CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
MESTRADO EM ODONTOLOGIA
PRISCILLA DO MONTE RIBEIRO BUSATO
SELAMENTO MARGINAL DA UNIÃO ADESIVO/DENTINA EM
FUNÇÃO DA TÉCNICA DE EVAPORAÇÃO DE SOLVENTES
Londrina
2009
PRISCILLA DO MONTE RIBEIRO BUSATO
SELAMENTO MARGINAL DA UNIÃO ADESIVO/DENTINA EM
FUNÇÃO DA TÉCNICA DE EVAPORAÇÃO DE SOLVENTES
Dissertação apresentada à Universidade Norte do
Paraná – UNOPAR, como parte integrante dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Odontologia – Área de concentração Dentística
Preventiva e Restauradora.
Orientadora:
Profa. Dra. Sandra Kiss Moura
Londrina
2009
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS
DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Dados Internacionais de catalogação-na-publicação
Universidade Norte do Paraná
Biblioteca Central
Setor de Tratamento da Informação
B982s
Busato, Priscilla do Monte Ribeiro.
Selamento marginal da união adesivo /dentina em função da técnica
de evaporação de solventes / Priscilla do Monte Ribeiro Busato .
Londrina : [s.n], 2009.
xiii; 54p.
Dissertação (Mestrado). Odontologia.
Restauradora. Universidade Norte do Paraná.
Orientador: Profª Drª. Sandra Kiss Moura
Dentística
Preventiva
1- Odontologia - dissertação de mestrado - UNOPAR 2- Dentina
3- Adesivos dentinários
4- Infiltração marginal I- Moura, Sandra Kiss,
orient. II- Universidade Norte do Paraná.
CDU 616.314-089.27/.28
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
e
PRISCILLA DO MONTE RIBEIRO BUSATO
SELAMENTO MARGINAL DA UNIÃO
ADESIVO/DENTINA EM FUNÇÃO DA TÉCNICA DE
EVAPORAÇÃO DE SOLVENTES
Dissertação apresentada à Universidade Norte do
Paraná – UNOPAR, como parte integrante dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Odontologia – Área de concentração Dentística
Preventiva e Restauradora.
COMISSÃO EXAMINADORA
Profª. Drª. Sandra Kiss Moura
Universidade Norte do Paraná
Profº. Dr Alessandro Dourado Loguercio
Universidade Estadual de Ponta Grossa
Profº. Dr Alcides Gonini Júnior
Universidade Norte do Paraná
Londrina
2009
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho
Ao meu marido, Mauro, que tantas vezes com seu amor e palavras de
consolo me incentivou e acompanhou durante todo o curso;
À minha filha, Maria Fernanda, que desde pequena teve que saber lidar
com a ausência da mãe;
À minha avó Dirce, que sempre confiou e apoiou as minhas decisões,
me dando suporte e incentivo.
A vocês, pessoas tão especiais na minha vida, meu muito obrigada.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
A Deus, por seu amor incondicional e pela sua presença constante e
evidente em minha vida.
Ao meu marido Mauro, por seu constante amor, companheirismo e
principalmente compreensão em todos os momentos que não pude estar
presente. Obrigada por estar sempre ao meu lado.
A minha linda e preciosa filha, que trouxe muita alegria e força para a
nossa família. Sou muito mais feliz por ter você em minha vida.
A minha avó Dirce, que me criou e educou da melhor forma que pôde.
Parabéns por toda sua garra e perseverança.
A minha sogra Maria José, meu sogro Mauro e minha cunhada Marcia,
pela acolhida e incentivo constantes.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
AGRADECIMENTOS AOS PROFESSORES E AMIGOS
A minha querida orientadora Profª Drª Sandra Kiss Moura, agradeço
pela oportunidade da convivência, pelos conhecimentos transmitidos, por sua
paciência comigo, pelas correções e pelo seu bom humor. A sua competência
e a forma de ensinar são exemplos para mim e fazem com que minha
admiração por você sejam constantes.
A todos os professores do mestrado, em especial Prof. Dr. Luiz
Reynaldo de Figueiredo Walter, Prof. Dr. Alcides Gonini Junior, Prof. Dr. Murilo
Baena Lopes, Profª Drª Terezinha de Jesus Esteves Barata e Profª Drª Sandra
Mara Maciel, pelos ensinamentos transmitidos no decorrer deste curso,
contribuindo para o meu enriquecimento profissional.
A Karina Fancio Sella, responsável por tornar minhas estadias em
Londrina mais fáceis. Obrigada por tudo e principalmente por sua amizade.
A Carolina Barbosa Schwab, amiga, sincera e sempre disposta a ajudar.
Sinto falta dos nossos momentos de conversas.
A Denise Maimone, que com sua graça fez com que momentos difíceis
se tornassem mais amenos.
A Klíssia Romero Felizardo, sua inteligência, dedicação e força de
vontade são exemplos.
Ao Carlos Tambelini, amigo, companheiro de almoço, sempre sincero e
apaziguador.
A Letícia Vargas, perseverante, dedicada e amiga de todos.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
AGRADECIMENTOS
A Universidade Norte do Paraná, UNOPAR, representada pelo
Chanceler, Sr. Marco Antônio Laffranchi e pela Reitora, Profª. Elisabeth Bueno
Laffranchi;
A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, representada pelo Prof.
Dr. Hélio Hiroshi Suguimoto;
Ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, representada pelo Prof.
Ruy Moreira da Costa Filho;
A Coordenadoria do Curso de Odontologia, representada pelo Prof. Dr.
Luiz Reynaldo de Figueiredo Walter;
A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste
trabalho.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Eu sei, que é difícil esperar...
Mas Deus tem um tempo para agir e pra curar!
Só é preciso confiar...
Se a cruz lhe pesa não é para se entregar,
mas pra se aprender a amar como alguém que não desiste.
A dor faz parte do cultivo desta fé,
e só sabe o que se quer
quem luta para conseguir... ser feliz...
Não desista do amor, não desista de amar!
Não se entregue à dor porque ela um dia vai passar.
Se a cruz lhe pesou e quer se entregar...
Tal como o Cirineu, Cristo vai lhe ajudar.
(Pe. Fábio de Melo)
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
BUSATO, Priscilla do Monte Ribeiro.
Selamento marginal da união
adesivo/dentina em função da técnica de evaporação de solventes. 2009.
54p. Dissertação (Mestrado em Odontologia), Universidade Norte do Paraná,
Londrina.
RESUMO
Objetivou-se avaliar o selamento marginal da união adesivo/dentina, em função
da técnica de evaporação de solventes. Oitenta cavidades Classe II foram
preparadas nas faces mesial e distal de quarenta terceiros molares (4mm de
largura, 1,5mm de profundidade e 5mm altura, com término 1mm abaixo da
junção amelocementária) e divididas em 8 grupos (n=10), formados por adesivo
auto-condicionante
(um
à
base
de
água
e
o
outro
à
base
de
água/acetona/etanol), temperatura do jato de ar (quente ou fria) e ciclagem
térmica (sim ou não). Os adesivos auto condicionantes Adper SE Plus e
Optibond All-in-one foram aplicados e os solventes evaporados com jato de ar
quente (60± 2°C) ou frio (20±2°C), antes da fotoativação (550mW/cm²). As
cavidades foram restauradas com compósito Filtek Z350 e armazenadas em
água destilada (37ºC/24h). Quarenta restaurações foram termocicladas (500
ciclos, 5/55ºC, 30s). Os ápices radiculares foram impermeabilizados com resina
acrílica autopolimerizável e os dentes com 3 camadas de esmalte cosmético.
Seguiram-se imersão em solução aquosa de nitrato de prata a 50% (2h em
ambiente escuro), lavagem em água corrente, imersão em revelador Kodak (8h
sob luz fluorescente), lavagem em água corrente e secção longitudinal no
sentido mésio-distal. A microinfiltração foi avaliada em software UTHSCSA
Image Tool for Windows 3.0 por dois métodos: qualitativo (escala visual) e
quantitativo (porcentagem de infiltração de nitrato de prata). Os dados
qualitativos foram tratados por Mann-Whitney e os quantitativos por ANOVA e
Tukey (alfa=5%). Não houve diferença para os fatores do estudo, nem para as
interações, no método qualitativo. No quantitativo, houve diferença para o fator
adesivo (p<0,05). Concluiu-se que a técnica de evaporação dos solventes não
influenciou o selamento marginal.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Palavras-chave: dentina, adesivos dentinários, infiltração marginal
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
BUSATO, Priscilla do Monte Ribeiro. Marginal sealing of the tooth/adhesive
interface in function of the solvent evaporation technique. 2009. 54p.
Dissertação (Mestrado em Odontologia), Universidade Norte do Paraná,
Londrina.
ABSTRACT
To evaluate the marginal sealing of the tooth/adhesive interface varying the
solvent evaporation technique. Eighty Class II cavities were prepared at the
mesial and distal surfaces of forty third molars (4mm width, 1.5mm depth and
5mm high). They were divided into eight groups (n=10) formed by the factors
self-etch adhesives (one water based and the other water/etanol/acetone
based), temperature of the air stream (warm or cold) and thermocycling (yes or
no). Adper SE Plus and Optibond All-in-one self etch adhesives were applied
and the solvent evaporation performed using warm (60± 2°C) or cold (20±2°C)
air stream before the light curing (550mW/cm²). The cavities were restored with
Filtek Z350 composite following storage in distilled water (37ºC/24h). Forty
restorations were thermocycled (500 cicles, 5/55ºC, 30s). The teeth apexes
were covered with acrylic resin and the teeth with nail varnish. The restored
teeth were immersed in a 50% silver nitrate solution (2h under dark room),
immersed into a developed solution Kodak (8h under fluorescent light) and
longitudinally sectioned. Microleakage was evaluated using UTHSCSA Image
Tool for Windows 3.0 software and two methods: qualitative (visual scale) and
quantitative (percentage of silver nitrate leakage). The qualitative data were
treated by Mann-Whitney test and the quantitative data using ANOVA and
Tukey tests (alfa=5%). There was no differences for the factors studied and
neither to their interactions on the qualitative analysis. The quantitative method
revealed statistically difference only for the adhesive factor (p<0,05). It was
concluded that the solvent evaporation technique did not influence the marginal
sealing.
Key words: dentin, dental adhesives, marginal leakage
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO......................................................................................
14
2.
REVISÃO DE LITERATURA...............................................................
16
3.
PROPOSIÇÃO........................................................................................
30
4.
MATERIAL E MÉTODOS....................................................................
31
5.
RESULTADOS.......................................................................................
38
6.
DISCUSSÃO..........................................................................................
40
7.
CONCLUSÕES......................................................................................
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................
47
APÊNDICE.............................................................................................
53
ANEXO...................................................................................................
54
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Introdução
14
1. INTRODUÇÃO
Os sistemas adesivos atuais geralmente apresentam em sua formulação
monômeros resinosos, tanto hidrofílicos quanto hidrofóbicos, dissolvidos em
acetona, etanol e água, ou em uma combinação destes solventes. (VAN
LANDUYT et al., 2007). O solvente age como meio de transporte, o que
permite uma maior penetração do adesivo nas microporosidades da superfície
dentária preparada. Além disso, leva a um aumento da capacidade de
molhamento superficial, bem como uma umidade favorável, de forma a não
ocorrer colapso das fibras colágenas.
O mecanismo de adesão à dentina acontece por meio de camada
intermediária entre a dentina desmineralizada e o material resinoso,
denominada camada híbrida (NAKABAYASHI et al., 1982). Uma constante
dificuldade clínica encontrada nos procedimentos de adesão é como eliminar o
excesso de umidade adequadamente o substrato de maneira a respeitar a
necessária técnica úmida, quando a adesão for realizada em dentina (KANCA,
1996).
O desenvolvimento dos sistemas adesivos aconteceu de modo que as
características da dentina passaram a orientar sua técnica de aplicação
(CARVALHO et al., 2004). Porém, nos últimos anos têm-se observado uma
marcante tendência ao lançamento de sistemas adesivos simplificados. Esses
produtos satisfazem a demanda por simplificação no que diz respeito à técnica
de aplicação, pois reduziram o número de passos operatórios, porém estudos
sugerem que eles se comportariam como membranas permeáveis e não
promoveriam o selamento da dentina (CARVALHO et al., 2004).
Os sistemas adesivos podem ser classificados de acordo com a forma
de tratamento dada à smear layer (lama dentinária). Quando ela é removida
por meio de condicionamento ácido, os sistemas adesivos são chamados de
convencionais, enquanto que os que não a removem, são adesivos autocondicionantes. Os sistemas convencionais, que utilizam o condicionamento
prévio com ácido fosfórico, podem ser de dois ou três passos, dependendo se
o primer e o adesivo são separados ou combinados em frasco único. Nos
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Introdução
15
sistemas adesivos auto-condicionantes, onde a smear layer está incorporada à
camada híbrida, podem ser de dois passos ou passo único, (VAN MEERBEEK
et al., 2003). Diferente dos primeiros, os auto-condicionantes não requerem
condicionamento ácido separado.
A adição dos solventes às resinas é indispensável para a composição
dos adesivos que requerem adesão à dentina. A natureza úmida deste
substrato somente permite um bom molhamento quando um adesivo hidrofílico
é aplicado (WATANABE et al., 1994). A capacidade de molhamento do adesivo
é melhorada devido à adição de monômeros hidrofílicos e solventes (TAY e
PASHLEY, 2003).
Por outro lado, já foi relatado que água, solventes ou primer misturados
ao adesivo podem levar à redução das propriedades mecânicas e também
baixa performance adesiva (TAY et al., 2004), pois já foi demonstrado que uma
alta concentração de adesivo dentro do polímero antes da polimerização evita
a formação de uma adequada camada híbrida, prejudicando assim, a adesão.
(PAUL et al., 1999). Devido a isto, a remoção destes componentes por
evaporação é vista como importante de ser realizada (TAY et al., 2004) e um
passo crítico no protocolo de utilização do material.
Para favorecer a evaporação de solventes e conseqüente impregnação
dos substratos dentários pelo sistema adesivo, modificações na técnica de
aplicação foram propostas, como a utilização de jato de ar quente (KLEINJÚNIOR et al., 2008), que segundo os autores, levou ao aumento dos valores
de resistência de união imediata à dentina e menor infiltração de nitrato de
prata nas interfaces de união para sistemas adesivos convencionais de dois
passos.
Considerando que a simplificação dos sistemas adesivos resultou em
produtos mais hidrofílicos, parece oportuno estudar se esta técnica poderia
melhorar o desempenho de adesivos auto-condicionantes, visto que a literatura
tem reportado o pior desempenho deste material em decorrência da sua
elevada hidrofilia (PAUL et al., 1999; VAN MEERBEEK et al., 2005).
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
16
2. REVISÃO DE LITERATURA
A busca para a união aos tecidos dentais começou em 1955 com o
estudo de Buonocore, o qual demonstrou que a união ao esmalte poderia ser
obtida micromecanicamente através da infiltração da resina na superfície
microporosa, após condicionamento ácido (BUONOCORE, 1955). Hoje a
técnica de adesão ao esmalte dental é baseada nos conceitos do
condicionamento ácido, o qual promove uma adesão estável ao longo do
tempo. No entanto, em relação à dentina, pelo fato desta ser um substrato
heterogêneo, com alto conteúdo orgânico e permeabilidade, a união de uma
resina hidrofóbica à sua superfície hidrofílica é muito mais crítica (CHUANG et
al., 2006; VAN MEERBEEK et al., 1998).
Em Odontologia, adesão pode ser definida como um processo através
do qual ocorre a união entre materiais restauradores e substratos dentários.
Esta ligação é obtida pela aplicação de um agente intermediário denominado
de adesivo dentinário, que é constituído por monômeros resinosos de
diferentes pesos moleculares e viscosidades. Os adesivos são compostos por
uma mistura aquosa de monômeros hidrofóbicos, tais como BIS-GMA, TEGDMA, UDMA e monômeros hidrofílicos, sendo o HEMA o mais comum
(CARVALHO et al., 2004; EICK et al., 1997). Para que houvesse
compatibilidade do adesivo com a umidade natural do substrato dentinário é
que monômeros hidrofílicos foram inseridos na composição do material, fato
importante quando a técnica úmida de adesão é empregada. Porém, confere
ao material maior sorção de água, o que pode ser prejudicial ao longo do
tempo. Para que o produto tivesse maior estabilidade e resistência mecânica,
os monômeros hidrofóbicos foram incorporados à fórmula, pois possuem maior
peso molecular e maior viscosidade (CARVALHO et al., 2004).
O sucesso obtido por Buonocore (1955) com o condicionamento ácido
do esmalte a 85%, fez com que pesquisadores tentassem o mesmo em
dentina, mas este tecido tratado tornava-se pouco mineralizado e rico em
substrato protéico que variava em grande proporção de acordo com o grau de
hidratação e mineralização da dentina. O condicionamento dentinário naquela
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
17
concentração não obteve sucesso, pois os monômeros disponíveis naquela
época eram hidrofóbicos e não produziam molhamento adequado do substrato
(PASHLEY, 1992).
Fusayama et al. (1979) propuseram a simplificação da técnica adesiva
através do condicionamento ácido simultâneo do esmalte e da dentina, com
ácido fosfórico a 40% por 60 segundos. Os autores concluíram que nos
espécimes submetidos ao teste de tração, o condicionamento produziu
aumento da adesão tanto em esmalte quanto em dentina.
O primeiro trabalho a comprovar a ocorrência de adesão dentinária foi
publicado em 1982, no qual Nakabayashi et al. mostrou in situ a formação de
uma camada constituída por monômeros resinosos hidrofílicos e a porção
orgânica da dentina, denominada de camada híbrida, sendo esta a
característica básica para o sucesso da adesão ao tecido dentinário. (TYAS e
BURROW, 2004).
Outro aspecto a ser considerado na adesão dentinária é a formação da
smear layer. A smear layer ou lama dentinária é todo conteúdo depositado
sobre a dentina durante o preparo cavitário. É composta por fragmentos de
decomposição semelhantes à dentina subjacente e possui uma espessura de 1
a 5 µm, ocluindo parcialmente os túbulos dentinários, atuando como uma
barreira para o movimento do fluido para a superfície através dos túbulos e
limitando o acesso do adesivo. A presença da smear layer gera uma baixa
adesividade à dentina (PRATI et al., 1990; PASHLEY, 1991), e a sua remoção
através de um agente ácido desmineralizante, antes da aplicação do sistema
adesivo, tem sido relatada como um fator que aumenta a resistência de
adesão. Entretanto, alguns pesquisadores relataram que o tratamento ácido da
dentina pode causar colapso das fibras colágenas expostas devido à remoção
de hidroxiapatita de suporte e/ou desnaturação do colágeno. (NAKABAYASHI,
1996; PERINKA et al., 1992; PASHLEY et al., 1991).
A capacidade dos ácidos de desmineralizar a dentina é contraposta pelo
poder tampão do substrato, em especial o da hidroxiapatita (CAMPS,
PASHLEY, 2000). Já a característica hipertônica dos ácidos estimula o fluxo do
fluido da dentina em direção à junção amelodentinária (JAD), o que dificulta a
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
18
penetração do ácido em direção à polpa através dos túbulos dentinários e
promove sua diluição, especialmente em espessura superior a 0,3mm
(ERICKSON, 1992)
O condicionamento ácido realizado na dentina elimina o conteúdo
mineral da zona mais superficial (3 a 8 µm) e reduz de modo drástico o teor de
hidroxiapatita nas camadas subjacentes. Em conseqüência disso, o diâmetro
dos túbulos é ampliado e a permeabilidade da dentina e a pressão intrapulpar
são aumentadas, expondo um tecido conjuntivo frouxo rico em fibrilas de
colágeno. Essas modificações resultam em uma estrutura menos mineralizada,
mais úmida e rugosa (ROSALES-LEAL et al., 2001). O substrato passa a
apresentar baixa energia livre de superfície, ou seja, menos capacidade de
interagir com monômeros resinosos hidrofóbicos.
A evolução dos sistemas adesivos resultou na incorporação do primer
em seu conteúdo. Este componente, também denominado condicionador de
dentina, é um preparador de adesividade, o que melhora o comportamento das
restaurações adesivas neste substrato. Contudo, o condicionamento e,
posteriormente, a adesão na dentina ainda geram muita discussão devido à
variabilidade das situações clínicas, tais como: restaurações amplas em dentes
tratados endodonticamente, cimentação de pinos, dentes fragilizados por
fraturas de cúspides (onde a carga funcional é maior), cavidades com
diferentes profundidades (nas quais existem variações no número e tamanho
dos
túbulos
dentinários),
pacientes
de
várias
idades
e
mudanças
patofisiológicas na composição e estrutura da dentina, assim como formação
de dentina terciária e hipermineralização de superfície presentes em lesões de
erosão e abrasão (PASHLEY, 1992).
Na grande maioria dos procedimentos clínicos, a dentina é o substrato
que ocupa a maior área exposta a ser restaurada, e em função disso, os
adesivos têm adotado formulações cada vez mais hidrofílicas para se adequar
à umidade natural do substrato, que requer uma técnica úmida de adesão.
(CARVALHO et al., 2004). Uma constante dificuldade clínica encontrada é
como eliminar a umidade excessiva adequadamente do substrato de maneira a
respeitar a necessária técnica úmida, pois a dentina requer umidade de
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
19
superfície e, portanto, são as características deste substrato que orientam a
técnica de aplicação do adesivo (CARVALHO et al., 2004). Após a
desmineralização da dentina, recomenda-se a técnica úmida de adesão, para
se evitar o colabamento das fibrilas colágenas, o que poderia dificultar a
infiltração dos monômeros resinosos. No entanto, esta técnica tem sido
questionada, pois uma infiltração deficiente pode ocorrer se a dentina for
desidratada demasiadamente, ou se a aplicação do adesivo for realizada com
excesso de umidade (CARVALHO et al., 2004; REIS et al., 2008).
Os
primeiros
sistemas
adesivos
dentinários
desenvolvidos
por
Buonocore, Wielman e Brudevold em 1956 apresentavam falhas, devido às
limitações dos materiais e do conhecimento das estruturas e natureza da
dentina. Estes sistemas apresentavam natureza hidrofóbica, demonstrando
resultados satisfatórios quando aplicados em substrato dental seco (esmalte).
Em dentina, os adesivos eram aplicados sobre o esfregaço dentinário (smear
layer), mas não penetravam através dele e a adesão se mostrava inadequada
(TAY e PASHLEY 2003). Para corrigir este problema, foram desenvolvidos
produtos com solventes orgânicos e monômeros de natureza hidrofílica e de
baixo peso molecular, capazes de penetrar nos espaços interfibrilares criados
pelo condicionamento ácido na dentina, formando a camada híbrida
(NAKABAYASHI et al., 1982).
É possível classificar os sistemas adesivos disponíveis no mercado pelo
número
de
passos
operatórios.
Assim,
existem
os
que
utilizam
o
condicionamento prévio com ácido fosfórico de dois ou três passos,
dependendo se o primer e o adesivo são separados ou combinados em um
único frasco. Independente do número de passos, estes adesivos preconizam a
remoção completa da smear layer. Existem também os sistemas adesivos
auto-condicionantes, que podem ser de dois passos (também chamados de
primer auto-condicionante) ou passo único (também chamados de adesivos
auto-condicionantes), dependendo se o agente condicionante é separado do
adesivo ou combinado, permitindo apenas uma aplicação (VAN MEERBEEK et
al., 2003).
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
20
Com o intuito de reduzir as dificuldades da técnica úmida de adesão e
simplificar os procedimentos clínicos de aplicação é que surgiram os adesivos
auto-condicionantes (REIS et al., 2008). Diferente dos sistemas anteriores, os
auto-condicionantes não requerem condicionamento ácido separado. Nesta
técnica, primers auto-condicionantes compostos de monômeros ácidos são
aplicados sobre a dentina coberta por smear layer, sem a necessidade de
posterior remoção do material com água (REIS et al., 2008). Por isso, diz-se
que oferecem uma técnica menos crítica no que se refere ao controle de
umidade, especialmente em dentina, pois o condicionamento ácido e a
penetração do primer ocorrem simultaneamente. Após esta etapa, uma
camada de resina adesiva hidrófoba é aplicada sobre a dentina tratada.
Teoricamente por isso, acredita-se que não existiria discrepância entre a
profundidade de desmineralização do substrato pelo ácido e a penetração do
primer (TAY et al., 2002). Contudo, estudos mostraram que esta diferença
poderia ocorrer, deixando espaços suscetíveis à degradação dos componentes
da interface de união. (TAY et al., 2002). Sabe-se que a incorporação da água,
solventes ou primer ao adesivo resultam em propriedades mecânicas reduzidas
e baixa performance adesiva, devido a isto, a evaporação destes componentes
deve ser realizada (TAY et al., 2004).
Quando um solvente dissolve um sólido ou líquido, as moléculas ou
íons tornam-se separados uns dos outros e os espaços intermediários tornamse ocupados por moléculas de solvente. A energia necessária para quebrar a
adesão entre moléculas solúveis é suprida pela formação de adesão entre
partículas solúveis e moléculas de solvente e então as forças intermoleculares
antigas são substituídas por novas (VAN LANDUYT et al., 2007).
Os químicos têm classificado os solventes em três categorias de acordo
com sua polaridade em: polar prótico, bipolar aprótico e solventes apolares. Os
solventes polares próticos são formados por um grupo hidroxila que podem
formar fortes ligações de hidrogênio; água e etanol são exemplos desta
categoria. Os solventes polares apróticos não requerem grupos hidroxila para
formar adesão com o hidrogênio, mas necessitam de um grande momento
dipolar. Eles usualmente contêm um grupo quetona; um exemplo típico é a
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
21
acetona. Por sua vez, os solventes apolares têm uma baixa constante dielétrica
e momento bipolar (VAN LANDUYT et al., 2007). Nos adesivos, água, etanol e
acetona são os solventes mais comumente usados devido ao seu baixo custo,
ampla disponibilidade e biocompatibilidade (WATANABE et al., 1994). Outra
característica importante dos solventes é a pressão de vapor, pois assegura
boa evaporação após a aplicação de um adesivo sobre o tecido dentário
(ABATE et al., 2000; IKEDA et al., 2005). A secagem a ar após aplicação,
também facilita a remoção dos solventes remanescentes dos adesivos
(SPREAFICO et al., 2006), além de diminuir a espessura da camada adesiva, o
que tem sido demonstrado que promove uma remoção maior de solvente
(ZHENG et al., 2001). Porém, uma completa evaporação é difícil de ser
alcançada em função do tempo curto de evaporação. O solvente remanescente
no adesivo pode prejudicar a polimerização devido à diluição dos monômeros,
podendo resultar em espaços, aumentando a permeabilidade da camada
adesiva (JACOBSEN 1995; HOTTA et al., 1998).
Os sistemas adesivos à base de acetona são sensíveis à falta de
umidade e necessitam de uma superfície aquosa maior do que os a base de
água e etanol. Além disso, alguns resíduos de água podem ser deixados na
superfície após a evaporação deste solvente, comprometendo a polimerização
das resinas e criando condições favoráveis para a degradação do polímero. A
acetona evapora mais rápido do que a água e o etanol e os adesivos à sua
base são consideravelmente hidrofóbicos, tendo dificuldade em substituir a
água residual no interior dos espaços interfibrilares (LEWIS et al.,1999).
A água é um forte solvente polar capaz de dissolver ligações iônicas e
componentes polares. Sua capacidade de dissolução é altamente determinada
por sua capacidade de formar fortes ligações de hidrogênio. Entretanto, a água
é um solvente pobre em componentes orgânicos, como por exemplo, os
monômeros, que são normalmente hidrofóbicos. Essa dificuldade pode ser
superada pela adição de um solvente secundário tal como etanol ou acetona
(VAN LANDUYT et al., 2007).
O etanol, quando comparado à água, devido à sua alta pressão de vapor
permite maior evaporação durante a secagem a ar. Frequentemente, ele é
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Revisão de Literatura
22
usado em conjunto com a água como um co-solvente, tornando-se conhecidos
como azeotrópicos (MOSZNER, SALZ, ZIMMERMMAN, 2005), resultando em
uma maior remoção de água do adesivo e em uma maior superfície
desidratada.
Nos adesivos que combinam componentes hidrofóbicos e hidrofílicos, a
acetona é um ótimo solvente, pois sua pressão de vapor, quatro vezes maior
que a do etanol, é uma grande vantagem. Entretanto, sua alta volatilidade pode
também levar à redução da vida útil dos adesivos pela rápida evaporação do
solvente (LIMA et al., 2005). A acetona é usada como solvente único, mas nos
sistemas auto-condicionantes ela vem como um co-solvente associado à água.
Embora a formação de ligações de hidrogênio seja muito menor com as
quetonas do que com os alcoóis, a acetona tem uma boa capacidade de
remoção de água, em função do seu momento dipolar alto e excelente
capacidade de evaporação, característica conhecida como capacidade
hidrofílica
da
acetona
(JACOBSEN,
SODERHOLM,
1995).
Sistemas
convencionais de adesão úmida contêm acetona para facilitar a remoção da
água (PASHLEY et al., 2000). A acetona dos adesivos que seguem esta
estratégia deve assegurar um aumento da evaporação da água que é deixada
na dentina, pois ela não é capaz de re-expandir o colágeno desmineralizado e
desorganizado (PASHLEY et al., 2002).
Nos sistemas adesivos convencionais de 2 ou 3 passos, a principal
função dos solventes é promover boa penetração de monômeros na rede de
colágeno da dentina desmineralizada (NAKAJIMA et al.,2002). Nos casos de
adesão à dentina desidratada pela secagem excessiva com ar, o solvente é
capaz de reexpandir a rede de colágeno colapsada (FRANKENBERGER,
KRAMER, PETSCHELT., 2000). Nos adesivos auto-condicionantes, o uso de
água como solventes é indispensável para assegurar a ionização dos
monômeros ácidos (HIRAISHI et al.,2005).
Resíduos de solvente na superfície dentinária podem criar um efeito não
desejado na performance adesiva, como por exemplo, a presença de alta
concentração de solvente no adesivo antes da fotopolimerização, o que não
permite a obtenção de ligação polimérica dentro da camada híbrida, levando à
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23
porosidade e criação de camadas interfaciais, afetando a performance geral da
adesão (PAUL et al.,1999; KLEIN-JÚNIOR et al., 2008).
Os solventes e a água presentes na dentina desmineralizada deveriam
ser completamente removidos da superfície dentinária antes da polimerização,
por isso recomenda-se que um jato de ar seja aplicado, porém, a remoção dos
solventes apenas com este procedimento é difícil de ser alcançada (KLEINJÚNIOR et al., 2008).
Com o objetivo de melhorar a evaporação dos solventes e também a
impregnação da dentina pelo sistema adesivo, e formar a camada híbrida,
várias alternativas têm sido investigadas.
El-Din et al. (2002) avaliaram o efeito do aumento do tempo de ação do
primer e do adesivo na resistência de união por cisalhamento dos sistemas
adesivos Scotchbond Multi-Purpose Plus, OptiBond FL e Single Bond. Os
autores concluíram que o aumento do tempo de primer para 40 segundos
causou um grande aumento nos valores de resistência ao cisalhamento. Além
disso, o aumento do tempo de ação do adesivo antes de ser polimerizado
poderia ser efetivo para resistência ao cisalhamento somente se o tempo de
ação do primer também fosse prolongado.
O aumento do tempo de aplicação de sistemas adesivos também foi
estudado por Cardoso et al. (2005), que analisaram a perda de massa de
sistemas adesivos à base de água e etanol (Single Bond) e à base de acetona
(One Step), por ensaio de resistência à tração em dentina, e tentaram
correlacionar os valores de resistência de união com a taxa de evaporação dos
solventes. Os resultados apontaram maior perda de massa para o adesivo à
base de acetona nos primeiros cinco minutos, porém, ambos os sistemas
perderam 50% de peso após 20 minutos. O aumento no tempo de aplicação
levou a um aumento na resistência à tração para os dois adesivos, contudo, a
diferença só foi significante para o adesivo à base de acetona após 150
segundos. Os autores concluíram que tempos de aplicação prolongada
poderiam aumentar a resistência à tração na interface adesivo/dentina dos
sistemas adesivos estudados, mas o tempo de aplicação dependeria do tipo de
solvente presente no adesivo.
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Revisão de Literatura
24
O tempo de aplicação do jato de ar para a evaporação de solventes foi
objeto de estudo de Sadr et al. (2007), na resistência de união por
microcisalhamento para os adesivos Clearfil Tri-S bond e Clearfil SE Bond,
após 2, 5 e 10 segundos. Os autores observaram melhor resistência de união
para o Clearfil Tri-S Bond (à base de água/etanol) após 10s, que foi superior ao
Clearfil SE Bond (à base de água) neste tempo, e menor adesão para ambos
aos 2 segundos. Os autores concluíram que a secagem a ar é um passo
essencial na evaporação dos solventes que compõem os sistemas adesivos,
pois a presença de água e solventes residuais pode diminuir as propriedades
mecânicas do material.
A relação entre a duração da secagem a ar e a evaporação de solventes
na resistência à tração de adesivos autocondicionantes (Clearfil SE Bond,
iBond e G-Bond) foi estudada por Ikeda et al. em 2008, após 5 ou 10 segundos
de aplicação. Os autores observaram maior evaporação de solvente com o
aumento do tempo de aplicação do ar para o iBond (à base de acetona/água),
G-Bond (acetona/água) e Clearfil SE Bond (água). Este estudo também
mostrou que a evaporação de solventes foi influenciada pelo tipo de solvente e
pela presença ou não de HEMA na composição do material, visto que o Clearfil
SE Bond (com HEMA) apresentou maior evaporação de solventes aos 10
segundos, comparativamente aos outros adesivos (livres de HEMA).
A eficácia da polimerização de adesivos auto-condicionantes em
diferentes condições de evaporação de solventes foi estudada por Nunes et al.,
2006, sendo que os autores avaliaram a temperatura e o tempo de duração da
secagem a ar. Com base nos resultados, pôde-se observar que a evaporação
dos solventes está relacionada com a concentração água/HEMA na
composição, presença de fotoiniciadores no primer e também de etanol. Os
autores
concluíram
que
a
temperatura
aumentou
a
reação
de
fotopolimerização, mas que a tentativa de remover os solventes não melhorou
a polimerização de sistemas adesivos de um passo.
Com o objetivo de esclarecer a relação entre a duração da secagem a ar
e o grau de evaporação de solventes de sistemas adesivos autocondicionantes de um passo, além de avaliar o efeito do grau de evaporação
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
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25
na resistência à microtração, Ikeda et al., 2008 realizaram um estudo utilizando
um adesivo rico em HEMA e dois livres de HEMA. Os autores observaram que
o peso dos dois adesivos livres de HEMA tornou-se constante somente após
24 a 48 horas e 72 a 96 horas para o adesivo rico em HEMA. Houve aumento
no grau de evaporação e também melhora das propriedades mecânicas
conforme aumentou-se o tempo de secagem a ar, portanto, os autores
sugerem que seja realizada uma forte secagem a ar para remover o máximo
possível de solventes.
Outra estratégia investigada por Dal Bianco et al. (2006) foi o modo de
aplicação do sistema adesivo (ativo ou não) em dentina seca ou úmida, na
resistência de união por microtração, em adesivos à base de água/etanol
(Single Bond) e acetona (One Step). Os autores concluíram que em dentina
seca, tanto o sistema adesivo à base de acetona quanto o à base de
água/etanol deveriam ser aplicados de forma ativa, pois poderiam otimizar a
penetração do adesivo no substrato, além de remover água e solventes
residuais. Em dentina úmida, a fricção leve pareceu ser suficiente para a
adesão.
O efeito da aplicação ativa na resistência à microtração e nanoinfiltração
de três adesivos auto-condicionantes, imediatamente e após seis meses foi
avaliada por Amaral et al., 2009. Os autores observaram valores maiores de
resistência à microtração quando a aplicação ativa foi realizada, bem como
menor infiltração de traçador químico, para ambos os tempos de avaliação,
portanto, este trabalho mostrou que a aplicação ativa aumenta a performance
adesiva de sistemas adesivos auto-condicionantes.
Outra modificação de técnica foi estudada por Klein-Júnior et al., 2008,
onde avaliaram o efeito do jato de ar quente para a evaporação de solvente em
resistência de união, nanoinfiltração e grau de conversão, e os autores
observaram que o uso do jato de ar quente parece ser uma alternativa
promissora na redução da nanoinfiltração, a evaporação dos solventes
melhorou a resistência de união, mas não influenciou o grau de conversão.
Em continuidade ao estudo anterior, Reis et al. (2009) avaliaram a
influência da temperatura do jato de ar na resistência de união ao longo do
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26
tempo e nanoinfiltração, e observaram que o jato de ar quente é capaz de
manter a qualidade da camada híbrida formada por até 6 meses.
Os trabalhos que avaliaram modificação da técnica de evaporação de
solventes, utilizaram sistemas adesivos convencionais, o primeiro trabalho a
testar em auto-condicionantes foi o de Garcia et al. (2009), onde se avaliou a
influência da temperatura do jato de ar e de diferentes tempos de aplicação em
sistemas auto-condicionantes e concluiu-se que o desempenho dos autocondicionantes pode ser melhorado com o uso do jato de ar quente e aumento
do tempo de aplicação do mesmo.
Os efeitos da estocagem em água na sorção e solubilidade de sistemas
adesivos foram testados por Reis et al. (2007), por tempos de 1, 7, 30, 90 e
180 dias. Com base nos resultados, os autores observaram que a sorção e
solubilidade podem estar relacionadas com a hidrofilia das soluções, o que
pode comprometer a durabilidade das restaurações.
Já Deliperi et al. (2007) avaliaram a eficácia de um adesivo convencional
e três auto-condicionantes na redução da microinfiltração após três meses de
estocagem em água e termociclagem. Os autores observaram que o i-Bond,
adesivo auto-condicionante de frasco único, foi o que demonstrou piores
resultados tanto em esmalte quanto em dentina, porém, o Xeno III, adesivo
com as mesmas características, teve uma performance tão boa quanto a dos
outros avaliados. Todos os adesivos foram tão bons em esmalte quanto em
dentina, com exceção do Clearfil SE Bond, que apresentou maior infiltração em
esmalte do que em dentina.
A qualidade das interfaces adesivas de sistemas auto-condicionantes e
convencionais foi avaliada por Reis et al. (2004), após uma semana e seis
meses. Foi observada nanoinfiltração para todos os materiais e nos dois
períodos de avaliação, portanto, os autores alertaram para a possível
degradação das interfaces ao longo do tempo, especialmente em dentina.
A influência da taxa de evaporação de solventes no selamento marginal
em dentina foi estudada por Lima et al. (2005), para adesivos à base de
etanol/água e acetona, sendo a volatilização do solvente mais rápida para o
segundo. Os autores concluíram que o adesivo à base de acetona é mais
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27
sensível à perda de solvente e a capacidade de selamento poderia ser afetada
pelo uso repetido deste sistema, além de alertarem para a importância de se
manter os frascos de adesivo bem fechados quando não estiverem sendo
utilizados.
A influência da localização da margem gengival (esmalte ou dentina) na
microinfiltração de restaurações proximais em dentes posteriores foi avaliada
por Araujo et al. (2006). Foi observada maior infiltração nas margens de
dentina, explicada pela diferença estrutural dos substratos. A variabilidade do
substrato dentinário torna crítica a realização de procedimentos adesivos.
As diferentes técnicas de inserção de resina composta (incremental e
passo único), utilizando-se diferentes sistemas adesivos (auto-condicionante e
convencional) foram avaliadas por Owens e Johnson (2005), realizando-se
restaurações com margem tanto em esmalte quanto em dentina e simulando o
envelhecimento das restaurações através de termociclagem. Os autores
observaram que a adesão em dentina foi mais crítica para todas as condições
testadas, concluindo que o uso do sistema adesivo convencional e a técnica
incremental reduziram de maneira significativa a microinfiltração tanto em
esmalte quanto em dentina.
No ano seguinte, Guéders et al. avaliaram a microinfiltração de sistemas
adesivos convencionais e auto-condicionantes, com e sem interposição de
resina fluida, em cavidades preparadas na junção cemento-esmalte. Foi
observada maior infiltração em esmalte do que em dentina, não havendo
diferença entre os adesivos convencionais testados, mas eles apresentaram
menor infiltração que os auto-condicionantes em esmalte. Concluiu-se que os
sistemas auto-condicionantes foram menos efetivos do que os convencionais
para promover o selamento marginal tanto em esmalte quanto em dentina,
porém, para todos os sistemas adesivos o selamento foi melhor em dentina do
que em esmalte.
A influência do tipo de solvente e da aplicação do jato de ar, antes e
após a aplicação do primer, na adaptação marginal de restaurações de resina
composta foi avaliada por Balkenhol et al. (2007). Os primers testados eram à
base de água/acetona e água/etanol. Para o primeiro, o procedimento de
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
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28
secagem (sem secagem e 2 segundos) antes da aplicação do primer foi
variado, assim como o tempo de evaporação (2-3 e 10 segundos) depois da
aplicação do primer também foi variada para o segundo. A não secagem
diminuiu significativamente a fenda após a termociclagem, para os adesivos à
base de acetona em dentina, mas diminuiu em esmalte. Pouca evaporação (23 segundos) do solvente aumentou a fenda quando usado o adesivo à base de
água/etanol. Concluiu-se que sistemas adesivos à base de água/etanol são
menos críticos quando comparados aos de acetona/água e que a evaporação
do solvente continua sendo uma etapa crítica considerando-se a qualidade
marginal das restaurações.
Já a capacidade de selamento de adesivos convencionais e autocondicionantes, antes e após a termociclagem, através de um teste de
microinfiltração foi avaliada por Rosales-Leal (2007). Como resultado, para os
adesivos convencionais houve bom selamento na parede oclusal, enquanto
que os auto-condicionantes mostraram pouca infiltração na mesma região. A
termociclagem não afetou o selamento.
Os autores concluíram que em
esmalte não houve microinfiltração para os adesivos convencionais, entretanto,
os auto-condicionantes mostraram pequena infiltração. O selamento gengival
foi inferior quando comparado ao oclusal. A termociclagem não afetou a
adesão oclusal dos adesivos, nem selamento gengival para um dos adesivos
convencionais.
Os estudos de resistência de união relatados sugerem que variações na
técnica de aplicação dos sistemas adesivos foram capazes de otimizar o
desempenho dos materiais. Em especial, salienta-se o uso de jato de ar quente
para a evaporação de solventes, contudo, até o momento, apenas um estudo
utilizou esta técnica em restaurações com adesivos auto-condicionantes. Por
apresentarem formulações altamente hidrofílicas, parece oportuno investigar se
variações na técnica de evaporação de solventes poderiam otimizar seu
desempenho.
A importância da evaporação de solventes em poucos estudos de
selamento marginal também foi relatada, assim, o estudo de técnicas
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Revisão de Literatura
29
restauradoras alternativas com adesivos auto-condicionantes em selamento
marginal parece bastante oportuno.
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Proposição
30
3. PROPOSIÇÃO
•
Objetivo geral: avaliar o selamento marginal da união entre adesivos autocondicionantes e dentina.
•
Objetivos específicos: avaliar a influência da temperatura do jato de ar
utilizada para a evaporação de solventes no selamento marginal; avaliar o
selamento marginal em dois momentos: imediato e simulando o
envelhecimento da restauração por termociclagem.
As hipóteses nulas são:
Ho_Não existe diferença entre selamento marginal em dentina para os
adesivos autocondicionantes estudados;
Ho Não existe diferença entre as temperaturas do jato de ar testadas;
Ho Não existe diferença entre os dois momentos de avaliação.
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Material e métodos
31
4. MATERIAL E MÉTODOS
Após análise e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNOPAR (Protocolo número PP0117/09), foram realizadas 80
cavidades Classe II em 40 terceiros molares. Os dentes foram previamente
desinfetados em solução de cloramina 0,5% durante 7 dias (DEWALD, 1997),
limpos e armazenados em água destilada a 4ºC até o início dos experimentos.
Os dentes foram divididos aleatoriamente em oito grupos (n=10) formados
pelos fatores principais: adesivo auto-condicionante (um à base de água e o
outro água/acetona/etanol), temperatura do jato de ar (quente ou frio) e
ciclagem térmica (sim ou não). A tabela 1 apresenta as condições
experimentais.
Tabela 1 – Condições experimentais
ADESIVO
TERMOCICLAGEM
SIM
ADPER SE PLUS
NÃO
OPTIBOND All In
One
SIM
NÃO
JATO DE AR
Quente (n=10)
Frio (n=10)
Quente (n=10)
Frio (n=10)
Quente (n=10)
Frio (n=10)
Quente (n=10)
Frio (n=10)
Cada dente recebeu dois preparos cavitários tipo Classe II, um na face
mesial e outro na face distal (Figura 1), com 4 mm de largura vestíbulo-lingual;
1,5 mm de profundidade em direção à polpa e 5 mm de altura ocluso-gengival
(término abaixo da junção amelocementária). Os preparos cavitários foram
realizados com ponta diamantada nº3100 (KG Sorensen, Barueri, Brasil), em
alta rotação e sob refrigeração, que foram substituídas a cada quatro preparos
cavitários (Formolo, Sartori, Demarco, 2001).
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Material e métodos
32
Figura 1 – Preparos cavitários. A- Prevaros cavitários tipo classe II nas faces mesial e
distal; B- Vista aproximada.
Os adesivos foram aplicados conforme descrito na tabela 2 e ilustrado
nas figuras 2, 3 e 4, sendo que a evaporação dos solventes foi feita com jato de
ar quente (60 ± 2 °C) ou frio (20 ± 1 °C) durante 10 s, à distância de 10 cm. Em
ambas as situações, o jato de ar foi proveniente de um secador de cabelos
(SC831, Black & Decker, Uberaba, MG, Brasil), sendo a velocidade do ar 5.50
m/s e o fluxo de 0.0138 m3/s (KLEIN-JÚNIOR et al., 2008).
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Material e métodos
33
Tabela 2– Sistemas adesivos, composição e modo de aplicação
ADESIVO
Composição
Aplicação
ADPER SE PLUS
Primer/Líquido A (8BE)
Adesivo/Líquido B
(8BB)
Primer (líquido A): água (80%), HEMA
(20%), corante rose bengal e
surfactante.
1- Aplicar o Primer;
2-friccionar o Adesivo por
20s;
3-jato de ar quente/frio (10s
a 10cm);
4- aplicar 2ª camada do
Adesivo, jato de ar para
afinar a película do
adesivo;
5-fotoativar (10s a
550mW/cm²).
Adesivo (líquido B): resinas de
metacrilato (UDMA, TEGDMA,
TMPTMA, HEMA fosfato e MHP
(componentes acídicos), nanopartículas
de zircônia e fotoiniciadores.
OPTIBOND All In One
(3075076)
#
Ésteres de metacrilato (33-43%)
#
Álcool etílico (4-9%) , àgua, acetona
#
(35-45%)
monômeros, particulas inorgânicas
inertes, fluoreto de itérbio,
fotoiniciadores, aceleradores,
estabilizadores
1- Agitar o frasco;
2- friccionar 1 camada do
adesivo (20s);
3- friccionar a 2ª camada
de adesivo (20s);
4- jato de ar quente ou frio
(10s a 10cm);
5- fotoativação (10s a 550
2
mW/cm ).
Legenda: HEMA (2-hidroxietilmetacrilato); UDMA (Uretano dimetacrilato); TEGDMA
(Trietilenoglicol dimetacrilato); TMPTMA (Trimetilopropano trimetacrilato); MHP (Fosfatos
metacrilatizados) Perfil técnico do produto de acordo com a especificação (29 CFR 1910.1200)
revisado em 11/19/2008; Kerr.
Figura 2 – Sistemas adesivos utilizados.A- Optibond All In One – Kerr; B- Adper SE Plus – 3M-ESPE
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34
Figura 3 – Aplicação do Adper SE Plus. A- Primer; B- Aplicação do líquido A; C- Aspecto da cavidade após
aplicação; D-Adesivo; E- Aplicação do líquido B; F- Aspecto da cavidade; G- Evaporação do solvente com
secador de cabelos; H- 2ª camada do adesivo; I- Fotoativação após nova evaporação do solvente.
Figura 4 – Aplicação do Optibond All In One. A- Optibond All In One; B- Aplicação da 1ª camada; CAplicação da 2ª camada; D- Evaporação do solvente com secador de cabelos; E- Fotoativação.
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Material e métodos
35
Os sistemas adesivos foram fotoativados com aparelho de lâmpada
halógena a 550 mW/cm2 (VIP, Bisco, Schaumburg, IL, USA); um porta matriz
metálico com fita metálica foi posicionado em cada dente e as cavidades
restauradas com resina composta Filtek Z350 - 3M ESPE (Figura 5), em três
incrementos horizontais e fotoativados separadamente, como pode ser
observado na Figura 6. Todos os procedimentos adesivos foram realizados por
um mesmo operador, em sala climatizada com controle de temperatura de
20°C.
Figura 5 – Resina utilizada para restauração.
Figura 6- Sequência restauradora. A- Resina composta sendo levada em
incrementos; B- Adaptação na cavidade; C- Fotoativação de cada incremento.
Os dentes restaurados permaneceram armazenados por 24h em água
destilada a 37°C em estufa, e a seguir, as restaurações receberam
acabamento para a remoção de excessos, sob refrigeração, com pontas
diamantadas da série F/FF nº 3100 (KG Sorensen). Após isso, foram lavadas
em aparelho ultrassom com água destilada durante 10 minutos para a remoção
dos resíduos. Em 40 cavidades foi realizada a termociclagem com 500 ciclos
entre 5/55ºC, 30 segundos de imersão em cada banho, 3 segundos de
intervalo (ISO TR11405) para simular o envelhecimento das restaurações. As
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Material e métodos
36
outras 40 cavidades não foram termocicladas, simulando a avaliação do
selamento marginal após 24h de confecção da restauração adesiva.
Todos os dentes foram impermeabilizados com três camadas de esmalte
cosmético (Colorama, São Paulo, SP, Brasil) até 1 mm aquém das margens da
restauração, e os ápices radiculares foram vedados com resina acrílica
autopolimerizável (Dencrilon – Dencril Resinas Acrílicas, Caieiras, São Paulo,
Brasil). Após a impermeabilização, os dentes foram reidratados em água
destilada durante 10 minutos e em seguida, imersos em solução aquosa de
nitrato de prata a 50% (SADEK et al., 2003) durante 2 horas em ambiente
escuro, o excesso de traçador químico foi removido em água corrente e os
dentes foram imersos em solução reveladora KODAK durante 8 horas, sob luz
fluorescente e o excesso do revelador também foi removido em água corrente.
Para avaliar a microinfiltração, as restaurações foram seccionadas
longitudinalmente no sentido mésio-distal, pelo centro das restaurações
(OWENS E JOHNSON, 2005 e BRACKETT et al., 2006), com disco
diamantado posicionado em máquina de corte (Extec 12205; Isomet 1000,
Buhler), como pode ser observado nas figuras 7 e 8, para a obtenção de duas
fatias. As fatias foram fotografadas (Canon EOS Rebel XTi, Canon Inc., Japan,
SN. 2371204627), sendo que a fatia com melhor qualidade fotográfica (brilho,
contraste, iluminação) foi utilizada para avaliar a infiltração de nitrato de prata
em um software, UTHSCSA Image Tool for Windows 3.0 (LOPES et al., 2009),
por um examinador previamente treinado, que não tinha conhecimento das
condições experimentais. Foram utilizados dois métodos: escores (avaliação
qualitativa) e porcentagem de infiltração de nitrato de prata (avaliação
quantitativa).
Figura 7. A- Máquina de corte; B- Dente posicionado; C- Vista lateral.
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Material e métodos
37
Figura 8 – Dente seccionado.
Para a avaliação qualitativa, foi utilizada a escala 0-4: (SADEK et al.,
2003; OWENS E JOHNSON 2005; BRACKETT et al., 2006; DELIPERI et al.
2007; ROSALES-LEAL, 2007) 0 – sem penetração de nitrato; 1- penetração de
nitrato até 1/3 da parede gengival; 2 - penetração de nitrato até 2/3 da parede
gengival; 3 - penetração de nitrato na totalidade da extensão das parede
gengival; 4 - penetração de nitrato na totalidade da extensão das paredes
gengival e axial e em direção à polpa. Os dados da análise qualitativa foram
analisados pelo teste de Mann-Whitney (α=0,05).
Na avaliação da porcentagem de infiltração, o comprimento total da
cavidade e o comprimento da infiltração de nitrato de prata foram mensurados
em milímetros, sendo que primeiramente media-se a infiltração e o dado obtido
era registrado. Então, todo o comprimento da cavidade era também medido e
através de regra de três simples, calculava-se a porcentagem de infiltração de
nitrato de prata em relação ao comprimento total da mesma. Esta análise foi
realizada com o auxílio do software UTHSCSA Image Tool for Windows 3.0
(LOPES et al.,2009).
Os dados foram submetidos à Análise de Variância de 3 fatores
(termociclagem X adesivo X temperatura do jato) e teste de Tukey (5%). Para
as duas análises estatísticas, foi adotado nível global de significância de 5% e
as cavidades advindas do mesmo dente foram consideradas de forma
independente para a análise dos dados.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Resultados
38
5. RESULTADOS
A tabela 3 apresenta os resultados de infiltração do nitrato de prata para
as condições experimentais, nos dois métodos de avaliação.
Tabela 3 - Porcentagem de infiltração (%) e médias dos escores de nitrato de
prata para as condições experimentais.
ADESIVO
ADPER SE
PLUS
OPTIBOND
AIO
TERMOCICLAGEM
SIM
NÃO
SIM
JATO DE
AR
Quente
Frio
% MÉDIA (DP)
4,7 (4,9)
6,3 (4,9)
ESCORES
MÉDIAS
0,9
1,1
Quente
Frio
Quente
Frio
8,8 (9,1)
7,3 (10,5)
3,8 (5,4)
2,4 (2,3)
1,2
1,0
0,9
0,7
3,8 (6,8)
2,7 (6,7)
0,8
0,5
NÃO
Quente
Frio
Legenda: AIO = All In One, DP = desvio padrão
Para a avaliação em escores, não foi observada diferença significante
para nenhum dos fatores, tanto para a análise dos grupos termociclados
(p=0,2047) como para os não termociclados (p=0,1350).
Figura 9 A- Pode-se observar grau 1 de infiltração na distal e grau 4 na mesial. B- Grau 0 de infiltração
nas duas faces.
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Resultados
39
Para a análise da porcentagem de infiltração de nitrato de prata (%), foi
observada diferença significante para o fator adesivo (p=0,0234). Não houve
diferença para os fatores termociclagem (p=0,4456), temperatura do jato de ar
(p=0,8488), nem para as interações, adesivo X termociclagem (p=0,5597),
termociclagem X temperatura (0,7777), adesivo X temperatura (0,6021),
adesivo X temperatura X termociclagem (p=0,7173).
Desta forma, a temperatura do jato de ar e a termociclagem deixaram de
ser considerados nos cálculos seguintes e os dados individuais de cada
adesivo passaram a ser tratados em conjunto. De maneira geral, o adesivo
OptiBond All In One apresentou menor porcentagem de infiltração de nitrato de
prata que o adesivo Adper SE Plus. A tabela 4 apresenta as médias (desviospadrões) da porcentagem de infiltração de nitrato de prata, considerando
apenas o fator adesivo.
Tabela 4 – Médias (desvios-padrões) dos valores médios ajustados da
porcentagem de infiltração de nitrato de prata (letras diferentes indicam
diferença estatística ao nível de 5%)
ADESIVO
MÉDIAS (DESVIOS-PADRÕES)
Adper SE Plus
6,4 (8,1) A
OptiBond All In One
2,8 (6,5) B
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Discussão
40
6. DISCUSSÃO
Preferencialmente, solvente e água deveriam ser completamente
eliminados da superfície dentinária antes da polimerização. Assim, o processo
de secagem a ar é recomendado como parte do protocolo clínico quando se
usam adesivos que contenham solventes em sua composição. Entretanto, a
remoção dos solventes com um simples jato de ar não é uma tarefa fácil de ser
conseguida durante o procedimento clínico, levando-se em consideração a
dificuldade de padronização da distância e intensidade do ar. Um outro fator é
o tempo recomendado pelos fabricantes para a evaporação do solvente. Em
geral, este parece ser curto, como observado por Cardoso et al. em 2005, no
qual demonstraram que somente períodos de tempo maiores do que 12 a 20
minutos poderiam assegurar uma completa remoção do solvente, mas este
período seria inviável para o atendimento clínico.
Em função disto, alguns métodos alternativos têm sido estudados para
otimizar a evaporação dos solventes, como a utilização do jato de ar quente, o
que foi investigado neste trabalho, além do tipo de adesivo auto-condicionante
e da influência ou não da termociclagem no selamento marginal.
Foi observada diferença significativa para o fator adesivo, rejeitando a
primeira hipótese do estudo. No presente estudo utilizou-se um adesivo à base
de água (Adper SE Plus) e outro de água/acetona/etanol (Optibond All In One),
sendo que o primeiro apresentou uma maior infiltração marginal. Esse
resultado pode ser explicado através do trabalho de Kanca (1998), no qual
observou que sistemas que contêm álcool e acetona como solventes têm ação
rápida, enquanto que sistemas à base de água requerem tempos de aplicação
maiores. O mesmo autor no ano 1992 observou que a água como solvente
apresentou menores valores de resistência do que quando a acetona foi
utilizada. Ainda foi relatado que o etanol é menos volátil do que a acetona,
aspecto importante, pois se houver uma evaporação muito rápida do solvente,
os monômeros não penetram de forma adequada na dentina desmineralizada,
prejudicando grandemente a resistência adesiva. Como o tempo de aplicação
do adesivo e do jato de ar foram os mesmos utilizados para os dois sistemas
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Discussão
41
adesivos, o fator composição provavelmente tenha sido o maior responsável
pelas diferenças encontradas entre os dois sistemas aqui avaliados. Ou seja, a
maior porcentagem de água encontrada no Adper SE Plus (80%) faz com que
seja necessário um tempo de secagem maior, devido a sua pressão de vapor
mais baixa quando comparado aos solventes presentes no Optibond All In One.
Neste segundo adesivo a quantidade de água é menor, totalizando juntamente
com a acetona, 35 a 45%, apresentando ainda 4 a 9% de etanol, que por sua
vez tem a pressão de vapor maior, o que pode explicar o melhor desempenho
nos testes de microinfiltração quando comparado com o primeiro, utilizando-se
tempo de secagem e temperatura iguais.
Um fator relevante também na composição dos adesivos é a presença
ou não de HEMA, um monômero hidrofílico, que uma vez presente no sistema
adesivo, permite um melhor molhamento da superfície e penetração dos
monômeros, melhorando a resistência adesiva.
Um estudo observou que,
mesmo após o sistema adesivo que contém HEMA ter sido polimerizado, ele
ainda apresentava hidrofilicidade e poderia levar a uma absorção de água, com
conseqüente infiltração e descoloração marginal (VAN LANDUYT et al., 2007).
Ainda, a presença do HEMA diminuiria a pressão de vapor da água e
provavelmente também do etanol, dificultando a boa evaporação dos solventes
das soluções adesivas. O sistema adesivo Adper SE Plus contém HEMA em
sua composição (20%), enquanto que o Optibond All In One não possui este
monômero, o que pode ter explicado o melhor desempenho nos valores de
infiltração marginal deste último. Segundo Van Landuyt et al. em 2008, em
sistemas adesivos auto-condicionantes, não seria necessária a presença de
HEMA, pois o fato de apresentarem monômeros ácidos permitiria a penetração
dos monômeros adesivos. Contudo, pequenas quantidades de HEMA (até
10%) seriam benéficas e aumentariam a resistência adesiva em esmalte e
dentina, mas concentrações superiores diminuiriam a resistência adesiva em
dentina. Segundo Ikeda et al. (2008), quando o adesivo auto-condicionante
possui HEMA na sua composição, a evaporação dos solventes se torna mais
demorada (até 96 horas), fato este que poderia explicar a maior infiltração
observada para o Adper SE Plus.
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Discussão
42
No presente estudo, foram utilizados os adesivos Adper SE Plus e
Optibond All in One. Foi possível observar que a camada adesiva do Adper SE
Plus era mais fina, enquanto que a do OptiBond All In One era mais viscosa,
fato este que pode ser explicado pela presença e conteúdo de carga (fluoreto
de itérbio) na composição deste material. Após a secagem com o jato de ar, a
camada do Adper SE Plus, que já era fina, provavelmente tenha ficado ainda
mais fina e a do Optibond All In One, que era mais espessa, tenha ficado com a
espessura ideal, otimizando o vedamento marginal, justificando os melhores
resultados do Optibond All in One. Segundo Biernat et al. (2005) e Nunes et al.
(2005), camadas muito finas de adesivo podem ter sua polimerização mais
facilmente inibidas pelo oxigênio e isso pode comprometer a resistência de
união, o que pode ter resultado no pior desempenho do Adper SE Plus no
presente trabalho.
Outro objetivo do estudo foi avaliar a influência da temperatura do jato
de ar, contudo, este fator não influenciou o selamento marginal dos adesivos
auto-condicionantes testados nos dois métodos de avaliação. Desse modo, a
segunda hipótese do estudo foi aceita. Estudos prévios (KLEIN-JÚNIOR et al.,
2008; REIS et al., 2009), utilizando jato de ar quente (60°C) para a evaporação
de solventes, observaram significante melhora na resistência adesiva e menor
nanoinfiltração de adesivos convencionais simplificados, utilizando-se um
período de somente 10 segundos. Pode-se explicar a falta de concordância
entre os trabalhos devido ao fator de configuração cavitária (fator C), pois o
presente estudo foi realizado em classe II, enquanto que nos trabalhos de
Klein-Júnior et al.(2008) e Reis et al. (2009) foram realizadas em superfícies
planas. É sabido que o fator C varia conforme o tipo de cavidade em que é
realizado o procedimento adesivo (Feilzer et al., 1987) sendo maior em
restaurações como as do tipo Classe II, comparativamente às de superfícies
planas. No caso da restauração Classe II, além do fator C ser elevado, é
freqüente o acúmulo dos adesivos nos ângulos da cavidade, o que pode ter
dificultado a evaporação de solventes no presente estudo. Nos estudos
realizados em superfícies planas, além do fator C ser menor, a aplicação dos
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
Discussão
43
adesivos acontece de maneira mais uniforme e então a evaporação dos
solventes pode ser favorecida.
Garcia et al. (2009), também sugeriram que não somente a temperatura,
mas também o tempo de secagem é um fator importante para melhorar a
performance adesiva, pois alguns sistemas utilizados neste trabalho apenas
melhoraram seus valores de resistência adesiva após o tempo de aplicação
dos adesivos terem sido aumentados. No presente trabalho, não foi testada a
variável tempo de aplicação, já que este foi o mesmo para os dois sistemas
avaliados. Para o trabalho de Garcia et al (2009), a secagem a ar por tempos
maiores melhorou a evaporação de solventes, enquanto que no trabalho de
Klein Jr et al. (2008), com o aumento da temperatura o tempo de aplicação
pôde continuar o mesmo, fator importante para o tempo clínico.
A termociclagem é um método amplamente aceito e usado em estudos
de microinfiltração in vitro, embora alguns pesquisadores o considerem como
um método questionável. O questionamento é sobre a validade e significância
clínica do método, pois as temperaturas usadas para gerar stress nas
restaurações podem não ser temperaturas reais toleradas pelos pacientes (5° e
55°c) (PAZINATTO et al., 2003). Neste estudo, também foi avaliado o fator
termociclagem, mas não foi observada diferença, aceitando a terceira hipótese
do estudo. Com relação à utilização de termociclagem para avaliação da
microinfiltração, alguns estudos apontaram que a sua aplicação aumenta de
maneira significativa os padrões de microinfiltração (HAKIMEH et al., 2000;
ERDILEK et al., 2009), enquanto outros, assim como este, relataram que a
termociclagem não teve efeito sobre a microinfiltração de restaurações
(ROSALES-LEAL et al., 2007; DELIPERI et al., 2007). Esses resultados
conflitantes na avaliação do efeito da termociclagem podem estar relacionados
à variedade dos materiais testados, diferentes tipos de preparo cavitário,
métodos de avaliação e propriedades dos tecidos duros. Não existe
padronização da metodologia entre os estudos de microinfiltração, o que
dificulta a comparação de resultados entre os diferentes estudos.
Um fator limitante no presente estudo pode ter sido o número da
amostra (10 para cada grupo). Segundo uma revisão sistemática feita por
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Discussão
44
Raskin et al. (2001), 60% dos trabalhos tiveram uma amostra igual ou inferior a
10 e mais de 90% inferior a 20. Como houve grande variabilidade nos
resultados deste estudo, talvez um aumento no número da amostra fosse
capaz de detectar diferenças estatisticamente significantes quanto à influência
da temperatura do jato de ar e da termociclagem.
Outro fator limitante deste estudo pode estar relacionado ao número de
secções realizadas para avaliar a microinfiltração. Raskin et al.(2001) sugerem
que mais cortes sejam feitos, pois uma secção seria insuficiente para detectar
a extensão de penetração do traçador químico, sendo necessárias duas ou três
secções. No presente estudo não foi possível a realização de mais cortes,
sendo realizada secção única no centro das restaurações. Isso ocorreu porque
nem todos os preparos cavitários estavam centralizados, de modo que se
fossem feitos mais cortes algumas fatias seriam perdidas. Segundo trabalho de
Raskin et al., 2009, poder-se-ia obter três fatias e selecionar a de maior grau
para avaliação, mas não existe consenso entre os diferentes estudos de
microinfiltração em relação a este aspecto.
Neste estudo observou-se grande variabilidade nos resultados da
avaliação da microinfiltração através do método visual, o que pode ter sido um
fator limitante que mascarou a influência da temperatura do jato de ar. Por sua
vez, nos estudos de Klein-Júnior et al. (2008) e Loguercio et al. (2008), para se
quantificar a infiltração, realizou-se microscopia eletrônica de varredura,
enquanto que neste trabalho o método de avaliação foi apenas visual, o que
sugere que talvez seja importante o uso de uma avaliação mais minuciosa e
específica, para que diferenças estatisticamente significantes entre o uso ou
não do jato de ar quente sejam percebidas.
Foram encontrados poucos estudos que avaliaram infiltração marginal
variando a técnica de evaporação dos solventes, principalmente em classe II,
que é uma restauração mais crítica de ser realizada clinicamente do que a
classe V.
Sugere-se a realização de outros trabalhos variando a metodologia,
como o tempo de aplicação do jato de ar, a quantidade de solvente evaporado,
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Discussão
45
a qualidade das interfaces adesivas em microscopia eletrônica de varredura e
também a durabilidade das restaurações.
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Conclusões
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7. CONCLUSÕES
Considerando a metodologia empregada neste trabalho, foi possível concluir
que
1 – o selamento marginal da dentina foi influenciado pelo sistema adesivo,
2 – a temperatura do jato de ar não influenciou o selamento marginal,
3 – a termociclagem não influenciou o selamento marginal.
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Apêndice
APÊNDICE – Quadro da Análise de Variância
ANOVA
Summary of all Effects;
1-TERMOCICLAGEM, 2-ADESIVO, 3-TEMPERATURA
df
Soma dos
df
Quadrados
Quadrados
médios
1
2
3
1,2
1,3
2,3
1,2,3
1
1
1
1
1
1
1
0,083528
0,761475
0,0052
0,048758
0,0114
0,03894
0,018758
72
72
72
72
72
72
72
0,142046
0,142046
0,142046
0,142046
0,142046
0,142046
0,142046
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
F
Valor de p
0,588033
5,360765
0,03661
0,343254
0,080258
0,274139
0,132054
0,445688
0,023448
0,8488
0,559789
0,777761
0,602177
0,717376
53
Anexo
ANEXO – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
Priscilla do Monte Ribeiro Busato
54
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centro de ciências biológicas e da saúde mestrado em odontologia