PREFÁCIO Sentado em uma grama verde, a qual ainda estava banhada de orvalho, localizado às margens de um lindo lago se encontrava um misterioso homem, o qual balançava os dois pés dentro da água e, ali, ainda, jogava vagarosamente pedrinhas, como se estivesse com aquele ato infantil meditando ou tentando acertar a cabeça de algum peixe, os quais certamente ali não mais se encontravam devido ao barulho que fazia com os pés e os arremessos constantes. Neste exato momento uma linda mulher se aproximou, era uma mulata que exibia um penteado peculiar, consistente em tranças e cachos. Seus olhos negros e grandes como duas jabuticabas avistaram rapidamente o homem, indo a sua direção vagarosamente. - Me desculpe lhe incomodar mestre, mais é porque confirmamos que a guerra terá realmente um início imediato. – Ela disse ainda ao longe, como se estivesse com medo de estar atrapalhando algo. O homem sequer se virou, continuando a fazer os atos, como se estivesse ponderando ainda sobre aquela afirmação. Assim, tornou a mulher: - Os escolhidos já estão sendo concebidos. Contudo... - Contudo o que? – O questionamento veio seco, e de forma firme. - Lhe rogo novamente mestre se não seria mais prudente ponderarmos outra vez com o conselho para atacarmos logo. – Ela rogou. - O fato de você estar cego, não quer dizer que não tem ninguém a sua volta para iluminar seu caminho... – Foi à única resposta do homem. - Não entendo mestre? - Se agirmos imediatamente com batalha, estaremos fechando os olhos como cegos, e, talvez não teremos dado a oportunidade de sabermos que naquele exato momento havia algo ou alguém iluminando para uma alternativa melhor. - Mais certamente não há mestre! – Agora ela clamava, inclusive, já demonstrando um pouco de desespero. – Ele realmente retornou! Seu exército cresceu muito, e, segundo pesquisamos, seus planos e ideais não apenas continuam audaciosos, mais extremamente avançados. Bem como, não podemos esquecer o que ele já fez, assim, teríamos que revidar a altura!... - Saiba minha amiga que quando agimos somente pensando em aniquilar o que nos faz mal, e, não buscamos uma forma mais branda, poderemos enfrentar serias consequências. Além disso, saiba que se por qualquer motivo retiramos do outro utilizando da força qualquer ambição que aquele almejava, temos que ter a consciência de que não estaremos apenas ferindo aquela pessoa, mas todos ao seu redor. Assim, se queres se vingar de alguém saiba que estará assumindo não uma retribuição a uma eventual dor que você entende que se encontra com este ato retribuindo na mesma moeda, 1 você na realidade estará é trazendo para sigo mesmo mais ódio e maldição, visto que destruirá a vida de várias pessoas, as quais, indubitavelmente nada têm a ver com o ocorrido. Por isso, se queres realmente se vingar ou aniquilar, afaste-se e deixe que o destino se encarregue pela lei universal de assim o fazê-lo, com o menor possível de dor, ou até mesmo sem ela em alguns casos. - Entendo mestre... – Ela afirmou mais ainda despontando em sua voz e forma que proferiu certa relutância. - Sei que ainda não entende de coração minha amiga. Mais queria lhe dizer, e espero que pelo menos reflita é que nunca abandonamos a essência dos Criadores, sempre temos seu amor ao próximo e principalmente aqueles com que tenhamos mais afinidade, os quais estão ligados a nos por laços de carinho e afeto direto, ao passo que, desde o mais forte e influente ser das trevas que você agora me fala, até o simples demônio, possuem referida essência em seus seres. - Mais eles, ou melhor, este líder maligno em especifico, em nenhum momento dá pelo menos a impressão de possuir qualquer bondade, muito menos que restou alguma coisa do Criador. – Ela ainda insistiu. - Mesmo que na maioria das vezes não a revele ela se encontra lá, afinal, o que este ser busca é reunir seus entes queridos e o maior número de pessoas a sua causa, e, principalmente, ao seu lado. – ele suspirou, como se aquele fosse um assunto delicado. – Assim, mesmo que referidos intuitos sejam desvirtuados do caminho que podemos dizer serem do bem comum, em seu ser e consciência ele entende ser a atitude certa a tomar, e os buscam com sede e determinação, como muitos de nós não fazemos para defender nossos ideais. – ele ainda não olhava para trás, conversando sempre balançando os pés e jogando pedrinhas. – Razão pela qual, o Criador não o aniquilou, porque estaria matando seu filho que um dia poderá retornar ao lar e caminho da luz, e, assim, em seu tempo se redimir. – ouve mais um suspiro. – E afirmamos sermos mais instruídos, mais lhe afirmo estarmos longe dessa perfeição, motivo pelo qual, também não caberia a nós fazê-lo, senão nos tornaremos pior do que ele, porque estaríamos matando nosso irmão, e, assim, retirando a chance de um dia tê-lo novamente ao nosso lado. - Não podemos retirar a vida dele, mais ele poderá retirar a vida de milhares! – Ela bradou, demonstrando que não estava nem perto de se convencer. - Você disse “poderá”? – Ele entonou a palavra chave do questionamento. - Sim, não posso afirmar, já que o futuro seria aleatório, dependendo de escolhas e facetas impossíveis de se prever em definitivo, porquanto, este encontra-se em constante modificação, como o senhor bem sabe. - Então com que raciocínio me diz que uma coisa que “poderá” – ele entonou novamente – seria suficiente para tomarmos uma atitude como a que me diz seria a sensata a se fazer, a ponto de aniquilar uma vida?! – Ao final ele parou de jogar as pedras e de balançar os pés, aguardando somente a resposta, mais ainda não se virando para sua interlocutora. 2 A mulher não respondeu, naquele momento havia sido pega de surpresa. – Realmente seria uma imprudência tomar uma atitude tão drástica de imediato. – Pensou. Mais decidiu ousadamente ainda questionar, agora com prudência, porquanto, sabia que o mestre não tinha muita paciência: - Mestre, só vou fazer mais está pergunta, e me calo após. - Faça! – A afirmação veio seca e cortante, como se aquela conversa já estivesse se prolongando demais. - Então nós apenas vamos ficar olhando as coisas fluírem? - Os escolhidos foram enviados, e, seguiremos o plano traçado pelo Conselho Supremo a risca. Além disso, se é ou não um bom plano, não cabe a mim ou a você dizer, visto que a decisão foi democrática. - Mais assim declinaram... – ela fez uma pausa raciocinando se seria prudente dizer, mais por fim viu que não tinha mais nada a perder. – porque o senhor tem muita influência e se posicionou neste sentido. - Bem posto! Posicionei-me e, por conseguinte, eles votaram neste sentido, e, bem como, os outros membros que foram contra e perderam na votação não me reprimiram. Razão pela qual, lhe peço gentilmente que não faça diferente deles, porque, agindo assim, estará ferindo minhas escolhas e acima disso, de todo Conselho. A mulher nada mais perguntou, e, sequer se despediu, apenas virou às costas indo embora. Após sua saída, o misterioso homem continuou a balançar calmamente os pés dentro da água e a jogar pedrinhas, como uma criança. Em nenhum momento se virou, sabendo que aquela atitude seria necessária, visto que não podia evidenciar que estava antes da chegada da mulher chorando, e, ainda, neste choro de emoção pelos acontecimentos que estavam se desenrolando seus pensamentos não paravam: Vamos perder vários irmãos, infelizmente, e creio seriamente que ela estará entre eles... Será que estamos realmente tomando a decisão correta? Após alguns segundos refletindo seu próprio questionamento, lembrou-se das palavras de seu mentor, que sempre lhe dizia em seus treinamentos: Você tem que pensar grande, sem querer ser grande! A grandeza será a consequência deste ato, e virá forte e permanente, porque nela estará presente a humildade, fonte e cominho da sabedoria... E, ao final, não se arrependerá de nenhuma de suas escolhas, porque elas foram tomadas em prol do bem comum, e, algo o conduziu a elas de uma forma ou de outra! - Isso mesmo! Tenho que me manter forte, e conduzir às coisas com sabedoria. – Ele afirmou para si mesmo, e, após, o silêncio tomou conta do local completamente, cessando juntamente ao som às dúvidas, restando, tão somente, uma certa paz, que ele tanto queria que reinasse, mesmo sabendo que para isso ocorrer haveria várias desgraças, infelizmente, inevitáveis... 3 CAPÍTULO 1 Brasília – Brasil, 1982 Os raios iluminavam todo o quarto, junto com estalos de trovões, os quais mais pareciam gritos agudos de demônios queimando no fogo do inferno, do que uma simples força da natureza. Quando mais uma vez um raio iluminou o quarto escuro, pôde-se ver uma cama, e deitada sobre ela uma mulher grávida chorando de dor, a cada estalo emitido por uma nova trovoada ela se contraia, como se os demônios que gritavam estivessem também a apertá-la. A mulher já estava totalmente molhada de suor, quando dois enfermeiros acenderam a luz, transferindo-a para uma maca e apressadamente começaram a empurrá-la por um grande corredor. Ao passarem por uma sala onde outra mulher estava a gemer, notaram que ela estava com um homem que segurava sua mão, como se quisesse confortá-la, neste momento um dos enfermeiros virou para o outro falando com pesar: - Não sei bem, mais tenho pena destas mulheres que não tem ninguém para esta hora tão difícil. - Eu tenho uma pessoa, ela deve estar chegando! – A mulher gritou não por raiva pelo comentário, mas somente devido a grande dor que sentia. O enfermeiro que falou olhou para a mulher manifestando um sorriso como se estivesse feliz por ela ter alguém, mas o outro enfermeiro somente confirmou com a cabeça sem demonstrar qualquer emoção, porquanto, na realidade não queria conversar naquele momento, ele tinha uma sensação estranha de que alguém os seguia... Ao chegarem ao final do corredor, viraram à esquerda tomando outro caminho ainda mais cumprido, mais uma vez o enfermeiro sentiu a estranha sensação atrás deles, então resolveu parar subitamente e virar-se imediatamente crendo que iria surpreender quem estava seguindo-os. Lado outro, nada viu... - Lucas você esta bem? – Questionou o outro enfermeiro sem nada entender. Com um gesto ele assentiu que sim, continuando a empurrar a maca. - Pode me dizer o que está acontecendo! – Suplicou o amigo. - Não se preocupe comigo, este hospital esta me matando, não aguento mais tanto trabalho, acho que já estou imaginando coisas. – A resposta veio carregada por uma expressão de total tédio e cansaço mental. Ao finalmente chegarem ao final do segundo e longo corredor, eles entraram numa grande sala. Bem no meio dela estava uma cama com muitas 4 luzes acima e dos lados, então os dois com muita cautela deitaram a mulher sobre ela molhando as mãos devido ao intenso suor que lhe escorria pelo corpo originado pela dor. Antes de saírem ambos lhe desejaram o que sempre expressavam a todas às futuras mães que levavam até àquela sala, em um som uniforme falaram em voz alta: - Bom parto, e fique com Deus! Ao terminarem de pronunciar a última palavra, a mulher soltou um abrupto grito de dor, e as luzes começaram a piscar subitamente. Os enfermeiros ficaram parados, perplexos, terrivelmente assustados com o grito, que mais parecia um som estridente vindo de um filme de horror. A perplexidade dos dois foi quebrada pela equipe médica que chegou apressadamente à sala. - Já acabaram seus serviços? – Questionou um dos membros da equipe. Eles apavorados, somente assentiram com a cabeça, e saíram correndo pela porta como se estivessem fugindo de algo. Não sabiam eles que estavam fazendo a coisa certa naquele momento... ****** A equipe médica ficou espantada com a saída às pressas dos enfermeiros, mas o médico não quis adentrar neste fato, e somente virou-se para uma pia e começou a lavar as mãos. Geralmente, quando uma mãe chega à maternidade, depois de preencher a ficha com os seus dados, é encaminhada para uma sala de preparação para o parto, onde uma enfermeira obstétrica aferirá a temperatura, pressão arterial, batimentos cardíacos, tipo sanguíneo, se a bolsa d'água se rompeu e a dilatação do colo do útero com exame do toque. Isto tudo já havia sido feito, conforme constatado pelo médico através da ficha da paciente. Ao analisar a ficha, o doutor teve enorme cautela, porquanto, de tempos em tempos o médico ou as enfermeiras tinham que monitorar os batimentos cardíacos e aferir a pressão, além de fazer exames para saber se estava tudo bem. Contudo, o Dr. Salomão somente estava tendo o primeiro contato com aquela mãe naquele momento, tendo em vista que havia sito chamado às pressas. 5 E pensar que o dia havia começado tão bem hoje... - Pensou ele, lembrando-se ainda da voz por telefone da enfermeira atônita lhe dizendo que um taxista havia deixado uma paciente no hospital com a pressão oscilando, sofrendo de enormes dores e prestes a dar a luz. Após analisar novamente a ficha médica, ele iniciou todos os procedimentos para fazer uma cesárea, já que não havia outra solução, realmente aquela mulher estava sofrendo muito, assim, por questões de segurança da mãe e do bebê, tinham que fazer uma cesariana. Segundo a ficha médica, os enfermeiros já tinham executado todos os procedimentos de praxe juntamente com outra enfermeira, e o anestesista já havia terminado seu serviço enquanto o doutor lavava as mãos, a mãe finalmente havia apagado, restando, tão somente, fazer o corte. Lado outro, algo absolutamente inesperado ocorreu... Inexplicavelmente a barriga da mãe começou a se mexer, sua pele se contraia de um lado para o outro, parecendo que havia alguém querendo rasgá-la! A mulher ainda misteriosamente acordou da anestesia e começou a gritar de forma frenética, levando as duas mãos à barriga... O Dr. Salomão ficou parado totalmente perplexo, seu coração pulsava como uma bomba, ele nunca havia se assustado tanto, no fundo sabia que aquilo era impossível e totalmente fora de realidade, mas seus olhos não lhe enganavam, aquilo realmente estava ocorrendo, e ele tinha que fazer alguma coisa. Imediatamente olhou para o anestesista, o qual estava ainda mais assustado, realmente não entendendo nada. - Você não sedou ela direito! – Ele gritou o que parecia óbvio. - Me desculpe doutor, mais ela estava bem sedada sim! Eu me certifiquei de tudo!.. – A resposta veio em tom mais de preocupação do que certeza absoluta. Neste momento, todas as luzes da sala começaram a piscar, e as principais, as quais iluminavam a mesa de parto, queimaram num estouro. As enfermeiras que até aquele momento encontravam-se paralisadas de medo começaram a gritar de pavor. Às luzes devem ter queimado por falta de manutenção devido à péssima situação financeira em que o hospital se encontra! – Pensou assustado o doutor ponderando ainda sobre toda a situação. – Mas a barriga desta mulher mexendo desta forma, com ela acordando de uma anestesia geral, é totalmente fora de lógica! – Concluiu com os pensamentos em ritmo frenético. - Não há outra escolha, a cirurgia foi seriamente prejudicada! Coloquem a paciente na mesa de parto ao lado! – Gritou em alto e bom tom o Dr. Salomão para sua equipe. Com seu grito de comando às enfermeiras pararam subitamente do estardalhaço que estavam promovendo pelo pânico, 6 como se acordassem de um transe, e começaram a seguir a ordem sem titubear. O Dr. Salomão puxou o braço de uma enfermeira novata, e olhando bem no fundo de seus olhos lhe disse: - Chame para mim imediatamente um médico cardiologista, o coração da paciente encontra-se muito acelerado. Diga também para as secretárias da recepção para emitirem um chamado para todos os médicos que estiverem neste hospital, preciso de toda ajuda possível, a situação está totalmente fora de controle! Em outro hospital, a equipe médica que acompanharia o Doutor Salomão, seria bem mais treinada, tornando seu trabalho mais fácil. Contudo, pelo corte de gastos na rede pública, o que lhe sobrava era apenas alguns estagiários de enfermagem, e um anestesista, que por sinal, devia ser muito ruim diante do que estava ocorrendo. Ele sabia ainda que tinha que agir sozinho, mas em uma reunião decidiram que quando ocorresse algum imprevisto, logo chamariam outro médico para ajudar. Ainda tinha o fato de que ele não era especializado em cardiologia. O Dr. Salomão sabia que deveria antes de qualquer coisa procurar o marido ou responsável daquela paciente, para lhe avisar dos sérios riscos pelos quais ela esta passando. Para infelicidade do Doutor, a enfermeira que saiu para procurar o médico era igualmente às outras, uma novata, e estava demorando muito para retornar... - Vou somente à recepção aqui do lado, e já volto. Tenho que fazer alguma coisa, com todos estes problemas se eu iniciar um procedimento cirúrgico, está mulher certamente não resistirá, por isto precisamos de um cardiologista urgente, e aquela mulher não retorna! – Disse o Doutor para os demais membros de sua equipe saindo em disparada, quase trombando em uma senhora que se encontrava rente à porta. O Dr. Salomão olhou-a de cima em baixo, ela era baixa, negra, cabelos curtos, usava diversos colares, e tinha os olhos tão penetrantes que era impossível passar por ela despercebido. Ele então a olhou mais uma vez, e ela lhe falou algumas palavras em tom baixo, porém o doutor nem as ouviu, aquela não era a hora, seu tempo era curto demais, não podia nem ter deixado a mãe naquele estado somente com enfermeiras e um anestesista incompetente, correu até a recepção que ficava bem próxima e se aliviou ao avistar um médico. Aquela enfermeira me paga! Não conseguiu achar um médico que estava embaixo do seu nariz... – Pensou em fúria. Quando se aproximou o Dr. Salomão se espantou, o médico era muito magro e pálido, seus olhos eram reluzentes, contudo, apesar da feição estranha, exibia um sorriso mais do que carismático. 7 - Desculpe-me Doutor, sou o Dr. Salomão! Estou com um problema seríssimo naquela sala de parto ali na frente, o senhor é especialista em que área? - Em tudo meu filho! – Respondeu o velhinho em tom alegre. - Que bom! – Disse rapidamente o Doutor Salomão no intuito de cortar qualquer delonga na conversa – Corra então comigo para a sala de parto! Lógico que por gentileza, pois necessito da ajuda de um cardiologista! O senhor é clínico geral? O velhinho somente assentiu com a cabeça já batendo em disparada em direção à sala. Ao se virar o Dr. Salomão viu sentado num banco frio, o que ele supunha ser o esposo da mulher, ele se encontrava com a cabeça curvada sobre o joelho, como se estivesse rezando, pelo menos o doutor esperava que ele estivesse mesmo, porque naquele momento eles precisariam urgentemente de um milagre... 8 CAPÍTULO 2 Brasília – Brasil, 1982 O Dr. Salomão retornou a sala de parto, contudo, antes de adentrar ficou chocado ao ver que a senhora que ele quase havia trombado ainda estava lá. – Está senhora parece estar esperando alguma coisa! – Pensou. Apesar de querer questionar o que aquela senhora fazia ali, ele somente pediu licença e já estava quase entrando quando ela lhe falou numa voz rouca e gasta pelo tempo: - Você precisa ser forte meu filho, quando não tiver mais esperanças recorra à luz... O doutor achou aquilo estranho, contudo, sabia que não poderia parar para pensar em nada naquele momento, ainda mais naquilo que aquela velha estava falando. – Isto não tem o menor sentido, está mulher sequer deve saber quem esta lá dentro, certamente se enganou, ou pode ser até mesmo uma paciente da ala psiquiátrica... – Refletiu. No entanto, o Dr. Salomão esfriou até a espinha quando viu no corredor várias senhoras sentadas mais à frente, algumas negras outras brancas, umas estavam com terços e bíblias sobre o colo, lendo em voz alta e algumas estavam como a senhora que se encontrava à sua frente, com vários colares e algumas fitas na mão, pareciam até baianas, todas cantavam músicas que ele não conseguiu compreender. Focou mais sua visão, se espantando ainda mais ao ver mais a frente alguns senhores, eles estavam bem ao canto, alguns deles estavam de branco, outros com roupas humildes mais bem lavadas, eram negros bem velhos, estavam fumando cachimbos, o que o hospital logicamente não permitia. Mais adiante ele avistou dois padres, eram inconfundíveis por causa das batinas. E viu inclusive um monge totalmente trajado. - O que baianas e freiras velhas, negros fumando, padres e monge estão fazendo aqui?! E ainda por cima juntos e concentrados?! – Disse para si mesmo totalmente perplexo. Ele realmente não podia parar para pensar naquilo, voltou de seus devaneios virando-se e já se preparando para adentrar na sala. Lado outro, quando acabou de virar-se sentiu a mão da senhora segurar firmemente em seu ombro, ela tinha uma força totalmente incompatível a idade que aparentava. Após conseguir virá-lo novamente, ela lhe deu um abraço inesperado, lhe falando bem rente a seu ouvido: - Você precisa ser forte meu filho, quando não tiver mais esperanças recorra à luz, salve primeiro o bebê, a mulher é muito importante, contudo, se ele não nascer de nada ela servirá, nem mesmo nós que estaremos fadados ao fim! Tudo e todos estarão perdidos! Por isto que entregamos nossas forças a você Cosme... 9 - Não sei quem você é, mas sei exatamente o que devo fazer, lhe agradeço minha senhora, porque sei que seu intuito deve ser dos melhores, contudo, somente para ressaltar, meu nome não é Cosme e sim Salomão. – Respondeu o doutor pegando educadamente na mão da senhora, ela era assustadoramente fria e áspera e, muito assustado, imediatamente retirou-a de seu ombro. Logo após, o doutor entrou na sala às pressas, lado outro, ouviu as últimas palavras que a senhora falou quando ele estava prestes a fechar a porta: - Ele deve se chamar Marcos, como nos outros tempos, isto lhe dará força e coragem, e o ajudará a reconhecer quem é, bem como, a quebrar a barreira que o senhor não conseguiu fazer como seu irmão Damião conseguiu... O Dr. Salomão não entendeu nada. – Onde já se viu falar para um médico sobre o nome que a criança deve ter! Isto é trabalho da família. – Pensou. Após o doutor entrar, a senhora ficou muito tempo olhando para a porta, e após alguns minutos saiu em direção ao grupo que estava no corredor, balançando a cabeça retirou de seu bolso um terço e dizendo: - Vamos começar a enviar mais energias imediatamente, porque deste momento em diante tudo dependera dele, de nós, e do Dr. Foliver, o mestre sabe de tudo e de todos, não nos mandaria se não fossemos tão necessários, e não encarnaria uma alma tão elevada como Cosme se não acreditasse que ele teria forças suficientes para fazer este parto... 10 CAPÍTULO 3 Brasília – Brasil, 1982 O Dr. Salomão finalmente entrou no bloco cirúrgico, onde rapidamente foi conversar com o médico que estava perto da paciente, o mesmo que ele conseguiu arrumar perto da recepção. - Desculpe-me não ter me apresentado anteriormente, mas o senhor estava muito nervoso, meu nome é Foliver! - Se apresentou o médico em tom extremamente amistoso. O Dr. Salomão levou o maior susto quando percebeu que a paciente se encontrava sedada novamente, e toda sua equipe lhe aguardava, bem mais calma. - Desculpe-me... Dr. Foliver certo? - Sim, pode me chamar assim! - O que o senhor fez? O velhinho sorriu, pegou no ombro direito do Dr. Salomão, puxandoo para mais próximo, sussurrando em seu ouvido: - Eu não fiz nada... A energia do nosso Criador, e de nossos amigos é que realmente trabalharam para retirar tudo que afligia esta mulher. Eu somente ajudei a canalizar esta energia! Você ainda tem que tomar muito cuidado, porque têm muitas coisas próximas a este hospital, este parto é o mais importante da sua vida. – Certamente será o último! – Pensou o velhinho por fim. Mesmo confuso com tudo aquilo que aquele velhinho simpático havia falado, o Dr. Salomão se dirigiu até à mulher que naquele momento estava completamente sedada, como o tal Dr. Foliver havia mencionado. – Este senhor pode falar como um louco, mais certamente tem muita experiência! – Ponderou, e imediatamente gritou para as enfermeiras: - Comecem rápido todos os procedimentos, vamos lá, vamos salvar os dois! Após todos os procedimentos, o Dr. Salomão tendo ao seu lado o doutor que ele não conhecia, mais que devido aos fatos já nutria enorme afeição, começou a fazer o corte, até aquele momento tudo estava indo perfeito, foi quando percebeu que nada seria tão simples assim... ****** 11 Próximo ao hospital seguia cambaleando por uma rua totalmente deserta um jovem que aparentava ter uns vinte e três anos, evidentemente ele encontrava-se totalmente embebedado. Parou subitamente e olhou para trás, vendo somente às luzes da boate próxima a qual havia acabado de sair, - Porque fui sair desta boate linda... estou custando a me equilibrar em pé... – raciocinou com o pouco de discernimento que ainda lhe restava. Quando retornou o olhar para o longo caminho que ainda tinha que seguir, não pôde ver uma sombra negra que veio da direção do hospital, e começou a andar bem atrás de suas costas. A sombra seguia o jovem de perto, e quando ele passou por um poste que iluminava o escuro beco foi possível ver o que estava seguindo o jovem, a sombra não tinha uma forma, e certamente não era humano, e se algum dia o foi, isto havia sido há muitos anos... Após alguns passos o jovem começou a se sentir enjoado, parou e colocou a cabeça entre as partes, sentindo uma golfada de vômito, virando-se assustado ao ouvir uma assustadora voz que falava bem atrás dele: – Isto será mais fácil do que pensei. Aquelas almas patéticas conseguiram me expulsar de dentro daquele hospital, mais eu foi retirar a vida de Cosme, ele poderá até fazer este parto, mais vai pagar caro por isto... – Disse bem baixo o ser que seguia o jovem. - Será um ladrão? – Questionou para si mesmo o jovem enquanto ainda virava. Contudo, para seu azar não era, certamente teria desejado ser assaltado do que passar pelo que estava prestes a ser submetido... 12 CAPÍTULO 4 Brasília – Brasil, 1982 O Dr. Salomão deu início ao parto, contudo, para seu espanto mais uma vez a barriga da mãe começou a se contrair e inexplicavelmente sua mão foi ficando dormente, como se as veias de seus braços estivessem sendo apertadas... Para piorar ainda mais a situação as luzes que iluminavam a mesa, desta vez, inesperadamente se apagaram, sem qualquer estalo. Isso realmente não pode ser problema na parte elétrica do hospital! Acontecer uma vez tudo bem, mais duas, não seria possível. – Pensou ele perplexo. No meio do escuro da sala de operação, as enfermeiras começaram a ficar apavoradas, mas dessa vez não gritaram, também após a bronca que levaram anteriormente do doutor, aprenderam. Foi então que o Dr. Salomão levou um susto ao ver alguma coisa em seu bolso brilhar, com muita dificuldade devido à estranha contração das mãos, ele conseguiu largar o bisturi e levar a mesma ao bolso pegando o objeto, se assustando quando percebeu o que era... Em suas mãos estava um terço, com uma grande cruz, que cintilava uma luz muito forte. De onde veio isso? – Raciocinou ele não entendendo de que local tinha surgido aquele objeto, afinal, nunca havia tido um terço e nem ao menos uma religião! Após um pequeno momento analisando o rosário, o Dr. Salomão lembrou-se da senhora que o havia abraçado no corredor, ela estava com um terço como aquele... Só pode ter sido ela! – A conclusão foi direta. Foi quando ele olhou para sua equipe os quais não pareciam estarem vendo aquela luz, estavam com os mesmos olhares intrigados, mas não ao estranho objeto. Não é para menos que estejam assim, eu que sei de onde veio já estou perplexo, deve ser que eles não estão olhando para a luz por medo. – Pensou ele sorrindo, afinal, realmente era muito pensar que estavam sendo iluminados somente por um estranho terço! Foi quando ele percebeu o que estava acontecendo. À medida que ele levantava com sua mão direita o rosário, sua mão esquerda parou subitamente de ficar dormente, e, ainda, às estranhas contrações na barriga da mulher pararam, não era muito religioso, mais aquilo era realmente fascinante. O Dr. Foliver ainda se encontrava ao seu lado, e quando percebeu a perplexidade do Dr. Salomão com o que estava acontecendo, o velho simplesmente bateu com afago em seus ombros dizendo com uma voz macia e carinhosa: 13 - Pode continuar o parto meu amigo, eu seguro este rosário de luz... O último ser que afligia esta mãe, e, ainda, colocava em risco toda operação, saiu neste momento, em breve tudo estará perfeito. Rapidamente o Dr. Salomão regressou de seus devaneios com aquela situação, se concentrando em seu trabalho, não fazia ideia do que aquele velhinho carinhoso falava, mais tinha que continuar aquele parto, porquanto, a mãe e a criança ainda corriam perigo. Neste momento ele rapidamente entregou o rosário ao Dr. Foliver como pleiteado, e reiniciou todos os procedimentos. Após alguns minutos às luzes da sala da mesma forma misteriosa que se apagaram, reacenderam, e as enfermeiras ficaram ainda mais assustadas ao verem que o Dr. Salomão havia feito o corte perfeitamente no escuro, e estava fazendo outros procedimentos de praxe. Ao lado do Dr. Salomão ainda estava o Dr. Foliver, contudo, ele nada fazia, somente dizia algumas palavras em voz baixa. - O que o senhor está sussurrando? – O questionamento de Salomão foi direto. - Fique calmo meu amigo, somente estou rezando! – Após dizer estas palavras ele pôs às mãos calmamente nos ombros do Dr. Salomão, que sem parar com os procedimentos somente aguçou os ouvidos para ouvir o que ele ainda estava dizendo. - Poucos médicos rezam atualmente, confiantes que somente a ciência tem o poder. Contudo, não sabem que a ciência não é nada sem a fé no Criador ou Criadores... Afinal, não foi um cientista Antoine Lavoisier que chegou a conclusão de que “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”? E, não foi outro cientista que afirmou que “A ciência sem a religião é paralítica - a religião sem a ciência é cega”? - Quem disse está última frase? – Questionou o Dr. Salomão intrigado com o que acabará de ouvir, mais não tirando os olhos do que estava fazendo, suas mãos pareciam estarem trabalhando por si só, era como se elas houvessem adquirido algum poder mágico, ele sabia que tinha vasta experiência, mas aquilo era surreal, ele conseguia perfeitamente raciocinar o que o Dr. Foliver dizia e fazer tudo perfeitamente. - Quem disse isto?! – Ironicamente respondeu o Dr. Foliver. – a segunda afirmação é de ninguém menos do que Albert Einstein... - Mas ele deixou transparecer que tinha algum dogma religioso? – Lançou Salomão rapidamente mais uma pergunta, logicamente, estava intrigado com aquilo, afinal, nunca havia se interessado por figuras da ciência, mas aquilo lhe deixou boquiaberto ao perceber que cientistas de renome tinham tal convicção. - Visto da versão que as religiões atuais pregam sim, ele nunca teve nenhum dogma, mais visto de sua própria versão, ele teve uma considerável, talvez muito reveladora para as futuras almas encarnadas, ele disse também que: “A religião do futuro será cósmica e transcenderá um deus pessoal, evitando os dogmas e a Teologia”. 14 O Dr. Salomão estava boquiaberto, e vendo que ele estava assim, o Dr. Foliver sentiu uma extrema alegria, era muito gratificante para ele poder ajudar aquele homem a entender um pouco de fé, mesmo que por pouco tempo. E, ele não sabia por que Cosme não havia conseguido quebrar à barreira sozinho, mas achava aquilo o máximo, ensinar para uma das almas mais evoluídas era surreal, e, ainda, ajudar esta alma a quebrar parte da barreira, era ainda mais gratificante, só que, para que ele não percebesse que estava com uma vasta habilidade, o Dr. Foliver tinha que ficar conversando, senão ele poderia intuir que estava operando como ninguém na terra jamais havia visto, ele buscava literalmente as habilidades da alma. Então o Dr. Foliver não perdeu tempo, e prosseguiu na conversa: - Até mesmo a igreja católica utiliza-se da ciência para comprovar um milagre, ou seja, a fé completa a razão, mas nem tudo que não pode ser comprovado através de um método racional, é digno de ser afastado pela ciência, poderíamos dizer que ela somente não conseguiu comprovar com os meios de que dispõem no momento, como diz o mesmo sábio cientista Einstein: “Sem Deus, o universo não é explicável satisfatoriamente.”. - Como assim? – Demonstrou mais uma vez sua curiosidade com a conversa. - A terra não era achatada antigamente meu caro Salomão? – Rechaçou o Dr. Foliver. E, pela primeira vez durante a conversa, o Dr. Salomão retirou completamente os olhos da barriga da mulher, olhando para o Dr. Foliver, seu olhar transmitia a mensagem clara: Eu agora entendi tudo! O Dr. Foliver deu um tapinha nas costas do amigo, dizendo com a mesma voz tenra e amigável: - A operação já está acabando, preste mais atenção no final, ela é mais importante do que você pensa, há muita coisa em jogo neste momento! O Dr. Salomão virou-se novamente e continuou o parto, estava completamente espantado com o fato de que suas mãos não pararam de trabalhar durante toda a conversa, mesmo quando ele estava perdido em seus pensamentos. Contudo, ele não sabia que sua consciência estava agora trabalhando aberta, deixando passar muito conhecimento acumulado em sua alma, e que o Dr. Foliver ria daquilo tudo alegremente. ****** Quando o jovem virou-se e nada viu... Somente uma rua deserta e escura, iluminada precariamente pelas luzes fracas da boate ao longe, logo pensou: Que sensação estranha! Mais a frente em um beco, uma figura sinistra se fez aparecer, era um espectro, sua face era formada apenas por buracos, literalmente, não possuía qualquer feição humana. 15 Mais que cheiro fétido, parece carne podre! - Pensou novamente o rapaz. Quando o jovem se virou cambaleando, estatelou-se seu corpo que já não tinha mais qualquer movimento próprio, a única coisa que ele via era a face daquele ser horripilante à sua frente. Logo após, o jovem caiu ao chão, mas ao bater ele não sentiu qualquer dor, seu corpo já não mais o pertencia... Parecia que ele estava ali dentro, via, ouvia, mais não sentia nada, e o que mais lhe causava pânico era que ele não tinha literalmente mais qualquer poder de comando... O fedor de carne pobre agora jazia em seu corpo, e o jovem se colocou em pleno horror quando ouviu sua própria voz lhe dizer: - Fique ai bem quietinho, somente vou precisar de seu corpinho por alguns minutos, até matar um cretino, após lhe devolvo ele, se algo sobrar... – Fez-se uma pausa, e concluiu: - É certo que se você viver, vai ficar muitos anos na prisão, mais quem mandou ser tão descuidado?... O jovem gritava por socorro, mas sua voz era inaudível, foi quando ele percebeu que estava começando a se levantar involuntariamente, e iniciou uma caminhada rumo ao que parecia ser um grande hospital... 16 CAPÍTULO 5 Londres – Inglaterra, 1982 Sentado em uma mesa uma figura no mínimo excêntrica lia um grosso volume de documentos velhos, que segurava com a mão esquerda apoiando-o, ainda em sua perna, os quais mais pareciam pergaminhos advindos dos primeiros exemplares do papiro, devido a sua tamanha aparência primitiva. O senhor tinha às pernas dobradas com maestria, onde se utilizava desta técnica para apoiar os pergaminhos, devido ao fato que não gostava de utilizar a grande mesa de mogno e pés em marfim, a qual ali se se encontrava mais para dar a sua sala certa imponência do que por utilidade, tendo em vista que, devido às suas várias expedições, ele que nestas não poderia contar com o luxo de ler apoiado em uma mesa, lia daquela forma sentado, por óbvio, não em uma poltrona como agora se encontrava, mas onde dava para esperdiçarse em seus pensamentos lançado naqueles documentos que lhe encantavam, e, portanto, por costume assim lia sempre. Na mão direita ele segurava um cachimbo também confeccionado em puro marfim, com detalhes em ouro, o qual tragava somente de vez em quando, devido ao fato de que sua atenção e prazer ali não estavam fixados, mas sim nos pergaminhos antigos, os quais eram frutos de sua última expedição a uma antiga civilização que muitos julgavam perdida, mas que ele somente com a ajuda de alguns de seus fieis e igualmente excêntricos amigos encontrou. Ele vestia um blazer negro, o qual se assentava perfeitamente as suas demais vestes, todas em social de alto padrão de costura, afinal um bilionário tinha que manter as aparências, visto que suas viagens e principalmente sua alta proximidade com a rainha já erigiram muitas suspeitas não somente em Londres, mas em toda Inglaterra. Após algum momento pegou delicadamente uma xicara de café que se encontrava sobre a mesa encima de um delicado apoio, por evidente colocado por seu mordomo Richard, o qual ele sabia que tinha mais paixão e zelo por aquela mansão do que ele próprio, afinal, Richard e os outros beduínos eram os quais passavam mais tempo nela. Todos o criticavam por preferir o café ao chá da preferência dos Ingleses, mas ele sabia que necessitava de energia devido a sua avançada idade, e, aquela bebida além de lhe proporcionar tal poder, ainda, era originada por uma forma de história que o seduzia, ele a bebia muitas vezes relembrando que para chegar-se a forma como hoje a preparavam, os monges tiveram extremo trabalho, entre torrefação, etc., era algo magnifico. Mas ao sorver o líquido quase o cuspiu, porquanto devido a sua fascinação pela leitura daqueles documentos esqueceu-se de tomá-lo quando ainda estava quente, mas há muito tempo ele já estava gelado como um defunto. 17 Contudo, algo lhe parecia estranho, afinal, tudo estava muito quieto como de costume, mas seus ouvidos aguçados de um caçador voraz escutavam rastejares ao longe. Sorrateiramente apertou um botão camuflado em sua mesa, a qual abriu um compartimento secreto, no qual ele inseriu os pergaminhos fechando-o logo em seguida, tomou o café mesmo frio para lhe dar mais energia, e, sorrateiramente pegou uma grosa bengala que estava escorada na mesa, e apoiando-se na mesma levantou-se, andando vagarosamente até à porta de saída. Mantinha a cabeça abaixada, mas seus olhos verdes lodo olhavam em todos os cantos do imenso escritório, o qual mais parecia uma biblioteca antiga. Após alguns passos percebeu uma sombra fora da mansão, estava próxima a uma das várias janelas, levou às mãos a cabeça como se estivesse esquecido algo, e, ao virar-se de uma forma discreta olhou melhor para a sala, percebendo não apenas uma, mas várias sombras. Vazou a informação, mas qualquer cretino iria pensar duas vezes antes de me desafiar! – Pensou sorrindo, tinha a certeza que nunca procurou uma confusão, mas era aficionado por uma boa disputa, contudo, tinha que confessar que os homens que ali estavam eram profissionais, afinal, eles caíram em sua estranha armadilha, mas fizeram tudo como dizia o protocolo dos agentes secretos, eram como ratos indo direto para a ratoeira, no entanto, estes ratos eram letais... - O jogo pode começar companheiros, venham rápido, já estou pronto! – Gritou o senhor em alto e bom tom, erguendo sua grossa e pesada bengala, pegando de surpresa os agentes camuflados do lado de fora de seu escritório. - Este senhor é um bilionário louco chefe! Está gritando para entrarmos, acho isto muito estranho... – Disse um dos agentes de campo pelo rádio ao chefe da operação, o qual ficou escondido no imenso jardim da mansão, operando e dando às coordenadas. - Não se preocupem agentes, ainda não perceberam que se trata de um velho raquítico, eu queria vir sozinho para cumprir a missão, mas eles não deixaram alegando que poderiam surgir complicações, por isso parem de serem mocinhas, entrem logo e acabem com ele, mas antes façam que conte onde estão os pergaminhos! – Respondeu o chefe o qual tinha uma voz rouca, o que contrastava com sua tenra idade, talvez se sua idade fosse à mesma que denotava sua voz ele pensaria duas vezes antes de ter dado aquela ordem... Movidos pelo impulso coercitivo do chefe, os seis agentes de campo não mais hesitaram em imediatamente arrombarem várias janelas e adentrarem o local, contudo, logo após o vidro quebrar-se, foram acionados por um mecanismo silencioso barras de ferro que bloquearam todas as entradas para o interior da mansão, mas não havia soado nenhum alarme, pelo menos em alto volume, parecia ter sido acionado somente as barras que impediram a saída e entrada de tudo. - Qual a posição agentes? Há seguranças ai dentro? – O chefe da operação estava atônito, aquilo não estava dentro do previsto, eles não haviam 18 sido informados de qualquer sistema de segurança daquela forma, ainda mais que impediam que os invasores saíssem, e não de que entrassem! – Bem que desconfiei que estava tudo muito fácil. – Ele pensou por fim. - Chefe, estamos presos aqui dentro, e o velho esta estranhamente parado na nossa frente olhando-nos com sua cara de doido, acho que ele tem algum plano que não premeditamos após as informações. – Gritou um dos agentes respondendo o chefe e demonstrando suas preocupações com o rumo da situação. - Informações?! – Gritou o velho, sorrindo ao ver os ratos se mexerem dentro da ratoeira. – Então a minha desconfiança está confirmada, vocês foram idiotas ao pensarem que eu iria deixar que o governo fizesse meu esquema de segurança sem que eu logo após promovesse algumas modificações com alguns de meus amigos do ramo de... digamos... segurança! – Arrematou ele evidenciando um sorriso malicioso, e um louco olhar como se fosse literalmente devorá-los. - Você escutou chefe? – Tornou a questionar o agente, o qual já tinha deixado o áudio ligado para que o chefe pudesse acompanhar pelo menos por áudio tudo que estava ocorrendo. - Sim, não tenham medo. Já havia sido avisado da excentricidade deste velho, mas ele não passa de um velho gaga, por isso andem logo. Acabem com ele rapidamente, após, para saírem, utilizem os explosivos, mas antes se lembrem de fazê-lo contar onde estão os papiros. - Papiros? Que papiros chefinho! – Gritou o velho que havia escutado as ordens devido ao volume do retorno do áudio estar no volume máximo, aliado ao eco que proporcionava a grande sala. – Pode ficar tranquilo chefinho que você vai sair daqui com apenas um papiro, aquele que vai ser enviado junto ao seu corpo para quem lhe contratou. – Arrematou. Este velho é realmente um louco, deve estar delirando! – Pensou o chefe da operação, mas no fundo temia, afinal, tudo estava tomando um rumo totalmente fora do que esperavam, então decidiu ordenar: - Homens ataquem logo, o que estão esperando?! Imediatamente os homens tomaram suas armas apontando-as ao velho, o qual para espanto deles sorriu ainda mais quando as miras a laser tomaram seu peito. O velho segurava a grossa bengala, e antes do show resolveu ainda mandar um recado: - Chefinho! Mande um adeus aos seus homens, ou melhor, até breve, porque em questão de momentos vocês estarão sendo sondados pelo barqueiro da morte... Logo após proferir isto o velho bateu sutilmente sua bengala ao chão, e de um compartimento na mesma saiu uma pequenina bola, a qual bateu ao chão e foi rolando em direção aos agentes. 19 - Parece que sua bengala é mais sensata do que você velho, está despedaçando de medo, e as partes tentam sair correndo de perto de ti. – E soltaram gargalhadas, ao passo que o velho somente retirou seus óculos de um dos bolsos levando-os aos olhos, o que fez com que os agentes sorrissem mais com a cena, e debochassem ainda mais, chegando a um deles caçoar: Meu Deus, ele quer enxergar os homens que o eliminarão deste mundo! Contudo, em poucos segundos a pequena esfera já havia sorrateiramente percorrido quase toda a grande extensão da sala, e já estava próxima aos agentes, foi quando eles perceberam que não era uma parte da bengala que caiu, mas foi arremessada dela, e, tiveram a certeza disto quanto o velho apertou mais um compartimento da bengala, ou melhor, do equipamento que ele usava camuflado de bengala, fazendo a esfera explodirse como uma granada, mas ao invés de estilhaços ela lançou foi uma luz radiante, a qual cegou instantaneamente os agentes, fazendo com que devido ao susto começassem a atirar, contudo, o alvo não estava mais na mira, já que os óculos que o velho havia colocado minutos antes era especialmente confeccionado para além de lhe proteger da claridade da luz, proporcionava visão de tudo a sua volta, principalmente dos agentes, os quais eram visualizados utilizando-se o sistema de visão termo térmica, assim, em segundos ele já estava protegido atrás de um móvel e as balas eram lançadas em todas as direções, chegando ao ponto de alguns destes acertarem os próprios companheiros. - Equipe! Equipe! O que estão fazendo? Não deixei claro que era para vocês extraírem a informação da localização dos papiros antes de matarem o velho! - Gritava freneticamente o chefe da operação, sendo tomado por um grande temor quando ouviu ao longe o velho lhe lançar uma resposta: - Fique calmo chefinho, seus agentes ainda estão totalmente confusos devido a um joguinho de luz que lhes proporcionei, lhe adianto que não tenho culpa de alguns deles serem tão fracos que no choque atiraram rumo aos próprios companheiros. Por isso, tenho que lhe avisar que devido a um compromisso inadiável, não poderei brincar mais. Assim, seu tempo de vida está contado a partir de agora, e pode ter certeza que em menos de seis minutos você poderá dar ordens pessoalmente aos seus agentes, conforme lhe falei, na embarcação da morte, isto se vocês já tiverem recebido o dinheiro para tomarem o que me pertence, porque do contrário não terão nenhuma moeda para pagar ao barqueiro. É hora de abordar, tudo está fora de controle, e este velho não parece ser o que aparentava... Bem que tentaram me avisar para tomar cuidado. Mas quem poderia imaginar que um velho raquítico tivesse alguma chance com seis agentes secretos treinados para matar? – Pensava freneticamente o chefe da operação antes de lançar a ordem: - Abortar, abortar agentes!! Mas já era muito tarde... Em um movimento rápido o velho ergueu novamente sua estranha bengala, pegou no cabo e apertou mais um botão também camuflado, imperceptível aos olhos alheios, afinal, foi desenvolvida para ser utilizada somente pelo velho, os botões antes de serem acionados 20 reconheciam automaticamente às digitais, assim, se outra pessoa pegasse o instrumento, ele não passaria de uma simples bengala. Após poucos segundos abaixo do cabo de alça da mesma uma pequena alavanca surgiu, o velho agora segurou a bengala como uma espingarda, sabia que dispunha apenas de trinta balas, assim, os tiros tinham que serem os mais certeiros possíveis, por isso levou às mãos aos óculos e apertou mais um botão, e, em segundos o infravermelho capitou três dos seis agentes, em um movimento rápido ele rolou para trás de outro móvel, o jogo iria começar... Os tiros foram certeiros no peito, o velho se vangloriou com a pontaria de um jovem, ou melhor, como ele costumava falar aos amigos: “Pontaria de um experiente caçador de formigas”. Falava assim porque os amigos sempre questionaram como ele tinha a pontaria tão boa, e ele respondia que treinava tentando atirar em pequenas formigas a metros de distância, a partir dai acertar no peito de um animal de maior porte, neste caso um ser humano, era tarefa fácil. - Chefe! Três agentes foram abatidos neste momento por disparos certeiros efetuados pelo velho em seus peitos. Espere... Outros dois foram abatidos agora! Estou sozinho, repito que estou sozinho! Creio que ele esteja com algum segurança, porque somente este raquítico sozinho não teria capacidade para isso tudo! – Gritava desesperado o último agente. Nossa... Este velho já está me dando nos nervos! – Pensou o chefe, antes de lançar à ordem obvia: - Rápido, saía daí! Vou te aguardar no nosso ponto de encontro, prometo que não vou sair da propriedade antes que você apareça... O agente tinha que ser rápido, sabia que o chefe iria cumprir a promessa, mas também tinha ciência que ele não era um louco para ficar aguardando por tempos. O velho estava satisfeito, sabia que se neutraliza-se todos os agentes provavelmente não iria encontrar o chefe, assim, era somente aguardar que o ratinho o levasse a toca... Para melhorar sua tática, ele ergueu-se somente um pouco, o suficiente para que o agente o visse correndo para fora da sala, e pensasse que ele estava tentando escapar. E, deu muito certo, porque, assim que ele saiu da sala, o agente comunicou-se com o chefe pelo rádio: - Chefe, já estou indo, o velho acaba de fugir da sala! E você não vai acreditar, ele estava sozinho mesmo... Acredito... – Pensou perdidamente o chefe, já raciocinando na bronca ou talvez até perca do emprego que estava predestino a levar por não tomar mais cuidado nesta operação. – Mas como poderia imaginar que este velho seria está maquina de matar? – Questionou indignado consigo mesmo. 21 O agente colocou na parede um explosivo plástico, se afastando, mas quando este estourou ele se assustou ao ver que não havia sequer trincado a parede. - Chefe, creio que está mansão é altamente blindada, mas espere... – Ele fez uma pausa boquiaberto ao perceber que as grades estavam se abrindo. – Acho que a explosão danificou o sistema que comandava as grades, elas estão se abrindo, já estou indo! – Articulou o agente que já estava saindo pela janela, o velho que o vigiava pela fresta da porta sorriu olhando para sua bengala, da qual segundos antes foi pressionado um botão secreto que liberou às saídas. Idiota, ele acha que alguma parte de minha mansão se danificaria com aquela explosão de nada! – Pensou o velho sorrindo, e, já seguindo no encalço do agente, seu sorriso malicioso se misturava ao pensando de como iria articular sobre o envio dos corpos de volta, de repente quase soltou uma gargalhada quando raciocinou melhor: contudo, acho que seria melhor falar que a carne já está acabando, e, como não estou atrás de nenhum bandido ultimamente creio que somente alguns corpos partirão ao seu destino... somente os magrinhos... Sorriu sinistramente com água na boca, mas sabia que não poderia se deliciar com nenhum deles, pelo menos por enquanto... 22 CAPÍTULO 6 Brasília – Brasil, 1982 Logo após a longa conversa que teve com o Dr. Foliver, em minutos o Dr. Salomão terminou a cirurgia, e a criança foi levada pelas enfermeiras já fora de risco para uma incubadora, uma vez que havia nascido pré-matura. Ele acabou de dar os pontos na mãe, suas mãos deslizavam suavemente ao promoverem o fim dos trabalhos, afinal, tinha certeza que aquela habilidade não era comum... Terminou e falou para sua equipe que a medicassem e a levasse para um quarto, que em breve ele iria ver como ela estava. Logo após ele foi correndo em direção à porta de saída, com esperanças de conversar com aquela senhora, e pedir que ela esclarecesse tudo aquilo. Queria saber principalmente por que estava lá? E o que significava aquele terço brilhante que pusera em seu bolso? Contudo, ao atravessar a porta e olhar o corredor levou um susto ao perceber que ele estava completamente vazio. Já devem ter ido embora! – Concluiu o óbvio. Então se dirigiu à secretária que ficava em uma mesa vendendo planos de saúde bem próximo à porta da sala de parto: - A que horas as pessoas que estavam ali saíram? - Me desculpe doutor, mas ninguém se sentou hoje à tarde nos bancos deste corredor... – A moça respondeu hesitante, afinal, não queria dizer algo inapropriado para um médico, porquanto, necessitava de seu emprego. O Dr. Salomão se irritou, lhe falando de uma maneira áspera e sem educação, o que não era comum, mas àquela garota devia estar brincando com sua cara, ele pensava: - A senhora esta me dizendo que não viu aquele monte de pessoas com bíblias, e aquela senhora negra que estava aqui na porta e até me deu um abraço??!! A secretária ainda mais confusa lhe respondeu com mais medo e receio nas palavras: - Me desculpe doutor... Mas não sai daqui... E... Como lhe falei, não vi ninguém. E sobre esta senhora que estava conversando com o senhor, para lhe ser sincera, acho que o senhor deve estar um pouco cansado, porque o senhor estava conversando sozinho! Até pensei em lhe perguntar se não estava precisando de algo, mais conclui que talvez estivesse se concentrando e aquela era a forma utilizada para tanto... O Dr. Salomão ficou perplexo ao ouvir aquilo, não poderia ser verdade. Lembrou-se então do Dr. Foliver, ele havia entrado naquele momento em que aquelas pessoas estavam no corredor, decidiu então entrar na sala de 23 parto, e conversar com o mesmo, e até mesmo lhe pedir de volta o terço brilhante que lhe entregou no momento do parto. Contudo, ao retornar à sala, ele não encontrou o Dr. Foliver, ficou um pouco confuso, já que para sair o mesmo teria que ter passado por ele perto da porta no corredor, mas como estava furioso com aquela tonta de secretária, devia ter passado sem que ele percebesse. Foi até a enfermeira que estava ali desde o começo do parto, e lhe perguntou: - Janice, o doutor que eu chamei para cuidar da pressão e da aceleração cardíaca daquela mãe, ele te disse para onde iria? A enfermeira lhe respondeu meio que sem entender: - O que está dizendo doutor? Ele não podia acreditar, a secretária e a enfermeira deviam estar de brincadeira. Falou de uma maneira seria novamente, para deixar bem claro que naquele momento ele não estava para brincadeiras: - Escute aqui Janice, eu lhe pedi para chamar um cardiologista, para ele examinar a paciente e controlar sua pressão que no momento que eu sai estava alta e os batimentos cardíacos descompassados, e não poderíamos fazer nada além dos parcos medicamentos que administrei somente para acalmar momentaneamente, até ai você se lembra?! – Sem deixar que ela respondesse continuou com a mesma voz furiosa: - Então, como você estava demorando muito, não se sabe o porquê, eu saí e encontrei um médico bem ali, pertinho da recepção, que você não teve a competência de encontrar! A enfermeira já estava ficando mais do que confusa, e lhe respondeu também de uma forma séria e direta, com o mesmo tom de voz, afinal, não precisava daquele emprego como a secretária: - Doutor, eu lhe respeito muito, mais o senhor mude o tom de voz comigo! Eu ouvi sim o que o senhor havia me solicitado! Acontece que saí por todo o hospital, não sozinha, e sim com mais algumas secretárias da recepção central, não encontramos nenhum médico disponível na área de cardiologia. Ainda, lhe digo que demorei porque tivemos que peregrinar pelo hospital, porquanto, inexplicavelmente o som de chamada estragou bem no momento em que a recepcionista ia chamar o médico que você necessitava. Nisso voltamos às pressas para lhe avisar, para que o senhor pudesse analisar o que seria feito, mas o senhor ainda não havia chegado e a pressão da mulher havia baixado assustadoramente, e estava normal, pensamos que foram os medicamentos utilizados pelo senhor mesmo, foi ai que o senhor chegou apavorado foi até um canto e ficou conversando sozinho, e depois veio até nós, dando ordens e ainda falou: “temos a chance de salvar os dois!” não me deixou falar uma palavra sobre eu não ter encontrado algum médico, e, ainda, ficou durante todo o procedimento cirúrgico conversando coisas que eu nem sei falar o que... – Parou vagarosamente de falar ao perceber que o doutor não estava mais prestando atenção, afinal, ele parecia estar perdido em seus pensamentos. 24 - Doutor! O senhor está me ouvindo? – Ela tentou chamar sua atenção após alguns minutos sem que ele sequer piscasse. O Dr. Salomão estava realmente vivendo um dia daqueles, mas ainda estava racional o bastante para discernir o certo do errado, foi ai que ele lembrou-se de algo, retornou de seus devaneios questionando: - Janice, então me diga quem estava no momento em que o terço começou a brilhar, e ainda me deu um tapinha nas costas me desejando boa sorte? - Doutor, não sei realmente o que está acontecendo! Mas o senhor precisa descansar, vou lhe falar somente uma vez, não sei nada deste crucifixo brilhante, somente sei que ficamos tempos no escuro, até as luzes reacenderem. – fez uma pequena pausa para tomar ar, e prosseguiu de maneira firme: - E quando às luzes retornaram o senhor inexplicavelmente havia iniciado os procedimentos no escuro mesmo. Enfim, somente sei que eu não consegui arrumar um médico cardiologista, a luz se apagou subitamente, e a mulher começou a gemer muito, e depois de algum tempo no escuro às luzes retornaram com o senhor já fazendo todos os procedimentos, e o senhor estava mais calmo do que nunca, e fez o melhor parto que eu já vi o senhor ou qualquer outro médico fazer em todos os meus vastos anos como enfermeira. Após falar isto, à enfermeira virou as costas e começou a andar em direção a porta, o Dr. Salomão mesmo confuso lembrou o nome que o médico havia dito quando se apresentou e falou para a enfermeira: - Janice, me desculpe, mas será que você pode responder somente mais uma pergunta? Ela então parou olhando para ele sem nada falar, era como se quisesse dizer para ele “não”, mas sabia que tinha que escutar. Ao perceber a parada, o doutor respirou e a olhou triunfante, certamente aquilo mataria o assunto, portanto, arrematou: - Ele disse que se chamava Dr. Foliver! Janice virou no mesmo momento o corpo totalmente e soltou um sorriso meio sem graça, falando com uma voz chorosa com mistura de raiva pela brincadeira que aquele homem acabará de dizer: - Doutor pare com estas brincadeiras imediatamente, e tente descansar, porque não admito este tipo de coisa. Afinal, todos aqui sabem que o Dr. Foliver morreu há cinco anos. E, aliás, foi na vaga dele que o senhor entrou neste hospital. Portanto, lhe digo que gosto muito do senhor, mas ele era um grande amigo meu e de todos e por isso não deveria brincar desta forma. A enfermeira saiu chorando, lembrando-se do doce Dr. Foliver, e o Dr. Salomão fixou somente parado, perplexo, sem qualquer reação. 25 ****** Do lado de fora do hospital o jovem avançada a passos longos, ou melhor, aquilo que o dominava... - Será neste momento que você sentirá minha fúria Cosme! – Ele dizia com uma voz sinistramente rouca e grossa. Um cachorro que estava revirando uma lata de lixo começou a latir muito ao vê-lo passar, contudo, somente com um olhar o cão começou a promover um comum choro canino, e, ainda se mijava todo de medo. - Isso mesmo cãozinho, seja esperto e fuja, se Cosme fosse como você já estaria longe... 26 CAPÍTULO 7 Brasília – Brasil, 1982 Após a enfermeira sair, o Dr. Salomão ficou curioso, já havia lido casos de médicos que diziam terem sido ajudados por médicos mortos, mais achava aquilo uma grande lorota, decidiu tirar o caso a limpo, afinal, era muito fácil, e num giro rápido saiu às pressas pelo corredor do hospital. Ao cruzar uns sete corredores ele chegou ao seu destino, pediu à secretária que cuidava de todos os arquivos do hospital que lhe entregasse a pasta do Dr. Foliver, que ele queria dar uma olhada. - Sim doutor, é pra já!... Nossa como o tempo passa depressa, já tem cinco anos que ele se foi. Ainda me lembro, era o melhor! Tinha uma grande simpatia, contagiava todos os pacientes e funcionários do hospital com sua alegria, pena que ele se foi... – Ela lhe respondeu numa voz quase de choro. O Dr. Salomão ficou meio sem graça em ter certeza que todos conheciam e adoravam o Dr. Foliver, somente ele não sabia nada sobre aquele finado homem. Mais também ele não sabia nada sobre ninguém, se preocupava tanto com o seu serviço que nunca demonstrava seus sentimentos. Ultimamente, ele sabia que seu tempo estava escasso até mesmo para ele, nunca namorou, afinal, não tinha mãe nem pai, e sempre teve que lutar pela sobrevivência, principalmente, para conseguir se formar em medicina, teve que batalhar, fazendo vários bicos para se alimentar, porquanto, havia conseguido passar em uma universidade pública, mas, mesmo assim tudo era muito caro, e, ele queria sempre mais, e nesta ânsia por trabalho, acabou sozinho, mas tinha sempre um sentimento de que a medicina estava entranhada de tal maneira em suas veias que era o que bastava para lhe fazer feliz, mal sabendo que ela estava penetrada ainda mais fundo, literalmente, em sua alma... Mais aquilo não tinha nada a ver naquele momento, espantou seus sentimentos, e aguardou ansioso à secretária que após muito procurar, finalmente achou a respectiva pasta, e lhe entregou com um sorriso. O Dr. Salomão estava um pouco receoso em abri-la, mas logo um pensamento racional tomou conta de sua mente: Deixe de ser bobo, abra logo, isto não passa de uma brincadeira da sua equipe! Após abri-la, ele se esfriou até a espinha, na primeira página do arquivo tinha uma foto bem grande do Dr. Foliver, o mesmo homem que o estava ajudando na sala de parto... Após ver as fotos ele somente teve forças para dizer algumas palavras sem raciocinar: - Meu Deus, por isto ninguém via aquelas pessoas, elas estão mortas... 27 ****** O jovem não entendia nada do que estava acontecendo, ele se sentia leve, como se estivesse flutuando dentro de seu próprio corpo, que naquele momento já estava quase chegando ao hospital. Ele não tinha o controle de nada, e, até mesmo percebeu que não mais se encontrava embriagado, afinal, mal sabia ele que o álcool estava em seu sangue naquele momento, e, ele não tinha mais a percepção deste, porquanto, somente sentia sua alma, que mesmo sem comandar o corpo, ainda permanecia ali dentro, totalmente a mercê do ser que lhe abduziu. Quando sua cabeça involuntariamente olhou para baixo, ele pôde ver seus braços, se assustando ainda mais ao perceber que ele estava inexplicavelmente suando sangue, e muito sangue, e se apavorou ainda mais ao ver o que estava em suas mãos... 28 CAPÍTULO 8 Londres – Inglaterra, 1982 Após uma longa caminhada o agente chegou até o ponto de encontro que havia designado a poucos metros do grande muro aos fundos da mansão. Pensava que àquela altura estaria com os manuscritos em mãos, e o velho aniquilado, lado outro, o plano definitivamente não saiu como esperava... - Ande, não temos muito tempo, em breve a guarda real pode chegar! – Gritou o chefe ao avistar a aproximação do agente. Quando o velho avistou-os levou um susto, nunca pensaria que eles fossem fazer um buraco no muro, tão grande, pensou que seria menor. Vândalos! – Pensou sorrindo. - Está tudo aqui chefe, creio que podemos partir... - Acho melhor vocês esperarem até o jantar! – Disse com uma voz macia o velho que já estava ao lado de ambos, ao passo que os intrusos quase tiveram uma parada cardíaca devido ao grande susto com a chegada inesperada. – Se assustaram? – Caçoou ainda o velho sorrindo. Este velho realmente é muito sinistro. - Pensou o chefe da operação. - E ai? Ainda não responderam minha pergunta! – Retornou o velho logicamente querendo amedrontar ainda mais os agentes. - Não podemos ficar para o jantar, mas creio que levando em consideração sua fortuna, ele será irresistível. O que servirá? – Retrucou o chefe, após ver que seu agente estava totalmente abalado com a chegada repentina, ele havia percebido nos olhos dele o medo por tudo que havia passado no interior da mansão, e, por isso resolveu ironizar, para demonstrar que não tinha medo dele. - Vou jantar seu agente! E, de você penso em comer apenas o coração... – A resposta foi seca e direta. - Sei que você deve estar se sentindo o maioral, mas quero que saiba que não está com esta bola toda velho, afinal, tenho que reconhecer que você encontra-se em ótima forma para sua idade, e, ainda, que até demonstrou ser digno de respeito. Mas a partir dai você querer colocar medo como se fosse um canibal, já é outra história. – Retrucou o chefe no mesmo tom de deboche. - Não estou tentando colocar medo em vocês, longe de mim fazer uma maldade destas. – Disse erguendo as mãos. – Mas como vocês vieram me desaforar em minha casa, não vou lhes perdoar, agora você vai assistir eu arrancar cada um de seus membros, ai eu vou costurar para que você não sangre e morra rapidamente, ai eu arranco outro, e mais outro, e outro... Neste momento o agente pensou que agiria mais rápido do que o velho e sacou sua pistola, mas antes de erguê-la o velho apontou-lhe aquilo que até pouco tempo eles afirmavam ser uma bengala, disparando um tiro 29 certeiro em seu pescoço fazendo-o cair instantaneamente, o chefe estava boquiaberto, e assustado procurando por sangue, o qual não jorrou do pescoço do agente. - Acalme-se chefinho, não o matei ainda. Somente porquanto sou um homem de palavra e vou cumprir o que acabei de lhe jurar, que vou matálo aos poucos, bem aos pouquinhos... – sua expressão era de um verdadeiro psicopata. – Por isto somente lhe apliquei um sedativo poderoso, retirado de uma poderosa serpente da África. - Não posso implorar por minha vida, afinal, pelo que vejo estou lidando com um psicopata canibal. – Respondeu o chefe da operação. O velho o analisou pela primeira vez não como presa, mas como uma fonte infinita de oportunidades, a qual ele havia traçado, por isso decidiu seguir adiante em seu plano perigoso: - Não pode implorar por sua vida, mas pode negociá-la. O chefe da operação o olhou com desconfiança, afinal, pelos anos que trabalhava naquele serviço sabia que aquilo era muito arriscado, mas às chances dele sair vivo, o que até aquele momento estava fora de cogitação surgiam, então decidiu entrar no jogo: - O que propõe em troca? - Tudo, somente quero saber tudo! – Foi direto o velho. - Tudo o que? – Tentou se fazer de desentendido somente para avaliar suas opções. Mas a resposta do velho tirou todas às suas dúvidas, ele não estava para brincadeiras... - Da próxima vez que você se fizer de desentendido, vou arrancar sem cerimonias seu coração e comê-lo quando ainda estiver pulsando! - Me desculpe... Sou um ex-agente da inteligência britânica. Quando me aposentei, percebi que não tinha família, amigos, enfim vida social, tinha sido treinado para matar, e era somente isto que eu fiz minha vida toda. Tentou retornar, mas negaram, alegando que seria muito dispendioso manter um agente como eu ativo, e, ainda, que era muito perigoso... – Ele mentiu em partes, tentando mudar o rumo da conversa. - Simplificando, eles acham que você é um velho imprestável como eu! – Interrompeu o excêntrico senhor fazendo esta consideração direta. - Sim, em síntese é isto! Mas eu sou jovem ainda, e decidi chamar alguns de meus companheiros que também se aposentaram, e juntos formamos uma empresa de serviços militares secretos privados. - Mercenários! – Completou novamente de forma direta o velho. 30 - Sim, basicamente é isso. Contudo, nosso negócio prosperou e muito, e começamos a recrutar cada vez mais ex-agentes, e, tornamos uma empresa global, agindo atualmente em quase todos os países. – Ele intercalava mentiras com verdades para que o velho não desconfiasse. - Mas porque você, um dos fundadores desta mega empresa de mercenários, iria agir em uma operação como está? - Porque o cliente exigiu que assim fosse feito! – Foi também direto o chefe, nesta parte não mentindo. - Quem era seu cliente? - Eu não tenho acesso a todos os dados dos meus clientes, afinal, recebo o dinheiro e faço o serviço. Mas este eu decidi antes pesquisar. - Por quê? - Simplesmente, porquanto, às informações eram muito precisas, tinha acesso a dados que somente o governo britânico poderia acessar, e, como ali trabalhei, sabia desta informação. Assim, decidimos analisar antes, afinal, somente cumprimos missões para pequenos países, se algum grande queria nossos serviços poderia ser uma armação para desmantelar nossa organização. - Bem pensado. – Concluiu o velho. - É... Em tese seria fácil, porém cada vez que nos pesquisávamos aparecia algo muito estranho. - O que? - Era como se o cliente estivesse em vários locais ao mesmo tempo, sempre a mesma voz rouca e gasta agindo em diferentes repartições, ora do governo, ora de empresas privadas, etc., e concluímos pelos nossos dispositivos de tecnologia, que não se tratava de um decodificador de voz, nem nada desta espécie, parece que este sujeito tinha acesso a todos os lugares! Mas quem poderia ter acessos a todos os lugares? - Qual era o nome que ele se apresentou? - Ele disse se chamar Xotono. O velho foi pego de surpresa, e o chefe soube disso pelo seu olhar de espanto, um que ele não havia visto deste o momento que a equipe havia começado a vigiá-lo a mais de três meses atrás. - Você sabe quem ele é! Não estou certo? – Questionou o chefe após ter enfatizado a descoberta. - Sim, sei. Não diria quem, mas o que ele é atualmente! - Como assim “o que ele é atualmente”? – O chefe retrucou perplexo pela dubiedade da resposta. 31 - Não posso lhe responder tudo, somente lhe garanto que você pode ser um homem morto mesmo se eu lhe deixar ir. Apenas terá uma chance. - Qual? - Se aceitar trabalhar para mim! Este velho está querendo que eu trabalhe para ele, por isto está inventando estas histórias... – Pensou logicamente o chefe, antes de tentar negociar, afinal, era realmente um mercenário e não um homem que os outros exigiam respeito e companheirismo, quem pagar mais levaria os serviços de sua agência, só que ele sabia que as pessoas que lhe contrataram eram muito ricas, afinal, pagaram em barras de ouro, e certamente iriam encontrar outra agência para fazerem os serviços. - Quando minha firma ganharia com isto? - Sua firma eu não sei, mas você ganharia sua vida novamente, tanto neste momento quanto quando regressasse para seu quartel e descobrisse que se encontra no centro de uma disputa mundial, que envolve governos, bilionários, ordens secretas, igrejas e cultos diversos, congregações, etc., há, e já ia me esquecendo das seitas satânicas onde os principais membros são os próprios demônios, principalmente, aquele que lhe contratou a mando de seu chefe maior... O chefe ficou perplexo, logo pensando: Ou este velho esta novamente brincando com minha cara, ou ele é mais louco do que imaginei. Contudo, tenho que prosseguir. - Você não vai conseguir meus serviços com este jogo. – Tentou ponderar de uma maneira direta, contudo, sabia lá no fundo que além de suas opções serem escassas, o velho parecia dizer a verdade, ele mesmo já presenciou coisas naquele serviço que não pareciam serem deste mundo. - Não sei se você aceitará cumprir os meus serviços, mas posso lhe ajudar a sobreviver pelo menos em relação a quando regressar, assim, você terá noção no que se meteu, e, se for sensato me procurará novamente para negociarmos. – O velho foi direto. - Como você tem tanta certeza que é está seita que quer os pergaminhos? E, ainda, porque quer que minha firma preste os serviços para o senhor? Logo a firma que tentou lhe matar, não seria mais sensato contratar outra, afinal, um bilionário com influência no governo poderia inclusive ter agentes deste próprio para lhe proteger. - Vou responder primeiramente a última pergunta. Não quero outra empresa, porquanto, o dono de nenhuma empresa que contratar não saberá com precisão com quem eles estão lidando, assim, podem me desafiar, o que não ocorrerá com a sua, porquanto você sabe muito bem o que acontece com quem me desafia... – Fez uma pausa olhando para o agente dopado ao chão. - Você não estava falando serio quando disse que... 32 - Que iria comê-lo?! Estava sendo o mais sério possível, e, se não acredita posso lhe fazer um vídeo para lhe provar, contudo, lhe advirto que ele se autodestruirá após a primeira exibição, porquanto, tenho que manter minha reputação, e às pessoas não gostam de canibais, mesmo sendo bilionários... - Então você vai realmente... - Não! Quer dizer... Pelo menos no momento. Vou aguardar você retornar com a resposta, afinal, se você for me representar, tenho que reservar contingente para tanto, mas tenho que lhe dizer que estes homens são bem fraquinhos... – Fez cara de nojo e cutucou com a sua misteriosa bengala o homem que ainda estava jogado ao chão como um saco de lixo. - E sobre está sua arma, ela é um pouco excêntrica não acha? Afinal, quem a projetou? – Tentou puxar papo o chefe, o qual já se sentia mais à vontade após aquela conversa. O velho lhe olhou bem nos olhos, e para sua surpresa não respondeu, apenas virou-se e saiu andando bem devagar, como se ainda zombasse dele ao virar as costas provando que não sentia o menor medo. - E quanto ao corpo de meus homens que ainda se encontram em sua mansão? – O chefe gritou impaciente. O velho parou subitamente, virou a cabeça somente um pouco, não a ponto de olhar diretamente para o chefe, somente queria que ele escutasse melhor. - Como lhe falei, tenho fins melhores para eles... E você não está na posição de fazer nenhuma exigência, afinal, já lhe dei um de seus agentes medíocres, para completar o que restou vivo. Assim, os mortos terão mais utilidade comigo, pode ter certeza! – Começou a andar, e antes de sumir gritou: - E lembre-se que estou aguardando a sua resposta, você tem no máximo trinta dias para ter ciência no que se meteu, do contrário eu mesmo vou aniquilar cada membro de sua organização, desta vez não com minhas próprias mãos, somente porque estou um pouco cansado de tudo isso, assim, para me livrar deste incomodo vou ter uma conversa com alguns amigos meus no governo, acho que eles não vão achar nada bom uma empresa como a sua trabalhar desta forma... – E sumiu no jardim. O chefe estava boquiaberto, no momento em que entrou naquela mansão, trouxe os seus mais novos homens, porquanto, tinha convicção de que o serviço seria tão fácil que era melhor gastar menos em contingente. Lado outro, naquele momento estava não apenas assustado, mas com um frio na barriga, realmente aquele velho tinha muita influência, sua firma estaria aniquilada em questão de dias se ele abrisse a boca, mas algo em seu interior lhe dizia para confiar naquele senhor. Após algum tempo o velho entrou em sua mansão, contudo, não se dirigiu para a sala onde estavam os corpos, lá, sabia que seus sete empregados de extrema confiança estavam dando cabo à bagunça, iriam preparar os corpos, estocar a carne em frízeres inseridos em uma cozinha 33 secreta na mansão, onde somente era preparada a iguaria que ele mais apreciava, carne humana... - Vou tomar um belo banho de banheira, repousar para recobrar minhas energias, porque hoje tem jantar especial... – Disse para sigo mesmo até se perdendo nas palavras ao deleitar-se com aquela estranha sensação. Na sala de reuniões os ditos funcionários trabalhavam sem parar na limpeza do cômodo, enquanto uma mulher varria, um deles retirava as roupas dos agentes, afinal, em pouco tempo deveria desossar os mesmos, e tudo deveria estar preparado quando o chefe retorna-se, por isto eles já se preparavam para descer e incinerar tudo em uma máquina feita exatamente para tanto. Aqueles não eram simples funcionários, eles compartilhavam de parte da vida do velho, afinal, haviam feito dele o que é hoje. Eram altos e magros, havia duas mulheres e cinco homens, quatro deles filhos das mulheres com o mais ancião. A relação deles com o velho começou há muitos anos, quando o velho que já era bilionário do setor industrial, e muitíssimo culto, deu início ao seu sonho de fazer expedições em busca de tesouros perdidos. Sobre esta história o chefe da operação já estava prestes a descobrir, porquanto, assim que saiu da propriedade do bilionário arrastando o seu agente de campo, o qual não havia ainda acordado totalmente, somente gemia, ele se dirigiu para a casa de seu mentor... 34 CAPÍTULO 9 Brasília – Brasil, 1982 O Dr. Salomão estava atordoado, deixou os papéis caírem e tentou tremendo pegá-los novamente, mais ao agachar não conseguiu se levantar, porquanto, suas pernas estavam bambas e não conseguia impulsioná-las. A secretária do arquivo num gesto de solidariedade saiu apressadamente de trás do balcão e foi tentar ajudá-lo, ele se recompôs agradecendo a boa vontade da moça. - Doutor, o senhor esta bem? Quer que eu chame um médico? Mesmo se encontrando naquele momento em pleno estado de pânico, ele ainda achou graça naquilo. Chamar um médico! – Pensou. - Pelo menos ela não havia falado a mesma frase “o senhor deve estar cansado”, se não eu iria mesmo explodir! Ele concluiu. Mas sabia que no fundo, sua racionalidade clamava mesmo era por um psiquiatra! Após conseguir se recompor e pegar o restante dos papéis do chão, ele se levantou, agradecendo à secretária, e logo lhe perguntando: - Por acaso, eu posso ficar com estes documentos por alguns minutos? - Pelo tempo que o senhor desejar doutor, somente terá que assinar um protocolo. Após todos os procedimentos de preenchimento do protocolo, que para desespero do Doutor era enorme, a secretária liberou os documentos. Ele sem querer perder tempo, pegou os papéis, agradeceu de uma maneira rápida, e saiu em disparada pelo corredor. A pressa era porque ele havia se lembrado que o Dr. Foliver, ou melhor, seu fantasma, tinha lhe falado que havia rezado junto com a mãe, e que ela havia se acalmado com aquilo. Então, rapidamente ele cruzou os corredores do hospital até chegar a um quarto escuro, onde descansava ainda ligada a alguns aparelhos a mulher. Ele então chegou bem perto dela, pegando firmemente em seu braço, e dizendo serenamente: - Por favor, acorde... Preciso lhe perguntar algo. A mãe foi abrindo os olhos verdes e belos, por alguns instantes ele parou ao ver aqueles olhos tão lindos, que não tinha notado na sala de parto, então como se estivesse despertando de uma longa eternidade de escuridão a mãe ao ver que era o Dr. Salomão, lhe perguntou: 35 - Doutor, está tudo bem com o meu filho? - Sim, ele está ótimo, em pouco tempo você já poderá vê-lo, ele ainda está na incubadora. - Sem se esquivar, respondeu prontamente. Ela então respirou aliviada, e, após alguns minutos curtindo o alívio interagiu: - Então Doutor, a que devo sua inesperada, contudo, tão grata visita? Sem querer perder tempo, ele mostrou a pasta com as fotografias. - Por favor, quero que você se esforce e me diga se lembra deste senhor? A mulher então olhou bem para a foto, e não precisou pensar muito para lembrar-se de onde o conhecia. - Este senhor, é o que me acalmou na sala de parto, ele pós a mão em minha barriga, e começou a rezar em uma língua estranha. Após, ele me falou para ficar calma, que tudo iria sair bem, e que aquilo que estava me afligindo era muito fraco, e somente uma oração com fé iria adiantar. Então, após isto começamos a rezar o pai nosso, e tudo foi passando, até que o senhor chegou à sala, e ele me deu um beijo na testa me dizendo para ser forte, e foi falar com o senhor. – Ela respondeu sorrindo ao se recordar do ocorrido. O Dr. Salomão estava branco, aquilo era muito para sua cabeça incrédula. Neste momento, vendo como o doutor estava passando mal, a mulher decidiu perguntar-lhe: - Doutor, o senhor está bem? - Sim, estou... Acho que sim, somente preciso descansar! O dia hoje foi difícil. - Ele respondeu de uma maneira pensativa, como se escolhesse as palavras. Logo após tocou um bip, e as caixas de som emitiram um chamado: “Dr. Salomão, compareça à portaria de forma urgente!” O Dr. Salomão achou aquilo estranho, porque o seu turno já havia acabado. E, ainda, tinha o fato de que aquela voz não era da Suzana, a moça encarregada de chamar os médicos. Bem como, Janice havia dito que o som não estava funcionando... Mas decidiu atender ao chamado. Antes de sair, decidiu falar uma última coisa para a mãe, a qual ele aquela altura julgou conveniente: - Sei que não sou seu parente, mais acho que você deveria colocar o nome dele de Marcos, uma certa amiga me falou que ele estará melhor com este nome. 36 Ela sorriu, e lhe respondeu alegremente: - É mesmo Doutor você também acha? Ele ficou sem entender, será que aquela mulher havia falado com ela também? A mãe, então vendo que ele não entendia nada, lhe disse calmamente: - Venho tendo diversos sonhos, com o meu filho já velho, e sempre lhe chamo de Marcos, e muito raramente no sonho está uma senhora negra que me fala para ser forte, e que ele será mais forte com este nome. Eu estava um pouco confusa, se colocaria este nome mesmo sabendo que meu marido não gosta dele, mas já que até o senhor acha bonito, vou colocar, afinal de contas, se não fosse pelo senhor acho que nem estaria aqui... Ele sorriu, acenou para ela, e lhe desejou uma boa sorte, saindo do quarto. Mal sabendo que quem realmente precisaria de sorte seria ele... 37 CAPÍTULO 10 Londres – Inglaterra, 1982 O chefe da operação chegou rapidamente à casa de seu mentor, o qual já era um senhor que contava com quase noventa anos, mas exibia um físico ainda dos seus tempos de espionagem. Ele havia feito trabalhos incríveis, não trabalhava para um ou outro governo, mas para vários. Diziam que ele já havia de alguma forma trabalhado para todas às agências de inteligências do mundo, e foi quem havia fundado a empresa de espionagem Snipes Deltas, da qual ele agora sentia a honra de chefiar desde a incumbência recebida do ancião há quinze anos. - Charles?! Seu lobo magricela, venha rápido para cá que já estou lhe vendo. – Gritou uma voz grave e rude assim que o chefe pôs os pés para dentro da residência do ancião. Ele tinha a chave, mas o que lhe assustou mais foi ouvir o seu nome, afinal, na agência era regra que todos deveriam ter codinomes, e o dele denotava seu cargo “chefe”, e como não tinha família nem amigos, era raro alguém chamá-lo pelo nome. Contudo, o que mais lhe intrigou ao adentrar na residência, foi à rapidez com que o velho descobriu sua chegada. Parece que ele ainda mantém o ritmo frenético dos tempos de espionagem. – Pensou Charles em primeiro momento sorrindo, já se dirigindo para a sala. Ao adentrar avistou a mesma imagem de sempre, um ancião enxuto, sentado em sua poltrona, com seu inseparável charuto na mão esquerda, o qual ele sabia que ali se encontrava somente para manter o hábito, e, para o velho cheirar, visto que ele estava terminantemente proibido de fumá-lo por ordens médicas, as quais ele sempre seguiu a risca. - Frederick, parece que o senhor não perdeu o tino e a astúcia de perceber a presença de estranhos. Está de parabéns. – Disse Charles sorrindo pegando na mão do ancião, o qual era a única pessoa que ele tinha maior familiaridade na vida. - Quando se é um agente nunca perdemos a astúcia adquirida em anos de treinamento, quando isto ocorrer você pode se considerar um homem morto. Mas tenho que admitir que você facilitou às coisas, suas passadas são como elefantes chegando, e você vira o trinco da porta como um bêbado chegando em casa não querendo acordar a esposa que imagina estar sendo sútil, mas o barulho é inevitável. – Respondeu o velho sorrindo e beijando a mão do rapaz em sinal de carinho. O beijo na mão demonstrava não apenas carinho do velho com Charles, mais a afeição que ambos tinham pelo outro, principalmente para Charles, porquanto, este era seu único contato com uma figura que ele considerava familiar, visto que cresceu em um orfanato, até que Frederick o adotou quando tinha quase quinze anos, retirando-o da instituição onde ele foi enviado quando contava apenas com cinco anos, após a morte de sua mãe que era uma prostituta russa. Mas o velho não levou-o para sua casa para morar com sua família, ou melhor dizendo, sua principal família, visto que ele tinha algumas em países diversos. Ao invés disto Charles foi enviado 38 diretamente para sua empresa, e foi treinado pelos melhores agentes do mundo os quais já estavam aposentados de seus trabalhos, tendo em vista que a empresa era dotada em sua grande essência destes agentes, escolhidos a dedo por Frederick que comandava tudo com mãos de ferro até poucos anos, quando sua saúde se debilitou, e ele se afastou pela primeira vez na vida de suas ocupações, não por ele, mas a pedido de sua única filha que era conhecida por Charles, a qual ele tinha extremo carinho e consideração, e achava que era o momento de passar mais tempo com ela. Para espanto de Charles, foi ele o escolhido para assumir a chefia da organização, ao passo que, quando questionou o velho sobre a escolha somente ouviu um xingamento e uma explicação proferida por um louco em uma reunião em que estavam presentes os principais lideres da agência, todos agentes reformados com alta experiência no que faziam de melhor, espionar e matar, e isto eles souberam repassar para Charles, e ele ainda se lembrava de cada palavra proferida naquele dia: “Você é um retardado mesmo! Afinal, foi criado nesta agência unicamente para ser fruto desta empresa, ou seja, de nenhum governo, não tem família mesmo depois de velho, o que eu considero um pouco excêntrico, devido ao fato de eu adorar ter família, por isto tenho várias pelo mundo. Cresceu e fica o tempo todo que dispõe sozinho e nem por isto tem menos determinação. Passou por todos os testes físicos e mentais elaborados pelas melhores agências de inteligência. Torrou da agência milhões em investimentos em lhe proporcionar os melhores estudos que uma pessoa poderia ter. E, ainda, depois disso tudo questiona minha ordem? Você realmente é um idiota! Mas é o meu idiota, e por isto vai comandar está firma como se fosse sua. Mesmo sabendo que você é um viadinho, e que é por isto que não forma uma família.” Charles ainda lembrou-se dos sorrisos dos agentes na sala, os quais queriam mesmo era soltar gargalhadas, mas não o fizeram por respeito ao novo chefe, ao passo que, mesmo após estes dizeres nada convencionais para a ocasião, todos ali o respeitavam bastante, e entendiam que o velho era louco daquela forma, e não tinha jeito de mudar aquela altura da vida, mais sabia do que estava fazendo. Às vezes Charles sonhava que o velho era seu verdadeiro pai, porquanto, o admirava muito, por isto comandava a firma como se fosse sua família, a qual não formava não por ser homossexual como pensava preconceituosamente o Frederick, afinal, se o fosse ainda poderia ter uma família, só que diferente, mas sua decisão foi baseada em um trauma, ele na realidade não queria ver um filho seu ser criado em um orfanato se ele morresse, talvez até sem conhecê-lo, como achava que o fora com seu pai. Mas nunca havia falado isto para o velho, deixava que ele pensasse o que quisesse. - Não tenho como lutar com seus instintos. – Respondeu Charles sorrindo e sentando-se em uma cadeira bem próxima à Frederick, não queria que Sandy, sua irmã de consideração, ouvisse nada, afinal, ela não tinha conhecimento dos negócios do pai. 39 - Mas o que é que o trás para está humilde residência? Sei que não é para trazer dinheiro, tenho certeza... Então, só restam problemas... – Disse o velho novamente em tom de brincadeira. Realmente não era dinheiro, se o fosse não dava para trazê-lo nas mãos, pelo menos em espécie, afinal, o velho havia faturado milhões somente no ano anterior, o negócio dava lucros, principalmente, após Charles assumir e aplicar suas técnicas de gestão e outras que fizeram os negócios deslancharem ainda mais. - Vou ser direto como o senhor gosta. O que me diz do bilionário Arthur Meninguer Urrior? Frederick fez cara feia, o que assustou Charles que não esperava aquela reação, a qual nunca tinha visto antes. - O que tem ele para lhe deixar desta forma? – Tornou a questionar Charles. - Você fez uma pesquisa a fundo de campo antes de aceitar o serviço em que este velho encontra-se metido? – A resposta veio em tom de questionamento, o que deixou Charles ainda mais apreensivo em dar a resposta. - Sim... – Fez uma pequena pausa pensando na melhor maneira de dizer aquilo. – Quer dizer, eu deleguei isto para o novo setor que cuida desta área. O velho ficou ainda mais possesso com a resposta, e Charles sabia os motivos, antes de sair da firma ele falou que tudo poderia mudar, menos que o chefe da operação não cuidasse pessoalmente das pesquisas, por isto ele bradou o que já havia concluído há anos: - Não lhe falei seu idiota, que isto não iria funcionar! Quando o chefe de uma missão sai para cumpri-la ele tem que saber tudo, absolutamente tudo sobre seu alvo. E isto não se delega, afinal, mesmo sendo os melhores agentes de inteligência a cumprir o serviço, não serão eles que vão arriscar suas vidas, assim, nunca o serviço sai perfeito. Demorou muito para isto acontecer! - E tem mais... – Charles escolheu as palavras, afinal, se já estava tudo ruim decidiu contar tudo, assim, a bronca seria rápida. - Mais? Você diz mais? Eu sei que vocês erraram, isto já é o bastante! – Esbravejou o velho agora chegando perto do rosto de Charles, tão alto e tão eufórico que ele chegava a babar. - Não fale assim tão alto, afinal a Sandy pode escutar. – Tentou acalmá-lo. Contudo, sem qualquer sucesso. - Pode ficar tranquilo seu idiota, porque ela saiu para fazer compras, e, dizia ela que para ver aquele verme de seu noivo. 40 - Noivo?! – Charles falou mais alto do que queria, deixando transparecer o que escondeu por anos, seu eterno amor por Sandy. Não precisava ser treinado para perceber aquela reação, e para desgraça de Charles, Frederick era um senhor ainda na ativa, e percebeu rapidamente seus sentimentos contidos naquele pequeno questionamento. Então este idiota realmente não é gay como pensei... Ele sempre esteve apaixonado por Sandy, como não pude notar isto? Afinal, ele sempre foi muito reservado, mas isto durante todos estes anos eu teria notado até mesmo pelo olhar... – Raciocinava o velho agora somente andando pela sala perdido em seus pensamentos que lhe assombraram com aquilo mais do que o erro com o velho Arthur, afinal, era muito mais grave o fato de Charles estar apaixonado por sua filha do que qualquer erro que poderia ser consertado. – Será que conto para ele algumas verdades neste momento, mas isto poderia colocar tudo a perder... Não tenho escolha, vou ter que dissimular. - Sim noivo, e o que você tem com isto? – Esbravejou tentando demonstrar que não havia sequer pensado em nada. - Desculpe senhor, é porque Sandy nunca havia me falado de nenhum namorado, e... - E o que? Não sabia que ela era sua confidente? Bem como, os veadinhos são confidentes das meninas, mas disto eu desconhecia. – Tornou a esbravejar, agora sendo mais duro, chegando a ser cruel, tentando colocar um ponto final naquele diálogo. - Certo senhor, me desculpe... - Eu é que peço desculpas, fiquei muito nervoso com o caso envolvendo Arthur e descontei em você, sei que são amigos desde que lhe apresentei, somente quero que saiba que não deverão passar disto, correto? – Ponderou o velho olhando bem no fundo de seus olhos. - Lógico senhor. – A resposta foi seca, mas em alto e bom tom, como um soldado ao seu capitão. - Já que quer falar em lógica, porque não passamos ao fato de você ter me incomodado para saber a respeito daquele velho louco e excêntrico do Arthur. – Tentou Frederick retomar a conversa anterior e esquecer de vez a outra. - Sim senhor, eu queria saber por que meus homens, ou melhor, nossos homens nada encontraram sobre este velho ser... digamos... uma máquina de matar! - Somente para deixar claro, são seus homens agora. – Disse o velho voltando a sentar-se em sua poltrona, gostava muito de contar histórias, e a de Arthur era uma para contar sentado. Lógico, quando erram são meus homens, se tivessem acertado eram dele. – Pensou Charles mordendo os dentes de raiva com a escusa do velho 41 em admitir que ele cuidava muito bem da firma, mais falou, logicamente, outra coisa: - Os agentes pesquisaram e encontraram envolvimento com o governo britânico, entendemos que iriamos fazer o trabalho e plantar a culpa neste envolvimento, para deixar uma bomba estourar no colo da rainha. - Você está louco! – O velho respondeu furioso se levantando novamente impulsionado por sua nova raiva com o que tornou a ouvir. - Mas o que é que tem de errado? Afinal a pesquisa não mostrou nada de mais, além do envolvimento dele com o governo e, por óbvio, ser um bilionário meio excêntrico, o qual tudo indica está somente ligado com expedições para encontrar tesouros perdidos, etc... - Está bem ai o cerne da questão! – Interveio o velho agora andando de um lado para o outro, com ajuda de sua bengala. Charles teve agora a convicção de que tinha feito coisa muito errada, afinal, não viu aquele senhor daquela forma nem quando um de seus agentes matou um presidente Africano por engano, e, levou quase sua firma a ser fechada por uma operação do governo. - Na primeira expedição que este velho fez, ele não foi para brincadeira, simplesmente contratou os melhores. - Isto já era esperado que ele iria contratar os melhores para lhe acompanhar e fazer o serviço... – Charles interrompeu fazendo cara de nojo, se assustando quando Frederick lhe interrompeu. - Espere meu caro Charles, afinal, quem lhe disse que ele contratou os melhores para lhe acompanhar nas expedições? - Se não é, então é para que? - Ele é um velho mais excêntrico do que você imagina... Ele simplesmente contratou os melhores para lhe treinar, segundo minhas informações ele treinou por quase dois anos arduamente somente para adquirir experiência. E isto aliado a sua extrema inteligência e sabedoria, não apenas de vida, mas lógico de conhecimento lhe tornaram, segundo pessoas próximas a mim, em um dos melhores em seu ramo. - Mas qual é este ramo? Achei ser somente um passa tempo. - Passa tempo são para os fracos meu caro Charles, este velho nunca foi disto e nunca o será, ele se aposentou de suas empresas após abrir o capital de todas elas, assim, ele ficou durante toda uma vida seguindo outro sonho, ser uma espécie de Indiana Jones. - Você deve estar de brincadeira. – Charles achou até graça daquilo, parecia que estavam falando de uma criança brincando e tendo sonhos bestas. - Não estou, e você mesmo pode me confirmar isto, não é? – O velho foi ríspido, acertando direto no ponto. 42 Charles ficou mudo, realmente não havia parado para pensar que aquele velho era uma espécie quase que saída da ficção, afinal, eles estavam com a missão de pegar pergaminhos antigos em seu poder, e, a forma como ele defendeu isto foi digna de um super-herói, meio louco, mas um ser realmente com poderes. Por isto teve que admitir: - Vejo que está certo, ele realmente é muito bem treinado. - E você não sabe nem da metade. Dizem que em sua primeira expedição, ele encontrou um tesouro Maia perdido há milênios, do qual os melhores pesquisadores já haviam dito se tratar somente de uma lenda. - Será este os pergaminhos que estávamos com a incumbência de... - Não se precipite meu caro Charles, ele já fez inúmeras descobertas, todas muito ocultas, o que tenho que admitir, mas após está primeira dizem que ele descobriu segredos que foram vendidos por bilhões de dólares diretamente para o vaticano, porquanto, segundo me informei este segredo poderia abalar os alicerces daquela instituição. – Interveio o velho antes que ele terminasse de falar. - Credo, ele é realmente tudo isto? – Charles estava perplexo. - E muito mais. Dizem que em sua segunda expedição, os veículos foram parados pela tribo de sete pessoas que com ele ainda vivem, era uma tribo de beduínos, os quais queriam fazer-lhes reféns para exigir resgates. Para espanto do chefe da tribo, o velho não titubeou, parecia que ele realmente queria ficar ali entre eles. O Xeque da tribo, por óbvio, achou aquilo muito estranho, ainda mais quando recebeu uma informação de que ele era um bilionário, o que já dava para perceber devido as suas vestimentas e estilo, e, principalmente, pelos veículos daquela expedição. Até certo ponto o Xeque deixou que ele ficasse, mas após algum tempo ele teria exigido que ele falasse diretamente com os dirigentes de seus empreendimentos para pagarem o resgate. Segundo dizem, Arthur pagou o resgate e mais uma parcela, mas não para ser libertado, ao contrário, fez questão de ali permanecer e descobrir um segredo daquele povo. Alguns dizem que ele se deixou capturar, e estava realmente em expedição unicamente para descobrir tal segredo, eu sou um dos que acredita nisto. - Mas o que seria que beduínos poderiam ter de tão valioso? – Charles ficou intrigado. - Dizem não ser material, segundo informações ele queria apreender um ritual muito antigo, o qual serviria para ele conjurar seres utilizando um outro achado seu no Egito. - Credo, ele então é muito mais louco do que pensava. - Louco é pouco. Dizem que ele ficou com estes beduínos por mais de um ano, e quando de lá saiu, levou consigo o Xeque, e uma mulher por quem ele se apaixonou, a qual, segundo informação, já gerou filhos, os quais ele esconde da mídia. - Mas e o restante da tribo. 43 - Toda aniquilada... – Frederick concluiu fazendo ao fim um tom de mistério. - Nossa, isto é muito doido. – Charles teve que admitir. - É, está é a versão que eu mais me interessei. – O velho disse já se sentando novamente, estava ainda eufórico com a história, mas suas pernas não aguentavam mais um segundo. - Como assim versão? – Questionou indignado Charles. Afinal, queria algo concreto, não uma versão. - Isto mesmo, somente uma versão, segundo alguns de meus melhores homens, que se interessaram pela história dele, as lendas em volta dele se formaram de todos os cantos no mundo da espionagem, principalmente por governos, os quais estavam de olho em seus achados, especialmente aqueles em que os mesmos eram encontrados, afinal, eles queriam uma parte. - Mas qual você acha que é a mais correta das informações? – Charles queria ir direto ao ponto. - Gosto mais daquela que lhe contei, mas tudo indica que ele foi treinado por estes beduínos para conjurar mesmo um certo feitiço, etc., e, após o Xeque queria sacrificar uma jovem somente porque ela estava apaixonada por um sujeito viúvo, o que era proibido, porquanto, ela estava reservada para o filho do Xeque. - Mas o que ele fez? – Charles queria saber rapidamente, era um sujeito calmo, mas àquele ponto estava curioso. - Segundo informações ele na calada da noite, pegou todo o restante de seu dinheiro na cabana do Xeque, matou ele e fugiu com a moça e o velho, os quais segundo informações hoje são empregados em sua mansão, e teriam tido filhos, etc. Mas tenho que admitir que esta história também é um pouco interessante. - Por quê? - Simplesmente porquanto dizem que ele não apenas matou o Xeque, mas fez questão de comer sua carne, segundo dizem, para roubar sua alma, essência ou sabedoria, coisa deste tipo, ritual que ele teria apreendido na tribo, e, poderia até ser a razão para ele ali estar. Charles esfriou-se com aquele final, afinal, tinha a convicção de que aquela história era a verdadeira, confirmada pelo próprio Arthur, um verdadeiro canibal... - Mas quero que saiba Charles, que independente destas histórias, ele é um senhor muito perigoso, dizem que ele tem governos em suas mãos, o que eu tenho quase que certeza, e, segundo informações certas, ele está metido inclusive com seitas e outras parafernálias do mal, alguns dizem que ele é do bem, mas eu acho que ele é do mau e pronto. 44 - Como assim seitas? - Alguns diziam que ele estava metido com a maçonaria, outros dizem que ele era mais além, de uma ordem secreta legada diretamente dos templários, outros que ele é um satanista, já outros que ele tem laços estreitos com a igreja católica. Enfim, tudo é muito nebuloso com este senhor. Mas uma coisa eu lhe garanto, todos com quem ele negocia saíram muito satisfeitos, dizem que ele cumpre com afinco sua palavra, e, segundo um amigo meu do governo americano e outro do governo russo, ele ajudou pessoalmente a acabar com a guerra fria, ou seja, alguns o idolatram como ídolo. - Muito obrigado Frederick, sua ajuda foi muito útil. – Charles foi se levantando, afinal, já havia obtido a informação que havia buscado, e tinha agora a confirmação de que era melhor tomar cuidado com o velho Arthur, mas que era mais sensato trabalhar com ele do que contra ele... - Mas você não vai me contar o que aconteceu na missão ou qual caminho vai seguir? – Frederick ficou desapontado, por alguns minutos estava contente em retornar a ativa e poder ajudar. - Não meu amigo, você já ajudou muito. E também tem o fato de ser o meu problema e meus homens como o senhor mesmo falou. – Alfinetou ao final. - É, mas eu ainda tenho o jeito. – O velho gritou devido ao fato de Charles já estar cruzando à saída da sala já em direção à porta de saída. Nunca se despedia, entendia que despedidas eram algo fúnebre, ele gostava de cumprimentar na chegada, e na saída somente se retirava. - Sim meu amigo, você ainda tem o jeito... – Respondeu ao longe já saindo pela porta, e pensando: Seu velho sacana, acha que eu não percebi que você mandou instalar equipamentos de segurança novos que detectam a presença de pessoas adentrando na residência, e transmite as imagens para a televisão, celulares, etc., assim, ele soube quem chegara... Seu tino ainda parecia estar bom, mas para outras coisas... Após Charles se retirar, Frederick sorriu, sabia que ele havia notado o sistema de alarme. – Ele é realmente muito especial, mesmo percebendo o sistema deixou que eu pensasse que estava ainda na ativa. – Falou consigo mesmo já discando o telefone, após uma pequena espera ele falou após seu interlocutor atender do outro lado da linha: - E ai Arthur, como vai este velho louco? – Fez uma pausa aguardando o interlocutor responder, e então concluiu com satisfação: - Sim, sim, minha firma vai representá-lo, ele acabou de sair, e já contei sua história. – Mais uma pausa e uma gargalhada. – Claro que a verdadeira por último, afinal, eu não gosto muito dela... 45 CAPÍTULO 11 Brasília – Brasil, 1982 Ao chegar à recepção, o Dr. Salomão levou um susto ao saber que ninguém o havia chamado, sem entender nada, ainda tentou argumentar com a recepcionista: - Mais eu ouvi uma voz me chamando pelas caixas de som! Até achei estranho, pois não era sua voz, e meu turno já havia acabado, mas mesmo assim resolvi atender. A recepcionista com cara de poucos amigos, apenas balançou os ombros como quem não sabia e não queria saber de nada, e sequer o que o Doutor estava falando, ainda arrematando: - Se não acredita em mim, tente falar neste som velho, ele sequer esta funcionando! Estragou bem na hora em que fui chamar um médico a pedido da Janice, e pelo o que ela me disse era a pedido do senhor, então... A recepcionista foi interrompida, porquanto, naquele momento subitamente as caixas de som começaram a emitir um barulho muito estranho, como se estivessem rangendo, com isto o Dr. Salomão virou-se para ela, que naquele momento já apresentava outra cara, desta vez de espanto. De repente pela porta adentrou um rapaz inexplicavelmente todo coberto de sangue, dos pés à cabeça, clamando: - Me ajudem!! Por favor, me ajudem!!! Ao ver a cena o Dr. Salomão prontamente correu para ajudá-lo. Ao chegar perto do rapaz e pegar o seu braço, ele se assustou. Com um olhar penetrante, o sujeito foi olhando dentro dos olhos do doutor, como se estivesse o hipnotizando, e foi chegando cada vez mais perto de seu rosto, até encostar os lábios frios cobertos de sangue na orelha direita do mesmo, lhe dizendo com uma voz totalmente diferente de um ser humano, como se aquele homem estivesse com o pior dos demônios em seu corpo: - Sua hora chegou... Você interferiu demais nos nossos planos, e deixou que eles influenciassem no destino de todos novamente, mas eu estou aqui para fazer justiça, porque sou seu maior pesadelo Cosme... O doutor começou a tremer, não conseguia parar em pé, e foi caindo, quando de repente o homem lhe segurou com uma força incomum, e falou novamente: - Está com medo doutor? Onde estão eles agora para lhe guiar? Saiba que eles são assim, somente intervindo aonde lhes interessa! Não pensam nos homens, e lhes tratam como marionetes. E ele! Aquele que eles rezam e vangloriam... - o homem parou e soltou um grande sorriso com mistura de ódio. – ele os tem como mascotes!! Por isto eu estou aqui, porque meu mestre voltou, e agora vamos tomar o que nos é de direito... 46 Após estas palavras, o doutor já não escutava mais nada, estava em completo transe. Suas mãos e pés estavam todos no ar, e seu peito estava coberto de sangue, que ele sabia que não era do homem à sua frente, e sim dele, uma vez que podia sentir seu peito queimar de dor. Ao olhar para baixo, o doutor pôde ver o que estava lhe perfurando. Era um punhal, que o homem lentamente enfiava cada vez mais em seu peito, no objetivo único de lhe causar a maior quantidade de dor! Quando o doutor já havia se entregado para a morte, pôde então sentir que por atrás dele vinha uma voz linda, bela, maravilhosa, que dizia num tom bem baixo: - Você voltou Xotono?... Ainda está seguindo seu mestre, aquele fraco? E vejo que está ainda se aproveitando de digamos: “lixo humano” para seus fins! Mas não ira muito adiante, como de costume... Ao ouvir isto, o homem ensanguentado soltou o Dr. Salomão, retirando rapidamente o punhal e se virou para aquilo que estava falando. O doutor pôde ver quem estava discorrendo, era um homem extremamente alto, totalmente incomum para um ser humano, devia medir certamente mais de três metros de altura. Vestia uma túnica branca, e sandálias amarradas aos pés. Seu cabelo era dourado como ouro, e seu rosto branco como neve, ao ponto que sua pele chegava a brilhar! O homem ensanguentado num gesto de fúria rapidamente correu em direção ao ser maravilhoso que lhe afligia e lhe caçoava, dizendo numa voz raivosa: - Você acha que tem o poder?! Pois saiba que estamos mais do que preparados para a luta final, e isso eu vou lhe mostrar!!! Antes mesmo de seu agressor chegar perto, aquilo que até aquele momento estava com um rosto e voz serenos, se transformou... Sua voz foi ficando grossa e forte, e em um ensurdecedor grito ele modificou-se! Seu rosto se fechou em uma cara de ódio, as pupilas foram sumindo, e os olhos começaram a faiscar luzes, duas asas enormes se abriram em suas largas costas, não brancas, mas cinzas como chumbo! E, com a mão direita aquele ser pegou uma espada brilhante como diamante que se encontrava entre suas asas, e com a mão esquerda retirou da cintura uma garrafa de vidro. As asas se abriram ainda mais, como se estivessem dilatando das costas, e bateram como uma águia, ao passo que seu corpo foi se erguendo rapidamente... Quando o Arcanjo sentiu que seu oponente se encontrava bem perto, retirou a rolha da garrafa com os dentes que estavam afiados como os de um leão, e arremessou o líquido que ali continha em sua direção, ao passo que ao recebê-lo na pele o homem ensanguentado parou de correr, caindo ao chão imediatamente, soltando uma fumaça esbranquiçada, como se aquele líquido fosse um ácido corrosivo... O homem então gritou como se estivessem lhe retirando à pele, enquanto muita fumaça ainda saia de seu corpo, e numa voz gasta proferiu com misto de fúria e dor: 47 - Gabriel! Vocês são fracos mesmo! Não conseguem nem lutar... Tem que jogar água benta!!! Sem responder o Arcanjo somente abaixou a espada e começou a rezar: - Senhor! Livrai das garras do mau este seu servo, ele não sabia o que estava fazendo no momento em que foi possuído por este ser maligno! Portanto, não merece ter tamanha atrocidade em seu corpo material, lhe dê outra chance! Em nome do pai, do filho e do divino espírito santo! Amém... Ao dizer estas palavras o Arcanjo levantou a espada e esperou pelo pior, contudo, o homem ensanguentado parou, e falou no mesmo tom diabólico: - Você pode estar certo! Não estamos ainda com o poder em nossas mãos para eu lhe enfrentar! Mas saiba que da mesma forma que meu mestre conseguiu acabar com sua companheira, vamos acabar com você e com todos de sua espécie medíocre e escrava daquele conselho patético que acata ordens de quem não vê! Nosso rebanho esta aumentando, e o deles diminuindo... Ao pronunciar estas palavras o homem ensanguentado soltou um grito de dor, se remexendo no chão, e uma fumaça cinza saiu de seu umbigo. Em segundos o jovem começou a olhar com outra expressão, agora com espanto, havia retomado o poder sobre seu corpo, mas ele sentia-se mal, não acreditava no que acabara de fazer. - Eu matei um homem... – ele disse baixinho, antes de desmaiar de dor e falta de sangue. Na porta encontrava-se uma figura horripilante, que antes de sair pela noite, virou-se para Gabriel proferindo em uma voz tenebrosa: - Sua hora ainda chegará, você pode até ser mais forte do que eu, mas saiba que meu mestre voltou, e seu rebanho ira vencer no final! - Estarei esperando Xotono! Você sabe que não tenho ainda permissão para acabar com você! Mas assim que tiver, certamente será o seu fim, e vingarei o pedaço de mim retirado por vocês!... – Respondeu Gabriel em um tom ainda mais ameaçador, nada comum ao que lhe atribui às imagens e relatos primitivos. Ao acabar de dizer estas palavras, Gabriel virou-se, indo de encontro ao homem ao qual Xotono havia desencarnado, sem nenhum medo de que o demônio pudesse lhe atacar pelas costas. Xotono, com ódio, e olhando como se aquela cena fosse a mais humilhante, somente se virou e sumiu na escuridão da rua, levando consigo o punhal e procurando pelo apoio de mais pessoas que pudesse encarnar, o que era mais do que fácil, uma vez que ali se encontrava a maioria das boates e bordeis da região, um lugar perfeito para encontrar alguém em total desequilíbrio espiritual e suscetível para o ato de possessão... Ao chegar até o jovem ensanguentado que havia atacado o Dr. Salomão, o Arcanjo já estava com outra feição, não tinha mais a cara 48 demoníaca que apresentava quando pairava no ar em ataque, seus dentes estavam normais, e suas asas estavam se recolhendo, teve pena, e pronunciou somente algumas palavras ao jovem: - Pobres são os jovens... Não sabem o que estão fazendo com suas vidas, creem que estão vivendo no limite da alegria, mas estão é morrendo no limite da angústia da alma... Após passar pelo jovem que ainda permanecia deitado ao chão, agora com uma grande convulsão, o Arcanjo foi andando em direção ao Doutor Salomão. Sua face já havia voltado novamente ao estado sereno inicial, e suas grandes asas haviam se encolhido totalmente, tornando-se quase imperceptível em suas largas costas. O Dr. Salomão se encontrava perplexo com tudo aquilo que havia presenciado. Foi quando o Arcanjo, vendo sua expressão de espanto e medo, chegou bem perto de seu ouvido falando: - Pronto Cosme, sua missão terminou... O Doutor Salomão ficou sem entender, ele não estava tão mal assim a ponto de morrer, ainda mais seu nome não era Cosme, e por ser médico, sabia o que era grave, o hospital poderia muito bem salvá-lo. Foi quando Gabriel vendo a surpresa do Doutor chegou perto de seu ouvido esquerdo e novamente falou: - Está na hora companheiro, sua missão esta cumprida, pode se levantar... Ao dizer estas palavras, a dor foi sumindo de seu peito, e o Doutor Salomão olhou para seu umbigo o qual foi se iluminando, após este fato ele somente começou a se mexer suavemente, começando a se levantar sentindo como se estivesse levitando... Contudo à medida que se levantava, pôde perceber algo abaixo dele, ao olhar, percebeu que seu corpo permanecia ali deitado, e o umbigo continuava brilhando. Vendo sua cara de espanto, Gabriel lhe mencionou para ficar calmo e tentar sintonizar os pensamentos na razão que em breve se lembraria de tudo. Mesmo agora a contra gosto, sua alma se levantava serenamente, a luz no umbigo começou a ceder, e agora a mesma emanava de todo seu corpo, como se aquela carcaça estivesse perdendo tudo de mais importante que continha. O que na realidade era o que estava acontecendo... Após ele terminar de desencarnar, o Arcanjo abraçou o doutor fortemente e falou com alegria: - Cosme, como foi mais está passagem pela terra? O espírito do doutor parecia bastante cansado, e era grande, do tamanho do arcanjo, nisto o doutor somente olhou para Gabriel e falou de uma maneira serena e de fala difícil: 49 - Ótimo meu amigo... Somente havia me esquecido como isto era difícil no final, ao não lembrarmos de nada, esquecemos quem somos e a tentação aqui é extrema... Contudo graças aos Criadores, tudo correu bem. – Fez uma pausa para colocar ainda mais os pensamentos em ordem. – Quase tudo, achei estranho não ter quebrado a barreira cerebral! Mais depois discutimos isso... Como está Damião? Gabriel olhou novamente para ele, decidindo somente falar: - A sua espera amigo, a sua espera... Todos estão mais do que contentes pelo seu grande sucesso! Mas uma vez sabemos que os Criadores compreendem mais do que ninguém o que fazem, e quando o Conselho Supremo lhe enviou, todos duvidaram de sua adaptação após tantos anos sem voltar, isto provou que eles ainda podem fazer muito mais pelo próximo sem se render às tentações, e que o futuro depende dos instruídos... Após dizer estas palavras, o Arcanjo abraçou bem forte o doutor, e uma forte luz emanou entre eles, formando um cilindro, um grande cilindro de luz que subia cada vez mais enquanto eles levitavam, e tudo ficou brilhante, onde somente olhos espirituais poderiam ver... Gabriel abriu suas asas, e planou sobre a luz, e à medida que subiam, iam desaparecendo, onde certamente estavam cruzando a passagem, em uma viagem que todos desejam e merecem fazer, quando estiverem prontos... 50 CAPÍTULO 12 Londres – Inglaterra, 1982 Charles havia acabado de chegar à firma, mandou que todos saíssem da sala de reunião, queria ficar só. Ele tinha um grande escritório pessoal, mas gostava de tomar as decisões mais importantes ali, dizia para si mesmo que se sentia naquele local muito mais a vontade, querendo esconder a realidade, a qual era uma só: Ele viu tanto o velho Frederick tomar decisões naquela sala, que sentia como se ali fosse seu refúgio, onde ele sempre poderia contar pelo menos com a visão do amigo. Creio que o melhor mesmo será aceitar a oferta de Arthur. – Pensava, enquanto olhava a pasta do caso. Estava realmente convencido que apesar de perigoso, era melhor seguir seus instintos, afinal, ele nada sabia sobre as pessoas que o contrataram, e, segundo um levantamento da firma, eles pareciam estarem ligados com o governo, o que dificultava muito as coisas. Acessou a internet e em poucos minutos já havia estornado os valores para a mesma conta que o pagou. Em poucos minutos o seu telefone particular tocou e ele atendeu com firmeza, já sabendo o que o esperava. - O que significa aquele estorno para a minha conta? – Seu interlocutor falou com indignação, era a mesma voz rouca e estranha. Charles pensou um pouco, sua firma nunca havia feito isso, mas era preciso, assim não mais hesitou: - Você notou que ele está atualizado com juros maiores do que os legais? E, ainda, contém um acréscimo para cobrir taxas de transferência e demais? - Notei! Contudo, estava esperando era o cumprimento da tarefa, não a devolução do pagamento. – A resposta foi suave e em tom quase que de ameaça. - Não foi possível concluir o serviço, suas informações estavam erradas, o velho matou todos os meus agentes, e escapei por pouco. – Mentiu, não queria que eles soubessem que um dos agentes sobreviveu. - Está me dizendo que um velho moribundo que segundo me consta não tem sequer seguranças matou todos os seus agentes? - Sim. – A resposta veio seca. - Como você deixou isto acontecer? Charles se enfureceu: - Eu deixei acontecer?! Escuta seu idiota, vocês me pagaram para fazer um serviço fechado, ou seja, vocês iriam fornecer todos os dados e documentação, tanto de segurança, localização, enfim, tudo. Nunca lhe falei, mas notei que os dados foram obtidos pelo serviço de inteligência do governo 51 britânico, única razão pela qual eu decidi confiar neles. Mas, por conta disso estou perdendo cinco milhões de libras esterlinas, mais nove agentes que são de preços incalculáveis. Tudo, absolutamente tudo, porquanto, vocês me forneceram dados errados, e chegarem ao absurdo de afirmarem que não haviam sistemas de segurança mais avançados na casa, e, ainda, não me disseram sequer do que se tratavam os supostos documentos, etc., ou seja, se você ainda acha que o erro encontra-se em mim, creio ser melhor analisar quem ou qual governo lhe ofereceu estas informações e cobrar deles a conta. - Você viu ou soube quais eram os documentos? Ou melhor... – fez uma pausa como que escolhendo às palavras. – Você por acaso deu a entender para o velho que estava atrás dos pergaminhos? – A pergunta veio de forma suave, parecia que o interlocutor estava gostando de parte do que estava ouvindo. - Como lhe falei, fomos exterminados naquela mansão, somente estou aqui por milagre divino. - Não creia em milagres divinos meu amigo, você pode se desapontar. – Seu interlocutor disse agora com voz maléfica. - Então, você aceita seu dinheiro de volta, ou quer cobrir nova oferta agora de um valor fechado para obtermos estes tais pergaminhos? – Charles queria acabar com aquela conversa rápido, e rezava para que ele pegasse o dinheiro. - Como poderia deixar meus serviços na mão de um homem como você seu idiota, e de sua firma medíocre. Somente lhe advirto que fiquem longe de meus interesses, do contrário em questão de pouco tempo estará na presença de seu glorioso Deus. – A voz respondeu já desligando o telefone, para alívio de Charles que se deixou cair confortavelmente na poltrona, agora relaxando a tensão. - Passar bem senhor Xotono ou Serfalos. – Disse se recordando que ambos estes nomes o homem havia se apresentado, e, já sabendo que a ligação havia sido finalizada, mas estava tão aliviado que queria despedir-se. Menos um problema, estou livre destes caras ou seja lá o que são. – Pensou por fim sorridente, mal sabendo que estes caras estavam naquele momento arquitetando uma forma de penetrar por outras vias na mansão de Arthur, e, se ele iria trabalhar com ele agora, iria precisar de sorte para sobreviver à legião que enfrentaria... 52 CAPÍTULO 13 Brasília – Brasil / Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Após abraçar o Dr. Salomão, Gabriel começou a subir, em uma velocidade assustadora, como se estivessem sendo sugados por um cilindro de luz e força. Após alguns segundos já estavam no espaço fora da órbita terrestre, e então veio um estalo ensurdecedor, formando somente luz... Era como se uma estrela estivesse emanando sua luz mais e mais. Então eles atravessaram a barreira, e definitivamente sumiram completamente da dimensão material... Para os céticos talvez fique difícil imaginar ao certo para onde eles foram, mais o inevitável estava se cumprindo, a missão do Doutor Salomão havia terminado. Ele havia retornado ao seu lugar, a chamada dimensão sublime, onde se encontra o local, onde dizem que tudo começou... Berço de todos aqueles que estão aptos a ali adentrar. Para os encarnados o verdadeiro paraíso, para todas as almas, a primeira, mais a última dimensão a ser alcançada, por isto todos a chamavam de dimensão sublime, porque para se chegar até ela, uma alma teria que antes passar por grandes provações, e, por demais dimensões inferiores. Enfim os dois estavam de volta, o lugar era maravilhoso, campos floridos, árvores, pássaros a cantar, e rios intermináveis. E para abrilhantar ainda mais o mar... Uma imensidão de água, a qual encantava ainda mais os olhos. Contudo, após uma rápida olhada em toda paisagem, o Doutor Salomão começou a modificar sua forma completamente, os cabelos que eram curtos, ficaram mais longos e claros, suas mãos de um branco queimado, passaram a exibir um branco gélido, seus olhos de verdes ficaram castanhos. Após acabar de se modificar, o Arcanjo deu-lhe uma olhada e falou com tom de satisfação: - Vejo meu amigo, que sua alma não deixou de materializar a forma de sua principal passagem na dimensão material. Aquela que lhe proporcionou a entrada nesta última dimensão de evolução. – Abriu seus longos braços. Seja bem vindo Cosme! Quando Gabriel proferiu estas palavras, a forma de Cosme estava completamente modificada, até mesmo suas roupas eram diferentes, vestia agora uma túnica branca, com um vermelho vivo, e então em um tom de preocupação, Cosme virou-se para Gabriel mencionando de maneira ríspida: - Seja direto Gabriel! Onde se encontra Damião? Você havia me dito que ele estava me esperando, mas agora percebo que você esta me enganando! - Como ousa dizer que estou lhe enganando?! Você mais do que ninguém sabe que eu sempre cumpro ordens do conselho! - Gabriel respondeu em mesmo tom. 53 Após, ouvir isto Cosme se acalmou, no fundo sabia que Gabriel nunca o enganaria se não fosse para seu bem, contudo, sua preocupação somente aumentou após as palavras de Gabriel, o que teria acontecido com Damião em sua missão? Será que estaria bem? Gabriel vendo o rosto de preocupação de Cosme sentiu que havia exagerado. - Me desculpe Cosme, sei que está preocupado, mas não podia lhe contar quando estivéssemos em transição, e não sabia sequer se você saberia suas reais formas e nome que usa nesta dimensão. Saiba que recebi ordens claras para lhe trazer de volta para descansar, porque, segundo o Conselho, iam precisar de você com urgência mais tarde. Eles somente me falaram que o Damião esta em sérios apuros em sua missão, e que iria carecer muito de você, mas não sem forças, e sim revigorado. Por isso me pediram para buscálo, ainda bem que cheguei a tempo de salvá-lo. - Mas tudo estava devidamente previsto! Há não ser que... - Cosme parou subitamente perdido em seus pensamentos, sentindo após um medo profundo. Sabia que o mestre não lhe mandaria para ajudar ninguém após ter desencarnado, isto seria muito perigoso, e, aquele punhal que o demônio trazia nas mãos era um forte instrumento, poderia ser utilizado na dimensão material e imaterial, por isto, certamente iria matar inclusive sua alma, A escuridão esta com muito poder! – Ele pensou. Gabriel somente tentou acalmar Cosme, colocando a mão sobre seu ombro. - Acalma-se Cosme, Damião vai ficar bem, em breve Miguel vai nos liderar na dimensão material, e nós vamos juntos ajudá-lo. Os criadores e o Conselho sabem muito bem a hora certa de agir, afinal, quem neste universo desafiaria a cura, poder e medicina de São Cosme e Damião? - Não me venha com brincadeiras de divindades terrenas, somos sim evoluídos, mas não somos santos, nem intercessores, e sim conselheiros. – Cosme demonstrou sua humildade. – Contudo, temos limites como todos, e todos podem chegar ao nosso nível, não sou melhor do que nenhum deles para ser chamado de Santo, posso somente dizer que encontrei o caminho correto e evolui ao máximo, e, agora, com conselhos, tento ajudar aqueles que buscam o mesmo caminho. Gabriel exibiu um sorriso de alegria, estava com saudades da humildade de Cosme, uma das almas mais evoluídas, e um dos mais fortes, sem dúvida essencial na batalha. Deu-lhe um tapinha nas costas, e falou alegremente: - Vamos! Já esta preparada sua egochê, como me aconselhou Miguel: “Faça-o descansar, mais tarde toda sua energia será usada”. Cosme decidiu acatar, contudo, não estava nada satisfeito com Gabriel, sabia que ele escondia mais alguma coisa, e não era nada bom... 54 CAPÍTULO 14 Brasília – Brasil, 1982 Os dois enfermeiros que haviam levado a mulher para a sala de parto correram para a recepção, contudo, nada poderiam fazer pelo Dr. Salomão, ele já jazia morto... Apesar disso, o rapaz que ali adentrara totalmente possuído pelo demônio Xotono, estava agora agonizando ao chão, tinha ainda resquícios de vida. Neste momento, uma batalha pessoal se instalou nos dois enfermeiros, eles se perguntavam se valia a pena correr para salvar a vida do ser desprezível que matou o Doutor sem qualquer motivo aparente. Mencionavam a si mesmos, e aos que estavam na recepção, que não tinha mais alternativa ao rapaz. Foi quando escutaram uma voz em seus ouvidos, doce e serena, mas que lhes diziam em um tom quase que ameaçador: - E se fossem seus pais, ou seus filhos?... Os quais poderiam perfeitamente estar ali estirados naquele chão frio?... Certo é que ele matou o Doutor! Mais será que não merece um tratamento para poder receber um julgamento justo? Os enfermeiros ficaram atordoados, viraram-se rapidamente, mas não viram nada, mais uma vez estavam com aquele calafrio em todo corpo. E decidiram rapidamente pegar o jovem no chão, colocaram-no na maca, e saíram correndo para a sala de emergências. Atrás deles saindo pela porta, encontrava-se uma forte luz, a qual ainda disse antes de sair pela rua algumas poucas palavras, como às que pronunciou no ouvido dos dois enfermeiros: - Isto mesmo Gabriel! Você cumpriu seu papel... Contudo, creio ser cedo ainda para comemorar vitória. Ele nasceu, mas o filho da escuridão também nascerá se não fizerem algo, e você sabe disso. Além disso, Joana ainda corre sérios perigos! Aliás, lembre-se que sem proteção e treinamento de nada Marcos e Joana valerão. Eu posso estar proibido de ai adentrar, mas vocês mais do que nunca vão precisar de mim, de minha força, sabedoria, e lealdade... Vou servir até o fim meus ideais, e as ordens do filho do criador são plenas... Na outra dimensão o Arcanjo Gabriel estava se dirigindo com Cosme para o reduto de descanso, mas quando escutou o que aquela luz estava lhe falando, soltou um suspiro de espanto, exclamando em voz alta: - Não pode ser, ele não pode existir ainda... O traidor não! Antes que Gabriel pudesse analisar de onde vinha à voz, o Senhor da Luz saiu apressadamente pela porta do hospital, necessitava encontrar o demônio Xotono e arrancar-lhe a informação de onde iria acontecer a concepção do filho das trevas... Ainda, tinha que correr para tentar ajudar 55 Damião, que corria mais perigos do que Cosme correu no hospital, o arcanjo Miguel o aguardava impaciente... 56 CAPÍTULO 15 Londres – Inglaterra, 1982 Charles chegou à mansão de Arthur, e assustou-se ao ser recebido por um senhor que lembrava um beduíno, até seu sotaque era diferente. É, parece que pelo menos alguma das versões de Frederick fazem sentido. – Pensou sorridente, já sendo conduzido pelo que, ao que tudo indicava, era apenas um mordomo, o qual o conduziu para uma suntuosa sala. Ao adentrar na sala Charles ficou maravilhado com a quantidade de obras de arte que ali se encontravam, parecia um museu. - Encantado com minha pequena coleção de preciosidades meu caro Charles? – A voz do velho Arthur ecoou por todo canto, fazendo Charles se sobressaltar, afinal, tinha quase que certeza que ele não havia dito seu nome. - Me desculpe, mas creio que ainda não havíamos sido apresentados para você saber o meu nome... – Tentou articular Charles já estendendo a mão para cumprimentar o velho que já estava próximo. Concluiu que ele realmente não necessitava daquela sua curiosa bengala para andar, pelo visto somente para se defender... - Não necessito de ser apresentado a ninguém para saber de sua identidade e vida meu caro. A resposta veio com um sorriso irônico. – Para isso o dinheiro foi feito, por isso digo que ele trás mais informação do que felicidade, porquanto, a informação gera segurança e a felicidade é o oposto. - Não entendi porque seria o oposto? – Questionou Charles. - Porque desarma um homem com a infeliz ilusão de que se encontra satisfeito com seu estado atual, quando, na realidade, caminha para o mundo da ociosidade das trevas como um inseto para a luz de uma lâmpada prestes a ser queimado. Charles ficou surpreso com aquela resposta, mas não deixou fascinar-se, afinal, aquele sujeito havia lhe causado um enorme prejuízo mais cedo, o qual deveria ser recomposto. - Sente-se meu amigo. – Tornou o velho apontando para um pequeno sofá e algumas poltronas, por óbvio, diminutos quando comparadas a sua enorme sala de visitas com tantas obras. Ao se aproximar, Charles pôde notar que aqueles móveis também pareciam ser obras raras. - São móveis advindos do castelo de um rei muito louco, o qual tenho grande estima. – Disse o velho ao notar que Charles estava fascinado com os objetos. - Deve ser que o senhor se identificou com ele. – Charles foi frio como um iceberg. 57 - Vejo que está com um pouco de ressentimento por minha pessoa? – Arthur respondeu em tom sarcástico, afinal, sabia que ele realmente não gostava dele àquela altura, então falou e apontou para uma das poltronas para que ele se sentasse rápido. Charles sequer respondeu a pergunta, sentou-se e foi logo ao que lhe interessava: - Então, vamos aos negócios. - Mas você não quer saber sobre seus homens? – Arthur questionou pegando Charles de surpresa. Afinal, o que teria para saber? Somente que eles estavam mortos, simples assim. – Pensou antes de respondê-lo logo em seguida: - Você deve estar de brincadeira não é seu velho desgraçado. – Ele até mordeu os lábios de raiva, sua vontade era de estrangular aquele velho, mas sabia que se pelo menos tentasse, era bem capaz dele ter alguma carta na manga, o que certamente ele teria... - Não estou, você não quer vê-los? – Dando um sorriso irônico. - Porque, está na hora do jantar seu canibal? Arthur deu uma enorme gargalhada, respondendo com sarcasmo ao novo amigo, assim, já o considerava, afinal, tantos anos de contato com Frederick, ele podia ver que Charles havia herdado este ritmo de trabalho, era esperto, mas tinha o sangue quente, o que atrapalhava em certas ocasiões em que a paciência era necessária. - Saiba que uma ligação salvou seus homens, afinal, seus corpos já estavam limpos e prontos para serem esquartejados e desossados... - Seu filho de uma... – Charles ameaçou levantar-se para socar o velho, mas antes disso Arthur somente levantou a bengala sorrindo e fazendo sinal para tomar cuidado. - Se for os corpos saiba que não posso levá-los, afinal, são agentes secretos, assim, mesmo que reformados ainda o são, e, portanto, não voltarão mais para as famílias, aqueles que tiverem uma, desta forma, é melhor tudo ficar como está. – Charles disso com peso na consciência, queria devolver os corpos para às famílias, mas isso certamente seria muito arriscado. Após ver que Charles voltou ao seu lugar o velho disse sorrindo: - Eles estão vivos seu idiota! Aquilo pegou Charles de surpresa. – Como assim vivos, o agente foi categórico em afirmar que os outros morreram. – Raciocinou por algum tempo. Vendo que Charles não estava crendo, Arthur decidiu contar tudo: 58 - Veja, eles realmente serviriam para meu jantar, contudo, após sua saída, descobri que você disse a verdade, e que foi procurar a pessoa certa. - Como assim a pessoa certa? – Charles interrompeu demonstrando sua perplexidade, como ele poderia saber sobre sua visita à casa de Frederick? - Fique calado seu idiota. Como lhe explicava, a verdade é que eu não tenho sede por comer carne humana, aprecio sim, mas somente em ocasiões especiais, e de pessoas que julgo merecerem este fim, algumas eu como ainda com o coração batendo, pedaço por pedaço... Charles sentiu um calafrio ao ouvir Arthur dizendo daquela forma, ele parecia um monstro. - Não me julgue. – Disse Arthur ao perceber que estava sendo avaliado. – Eu somente mato pessoas ruins. - Ruins sob seu ponto de vista. Mas quem é você para julgar? - A mesma pessoa que julgou que você era uma pessoa boa, e que seus agentes mereciam viver. - Viver, você os matou! - Não e não! – Arthur foi agressivo. – Como lhe disse eles estão vivos, meio tontos e machucados, mas vivos. Venha e veja. – Arthur levantouse e saiu, Charles ficou um pouco amedrontado de segui-lo, afinal, aquilo realmente poderia ser mais um truque, mas decidiu ir e tirar a história a limpo. Após percorrerem um longo corredor, o velho chegou até uma parede. Charles pensou que ele estivesse louco, afinal, aquele era o fim da linha. Contudo, para seu espanto, o velho passou às mãos na parede, ela fez um ruído, e em questão de segundos uma voz de computador disse: “Acesso permitido”, e a parede começou a virar-se, deixando a vista uma passagem. Charles ficou boquiaberto, e somente seguiu o velho que entrou na escuridão. Depois de uma curta caminhada na escuridão total, Charles percebeu que outras portas iam se abrindo a sua frente, desta vez automaticamente, à medida que o velho se aproximava. Após algum tempo uma luz fortíssima iluminou todo o ambiente cegando momentaneamente Charles que levou suas mãos instintivamente aos olhos, mas, quando eles novamente se abriram, a perplexidade tomou conta de seu ser, afinal, estavam em outro mundo, e somente teve tempo de dizer: - Isto é surpreendente... 59 CAPÍTULO 16 Brasília – Brasil, 1982 O senhor da luz saiu do hospital tentando localizar Xotono pelo seu odor fétido. O fedor seguia na direção de uma casa de prostituição. Ao chegar ao interior da casa o Senhor da Luz viu que não seria fácil, diversos demônios estavam naquele lugar, alguns possuíam pessoas, já outros somente manipulavam, contudo, não viu nenhum sinal de Xotono. Ao olhar para cima, viu uma mulher com cabelos embaraçados e pele esbranquiçada que o olhou fixamente, ela subia as escadas apressadamente, seus olhos eram inconfundíveis, vermelhos como fogo. Xotono ali se encontra encarnado, e já percebeu minha presença. – Raciocinou o Senhor da Luz. À grande maioria das pessoas não conseguem ver os espíritos, somente alguns, o que é uma anomalia, ao passo que, ao certo ninguém deveria ver. Contudo, é certo para todos que na dimensão material nada é absoluto. Por está razão, nenhum ser humano estava enxergando o que realmente se encontrava naquele prostíbulo. Os demônios estavam literalmente em toda parte, e, sequer se incomodaram com a presença daquele ser de luz que ali adentrara, afinal, estavam em grande maioria... O Senhor da Luz retirou uma grande espada da cintura, ela brilhava amarelado como ouro, e gritou em alto e bom som para os demônios: - Eu não estou aqui atrás de vocês! Quero somente o Xotono, por isso se saírem do meu caminho, não haverá maiores desavenças! O bom é que os demônios não são solidários, se algum deles estiver em apuros, e os outros saberem que se lutarem poderá haver mais feridos do que salvos, os dizeres são sempre os mesmos: “cada um por si” ou “um não faz falta”. Eles abriram espaço, e o Senhor da Luz correu em direção à escada por onde Xotono subiu, sua túnica branca voava, e ao encostar em alguns demônios que não abriam caminho, estes, ao tocarem na túnica rapidamente pulavam e gritavam... - Estão assustados com o meu truque? – Ele disse em tom de sarcasmo. Ele era astuto, sempre untava as vestes com água benta, ajudava muito em uma batalha, não matava o demônio, mas fazia seu espírito ou a matéria daquele que possuía arder como fogo, o que os atordoavam, dando grande vantagem em uma guerra. Ao subir às escadas, ele atravessou o corpo de vários homens que desciam aos beijos com mulheres, eles somente sentiam um calafrio, mal sabendo que um espírito havia passado naquele momento dentro deles. O calafrio era proveniente não pelo atrito do espírito com a carne, mas com o seu 60 atrito com a alma do individuo, o que ocorria devido ao choque de energias imateriais das almas ao se encontrarem. Contudo, o choque era passageiro e rápido, e o homem geralmente sequer percebia o que aconteceu, ainda mais aqueles, eles estavam muito ocupados olhando e beijando os seios das mulheres. Ao terminar a subida, o Senhor da Luz viu Xotono entrando em um quarto, o corredor era escuro, e os gritos dos demônios eram intensos e assustadores, muito ao contrário do que o que os humanos ouviam, que era somente muita música e gemidos de prazer sexual, regrados a drogas... Ao adentrar no quarto, ele foi surpreendido, a mulher possuída por Xotono, ou melhor, ele, pulou nele com a adaga que havia matado o Dr. Salomão. Em um movimento rápido, o mesmo girou o corpo desviando-se da mulher, e no mesmo instante virou-se com sua espada e colocou-a em seu pescoço, falando logo em seguida em um tom totalmente ameaçador: - Xotono... Você é tão inocente... Acha mesmo que encarnado teria alguma chance? Em sua forma original você já não é tão rápido, encarnado então, não vou nem comentar... - Não estou nem ai! Pode cortar esta vadia que estou possuindo, não vai me fazer nenhuma falta, agora para seu antigo Deus, afinal, “eles sempre tem uma chance de melhorar...” Vai! Corta a garganta dela! Corta! Respondeu Xotono raivoso e em tom diabólico, demonstrando seu total descaso com seus irmãos encarnados, logicamente, tinha inveja deles, por estarem buscando uma evolução, mas seu estado atual não queria mais seguir este caminho, mas sim o das trevas. O Senhor da Luz sabia que Xotono iria fazer aquilo, e respondeu calmamente: - Eu já percebi que este seu punhalzinho, é um instrumento poderoso, afinal, ele pode ser utilizado na dimensão material e imaterial, é uma verdadeira arma de guerra celestial! Ao ouvir aquilo Xotono soltou um sorriso, sentindo-se vencedor. Contudo, antes que o demônio pudesse saborear o gostinho de demonstrar que estava mais poderoso, o Senhor da Luz arrematou: - Você já olhou a espada que está no pescoço desta mulher Xotono?... Xotono olhou para a espada, a pele da mulher começou no mesmo momento a se arrepiar e a suar, e seu corpo começou a tremer... - Não pode ser... Como você conseguiu a espada do Arcanjo Miguel seu traidor?! – A resposta veio com uma voz gasta pelo medo. – Você o matou? Mais como? - Você não precisa saber de tudo, somente que é mesmo a espada do Miguel, e, portanto, como você sabe, se eu cortar a cabeça da mulher não matará somente ela, mas você também! – Ele sorriu sinistramente, naquele 61 momento ele é que parecia ser o verdadeiro demônio. – Portanto, não de um passo, e me diz logo aonde vai ser a concepção do filho das trevas! Os Arcanjos e demais seres celestiais não têm autorização para matarem vocês, mas quanto a mim... – fez uma pausa de mistério – Não tenho restrições, eliminaria você em um piscar de olhos, e não me importaria sequer com a alma desta mulher, afinal de contas, eu sou o traidor, não é?! Xotono estava atordoado, tinha certeza que o Senhor da Luz não tinha nada a perder, e cumpriria facilmente o que estava falando, não entendia como ele havia conseguido pegar a espada de Miguel, mas a conhecia, era realmente ela, em um só movimento poderia aniquilá-lo... Ainda pensou no fato de que seu oponente se mostrava ser naquele momento um ser muito poderoso, afinal, ele já havia conseguido uma proeza, enganar tanto o Conselho Supremo, como o Senhor das Trevas, aquilo era de se tirar o chapéu, se ele pudesse usar um chapéu, afinal, estava prestes a perder a cabeça... Não tinha alternativa, seu mestre poderia até matá-lo por revelar o local da concepção, mas se contasse ainda tinha uma chance de viver, poderia perfeitamente esconder-se até que ele tivesse o poder, mais quando ele recobra-se todos os seus poderes não adiantaria mais fugir... Ainda muito confuso, Xotono sentiu a espada encostar a carne da mulher, ela queimava só de chegar perto, decidiu falar rápido, sabia que o traidor não tinha compaixão nem pelo seu Mestre, quanto mais por um demônio como ele: - Está certo, conto aonde vai ser a concepção! - Boa escolha! Mas ande depressa, porque não tenho a noite inteira... - Ela será na Alemanha... – Antes mesmo de terminar de falar, o Senhor da Luz desapareceu, Xotono ficou sem entender, mas muito apavorado não quis sequer buscar respostas, desencarnou rapidamente do corpo da mulher, e sumiu na escuridão, afinal, se algum demônio o pegasse e levasse-o ao seu mestre, ele não teria compaixão, mas ainda tinha uma proteção, o punhal, ele era sua garantia de vida pelo menos por algum tempo. ****** O Arcanjo Gabriel andava de um lado para o outro na dimensão sublime, vendo aquela cena Cosme mesmo estando deitado na egochê, a qual veda a entrada de qualquer som acústico exterior no objetivo de acalmar ao máximo o espírito que ali se encontrasse reequilibrando suas energias, percebeu que algo estava estranho com o Arcanjo, sabia que ele não se irritava facilmente. - O que aconteceu Gabriel? – Proferiu já saindo do local de descanso. 62 - Não se preocupe Cosme, somente me foi dirigido uma mensagem de alguém que eu acreditava não mais existir no universo, ou pelo menos, que estivesse muito bem aprisionado em alguma dimensão... – fez uma pausa analisando toda situação, se poderia comentar mais alguma coisa – Você não o ouviu por causa da vedação da egochê, mas como dizem, se não escutou é porque não deveria escutar, do contrário o universo conspiraria para que fosse diferente. Cosme captou a mensagem, que no fundo não queria dizer aquilo, mais que Gabriel não queria comentar o que acabara de ouvir... - Não se preocupe meu amigo, não quero me meter em assuntos de seu interesse, somente pensei que poderia ajudar de alguma forma. – Disse Cosme já se virando para entrar novamente na egochê. - Espere... – disse rapidamente Gabriel, não queria que o amigo pensasse algo errado, mais hesitava se poderia dizer mais alguma coisa, contudo, respirou fundo e disse calmamente: - Sei que compreende Cosme que há certos assuntos que não posso ainda lhe revelar, não porque não confio em você meu amigo, mais porque não sei se ainda estaria preparado para saber, uma vez que você acabou de voltar da dimensão material... Cosme sequer virou-se para responder, somente levantou as mãos como se dissesse que não queria interferir em nada que não era de seu interesse, após voltou para seu descanso, sabia no fundo que teria uma grande batalha em breve, do contrário não seria convocado assim tão rápido para uma luta. Mas antes que Cosme entrasse na egochê, Gabriel ainda pensativo disse em tom cauteloso: - Somente uma pergunta meu amigo! – Cosme parou, contudo, não se virou. Ainda mais cauteloso Gabriel perguntou: - Você acha que o grande traidor ainda está vivo? Cosme virou-se para o Arcanjo, entretanto, seu rosto não exibia qualquer sentimento: - Como você acabou de falar-me meu amigo, há certos assuntos que também não posso ainda lhe revelar! Gabriel ficou assustado, nunca havia recebido uma resposta direta e seca como aquela, ainda mais vindo de Cosme. Não sabia o que pensar, se ele sabia realmente que o traidor ainda estava vivo, ou se havia somente jogado verde no escopo de tentar saber tudo que estava acontecendo, como uma forma de dizer “conto o que sei, se você contar o que sabe!”. Após analisar a situação, Gabriel preferiu virar-se e ir dar uma volta, não tinha permissão para contar a Cosme nada, e, logicamente, ele também 63 não deveria saber coisa nenhuma sobre o traidor, Cosme era honesto e um excelente amigo, no entanto, era muito astuto e articulava as coisas de uma forma como ele nunca vira antes, se continuassem aquela conversa, em pouco tempo ele retiraria alguma informação que o Arcanjo não poderia lhe repassar, por isso o melhor mesmo era se retirar. Cosme vendo que Gabriel preferiu se retirar adentrou no recinto, dizendo bem baixinho: - Gabriel você não sabe de nada!... 64 CAPÍTULO 17 Berlim – Alemanha, 1982 Deitada sobre uma grande cama de casal, adornada com laços e fitas de cetim, se encontrava a jovem Estela... Sua pele era clara como a neve, e seus cabelos castanhos eram sedosos e macios, possuía um nariz empinado como uma modelo, o que combinava com seu corpo magro e esguio belo e imponente, para quem há anos encontrava-se quase que diariamente sobre aquela cama. Seus olhos grandes e negros, na maioria das vezes transmitiam carinho e afeto por todos que chegavam à sua volta, visto que era ali em sua cama o único lugar capaz de encontrá-la já que não podia sequer andar em uma cadeira de rodas, tendo em vista que possuía sérios problemas de saúde. Há anos que ela não falava nenhuma palavra, não andava, sequer mexia um músculo. Tudo ocorreu após um trágico acidente quanto estava no início da juventude, após vários tratamentos os médicos diagnosticaram que o quadro era muito grave, e, certamente, ela ficaria tetraplégica para o resto da vida. Vários dos médicos especialistas que seu pai procurou, alguns com fama internacional, atestaram que ela poderia conversar perfeitamente, lado outro, inexplicavelmente ela não emitia qualquer som, somente mexia os olhos. Os médicos atribuíam que ela não estava falando devido ao trauma do acidente e da perca da mãe naquele dia, contudo, quem realmente conhecia a jovem, desconfiava de algo maior, uma vez que ela mexia os olhos como se estivesse tentando se comunicar, e seu olhar na maioria das vezes refletia dizeres de que algo estava errado, parecia que ela estava constantemente em perigo, como se estivesse querendo fugir de algo, certamente de seu corpo imobilizado... Às vezes seu pai chegou a pensar que ela estivesse com problemas neurológicos, levando vários psiquiatras à sua grande e imponente residência, tudo em vão, eles continuavam a falar somente do trauma do acidente, e que todos os exames indicavam que sua capacidade de falar estaria muito bem, bem como, não havia nada com seu cérebro, e os constantes olhares de pânico poderiam ser somente uma forma dela demonstrar sua aflição de se encontrar somente deitada em uma cama sem se movimentar, como um estado de euforia momentâneo, já que não era sempre que os olhos transpareciam temor. Sempre que anoitecia, seu pai chegava exausto do trabalho, chamava-se Pierre Adele, e era considerado um dos melhores advogados criminalistas de toda Alemanha. Ele havia nascido na França, possuía olhos penetrantes, quarenta e nove anos, cabelos grisalhos, de estatura alta com seus imponentes um metro e noventa e oito, e, para completar, ainda continha uma oratória perfeita. Com 65 todos estes requisitos era considerado por todos um dos homens mais belos entre os viúvos e, também, um dos mais influentes de toda Alemanha. Sua carreira profissional era muito promissora, mas após a morte de sua esposa ela deslanchou, foi contratado por criminosos de todo o mundo, e, surpreendentemente, quando não ganhava, o que era raro, conseguia uma redução de pena tão grande que rapidamente seus clientes estavam novamente soltos. As línguas maldosas, sempre mencionavam que ele havia vendido sua alma ao demônio quando sua esposa faleceu no acidente que deixou Estela tetraplégica. Mas a comunidade acadêmica não pensava desta forma, sempre muito cética, atribuía seu desempenho profissional e sua popularidade com políticos, celebridades e mafiosos, somente como um fator deturbado de trabalho, onde qualquer um que se dedicasse ao máximo para ser o melhor, mesmo que o melhor fosse o errado, conseguiria. Contudo, era certo que sua influência e popularidade, de nada lhe adiantavam, tendo em vista que seu maior amor havia morrido, e seu maior orgulho se encontrava sobre uma cama, mexendo apenas os olhos, algumas vezes como se estivesse sendo perseguida, e quase sempre com um olhar de apavoramento. Pierre chegou naquela noite, e como sempre antes de qualquer coisa, foi ver Estela. Ela olhou para ele com o pavor, e o mesmo pensou que era a atitude de sempre, lado outro, neste dia, ela seguia o olhar para a janela, ao passo que Pierre imediatamente escorreu os olhos para a janela, nada vendo, somente percebendo que se encontrava aberta. Pensando que a filha estivesse lhe falando que estava com frio, foi até a vidraça e a fechou. Após, chegou bem perto do ouvido da jovem, e com voz suave falou baixinho: - Eu te amo! Contudo, Estela não mudou seu olhar, continuava a olhar para a janela. Querendo que a filha tivesse alguma distração, Pierre passou a contar o que fizera no dia. - Meu bem, você não vai acreditar! Porque hoje o papai conseguiu algo inacreditável, salvei das garras da cadeia um dos maiores criminosos, nem eu mesmo estava confiante em sua absolvição, mais de repente saiu o veredicto e o juiz estava suando quando mencionou o resultado do júri, ele estava absolvido. Eu fiquei de boca aberta, mais sinto agora que foi feita justiça! Estela retirou o olhar de pânico da janela, olhando imediatamente para seu pai, o qual emitia um sorriso caloroso. Por dentro ela gritava apavorada, contudo, nenhum som saia, tal pavor se devia porque ela sabia que havia alguma coisa diferente de fora da janela, ela não sabia distinguir o que era, mas exalava um odor pútrido! Sabia que seu pai provavelmente não sentira tal odor, porquanto, não tinha o olfato apurado como ela. 66 Após ser submetida àquela cama, Estela foi adquirindo outras habilidades, como se seu cérebro estivesse a compensar suas perdas, contudo, entendia aquilo, mas no fundo preferia ter tudo funcionando, sem qualquer compensação, afinal, ficar naquela cama, seu único refúgio há anos, era pior do que uma prisão. Neste momento, Estela percebeu que tudo parecia se encaminhar como uma noite qualquer. Seu pai e mais duas enfermeiras haviam acabado de lhe dar banho, e ela se preparava para dormir, ela já havia parado de sentir o forte odor que vinha da janela, sentindo-se mais aliviada. Deve ser apenas um pássaro carniceiro que deve ter pousado, afinal, estou muitos andares do solo, somente poderia ser algo que voa. – Pensou. Mas naquela noite à última coisa que ela poderia imaginar estava prestes a acontecer, e dali para frente, ela iria conseguir fazer qualquer coisa, menos dormir em paz... ****** Naquele mesmo instante, o Senhor da Luz quebrava todas as barreiras físicas do tempo e do espaço, rompimento incompreensível ainda neste estágio da inteligência humana, mais perfeitamente possível em planos superiores. Havia demorado muito para arrancar do demônio Xotono a informação do local da concepção, por esta razão questionava se ele e Miguel teriam o tempo necessário... 67 CAPÍTULO 18 Londres – Inglaterra, 1982 Arthur e Charles pareciam se encontrarem naquele momento no subsolo da mansão. Mas Charles não estava crendo em seus olhos, porquanto, o local era enorme, era como se eles tivessem adentrado em um estádio de futebol, eles estavam somente na porta de entrada, e a sala era enorme, a perder de vista. À medida que eles iam entrando Charles percebeu que o teto estava muito acima de suas cabeças, raciocinou que um complexo daquele tamanho não poderia encontrar-se sob o solo, porquanto, tamparia toda a região de sua grande mansão, olhou para o relógio, que tinha medidor de pressão, e, percebeu que estavam em um subsolo enorme, se assustando. Como viemos parar tão abaixo do solo sem que eu notasse a descida? – Pensou ele intrigado. Vendo a cara de espanto, Arthur tratou de explicar: - Quando passamos por aquele corredor escuro, você deve ter sentido a sensação de que portas estavam sendo abertas, correto?... – Charles balançou a cabeça afirmativamente, estava tão concentrado na explicação que não queria sequer falar. – Na realidade andávamos era em uma esteira, e, o barulho de portas, eram os níveis de descida. - Que interessante... – Charles conseguiu naquele momento compreender, então passou a olhar o grande salão, ao passo que Arthur prosseguiu nas explicações: - Isto foi desenvolvido por um de meus sócios para deixar algum intruso sem noção de onde estava, afinal, se ele conseguisse chegar até aqui sozinho, o que já seria um grande feito, deste recinto ele não sairia, quer dizer, sairia... – fez uma pausa olhando para sua bengala, arrematando: – Mas não com vida. Charles estava extasiado, não conseguia acreditar na engenhosidade deste sujeito, por isso sequer se incomodou com o tom de ameaça. - Quem é este sócio? – Quis por óbvio saber. - Não posso lhe contar, afinal, ele assim como você será daqui para frente, não é apenas um sócio, mas acima disto um amigo, e, saiba que tenho extrema descrição com todos, creio que isso seja o motivo de eu ter tantos amigos. - É, e o dinheiro ajuda um pouco não acha, afinal, isso aqui deve ter custado bilhões. – Disse erguendo as mãos para demonstrar o volume e tentar expressar um pouco seu entusiasmo com aquilo tudo à sua frente. 68 - Creio que você esteja muito enganado meu caro, e, você mais do que ninguém deveria saber que dinheiro não é a maior das riquezas no mundo atual. - Então o que seria? – O questionamento veio em tom mais de deboche, devido à entonação fraca que Charles alçou, como se somente perguntasse para cumprir um protocolo de conversa, porquanto, sua opinião já estaria formada. - Informação. – Respondeu Arthur secamente. Charles saiu de seus devaneios e o olhou atônito, nunca havia parado para pensar naquilo, realmente fazia sentido, afinal, quem detém informações é muito mais poderoso e, ainda, obtém grandes fortunas com as mesmas se souber trabalhá-las. - Vejo que entendeu meu caro Charles. – Ele concluiu batendo fortemente no ombro do amigo. - Sim, é lógico, e o senhor tem toda razão. Mas deve ser que o sujeito que projetou e construiu está fortaleza para o senhor queria muito uma informação que o senhor detinha, e ela deveria ser muito valiosa. - Nem tanto. Mas quero que saiba que esta sala era muito mais pequena do que o castelo que ele tinha fincado em um punhado de areia que jorrava ouro negro. Charles entendeu, a informação deveria estar ligada ao petróleo em países situados no oriente médio. - Eu o senhor não pretende pagar com informação, correto? Porque, já pode ficar sabendo que não trabalho desta forma. Eu obtenho as informações, não as tomo para minha empresa, a qual deve visar somente os lucros obtidos com elas. - Não é para sua empresa, a informação que tenho é para você! – Respondeu Arthur para espanto de Charles que se virou encarando-o agora assustado. - Como assim para mim? Eu não quero nenhuma informação! - Será que não quer mesmo?... – Arthur fez o questionamento deixando que ele raciocinasse um pouco. Contudo, após pensar por um longo período Charles ainda não havia obtido a resposta, e desistiu de procurá-la. - Me desculpe. Não me lembro de nenhuma informação que queira a ponto de rejeitar receber milhões por ela. – Ele foi direto e conciso, afinal, não queria cair em algum jogo do velho, onde ele iria ver se havia algo, então dizer que a teria, afinal, isso era possível de se cogitar tratando-se de uma pessoa como aquele a sua frente. - Tenho a informação sobre quem é o seu pai. – Ele foi direto. 69 A resposta de Arthur pegou-o como um soco. Charles quase estremeceu as pernas, mas manteve-se firme, afinal, aquele velho somente poderia estar brincando, ele mesmo já havia se incumbido de tentar obter esta resposta durante anos, tudo quando já estava à frente de sua agência, utilizando, por conseguinte, todo poderio da mesma, contudo, nada havia encontrado... - Você está enganado. Eu já tentei saber sobre esta indagação e não consegui, e trabalho com isso, então, esqueça. – Respondeu Charles olhando para o vão, como se estivesse pensando que se isso realmente fosse possível ele realmente daria qualquer coisa. - Deve ser porque você não procurou com as peças certas, ou melhor, sem algumas peças... – Fez uma pausa sorrindo. – Mas eu não estou falando que vou conseguir, eu lhe afirmo que já tenho está informação, e, somente se você aceitar meus termos, e mudar-se para está base me repassando toda a sua base da agência irei lhe contar, você poderá fazer exames, enfim, o que quiser! E ao fim vai ter a certeza que a resposta esteve o tempo todo na sua cara, e, ainda, você verá porque não havia conseguido obter a mesma muito tempo antes... Como assim irei saber por que não a obtive antes? – Pensou nervoso, a proposta do velho era inviável, mas, por outro lado, não seria ruim contar com uma sede daquela... - E ai? É pegar ou largar. – Arthur instigou. - Quero saber se eu receberei tão somente esta migalha. – Quis bancar o difícil, afinal, era um negociador, e, ainda, precisava manter a firma. - Não chamaria isso de migalha, afinal, é o que sempre buscou em toda a sua vida, e sei muito bem que daria está firma para obter está resposta. – o valho fez uma pausa avaliando se prosseguia, e concluiu que deveria. – Lado outro, sua firma não vale nada para mim se não vir acompanhada de você, assim, você tem que entender que não quero seus serviços, mas sim o seu apoio. Isso aqui é bem maior e de mais valor do que esta sala, porquanto, tem muita coisa em jogo. - Quero então saber o que está em jogo. – Charles não entregava os pontos, se não obteria a resposta naquele momento queria pelo menos algo concreto no momento. Arthur se enfureceu com a atitude de Charles, então, de forma abrupta resolveu literalmente rasgar a verdade toda, mas, por óbvio, sem lhe revelar qualquer plano, porquanto, não havia ainda obtido sua confiança: - Você é um idiota mesmo. Acha que vai mexer com os seres que lhe contrataram e sair simplesmente livre somente devolvendo o dinheiro? - Como assim seres? - Sim, seres, eles não são simples pessoas, são uma organização muito mais poderosa do que governos, afinal, eles manipulam alguns governos 70 cujos os chefes se aliam aos mesmos, promovem pactos, enfim, se ainda não se ligou você deve ser muito otário mesmo. Charles começou a ligar tudo, ainda não havia entendido completamente, mas sabia que tudo tinha ligação com o fato de que seus contratantes Xotono e Serfalos, como se denominaram, pareciam migrarem de um local ao outro, como... - Espere, quer dizer que eles migram por governos e organizações porque é uma espécie de... - Sim eles são demônios, muito poderosos por sinal, e, ao que tudo indica eles são quem coordenaram às atividades de uma organização secreta que vai causar muito estrago neste mundo se não agirmos rápido. Aquilo era demais para Charles, sempre foi muito cético, não acreditaria nesta história se não tivesse presenciado tudo. - Mas como ele pode acabar com minha organização? – Se preocupou. - Eles destroem tudo que não está bem protegido, e, principalmente, aqueles que não cooperam com eles. - Mas então no que consistirá o serviço de minha organização neste local? E que prova você me daria de que aqui estaríamos livres de sermos aniquilados por está suposta organização demoníaca? – Charles foi direto ao ponto. - Não posso te dar mais nenhuma informação se não tiver a certeza de que estará comigo. – Ele respondeu já descendo uma pequena escada rumo a um dos pequenos carros que ali aguardavam para levar os ocupantes daquela sala a se locomoverem com mais comodidade, afinal, era quase que uma pequena cidade no subterrâneo da Inglaterra, algo inimaginável. Charles sem outra alternativa, seguiu-o, adentrando com o mesmo em um dos pequeninos carros, ao passo que o motorista somente seguiu em frente, como se já soubesse o local onde o velho queria ir. Eles já haviam percorrido salas e mais salas do que pareciam escritórios, ali tinha salões de jogos, um pequeno campo de futebol, academia, piscina, salas de pesquisa cientifica, biblioteca, enfim, uma gama de setores, tudo separado, mas ao mesmo tempo Charles notou que tudo estava interligado. - Porque não tem ninguém trabalhando aqui, somente este motorista? - Porque ainda não começamos às atividades, afinal, a segurança e inteligência tem que vir primeiro, e, este motorista é uma das pessoas de minha mansão. Os times já estão todos formados, lado outro, aguardávamos a composição de uma equipe de alto nível e comprometimento para nos somar. Quando o carro parou Charles não acreditou, no interior de uma sala de vidro todos os seus agentes estavam sendo cuidados por uma pequena e desengonçada senhora que vestia um roupão. Ele julgou que ela seria uma 71 médica, saiu rapidamente do pequeno carro e tentou entrar na sala, mas antes de adentrar sentiu somente uma pequena dor que foi tomando conta de todo o seu corpo e apagou, ao passo que seu corpo caiu estirado ao chão... ****** Serfalos andava de um lado a outro de uma sala, não em forma imaterial, mas material, ocupava a carcaça humana de um alto chefe do exército, ele queria convencer o governo do País em atacar Arthur. - Isto será muito difícil, lado outro, terei que tentar, afinal, o mestre precisa do caminho livre o quanto antes. – Ele dizia para si mesmo, ao passo que seus passos não paravam. 72 CAPÍTULO 19 Berlim – Alemanha, 1982 Minutos após estar pronta para dormir, Estela ao invés do odor, havia avistado algo que passou rapidamente de fora da janela. Era uma espécie de sombra... Rapidamente iniciou uma desesperada tentativa de se comunicar através dos olhos com seu pai, contudo, para seu desespero ele muito cansado, não olhou para seus olhos, somente lhe deu um beijo no rosto e retirou-se do quarto, sendo acompanhado pelas duas enfermeiras. Quando todos saíram do quarto e apagarem a luz, o que estava de fora da janela resolveu entrar... Estela olhava apavorada para a sombra que ainda estava de fora da janela, seu corpo logicamente não se mexia, nem sua boca emitia qualquer som, contudo, seu coração batia tão acelerado, que ela podia ouvir suas batidas. Em poucos segundos ela pôde ver o que literalmente atravessava a janela e estava vindo em sua direção. Tentou fechar os olhos e abri-los novamente, na tentativa de acordar de algum pesadelo, lado outro, sabia que aquilo era assustadoramente real. Quando aquilo que já havia atravessado completamente a janela tomou forma, ela não pôde acreditar... Seu coração que já batia acelerado passou a saltitar em seu peito, e seu corpo literalmente esfriou-se. Ela pela primeira vez em anos estava sentindo algo, mas nada bom, era uma dor, não entendia o que era, por óbvio, devido a todos os acontecimentos que lhe deixaram atordoada. Mas parecia que inexplicavelmente quem vinha em sua direção além do odor fétido, emitia alguma espécie de energia, a qual da mesma forma inexplicável estava lhe causava enorme dor, parecendo que tal dor não vinha de seu corpo, mas de sua alma, o que era a realidade naquele momento... Após algum tempo, que parecia uma eternidade, mas que na realidade foi em questão de segundos, ela viu que se tratava eram de duas sombras. A primeira já estava formada e encontrava-se no quarto, e, quando acabou de se materializar, Estela não pôde acreditar, era um cachorro, não um simples cão, este possuía olhos sinistros, pelos curtos e negros, dentes enormes e extremamente afiados, babava abundantemente, e fedia fortemente a enxofre. Os passos do cão eram tão rápidos que Estela não conseguia acompanhá-los com o olhar, porquanto, o mesmo parecia levitar, em questão de segundos já se encontrava ao lado da cama da jovem. Estela não conseguia tirar os olhos do cachorro, mas algo atraiu sua atenção, a segunda sombra já estava dentro do quarto, havia adentrado 73 enquanto ela olhava o cachorro atravessando à janela, e, quando ela tentou avistar melhor que forma tinha, não conseguiu, tendo é que desviar o olhar imediatamente, porquanto, a dor aumentou inexplicavelmente somente de olhar diretamente para a outra sombra. Seu cérebro mal podia processar a dor, por evidente, ela não compreendia o que estava ocorrendo, mas naquele momento o cachorro perdeu a importância, parecia que o que acabará de entrar no quarto conseguia ser mais estranho e assustador do que o cão, e ela sabia por instintos naturais que o era... Neste momento, igualmente por instinto de sobrevivência, ela tentou novamente virar o rosto, e quando finalmente conseguiu desejou não tê-lo feito! Aquilo que entrou por último no quarto certamente não era humano, parecia um espectro. A cada passo que ele dava em sua direção, Estela sentia aumentar mais a forte dor, como se sua alma estivesse sendo arrancada de seu corpo. Contudo, ela não conseguia mais desviar o olhar, era como se estivesse presa àquela visão, sendo hipnotizada. Ela não entendia de espiritualidade, mas no fundo sua consciência sabia que aquilo que vinha em sua direção tinha um enorme poder. O espectro então abriu suavemente os olhos, os quais até aquele momento estavam fechados, como se estivesse mentalizando algo, Estela não sabia o quê era, mas certamente não era boa coisa. Os olhos do espectro eram ainda mais aterrorizadores, e Estela sentiu como se aquilo estivesse prestes a encarnar em seu corpo... - Será que vou ser possuída por um espírito do mau? – Pensou a jovem. Seu pensamento era certo, mas não era a forma de possessão que ela tinha em mente. Contudo, para seu desespero, quando aquele ser totalmente diferente de tudo que ela viu na vida chegou mais perto, Estela pôde ver não se tratar de um espírito, mas na realidade inacreditavelmente de um jovem... Ela presumia ser um jovem, porquanto, seu rosto encontrava-se inteiramente dilacerado, estava literalmente em carne viva, assustadoramente destacando seus olhos, os quais não eram de nenhuma cor natural para os mesmos, eram espelhados, refletindo a expressão de espanto de Estela. - Através de meus olhos, você pode vislumbrar a fraqueza de sua alma! – Disse o rapaz, com uma voz totalmente diferente de qualquer humano, abrindo ainda mais os olhos para que ela pudesse ver bem seu reflexo. Quando ele chegou ao seu lado, ela finalmente conseguiu desviar o olhar dos olhos daquele ser, contudo, ao olhar para baixo assustou-se ainda mais, porquanto, além de não possuir pele no rosto, ela viu que ele não a tinha em todo o corpo, e suas veias pulsavam como se por elas não corressem sangue, mas pequenas serpentes ou vermes entre músculos. - Desculpe minha aparência, mas parece que nenhum corpo humano consegue suportar o poder de minha alma sem se decompor! – Mencionou o jovem com um sorriso sinistro no canto inferior da boca, mostrando ainda que 74 não possuía também dentes... – Lado outro, para cumprir o que venho fazer tenho que aqui dentro estar. Sutilmente o jovem, ou melhor, o que sobrou dele, chegou bem próximo a Estela, e foi retirando a coberta vagarosamente, parou, abaixou-se sobre ela, sussurrando em seu ouvido palavras que aterrorizavam ainda mais sua mente, deixando ainda cair de sua boca um sangue negro e fétido, como se estivesse a cada momento derretendo: - Não se assuste Estela, você deveria estar alegre, afinal foi à escolhida... 75 CAPÍTULO 20 Londres – Inglaterra, 1982 Quando Charles acordou estava deitado em uma das camas se perguntando o que havia acontecido, e notou que a pequena médica olhava para ele com cara de descrença. A estranha medida parecia ser uma velha asiática, tinha a cara fechada, pele desbotada que entregava que estava ali há muitos dias não vendo o sol. – Se é que ela já o viu algum dia. – Pensou ele após o raciocínio anterior, o que devido ao seu treinamento fazia instintivamente, mesmo ainda atordoado com o súbito desmaio. A médica conversou com Arthur em mandarim, Charles sabia falar várias línguas, afinal, isso poderia salvar-lhe a vida em uma missão, mas mandarim ele não dominava, somente entendeu a mulherzinha dizer que “os Ingleses são idiotas mesmo”, e algo como “eles não queimam como os russos porque não tem tanto álcool no sangue”. Arthur sorriu e foi de encontro à Charles. - Acho que você conheceu Kim Jon. - Kim o quê? Estou é a perguntar como vim parar aqui deitado, afinal, somente me lembrava de ter corrido para encontrar meus homens e... - E ai você sentiu a força que enfrenta um homem que se move em um ambiente estranho sem tomar a devida cautela, afinal, você poderia estar somente indo de encontro aos seus amigos, mas também poderia querer matar a cientista presente nesta sala, que posso afirmar, é um contingente humano que vale bilhões. - Cientista? Bilhões? Do que você está falando? - A doutora Kim é uma das maiores cientistas do mundo. Ela encontra-se em nossa equipe desenvolvendo alguns suvenires para nossa causa, e, chamei-a para tratar de seus homens, afinal, o hospital será ocupado por uma equipe vinda de um País bem distante, e, por isso, nenhum médico comum poderia aqui entrar, nem seus homens poderiam ser levados a um hospital, afinal, conforme combinado, caso você não voltasse eu iria cumprir o que disse. Assim, resolvi chamá-la, ela foi uma das primeiras a chegar à Inglaterra, e está muito brava com você, primeiro, porque ela acha que vocês estão barrando o início de seus estudos, e, segundo por que... - Barrando início de seus estudos, o que eu tenho a ver com isto? – Questionou incrédulo Charles, já havia recuperado suas forças, e já estava preparando-se para levantar-se. - Para eu colocar tudo em funcionamento tenho que primeiramente ter uma equipe de segurança e de apoio interno e externo na área de inteligência e espionagem, tanto corporativa quanto as demais. Por isso a Dra. Kim está tão furiosa. 76 - E do que mais está velha maluca me culpa? – Questionou em tom de sarcasmo já se pondo de pé. - Primeiramente, tenho que adverti-lo que ela fala Inglês meu caro Charles, e, como ela ainda encontra-se nesta sala próximo a você... Charles ficou até vermelho. – Desculpe senhora, estou muito grato por ter me ajudado e, principalmente, por estar cuidando tão bem de meus homens. Eu somente estava... – Mas antes de terminar a doutora resmungou de longe saindo da sala após trocar o soro de um dos homens: - Não precisa falar nada seu Inglês idiota. Falei para Arthur que se um velho raquítico utilizando-se somente de uma pequena arma avançada já fez isso tudo com sua equipe, não estaremos em boas mãos aqui embaixo! Mas ele insiste que você e sua empresa são os melhores para servir a nossa causa. Assim, quero que saiba que se algo acontecer a minha pesquisa por sua culpa ou de algum de seus homens não vou usar estas armas sofisticadas do Arthur para colocá-los somente paralisados, vou usar uma comum, capaz de estourar de vez estes seus miolos. - Nossa, aonde você arrumou está mulher? Acho que ela vale bilhões porque tem um monte de gente querendo alguma recompensa por sua cabeça. – Disse Charles após certificar-se de que a franzina mulher nervosa e rabugenta realmente havia saído da sala. - Não se engane meu caro Charles, está mulher salvou a vida de seus homens. Afinal, minhas armas são sofisticadas, as balas são desenvolvidas para parecer que penetraram totalmente na pele, perfurando. Contudo, elas se estouram, fazem uma ferida superficial, e injetam uma substância paralisante e um veneno mortal que se não aplicado o antidoto em algumas horas a pessoa morre. - Então quer dizer que se eu demorasse mais algumas horas você realmente iria comer meus homens? - Somente para você posso confessar que pedi para desenvolver uma arma assim, para manter o sujeito vivo por algum tempo, até eu chegar em casa com o corpo etc., afinal, comer um alimento fresco tem outro gosto. – Disse o velho com expressão de um psicopata, diferente de seu ar simpático que exibe na maior parte do tempo. Charles esfriou-se, olhou para seus homens e deu graças a Deus de ter aceitado a proposta rapidamente, do contrário não queria nem imaginar, só de pensar já lhe ansiava vômito. - Mas o que é que me derrubou desta forma? - Mesmo que vocês vão fazer os trabalhos que estamos combinando, tinha que já ter outros brinquedinhos para nós proteger até lá, assim, mandei instalar um dispositivo de segurança que fosse acionado caso alguém conseguisse passar pelos outros mais acima, assim, quando alguém tenta entrar em qualquer sala sem a devida identificação e autorização, além de receber uma descarga elétrica, é acertado por sons supersônicos que são inseridos diretamente em seus ouvidos por sensores, os quais medem a 77 extensão do dano, atordoam o sujeito que sofre uma espécie de choque também em uma região especifica do cérebro, assim, além de perder o senso de direção por atingir o labirinto, desta forma, se ele não cai por um, cai por outro, sucessivamente. Mesmo sendo vítima do equipamento, Charles estava novamente encantado, aquilo era demais. - E ai chefe, quero que você traga sua equipe amanhã mesmo para este complexo, o setor que vocês irão ocupar tem mais de dois mil metros quadrados, já está equipado com o que há de melhor em relação a espionagem e inteligência, e as armas estão na sala principal de armamento, todas estão na ala de ciência e mecânica armamentista avançada, ao lado do seu setor, afinal, eles ficam lá fazendo inovações e melhorias, após é somente você se dirigir a eles é pegar os brinquedinhos. Tenho que lhe confessar que nenhuma ainda chega perto de minha bengalinha mágica, mas já ouvi dizer que o chefe deste setor é um russo que desenvolveu um armamento atômico único. - Como assim ouviu falar, você não o conhece? - Ninguém conhece realmente uma pessoa meu caro Charles, na maioria das vezes morremos sem conhecermos nós mesmos. - Quero dizer... - Sei o que quer dizer seu idiota. Somente quero a confirmação que amanhã estará aqui, assim, poderei liberar a vinda em definitivo da doutora Kim e mandar que os outros venham finalmente para cá. - Mas o que vocês, ou melhor, nós vamos fazer neste lugar? - Você vai ver com o tempo, mas após algum tempo vai perceber que será mais fácil enumerar o que não vamos fazer... – Respondeu Arthur deixando o mistério tomar conta de suas verdadeiras intenções. - Mas ainda não combinamos os valores que serão pagos a minha empresa... - Valores? Primeiramente quero que saiba que estamos salvando sua empresa, se continuarem naquele local por mais três ou quatro dias o sujeito que o contratou vai aniquilar totalmente a mesma. E ainda tem o fato que tenho algo que lhe interessa mais do que dinheiro... Algo que me interessa mais do que dinheiro, será que realmente ele sabe quem é meu pai?... – Pensou quase deixando transparecer um sorriso de alegria somente em fantasiar com a possibilidade. 78 CAPÍTULO 21 Berlim – Alemanha, 1982 Estela já estava totalmente perplexa, perturbação que aumentou após o homem, ou melhor, monstro estar terminando de retirar o cobertor que antes lhe cobria o corpo, deixando-a somente coberta por uma camisola transparente, a qual em questão de minutos foi rasgada com força pelo monstro, deixando-a completamente nua. O jovem abriu a boca, e de dentro desta saiu sua língua, a qual era bifurcada, e mexia-se como duas serpentes. E, em um movimento rápido e repugnante começou a lamber todo corpo da jovem... Ela não queria acreditar, sentia que aquilo não poderia estar acontecendo, mas seu maior desespero ainda estava por vir... Naquele exato momento, seu pai apareceu na porta, ela sentiu um alívio ao vê-lo, pensando logicamente que ele iria agir rapidamente, e tudo iria acabar. Mas contrariando seus pensamentos, seu pai parecia estar confuso. Olhava-a, mas não como se estivesse prestes a ajudá-la, seu olhar era inconfundivelmente de vergonha. Ela em um sussurro quase inaudível falou pela primeira vez em tantos anos: - Pai... Mais não obteve resposta... Seu pai ficou espantado pelo fato de ouvir a voz de sua filha novamente após tantos anos, mas não reagiu. Estela ficou tão perplexa com a atitude dele, que sua mente não mais estava ali naquele quarto, parecia que jazia fora de seu corpo, pensava nos tempos em que era criança, nas brincadeiras com seu pai, nos jantares em família, com ele todas as noites vindo ao seu quarto para lhe dar um beijo... Contudo, foi rapidamente trazida de volta de seus devaneios por uma dor dilacerante, a qual desta vez vinha certamente de seu corpo. Inicialmente ficou chocada, porquanto, não sentia dor há tanto tempo em seu corpo, que mal poderia acreditar que aquilo era realidade. Foi quando notou que suas pernas estavam se mexendo, e então logo pensou que seria um milagre! Deus estava trazendo de volta seus movimentos! Poderia correr para escapar! Contudo, sua alegria logo foi desmontada, apesar de estar se movimentando, diante da dor que estava sentindo, preferiria estar novamente tetraplégica... Era como se aquele sujeito estivesse rasgando-a... Foi quando ela notou que o rapaz que a segurava estava penetrando seu pênis em sua vagina 79 fortemente, e ele fazia isto com ódio, certamente não com prazer... Seus olhos espelhados a fixavam de uma forma tão sinistra que ela conseguiu por segundos ao invés de sua imagem ver no fundo deles, e neste momento teve a certeza que o inferno existia, e que boa parte dele estava dentro daquele olhar... Na medida em que o rapaz ia penetrando em seu corpo, ela tremia, mais não era de medo, e sim de dor. Parecia que ela estava recebendo uma descarga elétrica que passava por todo seu corpo, chegando até os seus fios de cabelo... Neste momento, quando não aguentava mais tanta dor, ela começou a gritar, de uma forma nunca vista antes... Seu pai inexplicavelmente ainda estava ali parado, perplexo, mas extremamente parado, somente olhando tudo acontecer. Quando ela olhou-o novamente, agora com olhar de indignação, ele somente deixou cair uma lágrima sussurrando: - Me desculpe, eu não tive opção... – E saiu correndo pelo corredor. Estela já estava quase desmaiando, mas antes pôde ver uma forte luz entrando pela janela, ela tentou fixar o olhar nela, e antes de desmaiar percebeu que a mesma estava formando a figura de um homem, após isto somente viu escuridão... Antes que a luz tomasse a forma completa do homem, o sinistro cachorro que desde quando chegou estava parado como uma estatua ao lado da cama da jovem Estela, soltou um grande uivo, saindo correndo em direção à luz, e à medida que ele corria foi se transformando em algo ainda mais sinistro... O homem que estava segurando Estela somente olhou para o lado, e exclamou em tom bem alto: - Segure-o Sífilis, eu já estou acabando... Em plena transformação, o cachorro continuava avançando, e quando chegou próximo ao Senhor da Luz, abriu sua enorme boca que apresentava dentes extremamente afiados, e desta saiu um hálito fétido de podridão da carne, o qual rapidamente recendeu em todo quarto... Contudo, quando atacou passou diretamente pelo corpo do Senhor da Luz, como se atravessasse uma cortina de fumaça, patinando logo após, fazendo uma curva fechada no objetivo de retornar para efetuar um novo ataque. Ao chegar a sua forma materializada, o Senhor da Luz olhou o rapaz possuindo o corpo de Estela sobre a cama, concluindo ter chegado tarde demais. Demorei muito tempo encontrando e arrancando daquele traste do Xotono a localização da concepção... – Pensou se lamentando. 80 Em seu íntimo ele sabia que tentou ser o mais rápido possível, até mesmo quando o demônio falou que era na Alemanha seu primeiro pensamento foi de culpa por não ter presumido antes o local, já havia estudado a grande mudança repentina do advogado pai de Estela, mas nada havia encontrado em sua vida que detinha algum pacto, ainda mais daquele grau. Contudo, algo lhe retirou de seus devaneios, antes de voltar a atacálo novamente, algo surpreendente estava acontecendo, misteriosamente o cachorro estava tentando se levantar, como se estivesse se transformando em um homem, os pelos caiam abruptamente, mas o fedor ainda era extremo, e a feição de homem não foi completamente concluída, somente ficando algo indefinido, mas extremamente estranho a qualquer coisa que já habitou a terra... Com olhar de desprezo, o Senhor da Luz que acabara de se formar em forma materializada por completo, mencionou sutilmente para a coisa que se transformou à sua frente: - Sífilis, foi este o nome que ganhou seu cão imundo! Agora sei quem é você! – Fez uma pausa certificando que era ele mesmo. – Tinha certeza que você não poderia mais encarnar em humanos... Afinal de conta sempre foi tão fraco... Contudo, esperava que fosse um pouco mais forte, e conseguisse quebrar esta barreira criada por mim quando deixei a casa de seu mestre... Mas agora vejo que você é fraco demais... – Ele instigava. – Afinal, somente conseguiu quebrar esta maldição em partes, e, ainda assim, se transforma em algo ainda pior! Algo que poderíamos mencionar... – Ele procurava às palavras, não por falta de definição, mas em tom de completo deboche. – Seria... Nem humano nem cachorro! – Fez mais uma pausa, desta vez para sorrir. – Desculpe-me, mas pensei agora e fiquei surpreso, você conseguiu se transformar em algo mais feio do que era! O cachorro que não tinha mais quase nenhum pelo, agora o olhava com ódio mortal, e foi tentando novamente ficar somente nas patas traseiras, se levantando aos poucos... Foi quando de seu umbigo foi saindo uma fumaça, e desta fumaça foi se materializando a figura de um velho... Ele cheirava a enxofre puro, e sua forma era de um homem acabado pela idade, barbas longas e cabelos brancos, contudo, manchados, diante de estarem banhados em sangue... O Senhor da Luz não se mexeu, e ficou mudo, parecia que curtia aquela situação. Após estar totalmente formado, o corpo do cachorro que agora era irreconhecível caiu ao chão, e a alma que dele saiu virou-se exclamando com ódio: - Seu traidor! Sabia de nosso segredo, e ajudou-o a enganar a todos. Eu soube quando você sumiu que ele não poderia ter acabado com você! Afinal de contas, foi você o único capaz de seguir o plano a risca... – Ele trincava os dentes em ódio ao falar. – O mais forte, e o melhor deles, ele e você enganou a todos nós. Achamos que estávamos matando seu filho ao ajudá-lo, contudo, criamos um dos maiores mártires que este mundo já presenciou, sendo suas palavras difundidas por todos os cantos do universo 81 material e imaterial, e você ajudou mais do que nunca a fazer isto, mas lembrese que o preço foi grande! E por isto você também paga por ele até hoje... Portanto, acho que deve tirar este sorriso sarcástico do rosto! - No fundo você sabe muito bem que aquilo não foi um plano... Eu realmente o traí, mas soube reconhecer meu erro a tempo, e pedi perdão. – O senhor da luz agora respondia com ódio, mas às lágrimas escorriam pelo seu rosto. – O importante para mim é que eu recebi seu perdão, porque ele é bondoso e misericordioso, sabe quem tem sinceridade nas palavras! Realmente pago até hoje pelo meu erro, não porque ele me cobra, mas simplesmente para recuperar sua confiança. – O senhor da luz estava com enorme ódio interior, mas prosseguiu: - Ele sabia que você estava lá, e tentou persuadir seus discípulos a convencê-lo a não seguir seu caminho... Você tentou impedir que ele fosse morto, não por amor, mais porque descobriu que assim ele seria mais poderoso e traria mais confiança e sabedoria aos homens, além de obter grande respeito... Por isso, não tenho tempo a perder com você, não vou deixar que você e seu amigo cumpram o que vieram fazer. Contudo, com mais desprezo ainda em sua expressão, o velho lhe respondeu com uma pitada de sarcasmo, parecia que havia ganho o jogo: - Você impedir nos dois? Se fosse somente um, eu creio que você teria alguma chance, mas se esqueceu de que sou o mais forte agora das profundezas após você sair do meu caminho? O Senhor da Luz respondeu com um sorriso nos lábios, às lágrimas já haviam secado: - Sei sim... E é por isto que trouxe um amigo... Este que está bem ai atrás de você! Ele queria conhecer este novo rei das profundezas. Ele tem algum plano, quer me confundir, afinal ninguém o ajudaria... – O velho ficou a pensar. – Ele não tinha amigos! – Prosseguia em seus pensamentos, até que impaciente respondeu: - Se eu não me virar ele vai me atacar de surpresa?! – Soltando uma enorme gargalhada. Contudo, a gargalhada foi interrompida, o demônio sentiu uma doce voz em seu ouvido, e pôde perceber que o Senhor da Luz não estava blefando, sendo que a voz somente falou suavemente: - Há quanto tempo Serfalos, estava com saudades de suas histórias... O velho sussurrou, desta vez com enorme medo, o qual invadia todo o seu ser: - Não pode ser verdade... - Vire-se, não gosto de atacar ninguém pelas costas como você fez com a Aurora! Saiba que Gabriel ainda procura você, ele sabe que Xotono somente foi um instrumento seu, e se achar não terá o mesmo respeito... - A 82 voz doce mais uma vez veio retumbar em seu ouvidos para seu total desespero. Ao se virar o velho viu o que temia, um Arcanjo... Não um simples Arcanjo! Mas o mais poderoso, não teve dúvidas, já havia encontrado com ele muitas vezes em batalhas desde os tempos primitivos, era sem sombra de dúvidas Miguel... - Como você pode estar ajudando este traidor? Não se lembra de quem ele é?! – Serfalos tinha que questionar, porquanto, estava mais perplexo com a situação do que com o fato de estar prestes de ser atacado por um Arcanjo poderoso. Miguel sorriu, e a resposta ainda veio com uma voz angelical: - Não, não sei desta história... Pelo que sei ele traiu, pediu perdão e se redimiu, e paga até hoje pela incompreensão de todos! O nosso Criador, Deus, Criadores, seja lá o que você fala, não se pauta na penalidade ou no ódio, mas sim no amor e perdão sinceros! Pelo que sei, foi você quem realmente o traiu... Dizem que há milhares de anos, você era um grande Arcanjo do Senhor, e, além de buscar ser mais que todos, ainda cometeu o erro de matar um de seus irmãos! – Miguel fez uma pausa, tentando escolher bem as palavras. – Contudo, posso lhe dizer que estará salvo da morte neste momento, uma vez que eu ainda não tenho permissão para lhe exterminar, e, ainda, tem o fato de que eu não tiraria este prazer do Gabriel de acabar com você no tempo certo, por ter matado sua companheira... Após dizer estas palavras, Miguel foi mudando sua forma de angelical para uma bem mais estranha, agora estava mais parecendo um demônio, foram surgindo brancas asas em suas costas, grandes como a de uma águia, seu rosto foi se transformando em um misto de ódio e poder... Após ver que Miguel estava prestes a enfrentar Serfalos, o Senhor da Luz virou-se para a cama de Estela, a qual já havia acordado novamente, e estava gritando de dor. Passou a mão atrás da nuca retirando a espada de Miguel e correu pelo grande quarto rumo à cama, contudo, quando menos esperava o rapaz que segurava a moça virou-se, e com um olhar penetrante disse calmamente: - Como vai traidor?! Estava com muitas saudades, afinal, não esqueci que também me traiu... O Senhor da Luz não podia acreditar no que estava vendo, aquilo era pior do que estava prevendo... - Não pode ser... Você não pode ter conseguido entrar nesta dimensão e se encarnar em um humano, ele não permitiria! Você estava preso em redes eletromagnéticas, e em uma dimensão espelhada só sua! - Não diria que encarnei em um corpo humano, afinal, este corpo sequer aguenta meu enorme poder, ele está se decompondo não vê!? – Ele respondeu com um sorriso nos lábios que escorria sangue e pus. 83 O Senhor da Luz então resolveu ficar em silêncio, aquela situação não lhe permitia sequer falar, e tinha que pensar em uma maneira de escapar... - Mas quem você pensa que é para falar comigo de igual para igual, eu sou tudo que vocês temeram por todos estes anos, me chamaram de todos os nomes, Satanás, Diabo, rei das trevas, arcanjo caído, tudo! Mas o mundo esqueceu que eu sou um Deus!... Lúcifer... – O jovem falou com ar triunfante. O Senhor da Luz tentou acalmar-se, não poderia deixar se abalar. Sabia que agora ele e Miguel estavam correndo sérios perigos, afinal, tinha que concordar com ele, porquanto, realmente não estavam na presença de qualquer ser. Estava na presença de um dos mais fortes espíritos de todo o universo, ele era realmente um verdadeiro Deus mitológico, mais ainda um! Tramando um plano rápido, respondeu em um tom ainda mais ameaçador: - Deus? Você acha que algum dia foi um Deus? – E percebendo que Lúcifer havia parado resolveu prosseguir com o plano improvisado. – Não questiono que você tinha muito poder, e, utilizando deste começou a punir aqueles que faziam o mau no começo dos tempos! Dizem que os Criadores foram claros que a punição somente consistiria em uma sanção com o fim de que a alma destes homens e seres pudessem retornar ao caminho da luz! Contudo, com sede de poder você começou a articular maneiras de literalmente devorar almas, e com isto aumentar ainda mais o seu poder! Você conseguiu, mas lembre-se: os criadores são tudo, seus poderes são infinitos, e nem você, nem seus seguidores vão conseguir o que desejam! Seu semideuzinho de merda! O jovem se levantou finalmente deixando Estela, ao passo que o Senhor da Luz pensou ter conseguido, contudo, ao invés de parar a concepção após a instigação, o jovem disse o que ele mais temia: - Acabei! Está terminado seu fraco! Agora nem seu mestre poderá interferir, afinal de contas o que esta dentro de Estela é uma vida, ele não se atreveria a retirá-lo. Além disto, quem é você para falar de criador ou criadores, você não estava lá, ainda não era sequer projeto seu merda. Além disso, pelo o que me consta, o seu Criador fez uma promessa a Noé, então vocês não podem quebrar sua promessa, estou certo? Não podia ser. O senhor da luz se recusava a acreditar, como ele conseguiu bem de baixo de seus narizes promover aquela façanha, e, ainda, utilizando-se de uma lei divina que mesmo que burlada por fins escusos deveria prevalecer? No outro canto do quarto uma batalha ainda maior era travada, onde Miguel tinha mais poder, contudo, Serfalos estava consumido pelo ódio, e sua força estava assustadora, parecia que quanto mais ódio, mais poder ele sugava da energia ruim que penetrava aquele quarto, a qual em sua grande maioria vinha de seu mestre Lúcifer o qual o Arcanjo ainda não sabia de sua existência no recinto... 84 CAPÍTULO 22 Londres – Inglaterra, 1982 Após um tempo analisando seus homens Charles e Arthur retornaram a sala de visitas. Charles ainda estava maravilhado com o que viu, se havia ainda alguma relutância em aceitar o trabalho a mesma já estava fora de questão, afinal, nunca, absolutamente nunca em sua existência e de sua firma poderiam contar pelo menos com um por cento do poderio e imponência daquela sede. - O senhor viaja por todo o mundo em expedições a procura destes objetos exóticos, o que lhe move? – Charles tentou puxar conversa olhando em direção aos vastos objetos que se espalhavam por toda a grande sala. Arthur ficou maravilhado com o questionamento de Charles, nunca imaginava que alguém como ele poderia ter um interesse tão filosófico, até mesmo pensou se poderiam em algum tempo serem realmente amigos. - O que me move é a sensação de liberdade. Sempre fui predatório no mundo dos negócios, mas quando estou na floresta os riscos são mais acirrados, e, ao mesmo tempo parece que o jogo entre vida e morte é mais legítimo, visto que geralmente em minhas expedições luto contra a natureza, e, também com armadilhas e outros dispositivos elaborados por povos primitivos para proteger suas preciosidades. Desta forma, creio que após conquistar tudo no mundo financeiro, ainda me faltava algo, então, decidi iniciar minhas expedições, e me apaixonei, principalmente, quando vou de encontro a civilizações e culturas antigas. - E o que ou quem mais lhe causa interesse ou paixão nesta sua busca? – Charles pensou um pouco, queria formular ainda mais sua pergunta, mas Arthur estava sedento em responder, parecia que há anos não tinha uma conversa daquelas. - Sempre tive interesse em desvendar mistérios, em grande parte dos que já consegui, desvendei ao mundo, como uma forma de compartilhar minhas realizações, e, também, não posso mentir, de me sentir mais realizado, afinal, em tão raras exceções nós queremos mesmo é desvendar algo ou obter valores financeiros, visto que na maioria queremos mesmo é a glória destas conquistas, e, elas vêm em sua grande maioria pelo reconhecimento das pessoas. - Então é por isto que sempre revela seus achados? - Quem lhe afirma que eu revelei todos os meus achados?! – A resposta veio seca, não pode raiva, mais porque ele estava prestes a revelar algo que poucas pessoas sabiam. Vendo que Arthur não gostou do questionamento, o qual mais pareceu uma inquirição, resolveu mudar o rumo da conversa para o que queria perguntar antes: – Melhor dizendo, qual o mistério ou pessoa que mais lhe intriga? 85 Arthur parou um pouco para pensar, não porque estava com dúvida sobre o mistério ou a pessoa que mais lhe intrigava, mas, porquanto, não sabia se Charles ainda estava preparado para um diálogo daqueles, mas resolveu adentrar somente um pouco, afinal, há muitos anos não dispunha de uma pessoa para pelo menos sonhar que fosse seu amigo de verdade, sem qualquer interesse tanto de sua parte quanto da pessoa. - Creio que o maior mistério e ao mesmo tempo pessoa em minha concepção tanto de vida quanto de explorador seja Jesus Cristo. Charles ficou espantado com a resposta, nunca pensou que ele fosse se intrigar por um homem que ao que tudo indicava tinha sua vida aberta e baseada em religiosidade. - Porque o espanto meu caro? – Arthur ficou confuso com tamanha perplexidade que viu nos olhos e expressão de Charles. - É porque a vida deste homem além de estar ligada a uma religião, não creio que esteja eivada de mistérios, e, ainda, tem o fato de que Jesus nada escreveu, assim, creio que se ele tivesse escrito algo e principalmente interpretado suas ideias para os mais humildes entendo que ele teria feito ainda mais seguidores, e deixado pelo menos mistérios para você então encontrar. Arthur sorriu. - Isto está ficando muito interessante... – Pensou. - Primeiramente, creio que todos podem tentar melhorar aquilo que foi feito, quando sequer fazem a metade do que a pessoa o fez. – ele falava gesticulando com às mãos, como um professar lecionando ou ministrando uma palestra para uma plateia cativante. – Em minhas expedições ao retornar sempre escuto: “mas porque você não passou pelo tal caminho seria mais divertido!” e outros: “Se fosse eu faria assim.”, ou seja, eles acham que fariam melhor, simplesmente porque alguém fez o que ele nunca fará, mas ele ainda é petulante o bastante para questionar as escolhas e criticar. - Não estou criticando, somente tenho uma ideia, e tenho quase certeza disto. – Tentou ponderar Charles. - Ainda bem que você falou “quase”, porque você está muito errado meu novo amigo... - Por quê? – Ele realmente não entendia com a aquele ponto de vista. - Na minha concepção Jesus é ainda hoje o maior enigma a ser desvendado, onde, alguns estudiosos levantam até mesmo hipóteses dele nunca ter existido! Ainda há o fato de que nas passagens existentes em textos antigos somente aparece parte de sua vida. Quanto a sua forma de atuar, creio que ele somente fez seguidores porque fez exatamente da forma que foi feita. - O que lhe faz ter tanta certeza disto? – Charles não estava nada convencido. 86 - É simples meu caro, tenho a certeza de que ninguém gosta de ter ideias impostas por outra pessoa, ainda mais quando se é uma pessoa humilde. Eles não entendem bem se a ideia for formulada, e, por isso mesmo, ou seja, por esse excesso de explicações da ideia, passam a questioná-la ainda mais, e, exatamente nesta fase de questionamento muitos se estressam e desistem de pensar nela, afinal, não são estudiosos, mas somente humildes trabalhadores. - Entendo... – Ele começou a entender o que Arthur queria explicar, vendo que realmente fazia sentido. - Se você entende, não preciso ir mais longe, somente concluir que se Jesus também fez seguidores, é porque não escreveu nada. - Disto tenho que discordar veementemente. – Charles quase pulou da cadeira em sinal de total discordância. - Por quê? – Arthur questionou fazendo ainda cara de espanto. - Porque não é lógico. – A resposta veio seca. Mas Arthur já esperava por aquilo, e tinha a resposta na ponta da língua: - É sim meu caro. Ele simplesmente deixou suas ideias e ideais plantados e solidificados em parábolas e ensinamentos simples, e deixou que os mais simples o passassem como entendiam aos seus semelhantes. Assim, levando suas palavras aos analfabetos, os quais entenderiam melhor os vocábulos ditos do que escritos por óbvio, porque a maioria não sabia sequer ler. E, ainda, deixou nas mãos de alguns outros ditos discípulos a incumbência de pregarem e escreverem o que entenderia sobre ele. – Fez uma pausa erguendo às mãos como pedindo atenção. – E, ouso ir além, afinal, com está simples atitude sabia ele incitou até seus perseguidores em continuar lhe perseguindo mesmo após sua suposta morte. Agindo assim, perpetuou suas palavras e seu ser terrestre como o principal dos homens que por aqui passou, sem escrever nada e dizendo e ensinando em parábolas e pequenos gestos e atitudes, os quais abrem a imaginação do ser humano, deixando que ele raciocine livremente para retirar a sua versão, não uma imposta, mas aquela que ele entende mais conveniente, e, deste modo, poder perpetuá-la pelos séculos. Charles estava boquiaberto, nunca havia parado para pensar naquilo. - Tenho que confessar que isto realmente faz sentido. Mas tenho ainda uma pergunta... – Ele pareceu hesitar, estava com medo de que Arthur não entendesse a brincadeira. - Pode perguntar, não tenha acanhamentos bobos comigo. - É desta sua paixão que você começou a comer a carne e a beber o sangue? Para alegria de Charles Arthur quase se dobrou de tanto rir. 87 - Poderia ser meu caro, nesta você me pegou, mas tenho que dizer que não. – Já respondeu olhando para o relógio e se assustando com a velocidade que o tempo passou, então decidiu concluir a conversa, afinal, tinha uma importante conferência para tratar do início dos trabalhos. - Me desculpe meu caro Charles, a conversa está agradável como poucas que tive nestes últimos anos, mas em alguns minutos tenho que estar em uma conferência exatamente sobre o início de nossos trabalhos. Devo então lhe dizer que estou muito grato de você estar junto ao nosso empreendimento, e amanhã esperamos você e toda a sua equipe do setor de escritório, etc., ocasião em que podem se dirigir diretamente para a sala que lhe apresentei hoje, podem entrar pela mansão que um de meus empregados irá lhe guiar por mais amanhã somente, porquanto, espero que a partir deste dia você se sinta em casa para adentrar quando bem entender, afinal, é nosso chefe de segurança. - Mas é o senhor que vai gerir todo o empreendimento? – Charles questionou já se levantando, não queria atrasar o novo amigo, mas tinha que saber de detalhes. Contudo, Arthur não tinha muito a explicar: - Como você vai perceber mais adiante, eu sou somente uma peça em um jogo muito mais complexo, mas pode inicialmente se reportar a minha pessoa, mais adiante você vai conhecer o resto dos conselheiros. - Conselheiros? – Charles queria obter o máximo de informação, afinal, permaneceram discutindo sobre outras coisas e ele gostou tanto do papo que se esqueceu de tratar dos assuntos mais importantes. - Sim, conselheiros. Mas pode ficar tranquilo que eles estão em vários Países, e somente eu, por enquanto, represente nosso empreendimento aqui na Inglaterra. - Desculpe. Somente para constar, meus homens estarão naquele local amanhã quando eu chegar, não é? - Porque, está com medo de eu resolver fazer uma boquinha à noite? – Questionou sorrindo Arthur, já saindo da sala, estava muito atrasado, afinal, os Conselheiros não esperavam nem um segundo, e ele não queria decepcionar seu grande amor que se encontrava entre eles, longe, mais sempre perto dentro de seu coração... Charles tornou a se sentar, e ficou ali por algum tempo, tinha agora convicção que estava tomando uma decisão muito séria, mas pelo todo, sabia que estava lidando com tubarões. E, pelo que pôde ver, eles tinham poder não apenas aquisitivo, de armamento e de instalações, tinham uma organização mais confiável que um governo, afinal, são poucos países que podem contar com uma sede como aquelas, se é que existe alguma no mundo igual. Contudo, um pensamento não saia de sua cabeça. Quem será meu pai? Será que já o conheço? O raciocínio era frenético, e ele não queria acreditar que finalmente estava pronto para descobrir a verdade, contudo, não tinha conhecimento, mas teria infelizmente pouco tempo com o mesmo... 88 CAPÍTULO 23 Berlim – Alemanha, 1982 O Senhor da Luz não podia acreditar, afinal, aquilo não poderia estar acontecendo, ele e Miguel se começassem a lutar, com certeza iriam ser massacrados somente por Lúcifer, afinal de contas, ele realmente era um Deus, banido, segundo lendas pelo Criador ou Criadores, mas um Deus mitológico! Olhou para trás e viu que Miguel retirou sua harpa celeste, e em um movimento rápido as cordas foram se mexendo para trás, até formar um arco. Retirou dentre às asas algumas flechas, em movimentos tão rápidos que quando o Senhor da Luz piscou ele já estava apontando para Serfalos. Foi neste momento que o Senhor da Luz teve uma ideia que poderia salvar suas vidas, afinal de contas, sabia que Miguel sequer tinha percebido que o jovem que molestava a inocente Estela na verdade era Lúcifer, por isso ele não sabia o perigo pelo qual estavam passando... Eles tinham uma chance, Lúcifer iria certamente desencarnar para lutar, afinal, encarnado seus poderes eram ínfimos, isto lhes daria uns três segundos. Além disso, ele precisava de mais, então decidiu enganá-lo... Se isto fosse possível... Imediatamente colocou seu plano em execução, afinal, não tinham tempo... - Acho que você se enganou Lúcifer, não estamos em dois, estamos em três, olhe para trás... – Fez uma pausa indicando com a cabeça, e ainda arrematando. – Meu mestre decidiu vir pessoalmente! Acho melhor você virarse, afinal, como sabe, ele seria incapaz de atacar alguém pelas costas... Lúcifer somente deu um sorriso respondendo calmamente: - Jogar um jogo destes comigo traidor, é motivo para eu não somente lhe matar, mas para fazer isto com muita dor e prazer, lógico que este último sentimento seria meu! Contudo, à medida que o Senhor da Luz não respondeu, Lúcifer ficou parado a pensar, por um momento raciocinando, mas a tentação foi bem maior, e no momento em que inclinou a cabeça para trás rapidamente, o Senhor da Luz também em um movimento rápido lhe jogou água benta. A água benta logicamente não iria lhe ferir, contudo, a mesma lhe assustou devido a fumaça que ela fez ao bater no corpo por ele encarnado, o qual já estava somente em carne devido à decomposição. Nesse momento o Senhor da Luz aproveitou a oportunidade para sair correndo na direção de Miguel, batendo nele com tanta força que os dois saíram voando pela janela, que se quebrou. Na queda Miguel ainda agarrado ao senhor da Luz perguntava aos gritos, demonstrando sua indignação com aquela atitude: 89 - Por quê?! Por que fez isto?! - Depois lhe explico! Agora voe e atravesse a barreira! Rápido! Rápido! Miguel mesmo sem entender nada abriu suas imensas asas, e plainou no ar, o Senhor da Luz se agarrou fortemente ao seu corpo, e em apenas seis fortes batidas de asas o Arcanjo já havia atingido uma velocidade maior do que a da luz, e após um grande estrondo, os dois atravessaram para outra dimensão... ****** - Serfalos, está foi a última vez que aquele verme do traidor que se alto denomina atualmente como “senhor da luz” atravessou o meu caminho. Quero que você ache e mate-o, ou melhor, após aniquilar o nascimento de Joana, vá atrás dele com alguns seres abomináveis, cães do inferno, serpentes de fogo, o que for preciso, mas não o mate, traga-o para mim, vou brincar um pouquinho. – Lúcifer quase trincava os dentes de tanto ódio. - Sim mestre... Eles saíram pela janela sumindo na escuridão, deixando a pobre Estela sobre a cama, totalmente perplexa, com os olhos abertos, mas os pensamentos longe, bem longe... 90 CAPÍTULO 24 Dimensão Suprema, 1982 ano terrestre Uma grande explosão surgiu no céu da dimensão suprema, e, logo após abrolhou uma bola de fogo nele, a qual foi descendo igual a um meteoro, até que ao chegar mais próximo ao chão foi perdendo força, e já se podia ver o que estava dentro dela, era Miguel e agarrado a ele estava o Senhor da Luz. Quando chegaram ao chão, o Arcanjo abriu suas grandes asas, e começou a plainar, até encostar os pés suavemente ao chão. Quando sentiu o mesmo, o Senhor da Luz deitou-se, a grama era macia, e perto deles havia uma montanha. Miguel estava furioso, pegou o braço do amigo e começou a arrastálo para dentro de uma fissura na montanha, era muito escuro, o Senhor da Luz tentou se livrar do Arcanjo, mas ele o agarrava com tamanha força que não conseguiu se mover. Ao adentrar na montanha, o Arcanjo não perdeu tempo, e foi logo esbravejando: - Onde é que você estava com a cabeça de fazer aquilo seu louco!!! Poderíamos ter morrido ao atravessar a barreira em tamanha velocidade! – Fez uma pausa rodopiando e tentando manter a calma, mas imediatamente, e antes que o Senhor da Luz pelo menos abrisse a boca já estava vociferando novamente: - E é melhor que você seja rápido no que tem a dizer, porque em questão de minutos todos saberão que eu estou aqui, e se descobrirem você, certamente vão pensar que eu sou também um traidor, então seja breve que tenho que te levar de volta... E dependendo do que você me falar eu nem te levo, acabo com você aqui mesmo! O Senhor da Luz já estava acostumado ao temperamento de Miguel, ele não era o mais calmo dos Arcanjos, mas aquele humor era compreensível, afinal, ele liderava todo o Exército Supremo, o que certamente não devia ser nada fácil, mas sabia que ele era um bom amigo, um dos poucos que sobrou, então com muita calma e moderação mediu e teceu suas palavras: - Você sentiu quem era o espírito que estava possuindo aquele rapaz que molestava a jovem Estela? Miguel deu de ombros, realmente não sabia quem era. Portanto, o Senhor da Luz disse calmamente: - Era o Lúcifer! - Lúcifer? – Miguel disse e começou a sorrir após pronunciar o nome. Contudo, ao perceber que o rosto do Senhor da Luz não mudava de expressão, o sorriso foi perdendo força, dando lugar a uma cara de espanto. - Como assim? Você está falando sério? 91 - Lógico que estou! Acha que iria perder a chance de matar Serfalos com você? Há milênios que o Conselho Supremo não libera uma morte de um demônio, não perderia esta oportunidade! Vi que era ele quando se virou, já havia sentido a presença de uma grande força, mais nunca imaginei que seria ele... Miguel estava espantado, não queria acreditar naquilo. - Então foi por isso que você ficou conversando com ele durante algum tempo, eu estava tão entretido com a batalha que estávamos para travar com Serfalos que mal olhei para o garoto. Deve ser por isso que o conselho nos enviou, eles não só queriam que matássemos Serfalos, como também impedíssemos a concepção matando Lúcifer. - Não sei bem... Acho que não nos colocariam em tamanho perigo. Bem como, mesmo se assim tivessem procedido, deve ser que eles não devem estar sabendo que ele conseguiu recuperar a totalidade de sua força, que, segundo presenciei, encontra-se maior do que era antes. Assim, é certo que não conseguiríamos matar ele sozinhos, e, ainda por cima tinha Serfalos, o qual estava muito forte também... Miguel ouviu somente balançando a cabeça, ainda não podia acreditar, de repente se virou para o Senhor da Luz rapidamente, dizendo com afoito: - Vamos rapidamente! Vou te levar de volta antes que alguém perceba sua presença. Após, tenho que comunicar ao conselho o que descobrimos, e que fracassamos em evitar a concepção, Gabriel deve estar indo com Cosme neste momento para poderem ajudar Damião no parto de Joana, pelo que parece por lá as coisas também não estão nada boas, poucos demônios atormentaram o parto de Marcos, segundo me consta somente Xotono. Mas no de Joana disseram que foi enviado uma Legião de demônios para o local, pelo jeito eles temem o nascimento de Joana mais do que o de Marcos, por isso tenho que ir ajudar os Arcanjos, afinal, se a Joana não nascer na terra estaremos perdidos... - E mais! - Continuou Miguel. – Não vá lá, porque se não os Anjos e Arcanjos podem te matar. Lembre-se que o conselho e principalmente ele não queria revelar a verdade agora, eles temem por uma revolta ainda maior. O Senhor da Luz somente assentiu com a cabeça, deu as mãos a Miguel, e em um estouro desapareceram... ****** Lúcifer e Serfalos chegaram à uma dimensão isolada, segura para eles. 92 - Sei que devo caçar o Senhor da Luz, mas estarei muito fraco após a batalha, e, eles conseguiram fugir meu mestre de forma muito fácil, me desculpe. – Serfalos falou em tom de tristeza. - Não conseguiram não! – Lúcifer respondeu com um sorriso nos lábios. - Não entendo? - Eles pensam que me enganaram, contudo, não quis travar aquela batalha, afinal, poderia acontecer alguma coisa com Estela, e, principalmente, com o que ela agora representa. Serfalos sorriu, estava maravilhado com a astúcia de seu mestre... ****** Marcos jazia dentro de uma incubadora, sua mãe ainda estava no quarto sequer fazendo ideia do rebuliço que estava acontecendo na entrada do hospital. Os policiais estavam muito nervosos, questionaram os funcionários sobre os acontecimentos, e concluíram que nada fazia sentido, eles diziam que somente viram uma forte luz e desmaiaram, isso realmente era incomum. Os enfermeiros que havia levado o jovem à sala de emergências estavam naquele momento dando suas versões: - Já te falei senhor policial que quando chegamos o Dr. Salomão já estava morto, e o sujeito que o matou jazia agonizante ao chão, ao passo que todas as pessoas que estavam na recepção no momento dos acontecimentos estavam desmaiadas. - Não tinha outros homens? – O policial insistia. - Não, somente vimos isso! O interrogatório prosseguiu, ao passo que invisíveis aos olhos humanos comuns estavam treze Anjas divididas vigiando à entrada do hospital, e, principalmente, o local onde Marcos estava. Gabriel às enviou após saber dos acontecimentos, elas eram muito bem treinadas, e fariam a vigília com muita prudência. - Você acha que algum dos demônios irá retornar? – Umas das Anjas disse a outra que estava ao seu lado. - Não creio nesta possibilidade Marreria, acho que todos eles estão indo para impedir o nascimento de Joana conforme Miguel havia descoberto, dizem que lá será uma batalha e tanto... 93 CAPÍTULO 25 Londres – Inglaterra, 1982 Arthur estava sentado em uma poltrona aconchegante próximo a grande mesa da sala de reuniões localizada no complexo que havia apresentado a Charles há pouco tempo. Estava olhando para mais de vinte monitores, todos estavam ainda estabelecendo a conexão com os vários membros do Concelho ao redor do mundo, nenhum deles apresentava imagem até que todos estivessem online, isso foi projetado para não ocorrer decisões sem a presença de qualquer parte, e, até mesmo para se certificarem que tudo estava bem com todos. A Dra. Kim ainda estava na ala médica acabando de medicar os homens. Arthur havia dado ordens claras para que fossem dopados até o dia seguinte, primeiramente, para não ter que dar explicações, e, segundo, porquanto, sabia que estava lidando com agentes perigosos, eles haviam bobeado com ele ao acharem que seria um serviço fácil, mas isto certamente não iria se repetir. De repente todos os monitores ligaram ao mesmo tempo, e os cumprimentos foram sendo dados, um a um. Arthur saldou a todos, contudo, os membros perceberam como sempre que havia um em especial, o qual era dirigido para uma mulher que ele reluziu um sorriso ao avistá-la no monitor, no qual, abaixo de sua imagem linda, continha a descrição de: “Brazil”. - Venho avisar a todos que amanhã iremos iniciar o funcionamento deste nosso complexo da Inglaterra. – Arthur disse com alegria. - Já não era a tempo, afinal, os demais já estão em funcionamento há algumas temporadas. – Disse a mulher a qual Arthur sorrira minutos antes, demonstrando que não havia espaço ali para romances infantis, estava para trabalho serio, não para troca de olhares. - Me desculpe minha querida Antonieta, sei que os complexos de vocês já estão em funcionamento há algum tempo, contudo, vocês têm que admitir que o da Inglaterra sofreu modificações que atrasaram seu funcionamento. - Admitir isto é possível. Mas o senhor também tem que admitir que mudou drasticamente o projeto geral, e iniciou uma verdadeira fortaleza, não creio que seja necessário tamanho poderio somente em um País. – Disse agora um sujeito baixinho, o qual se apresentava com uma aparência anêmica no vídeo, com a legenda “Japão”, o qual externava seu descontentamento com Arthur. - Sei também disso, mas recebi informações tanto do Vaticano quanto de ordens secretas diversas, bem como, de chefes de outras religiões que admitiram que o maior perigo encontra-se aqui na Europa, por isso decidi reforçar meu aparato, e vocês sabem que paguei todos os acréscimos de meu dinheiro. - Não estamos questionando sua honestidade meu amigo, somente estamos preocupados se o senhor vai conseguir colocar tudo em 94 funcionamento até o ato de fusão mundial, e, principalmente, se realmente confia nesta empresa de segurança que contratou, afinal, recebemos informação que eles lhe atacaram tentando roubar uma de nossas principais fontes de segurança até o momento. – Desta vez disse um simpático senhor no monitor escrito “França”. - Lhe agradeço Nicola por tal consideração de preocupação para com a minha pessoa, diante de tais questionamentos que estou sofrendo desde que estes monitores foram ligados. Mas tenho que advertir vocês que somente temos está vantagem porque eu a encontrei em minhas últimas expedições. E, quanto há empresa de segurança, quero advertir que Frederick não é apenas meu amigo, mas meu irmão de sangue, o qual conforme é de conhecimento de vocês está seriamente doente, e me pediu para cuidar de seus negócios sem retirar das mãos de meu querido Charles. - Exatamente ai está à questão, este sujeito tem grande influência sobre seus homens, os quais o respeitam muito, creio que até mais do que respeitam Frederick. Então nos diga se você crê que ele vai se portar como deve ao descobrir a verdade sobre seu pai? Afinal, pelo que me consta, ele somente aceitou o trabalho para descobrir este segredo, porquanto, pelo levantamento de meus agentes secretos, a empresa de espionagem deles tem milhões em caixa, com serviços transbordando. – Desta vez questionou uma senhora negra linda onde seu monitor tinha a legenda do “Canadá”. - Michelli, tenho que lhe dizer que não posso responder sua pergunta, afinal, seria o mesmo que pedir para vocês me dizerem se os governos, religiões e entidades secretas que vocês contrataram para fazerem a segurança de suas unidades são confiáveis, porquanto, ao que me consta, tivemos problemas com um agente ligado ao governo alemão. O sujeito do monitor da Alemanha quase tossiu de tanto nervosismo, era alto e branco como leite, tendo os cabelos vermelhos como fogo. - Já solucionei este problema. – Ele respondeu demonstrando uma expressão clara de vergonha. - Quer dizer, nós solucionamos este problema não é Richard?! Berrou Arthur demonstrando que não queria ouvir questionamentos. E arrematando antes que viessem mais comentários: mais – Então saibam que amanhã estaremos iniciando nossos trabalhos nesta unidade, se não há nada a tratarem passarem bem, que estou exausto. Todos assentiram com a cabeça, e em segundos os monitores foram desligados, menos o da primeira mulher de nome Antonieta que estava no Brazil como dizia a legenda. - O que é Antonieta, tem ainda alguma pergunta? Porque sabe que somente podemos tomar decisões quando estamos interligados mutuamente. – Questionou Arthur agora com mais calma, afinal, não tinha a menor vontade de ser indelicado com o amor de sua vida. 95 - Não meu amigo, mas fico pensando se esta sua mania de grandeza não atacou seu juízo. – Ela foi ríspida, demonstrando que pelo menos a primeira vista o amor não era recíproco. Arthur respirou tentando manter a calma, sabia onde ela queria chegar, mas desta vez não iria lhe dar o gostinho de começar uma briga. – Não sei do que está falando minha querida Antonieta. - Sabe sim meu caro Arthur, recebi informações que você tem saído em expedições de investigações ultrassecretas, e, recentemente, pelo que me consta uma gangue inteira de suspeitos de estupro e outras atrocidades foram assassinados a sangue frio. – Ela fez uma pausa observando a expressão de seu interlocutor que ficou inerte. – O que eu achei mais interessante é que os corpos foram encontrados faltando tão somente partes de carne, isto não lhe diz nada? Arthur sorriu, estava muito alegre, afinal, se Antonieta teve o trabalho de lhe observar era porquanto estava sentindo alguma coisa por ele... - Me desculpe, mas creio que o que você disse anteriormente já eliminou qualquer chance de resposta, afinal, eram uma gangue do mau e digo que graças a Deus foram eliminados, muitas crianças irão agradecer por não terem a infância perdida. - Mas eu disse ainda um complemento, que eles eram suspeitos! – A mulher disse rangendo os dentes, afinal, tinha confirmado suas suspeitas, sabia que Arthur somente se esquivava para se vangloriar ainda mais com seus feitos. Arthur deu mais um sorriso, só que este foi de total ironia. - Posso lhe garantir que confirmei antes se eles realmente eram culpados. E não houve sequer tortura. - Você me diz isto com está naturalidade? – A mulher disse agora erguendo as mãos demonstrando sua perplexidade, - Já discutimos isto antes Antonieta. Tenho que livrar o mundo destas pessoas, e o sistema é totalmente falho contra eles, principalmente quando envolve gangues em que há drogas e demais ramificações que retiram qualquer chance dos governos legalmente os pegarem. - Até que entendo sua atitude meu amigo. – Ela entonou mais a palavra “amigo”, como uma forma de dizer que sua preocupação não passava daquele sentimento de amizade. – Mas para que comer suas carnes, isto é nojento. – Ela disse agora dando um tapa na mesa, demonstrando também seu nervosismo com a situação. Se ela está nervosa com isto é porque eu tenho uma chance, afinal, ninguém se preocupa assim com outra pessoa se não há nenhum sentimento. – Pensou Arthur quase explodindo de tanto amor. - Me desculpe, mas você sabe os meus motivos... 96 - Sei por que uma vez você tentou até me explicar, mas até hoje não engoli estas suas desculpas. – Ela se mantinha firme. - Você é vegetariana? - Você sabe que não, afinal, já me levou para jantar várias vezes! - Então me diga qual a diferença entre a carne humana e a de um animal? – Ele foi quase que sarcástico na pergunta. - De novo com isso Arthur... – Ela disse agora com desanimo. – Será que você não tem outra desculpa, você sabe que há muita diferença. - Sim, a uma grande diferença, há de que os animais não nos fazem mal, os humanos sim. – Ele respondeu com o mesmo sarcasmo anterior. - Mas isto não justifica matar um semelhante. - É exatamente neste ponto que eu queria chegar minha cara Antonieta. Você está diante de algo que foi criado por nossos antepassados para protegerem nossa espécie, afinal, é mais sensato pregar que não devemos comer nossos semelhantes, isto é apenas nossos instintos de sobrevivência e perpetuação de nossa espécie falando. - Você não quer realmente dizer que somos como os animais?! – O questionamento veio seguido de um tom de reinvindicação de plausividade com as ideias e ideais. - Digo que o homem estava na natureza há milhares de anos. Que ele era fraco do ponto de vista físico comparado com outras espécies. Contudo, era forte devido a seu cérebro e capacidade de união. Lado outro, o homem nunca tratou as diferenças como fatores que devem ser analisados, assim, se são diferentes de sua espécie, ou seja, a humana era e ainda o é caça. E digo mais, chegaram ao ponto de até mesmo diferenciar seres de sua própria espécie como não dignos de mesmo tratamento somente por serem diferentes, como ocorre até hoje infelizmente com negros e demais classes menos favorecidas por este próprio pensamento. - Não queira me dizer que os homens sejam racistas com os animais, e, por isto, você seria diferente tratando todos da mesma forma, até mesmo na hora de comer. – Ela respondeu demonstrando não estar convencida, o que já estava presente em sua expressão de ceticismo. - Não digo isso, mas te digo que um animal mata por instinto de sobrevivência, não por prazer, ao contrário do homem. Assim, eu mato por instinto de sobrevivência de meus semelhantes. Antonieta tinha que concordar que aquilo era verdade, contudo, era muito pouco para fazê-la mudar de pensamento quanto ao resto. – Certo, então me diga no que isso ajudaria em sua explicação para o canibalismo? 97 Arthur sorriu, ela estava começando a entender, se não a entender, pelo menos ela demonstrava que o queria, que tinha curiosidade por suas razões, isso já bastava. - Eu vivo como em uma selva, e caço qualquer coisa para sobreviver e manter vivos os meus semelhantes, mesmo que isto implique em aniquilar seres de minha própria espécie, e, como na selva, como minha caça. - Mas somos civilizados, você é a pessoa mais culta que conheço! – ela respondeu arregalando os olhos de perplexidade. - A civilização está desmoronando minha cara Antonieta, estamos muito ligados a ideais legalistas e de direitos humanos, quando os julgados não ligam para isso, afinal, matam e não estão nem ligando. Assim, eu cuido para que pelo menos uma parte pague por seus erros. - Você é um louco. Como pode comparar desta forma os animais aos humanos, e ser o poder de polícia, legislador, julgador, executor, etc., isto é inimaginável nos dias atuais, o era de forma absurda nos tempos medievais e afins, e nós sabemos que levava em sua grande maioria das vezes a excessos. - Tenho que lhe confessar que tenho carinho pelos animais, mais do que pelos seres de minha própria espécie, e, não é apenas isto que me faz pensar desta forma... - O que mais lhe faz pensar assim?... – Ela questionou voltando ao tom de desanimo, sabia que ele iria tentar novamente lhe explicar o inexplicável. - Os animais matam por instinto de sobrevivência ou para perpetuação da sua espécie, não por prazer ou para se vangloriar dos demais ou acumular riquezas. Penso ainda que eles estão realmente em constante evolução, mas não para modificação de sua escala de raça evolutiva material, ou seja, do corpo, ou imaterial consistente na chamada alma. - O que quer dizer por escala de raça nesta ordem? Entendi que esta escala seria em nossos seres tanto na ordem de nosso corpo físico quanto do que chamamos de alma, se ela existir. Contudo, não vislumbro porque você colocou como escala. – Questionou novamente já deixando a descrença de lado, Arthur tinha este poder, quando via que seu interlocutor estava cansado de uma linha de raciocínio, ele mudava um pouco de foco criando um atalho mais interessante, e ela estava agora muito interessada no mesmo. Arthur sorriu, tinha agora certeza que se não estiva levando sua conversa para uma convicção plena de sua amada, pelo menos ela estava prestando atenção em seus motivos, isto era um grande passo. - A teoria da evolução originada principalmente por Darwin, propõe um conceito de evolução das espécies, onde estaríamos inseridos. Acredito nesta evolução, lado outro, creio que ela vá ainda mais além, não apenas do corpo material, mas também da alma. Contudo, muitos de nós colocamos como se tivéssemos descendido do macaco, etc. Ou seja, colocam uma escala de evolução das espécies, onde evoluiríamos gradativamente, mas colocam 98 como se estivéssemos evoluído de um ser que não acompanhou nossa evolução. Posso até parar para pensar que nós assemelhamos a eles, mas, isto para na semelhança, porquanto, se realmente tivéssemos a mesma raça, porque eles não acompanharam nossa evolução? Às vezes penso que poderíamos ser uma espécie diferente de macacos que evoluíram mais dominando os demais. Lado outro, não acredito nisto com muita convicção, mas é um dos meus pensamentos fortes para explicar pelo menos nosso corpo material igual aos deles, apesar de ter o porco como na minha concepção e da ciência o animal com o cérebro e demais órgãos mais próximo ao nosso, o que deixa à incógnita: seriamos mais próximos do macaco que se assemelha ao nosso exterior corporal ou do porco que se assemelha na ordem mais interna. Ele explicava suas convicções de maneira frenética, e prosseguiu: - Após concluir isso refutei completamente a ideia que teríamos descendido de algum animal. Creio que já fomos uma raça menos inteligente, comparada a animais e, assim, sucessivamente evoluímos gradativamente de um tronco universal único, mais, porquanto, enquanto alguns primavam pela força, nós evoluímos na inteligência. Assim, temos que ter amor pelos animais e ajudá-los a evoluírem na escala evolutiva tanto material quanto imaterial, e, fazendo isto estaríamos evoluindo ainda mais, talvez para um sentido mais amplo de sabedoria e de liberação de poderes até mesmo considerados atualmente paranormais, chegando-se a escala que poderia comparar atualmente a um anjo. Antonieta ficou muda na tela, sua expressão era de intensa perplexidade, não com o que acabara de escutar, mas com o fato que não bastava apenas ela ter ficado obcecada estranhamente por aquele homem tão intenso e viril, mas pelo fato dele fazer com que ela pelo menos sentisse um pouco do que ele pensava, ele quase a convencia de suas loucuras, porquanto, ele tinha sempre uma resposta para tudo, e lhe assustava o fato dele ter uma gama de conhecimento inimaginável, e traçar seus ideais não apenas na ordem cientifica, mas acima de tudo na religiosa, misturando tudo para formar um pensamento que mesmo que estivesse distorcido da realidade ela tinha que admitir que fazia algum sentido. Os pensamentos mais revolucionários foram os que modificaram o mundo, e, na maioria das vezes para melhor... – Ela pensou. - Entendo... – Fez uma pausa procurando a forma de lançar mais um questionamento, o que estava difícil devido ao fato de ter se convencido anteriormente, mas ainda não engolia o canibalismo dele, aquilo era horrível de todos os pontos que pensava. - Pode perguntar, te garanto que te responderei todos os seus questionamentos com amor e paciência, como sempre o fiz. – Arthur abriu seu coração ao prever que aquele era o momento de ser mais delicado para fisgar pelo menos um pouco daquele amor que ele tanto ansiava. - Somente tenho dúvidas como você ainda me explicaria à diferença total social, cultural, e, principalmente, de posicionamentos que enfrentamos atualmente, visto do ponto de vista de sua colocação anterior, porque não 99 entendo que você queira dizer que evoluiria a um estado único se somos tão diferentes. Arthur suspirou aliviado, estava esperando uma pergunta capciosa, mas aquilo era um manjar dos deuses, era a certeza que ela não tinha mais nada para questionar, somente estava fazendo aquela pergunta para tentar achar algum argumento para refutar sua exposição anterior, teia que ele não iria cair como uma mosca. - Conforme lhe disse, não há que se cogitar em um animal atual que o homem poderia ter evoluído, ele evoluiu de um tronco comum. Lado outro, ele é um ser único em sua espécie, pelo menos por enquanto! Assim, se no decorrer dos anos neste planeta adquirimos pelos, os perdemos, fomos grandes, pequenos, etc., isto não foi evolução no sentido de animal passar a humano, mais no sentido de adaptação ao ambiente e, principalmente, de evolução de nosso raciocínio lógico. Ou seja, há negros, e nem por isto eles são diferentes, somente estão mais adaptados ao ambiente em que viviam na evolução, qual seja, o calor da África, etc., onde o corpo na ordem evolutiva liberou mais melanina para adaptação, ao passo que, os albinos estavam no frio, razão pela qual, tem ausência de cor, etc. Ou seja, do ponto de vista biológico evoluímos de acordo com nossas necessidades tanto ambientais como de nossa sociedade como um todo. Portanto, do ponto de vista fisiológico somos diferentes por está razão. Ele olhou bem no fundo dos olhos dela, como se dissesse, espere minha amada, ainda vou completar, então prosseguiu: – Lado outro, você foi além, dizendo sobre diferenças mais interiores, as quais têm que partir para o sentido de que todos os seres estão em constante adaptação ao seu estado interior acompanhando a mesma escala evolutiva do corpo em seus atos. Assim, teríamos que entrar em questões culturais de cada região, religiosas, e tantas outras, as quais trariam este fator de modificação. Agora sobre a ordem espiritual, não vejo outra explicação a não ser uma ordem também evolutiva trazida pela elevação do chamado espírito, visto que não seria crível conceber que alguém nasceria na África na miséria, enquanto outro nasceria aqui na Inglaterra filho de uma rainha! E, ainda, no que podemos chamar de fim ambos teriam o mesmo peso e medida em seus atos, escolhas, etc., isto seria inconcebível do meu ponto de vista. E digo mais, creio que um Deus que conceba isto como justo, se assim realmente fosse aplicado, não seria digno de ser elevado como tal, visto que não estaria promovendo a igualdade entre seus filhos. Antonieta estava novamente perplexa e agora totalmente perdida na avalanche de ideias e pensamentos que lhe foram jogados como sacos pesados em seu cérebro. Era uma mulher inteligente, lado outro, Arthur estava promovendo seus pensamentos em uma ordem frenética, partia do ponto de vista de vários ângulos. Ela tinha que concluir que ele pelo menos buscou vários estudos e reflexões antes de tomar suas decisões e escolhas. Não tinha ainda um pensamento formado, mas uma coisa era certa, ele estava finalmente arrancando dela após tantos anos algum sentimento... 100 - O que diz? – Clamou Arthur para que ela prolongasse a conversa, afinal, somente de dialogarem e ele poder olhar seus olhos já era motivo para ele ter em suas mãos todas as riquezas do mundo. - Somente digo que você é o homem mais misterioso que eu já conheci. E creio que para realmente decifrar este mistério necessitarei de mais tempo... – Ao final ela perdeu-se em seus pensamentos, porquanto, seu corpo queria dizer que estava pegando o primeiro voo para encontrá-lo, mas seus pensamentos diziam que ele ainda era um problema maior do que o fascínio que causava. - Enquanto vida eu tiver saiba que eu estarei lhe esperando. Então lhe digo minha amada que se queres tempo, não peça a mim, mas sim ao ser onipotente, mas confuso que acreditas como seu criador, porquanto, somente ele poderia retirar de nós a oportunidade de vivermos nosso amor. Antonieta estava arrepiada, nunca esperava uma declaração linda como aquela, afinal, desde que se conheceram sempre recebeu galanteios dele, mas nunca diretos e com tanta intensidade. Somente teve tempo de sorrir e desligar seu monitor, do contrário Arthur teria visto uma lágrima escorrer por seu rosto... Arthur abaixou os ombros, tinha ainda esperanças de viver seu grande amor, mesmo que isto custasse sua fortuna. Após olhou para os demais monitores, havia se safado por pouco de todos os componentes do Conselho, afinal, sabia que se a conversa deles prosseguisse não teria mais argumentos, porquanto, realmente estava muito atrasado no início dos trabalhos, mas tinha a convicção de que havia montado uma excelente equipe, sabia que poderia cumprir para com sua missão, mas um medo não saiu de sua mente: Será que vamos conseguir barrar tamanha desgraça que está por vir? – Seus pensamentos tilintavam, afinal, a incerteza era sua maior aliada, já salvará sua vida em muitas vezes, e tinha a convicção que fez o certo ao aumentar seu poderio naquela nação... 101 CAPÍTULO 26 Dimensão Suprema / Vilarejo na França, 1982. Gabriel já estava impaciente, todos os Arcanjos e Anjos aguardavam Miguel, encontravam-se sentados na grama à beira de um lago na Dimensão Suprema, mas nem sinal dele... Cosme muito poderoso, já havia recobrado suas energias, e reunido alguns amigos seus para a batalha. Na realidade eles eram apenas espíritos comuns extremamente evoluídos, mas que na linguagem da terra eram tidos como: “santos ou espíritos de luz”, encontravam-se na última escala para se tornarem Anjos, para por último caso conseguissem se tornarem Arcanjos, uma força que até então era tida como a mais poderosa entre os entes do bem, os quais eram comandados por Miguel, que decidiu unir forças com todos estes entes mais evoluídos e formar o que diziam Exército Celestial. Lado outro, o termo exército era repugnado pela maioria de seus membros, visto que eles entendiam que ele pressentia um tom muito pejorativo de batalha física, o que não era o fim da coalizão e formação deste grupo, mas sim manter a ordem. Contudo, os Arcanjos Gabriel e Antanael, bem como, a Anja Serena e o santo Expedito gostavam muito deste termo, os primeiros porque estavam sempre sedentos por combate, a segunda porque era uma defensora ferrenha da casta das Anjas e Arcanjas, tidas erroneamente como seres sensíveis, o que contrastava com o espírito das mesmas. O último, Expedito, porquanto, era o chefe da ala dos santos na área de combate. Em suma, todos eles não acreditavam em paz sem luta, por isso estavam sempre em constantes debates junto ao núcleo dos que pregavam a filosofia e o diálogo. Os espíritos de luz não acompanhavam os guerreiros, lado outro, Cosme teve a ideia de juntar este grupo de amigos para lhe acompanhar junto aos Arcanjos e Anjos celestiais, unicamente na tentativa de amparar seu grande amigo de encarnações Damião, bem como, mormente, proteger o nascimento de Joana na terra. Expedito estava muito envolvido com uma batalha travada em outra frente, em uma dimensão tida como a mais perigosa, o chamado inferno, eles tinham que tirar de lá um ser, e não poderia ir pessoalmente, mas reservou alguns dos melhores de seus homens para amparar o amigo. Quando menos esperavam, uma forte luz branca começou a aparecer na água do lago próximo a eles... A água começou a borbulhar, e todos se levantaram estranhando e em prontidão para o pior. Lado outro, de dentro dele saiu Miguel, ele estava completamente molhado, todos que o aguardavam soltaram um suspiro de alívio, e alguns tornaram a se sentar na grama em sinal de alívio. - Não se sentem, peguem às armas supremas! – Ordenou de pronto Miguel, já deixando claro que não tinham tempo. Ao passo que os Santos 102 começaram a pegar espadas brilhantes, e os Anjos e Arcanjos harpas celestiais com várias flechas e também espadas e correntes. Menos Gabriel, que continuava imóvel, com olhar de desconfiança para Miguel que já acabara de sair completamente da água e se dirigia ao grupo em passos curtos. Quando finalmente Miguel chegou bem próximo à Gabriel, este não se conteve: - Miguel! Sei que é meu superior, e lhe devo enorme respeito, mas poderia me dizer por que estava usando a água como condutor, será que você estava tão longe assim para querer viajar tão rápido, e a ponto de arriscar sua vida em uma transição de risco? Miguel fuzilou Gabriel com um olhar penetrante e frio, nos mesmos passos curtos se dirigiu em direção ao Arcanjo, e quando chegou bem perto de seu ouvido falou calmamente, mas com a voz áspera e fria como seu olhar: - Falou bem no começo Gabriel, ao dizer que sou seu superior e sobre respeito que deve a mim! Mas o final me soou como um questionamento, não como uma preocupação de amigo. Portanto, é bom medir suas palavras, porque não estou de bom humor, e se quer me interrogar, o faça diretamente! Gabriel abaixou a cabeça envergonhado pedindo desculpas. Miguel sorriu, abraçou o amigo, dizendo: - Não tem problema meu amigo. Contudo, ao abaixar a cabeça Gabriel viu que o amigo somente estava com sua harpa celestial nas costas. Onde será que Miguel deixou sua poderosa espada? – Indagou somente para ele mesmo, preferindo deixar esta pergunta somente no pensamento devido à resposta anterior, sabia que Miguel não estava nada calmo, e um questionamento desses poderia colocar a perder até mesmo a batalha que estavam para enfrentar... Cosme correu ao encontro de Miguel, e o abraçou. - Meu amigo, quanta saudade! Queria conversar mais com você, mas como demorou tanto, tenho que te apressar o máximo, Damião corre perigo, e precisa de nós de forma urgente. - Sei disso! – respondeu Miguel diretamente, também não querendo maiores delongas, somente acrescentando: – Não precisa se preocupar, iremos agora mesmo, e pela água, é bem mais rápido! - Como assim pela água? Não temos o poder de viajar assim! Podemos morrer, é muito rápido e perigoso. - Cosme disse arregalando os 103 olhos demonstrando seu medo tremendo, seguidos por todos, os quais se entreolhavam assustados. Miguel olhou todos os Arcanjos, Anjos e Santos que ali estavam, deviam ser uns cinquenta ao todo, e após um longo suspiro começou a dizer: - Primeiramente agradeço por terem vindo. Damião precisa de nossa ajuda, e Joana precisa mais ainda. Os dois correm mesmo sérios perigos, Lúcifer enviou uma grande legião de demônios para lá. – Todos ouviam imóveis. - O filho das trevas foi concebido, não consegui evitar, cheguei tarde e o próprio Lúcifer é quem promoveu a concepção, não Serfalos como pensávamos! Após proferir as últimas palavras o que era silêncio, virou burburinho, todos se viraram uns aos outros com caras de espanto e falando que aquilo não poderia ser verdade. Miguel soltou um grito de fúria fazendo todos se assustarem, logo em seguida ele vociferou como um animal selvagem sedento de fome: - Não temos tempo para questionamentos! Vou transportá-los pela água, porque não temos tempo para ir pelo modo normal da luz, então os que quiserem podem ficar, mas os que forem que venham rápido! Após falar, Miguel se virou indo até a ponta do lago. Mesmo com extrema desconfiança todos que ali estavam decidiram lhe seguir. Miguel ergueu às mãos, rezou algo em uma língua estranha a todos os presentes, depois levou às mãos até a testa dizendo: - Senhor dê-me o poder de levar todos estes irmãos através do condutor universal, não temos tempo! – Após, a água foi ficando escura, todos estavam espantados, Miguel estava com poderes nunca antes vistos e alcançados por qualquer ser, ele se abaixou e tocou na água, de repente começou a aparecer imagens, era de um quarto escuro iluminado somente por velas, e de aparência humilde. Às janelas eram de madeira lascada, e na parede havia uma lareira. Deitada sobre uma cama encontrava-se uma mulher grávida, e em volta dela um homem que aparentava ser seu esposo, e mais três crianças. A criança mais nova foi até a porta abrindo-a, entrando um senhor. Cosme ao ver aquilo soltou um enorme sorriso, sabia que era Damião que ali entrará, ainda iria fazer o parto... A alegria de Cosme foi cortada quando ele avistou a única janela de vidro no quarto, era possível ver o lado de fora da casa que se encontrava coberto de neve, a qual caia fortemente. Contudo, algo atraiu a atenção de todos, inexplicavelmente o vidro da janela estava começando a trincar-se, e em segundo apareceram às feições de vários demônios, alguns estavam batendo fortemente na janela, eles estavam quebrando a barreira dimensional, não podiam ser vistos pelos 104 seres encarnados, mas em breves todos que estavam naquele quarto estariam mortos e estilhaçados quando conseguissem o que tentavam. De repente algo ainda mais assustador apareceu, muitas armas, os demônios estavam com poderio celestial, onde a sua maioria poderia certamente ferir ou aniquilar não só a matéria, mas as almas das pessoas que estavam naquele quarto, porquanto, todas elas eram certamente armas celestiais advindas da era medieval da grande batalha mitológica. Miguel não sabia como eles conseguiram aquelas armas, mas este era um assunto para ser resolvido depois, porque com aquelas armas tudo mudava drasticamente, afinal, os demônios além de serem vários, eram capazes de aniquilar qualquer alma, até mesmo a deles. Então ele olhou para todos, dizendo calmamente: - Bem, já analisamos a área, chegaremos lá rapidamente, mas a viajem poderá nos deixar um pouco zonzos devido à extrema velocidade de quebra de partículas de nossas essências, portanto, ao chegarmos, quero que vocês rapidamente se abaixem ao chão, eu os protejo até que consigam ficar em pé. – Fez uma pausa, olhando nos olhos de cada um, era um olhar de transmissão de confiança, Miguel sabia que todos ali estavam com medo. Após, tomem cuidado, não quero ter nenhuma baixa hoje, precisaremos de todas as almas superiores, porque o pior ainda está por vir, pelo que pude perceber, além da própria barreira de divisão do plano material com o celestial, Damião conseguiu criar uma barreira cósmica de proteção em volta da casa, que os demônios estão tentando neste momento quebrarem... Após, Miguel mandou que todos dessem as mãos e entrassem na água, ao passo que, mal haviam entrado, já estavam caídos ao chão cheio de neve da França, todos estavam tontos, e alguns vomitavam, não haviam sequer visto a viajem, a qual foi literalmente em um piscar de olhos. Gabriel que também estava muito tonto, somente conseguia ver a sombra de Miguel, o qual atirava flechas em todas as direções em grande velocidade. Há medida que todos recobravam a consciência, podiam ver a grande quantidade de demônios, eles estavam por todas as partes, até sobre a casa, e quando perceberam a presença deles, imediatamente começaram a avançarem em ataque, estava formada a batalha... Miguel rezava em várias línguas, intercalando flechas com água benta naqueles que conseguiam se aproximar mais. Gabriel nunca tinha visto tamanho poder, Miguel poderia facilmente vencer todos os demônios sozinho com aquela agilidade. Neste momento, Gabriel levou à mão direita as costas, retirando sua harpa, puxou as cordas formando um arco, e retirou flechas das costas em movimentos rápidos, acertando vários demônios em segundos. Nisto vários Arcanjos que já haviam se recuperado fizeram a mesma coisa, os santos ainda estavam no chão, alguns ainda agonizavam tontos, outros já tentavam ficar em pé, e às Anjas principalmente Serena estava estraçalhando demônios com correntes e umas pequenas espadas, como leoas caçando. 105 Nisto Miguel olhou para Gabriel ordenando: - Me de cobertura meu amigo. Serfalos está na janela, ele vai arrebentar a barreira, se conseguir invadirá a casa e matará a todos! Nisto Miguel abriu suas longas asas, em apenas uma batida ele voou para muito alto, alguns demônios olharam para cima, e avistaram algo impressionante... Os outros que não viram Miguel falar com Gabriel ficaram com medo e até pensando que ele havia abandonado a batalha, contudo, se impressionaram ao perceberem que ele sumiu, mas que algo estava perto de acontecer. Ao chegar ao alto, Miguel plainou, virou-se rapidamente de costas a batalha, e começou a bater suas enormes asas indo em velocidade inquantificável à casa. A cada batida de asas se formava uma forte rajada de ventos que jogava ao chão vários demônios. Seu poder era incrível, até mesmo os demônios estavam perplexos, sem contar Gabriel e os outros, a batalha parou por algum tempo, todos não conseguiam se movimentar direito com os ventos que vinham do céu. Ao ver que os demônios caiam ao chão, os santos que já se encontravam de pé, tentavam avançar com suas espadas, cortando suas gargantas. Miguel ao ver que os amigos dariam agora conta dos demônios sozinhos, como uma águia avistou sua presa, sem dúvida Serfalos. Logo após, voou ainda mais alto, até sumir, Gabriel ao olhar aquilo, por minutos achou que Miguel os havia abandonado. Neste momento, uma grande bola de fogo começou a cair do céu, os demônios pararam para ver o que era aquilo e até mesmo os santos que tentavam cortar as gargantas destes pararam devido ao susto. Serfalos que até aquele momento sequer havia virado de costas para a batalha que era travada, agora olhou para cima, afinal, aquela bola de fogo estava vindo bem em sua direção!... 106 CAPÍTULO 27 Berlim – Alemanha, 1982 Sentado em uma poltrona em uma grande sala da sede do governo da Alemanha encontrava-se o mesmo homem que há horas atrás estava em videoconferência com Arthur, ele analisava vários documentos, batendo na mesa em tom de descontentamento. De repente uma mulher entrou na sala. - O que deseja senhor. – Ela questionou seguido de um largo sorriso. - Feche a porta. – A ordem foi direta e seca. A mulher fechou a porta se dirigindo a uma poltrona de canto que Richard que era seu chefe apontara. Ela odiava está mania dele de ficar apontando para os lugares ao invés de falar o que queria rápido para ela não ter que ficar olhando para aquela cara estranha e branquela do mesmo. - Vou ser bem direto! – A mulher suspirou de alivio com o que acabara de ouvir, voltando deste estado após as palavras seguintes do homem: - Quem está espionando meus documentos? A mulher ficou pálida, tendo falar: – Senhor, não ssee iii... – Ela começou a gaguejar. - Quer dizer “não sei do que está falando”, mas, não consegue não é? – O questionamento veio agora em tom de deboche. - É isso senhor, estou nervosa porque o senhor parece estar me acusando. – Ela tentou justificar a gagueira. - E estou mesmo! Afinal se alguém tem acesso a tudo que tenho é você... Ele terminou deixando as palavras se esgotarem no tempo, como que esperando que ela completasse que outras pessoas que ele não tinha conhecimento que estavam tendo acessos ao seu gabinete. - Isso é realmente verdade, contudo, nos últimos meses o senhor está recebendo muitas pessoas, principalmente, os que chegam portando uma estranha identificação azul que não tem nenhum símbolo. – Ela tentou achar uma explicação. Richard estremeceu, realmente tinha recebido vários membros do Conselho no último mês, eles se apresentavam à secretária através de uma carteira azul, ao passo que, ele já havia deixado ordens claras para deixarem entrar mesmo se ele estivesse em reunião. 107 - Alguma destas pessoas ficou sozinho em minha sala? – O questionamento agora mudou o tom, fazendo Rochele ficar mais calma, e pondo-a a pensar. - Não senhor... – Ela fez expressão que estava tentando forçar o pensamento. – Creio que somente os chefes de estado, mas eles não portavam estes documentos, e, mesmo assim, eles ficaram sozinhos somente pelo tempo em que o senhor se despedia de convidados ou cancelava as reuniões na sala ao lado. - Pode se retirar! – Ele ordenou já se levantando e retornando para a grande mesa. Rochele saiu rapidamente para a recepção. Ao chegar ela avistou todo o saguão, e vendo que ninguém olhava pegou um pequeno aparelho celular digitando rapidamente um número. Após algum tempo, o interlocutor atendeu a ligação: - O que quer minha querida Rochele? – A voz era rouca, mas muito amável. - Temos que retirar todas as escutas e grampos da sala do Richard, ele parece que desconfiou de algo! – Ela foi direta e seca. - Como assim está desconfiando de algo? – O interlocutor mudou o tom de voz, agora estava evidente que ficou preocupado com o que acabará de ouvir. - Ele me fez vários questionamentos, avise a KGB que teremos que interromper a missão, e pode providenciar meu retorno para a Rússia o quanto antes, porque creio que em questão de horas estarei em grandes apuros... – Ela desligou o telefone, abriu-o retirando o chip quebrando-o, após foi ao banheiro o jogou no vaso dando imediatamente a descarga. Terei que sair sozinha mesmo, até aqueles paspalhos vierem possa já estar perdida. – Pensou já se dirigindo para o vestiário. Ao adentrar o vestiário tomou um enorme susto, um homem alto e corpulento a esperava. - Sente-se meu bem, precisamos conversar! – Ele ordenou exibindo um sorriso brilhante, seus dentes eram todos de metais diversos, parecia que misturou ouro, diamante, prata, cobre, tudo... - Não tenho nada para conversar. – Ela disse tentando voltar ao corredor. Lado outro, em um movimento muito rápido, o homem voou em seu pescoço, enlaçando-a sem oportunidade de defesa. Ela era uma agente da KGB altamente treinada, contudo, ao tentar sair dando uma cotovelada no homem quase quebrou seu cotovelo. 108 - Vejo que percebeu que não são somente os meus dentes que são confeccionados em metais. – O homem disse bem próximo ao seu ouvido, em tom de ironia, complementando: – E sobre conversarmos, estou cancelando, porque já vi que você não é muito magrinha, não faz o meu estilo. Nisto ele torceu a cabeça dela quebrando seu pescoço de uma forma tão abrupta e brutal que seu rosto foi parar em sentido oposto ao corpo, e o estranho homem ficou olhando o mesmo agora que estava à frente do seu. De uma forma demoníaca ele sorriu ao ver o sangue escorrer pelo nariz da moça que havia morrido instantaneamente, após deu um beijo em seus lábios, dizendo com o mesmo tom irônico: - Você beija muito bem! Soltou o corpo que se estatelou ao chão, saindo pela porta sorrindo, afinal, havia cumprido parte do trabalho, agora tinha que viajar para a Inglaterra, tinha contas para acertar com um velho, esta seria sua próxima missão. Ao sair do vestiário, ele sacou um telefone do bolso, o qual somente tinha um número na agenda, o qual enquanto chamava estava gravado no visor como: “cliente atual”. - Senhor, já eliminei a agente da KGB que estava prestes a abandonar a missão, após somente temos que fazer pensar que foi Richard que matou ela, exibindo a fita dele a interrogando momentos antes para a polícia local, a qual vou deixar na delegacia por um mensageira, já que estou em direção a Inglaterra neste momento para cumprir a segunda parte de minhas missões. Vou ligar para Richard agora, para que ele vá ao vestiário, isso será fácil, ai a policia terá todas às evidencias. - Certo Carbono, muito bem, seu dinheiro para este primeiro trabalho será transferido neste momento, vá com bastante prudência para a Inglaterra, e tenha mais cuidado ainda, porque incriminar Richard para tirá-lo do jogo será fácil, mas seu próximo alvo será mais difícil de eliminar. – Respondeu uma voz estranhamente grossa do outro lado da linha. Carbono olhou para o celular com impaciência, não acreditava que seu cliente estava duvidando de seu poder, mas resolveu somente responder de uma maneira rápida, afinal, ainda tinha que arrumar um mensageiro antes de pegar o voo: - Certo senhor Xotono... 109 CAPÍTULO 28 Vilarejo na França, 1982 Serfalos não entendia o que poderia ser aquilo, era tão rápido que ele não tinha tempo para pensar, então em um movimento rápido ele levantou às mãos e começou a mencionar algumas palavras em voz alta, em uma língua totalmente desconhecida para os seres terrestres, era Argemano, uma língua mitológica dos Arcanjos, o que ele era antes de partir para o lado das trevas. Contudo, não sabia que aquilo que estava indo em sua direção não era uma simples bola de fogo, era Miguel, ele voava em tamanha velocidade que o fogo se formava como um meteoro entrando na atmosfera terrestre. Quando viu que sua magia mitológica não adiantou em nada, Serfalos tentou correr, saindo de perto da janela, como Miguel queria. Contudo, não deu tempo de ir muito longe, a Bola de fogo o acertou em cheio, após houve uma grande explosão... O poder do impacto foi tão grande que estourou a barreira dimensional, razão pela qual no local do impacto formou-se uma enorme cratera já na dimensão material, e devido ao grande calor da bola de fogo a neve de toda região derreteu-se imediatamente... Todos que estavam perto foram arremessados, e os que estavam dentro da casa correram para a janela, exceto Damião e a mãe. Neste momento, a mãe que estava completamente suada e cansada de fazer força se aliviou, o bebê finalmente havia nascido, e foi levantado por Damião, ela chorava, era uma pequenina menina, Joana finalmente voltava a terra após muitos anos... ****** - Como assim acusado de homicídio?! – Arthur bradou no telefone. Após o interlocutor ter explicado, ou pelo menos tentado explicar ele logo retrucou: - Tenho que iniciar meu complexo, ligue para outros membros, sei que isso parece ser coisa de um desafeto, lado outro, você têm que saberem resolver seus próprios problemas. – Bateu o telefone com extrema força, literalmente, bufando de fúria. Tenho que fazer tudo, e depois dizem que eu atraso para começar meus trabalhos, não veem que eu tenho muito trabalho! – Ele pensou ainda com raiva. Não sabendo que o problema estava naquele momento viajando ao seu encontro, Carbono dormia na viagem, sonhando com morte e dinheiro... 110 CAPÍTULO 29 Londres – Inglaterra, 1982 No dia seguinte, ao se aproximar da mansão do velho Arthur, Charles não podia acreditar, havia uma dezena de helicópteros já na pista de pouso e muitos outros se preparando para pousar. Carros de todos os tipos e estilos chegando, era como se fosse ocorrer uma festa, contudo, ele sabia muito bem no que se consistia aquela festa. Tenho que confessar que não será fácil fazer a segurança desta mansão, afinal, mesmo ela ficando muito afastada da cidade de Londres, o que ajudará na instalação dos dispositivos de seguranças na área externa, isto também será um bloqueio para o caso de necessitarmos de evacuação. – ele pensava e passava a mão na barba por fazer que adquirira em pouco tempo de literal caos daqueles dias – Lado outro, facilita no setor de descrição, afinal, a imprensa não liga muito para Arthur pelo que pesquisei, ele não é nenhum artista, mas certamente com tanta movimentação, se fosse à área urbana iria atrair a atenção de vários fotógrafos e demais transeuntes. – Igualmente na noite anterior seus pensamentos ainda não paravam, e agora novamente próximo à mansão eles pareciam lhe afligir ainda mais. Parou próximo ao portão, e imediatamente ouviu uma voz eletrônica dizer para descer do veículo e colocar mãos e olhos em sensores disponíveis em um pequeno compartimento próximo à grade, localizados em uma pequena mais eficiente guarita de segurança inteligente e totalmente automatizada. Não terão ainda às minhas informações, afinal, não fui submetido a nenhuma leitura para carregar no sistema. – Raciocinou ele o que parecia o óbvio, somente parecia, porque após decidir colocar às duas mãos no compartimento inferior e a cabeça no superior, em questão de minutos várias luzes iniciaram o processo de identificação, o qual foi muito rápido, quando se virou notou que havia outra guarita no lodo oposto do veículo, a qual também emitia uma luz parecida com um laser, ela parecia que estava sondando todo o automóvel. Será que ele conta também com scanners para o veículo? – e prosseguiu em seus pensamentos – Isto é realmente fascinante, não notei nenhum destes equipamentos em minha última visita, e tenho certeza que não dei meus dados fisiológicos para este scanner me identificar, além disso não havia dados sobre nenhum destes dispositivos nos arquivos que recebi para meu serviço anterior... – Parou subitamente, devido a um pensamento que lhe fez paralisar até a alma, ele era simples, porém direto ao ponto: Será que o velho estava querendo que entrássemos em sua mansão, e, por isto plantou informações falsas e facilitou nossa entrada naquele dia? Se assim o fosse, ele pôde nos surpreender ao invés do inverso, como o fez! Estava muito intrigado, mas retornou à realidade após a voz eletrônica emitir um som de que estava tudo em perfeita ordem e o portão abrir-se automaticamente. 111 Ele retornou ao veículo agora com mais este pensamento, não podia acreditar que havia sido engado por um velho. Ao adentrar na mansão Charles foi cumprimentando a multidão que entrava, muitos usavam jalecos, outros paletós, mas ele tinha apenas uma certeza, eles não eram apenas bem vestidos, eram muito eficientes em seus ramos. Pelo que pôde perceber, parecia que alguns já se conheciam, falavam em várias línguas, se abraçavam e outros pareciam não serem muito amigos. Como ele falava várias línguas foi cumprimentando-os nas línguas que ele percebia que eles falavam, e à medida que eles lhe saldavam, ele percebeu que os que saiam do heliporto também tinham que passar por uma guarita eletrônica como ele passou, estava muito satisfeito com o que o velho já havia feito em termos de segurança. - Charles! – Uma voz grossa e em tom antipático soou ao longe, e ele não precisou sequer se virar para saber que se tratava da Dra. Kim. Mas por educação virou-se exibindo um sorriso, e respondendo: - Bom dia Dra. Kim, fico feliz em vê-la. - Bom dia somente se for para você! Eu não dormi nada cuidando e dopando aqueles desgraçados de seus homens. - Dopando? – O questionando veio com uma expressão de perplexidade. - É lógico, acha que eu sou aquele velho maluco do Arthur para colocar aqueles psicopatas para dormir utilizando armas sofisticadas boladas em meu laboratório! - Foi à senhora que inventou aquela... – Antes mesmo dele questionar ela respondeu, parecia que não queria perder muito tempo naquela conversa, assim ela foi falando e andando, e Charles teve que admitir que a mulher realmente tinha fibra. - Claro, como tantas outras que estão em meu laboratório, contudo, devo admitir que aquela em especial não foi por mim desenvolvida, mas por alguém muito especial... – Ela fez uma pausa perdida em seus pensamentos, como se estivesse lembrando-se do criador com carinho, sentimentos que Charles até então achava que ela seria incapaz de ter. – Mas tenho que lhe advertir que conto com um time de primeiro nível, não chegam aos meus pés, mas são muito bons. Humildade também não deve ser o seu forte. – Charles somente pensou, não ousaria dizer isto nunca em voz alta, afinal, tinha amor por sua vida. - Creio que o velho não lhe explicou que você e sua equipe trabalharão com conexão mais direta ao meu laboratório. - Não. – Charles resolveu resumir suas respostas para afirmativas e negativas. Eles já estavam entrando na mansão e ele percebeu que a Dra. Kim 112 somente recebia cumprimentos, mas nunca os respondiam, sequer balançava a cabeça. Ela deve ser muito importante mesmo. – Pensou o que parecia ser o óbvio. - Então, ele somente tem tempo para conversar de bobagens e utilizar meus produtos, mas agora já sabe desse detalhe. – Ela foi seca. - Ele somente conversa bobagens? – Ele questionou em tom de brincadeira. - Isso também, mas não subestime ele, afinal, é simplesmente a mente mais poderosa que eu já conheci. Dizem que todos são ignorantes só que em assuntos diferentes. Eu diria que Arthur é uma pessoa que sabe de tudo um pouco, e esse pouco é o muito de outras pessoas. – A Dra. Kim rasgou-se em elogios, ao seu modo, mais elogios, assustando muito Charles com a forma que ela dizia tudo aquilo. Será que essa velha tem alguma queda por aquele velho louco? – Se perdeu novamente em seus pensamentos. - No que está pensando? – A Dra. Kim o tirou de seus pensamentos, ao perceber que algumas vezes ele ficava aéreo. - Me desculpe. – Ele tentou se recompor de seus devaneios, mudando o rumo da conversa. – Mas o que vamos fazer? - Isso é óbvio seu besta. Eu chefio o laboratório de ciência e tecnologia, desenvolvo armas e outros produtinhos de inteligência. E como você vai ser o chefe de segurança e de inteligência, creio que não preciso dar maiores explicações. Nossa, ela chama de produtinhos uma coisa como aquela bengala, acho que vou gostar mais desta mulher do que estava pensando... – Pensou agora sorridente. - Tire este sorriso de seus lábios, afinal, não sabe ainda a dimensão de seus trabalhos e, principalmente, responsabilidades. Charles estremeceu. - Mas... – Tentou falar, sendo novamente interrompido. - Mas o que?! Você ainda acha que vai somente ficar aqui dentro fazendo segurança meu caro? – Agora foi ela que sorriu. - Não, mas... – E foi novamente interrompido. - E ai está o “mas” novamente, pare de dizer isso! Ele quase que gritou, mudando sua expressão. Contudo, a doutora não dava trégua: 113 – Nunca pense dessa forma Charles, afinal, este local é uma fortaleza. Sabe aqueles scanners? – ele somente afirmou com a cabeça. – Eles foram todos desenvolvidos por minha equipe, quando o sujeito coloca a mão ou o carão lá, o sistema de computação acessa um banco de dados de todas as agências de inteligência do mundo. Lógico, tenho que admitir que sem eles saberem. Assim, ele após mapeia tudo, e, somente após certificar que o sujeito não é nenhum criminoso ou algo deste tipo, ele libera os dados para nosso sistema, o qual averigua se é algum amigo de Arthur fazendo uma visita, algo raro – ela fez cara de desdém – ou se é alguém que trabalha aqui, e libera ou não sua entrada. - Nossa! – Ele disse não contendo seu espanto com o que acabará de ouvir. – Mas ele é tão rápido, como é possível fazer isso tudo em questão de segundos? - Digamos que você tem privilégios meu caro, mas nunca saberá de tudo, somente do essencial. – A resposta veio seca, como todas às outras. – E não quero que você fique de papinho com estes sujeitos. – Disse ao ver que ele estava respondendo os cumprimentos que lhe eram dirigidos pelas pessoas que também estavam adentrando na mansão, ao contrário dela que os ignoravam. - Mas eu somente estou cumprimentando eles. – Ele tentou se justificar. - Começa assim, após eles se aproximam, e ai você acha que são seus amigos. - Mas eles não são da confiança de Arthur? - Meu caro, você é o chefe de segurança! – Ela berrou novamente, fazendo com que algumas das pessoas que passavam naquele momento perto deles pulassem de espanto. - Sei disso, mas não devemos presumir que não são de confiança. – Ele respondeu com convicção. A Doutora fez cara de descrença, a qual em questão de minutos deu lugar a uma de fúria, ao passo que ela parou de andar e berrou ainda mais alto: – Escuta aqui seu idiota, porque vou lhe explicar somente mais uma vez. Eles são os mais altos profissionais em seus ramos, podem ser honestos, enfim, tudo. Contudo, o que estamos fazendo envolve muito mais do que profissionalismo, assim, eles podem muito bem mudar de time! Bem como, tem o fato de que vão ficar à maior parte do tempo confinados neste local. Assim, você tem que treinar seus homens para se aproximarem deles, mas não muito, somente a ponto de analisarem algo suspeito, etc. - Então vamos espionar a equipe? – Ele estava espantado com a cautela que a Doutora tinha, a ponto de desconfiar de todos sem qualquer motivo para tanto. 114 - Isto será seu maior trabalho aqui, porque quem está de fora sequer sabe deste lugar, e os que sabem estão aqui dentro, então, então... – Ela deixou o resto para que ele pudesse raciocinar. Charles tinha que admitir que a Dra. Kim estava certa, aquilo era realmente necessário. Após começaram a caminhar novamente até chegarem à parede da noite anterior. Já haviam algumas pessoas próximos a ela, as quais abriram passagem após verem que era a Dra. Kim que esperava. Ela realmente é muito importante. – Charles concluiu, afinal, cumprimentar alguém que não responde ainda era razoável, mas abrir espaço era demais. Todos foram abrindo espaço para ele e a Dra. Kim se aproximarem da sala onde havia o estranho elevador, à medida que esperavam que o elevador retorna-se a Dra. Kim ficou satisfeita, ela notou que Charles já havia mudado de expressão, cumprimentava as pessoas, mas seu olhar havia mudado, tinha amizade neles, mas era falsa, ele parecia uma raposa, sorrateira e astuta. Creio que o velho Arthur não perdeu o tino para escolher às pessoas que ficam ao seu lado, este rapaz parece perfeito para o trabalho. – Pensou deixando transparecer o que nem de longe parecia um sorriso, mas era o mais perto que uma pessoa como ela conseguia expressar. ****** Uma das Anjas olhava com ternura pelo vidro da incubadora. - Clissida, será que algum dia poderemos ter a oportunidade de gerar algo tão lindo e meigo assim? – Ela disse para a Anja que estava com ela fazendo a guarda direta de Marcos. - Já tivemos esta oportunidade e não valorizamos Gena. – A resposta foi direta, demonstrando que a outra Anja não nutria o mesmo sentimento, ou pelo menos não o externava. Neste momento Gena deixou cair uma lágrima... 115 CAPÍTULO 30 Vilarejo na França, 1982 Os demônios e os seres celestes que não foram arremessados pararam de lutar, estavam todos naquele momento olhando espantados e horrorizados à cratera que se formou. Bem como, o esposo e os três filhos da mãe da pequena Joana ainda olhavam incrédulos, mas não viam nada além da cratera ao longe, afinal de contas, não possuíam o dom da visão através da barreira, e a luta estava literalmente ocorrendo em outra dimensão. Por outro lado, Damião entregou a pequena Joana para a mãe que a olhava com toda a ternura, deu um beijo na testa de ambas, e colocando as mãos para trás, retirou das costas uma espada enorme reluzente, a qual o pai da pequena Joana podia jurar que não estava ali, devido ao seu enorme tamanho, lado outro, se ele soubesse o poder daquele objeto, não teria duvidado de que realmente estava ali, só que até aquele momento na forma imaterializada. A mãe e todos os que estavam no quarto se espantaram, o que era aquilo? O pai de Joana até esqueceu-se da cratera, dizendo assustado: - Por favor senhor Damião, não machuque minha mulher e filha! – E já se preparava para avançar. Mas vendo a grande espada reluzente, viu que não teria chances de lutar, então soltou o ar dos pulmões, e abaixou os ombros implorando: - Sei que não sou páreo para o senhor, mas se poupar as vidas dos meus filhos e esposa, não resistirei em lhe entregar a minha, contudo, se encostar neles, lhe juro por tudo que é mais sagrado que acabarei com o senhor nem que seja no inferno! Contudo, Damião virou-se calmamente, respondendo-o com uma voz suave e doce: - Bom! Muito bom... Quero que você sempre tenha esta determinação de protegê-la! O pai parou perplexo, afinal, o que aquele homem estava dizendo? O que queria portando aquela espada? É verdade que ele sempre foi tão bom, considerado até mesmo um santo por todos da região, que mesmo assolada pela pobreza sempre o tinham para defender seus interesses, e para benzer e fazer partos. Nisto, Damião quebrou seus pensamentos, ele levantou a espada, foi correndo em direção ao pai e os filhos os quais ainda estavam próximos à janela, o pai que ainda estava atordoado com seus pensamentos somente teve tempo de empurrar os filhos para o lado, Damião avançou saltando pela janela, que se quebrou totalmente com o impacto, e ele literalmente sumiu na escuridão... 116 Todos no quarto ficaram perplexos, após ouviram vários gritos de dor, correram novamente para a janela, ou melhor, o buraco que agora a mesma era, contudo, quase nada viram, tão somente, a grande cratera, e mais ao longe quase que sumindo na escuridão, faíscas da espada que Damião segurava cintilando no negrume... ****** Muito longe da batalha Expedito conseguiu com muito custo adentrar na dimensão prisioneira denominada por todos como inferno. Ele por óbvio não poderia ter em sua companhia nenhum ajudante, porquanto, além de difícil de ali adentrar, era um local extremamente perigoso, um mínimo de descuido lhe custaria à existência, porquanto, eles não admitiam nenhum ser evoluído naquele recinto, ali era o lar dos demônios e afins, adentrar ali sem ser convidado seria o mesmo que pedir para morrer. Seu disfarce era perfeito, estava utilizando uma vestimenta rasgada, e, havia modificado suas feições junto ao núcleo de ciência avançada. Contudo, era difícil esconder sua força e poder, os quais mesmo após tentarem, não conseguiram barrar completamente. Assim, ele emitia uma energia fora do comum, e, caso levanta-se um mínimo de suspeitas em pouco tempo seria descoberto. Tenho que encontrar logo aquele maluco do Nimrod. – Pensou ele se locomovendo vagarosamente. Tinha um mapa, contudo, aquilo era um mundo totalmente diferente, uma dimensão tão vasta como a material e às demais, nunca havia estado ali, mas sentia estranhamente que tinha extrema intimidade com o local. No núcleo de ciência e tecnologia, somente conseguiram localizar a essência mínima de Nimrod, e traçarem uma zona de limite de onde ele poderia estar. Assim, adentrou diretamente nesta zona por um buraco negro criado exatamente pelo mesmo núcleo da Dimensão Superior, onde seus membros conseguiam manipular com extrema eficiência tudo, ou melhor, quase tudo, visto que sabiam que havia sempre algo a mais para descobrir. Expedito e os demais membros do Conselho Supremo, sabiam que Nimrod com o enorme poder que tinha poderia já ter partido daquele local, colocando em risco sua missão. Lado outro, tinha que arriscar, afinal, muita coisa estava em jogo, e, não apenas o sujeito, mais o bem que ele portava era de vital importância para a causa em que lutavam. O local era estranhamente assustador. Era como se tudo houvesse morrido, desde plantas até a cor do céu. Expedido caminhava sob uma água malcheirosa e ramos de plantas que mais pareciam uma sopa pútrida. 117 - Por favor, me dê algo para comer! – Uma senhora que estava enrolada sob uma poça lhe rogou. Não posso fazer caridades, afinal, se alguém desconfiar de algo, poderão descobrir tudo. – Ele raciocinou virando imediatamente o rosto, com dificuldade, visto ser difícil para ele deixar um semelhante naquela situação. - Isso mesmo, vire o rosto para mim, como minha família virou. Você é lixo, eu matei eles e se tivesse força lhe mataria também!!!! – A velha gritava. Pobre alma, não sabe e esta longe de redimir-se. – Pensou. Ao longe, uma sombra estava observando Expedito... E, o ser que ela representava pensava de uma forma astuciosa: Ele não me parece ser um ser do bem, os mesmos não aguentariam virar a face para uma mulher naquela situação, mais quem é você?! Após perceber que a voz da velha se distanciava à medida que ele avançava, ele virou novamente o rosto, e seguiu seu caminho rumo ao local onde poderia encontrar o objeto que fora buscar, e, quem sabe, o homem que o portava não resolveria se juntar a ele. Lado outro, repentinamente ele esfriou todo o seu ser após escutar um grito de sofrimento, e, ao virar-se, viu que alguns demônios estavam torturando uma jovem próximo a um rochedo. Isto vai ser mais difícil do que eu estava pensando... – Ele concluiu em pensamento ao perceber que evitar ajudar o próximo era algo inimaginável naquela situação, mais tinha que o fazê-lo. Ao perceber a presença de Expedido passando os demônios começaram a tentar farejar alguma coisa. Eles já estão perdendo a essência humana e regredindo a um ser primitivo. – Ele concluiu em pensamento percebendo que o que se falava do inferno era realidade, os seres ali destruíam tudo, até a si próprios. Alguns regredindo tanto que retornavam a uma condição de literal animal. Após perceberem que Expedito passou direto, os seres retornaram à sessão de tortura. À medida que Expedito avançava a sombra que lhe seguia ao longe se esguiava-se para não ser percebida, e continuava tendo os seus pensamentos: Este ser não é comum, ele esconde algo, posso perceber que ele tem poder, mais não quer usá-lo, ou não pode. Expedito finalmente chegou a um penhasco enorme, de onde se via uma planície de caos. Era literalmente a visão de tudo de ruim que poderia haver no mundo. Para onde se olhava se via atrocidades, gritos, e choro, muito choro. 118 O Conselho tinha que intervir nesta dimensão, afinal, deixar que eles próprios busquem a luz é muito pouco. Aqui quem entra ruim sai pior ainda, porquanto, continua sem amor e esperança, isso não é um local de cura como deveria ser. – Ele estava indignado com aquela situação. Já imaginava que o local seria daquela forma, contudo, somente quando ali estava teve a real proporção da dor e sofrimento. - O que procura? – A sombra que estava atrás de uma árvore, ou o que sobrou de uma, porquanto, era morta, lhe disse. Expedito quase caiu do penhasco de tanto susto. Sua primeira reação foi colocar a mão na cintura para pegar a espada, lado outro, lembrouse que teve que deixá-la, visto que o Conselho não queria nenhuma luta no inferno. Assim, ele estava literalmente arriscando a própria existência. - Me desculpe senhor, mais não quero confusão, estou somente no meu canto. Fui enviado agora, e ainda estou confuso. – Ele tentou dissimular. - Não perca seu tempo tentando me confundir meu caro. Sei que é algum militar ou afim, visto que por instinto levou a mão a cintura em sinal de pegar uma espada. Mais fique tranquilo. Não quero lhe machucar, somente quero saber por que está neste local. – O sujeito disse ainda escondido atrás da árvore. - Procuro uma pessoa. – Ele decidiu após algum tempo revelar, afinal, não tinha muito a perder, porquanto, estava lidando com alguém muito astuto. - Quem seria? - Ele se chama Nimrod. Em questão de segundo o ser que estava escondido se fez aparecer, correu em direção de Expedito pegando-o de surpresa, ao passo que, como estava à beira do precipício e sem nenhum objeto para fazer sua defesa ficou imóvel, somente vendo o homem retirar uma espada e colocá-la em seu pescoço, advertindo: - Não tente nada sujeito, você poderá morrer em questão de segundos caso não siga esta minha orientação. Como me encontrou?! - Nimrod?... É você mesmo?! – Mesmo com uma espada em seu pescoço Expedito não escondeu a alegria de ter encontrado o sujeito que se escondeu do Conselho por muito e muito tempo... - Me chamo Expedito. Venho em paz. – Ele dizia erguendo às mãos. - Porque veio? O que quer de mim? - Estamos em apuros, e necessitamos de que você devolva o item que roubou quando partiu. - Não roubei nada, somente peguei aquilo que me era de direito, afinal, foi eu quem o encontrei! – Ele berrou se derramando em ódio. 119 - Acalme-se, somente estamos esperando que compreenda que não necessitamos apenas do item, mais principalmente de você. - Eu? O que querem comigo?! – Agora o sujeito estava confuso, afinal, se aquilo era verdade a coisa realmente era muito séria, porquanto, o Conselho nunca aceitaria sua volta se não fosse à última opção. - Você está enganado Nimrod, ninguém nunca quis o seu mau. Sou o novo chefe do Exército Celeste em relação aos homens ditos comuns, e, posso lhe afirmar com enorme sinceridade que poderíamos tê-lo caçado como eu estou fazendo agora, e lhe encontrado. - Porque não fizeram? - Simplesmente porque o Conselho entendeu que você protegeria o item melhor do que eles. - Não compreendo?! - É simples, como você tirou o item do loca, outro poderia fazê-lo, e este alguém poderia ter más intenções, coisa que você nunca teve. Nimrod não podia acreditar, aquilo realmente fazia sentido, ele sempre se perguntou por que eles não lhe procuraram com maior afinco. - Tenho que lhe confessar que quando realmente necessitamos lhe encontrar foi extremamente difícil, nunca pensaríamos que você iria se esconder logo no covil deles. – Expedito foi sincero. - Pensei muito a respeito, e conclui que este seria o último lugar onde tanto o Conselho e principalmente Lúcifer ou seus seguidos pensariam que iria me esconder. - Foi muito inteligente. - Digamos que aprendi com a vida, ou melhor, existência. - Mais porque não ficou e lutou por seus ideais. - Eu iria ficar, contudo, vi que não tinha muita saída. Posso lhe confessar que nós vamos para lugares tão longe para fugir daquilo que temos medo que nos esquecemos de que a verdadeira paz estaria em ficar lutar e terminar com ele de uma vez por todas. Ou simplesmente pedir para o pai para dar um fim, em breve você estará aliviado. Contudo, eu não fiz assim, e me arrependo, porquanto, este local não é fácil... - Mais você largou tudo, até mesmo seu grande amor. – Expedito ainda queria entender a atitude. - Tinha uma causa para lutar, e, ela não quis me seguir, assim, quando o amor se esvai não insista. Deixar é melhor do que tentar e ambos sofrerem. 120 - É, sei que a existência é sua, contudo, creio que fez a escolha errada. - Somente quando olhamos verdadeiramente para o passado nos damos conta que estávamos de alguma forma seguindo um caminho, que culminou naquele momento, o qual triste ou alegre, bom ou mau é nosso, somente nosso. Assim, lhe respondo, somente assim. Expedido estava assustado como em tempos não se sentia, era a primeira vez que via Nimrod pessoalmente, é isso não lhe deixou mais confortável, parece que à medida que ia conhecendo o sujeito o medo aumentava, devido ao fato dele ter mais conhecimento de que ele, além de que realmente poderia fazer um enorme estrago caso quisesse. - Está resposta não é tão convincente. – Expedito não entregava os pontos, afinal, tinha que admitir que Nimrod era extremamente inteligente, contudo, não poderia transparecer isso. - Pode não lhe convencer, mais será a única que terá! – Nimrod não foi apenas seco, mais rude na forma de se expressar, queria deixar claro que não retornaria. - Porque não me entrega o objeto, caso não queira então voltar!? – Bradou agora Expedito tentando demonstrar ausência de medo, se é que isso seria possível após todo ocorrido. O homem andou de um lado para o outro antes de respondê-lo, como se estivesse estudando-o, após proferiu com uma voz muito ameaçadora: - Apesar de tentar transparecer o contrário, você está com medo meu jovem. Este ser maldito, sabe ser mais poderoso do que eu, infelizmente... – Pensou Expedito antes de responder: - Pode estar certo, contudo, você deveria saber que foi o medo que salvou o homem durante sua evolução, porquanto, se fosse destemido ao extremo teria sido totalmente exterminado, razão pela qual, em certas ocasiões é bom ter medo! - Mas não vai ser o seu medo que conseguirá obter o objeto que se encontra em meu poder... Será? – O questionamento veio após um certo tom de mistério. - Não sei se será, mas que eu vou levar este objeto por bem ou por mal eu vou! – Concluiu Expedito já fechando os punhos, e, dando um curto passo para à frente, como se já estivesse preparado para lutar. - Você já deve ter ouvido falar de mim, mas sabe a fundo quem eu realmente sou? – O homem para espanto de Expedito, o qual esperava um contra ataque imediato, questionou com a voz pacifica. 121 - Sei o seu nome, e, alguns de seus feitos, mas posso lhe afirmar que serão os últimos se não me entregue este objeto por bem. - Sabes que me chamo Nimrod, mais sabia que fui um dos primeiros guerreiros após a passagem da era mitologia e início desta nova era na dimensão material? Pode analisar, encontro-me, inclusive, citado na bíblia com a minha ascendência e descendência. - Não gosto de ler a bíblia! – Expedito foi seco. - Pois deveria, porque se assim o fizesse poderia lhe explicar porque tenho ressentimento com o que Deus praticou contra minha posteridade, e, entenderia um pouco minha relutância em contribuir para com a sua causa. Se estiver dizendo a verdade parece estar entrando por outra vertente, na qual vislumbro que talvez queira contribuir caso deixe-o prosseguir em sua explicação, creio ser melhor ouvi-lo. – Raciocinou Expedito, dizendo após um tempo de medição sobre qual caminho escolher: - Certo, me conte os motivos que te levaram a odiar seu Deus! - Me desculpe meu jovem, mas não odeio meu Deus, apenas estou muito furioso com o que ele fez a minha posteridade. - Então, me conte o que ele fez, que podemos talvez entrar em um acordo. Nimrod olhou Expedito, já sabia que ele era uma pessoa integra, por isso resolveu contar os motivos de sua relutância em contribuir para com os seus anseios... 122 CAPÍTULO 31 Berlim – Alemanha, 1982 Estela encontrava-se estirada perplexa sobre a cama macia, que naquele momento mais parecia um caixão frio que guardava seu corpo trucidado pelo estupro. Próximo à janela percebeu que os monstros ainda não tinham ido embora. Estavam discutindo, onde ela percebeu que eles diziam sobre um tal Senhor da Luz... Após, a última coisa que se lembrou antes de desmaiar foi os olhos negros de trevas daquele que lhe violentará, posteriormente a escuridão foi se propagando mais e mais, e mal sabia ela que ela estava se alastrando naquele exato momento em seu interior... ****** Finalmente Marcos teve alta após dias na incubadora, sua mãe já havia recebido dias antes, lado outro, ele estava muito debilitado, ficando, assim, um pouco mais. Quando finalmente pegou-o nos braços após dias de espera, a mãe não conteve o choro, afinal, estava segurando naquele exato momento nos braços aquilo de mais rico que poderia ter na vida, porquanto, aquele ser tão diminuto e franzino era parte sua, era sua essência mais pura... Contudo, exatamente naquele momento eles não eram os únicos a estarem naquele local, havia muita coisa oculta ali. 123 CAPÍTULO 32 Vilarejo na França, 1982 Damião era muito mais poderoso que Cosme, ele estava encarnado, mas tinha quebrado a barreira das dimensões em todos os sentidos. Assim, ele se lembrava de que era um espírito de luz, ou melhor, “um santo”, tendo poderes de cura, podia ver através de todas às dimensões, e, possuía, inclusive, o dom de tocar em objetos espirituais. Por conta destes poderes à espada que segurava era do Arcanjo Miguel, tinha sido entregue pelo Senhor da Luz, o qual quando foi levado da dimensão suprema por Miguel passou na casa do amigo e entregou-lhe a espada a mando do Arcanjo e de seu mestre. A espada cintilava na escuridão, os demônios caiam as dúzias, gargantas cortadas, peitos estilhaçados, a maioria correu para a escuridão, certos de que sem Serfalos eram incapazes de vencer. Eles corriam, ao passo que, nenhum entendia o que acertou seu mestre, ele devia estar dentro da cratera, só que a escuridão dentro do buraco era tanta, que eles não conseguiam enxergar nada lá embaixo, e não tinham a menor curiosidade de descobrir, afinal de contas eram demônios, e entre eles imperava a famosa lei do “melhor um do que todos”, esta era a que sempre prevalecia. Assim todos correram para a escuridão, não sendo seguidos pelos seres celestiais que ali se encontravam, afinal de contas, de nada adiantava matá-los, melhor deixarem alguns fugiram para contarem aos outros e, principalmente, para Lúcifer que perderam a batalha e que Joana conseguiu nascer. Todos os Arcanjos, Anjos e Santos se juntaram perto de Damião. Cosme estava tão alegre que não conseguiu conter a emoção e começou a chorar ao abraçar o amigo. Contudo, Damião não perdeu tempo: - Também estou com saudades meu amigo, mas tenho que alertálos que Miguel está correndo sério perigo! - Para onde ele foi? - Questionou Cosme. Damião somente virou-se em direção a cratera, ninguém falou mais nada... ****** Algum tempo se passou, o qual eles não souberam precisar. Estavam todos pensando em uma forma de ajudar, mais como? Era a principal pergunta. 124 Foi quando Gabriel retirou da cintura uma luz misteriosa, era um rosário, ele brilhava fortemente emitindo uma luz própria. Chegando bem perto da cratera ele o levantou, contudo, para seu espanto o buraco era muito grande, e a luz não conseguiu chegar até o fundo. Todos se faziam a mesma pergunta: “como Miguel conseguiu fazer aquilo?”. - É quase que certo que se destruiu no impacto, afinal de contas, sua força sobre Serfalos foi tamanha que quebrou a barreira dimensional, porquanto, como vimos, estávamos no plano espiritual, e ele conseguiu atingir o plano material com tamanha força que abriu a cratera na outra dimensão, isto não é comum, somente uma força muito poderosa poderia ter proporcionado tamanha destruição, e creio que ele infelizmente não sobreviveu... – Disse uma Arcanja chamada Cíbilis. - Larguem de questionar, ele ainda está vivo! – Damião berrou. - Como tem certeza disso? – Questionou agora uma das Anjas que ali estava, se assustando com a forma que ele entonou, afinal, fúria não era comum em Damião, e todos sabiam disso. - Posso senti-lo, contudo, está muito fraco! – Após olhou para Gabriel. - Ande o que está esperando! Entre lá Gabriel, e pegue-o! Afinal são vocês Arcanjos que possuem asas justamente para esta hora, estou correto? Se existia alguém com grande autoridade, este ser era Damião, ele tinha a confiança de todos. Gabriel sem titubear abriu às enormes asas, segurou bem forte o rosário, e voou para dentro da cratera. Todos ficaram observando na borda até a luz sumir na escuridão, realmente o buraco era maior do que todos imaginavam... O tempo foi passando e todos já se questionavam o que estava ocorrendo. Afinal, não era possível que ele ainda não tivesse chegado ao fundo. Neste momento Gabriel saiu com Miguel desacordado em seus braços, ele estava muito ferido, mas não parecia estar com nada quebrado. - O que viu lá embaixo? – Questionou Damião eufórico. - Este buraco é enorme, e lá embaixo ele se abriu ainda mais, parece que ao chegarem ao fundo, eles lutaram fortemente, formando no impacto desta batalha diversos túneis. É literalmente algo assustador, até para mim que já vi de tudo. – Respondeu ainda ofegante. - E Serfalos, algum sinal dele? – Novamente interrogou Damião. Gabriel antes de responder tomou um pouco de ar, estava muito ofegante. - Não, nada... Não tinha nenhuma marca que ele fora aniquilado por Miguel, encontrei marcas raspadas na parede, creio que ele conseguiu de alguma forma fugir. 125 Damião balançou a cabeça entristecido, dizendo com melancolia: - Miguel é o melhor líder que já vi, quando viu que Serfalos entraria no quarto e certamente mataria a todos que ali se encontravam, usou este poder incrível, arriscando sua própria vida pelo ideal de nossos criadores. Mas creio que sei como Serfalos se safou. - Como? – Questionou diretamente um dos Santos que ainda limpava sua espada. Damião o olhou com respeito, e respondeu-o sem rodeios: - Seu mestre deve ter vindo lhe salvar. - Lúcifer! – Alguns dos Anjos, Santos e Arcanjos que ali estavam começaram a dizer em voz baixa, quase que perdidos em seus pensamentos de medo e pavor. - Isto mesmo, ele voltou! E mais forte do que nunca, temos que nos prepararmos porque a batalha vai ser longa e horripilante para ambos os lados. - Não deve ser ele! – Intercalou Gabriel em tom severo, mais devido ao medo do que a certeza. - Como tem tanta certeza meu amigo? Afinal, se fosse ele quem salvou Serfalos, certamente não teria deixado Miguel vivo. Damião sorriu ironicamente, ao passo que todos o olharam com espanto. - Porque a ironia? – Questionou Gabriel demonstrando nervosismo com a atitude. - Me desculpe Gabriel, mas vejo que a inocência ainda atrapalha o raciocínio de todos vocês! Gabriel não respondeu, ao invés disso ficou perdido em seus pensamentos, realmente não sabia onde teria agido com ingenuidade. Damião com suas pequeninas mãos pegou nas grandes mãos de guerreiro celestial de Gabriel, dizendo em tom sereno: - Seja sempre dessa forma meu amigo, puro de coração, nunca pense com maldade. - Não entendi? – Questionou Gabriel com espanto com o carinho repentino de Damião, após primeiramente tê-lo ironizado. - Você tem que entender que Lúcifer não age com instintos animais, por impulso ou vingança. Ele é um ser extremamente inteligente e sensato em seus atos. - Como assim? Da forma que você fala é como se admirasse aquele monstro. – Questionou indignado agora um dos Santos que ali estavam. 126 Damião fulminou o santo com um olhar tão feroz que fez com que o interlocutor abaixa-se a cabeça. Vendo que ele desviou o olhar, Damião soltou as mãos de Gabriel, indo de encontro ao Santo, e pegando em seu queixo, fez com que ele levantasse a cabeça e o olhasse diretamente nos olhos. - Qual o seu nome meu caro? – Interrogou com um voz cortante de ódio. - Nicolau – Respondeu gaguejando. Damião olhou bem no fundo de seus olhos: - O único ser ou seres que eu admiro, ou até mais que isto, posso afirmar que idolatro, são os Criadores! – à medida que falava ele apertava ainda mais o maxilar do homem, como se quisesse que ele prestasse extrema atenção – Contudo, tenho extrema estima por você ter vindo até este local ajudar, isto mostra que você é digno de minha explicação. Mas nunca demonstre tamanho medo de olhar nos olhos de seu interlocutor. Afinal, tal atitude não demonstra somente medo, mas acima de tudo incredibilidade, o que eu não tolero. Fez uma pausa, e para alívio do Santo ele retirou os olhos furiosos dele soltando seu maxilar, olhando agora para todos ao seu redor, os quais estavam espantados com a ferocidade de Damião, principalmente, Cosme que se questionava em pensamento: Damião está estranhamente mudado de alguma forma, não sei se para melhor... - Olhem todos! – Disse gritando. – O que devem saber sobre Lúcifer não é que não devem subestimá-lo, ou sentir raiva dele, afinal, todos sabemos que suas energias são retiradas de raiva, ódio, dor, etc. O que na realidade temos que ter certeza é que ele é muito mais inteligente do que qualquer um de nós. Ele pensa há anos luz de nós, afinal, ele é um Deus. - Como assim um Deus?! – Todos questionaram em uníssono, menos Gabriel e outros Arcanjos que sabia que ele estava certo. - Não vou entrar em detalhes – respondeu prontamente cortando qualquer interrupção - o que realmente devem saber é que ele não quer aniquilar seus inimigos, ele não quer sair por ai matando todos! - Então o que ele quer? – Questionou o mesmo Santo Nicolau, agora olhando bem no fundo dos olhos de Damião, demonstrando que havia apreendido a lição. - O que ele quer? E vocês ainda têm dúvidas de seus verdadeiros interesses? – Fez uma pausa. E vendo que ninguém respondeu, disse em alto e bom tom: - Ele quer conversão para o mau! Quando ele vê alguém forte como Miguel, ele não pensa em matá-lo, o que ele certamente poderia fazer facilmente, ele quer demonstrar que não é um monstro, e ainda tentar impingir nos pensamentos do seu oponente que ele lhe deve a vida! 127 Todos se entreolharam, aquilo fazia realmente sentido, afinal, Lúcifer sempre se mostrou tendente a buscar seguidores, e não oponentes. Damião sorriu ao perceber que eles estavam entendendo, então resolveu continuar: - Foi assim com Jesus! Ele poderia tentar lutar e matá-lo, mas não, ele sabia que Jesus era forte demais, e serviria muito mais aos seus ideais caso mudasse de lado, então ele resolveu tentar convertê-lo ao seu lado, oferecendo tudo, só não esperava que estava lidando com um ser muito mais evoluído mentalmente do que ele. - Entendi meu amigo! – Respondeu Gabriel. – Mas você acha que ele tentou converter Miguel? - Não, ainda não! – Respondeu Damião com ar de mistério. - Mas e se ele... – Gabriel começou a dizer, mais foi imediatamente interrompido por Damião. - Nunca mais diga assim meu amigo! Afinal de contas, quando diz o “mas se ele” – ele entonou a curta frase – esta questionando um evento futuro que não é passível de ser compreendido neste estágio de tempo, assim, somente saberemos o que realmente ira ocorrer, no seu devido tempo. - Sei disso... – Gabriel tentou dizer mais foi interrompido por Damião que não o deixou continuar: - Este é o mistério não somente da vida, mas de toda existência, porquanto, se soubéssemos do amanhã, ele não teria graça, vocês sabem muito bem que isso se aplica tanto na encarnação quanto no plano chamado superior. – ele olhava nos olhos de cada um, mais principalmente no de Gabriel – Deste modo, temos que ter confiança não apenas nos Criadores, mas, principalmente, em Miguel, porque Lúcifer somente o converterá se ele permitir, e isso é muito improvável na minha concepção, e você deveria pensar o mesmo, afinal, ele é seu líder e irmão não é Gabriel?! - Sim... - Gabriel respondeu envergonhado, contudo algo lhe chamou a atenção, era a espada na mão de Damião, com certeza era a espada de Miguel, então decidiu questionar: - Onde conseguiu a espada de Miguel? Damião ficou sem palavras, e Gabriel percebeu, mas ele conseguiu consertar um pouco sua dúvida inicial: - Ele me entregou hoje, temendo o pior... Gabriel confirmou pela voz de Damião que ele mentira, mas decidiu ficar calado, não tinha tempo de discutir, afinal, tinha extrema consideração por Miguel, mesmo sabendo que eles estavam escondendo algo, assim, tinha que levá-lo urgente para a dimensão suprema para ser tratado. Então somente respondeu: 128 - Damião, você vai desencarnar agora, e virá conosco? Ou ainda tem que fazer algo? - Tenho que ficar mais dois dias, não chegou minha hora, preciso ainda treinar e orientar os pais de Joana... Cosme ficou chateado, estava com muita saudade do seu mais nobre companheiro, mas o que era dois dias para quem esperou mais de 40 anos encarnado. Despediram-se e partiram. Todos utilizaram a forma convencional através da luz para se tele transportarem, afinal, Miguel era o único que conseguia transportar com segurança através da água, e ele ainda continuava desacordado. Enquanto eles subiam gradativamente, Damião somente pegou a espada no chão e dando meia volta foi em direção a casa, tinha muito serviço. Atrás da casa, estava o Senhor da Luz, ele encontrava-se escondido aguardando Damião, precisavam resolver tudo antes de sua partida... 129 CAPÍTULO 33 Londres – Inglaterra, 1982 Ao chegarem ao subsolo tudo estava muito diferente do dia anterior em que Charles esteve lá. Nos carrinhos haviam funcionários trazendo e levando às pessoas, ao passo que ele e a Dra. Kim aguardaram o retorno de um deles para evitarem de andar. Muitos estavam com roupas de ginástica, correndo em uma pista. - A senhora não é adepta a uma corrida? – Puxou papo Charles, querendo quebrar o gelo que havia se formado desde que teve que aceitar a verdade por ela exposta. - O que lhe faz pensar assim, seria o meu corpo ou minhas atitudes? Charles gelou novamente, parecia que a mulher nunca abaixava a guarda. - Não... Não quis dizer isto, somente... - Somente estava tentando puxar conversa, certo? - Sim... - Pois saiba que sou uma cientista, e sei muito bem dos benefícios de se fazer exercícios, por está razão prático ordinariamente. Contudo, em horários não determinados como estes macacos aqui, eu faço assim que tenho tempo e vontade, não quando um horário me ordena. - A senhora parece não ser adepta a horários. - Não sou mesmo, creio que tudo tem que ser feito com inspiração, assim, corro e faço exercícios no momento em que estou inspirada para isto, e, trabalho quando estou inspirada, assim é que faço meu cérebro funcionar. Contudo, tenho horários, mas é para reuniões, etc., ou seja, o que depende de outras pessoas, mas nunca para fazer algo tão banal como exercícios, programas de televisão, etc. Um dos pequenos carros se aproximou e a Dra. Kim adentrou falando para Charles com o mesmo tom autoritário: - Se apresse porque tenho que apresentar o seu escritório e ir para uma reunião. Após os dois entrarem um sujeito gordo entrou, foi o último para alivio de Charles, o qual ficou espremido com o rapaz. - Dra. Kim, a senhora vai ficar em seu laboratório? – Perguntou o motorista. - Sim... Mais depois quero que espere para levar Charles, é próximo, mais quero que me espere. – fez uma pausa de intriga, estava raciocinando de onde conhecia aquele rapaz... 130 - A senhora deve estar intrigada como lhe conheço. – O motorista disse sorrindo. - Claro. – A resposta foi seca como de costume. - Todos estão, foi uma exigência do Sr. Arthur, além dele nos fazer assinar termos sigilosos, tivemos que memorizar cada rosto, nome e o local de serviço de cada pessoa que aqui estiver. - Nossa isto deve ter sido difícil? – Disse Charles em solidariedade, afinal, a Dra. Kim estava ainda fulminando o sujeito com os olhos, certamente procurando por algo que o incriminasse. - Até que não foi. – fez uma pausa olhando para Charles com um sorriso malicioso – Afinal, recebendo a grana que ele nos paga decoramos até a bíblia. Além disso, fui taxista durante muitos anos aqui em Londres, e, assim, para quem teve que decorar todas as ruas para obter a licença, isso até que foi fácil. Após alguns segundos eles já estavam em frente ao setor da Dra. Kim, ela saltou do veículo agradecendo ao rapaz, e, lembrando-o de esperar, mas Charles notou que ela não perguntou sequer o seu nome, certamente era por alguma razão que não lhe interessava. - Vamos Charles, não tenho o dia todo! - Mas a senhora não falou que meu setor seria outro? - É lógico, mas lembro de ter lhe falado que nossos setores são conectados, e, ainda, você tem que pegar seus lacaios, por isso pedi para o motorista esperar. Após a Dra. Kim colocar as mãos e os olhos em scanners, as portas do setor se abriram, e Charles pôde ver a grandeza daquele laboratório, era enorme, e já havia vários funcionários fazendo diversas coisas, sendo que alguns testavam armas em uma cabine de vidro, a qual ele percebeu que era a prova de som, outros pesquisavam componentes químicos em grandes máquinas, mais alguns estavam em computadores espalhados, e outros... - Espere... Aqueles são os meus homens?! – Disse ele ao mesmo tempo espantado e indignado, ao avistar seus homens amarrados em uma pequena sala de vidro. - Lógico, ontem dopei eles, mas parece que alguns deles foram treinados para alguns truques, então chamei Arthur e ele autorizou que eu os colocasse naquela sala até sua chegada. Charles não protestou, ela tinha novamente razão, seus homens eram perigosos, e poderiam facilmente matá-la mesmo que estivessem amarrados ou dopados, assim, era mais seguro fazer os dois e ainda prender. - Quando eles vão acordar? – Ele quis saber. - Quando você desejar. – Ela respondeu ainda dando uma piscadela. 131 - Não entendi. - O composto químico que estão utilizando encontra-se em um aparelho que desenvolvi para uma arma. – ela apontou para os homens indo na direção deles – Assim, um aparelho próximo capta ondas cerebrais, e, a medida que tenha alguma, o composto químico é liberado. Assim, a medida que o sujeito vai acordando ele volta ao sono, sempre em pequenas quantidades, ficando, portanto, em um estado de vigília eterna, nem acordado nem dormindo. – ela olhou novamente para Charles mudando sua expressão, afinal, via que ele parecia estar com medo de tudo aquilo – Isso facilita muito quando necessitamos que o prisioneiro fique de prontidão para prestar informações, etc. - Mas eles não iriam prestar quaisquer informações! – A resposta veio em tom de revolta. - Eu sei disso, mas quis testar meu produto em agentes altamente treinados. Charles ficou ainda mais furioso. – Eles não são cobaias! – Disse ele bufando de ódio. - Não se preocupe meu caro, todos somos cobaias de algo maior, assim é a vida, quem sabe não descobrimos após a chamada morte que nossa vida foi somente um teste para algo maior, não é isso que a maioria das religiões prega?!... - Não quero discutir filosofia com a senhora, somente solte meus homens, e já! A Dra. Kim chamou-o para o local, digitou uma pequena combinação numérica, e em segundos uma pequena porta se abriu, logo após pegou um pequeno aparelho e desligou-o. - Pode aguardar ai dentro, em segundos eles irão acordar, converse com eles e após me chame para abrir a porta e soltá-los se tudo estiver certo. – disse a pequena mulher se virando e trancando novamente a porta de vidro. Em segundos os agentes foram acordando, eles estavam muito preocupados com a presença de Charles. - Me desculpe chefe, não sabíamos que aquele velho tinha tanto poderio bélico, fomos pegos de surpresa pela primeira vez na vida. – Tentouse justificar o primeiro, ao passo que os demais somente abaixaram a cabeça. - Lógico que falharam somente uma vez na vida, porque se já tivessem falhado desta forma com certeza não mais as teriam. - Onde estamos. – Tornou a questionar o que se justificou em nome dos amigos. - Estamos na base de ciência e tecnologia de nosso novo trabalho. 132 - Nossa ainda bem. – Disse um deles erguendo a cabeça. - Por quê? – Charles se intrigou com a resposta do agente. Como algo poderia estar bem para eles! – Ele ainda pensou. - Primeiramente pensei ontem que havíamos morrido. – O agente falava olhando para o nada, parecia que estava contando sua vida em um divã. – Após fomos levados para uma cozinha, onde achei que seriamos comidos, pensei que aquilo era o inferno. Depois o velho entrou na cozinha e disse a um negro esquisito que era para descer conosco, onde fomos colocados em camas em outra sala estranha, e eles começaram a aplicar produtos em meus ferimentos. Achei que estava sendo tratado por uma extraterrestre, de tão feia que era a baixinha que ficava nos injetando coisas, até que apagamos... “Et?” – Berrou uma voz de umas caixas de som acima de suas cabeças, Charles presumiu que fosse a Dra. Kim que certamente estava escutando a conversa de sua sala. - Quem está dizendo isto chefe? – Um dos agentes disse assustado. - É o alienígena, disse sorrindo, já soltando os agentes, afinal, já havia concluído que eles estavam com a saúde mental em ordem. - Quem é está senhora? – Um deles questionou ao ter suas mãos soltas das estranhas algemas às quais se abriram repentinamente, como se tivessem sido acionadas eletronicamente. Mais um brinquedinho da doutora. – Pensou Charles sorrindo, tentando explicar em seguida o ocorrido: - Fiquem calmos, ela é uma cientista que vai trabalhar conosco, e creio que vão gostar dela mais do que pensariam. - Em uma elegante sala, a Dra. Kim ficou intrigada ao ouvir aquilo. – Como assim vão gostar de mim? – Refletiu. - O que o senhor está dizendo chefe? Como uma mulher franzina como ela poderia trabalhar conosco? - Acho que vocês não podem falar de ninguém franzino, afinal, o velho que derrubou vocês não é nenhum gigante. – Ele respondeu em tom de ironia, mas sabia que aquilo havia até machucado o ego deles. – Ela desenvolve armas, e outros brinquedinhos afins de inteligência, assim, creio que... Antes dele terminar os homens interromperam dizendo em uníssono: - Não precisa dizer mais nada, já a amamos. A Dra. Kim sorriu, porquanto, pela primeira vez estava tendo esperanças de ter alguma pessoa de confiança em sua vida, ela era representada pela pessoa de Charles, que se mostrava mais esperto e amável do que pensava, era como se tivesse de volta o filho que o destino lhe tirou... 133 CAPÍTULO 34 Vilarejo na França, 1982 Quando Damião estava para abrir a porta da casa, ouviu um sussurro vindo de trás de um arbusto: - Precisamos conversar agora... Damião sabia muito bem de quem era aquela voz, contudo, somente assentiu com a cabeça, parou bem devagar, e, sem virar-se falou: - Somente daqui a dois dias. Eles ainda podem estar aqui... Portanto, vou conversar com a família da Joana, e lhe explicar tudo. Depois conversamos no alto da colina, como de costume. – fez uma pequena pausa somente para escutar e deduzir que tudo estava em ordem – Já estarei desencarnado neste momento, por isto teremos mais privacidade e correremos menos perigo, afinal, materializado sou bem mais vulnerável. Quando Damião abriu a porta uma forte luz brilhou atrás dos arbustos de onde vinha à voz. O ser que ali se encontrava já havia partido em questões de segundos. Ele é um bom ser, até hoje não entendi suas escolhas, mas quem sou eu para questionar os mistérios e desígnios dos Criadores. – Pensou Damião ao sentir que o Senhor da Luz já havia partido. Logo ao entrar na residência, Jonas, o pai de Joana, veio apavorado conversar com ele. - O que era aquilo lá fora? Aonde o senhor encontrou esta espada tão grande e brilhante? O que o senhor estava matando perto daquele buraco enorme que surgiu na frente da casa? Nisto Damião interrompeu as perguntas ao pegar fortemente no braço de Jonas, e, olhando em seus olhos disse em tom ríspido: - Pare com isto Jonas! Não temos tempo para infantilidade. Vocês já são evoluídos espiritualmente o bastante. – Soltou o braço de Jonas, mas não parou de falar. - Poderiam facilmente terem rompido a barreira, já cansei de esperar, me desculpe, sei que rompendo ela abruptamente vocês podem desencarnar, mas não tenho mais tempo, vocês vão ter que confiar em mim. Neste momento Damião pegou novamente no braço de Jonas, desta vez com mais força, e o arrastou até sua mulher que acabara de dar a luz. Lucinda era definitivamente uma bela mulher, forte, e acreditaria em tudo que Damião lhe dissesse, tinha uma enorme consideração por ele. Certa vez ela o procurou para curar uma enfermidade em um de seus filhos, e após a criança sarar em alguns dias, ela disse que o considerava um santo perdido na terra, na ocasião ele até pensou que realmente referido pensamento era diante dos conhecimentos terrestres uma realidade. 134 Contudo, lhe advertiu à época que ela manifestou tal pensamento para ele: “Não fale mais isto minha filha, todos nos temos o poder de fazer o bem e o mal, basta, tão somente, fazermos as escolhas certas, e termos fé, o resto será apenas conspiração do universo.” E ainda lembrava que terminou dando uma dica para ver se ela quebrava a barreira: “E você tem que saber que por dentro desta matéria, é considerada um ser extremamente evoluída, capaz de proceder a milagres talvez até maiores do que os que humildemente eu tento lhes prestar.”. Nisto Damião viu que ainda estava segurando do braço de Jonas com força, e ele já o estava olhando com certa dúvida, então afastou as lembranças, e decidiu iniciar os trabalhos. Inicialmente decidiu lhes explicar no que consistia a barreira, e asseverou que não queria ser interrompido até que houvesse terminado: - Quero que me escutem com atenção, existe uma força que é por mim e por vários seres denominada como “barreira”. Referida força é uma energia que separa os pensamentos do chamado espírito com os do corpo material o qual ele está encarnado. O que tem que entenderem é que existe uma ligação do cérebro com o espírito. Simplificando, o espírito capta tudo aquilo que o cérebro processa. E depois guarda em uma memória infinita em sua essência imaterial. Jonas e Lucinda o olhavam em atenção, mas ainda não conseguiam retirar a expressão de dúvida com tudo aquilo. Para Damião isso não importava, por isso ele prosseguiu: - Deste modo, um espírito que encarnou na terra por anos, acumulou muito conhecimento, só que este conhecimento das vidas passadas somente é acessível quando ele está desencarnado. O Criador ou Criadores fizeram desta forma por um motivo simples: Toda pessoa encarnada tem o mesmo desenvolvimento, então o que lhe diferencia é sua dedicação, amor ao próximo, etc., sendo irrelevante o conhecimento que já continha. Contudo, como tudo na vida desta dimensão material há uma exceção, alguns quebram esta barreira por razões alheias à perfeita criação, apesar disso, ao invés de benéficas, referidos pensamentos fazem é que aconteça um curto no cérebro, e a pessoa fica desnorteada ou até mesmo em estado vegetativo de consciência. Percebendo que eles agora estavam prestando ainda mais atenção ele continuou: - Assim, podemos dizer que nascemos sem nenhum pensamento, e, nosso cérebro vai recebendo no decorrer da vida milhares deles, descartando os desnecessários e guardando os necessários. Contudo, o espírito capta todos eles, levando-os para além da barreira, a qual somente suga pensamentos para o espírito, não deixando que estes retornem todos para o cérebro, um modo até mesmo de não sobrecarregá-lo, porquanto, conforme disse anteriormente, o cérebro é algo material, e, mesmo que consiga deter poder sobre esta ligação, o ser tem que ser evoluído para administrar tantos pensamentos. Assim, somente espíritos muito evoluídos podem quebrar esta 135 barreira naturalmente, e ainda conseguir sobreviver de forma normal, ou seja, sem sequelas durante o tempo em que estiver encarnado. Ele tomou um ar, mas retornou imediatamente, não queria realmente perder o foco. - Isto somente ocorre porque o poder espiritual desta alma é tão grande, que sua alma interage com o corpo de tal forma que a mesma de alguma configuração inexplicável libera as informações na medida em que a pessoa necessita acessá-las. - Entendo, mais me dê um exemplo, se não for pedir muito. – O pai de Joana era realmente esperto, além de absorver, estava como um aluno sedento por saber. - Um dos principais exemplos são as pessoas que parecem já nascerem sabendo tocar piano, desenhando, pintando quadros, facilidades em lidar com uma determinada profissão, etc. Muitas vezes isto é chamado de “dom”, ou seja, eles têm o privilegio de serem diferentes dos demais. Mas o que realmente ocorre não é que eles possuem somente um privilégio sobre os demais seres, e isto também não acontece por acaso. Na realidade eles realmente já possuem todas aquelas informações em sua memória, não no cérebro, mas na memória espiritual infinita, e devido ao poder acumulado durante as várias encarnações, conseguem equilibrar o espírito com o cérebro, quebrando a barreira em partes que deixem passar somente o que lhes interessem no momento, como uma conexão a um banco de dados, assim não sobrecarregando o cérebro material. Após isso ocorrer eles podem desenvolver facilmente habilidades adquiridas em outras encarnações, como também acessar pensamentos ou informações guardados em sua memória infinita da alma, só que não de uma vez, somente aos poucos, para não fundir o cérebro. Fez mas uma pequena pausa indo buscar um copo com água, assim que se levantou Jonas e sua esposa se olharam durantes alguns segundos, o olhar de ambos não mentia, estavam fascinados com o que estavam ouvindo. Quando Damião retornou da pequena cozinha para o quarto, ficou admirado com o casal, eles haviam seguido a risca sua imposição de não ser interrompido, e, mesmo que estivessem assustados com tudo o que estavam escutando, ainda se mostravam companheiros, segurando um na mão do outro firmemente, e atentos para as próximas explicações, as quais ele não quis perder tempo em ensinar-lhes. - Agora sim, estava com uma sede enorme, a saliva mais parecia cola em minha boca seca. – Olhou rapidamente novamente para o casal e retornou as explicações. - Mas vamos ao que interessa. Outro fator, é que para um espírito evoluir, ele tem que estar encarnado. Os Criadores fizeram assim para dar a oportunidade para todos, e, por certamente entenderem que isto seria mais justo. Com isto, encarnado o espírito adquire dons, aguça bondade, amor pelo próximo, etc. Contudo, eles também podem ao invés de progredir, retroagir, afinal de contas, no mundo existem várias provações, um espírito pode encarnar muito evoluído, e no decorrer da vida cometer tantas faltas, 136 como fazer o mau ao próximo, abusar de drogas, etc., o que lhe acarretara em uma regressão que muitas vezes perderá todo o trabalho de três para progredir. Por esta razão os espíritos evoluídos não costumam voltar a terra, eles podem, mas como é muito arriscado, preferem não aceitar esta oportunidade. Portanto, ficam nas dimensões mais avançadas, mas por não mais encarnarem, não conseguem chegar à dimensão sublime, onde se encontram as almas mais evoluídas existentes, entre eles os chamados Santos, Arcanjos, Anjos, Deuses, etc., local onde poderiam evoluir infinitamente, fazendo, até mesmo caso mereçam, parte do Conselho Supremo, etc., e devido a tudo, ainda, podendo adquirir poderes magníficos para ajudar aos próximos. Tais poderes e a entrada na dimensão sublime, somente são concedidos para almas muito evoluídas que voltam a terra não no intuito mais de evoluir espiritualmente, mas para ajudar outras almas a evoluírem, estas almas são as que alcançam poderes Divinos. Elas adquirem o poder da cura, acessam habilidades e dons extraordinários, tanto encarnados, quanto desencarnados. São considerados Deuses, não como os Criadores, os quais os poderes são infinitos, mas, em suma, estão acima de qualquer outra alma ou ser existente. Ele tomou um gole da água, e prosseguiu: - Assim, se uma alma tiver coragem de voltar à terra várias vezes, e fizer o bem, ela ira progredir espiritualmente de tal forma que em breve será um espírito de luz, afinal, quem nunca conheceu uma pessoa que somente faz o bem, não esperando nada em troca, será que não receberia nada mesmo? – Ele fez uma pausa olhando para eles sorrindo. – Talvez não nesta vida, mas espiritualmente evoluirá de tal forma que em breve alcançara a dimensão sublime, desfrutando de amor, carinho, e paz para todo eternidade, e, ainda, adquirindo conhecimento e poderes que lhes serão úteis para o prosseguimento de toda a sua existência de auxílio ao próximo, porque tais almas não ficam lá paradas olhando para o teto, são verdadeiros Anjos. Jonas e Lucinda olhavam admirados para Damião, aquela história realmente era fantástica, e estava lhes hipnotizando. Eles pensavam agora se teriam que ter quebrado está barreira que separa o pensamento e o poder da alma com o corpo físico material. Damião vendo a cara de questionamento do casal virou-se para eles dizendo em tom ríspido, como um professor que chama a atenção de seus alunos de forma enérgica, mas para o bem dos mesmos: - Vocês terão que acreditar em mim. Eu não vou estar mais no meio de vocês, e precisam ter conhecimento suficiente para protegerem Joana de um grande mau. O casal se entreolhou assustados, até aquele momento estavam felizes escutando toda aquela história, mas agora que Damião havia dito que Joana corria perigo eles ficaram apavorados. O que está história tem a ver com nossa pequena filha? - Tal pensamento afligia a ambos no silêncio de suas consciências. Damião parou subitamente de narrar os ensinamentos. 137 - Pierre! – Gritou ele ao filho mais velho do casal. A criança olhou subitamente para o senhor, e rapidamente desviou o olhar, tinha tanto respeito por aquele homem que não ousava olhá-lo diretamente nos olhos. - Porque não olha diretamente em meus olhos filho? – Questionou Damião já se levantando e indo de encontro a ele. Sem levantar a cabeça, e com voz rouca devido à boca seca de aflição diante de todos os acontecimentos que se passaram anteriormente, principalmente, o estrondo e a cratera próxima a sua casa, respondeu em um timbre de voz o mais baixo que pode, demonstrando sua submissão extrema: - É que eu tenho um respeito enorme pelo senhor, assim acho que seria muita arrogância de minha parte olhá-lo diretamente nos olhos, afinal, não chego sequer aos pés de sua imponência meu senhor. Damião sorriu, aquilo era a maior demonstração de respeito que ele já havia recebido. Sabia que até mesmo na dimensão superior, nenhum ser seria tão puro como uma criança, ela era o símbolo da bondade, e aquele menino estava predestinado a passar por tantas provações, que ele até esfriava a espinha ao pensar nos acontecimentos futuros... Mas no fundo, sentiu uma grande paz, afinal o Conselho Supremo havia feito à escolha certa, aquela alma era perfeita para estar ao lado de Joana enquanto crescer. Com delicadeza, e demonstrando carinho, Damião pegou com suas enrugadas mãos suavemente no queixo do garoto, levantando seu rosto até que seus olhos pudessem encontrar com os dele. Quando o garoto olhou no fundo dos olhos do velho, viu a ternura que eles emanavam, e apesar de querer, não conseguiu desviar o olhar. - Escute Pierre, quero que saiba que ninguém neste mundo é melhor do que o outro. O que acontece é que podemos fazer escolhas que nos colocam em escalas sociais melhores ou piores. Ele soltou o queixo do garoto, e quando percebeu que ele não desviou o olhar, prosseguiu em seus ensinamentos: - Ou muitas das vezes os homens não têm oportunidades de subir em escalas sociais, seja porque são pobres ou nasceram em famílias ignorantes de espírito, caso das mulheres que são proibidas de estudar em alguns países, ou de minorias que são reprimidas pelas demais. Mas mesmo assim temos sempre a escolha de estarmos em uma escala humanitária de solidariedade, união e compaixão pelo próximo. Deste modo, o sentimento puro formador da alma será sempre o mesmo, puro e límpido, como o fez os Criadores, basta que moldemos nosso futuro da melhor forma que conseguirmos. O garoto ouvia com extrema atenção às explicações, sequer piscava, olhava bem no fundo dos olhos negros do senhor. 138 - Tem também que saber meu caro, que você é muito especial, e eu sou grato por sua amizade e consideração, por isto quero que saiba que o respeito é mútuo. - O que significa respeito mútuo? – Questionou o garoto. Damião ficou satisfeito, sabia que aquele garoto teria futuro, afinal, era inteligente e ainda questionava sem vergonha alguma, somente com sede de apreender. - Quer dizer que lhe considero na mesma medida que você me considera, e não me acho melhor do que você, e sim igual. O menino sorriu. Aquilo foi a melhor coisa que já ouviu depois de seus pais dizerem o quanto ele era especial por cuidar tão bem de seus irmãos. Damião retribuiu o sorriso, contudo, ainda lançou o sermão: - Mas o que fez é errado! - Como assim? Me diga que eu irei imediatamente me redimir! – Indagou o jovem com aflição, revertendo o sorriso, agora crendo ter decepcionado o senhor, algo que lhe traria grande remorso. - Acalme-se... – Respondeu ainda sorrindo Damião. – Não há nada neste mundo que não podemos consertar. - Não entendi? - É simples. Quando olha em meus olhos, demonstra mais respeito do que desviar o olhar! Além disso, tem que saber que os olhos são o espelho da alma... - Como assim espelho da alma? – Interrogou o garoto demonstrando novamente seu aguçado interesse, como se estivesse com sede de apreender tudo aquilo que ainda estava predestinado a encontrar em seus caminhos. Damião sorriu, queria para aquele jovem, mas assim intermediar diretamente com o espiritual em sua jornada, um algumas coisas da vida. ter mais tempo para ensinar muitas coisas que voltasse para a dimensão superior iria conselho uma pessoa para ser seu tutor Anjo ou Arcanjo que lhe pudesse ensinar - Olhe, vou lhe ensinar bem rápido, porque infelizmente agora não tenho muito tempo para saciar sua sede por conhecimento, mas lhe prometo que em breve alguém muito sábio, certamente possuindo maiores conhecimentos do que os meus, ira lhe ensinar tudo que deve apreender. - Ninguém é mais sábio do que o senhor! – Afirmou o jovem com olhar de tristeza pelo ancião não poder ser está pessoa. - Não fique triste meu jovem! – Respondeu Damião fazendo um carinho em sua cabeça. – Você verá que durante a sua existência neste 139 mundo material, vai encontrar pessoas com maior sabedoria do que eu, e outras com nem tanta, mas que você poderá ajudá-las quando for à hora. - Eu? Ajudar alguém? – Questionou o menino incrédulo. - Sim você mesmo, você vai se surpreender com o que é capaz de fazer se fizer as escolhas certas. Mas agora quero que leve seus irmãos para o quarto, e se realmente confia em mim, não saia de lá, nem se ouvir gritos de horror. – Damião olhou bem no fundo dos olhos do jovem, falando agora com mais autoridade. – E quero que você cuide desta criança que acabou de nascer com a sua vida, não somente porque ela é sua irmã, mas porque este é o seu destino! O jovem não respondeu, somente balançou a cabeça positivamente, havia olhado no fundo dos olhos de Damião, e entendeu naquele momento que as palavras levam a mensagem, mas os olhos confirmam sua veracidade e também sua importância, e aquela ordem com certeza era de uma grande importância... O garoto em silêncio tomou a pequena Joana em um dos seus pequenos braços, e com o outro foi guiando os demais irmãos com muito carinho para dentro do quarto, quando fechou a porta Damião tranco-a imediatamente, não duvidava do jovem, mas ele não poderia de forma alguma correr o risco deles saírem daquele quarto enquanto ele estivesse fazendo os trabalhos necessários... ****** Enquanto isso, Nimrod iniciava suas explicações para Expedito: - Após o dilúvio, os homens que se formaram cresceram com medo, e este medo passava de geração em geração. Eu simplesmente não poderia permitir que tal medo barrasse a civilização humana, e, assim, impedisse a continuidade no plano terrestre de forma livre das garras de um Deus tirano. - Mais este mesmo Deus havia feito uma aliança com vosso bisavô e toda posteridade, assim, a população não tinha o que temer, e, sequer ver Deus como um tirano. – Expedito tentou contrapor. - Não sei o que pensar, contudo, àquela época tudo era sim dirigido por um Deus tirano, e todos tinham medo de que ele rompesse a aliança, após ter derrubado minha torre, e, espalhado meu povo confundindo às línguas ele provou assim o ser, porquanto, mais uma vez interferiu diretamente nas coisas que havia deixado claro que não iria fazê-lo. Realmente ele tem razão! Ao erguer a torre de babel Nimrod foi longe demais, mais com a interferência daquele que eles dizem ter sido Deus, a aliança de não interferência foi sim em parte quebrada. – Expedito raciocinava concordando em parte, contudo, não poderia deixar que ele pensasse assim e continuasse com tal ódio, então decidiu colocar panos quentes: 140 - Mais dizem que este Deus tirano deixou o cosmos e o Conselho Supremo assumiu nesta época. - Não pense assim meu caro... – ele fez expressão de desdém, como se Expedito não soubesse sequer do início da história. – Muita coisa rolou antes disso ocorrer, e, até mesmo para eu ter dado início a torre foi porque não aguentava mais tanta pressão. - Como assim? – Expedito se interessou, não tinha muito tempo, mais sempre quis saber a verdadeira história, e, no fundo sempre soube que a que lhe contaram continha pelo menos lacunas muito obscuras. - Quando vi meu povo com temor de Deus, me rebelei contra ele, afinal, o mesmo continuava em muitas oportunidades interferindo diretamente nas coisas. Assim, uni forças e iniciamos a construção da torre não para trazer segurança, porquanto, tinha convicção de que ele poderia quando quisesse destruí-la com seu enorme poder divino. Porém, eu queria que ele entendesse que a população tinha que ter a confiança que a aliança ia ser cumprida, e, caso tivessem um falso refúgio para alagamentos iriam pensar estarem seguros, e tocariam suas vidas sem medos. - Faz sentido. – Expedito teve que concordar. - Lógico. Contudo, ao invés de deixar as coisas acontecerem, ele foi além de derrubar a torre, visto que ainda confundiu e espalhou meu povo que eu custei para unir. Neste mesmo dia jurei que iria obter vingança, não iria para o lado negro, contudo, ele iria sentir minha ira. - O que você fez? – Agora Expedito estava mais do que curioso, afinal, até aquela parte ele sabia, após e que a versão que ele conhecia não fazia muito sentido. - Iniciei uma aliança com os maiores guerreiros, e formamos o primeiro exército celestial, onde continha além de seres místicos, alguns Arcanjos e Anjos da primeira classe existente, ainda, advindos da era mitológica, os quais não concordaram com a atitude daquele Deus. - Então foi você que reuniu o primeiro exército sublime, e, justamente para atacar Deus... – Expedito não conteve seu espanto. - Ai você está enganado em uma parte meu caro, não atacamos o verdadeiro Criador ou Criadores, atacamos um Deus. - Como assim? - Utilizando de muita cautela adentramos com forças hoje ditas ocultas, mas que naquele tempo dizíamos ser magia, diretamente na dimensão daquele ser que se intitulava Deus. Após se acuar, por perceber que o exército era formado por seres muito poderosos, ele abriu-se com muito custo para um diálogo. - Você já conversou diretamente com Deus, o todo poderoso? – Expedito parecia uma criança. 141 - Não! Percebemos somente naquele momento que a aliança havia sido quebrada não pelo verdadeiro Criador ou Criadores que pactuou com meu bisavô. - Quem era então? – Expedito não se aguentava de curiosidade, havia até mesmo se esquecido que estava no inferno. Para seu espanto Nimrod foi direto ao ponto: - Lúcifer! - Lúcifer?! – Expedito não acreditava – Como assim?! Ele conseguiu adentrar no espaço celeste? - Pelo que ficamos sabendo depois, ou pelo menos cremos nisto, porquanto, é a única explicação mais racional, parece que o Criador após fazer a aliança e prometer não mais interferir em sua criação, simplesmente foi-se embora. - Como assim foi embora? – Expedito realmente não havia entendido. - Você já viu o Criador? – Nimrod falou mais com conotação de pouco-caso. É, vejo que ele está em todas às coisas, assim, o vejo em tudo, até mesmo em mim... – seus pensamentos tilintavam – Lado outro, o ver em forma materializada como se fosse um igual infelizmente nunca. Sei que ele está presente, mais somente o sinto, o toco com minha essência, porque ela é parte dele, contudo, não sei se posso afirmar que o conheço a fundo, apesar de amá-lo acima de tudo! - Não consegue chegar a está resposta, estou certo não é meu amigo? – Nimrod questionou sorrindo, literalmente por ter pegado Expedito de surpresa. - Sim... – A resposta veio com uma ponta de vergonha e decepção. - Não se sinta culpado, porquanto, nem eu nem ninguém desde os tempos primevos desta era podem afirmar com precisão que já estiveram na presença dele, até mesmo os Arcanjos atuais desta dinastia celeste certamente nunca o viram face a face senão pela presença energética. - Sei, mais o que fizeram com Lúcifer? – o olhar de Expedito estava mudado, era consumido pelo ódio somente de falar naquele ser – Conseguiram prendê-lo? - Lúcifer como você já deve saber é o ser mais enigmático de todo cosmos, pelo menos em meu ponto de vista. Após o verdadeiro Criador ou Criadores terem ido, ele viu a oportunidade de ser aquilo que ele sempre sonhou, o verdadeiro Deus. Já que todos os outros Semideuses da era mitológica estavam encarnados, e, ele além de não estar, ainda, tinha enormes poderes, conseguiu adentrar no espaço celeste e ludibriar a todos. Só que ele 142 não contava que humanos como eu iriam se rebelar, igualmente aos Arcanjos e outros seres celestiais que ele pensava que iriam protegê-lo. - Ele lutou quando vocês o emboscaram? - Não, ele é esperto demais meu caro Expedito, sabia que poderíamos aniquilá-lo, e que com a fúria que estávamos iriamos realmente fazê-lo. Ele simplesmente fugiu. - E vocês permitiram? – Expedito estava agora perplexo, afinal, pensava: Como seres tão poderosos não enfrentaram o maldito do Lúcifer?! - Não tínhamos isto em mente, e, tenho que lhe confessar que estávamos mais assustados do que Lúcifer, porquanto, tínhamos ido ao local enfrentar o todo poderoso, e nos deparamos com aquilo. - E após ele fugir, o que fizeram? - Misteriosamente sentimos como se nossos ouvidos estivessem sendo pressurizados por algo estranho, de repente ouvimos uma estranha voz, não tinha timbre nem som, era como se estivéssemos ouvindo nossa consciência, contudo, sem ter qualquer poder de parar, etc. - Sei, já senti isso, só que nunca em coletividade. – Expedito estava arregalando os olhos, aquilo lhe parecia esplendido. – O que ouviram?! - Era algo neste sentido: “Agora sei que os homens em todos os estágios da evolução, tanto na material quanto imaterial, bem como, demais seres celestes estão prontos para assumirem esta parte do cosmos...” - Como assim esta parte do cosmos? Afinal, teria outra parte? – Expedito interrompeu. - Sei lá, deixa eu terminar, depois você pensa o que quiser. – Nimrod foi totalmente grosso. - Sim. – Expedido respondeu diminuindo sua empolgação. - O final foi assim: “Agi certo pela primeira vez ao entregar tudo, e deixar que sigam seus caminhos, sem qualquer interferência, e, assim, será até o fim dos tempos.” Expedito estava boquiaberto, não poderia acreditar no que estava ouvindo, e foi logo tagarelando: - Você ouviu o Criador em pessoa!... - Não. Somente ouvimos algo, não podemos afirmar nada. – ele foi categórico – Lado outro, após isso, não retornei mais para o meu reino na 143 dimensão material, tornando-se ali somente uma lenda após libertá-los dos dogmas de um falso Deus, e fui caçar tesouros perdidos pelo cosmos. - Foi nestas caçadas que encontrou o objeto que vim buscar? - Sim, foi em uma dessas que encontrei o objeto que você pretendia buscar. – Nimrod não conseguiu esconder seu sorriso malicioso ao ver a expressão de Expedito. - Achei que você iria colaborar. - Isto não é para mim meu caro. – agora ele andava de um lado para outro, demonstrando seu nervosismo – Além disso, não sei se posso confiar no Conselho novamente, porquanto, mesmo não tendo me caçado, e, deixado que eu cuidasse deste objeto, eles ainda me traíram. - Não traíram não! – Expedito não apenas respondeu, mais apontou o dedo indicador para Nimrod em sinal e fazendo, ainda, expressão de reprovação. – Você é que se sentiu perseguido, e, ao invés de lutar, decidiu fugir como um covarde, porque não ficou para lutar por seus ideais?! Antes mesmo de Expedito terminar de falar Nimrod já estava em cima dele... Pulou sobre o mesmo como um leão agarrando sua presa, no exato momento em que sua fúria atingiu o limite. - Então quer dizer que um ser fraco como você é quem está à frente do exército dos homens? – Nimrod caçoava enquanto um punhal cintilava no pescoço de Expedito. - Posso ser mais fraco que você meu caro, contudo, te advirto que antes de você cortar meu pescoço rasgo seu estomago de fora a fora! – Expedito lhe advertiu com sague nos olhos, e cutucando-o na barriga com seu pequeno punhal que retirou às pressas antes do ataque. Nimrod sorriu muito, e vagarosamente foi se levantando... - Você é bom meu novo amigo! Lado outro, para recuperarmos o objeto terá que ter mais do que coragem, porquanto, ele está em um lugar muito perigoso. - Como assim em um lugar muito perigoso? Você não está cuidando dele não?! – Expedito é que agora quase saltou em Nimrod de fúria. - Acalme-se meu caro. Acalme-se... Você acha que durante todos estes anos eu poderia simplesmente ficar passeando com o objeto por este lugar. Expedito olhou em volta e teve que concordar mesmo a contragosto, realmente andar por aquele lugar portando algo tão poderoso era algo inimaginável. - Você está certo. 144 - Sempre estou certo meu caro Expedito. Estava quando fugi com o objeto, estava quando o escondi, e, estou agora em aceitar seu convite! - Mais aonde você o escondeu? - No castelo do maldito. - O que?! Você está louco?! Como pôde ser tão estupido?! Dizem que é neste castelo que Lúcifer reinou e ainda reina quando aqui está, é o maior covil desta dimensão. - Então, quem poderia imaginar que eu o esconderia ele lá? – Nimrod se gabava de sua astúcia, era uma verdadeira loucura, mais no fundo fazia realmente algum sentido. - Como vamos pegá-lo novamente? - Conheço alguns esconderijos e atalhos que vamos seguir que são menos visados. Além disso, fiz alguns amigos que poderão nos guiar pelo menos até perto dele. – pensou mais alguns segundos – Lado outro, tenho que lhe advertir que se algo sair errado estaremos mortos. Não simplesmente mortos, mais trucidados, porquanto, ali eles não matam, eles literalmente torturam almas até a morte e depois às voltam à vida eterna somente para recomeçar tudo novamente... - Sei... – o silêncio tomou conta por alguns segundos – Já ouvi falar o que Lúcifer fazia ali. - Se fosse somente Lúcifer meu caro, aquilo ali seria o paraíso. - Porque, quem mais orquestra ali? - Neste tempo que estou aqui, percebi que todos criticam o lugar, mais sonham em um dia ali estarem. É como se todos dissessem que eles são manipuladores, gananciosos, etc., mais se tiverem a oportunidade de um dia ali adentrar para mandar um pouco nesta dimensão eles se tornarão iguais, ou até mesmo piores. - São como a classe dominante da dimensão material, reis, políticos, etc., todos criticam mais se estivessem no lugar deles iriam fazer o mesmo, ou até pior. - Sim, é por ai, só esqueceu-se de incluir o Conselho nestas citações. - Que isso Nimrod! Isso não é justo, posso até concordar que você está certo em ter algum ressentimento ao Conselho, mais todos os seus membros são justos. - Não meu caro Expedito, posso lhe garantir que está errado, e, já deve ter sentido isso. Utilizam votos, contudo, o exército e seus lideres sempre perdem, visto que, não possuem o mesmo cabedal de palavras e afins utilizados pelos filósofos. E, esta palavra “cabedal” – ele entonou, como se tivesse decorado com ódio – eu apreendi da pior forma possível, e, percebi 145 naquele dia que a democracia do Conselho e todas existentes sempre serão uma utopia. Expedido ficou mudo, lembrando-se que realmente nunca teve voz ativa no Conselho, sempre a ala filosófica ou politica vencia tantos os debates quanto nas votações, aquilo realmente fazia algum sentido. Lado outro, não poderia deixar que Nimrod permanecesse com tamanho ressentimento: - É meu amigo, mais creio que apesar de algumas vezes injusta, a democracia ainda é uma das melhores formas de divisão do poder, o qual, sempre será de alguma forma injusto, mais ainda assim é menos tirana. - Sei... – Nimrod deixou os pensamentos se perderem, voltando após a realidade – Vamos parar de filosofar, porquanto, temos um longo caminho a seguir. – e rapidamente virou-se andando apressado. Expedito rapidamente o seguiu, e seus pensamentos não paravam: Será que Nimrod não está é me fazendo cair em uma emboscada? Afinal, tanto tempo neste local não poderia significar somente esconderijo, mais, além disso, poderia ser sua nova casa, e, talvez eu esteja indo para a recepção, direto para a recepção... Em outro sentido pensava Nimrod: Estou surpreso com este ser que me substitui na exército, ele é muito corajoso, sequer titubeou em ir ao Castelo buscar o objeto, penso até que cara ele vai fazer quando souber que não iremos ao Castelo... 146 CAPÍTULO 35 Berlim – Alemanha, 1982 O pai de Estela passou novamente pelo quarto, temia ver novamente às figuras que ali se encontravam minutos atrás. Após analisar o ambiente percebeu que eles finalmente foram embora, então resolveu entrar, e ao avistar sua filha não se conteve, às lágrimas escorreram por sua face. Seu maior desespero foi quando percebeu que ela não estava machucada em seu exterior, mas suas vestes estavam todas rasgadas, vendo ainda a grande quantidade de sangue no colchão vindo de sua vagina, a qual estava a mostra e muito avermelhada. - O que eu fiz... – Disse baixinho com a voz se perdendo no vazio de sua amargura e arrependimento... 147 CAPÍTULO 36 Londres – Inglaterra, 1982 Arthur olhava de longe, precisamente na grande sala de reuniões com os diversos monitores em que se reunia com os demais membros do Conselho. Contudo, naquele momento os monitores exibiam tudo, absolutamente tudo que ele quisesse ver em qualquer canto de todo o audacioso projeto que estavam montando naquela base de operações, ele monitorava de perto cada canto, cada pessoa, cada palavra. Ele não precisava ficar olhando o tempo todo, porquanto, foi instalado por uma equipe de amigos que mantinha em outro País, os quais desenvolveram um avançadíssimo software que tinha a capacidade de captar imagens e vozes e ainda literalmente deduzir o que seria suspeito e mostrar logo após. Ninguém em todo o mundo tinha referido sistema, e, até mesmo seu amigo mais fabuloso no assunto, o qual ele havia conhecido em sua adolescência, o matemático húngaro John Von Neumann, que desenvolveu ali mesmo na Inglaterra os primeiros conceitos de um software morreu sonhando em um dia chegar em algo tão avançado. Tudo no complexo era exclusivo, e ele tinha certeza que não apenas aquilo, mais até mesmo os sistemas de computação e computadores eram únicos, e, muitos deles somente seriam mostrados para o mundo anos após, tudo, porquanto, ele adquiriu exclusividade e confidencialidade, a base do pagamento de milhões. Portanto, tinha a certeza que estaria à frente até mesmo de nações. Ele estava agora analisando a Dra. Kim ensinar para Charles os projetos que seriam desenvolvidos em seu departamento, e em que partes iriam trabalhar juntos. Sua análise consistia em verificar cada passo dos dois, para ver se havia ali entrosamento, e ficou surpreendido ao perceber que eles estavam se dando mais bem do que ele esperava. Olhou em outro monitor e verificou que quase todos os homens que trabalhavam para Charles já estavam na sala de reuniões de sua divisão, se espantando com a quantidade deles e em como eles se davam bem, estavam todos agora conversando com os homens que foram pegos por ele na outra noite, e o papo não era outro: - Vocês foram pegos por um velho raquítico? – Caçoava um homem alto e corpulento, ao passo que os homens abaixavam a cabeça sorrindo, e somente respondendo: - Queria ver se vocês dariam conta daquele fantasma. Ele ficou chateado de ser chamado de velho raquítico, mas gostava do apelido de fantasma. Após, voltou os olhos e o áudio ao monitor que exibia 148 Charles e a Dra. Kim, eles já estavam indo para o setor onde se encontravam os homens. - Homens! Quero que conheçam a Dra. Kim. – Disse Charles ao entrar na sala. Os indivíduos se levantaram demonstrando respeito. - Como sabem nossa empresa terá como sede este local. - Muito legal por sinal em chefe! – Disse um dos homens olhando para toda a estrutura. - Sim, também acho! Contudo, tenho que dizer que mesmo não estando todos aqui, visto que alguns ainda estão em missões, quero que foquem neste novo trabalho o máximo possível, e a Dra. Kim vai me ajudar a equipar vocês com tudo que precisarem para os trabalhos. – Ele explicava andando de um lado para outro, como sempre fazia nas reuniões. - Quando poderemos conhecer as armas? Porque, segundo os rapazes tem até uma bengala que faz altas coisas. – Questionou um dos homens demonstrando ainda seus reais interesses, ou seja, que todos estavam mesmo interessados nas armas, era para eles como brinquedos. - Tenho que dizer que aquela arma, infelizmente, nunca estará disponível para nenhum de vocês, ela é exclusiva do Sr. Arthur, e, tem tecnologia secreta que ele não permite que seja compartilhada ainda, contudo, creio que tenho outros brinquedinhos que vocês vão adorar. – Respondeu a Dra. Kim se intrometendo nas explicações de Charles. Os homens sorriram, se entreolhando e alguns chegaram a bater nas costas do parceiro ao lado, como verdadeiras crianças quando recebiam o recado de que iriam tomar um sorvete. Charles estava muito assustado, mas ao mesmo tempo satisfeito ao perceber a rapidez que parte de seus homens receberam a notícia da troca de posto de trabalho. Parte, porquanto, muitos estavam em missões naquele momento, e, portanto, somente iriam saber quando regressassem, mais já haviam sido avisados para não irem para a antiga sede. Neste momento Arthur entrou na sala para espanto de todos, inclusive de Charles, menos da Dra. Kim que já sabia que o velho monitorava tudo. O ancião havia acompanhado toda conversa, e queria além de conhecer os homens, dar algumas notícias. - Boa tarde a todos. Creio que alguns não me conhecem ainda, mas outros sim. – Olhou sorrindo para os homens que havia literalmente aniquilado, não com deboche, mas com alegria de estarem se entrosando. Ao passo que estes abaixaram a cabeça, ainda não tinham superado a forma como foram surpreendidos, mas os outros homens somente olhavam para a bengala. – Vocês querem testar ela? – Questionou erguendo a bengala, e jogando para um dos homens que ficou perplexo com o objeto em mãos. 149 - Como se utiliza? – Questionou um dos agentes com um enorme sorriso nos lábios. - Descubram e depois que terminarem venham a minha sala com Charles que temos que acertar sobre remuneração, etc. – Respondeu já virando-se e saindo rapidamente. - Não estranhem, ele é assim mesmo. Entra sempre de surpresa, faz coisas ainda mais surpreendentes, e, depois, para completar, sai também de surpresa. – Disse a Dra. Kim sorrindo, ou pelo menos tentando esboçar um sorriso, e também se retirando do recinto, regressando ao seu setor. - Chefe... – fez uma pausa como se a pergunta fosse meio constrangedora – Não vamos mais ganhar por missões concluídas? - Creio que não meu caro Jefer, ele acertou a transferência da firma e acertamos os custos e demais termos, mas quanto à remuneração de vocês não quis interferir, afinal, seria questionável eu falar por vocês. Todos confirmaram com a cabeça, mas deixando transparecer em suas expressões que estavam preocupados que suas remunerações fossem diminuídas. - Vamos parar de falar em dinheiro, e tentar descobrir como funciona este treco. – Disse um deles tentando afastar o mau humor, pegando a bengala e colocando sobre uma grande mesa de reuniões. Charles sorriu acompanhando os homens até a mesa, contudo, seu pensamento não estava naquela bengala, mas sim na conversa que teriam mais tarde, porquanto, ninguém mais do que ele queria que seus homens ganhassem uma quantia digna, e, privá-los disto somente para descobrir um segredo pessoal era algo que lhe deixava constrangido. ****** Após mais de cinco horas analisando a curiosa bengala, os homens haviam entregado os pontos, não encontraram nenhuma forma daquele objeto fazer nada de especial. - Vocês tem certeza de que era está a tal bengala? – Questionou um dos homens se jogando em uma das cadeiras totalmente transtornado. - Olha, se não é ela se parece muito. – Respondeu um dos homens que foi atacado. - Deixem para lá homens, já está na hora da reunião na sala de Arthur. – Disse Charles já se virando deixando a mesa. Todos seguiram o chefe saindo do setor, e ao chegarem do lado de fora pararam vislumbrando a grandiosidade do local. Todos definitivamente ainda iriam ficar muito tempo daquela forma até acostumarem com tudo aquilo. 150 - Chefe, como é que vamos saber chegar até o escritório do velho? - Eles me ensinaram que quando necessitarmos do transporte é somente digitar neste painel a quantidade de pessoas e o local, que os motoristas daqueles carrinhos vêm para buscar, pode demorar um pouco, mas eles vêm. – Respondeu já inserindo a quantidade de pessoas e apertando o botão enviar no painel ao lado da porta do galpão. Para seus espantos em pouquíssimo tempo vários carrinhos surgiram, devia ser quase toda frota, alguns agentes ficaram ainda para a segunda viagem, mas não se incomodaram, aquilo tudo ainda era uma grande diversão para todos. Charles seguiu em um dos primeiros carrinhos junto a mais três agentes e o motorista. - Para onde vocês vão senhor? – Questionou o motorista. - Vamos para uma reunião com o Sr. Arthur. - Ele disse se era na sala de reuniões de sua sala, ou se era para encontrá-lo na sala especial de operações? – Tornou o motorista. Charles estava intrigado, não sabia que ele tinha tantos locais para estar, pensava em uma grande sala, mas sala especial de operações soava mais como um espaço fantasioso de filmes de ficção cientifica. Percebendo a expressão de Charles o motorista não aguardou resposta, pegou um pequeno telefone dizendo: - Senhor, onde será vossa reunião com o Sr. Charles e sua equipe. – fez uma pausa. – São aproximadamente quarenta pessoas. – mais uma pausa. – Sim estou indo. - Para onde vamos? - Para a sala de reuniões de sua sala mesmo, ele disse que eram poucos e que ali estariam confortáveis. - Quarenta pessoas vão ficar confortáveis somente em sua sala? Nossa, então não quero nem saber o tamanho e requinte desta tal sala de operações especiais. - Ele sempre diz que o nome é ao contrário que você disse, se trata de sala especial de operações. – Disse o motorista sorrindo, como se já tivesse cometido a mesma gafe próximo ao velho e sido corrigido. - É a mesma coisa. – Um dos agentes retrucou com deboche. - Não, ele me ensinou que a forma que ele diz presume que sala especial de operações é o real significado, porquanto, segundo ele ali não se trata de um local de operações especiais, mas de especial de operações. – Tentou explicar o motorista, que, conforme confessou, já havia recebido, inclusive, uma correção pela troca. 151 - Ainda acho que é a mesma coisa. – Retrucou o mesmo agente agora com cara de paisagem. - Nunca diga algo assim para o Sr. Arthur! – O Motorista parecia agora com medo. – Ele é um homem muito simples, humilde e descente, mas tem certas manias, e, elas envolvem até mesmo ter um certo arrepio quando as pessoas erram nomes de pessoas ou trocam nomes ou invertem alguns, principalmente neste local. Aqui ele parece que trata tudo como uma mãe que protege um filho, até mesmo quando alguém pronuncia seu nome de forma errada. – O motorista orientou. - Entendido, então creio que se chama mesmo sala especial de operações, e pronto! – Disse um dos agentes sorrindo, ao passo que o outro ainda permaneceu com a mesma cara achando tudo aquilo uma tremenda bobagem. Ao chegarem a um grande galpão, os carros pararam, e, todos desceram. Charles determinou que aguardassem que os outros chegassem, para entrarem juntos. A princípio o setor em que Arthur ficava parecia se tratar de um galpão como os outros, por fora imponente, mas sem nada de mais. Após todos chegarem em mais duas viagens, Charles digitou no monitor, e recebeu a permissão de adentar vinda da mesma central próxima à porta, e, se assustaram ao cruzarem a mesma... O interior da sala de Arthur não era composta de grandes laboratórios como os demais, mas era como se estivessem entrando em um museu. E não era um simples museu, tinha um grande aquário com várias espécies de peixes, tumbas em ouro que os homens e Charles ao analisarem mais de perto perceberam que deveria provir do Egito, e várias relíquias que enxeriam os olhos de qualquer colecionador. - Nossa, nunca entrei em um lugar tão fascinante. – Disse um dos agentes como um tarado entrando na zona. Ao adentrarem ainda mais eles ficaram ainda mais perplexos, havia uma biblioteca onde vislumbraram volumes muito antigos, ela era cercada por vidros que formavam uma estufa, mas haviam muitos aparelhos em seu interior, e Charles disse sorrindo: - Deve ser para conservarem os documentos, afinal, parece que ali têm vários... – Fez uma pausa lembrando-se do que eles tinham que pegar na missão anterior na mansão de Arthur. Dizendo baixinho, mas todos os homens entenderam os motivos: - Pergaminhos. - É chefe, pelo menos agora sabemos que mesmo que passássemos pelo velho, acho que seria impossível chegarmos neste local e pegarmos qualquer um destes objetos. – Disse um dos agentes que participou da operação, quase soando como um grito de alívio por não terem falhado tanto, afinal, aquilo não era definitivamente uma missão possível. - É meus caros, tenho que concordar que até mesmo eu estou espantado com tudo isso. E, pelo que me parece, teremos agora a missão 152 inversa, ou seja, proteger isto tudo! – Disse Charles sorrindo, e, erguendo os braços para a imensidão daquele lindo local. - Nossa chefe, tem até uma estufa de plantas ali. – Disse um deles apontando para outro setor que se mostrou presente somente após eles muito andarem. - Creio que nem se vocês ficarem aqui por uma semana vão conseguir apreciarem minhas preciosidades! – Gritou Arthur ao longe soltando uma enorme gargalhada, afinal, ninguém havia estado ali após a conclusão da obra, somente a Dra. Kim, mas ela era outra história, porquanto, nunca demonstrava qualquer sentimento, agora ele tinha certeza que seu setor estava maravilhoso, como sempre sonhou. - Nossa Sr. Arthur, estávamos muito intrigados com a sua bengala, mas pode esquecer, nos estamos agora mais surpreendidos com este local. – Disse um dos agentes ainda sorrindo de forma abobada. - Espero que eu também não fique desta forma quando discutirmos a suas remunerações. – Respondeu o velho sorrindo. – Venham, vamos logo à sala de reuniões que tenho um compromisso daqui a duas horas, e, creio que neste terei que tomar banho. – Concluiu com cara feia, como um menino fazendo pirraça para não se lavar. Eles seguiram o velho, e, após uma boa caminhada, chegaram a um enorme elevador, que levou todos de uma só vez a um andar superior, que eles juravam não ser possível ali estar, devido à altura que tinha aquele local, visto que às estufas eram enormes, havendo na estufa de vegetação, até mesmo enormes árvores ali plantadas. - Podem ficar tranquilos, já estamos quase lá. – Disse o velho sorrindo para todos, os quais ainda estavam perplexos com o tamanho daquele elevador, afinal caberiam facilmente umas cem pessoas em seu interior. - Para que um elevador tão grande? – Teve que questionar Charles. - É para o caso de eu querer trazer algum dos itens lá de baixo para mais perto de mim, ou trazer de volta os que já estão lá. Quando o elevador parou e se abriu, Arthur saiu rapidamente, mas os demais não, afinal, estavam muito perplexos para fazê-lo... - Vocês gostaram tanto assim do elevador? – Disse Arthur sorrindo. Lógico que sabia que eles estavam boquiabertos com o local, afinal, até mesmo ele ficou encantado com o mesmo após terminado. O ambiente era enorme, o piso foi o que mais lhes intrigou, afinal, era inteiramente de vidro, eles podiam ver todo o acervo do galpão lá embaixo, havia uma grande mesa de reuniões, que deveria contando por baixo caber umas setenta pessoas facilmente. 153 Contudo, o que mais lhes intrigou foi à mesa de Arthur, a qual ele se dirigiu para pegar uma caneta e alguns papeis antes de retornar para a parte da ponta da outra grande mesa de reuniões. No topo de sua mesa, eles ainda perceberam que havia telões que mostravam todos os setores daquela fortaleza em tempo real, e havia em meio a animais empalhados uma porção muito grande de objetos que eles presumiram serem armas de última tecnologia, mas eram apenas os computadores da central. - Sentem-se. – Ordenou o velho apontando para as cadeiras, mas ele permaneceu de pé, afinal, queria discorrer sobre seus planos e sobre a remuneração deles. - Todos se sentaram, mas a maioria deles não olhou para Arthur, mas sim para o chão, ou melhor, para a sensação de ausência dele! - É como se estivéssemos voando não é? – Disse Arthur para quebrar o gelo. - Sim, nunca me senti tão bem. – Respondeu um dos agentes que olhava para o chão sorrindo como criança. - Bem agentes, já se divertiram muito, mas agora é hora de tratarmos de coisas serias. – Disse Arthur mudando sua expressão, ao passo que os agentes seguiram-no, erigindo a postura em sinal de atenção. A sorte está lançada, é agora que vou saber se meus agentes vão me seguir nesta empreitada. – Pensou Charles com temor, não sabia o que o velho iria propor, mas tinha a impressão que aquilo tudo não foi construído esbanjando dinheiro, e, ainda, sabia que pessoas daquele tipo costumavam pagar muito mau seus funcionários... 154 CAPÍTULO 37 Vilarejo na França, 1982 O casal estava com um medo extremo, porquanto, Damião ao trancar as crianças no quarto foi de encontro a eles segurando aquela espada enorme. Contudo, à medida que ele se aproximava o medo foi se esvaindo, afinal de contas era o mesmo senhor que sempre os ajudou, e aquilo tudo deveria ter algum significado, por isto decidiram confiar nele... Enquanto ele caminhava, a mãe foi apertando um pequeno rosário na mão esquerda, a qual se encontrava úmida de tanto suor, rezava baixinho, e pensava que afinal de contas Damião sempre foi considerado um santo naquela região, onde ajudou muito gente necessitada, sem pedir nada em troca, curou várias pessoas, e muito humilde nunca aceitou qualquer reverência ou dinheiro. Ao se aproximar da cama Damião colocou a espada sobre uma velha mesa de carvalho, chegou bem perto do casal levantando ambas às mãos, às colocou uma na testa de Lucinda e a outra na de Jonas. No momento em que sentiram as mãos do velho em suas testas, perceberam como se uma forte descarga elétrica tivesse passado subitamente por seus corpos. Neste momento, Damião começou a rezar de uma forma que eles nunca tinham visto, era uma língua estranha, e após alguns minutos o ancião começou a suar, e para espanto do casal de seus poros não saiam um suor comum de fluido liquido cristalino, mas avermelhando, e à medida que o tempo passou eles confirmaram, era sim com toda certeza sangue... O casal estava espantado, a cada minuto o velho suava em maiores proporções, o que o levou em pouco tempo estar coberto pelo seu próprio sangue. E, em poucos segundos o casal foi perdendo a visão, a última coisa que os dois lembravam-se era das vestes do senhor que estavam completamente encharcadas em sangue, e, após, mais nada, somente a escuridão, eles ainda estavam conscientes, mas não conseguiam mover nenhum músculo, era como se estivessem em um pesadelo e não podiam acordar nem se moverem. Após minutos na escuridão e aflição, Lucinda e Jonas começaram a visualizar algo como se fosse um túnel. Apesar da escuridão seus olhos estavam agora abertos, só que suas pupilas estavam extremamente dilatadas, como se estivessem sendo acometidos por Midríase. Contudo, tudo aquilo tinha uma explicação, ou melhor, quase... Inexplicavelmente Damião podia ver através das pupilas dilatadas tudo o que o casal estava vendo em seus inconscientes, e à medida que rezava com mais afinco, visualizava ainda melhor o filme da vida de ambos. À medida que as imagens foram se tornando mais nítidas, Lucinda e Jonas começaram a perceber o que estava ocorrendo, era como se estivesse 155 sendo rodado em suas frentes um filme de suas vidas desde os últimos acontecimentos, só que como se estivesse sendo transmitido em alta velocidade do presente para o passado. Dava para ver tudo o que já tinham vivenciado na vida! Tentavam parar em alguma lembrança, como a dos pais que sentiam tantas saudades. Mas não dava! O pensamento não parava, o filme da vida parecia estar fora de controle, voltando no tempo de maneira frenética, resgatando memórias que eles nem se recordavam mais devido ao longo tempo que não as acessavam. Após alguns minutos, a memória dos dois chegou à infância, em tempos diferentes porquanto Jonas era mais velho que ela dois anos. Lucinda e Jonas começaram a tremer, quando às imagens começaram a ficarem turvas, ao passo que eles enxergavam somente cabeças, como se alguém estivesse a bajulá-los. Nisto Damião parou, e falou: - Agora vocês estão próximos a quebrarem a barreira, equilibrei as lembranças para vocês chegarem juntos às que tiveram quando ainda eram recém nascidos, as quais somente estavam guardadas em seus subconscientes... Neste momento vocês estão vendo somente imagens foscas, porquanto, nesta época somente viam rostos de parentes que chegavam para lhe mimarem. – O mais estranho era que Jonas e Lucinda podiam ouvir perfeitamente Damião, mas não conseguiam qualquer comunicação com ele, seus pensamentos estavam parados em uma imagem fosca. Após dizer isto, Damião apertou fortemente às mãos na cabeça de ambos, fazendo com que gotas de seu sangue escorressem por seus rostos. Neste momento, Jonas que estava em pé foi caindo ao chão, gemendo e suando frio, ao passo que Lucinda que ainda estava deitada, porquanto, havia acabado de dar a luz, começou também a suar, e a tremer. Em pouco tempo os tremores que eram poucos se transformaram em algo frenético, eles babavam como se estivessem sofrendo de epilepsia. Neste momento Damião gritou: - Aguentem firme, vocês vão conseguir, não desistam pelo amor de Deus... Ao proferir a palavra “Deus”, ambos pararam de tremer, e os olhos arregalaram-se ainda mais, e às pupilas de ambos que estavam dilatadas foram ficando esbranquiçadas, como se uma nevoa cobrisse tudo! Após alguns minutos a nevoa esbranquiçada no olho foi dando novamente lugar ao negro, e às pupilas de ambos foram gradativamente voltando ao normal, e eles voltaram a si como se tivessem acabado de acordar de um pesadelo, e um silêncio tomou conta do quarto... Damião tirou as mãos das testas deles, e caiu ao chão gritando de dor, estava fraco, não conseguindo sequer aguentar o peso do próprio corpo, mas ainda conseguiu gritar para eles: 156 - João, você esta me ouvindo? – Após virou-se com dificuldade a cabeça para Lucinda dizendo: - E você Lourdes, está bem? Nisto Damião não conseguia mais firmar seus pensamentos, foi consumido pela extrema dor que tomava conta de todo o seu ser, e começou a gemer no chão. O filho mais velho do casal batia na porta tentando sair, os gritos vindo de fora o haviam atordoado, nisto vendo que a porta estava trancada pelo lado de fora, pulou a janela, e correu para a porta de entrada, porquanto, lembrou-se que a janela ali estava quebrada devido a saída de Damião momentos antes portando aquela grande espada. Contudo, quando conseguiu pular pela janela quebrada e adentrar na casa novamente, ficou muito mais assustado ao ver Damião completamente ensanguentado caído ao chão. Correu para ajudá-lo, mas ao se aproximar de Damião este lhe olhou no fundo dos olhos, dizendo gemendo de dor: - Não falei para você ficar no quarto? – O menino assentiu com a cabeça com o corpo todo tremendo. Virou-se e correu destrancando a porta e entrando novamente no quarto, trancando-a agora pelo lado de dentro, ao passo que o medo lhe consumia todo ser, como um parasita... 157 CAPÍTULO 38 Londres – Inglaterra, 1982 - Vocês conseguiram encontrar o segredo de meu brinquedinho? – Questionou Arthur olhando para sua bengala no colo de um dos agentes. - Desculpe senhor, ficamos muito exaltados ao ver este local que nos esquecemos, tome. – Respondeu o agente entregando o objeto. - Vocês conseguiram fazer ela trabalhar? – Arthur questionou sorridente, mas já sabia a resposta, ela estava estampada em suas testas, afinal, não era difícil ver a expressão de fracasso em seus rostos. - Me desculpe senhor, mas será que não nos entregou o objeto errado por engano? – Outro agente questionou com certa cautela, afinal, estavam ali para acertar salários, e colocar a honestidade de seu eventual futuro cliente era algo insensato. Arthur olhou para o abjeto, colocou sua alça apoiada em seu ombro, mirando como uma metralhadora, após, deu um berro: - Tatatatatata! – Ao passo que alguns agentes pularam, e Arthur percebeu que foram os mesmos que ele baleou no dia anterior. – Vocês ficaram assustados? – Questionou ele sorrindo muito da expressão de espanto dos mesmos. - Desculpe senhor, mas creio que isto não tem graça. Os nossos companheiros não falam, mas duvidam que esta arma possa fazer o que dissemos, e, estamos passando por mentirosos. – Gritou um dos agentes, jogando para fora sua total revolta com a situação. - Qual deles mais duvida de tudo isto? – Questionou Arthur ainda sorridente. - Eu duvido! – Gritou um dos agentes que se encontrava na fileira da frente. Era loiro e magro, mas parecia ser muito astuto. – E digo mais, mesmo que este treco fizesse algo, nunca conseguiria pegar um cara como eu desprevenido... Enquanto ele ainda falava a expressão de Arthur mudou subitamente, ele deixou a bengala rolar por entre os seus dedos, colocando sorrateiramente o indicador próximo à alça, após a mesma emitiu um pequeno e quase que inaudível bibe, e vibrou um pouco, era o sinal que o sensor havia feito o reconhecimento das digitais, dai em diante foi questão de segundos para Arthur levar a alça de apoio das mãos para seu ombro como se o objeto fosse uma metralhadora! O agente sorriu, crendo que tudo era a mesma brincadeira anterior, mas em milésimos de segundos a bengala emitiu agora um grande bipe, movendo mais algumas partes, virando uma pequena metralhadora. Aquilo era inexplicável, e o agente que antes falava agora calou subitamente a boca, afinal, estava com uma arma que ele julgava inexistente apontada para seu peito, após ele somente teve tempo de gritar, antes que um tiro certeiro acertasse seu peito... 158 Os demais agentes se afastaram, e o baleado tentou se levantar, mas caiu como um saco de frutas novamente ao chão, deixando um pouco de seu sangue escorrer no lindo chão de vidro. - Você está louco?! – Questionou Charles assustado e ao mesmo tempo consternado com a atitude do velho. - Não, estou apenas salvando a boa harmonia de nossa equipe, afinal, não acho justo que os agentes que foram por mim surpreendidos sejam objeto de chacota dos demais, e, ai, alguém mais dúvida?! – Respondeu Arthur sorrindo e olhando para todos na sala. - Mas para isto você tem que matar meu agente? - Largue de ser bobo, afinal, os demais não estão aqui?! - Olhou com cara de cético para os rapazes que haviam sido anteriormente baleados. – A bengala, ou melhor, arma, tem um sensor tanto de laser, calor e demais, os quais quando a mesma é apontada medem com precisão a distância que será percorrida pela bala após o disparo até acertar o alvo, tudo para que a bala perfure somente uma pequena camada da pele. Fez uma pausa olhando, e percebeu que Charles ainda não estava contente, então resolveu terminar a explicação para acalmá-lo: - Após o disparo, as balas, as quais insta mencionar, também não são comuns, contém micro sensores para ajudar os demais equipamentos de sensores anteriores, razão pela qual, não falha! E, após entrar em contato com a pele é liberado um sonífero poderoso, que entra rapidamente na corrente sanguínea, mas não atingem órgãos, o máximo que fazem é dor, sangue e derrubar o individuo em pouco tempo. - Mas porque saiu muito sangue? – Questionou um dos agentes que olhava para o vidro avermelhado. - Nas balas também contém um agente que provoca uma pequena hemorragia no local em que penetra a bala, razão pela qual, sai um pouco de sangue. Tudo para dar a impressão que a pessoa foi baleada realmente e morreu, e, por esta razão que seus parceiros ficaram em minha mansão naquela noite. – Fez uma pausa olhando para os agentes. – Mas podem ficar tranquilos que a reação do agente dura apenas alguns segundos, após sair um pouco de sangue ele é anulado e entra em cena outro, o qual promove uma coagulação, barrando assim a hemorragia. - O senhor quer dizer que isto tudo se encontra nesta simples bengala que analisamos a tarde toda sem nada encontrar? – Questionou agora outro agente, um pouco mais alto e gordinho. - Sim, e mais algumas coisas. Mas não fiquem nervosos, afinal, este equipamento contém sensores que somente liberam o poder letal deles após colocar meu dedo e ainda de fazer uma leitura sonora de meu batimento cardíaco. – Tentou explicar Arthur. - Porque o batimento cardíaco, isto não tem nada a ver. – Retrucou o mesmo agente. 159 - Digamos que não posso dizer mais nada, mas podem ter certeza que teria balas aqui suficientes para terem acabado com uma boa parcela de vocês, e, ainda, algumas pequenas bombas que neutralizariam o restante, pelo mesmo modo, só que de forma mais agressiva. - E quando meu agente voltará ao normal, afinal, temos que discutir tudo em conjunto. – Disse Charles agora mais calmo. - Quero primeiramente que vocês entendam que somos a partir deste momento uma família, e, assim sendo, podemos brincar, sorrir, zuar, mas nunca, absolutamente nunca menosprezar os sentimentos de nossos parceiros, porquanto, é certo que alguns tem traumas que os outros não compreenderiam. Além disso, devemos apoiar e compreender o outro como nosso irmão, ou até mais, porquanto, será o seu parceiro o responsável por te ajudar a voltar para casa para encontrar-se com sua legítima família. – Arthur berrou com olhos fixos como uma fera, não deixando passar nenhuma expressão, como se lesse cada um. Todos assentiram, e Charles expressou até mesmo um sorriso, aquilo ele realmente nunca poderia esperar, estava muito preocupado com a relação dos agentes que foram atacados naquela noite na mansão com os demais, mas, Arthur parecia ter pensado naquilo e fulminou qualquer controvérsia que poderia ocorrer futuramente. Arthur vendo que todos estavam entendendo, principalmente, Charles, sua verdadeira fonte de preocupação, afinal, não queria passar por cima de sua autoridade, mas queria ajudar como poderia, chegou perto do agente, e, digitou algo em um teclado não visto pelos demais na alça da bengala. – Ele é somente vibratório, não é identificado pela visão, assim, fica mais fácil de eu potencializar meu fator surpresa. – Explicou ao perceber que os demais tentavam visualizar o painel em que ele digitava. Após chegou perto do agente, e encostou à ponta da bengala em seu peito, posteriormente a um estalo seu corpo começou a tremer. – Choque elétrico bem no coração é capaz de neutralizar parte do sonífero e fazer com que a adrenalina prevaleça, assim, ele ira acordar... Foi então interrompido pelo agente que soltou um enorme grito erguendo-se do solo como se estivesse acordando de um pesadelo. – AAAAAAAAAAAAAAAA. – O grito foi ecoado por todo ambiente. - Agora. – Concluiu saindo de perto. – Creio que é melhor ficar longe, vou ao banheiro, e, quero que ao retornar vocês tenham explicado para ele o que ocorreu, e como quero que se comporte a partir de agora. – E saiu apoiando seu corpo na bengala que já havia voltado ao normal na mesma rapidez que havia se transformado... - Isto é a coisa mais impressionante que já vi... – Disse um dos agentes após ver o velho andando vagarosamente em direção ao final da sala, ao passo que o baleado olhava para todos os lados, como um cedo em um tiroteio, ainda tentando se situar no ambiente. 160 CAPÍTULO 39 Vilarejo na França, 1982 Jonas e Lucinda se levantaram ao mesmo tempo, ele do chão e ela da cama. Ela não mais parecia que tinha dado a luz naquele momento, e ao verem Damião estirado ao chão daquela forma, abaixaram-se rapidamente colocando as mãos sobre seu corpo trêmulo, Jonas falou baixinho, como se estivesse querendo consolar o amigo: - Oi meu amigo, pedimos desculpas, mas após tanto tempo nesta dimensão material ainda não havíamos conseguido quebrar nossas barreiras sozinhos! Foi por isto que não conseguíamos nos lembrar da nossa vida passada na dimensão suprema... – O pesar lhe consumia. Damião custou a abrir os olhos, mas conseguiu balbuciar algumas palavras com dificuldades: - Deixe disto meus amigos... Cof! Cof! – Tossiu repelindo o sangue de sua garganta, que manchou ainda mais a roupa de Jonas que o segurava no colo. – As coisas mudaram e o universo não é mais o mesmo. O importante é que vocês estão bem, e afinal de contas eu precisava de vocês somente de agora para frente, a missão de vocês será muito importante, talvez a mais importante de nosso grupo! Damião parou um momento, cuspindo mais sangue agora sem tossir, após uma longa pausa para recuperar forças continuou: - Preparar Joana com carinho e amor e ainda para ser uma guerreira como sempre foi não é, e nunca foi fácil... – Cof! Cof! – Sua personalidade é muito difícil, e somente vocês dois seriam capazes de lhe proporcionar o amor de que ela necessita, e ao mesmo tempo a garra e determinação para enfrentar tudo que virá pela frente... - Mesmo assim, demoramos muito tempo, e o senhor teve até que intervir se sacrificando para quebrarmos a barreira, somos espíritos evoluídos, não entendo porque não conseguimos sequer acessar alguns dons? – Falou agora Lucinda demonstrando extrema tristeza e decepção. Damião conseguiu dar um discreto sorriso. - Lourdes, você é muito bela e amorosa espiritualmente, não se sacrifiquem ou se martirizem com isto. Um amigo me disse hoje que Lúcifer esta de volta... – Nisto ele parou, medindo as palavras, e somente após uma pequena pausa prosseguiu, mas os dois perceberam o que ele queria evitar. Creio que ele de alguma forma interferiu na quebra voluntária da barreira de vocês, afinal de contas, vocês são muito evoluídos, quem além de Lúcifer seria capaz de interromper a quebra de barreira de Santos tão poderosos como vocês dois? Ao ouvir o que Damião disse João e Lourdes que se lembravam agora de seus nomes adotados na dimensão suprema começaram a tremer novamente, não podia ser verdade, João somente teve força de dizer: 161 - Lúcifer está de volta? - Sim... Um amigo muito confiável me confirmou. Eu pensava que a quebra da barreira poderia ocorrer mais para frente, só que após analisar a questão, este amigo descobriu alguns planos de Lúcifer que me fizeram mudar de ideia. - Damião foi direto ao ponto, não tinha mais forças para rodeios. - Que planos são estes? – Questionou Jonas evidenciando sua extrema preocupação. - Ele não conseguiria fazer nenhum mal a vocês, porquanto, os Arcanjos estão lhes protegendo. Mas conseguiu algo inusitado, consistente em uma forma de barrar a quebra de barreira. - Ele realmente é um gênio do mal, por isto comanda com eficiência e rigor as trevas! Sabia que não conseguiria nos fazer mal, mas que evitando a quebra da barreira isto seria ruim para nossos planos, contudo, ele estaria estabelecendo as normas gerais do universo, de que a barreira não deve ser quebrada para que a pessoa tenha uma vida desvinculada de sua herança espiritual e consiga fazer a jornada em paz. Ele ajudou o universo a seguir seu curso, e os Arcanjos nada perceberam, porquanto, evidentemente estavam atentos somente para energias negativas que nos fossem impelidas, não para positivas com efeitos negativos diante dos nossos planos. – Disse Lucinda com o olhar perdido. Damião pensou naquele momento na escolha sabia do mestre, realmente aquela era a alma perfeita para criar Joana, Lucinda não era apenas forte e destemida, era acima de tudo de uma inteligência surpreendente. Após algum tempo contemplando a inteligência daquela alma havia até mesmo se desligado um pouco da dor, como uma espécie de medição, contudo, voltou a si quando uma dor dilacerante submergiu subitamente de sua barriga, e o gosto de sangue veio ainda mais forte em sua boca, tinha pouco tempo... - Certo... Não tenho muito tempo! O certo é que com este ato Lúcifer iria garantir que após eu desencarnar, não teria ninguém com poderes suficientes que fizesse o que acabei de fazer, e Joana não receberia os ensinamentos de que tanto necessitaria tendo em vista que, como é de conhecimento de vocês, o Conselho Supremo proibiu que qualquer espírito conversasse desta vez com ela, queria que crescesse normalmente, e fosse treinada pelos pais, por isto determinou que vocês encarnassem imediatamente, mesmo quando não tinham vontade. João e Lourdes abaixaram às cabeças demonstrando vergonha, afinal, haviam questionado não apenas o Conselho Supremo, mas principalmente seu mestre de coração, quando este lhes pediu pessoalmente para encarnarem, sem lhes contar o que estava acontecendo. - Não fiquem com vergonha, se ele lhes enviou é porque acredita que serão capazes. – Disse Damião, com a voz ainda mais fraca... João virou-se para Damião chorando, e somente deu conta de dizer: - Você não existe meu amigo, seu amor e carinho são infinitos, e seus dons ultrapassam qualquer poder... Em breve será um Deus... 162 - Para tudo há seu tempo, não tenho ambição em ser um Deus! Já sou muito grato pelos poderes que já adquiri, eles foram capazes de quebrar o que Lúcifer fez para que vocês não rompessem a barreira, por ora isto basta. – Damião fechou os olhos mais uma vez, e gemeu como se as dores fossem intensas, cuspindo mais um pouco de sangue. – Realmente não tenho mais tempo, vocês deverão guardar esta espada em um lugar seguro, ela é do arcanjo Miguel, uma das armas mais poderosa de todas as dimensões. – Fez sinal para que Lourdes pegasse o objeto já que João o estava segurando. Cheguem mais perto que lhes falarei quem deverão encontrar no morro, ele vai ajudar no treinamento de Joana, mais não deixem os Arcanjos ou Anjos, ou qualquer outro ser além de Miguel ou minha alma verem vocês juntos a ele... Ao chegarem perto de Damião e ouvirem quem é que iria orientá-los no treinamento de Joana, eles deram um salto, dizendo em um som uniforme: - O Traidor???!!!! Não pode ser!!! Damião levantou a mão com o resto de suas forças, bateu ela fortemente no chão, espirrando o sangue que ali estava empossado, falando logo após com suas últimas forças: - Não questionem mais as ordens do mestre como fizeram ao não quererem encarnar!!! Somente as cumpram... Após dizer isto Damião fechou os olhos, uma forte luz começou a brotar de seu umbigo. Ao olharem para cima, João e Lourdes avistaram o Arcanjo Miguel, ele entrou com as asas abertas no quarto em uma velocidade extraordinária, colocou as mãos dentro do umbigo de Damião, levantando, logo após, sua alma. O abraçou fortemente, olhou para eles, falando de uma maneira ríspida e seca: - Em breve entrarei em contato, não questionem mais qualquer ordem, se não, eu mesmo desço na terra e arranco suas almas destes corpos!!! João e Lourdes ficaram atordoados ao verem o arcanjo retirando a alma, viraram-se um ao outro falando: - O mestre nos concedeu o dom de vermos as almas e Arcanjos, tudo que está desencarnado! – Disse Lourdes. - Só que Miguel está muito nervoso, como sempre... – João respondeu com desanimo. Mal sabiam eles que com este dom não poderiam ver somente seres bons, mas alguns que em breve iriam preferir não verem nada... Onde a fúria de Miguel seria muito pequena comparado ao que iriam presenciar... 163 CAPÍTULO 40 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre No céu da dimensão sublime surgiu uma grande bola de fogo, a qual ia diretamente à grande colina... Os Arcanjos, Anjos, Santos e outros seres evoluídos que estavam naquela dimensão ficaram atônitos, se perguntando o que era aquela bola de fogo? E, principalmente, porque ia para a grande colina?... Todos se perguntavam se poderiam estar correndo algum perigo?... Entreolhavam, não podia ser... Nada atravessava aquela barreira se não tivesse luz e força espiritual suficiente... A alta colina da dimensão sublime era um mistério, até mesmo para os espíritos mais evoluídos do universo que ali se encontravam naquela dimensão. Naquele local somente poderiam subir os espíritos sublimes, considerados eleitos a se tornarem semideuses, uma vez que todas as decisões sobre o universo eram ali discutidas pelo que era chamado Conselho Supremo. Então mesmo que todos que ali se encontrassem achassem que a bola de fogo representasse uma ameaça, nada poderiam fazer, não tinham autorização para ali adentrar sem serem convidados, mesmo sob qualquer perigo a lei era clara, nunca subirem... À medida que a bola de fogo foi chegando ao chão, foi parando, até que o fogo que a cobria começasse a se dissipar, e em seu núcleo aparecesse Miguel carregando a alma de Damião em seus braços. Miguel havia em poucos segundos atravessado todas as dimensões chegando à dimensão sublime com o amigo. Ninguém, absolutamente ninguém além de um semideus conseguiria atravessar as barreiras naquela velocidade sem ser destruído, era claro que ele tinha adquirido uma vasta força e poder, e Damião que estava acordado sabia disso, e queria respostas... Ao atingirem o solo, Miguel encostou seus pés de forma graciosa, tinha perfeito domínio de seus poderes, o que deixou Damião ainda mais espantado. Era certo que desde que encarnou na terra, tinha acontecido outras coisas, e Jesus, Buda e os outros membros do Conselho Supremo, bem como, certamente os Criadores tinham outros planos, que com certeza incluía o vasto poder que o Arcanjo adquiriu neste tempo. Mas como ele adquiriu tamanhos poderes? Como se curou tão rapidamente após a luta com Serfalos? – Referidas perguntas não saiam da cabeça de Damião, e ele sabia que aquilo seria um verdadeiro mistério, e por isto mesmo tendo conhecimento do temperamento do Arcanjo, sabia que ele não iria lhe contar nada, portanto, preferiu mudar de ideia e ficar calado. Miguel deixou Damião descer, ele também era muito forte, já tinha se recuperado da desencarnação, e as asas do Arcanjo o haviam protegido na quebra das barreiras, aquilo era realmente magnifico. 164 Damião pensou consigo mesmo que também tinha recebido mais poderes após regressar de sua missão a terra, porquanto, sabia que uma alma comum levaria seis dias para conseguir reunir energias e sabedoria sobre a desencarnação, porquanto, muitas almas ficavam fracas ou atordoadas, diante do fato de se apegarem com tanta voracidade pela vida terrestre e aos bens materiais que não mais poderia ter após o evento inevitável. Damião há muito tempo não tinha mais estes sentimentos, em suas últimas encarnações evoluiu muito, sabia perfeitamente o que lhe esperava após a morte material, e dela não tinha medo ou receio algum, tinha era anseio por este momento... Pensou ainda nas primeiras vezes que desencarnou, quem foram à sua solenidade de sétimo dia e, também, nos tempos que ainda não tinha a fé católica em outras festas e encontros religiosos, sempre no sétimo dia, porquanto, após este período o espírito volta à terra a fim de se despedir pela última vez dos entes queridos que ali permaneceram, o sétimo dia sempre teve conotação com o ciclo da vida, mas ele preferia intimamente o número seis, ele simbolizava algo ainda imperfeito, inacabado, mas que em breve teria um fim, um número fonte de mistério, que o intrigava muito. Damião estava muito curioso, virou-se para Miguel com a confiança de um amigo e falou em um tom não de questionamento, mas de respeito e satisfação pelo amigo ter evoluído tanto: - Parece Miguel que desde que encarnei você adquiriu poderes que eu nunca tinha visto. Afinal, enfrentar Serfalos e ainda por cima atravessar as barreiras como se fossem bolhas de sabão, e surpreendente! E segundo me relataram você conseguiu fazer todos se tele transportarem direto daqui desta dimensão até a terra, e isto usando a água como condutor, e, ainda, tem o fato de em minutos ter se recuperado da batalha, o que aconteceu desde que encarnei?... - Não se preocupe Damião! Tudo lhe será explicado agora mesmo, mas agora vamos correr! Não temos tempo para ficar conversando. Ao responder desta forma Miguel surpreendeu o amigo, que esperava uma evasiva não uma confirmação de explicações. Neste momento o Arcanjo apoiou os braços nas costas de Damião, e se dirigiu a uma entrada que se encontrava na colina, parecia uma caverna, mas ao invés de conter escuridão dentro dela, ocorria o contrário... De lá de dentro emanava-se uma luz, não uma simples luz, mas algo encantador, que atraia Damião como um inseto sendo levado ao encontro de uma lâmpada, ele só esperava não se queimar como o que ocorria com a pobre criatura... ****** - Como assim amigos? – Expedito quase gritou, porquanto, Nimrod estava andando rápido demais. 165 - Porque a pergunta? Acha que não podemos fazer amizade em todos os lugares?! Ou que alguém não seria digno de minha amizade neste local?! – Nimrod respondeu com questionamentos, e, continuando a andar rapidamente. - Não é isso. Somente porque este lugar esta cheio de gente muito má! Portanto, creio que não é o melhor dos lugares para se iniciar uma amizade. – Expedito concluiu olhando para alguns demônios que estavam ao longe, eles estavam escavando a terra, como se estivessem à procura de algo ou procurando esconder algo... - Isso é preconceito meu caro. Aqui tem pessoas que estão simplesmente porquanto não aceitam a ordem que foi posta pelo Conselho de submissão e encarnação em prol da evolução. - Mais se eles tivessem estacionado sem tentar evoluírem, estariam pelo menos em uma dimensão intermediária. Somente foram parar aqui, porque, são gananciosos e não souberam aproveitar a oportunidade. Assim que acabou de falar Expedito se assustou, porquanto, Nimrod quase pulou novamente em sua garganta, mais assim que ele fez menção de se proteger do ataque, o mesmo olhou bem no fundo de seus olhos dizendo com ódio: - Oportunidade? Você me diz que é oportunidade você ser jogado em uma dimensão com tanto sofrimento como a material? Nascer no lixo e passar por diversas provações enquanto alguns nascem em berços de ouro?! Aqui está cheio destas pessoas que tiveram oportunidades, mas estão nisto porque segundo eles não souberam aproveitá-la e não queriam admitir que de que em pelo menos algum ponto de vista a dita oportunidade é na verdade uma armadilha! - Você não está exagerando um pouco meu amigo. – Expedito não queria deixar somente o mesmo falar, afinal, já havia questionado sobre tais fatos, contudo, nunca sob este enfoque tão temerário do ponto de vista da razão – Afinal, as oportunidades são escolhidas pelos próprios seres, é um sistema pelo menos justo, ao passo que à medida que você escolhe não tem do que reclamar. - Você está errado meu caro. Porquanto, a maioria das pessoas que aqui estão pensavam que poderiam mudar o mundo, e foram com muita sede. Concordo que elas devem pagar de alguma forma, mais este não seria o lugar, aqui não tem futuro para ninguém, não recupera nada, somente estraga. - Mais eles podem sair quando quiserem, basta, tão somente, querer mudar, e serão salvos? - Fique aqui durante algum tempo com ódio no coração e depois me diga se o ódio ira aumentar ou diminuir?! Expedido ficou perplexo, realmente olhando em volta, o lugar tinha tudo para aumentar o ódio, e, assim, a chance de submissão e aceitação de seus erros e posicionamentos. Mais decidiu abarcar sobre outro ponto: 166 - Mais então em sua opinião qual seria o sistema melhor? - Não sei. Mais creio que levantar esta dúvida e tentar buscar soluções não poderia ser o motivo de minha expulsão! – Ele respondeu quase que com ódio. - Mais você sabe que fez mais do que levantar dúvidas e buscar soluções, não sabe?... – Expedito questionou deixando às palavras se perderem, quase como uma alfinetada. - Sim... – ele fez uma pausa analisando a situação que levou o mesmo a fugir – Contudo, não me arrependo! – concluiu quase que como um touro ignorante. - Contudo, para mim poderia dizer que sistema entende que seria o melhor, afinal, somos guerreiros, e, portanto, nos entendemos. Além disso, caso me convença, poderei lutar e buscar soluções junto a você, porquanto, espero que lutemos juntos não apenas nas batalhas de guerra, mais principalmente perante os debates no Conselho, os quais como você mesmo falou sempre estamos em desvantagem. - Você acha que serei aceito diretamente no Conselho novamente? - Não acho, tenho certeza. A ordem foi clara que necessitamos de você, assim, isso é quase que questão de lógica. - Posso então lhe explicar, mais temos que ir andando. – ele disse apertando o passo seguindo pelo caminho mais do que tenebroso. - Certo. – Expedido respondeu apertando também o passo. - Quando surgiram as primeiras ideias de religião, e, a ordem de manutenção do universo sofreu as primeiras alterações, com decida dos semideuses, etc. a dimensão material como humanos, eu acreditava que nada daquilo iria fruir. Contudo, após tudo começar a se encaixar e as coisas irem se afunilando melhor, percebi que pelo menos em parte as coisas estavam tomando um caminho melhor, principalmente, nos últimos tempos após criação do Conselho. Ele se calou um pouco, porquanto, estavam passando por alguns demônios, os quais sequer olharam para eles. - Não fique apavorado, eles somente tentam pegar os fracos, sozinhos e os indecisos, são covardes demais para tentar pegar qualquer um de nos dois. – ele disse após perceber que Expedido ficou apreensivo em ter que enfrentar os demônios. - Certo, mais nunca é demais manter a cautela. – Expedito respondeu retornando do estado de vigília. - Pois bem. No início dos homens atuais tudo era um caos, ao passo que, se atualmente melhorou, tenho que dizer que sim. Dentre às principais religiões que dominam a dimensão material, nomeadamente, no plano terrestre, posso afirmar que a evolução com a chamada oportunidade é ainda 167 a mais acertada. Contudo, somente não concordo com a vinda para este lugar, poderíamos fazer pelo menos melhorias. - Mais dizem que isso seria impossível, visto que qualquer interferência aqui seria quebrar o pacto sagrado de que ela pertence a Lúcifer e seus seguidores. - Não concordo com isso, creio que este pacto está velho demais, e que está na ora de revogar direitos ao Lúcifer, e sim aniquilar aquele desgraçado de uma vez por todas. Expedito não respondeu, afinal, tinha o mesmo pensamento... 168 CAPÍTULO 41 Londres – Inglaterra, 1982 Arthur retornou para a sala com um sorriso malicioso em seu rosto. Ele analisou o ambiente e o sorriso aumentou ainda mais ao perceber que os agentes o olhavam agora com mais respeito, notando ainda que somente um estava de cabeça abaixada, justo o que desafiou há todos. - Vejo que apreendeu a respeitar os seus companheiros. – Ele disse ao se aproximar do grupo. O agente levantou a cabeça, somente assentindo um afirmativo com o olhar, o qual ainda deixava claro sua total vergonha. - Porque se envergonha? – Retornou Arthur ao perceber que não teria nenhuma palavra. - Não me envergonho do senhor ter me acertado, mas sim por minha atitude anterior com os meus parceiros. – O agente fez uma pequena pausa olhando principalmente para os que foram atingidos naquela noite. – Me desculpem novamente rapazes. – Disse ele olhando para todos. Charles havia literalmente ganho seu dia, tinha a certeza que mesmo que os agentes ficassem com alguma decepção com a proposta financeira que estava para ser feita, pelo menos iriam raciocinar que aquele homem seria muito mais útil do que qualquer dinheiro que a terra poderia pagar, eles teriam tecnologia militar de ponta, que não tiveram nem de longe quando serviram aos seus países, e, ainda, teriam um experiente combatente a frente de tudo. - Mas vamos falar em dinheiro, que é o verdadeiro motivo para vocês estarem aqui. – Disse Arthur ao perceber que todos haviam entendido o seu recado. Os agentes e Charles assentiram com a cabeça se dirigindo novamente a grande mesa, sentando-se todos em sua lateral, ao passo que Arthur sentou igualmente em sua ponta. - Qual é a proposta senhor Arthur. – Disse um dos agentes mais experientes do grupo. - Qual o seu nome meu filho? – Retornou o velho. - Dominik senhor. - Não preciso nem perguntar se você é russo certo? O agente sorriu, seu sotaque o entregava, mas como falava várias línguas conseguia escondê-lo facilmente, mas entre amigos ele não escondia nada, e, seu nome ainda confirmava as suspeitas. - Vejo que você tem capacidade nata de liderança, e, ainda, tem o apoio de seus parceiros, por isto vou lhe nomear neste momento o interventor para assuntos estratégicos perante meu gabinete, afinal, não podemos 169 reunirmos sempre com todos. Charles me disse que nem neste momento todos estão presentes, porquanto, alguns estão em missões, mas tenho certeza que quando retornarem vão gostar das mudanças. Todos olharam para Charles, com caras de “você não dirá nada?”. - Nunca objetaria uma escolha destas, não porque os outros não sejam qualificados para o ato, mas, porquanto, Dominik é perfeito para o serviço, um líder nato, tem capacidade de lidar com adversidades que creio que todos aqui nesta sala evitam, que é tratar de assuntos burocráticos com muita eficiência, afinal, vocês são todos agentes que procuraram esta vida por adrenalina ou para se esconderem de pessoas, etc., enfim, James Bond é somente no cinema. – Respondeu Charles aos olhares de seus parceiros. - Fico lisonjeado, e aceito o encargo, mas conforme havia questionado anteriormente, temos que saber de uma proposta, porquanto, sem querer questionar nosso chefe, deveríamos ter tido uma reunião antes para termos tempo de pensarmos no assunto. – ele mostrou ter realmente pulso firme – Contudo, já viemos para cá, soubemos de assuntos que ao que tudo indica é secreto, e, tudo sem qualquer negociação preliminar. – Dominik foi mais do que direto, e Arthur gostou dessa sinceridade, afinal, tudo foi realmente muito rápido. - Não se preocupe, eu e Charles já havíamos conversado e chegamos à conclusão que vocês estariam satisfeito com o combinado. Olhou para Charles dando uma piscadela, visto que, não haviam combinado nada, mas ele queria deixar claro que Charles era o chefe e mandava, mas não queria impor isto. – Além disso, creio que se são da equipe de Arthur são de confiança, e, ainda, se não combinarmos irão sair daqui e esquecer tudo, senão... – a pausa foi estratégica, e ele olhou para todos sem exceções – Vamos deixar o senão dizer tudo. - Diga para eles o que havíamos combinado anteriormente. – Charles entrou no jogo. - Pensamos que vocês deveriam receber um fixo além do valor de cada missão, assim, teriam mais estabilidade para manterem suas famílias, e, pensariam duas vezes antes de saírem do serviço, bem como, teríamos uma fidelidade maior. - Mas quanto seria este valor fixo? – Tornou Dominik. Os agentes olhavam tudo, e Arthur e Charles perceberam em suas expressões que eles estavam realmente satisfeitos com a escolha do companheiro para estes assuntos. - Quando vocês recebem em media anual? – Retrucou Arthur. Os agentes se entreolharam com a pergunta, afinal, nunca haviam parado para pensarem naquilo. 170 - Digam em dólares, porquanto, quero uma moeda mais estável para promoverem seus pagamentos. A não ser que prefiram receber em ouro, ai eu posso pegar dos que encontro em minhas expedições. – Disse Arthur ao perceber que o seu questionamento havia levantado um assunto nunca discutido antes. - Eu sempre tento passar a mesma quantidade de serviços para todos, e, assim, manter a ordem de pagamentos quase que em grau de igualdade, mas sempre há algumas distorções, porquanto, algumas missões são mais perigosas, outras mais demoradas, razão pela qual, tenho que remunerar melhor os agentes e ainda escolher aqueles que não têm famílias, etc. – Justificou Charles ao perceber que os agentes estavam acanhados em falar seus valores de remuneração abertamente, afinal, era uma firma, e isto poderia causar sérios conflitos. - Mas creio que recebem pelo menos em torno de cem mil dólares anuais? – Questionou Arthur dando mais um caminho para o diálogo. - Em anos bons sim, creio que conseguimos ganhar perto disso. – Dominik respondeu olhando para seus parceiros, os quais assentiram afirmativamente com a cabeça. - Ficariam satisfeitos se eu lhes pagasse trezentos mil dólares anuais de forma fixa, e, ainda mais um plus por cada operação? – Arthur arrematou. - O que acham pessoal? – Questionou Dominik olhando para todos. – Vocês querem conversar sobre isso em particular, para podermos chegar em um acordo comum. – Todos negaram com a cabeça. Estava claro que queriam fechar rapidamente naquele valor, afinal, eles sabiam que nunca conseguiriam ganhar aquela quantia de forma fixa e ainda abonos por cada missão, aquilo era um sonho para todos. – Então aceitamos senhor. – Respondeu Dominik levantando-se e pegando na mão de Arthur em sinal de fechamento de acordo de cavalheiros. - Não precisam fechar acordo de cavalheiros comigo, passem no setor de RH e conversem diretamente com a Dra. Alice, ela é psicóloga, e, vai providenciar toda documentação para legalizarem vocês em algumas de minhas companhias, vão receber previdência, tudo para que trabalhem sem se preocuparem com salário, aposentadoria digna, não aquela que o governo de seus países lhes pagam, os que pagam, e, ainda, ela vai liberar alguma quantia de imediato em cartões corporativos para que vocês comprem todo vestuário de executivos de sucesso, os quais quero que vocês utilizem, porquanto, vou inserir vocês em minhas empresas como se o fossem, e assim não levantarão suspeitas aos meus acionistas. Vocês vão ficar nas companhias, onde vão desenvolver alguns trabalhos deste setor, após, quando necessário, sairão delas para suas missões, isto evitara que esta casa fique ainda mais cheia. Somente quero que Dominik e Charles fiquem aqui, o primeiro cuidara de assuntos diretos entre vocês com missões, etc., e o segundo chefiara, o que sempre fez com maestria. Os agentes estavam boquiabertos, não tinham sequer palavras, haviam entrado naquela sala com total descrença sobre o rumo de suas vidas, 171 e, saiam dela agora com quantias que eles nunca sonharam em ganhar, e, garantias que eles não tiveram sequer quando trabalhavam em seus governos. À medida que os agentes foram saindo, Arthur disse com educação: - Charles, você poderia ficar somente mais um tempinho? Temos que terminar de acertar os demais honorários, afinal, sua empresa terá que continuar lucrando, não apenas os seus homens. Charles parou subitamente, já estava pensando que o velho somente iria lhe pagar com a resposta ao segredo de sua vida, não que ele trabalhasse somente por esta informação, mas sabia que Frederick queria lucros. Os agentes não continham suas alegrias, alguns sequer perceberam que Charles havia ficado, outros batiam nas costas dos outros, somente Dominik estava estranhamente calado, e saiu olhando diretamente para os dois que ficaram na sala... 172 CAPÍTULO 42 Vilarejo na França, 1982 João e Lourdes estavam atordoados, afinal, Damião tinha acabado de falecer, e sido buscado por um Arcanjo. Contudo, isto ainda não era o mais estranho, eles estavam alegres, porquanto, agora haviam rompido a barreira, e, também estavam aliviados por saberem que Damião estava bem. O bom de terem quebrado a barreira, é que agora tinham pensamentos de vidas passadas e de quem realmente eles eram, e principalmente o porquê deles terem encarnado... Contudo, os dois se levantaram ficando em pé não mais com alegria, mas seus rostos transpunham uma preocupação. Será que seremos capazes de treinar Joana? – Está pergunta estavam se fazendo no silêncio de suas mentes desde que Damião lhes aclarou o saber da alma... Mas o que mais os preocupavam era quem iria lhes guiar nos ensinamentos que não continham nenhuma experiência, não poderia ser, o traidor, devia ser uma brincadeira de Damião, mas no interior sabiam que aquele Santo tão poderoso não brincava em serviço. Nisto olharam um para o outro, não precisavam mais conversar, o olhar de cada um revelava tudo o que estavam pensando. Abaixaram-se e pegaram pelas mãos o corpo de Damião que se encontrava estirado no chão, arrastando-o para fora da casa. Não queriam que as crianças vissem ele daquela forma, iam conversar com elas e depois iriam chamar todos os vizinhos da pequena região rural, para que juntos pudessem dar um enterro digno para aquele homem, que tanto ajudou aquelas famílias, sem nada pedir em troca... ****** Nimrod e Expedito estavam chegando próximo a uma caverna oculta sobre uma relva. Nimrod ergueu alguns galhos evidenciando a passagem e adentrando rapidamente. Ao perceber que Expedido estava paralisado na entrada bradou com austeridade: - Entre rápido, porquanto, ninguém poderá ver este lugar, do contrário estaremos perdidos. Expedido que estava pensando se aquilo não seria uma armadilha retornou de seus devaneios com o chamado, adentrando também, mesmo que suas pernas queriam era realmente sair correndo. 173 A entrada da caverna era estreita, e eles seguiram por um túnel, ao passo que Expedito percebeu que ela parecia ter sido cavada a mão. Haviam vários caminhos e Nimrod seguia em zigue zague. - Nimrod! Este túnel foi cavado à mão? - Sim. Quando cheguei aqui percebi que iria precisar de um abrigo seguro. Assim encontrei uma caverna. Lado outro, não era segura, porquanto, sua entrada era muito aberta, e, em seu interior estava dominada por demônios. - O que você fez então? – Expedito quase que tinha que gritar, porquanto, Nimrod andava muito rapidamente, tanto, que ele temia ficar para trás e se perder. - O primeiro passo foi matar os demônios, o que na época foi fácil. Em seguida, eu destruí a entrada principal da caverna, assim, seu interior estaria seguro! Após, eu me assegurei de que conseguiria cavar e chegar até o interior novamente, contudo, passei com dificuldade, porquanto, somente poderia utilizar naquele momento uma fresta, a qual adentramos neste momento. - E estes outros caminhos? - Há, isso eu fiz após, quando um certo dia um demônio conseguiu adentrar e quase me pegou. Eu então resolvi que seria melhor fazer um labirinto de entrada. - Mais isso não é suficiente, afinal, o ser poderá tentar e chegar mesmo que após algum tempo ao interior, porquanto, tempo é o que não falta nesta dimensão para se pensar o mal. - É por isso que eu criei alguns brinquedinhos... – virou-se fazendo quase que uma cara de maníaco. – Entrar pode até ser fácil, contudo, se errar o caminho digamos que será apenas por uma vez... Realmente este Nimrod parece não ser normal! – Pensou Expedito seguindo agora mais rapidamente o sujeito, afinal, sabia que se se perdesse algo de muito ruim iria lhe acontecer. Após muito ziguezaguear, finalmente Expedito avistou uma luz forte à frente. Quando adentraram ele se espantou, porquanto, o que viu não era nada parecido com o que esperava... 174 CAPÍTULO 43 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Após ser quase que cegado pela luz inebriante, Damião adentrou no local e estava impressionado com a beleza daquela caverna, mesmo estando há muito tempo na dimensão sublime, ele nunca havia tido permissão para ali adentrar. O túnel era todo revestido de belas pedras preciosas o que fazia cintilar pela forte luz que havia ficado para trás. - Aquela luz é a barreira de segurança! Somente com permissão se pode aqui adentrar, dizem que quem não a possui e ainda assim tenta, fica por séculos vagando inebriante seguindo aquela luz, sem encontrar um destino final... – Disse Miguel querendo puxar assunto com o amigo. - Mas qual a necessidade de se ter uma magia tão poderosa de segurança neste local? Afinal lá fora se encontra os seres mais evoluídos do universo, jamais ousariam tentar aqui adentrar sem permissão. – Respondeu Damião com indignação. Miguel sorriu. Aquela era a mesma pergunta que havia feito quando ali adentrou, então decidiu dar a mesma vaga resposta que recebeu, afinal, somente após algum tempo Damião iria entender por meios próprios a necessidade daquela fonte de segurança. - Meu amigo, você disse tudo... – fez uma pausa olhando para o rosto do amigo, emanando mais um sorriso, desta vez de despreocupação. – Aqui se encontram os seres mais evoluídos do universo, e, consequentemente, alguns dos mais poderosos... Damião perdeu-se em seus pensamentos, o que o amigo acabará de dizer o atordoava, não pela resposta, mas pela verdade obscura e sombria que ela realmente emanava. Seres evoluídos e poderosos. - Pensava mais e mais o quanto aquilo realmente poderia ser perigoso. – O livre arbítrio que é lei universal, aliado a todos aqueles poderes poderia gerar catástrofes... – Concluiu em pensamento. Contudo, foi tirado subitamente desses pensamentos, porquanto, o corredor à medida que eles adentravam tornava-se ainda mais brilhante, onde pequenos feixes de luzes que vinham do local onde eles caminhavam agora em direção refletiam em todas as pedras e metais, fazendo-as tomarem vários tons de cores. - Isso é magnífico. – Damião exclamou quase como um sussurro, diante de sua voz quase que sumir com a estranha emoção que sentia. Ao chegarem ao fim do corredor Damião não tinha palavras, Miguel mesmo conhecendo aquele local contemplou novamente a grandeza daquele lugar, foi quando se lembrou das explicações que havia recebido quando ali adentrará pela primeira vez, e por isto queria compartilhar a mesma com seu amigo: 175 - Este local é assim Damião não porque os Criadores tinham desejos e cobiças por pedras e metais preciosos, mas porque foi aqui que tudo começou... – Ergueu seus braços em sinal de imensidão. – Deste ponto diz à lenda que o universo foi criado, este é o núcleo de toda criação! Para os cientistas o ponto exato do Big Bang, para os religiosos o jardim do Éden. Ambos ficaram parados por algum tempo que não saberiam precisar devido à mente embaralhada que lhes acometiam, o local não era lindo, era a verdadeira essência do belo, do paraíso, era como se estivessem contemplando a criação naquele instante, podiam vislumbrá-la em seus pensamentos. Miguel então voltou de seus pensamentos, decidindo prosseguir em sua narrativa: - Dizem que os Criadores reuniram na dimensão sublime um verdadeiro paraíso, esperando que todos os seus filhos aqui chegassem em pouco tempo. Mas infelizmente poucos a alcançaram desde então, porquanto, para infelicidade deles a maioria das almas preferiram permanecerem nas dimensões intermediárias ao terem que se arriscarem em às vezes regredir para poderem alcançar este local... Damião estava com a mão estendida, nela pairava cores infinitas, era lindo, ele contemplava a luz entrando por uma espécie de enorme feixe no teto. Eles então começaram a caminhar mais um pouco, até que chegaram ao final definitivo do corredor, ali contemplaram a imensidão daquele local, eles haviam chegado a uma sala muito grande, tão grande que por ali andavam vários animais, era ainda a caverna, mas tinha grama e em todas as partes eram revestidas de pedras e metais preciosos. Contudo, o teto era muito alto, e muito acima da cabeça dos dois, onde havia no seu fim um domo de vidro por onde entrava muita luz, era o cume da montanha... - Todas as vezes que entro aqui, tenho certeza de que valeu a pena todo sacrifício para chegar nesta dimensão meu amigo! Aqui me sinto amado não por um ser, mas é como se os Criadores estivessem me abraçando neste instante. – Falou Miguel demonstrando seu estado, o qual não era outro do que a maior alegria de todas, a qual Damião experimentava como uma criança quando vê sua mãe, afinal, era isso que estava ocorrendo, eles não apenas viam ali os Criadores, mas podiam senti-los em cada canto daquele local. - É como se estivesse finalmente chegado à casa de meus pais em um domingo de manhã, depois de vários anos sem os verem. – Damião falou com lágrimas nos olhos. Miguel olhou para o amigo, com um olhar sereno, falando com uma voz saindo suave e também chorosa: - Mas será que você não está mesmo certo meu amigo, afinal, finalmente chegou à casa de seus pais após tantos anos... – fez uma pausa olhando a imensidão. – Só não é domingo!... 176 Após mais um tempo contemplando o local começaram a andar olhando tudo, e à medida que adentravam no imenso ambiente os animais iam lhes recepcionar, o engraçado que ao contrário de uma primeira imaginação, os animais que ali estavam não eram somente os mais belos, tinham diversos, cobras, lagartos, tigres, coelhos, ratos, tudo... De repente os animais foram todos saindo por uma saída lateral, abrindo espaço para os dois, Miguel estava impressionado, nunca tinha visto tantos animais naquele local, afinal, somente havia entrado ali duas vezes, e tinha que admitir que na primeira havia ficado tão emocionado que mal conseguiu prestar atenção em tudo. À medida que os animais saiam, eles avistaram ao longe um homem, Damião notou que ele brilhava de uma forma estranha, parecia que seus poros emanavam uma estranha luz, como um brilho, mas que estranhamente não cintilava a ponte de ofuscar a sua imagem. Parecia que sua pele emanava a luz mais sem parecer estranho, era como se fosse sua áurea, ao passo que mesmo com a luz se avistava que sua pele não era completamente branca. Ao avistá-los, o homem começou a caminhar na direção deles, que ficaram parados contemplando a aparência do ser que vinha vagarosamente, e à medida que ele se aproximava, eles podiam sentir que todo amor do mundo parecia encontrar-se naquele indivíduo... Nem em seus sonhos mais remotos Damião poderia sentir tamanha sensação, era como se tudo de bom do universo tivesse sido sugado por aquele homem, e ele emanasse em todas as direções esta energia, que atingia todos ao seu redor. Miguel que até aquele momento estava parado abaixou a cabeça em sinal de reverência, e Damião que não sabia o que fazer, fez o mesmo. Contudo, quando finalmente o homem chegou perto deles falou em uma voz forte, mas que emanava uma ternura como um pai ou uma mãe que fala com o filho ao pegá-lo pela primeira vez nos braços: - Esperava-os já há algum tempo. Não estou apenas orgulhoso de vocês, tenho uma grande admiração! Levantem a cabeça porque se tivesse que ser venerado, teria que ser ao contrário, ou seja, eu venerando vocês... Quando levantaram a cabeça não acreditaram no que viram, o homem a sua frente era magnífico, vestia uma túnica branca, seus cabelos eram curtos e castanhos, iguais seus olhos, os quais eram amendoados. Sua pele era macia, não tinha barba, o que deixava seu rosto brilhar ainda mais... Era alto, muito alto, devia ter uns dois metros de altura, e possuía um corpo forte e robusto, aparentando ter uns 33 anos. Ele se aproximou ainda mais, e quando chegou bem perto puxou os dois de uma só vez, dando-lhes um forte abraço. No momento que apertaram os dois, eles sentiram todas as energias de seus corpos voltarem, se sentiam como recém nascidos nos braços da mãe. 177 Após o abraço, o homem deu um beijo na face de cada um, e se afastou, virando-se e lhes convidando para seguirem-no. Os dois saíram andando em transe, era como se tivessem acabado de serem atingidos por um raio de energia positiva, eles caminhavam, mas não sentiam o chão, parecia que estavam levitando. Ao chegar ao centro da sala, Damião viu algo que se estendia por uma grande área. No início não entendeu o que era, mas quando viu algumas cadeiras em suas bordas concluiu que se tratava de uma mesa de cristal. Não uma comum, esta era enorme, nela cabia facilmente milhões de pessoas, só conseguiu ver as cadeiras que estavam perto deles, às demais sumiam na imensidão do lugar. O homem sentou-se em uma das cadeiras, apontando para eles se sentarem em outras duas que estavam ao seu lado, eles prontamente se sentaram, mas permaneceram ainda olhando a imensidão da mesa e do lugar. - E grande não é? – Questionou o homem com um leve sorriso no canto da boca, e depois continuou a falar ao perceber que eles somente assentiram com a cabeça. – Nossos pais esperam que em pouco tempo ela esteja cheia de almas boas como às vossas... - Como assim cheias?! – Damião e Miguel haviam perguntado ao mesmo tempo. - Quando nossos pais criaram o universo, esperavam que em pouco tempo boa parte de seus filhos estivessem sentados nesta sala, discutindo maneiras de ajudarem seus irmãos menos evoluídos a alcançarem por seus próprios méritos seu lugar neste local, como faz uma verdadeira família. Lógico que sempre pautados no respeito ao livre arbítrio de cada um. Falou o homem, olhando a um canto remoto, como se estivesse a imaginar aquela mesa cheia, e depois de algum tempo continuou a falar demonstrando um pouco de tristeza em suas palavras: – Contudo, após muito tempo, poucos conseguiram... Damião e Miguel alcançaram-lhe um olhar de reconforto, ao perceberem a tristeza que transparecia de suas palavras. - Mas agora é diferente! Falou o homem como se estivesse saindo de seus pensamentos. Virando-se aos dois, prosseguiu em tom de ternura: - Hoje é dia de comemorar! Venho juntamente com o Conselho acompanhando vocês dois, e pela determinação, bondade, carinho para com o próximo com que vêm pautando todas as suas atitudes, concluímos que chegou a hora de se sentarem nesta mesa, junto a mim e o Conselho formado por outras almas que já alcançaram este lugar. Eles se sentiram confusos, olharam para o homem, então Miguel foi quem questionou: 178 - Que almas já alcançaram este lugar? Não estamos vendo ninguém além de nós! E das outras duas vezes que estive aqui somente fui apresentado ao local e orientado por um bondoso senhor negro, o qual me ensinou que atitudes eu deveria tomar com algumas questões... - Lógico que não estão vendo almas aqui sentadas sem fazer nada! Acham que os espíritos mais evoluídos do universo iriam simplesmente ficar somente sentados em uma mesa? E que iriam sair contando aos quatro cantos que aqui estiveram e que fazem parte do Conselho Supremo do universo?! O homem falou e lhes lançou um sorriso, continuando com o mesmo tom de um mestre ensinando seus pupilos: - Todos que aqui chegaram estão por ai, ensinando, pregando, descansando quando lhes faltam energias, e, principalmente, vivendo a vida eterna pautados no amor ao seu próximo e a sua parceira celestial... Afinal, assim na terra como no céu, ou melhor, nas dimensões! Damião sorriu entusiasmado, achava que todas as almas que alcançassem aquele lugar e o poder que diziam que elas continham somente queriam saber dali para frente em curtir o paraíso, agora sentia o verdadeiro amor dos Criadores. Eles nós deram as escolhas, cabe a nos escolher o caminho! Mas que caminho devo escolher? Será que este homem vai me dar orientação para isto? – Pensou, e, após algum tempo meditando resolveu perguntar: - Mas agora que... Contudo, antes de continuar foi interrompido pelo homem que falou de uma maneira alegre: - Você quer mesmo saber Damião se agora que foi juntamente com seu amigo convidado para participar do Conselho o que os Criadores esperam que você faça? Damião ficou atordoado, ele havia visto um ser poderoso, mas igual aquele homem era impossível, nunca após estar evoluído alguém tinha entrado em sua mente e lido seus pensamentos com tamanha facilidade. O homem lhe lançou um sorriso, e lhe respondeu ainda com o mesmo tom de alegria: - Você já tem tudo o que quiser, aqui chegou por seus méritos, não posso lhe pedir nada, afinal, você sempre foi livre para seguir o seu caminho, e agora não é diferente! Mas se quiser me ajudar e a seus irmãos, serei grato da mesma forma... Damião não esperava aquela resposta, pensava que aquele homem seria mais direto, lhe dando um caminho. Contudo, ao contrário, ele deixou para ele decidir... 179 - Então quer dizer que se eu quiser descer a colina e ficar curtindo a vida eterna eu posso? E mesmo assim poderei participar das reuniões e tudo mais?! – Questionou Damião incrédulo. - Lógico! Você já fez muito a mim e a nossos irmãos. Poderá descansar e desfrutar deste paraíso como bem entender, natural que dentro dos limites éticos, se não retornará imediatamente para uma dimensão inferior ou até mesmo terá que regressar as encarnações curativas da alma e da incapacidade de compreensão de sua insignificância perto do poder do universo. - O homem respondeu sorrindo, mas de forma direta. - Mas porque alguém ao chegar neste nível poderia querer continuar a trabalhar pelo próximo? – Damião foi seco. Na realidade ele não estava realmente questionando nada daquilo, queria era saber a inteligência daquele homem, afinal, estava intrigado para saber até que ponto ele iria ser paciente e manteria aquele discurso de livre arbítrio pleno para seguir qualquer caminho. - Olhe Damião, eu não posso lhe dizer esta resposta, você teria que descobrir por si próprio! Somente posso lhe dizer, que sempre haverá espaço para mais crescimento espiritual, mesmo sendo uma simples alma, uma evoluída, um santo, um anjo, um semideus, e um verdadeiro Deus entre todos, etc... Nunca tem fim, sempre poderá alcançar mais um nível de conhecimento, relacionamento, energia, amor, tudo... - Quer dizer então que o senhor entende que o progresso de nosso ser é infinito? O homem sorriu ainda mais, vendo que Damião começou a entender, então se virou para ele é falou calmamente: - Pode ir agora! Vá desfrutar do paraíso eterno da dimensão sublime! Damião ficou perplexo, nunca imaginaria que aquele homem seria assim tão direto daquele momento para frente. E, Miguel estava somente calado escutando. - Mas tem um problema! E Cosme, Lívia, Ariane e demais espíritos que por tantos anos estiveram em minha jornada, eles também estarão comigo? – Perguntou Damião com certa preocupação. - Afinal eles são extremamente bons para com o próximo. – a conclusão soou quase como um apelo e defesa de seus interesses. O homem, no entanto cerrou às sobrancelhas e lhe disse em um tom mais sério: - Eles também possuem o livre arbítrio, não sou eu ou o Conselho Supremo que determinarão se eles ficam aqui ou não! Além disso, pelo que me consta, muitas das almas que lhe acompanhou em todas às suas jornadas de existência ainda estão encarnados ou em dimensões inferiores! Isto não pode ser mudado! Tudo dependerá deles e de almas mais instruídas que lhes ajudarão... 180 - Mas eu quero ajudá-los a aqui chegar, não somente eles, mas todos! – Gritou Damião, a qual já estava suando de aflição, somente ao pensar em deixar seus companheiros para trás. Para seu espanto o homem que até aquele momento ainda permanecia com a cara fechada soltou uma enorme gargalhada, batendo com as mãos em suas costas, e após um longo tempo sorrindo, falou com ternura: - Sabia que você era merecedor de sentar-se nesta mesa! Agora entende porque nossos pais algumas vezes não são compreendidos por nossos irmãos! Eles querem exatamente o que você quer, ou seja, eles querem ficar juntamente com seus filhos, e por isto esperam e ajudam todos igualmente na medida de suas necessidades e possibilidades de não cometerem qualquer desvantagem! O homem parou, suspirou e prosseguiu: - O objetivo é que todos pensem como você pensou neste momento... Neste dia, não nos preocuparemos em somar, mas em dividir em proporções igualitárias, pautados sempre no amor ao próximo, respeito e carinho! Neste dia, estaremos no paraíso! Mas por enquanto, podemos desfrutar dele, mas vamos estar sempre vazios, uma vez que, enquanto todos não estiverem aqui reunidos sempre nos faltará algo... Damião sorriu, havia recebido em pouco tempo a maior lição de sua vida, pensava que iria saber com quem lidava agindo daquela forma, contudo, percebeu que além de forte, aquele homem era poderoso não somente na energia, mas na sabedoria e poder de argumentação. Então é assim mesmo que funciona a lei geral do universo para se alcançar o verdadeiro paraíso, o qual consiste em um momento em que todos ajudam todos com um único ideal: “evolução”. – Damião pensou com alegria. - Melhor corrigir uma coisa. Afinal, vocês disseram que não havia ninguém na sala, mas havia sim. - O homem disse com alegria. Os dois ficaram confusos, porquanto, tinham certeza que não avistaram nenhuma alma naquele recinto após chegarem. O homem sorriu, sabia que eles não tinham entendido. - Afinal, quando vocês chegaram não viram que eu estava em uma reunião? - Reunião?! O senhor estava era rodeado de animais, achamos que eles estavam somente lhe fazendo companhia. – Disse Damião com cara de espanto. - Animais, você fala daqueles seres como se eles fossem menos significantes do que você Damião! – Respondeu agora o homem não mais sorrindo, mas demonstrando um pouco de preocupação com a consideração de Damião. 181 - Desculpe se fiz transparecer isto, não penso assim, é somente porque me assustei em você dizer reunião, isto denotaria que estariam dialogando, o que é impossível. - Damião percebendo a mudança de rumo da conversa resolveu corrigir seu argumento o mais rapidamente possível. - Como assim impossível? Eu estava conversando com eles sim! – Respondeu o homem agora exibindo novamente o sorriso, sabia que Damião não tinha a intenção de menosprezar os animais, mas queria deixar claro que aquilo era um assunto sério, e que tinha tudo a ver com sua missão. - O senhor conversa com os animais? Mas como? Nunca vi isto! – Interrogou Damião com cara de espanto. Ele ainda olhou para Miguel, o qual somente ergueu os ombros, como se dissesse que não tinha nada a dizer. - Todos os animais são dotados da capacidade de comunicação. Contudo, cada espécie comunica com cada espécie, isto é fato, por isto os humanos acham que somente eles se comunicam. Damião ficou pensando naquilo, realmente era estranho, tinha plena convicção que os animais e outros seres se comunicavam entre eles como os humanos, somente não entendia como aquele homem tinha o poder de conversar com eles e eles entenderem, ou seja, uma alma humana interagir com a de um ser diferente, a ponto de dizer que estavam em reunião. - Certo Damião, se esta é sua dúvida, irei respondê-la. Me desculpe por estar lendo sua mente antes de você formular a pergunta, mas sei que você compreende que não estou fazendo isto para lhe impressionar, ou para lhe retirar sua intimidade do consciente. Isto somente é necessário para ganharmos tempo, e para que eu possa saber sobre suas dúvidas essencialmente, sem acanhamentos. Damião sorriu, aquele homem era realmente muito poderoso. - Olha Damião e Miguel, você conhecem Deus, Criador, Criadores do universo, etc.? – O questionamento soou mais como uma ponte para um diálogo. Mas Miguel decidiu responder quebrando seu silêncio após muito tempo, porquanto, daquele assunto ele entendia: - Tenho a certeza que ele ou eles existem, já tive várias vezes à impressão de estar sendo guiado, etc., mas nunca tive uma conversa com nada desta natureza, e o ser mais poderoso que já tive em minha frente... - Certo! – Disse o homem interrompendo o Arcanjo. Já havia concluído que eles não haviam entendido ainda o que ele queria explicar, por isso decidiu reformular a pergunta: - Me respondam o que é que rege o planeta terra, todo universo e às dimensões? - São vários fatores, químicos, atômicos, etc., é difícil saber, mesmo tendo os sete elementos poder fundamental, eles não são todos, somente no 182 mundo físico, o mundo imaterial é mais complexo... – Desta vez tentou responder Damião ao ver que Miguel havia se calado. – Certo. Não quero detalhes, quero uma resposta direta. – Interrompeu novamente o homem. - Não posso lhe dar uma resposta direta. – Disse Damião, olhando nos olhos do homem e após para Miguel, para ver se ele tinha alguma ideia, ao passo que, já esperava por aquilo, quando por mais uma vez o Arcanjo somente deu de ombros. - No mundo material, os elementos químicos são elementares para a vida, mas existem seres que tornam tudo possível, são desde seres microscópicos para os olhos dos homens, como células, átomos, alguns vírus, fungos, etc., até seres dotados de um tamanho notável, como elefantes, baleias, etc., todos trabalhando para mover o universo material, e da mesma forma ocorre no imaterial, mesmo que de uma forma digamos um pouco diferente. – O homem decidiu iniciar sua posição. - Certo, mas o que isto tem a ver com os Criadores? – Questionou Miguel para alívio de Damião que já estava ficando irritado em ser o único a ficar questionando, como se fosse o mais interessado de uma classe ou até mesmo o mais burro. - Simplesmente tudo! – Respondeu o homem sem parafrasear. Como você tornou-se Arcanjo? - Evolui da condição humana desde os primórdios da humanidade até ser contemplado com dons, não me considero diferente dos outros, tenho até mais responsabilidades, mas adoro. – Miguel respondeu analisando Damião que ficou surpreso em saber da história do amigo. - E quando foi sua passagem pela terra? – O homem queria saber mais. - Foi há muito tempo, na chamada era mitológica. Depois voltei algumas vezes para ajudar minha amada Serena a evoluir a qualidade de Anjo. - Nossa, então quer dizer que você não foi criado como Arcanjo? – Damião estava tilintando de emoção em ouvir aquela história. - Não, fui uma das primeiras almas a serem criadas após uma era que eu não conhecia, não me lembro da época, mas nos primórdios já estive em outros mundos no plano terrestre. - Como assim outros mundos? – Tornou Damião evidenciando sua curiosidade agora com a vida do amigo. - Creio que Miguel já explicou demais para o tempo de que temos, além disso, somente queria fazer um ponto com está pergunta, não uma estrada de história. – O homem foi direto. 183 Miguel pigarreou, tinha se empolgado em contar sua história, não podia contá-la, mas como aquele homem questionou pensou que lhe seria permitido. Por isso resolveu retornar a pergunta que havia lhe sido dirigida antes de ter desvirtuado a conversa: - Como assim tudo que o senhor disse tem sentido com os Criadores? Afinal, tem que haver uma resposta direta, mais explicativa! - É mesmo, por gentileza seja mais claro. – Completou Damião, já demonstrando estar impaciente com aquele jogo de saber e descobrir. - Todos os homens encarnados e desencarnados dizem não conhecerem Deus. Contudo, se esqueceram de que se somos formados de sua essência, logo somos ele ou eles. E, indo mais além, se tudo o que é descende desta mesma essência, então, nos alimentamos dele, razão pela qual, em suma, ele é tudo e todos. - Certo, e os animais? – Damião estava se esforçando. - Os animais e outros seres são uma parte tão importante neste ciclo da vida, que verdadeiramente são como o espelho de Deus. Neles podemos ver que seguem ciclos para preparar a vida em todos os espaços do universo. - Me desculpe, mais estes ciclos consistiria em que? – Agora foi Miguel que questionou. - Quando um homem encarnado come um alimento, carne, etc., ele involuntariamente encontra-se incorporando nutrientes e demais essências que seu corpo físico necessita, então, em suma, o que ele se alimenta ou é inserido em seu corpo é logo inserido ao seu ser imaterial. E, assim, ocorre com o corpo imaterial, que mesmo não tendo um involucro físico, necessita de energia e em suma se alimenta desta energia que se encontra ao seu redor gerada por seres em sua essência invisíveis aos seus olhos. Assim, neste ciclo, podemos considerar que aquele que proporciona a vida, é, portando, a nossa razão de existir. Razão pela qual, os animais e demais seres, são em essência verdadeiros Deuses, porquanto, possibilitam que se viva materialmente e imaterialmente, desta forma, são as partes mais puras dos Criadores. Damião e Miguel estavam boquiabertos, nunca em suas existências haviam parado para pensar em tamanha verdade, em essência, a regência do universo era dotada de uma capacidade de criação e regeneração incompreensível, mas tudo, exatamente tudo, tinha uma essência que inexplicavelmente trabalhava misteriosamente em prol da vida, tanto material quanto imaterial. Logo, os componentes deste verdadeiro motor do universo eram os seres que faziam tal ciclo, como animais e demais seres desta natureza como árvores, fungos, bactérias, etc., os quais evoluíam e se transformavam no decorrer das necessidades de adequação da regência do universo, logo, eram verdadeiramente a mais pura essência do universo, fonte da existência e realmente um espelho do verdadeiro Criador. Ao perceber suas expressões de espanto o homem decidiu arrematar: 184 - Vejo que finalmente entenderam, assim... - Espere! – Interrompeu Damião. – Somente me responda uma pergunta. Porque estava reunido com estes seres antes de chegarmos? - Porque eles terão uma missão essencial na terra, são lideres de algo que terá que acontecer. Mas não me pergunte o que, porquanto, não posso lhes dizer. – O homem foi direto. Inesperadamente, quando o homem esperava receber mais perguntas, Damião simplesmente voltou-se dizendo: - Estou a sua disposição, pode falar-me como poderei ajudar a todos! Que sacrificarei o meu ser pelo meu próximo... O homem sorriu alegremente, ponderando: - Não somente vai ajudar a todos, como a si mesmo, afinal, é dando que recebemos, e ajudando é que somos ajudados, e assim por diante... 185 CAPÍTULO 44 Berlim – Alemanha, 1982 Estela já estava novamente deitada em sua cama, seu pai havia levado sozinho à mesma desacordada e lhe dado um banho e trocado suas vestes juntamente com a roupa de cama ensanguentada, foi quando percebeu que ela mexia os dedos dos pés, e foi tomado por uma nova emoção, desta vez de alegria. Pelo menos ele cumpriu com o prometido... – Pensou. ****** Distante dali, Expedito estava tão perplexo que não conseguia se mexer, por isso ficou somente olhando com os olhos totalmente esbugalhados. - E ai, acha que poderei vencer Lúcifer com este exército?! – Disse Nimrod ao ver que o novo amigo estava perturbado. O interior da caverna era enorme, e ela se adentrava ainda mais, porquanto, parecia haver outras cavernas interligadas, onde seus olhos não conseguiam enxergar. Contudo, o que mais assustava era a quantidade de demônios que ali se encontravam, eles estavam conversando, outros sorrindo, alguns jogando algo que ele concluiu serem cartas, devendo ter no mínimo uns quatro mil ou mais, diante do fato de que a caverna se estendia ainda mais. - Não vai falar nada? – Nimrod já estava ficando impaciente com o espanto de Expedito. - Você está louco? – Foi à única coisa que ele conseguiu pronunciar. - Como assim louco?! – Ele evidenciou seu nervosismo com o questionamento. - Você está cuidando de um exército de demônios, e ainda pergunta o que acho? – Agora o estado de Expedito havia passado de perplexidade para indignação. - Não entendo o que quer dizer? - Não entende?... - Não mesmo! – ele berrou. – Estes homens e mulheres foram por mim escolhidos durante todos estes anos em que aqui estive. Alguns deles me ajudaram, eu os ajudei, os acolhi em minha casa, doutrinei para que 186 retornassem a um estado pelo menos de lutarem por seus ideais, e, principalmente, eles são fieis a uma causa. - Que causa seria esta? – Expedito não escondia sua total indignação. - Tomar o inferno de Lúcifer! – Nimrod foi direto. - O que? Você deve estar louco! – a cara de espanto quase que se transformou em medo com a revelação. – Isso é impossível. - Porque tem tanta certeza, afinal, nunca ninguém tentou. – A resposta veio em tom de deboche. - Simplesmente, porquanto, não sei se você sabe, lá fora devem ter milhares, talvez bilhares de demônios fiéis ao seu oponente! - É por isso que precisarei de mais ajuda. – Ele agora falou com seriedade. - Vai tentar recrutar mais demônios?! – Agora foi Expedito quem usou a ironia. - Não, usarei o seu exército para completar o meu! – Ele falou agora com uma voz sinistra. Os pensamentos de Expedito quase fritaram sua cabeça, afinal, aquilo lhe soou mais como uma ameaça. Os demônios que estavam mais próximo da entrada apenas olhavam a discussão, nunca ousariam interferir em assuntos de seu mestre Nimrod. Este desgraçado me atraiu aqui, e agora certamente ira tentar alguma coisa! E creio que será para tomar literalmente o meu exército. – Pensou, já sacando sua arma... 187 CAPÍTULO 45 Londres – Inglaterra, 1982 - Porque pediu para aguardar, já não temos nosso combinado? – Questionou Charles sentando-se novamente, analisando ainda se não havia ficado nenhum dos agentes na grande sala. - Temos um acordo em relação a nossa amizade, e, principalmente, o mesmo foi importante para você aceitar o trabalho. – Respondeu Arthur sorrindo. - Então quer dizer que não tem a informação que desejo? – Exaltou. – Você não poderia ter feito isto. Arthur ergueu as mãos em sinal de paz, tentando ponderar: - Acalme-se, não foi isso que quis dizer... – Abaixou as mãos vagarosamente. – Somente disse que esta informação será lhe dada como sinal de retribuição de nossa amizade, não de valores financeiros. - Então quer dizer que o senhor além de remunerar meus agentes ainda vai pagar pelos serviços de minha empresa? – Charles questionou agora em tom de voz mais ameno. - Lógico, afinal, creio que o velho Frederik é totalmente avesso a dar cortesias. Charles ficou pasmo. Como será que ele descobriu Frederik? – Questionou-se em pensamento. Após olhou para a sala, pensou ainda naquele local, e concluiu o obvio: Seria mais sensato pensar como ele não poderia saber dele! Mas mesmo assim ele tinha que perguntar: - De onde conhece Frederik? - Digamos que somos velhos amigos. – A resposta veio curta e seca, diferente do que esperava Charles. - Não quer falar sobre ele? – Tentou Charles, vendo que a pergunta tinha misteriosamente deixado Arthur um pouco incomodado, apesar dele já saber que seria questionado sobre sua ligação com o velho. - Não! – Novamente veio seca e agora ríspida a resposta. - Por quê? – Charles insistiu. - Simplesmente porque não tenho o costume de falar de meus amigos. Como nunca vou falar de minha relação com você para ninguém, também não gosto de falar das demais, mesmo para demais amigos, porque 188 todo amigo tem outro amigo, então em questão de tempo planos são desfeitos por puro descuido e confianças hipócritas. - Como você poderia me considerar um amigo, afinal, mal nos conhecemos? - Já lhe conheço há algum tempo Charles, você não sabe, mas sempre estive presente em sua vida. Charles ficou perplexo, aquele senhor era realmente um mistério, e ele se revelava a cada momento ser ainda mais emblemático, mas tinha que insistir: - Como assim? Arthur levantou-se, e quando Charles achou que ele iria dar a resposta, ele fez o inverso: - Quanto à outra pessoa pagou a sua empresa pelo serviço que iria fazer contra mim? - Mas... - Não tem “mas” Charles! – Ele exaltou o tom de voz. – Estamos aqui para tratar de negócios neste momento, tenho que fechar com vocês todos para que meus assistentes encontrem uma forma de colocar vocês em folhas de pagamentos sem serem notados. Ele não dirá mais nada, e creio que não seja melhor insistir, afinal, ele é muito impaciente. – Concluiu em pensamento sabiamente, e já dando uma resposta rápida: - Eles me pagariam um milhão. - Mas você ainda teria despesas com agentes e demais, assim, seu verdadeiro lucro seria bem menor do que está quantia. – Arthur foi categórico, e mostrou que aquela negociação seria bem diferente do que teve com os agentes. Entrando no jogo Charles concluiu que teria que endurecer. - Mas o serviço aqui é quase que em tempo integral, minha empresa foi totalmente transferida para este local. - O qual vocês não teriam nunca em todas as suas existências. – Arthur voltou a retrucar agressivamente, mostrando ser um home de negócio. - Mas terei que deixar quase que todo o meu contingente de agentes a sua exclusividade, assim, os lucros serão reduzidos drasticamente. - Mas eu irei pagá-los por isto, então, sua empresa não terá mais estes custos. – Tornou Arthur agora se voltando para Charles demonstrando um largo sorrindo. - Porque o sorriso irônico? 189 - Porque você vê agora o tanto que foi idiota meu querido Charles. Você deixou que eu negocia-se com sua equipe, eu simplesmente os conquistei. – Ele sorriu ainda mais, bateu com a mão sobre a mesa inclinando o corpo para olhar Charles mais de perto. – Acha que eles irão mudar de ideia caso não combinemos nada. – A resposta veio como uma bomba jogada no colo de Charles. Não pode ser, ele me enganou? Este cretino me enganou... Vai pegar toda a minha equipe sem me dar nada. Isto não ficará assim. – Seus pensamentos eram frenéticos, e seus olhos deixavam transparecer sua preocupação repentina, bem como, uma gota de suor que escapou de sua testa. - Pode ficar tranquilo que não vou fazer isto com você! – Apaziguou Arthur agora batendo no ombro de Charles como um pai que educa o seu filho lhe dando uma lição, e, aquilo era sim uma grande lição. - Como assim, você está brincando? - Não! Estou lhe ensinando que se você colocar seus sentimentos antes da razão, vai acabar sem nada... – Fez uma pausa olhando para a cara de Charles, o qual expressava agora um olhar de desentendimento com o rumo da conversa. – Você aceitou tudo somente pensando em você. Em momento algum pensou na sua equipe, na empresa e nem no Frederik. - Pensei sim, eles... Mas foi interrompido por Arthur que gritou: - Não minta para você mesmo Charles! Acha que alguém racional teria feito tudo que você fez em questão de um dia? Mudaria o rumo de suas operações somente com promessas? Charles abaixou a cabeça, realmente havia agido com o coração antes da razão, mas ainda tentou argumentar: - Mas Frederik... - Frederik é passado meu caro Charles! O futuro é você. Afinal estes homens respeitam mais a você do que a Frederik, porque eles sabem que você daria a vida por eles... – Chegou bem perto do rosto de Charles e colocou as duas mãos em sua face, como que clamando por concentração no que tinha a dizer. - Mas se hoje eu não tivesse trago sua equipe de volta, você talvez os teria perdido para sempre, afinal, eles são espiões, e, ao que tudo indica não tem qualquer sentimento em matar, aniquilar ou fazer qualquer coisa para manter a dignidade de seus países, mas, agora, eles não defendem mais a sua pátria, e, desta forma, somente buscam o dinheiro ou o vício pela adrenalina. Portanto, se não são remunerados dignamente vão aceitar outro trabalho, quem sabe até contra nós mesmos. Ao perceber que Charles estava atordoado com aquela resposta ele sorriu concluindo: 190 - Mas acima de tudo, eles têm que ter confiança em você! Eles têm que sentir que você pensou neles, por isto deixei que pensassem que você havia pensado neles quando aceitou o emprego. Charles estava com os olhos fixos nos de Arthur, e seus pensamentos não paravam, principalmente, o mais obvio deles: Eu realmente falhei neste ponto... Vendo que Charles havia entendido, Arthur tirou suas mãos de seu rosto. - Me desculpe... Mas antes que terminasse Arthur interveio novamente: - Não se desculpe. Vou pagar dois milhões por este serviço, este vai ser um montante para que Frederik fique calmo, e, ainda, depois quero acertar um plus que vamos combinar na medida em que sentirmos que a nossa união está dando certo. Também, quero que você saiba que poderá cumprir para com todos os trabalhos que já estavam fechados anteriormente, inclusive, usando os recursos deste local. Depois quero que pegue alguns serviços por fora, principalmente, para não perder sua carteira de clientes, e, também, para que os agentes não achem que retornaram a um serviço público. - Sim senhor, e fico muito grato por tudo. – Charles respondeu levantando-se e indo de encontro a Arthur para lhe dar um abraço, estava muito emocionado como ele havia conduzido tudo, se mostrou o pai que ele nunca pôde contar, pelo menos ao que ele pensava. - Não venha com abraços. – Arthur disse dando um pulo para trás. – Odeio que fiquem me encostando. - Me desculpe. – Disse Charles ao parar subitamente totalmente envergonhado. - Deixe de ser bobo meu filho, claro que pode vir aqui me dar um abraço. – Disse Arthur agora sorrindo e puxando Charles ao seu encontro, dando um enorme e apertado abraço. – Mas não se acostume. – Ele disse sorrindo. No momento em que estavam abraçados, pela primeira vez em anos Charles sentiu que era amado, mesmo que não conhecesse ainda quase nada de Arthur, ele, em apenas pouco tempo, havia lhe proporcionado ensinamentos, cuidados e principalmente carinho, o que ele nunca teve, afinal, Frederik era muito gentil com ele, mas nem de longe lembrava uma figura paterna. - Agora quero que vá com seus homens até minha outra sala, lá estará um tatuador de minha confiança, ele vai fazer uma tatuagem em todos, após, podem cobrir ela com outra do gosto de vocês. Charles ficou espantado, o que era aquilo? Tatuar! Isto seria ridículo. 191 Vendo a cara de espanto de Charles o velho resolveu explicar: - Sei que é estranho, mas vamos lutar contra forças muito poderosas, assim, não podemos nos preparar somente para ataques deste mundo, mas temos que nos preparar para tudo o que está por vir, e isto inclui vocês fecharem o corpo contra possessões, usarem amuletos que eu vou lhes proporcionar como forma de presente, para que seus homens não desconfiem. - O senhor havia deixado isto antes no ar, e eu não questionei, mas acha mesmo que demônios e isto tudo existe? - Charles, não vou gastar conversa com você sobre este assunto, porque creio que mais em breve do que você pensa terá a certeza que isto é mais real do que você imaginava. – Arthur respondeu sorrindo, mas a realidade era que ele queria prepará-lo sem assustá-lo. - Sim, se o senhor está pedindo. Afinal, sempre quis fazer uma tatuagem. Mas e se algum dos homens não quiser... - Charles não seja bobo, eles não largarão de ganhar tudo o que está em jogo por causa de uma tatuagem! - Tenho que concordar com o senhor, nunca vi eles tão felizes em suas vidas. Arthur fechou o cenho e voltou a se sentar. - O que foi senhor? – Questionou Charles em tom de preocupação sentando-se ao seu lado. - Não pedi para Dominik ficar aqui por acaso. - Como assim? - De todos, o único que eu não tenho nenhuma confiança é ele. – Respondeu olhando para Charles com cara de desânimo. - Mas senhor, se fosse assim era melhor ter dispensado ele ao invés de colocá-lo em um cargo daqueles. - Isto foi somente para checar aonde ele poderia chegar, e, ainda, para deixar ele aqui dentro. - Não entendo, mas aqui é mais perigoso, ele terá acesso a dados, etc. - Não seja idiota Charles, tenho total controle de tudo aqui, tenho funcionários de confiança vigiando cada passo de cada um neste complexo, e, eles receberão ordens expressas para ficarem de olho em Dominik, eu somente dei corda e uma isca para ver no que ele está metido, ou, quem sabe se minhas suspeitas se confirmarem, descobrir para quem ele realmente trabalha. 192 - Me desculpe, mas ele trabalha para mim há muitos anos, e seu irmão também está na equipe, só que atualmente encontra-se em uma missão. – Charles relutava ainda a aceitar aquilo. - Não sei meu caro Charles, mas creio que está enganado em relação a este rapaz, mas somente o tempo dirá. – Levantou-se estendendo a mão direita. – Tenho uma reunião em breve, mas quero que saiba que estamos juntos em tudo, e, em breve saberá o que anseia. Charles cumprimentou Arthur e saiu da sala somente com um pensamento: Seria maravilhoso se ele fosse o meu pai! Mas ele ainda teria muitas surpresas antes de descobrir a verdade... 193 CAPÍTULO 46 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Damião sorriu, nunca havia visto aquele homem, mas ele era sábio como nunca havia visto antes, precisava perguntar: - Você é o Criador, o todo poderoso do universo? Ou é um deles? O homem já esperava por esta pergunta. Encostou a mão no ombro de Damião, e falou suavemente: - Não! Nosso pai ou pais como venho lhe dizendo, se assemelha ou assemelham a nós. Contudo, mesmo que se passássemos a eternidade evoluindo não alcançaríamos a imensidão do amor que ele ou eles contêm! Ele ou eles não apenas nos criaram, mas acima de tudo nos deram opções, liberdade até que não interfira na liberdade do próximo, amor, a existência eterna, tudo... Em minha última passagem pelo plano terrestre tentei ensinar sobre ele como um ser único, simplesmente para que presenciassem o seu amor, e, principalmente, para pararem de idolatrar vários seres, em sua maioria Deuses ou seres mais evoluídos que mesmo ajudando ainda tinham suas vaidades. Damião então com cara de mais dúvida ainda fez outro questionamento: - Porque você fala ele ou eles? - Porque eu os ouço, porém não os vejo, acredito, porém não questiono! Por esta razão eu não posso afirmar para você que seja um, ou dois, ou muitos... Somente, que tenho a plena certeza de sua existência ou suas existências em cada pedaço de meu ser. Mas cada um é livre para crer no que entender e lhe for pertinente. E, é por está razão que não afirmo qualquer número. – Respondeu o homem sorrindo como um pai que ensina ao filho a dizer as primeiras palavras. - Então é você que manda em tudo? Como o senhor disse o Criador ou Criadores não fazem nada? Afinal, pelo que me consta eles somente criaram e orientam, não regem! O homem sorriu mais uma vez, era evidente que Damião evoluiu não por acaso, era curioso e buscava respostas o tempo todo, mas ele não tinha tempo, o corpo dele estava iniciando um processo de perca total da ligação da alma, ele não poderia mais esperar, então lhe disse tentando não demonstrar que estava apressado: - Damião, não posso lhe dar agora todas as respostas, nem as tenho por completo, por isto digo meu amigo que você terá que descobri-las por si próprio. Somente posso lhe garantir que não mando em nada, somente tento ajudar ao máximo que todos evoluam para em breve estarem aqui ao nosso lado. Fez uma pausa e depois de um forte suspiro continuou: 194 - Aqueles que me procuram lhes darei às mãos, se não, lhes oferecerei ajuda... E sobre o Criador ou Criadores não fazerem nada, acho que este é o maior absurdo que já falou em toda sua existência, afinal de contas, só de eles terem criado o universo e inclusive você, já é grande coisa! Não tendo, portanto, que ser questionado ou questionados, somente respeitados! Damião abaixou a cabeça evidenciando a tamanha vergonha que naquele momento tomou conta de seu ser, não tinha a intenção que suas palavras tomassem o tom de questionamento, somente queria respostas, e aquele homem parecia ter todas. – Me desculpe... – Falou após algum tempo com voz chorosa. O homem continuava com a mão em seu ombro, apertou ela bem forte, e falou pacientemente, novamente como aquele pai ou mãe ensinando ao filho os princípios basilares da vida: - Não precisa se desculpar! É natural de até mesmo os evoluídos espíritos questionarem e quererem saber da onde vieram e para onde vão, ou quem são seu pais, como foram criados, etc., tudo porque afinal ele ou eles são realmente seus pais. Por isto vou lhe dar uma dica, quando quiser conversar com ele ou eles ou senti-los, encoste suas mãos em qualquer lugar, seja até em sua pele, e tente se comunicar, afinal, ele ou eles estão em todos os lugares, e tudo veem e ouvem. E está sua busca por respostas não é de questionamentos banais, é a busca de um filho que anseia em encontrar seus pais, por isto é a atitude mais bonita que se pode esperar de um ser. Damião assentiu com a cabeça, havia entendido, não respondeu falando, porque em sua cabeça a dúvida agora era quem era aquele ser tão evoluído que com ele dialogava. - Outra coisa! – Falou o homem agora em tom mais serio. – Tenho que lhe pedir que regresse a terra. Damião ficou surpreso, até Miguel que até aquele momento estava quieto ficou espantado, e ameaçou dizer algo, mas o amigo saiu na frente: - Mas eu não posso voltar para a terra agora, tenho que esperar algum tempo em descanso, porque se não minha alma poderá sofrer as consequências que todos sabemos. Além disso, não tenho uma família traçada para me receber. O homem olhou no fundo de seus olhos e lhe respondeu em tom autoritário: - Mais quem falou em voltar em forma de espírito ou nascimento, preciso que você volte ao seu mesmo corpo que lhe abrigava! Damião sorriu alegremente, aquilo era hilário, virou-se ao homem é falou com um tom de ironia: - Meu senhor, você é muito sábio, e também pelo que pude notar muito poderoso, mais até hoje em toda a minha existência espiritual, em qualquer dimensão pelas quais eu passei, e quero lhe dizer que não foram poucas! Somente ouvi falar de uma alma que conseguiu fazer uma pessoa 195 voltar à vida material que não fosse pelo processo de encarnação ou pelas trevas que utilizam a possessão. Miguel ficou calado, não disse nada desde que sentou, somente observava Damião, ele era um Arcanjo e estava acostumado a seguir ordens sem questionar, por isto se interessava tanto pelos questionamentos do amigo, era claro que a alma humana era diferente de todos os seres, eles tinham sede de respostas, e isto o impressionava, afinal, já havia perdido a tempo está sede por respostas. O homem ficou quieto, seu rosto não transparecia qualquer emoção, então perguntou a Damião calmamente: - Quem seria este homem que conseguiu ressuscitar alguém? - Jesus lógico! Respondeu Damião prontamente, e prosseguindo: - Ele não só ressuscitou Lazaro, como também ocorreu o mesmo com ele... O senhor não acompanhou deste local tais acontecimentos ou não ouviu ao menos falarem disto na dimensão sublime? O fato é bem notório, mas ninguém o viu nesta dimensão sublime após regressar da dimensão material, dizem que ele se encontra com os Criadores em pessoa... O homem virou-se para ele com um sorriso, falando: - Lógico que conheço toda está história, posso dizer melhor do que ninguém, porque eu a vivi!... 196 CAPÍTULO 47 Vilarejo na França, 1982 O corpo de Damião encontrava-se na soleira da porta da casa da recém-nascida Joana, já estava coberto pela neve que se formou novamente após o derretimento provocado pelo Arcanjo atacando Serfalos. A neve que se acumulava estava totalmente avermelhada devido a grande quantidade de sangue. Dentro da humilde casa, João e Lourdes estavam conversando com as crianças, explicando que não deveriam contar a ninguém o que ocorreu naquele dia! - Isto não é mentir crianças, temos que ser fortes! Sua irmã recémnascida terá que ter muita ajuda, tanto nossa quanto de vocês que são mais velhos. – Falavam calmamente. As três crianças assentiram com a cabeça. O mais velho ainda estava com Joana nos braços, ele não conseguia largá-la, parecia que aquele bebê emanava uma paz a todos, ela era iluminada, e as crianças sentiam isto! Além disso, o garoto se lembrava das palavras de Damião para cuidar dela. - Pode deixar mamãe e papai, vamos cuidar dela. – Falou o irmão mais velho Pierre. João levantou-se chamando Lourdes em um canto. - Tenho que chamar alguns amigos e falar que Damião foi atacado por algum animal... A mulher não gostava de mentir, mas às pessoas naquela região amavam muito aquele homem, não sabiam sequer se eles iriam acreditar nesta história, corriam riscos de serem linchados, afinal, quem poderia explicar uma casa cheia de sangue com um corpo. - Certo! Mas antes temos que limpar a casa, do contrário seremos o alvo das atenções. João assentiu e foi para a cozinha buscar panos e água para iniciarem a limpeza, enquanto a mulher foi dar banho nas crianças, ele estava extremamente feliz por recuperar sua memória infinita cerebral, e, principalmente, de estar ao lado daquela alma tão boa novamente. 197 CAPÍTULO 48 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Damião estava pensativo. Como assim, este ser viveu a história de Jesus, será que ele estava encarnado e presenciou tudo? Será que é um dos discípulos. – Pensou! Nisto notou que as mãos do homem ainda estavam em seus ombros, elas emanavam luz, como seu corpo, olhou para elas e se petrificou... O que viu desatinou ainda mais sua consciência! Na mão esquerda do homem havia um buraco, então virou rapidamente a cabeça ao ombro direito e não acreditou, eram marcas de cravos... Neste exato momento somente teve forças para afirmar com voz rouca já segurando a emoção e o choro que em segundos veio a lhe consumir: - Jesus?... O homem se levantou, levantando ao mesmo tempo Damião pelos ombros, uma vez que seu corpo estava ainda paralisado com a revelação. - Sou sim... Jesus falou com uma voz meiga e suave, mas dura e concisa, não dispunha de tempo, por isto não esperou nenhuma resposta e continuou a falar: - Entenda meu irmão, que não quero que perca seu tempo me glorificando. Que é o que estava prestes a fazer! Preciso que retorne imediatamente ao seu corpo, Miguel ficará aqui comigo, e lhe explicarei tudo! Ao voltar, não olhe para trás, e não converse com ninguém nem mesmo com Lourdes e João! Não temos tempo a perder com explicações. Por isto siga ao porto e pegue a primeira embarcação que sair para o Brasil. Ele apertou ainda mais suas grandes mãos no ombro de Damião, terminando as orientações: – Estarei sempre com você, e tudo que precisar peça ao Criador, que em breve ficarei sabendo. Saiba que Miguel também lhe acompanhará de perto, ou qualquer outro irmão de confiança. Chegando ao Brasil procure uma Igreja que vai lhe ser revelada em um sonho, lá encontrará um padre que vai ver neste mesmo sonho, ele estará lhe esperando no porto e se não tiver vá à igreja, ele lhe aceitará imediatamente como padre e professor na faculdade. - Mas senhor... – conteve-se. – Eu nunca lecionei! – Concluiu com um tom de preocupação. - Não se preocupe, terá tempo de aprender, o Conselho lhe concederá alguns poderes a mais dos que já recebeu após a reencarnação, na medida em que vier a precisar. E como a barreira já estará quebrada poderá 198 lecionar filosofia e outras matérias que já aprendeu em uma de suas vidas passadas, já que tem algum conhecimento em leis. - Mas quando voltarei a conversar com o senhor? - Somente vou poder vê-lo por enquanto em sonhos! Um amigo meu vai lhe procurar. Não duvide dele, ele vai se identificar por Senhor da Luz, porquanto, é muito perigoso usar o nome que todos o ficaram conhecendo. Damião assentiu com a cabeça, dizendo: - Pode ficar tranquilo senhor, eu já o conheço. E tenho muita confiança nele, mesmo com tudo que aconteceu com... Mas foi interrompido por Jesus que abriu um enorme sorriso e gesticulou para parar, não havia sido informado que Damião e o Senhor da Luz já se conheciam. Aquilo iria facilitar muito às coisas, e iria ganhar tempo, o que mais precisavam no momento... Neste momento Jesus saiu de perto da mesa, ao passo que ambos ficaram observando seus passos. - Miguel fique longe de nós, por favor! – Pediu ao Arcanjo, o qual obedeceu sem titubear. Jesus que segurava os braços de Damião lhe deu um grande abraço. - Sei que é um homem de fé meu amigo, mas quero que você saiba que não é apenas uma referência para ser seguida, mas uma alma a ser idolatrada por sua coragem e sabedoria, por isto sou eu que me sinto honrado em estar ao seu lado. Damião lhe lançou um olhar de admiração, ao passo que Jesus mesmo não dispondo de tempo, resolveu responder a sua maior dúvida, já que tal resposta poderia ajudar o amigo em algumas coisas: - Sobre a minha aparência, saiba que não uso barba e cabelo grande unicamente porque ultimamente resolvi mudar depois de muita insistência de alguns amigos do Conselho, principalmente Buda que dizia que aquilo era desconfortável e difícil de cuidar. – Deu um suspiro sorrindo em seguida. – Se fosse por ele eu estaria careca! – Deu agora uma gargalhada. – Mas como não gosto de ser inflexível resolvi cortar para ver como ficava... – colocou uma das mãos no canto da boca, dizendo baixinho, como se não quisesse que alguém escutasse. – E saiba que no cabelo eu não gostei muito, mas a barba é outra coisa, parece que minha pele é mais macia e coça menos, acho que pelo menos na barba vou deixar desta forma por algum tempo, mas tenho que manter segredo porque se Buda descobrir estou frito, afinal, havia dito a ele que se não gostasse iria gastar umas boas energias lutando com ele para fazer nascer cabelo naquela careca feia dele! – Terminou dando mais uma grande gargalhada. 199 Damião sorriu, nunca pensava que Buda fazia parte do chamado Conselho Supremo, e nem que seus membros dispunham de tanta amizade entre eles. Aquilo era realmente fantástico. Sorrindo Jesus deu-lhe mais um abraço beijando sua face direita, e lhe desejando boa sorte, após colocou as duas mãos em sua cabeça, rezou um pai nosso, após proferiu as seguintes palavras: - Necessito que esta alma pura volte ao seu corpo terreno, ele ainda tem uma importante missão a cumprir, por seu amor, e glória, permita que esta ressurreição seja consumada... Antes de acabar de dizer as últimas palavras à alma de Damião foi sumindo aos poucos como que levada pelo vento. Miguel ficou espantado, quando à alma do amigo havia desaparecido totalmente, Jesus foi em direção ao Arcanjo, pegou suavemente em seus ombros, falando: - Vamos, agora tenho que lhe guiar! Não temos muito tempo antes de eu partir, por isto terá que aprender o que vou lhe ensinar muito depressa, uma vez que não apenas os humanos necessitam, mas todo o universo carece de sua força. Após, seguiram para a grande mesa... 200 CAPÍTULO 49 Vilarejo na França, 1982 De dentro da neve foi saindo vários feixes de luz, como se houvessem acendido um grande farol que iluminava toda parte interior da neve e saia pelas frestas devido sua enorme intensidade. Com o calor gerado pela luz a neve começou imediatamente a derreter, e em poucos segundos do início do processo de derretimento começou a surgir uma mão, após todo corpo de Damião estava sob uma grama queimada, a neve tinha derretido totalmente e era possível vislumbrar que de seu corpo saia uma grande fumaça devido ao calor que dele emanava ainda derretendo a neve que estava mais longe e evaporando muita água. Seus olhos se reviravam, não por frio, mas pela sensação inexplicável que ele sentia naquele momento, sua mente estava toda embaralhada, não conseguindo firmar o pensamento em nada, e não tinha domínio sobre mãos e pernas. Em síntese, o que ocorria era que quando nascemos, o espírito desce ao corpo do bebê três meses após o início de sua formação na barriga da mãe, e nos seis meses seguintes evoluí juntamente com o corpo, fazendo um equilíbrio e formação entre alma e matéria. Contudo, com Damião era muito diferente, um acontecimento anômalo, que somente se tem poucos relatos verídicos em todo o mundo, e apenas um deles foi retratado em um livro difundido por gerações, promovido por uma única pessoa que ainda se mostrava capaz de concluí-lo sem deixar qualquer sequela. Se o espírito de Damião tivesse encarnado em um corpo de outra pessoa viva, isto seria fácil, afinal, possuir o corpo alheio desprotegido era tarefa tão simples que vários demônios neste mesmo momento o fazem. Só que por não ter muito domínio ou destreza muitos acabam por destruir somente a vida da pessoa que possuem, com doença e outros males. Por isto o caso de Damião era raro, ele estava voltando para um corpo sem qualquer vida, era uma ressurreição, que segundo relatos históricos somente teria ocorrido com Lazaro no decorrer dos tempos. Isto não era impossível, pois Jesus já tinha provado o contrário, contudo, devido a ninguém ter o poder para fazê-lo ocorrer, muitos espíritos, inclusive, os demônios já haviam desistido de questionar esta possibilidade, e aquilo havia virado lenda em todas as dimensões. Ocorre que muitos não se perguntaram por que Jesus ressuscitou Lazaro, uma coisa era certa: não foi por vaidade, para mostrar seu poder, ou por acaso, o que realmente ocorreu era que ele ainda tinha uma missão muito importante, o mesmo caso de Damião naquele momento. Assim, o que estava ocorrendo era que seu espírito estava de uma forma inexplicável e maravilhosa voltando ao seu corpo que já se encontrava logicamente em estágio de início de decomposição da matéria. De tal modo 201 que o espírito tentava iniciar uma interação com o corpo formando o canal que levaria seis meses em apenas alguns segundos... Portanto, os ajustes de memória da alma com o cérebro, estavam sendo feitos em uma velocidade até mesmo perigosa, e, ainda, tinha o fato que Damião era tão evoluído que não possuía mais a barreira, deste modo o espírito estava equilibrando informações suficientes no cérebro do corpo, para não sobrecarregá-lo, quase a mesma coisa que Damião havia feito com os pais da pequena Joana. Após três minutos o corpo parou de tremer, o sangue se apresentava somente nas roupas, e seu corpo estava limpo devido à grande transpiração pela qual passou. Seus olhos pararam de tentar se revirar para cima, e se fecharam lentamente, e após poucos segundos eles se abriram novamente. Suas pupilas estavam dilatadas, ele se levantou calmamente, sem sentir qualquer dor, somente uma sede enorme lhe afligia, certamente devida à transpiração excessiva. Colocou uma das mãos na frente dos olhos, a claridade ainda o atordoava devido às pupilas ainda estarem muito dilatadas, mas seus pensamentos já se encontravam perfeitamente e assustadoramente em ordem. - Que sede! Pena que não posso entrar na casa para me despedir, isto iria me aliviar não somente a consciência, mas acima de tudo minha sede... – Falou para si mesmo ainda terminando de se levantar. Ele ficou parado por algum tempo com as mãos nos olhos, tentando firmar o olhar, o qual ainda estava muito turvo, mas aos poucos este sentido também foi voltando ao normal. Ao conseguir olhar para o chão viu muita água aos seus pés. – Não vou tomar está água, afinal ela encontra-se muito suja com sangue e sabe-se lá mais o que! – Pensou sorrindo para si mesmo. Olhou para as árvores, e após escrever algo com um pouco do sangue que estava mais coagulado no chão, adentrou rapidamente na floresta, afinal, tinha que conseguir chegar rapidamente ao porto, como havia sido ordenado. Dentro da casa, Lourdes e João tinham acabado de colocar Joana no pequeno e humilde berço de madeira, seus outros filhos estavam na cozinha, cada um com um grande pedaço de pão e uma laranja, comiam freneticamente, estavam realmente famintos devido aos acontecimentos. - Fiquem ai meus filhos, e olhem a sua irmã, somente vou avisar o pessoal da vila da morte do senhor Damião. E não incomodem sua mãe, ela está muito cansada devido a ter dado a luz e aos eventos que hoje aqui se sucederam, os quais, conforme já combinamos, não vamos mais comentar nem entre nós, estamos entendidos! – Ordenou João que ainda respondia por seu antigo nome de Jonas, ao passo que os filhos somente assentiram com a cabeça, as bocas cheias o impediam de falar qualquer palavra. Ao abrir a porta levou um susto, seu coração saltitava devido ao fato de não haver nenhum corpo onde haviam deixado Damião. Em volta do lugar 202 havia muita neve, mas em seu meio ela estava totalmente derretida, a ponto de aparecer à grama queimada untada em sangue. Ele gritou por Lourdes que mesmo cansada veio correndo ao seu encontro, a qual ao chegar e ver a cena começou a chorar, e, seus olhares se encontraram, questionavam um ao outro incrédulos o que teria acontecido com o corpo de Damião. Neste momento, notaram algo diferente na grama, tinha alguma coisa escrita nela, parecia que alguém tinha utilizado um pedaço de madeira misturado ao sangue e terra que ali se encontrava. Quando se aproximaram puderam ler: - RESSUSCITEI! CUMPRAM A SUA MISSÃO! Eles estavam espantados, conheciam a letra, estava muito tremida, mas era realmente de Damião. – Como assim “ressuscitei”? Isto é impossível! Ele é poderoso, mas não possui este poder extraordinário, e, ainda, tem o fato de que vimos inclusive Miguel recolhendo sua alma – Lourdes falava freneticamente para João que somente olhava aquilo tudo incrédulo, mal escutando a mulher. Nisto uma rachada de vento fez João olhar mais para a frente, foi quando ele avistou as pegadas de Damião na neve indo em direção à floresta. Isto é surpreendente... Pensou antes de estender lentamente a mão e apontar o dedo, o qual, Lourdes parou de falar e seguiu-o com o olhar, tendo a mesma reação ao avistar as pegadas... Viraram-se e entraram correndo para o interior da humilde casa, não tinham tempo para buscarem respostas, tinham que iniciar os trabalhos, limpar lá fora, e, ainda, esconderem a espada de Miguel. Não sabiam quando o Senhor da Luz iria aparecer, isto se ele realmente aparecesse devido a sua reputação em matéria de promessas e fidelidade... A única certeza que tinham era que Damião com certeza tinha encontrado um método de voltar, não cabia a eles questionarem, somente podiam assentir, agradecer ao Criador ou quem quer que seja que o ressuscitou. Neste momento os dois se sentiram mais seguros, tendo a plena convicção que estavam sendo protegidos e guiados por um líder e mestre supremo. E, principalmente, que além de escolherem o lado certo, ele era definitivamente muito poderoso, e, assim, tinham somente que rezarem para que tudo pudesse correr bem, porque tinham um longo caminho até o confronto final, e até lá certamente o outro lado que já era assustadoramente forte poderia até mesmo igualar seus poderes, se isto ocorresse haveria muitas perdas não apenas no plano material, mas até mesmo no plano imaterial... 203 CAPÍTULO 50 Londres – Inglaterra, 1982 Charles chegou à sala onde se encontravam os agentes, os mesmos estavam comemorando com pequenas lutas em um ringue localizado na área de treinamento do complexo a conquista da remuneração. Contudo, ele não conseguia tirar os olhos de Dominik. A dúvida é o pior dos sentimentos, nela não se pode reconfortar-se com o poder da certeza que mesma drástica tem que ser encarada. – Pensou, já acenando e sorrindo para Dominik quando o mesmo retribuiu o olhar. - Chefe, venha participar! – Gritou um dos agentes com a face ensanguentada devido à luta com o companheiro. – Vamos comemorar ao jeito antigo, só tenho que lhe advertir que tem apostas rolando, afinal, agora temos muito dinheiro para gastar. Charles sorriu somente balançando a mão em sinal negativo, já se dirigindo ao seu escritório localizado na parte superior do complexo. Ao chegar à sala se assustou, diante do que viu, era enorme, tinha monitores, uma grande mesa de reuniões, completa. Ele se dirigiu para uma grande mesa ao canto reconfortando-se em uma cadeira executiva magnifica. - Isto só pode ser um sonho! – Exclamou para si mesmo. - Se chama isso de sonho, tenho que dizer que você é um louco ou um desfavelado! – Uma voz gritou, fazendo que Charles pulasse da cadeira com o susto. – Não se assuste seu bobo, sou eu. – Tornou a voz, ao passo que Charles não precisou sequer virar-se para o monitor para ver quem era, certamente era a Dra. Kim. - Será que a senhora não vai me dar sossego nem em meu escritório? Não terei liberdade nem para expressar meus sentimentos no meu recanto! – Berrou Charles perdendo as estribeiras com a Doutora. Para espanto dele que achou que iria levar era uma resposta furiosa, devido já conhecer o temperamento da baixinha, ela fez foi dar uma inesperada gargalhada, dizendo em tom alegre: - Tenho que lhe dizer que ninguém aqui tem liberdade para expressar nada verbalmente, e, se minhas tecnologias evoluírem mais um pouco, em breve nem mentalmente. Charles deixou os ombros caírem, era impossível discutir com aquela mulher, ela era estranha, ora furiosa ora alegre, e, em raras vezes sarcástica. Não sabia ele que ela somente era assim com ele, estranhamente com ele... - Me desculpe por ter gritado, é porque me assustei. – Tentou apaziguar ao perceber que não compensava discutir com ela, afinal, se iriam 204 trabalhar juntos tinham que ter um bom relacionamento, mesmo que isso implicasse perca de liberdade. - Não precisa se desculpar, eu é que agi errado, deveria ter pedido permissão antes de invadir o servidor de seu complexo e me dirigir ao seu monitor desta forma, mas é porque tenho algo muito importante para lhe dizer. Ela pedindo desculpas, deve ser algo mesmo muito importante. – Pensou já se prontificando: - Pode dizer Doutora. - Quero que aqueles homens das cavernas que estão lutando como bobos, os quais você muito amável chama de agentes se dirijam ao meu complexo para que eu possa mostrar-lhes alguns dos equipamentos que eles irão utilizar na primeira missão, traga somente de sete a dez agentes. - Sim vou separá-los quanto aos melhores. – Ele respondeu já se virando. - Espere! – A Doutora gritou fazendo com que Charles quase escorregasse ao parar subitamente em cima de um tapete resvaladio. - O que mais Doutora? – A voz saiu com desânimo. - Arthur deu ordens para não escolher Dominik, para dar-lhe afazeres na área que ele vai trabalhar, administrativa. É logico que não iria escolher ele! – Pensou, já respondendo a mulher de uma forma mais ponderada: - Sim Doutora, pode deixar que já havia entendido quando Arthur me explicou, vou mantê-lo aqui dentro. Quando Charles bateu a porta a Doutora Kim em seu complexo desconectou um estranho aparelho de um computador, ele é que havia quebrado os dispositivos de seguranças do complexo ao qual somente Arthur estava autorizado a fazê-lo, dizendo baixinho somente para si mesma: - Eles estão temendo a pessoa errada... Não sabia ela que Arthur estava naquele momento observando-a de sua sala por uma micro câmera escondida feita por seus amigos de uma agência de inteligência sueca a qual promovia serviços aos bancos que ele guardava parte de sua fortuna. - Você é que pensa Doutora... – Disse o velho de sua sala, sorrindo sinistramente após ouvir o comentário da pequena mulher. 205 CAPÍTULO 51 Vilarejo na França, 1982 Damião já caminhava e tinha todos os sentidos apurados, além disso, ajudou muito ele conhecer toda a região. Assim, antes de seguir para o porto, tinha tempo para desviar-se rapidamente para um leito de rio mais afastado da comunidade em que moravam, afinal, não poderia correr o risco de se lavar próximo à vila, porquanto, certamente os ribeirinhos ou até mesmo algum morador em pescaria poderia reconhecê-lo. Ao chegar ao leito do rio não fez cerimônia, pulando de roupa e tudo na água, a qual apesar de não estar congelada, estava em processo de congelamento, razão pela qual, após pular se arrependeu extremamente, era como se várias espadas tivessem sendo ao mesmo tempo fincadas em seu corpo. E para seu espanto, ele ouviu uma gargalhada enorme, o que o fez tremer desta vez não de frio, mas de medo que pudesse ser algum morador, que viu suas vestes untadas em sangue. - E ai meu amigo, está querendo virar um sorvete humano! – Falava um grande homem que ele de primeiro momento não conseguiu avistar, devido a grande claridade que seu corpo inexplicavelmente emitia. Para seu espanto e ao mesmo tempo alívio, quando finalmente conseguiu avistar o engraçadinho, pôde ver que se tratava do Senhor da Luz, e não se conteve de alegria, mas para não deixá-lo se achando, resolveu ironizar seu contentamento: - Nossa, é a primeira vez que fico alegre em lhe ver! - Para tudo em nossa existência há que ter um início, assim, pode ter certeza que o início deste seu estado de contentamento quando me viu está apenas começando, e deste modo será todas as vezes que nos vermos daqui em diante. – Respondeu sorrindo ainda mais. Não tenho tanta certeza disso, mas não custa nada confiar, afinal, se os criadores confiaram em nós mesmo após provarmos que somos seres totalmente falíveis. – Pensou retribuindo o sorriso e saindo rapidamente da água, tremendo muito, razão pela qual, esfregava as mãos contra o peito tentando inutilmente esquentar-se. Para seu total espanto o Senhor da Luz lhe estendeu uma pequena bolsa. - Tome meu amigo, acho que peguei tudo que você vai precisar para cumprir com seu destino. Damião estendeu lentamente as mãos para pegar a bolsa de pano, deixando transparecer seu espanto. 206 - O que! Está espantado pelo fato de eu ter te achado do nada, ou pelo fato de ter lhe trago suprimentos? – O Senhor da Luz questionou com ironia, porquanto, sabia os reais motivos da desconfiança. - Pelos dois! – Respondeu sem hesitar Damião, já abrindo com as mãos tremulas pelo frio a bolsa, a qual para confirmar seu espanto portava toalha, roupas, comida, que ele reconheceu que desde os objetos ali contidos como até mesmo a bolsa lhe pertenciam, e estavam em sua casa. - Como você entrou em minha casa? – Questionou, sem parar de retirar os objetos da bolsa e iniciar rapidamente a retirada das roupas molhadas, afinal, as respostas não eram mais importantes do que se aquecer naquele momento, e, como a boca não atrapalhava mover os braços, matava dois coelhos com uma cajadada só. - Entrar em sua taperinha que você chama de casa foi fácil, porquanto, apesar de ter que enfrentar vários encantamentos, os quais insta mencionar, são muito rudimentares, mas que para ser sincero tenho que admitir que me deram um pouco de trabalho, afinal, estava um pouco enferrujado em quebra de encantos de proteção de terreno. – Ele fez uma pausa olhando para o final de suas vestes, a qual estava queimada, demonstrando que ele teve realmente trabalho. – Mas o que me deu muito trabalho mesmo foi achar uma bolsa, e, depois achar os itens que acreditei serem os mais importantes além das vestes, como amuletos antigos, poções, etc. Separei com cuidado alguns que creio que o senhor vai precisar em vossa jornada. - Muito obrigado, não sei como lhe agradecer. – Respondeu Damião sentindo um peso na consciência por duvidar das intenções daquele que estava se mostrando já durante um bom tempo ser digno de sua confiança. – Mas como sabia que eu estava vindo por este caminho? - Quando você me falou que íamos nos encontrar na colina, alguma coisa me chamou a atenção que tudo estava muito estranho no ar. Sentia que deveria ficar por ali, logicamente a espreita, aguardando os eventos, e quando já me preparava para ir embora, achando que tudo estava terminado, e que você como prometido iria me encontrar já desencarnado na colina, seu corpo começou a se revirar. Assisti aquela cena não muito assustado, afinal, já havia visto aquilo antes, e quando o observei entrando na floresta, sabia que, por evidente, você por algum motivo não poderia se dirigir a sua humilde taperinha. Dai por diante somente deduzi que iria morrer de frio o que iria jogar por terra seu ressuscitamento, e como não gosto de estragar ressuscitamentos, até mesmo ajudo eles a acontecerem... – Ele terminou sorrindo com mais ironia. Damião não tinha palavras, não gostou da comparação, mas sabia que ele era brincalhão, e, realmente iria morrer de frio naquela floresta, afinal, o porto ficava a vários quilômetros dali, se não morresse de frio a fome iria lhe derrubar mais cedo ou mais tarde. - Mas agora sou eu que quero respostas. Para onde você está indo? – Questionou o Senhor da Luz sem hesitar. - Tenho que ir ao porto, minha missão agora será no Brasil. 207 - Então é você quem vai orientar Marcos? - Não sei, somente recebi ordens de pegar o primeiro barco para lá, que quando chegasse seria levado para uma igreja onde seria padre, e ainda iria lecionar latim e outras coisas em uma faculdade de Direito, etc. O Senhor da Luz soltou um enorme sorriso, havia matado realmente a charada: - É meu amigo, você vai realmente orientar o garoto Marcos. Eu estava lá, seu nascimento não foi nada fácil. - Mas você acha que esta alma sem qualquer poder poderá ser o braço direito de Joana nesta batalha tão dura? – Questionou Damião demonstrando sua intranquilidade com a escolha do Conselho. - Não sei meu amigo, mas creio que poder não vence batalhas, do contrário... – Ele terminou olhando com admiração para seu próprio corpo. - Entendi, não precisa nem completar. – Interveio Damião demonstrando que não queria entrar naquele assunto. Foi quando uma inquietação tomou conta de seu ser, percebeu que no calor dos acontecimentos sequer havia se certificado de que ninguém estava olhando e, principalmente, ouvindo aquela conversa. Foi quando começou a olhar por todos os lados, se certificando de que ninguém os estava espreitando. - Não precisa temer meu amigo, já me certifiquei antes de você chegar que ninguém encarnado ou desencarnado está nos espiando, e tenho que lhe admitir que este local é bem mais isolado do que a colina. Damião sorriu sem graça estendendo a mão direita para cumprimentá-lo, já estava vestido, e seu corpo já estava bem mais aquecido. Havia tentado ser sútil, mas pelo visto o dito Senhor da Luz sabia bem que ninguém queria ser visto com ele, e resolveu se antecipar e certificar-se da total descrição daquela curta, mas imprescindível reunião. - Vamos ao que interesse meu amigo. Afinal, eles realmente lhe enviaram para o Brasil após todo este estardalhaço que foi o nascimento de Joana? – Questionou sem rodeios, e pegando na mão de Damião respondendo ao cumprimento. Mesmo se assustando com a pressa do seu interlocutor, Damião não pestanejou, e decidiu respondê-lo rápido também, enfim, sabia que o amigo também temia em ser surpreendido naquela conversa: - Sim, sei que é estranho, mas realmente fui enviado para o Brasil. - Mas mesmo entendendo os motivos, que por óbvio é o garoto Marcos, porque o Brasil?! O que o Conselho Supremo está pensando?! Necessitamos de você aqui na Europa! Afinal quem ficará ao lado de Joana e a treinará quando chegar a hora? – Bradou o Senhor da Luz demonstrando somente naquele momento seu total espanto com a revelação do destino de Damião. 208 Damião olhando bem no fundo dos olhos do Senhor da Luz o qual parecia já esperar a resposta respondeu sorrindo: - Muito simples meu amigo, você! - Como assim eu? Você sabe que eu não posso me expor desta forma! O que eles têm naquelas cabeças para imporem tal absurdo?! Damião parou de sorrir, ao perceber o medo tomar conta da expressão do amigo, o que era coisa rara, aquilo revelava que ele realmente pressentia o perigo em treinar Joana. - Mas quem te falou que foi o Conselho Supremo que determinou que você prepare Joana? Aquela resposta o pegou de surpresa. - Como assim? Se não foi o Conselho Supremo então quer dizer que... - Isto mesmo. – Respondeu Damião interrompendo-o antes de terminar de completar seu raciocínio, afinal, mesmo que houvessem tomado o cuidado de assegurarem que não estavam sendo espionados, tinham que agir com cautela. - Mas onde ele está com a cabeça de me incumbir de tamanha responsabilidade! Creio que se o Conselho Supremo descobrir isto pode até discutir a sanidade deste membro, porquanto, mesmo sendo muito poderoso, ao tomar uma decisão desta para não dizer doida é no mínimo arriscada, ao passo que com está deliberação ele arriscou toda a sua reputação. - Não vejo como você meu amigo, entendo que você não precisa ser um doido para ser um gênio, contudo, seu raciocínio lógico e decisões devem ser um pouco desequilibrados aos olhos dos demais, porquanto, você tem que pensar e agir diferentemente do dito padrão normal de razão da grande maioria dos seres para revolucionar o mundo! – Arrebatou Damião, querendo por fim a discussão. Naquele momento o Senhor da Luz entendeu porque o Conselho Supremo e principalmente seu basilar membro havia escolhido Damião para liderar e acompanhar o nascimento de Joana, e, agora seguir para treinar Marcos, o qual por ter menos poderes naturais necessitava realmente de uma ajuda mais profunda. Ele se mostrava tão preparado e sua resposta foi tão curta, porém, tão sábia que o deixou sem palavras, afinal, aquilo fazia sentido, já que o Conselho havia acordado que ninguém poderia interferir no desenvolvimento de Joana, quando chegasse a hora, outra pessoa não seria melhor do que ele, que é considerado um ser atípico, tendo em vista que sua maldição fez com que ele transige-se com naturalidade e perfeição entre o material e imaterial, o que iria facilitar e muito no treinamento da infante, tendo em vista que ele era então um ser material... 209 - O papo está muito bom, mas acho que você precisa ir, porquanto, fiquei sabendo que ainda tem que encontrar uma forma de pegar o navio, e como não arrumei muita comida acho que terá que se virar na cidade. – Disse o Senhor da Luz já se virando de costas. Ele não gostava de despedidas, e não podia deixar transparecer que se importava muito com uma pessoa, pensava que se assim agisse, perderia sua identidade. - Que isto meu amigo, fico é muito feliz de você ter me ajudado nesta hora, pelo menos agora estou quente, e posso chegar à cidade sem parecer um mendigo, e... - Olha, tenho que lhe contar que peguei as roupas que achei mais novas, mas mesmo assim creio que estas não vão servir para que as pessoas não achem que você é um mendigo! – Interrompeu o Senhor da Luz com sarcasmo, e desaparecendo sem esperar resposta. Sei que você não é desta forma meu amigo, a pessoa que lhe deu um voto de confiança fez de você não apenas um ser melhor, lhe devolveu a humanidade. - Pensou Damião, já se virando para seguir ao porto, comia uma maça que encontrou dentro da sacola, e por um momento olhou para suas vestes, e um pensamento veio imediatamente a sua cabeça, ao passo que após um raciocínio rápido ele disse para si mesmo: Ele realmente tem razão, me preocupei tanto em cuidar de meu interior nesta minha encarnação, que me esqueci de também zelar pelo meu exterior, estou realmente muito mal vestido... ****** Acalme-se, não quero lhe fazer mal algum! – Nimrod foi categórico, ao passo que Expedito não se deu por vencido. - Então porque me atraiu para este local e está falando desta forma, como se fosse impor que eu usasse o meu exército para ajudar em seu plano maluco! – Ele respondeu mais não retirando a arma dos punhos. - Você deve estar louco! Eu estou é lhe dando um voto de confiança. E sobre o seu exército eu não estou reivindicando ele de volta, porquanto, se não se esqueceu eu era quem o comandava, e, tenho certeza que pelo menos metade daqueles homens não pestaneariam em me seguirem. - Então me diga o que realmente quer! – Expedito estava quase que mordendo os lábios, realmente a qualquer momento iria atacar, mesmo que soubesse que iria ser certamente aniquilado, preferia ali morrer do que deixar que usassem-no para tentar manipular o seu exército. - Eu necessito de um aliado de confiança junto ao Conselho. – Nimrod foi mais direto do que Expedito esperava. - Não entendo. – Ele disse deixando claro que estava confuso, lado outro, mantendo ainda a formação de combate. 210 - É simples, o Conselho deixou de lutar pela salvação das almas que aqui estão! Eles oferecem ajuda, contudo, na realidade não resgatam estas almas como deveriam, olhe você mesmo! – Ele terminou estendendo a mão direita para que ele olhasse novamente os homens. Quando Expedito olhou novamente levou um susto enorme... Todos, exatamente e simplesmente todos os homens e mulheres que ali se encontravam estavam naquele momento vestidos com trajes rústicos de guerra, feitos a mão, e, armas mais do que primitivas. Mais o que mais espantou Expedito foi o fato deles estarem com um joelho dobrado e cabeças abaixadas, em sinal de prontidão e ao mesmo tempo submissão e inteira devoção a Nimrod. Como este louco conseguiu?! Ele formou realmente um exército no centro deste caos de dimensão, realmente ele não era um homem comum, e, certamente, possui a alma não de um guerreiro, mais do principal mestre da guerra... – Expedito pensava ao passo que Nimrod o olhava com um sorriso, afinal, sabia que o atual chefe do exército supremo dos homens estava finalmente entendendo suas intenções. - Venha aqui Sistemak! – Bradou Nimrod sequer virando-se para sua legião de demônios. Um dos demônios se levantou, ele era alto e corpulento, tinha a cabeça grande, cabelos amplos e negros, e o rosto inteiramente queimado, como se tivesse levado um banho de ácido. Quando se aproximou, cumprimentou Nimrod em um gesto amistoso, olhando fixamente para Expedito, que continuou irredutível em abaixar a guarda. - Sistemak, este é um novo amigo, chamado Expedito, ele é o chefe do exército supremo dos homens. - Muito prazer! – O ser estendeu a mão direita para cumprimentá-lo, ficando literalmente no vácuo, porquanto, Expedito não abaixara ainda a guarda. - Desculpe senhor, mais creio que tem algo contra nós que desconhecemos! – Sistemak disse em tom ainda amistoso, mais ao mesmo tempo com autoridade. - Não tenho nada contra vocês, apenas creio que ao invés de ficarem se rebelando, deveriam aceitar a oferta para retornarem ao caminho da luz. – Expedito foi categórico. - Poderíamos até mesmo aceitar, contudo, cremos que igualmente ao que se encontra ocorrendo nesta dimensão, à terrena encontra-se com leis falhas. Advindas diretamente dos Criadores, as quais todos aqui não comungamos, e, portanto, lutaremos até o fim para derrubarmos elas, igual iremos fazer com Lúcifer... - Exatamente o que vocês não comungam? – Expedito começou a articular com mais calma, afinal, até aquele momento todos ali pareciam não buscar o mal, pelo contrário, davam realmente a entender que queriam lutar 211 por um ideal, o que estava deixando-o de certo modo desconcertado pela forma que estava se portando. - Não comungamos pela forma abrupta que ocorre, ou seja, em termos que nascer na dimensão material passando por fome e privações, ao passo que, lá enfrentamos todos os tipos de tentações, temos que ver injustiças, pessoas más enriquecendo, enquanto boas morrem, e, ainda, se fizermos algo de ruim, alguma escolha infeliz, ou nos rebelarmos, nos jogam aqui neste local, onde nos tornamos piores ainda. – O sujeito foi claro e direto ao ponto. - Contudo, não foram os criadores que impingiram o mal no mundo, as injustiças estão ali por causa dos homens, se alguém passa fome, isso é porque outros assim permitem, visto que muitos até mesmo desperdiçam comida. Lado outro, o sofrimento elevaria a bondade, visto que sentiriam a presença e elevação de que não somos nada se não ajudarmos ao próximo. Portanto, ao invés de lutarem para fazer cessar está diferença existente, vocês fizeram escolhas erradas e agora realmente terão que suportar. Quanto ao lugar para isso, creio que está dimensão realmente não é a apropriada, e farei de tudo para que o Conselho mude de ideia e autorize algo. - Autorizar o que Expedito?! – Nimrod falou com desdém. – Não há nada o que autorizar. Você melhor do que ninguém é sabedor que o Conselho tem coisas mais serias para se preocuparem neste momento do que com está dimensão infernal. Realmente isso faz sentido, se o Conselho não deliberou sobre as mudanças nesta dimensão quando tudo estava sob controle, imaginar que iria fazê-lo agora era algo totalmente inconsequente em se pensar. – Raciocinou Expedito rapidamente, e logo emendando: - Mais então o que pretendem? - Pretendemos utilizar da guerra que será travada na dimensão material para iniciar a guerra nesta dimensão. – Sistemak disse com firmeza nas palavras. - Não entendo ainda. – Expedito já havia compreendido um pouco do plano, contudo, queria confirmar para ver se aquilo significava realmente o que ele estava pensando. - É fácil! Lúcifer e seu exército do mal irão focar todo o seu poder na guerra que será travada na dimensão material. Assim, quando isso ocorrer ele deixará este local totalmente vulnerável, visto que é sabedor que nenhuma alma entrará para tomar o lugar, contudo, não sabe que não haverá entrada, porquanto, já estaremos aqui. De tal modo, que é somente sair e tomar a fortaleza. Quando Lúcifer menos esperar ele terá perdido sua dimensão, e, se vocês souberem lutar na batalha, ele não terá para onde fugir, assim, é somente matá-lo definitivamente e acabar com seu reinado de terror. Expedito estava boquiaberto. Nimrod seu maluco, você é muito mais inteligente do que pensei! – Ele pensava sorrindo. 212 Vendo que Expedito realmente havia não apenas compreendido o plano, mais acima disso, gostado Nimrod gritou virando-se para o exército às suas costas: - Homens e mulheres, lembrem-se bem do que havia lhes dito, que meu pai enviaria uma luz! Muitos duvidaram, mais hoje vocês estão vendo que está luz chegou, estaremos prontos quando for à hora! Em questão de segundos os demônios começaram a gritar com alegria, muitos se exaltaram mais do que os outros, e batiam fortemente com a cabeça ao chão, gritando cada vez mais alto. Expedito finalmente abaixou a guarda quando viu o que estava a sua frente, ele ainda não concordava com aquilo, mais tinha que admitir que ver milhares de demônios seguindo um guerreiro de Luz como Nimrod não era algo que se via todos os dias. 213 CAPÍTULO 52 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Jesus foi diretamente conversar com Miguel sobre a concepção do filho das trevas, e articulava ao Arcanjo seu plano... Miguel não podia acreditar, Jesus era mais forte do que ele poderia imaginar, quando viu o problema, rapidamente modificou todos os planos, e agora tudo estava fazendo sentido para ele, Damião não voltou a terra somente para uma simples missão, ele teria papel crucial neste novo plano de emergência... Nisto, Jesus vendo que Miguel estava espantado, lhe chamou calmamente: - Miguel... Miguel... – Sacudindo seu ombro. - Me desculpe Mestre, estava perdido em meu subconsciente... - O arcanjo saiu de seus pensamentos. - Deu para perceber! – Jesus falou interrompendo-o não por afoito, somente queria deixar claro que não estava chamando a sua atenção, até mesmo entendia a preocupação do Arcanjo com toda a responsabilidade que havia lhe sido incumbida. Assim, estampando um sorriso no canto do rosto, ele continuou a falar: - Queria lhe parabenizar Miguel! Sempre confio em todos os filhos de meu pai, mas acreditar em um incondicionalmente é um desafio. Não porque me falta a capacidade de confiar plenamente, mas porque tendo em vista o que se encontra em pauta, sei no fundo de meu coração que se ele falhar, outros irmãos meus vão morrer, isto me deixa extremamente desapontado não com aquele irmão em quem confiei, mas de mim mesmo, porque se assim ocorrer é porque coloquei um fardo mais pesado do que você poderia carregar, e isto seria um erro meu e não seu. - Não pense assim Mestre, nunca ninguém iria lhe culpar por algo, ainda mais que o senhor está se sacrificando novamente para salvar a humanidade. Também tem o fato de que o senhor já fez mais por todos nossos irmãos do que qualquer outra alma jamais fez. – Miguel falou, colocando suas enormes e fortes mãos no ombro de Jesus, o qual perto do robusto corpo do Arcanjo, apesar de ser grande parecia uma criança. Jesus olhou para ele no fundo dos olhos com um olhar triste, não de medo, mais de sabedoria, como um professor que sabe que mesmo se esforçando ao máximo nunca vai dar conta de agradar a todos seus alunos. - Meu caro Miguel, nossos pais nos deram a vida, o poder de escolhermos, amor, paciência para nos ensinar, e também para aprendermos com nossos erros, e mesmo após isto tudo, não há aqueles que teimam em culpá-los por seus próprios erros que cometeram por vaidade, inveja, arrogância, e outros que eu poderia passar o dia falando?... 214 Fez uma pausa para que o Arcanjo pudesse processar a pergunta, mas não o deixou responder, somente queria que ele raciocinasse sobre tudo, então prosseguiu: - Então o que te leva a crer que não me culpariam por falhas? Afinal, todo animal quando se encontra cercado, seu primeiro instinto não é raciocinar, mais atacar quem quer que seja! Muitas das vezes este ataque é em quem está mais próximo, neste momento ele ataca seus próprios irmãos! E a alma dos humanos não se destoa em nenhum momento dos animais, afinal, todos são e partiram de um mesmo fundamento ou verbo... Miguel não sabia o que dizer, estava perplexo, em toda a sua jornada não havia conhecido alguém tão sábio, mas sábio que ainda não tinha conhecido os outros membros do Conselho Supremo, os quais Jesus falava sempre demonstrando sua humildade que eram os mais brilhantes seres do universo, mas isto não retirava o fato de que ele era mais sábio do que ele poderia imaginar. Miguel compreendeu a cautela de Jesus, e seus pensamentos não paravam: - Ele não tem medo, o que ele faz é agir com prudência porque mesmo acreditando em seus irmãos incondicionalmente, tem a consciência que eles poderiam falhar, e se isto ocorresse outros irmãos seus morreriam, é evidente que tal fato além de entristecê-lo por errar na escolha, o deixaria em uma situação difícil com outras almas que nele confiaram, as quais poderiam até mesmo questionar a liderança do Conselho Supremo, o que colocaria em risco algo que eles lutaram há milênios para conseguir, e assim tudo poderia estar perdido, afinal, quando não se confia nos líderes, várias pessoas começam a formar pequenos grupos ou até mesmo mudar de lado, neste momento acabando a união, consequentemente diminui-se a força, e o inimigo se arma e pode até mesmo vencer a batalha... – Miguel ainda continuava perdido em seus pensamentos, e percebendo isto Jesus calmamente o aguardava, queria que ele raciocinasse sobre todo ocorrido. – E ele ainda esta certo em dizer que se algumas almas se voltam até mesmo contra os criadores e dos que estão ao seu lado, porque não se voltariam contra ele, e seus parceiros, isto é quase lógico! – Pensou Miguel agora arregalando os olhos, havia concluído a razão de tudo, e isso lhe assustou... Jesus sorriu de alegria, afinal Miguel finalmente havia entendido a grande responsabilidade que se encontrava sendo depositada em seus ombros, e se ele mesmo assim aceitasse prosseguir, não tinha dúvidas, ele seria o escolhido para comandar o exército celestial na grande batalha... 215 CAPÍTULO 53 Vilarejo na França, 1982 João e as crianças estavam organizando toda a casa, limpavam toda a sujeira, enquanto Lourdes agora amamentava a pequena Joana no dormitório. De repente uma forte luz começou a iluminar todo quarto onde estavam. Ao avistarem a claridade que emanava como um farou no meio da escuridão do mar, João e as crianças se assustaram, temeram que Lourdes e Joana corressem mais um perigo naquele dia já tumultuado. De prontidão correram sem sequer raciocinar o que fazer quando ali chegassem, contudo, ao cruzarem a porta se petrificaram após vislumbrar a imagem que viram... Ao lado da cama se encontrava um homem com uma túnica branca, ele olhava fixamente para a garota, que se contraia esboçando quase que um sorriso para ele, o que deixou todos perplexos foi o fato de que a forte luz emanava de todo seu corpo, apesar disso, Lourdes e Joana pareciam não perceberem a luz, as duas continuavam a sorrir. - Se afaste de minha esposa e de nossa filha! – Ordenou com voz firme João após se recuperar do susto, em suas mãos segurava a longa e pesada espada entregue por Damião, a qual tocava o solo devido ao fato de que ele não suportava o grande peso dela. Não sei como Damião naquela idade empunhou está arma com tanta destreza? – Se questionava em pensamento enquanto aguardava uma resposta daquele ser. Ao ouvir João o ser que até aquele momento estava brincando com a pequenina Joana virou-se. João que até aquele momento não entendia a alegria de Lourdes com a figura ao seu lado não pôde conter a emoção, um forte sentimento de paz e amor invadiu todo seu corpo somente com o olhar daquele homem, e a luz que iluminava o quarto foi diminuindo aos poucos, até que ele percebeu que ela atenuava à medida que ele chegava perto deles. Quando o homem chegou à frente dele e das crianças, ele se ajoelhou, ao passo que os infantes mesmo sem entenderem o que estava ocorrendo fizeram o mesmo. Contudo, em poucos segundo todos estavam novamente em pé, porquanto, em movimentos rápidos, mas carinhosos o homem os agarrou-os fortemente pelos braços, içando-os. - Vocês não têm que se ajoelharem diante de mim! Somos irmãos, e, portanto, somos todos iguais. Por está e outras razões não devem me reverenciar, mas aceito um forte abraço. 216 Nisto o homem que ainda segurava os braços de João, o qual foi o último a ser içado, puxou-o de encontro ao peito, abraçando-o fortemente. João ficou fascinado... Seu corpo parecia levitar, e seu coração começou a bater mais forte de emoção. - Como é linda a criação de nosso pai! – Falou o homem afastandose e olhando para o peito de João, se mostrando fascinado pelo aumento das batidas de seu coração. Isto é maravilhoso, até mesmo em uma simples reação de meu corpo, ele vê uma benção e perfeição da criação divina. – Pensou João maravilhado. - A que devemos tanta graça senhor? – Questionou João com a voz rouca segurando o choro. - Somente passei aqui para lhes agradecerem pessoalmente por terem aceitado esta missão sem questionarem, e, ainda, aproveitar para falar que estarei ao lado de vocês olhando e orando por todos... O homem fez uma pausa e foi andando novamente em direção à cama, à medida que se distanciava de João, a luz começava novamente a se irradiar de seu corpo. João estava ainda mais fascinado, era tamanho o poder daquele homem que perto da matéria corpórea ele assumia a feição e matéria de um humano, e longe ele assumia a feição de um espírito de luz, era um verdadeiro Deus, tinha enormes poderes, e cumpria a história de que subiu aos céus em matéria... Joana começou novamente a se contorcer de alegria quando foi tocada novamente pelo homem. - Ela é muito especial, cuidem bem dela. – Disse sorrindo e tocando com a ponta dos dedos carinhosamente no rosto da pequena. Neste momento, ele começou a sumir, João e Lourdes ficaram apavorados, achavam que teriam a chance de conversarem mais com ele, e de estar pelo menos por mais alguns instantes em sua presença. - Jesus! Por favor, nos responda algumas perguntas! – Gritou Lourdes que estava mais próxima quando ele começou a partir. - Lembram quando vocês questionaram voltarem a terra nesta missão sem que eu lhes explicasse os reais motivos? – Lourdes e João abaixaram a cabeça após ouvir o questionamento. – Então, minha resposta para suas perguntas ainda é a mesma daquela época, a qual insto ecoar para que se recordem: para todas as perguntas somente obterão respostas quando chegar o devido tempo. É assim até para os mistérios da existência. – Respondeu ele abrindo um largo sorriso. - Mas porque o maior traidor de todos é quem irá nos ajudar? Por que ele? – Questionou agora João levantando a cabeça, tinha que obter 217 respostas, e, aquela, era definitivamente a pergunta que mais ele ansiava por retornos, e Jesus sabia respondê-la. Com mais um sorriso, desta vez demonstrando que não iria responder muita coisa, Jesus antes de sumir definitivamente falou com uma voz suave, contudo, firme, como se quisesse deixar claro: - Não cabe a vocês julgarem ele... E a pergunta é boa “Porque ele está nos ajudando?”, mas a resposta é ainda melhor, mas vocês somente saberão no tempo certo. O importante, e a única coisa que devem saber neste momento, é que ele esta nos ajudando... Até quando? Somente nosso pai sabe, mais até lá, temos que confiarmos nele como devemos confiar em todos nossos irmãos, porquanto, por mais que eles nos machuquem sempre serão parte de nós, e, por isto, merecem uma segunda chance, como nosso pai dá a cada um de seus filhos sem distinção... Lourdes começou a chorar, e João abaixou a cabeça demonstrando novamente vergonha por sua insistência, se emocionaram com as palavras doces e ao mesmo tempo firmes daquele homem, ele era muito mais do que um irmão para todos, era um mestre, e, exatamente devido a isso que seguiriam seu plano até as últimas consequências, não por imposição, mas definitivamente por amor e confiança em seus ideais... 218 CAPÍTULO 54 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Jesus apareceu subitamente na caverna, e Miguel se sobressaltou, porquanto, encontrava-se distraído admirando a perfeição daquele local. - Ainda distraído Miguel? Dei uma volta para que você colocasse os pensamentos em ordem, e ainda parece estar da mesma forma? – Disse Jesus com um enorme sorriso ao amigo. - Não senhor, estava somente pensando como isto pode ser feito, é maravilhoso, não acha? Jesus olhou para o ponto em que o Arcanjo estava falando, e após um longo suspiro respondeu: - Não existe lugar que seja feio neste universo! - Me desculpe mestre, mas ouso discordar do senhor, já vi muita coisa que me faz pensar o contrário. – Miguel rebateu de prontidão, ainda arregalando os olhos em espanto a tamanha absurdo com a afirmação. - E o que você exatamente viu de feio Miguel, havia sido deixado para evoluir, ou havia sido interferido por alguma força? Miguel ficou a pensar, era estranha aquela observação, mas fazia sentido, tudo que ele viu de horrível no universo, havia sofrido alguma mudança externa em sua evolução, do contrário realmente seria linda... Vendo que o Arcanjo havia compreendido ele emendou antes de qualquer resposta: - Sempre temos a sensação Miguel, de que quando olhamos para algo que não nos agrada, seja visível, ou de qualquer outra forma, que a culpa seja daquilo a que estamos julgando ser feio, malcheiroso, etc... – Ele fez uma pausa, olhou para um lindo vaso com plantas, e após calmamente foi amassando todos os seus galhos. O Arcanjo somente ficou observando, ao passo que foi surpreendido com um questionamento de seu interlocutor: - Porque você não me impediu de fazer isto, ou pelo menos protestou após eu ter feito? Miguel ficou sem palavras. E ele prosseguiu em seus ensinamentos: - Certamente meu caro amigo Arcanjo, se eu tivesse feito à mesma coisa que fiz com esta inocente planta com uma pessoa, arcanjo, anjo, etc., você iria ter outra reação! Não estou certo? Miguel somente balançou a cabeça em afirmação. - O problema esta ai meu irmão. Afinal, se não temos o cuidado com tudo que é vivo, com o tempo passaremos a perder também o cuidado com o 219 resto das criaturas que nos cercam, e em breve, estaremos matando uns aos outros sem qualquer arrependimento ou peso na consciência. - Mas esta planta não deve ser comparada a um de nós! – Interveio Miguel tentando justificar sua omissão. - Porque não? – Questionou Jesus sem nada responder, somente querendo analisar até onde Miguel iria tentar justificar sua atitude omissa. Medindo bem suas palavras o Arcanjo resolveu responder: - Porque sabemos que ela é um ser inanimado, não tem alma! Jesus fez cara de espanto com aquela afirmação, não sabia que um ser tão evoluído como um Arcanjo poderia dizer tamanha barbaridade. - É ai que você está completamente enganado meu amigo, todos os seres possuem uma essência do criador, absolutamente todos! – Continuou respondendo, mas, ao mesmo tempo, foi se levantando indo de encontro ao Arcanjo e levando em suas mãos o vaso de planta. – E quando eu digo todos, não são apenas os que estão aqui, mas os que se encontram em outras dimensões. Porque se existem é por um motivo, e, consequentemente, devemos cuidar de tudo e de todos. Quando Jesus chegou bem próximo, levantou o vaso e continuou a tecer seus ensinamentos: - Como nos foi ensinado desde o início, os animais, as flores, ou seja, definitivamente tudo, existem para nos servir. Assim, é permitido consumi-los para nossas necessidades básicas, somente para isto. De tal modo que eles nos alimentam e neste processo transmitem-nos suas energias, portanto, em nenhum momento eles desaparecem quando assim o fazemos, porque passam a partir de então a fazer parte de nós, e, consequentemente, de nossa essência. – Ele sorriu ao perceber que o Arcanjo estava entendendo. – Desta forma, eles não existem para alimentar nosso ódio, eles possuem feixes de luz, com essência profunda dos pais celestiais. Miguel ficou fascinado, nunca havia pensado daquela forma. Agora entendo porque um espírito ou até mesmo Arcanjo ou outro ser ainda toma água e comia no plano imaterial, mesmo que em menor quantidade, mas logo foi entendendo, era como se eles retirassem da natureza mais essência dos criadores, para continuarem a vida eterna, fazendo, assim, um ciclo da vida gerada pelos criadores que pareciam ter sido espalhada através da natureza e seus seres que sempre se renovam, nunca acabam, isto é fato em qualquer dimensão, menos no limbo. Miguel raciocinava freneticamente. Ou melhor dizendo, na dimensão do comumente chamado inferno... Lá sei que a água é suja, e as plantas e seres são medonhos, mas agora entendo que são assim não porque foram assim criados, mas, simplesmente porque eles absorveram o que estavam ao seu redor, ou seja, o ódio. Deste modo, por não receberem nenhum cuidado assim o eram. E, neste ciclo, os 220 seres ali existentes vão aos poucos perdendo a essência dos criadores, se definhando como figuras humanas e da natureza, e, após permanecerem muito tempo naquele local estão mais parecendo verdadeiros monstros... Foi quase terminando seus pensamentos, quando teve uma conclusão, fazendo se desesperar: - Espere! – Gritou ele após fazer tal raciocínio, e retornar de seus pensamentos a realidade! - Vejo que entendeu o que eu queria lhe ensinar meu filho. Se na dimensão material, precisamente na terra que é um dos berços de raças menos civilizada, e, assim, que mais necessita de nossa ajuda continuarem destruindo a natureza, e achando que ela não tem importância, teremos há longo prazo um verdadeiro inferno naquele paraíso. E, de tal modo, sem essência dos criadores saudável, seus corpos evoluirão para seres sem a devida e necessária fonte de renovação celestial, tornando-se, mais cedo ou mais tarde, verdadeiros monstros, o que influenciará em seus espíritos, e, assim, neste ciclo, no grau de evolução. – Ele suspirou profundamente, demonstrando sua tristeza com aquela realidade. – Razão pela qual, estes meus amigos de todo reino animal, etc., que acabei de enviar para a terra quando vocês chegaram são de vital importância, porquanto, são capazes de mudar o rumo da vida naquela dimensão, afinal, eles são a vida em sua mais nobre essência. E depois os encarnados dizem que Deus não está entre eles, o maior absurdo que dizem, porquanto, ele ou eles estão em tudo, razão pela qual, tudo veem e escutam... - Sim mestre, sim... – Disse Miguel demonstrando que havia entendido tudo como um bom aluno. Jesus parou e ficou olhando firmemente para os olhos do Arcanjo, o qual por respeito em nenhum momento desviou o olhar. - Entrei neste assunto, porque precisava que você entende-se tudo isto antes de lhe dizer o que Buda descobriu sobre os planos de Lúcifer... Após dizer isto, passou as mãos sobre o vaso de planta, ao passo que ela murchou completamente, como se estivesse morta, mas em segundos começou a brotar outros galhos, e ela voltou à vida como em um passe de mágica. Ao ver a fascinação de Miguel Jesus disse antes que ele fizesse a pergunta óbvia que já ensaiava fazer: - Não usei nenhum poder mágico meu caro para curá-la, apenas um pequeno e sutil poder de acelerar o que mais cedo ou mais tarde ocorreria... Isto porque a vida não é retirada de nada e nem de ninguém facilmente, tendo em vista que antes disso a essência dos criadores luta de todas as formas para retornar a sua existência, e a natureza é um dos melhores exemplos deste fato, uma vez que, por mais que os homens e outros seres a destruam, basta um pouco de tempo para que ela retorne novamente a vida plena. Assim, reafirmo o absurdo praticado por alguns que acreditam veementemente que o pai celestial ainda não estão em nossa presença. 221 Miguel sorriu, estava fascinado, ficaria durante tempos escutando aquele homem e absorvendo um pouco de sua sabedoria, contudo, sabia que não tinha muito tempo, tendo em vista a velocidade que tudo estava acontecendo, em breve a guerra estaria presente, e, assim, ele temia pela primeira vez não ser capaz de aguentar tamanha responsabilidade que lhe estava sendo incumbida. ****** Expedito estava agora andando no meio dos demônios, muitos o cumprimentavam com alegria. Ele não escondia o temor que exalava de seus olhos, afinal, mesmo sabendo dos planos, sempre lutou contra demônios, nunca em seus mais absurdos devaneios poderia um dia imaginar estarem comungando de um ideal comum. Ao chegarem a uma grande mesa, Sistemak puxou uma cadeira fazendo sinal para que Expedito se sentasse, e mais uma vez o Santo guerreiro se espantou com a bondade do demônio que ao que tudo indicava, era o braço direito de Nimrod. Após se sentar, ele foi logo dizendo o que estava ainda lhe afligindo: - Tudo bem Nimrod, mais quando iremos buscar o objeto que necessito? - Buscar para que, ele esta aqui! Sua resposta espontou ainda mais Expedito que ficou olhando como que dizendo que não estava entendendo nada. - Sistemak, vá buscar a caixa que entreguei para os homens do Conselho quando aqui cheguei. – Ele determinou e o parrudo demônio girou indo rapidamente cumprir a ordem. - Mais você não disse que havia escondido no castelo de Lúcifer?! – Expedito dizia cochichando. – E o que é este tal de Conselho? - Disse aquilo, porquanto, do contrário você nunca iria me seguir. E sobre o Conselho, ele é formado pelos homens que me salvaram quando aqui cheguei, e de mais alguns que mostraram sua devoção no passar do tempo. Todos nesta sala, e, ainda, os espiões que estão lá fora vagando, podem dele fazer parte, basta merecer. - Quer dizer então que você abriu mão do Conselho Supremo para fazer um Conselho Demoníaco? Ao dizer isso alguns demônios próximos, os quais pareciam não estarem prestando atenção na conversa fulminaram Expedito com olhares tenebrosos, que o fizeram estremecer, principalmente, uma mulher que tinha a face linda, contudo, sua cabeça estava rachada ao meio, como se tivesse sido golpeada com um machado, que além do olhar bradou: 222 - Pois saiba que para um espírito dito de luz, você esta se mostrando muito insensato, porquanto, faz mal julgamento de seus irmãos, que é o que realmente somos, iguais. Assim, ao invés de julgar deveria era tentar ajudarnos. - Me desculpe, não estou fazendo mal juízo, e sempre estive aberto para ajudar meus irmãos, contudo, somente aqueles que realmente querem ser ajudados! – Expedito respondeu querendo transparecer que não tinha medo de nenhum deles, e, que mesmo concordando em parte, ainda não estava cem por cento satisfeito. - Acalmem-se! – ordenou Nimrod. – Ele está ainda se acostumando com a ideia, não podemos forçá-lo a gostar de vocês que até minutos atrás ele entendia serem o verdadeiro inimigo. Após ouvirem isso os demônios se afastaram com a cabeça abaixada em sinal de respeito ao chefe. Menos a mulher que ainda continuava encarando-o. - Você não escutou Dulce! – Nimrod foi mais categórico. - Escutei chefe, e irei como sempre respeitá-lo. Contudo, quero apenas dizer Expedito, que ainda irei salvar sua vida! E quando isso ocorrer, você terá que dormir com este pensamento para sempre. - Quando este dia chegar, não apenas aceitarei este pensamento, como irei lutar com unhas e dentes para fazê-la retirar todo este ódio que lhe consome, e voltá-la para o caminho correto da luz! – A resposta foi igualmente cortante. Dulce se retirou de perto de mesa, agora não olhando mais para nenhum dos dois. - Fique tranquilo Expedito, eles são boas pessoas, somente possuem ódio. – Tentou dialogar Nimrod. - E você fala isso como se não fosse nada! – Expedito respondeu em tom e expressão facial de sarcasmo. - Creio que não, e, até mesmo utilizo deste ódio! - Utilizasse deste ódio, como? – Ele se interessou deixando o sarcasmo de lado e falando agora seriamente. - Se sabe muito bem, em uma batalha muito ódio cega. Contudo, na dose certa é um incentivo. Assim, eu doutrino eles retirando apenas o que transborda, deixando sempre um pouco para esquentar as coisas!... – Ele respondeu com uma expressão sinistra. Neste momento Sistemak retornou trazendo uma grande caixa, entregando-a para Nimrod dizendo: - Aqui está chefe! 223 - Você deixou um dos objetos mais sagrados em todo o universo nas mãos de demônios que você julgou confiáveis! – Expedito disse demonstrando sua indignação. Contudo, não esperava pela reação de Nimrod, o qual até aquele momento estava muito calmo, lado outro, tudo se modificou. Inesperadamente, ele bateu na mesa gritando: - Pois saiba que confio mais nestes homens do que em todo aquele Conselho hipócrita! Eles me salvaram, me deram a mão quando precisava, sempre estiveram ao meu lado, não por interesse, porquanto, aqui não há no que se interessar realmente, visto que somente há sofrimento e dor. Agora creio que já admiti você zombar demais destes meus irmãos! - Me desculpe, não quis ofender. – Expedito disse abaixando a cabeça. - Pegue! Leve o objeto e diga ao Conselho que conseguiu-o, mais que eu não voltarei. Além disso, não conte nada do que conversamos aqui. Estamos entendidos! – Ao final ele novamente gritou. - Sim, estamos. – Ele respondeu já pegando a caixa e começando a desaparecer. – Manterei contato. - Espero Expedito, Espero... – Nimrod respondeu não olhando para ele, mais para o chão, como se aquela atitude fosse a mais difícil que tomou nos últimos tempos. 224 CAPÍTULO 55 Londres, Inglaterra, 1982 Nas semanas que se passaram os agentes treinaram duro com o armamento desenvolvido pela Dra. Kim, e o treinamento era incessante, já que a mesma falava que em breve eles sairiam em uma missão com Arthur. O que mais intrigava Charles era que além de bombas e outros apetrechos, quase todos possuíam alguma coisa com água, nas metralhadoras e outras armas, todas possuíam um dispositivo acoplado de lançamento desta espécie de água. Para os agentes ela dizia que ali seria colocado um líquido altamente corrosivo, mas nos dias que se passaram ele percebeu que ela tinha estas águas guardadas em um tonel muito estranho, com várias cruzes afixadas na sua parte externa. Contudo, já conhecendo seu lugar Charles resolveu que era melhor não entrar em questionamentos, afinal, queria manter o bom convívio com a pequena mais grandemente geniosa mulher. Ele também percebeu que além do estranho tonel, às armas tinham dispositivos estranhos, e, ainda, havia nas mesmas alguns símbolos em forma de hologramas em algumas partes de madeiras que seria até mesmo desnecessárias em razão da tecnologia que estava ali empregada naqueles objetos. Ou a Doutora é muito religiosa, ou ficou biruta de colocar e portar tantas coisas estranhas assim. – Pensou ele sorrindo ao analisar uma espécie de bumerangue que os agentes estavam recebendo as instruções, as armas de grosso calibre como rifles e metralhadoras era acopladas e tinham tais hologramas místicos, mais o bumerangue eram normais, mais poderiam modificar-se abrindo uma nova aba, virando uma espécie de estrela ninja com água em seu interior, e, ainda, tinha os mesmos hologramas com símbolos diversos, e pequenas esferas junto à água de seu interior, pelas explicações, parece que a mesma retorna para o lançador caso não atinja seu verdadeiro alvo, mas explode se o acerta. 225 CAPÍTULO 56 Vilarejo na França, 1982 Damião andava a passos largos, sabia que tinha que chegar ao porto rápido, afinal, não sabia sequer o horário que o navio iria zarpar. De repente outro problema lhe ocorreu, olhou no interior da bolsa e percebeu o óbvio, não tinha sequer uma moeda para pagar pela viagem. Afinal, como o Senhor da Luz tinha lhe dito, ele realmente não era apegado pelo material, assim, durante todos os anos nunca guardou qualquer quantia, o que sobrava ele doava aos pobres, e quando lhe faltou comida um amigo sempre aparecia com um banquete em agradecimento a alguma caridade que ele fez no passado, sabia que a lei era uma só, colhia a cada dia o que plantava no passado. Mas será que terei algum amigo ou conhecido para me ajudar no porto? – Pensou. Como em um passe de mágica uma voz lhe respondeu em seu subconsciente, ele nunca soube diferenciar o que era provindo de seu raciocínio, ou de um amigo em um plano maior, mas na maioria das vezes o que ele ouvia ou raciocinava sempre lhe dava muito conforto como neste momento: - “Não temas, para tudo há um tempo, e, portanto, em seu tempo terás sua passagem.”. Ele sorriu, estava cansado e a caminhada ainda era longa, ainda tendo que aguentar a fome devido ao fato de que a comida já havia acabado, mas sabia lá no fundo que estava sendo guiado, como sempre o foi em toda a sua longa existência. 226 CAPÍTULO 57 Berlim – Alemanha, 1982 O pai de Estela já havia pensado em tudo para ela não questionar mais sobre aquela noite... No dia seguinte, quando Estela acordou, já estava sentada no sofá da sala de estar. Seu corpo estava limpo e vestia um lindo vestido azul. Ela não entendia como aquilo lhe parecia tão normal depois da noite pela qual passou, e, também, definitivamente não estava entendendo como foi parar naquele local. Assim que abriu os olhos, viu seu pai se aproximar com uma bandeja de café com bolinhos, quando o viu se sobressaltou, era como se tivesse visto um estranho. Pensou melhor, então descobriu que um estranho não lhe seria tão repugnante, ela o via realmente como um monstro. Verdadeiramente aquele sentimento ainda lhe afligia, ela havia visto na noite anterior os olhos passiveis de seu pai que nada fez para lhe ajudar, isto a fez até mesmo duvidar que aquele homem realmente fosse seu pai... O pai de Estela parou de repente ao perceber nos olhos da filha seu medo, e para espanto dela ele somente questionou de uma forma mansa e pacífica, como se nada houvesse ocorrido: - O que aconteceu minha filha? Porque a cara de assustada? Estela não podia acreditar. O que ele está dizendo? – Pensou. E seus pensamentos prosseguiram de uma maneira frenética, enquanto seu pai aguardava com olhar demonstrando paciência e serenidade: Ele não pode falar que não era ele! Eu o vi. Era realmente ele. E não tem desculpas para aquilo. É absolutamente inexplicável para qualquer ser, ainda mais um pai abandonar a filha como ele o fez. Percebendo que aquele estado de espanto e perplexidade não iria passar, Pierre resolveu intervir: - Filha... Não estou entendendo o que está acontecendo? - Eu é que não estou entendendo o que o senhor permitiu que fizessem comigo na noite passada! – Gritou Estela com todas suas forças demonstrando sua total e absoluta indignação. Muito calmamente, o pai de Estela foi se aproximando, colocou a bandeja em uma mesinha próxima à poltrona, e quando chegou bem próximo falou ainda serenamente: 227 - Filha, você deve ter tido algum pesadelo! Ele com a paciência de um advogado criminalista em um júri fez ainda uma cara de espanto chegando ainda mais próximo da mesma, pôs as mãos em seu ombro com carinho dizendo com a mesma voz abranda: – Encontramos ensanguentada... você caída em baixo das escadas toda Ele fez uma pausa abaixando a cabeça como que demonstrando preocupação, para ele aquilo era fácil, afinal, atuava quase que semanalmente, por óbvio não em frente a uma garota inocente, mas de um Júri formado por pessoas inteligentes o bastante para captar o menor sinal de mentira. E, ao perceber que a filha nada respondeu, prosseguiu: – Ainda não sabemos como foi parar lá, mas já analisamos as câmeras de segurança e conferimos que ninguém entrou na casa. Além disso, todo o sistema de alarme estava ligado, e até mesmo as câmeras da rua não captaram nada de estranho, somente você indo correndo em direção as escadas e caindo... Estela ficou pasma, ou o seu pai havia melhorado extremamente sua qualidade de enrolar os outros, ou ela realmente tinha tido um pesadelo horrível... - Mas... Era tão real!... – Ela exclamou com a voz custando a sair. - Sei que deve ter acontecido algo muito forte durante o sonho. Contudo, ainda não entendo como você conseguiu se locomover até a escada. – Ele respondeu agora com um olhar de dúvida, que intrigavam ainda mais a pobre Estela. Ela então se lembrou da dor que sentira em todo seu corpo durante o suposto “pesadelo”. Se senti dor, é porque tenho controle sobre meu corpo novamente! – Pensou já olhando para seus pés. Em poucos segundos um sentimento lhe tomou todo o seu ser, não podia acreditar, seus dedos estavam se mexendo... Pierre ao ver a cena, pulou para trás fingindo espanto, após ainda dissimulou um sorriso de alegria com uma expressão quase que de pasmo. Foi então que Estela percebeu o quanto estava apreensiva na conversa com seu pai, visto que somente agora sentia todo seu corpo doer, mais parecia que isto não lhe incomodava, há anos não sentia qualquer dor, isto era como se estivesse recebendo uma benção, ou poderia significar outras coisas... 228 Após alguns segundos contemplando os dedos, ela resolveu arriscar uma tentativa de se levantar, o pai ainda demonstrando surpresa e alegria a ajudou apoiando-a pelo ombro, e ela após anos ficou de pé. Apesar de moça ela naquele momento mais parecia uma criança aprendendo a andar, para seu espanto suas pernas estavam fortes e saudáveis, ela somente estava andando devagar porque havia perdido a prática, mas era como se tivesse sido curada por milagre, afinal, durante tantos anos em uma cama, era para suas pernas estarem ao menos atrofiadas, mas nada, parecia que ela nunca havia deixado de andar. - Mais pai, isto é um milagre! – Estela falou entusiasmada. Pierre ao ouvir a palavra milagre se estremeceu, e somente assentiu com a cabeça, não escondendo um choro repentino, soltou o ombro da filha e se sentou novamente em sua poltrona favorita, aquela que lhe confortou em tantas magoas e agora que poderia lhe confortar na alegria que achava que iria sentir ao ver sua filha andar novamente, mas o sentimento era outro: culpa. O que fiz! – Pensou ele levando as mãos ao rosto em completo pânico. Estela vendo a reação do pai, e, enfim em pé com suas próprias forças e solta a própria sorte naquela que mais parecia sua primeira caminhada da vida, foi arrastando os pés e aos tropicões chegou até seu genitor. E, em uma narrativa abafada questionou tentando segurar o choro: - Pai! O que está acontecendo com o senhor? Parece que não compartilha de minha felicidade. O Pai sabia que não poderia consertar sua decisão, então afastou sua aparência de medo e culpa, retirou as mãos do rosto e respondeu-a tentando esboçar um sorriso: - Alegria minha filha... Somente alegria... – Retornou às mãos a face agora para enxugar as lágrimas. – Tenho que me recompor! – Completou secamente. E para novo espanto de Estela além de não olhá-la nos olhos, ele saiu quase que correndo em direção ao corredor central da grande mansão, seus passos ecoaram por um longo período na memória de Estela, era como se ele estivesse a abandonando em seu momento de maior alegria. Igualmente ele fez ontem... – Ela raciocinou não se dando por vencida. Estela cansada devido aos seus primeiros passos em anos girou seu corpo para sentar-se na poltrona em que momentos antes aos prantos seu genitor sentava-se. Contudo, quando já estava para abaixar-se, viu algo cair do meio de suas pernas no chão, ao olhar do que se tratava foi tomada por um assombro 229 que fez seu corpo congelar, colocou a mão entre às pernas e ao analisar o liquido somente teve forças para exclamar: - Isto é realmente sangue... Nisto levantou-se rapidamente da poltrona e ergueu a aba do vestido, e viu que sua calcinha estava encharcada do líquido. Neste mesmo momento Vilauba, sua cuidadora desde o acidente, e, por ela considerada como uma segunda mãe abriu à porta principal da mansão, pensando em como estaria sua menina, quando a senhora afastou seus pensamentos e dúvidas pôde ver toda a cena a sua frente, e somente teve tempo de gritar: - Minha filha, o que está acontecendo? – Lançando ao seu encontro para ajudá-la, não parando de falar em total desespero. - Estelinha, o que está acontecendo? Você esta andando! E o que é que aconteceu para ter tanto sangue em suas vestes? Estela não podia responder, estava novamente paralisada, mais agora somente por sua consciência, que não queria acreditar que aquele pesadelo realmente tinha acontecido... Nisto, em um movimento rápido, levantou as mangas compridas do vestido, deixando a mostra seus braços, e, ficou gélida... Com certeza o sangramento em sua vulva poderia ser explicado pela queda, mais aquilo que estava vendo naquele momento com certeza não... Em seus braços estavam vários hematomas evidenciando machas roxas, que deixavam bem a mostra não simples contusões de pancada, mas de dedos, no mesmo local em que ali pegou o monstro que a segurava em seu suposto pesadelo induzido por seu pai minutos atrás... A empregada que agora dava alguns passos para trás de espanto parou, e Estela somente conseguiu pronunciar: - Aquilo realmente não foi um pesadelo. Foi real! E meu pai sabe de algo que não quer me contar... Tudo agora se encaixa, a sua folga repentina ontem Vilauba, aliado ao fato da mansão vazia sem nenhuma das enfermeiras noturnas, tudo, absolutamente e espantosamente tudo se encaixa... 230 CAPÍTULO 58 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Após deixar o vaso de planta encima de uma mesinha de pedra, Jesus ficou em frente a Miguel. - Meu amigo, sei que o que lhe pedirei agora será de uma responsabilidade muito grande, mas quero que saiba que não deverá tirar os olhos de sua arma celestial, afinal, creio que Lúcifer tem algum plano para estas armas, e, quero que oriente Gabriel e os outros disto, por evidente, sem alarmá-los. - Sim mestre. Mas o que o senhor acha que ele poderia querer com elas, afinal, conforme já é sabido e consabido, elas sequer responderiam a ele ou algum ser perdido nas trevas! - Mas quem disse que creio que seja ele ou algum de seus discípulos que poderia utilizá-las... – Respondeu deixando suas palavras se perderem, demonstrando que não iria dar mais detalhes. Miguel se intrigou, agora estava com um frio em seu ser que lhe afligia. Será que ele quis dizer que... – Pensou se esfriando ainda mais. 231 CAPÍTULO 59 Berlim - Alemanha, 1982 Estela andava perfeitamente, e com sua fúria era capaz de muitas outras coisas... - Estelinha! Estelinha! Por favor, pare! Você está sangrando muito, volte que vou chamar uma ambulância para levá-la ao médico! – Clamava Vilauba correndo em seu encalço, já suando devido à idade avançada e a imprecisão de seu físico, que exibia uma enorme e saliente gordura. Antes de entrar no escritório Estela virou-se dizendo de uma forma que Vilalba nunca havia presenciado, era como se ela estivesse possuída por um demônio, ela somente teceu ordens: - Gosto de você como uma mãe. Então faça somente o que creio que uma mãe faria neste momento, não tente me impedir, somente chame o médico da família, e quando ele chegar já terei obtido minhas respostas. – E antes que a empregada pudesse abrir a boca a jovem entrou no escritório batendo fortemente a porta. Adentrou ao escritório da mansão pisando forte, não porque estava se acostumando a sensação, mas porque imaginava que aqueles passos poderiam estar sendo na cara de seu pai. Viu somente a cabeça dele, o qual estava sentado em uma poltrona, lendo jornal, como fazia todas as manhãs, mas naquele dia tal atitude era mais do que suspeita, ou seria normal um ser humano que após descobrir que sua filha estava andando se recostaria em uma poltrona em seu escritório para ler jornal?! - Pai! – Gritou, ao passo que com o grito ele foi obrigado a abaixar o jornal e mostrar que ainda estava chorando. Contudo, seu choro não a interessava, afinal, ela sabia ser o mesmo de culpa, então lançou diretamente a pergunta: - Eu dormi na sala está noite? Ou após cair da escada você me deu um banho, me vestiu um lindo vestido e me colocou no sofá ao invés de me levar ao hospital? E como explicar eu estar sangrando na vagina e com marcas de dedos em meus braços? – Seus questionamentos soavam mais como um desafio e ao mesmo tempo um desabafo do que como simples perguntas. Seu pai por outro lado mostrando todo seu temperamento frio que adquiriu em tantos anos de advocacia criminal, somente levantou a mão fazendo sinal para ela aguardar alguns minutos, como se estivesse muito ocupado em meio a um importante raciocínio sobre a última notícia que lera no jornal que agora jazia em seu colo. Estela se assustou com o comportamento frio, como se nada houvesse ocorrido, e mesmo percebendo seus olhos marejados de choro, 232 decidiu aguardar, afinal, sabia que se o pressionasse muito ela certamente nada obteria. Após alguns minutos, o pai de Estela retirou os olhos do jornal ainda sobre seu colo, olhou calmamente para a filha dizendo: - Sim minha filha, o que quer me falar? Acho que já conversamos na sala, e devido a forte emoção já lhe disse que precisava de um tempo para assimilar todo o ocorrido. - Você precisa de tempo para assimilar o ocorrido?! Será que na realidade não está é tentando me evitar? – Seus dentes estrilavam demonstrando seu ódio. - Não sei aonde quer chegar com este seu tom de voz, mas somente vou lhe responder que não fiquei na sala porque achei que você também precisava de um tempo sozinha, afinal, os acontecimentos após sua queda foram dramáticos. – Respondeu em um tom muito calmo, o qual soou muito mais equilibrado do que Estela poderia imaginar. Contudo, Pierre não conseguiu esconder seu nervosismo interno, porquanto, Estela pôde ver que de sua testa escorria suor, e ela mais do que sabia que quando ele ficava nervoso ou com remorso aquilo ocorria, mesmo que até seus olhos não lhe entregassem, o suor era inevitável. Ela sabia deste fato da pior maneira, tendo em vista que foram anos vendo sua mãe ser enganada, ele havia feito isto não apenas uma ou duas vezes, mas várias, definitivamente não tinha escapatória... Após tal percepção, ela se dirigiu até a estante de livros e começou a analisar alguns volumes, tentando também demonstrar que não estava apavorada, mesmo que embaixo de seu vestido estivesse ensopada de sangue sabia que tinha que se manter firme, porquanto, necessitava mais de respostas naquele momento do que de um médico, e, ainda, sabia que para obter alguma resposta teria que jogar o jogo que seu pai estava propondo. Após alguns minutos de puro silêncio ela resolveu rompê-lo: - Então papai, quer dizer que acredita mesmo que eu recuperei todos os meus movimentos por um milagre Divino? - Há outra explicação então? – Replicou o pai, em um tom desta vez ameaçador. - Não sei papai... Pensei muito nisto, e devido a noite de sofrimento e aos fatos que temo que realmente presenciei, acho que tudo isto pode estar ligado a seu surpreendente e repentino sucesso no mundo jurídico. Estela fez uma pequena pausa, somente observando seu pai, e pelo seu silêncio soube que estava no caminho certo, então continuou: 233 – Até os jornalistas acharam estranho um simples e humilde advogado vindo da França de uma ora para outra ser um dos mais requisitados na área criminal de toda Alemanha, e com cem por cento de aproveitamento em todos os casos, até naqueles considerados perdidos... Neste momento Pierre interveio: - Não fale comigo desta forma, parece até sua mãe! Sempre me criticando! Se não ganho dinheiro é porque não estava me arriscando! Se ganho, é porque estou fazendo coisa errada! Isto é patético. Após esbravejar, ele se levantou, mais em nenhum momento olhou no rosto de Estela, e, ela sendo muito inteligente, logo percebeu que havia tocado no ponto crucial para se chegar às respostas que ansiava... - Papai, se o senhor não soubesse realmente o que me fez recuperar os movimentos, será que não teria me levado ao médico ontem à noite quando me socorreu? Aquilo pegou o pai de surpresa, não havia atentado para este fato. Estava tão apavorado que realmente nem percebeu que sequer havia ligado para o médico, soava mesmo mais que estranho, era como se realmente soubesse o motivo da recuperação dos movimentos, buscou então uma resposta rápida em sua conturbada mente: - Acho que você tem que voltar a ter suas reponsabilidades agora que voltou a ter seus movimentos, achei que você iria preferir contar pessoalmente ao médico o que aconteceu, por isto eu te limpei pessoalmente, vesti e te coloquei no sofá, e apesar de desacordada, não parecia estar sofrendo de nada grave. A resposta não era nada convincente, mas Estela decidiu deixar aquele desagradável interrogatório para outra hora, necessitava realmente ligar para seu médico, tudo estava muito estranho, e ela não aquentava mais de tanta dor na vagina e o sangue já estava escorrendo por suas pernas, ela podia senti-lo nos dedos dos pés... Para sorte de Estela Vilalba já havia conseguido contato com o médico da família, o qual quase morreu de susto ao ser informado do ocorrido. Então em um movimento rápido ela saiu do escritório sem se despedir, simplesmente batendo a porta, tinha que ir rápido para o quarto tomar um banho, mesmo com todo o ocorrido estava emocionada, afinal, há quanto tempo não fazia isto sozinha. Contudo, estava ainda com muito medo, mas no seu interior ainda o maior sentimento era de alívio pela recuperação dos movimentos, mal sabendo que lá dentro existia outra coisa... 234 CAPÍTULO 60 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Mas mestre, porque pensa desta forma? – Questionou Miguel tentando mesmo que em vão obter alguma resposta após os pensamentos anteriores quase lhe consumirem pela aflição. - Como você sabe meu amigo, não falo diretamente, penso que cada um tem que encontrar aquela resposta que melhor lhe conforte. Tem ainda o fato de que posso estar errado, assim, somente necessito que por ora você regresse para o plano material e leve uma mensagem. - Mas e se me procurarem aqui? - Não tenha medo, já estou cuidando junto ao Conselho de todos os assuntos pendentes. – Fez uma pausa olhando fixamente para os olhos do Arcanjo. – E por falar em assunto pendente, a mensagem é para ele mesmo... - Pode deixar mestre, vou lhe entregar pessoalmente, e me certificarei que ninguém irá me ver. - Te ver não é o problema meu caro, o que me preocupa é raciocinarem, afinal, muitos veem as coisas, mas não retiram qualquer conclusão ou raciocínio para o bem, sempre as conclusões são precipitadas, e, assim, o mundo é esmagado pela total ignorância... - Após eu retornarei para demais atos que deverei tomar. – Falou o Arcanjo já se virando e abrindo suas longas asas para sair do local pela redoma do teto, afinal, não precisaria agora utilizar o outro caminho que havia chegado com Damião. - Espere! – Ordenou Jesus, ao passo que o Arcanjo se virou novamente assustado. – Estarei em uma reunião com o Conselho daqui a pouco, caso chegue e perceba que se encontra muito tumultuada não se aproxime, aguarde terminar. - Certo senhor. – Respondeu o Arcanjo como um soldado quando recebia uma ordem, batendo suas enormes asas e em questão de segundos havia rompido a barreira dimensional. Estes novos poderes de Miguel podem atrair muita inveja, vou ter que falar para ele para maneirar quando estiver na presença de outros. – Pensou Jesus sorrindo. 235 CAPÍTULO 61 Berlim - Alemanha, 1982 Ao sair Estela deixou para trás um homem arrasado, ele somente colocou as duas mãos na cabeça, tendo tempo para dizer com voz baixa e demonstrando sua derrota: - O que foi que eu fiz?! Desta vez eu fui além de todos os meus limites. Ainda bem que ela não tem a consciência que não apenas o que é Divino é que é capaz de fazer milagres... De repente ele se esfriou após raciocinar um pouco. – Não?! Ela sabe disto, afinal, ela jogou isto na minha cara ao dizer sobre minha ascensão profissional e consequentemente financeira meteórica, e, da mesma forma por outro lado meu decesso familiar. Estou literalmente perdido... 236 CAPÍTULO 62 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Havia na dimensão sublime várias coisas que os espíritos evoluídos poderiam se ocupar, tudo no objetivo de ajudarem na vida terrena ou espiritual. Ou seja, tanto material quanto imaterial, desde grandes feitos até simples melhorias ou lazeres na própria vida nas várias dimensões existentes. Assim, devido ao fato de na dimensão sublime encontrar-se a grande maioria dos seres evoluídos do universo que se tinha conhecimento em todas às dimensões de evolução, era certo que ninguém ali ficava parado, todos estavam sempre tentando evoluir ainda mais, mormente, os membros do Conselho Supremo. Para uma melhor divisão de tarefas, e, até mesmo para colocar um pouco de ordem, o Conselho deliberou que o melhor seria dividir em núcleos as funções ou afazeres, e, assim, se formaram núcleos de ciência, física, matemática, humanas e espirituais, etc., os quais reuniam os espíritos mais evoluídos em cada área, e afins. Contudo, um impasse afligia todos os núcleos, principalmente, o de ciência e física com o de filosofia, porquanto, o Conselho havia iniciado uma deliberação entre todos os seus membros se poderiam criar novas armas para serem utilizadas na guerra que estava por vir. Jesus já havia deixado Miguel partir para sua missão de entregar a mensagem no plano material, e encontrava-se sentado junto a Buda na grande mesa. Referida deliberação se tornou imprescindível após espiões celestiais tomarem conhecimento que Lúcifer estava organizando uma espécie de arma letal, o que gerou um grande pânico em todos os membros do Conselho, principalmente, em alguns entes que dele não faziam parte, mas que tinham grande poder. Alguns membros do Conselho, mormente, os das áreas de filosofia e materiais e imateriais, estas duas últimas que na terra recebem o nome, tão somente, de humanas, haviam aberto uma discussão que alçou várias contendas em todas as bases. A celeuma levantada era de simples compreensão, porém, certamente de consequências que até então não haviam sido cogitadas em ordem tão vasta, o questionamento consistia simplesmente em uma deliberação alçada por ninguém menos do que o espírito do famoso filósofo que respondia por Platão, assim, asseverou se levantando na grande mesa do Conselho: - Solicito renovadas venias aos meus nobres colegas que possuem pensamentos destoantes aos meus e dos membros de nosso núcleo de filosofia e afins, mas diante de análises de nossos próprios ensinamentos e razões racionais que seguimos pautados no amor incondicional ao próximo, podemos concluir que se a alma é algo sagrado, parte que até onde 237 conhecemos é a principal fonte de contato direto com a mais maravilhosa criação dos denominados Criadores, e, ainda, levando-se em conta que trabalhamos com os ensinamentos que todos os filhos merecem ter a oportunidade de se redimir, como explicar criar armas para destruir nossos irmãos?! Após finalizar um imenso burburinho se formou, todos conversavam entre si, e a imensa mesa que se estendia por quilômetros parecia estar pequena para tantos questionamentos que se formaram. Percebendo que a discussão estava tomando rumos desconcertantes, porquanto, os membros do núcleo de guerra, os quais não gostavam muito dos seus irmãos do núcleo de filosofia, principalmente, porquanto, tinham convicção de que enquanto eles lutavam na guerra arriscando suas vidas mortais quando encarnados e imortais quando a guerra era imaterial, os filósofos e grupos afins ficavam apenas contando histórias e pensando em hipóteses e mais hipóteses, as quais para eles de nada ajudavam. Por isto Aristóteles, também membro do núcleo de filosofia, e, bem mais ponderado do que seu mestre Platão, resolveu colocar panos quentes: - Não queremos barrar ou atrapalhar a guerra, e, principalmente, o núcleo formado pelos nobres guerreiros que dele fazem parte, os quais arriscam suas existências lutando por causas de justiça. – Olhou para todos para ver se tinha suas atenções, e somente ao perceber que sim prosseguiu. – Contudo, temos que concordar que até o presente momento não se tem a certeza absoluta se a destruição da alma por estas armas seria apenas temporária ou somente um acontecimento nesta dimensão que passaria para outra dimensão ainda desconhecida, ou, se seria realmente em definitivo, ou seja, aniquilando para sempre o espírito em toda a sua essência! A partir deste questionamento, o qual foi acompanhado por Zoroastro que se postou imediatamente de pé para ser o próximo a falar, mas foi interrompido por Expedito que não continha sua irresignação, se erguendo e bradando: - Estava em uma missão muito perigosa, e, não consegui concluí-la, até o presente momento, simplesmente, porquanto, o homem que fui buscar se recusa a aceitar o que estão impondo na dimensão chamada vulgarmente por inferno, assim, se querem mudar algo deveriam começar por lá! Bem como, sei que muitos dos guerreiros têm opiniões como a que vou exprimir agora, mas não falam para não entrarem em discussões inúteis, o que não deve mais aguardar, porquanto, certamente estamos perto de enfrentar a maior guerra de todos os tempos que temos conhecimento, a qual atingirá tanto o plano material quanto imaterial, e, exatamente com tudo o que temos em jogo vocês alçam uma discussão sobre respeito àqueles que na primeira oportunidade irão nos aniquilar?! – Para demonstrar sua indignação ele ainda se curvou sobre a mesa. – Será que é isto mesmo que querem?! – Retornou seu corpo para trás, e respondeu a si mesmo em conclusão. – Sinto muito meus irmãos, mas nós do núcleo da guerra, não podemos liderar o exército dos arcanjos e demais guerreiros e guerreiras portando somente palavras filosóficas sobre a origem da vida, etc., uma vez que temos que ter armas, não para atacar, mas 238 para defendermos a ordem, afastando, assim, o caos, onde certamente não irão ter a oportunidade de filosofar, mas arderão nas mãos de Lúcifer trocando ideias de vida, por uma perturbação diante da falta de expectativa de um futuro! - Defesa da ordem? Quantas almas e seres humanos formaram exércitos para defenderem a ordem, e, logo após terem o poder da destruição em mãos, começaram a aniquilar seus irmãos somente porque não pensavam da mesma forma! – Respondeu Zoroastro que ainda estava em pé aguardando para falar. Expedido ergueu as sobrancelhas, demonstrando seu espanto inicial, mas depois fechou o cenho, batendo fortemente na mesa, respondendo: - Isto é um ultraje! Luto com honra e jamais, digo jamais se teve notícia que o exército celestial tenha aniquilado qualquer demônio se este não tivesse na iminência de aniquilar uma alma inocente. E ainda tenho que lembrá-los que da última vez que conseguimos vencer Lúcifer, tivemos a chance de aniquilá-lo, contudo, resolvemos novamente prendê-lo. Ou seja, isto é a maior prova de que o núcleo de guerra não é um celeiro de gananciosos que anseiam por poder, nos somente queremos salvar nossos irmãos, mesmo que para isso tenhamos que usar da força, a qual, insta ecoar, é usada para defender a paz, nunca para saciar vaidades pessoais! - Ao que se tem conhecimento nas várias camadas de todas as dimensões, Lúcifer pode ser a pior alma existente, e, certamente a mais perigosa, porquanto, possui o poder dos Deuses de sua era. Contudo, não se tem notícia de que matou uma alma sequer, já existe histórias que após a era mitológica, onde as almas mais evoluídas atuais, dentre elas Jesus, Buda, etc., acataram a ordem do Criador para abdicarem de seus poderes de deuses e descerem a terra para evoluírem como humanos, Lúcifer se negou a isto, e, o Criador então teria deixado seus poderes, e, ainda deixado ele levar seu povo para uma dimensão só sua, que mais tarde devido ao seu ódio teria se transformado na dimensão que chamam atualmente de inferno, seu verdadeiro lar. Tenho que dizer que sou um defensor do exército celestial, contudo, tem que haver ponderação até mesmo para tomarmos atitudes. – Disse Aristóteles, novamente colocando panos quentes. - É somente histórias das quais não poderemos nunca confirmar, porquanto, Jesus, Buda e todos os outros que estão na história não dizem nada a respeito desta era, afirmando, apenas que o que passou deve ficar no passado, e que se hoje estamos aqui ao lado deles é porque o Criador acertou em toda a sua obra, nada mais nada menos. – Zoroastro resolveu parar, e olhar para Jesus e Buda, os quais confirmaram suas respostas apenas afirmando com as cabeças, não queriam participar ativamente da reunião, porque se assim agissem junto com outros membros mais antigos do Conselho, poderiam ao invés de ajudar atrapalhar, porquanto, os membros mais exaltados certamente levantariam a hipótese de autoritarismo, etc., por isto resolveram antes da audiência apenas observar e falar somente na última hipótese, e, ainda, caso algo fugisse do controle, haviam conversado com um amigo que iria interferir e tentar levar todos à paz na decisão. 239 Após perceber a negativa de resposta por parte dos membros mais antigos do Conselho, Zoroastro continuou a falar: - Outros já dizem que Lúcifer após ser um dos Deuses da era mitológica resolveu descer por livre e espontânea vontade para participar da origem da vida humana, e encarnou com nome de Caim, e, assim, deu início ao mal na dimensão material... Antes de terminar de falar, Zoroastro foi interrompido por uma franzina alma que se levantou falando já demonstrando sua humildade: - Me desculpe irmão, mas creio que falarmos de Lúcifer, e, principalmente, das histórias de sua suposta origem maligna somente trará este mau que ele dissemina para nossa reunião. – Todos se calaram, e Zoroastro em respeito ao amigo de longa data resolveu agradecer e sentar-se, afinal, concluiu que falou mais do que queria. Neste momento todos olharam para o pequeno homem, o qual apesar de seu porte físico humilde, incomuns para uma alma tão elevada tomar como forma de se apresentar em essência, mas que emitia grande energia, demonstrando seu elevado poder. E, assim mesmo, desta mesma forma humilde o simpático senhor iniciou o pedido que havia recebido de membros do Conselho, dentre eles principalmente Jesus e Buda, para apaziguar a situação que já previam que sairia do controle. Neste momento, ele então ergueu a cabeça com cuidado, olhou em todos os cantos da grande vastidão da mesa de reuniões, dizendo com muita calma: - A raiva paira sobre minhas veias, não me deixando raciocinar. Se por todos sou muito ou pouco, nesta hora meus pensamentos se perdem no vazio que se forma em minha alma. Para recobrar minhas forças e retornar a paz interior, me fecho todo, principalmente os olhos... Somente aguardando... Aguardando... E no momento certo expilo tudo o que me aflige para fora do meu ser, tentando não deixar vestígios de sua existência, para que ali não brote algo de que não vou me orgulhar no futuro, uma psicopatia profunda, onde levaria sangue às minhas mãos, e mais ódio a meu ser, e, em crendo que referido ódio seria a razão de minha destruição, não o levo comigo aos meus irmãos, porque é assim que nasce o mal, e é deste sentimento que ele se alimenta... – ele falava com maestria, e todos estavam boquiabertos escutando. – E, foi assim que nasceu Lúcifer, e é o que temos que saber para não nos tornarmos um dos seus discípulos, ou, até mesmo pior do que ele. Não tenho fortunas materiais, nem mesmo adoto uma imagem em espírito de grande beleza física para os padrões atuais, mas me considero uma pessoa afortunada, porquanto, me foi concedido esta essência de vida, da qual considero que muitos seres encarnados e desencarnados poderão tentar dominar, mas que somente eu poderei permitir que assim o façam, uma vez que, isto encontra-se em meu poder de escolha, do qual me apoio não apenas para mostrar liberdade, mas, principalmente, o poder que temos de ser donos de nós mesmos. Ele se calou por alguns segundos, e, percebendo que tinha a atenção de todos que estavam perplexos com suas palavras, prosseguiu: 240 – Contudo, quando esta escolha esbarra em interesses diversos, não poderei parar e gritar com aqueles irmãos que não concordam comigo, tenho que parar e escutar para assim buscarmos em conjunto fazermos uma reflexão de ambas as partes, no objetivo único de se chegar a um bem comum em todas as direções. Parou novamente se certificando que todos estavam prestando atenção, e, para seu espanto, todos estavam ainda vidrados, o que era raro. – Vejo irmãos que todos nesta mesa são dignos de deliberar de igual para igual, mas advirto que se mostrará o mais sábio não aquele que demonstrar maior poder, mas sim, aquele que comprovar estar no caminho correto, partindo, inicialmente, em respeitar a opinião do próximo. Assim, entendo que estamos todos assustados, e, por isto todos nesta mesa querem fazer o melhor para salvar principalmente os irmãos que ainda estão em dimensões inferiores ou na material, contudo, primeiramente temos que salvar a nós mesmos, e não deixar que este mau que Lúcifer e seus discípulos espalham nos atinja de qualquer forma, nomeadamente, através de discussões que não terão fim. Ergueu uma das mãos estendendo-a para o alto, e concluiu: – Portanto, creio que com diálogo poderemos traçar um caminho que satisfaça ambas as partes, tudo no objetivo comum, afinal, é por isto que foi formado este Conselho, e, ergo minha mão esquerda em sinal de que busco a paz sempre. Após as palavras o silêncio se fez presente, momento no qual Buda deu um discreto sorriso para Jesus, realmente tinham feito a escolha correta para intermediar o assunto, afinal, quem melhor para pacificar uma discussão do que Gandhi. ****** Na outra ponta da grande mesa Expedito retirou uma caixa que havia colocado antes da reunião entregando-a para Buda, o qual sorrateiramente a colocou próximo aos seus pés para não esquecer, como se um objeto tão valioso poderia ser ali esquecido como um molho de chaves. - Você conseguiu apenas o objeto, mas e Nimrod? – Questionou Platão que estava prestando atenção na entrega. - Ele não virá por enquanto, concordou em devolver o objeto, lado outro, disse ainda guardar ressentimentos da situação que o levou a deixar o Conselho. - Entendo... – Respondeu Platão pensando ainda que sabia exatamente os verdadeiros motivos dele não ter voltado: Certamente este maluco do Expedito sedento por batalhas deve ter aniquilado Nimrod quando este não quis lhe entregar o objeto, ao passo que, 241 mesmo sendo mais poderoso deve ter se debilitado na dimensão inferior e sido presa fácil para ele. Esta seria a única forma de Nimrod entregar este objeto! Após Platão lançou um sorriso para os dois como se estivesse querendo demonstrar que havia ficado feliz com a situação. Sei que Expedito está mentindo, contudo, ainda não sei os motivos... – Desta vez foi Buda que pensou, respondendo ao sorriso falso de Platão. Como de seu feitio Expedito não sorriu para ninguém, odiava ter que bancar o sujeito bacana, quando na realidade queria era mandar eles todos, com raras exceções, a merda. 242 CAPÍTULO 63 Dimensão material neutra – submundo, 1982 – ano terrestre Não muito longe da dimensão sublime onde ocorria a reunião do conselho, o Senhor da Luz escutava todas às discussões através de uma pedra capacitor muito poderosa que Miguel lhe entregará antes da reunião, porquanto, membros do Conselho sabiam que tinham que ter a certeza que Joana teria uma proteção extra, afinal, agora que o filho das trevas já estava a caminho, tudo teria que ser acompanhado de perto... À dimensão onde o Senhor da Luz se encontrava era próxima da outra do ponto de vista físico quântico, porquanto, em suma todos sabiam que a distância entre as dimensões materiais e imateriais era algo de essência e, portanto, não realmente de distância. Assim, a mensagem havia chegado a tempo. Mesmo que com o respaldo de senhores de alta posição no Conselho, o Senhor da Luz tinha a plena convicção do risco que estava correndo em ali permanecer, afinal, a dimensão material neutra, ou como os leigos a apelidaram: Submundo! Era algo totalmente confuso. Naquela dimensão se encontravam almas perdidas, que não podiam permanecer na dimensão imaterial simplesmente porque ainda teriam que estar na material, e nem poderiam ficar na material, porquanto, desta saíram antes do tempo certo, por isto ficavam exatamente no meio. Em sua essência eram almas de seres que se suicidaram, as quais aguardavam o tempo certo de poderem seguir em frente. Muitos diziam que aquela permanência não se consistia em um castigo, mas um ensinamento que tudo deveria ser respeitado, nomeadamente, a concessão de reencarnação e outras missões. Dali, somente daquele local o Senhor da Luz sabia que poderia escutar aquela reunião tão importante, lógico somente através da pedra capacitor que Miguel lhe entregou, algo único em todo o universo, e que estava prestes a fazer o seu último trabalho, espionar nada menos do que a reunião mais importante do universo naquele momento! 243 CAPÍTULO 64 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Após a intervenção de Gandhi às deliberações prosseguiram, e mesmo que em tons mais amenos do que os que estavam se formando até sua intercessão, os ânimos estavam ainda acirrados. - Meu amigo, na minha concepção a vida é como um carrossel, da volta e voltas sem sair do lugar naquele momento de funcionamento. Mas quando o espetáculo termina e o parque vai embora, o carrossel realmente se move ao ir, assim, irá dar voltas em outro local. Desta forma, o fato dele partir não significa que ele não mais exista, apenas que se encontra em outro local, e, para vislumbrá-lo terá que fazer uma viagem, que diferente de tantas outras será bela, porquanto, será regada de emoção para reencontrar a felicidade. – Falou Tomas de Aquino, adepto da criação das novas armas para proteção, tomando naquele momento o início dos diálogos mais apaziguados iniciados por Gandhi. Em suma, ele queria ajudar não somente a corrente que lutava para aprovar a criação das armas, mas, principalmente seu amigo Expedito que ainda se mostrava muito nervoso com sua falha em trazer Nimrod do inferno. - Entendo, contudo, se destruirmos este carrossel, ele não mais existirá! – Contrapôs Platão tomando a frente antes que Aristóteles resolvesse responder, afinal, reconhecia que naquele momento o amigo estava muito furioso para dialogar. - Duvido muito disso meu caro Platão, afinal, temos a certeza que tudo que é destruído nunca perde a sua essência. – Arrebatou Tomas. Zoroastro com seu temperamento forte, não se conteve, gritando do outro lado da mesa: - Isto no plano material seus inconsequentes! Platão pegou no ombro do amigo, sentando-o, e dizendo com ponderação e calma: - Acalme-se meu amigo, como disse Gandhi, o melhor a fazermos é dialogarmos. Sei que você já está cansado de tentar colocar na cabeça deles sua visão, da qual nos comungamos, contudo, pelo bem de todos, que é nosso principal objetivo, o melhor realmente é buscarmos a paz até mesmo ao expormos nossos ideais, tudo no objetivo de não ferirmos o sentimento do nosso semelhante, afinal, eles também querem preservar a vida, só que da maneira deles... - Me desculpe Tomas, realmente acho que me excedi. – Ponderou Zoroastro, já se sentando, em demonstração que iria tentar um diálogo mais apaziguado. - Que isto meu amigo, não me deve desculpas, todos estamos no mesmo barco, e como disse Platão, mesmo que de modos diferentes estamos buscando entrar em um consenso para promovermos um bem maior, como sempre fizemos após a formação do Conselho. 244 Gandhi sorriu, afinal, tudo estava correndo bem, conforme o combinado... - Contudo, tenho que respondê-los, quanto a sua resposta de que o que é destruído não perde a sua essência somente no plano material, porquanto, na realidade, será que apenas não sabemos o que ocorre neste plano imaterial? Portanto, quando lá estamos, ou seja, no plano material na forma encarnada, não temos a certeza que teremos uma vida após a morte, assim, quem não garante que estamos agindo da mesma forma nesta dimensão que somente cremos sem certeza ser a última? Após fazer esta observação Tomas fez uma pausa, e, vislumbrou o que já pensava, todos ficaram com cara de dúvida, foi quando decidiu arrebatar: – Ou seja, ela poderia perfeitamente ser somente mais uma dentre outras, e, do interior desta alma que apenas acreditamos ser imortal, poderia existir algo ainda maior, algo além de nossa compreensão neste plano, afinal, não é porque somos considerados os seres mais evoluídos na escala humana, que podemos afirmar que nada neste infinito possa ser mais evoluído ainda. – Concluiu assim Tomas tentando retomar o debate, contudo, mantendo a calma e ponderação, ao passo que todos permaneceram com a mesma cara de dúvida com a questão aberta por ele. - Comungo com você meu amigo, afinal, aqui estamos, e, segundo vagos relatos, poucos se encontraram frente aos criadores ou criador, e, estes, ainda nada revelaram do que acreditamos. – O interlocutor fez uma pausa olhando para o setor em que se encontravam os seres mais antigos do Conselho. – Ou seja, poderia perfeitamente existir uma energia que chamamos erroneamente de imaterial, porquanto, sempre estamos medindo entre encarnado como material e desencarnado como imaterial, mas, se pararmos para pensar, poderia haver uma terceira, quarta, quinta, e, assim adiante de matérias energéticas que seriam refletidas na essência do nosso ser. - Entendemos... – Platão ameaçou iniciar, sendo interrompido. - Me desculpe Platão, mais somente para terminar meu raciocínio, quero simplesmente dizer que para qualquer um de nós creio que não é fácil compreender esta gama de energia que forma nossa alma! Portanto, o embasamento de pensamento de Tomas, mesmo exposto da forma leiga para o ponto de visão cientifica, o qual ele não domina, pode sim ter algum sentido tanto filosoficamente, quanto cientificamente! – Disse para surpresa de todos um dos adeptos da não criação de armas, mas que por amor a ciência, e, diante da compreensão de que ali não teria vencedores, mas, sim, consenso para tentar salvar os semelhantes, expôs sua visão, de uma maneira simples, mas dinâmica. Zoroastro tinha prometido para si mesmo ficar calado, mas aquilo lhe tirou novamente do serio, e não se conteve: - Espere... – Fez uma pausa olhando fixamente para o pequeno sujeito, arrebatando sua indignação. – De que lado realmente você está Einstein? 245 Einstein com seu jeito brincalhão, mas ao mesmo tempo autoritário diante da força de seu nome respondeu com um sorriso: - Do lado da busca incansável e inabalável da verdade cientifica, a qual sempre busquei para que um dia possa ser digno de através desta busca encontrar não apenas minha essência, mas, principalmente, meus verdadeiros pais. Quando proferiu estas palavras ouve novo silêncio, e Gandhi não segurou sua emoção, deixando cair uma lágrima, realmente estava havendo naquele momento uma verdadeira busca não pro e contra criação de armas celestiais, mas sim para salvar as pessoas e seres que estavam prestes a serem aniquilados por uma guerra inevitável, aquilo sim que retratava o verdadeiro Conselho Supremo. Ele sentia ainda que estavam indo além, que pela primeira vez diante de diálogos tão acalorados estavam discutindo algo muito maior que todos pensavam, eles estavam ponderando sobre a essência, eles estavam pela primeira vez em toda existência do Conselho Supremo discutindo algo inimaginável até então. - O que lhes dão tanta certeza disso? – Disse Isis, considerada uma poderosa mulher dentre às várias que compunham o Conselho, principalmente, porquanto, compunha uma ala mais política, não adepta de núcleos, mas sim em fazer com que todos eles trabalhassem em equipe para um bem maior, uma verdadeira líder política e de coalisão, a qual Buda e Jesus tinham esperança de que fosse ajudar a formar um consenso, mas que não poderiam te pedir anteriormente, porquanto, a mesma era muito temperamental, e, qualquer pedido poderia ser interpretado equivocadamente como um pleito para favorecimento. - Tenho uma grande consideração por sua graça Isis, principalmente, por ter em um período altamente difícil de início de uma civilização que se consagrou como moderna para a época, e que representava um avanço para a raça humana situada no oriente, ter sido uma mulher forte que foi, e, ainda, por ter prosseguido durante os tempos, sempre ajudando os semelhantes, ora encarnada, ora em espírito, e nisto conseguiu ser uma grande governanta quando encarnada, e, após sua morte material foi considerada uma Deusa, principalmente, por ter propagado tais venerações em seu nome por séculos. – O homem corpulento fez uma pausa olhando fixamente diretamente aos olhos negros da imponente mulher, enlevando: – Contudo, para sua resposta acho que podemos concluir que é simples, afinal, seres tão poderosos como nós que aqui se encontramos ainda não estamos completamente ao lado de nosso Criador ou Criadores, isso já não seria uma boa certeza para você?! – Entrou no diálogo o espírito que ficou mais conhecido como Plutão, sendo venerado por ser o Deus do submundo e dos mortos. - Mas Plutão, não podemos fincar alicerces tão profundos no futuro somente com a observância de nossos seres. – Rebateu Isis não se dando por satisfeita. 246 Plutão então resolveu arrebatar mencionando sua experiência: - Conforme todos vocês bem sabem, tenho verdadeira proximidade com a morte, e, após anos cumprindo minha missão, posso dizer com perfeita convicção que creio que há sim uma vida interior de essência, como soube explicar mais didaticamente Einstein, mas que posso simplificar em meus dizeres de um ser que trabalhou sempre ao lado da crente e errônea afirmação de que ela seria o extermínio da vida, tenho que discordar, porque sempre tive a certeza e convicção de que a vida sempre subsiste, pelo simples fato de que para onde olho há vida! Portanto, porque ela não subsistiria após a conhecida, mas ainda obscura morte espiritual, tendo em vista que é certo que a essência é algo tão complexo que até mesmo o núcleo de ciência aplicada já se deu conta de que nem com todo o conhecimento do universo em todas as suas dimensões poderia ser capaz de compreendê-lo totalmente? - Entendo, mas vocês não responderam o questionamento de Isis. Porque tem tanta certeza que há algo além? – Ecoou Zoroastro tentando galgar alguma vantagem do questionamento da colega para reforçar suas convicções. - Simples, porque isto não é correto de dizer. Sabemos que ele ou eles estão ao nosso redor em tudo e em todos, somos parte deles! Interagimos sem ver, sentimos sem tocar, amamos incondicionalmente sem questionar sua existência, assim, devemos confiar em prol de um bem maior. – Disse Expedido sem querer intrometer, mas tentando que aquele questionamento terminasse. - Mas nunca os vimos em pessoa, conversando diretamente, olho no olho. Avancei como tantos outros por dimensões e dimensões para aqui chegar, e até hoje tenho que me contentar em senti-los na brisa que acaricia meu rosto, no amor que exala de meu peito quando penso nele ou neles, na beleza da vida, etc., etc., etc. – Respondeu Zoroastro abaixando a cabeça não em descrença ou decepção, mas externando seu completo temor de nunca estar diante de seus verdadeiros pais, e, ainda, para demonstrar que não está questionando em vão, mas que aquilo faz parte de suas convicções, as quais seriam defendidas até o fim. Fez assim um pequeno silêncio, onde as partes não mais estavam pensando no pro e contra, mas nos dizeres de Zoroastro, os quais mesmo nos mais crentes e evoluídos seres do universo ainda afligia mesmo que em menor grau. Lado outro, quebrou esse silêncio o ser mais conhecido como Akenaton, o qual foi um dos primeiros seres que encarnados adentrou em um rumo ao monoteísmo: - Muitos nas dimensões superiores, mesmo que não digam, assistem seus semelhantes no plano material como se fossem porcos cercados em um chiqueiro, os quais comem e aceitam tudo que lhes é oferecido sem questionar, se fartando e se empanturrando do que para eles é o mais importante em suas vidas, e, não sabendo que tais farturas são apenas o que a vida ali lhes oferece para lhe retirar a verdadeira vida que é a imaterial. Assim, se fossem sábios, e tivessem a inteligência necessária como poucos o 247 têm, saberiam que deveriam comer menos, ou seja, se deleitarem menos, e, focarem-se essencialmente em uma forma de não apenas se libertarem, mas de proporcionarem aos seus irmãos e amigos a mesma libertação. Contudo, a lavagem que para eles naquele momento é o manjar dos Deuses, é melhor e mais segura, por isto, preferem permanecer na lama. Contudo, entendo que temos que salvá-los a todo custo, e, tenho a certeza que meu Deus único, que ainda prego ser o Aton encontra-se olhando por nós, e, talvez tenhamos medo de arriscar afundo para realmente encontra-la, comenda aqui a mesma lavagem dos encarnados, e nos deleitando em um manjar que na realidade não existe. - Você quer dizer que estaríamos nesta dimensão superior da mesma forma que os nossos irmãos encarnados na dimensão material? Portanto, sem saber o que realmente se encontra além, e agindo com medo ou preguiça de procurar e questionar este além, e, bem como, onde o senhor acha que se encontra este seu Deus único?! – Questionou incrédula Isis, a qual não nutria muita afinidade por Akenaton, não por vaidade por este ter-lhe retirado à veneração de Deusa, afinal, acreditava que títulos e venerações eram quereres meramente da vaidade mortal, não para os imortais, mas tinha certa resistência com seu ser, simplesmente não gostava de sua ideia monoteísta. - Não estou falando, estou afirmando! – Respondeu Akenaton em tom sério. - Por quê tem tanta certeza? – Retrucou Isis querendo levar o assunto para um patamar mais aprofundado. Neste momento uma alma baixa como um anão, o qual na realidade era um ser extremamente evoluído da era primitiva, mas que ajudou a desenvolver os primeiros esboços civilizados da matemática, cutucou sua mulher que estava ao seu lado, falando baixinho para não atrapalhar o embate: - Odeio quando estes seres evoluídos principalmente no Egito, os quais querem ser os donos da verdade como se fossem eles os Deuses da inteligência na civilização, quando na realidade estávamos na dimensão material lutando com feras muito antes deles lá ficarem brincando em suas, digamos, caixinhas de areias. Um homem enorme, que mais parecia um gigante, se aproximou do baixinho que havia acabado de profer aquelas palavras, e mesmo sabendo que não estava no diálogo, se abaixou, olhou bem nos olhos do pequenino ser em relação a ele, e disse em uma voz fina: - Concordo. Enquanto isto, o embate prosseguia, ao passo que Akenaton respondeu Isis: - É simples, aqui chegando perdemos mesmo que não queiramos admitir o que nos move, ou seja, a persistência em melhorar e levar nossos irmãos ao mesmo nível. Assim, quando chegamos, queremos buscar nossos irmãos, mas, após um tempo, começamos a nos contentar, e mais cedo ou 248 mais tarde perdemos a força, porque entendemos em nossa essência que não podemos mais avançar. Diante disso, paramos devido ao medo de regredir ao estado anterior, uma vez que, quando deveríamos pensar que isto seria somente o começo, achamos que é o fim, mesmo que lutamos para tentar provar que não o seja. - Mas você tem que admitir que não são todos nesta dimensão que estão parados como você faz crer com referida afirmação. – Retrucou agora Plutão, tomando a frente para que Isis não prosseguisse, sabia que ela não nutria muita afinidade pelo amigo, e, se aquela conversa continuasse não iria acabar bem... - Se ainda não estão todos, somente alguns têm a coragem de novamente encarnar, e, estes poucos correm grandes riscos na dimensão material, principalmente, porque não recebem o apoio que necessitam dos amigos desencarnados, os quais, mesmo que queiram ajudar não se empenham o bastante. – Respondeu Akenaton. - Estou perplexo com tamanha descrença com seus semelhantes! – Rebateu Isis externando sua indignação. - Não estou descrente, apenas sendo realista e sincero. E tenho que confessar que o que me intriga é está sua relutância e de seus companheiros em menosprezarem os poderes do Criador, afinal, admitir que armas celestiais aniquilariam a essência da alma em sua finitude é o mesmo que questionar o poder de Deus no plano material! – Concluiu Akenaton se sentando. - Nem tanto meu amigo! Não estamos questionando em momento nenhum o poder do Criador como quer se referir em sua crença monoteísta, ou Criadores para os que assim não entendem. Ou seja, não gozam de sua convicção. Mas estamos apenas defendendo nossos semelhantes, exatamente como tenho certeza que o Criador ou Criadores o defenderiam, afinal, são pais, e, portanto, assim creio que agiriam. – Respondeu Platão. - Estou entendendo muito bem o seu lado meu irmão Platão, mas os pais também têm a incumbência de educarem seus filhos que estão prestes a ameaçarem a vida de outros de seus filhos, ou seja, seus irmãos. E tenho que dizer que neste caso, é pior, porque os rebeldes estão prestes a aniquilar almas e mais almas, talvez milhares de seus correligionários. – Respondeu Expedido ao ver que Akenaton se sentara descrente de prosseguir após ver a relutância e antipatia de Isis para com a sua pessoa. Brahma, o qual segundo relatos de todos os entes da dimensão sublime, dentre eles vários que compunham o Conselho, foi quem teria ajudado mais ativamente na criação das dimensões, resolveu neste momento interromper nas discussões: - Como todos sabem, ajudei a desenvolver o poder de criação das dimensões da forma como são atualmente, e disso não posso falar sobre essência e demais atos desta criação, visto que não foi um trabalho uno, somente fiz minhas partes e não pude interferir nas demais. Como sabem, recebi somente parte desta incumbência no objetivo de não ser alvo de atentados ou até mesmo, para que não ocorresse por minha ou de alguém dos 249 entes que desenvolveram o sistema qualquer ameaça de quebra da mesma, etc. Fez uma pausa olhando para Expedito e depois para Platão, após somente correu os olhos pela mesa até Zoroastro, e prosseguiu: - Lado outro, posso afirmar que elas não estão fixadas de maneira imutável no cosmo, pela forma que fiz pelo menos a parte a que me incumbi, elas estão, mesmo que de forma lenta, se propagando em formato contínuo, de forma que não se pode ter certeza absoluta de sua ordem ou de sua finitude, se é que podemos afirmar algum feitio de finitude diante da complexidade do cosmos como um todo, razão pela qual, somente posso dizer as palavras de um cientista iluminado mentalmente. O silêncio se fez finalmente presente, e entrando nesta deixa Gandhi resolveu lançar sua proposta: - Vejo que estão chegando mesmo que paulatinamente em uma solução pacificadora. Todos balançaram a cabeça. Entendo que ambos os lados tinham uma parte da razão, Gandhi resolveu que não poderia deixar que iniciassem novamente a discussão: - Meus irmãos, todos sabem que prego a paz incondicional, mas neste momento, tenho que confessar que não estou nem do lado pro armas, nem do contra elas, apenas estou pensando que podemos chegar a uma decisão pacífica entre nós, e, assim, conduzirmos estas questões com a paciência, humildade e, principalmente, união que nossos irmãos esperam. - Tenho que o senhor tem razão. – Disse Expedito com firmeza, olhando para seus semelhantes de ideais, os quais confirmaram sua posição somente com o balançar de cabeças. Não ficando de fora da harmonia, inesperadamente Platão tomou a frente em seu lado: - Também entendo como meu irmão Gandhi. E tenho certeza que os núcleos que comungam de meu posicionamento assim entendem. - Sim meus irmãos, e me desculpem se me exaltei. – Disse Zoroastro demonstrando que não guardava ressentimentos, somente estava defendendo seus ideais como todos ali. - Que isto, ambos somente estamos lutando pelo bem comum. – Respondeu Expedito, já emendando: - Mas meu irmão Gandhi, qual seria sua proposta já que o senhor se encontra dividido? - Tenho que o melhor seria formarmos uma comissão que seria composta por todos os núcleos, onde não iriamos debater razões de disputa sobre quem teria razão, como ficam fazendo os diversos líderes dos países na dimensão material, principalmente, os do planeta terra. Mas iriamos trabalhar em conjunto, cada um em sua área, mas sempre ligados, trocando ideias e 250 experiências, respeitando os resultados do próximo, isto sim é que o Criador ou Criadores iriam querer que seus filhos fizessem. É por isto que proponho que assim procedamos para encontrarmos uma solução entre fazermos novas armas celestiais, e, ainda, respeitarmos nossos irmãos rebeldes. - E se focássemos em desenvolvermos uma espécie de arma que ao invés de aniquilar como fazem as armas já existentes, de Arcanjos e Santos Guerreiros, elas poderiam transferir ou uma espécie de exorcizar através de uma transferência de dimensões destas almas para a dimensão intermediária, mais conhecida como inferno, após tentaríamos resolver o problema deles naquela dimensão, que sabemos ser um caos, mas é a única que poderia lhes abrigar como uma espécie de prisão mais segura. – Falou Agostinho o qual recebeu um aceno de concordância imediata de Expedito e dos demais membros da facção pro arma. - Ou poderíamos tentar formar armas que sugariam somente a energia da alma, assim, ela ainda existiria, mas sem força para lutar, abandonariam o campo de batalha. – Emendou Zoroastro o que mais havia se exaltado nos diálogos, demonstrando que estava disposto a conversar após a intervenção de Gandhi. Vendo isto Gandhi que por sua vez via que ambos os lados já estavam se entendendo, sorriu alegremente dizendo em alto e em bom tom: - Meus irmãos, conforme podem ver, após iniciarmos um diálogo mais aberto e dinâmico, pautado em resolução do problema, e não em avaliação de formas e verdadeiras vaidades pessoais, já estamos encontrando soluções. Por isto quero que saibam que neste momento já estamos vencendo a batalha, porque tenho certeza que Lúcifer de alguma forma estava atrapalhando nossas discussões, agora, tudo fluirá perfeitamente. – Ao terminar deu uma piscadela para Jesus e Buda que não se continham de tanta exultação. Buda se levantou dizendo com alegria: - Posto isto irmãos, creio que vocês mesmos podem estabelecer a melhor forma desta comissão de análise trabalhar, sigam em paz, e em no máximo um ano terrestre teremos que ter chegado a uma solução, todos de acordo? Todos já estavam com a expressão mais alegre, gritaram um sim quase que uníssono, e aos poucos foram deixando a grande mesa e a montanha diretamente para seus afazeres, os quais naquele momento tinham que ter um único foco e objetivo: estudar a criação e formas de novas armas celestiais para a quase que inevitável batalha final, mas desenvolvendo-as com formas mais amenas. ****** Ao final da reunião Platão e Zoroastro foram conversar com Expedito, ao passo que o filosofo tomou a iniciativa: 251 - Sabe que não temos nada contra você meu irmão, pelo contrário, temos é uma extrema gratidão. Por isto queremos que mesmo sendo contra a criação das armas por convicções expostas na audiência, deixarei de lado uma de minhas principais convicções, e estaremos ao seu lado no campo de batalha. - Vocês no campo de batalha? Isto somente pode ser uma piada! Desculpem-me, não que esteja esnobando suas ajudas, mas dispenso, afinal, somente iriam atrapalhar. - Não seja ignorante Expedito! Já se esqueceu de que em uma batalha o lado vencedor não é aquele que tem maior poderio bélico ou de contingente, mas sim aquele que conta com estrategistas, ou seja, mentes que podem mudar o rumo de uma guerra? – Respondeu Zoroastro com um ar não de fúria pela recusa, mas de ensinamento, afinal, sabia que Expedito tinha temperamento forte, e, certamente, ainda estava nervoso principalmente com os dois. Expedito não esperava aquela resposta, e por isso resolveu não prolongar mais a conversa, estava muito cansado, afinal, tinha pouquíssimo tempo que voltara do inferno. Somente assentiu com a cabeça e respondeu diretamente: – Muito obrigado. Depois veremos. Guardando somente em seu consciente a verdadeira resposta: Não quero! Após isso ele se pôs a sair rapidamente, porquanto, sabia que se permanecesse os dois certamente tentariam dialogar ainda mais, e ele definitivamente não tinha mais paciência para aquilo. Contudo antes de deixar a sala Platão gritou algo que o fez parar subitamente: - Se convencermos ele de retornar e lutar ao seu lado, o senhor nos aceita como conselheiros no campo de batalha! - Quem? Nimrod?! – Seu questionamento teve um tom ameaçador. – Saibam que irei trazer ele, de uma forma ou de outra. - Sabemos disso, contudo, não falamos nele! – Platão retrucou. Falam em quem então? - No guerreiro das areias, no mais famoso dos guerreiros de todas as eras na dimensão material. A resposta de Expedido foi seca e direta: - Se convencerem ele de lutar ao meu lado, terão pleno acesso ao no campo de batalha, contudo, terá uma condição... - Qual? – Os dois questionaram intrigados em uníssono. 252 - Terão que ficar até o fim, mesmo que isso signifique a morte do último guerreiro no campo de batalha, e, ainda, se perdermos a guerra, terão que estar ao meu lado quando atacarmos pela última vez, afinal, não sairei daquele campo de batalha derrotado, somente haverá um jeito de sair de lá, vitorioso ou morto. Portanto, se perdermos será somente após o último ser morto no campo de batalha, nele, incluindo, por evidente, nós se for preciso. Platão pigarreou, mas respondeu com convicção: - Aceitamos, estaremos juntos até o fim. - Isto se conseguirem convencer ele de lutar ao meu lado, afinal, se isso ocorrer, vocês terão uma grande chance de voltar daquele campo de batalha para continuar em vossas lereias! – Respondeu Expedito sorrindo e se retirando. - É Platão, agora temos que convencer ele de qualquer forma, afinal, do contrário é bem provável que não voltamos daquele campo de batalha, porque pelo que conheço o Expedito ele é capaz de tirar nossas vidas se tentarmos recuar. – Disse Zoroastro não em demonstração de medo, mas sim de total conhecimento da fúria de Expedito se fosse decepcionado. 253 CAPÍTULO 65 Dimensão material neutra – submundo, 1982 – ano terrestre O Senhor da Luz estava muito satisfeito com o resultado da reunião, e dando um sorriso falou após esmagar a pedra capacitor para não deixar rastros: - E mais uma vez Jesus e Buda conseguiram seu objetivo somente calados, isto é uma arte. E, agradeço por não ter esmagado esta pedra logo após o termino da reunião, porquanto, o resultado final dela foi bom, mas melhor ainda foi ver que Expedito terá a chance de lutar ao lado do mais grandioso dos guerreiros, aquele que com ele formariam uma aliança capaz de enfrentar Lúcifer de igual para igual, quero somente ver se Platão e Zoroastro vão realmente cumprir com o combinado... De repente ele calou-se ao perceber que algo estava atrás dele próximo a agarrá-lo, em um salto virou-se empunhando uma adaga, ao passo que, um homem caiu de susto ao ver a arma, e começou a chorar e tentar se proteger com as mãos erguidas: - Por favor senhor, não me machuque, somente estou precisando de ajuda para achar minha família! O Senhor da Luz se comoveu, sabia do que se tratava, e resolveu ajudar, mesmo que seu tempo não permitisse. Assim, guardou o punhal, e, ergueu as mãos em sinal de paz, ao passo que o homem ao ver a cena começou a se acalmar. O Senhor da Luz percebendo que o homem havia se acalmado, foi chegando perto dele, abaixou-se e disse bem baixinho: - O que o senhor se lembra? O homem ficou mudo por algum tempo, estava tentando lembrar-se de algo, e, após um prolongado raciocínio respondeu: - Nada... Não me lembro de nada! Somente que estava muito triste e deprimido, e, em uma tarde fiz uma loucura de tirar minha vida, agora vago por este local sem ver ou interagir com ninguém, você é a primeira pessoa que vejo em anos! – O desespero tomou conta ao final. – Pelo amor de Deus, me ajude. Sei que deve ser um anjo do senhor, assim, me leve embora deste local! O Senhor da Luz não tinha palavras, sabia muito bem que aquela dimensão era traiçoeira, afinal, ali as almas não se viam, ou seja, era como se estivessem em outro plano, mesmo que existindo várias, os seres que ali abitavam não interagiam um com o outro, tudo para que ficassem em estado de pensamento interior. Ele me vê por causa de minha maldição, afinal, transito em várias dimensões, e, por isso, devo ter quebrado mais está regra. – Pensou, antes de responder: 254 - Me desculpe, não posso ajudá-lo a sair daqui. Não sou um anjo, estou longe disso! Mas posso lhe orientar para que o tempo passe mais rápido. - Então eu vou ficar aqui para sempre nesse limbo?! – O desespero tomou novamente conta do homem. - Não! Não! – O Senhor da Luz foi enfático. – Não ficará aqui para sempre, pode ficar tranquilo. Isso é somente até você completar o tempo que deveria ter ficado na terra junto a vossa família e cumprido sua missão, após você seguira um caminho. - Então quer dizer que estou aqui pagando por meus atos! Deus é tão vingativo assim? Não serei salvo? – O homem se desesperou ainda mais. - Deus não é vingativo, mas como pai é seu dever ensinar a todos os seus filhos que devemos arcar com as consequências de nossa escolhas. Portanto, ele não está te punindo, mas te ensinando a não mais agir desta forma. Razão pela qual, não será salvo por milagres, mas no tempo certo seguirá seu caminho, com este ensinamento que está apreendendo ao passar por este local, do contrário poderá agir da mesma forma em tempos vindouros. - Mas eu sempre fui um homem do bem! Contudo, cai em desgraça, tudo iniciou quando perdi meu emprego e cai em depressão, depois, nada mais me dava prazer, perdi minha família antes de ter cometido suicídio, porque eles me abandonaram, após, subi em uma cadeira, amarrei uma carda na tábua do teto e pulei. Confesso-lhe que não pensei muito no assunto antes de tomar está atitude, e, por isso tentei voltar, a cadeira já estava embaixo do meu pé, e eu já estava quase me livrando da corda do meu pescoço, quando, algo pareceu me puxar para baixo, e, em questão de segundos a cadeira caiu de meus pés, e, fui me debatendo e, após uma escuridão, vim para neste local. O Senhor da Luz balançou a cabeça demonstrando seu nervosismo com parte da história, e resolveu explicar: - Você foi induzido a praticar este ato, por seres malignos que estavam sugando toda a sua energia, os quais, após você colocar a corda no pescoço e pular nunca o deixariam retornar. Foi por isso que você sentiu o peso quando tentou desistir, e, a cadeira saiu de seus pés. Você não via, mas naquele cômodo você certamente não estava sozinho, havia um ou mais seres que queriam muito que você deixasse sua jornada. - Mas como Deus permite isso?! – O homem estava agora indignado. - Não posso lhe explicar isso meu amigo, porquanto, está resposta creio que ninguém a têm com extrema certeza, mas sei que se ficar desta forma sofrerá e muito ainda nesta dimensão. - Mas isso não é justo! – O homem demonstrava ainda sua indignação. - Não sei se é justo ou não, mas sei que se ficar se remoendo será pior. Tenho que lhe confessar que já fiz o que você fez, e, permaneci neste local, por isso o conheço tão bem, após sair ainda respondi por meus atos, e, 255 até hoje estou tentado me redimir, assumi encargos que não sei se vou conseguir cumprir, mas estou aos poucos vencendo. - Então me ensine como fazer? – O homem se deu por vencido, afinal, pelo jeito não tinha muita escolha. O Senhor da Luz sorriu, era muito bom poder finalmente ajudar alguém que não o recriminava por seus atos passados: - Olha, você terá que permanecer em completo silêncio, como que meditando, irá comer quando sentir fome, beber quando sentir sede, enfim, viver, contudo, sempre em silêncio. Quando menos perceber vai estar raciocinando de uma forma diferente, como se alguém estivesse dentro de sua cabeça, neste momento, vai perceber quem será, dai é somente seguir seus ensinamentos, e, em pouco tempo sem perceber já está fora daqui e, acima disso, curado de tudo que lhe aflige. - Mas quem será essa pessoa que está em meu inconsciente conversando comigo? - Não sei, alguns dizem ser nosso próprio raciocínio lógico, outros que são anjos, alguns que são santos, eu prefiro pensar que são meus Criadores, os quais nunca saíram dali, mas que eu não os ouvia devido ao fato de estar muito ocupado pensando em coisas que eu julgava erroneamente serem mais importantes. O homem ficou calado raciocinando, não dando nenhuma resposta. - Você já está praticando? – Questionou o Senhor da Luz, já iniciando a sua passagem daquela dimensão. - Sim, acho que isso será o melhor a fazer. – A resposta do homem foi curta, mas foi dita com emoção, ao passo que ele olhou ainda no fundo dos olhos do Senhor da Luz o qual já estava desaparecendo ao ouvir a resposta, partindo literalmente daquela dimensão, a qual ele já deveria ter saído, porquanto, permanecer ali significava correr o risco de ser pego por algum guardião do universo: - Creio que você estava certo em quase tudo meu amigo. - Como assim quase tudo? – O Senhor da Luz ainda teve tempo de questionar antes de partir, e, agora estava curioso para saber da resposta. - Quando me falou que estava longe de ser um anjo, porquanto, anjos não são aqueles seres mitológicos, mas sim um estado de evolução que leva um ser a atingir uma compreensão plena de ajudar ao próximo sem esperar nada em troca, afinal, você já poderia estar longe, mas está aqui tentando me ajudar, isso pode ser pouco para alguns, mas significou muito para mim, e, creio que de uma forma ou de outra será recompensado hoje mesmo. O Senhor da Luz ficou emocionado em ouvir aquilo, afinal, estava tão acostumado em escutar que ele não prestava que não tinha sequer palavras para responder, e, nem poderia, já que estava correndo sérios 256 perigos ali permanecendo. – Fique com Deus, e espero que encontre o seu caminho. – Respondeu já desaparecendo por completo. Após o Senhor da Luz desaparecer o homem sorriu, ergueu os ombros e de uma forma fantástica começou a se transformar... Aos poucos foi mudando por completo sua fisionomia, os cabelos foram de um branco para negros encaracolados, o rosto foi tomando uma feição jovem, a pele de branca foi escurecendo, até mesmo a altura foi aumentando, após se transformar o ser ainda estava sorrindo, contudo, ainda mais alto, era como se ele estivesse em um estado de alegria plena. - Agora entendo porque aquele louco do Miguel e outros seres estão confiando neste sujeito, afinal, ao que tudo indica ele realmente encontra-se mudado, mas será até quando? – O ser se questionava, não deixando sua alegria. – Espero que não me decepcione, porquanto, não sou de aceitar ordens, e, foi por isso que o encontrei e testei sua mudança, espero que continue, porque senão eu mesmo vou aniquila-lo mesmo que isto signifique a punição mais severa do senhor, eu juro por tudo que é mais sagrado que eu Rafael irei até o fim caso você saia da linha caro Senhor da Luz. Já em outra dimensão o Senhor da Luz ouviu em sua mente estas palavras, olhou em todas as direções esfriando todo o seu ser, achava que Rafael estava ao seu lado, contudo, ao ver que ele não estava ficou extremamente confuso, então, crendo que estava sendo seguido e que corria perigo, iniciou seu plano de fuga de contingência, o qual era muito arriscado, implicava simplesmente em mudar de dimensões de forma continua e frenética, passando, inclusive pelo chamado inferno, e, quando estivesse exatamente naquela, ficar um tempo, afinal, Arcanjos e outros seres evitavam ali passar, não por medo, mas para evitar um embate com um demônio, o que ele não temia mais devido aos vários que enfrentava diariamente, e, quando sentisse que estava pronto, mudava novamente de dimensões de forma continua e migratória, após retornava a terra e sumia em um submundo de uma sala projetada com símbolos específicos capazes de afastar qualquer ser que não pertencesse a raça humana, era algo muito confuso para todos, mas que já o salvará até aquele momento, e, ele iniciou. - Tenho que admitir que ele é inteligente, mudar de dimensões é algo arriscado mais eficaz para fugir de um arcanjo ou qualquer ser celestial ou maligno, contudo, hoje será em vão, já que não vou te pegar. – Rafael conseguiu dizer ao Senhor da Luz quando este iniciou a migração entre às várias dimensões. - Isso não me interessa seu porco de Arcanjo, e, saiba que eu ainda não te perdoei pelo que você fez a mim! – Respondeu o Senhor da Luz já sumindo na vastidão das dimensões que mudavam freneticamente. Rafael sorriu, e com uma feição de vitória, estranha para um ser celestial, disse dessa vez para si mesmo: - Fico feliz que não tenha esquecido, afinal, é assim que se conquista respeito. 257 Após dizer estas palavras o Arcanjo abriu suas enormes asas, e, em movimentos rápidos sumiu daquela dimensão. Ao longe um homem que estava escondido sorriu. Tenho mais um arcanjo em nossa causa. - Pensou Jorge um dos guerreiros mais especiais do exército celestial ainda da evolução da alma humana, ele era o principal parceiro de Expedito, lado outro, um pensamento não saia de sua cabeça: Mesmo que consigamos todos os Arcanjos e Anjos e demais, creio que temos que ter um guerreiro estrategista, o qual terá que ser o principal deles, tomara que Platão e Zoroastro consigam cumprir a promessa... 258 CAPÍTULO 66 Berlim – Alemanha, 1982 Quando o médico viu Estela não podia acreditar, aquilo realmente era um milagre. - Como é que você do dia para a noite deixa a cama e agora está ai toda contente? – Disse o doutor tentando quebrar um pouco sua primeira reação de espanto, a qual havia ficado evidente até um ponto constrangedor. - É doutor, o senhor é um dos meus únicos amigos, por isto posso lhe confessar que não sei como estou desta forma. Somente sei o que meu pai me disse, mas não quero falar sobre isso. - Entendo... – Respondeu o doutor desviando inconscientemente o olhar, sabia que aquilo não estava correto, ele era quem havia feito todos os diagnósticos nela após o acidente, os exames não mentiam, o estado em que ela se encontrava era irreversível pelo menos no sentido de voltar a andar. Somente a incapacidade de falar que parecia ser reversível já que não descobriram danos. Contudo, a ética profissional não abria brecha para ele ficar questionando, tinha que se ater ao seu trabalho, não a sentimentalismo e incertezas de curas milagrosas. – A ciência sempre tem uma resposta! E vou encontrá-la com os exames. – Pensou. - Vamos ao hospital para eu lhe analisar melhor. Quando a Vilauba me ligou somente havia me dito que era urgente, contudo, nunca imaginei que seria tão serio assim. – Já se levantou estendendo às mãos como se dissesse que tudo era muito sério. – Dessa forma o melhor a fazer é realizarmos todos os exames para descartarmos qualquer possibilidade de reversão deste quadro de melhora. Ao dizer isto o doutor esperou receber uma negativa, por isto se assustou com a prontidão da resposta de Estela: - Sim doutor, vamos agora mesmo! Somente tenho que me trocar. E, por gentileza, será que o senhor pode levar eu e a Vilauba, porque eu não sei dirigir e meu pai não tem condições de nos acompanhar. - Claro que sim, vou aguardá-las no carro. – Respondeu já se virando, afinal, não queria que ela percebesse seu espanto pelo fato de seu pai não lhe acompanhar. Isso está muito estranho, afinal, Pierre é um dos pais mais presentes que eu conheço, sei que ultimamente seu tempo parece custar milhões, tudo pelo que vejo das notícias na televisão, onde tenho certeza que aqueles clientes pagavam caro por um pouco de seu tempo, mas para Estela ele nunca esteve indisponível, ainda mais em uma ocasião como essa. – Ele pensou já abrindo a grande porta de saída. Estela subiu às escadas contando com a ajuda de sua amiga e segunda mãe Vilauba que lhe apoiava pelos braços. – O que será que os exames vão apontar? – Ela pensava somente em seu íntimo, e logicamente 259 agradecia aos céus pelo fato do doutor ter feito aquela proposta, além de matar sua curiosidade, era ainda uma oportunidade de ficar longe de seu pai, seu principal objetivo naquele momento. Contudo, mal sabia ela que no hospital os exames ao invés de lhe darem paz, iriam é revelar algo que iria lhe tirar o sono pelo resto de sua, ao que tudo naquele momento indicava, curta vida... 260 CAPÍTULO 67 Vilarejo na França / porto de Le Havre, 1982 Após um longo percurso mantido graças à ajuda do Senhor da Luz, Damião havia finalmente chegado ao porto. Estava maravilhado com todo aquele movimento, e ao ver o mar ficou deslumbrado, afinal, já tinha um bom tempo que não o vislumbrava, e já estava com saudades não apenas da vista, mas principalmente da brisa e do cheiro, os quais sempre lhe encantavam. Foi então perguntando há várias pessoas sobre o navio que zarparia para o Brasil, e um velhinho magro e de corpo esguio lhe respondeu: - Ele ainda não chegou meu filho. – E já saiu apressado como os demais, sequer esperando por uma resposta, mas antes disto indicou com o dedo a placa que o levaria ao local onde ele atracaria. Damião seguiu a placa e avistou um grande cais, e, ao chegar mais perto ficou maravilhado devido ao fato de não ter nenhum navio ali ancorado, ficando somente um grande precipício, onde ele podia contemplar a imensidão do mar. Após algum tempo ali parado contemplando a beleza do mar, um pensamento lhe veio: Como vou arrumar dinheiro para embarcar? Ele havia revirado novamente a bolsa no caminho, e se certificou que realmente não havia nenhum dinheiro ali, não por culpa do Senhor da Luz, por óbvio, o qual ele sabia que por trauma nunca mais tocou em uma moeda... Foi quando um senhor muito bem vestido, branco como a neve e barba rala como a de um jovem, o que contrastava com sua idade já avançada, que Damião em primeiro momento lhe atribuiu ter uns sessenta anos se aproximou dele repentinamente. Ele ainda percebeu que o homem segurava um grande charuto entre os dedos cheio de anéis. - Porque pensa tanto em dinheiro? – Questionou o homem como se estivesse lendo os seus pensamentos. - Como sabe que estou pensando nisto. – Respondeu Damião já temendo ser algum ser maligno que teria algum poder de quebrar sua barreira psíquica de pensamentos, ou captava ondas, etc... - Todos pensam nele a todo tempo. Ainda mais quando mantém uma expressão como a sua. Damião se acalmou um pouco, a resposta eliminava em parte seu temor inicial, por isto resolver questionar o sujeito, demonstrando incredulidade, mas ao mesmo tempo tentando obter mais respostas, e, ainda, porquanto, dispunha de muito tempo, além do fato de que conversar lhe afastava a fome que já estava lhe afligindo: 261 - Você sabe ler pensamento somente analisando expressões? - Não simplesmente isto meu amigo! Tenho a capacidade de analisar cada ponto de sua expressão e de seus quase que imperceptíveis movimentos, e após um tempo deduzir com grande precisão o que está pensando. - Então quer dizer que somente pela análise disto conseguiu concluir que estava pensando em dinheiro? – Retrucou Damião já pensando em se levantar e sair correndo, já que após a resposta estava desconfiando que aquele cara fosse um perfeito charlatão, ou até mesmo algo pior, voltando a ter como pensamento ser algum ser maligno que poderia querer o conteúdo de sua bolsa, a qual apesar da falta de dinheiro continha uma gama de itens de valores inestimáveis, por serem tão raros, eram amuletos e poções quase que únicas na terra. Mas antes de tomar a atitude de se levantar o homem lhe respondeu: - Quase... Isto era apenas uma das hipóteses de conclusão inicial de tais fatores que já havia analisado. Normalmente eu puxaria uma conversa antes, para somente assim concluir o correto, contudo... – O senhor fez uma pausa olhando para suas vestes. Bem que aquele engraçadinho do Senhor da Luz me falou, estou realmente parecendo um mendigo. - Pensou Damião antes de lançar a dúvida que lhe afligia desde a chegada daquele estranho e melhor definindo excêntrico homem. - Mas se sou tão maltrapilho assim, porque o senhor me analisa tanto? Afinal, diante de minhas condições, e, analisando a qualidade de suas vestimentas e ostentação material de anéis e demais bens e adornos materiais em seus dedos e pescoço, é óbvio que em todas as hipóteses imagináveis você não tem qualquer interesse em nenhum traço de minha pessoa, nem de nada que levo, os quais são somente roupas velhas como eu estou vestindo! Mentiu para tentar iludir que não tinha nada de valioso para que aquele homem pudesse roubar em sua bolsa, e concluiu: – Então, se quer realmente fazer alguma coisa, vai doar um pouco de seu dinheiro para alguma instituição, quem sabe você ao invés de se vestir como um príncipe, não ajuda Deus a cumprir com algum desígnio maior e mais digno do que ficar analisando pessoas e caçoando delas por não terem condições de se vestirem adequadamente conforme seu padrão ou vontade. O senhor colocou o grande charuto no canto da boca, e, logo após, Damião percebeu surgir um pequeno sorriso no outro canto de sua boca o qual quase fez o charuto cair, era como se ele tivesse dito o que o homem queria ouvir. - Do que está rindo? – Questionou Damião novamente, desta vez demonstrando sua indignação com o sorriso que a princípio lhe pareceu um deboche. 262 - Mas é realmente isto que eu estou fazendo meu amigo. – Respondeu o homem agora se sentando ao seu lado, como se quisesse iniciar uma conversa. Damião ameaçou sair correndo, temendo que ele fizesse alguma coisa, mas o senhor segurou forte em sua perna para que ele não fugisse, e ele ficou com medo de lutar e cair ou fazer o homem que até aquele momento não havia lhe feito nenhum mal no precipício daquele cais. - Como assim? – Questionou Damião incrédulo com a resposta e atitude do homem, que sentou em uma calçada toda suja ao seu lado, sem qualquer cerimonia, e, que ainda, o segurou quando percebeu que ele iria correr de medo. - É muito simples. Sou um homem de muitas posses, mas tenho convicção que Deus não quer o meu dinheiro, o que ele realmente quer é que eu ajude o próximo! E isto não é feito somente materialmente, ou seja, através apenas de dinheiro. Mas é procedido de amplas formas de amparo e carinho, os quais podem ser exercidos diretamente, como ora estou fazendo, afinal, você ao invés de dinheiro, poderia somente precisar de um apoio de alguém para desistir de se matar neste abismo, seja porque sua mulher havia lhe traído ou pela perca de um ente querido, ou seja, eu poderia lhe amparar de várias coisas somente com uma conversa amiga, etc. O homem bateu em sua cocha piscando, como se dissesse que ele não esperava por aquilo, após prosseguiu: - Além disso, com a doação de valores a templos sem a prévia análise do destino, eu estaria beneficiando talvez falsos discípulos, os quais poderiam até fazer com que meu dinheiro chega-se a algum necessitado, contudo, infelizmente, a grande maioria destes homens ou instituições para fazerem isto retirariam suas digamos “comissões”, o que dilapidaria consideravelmente minha ajuda. E, o dito Deus continuaria ali, inerte, porque não foi ele, mas eu que escolhi ter um interventor unicamente porque não tive a coragem e humildade de vir diretamente ajudar os necessitados, o que as pessoas fazem sempre, porque tem medo de perceber que conforme lhe falei, na grande maioria das vezes os mais necessitados não precisam de dinheiro, mas de carinho e atenção. Damião estava boquiaberto. Aquela resposta havia lhe pegado de surpresa, afinal, nunca esperava daquele homem uma verdade tão curta, porém tão sábia, a qual foi articulada da forma mais suave de se chamar a atenção para um fato que até aquele momento ele havia pensado somente em reuniões com outros seres de luz. O homem vendo a surpresa de Damião, resolveu arrematar: - Ainda sei meu amigo, agora que analisei mais sua pessoa, que você é um ser de extrema inteligência, porquanto, além de me responder com verdade, dizia não possuir nada de valor, mas instintivamente apertava esta sua bolsa contra o peito, demonstrando que ai há algo se não valioso materialmente, pelo menos sentimentalmente. O que acho difícil, tendo em vista que, pela análise de demais fatores, percebi que não tem esposa ou família, e que aguarda neste porto não por dinheiro, mas pela oportunidade de seguir adiante. 263 - Como concluiu isto? – Interveio Damião querendo saber como percebeu sobre a missão. Afinal, qualquer deslize poderia colocar a perder tudo pelo que estava lutando, o que consequentemente colocaria em risco milhares ou senão todas às vidas na terra. O senhor olhou bem no fundo de seus olhos, e após um suspiro, como que se gabando por seu poder de percepção, decidiu revelar os motivos que o levaram a promover mais aquela descoberta: - É simples, após ter visto a forma que você agarrou instintivamente a bolsa, percebi que nela se encontra tudo que necessita para chegar ao seu destino, isto ainda foi aliado ao seu olhar, quando cheguei o senhor olhava ao horizonte como se estivesse à espera de algo. Após algum tempo percebi que não se tratava de uma pessoa, porquanto, seu olhar aliado a sua expressão não demonstravam desespero por algo ou alguém, então decidi dizer missão, o que aumenta consideravelmente as chances de acerto, afinal, uma missão é algo muito vago, e, portanto, praticamente se encaixa em qualquer situação. Mas após seu espanto, tenho que sua missão é algo muito importante, afinal, pelo que percebi o senhor ficou inclusive com medo de eu ser uma espécie de espião, o que me causa espanto, tendo em vista que o senhor não me parece alguém perigoso ou que tenha desavenças capazes de lhe causar algum mal. Além disso, através de sua resposta e da forma que raciocinou sobre minha resposta, percebi que não é apenas culto, mas sábio! E, pela forma que falou tive a certeza que é muito estudado, o que novamente contradiz com suas vestes. Enfim meu amigo, ainda poderia ficar lhe analisando até descobrir sua verdadeira missão, mas após estas analises acho melhor pularmos esta parte, porquanto, meu objetivo não é ficar escarafunchando sua vida, a qual não é de minha conta, mas lhe ajudar no que necessitar. Damião abriu ainda mais a boca instintivamente, aquilo era extraordinário, não tinha palavras para aquele poder de percepção, era como poderes mágicos, mas ele percebeu que o homem dizia a verdade, ele realmente somente fazia análises lendo o corpo do individuo e suas expressões, isto era sim um poder, o chamado poder do ser humano de desenvolver e levar suas capacidades cerebrais para além do normal, sem com isto utilizar-se de qualquer poder sobrenatural, somente o cérebro, a máquina perfeita dos criadores. - Não se assuste meu amigo, não vou lhe fazer nenhum mal, somente estou aqui para lhe ajudar no que precisar. – Disse o homem com voz suave e colocando a mão direita no ombro de Damião, como se quisesse confortá-lo. – E para não parecer mal educado, me chamo Pablo. - Damião. – Respondeu rapidamente sorrindo pela primeira vez após passar o espanto. Na realidade, ao ser tocado por Pablo, Damião que havia prometido somente utilizar seus poderes quando necessário, decidiu fazer uma exceção, afinal, aquele homem poderia colocar em risco toda missão, podendo ser algum aliado de Lúcifer querendo saber seu destino. Desta forma, após uma analise profunda de seus sentimentos e de todo o ser daquele homem, concluiu que ele era uma alma pura e bondosa, desprovida de qualquer maldade, mas com uma força mediúnica que ele mesmo não conhecia, o que 264 fazia que seu cérebro trabalhasse além do normal. Razão pela qual, ele fazia tamanhas observações, o poder realmente vinha de sua forma material, sem qualquer poder sobrenatural, mas ele havia com isso libertado sua capacidade mental superior ao homem médio. Querendo puxar conversa até que o navio chegasse, Damião decidiu finalmente tentar descobrir como um homem conseguia sem utilizar poderes sobrenaturais, desenvolver tamanho poder cerebral, ao ponto de ser desenvolvida uma percepção digna da mediunidade: - Dei uma olhada e questionei pessoas aqui no porto, que me disseram que o navio que eu pretendo embarcar sequer chegou ao porto. Aguardo neste local porque afirmaram que é aqui que ele vai atracar. Tenho que confessar que o senhor também acertou que terei uma nova vida neste novo País, posso lhe dizer que vou ter que cumprir meus desígnios. Por isto, disponho de algum tempo. O senhor poderia me dizer, lógico se quiser, e se tiver tempo, como o senhor ficou tão rico, e, principalmente, como se tornou tão sábio e com tamanhas habilidades? Na realidade o que Damião queria saber era se aquela bondade toda na verdade não seria fruto de uma consciência pesada, fato que sempre levou os homens a serem bons, assim agindo, portanto, não por essência, mas para tentarem na velhice se redimirem de um passado de maldade. - Para o senhor disponho de tempo sim. E, não é vergonha nenhuma dizer que ganhei toda a minha fortuna. - Ganhou? Como assim, em algum jogo? - Digo que sim meu amigo, em um jogo chamado ajudar ao próximo e em contrapartida ser ajudado, como estou fazendo contigo neste momento... 265 CAPÍTULO 68 Londres, Inglaterra, 1982 Charles chegou à sua sala. Já estava naquele local há semanas, havia ido a sua casa somente uma vez após aceitar o contrato, afinal, anteriormente aos acontecimentos recentes ele já não era de ficar em casa, visto que não havia nada ali para ele fazer, porquanto, nunca teve vida social, e, achava que no complexo havia de tudo para ele, pois, tinham alojamentos para os agentes e demais funcionários em todos os setores. Além disso, como ocupava a chefia de seu setor, tinha um quarto separado, até mesmo com uma pequena cozinha contendo frigobar e outros luxos, o qual era limpo e abastecido diariamente por um senhor alto e corpulento que cuidava dos afazeres domésticos de seu complexo, ele somente retirava o pó do alojamento dos agentes, visto que estes preferiam dormir em suas casas, contudo, tinha muito trabalho em seu quarto. - Bom dia Sr. Ruber. – Disse Charles em tom amistoso ao sair do quarto e ver que o senhor estava carregando alguns produtos de limpezas pelo complexo. - Bom dia Sr. Charles. Já limpei todo complexo, falta como sempre, tão somente, vosso quartinho. - É por isso que está carregando tantos produtos então! – Brincou Charles com a sua bagunça. Ruber sorriu, contudo, seus pensamentos se fossem externados junto ao seu sorriso seria algo diferente, algo como: Seu traste, porco imundo, vai fazer bagunça lá na sua casa! Se tiver uma! Charles sabia que Ruber o odiava, mas o que poderia fazer?! Ele gostava daquele local, e tinha a certeza que já estava se acostumando a rotina, mas sabia que em breve teria que sair em missões, por isso, mantinha seus agentes em um costume duro de treinamentos. Mais adiante avistou os mesmos chegando aos poucos de forma sonolenta no complexo, ao passo que um a um foram cumprimentando-o de formas diferentes, afinal, nenhum de seus homens era igual ao outro, as personalidades realmente ali borbulhavam. - Onde está Dominik? – Questionou para um dos agentes. - Não o vimos chefe, ele não veio no carrinho inicial, e, também não está em nenhuma missão. Nas primeiras semanas achei que pudesse ser somente a preocupação de minha cabeça após a orientação de Arthur, mas Dominik tem realmente me instigado com suas atitudes nestes dias, chegando tarde, e, muitas vezes desligado. – Pensou Charles, logo dizendo para não deixar seus outros agentes esperando-o perdido em seus pensamentos: 266 - Certo homens, quero que hoje interceptem o que as agências dos governos, principalmente, o Britânico estão planejando, e, quero um relatório sobre a minha mesa ao final do dia, além disso, desejo que entreguem as fichas tanto médicas quanto do profissional de saúde física e mental desta semana, visto que sei que em breve teremos alguma missão, e, assim, terei que saber qual de vocês estão mais aptos. - Nossa, mas o senhor quer de todas às agencias? Será muito demorado. Além disso, o médico e o educador físico disseram que a Dra. Kim somente liberou às análises dos médicos para amanhã, e, ainda tem o fato de que a equipe de ciência da computação estar reparando o supercomputador central, provavelmente ele somente seja liberado a tarde. - Então quer dizer que terão mais tempo para promoverem as interceptações pelo modo antigo, afinal, não será sempre que teremos tantas regalias, sem contar com o fato de que com os equipamentos de que dispomos atualmente isto se tornou muito fácil, e, quanto ao tempo restante que não estarão, portanto, no médico e profissional de saúde física e no mental, quero que treinem aquele novo armamento que a Dra. Kim enviou. - Mas senhor, ainda estamos lendo o manual preparado, e, tenho que lhe dizer que é enorme, tem mais de trezentas páginas, portanto, seu manuseio será quase impossível para hoje! – Reclamou outro agente. - Me desculpem se vocês estão sem tempo e parecem estarem cansados, se quiserem posso ir à minha sala e preencher uns documentos liberando vocês para férias, lógico de forma definitiva e sem remuneração. - Não chefe, desculpe nosso relapso. – Tentou acalmar os ânimos do chefe outro agente de nome Michael, ao perceber que Charles não estava para brincadeiras aquele agente que tinha fama de ser muito calado decidiu romper o silêncio e apaziguar as coisas. - Isso mesmo, você disse certo Michael, relapso, afinal, estão em total estado de reincidência do estado de calma incomum para agentes de suas estirpes, e, para informação de vocês eu já li os manuais de todas as armas, e, já fiz os manuseios de todas. Para você é fácil, afinal, não tem vida fora deste local. – Pensou um dos agentes chamado George externando um curto sorriso, por óbvio, não exteriorizando tal pensamento em palavras, somente resolvendo dizer com o sorriso ainda maior: - Chefe, lhe prometo que hoje mesmo vou concluir todas as minhas obrigações, e, tenho certeza que meus amigos também. – olhou para os homens que afirmaram com a cabeça em concordância. – Caso contrário, não sairemos daqui até que tudo esteja pronto. - Espero... – Concluiu de forma descrente Charles. De repente ouviram a porta bater, e, antes mesmos de se virarem passos apressados seguiram pelo corredor, era Dominik que chegou de forma assustada, tentando mesmo ainda ao longe se explicar: 267 - Me desculpe chefe, é porque dormi mais do que a cama. - Pois compre um despertador. Os agentes vão lhe passar o que foi dito por mim, visto que não tenho tempo para passar tudo novamente para um displicente, além disso, creio que nem eles têm, mais deve ser que algum encontre algum tempo, visto que estão até agora em minha frente. Imediatamente os agentes se dispersaram, ao passo que Dominik foi de encontro a um que tinha mais afeição, o mais brincalhão, certamente amigo de todos George, buscando explicações: - Porque Charles está tão bravo hoje? - Não sei, mas tenho que admitir que também estejamos dando motivo certo? Afinal, não estamos nos dedicando ao máximo neste novo projeto, o qual ele está se dedicando exclusivamente, além disso, seus atrasos tem sido recorrentes. Dominik resolveu não responder, somente se dirigiu para sua mesa, iria estudar o manual da nova arma, que sabia que Charles já havia cobrado, após ele discutiria com algum agente o que mais deveria fazer, afinal, naquele momento todos pareciam estarem nervosos com ele devido aos atrasos. Mas o que posso fazer? Afinal, sei que não tenho escolhas... – Pensou com descrença. 268 CAPÍTULO 69 Porto de Le Havre - França, 1982 - Não entendi? Como assim ganhou uma fortuna ajudando o próximo? – Questionou Damião com cara de ceticismo devido à dubiedade da resposta. Pablo suspirou como quem iria iniciar uma longa história, e resolveu iniciá-la: - Eu nunca conheci meu pai, e minha mãe infelizmente faleceu quando eu tinha apenas seis anos. Assim, eu e minha irmãzinha que tinha apenas três anos à época, tivemos que ir morar com minha avó, em uma pequena vila aqui perto do porto. – ele apontou com o dedo a direção. – Devido à tenra idade, não tínhamos ainda a consciência da situação, sentíamos a falta de nossa mãe, que era muito presente em nossa vida, talvez até mesmo pelo fato de eu me lembrar que ela tentava suprir a falta de meu pai, mas a realidade era que ela desempenhava bem a função de mãe e trabalhadora, provendo com satisfação nosso lar e nos educando. Minha avó era uma excelente pessoa, uma senhora que mesmo tendo quase setenta anos à época, ainda trabalhava duro, não por opção, lógico, mas por necessidade, tendo em vista que as coisas já eram difíceis para ela sozinha, imagina com duas crianças... Os olhos de Pablo começaram a marejar, e Damião ameaçou dizer algo, mas foi interrompido pelo homem que prosseguiu, nitidamente querendo contar sua história sem interrupções: - Quando tinha seis anos, já comecei a ajudar minha avó. Ajudava em tudo, bordado, fazer comida, cuidar de minha irmã, tudo. Ela dizia que eu era o homem da casa, o que me fazia sentir-se a pessoa mais importante do planeta. Por estar quase sempre ajudando minha avó, não tinha muito tempo para brincar, pela manhã estudava, e no período da tarde desempenhava minhas funções. Contudo, sempre antes de anoitecer, ela me mandava brincar um pouco enquanto ela fazia o jantar, dizia ela querendo demonstrar autoridade, mas com uma ternura que era inconfundível: “Vá brincar, você já fez o almoço, tenho que fazer a janta para não perder a prática!” Muito alegre eu saia correndo, e brincava até o anoitecer. Pablo fez uma pausa, como se estivesse perdido naquele tempo, e Damião desta vez não ameaçou interromper, queria ouvir aquela história, ainda mais devido ao fato de que era contada com maestria, o que levava Damião a imaginar todos os detalhes, como uma criança ouvindo as histórias contadas pelos pais antes de dormir. - Quando tinha apenas oito anos, já vim trabalhar aqui no porto. Eu fazia de tudo, carregava pequenas bagagens, ajudava os marinheiros de embarcações menores a atracar, etc. Mas nunca deixei a escola, esta foi à imposição que minha avó fez para permitir que eu pudesse aqui trabalhar. Em certo dia, em que eu devia contar na ocasião ainda com uns oito anos, ao chegar ao porto pude ver ao longe um velho marinheiro sentado em seu barco. Ele tinha a cabeça inclinada. Sempre tive este meu poder de análise, lógico 269 que não desta forma, mas foi o suficiente para perceber que o senhor agia em atitude suspeita. No início eu me assustei, e pensei em correr e chamar alguém, crendo ser algum marginal, mas após alguns segundos a mais de análise, e, chegando mais perto, pude perceber que o ancião estava era a chorar muito olhando para uma foto. Foi quando eu vi o rosto daquele senhor e comecei a sentir algo estranho, como se eu já o conhecesse, isto mesmo! Realmente eu já o conhecia. Eu conclui. Será que é daqui do porto? Me questionava. Quando cheguei ainda mais perto e fixei o olhar em seus olhos não tive dúvida, e cheguei até a dizer em voz alta minha conclusão: “É o senhor que vi em meu sonho...”. - Como assim o senhor que você havia visto em um sonho?! – Questionou Damião somente para demonstrar interesse, porquanto, por seu vasto conhecimento sabia que visões em sonhos podem ser o preludio para fatos vindouros, quando a missão é muito importante, muitas vezes impostos por anjos que querem certificar que a pessoa vai fazer aquilo para que estava designada a cumprir, e naquele caso não era diferente, ao passo que ele teve a confirmação com a resposta. - Sim em meu sonho! Bem na noite anterior àquele encontro, eu sonhei com a minha mãe, ela estava linda como nunca havia visto ela antes, vestida de branco e com uma coroa de rosas na cabeça que reforçavam ainda mais a beleza de seu lindo rosto. Ela apontava para o horizonte, e nele estava aquele mesmo senhor, só que não em um barco, ele tinha ao seu redor sombras negras, elas se moviam rapidamente, mas eu podia ver que em alguns momentos elas tomavam algumas formas como se fossem humanas, me olhavam e soltavam gargalhadas gritando: “Ele não vai conseguir, pode tentar sua idiota!”, lembro perfeitamente que minha mãe sorria para mim e acariciava meu rosto, dizendo para que não tivesse medo, lembro que a questionei: “Mais mamãe, eles vão pegar aquele senhor! Eles são maus.”, ela sorriu dizendo-me: “Pode ficar tranquilo meu bem, um amigo meu está enviando um forte cavaleiro para salvar aquele senhor. E quanto aqueles seres que estão perto dele, pode ficar tranquilo que eles não são maus, apenas estão desorientados. Pode ser que após algum tempo eles retornem ao caminho da luz.” Ela disse é foi sumindo, eu chorava muito devido ao fato dela estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe, perto porque estava sempre em meu coração e pensamentos, mas longe porque seu beijo me fazia uma falta, quando pensei nisto ela antes de desaparecer completamente abaixou-se e beijou o meu rosto, tive a certeza que aquilo não era um sonho, porque senti seus lábios macios realmente. - Acredito veemente em você meu amigo. Também já tive esta sensação. – Se solidarizou Damião. - Contudo, meu amigo este sonho foi confirmado estranhamente naquele dia aqui no porto, porque ao se aproximar ainda mais, além de ter certeza de que ele realmente era o senhor do sonho, pude ver que tinha uma arma na mão direita, que apontava para a cabeça, “ele vai se matar”, esta foi à conclusão que fiz, ou seja, um tanto óbvia! – Disse ele olhando para cima, como se aquela fosse à conclusão mais fácil que fizera em toda sua vida. – Mas que minha cabeça de criança demorou algum tempo para raciocinar. “Senhor, não faça isto!” Gritei, e para minha sorte ele escutou... 270 Pablo fez uma pausa e Damião viu escorrer uma lágrima, e não conteve a curiosidade. - Qual a razão das lágrimas? Ele não te ouviu e se matou! E você uma criança inocente viu toda cena... – Disse Damião deixando cair os ombros de tristeza. Pablo enxugou a lágrima solitária com o indicador, e abrindo um enorme sorriso decidiu responder: - Acalme-se que minha lágrima é inteiramente de alegria! E meu sorriso demonstra isto. Antes que me pergunte, posso lhe afirmar que daquele instante em diante minha vida mudou, salvei uma vida o que para mim já era gratificante, mas, principalmente, porque, além disso, eu ganhei um pai. - Como assim pai, seu pai não havia... – Mas antes mesmo de Damião terminar o questionamento Pablo interviu: - Não meu pai biológico! Somente força de expressão. – Respondeu com um sorriso. – Mas era como se o fosse... – Deu um suspiro perdendo o olhar na imensidão do horizonte, obviamente relembrando do senhor. Damião a partir daquele momento tinha a certeza que aquele senhor havia sido mudado pelo ancião que ele salvará a vida no barco, mais algo parecia ficar no ar, afinal, como um senhor em um pequeno barco fez com ele tivesse enriquecido? Mas a resposta era simples, e ele iria se surpreender ainda mais com aquela história do que ele imaginava... 271 CAPÍTULO 70 Londres, Inglaterra, 1982 Ao anoitecer Charles estava retornando para a sua sala após uma saída rápida até o setor de saúde para se certificar pessoalmente que eles analisariam seus agentes no dia seguinte, contudo, ao abrir a porta do escritório levou um grande susto ao encontrar Dominik sentado lhe aguardando. - O que foi chefe, parece que viu um fantasma? - Somente me assustei ao me deparar com você, afinal, nunca recebo visitas inesperadas, as quais tenho que lhe dizer que não gosto nem um pouco! - Me desculpe, os agentes me mandaram trazer os relatórios, e, ainda, afirmar que eles já terminaram de estudar a arma e que já manusearam a mesma, amanhã terminam o treinamento. - Certo, mas não precisava ter me esperado somente para isso, sabe o esquema, anote na caderneta e saia. – Charles respondeu passando diretamente por ele e se dirigindo rapidamente para sua cadeira. - Sei chefe, mas é porque queria novamente me desculpar, estou tendo alguns problemas familiares, e creio que não estou resolvendo os mesmos de forma a separá-los de meu trabalho. – abaixou a cabeça em sinal de culpa. – Mas isso não vai mais se repetir. Problemas familiares, estranho, visto que ele nunca sequer disse ter uma família, e, ainda, seu irmão nunca me falou nada também a respeito. – Pensou cauteloso Charles, mas respondendo, obviamente diferentemente: - Sem problemas, todos nós temos em algum momento problemas familiares, ou melhor, - se entristeceu um pouco – quase todos, afinal, para os que não têm família como eu este problema não existe. – fez uma pausa pensando em sua vida – Mas lhe confesso que queria ter estes problemas... – Ele não queria, mas o final de seus dizeres saiu até mesmo externando melancolia extrema. Dominik ficou sem palavras, aquilo foi mais do que inesperado, afinal, nunca havia visto Charles ter falado qualquer coisa sobre sua vida, quanto mais demonstrando sentimentos tão profundos. - Pode se retirar Dominik, mas quero que se dedique mais, como lhe falei, não sei o que é trabalhar pensando em problemas familiares, mas posso lhe garantir que eles aumentarão caso você perca este serviço. - Sim chefe, e, ainda, lhe agradeço por ter me recebido. – Respondeu e já saiu rapidamente, com o pensamento aliviado: Agora sei que ele não desconfia de nada, do contrário não teria se aberto desta forma. Charles sorriu enquanto Dominik se distanciava, ele havia conseguido: 272 - Agora estou certo que ele tem algo a esconder, e, ainda, me abrindo deixei claro que ainda confio nele, assim, ele vai ter maior segurança, e, com isso abaixar a guarda, quando menos esperar vou lhe agarrar. – Concluiu dizendo bem baixinho para si mesmo, abrindo mais o sorriso e já se dirigindo para seus aposentos, novamente, não para o seu pequeno e conturbado apartamento, mais para seu quartinho ali mesmo, definitivamente sua nova casa... ****** Charles estava com insônia, afinal, não sabia o que lhe esperava naquela nova missão, a primeira após seu início naquele empreendimento que se mostrava a cada dia muito maior do que esperava quando aceitou. Será que Arthur sabe realmente quem é meu pai? – Este pensamento não lhe saia da cabeça. Rolou mais uma vez na cama, o que já havia feito muitas vezes naquela noite, tentando encontrar um aconchego que não lhe privasse do sono, ou pelo menos, que lhe proporciona-se maior conforto e, por conseguinte, induzindo nem que fosse a um estado de descanso maior. A vida é realmente um mistério, muito clamam por não saberem o que se encontra oculta nos mistérios da vida, já eu, somente queria saber duas coisas: quem é meu pai, e, ainda, meu outro pai, aquele que me criou para aqui estar neste momento. – Ele gostava de filosofar em pensamento sozinho na madrugada, muitas vezes pensando na essência de sua verdadeira existência sob a terra. Ainda clamando por querer ver a face não apenas de seu pai terreno, mas acima disso, do criador, Charles finalmente rompeu a figura sombria da insónia e adormeceu... De repente iniciou um sonho, no qual viu que estava andando por um corredor lindo, o qual somente tinha as paredes laterais se perdendo de vista tanto o seu início quanto o seu final, e, ao olhar para o teto, percebeu que ele também não havia, somente um maravilhoso céu. Nas paredes percebeu haver muitas plantas e flores. Enfim, tudo muito estático, ao ponto que ele andou admirando sem perceber um só movimento. Quando de repente ouviu um grave som, e ao virar-se viu um beija flor voando rapidamente por todo local. Então, assentou em uma mureta lateral vislumbrando o pequenino. Após algum tempo assustou-se ao perceber que o pequeno ser estava ao invés de sugar néctar literalmente criando de seu pequeno bico seres como uma aranha que brotou de seu acúleo como mágica e o pequeno aracnídeo não tardou em fazer uma grande teia. 273 Além da pequena aranha, do bico do pequeno saiu uma lagarta e outros vários insetos... Maravilhado e ao mesmo tempo assustado com tudo aquilo Charles se espantou ainda mais quando a diminuta criatura alçou voo em sua direção. Foi quando ele percebeu que estava totalmente despido de qualquer vestimenta, ao passo que, ao olhar para suas extremidades, percebeu ainda que lhe faltavam as pontas dos dedos. De repente o pequenino ser se aproximou ainda mais tocando com o pequeno bico nos locais onde faltavam, criando do nada, ou melhor, do todo, tais membros faltantes. Após encontrar-se totalmente pronto o beija flor alçou novo voo, mas antes de partir parou plainando em sua frente, como se estivesse a olhá-lo, e após alguns segundos voou para longe sumindo na imensidão do céu azul. Neste momento Charles acordou, extremamente suado, mais uma paz profunda instalou em seu ser... - Percebi, finalmente, percebi... – Ele dizia ofegante com extremo sentimento de elevação espiritual, e, como se tivesse retornado de uma viagem para casa, a qual nunca teve naquele plano material, mais que pela primeira vez, mesmo sem ter noção do sentimento diante da ausência de parâmetros em sua vida, soube em seu intimo, ser aquele talvez o sentimento mais puro e perfeito que teve desde seu nascimento, o da revelação... 274 CAPÍTULO 71 Porto de Le Havre - França, 1982 Pablo após um longo suspiro iniciou a desenrolar da sua história, sob o olhar de atenção absoluta de Damião: - Tudo iniciou naquele dia. Após eu ter gritado, o senhor parou e abaixou a arma. Em primeiro momento era como se ele tivesse sentido vergonha de eu tê-lo visto. “Por favor menino, saia de perto que eu tenho que trabalhar com um instrumento do barco muito perigoso.” disse ele abanando a mão para que eu saísse de perto do barco. “Não, daqui eu não saio!” Respondi batendo o pé direito, como uma criança empacando. Não sei como respondi isto, mas ainda bem que tive coragem de contrapor. Vendo que eu realmente não iria embora, o senhor abaixou e começou a balançar a cabeça, em sinal de reprovação, e misturado ao choro começou a resmungar: “não tem jeito meu Deus, além de não me deixar partir com dignidade, ainda envia uma criança para ser expectadora de minha fraqueza!”. Pablo fez uma pausa, e seu olhar que ainda encontrava-se no horizonte foi lançado a Damião, como se ele quisesse deixar claro o que estava para falar: - Meu amigo, você é a primeira pessoa que confesso isto em toda minha vida, mas a verdade era que após ver aquele senhor ali resmungando para Deus, eu fui entrando no barco, mesmo que não tivesse ao menos raciocinado para fazer tal ato, era como se não tivesse controle sobre meu corpo, e quando menos percebi já estava na frente do senhor. Ele também se assustou ao erguer um pouco a cabeça e me perceber à sua frente, tanto que deu um solavanco para trás, quase deixando a arma cair. “O que faz aqui dentro menino? Já falei para ir embora!” disse ele escondendo o revolver nas costas. Não sei explicar, mas inexplicavelmente me veio algo na cabeça, e eu comecei a repetir, desta fez era por vontade própria, mas era como se as palavras viessem e eu somente repetisse, então, de uma forma estranha falei com aquela voz infantil inconfundível, onde me lembro até hoje de cada palavra: “Meu senhor, não vim aqui para assistir sua fraqueza, mas para lhe oferecer a oportunidade de cumprir sua missão até o fim com a dignidade que ora lhe falta. Além disso, pesadamente não é somente vossa mente que está fraca, mas vosso espírito, e, por está razão está escolhendo este caminho que entende ser mais fácil, mas que na realidade não será apenas o mais difícil, mas será aquele que vai atormentá-lo, por isto posso tirar aquilo que lhe aflige a alma induzindo este ato impensável, para que possa então raciocinar com a razão.” - Nossa! Você realmente foi profundo. – Damião disse perplexo. - lembro-me perfeitamente que ao terminar de dizer isto, ou melhor, repetir, tendo em vista que conforme lhe falei era como se aquelas palavras estivesse sendo ditas em minha cabeça, até mesmo, porquanto, eu naquela idade logicamente não teria a capacidade de dizer algo neste tom e desenvoltura de diálogo e poder de persuasão. Assim, após me recordo 275 perfeitamente que de uma maneira totalmente irracional e desprovido de vontade própria soltei um enorme grito de fúria que fez o velho se sobressaltar de susto, lado outro, o que mais lhe assustou não foi meu grito, mas o fato de que após o urro ele percebeu sombras saindo rapidamente de perto dele e pareciam que haviam pulado do barco diretamente na água, ele se levantou me deixando ali estacado, e foi olhar o que era, mas ao chegar e ver somente bolhas subindo da água, ele me disse em conversas futuras que lhe arrepiou todos os fios da cabeça. - Realmente ele estava na presença de algumas coisa muito ruim. – Damião afirmou. - Após, somente me lembro dele retornar de perto da borda do barco e começar a me sacudir, e, quando voltei a si, ele me questionava assustado: “O que era aquilo perto de mim? O que era aquilo perto de mim?” e ao recobrar minha consciência comecei a gritar que não tinha ideia do que ele estava falando, foi quando ele me soltou e começou a andar pelo barco batendo na cabeça dizendo “O que eu iria fazer com minha vida meu Deus? Sei que tenho pouco tempo, mas nunca me perdoarei por ter tentado retirar aquilo que vossa Graça me concedeu com vosso amor.” foi quando percebi que ele não iria mais se matar, e que estava naquele momento somente perdido em seu pensamento de culpa pelo ato que quase havia praticado. - O que você falou para ele depois? – Damião estava realmente curioso. - Nada, não disse nada. Simplesmente com a inocência de criança, virei às costas e fui sorrateiramente saindo da embarcação, foi quando escutei um grito de alegria e em exaltação ouvi o senhor me dizer: “Minha criança, você salvou minha vida, e ainda parece que tirou tudo de ruim que estava me afligindo, me sinto renovado. Como posso lhe ajudar?” novamente com a inocência de uma criança, somente supliquei: “Não conte para minha avó o que aconteceu aqui, porque senão ela não permitirá mais que eu volte para trabalhar!” quando terminei de falar já fui agarrado pelo senhor, que me ergueu somente com um abraço demonstrando sua força que contrastava com sua já avançada idade, me beijando a face, após um longo tempo, quando eu já estava ficando assustado com tamanha gratidão, ele me colocou no chão, se agachou e olhando em meus olhos me respondeu sorrindo: “Trabalhar? A partir deste dia meu jovem, você não vai mais trabalhar neste porto!” quando eu já estava me assustando com aquela afirmação, pensando que ele iria de alguma maneira me privar de laborar e assim ajudar minha avó, ele disse algo que de início eu não poderia nem acreditar... Pablo começou a chorar muito, realmente aquela era uma história que ele parecia que nunca havia contado para ninguém, era como se ele estivesse remexendo em um baú antigo e ali se encontrava fotos de sua família que há muito tempo não via, e que trazia de volta todas as recordações maravilhosas. - O que ele te disse meu amigo, para te deixar tão emocionado até hoje? – Questionou Damião acariciando as costas do senhor, em sinal de solidariedade com seus sentimentos. 276 - Primeiramente, ele me questionou: “Você somente tem sua avó?” respondi que havia também minha irmãzinha, e de uma forma estranha desabafei com ele que havia perdido minha mãe e que meu pai morreu quando eu era muito jovem, e, ainda, que minha avó somente permitia que eu ali trabalhasse após os estudos, etc. - O que ele lhe respondeu? - Ele sorriu me dizendo e passando a mão direita embaixo de meu olho no qual já brotava uma lágrima: “A partir deste momento, lhe devo minha vida, que não é muita coisa, porque tenho uma doença incurável, mas sei que Deus me dará forças para lhe ensinar tudo que sei, lógico se estiver interessado.” balancei a cabeça em afirmação, pensava que ele iria aceitar meus trabalhos no barco, e, assim, vislumbrei a oportunidade de ajudar ainda mais minha avó tendo um trabalho fixo. “Eu aceito ajudar o senhor em seu barco!” eu disse a ele demonstrando minha inocência, e meu desconhecimento em negócios, afinal, antes da proposta aceitei aquilo que sequer foi cogitado, e, ainda, sem discutir qualquer remuneração, ou seja, uma total demonstração de que aceitaria qualquer proposta. Contudo, o que ele tinha a propor sequer passaria por minha cabeça... Fez uma pausa voltando o olhar para o horizonte. Mas voltou novamente a relatar sua história, afinal, além de querer contá-la parecia que seu novo amigo estava muito feliz em ouvi-la. - Ele me disse: “Vou lhe ensinar tudo o que sei, mas em troca não te darei de imediato nenhuma remuneração, você topa?” lembro-me direitinho destas palavras de questionamento ansiando pela resposta correta. Eu realmente era muito pequeno, até hoje não sei se naquele instante o respondi realmente tendo consciência do que estava a aceitar, mas parecia que estava sendo conduzido a dizer: “Sim, claro que aceito!” e ainda completei dizendo: “Minha avó sempre me diz que o aprendizado é a melhor remuneração.” foi quando percebi as lágrimas escorrerem pelo seu rosto já enrugado, ele me ergueu novamente, beijou minha face e me disse demonstrando extrema emoção: “O senhor atendeu minhas súplicas, me enviou o filho que sempre sonhei. Prometo-te que além de ser o homem mais rico, será o mais sábio!”. - Ao ouvir isto meu coraçãozinho de criança quase parou, minha mente não processava o que estava ocorrendo. Seria verdade? Questionavame. Somente regressei de meus pensamentos quando ele me desceu ao solo com ternura, pegou em minha mão e pediu para que o levasse até minha casa. No início eu hesitei, afinal, era muito novo, mas já tinha uma certa malícia que havia adquirido após vários golpes que levei no porto, o principal deles era ajudar marinheiros que me pagavam com um pequeno peixe. Mas não tinha jeito, aquele senhor estava tão determinado em seus intentos, que soube naquele instante somente através de seu olhar direto aos meus pequenos olhos que qualquer coisa que eu fizesse não iria fazê-lo mudar de ideia. - Ele realmente foi à sua casa? – Damião estava espantado. - Sim, e ainda no caminho ele elogiou muito minha avó, dizendo que ela havia me educado muito bem, acrescentei que minha mãe também me ajudava muito, ele sorriu proferindo que era lindo a forma com que eu ainda 277 lembrava com ternura e consideração por minha mãe. Quando chegamos à vila, notei que ele estava olhando tudo com muito espanto, era como se ele tivesse entrado em outro mundo, do qual parecia não gostar nem um pouco, foi quando notei que ele começou a chorar. - Chorar? - Sim chorar meu amigo! “Porque chora meu senhor?” questionei a ele com a inocência infantil, afinal, eu já estava acostumado à pobreza, mas para uma pessoa que ali não havia antes adentrado era como chegar em um novo País desconhecido, onde crianças brincavam próximo ao esgoto, as casas eram verdadeiras taperas, e os habitantes realmente ali não viviam, somente sobreviviam... 278 CAPÍTULO 72 Londres, Inglaterra, 1982 Na manhã seguinte quando Charles acordou levou um susto ao descer e se deparar com todos os seus agentes já no centro de treinamento. Foi descendo as escadas ainda se espreguiçando, quando se assustou ainda mais ao perceber que Arthur estava sentado em uma cadeira observando-os treinar e ainda dando algumas dicas. Cautelosamente Charles foi se aproximando do centro, e quando menos esperava Arthur logo lhe contemplou com seu ar de entusiasmo: - Bom dia meu caro! Antes de adentrar no complexo de treinamento Charles acenou com a mão para que os agentes deixassem o lugar, para que eles pudessem conversar, sabia que havia algo de errado. Os agentes rapidamente começaram a sair, mais antes do último deixar o setor Charles o segurou pelo braço questionando de uma maneira estranha mais direta: - Porque estão aqui tão cedo, e, ainda por cima com ele? - A secretária dele nos telefonou de madrugada, dizendo que era para estarmos aqui para antes do senhor acordar, pensei ser pela manhã, mas eles disseram para virmos naquele momento, fiquei primeiramente assustado como o senhor acorda cedo, mas agora vejo que é verdade. – o agente olhou para a toalha na mão de Charles. – O senhor vai nadar? - Pelo visto a resposta correta pelo que eu vejo era que eu realmente “iria nadar”, visto que estou pressentindo que haverá mudança em meus planos. – Respondeu soltando o braço do agente e indo logo na direção de Arthur. - Vejo que estraguei seus planos? – Arthur foi quase irônico. - Não. – Charles foi seco. - Tem algo de errado com você Charles? - Não, somente não sou muito de falar quando acordo. Arthur sorriu, havia mais uma semelhança sua com Charles, ele também já teve várias mulheres que disseram que ele era rabugento pela manhã, por isso fez a escolha de dispensá-las na noite mesmo, dizia que iria sair de viagem, mas ia para outro quarto deixando que elas dormissem na sua suíte de luxo, somente para que não pudessem reclamar no dia seguinte. - O que o senhor pretendia ao dar ordens a meus agentes desta forma? - Seus agentes não. Nossos agentes. – o velho disse olhando nos olhos de Charles. – Temos que sair o mais rápido possível. 279 - Mas para onde?! – Charles questionou demonstrando certa exaltação, e, também um pouco de vergonha pela forma que expressou anteriormente sua indignação. - Você somente saberá quando chegarmos. – Arthur respondeu em um tom não de mistério, mas firme, como se não quisesse discutir aquilo. Charles muito inteligente, e já conhecendo o velho, decidiu não questionar. - Escolha dentro de sua equipe alguns homens, vamos partir em duas horas, por isso quero que tome café agora para que até que nós tenhamos saído já ter feito à digestão, visto que, segundo me consta, você enjoa em jatos, e posso lhe garantir que nesse será pior, visto a sua velocidade não ser comum. Charles deu de ombros, odiava que os outros falassem sobre aquilo, afinal, somente vomitou uma vez, e era em um simulador gravitacional para uma missão, não em um jato, mas preferiu desconversar e mudar de assunto: - Quantos homens o senhor acho que vamos precisar. - Pode escolher dez, peço que coloque aquele grandalhão negro, ele é muito habilidoso. - Sim, é o Robson, ele é brasileiro e muito bom com bombas e outras peripécias, além de ser muito dedicado. – Charles ficou feliz que algum dos homens tenha agradado o velho, porquanto, pela forma que ele estava olhando todos ultimamente, como um pai que desagrada às atitudes do filho, ele estava receoso. - Coloque também aquele russo louco e temperamental. – Tornou Arthur. - Não sei se isso vai funcionar, tenho que lhe advertir que ele e Robson não se dão muito bem! - Por isso mesmo. – Arthur respondeu já se levantando e saindo. - Não entendi?! – Charles teve quase que gritar, ao passo que Arthur parou e olhou-o com um alhar estranho, parecia que não iria responder nada. Contudo, após algum tempo ele voltou somente alguns passos e começou a passar um verdadeiro sermão: - Pois bem meu caro Charles. Por óbvio eu já havia percebido isso! Assim, quero testar os dois e ainda fazer com que trabalhem em equipe, do contrário teremos que dispensar um deles, porquanto, você já deveria saber que não podemos nos dar ao luxo de ter entre os homens alguns com desafetos entre si, isso poderá custar à vida de todos em uma situação... digamos... mais perigosa! - Certo... – Charles respondeu quase que deixando transparecer um sorriso, mesmo após a bronca, e, espantando sua rabugentíssima personalidade matinal, havia tomado uma confiança extrema nas decisões de 280 Arthur, ele parecia um líder nato, em alguns momentos ele pensava o porquê daquele velho ainda o manter ali, afinal, o mesmo poderia comandar facilmente uma equipe sem qualquer ajuda. Contudo, sabia que ele tinha outros afazeres. - Estamos combinados? - Sim senhor Arthur, no horário marcado estaremos aqui prontos lhe esperando. O velho foi saindo, ao passo que quando já estava bem próximo da porta lembrou-se de algo, virou-se e gritou para Charles que deu um pulo de susto: - Não fiquem aqui, vão direto para o heliporto, e lembre todos de levarem os escudos como combinado, e, ainda, conforme havia solicitado que treinassem, creio que vamos precisar não apenas deles. Charles somente acenou com a cabeça positivamente, mas seu corpo estava tremendo de raiva, ele odiava carregar coisas penduradas em seu corpo, ainda mais um escudo. É certo que ele é um pouco leve e pequeno para se carregar, isso após a Dra. Kim e sua equipe ter desenvolvido a meu pedido um dispositivo que faz com que eles diminuam seus tamanhos para transporte, e, somente aumentem para o combate, Arthur achou que isso poderia nos colocar em risco, e não deve estar muito errado, visto que caso o dispositivo falhe estaríamos perdidos. – sorriu a se recordar dos acontecimentos sobre os escudos. – Após a doutora ter quase agredido o velho devido a sua quase que afirmação de incompetência por parte daquela de desenvolver o produto, creio que não teremos problemas, afinal, ela garantiu que ele estava completamente livre de falhas. – Se recordou pensando no drama que seria levar um trambolho nas costas e lembrando-se da cena inusitada no dia da briga da franzina mulher testando os escudos com Arthur. – Ela atirava nele certamente querendo que os dispositivos falhassem. – Sorriu novamente com as lembranças. Os homens começaram pouco a pouco chegarem novamente, havia percebido a saída de Arthur e estavam regressando para saberem as ordens. Quando todos estavam presentes, Charles começou a dar ordens: - Temos uma viagem às pressas... - Para onde iremos chefe? – Interrompeu George um dos agentes que certamente era o mais comunicativo e brincalhão. - Não sei, somente tenho a informação de que vamos. Mas não iremos todos, somente dez de vocês mais eu. O restante de vocês quero que interceptem um satélite americano e um britânico, após peguem um dispositivo com a Dra. Kim e insiram como ela ordenar nestes satélites, seguindo as coordenadas dela vocês vão nos localizar, após quero que sigam suas ordens sem hesitar. 281 - Mas somos muitos para trabalharmos somente nesta interceptação. – Tornou um dos agentes. – Além disso, os homens que estão em campo na China retornarão hoje, e teremos ainda mais homens aqui. - Quero que trabalhem em equipe, um ajudando ao outro, após peguem com a doutora as outras armas que pedimos na semana passada, e iniciem o treinamento, e, quanto aos que chegarem ajudem-nos a alcançar vocês nos testes e demais, afinal, eles estão atrasados. - Mais quem irá chefe? – Novamente George questionou para variar. - Serão os dez na ordem que eu já havia classificado anteriormente, somente haverá uma troca, o Robson irá conosco no lugar da Raposa. A mulher, uma das únicas da equipe, que atendia pelo codinome Raposa, quase fuzilou Charles com os olhos azuis frios que possuía. - O senhor acha que não sou capaz chefe?! – Ela disse externando ainda mais sua indignação. - Não seja boba agente, sabe muito bem que lhe trato como todos os outros, e, ainda, com mais responsabilidades, visto que tive que me arriscar por você quando os homens não acreditaram que você era capaz. Contudo, a Dra. Kim é uma mulher muito geniosa, e, creio que ouvira mais uma pessoa como você aqui com os homens. Ainda, tem o fato de que Arthur pediu o acréscimo do Robson pessoalmente. A mulher se acalmou, dando um passo para trás e abaixando a cabeça, contudo, naquele momento foi Russo que ficou louco, demonstrando que não era chamado assim pelos amigos à toa, e, com seu olhar de louco começou a olhar para Robson que retribuiu o olhar de desagrado pela escolha. - Mas chefe, o senhor sabe que não suportamos um ao outro. – Disse russo ainda encarando Robson que como sempre preferiu ficar calado. - Por isso mesmo vão vocês dois. – Charles foi categórico já se levantando para ir para seus aposentos para trocar e, principalmente, comer algo, devido aos enjoos que já estava sentindo somente de ter relembrado aquela noite no simulador gravitacional, sabia que não enjoava como os outros diziam, mas não poderia arriscar. - Mas chefe não estou entendendo, o senhor sempre respeitou nossas personalidades, colocando cada agente trabalhar com aquele que nutre mais afeto, tudo para sair um trabalho mais agradável. – Tornou Russo que não deixava dúvidas sobre sua discordância com a escolha. Charles chegou bem próximo dos dois, queria que eles ouvissem para não questionarem: - Certo, então me responda se quando tivermos que trabalharmos todos em conjunto como iremos fazer? E se em campo de batalha tiverem que lutar ao lado e proteger um ao outro como irão proceder? Respeitava-os até o limite que entendi que estamos em outra realidade, visto que pelo que me parece teremos que trabalharmos ainda mais em equipe, e, por isso, terão que 282 saber que equipe é como um todo, e se eu ver que as diferenças persistirem após está viagem será feito um confronto, onde o melhor ficará, e o outro terá que deixar a equipe. – Após este sermão saiu deixando para trás somente um burburinho formado imediatamente. O famoso Russo louco não parecia mais tão louco, após a advertência, demonstrou sua humildade e qualidade em sopesar o que poderia significar a aniquilação de um dos dois na equipe, levantou-se e fez o que já deveria ter feito anteriormente, estendeu à mão direita em cumprimento a Robson, dizendo: - Me desculpe por aquela noite na Rússia, sei ou pelo menos quero pensar que você não queria mexer com a minha família. Robson não pegou nas mãos de Russo, e saiu às pressas da sala em direção ao vestiário, ainda guardava magoas do antigo parceiro, afinal, perdeu seu grande amor por uma crise estúpida daquele que ele considerava o mais idiota de todos os tempos, não sabia como sua amada poderia ter nascido do mesmo ventre daquele ser tão desprezível. - Deixe ele respirar um pouco Russo, o Robson não vai esquecer rapidamente o fato de você não ter aprovado o relacionamento dele com sua irmã, mas sei que isso não vai atrapalhar em sua escolha profissional, não creio que ele deixará que vocês coloquem em risco o futuro de ambos na equipe. – Disse, como sempre George o falastrão, com um sotaque italiano somente para trazer alegria ao grupo, como se fosse um apaziguador, colocando suas mãos no ombro do companheiro tentando confortá-lo. Os outros agentes foram saindo aos poucos, puxados pelo calado e centrado Michael. - Não sei não meu amigo, creio que tomei a decisão errada. Sei no fundo de meu ser que Robson não apenas amava ela, mas ainda a ama... – ele fez cara de desanimo. – Contudo, não poderia ter deixado que ela se envolvesse com alguém que amanhã poderia deixá-la desamparada. – Tentou justificar-se Russo. - O que o irmão de sua esposa, ou seja, seu cunhado fala do seu relacionamento? – Tornou George para espanto de Russo, demonstrando que não era somente de brincadeiras que ele entendia. - Nada. Mais isso não é o mesmo, afinal, eles não sabem o que faço, e, eu sabia o que Robson fazia. - Por isso mesmo, eles não lhe conhecem, mas você conhece Robson, e sabe que ele poderia até mesmo não ser o melhor homem do mundo somente em razão de seu emprego de risco, contudo, seria o melhor marido e pai para seus futuros sobrinhos, afinal, você mais do que ninguém conhece a índole do seu antigo parceiro de trabalho. Russo abaixou a cabeça, agora ele estava assimilando que poderia realmente ter errado. 283 Após perceber que o famoso Russo louco estava começando a entender que errou, e, pelo menos estava assimilando seu equívoco, George e mais alguns dos agentes que estavam ainda aguardando na conversa foram para o vestiário, e os demais que não iriam àquela missão seguiram diretamente para a sala de inteligência, para iniciarem os preparativos para interceptação dos satélites. Russo ainda pensativo também se dirigiu para o vestiário, sua vontade era dizer para Charles que não iria mais, mas sabia que o chefe não aceitava desistências... 284 CAPÍTULO 73 Porto de Le Havre - França, 1982 Damião notou que ao relatar a sua chegada à vila em que morava o até então estranho senhor começou novamente a chorar muito, parecia que se lembrava até aquele momento da extrema pobreza pela qual passou. Contudo, o senhor era forte, enxugou novamente as lágrimas e prosseguiu no relato de sua vida, e, para surpresa de Damião aquilo era somente o começo de uma história fantástica... - Quando chegamos à porta de minha casa, soltei minhas pequeninas mãos das do senhor e sai correndo para abraçar minha avó que estava costurando próximo à pequena porta de entrada da nossa taperinha, e quando olhei para sua face levei um susto, porquanto, ela olhava para o senhor como se estivesse vendo um fantasma. “O que foi vovó, este é um senhor que prometeu que vai nos ajudar, por esta razão é que o trouxe à nossa casa.”, mas mesmo após os meus dizeres minha avó não mudou o olhar fixo no ancião, quando olhei para trás notei que o senhor tinha o mesmo olhar. “O que está acontecendo vovó?” lembro-me de ter questionado à época, já tremendo de medo daquele senhor ser uma pessoa má. Foi quando para meu espanto o senhor questionou gritando bem alto o nome de minha avó “Maria?!” “eles se conhecem” raciocinei à época naquele momento o óbvio, e, após algum tempo tive a certeza quando ela revidou o questionamento gritando em mesmo tom “João?!”, “realmente eles se conhecem” havia concluído naquele momento, mas seria ainda mais surpreendente os motivos... Pablo não havia parado de narrar a história, somente fez uma pequena pausa, mas Damião estava tão ansioso que quando ele havia fechado a boca foi logo dizendo: - Não pare! Agora estou ainda mais curioso. Pablo sorriu, agora tinha a certeza que seu novo amigo estava realmente muito interessado em saber sua história de vida. - Me lembro de que minha avó me pôs de lado, levantando-se e indo de encontro ao senhor que quando notei também vinha se encontrar com ela ainda com o mesmo olhar. Quando os dois se encontraram, se olharam por um longo tempo, e, após para minha surpresa veio um beijo, não um simples beijo, mas algo mágico, do qual eu como criança somente via no porto nas despedidas e reencontros, e, assim, logo percebi que aquele era um reencontro, e que reencontro... - Eles eram namorados? – Questionou Damião perplexo. Aquilo era muita coincidência para ele, encontrar um senhor que estava prestes a se matar, ajudá-lo, ter uma promessa de ajuda de ganhar uma melhoria nas condições de vida, levá-lo para casa e este ser o namorado de sua avó que pareciam não se verem a anos, era realmente algo fantástico. - Após o encontro eles me contaram a história de como se conheceram, a qual realmente não era das melhores, minha avó trabalhava para a família de João quando ambos contavam com apenas vinte e poucos 285 anos. Eles começaram a namorar escondidos, porquanto a família de João era muito rica, e já haviam escolhido uma mulher da nobreza para ele casar, e, assim, unirem duas linhagens de nobres. Em certo dia eles resolveram fugir, mas minha avó não apareceu no lugar combinado, ele vendo que ela sumiu, procurou por ela por todos os cantos, e por vários anos, mas quando percebeu que realmente havia sido abandonado, ele voltou para casa, aceitando a imposição de sua família, casando-se com a nobre, a qual não pôde lhe dar nenhum filho, e, ainda, morreu muito cedo. Ele nunca se casou novamente, dizia sempre que estava esperando o retorno de sua grande amada, e parece que finalmente havia chegado a hora. - Mas porque sua avó não apareceu no lugar combinado? – Questionou Damião até chegando para frente para melhor ouvir a resposta que tanto ansiava. Não chegou muito, porquanto, se assim o fizesse caia no mar. - Na ocasião me lembro de cada palavra que ela falou, afinal, elas até hoje estão em minha cabeça: “João, quero que saiba que meu amor por você era tão grande, que não conseguiria viver com o peso na consciência de que você largaria com aquele ato uma vida de luxo para viver na miséria ao meu lado.”. - Nossa, sua avó realmente o amava. - Se acha que isso era amor, espere então para ver a resposta do João a qual em minha opinião foi ainda mais profunda, foi exatamente dessa forma: “Mas Maria, quando você me deixou, definitivamente não restou mais vida, e o luxo era ainda mais atormentador, porque me fazia lembrar que havia perdido meu grande amor somente pelo fato de ter nascido em uma família rica. Assim, segui meu caminho somente com a matéria corporal, porque minha alma e minha razão de viver partiram com você naquele dia.”, após isto minha avó desabou a chorar, até aquele momento creio que ela não tinha a consciência do tamanho do amor de João por ela, e que havia feito à escolha errada, afinal, era certo que ela com aquele ato queria resguardá-lo, mas na realidade lhe prejudicou durante uma vida inteira. - Nossa. Este senhor devia realmente amar sua avó. Mas tenho que confessar que acho que sua avó fez com este ato uma linda demonstração de amor, afinal, somente o deixou porque tinha a certeza que aquilo era o melhor para ele no momento. – Disse Damião interrompendo, estava tão fascinado com a história que necessitava expressar seus pensamentos. - É meu amigo, mas ainda não acabaram às surpresas... – Disse em tom de mistério, evidenciando que aquilo era somente o começo do surpreendente desfecho da história, e logo emendando: - Minha avó começou a chorar muito. Eu a conhecia muito bem, e soube na hora que aquele choro não era mais de alegria, mas de completo desespero. “Acalme-se meu amor, te perdoo por tudo!” lembro-me que João disse a ela tentando acalmá-la. Só que ele não sabia que a resposta iria lhe paralisar por um bom tempo. Minha avó tomou folego, olhou diretamente nos olhos dele respondendo-o ainda com a voz rouca e engasgada “Você me perdoaria até mesmo por lhe ter retirado à oportunidade de ter criado sua filha!” minha mente infantil naquela oportunidade não soube processar a 286 resposta de minha avó, mas certamente João a processará instantaneamente, porquanto, me lembro de sua expressão de espanto inicial a qual após algum momento deu lugar a um olhar fixo para mim. “Não entendo.” lembro perfeitamente de ter dito a ele, porquanto pensava que havia feito algo de errado para receber aquele olhar. Ele voltou os olhos para minha avó e já tentando segurar o choro questionou-a: “Então quer dizer que este menino é...” mas antes dele terminar minha avó completou: “Sim, ele é seu neto.”. - Nossa! – Damião gritou de emoção, contudo, somente ficando nisso, visto que o deixou terminar. - Deste momento em diante me lembro que João, ou melhor daqui para a frente meu avô, mantinha ainda a mesma expressão de espanto, contudo, de seus olhos desceram lágrimas em abundância! Era como se ele estivesse por dentro sendo consumido por uma explosão de sentimentos inexplicáveis, os quais somente era exteriorizado pelas lágrimas. Recordo que ele se levantou com dificuldade, suas pernas tremiam, então veio tropeçando ao meu encontro. Quando chegou perto se abaixou me enlaçando em seus grandes braços, meus braços ficaram para baixo, e ele me apertou fortemente contra seu peito, ao passo que senti até mesmo meu ombro molhar devido as suas lágrimas que escorriam como uma cachoeira. Damião agora enjugava suas lágrimas, não aguentou a história e estava muito emocionado, não sabendo ainda que iria se emocionar ainda mais... - Após um longo tempo que não sei precisar, ele segurou em minha cabeça e olhando no fundo de meus olhos inocentes disse algo que nunca vou me esquecer: “Hoje pensei que iria acabar com minha vida, contudo, Deus tinha outros planos para mim, dos quais até este momento não tenho ainda dimensão se é realidade ou apenas um lindo sonho. Ele enviou não apenas um pequeno anjo, mais aquele com meu sangue para me encontrar no caminho da perdição. Não vou responder para a sua avó se a perdoo, porque sei que no fundo ela sabe que não tem nada há ser perdoado, e que meu amor por ela é o mais profundo e maravilhoso dos sentimentos, aquele que me fez nesta altura de minha vida ter em meus braços meu herdeiro e salvador. Te amo tanto meu neto!” terminou me dando mais um enorme abraço. Em poucos segundos meu cérebro infantil começou a racionar e processar o que estava acontecendo, quando finalmente tive consciência de tudo, desvencilhei meu braços, e abracei seu pescoço, recordo-me que as lágrimas desciam pelo meu rosto e sentia um gosto salgado em minha boca, sempre falei que aquele era o gosto do mar, que trouxe meu avô, e me permitiu seguir o caminho que tenho traçado até hoje, de ajuda ao próximo. Pablo terminou a história, mas Damião ainda estava perplexo com a linda biografia. Contudo, ainda muito curioso com o fato dele ter apreendido tanta coisa. - Linda sua história de vida... Mas se me permite... – hesitou. - Pode perguntar meu amigo, afinal sei que você quer saber sobre a parte final. – Respondeu Pablo agora com um sorriso misterioso em sua face. 287 - Sim, queria saber o final. - O final envolve uma pessoa que foi crucial em nossa vida, ela se chamava Damião, vivia em uma vila um pouco distante aqui do porto, e dizia que espantava demônios e maldições... ****** Chegando a dimensão Sublime após a literal ida ao inferno e participação na deliberação, Expedito estava adentrando em uma pequena casinha próximo a uma cachoeira, seu reduto de descanso e medição, quando foi chamado: - Expedito! Espero somente um minuto. Sem precisar se virar ele já fez cara feia, afinal, era novamente um dos chatos do núcleo de filosofia. Da mesma forma em que estava ele somente respondeu: - O que quer, necessito descansar! Como sabem, não fico filosofando, agora mesmo acabo de chegar da dimensão chamada de inferno. - É por isso mesmo que estou aqui. Ninguém ainda questionou-o, mais gostaria de saber porque Nimrod não lhe acompanhou? Expedito somente o olhou de relance, percebendo ser um oriental de estatura mediana, e olhar firme, logo dizendo: - Primeiramente, sei que você é do núcleo de filosofia, mas se não for muito perguntar, quem é você? - Me desculpe, meu nome é Aizawa Seishisai. – Ele respondeu fazendo um aceno tipicamente oriental com a cabeça. - Sim, agora me diz porque quer saber exatamente sobre Nimrod? - Porque estava entusiasmado para lhe ver, dai ele não veio, e decidi lhe perguntar. Além disso, se necessitar de ajuda na próxima missão estou a sua disposição. - Certo, obrigado! Mas dispenso ajuda do núcleo de filosofia quando o assunto é guerra. - Mais eu entendo de guerra, fui um samurai em minha ultima passagem, e, ainda, nas demais sempre fui uma lenda na arte da guerra dentre a cultura oriental, protegi minha nação desde os tempos primevos. - Entendo... – Expedito agora estava pensativo. – Tudo bem, lhe chamo da próxima vez! – Ele disse mais para tirar o sujeito de seu encalço. – Mais agora deixe-me dormir. - Sim senhor! Estarei às suas ordens. – O sujeito diminuto fez a famosa continência oriental de envergadura do corpo, contudo, Expedito já estava longe, dentro de seu reduto, sequer ligando para continências. 288 CAPÍTULO 74 Berlim – Alemanha, 1982 Ao chegarem ao hospital o doutor pediu gentilmente para uma enfermeira da recepção: - Leve está moça para um quarto particular, e, logo após, marque com a equipe todos os exames disponíveis no hospital, quero que ela seja analisada desde o fio de cabelo até suas unhas dos pés. - Como assim doutor? Todos os exames disponíveis no hospital? Isto pode levar dias! – Questionou a enfermeira assustada, recebendo os mesmos olhares de suas companheiras que nunca haviam pelo menos ouvido falar em ordens daquelas. – Será que o doutor quer estudar está moça? – Pensou a enfermeira. Sem saber que estava correta... - Cumpra às ordens sem questionarem! – Respondeu secamente o médico. Após isso às enfermeiras saíram com Estela às pressas para uma ala, Vilauba às seguiu de perto, não iria deixar sua menina ali sozinha. Após chegarem próximo ao quarto, enquanto a enfermeira chefe preenchia uma ficha de entrada dela, Vilauba já estava telefonando para o pai de Estela para lhe explicar que ela teria que permanecer alguns dias no hospital de repouso. Não contou que iriam fazer a bateria de exames, afinal, ela queria que ele ficasse distante, nada poderia chegar perto dela naquele momento, muito menos aquele sonso de seu pai... - Sim Sr. Pierre, vou estar com ela por estes dias, pode ficar tranquilo que vou avisar para ela que o senhor terá que fazer uma viagem. – Disse Vilauba ao telefone. Ele está fugindo de mim. – Pensou Estela ao ouvir a resposta de Vilauba. Do outro lado da linha Pierre deixou-se cair na poltrona, estava aliviado em ouvir aquilo, afinal, teria alguns dias para pensar. - Obrigado Vilauba por ter conversado com meu pai em meu lugar, nem sei como lhe agradecer. – Disse Estela que já se encontrava deitada na cama aguardando que as enfermeiras terminassem os procedimentos para os primeiros exames. Após muito pensar as enfermeiras decidiram que deveriam começar pelos exames básicos, para depois passar para os mais complexos, mas por via das dúvidas, elas imprimiram uma lista contendo todos os exames que o hospital disponibilizava, e para suas infelicidades ela não era pequena... - Não precisa me agradecer minha criança, quero que saiba que sempre vou estar ao seu lado para o que der e vier. E quero lhe confessar uma coisa. – Disse Vilalba acariciando sua cabeça. 289 Estela se assustou, Vilauba sempre foi uma pessoa meiga e carinhosa com ela, contudo, nunca havia lhe confessado nada. - Pode dizer Vilauba o que está lhe incomodando? A mulher chegou mais perto pegando nas mãos de Estela, queriam antes de fazer aquela revelação que ela estivesse calma. - Antes de sua mãe falecer, já no hospital ela teve forças para dizer algumas palavras, poucas, muito poucas, devido aos vastos ferimentos do acidente que quase lhe levou também. - O que ela lhe disse?! – Questionou Estela apreensiva. - Ela mandou me chamar sozinha, o que deixou o senhor Pierre extremamente irritado, mas ele respeitou sua última vontade. - Sozinha! Então quer dizer que meu pai não foi à última pessoa que ela quis falar? – Questionou com perplexidade Estela. - Não, realmente pelo o que parece a última pessoa que sua mãe queria ver naquele momento era seu pai. - Estou boquiaberta Vilauba. - Imagina como fiquei naquele momento. – Respondeu a empregada segurando ainda mais forte as mãos da moça. – Mas o que foi mais estranho, é que ela me fez prometer que sempre estaria ao seu lado. - Como assim ao meu lado para sempre? – Questionou Estela demonstrando sua evidente surpresa com o pedido da mãe. - Ela me disse que não era para lhe abandonar, e que você iria precisar muito de meu apoio. Disse ainda que eu seria sua única família verdadeira, e que não era para deixar sob hipótese alguma que o doutor Pierre lhe fizesse qualquer mal. - Nossa Vilauba minha mãe realmente lhe disse tudo isto? - Sim minha criança, desta forma. Nunca vou me esquecer de suas ordens. E, ainda, quando lhe questionei que ele poderia me despedir se eu ficasse desconfiada dele, ela me disse que era para eu procurar por uma conta em meu nome em um banco chique no centro, que lá o gerente que era seu amigo tinha algo que iria garantir que eu estivesse sempre ao seu lado. - E o que o gerente tinha que te manteve durante todos estes anos ao meu lado? - Ele me entregou alguns papeis, e disse que o restante deles se encontravam com os advogados do banco e da sua mãe, os quais segundo ele iriam me procurar em alguns dias. Fiquei espantada de sua mãe ter advogados, visto que seu pai é um. Como eu não sabia ler, fiquei esperando os 290 advogados me ligarem. Por sorte eles me telefonaram no mesmo dia dizendo que era para eu comparecer imediatamente no escritório deles, me passando o endereço. Pedi folga ao seu pai, que muito relutante me concedeu, devido ao fato de você ainda estar internada naqueles dias. - Nossa minha mãe tinha advogados... Credo que coisa mais estranha! - Se você acha isto estranho espere para ver o final disto tudo... Estela encostou suas costas, elas já estavam doendo naquela posição, foi tanto tempo sem poder sentir dor que ela ainda estava se acostumando a senti-las. - Quando cheguei ao escritório, fiquei boquiaberta, o lugar era lindo e imponente, parecia escritórios de filmes americanos. Os advogados vieram pessoalmente me receberem, e me levaram para uma sala de reuniões que eu mal pude acreditar que pudesse existir algo tão chique, e olha que a mansão que você mora é linda. - Mas o que eles queriam Vilauba, me conte logo, estou apreensiva. – Estela foi quase rude, devido à nítida apreensão. - Eles me disseram que sua mãe havia testado metade de toda sua fortuna para mim, e me incumbido de cuidar da outra metade que ela deixou para você! - Como assim? Minha mãe excluiu a parte do meu pai e colocou você? Estou chocada. - Também questionei isto, mas os advogados me disseram que seu pai nunca teve nada em comum com sua mãe, que eles eram casados em um regime de separação de bens, e que a fortuna de sua mãe era proveniente da herança de seu avô materno, assim, ela sempre havia sido administrada por empresas especializadas, portanto, seu pai nunca teve sequer a administração de um único centavo. - Mas eles te falaram porque ela havia chegado a essa decisão? Afinal, para fazer algo desta natureza ela deveria ter alguma coisa contra meu pai, você não acha? - Foi à primeira coisa que questionei. Lado outro, os advogados me disseram que ela havia mudado seu testamento recentemente, e que havia excluído seu pai, mas que não havia lhes dito os motivos. Como você sabe sua mãe era uma mulher reservada, e não havia contado isto sequer ao seu pai. - E como meu pai recebeu na época esta notícia? – Questionou Estela agora sorrindo, estava satisfeita com a sabedoria da mãe, ela devia ter descoberto algo sobre seu pai, do contrário não teria modificado o testamento. E, devido a tudo que estava ocorrendo com ela, e das atitudes de seu pai, ela não mais estava duvidando de nada que surgisse a seu respeito. 291 - É ai que eu me espantei. Seu pai recebeu tudo com a maior naturalidade, disse ainda que iria construir sua fortuna pessoal, e que as coisas estavam indo de vento em poupa para ele no mundo dos negócios. E o que mais me abalou foi o fato dele dizer isto com frieza, e sem demonstrar qualquer sentimento pela atitude de sua mãe, sequer raiva. - Isto realmente foi muito estranho... – Respondeu Estela pensativa. Algumas enfermeiras entraram no quarto, a mais baixinha parecia ser a superior, ela tinha um ar de superioridade, o que contrastava com sua estatura e com seu aspecto anêmico de olhos esbugalhados, ao contrário das outras que a levaram para o quarto, esta parecia um general ditando ordens: - Garotas iniciem a coleta dos materiais, após, devem levá-la para a sala de raios-X, e assim sucessivamente por todas as salas de diagnósticos que constam no grande relatório que entreguei para vocês. Devem ainda se lembrarem que tudo deve ser relatado nos documentos, o doutor quer prioridade nestes exames! Estela ficou ali parada olhando a enfermeira baixinha tecer ordens, enquanto Vilauba estava assustada com todos aqueles procedimentos que a garota seria submetida, parecia que o doutor estava mesmo obstinado a encontrar respostas concretas para o estranho milagre ocorrido. Vilauba foi orientada a deixar o quarto e aguardar na recepção, o que atendeu prontamente, contudo, antes de sair chegou próximo ao ouvido de Estela dizendo bem baixinho: - Não tenha medo meu bem, estarei logo ali te esperando e rezando para que tudo dê certo. - Após deu um beijinho em sua testa e saiu do quarto calmamente, seus olhos brilhavam misteriosamente... 292 CAPÍTULO 75 Porto de Le Havre - França, 1982 O coração de Damião quase parou, nem imaginava que estava de alguma forma ligado à história daquele homem. Não é possível, não me lembro de nada assim?! - Pensou perplexo. - Pelos sinais vejo que meu sonho de hoje estava certo, realmente encontraria mais uma vez alguém perdido neste porto, e dessa vez seria a pessoa que há muitos anos nos ajudou, saindo após as pressas sem nada cobrar ou pedir em troca, somente pela bondade da ajuda. - Como você soube que estaria aqui necessitando de ajuda? – Questionou Damião. - Em um sonho, e desta vez não foi minha mãe que estava nele, mas sim meu avô, o qual me disse que iria sempre estar ao seu lado por tudo que você fez a ele, e, principalmente, por lhe conseguir mais alguns anos de vida para que ele pudesse cumprir sua promessa de me treinar. - Quando isto tudo ocorreu? Quero dizer, que lhes ajudei de alguma forma? – Damião ainda demonstrava estar reticente. - Eu já era um jovem, ao passo que logo após os acontecimentos que lhe relatei, nosso avô imediatamente nos levou para morar com ele no antigo castelo de sua família, ou melhor, de nossa família. O lugar era mágico, jardins suntuosos, empregados para tudo que necessitávamos. Lembro que ao chegar ao local havia questionado meu avô porque ele estava em uma embarcação tão velha já que tinha tantos lugares bonitos para morrer, ele me disse que não sabia os motivos, que saiu sem rumo com a arma em punho, seus pensamentos estavam embaraçados, e ele ouvia vozes de seus parentes lhe chamando, quando ele menos percebeu estava naquele barco com a arma na cabeça, e o sentimento certo que aquela seria a melhor alternativa de terminar com seus sofrimentos. - Para esta pergunta posso lhe dar a resposta, a qual é simples, todos os seres de escuridão ou simplesmente malvados querem um lugar feio e penumbroso para cumprimento de tais atos que eles induziram, do contrário, ou seja, se a pessoa estiver em um lugar belo é muito possível que consiga através das lembranças boas se livrar da indução ao ato do suicídio, dentre outros fatores diversos que creio que você ainda não está preparado para escutar, dos quais teria que ficar dias lhe ensinando. – Ensinou Damião querendo contribuir para que Pablo entendesse pelo menos este triste fato. - Agora tenho a certeza que o senhor realmente é o Damião que me ajudou. – Respondeu Pablo sorrindo. - Certo, mas onde entro nesta história? - Como lhe disse, tudo era muito luxuoso, contudo, minha irmãzinha começou aos poucos a ficar doente, o que foi piorando dia após dias, até ficar alarmante. Na realidade não era apenas ela, todos no castelo, menos os 293 empregados estavam com algumas moléstias, mas não ao ponto que ela chegou. Como havia lhe falado no início, até os médicos haviam desacreditado meu avô devido aos graves problemas de saúde que ele estava enfrentando. Os empregados eram em sua grande maioria negros, e, certo dia a senhora muito gentil que cuidava de minha irmã, disse para minha avó que aquele castelo era lindo por fora, mas podre por dentro. No início minha avó não entendeu, e ao falar com meu avô, ele não ligou, somente dizendo que a senhora era muito supersticiosa. – fez cara de reprovação pela atitude do avô. – Mas os acontecimentos iam tomando proporções estranhas, além dos médicos não conseguirem curar ou pelo menos diagnosticar a moléstia de minha irmã, alguns padres que certo dia foram conversar com o meu avô sobre uma ajuda para o orfanato, negaram-se a ali adentrarem, dizendo que estavam passando mal somente ao tentarem, e, quando questionados, diziam que era para ir conversar na congregação que o monsenhor relataria os eventos. No mesmo dia meu avô procurou os monges em um mosteiro bem perto do castelo, e o que eles falaram não o agradaram... - O que eles disseram? – Questionou Damião ao notar que Pablo estava um pouco acanhado em prosseguir. - Eles disseram que era para sairmos do castelo, que ali não era mais um ambiente sadio para se criar uma família como ele estava fazendo. Eles diziam que o amor que nós estávamos demonstrando naquele lugar estava atiçando coisas traiçoeiras, que sentiam enorme inveja de nossa alegria. Além disso, falaram que o fato dele estar me treinando para adquirir meus dons de percepção e ajuda ao próximo, estávamos deixando loucos alguns seres que ali estavam há milênios, os quais, queriam ver somente decisões politicas ali sendo tomadas, e, principalmente, sobre guerras, as quais em sua grande maioria eles induziam os reis e príncipes que ali residiram em tempos anteriores a tomar. Foi quando Damião se lembrou do castelo, realmente aquele foi um dos piores lugares que ele já viu, não poderia definir o mesmo melhor do que simplificou a negra, “lindo por fora, mas podre por dentro”, pensou: realmente aquela serviçal tinha razão, aquele lugar era o luxo e ao mesmo tempo isto era a armadilha perfeita para atrair as pessoas para a podridão que se encontra ali em material de espíritos desencarnados, muitos deles mortos ali mesmo, dentre reis e rainhas, princesas e príncipes, escravos, etc. - Me lembro deste lugar. – resolveu dizer Damião. – Contudo, não me lembro que foram os monges que me pediram ajuda, mas sim um... - Sim um jovem, ainda quase criança! – Completou Pablo. Damião não podia acreditar, Pablo era a criança que lhe clamou por ajuda! Agora ele se lembrava dele perfeitamente. Damião era ainda muito jovem, e havia chegado há pouco tempo à França, vinha de Roma, onde atuava em diversas ordens, dentre elas uma em especial, quase que secreta especializada especialmente em exorcismos. Era raro alguém que quisesse nela entrar, afinal, para ser um exorcista não serve ser apenas uma pessoa de bom coração, é até pior se assim for, afinal, o demônio utiliza das fraquezas, e, principalmente, da bondade das pessoas para dominar e se sobressair. 294 - O senhor não me questionou nada à época, somente disse que iria aceitar meu convite, e que iria até nossa casa. Por isto posso lhe contar que estávamos realmente sendo aniquilados e somente tomei aquela atitude louca após utilizar minhas habilidades de percepção que meu avô estava me ensinando com maestria, e, assim, concluir que se não agisse minha irmã iria morrer. - Mas o que te levou a minha casa naquele dia? – Damião matava sua curiosidade. - Conversei com a empregada que havia dito aquilo, ela me disse que um monge que diziam ser muito bondoso e poderoso havia desembarcado há poucos meses aqui no cais, e que ele veio para cá com a missão de evangelização, mas que diziam que estava era realmente para cumprir uma missão de expulsão de demônios, porque neste local iria ser cumprida uma profecia sobre uma criança muito poderosa que aqui iria nascer para mudar o rumo da história... Damião se assustou. É inacreditável como o poder das massas em literalmente passar adiante um assunto era aguçado, poucas pessoas sabiam dos reais motivos de minha mudança para a França! – Ele pensou. Contudo, no fundo tinha a resposta, aquela negra não era uma simples acompanhante, devia ser membra de alguma seita derivada da África, eles eram muito ligados em profecias e dominavam como nunca o poder de detectar espíritos ou lugares em que eles sobrepujavam como queriam. Mas resolveu desconversar sobre seus motivos de ali estar. - Sim... Bem... Sei que você apareceu pela madrugada montado em um cavalo preto, era um jovenzinho, mas a inteligência de um homem. – Respondeu Damião principalmente para tentar afastar o foco de sua missão envolvendo o nascimento de Joana. - Pois bem, me desculpe por ter interferido em seus assuntos, somente queria saber se isto era realidade, mas como percebi o senhor não quer conversar sobre isto, e eu não vou insistir. – Respondeu Pablo erguendo as mãos, como em sinal de paz. - Agradeço. – Damião disse secamente, como se realmente quisesse por uma pá de cal no assunto da profecia. – É para o seu próprio bem. – Advertiu. Em sinal de obediência Pablo prosseguiu: - O que realmente aconteceu, era que após os monges terem relatado tais fatos ao meu avô ele ficou possesso, utilizando seu poder de percepção ele concluiu que os monges estavam era querendo seu castelo, o que não posso culpá-lo por assim concluir, porque o monsenhor disse para ele deixar o castelo o quanto antes, e que a ordem ali se fixaria para afastar o que ali se encontrava. Não era preciso ser muito sábio para concluir o óbvio! 295 Damião sorriu, não porque sentira graça, mas, porquanto, sabia que o real objetivo daqueles monges eram realmente se beneficiar da situação. Pablo vendo a expressão de Damião decidiu prosseguir, não queria mais entrar em uma via errada e magoar aquele senhor que havia lhe ajudado tanto. - Então quando percebi que meu avô não iria agir resolvi lhe procurar, mas para não levantar suspeitas tive que sair na noite, por isto contei com a ajuda de nossa criada que me ajudou tanto em sua localização como para preparar que eu saísse sem ser notado. - Então por isto você me acordou àquela hora da madrugada?! – Respondeu Damião agora sorrindo, tentando acalmar os ânimos, afinal, achava que tinha pegado pesado anteriormente, não tinha razões para responder com tamanha rispidez. - Era sim. E me assustei quando joguei o saco de moedas em sua mesa e o senhor disse que era para eu guardar minhas economias, que iria fazer uma visita para minha irmã, e que por isto os convidados não eram comprados, mas apenas convidados e recebidos com afeto. - Sim, nunca cobrei por nada, ainda mais por uma visita daquelas. - O senhor chama aquilo de visitas? O senhor não se lembra? Aquilo foi à coisa mais horrível que vi em toda a minha vida... – Disse Pablo arregalando os olhos e mostrando os braços arrepiados, demonstrando que se arrepiava somente ao se lembrar daquele dia. Damião firmou o pensamento, dizendo com desdém: - Não gosto de contar vantagem, mas aqueles demônios não eram tão fortes assim... - Como assim?! Escutamos gritos vindos do além, urros de pavor, e o senhor fez uma verdadeira algazarra, onde meu avô que até certo momento achou que iria perder sua alma, vimos sombras sair do castelo por todos os lados. Damião não estava mentindo, e queria deixar aquilo agora claro, porquanto, não tinha mais razões em manter sua pequena mentira: - Realmente o exorcismo foi simples. As almas que ali se encontravam estavam somente perdidas, elas eram sim da realeza, era em sua maioria antecessores até mesmo das origens da construção daquele Castelo, mas suas forças eram insignificantes. - Insignificantes?! Eles quase mataram minha irmãzinha! – Pablo não se convencia. - Posso garantir que somente afligiam sua irmã porque ela se assemelhava e muito com uma filha de um rei que ali se encontrava até aquele momento vagando querendo reinar, ele via em sua irmã sua filha, assim, desejava tanto que ela ficasse ao seu lado que tal indução estava a consumi296 la. Igual ao seu avô quando ele estava daquela forma, pelo que posso concluir pela minha experiência, diante do que você me disse, parece que eram os seus bisavós que estavam a atormentá-lo para que se juntasse a eles, e demais entidades que queriam tirar proveito da situação. – Explicou Damião. - Então o senhor quer dizer que mentiu para meu avô quando disse após todos aqueles lances que era melhor ele vender o castelo e promover com o dinheiro outros investimentos, porque aquele lugar estava condenado às trevas?! – Questionou Pablo indignado. - Me diga como era a vida antes de eu ter sugerido isto? – Interpelou Damião sem responder nada. Pablo pensou, e resolveu respondê-lo mesmo estando com muita raiva: - Como havia lhe falado antes, uma vida de luxo, contudo, sempre muito unidos. - Então agora me diga como era a vida quando resolveram seguir meu conselho? – Damião arrematou. Pablo estava agora boquiaberto. Havia finalmente entendido que eles desfrutavam de luxo, mas nada faziam em troca, e, após vender o castelo tudo mudou. Seu avô comprou uma frota de navios, que foram aumentando no decorrer dos anos. - Nós estávamos sempre mais unidos do que nunca, e, viajamos cada ano em um de nossos navios, sempre para destinos diferentes, assim, conhecemos o mundo todo, e eu fui mais treinado do que nunca... – Ele raciocinava em voz alta se lembrando das viagens e do treinamento diversificado que seu avô lhe impingiu, bem diferente do que estavam fazendo no castelo, onde somente teorizavam, ao passo que em países diferentes eles puderam treinar os ensinamentos. - Espere... – Pablo fez uma pausa, analisando ainda bem sobre o que somente agora estava claro. – Então quer dizer que meu avô viveu mais porque... Damião sorriu, porquanto, finalmente ele entendeu a essência do porque seu avô havia vivido tanto mesmo tendo a doença que possuía quando se conheceram. Por isto resolveu interrompê-lo: - Isto mesmo meu caro Pablo. Antes de sair do castelo, ensinei ao seu avô que o que ele via como uma garantia de uma vida sossegada, estava na realidade matando-o. Ou seja, como ele pensava que a vida havia terminado, e que não tinha mais forças para construir, inovar e principalmente ajudar ao próximo, o universo conspirava para tirá-lo deste mundo, afinal, aqui estamos para acrescer, se for para parar e relaxar este não é o lugar, porquanto, a inércia nesta dimensão não prejudica somente o individuo, mas todos à sua volta, afinal, se seu avô tivesse permanecido naquela situação, vocês também ficariam, e assim por diante... 297 - Entendi. Realmente as coisas mudaram bastante, e isto foi muito bom ao meu avô! – sua expressão era de fascínio. – Os negócios prosperaram, ele se sentiu com isto mais capaz, resolveu que iria investir na antiga vila em que nós encontramos, promovendo ali investimentos diversos como água tratada, saneamento, etc., ou seja, além de ajudar muitas pessoas indiretamente, ao fazer o dinheiro da venda do castelo girar, tendo em vista que impulsionou vários empregos, ainda ajudou diretamente, e, assim, foi passando para mim e minha irmã tais ensinamentos, o que contribuiu e muito para que após a partida dos dois, nossa empresa de navios prosperasse ainda mais, com meu conhecimento e estudo. - Vejo que agora entendeu. Mas me diga quando é que eles partiram? - Ambos partiram no mesmo dia, em um acidente que ocorreu em um de nossos navios petroleiros. O interessante é que isto ocorreu quando já estávamos bem, eu havia me formado, minha irmã iria para a faculdade, então, assumindo a empresa meus avós finalmente teriam um tempo para curtir a vi... – Parou subitamente ao concluir o óbvio. - Você agora após meu ensinamento sabe a razão disto? – Questionou Damião agora lançando um olhar como de desafio. Pablo fez uma pausa, e resolveu responder de sua forma: - No início pensei em vender nossa frota. Não aquentava ver sequer um navio após o referido acidente. Mas quando eu e minha irmã se dirigimos para a empresa para decidirmos o que fazer, concluímos que aquela firma era a única coisa que restou para lembrarmos de nossos avos, e que eles ficariam felizes de continuarmos a fazer tudo de bom que nossa família estava fazendo naqueles anos. Contudo, agora entendo que eles partiram, porquanto, haviam cumprido suas missões. E, como um casal, o que tornava tudo ainda mais bonito, ao passo que, iriam curtir um descanso merecido. - Vejo que entendeu. – Disse Damião passando a mão em suas costas tentando reconfortá-lo. - Você foi muito importante em nossas vidas meu amigo, e quero que saiba que o navio que você espera é um de nossa empresa. Assim, você terá além de passe livre, um tratamento de luxo, com cabine privativa, jantar, tudo... – Disse Pablo sorrindo. Damião ficou muito satisfeito, havia resolvido um problema. O problema quanto à viagem. - Tenho que ir meu amigo. Mas tome esta carteira, ela dará além do acesso ao navio tudo que lhe prometi. Vou ainda passar ali e conversar com o capitão que pegará esta viagem. - Ele é experiente? – Questionou Damião para espanto de Pablo. - Sim, muito. Porque a pergunta?! Não vai me dizer que tem medo de viajar de navio? 298 - Não, somente posso dizer que tenho o pressentimento que esta viagem não será nada simples. – Respondeu Damião olhando ao horizonte. - Não se preocupe meu amigo, tenho plena confiança em seu potencial. E quero que saiba que já vou planejar vários investimentos para a vila em que o senhor estava morando, acho que isto vai ajudar e muito a criança predestinada, porquanto, se eu não sei quem ela é, o melhor é ajudar a todos, sempre... Assim, ela será atingida indiretamente... – Disse Pablo já se levantando e sumindo entre a vasta quantidade de pessoas no porto... 299 CAPÍTULO 76 Londres, Inglaterra, 1982 No horário combinado todos já estavam aguardando Arthur na pista de pouso onde três helicópteros estavam lhes esperando com pilotos que pareciam um tanto impacientes. Todos os homens achavam que os helicópteros iriam levá-los para o aeroporto onde embarcariam em um voo no famoso jato de Arthur, o qual já havia se transformado em uma lenda entre os trabalhadores do complexo, principalmente, em razão de boatos que ele teria sido produzido exclusivamente para o magnata por uma empresa obscura com uso de tecnologia ultramoderna desenvolvida exclusivamente para ele, e, ainda, que havia sido montado cada parte em um local, sendo, as partes somente reunidas ao final em um complexo próprio, tudo para que ninguém pudesse visualizar a fundo o todo de sua tecnologia, não levantando, assim, com tal tática muitas suspeitas. Charles, assim, como os outros estavam pensando naquilo, ele especialmente, devido ao fato de que como sua vida se resumia agora naquele complexo de onde ele saiu poucas vezes após iniciar os trabalhos, e, mesmo assim nestas parcas vezes também a trabalho, tudo que lhe restava era escutar as fofocas internas para se distrair um pouco. Quando o velho chegou todos já estavam impacientes, afinal, além de não saberem o destino, ainda tinham que aguentar a ansiedade pela primeira missão no novo emprego. - E ai rapazes, prontos para uma emoção que nunca sentiram antes. – Bradou Arthur saindo de um pequeno carro trajando vestes que nada pareciam as que ele usava diariamente, era como se já estivesse em batalha, usava um uniforme negro com diversos equipamentos presos em seu corpo e em sua cabeça um estranho capacete com óculos de visão noturna e demais apetrechos que lhe tomavam cada centímetro de seu velho corpo. Quando ele andou os homens ficaram curiosos, porquanto, ele andava de uma forma engraçada, como se seus passos estivessem um pouco mais fáceis, diferentemente do habitual que se resumia em um caminhar um pouco mais lento em razão da idade. - Senhor Arthur, é impressão minha ou você está andando melhor? Mais tenho que lhe advertir que drogas causam mal, e, ainda, que você está mais parecendo uma máquina, superdesenvolvida, mais ainda assim não natural até mesmo para jovens como nós. – Disse como já era de costume George. - Suas capacidades de observação são espantosas meus caros! – Arthur respondeu sorrindo, havia se questionado no caminho se algum deles iria notar seu novo brinquedinho para combate. Então em um movimento rápido ele começou a abrir o zíper do macacão militar, e começou a abaixá-lo exibindo toda a parte interna de seu corpo, ao passo que quando terminou os agentes estavam extasiados com o que viam... 300 - Meu Deus, aonde o senhor arrumou isto?!... – Disse Charles com as palavras custando a sair, era como se tivesse visto um alienígena chegar a terra em um disco voador, afinal, nunca havia visto algo como aquele. - Isto foi desenvolvido pelo setor da Dra. Kim, a ideia já era antiga pelos setores de desenvolvimento de vários países, mas todos eles não tiveram dinheiro, vontade, e, bem como, as pessoas certas para desenvolver com esta perfeição. – ele se curvou exibindo ainda mais o produto. – Ele consiste em uma verdadeira estrutura que é presa em cada parte de meu velho corpo, funciona como se fosse uma base, não apenas de sustentação, mais para aguentar mais peso, correr distâncias enormes a uma velocidade maior do que a normal, enfim, poderia definir isto como um novo esqueleto com músculos de fora de meu corpo. - Mais como é isso tudo e sua estrutura é tão fina em seu corpo, tá certo que o senhor é magro, mais mal podemos percebê-lo pela roupa, realmente, toda a sua estrutura é muito fina e compacta. Além disso, com que energia isso funciona? Arthur se mexeu um pouco se exibindo ainda mais com a estrutura a mostra, os agentes não acreditavam naquilo, aquele velho definitivamente havia mostrado ter mais capacidade de surpreendê-los do que eles imaginavam. - Esta pequena mochila em minhas costas contém um poderoso capacitor, que funciona como motor, e, este macacão parece de tecido normal, contudo, ele tem certos dispositivos que interagem com pequenas mais potentes baterias, as quais são carregadas por energia solar em uma frequência ultramoderna captadas pelos dispositivos no macacão, de forma que seu carregamento pode durar até setenta e duas horas tranquilamente. Os agentes estavam boquiabertos, e, percebendo isso Arthur se empolgou e continuou suas explicações, ele gostava tanto de conversar sobre seus produtos que até se esquecia de seus afazeres, o que dava para ver pelas expressões dos pilotos dos helicópteros, que estavam em completo estado de desânimo e raiva. - Além disso, a estrutura é toda em uma coisa que a Dra. Kim disse ter usado, ela disse se chamar um tal de Aerogel e um tal de SeaGel com estruturas destes materiais na parte interna, bem como, para dar maior resistência Titânio e Ouro, entre outros truques dela, passando por fios ultramodernos, e uma série de parafernálias que eu não quis mais saber, visto estar mais interessado em como usá-lo, que ai sim é minha especialidade. - Mais isso realmente torna o senhor mais forte? – Novamente foi George que questionou. Em um movimento rápido Arthur pegou o falastrão pelas mãos e puxando-o fortemente ergueu-o no ar como se fosse um graveto, todos quase que soltaram gritos de emoção ao vislumbrarem tal maravilha, por óbvio, o único que não ficou emocionado foi George que ficou se contorcendo no ar. 301 - Quando vamos ter um desses? – Questionou Russo em êxtase. Arthur prontamente: colocou George ao chão, sorrindo e respondendo - Acho que não tão cedo, afinal, somente este traje custou mais de duzentos milhões, entre desenvolvimento, compra e melhoria da tecnologia e outros gastos, portanto, vocês têm a sorte de serem jovens, porquanto, do contrário certamente estariam perdidos por um bom tempo! – Terminou soltando uma enorme gargalhada e fechando o zíper do macacão, e já entrando rapidamente em um dos helicópteros. – Rápido vamos, afinal, já perdemos muito tempo! Os pilotos que já estavam impacientes, e, conheciam Arthur muito bem suspiraram ao vê-lo adentrar no helicóptero. - Finalmente o velho se tocou sobre nosso pouco tempo! – Disse um dos pilotos para os outros pelo rádio. – É mesmo, vamos nos separar para não levantarmos muitas suspeitas, nos encontraremos no local designado. – Respondeu o outro. Contudo, para espanto dos três pilotos, após uma pequena interferência na linha, ouviram a voz de Arthur que lhes disse em tom irônico: - Tudo bem pilotos, sigam os planos iniciais. Ah, e a propósito, sei que estão se questionando como estou fazendo isso, é, porque pedi para a Dra. Kim colocar neste meu traje um dispositivo que permite que eu intercepte e se comunique com aparelhos de comunicações diversos. Mesmo com as pernas meio bambas após o baque de serem pegos por Arthur falando mal de suas manias, os pilotos fecharam o cenho, suspiraram, e iniciaram a decolagem. Arthur sorria, gostava de seus truques. Eles me permitem ter vantagens inimagináveis. – Pensou. Após o velho disse para si mesmo externando sua preocupação: - Somente espero que tenha vantagem sobre o que estamos prestes a enfrentar nesta missão... 302 CAPÍTULO 77 Berlim – Alemanha, 1982 Após dois dias de exames, Estela já estava cansada. Seu pai não havia lhe visitado um único dia, mas ela não se importava, porquanto, Vilauba estava ali ao seu lado, se mostrando cada dia mais ser não apenas uma simples empregada, mas era como se ela fosse da família. Vilauba acariciava a cabeça de Estela que dormia calmamente, quando o doutor entrou no quarto. - Quer que eu a acorde doutor?... – Questionou Vilauba sussurrando. - Não há necessidade! Somente queria falar que amanhã terminaremos todos os exames, e vocês poderão voltar para casa. - Certo doutor! Assim que ela acordar vou lhe dar a notícia. Após o doutor sair da sala Estela abriu os olhos, e para espanto de Vilauba que percebeu que a moça não estava mais dormindo quando o doutor entrou na sala, somente fingiu dormir para não ter que conversar com ele. - Porque você não quis conversar com o doutor Estela? - Não queria que ele ficasse com proza médica. - É somente isto minha querida? – Questionou Vilauba erguendo uma das sobrancelhas. Estela ficou pensativa, não sabia se contava para Vilauba seus medos, os quais eram tantos, principalmente, tendo em vista o que presenciou na noite anterior a sua milagrosa cura. - Não quero lhe esconder nada minha amiga. Somente preciso de um pouco de tempo para poder assimilar tudo que ocorreu comigo. Vilauba sequer respondeu, somente passou as mãos nos cabelos de Estela, olhando-a com ternura, deixando descer uma lágrima. Aquela atitude para Estela era mais do que uma resposta de que ela entendia o que ela estava sentindo, era sua confirmação que entendia seus medos e compartilhava de sua dor. - Vilauba, posso lhe pedir um favor? - Todos que estiverem ao meu alcance minha doce criança. Estela parou por algum momento, Vilauba sempre tratava dela como se fosse uma mãe, sempre com palavras de carinho, contudo, ela nunca havia percebido como aquilo era importante em um momento de desespero, principalmente após as revelações que havia ouvido, era como se ela estivesse sendo amparada novamente com amor de uma mãe. 303 - Vilauba, quero que você prepare para mim um advogado para providenciar meu testamento. - Testamento? Desculpe mas não estou entendendo?! - É simples. Igualmente a minha mãe, não confio mais em meu pai. Por isto quero fazer como ela e deixar tudo em caso de minha morte para você minha amiga. - Morte?! – ela demonstrou perplexidade. – Mas quem está falando em morte?! Você está boa, curada por um milagre e me vem dizer sobre morte e testamentos... – fez uma pausa foi quase dramática. – Isto é inadmissível! - Não é! Estou em um hospital curada não sei de que forma e por quanto tempo, e se você tivesse visto o que vi na noite de minha cura iria fazer o que estou não apenas lhe pedindo, mas ordenando sem pestanejar. Vilauba abaixou a cabeça respondendo de uma forma tímida: - Sim minha criança, o que você quiser. – Seus olhos novamente brilharam de uma forma estranha, mas Estela nada percebeu... 304 CAPÍTULO 78 Porto de Le Havre - França, 1982 Após Pablo ir embora Damião ficou um bom tempo com o olhar perdido no horizonte. Será que ele vai mesmo ajudar a vila onde se encontra Joana? – Ele pensava, quando de repente seu estomago o trouxe de volta de seus pensamentos com um enorme ronco demonstrando sua evidente e clara fome, a qual quase havia sumido após se entreter com a história do amigo, mais estaca de volta, e, mais forte do que nunca! - Uma coisa eu sei, ele resolveu boa parte de meus problemas, agora é somente aguardar o barco, contudo, tenho que buscar comida, afinal, não poderia abusar daquele sujeito tão gentil incomodando-o ainda com minha fome. – Disse para si mesmo já se levantando e seguindo andando vagarosamente pelo porto. Lado outro, o porto era um local verdadeiramente infernal, por isso não sabia por onde começar. Após muito andar, se sentou em um pequeno banco próximo a algumas pequenas lojinhas, e ficou durante horas contemplando os navios saindo e sumindo ao horizonte. Meditava como a civilização evoluía progressivamente, bem como, o quanto ainda necessitava evoluir... - Pensando na vida meu amigo? – Uma voz rouca lhe veio aos ouvidos, e ele levantou a cabeça para ver quem lhe falava. Quando avistou o sujeito, percebeu se tratar de um homem magro, alto e muito pálido, tinha bigodes cumpridos, e usava um chapéu muito engraçado de palha, devendo contar com uns quarenta anos. - Me desculpe, não ouvi sua pergunta? – Questionou Damião já se levantando para cumprimentar o simpático homem. - Perguntava se você estava pensando na vida! – Retrucou o homem sorridente. - Há! Não! – Respondeu Damião também retribuindo o sorriso. – Pensava como o mundo é belo, e como devemos agradecer a oportunidade de podermos estar nele. O homem somente respondeu com outro sorriso, ao passo que Damião voltou a sentar-se. - Também estava imaginando como o homem progrediu, fazendo máquinas magnificas, que melhoraram a qualidade de vida de milhares de pessoas. E, por outro lado, como regrediu, deixando vários na miséria, e, também, destruindo várias vidas para construir tais avanços... – Completou Damião que olhava agora para um espaço vago, demonstrando sua melancolia com aquela constatação final. 305 O homem estava assustado, nunca esperava uma resposta como aquela vinda de um senhor sujo e maltrapilho, o qual, ele na realidade somente havia percebido por pena, e, justamente por este sentimento havia parado somente para lhe dar algumas moedas para lhe ajudar de alguma forma. - Não esperava que o senhor estivesse contemplando belezas e também desilusões, achava que estivesse com fome, e vim lhe oferecer algum dinheiro para que o senhor possa comprar alimento. – O homem respondeu demonstrando um pouco de vergonha por ter pensado somente que ele fosse um pedinte faminto. Damião sorriu espantado com a bondade que emanava daquele homem, e decidiu testá-lo, por isso alçou um questionamento intrigante: - O senhor é um homem bom? Ou um bom homem? Aquilo pegou o homem de surpresa, ao passo que ele resolver sentar-se ao lado de Damião. Após sentar-se o sujeito ficou durante muito tempo somente olhando para o mar, pensando na pergunta que Damião lhe fizera. Então, depois de muito tempo perdido em seus pensamentos, quebrou o silêncio: - Sempre procurei ser um homem justo, pautado no pensamento de que todos teriam aquilo de que necessitariam caso trabalhassem, e, por isto, nunca fui um homem bom e generoso para os outros. Por outro lado, eu sempre paguei em dia meus funcionários, mais nunca me misturei a eles, e sempre exigi muito deles, algumas vezes até mesmo como o senhor falou, usando as pessoas para progredir, por isto, creio que não fui um homem bom. Damião olhou bem nos olhos do homem e disse com voz serena: - Não se envergonhe, são muitos os homens que acreditam que todos tem a mesma oportunidade que eles, e se esquecem de ajudar o próximo. Não são todos que tem a oportunidade de estudar, de abrir uma empresa, e muitas vezes até mesmo de trabalhar. Outros não têm sequer a oportunidade de conviver em sociedade, porquanto, lhes faltam o discernimento necessário. Estas pessoas precisam de ajuda, e cabe àqueles mais afortunados ajudarem não alimentando, mais dando oportunidade de que estes irmãos possam fazer isto com dignidade, através do trabalho. O homem estava espantado, aquele não era um simples mendigo, mais antes que ele pudesse perguntar algo, Damião lhe lançou uma outra pergunta: - Você com certeza deve estar arrependido da vida que levou até o momento, o que já é um grande progresso. Contudo, resta somente saber se você está determinado a mudar? O homem voltou novamente seu olhar para o mar, aquilo era o que ele mais queria, e uma lágrima escorreu pelos seus olhos... Após algum tempo ele resolveu se abrir para Damião: 306 - O que eu mais queria neste momento era esta oportunidade que tanto neguei ao próximo em toda minha vida. Eu sou muito rico, lado outro, não tenho sequer uma esposa... Não foi por falta de pretendentes! Eu nunca levei um relacionamento a frente, sempre fui desconfiado de que todas as mulheres estavam somente interessadas em meu dinheiro, com isto perdi várias, e, a maior delas, certamente meu grande amor. E, definitivamente não tenho mais a oportunidade de poder mudar... - Porque diz isso com tamanha certeza? – Questionou Damião. As lágrimas do homem agora escorriam por sua face em abundância, mais ele resolveu que seria melhor desabafar com aquele senhor, por isto prosseguiu: - Há um ano os médicos descobriram em mim um câncer incurável, e estou assim pálido e magro devido à doença. Após o diagnóstico, cai em extrema depressão por meses. Pensei em fazer um pacto com o diabo, mais isto não iria adiantar. Por isto há duas noites, vendo que a doença estava realmente em seu estágio final, pela primeira vez em anos, ajoelhei-me e rezei, não de uma maneira normal, mas de uma forma como nunca havia feito antes. - Porque tomou está decisão de rezar a Deus ao invés do pacto? – Damião alçou o questionamento, porquanto, estava intrigado com a forma que ele disse que desistiu do pacto, o qual seria mais fácil, e, de certa forma mais garantido do ponto de vista da cura rápida para se livrar da morte repentina. - Pensei comigo que se dizem que o Diabo faz pactos, então porque Deus não faria?! E nas minhas orações fiz um pacto com Deus, disse a ele que se me curar, abrirei muitas instituições de caridade, e que os lucros de todas as minhas empresas serão para estas instituições! Bem como, parte considerável seria destinada para o desenvolvimento de novos medicamentos para combater o câncer, porquanto, não quero que ninguém passe pelo o que eu estou passando... - Mais como selou o pacto? – Damião estava muito interessado naquilo, porquanto, era novo para ele fazer pactos com Deus. - Como prova de que cumpriria minha promessa, mandei meus advogados elaborarem um testamento, onde deixo todas as minhas empresas para a caridade e para o desenvolvimento de medicamentos contra o câncer, eles definiram como seria a melhor maneira de que os bens fossem administrados, e eu assinei. Além disso, como uma espécie de sinal de minha devoção, mandei transferir muitas posses, mais da metade já para instituições no mundo todo. O homem fez uma pausa, devido aos enormes soluços que dava de choro, mais queria prosseguir: - Eu sei que é tarde, e não espero que Deus ouça meus pedidos, mais minha vida não mais importa. Se ele me concedesse a graça de pelo menos entrar por um dia no céu, e estar pelo menos por um dia em sua 307 presença, já ficaria satisfeito, após eu poderia retornar para meu lugar, que certamente será o inferno. O homem mais uma vez parou, somente de falar em inferno ele tremia todo, mais prosseguiu firmemente: - Na noite passada sonhei com este porto, e nele vi um anjo lindo, ele acenava para mim. Logo após acordei, e cai em desespero, achava que seria salvo, e descobri que era somente um sonho. Mais algo dentro de mim me dizia para vir aqui. Ele olhou nos olhos de Damião, e disse: - Nunca dei dinheiro para ninguém, pelas minhas convicções de que isso seria propagar a preguiça de trabalhar. Contudo, quando vi o senhor sentado aqui olhando para o mar, e pensei que pudesse estar com fome, pela primeira vez resolvi ajudar uma pessoa necessitada. – ele abaixou a cabeça demonstrando sua descrença. – Acho que não vou encontrar nenhum anjo que possa me curar, mais se eu puder lhe proporcionar um pouco de alegria e saciar sua fome, já ficarei satisfeito, porque vi somente agora que ajudar faz bem, e, bem como, que ajudando ao próximo parece que recebemos mais do que quem estamos ajudando, a sensação e incrível! - Aceito se o senhor aceitar comer comigo! – Respondeu Damião em um tom desafiador. O homem achou aquilo estranho, aquele mendigo ainda impunha condições para receber ajuda? Antes, ele nunca aceitaria comer ao lado sequer de um empregado, quanto mais de um mendigo! Mais este seu lado negro estava para trás, havia sido enterrado quando ele soube que não passava de uma carne que em breve estaria apodrecendo aos poucos abaixo da terra, como aquele câncer que lhe comia aos poucos... - Lógico que aceito comer com o senhor! – O homem respondeu para alegria de Damião, o qual sorriu ao perceber que o homem estava também se abrindo para a humildade. O homem se levantou estendendo a mão para o novo amigo. – Me chamo Gerard. - Então vamos, pois estou faminto! – Disse Damião estendendo as mãos para que o senhor pudesse ajudá-lo a levantar. – Me desculpe, porque estou com muita fome, mais pode me chamar de Damião. Antes de pegar na mão de Damião o homem a olhou, vendo que estava muito suja, e pensou consigo mesmo: Estão limpas perto das minhas, que estão sujas com meu ódio e desesperança pela vida. O homem ficou encabulado com aquele senhor, ele lhe passava uma energia diferente de tudo que já sentiu, suas palavras eram para refletir. 308 - Vamos a um restaurante aqui perto, quando passei por ele senti um aroma muito bom, rezei para ter a oportunidade de comer nele. – Disse Damião com os olhos brilhando. Ele ainda exige o restaurante em que quer comer! Isto que é abusar da oferta, exigir que eu coma com ele e ainda escolher o restaurante. Na certa será um dos mais caros do porto! – Pensou Gerard sorrindo, mas deixando, afinal, já havia aceitado. Quando Gerard viu o restaurante que Damião havia falado, se assustou, porquanto, por fora ele era muito simples, então logo pensou que seria por dentro muito sujo e não muito higiênico. Sempre comi nos melhores restaurantes de Paris e aqui da Normandia, e, ainda assim estou com câncer, muitas pessoas comem por tempos em restaurantes infestados de ratos e são saudáveis. Higiene e bom e necessário, contudo, não deve estar acima de tudo. – Pensou ele antes de adentrar com Damião no humilde restaurante. Para espanto de Gerard o restaurante era muito bem arrumado, várias famílias humildes estavam ali almoçando, e a garçonete parecia ser uma pessoa muito boa. Sentaram-se em uma mesa e foi Damião que demonstrando estar realmente faminto pediu o cardápio. - Desculpe a pressa, mas é porque estou realmente faminto! – Dizia Damião tentando explicar sua falta de educação. - Mas porque ao invés de pedir comida o senhor somente estava olhando o horizonte? - Porque penso que quando eu realmente estivesse em sérios apuros o Senhor, ou melhor, meu Criador, o qual você chama de Deus me mandaria ajuda. – Tentou explicar Damião. - Mas e se não mandasse, o senhor morreria de fome? – O questionamento veio quase como um desafio. - Não, ai eu iria pedir, contudo, sempre funcionou para mim. Gerard olhou pela janela, vendo uns sete meninos olhando pelo vidro. Certamente estão famintos. – Pensou ele. Então, após este raciocínio, lembrou-se de que na porta de um restaurante caríssimo de Paris olhou para alguns meninos que estavam olhando da mesma forma pelo vidro, e ele, à época, somente teve a reação de colocar a carteira no bolso da frente, e ainda questionar o que eles olhavam tanto, porque certamente ali não era o lugar deles. 309 Naquele momento percebendo suas atitudes, Gerard sentia tanta vergonha de suas atitudes, ele tinha dinheiro suficiente para alimentar milhares de meninos, mais sequer teve a coragem de alimentar alguns famintos. Teve então a certeza que não estava morrendo devido ao câncer, mas que já estava morto há anos por dentro... - Com licença Damião, já retorno. – Gerard disse se levantando. Damião somente ficou observando o homem se dirigir para a garçonete e o garçom e após sair do restaurante, por minutos Damião pensou que ele havia desistido de comer ao seu lado e teria ido embora, contudo, viu que não se tratava disso após ver os funcionários imediatamente virem arrastando mais uma mesa, anexando-a a que eles estavam sentados. Em poucos minutos Gerard entrou no restaurante com os meninos. Segurava a mão de um menor que devia contar com menos de quatro anos. Eles sentaram-se todos admirados, nunca deviam ter estado em um restaurante, suas roupas eram rasgadas, e não tinham sequer sapatos. - Bom dia, o que vocês fazem aqui no porto? – Disse Damião quebrando a admiração dos menores com o ambiente. - Nos viemos ajudar as pessoas a carregarem as malas, quando permitem, porque não nos dão muito trabalho. – Respondeu com olhar ainda vislumbrando o restaurante um dos garotos, o mais franzino. - Não conseguem emprego por causa da idade, são ainda muito novinhos para carregar qualquer coisa. – Respondeu Gerard tentando prosseguir a conversa, para maior surpresa de Damião. O garoto voltou-se para Gerard e Damião, como quem estivesse respondendo bobos, mas mesmo assim respondeu deixando transparecer desânimo: - Não é por isso, é porque acham que vamos roubar. Conseguimos mais trabalho com os carregadores dos barcos de carga, só que somente quando a carga é leve, estes sim acreditam um pouco em nós, mas os outros sequer chegam perto. Gerard iniciou novamente suas lembranças, se lembrava agora de sua atitude egoísta na porta do restaurante em Paris, talvez os meninos quisessem igualmente aqueles que ali se encontravam somente uma oportunidade de trabalho. Então resolveu perguntar: - Os pais de vocês os apoiam a trabalhar? O mais velho que devia contar com uns dez anos de idade disse com a voz baixa e tentando parecer o mais educado o possível, mais não escondia a emoção de falar nos pais: 310 - Não temos pais, moramos no orfanato da Igreja. Os padres não sabem que tentamos arrumar trabalho, mais como o orfanato não tem dinheiro para comprar doces, tentamos arrumar algum serviço para poder matar nossa vontade. O coração de Gerard se partiu, eles eram crianças, e tinham um único desejo, simplesmente comer doces, só que tinham que trabalhar duro para isto. - Vocês já comeram em um restaurante? – Questionou agora Damião ao perceber que Gerard havia ficado engasgado. - Não... – o mais velho novamente respondeu, fazendo uma pausa olhando para o interior do restaurante da mesma forma que olhava o mais novo, ou seja, com admiração pelo ambiente. - Sempre olhamos as pessoas entrarem, e os padres nos ensinam que não devemos ficar pedindo esmolas, porque temos o que comer no orfanato, por isto somente olhamos. Não querendo reclamar da comida do orfanato, afinal temos que agradecer por Deus nos dar o que comer... mas... não é como a deste restaurante... – Ele falava pausadamente, e, após terminar, abaixou a cabeça com vergonha de ter dito aquilo. Damião pôs a mão em seu ombro dizendo: - Não se envergonhe, todos buscamos algo melhor, você não está pecando em desejar comer uma comida gostosa, desde que respeite o próximo, e não cometa nada de errado para conseguir seus desejos. O menino olhou no rosto de Damião, e disse agora com mais satisfação, por se sentir menos culpado: - A comida do orfanato é bem feita, mais esta deve ser espetacular! Mas os doces são melhores, e, além disso, o pouco que ganhamos não dá para comer neste local, ainda tem o fato que temos que voltar rapidinho para o orfanato para estudar. - Vocês estão de parabéns! O trabalho dignifica a alma, e trás uma sensação de utilidade, mais não devemos deixar os estudos, eles são a essência para deixarmos a ignorância, e buscarmos a evolução intelectual, base para melhorarmos também nosso espírito, não com crenças, mais com mensagens de humildade e amor ao próximo. Além disto, tudo que conseguimos com esforço, será mais bem apreciado. – Disse Damião batendo palmas de tanta emoção por ver a atitude daqueles meninos. - Quando eu crescer quero ter um restaurante, onde todas as crianças poderão comer de graça. – Disse o mais jovem dos meninos, com um leve sorriso, certamente imaginando seu sonho. Damião olhou para o menino deixando transparecer ainda mais sua alegria, então teve que dizer: 311 - Sonhe com o seu restaurante, mas quero que saiba que existe um restaurante desta forma, onde todos os necessitados comem de graça! Lá temos que cumprir nossas tarefas diariamente, mais a comida é farta e igualitária. Um dia estaremos todos almoçando neste restaurante, e você se lembrará deste dia com alegria, não pela comida, mais pela oportunidade de estarmos todos unidos. O menino quase explodiu de tanta alegria em saber da existência de tal restaurante. A comida finalmente havia chegado, Damião comia como um louco, estava literalmente morto de fome, mas os meninos comiam muito devagar. - Porque estão comendo tão vagarosamente? – Questionou Gerard intrigado. - Queremos apreciar melhor o sabor, bem como, este momento... – Disse uma criança que até aquele momento nada tinha dito. - Fazem bem meninos! Muitas pessoas não sabem apreciar um momento, e acabam deixando passar certos pontos em suas vidas que fariam toda importância em um futuro próximo... Mas me desculpem não cumprir esta regra hoje, porquanto, estou faminto, meu corpo tinha que ser alimentado com rapidez, por isso não posso me dar ao luxo. – Disse Damião não escondendo a emoção que sentia naquele momento, mas com a boca cheia, afinal, não se aguentava de tanta fome. - O senhor fala como os padres do orfanato, eles explicam as coisas sempre muito bem para nós, assim não nos sentimos muito sozinhos. Será que o senhor não poderia ir para a Igreja? Tenho certeza que aceitariam o senhor lá! – Disse o menino mais velho. - Porque diz isso meu jovem. – Damião questionou intrigado com as razões daquele convite. O garoto somente olhou para as vestes de Damião, dizendo com certa vergonha pela conclusão que havia feito: - Me desculpe senhor, mas creio que o senhor precise de um local para ficar, e eles podem te dar roupas, alimento, e um local para dormir, em troca o senhor pode ajudar com os meninos, e, ainda, nos demais afazeres do orfanato. Damião ficou um tempo pensando naquilo que aquele jovem estava lhe dizendo, após algum tempo perdido em seus pensamentos, disse: - Agradeço sua preocupação, mas não estou necessitando deste tipo de ajuda. Tenho que te falar que não tenho religião... Minha crença é indivisível para crer somente em um ou em outro culto! Mais acho que terei que ficar em uma igreja, que infelizmente não é a que vocês moram. Mais saibam que não é porque não tenho uma religião que não acredito nelas, em seu poder de fazer o bem ao próximo, mesmo que para isto elas mais dividam do que 312 unem as pessoas. E, por isto tenho minha fé alicerçada no amor ao próximo, independente de sua religião, naturalidade, cor, raça, etc., no dia em que todos entenderem isto, estaremos juntos não contra alguém ou alguma outra instituição, mais a favor e em prol de um todo... Os meninos voltaram a comer, a tenra idade deles os impediam de raciocinar o que Damião falou, contudo, Gerard estava de boca aberta, naquele momento tinha a convicção que aquele homem não era um simples mendigo. Após todos terminarem de comer, Gerard pediu ao garçom para trazer todos os doces de que dispunham para uma sobremesa, e, que ainda era para arrumar todo o estoque disponível para viagem, que os garotos iriam comer ali alguns e o restante iriam levar para os amigos. Os garotos encheram-se de alegria, comeram até quase de empanturrarem de comida, e, por isso não tinham muito espaço disponível em seus pequeninos estômagos para os doces, mas já que poderiam levar eles estavam satisfeitos, afinal, poderia naquele dia dividir com todos os seus coleguinhas. Gerard foi até o caixa e pagou a conta, dando uma excelente gorjeta aos garçons, os quais até brilhavam os olhos de tanta satisfação. - Me digam qual é o orfanato que vocês moram? – Perguntou Gerard ao retornar à mesa. Os meninos ficaram meio receosos, e Gerard teve que questionar: - Porque o receio? O mais velho novamente tomou a frente, respondendo com certo temor: - O senhor não vai contar para o Padre Alencar que estávamos trabalhando, e que aceitamos a comida, vai? Damião e Gerard caíram na gargalhada. - Não meu jovem, é somente para poder enviar os brinquedos e demais coisas de que vocês devem estar precisando neste orfanato, também vou providenciar um ótimo cozinheiro e alimento necessário para a manutenção mensal, para que os Padres possam ter mais tempo para lhes ensinarem sobre religião e demais conhecimentos. Os meninos estavam eufóricos, não podiam acreditar, deram o endereço e todos juntaram em Gerard abraçando suas pernas, após, saíram correndo, a alegria era tanta que eles pareciam que iriam explodir. Gerard ficou sorrindo, sentia em seu interior uma sensação sensacional, não podia explicar, era melhor do que qualquer coisa que já presenciou, era novo, magnífico, se sentia vivo, mesmo com as fortes dores que lhe afligiam. 313 - Onde é sua casa Damião? Quero te visitar mais vezes! - Está nela Gerard. – A resposta veio curta e direta, soando como um desafio. - Não entendi. – Respondeu Gerard após muito raciocinar. - Minha casa é o universo! Mais o local onde me descanso, não é nesta dimensão, é muito longe, e ao mesmo tempo muito próximo! Estou aqui somente de passagem, não apenas nesta dimensão, mais digo na França, logo irei para o Brasil, lá tenho uma missão. Gerard franziu o cenho, que missão poderia ter aquele homem? Mais tinha uma certeza, aquelas horas que passaram juntos foram as melhores de sua vida, então queria saber se poderia ajudar ainda mais: - Você tem dinheiro para chegar até o destino de sua missão? - Não necessita, já ganhei a viagem, e, somente estava pedindo ajuda aos meus amigos espirituais para me alimentar enquanto aguardava o navio, justamente quando você chegou! – Respondeu Damião com um sorriso. - Acho então que interrompi seu pedido a estes amigos? – Questionou Gerard também com um sorriso. - Não, acho que eles resolveram me ajudar rápido demais, enviando imediatamente o senhor. – Damião respondeu secamente, ao passo que pegou Gerard de surpresa. - Você é especial Damião, vou lhe dar um pouco de dinheiro para qualquer emergência. Damião agradeceu, e eles saíram sorrindo, antes de se despedirem ainda passaram em uma loja, onde Gerard lhe presenteou com roupas e sapatos. Damião saiu correndo da loja ao avistar que o navio havia atracado, afinal, não sabia quanto tempo iria levar para ele zarpar, e não poderia perder a viagem de forma alguma. Ao chegarem perto do navio Gerard deixou escorrer uma lágrima, e disse com a voz rouca de emoção: - Posso lhe chamar de amigo? - Claro! Mais prefiro que me chame de irmão! Gerard sorriu, aquele sujeito era muito encantador, nunca esperava encontrar em um maltrapilho, o pai que sempre lhe faltou, e disse ainda mais emocionado: - Posso não ter encontrado a cura para meu corpo, mais sei que hoje encontrei uma para minha alma... 314 - Tudo tem um motivo e uma razão de ser. No passado você acumulou uma fortuna, que agora será usada para o bem. O Criador não te puniu com um câncer, esta moléstia foi à oportunidade de você poder ver a vida de uma maneira diferente! Se morresse agora, tenho certeza que iria para um local melhor, porque soube se arrepender no tempo certo, e mesmo que fosse tarde, fez de tudo para reverter suas atitudes egoístas. - Você realmente acha isso? – Gerard até brilhava os olhos de emoção, os quais estavam marejados. - Saiba que já vi vários reis e rainhas morreram em cima de uma pilha de ouro, sem abrir mão de um único centavo para alimentar a população faminta, que tirava da boca para alimentar suas ambições. Você por outro lado, mesmo sem ter certeza da salvação do corpo, abriu mão de seus bens, e salvou sua alma no dia em que tomou esta atitude... Ganhará mais tempo, não para salvar sua alma, mais outras, que necessitam de sua ajuda, principalmente, a pessoa que lhe amou, e que até hoje aguarda para ser retribuída... – A resposta de Damião veio em um tom de mistério. Gerard ficou parado, mudo, então resolveu quebrar o silêncio: - O que está dizendo? - Nunca diga nada a meu respeito, e para onde eu fui! Não tente me encontrar em meu destino, porque não sou deste mundo, mais nele tenho neste momento minha morada, e farei de tudo para que seja a mais feliz possível. Hoje você me mostrou que poderá fazer a diferença, então se levante a cada dia da cama, e se questione o que poderia fazer para mudar o mundo, e não apenas pense, mas faça! – A resposta de Damião veio ainda com mais mistério com o seu significado. Gerard ainda estava parado, em transe com seus pensamentos, foi quando Damião chegou bem perto e lhe deu um forte abraço, fazendo com que ele começasse a sentir seu corpo queimar inteiramente... Quando Gerard finalmente conseguiu abrir os olhos viu que Damião estava brilhando como o anjo que ele viu no sonho. Seu coração bateu mais forte, e as dores de seu corpo foram sumindo pouco a pouco, em pouco tempo ele adormeceu lentamente... Quando acordou o navio não mais estava no deque, havia partido igual a sua doença... 315 CAPÍTULO 79 Oceano Atlântico – França para Brasil, 1982 O navio de Damião já estava muito longe do local de sua partida, cortava as enormes ondas, as quais anunciam uma forte tempestade... Sei que não deveria ter curado aquele homem, afinal, estou gastando energias de que poderei necessitar, mais senhor, necessitava ajudálo! Além disso, senti que fui movido a isso. – Ele raciocinava em perdão. - O senhor poderia se dirigir para sua cabine? – Orientou um pequenino e simpático marinheiro para Damião retirando-o de seus pensamentos. Quando veio a orientação, Damião olhou o mar agitado pela proa. - Está vindo uma tempestade? – Retrucou não escondendo seu medo, o qual era revelado pelo tom preocupado de sua voz. - Sim senhor. Creio que em breve estaremos dentro de uma tempestade que nunca presenciei em mais de trinta anos no mar... - Como assim?! – Damião bradou como um covarde, suas pernas tremiam, afinal, ele tinha verdadeiro pânico quando se tratava de água, frutos de um afogamento na infância. - Quando saímos não tinha qualquer previsão de tempestade, e segundo constatamos, há uma de grande proporção à frente. O capitão está muito preocupado, chegou até mesmo a questionar se os nossos equipamentos estavam com problemas, tendo em vista que não havia qualquer previsão de tempestade, e, a formação de uma destas proporções em tão curto espaço de tempo é algo tão raro que poderíamos dizer ser um mistério daqueles que só acontecem em alto mar. - Porque não mudaram de direção? – Damião questionou quase que como uma reclamação. - Mudamos, mais parece que inexplicavelmente a tempestade está nos perseguindo, em breve o capitão disse que estaremos no centro dela, por isto estamos retirando todos da proa e da popa, e pedindo que fiquem em suas cabines. Damião agradeceu e saiu diretamente para a cabine. Sabia que algo estava errado, e tinha que descobrir imediatamente o que era... Chegando à cabine, ajoelhou-se e começou a rezar de uma maneira diferente, somente ficou calado e com as duas mãos para o alto. Em alguns instantes uma forte luz começou a se formar na cabine logo atrás dele, era muito forte e Damião abaixou as mãos, mas não abriu os olhos. 316 Aos poucos a luz foi diminuindo, e podia-se ver a figura de uma linda mulher. Ela tinha um vestido reluzente, cabelos negros e longos, os quais deixavam ainda com mais contraste as diversas perolas em um colar no pescoço, em pulseiras em suas mãos, e em uma linda tiara, sua pele parecia ser macia e lisa, tendo um tom moreno claro, era simplesmente a imagem da perfeição. Damião conseguiu abrir os olhos, e viu que sua amiga havia atendido seu pedido de ajuda. - Há quanto tempo meu amigo? – Questionou com ternura a mulher com uma voz serena e afetuosa, mais com um misto de cinismo. - Não muito se formos considerar sua visita inesperada na França! – Respondeu Damião com um enorme sorriso. A mulher se aproximou de Damião, sentando-se imediatamente em uma poltrona, em nenhum momento lhe dirigiu qualquer sinal de afeto maior, sequer um abraço. - Sinto que você ainda tem receio de mim. – Ponderou Damião cauteloso. - Não tenho receios, mas estou com cautela, afinal, da última vez que te visitei, fui efetivamente enxotada. Você sequer conversou comigo! Damião maneou a cabeça, ela não era fácil, tinha um gênio muito difícil, era uma excelente amiga, fiel, mais sabia ser insuportável quando queria. - Em nenhum momento te enxotei! Somente te disse que não poderia lhe receber naquele local, não por falta de hospitalidade, mas simplesmente porquanto estava no meio de uma grande missão, e recebi ordens plenas e concretas do Conselho Supremo de que não poderia ter qualquer ajuda, do contrário poderiam descobrir quem realmente eu era. Bem como, sabe que como não está encarnada sua energia pode ser facilmente constatada por qualquer demônio a quilômetros, o que certamente iria afugentá-los, e com isto estragar toda minha missão. - Porque simplesmente não me disse isto! – Respondeu agora vorazmente a mulher. Damião abaixou a cabeça, não em sinal de vergonha, mais de nervosismo. - Está vendo! Não responde minhas perguntas! – Tornou a mulher. - Eu não tenho tempo para discutir com você Iemanjá! Sinto que estou correndo grande perigo, e precisaria da ajuda de uma amiga! Contudo, vejo que você esta mais preocupada em obter respostas para um acontecimento banal, do que em me ajudar! – Damião simplesmente desabafou, deixando cair os ombros. 317 A mulher se sobressaltou assustada com a resposta, mais não se deu por vencida: - Não lhe entendo, pelo que fiquei sabendo você agora será um Padre e ainda um professor em uma diocese e faculdade do Brasil, não deveria me chamar então como sua agora igreja me designa, ou seja: de nossa senhora dos navegantes?! Ao invés de Iemanjá?! Damião não acreditava que Iemanjá havia guardado tanta raiva dele somente por ter-lhe mandado embora. Era certo que ele havia se excedido à época, mas era pelo medo de perder sua missão, portanto, não segurou o nervosismo, respondendo em um tom agora não mais de desanimo, mas de fúria: - Estou encarnado, e necessito de sua ajuda! Mais sei que poderia lhe chamar de vários nomes, posso escolher entre vários, até mesmo voltar em tempos mitológicos em que você era uma das principais Deusas! Contudo, teria que me chamar também por meus vários nomes que me atribuíram no decorrer dos milênios, o que somente nos atrasaria ainda mais! Estou falando sério Iemanjá, preciso de sua ajuda, e não tenho tempo para discutir! - Como poderia lhe ajudar se você mesmo me disse que não posso interferir diretamente no mundo material? Repito que você mesmo fez questão de frisar isto para mim na França! - E quem disse que teria que interferir no mundo material? Iemanjá parou subitamente de falar, e lançou um olhar desafiador para Damião. Não sabia o que estava ocorrendo. O que ele quer dizer que eu não iria interferir no mundo material? – Pensou, sabendo então que Damião não estava realmente para brincadeiras. - Me desculpe. O que está acontecendo? - Já era hora! Achei que não ia me dar crédito! – Exclamou Damião mostrando totalmente sua impaciência, e já começando a explicar imediatamente para não perder mais tempo: - Eu estou indo em direção ao Brasil, como você já disse que tem conhecimento desta nova missão. Contudo, parece que demônios ou sei lá o que seja, descobriram minha localização, quem sou e minhas intenções... - Como sabe disto? – Interrompeu Iemanjá agora também assustada. - Há uma forte tempestade vindo de encontro ao navio. – Respondeu Damião pensativo. 318 - Ainda com aquele medo estupido de água Damião? Tenho que lhe dizer que no mar isto é comum?! – Rebateu a mulher com cara de pouco caso, prosseguindo calmamente em sua explicação: - No mar existem várias tempestades que podem formar-se de repente! Não vejo razão para que se preocupe. Repito que é somente seu medo atrelado ao seu trauma infantil, bem como, comum em todos que não costumam se aventurar neste mundo aquático que poucos ousam enfrentar. Damião olhou para ela com um olhar furioso, agora somente pensando: É certo que está mulher tem enorme poder em manipular e reger a água e o que vive nela. Contudo, este mesmo poder parece perder importância quando ela esta com rancor de alguém. Entendo que fui grosseiro quando ela resolveu me visitar, mais o que ela queria? Afinal, quantas vezes terei que explicar que não podia colocar em risco minha missão?! Após tal pensamento ele olhou para ela de cima em baixo, respirou fundo respondendo com uma voz calma e cortês: - Somente te peço como amigo que analise para mim se isto somente é uma tempestade normal, ou se é algo diferente... Se for normal não deve interferir, caso for algo diferente precisarei de sua ajuda. Além disso, estou muito fraco, porquanto, tive que usar um pouco meus poderes, e, creio que demorarei em recobrá-los. Iemanjá olhou-o também de cima em baixo, também pensando: Sei que Damião não esta mentindo, ele é um bom amigo, mas também não posso deixar por menos sua grosseria na França, afinal, na ocasião eu somente queria ajudar. Após a pequena pausa de ponderação em seus pensamentos ela resolveu responder: - Está bem! Vou analisar do que se trata está tempestade. Se eu não aparecer é porque não é nada, e terei ido embora sem me despedir, porquanto, ainda estou muito nervosa com você! - Muito obrigado! – Respondeu Damião se dirigindo para lhe dar um abraço de agradecimento, contudo, antes dele chegar perto, ela desapareceu. Gênio forte e difícil tem está mulher! – Ele concluiu em pensamento balançando a cabeça. 319 CAPÍTULO 80 Londres, Inglaterra, 1982 Arthur, Charles e os agentes estavam já há algum tempo sobrevoando o céu de Londres nos três helicópteros. Como haviam combinado, eles mantinham uma distância segura um do outro, mais se comunicavam de cinco em cinco minutos para certificarem que corria tudo bem. - Pensei que o senhor somente ficaria no comando externo, não na linha de frente de batalha! – Exclamou Charles que estava no helicóptero de Arthur evidenciando sua surpresa não apenas em ver o novo amigo não apenas naquele traje cibernético, mas, principalmente, por querer estar à frente de tudo. - Pois é meu caro Charles, ficarei sim no comando, por isso tenho que ir a frente de vocês, porquanto, é assim que um verdadeiro general faz. – O velho respondeu estufando o peito para demonstrar sua virilidade, e, ainda, para ironizar um pouco aquele espanto inicial dele e dos demais agentes. – Além disso, creio que você melhor do que ninguém sabe que ficar em comandos externos não é uma boa opção! Charles ligou rapidamente a alfinetada do velho, que queria lhe lembrar do dia em sua mansão. Mesmo com os olhares ainda assustados com a figura de Arthur trajado para a guerra todos estavam muito tranquilos, afinal, quanto ao combate já estavam mais do que acostumados, e ainda mais trajando armas de última geração. Bem como, agora por saberem que estavam acompanhados de uma verdadeira máquina guerreira ao lado deles. Certamente todos naquele helicóptero já haviam enfrentado missões tanto para a organização comandada por Charles quanto em seus antigos empregos em situações muito mais difíceis, desta forma, mesmo que agora enfrentariam algo novo, estavam mais do que preparados tanto psicologicamente quanto materialmente. Após algum tempo de viagem Charles observou pela janela a localização, e concluiu o óbvio. - Arthur, o aeroporto certamente não fica nesta direção! - Mas quem disse que meu jato fica em um aeroporto comum meu caro e inocente Charles?! – Respondeu o velho com um sorriso malicioso e um olhar que demonstrava seu poder não apenas intelectual mais acima disso material e de influência. Após aquela resposta Charles decidiu ficar calado, realmente havia sido inocente ao pensar que Arthur manteria algum de seus itens retirados de sua exclusiva fábrica de peripécias militares para um aeroporto comum. Quando os helicópteros saíram da cidade de Londres sobrevoaram ainda vários quilômetros, até que entraram em uma região mais inóspita, neste 320 instante todos se juntaram naquela área muito plana e com muito verde, contudo, totalmente isolada... - Senhor, os radares não indicam a presença de nada nem ninguém dentro do perímetro da zona crítica de voo. – Disse o piloto para Arthur parando o helicóptero no ar e sobrevoando em um local fixo. Charles olhou para baixo e não viu nada além de capim e algumas árvores, definitivamente não entendeu o que estava acontecendo, afinal, aquela região certamente não tinha sequer pista de decolagem, quanto mais condições de que um avião ali estivesse e ainda que pudesse dali decolar. - Meu caro Charles, apenas observe... – Disse Arthur sorrindo ao ver a expressão de dúvida do rapaz, retirando de sua cintura um pequeno aparelho, digitando alguns códigos no mesmo. Após ele retirou vagarosamente, como se curtisse a situação, um pequeno aparelho de telefone da cintura, telefonou e após um pouco de espera disse ao seu interlocutor: - Pode acionar o dispositivo, já acionei o meu, e segundo o radar do helicóptero não há nada nem ninguém nas proximidades, assim, pode liberar a abertura da tampa. Após dizer isso em poucos segundo Charles e os demais agentes que estavam naquele helicóptero, e, certamente os demais que estavam nos outros dois se assustaram ao ouvir um grande barulho vindo do solo abaixo deles, quando Charles e os demais agentes se esticaram para observarem o que estava ocorrendo no solo pasmaram, porquanto, o solo estava se abrindo, e de seu interior um grande buraco se formava. - O que é isso? – Questionou Robson rompendo o silêncio, olhando fixamente para Arthur. - Isto é o meu pequeno esconderijo para minha máquina, afinal, não poderia guardar um item tão precioso em um local comum, assim, inventei isto, e, sob minhas ordens minha equipe o criou. - No que consiste? - Em síntese meu caro Robson, consiste em um hangar subterrâneo. Por isso tinha que me certificar que não tinha ninguém na região, razão pela qual, instalei sensores em todo o perímetro e ainda analisamos por um radar os movimentos, tudo para que não corra o risco de descobrirem minha joia. Após eu libero a abertura por este aparelho, telefono para um escritório secreto de vigilância que libera outro código após eu dizer que está tudo bem – Tentou explicar rapidamente o velho sua façanha, enquanto a grande tampa já estava quase que totalmente aberta. - Mas o senhor não falou nenhuma senha para o rapaz que telefonou. Isto não seria um risco? – Questionou Robson ainda curioso, e, 321 também tentando obter pontos com o velho, afinal, queria demonstrar que entendia um pouco de segurança e demais. - Meu caro Robson, senhas são muito perigosas, por isso no escritório que telefonei há um aparelho que além de reconhecer minha voz, ainda, faz um reconhecimento utilizando o tom e timbre dela, entre outros quesitos analisando se sou eu, se estou nervoso ou alterado, o que poderia significar um sequestro, etc. - Fico cada vez mais espantado com suas artimanhas tecnológicas meu caro Arthur. – Disse Charles sorrindo, quando percebeu que Robson ficou tão maravilhado com aquilo que ficou mudo. Após todos dirigiram os olhares para a janela, observando o terminar de abertura da verdadeira cratera que se formou no subsolo. Em seguida um alto bipe soou, e os helicópteros começaram a descerem ao interior da cratera, e, logo após eles adentrarem pousaram em uma espécie de solo de metal. - Isso é muito raso. – Disse George tentando como sempre brincar. - Este é apenas o chamado solo elevador meu caro George. – Arthur respondeu com um sorriso malicioso, estava convicto que o rapaz assim como os outros não esperava por aquilo. – Ele foi desenvolvido para que os helicópteros ou veículos que adentrassem descessem com segurança até o subsolo onde se encontra o hangar com meu brinquedinho. Assim que os helicópteros pousaram no solo de metal o mesmo começou a descer suavemente, como um elevador, e à medida que ele descia a chamada “tampa”, como Arthur a nominou começou a se fechar acima deles, e, somente a escuridão tomou conta do local... Ao cair na escuridão Charles sentiu uma pontada de medo, raciocinando o óbvio: Isso é realmente muitas vezes maior do que eu imaginava... 322 CAPÍTULO 81 Oceano Atlântico – França para Brasil, 1982 Já havia se passado uma hora que Iemanjá havia partido e até aquele momento nada de retornar ao navio. Damião deveria então ficar mais despreocupado, afinal, ela havia dito que se não retornasse era porquanto não se tratava de nada. Ela está demorando, mais algo me diz que esta tempestade não é normal... Em razão deste pensamento ele simplesmente andava de um lado para outro na pequena cabine, foi quando resolveu ir até a janela, assustandose com o que avistou... À sua frente avistou duas enormes trombas d‘águas, como redemoinhos que se chocavam! - Meu Deus... – Ele exclamou antes de deixar o queixo cair de medo, e, suas pernas tremerem ainda mais. E não era para menos, a cena ainda era mais assustadora, porquanto, elas não estavam seguindo em direção ao navio, estavam se chocando entre si com extrema força. - É como se estivessem lutando... – Ponderou Damião perdendo-se em seus pensamentos, afinal, precisava ver aquilo melhor, poderia saber se Iemanjá tinha encontrado algo, porquanto, possuía o dom de ver o mundo e os seres imateriais do plano material no qual estava encarnado, lado outro, para isto, tinha que encontrar algo que pudesse aproximar seu campo de visão... - O capitão! Ele deve ter um binóculo ou luneta, com isto poderei ver o que está acontecendo. – Arrematou em voz alta, já saindo correndo de sua cabine, em direção à sala de comando. Passou correndo pelo estreito corredor que levava para a sala de comando se escorando nos corrimões, porquanto, agora parecia que o navio estava sendo sacudido, foi quando parou subitamente ao chegar perto das escadas superiores. - Isto não pode ser real! – Exclamou olhando para as duas trombas d’águas. Ele chegou não apenas à conclusão que aquelas duas trombas d‘águas estavam lutando, mais agora tinha certeza, e elas estavam fazendo aquilo de uma maneira voraz. Os marinheiros corriam para todos os lados, assustados e seguindo as ordens de um senhor que se encontrava em uma sala no topo do navio. Neste momento, Damião recebeu um banho de água do mar, advinda devido a uma enorme onda, momento em que acordou de seus 323 devaneios, então continuou sua trajetória rumo ao topo do navio, afinal, sabia agora que tinha que encontrar o capitão com urgência. Subiu várias escadas, e quando estava prestes a entrar pela porta da sala do capitão, recebeu um baque que o fez voar para trás. - Aonde pensa que vai? – Bradou em alto e bom tom um enorme marinheiro a sua frente. Como Damião não respondeu, porquanto, ainda estava tomando ar, para recuperar o que perderá com o baque repentino, o marinheiro o pegou pela gola da blusa e começou a arrastá-lo para longe da sala do capitão. - Par.. e... Pare! Po... Posso ajudar! – Gaguejou Damião, ainda recobrando a consciência e o ar de seus pulmões. O marinheiro parou subitamente, olhando para Damião como um cão que espreita sua presa, após um longo período analisando-o, disse com uma voz cortante: - No que pensa que poderia ajudar? - Eu acho que sei o que está causando aquelas trombas d’águas. – Damião respondeu tentando ainda obter mais ar. - Como assim? – Respondeu rapidamente o marinho muito cético e desconfiado, contudo, não escondendo sua curiosidade. Damião tomou mais ar e elaborou uma explicação mais rápida, lógico, não contando a verdade: - Sei que aquelas trombas d’águas estão seguindo o curso do navio, e que cada vez que vocês mudam de direção parece que elas te seguem! Trabalho há muito tempo em uma empresa de meteorologia, e posso estabelecer um curso que elas podem seguir, com isto será mais eficaz ao mudarmos de direção. O marinheiro ficou pensativo, aquele senhor parecia ser uma pessoa honesta, mesmo somente lhe vendo uma vez na vida, era como se lhe conhecesse há tempos, ele transmitia confiança... - Fique onde está! – Ordenou o marinheiro, soltando as grandes mãos da gola de sua camisa, e, ainda, taxando logo em seguida: - Não mexa nem um músculo! Vou ver com o capitão se ele pode lhe receber! - Posso pelo menos me levantar? – Questionou Damião prostrado ao chão como um trapo. - Pode! – Respondeu o marinheiro já entrando imediatamente na sala de comando. 324 Damião foi se levantando devagar, todos os seus músculos doíam, pensou porque Jesus não lhe concedeu um corpo mais novinho em sua ressureição, ou porque não fez algum milagre do rejuvenescimento, sorriu somente de pensar nestas possibilidades, sabia que eram impossíveis, devido a não terem permissão de interferirem na matéria. Após alguns minutos a porta se abriu, saindo um senhor de uns setenta anos, cabelos grisalhos, e um vigor físico invejável, Damião pensou consigo mesmo: Bem feito... Se eu fosse marinheiro poderia estar com um físico igual! Dando um sorriso novamente somente com esta imaginação, percebendo que apesar de tudo que estava ocorrendo ele ainda estava de bom humor. - Do que está sorrindo senhor? – Questionou o capitão de maneira brusca e arrogante. - Não é do senhor capitão! – Respondeu Damião com vergonha, tentando demonstrar que não tinha a intenção de debochar dele. - Estou aqui para ajudar... Antes mesmo que terminasse de falar havia dois marinheiros fazendo uma vistoria por todo o seu corpo, o que o fez sobressaltar de susto. - Não se acanhe, são procedimentos básicos para entrar na sala de comando! O marinheiro Araújo me contou que o senhor pode nos prestar auxilio em alguns problemas que estamos enfrentando! Então venha, entre rápido, afinal, pelo que estou notando temos pouco tempo, porquanto, é certo que aquelas trombas d’águas parecem seres vivos que estão nos perseguindo... – Disse o capitão agora em tom mais amistoso, abrindo a porta para que Damião entrasse. Os marinheiros pararam de revistá-lo, ao passo que ele seguiu rapidamente para dentro da sala de comandos, se surpreendendo com a quantidade de equipamentos que ali continham. - Do que precisa? – Questionou o capitão de maneira ríspida. - Preciso de um binóculo ou luneta. – Ele foi direto. - Luneta? Acho que anda vendo muitos filmes antigos, não vejo uma luneta desde a escola naval, onde estudei sobre elas nas aulas de história! – Gritou o capitão soltando um enorme sorriso, que contagiou todos os marinheiros. Damião achou aquela atitude estranha, parecia que eles estavam preocupados, mas não ligavam muito para aquela situação. Então resolveu questionar: 325 - Vocês não estão com medo do que está acontecendo? O capitão soltou mais uma gargalhada, dizendo em tom amistoso: - Somos lobos dos mares, já passamos por várias situações! Sempre encaramos como mais uma aventura! – Fez uma pausa maneando a cabeça. – Confesso que esta é inusitada, nunca vi nada igual. Mais tenho certeza que nossa senhora dos navegantes estará ao nosso lado. Damião sorriu, era contagiante a fé de algumas pessoas, mal sabiam que naquele momento uma semideusa ou santa estava realmente cuidando deles... O capitão entregou um grande binóculo para Damião, que se assustou com aquele instrumento. Ele era muito pesado, e moderno. Vendo que Damião estranhou o equipamento, o capitão resolveu ensiná-lo rapidamente a usá-lo. Após os ensinamentos Damião o levou aos olhos, aproximando a imagem para as trombas d’águas, aquela cabine fornecia uma visão privilegiada, mais aquele aparelho era fabuloso, era como se ele realmente estivesse perto daqueles dois fenômenos que se gladiavam no mar, fazendo tudo a sua volta se sobressaltar. Quando analisou mais de perto as trombas d’águas assustou-se de tal maneira que retirou o binóculo dos olhos por alguns segundos, tornando a voltá-lo rapidamente. Aquilo não era possível... Avistou no centro da primeira tromba d’água Iemanjá, e na outra um semideus que ele há milênios não via mais sequer falar. Damião somente ouviu dizer sobre ele, vendo inclusive fotos do mesmo em alguns livros e coisas do gênero, ao passo que até mesmo na dimensão sublime ele era uma lenda, porquanto, reinou na era mitológica, sendo um dos seres mais poderosos daquela era primeva. Este ser é definitivamente Poseidon!... – Ele concluiu em pensamento após a criteriosa observação. Após a conclusão ele passou a analisar o contexto dos acontecimentos ainda mais assustado, afinal, nunca pensaria que Poseidon e Iemanjá estavam lutando ferozmente. Por isto estas trombas d’águas não estão vindo em direção ao navio! Iemanjá deve ter encontrado Poseidon que certamente iria atacá-lo, e iniciouse esta batalha... – Concluiu, por óbvio, ainda somente em seus pensamentos. - O que está vendo? – Questionou o capitão. 326 Para espanto de todos da sala Damião somente ergueu uma das mãos pedindo mais tempo, o capitão ficou mudo, e agora mais preocupado. Iemanjá lançava raios contra Poseidon que se defendia mais rapidamente revidando com mais raios, e parecia que aquilo iria demorar muito tempo... - Temos que fazer uma corrente de oração, precisamos de ajuda urgente! – Disse Damião já pegando nas mãos de dois marinheiros que ficaram extremamente assustados. - Aceitamos que o senhor entrasse aqui para nos dar uma ajuda plausível! Se fosse para rezar, nos mesmos o faríamos! – Disse o capitão extremamente irritado. - Me desculpe capitão, mas não tenho tempo para suas ordens ridículas! Se estivesse realmente com o controle da situação não teria aceitado minha ajuda. – Vociferou Damião em alto e bom tom, assustando todos os marinheiros e até mesmo o próprio capitão que teve que reconhecer que aquele estranho senhor tinha razão, por isso abaixou a cabeça pegando nas mãos dos marinheiros e formando, então, a roda de oração pedida. Damião já havia pensado em quem poderia ajudar Iemanjá naquela hora, não tinha o poder de invocar nenhum semideus, o que realmente poderia fazer a diferença, pensou em Miguel que tinha muitos poderes novos, mas sabia que ele estava muito ocupado. Gabriel também não poderia vir, porquanto estava em uma missão. Não tinha muita amizade com os outros arcanjos, principalmente com Rafael, devido a alguns desentendimentos do passado. Somente lhe sobrou pedir ajuda a uma Arcanja, a única amiga realmente de confiança... Serena! – Ele ponderou em pensamentos. Ele tinha que confessar que ela era muito poderosa, mais teve certos receios em levar o pedido de ajuda a cabo, afinal, perto de um semideus era como colocar uma criança dentro da jaula de um leão. Mais não tenho muitas opções. – Concluiu ao final. - Rezem um pai nosso, e logo após pensem no nome Serena. – Ordenou Damião aos integrantes da sala. Os marinheiros ficaram todos encabulados com o que iam fazer, perguntavam-se intimamente o que aquele velho estava pensando, mais sem muitas alternativas, tinham que admitir que não custava nada tentar. Damião tomou a frente e começou a rezar o pai nosso, os marinheiros e o capitão o acompanhavam, após terminarem Damião começou a falar em uma língua diferente, que todos na sala assustaram-se, era diferente de tudo o que eles já ouviram, após algumas palavras, ele ergueu as mãos e clamou bem alto: 327 - Peço Serena que venha a nosso encontro, estamos em um momento de aflição, e não temos muito tempo! Um grande silêncio prevaleceu na sala, podiam escutar o barulho de uma enorme mosca que voava tranquila... Após alguns minutos Damião já pensava que Serena não lhe atenderia, e os marinheiros e o capitão já questionavam a sanidade daquele senhor, bem como, a deles, afinal, deveriam ser mais loucos em aceitaram fazer tudo aquilo. De repente tudo começou a tremer, o capitão olhou pelo vidro analisando se eram as trombas d’águas que já havia chegado ao navio enquanto eles estavam fazendo aquela palhaçada. Contudo, percebeu que elas ainda estavam muito longe. Em alguns segundos uma forte luz se formou bem no meio da roda em que eles formavam na sala, quase cegando todos que ali se encontravam. Rapidamente eles tapavam os olhos como podiam, somente Damião olhava diretamente para a luz não se preocupando em cobrir os olhos. A luz foi perdendo força, e ao mesmo tempo tomando a forma de uma forte e alta mulher. Os quatro marinheiros e o capitão aos poucos retiravam a mão da frente dos olhos, ficando boquiabertos ao ver aquilo, era realmente inacreditável... - Tenho que confessar capitão, que já devemos estar mortos, porque se isso não for um sonho, estamos ficando loucos! – Bradou um dos marinheiros assustados ao vislumbrar a estranha figura à sua frente. Em poucos segundos a forma já estava completa, era uma mulher de uns trinta anos, cabelos ondulados e negros, pele negra. Eles se assustaram com o tamanho dela, facilmente passava de dois metros e meio de altura, o que deixava os marinheiros de corpos parrudos extremamente pequenos. Vestia um lindo vestido verde, com vários objetos que mais se pareciam com medalhas presas ao seu vestido próximo ao decote. Ela virou-se rapidamente para Damião lhe dando um forte abraço, foi quando os marinheiros e o capitão puderam ver as enormes asas de cor cinza que a mulher tinha nas costas largas e fortes. - Obrigado por você ter vindo! – Disse Damião com extremo agradecimento. - Que isto meu amigo! Sabe que estou sempre ao seu lado para o que der e vier, comigo não tem tempo ruim... – Respondeu a Arcanja com uma voz serena, que lhe atribuía o nome juntamente a sua fisionomia. Damião olhou pela janela, e disse em tom alegre: - É! Para você parece não ter tempo ruim, mais terá que concorda comigo que lá fora está um tempo muito ruim!... 328 Serena chegou bem perto da janela, firmando as vistas para poder enxergar melhor, Damião sabia que ela podia ver uma agulha a quilômetros. Os marinheiros e o capitão foram se arrastando para um canto, afinal, não conseguiam esconder os seus medos. - Aquela é Iemanjá? – Perguntou a Arcanja após algum tempo para Damião mostrando-se confusa. - É sim! E aquele com quem ela está lutando é certamente Poseidon. – Respondeu Damião com uma voz desanimada. Serena olhou para Damião com mencionando após alguns minutos de silêncio: uma cara de ceticismo, - Achei que Poseidon não passasse de uma lenda da era mitológica, já me disseram que ele era real e que não quis reencarnar com os outros semideuses quando lhes foram determinados ao fim da era mitológica. - Pelo que sabia, somente Lúcifer não havia aceitado encarnar na terra quando isto foi ordenado aos semideuses mitológicos, mais hoje, vendo esta cena, concluo que outros devem ter se negado a isto! – Respondeu Damião pensativo. Serena estava indignada, analisava toda a situação, e sabia que pelo que estava parecendo, Iemanjá não iria aguentar muito tempo. Ela não tinha poder o bastante para enfrentar um semideus daquele porte, se as lendas que ouviu quando foi criada eram verdadeiras, Poseidon era definitivamente muito forte... Os marinheiros e o capitão ainda assistiam tudo do canto, estavam mudos, e não diziam nada, não queriam acreditar naquilo que estavam vendo, questionavam em seus interiores se o navio não havia afundado, e estavam mortos naquela hora, em pleno limbo, ou melhor, no purgatório... - Tenho uma ideia! – Disse Serena já andando em direção ao capitão. O capitão ficou com mais medo ainda, aquela mulher era linda, mais não conseguia pelo menos imaginar aquela cena, quanto mais vê-la! - Quantas pessoas têm a bordo do navio? – Questionou Serena. O capitão não conseguia dizer nada, então um marinheiro que estava mais calmo respondeu em voz baixa: - Duzentos e quarenta, entre passageiros e pessoas que aqui trabalham. Serena analisou toda situação, virou-se para Damião e disse em tom de alegria: 329 - Acho que consigo tele transportar todos para o destino no Brasil... Damião maneou a cabeça pensativo, e Serena respondeu em tom mais agressivo: - Sei o que está pensando Damião! – Mandou-lhe um olhar mais compenetrada em intimidar. - Que não tenho poderes para isto, mais saiba que desde a última vez que nos vimos, eu evolui muito, e creio ser capaz de fazer isto! - E se não conseguir? – Questionou Damião, lhe lançando o mesmo olhar de intimidação. Serena pensou novamente, mais tinha uma coisa que Damião não havia pensado, e Serena tinha já chegado à conclusão desde que avistou a cena, então resolveu clarear ao amigo: - Do jeito que as coisas vão, creio que Iemanjá aguente somente mais algumas horas nesta luta. Apesar de seu enorme poder, não acho que ela vai vencer esta batalha... Além disto, não vejo que vocês têm outras opções, o que limita para o fato de que realmente não restem muitas alternativas. Desta forma, ou aceitam minha proposta, ou em pouco tempo todos estarão desencarnados... Bem como, sei muito bem, e você também sabe que eu não ajudaria Iemanjá em nada nesta batalha, talvez até lhe atrapalhasse. Com isto, o que posso fazer é somente isto! Damião abaixou a cabeça pensativo. - Não é que duvide de você Serena, e de seus poderes, mais temo que fracasse e se culpe por isto pelo resto de sua existência. - Mais creio que serei capaz! – Ela demonstrou convicção e confiança. Após algum tempo de extensa reflexão, Damião chegou a uma conclusão, a única que parecia ter disponível. - Tudo bem... Faça! Mas temos que ver um modo de avisar Iemanjá! - Isto é com você Damião! Eu creio que através do subconsciente você possa se conectar com ela, afinal, vocês são santos da mesma linhagem! Brigam muito, mais é discussão de irmão! – Disse Serena sorrindo para o amigo, que lhe retribuiu o sorriso. Após dizer isto Serena virou-se para os marinheiros dizendo em tom firme: - Já decidimos! Vocês estão sob novo comando! Não estou retirando o poder do senhor Capitão, mais é porque sei que perto do que está ocorrendo, o senhor é impotente no bom sentido para fazer qualquer coisa. Por isto, quero que vocês marinheiros coloquem todas as pessoas, mulheres, crianças, todos 330 na proa do navio, eu ficarei aqui nesta cabine, porque as pessoas não podem me ver. Serena fez uma pausa pensativa, pensando como seria difícil para ela apagar as lembranças das cabeças daqueles marinheiros após ter esgotados todos os seus poderes naquela proeza... Os marinheiros estavam assustados, contudo, acostumados a seguir ordens de um mortal, não seriam tolos de questionar as ordens daquela mulher, que eles até aquele momento questionavam o que era! Saíram todos da cabine correndo, ficando somente Serena, Damião e o capitão, que estava sentado, pensativo, quase chorando. - O senhor está sentindo alguma coisa capitão? – Questionou Damião ao ver que ele não estava bem. O capitão olhou fixamente primeiro nos olhos de Damião, após nos de Serena respondendo com voz chorosa: - Há dez anos perdi minha mulher e meus dois filhos em um acidente de automóvel! Questionei Deus porque havia levado eles ao invés de mim! Todos me diziam que o mar era perigoso, mais minha família morreu toda em terra firme, de uma só vez! Após este dia, eu não vivo, somente vegeto... O homem fez uma pausa para enxugar as lágrimas, e prosseguiu após algum tempo com uma voz fraca: - Após te ver, sei que Deus existe, e que por isto, devo ir para estar junto a minha família! Quero que você não me leve, me deixe morrer aqui com este navio! Serena olhou para o Capitão com lágrimas nos olhos, era uma Arcanja, mais tinha uma família também, e sabia quanto era duro perder alguém que amava, andou bem devagar, compreendendo o que afligia aquele velho desde quando ela chegou. Não era o medo de sua presença! Mais seu subconsciente prevendo que aquilo era um caminho, errado, mais um caminho para encontrar novamente sua família... - Sei que o senhor está com saudades de sua família! A Janifer sua esposa, o Pierro e o Alexander também estão morrendo de saudades de você! Aquilo pegou o capitão de surpresa, aquele ser sabia os nomes de seus familiares mortos, devia ter noticias! Então não perdeu tempo: - Eles estão bem? Serena olhou novamente para ele com cara de pena. - Não posso lhe dizer isto! - Porque não? – Questionou impaciente o capitão. - Você tem que saber que nesta dimensão, somente tem que aceitar as coisas como elas ocorreram, porque nunca algo ocorre por acaso... 331 - Mas eu somente queria saber notícias deles, e poder morrer para estar junto a eles! – Clamou o capitão. - Não é você que escolhe isto capitão! No tempo certo estará novamente junto a eles, e neste dia, tudo lhe será explicado. Enquanto isto não ocorrer, deve seguir em frente! Não deve morrer em vão, porque a morte não lhe servirá para juntá-los, somente para separá-los ainda mais! Serena fez uma pausa, escolhendo as próximas palavras com cautela, prosseguiu com mais calma: - O senhor tinha uma missão hoje, que era deixar Damião entrar nesta cabine, isto salvará muitas vidas! Por esta razão hoje o senhor fez a diferença! Talvez ficou aqui somente para cumpri tal missão... Ou pode ser que ficou para ser o chefe da marinha de seu País, e fazer ainda mais diferença! O interessante da vida material é não saber de nada... Mais saiba que tudo que fizer terá um grande significado. Por isto, deve ser salvo, porque assim é para ser, e assim será!... O capitão estava mais calmo, e sentia-se bem como nunca havia sentido nos últimos dez anos de luto por sua família. Após alguns segundos questionou para Serena: - Vou me lembrar desta conversa? Serena sorriu e disse alegremente: - Vou deixar esta nossa conversa gravada em sua mente... Achará que é seu inconsciente, e saberá no fundo que é algo maior, pensará que é Deus, e isto será verdade, porque eu sou ele, uma vez que dele fui criada, então sou parte dele como você o é também! O capitão sorriu, e Damião que olhava tudo de longe se admirando como Serena havia evoluído no decorrer daqueles anos em que ele estava encarnado. Contudo, não tinham muito tempo, por isto resolveu interromper: - Me desculpe interromper, mas o marinheiro já deu sinal de que todos estão aguardando na proa lá embaixo, temos que ser rápidos porque tem crianças lá, e as ondas estão enormes... Serena mandou que o capitão descesse para a proa juntando-se aos outros, e aguardasse. Ele a abraçou com força, ainda chorava, mais agora de alegria. Após saiu correndo escadas abaixo. - Damião! Tente conectar seus pensamentos com Iemanjá! Te buscarei depois... – Gritou Serena fazendo um sinal de tudo certo com a cabeça. - Fico muito feliz em ver sua evolução Serena. Você está mais forte do que nunca, conseguirá fazer isto. Sei que arrisca sua existência em tele transportar tantas pessoas ao mesmo tempo, e por isto estou orgulhoso em 332 mesmo sabendo disto tentar, somente para ajudar estas pessoas e a mim e também Iemanjá. Serena sorriu alegre, e começou a chorar abraçando Damião e dizendo com uma voz emocionada: - Isto é muito importante para mim! Você foi o único que me apoiou ao ser gratificada como Arcanja do Exército Supremo Celestial... Confiou em mim, e farei de tudo para lhe ajudar. Após dizer isto, Serena foi caminhando lentamente para o centro da sala, e começou a rodar cada vez mais rápido... Em alguns minutos ela abriu as grandes asas e continuou a rodar, parecia um disco, foi aos pouco subindo, e sumiu no teto da sala de comando, Damião olhou para fora pelo vidro, e viu que ela estava naquele momento planando sobre as pessoas, como um disco voador. - Mamãe, olhe um disco voador! – Uma das crianças disse apontando para a estranha luz brilhante, ao passo que todos que estavam em volta olharam se espantando. Neste momento houve uma grande explosão de luz ocorreu se espalhando pela proa e, por conseguinte, por todos que foram tragados por seus raios, sumindo... Damião sorriu, Serena utilizou uma tática digna de uma excelente líder militar. Em uma jogada de mestre, imitou um disco voador! Todos os humanos em algum momento da vida já questionaram se realmente existiria vida fora do planeta terra. Com isto somente iriam lembrar-se de terem sido tragados por uma luz emitida de um disco luminoso, e, após de serem movidos para outro ponto da terra... Aquilo certamente iria causar um frisson na imprensa, contudo, antes mesmo deles tentarem questionar, os governos correriam para abafar o caso, e encobririam até mesmo que o navio sumiu. - Pobre Pablo que perderá um dos navios de sua frota. – Pensou Damião. Damião colocou as duas mãos na testa, e iniciou em uma língua estranha uma oração, fixando seu pensamento fortemente em Iemanjá, tentava encontrar a consciência dela. Aquilo não estava sendo fácil, ela estava lutando muito, e seus pensamentos eram voltados exclusivamente para aquela luta mortal. Iemanjá... Responda, sou eu Damião! – Disse Damião a ela em seu pensamento. Após ele se alegrou ao perceber um pequeno contato da amiga, que dizia furiosa: Você me colocou em uma enrascada Damião! No que foi se meter? Este cara é muito forte, nunca vi nada igual, acho que não vou aguentar muito tempo... 333 Damião sorriu, havia conseguido estabelecer um contato maior, e parecia que Iemanjá estava ainda mais furiosa com ele... Ouça bem! Vou falar somente uma vez! E ao invés de me culpar, somente diga se escutou! Serena retirou todos do navio. Então quando lhe der um sinal, pode sair daí o mais rápido possível! Iemanjá suspirou aliviada, aquilo era como um banho quente de banheira bem no paraíso celestial! Sim entendi! – Respondeu já se demonstrando mais calma pelo tom da voz em seus pensamentos telepáticos. Em alguns segundos uma forte luz brilhou na sala, mais desta vez era como se estivesse caindo, quando Damião olhou para trás se assustou ao ver Serena caída e suando muito. - O que aconteceu minha irmã? – Questionou Damião correndo em sua direção para ajudá-la. - Aquilo realmente foi uma loucura Damião! Quase perdi todos a alguns quilômetros de distância daqui... Não foi fácil! Respondeu Serena totalmente assustada, e ainda arrematou para aliviar o amigo que agora lhe olhava com olhar espantado e coração saltitando: - Mais pode ficar tranquilo, porque eu consegui! Estão todos bem, já em terra firme no Brasil. Damião respirou mais aliviado. - E você está bem? – Ele questionou após um tempo. - Sim estou! Até agora... Porque sei que Miguel vai me matar quando voltar para a dimensão sublime! – Respondeu Serena sorrindo. Damião sorriu sabendo que Miguel iria entender. Neste momento lembrou-se de Iemanjá, então lembrou Serena: - Vamos? - Sim! – Ela respondeu segurando mais forte suas mãos. Damião colocou a mão na testa, e disse para Iemanjá da mesma forma anterior por ondas telepáticas: - Pode deixar a fera vir, já estamos partindo neste momento! Em segundos eles desapareceram após uma forte explosão de luz... Serena estava muito fraca, e não podia mais correr riscos, usou todo restante 334 de seu poder, após teria até que ser carregada por Damião, mais isto era o de menos, confiava nele como um pai... Quando ouviu a voz de Damião em sua cabeça, Iemanjá sorriu, e muito sarcástica gritou para Poseidon: - Não aguento mais lutar com você, deixarei você cumprir a missão pela qual saiu de seu buraco! Mas deixe-me ir! Neste momento Poseidon parou por alguns segundos, tempo suficiente para que Iemanjá pegasse um pouco da água a sua volta e a soprasse, em milésimos de segundos ela sumiu... Afinal, seu maior poder era poder manipular o melhor condutor, em segundos sabia que poderia estar em qualquer lugar do cosmos, o que fez... 335 CAPÍTULO 82 Londres, Inglaterra, 1982 Após um longo tempo de descida em um pequeno baque o estranho elevador parou, ao passo que fortes luzes se ascenderam quase cegando Charles que ainda estava com os olhos vidrados na janela na tentativa de avistar alguma coisa na escuridão. - Parece que você foi surpreendido pela luz meu caro Charles. – Brincou Arthur já abrindo a porta do helicóptero e pulando ao chão. George sorria muito, estava gostando muito de Arthur, principalmente, de seu senso de humor meio misterioso e estranhamente requintado para o lado sombrio, aquilo lhe fascinava. Todos os agentes e principalmente Charles não acreditaram no que estavam vendo, o local era simplesmente incrível, era, por óbvio, milhares de vezes menor do que a sede da organização no subsolo da mansão de Arthur, mas ainda assim era um espaço muito grande, com luzes localizadas somente ao chão, o qual parecia de vidro, quanto ao teto era confeccionado no mesmo material mais ficavam apagadas. - Na ideia original era para a sede ser neste local. – Disse Arthur tentando puxar conversa enquanto todos os agentes desciam dos helicópteros. - Porque o senhor mudou os planos? – Questionou George que estava bem próximo do velho e, ainda, maravilhado com o senso de humor do mesmo. - Simplesmente porque achei este local muito exposto e pequeno. – Arthur respondeu já andando pelo grande saguão em direção a um lugar onde se encontrava um objeto enorme coberto por um plástico brilhante. - Esta certo que o tamanho é infinitas vezes menor do que aquele complexo, mas é quase que impossível perceber aquela entrada, portanto, creio que poderia ter aumentado tudo. – Disse dessa vez Robson já olhando o grande objeto ao qual eles andavam em direção. Certamente é a aeronave. – Pensou Robson sorrindo. - É, contudo, para construir este complexo sem levantar suspeitas já foi muito difícil, porquanto, em minha propriedade poderia colocar várias máquinas trabalhando, locomoção de várias pessoas, tudo, e ninguém acharia anormal. Lado outro, aqui, tudo é diferente. Afinal, como explicaria carros sumindo no meio do nada de instante em instante. Vocês podem não perceber, mas os governos monitoram e muito atividades incomuns em campos e regiões inóspitas. - Além disso, somente o custo de transporte das pessoas seria uma fortuna. – Disse Charles tentando demonstrar que entendia também os motivos da mudança. 336 - Isto mesmo meu caro amigo, queria que estivesse comigo para ajudar-me quando tive que convencer algumas pessoas da mudança. – ele sorriu para Charles, e, estranhamente George olhou para ele com ciúmes. – Contudo, pelo projeto inicial não seriam tantas equipes como se encontra atualmente, assim, os gastos não seriam tantos. Eles já estavam quase próximos do que se achava ser a aeronave. - Porque o senhor mudou então os projetos? – Charles retornou. - Simplesmente porque acho que o inimigo que estamos prestes a enfrentar em um futuro muito próximo, e que é a razão da formação do nosso projeto, é muito maior do que qualquer organização poderá suportar. – ele fez uma expressão de desanimo com aquela afirmação. – Por isso enfrentei toda a organização e investi de meu bolso toda aquela mudança que vocês viram, e, ainda, terminei este complexo, o qual hoje é utilizado somente para guardar tecnologia e demais produtos, mas terá ainda outro destino em breve, o qual ainda não poderei lhes revelar. Quando chegaram próximo ao grande volume encoberto pelo plástico todos os agentes e Charles já estavam entusiasmados e, quase que parando para olharem o objeto. Contudo, para surpresa destes Arthur simplesmente passou reto, ao passo que quase todos pararam não olhando mais para o objeto escondido, mas para o velho por não entenderem a atitude dele. Percebendo a atitude dos agentes ele parou subitamente virando-se para trás em um solavanco, em razão da estranha armadura que usava, a qual, somente algumas vezes dava a impressão de que ele era um ser totalmente cibernético, o que é uma grande façanha em razão do que aquele aparelho era capaz conforme havia lhes sido demonstrado antes da partida. - O que estão esperando?! – O velho questionou quase gritando. - Desculpe Arthur, mas até eu achei que isto que se encontra embaixo deste plástico seria a aeronave. – Respondeu Charles também sem graça pelo ato. - Vocês acham mesmo que eu iria colocar o meu nenê embaixo deste plástico horrível?! – Arthur respondeu com um sorriso. – Este é somente um projeto inacabado de um interceptador que esta unidade ira abrigar. Os agentes sorriram também entrando na brincadeira, e seguiram todos em frente até pararem diante a uma grande parede. Arthur estava olhando para a parede sorrindo, aquilo era mais um dos truques dos garotos da sua unidade de segurança. Após olhar para a parede por algum tempo, os agentes e Charles já estavam pensando que a armadura de Arthur teria enferrujado e paralisado ele subitamente... 337 Contudo, em poucos segundos quase pularam de susto quando toda a parede começou a se mexer para baixo vagarosamente e emitindo um grande barulho devido ao seu enorme peso. À medida que a parede se movia eles perceberam que havia outra sala quase que do mesmo tamanho da anterior em que se encontravam, e quando ela terminou de descer totalmente Arthur entrou na mesma com os passos firmes proporcionados por seu traje. Os agentes e Charles ficaram parados, não por cautela, mas pelo êxtase que tomou conta de seus seres ao avistarem a grande e incomum aeronave que estava bem à frente deles... 338 CAPÍTULO 83 Oceano Atlântico – França para Brasil, 1982 Poseidon ficou surpreso com a atitude de Iemanjá. No início uma dúvida profunda lhe afligia. Porque será que aquela mulher desistiu de lutar? – Este questionamento não lhe saia da cabeça. Contudo, após analisar toda situação foi tomado por um grande sentimento, que ele há muitos milênios não sentia, o sentimento de ter novamente o “poder”. Ele sabia que não possuía mais os grandes poderes dos tempos em que era um semideus na era mitológica. Mas parecia que ainda estava muito forte. Neste instante ele começou a olhar para seu corpo imaterial, sua essência, ela estava um pouco diferente do que era antigamente, estava aniquilada pelo tempo em que passou vagando pelo cosmos, fugindo e agredindo a quem quer que seja. Não sou quem era antes. Mais em breve retornarei triunfante! Já começou meu renascimento... – Pensou inflando o pleito glorioso. Seus cabelos estavam esbranquiçados, e ele ainda exalava um fedor como o de um demônio... Por dentro já se sentia como se fosse um. Sabia que somente não tinha ainda se transformado em tal coisa porquanto não lhe foram retirados à força os poderes pelos quais não abriu mão para poder encarnar como humano, no momento que isto lhe foi ordenado. Estes poderes me foram de grande valia durante estes milênios, me concederam o período de que necessitava para ressurgir. – Ele concluiu em seus pensamentos, sabendo no fundo de seu ser que isso lhe havia salvado a existência, não sabendo que ao certo isso foi o que quase lhe retirou tudo de bom que um dia teve. Contudo, ao pensar nisto, amaldiçoou o profeta dos desertos. Aquele homem comandou minha captura. Caçou-me como uma fera caça uma presa, e inexplicavelmente conseguiu me achar e aprisionar-me naquela dimensão maldita que ninguém jamais tinha ouvido falar... Pensei por todos este tempo em que fiquei preso que Lúcifer e Serfalos haviam me traído, contudo, nos últimos meses descobri que estava enganado... – Ele ainda estava perdido em seus pensamentos. Era como se a suposta vitória que ele acreditava que havia conseguido, após tantos milênios de inércia total tivesse feito-o relembrar do passado, o que se prosseguiu: Após ser aprisionado naquela dimensão por milênios, fui completamente esquecido por todos, e, por ironia, conseguia ver nas nuvens 339 daquela dimensão, tudo o que ocorria no mundo, principalmente na terra. Tenho que admitir que aquele lugar não era ruim, era parecido com a dimensão material. No início cheguei a pensar que eles queriam apenas que eu refletisse minhas escolhas. Contudo, após a chegada de mais semideuses que não abriram mão de seus poderes para seguir Lúcifer, e a coisa foi esquentando a cada dia, não gosto nem de lembrar, aquilo se transformou em um verdadeiro inferno, afinal, eram vários seres que ainda se sentiam deuses, contudo, sem ninguém para governar, o que gerou o verdadeiro caos... Ele parou ainda mais, olhava o navio mais não conseguia ainda se mover, parecia que seu estado inicial de êxtase havia acionado lembranças do que ocorrerá, era como se estivesse hipnotizado, então ao invés de pensamentos, somente as imagens surgiram em sua cabeça, via as lutas pelas quais passou naquela dimensão, quase como simples mortais lutando, tendo em vista que seus poderes naquela dimensão inexplicavelmente foram anulados por completo. O ódio foi aumentando entre eles... Lembrou-se ainda do dia em que no início ele pensou em abrir mão dos poderes e tentar ter uma nova chance, neste dia um anjo apareceu, ele nunca havia visto tal criatura, sequer sabia da existência destes seres, o qual somente foram criados após o término da era mitológica, sendo, segundo ele pôde concluir a evolução intelectual de um espírito extremamente evoluído tanto feminino quanto masculino. Via a imagem do Anjo estendendo-lhe suas grandes mãos, e lhe oferecendo para lhe levar novamente para o plano material, dizia que ele seria encarnado em uma família humilde, mas muito honesta, almas bondosas que resolveram lhe agradar com esta oportunidade. Somente reforçou a mesma imposição, que ele abandonasse seus poderes. Isto nunca! – Lembrou-se de sua resposta naquele dia. Lembrou-se ainda do dia em que quando ele pensava não haver mais retorno, o chamado Conselho Supremo enviou novamente o Anjo, que lhe disse que todos ali naquela dimensão poderiam retornar encarnados para a dimensão material, que manteriam alguns dons, não poderes. Via a imagem do Anjo que tentou convencê-los, que dizia em alto e bom tom para todos que estes dons mais apurados aos poucos levaria ao começo de um processo de evolução de suas almas, e de forma mais rápida. Lembrou-se que alguns resolveram seguir o Anjo, e que ele foi o primeiro a se objetar a proposta. Recordava-se ainda que sua resposta fora o “não” porquanto no fundo ele pensou que se haviam aberto mão para terem um dom na encarnação, o conselho certamente abriria mais regalias, e ele poderia desfrutar disto. Havia sido criado em meio a semideuses mitológicos, e sabia que sempre seria melhor barganhar... Contudo, abaixou a cabeça ao lembrar-se que após este dia nunca mais o Anjo retornou, até o dia que quando ele pensou que estava fadado a 340 ficar preso naquela dimensão pelo resto de sua existência, em uma noite escura sem qualquer luar, Lúcifer e Serfalos chegaram. Sorriu ao se recordar que a chegada deles causou um enorme alvoroço, porquanto, eles ficaram completamente enfurecidos ao verem o que eles haviam feito naquela dimensão. “Não sei se devo libertar vocês. Parece que se transformaram em animais. Isto aqui está um lixo!” – Se recordou das palavras de Lúcifer o qual ainda na ocasião olhava para todos os lados. Poseidon lembrava-se disto como se fosse naquele momento, o verdadeiro mal, o Deus das trevas, não acreditava que eles poderiam ter destruído uma dimensão daquela forma. Na realidade, eles haviam passado um pouco da conta mesmo, poderiam ter progredido ali, contudo, acreditavam que se fizessem isto, estariam fazendo a vontade do Conselho Supremo, e acatar qualquer coisa vindo deste novo poder nunca. A dimensão em si havia acabado por completo, mais por causa das batalhas que eram travadas diariamente. Ela ficou como o chamado inferno, porquanto, não existe um local criado para fazer alguém sofrer, mais prisões, onde, por haver maior livre arbítrio, as almas dali transformam este local em inferno, e, como todos sabem, onde há rancor, ódio e guerra sempre haverá um inferno, até na dimensão material. Lembrava-se que mesmo após horas andando, Lúcifer não queria acreditar no tamanho daquela desordem. Sabia que ele estava se questionando intimamente se poderia contar com eles para a guerra que estava por vir, e, somente após horas de negociação, ele resolveu libertar a todos, e disse ter chegado o momento de retomarem o poder. Contudo, deixou claro que se eles fizessem com o cosmos material o que haviam feito com aquela dimensão, ele iria cuidar pessoalmente de capturar um por um, não para prender em uma dimensão, mais para aniquilar a essência de cada um... Recordou ainda que todos ficaram pensativos, sabiam que Lúcifer amava muito todo o cosmos, somente não tinha o mesmo amor pelas almas que nele agora habitavam. Além disto, outro fato para ele não abdicar de seus poderes, era que ele não se achava melhor do que as almas encarnadas, ele tinha completa certeza. Poseidon lembra-se ainda do dia que ele disse se sentir ofendido por lhe ser ordenado a se juntar a tais seres, os quais anteriormente ele governava. Era certo que Poseidon definitivamente não sabia até aquele momento porque seguiu Lúcifer no dia em que ele saiu da dimensão sublime, mais uma coisa era certa, ele pensava da mesma forma... 341 Por esta razão, Poseidon estava tão fraco, os anos naquela dimensão com seus poderes limitados por algo inexplicável, de alguma forma havia aniquilado boa parte destes poderes. Contudo, não havia perdido sua capacidade de raciocinar em uma batalha. Por isto, em nenhum momento daquela batalha que travou com aquela mulher, deixou transparecer para ela que ele não estava mais aguentando lutar. Fez uma pausa meditando quanto estava fraco, se Iemanjá lutasse mais alguns minutos ele seria derrotado, porquanto, não tinha mais força sequer para fugir. Neste momento abriu um enorme sorriso, lembrando-se novamente dos tempos antigos, ocasião em que em segundos teria exterminado aquela mulher pela qual ele nutria um ódio extremo. No decorrer dos anos em que ficou preso naquela dimensão inferior, via e ouviu falar dos feitos daquela mulher. Todos diziam que ela protegia as pessoas dos perigos da água, e, ainda, somente de boa vontade. Sem pedir nada em troca. Tinha que admitir que aquilo era muito diferente do que ele fazia no passado... No decorrer destes milênios, ele sempre sonhou em travar com ela uma batalha. Contudo, não esperava que em seus primeiros dias na dimensão material após ser libertado a encontraria, e, ainda por cima a venceria... Sentia-se ainda mais forte. O meu tempo de glória ainda vai voltar, vou reger novamente boa parte de todo cosmo... Lúcifer ficará com o domínio das almas, ele sempre foi mais político e ambiciona este poder sobre estas almas patéticas. Contudo, eu vou ser novamente o Deus da fonte da vida, eu regerei a água, eu serei o verdadeiro senhor do cosmos... – Concluiu, sorrindo vigoroso pensando no dia em que isto ocorresse novamente. De repente saiu de seu transe de pensamentos, lembrando-se da missão pela qual veio. Tinha que destruir todos naquele navio, não poderia sobrar nada... Foi então que raciocinou algo fantástico: Estou ainda com muitos poderes, agora sei por que entrei em transe, foi para recuperar minhas forças, afinal, após este tempo de raciocínios das lembranças de minha existência me sinto mais forte do que nunca! Lúcifer e Serfalos haviam lhe orientado que a chave principal do Conselho Supremo Celestial estava ali na destruição daquele navio. Ele não sabia do que se tratava, porque eles se recusaram a dar maiores detalhes, mais sabia que era preciso fazê-lo, afinal, não se importava com nada. Ficou ainda mais convicto da necessidade e precisão de sua missão, após aquela mulher que alguns dizem ser uma santa, e outros uma Deusa lhe atrapalhar. 342 Sorriu mais uma vez vendo a cara de espanto com que ela correu dali. Realmente tinha feito à escolha certa ao aceitar partir com Lúcifer no momento em que eles foram obrigados a reencarnar na terra igual a todas aquelas almas miseráveis que eles comandavam no passado... Suas energias gastas naquela batalha já estavam novamente voltando, e ele fez a tromba d’água que usava para se conduzir na água girar ainda mais rápido, saindo rapidamente em direção ao navio. No momento que chegou bem perto do navio, não avistou ninguém na proa ou na popa, mais logo raciocinou dizendo para si mesmo o que lhe parecia o óbvio: - Devem estar escondidos como ratos que realmente são, e logo serão exterminados como tais. Tomou ainda mais força, e começou a girar a tromba d’água de uma maneira muito mais rápida e veloz. Devo aniquilar este navio para que não sobre sequer destroços boiando no mar... Quer dizer, em meu mar! – Pensou sorrindo principalmente com a última conclusão. Quando achou que já estava na velocidade perfeita, em um movimento rápido subiu até o topo da tromba d’água, e apoiando seus pés no cume desta, colocou a mão direita nas costas retirando um tridente enorme. Quando olhou para aquele objeto, pensou no quanto o mesmo era desejado. Não há nada igual em todo cosmos, ele pode criar raios! Contudo, está fraco como eu... Mas em breve estará novamente com todo seu poder. – Seus pensamentos não paravam, ainda mais quando admirava seu instrumento que se encontrava em seu poder desde sua criação. Em um movimento rápido, ergueu o mesmo para cima, deixando somente a sua ponta apoiada na tromba d’água, de modo que ele seria um perfeito condutor. Começou então a invocar raios de uma nuvem que estava próxima, utilizando para isto uma língua estranha. Quando eu tiver meus poderes novamente farei isso descansando! Não será tão difícil como esta sendo... – Ele pensava enquanto o suor escorria por sua face evidenciando seu esforço. Definitivamente ele sonhava novamente com o dia prometido por Lúcifer. Quando o primeiro raio caiu acertando diretamente no tridente, o qual rapidamente conduziu toda energia para a tromba d’água, como um para raios. 343 Com a outra mão Poseidon conduziu a grande tromba d’água agora eletrificada para o navio que foi se despedaçando aos poucos, sendo que algumas coisas estavam inclusive queimando devido a enorme eletricidade, que foi potencializada ao máximo pelo poder do tridente. Em menos de dez minutos o navio estava toda dizimado. Lúcifer ficará satisfeito... – Pensou triunfante. Colocou o tridente novamente nas costas. Logo após analisou para certificar-se de que não havia sobrado nada nem ninguém. Em segundos seus olhos começaram a emitir raios, ele pulou do alto da tromba d’água. Quando seu corpo bateu no mar, ouve uma pequena explosão de luz, e ele sumiu, conduzido para outra dimensão pelo condutor universal... A grande tromba d’água se desfez, caindo em uma alta velocidade, levando ainda os restos das cinzas e poeira do grande navio para o fundo do mar... 344 CAPÍTULO 84 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Miguel estava olhando fixamente para Jesus, então o mestre prosseguiu: - Quando você e Damião chegaram até aqui, viram que eu conversava com vários animais, correto? Miguel assentiu com a cabeça, respondendo com uma voz baixa, como se estivesse pensando ainda no ocorrido: - Fiquei até espantado, porque havia estado aqui uma única vez antes, e quando cheguei e vi aquela quantidade de animais, achei que pudesse ocorrer outro dilúvio... Jesus riu alegremente, era sensacional o senso de humor de Miguel, ele era frio e calculista, um líder nato, mais tinha um carisma faustoso. - Porque o traidor está nos ajudando? – Questionou diretamente Miguel, aproveitando-se daquele momento de descontração. Jesus olhou nos olhos, e com uma voz extremamente humilde respondeu: - Bem você disse: “ele está ajudando”, por isto, não merece ser julgado por ninguém neste momento, principalmente por você! Miguel abaixou a cabeça com vergonha, jamais esperava aquela resposta. Após algum tempo calado Jesus prosseguiu: - Já perdemos muito tempo, vamos ao que interessa! – Olhou nos olhos de Miguel que ergueu a cabeça, e começou a contar a história com uma voz calma e amistosa. - Há muitos e muitos milênios, os seres humanos enfrentaram na terra um forte e poderoso Arcanjo do senhor que se voltou contra alguns semideuses, este Arcanjo se chamava Serfalos. Miguel ficou espantado, sabia que Serfalos era um Arcanjo, diferente de Lúcifer, que ao contrário do que todos imaginam era um Deus mitológico que se recusou a abdicar de seus poderes. - Mestre não sabia que Serfalos era tão forte? - Era sim Miguel, ele é quem comandava o exército celestial, você, Gabriel, Rafael, Aurora, e outros ainda eram muito jovens, advindos a pouco tempo da evolução espiritual, frutos da quarta linhagem de Arcanjos, mais ele é da primeira linhagem, recebeu todos seus poderes assim que evoluiu, por isto nunca teve que evoluir como Arcanjo como vocês, uma vez que foi honrado com todos eles, como os chamados Deuses da era mitológica, e isto foi mais um erro que estamos pagando até agora. 345 Jesus fez uma pausa para respirar, aquele assunto certamente não lhe trazia boas lembranças, após algum tempo com o pensamento longe prosseguiu: - Tenho que lhe contar uma historia, ela atualmente para muitos é somente uma lenda, mas realmente ocorreu, e se não tomarmos cuidado vai se repetir... Miguel afirmou com a cabeça positivamente, e Jesus prosseguiu: - Como é de conhecimento de todos, almas desencarnadas não conseguem encarnar novamente antes de estarem preparadas, para, assim, poderem usar a encarnação para melhorar seu amor ao próximo, e com isto evoluir. - Correto! - Contudo, há milênios, algumas almas muito perversas conseguiram algo um tanto inusitado, dizem que foi neste tempo que Lúcifer e Serfalos uniram forças pela primeira vez, e, inexplicavelmente eles conseguiram romper a barreira, para que alguns de seus seguidores, sem que ninguém percebesse, voltassem a terra como animais... - Animais?! Mais isso é impossível! – Miguel exaltou-se. - Eu também diria isso, já que pelo menos cogitar isto antes era questão sensata de responder que era impossível de dar certo, mas para eles pouco importava o resultado, como todos sabem, todas as almas são lixos para eles... – Jesus respondeu com lágrimas nos olhos, fazendo uma pequena pausa para respirar e pensar em seus irmãos aceitando tal submissão, naturalmente por sede de poder. – Os primeiros a conseguirem, nitidamente já se mostravam anormais nos primeiros dias de vida, eles tinham pensamentos de humanos, afinal eram almas humanas, mas o corpo de animal. - Mais ninguém percebeu isso? – Miguel questionou ainda mais assustado. - Ninguém percebeu porque o Criador ou os Criadores fizeram a encarnação dos animais tão maravilhosamente bem, que era difícil perceber ou entrever qualquer falha. Os anos foram se passando, e como o corpo material é sujeito a uma evolução maior, esta ocorreu rapidamente nestes animais... Quando fomos perceber alguns já haviam evoluído, e para coisas terríveis, daí vêm às lendas: lobisomens, vampiros, etc... - Já combati uma criatura dessas uma vez... – Respondeu Miguel com certa desconfiança, sabia que não poderia interferir em seres encarnados, mesmo que se tratassem de monstros, mas isso era uma situação que ele não teve escolhas. Para sua sorte Jesus não lhe repreendeu, somente prosseguindo em sua história: 346 - Neste momento, quando o homem, e todos da dimensão superior perceberam, o mundo estava infestado de aberrações, por todos os cantos. Lado outro, os homens sofreram muito, porquanto, naquele tempo, ainda eram precariamente evoluídos, bem como, também sofreram os pobres animais, já que, quando os homens achavam um cadáver com marcas de dentes, logo concluíam que eram lobos, etc., e ai os animais que não tinham nada com isto literalmente eram caçados com ódio. - Uma verdadeira atrocidade, já ouvi falar dessa época em meus estudos quando era muito jovem. – Miguel tentava interagir, contudo, Jesus novamente somente prosseguiu: - Mais o pior ainda estava por vir, Lúcifer e Serfalos sabiam que seu plano havia funcionado perfeitamente, uma vez que nós não poderíamos interferir, tínhamos, então, que deixar tudo evoluir, tudo por causa do pacto com Noé. - Pacto com Noé? - Interrompeu novamente Miguel. – Achava que isso não tivesse ocorrido conforme restou narrado nas escrituras. - Depois te explico isto, é outra história complexa, mas primeiro preciso que você entenda o que estou lhe dizendo, isso implicará em sua missão atual. - Sim mestre, me desculpe à intromissão, pode continuar... Neste momento entrou na grande sala um homem magro, porém muito saudável, pele amarela, olhos um pouco puxados, vestia uma túnica branca com amarelo e uma fita vermelha, de seu peito saia um pequeno feixe de luz. Em um salto que assustou Miguel, Jesus levantou-se imediatamente indo de encontro ao homem, lhe dando um forte abraço. - Meu amigo, já estava preocupado! - Tivemos alguns imprevistos, mais conseguimos. – Respondeu o homem igualmente com a voz calorosa. Jesus não pôde conter sua alegria, virou-se para Miguel e disse com voz alegremente: - Miguel, venha cá! Quero que conheça nosso irmão, ele faz parte do Conselho Supremo, e acabou de conseguir algo extraordinário para nós! O Arcanjo levantou-se, sua estatura era muito superior a daqueles homens, mais ele tremia, sentia suas pernas bambas somente de chegar perto deles, porquanto, o poder dos mesmos parecia infinito, ele podia sentir... Miguel abaixou suas enormes mãos, pegando nas mãos franzinas e suaves do homem que adentrará a sala. 347 - Muito prazer senhor, estou à disposição do conselho, meu nome é Miguel. – Se apresentou, deixando sua mão tremer, evidenciando seus receios com o que estava sentindo. - O prazer é todo meu! Há muito tempo queria lhe conhecer! Contudo, foi votado no conselho que era melhor aguardarmos, então mudei de ideia e achei também mais sensato, votando a favor de esperar sua preparação... Miguel ficou parado, mudo e perplexo, a voz daquele homem parecia lhe acalmar, e a luz que saia de seu peito puxavam os olhos do Arcanjo para a mesma, não percebendo sequer que ele havia dito que já o estava analisando há tempos... 348 CAPÍTULO 85 Londres, Inglaterra, 1982 Vagarosamente Charles e os agentes começaram a entrar na sala, contudo, alguns até tropeçaram em uma pequena lombada formada pelo cume onde se encontrava antes à parede diante de estarem todos andando como zumbis, seus olhos estavam fixos juntamente aos seus pensamentos que tilintavam, tão somente, para a maravilha a frente deles. Ela era realmente algo incomum, seu formado era como o de um morcego, ao passo que não apenas as asas e a sua cor totalmente negra fosca fazia a máquina se assemelhar ainda mais com o animal, mas, principalmente, o formato de sua cabine que se assemelhava a cabeça e o compartimento dos passageiros seu corpo. À medida que eles se aproximaram perceberam que de cada lado das grandes asas haviam hélices que acompanhavam a fuselagem, - Porque ele se assemelha tanto a um morcego? – Foi Michael o primeiro a sair do transe e questionar aquilo para a alegria de Arthur, o qual esperava uma reação de espanto, contudo, não daquela forma, obviamente, diante de estar diante de agentes que já viram um bocado de coisas estranhas em diversas missões secretas. - Simplesmente porque eu fiz questão que assim o fosse, e, além disso, a aerodinâmica deles é perfeita para o que eu pretendia. - Como assim? – Foi Charles que retrucou, já estava mais do que curioso pela resposta, contudo, as palavras saíram rapidamente, mais seus olhos ainda ficaram perdidos admirando o estranho objeto. - O morcego é para mim o animal mais perfeito que existe. - Me desculpe Arthur, mas creio que o senhor está sendo ou radical ou maluco de dizer que um bicho que não enxerga direito, é feio, transmite doenças, pode ser a criatura mais perfeita. – Agora havia sido George com o seu jeito estranhamente divertido quem deu sua opinião. - Meus caros amigos, nem tudo que é feio é imperfeito, porquanto, no meu ponto de vista a beleza é totalmente relativa, tendo em vista que partimos de padrões de belezas estigmatizados ao fofo ou aquele que melhor nos agrada para definirmos o que seria ou não belo. Assim, se todos pensassem desta mesma forma certamente você George nunca teria sequer uma namorada. Todos sorriram com a alfinetada final, mais Arthur prosseguiu, agora olhando para a aeronave não como se visse uma máquina, mais todos ali perceberam que ele a olhava como se fosse o próprio animal: - Além disso, não falei que ele seria o mais belo, mas sim mais perfeito, o que leva você a cometer outro erro humano, o de definir que o que é perfeito necessariamente tem que ser belo, o que em meu ponto de vista não é 349 a realidade visto que a perfeição é algo também de definição de um objetivo, assim, ele é perfeito para os desígnios que quero dizer, da mesma forma que um homem feio como você George é perfeito para o trabalho que tenho que lhe incumbir, não quero saber se é bonito somente se é inteligente e eficaz. Ele ainda alfinetou o agente que fez cara feia com todas as rizadas que os demais agentes deram novamente. – E posso ainda terminar meu caro George dizendo que seria perfeito por ser amoroso a sua mulher e seus filhos. E quanto ele ser meio cego, você se engana, isso é somente em uma parte, porquanto, isto o tornou ainda mais perfeito, porquanto, ele foi capaz de evoluir para outro patamar de desenvolvimento de suas capacidades, o qual uma de minhas unidades de ciência avançada estão tentando desenvolver um aparelho baseado neles para fazer uma pessoa voltar a enxergar. - Como assim? – Um dos agentes se interessou mais do que os outros. O qual, não havia até aquele momento dado sinal de vida, causando, assim, o espanto de todos, que também estavam cientes de sua total descrição. - Se interessou nisto não é Balogun? – Arthur contra respondeu com um olhar estranho ao negro simpático de olhos claros. Balogun era um homem muito fechado, Charles quase não notava sua presença, o que lhe tornava perfeito para serviços que requeriam descrição, eles havia se conhecido na África, em uma missão de Charles naquele País quando Balogun ainda trabalhava para o governo africano. Ele era nascido na África, filho de pai africano e de mãe australiana, uma missionária que morreu por uma guerrilha, principal motivo que levou Balogun ao serviço que desenvolvia. Contudo, o sujeito estava desiludido, porquanto, a corrupção no governo era muita, e ele estava convicto que nunca conseguiria honrar a imagem de sua mãe. Charles como sempre ficou solidarizado, e, após travar uma briga com Frederick, que achava aquilo perca de tempo, ele fez uma proposta para Balogun, disse que iria juntar alguns agentes e que acabaria em meses com toda a guerrilha que matou sua mãe. E, mesmo contra a posição de Frederick ele assim o fez, recrutou alguns dos agentes mais amigos e como prometido após alguns meses de estudo e planejamento iniciaram a missão, desbarataram todo o bando, mataram os lideres, e, libertaram os demais, incluindo crianças. Após tais acontecimentos Balogun tem sido um dos melhores e mais dedicados agentes, Frederick teve que engolir a seco quando este provou em uma missão que havia valido cada mês perdido com aquela vingança para tê-lo na equipe. 350 Contudo, mesmo com toda a sua calma, Balogun ficou novamente mudo após ouvir Arthur, e, por óbvio, todos os demais agentes ficaram olhando sem entenderem nada. George era o único que não olhava para o negro, por certo por estar aliviado pela conversa ter tomado outro rumo diferente das alfinetadas que estava levando pelo comentário que ele confessava intimamente ser idiota e desnecessário. Será que ele sabe? – Pensou estranhamente Balogun. Charles assim como os outros agentes por não estarem entendendo nada somente ficaram olhando para os dois esperando uma resposta, a qual para surpresa de todos veio de Arthur. - Balogun tem um filho que já nasceu cego, ele é muito amado, contudo, como já se pode deduzir, não é fácil ver um filho seu desta forma sem poder fazer nada além de apoiar. À medida que Arthur narrava às lágrimas começaram a rolar pelo rosto carrancudo do grande e musculoso negro, como se ele fosse uma criança. E, Arthur prosseguiu, demonstrando a todos que ele sabia muito mais da vida deles que eles poderiam imaginar, e, que tinha informações de tudo e de todos, as quais eles iriam perceber eram mais para tentar lhes ajudarem de alguma forma do que de lhes retirarem a privacidade ou por desconfiança. – Após conseguir o primeiro salário fixo mais alto soube que a sua mulher e filho haviam se mudado, e, ao pesquisar mais fiquei sabendo que o motivo da mudança era para que o filho pudesse frequentar uma escola especial que lhe ajudaria a se adaptar a sua deficiência, a qual, Balogun já percebeu que seu filho mesmo sem um auxílio mais profissional, já havia se adaptado e muito, demonstrando a maravilha que é a evolução, ao passo que, quando um sentido é retirado, outros suprem tal deficiência, uma verdadeira maravilha. - Porque você não me disse que tinha estes problemas, e, ainda, que necessitava de dinheiro para proporcionar o tratamento para seu filho? – Charles questionou Balogun com um olhar de solidariedade, o qual era compartilhado com todos os companheiros ao lado, os quais sequer notavam agora a grande aeronave, prestando atenção somente naquele momento de reflexão com a dor de uma família em ver seu filho naquela situação. - Não queria prejudicar ninguém da equipe, afinal, os serviços eram bem distribuídos, e narrar esta história poderia fazer com que eu tivesse privilégios que outros não teriam, o que não seria justo, visto que tenho que enfrentar meus problemas e não tentar aliviar minha carga com os outros que nada tem com isto e que talvez tem problemas ainda maiores. – ele enxugou os olhos com as mangas da farda militar de maneira brusca, aquilo parecia ser mais difícil do que o comum. – Quando recebi o primeiro salário, e, com a 351 garantia de uma verba fixa me mudei e matriculei meu filho na instituição. Achei que seria muito apertado mesmo ganhando mais, porquanto, os gastos eram grandes, e, minha família não é pequena, e, ainda teríamos que ajudar meu pai que ainda mora na África e meus sogros, mas resolvemos que teríamos que tentar. Ele enxugou melhor às lágrimas, e percebendo que todos ainda estavam inertes prosseguiu: Contudo, quando retornamos na segunda para o primeiro dia de aula, ocasião em que já deveríamos efetuar o primeiro pagamento, o diretor da instituição é quem nos recebeu, dizendo que todo o ensino de meu filho estavam pagos até sua formatura, juntamente, com uma bolsa de estudos, tudo concedido por um doador anônimo. Todos os homens ficaram espantados, mais deixaram-no continuar. - Voltamos para nossa nova casa, pequena e humilde, porquanto, acreditávamos que não sobraria dinheiro para algo melhor após pagar todas as despesas e ajudar nossos pais, em completo êxtase de alegria, e, quando telefonamos para nossos pais na África, fomos informados de outra surpresa, eles haviam sido admitidos em uma fazenda muito rica na região, cujo o proprietário havia ido buscar eles dizendo que necessitava de dois caseiro e de uma cozinheira, além de outras pessoas para fazer serviços gerais. Eles narraram que já estavam de partida para a fazenda, e que em breve nos ligariam para passar o novo número do telefone do local. Às lágrimas começaram novamente a rolar por sua face, demonstrando ainda mais emoção com os pais recebendo um emprego e oportunidade em um País sem qualquer amparo. - Quando desligamos o telefone, eu e minha esposa ficamos calados por muito tempo, não acreditávamos que aquilo fosse real. Desde este dia venho fazendo um trabalho de espionagem para descobrir quem teria pagado pelos estudos e influenciado no emprego, contudo, tudo parecia ter partido somente daquelas pessoas, do diretor e do fazendeiro, não havia nenhuma movimentação estranha em suas contas e de seus parentes, nada, pesquisei tudo. Então resolvi esquecer isso, até agora que percebi quem foi o bem feitor que concedeu tudo isso para nossa família. - Deixe disto, não sou nenhum bem feitor, somente cobrei alguns favores daqui e dali, a bolsa foi em razão de uma influência no governo e da minha intercessão junto a este para que apoiasse o projeto na instituição, após isso dobraram os recursos e as vagas, por óbvio o carisma do diretor, e, quanto ao emprego é em razão de umas amizades antigas que tenho naquele País, às quais conquistei em minhas expedições, portanto, nada de mais. – Arthur respondeu já andando para mostrar algo na fuselagem. - Espere Arthur, mesmo assim muito obrigado. – o grandalhão puxou-o pelo braço dando-lhe um desajeitado abraço. - Mas o que o senhor estava dizendo antes, sobre o projeto do morcego, etc.? – Mesmo naquele momento ele quis saber, por óbvio, agora já não estava mais chorando. 352 - Como já é sabido por todos que se interessem um pouco por animais, os morcegos desenvolveram a habilidade, ou sendo mais realista a evolução em razão da deficiência de voarem no escuro e pelo fraco desempenho visual de literalmente enxergarem através de sonares, ou melhor, pela chamada ecolocalização, aprendi isso com meus cientistas que desenvolvem o projeto. Ele sorriu com as mãos erguidas para descontração, porquanto, havia ficado emocionado com a resposta afetiva de Balogun, prosseguindo: – Eles emitem sons em ondas de altíssima frequência, os quais não são percebidas pelos homens, que são transmitidas por suas bocas ou pelas narinas, os quais ao atingirem um objeto, retornam em forma de ecos ao passo que são então detidos pelos seus ouvidos, e, então identificam, principalmente em voo, tanto qual é o ambiente em que se encontra mas também formas e dimensões de objeto que devem desviar, etc. - Sim, mais no que isso poderia ajudar a vida dos cegos? – Charles quem questionou, estava muito interessado. - Tudo! – Arthur ergueu novamente as mãos como se a resposta fosse óbvia. – O trabalho de minha equipe de cientistas consiste em criar um aparelho que será ligado ao corpo humano, e, utilizando o mesmo sistema dos morcegos irão orientar um cego a se locomover. - Estão avançados nisto. – Agora foi Balogun quem questionou, por óbvio, se mostrando muito entusiasmado ao perceber que Arthur realmente não brincava em serviço. - O aparelho foi simples de construir e criar outros mecanismos, mas ainda estamos longe de conseguir tecnologia capaz de mapear e reproduzir ao cérebro os dados, entre outros fatores que são muito técnicos, razão pela qual, não sei lhe explicar, mas prometo que te levarei para conhecer os cientistas qualquer dia destes, eles estão na suíça, portanto, teremos que dispor de mais tempo. Balogun ficou tão alegre com a disposição de Arthur que inesperadamente o abraçou novamente, ao passo que, desta vez o velho ficou um pouco constrangido diante da nova reação inesperada. - Tudo bem meu filho, tudo bem. – Arthur foi dando alguns tapinhas nas costas de Jonas, nomeadamente, os mesmos queriam dizer: “Isto já é demais!”, mas ele se mostrou mais uma vez educado até quando surpreendido. Logo após Balogun finalmente largá-lo, Arthur que já estava abaixo das asas da aeronave mostrou que as turbinas eram flexíveis, se movimentando com seu canhão tanto para baixo quando para todas as direções. - Sabem para que serve isto? – Ele indagou com ar de: Me perguntem por favor, estou ansioso por contar! 353 - Todos balançaram a cabeça negativamente. Arthur saiu debaixo da asa e olhou para cima, onde eles puderam ver que muito acima se encontrava uma espécie de porta, por conseguinte, raciocinaram o que havia ficado óbvio a partir daquela explicação. - Isto mesmo que vocês estão pensando, meu bebê pode plainar e voar em todas as direções, inclusive para trás, voa pouco nesta posição de ré, mas em situações de emergência isto é crucial. Além disso, ele não precisa de pista de decolagem, ou melhor, pelo menos não de uma física especifica. - Como assim? O que quis dizer com “física especifica”? – Interrogou Charles muito curioso. - Conforme vocês vão perceber, vamos subir até a claraboia plainando de forma vertical, após sairmos ele vai continuar subindo mais e mais, e, quando tiver atingido uma grande altitude, ele é totalmente desligado, iniciando, por conseguinte, uma descida rápida, neste momento as turbinas que já estão desligadas são voltadas para a posição de voo horizontal, são, então, religadas em pleno ar e o piloto inicia uma aceleração, quando atinge velocidade ele começa aos poucos a subir até atingir a posição horizontal novamente, após isto é ligado o turbo que se encontra na calda de meu morceguinho, e, ele atinge velocidades que nenhum avião tripulado com mais de trinta pessoas conseguiria. – Se Arthur não estivesse com aquele estranha armadura, certamente todos iriam perceber o seu peito inflar ao descrever aquilo. - Mas como é a tecnologia... – Tentou perguntar George já sendo interrompido por Arthur: - Não me pergunte mais nada, que eu somente sei este básico. – Ele erguia as mãos e sorria como uma criança com o olhar em seu chamado por ele mesmo “brinquedinho”. - Porque ele é preto e qual é a do morcego? – Charles quis matar sua curiosidade, e, também por saber que Arthur sabia muito mais da aeronave, somente não estava querendo revelar mais detalhes, mas sabia que sua língua estava salpicando por detalhar seu xodó. - A cor preta é porquanto ele não é pintado, mas isto é uma espécie de teflon. - Teflon?! – Um dos agentes questionou perplexo. - Seu nome verdadeiro é difícil, mas ele consiste em uma espécie de plástico bastante resistente que tem propriedades antiaderentes, assim, ele faz com que a aeronave tenha menos atrito no ar, sendo um dos motivos dele voar tão rápido. Mais os técnicos tiveram que misturar ele a outros produtos, porquanto, segundo eles o avião ainda necessitaria de ter algumas resistência e certa aderência, ai eu já não sei explicar mais alguma coisa do que foi misturado. 354 - E o porquê do formato e nome de morcego. – Charles insistiu. - O formato é a aerodinâmica que meus cientistas e técnicos disseram que seria melhor para os fins que eu buscava, que era uma aeronave leve e que pudesse transportar uma pequena tropa para missões com equipamento, fizesse pousos e decolagens sem necessidade de pista, e, ainda, pudesse plainar para cumprir algumas coisas que não posso revelar. A partir dai eu pedi para que eles colocassem ele como um morcegão, ao passo que tenho que admitir que isto se deve por minha fixação por este animal, que já devo ter demonstrando pela minha exposição anterior e até ofensa a George ao dizer que ele era feio. - Não se preocupe Arthur, sei que sou feio mesmo, mais isso é o meu maior charme. – George respondeu sorrindo, como sempre. - Como assim fixação por morcegos? – Charles sequer prestou atenção em George, queria mesmo era saber os motivos daquela estranha fixação por aquele bicho, afinal, mesmo sabendo da excentricidade de Arthur, aquilo ainda era muito estranho. - Sou um fanático por mitos, afinal, sou uma espécie de arqueólogo misturado a aventureiro, e afins, mas na realidade busco no desconhecido e muitas vezes em mitos e lendas a origem para encontrar tesouros inestimáveis. – ele agora apontava para o avião, olhando novamente para o mesmo como se ali estivesse vendo o próprio animal. – E, digo que o morcego é um dos animais mais mistificados desde os velhos tempos. - Mesmo? – Charles ainda se mostrava cético. - Sim meu caro! No passado ele era tido como um animal impuro, que se assemelhou ou até superou a serpente como símbolo de paixão e também de temor, ao passo que, para muitos índios ele era o terror diante de alguns acreditarem que nos fins dos tempos o sol seria comido por um morcego. Já para alquimistas eles acreditavam que ele consistia em uma mistura de rato e pássaro, formando, assim, um ser híbrido, o que em seus entendimentos representariam os demônios, razão pela qual, até mesmo nas pinturas os habitantes do inferno e outros seres maléficos são retratados com asas desta criatura. Já eu tenho que discordar de tudo, e dizer que eles são belos, evoluídos, e, acima de tudo uma espécie que ajuda e muito a humanidade. - Em que exatamente? – Charles tornou. Neste momento um homem forte e musculoso entrou na sala, falando de uma forma rápida e já apertando em um controle alguns botões, ao passo que, imediatamente uma porta se abriu e uma escada desceu. - Chefe já podemos sair, porquanto, certificamos que já está tudo limpo, nenhuma atividade lá fora e nenhum voo próximo que poderia nos atrapalhar, podemos decolar em paz. E somente para cientificá-lo, os cientistas não avisaram, porquanto, o senhor estava um pouco ocupado, mas eles já 355 instalaram o mecanismo que faz ele desaparecer de qualquer instrumento atual de identificação, assim, já podemos ir para qualquer canto do mundo sem sermos notados. - Eles se certificaram mesmo que não há nenhum instrumento novo? Afinal você mesmo se lembra dos problemas que enfrentamos em território Russo! – Arthur questionou e alfinetou o rapaz de uma forma brusca. - Sim senhor, eles me disseram que está tudo certo agora. – O rapaz respondeu já adentrando na aeronave. - Pois bem, então vamos. – Seguiu-o Arthur também entrando. Quando entraram na aeronave logo atrás de Arthur os homens se assustaram, ela era muito pequena, mas os espaços eram bem divididos, e, havia além de confortáveis poltronas reclináveis alguns itens que os deixaram encantados, tinha geladeira com refrigerantes, cervejas, e, ainda, um armário com salgadinhos, comidas já preparadas em outra geladeira, que eles poderiam esquentar caso quisessem em um equipamento de micro-ondas, localizados entre outros itens. - Lembrem-se que as bebidas alcoólicas somente poderão ser consumidas na volta. – Disse Arthur sorridente, e, sentando-se calmamente em sua poltrona. Os homens riram alegremente, alguns já pegando salgadinhos e refrigerantes, ao passo que outros mais gulosos antes mesmo de levantarem voo começaram a esquentar pratos prontos de comida, na realidade se tornava certo que todos já estavam famintos. - Esta espécie de armadura não lhe atrapalha a se sentar não Arthur? – Charles que não havia ido comer puxou papo com o velho. - Ela foi feita sob medida, e, ainda, tem alguns itens que fazem com que me sinta ainda mais confortável com ela, afinal, meu esqueleto não está mais tão forte assim, então, principalmente quando me assento, passados algum tempo, começo a sentir dores na coluna, porquanto, pela força da gravidade aliada a minha fragilidade vou meio que me reclinando inconscientemente para frente. O traje corrige isso, meu corpo e mantido na posição certa por quanto tempo necessitar, e, ainda, um sensor instalado detecta caso algum de meus músculos demonstrar que tem alguma indisposição, e, imediatamente corrige a posição caso isso ocorra, assim, inconscientemente estou seguro. Imediatamente a aeronave fora ligada, e, às turbinas fizeram algum barulho ao serem acionadas e ligadas, contudo, os agentes se assustaram ao perceberem que apesar de a aeronave ser pequena, eles não escutavam quase que nenhum barulho ali de dentro. De repente Arthur retirou de um compartimento um estranho controle, ligou uma televisão acoplada, e, para espanto de todos ele sintonizou em um canal de desenhos. 356 - Desenhos?! – Charles questionou com espanto. - Sim. – fez cara de descaso com o espanto. – Isto é a melhor coisa que acho, principalmente, os de aventura. Os agentes sorriram também com aquela revelação. Lá fora já se podia ver que a aeronave já começava a plainar, a porta da plataforma na cúpula do complexo começou a se abrir, e como um morcego ele começou a subir cada vez mais, por óbvio, sem bater asas, somente com a força das turbinas propulsoras. Quando ele saiu do complexo imediatamente a porta começou a se fechar, e o estranho objeto subindo mais e mais... Arthur pediu para que todos se sentassem somente por aquele momento e colocassem os cintos de segurança, o que foi atendido prontamente. Após algum tempo, como o velho havia lhes contado, as turbinas foram desligadas, e, lentamente a aeronave começou a cair, após um tempo de queda, onde alguns começaram até mesmo a pensar bobagens, porquanto, pela primeira vez sentiam aquela sensação, as turbinas foram novamente ligadas, e, aos poucos eles foram sentindo que estavam retornando para a posição horizontal, até que tudo se estabilizou. - Pronto, já podem retornar para seus afazeres, agora é somente relaxar até o nosso destino. – Disse Arthur sorridente. - Quanto tempo o senhor acha que vai demorar? – Charles estava curioso, mais por sua tensão pela primeira missão do que pela expectativa de chegar ao destino. - Se fossemos em um avião comum, chegaríamos entre dez ou onze horas, contudo, em meu morceguinho creio que em quatro ou cinco estaremos no local exatamente como havia previsto. – A resposta foi dada com ar de glória, e, principalmente, um gostinho de que tinha tudo sob controle. - Mas não teremos que parar para reabastecer? – Foi George quem questionou aguçando ainda mais a curiosidade, e, cuspindo salgadinhos para todos os lados ao questionar com a boca cheia. - Nossa, engula antes! – Arthur até colocou a mão para tentar evitar em vão que nenhum farelo lhe acertasse. – Não tão cedo, afinal, temos uma base certa de energia nuclear e outras parafernálias que garantem autonomia plena por dias de voo sem pouso. - Porque sem pouso? – Charles agora é quem bancou o curioso. - Porque não poderia correr o risco de deixar esta belezinha simplesmente estacionada em qualquer lugar. Portanto, ele vai descer, nos 357 deixar, subir imediatamente, e após ficará sobrevoando até que retornemos. Assim, ele somente pousa em seu devido lugar, que é a base de onde saímos, por óbvio, caso nada de grave aconteça. - E se acontecer? – Charles mostrou-se reticente. - Tenho um segundo plano, simplesmente ele aguarda em um estado de blindagem total, e, caso a mesma seja forçada, e, se rompa, ele aciona um mecanismo de destruição, explode não deixando nenhum pedacinho. Mas fiquem calmos, que antes disso, ou seja, se ele apresentar algum problema, anteriormente ao acionamento da blindagem, os componentes de energia nuclear são despejados e anulados completamente para fins não desejáveis, justamente para que caso a explosão ocorra, nada disso afete a vida humana. - Exceto para os que estiverem próximos da explosão! – Charles exclamou com sarcasmo, afinal, da forma que Arthur estava falando parecia que tudo era como um passeio no parque. - É meu caro Charles, como você mesmo bem sabe, nunca podemos salvaguardar tudo, afinal, do contrário seus homens e você próprio nunca teriam matado qualquer pessoa, porquanto, poderíamos dizer que se pensássemos desta forma que você quer colocar, deveria abordar qualquer missão para evitar que uma mãe perdesse um filho, ou um filho perdesse um pai, entre outros. E, caso optássemos pela prisão, que seria a mais sensata, você mesmo sabe que ela não funciona para certas pessoas... Charles engoliu em seco, não pensava em levar uma resposta como aquela. E George muito brincalhão soltou uma gargalhada cuspindo ainda mais farelo para explosão de Arthur que quase perdeu as estribeiras ao ser novamente atingido. - Qual será o objetivo da missão? – Michael questionou ao longe somente para retirar a atenção e fúria de Arthur que já estava para enforcar George. - O avião nos deixará nesta área. – disse Arthur mostrando um mapa em um estranho aparelho. – É um pouco longe de nosso destino, contudo, não podemos correr o risco que vejam a aeronave, tenho que admitir que há outra solução, que consistiria em descermos por cabos, lado outro, isto também está fora de cogitação, afinal, o País é muito populoso, e, se assim o fizéssemos iriamos chamar muito a atenção, talvez de quem não devêssemos. - Qual é o País senhor? – Michael tornou ainda com olhar fixo em Arthur. - Não saberão até que estejamos em solo. – A resposta veio curta e grossa. - Por quê? – O agente insistiu. - Porque será assim. – A resposta veio novamente seca. 358 - E o senhor acha que se andarmos com estas roupas e armas não seremos vistos? – Agora foi Charles que questionou novamente cético. - Não seja estupido meu caro Charles, vestiremos aquelas túnicas – apontou para um amontoado de trapos ao canto –, e, terá um conhecido meu nos esperando com algumas vacas e demais bens, para que possamos entrar no local da missão como se fossemos comerciantes ou algo assim. - Com estes trapos vão é desconfiar se não somos ladrões ou pedintes. – Novamente para irritação de Arthur George abriu a boca, contudo, desta vez não cuspiu nada, e, levantou às mãos em sinal de paz, realmente ele era hilário, após ergueu as roupas e jogou uma para cada agente. - Pode caçoar, contudo, saberão que estou certo quando conhecerem o País, ali os comerciantes em sua grande maioria andam assim, por óbvio, os de animais e afins, que serão os que nós iremos se passar. - Quanto tempo de caminhada? – Charles questionou, desta vez em tom mais ameno, afinal, estava convicto que Arthur tinha tudo sobre controle, e, além disso, tais questionamentos se tratavam mais de nervosismo do que de desconfiança. - Creio que se os animais colaborarem em menos de trinta ou quarenta minutos estaremos no local designado, que se encontra neste ponto – disse apontando no mapa – após, iremos dispensar os animais, porquanto, já estaremos em uma zona de alto risco. - O senhor acha que os sujeitos que estarão protegendo este bem estarão fortemente armados? – Robson questionou demonstrando ainda estar totalmente fora do contexto. - Me desculpe, mas achei melhor esconder de vocês que não iremos enfrentar algo... como posso dizer... – Charles tentava escolher as palavras, afinal, não era fácil para ele admitir sequer que aquilo existisse, e, quanto mais enfrentar algo assim. - Ele quer dizer que iremos enfrentar algo que vocês nunca enfrentaram. Quando chegar a hora irão ver. – Interrompeu Arthur, que somente naquele momento resolveu assim dizer, porquanto, somente naquele instante havia visto pelos olhos dos agentes que Charles estava certo em guardar segredo sobre o inimigo, além de soar um tanto estranho dizer aquilo, ele não poderia correr o risco que eles ou temessem ou menosprezassem o que estivessem prestes a enfrentar. ****** Após algumas horas de viagem, ao passo que alguns agentes até dormiram, e, para infelicidade de todos entre estes se encontrava George, o que ocasionou que outros que tinham maior sensibilidade não conseguiram 359 sequer fechar os olhos devido ao incomodo sonoro proporcionado por ele que roncava como um porco sendo abatido. - Senhor, chegamos ao ponto! Pelo radar parece que Mahesh encontra-se lá com os animais, posso descer? – Questionou o piloto através de um rádio, o qual quase matou os agentes de susto, principalmente, o roncador George que acordou somente não pulando porquanto estava grudado na poltrona pelo cinto. Além disso, até mesmo Arthur se assustou, porquanto, já havia até esquecido da existência do piloto ao passo que estava perdido em seus pensamentos. - Pode descer, já estamos prontos. – Respondeu ele apertando um botão próximo ao alto-falante. – E você George devia era fazer um tratamento para este ronco infernal. – Disse o velho apontando o dedo para o rapaz, que muito sem graça não respondeu. Como George não respondeu Arthur para alivio do roncador desviou o olhar deste prosseguindo nas instruções: - Homens, quero que saibam que estaremos a partir do momento em que pisarmos em solo em uma missão, portanto, respirem fundo e que a sorte esteja com cada um de vocês, e, se creem em algo maior, podem começar a pedir sua intervenção, porquanto, a missão não será fácil. – Arthur disse sorrindo, ao passo que os agentes se entreolharam, até mesmo Robson olhou rapidamente para Russo, acenando com a cabeça desejando boa sorte, afinal, mesmo ainda se encontrando em dissintonia de sentimentos de afeto, a vida de um dependeria daquele momento em diante do outro novamente, como na época em que eram parceiros... 360 CAPÍTULO 86 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Miguel ainda estava fascinado com a luz que saia do peito do homem. – Me desculpe à ignorância, mas como é o seu nome? – Seu questionamento foi prontamente solidificado, porquanto, não aguentava mais para saber de quem estava diante. - Me desculpe, falei e falei e não me apresentei, pode me chamar de Buda, é assim que todos me chamam no Conselho! Aquilo pegou Miguel de surpresa. E seu espanto foi visível inclusive para seu interlocutor. Como assim Buda? – Ele pensou. - Achou que eu era mais gordo, né? – Falou o homem que já previa a reação do Arcanjo. - Sinceramente senhor... – Miguel fez menção em não dizer, mas sentiu que deveria se abrir. – Não sei o que pensar, me desculpe por ter pensado assim, mas nunca ponderei que o senhor realmente existisse. O homem sorriu alegremente, respondendo com voz serena: - Ninguém tem certeza se realmente existe meu jovem, estou a milhares de anos nestas dimensões, e a cada dia descubro que somos tão ínfimos perto do poder que nos rege que concluir que existimos de fato seria, antes de tudo, ter que concluir que nada somos... O Arcanjo ficou perplexo diante da humildade daquele homem, sentia que ele tinha enorme poder, mais falava como se já fossem mais do que amigos, como se fossem verdadeiros irmãos. - Não pense assim meu jovem, somente sou mais velho que você pouca coisa, mas somos e seremos sempre irmãos... Miguel estava mais espantado ainda, ele tinha o poder de bloquear qualquer um que tentasse ler seus pensamentos, mas aquele homem simplesmente ignorou este poder, e leu sua mente de uma maneira fácil que ele sequer percebeu... - Agora que já se conhecem, preciso acabar de contar a história para Miguel, para que ele possa ir para sua primeira missão neste novo posto de comando do exército dos Arcanjos. – Ele chegou bem pertinho do ouvido do Arcanjo dizendo de uma maneira alegre: - Se eu não interromper ele vai ficar tagarelando durante horas... - Eu escutei!... – Disse Buda soltando um enorme sorriso. Ao passo que Jesus retrucou sorrindo: 361 - Eu sei, era para você escutar mesmo, e se tocar. - Posso fazer somente uma pergunta antes? – Clamou o Arcanjo, como uma criança que quer descobrir o que ganhou de presente de natal. - Tudo bem, faça! – Responderam os dois em uníssono. O Arcanjo parou e pensou na melhor maneira de dizer aquilo, concluindo que não havia outra forma senão ser direto: - Vocês se tratam entre si como irmãos, e inclusive a mim, que não sou nada perto de vocês. Protejo o universo e nunca vi seres mais evoluídos do que vocês, mais na terra povos são divididos justamente por acreditarem em um ou no outro... Simplesmente não entendo, porque não mudam isto? Jesus olhou para Buda, o qual entendeu o olhar do amigo que queria dizer que era melhor ele explicar. - Miguel, sinto muito te falar isto, mais ao contrário do que você esta falando, você não conhece nem um pouco o universo em seu todo para dizer que o protege. – Buda fez uma pequena pausa olhando no fundo dos olhos do Arcanjo. - O cosmo é tão vasto que você se espantaria com seu tamanho... O que você vê, sente e toca, atrelado às dimensões que já foi em alguns momentos de sua existência, etc., são somente grãos de areia na dimensão real que não pode ser calculada. - Não pode ser verdade, se assim fosse, quer dizer que nossa regência estaria um caos total, que estaríamos lutando por nada, já que podemos simplesmente migrar para outras dimensões ao invés de consertar as que estão diante de nós! – Miguel respondeu relutante. - Não é assim que funciona meu filho, eu, Jesus e outros do chamado conselho, há milênios percorremos várias dimensões, e sabemos que em cada uma delas os Criadores ou Criador fez tudo em harmonia por um motivo, se estragamos isto, devemos consertar, porque lá na frente teremos que repor. Fez uma pausa ao observar que Miguel ainda estava perplexo, aquilo era muito para sua cabeça, então Buda resolveu minimizar e ser mais didático: - Você já se perguntou para onde foram os primeiros seres que surgiram na origem de tudo? Sabe por que hoje eles são somente lendas nesta dimensão sublime? O olhar do Arcanjo estava vago e perdido, aquilo era realidade. - Não... Muitos dizem que eu sou da quarta ou terceira linhagem de Arcanjos e Anjos, e sempre me perguntei para onde foram os da primeira... - Então sabe que eles existiram? – Retrucou Buda. 362 - Não posso ter certeza. – Concluiu Miguel de cabeça baixa ainda muito pensativo. - Não se envergonhe meu amigo! Eu também não sei... Mais acredito que eles estão em uma dimensão ainda mais avançada, olhando por nós. – Concluiu Buda com uma voz confortante. - Como assim mais avançada? A dimensão sublime é a mais avançada, berço das almas mais evoluídas do universo! – Disse o Arcanjo de uma maneira afirmativa. - Isto é você quem diz... – Respondeu agora Jesus que até aquele momento estava calado somente observando. - Como assim? - Questionou novamente rapidamente o Arcanjo. Jesus pegou em seu rosto e falou calmamente, contudo, com uma voz firme e direta: - Escute Miguel, você receberá ainda mais poderes, os de agora não serão para destruir, mais para construir. No universo todo você somente tem que ter um pensamento, de que nada é absoluto! Tudo se transforma, querendo ou não... Buda caminhou de encontro ao Arcanjo, e colocou a mão no peito, logo após ergueu a mesma mão que agora tinha um feixe de luz, levando-a a cabeça do Arcanjo, que começou a suar assustado. - Acalme-se meu amigo, isto é somente conhecimento... – Abrandou Buda já encostando a mão na cabeça de Miguel, quando o feixe de luz entrou na cabeça do Arcanjo ele caiu, Jesus olhou para Buda sorrindo. - Você não tem jeito mesmo, sempre compartilhando seu conhecimento com o próximo! Mais como já sabe, isto é muito arriscado. Buda sorriu alegremente, respondendo diretamente ao amigo: - Afinal é você quem sempre me diz, é dando que recebemos... E sei que Miguel tem força o bastante para isto, não correrá perigo. Após algum tempo se contorcendo no chão o Arcanjo levantou-se assustado, de seus olhos ainda saiam faíscas de luz, e ele via mundos que nunca havia estado, e não poderia até aquele momento sequer imaginar... - O que é isto? – Questionou o Arcanjo com a voz demonstrando seu estado de extremo pânico pelo que acabará de ver. - Somente um pouco de meu conhecimento! – Concluiu Buda. Queria lhe mostrar como somos diminutos diante da complexidade do universo, e de seus mistérios... 363 O Arcanjo estava extasiado, aquilo era assustador e ao mesmo tempo maravilhoso... Mais e a terra em tudo isto, como fica esta dimensão material? As almas encarnadas? Tudo? – Ele pensava freneticamente. - Na dimensão material a terra é um grão de areia... – Respondeu Buda lendo novamente os pensamentos do Arcanjo. E Jesus resolveu prosseguir: - Esta dimensão se estende mais além, algumas civilizações já progrediram muito, e inclusive visitam a terra, contudo, não mais interferem em seu funcionamento, porque já se machucaram uma vez... - Então quer dizer que os chamados alienígenas que os homens tanto falam e mistificam realmente existem? – Questionou Miguel. - Os alienígenas como os humanos os veem é uma piada. Eles são muito mais que isto! eles representam a maior e melhor evolução do pensamento humano que existe. São diferentes porque têm que ser diferentes, o clima e a atmosfera do seu planeta mãe era muito frio, o que lhes custou uma pele muito sem melanina, e poucos pigmentos. Disse Buda calmamente, prosseguindo em sua explicação após perceber que o Arcanjo estava vidrado: - Concluí também que a baixa gravidade permitiu que eles ficassem maiores do que qualquer ser humano, o que vem se desfazendo nos últimos séculos, devido ao aumento da gravidade e cruzamento de raças, talvez um erro, que pode lhes custar à extinção. Ele prosseguiu em suas explicações sem qualquer interrupção: - Quando eles perceberam que não poderiam interferir em um planeta diretamente, tendo várias experiências mal sucedidas neste sentido, resolveram estudar a fundo cada planeta que encontrassem, partindo em expedições. Eles são evoluídos porque ao contrário dos seres humanos terrestres, eles evoluíram rapidamente, devido a todos pensarem no próximo e ao próximo. Contudo, ao partirem em suas expedições pelo universo, e, principalmente, após buscarem por muitas espécimes diferentes de cada ser e levá-los para outros planetas, buscavam somente que estas espécies pudessem repovoar estes novos planetas, contudo, estavam errados... Após isso ele ficou pensando no que eles haviam feito, e, se perdeu sem querer em seus pensamentos que se misturavam com sentimentos de toda ordem, principalmente, de raiva por tudo que viu neste sentido... 364 CAPÍTULO 87 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 A aeronave começou a parar, e, em pouco tempo o piloto desligou os motores, e, logo após cair um pouco os motores foram religados e ela começou a plainar e a descer suavemente. Todos já haviam vestido os trapos arrumados por Arthur e retornado para as poltronas apertando os cintos antes de ter início à descida. - Quando as portas se abrirem, saiam rapidamente, afinal, mesmo não tendo qualquer movimentação não podemos correr o risco de que a aeronave seja vista. – Alertou Arthur. No solo à medida que a estranha aeronave descia os olhos do cidadão ficavam ainda mais miúdos tentando distinguir o que era aquilo. Mahesh era um sujeito simples da região, se considerava amigo de Arthur, o qual já ajudou em várias missões, e, também foi ajudado em contrapartida pelo velho, principalmente, há sair da miséria extrema. - Eu sabia que o velho Arthur era um sujeito muito misterioso, contudo, nunca imaginaria que ele poderia possuir um troço tão estranho como este. Quando me ligou ontem pedindo minha ajuda e para providenciar tais apetrechos nunca poderia imaginar uma coisa destas. – O pequeno e magro Mahesh dizia lentamente para si mesmo, aquele ser com olhos negros esbugalhados, pele marrom como terra e cabelos lisos e mal peteados, não sabia se estava sentindo alegria em rever o amigo, ou medo daquela coisa em que ele estava chegando, à medida que ela descia, ele não disse mais nada, mais seus pensamentos ainda tilintavam: Parece uma espaçonave alienígena! Será que Arthur não tem limites para suas loucuras e engenhocas? Já vi ele trazer várias parafernálias para missões, contudo, essa é a maior e mais estranha delas!... Quando a aeronave já estava próxima ao chão, Mahesh agradeceu por ter amarrado os animais em uma pequena mais firme árvore, porquanto, do contrário, não iria permanecer nenhum deles ali naquele local para contar história, tendo em vista que o barulho e o vendo proporcionado pelas estranhas turbinas assustavam até mesmo ele, quanto mais os pobres bichos. Assim que a aeronave pousou uma pequena porta se abriu, e Mahesh pôde ver o velho Arthur sair primeiro seguido por vários homens, todos vindo rapidamente em sua direção, em pouco tempo as portas se fecharam e a aeronave decolou novamente, mas Mahesh não tinha mais olhos para ela, somente para o velho e seus homens. - Mahesh, há quanto tempo! – Arthur gritou ainda de longe. Mahesh sorriu, um pouco por alegria em rever o amigo, contudo, certamente estava rindo ainda mais da forma como eles estavam 365 vestidos, ao passo que, assim que ele e os homens que o seguiam chegaram mais perto, ele gritou soltando uma gargalhada: - Desculpe senhor, mais não posso dar esmolas para tantos maltrapilhos! Além disso, pela forma que o senhor está andando não posso ajudar um robô. Charles e os agentes olharam para Arthur que sorriu um pouco sem graça, afinal, olhando agora parecia mesmo que havia exagerado no mau estado das vestes, mas ficou satisfeito ao saber que o amigo franzino havia apreendido a observar mais os detalhes, assim como ele o havia ensinado tantas e tantas vezes, e ao mesmo tempo triste, porquanto, ele observou logo seu andar mecânico, logo pensando: Estava crente que minha equipe o tinha deixado muito realista em passadas normais, e, somente na luta elas ficavam mais firmes após eu acionar um mecanismo para lhe proporcionar maior potência, como se fosse um turbo, agora que o pobre Mahesh conseguiu observar isso tenho minhas dúvidas. - Meu amigo, se não tem esmola me de um abraço então. E, prometo que este robô não vai te aniquilar. – Disse Arthur já enlaçando nos braços o pequeno amigo. Enquanto os dois se abraçavam e se cumprimentavam os agentes olhavam para Charles que estava olhando para o horizonte tentando se situar. - Homens, estamos na Índia! – Disse ele sorrindo por ter conhecido o local somente pela análise de alguns fatores. - Já sabia disso desde o momento que o piloto disse o nome do sujeito que estava nos aguardando. – Respondeu Robson. - Está certo que Mahesh é um nome Indiano, contudo, poderia ser qualquer lugar, afinal, nomes estrangeiros são comuns atualmente. – Charles não se deu por vencido. - Não foi somente por isso, liguei isso ao tempo de viagem que Arthur disse que um avião comum gastaria, e, calculei a distância e tempo médio de voo dos aviões comerciais. Além disso, tracei antes de sairmos uma rota após perceber para o lado que o avião havia seguido. – Robson retrucou não se dando também por derrotado, e, demonstrando que era mais avançado do que seu chefe poderia imaginar. - Muito bem, está realmente de parabéns. Não consegui pensar desta forma, e, ainda, traçar rotas e calcular distância com velocidades não é nem de longe o meu forte. – O chefe respondeu com um sorriso. Robson ficou como há muito tempo não ficava, afinal, para conseguir um elogio como aquele de Charles era algo muito difícil, e, quando alguém conseguia era como se tivesse ganhado um prêmio financeiro. 366 - Venham rapazes, quero que conheçam meu amigo Mahesh o homem vaca da Índia! – Disse Arthur sorrindo ainda com o braço no pescoço do amigo, e, com o outro chamando os agentes e Charles. Todos se aproximaram e foram cumprimentando o sujeito tipicamente indiano, o qual certamente trajava roupas milhares de vezes mais novas do que os trapos arranjados por Arthur para ficar acima de suas vestimentas militares. - Porque o apelido homem vaca? – Russo questionou sorrindo e olhando no fundo dos olhos do pequeno Mahesh, tinha que se curvar todo, afinal, como era grande demais o Indiano a sua frente parecia um pequeno anão. - Arthur me colocou este apelido porque após me enriquecer com suas expedições, eu sou tido em minha região como um Deus para os pobres, e, como a vaca é sagrada, este velho brincalhão fez esta comparação, o que é motivo de chacota para ele, porquanto, a vaca é um animal para vocês que é uma simples comida, lado outro, em minha região tornou-se motivo de autoridade e orgulho, diante da comparação a este belo e abençoado animal. - Fico muito feliz por você. – Charles disse apertando a mão do pequeno mais muito simpático homem. - Bem, já que todos já se conhecem, podemos seguir nossos planos, afinal, o tempo está contra nós a partir deste momento. – Arthur alertou flexionando as mãos e erguendo os trapos que ele chamava de disfarce, e, acionando em seu pulso um cronometro que se encontrava embutido em sua estranha armadura. Nem vou perguntar para Arthur o que se trata isso em seu corpo, afinal, já não me assusto com mais nada que venha deste velho louco. – Mahesh pensou sorrindo. - Senhor Arthur, pensando que vocês iriam precisar de alguns disfarces, e, seguindo a onda mais realista, trouxe alguns trajes. – Mahesh foi dizendo após seus pensamentos sobre o traje mecânico do amigo e já tirando algumas vestes de um cesto que se encontrava preso em um pequeno jumento – Contudo, não sabia quantos homens eram, assim, acho que trouxe poucas roupas. - Sem problema meu caro, e vejo que você melhorou muito não apenas seu poder de observação em uma missão, mas também de premeditar necessidades e, ainda, descrição, ao sequer questionar sobre meus brinquedinhos. – Arthur elogiou seu pequeno e valioso amigo pela atitude. - É, e ficará ainda mais realista desta forma. – Russo disse sorrindo. - Por quê? – Arthur teve a audácia de questionar intrigado com aquela resposta. 367 - Os que seguirem com as vestes que o senhor nos deu, poderiam se passar por escravos dos comerciantes. – A resposta veio com uma gargalhada, ao passo que todos sorriram levando na esportiva, exceto Robson que ainda não achava sequer graça do que vinha de Russo. Quando todos já estavam trajando as novas vestes, ou melhor, quase todos, porquanto, Charles e Russo ficaram sem, o último por conta da chacota feita anteriormente, e, Charles por opção, porquanto, achava que os trajes novos eram feitos de material que ele tinha alergia, e, não queria admitir aquilo para os outros, assim, finalmente, começaram a seguir viagem. ****** - Estes animais não andam mais rápido não? – Russo disse olhando para os bichos que caminhavam lentamente à sua frente, isso, somente após alguns minutos de viagem. - Quem sabe se um dos escravos levar o peso que eles estão carregando poderiam se apressar ainda mais? – Foi Charles que agora respondeu alegre, apontando para os cestos onde estavam sendo conduzidas as armas, mais um ponto que Mahesh ganhou com Arthur ao ter a ideia de colocar cestos para tal transporte. Arthur ficou satisfeito, parecia que todos estavam se interagindo muito bem, e isso seria vital para o sucesso da missão que estava por vir, a qual no fundo de seu ser ele sabia que não seria nada fácil... 368 CAPÍTULO 88 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre - Como assim estavam errados em que sentido? Afinal, queriam somente promover o bem! Estou certo? – Miguel retirou Buda de seus pensamentos após perceber que ele já estava quase que meditando. - Me desculpe! Somente fico meio pensativo ao raciocinar sobre isso. – ele balançava os braços como se estivesse afastando os pensamentos. – Não estavam certos não meu caro Miguel! Afinal, como você bem já sabe, as dimensões inferiores estão repletas de seres maléficos que em sua visão distorcida achavam do fundo do seu ser que estavam promovendo o bem. – seu dedo indicador foi erguido e depois abaixado. Miguel não entendeu, mas Buda sabia que somente após ele iria raciocinar, então prosseguiu: – O que você tem que saber é que com está experiência promovida por eles nada saiu como queriam, porquanto, em pouco tempo eles perceberam que aquele planeta que parecia inabitado, estava em perfeita evolução, aguardando o tempo certo para ser então utilizado em plenitude por aqueles que já estavam lá, contudo, ainda não poderiam serem vistos por olhos normais. - Mais o que o líder fez? – Miguel demonstrou sua curiosidade. - Ele ordenou que parassem imediatamente o que eles chamavam de inseminação do universo, e se pautassem somente em ajudar aquelas que já estavam um pouco mais desenvolvidas a evoluir ainda mais. - Em que consistia tal ajuda? – O Arcanjo estava realmente interessado. - Eles se pautaram em civilizações que já estavam em um processo mais avançado pelo menos da forma mental. Foi assim que o Egito conseguiu evoluir tanto para sua época, os maias, bem como, antes os sumérios, e, outras tantas civilizações anteriores e posteriores do universo. Sei Miguel que você somente tem por obrigação e permissão para guardar o planeta terra, contudo, quero que saiba que existem tantas outras dimensões e mundos além dos quais estamos acostumados, que ficaria espantado. - Quer dizer que os Sumérios e outros... – Miguel começou a dizer sendo interrompido por Buda que não queria parar sua explicação. - Sim Miguel, contudo, igualmente a estas outras experiências, está também não surtiu muito efeito, principalmente, no que diz respeito ao Egito e outras civilizações que podemos dizer mais modernas, porquanto, ocorreram revoltas e outras diversas ameaças, que igualmente colocaram em risco a evolução, desta vez da terra. 369 - Presenciei algumas destas revoluções, iria tentar ajudar de alguma forma, mais na época recebi ordem para ficar longe, ao passo que me disseram que ali já havia muita interferência. Assim, somente acatei as ordens. - Fez bem, porquanto, eles não escutaram e estavam agora sentindo as consequências de seus atos, e, após muito dialogarem, concluíram que era como se o homem evoluído atualmente chegasse a um planeta de canibais e povos primitivos, ou seja, a mente destes seres, mesmo que em processo evolutivo, ainda não eram capazes de processar como deveriam tantas informações e ensinamentos, ocorrendo, por conseguinte, vários desastres lógicos. - Sim, isso é óbvio. – Miguel disse baixinho, logo se calando para ouvir mais. - O atual líder desta civilização alienígena avançada, ordenou então que parassem também com mais aquela interferência, retirando todas as suas tecnologias destes planetas. Neste dia o que eles não sabiam eram que vários espíritos discutiam em nosso Conselho Supremo, exatamente isso, ou seja, que se esta interferência continuasse, teriam que dar fim aquela nação mais desenvolvida, e estas almas somente poderiam voltar a encarnar quando todas as outras estivessem também desenvolvidas na mesma proporção, tudo para que assim não pudessem novamente provocar esta desproporção, mesmo estando com boas intenções. - Justo, mas... – Miguel tentou dialogar, sendo novamente interrompido por Buda que não queria parar. - Me desculpe, mas tenho que terminar meu raciocínio Miguel. Ocorre que sem o Conselho Supremo saber, uma força inexplicável já havia colocado uma alma encarnada entre esta nação alienígena, a qual, assim, convenceu todos a abandonar suas missões, pois conseguiu abrir a mente deles que uma interferência deste tipo não ajudava uma nação de um planeta a evoluir, somente atrapalhava sua evolução e, assim, toda a lei do cosmos. - Esse líder agiu na hora certa! – Exclamou Miguel sorrindo com a inteligência do condutor. - Sim. Este líder propôs que eles não mais interfeririam diretamente nos planetas, somente os vigiariam de perto, e caso algum deles colocassem em perigo toda a nação, somente assim, deveriam interferir. - Isto é muito sensato. – Concluiu Miguel ainda entusiasmado com a atitude do sujeito, e, desta força oculta que ali o inseriu para pregar tal ideal. - Poderia ser se este dia não estivesse chegando, ou seja, que agora eles poderão ter que interferir para que não ocorra algo pior, e, caberá principalmente a Marcos e Damião mostrar-lhes que não somente a terra, mas o todo o cosmos corre grande perigo... 370 - Mas o líder saberá que este dia chegou? – Questionou o Arcanjo o que lhe parecia óbvio. - Não poderá meu caro Miguel, simplesmente porque este líder já desencarnou de perto deles, então, também não mais poderá interferir em suas escolhas. Além disto, a mesma força inexplicável que colocou um espírito que podemos dizer que era fortemente de luz de outra civilização e evolução encarnado nestes alienígenas para mudar seus planos, desta vez colocou um espírito destes alienígenas em um corpo humano, o que o Conselho Supremo somente tomou conhecimento muito mais tarde, o que os chocou devido ao pensamento de que os Criadores ou Criador estivessem após tantos e tantos milênios interferindo novamente em sua criação... - Você acha que nosso pai está de volta?! – Miguel questionou em tom de alegria, sentindo um calor em seu interior que não sentia há muito tempos, era um claro sentimento de esperança que brotava em seu ser, a esperança de encontrar seu pai... - Pode ser meu jovem Arcanjo. O Conselho viu que a inteligência desta alma alienígena encarnada em corpo humano era um golpe de mestre, porquanto, superava todos os precedentes, porque ajudava a raça humana na terra, sem a interferência direta de seus pares da civilização alienígena, e, com a vantagem dele poder conhecer a raça humana não de fora, mas fazer parte dela, o que mudaria tudo, porquanto ele não estaria interferindo para salvar um planeta, mais o seu planeta, mesmo que ele não soubesse disto. - E o que esta acontecendo a este homem. – Miguel agora estava curioso para saber o destino que aguardava aquele ser tão místico que agora era um humano. - Posso afirmar que ele atualmente já foi de alguma forma guiado por esta mesma força inexplicável, e encontra-se preparando armas capazes de lutar de igual para igual na guerra que esta por vir, fez amigos confiáveis e influentes, aguardando o tempo certo, e ele mudou os precedentes de encarnação de alma evoluída em corpos e raças subdesenvolvidas mentalmente e tecnologicamente, se isto será bom ou ruim somente o tempo dirá, mas esta força inexplicável parece saber o que faz... - Mas eu não entendo, porque os lideres preferem não interferir na terra? Questiono isso porque talvez se exercesse uma liderança mais aprimorada a evolução seria mais rápida. – Miguel ainda tentava entender relutante com o fato da não interferência. - Quando você chega em uma floresta toda infestada de animais você entra logo? – Desta vez foi Jesus quem disse. Aquilo pegou Miguel de surpresa, que respondeu ainda pensativo: - Creio que não... Não penso como um humano, porquanto, nunca fui um de verdade, apesar de ter feições destes e demais semelhanças, 371 mas sei que mesmo sendo infinitas vezes mais poderoso, e, que assim não estaria correndo nenhum perigo imediato, mas, primeiramente tentaria ganhar a confiança destes animais, fornecendo aos poucos algo de que precisassem, para ao final tentar uma interação maior. Primeiramente você esta errado que nunca foi um ser humano. – Buda sorriu e Jesus também ao receber seu pensamento em sintonia, contudo, não poderiam comentar por motivos certos ao Arcanjo aquela verdade. Assim, decidiram prosseguirem sem dizerem uma só palavra. - Exatamente isto é que aquele líder conseguiu colocar na cabeça dos alienígenas... Eles não querem mais interferir na terra sequer para fazer o bem, simplesmente porque agora sabem que os homens atualmente são apenas animais selvagens comparados à evolução que eles já conseguiram, e, por isto, necessitam de uma maior interação de conhecimento. Buda fez uma pequena pausa, analisando se o Arcanjo havia entendido, quando finalmente percebeu que sim prosseguiu: - Quando estamos diante de um animal selvagem, por mais manso que ele seja, sabemos que se ele se sentir acuado ou com medo, mais cedo ou mais tarde ira atacar, por fome ou ódio. No caso dos homens, os alienígenas sabem agora que eles ainda têm fome de poder, e ódio de serem os segundos, porquanto, ainda são poucas as exceções do contrário a esta triste regra, a maioria dos homens somente não são repressores porque não detém nenhum poder! Assim, tantos que uma vez investidos em qualquer forma de domínio e posse, certamente se corromperão por ele, não pensando no próximo, mas somente em si mesmos, muitas vezes até mesmo movidos não por ganância ou outros sentimentos impuros, mas pelo próprio medo de perder tal força. - Mais porque nunca vi uma alma alienígena na dimensão superior?!... – Questionou o Arcanjo pensativo olhando naquele momento não mais para Buda, mas para o alto, como se aquele pensamentos fosse mais uma conclusão. - Estudando tudo isto, eu e Jesus achamos que eles já passaram pela dimensão superior, mais todos evoluíram muito em várias encarnações, e foram para uma dimensão ainda maior e mais complexa, que você pôde ver no conhecimento que lhe passei. – Tentou explicar de uma maneira simples. - Então quer dizer que todos da dimensão superior podem evoluir ainda mais? – Miguel concluiu, deixando claro que havia entendido tudo perfeitamente. - Sim, é isto mesmo que concluímos ao conhecermos estas novas dimensões que certamente estão à frente da sublime ou superior que estamos agora. – Respondeu agora Jesus. - Como tem certeza disto? – O Arcanjo não parava, aquele assunto estava lhe interessando. 372 - Não tenho certeza de nada. – Buda foi dizendo com certa incerteza nas palavras, como se estivesse ainda incerto com o que de fato teria ocorrido. – Mais após aceitar muitas evoluções na terra, mesmo já estando na dimensão sublime há milênios, somente retornando para ajudar mais almas a evoluir, enfim, não pensando em poder, fui inesperadamente enviado para este novo planeta, por uma força que desconhecia até aquele momento. E, após anos com eles, vi que apesar de serem desenvolvidos na imaterial, muitos tinham se apegado ao material, o que é estranho para nós que buscamos o oposto, enfim, eles não queriam voltar para o mundo imaterial. – Terminou Buda ainda meio que pensativo, como se estivesse com vergonha de seus irmãos que se encontravam naquela dimensão dita sublime. - Como assim, resolveram ficar no plano material? – Miguel definitivamente não havia entendido: - Como algum ser preferiria permanecer no plano material, mesmo sendo evoluído o bastante para retornar para o imaterial e viver ainda melhor? – Ele pensou intrigado. - Eles se desenvolveram tanto no mundo material, que praticamente extinguiram todas as doenças. Com o avanço tecnológico conseguiram inclusive retardar muito o envelhecimento, por isto, praticamente eles somente morrem após longos anos, podendo, em alguns casos viver por séculos. Buda fez uma pausa pensativo, olhou para Jesus com olhar triste, e prosseguiu em uma voz abatida: - Eu particularmente acho isto um modo de se apegar a matéria, o que em certo sentido enfraquece este povo. Contudo, não há do que reclamar deles, já que em sua grande maioria são dotados não só de conhecimento tecnológico e cientifico, mais de bondade. Creio ser por isto que não há qualquer interferência das dimensões imateriais, bem como, o Criador ou Criadores, nada fazem para retardarem esta questão, já que certamente estas dimensões não devem estar inseridas no pacto que conhecemos como tratado com Noé, que tanto respeitamos após o início desta nova era. - Você é que se tornou o líder dos alienígenas, fazendo desistirem da interferência na terra, e em outros planetas! - Miguel exclamou, afinal, agora tudo fazia sentido para ele. Buda sorriu alegremente olhando para Jesus, e dizendo: - Você mais uma vez estava certo, este Arcanjo é mais inteligente do que muitas almas que se dizem evoluídas e se vangloriam no Conselho! Miguel ficou alegre com o elogio, e rapidamente prosseguiu nas perguntas, afinal, não era todos os dias que tinha explicações tão valiosas. - Mais após desencarnar, o que ocorreu? - Eu aceitei a proposta de Jesus e de outras almas evoluídas, e formamos e aprimoramos este Conselho Supremo, que já existia em termos 373 menores, concluímos que todos podem evoluir ainda mais, e, após isto muitas almas evoluídas quiseram retornar para a terra, ocorrendo assim uma maior evolução de todos que lá estão, e, consequentemente, de todos que aqui estão também... – ele parou pensativo, como se raciocinasse se o que iria dizer era apropriado. – Também tivemos acesso a uma dimensão que é totalmente desconhecida de todos, uma dimensão ainda mais maravilhosa, onde estão boa parte destas almas mais evoluídas, as quais detém poderes infinitas vezes maiores do que os nossos, contudo, jurei não contar a ninguém sobre o que vimos lá, por isto, não poderei lhe contar mais nada. - Mais nos pensamentos que você me passou, vi mundos maravilhosos! – Exclamou Miguel. - Estes estão na dimensão material próximo à galáxia onde se encontra o planeta terra, por ser material não tem segredos, a imaterial é que é um mistério maior ainda, é dela que vão e que vêm as almas destas outras galáxias, as mais evoluídas... Miguel estava extasiado, aquilo mudava toda sua percepção de sua vida e da forma como via o mundo, ele protegia a terra, e, as dimensões que até aquele momento achava que eram as únicas, porquanto, eram elas que estavam ligadas a este planeta e sua evolução. - Não falei que o Buda é um tagarela, falou e falou, contudo, aquilo que realmente tenho que lhe explicar, aquilo que será realmente útil para sua missão, não foi sequer cogitado na conversa! – Disse Jesus em um tom descontraído mais sério, sabia que não dispunham de maior tempo, e tinham, portanto, que irem direto ao assunto. Buda sorriu, e abraçou Miguel fortemente, sabia que Jesus estava certo, se despediu dizendo alegremente: - Depois lhe ensino mais coisas interessantes! – Dando ainda um forte abraço em Jesus, chamando-lhe de irmão, e saiu da sala celestial cantando uma música que o Arcanjo desconhecia, mas que Jesus já estava farto, devido ao fato de Buda somente cantar está música, aquilo lhe dava nos nervos, e, era uma das únicas coisas que conseguiam lhe irritar, e, era exatamente por isso que seu amigo a cantava, somente para implicar... 374 CAPÍTULO 89 Oceano Atlântico – França para Brasil, 1982 Após se certificar que não havia sobrado nada do navio e das pessoas que ele achava que nele se encontravam, Poseidon ergueu seu tridente, onde vários raios o acertaram. Logo após foi fazendo com que a tromba d’água sob seus pés fossem diminuindo lentamente, e, quando ela terminou por completo, e o mesmo encostou os pés na água do mar um último raio, desta vez o maior deles atingiu o tridente e sua energia desceu rapidamente deste para o corpo do velho Deus mitológico, ao passo que, quando atingiu a água do mar aos seus pés ele começou a se derreter como se fosse feito inteiramente daquele liquido, mas antes de se desfazer totalmente, disse triunfante somente para seu ego: - Sou novamente o senhor dos mares... – Derretendo completamente em meio ao mar, ao passo que, misturado às partículas do líquido viajou rapidamente pelo condutor para a dimensão paralela onde Lúcifer e Serfalos lhe aguardavam para a reunião que traçaria as diretrizes de seus futuros passos. ****** - Muito longe dali, exatamente estirado ao chão de um porto brasileiro Damião começou a abrir os olhos, todo o seu corpo doía... 375 CAPÍTULO 90 Dimensão Sublime, 1982 – ano terrestre Após a saída de Buda Jesus olhou para Miguel com um leve sorriso no canto da boca, sentando-se novamente. - Sei que ele lhe mostrou coisas inacreditáveis, e que você ficou muito impressionado, e por isto queria saber mais. Contudo, temos que tratar de assuntos mais importantes para o momento, e se eu deixasse Buda continuar ele iria tagarelar por um bom tempo, do qual não dispomos. - Não estou chateado mes... mestre... – Gaguejou um pouco, se perdendo nas palavras, consertando com um questionamento: - posso lhe chamar assim? - Você pode me chamar de irmão. – Disse Jesus em tom alegre e descontraído. - Somente fico a pensar como fomos criados, e viemos parar nestas dimensões, e, principalmente, por quê? – Respondeu com um questionamento Miguel ainda perdido em seus pensamentos. - Todos em qualquer fase de toda existência já fizeram a mesma pergunta. E a resposta somente pode ser uma, há de que nos foi dado uma oportunidade de existirmos, seja nesta ou naquela forma, isso basta... Miguel ainda permanecia perdido em seus pensamentos, questionando não para Jesus, mas para si mesmo: E se não sabermos para onde seguir? - Sempre teremos escolhas, até quando nada fazemos estamos exercendo uma escolha. – Fez uma pausa, e olhou bem no fundo dos olhos do Arcanjo, que levantou a cabeça ao ver o silêncio que tomava conta do local. – Meu caro Miguel, basta somente sabermos que devemos seguir nossa percepção, afinal, se estamos aqui é por um motivo, e se nos foi dado o livre arbítrio, é porque não querem que nós sejamos subordinados, e sim livres para fazermos nossas escolhas, seja ajudar ou ficarmos omissos... - Mais e os primeiros arcanjos? O que foram feito de meus ancestrais? Sei que evolui desde a percepção da alma humana, mais e os outros que estavam aqui antes de mim? - Você pode ver através das imagens que Buda colocou em sua alma, que existem dimensões além das quais nós compreendemos, e que como ele mesmo lhe disse à medida em que evoluímos vamos tendo permissão para nelas adentrar, eu, Buda e outros membros do Conselho, tivemos várias permissões, inclusive, para voltar para esta dimensão primordial, a qual na realidade é somente uma delas, e nestas oportunidades, descobrimos coisas desconhecidas para a maioria dos seres. Fez uma pausa pensando se não havia dito muita coisa, afinal, tinha que ter melhor noção do que seria dito, após resolveu somente finalizar: 376 - Contudo Miguel, eu creio que se tudo foi feito desta forma, seria imprudente de minha parte revelar algo assim para você neste momento. Na hora certa descobrirá o que deve saber, e quando todas as suas perguntas forem respondidas, terá certeza de que escolher ajudar é o melhor caminho para obter suas almejadas respostas, e, que talvez ao contrário do que pense, está muito próximo de seguir passos além desta dimensão do que outros membros deste Conselho que entendem em sua ignorância que estão a frente de tudo e de todos por ali já se encontrarem... Miguel sorriu, porquanto, um fio de esperança se abriu em seu peito. Somente não entendeu bem a parte final, contudo, decidiu calar-se quanto a questionamentos nessa ordem, afinal, já havia questionado muito, agora era hora de saber escutar um pouco, somente queria dizer algo para afirmar que já praticava o que Jesus tentou lhe passar. - Às vezes quando estou em uma situação difícil, escuto uma voz dentro de minha consciência que me acalma e me faz seguir um caminho melhor, o qual naquele momento não parece o mais perfeito para se seguir, contudo, se o escolho ao final percebo que escolhi certo. No início achava que esta voz era minha consciência, após vi que era algo maior, que não estava em mim. Jesus levantou-se, foi de encontro ao Arcanjo colocando sua mão direita em seu peito, e a esquerda em sua cabeça, dizendo bem baixinho: - Pense assim: Se fomos criados, existe a certeza de uma força poderosa que se encontra presente em tudo e em todos. Portanto, se esta força nos deu escolhas, quer dizer que mesmo ela sendo onipotente, não é opressora. Se o seu corpo é constituído desta mesma força, quer dizer que ao se abrir completamente ao pensamento positivo e com humildade de sua essência ser meramente uma criação de algo maior, poderá interagir conscientemente com ele, não no seu estado atual, mas com o seu estado de essência. O que quer dizer que talvez seja só sua consciência, ou algo maior que já se encontra em seu interior e em tudo lhe ajudando, mas, conforme você observou, somente orientando quando lhe é ofertado assim o fazê-lo. Ou seja, nunca lhe impondo suas vontades, deixando que você decida o que fazer, e, indo além disso, que pense que foi você que assim escolheu. Portanto, deixando para todos que seria sua consciência que assim ofertou para ti, em verdadeira demonstração de sua não apenas bondade, mas fraternidade, como um pai e mãe que doa de tudo para seu filho, até mesmo sua própria vida, o que assim provavelmente foi feito. Miguel sorriu, Jesus tinha uma habilidade extraordinária para ensinar, mesmo não impondo qualquer ponto de vista ou opinião, e até mesmo não concluindo nenhuma teoria sua como absoluta, simplesmente guiava seu interlocutor para a resposta que melhor lhe seria apreciada. Não é a toa que na terra ele ensinou tudo através de parábolas, método que levou dos mais humildes, aos mais sábios a retirar delas os ensinamentos para chegarem a uma evolução intelectual e espiritual ao mesmo tempo. – Pensou Miguel sorrindo. 377 - Entendeu? – Questionou Jesus. - Sim mes..., quer dizer, irmão! – Concluiu o Arcanjo após gaguejar um pouco em se corrigir quando se lembrou do pedido anterior. - Muito bem, assim gosto mais, irmão. E, ainda, tenho que dizer que estava certo quando lhe adverti que Buda era um tagarela e caso deixássemos ele ficaria aqui por horas, afinal, parece um carma, mas você percebeu que mesmo ele tendo saído, tivemos que permanecer em suas reflexões por longo período? - Sim percebi. – Miguel respondeu curtamente sorrindo com a conclusão obvia de Jesus. - Então agora podemos ir para o mais importante? Miguel afirmou positivamente com a cabeça e se dirigiu para a grande mesa, aguçando bem os ouvidos para seu interlocutor, que imediatamente começou a falar, sem se sentar, andando de um lado a outro, não por nervosismo, mas como um defensor expondo suas ideias. - Você precisa saber Miguel, que no momento em que Lúcifer e Serfalos viram que o plano deles estava dando certo, ou seja, inserir demônios entre os animais, eles simplesmente iniciaram o que poderia se chamar de catástrofe da criação. Os demônios foram enviados por Lúcifer para começarem em massa a manipular as almas do mal encarnadas nos animais, as quais por estas manipulações iniciaram uma série de estupros a mulheres, para que tudo pudesse se iniciar novamente, desta vez de forma ainda mais assustadora... Assim, de alguma forma inexplicável às mulheres engravidaram, e a alma vinha, mas quando chegavam ao corpo material no ventre, este estava estranhamente modificado, por fatores genéticos, então ou nascia com feição de aberração, ou instintos destes. - Mas isso foi nos primórdios da civilização correto? - Sim Miguel, foi nos primórdios desta civilização atual. E foi sem dúvida literalmente um caos, porquanto, esta época foi marcada para sempre como o pior pesadelo na dimensão superior. Dizem que o Criador ficou furioso por não poder fazer nada, juntamente com os Arcanjos da primeira linhagem magoados por não terem percebido o que ocorria. Da maneira certa Lúcifer e Serfalos tinham armado a maior armadilha. - Mas se o Criador estava presente, porque não fez nada? - Dizem que o Criador não poderia instigar qualquer alma humana a matar as aberrações que estavam nascendo, porque, afinal, eram almas muitas vezes boas, mas que corriam sérios riscos de se traumatizarem com a encarnação, e, assim, poderiam ter sequelas nunca vistas antes. Então, sem interferência do Criador, dizem que se iniciou a luta mais estranha, onde os homens caçavam as aberrações, que ficavam com ódio dos homens, sem 378 saber que eram almas idênticas, que somente estavam se estranhando pelas diferenças da carne e do instinto animal. - Então em síntese o Criador se afastou. - Não diria isso, creio que foi a partir do chamado pacto de Noé que ele se afastou, afinal, se não iria mais interferir em sua criação de forma direta, seria melhor não interagir com esta igualmente, seja na forma material ou imaterial, deveria deixar que ela caminhasse com a própria vontade e destino. Creio que o fez como um pai e uma mãe que para não ver o filho sofrer ainda mais diante de sua impossibilidade de ajudá-lo, se afasta para tentar que com este ato ele fique mais forte. - Então, mas porque os Arcanjos e Anjos não fizeram nada? – Miguel não poderia admitir que eles haviam ficado inertes com tanta desgraça. - Segundo consta, foi porque eles seguiram a mesma atitude do Criador de não interferir, afinal, não poderiam matar aqueles seres, porquanto, até onde constava eram inocentes. Por isso tiveram que ver a guerra de longe. Dizem que a única coisa que o Criador deixou que os seres celestiais fizessem era não deixar qualquer força do mal interferir do plano imaterial ao material direto. Assim, lhes advertiu que agindo desta forma em breve tudo estaria equilibrado. Contudo, os seres celestiais não acreditavam muito nisto, afinal, os homens eram em maior número, mas as aberrações tinham maior força, bem como, instintos selvagens de sobrevivência. - Mas como tudo terminou? – Miguel estava curioso com o desfecho. - Após muito sangue, dizem que finalmente os homens venceram, mas permaneceram alguns seres da linhagem dos chamados monstros, que até hoje existem, escondidos no submundo de tudo e de todos, com medo, matando para sobreviver. Outros se misturaram tão bem na sociedade que hoje são imperceptíveis, menos para as pessoas desaparecidas de repente, estas sabem o que as atacou... - Mas eu que sou um ser celestial, porque não soube até hoje disso? - Miguel, tenho que lhe dizer que você é da linhagem de Arcanjos novos, e tudo isso ocorreu no início desta civilização atual. Ou seja, após a era que conhecemos como mitológica, precisamente, da chamada descidas dos chamados Deuses, e, extinção dos seres místicos por estes criados, com a formação do homem, somente o homem e evolução de outros seres. Portanto, se já viu algum destes seres, não notou, devido ao fato que eles já evoluíram bastante. Além disso, alguns são melhores do que muitos homens atuais, sem falar que muitos já fizeram uma miscigenação de espécies tão vasta que atualmente se passam por humanos de maneira fácil. - Sabe se essa guerra durou muito tempo? - Olha, pelo que sei ela durou por milênios de forma sangrenta, e, por séculos de forma mais branda, quase imperceptível, e, segundo me consta, ocorre certamente até hoje na dimensão material, onde temos as famosas 379 histórias de homens caçando lobisomens e vampiros. Neste momento, com a situação quase por controle, já podem os homens respirarem quase que aliviados, e dizerem que isto não passa de lendas! Porquanto, suas grandes maiorias não sabem que seus antepassados remotos estiveram nesta guerra, e, muitos ainda estão... - Mas o que era feito com as almas das aberrações? – Miguel questionou demonstrando sua preocupação com as mesmas, afinal, era estranho imaginar que haviam passado por tudo isso e ainda estarem bem. - Dizem que quase todas as almas que morriam eram acolhidas pelos anjos imediatamente, principalmente, as das aberrações, porquanto, mereciam maiores cuidados e doutrina. Mas outras não permitiam, e, diante do livre arbítrio, ficaram vagando ou presas em dimensões inferiores, sendo consumidas pelo ódio até os tempos atuais. - O senhor disse que ainda existem estes seres. Mas qual deles ainda existe em maiores quantidades? – Retornou o Arcanjo. - Não sei, mais creio serem de lobisomens, até pouco tempo eles eram comuns, hoje as gerações foram tantas que difundiram seus genes, e aqueles que ainda o recebem de seus ancestrais os chamam simplesmente de maldição, e poucos conseguem sobreviver com ajuda dos parentes e amigos. - Sei. Mais se tudo já se encontra sobre controle, porque esta me contando esta história? – Concluiu Miguel o que lhe parecia óbvio diante dos relatos. - Aqueles animais que estavam aqui, vão procurar para o Conselho em toda terra seres com estas características, e, quero que você coloque um de seus Arcanjos a disposição de entender estes líderes animais. Após, quando eles encontrarem os mesmos vão caçar estas criaturas. - O senhor quer que nos os matemos? – Questionou Miguel assustado, e já completamente com medo da resposta. Afinal, se o próprio Criador havia deixado claro que não iria interferir, ele não queria fazer o contrário. - Não! – Ponderou Jesus. – Eu quero que você os recrutem, que façam eles lutarem ao nosso lado, eles não tem culpa de terem nascido daquela forma, e não podemos interferir em suas vidas, mas eles poderão lutar por uma causa maior, e, poderei com isto fazer pequenos ajustes na medida do possível. - Mais não temos o dom de conversar com os animais! Nós os seres celestiais não entendemos nada disto, principalmente, dos animais, que somente foram entendidos de forma de linguagem por poucos seres de luz. – Ponderou o Arcanjo quase como uma súplica, porquanto, além de não saber muito sobre os animais, achava aquilo muito ariscado. - Acalme-se, Buda já pediu para Francisco ajudar você, e ele aceitou. 380 Miguel tremeu todo, sempre ouviu falar dos dons de Francisco com os animais, mais nunca pensou que trabalharia junto com o mesmo. - Vejo que ficou feliz por ter o privilegio de conhecer Francisco, estou certo? – Perguntou Jesus com um enorme sorriso. - Sim, sempre quis conhecê-lo, e, além disso, poder trabalhar ao lado dele será um sonho realizado. – Após uma pausa perdido em seus pensamentos, Miguel se sobressaltou tentando se corrigir imediatamente. Depois de trabalhar com o senhor lógico! Jesus sorriu alegremente, Miguel era tudo que ele esperava, tinha certeza que ele usaria para o bem os novos poderes que lhe seriam em breve confiados, além dos que já havia adquirido. 381 CAPÍTULO 91 Porto da cidade de Santos / São Paulo – Brasil, 1982 A dor tomava conta de todo o seu ser, a ponto de não conseguir abrir os olhos. Após perceber que a mesma era é um bom sinal, porquanto, significava que estava pelo menos vivo, Damião esboçou algo que de longe poderia parecer um sorriso, contudo, devido à fraqueza seus lábios mais tremiam do que transmitiam o que ele estava expressando naquele momento. Após um longo tempo, o qual ele não conseguiu, por óbvio, determinar, a dor foi cedendo aos poucos, e seus pensamentos já estavam quase todos em ordem, a ponto de racionar os motivos de encontrar-se daquela forma. Recordou-se dos ensinamentos de um poderoso ser que lhe tele transportou pela primeira vez em sua existência, em épocas passadas que ele somente se rememorava naquele momento por já ter quebrado a barreira. “Meu caro sujeito” ele lembrou-se da forma que o ser lhe tratava, porquanto, naquele tempo ainda não era chamado pelo nome Damião, o qual veio muito tempo após. Recordou-se ainda que o ser era tão poderoso que não se deixava apegar por nada do mundo material ou afins, assim, sequer pronunciava nomes, ao passo que, lhe dizia que isso já seria uma forma de distinção, a qual ele dizia que nunca fazia, porquanto, ajudava sem qualquer distinção. Ele era realmente excêntrico. – Damião sorriu se recordando da figura, e, ainda, do restante de seus ensinamentos, os quais ele lembrava que o ser tentava de todas as maneiras explicar de uma forma mais branda, contudo, pela magnitude e grandeza aquilo era quase que impossível: “Quando um corpo tanto celestial quanto material é tele transportado, ocorre um evento único no universo, ao passo que a essência material do Criador se mostra capaz de se quebrar e desaparecer do mundo físico em que se encontra, para reaparecerem com mesmo código em local pré-determinado pela consciência do ser capaz de assim fazê-lo. Em realidade, alguns dizem que esta essência viajaria rapidamente para o local. Já outros que ela seria capaz de ler o código subatômico de sua existência neste novo local, e, assim, simplesmente desaparecer de um ponto e ser codificada novamente em outro. Contudo, outros afirmam que a matéria existente em um local é a mesma do outro, somente teria que ser recriada naquele novo ambiente de forma a necessitar, tão somente, de uma pequena ligação para isso ocorrer. Eu, contudo, humildemente meu caro, lhe digo que nada disso importa, visto que o que realmente importa é que eu vou conseguir levar você para o local determinado, e, após, você e eu iremos quase que revivermos novamente, porquanto, será como se nosso corpo tivesse sido totalmente quebrado em frações infinitas, e, reagrupados com uma pressão que fará com que você sinta como se estiver renascendo. Lhe digo que alguns dos que já levei não se lembraram sequer do que fizeram nos dias anteriores, principalmente, os menos desenvolvidos, os quais, dependendo do grau, passaram por dias 382 sem saberem sequer quem são. Contudo, creio que você meu jovem, será capaz de sentir somente algumas dores, e, em alguns minutos saberá não apenas quem é, como para que estará naquele local, assim, poderemos cumprir para com nossa missão.”. Damião sorriu agora de forma melhor, ainda não era capaz de abrir os olhos, contudo, já tinha quase que totalmente controle de seu corpo. Se lembrou que após fazer tal distinção, o ser lhe tele transportou para o meio de uma guerra, onde ele teve que cuidar de muitos doentes, e, ao contrário do que lhe havia sido prometido pelo ser, ou seja, que ele se recuperaria rapidamente, ele levou horas se remoendo, e teve ainda que ser cuidado pelo sujeito durante todo este tempo, a ponto de ele pensar que ao invés dele estar ali para ajudar, ele é que seria o maior dos doentes entre os feridos naquela guerra. Foi quando ele escutou um sujeito conversando de uma maneira estranha, o qual dizia quase que como um filósofo discursando para um público, entretanto, com um sotaque muito estranho e de forma muito simples, ele ainda não conseguia abrir os olhos, assim, somente escutou o sujeito: - Assim como você tem seus componentes em seu corpo, o universo também tem no dele, e todos estes componentes ou elementos estão funcionando em harmonia e sincronismo para seguir em frente, mais em muitas vezes voltar ao estado anterior, porque em seu interior sabem que irão encontrar algo maior com isto. Se você deixa um lixo, ou seja, um rastro que você esteve ali, em breve estes componentes do universo vão se interagir para extingui-lo, ou melhor, transformá-lo... Será que acontece o mesmo conosco meu caro Damião? Neste momento Damião percebeu que o sujeito discursava para ele, mais ao tentar responder percebeu que igualmente aos olhos, ainda não tinha controle vocal, e o sujeito percebendo isso prosseguiu: – Somente iremos saber quando estes componentes do universo retornarem ao estado em que viemos, ou melhor, ao que fomos criados... Não posso dizer que sou melhor que os animais, somente porque meu físico, ou corpo material como um todo evoluiu ao estado consciente maior do que o deles! Será que sou mesmo mais racional do que eles? Ou me engano tentando ser assim somente para acariciar meu ego? À medida que a evolução no plano material decorre, o amanhã é incerto, e o presente é dúvida, mais a certeza é somente uma: não vim do nada, e um dia retornarei ao tudo, ao meu lugar seja ele aonde for... Quando terminou, Damião sorriu, já sabia quem estava ali, e ele se alegrou muito de seu amigo tão querido ir lhe recepcionar. - Ainda... – finalmente conseguiu começar a dizer, os olhos ainda não abriam, mas as palavras mesmo que de forma lenta já saiam. – Ten... Tentando aprender sobre o universo apenas utilizando-se da velha filosofia para encontrar significado para algo tão vasto – neste momento seus olhos finalmente se abriram, mas mesmo após ele perceber que realmente se tratava do amigo não parou de dizer – como o universo e o poder que nos rege. 383 O sujeito franzino abaixou-se lentamente, e chegando bem perto do ouvido de Damião respondeu-o sorrindo: - Aprendi a assim o fazê-lo, porquanto, buscando entender melhor minha existência, entenderei melhor minhas missões não apenas de cunho material, mas, principalmente, as que realmente me levaram a um patamar evolutivo além da compreensão humana e de todos os seres, aquela que não estará pautada apenas em conhecimento, mas em algo maior, que ainda não consigo sequer qualificar. Damião foi se levantando com a ajuda do sujeito, e quando já estava totalmente de pé, percebeu as roupas do amigo, ele vestia uma túnica preta, um chapéu grande que lhe proporcionava sombra em boa parte de seu corpo franzino, ao passo que, seus olhos azuis amendoados tinham um tom de mistério, era como um lago formado pela água do mar sobre uma areia branca, quase transparente, mas a pele era castigada pelo tempo, tendo muitas rugas, que eram quase imperceptíveis devido ao tom amorenado proporcionado pelo sol. Contudo, para surpresa de Damião, assim que terminou de ajudá-lo o sujeito começou a se desintegrar. - Espere meu amigo! – ele tentou ainda em vão segurar-se no sujeito, contudo, as suas mãos já passaram em falso, ele já estava literalmente desaparecendo daquela dimensão. – Pensei que você iria me ajudar, afinal, evoluiu mais neste País, assim, pensei que poderia ficar um pouco mais e me apresentar o lugar. – clamou por fim. Contudo, o sujeito não parou de se desintegrar, mais antes de desaparecer completamente olhou bem no fundo dos olhos de Damião dizendo com o mesmo sotaque carregado: - Somente queria lhe receber e dizer que estarei por perto lhe guiando e quando for permitido ajudando no que puder. Contudo, tenho que ir rapidamente, afinal, recebi também uma missão no mundo imaterial, a qual não esperava nem em meus mais remotos sonhos. Saiba que modifiquei um pouco a rota sua de tele transporte, porquanto, não achei que seria bom para você ser deixado próximo aos outros, os quais em sua grande maioria já estão sendo levados para hospitais, tendo em vista que a Iemanjá e aquela Arcanja tiveram a sensacional ideia de levá-los para a costa e colocar como se tivessem sido arrastados pelas ondas até aquele local. E para trazer ainda mais realismo elas proporcionaram uma pequena tempestade no local, fazendo com que a guarda costeira do local pensassem que o navio teria naufragado próximo à costa e a tripulação teve tempo de nadar até a praia. O plano delas até daria certo, contudo, como isto foi forjado em uma pequena ilha, não poderiam deixá-lo aqui e trabalharem no plano de ocultação da batalha ocorrida e salvamento de todas aquelas pessoas. Assim, me ofereci para trazê-lo, e, retornei ainda, mesmo contra a vontade das duas, que temiam que Poseidon ainda estivesse lá, e após muito procurar recuperei sua sacola. - Nossa! Realmente não precisava... – Damião respondeu tateando e sentindo a sua bolsa, ali se encontrava tudo para sua missão. – Na realidade 384 meu amigo você sabe que precisava sim, porquanto, estou muito fraco e nunca conseguiria me transportar em matéria para aquele local, além disso, creio que ainda não tenho poderes para agir assim partindo da matéria. - Sabendo disso fui lá, por sorte Poseidon já havia partido, e, logo após, peguei você e trouxe ao porto onde deveria estar conforme era combinado. Portanto, pegue suas coisas e vá, não precise se preocupar com Iemanjá e a Arcanja simpática que lhe ajudou, nem com os tripulantes do navio, porquanto, todos estão bem. Siga em frente, e, em último recurso, caso necessite me chame, você sabe como. Damião no impulso ia dar um abraço de despedida no amigo, contudo, travou quando se lembrou de que ele já estava de partida, assim, somente acenou e assistiu o amigo desaparecer por completo. Assim que ele sumiu, Damião olhou em volta, estava em um local totalmente oculto do porto, tinha que rapidamente chegar ao local de desembarque do navio, afinal, teria que dar a entender para quem é que por acaso fosse lhe buscar que estava tudo bem. De repente sentiu o suor escorrer por sua testa, assimilando somente naquele instante que o clima era muito quente, muito diferente dos longos anos que passou na França e no restante da Europa. Começou a caminhar, e para sua surpresa parecia que não estava tão longe, porquanto, mais a frente já avistou um grupo de pessoas. Mesmo sabendo que as pessoas daquele País estavam passando por um período difícil, à medida que foi chegando ao local sentiu que em sua grande maioria eram alegres e de bem com a vida, naquele momento sabia que era um País que tinha tudo para melhorar no decorrer dos anos. Somente não sabia ainda o que poderia esperar de sua missão. Quando chegou ao local onde o navio deveria desembarcar percebeu o burburinho que estava se formando, todos comentavam o naufrágio, e de maneira mais enfática sobre a misteriosa forma com que todos do navio se salvaram sem se recordarem dos acontecimentos. Para sua sorte avistou um senhor chegando naquele exato momento olhando para todos os locais, como se estivesse procurando alguém, Damião o notou, porquanto, o mesmo se destacava do restante, visto encontrar-se trajando batina. Deve ser Dom Nestor, o homem que me disseram ser muito iluminado, e que irá me estabelecer em sua diocese. – Pensou Damião sorrindo e já indo de encontro ao sujeito. Ao avistar também Damião Dom Nestor que o reconheceu pela descrição que lhe foi passada, foi igualmente de encontro a Damião, o qual se assustou ao perceber que sem nada anunciar quando chegou perto o senhor foi lhe abraçando, como se fossem grandes amigos. 385 - Você não esta se lembrando de mim? – Mencionou o senhor com voz rouca e gasta se afastando um pouco após o abraço e olhando diretamente na face da Damião. Damião olhou para os olhos do senhor e quase chorou de alegria, eram inconfundíveis! Além disso, reconheceu a áurea dele, a qual transmitia enorme paz. - Antônio? – Questionou em voz alta, devido a grande alegria. - Finalmente! Achei que você não iria se lembrar! - Eu sabia que você estava na dimensão material, mais nunca tive contato com nenhuma alma que pudesse me dizer sua localização, ao procurar algo ao seu respeito, sempre mudavam de assunto... O homem cortou a conversa e puxou Damião rapidamente para um canto, chegando com a cabeça bem perto de seu ouvido e falando de uma maneira extremamente baixa: - Não diga nada neste sentido aqui. Estamos sendo vigiados! Damião assustado olhou para os lados, mais nada viu de anormal. - Não vai perceber nada neste momento, tenho que lhe ensinar algumas coisas que estão acontecendo neste País. Conversamos na diocese. Imediatamente eles saíram às pressas para embarcarem em um automóvel, sem que Damião pudesse perceber um vulto que os seguia ao longe. - Não olhe agora! Vire a cabeça bem devagar, como se estivesse analisando as lojas, e vai ver um homem vestido de preto que está nos seguindo... – Disse Antônio em tom baixíssimo. Damião não era bom em notar isto, mais era impossível aquele homem não ser notado, ele era o único de terno naquele local. - Quem é ele, um demônio encarnado por possessão? – Questionou assustado, e já colocando a mão dentro do paletó para pegar o frasco de água benta que carregava a tiracolo. - Pode ficar tranquilo... – Antônio fez uma pausa maneando a cabeça, e prosseguiu cauteloso: - É... Bem... Quase tranquilo! - Porque diz desta forma? – Damião não conseguiu esconder a preocupação, afinal, estava em local totalmente diferente ao que era acostumado, e, após os estranhos acontecimentos recentes estava agindo como uma pessoa traumatizada. - Ele é do governo, estão me vigiando de perto, querem algo que acham estar comigo. 386 - E realmente esta? - Não sei! – Respondeu Antônio de maneira alegre, e soltando um enorme sorriso. Damião também sorriu, sabia que Antônio não voltaria para a dimensão material se não fosse por uma missão muito importante. Ficou ainda mais calmo após perceber o desdém do amigo quanto ao sujeito. - Então você esta utilizando o nome de Dom Nestor? – Tentou mudar de assunto. - Somente para os presentes nesta minha forma material e que não tenham quebrado a barreira utilizo este meu nome de batismo, os outros podem me chamar de Antônio ou outros de meus tantos nomes que já tive, enfim, aquele que tiverem maior conhecimento. Temos que viajar rápido, porquanto, estou no meio de uma faxina na diocese, e, somente larguei para vir te buscar pessoalmente, e, quanto ao sujeito não precisa temer, ele acompanha tudo, mais sempre ao longe, rapidamente ele já haverá sumido. Quando Damião virou-se já não viu mais o sujeito. Após a viagem do porto a São Paulo capital, ao chegarem e passarem o portão da diocese, Damião assustou-se com a quantidade de pessoas que vistoriavam o local, utilizavam vários aparelhos. - Espero que o senhor não se assuste muito! – Disse um jovem que vinha em sua direção, estendendo a mão para cumprimentá-lo. - Prazer meu nome é Ciro! – Damião sentiu uma leve dor em suas mãos, o aperto de mão daquele jovem era muito forte para seu corpo que sofria pela idade e por tudo que passou nos últimos dias. - O prazer é todo meu, pode me chamar de Damião! - Nossa, não precisa nem dizer, afinal, como sabemos disto! – Respondeu o jovem de maneira meio que sarcástica. - Não estou entendendo? – Questionou Damião. - Há algumas semanas Dom Nestor somente fala em sua vinda. Damião olhou para Antônio com um sorriso cínico. - Você não daria o braço a torcer que estava com saudades de mim, não é seu rabugento! – Batendo vagarosamente no ombro do amigo em sinal de afago. O clima descontraído se formou, e todos caíram na gargalhada. - Tudo muito bom, mais Damião precisa descansar, afinal, teve uma viagem conturbada! – Antônio deu um sorriso ao terminar e uma piscadela para Damião que se assustou ao perceber que ele sabia dos acontecimentos. 387 Contudo, além da presença de Ciro, não queria discutir como ele havia ficado sabendo, enfim, estava realmente exausto. - Pode me seguir senhor Damião, já arrumamos seus aposentos. – Ciro disse já se virando e andando em direção a um corredor. Após algum tempo, já quase chegando ao quarto que seria por ele ocupado, Damião não aguentou e questionou: - Porque aquela quantidade de pessoas com aqueles aparelhos? - Contratamos uma empresa especializada em encontrar escutas! – ele virou-se arregalando os olhos, como se estivesse dizendo algo tenebroso. – Nos últimos anos estamos sendo vigiados de perto pelo governo autoritário, e não podemos nos dar ao luxo de relaxar na segurança. Além disso, Dom Nestor pagou para que a empresa ensinasse a alguns de nossos irmãos a encontrar as mesmas, e comprou alguns aparelhos de rastreamento para consecução das buscas ordinárias. - Mas qual o interesse do governo em uma diocese? – o questionamento de Damião logicamente veio em tom tanto assustado quando de intriga pela forma como Ciro havia dito, parecia tudo muito normal para ele. - Não posso ainda te dizer, afinal, temos que esperar eles terminarem de fazer a vistoria, tome um banho e descanse um pouco, seu quarto já foi revistado, à noite conversamos na praça ou o Dom Nestor lhe explica em seu escritório. Damião não entendia tamanha cautela de Antônio e daquele seu excêntrico e estranho assistente, mas sabia que coisa boa não deveria ser. Contudo, sabia que ele estava certo, seus pés o estavam matando, e há muitas noites não dormia um sono descente, precisava relaxar. Despediu-se de Ciro seu novo amigo e adentrou em seus novos aposentos. O quarto era amplo e espaçoso, muito bem mobiliado, tinha banheiro com uma modesta banheira na qual Damião relaxou todos seus músculos. Tirando a banheira, não havia outros luxos, uma pequena escrivaninha, uma cama simples, mas bem espaçosa, e um guarda roupas pequeno, tudo muito bem organizado. Damião ficou tão relaxado que adormeceu na própria banheira, acordando somente após quase uma hora, devido ao esfriamento da água. Foi para a cama sem perceber, somente acordando sete horas após com algumas cutucadas de Antônio, que ainda lhe dizia de forma alegre bem baixinho: - Acorde seu preguiçoso! Damião custou a se levantar, não era possível que eles deveriam conversar naquela hora, justo quando sonhava com algo tão bom. - Gostou do quarto? 388 - Você acertou em tudo, sabe que não gosto de luxo, mais não abro mão de uma deliciosa banheira bem quentinha. Não me relaxava assim há tempos! - Bem, vou esperar você se trocar, trouxe algumas roupas que já guardei em seu guarda roupas, somente não havia equipado ele antes, porque não sabia que tamanho era seu corpo material. - Bem pequeno... Bem pequeno... – Disse Damião ironicamente. – Igual ao seu atual. – Sorriu olhando para o corpo franzino do amigo. Antônio saiu do quarto indo para um banco próximo, se sentando e contemplando as estrelas, alguns dias ele passava horas contemplando aquilo que chamava de paraíso material, sabia que ao contrário do que todos pensavam as dimensões mais elevadas não tinham nada a ver com o céu daquela dimensão, mais bem que poderia ter, ele era maravilhoso... - Vejo que não perdeu a mania de contemplar as belezas materiais. – Disse Damião sentando-se ao lado de Antônio, já trajando as vestimentas deixadas pelo amigo. - Durante várias noites contemplo esta vista, por vários milênios, e nunca me canso. Acho a dimensão material a mais bela, ver está vista não tem preço. - Tem sim, correr sérios riscos... – Respondeu Damião em tom alegre. - Seu estraga prazeres! – Replicou Antônio levantando-se. – Vamos para o meu escritório, enfim, temos muitos assuntos para tratar... 389 CAPÍTULO 92 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 Eles já estavam andando a mais de quarenta minutos, no passo lento dos animais, em direção ao local da missão. - Você acha que falta muito Arthur? – Russo questionou mais uma vez, somando três questionamentos naquele sentido desde a partida rumo à cidade. Foi o bastante para deixar o velho bastante zangado, o qual se virou furiosamente vociferando: - Credo! Parece uma matraca estragada, e tem ainda a impaciência de uma mulher! Mahesh já lhe respondeu três vezes que estamos, para que ficar perguntando toda hora?! - Então! Se ele me respondeu três vezes, e, em todas disse que estávamos chegando, é sinal que podemos estar a quilômetros ainda, e, sua resposta será sempre a mesma. – Russo não se deu por vencido, até parando para demonstrar sua indignação. - Você é um idiota mesmo não é Russo?! – Desta vez foi Charles quem se indignou. – Pois saiba que agora é uma ordem, pare de aporrinhar sobre isso, caminhe sem pronunciar mais nenhum comentário. Ao perceber que Charles havia realmente se irritado, Russo resolveu fazer mimicas em tom de brincadeira, para descontrair um pouco, levantou o dedo indicador e começou a fazer sinais que diziam claramente, ou seja, não necessitava dominar nenhuma língua de sinais para saber que ele queria somente fazer um último comentário. Todos pararam ao perceberem que Charles havia também parado e se virado, achavam que ele iria avançar no Russo, lado outro, se intrigaram com a forma paciente que ele respondeu: - Diga... - É porque estamos passando por várias pessoas que conversam entre si sobre algo como uma cidade assombrada, estamos indo para este local? – Tentou justificar sua inquietude. Charles e Arthur se entreolharam, aquele deveria ser o momento. - Você entende nossa língua e dialetos? – Mahesh questionou entusiasmado. Para fúria de Charles Russo não respondeu o pequenino, ficou balançando os dois dedos indicadores em sinal de que pedia permissão para responder. 390 Charles gritou furioso, demonstrando que a paciência anterior era sinal de que ele estava segurando a fúria: - Seu idiota, estamos a caminho de uma missão perigosa, e você faz com que nós percamos tempo fazendo brincadeiras sem graça! Russo sorriu pela forma que recebeu a resposta, há muito tempo não via Charles daquela forma. – Ele também está muito nervoso, posso me preocupar. – Pensou sorrindo, havia conseguido o que queria desde o começo, perceber se a missão era muito perigosa, agora não sabia se sentia alegria por ter sido capaz de descobrir isso, ou tristeza por confirmar suas suspeitas, mais tinha que responder de maneira ponderada, então começou a andar juntamente com os demais, demonstrando que estava de olho em tudo e queria chegar rápido, apesar de naquele momento não querer mais... - Como sou agente de campo, e trabalhei em missões em vários países, fui treinado pela melhor agência de inteligência do mundo, sem querer me vangloriar, a de meu país. – os demais agentes balançaram a cabeça sorrindo com a humildade do companheiro, mais resolveram não interromper para não deixarem o assunto se prolongar ainda mais – Nestes treinamentos tive que apreender desde jovem, ou melhor, desde criança, visto que fui treinado desde os meus sete anos para minha designação militar, a falar ou pelo menos compreender todas às línguas, isto é vital em uma missão. Algumas eu falo inclusive com sotaque, para me misturar, mais na Índia a coisa é um pouco mais complicado, mas consegui entender bem que se trata de algo sobre cidade fantasma. - Rapazes! – gritou Arthur erguendo as mãos. – Quero lhes dizer que nossa missão consiste em pegar um objeto em uma cidade chamada Bhangarh que fica nesta região do Rajastão. Ela é conhecida por lendas e mitos de todas as espécies. Ela é uma cidade abandonada, e isso desperta ainda mais mistérios que a cercam. - E porque este produto estaria nesta cidade? – O questionamento de Russo saiu tímido, como se estivesse ainda raciocinando sobre a situação, ao passo que os demais agentes sequer estavam prestando muita atenção naquela situação, queriam somente um objetivo para cumpri-lo, não queriam questionar e dialogar sobre lendas e mitos da região. - Porque o que estamos atrás é segundo minhas fontes o principal instrumento de todas estas lendas. – Arthur respondeu em tom mais sério, olhando também para os demais agentes. - E no que consiste isto? – Russo agora se estremecia, ele certamente poderia enfrentar uma guerra, mas temia de morte qualquer coisa ligada ao sobrenatural, tudo diante de um acontecimento da infância... - Teremos que encontrar uma espécie de tumba, que segundo minhas pesquisas e de meus homens de campo encontra-se em um local que eu vou lhes conduzir, talvez possam encontrar algo sobrenatural. 391 Os agentes se entreolharam agora assustado, demonstrando, por óbvio, que aquilo estava totalmente fora de seus pensamentos quando embarcaram no avião. - Mais não recebemos um treinamento voltado para isto! Então como poderemos enfrentar algo que nunca tivemos contato antes? – Questionou um dos agentes chamado Michael Scott, um sujeito asiático de aparência anêmica, e, estatura mediana, mais que contrastando sua aparência tinha músculos e perfil muito atlético, mais que até aquele momento não havia aberto a boca para dizer qualquer palavra, o que já era esperado para o mesmo que sempre se comportou assim com os seus colegas, os quais atribuíam este fechamento a sua cultura asiática, mais após tudo aquilo que ouviu parece que não teve como ficar mais calado como tanto praticavam os seus ancestrais. - Vocês foram treinados por todos estes meses, e, ainda, receberam as melhores armas contendo ciência de última geração. – Tentou explicar Arthur. - É mais para enfrentarmos algo sobrenatural deveríamos ter todo um treinamento desenvolvido para este lado. – Michael retrucou, ao passo que todos os agentes ficaram perdidos, eles não poderiam sequer imaginar que aquilo poderia ser realidade, somente Russo que já havia tido sua experiência com o lado sobrenatural, os outros não sabiam sequer o que pensar, assim, somente ficaram concordando com o parceiro, ao passo que alguns balançando as cabeças e outros até extravasando seus nervosismos apenas com estranhos grunhidos de apoio. - Entre vocês tem uma pessoa que entende muito bem sobre o sobrenatural, afinal, ele foi treinado por algo mais do que sobrenatural, se tornou inclusive um padre influente, trabalhando não com uma batina, mais em uma ordem consagrada que trava uma verdadeira guerra contra o mau. Dizem que ele teria se afastado desta ordem para seguir caminhos novos nos Estados Unidos e na Inglaterra na agência liderada por Charles. Contudo, creio que ele de alguma forma misteriosa já estava ciente do destino que as coisas iam tomar, e, assim, somente encontra-se infiltrado, portanto, aguardando não sei se para ajudar ou para bisbilhotar... – Arthur disse mais como um desafio, olhando em todas as direções onde se encontrava um agente e por fim para o céu, o qual já estava iniciando o crepúsculo poente. Após tal afirmação não apenas os agentes ficaram inquietos, olhando cada um para o outro em procura do sujeito que Arthur dissera, ao passo que, até mesmo Charles ficou atônito com aqueles dizeres, nunca poderia imaginar alguém daquela forma em sua agência, assim, decidiu atrapalhar Arthur dizendo: - Como assim há um agente que faz parte de uma ordem secreta que lida com o sobrenatural?! – Ele fazia a pergunta, mais em seu interior exaltava o susto, afinal, aquilo era impossível, ele mesmo se encarregava de vasculhar como um cão faminto por tudo ligado a vida de seus homens, chegando, inclusive a viajar e confirmar várias ramificações antes de aceitar cada agente, e, até mesmo, havia um longo e cansativo estágio probatório. 392 - Em que ordem você trabalhou Michael? – Para espanto de todos foi Russo e não Arthur quem questionou o rapaz. - Como ousa me questionar quanto a isso? E o que lhe diz que eu sou quem este velho está falando, por fim, poderia ser qualquer um! – Bradou o asiático. - Simplesmente porque analisei todos quando o senhor Arthur disse isto, e, o único que não tentou olhar para o parceiro ao lado ou para o resto da equipe para tentar descobrir quem era o sujeito foi você. Ainda, analisei alguns tiques que lhe entregaram, sei de todas as atitudes dos agentes quando mentem ou tentam disfarçar algo, fruto de meus treinamentos, colho estas informações no dia a dia até mesmo sem querer, levado pela prática incessante a qual fui submetido em meu rigoroso treinamento tanto intelectual quanto militar e afins. Em todos fui treinado para desvendar detalhes que poderiam fazer a diferença, e, tenho o desprazer de lhe dizer que não tem escolhas perante minha pessoa, ou diz o que estou lhe perguntando de uma forma pacífica, ou pode ir encomendando seu caixão ou vaso já que vocês preferem serem ali depositados, ou melhor, não preferem, mais são levados a isto pela necessidade de espaço aos vivos que falta em seus países! Há, e, por fim, liguei isso ainda ao fato de que você ao invés de se assustar como todos nós, se entregou ainda mais ao somente dizer que não poderíamos enfrentar o sobrenatural porque não havíamos sido treinados. Ora, como alguém em sã consciência poderia imaginar que poderia haver treinamentos eficazes para isso sem ter algum conhecimento! Todos, inclusive Arthur e Charles ficaram boquiabertos com a atitude de Russo, sabiam que ele era um sujeito estranho e muito bem treinado, mais aquilo demonstrava que ele era excêntrico tanto ou até mais do que Arthur. Por outro lado Michael não se deixou abalar, com seus olhos pequenos e cortantes olhou Russo da cabeça aos pés, e com voz serena respondeu: - Se acha que temo um ser como você Russo pode desistir, porquanto, sei muito bem que você pode ser um dos melhores agentes da empresa de Charles, contudo, sei muito bem que Arthur escolheu está agência mais porquanto sabia que havia nela guardiões já renegados da O.S.S.V. do que pelo poderio bélico ou qualquer outra coisa. - O.S.S.V.?! O que significa isso?! – Dizia Charles que estava quase louco por uma mistura de raiva e ódio por ter sido pego tão de surpresa. - Ordem Secreta Sobrenatural do Vaticano – Foi Arthur que respondeu cheio de convicção, estava realmente certo, a agência de Charles era a correta. – Aquele velho do Frederick tinha razão, ele conseguiu inserir vários agentes renegados da melhor e da mais qualificada ordem sobre sobrenatural do mundo! – conclui por fim somente em pensamento e expressando somente um sorriso. 393 CAPÍTULO 93 Berlim – Alemanha, 1982 No dia seguinte, o doutor adentrou ao quarto de Estela portando um calhamaço de documentos. - E ai doutor, há algo de grave com a minha criança? – Vilalba que estava acariciando os cabelos de Estela que acabará de acordar foi logo questionando. - Não sei muito bem o que dizer Estela, creio que seja melhor conversarmos em particular. – O doutor não se mostrou nada a vontade com a presença no ressinto da senhora, ainda mais com a notícia que tinha para dar. - Seja o que for doutor, pode dizer na frente de Vilalba. Ela é mais do que uma serviçal, é um ente de minha família. – Respondeu Estela afagando a mão calejada da empregada, a qual lhe olhou com ternura, ao passo que a moça notou o brilho estranho em seus olhos, contudo, diante da presença do doutor não deu maior importância para aquele fato. - Se prefere assim. – ele foi quase que ríspido. – Quero primeiramente lhe questionar se você sofre algum abuso por parte de alguém próximo, ou até mesmo de um parente... – O doutor parou subitamente tentando notar algo que pudesse detectar, visto que casos de abusos ele tinha que tentar mais notar por detalhes, visto que as vítimas, principalmente, quando eram afligidas por familiares, por questões óbvias, não se abriam facilmente. - Não doutor, por quê? – Estela responde sem titubear, afinal, havia percebido que o doutor estava analisando-a para talvez reportar as autoridades alguma suspeita que fosse erigida. Assim, raciocinou rapidamente, e chegou à conclusão que seria melhor deixar os assuntos para serem resolvidos no âmbito de sua família, ainda mais diante do fato de que após o que passou, qualquer autoridade iria qualificá-la como louca caso contasse a verdade. - Você então tem uma vida sexual? – O doutor foi mais fundo. Percebendo que Estela estava mentindo mal, Vilalba decidiu ajudar como poderia, mesmo, em tese, nada sabendo a fundo: - Minha menina apesar de estar acamada tinha alguns namoricos, contudo, creio que a intimidade dela deve ser resguardada, até mesmo pelo sigilo médico estou certa doutor? – o médico pego de surpresa balançou a cabeça afirmativamente. – E, ainda, queremos saber a razão destas perguntas, afinal, minha menina já é maior de idade, razão pela qual, sua palavra deve bastar. - Sei disso minha senhora, contudo, os exames apontaram para alguns hematomas estranhos, além do fato de que os últimos exames apresentaram taxas hormonais com elevação, ao passo que, após pedir mais uma bateria de exames, e, promover um estudo clínico mais avançado... – O 394 doutor se perdeu um pouco, estava com a mente um pouco perturbada com o resultado dos exames. Percebendo a deixa diante da pausa Vilalba não tardou a rebater: - Os hematomas ali se encontram porquanto minha menina estava há anos sem andar, razão pela qual, diante da repentina melhora, os tombos foram eminentes. - Até mesmo hematomas com marcas de mãos nos braços, e, vagina esfolada com rupturas de vasos e demais são comuns em alguém que somente voltou a andar misteriosamente? Além disso, estou achando estranha a ausência de seu pai! – O médico quase que foi grosseiro, afinal, estava se irritando, porquanto, sabia que a menina estava escondendo algo, e aquela misteriosa mulher que tinha somente a aparência humilde, mais o raciocínio rápido de uma mulher de negócios, a estava encobrindo nestas mentiras, ou pior, encobrindo outra pessoa... - Não sei doutor o que quer insinuar, contudo, o senhor sabe que o pai de Estela além de ser um homem muito integro, é um dos melhores advogados de toda Alemanha, então, meça bem suas palavras. - Me desculpe, creio que me exaltei um pouco. – o médico disse abaixando a cabeça, afinal, a última coisa que queria era encrenca com o Dr. Pierre. – Isso não vai se repetir, prometo. - Sei de sua preocupação comigo doutor, e sou muito grata por isso e por todos os anos que passamos de tratamentos. Contudo, hoje já sou praticamente uma mulher, e sei me cuidar, apesar de não parecer. – Estela se sentiu mal, afinal, sabia que o doutor somente estava querendo ajudá-la. - O que deu os exames? – Vilalba foi direto novamente ao ponto. - Em suma não consegui descobrir nada de anormal além dos hematomas e danos vaginais descritos antes, porquanto, de resto a estrutura fisiológica encontra-se intacta. Lado outro, somente terá que avisar a seu último namorado que ele será pai. Estela perdeu o chão, seu corpo se petrificou mais do que quando ela estava tetraplégica, chegando ao ponto de adormecer após raciocinar o que o doutor estava daquela forma meio que sútil e ao mesmo tempo sagaz lhe falando. Contudo, estranhamente Vilalba sorriu, e novamente seus olhos brilharam... 395 CAPÍTULO 94 São Paulo – Brasil, 1982 Ao chegarem ao escritório Damião assustou-se, porquanto, Antônio não era de ostentar qualquer grandeza, mais aquela sala ia contra qualquer visão simplista anteriores do amigo. Afinal, o recinto era simplesmente fabuloso, ao passo que os móveis eram todos em madeira maciça, quadros lindos expostos nas paredes, lustres suntuosos, e, para espanto maior, o teto o qual era muito alto era todo pintado, retratando várias passagens da Bíblia. - Sei o que está pensando, mais não fui eu quem fez toda esta porcaria! – Disse Antônio sentando-se em uma enorme poltrona que ele mal podia arrastar, devido ao seu enorme tamanho e peso. - Quando assumi esta diocese, havia aqui um Bispo lunático por brio material! Pregava em suas missas uma coisa, e exercia outras. Esta sala foi toda construída com dinheiro que poderia ser usado para outros fins mais necessários, como compra de alimento ou para alguma instituição de caridade. Contudo, achei que seria também muito desperdício desmanchá-la, já que estava pronta, não tinha motivos para isso. - Onde se encontra atualmente este Bispo? – O questionamento de Damião era obviamente aplicável diante do espanto inicial, afinal, tinha que confessar ao amigo. – Pergunto, porquanto, ele poderia trabalhar em palácios, visto tamanho bom gosto. Antônio o olhou com cara de sarcasmo, dizendo logo após com o mesmo desdém: - Você acreditaria se eu lhe dissesse que onde ele está não tem nada disso?! - Onde? – Indagou Damião agora ainda mais curioso, e, ao mesmo tempo, extremamente espantado com a resposta. - Ele encontra-se atualmente em uma dimensão muito inferior, segundo me foi informado por uma Arcanja. Disseram-me que com seu apego ao materialismo, foi muito difícil retirá-lo desta dimensão, e também ele sabia que não iria para uma melhor que a presente diante de seus feitos! - Faz muito tempo que ele faleceu? - Quando assumi a diocese, há exatamente cinco anos. Ele já estava afastado, o Vaticano descobriu que ele encontrava-se desviando verbas das Igrejas para o governo ditador que se instalou neste País, recebendo em contrapartida vários benefícios em troca, aviões particulares, mulheres, etc... Damião balançou a cabeça negativamente, não havia nada a falar, infelizmente as religiões eram comandadas por homens, que poderiam errar. Contudo, sabia que muita coisa estava melhorando, devido a outros exemplos que vinham de sujeitos simples e humildes da sociedade, os quais certamente 396 tinham consciência de que receberiam seus méritos em outra dimensão mais elevada. - Você deve estar querendo saber por que o Governo ditador está nos vigiando de perto, não estou certo? Damião balançou afirmativamente a cabeça, Antônio prosseguiu calmamente, não queria esquecer-se de nenhum detalhe: - Minha missão era simplesmente ajudar um jovem chamado Bruno. Ele possui uma inteligência incompatível até mesmo para os padrões das almas mais bem evoluídas da nossa chamada dimensão sublime. Ele é capaz de planejar máquinas avançadíssimas, das quais os homens no estágio que estão da evolução, ainda levariam milênios para inventar. Bem como, fontes de energias plenas e inesgotáveis, que os cientistas atuais e de um futuro bem longo somente a vê em obras literárias e em filmes de ficção cientifica. Damião estava até mesmo inclinado para frente na cadeira, sem dizer uma palavra, prestando absoluta atenção ao que lhe era dito. Antônio pensou rapidamente consigo mesmo, que era devida a esta atenção em escutar que levava Damião a ser tão inteligente, ele sabe escutar melhor do que falar, por isto resolveu continuar: - Este jovem é Americano, e atualmente trabalha na CIA, somente para vigiar de perto tudo o que ocorre no mundo. Contudo, sabia que um País não deveria ter tamanho poder. Bem como, mesmo sabendo que as fontes de energias de que dispunham poderiam vir a ajudar várias pessoas em todo mundo, também sabia ao mesmo tempo que se usadas para outros fins, poderiam retirar mais vidas ainda. Por isso minha missão começava ai! Eu tinha que formar uma sociedade que iria financiar todo este conhecimento do jovem, e, ao mesmo tempo, protegê-lo e colocá-lo em prática em local seguro. - Sei. – Foram as únicas palavras ditas por Damião, para alegria de Antônio, que prosseguiu: - Para não corrermos riscos, eu primeiramente formei um conselho religioso, com mestres de todas as religiões, aqueles que somente pensavam no progresso humano. Não tinham necessariamente que pertencerem a uma religião, mais tinham que praticar o bem incondicionalmente. Em segundo momento foi criado um conselho político, com lideres de várias nações, com qualidades idênticas. Em um terceiro momento levantamos o capital com outros membros de um conselho financeiro, e, montamos os planos e financiamos o jovem Bruno, o qual criou sozinho durante mais de dez anos todas as armas. - Armas? – Interrompeu Damião, que agora se apresentava muito assustado com o que estava lhe sendo dito. - Isto mesmo, armas! – Fez uma pausa, e vendo que Damião não mais interrompia, prosseguiu. - Provavelmente haverá uma grande guerra, porque como sabemos Lúcifer e Serfalos estão novamente trabalhando juntos. 397 Damião respondeu somente com um aceno, sabia muito bem do que estava por vir, Miguel havia lhe contado deste risco, e, ainda, ele presenciou no nascimento de Joana a força de Serfalos. - Para não deixarmos pistas, não formamos um grupo para concluir todas as armas, terceirizamos todos os serviços, cada parte foi feita em um canto do mundo, e a montagem de todas elas ficou a cargo do próprio Bruno, o qual também fez sozinho toda à fonte de energia destas armas. - E nenhum chefe de um País desconfiou de que estavam sendo criadas estas armas? – Questionou Damião. - Nosso conselho político era composto de pessoas de extrema confiança, almas evoluídas que encarnaram especificamente para esta missão. O conselho estava presente em todas as potências, e dissecavam qualquer dúvida que por ventura pudesse ocorrer. Além disso, a presença de Bruno na CIA anteriormente a empreitada, era justamente para inserir mecanismos de espionagem tanto naquela agencia quanto em outras, ele com sua inteligência, conseguia, espionar os espiões. - Jovem inteligente mesmo. – Damião respondeu coçando o queixo. - Além disto, a fabricação das armas em nenhum momento geraria suspeitas, eram tão sofisticadas que seus componentes eram tão simples e ao mesmo tempo tão avançado que era impossível para o País que fabricava alguma parte prever que se tratava da parte de uma arma. Bem como, os Países estão mais vigilantes com o enriquecimento de uranio, etc., e a energia desenvolvida por Bruno sequer leva qualquer uranio, sua tecnologia é tão avançada que mesmo se um País tivesse acesso às instalações onde foi processado o desenvolvimento dela, não notariam se tratar de qualquer fonte de energia. Damião estava espantado. Então decidiu finalmente perguntar: Mas como este homem pode saber tanto? - Na dimensão superior não me foi explicado isto, mas dizem que ele é uma alma avançadíssima para o conhecimento e desenvolvimento da matéria em todos os sentidos. Segundo a Arcanja Juventis, ela tomou conhecimento que ele parece vir de uma civilização em uma dimensão material anexa a presente dimensão terrestre, que possui ainda uma dimensão imaterial desconhecida, que segundo ela pôde perceber, somente os membros do conselho supremo tinham tido acesso a ela. Damião estava ainda mais espantado, aquilo era novo para ele, nunca havia tido notícia de dimensões materiais existentes perto da dimensão terrestre, aquilo era fabuloso, e explicava algumas dúvidas que ele tinha, mas não queria prolongar o assunto, assim, somente questionou: - Mas como fizeram para esconder estas armas? Antônio olhou para Damião seriamente, dizendo: - Elas estão em um local muito estratégico, somente algumas almas tem conhecimento de sua 398 localização, nem mesmo o conselho religioso ou político sabem de seu paradeiro, porquanto, sabedores de que estávamos encarnados, poderíamos mesmo contra nossa vontade de alguma forma dizer algo a mais e elas caírem em mãos erradas... - Mas como saberemos delas no momento em que precisarmos? – Questionou Damião. - Não pretendemos precisar delas algum dia, mas os membros do Conselho Supremo nos disseram que quando chegasse a hora, e se fosse realmente preciso, elas seriam então localizadas. Damião sentiu um pouco de alívio, parecia que tudo estava indo bem, queria acreditar que nunca precisariam utilizá-las, mas sabia que seu pensamento era mais uma utopia diante da forma que percebeu que Serfalos estava agindo, e, ainda mais pelo seu enorme poder. - Em pouco tempo vou retornar a dimensão sublime, e não sei o que você vai enfrentar aqui, porque vou ter que me reunir novamente com o Conselho Supremo, e talvez vão me enviar para uma missão em um lugar muito distante, assim, você terá que assumir meu lugar não apenas nesta instituição, mais perante o conselho formado, e, principalmente nos cuidados com Marcos. - Como está ele? – Damião quase saltitou da cadeira de alegria por ouvir sobre o pequeno. - Segundo informações está bem, me disseram que perceberam foi à presença do traidor rondando os lugares que ele frequentava. Damião sabia que o Senhor da Luz deveria estar cuidando do pequeno, mas como não sabia da relação de Antônio com ele, decidiu que era melhor deixar tudo para lá, afinal, se ele havia dito traidor então era melhor não aprofundar no assunto, somente rebateu: - Mais ele está respeitando limites, certo? - Sim! Segundo os Arcanjos ele mantem distância, mais me intriga é ele estar sempre presente nos principais acontecimentos. - Somente saberemos de suas reais intenções ao final. Bem como, como nos foi ordenado pelo mestre, é para deixar ele em paz, porquanto, o criador sabe o que faz, por isso temos que confiar que nada é por acaso. - Estava com saudades deste seu otimismo. – Antônio respondeu com um sorriso de alegria. - Até eu meu amigo estava com saudades deste meu otimismo, lhe confesso que após os últimos acontecimentos, estava um pouco receoso sobre o nosso poder de revidar o que estava por vir, contudo, após o que me disse, estou um pouco melhor. Somente, um pouco, mas estou! 399 CAPÍTULO 95 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 Charles andava de um lado a outro com a mão direita na testa. Isto não está acontecendo! – Ele dizia para si mesmo. – Frederick vai ficar muito decepcionado comigo! - Acalme-se chefe, o velho Frederick já tem conhecimento de nossa existência dentro de sua agência, como Arthur também tinha. – Michael disse demonstrando sua calma de sempre. Mahesh sorriu, afinal, não era todos os dias que ele tinha a oportunidade de presenciar uma discussão como aquela, no máximo em sua vila ele apaziguava brigas entre casais por causa de traição e afins. Mais mesmo gostando, tinham que seguir em frente, então resolveu intervir: - Desculpe homens, mas é porque temos que adentrar antes do anoitecer, do contrário não conseguiremos. - Você está certo meu pequeno amigo. – Arthur disse também demonstrando sua calma. – E olhem bem meus homens! Hoje vocês não fazem mais parte de agencias e ordens, fazem parte de minha equipe. Então, pouco importa de onde vieram, visto que são agora irmãos. Portanto, temos que unir a habilidade de cada um para formarmos a melhor equipe sobre o assunto, porquanto, para lidar com o sobrenatural teremos que lidar em várias das vezes com coisas mais do que naturais em nosso cotidiano. Assim, todos terão que desempenhar uma função, mas lembre-se, nunca se esquecendo de que são liderados por Charles! Então seu dedo indicador foi alçado em direção a Charles que ouvia tudo, mais ainda estava assimilando toda a situação. E o velho arrebatou: – É verdade que escolhi a agência de Charles não porque ela tinha agentes renegados da O.S.S.V., mas porque ela tinha algo que nenhuma outra tinha, consistente em agentes experientes em vários setores, inclusive, diretamente com o sobrenatural, com o qual até Russo tem uma certa familiaridade! – Terminou olhando para Russo que se assustou com a afirmação, afinal, nunca poderia crer que o velho também soubesse o seu segredo. Eles começaram novamente a andar, realmente já estava bem próximo de escurecer, e agora apertavam o passo. - O senhor acha que já estamos próximos senhor Mahesh. – Novamente foi Russo que impaciente questionou. Mahesh o olhou com um sorriso, e para alivio de Russo que já estava inclusive se coçando em razão daqueles trapos que Arthur havia levado, o pequeno sujeito alçou o dedo indicador, quando todos olharam já puderam ver algumas ruinas da estranha cidade abandonada. 400 - Mais tem pessoas lá! – Foi George, um dos agentes que mais riam daquela situação que afirmou, da mesma forma como sempre sorrindo. - São turistas. – Respondeu Arthur secamente, ele olhava para a cidade como se fosse um monstro que estivesse a sua frente. - Turistas?! – George chegou a gritar, ao passo que recebeu um olhar frio e penetrante de Arthur que o fizeram quase que congelar. – Desculpe, somente achei estranho alguém querer vir para um lugar como este. - O homem é movido por aquilo que não compreende meu caro George, aquilo que lhe intriga é o que lhe movimenta. Se fosse o contrário ainda estaríamos divididos, porquanto, no início eram poucos que se arriscavam a cruzar o horizonte para se aventurar. As pessoas não queriam morar aqui, isto é o principal mistério, e, é o que atrai o público cativo por isso. – o velho Arthur explicou apontando ainda para as ruínas. – Pense naquele local como o seu e nosso horizonte, que devemos cruzar independente do que vamos descobrir hoje! - Acho que devemos deixar os animais assim que adentrarmos na cidade. Fiz uma busca aqui quando o senhor disse a localização. – Mahesh dizia olhando somente para Arthur, como se ninguém mais estivesse ali. – Vamos nos esconder em um local que acho que estará tranquilo para esperarmos até o horário certo para seguirmos para o ponto designado que o senhor recebeu como informação de que a relíquia encontra-se. - Certo vamos! – Arthur já seguiu andando, sendo seguido pelos outros. Naquele momento nenhum dos agentes quiseram dizer mais nada, porquanto, estavam todos perdidos em seus pensamentos, inclusive Charles que pensava e muito sobre a tal de O.S.S.V., que não lhe saia da cabeça. ****** Após muito tempo de espera no local designado por Mahesh, Arthur que desde que todos chegaram naquele local ainda não havia tirado os olhos da lua. - O que o senhor observa tanto. – Charles questionou Arthur com um sussurro, não queria atrapalhar nada. - Segundo minha fonte, está seria a noite certa, e a localização da lua funcionária como um relógio, quando ela passar aquela estrela será o horário. - Quem lhe disse isso? – Charles novamente se mostrou extremamente curioso, ao passo que Arthur admirava aquilo, contudo, não estava muito para conversas. - Não posso lhe falar? – A resposta foi seca. - Certo, também protejo minhas fontes. – Charles sorriu, sabia que ele não queria dizer por causa de proteção de fontes, mas simplesmente 401 porque queria manter silêncio. Lado outro, ele queria mesmo era saber porque aquela noite e o que aquela criatura sobrenatural iria fazer, assim, tomou coragem e questionou. – Porque está noite? E o que este ser sobrenatural poderá fazer? - Você é chato mesmo em Charles?! – a resposta veio mais em tom de descrença do que de nervosismo. – Mais vou matar um pouco de sua curiosidade, afinal, temos ainda alguns minutos. Dizem que a criatura que estamos prestes a enfrentar possui um tempo de hibernação de anos, assim, ela fica sempre vigiando o tesouro, contudo, dormindo. O local exato é indecifrável, razão pela qual, temos que percorrer o perímetro no horário indicado, porquanto, segundo consta somente nesta noite ela acordará e sairá para se alimentar, após teríamos ou que aguardar por anos, ou vasculhar tudo com escavações, o que é impossível neste local. - Como tem certeza que a informação é confiável? – Charles agora estava um pouco mais nervoso, afinal, a criatura iria sair para se alimentar, então por óbvio ela estaria muito faminta, podendo, inclusive devorá-los caso fosse um ser canibal. - Não dá para confiar muito quando o assunto é o sobrenatural, muitas vezes eu perco muito dinheiro em expedições que não dão em nada. Contudo, temos sempre que vasculhar e seguir as pistas. Neste caso, minha equipe após receber a informação estudou o local, e, percebeu que em uma sequência exata de cinco anos havia várias denúncias de mortes e desaparecidos na região, e, segundo consta o governo tentou encobrir as mesmas, porquanto, eram, segundo informações: “mortes estranhamente medonhas, como se fossem feitas por feras pré-históricas.”, minha equipe cruzou todas as informações e descobriu que a sequencia batia com a data da informação, assim, podemos dar maior credibilidade a fonte. - Nossa, isso é realmente incrível. – Charles estava boquiaberto. - Sim, é bem incrível, agora fique calado, porquanto, chegou a hora. – levantou-se rapidamente dando a ordem: - Vamos homens, está no horário! Achei que ele estivesse contemplando a lua pela forma que olhava para a mesma. – Pensou George deixando mais uma vez escapar um sorriso, realmente ele não tinha pensamentos ruins, estava sempre sorrindo de alguma coisa, e, mesmo que a situação fosse alarmante ele dava um jeito de encontrar graça, mesmo que somente para si mesmo para alegrar sua existência. Eles andavam por um beco escuro e até que de certo modo malcheiroso, era como se Charles estivesse entrando em um cemitério onde os cadáveres ficavam expostos ao ar livre apodrecendo pouco a pouco. - Arthur, o senhor está ai atrás? – Perguntou ele querendo mais é ouvir uma voz para acalentar seu total temor com aquele local. - Não! Estou lá na Inglaterra. – A resposta veio em tom de ironia e deboche, afinal, Arthur percebeu o medo do jovem. 402 Será que este velho não tem medo de nada? – Pensou Charles. Os demais agentes seguiam na frente, abrindo caminho com as armas com miras a laser, as quais cintilavam na escuridão, menos George que disse sorrindo e brincalhão como sempre que iria proteger a retaguarda. No início Arthur até pensou em dizer que era para ele deixar de ser medroso e ir para frente junto aos outros, contudo, após ver que ele estava realmente olhando e fiscalizando tudo à medida que eles andavam, mudou de ideia. – Afinal você até que pensa muito bem meu caro George. – Disse sorrindo para ele, realmente aquilo fazia sentido, enfim, ele sabia onde era o local que iriam adentrar, contudo, aquele lugar não era nada confiável. E o cheiro ruim já dizia tudo, aquela noite era realmente a que ele tanto ansiava, a noite escolhida, onde a besta estaria ali presente aguardando... Mahesh estranhamente andava com eles, ele não tinha arma, nada, somente seguia com sua coragem ao fundo. - Mahesh, você não tem medo de estar neste local sem nada? – George que estava próximo a ele questionou com um cochicho, tentando puxar papo para descontrair, mais nunca retirando os olhos do que ocorria a sua volta, sua arma e as miras não paravam de se mover. - Mais quem lhe disse que não estou protegido?! – O pequeno homem respondeu exibindo uma estranha pulseira. – Isto é um Kavacha. George sorriu não respondendo, mais um pensamento não lhe saiu da cabeça: Este pequeno homem é mais louco do que Arthur, vir para um lugar destes com uma pulseirinha é hilário! - Parece que estamos no meio de um cemitério... – Charles reclamou novamente com um cochicho para Arthur. - Você está certo Charles. – interrompeu Arthur para responder o óbvio, e ainda advertir. – Estamos em um total cemitério, não tenho tempo de lhe contar a verdadeira história deste lugar, mais tenho que lhe dizer que como é a sua primeira expedição ao meu lado, vejo que você está parecendo um mariquinha, então, pelo amor de Deus fique mais calado. - É porque eu nunca havia enfrentado coisas sobrenaturais, creio que isto é totalmente fora do contexto que sempre idealizei. – Tentou justificarse sussurrando. - Pois saiba que eles são melhores do que os homens, não jogam bombas, não plantam minas terrestres, e, ainda, em sua grande maioria gostam de lutar dignamente. – Respondeu Arthur diretamente, como quem tinha grande experiência em lidar com o sobrenatural. - Mas o que você acha que vão proteger estes objetos que o senhor sequer ainda nos contou? – Tornou a questionar Charles como uma criança. 403 - Sei lá, pode ser um cão do inferno, um demônio, um Deus mitológico, um homem ou um exército possuído, entre tantas e tantas outras possibilidades. – Ele colocou o dedo indicador na boca – Agora vamos manter o silêncio. Correto? Creio que estamos próximos! - Certo, mas somente me responda mais uma coisa! O senhor já enfrentou algum destes? – Charles era realmente insistente. - Lógico, somente estava dando exemplos reais pelos quais já enfrentei. – Arthur respondeu tão baixo que era ínfimo até para um sussurro. - Porque está falando tão mais baixo? - Porque creio que estamos não apenas próximos, mais já sendo observados... - Como sabe?... – Questionou Charles agora também sussurrando baixinho. - Porque estava percebendo algo, agora estou vendo algo... Antes mesmos de terminar de falar, escutaram um pequeno e suave sussurro, ao passo que os homens pararam assustados projetando as miras a laser em direção do local que pensavam vir o cicio. - Retirem a mira a laser rápido! – Gritou Arthur. – Mahesh está ai? – Ele se preocupou com o pequeno. - Não, quando percebi que o pequenino estava somente com uma pulseirinha, e, parecia animado para lutar, dei uma pequena pancada em sua cabeça, e coloquei-o para dormir, ele já ficou e muito para trás. – Respondeu George como sempre sorrindo. Credo, nunca pensei que George com este jeito meio que brincalhão tivesse capacidade para tomar decisões e as executar sem mesmo se reportar aos superiores. Isso no futuro poderá ser um problema. Contudo, hoje foi uma solução, afinal, nunca esperava que o ser estivesse já tão próximo! – Arthur pensou. Porém, assim que os agentes desativaram as miras perceberam que já era muito tarde, porquanto, já viram uma bola de fogo se formando mais a frente, e, em questão de segundo foi lançada em direção a eles. – Rápido, usem os escudos! – Tornou Arthur a gritar, ao passo que todos os agentes retiraram os evoluídos itens, Charles sentiu que seu coração iria saltar, estando muito feliz pelo fato de Arthur ter tomado a frente, afinal, estava com muito medo para assim fazê-lo... 404 CAPÍTULO 96 Berlim – Alemanha, 1982 O doutor saiu do quarto estarrecido, e um pensamento não saia de sua cabeça: Quem teria abusado da menina Estela?... Contudo, preferia manter distância de problemas com o Dr. Pierre, e, ainda, tinha o fato de que Estela parecia que necessitava mais de silêncio para resolver seus problemas do que ficar com a polícia e seu cumprimento frio da lei ao seu lado. Tenho que tomar cuidado, vou analisar estes documentos e destruir as evidências de abuso, após isso tudo estará resolvido. Mesmo que algum superior por uma infelicidade checar os mesmos não encontrará qualquer fato atinente a esta minha omissão. – Concluiu ele em seus pensamentos, não sabendo que algo muito sinistro estava naquele exato momento ao seu lado sussurrando em seu ouvido lhe induzindo a está atitude. O ser ao seu lado era medonho, seu odor fétido não era sentido pelo doutor, que mesmo que lhe escutasse não poderia perceber a presença do demônio ali dizendo e dizendo: - Deixe de ser bobo, você seria capaz de arriscar sua carreira para salvaguardar uma pirralha que não quer ser ajudada? Além disso, deve temer o pai dela, ele acabaria com tudo que você tem caso suas suspeitas não fossem confirmadas! Bem como... – O ser sussurrava e sussurrava, e o doutor seguiu andando pelo corredor cada vez mais convencido de que estava fazendo a escolha mais sensata. No quarto Estela não havia se recuperado do baque. Nem em seus piores pensamentos poderia imaginar um resultado como aquele! - Minha menina, fique calma, vamos resolver isso. – Vilalba tentou confortá-la, ainda acariciando suas mãos. - Como assim resolver?... Saiba que mesmo não querendo esta criança sou totalmente contra o aborto! Não consigo imaginar retirar uma vida inocente que nada tem de culpa em tudo isso. – Estela foi categórica. - Desculpe criança, mas não quis dizer isso. Também sou contra o aborto! Disse que iremos resolver tudo com o seu pai. Estela suspirou com cara de nojo. Somente de pensar em seu pai seu estomago revirava. - Ele não vai ser o problema. – Ela respondeu categórica. - Sim, ele realmente não será o problema! – Concluiu a empregada com um misterioso sorriso, e, quando Estela a olhou percebeu novamente o estranho brilho prateado em seu olhar, contudo, atribuiu aquilo tudo ao seu cansaço, infelizmente... 405 CAPÍTULO 97 Brasília – Brasil, 1982 A mãe e pai de Marcos estavam finalmente saindo pela primeira vez com o pequeno nos braços para um passeio, porquanto, após passarem dias de internação no hospital, devido às complicações no parto, e, aos tristes acontecimentos, tanto mãe quanto filho tiveram que permanecerem internados recebendo cuidados constantes. Portanto, de forma paranóica, resolveram que somente iriam sair com o frágil pequeno após o mesmo passar uma grande temporada somente em casa. Aquele dia era especial, aniversario da mãe, onde concluíram que o pequeno já estaria pronto para enfrentar os agentes biológicos presentes no ar. Fruto da cabeça de pais de primeira viagem e que ainda por cima passaram por traumas no parto, visto que, para qualquer pessoa sensata concluiria que existe perigo em toda parte, inclusive, dentro de casa. - Verônica, você realmente acha que ele já está forte o bastante? – Se preocupou o pai do pequeno. - Não se preocupe meu caro Saulo, ele já está mais do que forte, nem parece que teve nascimento prematuro. - Concordo com você, contudo, o receio me persegue, afinal, vocês são os meus maiores tesouros. – Respondeu o esposo com ternura, acariciando o rosto de sua amada. Após um passeio na praça próximo à residência, onde tomaram sorvete, uma dúvida alçou, consistente no fato se poderiam se arriscar em passar pequenas quantidades na boca do pequeno para ele experimentar a delicia, concluíram que seria melhor arriscar, ao passo que Marcos soltou gritos de alegria quando sentiu o sorvete tocar em sua boca, sorrindo ainda mais após sorver o creme. Após muita descontração já estavam se preparando para retornar para a residência, quando Saulo avistou um restaurante tendo uma ideia repentina: - Meu bem, não acho certo você cozinhar no dia de seu aniversário. O que acha de irmos comer naquele restaurante novo? – Disse apontando para um elegante e requintado restaurante. - Não sei meu bem, ele parece ser muito caro, e, diante da nossa atual condição creio ser melhor economizar. – A mulher ponderou, visto que realmente não estavam passando por tempos de vacas gordas, e, às dificuldades aumentaram muito após o nascimento do infante. - Certo meu bem, você tem razão, melhor não arriscarmos, afinal, terei vergonha caso adentrarmos e eu não tenha condições de pagar, até se for barato poderá fazer falta. – Acatou Saulo com os ombros caídos, se sentia humilhado por não conseguir pagar um momento de descontração para sua esposa que tanto lhe ajudava. 406 - Meus filhos, posso lhes fazer uma proposta? – Disse um velhinho que estava sentado em um banco próximo, e, por óbvio havia escutado toda conversa. O senhor vestia uma elegante roupa social com um colete em lã, em sua cabeça uma boina para proteção do sol, sendo branco como leite, com olhos amendoados pelas rugas, e óculos em estilo tartaruga. - Claro meu senhor, o que o senhor necessita? - Respondeu Saulo com um sorriso carismático e de solidariedade, visto que pensou que o senhor queria ajuda para se levantar ou algo assim. - Estou ao mesmo tempo com o mesmo problema que vocês! Contudo, em uma posição um pouco diferente. – A resposta veio em tom alegre soando quase como um enigma. - Como assim? – Verônica e Saulo questionaram quase que em uníssono, já se encontravam em frente ao senhor, ao passo que Saulo segurava o pequeno Marcos no colo. - Eu queria tanto ir naquele restaurante... – A resposta do senhor veio e terminou de maneira pausada, como se ele estivesse a se deliciar com o pensamento de ali comer. - É meu senhor, ele parece ter uma comida muito gostosa. Apesar disso, conforme o senhor deve ter ouvido, não temos condições também para ali comermos, até podemos, contudo, não devemos. – A resposta de Verônica soava como se fosse uma explicação a um mendigo, das razões que eles não poderiam ajudar. – Mais quem sabe um dia tenhamos condições, e rezarei para que o senhor tenha também condições algum dia. - Mais vocês não deixaram eu terminar. – O velho respondeu com um sorriso. - Me desculpe senhor, não percebi que ainda tinha algo a concluir, me desculpe mesmo, não foi minha intenção. – Verônica falava e gesticulava com os braços tentando expressar sua vergonha. - Não se preocupe minha filha, somente por me dar atenção já faz mais do que meus netos! Além disso, sei que não fez por mal, a culpa é minha pela forma pausada que falo. Mais queira me perdoar, afinal, isso é fruto da idade e de uma mente cansada. – ele respondia também gesticulando com as mãos para ela não se preocupar. – Como ia dizendo, meu problema é o mesmo só que em vias diferentes, porquanto, eu queria tanto comer naquele restaurante, no entanto, tenho muito dinheiro para isso, mais nenhum ente querido para me fazer companhia... – fez uma pausa pensativo, como se aquele sentimento lhe consumisse. – Assim, se me dessem a honra de comemorar o aniversário com vocês ficaria muito feliz de pagar por tudo. Verônica e Saulo estavam boquiabertos, porquanto, nunca esperavam por aquela resposta, assim, não tinham palavras para responder devido terem sido pegos de surpresa. 407 Percebendo isso o senhor decidiu intervir: - Vou aceitar esta surpresa como um sim. – E já foi se levantando. - Mais meu senhor, não queríamos lhe incomodar. – Tentou se justificar Saulo. O senhor que já estava de pé olhou bem no fundo dos olhos de Saulo, após, nos de Verônica, respondendo de uma maneira ao mesmo tempo estranha que lhes tocou o coração: - A terra é somente um átomo de um corpo maior, e somos partes vivas deste corpo, como elementos indispensáveis para a sobrevivência deste ser superior. Ele cuida de nós assim como nós cuidamos de nosso corpo para não ficarmos doentes. E, neste tom de ajuda mútua, devemos somar forças para ajudarmos os próximos e sermos ajudados ao mesmo tempo. Assim, se aceitarem meu convite, estarão comemorando esta data especial de vossa família, e, ainda, me dando a oportunidade de por um pequeno momento voltar a ter uma família, porquanto, perdi minha esposa recentemente, e, meu único filho mora distante, ao passo que, meu neto encontra-se em outro País. Assim, tenho muito dinheiro, e poucos entes queridos para compartilhar tal riqueza. Bem como, sinto nesta família algo diferente, assim, se me derem este prazer ficarei muito feliz. Saulo e Verônica ficaram extremante felizes, seguiram para o restaurante com o estranho senhor, e passaram com o pequeno Marcos uma tarde inesquecível, talvez por ter sido a última... 408 CAPÍTULO 98 Porto de Le Havre - França, 1982 A mulher se insinuava para o executivo. Ela queria não apenas o homem, mas a posição de sua esposa. Ansiava por tomar tudo o que a mulher dele tinha. Foi quando o Senhor da Luz adentrou o recinto, havia acabado de resolver alguns assuntos pendentes no porto após a partida de Damião, e nestes dias de estada naquele porto havia visto várias coisas. Contudo, o que estava presenciando e ao perceber as intenções da secretária ao executivo, resolveu ajudar, afinal, ele sabia mais do que ninguém de que necessitava fazer o bem para exercitar o seu lado humano, o qual ainda estava estilhaçado. Estava na forma desmaterializada, portanto, para não se materializar repentinamente à frente da moça e matá-la de susto, fez o que sempre fazia quando queria ser notado, adentrou em um recinto onde não havia ninguém, e, após se materializar saiu como se já estivesse lá. Vou manter somente minhas vestes, afinal vi nestes dias aqui no porto que há pessoas de várias nações, e, por conseguinte, vestimentas diversas. Assim, prefiro permanecer desta forma. Tem ainda o fato de ficar mais a vontade, fim mais que buscado por assim ainda me trajar. – Pensou ele antes de sair do recinto ermo para seguir em direção à moça. - No que pensa minha senhora? – Questionou para a mulher que mesmo não tendo visto a materialização se assustou com aquela figura a sua frente. Afinal, não era todo dia que ela via um homem vestido com túnica branca no escritório, já havia visto muitos executivos internacionais de países do oriente médio com aquelas túnicas, mas aquele homem era diferente. - Não estou pensando em nada meu senhor. Mas em que posso ajudá-lo? - A dissimulação em sua expressão é algo fascinante, não acha? - Não entendo o que está dizendo... – Respondeu a garota fingindo um desentendimento em relação aos seus pensamentos, mas, realmente, não compreendendo as reais intenções daquele homem. - Percebi que você olhava para aquele homem, e sei o que pretende fazer, contudo, lhe advirto para não seguir em frente. A secretária ficou pasma. Será que realmente este estranho homem sabe o que estou prestes a fazer?! – Pensou. - Ainda não lhe entendo. – Ela decidiu após a perca de tempo em seu raciocínio responder secamente. 409 - Não estou aqui para lhe dar um sermão, mas quero que saiba que seduzindo aquele homem estará acabando com uma família. A resposta pegou a mulher de surpresa. Como é possível este homem saber disso? – Refletiu. Contudo, a resposta estava pronta: - Se quer saber, não sou nenhuma pervertida meu senhor. Sou uma pessoa boa, que trabalho ordinariamente para pagar minhas contas. E com relação à família daquele homem, saiba que a mulher dele é uma perua metida que sequer cumprimenta qualquer pessoa que com ele trabalha, se sente a maioral, e sempre se encontra posando de a mais linda e gostosa do pedaço, quando, na realidade, é uma pessoa podre. Assim, tenho certeza que ele merece coisa melhor. Por isto, estarei fazendo um favor para ele. O senhor da luz deu um sorriso, realmente havia sido guiado para ajudar, porquanto, a menina estava realmente crente que estaria com aquele ato tenebroso fazendo um bem, não sabendo das consequências. - Não quero criticar suas intenções, e, nem de longe sua pessoa. Somente quero que entenda que o que pretende fazer não é o correto. - Mas mesmo após lhe dizer isto tudo, você ainda não se convence? - Você sabia que assim o fazendo, você estará destruindo a vida não desta mulher, mas de duas menininhas inocentes? - Como assim? É esta perua que vai perder o marido para mim. - Sim, ela vai perder o marido, mas em breve vai arrumar um namorado ou coisa qualquer, sua vida não vai mudar tão cedo. Contudo, suas filhas vão perder o pai e até mesmo coisa pior... - Mas ele somente vai largar da mãe delas, não vou nunca privar que visite elas e que tenha contado com as mesmas. - Sei disso também. Contudo, vou lhe fazer um favor, vou lhe mostrar o que ocorrerá quando eles se divorciarem. Nisto o senhor da luz tocou com a ponta dos dedos na testa da mulher, colocando um poder de visão de um eventual futuro que ocorreria caso ocorresse aquela escolha, afinal, nosso futuro não se encontra predefinido, já que temos escolhas, mas para tudo na vida é possível antecipar as escolhas que a pessoa está para tomar, ou melhor dizendo, os caminhos que seguirá, assim, visões são somente de escolhas que podem ocorrer, podendo mudar dependendo do ato final de escolha da pessoa ou grupo. Em segundos a secretária começou a ver tudo embaçado, contudo, como se estivesse em um sonho, começou a ver novamente, lado outro, daquele momento em diante, somente estava vendo, nada ouvia, viu primeiramente o executivo discutindo com sua esposa em uma sala suntuosa, 410 ele grita e sai do recinto, ao passo que a mulher sentasse, uma lágrima escorre por seu rosto frio e calculista. A visão agora se encontra em um quarto onde se localiza duas garotinhas de aproximadamente sete e dez anos, o executivo aparece, provavelmente logo após a discussão com a mulher, porquanto, estava com a mesma roupa, conversa com elas e deixa o quarto momentos após. As garotinhas choram muito, e se consolam uma a outra. Uma lágrima já começa a escorrer pelo rosto da secretária ao ver aquela cena. A visão fica novamente turva, e o senhor da luz lhe fala: - Agora vamos adiantar mais ainda as coisas! Na primeira cena que vê a secretária, ela não acreditou, estava novamente no quarto das duas garotinhas, contudo, parecia ser noite, e um homem estranho estava parado observando as meninas dormirem. Ele chega bem perto e começa a acariciar a mais velha ainda dormindo, descendo até as suas genitálias. A secretaria tenta fechar os olhos ao ver aquela cena horrível, mas não era possível, aquilo era uma visão avançada de um futuro eventual, portanto, por óbvio não estava ocorrendo através de seus olhos. Percebendo que já estava terminado seu trabalho o senhor da luz estalou os dedos trazendo a secretária de volta. - Isto é o que ocorrerá quando eu tentar se aproximar daquele homem? – Indagou a secretária ainda perplexa. - Sim minha querida, quando tomamos uma escolha, acreditamos que estamos ferindo somente os responsáveis diretos, lado outro, estamos ferindo muitos outros, e, ainda, a nós mesmos. A secretária ficou imóvel, até mesmo sua expressão havia mudado, estava raciocinando tudo com mais clareza a partir daquele momento. O senhor da luz saiu do escritório sorrindo, certo de que havia feito um excelente trabalho, desceu a rua e se dirigiu para uma viela erma aonde iria se tele transportar para a Alemanha, onde queria analisar, por certo, somente ao longe, como estavam às coisas com a jovem Estela que carregava sem saber o filho das trevas em seu útero. Contudo, antes mesmo de iniciar os trabalhos, sentiu algo se movendo lentamente atrás de si. Será que fui seguido? Mas quem? Será que Xotono ou Serfalos se anteciparam e agora eles é que estão me casando? – Tais perguntas perpetraram por sua mente em questão de segundos, justamente pelos poucos segundos que dispunha antes de ter que se abaixar para fugir de uma curiosa linha brilhante que passou próximo a sua cabeça, mais um pensamento e certamente estaria sem cabeça. Após desviar-se o senhor da luz pulou ao chão, virando-se rapidamente para avistar seu oponente, tomando um susto ao nada ver, sendo novamente surpreendido pela linha agora passando próximo a sua perna, e, ao 411 desviar-se, um pedaço de seu tecido foi desintegrado pela mesma, aquilo o assustou ainda mais. - Quem é você? Apareça seu covarde! – Gritou enfrentando com coragem seu oponente, mas se assustando ao ouvir a resposta vinda de uma fina voz feminina: - Desculpe-me meu caro vulgo atualmente senhor da luz. Mas creio que você se encontra tão acostumado a lutar com homens que menospreza um ser feminino até mesmo como um oponente... Não pode ser, será mesmo uma delas? – questionou em pensamento esfriando-se todo o seu ser, porquanto, se aquela voz viesse do ser que ele estava pensando estaria certamente aniquilado em pouco tempo... - Agora sei quem você é, uma senhora do tempo... – Tentou enfatizar na tentativa desesperada de ganhar, curiosamente, para sua tristeza, exatamente mais tempo... - Tenho que admitir que você é veloz, mas como sabe, somente deixei você sobreviver até agora, porque não gosto de aniquilar meus oponentes quando estão indefesos. – A voz respondeu ainda sem se mostrar. - Porque não se mostra? Está com medo de que eu seja ainda mais rápido do que pensa? - Como sabe meu caro senhor, não adianta rapidez contra mim, afinal, uma tecelã do tempo sabe exatamente quais escolhas, ou, como gosto de dizer, quais fios todos vão escolher para que eu possa tecer sua vida... – Ela novamente respondeu sem se mostrar, e a voz parecia vir do nada, não tinha direção. - Assim, sempre estarei à frente de você em qualquer de uma de suas escolhas... O senhor da luz sabia muito bem o que tinha feito para estar prestes a ser aniquilado por uma tecelã do tempo, nunca havia visto uma, enfim, eram seres raros de encontrar-se. O último relato de uma havia surgido na Alemanha, onde dizem que um poderoso ser do bem tentou influenciar as escolhas de Hitler, ele queria ajudar a salvar vidas, mas dizem que foi aniquilado por uma senhora do tempo. Na essência o que fazia uma senhora do tempo era cumprir um mandamento básico do universo que consistia que nenhum ser imaterial poderia influenciar no mundo material de qualquer forma, sob pena de ser imediatamente aniquilado por uma destas guardiãs do destino dos seres materiais, os quais, pela lei também universal teriam o direito de tomar suas decisões baseados em seu livre arbítrio. Contudo, o Conselho Supremo, após a formação atual baseada no amor mútuo, entendeu que as funções destes seres teriam que sofrer modificações, visto que o aniquilamento imediato era algo muito cruel e primitivo, bem como, retirava do ser influenciador um direito básico universal que consistia na ampla defesa. 412 O senhor da luz tinha tomado conhecimento que alguns destes seres não aceitou muito bem tal redução de suas deliberações, as quais julgavam serem originadas dos criadores e eram vitais desde os tempos primitivos mantendo a ordem. Lado outro, os opositores a este regime venceram, não apenas pautados no amor e princípios da ampla defesa, etc., mas principalmente em denúncias de que referidos seres estariam agindo de forma autoritária e sem medir as consequências. Assim, as senhoras do destino passaram a agir somente em casos estremos de influências que poderiam gerar transformações em uma grande massa de seres, como no caso de Hitler, onde mesmo querendo fazer o bem, o ser influenciador não poderia agir, visto que poderia de alguma forma fazer mais mal ainda, porquanto, estaria mudando a ordem do destino de milhares de pessoas, o que poderia ter consequências catastróficas. Em regra o senhor da luz defendia em seu íntimo a influência destes seres, afinal, não havia nada pior do que influência e alteração do livre arbítrio dos seres, se assim persistisse atualmente o mundo material estaria um caos. - Mas eu não mudei o destino daquela mulher, eu somente tentei convencê-la a tomar uma decisão correta, não é isto que um amigo faz? – Tentou se defender o senhor da luz, ao ver que aquele ser estava partindo logo para o aniquilamento ao invés de levá-lo a um julgamento. Não entendia os motivos, afinal, não havia, em sua concepção, influenciado nenhuma pessoa capaz de mudar o destino de várias pessoas, e, além disso, realmente ele havia dado uma escolha à mulher. - Um amigo aconselha verbalmente, e deixa para o ser material decidir qual caminho tomar, não usa de poderes sobrenaturais para levar a pessoa a uma decisão, isto é influencia grave, visto que você utilizou nas imagens um dos destinos, o qual se deve dizer que ela poderia não utilizar, para praticar um ato que você tenta dizer que é bondoso, mas que feriu toda uma cadeia de livre arbítrio. Isso porque quem em sã consciência que tivesse uma visão daquele futuro não o abandonaria. – A voz ecoou por todos os cantos na mente do senhor da luz. Este ser realmente tem razão! – Concluiu o senhor da luz se assustando quando admitiu intimamente que realmente errou naquele ponto. - Admite seu erro? - Sei que tenho o direito de receber então um julgamento. – Ele respondeu enfático. - Não tem não. Estou com você para meu ato final, afinal, não sei onde conseguiu estes poderes, visto ser um ser altamente excluído, mas tenho a meu favor que você utilizou destes poderes na influência, isto eleva o risco e me deixa na escolha de lhe aniquilar. No mais, prefiro assim o fazer e eu passar por um julgamento, do que você, visto que pensava que já estivesse morto há tempos, e se não está, é porque tem grande influência não só sobre as vidas materiais, mais de alguma forma em algum membro do Conselho Supremo, única explicação para a libertação de um traidor como você. 413 Estava agora claro para o senhor da luz que ele estava prestes a ser aniquilado não pela influência, mas por ser ele... Tinha que tomar uma decisão rápida, do contrário não haveria escapatória. Mas qual seria a maneira de escapar de um ser que sabe todas as escolhas que vou tomar? – Se perguntava em seu âmago, tentando desesperadamente obter alguma luz. De repente algo lhe veio. – Isto! Já que eu não tenho um futuro pré-definido de escolhas que ela não saiba, poderia fazer o inverso, e tentar aniquilar minha consciência, assim não escolherei... - Infeliz escolha meu amigo... – Disse a voz em tom de sarcasmo, como se aqueles pensamentos fossem os mais idiotas possíveis. – Como lhe falei, tudo em sua essência é feito de escolhas, e eu sei de cada uma delas, até mesmo aqueles que são inconscientes, tudo, absolutamente tudo... Estou realmente perdido... – Foi o único pensamento que teve sensato. Os minutos se passavam e o silêncio plainava no ar, a tecelã estava muda, o que deixava mais apreensivo ainda o senhor da luz, que decidiu ficar imóvel sem fazer nenhuma escolha. - Você é mais idiota do que pensei, hem?! Como pode pensar que não fazendo nenhuma escolha eu não teria como saber, afinal, ficar sem reação já é uma escolha. – Decidiu a tecelã falar após a pausa dramática. Na realidade, ela já poderia ter aniquilado o senhor da luz, contudo, com aquele ser, ela estava tendo extremo prazer, e queria curtir cada minuto daquele momento. - Por que não se mostra, e lute como uma mulher então sua fraca. – Tentou então persuadir. - Não me mostro porquanto nunca existi em qualquer forma, muito menos em uma material. Digamos que sou somente uma essência imaterial, a qual é desprovida de feição humana ou de qualquer outro ser existente, sou aquilo que sou, e nada mais. - Quer dizer que você sente é inveja dos seres como eu, por isto é que está levando isto ao extremo! – Tentou novamente testar a tecelã. - Não! Sinto é pena de vocês. Sei que fui criada desta forma unicamente para que não me identifica-se com qualquer ser existente. Assim, seria mais fácil cumprir meu papel sem fazer distinções. – A resposta veio secamente. - Então porque no meu caso está fazendo distinção? – A pergunta veio em mesmo tom. - Não! Quer dizer... – fez uma pausa como se buscasse uma explicação plausível, a qual não existia. – Em parte sim. Mas não é por mim, 414 mas pelo o que você já fez. – Ela titubeou um pouco, mas respondeu. E para surpresa do senhor da luz ela confessou a distinção. - Mas quem é você para me julgar, quando o próprio prejudicado não o fez? – Agora o senhor da luz sentia que estava obtendo uma pequena vantagem. Razão pela qual, decidiu ainda complementar o que já estava óbvio: - E não minta para mim, fale quem lhe deu a informação de que eu estava interferindo nas escolhas daquelas pessoas! Insta ecoar que era para ajudar... O questionamento e a conclusão posterior pegaram a tecelã de surpresa, e ela já começava a sentir dúvidas de suas escolhas. É realmente muito estranho eu estar prestando atenção em algo tão banal como aquele, e, ainda, o futuro daquelas pessoas realmente não representavam uma interferência muito grande no destino dos demais, aliado ao fato de que eu estou realmente julgando um ser quando, pelo que consta, realmente o próprio prejudicado não o fez, porquanto, do contrário ele ali não estaria. Tudo me leva então a crer que de determinada maneira fui induzida e levada para aquele momento, isto nunca havia ocorrido. – Ela pensava agora preocupada. - O que é? Você está pensando nisto não é? Pois pense, porque sei que você foi realmente induzida por algo ou alguém para me aniquilar. - Mas quem poderia ter feito isto? Você tem conhecimento? – Questionou com voz agora de aflição a senhora do tempo. - Eu poderia dizer quem não queria fazer isto comigo, seria bem mais fácil. – A resposta veio em tom de brincadeira, afinal, o senhor da luz já estava tendo alguma esperança. - Não seja tolo, não pergunto no geral. Sei que você é um dos seres mais procurados tanto por demônios quanto por outros seres bons, neles enquadrados até Anjos e Arcanjos, mas queria saber quem teria tamanho poder para me induzir a fazer isto, afinal, teria que ser um ser dotado de poderes celestes plenos, não um simples demônio ou anjo, etc... - Creio que seja o próprio Lúcifer, só consigo pensar nele, afinal, somente com os poderes de um verdadeiro Deus das eras antigas que a senhora seria induzida desta forma, do contrário acho pouco provável. – O senhor da luz respondeu com descrença, afinal, sabia que ter Lúcifer em seu encalço era somente uma questão de tempo, mas não pensava que ele viria com tamanha rapidez, se tudo continuasse neste ritmo ele teria que adiantar também algumas coisas... - Mas então quer dizer que o antigo chefinho está agora atrás de seu amado pupilo?!... – A senhora do destino respondeu sorrindo, deixando claro que não iria mais aniquilá-lo, e tudo tinha um significado, e ela não o deixou somente no vaco, queria falar, se sentia muito bem com isto. – Creio que meus serviços aqui estão terminados, e, digo adeus para você meu caro, porque se realmente for Lúcifer que o quer aniquilado, você o será, de uma forma ou de outra... – Deu mais algumas gargalhadas e se calou. 415 O senhor da luz ficou aliviado pelo fato de ter se livrado da senhora do tempo, contudo, não conseguiu esbanjar nenhum sorriso, afinal, ela não o aniquilou até mesmo por prazer, porque sabia que se Lúcifer o fizesse com as próprias mãos após ver que seu induzimento não surtiu efeito, tudo seria diferente, haveria certamente mais dor infligida com tortura e seja lá o que mais. Ele somente tinha uma saída, e tinha que agir rápido... O senhor da luz invocou Miguel, tinha que contar o que ocorreu no beco, afinal, poderia ser sua última chance antes que Lúcifer viesse pessoalmente fazer o serviço. ****** Miguel somente apareceu no beco após um longo tempo, estava muito nervoso para variar. - Qual o problema agora? - Lúcifer esta atrás de mim! – O senhor da luz foi direto ao ponto, sabia que Miguel não dispunha de tempo. – Ele mandou uma tecelã me pegar quando influenciei, mesmo que por bem, o destino de uma pessoa. - Nossa... Só você para encontrar estas coisas! – A resposta foi mais irônica. – Não vejo uma dessas há milênios. - É... Mais ela veio, e tenho certeza que Lúcifer foi quem induziu para que ela me pegasse. - Não seja retardado, descobrimos que Lúcifer não pode agir com seus poderes no plano material. – Miguel respondeu já se preparando para partir. - Espere! Sei disso, mais ele está utilizando uma técnica muito mais ousada, em sua inteligência magnifica, lógico que utilizada ao mau, mais nem por isso menos magnifica, ele encontrou um meio de fazer cumprir leis universais antigas, e de alguma forma induz que isto se consuma, assim, ele consegue seus objetivos de uma forma em tese lícita. - Mas porque será que ele perdeu seu poder no plano material? – Miguel estava entendendo finalmente o medo do amigo, e queria saber mais. - Você sabe que não consegui entender isso até agora, afinal, ele fugiu sem evidencias e parece estar forte, mais sem poderes aparentes, exceto aquela concepção na jovem Estela que não conseguimos evitar. - Não sei não, creio que isto foi alguma obra de um ser ainda mais poderoso do que ele, um Deus do tempo antigo, algo assim, mas ainda não encontramos o responsável. Mas seja ele quem for, isto veio a calhar, afinal, se ele tivesse seus poderes plenos, as coisas iriam ficar no mínimo mais quentes. 416 - Eu que o diga! Sem poderes este ser consegue fazer proezas como a que ora ocorreu, por pouco não sou aniquilado. - É, mas por via das dúvidas fique mais atento, afinal, ele pode retornar a qualquer hora com mais alguma tática, e da próxima você pode não ter tanta sorte. E, segundo informações ele está pagando um preço muito alto por seu aniquilamento. Desde que saiu, falam que ele contratou a peso de almas sua morte eterna, quer porque quer que o traidor tanto do bem quanto do mal pague com sua essência por tê-lo feito de otário. Não posso ficar mais sequer por um minuto, tenho uma missão para cumprir, e ficarei fora algum tempo. Portanto, se necessitar de algo terá que recorrer a outra pessoa. - Sei muito bem disso, ele mesmo me disse naquele dia, que mais cedo ou mais tarde ele iria acabar comigo, para servir como exemplo para todos aqueles que futuramente quiserem tentar o mesmo. E, pode ficar tranquilo, não vou te incomodar, sei que se encontra muito atarefado. Miguel partiu, e o senhor da luz ainda ficou um bom tempo ali parado, não conseguia se mexer, pela primeira vez em milênios estava sentindo medo novamente... 417 CAPÍTULO 99 São Paulo – Brasil, 1982 Antônio chega apressado ao quarto de Damião. - Acorde meu amigo! Preciso que faça algo muito importante! Damião pulou da cama, estava tendo um pesadelo onde estava ainda no ataque de Serfalos e da legião de demônios na França. Contudo, no letargo ele estava amordaçado e amarrado, não podendo fazer nada, e assistindo Serfalos rasgar a barriga da mãe de Joana. Era horrível... Vendo o estado do amigo, o qual transpirava excessivamente, Antônio resolveu acalmar-se também. - Me desculpe companheiro, lhe acordei muito depressa, devo tê-lo assustado. - Não se preocupe, você fez foi me ajudar! – Damião respondeu já se levantando da cama. – Estava tendo um pesadelo horrível, era tão real... Antônio ficou a pensar como iria dizer aquilo. Então resolveu começar devagar para não assustar ainda mais o companheiro: - Creio que não era somente um simples pesadelo... - Como assim? – Damião questionou sem se virar, estava molhando a nunca com bastante água que pegava diretamente da banheira, a qual havia sobrado após o banho que tomou antes de adormecer. Antônio parou pensativo novamente, aquilo era muito difícil para ele. - Acho que esta noite tivemos uma visita inesperada! - Visita inesperada? – Damião estava agora espantado! Como aquilo poderia ter algum sentido com o seu pesadelo? Ainda mais algo tão horrível como aquele. – O que aconteceu, vá direto ao ponto, afinal, já estou ficando preocupado. – Ele pegou uma toalha e começou a secar o pescoço. - Meu amigo... – fez mais uma pausa escolhendo as palavras, mas finalmente decidiu contar. – Quando estava me preparando para dormir, fui tomado por uma força enorme. - Como assim tomado? Você quer dizer possuído? - Isto mesmo! – Antônio respondeu com os olhos estatelados, como se estivesse até aquele momento transtornado com o que ocorreu. Damião ficou boquiaberto, não poderia imaginar aquilo, Antônio era um poderoso espírito, nenhuma alma conseguiria dominar facilmente seu corpo material e afastar sua alma do controle, a não ser que... Fez uma pausa, e olhou espantado para Antônio, deixando a toalha cair. 418 - Isto mesmo! – Respondeu Antônio antes que Damião pudesse falar qualquer coisa. – Acho que um espírito do mal quer nos ajudar! - Mas isto é impossível! Há milênios que não ouço que qualquer ser ligado diretamente ao lado perverso, e evoluído a ponto de te possuir ajudou qualquer missão do Conselho... - É! Se eu não tivesse vivido isso hoje, e tivesse simplesmente escutado de outro, também não acreditaria. - Como foi? – Questionou Damião demonstrando sua impaciência. Antônio começou a falar andando pelo quarto, demonstrando estar extremamente inquieto: - Quando me sentei na cama me preparando para dormir, senti logo a presença de algo no quarto, e misturado a este sentimento, pude perceber uma forte e poderosa energia. Mas quando menos percebi, ele já estava dentro de mim! Nunca vi algo desta forma... Damião ameaçou abrir a boca para questionar algo, lado outro, foi imediatamente contido por Antônio que levantou as mãos pedindo para ele esperar, era evidente que ele não queria intromissões, então, ele continuou a andar pelo quarto de Damião e a narrar os eventos: - Quando ele estava dentro de mim, ele não prendeu minha alma, a deixou livre, eu tinha todos os sentidos de meu corpo! Contudo, somente não comandava minhas pernas e braços corretamente. Tentei rezar para iniciar um exorcismo, mas o efeito foi desastroso, nada aconteceu. Antônio fez uma pausa olhando no fundo dos olhos do amigo, e prosseguiu: – De repente... Sem mais nem menos, eu comecei a andar pelo meu quarto, como que se estivesse procurando alguma coisa... Abri a porta do guarda roupas e pude perceber o que procurava, ou melhor, não eu, mas aquilo que estava me possuindo. - E o que aconteceu? – Damião questionou logicamente querendo rapidamente saber dos acontecimentos. - Um espelho. E para meu espanto, quando meu ser foi ali refletido, eu simplesmente não vi minha imagem! - Como assim? De quem era a imagem? - A imagem era de um ser que eu desconheço! Ele não era um demônio, parecia mais um ser do bem, mas eu sabia que sua força era maligna, senti a energia negativa. Ele tinha a pele de cor negra, mas não era um negro comum, ele tinha tons avermelhados, e seus olhos eram somente brancos. Não possuía cabelos, e não pude ver se possuía boca, pelo menos 419 não vi lábios, somente ouvia o que ele queria falar, parecia se comunicar pelo pensamento. - E ele lhe disse algo pelo pensamento? - Sim... – Antônio parou como se avaliasse se contava isto para o amigo. Por fim, achou que seria o melhor a fazer. - Ele me disse para lhe dar um recado! - Recado?! – Damião questionou perplexo. – Que recado?! - Disse que próximo de uma praça, chamada de Consolação. Tem uma igreja que eu poderia pegar às chaves, para caso necessitarmos fugir. Assim, amanhã à noite, ou melhor, hoje, iriamos encontrar um homem que estaria vestido e se portando como um morador de rua, este homem atende pelo nome Lucas. - Mas para que isso? – Indagou demonstrando sua impaciência Damião. - Fiz o mesmo questionamento para ele, e recebi como resposta somente que este tal de Lucas seria de grande ajuda para nossa missão. Disse ainda que seus métodos são questionáveis, mas sua devoção em acabar com o mal de toda espécie é também inquestionável. - Como assim? Se esta coisa que te possuiu é tão forte como você sentiu, porque ele mesmo não nos ajuda, ao invés deste tal de Lucas? - Também fiz a mesma pergunta para ele! – Respondeu Antônio. - E o que ele lhe respondeu homem?! – A irritação já tomava conta de seu ser. - Disse que ele não pode mudar de lado simplesmente quando bem lhe entender, e, por fim, proferiu que sua missão é muito maior, e que, conforme ele havia dito esse tal de Lucas somente atendia por este nome, mais na verdade ele teria outro muito mais famoso... - E o que mais ele disse? Disse quem realmente este Lucas seria? - Nada, após isto ele sumiu de mim! – Antônio fez uma pausa. – Espere! Ele disse mais alguma coisa! Ele me disse que iria lhe mostrar o que poderia acontecer aos escolhidos caso você fracassasse! E ainda disse que a ajuda que ele iria fornecer não era um acaso, mas que tudo estava de alguma forma escrita na essência do universo... Não me lembrava disto porque foi quando eu literalmente apaguei... Isto deve ter ficado no meu inconsciente. - Então está explicado este meu pesadelo! Há milhares de anos não tenho pesadelos, isto só poderia ser alguma mensagem! – Disse Damião, olhando para o nada, ainda se lembrando do pesadelo horrível daquela noite. 420 - Acalme-se meu amigo! Isto esta me cheirando mais a uma armadilha! – Disse Antônio, demonstrando que o amigo não poderia acreditar naquela coisa que lhe dominou. Damião ficou pensativo, então após muito meditar concluiu: - Não sei... Acho que não temos muitas opções! Não posso deixar Marcos e Joana desamparados um no Brasil e um na França... Antes de dormir havia me questionado quem iria protegê-los até que tenham aptidão para se protegerem sozinhos, isto poderia ser um sinal... - Sinal de cilada! – Respondeu Antônio, totalmente assustado com a atitude inconsequente do amigo. - Acho muito engraçado, você sofre uma possessão, e ainda quer me dar conselhos! – Respondeu Damião soltando um enorme sorriso ao amigo. - Não brinque com coisa seria Damião, acho que isso não é um sinal para seus pedidos, está mais parecendo uma emboscada! - Não se preocupe amigo, tenho um plano. – Respondeu Damião já se dirigindo para o guarda roupas, para trocar se trocar. - Mais, por favor, Antônio, vá tirar também seu pijama! Definitivamente não podemos ir para esta ponte vestidos desta forma, não seremos visto como mendigos, mas sim como loucos. – Disse por fim sorrindo ao amigo. Antônio olhou para suas vestes, sequer havia percebido que ainda estava vestido com pijamas, aquilo era realmente hilário, não podia sair daquele quarto daquela forma, alguém poderia até pensar que ele teria dormido com Damião. – Credo! – Pensou ele sorrindo consigo mesmo. Damião percebendo o medo do amigo de sair de seu quarto vestido daquela forma, lhe jogou uma batina, dizendo alegremente: - Toma, vista isso! Também não quero ninguém falando que você é minha mulherzinha. Antônio sorriu, afinal, o senso de humor de Damião era inquestionável, até mesmo naquele momento em que ele deveria estar com uma pulga atrás da orelha, ele fazia piada, não era atoa que era alegre, e espalhava esta alegria a todos a sua volta. 421 CAPÍTULO 100 Berlim – Alemanha, 1982 Estela estava deitada, contudo, seus olhos estavam abertos e fixos na parede. - No que está pensando minha menina? – Questionou Vilalba que estava sentada em uma poltrona lendo uma revista, ou pelo menos fingindo ler... - Estou pensando no que se encontra em minha barriga. Sei que não deveria tê-lo, contudo, a dúvida me aflige. Neste exato momento uma mulher entrou no quarto, ao passo que Vilalba assustou-se a perceber o jeito estranho da moça, ela realmente não era uma enfermeira, somente estava representando uma. A empregada percebeu isso ao analisar o perfil da moça, os sapatos que ela usava eram muito caros para uma simples enfermeira, e, ainda, tinha o fato dela ter literalmente se arrepiada toda quando ela adentrará no quarto. - O que quer de minha menina. – Vilalba bradou da poltrona ao perceber que a moça havia se dirigido diretamente para a cama de Estela. Por isso já se levantou indo em direção à mulher, tomando um baque quando a mesma lhe olhou... Os olhos da mulher que adentrará no quarto tinham um pigmento vermelho estranho nas íris, bem como, ela era muito alta e sua pele negra jambo era linda e combinava com seus cabelos encaracolados. - Me desculpe, somente estou aqui para medir a pressão e ajudar no que sua menina precisar minha senhora. – Respondeu a moça. - Deixe de neura Vilalba, a moça somente quer ajudar. – Estela disse já estendendo o braço para a moça colocar o aparelho de pressão. - Esta se sentindo bem? – A moça questionou, já colocando o aparelho e puxando papo, muito diferente das outras enfermeiras que queriam apenas fazer seus trabalhos sem serem incomodadas. - Sim, estou. – A resposta veio curta demais. - Não parece, porquanto, você certamente me parece muito preocupada e indecisa. – A moça respondeu pegando Estela de surpresa que não esperava se encontrar tão evidente suas dúvidas. - Estou preocupada com o filho que descobri neste momento que estou esperando. – A resposta de Estela veio espontânea, preocupando Vilalba que achou estranho aquela abertura fácil com uma desconhecida. Contudo, assim que Vilalba ameaçou abrir a boca a moça virou-se estranhamente em direção da empregada dizendo misteriosamente: 422 - Você sabe que eu nunca faria qualquer mal para esta garota! - Sim... Espero que sim! – Vilalba respondeu também de forma estranha, retornando para sua poltrona, e, retirando a mão da cintura, onde se encontrava um enigmático punhal... - Saiba minha jovem que toda vez que um casal jovem engravida, após alguns anos na grande maioria das vezes o pai, a mãe, ou até mesmo os dois, jogam na cara do filho que se não fosse pelo seu nascimento tinham feito tantas outras coisas, como arrumado empregos melhores, terminado os estudos, feito faculdade, casado com outra pessoa, etc... A pior coisa para uma criança ou para qualquer ser humano é o sentimento de ser um estorvo, um atrapalho na vida de quem eles mais amam, quais sejam: seus pais. Muitas vezes isto gera rebeldia, afinal, que jeito um jovem encontra para extravasar e chamar a atenção dos pais e de todos? Por este motivo, o que os pais deveriam fazer é parar de chorar por suas fraquezas, e dizer: Filho eu não fiz tudo que queria, mas tudo que fiz até hoje foi por você! A moça dizia e Estela ficou pasma ao ouvir a forma com que ela tentava adentrar no assunto maternidade, e, ao mesmo tempo, ensinar um pouco. Vilalba era a mais assustada. Mais a moça prosseguiu: – Muitos pais tem que largar seus sonhos para cuidar da família, mais o mais importante é sempre ter em mente, eles não são culpados pelo seu erro. E se pedirmos para Deus ele nos dará forças para corrermos atrás de nossos sonhos, mesmo que às pedras no caminho machuque nossos pés. Estas simples palavras podem mudar a vida de um ser humano, afinal de contas somos feitos de amor, que é moldado desde o nascimento até o ultimo suspiro de vida, e somente uma mãe seria capaz de mudar o sentimento de qualquer ser, por mais perversa que tenha sido sua concepção... Vilalba somente assistia da poltrona a conversa, fingindo que lia um livro, o qual estava até de ponta cabeça, seus pensamentos não paravam: Será que está moça esta tentando mesmo dizer que um filho é algo bom, ou será que está tentando algo para tirar a criança de minha menina?!... - Mais sou muito nova, e, como posso lhe dizer... – Estela escolhia às palavras. – Não sei se o pai de meu filho seria a pessoa ideal. - Não importa o pai, o que realmente importa é o que ele vai ser, a forma que você vai moldar ele, vai lhe dar amor, e, proporcionar-lhe tudo aquilo que necessitar. - Mais se ele tiver nascido de algo ruim, que me causou grande dor e amargura. – Estela de alguma forma, a qual ela mesma não conseguia explicar, se abria com a jovem. - Quando você nasceu tinha alguma maldade já fixada em seu coração? Ou será que era um ser dotado de amor e ternura, o qual devido ao meio que foi criada foi se amoldando para o bem? - Creio que não tinha maldade. Mais toda criança é um pouco perversa, nas brincadeiras, egoísmos, etc. 423 - Então, este pequeno que virá ao mundo, não é fruto do meio, mais vítima dele, e, assim, ele é quem deverá receber mais e mais amor, principalmente, para que amanhã não fique da mesma forma que aquele que você tanto rejeita, ou seja, o pai. Percebendo o jeito estranho de Vilalba a jovem saiu subitamente e muito rapidamente do quarto. Vilalba sem querer abaixou o livro, o ato foi totalmente involuntário, e ocasionado devido ao fato dela ter voltado todo o pensamento para aquela resposta. Está moça realmente não se trata de uma pessoa comum, ela tem um dom, e se encontra estranhamente utilizando ele para algo, somente ainda não sei qual... – A empregada pensava. Estela estava também em tamanho raciocínio que não percebeu igualmente a saída da moça do quarto. - Vilalba, cadê a moça?! – Gritou para a criada. - Hã? Moça? Ora, estava conversando com você! – Ela realmente estava perdida, afinal, estava tentando entender o que aquela moça pretendia. – Pelo jeito ela saiu minha menina. - Então corra trás dela, preciso pelo menos saber seu nome! Vilalba correu até à porta assustando-se quando não viu a moça no corredor. É impossível ela já ter passado por todo este vasto corredor! Pensou já atónita. - O que foi Vilalba, não há encontrou? E porque você esta assustada? Afinal, queria saber somente o nome daquela mulher, não necessitava de um órgão dela para você ficar tão estranha em não conseguir alcançá-la. Além disso, ela deve voltar mais tarde. Sim... Ela deve voltar. Mais se ela souber o que lhe espera não voltará. - Concluiu em pensamento a empregada retornando a poltrona. ****** Já bem longe do hospital, plainando no céu com suas enormes azas a mesma moça disse vagarosamente, como que se vangloriando ou se deliciando do que havia acabado de fazer: - Sei que Miguel não ficaria nada contente com este meu ato de ir contra seus mandamentos! Contudo, creio que fiz a coisa certa, tenho plena convicção que a criança poderá rejeitar seu lado maldito caso encontre o amor... – E num bater mais forte de asas atravessou a dimensão. 424 CAPÍTULO 101 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 Charles estava assustado, retirou de suas costas o escudo que antes de saírem havia reclamado que seria um desperdício de energia carregar, agora estava aliviado de ter ouvido Arthur e trago o objeto. Após os testes promovidos com a Dra. Kim, antes de saírem Arthur ensinou a utilizarem aqueles escudos no momento do combate, era para fazerem uma formação como o exército romano, onde formavam uma carapaça, onde nada poderia penetrar. Ele também ordenou que o parceiro que estivesse na frente sempre protegesse o do lado, e, assim, sucessivamente, ninguém deixando a formação, que aquilo poderia representar a morte de todos, e pelo menos naquele primeiro momento deu muito certo... Os demais agentes permaneceram mais tempo com o escudo a frente, todos formaram a carapaça se ajoelhando ainda para que o mesmo pudesse proteger também as suas pernas, após perceber que o fogo havia passado, Arthur levantou-se, ergueu o seu escudo e gritou: - Ao ataque homens, vamos à pré-formação e a qualquer sinal de novo fogo não esperem minhas ordens, protejam-se que poderá ser tarde demais caso aguardarem para tomar esta atitude! Todos saíram correndo na direção em que foi lançada a bola de fogo, eles corriam em pré-formação, ou seja, corriam mais com os escudos já quase que alinhados para a qualquer momento entrarem novamente na constituição de proteção. - Mais isto é suicídio, não deveríamos estar correndo na direção oposta?! Afinal, é certo que vamos ser atacados novamente! – Gritou Charles para Arthur, logicamente não parando, porquanto, tinha medo de ficar sozinho atrás do grupo. Não é bom ser o primeiro e menos ainda ser o último ele pensava. E o novo amigo tinha deixado claro para manterem no momento da corrida a chamada pré-formação. - Eu sei o que estou fazendo, quando é algo que ataca de longe, é porque não tem poderio suficiente para lutar de perto. – Respondeu Arthur com um grito correndo como uma criança junto aos agentes bem mais jovens que ele, os quais apesar da vantagem da juventude, estavam ainda era em desvantagem em relação ao velho, por óbvio, diante de não terem qualquer experiência em expedições deste tipo, e, ainda, pelo traje moderníssimo. - E se você estiver errado? – Agora gritou George que estava mais atrás como desde o início quando para ali se dirigiu. - Aí meu caro, vamos ter que lutar até a morte, e, espero que ninguém abandone o barco, senão estaremos fritos literalmente, ou melhor, na presente hipótese de barco, afogados ao invés de fritos. – O velho respondeu com sarcasmo, ao passo que, tanto Charles quanto os agentes ficaram boquiabertos ao perceberem que ele não ligava com o perigo, ao contrário, parecia que ele o excitava ainda mais. 425 Eles continuavam avançando, mas nenhuma bola de fogo foi mais lançada. - Creio que os ataques pararam. – Disse Robson. - Não creem nisso! Esta criatura parece ser esperta, viu que estamos atacando, vai esperar a oportunidade certa. Por isso fiquem preparados. – Gritou Arthur. Após algum tempo correndo eles escutaram uma voz grossa e aterrorizante, a qual lhes ameaçou: - Retornem! Caso contrário, não terei piedade... - Parem homens, já estamos muito próximos da criatura, posso sentir o seu cheiro pútrido, além desta ameaça inútil de um ser fraco ter vindo de muito perto. – Gritou Arthur fazendo que todos os homens parecessem imediatamente de forma brusca, abaixando-se cada qual sem sair da formação e encolhendo ainda mais a carapaça de segurança. - Do que você me chamou seu verme? – A criatura disse, soltando após um grande rugido, misteriosamente, como se fosse de um leão. - Acho que não foi sensato dizer aquilo para ele. – Cochichou Charles para Arthur logicamente tremendo de medo juntamente com seus agentes. - Podem agradecer por estarmos neste local fétido, do contrário poderiam passar pela vergonha de eu sentir o odor das fezes que se encontram escorrendo por suas calças. – Arthur ironizou Charles dando uma enorme gargalhada. Este velho parece um louco mesmo! Estamos diante de uma coisa estranha desta, que não vimos sequer sua verdadeira feição e ele brinca como se estivesse diante de um parque de diversões. – Concluiu Charles em pensamento, afinal, se exprimisse esta conclusão correria o risco de levar mais uma resposta ou de ser mais caçoado junto aos seus agentes. - Como me encontraram? – A criatura vociferou ainda ocultando sua feição dentro de uma entrada aberta totalmente camuflada, como se tivesse sido aberta por algum mecanismo secreto. - Isto não interessa. Terei que levar o livro e também as cinzas, e, espero que seja em paz. – Gritou Arthur, ao passo que, seu pleito veio mais em tom de ameaça do que de alguém que realmente quisesse tranquilidade. Após dizer isso um estranho fogo começou a sair da passagem, e a criatura começou a sair sorrateiramente do interior do local subterrâneo. 426 Ao perceber que a criatura estava saindo, Arthur abaixou somente um pouco o seu escudo deixando uma pequena fresta aberta onde olhava a saída do ser. - Está vendo algo? – Questionou Charles curioso. - Acho melhor vocês não olharem e nem saberem o que está saindo... – Respondeu Arthur para espanto de todos exibindo um sorriso e um olhar de encantamento, era como se estivesse hipnotizado com a imagem da criatura. Não era para menos, em pouco tempo a criatura já estava do lado de fora da caverna, demonstrando para Arthur que ele não teria aquele livro, pelo menos de uma maneira fácil... - Algum de vocês é muito bom em desvendar enigmas?... – Questionou no mesmo tom de ironia Arthur bem baixinho, somente para Charles e seus agentes. - Deixe-me ver logo o que é este... – Charles havia aberto também uma fresta em seu escudo demonstrando sua revolta com os joguinhos de Arthur, contudo, ao avistar a criatura além de perder completamente a voz, desejou nunca ter tomado àquela atitude. O que eles viam devia ter uns quinze metros de altura! Tinha o corpo de leão alado e cabeça e busto de uma belíssima mulher, seus cabelos eram castanhos, e a pele rosada com bustos delicados que contrastavam com seu estranho corpo e a voz que saia de sua grande boca a qual exibia ainda dentes afiados como uma verdadeira fera. - Que merda é essa?! – Questionou espantado Charles, ao passo que as palavras custavam a sair, visto que sua boca estava totalmente seca devido ao medo que lhe tomou totalmente. - Tenho certeza que é uma esfinge. – Arthur lhe respondeu ainda com um sorriso e o mesmo olhar de admiração ao estranho ser. Os agentes não haviam olhado do que se tratava o ser, mais todos estavam com medo, exceto Michael, o qual, igualmente Arthur sorriu quando ouviu o velho dizer do que se tratava ao concluir diante da brincadeira anterior sobre se alguém seria bom em desvendar enigmas. Definitivamente teremos que desvendar algo. – Concluiu Michael em pensamento aumentando gradativamente seu sorriso. No instante que Michael sorriu, Robson e Russo se entreolharam como há anos não faziam, não disseram nada um ao outro, mas ambos sabiam os pensamentos que lhes ocorreram: Este oriental definitivamente veio de uma ordem que trata do sobrenatural. 427 CAPÍTULO 102 São Paulo – Brasil, 1982 Antônio e Damião andavam a passos largos. Ainda era dia, mas queriam chegar bem cedo ao local, para ver como era, e, principalmente, para poderem estudar qualquer movimentação estranha, táticas de guerrilha que eles conheciam muito bem. - E se for uma armadilha? – Questionou Antônio assustado. Damião olhou para o amigo, e após dirigiu os olhos para uma grande maleta que Antônio estava carregando, questionando como um mestre se vangloriando de um dom: - Sabe esta maleta que você carrega para mim? - Lógico que sei Damião, ela pesa uma tonelada! – a resposta veio em tom de descrença. – Saiba que eu somente estou carregando ela, porque estou encarnado há menos tempo que você, por isto sou mais jovem, e, ainda, mais forte e bonito. - Pode até ser mais jovem, contudo, bonito somente em seus sonhos! – Soltou uma enorme gargalhada – me poupe destas suas brincadeiras sem nexo com a realidade. - O que você carrega de tão pesado dentro desta maleta? – Antônio cortou rápido, sabia que Damião iria ficar caçoando de sua feiura. Damião deu um sorriso, respondendo em tom de mistério: - Diremos que meu arsenal de guerra!... - Não vai me dizer que você tem armas aqui dentro? – Questionou Antônio arregalando os olhos assustado, e quase soltando o objeto ali mesmo ao chão. - Todos os tipos, para enfrentar uma guerra contra almas encarnadas e desencarnadas! – ele dizia arregalando os olhos. – Estamos em guerra meu amigo, não podemos bobear e confiar somente em nossos poderes. Além disso, foi você mesmo que disse que poderia ser uma cilada! - Não acredito?! E se a polícia nos pegar?! – Antônio questionou arregalando os olhos de pavor somente em pensar naquela hipótese. - Deixe de ser medroso Antônio, nós somos padres, e, ainda por cima, velhos! Acha que a polícia vai nos revistar?! – Damião disse quase que dando um tapa na cabeça do amigo para ele ficar mais esperto. – Por isto fiz questão de vir com as batinas, porquanto, às mesmas nos dará credibilidade. Isso porque ninguém revista um padre! Ainda mais que estaremos em um local que somente terá mendigos e alguns poucos transeuntes, é logicamente dedutível que estamos distribuindo comida aos pobres, etc. 428 Antônio sorriu, definitivamente Damião não era nada bobo. Já havia bolado os preparativos de um plano antes mesmo de sair. Após uma longa caminhada enfim chegaram ao local, haviam vários moradores de rua, crianças, idosos, mulheres, homens, todos sujos e maltrapilhos aglomerados em uma viela próximo a praça principal. Ninguém se dirigiu até eles. Damião não se espantou, a vida era muito difícil para aquelas pessoas, haviam perdido a capacidade de sonhar e lutar por seus ideais. Muitos empurrados neste abismo, outros por vontade própria ou das drogas, era certo que eles não queriam sequer saber da palavra de Deus, aquilo não lhes enchia a barriga. Ao ver às pessoas naquela situação Antônio logo começou a chorar. - Não chore meu amigo, afinal, você sabe melhor do que ninguém que tudo tem uma razão de ser... – Disse Damião tentando acalmar o amigo. - Sei disto, mas é duro ver crianças serem criadas desta forma. – Respondeu Antônio ainda secando as lágrimas. - É... Isto é verdade... – Retornou Damião sem mais palavras. Após um longo período vendo aquela cena, Damião não se conteve. - Você tem alguma comida ai? - Tenho um pequeno sanduiche que trouxe para o caso de sentirmos fome, já que aqui perto não tem nada para comprarmos, e, na igreja certamente não encontraremos nada para comer além das hóstias. - Me dê! – Ordenou Damião. - Como assim? São somente dois sanduíches, isso não matará a fome sequer de quatro crianças, será ainda pior, as outras vão ficar com vontade, isso sim seria um pecado... - Pare de falar e me dê os sanduiches! – Ordenou novamente Damião. Antônio sem entender, abriu alguns botões da sua batina próximo ao peito, retirando dos bolsos internos um saquinho com os dois lanches. Damião pegou o pequeno saco, e seguiu caminhando rumo aos moradores de rua, mas antes ordenou: - Fique aqui meu amigo. Antônio ficou imóvel, somente vendo o amigo ir até os moradores. Mas quando ele chegou, ele ficou espantado... 429 Inexplicavelmente Damião foi entregando um sanduiche para cada morador de rua! Antônio tentou chegar mais perto, contudo, logo voltou para trás, afinal, Damião foi claro ao lhe dizer para ficar ali... Damião colocava a mão direita dentro do pequeno saco, pegava um sanduiche e entregava para um morador, após virava-se para outro, colocava novamente a mão dentro do saquinho e retirava outro, fazendo isto diversas vezes, sem que qualquer morador de rua percebesse que o saco era pequeno demais para tantos itens, afinal, eles tinham olhos somente para os suculentos sanduiches... Após entregar o lanche a todos, Damião pediu que eles rezassem um pai nosso, o que foi atendido prontamente por todos ali presentes, enfim, estavam extremamente agradecidos. Logo após, Damião se despediu, principalmente das crianças, as quais, ele entregou um pequeno rosário, dizendo que era para elas guardarem aquilo para se protegerem, as crianças não sabiam se comiam ou olhavam para o lindo presente. - Este homem na cruz, morreu para lhe dar uma segunda chance, por isso, mesmo que vocês não tenham esperanças, ele sempre será um exemplo de superação e amor. – Disse Damião ao se despedir das crianças e dos moradores. Antônio pôde escutar porque ele falou aquilo em tom tão alto, que parecia que queria que todos gravassem aquilo não somente em seus cérebros, mas principalmente em suas almas. Lado outro, Damião não percebeu que um dos moradores de rua havia percebido tudo, e, seus olhos brilhavam evidenciando uma astúcia e fúria inexplicáveis. Ele foi voltando rapidamente para junto de Antônio, quando chegou, entregou o saco para o amigo, quando Antônio o abriu se assustou, visto que dentro dele ainda estavam os dois sanduiches. - Como você fez isso? – Questionou intrigado Antônio. - Eu somente precisava de uma matéria com essência e base alimentar, um baldrame... O resto foi somente multiplicação! Não posso lhe explicar como adquiri este dom, mas sei que não poderia usá-lo em vão, se usei, é porque este era um momento especial. – Fez uma pausa olhando para os olhos de Antônio. – Senti que tinha que proteger aquelas crianças do que parece estar para ocorrer aqui à noite, e não tinha outra forma de fazer isto, a não ser ganhando a confiança de todos, entreguei um rosário que ira pregar em todas as crianças de uma forma inexplicável, e irá proteger cada um destes inocentes seres. Antônio balançou a cabeça, sentia orgulho do amigo, ele tinha uma índole inacreditável, e certamente novos poderes que ele não imaginava. - Mais agora vamos comer, porque já esta anoitecendo e eu estou faminto! Confesso que temi por você distribuir estes sanduiches e eu ficar sem 430 nada! – Disse sorridente e alegre Antônio, já se dirigindo a algumas latas de tintas no canto de uma encosta. - Não se preocupe meu amigo, sei deste seu estomago sem fundo! – Respondeu Damião também sorrindo, e se dirigindo para sentar na outra lata ao lado do amigo. Contudo, não perceberam que durante todo aquele tempo estavam sendo observados por vários mendigos escondidos ao longe, todos estavam encapuzados, e o que havia notado a proeza de Damião estava retornando a este grupo, certamente para contar o que percebeu e presenciou... ****** Após dias de espera pelo resultado dos exames finalmente Estela e Vilalba estavam retornando para casa. Nem em seus mais tristes pensamentos a jovem poderia imaginar o que os exames iriam revelar, contudo, era a verdade e dela não tinha como fugir. Ao chegar à residência, ou melhor, à mansão da família, chegando até a porta Estela se sentiu constrangida e parou subitamente não conseguindo adentrar. - Porque o receio minha menina? - Vilalba questionou-a com voz de ternura. - Não queria ver meu pai pelo menos neste primeiro momento. - Ela foi seca e direta ao ponto. - Não se preocupe, telefonei antes para saber das coisas e ele me disse que tinha que defender um caso muito importante na Itália, e que voltaria somente após alguns dias. - fez uma pausa analisando a expressão de alívio da jovem. - ele lhe mandou um beijo, e desculpas por não ter ido ao hospital, dizendo que estava muito ocupado. Sei... – Estela somente pensou finalmente adentrando. 431 CAPÍTULO 103 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 A formação foi avançando, e quando a besta se afastou da entrada para uma melhor posição para o ataque, eles já havia combinado que Michael e Charles correriam para o interior da passagem aberta misteriosamente, e de onde aquela besta havia saído. Charles havia raciocinado muito se iria se aventurar daquela forma com Michael, mais depois decidiu que era melhor ele entrar ali do que ficar do lado de fora, tudo rapidamente, enquanto Arthur gritava feito louco: - Peguem rapidamente o livro!!! E não esqueçam das cinzas!!! Ao chegarem ao final da escadaria Charles e Michael se petrificaram. Isso não é possível! – Pensou Charles, ao passo que Michael se expressou foi em voz alta: - Que merda é essa?! - O que você disse Michael?! – Gritou Arthur que havia escutado o xingamento pelo aparelho de comunicação. - Me desculpe, não foi dirigido ao senhor, é que... Como posso dizer... - Desembucha logo, porquanto, estamos ficando sem poder aqui em cima, está fera é muito doida mesmo, estou me divertindo mais... – A comunicação sumiu. - Arthur! Arthur! – Agora era Charles quem gritava, sob o olhar atônito de Michael, quando perceberam que a comunicação foi cortada e, por óbvio, pensaram somente o pior. - Estou aqui! – ele respondeu mais ofegante. – Somente fui acertado pelo bicho, ou seja lá o que isso deve ser denominado! Agora poderei promover a equipe que desenvolveu este meu traje, realmente ele é muito resistente. – Ele gritava para surpresa deles como uma criança que se divertia em um parque. Charles e Michael se entreolharam ao escutarem o que Arthur estava dizendo, não falaram nada, mais ambos sabiam o que o outro achava: Este velho é mais louco do que havíamos imaginado! - Certo Arthur, o que Michael queria dizer é que aqui embaixo não tem nenhum livro. 432 - Como assim nenhum livro?! Quer dizer que estou arriscando minha existência por nada?! – Foi George que disse em seu radio. Como os equipamentos eram todos interligados eles escutavam e poderiam interagir. Contudo, pelo que veio depois parece que Arthur não gostava nada de ser interrompido: - Ai Arthur, porque fez isso. – George reclamou novamente pelo aparelho. - Isso é para apreender a não ficar dizendo bobagem! – Arthur respondeu como um pai que acabará de bater em seu filho atentado. - É mais atirar em meu colete enquanto estamos lutando com esta fera foi sacanagem. – George respondeu com voz chorosa, como se fosse uma criança. Michael e Charles novamente se entreolharam, realmente o velho era imprevisível. - Arthur! E ai? O que devemos fazer? – Michael interrompeu a briguinha infantil que estava ocorrendo enquanto enfrentavam uma fera abominável. - O que tem ai embaixo? – O velho respondeu novamente mais ofegante, e, um som da fera interrompeu parte de sua voz. Charles olhou melhor na pequena sala, para responder sem nenhuma dúvida: - Tem somente um amontados de pedras em forma de talhas. – A resposta foi com voz de descrença. - Seus burros! – Arthur gritou como um lunático, ao passo que os sons ouvidos por Charles e Michael ao fundo da comunicação, tanto do monstro quanto dos disparos das armas cessaram por alguns segundos, parece que todos pararam por algum tempo diante daquele ataque verbal do velho. - Me... – Charles tentou ensaiar uma resposta mais não conseguiu, as palavras não saíram. - Não falei para vocês que se tratava de um livro antiguíssimo! – Arthur tornou a gritar. - Sim, mas... – Desta vez foram interrompidos ao darem a resposta em uníssono. - Não tem este tal de “mas” seus incompetentes! Acham que os livros antigos eram todos em papel seus tolos! Este é tão antigo que o papel não havia certamente sido inventado! 433 Michael e Charles primeiramente se entreolharam novamente, haviam captado a mensagem bruta e louca de Arthur, após olharam para a pilha de pedras em forma de lascas empilhadas. - Como não havíamos pensado nisso, realmente há escritas lascadas nas mesmas. – Charles balbuciava passando juntamente com Michael as mãos nas pedras, sentindo e encantados com a beleza e magnitude daqueles objetos. - Entenderam patetas! – Arthur ainda estava muito zangado, e, agora ele gemia, parecia que estava fazendo força. Do lado de fora se via que o gemer era porquanto Arthur estava segurando a cabeça da fera de uma forma estranha, e os agentes tentavam acertar o bicho sem acertarem Arthur, o que de certa forma era quase impossível devido a besta ficar se debatendo, fazendo com que o velho parecesse um brinquedo grudado na cabeça de um leão. – Andem, não sabemos se vamos aguentar por muito tempo, saiam rapidamente com o livro! Ao saírem corram sem olhar para trás imediatamente em direção à saída, despontem sem se preocupar conosco, porquanto, pela lenda indígena que ouvi sobre o ser que estava preso aqui, ele não poderá sair desta cidade tão cedo, assim, se cruzarem o portão o livro estará a salvo. - E nós? – George arriscando a sorte resolveu questionar. - Sairemos após, se der, e tenho que lhe advertir seu mer... – A comunicação cortou novamente e eles somente puderam ouvir um forte grito do Arthur. - O senhor está bem?! – Foi Robson quem questionou com voz rouca devido ao sufoco que enfrentavam. - Sim, estou! – Arthur respondeu tossindo muito. - Parece que ele caiu do bicho. – Charles disse para Michael pela primeira vez desde que tudo aquilo começou sorrindo um pouco imaginando a cara do George e de Arthur brigando em uma batalha em que eles deveriam lutar unidos. - Já peguei as cinzas, elas estavam naquela caixinha. – Michel disse colocando a caixa em um grande bolso em sua calça. Rapidamente Charles pegou cinco tabletes em cada braço, ao passo que Michael pegou o restante. - Você deixou mais para mim chefe! – Michael reclamou. - Você é mais jovem. Além disso, estou indo na frente, assim, caso o bicho atacar tenho que estar mais leve para conseguir desviar. – Ele respondeu já subindo as escadas correndo. 434 Espertinho... O bicho poderá atacar tanto o da frente quanto o de trás! – Somente pensou Michael zangado fechando o cenho e subindo as escadas no encalço de Charles. Ao cruzarem a saída da estranha entrada Michael quase abalroou nas costas do chefe, porquanto, Charles havia parado subitamente por alguns segundos quando avistou a cena de uma verdadeira guerra que acontecia. - Nossa, pelo rádio e pela forma que Arthur e os outros estavam discutindo e falando não dava para perceber que isto estava desta forma! – Michael gritou para Charles que naquele momento já estava correndo em direção à saída da cidade, ao passo que sequer respondeu-o, porquanto, lhe faltava ar para carregar o livro, imagine para falar naquele momento. O cenário realmente estava muito assustador, a fera estava muito machucada, mais tentava a todo custo matar Arthur e os demais, não se entregava sob nenhuma hipótese. - Graças a Deus ela ou ele não viu Charles e Michael passarem! – George disse, atirando e se desviando dos ataques da besta. Contudo, ao dizer isso a besta parou subitamente, e, por óbvio, olhou para Charles e Michael que já estavam ao longe correndo como loucos. Então, em um salto a fera se desvencilhou deles e começou a perseguir os dois que mesmo já tendo corrido muito, a vantagem aberta ainda era pouca para conseguirem cruzar o portão de saída sem serem capturados. - Você tinha que abrir este bocão não é George?! – Arthur vociferou querendo matar o agente. Eles começaram a seguir a fera, mais todos sabia que seria inútil, certamente ela alcançaria os dois em questão de pouco tempo. A fera corria de forma absolutamente desenfreadas, seu estranho corpo de leão e seu tamanho lhe conferiam uma enorme vantagem na corrida, se no ataque de perto ela não tinha muita vantagem, e, isto havia sido provado na batalha anterior, na corrida ela era imbatível. - Corra Michael. – Charles gritava eufórico com a boca já seca de tanto correr, mesmo tendo um preparo físico invejável aquilo estava sendo alucinante. – Mais rápido! - O senhor tem que ver que estou carregando quase o dobro de peso!!! – O grito de Michael foi tão forte que até promoveu um eco. Arthur e os demais agentes tentavam a todo custo acertar a fera, contudo, ao perceberem que ela estava não apenas indo rápido demais, mais estava se desviando de todos os tiros, Russo gritou: - Não atirem mais, esta coisa encontra-se desviando muito, e, assim, podemos acertar Charles ou Michael que estão mais à frente. 435 Todos concordaram e pararam de atirar, foi quando se assustaram ao perceberem o que Arthur estava fazendo, o velho simplesmente começou a bater intermitentemente no peito de uma forma estranha e forte. - O que você está fazendo? – Gritou Robson que estava mais próximo dele. - Esta merda deve ter estragado devido as pancadas daquele monstro. Não consigo acionar o dispositivo para proporcionar uma corrida mais rápida, se estivesse funcionando certamente já teria alcançado aquela aberração! Ele encontra-se aqui no peito, desta forma, vou agir como os brutos, batendo, porquanto, caso pare para analisar certamente não o alcançaremos mesmo. – Ele se lamentava, contudo, não parando de bater no peito. George como sempre intrometido, mesmo com a boca seca e extremamente cansado, se aproximou de Arthur tentando correr bem pareado com ele, ao passo que quando estavam lado a lado, o velho ranzinza e desesperado berrou: - O que pensa em fazer George? – Ele gritou já com o pouco de voz que lhe sobrava pela corrida, eles discutiam mais não poderiam parar. Mesmo também com pouquíssima força, e correndo como um louco George respondeu com dificuldade: - Confie em mim, abra os braços. O que este idiota pensa em... – Arthur havia começado há pensar se iria atendê-lo quando George subitamente em um movimento rápido pegou seu escudo e bateu tão forte no peito do velho que ele foi quase que arremessado para trás, não apenas devido ao impacto, mas, principalmente, pelo choque repentino que o pegou totalmente desprevenido. - Seu idio... – Arthur parou no meio do xingamento. E uma esperança brotou no coração de George, não apenas que ele pudesse alcançar a fera, mas, principalmente, em limpar a sua barra que estava extremamente suja com o velho. Arthur sequer respondeu, somente começou a correr em passadas mais largas, e, em poucos segundos já estava muito a frente dos agentes, e, George somente não chorou, porquanto, não tinha mais nenhum líquido em seu corpo diante da excessiva transpiração e da boca completamente seca. Somente um pouco mais a frente da fera Charles e Michael ainda continuavam correndo feito loucos em disparada à saída. - A saída é por aqui mesmo?! – Charles que estava mais à frente questionou gritando, custando a abrir a boca, devido à mesma estar grudada pela sensação de secura que lhe afligia. Michael sequer respondeu, não porquanto não conseguia, mas diante do ódio que estava sentindo por aquela situação toda. Ele não aceitava 436 estar levando quase o dobro de carga, além disso, sabia que estavam no caminho certo, então tinha que poupar energia e saliva. Contudo, após poucos segundos teve que dirigir a palavra para Charles, não para responder seu questionamento anterior, mas para alertá-lo: - É melhor nos apresarmos, porquanto, a fera além de ter vindo atrás de nos encontra-se perto, já posso inclusive escutá-la. Charles tentou se esforçar mais, contudo, não aumentou muito a velocidade, não conseguia mais se movimentar para nada. Assim, ele decidiu sabiamente no desespero que era melhor manter aquele ritmo, do contrário iria desabar na primeira curva, as quais já eram muitas, além dos pequenos degraus, e demais obstáculos. Mais atrás Arthur já se encontrava bem mais próximo da fera, contudo, ainda não era suficiente. – Acho que não será possível... – Ele pensou se lamentando. Michael que acelerou mais a corrida ultrapassou Charles, ao passo que ainda teve que ouvir do chefe: - Não te falei que deveria levar mais peso?! Está vendo. Se assim não fosse eu já estaria estirado lá atrás! Contudo, logo após dizer isso ele se estremeceu, porquanto, não apenas ouviu o som dos grandes pés do monstro ao bater ao chão, como o viu após olhar para trás quando escutou o som. E quando olhou para frente e nem sinal de estarem próximos da saída, somente resmungou bem baixinho: - Agora estou perdido, afinal, não tenho forças sequer para correr, quanto mais lutar, vou morrer... Michael havia também percebido tudo, e, inclusive, escutado algumas partes do resmungar do chefe. Contudo, sabia que ele ainda tinha forças pelo menos para se defender até os outros o alcançarem para ajudá-lo. Mais se eles já estiverem mortos? – Este pensamento lhe brotou de repente, e seu ser gelou completamente. Quando Arthur viu que estava próximo da fera não teve sequer um minuto de alegria, porquanto, ao avistá-la viu também Charles somente um pouco mais a frente. Não terá jeito, eles serão pegos... – O velho raciocinou o óbvio. 437 CAPÍTULO 104 São Paulo – Brasil, 1982 A noite chegou, e nem sinal de qualquer movimentação diferente. Antônio e Damião estavam bem longe dos moradores de rua, escondidos atrás do monte de latas as quais anteriormente serviram de bancos para lancharem. De repente, um bando novo de moradores de rua começou a chegar junto àqueles que já se encontravam ali o dia todo. - Será que algum deles é o tal de Lucas? – Questionou Antônio. Damião não respondeu, estava com o olhar fixado nos novos mendigos que acabaram de chegar. - Damião? - O que foi Antônio?! – Respondeu o amigo impaciente, quase que gritando mais interrompendo o impulso no último instante. - Não acha que devemos ir lá conversar com eles? - É isto que vamos fazer, venha! – Respondeu Damião, já se levantando e se dirigindo à multidão agora formada de moradores de rua, os quais já estavam acendendo fogueiras para se aquecerem da noite gelada que estava por vir. - Por favor, algum de vocês se chama Lucas? – Questionou Damião em alto e bom som, contudo, mostrando-se extremamente educado. Os mendigos já não lhe olharam com desconfiança, mas com enorme respeito, afinal, aquele homem matará a fome deles naquele dia. Em questão de minutos um morador de rua enorme levantou-se, sua estatura era assustadora, não se podia ver seu rosto, devido ao enorme capuz que ele usava, o qual deixava somente uma enorme sombra em sua face. Quando o mendigo levantou-se, Damião percebeu que todos os moradores de rua que haviam chegado pouco antes vestiam roupas semelhantes, e traziam enormes sacos amarrados às costas. Estavam como maltrapilhos, mas tudo parecia forjado, não eram mendigos realmente. - Acho que caímos realmente em uma armadilha! – Cochichou Damião para Antônio, o qual sequer se mexia. Eu avisei! – Somente pensou Antônio, não querendo dizer isso para o amigo, para não irritá-lo ainda mais naquela hora. Damião segurou forte na maleta, mas sabia que se aquele sujeito enorme ataca-se sequer teriam tempo para abri-la... 438 O enorme sujeito parou bem próximo aos dois, e mesmo assim, não era possível ver seu rosto, mas lhes dirigiu uma voz grossa e poderosa aos seus interlocutores: - Por gentileza, vi o que os senhores fizeram por estes irmãos a tarde. Contudo, lhes digo que tem pessoas nos vigiando! Portanto, recomendo que vocês joguem algumas moedas ao chão, e se dirijam para trás daquele pilar, chegando lá, fiquem próximos às crianças e das mães... Damião ficou espantado, a voz daquele sujeito era cortante, e correspondia perfeitamente a sua estatura, sendo grossa e ao mesmo tempo rouca, contudo, a educação e tom com que respondia, surpreendeu aos dois, os quais imediatamente retiraram algumas moedas dos bolsos das batinas, jogando-as ao chão. - Agora vá para o local que eu ordenei! – Ordenou o sujeito enorme. Damião e Antônio imediatamente acataram a ordem, não estavam em situação de protestarem. Logo após eles saírem, o sujeito voltou a sentar-se junto ao grupo. Quando chegaram até o local indicado, os dois assustaram-se, porquanto, todas as crianças estavam encolhidas juntas, e as mães as abraçavam. Damião pôde perceber que nas mãozinhas das crianças estavam os rosários que ele distribuiu. - Damião, você acha que aquele sujeito está prendendo estas crianças e mães? E o que ele quis dizer com: nós estamos sendo observados? - Não sei, mas acho melhor ficarmos aqui com estas pessoas. Vou deixar aberta a maleta, se algo vir, podendo ser aquele homem ou outra coisa, não diga nada, pegue armas e defenda-se! Antônio ficou assustado, nunca havia presenciado uma batalha com o amigo, era evidente que ele não tinha ponderações quando o assunto era proteger crianças, afinal, seu maior dom era este, por isso foi escolhido para proteger Joana em seu nascimento. Após uns trinta minutos, Antônio e Damião já se questionavam se algo ia acontecer naquele local, estava tudo muito quieto, e os mendigos que ficaram pareciam que estavam tentando transparecer para alguém que tudo estava transcorrendo como um dia comum. De repente ruídos vindos de longe cortaram o silêncio... - O que é isto Damião?! – Antônio não conseguiu esconder o medo, que transpareceu em seu questionamento que veio carregado de assombro. - Acho que é barulho de motocicletas! 439 Em questão de minutos os ruídos se tornaram mais próximos, e junto aos sons dos motores das potentes motocicletas, vinha risos e gritos, que mais pareciam de loucos ou drogados. Damião e Antônio colocaram as cabeças na tentativa de olharem o que, ou quem estava vindo, contudo, para suas surpresas o que viram não era nada bom... Eles avistaram na média de uns quarenta motoqueiros se dirigindo na direção dos mendigos, e suas intenções não eram das melhores, eles gritavam como se quisessem apavorar os pobres indivíduos, e pareciam estarem armados, muitos deles rodavam correntes, mais certamente tinham outras armas. As grandes maiorias dos arruaceiros estavam com enormes tochas nas mãos, e gritavam frases ameaçadoras como: “vamos colocar fogo nestes vagabundos!” entre outras. - Temos que ajudá-los Damião! – Antônio ficou desesperado, não entendia nada de batalhas, mais tinha que fazer alguma coisa. Damião olhou para o amigo, aquilo era o certo, mas não o sensato a fazer pelo menos naquele momento. - Acho que não teremos muita chance com aquela gangue... Além disso, temos que ficar para proteger estas crianças e mulheres, se eles os acharem, ai sim será uma carnificina! Deve ser que aquele homem queria que ficássemos aqui para ocultarmos e acalmarmos estas pessoas. Antônio concordou somente assentindo com a cabeça. Após muita algazarra, os motoqueiros foram estacionando suas grandes motocicletas formando um circulo perfeito em volta da parede que os mendigos se encontravam, tudo levava a entender que eles queriam literalmente cercar todos os mendigos para não fugirem, e, principalmente, de uma forma que não sobrasse ninguém para contar história. - Isto não me parece nada bom Damião! Acho que eles rapidinho vão matar aquele mendigos, e, após, quando perceberem que não há crianças e mulheres certamente vão dar uma busca. Quando nos encontrarem não teremos chance, não temos sequer como fugir deste beco. Damião não respondeu, somente olhou para o amigo, ele tinha razão, estavam em uma situação extremamente perigosa. Os mendigos altos e fortes que estavam de capuzes, os quais chegaram pouco antes de Damião e Antônio se aproximaram, pareciam não ligarem muito para os motoqueiros, eles permaneceram conversando entre si, e aquecendo as mãos nos galões de fogo que haviam acendido minutos antes. 440 Os outros moradores de rua que estavam ali durante toda tarde, foram todos se dirigindo para um canto, como se quisessem se proteger, mas não tinham muita saída. Os motoqueiros foram se aproximando, e à medida que chegavam mais perto, Damião pôde perceber um forte e alto motoqueiro que parecia ser o líder. Ele tinha cabelos compridos, e uma enorme barba, aparentando ter uns cinquenta anos, o que contrastava ao seu tipo totalmente maloqueiro, tecendo algumas ordens para seus companheiros, onde podia se ouvir: “vá por aquele lado!”, “Não deixe ninguém fugir!” “Faça-os sentirem muita dor!”, entre outros... À medida que iam recebendo as ordens do grandalhão, os outros motoqueiros iam cumprindo, e aos poucos foram apertando o cerco aos mendigos já acuados. - Avancem homens, não quero que sobre ninguém! Façam estes vagabundos sentirem enorme dor, matem eles aos poucos, cortando membro por membro! – Gritou por fim o sinistro motoqueiro grandalhão... 441 CAPÍTULO 105 Berlim – Alemanha, 1982 - Você prometeu que nada iria acontecer à minha filha! E agora me vem com isso! – Pierre gritava de sua poltrona em seu escritório em Berlim, como sempre havia mentido sobre a viagem para outro País somente para ficar longe de Estela, ao passo que à frente dele uma figura muito estranha somente o observava. O interlocutor do pai de Estela era um homem ruivo, seus cabelos eram vermelhos como fogo, tendo um estranho bigode da mesma cor, em forma de caracol. Era extremamente pálido aonde se chegava a ver suas veias, e os olhos era de um verde musgo. Vestia um terno impecável, com uma gravata borboleta excêntrica, a qual era de uma cor viva que contrastava ao fraque. Ele olhou com seus grandes olhos diretamente para Pierre, o qual desviou o olhar, dizendo: - Eu sou um comerciante meu amigo. Vendo o que ninguém quer ou pode vender, mais cobro o preço justo, porquanto, na lei da oferta e da procura posso lhe dizer que isso será uma bagatela. - Bagatela?! – Pierre gritou transtornado, mais ainda assim não olhando diretamente ao homem. – Minha filha foi abusada por um maluco estranho, e o que aconteceu naquela noite não foi definitivamente nada normal! E, você me vem dizer que isso é uma bagatela?! - Sim. – ele foi categórico. – E digo mais! Você não tem como reclamar, porquanto, sabia dos riscos... – fez uma pequena pausa observando que Pierre ainda não o encarava. – E quero que saiba que meus patrões não gostam de pessoas que tentam gracinhas, por isso fique na sua cumprindo o combinado até o fim. - Ficar na minha?! O médico me telefonou dizendo sobre uma história de minha pequena Estela estar... – às palavras pareciam ter sumido, então apenas concluiu de uma forma engasgada. – grávida! - Sim, conforme nosso contrato rege, eu teria uma noite com sua filha, podendo escolher o cliente. Em troca você receberia status e glamour no mundo profissional, e, ainda, ao final do acordo sua filha voltaria a ser uma pessoa normal. Creio que tudo esta conforme restou acordado. - Acho que o senhor não entendeu. Eu disse que minha filha está grávida, creio que isso não estava dentro do contrato. - Mais o que você acha que ocorre em uma noite de amor? Às consequências são consequências, não podemos ter o prazer sem enfrentálas. - Isso não é consequência, isso é abominável, vocês me enganaram para usar minha filha para gerar o que nem sei o que é. 442 - Você, um advogado de tanto talento dizendo que foi enganado pelas cláusulas de um contrato que você leu e releu?! Por favor, me poupe meu caro Pierre. Após dizer isso Pierre se perdeu um pouco em seus pensamentos, e, o homem já estava saindo do escritório quando advertiu: - E saiba que se algo acontece à criança, você e sua família, ou melhor... – a pausa veio mais como uma forma de deliciar-se com a situação. – Filha, porquanto, são somente dois em toda aquela mansão! Irão arcar com as consequências pessoalmente com meus patrões. Ao bater a porta o estranho mercador deixou para trás um homem acabado. 443 CAPÍTULO 106 São Paulo – Brasil, 1982 Quando os mendigos já estavam para serem aniquilados, algo estranho aconteceu. Os mendigos encapuzados começaram a se levantar, e o mais alto, o qual havia ido conversar com Damião e Antônio anteriormente, tomou à frente deles, gritando: - Isso ai homens! Vocês ouviram as ordens do balofo, não é para deixarem ninguém fugir, por isso, vamos cercar mais bem este lugar! Em questão de segundos os mendigos encapuzados retiraram dos sacos que estavam nas suas costas enormes armas, mirando imediatamente para os motoqueiros, os quais rapidamente se jogaram ao chão, mesmo estando armados, visto que não aguardavam tal reação. Para espanto ainda maior, nenhum mendigo atirou em qualquer motoqueiro, os quais tentaram era retornarem para as motos que eles haviam colocado ali cercando o local antes do ataque final. Porém, antes destes chegarem, os mendigos, ou melhor, agora restando claro serem falsos mendigos, atiraram todos nos tanques das motocicletas. Os tiros eram certeiros, e as grandes motos começaram a explodir, formando um grande cerco de fogo! Agora literalmente tudo estava cercado... Damião e Antônio não acreditavam naquilo que seus olhos viam, era realmente inconcebível. A habilidade daqueles homens era extraordinária, pareciam ser um esquadrão de elite, os tiros foram certeiros, não desperdiçaram nenhuma bala. - Rápido irmãos! A isca funcionou, agora corram para junto de suas famílias! – Ordenou o grande homem encapuzado aos mendigos acuados, os quais foram imediatamente se levantando e correndo em direção onde se encontrava Damião e Antônio, estavam tão atordoados que pareciam baratas correndo de um inseticida. Os motoqueiros ao perceberem que a situação havia se invertido, estavam atordoados, para onde olhavam não viam saída, somente chamas que cercavam todo local, a única forma de saírem vivos era lutar... Todos os motoqueiros foram se levantando, e começaram a contraatacar. O grande mendigo de capaz soltou uma enorme gargalhada, o medo dos motoqueiros parecia excitá-lo. – Vamos homens, lembre-se de minhas ordens, quero todos eles vivos e crucificados naquela parede! – Disse aos homens e apontou para uma enorme parede que se encontrava ao lado deles. - Crucificados?... Como assim?! – Questionou Antônio assustado após ouvir as intenções daqueles mendigos, que naquele momento pareciam tudo para ele, menos moradores de rua... 444 Damião não respondeu, porquanto, prestava atenção em tudo. Aquilo lhe intrigava, visto que era realmente muito estranho ver aqueles homens vestidos de mendigos mais que pareciam soldados antigos! Ele podia sentir a forte energia deles de longe, parecia que lutavam lado a lado há milênios, a interação, a organização, frieza, tudo levava a crer que não eram simples homens... De repente uma forte explosão chamou a atenção de Damião, retirando-o de seus pensamentos, parecia uma bomba que fez tremer tudo. Os mendigos que haviam corrido do local da batalha e estavam acabando de chegar ao local de abrigo caíram ao chão, mais por medo do que pelo abalo do chão. Damião e Antônio correram para ajudá-los, e quando Damião olhou para os homens de capuzes não acreditou, não viu nada, somente uma fumaça cobria o local, parecia que a bomba explodiu tudo. – Será que eles morreram?! – Pensou ele assustado. O coração de Damião começou a bater muito forte, visto que era certo que se aquele homens de capuzes morreram na explosão, o que era inevitável, em poucos minutos os motoqueiros estariam atacando aquele local, e para piorar eles não tinham saída... 445 CAPÍTULO 107 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 Para não tentar pensar no ser que já estava próximo Michael começou a pensar no que havia aprendido na ordem secreta sobre tal ser mitológico: Em muitos mitos este ser representa proteção. Lado outro, é certo que na mitologia grega a esfinge não representa proteção mais perigo. Pelo que vejo realmente estavam certos os relatos de que ela é um monstro cruel, que ainda era perversa e se dizia bondosa ao propor difíceis enigmas a viajantes, ao passo que, se não conseguissem decifrá-los, eram devorados pelo monstro. Há, e ainda tem a parte que ela se encontra presente na lenda de Édipo, que decifra o enigma por ela lançado e depois parte para o seu destino fatal, simbolizando, assim, o perigo inevitável. Raciocinando assim, posso, portanto, afirmar com certeza que as pessoas que utilizavam seu simbolismo como proteção estavam certas, porquanto, pelo que percebi hoje ela protege itens valiosos. Mais porque ela não propôs nenhum enigma e foi logo nos atacando de longe? – era estranho, mas Michael não parava de raciocinar e se questionar, isso o acalmava muito em situações como aquela, sempre acreditou que se ficasse prestando muita atenção quando precisasse correr de algo, seu coração iria disparar mais, sua pressão, tudo, fazendo-o gastar nisto parte de suas energias, por isso, não parava de correr e raciocinar. – Já sei, ela deve não ter proposto qualquer enigma porquanto nesta era é sabedora que com armas modernas e outros itens mesmo que proponha e ganhe terá que lutar, assim, ela protege sem qualquer enigma, tentando ao máximo que o individuo não chegue próximo ao que se encontra guardando. - Michael! – Charles gritou acordando o agente de seus devaneios. - O que foi? – Ele disse como se estivesse prestando atenção em tudo desde antes. - A besta está muito próxima, e a saída muito longe, o que vamos fazer? - Chefe, literalmente eu não sei. Creio que continuar correndo e rezar por uma graça seria a escolha mais sensata! Porquanto, se todos os agentes foram derrotados pela fera, se pararmos para lutar será suicídio. Arthur estava muito próximo da fera, contudo, não conseguia chegar ainda mais perto, foi quando algo surpreendeu a todos... 446 CAPÍTULO 108 São Paulo – Brasil, 1982 Damião não acreditou no que seus olhos viam... Várias balas estavam cruzando a fumaça provocada pela bomba, disparadas de dentro da cortina de fumaça formada pelas explosões em direção aos motoqueiros, os quais, antes das balas começarem a acertá-los estavam cantarolando de alegria, crentes de que as várias granadas que arremessaram nos misteriosos homens de capuzes haviam desintegrado os mesmos, mas parecia que haviam cantado vitória antes da hora... As balas acertavam os motoqueiros nas cabeças, e estes com o forte impacto eram arremessados para trás, a precisão dos disparos assustavam. Damião percebeu que todas disparadas encontraram seu destino bem na cabeça de um motoqueiro, esteja ele parado ou correndo de medo. Os motoqueiros estavam novamente atordoados, os que ainda estavam de pé, disparavam suas armas para qualquer lado, tendo em vista que não viam sequer de onde vinham as balas que lhes acertavam, devido a forte fumaça que agora estava chegando até eles levada por uma rachada de vento. À medida que a fumaça ia de encontro ao local onde se encontravam os motoqueiros, Damião começou a ter uma visão mais nítida do local onde estavam os homens de capuzes, ponto em que minutos antes, havia sido alvejados por séries e mais séries de granadas. - Aquilo não pode ser real! – Disse Antônio para Damião ao ver também o local onde estavam os homens de capuzes. Damião novamente não respondeu, suas dúvidas estavam sendo esclarecidas, aqueles homens não eram normais, eles possuíam uma capacidade de combate extraordinária, misturavam técnicas antigas, com equipamentos militares de última ponta. Realmente a surpresa dos dois era compreensível, o que eles viam era algo surpreendente, ou melhor, o que eles não viam, já que somente podiam avistar uma carapaça perfeita, que mais parecia uma grande caixa metálica, e os tiros que acertavam os motoqueiros direto nas cabeças vinham de alguma forma lá de dentro... - O que é aquilo Damião? Como aquela caixa foi parar ali? E ainda mais soltando tiros como se fosse um tanque de guerra? – Questionou Antônio atordoado. Antônio estava espantado, mas Damião entendia o que aqueles homens haviam feito. - É uma técnica militar utilizada já há muitos anos atrás, a qual consiste simplesmente de todos os soldados usarem os escudos juntos de forma a formarem uma carapaça, com isto nada poderá atingi-los, é a perfeita união que faz a força... – Respondeu Damião, interrompendo os ensinamentos, 447 devido ao fato de que parecia que todos os motoqueiros já estavam caídos ao chão. - Mas aquele revestimento não pode ser escudos! – Antônio não se deu por satisfeito. – Mesmo agora que a fumaça se extirpou e a imagem é nítida, não consigo enxergar qualquer ponto não coberto na carapaça, o que não se admite, tendo em vista que nem se eles fossem muito treinados não conseguiriam formar uma proteção com tanta perfeição. Damião teve que concordar com o amigo, aquilo era perfeito, não apresentava nenhum vestígio de qualquer ponto descoberto. Contudo, quando o último motoqueiro caiu ao chão, os dois se espantaram, porquanto, uma forte voz ecoou de dentro da carapaça... Eles logo reconheceram a voz do enorme mendigo encapuzado, dando mais ordens aos seus companheiros. - Homens! Desativar imã fixador dos escudos! E como passe de mágica, um forte estalo irradiou da carapaça, como uma onda magnética, e em segundos as chapas de metal começaram a se moverem aos poucos... Quando Damião e Antônio perceberam que eram realmente escudos presos as mãos dos homens, suas expressões não eram mais de dúvida, mas de incerteza, aquilo era ao mesmo tempo aterrorizante e esplêndido. Quem são estes homens? Como possuem tanto treinamento? Estas somente foram algumas das perguntas que eles teciam em suas cabeças, mas que não questionaram um ao outro, logicamente, porquanto, sabiam que nenhum deles teria qualquer resposta. Os homens encapuzados largaram os escudos e corriam com perfeição em volta dos motoqueiros caídos ao chão, alguns recolhiam suas armas, e outros os arrastavam para próximo à parede, antes indicada pelo mendigo enorme, que para todas as circunstâncias aparentava ser o líder. Em questão de minutos todos os motoqueiros estavam amontoados próximo ao muro, e um dos homens encapuzados se dirigia ao local onde estavam os escudos arrastando um grande saco com todas as armas recolhidas. Tudo era feito com extrema perfeição e sincronismo. - Será que eles vão queimar os corpos?... – Questionou Antônio, sendo interrompido por algo que acabara de ver e que em parte respondia a sua pergunta, parecia impossível, mais de uma forma estranha os motoqueiros estavam se remoendo no chão, como se estivessem se contorcendo de dor, certamente não estavam mortos... 448 - Vamos lá, preguem-nos neste muro, que já volto para iniciarmos o trabalho. – Disse o enorme homem encapuzado, retornando ao local onde estavam os escudos e as armas. - Como assim “preguem-nos”? O que este homem pretende fazer com aqueles motoqueiros? – Questionou Antônio que ainda não acreditava naquilo que estava presenciando. - Não sei, mas se minha memória não falha, antes de iniciar isto tudo, este homem falou aos seus colegas encapuzados que queria os motoqueiros vivos, e que iria crucificá-los... – Respondeu Damião, demonstrando sua preocupação, mais ainda não acreditando que aquilo seria levado a cabo. Contudo, suas dúvidas viraram certeza quando eles viram o que o grande homem foi buscar próximo aos escudos e armas, pareciam serem enormes pregos, os quais cintilavam devido ao fogo à volta. Junto aos pregos o homem pegou uma enorme sacola, e saiu calmamente arrastando as mesmas voltando novamente para junto dos outros homens. - Temos que fazer alguma coisa! – Disse Antônio assustado. - Não vamos fazer nada! Não sabemos quem são aqueles homens, e temos é que proteger estas pessoas. - Proteger estas pessoas daqueles homens? Não seja tolo Damião! Eles acabariam conosco antes mesmo de nós piscarmos, você mesmo viu, eles acabaram com quase cinquenta homens em questão de segundos, e agora parece que estão prontos para crucificá-los! - Então Antônio você mesmo se respondeu! Já que não temos chance com eles, como faremos alguma coisa? Antônio calou-se arregalando os olhos, o que o amigo estava falando fazia enorme sentido, eles não tinham opções... Quando olharam para os homens encapuzados levaram um susto, visto que avistaram que eles já haviam pregado às mãos e os pés de pelo menos cinco homens, e a velocidade com que eles faziam isto era algo assustador... Enquanto dois levantavam um já ia pregando, e isto tudo simultaneamente. Os gritos de dor eram inevitáveis, e, em questão de segundos, o silêncio do local foi quebrado por uma série de gemidos e enormes gritos de aflição. Antônio virou-se para Damião, contudo, não emitiu nenhum som, mas seus olhos diziam tudo, aqueles homens encapuzados somente poderiam ser demônios, porquanto a frieza deles em fazer aquelas atrocidades era absurda, e pareciam gostar do que estavam fazendo. Devia ser uma legião do mal, treinada para acabar com tudo a sua volta, um verdadeiro exército das trevas... 449 CAPÍTULO 109 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 Quando tudo parecia perdido, porquanto, Arthur não conseguia se aproximar o suficiente e em tempo. Bem como, Charles e Michael já estavam literalmente nas mãos da besta, ou melhor, patas! Algo inusitado ocorreu... A Esfinge simplesmente caiu ao chão se prostrando, e Arthur que não esperava pelo tombo quase trombou na mesma. Sua queda ocorreu tão repentina e brusca que ao rolar com a queda a Esfinge quase esmagou Charles e Michael com seu grande corpo. O tombo foi tão grande que atordoou a besta, a ponto dela ficar tanto tempo parada que os agentes que chegavam após correr muito e alcançar Arthur que estava analisando a mesma de prontidão já sentiam um pouco de esperanças dela estar morta. Charles e Michael por outro lado não quiseram colocar nada em risco, mesmo sem qualquer folego continuaram correndo. - Como ela caiu desta forma? – Foi George que questionou apontando para a besta com olhar perplexo. Em instantes todos se espantaram, porquanto, um pequeno sorriso se fez ecoar de trás de algumas rochas empilhadas, onde há muitos anos deveria ter sido alguma construção, contudo, naquele momento não passavam de um amontoado de escombros. Ao escutarem o sorriso todos os agentes e Arthur viraram-se rapidamente apontando às miras a laser das armas para o local, foi quando perceberam o que estava ali, e não acreditaram... 450 CAPÍTULO 110 São Paulo – Brasil, 1982 Damião e Antônio assistiam a tudo perplexos, afinal, tudo acontecerá tão rápido que eles não tinham mais qualquer reação, e no fundo sabiam que nada poderiam fazer. Os homens já estavam acabando de pregar o último motoqueiro na parede. Do local onde se encontravam Damião e Antônio não podiam ver os corpos pregados, somente se ouviam os gritos de aflição, e os risos dos homens encapuzados, seus rostos ainda continuavam um mistério... - Você não acha estranho eles esconderem os rostos? Afinal de contas, um demônio encarnado em qualquer homem não necessitaria ter privacidade de suas feições materiais, já que o corpo não lhe pertence! – Disse Damião quebrando o silêncio aterrorizante que havia se formado. - É mesmo... Não havia pensado nisso! – A resposta de Antônio veio mais em tom de alívio, queria acreditar que eles não fossem demônios. Quando os corações de Damião e Antônio passaram a bater mais aliviados com a recente e ainda precoce conclusão que havia sido alçada, suas esperanças se esvaíram novamente. O grande homem bateu nas costas de alguns de seus companheiros, lhes deu algumas ordens que eles não puderam entender, e após começou a andar em direção ao local onde eles se encontravam. - O que faremos agora Damião? – A aflição justificável de Antônio restou evidente, visto que suas palavras vieram carregadas de forma eufórica pela adrenalina. Damião abriu a maleta, pegou um pote com água em uma mão, e na outra uma arma. - Vamos! Pegue uma arma e um pote de água benta, se o exorcismo deste infeliz não der certo, não podemos ter piedade... Manda bala nele! Antônio virou-se para os mendigos, principalmente as crianças: - Todos fiquem aí nesse canto, e não saiam para nada, nada mesmo! Eles mantiveram a mão com a arma escondida nas costas, e fingiam que estavam bebendo a água do pote, quando os passos pesados e carregados começaram a serem ouvidos, eles sentiram que o homenzarrão estava próximo, muito próximo... Mal apontou na abertura do beco, Damião e Antônio imediatamente jogaram o conteúdo de água benta dos potes na cara do grande homem 451 encapuzado, e começaram a rezar um em latim e outro em aramaico iniciando o exorcismo. Lado outro, aquilo estava muito estranho, o homem sequer se mexeu com a água benta, não saiu nem fumaça de sua pele, algo incomum. Será que seu poder é maior ainda do que pensamos? Pensou Damião. Quando retiraram as mãos das costas, e o homem encapuzado viu as armas em suas mãos, em questão de segundos ele colocou as mãos nas costas, e quando as abaixou, lançou duas coisas brilhantes rumo às armas, e, inesperadamente, antes que eles pudessem pelo menos pensar em atirar, as armas não mais estavam em suas mãos, caíram com o impacto daquilo que foi arremessado. Eles ficaram atordoados, sequer haviam entendido o que tinha sido atirado em suas direções a ponto de retirarem suas armas somente com um forte impacto e pouca dor, e quando olharam para o chão, puderam ver qual eram os objetos capazes de tamanha façanha, dois pequenos bumerangues prateados. Não acreditaram. A velocidade e precisão daqueles pequenos objetos, diziam tudo sobre o homem que os lançou, ele não era apenas ágil, era um dos melhores, um verdadeiro Deus da guerra... - Por favor, faça o que quiser conosco, mas deixe estas pessoas irem! Eles são famílias, sofrem com a miséria, e permanecem assim não porque querem, simplesmente é porque tem alguma pendência há passar, e juntos! São unidos e solidários, por isto lhe rogo meu senhor que deixe os mendigos irem, não iremos mais resistir... Tem ali crianças! – Implorou Damião com lágrima nos olhos, clamando de uma forma bem autentica e desesperada por piedade com as mãos para cima. Antônio nada falou, ficou quieto, parado, mudo, sentia a morte se aproximar, mais não tinha medo, sabia que algo melhor lhe esperava, somente ficava pesaroso por não ter conseguido cumprir sua missão. Inexplicavelmente o homem soltou uma enorme gargalhada, e falou calmamente: - Vocês resistirem?! Isto deve ser alguma piada! Nem em seus melhores sonhos conseguiriam resistir a um ataque meu! Damião e Antônio ficaram atordoados, parecia que aquele homem além de matar, gostava de caçoar de suas vítimas. Contudo, inexplicavelmente seus semblantes se modificaram quando viram o que o homem fez em seguida. Aos poucos ele foi retirando o enorme capuz, e eles já estavam preparados para ver alguma figura demoníaca horripilante. Contudo, o que viram os chocaram ainda mais, devido a ser totalmente inesperado... 452 CAPÍTULO 111 Berlim – Alemanha, 1982 - Vilalba! Estou ainda em Berlim. Não quero que conte para Estela. – Pierre dava às ordens ao telefone, contudo, seu ser estava aniquilado, e a empregada notou isso... - Porque se encontra tão triste doutor? Algum problema? - Não! – ele respondeu de uma maneira grosseira. – Somente diga para Estela que estarei fora por mais um tempo, após conversaremos a respeito. - Tudo bem senhor. – Respondeu a empregada já desligando o telefone. Sabia que Pierre poderia ficar até mesmo agressivo, então resolveu responder e desligar o mais rapidamente possível. - Quem era no telefone? – Questionou Estela descendo às escadas da mansão. - Era seu pai. Ele queria saber como você estava e lhe dizer que em breve estará de volta. Falei que você estava no banho conforme havíamos combinado. - Muito bem minha amiga, se ele voltar a ligar vá inventando desculpas. – Estela disse já se dirigindo para o jardim. Vilalba percebendo que a menina iria ficar sozinha em seus pensamentos, como sempre gostava, resolveu dizer: - Lembre-se que amanhã teremos que ir fazer os exames clínicos para checar se se encontra tudo certo com o bebê. - Certo Vilalba, ligue para o hospital e marque tudo, quero estes exames prontos. Vilalba se assustou com a forma da resposta, parecia que Estela estava mais forte, como se estivesse não apenas mais convicta de suas decisões, mais inexplicavelmente ela transmitia uma autoridade que não lhe era comum... 453 CAPÍTULO 112 São Paulo – Brasil, 1982 Quando o homem misterioso acabou de retirar o capuz, o espanto de Damião e Antônio era visível, eles estavam literalmente de bocas abertas devido à surpresa. Ao contrário do que imaginavam, certamente não se tratava de um demônio, mas sim de um jovem que devia contar com no máximo vinte e oito anos. Seus cabelos eram lisos e um pouco longos, rentes ao ombro, loiros em tom de mel, e sua pele era rosada, possuindo penetrantes olhos azuis que brilhavam com os feixes de luzes que vinha de um pequeno poste próximo a entrada do beco. Para completar, o jovem exibiu um sorriso cativante aos dois, mostrando possuir dentes perfeitos. - E ai meus amigos... Então vocês acham que eu sou um demônio? Um ser das trevas! Ou algo deste gênero. Para retirar tais suspeitas, me permitam me apresentar. – ele fez uma reverência, como se estivesse agradecendo ao publico em uma peça teatral. – Atendo atualmente pelo nome de Lucas, e em outros momentos já tive vários nomes nesta dimensão material. Atendido como Rei, príncipe, etc., sendo o principal e mais conhecido Alexandre, comumente chamado de Grande, Alexandre o Grande! Nesta minha forma que possuo desde que deixei a cidade, devido a uma concessão, eu e meu exército permanecemos imortais, desde aquela época meu corpo material não mudou. Damião e Antônio estavam completamente atordoados. Aquele não poderia ser ele, mas a destreza, força, capacidade de comando, afinal, tudo era inegável, estavam diante de um dos mais famosos Deuses da mitologia, o verdadeiro Deus da guerra. Segundo a lenda, o Deus da guerra teria descido a dimensão material pela última vez como Alexandre, e, desde então, sumiu misteriosamente de todas as dimensões. Então agora está explicado, ele nunca regressou para a forma imaterial devido a esta concessão, que deve ser uma forma de maldição... – Damião raciocinava quase sorrindo com aquilo, estava diante de um ser muito mais experiente que ele, mais ao mesmo tempo, amaldiçoado como um simples mortal. – Mais ser imortal não seria a pior das maldições! – Concluiu ele, por óbvio, também em pensamento. Antônio por outro lado também conhecia a história do Deus da guerra, e raciocinava também naquele momento sobre o que sabia: Como dizia a lenda, quando os criadores ordenaram à descida dos Deuses para a dimensão material para encarnarem como humanos, e, assim, sentirem na pele o que eles passavam, ele se mostrou o mais entusiasmado, dizendo que estava muito ansioso para lutar ao lado dos homens, não para destruir, mas para libertá-los de tiranos, e uni-los em uma causa maior. 454 - Vocês devem estar se perguntando como uma concessão de imortalidade seria boa, e, ao mesmo tempo seria ruim, mais saiba que é ruim no final das contas... – sua pausa veio carregada, como se de alguma forma estivesse cansado. – Além disso, a dimensão material acaba com a alma de um ser que sempre viveu para lutar, porquanto, aqui você tem que lutar até mesmo com você mesmo para não cair em tentações. – O jovem disse. - Pelo que diziam na dimensão sublime, você nunca parou! Esteve em todos os grandes eventos de revolução, e seu principal triunfo teria sido na encarnação como Alexandre, onde conquistou meio mundo de sua época. Até que sumiu... Ou melhor, agora sei a verdade. – Disse Antônio. - Pelo que ouvi, para muitos você foi um louco, para outros um verdadeiro Deus na terra, mais é inegável que revolucionou a sua época e o rumo da história com sua espada e sede de união. – Damião deu forças ao perceber que Lucas, ou melhor, Alexandre estava um pouco desanimado ao ter comentado como era difícil enfrentar o que ele estava chamando de concessão. - Eu fui um dos primeiros membros do Conselho Supremo, sendo minha ascensão após a retirada de meus poderes de Deus mitológico rápida, devido o fato de que em todas as minhas estadas na dimensão material, montei cidades, derrubei Reis tiranos, fui político influente, levei conhecimento onde antes somente havia desinformação e ignorância, dei um verdadeiro pontapé para a evolução do homem, e isso, utilizando da batalha física e intelectual, sempre pautado na ética, e nunca com deslealdade, possuindo extremo respeito e consideração por meus oponentes. – Ele desabafou. - Dizem que em batalhas você mobilizava seus companheiros de uma forma tão cativante, que os soldados lutavam como se estivessem batalhando para salvar a mãe biológica, e não a nação. Agora vejo que isso é realmente verdade, ao ver você com alguns destes que devem ser seus homens leais. – Antônio disse quase como um fã falando do ídolo. - É verdade! Eles estão comigo sempre para o que der e vier. Aqui estão apenas alguns, os outros estão espalhados, cada qual em uma missão. Damião levantou-se, caminhou vagarosamente em direção ao jovem agora sem medo, quando chegou perto, começou a ajoelhar-se em sinal de reverência. Contudo, foi imediatamente contido por poderosas mãos, as quais o agarraram pelos ombros com extrema força, alçando-o para cima. Logo após, quando viu que o senhor já estava em pé, o esguio jovem ajoelhou-se aos pés de Damião e Antônio. - Por que está fazendo isto? – Questionou Damião e Antônio quase que em uníssono. - De longe vi o que o senhor fez por aqueles moradores de rua! Você e seu amigo possuem grandes poderes, e acima deles esta seus bons corações. Por isto não poderia deixar que pessoas tão nobres como os senhores se curvassem a mim, quando o certo é o contrário. – Respondeu 455 calmamente o jovem ainda de joelhos, sendo que devido ao seu tamanho enorme, de joelhos ele quase chegava a ser maior que Damião que estava mais próximo. Damião ficou desconcertado, não esperava por aquilo, e ainda mais por aquela resposta. Antônio olhava tudo de longe, não acreditava no que estava presenciando, aquilo era totalmente diferente do que ele estava imaginando, naquele momento ele esperava já não estar naquela dimensão. Após um momento, o jovem levantou-se, ficando parado em frente a Damião, não falando nada. - Sei que você deve ter seus motivos Lucas, e até os entendo em partes, visto o que aqueles motoqueiros estavam prestes a fazer. Contudo, tenho que discordar da maneira voraz que você encontra torturando-os. - Venha Damião, e você também Antônio, porquanto, quero que vejam do que vocês estão tendo pena. – Respondeu o Jovem, virando-se e colocando o capuz sobre a cabeça, andando em direção à parede onde os motoqueiros estavam pregados. Lado outro, antes de dar o primeiro passo ele parou virando-se novamente, entregou dois pedaços de pano a eles, dizendo: - Por prudência quero que vocês coloquem isto na cabeça, não quero que eles vejam seus rostos materiais. Damião e Antônio ficaram sem entender, mas não questionaram, colocaram os panos na cabeça, de modo a tampar seus rostos, e imediatamente seguiram o jovem, o qual já estava muitos passos à frente e havia abaixado também o capuz. - Acho melhor vocês apertarem o passo, porquanto, eu tenho os passos largos! – Disse o jovem sorrindo. Damião balançou a cabeça com um leve sorriso, logo pensando: É incontestável o senso de humor deste jovem! Deixe ele ficar velho para ver se vai sorrir com as costas doendo. Pensou Antônio, apertando o passo para acompanhá-lo. Quando Damião e Antônio chegaram até o local onde estavam pregados os motoqueiros levaram o maior susto, a cena era literalmente horrível... O muro era enorme, e imediatamente Damião avistou algumas coisas pintadas neste, grandes símbolos, talvez os maiores, a estrela de Davi, uma cruz, pentagrama, etc. Contudo, ele assustou-se ainda mais com o material utilizado na pintura. 456 Literalmente aquilo é sangue... – Pensou Antônio também boquiaberto. - O que significa isso, porque pintar todos estes símbolos neste muro? – Questionou Damião. O jovem olhou para ele, contudo, Damião nada pôde perceber, tendo em vista que o capuz novamente cobria todo seu rosto. Então Lucas resolveu questionar: - O senhor já viu o que são estas pessoas pregadas no muro? Damião assustou-se, havia ficado tão entretido com as pinturas em sangue, que sequer olhou para as pessoas. Quando avistou o primeiro sua espinha gelou, aquilo era inexplicável. Era estranho, era como se os homens estivessem possuídos por algum demônio, mas suas feições eram de algo ainda mais assustador, era como se eles fossem as próprias pessoas, tendo em vista que em uma simples possessão as feições materiais das pessoas não se modificam, mas aquelas pessoas nem pareciam humanos, mas sim monstros. A maioria possuía olhos vermelhos, mas alguns eram totalmente brancos. Os rostos estavam desfigurados, muitos não possuíam nariz, boca, nada... Somente olhos, grandes e aterrorizantes olhos... - O que é isso? – Disse Damião apontando assustado para o mais estranho, o qual não possuía nada, somente sinistros olhos. - Ele é o líder! – Respondeu Lucas. - Achava que o líder era o de barba e um cabelo enorme, sendo extremamente gordo, sendo o cara que havíamos avistado tecendo ordens. – Damião disse. - Líder... Que líder? Líder de que? – Disse Antônio apressadamente, demonstrando sua preocupação e impaciência, pela primeira vez se manifestando desde quando chegaram, antes estava muito atordoado para falar, mas agora clamava por respostas. Lucas fez um sinal para que eles o seguissem, e começou a caminhar mais para longe. Quando estavam a certa distância do muro, ele parou, mas continuou a olhar para o muro, e apontando o dedo indicador questionou: - Conhecem aqueles símbolos? - Lógico! – Disse Damião, – Todos! Só que nunca vi alguém fazer uso deles simultaneamente. 457 - A situação aqui é outra! Não pude me dar ao luxo de escolher um ou outro símbolo, tendo em vista que aqueles seres que ali estão pregados são algo difícil de serem definidos. - Como assim definidos? – Questionou Antônio. - O Damião já foi há certo tempo nos primórdios de sua evolução, uma espécie de exorcista de sua época, e diante de suas evoluções já se deparou com espíritos da mais variável espécie de forças... – Lucas iniciou as explicações. Damião somente afirmou com a cabeça, ainda tinha fortes lembranças daquele período, e não gostava de relembrá-las, considerava isto uma das mais difíceis situações, porquanto, conforme costumava definir, uma pessoa com um demônio é e não é a pessoa ao mesmo tempo, algo que requer muita cautela. Além disso, tem ainda casos que parecem possessões e não são, o que torna tudo ainda mais difícil. - Portanto, como eu não poderia saber qual destes símbolos poderiam funcionar como um modo de aprisionar estes demônios, tendo em vista que há ali umas vastas diversidades deles, com poderes e formas diferentes, optei por usar todos, e até o momento parece ter funcionado. – Respondeu Lucas. - Mas aqueles seres não parecem demônios, você acha que são o que? – Questionou novamente Antônio. - Não sei meus amigos... Tenho que confessar que nunca havia visto alguma coisa deste jeito. Segundo uma fonte, eles são uma espécie de demônios com poderes extremos que foram concedidos pelo próprio Lúcifer. Está mesma fonte me disse que eles são capazes de se apoderar de tal forma do corpo material da pessoa que de algum modo este poder do mal que lhes foram concedidos interagem com o corpo material, formando estas aberrações! Meus homens fizeram alguns testes básicos, e pelo o que consta, eles não necessitam mais respirar, comer, nada... Lucas fez uma pausa pensativo, e por fim resolver dar sua conclusão: – Segundo os testes de minha equipe, parece que eles são o verdadeiro exército das trevas que vai atuar na dimensão material, para a batalha final, tem alguns que possuem células e órgãos de animais. - Mas como vocês conseguiram derrubá-los com tamanha precisão? Tudo pareceu tão fácil! E como assim animais? – Indagou Damião. - Fácil?! – ele questionou com uma entonação de espanto. – Vocês não devem estar falando sério! Estes são partes dos meus melhores homens, os quais são de longe o melhor exército que conheço. Creio que se não tivéssemos a informação de que eles caiam com uma mistura de sal grosso, água benta, prata, ouro, chumbo, e madeira sagrada direto na cabeça, nunca teríamos derrubado eles com balas normais, nem com água benta. Além disso, 458 muitos já haviam se recuperado antes mesmo de os pregarmos naquela parede! Para minha equipe fazer os testes, tivemos que usar equipamentos de última geração, e ao mesmo tempo utilizar métodos medievais. Por isso deixei parte de meus homens lá no nosso escritório na Suíça, enviei os dados por aparelhos modernos, e eles analisaram tudo em tempo recorde, mas ainda encontra-se pendente de algumas confirmações, principalmente, sobre esta mistura com animais. - E quem prestou as informações para que vocês pudessem vencer? – Questionou Damião. - Acho que ele fez uma visita para o Antônio noite passada e também interagiu em seu sonho Damião! Mas acho que não posso ainda lhes contar quem seja, da mesma forma que pelo que consta, ainda não podem dizer muito sobre um tal de Senhor da Luz que o senhor Damião anda protegendo, o qual está recebendo e proporcionando proteção no mundo das trevas. Damião ficou mudo, aquilo o havia pegado de surpresa. Ele tinha certeza que ninguém além de Miguel, ele e mais alguns poucos membros do Conselho Supremo tinham conhecimento do Senhor da Luz ter mudado de lado. Parece que os segredos são mais difíceis de guardar do que imaginava. – Pensou... 459 CAPÍTULO 113 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 Os agentes e Arthur não acreditavam que alguém tão pequeno e franzino havia conseguido derrubar a fera e literalmente salvar a missão. O mais assustado era sem sombra de dúvidas George que disse como um louco: - Mahesh! Como você conseguiu está proeza? Ao passo que o pequeno e ao mesmo tempo grande guerreiro respondeu-o até inflando o peito demonstrando sua virilidade: - Com este objeto que você havia demonstrado pouco caso com seu poder de destruição e aniquilamento. – O exagero foi proposital. Mais ele ergueu a pulseirinha em seu braço como se fosse a arma mais poderosa do mundo. - Não acredito? – Bradou George. Até mesmo os outros agentes estavam transtornados, queriam explicações rápidas, até mesmo, porquanto, a fera parecia não ser muito problema, visto que ela agora sequer se mexia. - Porque ela não se mexe? – Berrou Russo que parecia ser o único que temia qualquer reação da fera. - Eu apliquei uma espécie de sedativo poderoso. – ele respondeu sequer olhando para Russo, e, ainda, falando como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Além disso, se ele não fizer efeito, e ela levantar acionará uma bomba que trucidará todo seu corpo. - Bomba! – o espanto veio acompanhado de uma expressão não de temor, mais de raiva pela forma que o maluco do Arthur estava tratando aquilo. – Não sei se notou, mais estamos ao lado dela. - Acalme-se, é uma bomba especial, desenvolvida... - Por um de seus amigos ultrassecretos em um laboratório ultrassecreto, de tecnologia inigualável, que não devemos temer porque ela estoura bolinhas de sabão que vão sufocar um monstro destes! – O desdém e misturado ao tom sarcástico de Russo foram a mola para atrapalhar Arthur. Ao contrário do que os outros pensaram, ou seja, que o velho iria se irritar, ele simplesmente olhou para Russo continuando sua explicação: - Consistindo em pequenas esferas que ficam sob a pele do individuo, desenvolvida para ao ser acionada entrar na corrente sanguínea, e irem contra o fluxo sanguíneo, e, ao chegarem ao coração estouram aniquilando o ser e não ferindo ninguém ao redor. 460 Ao terminar Arthur já se virou olhando para Mahesh, tudo sob os olhares de espanto de todos os agentes com aquela explicação, principalmente Russo que nada mais disse também olhando para o pequenino. - Quando acordei... – ele fez uma pausa olhando para George fechando o cenho em sinal de reprovação a atitude de tê-lo apagado. – Percebi que realmente eu não poderia fazer muita coisa na batalha. Contudo, este objeto tem uma espécie de corda fina como uma linha de pescaria, utilizada para escaladas e também para enforcamento, a qual é potente como um cabo de aço. – ele mostrou esticando uma espécie de linha. – Assim, quando Charles e aquele chinesinho passaram correndo, eu deduzi que algo os seguia, e, então amarrei a linha de um lado da estrada, e, do outro, fazendo uma armadilha para que o perseguidor pudesse tropeçar. Simples assim. - Simples, prático e eficaz meu pequeno amigo. – Arthur disse já abraçando fortemente o pequenino. Neste momento a fera soltou um rugido, e, ainda meio tonta foi se levantando. Os agentes saíram de perto já formando posição de ataque, e, o pequeno Mahesh correu para trás de alguns escombros. Só o maluco do Arthur que estava de costas para a fera não se moveu. - Saia de perto Arthur! – George bradou eufórico. - Nada. Tenho que confiar em minhas armas! – Ele respondeu calmamente, e demonstrando convicção. Ao ficar de pé ouviu-se um pequeno zumbido, e, após alguns bipes, a fera soltou mais um rugido e começou a olhar para seu corpo, como se estivesse procurando algo. Em segundos ouviu-se um pequeno barulho, como uma pequena explosão em tom abafado, como quando ao estourar uma granada uma pessoa pula sobre a mesma para salvar quem se encontra a sua volta. O olhar da ferra se estatelou, e ela tombou fazendo erguer-se uma espeça poeira. Arthur que continuava de costas apenas retirou de um dos bolsos de seu traje um lenço e tapou as narinas. Os agentes e todos ficaram perplexos com a forma que o velho louco fazia tudo, ele não tinha apenas que utilizar seus produtos, ele tinha que sentir a emoção em ter que confiar neles, queria isso, e, parecia que sentia enorme prazer em viver perigosamente. - Charles e Michael voltem, já aniquilamos a fera! – Disse Arthur pelo rádio. Graças a Deus! – Charles disse para Michael. – a única coisa ruim e ter que carregar tudo de volta! – ele concluiu já descendo os ombros. 461 CAPÍTULO 114 São Paulo – Brasil, 1982 Damião ainda estava mudo, ao passo que Antônio o olhava extremamente assustado, afinal, foi pego de surpresa. - Não se preocupe Antônio, que seu amigo é uma pessoa confiável, este tal se Senhor da Luz parece que se encontra realmente ajudando em algumas coisas, pelo que eu pude conferir. – Disse Alexandre ao perceber que Antônio estava olhando para Damião com um olhar de desconfiança diante da revelação. - Chefe! Já podemos começar! – Gritou um dos homens comandados por Alexandre ao mesmo. Alexandre virou-se indo de encontro aos homens próximo ao muro. Antônio e Damião permaneceram ao longe, afinal, não sabiam o que seria feito. Quando Alexandre estava de frente às literais aberrações pregadas ao muro, bradou fortemente, por óbvio com o rosto totalmente coberto pelo capuz: - Ouçam bem! – Seu dedo indicador foi alçado na direção de um por um dos motoqueiros, como se quisesse deixar claro que a mensagem seria para todos sem distinção. – Não vou torturar nenhum de vocês! Tanto Damião quanto Antônio soltaram o ar aliviados, mais um pensamento óbvio não saia de suas mentes: Porque alguém crucificaria pessoas para afirmar que não iria torturálos?! Lado outro, infelizmente a resposta a este questionamento veio rapidamente, com as palavras seguintes de Alexandre: - Não me importo que seja o chefe, ou o subalterno mais inferior nesta hierarquia pútrida de vocês! Faço perante vocês um juramento de sangue! – Imediatamente ele retirou um grande punhal cortando a mão direita com o mesmo, e erguendo para evidenciar o sangue escorrendo... - Ele ficou louco Damião! – Antônio exclamou. - Fique quieto então! – A resposta foi curta e grossa. - Não temos nenhum acordo com você seu lixo! – Bradou o sujeito que parecia ser o líder, ainda tentando cuspir em Alexandre sem sucesso devido à distância. 462 - Creio que a partir de minhas palavras seguintes você vai se arrepender desta sua afirmação! – A resposta veio seguida de um sorriso, o qual, diante da cobertura da face o interlocutor demoníaco não pode notar. - Duvido muito! – Bradou outro demônio, demonstrando confiança e dando apoio ao chefe. Alexandre ergueu o punhal que havia cortado à mão em juramento, dizendo até mesmo com certo sarcasmo: - Sei que todos reconhecem agora que estou mostrando que esta é uma arma celestial! Damião e Antônio até gelaram, realmente se tratava de uma arma vinda das guerras celestiais, e, como tal poderia aniquilar até mesmo a alma de qualquer ser. Mesmo assim, os demônios pregados permaneceram firmes, nenhum falou mais nada. - Pois bem, continuando minha proposta... – Alexandre ia dizendo em pausa, agora andando, como se quisesse demonstrar que tinha o domínio pleno da situação. – Já pesquisei, e sei que cada um de vocês tem a informação que procuro... O pacto será o seguinte: Eu vou matar todos vocês sem piedade!... – ele parou subitamente voltando à face negra novamente para todos. – Mais juro, como assim acabei de fazer, que aquele que me contar onde se encontra o filho das trevas sairá livre. Damião e Antônio gelaram ainda mais ao saberem o que aquele misterioso guerreiro buscava naquele beco... - Nenhum de nós entregará, porquanto, sabemos muito bem que você irá cumprir sua parte no acordo, lado outro, Lúcifer reservará ao desertor destino bem pior do que a morte plena! – Disse o chefe. - Sei disso. Mais quem aceitar minha proposta teria pelo menos a chance de tentar escapar. E pode tentar a sorte, ao invés de morrer aqui simplesmente tentando encobrir um chefe mesquinho e sagaz, como você mesmo acaba de afirmar. – Respondeu Alexandre erguendo o punhal. O silêncio se fez presente, onde naquele momento certamente todos os seres crucificados estavam pelo menos raciocinando sobre a proposta. - Vou melhorar as coisas para vocês! – A ironia estava muito presente nas palavras de Alexandre, mais todos tinham certeza que ele não brincava, estava afirmando realmente o que iria fazer, afinal, haviam presenciado o que ele era capaz de fazer... – Vou contar até dez, e, aquele... Somente aquele que gritar primeiro vai poder me contar o local exato onde se encontra o pequeno. 463 Antes mesmo de começar a contar um dos demônios, ou seja lá o que são, já que sequer Alexandre conseguiu achar uma explicação lógica para tais atrocidades, berrou: - Eu contarei! Todos os outros demônios, olharam em direção do pequeno ser que havia bradado, o qual estava pregado mais acima, ao passo que o chefe gritou exteriorizando sua indignação: - Seu traidor! Seu corpo era muito como a dos demais, contudo, mesmo ao longe puderam ver língua para fora rapidamente, negros e penetrantes. pequeno, e sua face não era muito desfigurada ao abrir novamente a boca Damião e Antônio que ele tinha dentes pontiagudos, e retirava a como uma serpente, possuindo, ainda, olhos - Não sou traidor. Lado outro, sei muito bem que algum de vocês certamente irá contar. E quero então ser esta pessoa, porquanto, compreendo que Lúcifer fará comigo se me encontrar, mais como este homem está falando, pelo menos terei uma chance. - Então diga rápido, porque se não disser em poucos segundos irei passar sua oportunidade para outro! – Bradou Alexandre. - Ele encontra-se em Berlim na Alemanha. Ainda está no ventre de uma jovem chamada Estela, em uma mansão de um advogado famoso, de nome Pierre, que é pai dela! – O demônio foi conciso e direto ao ponto. Um... – Alexandre começou a pensar na sorte que tinha. – Este sujeito já foi advogado de um de nossos membros em um caso de homicídio... Isso poderá facilitar as coisas... - Então me solte agora! – Berrou o demônio sob o olhar de reprovação dos demais. - Certo meu caro, afinal, trato é trato... – Disse calmamente Alexandre já indo de encontro ao muro. Lado outro, quando chegou bem perto ele enfiou o punhal diretamente no peito do pequenino, fazendo com que ele gritasse de dor primeiramente, e sem nada entender questionasse para Alexandre demonstrando sua indignação: - Mais eu juro que contei tudo! Porque ainda está me matando?! - Simplesmente porque não esperou a contagem, então, não estava valendo! – A resposta veio em tom de euforia, como se a morte daquele ser lhe proporcionasse extremo prazer... 464 Após Alexandre enfiou o punhal completamente no peito do pequeno demônio, o qual o olhava fixamente, certamente, não acreditando como foi inocente. Uma espécie de pequena explosão ocorreu no interior do corpo do demônio, e de todos os seus orifícios saíram feixes de uma luz escura. - Esta é a cor de sua áurea seu verme! Escura e sombria diante das vitimas que você fez nesta caminhada de atrocidades, como as pessoas que iriam matar neste local somente por prazer, o mesmo prazer que sinto agora em aniquilá-lo! – Alexandre dizia em tom ainda mais eufórico, como se estivesse tendo um orgasmo. Imediatamente os outros homens retiraram também punhais semelhantes, e começaram a aniquilar um por um dos demônios... - Damião, creio que temos que fugir! – Antônio disse demonstrando seu medo diante dos acontecimentos. - Não! Temos que evitar que ele quebre o ciclo do universo! – A resposta veio com um olhar penetrante, demonstrando que não sairia dali de forma alguma, mesmo que significasse ser também aniquilado. 465 CAPÍTULO 115 Bhangarh, região do Rajastão, Índia, 1982 O estranho avião desceu rapidamente, e Arthur e os outros agentes amarraram o estranho ser em uma espécie de guindaste, e, o mesmo foi eriçado para uma espécie de compartimento de carga, que custou a caber o enorme ser. - Mahesh, leve estes itens consigo, e doe os que puderem, os outros como as armas guarde para nossa próxima expedição! – Disse Arthur apontando para os vários itens que foram retirados do compartimento para que pudesse caber a fera. - Senhor, este ser é muito grande, creio que nosso voo poderá sofrer com tanto peso no compartimento de carga! – Orientou o piloto ao velho ao perceber que o peso do bicho era muito grande. - Não se preocupe, apenas eu, Charles e Michael retornaremos, isso deve aliviar o peso. - Mais... George ameaçou iniciar um protesto, contudo foi logo contido não por Arthur, mais por Charles: - Sem mais nem menos, ordens são ordens! Além disso, Mahesh necessitará de ajuda, e, Michael será o único porquanto temos que enviar o bicho para esta seita que ele faz parte, a qual eu irei me certificar que estará ao nosso lado realmente. Ele terminou olhando fixamente para o oriental que sequer deu muita atenção, apenas entrando na aeronave com parte das lascas que ela havia carregado com tanto sacrifício. Após a aeronave erguer voo, Mahesh bateu nas costas de George dizendo com alegria: - Pode ficar tranquilo meu amigo! Sei que me apagou para me proteger, e, não se arrependerá de ter ficado para me ajudar. Ou melhor, nenhum de vocês se arrependerão, porque ao chegarem a minha aldeia serão tratados como meus convidados, e, ficaram pouco tempo, já que o chato do Arthur enviará um jatinho para lhes buscarem em dois dias. Mais garanto a vocês que serão os melhores dias de suas vidas! Todos os agentes, principalmente, George olharam um para o outro com alegria, até mesmo Russo olhou para Robson, o qual lhe retribuiu com um sútil sorriso, demonstrando que as coisas estavam caminhando bem. 466 CAPÍTULO 116 São Paulo – Brasil, 1982 Após ter arrancado a informação que desejava dos motoqueiros, e, de todos estarem aniquilados, Alexandre bradou aos seus homens com autoridade, mais ao mesmo tempo demonstrando um carisma fora do comum: - Companheiros, unindo novamente nossas energias conseguimos o que viemos buscar! Assim, tenho que agradecer a cada um de vocês, e dizer que peguem todas as coisas que temos que arrumar uma maneira de partir urgente para aniquilar o filho das trevas! Os homens soltarão um grito potente em sinal de vitalidade e do modo que faziam ao final de cada batalha: - Urrá!!! - Alexandre riscou um fósforo e lançou-o em direção ao muro que já se encontrava encharcado de óleo, fazendo com que todos os corpos dos demônios começassem a queimar imediatamente. Após todos saíram pegando as armas e colocando nas sacolas, e juntando os demais apetrechos. Os mendigos que estavam ainda muito ao longe lá ficaram amoados, ainda não conseguiam sequer mexerem às pernas devido ao medo que passaram. - Tenho que agradecer a vocês dois, são pessoas de bem, não são guerreiros mais possuem o maior dos dons, o da coragem e amor a uma causa, por isso poderão contar comigo e todo o meu exército sempre que necessitarem. Os dois quase soltaram um suspiro de alivio, afinal, não sabiam se Alexandre iria trucida-los também. - Sabemos disso Alexandre, contudo, queremos lhe pedir para não seguir adiante com este seu plano. – Clamou Damião, depois de tomar fôlego. - Como assim? Não estou entendendo aonde querem chegar! – Ele começou a falar de uma maneira mais dura. - O filho das trevas como você denomina já foi concebido, e, por isso, não podemos mais interferir diretamente! - Vocês sabem por que estou aqui? Como sai após minha suposta morte?! – Ele quase bradou demonstrando agora uma fúria