AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL CONTENDO LEVANA (LEV-LIPO) DE FORMAS LIPOSSOMAS Taciana Lima Salviano1, Nereide Stela Santos Magalhães2, Clarissa Franco Torres3, Agenor Tavares Jácome Júnior4, Glícia Maria Torres Calazans5 1 UFPE, Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA), [email protected] UFPE, Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA) UFPE, Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA) 4 UFPE, Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA) 5 UFPE, Departamento de Antibióticos 2 3 RESUMO A levana é um exopolímero de frutose produzido por Zymomonas mobilis e possui atividade antiproliferativa contra linhagens de células tumorais humanas (HepG2 e SNU-1) e antitumoral contra sarcoma 180 e carcinoma de Erlich. A nanotecnologia farmacêutica tem como meta desenvolver sistemas de liberação controlada para a veiculação de agentes bioativos na forma de nanodispositivos, como lipossomas, que podem oferecer um aumento da eficácia terapêutica, liberação progressiva e controlada do fármaco e aumento da aceitação da terapia pelo paciente. O presente trabalho tem por objetivo a avaliação da atividade antitumoral de formas lipossomais contendo levana (Lev-Lipo) com o intuito de desenvolver uma nova terapêutica para associação com quimioterápicos no combate ao câncer. A atividade antitumoral de Lev-lipo foi avaliada em camundongos Balb C com Sarcoma 180. A inibição tumoral nos grupos tratados com levana em solução e Lev-Lipo foi de 44,28% e 88,31%, respectivamente. A eficácia terapêutica dos Lev-lipo é praticamente o dobro da levana em solução sendo este resultado um passo no desenvolvimento de uma nova forma farmacêutica para a terapia do câncer. Palavras-Chave: Levana ; Lipossomas; Atividade Antitumoral. INTRODUÇÃO A modulação apropriada de um fármaco ou princípio bioativo no organismo está relacionada diretamente com a forma de administração do medicamento. O princípio da vetorização de medicamentos está fundamentado na lipofilia, estabilidade e citotropismo do princípio ativo e na composição dos fluidos biológicos, monitorados pelas características do veículo (Lasic, 1998). A nanotecnologia farmacêutica tem por objetivo desenvolver sistemas coloidais de liberação controlada para a veiculação de agentes bioativos e vacinas na forma de nanodispositivos, que podem oferecer um aumento da eficácia terapêutica, liberação progressiva e controlada do fármaco, manutenção de níveis plasmáticos em concentrações constantes, diminuição da instabilidade e decomposição, possibilidade de direcionamento a alvos específicos, menor necessidade de administrações e aumento da aceitação da terapia pelo paciente (Lasic, 1998). Os lipossomas, vesículas formadas por bicamadas concêntricas de fosfolipídios, são uma excelente forma de sistema de liberação controlada de drogas devido a sua flexibilidade estrutural (tamanho, composição e fluidez da bicamada lipídica), como na sua capacidade de incorporar uma variedade de compostos hidrofílicos e hidrofóbicos. Tais vesículas podem protejer o fármaco de degradação enzimática, possibilitando o aumento da concentração da droga no sítio alvo, podem ser utilizados como excipientes não tóxicos para solubilização de fármacos hidrofóbicos, além de prolongar o tempo da vesícula na circulação, permitindo um possível direcionamento para sítios específicos de células ou órgãos (Lasic, 1998). A levana é um polímero de frutose produzido por vários organismos incluindo a bactéria Zymomonas mobilis. Esse exopolissacarídeo possui atividade antitumoral in vivo comprovada contra tumores tais como Sarcoma 180 e Carcinoma de Erhlich, e in vitro contra as linhagens de células tumorais humanas (HepG2 e SNU-1) sem a toxicidade apresentada pelos agentes antineoplásicos tradicionalmente utilizados (Calazans et al., 1997, 2000; Yoo et al., 2004). O presente trabalho tem por objetivo avaliar a atividade antitumoral in vivo de formas lipossomais contendo levana (Lev-Lipo) com o intuito de desenvolver uma nova terapêutica em associação com quimioterápicos no combate ao câncer. MÉTODOS Lipossomas unilamelares pequenos (SUV - Small Unilamelar Vesicles) foram obtidos pelo método de formação de filme lipídico seguido de sonicação, utilizando fosfatidilcolina de soja, colesterol, estearilamina e levana (Jácome-Júnior, 2006). Os lipídios foram solubilizados em uma mistura de clorofórmio: metanol (3:1) com posterior evaporação dos solventes orgânicos e obtenção do filme lipídico. O filme foi hidratado com tampão fosfato pH 7,4 contendo levana formando lipossomas multilamelares grandes (MLV´s Multilamellar vesicles) os quais foram submetidos a sonicação (sonda de ultra-som) sendo reduzidos a SUV, forma desejada por ser adequada para administração por via parenteral. Camundongos Balb C isogênicos machos com dois meses, pesando entre 20 e 25g, foram utilizados para avaliação da atividade antitumoral de Lev-Lipo. Os animais foram mantidos à temperatura ambiente a 28 ± 2°C, sob ciclo dia/noite natural (12h luz e 12 h escuro), com livre acesso a água e alimentos. Uma quantidade de células retirada do tumor ascítico do animal doador foi contada em câmara de Neubauer e diluída até uma concentração de 5 x 106 células/mL. Um volume do tumor diluído de 0,20 mL foi implantado subcutaneamente na região subaxilar dos camundongos. A quimioterapia experimental foi iniciada 24 horas após o implante do tumor, por via intraperitoneal, tratando os animais por cerca de 7 dias. A dose administrada de levana ou Lev-Lipo foi de 200 mg/Kg de peso animal (Calazans et al., 1997, 2000). Animais foram divididos em 3 grupos com 5 camundongos: controle, tratado apenas com levana e tratados com Lev-lipo. Após o tratamento, os animais foram sacrificados sendo os tumores dessecados e pesados. A inibição tumoral (IT %) foi calculada de acordo com a seguinte fórmula: IT % = C - T /C x 100 % Onde C é o peso médio dos tumores dos animais controle, e T é a média dos pesos dos tumores dos animais tratados. RESULTADOS Uma inibição no crescimento do tumor foi observada no grupo de animais tratados com levana em solução e com Lev-Lipo em comparação ao grupo controle. A inibição tumoral da levana foi de 44,28 % e a de Lev-Lipo foi de 88,31 % (Tabela 1). Tab. 1 Inibição tumoral da levana e de Lev-lipo contra sarcoma 180 na dose de 200 mg/kg. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Um aumento de praticamente o dobro da atividade antitumoral da levana encapsulada em lipossomas foi observada quando comparado com a levana em solução, sugerindo vantagens terapêuticas da forma lipossomal de levana. Conclui-se com este trabalho que lipossomas convencionais contendo levana têm uma alta eficácia terapêutica no tratamento de tumor experimental, podendo ser uma alternativa em potencial no combate ao câncer. A avaliação histopatológica de órgãos (tumor, fígado, baço e rins) e a avaliação da atividade imunomoduladora de animais tratados com levana em solução e Lev-lipo estão em curso. REFERÊNCIAS [1] CALAZANS, G.M.T.; LOPES, C.E.; LIMA, R.M.O.C & FRANÇA, F.P. Antitumor activies of levans produced by Zymomonas mobilis strains. Biotechnology Letters,v.19, n.1, p.19-21, 1997. [2] CALAZANS,G.M.T.;LIMA,R.C.;FRANÇA,F.P.;LOPES, C.E.Molecular weight and antitumor activity of Zymomonas mobilis levans.Inter.J.of Biological Macromolecules,v.27,p.245-247,2000. [3] JACOME-JUNIOR, A.T. Desenvolvimento de formas lipossomais contendo levana. Tese de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2006. 67f. [4] LASIC, D. D. Novel application of liposomes. Trends in Biotechnology, 16, 307-321, 1998. [5] YOO, S.H.; YOON, E.J.; CHAC, J.; LEE,H.G. Antitumor activity of levan polysaccharides from selected microorganisms.Inter.J.of Biological Macromolecules. v.24, p.37-41, 2004.