Temática(s): Acessibilidade em Cultura e Educação
Tipo de Trabalho: Relato de experiência
Anatomia para todos um relato de experiência do Senac Presidente
Prudente
BICALHO, E.E.K. (Senac); CARLOS,T.S. (Senac), MIRANDA, D.A.(Senac) e
SCUDELARI, A. C.C. (Senac)
Palavras-chave: Inclusão; Recursos pedagógicos; Libras.
Resumo do trabalho:
De 13 à 14 de novembro de 2013, no Senac São Paulo, unidade Presidente
Prudente, aconteceu a exposição Sensorial de Anatomia Humana, realizada
pelos discentes do curso técnico em Massoterapia, mediados pela docente Ana
Cristina Costa Scudelari e o tradutor-interprete de LIBRAS, Danilo Augusto
Miranda que criaram recursos pedagógicos para atender a diversidade, dentre
eles a criação de materiais pedagógicos e sinais de linguagens técnicas
(LIBRAS) para contribuir na aprendizagem de uma das turmas que recepciona
estudantes de necessidades diversas.
Introdução
Este trabalho apresenta o resultado de uma aula que se transformou em
uma exposição criada pelos discentes do curso de Massoterapia do Senac São
Paulo, unidade Presidente Prudente, por intermédio da docente Ana Cristina
Costa Scudelari e tradutor-interprete de Libras, Danilo Augusto Miranda, que
tiveram a percepção de compartilhar o aprendizado a todos da comunidade ao
apresentar o resultado obtido, e oferecer a sensação vivenciada em sala de aula,
uma vez que esta sala atende a uma pessoa: cega, uma surda e uma pessoa de
baixa visão e outros discentes que são tidos como pessoas sem deficiência.
O objetivo desta aula era atingir as competências ligadas a anatomia de
forma simples, utilizando recursos diversificados para que a compreensão e o
aprendizado fosse inclusivo, fazendo com que todos independente de suas
limitações, tivessem a oportunidade de conhecer o corpo humano.
É necessário para tanto compreendermos os nossos discentes em suas
necessidades individuais. Atualmente, a inclusão social é um tema tratado na
ordem do dia, todavia sua importância e, porque não dizer, sua obrigatoriedade
surgiu com o advento da promulgação da Constituição Federal Brasileira de
1988. A inclusão não se trata apenas de dar atenção ou atender algumas
necessidades dos excluídos, mas sim dar efetividade numa garantia
constitucionalmente protegida.
Notadamente, essa busca passa pela dignidade humana, elemento este
que também garante os direitos individuais dos administrados. Esse elemento se
vale como um contrapeso, ou seja, um equilíbrio nas relações sociais.
E para a consolidação desses preceitos que, não apenas o Estado mas
toda a sociedade, tem que se mobilizar na materialização dos direitos
supracitados, afinal, todos são indistintamente iguais perante a lei.
Cabe ressaltar que a dignidade também passa pelo direito de prover o
próprio sustento, ou seja, ser independente economicamente. Assim, permitir
que o deficiente trabalhe também corresponde ao fomento de uma sociedade
igualitária, vanguarda e redutora de suas desigualdades.
Ocorre que, deficiência não pode ser confundida como sendo
incapacidade, por isso permitir que os deficientes tenham uma vida escolar é
garantir sua dignidade.
Assim, analisar a melhor forma de educar uma turma inclusiva, de forma
mais aprofundada permitirá identificar que as limitações do educar em sala
podem
ser
superadas
mediante
o
desenvolvimento
de
metodologias
educacionais especificas.
Para isso faz-se vital a análise da deficiência e dos modelos de ensino, os
quais seguem individualmente estudados neste trabalho.
2. DA NECESSIDADE DE ENTENDER AS DEFICIÊNCIAS
A diversidade é, atualmente, uma das questões mais relevantes na pauta
mundial, certo é que as pessoas são diferentes, isso porque, elas nascem
diferentes como bem explanam Gisele Rodrigues Toldo, Jessica Araujo Lima da
Silva e Suzara dos Santos1:
As pessoas não nascem todas iguais e podemos observar isso desde
a maternidade. Têm bebês que nascem brancos, outros negros, com
olhos azuis ou castanhos, uns pequenos e outros grandes, magros ou
gordos. Existem ainda outras diferenças marcantes como, por
exemplo, a falta de um braço, de uma perna ou uma mão, a
impossibilidade de ver ou andar, ou ainda, a dificuldade de poder
entender o mundo.
Independentemente da existência de divergências, certo é que, a
harmonia social só será efetivamente concretizada, a partir do momento em que
o respeito imperar nas relações humanas, especialmente diante das diferenças.
A bem da verdade, o respeito não deve se atentar apenas às diferenças como a
cor da pele, a cultura, a religião, a nacionalidade, mas também a elementos muito
mais indulgentes como as limitações que, no mínimo, reduzam o exercício
natural de práticas da vida cotidiana, como às decorrente da deficiência.
A compreensão dos tipos de deficiências existentes é de grande
importância, uma vez que, somente após ter real conhecimento dos elementos
que acometem cada uma das deficiências é que se pode ter a correta noção da
realidade e entender o grau de dificuldade que alguns discentes passam para
entender a competência apresentada por alguns educadores.
1
TOLDO, Gisele Rodrigues. SILVA, Jessica Araujo Lima da. e SANTOS, Suzara dos. As
dificuldades na inserção do deficiente Intelectual no mercado de trabalho com foco na linha de
produção. p. 27.
Assim, tem-se que dois são os tipos de deficiência, uma é a física e a
outra é a intelectual, ambas podem ter como origem ou problemas de ordem
genética, complicações na gestação, doenças infantis ou acidentes.
Notadamente faremos uma abordagem direcionada para os discentes da
turma técnica de Massoterapia, ou seja uma pessoa surda, uma pessoas cega,
uma pessoa baixa visão e o aprendizado conjunto da turma.
Nos idos do ano de 2001 (dois mil e um), foi promulgada pelo
ordenamento jurídico brasileiro a Convenção Interamericana para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência, também chamada de Convenção da Guatemala. O referido texto
traz, em seu Art. 1°, a definição de deficiência, a qual:
Artigo I
Para os efeitos desta Convenção, entende-se por:
Deficiência: O termo deficiência significa uma restrição física, mental
ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a
capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida
diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.
Neste diapasão, verifica-se que qualquer elemento limitador à vida
cotidiana de uma pessoa pode ser considerado uma deficiência, independente
de tal restrição ser física ou intelectual (mental).
Neste caso todos os estudantes participaram ativamente da construção
do saber e se sentiram motivados a produzir os materiais que posteriormente se
tornou a exposição.
No que se refere ao aluno surdo, os estudiosos da educação para surdos
sugerem em corrente majoritária a utilização de várias formas de abordagens
para a efetividade no aprendizado, para tanto sugerem que seja utilizado a troca
de canal sensorial como por exemplo: a visão, o tato.
É importante que o educador entenda as necessidades de forma
individual, no caso do surdo até mesmo o aconselhamento com familiares e
amigos mais próximos com o escopo de entendê-lo e criar ferramentas
educacionais que para ele faça sentido.
Entretanto no que se refere para a educação de pessoa cega, os
estudiosos da área como por exemplo Miriam Cristina Frey Lira e Luciane Maria
Schlindwen,( 2008) relatam:
As expectativas do aluno com relação à escola são muitas vezes
frustradas, não por incompetência ou falta de capacidade intelectual,
mas por negligência do sistema educacional ou da própria escola que
não utiliza os recursos didáticos adequados para a facilitação do
processo ensino- aprendizagem.
3. DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A Constituição Federal de 1988 trouxe em suas linhas a preocupação de
garantir a boa qualidade de vida a todos que no Brasil vivem, apesar de não fazer
qualquer menção aos instrumentos de concretização das referidas garantias.
Sendo uma determinação legal que todos sejam iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, como disserta o caput do Art. 5°, da Constituição
Federal Brasileira, neste diapassão, às pessoas deficientes também devem ter
garantido o referido direito.
No Brasil a educação chamada muitas vezes de inclusiva, ao bem da
verdade trata-se de educação de integração escolar que remete à ideia de uma
inserção parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa, enquanto na
inclusiva como a presente turma de técnico em Massoterapia é realmente
inclusiva de forma radical e sistemática, total e incondicional, como elucida
Claudia Dechichi2.
2
DECHICHI, Claudia. Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do
desenvolvimento do aluno deficiente mental. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo: 2001.
p. 48.
Aliás, a inclusão não se restringe aos deficientes, mas todos que se
encontram em situação de exclusão, seja ela decorrente da deficiência física,
intelectual, sensorial, bem como a decorrente de questões raciais ou culturais.
4. DA METODOLOGIA
O Senac São Paulo, atualmente é considerado como referência em
formação profissional de qualidade, pois está atualizado para o mundo do
trabalho,
visando
novos
nichos,
aplicando
a
inovação
tecnológica,
sustentabilidade e empreendedorismo.
Em meados dos anos 90, a instituição acrescentou a meta de desenvolver
pessoas, pois acreditava que elas deveriam ter a oportunidade não somente de
aprender um ofício, mas gerar consciência cidadã e o desenvolvimento de
competências, fundamentado em conhecimentos científicos e tecnológicos,
aprendendo a conhecer, viver, conviver, agir e transformar sua vida e sua prática
social, e a participar da sua comunidade com ampla participação do indivíduo
considerando a história prévia do discente e o conhecimento e experiências
acumuladas, antecipando desafios e oportunidades, projetando uma visão de
futuro, respeito mútuo e auto avaliativo.
A sua metodologia é baseada no documento: Educação Um Tesouro a
Descobrir no século XXI, sobre quatro pilares fundamentais: aprender a
aprender; aprender a fazer; aprender a conviver; aprender a ser.
O relatório recomenda às instituições educativas que alterem seu rumo,
no sentido de buscar alternativas e métodos que promovam, não somente o
conhecimento técnico, mas que se articulem para favorecer a plenitude
individual, despertando habilidades de relacionamento ético, humano e político,
instrumentos que compõem a essência da cidadania e que são fundamentos de
qualquer ação de desenvolvimento que se pretenda para toda vida, ou seja, que
se insira em uma perspectiva de educação permanente.
Assim, conforme o contexto das inovações metodológicas introduzidas,
prevaleceu a toda atitude de pesquisa e da capacidade de auto aperfeiçoamento
por parte do corpo discente, visando sua instrumentalização para manejar
conhecimento dinâmico avançando na contemporaneidade.
Assim, foi esta metodologia que permitiu a efetividade de todo processo
vivenciado pela turma ora relatada.
5. DA EXPOSIÇÃO SENSORIAL DE ANATOMIA HUMANA
Três pessoas com deficiências diferentes matricularam-se no curso
técnico em massoterapia, sendo um cego, uma surda e uma baixa visão. As
aulas começaram e junto vieram os desafios, muitos foram os desafios em
encontrar as ferramentas adequadas para atingir as competências, neste sentido
os avanços e os resultados obtidos foram significativos, em especial será
relatado o trabalho que foi realizado para o módulo de anatomia transformada
em exposição ao público.
Os educadores se depararam com uma realidade desafiadora que trouxe
uma experiência educacional muito positiva. A docente Ana Cristina junto com o
intérprete Danilo desenvolveram com a turma durante este módulo recursos
táteis e visuais para ensinar os sistemas do corpo humano para os alunos, a
cada sistema (circulatório, respiratório, endócrino, tegumentar...) os alunos
foram construindo maquetes e painéis de cada sistema utilizando materiais dos
mais variados tipos, formas e tamanhos, diferenciando cada estrutura com
texturas e cores diferentes possibilitando ao discente cego compreender através
do tato e a discente surda compreender através das cores e recursos visuais
utilizados.
Durante o processo de construção e desenvolvimento do trabalho,
percebeu-se que houve aproveitamento não só para um ou outro estudante
pontualmente, mas para toda a turma que compreendeu e atingiu as
competências do módulo.
A didática escolhida, método lúdico e os materiais utilizados foram
considerados atraentes para o aprendizado e os discentes como um todo
sentiram-se estimulados, facilitando para que todos atingissem o conhecimento,
habilidade e os valores desejados, obtendo ótimo aproveitamento.
A exposição ficou aberta ao público de 13 à 14 de novembro de 2013 na
própria unidade, sendo divulgada nas mídias locais (rádio e jornal).
E a recepção dos visitantes era feita pelos próprios discentes que
explicavam detalhadamente o material exposto.
5.1 Da Criação de Sinais (Libras)
É importante salientar que para a discente surda não bastava
simplesmente uma aula com objetos diferentes para representar partes do corpo
humano, pois a sua Língua principal é a Libras.
Percebeu-se que não existia literatura a respeito do assunto, os sinais de
palavras técnicas e os sinais de assuntos específicos ainda estão sendo
construídos conforme a necessidade e pesquisas nesta área. No Brasil trata-se
de uma linguagem nova que está em processo de desenvolvimento.
O tradutor verificou a necessidade de traduzir tais palavras, juntamente
com a discente surda construiram os conceitos e criaram os sinais para suprir a
necessidade. Foram construídos 150 sinais.
Na fala do interprete tradutor:
“...Houve criação de sinais que ainda não existiam do sistema
circulatório por exemplo um que demonstrasse a visualização do
coração funcionando...”
6.CONCLUSÃO
O trabalho realizado em sala de aula bem como a exposição trata-se de
um processo de aprendizagem de inclusão que foi construído conforme as
necessidades foram surgindo, uma vez que anteriormente, na unidade não havia
uma turma tão diversa.
Certo é que, a finalidade da inclusão é garantir ao deficiente o direito de
ser diferente e de ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela
sociedade, oferecendo assim recursos profissionais e institucionais adequados
e suficientes para que ele tenha condições de se desenvolver como estudante,
pessoa e cidadão, o que não significa torná-lo normal como explica Claudia
Dechichi ao citar Claudia Werneck3.
O respeito ao estado de cada um é uma das tônicas da inclusão, por isso
é que não se admite a diversificação de atendimentos pela segregação, mas sim
pela procura de um ensino especializado que atenda às diversidades não
admitindo que ninguém fique de fora, o que acaba suscitando embates quanto
às políticas educacionais e organizacionais da educação especial e da regular.
Na fala da docente Ana Cristina:
“... A construção eram deles... a dimensão foi tão grande que os
materiais começaram a encarecer nosso orçamento, mais um motivo
pra utilizar materiais recicláveis, e mais um assunto para ser
vivenciado, a sustentabilidade...” “...Engraçado que até a forma dos
profissionais (docentes) de pensar mudou, diariamente havia o
exercício de se colocar no lugar do outro...”
O processo de construção dos trabalhos ficaram mais ricos em detalhes
para a devida compreensão.
Atualmente grandes mudanças estão ocorrendo, pois, a atenção às
pessoas com deficiência está fazendo todas as pessoas envolvidas nesse
contexto a reavaliarem seus valores, suas crenças e seus referenciais teóricos.
Posteriormente a isto, todos a cada dia sentiram-se privilegiados por
participar de um desenvolvimento educacional tão rico, cada atividade do plano
3
Op. cit. Apud WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva. Rio de
Janeiro: WVA, 1997.
de aula foi pensada para atingir as necessidades individuais dos discentes, por
isto cada discente sentiu-se valorizado.
FOTOS DA EXPOSIÇÃO
Referência
LIRA, Miriam Cristina Frey de e SCHLINDEWEIN, Luciane Maria. A pessoa cega e a
inclusão: um olhar a partir da psicologia histórico-cultural. Cad. Cedes, Campinas, vol.
28,
n.
75,
p.
171-190,
maio/ago.
2008.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v28n75/v28n75a03.pdf>. Acesso em 12 de março de
2014.