PAULO DE SOUZA FONSECA GUIMARÃES FÍSTULAS DIGESTIVAS: DIETA POLIMÉRICA, OLIGOMÉRICA OU ELEMENTAR? Monografia de Conclusão do VII Curso GANEP de Especialização em Nutrição Clínica. SÃO PAULO 2006 Autor: PAULO DE SOUZA FONSECA GUIMAR AES FÍSTULAS DIGESTIVAS: DIETA POLIMÉRICA, OLIGOMÉRICA OU ELEMENTAR? Monografia de Conclusão do VII Curso GANEP de Especialização em Nutrição Clínica Orientadora: Dra. MARIA DE LOURDES TEIXEIRA DA SILVA SÃO PAULO 2006 Dedicatória: Aos meus pais Archimedes e Romilda de Souza Fonseca Guimarães Cujo apoio e carinho são essenciais para minhas atividades científicas. Agradecimentos: Às amigas Luciana Hashimoto e Lizangela Cavassin Responsáveis pelas palavras de apoio e incentivo, gerando um clima de alegria nas nossas duras viagens quinzenais. Sumário: 1 Introdução 1 2 Objetivos 2 3 Médodo 3 4 Revisão da literatura 4 4.1 Classificação das fístulas 4 4.1.1 Classificação anatômica 4 4.1.2 Classificação fisiológica 5 4.1.3 Classificação etiológica 6 4.2 6 Fisiopatologia 4.3 Quadro clínico 8 4.4 Diagnóstico 9 4.5 Tratamento 10 4.5.1 Correção dos distúrbios hidro-eletrolíticos e ácido-basicos 11 4.5.2 Drenagem externa adequada 11 4.5.3 Tratamento da infecção associada 12 4.5.4 Uso de fármacos 13 4.5.5 Cuidados com a pele 15 4.5.6 Colas biológicas 16 4.5.7 Tratamento cirúrgico 16 4.5.8 Tratamento específico das fístulas digestivas 20 4.5.8.1 Fístulas esofágicas cervicais 20 4.5.8.2. Fistulas esofagianas intratorácicas 21 4.5.8.3. Fístulas esofagianas intra-abdominais 22 4.5.8.4 Fístulas duodenais 23 4.5.8.5 Fístulas pancreáticas 24 4.5.8.6 Fístulas colônicas 25 4.5.8.7 Fístulas do intestino delgado 26 4.5.8.8 Fístulas biliares 26 4.6 26 Terapia nutricional 4.6.1 Avaliação nutricional 28 4.6.2 Necessidades nutricionais 32 4.6.3 Escolha da terapia nutricional adequada 34 4.6.3.1 Proteínas 35 4.6.3.2 Carboidratos 36 4.6.3.3 Gorduras 37 5 Discussão 39 5.1 Nutrição enteral ou parenteral? 39 5.2 Acompanhamento nutricional 44 5.3 Prognóstico 46 6 Conclusões 49 Referências bibliográficas 50 Lista de Figuras: Figura 1 Algoritmo de utilização da somatostatina no tratamento das fístulas 15 gastrointestinais. Figura 2 Esquema de tratamento para pacientes com fístulas entéricas. 19 Figura 3 Esquema de tratamento de fístula esofágica cervical. 20 Figura 4 Tratamento de fístulas esofágicas intratorácicas. 21 Figura 5 Tratamento das fístulas esofá gicas intraabdominais. 22 Figura 6 Tratamento de fístulas de coto duodenal. 23 Figura 7 Tratamento de fístulas pancreáticas pós-operatórias. 24 Figura 8 Tratemento de fístulas colorretais. 25 Figura 9 29 Algoritmo para decisão clínica para suporte nutricional. Figura 10 Manejo clínico e nutricional das fístulas gastrointestinais. 43 Figura 11 Algoritmo: terapia nutricional em pacientes com fístula digestiva, de 44 acordo com a localização e o débito. Lista de tabelas: Tabela 1 Fatores anatômicos que influenciam na cicatrização espontânea de fístulas 4 digestivas. Tabela 2 Classificação anatômica das fístulas gastrointestinais. 5 Tabela 3 Classificação etiológica das fístulas gastrointestinais. 7 Tabela 4 Fatores fisiológicos que influenciam o surgimento das fístulas. 7 Tabela 5 Etapas do tratamento das fístulas gastrointestinais 11 Tabela 6 Fatores que influenciam o fechamento espontâneo das fístulas 18 gastrointestinais. Tabela 7 Fatores que impedem a cicatrização da fístula digestiva. 18 Tabela 8 Cálculo de necessidade calórica. 33 Tabela 9 36 Fontes de proteínas das fórmulas enterais. Tabela 10 Fontes de carboidratos das fórmulas enterais. 37 Tabela 11 Fontes de lipídeos das fórmulas enterais. 38 Tabela 12 Classificação das fórmulas enterais. 42 Tabela 13 Fatores que influenciam a mortalidade em pacientes com fístulas 48 gastrointestinais. Resumo: Fístula é uma comunicação anormal entre dois epitélios através de um trajeto, o qual pode exercer uma comunicação anormal entre duas vísceras ocas ou entre estas e a pele. Podem apresentar-se de forma grave com desequilíbrio hidro-eletrolítico, sepse e desnutrição, conseqüentes da perda de conteúdo entérico rico em proteínas, ingesta inadequada e hipercatabolismo causado pela sepse. A maioria das fístulas adquiridas é secundária a cirurgia abdominal prévia ou doença inflamatória intestinal. O reconhecimento e manejo precoces, com cuidado meticuloso com a pele e suporte nutricional adequado, reduzem a mortalidade e podem permitir seu fechamento espontâneo. Pacientes portadores de fístulas de alto débito, com grandes perdas de eletrólitos, são adequadamente manejados com uma associação de terapia nutricional enteral e parenteral. A utilização correta de fórmulas poliméricas, oligoméricas, elementares e imunomoduladoras é essencial, e a associação de drogas adjuvantes como a somatostatina ou seu análogo, octreotide, está associada à redução do débito da fístula, facilitando o manejo nos casos de desequilíbrios hidroeletrolíticos e protéicos. O tratamento cirúrgico definitivo é realizado apenas após a restituição fisiológica normal, quando o paciente está livre da sepse e em boa condição nutricional, ou quando o débito da fístula não regride apesar da terapia adequada. Palavras chave: Fístulas enterocutâneas, nutrição enteral, nutrição parenteral total e terapia nutricional. Summary: Enterocutaneous fistulae are abnormal communications between the small or large bowel and the skin, which may be lined with epit helium or associated with intra-abdominal sepsis. It has traditionally been associated with substantial morbidity and mortality, related to fluid, electrolyte and metabolic disturbance, sepsis and malnutrition. Most fistulas occurred secondary to abdominal surgery, and a high proportion occurred in association with inflammatory bowel disease. Early recognition and control of sepsis, management of fluid and electrolyte imbalances, meticulous wound care and nutritional support appear to reduce the mortality rate, and allow spontaneous fistula closure in some patients. Patients with high fluid and electrolyte losses are best managed with associated parenteral and enteral feeding in the nutritional support. The correct use of the polymeric, oligomeric, elemental and immune-enhancing formula is essential, and the association of adjuvant drug, somatostatina, or its synthetic analogue, octreotide, can be used to decrease fistula output, thus making enterocutaneous fistulae easy to manage in terms of fluid and electrolytes and protein imbalances. Definitive surgical management is performed only after restitution of normal physiology, when the patient is apyrexial and in good nutritional status, and if the fistula effluent shows no signs of decreasing in volume. Key words: Enterocutaneous fistula, enteral nutrition, total parenteral nutrition and nutrition terapy. 1. Introdução: Fístula é uma comunicação anormal entre dois epitélios através de um trajeto, o qual pode exercer uma comunicação anormal entre duas vísceras ocas - fístulas internas - ou entre estas e a pele - fístulas externas (CORREIA, 2004). Podem ser congênitas ou adquiridas (pós-operatórias, traumáticas ou espontâneas); ou ainda primárias, devido à doença na parede do intestino (doença de Crohn ou tumor); secundárias, por lesão de um intestino normal (ressecção cirúrgica) e mistas, conseqüentes de uma combinação de fatores, como um trauma cirúrgico numa re- laparotomia por aderências num paciente com doença de Crohn (CAMPOS, 2001). Os portadores podem apresentar desidratação grave, desequilíbrio hidro-eletrolítico, sepse e desnutrição (LISBOA, 2004). Setenta e cinco a 85% das fístulas adquiridas são pós-operatórias, após lesão inadvertida no intraoperatório, ruptura de uma anastomose ou desenvolvimento de abscesso perianastomótico e o cirurgião deve estar alerta a essa possível complicação cirúrgica, para identificá- la e tratá-la precocemente (CHINTAPATLA, 2002). O tratamento primário das fístulas digestivas é conservador, reservando-se a abordagem cirúrgica para casos de insucesso do suporte clínico. Por isso a terapia nutricional é fundamental, devido à aumentada demanda metabólica dos doentes e à necessidade de manter o paciente em jejum por via oral, oferecendo nutrientes por via artificial (CORREI A, 2004). A falência intestinal, que seria uma redução da massa intestinal funcional abaixo de um mínimo necessário para uma digestão e absorção adequadas, pode ser causada por uma redução anatômica intestinal (síndrome do intestino curto) ou uma redução da função intestinal (síndrome de disfunção). Em adultos, a falência intestinal é mais freqüentemente associada a fístulas gastrointestinais complexas, e seu manejo deve envolver uma reanimação metabólica e da desnutrição, definição da fístula e preparo para eventual cirurgia (CAMPOS, 2001). As fístulas caracterizam-se por elevada morbidade e período de internação prolongado, com mortalidade de 5.3 a 21.3%. As causas de morte predominantes são desnutrição, distúrbio hidroeletrolítico e sepse (CHINTAPATLA, 2002). 2. Objetivo: Este trabalho tem como objetivo capacitar o leitor a identificar as características das fístulas digestivas e classificá- las de acordo com critérios anatômicos, fisiológicos e etiológicos; identificar os recursos laboratoriais, de image ns e de semiologia, para seu diagnóstico; e conhecer as bases do seu tratamento, tanto clínico quanto cirúrgico, para que possa indicar a terapia nutricional enteral e/ou parenteral de forma adequada e de acordo com as tendências atualmente implantadas. 3. Método: Este trabalho é produto das informações obtidas de uma revisão bibliográfica de artigos indexados no Index Medicus e Lilacs, pertencentes ao Medline, no período de 1995 a 2005; da Federação Latino -Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (FELANPE) descritas nos cursos: Curso Interdisciplinar de Nutrição Clínica (CINC-2002) e Terapia Nutricional Total (TNT-2004); do Programa de Atualização em Cirurgia (PROACI-2004), organizado pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões; do livro Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica de Dan L. Waitzberg (2004); e do livro Nutrição em Cirurgia de Antonio Carlos L. Campos, da série Clínica Brasileira de Cirurgia / Colégio Brasileiro de Cirurgiões (2001). 4. Revisão da Literatura: 4.1. Classificação das fístulas: 4.1.1. Classificação anatômica: O conhecimento da anatomia da fístula é fundamental, realizado através de estudos contrastados, que definem a anatomia do trato gastrointestinal do paciente e a fistulo grafia, realizada através do orifício externo da fístula, que fornece dados sobre o comprimento do trajeto fistuloso (CAMPOS, 2001 e CRESCI, 1997). Outros dados anatômicos também podem ser adquiridos através de métodos de imagem, sendo o ultrassom, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética importantes para localizar coleções purulentas intra-abdominais, que comumente estão presentes na fase inicial após a instalação da fístula (CORREIA, 2004). O conhecimento da anatomia da fístula é essencial para orientar a terapia adequada, pois o fechamento espontâneo ocorre na ausência de obstrução intestinal distal, presença de intestino sadio, sem abscesso, sem corpo estranho e sem continuidade mucocutânea (tabela 1). Tabela 1. Fatores anatômicos que influenciam na cicatrização espontânea de fístulas digestivas (CAMPOS, 2001 e CORREIA, 2004). Favoráveis Desfavoráveis Manutenção da continuidade Descontinuidade intestinal Fístula terminal Fístula lateral Sem abscesso associado Com abscesso associado Intestino adjacente sadio Intestino adjacente doente Fluxo distal livre Obstrução distal Esofágica Gástrica Coto duodenal Duodenal lateral Jejunal Ileal Trajeto > 2cm Trajeto < 2cm Orifício interno < 1cm Orifício interno > 1cm Anatomicamente, as fístulas podem ser internas; externas; envolvendo múltiplos órgãos; com ou sem descontinuidade total; com ou sem obstrução distal; de trajeto curto ou longo (tendo como base 2cm) e com defeitos na parede intestinal maiores ou menores do que 1cm de diâmetro (tabela 2). Tabela 2. Classificação anatômica das fístulas gastrointestinais (CHINTAPATLA, 2002). Fístulas do TGI para: Superfície corporal Outro intestino Trato respiratório Trato genitourinário Sistema coletor superior Rim Árvore traqueobrônquica Pelve renal Espaço pleural Ureter Trato biliar Sistema coletor inferior Vesícula Bexiga Ducto biliar comum Uretra Ducto cístico Sistema reprodutivo feminino Pâncreas Útero Sistema vascular Cérvix Coração / pericárdio Trompas Circulação arterial Vagina Circulação venosa 4.1.2. Classificação fisiológica: Considera o débito da fístula em 24 horas. Identifica pacientes que terão perdas maiores de líquidos, eletrólitos e proteínas, nos quais o índice de mortalidade é maior. Pode ser de baixo débito, quando num paciente em jejum, o volume drenado em 24 horas é inferior a 200ml; débito moderado, quando ele está entre 200 e 500ml e alto débito, quando o volume ultrapassa 500ml por dia (CORREIA, 2004). Fístulas de alto débito associam-se com desnutrição severa, conseqüente de ingestão inadequada, hipercatabolismo associado a sepse e perda de secreções ricas em proteínas, com uma mortalidade de até 35% (CHINTAPATLA, 2002). Do ponto de vista prático, classificar a fístula como baixo (<500ml por dia) e alto débito (>500ml) é suficiente para programação terapêutica e para o prognóstico. 4.1.3. Classificação etiológica (tabela 3): A causa da fístula também é um fator preditivo isolado de cicatrização espontânea. As fístulas pós-operatórias representam 75 a 85% de todas as fístulas enterocutâneas, tipicamente ocorrendo entre o quinto e décimo dia de pós-operatório e resultam de falha na anastomose, seja por tensão na linha de sutura, vascularização deficiente ou erro técnico do cirurgião (LISBOA, 2004 e MARTINEZ, 1998). As demais decorrem de lesão inadvertida da parede da víscera durante a dissecção ou na síntese da parede abdominal. Ocorrem principalmente em cirurgias por câncer, doença inflamatória intestinal ou lise de aderências. Cerca de 1 a 2% decorrem de cirurgias gástricas ou duodenais e 1% de cirurgias jejunais e ileais (DUERKSEN, 1998). Existem relatos de fístulas gastrocolocutâneas conseqüentes de gastrostomia percutânea endoscópica, que pode ser devido à perfuração de alça intestinal no momento da passagem do tub o, ou através de erosão da mesma pelo dispositivo no decorrer do tempo (FAN, 2004). Cerca de 15 a 25% das fístulas são espontâneas e são freqüentemente as mais complexas, apresentando baixo índice de cicatrização com o tratamento conservador. São decorrentes de irradiação prévia, doença inflamatória, doença diverticular, apendicite, isquemia intestinal, erosão por drenos, perfuração de úlceras duodenais, neoplasias pancreáticas ou ginecológicas, abscesso intra-abdominal e trauma penetrante (DUERKSEN, 1998). 4.2. Fisiopatologia: O aparecimento de fístula depende de vários fatores, isolados ou associados, relacionados ao paciente e/ou ao cirurgião (tabela 4). Os pacientes são freqüentemente desnutridos antes do surgimento das fístulas, apresentando hipoproteinemia que acarreta retardo no esvaziamento gástrico, íleo prolongado, aumento da incidência de deiscências, maior risco de infecção, redução da função e volume intestinal. Há também redução da atividade dos fibroblastos, o que leva ao retardo da cicatrização e à falência de contração da ferida. Há três mecanismos em que a fístula pode induzir desnutrição: perda do alimento ingerido; perda de proteína e conteúdos ricos em calorias e hipercatabolismo associado ao quadro séptico (DUDRICK, 1999). Tabela 3. Classificação etiológica das fístulas gastrointestinais (CHINTAPATLA, 2002). 1. Congênita 2. Traumática 3. Aderências intestinais (inflamação, irradiação, tumor) com degeneração das paredes adjacentes. 4. Perfuração ou penetração do intestino por tumor, trauma, inflama ção, cirurgia, com formação de abscesso e subseqüente penetração do abscesso dentro das estruturas adjacentes. 5. Pós operatória 6. Falha de anastomose (falha técnica, tensão na anastomose, isquemia, necrose, etc) Tabela 4. Fatores fisiológicos que influenciam o surgimento das fístulas (CORREIA, 2004). Fatores relacionados ao paciente: Condições locais: Condições gerais: Desvascularização da linha de sutura Desnutrição Peritonite Imunossupressão Anastomose em intestino doente Radioterapia Fatores relacionados ao cirurgião: Quimioterapia Ligaduras vasculares inadequadas Neoplasia Anastomose sob tensão Corticoterapia Lesões acidentais despercebidas Falhas técnicas A presença de nutrientes no intestino, especialmente se sólidos, estimula a secreção de sucos dige stivos aumentando o débito da fístula, exacerbando a desnutrição e limitando a cicatrização. Secreção de intestino delgado pode levar a uma perda diária de 75g de proteínas (aproximadamente 12 g de nitrogênio), contendo células descamadas, secreções pacreáticas exócrinas, suco entérico, e secreções gástricas. Em condições normais, a grande parte do material nitrogenado é reabsorvido como aminoácidos livres, mas na presença de fístulas de alto débito de trato gastrointestinal superior, a maioria é perdida (DUDRICK, 1999). Em certos casos pode surgir a falência intestinal, que ocorre quando há redução da massa intestinal funcionante abaixo da quantidade necessária para uma digestão e absorção adequada da dieta. Esta definição enfatiza mais a função intestinal que fatores patológicos ou anatômicos. Pode ser falência intestinal total (pós enterectomia total) ou parcial (pós enterectomia parcial); aguda ou temporária (distúrbios de motilidade – íleo / obstrução); crônica ou permanente. É conseqüente de quatro caus as principais: síndrome do intestino curto; doença de parênquima intestinal total, como a doença de Crohn; desordens de motilidade, como miopatia visceral ou obstrução intestinal crônica e fístulas de intestino delgado que causam perda de prematura de conteúdo intestinal. Esta patologia leva a desidratação e desnutrição, com perda de massa magra principalmente decorrente do estado hipercatabólico associado à sepse (IRVING, 2000). 4.3. Quadro clínico: As fístulas gastrointestinais podem ocorrer sem nenhum fator indicativo geral ou local e sem falha técnica por parte do cirurgião. Por isso, nas situações cirúrgicas de alto risco, quando há grande processo inflamatório associado, coloca-se um dreno nas proximidades da sutura ou anastomose, para orientar a possível drenagem para o exterior, estabelecer um diagnóstico precoce e diminuir a possibilidade de formação de abscesso intra-abdominal. No pós-operatório, pacientes portadores de fístula digestiva apresentam-se com distensão abdominal, náuseas, vômitos, que caracterizam o íleo adinâminco prolongado, além de taquicardia persistente e febre. Nos pacientes sem drenos abominais, a partir do quarto até o décimo dia de pós-operatório, surgem sinais de infecção de ferida operatória como dor, rubor, calor e edema, podendo ocorrer drenagem espontânea de secreção purulenta ou digestiva. Quando há dreno, pode ocorrer processo idêntico ao que ocorre nos pacientes sem dreno ou então ocorrer exteriorização de secreção purulenta ou digestiva pelo local de drenagem. Há aind a casos em que não ocorre exteriorização da secreção digestiva, evoluindo para peritonite difusa ou abscesso intra-abdominal (CORREIA, 2004). Pacientes portadores de fístulas podem apresentar-se com quadros complicados, com desequilíbrio hidro-eletrolítico, pois os pacientes podem perder até quatro litros diários de secreções da saliva, esôfago, estomago, duodeno, pâncreas e trato biliar pela porção proximal de uma fístula de alto débito ou quando se associa jejum oral combinado com sonda gástrica aberta, podendo-se desenvolver alcalose metabólica hipocalêmica e hipoclorêmica. Com sepse, que é a complicação mais comum vista nos pacientes com fístulas, devido à associação freqüente entre abscessos e infecção de pele conseqüente da natureza cáustica das secreções, sendo potencializada pelo pobre estado nutricional e comprometimento da imunidade, com concomitante infecção de trato urinário e respiratório. E com desnutrição, presente em 55 a 90% dos casos e associada à perda ponderal maior de 10% e hipoproteinemia. Ocorre principalmente pela perda de conteúdo entérico rico em proteínas, ingesta inadequada e hipercatabolismo causado pela sepse. A albumina sérica tem um valor preditivo de fechamento espontâneo e mortalidade. (mortalidade de 42% na albumina < 2.5g/dl), sendo o valor da transferrina também um fator preditivo.de mortalidade7 . Cerca de 53% dos pacientes que possuem fístulas gástricas ou duodenais, 74% das jejunais e ileais e 20% das de cólon apresentam-se desnutridos (CHINTAPATLA, 2002). 4.4. Diagnóstico: O diagnóstico de fístula digestiva é confirmado ao se encontrar secreção digestiva no conteúdo exteriorizado pelo dreno abdominal ou nas drenagens de incisões cirúrgicas espontâneas ou operatórias (LISBOA, 2004). Cuidado deve ser tomado na presença de sinais de peritonite, como dor abdominal difusa, distensão abdominal, irritação peritonial, febre, taquicardia, seqüestro de líquidos e oligúria. A avaliação laboratorial pode evidenciar distúrbios hidroeletrolíticos, leucocitose com desvio à esquerda e elevação das escórias nitrogenadas. A radiografia simples de abdome pode revelar distenção de alças intestinais com níveis hidro-aéreos e líquido peritonial aumentado. A ultrassonografia fica prejudicada pelo excesso de gases abdominais, mas pode demonstrar espessamento da parede das alças intestinais e presença de líquidos ou coleções na cavidade peritonial. A tomografia computadorizada não é afetada pela presença de líquidos e também demonstra espessamento e distensão das alças intestinais e presença de líquidos ou coleções intraperitoniais com maior riqueza de detalhes (CORREIA, 2004). Um teste simples que pode ser realizado na suspeita de fístula enterocutânea, é a ingesta de azul de metileno. Mas a fistulografia é padrão ouro no diagnóstico e na presença de sepse e fistulografia demonstrando fístula complexa, deve-se sempre realizar tomografia de abdome e de pelve para descartar abscesso (DUERKSEN, 1998). 4.5. Tratamento: O principal objetivo no tratamento é a correção do distúrbio hidro-eletrolítico, da desnutrição e o controle da sepse (DUERKSEN, 1998). Imediatamente após o reconhecimento da fístula deve-se iniciar medidas que visem à estabilização do paciente, como correção de distúrbios ácido-básicos e hidro-eletrolíticos, identificar e tratar processos infecciosos associados, introduzir medidas para reduzir e/ou controlar o débito da fístula, planejar e instituir suporte nutricional (tabela 5). Além de descartar a necessidade de ressecção cirúrgica, o que pode exigir tratamento em centros especializados (CAMPOS, 2001), é fundamental obter uma história clínica detalhada e exame físico completo, conhecer a origem do paciente, detalhes sobre sua doença base e procedimentos cirúrgicos prévios realizados (CORREIA, 2004). Há fatores que influenciam a morbidade e fechamento espontâneo das fístulas gastrointestinais (DUERKSEN, 1998): Tabela 5. Etapas do tratamento das fístulas gastrointestinais (CHINTAPATLA, 2002). 1. Restaurar o volume sanguíneo e corrigir o desequilíbrio hidro-eletrolítico 2. Controle de infecção e sepse com antibióticos adequados e drenagem de abscessos, preferencialmente percutaneamente. 3. Iniciar regime de jejum para inibir a secreção gástrica, pancreática e intestinal e instalar um período curto de sucção nasogástrica 4. Controle do débito e proteção da pele 5. Suporte nutricional (NPT / NE) 4.5.1. Correção dos distúrbios hidro-eletrolíticos e ácido-basicos: A reposição volêmica deve ser com soluções eletrolíticas balanceadas (Ringer Lactato), associadas ou não a albumina humana, orientada por meio de medida de pressão venosa central (PVC) ou até mesmo cateter de Swan-Ganz. A infusão de concentrado de hemáceas só deve ser realizada se o hematócrito estiver abaixo de 30% nos pacientes sem doença cardíaca, hepática ou pulmonar prévias (PINTO, 2001). O volume de água e eletrólitos a ser administrada baseia-se nas necessidades diárias estimadas acrescidas das perdas detectadas, com o volume urinário regularmente mensurado e a dosagem de eletrólitos plasmáticos orientando sua suplementação. Pacientes com fístulas proximais e com alto débito tem grande risco de desenvolver complicações maiores como distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos graves, insuficiência renal pré-renal e óbito. A reposição hídrica na NPT é realizada na proporção de 1ml/kcal/dia (DUERKSEN, 1998). 4.5.2. Drenagem externa adequada: Nos casos de pequena drenagem espontânea de secreção digestiva na ferida cirúrgica sem qualquer repercussão geral, pode-se apenas observar. Há casos em que pode se ampliar cirurgicamente o local de deiscência da incisão para facilitar a drenagem. Em casos de peritonite difusa com repercussão significativa é necessário cirurgia de urgência, coletandose o material para estudo bacteriológico, limpeza da cavidade peritonial, com aspiração e debridamento do material infectado e necrosado, identificação e caracterização da fístula e sua drenagem para o exterior, com drenos tubulares, com relaparotomias planejadas, de acordo com as condições locais encontradas. Não está indicada a sutura do orifício fistuloso pois quase invariavelmente haverá deiscência e ampliação da lesão com piora do prognóstico. Se a fístula se estabelece num paciente com sinais de bloqueio peritonial o tratamento inicial é conservador, e se houver sinais de retenção de secreção é necessário realizar a drenagem, de preferência por via percutânea ou através de incisões localizada (CORREIA 2004 e PINTO, 2001). A secreção drenada deve ser mensurada e ter seu aspecto analisado diariamente. O que pode ser feito com um sistema de aspiração contínua sob baixa pressão, que protege a pele, facilita a quantificação e torna a drenagem mais eficaz. E nos casos de má evolução clínica, impõe-se a pesquisa de abscessos que possam estar ocultos, para a realização de uma drenagem efetiva, seja por radiologia intervencionista ou por métodos cirúrgicos convencionais (PINTO, 2001). 4.5.3. Tratamento da infecção associada: Complicações sépticas tem grande influência na taxa de mortalidade e no fechamento espontâneo das fístulas. Como a sepse é a principal responsável pela mortalidade nas fístulas digestivas, podendo levar a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas, há necessidade de drenagem externa eficaz dos trajetos fistulosos e a antibioticoterapia deve ser iniciada precocemente, após a realização de culturas dos orifícios fistulosos e/ou abscessos. O emprego de antibióticos pode ser iniciado de forma empírica, baseada na flora relacionada à sede da fístula, normalmente com uma cefalosporina de terceira geração associada a um anaerobicida, até o resultado das culturas. Por outro lado, quando se estabelece bloqueio adequado e drenagem efetiva da fístula, os antibióticos só devem ser usados se houver infecção. Tardiamente a infecção polimicrobiana é comum, envolvendo inclusive germes hospitalares resistentes. O adequado controle da infecção é fundamental e tem relação direta ao índice de fechamento espontâneo da fístula. Nos pacientes em sepse, primeiramente deve -se eliminar o foco infeccioso intra-abdominal (abscesso), avaliado através de tomografia computadorizada ou outro meio de imagem disponível. A presença de líquido livre na cavidade pode indicar sepse intra-abdominal contínua, que deve ser manejada com tratamento cirúrgico, com ressecção da lesão e exteriorização (estoma e fístula mucosa); jejunostomia em alça ou peritoniostomia (CAMPOS, 2001). 4.5.4. Uso de fármacos: Além dos conhecidos antagonistas H2 e bloqueadores de bomba de prótons, que diminuem o débito proximal da fístula pela redução da secreção gástrica e pancreática, alguns fármacos tem sido emp regados no auxilílio do tratamento das fístulas gastrointestinais para otimizar o tratamento conservador. A somatostatina ou seu análogo octreotide reduzem a circulação esplâncnica com conseqüente redução significativa da secreção digestiva (CRESCI, 1997). A somatostatina é um aminoácido inibidor da secreção gastrointestinal, além de inibir tanto o pâncreas endócrino quanto exócrino e reduzir o fluxo sanguíneo pancreático. Recentemente descobriu-se que a somatostatina têm um efeito adicional de reduzir a motilidade gastrointestinal, secreção e esvaziamento gástricos, esvaziamento da vesícula biliar, e secreção de vários hormônios como colecistocinina (CCK), peptídeo vasoativo intestinal (VIP), secretina e polipeptídeo gastrointestinal (PINTO, 2001). Mas nece ssita de infusão contínua à meia vida de 1 a 3 minutos e pode causar hiper-secreção de rebote de GH, insulina e glucagon se sua infusão é interrompida subitamente (MAKHDOOM, 2000). Em combinação de NPT (250µg/h nas primeiras 24 horas), a somatostatina fecha espontaneamente 75 a 85% das fístulas em 5,4 a 13,8 dias e em 68 a 100% entre 6,1 a 26 dias nas fístulas pancreáticas (DUERKSEN, 1998). O octreotide é uma análogo sintético octapeptídeo da somatostatina-14, com meia vida aumentada para aproximadamente duas horas, em comparação com menos de dois minutos do hormônio nativo. Aumenta o tempo de trânsito intestinal, da média de 57 para 204 minutos, diminui a secreção fluida endógena e aumenta a absorção de água e eletrólitos. Sua administração é realizada de forma intra-muscular ou subcutânea na dosagem de 100µg a cada 8 horas (300µg / dia até que a fístula se fe che). Causa um decréscimo do débito da fístula em 70% em 48 horas, o que é promissor em casos de fístulas pancreáticas ou pósoperatórias. A droga deve ser suspensa se o débito da fístula não diminui nas primeiras 48 horas de tratamento ou se não há resposta em duas a três semanas de tratamento (figura 1). Por isso, não adianta utilizar quando há obstrução distal, pois sua ação é farmacológica, devendo-se, primeiramente, controlar fatores desfavoráveis de fechamento espontâneo da fístula antes da sua utilização e seu uso deve ser considerado em pacientes não cirúrgicos, portadores de fístulas de alto débito e sem possibilidade de controle adequado com a pele / ferida (DUERKSEN, 1998). Evidências sugerem que quando há redução do débito da fístula em 50% quando na associação de NPT e somatostatina nas primeiras 24 a 48 horas, é um indicador prognóstico de fechamento espontâneo. Por isso recomenda-se que seja feita uma triagem com somatostatina em todos os pacientes com fístula sem evidência de obstrução mecânica A somatostatina e o acetato de octreotide em associação com a NPT aceleram o fechamento espontâneo da fístula e reduzem o período de necessidade da NPT, pois há inibição da secreção basal intestinal e supressão da estimulação exógena (CRESCI, 1997 e DUDRICK, 1999). Quando adicionado à NPT, pode formar o octreotide glicosilado, o que diminui sua biodisponibilidade em 10 a 15% e também reduzir a concentração de insulina se administrados juntos. Seu uso tem relação com colelitíase, pois mais de 50% desenvolvem anormalidades do trato biliar com o uso prolongado de um ano ou mais. Podem surgir sintomas inespecíficos como diarréia, náuseas, dor abdominal, arritmias, hipotireoidismo, hipo ou hiperglicemia, vômitos, flatulência, constipação (DUERKSEN, 1998). E apesar de reduzir o tempo de cicatrização e fechamento das fístulas, aumentam o índice de complicações trombóticas, não afetam o período de hospitalização e a mortalidade, além do custo elevado (LYNCH, 2004). O hormônio de crescimento (GH) é utilizado como complemento nutricional para promover o anabolismo sistêmico, como a lipólise, que permite que o organismo utilize melhor o tecido adiposo como fonte de energia; antagonista da insulina, promovendo a hiperglicemia prolongada; além de melhorar a taxa de cicatrização em queimados e grandes ferimentos abertos, sendo administrado por 5 dias na dosagem de 10mg/dia (CRESCI, 1997). Nos casos de fístulas decorrentes de doença de Crohn, o Infliximab (anticorpo monoclonal quimérico do FNT alfa), está associado à redução do débito e favorecimento da cicatrização e fechamento espontâneo (DUERKSEN, 1998). Figura 1. Algoritmo de utilização da somatostatina no tratamento das fístulas gastrointestinais (DUDRICK, 1999). 4.5.5. Cuidados com a pele: As secreções digestivas, principalmente nas fístulas proximais, são ricas em enzimas lesivas para a pele, causando lesões cutâneas dolorosas de aspecto de queimadura, com propensão a infecções secundárias e efeito psicológico negativo para o paciente (COREIA, 2004 e PINTO, 2001). Por isso é ideal iniciar-se precocemente medidas protetoras da pele, utilizando-se sistemas de aspração contínua sob baixa pressão que reduz o volume drenado que entra em contato com a pele; bolsas coletoras; gazes absorventes; substâncias (pasta de alumínio, cimento branco, clara de ovo, gelatina, colóide elástico, etc) ou protetores especiais, como goma de Karaya ou placa de Stomathesive (SCHIRMER, 1999). 4.5.6. Colas biológicas: Pode ser introduzida por via endoscópica, através de orifício interno ou externo, após debridamento e limpeza do trajeto fistuloso. Principalmente em casos de fístulas gastroduodenais e de cólon (CORREIA, 2004). Os procedimentos terapêuticos incluem debridamento mecânico, irrigação e oclusão da fístula com selante de fibrina ou esponja de gelatina (HOLLINGTON, 2004). 4.5.7. Tratamento cirúrgico: O fechamento cirúrgico da fístula somente é possível após eliminação da sepse, estabelecimento de nutrição livre de complicação e conhecimento da anatomia da fístula com inclusão do trato gastrointestinal distal (CORREIA, 2004). Uma vez diagnosticada uma fístula enterocutânea de alto débito, a conduta deve ser inicialmente clínica e a reoperação praticada somente em casos de exceção, quando não houver fechamento com o tratamento conservador após seis semana (EVANS, 2003). Pacientes com múltiplas fístulas enterocutâneas podem ser alimentados via enteral uma vez que sua anatomia seja definida 5 . A reconstrução é um desafio cirúrgico, com mortalidade de 30% e recorrência de 21%, e envolve três desafios: acesso à cavidade abdominal, anastomose o trato gastrointestinal e fechamento da parede abdominal (CAMPOS, 2001 e MARTINEZ, 1998). O tratamento cirúrgico pode ser precoce, quando o paciente apresentar complicação importante no decorrer da evolução (descontinuidade intestinal completa, hemorragia intraperitoneal, grandes abscessos e peritonite difusa), ou tardio, quando é realizado seis a oito semanas após os sinais de sepse terem sido controlados e o paciente estabilizado (figura 2). Após a avaliação inicial faz-se a classificação da fistula como simples ou complexa e de alto ou de baixo débito, com a NPT para repouso intestinal e aguarda-se o fechamento. O cirurgião indica o tratamento operatório para complementar o tratamento conservador (drenagem de abscessos) ou abordar diretamente a fístula que não cicatrizou espontaneamente (CORREIA, 2004). Cerca de 19% fecham espontaneamente e os fatores o que influenciam seu fechamento são presença de eversão da mucosa, orifício externo maior que um terço do diâmetro da circunferência intestinal ou presença de obstrução distal, corpo estranho, neoplasia, doença inflamatória intestinal refratária, enterite pós- irradiação, infecção local e epitelização do trato fistuloso (tabela 6). Das fístulas externam que não fecham espontaneamente, 64% são resolvidas com cirurgia (ASPEN, 1993). Com a instituição do tratamento conservador, considera-se que o período médio de cicatrização espontânea da fístula digestiva seja de quatro a seis semanas, o que é influenciado por fatores que impedem a cicatrização da fístula (tabela 7). Pode-se em determinados casos utilizar técnicas de desvio de trânsito (colostomias) e não realizar abordagem direta da fístula, o que tem a desvantagem de não garantir a cicatrização da fístula e requerer nova intervenção para posterior reconstrução do trânsito (MAKHDOOM, 2000). A operação deve constar de uma laparotomia ampla com dissecção completa de todo o intestino, ressecção do segmento comprometido e anastomose primária término-terminal ou láterolateral (PINTO, 2001). Uma fístula de curso único, com débito menor que 500ml/dia, sem severas lesões de pele e de parede, num paciente em bom estado geral e em boas condições nutricionais, deve-se realizar fistulectomia com enterectomia parcial do segmento envolvido, com reconstrução primária. Pacientes com fístulas complexas, alto débito, mal estado geral, lesões importantes de pele e parede abdominal devido à dificuldade de controle das secreções, deve-se realizar desvio intestinal com anastomose término- lateral do segmento intestinal proximal à fístula, permitindo uma alternativa de trânsito e significativa redução do débito da fístula. E a fistulectomia com ressecção do intestino acometido é programada num segundo tempo, após quatro a seis meses (MARTINEZ, 1998). Tabela 6. Fatores que influenciam o fechamento espontâneo das fístulas gastrointestinais (LISBOA, 2004; HOLLINGTON, 2004 e IDENO, 1993) Fator Favorável Desfavorável Características da fístula Trajeto fistuloso longo Trajeto fistuloso curto Continuidade intestinal Eversão da mucosa Ausência de obstrução Doença intestinal adjacente Íleo, evisceração Oclusão distal Defeito da parede abdominal Órgão de origem Bileo-pancreática Gástrica Cólon Duodeno Complicações Ausente Presente Etiologia Falha de anastomose Malignidade Doença inflamatória intestinal Enterite actínica Origem do paciente Mesmo hospital Transferido Débito da fístula < 500ml/dia > 500ml/dia Desnutrição Ausente Presente Duração da fístula Aguda Crônica Tabela 7. Fatores que impedem a cicatrização da fístula digestiva (EVANS, 2003). Infecção local associada Presença de corpo estranho Atapetamento mucoso do trajeto fistuloso Fístula terminal Obstrução distal da fístula Desnutrição grave Neoplasia ou doença inflamatória comprometendo o segmento intestinal Figura 2. Esquema de tratamento para pacientes com fístulas entéricas (MAKHDOOM, 2000 e PINTO, 2001). 4.5.8. Tratamento específico das fístulas digestivas nos diferentes órgãos: 4.5.8.1. Fístulas esofágicas cervicais: Jejunostomia descompressiva e alimentar, manter-se a alimentação enteral por essa via até a cicatrização da mesma ou até o trajeto ter sido orientado, quando a dieta poderá ser feita por via ora l, com restrição líquida (figura 3). Estas fístulas cicatrizan-se em 8 a 12 dias. Figura 3. Esquema de tratamento de fístula esofágica cervical (LISBOA, 2004). 4.5.8.2.Fistulas esofagianas intratorácicas: Nas primeiras seis horas após o trauma, realiza-se uma sutura simples do esôfago com drenagem torácica associada à gastrostomia descompressiva e jejunostomia alimentar. Se passadas seis horas, realiza-se esofagostomia cervical, toracotomia com sutura do esôfago, drenagem torácica e mediastinal, gastrostomia descompressiva e jejunostomia alimentar. Institui-se primeiramente nutrição parenteral total para reverter o catabolismo e, assim, melhorar as condições nutricionais e imunológicas do paciente (figura 4). Após a estabilização da dieta enteral, retira-se a nutrição parenteral. Figura 4. Tratamento de fístulas esofágicas intratorácicas (LISBOA, 2004). 4.5.8.3. Fístulas esofagianas intra-abdominais: Devem ser tratadas com aspiração com irrigação contínua da fís tula após orientação do trajeto fistuloso. A relaparotomia para limpeza e drenagem da região, caso o paciente não tiver sido drenado ou não se ter conseguido controlar a sepse através de aspiração pelo orifício do dreno associado à antibioticoterapia sistêmica. É necessário nutrição parenteral total até que o paciente esteja em boas condições clínicas e o íleo tenha se resolvido. A partir daí, pode-se introduzir uma sonda nasoenteral localizando-a distalmente a fístula e, assim, iniciar nutrição enteral(figura 5). Figura 5. Tratamento das fístulas esofágicas intraabdominais (LISBOA, 2004). 4.5.8.4. Fístulas duodenais: São as que provocam maior morbidade e mortalidade, pois apresentam alto débito com elevada perda hidroeletrolítica, distúrbos ácido-básicos, erosão da pele e da parede abdominal, sepse intraperitonial. As fístulas duodenais podem ser classificadas em de coto duodenal e laterais. As fístulas de coto duodenal podem ser tratadas conservadoramente através de aspiração contínua próxima ao coto duodenal aberto, através de dreno, com nutrição parenteral total inicialmente e após estabilização do paciente, colocação de uma sonda nasoenteral pela alça eferente e início da nutrição enteral (figura 6). Caso haja necessidade cirúrgica, utiliza-se a intubação duodenal (técnica de Welch), com aspiração contínua no pós operatório e irrigação contínua com solução salina normal quando a fístula estiver orientada. Figura 6. Tratamento de fístulas de coto duodenal (LISBOA, 2004). 4.5.8.5. Fístulas pancreáticas: As fístulas pós-traumáticas, dependendo do débito, devem ser tratadas inicialmente com medidas clínicas (terapia nutricional parenteral com somatostatina associada ou não a nutrição enteral). A maioria delas cicatriza mesmo sem tratamento específico. As fístulas que ocorrem após procedimentos cirúrgicos são graves e provocam morbidade e mortalidade elevadas. O tratamento consiste em descompressão intestinal a montante da fístula com gastrostomia (figura 7), aspiração contínua do conteúdo da fistula, nutrição parenteral total e octreotídeo na dose 0,01 ou 0,5mg subcutâneo a cada oito horas (PINTO, 2001). A ascite pancreática deve-se à rotura de um canal pancreático para a cavidade peritonial livre. O tratamento deve constituir-se de nutrição parenteral total por quatro semanas, paracenteses em dias alternados, observação rigorosa. O tratamento clínico não deve exceder seis semanas e quando decidido pelo tratamento cirúrgico deve -se realizar uma pancreatografia endoscópica retrógrada para localizar a rotura e, assim, planejar a operação, podendo ser ressecção pancreática, cirurgia de Puestow ou aposição de uma alça em “Y de Roux”. Figura 7. Tratamento de fístulas pancreáticas pós-operatórias (LISBOA, 2004). 4.5.8.6. Fístulas colônicas: As fístulas estercorais após apendicectomias geralmente são benignas e se curam com o emprego de dietas elementares. As fístulas mais graves são devidas às deiscências de anastomoses ileocólicas ou coloretais, por provocarem peritonite fecal com alta taxa de mortalidade. O tratamento (figura 8) consiste em jejum, aspiração contínua do conteúdo da fístulapara as deiscências de anastomoses ileocólicas ou mesmo ileostomia em alça, a montante de lesão, se o quadro séptico se agravar, e nutrição parenteral total até melhora do processo infeccioso, quando se pode iniciar a alimentação enteral elementar por sonda, observando-se o débito da fístula. Para as fístulas colorretais utiliza-se drenagem da região perifístula com aspiração contínua do conteúdo e nos casos graves com sepse importante, deve ser realizada uma colostomia para derivação de trânsito. Figura 8. Tratemento de fístulas colorretais (LISBOA, 2004). 4.5.8.7. Fístulas do intestino delgado: São fístulas de alto débito e podem provocar distúrbios eletrolíticos e ácidobásicos importantes. O fechamento espontâneo da fístula vai depender principalmente do controle da sepse. A nutrição parenteral nesses casos tem papel importante, principalmente na função de reduzir a secreção intestinal. Contudo, em fístulas de íleo terminal já orientadas pode-se tentar a nutrição enteral sem resíduo, observando-se o débito diário (PINTO, 2001). 4.5.8.8. Fístulas biliares: Causadas principalmente por lesões iatrogênicas das vias biliares, o tratamento consiste de reoperação para correção da lesão e/ou drenagem do espaço de Morrison, com papilotomia endoscópica e nutrição parenteral em casos selecionados (LISBOA, 2004). 4.6. Terapia nutricional: No início dos anos 60, antes da instituição da terapia nutricional, a mortalidade dos pacientes portadores de fístulas gastrointestinais variava de 59 a 64%. No Brasil, cerca de 48,1% do total dos pacientes hospitalizados são desnutridos, dos quais 12,5% são severamente desnutridos (FELANPE, 2004). Em pacientes portadores de fístulas, a desnutrição tem uma incidência de 74%, o que está correlacionado com taxas de morbidade e mortalidade elevadas e é influenciada com o local e débito da fístula (IDENO, 1993). A mortalidade nos pacientes desnutridos é de 32% e de apenas 4% nos pacientes bem nutridos (SCHIRMER, 1999). A terapia nutricional previne deterioração adicional ou desnutrição com a piora do estado do paciente debilitado pela fístula, além de reduzir ou modificar as secreções gastrointestinais e pancreáticas, exercendo um papel terapêutico primário (IDENO, 1993). Nos pacientes portadores de fístulas digestivas o quadro de desnutrição grave é decorrente do processo hipercatabólico associado à infecção, do longo período de jejum associado ou não ao íleo paralítico prolongado e de outras causas prévias às operação. Por isso a terapia nutricional deve ser indicada o mais precocemente possível, evitando-se a piora do estado nutricional, que é um fator de mau prognóstico para que ocorra cicatrização espontânea da fístula (CORREIA, 2004). A desnutrição continua a ser o principal problema nestes pacientes afetando 55 a 90% dos casos (CHINTAPATLA, 2002). A terapia nutricional adequada é fundamental no tratamento conservador, enquanto se aguarda o fechamento espontâneo da fístula; quando se deseja estabilização clínica do paciente preliminarmente ao tratamento cirúrgico e após a cirurgia, enquanto o aporte calórico ingerido é inadequado. A forma enteral é preferível, mas a via parenteral pode ser necessária quando se deseja repouso intestinal (CAMPOS, 2001). As fístulas envolvendo intestino delgado representam um desafio para o cirurgião, com mortalidade de 30% e a recorrência da fístula após tratamento cirúrgico é de 21%. As complicações mais freqüentes das fístulas são desiquilíbrio eletrolítico, desnutrição e peritonite, com mortalidade de 78, 61 e 67%, respectivamente. Por isso, é crucial atingir-se um estado nutricional adequado no préoperatório, pois quando há ingesta calórica adequada a mortalidade cirúrgica cai de 45 para 14%6 . O principal objetivo do tratamento conservador é minimizar e controlar o débito da fístula (CHINTAPATLA, 2002). A terapia nutricional neste tipo de paciente tem como objetivo melhorar o estado nutricional ou impedir que ele se deteriore. A nutrição enteral é um potente estímulo para ativação das defesas antimicrobianas normais do intestino proximal, estimulando a liberação de secreção gástrica, o fluxo de bile e a motilidade do intestino delgado. A nutrição enteral também estimula a liberação de colecistoquinina e secretina, além de aumentar a produção de IgA pela mucosa do intestino delgado (PINTO, 2001). Em casos especiais, como os pacientes portadores de doença de Crohn há alto risco para desnutrição protéico-calórica. Nestes pacientes há quatro apresentações clínicas principais: exacerbação aguda; obstrução intestinal; doença perianal e doença fistulizante, com as fístulas conseqüentes de inflamações transmurais. A decisão para se definir o suporte nutricional adequado, que tem um papel primário na remissão da doença, depende do estado nutricional, da severidade da doença, da função do trato gastrointestinal e da necessidade de cirurgia. A taxa de desnutrição varia de 25 a 80%, sendo conseqüente da má absorção, do aumento do gasto energético em repouso em pacientes sépticos e da ingesta reduzida. A nutrição enteral é o tratamento de escolha, enquanto nutrição parenteral está reservada em casos selecionados ou no pré-operatório. Dieta enteral pode ser usada em fístulas êntero-cutâneas distais de baixo débito, mas jejum (repouso intestinal) com NPT e medicação devem ser usadas em casos de alto débito ou quando aumenta o débito após o uso da dieta enteral. O fechamento espontâneo tem menor incidência que em outras patologias e o objetivo do tratamento é evitar cirurgias desnecessárias (FELANPE, 2002). 4.6.1. Avaliação nutricional: Deve ser feita antes do início da terapia nutricional, determina o estado nutricional atual do pacientes, detecta alterações de composição corpórea e orienta o tipo e grau de agressividade do tratamento (CORREIA, 2004). A avaliação nutricional ideal ainda não foi definida, sendo a técnica mais adequada, aquela que seja prática, fácil de ser realizada, de baixo custo, com sensibilidade e especificidade adequadas e não invasiva. O objetivo é diagnosticar o estado nutricional e identificar os pacientes com risco aumentado de complicações, devendo ser feita através de várias abordagens e essencialmente clínica. Os dados devem ser registrados e pesquisados semanalmente, e têm três finalidades: permitir avaliação nutricional inicial, assegurar suporte nutricional adequado e monitorar a resposta do paciente à terapia nutricional (IDENO, 1993). A avaliação nutricional envolve determinados critérios, como a avaliação subjetiva global; necessidade de suplementação enzimática com lactase, dissacaridase e enzimas pancreáticas; antropometria; necessidade calórica (IMC / Harris Benedict / Modelo padrão); marcadores laboratoriais; marcadores biológicos, como a Cit rulina (aminoácido não protéico produzido pela mucosa intestinal), mensuração da absorção da wet (<1.4kg/dia) e energia intestinal (84% da taxa de metabolismo basal); bioimpedância; e nas crianças, o IGFI, ILGF proteína 3 e GH (campos, 2001 e FRACS, 2000). A nutrição enteral é sempre preferível (figura 9), mas se não é bem tolerada, deve-se usar terapia parenteral nos primeiros três a cinco dias quando há desnutrição ou doença severa albumina sérica menor que 3,0g/l ou peso inferior a 10% do usual (McCLAVE, 2003). Nos casos de pacientes bem nutridos iniciar cinco a sete dias após ingesta inadequada para prevenir perda de massa magra (DUERKSEN, 1998). Pois a desnutrição protéico-calórica pode existir quando há balanço nitrogenado negativo e perda de massa magra, e há redução de complicações não infecciosas quando há suporte pré-operatório com NPT. Figura 9. Algoritmo para decisão clínica para suporte nutricional (McCLAVE, 2003). A avaliação subjetiva global (ASG) orienta a suplementação nutricional e classifica os pacientes como A) bem nutrido; B) moderadamente desnutridos ou com risco nutricional e C) severamente desnutrido (CAMPOS, 2001). A história clínica salienta a moléstia atual, tempo de evolução, sintomas gastrointestinais, mudança da atividade funcional, etc. A Antropometria fundamenta-se nas medidas dos dados antropométricos, que incluem peso, altura, pregas cutâneas tricipital e subescapular e circunferências musculares. Por meio do peso e da altura obtêm-se o índice de massa corpórea – IMC (kg/m2) – índice de Quetelet. A faixa entre 18 a 25kg/m2 é considerada segura, enquanto op IMC entre 14 e 15kg/m2 está associado a uma taxa de mortalidade alta. Medem-se as pregas cutâneas para determinar a porcentagem de gordura corpórea, usando-se um paquímetro de Lange ou Harpender. Como a tela subcutânea representa aproximadamente 50% das reservas de gordura do organismo, a medida das pregas é um parâmetro razoável da quantidade de gordura corpórea total. As medidas dependem da experiênc ia do profissional, o que pode resultar de variabilidade de resultados. A medida da circunferência do braço fornece a massa magra corpórea, já que a musculatura esquelética representa 60% do conteúdo total de proteína corporal, sendo esta usada como principal fonte fornecedora de aminoácidos em períodos de estresse e jejum. Os dados são analisados com auxílio de tabelas de percentis criadas através de estudos populacionais, o que nem sempre é fidedigno para determinado paciente. Os índices nutricionais comb inam medidas de albumina sérica, prega cutânea tricipital, transferrina, sensibilidade cutânea tardia, que quando usados em conjunto evidenciam um aumento na sensibilidade para prever-se a morbidade em pacientes cirúrgicos (índice de prognóstico nutriciona l). Determinados testes bioquímicos auxiliam na avaliação do estado nutricional. Considera-se associado à desnutrição valores de contagem total de linfócitos inferior a 1500cel/mm3 ; albumina inferior a 3,5g/dl e transferrina inferior a 200mg/dl. Também são importantes os valores de pré-albumina, retinol ligado à albumina e colesterol plasmáticos. Lembrando-se que estes valores podem estar alterados em outras doenças como neoplasias, doenças autoimunes, nefropatias e hepatopatias. A proporção de massa corporal magra pode ser determinada pelo índice de creatinina / altura. E a severidade da desnutrição pode ser estimada com um escore menor que 83.5 no índice de risco nutricional (IRN), o qual é definido pela fórmula: IRN = 1.519 x Albumina sérica (g/l) + 0.417 x [peso atual / peso usual] x 100) O balanço nitrogenado (BN) pode ser usado para estimar as necessidades nutricionais, avaliar a terapêutica nutricional e acompanhar o estado metabólico. Um grama de nitrogênio representa 30g de tecido magro e a proteína dietética contém aproximadamente 16% de nitrogênio. A maior parte do nitrogênio é perdida na urina na forma de uréia, que é mensurada pelo nitrogênio uréico urinário (NUU), tendo uma mínima porcentagem perdida nas fezes e através da pele, o que pode ser aumentado nos pacientes com fístulas e diarréia. É calculado com base no nitrogênio recebido e perdido, através da seguinte fórmula: BN = (proteína dietética x 0,16) – (NUU + 2g fezes + 2g pele) Através desta fórmula estima-se o índice catabólico (IC) o que traduz o excesso de nitrogênio proveniente do catabolismo de massa magra. Um IC inferior a cinco indica estresse moderado e quando superior representa estresse grave: IC = NUU – [(0,5 x ingestão de proteína x 0,16) + 3g] A avaliação nutricional pode ser auxiliada pela análise de bioimpedância, através de eletrodos colocados nas extremidades do braço e perna homolateral, em que é passada uma corrente elétrica de baixa intensidade, que fornece dados referentes à resistência da passagem desta corrente e à reactância que é a oposição ao fluxo da mesma corrente. A grande quantidade de gordura corpórea aumenta o valor da resistência, pois a gordura e o osso são maus condutores enquanto os tecidos magros são altamente condutivos. No que se refere a reactância, a membrana celular é também um indicador de massa corpórea magra. Mas os valores podem se alterar em pacientes com distúrbios hídricos. A desnutrição interfere na resposta imunológica. Por isso medidas de testes cutâneos de hipersensibilidade tardia através de inoculação de antígenos como Cândida, Tricophyton, caxumba, etc, foram utilizados para se medir a competência imunológica, mas atualmente foram praticamente abandonados, devido a um enorme número de situações que podem causar anergia, como o uso de certos fármacos (corticóides), infecção, neoplasias, queimaduras, etc. A calorimetria indireta mede o gasto energético basal (GEB) através da análise do consumo de oxigênio e da produção de dióxido de carbono para atingir-se o coeficiente respiratório. Esse gasto representa a taxa de metabolismo basal e depende da massa muscular magra, por isso avalia de forma indireta o estado nutricional. A calorimetria sofre influência direta do estado metabólico do paciente, da presença de febre, da temperatura ambiental e do efeito térmico da alimentação e da atividade física. O paciente deve estar em jejum e repouso absoluto (equilíbrio total), por isso seu melhor uso é na monitoração da terapia nutricional e não como método de avaliação nutricional. Os testes funcionais são medidas funcionais que indiretamente avaliam o estado nutricional: contração do músculo addutor pollicis, dinamometria, teste ergométrico, espirometria, etc. 4.6.2. Necessidades nutricionais: O primeiro objetivo na terapia nutricional do paciente crítico é minimizar a perda de massa magra que ocorre no estado hipercatabólico, responsável por um aumento da necessidade calórica, devido à trauma, múltiplas fístulas, cavidade abdominal aberta, etc. Na prática clínica, as necessidades calóricas são baseadas na equação de Harris-Benedict, que se baseia em altura, peso, idade e sexo de adultos normais (IDENO, 1993). O cálculo das calorias a serem infundidas, tanto na nutrição parenteral quanto na enteral é feito de acordo com a equação de Harris-Benedict, acrescida dos fatores de Long e Wilmore (tabela 8). A presença de fístula acarreta perdas anormais de líquidos, influenciando o balanço hídrico. Uma das maneiras mais fáceis de se medir o déficit ou excesso de água é medindo-se o peso corporal diariamente. A necessidade de líquidos é baseada no gasto energético, uma vez que geralmente se faz 1ml de água para cada caloria dispendida (1ml/kcal/dia), o que pode ser aumentado pelas perdas de líquidos gastrointestinais, febre e sepse. O não fornecimento adequado de sódio, potássio ou fósforo na NPT impede a retenção anabólica de outros elementos, em particular compostos nitrogenados, sendo sua suplementação essencial (MAKHDOOM, 2000). Tabela 8. Cálculo de necessidade calórica (IDENO, 1993). - Homens: GEB = 66 + (13,7 x P) + (5 x A) – (6,8 x I) - Mulheres: GEB = 655 + (9,6 x P) + (1,7 x A) – (4,7 x I) [P = peso em kg, A = altura em cm e I = idade em anos] Fator de estresse: Inanição 0,80 – 1,00 Pós-operatório (não complicado) 1,00 – 1,05 Câncer 1,10 – 1,45 Infecção grave / trauma 1,30 – 1,55 Fator de atividade: 1,20 – 1,25 Fórmula final para cálculo das necessidades calóricas para manutenção do peso: GEB x Fator de estresse x Fator de atividade As necessidades nutric ionais dos pacientes portadores de fístulas são semelhantes às dos pacientes com efermidades graves, em torno de 25 a 30 kcal/kg/dia, mas em situações de resposta inflamatória sistêmica grave, com concomitante resistência periférica à insulina, deve-se diminuir o total de calorias a ser ofertado, para aproximadamente 20 kcal/kg/dia (IDENO, 1993). Se pelo menos um metro de intestino delgado é funcionante entre o ligamento de Treitz e a fístula, alimentação oral ou por tubo de nutrientes de pouco resíduo, e altamente absorvidos podem ser fornecidos. Mas pode levar 5 a 10 dias para se atingir o aporte adequado, durante este tempo deve haver suplementação parenteral (CHINTAPATLA, 2002). Pacientes portadores de fístula de baixo débito devem receber a energia requerida basal com 1 a 1,5g de proteína / kg / dia com um mínimo de 30% da ingesta calórica a base de lipídios. Pacientes com fístula de alto débito, receber 1.5 a duas vezes a necessidade basal com 1.5 a 2.5g de proteína / kg / dia e associar a ingesta do dobro nas recomendações diárias de ingesta para vitaminas e elementos traço, dez vezes a RDI para vitamina C e suplementar zinco. Para casos de fístulas de alto débito, deve -se fornecer 1,5 a 2 vezes mais energia, com 1,5 a 2,5 g de proteínas / kg peso / dia, duas vezes as RDI para vitamina C, Zn e Se, sempre cuidando-se para evitar a síndrome de realimentação (CHINTAPATLA, 2002 e DUDRICK, 1999). Vitamina C, Vitamina A, zinco e arginina promovem cicatrização em vários tipos de ferimentos, enquanto a glutamina e os ácidos graxos de cadeia curta tem efeito trófico sobre a mucosa gastrointestinal e podem ser usados em casos de fístulas. A aspiração nasogástrica reduz a estimulação de secreções bileopancreáticas. Mas se após seis semanas de suporte nutricional, o fechamento espontâneo não ocorre ou se o paciente desenvolve sepse incontrolável a qualquer tempo, o tratamento cirúrgico deve ser instituído (DUERKSEN, 1998). Na fase de recuperação metabólica pode-se aumentar a oferta calórica até 35kcal/kg/dia (proteínas 1,5 a 2,0g/kg/dia e lipídeos 1,0g/kg/dia) na razão de 84:1 de caloria não protéica por grama de nitrogênio; com 52% de carboidratos, 23% de proteínas e 25% de lipídeos, enquanto as vitaminas e os micronutrientes devem ser suplementados com o dobro das necessidades estabelecidas pela RDI (CRESCI, 1997). 4.6.3. Escolha da terapia nutricional adequada: Parte da fase inicial do tratamento da fístula é a interrupção da ingesta oral enquanto se determina a melhor via de acesso para o suporte nutricional e a formulação da solução parenteral ou enteral, considerando-se a função orgânica (cardíaca / renal / respiratória e hepática). Define-se, também se a dieta deve ser polimérica ou elementar, rica ou não em lipídeos, com ou sem lactose, rico em fibras ou modular, de acordo com a tolerância individual de cada paciente. Sendo que a sonda enteral deve ser colocada distalmente ao piloro se há risco de aspiração (CAMPOS, 2001). Deve-se utilizar a fórmula adequada às necessidades de cada paciente, o que baseia-se na condição clínica e na doença pré-existente do paciente, em suas necessidades metabólicas, sua função gastrointestinal e na localização e diâmetro da sonda de alimentação. E também, escolher a fórmula enteral mais apropriada e econômica. A prescrição de alimentação isocalórica ou ligeiramente hipocalórica para os pacientes em estado crítico, evitará o estresse metabólico causado pela administração excessiva de nutrientes (síndrome de hiperalimentação), o que está associada a maior incidência de complicações metabólicas. 4.6.3.1. Proteínas: As proteínas estão presentes nas fórmulas enterais sob a forma de proteínas intactas; parcialmente hidrolizadas (hidrolizados parciais), oligopeptídeos ou dipeptídeos e tripeptídeos; proteínas totalmente hidrolizadas ou L-aminoácidos livres (tabela 9). As proteínas em forma de di ou tripeptídos podem ser melhores toleradas pelos pacientes em estado crítico e/ou com disfunção gastrointestinal ou hipoproteinemia grave. O nitrogênio na forma de peptídeo é absorvido de modo mais rápido e uniforme do que o nitrogênio proveniente de preparados a base de aminoácidos livres, e ocorre tanto no intestino sadio quanto no doente. A forma mais adequada de proteína (intacta ou parcialmente hidrolizada) vai depender da função gastrointestinal e se o paciente encontra-se em estado crítico ou não. Os pacientes com doenças gastrointestinais ou má absorção podem ser beneficiados com o uso de fórmulas oligoméricas. Ocorre o aumento das necessidades de oligoelementos (selênio, cromo, molibdênio e manganês) e vitaminas para a síntese protéica, por isso deve se sempre verificar se o teor de vitaminas e mineirais da fórmula cobre as RDI do paciente, sendo as necessidades de oligoelementos muito pequenas, menor que 5mg/dia (WAITZBERG, 2001). A glutamina é um aminoácido essencial para paciente em estado crítico, em determinadas situações. É um nutriente importante para as células de divisão rápida, como os enterócitos, colonócitos e linfócitos. Sua suplementação previne a deterioração da permeabilidade intestinal e protege a estrutura da mucosa. Recomenda-se suplementação de glutamina enteral (L-glutamina) de 12 a 14g/dia. A suplementação de arginina está associada à rápida cicatrização das feridas, devido ao aumento da síntese do colágeno, e também por reforçar o sistema imunológico. A suplementação de arginina com 30g de aspartato de arginina (17g de arginina livre) por via enteral, ou 30g de cloridrato de arginina por via venosa, está associada ao aumento de retenção de nitrogênio (WONG, 2000). A taurina está envolvida em processos metabólicos, inclusive os do sistema nervoso central, além de participar na conjugação dos sais biliares, agregação plaquetária e funcionamento dos neutrófilos. A carnitina é necessária para o transporte dos ácidos graxos de cadeia longa até a mitocôndria para produção de energia. A síntesede carnitina requer ácido ascórbico, niacina, ferro e vitamina B6. Uma dieta comum fornece de 0,18 a 319mg de carnitina/dia (WAITZBERG, 2001). Tabela 9. Fontes de proteínas das fórmulas enterais (FELANPE, 2004). Forma Fonte Proteína intaca (proteína de maior peso molecular) - isolado de caseína isolado protéico de soja lactalbumina extrato sólido de clara de ovo leite em pó sem gordura leite em pó integral soro do leite Proteína parcialmente hidrolisada (oligopeptídeos) - caseína isolado protéico de soja lactalbumina proteína do soro do leite Proteína parcialmente hidrolisada (di e tripeptídeos) - caseína isolado protéico de soja lactalbumina proteína do soro do leite Aminoácidos cristalinos - L-aminoácidos Características especiais demanda capacidade GI digestiva e absortiva normais promove maior estímulo ao fator de crescimento e à liberação de hormônios do que os aminoácidos requer atividade normal das enzimas pancreáticas estáassociada às fórmulas de mais baixa osmolalidade indicada em casos de capacidade de absorção reduzida promove maior estímulo ao fator de crescimento e à liberação de hormônios do que os aminoácidos absorvida por difusão passiva pela mucosa intestinal (não precisa de bomba de sódio, energia ou proteína carreadora) a absorção pode ser maior comparada aos aminoácidos livres ou proteínas intactas, em pacientes com comprometimento da função GI ou hipoalbuminemia grave está associada a melhora da função hepática pode atenuar a diarréia, promovendo a absorção intestinal de água e sódio estimula o balanço nitrogenado e o crescimanto, mais que os aminoácidos, porém menos que a proteína intacta com fibra precisam de transporte ativo por bomba de sódio nas células da mucosa para sua absorção estão indicados em casos de reduzida capacidade de absorção do intestino delgado, insuficiência pancreática exógena ou distúrbios específicos do transporte de aminoácidos não disponíveis para administração oral aumentam significativamente a osmolalidade da fórmula. 4.6.3.2. Carboidratos: Os carboidratos nas fórmulas enterais variam de 30 a 70% do total de calorias. À medida que aumenta o grau de hidrólise de uma fonte de carboidratos, também aumenta o sabor doce da fórmula. Os polímeros de glicose exigem menor digestão do que o amido e são rapidamente hidrolizados no intestino delgado (tabela 10). A sacarose contribui para o sabor doce e para a osmolalidade da fórmula, com rápida hidrólise intestinal gerando moléculas de glicose e frutose. A maioria das fórmulas enterais comerciais possui quantidades mínimas de lactose para evitar eventual intolerância. A frutose produz menor índice dos níveis de glicemia pós-prandial, sendo adequada para diabéticos. Tabela 10. Fontes de carboidratos das fórmulas enterais (FELANPE, 2004). Forma Amido Polímeros de glicose Dissacarídeos Sacarose Maltose Lactose Monossacarídeos Glicose Galactose Frutose Fonte - - Características especiais exige capacidade GI digestiva e absortiva normal mínimo impacto na osmolalidade da fórmula maltodextrinas sofrem rápida hidrólise intestinal oligossacarídeos de glicose são absorvidos mais completamente que a polissacarídeos de glicose glicose livre xarope de milho (derivados aumentam a osmolalidade e a solubilidade sólidos) da fórmula xarope de milho exigem menor digestão GI do que o amido amido a sacarose e a maltose sofrem hidrólise dextrinas intestinal rápida maltose a maioria dasx fórmulas disponíveis no produtos lácteos mercado contém pequenas quantidades de lactose exigem menos digestão intestinal do que os polímeros de glicose ou amido amido a galactose e a maior parte da glicose sacarose exigem, para sua absorção, transporte ativo alguns xaropes e alguns tipos vinculado à bomba de sódio das células da de mel mucosa para sua absorção algumas moléculas de glicose podem ser absorvidas passivamente através de um gradiente de concentração a frutose é absorvida passivamente aumenta significativamente a osmolalidade da fórmula. amido alimentício modificado amido de tapioca cereais sólidos hidrolisados 4.6.3.3. Gorduras: As gorduras são uma importante fonte de energia e de ácidos graxos essenciais e não aumentam a osmolalidade da fórmula de nutrição enteral (tabela 11). Também ajudam a facilitar o transporte das vitaminas lipossolúveis. Apresentam-se como combinações de ácidos graxos poli- insaturados (PUFA), ácidos graxos mono-insaturados (MUFA), triglicerídeos de cadeia média (TCM), lipídeos estruturados e ácidos graxos ? -3. Os TCM são rapidamente absorvidos pela mucosa intestinal e transportados através da circulação porta. Como sua absorção não depende da lipase pancreática, dos sais biliares ou da circulação linfática intestinal, os TCM são úteis quando o paciente apresenta distúrbios de absorção ou transporte de lipídeos. Também, os TCM são oxidados imediatamente, convertendo-se em importante fonte de energia (FELANPE, 2004). Durante a NPT há melhor tolerância a glicose quando 30 a 50% da fonte calórica são fornecidos na forma de lipídios18. O uso de lipídios tem duas finalidades: evitar os efeitos indesejáveis da sobrecarga de glicose e fornecer ácidos graxos essenciais. Recomenda-se que somente uma quantidade mínima de glicose (50 a 150g ou 2g/kg/dia) deva ser fornecida para prevenir acidose e cetose sistêmicas, reduzir a gliconeogênese, e prover calorias para o sistema nervoso central, ao passo que os lipídios forneceriam o restante das necessidades calóricas (IDENO, 1993). Tabela 11. Fontes de lipídeos das fórmulas enterais (FELANPE, 2004). Forma Ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) Ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) Triglicerídeos de cadeia média (TCM) Fonte - Óleo de milho Óleo de açafrão Óleo de girassol Óleo de soja Óleo de canola Óleo de açafrão de alto teor oléico Gordura de coco fracionada Características especiais exigem atividade normal das enzimas pancreáticas não contribuem significativamente para a osmolalidade da fórmula podem melhorar o controle da glicemia - - - Lipídeos estruturados Ácidos graxos ? -3 e ? -6 - - PUFA de óleos vegetais e TCM transesterificados na mesma molécula de glicerol Óleo de sardinha Óleo de sável Óleo de outros - - indicados nos casos de redução da capacidade de absorção do intestino delgado ou insuficiência pancreática exógena absorvidos diretamente através do sistema porta-hepático não exigem quantidades significativas de lípase ou de sais biliares para sua absorção não contém ácidos graxos essenciais indicados nos casos de má absorção de gorduras ou drenagem linfática intestinal deficiente fornecem 8,2 a 8,4kcal/g compostos por triglicerídeos de seis a doze carbonos solúveis em água podem ser úteis na modulação da resposta imunológica estão associados a melhora da economia protéica podem ser úteis na modulação da resposta imunológica e inflamatória - peixes Óleo de borragem 5. Discussão: 5.1. Nutrição enteral ou parenteral? Na escolha do tipo de tratamento nutricional considera-se o estado nutricional, localização e débito da fístula. As fórmulas enterais mais utilizadas na disfunção gastrointestinal são as que fornecem proteínas sob a forma de peptídeos e aminoácidos livres, com baixa proporção de quilocalorias totais provenientes das gorduras, sendo os TCM a fonte primária de lipídeos. Ainda podendo ser beneficiados com quantidades adicionais de glutamina e arginina (ALVAREZ, 2000). Nutrição enteral é sempre preferível, devido a menor probabilidade de complicações potenciais em relação à parenteral, que está associada a infecção do cateter central, atrofia de mucosa intestinal e favorecimento de translocação bacteriana (DUERKSEN, 1998). As fórmulas enterais podem ser compostas totalmente por macronutrientes intactos - fórmulas poliméricas - ou podem incluir várias combinações de macronutrientes parcialmente hidrolizados - fórmulas oligoméricas (FELANPE, 2002). As fórmulas com nutrientes intactos podem ser utilizadas tanto para alimentação gástrica quanto duodenal ou jejunal (FELANPE, 2004). As fórmulas poliméricas são preferíveis na maioria dos casos, pois são mais econômicas, satisfazem as necessidades nutricionais dos pacientes e apresentam processo de digestão e absorção semelhantes ao fisiológico, mas na prese nça de disfunção gastrointestinal, podem ser útil fórmulas cuja proteína tenha sido parcialmente hidrolizada. A hipoalbuminemia, por exemplo, está associada à redução da pressão osmótica, o que predispões ao edema intersticial do intestino, prejudicando a absorção. Nesses casos, a absorção de peptídeos pode ser melhor que a da proteína intacta. Em pacientes graves, na fase inicial, quase sempre se opta pela administração de nutrição parenteral, para se garantir, de imediato, a oferta de nutrientes a pacientes previamente desnutridos ou em risco nutricional e portadores de íleo adinâmico, o que prejudica a administração de nutrição enteral. Nestes pacientes, como se sabe que o tempo médio de cicatrização de uma fístula é prolongado, ou seja, de quatro a seis semanas, preferece o acesso central. Enquanto a nutrição parenteral periférica é indicada para pacientes com perspectiva de uso de parenteral por tempo inferior a quinze dias. Ao mesmo tempo em que se interrompe a via oral, inicia-se o suporte nutricional baseado nos parâmetros apresentados na avaliação do estado nutricional18 . A NPT está indicada na presença de incapacidade de estabelecer acesso enteral, fístulas de alto débito (>500ml / dia), intolerância a nutrição enteral e presença de múltiplos fatores desfavoráveis (MAKHDOOM, 2000). A NPT deve ser utilizada em fístulas gastroduodenais, pancreáticas ou jejunais, enquanto a nutrição enteral, em fístulas de íleo distal, cólon e esôfago. Ainda, em casos de intolerância à terapia enteral (cólicas abdominais, estase gástrica, diarréia) ou aumento do débito da fístula, deve-se instituir a NPT. Atualmente, a terapia nutricional utiliza glutamina, arginina, óleo de peixe, nucleosídeos e nucleotídeos que favorecem o crescimento da mucosa intestinal e melhoram sua função (DUDRICK, 1999). As fístulas de alto débito devem ser inicialmente tratadas com nutrição parenteral total, fornecendo-se calorias 1,5 vezes o gasto calórico basal, dos quais lipídeos representam 20 a 30%, com proteínas na faixa de 1,5 a 2,5g/kg/d ia e repondo vitaminas duas vezes a RDA, além da reposição de magnésio, zinco, selenium, potássio, sódio e bicarbonato (ASPEN, 1993). Nas fístulas altas (esofágicas) ou baixas e naquelas em que se consegue passar uma sonda distalmente a ela, pode-se empregar nutrição enteral7 . Se o débito aumentar muito, deve-se voltar para a nutrição intravenosa exclusiva (PINTO, 2001). A NPT é indicada nas fístulas que se originam no segmento gastroduodenal, no pâncreas ou no segmento jejunoileal, em geral ocorre um decréscimo no volume do débito da fístula após o início. Sabe-se que a administração de NPT não está associada ao estímulo da secreção de amilase, lípase, tripsina, gastrina, colecistoquinina e ácidos biliares, como ocorre nas dietas enterais (LOI, 2005). Em pacientes com fístulas de baixo débito, quando estas estão localizadas no trato gastrointestinal (TGI) baixo ou no caso de localização alta quando se dispõe de acesso enteral a jusante do orifício fistuloso, devemos usar a nutrição enteral, principalmente para evitar os riscos do jejum prolongado, tais como a translocação bacteriana. As calorias são fornecidas de acordo com o gasto energético basal, das quais 20 a 30% na forma de lipídeos, proteínas na faixa de 1,0 a 1,5g/kg/dia, vitaminas dentro da RDA e duas vezes a RDA para vitamina C, sem necessidade de reposição de minerais. Se houver aumento significativo do débito da fístula, esta forma de tratamento deve ser reavaliada, interrompendo-se ou reduzindo o volume da nutrição enteral, mantendo ou associando a dieta parenteral. Nos pacientes que não apresentam aumento significativo do débito da fístula com a nutrição enteral e assim que as necessidades nutricionais sejam alcançadas, deve-se suspender a parenteral (figura 10 e 11). A NPT reduz a capacidade secretora máxima do trato gastrointestinal em 30 a 50%, induz a síntese protéica e promove condições favoráveis de fechamento. Mas é passível de complicações como translocação bacteriana, infecção do cateter central e desordens metabólicas. Também, não suprime a secreção intestinal basal e cefálica e durante administração prolongada, a presença de lipídios e aminoácidos administrada pode estimular a secreção gástrica e intestinal (PINTO, 2001). A nutrição parenteral é o tratamento de escolha para pacientes com fístulas de alto débito, todavia, sempre que possível, o mínimo de nutrição enteral deve ser ofertado, com o intuito de estimular enterócitos. As novas gerações de dieta enteral são superiores às soluções parenterais porque contém glutamina, arginina, óleos de peixe, nucleosídeos e nucleotídeos, que são benéficos pelos seus efeitos fisiológicos na manutenção e crescimento da mucosa gastrointestinal e ominuestimulação. O uso de nutrientes imunoestimuladores como arginina, RNA, glutamina e ácidos graxos ? -3 traz benefício aos pacientes com quadros de resposta inflamatória sistêmica e não estando associado com aumento de secreções pancreáticas (DUERKSEN, 2000). A glutamina é um aminoácido não essencial, que em situações de estresse ou desuso total do trato gastrointestinal, passa a ser essencial, e deve ser suplementada na dose de 500mg/kg/dia, por via parenteral em pacientes que não apresentem insuficiência renal. Ao se prescrever a nutrição enteral é importante determinar o tipo de fórmula a ser usado (tabela 12). As fórmulas poliméricas apresentam proteínas intactas, sem hidrólise, provenientes do ovo, lacto-albumina, caseína e soja, devendo ser fornecidas quando o trato gastrointestinal está normal. As fórmulas oligoméricas são mais facilmente absorvidas em pacientes com capacidade de absorção reduzida, pois são parcialmente digeridas, ou seja, apresentam proteínas parcialmente hidrolizadas, como dipeptídeos ou tripeptídeos, com absorção passiva com maior absorção de água e sódio. Fórmulas elementares apresentam aminoácidos cristalinos (L-a), absorvidos por transporte ativo, com maior osmolalidade, e podem reduzir em 50% a secreção enzimática (O’KEEFE, 2003). Demonstrou-se também que alimentação enteral via jejunostomia ou sonda nasojejunal com dieta polimérica imunoestimuladora não aumentou a secreção pancreática exógena, quando comparada a NPT29 . E as dietas complexas são superiores em relação às elementares no período de adaptação morfológica e funcional intestinal após grandes ressecções e deve-se dar preferência a elas quando o objetivo primário é a recuperação do peso do paciente (FALCONI, 2001). Pacientes com fístulas não controladas e contaminação grosseira da cavidade ou sinais sistêmicos de instabilidade requerem cirurgia imediata. Para aqueles com fístulas controladas, manter a drenagem percutânea, antibióticos, controle local da fístula e suporte nutricional por três a seis meses, com possibilidade de NPT domiciliar, principalmente nos casos de doença inflamatória intestinal (LUDVIGSSON, 2004). Tabela 12. Classificação das fórmulas enterais (FELANPE, 2004). Classe Comentário Poliméricas Contém proteína intacta, geralmente são isentas de lactose e tem distribuição calórica normal. Estão indicadas para os pacientes com funcionamento parcial ou normal do trato gastrointestinal (TGI). Monoméricas / oligoméricas Contém proteínas na forma de dipeptídeos, tripeptídeos e/ou aminoácidos livres; além disso, os demais nutrientes são pré-digeridos; a maioria contém alto teor de trigliceriídeos de cadeia média (TCM) e baixo teor de PUFA. São empregadas nos pacientes com grave disfunção do TGI. Fórmulas enriquecidas com fibra São fórmulas enriquecidas com fibra ou frutooligossacarídeos que contribuem para melhorar o funcionamento do TGI e para preservar a integridade do cólon. Fórmulas especiais São desenhadas para condições clínicas específicas, tais como doença renal, hepática, DPOC, AIDS, DM, SARA e imunodeficiências. Figura 10. Manejo clínico e nutricional das fístulas gastrointestinais (IDENO, 1993). Figura 11. Algoritmo: terapia nutricional em pacientes com fístula digestiva, de acordo com a localização e o débito (CORREIA, 2004). 5.2. Acompanhamento nutricional: É importante monitorar a resposta diária do paciente ao suporte nutricional para assegurar aporte satisfatório de nutrição parenteral ou enteral. O acompanhamento diário inclui peso diário, medidas de exame físico, testes bioquímicos do sangue e urina, e débito da fístula. O retorno dos eletrólitos plasmáticos aos níveis normais indica que foram fornecidas calorias suficientes para repor as perdas ocorridas pela fístula. A albumina não é usada como indicador de curto prazo devido a sua meia vida longa e a influência que sofre na sepse, mas seu nível se correlaciona com o prognóstico da fístula. Por isso outras proteínas de vida curta como pré-albumina, CPK e fibronectina têm sido utilizadas. Em situações complicadas, a técnica ideal é medir o consumo de oxigênio e a excreção de dióxido de carbono para calcular o gasto energético de repouso através de calorimetria indireta ou termodiluição. Um balanço nitrogenado positivo indica que o paciente está recebendo calorias e nitrogênio em quantidades adequadas e está em fase anabólica. O produto metabólico da degradação da actina e da miosina é a 3-metilhistidina, que é liberado pelo músculo e excretado na urina sem ser reciclado, sendo um marcador quantitativo do catabolismo protéico muscular. Portanto, o turn over muscular também pode ser quantificado através da dosagem urinária de 3-metilhistidina em pacientes, desde que não haja ingesta de carne (LUDVIGSSON, 2004). Pacientes com fístula gastrointestinal geralmente se apresentam com desnutrição crônica, disfunção gastrointestinal e sepse abdominal severa. A síndrome de realimentação pode surgir quando se institui suporte nutricional regular em até 9,5% dos casos. Caracteriza-se por declínio rápido do potássio, fósforo e magnésio, com retenção de sódio e água levando a uma sobrecarga hídrica e manifestando-se por astenia, parestesias, paralisia, febre, ataxia, arritmia, taquicardia, hipertensão, diarréia, tetania, rabdomiólise, decréscimo da contratilidade cardíaca e dis função de plaquetas e de leucócitos. A hipomagnesemia (<0.5mM/l) leva a arritmias, desconforto abdominal e alterações neuromusculares, e deve ser tratada quando menor que 0.30mM/l ou em pacientes sintomáticos, repondo-se 0.02 a 0.03mM/kg/h (10mM/dia), com nível reavaliado a cada 6 horas e interrompendo quando chegar 0.65mM/l (FAN, 2004). Institui- se NPT (250mgN/kg/dia) nos primeiros três a cinco dias de ressuscitação, associado a uma dieta semielementar com 20kcal/kg/dia na primeira semana. Os níveis de sód io, potássio e cálcio não se alteram significamente, mas o fósforo pode declinar, necessitando de reposição enteral quando a dieta é bem tolerada (<60mM/dia). Deve -se repor tiamina, para evitar síndrome de Wernicke, e GH, que pode melhorar o balanço nitrogenado e estimular a síntese protéica, o que requer mais fósforo e pode agravar a hipofosfatemia, que causa redução da excreção de sódio e água levando a insuficiência cardíaca congestiva (JEPPESEN, 2000). Uma vez que o suporte nutricional eficaz tenha sido instituído e a sepse esteja sob controle, o fechamento espontâneo ocorre em 23 a 80% dos casos, e 90% dos pacientes que fecham suas fístulas o fazem dentro de um mês após o controle da infecção. A presença de múltiplas fístulas localizadas na ferida operatória eviscerada apresenta mortalidade de 25 a 60%, sendo o fechamento espontâneo muito raro. Mesmo assim, inicialmente, é recomendada a terapia não cirúrgica para permitir fechamento espontâneo ou para melhorar o momento do fechamento cirúrgico. Um débito persistente da fístula após o controle da sepse e depois de quatro a seis semanas de tratamento nutricional agressivo é a principal indicação para tratamento cirúrgico definitivo. Se o fechamento cirúrgico falhou, ou o paciente permanece com alto risco cirúrgico, a despeito de todas as medidas temporizadas, ele pode ser enviado para casa em terapia nutricional parenteral ou enteral e o acompanhamento do suporte nutricional ser realizado de maneira domiciliar. Tudo para melhorar a qualidade de vida do paciente, levando benefícios psicológicos, clínicos e econômicos. Há três condições clínicas que determinam o momento de interrupção do suporte nutricional: na presença de complicação que ponha em risco a vida do paciente, como sepse confirmada ou complicações metabólicas severas (hipoglicemia grave, coma não cetótico e hiperamonemia); quando a meta de reabilitação nutricional foi atingida e a cirurgia para tratamento definitivo da fístula foi antecipada, ou seja, quando se atingiu o máximo de benefícios com o mínimo de custos e após o fechamento da fístula e o paciente tenha capacidade de ingesta oral de pelo menos 60% das suas necessidades calóricas; e quando a doença subjacente do paciente pode ter progredido para um estado terminal irrecuperável. 5.3. Prognóstico: Na década de 60, a mortalidade devido a fístulas enterocutâneas, principalmente gastroduodenais, atingiu cerca de 70%. Após o advento da terapia nutricional parenteral total, na década de 70, chegou a 6%, embora hoje a taxa de mortalidade no Bras il esteja em torno de 28%. Atualmente a mortalidade dos portadores de fístula digestiva é alta, oscilando entre 6,5 a 21% (BINES, 2002). Há vários fatores que podem afetar a mortalidade dos pacientes portadores de fístulas intestinais (tabela 13). Nos casos de fístulas proximais de alto débito, a mortalidade deve-se principalmente a distúrbios hidroeletrolíticos, insuficiência renal, infarto agudo do miocárdio, embolia pulmonar, acidente vascular cerebral (CAMPOS, 1999). Enquanto nas fístulas distais, o principal mecanismo de óbito é a infecção com síndrome da resposta inflamatória sistêmica grave e falência de múltiplos órgãos e sistemas. Desnutrição leva a um desiquilíbrio dos componentes do sistema imune, e a dieta enteral tem um efeito trófico sobre o intestino prevenindo atrofia de mucosa, participando de um importante papel do sistema imune prevenindo a translocação bacteriana. Dieta enteral facilita a cicatrização mais rápida participa da manutenção do sistema imune ajudando a prevenir a sepse, espec ialmente nos casos de tratamento conservador. O tratamento cirúrgico definitivo somente é instituído após restituição fisiológica e nutricional, usualmente após seis semanas (HYON, 2000 e correia, 2003). Portanto, o reconhecimento e controle precoce da sepse, manejo do desiquilíbrio hidro-eletrolítico, cuidado meticuloso com a pele, suporte nutricional e o adiamento do tratamento cirúrgico por pelo menos seis semanas, reduz a taxa de mortalidade. E a nutrição, tanto enteral quanto parenteral, é considerada como tratametno adjuvante fundamental. Tabela 13. Fatores que influenciam a mortalidade em pacientes com fístulas gastrointestinais (CORREIA, 2004). Fator Característica da fístula Favorável - Trajeto fistuloso longo - Trajeto fistuloso curto - Continuidade - Eversão da mucosa intestinal - Intestino adjacente doente Ausência de obstrução - Evisceração - Oclusão distal - Defeito na parede abdominal - Órgão de origem Complicações (sepse) Etiologia Idade Desfavorável - Gástrica - Duodeno - Bileopancreática - Jejunoileal - Cólon Ausente Doença inflamatória intestinal Presente - Deiscência de anastomose - Malignidade 50 anos > 50 anos Mesmo hospital Transferido 500ml / dia > 500ml / dia Desnutrição Ausente Presente Duração da fístula Crônica Aguda Origem do paciente Débito da fístula 6. Conclusão: As fístulas do trato gastrointestinal caracterizam-se por elevada morbidade e período de internação prolongado, com os pacientes apresentando-se com desidratação grave, desequilíbrio hidro-eletrolítico, sepse e desnutrição. A maioria dos casos está relacionada ao período pós-operatório. E o tratamento primário é conservador, reservando-se a abordagem cirúrgica para casos de insucesso, sendo a opção pelo tipo de tratamento nutricional dependente do estado nutricional, localização e débito da fístula. A nutrição enteral é sempre preferível, mas numa fase inicial pode-se optar pela administração de nutrição parenteral, para se garantir, de imediato, a oferta de nutrientes a pacientes previamente desnutridos ou em risco nutricional, portadores de íleo adinâmico, o que prejudica a administração de nutrição enteral. Dar preferência às fórmulas poliméricas, que podem ser utilizadas tanto para alimentação gástrica quanto duodenal ou jejunal, são econômicas, satisfazem as necessid ades nutricionais dos pacientes e apresentam processo de digestão e absorção semelhantes ao fisiológico e podem ser utilizados em casos selecionados de fístulas intestinais distais ou até mesmo proximais de alto débito, quando se consegue fornecer a dieta por sonda distal ao orifício fistuloso. Quando há disfunção gastrointestinal, pode ser útil fórmulas oligoméricas, cuja proteína tenha sido parcialmente hidrolizada. As dietas elementares podem ainda reduzir a secreção enzimática, mas quando o objetivo primário é a recuperação do peso do paciente, deve-se utilizar dietas poliméricas, que também são melhores no período de adaptação morfológica e funcional intestinal após grandes ressecções. Referências bibliográficas: 1. CORREIA MITD, RIBEIRO M. Manejo das fístulas digestivas. PROACI – Programa de atualização em cirurgia – Sistema de educação médica continuada a distância. Artmed/Panamericana Editora Ltda, Módulo 1, Ciclo 1: 35-66, 2004. 2. CAMPOS ACL, MATIAS JEF. Terapia nutricional nas fístulas digestivas. Clínica Brasileira de Cirurgia – Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Nutrição em Cirurgia Ano VII, vol. I: 241-255, 2001. 3. LISBOA, Fernando Freire et al. Fístulas digestivas. In: WAITZBERG, Dan Linetzky. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 3. ed. 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