Outubro 2014 - edição nº4
Eco-Cartaxo - Movimento Alternativo e Ecologista
www.ecocartaxo.pt - [email protected]
HORTAS URBANAS DO CARTAXO
Um projecto para crescer
CLR Project
O Caracol, um
exemplo a seguir
Pág. 3
Pág. 9
Intervenção Humanitária
em Portugal e África
Destruição da
Amazónia e Alterações Climáticas
Pág. 10
Boletim subsidiado
pelo Programa Europeu
JUVENTUDE EM ACÇÃO
Pág. 2-3
EDITORIAL
2
Boletim “A MÃE”
em nas mãos o novo número do nosso (e vosso) boletim. Quem leu o número
anterior sabe que a Eco-Cartaxo só pode aventurar-se a editar estes textos
T
graças ao programa ”Juventude em acção” e que estas publicações fazem parte do
projecto “Verde-Maduro”. Neste contexto publicar-se-á mais um boletim. Depois…
não sabemos. A menos que surja um mecenas disposto a financiar a edição de três
ou quatro números por ano. Achamos, no entanto, que este veículo é essencial para
a sensibilização da população do concelho para a problemática ecológica, uma das
questões centrais e inadiáveis da nossa época, e um instrumento indispensável para
o desenvolvimento da nossa actividade.
Durante a preparação destes dois números uma necessidade tornou-se evidente.
Precisávamos que, no futuro, esta publicação tivesse mais algumas páginas para
desenvolver mais alguns assuntos e diversificar os temas tratados. E se o mecenas
almejado fosse um grupo de cidadãos interessados? Vamos pensar nisso…
HORTAS URBANAS DO CARTAXO
D
esde há cerca de três
anos, após demorado
processo, que as “Hortas
Urbanas do Cartaxo”, situadas na Quinta das Pratas,
estão em funcionamento
permitindo a produção de
legumes nos mais de 20
talhões, até à data, distribuídos. Não têm sido
atribuídos mais talhões
devido ao facto de escassear o espaço, ainda que
haja uma lista de pessoas
que esperam por uma oportunidade.
Este projecto, quanto a
nós, satisfaz um grande
número de necessidades:
trabalho ao ar livre, aprendizagem da horticultura,
produção de legumes mais
sãos e, até, mais nutritivos,
algum alívio do orçamento
familiar, convívio com
pessoas com objectivos idênticos. Até
os pequenos desastres relacionados
com a imprevisão
do tempo, invasões
parasitários ou de
animais podem ser
uma fonte de ensinamentos.
No entanto nem
tudo vai bem nas
“Hortas” e isso pode
ser fruto, para além
de outras causas de
que se falará noutros
artigos, do estatuto
indefinido em que
elas têm vivido até
hoje. Vejamos, pois,
como tudo começou.
No início das negociações, entre a Câmara, e
a Eco-Cartaxo, visando
a criação das “Hortas”,
o projecto era encarado
como uma parceria entre
aquelas duas entidades. O
que se compreende, uma
vez que a Eco-Cartaxo
não possui as capacidades
legais para resolver alguns
problemas que poderiam
eventualmente
surgir,
mas sobretudo porque
essa parceria respeitava a
ordem natural das coisas.
FICHA TÉCNICA
Autoria: Eco-Cartaxo - Movimento Alternativo e Ecologista
Sede: Rua José Ribeiro da Costa nº166 – 2070-099 Cartaxo
NIF: 508 323 177
Contactos: 91 488 75 95 | 243 79 95 86 | 91 425 42 00
www.ecocartaxo.pt - [email protected]
Edição: José Louza Revisão: José Louza, Maria Helena da Silva, Telmo Monteiro
Colaboração: Ana Mesquita, Ana Silva, Daniela Nunes, Francisco Calado, João Januário, Maria de Fátima Leal, Maria Helena da Silva, Miguel
Bento, Rui Magro, Sónia Carvalho, Vera Guerreiro
Paginação: Telmo Monteiro Grafismo: Rui Bernardo
Tiragem: 500 exemplares
Boletim “A MÃE”
O Regulamento então
elaborado obedecia a esse
princípio. Levantaram-se,
então, questões referentes
à morosidade do processo
representado pela aprovação do Regulamento nos
órgãos municipais. Foi-nos,
então, feita a proposta de
produzir um novo regulamento que eliminava a parceria, passando a Câmara a
aparecer como “apoiante”
e não como “parceiro”.
Mas esta solução híbrida
seria, apenas, uma solução
transitória, enquanto o
“verdadeiro” regulamento
continuava o seu lento percurso. Esta a situação, em
que as “Hortas” se regem
por um regulamento que
dificilmente se poderá
fazer cumprir, particularmente no capítulo das
penalizações previstas que estabelecem
a expulsão em caso
de desacatos graves
ou de não ser respeitada a obrigação
da não utilização de
produtos proibidos
na prática da agricultura biológica.
Além do mais, como
se
compreenderá,
uma parceria activa
traria outras possibilidades
técnicas, em particular
no capítulo da limpeza do terreno e na
remoção de materiais,
em especial restos dos antigos viveiros da Câmara.
Como todos sabem a EcoCartaxo não possui máquinas capazes de executar
tais tarefas. Fazê-lo ma-
3
nualmente não seria
teoricamente impossível, mas só quem
conhece o local pode
fazer uma ideia do
imenso esforço que
tal representaria. A
Eco-Cartaxo continua a insistir para que
a Câmara se empenhe
na realização de tão
indispensável parceria.
Há
propostas
e
acordo tácito para
o alargamento das
“Hortas Urbanas”,
lizadores. Todos teríamos
a ganhar com isso. E ganhava também o Cartaxo.
A multiplicação de terrenos abandonados desfeia a
cidade e a própria Quinta
das Pratas.
As ”Hortas Urbanas do
Cartaxo” podem ser um
espaço cuidado, agradável,
útil e, até, belo. Mas para
tal é necessário, absolutamente indispensável, que
todos colaborem: utilizadores, Câmara, Eco-Cartaxo e, porque não, outros
voluntários. Sem ideias
mas sem a parceria activa
de que se falava a operação tornar-se-á demorada
e, porventura, impossível.
E poder-se-ia, sem custos
significativos, multiplicar
por dois o número de uti-
preconcebidas e com sentido de entreajuda e de
companheirismo.
J.L.
4
Boletim “A MÃE”
CLR PROJECT
INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA EM PORTUGAL E ÁFRICA
A
judar - “Ato ou efeito
de ajudar; auxílio;
socorro” in Dicionário
Porto Editora.
Faz parte da natureza
humana o instinto de Ajudar,
sem esperar qualquer recompensa.
Foi na primeira viagem
a S. Tomé e Príncipe em
2010 que começou a brotar
a vontade de semear sorrisos. O contacto com uma
realidade tão díspar da
nossa, fez refletir e pensar
como está tão facilmente
ao nosso alcance podermos
ajudar quem precisa. Já em
Portugal, os sorrisos multiplicaram-se pelas crianças
portuguesas e mais tarde
pelas crianças do mundo
inteiro. Assim nasceu o
Projeto CLR!
Este projeto, sediado no
Cartaxo, assenta em três
pilares base: alimentação,
educação e direitos humanos. Apesar de estar direcionado sobretudo para as
crianças, tem já feito inter-
venções em outras faixas
etárias, incluindo terceira
idade: nunca fechamos a
porta.
Em Portugal, o CLR centra
o seu apoio em centros de
acolhimento temporário
para crianças (CATs) e no
apoio a famílias carenciadas que se dirigem
diretamente à instituição.
Exemplos disso, são a
entrega frequente de bens
alimentares e de higiene,
roupa e calçado ou ainda a
execução de pequenas obras
de reabilitação de espaços,
como foi o caso recente
de um novo portão para o
centro de acolhimento do
Montijo, garantindo assim
a segurança das crianças.
A atual conjuntura leva a
que as pessoas se unam,
com o espirito solidário
emergente notoriamente
mais ativo. Na outra face
da moeda, estão os pedidos de ajuda que crescem
de forma avultada. Neste
momento, o apoio do CLR
chega a 3 centros de acolhimento no país (norte,
centro e sul) e a cerca de 12
famílias. A estes acrescem
pedidos pontuais e ajudas
a outras instituições, como
é o caso de instituições
de apoio aos sem abrigo
(como a Comunidade Vida
e Paz), criando sinergias
para o bem comum.
Lá fora, onde os nossos
antepassados
deixaram
a língua portuguesa, não
esquecemos as crianças
que têm outras ausências e outras carências,
numa métrica e profundidade diferente da nossa
realidade. Atualmente, o
CLR chega a São Tomé e
Príncipe e a quatro ilhas de
Cabo Verde, com apoios
direcionados para escolas
e famílias em zonas rurais
isoladas e bairros problemáticos. Na primeira
intervenção feita em São
Tomé, o CLR levou 3 voluntários e 880kg de carga
(roupas, sapatos, mate-
rial escolar e brinquedos)
que chegaram a 2 escolas, 2 creches, 4 aldeias e
2 roças. Éramos poucos,
mas fizemos muitos sorrisos! Recentemente, ainda
este ano, o CLR interviu
na ilha do Maio em Cabo
Verde com cerca de 400kg
de material escolar, recuperação de carteiras e
mesas para o novo ano lectivo e colaboração na criação da biblioteca da escola
secundária.
Vivendo exclusivamente
de trabalho voluntário e
donativos o CLR é a prova
de que a união e a vontade
são armas muito poderosas e que afinal, é fácil
Ajudar!
Queres juntar-te a nós?
Procura-nos em www.
facebook.com/CLRPORTUGAL e www.facebook.
com/CLRAFRICA
V.G.
Boletim “A MÃE”
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Projecto Verde-Maduro
Acompanhe o projecto através do nosso blogue http://projectoverdemaduro.blogspot.pt/
ou no nosso grupo do facebook em https://www.facebook.com/groups/verdemaduro/
CONVIVER…E PORQUE NÃO NO VALVERDE?
E
mbora possa parecer paradoxal um
dos grandes problemas
da sociedade actual é a
solidão. Digo que parece
paradoxal porque com as
novas tecnologias (internet,
facebook, etc.) as pessoas
têm a sensação de interagir mais. Interagem, mas
não convivem. Deixou de
haver convivência verdadeira. Já não nos sentamos
à roda duma mesa para
conversar, debater ideias
ou simplesmente bisbilhotar, ao mesmo tempo
que nos olhamos nos olhos
e estudamos as expressões
dos rostos dos outros. As
relações que temos uns
com os outros perderam o
seu lado humano.
Uma das vertentes mais
importantes do projecto
“Verde-Maduro”,
assim
como um dos sonhos dos
seus promotores, é lutar
contra essa solidão. Os jardins foram, desde sempre,
agradáveis espaços de
encontros e reencontros, de
brincadeiras e de jogos. As
pessoas que participam no
projecto, pessoas de todas
as idades, convivem umas
com as outras e discutem
ideias, projectos e sonhos.
E é isso que valoriza o
“Verde-Maduro”.
O jardim do Valverde
apoios
votado ao abandono era
um cancro vivo no centro
da cidade. Ainda não há
muito tempo o Cartaxo era
uma cidade viva, com pessoas nas ruas e nos cafés à
noite, que falavam umas
com as outras, ecoavam
risos nos passeios. Agora,
à noite, as ruas desertas
começam a parecer-se com
as daquelas cidades, onde
apenas o medo as habita.
Como se chegou a este
estado de coisas? Como foi
possível atingir este estado
de solidão e medo? Em verdade e se pensarmos bem
fomos todos coniventes,
fomos todos responsáveis,
ainda que cada um de nós
se pense como inocente. A
verdade é que por desatenção, preguiça, comodismo,
irreflexão, este estranho
estado de coisas instalou-se
insidiosamente. Precisamos urgentemente de conviver uns com os outros,
de discutir o que pensamos, sentimos e sonhamos
e também o que queremos.
E assim transformar a
cidade. A sociedade é constituída por nós próprios,
em especial no que temos
de melhor.
Venha ter connosco todos
os sábados à tarde ao
jardim do Valverde e aju-
demo-nos, uns aos outros,
a criar uma sociedade
diferente, com mais convivência, mais amizade,
mais debate de ideias, mas
sobretudo com mais calor
humano.
M.H.S.
Pode ouvir semanalmente o
programa do Projecto VerdeMaduro na Rádio Jornal Tejo FM
em 102.9 nos seguintes horários:
- 2ª Feira às 14:45
- 4ª Feira às 21:20
- Sábado às 11:30
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Boletim “A MÃE”
Projecto Verde-Maduro
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Boletim “A MÃE”
Projecto Verde-Maduro
FORA DA ZONA DE CONFORTO
T
udo começou quando
ambos decidimos participar (sem nos conhecermos)
num projeto relacionado
com ecologia e cidadania
denominado Projecto Verde-Maduro. Conhecemo-nos
num ambiente particularmente fora do vulgar, onde,
no meio da natureza, vigorava a amizade e a tentativa
de fazer algo de diferente na
nossa amada cidade.
A amizade foi crescendo, e
com ela gostos foram partilhados, percebemos que tinhamos valores e objectivos
de vida em comum, e com
isto o plano foi-se construindo. Para esta utopia um dia
se tornar realidade, sabíamos que iríamos necessitar
de adquirir novas competências e novas formas de ver o
mundo. Para isto acontecer,
era necessário uma mudança
radical de ambiente.
Eu, Francisco, antes de o
projeto ter começado, sabia
da existência de uma escola
na Dinamarca onde se lecciona agricultura biológica.
Passei muitos meses a
pensar nesta possibilidade
como meu futuro, e com o
Rui encontrei alguém com
quem partilhar a minha
aventura. Com o apoio da
minha familia e amigos
decidi levar esta idea para a
frente.
Na altura eu, Rui, estava
desempregado, sem grandes
expectativas para o meu
futuro. Quando o Francisco
me falou na sua ideia de ir
para a Dinamarca, fiquei
intrigado. Se fazia sentido
pertencer a este projeto, onde
o bichinho sobre a Natureza
brotou, mais sentido fazia
acompanhar o Francisco
nesta aventura por terras
escandinavas. Após falar
com a minha família, decidi
que este era o caminho que
queria seguir.
A partir do momento em
que entrámos no avião, tudo
ganhou uma nova perspectiva. A experiência de estar
nesta escola, de partilhar o
nosso quotidiano com pessoas de bases culturais tão
diferentes, está a ser muito
mais marcante do que o
esperado. Aliado ao facto de
estarmos a aprender aquilo
que realmente faz o nosso
coração pulsar, torna tudo
isto mágico.
Já aprendemos um pouco de
tudo. Na escola colhemos e
cultivamos os seus vegetais,
assim como a tratamos dos
seus animais, demos um
curso de primeiros socorros,
soldadura e trabalho com
metais. Tudo isto é suportado por um regime teórico
muito bem estruturado
onde falamos desde temas
sociais relacionados com a
agricultura biológica e convencional, às funções dos
constituintes de uma planta,
e conhecimentos para o bem
estar animal numa quinta.
Nada disto teria acontecido se não tivessemos tido
a curiosidade de ajudar a
transformar um local que
pertence a todos nós. Sabemos que somos jovens e
temos a nossa vida pela
frente, mas é inevitável não
dizer que quando saimos
da nossa zona de conforto,
a vida flui. E se nós os dois
podemos seguir os nossos
sonhos, porque não tu?
F.C. | R.M.
DEPOIMENTO
A
inda tinha 14 anos
quando uma vizinha
e amiga me falou do projecto “Verde-Maduro” e me
convidou para ajudar nos
trabalhos que se estavam a
desenvolver no Jardim do
Valverde. Estávamos no
mês de Março e desde essa
altura passei a colaborar e
participar activamente nas
actividades do projecto.
Gostei, desde o início, de
estar a viver novas experiências e continuei a ir todos
os sábados ao Jardim do
Valverde.
Mais tarde, já no mês de
Junho, como tinha de cumprir um estágio que fazia
parte do meu ano escolar
e como soube que a EcoCartaxo era uma das insti-
tuições onde eu e os meus
colegas iríamos estagiar,
insisti com os professores
que o meu estágio fosse na
Eco-Cartaxo, uma vez que
já conhecia as pessoas e o
ambiente de trabalho.
Uma das partes do estágio teria lugar na horta
biológica, na Quinta das
Pratas, que era, também,
uma das acções do projecto
“Verde-Maduro”. Eu não
sabia nada das coisas da
agricultura e nunca tinha
trabalhado numa horta. Foi,
quanto a mim, o trabalho
mais interessante e foi então
que aprendi muitas coisas
que não conhecia e que me
entusiasmaram. Entre elas
o facto de não se poderem
regar as plantas molhando
as folhas, como é o caso
dos tomateiros, dos feijoeiros, das batatas e
doutros legumes, o que
evita que eles apanhem
certas doenças, ou que a
associação preferida da
cenoura é o alho-porro ou
a cebola ou, ainda, que o
estimulante biológico da
batata é o rábano. Aprendi
como se faz o composto,
o adubo que se utiliza em
agricultura biológica, assim
como o modo de fazer os
viveiros das novas plantações. Descobri, ainda, plantas interessantes que, até à
data, não conhecia.
Uma das coisas que mais
gosto de fazer é regar a
horta, embora tenha observado que nada substitui uma
boa chuvada. Outro dos
grandes prazeres que descobri foi o de levar para casa os
legumes por nós semeados,
tratados e colhidos.
Resta-me dizer que estes
meses passados em contacto
com uma horta fizeram com
que a partir de agora estarei
pronto para continuar a trabalhar num espaço que já
considero meu.
J.J.
8
Boletim “A MÃE”
Projecto Verde-Maduro
as flores do jardim do valverde
A
escolha do tipo de
jardim que devemos
adoptar para os nossos quintais depende de diversos
factores e da observação
das condições do terreno.
de água considerável. Por
vezes, a profundidade da
camada de solo é variável e
difícil de determinar, já que
as raízes das árvores formam
uma rede bastante densa, o
O terreno pode ser argiloso,
arenoso, inclinado, pode ter
mais ou menos - e melhor ou
pior - matéria orgânica...
Também no que respeita às
condições ambientais, devemos ter em conta a existência
de árvores, a exposição solar,
os ventos predominantes e o
tipo de vegetação existente.
Depois de estudadas convenientemente todas as
características do terreno
disponível, importa optar
por soluções que permitam reduzir ao mínimo as
necessidades de água e de
manutenção.
Na grande maioria das vezes,
o tipo de solo é bastante
arenoso e possui, em alguns
locais, algum teor de matéria orgânica e alguma argila.
Este tipo de solo é rico em
nutrientes e permite uma
capacidade de retenção
que dificulta o trabalho no
solo.
É este o solo do “nosso”
jardim.
Grande parte da área de
jardim fica protegida por
sombra ou meia sombra.
As árvores existentes são
de folha caduca, o
que deixava antever algum trabalho
de
manutenção
no Outono, bem
como a penetração de luz solar no
Inverno. Por isso,
colocámos plantas
menos resistentes
à radiação solar
directa na zona de
meia sombra. Algumas destas plantas “agradecem” a
sombra das árvores
no Verão, necessitam de pouca água,
e convivem bem com o sol
da estação mais fria.
A grama que pode grassar
neste solo deve ser arrancada
minuciosamente à mão, já
que a sua raiz é um rizoma,
cujo mais pequeno
resquício dá origem,
rapidamente, a uma
nova planta.
O nosso jardim de solo
arenoso encontra-se
numa zona bastante
abrigada de ventos.
A opção passou por
ocupar o solo, o mais
possível, com plantas
vivazes, o que respondeu às condições de
rega e manutenção
reduzidas. Assim, as
plantas de cobertura,
como a hera, chorinas
ou pervicas, ganharam
destaque, a que se juntaram algumas variedades
arbustivas, como alfazema,
alecrim ou buganvílias,
colocadas nas zonas mais
expostas ao sol. Nas zonas
de meia sombra, a opção
foi para malmequeres ou
sardinheiras, que pontuaram
o jardim de cor. Onde o solo
é mais pobre e recebe mais
radiação, a opção foi para a
colocação de plantas suculentas, ou seja, cactos.
Para ajudar a reter a humidade, uma das soluções
possíveis - e adoptada neste
jardim - é a colocação de
pedras, que também, seguram a terra nas zonas mais
inclinadas. Estas pedras
possibilitam, igualmente, a
criação de “ilhotas”, especialmente nos locais onde
as raízes das árvores dificultam a penetração de ferramentas. Nestas “ilhotas”
é possível introduzir terra
fértil, o que permite a plantação de algumas flores. Nos
locais onde ficarão estas
“ilhotas” a plantação deverá
ser feita antes da colocação
das pedras e das plantas de
cobertura. Mas antes de tudo
procuram-se os locais mais
propícios à sua colocação,
ou seja, onde a malha da raiz
é menos apertada.
A.S. | A. M.
9
Boletim “A MÃE”
O CARACOL, UM EXEMPLO A SEGUIR
A
Natureza
oferecenos inúmeros exemplos de grande sabedoria,
onde deveríamos procurar
inspiração para solucionar
os problemas que nos preocupam. Até os seres mais
humildes, através das
soluções encontradas para
se adaptarem às condições
naturais, nos poderão ensinar e inspirar.
É o caso do caracol. A
lição essencial não reside
na sua necessária e lendária lentidão, mas na
concepção da sua concha
à qual o caracol vai acrescentando espirais cada vez
mais largas. Em determinado momento, as espirais param o seu aumento
e começam a diminuir.
Como é evidente as
espirais não poderiam
continuar a aumentar
indefinidamente, uma vez
que a concha iria atingir dimensões colossais
impedindo a deslocação
do animal e o seu próprio
bem-estar. As dificuldades
colocadas por um aumento
crescente das espirais da
concha punham em risco a
sua própria sobrevivência.
O híper-crescimento mul-
tiplicaria em progressão
geométrica os problemas,
contrariando a própria
capacidade biológica do
caracol.
Que nos ensina este
divórcio do caracol de
um aumento crescente
que ele havia adoptado,
no entanto, durante algum
tempo? A sugestão pode
ser aplicada à sociedade
actual, em que o crescimento insustentável conti-
nua a ser apregoado como
panaceia para todos os
males. Mas o planeta tem
limites que não podem ser
ultrapassados sob pena de
gerarmos novos problemas cada vez mais graves
e, como é óbvio, inultrapassáveis. Uma sociedade
de decrescimento, em particular no que ao esbanjamento e à produção de
inutilidades diz respeito
é o caminho. Não será
preferível uma sociedade
em que o conhecimento, o
convívio, a solidariedade,
as artes, enfim, tudo o que
é imaterial, cresça? E se
for de forma exponencial,
tanto melhor!
J.L.
CONHEÇA VANDANA SHIVA
D
amos, neste número,
a
conhecer
aos
nossos
leitores
uma
grande se-nhora. Trata-se
de Vandana Shiva. Indiana, 62 anos, doutorada
em física quântica pela
Universidade de Toronto,
grande militante ecologista. Eis o que nos diz
Vandana Shiva: «Os senhores da OMC definiram
como problema o facto
de os agricultores estarem a guardar sementes.
(…)Tendo passado toda a
infância rodeada de biodiversidade, a ideia de mais
tarde ouvir: “Esta biodiversidade é nossa propriedade” foi uma ideia tão
obscena, tão violenta que
decidi que iria defender a
vida na sua diversidade.
…Chamamos a este processo de apropriação e
neocolonização: biopirataria… Em 1994 deparámo-nos com a primeira
patente biopirata. Em 1984
tinha começado uma campanha chamada: “Chega
de Bophals, plante neem”,
porque numa cidade indiana chamada Bophal
houve uma fuga numa
fábrica de pesticidas da
Union Carbide que matou
3.000 pessoas. Entretanto
morreram mais 30.000
com danos tóxicos. Disse
então: “Nós não precisamos destas armas de
extermínio quando temos
a planta “NEEM” para
controlar as pragas sem
danos”. Dez anos depois
descubro que a empresa
Grace e o Departamento
de Estado para a agricultura dos E.U.A. diziam:
“Somos os inventores da
Neem”. Resolvi
desafiar esta patente. Recolhi
100.000 assinaturas e levei-as
ao
Gabinete
Europeu de patentes,
acompanhada de duas
líderes de movimentos ecologistas. Desafiámos
a maior superpotência e
uma das maiores empresas químicas mundiais.
Demorou 11 anos, mas
vencemos.
Depois tivemos em 1998
o caso da patente do arroz
Basmati que quer dizer
“rainha do aroma”, pelo
qual o meu vale é famoso.
Uma empresa vinda do
Texas afirmou ter inventado o arroz, a planta, o
aroma, o modo de co-
zinhar, tudo. Desafiámos
o Gabinete de Registo e
Patentes dos USA e eles
desistiram. Mais tarde
descobrimos que uma
antiga variedade de trigo
indiano tinha sido patenteada pela Monsanto
devido ao pequeno teor
em glúten. Desafiámo-los
e a patente foi revogada.»
É ou não uma grande senhora? Vá à net e veja mais
sobre Vandana Shiva.
10
Boletim “A MÃE”
DESTRUIÇÃO DA AMAZÓNIA E ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS
Q
uando se fala de alterações climáticas pensa-se, quase
automaticamente, em dióxido de carbono. Mas, na
realidade, o anidrido em causa não é o único responsável.
Existe um conjunto de factores que podem passar despercebidos se nos fixarmos apenas no efeito de estufa de que
ele é, aliás, um dos principais factores.
Segundo Leydimere Oliveira duma universidade brasileira
(citado em número da revista francesa “Science et Vie”)
a destruição da floresta amazónica em proveito da cultura
da soja e da pecuária poderá criar uma alteração maior
no clima da região e consequentemente a nível global. O
resultado, a prazo, será o aparecimento de zonas desérticas
impróprias para a agricultura e, castigo da imprudência,
uma diminuição drástica dos rendimentos que, em muitos
casos, impossibilitarão a produção agrícola e pecuária.
Claro que a destruição da floresta amazónica liberta,
directamente, grandes quantidades de dióxido de carbono,
mas o processo é mais complexo e não se resume nem
se detém após a libertação inicial. O desaparecimento das
árvores e arbustos destroem a capacidade de fixação do
CO2 e a queda de chuvas fica gravemente comprometida.
Aliás este processo é válido não só para a zona amazónica,
mas para todas as outras regiões, periodicamente sacrificadas pelos incêndios estivais de que o nosso país continua a ser um exemplo gritante. E assim, paulatinamente, o
planeta azul vai mudando de cor.
Pouco a pouco, os refugiados climáticos vão aumentando.
Segundo o Observatório das situações de deslocação,
sedeado em Genebra, 32,4 milhões de pessoas teriam sido
deslocados do seu local de habitação em 2012; o dobro
do ano anterior, mas menos do que em 2010. Como é evidente as variações anuais são fruto das grandes catástrofes,
inundações à cabeça. E, cúmulo da injustiça, são os países
pobres os mais atingidos, os que menos concorrem para as
alterações climáticas que originam tais devastações.
J.L.
Eis o que dizia, em 1971, o Dr. Paul Ehrlich no seu livro “A Bomba P”
“Nós devemos mudar o nosso modo de vida,
de maneira a reduzir o nosso impacto sobre
os recursos e o meio-ambiente mundiais. Nos
países subdesenvolvidos é preciso promover
e apoiar os programas que permitam, ao
mesmo tempo, um desenvolvimento agrícola
sem riscos ecológicos e um rigoroso controlo
demográfico. Simultaneamente, precisamos de
impedir, antes que seja tarde de mais, a exploração desenfreada do nosso planeta. Mas precisamos de estar conscientes que sem controlo
demográfico nenhuma mudança, passe-se ela
na nossa consciência ou na tecnologia actual,
nos poderá salvar, A taxa de natalidade e a
taxa de mortalidade devem equilibrar-se, se a
humanidade não quiser dar à luz a sua própria
ruína. Não podemos continuar mais a curar
os sintomas desse verdadeiro cancro que é
o crescimento demográfico, temos agora de
operá-lo.”
11
Boletim “A MÃE”
Dicas
Receitas
POLUIÇÃO INTERIOR
BOLO DE URTIGAS
Areje a casa todos
os dias, mesmo no
inverno. Faça circular o ar abrindo as
janelas e as portas
entre as divisões. Se
possível durma com
uma greta da janela
aberta. É a melhor
maneira de evitar a
humidade e evacuar a poluição gerada no interior das
nossas casas, devido ao uso de detergentes, velas de
parafina, ambientadores, desodorizantes e outros produtos químicos como tintas, vernizes, colas, diluentes, etc.
Para este último fim, também pode colocar plantas, como
a hera, dentro de casa.
ANTIGRIPAL
Ferver 1 litro de água
e adicionar uma mão
fechada de uma mistura em partes iguais
de tomilho (anti-viral), alecrim. Ferver 1
minuto, apagar o lume
juntar casca de limão
bem lavada e não tratada e deixar 10 minutos
de infusão. Filtrar, adicionar mel e sumo de limão. Beber morno.
Caso lhe doa a garganta pode fazer o mesmo adicionando poejos à mistura de ervas e utilizando leite em vez
de água. Beber aos golinhos demorando o liquido na passagem pela garganta.
Beber 3 a 4 chávenas por dia até desaparecimento dos
sintomas.
Se o recurso a estas receitas for observado logo desde os
primeiros indícios, normalmente não deverá necessitar
de nenhum medicamento..
LAVAGEM DO CARRO
Lavar o carro com uma mangueira gasta até 560 litros de
água em 30 minutos. Quando
precisar lavar o carro, use um
balde.
Ingredientes
- 180g de urtigas (escaldadas e trituradas)
- 200g de açúcar amarelo
- 250g de farinha
- 1 c.s. de fermento
- 100g de margarina
- 5 ovos
- raspa de 1 limão e de 1 laranja
Preparação
Juntar a margarina com o açúcar. Deitar as gemas e mexer bem.
Peneirar a farinha com o fermento e envolver.
Juntar as urtigas ao preparado anterior e por fim a raspa do
limão e da laranja.
Bater as claras em castelo e envolver sem mexer para não perderem o volume.
Levar ao forno previamente aquecido.
Benefícios
A urtiga tem inúmeras propriedades medicinais desde: anti radicais livres, anti-seborreica, anti-séptica, antioxidante...
A urtiga é rica em vitaminas (B, C e K), minerais (magnésio e
ferro), bem como oligoelementos, betacaroteno, aminoácidos,
cálcio, sais ou proteínas.
É indicada para a anemia, ácido úrico, reumatismo, problemas
digestivos, entre outros.
HAMBÚRGUER DE LENTILHAS
Preparação
Cozer 600g de lentilhas com uma
cebola grande picada. Escorrer e
misturar com 200g de amêndoa
laminada. Adicionar 2 ovos, 5 colheres de sopa de pão ralado e salsa e coentros picados. Temperar
a gosto com sal pimenta, cominhos e caril. Molde os hamburgers
e frite-os numa frigideira com azeite a cobrir o fundo até ficarem
douradinhos... Caso estejam demasiado moles adicione mais pão
ralado.
Saltear uma cebola e um dente de alho em azeite. Juntar tomate
e um pouco de vinho branco. Deixe cozinhar e verta sobre os
hamburgers. Polvilhar com queijo e gratinar. Servir com salada e
arroz branco.
12
... PARA
TERMINAR
Boletim
“A MÃE”
O PLÁSTICO ESTÁ A MATAR OS OCEANOS
O
s oceanos continuam a ser
uma das grandes lixeiras duma
sociedade e duma tecnologia do desperdício. Continuamos a envenenar
os ecossistemas marinhos de todas
as formas possíveis. O gravíssimo
problema que constitui a poluição
oceânica põe em risco a sobrevivên-
milímetros a outros de tamanho
microscópio. Este iceberg, de uma
dimensão equivalente a seis vezes a
Península Ibérica, já foi apelidado de
“Sétimo Continente”. E daqui a 20
anos, se nada de radical for empreendido, terá uma superfície igual à da
Europa.
de plástico ultrapassa a do próprio
plâncton, base da alimentação das
espécies marítimas.
E pensar que os mares eram a grande
esperança para resolver muitos dos
problemas alimentares do mundo…
Temos de repensar seriamente a utilização do plástico que invadiu todos
cia dum número assombroso de espécies e terá outros efeitos de que ainda
nem suspeitamos.
Trataremos, neste número, dos plásticos de todos os tipos que, cedo ou
tarde, acabam nos oceanos. Segundo
as diversas fontes, eles representam
de 10 a 50% do plástico produzido
(escolha o leitor a percentagem que
mais lhe convier). E desde há mais de
60 anos que este número cresce sustentada e assustadoramente. Para fazermos uma ideia desse aumento basta
dizer que durante o primeiro decénio
deste século se produziu mais plástico
que durante todo período anterior.
Ao largo das costas da Califórnia formou-se um verdadeiro “iceberg” de 30 metros de profundidade.
Durante anos, após a sua descoberta
em 1997, ninguém se inquietou,
visto que à superfície apenas eram
detectadas algumas garrafas de “dissolução” mais renitente. Esta amálgama contém fragmentos de alguns
Em 2010, uma segunda zona foi
assinalada no Atlântico Norte.
Seguiram-se três outras: no Pacífico
Sul, no Oceano Índico e uma outra no
Atlântico Sul. Em breve o número de
continentes terá quase duplicado.
O resultado final é que, pelo menos,
um terço dos peixes tem na sua dieta
quotidiana muito plástico tóxico e
outros resíduos. Os predadores destes
peixes, entre eles o homem, irão acumular no seu organismo tais resíduos.
Actualmente uma equipa francesa
estuda os efeitos, a longo prazo, de tal
dieta e espera com impaciência, pelos
resultados das análises nos atuns. E
quais serão os efeitos nos seres humanos? Entretanto, as próprias Nações
Unidas estimam que o plástico que
infesta os oceanos mata anualmente
milhões de aves e cerca de cem mil
baleias, golfinhos, focas, tartarugas,
quer por ingerirem plástico, quer por
nele ficarem aprisionados. Em certas
partes dos oceanos a quantidade
os sectores, reduzindo a sua utilização ao mínimo indispensável e reavaliando uma reciclagem de que se
fala e pouco se faz.
(Dados respigados no nº de Agosto
de 2013 de “Science et vie” e em
“L’Écologiste” de Julho-Setembro
2014)
J.L.
Um grupo de ecologistas, dirigido por
Claire Wallerstein e que limpam benevolamente praias nas costas da Grã-Bretanha,
efectuou uma experiência, no mínimo
curiosa. Traçaram numa praia uma área
de 375 m2 (rectângulo de 25m por 15m)
e nela recolheram 567.664 fragmentos de
plástico de todos os tipos e dimensões, não
entrando na contagem, como é evidente,
as partículas microscópicas. Estas, por seu
lado, além de serem uma ameaça para os
seres vivos são um vector de transporte de
micróbios nocivos e de agentes patogénicos.
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