + σ’t = 175 MPa – 130 MPa = +45 MPa Quando as deformações plásticas são causadas por variação de temperatura (exemplo de soldas), podem ocorrer também as tensões residuais. Se, por exemplo, durante o processo de solda de uma barra a uma placa, a temperatura da primeira aumenta até um valor acima de 1000o C, temperatura esta para a qual a rigidez da barra e seu módulo de elasticidade serão praticamente zero. Ao completar a solda, a barra terá uma temperatura de 1000o C ligada a uma placa à temperatura de 20o C (que, por suas dimensões, não eleva muito sua temperatura), sem ocorrência de tensões. Com o resfriamento da barra, seu módulo de elasticidade aumenta e atinge seu valor normal de cerca de 200 GPa, mais ou menos a 500o C. Explicitando ∆T e fazendo com que σ seja igual à tensão de escoamento σy = 300 MPa, obteremos a variação de temperatura capaz de levar a barra ao escoamento. Adotamos α = 12 x 10-6/oC, valor médio para o aço. ∆T = − σ 300 MPa =− = −125 o C −6 o E.α (200GPa ).(12 x10 / C ) Esse valor mostra que a barra começará a escoar em torno de 375o C, e continuará o escoamento a um nível de tensão praticamente constante, até a temperatura ambiente. Assim, como resultado da operação de solda, cria-se uma tensão residual de cisalhamento na barra e na solda, de valor aproximadamente igual à tensão de escoamento do aço da barra (não são tensões axiais). Exemplo: Uma viga rígida ABC, inicialmente horizontal é suspensa por duas barras de aço. O ponto médio B da viga se desloca de 10 mm para baixo, pela aplicação lenta da força Q, que é então, retirada lentamente. Sabendo-se que o aço usado nas barras têm comportamento elasto-plástico, com E = 200 GPa 83 e σy = 300 MPa, determinar: a) o máximo valor de Q necessário e a posição da viga, para a deflexão de 10 mm; b) a posição final da viga. Condições de equilíbrio. Sendo Q aplicada no centro da viga, temos: PAD = PCE e Q = 2.PAD Comportamento no regime elástico. O máximo valor de Q e a máxima deflexão elástica do ponto A ocorrem quando σ = σy na barra AD. (PAD)máx = σy .A = (300 MPa)(400 mm2) = 120 kN Qmáx = 2.(PAD)máx = 2.(120 kN) = 240 kN δ A = ε .L = σy 1 300MPa .L = .(2m) = 3mm E 200GPa Como PCE = PAD = 120 kN, a deflexão correspondente no ponto C ocorre quando σ CE = PCE 120kN = = 240MPa A 500mm 2 δ C = ε .L = σ CE 240 MPa .L = .(5m) = 6mm E 200GPa 1 A deformação correspondente em B é δ B = .(δ A + δ C ) = (3mm + 6mm) = 4,5mm 1 1 2 1 1 1 2 Como devemos ter δB = 10 mm, concluímos que devem ocorrer deformações plásticas. 84 Deformações plásticas: Ocorrem na barra AD para Q = 240 kN, sendo σAD = 300 MPa. Como a tensão na barra CE está no regime elástico, δC permanece de 6 mm. A deflexão δA necessária para levar δB ao valor de 10 mm é δB2 = 10 mm = ½.(δA2 + 6 mm) ∴ δA2 = 14 mm Descarregamento: Enquanto a força Q é gradualmente removida, a força PAD decresce ao longo da linha HJ paralela à porção inicial do diagrama forçadeformação da barra AD (vide gráficos a seguir). A deflexão final do ponto A é δA3 = 14 mm – 3 mm = 11 mm Como a tensão na barra CE se mantém no regime elástico, vemos que a deflexão final no ponto C é zero. 1.9) ESTADO DE TENSÕES O estado de tensão em torno de um ponto está definido quando as tensões estão perfeitamente determinadas para qualquer orientação do elemento de 85 superfície a que se refiram. No entanto para se ter o estado de tensão em torno de um ponto não é necessário conhecer todas as tensões referentes a esse ponto e sim conhecer algumas capazes de permitir a determinação de todas as outras através de expressões simples, que mostraremos no item seguinte com o auxílio do círculo de Mohr. Notação usada: a) Tensão normal : O índice indica a direção b) Tensões tangenciais : O 1o índice indica a direção normal à faceta em que atua a tensão tangencial e o 2o índice indica a direção da tensão tangencial. Convenção de Sinal: Uma tensão é positiva, quando referindo-se a uma face positiva, tiver ela própria a direção positiva, ou quando referida a uma face negativa, tiver sentido negativo. A determinação das Tensões Usando o Círculo de Mohr, seguem algumas regras para o seu traçado: 1) Consideremos um ponto P onde o estado de tensão está definido por σx, σy e τx. Vamos tomar um sistema de eixos coordenados σ x τ e marquemos dois pontos: M : (σx, -τx) M’ : (σy , τy) 2) Liguemos M a M’ determinando o ponto C sobre o eixo das abcissas; 86 3) Tracemos um círculo com centro no ponto C e raio CM=CM’ , que cortará o eixo dos Oσ em A e B. Círculo de Mohr. No círculo de Mohr podemos obter: σc = σ y + σx −σy 2 = σx + σy 2 Cálculo do Raio: σx −σy R = 2 2 Do triângulo CEM, temos: R2 = R= 2 + τx2 1 (σ x − σ Y )2 + 1 * 4τ 2x 4 4 1 2 (σ x − σ Y )2 + 4τ 2x 87 Tensões e Direções Principais Os pontos B e A definem as direções I e II, respectivamente. OB = OC + R σi = σx +σy 2 + OA = OC − R σ iI = σx + σy 2 σ I = σc + R ⇒ 1 2 (σ x − σ Y )2 + 4τ 2x ⇒ − 1 2 σ II = σ c − R (σ x − σ Y ) + 4τ 2x 2 Temos que a direção principal I e dada pelo ângulo MAB = αI tan (2α I ) = EM tan (2α I ) = 2τ x σx −σy , onde CE Da figura, temos: α II = α I + 90 88 EM = τ x e CE = σx −σy 2