ESPAÇO 2 CURITIBA, QUARTA-FEIRA, 9 DE MAIO DE 2012 [email protected] 15 Milhem Cortaz faz seu primeiro PROTAGONISTA NA TELEVISÃO Acostumado aos tipos suburbanos e malandros no cinema — como o tenente Fábio, o Zero 2 de Tropa de Elite —, ator vai expor, todas as terças, um lado seu que poucos conhecem: o de homem culto, refinado, que gosta de vinhos, boa comida e música clássica Divulgação/Record Alline Dauroiz Agência Estado Acostumado aos tipos suburbanos e malandros no cinema - como o tenente Fábio, o Zero 2 de Tropa de Elite -, Milhem Cortaz vai expor, todas as terças, um lado seu que poucos conhecem: o de homem culto, refinado, que gosta de vinhos, boa comida e música clássica. É isso que o ator, paulistano de 39 anos, diz ter em comum com o delegado Medeiros, seu primeiro protagonista na TV, na série Fora de Controle, que estreou ontem, às 23h15, na Record. Projeto em parceria da Record com a Gullane Filmes, Fora de Controle segue, em quatro capítulos, a rotina de investigadores da Polícia Civil do Rio: o delegado Medeiros (Milhem Cortaz), Clarice (Rafaela Mandelli) e Brandão (Cláudio Gabriel). “É o gênero policial clássico: um crime, uma investigação, uma solução”, diz Marcílio Moraes, que assina o roteiro com Gustavo Reiz. Marcílio garante que a série só se assemelha às séries gringas pelo nível internacional de produção. “As histórias e personagens têm o inequívoco DNA brasileiro.” O autor já trabalha na 2ª temporada, que aguarda aval da Record. Com 18 anos de profissão, 40 filmes e 10 novelas no currículo, Milhem — que herdou o nome árabe do pai — morou na Itália dos 15 aos 20 anos (foi viver com a tia, para se livrar do vício de cocaína) e formou-se pelo Piccolo Teatro di Milano e pelo Centro de Pesquisas Teatrais, de Antunes Filho. Hoje, em entrevista à reportagem, ri ao lembrar as palavras da atriz Célia Helena, quando ele estudou em sua escola de teatro. “Ela disse que era para eu continuar a trabalhar com finanças, que não teria futuro como ator.” Agência Estado — O público está acostumado a ver você no papel do vilão. É a primeira vez que faz um cara do bem? Ou o delegado Medeiros está mais pra anti-herói? Milhem Cortaz — É a primeira vez que o grande público vai me ver num personagem maduro. É um personagem complexo, viu? Ele não tem insegurança. É um cara da zona sul (do Rio), culto, gosta de música clássica. Não é malandro, bobinho. É inteligente, honesto e virou delegado porque ama a profissão. Mas tem defeitos. É solitário, egoísta e faz justiça com as próprias mãos. A Justiça no nosso País é defasada, protege muito os réus. E ele usa as brechas da lei pra chegar ao que quer. Não usa a violência física porque é mau, mas porque, nesse meio, todo mundo usa. Acredito que ele seja um anti-herói. Mas prefiro pensar nele como um brasileiro apaixonado pelo que faz. Agência Estado — Muitos de seus personagens flertam com a comédia. Vai ter humor no delegado Medeiros? Milhem Cortaz — Não sei, porque não faço pensando. Não domino o timing da comédia. Juro que não faço um personagem para rirem. E, na série, tem gente que faz mais humor. Mas é um humor mais da palavra do que da ação. Aliás, apesar dos trailers mostrarem muita ação, o suspense da série é mais psicológico, tem muito diálogo. Mas sempre levamos em conta o entretenimento. Apesar de tocar em feridas, a gente não quer mudar o País. É a primeira vez que o grande público vai me ver num personagem maduro. É um personagem complexo, viu? Ele não tem insegurança. Não é malandro, bobinho. É inteligente, honesto e virou delegado porque ama a profissão. do ator Milhem Cortaz, protagonista na série de TV Fora de Controle, no papel de um delegado Agência Estado — Você fez tantos papéis do mundo do crime, que nem precisa mais de laboratório, não? Milhem Cortaz — Facilita estar familiarizado com esse universo. Posso pensar nos personagens. Nunca estou fazendo um filme de ação, mas falando de pessoas. Gosto da criação da pessoa, a forma como muda meu sono, meu olhar para o meu bairro... Isso fascina. Agência Estado —Você teme ficar estereotipado? Milhem Cortaz — Medo eu tenho é de ficar desempregado. Quando achar que estou me repetindo nesses personagens que adoro, tensos, problemáticos, solitários, paro de fazer. Mas isso nunca foi problema para mim, porque, no teatro, sempre fui protagonista das coisas que queria. Se na TV eu só fizer coronel, não tem problema, porque o teatro não tem physique du rôle. Qualquer um pode ser o que quiser. Agência Estado —Como, então, escolhe seus trabalhos? Milhem Cortaz — Tenho vergonha do que vou falar: falo bastante “não”, viu? Só escolho histórias que estou a fim de contar. Não são os personagens que me levam a fazer | cmyk um filme. São as boas histórias. do tempo. Foi importante para saber se era capaz de segurar um personagem com participação tão grande num produto com agilidade de TV. Agência Estado — No cinema, você fez vários coadjuvantes hoje, coadjuvantes Com 18 anos de profissão, 40 Agência Estado de luxo. Como é fafilmes e 10 novelas no currículo, — Acha que demozer o primeiro protaMilhem morou na Itália dos 15 rou para ganhar desgonista na TV? taque também na Milhem Cortaz aos 20 anos e formou-se pelo TV? — Já fiz cerca de 40 Piccolo Teatro di Milano e pelo Milhem Cortaz filmes e, em muitos, Centro de Pesquisas Teatrais — Não. Tenho orgufui protagonista, porlho da minha formaque um filme nem sempre tem só um protagonista. Mas aqui é a ção em teatro, porque me trouxe uma realidahistória de um só cara. Estou em cena 98% de menos fantasiosa, mais prática da profis- são, das dificuldades, de ensaiar 14 horas por dia durante 4 meses. Meu objetivo nunca foi fazer TV, ser famoso. Sabia que isso seria consequência. Não tenho pressa. O Mestre Silvestre, meu mestre de capoeira, dizia quando eu tentava fazer movimentos que não eram do meu cordão: “Quem corre cansa, quem anda alcança Não precisa fazer movimentos do outro cordão. Faça melhor o que você já sabe fazer”. Isso foi poderoso no meu caminho. Me deu uma paciência. Porque é tanto não, é tão difícil ser bom ator, fazer bons trabalhos e ser honesto com a sua profissão. A vida é tão dura, que a única coisa que se pode ter é paciência (risos).