V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 Mídia, Imigração e Cidadania: Breve Histórico de Uma Rádio Boliviana de São Paulo Danilo BORGES1 Universidade Católica de Brasília ISSN-2175-6554 Referência: BORGES, Danilo. Mídia, Imigração e Cidadania: Breve histórico de uma rádio boliviana de São Paulo. In: Mídia Cidadã 2009 – V Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, 2009. Guarapuava. Anais. Guarapuava, 2009. p. RESUMO O presente artigo faz uma relação entre mídia e imigração, buscando conhecer a história de uma rádio boliviana de São Paulo, a Infinita FM, que tem como público-alvo os imigrantes bolivianos radicados no Brasil, atuantes no mercado de costura / confecções e que são residentes nos bairros do Bom Retiro, Pari, Canindé e cercanias. A rádio em questão não possui a permissão de funcionamento dada pelo Ministério das Telecomunicações e, no correr da sua história, foi fechada pelas autoridades competentes e re-colocada no ar por seus idealizadores várias vezes. Os responsáveis por ela se dizem comprometidos com a realidade sócio-política e cultural de seus ouvintes, auto intitulando-se uma emissora comunitária. No intuito de conhecer a história da Rádio Infinita. Valladares e Brandão nos ofereceram o aporte teórico necessário para uma Observação Participante em busca de mídia, imigrantes e cidadania na cidade de São Paulo. Palavras-chave: Mídia; Imigração; Cidadania; Bolivianos; São Paulo; Rádio Infinita. O Contexto Nos ultimos 25 anos, com a modernização e intensificação de critérios objetivos e subjetivos de recepção à estrangeiros implementada por países do hemisfério norte, os imigrantes oriundos de países em vias de desenvolvimento do hemisférios sul, portadores de mão-de-obra pouco qualificada, tiveram mais dificuldade para entrar e Mestrando em Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília – [email protected] orientando da professora do Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica de Brasília Dra. Florence Dravet – 1 [email protected] V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 permanecer em destinos economicamente pujantes como Estados-Unidos, Canadá, Alemanha e Inglaterra. Essa movimentação internacional ocasionou, já na metade dos anos 80, uma determinada mudança nas rotas migratórias no mundo economicamente globalizado. A Europa Central, América do Norte, alguns países da Oceania e Japão continuaram a ser o foco principal para pessoas de diversas partes do mundo que pretendiam buscar melhorias econômicas e sociais fora do seu local de origem. No entanto, países fora desse eixo e possuidores de economias amplas, sem grandes restrições técnicas e subjetivas à imigração, passaram a ser potenciais destinos para imigrantes em busca de trabalho e das novas perspectivas imaginadas com a decisão de imigrar.2 Notadamente, isso também ocorreu na América Latina, entre países vizinhos ou pertencentes à mesma região. Dessa forma, o México passou a ser o destino de guatemaltecas e hondurenhos. A Argentina de bolivianos e paraguaios. O Chile de peruanos e bolivianos, por exemplo. Com a recessão vivida pela Argentina durante os anos 80, o país deixou de ser um dos destinos “naturais” de imigrantes bolivianos.3 A língua, proximidade geográfica e prosperidade econômica vivida pelo país se tornavam grandes fatores de atração de mão-de-obra com baixa qualificação na América do Sul. Com o colapso financeiro sofrido por ela, o Brasil, a partir da segunda metade dos anos 80, ocupou um potencial lugar de destino para esses imigrantes latinos. A criação do Plano Real e, de certo modo, a também proximidade geográfica favoreceu a transformação do Brasil em um centro de atração para imigrantes latinos, sobretudo de bolivianos.4 Mas esses fatores, somente, não são suficientes para explicar a presença massiva de imigrantes bolivianos em São Paulo. Para o grupo em questão, o processo imigratório mais recente está atrelado à dinâmica e oscilações que passa o mercado de costura da capital paulista. Silva defende a hipótese de que as mudanças sofridas no setor de confecções têm impactos diretos na intensificação, ou retração, dos movimentos migratórios de bolivianos para a cidade de São Paulo. De acordo com Caggiano, a 2 CANCLINI, 2004 p.58. SILVA, 1997 p.13. 4 SILVA, 2003 pp.30-33. 3 V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 Bolívia é um país exportador de mão-de-obra, 52% das famílias bolivianas residentes no país andino possuem, ao menos, um membro vivendo no exterior.5 Esses imigrantes uma vez fora da Bolívia, em muitos casos, estão indocumentados. Essa situação, não só no mercado de costura, abre possibilidades para que ocorram abusos por parte de seus empregadores que impõem a seus empregados uma rotina diária laboral que pode ultrapassar 15 horas diárias.6 O que nos chamou atenção para esse fato em São Paulo e que nos impulsionou a tentar conhecê-lo melhor foi a quantidade de pessoas que participa dessa realidade e os desdobramentos sócioeconômicos que repercutem para os atores envolvidos nela. Oficialmente, os números fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - apontam que hoje no Brasil há cerca de 20.000 mil bolivianos em território brasileiro (Silva, 2008:5). No entanto, é possível que haja um número muito superior a esse devido ao número de irregulares. De acordo com estimativas das entidades que estudam o caso, esse número pode chegar a mais de 200.000.7 As rádios bolivianas em São Paulo O histórico das rádios bolivianas de São Paulo começa no final dos anos 90. Infinita, Vanguarda, Meteoro e Galáctica, Impactos Calientes, Visión todas elas funcionando em FM, compunham o cenário das emissoras presentes em São Paulo. Atualmente, estão ativas somente três: A Infinita, Impactos Calientes e Vison. Com relação à legalidade da ação dessas rádios, nenhuma delas possuíam permissão para funcionar, uma vez que a legislação brasileira não permite, entre várias coisas, locuções que não sejam em língua portuguesa.8 5 CAGGIANO, 2006 p.87. Esses empregadores podem ser brasileiros, coreanos ou até mesmo outros bolivianos. 7 Uma dessas entidades é a Pastoral do Imigrante , órgão ligado à Igreja Católica responsável por cuidar de pessoas que estão fora do seu local de origem e que necessitam de acolhida e promoção humana. Ela atua em diversas localidades do Brasil e do mundo mas, especificamente, em São Paulo há um setor de apoio a latino-americanos que estão na capital paulista. Muitos bolivianos em situação irregular e que atuam no mercado de costura são atendidos por essa pastoral. 8 LEI Nº 9612/98 6 V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 Esse impedimento por si só já era o suficiente para acabar com qualquer iniciativa das rádios buscarem sua regularização perante às autoridades brasileiras. Para eles, o trabalho prestado por essas rádios é, de fato, um trabalho voltado para comunidade. No entanto, as peculiaridades das rádios bolivianas de São Paulo as caracterizam aos olhos das autoridades brasileiras como Rádios Piratas ou Rádios Clandestinas. Na visão dos radialistas há uma verdadeira “caça às rádios bolivianas ” por parte das autoridades brasileiras. Quando estas são fechadas, reaparecem em outros locais alguns dias depois em outra sintonia e, até, com outro nome, mas com a mesma equipe, mesma programação e, por vezes, com a mesma aparelhagem. Esses locais são secretos. Pouquíssimas pessoas sabem onde são montadas as bases de emissão. O que se sabe é que funcionam dentro das oficinas de costura. Nas ruas dos bairros de maior concentração boliviana, as pessoas conhecem as rádios, mas todos dizem não saber onde se encontram. A programação delas, geralmente, não é fixa e pode sintonizá-las das 10:00 às 16:00 e das 17:00 às 00:00. De acordo com Caggiano, a oralidade é um dos traços mais marcantes em alguns seguimentos da cultura andina, principalmente das camadas sociais mais baixas, daí o papel central que o radio desempenha dentro da cosmologia social andina.9 As rádios mineiras desempenharam funções importantes durante momentos de destaque da história boliviana, como a Revolução de 1952 que levou ao poder o Movimento Nacionalista Revolucionário, mobilizando operários e camponeses que se tornavam atores em um processo de conscientização e práticas políticas vividos pelos trabalhadores bolivianos, participantes do processo revolucionário que o país passava naquele momento10. É nessa perspectiva que também, de acordo com os radialistas bolivianos de São Paulo, que as rádios foram criadas. Ou seja, além de estabelecer vínculos culturais e afetivos com a terra natal, também se dedicam a conscientização social e política da realidade vivida por muitos imigrantes latinos, principalmente bolivianos, que trabalham em São Paulo, geralmente, indocumentados e tendo sua mão-de-obra explorada de na cadeia 9 CAGGIANO, 2006 p.56. PERUZZO, 2004 p. 193. 10 V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 produtiva do mercado de costura. O discurso dos radialistas sempre ressalta o potencial que as rádios têm para contribuir em um processo educativo, de conscientização para que as pessoas pertencentes a uma determinada realidade social se interessem por assuntos que são públicos e pertinentes à sua presença no mundo, Silva chama isso de “fundamentos necessários para a formação cidadã”. 11 Ainda, de acordo com os radialistas como os quais conversamos: outra preocupação que temos é de que pessoas da comunidade tivessem condições de mandar recados para parentes que estão em outras oficinas de costura, de comercializar produtos como máquinas de costura, cervejas bolivianas, vagas de trabalho nas diversas oficinas de costura espalhadas por São Paulo, etc. A rádio Infinita Em 1999 dois imigrantes bolivianos já residentes no Brasil idealizaram o sonho de criar uma rádio que servisse especificamente aos interesses daquela comunidade andina empregada no mercado de costura / confecção e moradora nos bairros do Bom Retiro, Canindé, Pari e cercanias. São Paulo. Esses idealizadores, quando ainda estavam no Bolívia, atuavam com rádios populares nas cidades de La Paz e Cochabamba e, inclusive, chegaram a freqüentar o curso superior em Comunicação Social em suas respectivas cidades. Assim, pelos mesmos motivos que vários conterrâneos, nos anos 90, eles tiveram que sair da Bolívia em busca de melhores oportunidades pessoais e laborais, decidindo primeiramente em ir para Argentina e pelos motivos já expostos, em seguida, para o Brasil. No ano 2000 a idéia da criação da rádio foi posta em prática. No entanto, para iniciar as atividades em caráter experimental, foi alugado um horário em uma rádio comercial de São Paulo para a realização de um programa semanal com duração de duas horas voltado especificamente para os bolivianos trabalhadores no mercado de costura. A programação era toda ela feita em língua espanhola, contando com uma mescla de expressões das línguas Quêchua e Aymará.12 Mês a mês a audiência começava a subir e 11 SILVA, 2008 pp.38-39. Línguas indígenas faladas ainda hoje por mais de 10 milhões de pessoas em toda América do Sul. 12 V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 o programa ganhava cada vez mais ouvintes pelos bairros centrais de São Paulo onde se concentravam as oficinas de costura. Com isso, o valor do aluguel cobrado pelos donos das emissoras também crescia e fazia com que a realização do programa se tornasse inviabilizada. Outras tentativas nessa mesma direção foram feitas em outras rádios. No entanto, mesmo com a mudança do programa de uma rádio para outra, com sintonias e horários diferentes, as notícias de tal ocorrido circulavam rapidamente entre os ouvintes que permaneciam fieis à programação tematizada e focada na vida do imigrante boliviano. Quando isso ocorria, os resultados sempre eram os mesmos, ou seja, a audiência se consolidava cada vez mais e os valores cobrados pelos alugueis dos horários aumentavam substancialmente, inviabilizando todo o processo. Esse período durou, aproximadamente, dois anos em meio, foi quando em 2002 os idealizadores pensaram em constituir uma rádio própria. Dessa forma, em dezembro daquele ano, nascia a Latina Sat que, em seguida, se transformaria em Associação Rádio Comunitária Infinita. O nome de “batismo” – Associação Rádio Comunitária Infinita – foi com vistas à montagem de um processo que visasse a regularização de suas atividades perante às autoridades brasileiras. No entanto, a fundação da rádio ainda não possuía um caráter devidamente “comunitário”, de acordo com a legislação brasileira. Mesmo assim, para os seus fundadores ela possuía, desde sua formação, um forte viés comunitário no sentido de que sua programação e ações sempre tinham um cunho comunitário e de serviços voltados para os imigrantes bolivianos, por isso a opção por esse nome. Por não contar com a licença dada pela Agencia Nacional de Telecomunicações – ANATEL – a Infinita FM foi interditada várias vezes e teve seus equipamentos apreendidos pelas autoridades competentes. Tentando ganhar força política na luta pela regularização da rádio, os seus fundadores e idealizadores buscaram apoio em instituições que pudessem “dar peso” às suas reivindicações junto às autoridades brasileiras e sensibilização dessas mesmas autoridades para que criassem nova legislação que contemplasse a particularidade de V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 rádios como as bolivianas. A Pastoral do Migrante, Faculdade de Comunicação Social e de Direito da Universidade de São Paulo, ONG Oboré e políticos municipais e estaduais participaram do movimento em prol da legalização das atividades da Associação Rádio Comunitária Infinita FM. Todas essas as tentativas não resultaram em ganhos substanciais para a regularização da Rádio Infinita. Mesmo sem avanço no tocante à regularização, os idealizadores da rádio decidiram recolocá-la no ar em abril de 2003 na freqüência 101.3, funcionando por quatro meses até que os problemas voltaram a surgir devido à essa freqüência já estar ocupada por uma rádio regularizada, ocasionando a mudança de freqüência para 102.9. A Rádio Infinita, nessa época, continuava tendo uma audiência considerável nas oficinas de costura dos bairros do Brás, Bom Retiro, Casa verde, Pai, Canindé, Liberdade, Bresser e Mooca.13 No ano de 2004, mesmo atuando de forma irregular, a Rádio Infinita já era uma rádio referencial não só para os imigrantes bolivianos de São Paulo, mas para paraguaios, peruanos e chilenos que participavam da mesma realidade social e econômica. Para tanto, decidiu definir objetivos de atuação mais bem definidos. Foram eles: Prestar serviços sociais a toda comunidade latina atuante no mercado de ! costura de São Paulo; ! Orientar, informar e proporcionar entretenimento; ! Difundir a cultura latina autóctone por meio de músicas e artes; ! Ser uma “companhia” dos imigrantes durante o cumprimento da jornada laboral e durante os momentos de lazer; ! Atender imigrantes que precisem de ajuda; e ! Otimizar esforços da comunidade e trabalhar em parceria com entidades que visem o bem-estar do imigrante latino em São Paulo e no mundo (Pastoral do Migrante, Consulado Boliviano de São Paulo, Associação de Bolivianos, etc.). 13 Toda essa abrangência era outro motivo de perseguição imposta pelas autoridades, pois uma rádio comunitária de acordo com a legislação brasileira, não pode ter o alcance superior ao raio de 1 Kilometro. V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 Esses objetivos seriam muito mais aproveitados e potencializados se a legislação brasileira fosse mais flexível com relação à especificidade das rádios bolivianas de São Paulo no quesito relacionado à língua espanhola e ao alcance de suas freqüências. Mesmo assim, de acordo com os idealizadores, é possível continuar com a emissora no ar, prestando serviços aos bolivianos radicados em São Paulo. O cerco das autoridades, desde então, permanece o mesmo. Ou seja, o local das transmissões são descobertos, a aparelhagem e apreendida e a radio se vê obrigada a recomeçar suas atividades do zero, em um novo local e em busca de uma nova estação para dar continuidade às atividades propostas. Os idealizadores afirmam que perseguem a possibilidade de fazer com que a Rádio Infinita abandone a clandestinidade e se transforme em uma rádio legalizada, dentro dos parâmetros estipulados pelo Ministério das Telecomunicações. Em nossas investidas, percebemos que a Rádio Infinita tinha sua programação voltada para mobilização da sociedade civil boliviana residente em São Paulo, colaborando, dessa forma, com a visão de Cogo no que tange o papel dessa mídia.14 Ao longo do período que acompanhamos a programação, fizemos um mapeamento para saber se havia algo pontual que favorecesse o debate acerca da cidadania e se elas abordavam temas como a manutenção cultural, cidadania, Direitos Humanos e a relação com a sociedade receptora. Tal mapeamento ficou com a seguinte estrutura: PROGRAMA Informaciones Del Dia Discoteca De Infinita Informe Del Ciudadano Frecuencia Tropical El Merengue HORÁRIO INICIAL 08:00 11:00 13:00 17:00 19:00 HORÁRIO FINAL 10:55 13:00 17:00 19:00 22:00 A análise foi de que: No programa Informaciones Del Dia , são feitos resumos do noticiário da Bolívia, especificamente das regiões de La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosí , principais regiões 14 COGO, 1998 p.109. V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 de onde saem os bolivianos radicados em São Paulo. Nesse mesmo programa há uma mescla com informes locais de São Paulo, todos eles relacionados, basicamente, ao mercado de costura. Propostas de emprego, negociação de máquina de costura, mini cursos para operação de máquinas de costura específicas, oferta de mão de obra, noticia sobre o campeonato de futebol de equipes bolivianas de São Paulo, notícias de pessoas que estão chegando da Bolívia para trabalhar em São Paulo, etc. A audiência desse programa abrange várias faixas etárias e é apreciado, ao que podemos perceber, não só por bolivianos, mas também por paraguaios e por muitos peruanos. O programa Discoteca Infinita é basicamente musical e o acervo das canções é diversificado, mas com raízes regionais bem definidas. Há momentos desse programa dedicado a cada Estado da Bolívia, prevalecendo as músicas oriundas das principais regiões de onde provêem os imigrantes radicados em São Paulo. O público ouvinte é composto, geralmente, por pessoas mais velhas, nascidas no interior da Bolívia e com pouca vivencia em cidades com mais de 50 mil habitantes. O programa Informe Del Ciudadano é o momento no qual parte social está mais visível na programação da rádio. Informes sobre a Anistia, entrevista com pessoas ligadas a Consulado da Bolívia, à Pastoral do Migrante, campanhas contra o uso abusivo de álcool,15 informes sobre festas nacionais da Bolívia reproduzidas em São Paulo, campanhas contra tuberculose,16 denuncias acerca de trabalho escravo em algumas oficinas, informações sobre os diversos folclóricos chamados de “fraternidades”17 dicas de como manter a saúde e comunicados de ordens diversas. É um programa onde não há uma faixa etária definida, tanto os mais jovens quanto os mais velhos acompanham diariamente o que é transmitido pelos locutores. Os programas Frecuencia Tropical e El Merengue são, assim como Discoteca Infinita, musicais. No entanto, o tipo de abordagem musical é bem diferente do Discoteca . Neles o foco musical são ritmos latinos mais rápidos e com influencia da música eletrônica, do 15 Prática comum nas comemorações / celebrações / tradições bolivianas reproduzidas em São Paulo. Doença comum nas oficinas de costura. 17 Grupos folclóricos de cantos e danças típicas bolivianas. 16 V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 rap, de grupos musicais atuais com batidas românticas, sensuais ou letras de protesto e rebeldia. Os primeiros ritmos de uma vasta lista é o Reggatonne, uma mescla de quase todos os ritmos supracitados e cantado em espanhol. Conclusão O presente artigo foi um ensaio para a dissertação de mestrado que será defendida em abril de 2010 sob o título de “Mídia, Identidade Cultural e Imigração: As Rádios Bolivianas Em São Paulo”. Até onde tivemos acesso, conseguimos perceber que mídia, migração e cidadania se cruzam no histórico das rádios bolivianas de São Paulo. A Rádio Infinita, apesar de não ser uma rádio regularizada pelas leis brasileiras de telecomunicações, apresenta uma estrutura voltada para os interesses da comunidade boliviana atuante no mercado de confecção da capital paulista. São quase 10 anos de história em que seus idealizadores em levar ao ar programas que falam sobre cidadania, manutenção cultural, folclore e religião. A inserção da Rádio Infinita nesses últimos anos junto à outras entidades que auxiliam o imigrante latino como a Pastoral do Migrante e Consulado da Bolívia se mostrou ativa e, de certo modo, mostra que essas entidades reconhecem o trabalho feito por ela. Nessa investida inicial, foi somente possível fazer uma análise da programação da rádio e uma conversa com os seus idealizadores, sem inserir e analisar a opinião dos ouvintes nesse processo. Sabemos que os ouvintes podem corroborar o que verificamos como podem ter uma opinião diferente do papel dessa mídia que diz representá-los e estar a serviço deles. O desafio maior é ouvir outros radialistas de outras emissoras para saber o acham do papel da Infinita e como é a versão deles acerca do histórico das rádios bolivianas na Brasil. Acreditamos que com o andar da pesquisa nos próximos meses teremos condições de apontar novos elementos que confirmem ou não o que verificamos junto aos fundadores e idealizadores da Rádio Infinita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pesquisa Participante. São Paulo: Editora Brasiliense, 8ª Edição, 1990. V Con ferência Brasileira de Mídia Cidadã UNICENTRO, Guarapuava /PR – 8 a 10 de ou tubro de 2009 CAGGIANO, Sérgio. Lo Que No Entra Em El Crisol: Inmigracion Boliviana, Comunicacion Intercultural y Procesos Identitarios. Buenos Aires: Editora Prometeo, 2006. CANCLINI, Néstor. A Globalização Imaginada. Tradução Sérgio Molina. Editora Iluminuras. São Paulo, 2007. COGO, Denise. No Ar... Uma Rádio Comunitária. São Paulo. Edições Paulina, 1998. DEMO, Pedro. Educar Pela Pesquisa. Campinas. Campinas. Editora Autores Associados, 1996. PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Comunicação nos Movimentos Populares: A Participação na Construção Cidadã. Petrópolis. Editora Vozes, 2004. SILVA, Patrícia Oliveira da. Aspectos Gerais da Imigração Fronteiriça entre Brasil e Bolívia. Trabalho apresentado no XVI Encontro de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu – MG de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Artigo disponível em http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2008/docspdf/ABEP2008_1491.pdf (acesso em 01/07/09 às 15:33). SILVA, Sidney Antônio. Costurando Sonhos: A Trajetória de Um Grupo de Imigrantes Bolivianos em São Paulo. São Paulo: Edições Paulinas, 1997. ______. Virgem / Mãe / Terra: Festas e Tradições Bolivianas na Metrópole. São Paulo: Editoras Hucitec e Fapesp, 2003.