Dr. João Batista Gomes, em seu primeiro livro publicado sobre o Fila Brasileiro, analisa as origens deste cão num capítulo com o título “ Por que se chama Fila Brasileiro – Origens “, onde pretende localizar a origem do nome “cão de fila” no seu homónimo português – Fila Terceirense, originário da Ilha da terceira, uma das nove ilhas do Arquipélago dos Açores. Inicialmente, o Autor não vê como ligar o Fila Brasileiro a raças de cães hoje existentes em Portugal. Volta-se, assim, para o fila de “rabo torto” ou “rabo-quebrado” , como também é conhecido o Fila Terceirense. Refere que houve o “embarque quase maciço de toda a população canina do cão de Fila Terceirense, peculiar à Ilha Terceira. Por essa razão e devido a um conjunto de outras circunstâncias, essa raça encontra-se hoje de tal forma degenerada que acabará por se extinguir…” . A Ilha Terceira, por força da criação de gado, especialmente gado bravo da ilha, propiciou aos habitantes “…criar uma raça de cães que, além de grande robustez, presa firme, regular acuidade olfactiva, fossem capazes de atacar e dominar as reses bravas”. Discute então a origem do Fila da Terceira que é obscura : “…depois cruzamentos empíricos entre cães sem raça, entre o bloodhound e cães do tipo Buldogue”. Descreve um tipo destes Filas ainda existente em 1960: “corpo rectangular, altura máxima 60cm; articulações muito reforçadas; pescoço curto com pêlo pendente; cabeça volumosa quase quadrada, mas menos do que a do Bulldog Inglês; boca bem rasgada, guarnecida de fortes dentes, em especial as presas e molares; lábio superior pendente; abóbada palatina de cor negra, focinho preto sem ser arrepanhado e sem apresentar o sulco fronto-nasal tão acentuado como no Bulldog Inglês; orelhas caídas, às vezes torcidas; olhos profundos; pelagem raras vezes de cor farrusca, geralmente amarelada, algumas vezes malhada de branco ou listrada. Devido a uma irregularidade na disposição das primeiras vértebras occígenas, o legítimo Fila Terceirense apresenta sempre, como o Bulldog Inglês, a cauda com tendência para a irregularidade na sua direcção, o que levou o povo terceirense a chamá-los “rabos tortos”, designação esta pela qual, ainda hoje, são lá conhecidos esses cães. “ Em seguida, o Dr Batista Gomes demonstra a ligação entre o Fila Terceirense e o Fila Brasileiro: “ “ Com as emigrações dos ilhéus, o Fila Terceirense foi para cá ( Brasil ) embarcado maciçamente a ponto de quase ter desaparecido a raça do seu lugar de origem e o que resta hoje dos seus descendentes nada mais diz do que ele foi outrora. “ Com a vinda de D. João VI , vem para o Brasil, segundo o Dr Batista Gomes, o Mastim Inglês, trazido pela classe média, dizendo que, por essa época, a população de Mastins chegou a ser bastante numerosa no Brasil. “ Nessa época não havia ninguém interessado na preservação de qualquer raça canina… Os cruzamentos aconteciam ao léu, ditados unicamente pelas leis da natureza. É fácil admitir que a mestiçagem do Fila Terceirense x Mastim foi consequência lógica e inevitável do encontro das duas raças aqui existentes. Queiramos ou não admitir essa hipótese, depois de decorridos quase dois séculos, parece-nos a única maneira justificável para se explicar a aparecimento do nosso Cão de Fila Brasileiro. Não temos outro caminho”. Dr. Paulo Santos Cruz acredita que “ Como na maioria das raças, a origem do Fila encontra-se diluída nas brumas de um passado bastante longínquo, pois há mais de cem anos já era a raça conhecida dos fazendeiros paulista. Hoje temos apenas teorias procurando explicar a sua formação, todas porém com falhas visíveis. As principais, por serem as mais correntes, atribuem-na : 1) ao cruzamento do Old English Mastiff com o nosso perdigueiro; 2) a uma raça trazida de Portugal pelos colonizadores e um tanto alterada pelo meio ambiente; 3) ao caldeamento do Mastiff com o Bloodhound e o Bulldog Inglês. Em nossa opinião, a mais justificável é a terceira hipótese. Realmente, em qualquer exemplar de hoje, é fácil encontrar características dessas três raças. Um fila amarelo, de máscara preta, até aos 3 ou 4 meses de idade, confunde-se completamente com uma cria de mastiff. Em adultos já desaparece a possibilidade de confusões, porém o parentesco continua evidente, Do Mastiff herdou o largo desenvolvimento craniano de braquicéfalo; a profundidade de maxilar inferior; o pescoço curto e grosso; a formidável estrutura óssea; a garupa levemente caída; confundiindo-se com a raiz da cauda; o dorso levemente concavilíneo; o tipo geral de molossóide e a coragem ilimitada. Do Bloodhound recebeu a pele solta, formando rugas no crânio, barbelas desde a comissura labial até aos peitorais, sendo que, na maioria dos exemplares, se estendem por toda a linha inferior do tronco tomando o peito e ventre. São indiscutivelmente do Bloodhound : seu olhar triste; seus lábios pendentes; a linha do ventre sem excepção ( pouco tuck-up ); o faro aguçado; a pronunciada protuberância do occipital e o latido “arrastado” que, segundo alguns, é próprio do Bloodhound, como outros hounds. A maioria dos filas destaca os latidos, porém há os que emitem som parecido com uma buzina, embora também latam. Nós mesmos possuímos um que muitas vezes, antes de latir, assim procede. È também rico o contingente trazido pelo Buldogue, representado não só pelo temperamento um tanto violentp e teimoso, mas também pela coloração araçá-rajado-escuro – que, segundo os entendidos, provém do antigo Buldogue. São comuns os Filas de orelha dobrada para trás ( rose ears ) típicas no Buldogue. O padrão deste menciona pernas traseiras mais altas que as dianteiras, detalhe encontrado no fila brasileiro, notado principalmente quando se movimenta despreocupado e a passo lento. Quem pela primeira vez conhecer esta explicação da oriegm do Fila indaga curioso, como foi possível, no Brasil outrora, caldear estas três raças. Ao que se sabe, os colonizadores trouxeram-nas por serem, na época, as mais populares e úteis. O Mastiff na guarda dos aldeamentos era insuperável. O Bloodhound, cujo faro impunha sua utilização na caça aos escravos fugidos. E, finalmente, o Buldogue para a lida com os rebanhos. Francisco Peltior de Queiroz discute, em trabalho publicado em 1977, as origens do Fila Brasileiro, dando ênfase às críticas que faz às conclusões do Dr João Batista Gomes. Focaliza aquilo que chama de “4º elemento”, ou seja, a união de cães indígenas, selvagens, alçados e imigrantes que teriam cruzado ao acaso com os cães tipo Mastiff, Buldogue e Bloodhound, que, segunda pensa, existiriam no Brasil. Este autor cita como cães indígenas o Aracambé dos tapuías, o cão selvagem brasileiro, o Guará. A eles junta os cães de rua ou Alçados, os quais teriam se miscigenado entre si com cães de maior porte, trazidos pelos colonizadores, não importa a origem. Desta mistura teria surgido o Fila Brasileiro, sendo que o Autor acredita que, à custa deste 4º elemento, há possibilidade de se fechar o círculo da fórmula mágica que teria dado ao Fila Brasileiro e “ por sua vez torna esta fórmula inatingível e perdida no tempo, de quem sofreu principalmente a influência climática e alimentar”. Em síntese, segundo Peltier de Queiroz, o Fila Brasileiro seria proveniente de cruzamentos de cães europeus, entre eles, o Mastiff Inglês, o Bloodhound, o Buldogue, ou qualquer outro cão, todos trazidos pelos pineiros para o Brasil, com cães selvagens do Brasil.