O BEBÊ E SEU CÉREBRO: UM ESTUDO SOBRE O DESENVOLVIMENTO
CEREBRAL NA VIDA INTRA-UTERINA
Michele Terres Trindade1
Kléria Isolde Hirschfeld²2
RESUMO
O presente artigo tem como proposta apresentar os resultados obtidos com a pesquisa
bibliográfica sobre desenvolvimento cerebral dos bebês durante o período de gestação até o
nascimento. Ao realizar essa pesquisa, vimos a indicação de alguns autores sobre a existência
de influências que afetam a constituição física do cérebro e outros tipos de intervenções
prejudiciais à aquisição do conhecimento, ou seja, a cognição. Além disso, existem cientistas
que salientam sobre a capacidade dos bebês de ouvir, se mexer e também sentir e demonstrar
emoções durante a vida intra-uterina. Outrossim, estão vulneráveis a emoções geradas fora do
útero, bem como a influência do ambiente, além da própria mãe. Com isso, pudemos admitir a
existência desses fatores e inferir que esses podem ser determinantes e capazes de auxiliar ou
prejudicar o desenvolvimento do cérebro nessa fase, podendo deixar marcas para o resto da
vida.
Palavras-chave: desenvolvimento; cérebro; vida intra-uterina.
O DESPONTAR DO CÉREBRO
“Antes mesmo da mulher ter seu primeiro atraso menstrual, três seções do cérebro de
seu embrião já foram demarcadas como se um balão alongado tivesse sido segmentado.”
(DIAMOND e HOPSON, 2000). Isso mostra que a constituição cerebral durante a vida intrauterina ocorre já no primeiro instante da fecundação.
O cérebro humano, segundo Diamond e Hopson (2000), tem um desenvolvimento
bastante acelerado. De acordo com os autores, cerca de dezenove dias depois da fecundação
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Acadêmica do curso de Psicologia da ULBRA Guaíba – [email protected]
Psicóloga, mestre em psicologia clínica – Docente do curso de Psicologia da ULBRA Guaíba
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“o futuro cérebro já pode ser visto como uma protuberância no meio de um disco de células”
(DIAMOND e HOPSON, 2000).
Por volta de cinco semanas de gestação duas protuberâncias – que futuramente serão a
base de nossos hemisférios cerebrais – já podem ser identificadas. Desse ponto em diante, os
futuros neurônios se dividirão inúmeras vezes. Essa separação é muito rápida, capaz de chegar
ao número de 250 mil novos neurônios por minuto. Com isso, no final do primeiro mês
gestacional, podemos visualizar – através de técnicas desenvolvidas para esse fim – o cérebro,
embora primitivo, em formação. Nesse estágio, a capacidade de interpretar qualquer tipo de
sensação ainda está longe de ocorrer. Afinal, estamos falando de um embrião com cerca de
cinco semanas.
A partir dessa etapa, o córtex dá início ao seu desenvolvimento iniciando-se pelas
paredes do cérebro, formando uma espécie de “minhoca”. De acordo com o doutor Richard
Restak, a partir da sétima semana os balões que darão início aos futuros hemisférios cerebrais,
tem o tamanho aproximado de uma ervilha e as paredes possuem camadas com a espessura de
um fio de cabelo. (RESTAK apud DIAMOND e HOPSON, 2000).
Da sétima até cerca de vinte semanas de gestação, os neurocientistas acreditam no
desenvolvimento de aproximadamente 50.000 a 100.000 novas células por segundo. Desses
milhares de células, grande parte se transformará em células glias ou gliais, termo esse
originado do grego que significa “cola”. Esse nome foi atribuído a esse tipo de célula porque
quando elas foram observadas pela primeira vez demonstravam estar ligadas aos neurônios.
As células glias não são neurônios, mas constituem aproximadamente 90% de todas as
células do Sistema Nervoso Central (SNC) de um adulto e exercem funções de apoio
importantes. Por conseguinte, a destruição dessas células – geralmente ocasionada por
doenças – pode causar sérios danos como, por exemplo, a interrupção da comunicação no
SNC.
Por volta da 10ª semana de gestação, já existem regiões cerebrais reconhecíveis, como
o tubo neural – estrutura que dará origem ao rombencéfalo, mesencéfalo e prosencéfalo – e a
medula espinhal. Na semana seguinte, a parte frontal aumenta de volume significativamente,
fazendo aparecer os dois hemisférios cerebrais. Nessa mesma etapa surge, ainda, o cerebelo,
situado na parte posterior, facilmente reconhecível. Ele é ligado ao tronco cerebral em sua
parte posterior e sua forma o faz parecer um cérebro de tamanho menor. Após o nascimento,
ele será responsável pelo equilíbrio, a coordenação e o tônus muscular.
Já os hemisférios cerebrais, que do mesmo modo tomam forma significativa nessa fase
estão por trás da cognição, da memória, das emoções superiores, da consciência enfim, de
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tudo aquilo capaz de nos tornar humano. Esses dois hemisférios são semelhantes, não
obstante funcionam de maneira diferente. O hemisfério direito controla os sinais motores que
correspondem ao lado esquerdo e o hemisfério esquerdo controla os sinais do lado direito. No
entanto, nem toda a transmissão de informação ocorre colateralmente. Em alguns casos, como
as informações olfativas, os sinais percebidos pela narina esquerda vão para o lado esquerdo
do cérebro. Igualmente na visão, cerca da metade da informação vai para o lado
correspondente no cérebro (STERNBERG, 2000).
Após a diminuição do processo de proliferação dos neurônios, esses começam a
apresentar características próprias, como o desenvolvimento dos dendritos e axônios,
permitindo, a partir daí, o início das sinapses ou ligações e a passagem de informações neurais
e, consequentemente, permitindo o surgimento de movimentos espontâneos do bebê.
Na 14ª semana de gestação inicia-se a formação dos sulcos nos hemisférios cerebrais.
Entre a 16ª e a 20ª semana de gestação as regiões do cérebro se tornam mais sulcadas. Após o
processo de migração dos neurônios eles passam por processos responsáveis pelo alinhamento
e orientação neuronal. Isso ocorre do sexto mês até após o nascimento. Nesse período, as
conexões cerebrais são tão densas que os cientistas admitem a existência de 15.000 a 200.000
contatos por células, em vários lugares chegando à soma de 1.000 trilhões de pontos de
contato no cérebro.
A diminuição da neurogênese – nascimento de novos neurônios – acontece a partir do
sétimo mês de gestação, contudo o cérebro continua em desenvolvimento constante até o
nascimento devido ao processo de mielinização (aumento da “gordura cerebral”). Com isso, o
cérebro prossegue aumentando de tamanho – há um aumento de cerca de 20% do peso do
cérebro nesse período. Nesse processo, os axônios recebem uma camada de mielina, formada
pelas membranas celulares das células glias, que funciona como um isolante elétrico e permite
a condução mais rápida e mais energeticamente eficiente dos impulsos. E, finalmente, após
nove meses de gestação o bebê tem a grande maioria dos neurônios que terá pela vida inteira
(GREENFIELD, 2000).
OS ESTÍMULOS COMO ALIMENTO DO CÉREBRO
Em tempos remotos, o estudo da capacidade dos bebês na vida intra-uterina só podia
ser observado de fora. Hoje, com equipamentos modernos, esses estudos mostram que bebês
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ainda no primeiro trimestre da gestação podem se mover e, após quatorze semanas, tem tantos
movimentos quanto um bebê de nove meses. Nesse período, esses pequenos seres já são
capazes de soluçar, chupar o dedo, se mover e respirar (DIAMOND e HOPSON, 2000).
Poucos são os pais que aproveitam o período pré-natal para estreitar laços com o bebê.
Essa relação no início da gravidez, conforme explicam os pesquisadores, é de fundamental
importância tanto para os pais, quanto para o bebê. Assim como esse contato prévio é
significativo, os hábitos dos pais igualmente o são. Aquilo que os pais comem, bebem ouvem
ou até mesmo cheiram, pode auxiliar ou prejudicar o desenvolvimento.
Estudos mostram que entre seis e sete semanas de gestação os nervos e músculos já
apresentam atividade. A audição aparece por volta de vinte e quatro semanas, quando os
bebês começam a se mover de acordo com o ritmo da fala da mãe. Os estímulos sonoros altos
assustam os bebês, enquanto músicas e voz suaves acalmam seus batimentos cardíacos.
Pesquisadores descobriram que além de ouvir dentro do útero, os bebês podem
aprender. Uma das pesquisas foi baseada na leitura de uma história infantil durante todo o
período gestacional. Ao nascer, os bebês eram submetidos a ouvir o mesmo texto ouvido
durante a vida no útero e outro texto, até então desconhecido. O inusitado foi a preferência
dos bebês em ouvir o texto conhecido, provando a existência da capacidade de aprender
durante a gestação.
O período no qual o bebê está no ambiente intra-uterino tem grande relevância no
desenvolvimento cerebral. Bebês de mulheres viciadas em qualquer tipo de droga,
frequentemente nascem viciados ao nascer. Os submetidos a certos tipos de alimento durante
o período pré-natal, são acostumados com eles após o nascimento. Por exemplo, mães mais
acostumadas com alimentos apimentados têm filhos com maior tolerância à pimenta do que as
outras. Isso indica a possibilidade do paladar do bebê ser preparado pela exposição aos
alimentos (CARTER, 2003).
As influências maternas não ocorrem somente com a ingestão de drogas e alimentos.
Mães sobre forte tensão durante a gestação aumentam a produção de hormônios prejudiciais
ao bebê tanto fisicamente quanto psicologicamente. Assim como estímulos de carinho e amor
em relação ao bebê são percebidos, os contrários também o são. Dessa maneira, existem
estudiosos incentivadores da estimulação pré-natal desde a mais tenra época da gestação,
propiciando melhor aprendizado e aumentando o vínculo pais-bebê.
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CONCLUSÃO
Com a presente pesquisa se pode observar o desenvolvimento do cérebro humano
ainda em formação, onde cada fase é determinante e um erro, por menor que seja, pode causar
danos irreversíveis.
Outrossim, podemos perceber que a influência do ambiente e dos pais – em especial
da mãe – é fundamental para um desenvolvimento psíquico e cognitivo saudável do bebê. Por
conseguinte, a qualidade de vida da mãe durante a gestação é fundamental, podendo
influenciar positiva ou negativamente o desenvolvimento do bebê.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARTER, Rita. O livro de ouro da mente: o funcionamento e os mistérios do cérebro
humano. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
DIAMOND, Marian.; HOPSON, Janet. Árvores maravilhosas da mente: como cuidar da
inteligência, da criatividade e das emoções do seu filho do nascimento até a
adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2000.
GREENFIELD, Susan A. O cérebro humano: uma visita guiada. Rio de Janeiro: Rocco,
2000.
STERNBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.