Estudo de Incidências Ambientais Berlenga- Laboratório de Sustentabilidade © Fieldsketching Berlengas (2007) Julho de 2009 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 2 FICHA TÉCNICA Consultoria técnica e científica Cristina Ascenço (Instituto de Soldadura e Qualidade) Cristina Sousa (Instituto de Soldadura e Qualidade) Sandra Estanislau (Instituto de Soldadura e Qualidade) Silvia Garcia ( Instituto de Soldadura e Qualidade) Sónia Sousa (Instituto de Soldadura e Qualidade) Rui Venâncio (Câmara Municipal de Peniche) Sérgio Leandro (Câmara Municipal de Peniche) Participação Câmara Municipal de Peniche EDP Inovação ICNB – Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 3 Índice 1 - Introdução ........................................................................................................................................................................................ 11 2 –Definição do âmbito do Estudo de Incidências Ambientais ............................................................................................................. 13 2.1 – Objectivos gerais do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade .......................................................................... 15 2.2 – Enquadramento legal ............................................................................................................................................................. 18 2.3 – Justificação do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade ................................................................................... 19 2.3.1 – Caracterização da envolvente do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade ............................................. 19 2.3.2 – Descrição do projecto – componente energética .......................................................................................................... 21 2.3.3 – Descrição das alternativas do projecto ......................................................................................................................... 22 2.3.3.1 - Cenário 1 ............................................................................................................................................................... 23 2.3.3.2 - Cenário 2 ............................................................................................................................................................... 25 2.3.3.3 - Cenário 3 ............................................................................................................................................................... 27 2.3. 3.4 - Cenário 4 .............................................................................................................................................................. 29 2.3.3.5 – Cenário 5 .............................................................................................................................................................. 31 2.3.3.6 - Cenário 6: Não realização do projecto .................................................................................................................. 32 2.3.4 - Características Técnicas dos Equipamentos ................................................................................................................. 33 2.3.4.1 - Painéis Fotovoltaicos ........................................................................................................................................... 33 2.3.4.2 - Aerogeradores...................................................................................................................................................... 34 2.3.5 – Traçado dos cabos ........................................................................................................................................................ 34 2.3.6 – Planeamento do projecto .............................................................................................................................................. 36 3 – Caracterização do Ambiente Afectado ........................................................................................................................................... 37 3.1 – Localização geográfica .......................................................................................................................................................... 37 3.2 – Caracterização biofísica do local ........................................................................................................................................... 39 3.2.1 - Clima .............................................................................................................................................................................. 39 3.2.2 - Vento .............................................................................................................................................................................. 40 3.2.3 - Nevoeiro e neblina ......................................................................................................................................................... 40 3.3 – Qualidade do ar ...................................................................................................................................................................... 41 3.4 – Ambiente sonoro .................................................................................................................................................................... 42 3.5 - Geologia e geomorfologia ....................................................................................................................................................... 44 3.5.1 – Topografia ..................................................................................................................................................................... 45 3.5.2 - Hidrologia e hidrogeologia ............................................................................................................................................. 46 3.7 – Ecologia : fauna e flora ......................................................................................................................................................... 48 3.7.1 - Área Terrestre ................................................................................................................................................................ 49 3.7.1.1 - Cascalheiras consolidadas ................................................................................................................................... 50 3.7.1.2 - Solos esqueléticos ................................................................................................................................................ 51 3.7.1.3 - Falésias halófitas................................................................................................................................................... 52 3.7.1.4 - Afloramentos rochosos ......................................................................................................................................... 53 3.7.2 - Área marinha .................................................................................................................................................................. 53 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 4 3.7.2.1 - Sistema litoral ....................................................................................................................................................... 53 3.7.2.2 - Mar profundo ......................................................................................................................................................... 56 3.7.3 - Biodiversidade específica .............................................................................................................................................. 57 3.7.3.1 - Flora marinha ........................................................................................................................................................ 57 3.7.3.2 - Flora terrestre ........................................................................................................................................................ 58 3.7.3.3 - Fitoplâncton e zooplâncton marinho ..................................................................................................................... 63 3.7.3.4 - Invertebrados marinhos ........................................................................................................................................ 64 3.7.3.5 - Ictiofauna marinha ................................................................................................................................................. 66 3.7.3.6 - Herpetofauna......................................................................................................................................................... 67 3.7.3.7 - Avifauna ................................................................................................................................................................ 70 3.7.3.8 - Mamofauna ........................................................................................................................................................... 74 3.7.4 - Lista de espécies ........................................................................................................................................................... 75 3.7.4.1 - Flora ...................................................................................................................................................................... 75 3.7.4.2 - Fauna .................................................................................................................................................................... 80 3.8 – Paisagem ............................................................................................................................................................................... 92 3.9 – Ordenamento do território ...................................................................................................................................................... 96 3.9.1 - Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas.......................................................................................... 96 3.9.2 - Plano Director Municipal de Peniche ............................................................................................................................. 98 3.10 – Património .......................................................................................................................................................................... 104 3.10.1 Nota Histórica ............................................................................................................................................................... 104 3.10.2 - Património cultural existente na área a intervencionar no âmbito do projecto .......................................................... 109 3.10.2.1 - Forte de S. João Baptista.................................................................................................................................. 110 3.10.2.2 - Farol Duque de Bragança ................................................................................................................................. 111 3.10.2.3 - Cemitério ........................................................................................................................................................... 112 3.10.2.4 - Figueiras............................................................................................................................................................ 112 3.10.2.5 - Fundeadouro da Berlenga ................................................................................................................................ 113 3.10.2.6 - Gruta do Forte ................................................................................................................................................... 114 3.10.2.7 - Gruta da Perna Fina .......................................................................................................................................... 115 3.10.2.8 - Gruta da Praia ................................................................................................................................................... 116 3.10.2.9 - Gruta do Espanhol ............................................................................................................................................ 116 3.10.2.10 - Horta dos Reformados .................................................................................................................................... 117 3.10.2.11 - Bairro Comandante Andrade e Silva............................................................................................................... 117 3.10.2.12 - Sitio do Moinho................................................................................................................................................ 123 3.10.3 - Avaliação de Incidências Ambientais......................................................................................................................... 125 3.10.3.1 Fase de Construção ............................................................................................................................................ 125 3.10.3.1 Fase de Exploração ............................................................................................................................................ 126 3.10.4 - Avaliação dos Cenários ............................................................................................................................................. 126 3.10.4.1 - Cenário 1 ........................................................................................................................................................... 126 3.10.4.2 - Cenário 2 ........................................................................................................................................................... 127 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 5 3.10.4.3 - Cenário 3 ........................................................................................................................................................... 127 3.10.4.4 - Cenário 4 ........................................................................................................................................................... 128 3.10.4.5 - Cenário 5 ........................................................................................................................................................... 128 3.10.4.6 - Cenário 6 ........................................................................................................................................................... 128 3.10.5 - Medidas de Minimização............................................................................................................................................ 129 3.10.5.1 - Fase de Construção .......................................................................................................................................... 129 3.11 - Sócio-económica................................................................................................................................................................. 131 3.11.1 População residente..................................................................................................................................................... 131 3.11.2 – Economia do local ..................................................................................................................................................... 134 3.11.3 – Acessibilidades e infra-estruturas e equipamentos existentes na Ilha ..................................................................... 139 3.11.3.1 - Acessibilidades.................................................................................................................................................. 139 3.11.3.2 – Infra-estruturas ................................................................................................................................................. 140 3.11.3.3 – Equipamentos................................................................................................................................................... 144 4 – Avaliação das Incidências Ambientais .......................................................................................................................................... 145 4.1 – Qualidade do ar .................................................................................................................................................................... 145 4.2 – Ambiente sonoro .................................................................................................................................................................. 146 4.3 – Uso do Solo .......................................................................................................................................................................... 149 4.4 – Geologia e geomorfologia .................................................................................................................................................... 151 4.5 – Ecologia................................................................................................................................................................................ 152 4.5.1 - Fase de construção...................................................................................................................................................... 152 4.5.1.1 – Flora terrestre ..................................................................................................................................................... 152 4.5.1.2 - Herpetofauna....................................................................................................................................................... 156 4.5.1.3 - Mamofauna ......................................................................................................................................................... 156 4.5.1.4 - Avifauna .............................................................................................................................................................. 156 4.5.2 - Fase de exploração...................................................................................................................................................... 160 4.5.2.1 – Flora terrestre ..................................................................................................................................................... 160 4.5.2.2 – Herpetofauna ...................................................................................................................................................... 160 4.5.2.3 – Mamofauna......................................................................................................................................................... 161 4.5.2.4 – Avifauna.............................................................................................................................................................. 161 4.5.3 - Fase de encerramento ................................................................................................................................................. 163 4.6 – Paisagem ............................................................................................................................................................................. 164 4.7 – Ordenamento do território .................................................................................................................................................... 166 4.8 – Património ............................................................................................................................................................................ 167 4.9 – Sócio-economia.................................................................................................................................................................... 169 4.10 – Matriz de avaliação de impacte ambiental ......................................................................................................................... 170 5 – Medidas de Minimização............................................................................................................................................................... 174 6 – Monitorização Ambiental ............................................................................................................................................................... 177 7 – Lacunas Técnicas ou de Conhecimento ....................................................................................................................................... 180 8 – Conclusões ................................................................................................................................................................................... 180 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 6 9 – Bibliografia .................................................................................................................................................................................... 184 Anexos Técnicos Anexo I – Catálogo do painel fotovoltaico proposto pelo concorrente 1 Anexo II – Catálogo do painel fotovoltaico proposto pelo concorrente 2 Anexo III – Estrutura de suporte dos painéis fotovoltaicos Anexo IV - Catálogos dos aerogeradores propostos Anexo V – Relatório de ruído ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Instalação de painéis fotovoltaicos ...................................................................................................................................... 22 Figura 2 – Exemplo de uma instalação de baterias de um sistema fotovoltaico. ................................................................................. 22 Figura 3 - Implantação no terreno dos painéis fotovoltaicos, considerando o cenário 1...................................................................... 24 Figura 4 - Implantação no terreno dos painéis fotovoltaicos, considerando o cenário 2...................................................................... 26 Figura 5 - Localização dos aerogeradores (A) e caracterização do recurso eólico na zona circundante ao bairro pescadores (B). .. 28 Figura 6 - Implantação no terreno dos painéis fotovoltaicos e aerogeradores, considerando o cenário 3 e 4 .................................... 28 Figura 7 - Imagem de um disco de Stirling com 11 kW de potência .................................................................................................... 32 Figura 8 - Localização dos painéis fotovoltaicos, aerogeradores e definição do traçado dos cabos ................................................... 35 Figura 9 - Localização geográfica do Arquipélago das Berlengas ....................................................................................................... 37 Figura 10 - Mapa do Arquipélago das Berlengas ................................................................................................................................. 38 Figura 11 - Casa de máquinas dos geradores a gasóleo: pormenor da saída dos gases de combustão ........................................... 42 Figura 12 - Evidência de contaminação nas imediações da casa de máquinas .................................................................................. 42 Figura 13 - Localização dos pontos de medição de ruído junto ao gerador da EDP ........................................................................... 43 Figura 14 - Localização dos pontos de medição de ruído junto ao gerador do forte .......................................................................... 44 Figura 15 - Carta geológica do arquipélago das Berlengas ................................................................................................................. 45 Figura 16 - Carta de solos do arquipélago das Berlengas ................................................................................................................... 47 Figura 17 - Distribuição de Armeria Berlengensis na Ilha Berlenga ..................................................................................................... 60 Figura 18 - Distribuição de Thapsia villosa na Ilha Berlenga ................................................................................................................ 61 Figura 19 - Distribuição da Angelica pachycarpa na Ilha Berlenga ...................................................................................................... 62 Figura 20 - Mapa dos núcleos populacionais dos lagartos existentes na ilha (fonte ICNB)................................................................. 68 Figura 21 - Nidificação do Airo no Arquipélago das Berlengas (fonte ICNB) ....................................................................................... 70 Figura 22 - Localização das colónias de cagarra detectadas na ilha Berlenga na época de reprodução (fonte ICNB) ...................... 71 Figura 23 - Nidificação do corvo-marinho (fonte ICNB) ........................................................................................................................ 71 Figura 24 - Pontos notáveis na Ilha Berlenga ....................................................................................................................................... 95 Figura 25 - Planta de Síntese – PORNB - Localização painéis fotovoltaicos (Cenários 1, 2 e 3) e Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas. .......................................................................................................................................................... 98 Figura 26 - Planta de condicionantes da Ilha Berlenga ...................................................................................................................... 103 Figura 27 - Património arqueológico conhecido na Reserva Natural das Berlengas ......................................................................... 109 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 7 Figura 28 – Vista geral do Forte de São João Baptista. ..................................................................................................................... 110 Figura 29 – Vista geral do Farol Duque de Bragança – Ilha da Berlenga. ......................................................................................... 111 Figura 30 – Vista geral da face Sul da Ilha da Berlenga, assinalando-se o sítio do Cemitério. ......................................................... 112 Figura 31 – Vista geral da face Sudeste da Ilha da Berlenga, a Nordeste do Carreiro do Mosteiro, assinalando-se do sítio das Figueiras.............................................................................................................................................................................................. 113 Figura 32 – Vista geral do Fundeadouro da Ilha da Berlenga. ........................................................................................................... 114 Figura 33 – Vista geral da face Sudoeste da Ilha da Berlenga, junto ao Forte de S. João Baptista, assinalando-se a Gruta do Forte.. ............................................................................................................................................................................................................ 115 Figura 34 – Vista geral da zona do Brandal, na face Sudoeste da Ilha da Berlenga, assinalando-se a localização da Gruta do Perna Fina. .................................................................................................................................................................................................... 115 Figura 35 – Vista geral da zona do Carreiro do Mosteiro, na face Sudoeste da Ilha da Berlenga, assinalando-se a localização da Gruta do Espanhol. ............................................................................................................................................................................. 116 Figura 36 – Vista geral da chamada Horta dos Reformados.............................................................................................................. 117 Figura 37 – Vista geral do Bairro dos Pescadores. ............................................................................................................................ 118 Figura 38 – Vista geral do Carreiro do Mosteiro (anos 30 do séc. XX) antes da edificação do Bairro dos Pescadores, sendo ainda visíveis vestígios estruturais associáveis ao antigo mosteiro. ............................................................................................................ 119 Figura 39 – Vista geral do Castelinho. ................................................................................................................................................ 119 Figura 40 – Vista geral do Sitio do Moinho. ........................................................................................................................................ 123 Figura 41 – Vista geral das estruturas arqueológicas do sítio do Moinho. ......................................................................................... 125 Figura 42 – Pormenor do Anexo 1 – Património Arqueológico Conhecido – PORNB (Figura 27) com indicação dos sítios de interesse arqueológico existentes na área de intervenção do projecto. ............................................................................................. 127 Figura 43 – Acessibilidades existents para Peniche........................................................................................................................... 140 Figura 44 – Planta da situação existente na Ilha da Berlenga. .......................................................................................................... 141 Figura 45 – Actividades ruidosas e sua emissão de ruído. ................................................................................................................ 147 Figura 46 - Distribuição do chorão na ilha Berlenga ........................................................................................................................... 152 Figura 47 - Presença da espécie Armeria berlengensis na zona em estudo – cenário 1(Fonte ICNB) ............................................. 153 Figura 48 - Presença da espécie Armeria berlengensis na zona em estudo – cenário 2 (Fonte ICNB) ............................................ 153 Figura 49 - Presença da espécie Armeria berlengensis na zona em estudo – cenário 3 (Fonte ICNB) ............................................ 154 Figura 50 - Presença da espécie Angelica pachycarpa na zona em estudo – cenário 1(Fonte ICNB).............................................. 154 Figura 51 - Presença da espécie Angelica pachycarpa na zona em estudo – cenário 2 (Fonte ICNB)............................................. 155 Figura 52 - Presença da espécie Angelica pachycarpa na zona em estudo – cenário 3 (Fonte ICNB)............................................. 155 Figura 53 - Identificação dos locais de nidificação da cagarra, corvo-marinho e airo – cenário 1 (Fonte ICNB) ............................... 158 Figura 54 - Identificação dos locais de nidificação da cagarra, corvo-marinho e airo – cenário 2 (Fonte ICNB) ............................... 159 Figura 55 - Identificação dos locais de nidificação da cagarra, corvo-marinho e airo – cenário 3 (Fonte ICNB) ............................... 159 Figura 56 – Património arqueológico conhecido (PORNB) ................................................................................................................ 168 Figura 57 – Património Arqueológico Conhecido (PORNB) com indicação dos sítios de interesse arqueológico existentes na área de intervenção do projecto. ................................................................................................................................................................. 168 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 8 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Caracterização do cenário 1 ............................................................................................................................................... 23 Tabela 2 – Caracterização do cenário 2. .............................................................................................................................................. 25 Tabela 3 – Caracterização do cenário 3. .............................................................................................................................................. 27 Tabela 4 – Caracterização do cenário 4. .............................................................................................................................................. 30 Tabela 5 – Caracterização do cenário 5. .............................................................................................................................................. 31 Tabela 6 – Cronograma de trabalhos de implementação dos equipamentos ...................................................................................... 36 Tabela 7 – Medições de ruído efectuadas junto ao gerador da EDP ................................................................................................... 43 Tabela 8 – Medições de ruído efectuadas junto ao gerador do forte ................................................................................................... 44 Tabela 9 – Lista dos taxa com maior importância conservacionista que ocorrem na Reserva (fonte Dossier de candidatura a Reserva da Biosfera). ........................................................................................................................................................................... 63 Tabela 10 – Sensibilidade paisagística em função da qualidade e fragilidade visual .......................................................................... 93 Tabela 11 - Critérios utilizados na avaliação de impactes ambientais ............................................................................................... 171 Tabela 12 - Matriz de avaliação dos impactes ambientais ................................................................................................................. 171 Tabela 13- Medidas de minimização a implementar durante as várias fases de projecto ................................................................. 176 Tabela 14 - Comparação entre os cenários propostos no que diz respeito aos impactes ambientais .............................................. 181 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 9 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 10 1 - Introdução O presente relatório tem como objectivo principal a identificação e avaliação das incidências ambientais da vertente energética (produção de energia com recurso a Fontes de Energia Renovável - FER) do Projecto “Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade”. Este projecto, “Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade, visa tornar a Ilha da Berlenga tendencialmente auto-sustentável dotando-a com capacidades de geração e armazenamento de energia a partir de fontes renováveis, mais concretamente através de energia fotovoltaica e/ou eólica , para além da produção de água potável e tratamento das águas residuais e dos resíduos sólidos produzidos na Ilha. Pretende-se igualmente vir a implementar uma solução integrada, inovadora e tendo por base um conjunto de tecnologias já perfeitamente testadas e disponíveis no mercado que permita uma melhoria significativa na qualidade de vida dos residentes, dos pescadores e dos turistas que a visitam. Este estudo irá apenas incidir sobre a primeira componente do Projecto Berlenga, a componente energética, dado que as restantes componentes não carecem, em termos legais, da necessidade deste procedimento de avaliação. É do conhecimento público que a Ilha da Berlenga acolhe um número significativo de espécies de fauna e flora importantes para a conservação da natureza e da biodiversidade, constituindo um ecossistema impar e de grande atractividade turística, quer para simples lazer quer para turismo cientifico ou ecoturismo. A necessidade de um programa de intervenção integrado na ilha, procurando dar resposta para os diversos problemas ambientais que a presença humana tem provocado ao longo dos anos, nomeadamente ao nível da produção energética, do abastecimento de água potável a ao sistema de tratamento de resíduos e efluentes, levou à criação da Associação Berlenga Laboratório de Sustentabilidade, em Abril de 2008, que congrega o Município de Peniche, o Centro Para Prevenção da Poluição (C3P) o qual representa igulamente a National Aeronautics and Space Administration (NASA) e International Trade Bridge Inc (ITC), o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), as Energias de Portugal S.A. (EDP), a AdP – Águas de Portugal, SGPS, S.A., o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC Porto), a GALP Energia, S.A., a EFACEC Engenharia S.A., o Instituto de Soldadura e Qualidade Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 11 (ISQ), o Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), a Sociedade de Advogados Rui Pena, Arnaut & associados e a Marinha Portuguesa através da Direcção de Faróis. A sensibilidade ecológica do local, aliada ao facto de se tratar de território classificado da Rede Nacional de Áreas Protegidas e da Rede Natura 2000, além dos demais impactes a nível do ambiente antrópico obrigou à realização de uma análise cuidada dos principais problemas / incidências da componente energética do projecto por forma a minimizar possíveis conflitos e contribuir para uma boa implementação dos equipamentos e redução dos impactes. Este documento constitui o relatório final do Estudo de Incidências Ambientais elaborado pelo consórcio do projecto Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade, e submetido a avaliação pela Associação Berlenga Laboratório de Sustentabilidade. No quadro do actual regime jurídico, e não obstante estarmos em território da Reserva Natural das Berlengas, por se tratar de um espaço totalmente abrangido por Dominio Publico Maritimo, o licenciamento da obra é competência da Administração da Região Hidrográfica do Tejo (ARH Tejo). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 12 2 –Definição do âmbito do Estudo de Incidências Ambientais No âmbito das orientações estratégicas nacionais para a Política Energética Portuguesa (RCM n.º 63/2003, de 28 de Abril) e revistas pela Estratégia Nacional para a Energia (RCM n.º 169/2005, de 24 de Outubro) e com vista ao cumprimento das metas nacionais no âmbito da Directiva e do Protocolo de Quioto, os projectos de fontes de energias renováveis estão enquadrados em matéria ambiental pelo regime legal de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), no caso da energia eólica e pequena hidroeléctrica, pelo DecretoLei n.º 225/2007 de 31 de Maio, e de forma mais geral pelo Despacho conjunto n.º 51/2004, de 31 de Janeiro. Este despacho aplica-se à produção de electricidade a partir das seguintes fontes de energia renovável (FER) - Eólica, Biomassa e Biogás, Ondas e Fotovoltaica. Assim, para os projectos de produção de energia eléctrica a partir de FER não abrangidos por AIA, cuja localização esteja prevista para área de Reserva Ecológica Nacional (REN), Rede Natura 2000 ou Rede Nacional de Áreas Protegidas devem ser sempre objecto de Estudo de Incidências Ambientais (EIA) e de um processo a instruir pelo proponente, a analisar pela Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) competente, em articulação com o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) quando tal resulte da legislação em vigor, e a aprovar pelo Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional (MAOTDR). Os Estudos de Incidências Ambientais de projectos de produção de electricidade a partir de FER não são tão profundos como os estudos de impacte ambiental, mas analisam genericamente as mesmas matérias, para identificar, em particular, possíveis e principais condicionantes existentes nas zonas mais directamente afectadas pela instalação dos respectivos projectos. Assim, a metodologia geral aplicada para o desenvolvimento deste Estudo de Incidências Ambientais teve como objectivo atingir plenamente os requisitos expressos na legislação em vigor sobre a matéria. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 13 O presente Estudo de Incidências Ambientais será constituído pelas seguintes peças: a) Descrição do Projecto e apresentação dos vários cenários possíveis; b) Descritores ambientais considerados para projectos de produção de electricidade a partir da energia fotovoltaica e/ou eólica, onde cada descritor será analisado de acordo com a situação de referência e a situação futura, tendo em conta o projecto proposto: - Qualidade do ar - Ambiente Sonoro - Geologia e geomorfologia - Uso do Solo - Ecologia: Fauna e flora - Paisagem - Ordenamento do Território - Património arqueológico - Sócio-economia c) Avaliação de impactes ambientais para os diferentes cenários traçados, medidas de minimização; d) Plano de acompanhamento ambiental e monitorização ambiental. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 14 2.1 – Objectivos gerais do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade O projecto “Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade”, resultou de um desafio lançado pelo Presidente da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia, aquando da visita do secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa à ilha da Berlenga, no âmbito das comemorações do XXV aniversário da Reserva Natural das Berlengas, promovidas pelo Município de Peniche. A abertura e empenho demonstrado pelo Senhor Secretário de Estado resultou na formação de um grupo de empresas e instituições em torno deste projecto que pretende ser um marco ao nível do desenvolvimento sustentável nacional promovendo, entre outros, a candidatura da Berlenga à Reserva da Biosfera, galardão internacional atribuído pela UNESCO. O projecto “Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade” e a Associação com o mesmo nome é representado por um consórcio de entidades, nomeadamente Município de Peniche, o Centro Para Prevenção da Poluição (C3P) o qual representa igulamente a National Aeronautics and Space Administration (NASA) e International Trade Bridge Inc (ITC), Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), Energias de Portugal S.A. (EDP), AdP – Águas de Portugal, SGPS, S.A., Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC Porto), GALP Energia, S.A., EFACEC Engenharia S.A., Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), Sociedade de Advogados Rui Pena, Arnaut & associados e Marinha Portuguesa através da Direcção de Faróis. Este grupo tem vindo a trabalhar em conjunto no sentido de definir as necessidades críticas para a ilha da Berlenga, tendo em conta as carências identificadas para suporte das actividades humanas na ilha. Procedeu-se à procura e avaliação das soluções mais adequadas às condições físicas da ilha e à sazonalidade da procura, assim como à identificação das necessidades, das potenciais soluções tecnológicas e do plano conceptual para a ilha obteve-se através do consenso entre os membros da equipa nuclear. Identificada a necessidade de preservar um património natural e histórico de grande valor, ficou desde logo definida a missão do Projecto “Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade” em dotar a ilha de recursos próprios na área da Energia, Água, Tratamento de Águas Residuais, assim como Gestão de Resíduos Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 15 Sólidos produzidos na ilha. Pretende-se desta forma minorar os impactos negativos que a presença do Homem deixa na Ilha, reduzindo a sua pegada ecológica, com a diminuição dos custos e dos prejuízos ambientais da presença humana. A Berlenga conta com uma população flutuante que chega a atingir os 1000 visitantes diários em especial nos meses de verão, atinguindo uma média de cerca de 40000 visitantes por ano. Valor este muito acima do estipulado na lei, que prevê um limite máximo de ocupação na ordem das 350 pessoas/dia. As infra-estruturas existentes actualmente na Ilha não têm, de todo, capacidade de resposta para estas invasões pontuais, o que leva indiscutivelmente ao comprometimento do equilíbrio natural. O projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade pretende ainda desempenhar um papel demonstrativo na integração e uso de soluções tecnológicas actualmente disponíveis no mercado, para a resolução de problemas antrópicos de específicos associados, por exemplo, à melhoria de condições de vida em contextos territoriais remotos e isolados. Não é objectivo do presente projecto promover um turismo de massas, mas sim dotar a ilha de condições mínimas para a prática de um turismo sustentável, em que o respeito pela natureza impere, o turismo de natureza e ecoturismo. A produção de energia com recurso a fontes renováveis, em concreto, permitirá reduzir a emissão de cerca 40 ton/ano de CO2 provenientes dos três geradores que se encontram actualmente em funcionamento na ilha. Estas soluções técnicas disponibilizarão energia 24h por dia, o que permitirá um substancial aumento da qualidade de vida da população residente da Berlenga, dos visitantes, além de contribuírem também para a diminuição/eliminação da poluição local emitida pelos geradores. Trata-se, sem dúvida, de um trabalho pioneiro a nível nacional, principalmente por se tratar de um local isolado, detentor de um património natural riquíssimo e onde se pretende compatibilizar na medida do possível o usufruto humano e a preservação dos ecossistemas. A replicabilidade do sistema integrado a implementar na Berlenga poderá garantir a sobrevivência, de uma forma sustentada, de populações que vivam em situações de grande isolamento, assim como a possibilidade de assegurar às populações vitimas de guerras, em particular campos de refugiados, assim como vitimas de catástrofes naturais, terem acesso às condições básicas de sobrevivência, evitando a propagação de epidemias, tão frequentes nestes cenários, por falta de água potável e tratamento de resíduos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 16 Conforme referido anteriormente, a prioridade do Projecto – Berlenga Laboratório de Sustentabilidade é dotar a ilha de auto-suficiência, ao nível da produção de energia, de água potável, tratamento de águas residuais e tratamento de resíduos sólidos. Existem várias soluções técnicas presentemente em avaliação, no entanto, as soluções de compromisso devem ser atingidas no sentido de melhor servir os interesses da ilha. A quase totalidade da água potável disponível na ilha é engarrafada. Os pontos de água existentes são de água salgada, existindo uma distribuição racionada de água doce. Actualmente não existe qualquer tipo de tratamento de águas residuais, sendo as descargas efectuadas directamente no mar, enquanto que os resíduos sólidos produzidos são colocados em contentores e transportados para Peniche. O plano conceptual energético para a ilha terá uma natureza global, abrangendo as necessidades da comunidade para cada zona da ilha (bairro dos pescadores e restaurante, Forte de S. João Baptista, apoio de campismo e farol). Além disso, o plano global apresentará soluções que abrangem desde a prevenção da poluição até à conservação dos recursos e reciclagem, incorporando soluções tanto de alta como de baixa tecnologia. As últimas tecnologias de energias renováveis comercialmente disponíveis serão incorporadas no plano para garantir, armazenar e fornecer energia de forma sustentável, reduzindo quase a zero a actual necessidade de diesel. As fontes de energia podem incluir várias combinações de energia solar, eólica e numa fase posterior energia resultante da biomassa, pilhas de combustível, solar termoeletrico e/ou energia das ondas. No seu total, o projecto Berlenga Laboratório de Sustentabilidade comporta um investimento de cerca de dois milhões de euros assegurados em parte pelo capital próprio da Associação, resultante da comparticipação financeira dos associados. Baseia-se na responsabilidade social das instituições, no seu cariz inovador a nível nacional e pretende criar as condições necessárias para que o legado da Ilha da Berlenga seja perpetuado ao longo das gerações vindouras, atenuando de modo significativo os impactes causados pelas gerações actuais. A entidade gestora do projecto, Associação “Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade”, está ciente que as acções previstas constituirão um motivo de orgulho não só para as entidades envolvidas, como para Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 17 Portugal, e marcará uma nova era ao nível do desenvolvimento sustentável dos territórios e da preservação do património natural. 2.2 – Enquadramento legal A Reserva Natural das Berlengas foi criada pelo Decreto-lei n.º264/81 de 3 de Setembro, com o objectivo de promover a protecção dos valores naturais do arquipélago e da área marinha circundante e também ordenar, controlar e melhorar o seu potencial recreativo, permitindo o desenvolvimento sustentado das actividades económicas compatíveis com a sua defesa. O valor natural do arquipélago das Berlengas e a riqueza biológica da região marinha adjacente são amplamente reconhecidos, o que justificou a inclusão daquela área na Rede Natura 2000 e também a criação de uma zona protecção especial (ZPE), dada a sua importância para a avifauna marinha. A definição do Sitio PTCON0006, Arquipélago das Berlengas, publicado através da Resolução do Conselho de Ministros n.142/97 de 28 de Agosto, tem como objectivo garantir a conservação de habitats e de espécies da flora e fauna constantes nos anexos da Directiva n.º 92/43/CEE do Conselho, de 21de Maio. Complementarmente, toda a área terrestre e marinha se encontra classificada como Zona de Protecção Especial (Decreto-Lei n.º 384-B/99, de 23 de Setembro) ao abrigo da Directiva Europeia Aves (Directiva 79/409/CEE) - a ZPE das Ilhas Berlengas. A Reserva Natural das Berlengas criada em 3 Setembro de 1981, através do Decreto-Lei nº 264/81, foi alvo de reclassificação através do Decreto-Regulamentar n.º 30/98 de 23 de Dezembro alterado pelo Decreto-Regulamentar n.º 32/99 de 20 de Dezembro. Os principais regulamentos aplicáveis nesta área protegida são o Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas (Resolução de Conselho de Ministros n.º 180/2008, de 24 de Novembro) e o Plano Director Municipal de Peniche (Resolução de Conselho de Ministros n.º 139/95, de 16 de Novembro), e que serão analisados no capítulo relativo ao Ordenamento do Território. De referir apenas que o regulamento do Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas define a zonação, bem como os tipos de usos/actividades permitidos , excepcionados de forma inequívoca as intervenções no âmbito do projecto Berlenga Laboratório de Sustentabilidade. Assim, de acordo com o artigo 16 º da Resolução do Conselho de Ministros nº 180/2008, de 24 Novembro, alínea g), nas áreas de protecção parcial é permitido a realização das acções e a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 18 “Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade”. É igualmente referido no artigo 18º, ponto 4, que nas áreas de protecção complementar, são permitidas obras de demolição, reconstrução e alteração nas edificações existentes, bem como a realização das acções e a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto “Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade”. 2.3 – Justificação do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade 2.3.1 – Caracterização da envolvente do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade A Ilha da Berlenga sofreu ocupação humana desde épocas remotas. Segundo os dados disponíveis é no século XV que se deve ter instalado um núcleo de pescadores na Berlenga, que terá posteriormente aumentado. Em 1941 é edificado o Bairro de Pescadores, para abrigar os pescadores que entretanto utilizavam a construção do forte abandonado. Algumas dessas casas passariam a ser frequentadas por veraneantes que as ocupariam definitivamente e alguns deles construíram sob concessão, à semelhança das casas dos pescadores na envolvência do bairro. Actualmente a ilha da Berlenga tem uma ocupação sazonal, com maior destaque na época balnear (entre Maio e Setembro). A sua população é constituída por pescadores (que realizam o seu trabalho na zona), e por visitantes da ilha, que poderão pernoitar na ilha, o apoio de campismo existente no local e ou em quartos adjacentes ao restaurante e no Forte São João Baptista. A presença dos visitantes está limitada a 350 pessoas/dia, embora este número seja ultrapassado diariamente durante a época balnear. A produção de energia eléctrica na ilha é feita com recurso a três (3) grupos geradores a diesel (dois grupos de 50 kW e um grupo de 30 kW) para a produção de, aproximadamente, 30 MWh a que corresponde um consumo médio de 15.000 L anuais e 40 ton/ano de emissões de CO2. O fornecimento de energia eléctrica é limitado ao período do ano de maior afluência à ilha e não está disponível vinte 24 horas por dia. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 19 Com base nos objectivos definidos neste projecto e que já foram descritos atrás, foi definido o seguinte conjunto de acções a serem implementadas durante toda a fase de desenvolvimento do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade: Implementar um sistema de tratamento de águas residuais, através da colocação de um sistema de tamisagem permitindo efectuar um tratamento primário, garantindo a remoção eficaz da parte sólida do efluente e diminuindo significativamente a carga orgânica do mesmo no meio receptor (projecto de execução e licenciamento em curso, com aquisição prevista para Junho de 2009). Instalar um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU), integrando as componentes de redução e valorização na gestão de RSU. Para tal serão utilizadas soluções técnicas, ambientais e sociais viáveis. Para tal, será adquirido um compactador de resíduos e será implementado um sistema de triagem/ compactação de resíduos (projecto de execução e licenciamento em curso, com aquisição prevista para Junho de 2009). Conceber um sistema de produção de água potável através de água salgada: está em discussão a utilização de um equipamento que efectue um processo de osmose inversa para produção de água doce e que seja auto–suficiente através de fornecimento de energia renovável, incorporado no mesmo equipamento. A implementação desta acção encontra-se em fase de estudo para a selecção da tecnologia a implementar. Fornecer energia eléctrica à ilha tendo por base fontes renováveis, reduzindo significativamente a necessidade actual de diesel, o qual é transportado para a ilha por via marítima e armazenado em depósitos existentes na ilha com os respectivos impactes e riscos ambientais. Este novo sistema tirará partido do recurso renovável presente na ilha, nomeadamente o recurso solar e/ou eólico. Foram definidos 5 cenários contemplando a utilização de diferentes tipos de energias renováveis, tendo como objectivo, avaliar qual a melhor solução em termos técnicos e ambientais para a ilha Berlenga. É esta componente especifica que está em avaliação neste Estudo. Tendo em conta o conhecimento sobre a biodiversidade existente na ilha assim como a lesgislação que a protege, é fundamental cumprir a legislação ambiental aplicável a este tipo de projecto. Desta forma e com o objectivo de estar em alinhamento com a legislação em vigor é apresentado este Estudo de Incidências Ambientais, relativo à componente energética do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 20 2.3.2 – Descrição do projecto – componente energética Com vista a tornar a ilha da Berlenga auto-sustentável ao nível energético, ter energia eléctrica disponível durante as 24 horas do dia e reduzir substancialmente os impactes e riscos ambientais inerentes ao usode geradores a diesel, foram elaborados vários cenários tendo em conta o recurso disponível, os constrangimentos ecológicos e ambientais, as servidões e outras limitações de ordenamento do território existentes. Os vários cenários foram definidos tendo em vista maximizar os benefícios que trará para a ilha e minimizar os impactos que eventualmente poderá causar na Reserva. Assim, foram definidos vários cenários procurando sempre que possível, uma complemetaridade de fontes de energia diversificada por forma a maximizar os recursos existentes, assim como demonstrar a possibilidade de integração e funcionamento de diferentes sistemas. Os vários cenários construídos são apresentados nos capítulos seguintes. É importante salientar que no âmbito do desenvolvimento do projecto Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade, durante o ano de 2008, teve lugar um concurso com vista à aquisição do equipamento para produção de energia eléctrica na ilha da Berlenga tendo por base fontes renováveis, que permitiu identificar os equipamentos e soluções tecnológicas existentes no mercado e se encontra suspenso a aguardar o parecer ambiental para adjudicação do mesmo. Todos os cenários definidos permitem um faseamento na instalação dos equipamentos. O sistema acenta fundamentalmente no recurso a painéis fotovoltaicos e/ou a micro-geração eólica, e foi concebido para estar dimensionado para ter 3 dias de autonomia, com recurso a baterias. Nas figuras seguintes apresentam-se alguns exemplos de instalações semelhantes à idealizada para a ilha da Berlenga. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 21 Figura 1 – Instalação de painéis fotovoltaicos Figura 2 – Exemplo de uma instalação de baterias de um sistema fotovoltaico. 2.3.3 – Descrição das alternativas do projecto Como referido atrás, foram desenvolvidos cinco cenários para produção de energia renovável considerando energia fotovoltaica e/ou eólica, três dos quais consideram apenas a utilização de painéis fotovoltaicos/solar concentrada. Os restantes cenários consideram simultaneamente a utilização de painéis fotovoltaicos e mini-turbinas eólicas. Todos os cenários apresentados permitem satisfazer as principais necessidades energéticas da ilha, assim como reduzir significativamente as emissões de CO2 dos geradores a diesel e o transporte e manuseamento do combustível, uma vez que estes funcionarão apenas em situações pontuais Como consequência, esta solução permitirá obter uma poupança anual superior a 15.000 € referente aos custos do diesel consumido e seu respectivo transporte para a ilha. O local selecionado para a instalação dos equipamentos, para todos os cenários desenvolvidos, é sensivelmente o mesmo, com variações resultantes das soluções técnicas propostas. Situa-se nas proximidades do Bairro dos Pescadores, numa área com fraco valor florístico, e muito próximo dos locais de maior utilização energética, o que permitirá reduzir os impactes associados ao transporte de energia e passagem de cabos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 22 2.3.3.1 - Cenário 1 O cenário 1 considera a instalação de 80 kW de painéis fotovoltaicos numa zona rochosa coberta por chorão, localizada por cima do bairro dos pescadores. Foram definidos dois dimensionamentos com base na informação disponibilizada por duas entidades que concorreram ao fornecimento do sistema de energia eléctrica para o projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade. As características da instalação dimensionada encontram-se na Tabela 1. De notar que a área ocupada pela totalidade dos painéis não inclui eventuais áreas necessárias para evitar sombras sobre os outros painéis. Tabela 1 – Caracterização do cenário 1 Cenário 1 Potência instalada (kW) Nº painéis Área ocupada (sem espaço entre painéis) Localização Orientação do painel (m2) Concorrente 1 Concorrente 2 80 80 445 308 578.5 585.2 Por cima do bairro dos pescadores Sudeste (- 45º) Inclinação Energia produzida (kWh) Óptima (29º) 103.2 103.2 A Figura 3 apresenta a área ocupada pela implantação dos painéis fotovoltaicos no terreno, já considerando os espaços para evitar o sombreamento de outros painéis. A área total ocupada é de aprox. 700 m2. A disposição dos painéis poderá não ser exactamente a representada na figura. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 23 Figura 3 - Implantação no terreno dos painéis fotovoltaicos, considerando o cenário 1. O custo desta solução é de aproximamente 590.000 €. A instalação será concentrada num único espaço, reduzindo a necessidade de cabos para transporte de energia eléctrica, e localizado numa zona povoada por chorão das areias (Carpobrutus edulis), considerada como sendo uma espécie infestante (Plano sectotrial Rede Natura 2000). A montagem do sistema obrigará à remoção do chorão nessa zona, produzindo impactes positivos ao nível do controlo da mancha de distribuição desta espécie na ilha da Berlenga. Neste cenário não haverá qualquer impacte ambiental em termos de produção de ruído e emissões de CO2. No entanto, esta solução terá algum impacte visual e exige uma maior ocupação de uma área quando comparada com os restantes cenários considerados. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 24 2.3.3.2 - Cenário 2 O cenário 2 considera a instalação de 80 kW de painéis fotovoltaicos distribuídos entre a zona localizada por cima do bairro dos pescadores e pelos telhados de várias habitações (restaurante, balneário e casa de frio/arrumos de Câmara Municipal). As duas alternativas foram definidas com base na informação disponibilizada por duas entidades que concorreram ao fornecimento do sistema de energia eléctrica para o projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade. As características da instalação dimensionada encontram-se na Tabela 2. De notar que a área ocupada pela totalidade dos painéis não inclui eventuais áreas necessárias para evitar sombras sobre os outros painéis. Tabela 2 – Caracterização do cenário 2. Cenário 2 Concorrente 1 Concorrente 2 Conjunto 1 de painéis Potência instalada (kW) 40 40 Nº painéis 223 154 289.9 292.6 Área ocupada (sem espaço entre painéis) (m2) Localização Por cima do bairro dos pescadores Orientação do painel Sudeste (- 45º) Inclinação Óptima (29º) Energia produzida (kWh) 51.6 51.6 38.7 38.7 215 147 280 280 Conjunto 2 de painéis Potência instalada (kW) Nº painéis Área ocupada (sem espaço entre painéis) Localização (m2) No telhado das habitações Orientação do painel Inclinação Energia produzida (kWh) Potência total (kW) Energia total produzida (kWh) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade Sudeste (- 45º) Quase horizontal 46.053 45.482 78.7 78.7 97.653 97.082 25 A Figura 4 apresenta a área ocupada pela implantação dos painéis fotovoltaicos no terreno, já considerando os espaços para evitar o sombreamento de outros painéis. A área total ocupada na zona por cima do bairro dos pescadores é de aproximadamente 350 m2. A disposição dos painéis poderá sofrer ligeiras alterações representada na figura. Figura 4 - Implantação no terreno dos painéis fotovoltaicos, considerando o cenário 2. Esta solução tem um custo idêntico ao cenário anterior (aproximadamente 590.000 €). As conclusões deste cenário são semelhantes à do cenário anterior apenas com a diferença dos painéis fotovoltaicos estarem distribuídos entre os telhados de várias habitações e a zona localizada por cima do bairro dos pescadores. A zona por cima do bairros dos pescadores tem uma ocupação de cerca de 350 m2, zona povoada pelo chorão das areias (Carpobrutus edulis). Também neste cenário será nulo o impacte ambiental em termos de produção de ruído. O impacte visual desta solução existe, mas é significativamente inferior ao do cenário 1. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 26 2.3.3.3 - Cenário 3 O cenário 3 (Figura 6) é constituído por 70 kW de painéis fotovoltaicos instalados por cima do bairros dos pescadores, ocupando uma área de aproximadamente 580 m2. Este cenário considera também a instalação de mini-turbinas eólicas. No caso do concorrente 1 considera-se a instalação de uma turbina de 5 kW e uma turbina de 2.5 kW. Para o concorrente 2 considerou-se a instalação de uma turbina de 6 kW e uma de 2.5 kW. Ambas as turbinas estariam apoiadas numa torre de 9 m. Na Tabela 3 resume-se o cenário descrito: Tabela 3 – Caracterização do cenário 3. Cenário 3 Concorrente 1 Concorrente 2 Solar fotovoltaico Potência instalada (kW) 70 Nº painéis 389 270 505.7 513 Área ocupada (sem espaço entre painéis) (m2) Localização Por cima do bairro dos pescadores Orientação do painel Sudeste (- 45º) Inclinação Óptima (29º) Energia produzida (kW/h) 90.3 Eólico Potência instalada (kW) Nº aerogeradores 7.5 8.5 2 2 Localização Indicado na figura 5 e 6 Energia produzida (kWh) 8.25 9.35 Energia total produzida (kWh) 98.55 99.65 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 27 Na figura seguinte apresenta-se a localização dos aerogeradores a instalar: h/ano 0.0 - 390.0 390.1 - 713.8 713.9 - 1,003.5 1,003.6 - 1,276.2 1,276.3 - 1,548.9 1,549.0 - 1,889.7 A 1,889.8 - 2,281.6 2,281.7 - 2,656.5 B 2,656.6 - 2,980.3 2,980.4 - 3,235.9 3,236.0 - 3,474.5 3,474.6 - 3,764.2 3,764.3 - 4,309.5 Figura 5 - Localização dos aerogeradores (A) e caracterização do recurso eólico na zona circundante ao bairro pescadores (B). Cenário 3 Edificado Cenário 4 (sobreposto no cenário 3) Área de protecção de Património Arqueológico Aerogeradores (cen ários 3 e 4) Figura 6 - Implantação no terreno dos painéis fotovoltaicos e aerogeradores, considerando o cenário 3 e 4 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 28 O custo deste cenário é da ordem de 560.000 €, correspondendo à solução mais económica das apresentadas. À semelhança do cenário 1, esta solução apresenta as vantagens de ser uma instalação concentrada de painéis solares numa zona ocupada pelo chorão (Carpobrutus edulis), com uma menor área ocupada (580 m2). A instalações do aerogeradores introduz impacte visual e sonoro, embora o ruído provocado seja facilmente integrado no ruído ambiente. A mais-valia da conjugação de várias fontes de energia renovável para além de maximizar os recursos existentes, será um desafio ao nível da capacidade de gestão dos diferentes sistemas de produção e sua integração numa solução única. 2.3. 3.4 - Cenário 4 O cenário 4 (Figura 6) considera a instalação de 35 kW de painéis fotovoltaicos por cima do bairro dos pescadores e aproximadamente 40kW nos telhados de algumas habitações (restaurante, balneário e casa de frio/arrumos de Câmara Municipal). Este cenário considera ainda a instalação de duas turbinas eólicas. A localização das mesmas está representada na Figura 5. No caso do concorrente 1 considera-se a instalação de uma turbina de 5 kW e uma turbina de 2.5 kW. Para o concorrente 2 considerou-se a instalação de uma turbina de 6 kW e uma de 2.5 kW. Ambas as turbinas estariam apoiadas numa torre de 9 m. O cenário 4 encontra-se resumido Tabela 4. O custo deste cenário ronda os 590.000 €. As conclusões deste cenário são semelhantes à do cenário 3 apenas com a diferença dos painéis fotovoltaicos estarem distribuídos entre os telhados de várias habitações e a zona localizada por cima do bairro dos pescadores, com uma ocupação de cerca de 290m2, povoada por chorão das areias. A instalações do aerogeradores introduz impacte visual e sonoro, embora o ruído provocado seja facilmente integrado no ruído ambiente. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 29 Tabela 4 – Caracterização do cenário 4. Cenário 4 Concorrente 1 Concorrente 2 Solar fotovoltaico – conjunto 1 Potência instalada (kW) 35 Nº painéis Área ocupada (sem espaço entre painéis) (m2) Localização 223 154 289.9 292.6 Por cima do bairro dos pescadores Orientação do painel Sudeste (- 45º) Inclinação Óptima (29º) Energia produzida (kWh) 45.15 Solar fotovoltaico – conjunto 2 Potência instalada (kW) Nº painéis Área ocupada (sem espaço entre painéis) Localização 38.7 38.2 215 147 (m2) 280 No telhado das habitações Orientação do painel Sudeste (- 45º) Inclinação Energia produzida (kWh) Quase horizontal 46.053 45.482 7.5 8.5 2 2 Eólico Potência instalada (kW) Nº aerogeradores Localização Indicado na figura 5 e 6 Energia produzida (kWh) 8.25 9.35 99.453 99.982 Energia total produzida (kWh) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 30 2.3.3.5 – Cenário 5 Com o objectivo de introduzir uma segunda fonte de geração de energia renovável ao sistema de produção de energia eléctrica construiu-se um quinto cenário utilizando energia solar concentrada (CSP). A energia solar concentrada consiste num conjunto de espelhos que concentram a radiação solar num ponto atingindo temperturas elevadas. Esse calor produzido serve como fonte para produção de energia eléctrica. Uma das tecnologias disponíveis baseada no conceito de energia solar concentrada é o disco de stirling, solução que é proposta neste cenário. O cenário 5 considera a instalação de, simultaneamente, energia solar fotovoltaica e energia solar concentrada (ESC) com o objectivo de ter uma complementaridade de soluções de produção de energia eléctrica com base no recuso renovável. Tabela 5 – Caracterização do cenário 5. Cenário 5 Concorrente 1 Concorrente 2 Solar fotovoltaico Potência instalada (kW) Nº painéis Área ocupada (sem espaço entre painéis) (m2) Localização Orientação do painel 69 384 266 499.2 505.4 Por cima do bairro dos pescadores Sudeste (- 45º) Inclinação Energia produzida (kWh) Óptima (29º) 89.01 89.01 Energia solar concentrada (ESC) Potência instalada (kW) 11 Nº estruturas 1 Área ocupada (m2) Localização ± 8.5 Por cima do bairro dos pescadores Enegia produzida (kWh) Energia total produzida (kWh) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 16.5 46.053 45.482 31 Figura 7 - Imagem de um disco de Stirling com 11 kW de potência A Figura 7 apresenta um exemplo de um disco de stirling (Energia Solar Concentrada). Este equipamento tem um diâmetro aproximado de 8.5m, será localizado por cima do bairro dos pescadores tal como representado na figura 3. O custo deste cenário é o mais elevado de todos, da ordem dos 600.000€, com alguma incerteza associada ao custo do disco de Stirling. Esta solução apresenta como vantagem o facto de não ter impacte em termo de ruído. O principal impacte deste cenário é o impacte visual, provocado pelo disco de Stirling. 2.3.3.6 - Cenário 6: Não realização do projecto Uma das alternativas consideradas neste trabalho é a não realização do projecto. Obviamente que será mantida a situação de referência, não havendo portanto impactes ambientais negativos e/ou positivos adicionais para a lém dos existentes. Este cenário irá manter a problemática associada à produção de energia eléctrica na Ilha, recorrendo obrigatoriamente aos geradores a diesel. Continuaram a persistir os impactes ambientais associados a esta prática, nomeadamente o ruído, as emissões de CO2 e os riscos associados ao transporte e manuseamento do diesel em ambiente marinho. Este cenário contraria a ambiciosa política nacional energética de promoção do uso de energias renováveis e impede que sejam atingidos os objectivos do protocolo de Quioto. Além do mais, é de todo inconcebível que uma Área Protegida não seja uma montra de utilização de recursos renováveis. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 32 2.3.4 - Características Técnicas dos Equipamentos O projecto é composto pelos seguintes equipamentos: Painéis fotovoltaicos, cabos, torres, casa das baterias. 2.3.4.1 - Painéis Fotovoltaicos Os catálogos dos painéis fotovoltaicos apresentam-se nos Anexos I e II, sendo os painéis propostos pelos concorrentes 1 e 2 respectivamente. Fixação ao solo A fixação ao solo dos painéis fotovoltaicos será feita com base em dois métodos alternativos: Blocos de betão com utilização de fixação mecânica (espessura mínima dos blocos 100 mm e um peso mínimo de 900 kg); Fixação directa no terreno com utilização de resina química (terá de existir argamassa de nivelamento). A resina química a utilizar é resina para fixações com a percentagem mais baixa de componentes tóxicos existente, não contendo fenol ou mercaptano. Estrutura de suporte O esquema da estrutura de suporte encontra-se representado no Anexo III. Poderão existir alterações à disposição dos painéis face ao representado nas figuras. Os cabos de ligação às baterias e posteriormente às casas do Bairro dos Pescadores, será feita via superficial em calha técnica. O percurso dos cabos será tanto quanto possível, utilizando os trilhos já definidos na ilha existentes junto ao Bairro dos Pescadores (ver Figura 8). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 33 2.3.4.2 - Aerogeradores Nos cenários apresentados anteriormente, o concorrente 1 utiliza os aerogeradores Fortis Montana 5 kW e Turban 2,5 kW desenvolvido pelo INETI. O concorrente 2 utiliza os aerogeradores Proven 6 kW e Turban 2.5 kW. Os catálogos dos aerogeradores descritos são apresentados no Anexo IV. Fixação ao solo – Fundações A fixação dos aerogeradores ao solo será feita através de estruturas de betão que variam de dimensões em função do aerogerador utilizado. Assim, para o aerogerador Proven 6 kW as fundações terão as seguintes dimensões: 3 x 3 x 1.2 m (comprimento x largura x profundidade). Para o aerogerador Fortis Montana 5 kW, as fundações terão as seguintes dimensões 2.5 x 2.5 x 1 m (comprimento x largura x profundidade). A fundação do aerogerador Turban 2,5 kW terá aproximadamente as seguintes dimensões: 2 x 2 x 1 m (comprimento x largura x profundidade). Para auxiliar o processo de montagem, uma segunda fundação será necessária por cada aerogerador. Essa fundação terá as seguintes dimensões: 1.5 x 1.5 x 1 m (comprimento x largura x profundidade). Em função das características especificas da localização dos aerogeradores o número de fundações auxiliares poderá ser optimizado, reduzindo o seu número e as suas dimensões. Torre As torres dos aerogeradores serão tubulares metálicos com uma altura não superior a 18 metros. 2.3.5 – Traçado dos cabos Conforme o descrito na Figura 8, foi definido um traçado dos cabos de fornecimento de energia eléctrica o qual aproveita os caminhos/trilhos já existentes na Ilha. Por exemplo, no que diz respeito ao fornecimento de energia ao Forte de São João Baptista, foi considerado o caminho já existente. A mesma situação deverá ser considerada para as outras infra-estruturas (restaurante, apoio de campismo, mini-mercado, ect). Os novos caminhos que serão abertos são aqueles que estão identificados a vermelho na Figura 8, e que essencialmente serão os cabos que têm como ponto de partida os paineis fotovoltaicos. Quanto aos aerogeradores, será utilizado o caminho já existente na ilha. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 34 Legenda: Caminhos/trilhos já existentes Área ocupada pelos painéis fotovoltaicos Localização dos aerogeradores Tr açado dos cabos (proposto) Figura 8 - Localização dos painéis fotovoltaicos, aerogeradores e definição do traçado dos cabos Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 35 2.3.6 – Planeamento do projecto De seguida (Tabela 6), apresenta-se um cronograma de trabalhos relativo à construção da componente energética com recurso a fontes de energia renovável (FER), que está sujeito a alterações em função das condições climatéricas verificadas ou do tempo de entrega do equipamento. Tabela 6 – Cronograma de trabalhos de implementação dos equipamentos Tarefas Projecto Berlenga – Sistema de Energia Duração Elaboração e apresentação do projecto 8 dias 2 Aprovisionamento 15 dias 3 Fabrico e inspecção 13 dias 4 Transporte de equipamento 7 dias 5 12 dias 10 Preparação da zona de intervenção Fornecimento, montagem e construção dos equipamentos de acordo com o projecto de execução aprovado Comissionamento e ensaios de execução aprovado Inspecção final dos sistemas Ensaio do sistema global e verificação de garantias Serviço experimental e recepção 11 Entrada em exploração do sistema 7 8 9 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade S2 S3 S4 S5 S6 S7 35 dias 1 6 S1 10 dias 6 dias 6 dias 6 dias 6 dias 6 dias 36 3 – Caracterização do Ambiente Afectado 3.1 – Localização geográfica Situado no Atlântico Nordeste, o Arquipélago das Berlengas dista cerca de 5.7 milhas do Cabo Carvoeiro, sendo composto por três grupos de ilhas: a Berlenga com alguns ilhéus e recifes adjacentes, as Estelas e os Farilhões–Forcadas (Figura 9). Estes grupos de ilhas estendem-se para NNW da Berlenga, segundo um comprimento de pouco mais de 4 milhas. O arquipélago tem uma superfície terrestre aproximada de 104 ha. A Berlenga, a maior das ilhas, ocupa uma área emersa de 78.8 ha. Adicionalmente, os ilhéus e recifes em seu redor ocupam uma área emersa de 3.8 ha. Figura 9 - Localização geográfica do Arquipélago das Berlengas Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 37 Devido à forma bastante recortada da interface terra-mar, a Berlenga tem um perímetro de cerca 4 km (Figura 10). Aquele valor pode ser considerado relativamente importante para uma ilha rochosa que mede aproximadamente 1500 metros de comprimento por 800 metros de largura. 2 Em termos administrativos, as ilhas foram incluídas no concelho de Peniche, com cerca de 77,7 km de superfície total, situadas na orla superior da plataforma costeira portuguesa, na latitude de 39º 20’ N. Na proximidade da costa continental portuguesa, as Berlengas constituem actualmente o único conjunto de ilhas rochosas, com características geográficas de arquipélago oceânico. Figura 10 - Mapa do Arquipélago das Berlengas Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 38 3.2 – Caracterização biofísica do local (adaptado do Dossier de Candidatura da Berlenga a Reserva da Biosfera) 3.2.1 - Clima Portugal situa-se entre as latitudes de 37º e 42º Norte, ficando desta forma nas vizinhanças de um limite importante da circulação atmosférica. No Verão está sob a influência das massas de ar associadas ao anticiclone subtropical dos Açores, que origina tempo seco e estável, e, no Inverno, sob as massas de ar dos sistemas frontais das depressões das latitudes médias, que produzem tempo chuvoso e instável. Tendo em conta a acção destes fenómenos atmosféricos distinguem-se duas grandes variedades de clima no continente português: o Atlântico que se faz sentir mais a norte, sobretudo no NW, e o Mediterrâneo que caracteriza a parte sul. No norte registam-se as mais elevadas precipitações e as mais baixas temperaturas médias anuais. Para além destes factores mais gerais que condicionam o clima de Portugal e apesar da sua extensão ser relativamente pequena, Portugal continental tem um clima que varia significativamente de região para região e de local para local. As principais causas da variação são o relevo, a latitude, a distância ao mar e, para as regiões da faixa litoral, a orientação dominante da linha da costa. A orientação da linha de costa é um factor climático relevante na definição climática da Reserva Natural das Berlengas dada a sua localização no mar perto da costa W de Portugal continental. Este factor determina a direcção das brisas locais, com variação de periodicidade diurna, geradas pelo desigual aquecimento e arrefecimento das superfícies do mar e da terra. O efeito conjunto da circulação geral na região e das brisas locais determina o regime do vento na costa. O enquadramento geofísico associado ao regime de vento na costa origina fenómenos de afloramento costeiro (upwelling), caracterizado pela subida das águas frias profundas junto à costa, que condicionam o clima da região e contribuem para a elevada produtividade das águas. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 39 3.2.2 - Vento O regime do vento na costa é determinado pelo efeito conjunto da circulação atmosférica de larga escala e das brisas locais de variação periódica diurna. Os ventos predominantes na faixa costeira ocidental sopram, em geral, de N e NW. Quando a circulação geral origina calma, na faixa costeira ocidental sopra uma brisa de W ou NW durante o dia, com máxima intensidade para o fim da tarde. Durante a noite a brisa sopra de E ou SE com máxima intensidade de madrugada. Esta variação diurna do vento é particularmente importante quando a amplitude térmica diurna é elevada, isto é, quando o céu está pouco nublado ou limpo. Nas condições meteorológicas que predominam na região, que provocam vento do quadrante W, o efeito das brisas origina, em geral, o aumento da velocidade do vento para o fim da tarde e a sua diminuição de madrugada. Por outro lado, em condições que originam vento do quadrante E, o vento tende a aumentar de velocidade durante a madrugada e a diminuir durante o dia, devido ao efeito das brisas. Em especial durante o Verão, o vento sopra de N ou NW (regime de nortada) na faixa costeira de Portugal continental, devido à acção conjunta do anticiclone dos Açores, da depressão de origem térmica formada na Península Ibérica e da brisa marítima. O aumento do gradiente horizontal de pressão sobre esta região provoca um aumento de velocidade do vento, com máximos para o fim da tarde e mínimos durante a madrugada. Os ventos mais fortes são geralmente de SW associados a depressões muito cavadas. Nestas condições o vento é na maioria dos casos mais intenso na parte norte da costa ocidental, onde atinge normalmente valores superiores a 28 nós. Os ventos de terra (do quadrante E) normalmente não excedem os 16 nós de velocidade. Durante a aproximação e passagem de um sistema frontal o vento roda, em geral, de S ou SW para NW no sentido dos ponteiros do relógio. 3.2.3 - Nevoeiro e neblina Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 40 O nevoeiro forma-se por condensação de vapor de água do ar, em condições de estabilidade, nas camadas mais baixas da atmosfera. Os processos de formação de nevoeiro no mar e em terra são diferentes e, em muitos casos, quando ocorre nevoeiro no mar não ocorre em terra e vice-versa. No mar, junto à costa ocidental o nevoeiro ocorre com mais frequência de Verão, durante a madrugada e manhã. Este tipo de nevoeiro forma-se por arrefecimento, com o aumento de estabilidade e condensação do vapor de água da camada mais baixa da atmosfera, quando o ar marítimo se desloca lentamente de W para E, por acção de vento fraco, e encontra as regiões de baixa temperatura da água do mar á superfície junto à costa. O nevoeiro tende a dissipar-se, para a tarde, como consequência do aquecimento e da intensidade da brisa. O nevoeiro afecta a costa ocidental com maior frequência e intensidade a norte do Cabo Carvoeiro. No Inverno, em toda a costa o nevoeiro forma-se em especial durante a noite (em condições de vento fraco, situação anticiclónica e céu limpo), quando uma massa de ar frio e estável se desloca sobre uma superfície relativamente quente. Nesta época do ano existem também condições favoráveis à ocorrência de nevoeiros frontais, associados ao grande contraste térmico entre uma massa de ar quente (sector quente do sistema frontal) e uma massa de ar frio relativamente estável e ao vento fraco. A neblina tem a mesma origem que o nevoeiro, ocorre em condições semelhantes, mas, corresponde a situações em que a visibilidade é reduzida a cerca de 1 a 5 km. 3.3 – Qualidade do ar As infra-estruturas presentes na ilha que provocam emissões atmosféricas são as seguintes: Restaurante : chaminé da cozinha e zona do grelhador; Casa das máquinas: geradores a gasóleo; Bairro dos pescadores: chaminés de cozinha; Embarcações motorizadas, incluindo os barcos dos pescadores, e barcos de transporte de passageiros; Tractor pertencente à Direcção-Geral de Faróis; Minimercado: grelhador. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 41 Figura 11 - Casa de máquinas dos geradores a gasóleo: pormenor da saída dos gases de combustão Figura 12 - Evidência de contaminação nas imediações da casa de máquinas De referir que as emissões gasosas dos geradores a diesel nunca foram monitorizadas. Também não existe qualquer registo da existência de caracterização da qualidade do ar naquele local. Foi estimado que de acordo com o consumo de gasóleo efectuado na ilha, no ano de 2008 de 15 000 litros, resultaram na produção de cerca de 40 toneladas de dióxido de carbono. 3.4 – Ambiente sonoro Em situação de referência, na ilha da Berlenga, as únicas fontes de ruído significativas existentes no local são os seguintes: Actividade inerente ao farol; Tractor pertencente à Direcção-Geral de Faróis; Geradores de energia eléctrica; Embarcações motorizados; Restaurante, nos meses de verão; Fauna existente na ilha, com predominância de gaivotas; Visitantes da ilha. De referir ainda as actividades humanas ruidosas, que são de maior intensidade no período do verão, altura esta em que a Ilha da Berlenga recebe várias centenas visitantes diariamente. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 42 Em termos de caracterização das fontes ruidosas mais significativas, foi efectuado uma caracterização de ruído, no âmbito da realização do mapa de ruído, encomendado pela Câmara Municipal de Peniche. O estudo foi realizado pela empresa ESTA - Laboratório de Monitorização Ambiental. As caracterizações foram efectuadas no dia 1 de Junho de 2005. O relatório de ruído fica remetido para o Anexo V . Cada ponto encontra-se localizado por intermédio das suas coordenadas e dum excerto da cartografia. 1) Fonte pontual – gerador da EDP Tabela 7 – Medições de ruído efectuadas junto ao gerador da EDP Ponto Coordenadas LAeq (dBA) Data Hora -27314.06 60.5 01-06-2005 11:00 -27324.05 71 01-06-2005 11:16 X Y 1 -118174.85 2 -118169.48 2 1 Figura 13 - Localização dos pontos de medição de ruído junto ao gerador da EDP Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 43 2) Fonte pontual – gerador do Forte Tabela 8 – Medições de ruído efectuadas junto ao gerador do forte Ponto Coordenadas LAeq (dBA) Data Hora -27638.75 66.8 01-06-2005 12:08 -27635.24 68.4 01-06-2005 12:16 X Y 1 -118587.61 2 -118587.05 2 1 Figura 14 - Localização dos pontos de medição de ruído junto ao gerador do forte 3.5 - Geologia e geomorfologia A caracterização geológica do arquipélago foi feita com base na notícia explicativa da Carta Geológica de Portugal, Folha 26-C, Peniche, IG, dos ilhéus das Berlengas, Estelas e Farilhões. Na Berlenga existem dois tipos principais de granito: o vermelho e o esbranquiçado. O granito vermelho domina, constituindo a quase totalidade da ilha, aflorando o granito esbranquiçado apenas a NE e SW, desta. Os granitos são calcoalcalinos, monzoníticos, biotíticos cujo grão varia desde fino a grosseiro. Intrusivos nas rochas graníticas aparecem filões e massas de aplito-pegmatíticos de maior ou menor dimensão, muitos não cartografáveis mas que se podem observar localmente. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 44 A ocorrência desta fracturação terá certamente tido influência, conjuntamente com outros factores, nos processos de erosão marinha, na constituição de numerosas grutas de maior ou menor dimensão e reentrâncias onde se acumulam areias de praia, sendo também visíveis alguns terraços marinhos dando origem às formações quaternárias que também se encontram presentes sobretudo na Berlenga, apesar da sua expressão ser reduzida e observável apenas localmente. De seguida apresenta-se a Carta geológica do Arquipélago das Berlengas (Figura 15). Figura 15 - Carta geológica do arquipélago das Berlengas 3.5.1 – Topografia A cartografia dos declives, permite-nos visualizar a ilha da Berlenga e realçar as arribas mais abruptas, sobressaindo a zona planáltica e o estreito istmo que, através de declives abruptos, liga a parte NE da ilha, conhecida por Ilha Velha, à sua parte SE. Nestas zonas planálticas os declives são muito suaves ou praticamente nulos (0º a 0,1º - 9,9º). Verifica-se que a zona onde as arribas são praticamente verticais se situa na ilha da Berlenga junto à Cova do Sono, o que pode ser observado na vista parcial em situação de SW, a zona mais espectacular, logo Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 45 seguida da arriba virada a NW do Vale da Quebrada, e a nordeste, na ilha Velha, em frente ao ilhéu Maldito. Em qualquer destas situações se passa da zona de planalto para o mar em declives muito acentuados, praticamente na vertical no primeiro caso, e quase na vertical nos restantes casos. De realçar ainda que é apenas na ilha Velha que podemos observar uma área mais extensa, situada a sudeste, com declives mais moderados ainda que acentuados (10º a 45º), precisamente uma área muito utilizada pelas gaivotas, que aí provocam forte erosão do solo e nitrificação. 3.5.2 - Hidrologia e hidrogeologia A natureza das rochas e as suas formas não permitem a formação de linhas de água nem armazenamento ou acumulação significativa de água doce. Quando as arribas são mais espraiadas, ou seja menos abruptas, formam uma espécie de vales nas arribas permitindo a escorrência da água. Existem poucas situações destas, sendo mais visível topograficamente a linha de escorrência do vale da Quebrada e a do Vale da gruta das Pombas, e com uma dimensão mais reduzida a que termina na pequena garganta do Zé da Carolina. Dada a grande fracturação da rocha já referida, nalgumas grutas em situação de concha, é possível a acumulação de águas pluviais de escorrência, em pequenas quantidades, detectáveis localmente, mas insuficientes par abastecimento humano regular. Esta situação conduziu à necessidade de construir cisternas para abastecimento de água doce. Este é efectuado por captação pluvial, complementada nos períodos de maior carência pelo abastecimento feito a partir de Peniche, através de embarcações que transportam regularmente água da rede pública até à ilha. Pode-se portanto considerar, em termos práticos, que não existem recursos hídricos de superfície ou provenientes de aquíferos, apenas pequenos reservatórios, construídos há muito, para recolha de água doce de escorrência, como por exemplo na Gruta da Praia do Carreiro do Mosteiro, e na Gruta da Praia do Carreiro da Fortaleza. Estas reservas de água são actualmente incipientes e impróprias para consumo humano, devido ao mau estado de conservação dos reservatórios. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 46 3.6 – Uso do Solo O arquipélago é dominado por zonas apédicas, sendo que as áreas de solos existentes têm reduzida dimensão e características de elevada vulnerabilidade às condições climáticas, não possuindo interesse para as actividades agrícolas. Figura 16 - Carta de solos do arquipélago das Berlengas Na ilha da Berlenga, a mancha de solos existente é dominada por zonas apédicas de afloramentos rochosos de granito (Figura 16). Na ilha Velha apenas são referidos os afloramentos rochosos de granito ou quartzodiorito (Arg). Na Berlenga coexistem dois tipos de solos com horizontes reduzidos, numa mancha alongada no sentido NE / SW constituída por Og + Eg + Arg, bordejada e dominada por zonas apédicas de afloramentos rochosos de granito (Arg). Esta mancha é constituída maioritariamente por Solos Litólicos Húmicos de Rankers de granitos ou quartzodioritos (Og) em consociação com Litossolos dos Climas de Regime Xérico de granitos ou Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 47 quartzodioritos (Eg), caracterizando-se estes últimos por serem esqueléticos de regime xérico. Nesta mancha de consociação ainda aparecem afloramentos rochosos apédicos intercalados. Localmente poderão existir, em qualquer das ilhas, manchas de solo com dimensão muito reduzida e características idênticas às que já foram referidas, mas não podem ser devidamente cartografadas à escala 1:5.000. Solos da Reserva Agrícola Nacional (RAN) Os solos das ilhas do arquipélago possuem características inerentes às tipologias descritas, que não os incluem nas capacidades de uso abrangidas pela Reserva Agrícola Nacional (RAN), não estando por isso abarcados por esta classificação. Além disso, a maior parte das ilhas é constituída por superfícies apédicas. 3.7 – Ecologia : fauna e flora A informação utilizada neste capítulo foi retirada do Dossier de Candidatura da Berlenga a Reserva da Biosfera da UNESCO, e complementada com dados e cartografia disponibilizados pelo ICNB. A importância das Berlengas enquanto ecossistema insular, o valor biológico da área marinha envolvente, o elevado interesse botânico, o seu papel enquanto habitat de nidificação e local de passagem migratória de avifauna marinha e a presença de interessante património arqueológico subaquático contribuíram para que em Setembro de 1981 o arquipélago fosse classificado como Reserva Natural. Em 1998, a Reserva Natural da Berlenga é reclassificada (tendo em conta o novo enquadramento legal das áreas protegidas (Decreto-Lei nº 19/93, de 23 de Janeiro) passando-se a designar por Reserva Natural das Berlengas, constituída por todo o arquipélago das Berlengas e uma área de Reserva Marinha, passando assim a fazer parte da rede nacional de Áreas Protegidas. O valor e importância desta área para a conservação da biodiversidade a nível europeu foram posteriormente reconhecidos ao ser classificada como Zona de Protecção Especial (ZPE) para Aves Selvagens (Directiva n.º 79/409/CEE) e integrada na Rede Natura 2000 (Directiva Habitats 92/43/CEE). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 48 Como habitats com particular significância para a conservação da diversidade biológica destacam-se aqueles que se encontram classificados ao abrigo da Directiva Habitats (Directiva 92/43/CEE, transposta para o quadro legal nacional pelo Decreto- Lei n.º 49/2005) a saber: 1170 Recifes 1230 Falésias com vegetação das costas atlânticas e bálticas 1310 Vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies anuais das zonas lodosas e arenosas 1420 Matos halófilos mediterrânicos e termoatlânticos (Sarcocornetea fruticosi) 1430 Matos halonitrófilos (Pegano-Salsoletea) 8330 Grutas marinhas submersas ou semi-submersas Merecem especial distinção os recifes (1170), de origem rochosa, e as grutas marinhas submersas ou semi-submersas (8330), onde vivem comunidades bentónicas vegetais e animais (algumas de elevado valor económico e importância na economia local) e onde ocorrem comunidades não bentónicas associadas em apreciável estado de conservação. As falésias costeiras expostas aos fortes ventos marítimos assumem particular importância, possibilitando a existência de vegetação de fendas mais ou menos terrosas, própria de rochedos graníticos litorais (1230). De seguida apresenta-se uma breve descrição dos principais tipos de habitats que cobrem a área terrestre e área marinha. 3.7.1 - Área Terrestre Flora e habitats Na área terrestre da ilha da Berlenga ocorre uma repartição muito fragmentada dos habitats sendo que na Primavera (época correspondente à cobertura máxima pela vegetação), o recobrimento é pouco elevado nos afloramentos rochosos e nas falésias e muito elevado nos restantes habitats. De notar que a riqueza florística é elevada nas zonas antrópicas (farol, aldeia dos pescadores) uma vez que nestas zonas estão presentes tanto as espécies endémicas como as espécies ruderais, e na zonas onde a presença de gaivotas é mais reduzida/habitats ‘cascalheiras consolidadas’ e solos esqueléticos’. A riqueza florística é mais baixa nas zonas onde a pressão da colónia de gaivotas é elevada, nas zonas onde está presente o Carpobrotus edulis e onde dominam os habitats com vegetação pioneira ou adaptada Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 49 a situações particulares (afloramentos rochosos, falésia halófitas). De seguida apresenta-se uma breve descrição dos principais tipos de habitats que cobrem a área terrestre, por ordem de representatividade em termos de área ocupada. 3.7.1.1 - Cascalheiras consolidadas Estas zonas são caracterizadas por depósitos de fragmentos de granito, de dimensões variáveis, nas encostas de quase toda a periferia da ilha da Berlenga ou pontualmente no planalto como resultado da actividade humana e meteorização da rocha mãe. Este fenómeno, que resulta da fragmentação, degradação e acumulação do granito ao longo do tempo é concordante com a antiguidade do maciço granítico do qual faz parte a ilha. Possui o habitat rochoso do Anexo B-I ao Decreto-Lei n.º 49/2005 (Directiva Habitats) denominado por ‘Falésias com vegetação das costas atlânticas e bálticas (1230), com vegetação de fendas mais ou menos terrosas de rochedos graníticos litorais e expostos aos ventos marítimos. Espécies características Aqui desenvolve-se uma vegetação de espécies hemicriptófitas, com ramos robustos e prostrados ou em roseta de folhas aderentes aos solo tais como Silene latifolia subsp. mariziana, Echium rosulatum, Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis. Destaca-se ainda a presença de Angelica pachycarpa e Armeria berlengensis. Processos naturais importantes A vegetação natural diminui a acção dos processos erosivos abrandando o processo de aplanamento da ilha constituindo um refúgio de biodiversidade onde se incluem espécies raras ou endémicas como Angelica pachycarpa e Armeria berlengensis. Principais impactes humanos Os principais impactes com origem antrópica resultam essencialmente da presença de pessoas que utilizam os trilhos pedestres e o acesso aos pesqueiros e que por vezes circulam fora dos locais indicados. Nestes locais ocorre o pisoteio com eliminação ou deterioração das plantas acentuando-se o processo erosivo. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 50 Por outro lado, nos casos em que os trilhos atravessam áreas de maior concentração de espécies alóctones com carácter invasivo existe o risco de ocorrer alastramento dessas espécies, com o impacte inerente sobre as espécies endémicas. Práticas de gestão relevantes As principais orientações de gestão são: impedir a introdução de espécies não autóctones/controlar as alóctones invasoras (Carpobrotus edulis e Oxalis pes-caprae), assegurar que a limpeza dos trilhos é efectuada de forma selectiva preservando as espécies endémicas, manter a circulação pedonal dentro dos trilhos definidos, fiscalizar o acesso aos pesqueiros. 3.7.1.2 - Solos esqueléticos São áreas com uma acumulação restrita de solo ou com solo muito compactado que ocorrem sobretudo na zona mais alta e aplanada da Berlenga. Espécies características Desenvolvem-se plantas de pequeno porte, ramificadas ou com as folhas dispostas em roseta: Herniaria berlengiana, Crassula tillaea, Trifolium suffocatum, Poa infirma, Evax pygmea subsp. pygmea, Plantago coronopus, etc. A esta vegetação de ocorrência precoce sucede um conjunto de espécies de maiores dimensões e mais generalista como Silena sabriflora e Pulicaria microcephala. Processos naturais importantes A vegetação natural diminui a acção dos processos erosivos abrandando o processo de aplanamento da ilha. Principais impactes humanos Os mesmos que para as cascalheiras descritos acima. Práticas de gestão relevantes As mesmas que para as cascalheiras descritos acima. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 51 3.7.1.3 - Falésias halófitas Correspondem às encostas sobranceiras ao mar expostas aos ventos marítimos carregados de sal (salsugem) e à exposição vertical. Possui três dos habitats rochosos da Directiva Habitats (Decreto-Lei n.º 49/2005): Nos casos em que Suaeda vera é a espécie dominante está-se na presença do Habitat ‘Matos Halófilos mediterrânicos e termoatlânticos do subtipo Comunidades de Suaeda vera (1420pt5)’, nos casos em que a vegetação é geralmente dominada por Crithmum maritimum o habitat é denominado por ‘Falésias com vegetação das costas atlânticas e bálticas (1230)’ e nos casos em que Cochlearia danica é dominante o habitat é ‘Vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies anuais de zonas arenosas e lodosas subtipo vegetação anual de arribas litorais atlânticas (1310pt5)’. Espécies características São características desta comunidade Suaeda vera, Crithmum maritimum, Lavatera arborea, Spergularia rupicola, Cochlearia danica, Dactylis marina e Armeria berlengensis. Em termos faunísticos algumas zonas assumem especial relevância para as espécies de aves marinhas que nidificam, sobretudo nos locais mais escarpados. Processos naturais importantes A vegetação natural diminui a acção dos processos erosivos abrandando o processo de aplanamento da ilha constituindo um refúgio de biodiversidade onde se incluem espécies raras ou endémicas como Angelica pachycarpa e Armeria berlengensis. Principais impactes humanos Os principais impactes com origem antrópica resultam essencialmente da presença de pessoas que por vezes circulam fora dos locais indicados nomeadamente fora dos acessos aos pesqueiros. Nestes locais ocorre o pisoteio com eliminação ou deterioração das plantas acentuando-se o processo erosivo. A aproximação de pessoas aos locais de nidificação das espécies marinhas, quer seja para observação directa quer seja para pescar, é um outro factor de perturbação para aquelas espécies. Práticas de gestão relevantes A gestão passa por: manter a circulação pedonal dentro dos locais definidos, fiscalizar o acesso aos pesqueiros, condicionar o acesso às áreas de nidificação, ordenar/regulamentar a actividade de Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 52 observação das espécies da fauna e condicionar a pesca nas proximidades das arribas na época de nidificação das espécies. 3.7.1.4 - Afloramentos rochosos Formações rochosas, com numerosas fendas, onde se desenvolve vegetação dispersa e de pequeno porte (rasteira) possuindo os Habitats ‘Matos halonitrofilos (1430)’ e ‘Falésias com vegetação das costas atlânticas e bálticas (1230)’. Espécies características Presença frequente de Frankenia laevis, Lobularia maritima, Umbilicus rupestris, Armeria berlengensis, Angelica pachycarpa, Herniaria lusitanica entre outras. Processos naturais importantes A vegetação natural diminui a acção dos processos erosivos abrandando o processo de aplanamento da ilha constituindo um refúgio de biodiversidade onde se incluem espécies raras ou endémicas como Angelica pachycarpa, Herniaria lusitanica e Armeria berlengensis. Principais impactes humanos Os principais impactes com origem antrópica resultam essencialmente da presença de pessoas que por vezes circulam fora dos locais indicados nomeadamente fora dos acessos aos pesqueiros. Nestes locais ocorre o pisoteio com eliminação ou deterioração das plantas acentuando-se o processo erosivo. Práticas de gestão relevantes As principais orientações de gestão são: manter a circulação pedonal dentro dos locais definidos e fiscalizar o acesso aos pesqueiros. 3.7.2 - Área marinha 3.7.2.1 - Sistema litoral Corresponde às profundidades que vão desde a zona acima do nível das marés mas atingidas pelo rebentar das ondas até à profundidade de 200 m, a qual corresponde à profundidade média do bordo da Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 53 plataforma continental na costa Portuguesa. São áreas importantes para as espécies de peixes com interesse comercial e também como zonas de concentração e alimentação de aves marinhas que nidificam na Berlenga e de cetáceos. Inclui o habitat ‘Recifes (1170)’ da Directiva Habitats, sendo constituído por substratos rochosos e/ou outros substractos de origem biológica (recifes de Sabelaria). Suporta comunidades bentónicas vegetais e animais, bem como comunidades não bentónicas associadas. Habitat caracterizado por uma diversidade biológica muito elevada. Apresenta sazonalmente um crescimento muito acentuado dos povoamentos de algas, que durante a Primavera e Verão dominam toda a paisagem subaquática até à profundidades onde a luz é suficiente (ca. 30 m). Um outro habitat de importante valor conservacionista constante da Directiva Habitats são as ‘Grutas marinhas submersas ou semi-submersas (8330). Nos fundos dominados pela ocorrência de sedimentos móveis ocorrem organismos endobentónicos suspensívoros e depositívoros. Espécies características As espécies características da zona das marés são: Fucus spiralis, Ulva rigida, Melaraphes neritoides, Chthamalus montagui, Mytilus galloprovincialis; Pollicipes pollicipes, Palaemon serratus, Parablennius spp. Espécies características das zonas inferiores: Cystoseira usneoides, Laminaria ochroleuca, Codium spp., Actinia equina, Anemonia sulcata, Spirographis spallanzanii, Octopus vulgaris, Paracentrotus lividus, Marthasterias glacialis, Maja squinado, Palinurus elephas, Galathea strigosa, Cionia intestinalis Clavelina lepadiformes, Epinephelus marginatus, Conger conger, Dicentrarchus labrax, Diplodus spp.. Processos naturais importantes Corresponde à zona eufótica, onde decorrem os principais processos de produção primária no oceano, sustentando biomassas elevadas de fitoplâncton e macroalgas, bem como de peixes e invertebrados planctónicos e bentónicos. Ocorrem intensas trocas entre os domínios pelágico e bentónico, através da chuva de detritos, da produção de larvas de invertebrados bentónicos e das interacções tróficas. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 54 Importantes populações de peixes e invertebrados com elevado valor comercial ocorrem nesta zona, a qual serve também de habitat de alimentação de aves e mamíferos marinhos. Principais impactes humanos Apesar da legislação em vigor para a RNB limitar pesca comercial e a apanha de marisco (são interditas as seguintes actividades: utilização de artes de arrastar e de emalhar, a utilização de armadilhas de abrigo, a prática da caça submarina, pesca ilegal de percebe, a captura do mero e a apanha de algas), estas limitações são muitas vezes ignoradas e algumas actividades são praticadas de forma ilegal. Entre outras artes utilizadas ilegalmente dentro da área marinha protegida, a utilização de artes de arrastar será talvez aquela que mais efeitos nocivos terá para o ambiente marinho sendo relatado com muita frequência a presença de embarcações a operarem este tipo de arte na área da RNB. Verifica-se também, entre outras actividades não permitidas, a caça submarina, maioritariamente na zona dos Farilhões, e relativamente aos percebes (crustáceo cirrípede), a recolha fora da época, a apanha em zonas interditas e a apanha com a utilização de escafandro autónomo. Por outro lado ocorre ainda: danificação dos fundos marinhos e consequente afectação das algas associadas em consequência do efeito de erosão causado pelas âncoras e fateixas para fundear as embarcações de recreio; aumento dos resíduos, nomeadamente plásticos, devido ao seu abandono por parte dos turistas que usufruem da praia e da ilha em geral, os quais acabam por alcançar o mar; diminuição da transparência da água devido ao enriquecimento de nutrientes provocado pelo despejo dos efluentes líquidos sem tratamento adequado produzidos na zona do Bairro dos pescadores e da Fortaleza. Práticas de gestão relevantes Entre as orientações de gestão destaca-se o incremento da fiscalização de forma a impedir a utilização de artes de pesca ou actividades ilegais. Neste âmbito reveste-se de particular relevância a gestão da apanha do percebe através do zonamento das áreas de apanha e do envolvimento dos próprios mariscadores que constituíram uma Associação local com o objectivo de desenvolver acções que de forma directa ou indirecta promovam a conservação e a sustentabilidade económica deste recurso. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 55 Para além deste aspecto, outras medidas de gestão estão a ser implementadas, nomeadamente: ordenar as actividades de recreio e lazer, ordenar a prática de desporto da natureza, regular o tráfego de embarcações e o estabelecimento de zonas de amarração, condicionar o acesso às grutas, promover o tratamento das águas residuais antes do seu lançamento ao mar. 3.7.2.2 - Mar profundo Estas áreas localizam-se abaixo dos 200 m de profundidade, caracterizando-se por águas profundas que podem ir até aos 520 m de profundidade. Corresponde a uma área restrita na escarpa do canhão da Nazaré na zona Norte da Reserva, possuindo substracto rochoso. Espécies características O declive íngreme das desta zona é dominado por uma mistura de filtradoressuspensívoros e filtradoresdetritívoros como corais (Scleractinia) destacando-se Lophelia pertusa, gorgónias (Alcyonidae), leques-domar (Pennatulidae), anémonas (Actiniaria) e também ouriços-do-mar (Echinoidea) Cidaris cidaris. Processos naturais importantes Zona de transição entre a plataforma costeira e o mar profundo, caracterizada por correntes ascendentes ricas em nutrientes e por intensos fluxos de sedimentos que transportam fitodetritos para zonas mais profundas. Sustenta uma megafauna filtradora/suspensívora diversificada. Principais impactes humanos Apesar da legislação em vigor para a RNB limitar a pesca comercial e a apanha de marisco na área protegida sendo interditas algumas actividades, estas limitações são muitas vezes ignoradas e algumas actividades são praticadas de forma ilegal. Práticas de gestão relevantes A gestão destas áreas passa sobretudo por um incremento da fiscalização e pela utilização/fomento das actividades piscatórias tradicionais de forma a compatibilizar a actividade económica com a conservação dos recursos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 56 3.7.3 - Biodiversidade específica De seguida apresentam-se os aspectos mais relevantes acerca do valor e importância desta área para a conservação da biodiversidade das espécies. 3.7.3.1 - Flora marinha É reconhecido que a flora marinha do arquipélago das Berlengas tem elevado interesse biológico. No entanto, apesar da área marinha representar cerca de 99% da área total da Área Protegida, não existem trabalhos publicados ao nível de revistas científicas internacionais e as referências existentes referem-se exclusivamente a dois trabalhos publicados em relatório (Gaspar, 1993 e Bengala et al.1997 do IMAR Instituto do Mar, Centro Interdisciplinar de Coimbra). No trabalho de Raquel Gaspar, desenvolvido em 10 estações de recolha com um mergulho em cada (entre os -5 e os -25 m), foram recolhidas 56 espécies de macroalgas(em que 14 constituem novos registos para a região das Berlengas e dois para a região da flora algal de Portugal), sendo 5 espécies da divisão Chloropyta, 12 da divisão Phaeophyta e 36 da divisão Rhodophyta . Não foram detectadas grandes diferenças entre as costas Sul e Norte da Ilha da Berlenga mas destaca-se um local especial (local Primavera) pela sua elevada diversidade no que se refere à abundância, tamanho e diversidade das espécies. Foi aqui também que encontrou a espécie Scinaia forcellata. Nas Estelas, a diversidade de espécies é reduzida sendo que o povoamento dominante é composto por briozoários, esponjas e hidrozoários. Também nesta zona (Medas), e contrastando com as populações na Ilha da Berlenga, a autora destaca a abundância de algas da divisão Rhodophyta. Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de investigação do IMAR em 1997 tiveram um objectivo diferente. Estes investigadores realizaram quatro campanhas de amostragens (Novembro 1995, Março de 1996, Junho 1996 e Setembro de 1996) que tiveram como objectivo principal estabelecer a variação sazonal de algumas espécies com maior expressão. Relativamente às clorófitas, a comunidade é dominada por quatro espécies de Codium (C. elongatum, C. vermilara, C. tomentosum, C. adhaerens) que na Ilha da Berlenga tem como espécie mais abundante o Codium elongatum. Esta espécie apresenta uma sazonalidade bastante vincada com valores de biomassa muito elevados no Outono (290 g m-2) e uma redução drástica no Inverno e Primavera (2 g m-2). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 57 Relativamente às algas castanhas a espécie mais abundante é o Fucus spiralis, que se desenvolve em cinturas logo acima do nível da maré baixa em locais com hidrodinamismo médio. Para esta alga a biomassa máxima atingida foi em Novembro (612 g m-2) e a mínima em Março (149 g m-2) depois do Inverno e antecedendo o período reprodutivo. As algas vermelhas mais representativas são a Asparagopsis armata que é uma espécie invasora exótica e várias espécies de algas coralinas. Asparagopsis armata atinge o máximo de biomassa em Junho com valores da ordem dos 3131 g m-2, e um mínimo em Novembro (0.1 g m-2). Em relação ao estatuto de conservação, as únicas algas de que se tem conhecimento estarem em regressão são as algas castanhas da família das laminárias (Laminaria hyperborea. L. ochroleuca, Sachorizza polysiches), não se sabendo no entanto as razões que levam a este decréscimo histórico. Dos trabalhos realizados ressalta-se a necessidade de proteger algumas zonas com maior diversidade específica e de tomar cuidados particulares durante a Primavera, época em que as algas se estão a reproduzir. Segundo Bengala et al. (1997) as razões da abundância e riqueza da flora algológica das Berlengas estão relacionadas com a baixa influência antropogénica, com a elevada transparência da água durante a estação de crescimento que permite elevadas taxas de crescimento, e com a natureza dura e rugosa do substrato rochoso que oferece uma superfície ideal de fixação. Na região do arquipélago não existem povoamentos de plantas vasculares marinhas. 3.7.3.2 - Flora terrestre Em termos fitogeográficos o arquipélago das Berlengas situa-se na Província Gaditano-Onubo-Algarviense, mais concretamente no chamado Superdistrito Berlenguense, que possui características geológicas (granitos e gneisses) e climáticas (termomediterrâneo) muito próprias que se reflectem na flora e vegetação existente nestas ilhas. As principais associações fitossociológicas presentes são Scrophulario rupicolaeArmerietum berlengensis, Scrophulario sublyratae-Suaedetum verae e Sagino maritimae-Cochlearietum danicae (Costa et al, 1998). As ilhas encontram-se praticamente desprovidas de árvores, com excepção de alguma figueira (Ficus carica) ou oliveira (Olea europaea), de pequeno porte, sendo a vegetação dominada essencialmente por ervas perenes ou anuais. As principais formações vegetais presentes ocorrem em mosaico, normalmente Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 58 muito fragmentadas e reflectem a heterogeneidade topográfica e edáfica das ilhas (Tauleigne Gomes et al, 2004). No entanto, as características únicas, nomeadamente a geografia e o clima, conduziram à especiação de três endemismos florísticos. Assim, entre um elenco florístico de 135 taxa presentes no arquipélago, destacam-se, pelo enorme valor conservacionista Armeria berlengensis, Herniaria lusitanica subsp. berlengiana e Pulicaria microcephala que são taxa endémicos das Berlengas, sendo que os dois primeiros constam do Anexo II da Directiva Habitats. Armeria berlengensis possui um estatuto taxonómico bem definido e consensual, apesar de ser aparentada com A. pungens e A. welwitschii, ambas continentais e com as quais pode originar fenómenos de híbridação (Castroviejo et al, 1990). Apesar de na Flora Ibérica Herniaria berlengiana ter sido tratada como subespécie de Herniaria lusitanica, não deixa de ser um taxon endémico das Berlengas, com habitat e hábito muito próprios (Castroviejo et al, 1990). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 59 Figura 17 - Distribuição de Armeria berlengensis na Ilha Berlenga Para alguns autores, a composta Pulicaria microcephala, apesar de apresentar características e habitat próprios, parece ser uma variante de P. paludosa, que se encontra na maior parte na costa atlântica portuguesa (Franco & Afonso, 1984). Seja como for, a população do arquipélago das Berlengas não deixa de ser singular e serão necessários mais estudos para clarificar o seu verdadeiro estatuto taxonómico. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 60 Figura 18 - Distribuição de Thapsia villosa na Ilha Berlenga Entre os restantes taxa presentes, podem ser encontrados alguns que embora não sejam endémicos das Berlengas, possuem distribuição geográfica restrita, sendo endemismos ibéricos ou ocorrendo apenas na Península Ibérica e no Norte de África, como é o caso Angelica pachycharpa (sendo este um taxa que em Portugal, ocorre unicamente nas Berlengas), Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis, Echium rosulatum, Linaria amethystea subsp. multipunctata, Narcissus bulbocodium subsp. obesus, Silene latifolia subsp. mariziana, Silene scabriflora, Scrophularia sublyrata (os três últimos taxa, ocorrem também em Marrocos) (Tauleigne Gomes et al, 2004). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 61 Figura 19 - Distribuição da Angelica pachycarpa na Ilha Berlenga Na Tabela 9 apresenta-se a lista das espécies com maior importância conservacionista que ocorrem na Reserva Natural das Berlengas, de acordo com o dossier de canidatura a Reserva da Biosfera UNESCO (2008). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 62 Tabela 9 – Lista dos taxa com maior importância conservacionista que ocorrem na Reserva (fonte Dossier de candidatura a Reserva da Biosfera). Nome científico Estatuto Angelica pachycarpa Lange Ex; Ra; Cs. Eu; CR; EIb Armeria berlengensis Daveau Vu; Cs. Eu; DH II, IV; CR; ELu Calendula suffruticosa Vahl subsp. algarbiensis (Boiss.) Nyman EIb Echium rosulatum Lange EIb Herniaria lusitanica Chaudhri subsp. berlengiana (Chaudhri) Franco [Herniaria berlengiana (Chaudhri) Franco] Linaria amethystea (Lam.) Hoffmanns. & Link subsp. multipunctata (Brot.) Chater & D.A. Webb Vu; Ra; Cs. Eu; DH II, IV; VU; ELu EIb + Mar Narcissus bulbocodium L. subsp. obesus (Salisb.) Maire DH-V, EIb + Mar Plantago coronopus L. subsp. occidentalis (Pilger) Franco ELu Pulicaria microcephala Lange VU; ELu Scrophularia sublyrata Brot. Vu; DH-V; EIb Silene latifolia Poiret subsp. mariziana (Gandoger) Greuter & Burdet EIb Silene scabriflora Brot. EIb + Mar Legenda: CR: Criticamente em Perigo, segundo a IUCN Red List Categories – Version 3.1. Cs. Eu: espécie incluída em "List of Rare, Threatened and Endemic Plants in Europe", Nature and Enviroment, nº14 e nº27, Strasbourg, Conselho da Europa (1977 e 1983) DH: Anexo II, IV e V: espécie incluída nos anexos indicados da Directiva Habitats EIb + Mar: Endemismo Ibérico + Marrocos EIb: Endemismo Ibérico ELu: Endemismo Lusitânico Ex: Espécie em perigo de extinção Ra: Espécie rara Vu: Espécie Vulnerável VU: Vulnerável, segundo a IUCN Red List Categories – Version 3.1. 3.7.3.3 - Fitoplâncton e zooplâncton marinho Os ecossistemas marinhos pelágicos são sistemas abertos, caracterizados pela existência de poucas barreiras à circulação, e onde os processos biológicos ocorrem a escalas que podem atingir os milhares de quilómetros. Algumas escalas características de grande importância na ecologia pelágica do oceano são: 0.01 m, relevante para a difusão de nutrientes, e movimentos e alimentação do fito e do zooplâncton; 100 m, correspondendo à camada eufótica e às migrações verticais do zooplâncton; 100 000 m, onde se nota o efeito dos vórtices e do afloramento costeiro; 1 000 000 m, escala a que ocorrem as correntes giratórias das bacias oceânicas. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 63 Não existem estudos específicos sobre as populações de fitoplâncton do arquipélago das Berlengas, e as observações sobre processos fitoplanctónicos na costa Portuguesa são raras e de difícil acesso. Os processos ecológicos susceptíveis de afectar a dinâmica do fitoplâncton da região foram já referidos anteriormente. Moita & Vilarinho (1999) apresentam um inventário das espécies de fitoplâncton da costa Portuguesa, baseado numa revisão de literatura de circulação reduzida, em relatórios de cruzeiro do IPIMAR e em observações não publicadas feitas no âmbito do programa de monitorização de blooms de fitoplanctontes tóxicos. Este inventário contém um total de 502 espécies e outros taxa de diatomáceas, dinoflagelados, cocolitoforídeos e flagelados com ocorrências registadas em águas da plataforma continental a norte do Cabo da Roca. Não são conhecidos problemas de conservação das espécies do fitoplâncton. Pardal & Azeiteiro (2001) apresentam informação básica sobre a constituição da comunidade zooplanctónica na região do arquipélago das Berlengas, com base em 2 cruzeiros realizados em Novembro de 1997 e em Maio de 1998. Queiroga et al. (2005) reportam a influência de um episódio de afloramento ocorrido no verão de 1995 sobre a distribuição horizontal do zooplâncton na região de Aveiro. Este último estudo mostrou que as frentes de afloramento são componentes importantes na estruturação da comunidade de zooplâncton na costa norte de Portugal, resultando em distintas associações de espécies transientemente separadas pela frente. Para além dos taxa holoplanctónicos mais típicos, ambos os estudos indicam que formas meroplanctónicas, sobretudo larvas de invertebrados, são constituintes importantes do zooplâncton da costa de Portugal.Todas estas espécies são típicas de águas neríticas das Subregiões Atlântica e Mediterrânea da Região Paleártica (Queiroga et al. 2005). 3.7.3.4 - Invertebrados marinhos A fauna de invertebrados marinhos do arquipélago das Berlengas não tem sido estudada de uma forma sistemática. A dinâmica sazonal de algumas espécies da fauna de substrato rochoso da zona litoral foi estudada por Bengala et al (1997), mas este estudo não indica as metodologias utilizadas, pelo que é de utilidade limitada para descrever a composição da comunidade. Mais recentemente, foram efectuados dois trabalhos que permitiram um levantamento das espécies presentes no arquipélago das Berlengas (Morgado Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 64 et al 2008; Rodrigues et al., 2008) tendo-se contabilizado, respectivamente, 101 espécies de invertebrados sublitorais de substrato rochoso e 222 espécies de substrato rochoso e móvel. Entre os invertebrados marinhos presentes na zona das marés, pelo seu elevado valor comercial, refere-se o percebe (Pollicipes pollicipes), cuja apanha se encontra regulamentada desde 2000, encontrando-se, para o efeito, a área zonada em três sectores (sector C onde a apanha é proibida, sector A em que a apanha é apenas permitida em anos pares, e sector B em que a apanha é apenas permitida em anos ímpares). Em 2005, a abundância (percentagem de cobertura primária do substrato duro) de percebe foi semelhante nos três sectores. Foram encontradas diferenças significativas entre a percentagem de cobertura do percebe que ocorre na parte inferior da zona intertidal, e que é mais explorado (percebe de baixo; 6%), e a percentagem de cobertura do percebe que ocorre mais em cima na zona intertidal (percebe de cima; 41%). A biomassa em 15x15 cm de áreas com percebes (peso escorrido) foi significativamente superior no percebe de cima (valor médio de 162 g) do que no percebe de baixo (valor médio de 65 g) e não foram encontradas diferenças de biomassa entre os três sectores. A análise do tamanho (RC – distância máxima entre as placas Rostrum e Carina) dos percebes permitiu verificar que o percebe de baixo era maior que o percebe de cima e que, mais uma vez, não foram encontradas diferenças significativas entre os três sectores. No entanto, as estimativas de percentagem de área explorada recentemente (AER, áreas que se distinguem facilmente da área não explorada por análise de imagem) nos três sectores, efectuadas através da análise de fotografias e imagens de vídeo obtidas no terreno, foram diferentes nos três sectores durante o Verão ((cerca do dobro da AER nos sectores A e B (6%) relativamente ao sector C (3%)), e semelhantes entre sectores e mais baixas no início do Inverno (<3%). Não foram encontradas diferenças significativas entre os três sectores no respeitante ao número de juvenis fixos em adultos. Este número foi mais elevado em percebes de cima que em percebes de baixo. A recuperação das áreas exploradas depende da altura do ano (a principal época de fixação das larvas é o Verão e Outono, com base em Cruz (2000), trabalho efectuado na costa alentejana) e pode ser muito favorecida se, aquando da apanha, não forem capturados alguns percebes junto aos dos grupos explorados. O percebe distribui-se de forma gregária e os próprios percebes adultos são um substrato Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 65 muito importante para a fixação das larvas desta espécie, pelo que a recuperação do percebe nas áreas assim exploradas pode ser mais facilmente efectuada a partir dos indivíduos que não foram explorados. Com base em Cruz (2000), foi estimado que um percebe possa atingir no máximo 22 mm (RC) num ano. No entanto, são poucos os dados sobre o crescimento desta espécie e existe elevada variabilidade individual. 3.7.3.5 - Ictiofauna marinha Para a área da Reserva Natural das Berlengas (RNB) estão referenciadas setenta e seis (76) espécies de peixes (Rodrigues et al., 2008). Fazendo parte deste grupo estão os pequenos pelágicos sardinha (Sardina pilchardus), sarda (Scomber scombrus), cavala (Scomber japonicus) e carapau (Trachurus trachurus), que são as espécies mais importantes capturadas pela arte de cerco, principal arte usada pela frota de barcos ligeiros de Peniche. Além destes, é de referir também a existência, na área da RNB, do congro (Conger conger), e de algumas espécies de raias (Raja spp., que merecem destaque pois são também outros recursos pesqueiros desembarcados (em grande quantidade) no porto de Peniche. A família mais numerosa em termos de espécies é a Sparidae (Esparídeos), com 11 espécies. Fazem parte deste grupo, espécies comercialmente importantes como os sargos (Diplodus spp.), os pargos (Pagrus spp.) e a dourada (Sparus aurata), entre outros. Este é, sem dúvida, o grupo mais procurado pelos pescadores desportivos, actividade legal que se desenvolve durante todo o ano na área marinha protegida, com especial incidência na zona das Estelas, considerada a área mais rica em peixe da RNB. Um dos problemas conservacionistas associados a este grupo de vertebrados é a existência, na área da RNB, do mero Epinephelus marginatus, espécie da família Serranidae, considerada “Em Perigo” pela IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources) na sua lista de espécies ameaçadas de 2007, e que é procurada por muitos, especialmente pelos praticantes de caça submarina. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 66 3.7.3.6 - Herpetofauna A Herpetocenose das Berlengas é constituída por uma população de Podarcis carbonelli berlengensis, de densidade muito elevada e por uma população de Lacerta lepida que, actualmente, não atingirá 10 indivíduos. Ambas as populações ficaram isoladas no arquipélago desde a última glaciação tendo desenvolvido atributos comportamentais e /ou morfológicos únicos. A lagartixa-das-Berlengas (Podarcis carbonelli berlengensis) é uma subespécie endémica da fauna portuguesa, apresentando características particulares derivadas da insularidade a que foi e é sujeita, possuindo por este motivo um alto valor intrínseco. Até há pouco tempo, com base em caracteres morfológicos, considerava-se que a população da ilha das Berlengas constituía uma subespécie de Podarcis bocagei: Podarcis bocagei berlengensis. Contudo, estudos genéticos demonstraram que os indivíduos desta ilha não são geneticamente diferentes das populações continentais de Podarcis carbonelli, embora possam atingir maiores dimensões corporais, devendo passar a ser designados por Podarcis carbonelli berlengensis (Sá-Sousa et al. 2000, Harris & SáSousa 2001, Sá-Sousa & Harris 2002). Esta subespécie caracteriza-se e distingue-se das formas continentais pelo seu padrão ventral (escamas brancas pigmentadas de negro), pelo seu gigantismo somático, aspecto robusto e por um focinho mais arredondado. Diferenças morfológicas são também encontradas entre as populações da ilha da Berlenga e do Farilhão Grande (Luz et al. 2006). Em termos conservacionistas é uma espécie de elevado valor possuindo, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICN, 2006), o estatuto de Vulnerável. A espécie Lacerta lepida é o maior Lagarto europeu, existindo apenas no Sul de França, Norte de Itália, Espanha e Portugal. As populações encontram-se em regressão em Itália e em França, onde parecem estar a ser substituídos por outros Lacertídeos. As populações Portuguesas e Espanholas, eram tidas até há relativamente poucos anos como muito abundantes, mas a crescente urbanização e a utilização massiva de pesticidas na agricultura, terão contribuído para a sua drástica diminuição nas duas últimas décadas. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 67 Existem doze populações insulares, duas em França, nove em Espanha e apenas uma em Portugal, na Ilha da Berlenga. No entanto, segundo estudos genéticos da população (Paulo & Dias 1999), não existe uma acentuada diferenciação da Ilha da Berlenga em relação às restantes amostras e não existe uma considerável diferenciação dentro do conjunto de amostras do Oeste Central Português, parecendo haver um acentuado fluxo genético entre estas populações. É assim provável que a colonização da Berlenga seja pós-glaciar, possivelmente com 6 000 a 8 000 anos de diferenciação, mas que está muito longe de poder ser considerada como uma subespécie, tratando-se apenas de uma população localmente diferenciada. Apresenta-se de seguida o mapa dos núcleos populacionais dos lagartos, segundo dados disponibilizados pelo ICNB. Lagarto-ocelado (Lacerta lepida) núcleo histórico e actualmente núcleo principal da população residual. Há observações de pelo menos 2 indivíduos de 2006 a 2008 nesta área. De 1996 a 1998 foi a área com maior densidade 9 a 10 indivíduos. Lagarto-ocelado (Lacerta lepida) indivíduos observados em 2008. Lagarto-ocelado (Lacerta lepida) núcleo populacional histórico, actualmente residual. De 1996 a 1998 observados 2 indivíduos. Lagarto-ocelado (Lacerta lepida) núcleo populacional histórico, com 1 casal observado em 2002. Trilho actual Caminho cimentado Casa da dessanilizadora (telhado com painéis solares – projecto piloto Lab. Sustentabilidade) Casa do gerador Figura 20 - Mapa dos núcleos populacionais dos lagartos existentes na ilha (Fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 68 Nos poucos vales existentes que resultam da erosão de algumas falhas de menor resistência, a fixação de solo assume certa importância, chegando este a atingir profundidades de cerca de um metro. Nestes vales existe um pouco mais de humidade atmosférica e só aí se mantêm plantas vivazes e anuais. É exactamente nestas zonas de solo desenvolvido que se torna viável a existência de tocas, sendo aí que se concentram todos os animais cujo modo de vida requer este tipo de abrigo, entre eles Lacerta lepida. Perante estes constrangimentos, Lacerta lepida adaptou-se a uma forma de vida colonial típica, o que teve, entre outras consequências, a selecção de indivíduos menos agressivos que os conspecíficos continentais, capazes de ritualizar os comportamentos agonísticos. Deve ter sido este o factor fundamental que veio permitir a sua subsistência numa situação de aglomeração populacional (Vicente & Paulo, 1989). Existem dados de monitorização da população de Lacerta lepida na Berlenga desde 1984 altura em que a população se situaria abaixo dos 200 indivíduos, sendo que em 1996 a população atingiu um efectivo extremamente reduzido de apenas 25 indivíduos. Além do declínio numérico dos efectivos existe também uma redução no espaço ocupado pela espécie. Tal declínio parece ter sido determinado inicialmente por uma reduzida taxa de sobrevivência nos estágios pré-natais, predação dos ovos por Rattus rattus e durante a fase juvenil (primeiro ano). Na ausência de qualquer tipo de intervenção a população extingue-se rapidamente, devido a factores intrínsecos resultantes da já diminuta dimensão da população, acelerada pela persistência de factores extrínsecos, como a predação por ratos, gaivotas e cães. Na tentativa de ‘salvar’ a população da extinção têm sido desenvolvidos esforços que, para além da erradicação da população de gaivotas e controle do ratos, passam pela captura de indivíduos para reprodução em cativeiro e correspondentes acções de repovoamento a partir dos indivíduos nascidos em cativeiro, tendo-se reintroduzido 15 indivíduos em 1999 e 6 em 2000. Segundo os dados mais recentes a população actual de Lacerta lepida terá menos de 10 indivíduos (Maymone et al. 2001). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 69 3.7.3.7 - Avifauna No caso das aves, embora o número de espécies presente seja reduzido, o facto do arquipélago se situar numa zona de transição biogeográfica, assume especial relevância pois algumas das espécies que aqui nidificam encontram-se no limite Sul da sua área de distribuição e outras no seu limite Norte. A avifauna do Arquipélago das Berlengas é relevante sobretudo pelas aves marinhas. De facto, e além da grande diversidade observável nas águas circundantes, o arquipélago é um importante local de nidificação para estas aves, havendo, globalmente, registos de nidificação de 7 espécies: gaivotade-patas-amarelas (Larus cachinnans), gaivota-d’asa escura (Larus fuscus), gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla), Galheta ou corvo-marinho-de-crista (Phalacrocorax aristotelis), cagarra (Calonectris diomedea), airo (Uria aalge) e roquinho ou alma-de-mestre (Oceanodroma castro). De seguida, apresenta-se a distribuição das aves marinhas mais importantes, na forma de mapa. Figura 21 - Nidificação do Airo no Arquipélago das Berlengas (fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 70 Figura 22 - Localização das colónias de cagarra detectadas na ilha Berlenga na época de reprodução (fonte ICNB) Figura 23 - Nidificação do corvo-marinho (fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 71 Larus cachinnans é, de longe, a mais abundante, apresentando uma marcada expansão ao longo do tempo: a população nidificante seria de cerca de 1.000 casais em 1939 tendo aumentado, de forma consistente, para cerca de 32.000 aves em 1995 e diminuído depois, em resultado da implementação de várias medidas de gestão (eliminação de indivíduos voadores e destruição de posturas), para pouco mais de 20.000 indivíduos no presente (Lockley, 1952 Morais 1995a). No extremo oposto, Uria aalge (Airo) está, enquanto espécie nidificante, no limiar da extinção local, sendo de assinalar o declínio progressivo da população de cerca de6 000 casais em 1939 (Lockley, 1952) para um número de indivíduos que não deverá atingir a dezena, na actualidade. O arquipélago das Berlengas constitui o limite sul da área de distribuição desta espécie, sendo também o único local de nidificação em Portugal. Rissa tridactyla está também em regressão, não tendo nidificado na zona nos últimos anos. À semelhança da espécie anterior, o limite sul de distribuição desta espécie coincide com o arquipélago das Berlengas. Quanto à população nidificante de Calonectris diomedea (Cagarra) esta terá, de acordo com Lecoq (2003) aumentado na década de 80, sendo de 123 o número máximo de casais confirmados em 2002. Estimativas posteriores baseadas em censos mais rigorosos realizados em 2005, apontam para cerca de 250-300 casais reprodutores na ilha da Berlenga e 450-500 no Farilhão Grande, totalizando cerca de 700-800 casais para o arquipélago (M. Lecoq, com.pess.). Algumas acções ligeiras de gestão desta população têm sido implementadas, consistindo essencialmente na promoção das condições de nidificação pela construção de cavidades artificiais, utilizáveis como ninho. De referir que, em Portugal continental, o arquipélago das Berlengas é o único local de reprodução desta espécie, cuja área de distribuição se prolonga para Sul. Na ilha da Berlenga os ninhos encontram-se dispersos por numerosas colónias. As novas colónias localizam-se frequentemente nas inúmeras zonas de escorrência dispersas pela ilha, em zonas com calhaus de média a grande dimensão, em zonas onde o solo é suficientemente profundo para permitir que as aves escavem os ninhos ou em locais inacessíveis nas falésias da ilha. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 72 A população de Phalacrocorax aristotelis (corvo-marinho) tem também aumentado gradualmente tendo sido o tamanho da população nidificante estimado em 79 a 105 casais em 2002 (Lecoq 2003). Em Portugal continental o arquipélago das Berlengas alberga o mais importante núcleo reprodutor do país. Destaca-se ainda o facto do arquipélago albergar a única colónia de Oceanodroma castro conhecida perto do continente europeu, com uma população estimada de 200- 400 casais (Granadeiro et al. 1997). Para além destas espécies, na ilha da Berlenga residem 3 espécies terrestres que aí nidificam a saber: peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus) (1 casal), falcão-peregrino (Falco peregrinus) (1 casal) e rabirruivo (Phoenicurus ochruros). O conjunto destas espécies apresenta um elevaíssimo valor conservacionista no contexto europeu na medida em que, dependendo de cada caso, o arquipélago das Berlengas constitui a única ou a mais importante zona de nidificação na região ou no continente Europeu, ou constitui o limite sul ou norte de nidificação, muitas delas constam do Anexo I da Directiva Europeia Aves (Directiva 79/409/CEE) e, simultaneamente apresentam um estatuto de ameaça (ICN, 2006): Calonectris diomedea (cagarra): em termos de estatuto de ameaça em Portugal continental a espécie é considerada ‘Vulnerável’, nidificando apenas no arquipélago das Berlengas. Outros instrumentos legais: Anexo II da Convenção de Berna; Uria aalge (Airo): em termos de estatuto de ameaça em Portugal continental a espécie é considerada ‘Criticamente em Perigo’; Oceanodroma castro: em termos de estatuto de ameaça em Portugal a espécie é considerada ‘Vulnerável’, nidificando apenas nos Farilhões. Outros instrumentos legais: Anexo II da Convenção de Berna; Falco peregrinus: em termos de estatuto de ameaça em Portugal continental a espécie é considerada ‘Vulnerável’. Outros instrumentos legais: Anexo II da Convenção de Berna e Anexo II da Convenção de Bona. Complementarmente, esta área assume ainda alguma relevância como local denparagem e repouso de algumas espécies de aves migratórias (e.g. Hieraaetus pennatus e Luscinia svecica ambos constantes no Anexo I da Directiva Aves). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 73 3.7.3.8 - Mamofauna Na parte terrestre da reserva apenas estão presentes duas espécies de mamíferos: o coelho-comum (Oryctolagus cunniculus) e o rato-preto (Rattus rattus). Ambas as espécies terão sido introduzidas na ilha da Berlenga. No caso do coelho a introdução terá sido, eventualmente, com fins cinegéticos, onde era abundantemente caçado quando esta era uma coutada real, no reinado de D. Afonso V. No caso do rato-preto é plausível supor que, estando a sua expansão intimamente associada à actividade humana, que a sua presença na Berlenga remonte, pelo menos, ao séc. XV” época da construção na ilha do Mosteiro dos frades da Ordem de S. Jerónimo. O interesse conservacionista deste grupo foca-se assim na parte marinha. Aqui, as condições oceanográficas favorecem a ocorrência de uma ictiofauna abundante e variada, que frequentemente inclui a presença de grandes cardumes de sardinhas (Clupeidae) e de outras espécies planctotróficas, a qual motiva a presença de diversas espécies de mamíferos marinhos, maioritariamente incluídos na Ordem Cetaceae, nomeadamente: Delphinus delphis – Constante do Anexo II da convenção de Berna e dos Anexos II e IV da Directiva Habitats; Tursiops truncatus - Constante do Anexo II da convenção de Berna e dos Anexos II e IV da Directiva Habitats; Phocoena phocoena - em termos de estatuto de ameaça em Portugal continental a espécie é considerada ‘Vulnerável’. Consta do Anexo II da convenção de Berna e dos Anexos II e IV da Directiva Habitats; Stenella coeruleoalba - Consta do Anexo II da convenção de Berna e do Anexo IV da Directiva Habitats; Balaenoptera acutorostrata - em termos de estatuto de ameaça em Portugal continental a espécie é considerada ‘Vulnerável’. Consta do Anexo II da convenção de Berna e do Anexo IV da Directiva Habitats; Ziphius cavirostris - Consta do Anexo II da convenção de Berna e do Anexo IV da Directiva Habitats. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 74 3.7.4 - Lista de espécies As espécies mais importantes do ponto de vista conservacionista e/ou comercial apresentam-se assinaladas com asterisco (*). 3.7.4.1 - Flora 3.7.4.1.1 - Flora Marinha (macroalgas) Chlorophyta Derbesia tenuíssima (De Notaris) Crouan frat., 1867 Codium adherens (Cabrera) C. Agardh, 1822 Codium tomentosum (Huds.) Stackh., 1797 Codium vermilara (Olivi) Delle Chiaje, 1829 Ulva rigida C. Agardh, 1824 Phaeophyta Desmarestia ligulata (Light.) Lamour., 1813 Carpomitra costata (Stackh.) Batters, 1902 Dictyopteris membranacea (Stackh.) Batters, 1902 Dictyota dichotoma (Huds.) Lamour., 1809 Padina pavonica (L.) Lamour., 1816 Colpomenia peregrina (Sauv., 1927 Cystoseira usneoides (L.) Roberts, 1967 Laminaria ochroleuca Pylaie, 1824 Cladostephus spongiosus (Huds.) C. Agardh, 1828 Halopteris filicina (Grateloup) Kütz., 1843 Halopteris scoparia (L.) Sauv., 1907 Fucus spiralis Linnaeus, 1753 Rhodophyta Bornetia secundiflora (J. Agardh) Thur., 1855 Ceramium ciliatum (J. Ellis) Ducluz., 1809 Ceramium rubrum (Huds.) C. Agardh, 1817 Griffithsia flosculosa (J. Ellis) Batters, 1909 Acrosorium uncinatum (Turner) Kylin, 1924 Apoglossum ruscifolium (Turner) J. Agardh, 1898 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 75 Cryptopleura ramosa (Huds.) Kylin ex L. Newton, 1931 Hypoglossum woodwardii Kütz., 1843 Nitopyilum punctatun (Stackh.) Grev., 1830 Chondria coerulescens (J. Agardh) Falkenb., 1901 Laurentia pinnatifida (Huds.) Lamour., 1813 Pág. 104 Pterosiphonia complanata (Clemente) Falkenb., 1901 Amphiroa rigida Lamour., 1816 Corallina elongata J. Ellis & Sol., 1786 Lithophyllun incrustans Phil., 1837 Cryptomenia seminervis J. Agardh, 1876 Callophyllis laciniata (Huds.) Kütz., 1843 Callophyllis flabellata Crouan, 1867 Kallymenia microphylla J. Agardh, 1851 Peyssonelia coriacea J. Feldm., 1941 Rhodophyllis divaricata (Stackh.) Papenfuss, 1950 Gigartina acicularis (Roth) Lamour., 1813 Platoma cyclocolpa F. Schmitz, 1894 Plocamium cartilageneum (L.) Dixon, 1957 Spaerococcus coronopifolius Stackh., 1797 Gelidium latifolium (Grev.) Born. & Thur., 1876 Gelidium pusillum (Stackh.) Le Jolis, 1863 Gelidium sesquipedale (Clemente) Thur. in Born. & Thur., 1876 Pterocladia pinnata (Huds.) Papenfuss. 1955 Scinaia forcellata Biv.-Bern., 1822 Asparagopsis armata Harv., 1855 Champia parvula (C. Agardh) Harv., 1853 Lomentaria clavellosa (Turner) Gaillon, 1828 Rhodymenia delicatula P. A. Dang., 1949 Rhodymenia pseudopalmata (Lamou.) Silva, 1952 Rhodymenia holmesii Ardiss 3.7.4.1.2 - Flora Terrestre Pteridophyta Pteridium aquilinum (L.) Kuhn Asplenium marinum L. Isoetes histrix Bory Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 76 Angiospermae Agave americana L. Aira caryophyllea L. subsp. caryophyllea Allium ampeloprasum L. Amaranthus blitoides S. Watson Anagallis arvensis L. Anagallis monelli L. Anchusa undulata L. Andryala arenaria (DC.) Boiss. & Reuter subsp. arenaria Andryala integrifolia L. * Angelica pachycarpa Lange Anthemis arvensis L. Arctotheca calendula (L.) Levyns Arisarum simorrhinum Durieu * Armeria berlengensis Daveau Arundo plinii Turra Asparagus aphyllus L. Astragalus pelecinus L. Barneby subsp. pelecinus Atriplex prostrata Boucher ex DC. Avena barbata Link subsp. barbata Bellardia trixago (L.) All. Beta maritima L. Brassica oleracea L. Briza maxima L. Bromus hordeaceus L. subsp. hordeaceus Bromus rigidus Roth * Calendula suffruticosa Vahl subsp. algarbiensis (Boiss.) Nyman Carduus tenuiflorus Curtis Carlina corymbosa L. subsp. corymbosa Carpobrotus edulis (L.) N. E. Br. Cerastium glomeratum Thuill. Chenopodium murale L. Cochlearia danica L. Conyza canadensis (L.) Cronq. Coronopus didymus Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 77 Cotula australis (Sieber) Hooker fil. Cotula coronopifolia L. Crassula tillaea Lester-Garland Crepis capillaris (L.) Wallr. Crithmum maritimum L. Cuscuta epithymum (L.) Murray Dactylis marina Borrill Datura stramonium L. Daucus carota L. Desmazeria marina (L.) Druce Digitalis purpurea L. subsp. purpurea Ecballium elaterium (L.) A. Rich. subsp. elaterium * Echium rosulatum Lange Erodium cicutarium (L.) L'Hér. Euphorbia characias L. subsp. characias Euphorbia exigua L. Euphorbia portlandica L. Evax pygmaea (L.) Brot. subsp. pygmaea Ficus carica L. Frankenia laevis L. Fumaria muralis Sonder ex Koch Geranium molle L. Gymnostyles stolonifera (Brot.) Tutin Helichrysum stoechas (L.) Moench Heliotropium europaeum L. * Herniaria lusitanica Chaudhri subsp. berlengiana (Chaudhri) Franco [Herniaria berlengiana (Chaudhri) Franco] Holcus lanatus L. Hordeum murinum L. subsp. leporinum (Link) Arcangeli Hyoscyamus albus L. Hypericum humifusum L. Juncus bufonius L. Lagurus ovatus L. Lavatera arborea L. Lavatera cretica L. Lemna minor L. Leontodon taraxacoides (Vill.) Mérat subsp. taraxacoides Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 78 * Linaria amethystea (Lam.) Hoffmanns. & Link subsp. multipunctata (Brot.) Chater & D.A. Webb Linaria spartea (L.) Willd. subsp. spartea Lobularia maritima (L.) Desv. subsp. maritima Lolium rigidum Gaudin subsp. rigidum Lophochloa cristata (L.) Hylander Lotus subbiflorus Lange subsp. subbiflorus Medicago littoralis Rhode ex Loisel Medicago polymorpha L. Melilotus indicus (L.) All. Mercurialis ambigua L. Mercurialis annua L. Mesembryanthemum crystallinum L. Montia fontana L. subsp. amporitana Sennen * Narcissus bulbocodium L. subsp. obesus (Salisb.) Maire Nicotiana glauca R. C. Graham Pág. 106 Olea europaea L. Ononis reclinata L. Ornithopus pinnatus (Miller) Druce Orobanche amethystea Thuill. Oxalis pes-caprae L. Papaver somniferum L. subsp. setigerum (DC.) Arcangeli Parapholis incurva (L.) C. E. Hubbard Parietaria judaica L. Plantago coronopus L. subsp. coronopus Plantago coronopus L. subsp. occidentalis (Pilger) Franco Poa infirma Kunth Polycarpon alsinifolium (Biv.) DC. Polypogon maritimus Willd Portulaca oleracea L. Pseudognaphalium luteum-album (L.) Hilliard & B. L. Burtt * Pulicaria microcephala Lange Ranunculus muricatus L. Ricinus communis L. Romulea bulbocodium (L.) Sebastitiani & Mauri subsp. bulbocodium Rumex bucephalophorus L. subsp. gallicus (Steinh.) Rech. Sagina maritima G. Don Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 79 Scrophularia sublyrata Brot. Sedum andegavense (DC.) Desv. Senecio gallicus Vill. * Silene latifolia Poiret subsp. mariziana (Gandoger) Greuter & Burdet * Silene scabriflora Brot. Silene uniflora Roth subsp. uniflora Solanum nigrum L. Sonchus oleraceus L. Sonchus tenerrimus L. Spergula arvensis L. Spergularia rupicola Lebel ex. Le Jolis Stachis arvensis (L.) L. Stellaria media (L.) Vill. Suaeda vera Forsskal ex J. F. Gmelin Tamarix africana Poir. Thapsia villosa L. Torilis nodosa (L.) Gaertner Trifolium campestre Schreber Trifolium glomeratum L. Trifolium scabrum L. Trifolium soffocatum L. Trifolium tomentosum L. Umbilicus rupestris (Salisb.) Dandy Urtica membranacea Poir. Vicia angustifolia L. Vulpia bromoides (L.) S. F Gray 3.7.4.2 - Fauna 3.7.4.2.1. - Espécies zooplanctónicas mais abundantes – Queiroga et al (2005) Copepoda Acartia clausii Calanus helgolandicus Candacia armata Centropages chierchiae Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 80 Clausocalanus arcuicornis Doliolum gegenbauri Euatides giesbrechet Euchaeta hebes Temora longicornis Siphonofora Lensia subtilis Muggiae atlantica Chaetognatha Sagitta friderici Apendicularia Oikopleura dioica Decapoda Polybiinae Zoea I Thia scutellata Zoea I Atelecyclus undecimdentatus Zoea I Carcinus maenas Zoae I Portumnus latipes Zoea I Atelecyclus undecimdentatus Zoea IV Ploybiinae Zoae II 3.7.4.2.2 - Invertebrados marinhos (Rodrigues et al. 2008; Morgado et al. 2008) Porifera Adreus fascicularis Aplysina aerophoba Axinella damicornis Axinella polypoides Axynissa aurantiaca Ciocalypta penicillus Clathrina cerebrum Clathrina clathrus Cliona celata Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 81 Crambe crambe Crella rosea Dercitus bucklandi Dysidea avara Dysidea fragilis Geodia cydonium Guancha lacunosa Haliclona cinerea Haliclona fistulosa Haliclona spp. Haliclona simulans Haliclona valliculata Halicondria sp. Hemimycale columella Hymedesmia baculifera Hymeniacidon perlevis Ircina oros Leucosolenia sp. Oscarella lobularis Pachimastima johnstonia Phorbas fictitius Raspailia ramosa Spirastrella cunctatrix Spongia agaricina Sycon sp. Tethya aurantium Cnidaria Actinia equina Actinia fragacea Actinothoe sphyrodeta Adamsia carciniopados Aglaophenia pluma Aglaophenia tubulifera Aiptasia mutabilis Alcyonium coralloides Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 82 Alcyonium digitatum Alcyonium glomeratum Alicia mirabilis Anemonactis mazeli Anemonia melanaster Anemonia sulcata Anemonia viridis Anthopleura ballii Anthopleura biscayensis Calliactis parasitica Caryophyllia smithii Catostylus tagi Cerianthus membranaceus Corynactis viridis Dendrophyllia ramea Epizoanthus couchi Eunicella verrucosa Gymnangium montagui Leptogorgia sarmentosa Leptopsammia pruvoti Nemertesia antennina Nemertesia ramosa Paralcyonium spinulosum Paramuricea clavata Parazoanthus axinellae Pelagia noctiluca Urticina felina Plathyelminthes Prostheceraeus moseley Prostheceraeus roseus Prostheceraeus vittatus Echiura Bonnelia viridis Anelídae Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 83 Alentia gelatinosa Bispira volutacornis Filograna implexa Lanice conchilega Myxicola infundibulum Phillodoce sp. Protula tubularia Sabella pavonina Sabella spallanzani Sabellaria alveolata Lophophorata Phoronis hippocrepia Artropoda Anapagurus laevis Anilocra physodes Balanus sp. Callianassa sp. * Carcinus maenas Chthamalus montagui Chthamalus stellatus Eriphia verrucosa Galathea sp. Galathea squamifera Galathea strigosa Gnathophyllum elegans * Homarus gammarus Inachus sp. Lepas anatifera Leptomysis lingvura Lysmata seticaudata * Maja brachydactyla Maja squinado * Necora puber Pachygrapsus marmoratus Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 84 Pagurus prideauxi * Palaemon elegans * Palaemon serratus * Palinurus elephas Periclimenes sagittifer * Pollicipes pollicipes Polybius henslowi Porcellana platycheles * Scyllarides latus * Scyllarus arctus Xantho incisus Molusca Acanthochitona fascicularis Aplysia depilans Aplysia fasciata Aplysia parvula Aplysia punctata Berthellina edwardsi Cadlina laevis Cadlina pelucida Calliostoma zizyphinum * Callista chione Caloria elegans Cerastoderma edule * Chaetopleura angulata Charonia lampas Chiton olivaceus Chlamys pesfelis Chlamys varia Chromodoris krohni Chromodoris luteorosea Chromodoris purpurea Crimora papillata Cuthona ocellata Cymbium olla Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 85 Dendrodoris grandiflora Diaphorodoris luteocincta Discodoris atromaculata Discodoris rosi * Donax trunculus Doriopsilla aerolata Doriopsilla pelseneeri Dosinia exoleta Epitonium clathrus Eubranchus linensis Facelina annulicornis Facelina auriculata Facelina auriculata Flabellina affinis Flabellina babai Flabellina pedata Gibbula umbilicalis Haliotis tuberculata Hermaea variopicta Hinia reticulata Hypselodoris cantabrica Hypselodoris fontandraui Hypselodoris tricolor Hypselodoris villafranca Janolus cristatus Jorunna tomentosa Leptochiton cancellatus Lima lima Limacia clavigera Limaria hians * Loligo forbesii Marionia blainvillea * Mytilus sp. * Mytillus galloprovincialis Nassarius reticulatus * Octopus vulgaris Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 86 * Ostrea edulis Patella sp. Patella vulgata * Pecten maximus Polycera faeroensis Polycera quadrilineata Psammobia sp. * ıépia officinalis Spurilla neapolitana Trivia monacha Turritella monterosatoi Venus verrucosa Briozoa Bugula turbinata Cellepora pumicosa Flustra foliacea Membranipora membranacea Myriapora truncata Pentapora foliacea Echinodermata Aslia lefevrei Antedon bifida Asterina gibbosa Astropartus mediterraneus Astropecten aranciacus Centrostephanus longispinus Coscinasterias tenuispina Echinaster sepositus Echinocardium cordatum Echinus melo Holothuria arguinensis Holothuria forskali Holothuria tubulosa Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 87 Marthasterias glacialis Ophiocomina nigra Ophioderma longicauda Ophiothrix fragilis * Paracentrotus lividus Pawsonia saxicola Psammechinus miliaris * Sphaerechinus granularis Urochordata Aplidium elegans Aplidium proliferum Aplidium punctum Botryllus schlosseri Ciona intestinalis Clavelina lepadiformes Didemnum sp. Diplosoma listerianum Diplosoma spongiforme Halocynthia papillosa Microcosmus sp. Phalusia fumigata Phalusia mammilata Pycnoclavella taureanensis Stolonica socialis 3.7.4.2.3 - Peixes Acantholabrus palloni Anthias anthias Argyrosomus regius Arnoglossus laterna Atherina presbyter Balistes capriscus Belone belone Boops boops Bothus podas Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 88 Callionymus lyra Centrolabrus exoletus Chelidonichthys lastoviza Chelon labrosus * Conger conger Coris julis Ctenolabrus rupestris Dicentrarchus labrax Diplodus cervinus Diplodus sargus Diplodus vulgaris * Epinephelus marginatus Gaidropsarus mediterraneus Gobius cruentatus Gobius gasteveni Gobius niger Gobius paganellus Gobius xanthocephalus Gobiusculus flavescens Halobatrachus didactylus Labrus bergylta Labrus mixtus Lepadogaster candolii Lepadogaster lepadogaster Lipophris pholis Liza aurata Mola mola Mullus surmuletus Muraena helena Nerophis lumbriciformes Oblada melanura Pagellus erythrinus Pagrus auriga Pagrus pagrus Parablennius gattorugine Parablennius pilicornis Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 89 Parablennius ruber Parapristipoma octolineatum Pegusa lascaris Phycis phycis Pollachius pollachius Pomatochistus pictus Pseudocaranx dentex Raja brachyura * Raja clavata * Raja undulata Sarda sarda * Sardina pilchardus Sarpa salpa * Scomber japonicus Scorpaena notata Scyliorhinus canicula Seriola rivoliana Serranus cabrilla Sparus aurata Spondyliosoma cantharus Symphodus bailloni Symphodus melops Syngnathus acus Taurulus bubalis Thorogobius ephippiatus Trachinus draco * Trachurus trachurus Tripterygion delaisi Trisopterus luscus Zeugopterus punctatus Zeus faber 3.7.4.2.4 – Répteis * Lacerta lepida Daudin, 1802 * Podarcis carbonelli berlenguensis Vicente 1985 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 90 3.7.4.2.5 – Aves Apus apus Linnaeus, 1758 Arenaria interpres Linnaeus, 1758 Calidris marítima Brunnich, 1764 * Calonectris diomedea Scopoli, 1769 Falco tinnunculus Linnaeus, 1758 * Falco peregrinus Tunstall, 1771 Larus cachinnans Pallas, 1811 Larus fuscus Linnaeus, 1758 Muscicapa striata Pallas 1764 Numenius phaeopus Linnaeus, 1758 * Oceanodroma castro Harcourt, 1851 Oenanthe oenanthe Linnaeus, 1758 * Phalacrocorax aristotelis Linnaeus, 1761 Phoenicurus ochruros SG Gmelin, 1774 Phoenicurus phoenicurus Linnaeus, 1758 Phylloscopus collybita Vieillot, 1817 * Rissa tridactyla Linnaeus, 1758 Sylvia borin Boddaert, 1783 Sylvia communis Latham, 1787 * Uria aalge Pontoppidan, 1763 3.7.4.2.6 – Mamíferos * Balaenoptera acutorostrata Lacépède,1840 * Delphinus delphis Linnaeus, 1758 Oryctolagus cuniculus Linnaeus, 1758 * Phocoena phocoena (Linnaeus,1758) Rattus rattus Linnaeus, 1758 * Stenella coeruleoalba (Meyen,1833) * Tursiops truncatus (Montagu,1821) * Ziphius cavirostris (G. Cuvier, 1823 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 91 3.8 – Paisagem A paisagem resulta da interacção de vários factores, nomeadamente os factores biofísicos (geomorfologia, a geologia/litologia, solos e o coberto vegetal) e os factores culturais (acções de natureza antrópica), que têm manifestações diferentes na organização do território. Para a caracterização da paisagem no âmbito deste estudo, foram avaliadas as variáveis biofísicas e culturais de forma a identificar unidades homogéneas (unidades de paisagem). Assim, estas unidades resultam da conjugação de um conjunto de características homogéneas, que atribuem um carácter único a cada unidade/subunidade de paisagem identificada. Ao conjunto de características e atributos de cada unidade de paisagem correspondem níveis de qualidade e fragilidade visual próprios. A fragilidade visual está relacionada com a capacidade de absorção visual da paisagem. A fragilidade visual é um atributo subjectivo da paisagem, que tem em conta as suas características estruturais (morfologia do relevo, declives, linhas de água) e os elementos que a compõem, naturais (como a vegetação, os afloramentos) ou construídos (áreas urbanas, industriais, agrícolas, infra-estruturas, albufeiras, etc.). A capacidade de absorção visual é definida como a maior ou menor facilidade de admitir alterações ou intrusões no seu seio sem afectar negativamente a sua qualidade visual. Desta forma, a baixa fragilidade visual da paisagem traduz uma realidade em que esta possui uma alta capacidade de absorver alterações ou novas intrusões. Por outro lado, a elevada fragilidade visual, pressupõe uma fraca capacidade da paisagem sofrer modificações estruturais ou acolher intrusões visuais. A capacidade de absorção visual da paisagem está assim relacionada com o conceito anterior, sendo maior quanto menor for a fragilidade visual e vice-versa. A qualidade visual é da mesma forma um atributo subjectivo da paisagem, tendo em conta os elementos que a compõem, como o ritmo orográfico, a vegetação, os elementos construídos, os valores cénicos, as intrusões, considerando também a diversidade, o contraste, a cor, a textura, a harmonia e a acessibilidade visual. É definida como baixa, média ou elevada, consoante a conjugação dos seus atributos cénicos se traduz em valores de graduação variável, visualmente reconhecidos como mais ou menos significativos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 92 A sensibilidade da paisagem é função da sua qualidade visual e da sua capacidade de absorção ou fragilidade visual. É possível definir áreas de elevada sensibilidade paisagística conjugando as que possuem, simultaneamente, elevada qualidade visual e reduzida capacidade de absorção visual. Do mesmo modo, quando um destes dois atributos é de valorização média e o outro elevado, também estaremos em presença de áreas de elevada sensibilidade paisagística. A Tabela 10 traduz a valorização da sensibilidade paisagística de uma área de estudo ou unidade de paisagem, a partir dos atributos de qualidade e fragilidade visual da paisagem. Tabela 10 – Sensibilidade paisagística em função da qualidade e fragilidade visual Capacidade de Absorção Visual da Paisagem Qualidade Visual da Paisagem BAIXA MÉDIA ELEVADA BAIXA Sensibilidade média Sensibilidade baixa Sensibilidade baixa MÉDIA Sensibilidade elevada Sensibilidade média Sensibilidade baixa ELEVADA Sensibilidade elevada Sensibilidade elevada Sensibilidade média A Berlenga, a maior ilha constituinte do arquipélago, ocupa uma área emersa de 78,8 ha. Devido à forma bastante recortada da interface terra-mar, a Berlenga tem um perímetro de cerca 4 km, medindo aproximadamente 1500 metros de comprimento por 800 metros de largura máxima. Caracteriza-se por um relevo abrupto e bastante recortado, tendo no entanto uma zona central relativamente aplanada, de contorno irregular e uma altitude média de 87 m. A zona aplanada é limitada por arribas escarpadas até ao mar. Existem numerosas grutas de diferente dimensão e de pequenas enseadas que possibilitam a acumulação de areias que originam praias encastradas de reduzido tamanho. A ilha da Berlenga encontra-se rodeada por vários ilhéus e rochedos, tendo uma predominância de formas pontiagudas, sendo praticamente inacessíveis. Atendendo às características desta unidade, pode afirmarse que a qualidade visual é media a elevada, pela diversidade de coloridos, texturas e pelo efeito da compartimentação da paisagem. No entanto, apresenta baixa capacidade de absorção visual, tornando-a uma área de sensibilidade visual média a elevada. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 93 Regista-se a presença de espécies exóticas e invasoras, que podem comprometer a diversidade biológica típica deste ecossistema. Regista-se também a presença de infra-estruturas antropogénicas (restaurante, bairros dos pescadores, casa dos geradores, mini-mercado) que também comprometem a qualidade visual do local. Acessibilidade Visual A paisagem é um recurso natural que tende a ser valorizado, quando apresenta potencialidades turísticas e pode desempenhar um papel importante no contexto da preservação dos ecossistemas, da biodiversidade e da manutenção do património natural e cultural. Pode, nessas condições, ser usufruída pelas populações locais e pelos potenciais turistas ou visitantes que a observam. A qualidade visual é um tributo determinante para que o usufruto da paisagem possa constituir um polo de atractividade para a região. Os sistemas de utilização e aproveitamento do solo revelam-se coerentes com as condições biofísicas presentes e por isso a paisagem parece apresentar-se em equilíbrio funcional e ecológico. Para a avaliação da acessibilidade visual da área de estudo foram analisadas as bacias visuais definidas por um conjunto de pontos notáveis. Estes pontos são locais indicados na Figura 24. Vista geral sobre o Bairro dos Pescadores e apoio de campismo Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade Vista geral sobre o Farol 94 Vista geral sobre as traseiras do Bairro dos Pescadores Vista geral sobre as ilhas dos Farilhões e Estelas Casa de máquinas a diesel e respectivos tanques de armazenamento de combustível Vista sobre o mini-mercado (Castelinho) Figura 24 - Pontos notáveis na Ilha Berlenga Projecção da Situação de Referência A zona junto ao Bairro dos Pescadores é uma unidade que tenderá a perder qualidade visual e ecológica, face à propagação e mais rápido crescimento de espécies invasoras. Para além disso, junto ao Bairro dos pescadores, existe uma concentração de outras infra-estruturas de apoio à ilha, como por exemplo, o minimercado, a casa dos geradores, o restaurante, o cais, que cômputo geral contribuem para a diminuição da qualidade visual desta unidade paisagística. De referir ainda outros dois marcos importantes na paisagem da ilha, que são o Farol , situado no ponto mais elevado da Ilha , e o Forte de S. Baptista. Estes dois elementos são constituintes do património cultural da ilha, constituindo pontos de visitação. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 95 Nas áreas de protecção total, a tendência será manter o padrão de protecção do solo, que desempenham uma importante função de protecção. A construção e ocupação na paisagem deverá ser efectuada de forma prudente e conservadora das suas potencialidades e qualidades. 3.9 – Ordenamento do território Este capítulo tem como propósito efectuar o enquadramento da Reserva Natural das Berlengas, nos Instrumentos de Gestão Territorial (IGT) em vigor para o local, nomeadamente no que concerne ao Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas (PORNB), aprovado pela Resolução do Concelho de Ministros nº 180/2008 com publicação no Diário da República, I Série B, nº 228, a 24 de Novembro, bem como ao Plano Director Municipal (PDM), aprovado pela Resolução do Concelho de Ministros nº 139/95 com publicação no Diário da República, I Série B, nº 265, a 16 de Novembro. 3.9.1 - Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas A Resolução do Conselho de Ministros n.º 47/2001, de 10 de Maio, posteriormente alterada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 6/2005, de 7 de Janeiro, determinou a elaboração do Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas, o seu acompanhamento e aprovação, em conformidade com o disposto no Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, com a redacção conferida pelo Decreto-Lei n.º 316/2007, de 19 de Setembro. Sendo o PORNB um instrumento de planeamento de natureza Especial, tem como principio estabelecer regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais e o regime de gestão compatível com a utilização sustentável do território. No que respeita à área terrestre de intervenção do PORNB, conforme definido nos artigos 12º, 13º, 15º e 17º do Regulamento do mesmo, estão identificadas três tipologias distintas, sujeitas a diferentes regimes de protecção: Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 96 Áreas de protecção total – correspondentes a espaços que contêm valores naturais e paisagísticos que, no seu conjunto e do ponto de vista da conservação da natureza, assumem relevância excepcional e apresentam elevada sensibilidade ecológica; Áreas de protecção parcial – correspondentes a espaços que contêm valores naturais e paisagísticos que, do ponto de vista da conservação da natureza, se assumem no seu conjunto como relevantes ou excepcionais e apresentam sensibilidade ecológica elevada ou moderada; Áreas de protecção complementar – correspondentes aos espaços de enquadramento, transição ou amortecimento de impactes das actividades humanas relativamente a áreas de protecção total ou de protecção parcial, de uso mais intensivo do solo e dos recursos naturais, onde se pretende compatibilizar a intervenção humana e o desenvolvimento social e económico local com os valores naturais e paisagísticos e os objectivos de conservação da natureza. De acordo com o disposto no Regulamento do PORNB, Artigo 16º, as áreas de protecção parcial são áreas non aedificandi, onde são permitidos, desde que autorizados pelo ICNB, I. P., um conjunto de acções, entre as quais, de acordo com alínea g “a realização das acções e a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto «Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade». Igual disposição está prevista no Artigo 18º, relativo às disposições específicas das áreas de protecção complementar, que explicita no seu número 4 “São permitidas obras de demolição, reconstrução e alteração nas edificações existentes nas áreas de protecção complementar, bem como a realização das acções e a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto «Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade», mediante autorização do ICNB, I. P.” Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 97 Figura 25 - Planta de Síntese – PORNB - Localização painéis fotovoltaicos (Cenários 1, 2 e 3) e Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas. A zona prevista neste projecto para a instalação dos diversos equipamentos, em qualquer dos cenários em avaliação (C1, C2, C3, C4 e C5) recai em Área de Protecção Parcial, que como acabámos de descrever acima, permite a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto «Berlenga Laboratório de Sustentabilidade». 3.9.2 - Plano Director Municipal de Peniche No âmbito do PDM, de acordo com a Carta de Ordenamento, a totalidade da área encontra-se classificada como Espaços Naturais. Determina o artigo 20º do Regulamento do mencionado Plano que, estes são espaços nos quais se privilegiam a protecção dos recursos naturais e a salvaguarda dos valores paisagísticos e que pela sua especificidade patrimonial merecem relevância. A natureza delicada da área em questão justificou a definição da sua totalidade como Reserva Ecológica Nacional (REN), conforme delimitação na Carta de Condicionantes. As servidões e restrições para conservação do património natural, Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 98 nomeadamente no que diz respeito à Reserva Ecológica Nacional, estão definidas no Decreto-Lei n.º 93/90 de 19 de Março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 180/2006 de 6 de Setembro. Servidões Administrativas e Restrições de Utilidade Pública Na área da Reserva Natural da Berlenga aplicam-se todas as servidões administrativas e restrições de utilidade pública constantes da legislação em vigor, nomeadamente: ETBA – Esquema de Separação de Tráfego da Berlenga A ETBA da Berlenga estabelece o Esquema de Separação de Tráfego Marítimo e está a funcionar desde de 1 de Julho de 2005. A Servidão Militar A área definida por círculos de 3 Km de raio, tendo por centro os focos dos Faróis da Berlenga e do Farilhão Grande. Domínio Publico Marítimo (DPM) Define a servidão e restrições para a conservação do património natural do domínio hídrico, e abrange todo o arquipélago. Definido pela primeira vez por Decreto de 19 de Dezembro de 1892 e reiterado sucessivamente até ao presente, toda a ilha está abrangida por domínio publico, não existindo delimitação de domínio privado. Reserva Ecológica Nacional (REN) Relativamente à Reserva Ecológica Nacional (REN), o arquipélago encontra-se abrangido. A RCM n.º 76/96 de 27 de Maio, aprova a delimitação da REN do concelho de Peniche, que abrange a parte emersa do arquipélago e a parte imersa até à batimétrica dos 30 metros. Protecção de Monumentos Nacionais e Imóveis de Interesse Público – Forte de São João Baptista; A legislação que se aplica a este tipo de servidão – Decreto nº 28536 de 22 de Março de 1938, Zona de Protecção publicada no Diário da República nº 120 de 21 de Março de 1960 II Série – abrange o Forte de S. João Baptista que integra os Imóveis Classificados como Monumentos Nacionais. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 99 Sítios Arqueológicos Conjunto de Sítios Arqueológicos identificados na Planta de Condicionantes do PORNB, e que constituem património cultural relevante na Berlenga. O Bairro Comandante Andrade e o Sitio do Moinho ficam localizados na área de abrangência deste Projecto, sendo alvo de descrição mais detalhada no descritor específico. De referir no entanto que nos termos do Artigo 6º do PORNB nos sítios arqueológicos, não é permitida qualquer obra ou intervenção com impacte ao nível do subsolo, com excepção das intervenções de investigação e valorização do património arqueológico promovidas pelas entidades competentes. Exceptuam-se as que ocorram no Bairro Comandante Andrade e Silva e no Farol da Berlenga, sendo nestes casos precedida de intervenção arqueológica, de forma a evitar eventuais consequências destrutivas sobre o património aterrado, em qualquer obra com impacte ao nível do subsolo. Protecção dos Faróis - Farol Berlenga e Farilhões A zona de protecção ao Farol da Berlenga constitui uma servidão e zona de serviço, e está representada na Planta de Condicionantes. Protecção ao marco geodésico – Farol da Berlenga O Decreto-Lei n.º 143/82 de 26 de Abril estabelece uma zona mínima de respeito em volta dos vértices geodésicos, constituída por uma área circunjacente ao sinal, nunca inferior a 15m de raio. A servidão do vértice geodésico situado na ilha da Berlenga é constituída em torno das coordenadas Hayford-Gauss, Datum de 73 (Elipsóide Internacional), inscritas na folha 26-C, escala 1/50.000, respectivamente: Berlenga 120.700 (X—118521.481; Y—27181.116), Berlenga – ENE 112.113 (X— 118519.015; Y—27178.691), Berlenga – ESE (X—118518.507; Y—27184.085), Berlenga – ESW (X— 118524.435; Y 27184.063). Rede Natura 2000 (PTCON0006) e Zona de Protecção Especial do Arquipélago das Berlengas (PTZPE0009). A RCM n.º 142/97 de 28 de Agosto, e o DL nº 384-B/99 de 23 de Setembro, definem respectivamente o Sítio e a ZPE do Arquipélago das Berlengas com os códigos PTCON0006 e PTZPE0009. O PORNB integra Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 100 os valores de conservação e as medidas de gestão necessárias à sua salvaguarda, nos termos do DecretoLei nº 49/2005 de 24 de Fevereiro. Como é possível verificar pela planta de condicionantes, a zona prevista neste projecto para a instalação dos diversos equipamentos, em qualquer dos cenários em avaliação (C1, C2, C3, C4 e C5) colide com algumas das Servidões e Restrições identificadas atrás, sendo necessário compatibilizar a localização dos equipamentos e requerer as autorizações necessárias. No que toca à Reserva Ecológica Nacional, que nos termos do regime jurídico da REN - Decreto -Lei n.º 166/2008, de 22 de Agosto, é definida como “uma estrutura biofísica que integra o conjunto das áreas que, pelo valor e sensibilidade ecológicos ou pela exposição e susceptibilidade perante riscos naturais, são objecto de protecção especial” Importa verificar da compatibilização entre as acções previstas neste Estudo, de acordo com o número 2 do artigo 2º, e o regime territorial especial que estabelece um conjunto de condicionamentos à ocupação, uso e transformação do solo, nos vários tipos de áreas. Que no caso concreto da Berlenga são a salvaguarda dos sistemas e processos biofísicos associados ao litoral, em particular a faixa marítima de protecção costeira. Que se caracteriza, de acordo com o anexo I do Decreto-lei nº 166/2008, de 22 de Agosto, pela sua elevada produtividade em termos de recursos biológicos e pelo seu elevado hidrodinamismo responsável pelo equilíbrio dos litorais arenosos, bem como por ser uma área de ocorrência de habitats naturais e de espécies da flora e da fauna marinhas consideradas de interesse comunitário nos termos do Decreto -Lei n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro. O número 3 da Secção I do anexo I refere que na faixa marítima de protecção costeira podem ser realizados os usos e as acções que não coloquem em causa, cumulativamente, as seguintes funções: i) As funções descritas no número anterior; ii) Os processos de dinâmica costeira; iii) O equilíbrio dos sistemas biofísicos; iv) A segurança de pessoas e bens. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 101 As infra-estruturas previstas no presente projecto, para qualquer dos cenários analisados (C1, C2, C3, C4 e C5), inserem-se no previsto no Anexo I da Portaria 1356/2008, de 28 de Novembro. Mais especificamente têm enquadramento na alínea f) Produção e distribuição de electricidade a partir de fontes de energia renováveis (instalações de produção de electricidade a partir de fontes de energia renováveis nos termos do Decreto -Lei n.º 225/2007, de 31 de Maio). A instalação destes equipamentos e infra-estruturas estão salvaguardados e excepcionados no regulamento do Plano de Ordenamento da RNB, como foi descrito atrás. Como poderá constatar-se pela análise da componente Ecologia e pela cartografia anexa a este EIncA, a área a afectar pela implantação dos equipamentos previstos não colide com habitats naturais e espécies de flora e fauna com interesse de conservação nos termos do Decreto-lei nº 49/2005, de 24 de Fevereiro. Dada a natureza do Projecto em análise e a sua dimensão, em nenhuma fase de implementação/construção ou funcionamento serão posto em causa os processos e funções de dinâmica costeira e do funcionamento do sistema biofísico. De igual modo não porá em causa a segurança de pessoas e bens. Por ultimo, e cumulativamente deverá ainda salientar-se a ausência de alternativas para a instalação do Projecto em área não integrada em REN, na Ilha da Berlenga. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 102 Figura 26 - Planta de condicionantes da Ilha Berlenga Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 103 3.10 – Património Neste capítulo pretende-se proceder à identificação e salvaguarda do património de natureza arqueológica, histórica e etnográfica existente na área de intervenção do projecto. Este estudo avalia os impactes associados às soluções propostas no âmbito da execução do projecto, propondo medidas minimizadoras dos mesmos. Identifica-se igualmente as soluções que menor impacte terão sobre o Património Cultural existente na área a intervencionar. O enunciado a seguir exposto resultou da produção, nos termos da legislação vigente, de relatório referente à vertente Património Cultural do Estudo de Incidências Ambientais do projecto Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade, submetido ao IGESPAR. 3.10.1 Nota Histórica Registando um longo historial de presença humana, a Ilha da Berlenga apresenta, para além do seu inestimável património natural e geológico, um valioso património histórico, demonstrativo da importância deste território insular na história das navegações. Durante o período pré-histórico, e em particular, durante o Paleolítico Superior, por força da Regressão Flandriana causada pela Glaciação de Würm, este território estaria ligado ao continente. Tal realidade, associada à existência de várias cavidades naturais, utilizáveis como abrigo, potenciaria uma ocupação humana similar à verificada na actual península de Peniche, presença perpetuada na importante estação arqueológica da Gruta da Furninha, então sobranceira a uma extensa planície que ligaria este território ao afloramento granítico que hoje configura a actual Ilha da Berlenga. Neste sentido, e no âmbito da elaboração do Plano de Ordenamento da Reserva Natural da Berlenga (PORNB), que contemplou o levantamento de elementos patrimoniais e contextos arqueológicos existentes neste território (Bugalhão & Zambujo, 2007), foram realizadas em 2007, por equipa dirigida Gertrudes Zambujo, sondagens arqueológicas nas grutas do Perna Fina e do Forte da Berlenga, intervenções que não permitiram contudo confirmar (nem rejeitar) uma ocupação pré-histórica destes sítios (Zambujo, 2007a; 2007b). Navegado desde da antiguidade o mar de Peniche tem no fundeadouro da Ilha Berlenga testemunho desta diacronia histórica. A Ilha da Berlenga, pela sua localização estratégica no enfiamento da importante rota Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 104 atlântica, viu as suas águas fundeadas por embarcações de várias épocas. A memória destas navegações é perpetuada pelos achados subaquáticos recuperados nos últimos anos em diversos projectos de investigação, destacando-se destes âncoras em pedra de horizonte fenício-púnico, cepos de âncora em chumbo e ânforas de época romana, ou peças de artilharia de época moderna (Blot & Blot, 2006). A cartografia clássica atribui a este território o nome de Landobriga, topónimo de raiz céltica indiciador de uma ocupação pré-romana deste território, facto confirmado pela Orla Marítima, poema latino do séc. IV d. C., da autoria de Rúfio Festo Avieno, texto tendo na sua génese um périplo massaliota do último quartel do séc. VI a. C., no qual se alude a uma ilha, localizada na costa ocidental da Ibéria, de navegação perigosa, consagrada a Saturno (Ferreira, 1985); esta ilha seria muito provavelmente a Berlenga. Desta longa diacronia histórica destaca-se com particular relevância o período romano. Com efeito, este território insular parece ter funcionado como ponto de paragem obrigatório para as embarcações comerciais romanas que cruzavam a actual costa portuguesa ligando comercialmente o Mediterrâneo e o Norte da Europa. Este facto parece ser demonstrado pela identificação e recuperação, nestas águas, ao longo das duas últimas décadas, de mais de uma vintena de cepos de âncora em chumbo e de várias ânforas de produção romanas, testemunhos cuja assinalável quantidade atesta a extraordinária importância deste fundeadouro (Blot, 2003). Tratando-se de um ponto de escala obrigatório para a navegação atlântica, os trabalhos arqueológicos desenvolvidos nos últimos anos na Ilha da Berlenga, na zona da chamada Ilha Velha, apontam para a existência de contextos de cronologia romana no Bairro dos Pescadores e no sítio do Moinho (Bugalhão & Lourenço, 2001; 2005; 2006a; 2006b; 2007; 2008). A ocupação humana deste território terá continuado durante o período medieval, como parecem comprovar a identificação neste território de materiais arqueológicos de horizonte islâmico (Bugalhão & Lourenço, 2001). A esta presença infiel, ou à sua memória, parece aludir em 1147 o cruzado inglês Ranulfo de Granville, em carta dirigida ao clérigo Osberto de Baldreseia, aquando da sua passagem pela então ilha de Peniche: “[…] Junto dela há ainda duas ilhas, a que julgo chama Berlengas, corrupção de Baleares e numa delas existe um palácio de maravilhosa arquitectura, com muitos alojamentos de arrecadação, o qual segundo dizem serviu outrora de agradabilíssimo retiro particular de certo rei. […]” (Calado, 1991). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 105 Tal com o topónimo Peniche, cuja origem advém da palavra paeninsula (paene+insula = quase ilha), também o nome Berlenga, atribuído à ilha maior, parece aludir à realidade geomorfológica desse território, derivando este da palavra latina Berlenghum, termo que significa mesa, devendo a sua génese radicar igualmente na Alta Idade Média. Após a fundação da nacionalidade, a Ilha da Berlenga foi integrada no reino, embora só em 1433, no reinado de D. Duarte, se conheça a primeira menção à administração deste território insular, aquando da confirmação da doação deste reguengo ao Infante D. Fernando. A este seguiram-se outros donatários: Infante D. Henrique (1449-1460; D. Jorge de Vasconcelos (1512-?); Mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia (? - 1545); Condes de Atouguia da Baleia (1617-1759) (Engenheiro, 1999b). Em 1512, D. Manuel doa a Jorge de Vasconcelos, fidalgo de sua casa, “[…] rendas e dreitos das Berlengas […]” (Bernardo, 1969; 1970; Engenheiro, 1999b). Neste ano, por ordem deste monarca, inicia-se a construção na Ilha da Berlenga, no actual Bairro dos Pescadores, de Mosteiro da ordem jerónima consagrado a Nossa Senhora da Misericórdia. Dois anos mais tarde, em 1514, instalam-se os primeiros monges, os quais se encontravam incumbidos de prestar a necessária assistência religiosa às tripulações das embarcações que aportavam a esta ilha. Os monges usufruíam de vários direitos outorgados pelo rei como receber “[…] a dizima nova do pescado que na dita ilha morrer […]”, aos quais se juntaram os benefícios concedidos pela Coroa a Jorge de Vasconcelos, e que este à data da sua morte transfere para o “[…] prioll e frades do dito mosteiro […]”. Porém a frequente investida de piratas e corsários europeus e norte-africanos a toda esta costa, e em particular a este território insular, motivou a transferência em 1545 desta comunidade religiosa para um novo Mosteiro, sedeado em Vale Benfeito (concelho de Óbidos), consagrado a Nossa Senhora da Conceição (Engenheiro, 1999a). A pirataria e o corso estiveram pelo menos deste o alvorecer da Idade Média associados a estas águas. São vários os relatos de ataques a embarcações mercantis e investidas a povoados piscatórios da região, perpetrados por ingleses, franceses, holandeses, marroquinos e argelinos, pelo menos até meados do séc. XVII, época em que é edificado o Forte de S. João Baptista. Em 1617, D. Filipe II doa a Ilha da Berlenga a D. João Gonçalves de Ataíde, permanecendo na posse dos Condes de Atouguia da Baleia até 1759, data em que este território é reintegrado nos domínios da Coroa, na sequência da confiscação dos bens desta família no âmbito do celebre processo dos Távoras, resultante Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 106 a tentativa falhada de assassinato do Rei D. José, e à qual a família Ataíde foi associada (Engenheiro, 1999b). A localização estratégica desta ilha e a sua frequente utilização como base de apoio a piratas e corsários, com especial incidência durante os séculos XVI e XVII, leva a que, em 1625, o referido monarca ibérico chame a atenção dos governadores de Lisboa para a conveniência de ser edificado um forte na Berlenga (Calado, 2000). Tal desiderato será apenas concretizado em após a Restauração, em 1654, quando sob ordem de D. João IV, e no âmbito do plano de fortificação da linha costeira desta região, são iniciados os trabalhos de construção do Forte de S. João Baptista. Concluída em 1656, esta fortificação viveu em Junho de 1666 o episódio bélico mais célebre da sua história, ao ser sitiado por uma esquadra espanhola. Nessa data, o Forte de S. João Baptista viu-se sitiado por uma esquadra espanhola, composta por catorze naus e uma caravela, comandada por D. Diogo Ibarra. Defendida, à altura, por uma pequena guarnição, inferior a vinte homens, e contando com apenas nove peças de artilharia, esta fortificação liderada pelo cabo Avelar Pessoa, terá conseguido resistir durante dois dias ao feroz bombardeamento inimigo, bem como provocar importantes baixas nas forças sitiantes, traduzidas em cerca de quinhentos mortos, uma nau afundada e duas outras fortemente danificadas, contra um morto e quatro feridos lusos. Segundo a documentação coeva portuguesa, o esgotamento dos mantimentos e das munições, e a deserção de um dos soldados, que expôs a D. Diogo Ibarra a dramática situação da guarnição portuguesa, terão motivado por fim a capitulação do Forte de S. João Baptista (Calado, 1991). Já no séc. XIX, em 1826, a Coroa autorizou a Câmara Municipal de Peniche a dar de aforamento uma parte dos terrenos da ilha a José Rufino Pacheco, Almoxarife da Praça de Peniche, e o restante a Francisco Franco Antão, Patrão-Mor do Posto de Peniche. Mais tarde, estes prédios foram comprados por Gaudêncio Fontana, então Director-Geral dos Faróis do Reino, que aí edifica em 1841, um farol, que recebe o nome de Farol do Duque de Bragança (Engenheiro, 1999b). Incontornável ponto de escala do tráfego comercial atlântico, as águas e os rochedos traiçoeiros das Berlengas foram igualmente palco de inúmeros naufrágios e acidentes marítimos cuja memória se perde nos tempos. Destes, pela sua monumentalidade e impacto na memória das gentes, destaca-se um vasto conjunto de navios da era da navegação a vapor que aqui naufragaram entre o último quartel do séc. XIX e Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 107 meados do séc. XX, e dos quais se destacam: o vapor de carga britânico El Dorado (Farilhão Grande 1885); o vapor português Gomes VIII (Baixa do Rinchão - 1899); o vapor italiano Primavera (Berlenga 1902); os navios gregos Polixeni (Estelas - 1905); Cornellius (Farilhões - 1910); Maroudio Inglessi (Baixa do Broeiro - 1921); Andrios (Berlengas - 1926) e Sappho (Estelas - 1932); e o vapor inglês Highland Hope (Farilhões - 1930), este último o naufrágio contemporâneo cuja memória se encontra mais vincada na comunidade (Calado, 1991; Reiner & Santos, 2002). Paralelamente a estes desastres assistiu-se ao desenvolvimento de uma indústria local ligada ao desmantelamento de navios. Em 1883, a então designada de Ilha de S. João Batista das Berlengas (sic) foi inscrita na Conservatória das Caldas da Rainha, a favor de José Maria Monteiro, tendo este posteriormente tomado posse judicial dos terrenos que compõem a ilha da Berlenga, com excepção de terreno que confrontava com o Forte de S. João Baptista, propriedade do Estado, e as parcelas onde se implantam o Farol e a Cisterna. Falecido este em 1904, este terreno foi partilhado pelos seus vários herdeiros, encontrando-se nos finais do século passado dividida em seis parcelas, de propriedade privada (Engenheiro, 1999b). Durante os finais do séc. XIX e início do século XX, instalam-se na Berlenga algumas famílias de pescadores que sazonalmente ou em permanência fizeram desta ilha base de apoio às armações “à valenciana” instaladas nas águas limítrofes. Para melhor acondicionar estes pescadores inicia-se em 1941, por iniciativa do Comandante António de Andrade e Silva, à época Capitão do Porto de Peniche, a construção no Carreiro do Mosteiro do chamado Bairro dos Pescadores. A este complexo habitacional, composto por 16 pequenas casas, e que em 1991 viria a receber a nome do seu promotor, juntar-se-iam em 1952, um edifício para restaurante, e no início da década de oitenta, um espaço de campismo, ambos construídos pela Câmara Municipal de Peniche (Reiner & Santos, 2002). Em 1952, o Forte de S. João Baptista é alvo de obras de recuperação, desenvolvidas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que permitiram a instalação neste imóvel de uma pousada e de um restaurante (DGEMN, 1953). Sendo este arquipélago é um dos mais importantes locais de nidificação de aves marinhas na Península Ibérica, possuindo igualmente mais de uma dezena de espécies botânicas raras em Portugal, é criada em 1981, com o intuito de salvaguardar este importante património, a Reserva Natural das Berlengas (Reiner & Santos, 2002). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 108 A geomorfologia e as vicissitudes da História fizeram do Arquipélago das Berlengas um território onde a matriz humana, não tendo sido excessivamente vincada, desde sempre se estabeleceu em equilíbrio com a Natureza, realidade que urge perpetuar de forma a garantir a preservação deste importante elemento identidário local, mas igualmente mundial. 3.10.2 - Património cultural existente na área a intervencionar no âmbito do projecto A Ilha da Berlenga para além da componente natural e ambiental, ostenta um importante património cultural, de fundo arqueológico, arquitectónico e etnográfico. Neste sentido, no âmbito da colaboração desenvolvida entre a Reserva Natural das Berlengas o então IPA (actual IGESPAR, I.P.), versando a salvaguarda do património arqueológico e histórico existente na ilha, foi esta última entidade convidada a participar na elaboração do Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas através da identificação e delimitação de sítios de interesse cultural existentes neste território. Esta colaboração foi consubstanciada no projecto de Levantamento patrimonial e arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), iniciado em Maio de 2006 e concluído em Maio de 2007 (Bugalhão & Lourenço, 2007a), no âmbito do qual é efectuado o arrolamento do património de natureza cultural existente na Ilha da Berlenga (Figura 27). Figura 27 - Património arqueológico conhecido na Reserva Natural das Berlengas Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 109 Tendo como base este levantamento, assinala-se seguidamente o património cultural existente na área a intervencionar no âmbito do projecto. 3.10.2.1 - Forte de S. João Baptista O Forte de S. João Baptista apresenta um enquadramento marítimo: encontra-se numa das enseadas da vertente Sudeste da Ilha da Berlenga, sobre um ilhéu, ligado à ilha por ponte em alvenaria, sobre arcadas, com um pequeno ancoradouro do lado Norte (Figura 28). Figura 28 – Vista geral do Forte de São João Baptista. Este forte foi estrategicamente construído no âmbito de um plano de fortificação da linha costeira da região de Peniche implementado após a Restauração que incluiu fortificações como o Forte da Consolação ou a Fortaleza de Peniche, e que surgiu igualmente na sequência dos constantes ataques de pirataria a que esta costa estava sujeita. No caso concreto da Ilha da Berlenga, esta era utilizada como base de apoio a piratas e corsários, que dela se serviam para atacar o restante território continental. Esta fortificação, de planta octogonal, apanágio da arquitectura militar maneirista, começa a ser construída em 1654, por ordem de D. João IV, tendo as obras sido concluídas em 1656. Em 1938, dá-se a Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 110 classificação deste imóvel histórico como Monumento Nacional (Decreto nº 28536 de 22 de Março). Posteriormente, em 1960, é estabelecida uma Zona Especial de Protecção à fortificação (Diário da República nº 120 de 21 de Maio). O Forte de S. João Baptista é um imóvel público, de propriedade estatal. Este imóvel encontra-se identificado no Anexo 1 do Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas - Património Arqueológico Conhecido (Figura 27). 3.10.2.2 - Farol Duque de Bragança O Farol do Duque de Bragança, localiza-se no topo aplanado da ilha da Berlenga, tendo sido edificado em 1841, por Gaudêncio Fontana. Elevando-se a aproximadamente 112 metros acima do nível do mar, este farol, formado por uma torre quadrangular caiada de branco, projecta o seu raio luminoso a cerca de 52 milhas de distância (Figura 29). Figura 29 – Vista geral do Farol Duque de Bragança – Ilha da Berlenga. Este imóvel encontra-se identificado no Anexo 1 do PORNB - Património Arqueológico Conhecido (Figura 27). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 111 3.10.2.3 - Cemitério No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificado, como local de interesse arqueológico, um sítio vulgarmente designado por Cemitério, localizado zona Sudeste da ilha, junto às Cisternas (Figuras 27 e 30). Tratar-se-á, provavelmente, conforme o topónimo indicia, de um sítio de índole funerária, de cronologia moderna/contemporânea, associável ao uso militar do Forte de S. João Baptista. Figura 30 – Vista geral da face Sul da Ilha da Berlenga, assinalando-se o sítio do Cemitério. 3.10.2.4 - Figueiras No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (cf. Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificada, como sítio de interesse arqueológico, uma estrutura tipo "plataforma", construída em blocos graníticos aparelhados, localizada na face Sudeste da ilha, a Nordeste do Carreiro do Mosteiro, no sítio das Figueiras (Figura 27 e 31). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 112 Figura 31 – Vista geral da face Sudeste da Ilha da Berlenga, a Nordeste do Carreiro do Mosteiro, assinalando-se do sítio das Figueiras. Trata-se de um elemento do "aquartelamento" da Ilha Berlenga, construído provavelmente em 1812, que surge referenciado na cartografia da época como bateria baixa à barbetta, correspondente a uma plataforma a partir da qual a artilharia disparava sobre o parapeito (cf. Bugalhão & Lourenço, 2007b). 3.10.2.5 - Fundeadouro da Berlenga No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), assinala-se como Estação Arqueológica Subaquática o Fundeadouro da Berlenga (Figuras 27 e 32). As águas do fundeadouro da Berlenga foram, entre 2001 e 2004, palco de projecto arqueológico, desenvolvido pelo então Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) do Instituto Português de Arqueologia (IPA) - actual Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico I. P. (IGESPAR I. P.) -, liderado por Jean-Yves Blot, versando a prospecção e georeferenciação de achados subaquáticos, levantamento que contou com o apoio logístico e técnico da Câmara Municipal de Peniche e da RPM Nautical Foundation (Estados Unidos). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 113 Figura 32 – Vista geral do Fundeadouro da Ilha da Berlenga. O estudo dos materiais de cronologia romana recolhidos durante esta missão permitiu a identificação de uma forma ânfórica dominante - Haltern 70 - produzida em larga escala entre meados do séc. I a. C. e meados do séc. I d. C., utilizada para o transporte de vinho, um dos principais produtos transaccionados à escala do império romano (cf. Blot, 2005a; 2005b; Blot & Blot, 2006). A análise das pastas cerâmicas identificadas permite afirmar que estes contentores terão sido fabricados na Bética (Sul de Espanha) tendo transportado vinho produzido na actual Andaluzia, produto que em trânsito destinar-se-ia ao consumo das colónias romanas norte-europeias (Diogo & Venâncio, 2005; Diogo, Trindade & Venâncio, 2005). 3.10.2.6 - Gruta do Forte No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificada, como sítio de interesse etnográfico e eventual interesse arqueológico, uma cavidade natural, conhecida como Gruta do Forte, localizada na encosta Sudeste da ilha, fronteira ao Forte de S. João Baptista (Figuras 27 e 33). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 114 Figura 33 – Vista geral da face Sudoeste da Ilha da Berlenga, junto ao Forte de S. João Baptista, assinalando-se a Gruta do Forte.. Este sítio foi alvo de intervenção arqueológica que todavia apenas identificou vestígios de ocupação humana de cronologia moderna e contemporânea (Zambujo, 2007b). 3.10.2.7 - Gruta da Perna Fina No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificada, como sítio de interesse etnográfico e eventual interesse arqueológico, uma cavidade natural, conhecida como Gruta do Perna Fina, localizada na encosta Sudoeste da ilha, no sítio do Brandal (Figuras 27 e 34). Figura 34 – Vista geral da zona do Brandal, na face Sudoeste da Ilha da Berlenga, assinalando-se a localização da Gruta do Perna Fina. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 115 Este sítio foi alvo de intervenção arqueológica que todavia apenas identificou vestígios de ocupação humana de contemporânea (Zambujo, 2007a). 3.10.2.8 - Gruta da Praia No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificada, como sítio de interesse etnográfico, uma cavidade natural, vulgarmente conhecida como Gruta do Praia, localizada na face Sudeste da ilha, junto à praia do Carreiro do Mosteiro (Figura 27). 3.10.2.9 - Gruta do Espanhol Figura 35 – Vista geral da zona do Carreiro do Mosteiro, na face Sudoeste da Ilha da Berlenga, assinalando-se a localização da Gruta do Espanhol. No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificada, como sítio de interesse etnográfico, uma cavidade natural, vulgarmente conhecida como Gruta do Espanhol, localizada na encosta Sudeste da ilha, perto da praia do Carreiro do Mosteiro (Figuras 27 e 35). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 116 3.10.2.10 - Horta dos Reformados No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificada, como sítio de interesse etnográfico, uma estrutura tipo cerca, de cronologia contemporânea, vulgarmente designada de Horta dos Reformados, localizada na encosta Sudeste da ilha, sobranceira ao Carreiro da Fortaleza (Figuras 27 e 36). Figura 36 – Vista geral da chamada Horta dos Reformados. 3.10.2.11 - Bairro Comandante Andrade e Silva No âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi identificado como sítio de interesse arquitectónico e arqueológico um conjunto habitacional construído na vertente Leste do chamado Carreiro do Mosteiro, o Bairro Comandante Andrade e Silva, comummente designado de Bairro dos Pescadores (Figuras 27 e 37). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 117 Figura 37 – Vista geral do Bairro dos Pescadores. Este complexo habitacional, construído em 1941 com o intuito de albergar a comunidade piscatória instalada na Ilha da Berlenga, é hoje composto por cerca de três dezenas de habitações térreas, construídas em bandas, ao qual se associa alguns equipamentos de apoio à visitação da ilha, nomeadamente o “Pavilhão” (restaurante/alojamento) e o “Castelinho” (pequeno espaço comercial). Durante o séc. XVI terá sido implantado nesta área um Mosteiro da Ordem Jerónima, sendo esta memória perpetuada não apenas pela toponímia, mas igualmente pela identificação, sob a vegetação, de vestígios de fundações e paredes (Figura 38) e por vários testemunho orais que associam à construção do bairro a observação e recolha de ossadas e de materiais cerâmicos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 118 Figura 38 – Vista geral do Carreiro do Mosteiro (anos 30 do séc. XX) antes da edificação do Bairro dos Pescadores, sendo ainda visíveis vestígios estruturais associáveis ao antigo mosteiro. De referir, que o sítio designado de “Castelinho”, terá sido edificado sob vestígio de uma antiga atalaia dos jerónimos sobranceira ao ancoradouro do Carreiro do Mosteiro, reutilizando alguma silharia calcária provavelmente proveniente das estruturas do antigo mosteiro (Figura 39). Figura 39 – Vista geral do Castelinho. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 119 Esta ocupação de cronologia moderna foi confirmada em intervenção arqueológica desenvolvida em 2000 no Bairro dos Pescadores, no âmbito da qual foi possível identificar estruturas, acompanhando o declive do terreno, associáveis às fundações do mosteiro (Bugalhão & Lourenço, 2001). Entre 2000 e 2004 foram realizados nesta área vários trabalhos arqueológicos, que permitiram identificar vestígios de uma importante ocupação romana, realidade conexa com o historial de achados subaquáticos provenientes do fundeadouro. No âmbito das referidas intervenções foram recolhidos materiais associáveis ao período da República, Alto Império e Baixo Império (entre o séc. I a. C. e IV d. C), nomadamente cerâmica comum, anfórica (produções de Peniche, hispânicas e africanas), de construção e terra sigillata (produções hispânicas e sudgálicas), em deposição secundária, facto resultante do declive do terreno e das circunstâncias em que estes trabalhos foram desenvolvidos (Bugalhão & Lourenço, 2005; 2006a; 2006b). Durante o período supracitado foram desenvolvidos quatros trabalhos arqueológicos de emergência no Bairro dos Pescadores, dirigidos em co-responsabilidade pelas arqueólogas Jacinta Bugalhão, Gertrudes Zambujo e Sandra Lourenço, pertencentes ao extinto IPA (cujas competências nesta área transitaram para o actual IGESPAR I.P.), a saber: Intervenções de emergência na Ilha da Berlenga 2000 (16-17 Março) Salvamento Direcção: Jacinta Bugalhão e Sandra Lourenço (…) Tratou-se de uma intervenção de salvamento no contexto da identificação de vestígios arqueológicos durante obras de melhoria de infra-estruturas no local. Teve por objectivos o diagnóstico e a caracterização científica e patrimonial dos vestígios em presença, com o objectivo da sua preservação e da minimização dos impactos provocados pelas obras em curso. Optou-se por efectuar a limpeza, registo gráfico e fotográfico de três cortes previamente abertos durante as obras. Em todos eles foi identificada uma camada superficial com presença de materiais misturados, dos diversos períodos de ocupação do local (romano, moderno e contemporâneo) em deposição secundária. Nos cortes 1 e 2, foram observados vestígios estruturais e estratigráficos relacionados com a ocupação do século XVI: Mosteiro da Misericórdia. Foram recolhidos os materiais arqueológicos visíveis nos terrenos Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 120 remexidos pelas obras. As estruturas foram preservadas e recobertas com terra. (…) (in Ilha da Berlenga Bairro dos Pescadores/Salvamento/2000, em Endovélico, disponível em http://www.ipa.min-cultura.pt). 2001 (14 Agosto) Sondagem Direcção: Jacinta Bugalhão e Gertrudes Zambujo (…) Tratou-se de uma intervenção preventiva, prévia à construção de um compartimento para arrumos, junto à construção conhecida por "Castelinho", com objectivo de avaliar o potencial arqueológico a afectar e a prevenir eventuais impactos destrutivos a nível do subsolo. Foi escavada uma área de sondagem com 2x1.70m, até atingir o substrato geológico (que se encontrava a uma profundidade máxima de 80 cm). A área encontrava-se totalmente remexida e preenchida por estruturas recentes de escoamento de águas pluviais e esgotos. Não foram detectados quaisquer vestígios arqueológicos, nem recolhido qualquer espólio. A área foi recoberta com a terra retirada durante os trabalhos a construção prevista foi viabilizada sem qualquer condicionante. (…) (in Ilha da Berlenga - Bairro dos Pescadores/Sondagem/2001, em Endovélico, disponível em http://www.ipa.min-cultura.pt). 2002 (26 Setembro) Salvamento Direcção: Jacinta Bugalhão e Sandra Lourenço (…) Tratou-se de uma intervenção de salvamento no contexto da identificação de vestígios arqueológicos durante obras de melhoria de infra-estruturas no local. Teve por objectivos o diagnóstico e a caracterização científica e patrimonial dos vestígios em presença, com o objectivo da sua preservação e da minimização dos impactos provocados pelas obras de melhoramento do saneamento básico do Bairro dos Pescadores. Optou-se por efectuar a limpeza, registo gráfico e fotográfico das valas para a implantação de condutas de esgotos que já se encontravam abertas a quando da nossa chegada ao local e que ainda não tinham sido recobertas. Era visível a seguinte sequência estratigráfica: pavimento em cimento assente sobre uma camada de pequenos blocos graníticos unidos por saibro, ao qual sucedia a camada arqueológica. Nas áreas de cota superior, o pavimento em cimento assentava directamente sobre o substrato rochoso. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 121 Quanto à camada arqueológica, apresentava materiais cerâmicos predominantemente de cronologia romana, tendo-se concluído que a camada se encontrava remexida, podendo este facto remontar ao momento de construção do bairro. Contudo, aparentemente, a camada conservava-se bastante integra, se atendermos à homogeneidade cronológica dos materiais. Mais uma vez, os materiais anfóricos são maioritários, representando 84% do total dos fragmentos cerâmicos recolhidos. (…) (in Ilha da Berlenga Bairro dos Pescadores/Salvamento/2002, em Endovélico, disponível em http://www.ipa.min-cultura.pt). 2004 (5 de Abril a 18 de Junho) Escavação Direcção: Jacinta Bugalhão e Sandra Lourenço (…) Tratando-se de uma intervenção de emergência, os objectivos visaram a observação de terras remexidas e recolha de material arqueológico; escavação arqueológica prévia de diagnóstico na área a afectar pela construção de uma estrutura de apoio à recolha de lixo (área 7) e de um armazém frigorífico (área 8) e uma plataforma para a implantação do novo depósito de água, no bairro dos pescadores. No que se refere à área 7, os trabalhos limitaram-se à recolha de material revolvido proveniente do enchimento e estratos existentes sob a plataforma destruída pelas obras. Sendo o material de cronologia romana claramente maioritário, poderá tratar-se de uma deposição secundária para enchimento da plataforma, no momento da sua construção, uma vez que parece verificar-se uma concentração de ocupação romana na plataforma central da encosta, hoje ocupada pelo Bairro dos Pescadores, onde são mais abundantes os materiais arqueológicos desta época. Relativamente à área 8, verifica-se uma ocorrência muito menos expressiva de material ânfórico, sendo que os escassos fragmentos recolhidos provêem quase exclusivamente da camada superficial. Na camada inferior, que poderá ser interpretada como uma bolsa detrítica, são quase exclusivamente de época moderna. Este estrato poderá estar relacionado com a ocupação local pelos monges de São Jerónimo, os quais fundaram no século XVI, o Mosteiro da Misericórdia. Ainda em relação a este contexto, a principal novidade, foi a identificação em quantidade considerável de fragmentos de formas de pão de açucar. (…) (in Ilha da Berlenga - Bairro dos Pescadores/Escavação/2004, em Endovélico, disponível em http://www.ipa.min-cultura.pt). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 122 O notório interesse arquitectónico e arqueológico do Bairro dos Pescadores motivou que, em contexto do PORNB fosse salvaguardada a preservação destas realidades. Neste sentido, no ponto 2, do Artigo 6º (Património Arqueológico) deste Regulamento considera-se que “(…) qualquer obra com impacte ao nível do subsolo deve ser precedida de intervenção arqueológica, de forma a evitar eventuais consequência destrutivas sobre o património soterrado. (…)”.(Anexo PORNB). 3.10.2.12 - Sitio do Moinho No decurso da actividade de prospecção desenvolvida em Maio de 2006, no âmbito do Levantamento Patrimonial e Arqueológico da Ilha Berlenga (parte emersa), realizado no contexto do PORNB (Bugalhão & Lourenço, 2007a), foi possível identificar no chamado sítio do Moinho um contexto arqueológico de época romana (Figuras 27, 40, 41, 42), entretanto alvo de trabalho de escavação arqueológica em Novembro de 2006, por equipa liderada por Jacinta Bugalhão e Sandra Lourenço (Bugalhão & Lourenço, 2008). Figura 40 – Vista geral do Sitio do Moinho. 2006 / 2007 (8 de Novembro de 2006 a 8 de Maio de 2007) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 123 Escavação Direcção: Jacinta Bugalhão e Sandra Lourenço (…) O sítio romano do Moinho poderá estar relacionado com uma ocupação permanente e/ou sazonal da Ilha, eventualmente durante um período de tempo bem delimitado por volta da transição de Era. Foram efectuadas 3 sondagens arqueológicas e identificadas fases de construção, ocupação, abandono, pós abandono/erosão (para além da camada vegetal superficial) relativas a um edifício de forma aparentemente quadrangular, com fundações construídas em blocos graníticos locais toscamente aparelhados, "travados" por pequenas pedras e terra. O edifício aparenta possuir um corpo inferior (com cerca de 9,5 metros de lado), cuja fundação possuía no interior um preenchimento constituído por pequenas pedras, que lhe conferiria maior solidez. No interior desta estrutura desenvolve-se um segundo corpo de forma igualmente quadrangular (com cerca de 4,5 metros de lado). Todo o conjunto está implantado numa elevação natural, onde parece ter sido construída uma plataforma artificial sobre a qual foi assente o edifício. Quanto à interpretação tipológica do sítio e na estrutura identificada, poderá avançar-se com as hipóteses de se tratar de um posto de vigia e controle de tráfego marítimo, um farol ou de uma estrutura de habitat. A possibilidade de se tratar de um farol de pequenas dimensões é apoiada na sua implantação topográfica, mas essencialmente, na tipologia que parece sugerir uma construção piramidal (com corpos quadrangulares concêntricos), em altura, típica dos paralelos romanos (arqueológicos e iconográficos) conhecidos Saliente-se que na cronologia apontada, decorria a fase de territorialização do poder e consolidação de circuitos comerciais, consubstanciadas nas rotas marítimas atlânticas, nas quais o fundeadouro da Berlenga se integrava. No que se refere ao espólio: foram recolhidos 355 fragmentos cerâmicos, materiais de construção (telha e tijolo) e reduzida fauna malacológica (lapas) e mamalógica. No que respeita a cerâmica fina, para além do fragmento de cerâmica campaniense (em mau estado de conservação), foram identificados alguns fragmentos de paredes finas eventualmente, de produção local (não contabilizados separadamente). Quanto à cerâmica comum destacam-se fragmentos de taças, jarros e almofarizes. Relativamente à cerâmica anfórica, verificou-se a presença de ânforas béticas tipo Haltern 70. Foi igualmente recolhido um fragmento de pança anfórica com vestígios de revestimento interno resinoso, provavelmente do mesmo tipo. Relativamente às produções locais (Olaria do Morraçal da Ajuda), salienta-se a ausência do tipo anfórico Dressel 7/11, mais abundante naquela olaria e predominante no Bairro dos Pescadores. (…) (in Ilha da Berlenga – Moinho/Escavação/2006, em Endovélico, disponível em http://www.ipa.min-cultura.pt). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 124 Figura 41 – Vista geral das estruturas arqueológicas do sítio do Moinho. O interesse deste sítio motivou a sua menção no ponto 3, do Artigo 6º (Património Arqueológico) do Regulamento do PORNB (cf. Anexo 1), no qual se estabelece que “(…) não é permitida a realização de obras ou qualquer outra intervenção com impacte ao nível do subsolo, exceptuando as intervenções de investigação ou valorização do património arqueológico (…)”.(ANEXO PORNB), 3.10.3 - Avaliação de Incidências Ambientais A instalação de equipamentos fotovoltaicos e eólicos, determinando a escavação e remoção de terras irá motivar um impacto considerado negativo, no que concerne à preservação de possível património arqueológico existente na área a intervencionar. 3.10.3.1 Fase de Construção Tendo em mente a localização da área a intervencionar, situada entre o Bairro dos Pescadores e o sítio do Moinho, zonas de notório e comprovado interesse arqueológico e patrimonial, conforme definido no Anexo 1 – Património Arqueológico Conhecido do Regulamento do PORNB (Figura 27), considera-se que Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 125 qualquer intervenção versando a instalação de equipamentos fotovoltaicos e eólicos, com reflexo ao nível do solo ou subsolo, nomeadamente a desmatação, escavação, remoção e depósito de terras e instalação de estaleiro, potenciando a destruição parcial ou total de eventuais vestígios e contextos de natureza arqueológica, irá motivar um impacte negativo de natureza directa, permanente, de magnitude média e de carácter significativo. 3.10.3.1 Fase de Exploração Não se apontam quaisquer impactes na fase de exploração no que respeita à preservação do património arqueológico existente na área a intervencionar. 3.10.4 - Avaliação dos Cenários No âmbito da avaliação das incidências ambientais associadas à execução do projecto foram apresentados quatro cenários, traduzidos num total de oito propostas, contemplando a instalação de equipamentos fotovoltaicos e eólicos, que seguidamente se apreciam: 3.10.4.1 - Cenário 1 As propostas apresentadas pelos concorrentes 1 e 2, prevendo a instalação unicamente de painéis fotovoltaicos, em zona localizada por cima do Bairro dos Pescadores, num área aproximada de 700 m², conforme definido na Figura 3, contemplam a ocupação de uma área que abrange parcialmente este complexo habitacional, conforme delimitado no Anexo 1 do Regulamento do PORNB (Figuras 27 e 42), facto que per si não inviabiliza a execução das propostas apresentadas, desde que salvaguardada a aplicação da medida de minimização prevista no ponto 2, do Artigo 6º (Património Arqueológico) do citado documento (Anexo PORNB), a saber, realização de intervenção arqueológica prévia ao início dos trabalhos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 126 Figura 42 – Pormenor do Anexo 1 – Património Arqueológico Conhecido – PORNB (Figura 27) com indicação dos sítios de interesse arqueológico existentes na área de intervenção do projecto. 3.10.4.2 - Cenário 2 As propostas apresentadas pelos concorrentes 1 e 2, prevendo a instalação unicamente de painéis fotovoltaicos, em zona localizada por cima do Bairro dos Pescadores, numa área aproximada de 350 m², conforme definido na Figura 4, não contemplam qualquer impacte sobre o património de natureza cultural existente neste território, conforme identificado no Anexo 1 do Regulamento do PORNB (Figura 27). 3.10.4.3 - Cenário 3 As propostas apresentadas pelos concorrentes 1 e 2, prevendo a instalação de painéis fotovoltaicos, em zona localizada por cima do Bairro dos Pescadores, numa área aproximada de 500 m.², conforme definido na Figura 6, não contemplam qualquer impacte sobre o património de natureza cultural existente neste território, conforme identificado no Anexo 1 do Regulamento do PORNB (Figura 27). Relativamente à implantação dos aerogeradores previstos em área a Nordeste do sítio do Moinho, na zona do Pesqueiro do Capitão, não se identifica qualquer inconveniente. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 127 3.10.4.4 - Cenário 4 As propostas apresentadas pelos concorrentes 1 e 2, prevendo a instalação de painéis fotovoltaicos, em zona localizada por cima do Bairro dos Pescadores, numa área aproximada de 290 m.², conforme definido na Figura 6, não contemplam qualquer impacte sobre o património de natureza cultural existente neste território, conforme identificado no Anexo 1 do Regulamento do PORNB (Figura 27).Tal com no Cenário 3, no que concerne à implantação dos aerogeradores previstos, na zona do Pesqueiro do Capitão, não se identifica qualquer inconveniente. 3.10.4.5 - Cenário 5 As propostas apresentadas pelos concorrentes 1 e 2, prevendo a instalação de painéis fotovoltaicos, numa extensão de aproximadamente 500 m.², e de disco stirling, em zona localizada por cima do Bairro dos Pescadores, conforme definido na Figura 3 e descrito na Tabela 5, contemplam a ocupação de uma área que abrange parcialmente este complexo habitacional, conforme delimitado no Anexo 1 do Regulamento do PORNB (Figuras 27 e 42), facto que per si não inviabiliza a execução das propostas apresentadas, desde que salvaguardada a aplicação da medida de minimização prevista no ponto 2, do Artigo 6º (Património Arqueológico) do citado documento (cf. ANEXO PORNB), a saber, realização de intervenção arqueológica prévia ao início dos trabalhos. 3.10.4.6 - Cenário 6 A não aplicação do projecto definida no cenário 6 não implica qualquer tipo de impacte sobre os valores culturais identificados na Ilha da Berlenga. Da avaliação efectuada dos cenários e propostas apresentadas consideram-se os cenários 2, 3 e 4, e respectivas propostas, como aqueles que, não apresentando qualquer impacte sobre o património arqueológico identificado neste território, melhor se adequam à concretização deste projecto. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 128 3.10.5 - Medidas de Minimização 3.10.5.1 - Fase de Construção Perante o potencial arqueológico da área a abranger pelo projecto e a natureza das acções previstas no âmbito da execução do mesmo, impõe-se a aplicação de algumas medidas de minimização de possíveis impactes negativos, a desenvolver nos termos da legislação vigente (Artigos 77º e 79º da Lei de Bases do Património Cultural Português, Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro) e do Regulamento do PORNB (CF. ANEXO PORNB), de acordo com cada cenário, nomeadamente: Realização de sondagens arqueológicas de diagnóstico na totalidade da zona a intervencionar (cenários 1 e 5). A execução deste trabalho, por via manual, permitirá o reconhecimento prévio, registo e salvaguarda de vestígios e estruturas arqueológicas. A identificação no âmbito deste trabalho de contextos de natureza arqueológica motivará necessariamente, a realização de intervenção arqueológica de emergência de forma a avaliar a especificidade e extensão dos mesmos. Acompanhamento arqueológico dos trabalhos de desmatação, escavação, remoção e depósito de terras, e instalação de estaleiro (cenários 1 a 5). Este trabalho deve ser efectuado em permanência, de forma continuada e contemplando todas as mobilizações do solo atrás mencionadas. O acompanhamento arqueológico da obra deverá evitar a destruição gratuita de artefactos ou contextos arqueológicos que possam surgir no âmbito da intervenção, devendo a sua identificação motivar igualmente a realização de uma escavação arqueológica de emergência. Os pedidos referentes aos trabalhos arqueológicos a realizar no âmbito da execução do projecto deverão ser previamente submetidos à tutela – IGESPAR I.P.. Tendo em consideração, a enorme relevância da Ilha da Berlenga no contexto da navegação à escala atlântica (e consequentemente no panorama da arqueologia portuguesa), o facto das intervenções arqueológicas desenvolvidas nas últimas décadas, em meio terrestre quer em meio aquático, terem sido realizadas na sua totalidade pelo IGESPAR, I.P. (ou pelo organismo seu antecessor), demonstrando notório conhecimento por parte dos técnicos desta entidade da realidade local, e, por fim, o facto deste organismo ter assento no Conselho Estratégico da Reserva Natural da Berlenga, recomenda-se no âmbito deste relatório que possa o IGESPAR, I.P, assumir a realização dos trabalhos atrás definidos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 129 3.10.5.1.1 - Medidas de minimização segundo os cenários propostos: Medidas de minimização segundo os cenários propostos Medida Sondagens arqueológicas de diagnóstico Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 x Cenário 5 Cenário 6 x Acompanhamento arqueológico dos x x x x x trabalhos Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 130 3.11 - Sócio-económica Na ilha da Berlenga não existem aglomerados populacionais permanentes. Ali apenas residem de forma não permanente alguns habitantes no Bairro dos Pescadores, no Forte de S. João Baptista e no Farol da Berlenga, principalmente pescadores, faroleiros e funcionários da Reserva Natural das Berlengas, a que somam temporariamente funcionários da Câmara Municipal e pessoal de apoio aos serviços na restante época do ano. Durante o verão a Berlenga recebe cerca de 40 mil visitantes, na sua maioria em visita diária e sem pernoita na ilha, condicionado à disponibilidade de transporte e à capacidade de visitação. A Portaria nº 270/90 de 10 de Abril, define o “número de indivíduos que, para além dos que podem legalmente exercer a pesca na área da Reserva, constituem a capacidade de carga humana da Reserva Natural da Berlenga” e “não deve exceder os 350 indivíduos”, “excluindo do cômputo da capacidade de carga todos os indivíduos que na mesma possuam residencial habitual”. No entanto, o controle deste número de visitantes diários parece nunca ter sido feito de forma sistemática e consequente. A RCM nº 180/2008 de 24 Novembro, dedica o seu artigo 10º à definição da capacidade de carga humana na ilha, identificando de forma genérica a metodologia a aplicar para o seu cálculo e responsabilizando o ICNB pelos estudos necessários à sua redefinição e implementação. Do ponto de vista produtivo a Berlenga destaca-se pela sua importância no turismo e nas pescas, não dispondo este estudo de números específicos para a área da Reserva Natural. Verifica-se, no entanto, que o arquipélago continua a exerce atractividade crescente para as actividades de lazer, recreio e diversas práticas subaquáticas. Estas actividades estão fortemente condicionadas na parte marinha e fundamentalmente na parte emersa da Reserva Natural, pela sua reduzida dimensão e pela defesa dos valores presentes na Ilha da Berlenga. 3.11.1 População residente Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 131 O concelho de Peniche caracteriza-se por ser um concelho muito povoado com uma densidade populacional de 354 hab./km2 em 2001, a mais elevada de todos os concelhos da sub-região Oeste. O maior núcleo urbano, a cidade de Peniche, tinha 15.304 habitantes em 1991 e 15.595 habitantes em 2001. A Ilha Berlenga não possui habitantes residentes, apenas habitantes de carácter temporário, desde os faroleiros, pessoal pertencente ao ICNB que efectua a vigilância do local, aos pescadores e durante a época alta, os visitantes da ilha. Estes habitantes são: equipas de faroleiros da Direcção de Faróis e vigilantes da natureza do ICNB que estão presentes durante todo ano, mas cumprindo escalas de serviço; alguns funcionários da Câmara Municipal de Peniche, que permanecem nesta ilha durante períodos mais ou menos prolongados, em geral de Março até Novembro. No Bairro dos Pescadores, existem 12 casas utilizadas pelos pescadores. Adicionalmente, nos meses de Maio a Outubro, costumam pernoitar com alguma regularidade na Berlenga cerca de duas dezenas de pescadores artesanais e por vezes alguns técnicos de apoio a diversas actividades e serviços, incluindo técnicos da EDP e pessoal diverso da área da restauração. Caracterização da População Embora a sub-região se situe ao longo da costa marítima, numa franja superior a 100 km, apresenta densidades populacionais das mais baixas da região de Lisboa e Vale do Tejo, mantendo-se estacionárias nas últimas décadas. De facto, os dados dos últimos censos mostram o poder de atracção populacional exercido pelos concelhos com características urbanas, com especial incidência em freguesias com sede de concelho ou situadas no litoral ligadas a áreas de veraneio (concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha e Torres Vedras) e outros de natureza marcadamente rural, que perderam população. É notória a tendência para o envelhecimento populacional destes últimos, havendo mesmo concelhos como Bombarral e Cadaval que apresentavam, em 1995, um peso de idosos superior a 20% da população residente. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 132 A região Oeste registou um ligeiro aumento demográfico entre 1991 e 1996, por comparação com o período anterior; enquanto o ritmo de crescimento na década de oitenta foi de 1,3%, no primeiro quinquénio da década de noventa foi de 0,9%. Contudo no fim desta última década (2001) o crescimento era de 28,3% significando que foi no último quinquénio que houve um aumento bastante significativo de população na região Oeste. São sempre os mais novos, potencialmente activos, que partem, pelo que esta dicotomia de comportamentos determina a evolução das taxas de natalidade, inferiores às observadas para o conjunto do país, e das taxas de mortalidade, acima da média regional e nacional. Contudo, esta realidade parece ter um fim anunciado: os efeitos induzidos pela recente construção da autoestrada (A8), a par da via rápida existente (IP6), provocarão necessariamente alterações na estrutura e na dinâmica da sub-região, vislumbrando-se novas potencialidades a curto prazo. Não tendo a Reserva Natural aglomerados populacionais permanentes dentro dos seus limites, só foi considerada para análise a população residente no concelho de Peniche e designadamente na freguesia de S. Pedro, que tradicionalmente engloba a Berlenga, para fins administrativos À semelhança do fenómeno que vem acontecendo no país e que se apresenta como um traço marcante da nossa sociedade no fim do século XX e início do século XXI, a população do concelho de Peniche tem sido marcada por um progressivo, ainda que moderado, envelhecimento. Esta tendência, também registada na sub-região Oeste e na Região de Lisboa e Vale do Tejo, é visível quer no grupo etário dos jovens (0-14 anos), quer no dos idosos (65 e mais anos). Estamos assim perante a situação de duplo envelhecimento populacional: Envelhecimento no topo – como consequência do aumento da importância dos idosos; Envelhecimento na base – devido à diminuição da importância relativa dos jovens. Com efeito, entre 1981 e 1991, o grupo etário dos jovens teve, no concelho de Peniche, um decréscimo na ordem dos 17%, enquanto a população idosa aumentou cerca de 24%. Os valores destas variações aproximam-se dos registados na sub-região Oeste e Região de Lisboa e Vale do Tejo, onde a perda de jovens foi de 17% e de 20%, e o aumento de idosos de 22% e de 24%, respectivamente. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 133 3.11.2 – Economia do local A importância do sector das pescas O sector das pescas é, quer por condições naturais, quer pelas condições infra-estruturais criadas ao longo do tempo, o sector que mais profundamente tem marcado o concelho de Peniche. A importância das pescas na economia do concelho tem vindo progressivamente a diminuir, reflectindo-se no índice de ocupação de activos (embora continue a representar 20% da população activa do concelho) e na quantidade de pescado descarregado, mas continua a ser muito importante no valor e nas implicações económicas a montante e a jusante da actividade. De facto a pesca potencia em si muitas outras actividades, que vão desde a construção das embarcações e fabrico de aprestos até à transformação e comercialização do pescado. No arquipélago das Berlengas a pesca está regulamentada pelo respectivo plano de ordenamento, sendo de destacar o papel económico da apanha de marisco, em especial de percebes. Esta actividade já foi totalmente interdita na área da RNB, mas actualmente encontra-se regulada (desde 2000), encontrando-se o arquipélago dividido em três zonas (A, B e C). A apanha do percebe é permitida em anos pares na zona A, sendo permitida em anos ímpares na zona B e sempre interdita na zona C. Além disso, a actividade é interdita nos meses de Agosto e Setembro, sendo autorizada apenas para os mariscadores profissionais devidamente licenciados pela Direcção-Geral das Pescas e Aquicultura (DGPA), mediante processo de selecção anual, executado em conjunto com a entidade gestora da Reserva Natural das Berlengas. O Sector do Turismo Neste sector destaca-se também o turismo como actividade com algum relevo no concelho. No âmbito turístico são essencialmente três os “produtos” que o concelho de Peniche possui: Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 134 A faixa litoral, de longe o produto dominante, dispondo de um conjunto de praias reconhecidas que beneficiam regularmente da atribuição da “Bandeira Azul” e conhecidas pelas suas características para a prática de actividades náuticas e desportivas associadas ao “Mar” e às “Ondas”; A faixa interior, constituída pelas áreas não litorais das freguesias de Ferrel e Atouguia da Baleia e pela freguesia da Serra d’El-Rei. Esta, de perfil campestre e com condições potenciais de agroturismo e de localização de aldeamentos orientados para a fruição de um habitat natural à margem do congestionamento do litoral; A Reserva Natural das Berlengas, ex-libris da região, onde a visitação e a fruição deste espaço deverá garantir o equilíbrio com o ecossistema e assegurar a salvaguarda dos valores de conservação da natureza, numa perspectiva de “…turismo da natureza que privilegia as actividades de lazer, desporto e recreio, activo ou passivo, de observação e fruição dos valores naturais presentes...”. O concelho de Peniche possui efectivamente uma série de vantagens potenciadoras do desenvolvimento do turismo, nomeadamente a sua localização geográfica, os preços competitivos praticados, a fluidez de tráfego e acessibilidades, a diversidade paisagística. Contudo, o aproveitamento actual deste potencial turístico tem-se pautado por uma elevada sazonalidade o que decorre, sobretudo, do peso muito forte do turismo de litoral e do facto de Peniche ter uma procura, sobretudo de nacionais, que concentram as suas férias nos meses de Julho e Agosto. Segundo o PDM, o concelho apresenta um conjunto de condicionantes de natureza objectiva ao aproveitamento do turismo que pretende colmatar durante a vigência do Plano, perspectivando apostar no desenvolvimento de um turismo balnear interiorizado que reduza as pressões existentes, no sentido da ocupação indiscriminada da zona costeira por grandes empreendimentos, mesmo que estes se orientem por padrões de turismo de alta qualidade. Actividades turísticas, desportivas, recreativas e de lazer na ilha da Berlenga A ilha da Berlenga funciona como ex-libris da própria região turística e do concelho, exercendo uma atractividade elevada que é condicionada pela capacidade de carga da ilha estabelecida legalmente, o que Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 135 pode motivar “listas de espera”, obrigando a permanecer em Peniche para aguardar vez de transporte para a visitar. Também o fundeadouro situado ao largo da ilha da Berlenga tem recebido, ocasionalmente, paquetes de turistas que vêm do Norte da Europa e ali fazem uma curta escala para visitar a ilha. Se Forte de S. João Baptista estivesse recuperado, os pacotes turísticos poderiam incluir o pernoitar na ilha, sempre sujeito ao número de lugares disponível (para fundear ao largo da Berlenga é necessária autorização da Capitania do Porto de Peniche). Estima-se que a ilha tenha sido visitada por cerca de 25.000 pessoas no ano de 1998, por cerca de 30.000 no ano 2000, e por cerca de 40.000 nos anos de 2003 e 2004. Regista-se assim uma tendência crescente na procura da Berlenga como local privilegiado de lazer e de recreio, no contacto com a natureza. Esta tendência, pode também ser constatada pelo crescimento da oferta de serviços directamente ligados à exploração da área marítima na península de Peniche, nomeadamente pela forte dinâmica dos Operadores Marítimo-Turísticos. É a partir de finais de Maio que começam a chegar os residentes temporários e é sobretudo durante a época estival, nos meses de Julho e Agosto, que a ilha da Berlenga é alvo de forte fluxo de visitantes. Esta procura diminui em Setembro, sobretudo a partir do meio do mês, deixando de haver transporte regular assegurado e de seguida encerram as infra-estruturas locais de apoio aos visitantes. Alojamento na Ilha da Berlenga Devido à exiguidade do espaço disponível, dimensionamento, estado de conservação e capacidade actual das infra-estruturas e equipamentos existentes, e tendo em conta o crescente fluxo de visitantes nesta Área Protegida, podemos definir a capacidade de alojamento na ilha da Berlenga como muito reduzida e distribuída da seguinte forma: Apoio de campismo, com capacidade para 128 pessoas e uma taxa de ocupação de 100% nos meses de Julho e Agosto (este apoio só está disponível no período compreendido entre 15 de Maio e 15 de Setembro); Pavilhão “Mar e Sol” com capacidade para 19 pessoas alojadas em 6 quartos; Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 136 Alojamento nas instalações oficiais da Reserva Natural das Berlengas, no piso inferior da casa “Constantino Varella-Cid”, utilizada pelo ICNB mediante Protocolo específico negociado por 15 anos – com capacidade máxima 6 pessoas alojadas em camarata; Forte de S. João Baptista – com capacidade para alojar 58 pessoas, sendo actualmente explorado pela “Associação dos Amigos da Berlenga”. No Farol existem um conjunto de residências, adstritas ao corpo do próprio Farol e da Capitania do Porto de Peniche. A capacidade de alojamento podendo ser relativamente aumentada, é fundamental que seja significativamente qualificada através de investimentos no Forte, Farol, Bairro dos Pescadores e Apoio de Campismo, dotando-os de uma gestão mais eficiente. Na área terrestre da Reserva Natural, nomeadamente na ilha da Berlenga, estão disponíveis 2 percursos pedestres, sendo considerado ainda um terceiro percurso, na área marítima adjacente. As visitas guiadas, para grupos escolares, ou para visitantes especialmente interessados, podem ser previamente marcadas na sede da RNB, em Peniche. Percursos Pedestres 1- Trilho da Berlenga, com uma extensão aproximada de 3 km e uma duração de 3 h 00 m, tem como principais pontos de maior interesse: Planalto do Farol, Forte de S. João Baptista (com ligação ao circuito marítimo de “Visita às Grutas”). Grau de dificuldade: médio. 2- Trilho da Ilha Velha, com uma extensão de cerca de 1,5 km tem uma duração prevista de 1 h 30 m. Apresenta como pontos de maior interesse: Buzinas, Pedra Negra, Carreiro dos Cações. Grau de dificuldade: fácil. 3-“Visita às Grutas” (percurso marítimo) com uma extensão de 4 km e a duração de 1 h 00 m, apresenta como pontos de maior interesse: Carreiro da Inês, Flandres, Forte de S. João Baptista, Gruta Azul, Furado Grande, Cova do Sono. Grau de dificuldade: fácil. Actividades Desportivas – Caça, Pesca e actividades náuticas Verifica-se que, presentemente, a ilha exerce atractividade crescente para as actividades de lazer, recreio e diversas práticas subaquáticas. Estas actividades estão fortemente condicionadas na parte emersa da Reserva Natural, pela sua reduzida dimensão e pela defesa dos valores presentes na Ilha da Berlenga. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 137 Com a criação da Reserva Natural da Berlenga, a partir de 1981 a “pesca desportiva” começou a ter algumas condicionantes, designadamente nos acessos terrestres aos pesqueiros, devendo os praticantes observar os trilhos existentes. Posteriormente, ficou interdita em toda a área marinha da Reserva Natural a prática da actividade recreativa da caça submarina. A partir de 1989, a “pesca desportiva” passa a ser permitida apenas na modalidade de pesca à linha, e o mergulho passa a ser permitido apenas para fins recreativos e de observação. O exercício da caça em meio terrestre encontra-se interdito, de há muitos anos, antecedendo largamente a criação da Reserva Natural. As actividades de motonáutica e outras actividades recreativas ruidosas são proibidas e o acesso e utilização das embarcações de recreio também têm condicionantes, nomeadamente estando interdita a navegação no carreiro Maldito e no rio da Poveira, entre 1 de Fevereiro e 1 de Julho. A recuperação do Forte de S. João Baptista e a sua utilização por uma unidade turística, uma eventual reutilização dos edifícios do Farol, a remodelação do Apoio de Campismo, e o reordenamento das actividades humanas na Ilha da Berlenga, permitirão uma requalificação da oferta turística na ilha, no sentido de sustentar a actividade de turismo da natureza, turismo esse que só é sustentável se for mantida uma elevada qualidade dos recursos naturais. Na parte imersa da Reserva Natural, nomeadamente nas áreas menos profundas situadas em redor da ilha da Berlenga, as actividades de recreio e de observação subaquática, tem ainda potencial, dependendo das respectivas capacidades de carga e do necessário respeito pela sua observação. Outras actividades emergentes na região como a observação de cetáceos e aves marinhas poderão consubstanciar também alternativas interessantes e com importância económica. Neste sentido, cálculos mais rigorosos da capacidade de carga, terrestre e marinha, fiscalização adequada de modo a garantir o respeito pela capacidade de carga estipulada, uma eventual introdução de uma ecotaxa, bem como investimentos de requalificação, são medidas essenciais na gestão futura da Reserva Natural das Berlengas, para que a qualidade dos recursos naturais e culturais seja garantida, e quando Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 138 necessário melhorada, ao longo dos próximos anos, e compatível com o seu usufruto na área do lazer e da visitação. 3.11.3 – Acessibilidades e infra-estruturas e equipamentos existentes na Ilha 3.11.3.1 - Acessibilidades Acessibilidade rodoviária De acordo com os dados publicados no PDM e no portal www.cm-peniche.pt, a cidade de Peniche tem acessibilidade rodoviária através do IP6, que permite a ligação entre Peniche e a A8, entre Óbidos e Caldas da Rainha no nó de A da Gorda. A A8 liga actualmente Lisboa a Leiria. A acessibilidade de Peniche a norte, faz-se pela A1, tomando em Leiria a A8. A sul pela A8, ou vindo da A1 apanhando a A15 em Santarém. A A15 liga Santarém à A8, entre Óbidos e Caldas da Rainha, o que permite a ligação ao IP6, permitindo uma melhor acessibilidade a partir do interior. Acessibilidade marítima A localização do arquipélago, sensivelmente a meio da costa ocidental, torna-o acessível por mar, a norte e a sul, a partir de qualquer porto da costa portuguesa. Em termos da zona costeira próxima, a acessibilidade por mar ao arquipélago pode ser feita a partir do porto de pesca de Peniche, que é considerado um porto de escala com Capitania, sendo este o porto mais próximo da Berlenga. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 139 Figura 43 – Acessibilidades existents para Peniche. 3.11.3.2 – Infra-estruturas Apresenta-se de seguida uma planta da Ilha da Berlenga, com as localizações das infra-estruturas existentes na situação de referência. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 140 Figura 44 – Planta da situação existente na Ilha da Berlenga. Farol da Berlenga (Com base nos dados fornecidos pela Direcção de Faróis) O Farol é a infra-estrutura mais importante da ilha da Berlenga e do arquipélago, e a única que tem utilização diária anual, com funções dominantes de ajuda à segurança marítima, sinalizando a presença do arquipélago à navegação. Este Farol (acabado de construir em 1841) sempre foi dos mais isolados do assinalamento na costa portuguesa. Por este motivo foi automatizado em 1985, altura em que se substituiu o aparelho óptico lenticular hiperradiante por um tipo de óptica selada (PRB21) e se instalou um sistema de telecontrolo a partir do farol do Cabo Carvoeiro. Apesar deste avanço tecnológico, mantiveram-se dois faroleiros na Berlenga, em sistema de rotatividade. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 141 As razões que justificam esta opção prendem-se com a necessidade de garantir a guarda física do Farol e salvaguardar o funcionamento de uma luz imprescindível, garantido que, mesmo no Inverno, em caso de avaria está uma equipa de reparação no local. A única energia disponível para o Farol era proveniente de 4 grupos de gerador/alternador, que funcionavam no período nocturno e escassas horas por dia. O gasóleo era transportado para a ilha em bidões, e depois bombeado do cais para o Farol, e aí armazenado em depósito próprio. Esta situação era insustentável, por ser penosa e dispendiosa, obrigando a um apoio logístico próprio, para além de não permitir ter energia disponível durante as 24 horas do dia. Por outro lado, o estado de conservação do Farol poderia considerar-se muito degradado, com excepção das instalações dos funcionários de serviço. Em finais dos anos 90, encontrando-se o sistema óptico PRB21, a chegar ao fim da vida útil, foi equacionada a sua substituição, e encaradas tecnologias que permitissem reduzir custos de exploração, de manutenção e logísticos, foram instalados, em duas fases, painéis fotovoltaicos no Farol, como parte integrante das obras de conservação desta infra-estrutura. Na primeira fase foi instalada uma lanterna rotativa TBR 400 Tideland com alcance de 20 milhas náuticas, alimentada por 4 painéis e 22 baterias 12 V, 120 Ah, para além de um sinal sonoro, com detector de nevoeiros, alimentado por 4 painéis e 6 baterias. A segunda fase, implementada em 2001, visou fornecer energia às residências da infra-estrutura e foi mais difícil de executar, porque envolveu a colocação de um sistema misto composto por 40 painéis fotovoltaicos e 24 baterias mais potentes, painel de comando e manutenção (por segurança) dos dois grupos de geradores já existentes. Este sistema, que tem ainda um período de funcionamento curto, tem funcionado apenas com o recurso aos painéis, não tendo até agora sido necessário accionar os geradores. Este projecto, que se concretizou com sucesso, foi escolhido para atribuição do prémio DEFESA NACIONAL E AMBIENTE – 2001, concurso que visa incentivar as boas práticas ambientais das Forças Armadas. Transporte e circulação Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 142 O transporte é efectuado por carreira de barco, operadores licenciados ou transporte em barcos privados. Encontra-se devidamente legalizada a concessão para Transporte Regular de Passageiros e Mercadorias, atribuída à empresa VIAMAR – Soc. Viagens (Peniche–Berlenga) . Dentro da ilha, a única viatura que pode circular é o tractor associado no farol. Circulação pedonal A circulação na ilha é essencialmente pedonal. Um único caminho pavimentado permite a circulação de veículos (neste caso um mini-tractor de serviço do Farol), apenas com funções de gestão, no percurso compreendido entre o cais do Carreiro do Mosteiro e o Farol. São de assinalar dois tipos de circulação pedonal a partir do cais de desembarque, que se entrecruzam no Farol: Caminho principal carreteiro do tipo vereda de largura definida, que vai do cais do Carreiro do Mosteiro, na Ilha Velha, passando pelo Bairro dos Pescadores e se dirige ao Farol atravessando o istmo da Ilha Velha para a Berlenga, sendo o único pavimentado. Este caminho dá entretanto acesso ao caminho de pé posto que se dirige para o miradouro das Buzinas, que dá a volta à zona aplanada da Ilha Velha, voltando ao caminho principal. Há outro acesso que parte do Apoio de Campismo e através de escadas vem desembocar no caminho atrás mencionado, dando acesso igualmente à praia. A partir do istmo já referido parte um caminho de pé posto até à praia do Carreiro dos Cações. Da Fortaleza sai outro caminho do tipo vereda, em escadaria, com largura definida, que chega ao topo da arriba, já na zona aplanada, e bifurca então para SW, passando na cisterna em direcção à Cova do Sono, e continuando para NE na direcção do Farol. A partir da cisterna bifurcam dois caminhos de pé posto, pouco utilizados e não perceptíveis no terreno, um na direcção do alto do Cemitério e o outro na direcção da arriba do Furado Grande e da Cabeça do Elefante, que é utilizado sobretudo por pescadores. Rede eléctrica Existe uma rede eléctrica simples e de dimensões circunscritas, na área do Bairro dos Pescadores, operada pela EDP, para abastecimento das habitações e serviços instalados naquela parte da ilha da Berlenga. De assinalar ainda na Reserva a iluminação proveniente de energia solar fotovoltaica no Farol, o que torna auto-suficiente de energia aquela estrutura, e o funcionamento de geradores alimentados por Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 143 combustíveis fósseis (gasóleo), que abastecem a área do bairro dos Pescadores, sendo a respectiva manutenção também assegurada pela EDP. Continua assim a ser necessário transportar combustíveis para a Ilha, para abastecimento dos geradores convencionais instalados na periferia do Bairro dos Pescadores, o que poderá parecer anacrónico numa área de Reserva Natural, e provoca impactes negativos significativos numa ilha de tão reduzidas dimensões. Telecomunicações A rede de telecomunicações móvel permite uma boa cobertura da ilha na área de planalto, devido à instalação da antena da empresa Portugal Telecom no perímetro do Farol. O Farol tem ainda a rede de comunicações DGPS com o Farol do Cabo Carvoeiro, o que permite uma ligação rápida entre a ilha da Berlenga e Peniche quando não existem outras comunicações. 3.11.3.3 – Equipamentos Forte São João Baptista O Forte é o equipamento mais importante da ilha da Berlenga. Segundo os arquivos do Exército, o chamado Forte de S. João Baptista, está assente sobre rochedo destacado da ilha mas a ela ligado através de serventia situada a poente. Após renhida batalha travada em Junho de 1666, a sua reconstrução data de 1676 e foi executada segundo as características gerais das Fortificações do Conde de Lipe. Esteve arrendado por um período de 9 anos, a partir de 1898. No dia 1 de Agosto de 1938, o prédio relativo ao Forte, que se encontra inscrito na matriz da freguesia de S. Pedro, art.º 329, e no cadastro do Ministério da Guerra – Prédio militar n.º 21, passou a estar na posse do Ministério das Finanças. Como se refere no mesmo ponto, o Forte passou a servir de refúgio a pescadores e a partir de 1953 é recuperado, passando a funcionar como pousada em regime de concessão até 1972. Presentemente é gerido pela Associação dos Amigos da Berlenga. De acordo com o estudo elaborado para o Fórum Social de Peniche (1999), nele se preconiza novamente a instalação de um equipamento turístico que deve ser devidamente negociado tendo em conta as particularidades da ilha da Berlenga. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 144 É recomendável que o projecto de recuperação tenha como objectivo principal a sustentabilidade, nomeadamente o chamado grau zero em termos de eficiência energética, seguindo o excelente exemplo do Farol e melhorando as soluções a adoptar no que se refere a infra-estruturas de saneamento. A ilha da Berlenga poderia ser um ex-libris para a sustentabilidade, se através dos investimentos a efectuar nos equipamentos e infra-estruturas se utilizassem novas tecnologias amigas do ambiente, sendo também importante conseguir uma maior disciplina da visitação, principalmente na época estival. Restaurante Existe um restaurante na ilha da Berlenga, localizado no Bairro dos Pescadores. Tem capacidade para cerca de 26 mesas, distribuídas pelo interior e na esplanada, permitindo servir cerca de 100 refeições simultâneas. Tem disponibilidade para armazenar 200 litros de água doce, para confeccionar refeições, sendo a restante canalização de água salgada, destinada aos sanitários. No Verão aluga quartos, equipados com casa de banho e água salgada. Mini-Mercado Localizado no Bairro dos Pescadores, funciona numa construção denominada Castelinho, abastecendo os visitantes e moradores temporários. Posto de Primeiros Socorros O edifício onde deveriam ser prestados os primeiros socorros sofreu obras recentemente. Presentemente já se encontra devidamente equipado, existindo um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Peniche e os Bombeiros Voluntários de Peniche para que, durante os meses de Verão, seja assegurada a presença de pessoal especializado e que preste serviço de primeiros socorros em caso de acidente. Instalações Sanitárias A ilha está dotada de instalações sanitárias públicas, constituídas pelos seguintes componentes: 6 lavatórios, 3 urinóis, 6 retretes e 2 chuveiros. A água distribuida nas casas de banho pública é água salgada. 4 – Avaliação das Incidências Ambientais 4.1 – Qualidade do ar Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 145 Fase de construção Para a fase de construção, deverá ser tida em conta em particular a circulação de materiais até ao local de implantação e a movimentação de terras, que poderão emitir poeiras e CO2 para a atmosfera. Uma vez que o local de implantação (para os vários cenários) é pouco distanciado do cais de descarga (400 m) e que a previsão dos trabalhos será de uma duração máxima de 4 semanas, considerou-se o impacte negativo, mas pouco significativo, devido ao carácter temporário e de magnitude baixa. Fase de exploração Tendo em consideração os 5 cenários propostos, e tendo em conta a situação de referência (a emissão de gases de combustão associados aos geradores a diesel), considera-se que para qualquer um dos cenários apresentados irá conduzir a uma melhoria significativa na qualidade do ar local, uma vez que os geradores deixarão de funcionar (funcionando apenas em situações de pontuais). O impacte ambiental para os vários cenários, será de carácter permanente, magnitude moderada, sendo portanto um impacte postivo significativo. Fase de encerramento Nesta fase, com a desmontagem dos equipamentos, é expectável a emissão de poluentes atmosféricas associadas ao transporte dos materiais. Considera-se, devido ao carácter temporário e de magnitude baixa, o impacte negativo pouco significativo. 4.2 – Ambiente sonoro Fase de construção Para a fase de construção, deverá ser tido em consideração os trabalhos de escavação e de fixação ao solo e fixação dos suporte. Numa fase posterior existirão os trabalhos de instalação dos equipamentos. Estas actividades irão provocar um aumento de ruído ambiente essencialmente devido à utilização de equipamentos. Uma vez que são actividades que terão uma duração máxima total de 4 semanas, considerou-se o impacte temporário, de magnitude baixa, sendo portanto, um impacte negativo pouco significativo. Fase de exploração Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 146 Relativamente aos paineis fotovoltaicos, não é expectável emissão de ruído para os cenários 1, 2 e 5. No que diz respeito aos cenários 3 e 4, foi considerado a implantação de aerogeradores. Segundo os catálogos técnicos apresentados pelo concorrente 2 a este equipamento, os níveis de ruído serão os seguintes (medidos na base da torre do aerogerador): - Turbina 6 Kw: a uma velocidade de vento de 5 m/s: 45 dB(A) a uma velocidade de vento de 20 m/s: 65 dB(A) - Turbina 2,5 Kw:a uma velocidade de vento de 5 m/s: 40 dB(A) a uma velocidade de vento de 20 m/s : 60 dB(A) Relativamente ao concorrente 1, não foi possível obter dados relativos à emissão do ruído provocado pelo funcionamento das turbinas. No entanto como a potência destas é similar aos equipamentos propostos pelo concorrente 2, poderá assumir-se que o nível de ruído emitido será similar. A título de comparação referenciam-se algumas actividades ruidosas e respectiva emissão de ruído: Figura 45 – Actividades ruidosas e sua emissão de ruído. O nível de ruído registado a cerca de 50 m do aerogerador é praticamente igual ao ruído emitido por um grupo de pessoas a conversar. Os aerogeradores só entram em funcionamento a partir de uma determinada velocidade do vento. O gerador começa então a emitir um ruído que no seu tom se assemelha a um sopro, e cujo nível se mantém com o aumento da velocidade do vento. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 147 Com vento forte, o ruído provocado pela própria deslocação do ar é superior ao ruído de funcionamento do aerogerador, deixando este de se ouvir. Deste modo, o efeito do ruído emitido pelo funcionamento dos aerogeradores sobre a fauna, é considerado negativo pouco significativo, devido à sua magnitude baixa, embora de carácter permanente. Apesar de tudo, para comprovar o cumprimento da legislação e assegurar a não existência de incómodos, recomendou-se que seja solicitado ao fornecedor dos aerogeradores a apresentação de medições dos níveis de ruído respectivos, efectuadas por entidades independentes, na fase de exploração. Fase de encerramento Na fase de encerramento, decorrerão actividades de desmontagem dos equipamentos, que provocarão um aumento do nível de ruído ambiente, essencialmente devido à circulação e utilização de equipamentos para transporte dos materiais. Assim sendo, considerou-se este um impacte temporário, de magnitude baixa, sendo portanto, um impacte negativo pouco significativo. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 148 4.3 – Uso do Solo O impacte provocado pela remoção de cobertura vegetal será pouco significativa, pois os locais seleccionados para a colocação dos painéis fotovoltaicos e os aerogeradores, situam-se numa zona onde predomina a espécie chorão-das-areias, considerada uma espécie invasora, e para a qual as medidas de gestão apontam na sua remoção Relativamente ao impacte ambiental provado pela fixação dos aerogeradores ao solo será feita através de estruturas de betão que variam de dimensões em função do aerogerador utilizado. Assim, para o aerogerador Proven 6kW as fundações terão as seguintes dimensões: 3m x 3 m x 1,2m (comprimento x largura x profundidade). Para o aerogerador Fortis Montana 5 kW, as fundações terão as seguintes dimensões 2,5m x 2,5 m x 1m (comprimento x largura x profundidade). A fundação do aerogerador Turban 2,5 kW terá aproximadamente as seguintes dimensões: 2m x 2m x 1m (comprimento x largura x profundidade). Para auxiliar o processo de montagem, uma segunda fundação será necessária por cada aerogerador. Essa fundação terá as seguintes dimensões: 1,5m x 1,5 m x 1m (comprimento x largura x profundidade). Em função da localização dos aerogeradores o número de fundações auxiliares poderá ser optimizado, reduzindo o seu número. Em função das características específicas dos locais a instalar os aerogeradores, as dimensões das fundações poderão variar. Em relação aos paineis fotovoltaicos , a fixação ao solo será feita com base em dois métodos alternativos: Blocos de betão com utilização de fixação mecânica (espessura mínima dos blocos 100 mm e um peso mínimo de 900 kg) Fixação directa no terreno com utilização de resina química (terá de existir argamassa de nivelamento). A resina química a utilizar é resina para fixações com a percentagem mais baixa de componentes tóxicos existente, não contendo fenol ou mercaptano. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 149 Quanto aos solos escavados, é de referir que na instalação de painéis fotovoltaicos, estes serão fixados ao solo conforme foi descrito no ponto 2.3.5 deste estudo. A fixação ao solo será efectuada com uma profundidade máxima de 10 cm , por cada painel fotovoltaico. Assim, para os vários cenários, no limite serão removidas as seguintes remoção de terras: Cenário 1: 445 paineis * 0.99 m *1.341 m * 0.1 m = 59 m3 Cenário 2: 223 paineis * 0.99 m *1.341 m * 0.1 m = 29.5 m3 Cenário 3: 389 paineis* 0.99 m *1.341 m * 0.1 m = 51.35 m3 Cenário 4: 223 paineis* 0.99 m *1.341 m * 0.1 m = 29.5 m3 Quanto aos earogeradores, considerando numa área bruta de construção de cerca de 13 m2, com uma profundidade máxima de 1m pelo que não são esperados volumes consideráveis destes materiais (13 m3). Assim sendo, em termos gerais será removida a seguinte quantidade de terras: Cenário 1: 59 m3 Cenário 2: 29,5 m3 Cenário 3: 64. 35 m3 Cenário 4: 42.5 m3 Assim, avaliando o impacte ambiental provocado pela remoção de terras, considera-se um impacte pemanente, de magnitude moderada, sendo portanto, um impacte negativo significativo. Em termos de cenários , considera-se que o cenário 5 apresenta maior impacte e o cenário 2, que provoca menor impacte ambiental. Fase de exploração Nesta fase, o impacte ambiental mais significativo é relativo à área ocupada pelos equipamentos, sendo variável consoante os cenários previstos: Cenário 1: 700 m2 de paineís fotovoltaicos Cenário 2: 350 m2 de paineis fotovoltaicos Cenário 3: 580 m2 de paineis fotovoltaicos + 10, 25 m2 de aerogeradores Cenário 4: 350 m2 de paineis fotovoltaicos + 13 m2 de aerogeradores. Cenário 5: 580 m2 de paineis fotovoltaicos + 72 m2 de energia solar concentrada = 652 m2 Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 150 A ocupação do solo por parte destes equipamentos irá provocar também um efeito de ensombramento no local. Este impacte embora seja negativo, é considerado pouco significativo, pois em termos de flora, actaualmente estamos na presença do chorão-das-areias,uma espécie invasora. Fase de encerramento Nesta fase de projecto, as actividades de desmontagem dos equipamentos serão levadas a cabo de modo a repor as condições iniciais. Assim, considera-se o impacto positivo pouco significativo, devido á sua magnitude baixa , embora permanente. 4.4 – Geologia e geomorfologia Fase de construção O facto dos equipamentos (em todos os cenários) serem implantados em local parcialmente aplanado, reduz a necessidade de realizar escavações ou aterros de grande dimensão, não implicando assim a formação de depressões e remobilização de volumes consideráveis de materiais. Os painéis fotovoltaicos serão instalados em terreno com inclinação, mas que poderá ser benéfico para o sistema, umas vez que os painéis fotovoltaicos devem ser instalados com uma inclinação previamente definida. Nesta situação não haverá necessidade de aplanar o terreno, estando indicadas acima as mobilizações associadas a cada cenário. No tocante aos aerogeradores, a mobilização associada à construção das fundações estão identificadas no ponto anterior. Deste modo, poder-se-á considerar, em termos geológicos, hidrogeológicos e geomorfológicos um impacte negativo, de baixa significância, irreversível e de ocorrência certa. Fase de exploração Não são esperados impactes ao nível geológico, geomorfológico e hidrogeológico durante esta fase, para todos os cenários. Fase de encerramento Nesta fase de projecto, as actividades de desmontagem dos equipamentos não irão provocar impactes nível geológico, geomorfológico e hidrogeológico durante esta fase, para todos os cenários. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 151 4.5 – Ecologia 4.5.1 - Fase de construção 4.5.1.1 – Flora terrestre O impacte ambiental provocado pela sua remoção do coberto vegetal será pouco significativo, pois os locais seleccionados para a colocação dos painéis fotovoltaicos e os aerogeradores, é uma zona onde predomina a espécie chorão-das-areias, considerada uma espécie invasora. Figura 46 - Distribuição do chorão na ilha Berlenga Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 152 Localização dos painéis fotovoltaicos – cenário 1 Armeria berlengensis Figura 47 - Presença da espécie Armeria berlengensis na zona em estudo – cenário 1(Fonte ICNB) Localização dos painéis fotovoltaicos – cenário 1 Armeria berlengensis Figura 48 - Presença da espécie Armeria berlengensis na zona em estudo – cenário 2 (Fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 153 Localização dos painéis fotovoltaicos – cenário 3 Armeria berlengensis Localização dos aerogeradores – cenrário 3 Figura 49 - Presença da espécie Armeria berlengensis na zona em estudo – cenário 3 (Fonte ICNB) Localização dos painéis fotovoltaicos – cenário 1 Angelica pachycarpa Figura 50 - Presença da espécie Angelica pachycarpa na zona em estudo – cenário 1(Fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 154 Localização dos painéis fotovoltaicos – cenário 2 Angelica pachycarpa Figura 51 - Presença da espécie Angelica pachycarpa na zona em estudo – cenário 2 (Fonte ICNB) Localização dos painéis fotovoltaicos – cenário 3 Angelica pachycarpa Localização dos aerogeradores – cenrário 3 Figura 52 - Presença da espécie Angelica pachycarpa na zona em estudo – cenário 3 (Fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 155 De referir ainda que para os cenários 3 e 4, a localização dos aerogeradores será feita numa zona onde existe a predominância das espécies Armeria berlengensis avaliada como vulnerável e Angelica pachycarpa , avaliada como espécie Rara e criticamente em perigo. Devido às suas avaliações, considerase a implementação dos aerogeradores na componente flora terreste, terá um carácter permamente, de magnitude moderada , sendo portanto um impacte negativo significativo. No que diz respeito à fauna, considera-se o seguinte: 4.5.1.2 - Herpetofauna De acordo com o mapa dos núcleos populacionais dos lagartos (capítulo 3.7.3.6), a instalação dos paineis fotovoltaicos e aerogeradores será efectuada numa zona não abrangida pelo território referenciado pelo mapa. Considera-se neste ponto, o impacte reduzido ou nulo. 4.5.1.3 - Mamofauna Na parte terrestre, apenas existem duas espécies o coelho-comum e o rato preto, ambas espécies introduzidas. Ambas as espécies são encontradas em toda a área da Berlenga. Considera-se que o impacte seja negativo pouco significativo, devido à sua magnitude fraca, de carácter temporário e tendo em conta que as espécies identificadas não são protegidas. 4.5.1.4 - Avifauna De acordo com a caracterização efectuada no capítulo dedicado à Ecologianeste relatório, verifica-se que existem várias espécies protegidas /ameaçadas/em risco de extinção na Reserva. Importa assim avaliar o impacte provocado pelo projecto sobretudo nessas mesmas espécies. Assim, destacámos nesta análise três espécies: Airo: conforme Figuras 53 a 55, verifica-se que esta espécie nidifica fora da zona de implantação do projecto. Cagarra: é uma espécie considerada vulnerável, tendo como único local de nidificação em Portugal Continental, a Ilha da Berlenga; os ninhos situam-se em zonas de calhaus de média e grande dimensão, onde o solo ésuficientemente profundo para permitir que as aves escavem os ninhos. Conforme se pode na Figura 22, esta espécie possui uma grande concentração dos seus ninhos naz zonas de Melreu, Capitão e Furado Seco, coincidindo com a parte da zona de inserção do projecto Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 156 Corvo-marinho: conforme figura seguinte, verifica-se que esta espécie nidifica fora da zona de implantação do projecto. Apesar do corvo-marinho e do airo não nidificarem na zona de implantação do projecto, sendo apenas utilizada pela cagarra, os traballhos de instalação dos equipamentos serão efectuados fora do período de nidificação (Fevereiro a Junho). Também será tido em conta a época de visitação da ilha (Junho a Setembro). Analisando estas duas condicionantes é expectável que a instalação dos equipamentos deverá ocorrer entre Outubro e Janeiro. Passaremos a analisar a avaliação dos impactes ambientais nestas espécies, tendo em conta os vários cenários propostos. Cenário 1 Airo: Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude fraca. Corvo-marinho: Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude fraca. Cagarra: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Cenário 2 Airo: Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude fraca. Corvo-marinho: Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude fraca. Cagarra: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Cenário 3 Airo: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Corvo-marinho: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 157 Cagarra: Considera-se o impacte ambiental negativo muito significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude elevada. Cenário 4 Airo: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Corvo-marinho: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Cagarra: Considera-se o impacte ambiental negativo muito significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude elevada. Cenário 5 Airo: Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude fraca. Corvo-marinho: Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude fraca. Cagarra: Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter temporário, de magnitude moderada. Área ocupada pelos paineis fotovoltaicos Locais de nidificação do Airo (2004) Locais de nidificação do Corvo-marinho (2003) Locais de nidificação da cagarra (2004) Figura 53 - Identificação dos locais de nidificação da cagarra, corvo-marinho e airo – cenário 1 (Fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 158 Área ocupada pelos paineis fotovoltaicos Locais de nidificação do Airo (2004) Locais de nidificação do Corvo-marinho (2003) Locais de nidificação da cagarra (2004) Figura 54 - Identificação dos locais de nidificação da cagarra, corvo-marinho e airo – cenário 2 (Fonte ICNB) Área ocupada pelos paineis fotovoltaicos Locais de nidificação do Airo (2004) Locais de nidificação do Corvo-marinho (2003) Locais de nidificação da cagarra (2004) Área ocupada pelos aerogeradores Figura 55 - Identificação dos locais de nidificação da cagarra, corvo-marinho e airo – cenário 3 (Fonte ICNB) Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 159 4.5.2 - Fase de exploração 4.5.2.1 – Flora terrestre Cenário 1 Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa. Cenário 2 Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa. Cenário 3 Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter permamente, de magnitude moderada, devido ao facto dos aerogeradores estarem localizados numa zona onde predomina a existência da Armeria berlengensis e Angelica pachycarpa. Cenário 4 Considera-se o impacte ambiental negativo significativo, devido ao seu carácter permamente, de magnitude moderada, devido ao facto dos aerogeradores estarem localizados numa zona onde predomina a existência da Armeria berlengensis e Angelica pachycarpa. Cenário 5 Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa. 4.5.2.2 – Herpetofauna Considera-se o impacte ambiental reduzido ou nulo devido ao facto do projecto não interferir com o território preferencial da herpetofauna. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 160 4.5.2.3 – Mamofauna Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa, nos 5 cenários considerados. 4.5.2.4 – Avifauna Os aerogeradores podem comportar impactes negativos sobre a Avifauna. A sua localização é o factor de maior importância na determinação desses impactes. Genericamente, quanto mais próximas se encontrarem as turbinas de áreas de alimentação, migração, repouso e/ou nidificação de aves, maior a probabilidade de afectação. Os impactes podem dividir-se em dois tipos: directos (resultantes da colisão com as estruturas existentes no parque eólico) e indirectos (perda de habitat, perturbação, etc.). Desde os finais dos anos 60, a Avifauna tem sido alvo de discussões relativamente aos impactes negativos gerados pelos Parques Eólicos. Durante muito tempo foi opinião generalizada que os aerogeradores teriam um efeito muito negativo sobre a Avifauna. Porém, a falta de estudos devidamente validados contribuiu para que não se tenha obtido um conhecimento efectivo das afectações existentes, o que tem vindo a gerar polémica entre as entidades implicadas. Além de escassos, os estudos existentes são por vezes contraditórios entre si nas suas conclusões. Contudo, todos os estudos são concordantes com o facto de os impactes induzidos sobre as aves serem, sem excepção, considerados negativos, destacando-se a colisão directa de aves com os aerogeradores, embate e electrocussão nas linhas de transporte de energia e a perturbação gerada em áreas de nidificação, alimentação, migração e repouso. A partir dos resultados obtidos nos diversos estudos desenvolvidos na Europa e E.U.A. concluiu-se que mortalidades em grande escala parecem estar associadas especificamente a zonas de importantes corredores migratórios ou de deslocações diárias muito frequentes, a zonas costeiras de grande abundância avifaunística ou a condições meteorológicas desfavoráveis. De facto, e apesar de em muitos estudos efectuados a mortalidade de aves ter sido baixa (rondando a média de 1 indivíduo/aerogerador/ano), quando os aerogeradoress se encontram instalados em zonas importantes para aves verificou-se o oposto. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 161 Estudos recentes revelam que se tem vindo a registar um número cada vez menor de acidentes com aves em Parques Eólicos. Este facto parece estar relacionado com a evolução tecnológica dos tipos de aerogerador, ao maior cuidado no levantamento e resolução de problemas de natureza local e à adaptação do regime de funcionamento dos aerogeradores a condições favoráveis à minimização de acidentes. O número de aves vitimadas em parques eólicos é bastante variável, oscilando desde de um mínimo de 0 a um máximo de 309 aves/turbina/ano. Vários estudos têm demonstrado que as taxas de mortalidade atribuídas a colisões em parques eólicos são geralmente baixas, não significando, no entanto, que o risco de colisão seja irrelevante. Relativamente a estudos efectuados sobre o efeito/ impacte provocado pelas turbinas urbanas, estes são escassos e pouco conclusivos. No entanto, prevê-se que a altura dos aerogeradores propostos (altura máxima de 18 m), possa interferir com a dinâmica de voo das espécies em apreço. Assim, apresenta-se de seguida uma breve descrição do tipo de voo das espécies mais importantes presentes na ilha: As cagarras, na época de nidificação (Fev/Março a Setembro/Out.) fazem inumeros voos rasantes aos locais de nidificação (cada ave faz vários voos circulares até aterrar, entre 0,5 e 80 a 100 m de altitude), e repousam nestes locais. As não nidificantes efectuam os mesmos voos e poisam um pouco por toda a ilha para repouso (Fev/Mar a Setembro/Out.). Os juvenis criados em cada ano, também efectuam os mesmos voos. Voam sobretudo à noite. Airo - voa sobre o mar (em geral baixo) e só poisa nas escarpas não voando nunca sobre a ilha. Corvo-marinho-de-crista - voa sobre o mar (em geral baixo) e poisa nas escarpas onde tem ninhos e em rochas na periferia da Berlenga para repouso. Raramente voa sobre a parte terrestre da ilha. Falcão-peregrino - casal. Voa entre 0 e 100/200 m altitude sobre qualquer parte da ilha, efectuando voos picados para caça. Os juvenis produzidos efectuam os mesmos voos. Casal presente todo o ano. Aves migradoras - Amplo espectro de espécies. Em geral voam entre 0 e 100/200 m altitude, algumas das espécies rapinas têm comportamento de voo igual ao Falcão-peregrino. Outras são caçadoras nocturnas, voando e caçando à noite. Usam a ilha toda. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 162 Cenário 1 Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa. Cenário 2 Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa. Cenário 3 Considera-se o impacte ambiental negativo muito significativo, devido ao seu carácter permanente, de magnitude elevada, devido ao risco de colisão das aves. Cenário 4 Considera-se o impacte ambiental negativo muito significativo, devido ao seu carácter permanente, de magnitude elevada devido ao risco de colisão das aves. Cenário 5 Considera-se o impacte ambiental negativo pouco significativo, devido ao seu carácter permanente, mas de magnitude baixa. 4.5.3 - Fase de encerramento Nesta fase de projecto, as actividades de maior destaque será as relacionadas com a desmontagem de equipamento, que devido ao seu carácter temporário e de magnitude fraca, o impacte causado será negativo Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade pouco significativo. 163 4.6 – Paisagem A instalação de equipamentos fotovoltaicos/eólicos determina a ocorrência de impactes sobre a paisagem, uma vez que novas estruturas passam a fazer parte da mesma. Esses impactes, negativos ou positivos, podem ter importância variável e afectam, genericamente, a qualidade visual da paisagem. As modificações operadas na paisagem alteram a sua dinâmica funcional e formal e as relações topológicas que as populações estabelecem com o sítio. Através da cartografia e da realização de uma visita de campo, avaliaram-se os principais impactes na paisagem na fase de construção e na fase de exploração. Fase de Construção Os impactes na paisagem associados à fase de construção serão na sua maioria de carácter temporário. Numa primeira fase, o impacte negativo mais notório será associado à desmatação do terreno e a instalação do estaleiro de pequena dimensão, que ficará colocado junto ao bairro dos pescadores ,que confinarão a intervenção. Na fase seguinte serão concentrados veículos e maquinaria que procederão à movimentação de terras e abertura de fundações, dando origem a superfícies de elevada degradação visual. Com a conclusão da implantação dos equipamentos, os impactes visuais tenderão a ser menos significativos. Os impactes negativos previstos para esta fase sobre a paisagem, serão directos e de magnitude moderada, mas de carácter temporário. A existência de tapumes ajudará a minorar os efeitos negativos da degradação visual do terreno enquanto decorrer a fase construtiva. Os impactes decorrentes da fase de construção serão particularmente sentidos pelo conjunto edificado de maior proximidade (Bairro dos pescadrores), por haver maior número de potenciais observadores. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 164 Durante a fase de construção verificar-se-á então uma maior interferência na percepção da paisagem pela população local e outros observadores, resultante de uma desorganização espacial e funcional na área de intervenção, com consequente degradação visual e ambiental. Os principais factores motivadores de impactes negativos, na fase de construção, estão relacionados com a modificação dos espaços e da sua organização devido a: existência de poeiras no ar resultantes das terraplenagens e deslocação da maquinaria; deposição das poeiras na vegetação marginal; Em termos de avaliação deste descritor para as alternativas de projecto, não se preconiza uma avaliação diferenciada para as mesmas. Fase de Exploração Na fase de exploração, os impactes na paisagem serão consequência das alterações introduzidas com a intervenção levada a cabo, de carácter definitivo. A presença na paisagem dos paineis fotovoltaicos e dos aerogeradores modificará a paisagem actual, e originará os seguintes impactes: aumento de grau de artificialização da paisagem; Do ponto de vista da acessibilidade visual e face às características de qualidade cénica e sensibilidade da unidade de paisagem, o empreendimento induzirá impactes directos, negativos e significativos. No que diz respeito à instalação de painéis fotovoltaicos, considera-se que uma extensão de cerca 350 m2 a 700 m2 consoante o cenário considerado, terá um efeito negativo na paisagem e especialmente para os visitantes da ilha em questão. No entanto, este impacte potencialmente negativo, poderá ser minimizado através de acções de sensibilização fornecida aos visitantes, sendo esclarecido os ganhos ambientais obtidos com estas infra-estruturas. Os efeitos negativos mais importantes sobre este tipo de paisagem são os causados pelos aerogeradores e respectivas plataformas, bem como pelas valas de cabos, considerados como muito importantes durante a construção e importantes durante a exploração. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 165 Em termos de avaliação deste descritor, para as alternativas de projecto, verifica-se o seguinte: Comparação entre o cenário 1 e o cenário 2: O cenário 2 contempla a instalação de painéis fotovoltaicos nos telhados das casas do bairro dos pescadores, diminuindo para quase metade da área ocupada em solo, comparativamente com o cenário. Em termos paisagísticos, o cenário 2 poderá provocar um menor impacte visual do que o cenário 1; Comparação entre o cenário 3 e o cenário 4: ambos os cenários contemplam uma área ocupada por paineis fotovoltaicos em conjunto com dois aerogeradores de diferentes potências. O efeito negativo mais importante é causado pelos aerogeradores, em grande parte pela altura do equipamento (que neste caso poderá atingir uma altura máxima de 15 m). A diferença mais significativa entre o cenário 3 e 4, será o facto deste último aproveitar a área dos telhados das casas já existentes no bairro, diminuindo a área de ocupação do solo, diminuindo assim o impacte visual. Em relação ao cenário 5, chama-se à atenção para o impacte visual provocado pelo Disco de Stirling, devido às suas dimensões (8,5 m diâmetro). 4.7 – Ordenamento do território Em termos legislativos, este projecto interfere com duas classificações: REN e REDE NATURA, sendo maioritariamente por esta razão que o presente Estudo de Incidências Ambientais é realizado, de modo a cumprir o seguinte enquadramento do Despacho conjunto n.º 51/2004, de 31 de Janeiro. O Plano de Ordenamento do Território da Reserva Natural das Berlengas refere também que de acordo com o artigo 16 º , alínea g), nas áreas de protecção parcial é permitido a realização das acções e a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto “Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade”. É ainda referido no artigo 18º, ponto 4, que nas áreas de protecção complementar, são permitidas obras de demolição, reconstrução e alteração nas edificações existentes, bem como a realização das acções e a instalação das infra-estruturas necessárias à concretização do projecto “Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade”. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 166 O Plano Director Municipal de Peniche classifica a Ilha Berlenga um espaço natural, classificado como REN e REDE NATURA.. Resumidamente, tendo em conta a elevada significância deste descritor ambiental na ilha da Berlenga, considera-se que o impacte ambiental provocado pelo projecto para as fases de construção e exploração é o seguinte: negativo, permanente, de magnitude elevada, muito significativo, para os cenários 3 e 4; negativo, permanente, de magnitude moderada, significativo, para os cenários 1, 2 e 5; 4.8 – Património No âmbito da avaliação das incidências ambientais associadas à execução do projecto foram apresentados seis cenários, traduzidos num total de dez propostas, contemplando a instalação de equipamentos solares fotovoltaicos e concentrados, e eólicos, que seguidamente se apreciam: Cenários 1 a 5 Os cenários 1, 2, 3, 4 e 5, e respectivas propostas apresentadas, prevendo a instalação de painéis fotovoltaicos e de unidade CSP (cenário 5), em zona localizada por cima do Bairro dos Pescadores, em extensões que variam entre os 289,9 m.² (cenários 2 e 4, concorrente 1) e os 585,2 m.² (cenário 1, concorrente 2), contemplam a ocupação de uma área que abrange parcialmente a zona previamente delimitada do Bairro dos Pescadores, conforme definido no Anexo 1 – Património Arqueológico Conhecido do Regulamento do PORNB, facto que per si não inviabiliza a execução das propostas apresentadas, desde que salvaguardada a aplicação da medida de minimização prevista no ponto 2, do Artigo 6º (Património Arqueológico) do citado documento. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 167 Figura 56 – Património arqueológico conhecido (PORNB) Relativamente à implantação dos aerogeradores contemplados nos cenários 3 e 4, previstos em área a Nordeste do sítio do Moinho, na zona do Pesqueiro do Capitão, não se identifica qualquer inconveniente. Figura 57 – Património Arqueológico Conhecido (PORNB) com indicação dos sítios de interesse arqueológico existentes na área de intervenção do projecto. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 168 Cenário 6 A não aplicação do projecto definida no cenário 6 não implica qualquer tipo de impacte sobre os valores culturais identificados na Ilha da Berlenga. Da avaliação efectuada dos cenários 1 a 5, e propostas apresentadas, considera-se que estes, e salvaguardadas as medidas de minimização a seguir expostas, apresentam um impacte mínimo sobre o património arqueológico existente na área do projecto. 4.9 – Sócio-economia Fase de construção No que respeita aos efeitos do projecto a nível local, apesar de na área de implantação, propriamente dita, não se registar a presença de habitações, durante o período de construção é possível que se venha a registar uma maior movimentação de pessoas, levantamento de poeiras e um aumento do nível de ruído na envolvente. Estes efeitos, apesar de negativos e importantes, por representarem alterações às condições normais do local da obra, são temporários e poderão ser facilmente corrigidos pela adopção de medidas como, por exemplo, garantir que o transporte de materiais seja minimizado e que estes últimos apresentem baixos níveis de ruído. Fase de exploração Muitos dos benefícios gerados pela produção de energia fotovoltaica e eólica manifestam-se a nível dos aspectos sociais e económicos e durante a fase de exploração contribuindo para um melhor desempenho ambiental da ilha, considerando-se o impacte ambiental positivo muito significativo, devido ao seu carácter permanente e de magnitude elevada. A instalação de fontes de energia renovável na ilha da Berlenga contribuirá para uma redução significativa do tempo de funcionamento dos geradores a diesel existentes na ilha e consecutivamente redução das emissões de CO2, contabilizadas em 40 ton/ano. Com esta solução verifica-se um decrescimo significativo das necessidades de transporte de diesel, para a ilha por via marítima, reduzindo os riscos e perigos ambientais inerentes a esta actividade. Para além disso, não são desprezáveis os riscos ambientais do manuseamento do diesel durante a transfega para os reservatórios no local e do seu próprio armazenamento. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 169 A instalação de sistemas de produção de energia eléctrica permitirá ainda reduzir o custo em diesel, que ronda os 15.000 €/ano acrescido dos custos de transporte e de Operação e Manutenção (O&M) dos equipamentos. Os custos operacionais do sistema de produção de energia renovável apresentam-se como uma mais valia quando comparado com os custos de exploração dos geradores a diesel, uma vez que estes sistemas não necessitam de combustível e os custos de O&M são significativamente baixo. Ao nível da população residente ou visitante da ilha, este novo sistema irá permitr que exista energia eléctrica durante 24 horas por dia e ao longo de todo o ano. 4.10 – Matriz de avaliação de impacte ambiental Os impactes do projecto são avaliados mediante a elaboração de uma matriz de identificação e avaliação dos impactes, em que se estabelecem relações entre as principais acções do projecto e os descritores ambientais, identificando deste modo as relações de causa-efeito e, consequentemente, os principais impactes ambientais gerados pelo projecto. A matriz corresponde a uma tabela de dupla entrada, que relaciona as diversas fases do projecto com os diversos indicadores de impacte. As relações estabelecidas procuram representar a existência e magnitude dos impactes previsíveis de ocorrerem. Os impactes são avaliados, fundamentalmente, em função das seguintes características: fase de ocorrência (construção / operação / desactivação); natureza (negativo / positivo); tipo (directo / indirecto); duração (temporário/permanente); magnitude (baixa/ média/ elevada); significância (pouco significativo/ significativo/ muito significativo). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 170 Os critérios utilizados na avaliação de impactes ambientais foram os seguintes: Negativo Pouco Significativo Significativo Muito Significativo Significativo Muito Significativo Positivo Pouco Significativo Tabela 11 - Critérios utilizados na avaliação de impactes ambientais Construção Exploração Desactivação Negativo Positivo Temporário Baixa Moderada Elevada Baixa Moderada Elevada Permanente Baixa Moderada Elevada Baixa Moderada Elevada Impacte cumulativo positivo Impacte cumulativo negativo Na Tabela 12, encontram-se resumidos os impactes ambientais identificados para o projecto em causa. Tabela 12 - Matriz de avaliação dos impactes ambientais Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 171 DESCRITOR CAUSA EFEITO FASE DE OCORRÊNCIA CARACTERÍSTICAS Fase de Obra Negativo Temporário Directo Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Temporário Directo Magnitude baixa Pouco Significativo Fase de exploração Negativo Permanente Directo Magnitude baixa Pouco significativo Escavações e betonagem Instalação dos aerogeradores e dos painéis solares Aumento dos níveis de ruído essencialmente devido à circulação de maquinaria e utilização de equipamentos AMBIENTE SONORO USO DO SOLO Funcionamento dos aerogeradores Emissão de Ruído Ambiente Desmontagem dos equipamentos Aumento dos níveis de ruído devido à circulação de maquinaria e utilização de equipamentos Fase de Encerramento Remoção de terras e coberto vegetal Ocupação do solo Fase de Obra Alteração da situação de referência Fase de Obra Ocupação do solo; ensombramento no local Fase de exploração Desmontagem dos equipamentos Recuperação do solo com as características de referência Fase de Encerramento Circulação de pessoas e movimentação de terras Alteração da situação de referência Fase de obra e fase de encerramento Remoção coberto vegetal no local de implantação dos paineis Alteração da situação de referência Fase de obra Cenários 3 e 4: Remoção do coberto vegetal no local de implantação dos aerogeradores Alteração da situação de referência Fase de obra Funcionamento dos equipamentos dos cenários 1,2 e 5 Alteração da situação de referência Fase de exploração Fixação dos equipamentos ao solo FLORA FLORA Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade Negativo Temporário Directo Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Temporário Directo Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Temporário Directo Magnitude moderada Significativo Negativo Permanente Directo Magnitude baixa Pouco significativo Positivo Directo Permanente Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Temporário Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Temporário Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Temporário Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude baixa Pouco Significativo 172 Funcionamento dos aerogeradores Alteração da situação de referência Fase de exploração Montagem de equipamentos, remoção de terras Alteração da situação de referência da mamofauna Fase de obra e de exploração Alteração da situação de referência do Airo e corvomarinho Fase de obra e de exploração Alteração da situação de referência da cagarra Fase de obra e de exploração Alteração da situação de referência do Airo e corvomarinho Fase de obra e de exploração Alteração da situação de referência da cagarra Fase de obra e de exploração Cenários 1, 2 e 5: Montagem de equipamentos, remoção de terras FAUNA Cenários 3 e 4: Montagem de equipamentos, remoção de terras SÓCIO-ECONOMIA Funcionamento dos equipamentos Produção de energia através de energias renováveis GEOLOGIA E GEOMOR. Remoção de terras Formação de depressões ou remobilização de terra Cenários 1,2 e 5: Implantação do projecto em sítio de REN Alteração da situação de referência ORD. TERRITÓRIO Fase de exploração Fase de obra Fase de obra e de exploração Cenários 3 e 4: Implantação do projecto em sítio de REN Alteração da situação de referência Cenários 1 e 3: desmatação, escavação, remoção de terras Alteração da situação de referência Fase de obra Cenários 2 e 4: desmatação, escavação, remoção de terras Alteração da situação de referência Fase de obra Movimentação de terras Emissão de poeiras, emissão de CO2 Fase de obra Funcionamento dos Diminuição de emissões Fase de exploração PATRIMÓNIO QUALIDADE DO AR Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude elevada Muito Significativo Positivo Directo Permanente Magnitude elevada Muito Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude baixa Pouco Significativo Negativo Directo Temporário Magnitude baixa Pouco significativo Positivo Directo 173 aerogeradores e dos painéis fotovoltaicos atmosféricas Desmontagem dos equipamentos Emissão de poluentes atmosféricos das máquinas Fase de encerramento Movimentação de terras Impacte visual para os visitantes Fase de obra PAISAGEM Funcionamento dos aerogeradores e dos painéis fotovoltaicos Impacte visual para os visitantes Fase de exploração Permanente Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Temporário Magnitude baixa Pouco significativo Negativo Directo Temporário Magnitude moderada Significativo Negativo Directo Permanente Magnitude moderada Significativo 5 – Medidas de Minimização Para a compatibilização da construção e exploração dos aerogeradores e dos painéis fotovoltaicos, é necessário um acompanhamento ambiental rigoroso, de forma a garantir a implementação de medidas de minimização e de valorização dos impactes ambientais, visando reduzir e/ou valorizar a sua magnitude e intensidade, consoante o teu tipo, benéficos ou prejudiciais. Para o descritor Património Arqueológico, apresentam-se em seguida as medidas de minimização em função das diversas fases do projecto. Perante o potencial arqueológico da área a abranger pelo projecto e a natureza das acções previstas no âmbito da execução do mesmo, impõe-se a aplicação de algumas medidas de minimização dos impactes negativos previstos, a desenvolver nos termos da legislação vigente (Artigos 77º e 79º da Lei de Bases do Património Cultural Português, Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro), nomeadamente: Realização de sondagens arqueológicas de diagnóstico na totalidade da zona a intervencionar no âmbito da instalação dos painéis fotovoltaicos e CSP. A execução deste trabalho, por via manual, permitirá o reconhecimento prévio, registo e salvaguarda de vestígios e estruturas arqueológicas. A identificação no âmbito deste trabalho de contextos de natureza arqueológica motivará necessáriamente, a realização de intervenção arqueológica de emergência de forma a avaliar a especificidade e extensão dos mesmos; Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 174 Acompanhamento arqueológico dos trabalhos de desmatação, escavação, remoção e depósito de terras, e instalação de estaleiro. Este trabalho deve ser efectuado em permanência, de forma continuada e contemplando todas as mobilizações do solo atrás mencionadas. O acompanhamento arqueológico da obra deverá evitar a destruição gratuita de artefactos ou contextos arqueológicos que possam surgir no âmbito da intervenção, devendo a sua identificação motivar igualmente a realização de uma escavação arqueológica de emergência. Os pedidos referentes aos trabalhos arqueológicos a realizar no âmbito da execução do projecto deverão ser previamente submetidos à tutela – IGESPAR I.P. – entidade que autoriza a realização dos mesmos e aprova os respectivos relatórios finais. Tendo em consideração, a enorme relevância da Ilha da Berlenga no contexto da navegação à escala atlântica (e consequentemente no panorama da arqueologia portuguesa), o facto das intervenções arqueológicas desenvolvidas nas últimas décadas (e em particular desde 2000), em meio terrestre quer em meio aquático, terem sido realizadas (em estreita articulação com a Reserva Natural das Berlengas) na sua totalidade pelo IGESPAR, I.P. (ou pelo organismo seu antecessor), demonstrando notório conhecimento por parte dos técnicos desta entidade da realidade local, e, por fim, o facto deste organismo ter assento no Conselho Estratégico da Reserva Natural da Berlenga, recomenda-se que seja proposto ao IGESPAR, I.P, a realização por parte deste dos trabalhos atrás definidos. Para além das medidas de minimização especificas para o descritor arqueologia, um conjunto mais vasto de medidas deverão ser consideradas, tendo em conta a riqueza ecológica do local e a tipologia da intervenção. Assim um dos pontos a realçar prende-se com o período do ano para a realização das obras afectas ao projecto – fase de construção. Tal como ficou dito no capítulo anterior, existirá maior impacte ambiental na fase de construção, no período de nidificação e primeiros voos dos juvenis, em especial de cagarras, devendo as obras decorrer fora deste período. De igual modo, as medidas de minimização associadas à instalação de aerogeradores na ilha, deverão contemplar a monitorização e eventual paragem destes durante o período de nidificação e durante a noite. Apresenta-se na Tabela 13 de uma forma generalizada, as medidas de minimização propostas. Apesar do corvo-marinho e do airo nao nidificarem na zona de implantação do projecto, sendo apenas utilizada pela cagarra, os traballhos de instalação dos equipamentos serão efectuados fora do periodo de nidificação (Fevereiro a Junho). Também será tido em conta a época de visitação da ilha (Junho a Setembro). Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 175 Analisando estas duas condicionantes é expectável que a instalação dos equipamentos ocorra entre Outubro e Janeiro. Tabela 13- Medidas de minimização a implementar durante as várias fases de projecto Assinalar e vedar, antes do início das obras, todos os elementos e áreas naturais com elevado valor ecológico; Realização da obra entre os meses de Outubro e Janeiro (de forma a salvaguardar a época de nidificação e evitar o período de maior afluência de visitantes); Proceder ao levantamento e identificação/sinalização dos exemplares de flora protegida presentes na área de instalação das infra—estruturas (em especial na área das fundações dos aeroheradores) por forma a não afectar exemplares; Acompanhamento arqueológico da obra: O aparecimento de vestígios arqueológicos durante quaisquer trabalhos ou obras deverá originar a imediata suspensão dos mesmos e a comunicação, também imediata às demais entidades competentes, em conformidade com as disposições legais em vigor; Criação de um sistema de drenagem nas zonas de obra; Armazenamento temporário de materiais inertes provenientes de locais legalmente autorizados, em zonas adequadas a indicar pelas autoridades competentes e devidamente delimitados; A rocha resultante das escavações e desmontes deverá ser devidamente acomodada, de forma a poder ser utilizada noutras intervenções e/ou removida no final da obra; Medidas a considerar na fase de construção O solo removido dos locais de escavação não poderá ser misturados com o entulho produzido; Remoção e deposição temporário de entulhos e dos restantes resíduos resultantes de escavações, em locais adequados, a indicar pelas autoridades competentes e posteriormente removidas da ilha; Armazenamento temporário de todo o tipo de resíduos resultantes das diversas obras de construção em locais e condições adequadas a indicar pelas entidades competentes na matéria, para posterior transporte para local de depósito autorizado; Acondicionamento e armazenamento em locais adequados de substâncias poluentes como tintas, óleos, combustíveis, cimento e outros produtos agressivos para o ambiente; Proteger os depósitos de detritos e de materiais finos da acção do vento chuva; Descarga das águas resultantes da limpeza de betoneiras em locais a criar especificamente para esse fim e sua remoção da ilha no final da obra; Pintura dos aerogeradores com tintas sem brilho e revestimento do edifício de comando com material adequado de modo a permitir a sua integração paisagística; Acompanhamento da obra por técnicos e vigilantes da natureza da Reserva Natural das Berlengas. Medidas a considerar na Após conclusão dos trabalhos de conclusão, todos os locais do estaleiro e zonas de trabalho Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 176 fase de acabamento de obra deverão ser cuidadosamente limpos; Todos o detritos e outros materiais resultantes das obras de construção do projecto deverão ser removidas da Ilha; Reparação do pavimento danificado nos caminhos utilizadas nos percursos de acesso aos parque eólico e fotovoltaico; Proceder à recuperação das zonas intervencionadas, sem recurso a plantações e sementeiras, excepto se considerado pertinente tendo em conta a salvaguarda da vegetação autóctone, em articulação com o ICNB; Naturalização das valas para instalação dos cabos eléctricos; Medição do nível de ruído emitido pelos aerogeradores. Acompanhamento da recuperação ambiental durante o primeiro ano de funcionamento do parque Encaminhamento dos diversos tipos de resíduos resultantes das operações de manutenção e reparação de equipamentos para os operadores de gestão de resíduos licenciados para o efeito; Medidas a considerar na fase de exploração Implementação de planos de monitorização do ruído e impacte na fauna provocado pelos aerogeradores (se aplicável); Efectuar os trabalhos de manutenção preventiva apenas de Setembro a Fevereiro. Revisões periódicas com vista à manutenção dos níveis sonoros de funcionamento dos aerogeradores Medidas a considerar na fase de desactivação Remoção integral dos diversos tipos de infra-estrutura instalados no parque, pelo dono de obra; Recuperação paisagísticas imediata das zonas afectadas. 6 – Monitorização Ambiental Foram definidos dois conjuntos de tarefas para acompanhar os efeitos da obra no ambiente, quer durante a sua construção quer durante o funcionamento: Processo de Obra (PO) Plano de Acompanhamento da Recuperação Paisagística (PARP) Plano de monitorização do ruído e plano de impacte na fauna provocado pelos aerogeradores O primeiro plano desenvolver-se-á desde a aprovação do projecto até ao final da sua construção. Visa o cumprimento das medidas destinadas a atenuar os efeitos negativos e as recomendações relativas ao desenvolvimento do projecto e aos trabalhos necessários à sua construção – nomeadamente, respeito Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 177 pelos limites das áreas onde não devem existir obras, controlo dos movimentos de terras, controlo e deposição de lixos e detritos e controlo do funcionamento da maquinaria e equipamentos usados na obra. Deverá ainda ser efectuado um plano de monitorização que deverá contemplar numa primeira fase a inventariação dos ninhos/abrigos de aves. Em fase de exploração , os ninhos deverão ser monitorizados. Deverá ser feito também buscas regulares de cadáveres associados aos aerogeraodres e monitorização de alterações de comportamento dos animais. O controlo das actividades relativas à recuperação da paisagem, contemplado no segundo dos planos referidos, desenrolar-se-á quase em simultâneo com o plano anterior, prolongando-se para depois do início do funcionamento do projecto. Destina-se, fundamentalmente, a evitar que durante a obra o local apresente um aspecto deteriorado ou degradado e a garantir que as áreas utilizadas durante as obras voltem a apresentar um aspecto natural, próximo do que apresentam actualmente. Os Planos de monitorização de ruído e o plano de monitorização de mortalidade da fauna associado ao funcionamento dos aerogeradores, caso sejam selecionados os cenários 3 ou 4, decorrerão nos dois anos subsequentes ao inicio de entrada em funcionamento do projecto, por forma a verificar do cumprimento das medidas de minimização e a avaliar os impactes destas infra-estruturas sobre as populações faunísticas e sobre a população humana residente e/ou visitante, bem como a identificar possíveis medidas de minimização mais restritivas a ser implementadas no funcionamento dos aerogeradores. A metodologia a adoptar para os referidos planos de monitorização será sujeita a parecer vinculativo da CCDR-LVT e do ICNB. Para além dos planos referidos, encontra-se ainda preconizada para o final da obra, a realização de uma vistoria (denominada auditoria ambiental) à implementação das medidas e recomendações definidas no EIA, a fim de comprovar que foram efectivamente aplicadas, para avaliar a sua eficácia e, caso se revele necessário, para introduzir eventuais acertos. Relativamente ao descritor ambiental património , na fase de construção ePerante o potencial arqueológico da área a abranger pelo projecto e a natureza das acções previstas no âmbito da execução do mesmo, impõe-se a aplicação de algumas medidas de minimização dos impactes negativos previstos, a Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 178 desenvolver nos termos da legislação vigente (Artigos 77º e 79º da Lei de Bases do Património Cultural Português, Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro), nomeadamente: Realização de sondagens arqueológicas de diagnóstico na totalidade da zona a intervencionar no âmbito da instalação dos painéis fotovoltaicos. A execução deste trabalho, por via manual, permitirá o reconhecimento prévio, registo e salvaguarda de vestígios e estruturas arqueológicas. A identificação no âmbito deste trabalho de contextos de natureza arqueológica motivará necessáriamente, a realização de intervenção arqueológica de emergência de forma a avaliar a especificidade e extensão dos mesmos. Acompanhamento arqueológico dos trabalhos de desmatação, escavação, remoção e depósito de terras, e instalação de estaleiro. Este trabalho deve ser efectuado em permanência, de forma continuada e contemplando todas as mobilizações do solo atrás mencionadas. O acompanhamento arqueológico da obra deverá evitar a destruição gratuita de artefactos ou contextos arqueológicos que possam surgir no âmbito da intervenção, devendo a sua identificação motivar igualmente a realização de uma escavação arqueológica de emergência. Os pedidos referentes aos trabalhos arqueológicos a realizar no âmbito da execução do projecto deverão ser previamente submetidos à tutela – IGESPAR I.P. – entidade que autoriza a realização dos mesmos e aprova os respectivos relatórios finais. Tendo em consideração, a enorme relevância da Ilha da Berlenga no contexto da navegação à escala atlântica, e consequentemente no panorama da arqueologia portuguesa, o histórico das intervenções arqueológicas desenvolvidas nas últimas décadas, e em particular desde 2000, em meio terrestre quer em meio aquático, terem sido desenvolvidas (em estreita articulação com a Reserva Natural das Berlengas) na sua totalidade pelo IGESPAR, I.P. (ou pelo organismo seu antecessor), demonstrando notório conhecimento da realidade local, e, por fim, o facto desta entidade ter assento no Conselho Consultivo da Reserva Natural da Berlenga, recomenda-se que seja proposto ao IGESPAR, I.P, a realização por parte deste dos trabalhos atrás definidos. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 179 7 – Lacunas Técnicas ou de Conhecimento Não foram identificadas lacunas técnicas ou de conhecimento neste estudo, com impacte directo no seu desenvolvimento. 8 – Conclusões O presente relatório técnico apresenta as informações recolhidas no âmbito do Estudo de Incidências Ambientais realizado entre Janeiro de 2008 e Março de 2009 na Ilha da Berlenga, no âmbito do Projecto denominado Berlenga – Laboratório de Sustentabilidade. O motivo da realização do Estudo de Incidências Ambientais prende-se com a realização de um conjunto de acções de modo a dotar a referida ilha sustentável em termos energéticos, através da instalaçãode um sistema de geração de energia eléctrica com base em fontes de energia renovável, diminuindo assim o passivo ambiental da ilha reduzindo as emissões atmosféricas e dotando a ilha de energia eléctrica 24 horas por dia, tendo por base as necessidades actuais. Assim, foram analisados os seus potenciais impactes ambientais associados à instalação, exploração e encerramento e definidas as respectivas medidas mitigadoras e/ou potenciadoras. Analisando a Tabela 14, verifica-se que foram identificados e avaliados 23 aspectos ambientais, sendo 26, aspectos negativos (15 pouco significativos e 10 significativo e 1 muito significativo)). Os restantes (3) são aspectos positivos (1 muito significativo; 1 significativos e 1 pouco significativo). Outra questão importante a ter em consideração no enquadramento futuro do projecto, será a questão visual/paisagística para os visitantes da presença dos aerogeradores e dos painéis fotovoltaicos (pela sua ocupação em termos de área e intrusão visual não passível de mitigação). No que diz respeito aos impactes positivos, são por si só relevantes da importância do projecto em causa, com ênfase na importância sócio-económica para a ilha e para Peniche, como releva uma melhoria significativa do desempenho ambiental da Ilha da Berlenga, realçando-se a redução significativa das Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 180 emissões de gases com efeito de estufa, melhoria no fornecimento de energia eléctrica à Ilha, a produção de energia para a instalação de equipamentos que visam a melhoria da qualidade ambiental ao nível da gestão de resíduos e da água para abastecimento publico, por exemplo. Para além disso, existe um forte contributo para o equilíbrio e compatibilização da presença humana na ilha, permitindo melhorar a qualidade dos serviços prestados aos residentes e visitantes. Contribuindo, também, para melhorar o desempenho ambiental e a minimização dos impactes associados à presença humana, pela redução dos resíduos, dos efluentes e dos sistemas associados aos seu tratamento e remoção da ilha. De seguida, apresenta-se uma tabela resumo que pretende efectuar uma comparação entre os vários cenários propostos, com vista a avaliar qual/quais os cenários mais favoráveis para serem implementados na Ilha Berlenga, susceptíveis de causar o menor impacte ambiental possível. Tabela 14 - Comparação entre os cenários propostos no que diz respeito aos impactes ambientais Descritor ambiental Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6 Qualidade do ar ++ ++ ++ ++ ++ ___ Ambiente sonoro 0 0 _ _ 0 -- Uso do solo _ _ __ __ ___ 0 __ _ ___ ___ __ 0 Flora Fauna _ _ _ __ ___ _ - Paisagem __ _ ___ ___ __ 0 Ord. Território __ __ ___ ___ __ 0 Património __ _ _ _ 0 0 +++ +++ +++ +++ +++ ___ _ _ _ _ _ 0 Sócio-economia Geologia e geomorfologia Legenda: 0: impacte nulo -: Impacte negativo pouco significativo - - : Impacte negativo significativo - - -: Impacte negativo muito significativo +: Impacte positivo pouco significativo + +: Impacte positivo significativo + + +: Impacte positivo muito significativo Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 181 Assim, da análise da Tabela 14, considera-se que: Os cenários 1 e 2 utilizam como fonte de energia painéis fotovoltaicos sem impactes ambientais em termos de ruído e emissões, diferenciando-se apenas pela localização concentrada ou distribuída dos painéis, e com um custo próximo do cenário mais económico. Os painéis instalados por cima do bairro dos pescadores localizam-se numa zona de chorão das areias, especié invaziva que terá de ser parcialmente removida para a para a montagem dos equipamentos de produção de enegia eléctrica; Os cenários 3 e 4 recorrem a um misto de painéis fotovoltaicos e aerogeradores, correspondendo o cenário 3 ao cenário mais económico dos analisados. O cenário 3 e 4 diferenciam-se também pela disposição dos painéis fotovoltaicos no terreno. Nestes cenários também existe uma redução significativa de emissões de CO2, embora os aerogeradores terem algum impacte ao nível visual e de ruído. Estes aspectos poderão ser minimizados se se optar pela solução de 2,5 k W de menor dimensão em alternativa aos aerogeradores de 5kW. Por outro lado, o eventual impacte dos funcionamento dos aerogeradores nas aves, poderá ser mitigado através do condicionamento do período de funcionamento dos mesmos ao longo do dia/ano; O cenário 5 contribui com a complemetaridade de soluções de produção de energia eléctrica e não tem impactes ao nível de ruído e emissões de CO2. Contudo, este cenário é o de custo mais elevado com alguma incerteza realtivamente ao custo do sistema solar concentrado (Disco de Stirling) e algum impacte visual. O cenário 6, que corresponde à situação actual, com a produção de energia a partir de geradores a diesel, apresenta impactes ambientias negativos e significativos, no que se refere às emissões de CO2 (40 ton/ano) e ruído e ainda riscos associados ao transporte e manuseamento do combustível. Para além disso a esta situação estão ainda associados custos significativos de combustível e de operação e manutenção. Da análise da situação de referência constata-se um conjunto de impactes ambientais e custos de exploração não aceitáveis, tendo em consideração o actual estatudo de Reserva Natural da ilha e ambição de uma candidatura à Reserva da Biosfera da UNESCO. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 182 Assim, os impactes ambientais identificados durante a execução do projecto, levam a concluir que não existem factores ou riscos ambientais que possam inviabilizar a implantação e exploração dos referidos equipamentos. Em resumo, pensa-se que o projecto no seu conjunto é viável do ponto de vista ambiental, desde que: Sejam cumpridas as medidas ambientais de atenuação dos efeitos negativos e valorização dos positivos indicadas neste estudo; Seja posto em prática o acompanhamento do empreendimento (planos de monitorização), que permitirá identificar algo que não funcione como o previsto e tomar medidas que permitam corrigir essa situação. Estudo de Incidências Ambientais Berlenga Laboratório de Sustentabilidade 183 9 – Bibliografia Atlas das Cidades de Portugal, Instituto Nacional de Estatística, Lisboa, 2002. Bernardo, H. (1969): Jorge de Vasconcelos - senhor das Berlengas e do Baleal, in A Voz do Mar, n.º 304, de 25 de Outubro, Peniche. Bernardo, H. (1970): Jorge de Vasconcelos e a tença d´el-Rei, in A Voz do Mar, n.º 311, de 10 de Fevereiro, Peniche. Blot, J.Y. (2003): De Terra Nullius a Parque-Reserva: a partilha do espaço no fundeadouro da Berlenga. Conferência apresentada na Academia de Marinha, Lisboa, em 23 de Outubro de 2003. Blot, J.Y. (2005a): O ancoradouro da Berlenga, in Congresso A Presença Romana na região Oeste, Novembro de 2001, Câmara Municipal do Bombarral. Blot, J.Y. (2005b) A diacronia do fundeadouro da Berlenga, in Actas das I Jornadas de Arqueologia e Património da Região de Peniche, Junho de 2005, Câmara Municipal de Peniche. Blot, J.Y. & Blot, M.L. 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