Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru - SP – 03 a 05/06/2013
A Websérie Como Produto Audiovisual
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Lucas Octávio Cândio da SILVA2
Daniela ZANNETI3
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES
RESUMO
O artigo trata dos principais aspectos que caracterizam novas produções audiovisuais
exibidas em ambientes virtuais, as chamadas Webséries. O propósito é expor e
definir suas formas de produção e as linguagens usadas nessas obras
audiovisuais de característica seriada que são criadas a partir das novas
tecnologias digitais e da tecnologia de exibição streaming. Estabelecendo um
paralelo com as obras seriadas já características do meio TV, e expondo assim
uma linha de convergência entre as duas formas de construções seriadas, a análise
identifica as principais diferenças e semelhanças
entre
as serializações
audiovisuais via televisão e via Internet. São analisadas duas webséries com
temas direcionados ao público jovem: a norte- americana Squaresvillage e a
brasileira #E_VC?.
PALAVRAS-CHAVE: webséries; serialização; internet; audiovisual
A NARRATIVA SERIADA
O caráter seriado de uma narrativa tem suas raízes nas formas epistolares de leitura
(cartas, sermões, etc.), nas narrativas míticas e intermináveis como o caso de Mil e uma
noites, alcançando também o folhetim e as radionovelas. Inserida também dentro da
grade de programação televisual, frequentemente, esta é composta por blocos,
intercalados por breaks comerciais, esses blocos possuem durações variadas de acordo
com os modelos dos canais aos quais essas narrativas estão veiculadas. O elo entre os
breaks e os blocos são os ganchos e flash backs.
O primeiro é uma ferramenta narrativa que visa a manutenção do interesse do
espectador na obra, seja no final do episódio, entre blocos ou até menos na passagem
entre temporadas. O segundo funciona como uma maneira de situar
o telespectador
dentro da narrativa, trazendo informações do bloco ou do episódio anterior, construindo
1
Trabalho apresentado no IJ05 Rádio, TV e Internet do Intercom Júnior do Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Sudeste, realizado de 3 a 5 de julho de 2013.
2
Graduando do curso de Comunicação Social: Audiovisual da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC). [email protected]
3
Professora orientadora da pesquisa. Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES). [email protected]
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uma breve síntese. (MACHADO, 2005). Essa forma descontínua e fragmentada
televisual é chamada por Arlindo Machado de serialidade, na qual o enredo é
ocasionalmente estruturado sob a forma de capítulos ou episódios e o conjunto destes é
a temporada (do inglês seasons). Machado (2005) e Pallotini (1998) categorizam as
narrativas seriadas televisuais em três distintas formas: capítulos, episódios e episódios
unitários. O primeiro é constituído por uma única narrativa (ou várias entrelaçadas e
paralelas) que se alterna(m) de uma forma quase linear ao decorrer dos capítulos. Os
teledramas, telenovelas e algumas séries e minisséries, são exemplos desta forma de
serialidade teleológica, pois ela se resume, em geral, em um (ou mais)
conflito(s) básico(s), que fundamenta logo de início um desequilíbrio na estrutura, e
toda evolução posterior dos acontecimentos consiste num empenho em restabelecer
o equilíbrio perdido, algo que, em geral, ocorre nos capítulos finais. (MACHADO,
2005, pg. 84). A Websérie Lado Nix4, realizada pela Produtora Mambo Jack e vinculado
ao Web Canal criado em 2011, que leva o nome da própria série (Lado Nix), é um dos
vários exemplos dessa primeira categoria de serialidade. Uma Websérie que traz o
universo geek e dos videogames, HQs. Nix é a protagonista da série, uma jovem
que se apresenta no primeiro episódio como uma garota comum, criada por um
super-nintendo e uma coleção de HQs e fitas cassetes. A estabilidade em sua história
ocorre quando a mesma assume a gerência da Zupa Comics. O decorrer do enredo
expõe os elementos clássico de uma narrativa, intrigas, traições, romance, superação de
obstáculos, e vários outros conflitos que são postos diante da protagonista, que por
fim, no último episódio, consegue se restabelecer e conquistar parte de seus desejos.
A segunda categoria é composta por enredos autônomos, onde cada um destes apresenta
um começo, meio e fim, e o que irá se repetir nos episódios seguintes serão apenas os
mesmos protagonistas inseridos apenas em situações diferentes. Nessa categoria,
um episódio, por via de regra, não se recorda dos anteriores ou interfere no posterior. A
autonomia nos enredos das narrativas na Web, é localizada principalmente nos Vlogs,
onde cada vídeo não é necessariamente relacionado ao anterior ou, como é normalmente
construído, traz alguns assuntos “chave” que serão explanados pelo Vlogger em
questão. Os mais bem estruturados Vlogs comumente possuem um roteiro prévio,
enquanto
outros
incorporam
personagens
desenvolvidos
pelos
próprios
realizadores ou se agarram à improvisação.
4
https://www.youtube.com/user/LADONIX. Acesso em: 04/04/2013
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O terceiro exemplo de serialização traz como principal definição uma única coisa
que se nos preserva vários episódios, uma temática; porém, em cada unidade, não
apenas a história é completa e diferente das outras, como também diferem os
personagens, os atores, os cenários e, às vezes, até os roteiristas e diretores. Um
exemplo desse formato na Web é o canal Vídeos Improváveis5, criado em 2007 pela Cia.
Barbixas de Humor6. Que disponibiliza vídeos de tamanhos variáveis e semanais
gravados durante apresentações ao vivo do grupo de stand-up comedy que é responsável
pela criação do mesmo canal. O caráter de humor improvisado, inserido em alguns
padrões constantes (como a escolha de temas/nomes/lugares pela platéia presente no
teatro), e a presença dos atores da companhia, quase sempre acompanhados por
convidados, garantem a este Web Canal o caráter unitário. Para se compreender como
as narrativas seriadas migram para os ambientes virtuais, faz-se necessário tratar do
advento da Web 2.0, que se caracteriza pela democratização das ferramentas de
produção e exibição na Internet.
AUDIOVISUAL E WEB 2.0
A narrativa seriada está presente em vários meios de comunicação e em grande parte de
seus produtos, desde publicações impressas (quadrinhos, por exemplo) até o cinema,
mas é uma estrutura que, essencialmente, encontra-se na televisão. Com o avanço
das tecnologias digitais, como a modificação na forma de distribuição do sinal
televisivo analógico para a atual forma digital, outros campos da telecomunicação
também avançaram, com o notável protagonismo da Web. Inicialmente sem nenhuma
pretensão social, hoje ela realiza um papel importante para todos os
meios de
comunicação. Programas de rádio, por exemplo, agora são transmitidos via streaming
pela Web, assim como a programação de vários canais de TV.
O termo Web 2.0 foi criado por Tim O'Reilly (2005) para ressaltar o potencial social e
financeiro da Web, diferente da primeira fase de acesso, anteriormente definido como
Web 1.0. Esse potencial da Web 2.0 permanece em evolução, englobando vários
aspectos do convívio
social massivo, assim como proporciona a vários objetos
do cotidiano moderno uma nova possibilidade comunicacional. Hoje é possível acessar
um perfil de redes sociais, por exemplo, pela televisão, gravar um vídeo em um celular
e disponibilizá-lo em instantes na Web, ir às compras sentado confortavelmente em
5
6
https://www.youtube.com/user/videosimprovaveis . Acesso em: 14/04/2013
http://www.barbixas.com.br/ . Acesso em: 14/04/2013
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frente ao computador. É possível ter acesso a um conteúdo produzido em um País
que o usuário jamais conheceu, interagir com este, recriá-lo, adaptá-lo ou até
mesmo redirecioná-lo em várias outras plataformas, algo que nos permite dizer que:
(...)a Internet não é uma mídia no sentido que entendemos as mídias de massa.
Não há fluxo um – todos e as práticas dos utilizadores não são vinculadas à
uma ação específica. (…) Aqui não há vinculo entre o instrumento e a prática.
A internet é um ambiente, uma incubadora de instrumentos de comunicação e
não uma mídia de massa, no sentido corrente do termo. (LEMOS; CUNHA,
2003, p. 11-23)
Essa evolução da Web resulta em novas plataformas de operação, como a evolução dos
softwares de programação binária, passando pelas evoluções de desing da interface de
navegação, como a transposição da utilização dos sites pessoais para os atuais blogs e
redes sociais, resultando na contextualização de uma blogsfera multiusuária e
multifuncional. A Web 2.0 configura um contexto que permitiu a inserção e
disseminação de produções individuais e independentes, que muitas vezes não são
dotadas de um aparato técnico profissional ou de linguagens específicas. Vídeos, fotos,
montagens, aplicativos, softwares open sources, músicas e várias outras produções
pessoais, passaram a ser disponibilizadas a um público de tamanho desconhecido e de
escala potencialmente mundial. Então, configurou-se um ambiente propício para a
vinculação de obras independentes, um local onde uma produção pode expor seu
produto de forma "livre" – frisando a presença de corporações globais nas áreas de
armazenamento e exibição em nuvem, como o Youtube e a Google, que não só
oferecem os serviços de hospedagem e exibição, mas também estruturam uma rede de
acessos, similar ao conceito de Ibope televisual, que possibilita o lucro dos produtores
independentes. A Websérie "nasce e se reproduz" neste contexto, coexistindo com
curta-metragem independentes, vlogs, podcasts, web-live concerts, cibermarketing e
vários outros conteúdos exclusivamente desenvolvidos e disponibilizados na Web.
A incorporação das narrativas seriadas no ambiente da Web 2.0 foi um processo
inevitável, protagonizados pelos seus próprios usuários e com projetos, em sua maioria,
sem um suporte profissional ou técnicas apropriadas. Essas novas formas e
possibilidades de narrativas cresceram de forma expoente nas novas mídias. As novas
mídias são objetos culturais que usam a tecnologia computacional digital para
distribuição e exposição. Portanto, a internet, os sites, os jogos de computadores, os
CD-ROMs e o DVDs (e mais recentemente
os BLURAYs),
e os efeitos
especiais gerados por computador enquadram-se todos nas novas mídias (MANOVICH,
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2005). As novas mídias, possuindo como suporte a tecnologia streaming e o flash,
possibilitou dentro da nova realidade da Web 2.0 a reprodução de imagens em
movimento (extensões .gif) que estavam armazenadas na nuvem. Progressivamente,
vídeos, séries e filmes que antes eram disponibilizados exclusivamente na televisão,
passaram a ser exibidos on-line. Como resultante desse processo, as pessoas que antes
utilizavam seus computadores de maneira isolada ou unicamente no ambiente de
trabalho, tiveram a oportunidade de exportar/importar
suas
criações,
planilhas,
imagens, músicas, textos, jogos (LÉVY, 1994). As tecnologias digitais surgiram,
então, como a infraestrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de
sociabilidade, de organização e transação, mas também novo mercado de informação e
do conhecimento.
Aos poucos se tornou necessário pensar nesses conteúdos a serem disponibilizados na
WWW de uma forma diferente. A alteração técnica decorrente do upload de vídeos –
como a tamanho da tela onde o usuário irá visualizar o vídeo – é uma
das
preocupações recorrentes, além dos formatos e extensões para diferentes arquivos.
E para a execução desses vários novos moldes de produção, as novas mídias foram
forçadas a se
adaptarem. Os smarthphones, tablets, smart-tvs e outros aparelhos
começaram a seguir padronizações de tamanhos de telas. Esse processo foi essencial até
mesmo para determinar a qualidade do vídeo que estará sendo transmitida para o
usuário de acordo com a banda de internet que este possui. Sendo assim, o processo
social relacionado à expansão das
narrativas seriadas na Web – protagonizadas e
produzidas, em sua maioria, pelos consumidores da própria Web – pode
ser compreendido
como
um
processo
de
ciber-aculturamento.
Este
"aculturamento digital" permeia a nova compreensão de comunicação social, e se torna
cada vez mais massivo à medida que o mercado se expande, alcançando um público
mais amplo e diversificado.
WEBSÉRIES: UM NOVO MERCADO?
Websérie é uma nova forma de produção audiovisual de característica seriada vinculada
exclusivamente à Web, tendo como suporte as
novas
tecnologias
comunicacionais
como os aparelhos móveis de acesso à internet e a própria popularização da banda
larga, assim como o armazenamento de dados em nuvem e a reprodução de vídeos por
streaming. As webséries valorizam os conceitos aplicados de repetitividade e
serialidade, utilizando alguns recursos similares das formas seriadas da TV para
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embasar a continuidade de seus produtos, muitas vezes utilizando divisões como
temporadas e episódios, porém sem capítulos. o que as transformam em produtos que de
certa forma são convergentes, ou, em determinados casos, referem-se às produções
seriadas clássicas, mas com enfoques diferenciados, como
construção da narrativa,
locações utilizadas, ações de marketing e divulgação, etc. As produções de webséries
nacionais encontraram no Youtube a sua principal plataforma de exibição de suas
produções, alocadas em seus próprios canais, que realizam a mesma função que
anteriormente seria dada à um site. Entre as produções de maior
2012:
Onda
7
Zero ,
8
Lado Nix, 3% ,
9
Heróis ,
destaque estão:
#E_VC?, Armadilha (ambas
10
produzidas pela 8KA Produções ), O demônio não saber brincar11.
O enfoque neste artigo será a web série nacional #E_VC?. A escolha dessa web série é
resultado de uma observação empírica de suas estratégias de interatividade com o
público, a temática e a utilização da linguagem da Web na própria série (como por
exemplo, a utilização de enquadramentos que remetem ao uso de webcam). A narrativa
traz como tema central problemáticas individuais e existenciais de adolescentes,
explorando suas incertezas e suas experiências.
A representação do público adolescente nas obras narrativas televisuais nacionais é
consagrada pela novela Malhação, que estreou no dia 24 de abril de 1995, mantendo-se
no ar até hoje, atingindo seu décimo oitavo ano de apresentação. A obra passa, de ano
para ano, por mudanças de elenco e núcleos principais, mas mantendo suas principais
características, as problemáticas adolescentes. Abrange as problemáticas do cotidiano
de
seu
público-alvo, como virgindade, namoro, drogas, preconceito, bullying,
gravidez, intrigas, paixões, sexo, AIDS, homossexualidade, usando sempre como
base de espaço narrativo o Rio de Janeiro e construindo personagens protagonistas
com certas similaridades, mesmo havendo uma alteração constante de elenco. Há,
por exemplo, a constante presença da representação sensualizada
jovens,
dos corpos dos
garotas bonitas e “gostosas” ao lado de garotos malhados e galãs. A
transposição dessa trama adolescente para as webséries tornou- se uma tendência
mundial, inclusive pela praticidade da reprodução do drama do cotidiano e pela forte
participação do público-alvo dessas telenovelas adolescentes, nesse novo núcleo de
7
https://www.youtube.com/user/2012ondazero. Acesso em 14/05/2013.
https://www.youtube.com/user/serie3porcento. Acesso em 14/05/2013.
9
https://www.youtube.com/watch?v=5DC4GfUgY64&list=PLrzbRRBOFiwKcIUAEhWzqIIBt3LHayfY
D. Acesso em 14/05/2013.
10
https://www.youtube.com/user/canal8ka. Acesso em 14/05/2013.
11
https://www.youtube.com/watch?v=zFXLjdcrVzg. Acesso em 14/05/2013.
8
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produção interativo que a World Wide Web proporciona a todos. Com exemplo dessa
importação
de
modelo
de
“drama
#E_Vc?, assim como a norte-americana
adolescente”, temos a websérie
12
Squaresville , que
nacional
se apresenta como
uma interativa websérie de episódios que raramente ultrapassam os cinco minutos
de duração.
Outra forma presente em grande parte das produções seriadas na Web é similar às
produções unitárias da TV, episódios que trazem apenas uma temática similar ou de
maneira mais comum, apenas os
Fundos"
13
mesmos atores. O canal brasileiro "Porta dos
é um exemplo dessa forma de web série. Vários episódios unitários, cujo
humor é a única ferramenta em comum entre eles, e com os mesmos atores em
diferentes personagens. Os episódios são realizados sob um evento cotidiano, como
transporte público, ligações de telemarketing ou rede de fast-food. O humor sarcástico,
similar ao humor de stand-up, presente na narrativa de cada episódio transforma essas
situações cotidianas em situações absurdas ou extremamente exageradas. Outro
elemento presente nos episódios dessa websérie, são os quadros finais, após o término
de cada um dos episódios, existe a passagem do simbolo do canal e logo na sequência
entra em cena um fragmento de cena que pode ou não estar ligado diretamente ao
episodio que acabou de terminar. No lado esquerdo, durante essa cena, surgem
janelas pequenas que são hiperlinks para os outros episódios já exibidos.
Esse caráter unitário também atinge os vloggers, uma evolução audiovisual dos blogs,
onde uma pessoa traz as suas problemáticas e pensamentos em forma de vídeo e exibe
em seu canal dentro do YouTube. Os vloggers são resultados dessa nova possibilidade,
não só econômica, mas também social ao acesso à tecnologia e a interatividade na web,
onde cada um pode produzir um vídeo e compartilhá-lo online com milhares de pessoas
através de ferramentas de reprodução streaming. Esses vloggers, como diferenciais para
as produções individuais e muitas vezes amadoras, trazem uma preocupação com o
roteiro de seus episódios, constrói inclusive cabeças de entrada como em programas
jornalísticos, exibem vinhetas similares a programas televisivos e chegam a produzir
inclusive quadros diferenciados em uma espécie de web programação. Alguns dos
realizadores como o Maspoxavida14, Desce a Letra15, trazem inclusive alternativas
dentro dos canais, em numa forma similar aos canais de televisão fazem. São vídeos
12
https://www.youtube.com/user/squaresvilleseries. Acesso em: 14/05/2013.
https://www.youtube.com/user/portadosfundos. Acesso em: 14/05/2013.
14
https://www.youtube.com/user/descealetra. Acesso em: 14/05/2013.
15
https://www.youtube.com/user/maspoxavida. Acesso em: 14/05/2013.
13
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disponibilizados em dias específicos da semana que trazem assuntos diferentes dos
vlogs inicias, como por exemplo, no canal Desce a Letra, onde existem os episódios
semanais onde o vlogger expõe seu ponto de vista sobre alguma reflexão intimista ou
sobre algum fato público e o “giro de quinta”, uma espécie de análise feita pelo
mesmo vlogger que é diretamente ligado aos acontecimentos jornalísticos ocorridos
durante a semana.
No cenário norte-americano, já existem festivais específicos de premiação para
produções exclusivas da web. Como o Shorty Awards16, que teve entre os vencedores da
sua última edição, três brasileiros, nas categorias de “Youtube Star” (Cauê Moura do
canal Desce a Letra), “Comedian”(Rafinha Bastos1717) e “Video Blogger” (P.C.
Siqueira do canal Maspoxavida). O Shorty Awards é produzido pela Sawhorse
Media, uma "startup" de tecnologia com sede em Nova Iorque. Sawhorse também criou
e dirige a Rack Muck,
uma
rede social
específicamente
desenvolvida
para a
participação jornalística. Dentre as várias catégorias que o evento Shorty Awards possui,
estão as de Jornalismo, Ativismo, Apps, Comida, Gaming, e várias outras. Atentandose para a dedicação de uma categória unicamente voltada para a produção nacional, na
categoria chamada: The #Brazil Shorty Award18. Categoria que teve como vencedor, na
última edição do festival, Dilma Bolada19. Além do Brasil, outros países também
possuem categorias específicas dentro da grade de premiação do festival, como a
Irlanda, Canadá, Reino Unido, Argentina, Australia, Indonésia, México e outros. O
Hollyweb2020, estabeleceu-se em sua última edição no Raleigh Studios, Chaplin
Theater em Hollywood. Com duração de três dias, palestras de produtores e diretores,
assim como de estudantes. O LAWebfest21, criado por Michael Ajakew Jr., um escritor,
diretor e produtor de teatro, TV e filmes, que deu início em 2008 à produções
originalmente pensadas para a Internet. O festival é uma plataforma aberta para atores,
roteiristas, diretores e produtores. Promovendo debates e discussões entre os mais
ativos e promissores
ciberespaço.
geradores de conteúdo
para a nova cofiguração
do
Esses dois exemplos são de festivais inteiramente dedicados às
produções na Web, são apenas alguns
de
destaque,
vários
outros
eventos
Indies/Underground's ocorrem constantemente no cenário norte-americano de web
16
http://shortyawards.com/. Acesso em: 14/05/2013.
https://www.youtube.com/user/rafinhabastos. Acesso em: 14/05/2013.
18
http://shortyawards.com/category/brazil. Acesso em: 14/05/2013.
19
http://dilmabolada.com/. Acesso em: 10/05/2013.
20
http://www.hollywebfestival.com/. Acesso em: 14/05/2013.
21
http://www.lawebfest.com/. Acesso em: 14/05/2013.
17
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produções.
Em contrapartida, festivais e premiações nesse modelo ainda não são
realizados com tamanha frequência, ou com o mesmo enfoque midiático e social em
território nacional.
#E_VC? E SQUARESVILLE: NARRATIVAS JUVENIS
Squaresville é uma Websérie norte-americana, atualmente em seu vigésimo terceiro
episódio (normalmente disponibilizados nas sextas-feiras), totalizando em torno
de 1.420.509 visualizações e 29.957 usuários inscritos. Sendo definida, por seus
produtores e responsáveis diretos pela vinculação dos videos em seu respectivo canal
no Youtube como:
Squaresville
é
estranho,
peculiar,
uma
websérie
indie-teen
engraçada adolescente sobre crescer nos subúrbios sem nada para fazer.
Cada episódio é repleto de situações engraçadas, personagens estranhos
cheios de angústia adolescente, descolados, romance, drama e aventura. Ele
aborda as questões universais de crescer incompreendidos, questões
adolescentes, questões gays e lésbicas, relacionamentos e amizades, todos
com uma luz e uma pitada de “off- kilter”. Squaresville é cheio de comédia,
drama, e tudo o que você quer em sua tv online favorita.22
A obra traz vários personagens secundários que vão se apresentando durante a trama e
fazendo participações
menores no núcleo principal, formado por três jovens,
personagens que muitas vezes são vloggers em outros canais ou até mesmo pequenas
“celebridades” da web. Esse núcleo é protagonizado por Zelda, Esther e Percy. Zelda,
a protagonista da série, uma jovem de cabelos vermelhos, carismática e muito
apegada aos amigos, mas com dúvidas sobre seu futuro e incontáveis incertezas
sobre
suas próprias ações e motivações. Uma das curiosidades a cerca da
personagem Zelda, é o fato do nome “Zelda” ser conectado diretamente com uma
série de games de plataforma mundialmente famosa (The Legend of Zelda),
representando apenas uma dentre tantas outras citações e representações do universo
Geek (uma espécie de nerd da Internet) dentro da série. Sua amiga Esther é a “coprotagonista” da websérie, sempre racional e ranzinza, uma garota de estilo Geek e de
pouquíssimos amigos. O inseguro Percy é um jovem confuso e atrapalhado, que
nunca namorou e se mostra um grande amigo de Zelda e Esther. A trama da
primeira temporada se passa, na grande maioria dos episódios, dentro do quarto
de Zelda e na escola. Aapesar de não ser citado de forma clara por meio de falas dos
22
Tradução da descrição da wébserie, acessado em 14/05/2013 e disponível em:
https://www.youtube.com/user/squaresvilleseries/about
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personagens durante a série, os personagens frequentam a escola de Grover Cleveland
High School, que é localizada em Nova Iorque.
Por outro lado, cada episódio da websérie brasileira #E_Vc? (produzida com o apio da
Universidade Anhembi Morumbi) traz em seu inicio uma narrativa realizada em voz
off intercalada com a fala do próprio personagem em questão, em um
enquadramento que remete à uma gravação ou videoconferência realizada por
uma webcam. Essa introdução não só traz consigo o título do episódio, como
também permite a compreensão do tema central que ira sintetizar a trama
construída no decorrer do mesmo episódio, ainda permite um pequeno flash de
ações que irá situar os espectadores dentro das ações e acontecimentos da narrativa.
Ao término dos episódios, existe a retomada dessa narrativa em voz off do
protagonista da vez, realizando uma reflexão acerca da temática explorada
durante o próprio episódio e relacionada ao seu título. Essa reflexão culmina em
uma pergunta direcionada diretamente ao espectador da série. Os personagens são
ambientados em seus quartos e colocados em conjunto, em grande parte dos
episódios (assim como a Squareville também faz), mas também circulam pelo
ambiente escolar. Se comparada a uma série televisiva, ela obtêm um diálogo próximo
ao conceito de episódio, de acordo com a definição de Renata Pallotini (1998). E ao
mesmo tempo, para Machado (2005), trata-se de uma única narrativa contada de
forma linear no decorrer dos capítulos.
Ao término de cada episódio, em ambas as webséries, é exibida uma interface
interativa, similar a um quadro de anotações, onde links e hipertextos são adicionados
na intenção de possibilitar uma comunicação e interação do espectador com a obra.
Surge, por exemplo, como um link, a possibilidade do envio de um vídeo ou
comentário de resposta à pergunta final realizada pelo protagonista da série, assim
como também surge uma janela que exibe cenas do próximo episódio (janela que
também trás um link para
o
episódio
citado).
Em
especial,
no
caso
da
#E_Vc?,existe a possibilidade de assistir pequenos trechos que trazem reflexões
dos personagens da série e ilustram traços importantes de suas personalidades,
terminando também em uma nova pergunta direcionada
ao espectador,
que
é
novamente convidado a enviar um vídeo resposta direcionado ao personagem.
Enquanto na Squaresville, existem episódios onde os atores e responsáveis pela
produção da série se apresentam e respondem a uma espécie de quiz composto por
vídeos enviados pelos espectadores da série. Outro ponto que de distinção das duas
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obras é o uso de atores profissionais. Enquanto a nacional traz em seu elenco uma
grande quantidade de atores “desconhecidos”, a norte-americana apresenta atores
que já trabalharam em séries de televisão. Mary Kate Wiles23, atriz que interpreta a
personagem Zelda em Squaresville, participou de várias outras produções fora do
ambiente virtual. Como por exemplo, a série de televisão The Middle, e em longas e
curta metragens de produtoras pequenas ou independentes. Kylie Sparks24, que em
Squaresville é Esther, também possuí participações em produtos veinculados à
televisão, com participações na série Bones, Greek, Desperate Housewives. Flora
Paulita25, a atriz por trás da personagem Nina da websérie # E_Vc?, é uma excessão
no
elenco
da produção
nacional,
que é composta
em sua
maioria
por
atores desconhecidos e até mesmo, não atores como elenco de apoio.
REFERÊNCIAS
ALVES, Maria Inez Masaro. O adolescente e a TV: o caso da Telenovela Malhação.
Campinas,
SP,
2000.
[s.n.].
Disponível
em:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000205780&fd=y
MACHADO, Arlindo. A televisão levada à sério. São Paulo : Editora Senac São Paulo,
2005.
LEMOS, Andre; CUNHA, paulo (orgs). Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto
Alegre, 2003; pp. 11-23
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. (Coleção TRANS)
São
Paulo: Ed.34, 1994.
LUNENFELD, Peter. Os mitos do cinema interativo, in: O chip e o caleidoscópio:
Reflexões sobre as novas mídias. São Paulo: Senac, 2005
PALLOTINI, Renata. Dramaturgia de televisão (São Paulo: Moderna, 1998), pp.31,
40.
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