No mês internacional da prevenção do cancro da mama, eis o seu guia completo para defender o epicentro da beleza feminina S A U D Á Por // Rita Miguel Colaboração // Dra. Ana Paula Avillez, médica imagiologista especialista em senologia; Dr. Vítor Veloso, oncologista/cirurgião e Presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro Familiarize-se com os seus seios. V E L O apelo pode soar-lhe estranho, mas é a chave para a deteção precoce de complicações de saúde que os afetam. «A prevenção de problemas da mama faz-se, sobretudo, através da vigilância», confirma Ana Paula Avillez, médica imagiologista especialista em senologia. A sua mensagem remete para a importância de cada mulher conhecer bem o seu peito e capta o espírito da mensagem da Europa Donna – Coligação Europeia para o Cancro da Mama: «Aproveite oportunidades como o banho ou o momento em que se veste para se familiarizar com os seus seios, olhando-os e tocando-os. Assim poderá notar alterações ou irregularidades mais cedo, estará mais consciente das mudanças que ocorrem no seu corpo e saberá o que tem que verificar». Conhece o seu peito? kEste é o primeiro passo para o manter saudável. Ponha-o em prática. Do ponto de vista anatómico, as “mamas”, denominação anatómica usada pela classe médica, são glândulas secretoras cuja função primordial «é a secreção e ejeção de leite, juntas chamadas lactação», assinala Ana Paula Avillez. São, também, um símbolo incontornável de feminilidade, sedução e fertilidade, com um importante papel na sexualidade. kPor que muda? As variações de peso podem fazer alterar o seu tamanho e consistência, já que o peito é composto por uma quantidade elevada de gordura. Contudo, segundo o National Cancer Institute, as alterações hormonais e o processo normal de envelhecimento são os grandes responsáveis pelas mudanças ao nível do seu tamanho, forma e consistência. Uma das mais significativas é a involução da glândula mamária (substituição do tecido glandular por gordura e fibrose) que, segundo Ana Paula Avillez, se começa a verificar por volta dos 35 anos e se acentua após a menopausa. k Vigiar para detetar O autoexame «não serve para diagnosticar, mas para a mulher se habituar a conhecer a mama e, quando detetar alguma alteração, ir ao médico», sublinha a especialista, autora do livro 34 Copa B, em que revela a forma como deve ser feito (ver caixa). Este é o primeiro passo no sentido do autoconhecimento e está ao alcance de qualquer mulher, devendo ser feito desde a adolescência. Não menos importante é a visita ao ginecologista e a realização da mamografia, indicada de dois em dois anos, a partir dos 45 anos, em mulheres assintomáticas ou mais cedo quando existem antecedentes familiares. 114 PreveniR outubro 2012 O QUE ACONTECE AO SEU PEITO Autoexame da mama Quando? 1º Coloque-se em frente a um espelho. Faça-o todos os meses, uma semana após o fim do fluxo menstrual. Se já não for menstruada estabeleça um dia do mês para o fazer. f Observe... a forma, simetria, cor e textura da pele de ambas as mamas; compareas; verifique se há alterações nos mamilos ou “covas na pele”. Lóbulos f Estruturas onde se encontram as células produtoras de leite. 2º Levante os braços, colocando as mãos sobre a cabeça. Onde? Canais galactofóricos f Canais que desembocam nos poros do mamilo e por onde o leite é excretado. Cada mama possui 10 a 15. Modelos para fazer desporto, amamentar ou usar na gravidez são uma escolha saudável 3º Aperte suavemente os mamilos. Como? f Observe... se sai alguma secreção. Utilize a ponta dos dedos, evitando usar as unhas. Faça movimentos circulares e percorra as mamas e as axilas, seguindo o passo a passo. Mamilo 4º Deite-se e coloque uma pequena almofada por baixo das costas, do lado que vai examinar. Coloque o braço desse lado debaixo da nuca e palpe a mama com a mão oposta. Atenção! O autoexame da mama não substitui a visita regular ao ginecologista, que deve ser feita 1 a 2 vezes por ano f Observe... a existência de nódulos os outras alterações. Repita a tarefa para a outra mama. Fonte: 34 Copa B - Guia prático sobre a mama, a saúde e a sexualidade, Ana Paula Avillez (Academia do Livro) €4,90 Aréola Ductos Estroma f Constituído por tecido adiposo (gordura) e tecido conjuntivo, rodeia e suporta os ductos, lóbulos, vasos sanguíneos e linfáticos. f Canais finos por onde o leite flui dos lóbulos até ao mamilo. Adapta-se ao peito como uma segunda pele, com a copa a abarcar completamente a mama. k Gravidez A glândula mamária sofre alterações que levam ao seu aumento de volume e que a tornam apta para amamentar. Podem surgir nódulos. Na fase final e nos primeiros dias após o parto, produz um líquido leitoso (colostro) fundamental para a saúde do bebé. k Amamentação 34 Copa B – Guia prático sobre a mama, a saúde e a sexualidade Ana Paula Avillez Academia do Livro A estimulação da mama pelo bebé conduz à libertação de prolactina e oxitocina, hormonas que levam à formação de leite e sua ejeção pelos mamilos. Podem surgir problemas benignos como a mastite (infeção), ingurgitamento mamário (inflamação) ou galactocelo (“quisto de leite”). k Menopausa O soutien ideal... Não é demasiado elástico, para não deformar a mama. k Ciclo menstrual Na semana que antecede a menstruação, o peito acumula líquidos e aumenta de volume. Podem surgir nódulos que diminuem ou desaparecem na semana seguinte ao final da menstruação. f Observe... se surge alguma assimetria ou pele repuxada. De preferência, no duche, já que o sabão facilita a palpação. k Infância e puberdade Por ação das hormonas da mãe, os recém-nascidos podem apresentar inchaço mamário ou, até, segregar leite. O crescimento do peito começa antes do início da menstruação e é controlado pelo estrogénio, hormona feminina. Permite distribuir o peso do peito, evitando desequilíbrios na coluna e ombros. Permite a rápida evaporação do suor, como é o caso do algodão. Não tem costuras incómodas ou aros muito rijos. Com o fim definitivo da menstruação, o tecido glandular diminui e o adiposo aumenta. Os seios tornam-se menos firmes e podem ficar mais sensíveis. Fontes: Adaptado de National Cancer Institute, Portal de Oncologia Português (www.pop.eu.com) e 34 Copa B - Guia prático sobre a mama, a saúde e a sexualidade, Ana Paula Avillez (Academia do Livro) 115 Dor «Pode ter origem na mama ou fora dela e, com muita frequência, até tem origem fora», afirma Ana Paula Avillez. Pode sentir-se num ponto ou zona localizada da mama ou ser generalizada. O que pode estar na sua origem Sintomas que não pode ignorar kIdentifique potenciais causas de sintomas que indicam que está na hora de procurar o seu ginecologista. «Desde o início da puberdade e durante toda a vida, a mama está em constante mudança», essencialmente devido às flutuações hormonais, como assinala o Portal de Oncologia Português (POP). Paralelamente, é frequente ocorrerem alterações funcionais que se traduzem em sintomas como dor, nódulos ou corrimento, mas, como sublinha o National Cancer Institute, a maioria «não são cancro». Estão, muitas vezes, associadas a problemas benignos mas que exigem vigilância médica e para os quais existe tratamento cirúrgico e/ou hormonal. Perante qualquer alteração mamária, deve consultar o seu médico para um diagnóstico e tratamentos adequados. 116 PreveniR outubro 2012 k Ciclo menstrual. Está frequentemente associado a dor cíclica (que surge regularmente), normalmente sentida em toda a mama entre uma a três semanas antes do início da menstruação. k Causas extra mamárias. Se a dor não for cíclica, pode dever-se a artroses da coluna cervical, alterações das costelas, doenças do coração ou pulmões, entre outras causas, ou, simplesmente, ao uso de um soutien mal adaptado. Interessa-lhe saber k Para determinar se a dor é cíclica, o seu médico poderá aconselhá-la a fazer um registo que relacione os dias do ciclo menstrual com a existência de dor, durante três meses. k Mastopatia fibroquística. É a situação benigna mais frequente, podendo os sintomas intensificar-se até à menopausa. São alterações mamárias provavelmente relacionadas com desequilíbrios hormonais, que atingem os ductos e o tecido conjuntivo envolvente. A dor aumenta no período pré-menstrual. k Outras causas. Traumatismos, fibroadenomas (tumor benigno) e infeções mamárias também podem originar dor. Esta é também comum em mulheres que engravidam tarde, poucas vezes e quase não amamentam, provavelmente devido à ação hormonal contínua dos estrogénios. Tome nota Corrimento mamilar Em casos de corrimento mamilar suspeito é indicada uma citologia do corrimento e uma galactografia, exame que permite estudar os canais mamários Presença de líquido (de cor transparente, leitosa, esverdeada ou ensanguentada), de uma pequena crosta no mamilo ou de uma mancha no soutien. Em 95 por cento dos casos, resulta de uma situação benigna. Pode ser bilateral (nas duas mamas) ou unilateral; fazer-se por um só poro (uniporo) ou por vários (multiporo); surgir quando se espreme o mamilo ou de forma espontânea. O que pode estar na sua origem k Secreção normal da glândula mamária. Muitas mulheres saudáveis e fora do período de lactação têm uma pequena quantidade de corrimento que sai por vários orifícios ao espremer o mamilo. k Papiloma. É um pequeno nódulo num canal galactofórico, localizado por baixo da aréola, e a causa mais frequente do corrimento uniporo espontâneo. Papilomas múltiplos associam-se com mais frequência a lesões de risco. k Hiperplasia dos ductos. O corrimento através de vários poros associa-se à dilatação dos canais que transportam as secreções da mama, comum a partir dos 35 anos. Mamilo invertido ou retraído k Mastopatia fibroquística. Situação benigna com origem geralmente em desequilíbrios hormonais, associa-se a corrimento mamilar por um ou mais poros, em ambas ou numa das mamas. k Galactorreia. Secreção de leite pelas duas mamas fora da gravidez ou amamentação. Pode ocorrer por estimulação continuada do mamilo e em situações de stresse. Também pode resultar da toma de medicação (antipsicóticos, antieméticos, ansiolíticos) e de algumas doenças (tumores da hipófise, hipotiroidismo, insuficiência renal crónica). k Se afeta os dois seios... é frequente ser uma situação congénita (de nascença), manifestando-se, normalmente, a partir da puberdade. k Se afeta apenas um dos seios... em princípio, trata-se de uma situação adquirida. Pode ter origem num problema dos ductos ou num traumatismo. k Se salta para fora quando é espremido... é provável que tenha uma causa benigna. quadrantes da mama 50% 15% 11% 6% f No quadrante superior externo (junto à axila) ocorrem 50 por cento dos tumores malignos da mama. outubro 2012 PreveniR 117 Cancro da mama Sinais de alarme O aparecimento de um nódulo não é o único sintoma a que deve estar atenta k Alteração na mama ou mamilo, no aspeto ou palpação. k Nódulo ou espessamento na mama, perto da mama ou na zona da axila. Nódulo k Sensibilidade no mamilo. É o sintoma mais frequente e habitualmente não é doloroso. A ecografia mamária permite determinar se é líquido (quisto) ou sólido. Ambos são, muito frequentemente, benignos, mas o diagnóstico depende da avaliação da sua idade, da dimensão e suas características à palpação e, nos casos indicados, dos resultados da ecografia mamária (primeira opção para mulheres com menos de 35 anos), mamografia, citologia ou biopsia. O que pode estar na sua origem k Tumor benigno. É uma lesão de crescimento lento que, contrariamente ao cancro, não tem capacidade de se espalhar para outros órgãos. O mais comum é o fibroadenoma, normalmente indolor, firme e redondo. É frequente antes dos 35 anos. se movem debaixo dos dedos são mais frequentemente benignos do que os firmes e fixos PreveniR outubro 2012 k Retração do mamilo. k Pele da mama, aréola ou mamilo com aspeto escamoso, vermelho ou inchado, ou com saliências ou reentrâncias tipo "casca de laranja". k Secreção ou perda de líquido pelo mamilo. k Mastopatia fibroquística. Corresponde a alterações mamárias, provavelmente relacionadas com desequilíbrios hormonais. Uma das manifestações são os quistos, que podem ser palpáveis, dolorosos e variar rapidamente de tamanho. Também podem aparecer no período peri-menopausa, bem como sob Tome nota o efeito da terapia de Nódulos moles, bem substituição hormonal. delimitados e que 118 k Alteração do tamanho ou forma da mama. Fonte: adaptado de liga portuguesa contra o cancro (www.ligacontraocancro.pt) k Necrose gorda. Morte de tecido adiposo da mama resultante da evolução de um hematoma, provocado por um traumatismo (devido a uma pancada, lesão desportiva ou ato médico). Pode ser palpada como uma zona dura, com nódulos redondos e firmes, normalmente indolores. Para a diagnosticar, pode ser necessária uma biopsia. k Outras causas Pode tratar-se de um papiloma (pequeno nódulo situado num canal galactofórico, perto do mamilo), de fibroadenolipoma (arranjo anómalo dos tecidos mamários) ou adenose (nódulos pequenos e redondos provocados pelo aumento dos lóbulos mamários, próprio do envelhecimento). Mitos CANCRO DA MAMA kDefenda-se do tipo de cancro que afeta mais mulheres em todo o mundo. «Provavelmente não se trata apenas de uma causa, mas de um conjunto de associações que vão determinar o aparecimento» do cancro da mama, esclarece o POP. Alguns fatores de risco não são controláveis, como alterações genéticas, a idade, antecedentes familiares (o risco aumenta se a mãe, tia ou irmã tiveram a doença, sobretudo antes dos 40 anos), mas «muitas mulheres que os têm não chegam nunca a desenvolver cancro da mama». A vigilância médica nestes casos é crucial e obedece a indicações específicas. Outros fatores de risco Ter tido a primeira menstruação antes dos 12 anos e entrar na menopausa depois dos 55 anos; não ter filhos ou tê-los depois dos 30 anos; seguir a terapêutica hormonal de substituição durante cinco anos ou mais com estrogénio ou estrogénio e progesterona são também fatores de risco para o cancro da mama. Sabe-se também que «mulheres com o peito grande têm percentualmente maior possibilidade de contrair cancro, pois o tecido gorduroso aumenta os níveis de estrogénios», revela Vítor Veloso, oncologista. condiciona o risco de cancro da mama? 1. Antitranspirantes Desde que não contenham substâncias cancerígenas (não permitidas), nada têm a ver com o aparecimento de qualquer tipo de cancro. 2. Soutien com aros k O estilo de vida «Os fatores genéticos são responsáveis por cinco a dez por cento dos casos de cancro da mama, mas a maioria dos restantes são esporádicos (sem relação familiar)», revela a Europa Donna. Segundo a mesma fonte, «há cada vez mais evidências da ligação entre os fatores relacionados com o estilo de vida e o cancro da mama». Assim, para além de fazer o autoexame da mama e a mamografia, quando indicada pelo seu médico, deve... Nenhum tipo de soutien tem influência no nível de risco. Deve usar o que melhor se adapte à mama e suporte devidamente o peso. 1. 3. Depilação dos mamilos fPraticar exercício físico de intensidade moderada todos os dias durante 30 a 60 minutos. fIngerir fruta e vegetais frescos diariamente, limitar a ingestão de gordura e de carne vermelha e adaptar as quantidades para manter o seu peso ideal. 2. fEvitar o excesso de peso e a obesidade, sobretudo após a menopausa. Mantenha o seu Índice de Massa Corporal* entre 18,5 e 24,9. 4. fReduzir a ingestão de álcool. Não beba mais do que um copo por dia (o equivalente a 10 gramas diárias de etanol ou menos). * Pode calculá-lo dividindo o seu peso pela sua altura elevada ao quadrado. 3. Próteses mamárias Não aumentam o risco, mas podem dificultar a realização e leitura de mamografias e ecografias. 4. Esta e outras depilações não são fatores de risco. 5. Amamentação Estudos indicam haver uma diminuição do risco, mas o facto não está estatisticamente comprovado. Fonte: Adaptado de informações cedidas por Vítor Veloso, oncologista e Presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro outubro 2012 PreveniR 119